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03 - Oceanos de Fogo

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1<br />

REVIISORAS RTS<br />

SÉRIE IRMÃS<br />

MÁGICAS<br />

LIVRO 3<br />

<strong>Oceanos</strong> <strong>de</strong> <strong>Fogo</strong><br />

Christine Feehan<br />

Disponibilização, tradução, revisão, formatação:<br />

Comunida<strong>de</strong> RTS – ORKUT:<br />

Tradução e Formatação: Jossi Slavic<br />

Revisão: Cris Skau


2<br />

Como a terceira filha <strong>de</strong> uma linhagem mágica, Abigail Drake nasceu com uma afinida<strong>de</strong> mística com a<br />

água e possui um vínculo especialmente forte com os golfinhos. Passou sua vida inteira estudando-os,<br />

apren<strong>de</strong>ndo com eles e nadando entre eles nas águas <strong>de</strong> seu povoado natal, Sea Haven.<br />

Até o dia que Abigail presencia um assassinato a sangue frio na costa e se encontra fugindo por sua<br />

vida... justamente para os braços <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r Volstow. Ele é um agente da Interpol que está seguindo a<br />

pista <strong>de</strong> antiguida<strong>de</strong>s russas roubadas, um homem implacável que consegue aquilo que persegue... e o homem<br />

que rompeu o coração <strong>de</strong> Abigail.<br />

Mas ele não vai <strong>de</strong>ixar que a única mulher que amou seja ferida... ou se livre do seu abraço.<br />

Capítulo 1<br />

Brilhantes cores; laranja, rosa e vermelho se estendiam pelo céu,<br />

convertendo o oceano em uma chama viva enquanto o sol ficava sobre o mar. A<br />

vinte pés sob a superfície da água Abigail Drake ficou imóvel, hipnotizada pela<br />

súbita e estranha beleza do fogo entrando em torrentes no mar como lava<br />

fundida.<br />

Os golfinhos que nadavam em círculos preguiçosos ao redor <strong>de</strong>la tinham<br />

uma aparência completamente diferente com bandas <strong>de</strong> laranja brilhando na<br />

água arrojando sombras por toda parte. Foi súbita e agudamente consciente da<br />

queda da noite e <strong>de</strong> estar sozinha a poucos metros da lôbrega escuridão que tão<br />

facilmente ocultava o perigo.<br />

Sabia que era melhor não mergulhar sozinha. Essa era uma das coisas mais<br />

estúpidas que tinha feito, mas tinha sido incapaz <strong>de</strong> resistir quando o dia tinha<br />

sido tão perfeito e divisou os golfinhos selvagens e soube que tinham vindo<br />

procurá-la.<br />

Sea Haven, no norte da costa da Califórnia era sua cida<strong>de</strong> natal. Abigail era<br />

uma das sete irmãs, nascidas da sétima filha da mágica família Drake, cada uma<br />

dotada <strong>de</strong> talentos únicos. As irmãs Drake eram bem conhecidas em Sea Haven,<br />

protegidas, apreciadas inclusive, e esse era o único lugar que podiam relaxar e<br />

ser elas mesmas. Exceto Abigail. Só ali, no mar, estava realmente em paz.<br />

A costa do norte da Califórnia era também lar <strong>de</strong> várias espécies <strong>de</strong><br />

golfinhos e ela conhecia a maioria <strong>de</strong>les, não só <strong>de</strong> vista, mas também por seus<br />

assobios. Um assobio era tão bom como um nome e a maioria dos investigadores<br />

estavam <strong>de</strong> acordo em que os golfinhos utilizavam os nomes <strong>de</strong> outros quando se


3<br />

comunicavam. Esse grupo <strong>de</strong> golfinhos em particular tinha um assobio para<br />

Abigail e ela os tinha ouvido chamá-la quando estava em pé na varanda do<br />

capitão da casa <strong>de</strong> sua família. Tinha estado longe durante meses investigando<br />

outros oceanos longínquos, mas quando voltou os golfinhos lhe <strong>de</strong>ram as boasvindas<br />

a casa, como sempre.<br />

Poucos anos antes tinha trabalhado com esse grupo <strong>de</strong> golfinhos em<br />

particular enquanto ganhava seu PHD, catalogando cada contato, cada<br />

avistamento, prestando especial atenção à comunicação. Estava intrigada por sua<br />

linguagem e queria ser capaz <strong>de</strong> entendê-los. Tinha trabalhado com dois machos<br />

e conseguido enten<strong>de</strong>r alguns sinais. Com o passo dos anos, cada vez que<br />

voltava para casa, visitava-os, mantendo a relação. Embora nenhuma <strong>de</strong> suas<br />

irmãs tinham estado disponível para mergulhar com ela, a chamada <strong>de</strong> "seus"<br />

golfinhos tinha sido irresistível e tinha tirado seu bote para unir-se a eles.<br />

A lei fe<strong>de</strong>ral exigia uma permissão especial para nadar com golfinhos<br />

selvagens nos Estados Unidos e Abigail tinha sido bastante afortunada para que<br />

fosse concedida uma permissão para investigar na costa da Califórnia pela<br />

segunda vez, mas tinha cuidado em se manter discreta, sem <strong>de</strong>sejar atrair<br />

atenção sobre a presença dos golfinhos. Podiam viajar cinqüenta milhas com<br />

facilida<strong>de</strong> e normalmente eram difíceis <strong>de</strong> rastrear, mas esse grupo, igual a<br />

outros muitos, com freqüência a chamavam utilizando o mesmo assobio.<br />

Era muito incomum que os golfinhos a i<strong>de</strong>ntificassem e lhe <strong>de</strong>ssem um<br />

nome e estava particularmente agradada que soubessem que ela havia retornado<br />

<strong>de</strong> sua longa ausência.<br />

Abigail girou e nadou estômago com estômago com o Kiwi, um gran<strong>de</strong><br />

macho adulto que tinha estabelecido um firme vínculo com o Boscoe, outro<br />

macho. Os dois machos normalmente nadavam em sincronização, seus<br />

movimentos eram um assombroso balé subaquático. Boscoe curvou seu corpo em<br />

um movimento exato, precisamente ao mesmo tempo em que Kiwi e nadou perto<br />

<strong>de</strong> Abigail. Enquanto os três faziam um preguiçoso movimento juntos vários dos<br />

outros golfinhos dançavam em um gran<strong>de</strong> círculo como se houvessem<br />

coreografado cada movimento previamente.<br />

Dançar com os golfinhos era algo inexplicável. Abigail estudava, fotografava<br />

e registrava golfinhos, mas esta noite estava simplesmente <strong>de</strong>sfrutando com eles.<br />

Sua equipe, sempre com ela, ficou quase esquecida enquanto executavam o<br />

estranho e intrigante balé durante os seguintes quarenta minutos. A princípio o<br />

vermelho do sol poente enfocou a atenção sobre eles com um dourado feroz, mas<br />

quando caiu o crepúsculo e a noite obscureceu, resultou muito difícil continuar<br />

por muito que quisesse ficar.<br />

Relutantemente, Abigail assinalou para a superfície e trocou <strong>de</strong> posição para<br />

começar sua ascensão. Os golfinhos nadavam ao redor <strong>de</strong>la em círculos soltos,<br />

seus corpos flexíveis, sem impedimentos apesar <strong>de</strong> seus pesados músculos e<br />

enorme força. Era surpreen<strong>de</strong>nte como os golfinhos podiam propulsar-se através<br />

da água, inundando-se tão profundamente como faziam e utilizando tão pouco<br />

oxigênio. Abigail os achava fascinantes.<br />

Saiu à superfície, empurrando os óculos ao alto da cabeça e flutuando <strong>de</strong><br />

costas enquanto levantava a vista para a gran<strong>de</strong> bola redonda no céu. Sua suave<br />

risada ressonou através da água. As ondas lambiam seu corpo e se estrelavam


4<br />

sobre sua face. Permitiu que suas pernas se afundassem gentilmente para po<strong>de</strong>r<br />

espernear na água enquanto olhava com respeito reverencial as brancas cristas,<br />

convertidas em cintilantes jóias pelo brilho da lua cheia.<br />

Junto a ela, um golfinho saiu à superfície, ro<strong>de</strong>ando-a com um gracioso<br />

giro. O golfinho sacudiu a cabeça <strong>de</strong> um lado a outro, emitindo uma série <strong>de</strong><br />

chiados e estalos. Ela foi nadando para seu bote, um avanço preguiçoso,<br />

assobiando aos golfinhos o curto e gorgolejante a<strong>de</strong>us que sempre utilizava.<br />

Levou uns poucos minutos colocar no bote sua câmara e gravadora antes<br />

<strong>de</strong> subir. Inquieta, olhou <strong>de</strong> novo seu relógio. Suas irmãs estariam preocupadas e<br />

estava a ponto <strong>de</strong> escutar um sermão que sabia merecer.<br />

Os golfinhos tiraram as cabeças da água, sorrindo abertamente para ela, os<br />

olhos negros brilhavam com inteligência.<br />

-Vou ter gran<strong>de</strong>s problemas graças a vocês. - disse aos dois machos.<br />

Sacudiram suas cabeças para ela em perfeita sincronia e afundaram juntos,<br />

<strong>de</strong>saparecendo sob a superfície só para sair ao outro lado do bote, assobiando e<br />

chiando. Abigail sacudiu a cabeça firmemente.<br />

-Não! Está escuro ou estaria se a lua não estivesse tão cheia. Vocês dois<br />

realmente estão tentando que eu ganhe um dos sermões <strong>de</strong> Sarah. Quando<br />

começa, todas nós nos encolhemos <strong>de</strong> medo.<br />

Enquanto tinha tudo fresco em sua mente, afundou-se no assento<br />

acolchoado e rabiscou apressadamente notas sobre suas observações. Registrava<br />

tudo para examinar mais tar<strong>de</strong>, mas sempre ditava enquanto conduzia o bote<br />

<strong>de</strong>pois das primeiras notas <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes sobre os avistamentos e qualquer sinal <strong>de</strong><br />

novos golfinhos na área.<br />

Era importante para seu estudo conseguir amostras <strong>de</strong> DNA para provas em<br />

busca <strong>de</strong> pesticidas e qualquer outra toxina sintética nos sistemas dos golfinhos,<br />

enfermida<strong>de</strong>s contagiosas e é obvio vínculos familiares.<br />

Boscoe assobiou, uma nota distintiva que a fez sorrir. Abigail se inclinou<br />

sobre o flanco do bote.<br />

-Obrigada por me dar um nome, meninos, mas não é suficiente para fazer<br />

que arrisque a um sermão <strong>de</strong> Sarah. Os verei amanhã se não tiverem ido<br />

embora.<br />

Tinha <strong>de</strong>ixado que lhe escapasse o tempo e na realida<strong>de</strong> a escuridão já era<br />

pronunciada enquanto redigia suas notas. Ainda estava a uma boa distância <strong>de</strong><br />

casa e soltou um suspiro, sabendo que não escaparia ilesa essa vez. Sarah, sua<br />

irmã mais velha, estaria com certeza esperando, tamborilando com o pé, com as<br />

mãos nos quadris. A imagem a fez sorrir.<br />

A lua se <strong>de</strong>rramava brilhantemente sobre a água, dando forma a místicos<br />

charcos <strong>de</strong> fantasia <strong>de</strong> prata líquida sobre a superfície. Pequenas cristas brancas<br />

refulgiam através do mar até on<strong>de</strong> ela podia ver, acrescentando-se à beleza.<br />

Virou o rosto para cima e po<strong>de</strong> sentir a ligeira brisa enquanto ligava o<br />

motor e começava a dirigir-se <strong>de</strong> volta para o pequeno porto on<strong>de</strong> guardava o<br />

bote. Entrou várias milhas no mar para unir-se aos golfinhos e agra<strong>de</strong>ceu a lua<br />

enquanto tomava velocida<strong>de</strong> para alcançar a linha da costa. Boscoe e Kiwi<br />

corriam junto a ela, zumbindo como foguetes através da água e saltando<br />

jocosamente.


5<br />

-Presunçosos - gritou, rindo. Suas acrobacias a <strong>de</strong>leitavam e a seguiram<br />

diretamente através do vale sob a ponte até o interior do porto.<br />

Sem advertência, os dois golfinhos machos correram diretamente diante <strong>de</strong><br />

seu bote, cruzando tão perto que ela se assustou surpreendida por seu<br />

comportamento e aterrada por eles. Continuaram repetindo a manobra, uma e<br />

outra vez até que não teve mais escolha que <strong>de</strong>ter o bote <strong>de</strong>ntro do porto, com o<br />

atracadouro à vista.<br />

-Kiwi! Boscoe! O que estão fazendo? Vou machucar vocês! - O coração <strong>de</strong><br />

Abigail saltou a sua garganta. Os golfinhos com freqüência saltavam sobre o bote,<br />

e seguiam a corrente, mas nunca cruzavam repetidamente tão perto diante do<br />

bote. Os gran<strong>de</strong>s machos se mantinham na superfície, lado a lado, mantendo-se<br />

sobre as caudas e estalando para ela. Não teve mais remédio a não ser <strong>de</strong>ter o<br />

motor completamente e ficar à <strong>de</strong>riva no mar para evitar que se ferissem. Ali, as<br />

ondas eram maiores, assim o bote era um pouco sacudido pelas ondas mais<br />

pesadas da boca do porto.<br />

No momento em que o motor sossegou, Kiwi e Boscoe voltaram para o<br />

flanco do bote, cuspindo água para ela pela comissura <strong>de</strong> suas bocas e sacudindo<br />

as cabeças vigorosamente para lhe dizer algo. Vários dos outros golfinhos<br />

apareceram, saltando enquanto olhavam para o atracadouro. Sabia que saltar era<br />

uma prática comum que golfinhos e baleias utilizavam para ver o mundo exterior<br />

<strong>de</strong> seu ambiente aquático simplesmente tirando suas cabeças sobre a superfície.<br />

Pareciam estar procurando algo fora da água.<br />

Abigail se sentou imóvel durante um momento, perplexa pelo incomum<br />

comportamento. Nunca tinha visto nenhum dos golfinhos machos atuar <strong>de</strong><br />

semelhante maneira. Estavam muito agitados. Os golfinhos eram enormemente<br />

fortes e rápidos e podiam ser perigosos e os machos <strong>de</strong> focinho <strong>de</strong> garrafa<br />

algumas vezes formavam coalizões com outros machos e perseguiam uma fêmea<br />

solitária até que a capturavam. Certamente, não estavam fazendo semelhante<br />

coisa com ela. Tinham formado uma coalizão com o resto dos machos do grupo<br />

para mantê-la fora do porto?<br />

Passou a vista a seu redor. A lua <strong>de</strong>rramava luz através das escuras águas<br />

e nas pranchas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira que se acabavam sobre a água. Os edifícios se<br />

elevavam, dois restaurantes com vidraças <strong>de</strong> cara para o mar, iluminadas pela<br />

luz da lua, mas os negócios estavam fechados e o porto estava <strong>de</strong>sprovido do<br />

bulício <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> que tinha lugar durante o dia.<br />

Seu bote se elevou com as ondas e <strong>de</strong>slizou mais profundamente nas águas<br />

mais calmas do mesmo porto. Os sons foram à <strong>de</strong>riva pela baía, vozes,<br />

amortecidas ao princípio, <strong>de</strong>pois subindo com fúria. Abigail segurou<br />

imediatamente seus equipamentos e focou sua atenção no atracadouro. Um bote<br />

<strong>de</strong> pesca esportiva estava atracado como era normal junto ao restaurante. Um<br />

pouco mais à frente havia uma segunda embarcação diante <strong>de</strong> um edifício <strong>de</strong><br />

metal. Um bote <strong>de</strong> pesca estava ancorado ali, o que era altamente incomum. Os<br />

botes <strong>de</strong> pesca estavam acostumados a ficarem do outro lado do atracadouro e<br />

ela nunca tinha visto um atracado perto dos negócios.<br />

Uma pequena lancha, uma zodiac, com o motor zumbindo brandamente,<br />

estava ancorada junto ao pesqueiro. Podia divisar ao menos três homens. Um,<br />

vestia uma camisa xadrez e estava com o braço estendido e ao olhar


6<br />

atentamente ela tremeu <strong>de</strong> repente, pois parecia segurar uma arma. Um segundo<br />

homem ficou em pé. A ação lhe colocou diretamente sob a luz da lua. Esta se<br />

<strong>de</strong>rramou sobre ele revelando seu cabelo grisalho, camisa azul marinho e a arma<br />

em sua mão. Ambas as armas estavam apontadas para um terceiro homem que<br />

estava sentado.<br />

Brancos farrapos <strong>de</strong> névoa tinham começado a flutuar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o mar para a<br />

costa, dando forma a <strong>de</strong>dos fantasmagóricos, obstruindo sua visão quando seu<br />

bote foi à <strong>de</strong>riva mais perto do atracadouro. Ela soprou brandamente no ar,<br />

elevando os braços ligeiramente para atrair o vento. Esse soprou aten<strong>de</strong>ndo-a,<br />

levando com ele os retalhos <strong>de</strong> névoa cinza, esclarecendo o olhar através da<br />

extensão <strong>de</strong> água.<br />

Alguém falou asperamente o que soou como a russo. O homem sentado<br />

replicou em inglês, mas o oceano golpeava contra a embarcação enquanto seu<br />

bote se aproximava mais e não pô<strong>de</strong> ouvir as palavras. Abigail conteve o fôlego<br />

quando o homem sentado se lançou para o <strong>de</strong> camisa xadrez. O homem com a<br />

camisa azul marinho recolheu um colete salva-vidas, sustentando-o sobre o<br />

canhão da arma e pressionando-o contra a nuca da vítima enquanto esse lutava<br />

<strong>de</strong>sesperadamente pela posse da outra arma.<br />

-Dispare já, Chernyshev! Dispare já! - A voz chegou claramente, com um<br />

acento russo.<br />

Ouviu a explosão amortecida, um som que Abigail sabia que sempre a<br />

perseguiria. O corpo da vítima <strong>de</strong>smoronou lentamente e caiu ao fundo do bote.<br />

O pesqueiro perto do atracadouro se moveu ligeiramente e os homens viraram as<br />

cabeças à outra pessoa gritando uma or<strong>de</strong>m.<br />

Ofegando, ela compreen<strong>de</strong>u que o pesqueiro era um que reconhecia. Gene<br />

Dockins e três <strong>de</strong> seus filhos levavam um negócio <strong>de</strong> pesca no Noyo Harbor. A<br />

família vivia em Sea Haven e era bem conhecida. Para seu horror viu Gene<br />

levantar-se lentamente <strong>de</strong> on<strong>de</strong> tinha estado agachado no fundo <strong>de</strong> sua<br />

embarcação. Suas mãos estavam elevadas em rendição. Era um homem gran<strong>de</strong><br />

como um urso, com amplos e encurvados ombros e cabelos que caíam por suas<br />

orelhas em uma juba tão selvagem e indomável como o homem do mar que era.<br />

O fôlego ficou preso na garganta e seu coração começou a palpitar. O<br />

homem gesticulou com sua arma para que Gene subisse no seu bote. O pescador<br />

foi para a escada, fez uma pausa e mergulhou no mar justo quando as armas<br />

disparavam. Abigail soube pela forma que seu corpo sacudiu ao cair, que Gene<br />

estava ferido, mas pô<strong>de</strong> ver que seus braços se moviam quando golpeou a água e<br />

afundou. Ainda estava vivo. Os outros dois homens amaldiçoaram e começaram a<br />

disparar às obscurecidas águas, as armas cuspiam através do coletes salva-vidas<br />

em um intento <strong>de</strong> amortecer o som.<br />

Abigail soltou o assobio <strong>de</strong> Boscoe, lançando o braço para frente em uma<br />

or<strong>de</strong>m, esperando que o golfinho obe<strong>de</strong>cesse. Embora tivesse só uma pequena<br />

habilida<strong>de</strong> telepática com suas irmãs, tinha uma conexão muito mais forte com os<br />

golfinhos e com freqüência eles a entendiam, ou se antecipavam ao que<br />

<strong>de</strong>sejava. Boscoe se lançou como um foguete, dirigindo-se para o atracadouro<br />

instantaneamente e irrompendo em vários chiados e assobios que eram<br />

claramente sinais para os outros golfinhos.


7<br />

Enquanto ela se esticava em busca do rádio para pedir ajuda, os dois<br />

homens a avistaram. Imediatamente o homem <strong>de</strong> cabelo grisalho virou e<br />

levantou os braços. O sangue <strong>de</strong> Abigail congelou com súbito medo. Além da<br />

afiada faca <strong>de</strong> submarinista que levava no cinto e um comprido arpão afiado, um<br />

aparelho <strong>de</strong> sua própria feitura que levava como precaução contra tubarões no<br />

caso <strong>de</strong>stes a atacavam durante uma imersão, não tinha armas. Nenhuma forma<br />

real <strong>de</strong> proteger-se.<br />

As balas entraram assobiando na água e golpearam seu bote. Agarrando<br />

rapidamente o arpão, afundou-se. Algo quente <strong>de</strong>slizou por suas costas e ombro<br />

quando golpeava a água. O sal se acrescentou à dor ar<strong>de</strong>nte, mas <strong>de</strong>pois ficou<br />

intumescida pela combinação <strong>de</strong> adrenalina e a explosão gelada do oceano.<br />

Subiu ofegando, preocupada com algo mais que o par <strong>de</strong> assassinos<br />

armados. Normalmente só a areia e uns poucos tubarões tigre habitavam o porto.<br />

Os pescadores eram meticulosos em evitar que ficasse peixe algum nas águas do<br />

porto, mas várias das espécies mais perigosas <strong>de</strong> tubarões habitavam as águas<br />

com o passar do litoral, preferindo os canais pouco fundos.<br />

A zona era conhecida por ter gran<strong>de</strong>s tubarões brancos e uma colônia <strong>de</strong><br />

focas próxima. Com ela e Gene sangrando nas águas do porto sabia que tinha<br />

que ficar a salvo logo que fosse possível. Afastou o rosto do porto, voltando-se<br />

para os escarpados <strong>de</strong> Sea Haven, elevando os braços e tirando-os fora da água,<br />

ainda aferrando o arpão na mão enquanto chamava o vento e o enviava através<br />

do oceano em uma mensagem a suas irmãs.<br />

Os homens estavam no bote e disparavam contra ela. As balas assobiavam<br />

através da água, uma cortou o ar tão perto <strong>de</strong> sua orelha que ouviu como<br />

assobiava ao passar e penetrava a água atrás <strong>de</strong>la. Afundou <strong>de</strong> novo, chutando<br />

com as pernas para cima para conseguir um rápido empurrão para as águas mais<br />

profundas, seu coração palpitava quando o bote lhe veio em cima, a hélice<br />

cortando perigosamente perto.<br />

Tinha que apressar-se, tinha que aproximar-se <strong>de</strong> Gene. Boscoe estava<br />

mantendo Gene na superfície, seria vulnerável ao ataque dos tubarões, algum se<br />

sentiria atraído até o porto. O golfinho não po<strong>de</strong>ria manter a tona muito tempo o<br />

pescador ferido se os tubarões ficassem agressivos.<br />

Olhando através do movimento da água, pô<strong>de</strong> ver os dois homens<br />

esquadrinhando pela amurada <strong>de</strong> seu bote agora <strong>de</strong>tido, tentando conseguir uma<br />

pista <strong>de</strong>la. Moveu-se cuidadosamente, sabendo que tinha que subir em busca <strong>de</strong><br />

ar e atacar, tudo ao mesmo tempo. Kiwi se roçou contra ela tranquilizadoramente<br />

e tomou posição no lado oposto, atraindo a atenção dos dois homens saltando<br />

subitamente fora da água quase na cara do homem da camisa xadrez.<br />

Kiwi fez gestos com uma série <strong>de</strong> estalos enquanto saltava e Abigail se<br />

equilibrou fora da água pelo lado oposto do bote. A arma <strong>de</strong> Chernyshev estava<br />

seguindo o golfinho quando seu sócio caiu para trás alarmado. Chernyshev<br />

disparou uma rajada no momento que Abigail lhe cravou a ponta do arpão na<br />

panturrilha e o acionou. Ele gritou quando o golpe foi feito com tremenda força, o<br />

som ficou amortecido quando Abigail <strong>de</strong>sapareceu <strong>de</strong> volta sob a água.<br />

A água se fechou sobre sua cabeça e Abigail chutou <strong>de</strong> novo fortemente,<br />

nadando uns poucos pés para baixo procurando cobertura nas lamacentas<br />

profundida<strong>de</strong>s e dirigindo-se mar a<strong>de</strong>ntro, longe <strong>de</strong> on<strong>de</strong> esperariam que saísse à


8<br />

superfície. Quase instantaneamente sentiu o impulso da água puxando, aferrando<br />

seu corpo e fazendo-o girar. Estava saindo à superfície em um canal pouco fundo<br />

e o retrocesso da onda a estava arrastando para baixo.<br />

Kiwi a golpeou, <strong>de</strong>slizando a barbatana quase sob sua mão em um convite e<br />

se aferrou a ela mais por instinto que conscientemente. Ele a levou através da<br />

aguda areia com uma explosão <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> e se dirigiu como um foguete para<br />

as águas mais calmas do porto, diretamente para o embarcadouro. Quando já<br />

não pô<strong>de</strong> conter mais o fôlego, soltou-se e chutou fortemente para a superfície,<br />

tossindo ao sair, girando grosseiramente para manter a embarcação dos<br />

assassinos à vista.<br />

Eles estavam junto a seu próprio bote e o homem <strong>de</strong> camisa xadrez se<br />

inclinou para agarrar algo, antes <strong>de</strong> sair para mar aberto. Kiwi a golpeou <strong>de</strong> novo<br />

com o focinho, apresentando a barbatana. Estava estalando e chiando,<br />

empurrando-a com urgência. Ela agarrou e afundou, <strong>de</strong>ixando que a levasse<br />

através da água a uma velocida<strong>de</strong> que nunca teria sido capaz <strong>de</strong> conseguir por si<br />

mesma.<br />

Kiwi se <strong>de</strong>teve abruptamente quando Abigail estava segura <strong>de</strong> que seus<br />

pulmões ficariam para sempre vazios <strong>de</strong> ar. Chutou com força, ansiosa por<br />

alcançar a superfície. Algo roçou suas costas. Estranhamente, sentiu como se<br />

pontas <strong>de</strong> <strong>de</strong>dos <strong>de</strong>slizassem por suas omoplatas e virou para encontrar-se cara a<br />

cara com um homem morto. Seus olhos estavam abertos e a olhavam fixamente<br />

com uma espécie <strong>de</strong> macabro horror, seu cabelo escuro flutuava como fios <strong>de</strong><br />

algas marinhas e sua face estava pálida sob a água. Seus braços estavam<br />

estendidos como em cruz, embora se balançassem com o movimento da água e<br />

virava com o golpe das ondas, o corpo batendo contra o seu.<br />

Seu estômago se revolveu e ofegou, per<strong>de</strong>ndo seu último retalho <strong>de</strong> ar e<br />

tragando água salgada. Chutou <strong>de</strong>sesperada por alcançar a superfície, sua cabeça<br />

surgiu enquanto tossia e se engasgava. Ardiam-lhe os olhos por causa do sal, ou<br />

possivelmente das lágrimas, mas atraiu o ar a seus pulmões e se agarrou a Kiwi<br />

pela terceira vez. Algo arranhou a parte <strong>de</strong> atrás <strong>de</strong> sua perna enquanto o<br />

golfinho a empurrava através da água. Uma sombra cinza se <strong>de</strong>slizou<br />

silenciosamente.<br />

Abigail lutou contra a urgência <strong>de</strong> procurar a superfície. Sabia que a pele <strong>de</strong><br />

um tubarão estava coberta por duras escamas parecidas com <strong>de</strong>ntes chamadas<br />

<strong>de</strong>ntículos dérmicos e quando se esfregava da cauda à cabeça pareciam lixa, a<br />

sensação exata que sentia na parte <strong>de</strong> trás da perna. O que fosse que a tinha<br />

arranhado a estava seguindo, tentando ro<strong>de</strong>á-la, mas Kiwi a levava através da<br />

água a uma velocida<strong>de</strong> vertiginosa. A eco localização <strong>de</strong> Kiwi era tão precisa que<br />

quase golpearam Boscoe, que ainda estava tentando corajosamente manter o<br />

rosto <strong>de</strong> Gene sobre a água.<br />

Atônita, Abigail observou vários golfinhos começarem a golpear duramente<br />

aos tubarões, conduzindo-os ao fundo com tanta força que o lixo se elevava do<br />

fundo do oceano e se agitava em uma escura massa. Os tubarões tigres estavam<br />

excitados pelo aroma do sangue. Se um tubarão branco estivesse nas<br />

imediações, estava segura <strong>de</strong> que atravessaria a água como um foguete para<br />

unir-se ao frenesi.


9<br />

Ela se somou a luta, empurrou o arpão contra um pequeno tubarão e<br />

acionou o bloqueio <strong>de</strong> pressão para atirar um forte e enérgico golpe no focinho<br />

<strong>de</strong>le, em um esforço por dissuadi-lo. Recarregou o arpão tão rapidamente como<br />

foi capaz e nadou para o atracadouro.<br />

Atirando o arpão sobre as pranchas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, Abigail tentou empurrar-se<br />

fora da água. Ardia-lhe as costas e seus braços protestaram. Caiu <strong>de</strong> volta ao<br />

mar quase em cima <strong>de</strong> um pequeno tubarão. Kiwi investiu, golpeando-o com<br />

força, conduzindo-o <strong>de</strong> volta para o fundo enquanto ela fazia outro intento.<br />

Utilizando um dos golfinhos como ponto <strong>de</strong> apoio, foi capaz <strong>de</strong> arrastar-se fora da<br />

água o suficiente para alcançar um pedaço <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira que utilizou como cabo.<br />

Imediatamente se agachou e agarrou a camisa <strong>de</strong> Gene, puxando-o e<br />

liberando Boscoe para que os golfinhos pu<strong>de</strong>ssem nadar longe dos tubarões.<br />

Agarrou-lhe por <strong>de</strong>baixo dos ombros e o arrastou, fazendo uma careta quando<br />

arranhou as costas contra a ma<strong>de</strong>ira.<br />

Era um homem gran<strong>de</strong> e sua roupa molhada acrescentava peso. Lutou por<br />

erguê-lo, assobiando aos golfinhos, implorando mais ajuda. Boscoe voltou,<br />

utilizando sua enorme força para empurrar para cima e fora da água o homem<br />

inconsciente. Abigail foi capaz <strong>de</strong> puxar Genne quase até a superfície do<br />

atracadouro, embora suas pernas pendurassem pela borda. Viu Kiwi sair em um<br />

mergulho, soprando água por seu respiradouro e arrastando o homem morto pelo<br />

braço.<br />

Quando ela se agachou para segurar o <strong>de</strong>sconhecido, ficou horrorizada ao<br />

ver sangue sobre o golfinho. Uma bala provavelmente o tinha atingido enquanto<br />

a salvava. Arrastou o homem morto até em cima do atracadouro, puxando-o até<br />

colocá-lo atrás <strong>de</strong>la e longe <strong>de</strong> Gene.<br />

Abigail fez gestos o Kiwi para que saísse ao mar, e se dirigisse a Sea Lion<br />

Cove. Mais que nada lhe queria a salvo <strong>de</strong>pois do que tinha feito por ela, mas<br />

tinha que tentar salvar Gene.<br />

Sabia que suas irmãs estavam na varanda do capitão. Preocupadas.<br />

Esperando. Prontas para ajudar.<br />

-Vamos, Senhor Dockins, não po<strong>de</strong> morrer - sussurrou. Não tinha nem idéia<br />

<strong>de</strong> como ele se colocou nisso, mas não acreditava nem por um momento que<br />

pu<strong>de</strong>sse ter feito nada ilegal. Conhecia-lhe toda a vida. Sua esposa, Marsha,<br />

tinha-a consolado com freqüência quando os outros meninos tinham medo <strong>de</strong><br />

brincar com ela. Gene a tinha colocado em seu bote com freqüência e lhe contava<br />

histórias sobre o mar.<br />

Podia ver on<strong>de</strong> as três balas tinham esmigalhado seu corpo, uma no ombro,<br />

uma no peito e uma tinha barbeado a pele <strong>de</strong> seu crânio. Estava sangrando<br />

profusamente agora, assim fez pressão com força sobre as duas piores feridas.<br />

Sua nuca se arrepiou com alarme. Em algum lugar, mar <strong>de</strong>ntro, um<br />

golfinho chiou uma advertência. Virou-se, esten<strong>de</strong>ndo o braço em busca do<br />

arpão, uma arma ridícula contra uma pistola.<br />

-Não se mova - A voz era baixa e tremia <strong>de</strong> raiva e o acento não era tão<br />

marcado, mas era <strong>de</strong>finitivamente russo.<br />

Abigail ficou congelada, seu estômago se encolheu. Os golfinhos não<br />

podiam ajudá-la agora. Sua única esperança era que suas irmãs tivessem<br />

enviado ajuda e esta estivesse em caminho. Sentiu movimento atrás <strong>de</strong>la, mas


10<br />

não ouviu pisadas. Seu corpo inteiro se enrijeceu. Trocou <strong>de</strong> posição lentamente,<br />

o suficiente para que ao virar a cabeça, pu<strong>de</strong>sse ver sapatos e calças. Ele estava<br />

em pé sobre o homem morto.<br />

Uma profusão <strong>de</strong> maldições russas saiu <strong>de</strong> sua boca. Adiantou-se e a<br />

segurou por sua trança, jogando bruscamente sua cabeça para trás para lhe<br />

pressionar o canhão da pistola entre os olhos com força. Seu coração se <strong>de</strong>teve.<br />

Seu olhar colidiu com um par <strong>de</strong> olhos azul meia-noite, negros por uma fúria<br />

gelada. Houve um momento <strong>de</strong> absoluto terror e <strong>de</strong>pois o reconhecimento lutou<br />

por abrir passo até seu cérebro. Seu coração reassumiu seu frenético palpitar.<br />

Chutou-lhe, subitamente furiosa consigo mesma, separando com um tapa a<br />

pistola <strong>de</strong> sua face.<br />

-Afasta essa maldita coisa <strong>de</strong> mim!<br />

-Se acalme. Não vou machucar você. - Ele tentou se esquivar <strong>de</strong> seus<br />

chutes. - Maldita seja, Abbey, que <strong>de</strong>mônios está fazendo aqui? Me olhe! Me<br />

conhece. Sabe que nunca faria mal a você. Acabou. Está a salvo. Não vou <strong>de</strong>ixar<br />

que aconteça nada a você.<br />

Ela conteve um soluço e <strong>de</strong>u-lhe as costas, tentando recuperar a<br />

compostura. Não tinha visto esses olhos em quatro anos. Aleksan<strong>de</strong>r Volstov,<br />

agente da Interpol e extraordinário “rompe coração”. Era a última pessoa que<br />

tinha esperado ver ali. A última pessoa que teria <strong>de</strong>sejado enfrentar estando à<br />

beira da histeria. Maldito fosse <strong>de</strong> todos os modos. Tinha direito a estar histérica<br />

<strong>de</strong>pois que lhe empurrou uma pistola à cara. Evitando olhá-lo, engatinhou <strong>de</strong><br />

novo até Gene e pressionou as mãos sobre as feridas para tentar <strong>de</strong>ter o fluxo <strong>de</strong><br />

sangue. Estava mortalmente pálido e seus pulmões estavam lutando por respirar.<br />

-Quem é esse, Abbey?<br />

Ela não levantou o olhar.<br />

-Dois homens em uma Zodiac. Saíram do porto e se chamar o xerife e a<br />

guarda - costeira, talvez possam agarrá-los.<br />

-Conseguiu vê-los?<br />

-Estou tentando manter Gene vivo e isso requer concentração. Não posso<br />

respon<strong>de</strong>r a suas perguntas agora.<br />

-Esse homem que está morto é meu companheiro, Abbey. Quem é este? -<br />

Havia gelo em sua voz, uma advertência.<br />

Ela sentiu em estremecimento <strong>de</strong>scer por sua espinha, mas manteve sua<br />

atenção concentrada no pescador.<br />

-Chama a guarda - costeira e a uma ambulância. Duvido que sejam tão<br />

estúpidos para levar a embarcação por mar aberto quando po<strong>de</strong>riam ser<br />

capturados, mas po<strong>de</strong> ser que tenha sorte. Há umas poucas cavernas com o<br />

passar do litoral o suficientemente gran<strong>de</strong>s para ocultar uma embarcação tão<br />

pequena e esta noite há calma, assim se souberem o que estão fazendo é on<strong>de</strong><br />

estarão.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r se agachou junto a ela e captou numa olhada o sangue em suas<br />

costas <strong>de</strong>scendo pela parte <strong>de</strong> atrás <strong>de</strong> sua perna.<br />

-Está ferida!<br />

-Estou trabalhando em Gene - protestou ela quando tentou aproximá-la<br />

<strong>de</strong>le.<br />

-Sinto muito, lyubof, mas não há possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que esse homem viva.


