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Mas eu a encontrei novamente, conversamos, e de uma forma que não posso explicar, sinto que a tinha feito minha. Como se<br />
tudo tivesse se voltado para mim – em gagueira, flashes de palavras, rangidos e lábios e pele e risadas, os sons de seus gemidos<br />
e implorando para serem sufocados, a sensação de suas mãos sobre mim e seus olhos segurando os meus enquanto eu me<br />
movia sobre ela, eu sei completamente que sou dela.<br />
Isso, e sua insistência, me fizeram prometer não anular o nosso casamento.<br />
Ela me disse coisas ontem à noite, coisas que eu sei que ela nunca disse pra mais ninguém.<br />
Disse que ia começar a escola no outono, e uma lesão horrível arruinou sua carreira de dançarina, que nunca vai adorar fazer<br />
qualquer coisa tanto quanto ela gostava de dançar, mas é quase como se ela tivesse desistido de tentar.<br />
Há uma força sob sua vulnerabilidade que é esculpido por algo desconhecido, em um lugar fundo dentro de mim, não tenho<br />
nenhum desejo de tirar este anel do meu dedo.<br />
E mesmo que só agora eu esteja começando a lembrar de cada palavra que ela me disse ontem à noite, eu quero que ela acorde<br />
e me diga novamente. Também percebo que as chances de isso acontecer são pequenas; eu a conheço, sim. É mais provável<br />
que Mia vá acordar e se lembrar do que fizemos, pirar, e eu nunca mais vou vê-la novamente. Ou pior, talvez ela não vá se<br />
lembrar de tudo. Nós dois bebemos bastante – é perfeitamente possível de que ela vá ter nenhuma lembrança do que aconteceu<br />
e assumir que eu aproveitei dela de alguma maneira. O pensamento por si só é suficiente para fazer o meu estômago cair em<br />
meus pés.<br />
Eu olho para ver que ela ainda está definitivamente dormindo, e rolou para o lado dela, colocando o edredom até o queixo. Eu<br />
esfrego minhas mãos sobre rosto e estou muito consciente do quão repugnante estou. Eu cheiro a bebida e ao clube e há algo<br />
pegajoso que cheira a canela pinicando minhas costelas. Balanço, olho para baixo e percebo uma embalagem<br />
de camisinha preso ao meu braço. Classy, mon ami.<br />
Com as cortinas ainda cobrindo a sala está sombreada e fresca. Eu levanto e caminho para o espelho do banheiro, fazendo uma<br />
careta quando acendo a luz. Meus olhos estão inchados, meu cabelo em pé de um lado e, há um rastro de batom vermelho que<br />
começa no pescoço e se move para baixo, em meu peito. Não há nenhuma maneira que eu possa falar com ela assim. Isso vai<br />
assustá-la.<br />
Acho minhas calças jogadas em uma cadeira na sala de estar; minhas boxers estão cobrindo uma lâmpada vermelha, presa no<br />
canto do quarto. Encontro um sapato entre a mesa e a parede, e não tenho nenhuma ideia de onde o outro está. Foda-se, minhas<br />
roupas cheiram pior do que eu. Com outra olhada em Mia, eu decido me vestir e correr para o meu quarto para tomar banho. Com<br />
alguma sorte eu posso encontrar os rapazes, me limpar e voltar antes que ela esteja acordada.<br />
Estou quase fora do quarto quando me ocorre deixar um bilhete. Depois que eu sair da sala não vou ter um jeito de voltar, por isso<br />
vamos ter de nos encontrar no restaurante do casino lá embaixo. Eu sei seu primeiro e último nome, onde vive e praticamente<br />
todos os detalhes sobre sua família, mas eu não consigo acabar com o pânico de que ela vai acordar e fugir. Nós somos casados,<br />
eu me lembro. Não há nenhuma maneira de ela sair sem simplesmente falar comigo primeiro… Eu acho.<br />
Verifico meus bolsos de trás e, em seguida os da frente, franzindo a testa quando encontro um pedaço de papel já dobrado. Eu<br />
puxo o envelope, viro-o e passo o dedo ao longo das palavras rabiscadas apressadamente.<br />
Ansel: entregue-me pela manhã. Não leia. – Mia<br />
Lembro-me de ela me entregando isso. Nós tínhamos ido até o quarto e ela pediu licença para ir até o banheiro, ficou lá por pelo<br />
menos 15 minutos. Eu não sabia que tipo de conclusão ela havia chegado enquanto estava lá dentro, mas quando saiu, tinha um<br />
olhar recém resolvido sobre ela. A confiança na linha dos ombros, o ângulo de seu queixo. Ela se aproximou de mim, colocou o<br />
envelope na minha mão com as suas instruções. Então me atacou.<br />
Corro meu polegar ao longo da vedação, sinto o peso do papel e de tudo o que está escondido. Com um profundo suspiro, eu o<br />
coloco de volta no bolso.