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ARTIGO / MEIO AMBIENTE<br />

Lago Paranoá:<br />

DESAFIOS E SOLUÇÕES<br />

Marcos Garzon (*)<br />

Em 2008, atualizando o meu livro “Tarde Demais?, que escrevi em<br />

2004 e registrei na Biblioteca Nacional em 2005, disse o seguinte:<br />

- O Lago Paranoá, desde a inauguração da cidade de Brasília,<br />

no Distrito Federal, Brasil, por causa do assoreamento, que também está<br />

acabando com os córregos Urubu, Palha, Bananal, Capoeira e Jerivá, que<br />

desembocam em suas águas, perdeu 2,3km2 de água, isto é, 20%. Vinte<br />

por cento mesmo!!! E continua recebendo esgotos de muitas casas e clubes<br />

edificados à sua volta.<br />

Em 2016, alguns anos depois, como está na verdade o Lago Paranoá e<br />

os córregos que o abastecem de água? E os esgotos continuam sendo despejados<br />

nele? E o lixo nas suas águas? E o óleo das embarcações que derramam<br />

sobre ele? Na realidade, todos os índices pioraram muito, vergonhosa<br />

e preocupantemente.<br />

A antevisão daqueles que projetaram Brasília foi, realmente, extraordinária.<br />

No tempo e no espaço, previram, muito mais do que uma represa<br />

possível geradora de energia elétrica, mais ainda do que uma grande área<br />

de lazer, que a região do cerrado, onde foi instalada a Capital Federal do<br />

Brasil, necessitaria de um elevado índice de umidade oriunda da evaporação<br />

das águas represadas num imenso lago artificial, para contrapor aos<br />

rigores do período de seca de vários meses. Num exercício brilhante de<br />

contemplação dos horizontes futuros, enxergaram que deveria ser realizada,<br />

também, uma ampla e intensa arborização, a fim de que que trouxesse<br />

sombras refrescantes com a transpiração das árvores. Para essa interação,<br />

solo, água, árvore e ar, concluíram que seria, então, imperiosa a implantação<br />

do Lago do Paranoá.<br />

Porém, não pensaram na falta de consciência da expressiva maioria<br />

dos seres humanos que viriam a habitar o Planalto Central. Sim, pois<br />

quantas nascentes de água foram “mortas” para a construção do Plano Piloto<br />

e cidades satélites, deixando de abastecer os córregos que se interligam e<br />

desembocam no Lago Paranoá? Matar, literalmente, uma nascente deveria<br />

ser considerado um crime hediondo.<br />

Escrevi, ainda: - Na região do Distrito Federal, desde a inauguração<br />

da cidade de Brasília, mais de 60 nascentes foram destruídas! Muitas delas<br />

para dar lugar a construções, ressecando toda a área ao derredor, alterando<br />

todas as características naturais. Como explicou bem essas alterações o<br />

técnico ambiental, Ney Robert Macedo: “Com isso, o lençol freático abaixa,<br />

deixa de aflorar e perde o curso natural. Sem vegetação nativa, que foi<br />

suprimida, ela também perde um filtro, que segura os resíduos antes de<br />

chegar ao córrego”.<br />

Como não perceber, com a agonia também dos córregos como Vicente<br />

Pires, Cabeceira do Valo e Cana do Reino, dentre outros da região do cerrado,<br />

estudos mostraram, naquela época, que cerca de 300 córregos e riachos desapareceram,<br />

como não enxergar que o Lago Paranoá está agonizando? E sua morte,<br />

clara e evidente, por ausência total de ações firmes, profundas e constantes,<br />

o que ocasionará ao Distrito Federal, por demais atingido pelo aquecimento<br />

global e suas variações climáticas decorrentes?<br />

Aos descrentes, basta mostrar os estudos, pesquisas e projetos que<br />

serviram de base para a realização do Lago Paranoá, a profundidade e extensão<br />

originais, e confrontar estes dados com o dados atuais.<br />

Quais soluções urgentes e necessárias para conseguirmos tentar salvar o<br />

Lago Paranoá? Despertamento de consciências , inicialmente, para entendermos,<br />

antes de tudo, que cada dia que passa é um dia a menos para o enfrentamento<br />

dos seriíssimos problemas crescentes que envolvem o Lago Paranoá, e<br />

para que a consciência, então, movimente a inteligência para ativar as devidas e<br />

inadiáveis soluções, como a proteção das nascentes, a arborização das margens,<br />

a total neutralização dos esgotos que jogam em suas águas, que causam a desertificação<br />

do leito do Lago Paranoá, eliminando a vida dentro dele, a orientação<br />

dos usuários que jogam descontroladamente o lixo e dos proprietários de lanchas<br />

que derramam óleo em sua águas. Difícil, pode ser, mas nada impossível,<br />

quando as vontades unidas, determinadas, o entrelaçamento de mãos e pensamentos<br />

se propõem a realizar algo grandioso e indispensável.<br />

A recuperação do Lago do Paranoá deve ser um exemplo para a recuperação<br />

de lagoas, lagos, represas e barragens existentes país afora, pois<br />

quase todos eles estão com graves problemas parecidos.<br />

Na verdade mesmo, devemos gerar um movimento de solidariedade<br />

ao Lago Paranoá, ativando, num ritmo acelerado, como num estado emergencial<br />

de guerra, todas as medidas necessárias que venham salvá-lo da sua<br />

previsível morte, a continuar essa inconsciência socioambiental que observamos<br />

impotentes, lembrando que a natureza é nossa amiga, se a tratarmos<br />

como tal, e a pior inimiga que podemos ter, como a estamos, na verdade<br />

mesmo, considerando.<br />

Devemos explicar aos jovens qual o estado em que se encontra o Lago<br />

Paranoá e o meio ambiente do Distrito Federal, meio ambiente não passa<br />

de um apelido que demos a natureza, que estão herdando de nós, adultos.<br />

Lembrando, ainda e insistentemente, que tudo o que fazemos contra<br />

a natureza, nossas insensatas agressões, os efeitos são descontroladamente<br />

potencializados, pois ela não entende a terceira lei de Isaac Newton: a cada<br />

ação corresponde uma reação igual e contrária.<br />

Como disse Graham Greene : “Quando agredida pelo homem, a natureza<br />

não se defende. Ela apenas se vinga”.<br />

Oportuno registrar, incisivamente, que tudo aquilo que estamos vendo,<br />

passando e sofrendo no quadro atual do Distrito Federal e do Brasil,<br />

não passa de um filme infantil diante do filme dramático que a natureza<br />

está para nos apresentar brevemente, onde seremos os principais atores,<br />

se não mudarmos nossas atitudes e não agirmos logo, antes que seja tarde<br />

demais.<br />

(*) Marcos Garzon é escritor e ambientalista<br />

CARTA POLIS | AGOSTO 2016<br />

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