11<br />

Seu tom amável, uma carícia <strong>de</strong> negro veludo, foi quase sua perdição e se<br />

voltou contra ele, furiosa, lutando por conter as lágrimas.<br />

-Não me diga que não viverá! Os golfinhos arriscaram suas vidas por ele e<br />

não vou ren<strong>de</strong>r-me. Simplesmente mantenha seus inimigos longe <strong>de</strong> minhas<br />

costas enquanto faço isto.<br />

Não era justo estar zangada com ele. E possivelmente não o estivesse. Seu<br />

corpo estava tremendo <strong>de</strong>vido à surpresa e a sobrecarga <strong>de</strong> adrenalina. E podia<br />

sentir suas próprias feridas, ar<strong>de</strong>ndo e palpitando. Principalmente sentia medo<br />

por Gene e sua família. Ela não era Libby ou Elle ou sequer Hannah com seus<br />

tremendos po<strong>de</strong>res. Inclusive Sarah seria melhor que Abigail, mas ela era tudo o<br />

que Gene tinha.<br />

-E tampouco me chame <strong>de</strong> meu amor. Não sou nada sua.<br />

Elevou os braços sobre a cabeça e atraiu ao vento, um canto sussurrado,<br />

uma prece, uma necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> união e enviou o vento mar a<strong>de</strong>ntro para o<br />

oceano, para a casa do escarpado on<strong>de</strong> sabia que suas irmãs esperavam. On<strong>de</strong><br />

sabia, sempre saberia, que era aceita, <strong>de</strong>feituosa ou não, e sempre viriam em<br />

sua ajuda quando fosse necessário.<br />

Ouvia as sirenes aproximando-se rapidamente. Ouvia o estalo do mar, a<br />

canção das baleias e o batimento <strong>de</strong> seu próprio coração. Havia um ritmo <strong>de</strong> vida<br />

ali, um fluxo vazante que era contínuo e forte. E encontrou o batimento do<br />

coração <strong>de</strong> Gene. Lento. Vacilante. Fora <strong>de</strong> sincronia com o fluxo universal.<br />

-Tenho você - sussurrou brandamente. - Não vou <strong>de</strong>ixar você partir.<br />

Abigail não tinha um estojo <strong>de</strong> primeiro socorros, mas tinha a magia Drake.<br />

Fluía como uma fonte, um po<strong>de</strong>r proce<strong>de</strong>nte das profundida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> seu interior,<br />

alimentado pelo vento e o mar. Podia sentir-se conectada com Hannah e Sarah,<br />

sentia a força alagando-a quando colocou a palma <strong>de</strong> uma mão sobre a ferida da<br />

cabeça <strong>de</strong> Gene e outra sobre o pequeno buraco <strong>de</strong> seu peito.<br />

O vento se elevou sobre a superfície do mar. Os golfinhos saltaram e <strong>de</strong>ram<br />

saltos mortais. Na distância, várias baleias respon<strong>de</strong>ram. O po<strong>de</strong>r rangeu no ar a<br />

seu redor. Através <strong>de</strong>le sentiu Elle, sua irmã mais jovem unindo-se, a quebra <strong>de</strong><br />

onda <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r fluiu para cima proce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> algum lugar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> Abigail,<br />

ar<strong>de</strong>ndo braços abaixo até as palmas. A força <strong>de</strong> Kate se somou à corrente<br />

estável. Joley se uniu, sua voz forte no vento, seu po<strong>de</strong>r alagando Abigail. E<br />

então, na distância, Libby se uniu a elas, contribuindo com seu tremendo dom <strong>de</strong><br />

cura. A quebra <strong>de</strong> onda foi tão intensa que a sacudiu com sua força, o ardor <strong>de</strong><br />

suas palmas era tão pronunciado que resultava difícil manter as mãos firmes<br />

sobre as feridas.<br />

O vento golpeou sua face e trouxe com ele a névoa, obscurecendo toda<br />

visão da água, envolvendo-a em um casulo prateado, ajoelhada ali sobre o<br />

atracadouro com Gene estendido tão imóvel e o corpo <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r<br />

esquentando-a. O alívio quase a afligiu. Hannah, Joley e Elle eram<br />

freqüentemente condutores <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, mas nunca Abigail. Era ao mesmo tempo<br />

aterrador e hilariante sentir a força e o calor alagando-a até entrar no pescador<br />

mortalmente ferido.<br />

Não se parecia com seu próprio dom, mas sim era muito mais forte e mais<br />

concentrado. Sentiu a pele do homem ar<strong>de</strong>r sob suas palmas como se absorvesse


12<br />

as proprieda<strong>de</strong>s curadoras. Sentiu o peito elevar-se como se Gene lutasse por<br />

respirar e soube que viveria, embora suas feridas fossem graves.<br />

Quando o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>caiu, suas pernas falharam e caiu sentada sobre o<br />

atracadouro tremendo, com os braços e pernas como chumbo. O terrível preço <strong>de</strong><br />

ter e utilizar o po<strong>de</strong>r era uma tremenda <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong> posterior. Ficou <strong>de</strong>itada<br />

in<strong>de</strong>fesa, escutando as ondas saltando e o uivo das sirenes enquanto os veículos<br />

enchiam o estacionamento do porto.<br />

-Abbey - A voz <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r era amável. Tirou a jaqueta e a esten<strong>de</strong>u<br />

sobre o corpo <strong>de</strong>la que tremia violentamente- Os paramédicos estão aqui. Qual a<br />

gravida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus ferimentos?<br />

Levantou o olhar para ele. As linhas e planos do seu rosto lhe eram tão<br />

dolorosamente familiares. As lágrimas embaçaram sua visão. A névoa formou<br />

re<strong>de</strong>moinhos sobre sua cabeça. Sabia que suas irmãs jaziam sobre a almena do<br />

capitão, ou on<strong>de</strong> quer que estivessem quando tinham completado a união, tão<br />

drenadas <strong>de</strong> força como ela. O vento revoou brandamente sem o po<strong>de</strong>r das irmãs<br />

Drake e ouviu <strong>de</strong>cair as últimas notas da incrível voz <strong>de</strong> Joley.<br />

Trovejaram pisadas em sua direção. As pranchas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira do<br />

atracadouro chiaram e gemeram em protesto, tremendo sob o peso <strong>de</strong> gente<br />

correndo. Perguntou-se se as juntas agüentariam ou se voltaria a cair no oceano<br />

para <strong>de</strong>leite dos tubarões. Estava <strong>de</strong>finitivamente histérica. Não era um bom<br />

momento para estar olhando aos olhos d Aleksan<strong>de</strong>r perguntando-se por que<br />

suas pestanas eram tão largas. Ou perguntando-se por que nunca podia tirar<br />

essa face <strong>de</strong> seus sonhos. Por que ouvia sua voz chamando-a através dos<br />

oceanos. Abigail fechou os olhos e virou a cabeça longe <strong>de</strong>le.<br />

-Você. Ponha-se em pé lentamente com as mãos on<strong>de</strong> eu possa ver.<br />

Retroce<strong>de</strong> afastando-se <strong>de</strong>la. - Reconheceu Jonas Harrington, o xerife. Estava<br />

utilizando sua voz <strong>de</strong> total autorida<strong>de</strong>, coisa que fazia com freqüência, mas <strong>de</strong>ssa<br />

vez carregava um indício <strong>de</strong> algo letal.<br />

O coração <strong>de</strong> Abbey se contraiu. Seus olhos se encontraram com os <strong>de</strong><br />

Aleksan<strong>de</strong>r. A expressão <strong>de</strong>le era dura, olhos tão frios como o mar ártico. Sabia<br />

que ele podia matar um homem rápida e eficientemente, passando da imobilida<strong>de</strong><br />

à ação em só um batimento <strong>de</strong> coração.<br />

-Não faça mal a ele. - As palavras escaparam, tão baixas que foram apenas<br />

discerníveis, mas Aleksan<strong>de</strong>r pô<strong>de</strong> ler o medo claro em sua face. E não era por<br />

ele.<br />

-Sou o xerife e or<strong>de</strong>no que ponha as mãos on<strong>de</strong> possa ver e retroceda<br />

afastando-se da mulher.<br />

-Por favor - Ela sussurrou a súplica ao russo.<br />

Junto a ela, Aleksan<strong>de</strong>r se levantou com pausada facilida<strong>de</strong>. Tranqüilo. Frio.<br />

Nunca <strong>de</strong>sconcertado. Virou-se para enfrentar Jonas, com as mãos em alto e as<br />

palmas para fora.<br />

-Você - Jonas quase cuspiu a palavra. Embainhou sua arma e esten<strong>de</strong>u o<br />

braço para comprovar o pulso do homem que jazia tão imóvel- Volstov. Deveria<br />

ter sabido que estaria envolto nisto <strong>de</strong> algum modo. Esse homem está morto.<br />

Quem é?<br />

-Meu companheiro. Os que lhe assassinaram estão ali fora em alguma<br />

parte. - Aleksan<strong>de</strong>r assinalou à extensão <strong>de</strong> mar mais à frente do porto.


13<br />

Jonas examinou Gene a seguir. Seus olhos se encontraram com os do russo<br />

e exalou um suspiro enquanto seguia para Abigail. Jonas se agachou junto a ela,<br />

tomando sua mão. Jackson, um <strong>de</strong> seus ajudantes permanecia em pé a suas<br />

costas, <strong>de</strong> cara ao mar, mas sua postura corporal era claramente protetora.<br />

-Traz aqui aos paramédicos, Jackson.<br />

A Abigail ocorreu que Jackson estava sendo atraído ao círculo da família<br />

Drake quisesse ele ou não. Jonas sempre tinha estado ali. Ru<strong>de</strong>. Inflexível.<br />

Alguém com quem contar quando as coisas ficavam feias. Fechou os <strong>de</strong>dos ao<br />

redor <strong>de</strong> seu pulso e se reteve ali.<br />

Ele olhou <strong>de</strong>la ao Aleksan<strong>de</strong>r e sua face se endureceu perceptivelmente.<br />

-Qual a gravida<strong>de</strong>, Abbey?<br />

Ela fez um esforço por dizer que Gene necessitava <strong>de</strong> ajuda imediata. Jonas<br />

sacudiu a cabeça.<br />

-Ele estará a caminho num momento, carinho, o levaremos a São Francisco.<br />

Os paramédicos estão com ele. Quero que te examinem.<br />

-Casa – Se esforçou para pronunciar a palavra, estendida <strong>de</strong> costas olhando<br />

para cima aos látegos <strong>de</strong> névoa errante. Queria ir para casa on<strong>de</strong> estaria segura.<br />

Ro<strong>de</strong>ada por suas irmãs e protegida pelas pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sua casa.<br />

-Quero que lhe examinem, Abbey e não me vou sentir culpado por isso -<br />

disse Jonas, retroce<strong>de</strong>ndo para <strong>de</strong>ixar espaço aos paramédicos, mas retendo a<br />

posse <strong>de</strong> sua mão.<br />

-Libby - disse ela, tentando apartar sua mão para po<strong>de</strong>r empurrar aos<br />

paramédicos.<br />

-Libby não. Ela estará tão fraca como você. Possivelmente mais. A velha e<br />

boa medicina terá que servir - replicou Jonas firmemente enquanto lhe acariciava<br />

o cabelo para trás.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r se inclinou sobre ela.<br />

-Que aspecto tinham? - As pontas <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>dos roçaram as gotas <strong>de</strong> água<br />

salgada do rosto <strong>de</strong>la com <strong>de</strong>liciosa gentileza. As pontas <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>dos<br />

<strong>de</strong>slizaram sobre a bochecha e <strong>de</strong>pois sobre o lábio inferior.<br />

Queria contar-lhe mas no momento em que o rosto <strong>de</strong>le esteve diante da<br />

<strong>de</strong>la, as lágrimas ar<strong>de</strong>ram e lhe doeu, por <strong>de</strong>ntro e por fora. Seu tato enviava<br />

mariposas a bater as asas em seu estômago. Por muito que tentou formar as<br />

palavras para <strong>de</strong>screver o que tinha presenciado, nada saiu. Afastou a face,<br />

fechando os olhos com <strong>de</strong>sespero.<br />

Jonas trocou <strong>de</strong> posição imediatamente, fazendo que Aleksan<strong>de</strong>r se visse<br />

obrigado a retroce<strong>de</strong>r e romper o contato com Abigail.<br />

-Po<strong>de</strong> falar Abbey? - perguntou.<br />

Sua voz era tão amável que quis lhe dizer que <strong>de</strong>ixasse <strong>de</strong> ser agradável.<br />

Realmente teve que lutar contra as lágrimas. Sacudiu a cabeça.<br />

-Terá que <strong>de</strong>ixar as perguntas para <strong>de</strong>pois, Volstov - disse Jonas<br />

bruscamente.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r levantou o olhar até a face do outro homem, uma fria avaliação<br />

que teria <strong>de</strong>tido a um homem inferior, mas Jonas nem sequer se sobressaltou.<br />

-Vamos mover você, Abbey - disse o paramédico.<br />

Abriu os olhos e piscou várias vezes para esclarecer a visão. Tinha ido à<br />

escola com o Bob Thornton. Assentiu e ajudou a dar a volta para que pu<strong>de</strong>ssem


14<br />

ver a parte <strong>de</strong> atrás <strong>de</strong> sua perna e ombros. Doía mais quando se movia. De<br />

repente foi agudamente consciente das feridas, quando antes tinha sofrido uma<br />

letargia.<br />

-A bala atravessou a pele, Jonas, mas não parece muito mal - informou<br />

Bob- Olhe isso, é um pouco mais profunda no músculo <strong>de</strong> seu ombro, mas<br />

relativamente superficial ao longo das costas.<br />

-Graças a Deus – disse Jonas, com claro alívio em sua voz- O que<br />

aconteceu na perna?<br />

-Eu diria que um tubarão arranhou sua perna ao passar.<br />

-Maldita seja, Abbey - Jonas esfregou o polegar sobre a mão <strong>de</strong>la- Parece<br />

pálida, Bob. Está certo <strong>de</strong> que vai ficar tudo bem?<br />

Aleksan<strong>de</strong>r <strong>de</strong>ixou escapar um pequeno som, um grunhido em sua garganta<br />

que po<strong>de</strong>ria ter sido um protesto ante as feridas <strong>de</strong>la. Ro<strong>de</strong>ou Jonas até o outro<br />

lado <strong>de</strong> Abbey. Ela mantinha os olhos firmemente fechados e ele não fazia muito<br />

ruído quando se movia, mas sentiu lhe roçar o braço antes <strong>de</strong> lhe ro<strong>de</strong>ar o pulso<br />

e atrair a palma da mão até sua coxa. Estava tremendo e não podia parar sem<br />

importar quanto o tentasse. O corpo <strong>de</strong>le estava quente contra o seu e<br />

infelizmente, colocada <strong>de</strong> flanco como estava, ele estava pressionado diante <strong>de</strong>la.<br />

Tão molhada como estava, <strong>de</strong>ixou a imaculada camisa <strong>de</strong>le molhada também.<br />

-Está em estado <strong>de</strong> choque, Jonas - disse Bob- Não estaria você? Alguém<br />

lhe disparou. Um tubarão quase a agarra. Tirou Gene da água, ao menos isso<br />

parece. E há um morto aqui. Eu diria que tem razões para estar pálida. Isto vai<br />

doer, Abbey - advertiu ele.<br />

Fosse o que fosse que utilizou em sua perna e costas lhe roubou o último ar<br />

que ficava nos pulmões. Quase escapou do paramédico e Jonas, <strong>de</strong>sesperada por<br />

escapar do fogo que corria por sua pele, mas terminou virtualmente no colo <strong>de</strong><br />

Aleksan<strong>de</strong>r. Ele a agarrou em um firme apertão e a manteve imóvel enquanto o<br />

paramédico trabalhava nas feridas.<br />

-Eu posso fazer isso, Volstov - ofereceu-se Jonas- Estou seguro que tem<br />

coisas mais importantes para fazer. - <strong>de</strong>teve-se durante um momento enquanto<br />

os outros paramédicos levantavam o pescador inconsciente em uma maca e<br />

corria com ele para o helicóptero- Gene já está a salvo, Abbey - acrescentou-<br />

Estão levando-o para São Francisco.<br />

-Não quero danificar sua cena do crime - replicou Aleksan<strong>de</strong>r antes que<br />

Jonas pu<strong>de</strong>sse lhe <strong>de</strong>spachar- Meu companheiro está morto. Não há muito que<br />

possa fazer até que Abbey me conte o que sabe. Você vá na frente e faz o que<br />

tenha que fazer e eu me ocuparei <strong>de</strong> Abbey.<br />

-Meus investigadores são os únicos que entram na cena do crime. Meus<br />

oficiais sabem o que fazem.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r ignorou o fio na voz <strong>de</strong> Jonas, negando-se a renunciar seu lugar<br />

segurando Abigail.<br />

-Terá que ir ao hospital - disse a Abbey.<br />

-Casa, Libby - ela foi inflexível- Jonas. Me leve para casa.<br />

-Não se preocupe, Abbey - tranqüilizou-a Jonas- Assim que esteja<br />

preparada, farei que Jackson leve você, mas vou precisar <strong>de</strong> resposta logo que se<br />

sinta melhor.


15<br />

-Não posso <strong>de</strong>ixá-la ir para casa - protestou Bob- Abbey, sabe que não<br />

posso fazer isso. Necessita uma verificação realizada por um médico. Tem sérias<br />

feridas.<br />

-Libby é médica -disse Jonas- Bob, sabe que tem que ir para casa.<br />

-Eu a levarei - disse Aleksan<strong>de</strong>r com <strong>de</strong>cisão- Se sua irmã for médica e não<br />

está em perigo <strong>de</strong> sangrar até morrer, a levarei para sua casa.<br />

-Não, não levará. - disse Jonas firmemente- Ficará aqui e me contará em<br />

que <strong>de</strong>mônios está envolvido e por que tenho um homem morto, outro morrendo<br />

e Abigail Drake ferida.<br />

-E em perigo - falou Aleksan<strong>de</strong>r.<br />

Capítulo 2<br />

Aleksan<strong>de</strong>r não fez caso <strong>de</strong> Jonas e levantou Abigail nos braços.<br />

-Eu estou molhado. Não há nenhuma necessida<strong>de</strong> que os dois nos<br />

molhemos. Além do mais, tenho que lhe fazer umas perguntas quando se sentir<br />

melhor.<br />

Seguiu andando, sem dar a Jonas possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> protestar enquanto a<br />

levava ao veículo do xerife e <strong>de</strong>slizava no assento traseiro com ela em seus<br />

braços. Necessitava <strong>de</strong> respostas e entrar no recinto sagrado da casa Drake era a


16<br />

única maneira das conseguir. Ignorou o olhar feroz <strong>de</strong> Jonas e simplesmente<br />

apertou seus braços ao redor <strong>de</strong> Abigail.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r raramente exteriorizava emoções. Era um professor em ocultar<br />

seus sentimentos a outros, mas Abigail lhe conhecia. Sabia que estava enfurecido<br />

pela morte <strong>de</strong> seu companheiro, embora parecesse aceitar com absoluta<br />

tranqüilida<strong>de</strong>. Conhecendo também Jonas sabia que esse suspeitava <strong>de</strong>le porque<br />

não tinha <strong>de</strong>dicado ao corpo <strong>de</strong> seu companheiro mais que uma inspeção<br />

superficial.<br />

Mas Jonas não tinha estado ali uns minutos antes quando Aleksan<strong>de</strong>r lhe<br />

tinha apoiado a ponta <strong>de</strong> sua arma contra sua testa e ela tinha olhado fixamente<br />

à morte. Ele estava em pleno controle com total disciplina, mas ela sentia sua<br />

raiva interior sob a superfície. Permaneceu muito tranqüila embalada perto <strong>de</strong> seu<br />

peito.<br />

-Dou-me conta que não tem feito nenhuma pergunta sobre Abbey e por que<br />

não po<strong>de</strong> mover-se. - disse Jonas, fechando <strong>de</strong> repente a porta. - Quanto ouviu<br />

falar das irmãs Drake?<br />

Abigail estremeceu. Aleksan<strong>de</strong>r conhecia <strong>de</strong> primeira mão os estranhos<br />

dons e talentos que ela possuía. Mais <strong>de</strong> uma vez a tinha visto utilizá-los e ficar<br />

drenada <strong>de</strong> toda energia. Ele conhecia suas capacida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong>s muito bem.<br />

As lágrimas lhe queimaram e um pequeno som <strong>de</strong> <strong>de</strong>sespero lhe escapou.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r acariciou com a boca o alto <strong>de</strong> sua cabeça. Sustentá-la em seus<br />

braços outra vez, parecia-lhe um milagre. Ele não era homem que acreditasse em<br />

milagres, até que a encontrou. Inclusive com seu companheiro morto no<br />

atracadouro, com a raiva e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vingança que o consumia, por um<br />

momento tinha tido a cabeça bastante clara para reconhecê-la, uma pequena<br />

esperança tinha nascido em seu coração.<br />

Estava acostumado a ocultar seus sentimentos. Na Rússia tudo era política<br />

e a expressão incorreta, um sussurro <strong>de</strong> escândalo, qualquer coisa podia ser o<br />

final <strong>de</strong> sua carreira, e agora, com as apostas tão altas, agra<strong>de</strong>cia aquela<br />

formação. Ele e Danilov tinham tropeçado em algo maior do que tinham esperado<br />

e tinham matado-o. A última coisa que precisava era a distração <strong>de</strong> Abigail<br />

Drake, mas se Jonas pensava que se livrou <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r quanto à investigação<br />

ou a Abigail, equivocava-se.<br />

Jonas po<strong>de</strong>ria estar saindo com Abby agora... certamente se dava ares <strong>de</strong><br />

proprietário a seu redor... mas Aleksan<strong>de</strong>r tinha uma reclamação prévia. Não ia<br />

entregá-la sem lutar e tampouco daria as costas a sua investigação.<br />

-Abigail está comprometida comigo. - Anunciou sem vacilar, olhando<br />

fixamente sua face, às duas pestanas em forma <strong>de</strong> meia lua vermelho-douradas,<br />

<strong>de</strong>safiando-a a lhe olhar.<br />

Os olhos <strong>de</strong>la se abriram e ela piscou. Aleksan<strong>de</strong>r pô<strong>de</strong> ver as chamas<br />

incorporar-se a seus olhos. Abigail sempre lhe recordava ao mar, tranqüilo,<br />

pacífico e consolador, ou turbulento e selvagem. Afastava-se da maior parte das<br />

discussões e simplesmente <strong>de</strong>saparecia em vez <strong>de</strong> lutar, mas tinha os cabelos<br />

vermelhos por uma razão. Era absolutamente capaz <strong>de</strong> rebelar-se, como um<br />

tubarão silencioso das profundida<strong>de</strong>s que te ataca <strong>de</strong> improviso. Naquele<br />

momento estava eternamente agra<strong>de</strong>cido pela maldição das Drake <strong>de</strong> <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> utilizar seus po<strong>de</strong>res.


17<br />

-Isso é impossível- disse Jonas.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r sustentou o ar<strong>de</strong>nte olhar <strong>de</strong> Abbey com o próprio. Não voltou<br />

atrás, fazendo-a saber que havia mais <strong>de</strong> uma razão para ele estar em Sea<br />

Haven e que não iria partir.<br />

-Tenha certeza que não.<br />

Abigail sacudiu sua cabeça e fechou os olhos outra vez, gemendo<br />

brandamente.<br />

Aleksandr examinou sua face. Recordava cada curva, a sensação <strong>de</strong> sua<br />

pele, a risada em seus olhos. O amor. Não ia <strong>de</strong>ixar escapar uma segunda vez.<br />

Não queria brigar, ou assustá-la, mas estava zangado com ela. Zangado porque<br />

não tinha lhe dado uma segunda oportunida<strong>de</strong>, zangado porque quase se matou.<br />

Zangado porque seu noivo americano estava sentado no assento dianteiro e<br />

dizendo o que podia ou não fazer. Porque tinha um noivo americano. Algum noivo<br />

absolutamente. Seu coração <strong>de</strong>veria estar fechado, <strong>de</strong>vastado sem ele o seu o<br />

tinha estado sem ela. Sentiu o impulso repentino <strong>de</strong> sacudi-la e soube que não<br />

era bom sinal. Seu controle se <strong>de</strong>svanecia e isso era muito perigoso.<br />

-Muito estranho que não tenha me dito nenhuma palavra do compromisso.<br />

- disse Jonas. - Ou a alguma <strong>de</strong> suas irmãs. - Não se incomodou em ocultar a<br />

nota <strong>de</strong> incredulida<strong>de</strong> em sua voz.<br />

-Muito estranho, - esteve <strong>de</strong> acordo Aleksan<strong>de</strong>r. Abigail se enrijeceu em<br />

seus braços, mas o esforço <strong>de</strong> lutar contra ele também a <strong>de</strong>ixava esgotava pelo<br />

visto e relaxou outra vez, com expressão obstinada. Se tivesse conservado essa<br />

expressão na face ele po<strong>de</strong>ria haver-se aproveitado <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong> e beijá-la<br />

ali mesmo diante <strong>de</strong> seu novo amante. Empurrou esse pensamento longe,<br />

sentindo-se cruel. Já era bastante ter perdido Danilov sem ter que <strong>de</strong>scobrir que<br />

outro homem tinha estado com sua mulher.<br />

-O que aconteceu esta noite, Volstov?- Jonas o olhou através do retrovisor.<br />

-Abbey é parte disto?<br />

-Não. - Aleksan<strong>de</strong>r agra<strong>de</strong>ceu a interrupção <strong>de</strong> seus pensamentos. - Fiquei<br />

tão surpreso <strong>de</strong> encontrar Abbey na cena como você. - Inclinou-a e roçou com os<br />

<strong>de</strong>dos o que esperou fosse uma mancha e não uma contusão que se começava a<br />

formar entre seus olhos.<br />

Ela conseguiu mover a mão para lhe dar uma palmada no braço. Esperou<br />

até que se tranqüilizou e seguiu esfregando com a ponta do <strong>de</strong>do. Pequenas<br />

carícias, em círculo. Suave. Doces. Com seu toque lhe explicava que ele não ia a<br />

nenhuma parte. A débil marca não <strong>de</strong>sapareceu. Ela estava pálida, sua pele era<br />

quase <strong>de</strong> alabastro e recordou que se machucava facilmente.<br />

Era uma forma infernal <strong>de</strong> anunciar sua volta, mas como a marca, estava<br />

<strong>de</strong> volta em sua vida para ficar e ela ia ter que tratar com seu passado gostando<br />

ou não.<br />

-Assim, o que faziam você e seu companheiro em meu condado? -<br />

perguntou-lhe Jonas - Introduziu-se no lugar, mas se esqueceu <strong>de</strong> dizer que iria<br />

<strong>de</strong>ixar cadáveres em nosso porto.<br />

-Estivemos trabalhando neste caso há algum tempo e rastreamos três<br />

embarques nos passados dois anos e meio até esta costa. Houve uma corrente<br />

estável <strong>de</strong> antiguida<strong>de</strong>s roubadas, incluindo uma coleção impressionante <strong>de</strong> jóias,<br />

saindo da Rússia. Meu companheiro, Andre Danilov, conseguiu um trabalho em


18<br />

um navio <strong>de</strong> pesca do porto e não <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> vigiar qualquer ativida<strong>de</strong> suspeita.<br />

Faz algum tempo que sabemos que os objetos passaram por contrabando através<br />

<strong>de</strong> uma rota até aqui, mas esta era a primeira vez que conhecíamos a carga real<br />

e quando ia chegar.<br />

Jonas ficou silencioso durante um momento e logo suspirou.<br />

-Gene Dockins veio faz uns meses dizendo que estava preocupado porque<br />

algo acontecia no mar com um dos navios... o Treasure Chest. O capitão é um<br />

homem chamado John Fergus e o conheço há anos. Nunca <strong>de</strong>u problemas. Vários<br />

homens <strong>de</strong> negócios locais são proprietários do navio e todos eles viveram na<br />

zona a maior parte <strong>de</strong> suas vidas. A maioria são proprietários <strong>de</strong> outros negócios.<br />

Levei a cabo uma pequena pesquisa discreta pelos arredores do porto e <strong>de</strong>leguei<br />

à vigilância a guarda - costeira, mas, que eu saiba, não encontraram nada<br />

estranho. Não me disseram nada e supus que não acontecia nada. Obviamente,<br />

equivoquei-me.<br />

-Na realida<strong>de</strong> Gene Dockins ficou em contato com a Interpol, dizendo que<br />

pensava que havia um fluxo contínuo <strong>de</strong> contrabando. Acreditava que eram<br />

drogas, mas com o problema do terrorismo tinha medo que pu<strong>de</strong>sse acontecer<br />

uma bomba <strong>de</strong> contrabando nos Estados Unidos por meio <strong>de</strong>sta linha da costa.<br />

Ele e seu filho Jeremy tinham estado fazendo um pouco <strong>de</strong> trabalho encoberto e<br />

conseguiram tomar imagens <strong>de</strong> algo que era <strong>de</strong>scarregado no Treasure Chest.<br />

Quando soubemos que esta área estava quente, continuamos nós com suas<br />

pesquisas e aceitamos sua oferta <strong>de</strong> seguir ajudando.<br />

Jonas amaldiçoou em voz alta.<br />

-Por que diabos não foram a mim? Na realida<strong>de</strong>, você <strong>de</strong>veria ter vindo verme<br />

em vez <strong>de</strong> usar a um vizinho para seu trabalho encoberto. Jeremy é somente<br />

um menino. Maldição!- Fechou <strong>de</strong> repente a palma aberta contra o volante. -<br />

Deveria ter sabido. Sabia que Gene estava preocupado, mas acreditei que uma<br />

vez que abandonei a investigação também ele o tinha feito- Suspirou. - Enviei<br />

Jackson a sua casa para dar a notícia à esposa <strong>de</strong> Gene mas <strong>de</strong>veria lhe haver<br />

advertido que seguisse <strong>de</strong> perto ao Jeremy. Esse moço não tem o sentido comum<br />

<strong>de</strong> ter medo e me amaldiçoarei se lhe acontecesse algo. Se vier querendo ajudar<br />

tomando o lugar <strong>de</strong> seu pai, diga-lhe que não.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r esperou para respon<strong>de</strong>r até que Jonas terminou a chamada a<br />

seu ajudante alertando do perigo para Jeremy Dockins.<br />

-Seu relatório à guarda - costeira se filtrou através da Interpol<br />

aproximadamente ao mesmo tempo em que Gene Dockins nos enviou as<br />

fotografias e nos falou <strong>de</strong> suas preocupações. Pusemo-nos em contato com o Sr.<br />

Dockins e ele consentiu em ajudar colocando um agente secreto em seu navio e<br />

nos moles trabalhando com ele. Era a cobertura perfeita para Danilov. - Que lhe<br />

con<strong>de</strong>nassem se ia dar a Jonas a satisfação <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar sua pena. É obvio<br />

estava muito aborrecido pela morte <strong>de</strong> seu companheiro e porque o pescador civil<br />

estivesse próximo à morte, mas Aleksan<strong>de</strong>r fazia seu trabalho e em sua posição<br />

<strong>de</strong> alto risco o perigo estava à or<strong>de</strong>m do dia. A perda <strong>de</strong> Danilov era um golpe<br />

tremendo, tanto profissional como pessoalmente. Ele tinha sido o apoio <strong>de</strong><br />

Danilov e tinha chegado muito tar<strong>de</strong> para protegê-lo. Pouco importava que<br />

Danilov não lhe houvesse dito que sairia com o Dockins essa noite; Aleksan<strong>de</strong>r se<br />

sentia responsável.


19<br />

- Investiguei um pouco você, Volstov <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que se apresentou. Havia<br />

muitas lacunas em seus primeiros anos. Gran<strong>de</strong>s lacunas. Mas averigüei que<br />

esteve vários anos trabalhando para apanhar à máfia russa. É uma organização<br />

particularmente violenta. Está seguindo uma pista <strong>de</strong>les? Eu gostaria <strong>de</strong> saber se<br />

tiverem um pé em minha jurisdição.<br />

-Estão em São Francisco, - admitiu Aleksan<strong>de</strong>r. - Mas provavelmente isso já<br />

sabe. Esperávamos que não estivessem implicados nisto, mas pouco passa na<br />

Rússia ao longo das rotas dos contrabandistas sem a implicação da máfia.<br />

-Seu nome está em uma lista negra?- Perguntou-lhe Jonas sem ro<strong>de</strong>ios.<br />

Alexan<strong>de</strong>r notou que Abigail se enrijecia entre seus braços. Seus olhos se<br />

abriram e lhe manteve o olhar enquanto confessava em voz baixa.<br />

-Sim. Muito perto do início.<br />

Abigail piscou e virou a cabeça apartando-se <strong>de</strong>le.<br />

Jonas virou o carro entrando no caminho que conduzia a uma casa que se<br />

estendia sobre os escarpados. A casa era uma visão imponente, três pisos <strong>de</strong><br />

altura com uma torre, balcões quase em cada cômodo e uma varanda<br />

esten<strong>de</strong>ndo-se por volta do mar. Os ciprestes açoitados pelo vento e os arvoredos<br />

<strong>de</strong> folha perene e sequóias se estendiam pela la<strong>de</strong>ira e a cor explorava entre<br />

ver<strong>de</strong>s brilhantes com flores campestres lutando por ter espaço entre a natureza.<br />

Uma pesada gra<strong>de</strong> <strong>de</strong> ferro lavrada com símbolos da terra e estrelas se<br />

abriu <strong>de</strong> repente quando o veículo se aproximou.<br />

-O que aconteceu esta noite, Volstov? - Perguntou Jonas.<br />

Aleksandr estudou as terras com cuidado, tomando nota <strong>de</strong> cada caminho e<br />

cada gra<strong>de</strong> fechada com chave.<br />

-Esta noite recebi uma chamada <strong>de</strong> Danilov que dizia que tinha algumas<br />

prova que um envio <strong>de</strong> objetos roubados que tínhamos estado procurando tinha<br />

parado ao mar enquanto era transferido <strong>de</strong> um cargueiro a um navio <strong>de</strong> pesca.<br />

Tinha feito imagens e uma testemunha. Deve ter saído com o Dockins em seu<br />

navio sem me informar antes <strong>de</strong> partir. -Seu olhar fixo <strong>de</strong>slizou sobre a casa e<br />

mentalmente registrou a posição <strong>de</strong> todas as janelas e portas que pô<strong>de</strong> ver.<br />

Saídas. Rotas <strong>de</strong> escape. Seu estilo <strong>de</strong> vida.<br />

Jonas estacionou o carro e virou para estudar o agente da Interpol.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r Volstov parecia tranqüilo, quase inexpressivo, inclusive suave, até que<br />

examinava seus olhos. Jonas tinha conhecido homens como Volstov<br />

anteriormente, tinha lutado junto a eles. Eram inimigos implacáveis,<br />

amargurados, <strong>de</strong>sumanos e os mais leais amigos. Era o tipo <strong>de</strong> homem que<br />

queria a seu lado quando era necessário porque nunca lhe abandonariam e<br />

entrariam no fogo para salvar o companheiro.<br />

Volstov não aceitaria com calma a perda <strong>de</strong> seu companheiro e não ia parar<br />

até encontrar o último homem comprometido na morte <strong>de</strong> Danilov. E isso po<strong>de</strong>ria<br />

significar uma matança em Sea Haven e as cida<strong>de</strong>s circundantes se a máfia<br />

russa estava implicada.<br />

-Isto não é a Rússia, - sentiu-se obrigado a assinalar Jonas.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r simplesmente lhe olhou com frios olhos siberianos, logo saiu do<br />

carro levando Abigail em seus braços.<br />

-Assim que esta é a casa Drake.


20<br />

-Obviamente é consciente <strong>de</strong> que se <strong>de</strong>bilitam após utilizar seus dons.<br />

Todas as irmãs <strong>de</strong> Abbey estarão no mesmo estado. Não gostarão <strong>de</strong> sentirem-se<br />

vulneráveis perto <strong>de</strong> você, - advertiu Jonas.<br />

-Obviamente você presenciou esse efeito secundário em mais <strong>de</strong> uma<br />

ocasião, - assinalou Aleksandr enquanto Jonas abria espaço ao longo <strong>de</strong> um<br />

caminho tortuoso para a porta principal.<br />

-Eu sou família, - disse Jonas.<br />

-Já que Abbey está prometida e vai casar se comigo, eu terei que reclamar<br />

o mesmo, - respon<strong>de</strong>u Aleksan<strong>de</strong>r tranqüilamente.<br />

Abigail se removeu em seus braços, abrindo os olhos com outro<br />

tempestuoso olhar, o qual ele ignorou.<br />

A porta foi aberta por uma atraente mulher <strong>de</strong> meia ida<strong>de</strong>, com perspicazes<br />

e sábios olhos azuis e uma abundante cabeleira loira grisalha recolhida na nuca.<br />

-Tia Carol! -Jonas a envolveu em seus braços e beijou sua bochecha. - Não<br />

sabia que estava aqui. - apartou-se, segurando a porta para permitir que<br />

Aleksan<strong>de</strong>r levasse Abbey para <strong>de</strong>ntro.<br />

-As garotas não sabiam, - assegurou-lhe Carol. - Cheguei faz umas poucas<br />

horas, pensando em ajudar a planejar as bodas e encontrei todas neste estado. -<br />

Aqui, - dirigiu-se a Aleksan<strong>de</strong>r. - Ponha sobre o divã. -O seguiu. - Fiz chá, Abbey.<br />

Estará melhor em meia hora.<br />

-Está molhada <strong>de</strong> água do mar. - protestou Alexan<strong>de</strong>r. - Há algum lugar<br />

on<strong>de</strong> possa lhe tirar a roupa molhada? - Ele sentiu o corpo <strong>de</strong> Abbey remover-se<br />

outra vez protestando e apertou os braços para impedir que alguém a visse<br />

sacudir a cabeça.<br />

-On<strong>de</strong> estão as <strong>de</strong>mais?- perguntou Jonas, ro<strong>de</strong>ando o corpo <strong>de</strong> Libby, que<br />

estava tombada no chão, com um travesseiro sob sua cabeça. Elle estava caída<br />

em uma ca<strong>de</strong>ira. Ambas tinham uma xícara <strong>de</strong> chá a seu lado. Manter Gene<br />

Dockins vivo obviamente havia enfraquecido muito a todas elas. Jonas tinha visto<br />

as irmãs Drake muito vulneráveis <strong>de</strong>pois do uso <strong>de</strong> seus po<strong>de</strong>res, mas nunca até<br />

tal ponto. Gene <strong>de</strong>via ter estado perto da morte para drená-las tão<br />

profundamente. Olhou afetuosamente para cima. - Tia Carol, estão bem?<br />

-Sim, querido. Eu não podia as <strong>de</strong>scer pela escada. Estão <strong>de</strong>itadas na<br />

varanda.<br />

-Eu as trarei- Jonas já se movia, subindo os <strong>de</strong>graus <strong>de</strong> dois em dois,<br />

<strong>de</strong>ixando Aleksan<strong>de</strong>r para enfrentar à tia <strong>de</strong> Abbey.<br />

Carol o avaliou com as mãos nos quadris.<br />

-Conseguirei uma manta para envolvê-la. Não me parece bem que lhe tire a<br />

roupa.<br />

-Sou seu noivo. - <strong>de</strong>clarou Aleksan<strong>de</strong>r sem o menor remorso. - Por favor,<br />

só me mostre seu quarto e eu farei o resto.<br />

Ante sua <strong>de</strong>claração, tanto Libby como Elle trataram <strong>de</strong> levantar-se,<br />

embora sem nenhum êxito.<br />

Carol não pediu mais explicações, mas sim lhe guiou acima ao quarto <strong>de</strong><br />

Abbey. Seu dormitório era espaçoso com portas francesas que conduziam a um<br />

amplo balcão que dava para o mar.


