CAPITAL
REGISTRO COMO LINGUAGEM Minha atuação como artista e pesquisadora é aqui entendida como um entrecruzamento de linhas que passam tanto pela minha produção quanto pela leitura deste material, que pode ser vista de cima como um olhar externo e ao mesmo dentro num olham processual. A palavra “registro” será aqui desfiada/desafiada a partir da apresentação e exposição de propostas que habitam um território específico, constituído de letras, imagens e espaços de folha. Entendo também a importância de buscar em outras vozes, sentidos que multipliquem essas leituras e façam surgir novos procedimentos, definidas como referências. Podemos entender isso como uma expansão territorial, que vai empurrando bordas físicas e ideológicas das páginas desta pesquisa. Ricardo Basbaum, ao comentar sobre esta condição de transitoriedade, aponta para o termo “artista-pesquisador”, pois “[...] dentro da universidade, o trabalho de arte se transforma em pesquisa e o artista em pesquisador (BASBAUM, p. 194, 2013)”, dando origem a esse outro personagem. É neste não-lugar no qual pretendo fazer habitar minha escrita, a partir da minha atuação de movimento entre essas áreas. A operação entre texto e imagem, aparece como uma questão elementar dentro do campo do que penso como Registro. A problemática que aparece aqui é: a escrita é esse movimento/ intensidade, e que é ao mesmo tempo registro desta ação 1 . No contexto dos meus trabalhos 1. No momento em que escrevo esta pesquisa acadêmica, considero como uma ação produtiva, que não difere, em meu caso, de uma produção fotográfica. a impressão da palavra tem a mesma importância que uma imagem, e esse entrelaçamento deve ser melhor desvendado para que fique claro que a escrita desse texto não seja exterior ao trabalho, assim como veremos adiante na fotografia, que um registro não está também separado de um processo. REGISTRO COMO IMAGEM Entendo a necessidade de um apoio histórico para falar do registro como uma proposição de linguagem. Para isso fui buscar no livro 60/70: as fotografias, os artistas e seus discursos da pesquisadora Juliana Gisi Martins de Almeida, um material que me orientasse quanto a essa questão. Algumas ideias foram coletadas e se mostraram centrais para o entendimento de como pretendo abordar o registro dentro de meu trabalho. Para a autora, Pensar a fotografia como registro implica isolar um dos aspectos da problemática maior da sua relação com a prática artística nas décadas de 1960 e 1970 e aprofundar suas possibilidades de compreensão a partir de como os artistas abordaram a fotografia em seus discursos quando falaram sobre seu fazer (GISI, p.121-122, 2015). A maior problemática desta pesquisa em relação ao registro imagético, é quando sua utilização de uma forma padrão não dá conta de uma produção artística. Durante o curso construímos juntos com professores a noção de muitos assuntos específicos e o registro não escapa de convenções. A minha questão é como e quando o registro passa a ser algo mais, ou seja, linguagem. Quando fazemos a imagem de um objeto, normalmente a intenção é de criar um duplo desse mesmo objeto, sendo esta imagem um transporte que aponta para algo do real, não havendo dúvidas da existência. Quando associamos a fotografia à objetividade, algumas ideias respectivas são intrinsecamente agregadas a ela; particularmente: verdade fotográfica, transparência do meio, informação, prova, documento. Todos termos que localizam a fotografia em um espaço discursivo da Verdade (sic) e de sua transmissão (GISI, p.122, 2015). Mas e se nessa imagem algo nos incomoda? Dúvidas surgem naturalmente ao debatermos constantemente numa superfície opaca, pois sempre somos lembrados dos limites da imagem e seus elementos constitutivos: presença do fotógrafo, ausência do fotografado, o que está e o que não está incluído na imagem, sugestões subjetivas, questionamento da linguagem (o que é isso?). Identifico em alguns de meus trabalhos já realizados, essa problemática do registro como arte. A princípio são imagens que deveriam servir como um simples testamento da sua Realização, porém, de alguma maneira passam a ter um corpo próprio, como se a imagem em si tivesse nela a mesma força do ato Realizado, ou até mesmo tomasse o lugar do produzido. Para alguns artistas, porém, esta não parece ser uma abordagem legítima para suas propostas. Como Gisi nos lembra. [...] para artistas como Marina Abramovic e Ulay a documentação não faz jus à sua experiência, ela seria parcial e precária para reter adequadamente o evento que registra – a fotografia mostraria uma aparência, que é um aspecto do trabalho que os próprios artistas nem sempre reconhecem sua práticas (GISI, p.144, 2015). Entendo que a fotografia, hoje, pode ser utilizada de diversas formas, e que não há um modo verdadeiro de utilizá-la. “As relações que cada artista estabelece com a fotografia são diferentes pois derivam diretamente de suas práticas artísticas e suas necessidades […]” (GISI, p.145, 2015). REGISTRO COMO LINGUAGEM