21<br />

-Será melhor que esteja dizendo a verda<strong>de</strong>, jovenzinho. Não careço <strong>de</strong> dons<br />

próprios e esse encantador acento não salvará você da minha ira se estiver<br />

mentindo. - Fechou a porta antes que ele pu<strong>de</strong>sse respon<strong>de</strong>r.<br />

-Sei que está zangada, Abbey, - disse Alexan<strong>de</strong>r enquanto a estendia sobre<br />

uma manta no chão - mas você procurou isso. Dei-lhe muito tempo. - começou a<br />

lhe tirar o traje <strong>de</strong> mergulho, uma tarefa incrivelmente difícil quando era tão<br />

cômodo como uma segunda pele. - Tive muita paciência. - Envolveu-a em um<br />

robe no momento em que a <strong>de</strong>spiu e tratou <strong>de</strong> não olhar seu corpo.<br />

Não que isso importasse. Inclusive com os olhos fechados recordava a<br />

sensação <strong>de</strong> seu corpo, suas curvas exuberantes, generosas, quentes e suaves, a<br />

pele pressionada fortemente contra ele. Abbey em seus braços. Encaixava tão<br />

perfeitamente. Ro<strong>de</strong>ou-lhe a bata ao redor da cintura, cuidadoso com suas<br />

feridas e retorceu uma toalha ao redor <strong>de</strong> sua grosa tranca vermelha para<br />

absorver o excesso <strong>de</strong> água.<br />

Empurrou-lhe com mãos débeis.<br />

-Zangada é pouco. Vá embora.<br />

-Não. Não essa vez. Levou quatro anos para te alcançar. Não há nenhum<br />

modo <strong>de</strong> me afastar. Especialmente quando se mesclou nessa confusão. Se a<br />

máfia russa está implicada, Abbey, isto vai ficar sujo. E Jonas Harrington po<strong>de</strong> ir<br />

ao diabo se pensar que po<strong>de</strong> reclamar você. Estamos prometidos e não vou<br />

<strong>de</strong>ixar você escapar.<br />

-Realmente não pensa que vou <strong>de</strong>ixar você entrar outra vez em minha vida!<br />

- pressionou os <strong>de</strong>dos contra as têmporas- Preciso estar lá embaixo com minhas<br />

irmãs.<br />

Estava recuperando sua voz e isso não era bom.<br />

-On<strong>de</strong> está sua roupa? Não vou levar você para baixo com Jonas lá, já que<br />

não leva nada embaixo <strong>de</strong>sse robe.<br />

Sua sobrancelha se elevou mostrando a segunda gaveta, sem esbanjar<br />

energia em discutir com ele. A verda<strong>de</strong> era que estava surpreendida <strong>de</strong> vê-lo. Mal<br />

podia suportar lhe olhar, lhe ver, tão sólido e real em vez do homem que<br />

freqüenta seus sonhos.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r a segurou em seus braços e a vestiu com suas calças <strong>de</strong><br />

chandal.<br />

-Te levarei, mas não cometa o engano <strong>de</strong> trocar olhares com Jonas.<br />

-Cala a boca, Sasha. - O apelido escapou inconscientemente. Ele sempre<br />

tinha tido uma veia ciumenta e isso a incomodava imensamente. Tudo em<br />

Aleksan<strong>de</strong>r a incomodava, especialmente sua absoluta confiança. E sua atitu<strong>de</strong>.<br />

Como se ele tivesse todo o direito <strong>de</strong> estar zangado com ela.<br />

-Quer me dizer o que fazia sozinha no mar? - Deu-lhe uma pequena<br />

sacudida entre seus braços. - E <strong>de</strong>veria ter suficiente senso para não ficar ao<br />

<strong>de</strong>scoberto enquanto as balas voam. - Quando se zangava, seu acento se fazia<br />

mais evi<strong>de</strong>nte. Enquanto isso em todo momento seus braços eram suaves.<br />

Não queria recordar isso <strong>de</strong>le.<br />

-Eu não tenho que dizer nada a você.<br />

-Sim, tem. Tem que respon<strong>de</strong>r por me tirar <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong> vida, por não<br />

mencionar os quatro perdidos entre nós. - Baixou a pernadas a escada e entrou


22<br />

na sala <strong>de</strong> estar como se fosse sua casa, como se ela não pesasse mais que uma<br />

menina. Como se ele estivesse no controle.<br />

-Ponha no chão. - dirigiu Carol, assinalando a um ponto on<strong>de</strong> tinha<br />

estendido umas almofadas.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r apoiou Abigail contra o sofá e se sentou junto a ela. Perto. Sua<br />

coxa tocava o sua.<br />

-Tem uma ferida <strong>de</strong> bala ao longo das costas e um tubarão lhe raspou a<br />

parte interna da perna.<br />

-OH, querida. - Carol cobriu a boca com uma mão. - Trouxe seu chá, mas<br />

isso não ajudará com suas feridas.<br />

-Os paramédicos as <strong>de</strong>sinfetaram mas se negou a ir ao hospital.<br />

Libby se moveu então, arrastando-se através dos poucos metros que a<br />

separavam <strong>de</strong> Abigail e esten<strong>de</strong>u o braço para tocar a perna <strong>de</strong> sua irmã.<br />

Abigail sacudiu sua cabeça violentamente e tratou <strong>de</strong> pôr sua perna fora <strong>de</strong><br />

alcance.<br />

-Não, Libby. Está muito fraca. - Ofegou as palavras, lutando por reunir<br />

energia só para falar.<br />

-Só <strong>de</strong>scansa, Libby. - repreen<strong>de</strong>u Carol. - Não po<strong>de</strong> curar a outra pessoa<br />

<strong>de</strong>pois do que passou. Bebe seu chá. - Converteu-o em uma or<strong>de</strong>m. - Todas<br />

vocês. - Olhou Aleksan<strong>de</strong>r. - Passo fora alguns anos, crescem e esquecem tudo o<br />

que lhes ensinamos. É bom que tenha retornado.<br />

Libby agarrou a mão <strong>de</strong> Abbey.<br />

-Sinto muito. - sussurrou.<br />

Abbey sacudiu a cabeça. Libby tinha o dom <strong>de</strong> cura das irmãs Drake.<br />

Através <strong>de</strong>la, podiam conseguir resultados incríveis, mas pagava muito caro por<br />

isso, freqüentemente tomava a dor e a enfermida<strong>de</strong> do ferido ou doente que ela<br />

ajudava.<br />

-Estamos bem. Todas estão bem. - assegurou a sua irmã.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r pressionou a xícara <strong>de</strong> chá na outra mão <strong>de</strong> Abigail e a ajudou a<br />

levá-la a sua boca. Não lutou contra ele, em vez disso observou como Jonas<br />

voltava da varanda levando sua irmã Hannah.<br />

Hannah olhou Aleksan<strong>de</strong>r com olhos curiosos.<br />

-Quem é? - articulou.<br />

-Ninguém que importe a você. -respon<strong>de</strong>u-lhe Jonas. - Prestou a mínima<br />

atenção como estava perto da borda? Quase caiu pelo corrimão, Hannah. Outra<br />

polegada e po<strong>de</strong>ríamos haver perdido você.<br />

-Calma, querido. - Carol acariciou Jonas como se ele fosse um menino. -<br />

Não há modo <strong>de</strong> saber quando golpeará a <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong>. Hannah comanda os<br />

ventos. Tem que esten<strong>de</strong>r as mãos ao mar. Não a maltrate quando nem sequer<br />

po<strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r-se.<br />

-Esse é o melhor momento, - resmungou Jonas. - De fato agora seria um<br />

bom momento para dar a todas um sermão sobre segurança. Compreen<strong>de</strong>m que<br />

Abbey estava mergulhando sozinha no mar?<br />

-Traz para cá Sarah, Kate e Joley, Jonas. - disse Carol. – Nos<br />

asseguraremos que Abbey não volte a fazer semelhante tolice. - Deu-lhe um<br />

pequeno empurrão para a escada.


23<br />

Aleksan<strong>de</strong>r quis rir da expressão do xerife. A tia Carol tinha reduzido a<br />

imagem perigosa <strong>de</strong> Jonas a <strong>de</strong> um menino mal educado com umas poucas<br />

palavras acertadas e seu tom. As mulheres Drake eram realmente perigosas para<br />

o sexo oposto, mas ele já sabia isso <strong>de</strong> primeira mão. Sua mão <strong>de</strong>slizou sobre a<br />

<strong>de</strong> Abbey até entrelaçar seus <strong>de</strong>dos com os <strong>de</strong>la.<br />

Olhou-a. Nadavam lágrimas em seus olhos e o coração lhe saltou com força<br />

no peito. Nunca tinha sido capaz <strong>de</strong> confrontar suas lágrimas. Aquele dia, o dia<br />

que nenhum <strong>de</strong>les esqueceria jamais, não tinha ido a ela porque suas lágrimas<br />

teriam mudado o curso <strong>de</strong> sua vida e ele não teria sido capaz <strong>de</strong> permitir-se<br />

aquele resultado. Inclinou-se, bloqueando a vista <strong>de</strong> outros.<br />

-Não chore, lyubof. Você é meu coração, meu mundo. - Murmurou as<br />

palavras em sua própria língua porque esse era o único modo em que podia<br />

dizer-lhe. Nunca tinha <strong>de</strong>ixado <strong>de</strong> amá-la. Não tinha nada sem ela. Tinha<br />

aprendido isso em seu vazio e violento mundo. Nas viagens intermináveis e os<br />

tristes quartos <strong>de</strong> hotel. Não havia nenhum lar sem ela, nem sequer em sua<br />

amada Rússia.<br />

Abigail sacudiu a cabeça.<br />

-Parta Sasha, não volte aqui outra vez.<br />

Ele levou sua mão à boca, seus lábios <strong>de</strong>slizaram sobre os nódulos, sua<br />

língua a saboreou. Sal e mar. Era Abigail.<br />

-Vou porque não se po<strong>de</strong> falar com você quando está nesse estado. E levou<br />

um bom susto, mas voltarei e esclareceremos isso.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r se levantou quando Jonas retornava com outra das irmãs Drake.<br />

-Vou, mas já sabe on<strong>de</strong> estou. Por favor, tenha a cortesia <strong>de</strong> me informar<br />

sobre qualquer informação que consiga.<br />

-Oh, não se preocupe, Volstov. Vou te procurar no momento em que saia<br />

daqui - assegurou-lhe Jonas. - Quer que chame para que lhe levem?<br />

Aleksan<strong>de</strong>r sacudiu sua cabeça e <strong>de</strong>liberadamente olhou Abbey.<br />

-Estou perto para po<strong>de</strong>r vigiar as coisas. - Fez o que podia para reafirmar<br />

sua reclamação, mas conhecia Abbey o bastante para saber que ia estar<br />

<strong>de</strong>sgostada por ter estado tão vulnerável e ele ter se aproveitado. Con<strong>de</strong>nado<br />

Jonas Harrington por ter acesso ao interior da casa.<br />

Carol lhe mostrou a porta.<br />

-Eu cuidarei <strong>de</strong>la - assegurou-lhe, - Não há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> preocupar-se<br />

com Abbey. Logo que Libby se sinta melhor, cuidará <strong>de</strong> sua irmã.<br />

Carol fechou a porta e imediatamente se apressou para Abigail.<br />

-Está bem, querida? Chamo a sua mãe? - Sua expressão traía sua<br />

ansieda<strong>de</strong>. - São muito graves suas feridas? - Deu uma olhada à porta. - E este<br />

seu noivo tem um acento tão sexy. Quando falou em russo quase caí ao chão.<br />

Abigail não queria estar <strong>de</strong> acordo com sua tia, mas tinha agra<strong>de</strong>cido<br />

encontrar-se já no chão. Não importa quantos pesa<strong>de</strong>los, não importa com que<br />

freqüência voltasse a reviver o comportamento <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r, no momento em<br />

que o viu, ouviu sua voz e o tocou, soube que teria que ter muito cuidado.<br />

-Estarei bem, Tia Carol. - assegurou-lhe Abbey. - Só quero dormir.<br />

-Não antes que me conte isso tudo. - <strong>de</strong>cretou Jonas, <strong>de</strong>positando Joley em<br />

uma ca<strong>de</strong>ira ao lado <strong>de</strong> Kate. De repente ficou <strong>de</strong> joelhos ao lado <strong>de</strong> Abigail e<br />

tomou a mão que Aleksan<strong>de</strong>r havia sustentado. Respirou. Parecia que não tinha


24<br />

respirado em várias horas. - Realmente me assustei por você, Abbey. O vi em pé<br />

sobre você. Vi a arma e os dois homens abaixo. Havia sangue por toda parte e<br />

durante um momento pensei que lhe tínhamos perdido. - Suspirou e esfregou o<br />

queixo, seus olhos evitaram os <strong>de</strong>la. - Estive a ponto <strong>de</strong> lhe matar sem<br />

advertência. Estava assustado - Abaixou a cabeça por um momento. - Quase<br />

apertei o gatilho só para enviá-lo ao inferno, longe <strong>de</strong> você.<br />

-Jonas. - Abigail <strong>de</strong>ixou escapar o fôlego. - Foi horrível, é obvio que teria<br />

pensado que ele tratava <strong>de</strong> me fazer mal.<br />

-Quase matei um homem a sangue frio, Abbey. Não quero voltar a me<br />

sentir assim outra vez. - passou-se a mão pelo rosto. - Fiz muitas coisas em<br />

minha vida, mas nunca matei um homem inocente.<br />

Ela apertou os <strong>de</strong>dos ao redor <strong>de</strong> sua mão. Sem advertência sua pele<br />

formigou e elevou a vista para ver Aleksan<strong>de</strong>r olhá-los fora da janela. Sua<br />

expressão se endureceu e seus olhos se mostraram inclusive mais frios, se isso<br />

era possível. Seu coração saltou e começou um batimento selvagem que não<br />

podia controlar. Ele seguiu olhando-a fixamente durante um momento e <strong>de</strong>pois<br />

virou e <strong>de</strong>sapareceu <strong>de</strong> sua vista. Abbey esclareceu a garganta e arrancou seu<br />

olhar da janela.<br />

-Isto não vai voltar a acontecer, Jonas. Tomarei cuidado.<br />

-Será melhor - Tomou a xícara <strong>de</strong> chá que Carol lhe oferecia e<br />

imediatamente bebeu a sorvos a bebida quente e rejuvenescedora. - Obrigado,<br />

Tia Carol. Foi um inferno <strong>de</strong> noite. - <strong>de</strong>ixou-se cair para trás, <strong>de</strong>scansando a<br />

cabeça contra o sofá e olhou ao redor às irmãs Drake. - Abigail presenciou um<br />

assassinato essa noite e temo que a máfia russa possa estar implicada. É um<br />

grupo muito violento e sujo. Não quero nenhuma <strong>de</strong> vocês implicada nisso, e<br />

Abbey, você ficará malditamente longe <strong>de</strong> Volstov. Não sei por que reclama ser<br />

seu prometido e não tenho nem idéia se o conhece <strong>de</strong> algum lugar anterior a<br />

esse, mas é um homem muito perigoso e seu pescoço está metido nessa<br />

confusão.<br />

Sarah <strong>de</strong>spertou para agitar sua mão.<br />

-Afirma ser o prometido <strong>de</strong> Abbey?<br />

Abigail pô<strong>de</strong> sentir o calor subir pelo pescoço e rosto quando todas suas<br />

irmãs, sua tia Carol e Jonas a olharam fixamente. Bebeu mais chá para dar-se<br />

tempo e pensar numa resposta.<br />

-Abbey? -Apontou Kate.<br />

-Bom, - Abbey <strong>de</strong>sejou evitar respon<strong>de</strong>r. - Sim. Quero dizer não. Não<br />

realmente. Talvez. - Recolheu as pernas. - Estou confusa.<br />

-Des<strong>de</strong> quando conhece esse homem?- exigiu Jonas.<br />

Abigail apertou os <strong>de</strong>ntes. Detestava ser o centro das atenções.<br />

-Não quero falar disso, Jonas.<br />

Ele ficou calado durante um momento enquanto bebia o resto do chá.<br />

-Me conte o que aconteceu essa noite, Abbey. E não exclua nada, inclusive<br />

o mínimo <strong>de</strong>talhe que pense que possa ser insignificante.<br />

Abbey pôs a xícara <strong>de</strong> chá no chão entre eles enquanto relatava os<br />

acontecimentos da tar<strong>de</strong>. Podia sentir a tensão elevando-se entre suas irmãs mas<br />

nenhuma <strong>de</strong>las a pressionou para que <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>talhes ou explicações e sabia que<br />

não o fariam até que Jonas partisse. Uma vez que fosse realmente teria coisas


25<br />

que explicar e já estava conseguindo a clássica dor <strong>de</strong> cabeça da sobrecarga<br />

mágica.<br />

-Oh, Deus. - Carol rompeu o silêncio <strong>de</strong>pois que Abbey terminou. - Isto<br />

po<strong>de</strong>ria ser um caso <strong>de</strong> espionagem internacional, ou igualmente fascinante.<br />

Fiquem todas aqui mesmo. Terei que conseguir a câmara. Deveríamos registrar<br />

isto para os filhos <strong>de</strong> seus filhos. - apressou-se a entrar na cozinha.<br />

-O assassinato não é muito fascinante, Tia Carol, - Gritou Sarah atrás <strong>de</strong>la.<br />

-Só é repugnante. E temos um aspecto horrível. Não po<strong>de</strong> nos fazer fotos assim.<br />

-Querida, - Carol voltou agitada à habitação com uma pequena câmara em<br />

sua mão - essas são as melhores fotos <strong>de</strong> todas. Improvisadas e ainda assim<br />

significativas. O momento em que todas empreen<strong>de</strong>ram um caso internacional <strong>de</strong><br />

luta contra <strong>de</strong>lito que implica a espiões estrangeiros e bonitos agentes. - Ela<br />

sorriu para Abbey. - Conheço uma dúzia <strong>de</strong> boas poções <strong>de</strong> amor e inclusive mais<br />

feitiços, querida. - Disparou com a câmara, tirando fotos <strong>de</strong> vários ângulos. - Tão<br />

somente me avise se as necessitar com seu jovem.<br />

-Eu não tenho um jovem - protestou Abbey.<br />

-Ele parece pensar que sim. - disse Carol. - Tem que apren<strong>de</strong>r a enten<strong>de</strong>r<br />

questões do coração. Hannah, querida, <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> me fazer caretas. Deveria estar<br />

acostumada que te fotografem.<br />

-Não sem quinze maquiadores assistindo-a. - disse Jonas.<br />

-Me <strong>de</strong>ixe - disse Hannah, agitando o braço. - Estou muito cansada para<br />

brigar com você. - Ignorou Carol que fazia fotos instantâneas ferozmente.<br />

-Até consegue parecer elegante enquanto me manda embora, Hannah. -<br />

disse Jonas, levantando-se. - Tenho que ir, mas estarei <strong>de</strong> volta mais tar<strong>de</strong> para<br />

comprovar como estão todas. Alguém quer que lhe aju<strong>de</strong> a subir até seu quarto<br />

antes que me parta?<br />

-Está doente? Nunca me chama <strong>de</strong> Hannah. – Endireitou-se e avaliou Jonas<br />

com um olhar preocupado. - Está bem?<br />

Sua grossa mata <strong>de</strong> cabelos loiros lhe caiu sobre o ombro e se acumulou<br />

em espirais sobre as costas do canapé. Ele afastou o olhar ela, negando-se a<br />

encontrar seus olhos.<br />

-Jonas, - Hannah insistiu, -po<strong>de</strong>mos ajudar você a se sentir melhor. Só nos<br />

dê um minuto.<br />

Seu sorriso foi cansado.<br />

-Obrigado, mas não vou permitir que gastem mais energia em minha<br />

direção. Só tenho um gosto ruim na boca. Não é agradável averiguar que, nas<br />

circunstâncias a<strong>de</strong>quadas, po<strong>de</strong>ria estar disposto a matar alguém a sangue frio.<br />

-É humano, Jonas. - disse Sarah brandamente. - Somos sua família. É obvio<br />

que se sente protetor conosco. E a magia ata a todos nós juntos com um vínculo<br />

muito mais forte. Não sabemos como funciona isso em circunstâncias extremas.<br />

Não o matou. Fez o correto e trouxe Abbey para casa conosco. Isso é tudo o que<br />

importa.<br />

-Nunca em minha vida me alegrei tanto <strong>de</strong> ver alguém. - acrescentou<br />

Abbey. - Sinto-me mal pela família <strong>de</strong> Gene. Devem estar muito assustados<br />

agora mesmo. Ele tinha má aparência.<br />

-Teria morrido sem você, Abbey, - confirmou Jonas. - Se viver, <strong>de</strong>ve isso a<br />

todas vocês. Tenho muito trabalho a fazer esta noite, mas me chame se recordar


26<br />

algo mais, Abbey. Virei dar uma olhada mais tar<strong>de</strong> e aumentarei as patrulhas<br />

nesta área também.<br />

-Obrigado, Jonas. - disse Sarah. – Nos asseguraremos que Abbey tome<br />

cuidado.<br />

-Todas <strong>de</strong>vem tomar cuidado, - insistiu ele. - Se for a máfia russa, não<br />

vacilarão em matar todas.<br />

-Oh, querido, - disse Carol e se abanou com a mão. - cheguei no momento<br />

a<strong>de</strong>quado.<br />

-Tia Carol, - protestou Kate, - não tem medo?<br />

-Vim para casa esperando voltar a pôr excitação em minha vida. - explicou<br />

Carol. - Ainda sou uma mulher bastante jovem para encontrar um bom homem.<br />

Amei meu querido Jefferson, mas ele se foi faz cinco anos e estou cansada <strong>de</strong> me<br />

sentar nessa enorme casa do sul absolutamente sozinha, ro<strong>de</strong>ada por meus<br />

álbuns <strong>de</strong> fotos e nada mais. Adoro meu trabalho como assessora do Cretive<br />

Memories, mas quero fazer minhas lembranças, não só advogar a outros a<br />

preservar as suas.<br />

-Alegra-nos que tenha vindo, Tia Carol, - disse Kate. - Sobre tudo<br />

necessitamos ajuda para o planejamento das bodas. - Olhou Sarah. - Ou<br />

<strong>de</strong>veríamos dizer as bodas? Sarah e eu queremos ter bodas duplas.<br />

-E Abbey? - disse Joley maquiavelicamente, dando um golpe em Abbey<br />

com seu pé nu. - Talvez tenhamos três noivas.<br />

-Muito gracioso, Joley. Tia Carol, tira uma foto <strong>de</strong> Joley. Fará uma fortuna<br />

na Internet. Estrela do rock vadiando em casa com seu pijama <strong>de</strong> super estrela<br />

favorito. Po<strong>de</strong>ria vendê-la aos periódicos sensacionalistas. - sugeriu Abigail.<br />

Joley simplesmente fez rodar seu tornozelo em pequenos círculos<br />

preguiçosos.<br />

-Será melhor que cuspa tudo, Abbey. Tenho a mãe <strong>de</strong> todas as dores <strong>de</strong><br />

cabeça e quão mínimo po<strong>de</strong> fazer é nos explicar como po<strong>de</strong> estar e não estar<br />

comprometida com um forasteiro russo que, além disso, é um espião.<br />

-Não é um espião, - disse Abbey.<br />

-Como sabe, querida? - perguntou Carol enquanto inclinava a câmara para<br />

conseguir um melhor ângulo <strong>de</strong> Joley. - Joley, move a cabeça só um pouco.<br />

Recolho uma luz <strong>de</strong>slumbrante.<br />

-Não po<strong>de</strong> recolher uma luz <strong>de</strong>slumbrante. - protestou Joley, virando a<br />

cabeça para olhar para trás. - Está escuro fora.<br />

-Certamente estou captando uma luz na janela. Oh, foi-se. Deve ter sido a<br />

lua.<br />

Fez-se um silêncio repentino. As sete irmãs Drake se olharam com<br />

inquietação. Hannah elevou os braços e o vento se precipitou através da casa,<br />

fazendo que dançassem as cortinas fechando-se nas janelas. Joley <strong>de</strong>senhou um<br />

complicado patrão no ar. Imediatamente símbolos prateados saltaram à vida,<br />

faiscando e <strong>de</strong>svanecendo-se tão rápido como surgiram.<br />

-O que viu Sarah? - perguntou Carol, sua voz tinha perdido as notas<br />

zombadoras e se tornou séria. - Porque eu não gostei do que vi.<br />

Carol tinha o dom "da visão" igual Sarah. Ela era a mais velha <strong>de</strong> suas sete<br />

irmãs. Sarah e Carol intercambiaram um longo olhar e logo se voltaram para<br />

Abigail.


27<br />

Abbey sentiu um estremecimento <strong>de</strong>scer por sua coluna.<br />

-O que aconteceu na Rússia, Abbey? - Perguntou-lhe Sarah. - Há morte<br />

entre esse homem e você. Vejo o sangue, a morte e a violência.<br />

Não havia nenhuma acusação na voz <strong>de</strong> Sarah, nada em sua expressão,<br />

mas Abbey <strong>de</strong>sejou que o chão se abrisse e a tragasse. Ela era diferente.<br />

Defeituosa. Seu crime algo inexplicável. Sacudiu a cabeça.<br />

-Não posso. Por favor, não me perguntem. Tudo mudará e são o único<br />

refúgio que fica além do mar. Se me quiserem, não me peçam explicações.<br />

-É por que lhe queremos, - disse Sarah amavelmente.<br />

Abigail se levantou com lágrimas nos olhos.<br />

-Sinto muito. Não posso falar disso. - Não podia falar disso, não podia<br />

pensar nisso, fechando <strong>de</strong> repente a porta <strong>de</strong> sua mente evitava atirar-se por um<br />

escarpado. Nunca se livraria do que tinha feito, do dano que tinha causado. E<br />

nunca se liberaria <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r Volstov.<br />

Capítulo - 3


28<br />

Oculto na zona <strong>de</strong> arbustos ao pé da colina, Aleksan<strong>de</strong>r ficou com o olhar<br />

fixo na casa no escarpado. Abbey Drake. Tinha-o enfeitiçado fazia anos. Sabia<br />

qual era seu quarto. Dava à la<strong>de</strong>ira, com vistas ao oceano <strong>de</strong>s<strong>de</strong> seu balcão. As<br />

portas <strong>de</strong> vidros com trilhos estavam totalmente abertas e as cortinas brancas <strong>de</strong><br />

algodão dançavam com a brisa que entrava do oceano. Tinha sido do mais<br />

cuidadoso observando cada ponto <strong>de</strong> entrada, cada <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong> da casa, quando<br />

tinha estado <strong>de</strong>ntro. Inclusive tinha provado os chiados da escada.<br />

A casa era enorme e parecia coberta por um halo <strong>de</strong> segredos. A névoa<br />

jazia pesadamente ao redor e entre as árvores, como se guardasse a estrutura e<br />

seus ocupantes. Os fios <strong>de</strong> névoa eram estranhos entre os prateados raios da lua,<br />

envolvendo os balcões e as janelas em um cinza fantasmagórico.<br />

Ela estava lá em cima, nessa casa. Nessa habitação. Só a poucos metros<br />

<strong>de</strong>le, já não a meio mundo <strong>de</strong> distância. Não po<strong>de</strong>ria escapar <strong>de</strong>le esta vez.<br />

Havia-lhe <strong>de</strong>volvido cada carta que cuidadosamente lhe tinha escrito. Tinha posto<br />

toda sua alma nessas cartas e ela as havia <strong>de</strong>volvido sem nem sequer as abrir.<br />

Algumas das cartas tinham viajado por vários países para alcançá-la. Ele ainda<br />

tinha cada uma <strong>de</strong>las, marcadas com meia dúzia <strong>de</strong> carimbo. Havia dito a si<br />

mesmo que era um parvo, mas não podia <strong>de</strong>ixá-la passar. Não podia esquecê-la.<br />

Não podia evitar a forma em que aparecia em sua mente cem vezes ao dia e<br />

permanecia em seus sonhos noite atrás <strong>de</strong> noite.<br />

Deu um passo cauteloso na proprieda<strong>de</strong>. As nuvens giravam ao redor da<br />

lua, lançando uma estranha mescla <strong>de</strong> sombras e luz oscilante sobre a paisagem.<br />

Árvores e arbustos se bambolearam como se guardassem a la<strong>de</strong>ira oculta sob a<br />

<strong>de</strong>nsa folhagem <strong>de</strong> folhas e ramos. Alguns ramos se elevavam para o céu<br />

enquanto que as outras se inclinavam retorcidas, lançando formas para o chão,<br />

compridos braços inclinados dissuadindo aos intrusos. Era como se a própria<br />

proprieda<strong>de</strong> quisesse mantê-los afastados.<br />

Outra vez ficou imóvel, percebendo o ritmo da noite, o <strong>de</strong>sassossego se<br />

arrastou até sua mente e seu corpo fazendo que sentisse arrepiar os cabelos da<br />

nuca. Agachou-se instintivamente, seu corpo consciente da névoa e da luz da lua<br />

entre as árvores quase antes que seu cérebro registrasse a informação. Estava<br />

sintonizado com cada som noturno, cada grilo e rã. Os fios <strong>de</strong> névoa que<br />

encobriam a casa se estendiam como serpentes macabras, retorcendo-se através<br />

da <strong>de</strong>nsa folhagem, obscurecendo mais a visão, mas ele confiava em seus<br />

instintos, não na vista.<br />

Ele <strong>de</strong>slizou mais profundamente entre as sombras e ficou imóvel outra vez,<br />

seus sentidos se intensificaram e estava completamente alerta. Não ouvia nada,<br />

não via nada, mas sabia que não estava sozinho. Esperou pacientemente,<br />

trocando <strong>de</strong> posição só quando tinha algo com que cobrir-se. Finalmente captou<br />

uma forma escura movendo-se sorrateiramente através das árvores. A névoa e<br />

arbustos obstaculizavam sua visão, mas escutou o roçar <strong>de</strong> pés com sapatos<br />

sobre as rochas e se atirou ao chão.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r era um homem gran<strong>de</strong> e necessitava sigilo para aproximar-se<br />

do caçador. Tirou sua arma e se arrastou pela erva. Um homem estava na<br />

sombra das árvores observando fixamente a casa através <strong>de</strong> binóculos. O coração


29<br />

<strong>de</strong> Alexan<strong>de</strong>r saltou quando se <strong>de</strong>u conta <strong>de</strong> que os binóculos pareciam estar<br />

dirigidos diretamente ao quarto <strong>de</strong> Abigail.<br />

As cortinas sobre as portas francesas se balançaram e Alexan<strong>de</strong>r se esticou<br />

quando viu Abigail sair ao balcão e encarar o mar. Usava calças <strong>de</strong> pijama e uma<br />

camiseta estreita que não cobria seu ventre plano. Apoiou os cotovelos no<br />

corrimão e ficou com o olhar fixo sobre o oceano. O vento on<strong>de</strong>ou sua larga juba<br />

<strong>de</strong> cor mogno e empurrou sua pequena camiseta sobre seus seios. Seus cabelos<br />

caíam até <strong>de</strong>baixo da cintura como uma larga cascata, o vento banhava sua<br />

pálida pele. Recordou a sensação dos fios sedosos, suaves e sensuais, <strong>de</strong>slizandose<br />

sobre ele.<br />

Requereu todo seu autocontrole não lhe gritar uma advertência. Avançou<br />

pouco a pouco e com dificulda<strong>de</strong> para o homem entre as sombras. Este virou a<br />

cabeça ligeiramente e o intestino <strong>de</strong> Alexan<strong>de</strong>r se encolheu e começou a rodar.<br />

Prakenskii. Consi<strong>de</strong>rava-o um assassino brutal e existia uma or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> acabar<br />

com ele fazia anos. O que estava fazendo no pequeno povo <strong>de</strong> Sea Haven?<br />

Aleksan<strong>de</strong>r se arrastou até o ter a tiro. Não podia permitir o luxo <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar<br />

a Prakenskii mais espaço para manobrar. Seu mundo inteiro se estreitou a sua<br />

tarefa. Matar Prakenskii e manter Abigail a salvo. Nada mais importava nesse<br />

momento, ou po<strong>de</strong>ria importar.<br />

-Mantém as mãos justo on<strong>de</strong> estão, Ilya Prakenskii. - or<strong>de</strong>nou Aleksan<strong>de</strong>r,<br />

com um tom <strong>de</strong> voz baixo. - Fique on<strong>de</strong> está.<br />

Prakenskii ficou rígido e levantou suas mãos ligeiramente.<br />

-Aleksan<strong>de</strong>r. Não tinha nem idéia <strong>de</strong> que estava na vizinhança.<br />

Encontramo-nos nos lugares mais estranhos. - Um pequeno sorriso tocou sua<br />

boca. – Recuperou-se <strong>de</strong> nossa ultima pequena "conversação"?<br />

-Completamente. - disse Aleksan<strong>de</strong>r agradavelmente. - Umas poucas<br />

semanas <strong>de</strong> recuperação. - <strong>de</strong>u <strong>de</strong> ombros. - Assim é a vida. E você?<br />

-Um pequeno aviso quando faz frio, mas obrigado por perguntar.<br />

-O que traz você para esta parte do mundo?<br />

-Estava a ponto <strong>de</strong> perguntar o mesmo. - disse Prakenskii. - Embora, agora<br />

que vi à mulher, não necessito uma explicação. Havia um rumor que tinha<br />

perdido o interesse Por ela.<br />

-Os rumores se equivocaram.<br />

-Não é a do escândalo? Você quase per<strong>de</strong>u sua carreira e criou um muito<br />

amargurado inimigo.<br />

-Tenho-me feito minha cota <strong>de</strong> inimigos, - concordou Aleksan<strong>de</strong>r com um<br />

pequeno encolhimento <strong>de</strong> ombros. - Igual a você. É nosso modo <strong>de</strong> vida.<br />

-Certo. Esperava que seus superiores mandassem você embora, mas<br />

parecem lhe dar crédito e lhe conservaram. -Inclinou a cabeça. - Ou tem muito<br />

mais po<strong>de</strong>r do que eu acreditava.<br />

-Vire-se, Ilya. - Aleksan<strong>de</strong>r se negava a ser atraído a um <strong>de</strong>bate <strong>de</strong> política.<br />

Ambos sabiam <strong>de</strong> primeira mão que a papelada burocrática das diversas<br />

organizações governamentais, seções e colegas <strong>de</strong> trabalho ciumentos podiam<br />

ser um campo minado.<br />

-Ninguém gosta <strong>de</strong> olhar que está perto, Aleksan<strong>de</strong>r. - remarcou Prakenskii<br />

enquanto se virava, com as mãos ainda a plena vista, os binóculos chamativos


30<br />

em seu punho esquerdo- É uma bela mulher. Sempre é uma vergonha quando<br />

morre uma bela mulher, não acha?<br />

-Felizmente meus inimigos me conhecem, Ilya, assim ela não corre nenhum<br />

perigo. Seguiria a pista e mataria a quem lhe fizesse mal. E mataria a suas<br />

famílias, a seus amigos e a cada associado até que me capturassem. - Aleksan<strong>de</strong>r<br />

falou contun<strong>de</strong>ntemente. Deu <strong>de</strong> ombros, mas a arma permaneceu firme como<br />

uma rocha- Inclusive a Interpol levaria muito tempo para me apanhar e haveria<br />

um banho <strong>de</strong> sangue antes que ocorresse. Deixa cair os binóculos e não quero<br />

ver seu ombro mover-se. Abre a mão e <strong>de</strong>ixa-os cair ao chão.<br />

-Veja Aleksan<strong>de</strong>r, estes são muito caros. Não po<strong>de</strong> esperar que... -Ilya<br />

atirou os binóculos, que golpearam com força contra o peito <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r e se<br />

precipitou para frente para tratar cruelmente <strong>de</strong> lhe tirar a arma da mão.<br />

Quase muito tar<strong>de</strong>, Aleksan<strong>de</strong>r viu a pequena folha afiada na mão <strong>de</strong> Ilya<br />

enquanto <strong>de</strong>slizava para o estômago <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r. Os assassinos como<br />

Prakenskii utilizavam veneno, recobrindo a afiada folha com uma dose tão letal<br />

que com a mais ligeira das feridas sua vítima estava morta em poucos minutos.<br />

Saltou para trás fazendo que a folha lhe falhasse por pouco e golpeou com<br />

a culatra <strong>de</strong> sua arma o dorso da mão <strong>de</strong> Ilya fazendo que a faca caísse ao chão.<br />

Elevou seu pé, batendo duramente contra o flanco do joelho <strong>de</strong> Ilya, paralisando<br />

a perna, obrigando a cambalear-se.<br />

Isso <strong>de</strong>u suficiente tempo a Aleksan<strong>de</strong>r para colocar sua arma em posição<br />

enquanto Ilya tirava sua segunda arma e lhe apontava entre os olhos.<br />

Agüentaram cara a cara, ambos preparados para morrer em um só pulsar.<br />

Aleksandr pensou no Prakenskii espreitando Abbey, lhe cravando uma faca<br />

ou lhe disparando até que seu corpo sem vida jazesse ensangüentado e<br />

quebrado. Um movimento era tudo o que necessitava para evitar que ela<br />

morresse, apertar lentamente o gatilho.<br />

-Eu sou o mensageiro, não o remetente. - assinalou Prakenskii, lendo a<br />

morte nos olhos do outro homem. - Se quiser que ela viva, necessita que eu<br />

retorne aos outros e dê sua mensagem. Não lhe querem atrás <strong>de</strong>les. É isso, ou<br />

ambos morremos aqui.<br />

-Acredito que ambos morreremos.<br />

Prakenskii negou com a cabeça.<br />

-É estúpido esbanjar sua vida. Acredito que fará o que diz e irá atrás <strong>de</strong><br />

qualquer um que faça mal a garota. Não tenho <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ter que olhar<br />

continuamente por cima <strong>de</strong> meu ombro buscando você durante o resto <strong>de</strong> minha<br />

vida. Não tocarei na sua mulher e entregarei a mensagem <strong>de</strong> que a <strong>de</strong>ixem em<br />

paz.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r estudou a cara impassível <strong>de</strong> Ilya. Sabia que o assassino era<br />

muitas coisas, mas mentiroso não era.<br />

-Matou Danilov?<br />

Houve um pequeno silêncio.<br />

-Não conheço Danilov.<br />

-Era meu companheiro.<br />

Ilya negou com a cabeça.<br />

-Não fui eu. Nunca ouvi falar <strong>de</strong>le.


31<br />

Alexan<strong>de</strong>r acreditou e isso fez que a presença <strong>de</strong> Prakenskii fosse até mais<br />

misteriosa.<br />

-Se você se meter em minha investigação, Ilya, ou se está envolto <strong>de</strong><br />

qualquer forma, terei que matar você. Sabe disso.<br />

-Po<strong>de</strong> tentar Aleksan<strong>de</strong>r, mas ambos terminaremos com mais cicatrizes e<br />

minha artrite será pior em minha velhice.<br />

-Se não <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> trabalhar para o Sergei, não viverá para ser um homem<br />

velho.<br />

-Parto Alexan<strong>de</strong>r. - Prakenskii <strong>de</strong>u um cauteloso passo atrás. - Não há<br />

razão para fazer isto. Não vim matar à mulher.<br />

-Por que está aqui então?<br />

Prakenskii vacilou, um pequeno sorriso tocou brevemente sua fria boca.<br />

- Curiosida<strong>de</strong>. Quis ver que tipo <strong>de</strong> mulher po<strong>de</strong>ria ter a tantos homens<br />

atados com um nó.<br />

-Quem? - Quão último Alexan<strong>de</strong>r queria era que Sergei Nikitin estivesse<br />

interessado em Abigail Drake. Ficou com a boca seca ante a idéia. Prakenskii não<br />

era o único assassino que trabalhava para o Nikitin. E alguns dos outros não<br />

tinham a disciplina ou o respeito <strong>de</strong> Prakenskii. Não tinham treinado com o<br />

Aleksan<strong>de</strong>r e não conhecia sua reputação ou suas capacida<strong>de</strong>s como Prakenskii. –<br />

Por que estaria Nikitin interessado em Abigail?<br />

-Vou, Aleksan<strong>de</strong>r. Permaneça fora do meu caminho.<br />

Alexan<strong>de</strong>r o seguiu passo a passo, a arma nunca vacilou enquanto se<br />

moviam como bailarinos em uma coreografia.<br />

-Ouvi que meu nome estava no mais alto na lista, Ilya. É por isso que veio?<br />

-Mataria você para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r minha vida, Aleksan<strong>de</strong>r, mas inclusive eu<br />

tenho um código. Não estou aqui por você. - O capanga <strong>de</strong>u <strong>de</strong> ombros.<br />

Sua resposta disse a Aleksandr que Prakenskii se sentia <strong>de</strong> forma muito<br />

parecida como o fazia Aleksan<strong>de</strong>r. Criaram-se juntos e havia muito poucas<br />

pessoas às que fossem leais. Isso ainda importava. Era uma das razões pelas que<br />

Alexan<strong>de</strong>r nunca se esforçava muito em agarrar Prakenskii.<br />

As pessoas nunca sabiam se realmente era o assassino que tinha a<br />

reputação <strong>de</strong> ser, ou se simplesmente tinha feito inimigos capitalistas no lugar<br />

equivocado. Tal como tinha feito Aleksan<strong>de</strong>r.<br />

-Trabalha para o Nikitin e ouvi que compartilha a cama com o Ignatev. -<br />

Aleksandr cuspiu o nome para ver o que tirava.<br />

-As mulheres dão problemas, Aleksan<strong>de</strong>r, <strong>de</strong>veria lembrar-se disso. -<br />

Prakenskii arriscou um olhar para a casa do escarpado. - Ignatev é um homem<br />

vingativo e seu ódio é muito profundo. É um homem que <strong>de</strong>seja ar<strong>de</strong>ntemente o<br />

po<strong>de</strong>r e o obterá como é.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r manteve sua arma apontando para Prakenskii e continuou<br />

movendo-se com ele passo a passo, cuidando <strong>de</strong> lhe manter a vista. Era um<br />

homem muito perigoso, mas ele tinha um estranho código ético. Aleksan<strong>de</strong>r<br />

podia entendê-lo. Ambos tinham crescido e tinham sido a<strong>de</strong>strados na mesma<br />

escola, ambos aperfeiçoando a arte <strong>de</strong> matar. Aleksan<strong>de</strong>r tinha cansado da<br />

política da espionagem e escolheu o trabalho policial. Prakenskii havia se tornado<br />

impossível <strong>de</strong> controlar e o governo tinha ditado uma or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> terminar com ele.<br />

Todos os que tinham sido enviados contra ele tinham sido <strong>de</strong>volvidos em


32<br />

uma bolsa. Aleksan<strong>de</strong>r e Prakenskii se conheciam fazia muitos anos e se<br />

evitavam, a não ser que Prakenskii estivesse no lado equivocado em um dos<br />

casos <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r. Suas reuniões no geral terminavam em uma sangrenta<br />

batalha que nenhum ganhava.<br />

Estaria ela mais segura com o Prakenskii morto ou vivo? Matá-lo custaria a<br />

ele sua própria vida. Não tinha nenhuma dúvida a respeito disto e sua morte<br />

<strong>de</strong>ixaria Abbey sem proteção contra Sergei Nikitin. Aleksan<strong>de</strong>r arriscou um olhar<br />

para o balcão. Abbey tinha entrado ignorando os dois homens que se<br />

enfrentavam na la<strong>de</strong>ira que conduzia a sua casa.<br />

Expulsou o fôlego com um suspiro <strong>de</strong> alívio e continuou seguindo<br />

Prakenskii, esperando um engano por parte do assassino. Ilya não per<strong>de</strong>u pé na<br />

costa levantada, nem apartou o olhar fixo <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r, enquanto abria caminho<br />

para o carro astutamente escondido <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uns arbustos selvagens.<br />

-Vigia suas costas, Aleksan<strong>de</strong>r. - Aconselhou Prakenskii enquanto <strong>de</strong>slizava<br />

atrás do volante <strong>de</strong> seu Acura negro. Sua arma permaneceu apontada à cabeça<br />

<strong>de</strong> Alexan<strong>de</strong>r. - Há coisas que é melhor <strong>de</strong>ixar em paz.<br />

-É melhor <strong>de</strong>ixar em paz Abigail Drake - replicou Aleksandr.<br />

-Ela é uma <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong> que po<strong>de</strong> ser explorada.<br />

-Ela é a morte para quem tentar lhe fazer dano.<br />

Prakenskii arrancou seu carro.<br />

-Tem muitos inimigos aqui, meu amigo. E nem todos parecem inimigos.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r <strong>de</strong>slizou sua arma <strong>de</strong> volta ao coldre <strong>de</strong> seu ombro enquanto via<br />

Prakenskii afastar-se. Só quando esteve seguro que o homem se foi voltou sua<br />

atenção para o balcão <strong>de</strong> Abbey e as portas francesas abertas. No que estava<br />

pensando ela <strong>de</strong>ixando um convite a todo mundo? Especialmente <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

presenciar um assassinato e quase ser assassinada?<br />

Ele se apressou pela costa através das árvores para a casa do escarpado.<br />

Esta era a réplica <strong>de</strong> uma casa <strong>de</strong> campo que ele tinha visto no sul da França,<br />

também com muitas janelas, balcões e uma torre. A que estava na França era<br />

utilizada como um hotel e certamente era o bastante gran<strong>de</strong> para isso.<br />

Ele olhou diretamente para os alicerces do edifício. A estrutura se elevava<br />

sobre três pisos e, é obvio, o balcão <strong>de</strong> Abigail estava no ponto mais alto.<br />

Colocou-se sob o balcão e estudou as pare<strong>de</strong>s cobertas <strong>de</strong> trepa<strong>de</strong>iras em busca<br />

da melhor forma <strong>de</strong> subir. Não foi fácil e não foi rápido, mas o fez com lentidão<br />

estável, mais incomodado que nunca por que alguém po<strong>de</strong>ria ter entrado na<br />

casa. Pior, encontrou sinais e apoios on<strong>de</strong> não <strong>de</strong>veria haver, como se uma<br />

escada invisível escavada na pare<strong>de</strong> da casa para ele, ou qualquer outro.<br />

Ganhando o balcão, passou sobre o corrimão <strong>de</strong> ferro e se sentou por um<br />

momento no chão, escutando em busca <strong>de</strong> sons <strong>de</strong> movimento. Levou alguns<br />

minutos para comprovar os terrenos abaixo antes <strong>de</strong> entrar no quarto <strong>de</strong> Abigail,<br />

no caso <strong>de</strong> Prakenskii ter retornado. Enquanto atravessava atrevidamente as<br />

portas abertas, sentiu uma curiosa <strong>de</strong>scarga elétrica atravessar seu corpo e o ar<br />

pareceu iluminar-se com diminutas faíscas muito parecidas com vaga-lumes.<br />

Piscou e a particular sensação <strong>de</strong>sapareceu como se nunca tivesse acontecido.<br />

Abigail jazia sobre a cama sob uma colcha grossa, seu punho apertava as<br />

suaves dobras. Seus cabelos vermelhos brilhantes se <strong>de</strong>rramavam pelo<br />

travesseiro e acumulava sobre os lençóis. Ele não produziu nenhum som quando


33<br />

cruzou o quarto e se sentou na cama <strong>de</strong> quatro postes <strong>de</strong> tamanho extra. As<br />

pestanas <strong>de</strong>la estavam molhadas como se tivesse estado chorando, mas quando<br />

abriu seus olhos, não havia lágrimas, só ar<strong>de</strong>nte cólera resplan<strong>de</strong>cente mesclada<br />

com pânico quando se equilibrou contra ele.<br />

Ele a apanhou e a jogou para trás sobre o colchão, vaiando para ela.<br />

-Não quererá <strong>de</strong>spertar suas irmãs. - Até esse momento, não se tinha dado<br />

conta da fúria que pulsava sob a superfície. Talvez os acontecimentos da noite a<br />

tinham alimentado, talvez suas ações <strong>de</strong>scuidadas e inclusive o perigo que se<br />

abatia sobre ela contribuíam, mas mais que nada, era sua <strong>de</strong>terminação<br />

implacável <strong>de</strong> não lhe dar nenhuma oportunida<strong>de</strong>. O tinha jogado <strong>de</strong> seu lado tão<br />

facilmente, sem um enfrentamento, sem ter falado uma só palavra, sem ter em<br />

conta nenhuma explicação.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r tomou fôlego e o <strong>de</strong>ixou escapar lentamente, cuidando que sua<br />

sujeição não tivesse possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> machucá-la.<br />

Abbey levantou o olhar para os amplos ombros e a face familiar. Adorava<br />

sua face. Adorava os ângulos, planos e linhas profundamente gravadas que lhe<br />

falavam <strong>de</strong> adversida<strong>de</strong>s. Agora mesmo seus olhos eram frios como gelo e ela<br />

soube que falava a sério, mas não se importou.<br />

-Quer dizer que você não quer que <strong>de</strong>sperte. Chamarão Jonas e será levado<br />

ao cárcere. Não será tão mau como o que aconteceu para mim, mas você não<br />

gostaria.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r a soltou.<br />

-Vá e grite, Abbey. Deixe que suas irmãs chamem a seu <strong>de</strong>sagradável<br />

amigo. Mas <strong>de</strong>ve saber que não estou com humor para ser generoso esta noite. -<br />

inclinou-se para tirar os sapatos. - Será sua culpa se ocorrer algo. Eu estou muito<br />

cansado para que me importe.<br />

-O que está fazendo? - Abbey se incorporou, seus olhos ardiam <strong>de</strong> fúria.<br />

-Já te disse. Estou cansado. Foi um dia infernal. Vou recostar-me enquanto<br />

falamos.<br />

-Em minha cama? - Sua voz saiu estrangulada pelo ultraje. - Acredito que<br />

não. - Olhou grosseiramente ao redor em busca <strong>de</strong> seu robe. - É um maldito<br />

pomposo, acredita que po<strong>de</strong> entrar em meu dormitório e se arrastar até minha<br />

cama como se nada tivesse ocorrido. Sai antes que perca as estribeiras. Não tem<br />

nem idéia do que po<strong>de</strong>ria acontecer. - Nem ela tampouco, mas por um momento<br />

<strong>de</strong>sejou ser Hannah e po<strong>de</strong>r convertê-lo em um razoável horrendo sapo.<br />

Antes <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r pôr as mãos sobre o robe ele a agarrou no punho e a lançou<br />

através do quarto.<br />

-Estava se pavoneando em seu balcão para que todo mundo visse você...<br />

incluindo um capanga russo, um particularmente eficiente. - Fulminou-a com o<br />

olhar. - Não acredito que necessite se cobrir para falar comigo.<br />

Isso a <strong>de</strong>teve. Ficou olhando, horrorizada.<br />

-O que quer dizer com um “capanga russo”? Aqui? Me espreitando? Minhas<br />

irmãs e minha tia estão em perigo? - Levantou da cama e passeou acima e<br />

abaixo pela habitação. Aleksan<strong>de</strong>r não lhe mentiria sobre isto. – Tudo isso por<br />

que ouvi um nome?<br />

-O que ouviu?


34<br />

-Um nome, isso é tudo. Alguém chamava Chernyshev. Por que enviariam<br />

um capanga por mim?<br />

-Não sei se veio por você. Só sei que é um homem muito perigoso.<br />

Chernyshev é um sobrenome bastante popular em meu país. - Ele suspirou<br />

pesadamente. - Se pertencer à máfia, é muito violento.<br />

-Era muito violento. Estava disparando a todo mundo e a tudo, incluindo os<br />

golfinhos. - passou a mão pelos cabelos enquanto passeava. – Irei me separar da<br />

minha família. Não as porei em perigo.<br />

-Tranqüila, Abbey. Inclusive não sabemos o que está acontecendo.<br />

-O que está acontecendo? Tem que sabê-lo ou não estaria em Sea Haven.<br />

De repente temos russos matando-os uns aos outros e assassinos a rondando a<br />

casa <strong>de</strong> minha família. Por que está aqui, Sasha? Por que veio para cá? - Se<br />

voltou para ele, ajoelhou-se no chão junto à cama e cravou seus incríveis olhos<br />

nele.<br />

Tinha esquecido como eram seus olhos vistos <strong>de</strong> perto. Po<strong>de</strong>riam ser tão<br />

claros e formosos ou tão turbulentos e selvagens como o mar que ela tanto<br />

amava. Ajoelhada ali com seus abundantes cabelos vermelhos caindo em cascata<br />

para a curva <strong>de</strong> seu traseiro, parecia à bruxa que algumas pessoas a chamavam.<br />

A bruxa que sua gente tinha atirado a um lado <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> fazê-la passar um<br />

inferno.<br />

Ele tinha reclamado cada favor que lhe <strong>de</strong>viam, havia inclusive utilizado<br />

velhos contatos e rotas que tinha conhecido pelo trabalho policial, para tirá-la <strong>de</strong><br />

forma segura do país. Ela sabia os riscos que ele tinha confrontado ou as<br />

conseqüências <strong>de</strong> suas ações. Não soube do banho <strong>de</strong> sangue <strong>de</strong>ixado atrás <strong>de</strong><br />

sua marcha. Mas ela sabia que ele tinha sido o responsável que o governo a<br />

agarrasse em primeiro lugar. Era responsável por um montão <strong>de</strong> coisas.<br />

Principalmente da cautela nos olhos <strong>de</strong>la. O medo. Na realida<strong>de</strong> ela não<br />

tinha tido nunca medo até que o conheceu.<br />

-Devolveu cada uma <strong>de</strong> minhas cartas sem abrir. - recostou-se, com os<br />

<strong>de</strong>dos entrelaçados atrás da cabeça.<br />

-Por que está aqui? - Repetiu-lhe ela.<br />

-Porque você está aqui.<br />

Abigail fechou os olhos, permitindo brevemente que a dor se <strong>de</strong>rramasse<br />

sobre ela. Tinha vivido com o coração <strong>de</strong>stroçado tanto tempo que agora era<br />

parte <strong>de</strong>la. Detestava ser patética, <strong>de</strong>testava as mulheres choronas que não<br />

podiam viver sem o homem que lhes tinha quebrado o coração. Ela sempre tinha<br />

sido forte. Nunca tinha tido problemas em seguir adiante. E ninguém a tinha<br />

apanhado. Até Aleksan<strong>de</strong>r. Era fraca <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> com ele. Era só porque <strong>de</strong>sejava<br />

a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> jazer a seu lado, sentir sua crua força, seu calor, só uma vez<br />

mais?<br />

Aleksandr punha seu bem or<strong>de</strong>nado mundo do avesso. Ele podia fazer que<br />

seu corpo cobrasse vida com um olhar ar<strong>de</strong>nte. Com um toque. Só caminhando<br />

para ela. Realmente havia se tornado patética. A fúria varreu através <strong>de</strong>la, seu<br />

temperamento se elevou até proporcionar ajuda a seus instintos <strong>de</strong> auto<br />

conservação. Não voltaria a atravessar o inferno. Tinha uma pequena quantida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> auto respeito. Bom… talvez não. Talvez fosse auto conservação, porque ele<br />

quase a tinha <strong>de</strong>struído. Tinha arruinado sua alegria <strong>de</strong> viver, e tinha <strong>de</strong>stroçado


35<br />

sua confiança em si mesma. Tinha prejudicado várias das qualida<strong>de</strong>s que<br />

<strong>de</strong>finiam Abigail Drake e lhe tinha <strong>de</strong>ixado uma concha vazia.<br />

-Maldito seja, Sasha. Fora. Minha casa é o único refúgio que restou.<br />

-Tudo o que tinha que fazer era ler minhas cartas, Abbey. Não teve sequer<br />

essa cortesia.<br />

Ela virou sua cabeça para lhe olhar, repentinamente furiosa. Fluiu uma<br />

fonte quente <strong>de</strong> fúria e a permitiu ferver até revoar. Saltou para cima, <strong>de</strong>testando<br />

a imagem <strong>de</strong> uma mulher ajoelhando-se a seus pés.<br />

-Cortesia? Crê que <strong>de</strong>vo cortesia? Deixou que me levassem a rastros e me<br />

tratassem como a um animal. Sabia o que iriam me fazer. Quer saber quantas<br />

vezes me golpearam? Durante quantas horas fui interrogada? Esbofeteada?<br />

Inspecionada? Quer os feios <strong>de</strong>talhes? Ou já os tem? - ficou olhando seu rosto<br />

fixamente. Sua face <strong>de</strong> aparência agradável e cinzelada que não expressava<br />

nada. Quis lhe esbofetear assim apertou os <strong>de</strong>dos e lutou por controlar-se. -<br />

Traiu-me. Traiu tudo o que éramos juntos. Maldito seja por isso.<br />

Ante o som <strong>de</strong> passos correndo no vestíbulo abaixo, Abigail se virou para a<br />

porta e on<strong>de</strong>ou a mão. Os ferrolhos se fecharam automaticamente.<br />

-Abbey! - A voz <strong>de</strong> Hannah gritou <strong>de</strong> fora. - Vai tudo bem?<br />

-Fique fora, - or<strong>de</strong>nou Abigail. - Estou perfeitamente bem.<br />

-Não está bem - insistiu Joley. - Po<strong>de</strong>mos sentir tudo que você sente.<br />

-Eu me encarrego disto. - disse Abigail. - Por favor, voltem para a cama.<br />

Preciso fazer isto.<br />

Houve um pequeno silêncio.<br />

-Se for o que quer, Abbey. - disse Hannah.<br />

-É o que necessito - disse ela e se virou para olhar Alexan<strong>de</strong>r.<br />

Ele elevou a mão para tocá-la. Sabia que era um engano assim que o fez,<br />

mas não pô<strong>de</strong> resistir. Os olhos <strong>de</strong>la continham muito pesar, muitas sombras, e<br />

isso atacava as fibras <strong>de</strong> seu coração. A luz da lua se <strong>de</strong>rramada sobre seu corpo,<br />

banhava sua face e seus cabelos fazendo-a parecer uma tentação, uma visão<br />

ruiva que não po<strong>de</strong>ria separar <strong>de</strong> sua mente. Sua mão <strong>de</strong>slizou entre a sedosa<br />

cabeleira; seu polegar acariciou a suave pele enquanto lhe emoldurava o rosto.<br />

-Sonho com você cada noite.<br />

-Eu tenho pesa<strong>de</strong>los sobre você - por que não podia afastar-se <strong>de</strong>le?<br />

Qualquer outro homem estaria retorcendo-se no chão. Por que a fazia tão débil?<br />

Por que lhe <strong>de</strong>sejava tão ar<strong>de</strong>ntemente como se fosse uma terrível droga? Ela<br />

não tinha sido uma mulher débil até que ele tinha entrado em sua vida. - Quase<br />

me <strong>de</strong>struiu. Pensa <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> que quero ter algo que ver com você?<br />

-Te ocorreu que isso quase me <strong>de</strong>struiu também? Te amo, Abbey. É meu<br />

coração e minha alma. Alguma vez, embora só uma, perguntou-se o que estava<br />

acontecendo?<br />

-É obvio que o fiz. Amava você. - Deliberadamente utilizou o tempo<br />

passado. Obteve sua atenção. Seus olhos brilhavam intensamente para ela, uma<br />

advertência, mas a ela não importou. - Não queria acreditar que me trairia e me<br />

<strong>de</strong>ixaria quando mais necessitava <strong>de</strong> você, mas o fez. Não quis ouvir nenhuma<br />

explicação. Pensava que era importante para você. Obviamente não fui, assim<br />

segui adiante. Assim é a vida, Aleksan<strong>de</strong>r.


36<br />

-O que há entre você e seu amigo policial, Harrington? - Aleksan<strong>de</strong>r<br />

manteve a voz suave, mas suas vísceras se agitavam. Abigail era uma mulher<br />

teimosa. Se tivesse idéia <strong>de</strong> não lhe dar uma oportunida<strong>de</strong>, seria quase<br />

impossível mudar sua <strong>de</strong>cisão. Sua única esperança era que ao menos estava<br />

discutindo com ele. Abigail se afastava dos enfrentamentos. Uma vez tinha<br />

acreditado que a aterrava seu temperamento e recusava permitir-se ser colocada<br />

em qualquer posição em que <strong>de</strong>sejasse tomar represálias.<br />

Também era muito leal. Tinha-o aprendido da forma mais dura. Nos dias <strong>de</strong><br />

interrogatório, ela recusou lhe trair, guardando silêncio sem importar com o que a<br />

ameaçassem ou o que lhe fizessem. Passou a mão pela face, apartando os<br />

pesa<strong>de</strong>los <strong>de</strong> observar as cintas. Tinha estado tão sozinha. Tão assustada. E não<br />

tinha sabido que ele estava trabalhando freneticamente atrás das câmaras para<br />

libertá-la, para fazer que a <strong>de</strong>portassem. Não tinha sabido que as coisas tinham<br />

ido tão drasticamente mal.<br />

-Mantenha-se longe <strong>de</strong> Jonas Harrington.<br />

Havia um feroz amparo em sua voz. E afeto. Sobressaltou-se ante este<br />

fato.<br />

-O que é ele para você?<br />

-Não é seu assunto.<br />

-Perdi meu companheiro, Abbey. Quase lhe mato. Acabo <strong>de</strong> ter um<br />

encontro com um homem muito perigoso que tratou <strong>de</strong> me matar fora <strong>de</strong> sua<br />

casa. Mais que nada estou preocupado por você porque quando ele vai a caça,<br />

não falha. - E isso não tinha sentido para ele. Se houvessem mandado Prakenskii<br />

matar Abigail Drake já o teria feito sem vacilar. Que outra razão podia ter para<br />

estar ali? Aleksan<strong>de</strong>r esmagou a urgência <strong>de</strong> ir atrás do homem. Tinha aprendido<br />

uma dura lição a respeito <strong>de</strong> atuar sem todos os fatos e não queria cometer outro<br />

possivelmente fatal engano.<br />

-Me conte mais sobre ele - urgiu Abigail.<br />

-Seu nome é Ilya Prakenskii. Criamo-nos juntos em uma casa do estado e<br />

nos guardamos um as costas do outro. Tinha que ser assim. Inclusive ali, quando<br />

éramos jovens e eles nos treinavam para nosso trabalho, havia sempre em<br />

marcha jogos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. É uma forma <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> on<strong>de</strong> eu venho.<br />

-Conhece-lhe?<br />

-Provavelmente melhor que qualquer outro. - confirmou. - Se houver um<br />

homem que respeito e gosto, é Ilya, mas nossos manipuladores não fomentavam<br />

a amiza<strong>de</strong>. Ele escolheu um lado e eu ao outro. Mas Ilya não falha. Não sei por<br />

que está aqui, mas disse que não conhecia Danilov e acredito. Tem reputação <strong>de</strong><br />

trabalhar para Sergei Nikitin e Nikitin é a máfia, um homem muito violento que<br />

gosta <strong>de</strong> resolver os problemas <strong>de</strong> formas extremas.<br />

O coração <strong>de</strong> Abigail saltou em sua garganta.<br />

-Disse que você mesmo é um alvo. Está aqui por você?<br />

-Diz que não.<br />

-Mas ele estava aqui e sabia que você viria. Por que vigiaria esta casa e a<br />

mim se não tivesse nada a ver por eu ter presenciando a morte <strong>de</strong> seu<br />

companheiro ou para chegar a você? É a única explicação lógica.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r assentiu.


37<br />

-É certo, mas não acredito que eu seja seu alvo. Advertiu-me que tenho<br />

inimigos capitalistas.<br />

-Você?<br />

-É obvio. Não estaria on<strong>de</strong> estou sem ter feito inimigos. Tem que enten<strong>de</strong>r<br />

a dinâmica <strong>de</strong> meu país. Houve muitas mudanças nos últimos vinte anos, tantas<br />

mudanças no po<strong>de</strong>r, que ninguém quer entregá-lo.<br />

-O que fez que fosse tão mau para que alguém marcasse você como alvo?<br />

Houve um pequeno silêncio. O coração <strong>de</strong> Abigail se afundou. Sentou-se na<br />

beirada da cama. - Teve algo a ver com minha saída da Rússia, verda<strong>de</strong>?<br />

-Sim. - Não ia mentir. - Tinha inimigos que não conhecia e que<br />

aproveitaram a oportunida<strong>de</strong> que se apresentou <strong>de</strong>pois do que aconteceu.<br />

Ela inspirou fortemente, elevando a mão para lhe <strong>de</strong>ter.<br />

-Cale-se. Simplesmente cale-se. Não fale disso.<br />

-Se não falarmos disso, nunca saberá o que aconteceu - disse-lhe<br />

brandamente.<br />

-Não quero saber o que aconteceu. Não agora. Nem alguma vez. Tem a<br />

menor idéia do que aconteceu? Arrancou-me o coração e lhes <strong>de</strong>ixou me golpear.<br />

Maldito seja, Sasha, não finja que não sabia o que estavam fazendo. Soube em<br />

todo momento. Tinha muitos contatos para não saber. Deixou-lhes. - Estava<br />

doente outra vez. Seu estômago protestava, uma enfermida<strong>de</strong> que nunca<br />

pareceu ir sem importar quantos antiácidos tomasse.<br />

-Não soube até que foi muito tar<strong>de</strong> e logo removi céu e terra para tirar você<br />

rapidamente. E maldita seja, você sabe por que.<br />

Ela cobriu o rosto com as mãos.<br />

-Não quero pensar nisso. Não quero pensar nunca mais nisso. Bem po<strong>de</strong>ria<br />

ter apertado o gatilho eu mesma. Esse pobre homem e sua pobre prisão. Tenho<br />

que viver com a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua morte. Isso sei mas não merecia o que<br />

fez. Se essa for sua idéia <strong>de</strong> castigo...<br />

-Alto! - Pela primeira vez elevou a voz em uma lista <strong>de</strong> maldições em<br />

russo. - Não foi um castigo. Nunca foi responsável pela morte <strong>de</strong>sse homem.<br />

Houve todo tipo <strong>de</strong> coisas que conduziram a isso, em nenhum dos quais você<br />

teve nada que ver. Sua morte foi uma terrível tragédia, e uma que lamento, mas<br />

não teve nada que ver com você. - Forçou seu corpo a relaxar-se, forçou ar<br />

fortemente através <strong>de</strong> seus pulmões. - É isso o que realmente acreditou? Que<br />

estava castigando você?<br />

-Deixou-me completamente sozinha. Sei que <strong>de</strong>sertou quando mais<br />

necessitava <strong>de</strong> você. Entregou-me às autorida<strong>de</strong>s e lhes <strong>de</strong>ixou que me<br />

interrogassem. Sabia o que queriam e não fez nada.<br />

-Como acredita que saiu do país? Não está apodrecendo em uma prisão.<br />

Deportaram-lhe e a tiraram do país a poucos dias <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>tenção. Crê que isso<br />

ocorre realmente na Rússia? Se acreditava que a tinha abandonado, por que não<br />

me acusou? Por que não me nomeou quando lhe estavam pedindo informação?<br />

Abigail se afundou na beirada da cama.<br />

-Não sei. Não sabia o que estava acontecendo. - Sacudiu a cabeça outra<br />

vez. - Acreditei que merecia como me trataram <strong>de</strong>pois do que tinha acontecido.<br />

Deveria ter sabido que ele se sentia culpado pela morte da filha, não que era<br />

culpado dos outros crimes. Não <strong>de</strong>veria haver tido nenhuma noção preconcebida


38<br />

quando entrei nesse quarto. Todo mundo soava tão seguro <strong>de</strong> que ele a tinha<br />

assassinado, <strong>de</strong> que era o que estava matando aqueles meninos, mas não<br />

<strong>de</strong>veria ter me <strong>de</strong>ixado influenciar. Você estava fazendo-lhe tantas perguntas, as<br />

disparando uma e outra vez, e os outros policiais estavam fazendo o mesmo.<br />

Parecia culpado. Ele queria confessar algo. Algo. Quando lhe perguntei se era<br />

culpado e disse que sim, senti que não estava bem, mas estava muito ocupada<br />

escutando aos oficiais, a você. - interrompeu-se e cobriu a face outra vez. - Traí<br />

meu próprio dom. Fiz as perguntas equivocadas e ele confessou sua<br />

culpabilida<strong>de</strong>, tal como eu lhe induzi a fazer. E logo ele tratou <strong>de</strong> alcançar a arma<br />

que o estúpido oficial tinha colocado ali tão chamativamente.<br />

-Se lhe induzimos a cometer suicídio todos nós somos culpado, não vocêdisse-lhe.<br />

-Se? Se? Não há se. Ele acreditou que tinha a culpa pela perda <strong>de</strong> sua<br />

menina. Ninguém lhe reconfortou. Ninguém lhe aconselhou. Sentia-se culpado<br />

porque estava vigiando-a enquanto sua esposa estava ausente e dormiu.<br />

-Tinha estado bebendo. Bebeu muito e foi dormir pela tar<strong>de</strong>.<br />

-Exime-nos isso do que fizemos? Ele não era o assassino, mas você<br />

suspeitava que não fosse. Suspeitava inclusive quando lhe trouxe para interrogar,<br />

certo?<br />

-Sempre suspeitamos primeiro dos pais.<br />

-Mas você não me falou <strong>de</strong> suas suspeitas. Já tinha um suspeito.<br />

-Não tinha provas, Abbey. Tinha que seguir o procedimento. Trouxe o pai e<br />

interroguei tal como teria feito com qualquer outro suspeito.<br />

-Mas você não acreditava que fosse culpado. Todo mundo foi muito duro<br />

com ele e eu simplesmente me uni. - Abigail mor<strong>de</strong>u os nódulos com agitação.<br />

Noite atrás <strong>de</strong> noite via a cara do homem e suas próprias mãos cobertas <strong>de</strong><br />

sangue. - Eu aju<strong>de</strong>i a lhe matar.<br />

-Demônios, Abbey. Deu-se um tiro. Interrogamos suspeitos todo o tempo.<br />

Não se matam.<br />

-Você po<strong>de</strong> se absolver <strong>de</strong> toda responsabilida<strong>de</strong>, Aleksan<strong>de</strong>r, mas eu não<br />

posso. E o que me fez <strong>de</strong>pois é in<strong>de</strong>sculpável, e não são as ações <strong>de</strong> um homem<br />

apaixonado. Po<strong>de</strong> querer <strong>de</strong>itar-se comigo, mas eu não estou disposta a me<br />

conformar com isso.<br />

-Estava acontecendo mais coisas naquele quarto do que sabíamos. -<br />

passou-se a mão pelas escuras ondas <strong>de</strong> seus cabelos. – Eu tinha subido na<br />

hierarquia rápido e havia resolvido casos, tinha chamado a atenção <strong>de</strong> meus<br />

superiores rapidamente. Tinha uns antece<strong>de</strong>ntes… - ele vacilou. - Fui um agente<br />

com muito êxito antes <strong>de</strong> ser polícia. Converti-me em <strong>de</strong>tetive quando aos outros<br />

tinha levado anos chegar até ali. Também tinha gente em altas esferas que me<br />

<strong>de</strong>via favores. Sabia como passar através da papelada burocrática e esquivar as<br />

lutas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. Quando isso acontece, pisa em pés e se faz inimigos dos que nem<br />

sempre é consciente.<br />

Abigail lutou por respirar, por pensar além <strong>de</strong>sse traumático momento<br />

quando o jovem pai esten<strong>de</strong>u a mão para a arma. Ela não tinha podido <strong>de</strong>ter o<br />

tempo ou ralentizá-lo ou reviver os minutos antes que tivesse apertado o gatilho.<br />

-Esse oficial, que <strong>de</strong>ixou perto sua arma, estava esperando sua<br />

oportunida<strong>de</strong>. Trabalhava para um homem chamado Leonid Ignatev. Minha


39<br />

carreira tinha ultrapassado a do Ignatev e ele aproveitava cada engano que eu<br />

cometia e cada vulnerabilida<strong>de</strong> que tinha para sabotar minha carreira. Eu sabia<br />

que estava sujo. Suponho que todos estamos até certo ponto, temos que<br />

trabalhar contra o relógio para chegar a toda parte mas Ignatev estava<br />

encalacrado com a máfia. Tinha um infiltrado em minha equipe e quando as<br />

coisas se voltaram caóticas, como freqüentemente passa em um interrogatório,<br />

seu homem permitiu ao suspeito agarrar sua arma. Deveria ter sabido o que<br />

estava acontecendo quando ele não foi <strong>de</strong>tido imediatamente também, mas<br />

estava concentrado em você. Estava seguro que meu nome te manteria a salvo,<br />

mas Ignatev tinha a seus trabalhando sobre você.<br />

Abigail tomou um profundo fôlego e lhe olhou.<br />

-E então se acabou, muito bruscamente <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> dois dias, e os novos<br />

homens estavam muito assustados, podia cheirar seu medo. Isso foi ainda mais<br />

aterrador. Você fez isso, não é?- Seu coração palpitava tão forte agora que o<br />

peito lhe doía. Não queria a verda<strong>de</strong> porque não podia enfrentar essa parte <strong>de</strong>le.<br />

Sabia que era <strong>de</strong>sumano, mas não sabia se po<strong>de</strong>ria ver quão profundo esse rasgo<br />

corria nele. Os homens que a estavam interrogando tinham sussurrado entre<br />

eles, lhe lançando olhadas, obviamente muito assustados <strong>de</strong> falar sequer com ela.<br />

Tinha tido medo, ao princípio, <strong>de</strong> que lhe fossem disparar “aci<strong>de</strong>ntalmente” mas<br />

então ouviu o nome <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r sussurrado e as coisas que disseram a tinham<br />

aterrorizado.<br />

-Fiz o que tinha que fazer para proteger você e tirá-la <strong>de</strong> forma segura do<br />

país. Ao fazê-lo assim, fiz-me um inimigo amargo e implacável que tomou<br />

represálias pondo preço a minha cabeça.<br />

Abigail sacudiu a cabeça. Não queria saber o que ele tinha feito para tirá-la<br />

do país. Alegrou-se em ir e tinha agra<strong>de</strong>cido sair, mas a assustava muito mais o<br />

custo em vidas e já havia suficiente sangue em suas mãos.<br />

-Aleksan<strong>de</strong>r, como po<strong>de</strong> estar tão tranqüilo? Como po<strong>de</strong> sentar aí tão<br />

tranqüilamente e me dizer que há alguém tentando matar você?<br />

-É uma forma <strong>de</strong> vida, Abbey. É a única forma que conheço.<br />

-Pois bem, é horrível.<br />

-Eu sei.<br />

Ele a estava olhando com o coração nos olhos. Sem implorar. Aleksan<strong>de</strong>r<br />

nunca implorava, mas <strong>de</strong> todos os modos, olhava-a como se lhe pertencesse. Ela<br />

negou com a cabeça ferozmente.<br />

-Esse não é meu mundo. Eu não posso viver assim e você não po<strong>de</strong> retirar<br />

tudo o que aconteceu. Simplesmente não po<strong>de</strong>.<br />

-Não estou tratando <strong>de</strong> retirá-lo. Houve enganos, admitirei isso, mas temos<br />

que encontrar o caminho <strong>de</strong> volta um ao outro. Sei que não ama Jonas<br />

Harrington. E eu não posso olhar outras mulheres. O que vamos fazer separados?<br />

Abigail sacudiu a cabeça, sua mão indo <strong>de</strong>fensivamente a seu coração.<br />

-Não há volta. Não estou disposta a arriscar quem e o que sou outra vez.<br />

Não confio em você o suficiente para entregar-lhe nem minha vida nem minha<br />

magia outra vez.<br />

-Maldição, Abbey. Tem que enten<strong>de</strong>r que não podia me implicar <strong>de</strong> maneira<br />

nenhuma. Em meu país sempre há um bo<strong>de</strong> expiatório. Estava tão perto <strong>de</strong>


40<br />

apanhar o assassino. Se me tirassem do caso, ele teria tido meses, talvez anos<br />

para continuar. Levou muito tempo para me aproximar <strong>de</strong>le.<br />

-Seja o que for que fez para me tirar do país, agra<strong>de</strong>ço, mas entregou-me a<br />

eles. Sacrificou-me.<br />

-Não havia outra escolha. Seria presa e interrogada, mas sabia que com<br />

meus contatos po<strong>de</strong>ria liberar você e tirá-la imediatamente do país. Nunca me<br />

ocorreu que Ignatev escolheria essa oportunida<strong>de</strong> para investir. Deveria havê-lo<br />

feito, mas não o fiz. - Alexan<strong>de</strong>r podia ver a dor em sua face. Era profunda e se<br />

odiava por havê-lo posto ali. - Estava tão perto, Abbey, <strong>de</strong> apanhar esse<br />

assassino <strong>de</strong> crianças. Po<strong>de</strong>ria esten<strong>de</strong>r a mão e lhe tocar. Se colocasse você na<br />

frente, o teria perdido e seria responsável pelas mortes <strong>de</strong> quantos garotos<br />

tivesse matado <strong>de</strong>pois disso. Cada um <strong>de</strong> meus instintos queria proteger você<br />

primeiro, meu coração e minha alma, mas isso teria sido egoísta.<br />

-Seria egoísmo dizer a verda<strong>de</strong>? Salvou sua carreira e obviamente<br />

conseguiu uma ascensão. Trabalha com a Interpol assim ainda mantém uma boa<br />

posição. Não foi você o que foi esbofeteado e ao que chutaram nessa sala <strong>de</strong><br />

interrogatórios. Não foi você que tinha o sangue daquele pobre homem por toda a<br />

roupa. Nem sequer <strong>de</strong>ixaram me trocar. Na realida<strong>de</strong> não importa o que<br />

acreditasse que estava bem. Deixou-lhes me agarrar. Foi uma traição mesmo se<br />

o quer vê-lo como se não. Deixou-lhes que me agarrassem.<br />

-Maldição, Abbey. - Aleksan<strong>de</strong>r esfregou duramente a face para <strong>de</strong>sfazer-se<br />

da imagem <strong>de</strong>la chorando, coberta <strong>de</strong> hematomas, dois homens erguendo-se<br />

sobre ela para intimidá-la, gritando e acusando-a. - Se isso não tivesse sido<br />

pelas crianças, não crê que o teria impedido?<br />

-Não sei, Aleksan<strong>de</strong>r. Como posso sabê-lo? Estive no inferno e nem sequer<br />

podia vir para casa e conseguir consolo <strong>de</strong> minhas irmãs. Como podia lhes<br />

explicar o que tinha feito, pelo que era responsável? Um homem morreu por<br />

minha culpa. Utilizei meus dons para algo no que nunca <strong>de</strong>veria ter estado<br />

envolta por você. Porque o amava e teria feito qualquer coisa por você. Porque<br />

acreditava em você. Tirou-me isso tudo. Inclusive isto isso. - Abriu os braços para<br />

abranger a casa. - Não me <strong>de</strong>ixou nada.<br />

Tocou-a porque tinha que fazê-lo, embora soubesse que ela se afastaria<br />

<strong>de</strong>le.<br />

-Nunca tive intenção <strong>de</strong> fazer dano a você.<br />

-Pois bem, fez. Destruiu-me. Não sei por que está aqui, Aleksan<strong>de</strong>r, a<br />

verda<strong>de</strong>ira razão, e não vou perguntar isso. Já não utilizo essa parte <strong>de</strong> mim. Por<br />

nenhuma razão. Meu dom é <strong>de</strong>feituoso, ou possivelmente eu sou, mas faz mais<br />

dano que bem. - Abbey se levantou <strong>de</strong> um salto antes que ele pu<strong>de</strong>sse <strong>de</strong>tê-la e<br />

passeou pelo quarto outra vez. - Não entendo como a casa <strong>de</strong>ixou você entrar.<br />

-A porta estava totalmente aberta. Estou dizendo que isso, Abbey, é<br />

perigoso. Têm que ter um firme sistema <strong>de</strong> segurança até que averigüemos o que<br />

Prakenskii está fazendo aqui.<br />

-A casa nunca <strong>de</strong>ixaria entrar um inimigo. Fomos <strong>de</strong>scuidadas uma vez e<br />

quase nos matamos. Inclusive Tia Carol nos ajudou esta noite e ela é muito<br />

po<strong>de</strong>rosa. - Falava mais para si que para ele.<br />

-Eu não sou seu inimigo. Até sua maldita casa sabe isso, Abbey. Prestará<br />

atenção ao que é importante? Coloca sua cólera por mim <strong>de</strong> lado o suficiente para


41<br />

dar conta <strong>de</strong> que está em perigo. Suas irmãs po<strong>de</strong>riam estar perigo. Prakenskii<br />

não estaria aqui espreitando sua casa se alguém não estivesse interessado em<br />

você, inclusive se for por sua relação comigo. E seus amigos não são agradáveis.<br />

-Já suponho que não são. Tomarei cuidado, Aleksan<strong>de</strong>r. - Tinha que<br />

recordar chamá-lo por seu nome mais formal em vez da forma russa mais íntima.<br />

Po<strong>de</strong>ria acabar facilmente <strong>de</strong>vastada por ele. Era um homem forte, ru<strong>de</strong> e duro<br />

por <strong>de</strong>ntro e por fora, inclusive letal, mas com ela ele sempre tinha sido tão<br />

carinhoso, gentil e protetor. Dizia-lhe coisas que soavam a pura poesia… até que<br />

lhe necessitou. E então, no momento <strong>de</strong>cisivo, ele tinha negado tudo entre eles e<br />

a tinha <strong>de</strong>ixado sozinha, para ser aterrorizada e humilhada. - Agora, por favor,<br />

vá. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do que veio fazer aqui, não quero formar parte disso.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r suspirou. Sua boca suave estava fixa em uma linha teimosa e<br />

não importava o que ele dissesse, não lhe escutaria. Não se permitiria lhe<br />

escutar.<br />

- Irei, Abbey, mas isto não acabou entre nós. - olho os sapatos outra vez,<br />

tomando-se tempo enquanto lhe observava em silêncio. - Não vou partir tão<br />

tranqüilamente. Isso ainda não acabou. - ficou em pé, erguendo-se sobre ela. -<br />

Toma algumas precauções. Todas vocês. Faz enten<strong>de</strong>r às <strong>de</strong>mais com o tipo <strong>de</strong><br />

gente que estamos tratando.<br />

-Lógico que o farei. Sai pela porta. Guiarei você até lá embaixo. - A idéia<br />

<strong>de</strong>le <strong>de</strong>scendo pela pare<strong>de</strong> da casa era aterradora.<br />

-Sairei da mesma forma que entrei. - Caminhou diretamente para ela.<br />

Abbey não retroce<strong>de</strong>u, mas ele sabia que não o faria. Abbey era uma mulher<br />

forte e não permitia que muitas coisas a ameaçassem. – Mantenha-se longe <strong>de</strong><br />

Harrington até que resolvamos isso.<br />

Abigail mal podia respirar com ele tão perto.<br />

-Não vou dignificar isso com uma resposta.<br />

Ele inclinou a cabeça para o rosto elevado <strong>de</strong>la até que seus lábios<br />

estiveram a um fôlego <strong>de</strong> distância.<br />

-Conhece-me melhor que qualquer pessoa viva. Sabe a verda<strong>de</strong> a respeito<br />

<strong>de</strong> quem e o que sou. Dei-lhe a verda<strong>de</strong> quando me pediu isso. Lógico que te<br />

amava com todo meu ser. Não amo facilmente, mas amo completamente. Quero<br />

recuperar você, Abbey, e vou fazer o que for necessário.<br />

Por um momento ela pensou que ia beijá-la. Pô<strong>de</strong> ver em seus olhos. A<br />

necessida<strong>de</strong>. O <strong>de</strong>sejo. Mas se virou e abandonou seu dormitório.


42<br />

Capítulo – 4<br />

-Joley, venha já. Acorda! - Abbey sacudiu sua irmã.<br />

Joley gemeu e atirou as mantas sobre sua cabeça.<br />

-Está louca? Ainda está escuro. Nunca me levanto tão cedo. Não é são.<br />

-Levanta. Tem que vir comigo.<br />

-Abbey, é uma louca fanática. Volta para a cama. Definitivamente não me<br />

levantarei até que o sol esteja alto. Meio-dia. Desperta-me a meio-dia.<br />

-Nada <strong>de</strong> meio-dia… agora! Acredito que um <strong>de</strong> meus golfinhos está ferido.<br />

Quero ir vê-lo.<br />

Joley retirou a colcha para po<strong>de</strong>r olhar fixamente sua irmã.<br />

-Crê que está ferido? Congela <strong>de</strong> frio o oceano. E há tubarões. Isto não está<br />

acontecendo. Não me ouviu? Sou uma gran<strong>de</strong> celebrida<strong>de</strong>. Eu não madrugo.<br />

-Tira seu traseiro da cama. - Abbey lhe arrancou a manta e golpeou Joley<br />

na cabeça com um travesseiro. - Nesta casa não é a estrela <strong>de</strong> nada. Necessito<br />

alguém comigo e você foi escolhida.<br />

-Por que eu?- queixou-se Joley, sentando-se.<br />

-Por que, além da Hannah, é a que tem as habilida<strong>de</strong>s que necessito. E se<br />

algo sai mal, Hannah não é muito boa nadadora.<br />

-Genial, isso soa ameaçador. Bom pelo menos po<strong>de</strong>ria ter feito uma xícara<br />

<strong>de</strong> chá. E po<strong>de</strong>ria me contar algo sobre seu convidado misterioso <strong>de</strong> ontem à<br />

noite. Foi um inferno tentar dormir perguntando-me o que estava acontecendo.<br />

-Não quero falar <strong>de</strong>le. Agora não. Talvez nunca.<br />

-Genial. Isto é genial, Abbey, me <strong>de</strong>spertar e nem sequer dar alguma boa<br />

fofoca. Eu não madrugo.<br />

-Ouço os golfinhos me chamando, Joley - disse Abbey. - Algo vai mal.<br />

-Oh, <strong>de</strong> acordo. Mas me <strong>de</strong>ve uma gran<strong>de</strong>. E os golfinhos também. Po<strong>de</strong><br />

lhes dizer que vai levar-me para nadar com você quando sair a próxima vez e<br />

têm que ser amáveis e me aceitar. - Joley atravessou com dificulda<strong>de</strong> o chão<br />

para o banheiro. - Necessito <strong>de</strong> um traje <strong>de</strong> mergulho?<br />

-Não, mas po<strong>de</strong>ria trazer uma arma.


43<br />

Joley apareceu com a cabeça pela porta, com a escova <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntes na boca.<br />

-Uma arma? - Sua cara se iluminou gran<strong>de</strong>mente. - Por que necessito <strong>de</strong><br />

uma arma? Em quem tenho que disparar?<br />

-Não tem que disparar em ninguém, imbecil. É só no caso <strong>de</strong> precisar. Além<br />

disso, é boa atiradora.<br />

-Melhor que Hannah. - reconheceu Joley - Ela fecha os olhos quando aperta<br />

o gatilho. Isso faz que Jonas suba pelas pare<strong>de</strong>s.<br />

-Provavelmente por isso o faz, embora possa acertar a um alvo imóvel nove<br />

<strong>de</strong> cada <strong>de</strong>z vezes. Só que você acerta no alvo cada vez. E Hannah na realida<strong>de</strong><br />

não mataria ninguém e você sim.<br />

-Po<strong>de</strong>ria ser se me tirar fora da cama tão cedo outra vez. - advertiu Joley. -<br />

Mas perdoarei você se me proporcionar alguma fofoca sobre seu visitante da<br />

meia-noite… - Parecia esperançosa. Quando Abbey sacudiu a cabeça e franziu o<br />

cenho, Joley suspirou e capitulou. - Aon<strong>de</strong> vamos? Acreditava que seu barco<br />

estava flutuando mar a<strong>de</strong>ntro em algum lugar ou Jonas o rebocou?<br />

-É obvio que Jonas fez rebocar a barco; sempre se ocupa <strong>de</strong> cada pequeno<br />

<strong>de</strong>talhe. Mas os golfinhos estão em Sea Lion Cove assim não teremos que sair<br />

com o barco se tivermos sorte.<br />

-Isso é bom. Realmente necessito uma arma?<br />

-Sim. E po<strong>de</strong>rá ter que usá-la. Algum capanga muito bom estava<br />

espreitando nos arredores a noite passada.<br />

-Por Deus, Abbey, temos que chamar Jonas. - Joley colocou umas calças<br />

cômodas e uma camisa. - Em que mundo se colocou? Eu sou normalmente a dos<br />

problemas. Você é a boa garota.<br />

Abbey estudou sua irmã.<br />

-Como consegue ter esse aspecto a primeira hora da manhã? Nada <strong>de</strong><br />

maquiagem, nem sequer se penteou, mas está com o aspecto <strong>de</strong> um milhão <strong>de</strong><br />

dólares. Juro, você e Hannah fizeram algo bom em outra vida. Não me importaria<br />

<strong>de</strong>spertar e me parecer com você.<br />

Joley lhe soprou um beijo.<br />

-Isso foi muito amável, especialmente <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> não ter tido a <strong>de</strong>cência <strong>de</strong><br />

me trazer uma xícara <strong>de</strong> chá. Se não vamos <strong>de</strong> barco, como vamos <strong>de</strong>scer à<br />

baía? Desceremos pelos escarpados? Minhas habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> escalada <strong>de</strong>ixam<br />

muito que <strong>de</strong>sejar.<br />

-Pensei em utilizar a rota dos velhos contrabandistas. Tenho a chave do<br />

velho moinho. Kate o está renovando com a ajuda <strong>de</strong> Matt, embora estejam tão<br />

ocupados com seus planos <strong>de</strong> bodas que ainda não trabalharam muito nisso. Há<br />

uma velha escada que conduz através do túnel até a baía. Kate me disse que era<br />

a rota <strong>de</strong> uns velhos contrabandistas faz cem anos ou algo assim. Não quero<br />

per<strong>de</strong>r tempo conduzindo até o porto, por isso a escada será o caminho mais<br />

rápido.<br />

-Por que tenho o pressentimento <strong>de</strong> que estamos a ponto <strong>de</strong> nos colocar<br />

em um gran<strong>de</strong> problema? - Perguntou Joley enquanto tirava uma arma <strong>de</strong> sua<br />

gaveta, carregava-a e a <strong>de</strong>slizava no interior <strong>de</strong> sua bolsa.<br />

-Por que tem sua própria arma? - Perguntou-lhe Abbey. - Acreditava que<br />

utilizaríamos a que Jonas <strong>de</strong>ixou aqui por amparo, ou talvez uma das <strong>de</strong> Sarah.


44<br />

-Por que recebo cartas estranhas <strong>de</strong> fãs enlouquecidos que me assustam<br />

como o inferno algumas vezes. - respon<strong>de</strong>u Joley. - Contei-lhe isso, agora me<br />

confesse algo. - Baixou nas pontas dos pés a escada, grudada em Abigail. -<br />

Começa com o ar<strong>de</strong>nte russo com o que po<strong>de</strong> ou não estar comprometida. A<br />

partir daí, segue até o capanga <strong>de</strong> primeira.<br />

Abbey se <strong>de</strong>teu na escada.<br />

-O que quer dizer com recebe cartas estranhas <strong>de</strong> fãs enlouquecidos? Disse<br />

algo sobre isso no Natal. O que está acontecendo?<br />

Joley <strong>de</strong>u <strong>de</strong> ombros.<br />

-Isso vem com o trabalho. Hannah é uma conhecida mo<strong>de</strong>lo e está<br />

acostumada. Kate escreve livros e também teve umas quantas. Eu vendo uns<br />

poucos milhões <strong>de</strong> álbuns, subo num cenário e canto ante quarenta ou cinqüenta<br />

mil pessoas <strong>de</strong> uma vez e as recebo também. Não é gran<strong>de</strong> coisa, mas às vezes<br />

me amedronta.<br />

-Céu santo. Não tinha nem idéia. Disse a Sarah? Ela tem toneladas <strong>de</strong><br />

experiência. Sempre trabalhou em segurança. E ao Jonas? Ele teria uma ou duas<br />

idéias.<br />

Joley riu.<br />

-Ele faria que <strong>de</strong>ixássemos tudo e nos encerraria em um armário. O<br />

problema é que estamos no olho público on<strong>de</strong> pessoas perturbadas po<strong>de</strong>m fixarse<br />

em nós e logo nos ameaçar quem sabe por que razões. Uma ligeira percepção<br />

talvez. Mas você trabalha com os golfinhos no oceano. Os assassinos a salário <strong>de</strong><br />

primeira não <strong>de</strong>veriam estar interessados em você.<br />

-Não, não <strong>de</strong>veriam. Possivelmente estava interessado em uma <strong>de</strong> vocês. -<br />

Abbey franziu o cenho. - Não pensei nisso porque o homem assassinado ontem<br />

era russo e os homens que o mataram obviamente eram russos. Aleksan<strong>de</strong>r é<br />

russo e trabalha para a Interpol em algo gran<strong>de</strong> que obviamente ocorre por aqui.<br />

Ia chamar Jonas, mas tenho que ver se posso ajudar primeiro aos golfinhos. Eles<br />

me salvaram a vida. E se Gene vive, salvaram sua vida também.<br />

Joley seguiu Abbey fora da casa.<br />

-Por que estariam os russos remotamente interessados em você... ou em<br />

mim? Não posso imaginar a nossa pequena Hannah ou Kate os enchendo o saco.<br />

E como <strong>de</strong>mônios conheceu esse incrivelmente lindo Aleksan<strong>de</strong>r?<br />

-Recorda quando estive mergulhando na Patagônia, estudando golfinhos<br />

escuros? - replicou Abigail. Abriu a porta principal com cautela, não querendo<br />

<strong>de</strong>spertar suas outras irmãs. - Joley, crê que os feitiços vinculantes que<br />

utilizamos em casa funcionam? Recorda a época em que Sarah protegia Damon,<br />

antes que se comprometessem e aqueles homens forçaram a entrada e foram<br />

nos disparar?<br />

-Certamente muda <strong>de</strong> tema rapidamente. - resmungou Joley. - Cada vez<br />

que quero uma resposta a algo simplesmente salta a outro tema. O que tem isso<br />

a ver com o ar<strong>de</strong>nte russo?<br />

-Não lhe chame ar<strong>de</strong>nte. Não quero pensar nele estando quente ou frio ou<br />

qualquer outra coisa. Desejaria que voltasse para a Rússia. - Abigail tocou com a<br />

ponta do pé uma das duas bolsas que tinha preparado e que esperavam nos<br />

<strong>de</strong>graus. - Toma, segura esta. Não é a pesada.<br />

Joley a recolheu e fulminou com o olhar sua irmã.


45<br />

-Está louca? Esta coisa pesa uma tonelada. E não me <strong>de</strong>ixa exatamente<br />

livre a mão da arma. Se nos matarem a tiros, não vá me culpar. E para sua<br />

informação, Patagônia não é parte da Rússia. - Carregou a bolsa até o carro,<br />

murmurando a cada centímetro do caminho.<br />

-Sempre é assim?<br />

-Assim como? - Joley atirou a bolsa no assento traseiro e olhou carrancuda<br />

Abigail.<br />

-Choramingar, choramingar, choramingar.<br />

-Sim. As três em ponto da manhã sem chá ou café, sim absolutamente,<br />

choramingona. Os humanos não estão <strong>de</strong>stinados a <strong>de</strong>spertar antes do meio-dia<br />

e se quiser que seja agradável, então começa a me falar. - Joley <strong>de</strong>slizou no<br />

assento do passageiro e cruzou os braços.<br />

-É como um bebê. Ponha o cinto <strong>de</strong> segurança. E para sua informação, não<br />

são três da manhã, ocorre que são seis e meia.<br />

Joley <strong>de</strong>u <strong>de</strong> ombros.<br />

-É igual. Se quiser cooperação, volta ao ar<strong>de</strong>nte russo. É o único tema<br />

digno <strong>de</strong> discutir.<br />

-Me acredite, não vale à pena falar <strong>de</strong>le. Não se apaixone por ele tampouco.<br />

Joley soprou.<br />

-Eu não me apaixono pelos homens. Fujo tão rápido e longe como posso.<br />

Não quero olhadas enjoativas como Kate e Sarah. - estremeceu-se. - A idéia é<br />

categoricamente horrível. - O brilho zombador <strong>de</strong>caiu em seus olhos. - Por que<br />

está preocupada com a casa?<br />

-Deixou-lhe entrar. Ontem à noite. Todas nós acen<strong>de</strong>mos as velas e<br />

realizamos o ritual para proteger a casa, mas ele foi capaz <strong>de</strong> entrar. Inclusive<br />

Tia Carol ajudou e ela é muito po<strong>de</strong>rosa. Elle, você e Hannah po<strong>de</strong>m todas lançar<br />

feitiços e ainda assim a casa lhe <strong>de</strong>ixou entrar.<br />

Joley jogou um olhar <strong>de</strong> relance a Abigail e logo apartou a vista. Esclareceuse<br />

garganta.<br />

-Ele? O russo? - Joley manteve o tom casual.<br />

-Sim, é obvio que o russo. - Abbey admitiu através dos <strong>de</strong>ntes apertados. A<br />

névoa ia à <strong>de</strong>riva como com freqüência fazia cedo pelas manhãs e se posava<br />

espessa na retorcida estrada. Conduziu <strong>de</strong>vagar, sem arriscar quando tinha<br />

vonta<strong>de</strong>s <strong>de</strong> correr para afastar-se das implicações <strong>de</strong> que sua casa aceitasse ao<br />

agente da Interpol. - A casa lhe permitiu entrar <strong>de</strong>pois que todas juntas<br />

lançássemos o feitiço. Nossa magia não está funcionando.<br />

-Essa po<strong>de</strong>ria ser uma explicação, - aventurou cautelosamente Joley.<br />

Os <strong>de</strong>dos <strong>de</strong> Abigail se apertaram ao redor do volante até que seus nódulos<br />

ficaram brancos.<br />

-Essa é a única explicação. Terei que fazer saber às <strong>de</strong>mais que a casa não<br />

é segura.<br />

-A casa não mantém todo mundo fora, Abbey. Os noivos <strong>de</strong> Sarah e Kate<br />

po<strong>de</strong>m ir e vir com as portas fechadas. Não recorda como a gra<strong>de</strong> fechada com<br />

ca<strong>de</strong>ado se abriu <strong>de</strong> par em par para Damon a primeira vez que viu Sarah?<br />

-Conheci Aleksan<strong>de</strong>r antes <strong>de</strong> que a profecia começasse a <strong>de</strong>sdobrar-se e<br />

em qualquer caso, Matt e Damon são os prometidos <strong>de</strong> Sarah e Kate. Isto é


46<br />

completamente diferente. - Abigail fulminou com o olhar Joley, <strong>de</strong>safiando-a a<br />

seguir com a conversação.<br />

-Hmmm. - Joley estudou suas unhas. - Acredito ter ouvido o rumor <strong>de</strong> que<br />

estava comprometida com esse homem.<br />

-Se cale. Não posso conduzir se me distrai.<br />

Joley riu enquanto entravam no caminho que conduzia ao velho moinho.<br />

-Parece estar dirigindo bem enquanto fala. Caso me pergunte isso, lógico.<br />

-Coisa que não fiz. - Abigail estacionou o carro tão perto do velho edifício<br />

como pô<strong>de</strong>. O moinho tinha estado à venda durante anos, até que sua irmã tinha<br />

<strong>de</strong>cidido recentemente comprá-lo. A construção se estendia sobre Sea Lion Cove<br />

e tinha sido uma vez um pequeno mas próspero negócio que escondia um<br />

negócio muito mais lucrativo relacionado com o contrabando. O moinho tinha<br />

uma gran<strong>de</strong> história por trás. Kate Drake queria preservar tanto do velho edifício<br />

como fosse possível quando o renovasse para sua livraria e cafeteria. Uma vez as<br />

renovações fossem completadas, um gran<strong>de</strong> terraço e uma pare<strong>de</strong> do chão ao<br />

teto <strong>de</strong> vidro <strong>de</strong> cara ao oceano ofereceriam uma vista impressionante da<br />

aci<strong>de</strong>ntada costa da Califórnia.<br />

-Alguma vez <strong>de</strong>sejou ser normal, Joley? - Perguntou Abigail enquanto tirava<br />

uma bolsa pesada do carro.<br />

Joley <strong>de</strong>u <strong>de</strong> ombros, examinando a face <strong>de</strong> Abigail cuidadosamente.<br />

-O que é normal, Abbey? Temo-nos umas às outras e isso é o que<br />

realmente importa na vida. Temos a nossas tias e a nossos pais e primos. Nossa<br />

família é diferente, sim, e talvez paguemos um preço por nossos dons, mas o<br />

bom peso mais que o mau. - esten<strong>de</strong>u-se para o assento traseiro e tirou a outra<br />

bolsa. -Leva uma pesada carga há algum tempo. Não crê que é hora <strong>de</strong><br />

compartilhá-la conosco?<br />

Abigail apartou o olhar <strong>de</strong>la, seu corpo rígido pelo rechaço.<br />

-Não estou pronta ainda, Joley.<br />

-De acordo, Abbey, - disse Joley. - Só recorda que lhe queremos e não<br />

importa quão mal seja, encontraremos uma forma <strong>de</strong> ajudar.<br />

Abigail piscou contendo as lágrimas.<br />

-Dava minha magia por certa durante muito tempo, Joley. Isso não se faz.<br />

Não creia que po<strong>de</strong> simplesmente se sentir cômoda com ela e utilizá-la sem<br />

pensar. - Girou a face longe <strong>de</strong> sua irmã por volta do mar. - Ouve-os?<br />

Joley tinha um milhão <strong>de</strong> perguntas mas apertou os lábios e assentiu.<br />

Abigail lhe parecia frágil. Muito frágil. Ia ter que falar com Libby e ver se ela<br />

po<strong>de</strong>ria ajudar a aliviar qualquer que fosse o problema que levava Abigail nas<br />

costas. De repente Joley sentiu muito medo por sua irmã. Tragou-se qualquer<br />

pergunta e procurou algo para dizer que aliviasse a repentina tensão.<br />

-Acredito que os ouço, Abbey. Lembro todo seu trabalho, escuta durante<br />

horas com auriculares e explora sua metragem <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o todo o tempo, mas<br />

nunca prestei muita atenção a isso. Soam como estalos e assobios, verda<strong>de</strong>?<br />

Abigail abriu a porta do moinho.<br />

-Cada som se usa por uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> motivos. Todos parecem ter um<br />

assobio como assinatura bem como seu nome. Acredito que isso i<strong>de</strong>ntifica ao<br />

indivíduo e chamam uns aos outros utilizando esse assobio específico. Muitos dos


47<br />

investigadores acreditam, como eu, que se comunicam a uma escala muito maior<br />

do que pensamos em um primeiro momento.<br />

-Têm sua própria língua? - Joley tinha o que dizer. Abigail estava tão<br />

<strong>de</strong>dicada aos golfinhos e a sua investigação que seu tom se aliviou gran<strong>de</strong>mente.<br />

-Acredito que sim, mas certamente não se parece em nada a nossa língua.<br />

-Sempre parecem tão inteligentes e felizes. Sempre que os vejo tenho este<br />

impulsiono louco <strong>de</strong> me inundar no oceano e me unir a eles. E você me conhece<br />

em relação ao oceano.<br />

-Só tenha presente que são selvagens, Joley. Os golfinhos po<strong>de</strong>m ser<br />

agressivos e certamente po<strong>de</strong>riam fazer mal a alguém nas circunstâncias<br />

a<strong>de</strong>quadas. Muito freqüentemente as pessoas interpretam mal o que um golfinho<br />

faz simplesmente porque parecem estar sorrindo.<br />

-Bom, na realida<strong>de</strong> não estou planejando mergulhar no mar com eles,<br />

confessou Joley. - Só quis dizer que o impulso está ali. Sei que você o faz, mas<br />

eu gosto <strong>de</strong> guardar a distância com algo que pesa mais que eu.<br />

Abbey sorriu abertamente para sua irmã.<br />

- Isso inclui os homens?<br />

-En<strong>de</strong>moniadamente certo. Des<strong>de</strong> que essa gra<strong>de</strong> se abriu e a profecia<br />

começou a <strong>de</strong>sdobrar-se nem sequer tenho encontros. Nem sequer olho! Eu não.<br />

Não. Nem pensar, - <strong>de</strong>clarou Joley. Observou como Abigail abria uma segunda<br />

porta que conduzia abaixo até o porão. - Não foi aqui on<strong>de</strong> o terremoto rompeu o<br />

selo e permitiu que aquele espírito escapasse? -Tremeu. - Realmente necessito<br />

uma xícara <strong>de</strong> chá.<br />

-Todo este tempo acreditei que você fosse a aventureira.<br />

-Sou muito aventureira <strong>de</strong>pois do meio-dia, - indicou Joley. - E uma<br />

verda<strong>de</strong>ira rocha <strong>de</strong>pois da meia-noite.<br />

Abigail riu.<br />

-Cuidado com estes <strong>de</strong>graus; são velhos e estão <strong>de</strong>smoronando. Kate me<br />

disse que há um lugar on<strong>de</strong> o túnel se <strong>de</strong>rrubou, mas que po<strong>de</strong>remos passar<br />

através dos escombros.<br />

-Que excitante, - disse Joley, pondo os olhos em branco. - Deve-me um<br />

gran<strong>de</strong> favor por isso - Desceu pela escada do porão e esperou enquanto Abigail<br />

procurava a entrada ao túnel que conduzia à baía.<br />

-Alguma vez conheceu algum homem com o que consi<strong>de</strong>rasse casar? -<br />

perguntou Abbey.<br />

Joley sacudiu sua cabeça.<br />

-Não é provável. Nenhum po<strong>de</strong>ria me suportar. Tenho muito mau humor.<br />

Abbey riu.<br />

-Está realmente louca. Não <strong>de</strong>ixa que ninguém lhe <strong>de</strong> or<strong>de</strong>ns, mas é uma<br />

das pessoas mais agradáveis que conheço.<br />

Joley lhe soprou um beijo.<br />

-Obrigado, Abbey, mas me ocorre que não conhece muita gente... <strong>de</strong> fato,<br />

foge das pessoas, por isso esse não é testemunho válido.<br />

-Eu não fujo das pessoas. Eles fogem <strong>de</strong> mim. - Abigail encontrou a entrada<br />

e a atravessou, enrugando o nariz. - Aqui cheira a mofo e a pescado. E<br />

necessitaremos <strong>de</strong> uma lanterna.


48<br />

-Trouxe uma arma, não uma lanterna. - Joley chocou com sua irmã quando<br />

Abbey se <strong>de</strong>teve procurando uma lanterna em sua bolsa. - Deveria ter sabido que<br />

estaria preparada.<br />

-Naturalmente.<br />

-As pessoas não fogem <strong>de</strong> você, Abbey, - disse Joley. Jogou uma olhada<br />

nervosamente ao túnel, logo respirou fundo e seguiu Abigail.<br />

-Sim, fazem-no. Não o faria você se não fosse minha irmã? Recorda todos<br />

aqueles anos na escola quando não podia controlar <strong>de</strong> todo meu dom? Tudo o<br />

que tinha que fazer era utilizar aci<strong>de</strong>ntalmente a palavra verda<strong>de</strong> e todos os que<br />

estavam ao meu redor diziam a verda<strong>de</strong>. Os meninos cuspiam todo tipo <strong>de</strong> coisas<br />

que não queriam que se soubessem. Quereria arriscar seu mais profundo e<br />

escuro segredo? Olhe o que passou quando Inez me recrutou para o comitê do<br />

<strong>de</strong>sfile <strong>de</strong> Natal do ano passado. Causei um escândalo enorme.<br />

-Isso não foi tua culpa. Aquele espírito tinha escapado e causava estragos<br />

em todos nossos dons. Utilizou a palavra verda<strong>de</strong> em uma habitação e o amante<br />

<strong>de</strong> Sylvia Fredrickson confessou que estavam tendo uma aventura.<br />

-Foi tão horrível. Dois matrimônios se romperam por isso. E Sylvia me<br />

esbofeteou diante <strong>de</strong> todos.<br />

-Deveria havê-la posto ver<strong>de</strong> - Joley escolheu seu caminho por entre os<br />

escombros que havia na estreita escada <strong>de</strong> pedra. - Está molhado e mofado aqui<br />

embaixo.<br />

-Eu fiz que acontecesse. Ela foi à escola conosco e sabia muito bem o que<br />

fiz, - disse Abigail com um pequeno suspiro. – Na realida<strong>de</strong> não a culpo por<br />

zangar-se.<br />

-Era ela a que estava atada com um homem cuja esposa estava a ponto <strong>de</strong><br />

dar a luz. Sylvia vai sempre atrás do marido <strong>de</strong> alguma outra - respon<strong>de</strong>u Joley<br />

com um pequeno bufo. - E se ela foi a única que esbofeteou você, já po<strong>de</strong> sentirse<br />

afortunada.<br />

-Está molhado aqui embaixo. - Abbey dirigiu a luz à pare<strong>de</strong> do túnel. A<br />

maior parte era rocha, mas havia uma seção on<strong>de</strong> a água se filtrava e gotejava<br />

sobre a escada, fazendo-as escorregadias - Vigia seus passos aqui. Parece como<br />

se alguém tivesse caído.<br />

Joley se esticou.<br />

- O que quer dizer com que alguém caiu? Katie e Matt não estiveram ainda<br />

aqui embaixo. Matt ia fechar. Pensou que era perigoso manter a escada. Veio ele<br />

aqui embaixo?<br />

-Po<strong>de</strong> ser ou os russos estão utilizando esta rota <strong>de</strong> contrabando para<br />

colocar algo no país, - disse Abbey.<br />

-Isso não tem graça. Talvez <strong>de</strong>vesse tirar a arma <strong>de</strong> minha bolsa.<br />

-Na realida<strong>de</strong>, não brinco. - disse Abigail, <strong>de</strong>tendo-se para estudar os sinais<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>rrapagem no barro lamacento. - Isto ocorreu recentemente. Teremos que<br />

perguntar a Matt se esteve aqui embaixo, o que é completamente possível, assim<br />

não entre em pânico.<br />

-Eu não ia sucumbir ao pânico. - protestou Joley. - Ia tirar a arma. Na<br />

realida<strong>de</strong> eu não gostei como soou o <strong>de</strong> capanga <strong>de</strong> primeira. Ninguém esteve<br />

nesse túnel em anos, Abbey. E ninguém tem acesso à baía. Não acredita que<br />

passem contrabando por aqui, verda<strong>de</strong>?


49<br />

-É uma possibilida<strong>de</strong> que temos que consi<strong>de</strong>rar.<br />

-Genial, Jonas vai converte-se no ditador louco e tirano. Ficará louco porque<br />

foi a baía, Abbey.<br />

-Que quer dizer, que eu tenha ido à baía? Você está comigo.<br />

Joley riu.<br />

-Jonas não espera que eu exiba nenhum bom senso. Eu fui o bastante<br />

preparada para cultivar cuidadosamente minha aparência <strong>de</strong> ser absolutamente<br />

tola. Você, entretanto, tem todos esses impressionantes informes atrás <strong>de</strong> seu<br />

nome e escreve artigos em publicações e geralmente se espera que tenha um<br />

tremendo bom senso todo o tempo. - Examinou atentamente as marcas. -Matt é<br />

um homem gran<strong>de</strong>. Acredita que ele possa ter feito isso?<br />

-É impossível dizê-lo. - Abbey encontrou o olhar fixo <strong>de</strong> sua irmã. - Olhe,<br />

Joley. Não esperava isto. Acredito que um tiro atingiu um dos golfinhos ontem à<br />

noite. Eles arriscaram suas vidas para me salvar e eu tenho que ir à baía e tratar<br />

<strong>de</strong> ajudar, mas você não tem ir. Por que não volta para casa, chama Jonas e lhe<br />

faz saber o que está passando? Não acredito que haja alguém aqui, mas é melhor<br />

nos assegurarmos.<br />

-Está louca se acredita que vou <strong>de</strong>ixar você aqui, Abbey. Segue se<br />

movendo. Sou muito teimosa para ter medo. Fico louca quando pessoas me<br />

ameaçam ou alguém a quem quero, já sabe. Digo-o a sério, se mova.<br />

Abbey tocou o braço <strong>de</strong> Joley.<br />

-Obrigado, Joley. Não posso abandonar ao golfinho se necessitar ajuda<br />

médica. Entraram na baía... gostam da água pouco profunda... e po<strong>de</strong>rei tratá-lo.<br />

Outros poucos passos e <strong>de</strong>vemos estar quase na praia. Deixe ir primeiro no caso<br />

<strong>de</strong> ter algo estranho. Quando souber que está tudo bem, chamo você.<br />

-Vou junto.<br />

Abbey iluminou com a luz o fundo da escada. Era inútil discutir com Joley<br />

uma vez tinha <strong>de</strong>cidido fazer algo. E sinceramente, Abigail agra<strong>de</strong>cia sua<br />

presença. Seguiu a escada até uma estreita soleira que se abria a uma caverna<br />

natural. O teto tinha sido minuciosamente escavado para que se pu<strong>de</strong>sse andar<br />

erguido até ganhar a entrada. A luz do sol que se filtrava pela boca da caverna<br />

proporcionava suficiente iluminação para que pu<strong>de</strong>ssem ver, sem necessida<strong>de</strong> da<br />

lanterna. O som do mar se mesclava com os assobios e gorjeios dos golfinhos. O<br />

vento soprava firmemente e as gotas salgadas chocavam contra as rochas ao<br />

longo das cavernas.<br />

-É uma formosa manhã, - disse Abbey.<br />

Joley esfregou o nariz e sorriu abertamente a sua irmã.<br />

-Fazia tempo que não via uma assim. Sim, é. - O sol se elevou sobre a<br />

água, dispersando raios <strong>de</strong> ouro e prata ao longo da superfície para formar<br />

atoleiros reluzentes na baía, brilhando como convite. - Não é <strong>de</strong> estranhar que<br />

passe tanto tempo no mar.<br />

Abbey a agarrou pelo braço antes que pu<strong>de</strong>sse dar um passo fora da<br />

caverna.<br />

-Vai com cuidado. Vê aquelas pistas no barro? Várias pessoas estiveram<br />

aqui recentemente.<br />

-Po<strong>de</strong>riam ter sido crianças.


50<br />

-Talvez sim ou talvez não. - Abbey olhou com cuidado ao redor da baía. A<br />

praia parecia <strong>de</strong>serta. Na água, vários golfinhos saltavam. Alguém a chamou,<br />

utilizando seu assobio. - Fique aqui, Joley e me cubra.<br />

Joley <strong>de</strong>ixou a bolsa que levava e pegou sua arma da bolsa, completamente<br />

disposta.<br />

-Tome cuidado, Abbey. E se eu gritar, se atire ao chão.<br />

-Farei. - Abbey recolheu ambas as bolsas e percorreu rapidamente a areia<br />

grossa. Examinou cada rincão e fenda, cada buraco oculto que pô<strong>de</strong> ver enquanto<br />

se aproximava da beira da água. Uma vez ali, permitiu que seu olhar viajasse<br />

para cima para examinar o escarpado sobre a baía.<br />

Quando Abigail certificou que estava sozinha na baía, fez sinal a Joley e<br />

esperou que se unisse a ela.<br />

Joley olhou com respeito às cabeças lisas balançando-se no oceano.<br />

-Nunca tinha visto tantos golfinhos.<br />

-São formosos, não é? - Abbey entrou na água pouco profunda, assobiando<br />

brandamente. - Vigia a caverna e os escarpados, Joley. Vou chamar o Kiwi. -<br />

Lançou um último olhar aos escarpados e mar a<strong>de</strong>ntro, em busca <strong>de</strong> um navio<br />

que pu<strong>de</strong>sse estar camuflado entre as rochas assegurando-se <strong>de</strong> que não<br />

tivessem espectadores. Levantou o braço e fez um pequeno movimento circular e<br />

logo abaixou sua mão enquanto repetia um estranho assobio agudo. - Kiwi vem a<br />

caminho.<br />

O gran<strong>de</strong> golfinho macho nadou até as águas profundas, até que esteve ao<br />

redor <strong>de</strong> um pé <strong>de</strong> água. Abigail andou o resto do caminho até ele. Joley conteve<br />

o fôlego. O golfinho era enorme <strong>de</strong> perto e <strong>de</strong> aspecto muito po<strong>de</strong>roso. Abigail lhe<br />

falou docemente e passou as mãos sobre o golfinho enquanto lhe examinava a<br />

ferida.<br />

-Está mau, Abbey? - Chamou-a Joley. Tinha uma vista clara do olho do<br />

golfinho. Era <strong>de</strong>finitivamente inteligente e pareceu ficar nervoso quando olhou<br />

Joley. - Não gosta que eu esteja aqui, verda<strong>de</strong>?<br />

Abbey fez rodar o animal brandamente no fluxo para conseguir um melhor<br />

ângulo da ferida.<br />

-Não é isso. Sente-se muito vulnerável. Parecem ser capazes <strong>de</strong> saber<br />

quando estamos todas juntas assim duvido que esteja aborrecido por que esteja<br />

aqui. Estive tratando <strong>de</strong> averiguar como sabem os golfinhos quando nos<br />

esten<strong>de</strong>mos em busca uma da outra.<br />

-Energia? Nós po<strong>de</strong>mos sentir a energia, possivelmente eles possam.<br />

-Po<strong>de</strong> ser. - Refletiu Abigail. - As feridas <strong>de</strong> Kiwi não são muito graves, mas<br />

necessitará dos antibióticos que trouxe. A bala roçou a pele <strong>de</strong> minhas costas e<br />

ombros e a ferida <strong>de</strong> Kiwi se parece muito à minha. Ambos tivemos sorte.<br />

-Libby quererá dar uma olhada em você esta manhã, Abbey. Ela não vai<br />

<strong>de</strong>ixar seu tratamento a um paramédico.<br />

-Não quero que esbanje sua força em mim. Dói um pouco, mas nada que<br />

não possa dirigir. Minha perna está pior.<br />

-Realmente te mor<strong>de</strong>u um tubarão?<br />

-Não! É obvio que não e não foi um ataque. - Abbey abriu rapidamente sua<br />

bolsa e pegou um bálsamo espesso e um frasco <strong>de</strong> pílulas. - Um tubarão tem a<br />

pele áspera e acredito que só me roçou enquanto fazia uma passada.


51<br />

Joley fez uma careta.<br />

-Não fale disso. Sempre tenho medo quando vai nadar com os golfinhos.<br />

Estava acostumada a ter pesa<strong>de</strong>los sobre alguma criatura marinha te arrastando<br />

a uma tumba marinha.<br />

-Seriamente? - Abbey riu. -Eu sempre amei o mar e o encontro uma<br />

maravilhosa terra <strong>de</strong> fantasia. É interessante e diferente cada dia. Eu gosto que<br />

haja um aspecto <strong>de</strong> perigo que me faz estar alerta todo o tempo.<br />

-Abbey, o que está fazendo? - Joley observava enquanto sua irmã<br />

lubrificava uma espessa massa sobre a ferida e <strong>de</strong>pois se agachava na água perto<br />

da cabeça do golfinho.<br />

-Terei que tratá-lo várias vezes para me assegurar <strong>de</strong> que não se infecte.<br />

Joley é importante que não repita os sinais manuais que utilizei para lhe chamar<br />

ou os assobios e gorjeios. Ele confia em mim, mas se esta confiança se<br />

rompesse, não seria capaz <strong>de</strong> ter nenhuma espécie <strong>de</strong> relação com ele, nenhuma<br />

amiza<strong>de</strong>.<br />

-Não vou romper o código <strong>de</strong> silêncio - disse Joley - Mas tenho que me opor<br />

a que ponha sua mão nessa boca <strong>de</strong> golfinho. Isso tem mais <strong>de</strong>nte que um<br />

tubarão. - Seu alarme se esten<strong>de</strong>u rapidamente quando observou a mão <strong>de</strong><br />

Abigail <strong>de</strong>saparecer na boca aberta. - O que faz?<br />

-Estou dando antibióticos oralmente. Necessita uma combinação. Não se<br />

preocupe.<br />

-Por favor, tira sua mão dai antes que eu saia correndo e grite ou faça algo<br />

igualmente estúpido. Realmente me assusta, Abbey. Preferiria ter ao assassino<br />

russo tentando algo.<br />

-Está sendo tão crédulo e bom - disse Abigail. - Verda<strong>de</strong>, Kiwi? - Indicoulhe<br />

por gestos que tinha terminado. - É um golfinho muito estável. São todos<br />

diferentes. Alguns <strong>de</strong>les são muito mais nervosos e inquietos. Estou lhe enviando<br />

<strong>de</strong> volta a mar aberto, mas o mais provável é que fique em águas pouco<br />

profundas. Não quero que ninguém os veja e os incomo<strong>de</strong>. Os meninos po<strong>de</strong>m<br />

ser tolos e às vezes cruéis. Realmente me <strong>de</strong>sgostaria que alguém lançasse paus<br />

aos orifícios nasais. Aconteceu em alguns lugares que estive e pareço não ser<br />

capaz <strong>de</strong> controlar meu gênio.<br />

Joley riu brandamente.<br />

-Não teria que preocupar-se. Se diz a Hannah, só terão que fazê-lo uma vez<br />

e ela faria algo espetacular para lhes ensinar a lição. Seriamente, Sylvia até tem<br />

essa erupção recorrente no lado esquerdo da cara. Aparece-lhe em forma do<br />

rastro <strong>de</strong> uma mão cada vez que flerta.<br />

Abigail pôs os olhos em branco.<br />

-Hannah não eliminou isso?<br />

-Diz que só Sylvia po<strong>de</strong> fazê-lo fazendo o "correto".<br />

-E isso o que é? Não po<strong>de</strong> evitar flertar. A paquera a <strong>de</strong>fine.<br />

-Acredito que Hannah espera que se <strong>de</strong>sculpe com você.<br />

-O mundo se acabará primeiro. Sylvia nunca se <strong>de</strong>sculpou com ninguém<br />

que eu recor<strong>de</strong>, e fomos juntas ao jardim <strong>de</strong> infância. - Abigail olhou aos outros<br />

golfinhos quando se moveram ao redor <strong>de</strong> Kiwi. - Quero conseguir um par <strong>de</strong><br />

imagens <strong>de</strong>les com ele. Eles sabem que lhe pus algo nas feridas. - Tirou a câmara<br />

<strong>de</strong> sua bolsa. – Se importa que fiquemos um pouco mais, Joley?


52<br />

Joley sacudiu a cabeça, com um pequeno sorriso em seu rosto. Abigail já<br />

disparava longe com a câmara, captando imagens como uma louca, fazendo que<br />

sua tia Carol estivesse orgulhosa, entrando na água até a cintura para conseguir<br />

melhores fotografias, inconsciente da água fria que molhava seu jeans.<br />

O vento chegava <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o mar e as gaivotas voaram, dando voltas sobre<br />

elas enquanto os golfinhos começavam a formar pequenos grupos e partiam em<br />

diferentes direções para conseguir alimento.<br />

-Olhe o que fazem. - disse Abigail, obviamente excitada. - Vê como saltam<br />

e espiam? Comunicam-se quando começa a caça. Vê como se conduzem ao<br />

pescado a um grupo menor e mais apertado? Estão chamando a outros.<br />

-Que <strong>de</strong>mônios faz, Abigail? - A voz rompeu o silêncio da manhã, espessa<br />

pela ira e um forte acento russo.<br />

Abigail quase <strong>de</strong>ixou cair a câmara na água e fazendo malabarismo<br />

conseguiu impedir que caísse. Virou-se para enfrentar Aleksan<strong>de</strong>r Volstov. Estava<br />

muito bonito. Limpo. Com um traje imaculado. No mais mínimo enrugado ou<br />

molhado. Inclusive seu cabelo estava penteado.<br />

-Bom, como chegou aqui embaixo? Está em uma proprieda<strong>de</strong> privada.<br />

-Deveria te sacudir. Tem tanto bom senso como um caranguejo.<br />

Joley tossiu <strong>de</strong>licadamente, ganhando um olhar fixo <strong>de</strong> sua irmã.<br />

-Não dorme alguma vez, Aleksan<strong>de</strong>r? - exigiu Abigail. - Jesus, Joley. Quão<br />

boa é com essa arma? Por que não lhe disparou simplesmente? Trouxe-lhe por<br />

uma razão e não foi contemplar a paisagem. Supunha que estava <strong>de</strong> guarda.<br />

Pensei que dispararia a todo aquele que se aproximasse.<br />

-Tem uma arma? - exigiu Aleksan<strong>de</strong>r, seu acento tão marcado que apenas<br />

lhe entendia. - Estaria dormindo se não tivesse que me preocupar porque ignora<br />

cada advertência que te dou. Maldita seja, Abbey, que <strong>de</strong>mônios passa com você?<br />

Tem <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> morrer?<br />

-Não, tenho uma arma. - respon<strong>de</strong>u ela tranqüilamente. - Tivemos muito<br />

cuidado. O que esperava que fizesse? Agachar-me em um buraco porque você diz<br />

que algum capanga po<strong>de</strong>ria me disparar? Tenho um trabalho importante para<br />

fazer. Tenho uma vida aqui. Tenho duas irmãs que estão a ponto <strong>de</strong> casar-se e<br />

planejamos boda dupla. Eu não escapo por meu próprio pátio traseiro porque<br />

alguém possa me querer morta. Você é agente da Interpol. Pren<strong>de</strong>-o e <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong><br />

molestar-me.<br />

-Assim se fala, Abbey! - Joley lhe disse. Avançou e ofereceu sua mão. - Sou<br />

Joley Drake, a propósito, uma das muitas irmãs <strong>de</strong> Abbey. Te vi ontem à noite<br />

mas não fomos corretamente apresentados.<br />

-A cantora. - disse Aleksan<strong>de</strong>r. - Ouvi-a na rádio. Sua voz é formosa.<br />

-Obrigada.<br />

Abbey resmungou.<br />

-Por que está sendo amável com ele? É minha irmã. Não <strong>de</strong>ixe que seu<br />

encanto a engane.<br />

-Eu estava admirando seus ombros e peito mais que seu encanto. -<br />

confessou Joley piscando um olho ao russo. - Além disso, não ouvi que estava<br />

comprometida com ele.<br />

-Não estou comprometida com ele.


53<br />

-Sim, está. - disse Aleksan<strong>de</strong>r. - Disse-me que sim quando lhe perguntei<br />

isso e pegou meu anel. Acredito que ainda o tem.<br />

Joley contemplou a sua irmã com os olhos bem abertos.<br />

-É assim?<br />

Alexan<strong>de</strong>r assentiu.<br />

-Era uma relíquia familiar. E na Rússia honramos nossa palavra. Ela<br />

consentiu em casar-se comigo assim estamos prometidos. Só temos que nos<br />

casar.<br />

-Definitivamente não era uma relíquia <strong>de</strong> família, mentiroso. Comprou em<br />

uma tenda. E não vamos casar. - corrigiu Abigail.<br />

-Por que não? -perguntou Joley.<br />

-Porque absolutamente lhe <strong>de</strong>testo - disse Abigail. - E se segue vindo à<br />

proprieda<strong>de</strong> Drake, Sasha, farei que lhe prendam.<br />

-Seu noivo vai me pren<strong>de</strong>r? - Houve uma clara <strong>de</strong>scida na temperatura da<br />

voz <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r. A mudança foi <strong>de</strong> quente a frio polar.<br />

Joley estremeceu.<br />

-Eu pensava que você fosse seu noivo.<br />

-Sou seu prometido. Harrington é seu noivo.<br />

Joley lhe contemplou com uma mescla <strong>de</strong> choque e horror. Estalou em<br />

gargalhadas.<br />

-Moço, está avoado. Vendo que vai ser parte da família e tudo isso, me<br />

alegro em te pôr a par das coisas. Jonas não é seu noivo.<br />

-Não estou achando divertido Joley- disse Abigail. - Não lhe diga outra<br />

palavra a menos que seja para escoltá-lo fora da proprieda<strong>de</strong>. De fato, é inútil<br />

como guarda-costas. Dê-me a arma.<br />

-Abbey, céu- disse Joley - tenho que recordar você que não acertou<br />

nenhuma só vez em todas as sessões <strong>de</strong> prática que tivemos? Estava muito<br />

ocupada observando as nuvens ou algum estranho bichinho que se arrastava pelo<br />

chão.<br />

-Bem, agora estou prestando atenção.<br />

-Harrington não é seu noivo?- Perguntou Aleksan<strong>de</strong>r a Joley, ignorando<br />

Abbey.<br />

-Jonas? Ele é virtualmente nosso irmão. - disse Joley. - Abigail e Jonas não<br />

estão saindo. Ele provavelmente <strong>de</strong>smaiaria se lhe dissesse que pensava que o<br />

faziam. Quer-nos muito a todas e nós lhe queremos, mas não somos exatamente<br />

o tipo <strong>de</strong> mulheres com quem ele sai.<br />

-Mas ele sai?- perguntou Abigail, distraída pela idéia. - Com quem sai?<br />

-Com você não. -disse Joley. Ela observou a Aleksan<strong>de</strong>r. - O que fez a<br />

minha irmã para que te <strong>de</strong>teste tanto? - Olhou fixamente Abbey. -É ele quem a<br />

casa <strong>de</strong>ixou entrar<br />

Aleksandr suspirou com exasperação.<br />

-As casas não <strong>de</strong>ixam entrar às pessoas. A porta <strong>de</strong> seu balcão estava<br />

aberta convidando a qualquer um.<br />

Joley sacudiu sua cabeça.<br />

-Nossa casa está protegida, Aleksan<strong>de</strong>r. Posso te chamar assim? É<br />

importante se a casa te <strong>de</strong>ixou entrar na outra noite.<br />

-Joley. - A voz <strong>de</strong> Abigail era uma advertência.


54<br />

Cada vez que estava perto <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r, recordava o gentil que podia ser<br />

apesar <strong>de</strong> seu tamanho, como seu sorriso podia esquentar seus olhos. Não queria<br />

recordar nenhuma só coisa boa sobre ele. Ele a tinha feito acreditar que podia se<br />

encontrar, que seu talento era tão útil como todos os talentos <strong>de</strong> suas irmãs. Ele<br />

a tinha feito acreditar que ela era adorável, que apesar <strong>de</strong> todos seus <strong>de</strong>feitos,<br />

ele sempre estaria ali. Ela sabia o que era o amor e se negava a conformar-se<br />

com menos. Virou-se se afastando <strong>de</strong>les e se retirou a seu próprio mundo<br />

privado.<br />

Desejou estar em seu amado oceano nadando em um mundo <strong>de</strong> cor e som<br />

longe <strong>de</strong> on<strong>de</strong> estava agora. Ela ouviu o chapinho das ondas enquanto rodavam<br />

brandamente através da caverna como um convite. Ouvia o grito das gaivotas e o<br />

bate-papo dos golfinhos. O vento beijou sua face quando levantou a vista para as<br />

nuvens que foram à <strong>de</strong>riva.<br />

A água fria a golpeou no rosto. Sobressaltada, baixou o olhar para o<br />

golfinho que estava a tão só uns pés <strong>de</strong>la. Ele cuspiu água uma segunda vez. Foi<br />

consciente dos frenéticos estalos, dos corpos golpeando a água em vez <strong>de</strong> estar<br />

caçando seu alimento como <strong>de</strong>veriam. Golpeou com força seu ombro contra<br />

Aleksan<strong>de</strong>r, gritando a Joley enquanto o fazia. Aleksan<strong>de</strong>r era o objetivo maior e<br />

ela tinha que cobri-lo.<br />

Ele <strong>de</strong>via ter reconhecido a advertência também porque nesse mesmo<br />

momento seu braço se virou para empurrar Joley à água também. Quando o mar<br />

se fechou sobre eles, Aleksan<strong>de</strong>r tinha rodado para cobrir às mulheres com seu<br />

corpo maior.<br />

Capítulo – 5<br />

Aleksan<strong>de</strong>r sentiu o impacto <strong>de</strong> uma bala em suas costas. Tinha posto um<br />

colete a prova <strong>de</strong> balas, mas o golpe foi duro e o empurrou contra a areia<br />

removida. Não tinha tido tempo <strong>de</strong> tomar fôlego antes <strong>de</strong> mergulhar e duvidava<br />

que algumas das Drake tampouco o tivessem tido. Abigail segurava a manga <strong>de</strong><br />

sua jaqueta para que seguisse seu exemplo. Ela conhecia a baía melhor que<br />

ninguém e tinha que confiar em seu julgamento.<br />

Diante <strong>de</strong>le, Abigail nadava com golpes fortes e estáveis para águas mais<br />

profundas, movendo-se entre os golfinhos para ganhar as rochas. Os pulmões lhe<br />

ardiam e profundamente em seu interior, a raiva era uma entida<strong>de</strong> viva e que<br />

respirava. Tinha muitos inimigos, mas ter a alguém disparando tão perto <strong>de</strong><br />

Abigail era intolerável.<br />

Abigail assinalou para as formas escuras diante <strong>de</strong>la e tentou parar para<br />

alcançar Joley. Aleksan<strong>de</strong>r arrastou Joley para as rochas e manteve um braço<br />

firmemente ao redor <strong>de</strong> Abigail. Ela não ia afastar-se <strong>de</strong>le e tentar algo tão<br />

heróico e estúpido como atrair o fogo enquanto ele se escondia.<br />

Arrastando ar a seus pulmões, manteve a cabeça encurvada.


55<br />

-Eles acertaram alguma bala?<br />

-Não. - disse Joley, - E consegui agarrar a arma.<br />

As ondas eram mais fortes, empurrando-os contra as rochas, assim<br />

Aleksan<strong>de</strong>r se aprumou e sustentou às duas mulheres longe dos cantos rodados<br />

gastos pela água.<br />

-Não po<strong>de</strong>mos ficar aqui. A força das ondas vai nos esmagar. - Todos<br />

notavam a roupa pesada. A única coisa que tinham a seu favor era o fato <strong>de</strong> que<br />

o canal era relativamente pouco profundo. – disse Aleksan<strong>de</strong>r<br />

Abigail fez um gesto <strong>de</strong> assentimento com a cabeça.<br />

-Há uma série <strong>de</strong> cavernas logo ali. - Ela assinalou para o lado norte da<br />

baía. - A entrada é submarina e lhes custará um pouco achar. Sentirão<br />

claustrofobia e quererão tratar <strong>de</strong> alcançar a superfície, mas estará nadando<br />

através <strong>de</strong> um tubo <strong>de</strong> rocha e não há nenhum modo <strong>de</strong> conseguir ar. Terão que<br />

tomar um profundo fôlego antes que tentemos entrar nas cavernas.<br />

-Não po<strong>de</strong>mos ficar aqui? -perguntou Joley. Uma espumosa onda passou<br />

sobre sua cabeça, fazendo-a rodar para baixo. Aleksan<strong>de</strong>r a puxou para cima<br />

antes que se estrelasse contra as rochas. Joley cuspiu água e tossiu, mas estava<br />

olhando fixamente os escarpados, mais furiosa que com medo. - Não quero que<br />

alguém nos espere em um navio ou sobre os escarpados. Prefiro me arriscar no<br />

mar.<br />

-Joley… - Abbey limpou a água salgada da cara, sentindo a rebelião e<br />

relutância <strong>de</strong> sua irmã. Joley era muito obstinada quando queria sê-lo e esse não<br />

era um bom momento.<br />

-Aterrorizam-me os lugares fechados- admitiu Joley. – Entro em pânico,<br />

Abbey. Nunca serei capaz <strong>de</strong> fazê-lo. Já foi bastante mau me obrigar a mim<br />

mesma a utilizar as escadas do moinho. E se ficamos presos na caverna…<br />

-Sinto muito, céu, <strong>de</strong>veria me haver lembrado, mas as cavernas são mais<br />

seguras que a baía. Supõe-se que <strong>de</strong>ve haver um velho túnel que conecta com a<br />

escada dos contrabandistas <strong>de</strong> Kate. Trataremos <strong>de</strong> encontrá-lo e utilizar essa<br />

rota para retornar à estrada principal. - explicou Abigail. - É nossa única<br />

possibilida<strong>de</strong> se estiverem nos escarpados. Somos alvos no mar, Joley. - Não quis<br />

mencionar o fato que os gran<strong>de</strong>s tubarões brancos freqüentavam a área, atraídos<br />

pela abundância <strong>de</strong> focas. O oceano era muito áspero, só e frio e esta seção em<br />

particular tinha águas muita revoltas. Com os tubarões, as rochas, e a ressaca do<br />

mar, dirigir-se para o oceano aberto lhes daria sérios problemas. Tinham que<br />

conseguir refugiar-se.<br />

Uma onda golpeou Abigail contra a rocha antes que Aleksan<strong>de</strong>r pu<strong>de</strong>sse<br />

segurá-la. O ar abandonou seus pulmões <strong>de</strong> repente e elevou os braços, tentando<br />

encontrar um lugar on<strong>de</strong> agarrar-se com os <strong>de</strong>dos na escorregadia superfície.<br />

Imediatamente uma rajada <strong>de</strong> balas golpeou a rocha. Aleksan<strong>de</strong>r a puxou,<br />

aproximando-a e fechando seu braço ao redor <strong>de</strong>la para apertá-la contra seu<br />

peito.<br />

-Acertaram em você?<br />

Ela sacudiu a cabeça, inundando o braço na água fria. O dorso <strong>de</strong> sua mão<br />

picava on<strong>de</strong> partes da rocha a tinham golpeado.<br />

-Não po<strong>de</strong>mos ficar aqui. As ondas são muito fortes. Se esgotará tratando<br />

<strong>de</strong> segurar nós duas, Sasha.


56<br />

Aproximava-se outra onda e se <strong>de</strong>slizou sob a água, sem dar oportunida<strong>de</strong><br />

a ser arrastada pela onda que passava. Tinham que mover-se. Era uma loucura<br />

ficar apanhados tal e como estavam. Estava furiosa consigo mesma por ter<br />

metido Joley naquela confusão. Se algo lhe ocorresse… Abigail não podia pensar<br />

nisso. Tinha que conseguir levá-los às cavernas.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r tirou a jaqueta. A roupa lhe empurrava para baixo e tinha que<br />

reservar toda sua força para impedir que as duas mulheres fossem golpeadas<br />

contra as perigosas rochas. Fez gestos a Abigail para que mostrasse o caminho.<br />

-Permanece perto- advertiu ela a Joley.<br />

-Estou atrás <strong>de</strong> você. - assegurou-lhe Joley, mas havia lágrimas em seus<br />

olhos. A idéia <strong>de</strong> nadar em uma pequena caverna e ser incapaz <strong>de</strong> emergir era<br />

mais que aterradora para ela, mas não ia afastar Abigail da segurança.<br />

Sem advertência, o vento se precipitou lhes ajudando, dirigindo do mar aos<br />

escarpados, uma rajada feroz, uivando <strong>de</strong> cólera. A água salpicou no ar, vários<br />

re<strong>de</strong>moinhos giravam. Espuma branca coroava as ondas e os escombros do mar<br />

foram lançados pelo ar para a terra. As ondas se estrelavam altas contra os<br />

escarpados e se pulverizavam para cima como se procurassem uma presa. As<br />

gaivotas gritavam, juntando-se no céu <strong>de</strong>s<strong>de</strong> qualquer direção e começaram a<br />

lançar-se como bombas sobre o escarpado, caindo com rapi<strong>de</strong>z, diretamente para<br />

baixo, com compridos bicos curvados apunhalando a algo que se movesse no<br />

topo.<br />

Joley e Abigail intercambiaram um longo olhar. Ambas começaram a sorrir.<br />

-Me ponham a par - disse Aleksan<strong>de</strong>r, tratando <strong>de</strong> não ofegar quando outra<br />

onda quase golpeou aos três contra as rochas.<br />

-Hannah <strong>de</strong>spertou e está magnificamente <strong>de</strong> saco cheio. - disse Joley. -<br />

Vamos enquanto nosso atirador está ocupado.<br />

-Há um toque <strong>de</strong>finitivamente <strong>de</strong> Elle nisto. - disse Abbey com gran<strong>de</strong><br />

satisfação. - As gaivotas são coisas <strong>de</strong> Elle. A Hannah gosta do drama, mas Elle<br />

vai pela jugular. - mergulhou, dando patadas fortemente para impulsionar-se e<br />

passar do fundo para o lado norte da baía.<br />

Joley a seguiu com o Aleksan<strong>de</strong>r atrás. Permaneceram em comunicação<br />

através do tato. A água estava fria e Aleksan<strong>de</strong>r temeu que a hipotermia se<br />

instalasse antes que qualquer um <strong>de</strong>les o notasse. Tanto Joley como Abigail<br />

tremiam continuamente embora nenhuma parecesse notá-lo. Ele sabia que a<br />

adrenalina que bombeava através <strong>de</strong>les lhes dava uma falsa sensação <strong>de</strong> cali<strong>de</strong>z.<br />

Sentiu o roçar <strong>de</strong> um corpo maior e foi consciente <strong>de</strong> que os golfinhos<br />

estavam perto enquanto nadavam ao longo <strong>de</strong> um estreito canal. Quando estava<br />

seguro <strong>de</strong> que seus pulmões arrebentariam, Abigail se elevou para a superfície e<br />

tomou uma profunda baforada <strong>de</strong> ar. A ansieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>la foi clara quando recordou<br />

a sua irmã.<br />

Os olhos <strong>de</strong> Joley estavam totalmente abertos com horror. Aleksan<strong>de</strong>r a<br />

segurou.<br />

-Me escute. - Ele utilizou sua voz amável. - Po<strong>de</strong> fazê-lo. Quando sentir<br />

pânico pela falta <strong>de</strong> espaço, se concentre em alguma outra coisa. Utiliza a letra<br />

<strong>de</strong> canções ou poesia. Faz uma canção e recorda que não está sozinha. Eu estarei<br />

tão perto que po<strong>de</strong>rei tocar você.


57<br />

-Irei diante <strong>de</strong> você, Joley. - tranqüilizou-a Abigail. – Eu nunca te<br />

abandonaria.<br />

Joley os avaliou por um momento, logo assentiu com a cabeça.<br />

-Estou preparada.<br />

-Um gran<strong>de</strong> fôlego - advertiu Abigail e uma vez mais se inundou.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r empurrou Joley diante <strong>de</strong>le, compelindo-a através das frias<br />

águas da caverna submarina. Seus ombros roçaram a pare<strong>de</strong> quando passou pela<br />

entrada. Abigail tinha tido razão ao dizer que po<strong>de</strong>riam sentir claustrofobia. Cada<br />

instinto lhe dizia que subisse à superfície. Podia sentir a rocha sobre sua cabeça e<br />

a ambos os lados. Pior ainda, não podia virar. Se ele se sentia assim, sabia que<br />

Joley <strong>de</strong>via estar passando um inferno. Roçou-lhe a mão ao longo da perna várias<br />

vezes para tranqüilizá-la. Concentrou-se em assegurar-se <strong>de</strong> que ela passasse<br />

através das escuras águas.<br />

Abigail era consciente <strong>de</strong> que o tempo corria ao contrário. Tinham estado na<br />

água muito tempo e seu corpo se voltava languido. Joley raramente nadava no<br />

oceano e se cansaria facilmente. Abigail se impulsionou, tocando as pare<strong>de</strong>s do<br />

túnel para orientar-se e emergir no pequeno interior da caverna ao fim. Sua<br />

cabeça saiu à superfície e ofegou em busca <strong>de</strong> ar inclusive enquanto estendia o<br />

braço para puxar Joley para cima. Joley tossiu e se aferrou a Abigail enquanto<br />

Aleksan<strong>de</strong>r se unia a elas.<br />

Ele ajudou ambas a saírem da água. Estava tão escuro que tiveram que<br />

medir o caminho até a beira da água para empurrar-se até as rochas secas. Por<br />

sorte, sem o vento constante, estava um pouco mais quente na caverna mas<br />

Aleksan<strong>de</strong>r estava preocupado por ambas as mulheres. Estavam tremendo<br />

incontrolavelmente.<br />

-Temos que lhes levar a algum lugar mais aquecido. - disse ele. -<br />

Necessitamos <strong>de</strong> luz para ver o que fazemos.<br />

-Estava acostumado a ter uma tocha na pare<strong>de</strong> norte. - disse Abigail, os<br />

<strong>de</strong>ntes batendo. - Havia um acen<strong>de</strong>dor guardado abaixo <strong>de</strong>la, na terra, no chão,<br />

para qualquer mergulhador que utilizasse a caverna. Ainda po<strong>de</strong>ria estar ali.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r apalpou ao redor até que suas mãos encontraram a tocha. Na<br />

base estava o acen<strong>de</strong>dor.<br />

-Alguém mais conhece esta caverna? - Ele acen<strong>de</strong>u a tocha para iluminar a<br />

pequena gruta que o oceano tinha esculpido das rochas.<br />

-Só alguns mergulhadores e historiadores aficionados. Não estive aqui em<br />

aproximadamente cinco anos, não <strong>de</strong>s<strong>de</strong> minha investigação sobre os golfinhos<br />

nesta área. - Ela esfregou com as mãos os braços <strong>de</strong> Joley para tratar <strong>de</strong> lhe dar<br />

algum calor. - Nunca utilizei a escada daí, mas sei que o túnel estava intacto faz<br />

cinco anos.<br />

-Como é que sou quão única que não sabe estas coisas? - perguntou-lhe<br />

Joley. - Cresci aqui.. qualquer um acreditaria que saberia coisas como cavernas<br />

ocultas.<br />

-Estava muito ocupada cantando, o que é boa coisa já que tem uma<br />

formosa voz. -assinalou Abbey, chutando as pequenas rochas já que estava<br />

preocupada que Joley pu<strong>de</strong>sse tropeçar. - Aqui, Sasha. Po<strong>de</strong> trazer a luz?<br />

-E você passava todo o tempo no mar. - disse Joley. - Aleksan<strong>de</strong>r, obrigada<br />

por me ajudar na água. Eu não gostei nada <strong>de</strong> não po<strong>de</strong>r ver. Por um momento


58<br />

pensei que teria um ataque do coração e então tocou minha perna e tudo voltou<br />

a estar bem.<br />

-Alegra-me ajudar.<br />

Abigail caiu no silêncio, olhando diretamente abaixo a algo que Joley não<br />

podia ver.<br />

-Aleksan<strong>de</strong>r. Será melhor que dê uma olhada nisso, porque acredito que é<br />

real e não quero tocá-lo.<br />

Ele chegou a seu lado, real e sólido, seu corpo roçando o <strong>de</strong>la.<br />

-O que é Abbey? - Seu braço <strong>de</strong>slizou ao redor <strong>de</strong>la e a colocou sob seu<br />

ombro. - Está congelando.<br />

-Tem posto um colete.<br />

-O qual é boa coisa, se não estaria morto.<br />

Ela girou a cabeça bruscamente.<br />

-Acertaram-lhe? On<strong>de</strong>? Deixe-me ver.<br />

A ansieda<strong>de</strong> na voz <strong>de</strong>la fez que lhe <strong>de</strong>sse um tombo o coração.<br />

-Não é nada, baushki-bau, uma contusão, não mais. O que encontrou?<br />

-Não sei. Dê uma olhada.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r se agachou para examinar o colar que pelo visto tinha caído em<br />

um <strong>de</strong>scuido e agora estava meio enterrado entre os escombros. Abigail<br />

aproveitou a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> observar suas costas. Definitivamente havia provas<br />

<strong>de</strong> um buraco <strong>de</strong> bala no colete que tinha posto. O coração quase lhe saltou fora<br />

do peito. Pressionou uma mão sobre o pequeno buraco e olhou Joley.<br />

-Sinto muito, céu, nunca <strong>de</strong>veria te haver pedido que viesse comigo.<br />

-Está <strong>de</strong> brinca<strong>de</strong>ira? A tia Carol tem razão. Esta é a aventura <strong>de</strong> minha<br />

vida. Necessitamos fotografias para pôr em nossos álbuns! - Joley sacudiu seu<br />

cabelo molhado e as arrumou para sorrir através dos <strong>de</strong>ntes batendo <strong>de</strong> frio. -<br />

Com que freqüência assassinos russos <strong>de</strong> primeira tentam te matar?<br />

-Não po<strong>de</strong> ter sido Prakenskii, - Disse Alexan<strong>de</strong>r enquanto tirava com<br />

cuidado o colar dos escombros e o levantava reverentemente.<br />

Joley colocou uma mão no quadril.<br />

-Não mate a diversão aqui, Aleksan<strong>de</strong>r. Estou tratando <strong>de</strong> ver o lado<br />

positivo.<br />

-Está ficando azul, Joley. Ponha-se em movimento. - disse Abigail. -Por que<br />

não pô<strong>de</strong> ser Prakenskii? Quanta gente está correndo por aí tratando <strong>de</strong> nos<br />

matar?<br />

-Evi<strong>de</strong>ntemente mais <strong>de</strong> um. - Aleksandr soava vago. Distraído. - Não foi<br />

Prakenskii ou estaríamos todos mortos.<br />

-É bom saber - disse Joley. - Quero ir agora. Tive suficiente drama para<br />

todo o dia. Nem sequer tomei uma xícara <strong>de</strong> chá ainda e pessoas já estão<br />

disparando. Encontrem a escada porque não quero nadar <strong>de</strong> volta por esse<br />

escuro buraco.<br />

-A entrada está aí. - Gesticulou Abigail, mas sua atenção estava no<br />

Aleksan<strong>de</strong>r. - Justo mais à frente, Sasha. O que é? Essa coisa é real, verda<strong>de</strong>?<br />

-Sim. - Aleksan<strong>de</strong>r soltou o fôlego <strong>de</strong>vagar, baixando a vista para o pedaço<br />

<strong>de</strong> história que tinha em suas mãos. - Ao menos acredito que o é. Acredito que é<br />

um colar que esteve <strong>de</strong>saparecido durante anos. Em março <strong>de</strong> 1917 o Czar<br />

Nicolas II abdicou do trono do Império russo e um governo provisório foi colocado


59<br />

em seu lugar. -A reverência se estendia a sua voz. -O czar, sua amada, a<br />

Imperatriz Alexandra Feodrovna e seus cinco filhos foram <strong>de</strong>portados a Sibéria.<br />

Dizia-se que tinham uma pequena coleção <strong>de</strong> jóias que o czar tinha guardado<br />

para sua esposa. Em 1918 a família inteira e quatro <strong>de</strong> seus criados mais fiéis<br />

foram executados em segredo.<br />

-Claro, é obvio que ouvi a história. - disse Abigail, sua nuca começava a<br />

arrepiar-se. Ela e Joley intercambiaram um olhar longo. - O que tem que ver essa<br />

historia com este colar?<br />

Aleksan<strong>de</strong>r se endireitou, com as pesadas jóias em suas mãos.<br />

-Há rumores que Nicolas tinha encarregado mandar fazer um colar muito<br />

especial para Alexandra antes <strong>de</strong> suas bodas. De fato, lhe tinha rechaçado porque<br />

se havia sentido menos que bem-vinda na Rússia. O colar foi feito só das mais<br />

perfeitas e estranhas pedras e pretendia <strong>de</strong>monstrar a Alexandra o muito que o<br />

czar a amava e admirava.<br />

-É esse certo?<br />

Ele <strong>de</strong>u <strong>de</strong> ombros.<br />

-Até agora, a única prova que tinha visto alguma vez que o colar existia foi<br />

uma pequena pintura. E essa pintura foi roubada <strong>de</strong> uma coleção faz<br />

aproximadamente quatro anos. Havia muitos rumores que o colar surgia aqui ou<br />

ali, mas em realida<strong>de</strong> ninguém pô<strong>de</strong> encontrar nunca a peça. Não tem nem idéia<br />

<strong>de</strong> quantos tesouros nacionais foram extraídos <strong>de</strong> nosso país. Pedaços <strong>de</strong> nossa<br />

história que pertencem a nossa gente. - Sacudiu a cabeça e voltou para olhá-las.<br />

-Estávamos no rastro <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> arte. Se isto for autêntico, é um achado além<br />

do que alguma vez sonhei. Este é um tesouro inestimável.<br />

-Mas como pô<strong>de</strong> chegar a esta caverna?- perguntou Abigail.<br />

-Boa pergunta. - As duas mulheres trementes captaram a atenção <strong>de</strong><br />

Aleksan<strong>de</strong>r - Me perdoem, <strong>de</strong>vemos lhes conseguir um lugar quente.<br />

-Teremos que agarrar a tocha porque não temos uma lanterna. - disse<br />

Abigail. - Vamos, Joley, só um pouquinho mais e estaremos quentes.<br />

Joley seguiu sua irmã à entrada da escada.<br />

-Quer que suba isso?- Os <strong>de</strong>graus estavam recortados no escarpado<br />

mesmo, muito estreitos serpenteavam para cima na rocha. Estava escuro e o teto<br />

pingava em vários lugares e soava sinistro. Retroce<strong>de</strong>u, sacudindo sua cabeça. -<br />

Enfrentarei ao assassino.<br />

Abigail pôs seu braço ao redor <strong>de</strong> Joley.<br />

-Sei que você não gosta dos espaços fechados, mas a escada <strong>de</strong>veria<br />

conectar-se em algum ponto com a escada subterrânea <strong>de</strong> Kate e nos conduzir ao<br />

porão do velho moinho.<br />

-Abbey po<strong>de</strong> mostrar o caminho e eu estarei atrás <strong>de</strong> você. -tranqüilizou<br />

Aleksan<strong>de</strong>r a Joley. -Cantarei uma canção russa para você. - Riu brandamente. -<br />

Uma canção <strong>de</strong> ninar é tudo o que sei cantar.<br />

Joley respirou fundo e assentiu.<br />

-Na realida<strong>de</strong> a maior parte do tempo não sou tão medrosa. Só tenho este<br />

problema com os espaços fechados.<br />

-Ninguém pensa que seja uma medrosa, Joley- disse Abigail. -Terminemos<br />

com isto. Hannah e Elle terão chamado Jonas e ele per<strong>de</strong>rá a cabeça nos<br />

escarpados pensando que estamos mortos ou afogados. - Ela iniciou a ascensão


60<br />

pelos escarpados <strong>de</strong>graus <strong>de</strong> pedra, sustentando a tocha com o punho <strong>de</strong> Joley<br />

fechado na barra <strong>de</strong> sua camisa molhada.<br />

-Se chamar busca e resgate me sentirei fatal. - disse Joley. - Po<strong>de</strong> imaginar<br />

os tablói<strong>de</strong>s? Fariam uma festa.<br />

-Não os chamará até que Hannah ou Elle o digam. Elas sabem que estamos<br />

vivos. - disse-lhe Abigail. - Sasha, vai cantar ou não?<br />

Ele se esclareceu garganta.<br />

-Só estava animando sua irmã. A verda<strong>de</strong> é que não vou cantar diante <strong>de</strong>la.<br />

-Agora seria um bom momento Aleksan<strong>de</strong>r- disse-lhe Joley.<br />

Ele suspirou.<br />

-Farei, mas não o diga nunca a ninguém.<br />

Abigail se endureceu para o som <strong>de</strong> sua voz quando cantava. Anos antes,<br />

quando jazia entre seus braços avançada a noite, tinha-lhe cantado com sua rica<br />

e maravilhosa voz. Ele sempre cantava em sua própria língua e ela nunca tinha<br />

sido capaz <strong>de</strong> resistir quando lhe cantava. A canção era uma canção <strong>de</strong> ninar<br />

tradicional dos Cossacos e ela sabia que a cantava <strong>de</strong>liberadamente para fazê-la<br />

recordar. Sua voz pareceu vibrar seu corpo e tocar cada terminação nervosa até<br />

que ar<strong>de</strong>ram lágrimas atrás <strong>de</strong> suas pálpebras e teve que piscar rapidamente<br />

para esclarecer a visão.<br />

-Entendo algumas palavras. - disse Joley. - Algo sobre “o sonho <strong>de</strong> meu<br />

bebê, meu formoso bebê', mas então usa essa palavra, essa como chama Abbey.<br />

Baushki-bau. O que significa isto?<br />

-Não há tradução. É um apelido carinhoso. Freqüentemente a chamo meu<br />

formoso bebê também, mas não gosta.<br />

Abigail sacudiu a cabeça, não querendo lhe ouvir. Não querendo sentir ou<br />

recordar como tinha sido estar com ele. Ser abraçada por ele. Sempre tinha sido<br />

tão protetor... E essa tinha sido a maior ilusão <strong>de</strong> todas.<br />

-Tem uma formosa voz. Deveria ter sido cantor. - disse Joley, atônita. - Eu<br />

adoraria cantar algo com você.<br />

-Será bastante que seja capaz <strong>de</strong> cantar a nossos filhos para que durmam.<br />

Abigail apertou o punho ao redor da tocha. Não teria nenhum menino com<br />

ela. Quantas vezes tinham falado <strong>de</strong> ter filhos juntos? Ele queria uma gran<strong>de</strong><br />

família porque nunca teve uma própria. Nem irmãos nem parentes. Dizia que<br />

queria cinco meninos <strong>de</strong> cada sexo e ela ria e sacudia a cabeça, tratando <strong>de</strong> lhe<br />

convencer <strong>de</strong> um número muito mais razoável.<br />

Tinha que trocar o tema, conseguir que falasse <strong>de</strong> algo que não tivesse<br />

nenhuma implicação pessoal. Ele tinha que partir para on<strong>de</strong> ela não pu<strong>de</strong>sse lhe<br />

cheirar, sentir pele contra pele contra seu corpo tão vividamente.<br />

-Nos conte mais sobre o que aconteceu ao colar.<br />

Joley apertou o punho na camisa <strong>de</strong> Abbey, uma silenciosa comunicação <strong>de</strong><br />

entendimento. Po<strong>de</strong>ria burlar-se <strong>de</strong> Abigail, mas agora mesmo, podia sentir a dor<br />

<strong>de</strong> sua irmã e queria aliviá-la. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do que tivesse ocorrido entre<br />

Aleksan<strong>de</strong>r e Abigail tinha sido terrível e o coração <strong>de</strong> Joley sentia por ambos.<br />

Durante um momento, lamentou não ter o dom <strong>de</strong> cura <strong>de</strong> Libby, assim teria<br />

podido curar qualquer que fosse a ferida que jazia entre o casal.<br />

-Depois <strong>de</strong> sua execução, os corpos dos Romanov foram conduzidos ao<br />

lugar <strong>de</strong> enterro eleito. Foi um ponto ao norte do Ekaterinburg. Aquela área em


61<br />

particular era sobre tudo zona pantanosa, <strong>de</strong> turfa e poços mineiros<br />

abandonados. Os guardas <strong>de</strong>spojaram os corpos e todos os objetos <strong>de</strong> valor. Por<br />

testemunho dos presentes sabemos que foram encontradas várias libras <strong>de</strong><br />

diamantes nos corpos. Várias versões da história contam que a imperatriz tinha<br />

posto ou tinha o colar em sua pessoa e o tirou algum dos guardas, mas o colar<br />

nunca chegou às mãos do governo. Se o encontraram na família, tomaram e o<br />

manteve escondido.<br />

-On<strong>de</strong> esteve todo este tempo?- perguntou Abigail. Sua voz tirante, a<br />

garganta estreita e áspera. Mantinha o olhar à frente, não querendo lhe olhar e<br />

ver a verda<strong>de</strong> em seus olhos. Ele a conhecia muito bem, sabia que não havia<br />

nada casual em sua reação para ele.<br />

-Boa pergunta. Antes <strong>de</strong> me excitar muito, quero ver se é autentico.<br />

Abigail se <strong>de</strong>teve tão repentinamente que Joley quase tropeçou nela.<br />

-Não posso dizer se esta é a caverna... ou se tiver golpeado uma pare<strong>de</strong> e a<br />

entrada à escada <strong>de</strong> Kate está em alguma parte perto. - Passou a luz pela pare<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> rocha.<br />

Joley tremeu.<br />

-Encontra-a rápido, Abbey.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r apoiou a mão brevemente no ombro <strong>de</strong> Joley.<br />

-Está aqui, não há dúvida, - disse com absoluta convicção.<br />

-Como sabe? - perguntou Joley.<br />

Foi Abigail quem respon<strong>de</strong>u.<br />

-Por que alguém utiliza as cavernas abaixo e estas escadas para colocar<br />

algo no país. Provavelmente seja o que Aleksan<strong>de</strong>r e seu companheiro estavam<br />

rastreando. Isso significa que tem que haver um caminho à superfície.<br />

-Ela tem razão, Joley, - esteve <strong>de</strong> acordo Alexan<strong>de</strong>r. - Só uns minutos mais<br />

e estaremos fora daqui.<br />

-Crê que quem nos disparou está ali?<br />

Abigail riu.<br />

-Há uma nota <strong>de</strong> esperança em sua voz. Não vai ter oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

disparar a ninguém. Estou segura <strong>de</strong> que Jonas já está no lugar da cena do crime<br />

e o pistoleiro já partiu faz muito. Provavelmente Hannah e Elle lhe afugentaram<br />

com as gaivotas.<br />

-Bom, isso não me <strong>de</strong>ixa feliz. Eu não tive meu chá da manhã e fui<br />

conduzida ao frio mar e embutida sob toneladas <strong>de</strong> rochas sobre minha cabeça. A<br />

vingança é a única solução que vai fazer me sentir um pouco melhor.<br />

-Por que ninguém recrutou você até agora? - perguntou-lhe Aleksan<strong>de</strong>r. -<br />

Ali, Abbey. A abertura está aí mesmo. Vê como a rocha tem essa greta enorme?<br />

Não é natural, retroce<strong>de</strong> se por acaso houver algum tipo <strong>de</strong> armadilha.<br />

-Eu seria uma gran<strong>de</strong> agente da Interpol - disse Joley. -Sou tão anônima. -<br />

Lançou um sorriso rápido em sua irmã.<br />

-Na realida<strong>de</strong> Joley seria uma agente estupenda. - disse Abbey com<br />

orgulho. - É fria sob o fogo e é muito boa em artes marciais. Ela só pensa no que<br />

está fazendo e se é algo difícil para ela faz mesmo assim. - Retroce<strong>de</strong>u,<br />

aproximando-se <strong>de</strong> sua irmã enquanto passava os <strong>de</strong>dos do alto ao fundo da<br />

greta. - Há um agarre aqui.<br />

-Me <strong>de</strong>ixe passar - or<strong>de</strong>nou Aleksandr.


62<br />

-Não há espaço - indicou Abigail. - Não po<strong>de</strong>mos trocar <strong>de</strong> posições. - Seus<br />

<strong>de</strong>dos encontraram uma argola pendurando da pesada laje. Assim que a puxou a<br />

porta começou a abrir-se, rangendo e gemendo enquanto o fazia. Ouviu Joley<br />

conter a respiração e lhe agarrou a mão. - Quase no moinho <strong>de</strong> Kate, Joley, -<br />

prometeu ela.<br />

-Mais rocha sobre minha cabeça. Isto parece com uma tumba. - Joley<br />

estremeceu. - Acabemos rápido.<br />

-Espera, Abbey, não entre. - advertiu Alexan<strong>de</strong>r. - Eu irei primeiro.<br />

-Entramos pela escada que conduz baixando até o mar do moinho - disse<br />

Abigail. - Não crê que se alguém fosse colocar uma armadilha, o teria feito já?<br />

-O lugar ótimo é on<strong>de</strong> está a ponto <strong>de</strong> pisar. - Sua voz tinha trocado <strong>de</strong> um<br />

tom suave e rico ao aço. - Não po<strong>de</strong>m colocá-la na escada do moinho porque sua<br />

irmã ou alguém que estivesse trabalhando legitimamente po<strong>de</strong>ria resultar ferido e<br />

haveria uma investigação. Um mergulhador po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>scobrir a caverna e subir<br />

as escadas para ver quanto sobe nos escarpado. Esta é a única zona que<br />

precisam proteger. Esta é sua rota <strong>de</strong> escape e o caminho à estrada principal por<br />

on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m transportar facilmente o que seja que estão entrando no país.<br />

Abigail se apertou imediatamente contra a pare<strong>de</strong>.<br />

-Joley, po<strong>de</strong> se encolher e ficar pressionada contra a pare<strong>de</strong> para que<br />

Aleksan<strong>de</strong>r tente passar?<br />

-Genial - resmungou Joley. - Justo tinha que ser um homem gran<strong>de</strong> com<br />

ombros tão amplos como o Mississipi. - Ela tentou esmagar-se contra a rocha.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r as arrumou para apertar-se passando murmurando suas<br />

<strong>de</strong>sculpas. Agarrou Abigail pelos ombros e tratou <strong>de</strong> <strong>de</strong>slizar-se por diante. No<br />

momento em que o corpo <strong>de</strong>la esteve aprisionado contra o seu, no momento em<br />

que sentiu sua suave pele, tão molhada como estava, cheirando a oceano, seu<br />

corpo a reconheceu. Encaixava. Pertencia-lhe. Cada parte <strong>de</strong>le, corpo e alma,<br />

<strong>de</strong>sejava-a. Inclusive a necessitava. Amaldiçoou brandamente, seus <strong>de</strong>dos se<br />

apertaram sobre os ombros <strong>de</strong>la com força, retorcendo e muito mais capitalista<br />

do que esperava.<br />

Abigail elevou o olhar para ele, compelida pelo calor e a dureza <strong>de</strong> seu<br />

corpo, embora fosse quão último <strong>de</strong>sejava. A tocha que sustentava iluminava a<br />

cara <strong>de</strong>le, os rasgos tão profundamente marcados, os olhos que tinham visto<br />

muitos horrores na vida. Tinha pensado que lhe conhecia, as coisas das que era<br />

capaz para impedir que machucassem a outros. Sempre tinha pensado que era<br />

uma das protegidas mas ele a tinha sacrificado exatamente do mesmo modo que<br />

fazia com outros que utilizava para conseguir informação. Por sua carreira. Para<br />

alcançar seu objetivo final. Agora o entendia e o tinha aprendido do modo mais<br />

duro.<br />

Abigail sacudiu a cabeça, negando a forma em que algo profundo em seu<br />

interior se esten<strong>de</strong>u para ele. Não se <strong>de</strong>ixaria arrastar pela persistente melancolia<br />

em seus olhos. Não lhe <strong>de</strong>ixaria tocá-la com sua tristeza, ou sua necessida<strong>de</strong>, ou<br />

inclusive sua terrível solidão. Não <strong>de</strong>ixaria que a gran<strong>de</strong>za que via nele,<br />

persuadisse-a. Sim, ele <strong>de</strong>dicava sua vida a capturar monstros, a perseguir<br />

criminosos. Sabia que tinha sentido da honra e lealda<strong>de</strong> para sua pátria, mas<br />

também sabia que era <strong>de</strong>sumano e tão cruel como qualquer dos criminosos que<br />

caçava.


63<br />

Deixou-lhe vê-lo em seus olhos. Não se arriscaria a si mesma outra vez.<br />

Nem sua vida nem sua magia. Afastou o rosto.<br />

Joley apertou seus <strong>de</strong>dos ao redor dos <strong>de</strong> Abigail, chamando sua atenção. A<br />

magia as unia junto com seu sangue. O que alguém sentia, sentia-o a outra, e<br />

Joley piscou contendo as lágrimas, enten<strong>de</strong>ndo que algo traumático tinha<br />

ocorrido a Abigail. Abbey lhe apertou os <strong>de</strong>dos comunicando tranqüilida<strong>de</strong>. Não<br />

podia proteger a sua irmã pequena das fortes emoções que compartilhavam. Isto<br />

era quão último queria que ocorresse. Temia contar a suas irmãs o que tinha<br />

feito, mas sabia que não tinha escolha.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r se inclinou, seus lábios pressionados contra o ouvido <strong>de</strong> Abigail.<br />

-Estava acostumado a ter uma mente aberta.<br />

O coração lhe saltou no peito.<br />

-Isso foi faz muito tempo.<br />

-Não para mim, baushki-bau, nunca para mim.<br />

-Está me fazendo mal.- As palavras lhe escaparam antes que pu<strong>de</strong>sse as<br />

<strong>de</strong>ter. Quatro anos era muito tempo e já <strong>de</strong>veria havê-lo superado, mas estava<br />

tudo ali, cada vívido <strong>de</strong>talhe, erguendo-se quando <strong>de</strong>veria ter estado faz longo<br />

tempo enterrado.<br />

Ele <strong>de</strong>slizou por diante <strong>de</strong>la sem outra palavra, tomando a tocha <strong>de</strong> sua<br />

mão.<br />

-Fiquem aqui até que lhes faça um sinal.<br />

Ele voltava a assumir o controle como se o pequeno intercâmbio nunca<br />

tivesse ocorrido. Abigail se aferrou a Joley, sem dar-se conta <strong>de</strong> que o fazia. Ele<br />

podia acen<strong>de</strong>r e apagar suas emoções à vonta<strong>de</strong>. Por que não tinha visto isso<br />

quando tinha estado tão apaixonada por ele? Era um <strong>de</strong>slumbrante <strong>de</strong>feito que<br />

nunca <strong>de</strong>veria ter passado por cima.<br />

Joley fez um só som <strong>de</strong> angústia quando a luz da tocha se afastou <strong>de</strong>las, as<br />

abandonando na escuridão.<br />

-Não posso seguir com isso. Sinto muito, Abbey. Tenho que voltar. Não<br />

posso respirar. Meu coração vai explorar.<br />

-De acordo, carinho. Sinto muito. Esqueci-me completamente <strong>de</strong> sua<br />

claustrofobia.<br />

-Estou quase na outra escada, - chamou-as Aleksan<strong>de</strong>r. - Necessitarei uma<br />

ajuda, senhoritas. Joley, por que não canta para mim e assim saberei a que<br />

distância estão?<br />

-Aleksan<strong>de</strong>r - De repente Abigail tinha medo- Não se coloque com nada<br />

letal. Tão somente voltemos. O atirador <strong>de</strong>ve haver-se ido já. Po<strong>de</strong>mos nadar.<br />

-Quase estou ao outro lado, malutka. - Havia uma clara carícia que se<br />

arrastavam em sua voz.<br />

Abigail não confiava nele. Dizia as coisas corretas. Distraía Joley, sua voz<br />

era sexy e cheia <strong>de</strong> tranqüilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>spreocupação, mas ao final, o que<br />

importava era que queria seguir a rota dos contrabandistas. Queria subir as<br />

escadas e ver aon<strong>de</strong> foram os contrabandistas. Tinha que recordar que sempre<br />

havia um propósito atrás <strong>de</strong> tudo o que ele fazia.<br />

-Sei que o<strong>de</strong>ia cantar, Abbey, - sussurrou Joley-, mas este é o momento<br />

justo para fazê-lo.


64<br />

Abigail fechou os olhos. Tinha que ajudar Joley já que ela a tinha colocado<br />

em uma situação tão incômoda e perigosa. Abigail tinha medo <strong>de</strong> usar sua voz.<br />

Joley tinha o controle sobre o feitiço <strong>de</strong> seu canto. Abigail não. Podia causar<br />

estragos com sua voz. Cantava aos golfinhos e baleias, a todas as criaturas do<br />

mar quando estava sozinha, mas não diante das pessoas.<br />

Começou uma das canções originais <strong>de</strong> Joley, uma melodia suave sobre a<br />

dor do coração, porque seu coração não só doía, estava se voltando a romper em<br />

pedaços. Podia sentir a intensida<strong>de</strong> do olhar surpreendido <strong>de</strong> Joley, mas Joley se<br />

uniu a ela, sua voz normalmente forte duvidou momentaneamente, mas agarrou<br />

forças quando harmonizaram.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> mover-se quando escutou às duas vozes unidas<br />

cantando. As irmãs Drake tinham um po<strong>de</strong>r incrível. Havia algo compelidor,<br />

quase hipnótico nas vozes. As pessoas podia per<strong>de</strong>r-se no som, ser levado a<br />

outro tempo e lugar, sedução e paraíso ou tanta perda que alguém queria chorar.<br />

Sacudiu a cabeça, tentando romper o feitiço e encontrar a pequena armadilha<br />

escondida que sabia que tinha que haver no estreito túnel.<br />

-Ah, sim, aqui está, senhoritas. Um dispositivo muito simples mas eficaz.<br />

Isto é mais que um sistema <strong>de</strong> beiral para eles, permite-lhes saber se alguém<br />

usou a escada e tem <strong>de</strong>scoberto sua rota. Duvido que a usem mais que uma vez<br />

ao mês, possivelmente inclusive menos.<br />

A canção se <strong>de</strong>teve repentinamente.<br />

-É perigoso, Aleksan<strong>de</strong>r?- Ele preferia que Abigail lhe chamasse pela versão<br />

mais íntima <strong>de</strong> seu nome, porque sabia que quando não o fazia, era porque não<br />

lhe estava mantendo a distância <strong>de</strong> um braço. Como fazia agora.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r estudou o arame disparador.<br />

-Absolutamente. É um pequeno arame disparador unido a um pequeno pau.<br />

Se lhe <strong>de</strong>rmos uma patada, saberão que alguém usou a escada e sua rota foi<br />

<strong>de</strong>scoberta. Com a luz, ambas serão capazes <strong>de</strong> passá-lo, não há problema. Está<br />

seco aqui é completamente <strong>de</strong> rocha. Estou voltando para vocês.<br />

-Não se inteirarão <strong>de</strong> todos os modos?- perguntou Joley. -O amigável<br />

assassino <strong>de</strong>ve saber que passamos por aqui.<br />

-Esse não foi o mesmo homem que esteve ontem à noite em sua casa.<br />

Conheço seu trabalho. Este é algum outro. - A luz da tocha se <strong>de</strong>rramou sobre<br />

elas e Joley respirou visivelmente com alívio. - Quantos inimigos têm as Drake?<br />

-Foi em você que acertou o tiro - assinalou Abigail. Seu estômago se<br />

rebelou contra a idéia, dando tombos e rodando; pressionou uma mão com força<br />

contra ele em protesto.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r não replicou mas sim se <strong>de</strong>u a volta para mostrar o caminho. O<br />

caminho era lento. No túnel tinha menos filtrações e era pura rocha, mas era<br />

extremamente estreito e o teto <strong>de</strong>sigual e <strong>de</strong>nteado em alguns lugares.<br />

-Cuidado aqui, - instruiu ele. - Passem por cima <strong>de</strong>ste pequeno arame. -<br />

Sustentou a tocha tão alto como foi possível no confinado espaço. -Vêem-no?<br />

Uma vez avistado não era difícil passar o obstáculo e se apressaram através<br />

da curta distância.<br />

-Nunca admitiu ter uma gran<strong>de</strong> voz, Abbey. - disse Joley enquanto se<br />

moviam na pequena seção <strong>de</strong> escada que cruzava com a escada do moinho. -Tem<br />

um tom perfeito. Como eu podia não saber?


65<br />

Abigail não respon<strong>de</strong>u. Olhou um ponto fixo entre as omoplatas <strong>de</strong><br />

Aleksan<strong>de</strong>r e seguiu andando.<br />

- Ambas têm um elemento que não se encontra em outras vozes - disse<br />

Aleksan<strong>de</strong>r sem virar-se. - Suponho que seja magia.<br />

-Sim. - confirmou Joley. - Posso tecer certos feitiços, ajudar Libby a curar,<br />

fazer às pessoas mais felizes, esse tipo <strong>de</strong> coisas É um dom maravilhoso e trato<br />

<strong>de</strong> usá-lo sabiamente. Houve vezes que estive tentada a usá-lo quando alguém<br />

me incomodava realmente, mas Abbey nunca tinha cantado nenhuma só nota<br />

diante <strong>de</strong> mim. E minhas irmãs não po<strong>de</strong>m saber <strong>de</strong> sua voz ou me haveriam<br />

dito. – Deu uma cotovelada em Abigail nas costas. - Por que escon<strong>de</strong> sua<br />

habilida<strong>de</strong>?<br />

-Não vou discutir isso - disse Abbey, com voz tensa.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r lhe jogou uma olhada sobre seu ombro.<br />

-Parece haver um montão <strong>de</strong> temas que não quer discutir ultimamente. Sua<br />

voz é formosa e não <strong>de</strong>veria ocultá-la ao mundo. Freqüentemente falamos <strong>de</strong><br />

nossos filhos e <strong>de</strong> lhes cantar canções <strong>de</strong> ninar, mas nunca se ofereceu a cantar<br />

para eles.<br />

O fôlego <strong>de</strong> Abigail escapou em uma rajada. A cólera formou re<strong>de</strong>moinhos<br />

para a superfície embora tentasse com força contê-la.<br />

-Sim, bom, ambos sabemos que as coisas vão mal com minha magia.<br />

Diferente da <strong>de</strong> Joley, a minha é <strong>de</strong>feituosa. Ou possivelmente quem a dirige é<br />

<strong>de</strong>feituosa. Nunca me arriscaria a fazer mal a um <strong>de</strong> meus filhos.<br />

Capítulo - 6<br />

Abigail sabia que não havia esperança <strong>de</strong> atrasar-se muito mais em seu<br />

banheiro. Suas irmãs estavam esperando-a escada abaixo para uma explicação.<br />

Pior até, Jonas estava <strong>de</strong>sgastando um caminho no salão com seu andar.<br />

Deixando seus cabelos a secar ao ar <strong>de</strong>pois da ducha quente, encontrou sua<br />

tia Carol no vestíbulo. Supunha-se que os membros <strong>de</strong> uma família não tinham<br />

favoritos, mas Carol tinha um lugar especial no coração <strong>de</strong> Abbey. Ela sempre


66<br />

tinha feito sentir a cada uma das garotas incrivelmente especial. Ao longo <strong>de</strong> toda<br />

sua infância sempre as tinha chamado, enviava presentes e cartas, e as escutava.<br />

Abigail pôs os braços ao redor <strong>de</strong> sua tia e a abraçou.<br />

-Estou tão contente <strong>de</strong> que tenha vindo.<br />

-Sei que está acontecendo algo mau, Abbey, - disse-lhe Carol. -<br />

Superaremos isto como sempre fazemos, como uma família. Não sei o que teria<br />

feito sem vocês quando Jefferson morreu. Apoiei-me em vocês tremendamente.<br />

Espero que saiba que po<strong>de</strong> fazer o mesmo. E seus pais voltarão para casa se os<br />

necessitar. Posso chamá-los por você.<br />

-Não, não, não faça isso. Mamãe e papai voltarão para casa antes das<br />

bodas. Estão passando um tempo tão maravilhoso juntos e não quero que nada<br />

lhes arruíne isso. - Abigail sorriu. - Todos aqueles anos nos criando, em realida<strong>de</strong><br />

nunca tiveram tempo um para o outro, para estar sozinhos. Sei que ambos<br />

estavam <strong>de</strong>sejando viver na Europa durante um par <strong>de</strong> anos. Nós somos adultas<br />

e não necessitamos que eles voltem correndo quando tropeçamos um pouco.<br />

Carol a abraçou até um pouco mais forte.<br />

-Isto é um tropeção ou uma queda? E me parece que se sente … triste. Dói.<br />

Não posso te beijar simplesmente para que melhore como eu gostaria.<br />

Abigail sorriu.<br />

-Quando te vi voltar para casa, o mundo foi um pouco mais brilhante e a<br />

carga mais leve. Estarei bem, Tia Carol. Sou uma Drake. Somos feitas <strong>de</strong><br />

material forte. -Beijou sua tia na bochecha e começou a percorrer o vestíbulo<br />

para as escadas. -Teria estado tão orgulhosa <strong>de</strong> Joley. Sabe que sente pânico<br />

pelos lugares estreitos e agüentou como uma campeã.<br />

-É obvio que o fez - disse Carol. - Hannah e Elle <strong>de</strong>spertaram ambas ao<br />

mesmo tempo e se apressaram a varanda do capitão. Ao resto <strong>de</strong> tomou algo<br />

mais <strong>de</strong> tempo, sinto dizê-lo, mas as garotas tinham tudo sob controle para<br />

quando chegamos a ajudar. - Ela bateu no ombro <strong>de</strong> Abigail, lhe recordando<br />

vividamente sua juventu<strong>de</strong>. Carol a tinha reconfortado com freqüência quando<br />

era uma jovenzinha lutando por controlar sua magia. -Funcionará, carinho, já o<br />

verá.<br />

Abigail se tomou um minuto para estudar sua tia. Seus cabelos eram <strong>de</strong><br />

uma rica cor champanha. Havia risada e calor em seus olhos azuis. Como<br />

sempre, levava uma câmara ao redor do pescoço. Adorava seu trabalho como<br />

assessora do Creative Memories e acreditava incondicionalmente em seu<br />

trabalho. Tinha animado a suas irmãs e logo a suas sobrinhas e seus sobrinhos a<br />

tomar fotos <strong>de</strong> cada acontecimento, escrever publicações e preparar formosos<br />

álbuns para seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes. Abigail estava bastante orgulhosa <strong>de</strong> seus álbuns<br />

sobre golfinhos e os lugares aon<strong>de</strong> tinha ido investigar. Tinha <strong>de</strong>scoberto que era<br />

uma forma <strong>de</strong> recordar os momentos divertidos, comovedores e perigosos. Não<br />

po<strong>de</strong>ria imaginar Carol sem sua câmara ou seu sorriso e em certa forma tendo-a<br />

ali com sua cali<strong>de</strong>z familiar dava a Abbey uma sensação <strong>de</strong> paz enquanto baixava<br />

a escada para enfrentar suas irmãs.<br />

Jonas <strong>de</strong>ixou seu passeio quando ela entrou na sala. Suas irmãs ficaram<br />

caladas. Joley levantou uma mão e lhe lançou um sorriso <strong>de</strong>primido e alentador.<br />

Carol trocou <strong>de</strong> posição aproximando-se mais, pressionando seu braço com <strong>de</strong>dos<br />

suaves.


67<br />

-Trarei uma taça <strong>de</strong> chá, querida. E não comeu nada.<br />

-Está bem, Abbey? -perguntou-lhe Sarah. A mais velha das irmãs Drake,<br />

era a lí<strong>de</strong>r reconhecida.<br />

Abigail assentiu com a cabeça.<br />

-Não posso acreditar que me tenham disparado dois dias seguidos. Estou<br />

começando a pensar que alguém me tem como inimiga.<br />

-Talvez tenha razão - disse Jonas.<br />

-Só Sylvia Fredrickson e não posso imaginá-la contratando a um assassino.<br />

-Abigail se afundou em uma ca<strong>de</strong>ira junto à Hannah e se inclinou para beijar a<br />

sua irmã na bochecha. - Obrigado. Elle e você nos salvaram.<br />

-Elle per<strong>de</strong>u os estribos - explicou Hannah com um sorriso aberto. -Isso<br />

<strong>de</strong>ve ter feito que seja mais fácil i<strong>de</strong>ntificar a seu atirador, Jonas, - acrescentou<br />

felizmente. -E só no caso <strong>de</strong> está investigando a Sylvia, é mais provavelmente<br />

que vá por mim.<br />

-Isto é sério, Hannah, - disse Jonas. - Quero que todas me escutem,<br />

especialmente você, Abbey. Não tinha que ter ido a Sea Lion Cove <strong>de</strong>pois do que<br />

ocorreu ontem à noite e sabe.<br />

-Realmente, tenho assuntos que não se po<strong>de</strong>m adiar - corrigiu Abbey. -O<br />

golfinho estava ferido por arriscar sua vida por salvar não só a minha, mas<br />

também a <strong>de</strong> Gene. Necessitava tratamento e confiava em mim para dar-lhe. Não<br />

posso me escon<strong>de</strong>r em meu quarto só porque algum pirado esteja por aí com<br />

uma pistola.<br />

-Tenho que estar <strong>de</strong> acordo com Abbey nisto, Jonas, -disse Sarah. -Não<br />

po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar que o golfinho <strong>de</strong>senvolva uma infecção e possivelmente morra por<br />

negligência.<br />

-Abbey, -disse Jonas, -presenciou o assassinato <strong>de</strong> um agente da Interpol.<br />

-Não lhes vi tão claramente. Até com a lua cheia, estava a uma boa<br />

distância, Jonas, -assinalou Abigail . -Se acreditarem que os posso i<strong>de</strong>ntificar, não<br />

posso, assim estão sendo mais que ridículos arriscando-se a expor-se para me<br />

silenciar. Bem, a menos que me topasse com um <strong>de</strong>les, <strong>de</strong> frente, na rua. Ouvi o<br />

nome Chernyshev e já <strong>de</strong>clarei por escrito tudo ao dar o relatório.<br />

-Então os viu. -Jonas voltou para o ataque com isso.<br />

Abigail <strong>de</strong>u <strong>de</strong> ombros.<br />

-Eles não têm que sabê-lo.<br />

-Sobre o homem <strong>de</strong> que estava falando Aleksan<strong>de</strong>r? -perguntou Joley. -<br />

Estava seguro <strong>de</strong> que o homem não estava envolvido mas... - calou-se quando<br />

Abigail negou com a cabeça.<br />

-Que homem? -perguntou Jonas. Quando nem Joley nem Abbey<br />

respon<strong>de</strong>ram olhou fixamente a Abigail. -Não sou ninguém para dizer o que<br />

fazer…<br />

Um coro <strong>de</strong> risadas afogadas apagou o resto <strong>de</strong> sua advertência.<br />

-Jonas, - disse Kate, -Você sempre nos diz o que temos que fazer.<br />

-É tão mandão que resulta incrível - contribuiu Hannah. - É um ditador.<br />

-Não po<strong>de</strong> abrir a boca sem nos proporcionar um <strong>de</strong>creto viril, -disse Joley.<br />

-Aceita-o, Jonas. Nem sequer você po<strong>de</strong> dizê-lo com cara séria.<br />

-Só lhes aconselho quando claramente o necessitam - <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u-se ele com<br />

um pálido sorriso. - Eu não posso evitar que isso seja todo o tempo. Se não


68<br />

estivessem todo o tempo em alguma classe <strong>de</strong> problema, não teria que lhes dar<br />

sermões.<br />

-Realmente podia haver <strong>de</strong>tido vários anos atrás, -disse Joley. -Os<br />

aprendidos <strong>de</strong> cor. Só nos dê uma indicação <strong>de</strong> qual <strong>de</strong>les é e lhe recitaremos.<br />

Meu favorito em particular é no que nos diz que não temos bom senso.<br />

-Há, há,há são todas tão divertidas!<br />

-Jonas, querido, sente-se - disse Carol. - Está me pondo nervosa com todas<br />

essas posturas. Começou a dar or<strong>de</strong>ns às garotas quando tinha <strong>de</strong>z anos e não<br />

parou <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então. Não prestam atenção... verda<strong>de</strong>, garotas? -Sorriu a suas<br />

sobrinhas enquanto colocava uma ban<strong>de</strong>ja carregada <strong>de</strong> sanduíches na pequena<br />

mesa diante <strong>de</strong>las. - Comam. Há muitos para você também, Jonas.<br />

-Aleksan<strong>de</strong>r Volstov é um homem muito perigoso. Nem sequer posso<br />

começar a dizer para você quão perigoso é, Abbey. - Toda a brinca<strong>de</strong>ira tinha<br />

<strong>de</strong>saparecido da voz <strong>de</strong> Jonas, lhe <strong>de</strong>ixando mortalmente sério. -Sei que se<br />

chama a si mesmo agente da Interpol e comprovei seus créditos, mas lhe posso<br />

dizer isso, não começou por esse caminho. - Jonas aproximou uma ca<strong>de</strong>ira a<br />

Abigail, tratando <strong>de</strong> ler sua expressão. -Conhece-me, carinho. Sabe on<strong>de</strong> estive.<br />

Fui Ranger no exército. Estou dizendo isso, posso vê-lo nele. Há poucos homens<br />

em minha vida que me tenham assustado, mas este homem é um <strong>de</strong>les.<br />

Abigail retorceu os <strong>de</strong>dos enquanto percorria a sala com o olhar para suas<br />

irmãs. Pareciam alarmadas, tal como ela sabia que ficariam. Jonas po<strong>de</strong>ria ser<br />

muito mandão, mas ele dizia a verda<strong>de</strong> e podia ser perigoso quando queria. Se<br />

ele dizia que Aleksan<strong>de</strong>r era um perigo para Abbey, suas irmãs brigariam com<br />

tudo o que tinham, incluindo a magia, para mantê-la a salvo.<br />

Foi Sarah quem perguntou<br />

-Por que diz isso, Jonas?<br />

-Está em seus olhos. A forma em que ele se comporta. - Jonas manteve seu<br />

olhar fixo na Abigail. - A outra noite quando fui a você, com ele erguido sobre<br />

você e eu tinha a arma lhe apontando, teve medo <strong>de</strong> que me matasse, verda<strong>de</strong>?<br />

-Sim, - respon<strong>de</strong>u ela muito baixinho. -Ele <strong>de</strong>sfrutou que um treinamento<br />

extenso.<br />

- O que está fazendo na realida<strong>de</strong> aqui, Abbey?<br />

-Não sabia que estava aqui até que lhe vi no porto. Não tenho idéia <strong>de</strong><br />

quanto tempo leva aqui tampouco. Sei menos que você. - Tentou manter sua voz<br />

inexpressiva.<br />

Jonas lhe apanhou o queixo em sua mão, inclinando o rosto para cima,<br />

estudando as suaves curvas.<br />

-Ele pôs este pequeno círculo nítido entre seus olhos, certo? Empurrou essa<br />

pistola contra você o suficientemente forte para fazer um machucado e teria<br />

apertado o gatilho se tivesse sido qualquer outra pessoa.<br />

-Não posso dizer o que teria feito, -protestou Abbey, tirando o rosto <strong>de</strong><br />

entre suas mãos - e isto é uma mancha. Acreditou que eu tinha matado a seu<br />

companheiro. Você também estava bastante aborrecido essa noite. Todos<br />

estávamos.<br />

-Deveria havê-lo visto examinando o escarpado - disse-lhe Jonas. -Sabia<br />

exatamente que procurar. Viu algo que eu não vi. Retornei três vezes para tentar<br />

averiguar o que viu que passou por nós. Era como um maldito bruxo.


69<br />

Havia <strong>de</strong>sgosto consigo mesmo misturado com relutante admiração em sua<br />

voz.<br />

-É um bom <strong>de</strong>tetive. Por que não po<strong>de</strong>m trabalhar juntos?<br />

-Porque ele não está trabalhando comigo. Ele "teve a cortesia" <strong>de</strong> me<br />

contar que estava na zona. Somente disse que tinha a um homem infiltrado e só<br />

me <strong>de</strong>u uma breve informação <strong>de</strong> quem ia atrás.<br />

Abigail sacudiu a cabeça.<br />

-Eu não sei muito mais que você.<br />

-Sei que há algo entre vocês, Abbey. Realmente não quero colocar o nariz<br />

on<strong>de</strong> não me chamam, mas não posso, minha consciência não me permite <strong>de</strong>ixálo<br />

correr. Ele é da Rússia. O mundo ali é muito diferente ao nosso. Suponho, pela<br />

forma em que se move e a forma em que atua, que está treinado em algo um<br />

pouco mais letal que o trabalho <strong>de</strong> polícia. Seu expediente, se a gente tratar <strong>de</strong><br />

investigá-lo, é um mistério enorme. É certo que ele é um agente <strong>de</strong> inteligência<br />

operativo e eu não gosto <strong>de</strong>ssa idéia absolutamente.<br />

-Está sendo melodramático e está fazendo que soe que é um espião. É um<br />

oficial <strong>de</strong> polícia, não muito diferente <strong>de</strong> você, e se fez indagações sobre ele sabe<br />

que é legítimo. -Abigail não tinha nem idéia <strong>de</strong> por que não podia <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r ao Aleksan<strong>de</strong>r, mas as palavras resmungavam <strong>de</strong> sua boca apesar <strong>de</strong><br />

ter toda a intenção <strong>de</strong> guardar silêncio. – Conheço você, Jonas. Se não<br />

acreditasse que é da Interpol, estaria em cárcere ou extraditado do país. Tem<br />

muitos amigos.<br />

-Ele tem mais. Seja o que seja, tem a um montão <strong>de</strong> gente importante<br />

<strong>de</strong>trás <strong>de</strong>le. As coisas funcionam <strong>de</strong> forma diferente em outros países. Antes que<br />

se zangue... -sustentou a mão em alto- Sei que viajou muito, mas há lugares<br />

on<strong>de</strong> a polícia simplesmente dispara ao suspeito antes <strong>de</strong> tentar lhe levar ante<br />

um juiz. E há um montão <strong>de</strong> coisas piores. Vi a homens como Volstov e ele não é<br />

só um policial.<br />

-Aqui ocorre o mesmo - apontou Abigail. -Mas entendo o que está dizendo e<br />

prometo que tomarei cuidado.<br />

-Abbey, eu não acredito que entenda o que estou dizendo. - Jonas se<br />

recostou e passou a mão pelos cabelos, <strong>de</strong>ixando clara sua agitação. - Os homens<br />

como Aleksan<strong>de</strong>r Volstov po<strong>de</strong>m estar no mesmo quarto com você e nem sequer<br />

saber que estão ali. Po<strong>de</strong>m mover-se rápido e se piscar passa pela calçada em<br />

frente cai morto antes que seu corpo sequer golpeie o chão. Desaparecem<br />

simplesmente e ninguém é capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>screvê-los. Esse é o mundo em que vive e<br />

está cômodo nele e sem dúvida alguma, matará para protegê-lo. Po<strong>de</strong>ria resultar<br />

ferida.<br />

Abigail evitou lhe olhar aos olhos.<br />

-Isso sei, Jonas.<br />

-O que é ele para você? Como implicada está nesta relação e po<strong>de</strong><br />

retroce<strong>de</strong>r nela? - Jonas se inclinou mais perto. -Não é só por você por quem me<br />

preocupo. Estas pessoas jogam sucintamente. Seu sócio foi assassinado. Em<br />

certa forma não penso que ele vá tomar isso com muita tranqüilida<strong>de</strong>. Esta marca<br />

entre seus olhos me diz isso. Conte-me o que sabe <strong>de</strong>le.<br />

Abigail quis negar qualquer relação. Não a tinham. Não a teriam outra vez.


70<br />

-Só sei que era polícia na Rússia e que diz que trabalha para a Interpol.<br />

Isso é tudo o que sei.<br />

-Maldição, Abbey!<br />

-Jonas Harrington! Vigia sua boca nesta casa - admoestou-lhe Carol. - Não<br />

quero que pressione Abigail. Não <strong>de</strong>ixarei embora seja o xerife.<br />

-Cuidado, tia Carol, ameaçará pren<strong>de</strong>r você. - disse Hannah. - A mim<br />

sempre está ameaçando.<br />

-Com razão. -disse Jonas. Inclinou-se e beijou a bochecha <strong>de</strong> Carol. - Você<br />

nunca pren<strong>de</strong>ria.<br />

-Vai nos contar o que acontece em Sea Haven? -perguntou Kate. -Tem algo<br />

que ver com o velho moinho?<br />

-Sim, nos conte o que acontece, Jonas- disse Joley. -Se for ter que estar<br />

olhando sobre os ombros bem po<strong>de</strong>mos saber o que é isso tudo.<br />

Jonas suspirou.<br />

-Oxalá soubesse o que lhes dizer. Vários meses atrás, Gene Dockins e seu<br />

filho menor, Jeremy, acreditaram ver um dos navios pesqueiros locais citando-se<br />

com um cargueiro em alta mar. Suspeitaram algo e falaram comigo a respeito<br />

disso e eu o notifiquei a guarda - costeira. Gene nunca me disse outra palavra<br />

sobre o inci<strong>de</strong>nte e, para ser honesto, como com tudo o que sobe e <strong>de</strong>sce por<br />

costa não lhe <strong>de</strong>i mais importância. Logo faz um mês e pouco mais ou menos,<br />

Jeff Dockins...<br />

-Gerencia o posto <strong>de</strong> gasolina local, tia Carol - explicou Sarah. -É o filho<br />

mais velho <strong>de</strong> Gene, lembra <strong>de</strong>le?<br />

-É obvio que o recordo querida - disse Carol- É muito bonito.<br />

-Tia Carol! - Protestaram as sete irmãs.<br />

Carol estalou em gargalhadas e sua mão cavou seus cabelos.<br />

-Não sou tão jovem como estava acostumada a ser, garotas. Adulam-me. A<br />

minha ida<strong>de</strong> dificilmente vou causar outro escândalo em Sea Haven.<br />

-Você nunca causa escândalos, Tia Carol! - Hannah lhe soprou um beijo - só<br />

remove as coisas um pouco, o que está bem <strong>de</strong> vez em quando.<br />

-Certamente não vou ganhar nenhum concurso <strong>de</strong> beleza - disse Carol, -<br />

mas tenho intenção <strong>de</strong> renovar minha amiza<strong>de</strong> com uns pouco velhos amigos.<br />

Jonas limpou o suor <strong>de</strong> sua testa, não gostava <strong>de</strong> suar tanto. As mulheres<br />

Drake podiam fazer isso a qualquer homem. Tudo o que precisava era o problema<br />

adicional <strong>de</strong> Carol e suas poções <strong>de</strong> amor. O rumor era que tinha havido mais <strong>de</strong><br />

um escândalo e um bom número <strong>de</strong> brigas por ela. De fato, Inez, proprietária da<br />

loja <strong>de</strong> comestíveis, adorava contar como dois paroquianos romperam uma porta<br />

e três janelas em um baile em uma rixa pela Carol. Havia muitas <strong>de</strong>ssas histórias<br />

e Jonas as tinha ouvido, e acreditado, em todas elas.<br />

-Nunca me aproximou <strong>de</strong> homens casados - disse Carol. -Po<strong>de</strong> ser fatal. O<br />

teria sido para qualquer mulher que viesse atrás do meu Jefferson.<br />

-Então não conheceste Sylvia Fredrickson. -disse Joley.<br />

-Estava na classe <strong>de</strong> Abbey e inclusive quando adolescente, ia atrás dos<br />

professores casados. Sua meta parece ser romper cada matrimônio <strong>de</strong> Sea<br />

Haven.<br />

-Agora não mais. - disse Hannah com ar satisfeito.<br />

Jonas lhe disparou um olhar repressivo.


71<br />

-Teve algo que ver com esse prurido que segue aparecendo em seu rosto?<br />

-Quer dizer o da forma <strong>de</strong> uma bofetada que aparece cada vez que paquera<br />

com um homem casado? Por que crê que eu teria algo que ver com isso?-<br />

Hannah examinou suas unhas.<br />

-Não posso esperar a me reencontrar <strong>de</strong> novo com Frank Warner, -disse<br />

Carol. -Era tão doce e me enviou um convite ao recolhimento <strong>de</strong> recursos <strong>de</strong> sua<br />

galeria na próxima terça-feira. Realmente estou <strong>de</strong>sejando lhe ver. Jantamos<br />

imediatamente <strong>de</strong>pois que meu marido morreu e estava muito interessado, mas<br />

eu não estava pronta para nova relação. Adoro aos artistas. São tão engenhosos.<br />

Jonas enterrou o rosto entre as mãos.<br />

-On<strong>de</strong> diabos estão Matt e Damon? Necessito <strong>de</strong> alguns homens nesta<br />

família. Afogo-me aqui.<br />

-Matt está trabalhando e Damon teve alguma maravilhosa idéia que tinha<br />

que compartilhar com seus antigos chefes. Algo sobre um sistema <strong>de</strong> segurança<br />

do satélite. - Sarah <strong>de</strong>u <strong>de</strong> ombros. -Saiu na meta<strong>de</strong> da noite para São Francisco.<br />

Um helicóptero o recolheu e o levou a alguma localização sem revelar para uma<br />

reunião.<br />

-Acreditava que estava completamente retirado <strong>de</strong>sse trabalho - disse Kate,<br />

inclinando-se para diante, preocupada. -Estava tão cheio <strong>de</strong> cicatrizes quando<br />

veio aqui, <strong>de</strong> ambos os tipos físicas e mentais. Estão lhe pressionando para que<br />

volte para trabalho?<br />

Sarah negou com a cabeça.<br />

-Seu cérebro simplesmente trabalha em coisas. Não po<strong>de</strong> evitá-lo. Conhece<br />

os sistemas <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa por <strong>de</strong>ntro e por fora e quando averigua coisas que os<br />

fazem melhores, não po<strong>de</strong> evitar aperfeiçoar as idéias e querer compartilhar.<br />

-Basicamente, Damon voltou para tanque <strong>de</strong> cérebros do Departamento <strong>de</strong><br />

Defesa - disse Kate.<br />

-Quanto tempo estará fora?- perguntou Libby. -Estamos em meio do<br />

planejamento <strong>de</strong> suas bodas.<br />

Sarah riu.<br />

-Ele po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senhar um sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa, mas se lhe pergunta sobre bolos<br />

<strong>de</strong> bodas fica em branco.<br />

-Matt é justo o contrário - disse Kate. -Quer controlar todo o<br />

acontecimento. Acredito que é o arquiteto nele.<br />

-É porque é um Granitte e além disso mandão -disse Hannah e fulminou<br />

Jonas com o olhar.<br />

Ele levantou ambas as mãos em sinal <strong>de</strong> protesto.<br />

-Eu não sou um Granite.<br />

-Po<strong>de</strong>ria sê-lo - disse ela.<br />

Jonas comeu dois dos sanduíches e os regou com chá.<br />

-Antes que ponha seu olhar no Frank Warner, Tia Carol, Aleksan<strong>de</strong>r Volstov<br />

está investigando o roubo <strong>de</strong> objetos roubados da Rússia. Warner possui uma<br />

florescente galeria e é colecionador <strong>de</strong> objetos <strong>de</strong> arte. Vi parte <strong>de</strong> sua coleção e<br />

é assombrosa. Também navega no Bay Area todo o tempo e é o co-proprietário<br />

do navio <strong>de</strong> pesca que Gene viu aproximar-se do cargueiro. E sei que guardará<br />

confi<strong>de</strong>ncialmente esta informação - Enquanto falava, seu olhar estava em<br />

Abigail.


72<br />

-Oh, tolices - disse Carol. - Frank Warner não tem necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> traficar<br />

objetos roubados e foi parte <strong>de</strong>sta comunida<strong>de</strong> há anos. - Tamborilou com as<br />

unhas sobre a mesa <strong>de</strong> café e <strong>de</strong>u um suspiro exagerado. -De acordo então,<br />

trabalharei encoberta para você. É óbvio necessita que o faça, embora eu não<br />

goste <strong>de</strong> espiar a meus amigos. Mas é da família, Jonas e se necessitar que<br />

consiga informação sobre ele, tenho minhas pequenas fórmulas e por causa <strong>de</strong><br />

meu aspecto, os homens ten<strong>de</strong>m a subestimar minha inteligência.<br />

-O que você está propondo? - acusou Jonas - Absolutamente não, Tia Carol.<br />

O proíbo. Sarah, fala com ela e faça-a enten<strong>de</strong>r que isto é muito perigoso e já há<br />

uma investigação em curso. Po<strong>de</strong>ria arruinar as coisas ou resultar ferida,<br />

nenhuma das duas coisas é aceitável. Confiei essa informação para que lhe evite,<br />

não para que se comporte como uma vampiresca.<br />

-Mas tenho talento para este trabalho - protestou Carol. -Todo mundo está<br />

acostumado a ver me tirar fotos e posso lhe oferecer ajuda com seu velho álbum.<br />

Iniciou um a última vez que estive aqui. Naturalmente lhe trarei mais material<br />

Não seria bom ter imagens <strong>de</strong> seus objetos para compará-los com os roubados? -<br />

Ela alargou seu sorriso. - Uma assessora do Creative Memories convertida em<br />

espiã. Po<strong>de</strong>rei publicar minhas experiências. Estou muito entusiasmada te<br />

ajudando, Jonas.<br />

-Eu disse que não! E o digo a sério - disse Jonas. Percorreu a sala com o<br />

olhar para todas as Drake. - Já po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> sorrir todas. Se algo ocorresse a<br />

Carol não ririam. Abigail permanece longe <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r Volstov. E se recordar<br />

qualquer outra coisa sobre sua <strong>de</strong>claração me chame imediatamente e me dê a<br />

informação. E Tia Carol, você permanecerá longe <strong>de</strong> Frank Warner. - ficou em pé<br />

e jogou os cabelos para trás com a mão. Havia suor em sua testa. -Todas vocês<br />

estão me fazendo ficar louco.<br />

A boca <strong>de</strong> Hannah se retorceu atrás <strong>de</strong> sua mão e seus olhos dançaram<br />

quando Jonas partiu a pernadas da casa, fechando a porta com um ressonante<br />

estrondo.<br />

-Estou tão contente que tenha vindo, Tia Carol. Esta é a primeira vez que<br />

lhe vi nervoso.<br />

Carol lhe sorriu abertamente.<br />

-Suponho que não foi muito amável por minha parte, mas não pu<strong>de</strong> resistir.<br />

-Acariciou o joelho <strong>de</strong> Abigail. – Incomodou você, verda<strong>de</strong>?<br />

Abigail negou com a cabeça.<br />

-Jonas sempre está cuidando <strong>de</strong> nós. Sei que tem boas intenções. Não é<br />

culpa <strong>de</strong>le que sejamos tantas e sempre estejamos metidas em algum problema.<br />

Hannah soltou um bufido zombador e muito pouco elegante. Retirou sua<br />

massa <strong>de</strong> cabelos loiros e pôs os olhos em branco.<br />

-Não lhe compa<strong>de</strong>ça. Você não o escutou vociferar e <strong>de</strong>sfazer-se em<br />

louvores sobre seu russo antes que <strong>de</strong>scesse. E falando <strong>de</strong> seu russo, Abbey,<br />

conta-nos tudo. Está ou não comprometida com ele e on<strong>de</strong> lhe conheceu?<br />

-Faz quanto tempo que o conhece?- perguntou Kate.<br />

-É verda<strong>de</strong> algo que há dito Jonas <strong>de</strong>le?- quis saber Sarah.<br />

-Provavelmente tudo o que disse Jonas sobre o Aleksan<strong>de</strong>r é certo, mas<br />

honestamente não sei. Quando lhe conheci, faz quatro anos, era <strong>de</strong>tetive. Eu<br />

estava fazendo turismo e ele estava em pé em uma esquina. Foi… - Abigail fez


73<br />

uma pausa, procurando a palavra correta. -Incrível. Impressionante. Olhei seus<br />

ombros primeiro e logo seus olhos. Tinha que conseguir sua foto. -Intercambiou<br />

um pequeno sorriso com sua tia.<br />

-Certamente, querida - disse Carol, agradada.<br />

O sorriso <strong>de</strong> Abigail se ampliou ao recordar.<br />

-Tratei <strong>de</strong> fazê-lo sem que me visse, porque me pareceu uma tolice fazer<br />

uma foto <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sconhecido e o estava fazendo porque realmente estava<br />

bonito. É obvio ele o notou e não lhe emocionou muito que lhe estivesse fazendo<br />

uma fotografia. - Esfregou uma bolinha imaginária <strong>de</strong> suas estreitas calças. -<br />

Moscou é um mundo tão incrivelmente velho. Os edifícios, as ruas … até com a<br />

aparência mais mo<strong>de</strong>rna, simplesmente é tão formoso e ele parecia tão parte<br />

<strong>de</strong>sse mundo. Como um antiquado conto <strong>de</strong> fadas. Ele estava realmente em pé<br />

fora das portas do Kremlin e parecia um príncipe diante <strong>de</strong> um palácio.<br />

-Está se ruborizando - observou Joley, inclinando-se para frente. -Esse <strong>de</strong>ve<br />

ter sido algum primeiro encontro.<br />

-Nunca tinha conhecido a ninguém como ele. Sorriu-me quando chegou e<br />

tudo o que eu podia pensar era que <strong>de</strong>via ser ilegal ter seu sorriso. Nem sequer<br />

notei quando tomou a câmara <strong>de</strong> minha mão. Ele era <strong>de</strong>slumbrante.<br />

Sarah intercambiou um largo olhar com Kate.<br />

-Parece que se apaixonou por ele, Abbey - aventurou ela amavelmente.<br />

Abigail piscou e se recostou em sua ca<strong>de</strong>ira.<br />

-Quem não teria se apaixonado por ele? Ele era encantador, bonito e tudo o<br />

que um homem <strong>de</strong>veria ser.<br />

Joley se apoiou em sua irmã, recostando a cabeça sobre seu ombro.<br />

-Por que nenhuma vez nos falou do Aleksan<strong>de</strong>r? - Ela teve muito cuidado<br />

com seu tom, não querendo fazer que Abigail se sentisse culpada e não querendo<br />

consentir um “empurrão” <strong>de</strong> magia em sua voz.<br />

Abigail tragou o súbito nó em sua garganta.<br />

-Não podia. Doía muito. Sinto tudo isto, Joley. Sei que algo que <strong>de</strong>ixa você<br />

louca são os espaços fechados. Não tinha nem idéia do que ocorreria ao fazer<br />

você entrar em uma caverna submarina. Eu nunca, nunca colocaria você<br />

voluntariamente em perigo.<br />

Joley <strong>de</strong>u <strong>de</strong> ombros.<br />

-Sinceramente, não é para tanto. Em realida<strong>de</strong> estou bastante orgulhosa <strong>de</strong><br />

mim mesma por controlar meu medo o suficiente para atravessar a rocha e<br />

chegar ao moinho. Adoro os <strong>de</strong>safios e este foi muito refrescante. Consegui ver<br />

você com esse golfinho. Foi estupendo, Abbey, que ficasse a sua altura e<br />

confiasse em você para ajudá-lo. Foi assombroso. - Sorriu a sua irmã. - Mas isso<br />

ainda não explica Aleksan<strong>de</strong>r.<br />

Abigail esten<strong>de</strong>u as mãos em um gesto <strong>de</strong> confusão.<br />

-Não há forma <strong>de</strong> explicar Aleksan<strong>de</strong>r. Nem sequer posso lhes contar como<br />

foi. Ofereceu-se a me mostrar o lugar e passeamos pelo Plaza Vermelho e<br />

visitamos a Catedral do Vasily. Todo o tempo me falava da história dos edifícios.<br />

Sua voz, seu acento, tudo isso simplesmente acrescentou minha atração por ele.<br />

Sabia muito a respeito <strong>de</strong> tudo e me falava com tanto orgulho. Amava a seu país<br />

tanto como eu amava ao meu. Fez-me sentir a mulher mais bela e importante do<br />

mundo. Ríamos muito juntos e ele me segurava pela mão. Isso soa tão juvenil,


74<br />

mas sabem que na realida<strong>de</strong> nunca tinha tido um encontro antes. Estava sempre<br />

tão concentrada em minha carreira e lá estava eu, passeando por essa incrível<br />

cida<strong>de</strong> com um homem bonito e atento. Queria permanecer em sua companhia<br />

para sempre.<br />

-Meu Jefferson me fazia sentir assim - disse Carol. -É obvio que queria estar<br />

com ele.<br />

-Passamos o dia juntos e logo ficamos acordados toda a noite falando. Era<br />

como se sempre tivéssemos <strong>de</strong> que falar. Adorava o som <strong>de</strong> sua voz. Seu sorriso,<br />

a forma em que seus olhos se iluminavam quando me olhava. - Abigail piscou<br />

para conter as lágrimas. - Nem em um milhão <strong>de</strong> anos pensei que alguma vez me<br />

sentiria assim com alguém. Ele não sabia absolutamente nada <strong>de</strong> mim. Não sabia<br />

que era uma Drake. Que tinha magia, que tinha irmãs formosas e com talento.<br />

Ele me viu. Abigail. E era suficiente.<br />

Fez silêncio na sala. Abigail sabia que suas irmãs eram empáticas e podiam<br />

sentir a punhalada repentina <strong>de</strong> dor que a atravessava. Libby cruzou os braços<br />

sobre seu estômago e Elle se curvou em uma pequena bola.<br />

-Tem que nos contar Abbey - pressionou Sarah. - Que bem faz guardar isso<br />

para você mesma? Todas sabemos que é infeliz. Não po<strong>de</strong> estar perto <strong>de</strong> nós e<br />

não fazer nos sentir isso.<br />

Abigail sacudiu a cabeça.<br />

-Fiz algo tão estúpido. Tão equivocado. Não sei como lhes contar isso<br />

Utilizei meu dom <strong>de</strong> um modo que não <strong>de</strong>veria ter feito e um homem morreu. Ele<br />

não merecia morrer, mas o fez. Sempre soube que não podia controlar o que me<br />

tinha sido entregue. Sempre foi mais do que podia dirigir. Na escola as crianças<br />

se ressentiam por isso. Os adolescentes se metiam em problemas e inclusive no<br />

Natal passado olhem o que ocorreu. Sabia que era melhor não usá-lo, mas queria<br />

lhe agradar. Quis me luzir a seus olhos. - cobriu-se o rosto com as mãos.<br />

Carol colocou seu braço ao redor <strong>de</strong> Abigail.<br />

-Não é a primeira Drake que se sente afligida pelo que temos. É uma<br />

terrível responsabilida<strong>de</strong>. Tem lido a profecia? Tem lido realmente? Acredito que<br />

cada uma <strong>de</strong> vocês <strong>de</strong>veria fazê-lo, garotas. Foi escrita faz várias centenas <strong>de</strong><br />

anos e nela há <strong>de</strong> uma vez uma advertência e uma predição.<br />

Hannah on<strong>de</strong>ou as mãos e as velas saltaram à vida com o passar do<br />

primeiro piso, titilando e dançando. Aromas sopraram través da casa, mesclandose<br />

para proporcionar uma biografia <strong>de</strong> paz. Na cozinha o bule assobiou<br />

alegremente. Hannah se levantou <strong>de</strong> um salto, seu corpo alto e elegante<br />

encapsulado em uns jeans azuis e uma camisa branca <strong>de</strong> seda muito gran<strong>de</strong>.<br />

-Farei uma xícara <strong>de</strong> chá, Abbey, algo tranqüilizador.<br />

-Obrigada, Hannah - respon<strong>de</strong>u Abigail, sorrindo. Junto com Libby, Hannah<br />

e Elle eram as mais empáticas das irmãs.<br />

-Acredito que todas evitamos ler a profecia muito atentamente quando<br />

pactuamos permanecer solteiras - esclareceu Sarah. - Eu tinha quinze anos nesse<br />

momento e pensamos que nos casar significava estar sob o polegar <strong>de</strong> um<br />

homem. Observávamos todas nossas amigas na escola voltar-se tolas, rir<br />

nervosamente e basicamente atuar como idiotas e nenhuma <strong>de</strong> nós queria ser<br />

assim por isso juramos renunciar às relações.


75<br />

-Não só estar sob seu polegar. - esclareceu Kate - mas também nos<br />

converter em parvas. Sentíamos que nossas amigas estavam mudando e que<br />

acreditavam que queríamos um menino como elas. E nós crescemos com os<br />

moços... simplesmente não nos pareciam tão atrativos como noivos.<br />

Carol mexeu no cabelo e piscou para Abigail.<br />

-Deveria haver tomado-as sob minha asa garotas faz muito tempo. Ser uma<br />

mulher é francamente divertido e paquerar é a meta<strong>de</strong> da diversão. E isso não<br />

lhes <strong>de</strong>veria ter impedido <strong>de</strong> estudar a profecia. Tenho umas poucas coisas a<br />

dizer a sua mãe quando a vir.<br />

-Lemos a parte sobre a gra<strong>de</strong> que se abre em bem-vinda ao nosso<br />

verda<strong>de</strong>iro amor, assim pusemos um ca<strong>de</strong>ado à gra<strong>de</strong> e guardamos a profecia<br />

com os jornais. - confessou Kate. -Não dissemos nenhuma só palavra a mamãe<br />

sobre nosso pacto. Ela nos empurrava a apren<strong>de</strong>r a língua <strong>de</strong> alguns jornais e era<br />

muito aborrecido.<br />

-Naquele momento. - qualificou Sarah. -Após, apren<strong>de</strong>mos algumas duras<br />

lições sobre por que <strong>de</strong>veríamos havê-la escutado.<br />

Hannah retornou com a xícara <strong>de</strong> chá.<br />

-Isso ajudará você, Abbey. Dediquei-me a combinar algumas ervas e<br />

acredito que realmente relaxa e ajuda a aliviar a ansieda<strong>de</strong> e a tensão - Ela<br />

colocou a xícara nas mãos <strong>de</strong> Abigail.<br />

Abigail forçou um sorriso apenas perceptível enquanto contemplava sua<br />

irmã. Se houvesse favoritos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma família, Hannah seria a <strong>de</strong> todo o<br />

mundo. Abigail se sentia mais unida a ela e estava quase segura <strong>de</strong> que suas<br />

outras irmãs sentiam o mesmo. Não era que Hannah fosse uma Santa, não;<br />

Hannah tinha uma parte travessa muito <strong>de</strong>finida, mas era muito pormenorizada e<br />

compassiva. Seu doloroso acanhamento fazia necessário que todas elas<br />

estivessem conectadas para proporcionar a Hannah liberda<strong>de</strong> em uma carreira.<br />

Ninguém tinha pensado quando fez seu primeiro trabalho <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo que<br />

ela chegaria ao mais alto e teria tanto êxito, mas estavam todos orgulhos <strong>de</strong>la,<br />

especialmente sabendo o que requeria a Hannah aparecer em público.<br />

-Obrigado, Hannah, inclusive seu aroma é consolador.<br />

Carol olhou seu relógio <strong>de</strong> pulso com um pequeno cenho.<br />

-Vou ter que cancelar minha reunião para que possamos terminar esta<br />

conversa.<br />

-Que reunião? -perguntou Sarah com curiosida<strong>de</strong>. Carol não estava a nem<br />

um dia em Sea Haven.<br />

-Pertenço à Re<strong>de</strong> Hat Clube, querida, e vamos ter um pouquinho <strong>de</strong><br />

diversão hoje. Alegrei-me muito <strong>de</strong> saber que tinham uma se<strong>de</strong> aqui em Sea<br />

Haven. Dará a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> restabelecer velhas amiza<strong>de</strong>s. Quero chegar a<br />

conhecer todas as senhoras da cida<strong>de</strong> outra vez. Po<strong>de</strong>mos pôr nossos chapéus<br />

vermelhos e nossas camisas púrpuras e caminhar <strong>de</strong>scalças pela praia. Inez<br />

Nelson está muito envolta e esperançada e espero que possa nos passar<br />

informação sobre o estado <strong>de</strong> Gene. Não ouvi nada ainda.<br />

Sarah inclinou a cabeça.<br />

-Inez é sempre uma maravilhosa fonte <strong>de</strong> informação. Preocupa-se com<br />

Sea Haven e é muito ativa no mundo dos negócios assim como também com<br />

todos os programas <strong>de</strong> teatro e baile. Esteve aqui faz uns dias para conseguir


76<br />

consentimento para utilizar os nomes <strong>de</strong> Kate, Joley, e Hannah para a crítica<br />

sobre o gran<strong>de</strong> acontecimento <strong>de</strong> Frank Warner. Se Frank o tivesse pedido, Inez<br />

sabia que teriam rechaçado o convite para assistir.<br />

-Se converterá no típico show. -disse Hannah, fazendo uma careta. -Não<br />

será muito mau se Kate e Joley estão ali.<br />

-Especialmente Joley - Kate lançou um rápido sorriso a sua irmã. -Parece<br />

ser um enorme centro <strong>de</strong> atenção. Acredito que as pessoas querem saber se os<br />

tablói<strong>de</strong>s têm publicado com veracida<strong>de</strong> todas suas proezas.<br />

Joley riu.<br />

-Aw, seria ótimo ter a vida excitante que <strong>de</strong>screvem os periódicos.<br />

-Teríamos que repudiar você - disse Sarah.<br />

Abigail pressionou o peito com a mão. Sarah não tinha tido intenção <strong>de</strong><br />

machucá-la. Era impossível que soubesse quão profundo cortariam essas palavras<br />

brincalhonas.<br />

-Abbey. -Sarah se levantou instantaneamente e se ajoelhou ante sua irmã,<br />

ro<strong>de</strong>ando-a com o braço.<br />

-Sem importar o que acontecer, é nossa irmã, amada e apreciada sempre.<br />

Abigail sacudiu a cabeça. Como lhe tinham falhado os dons passados <strong>de</strong><br />

irmã a irmã através dos séculos e <strong>de</strong> gerações? Nem uma vez tinha escutado<br />

histórias <strong>de</strong> magia falhando. De uma das irmãs tão imperfeita que causasse a<br />

morte <strong>de</strong> um homem inocente.<br />

Sarah era muito boa em tudo o que fazia. Kate era mágica, proporcionando<br />

paz interior aos que a necessitavam e mostrando gran<strong>de</strong> coragem quando os<br />

elementos estavam fora <strong>de</strong> controle. Libby salvava vidas uma e outra vez. O dom<br />

da Hannah era po<strong>de</strong>roso e ela entregava a si mesma sem reservas para suas<br />

irmãs. Joley teve a voz <strong>de</strong> uma cantante feiticeira e podia utilizar seu dom para o<br />

bem. Elle era a mais po<strong>de</strong>rosa, continha todos os dons em seu interior, embora<br />

fosse humil<strong>de</strong> e sensata e sempre disposta a ajudar. Só o dom <strong>de</strong> Abigail era<br />

<strong>de</strong>feituoso, incapaz <strong>de</strong> esgrimir o po<strong>de</strong>r da verda<strong>de</strong>. Incapaz <strong>de</strong> utilizar a voz que<br />

lhe tinha dado. Incapaz <strong>de</strong> pôr em manifesto a magia pura. Por causa <strong>de</strong> suas<br />

<strong>de</strong>bilida<strong>de</strong>s, seu dom era retorcido, incontrolável e causava estragos aos que a<br />

ro<strong>de</strong>avam.


77<br />

Capítulo – 7<br />

-Abigail - A voz <strong>de</strong> Carol foi muito gentil. -Não po<strong>de</strong> continuar assim. Se<br />

não confiar em sua família para te amar e te ajudar nos piores momentos <strong>de</strong> sua<br />

vida, nunca po<strong>de</strong>rá confiar em ninguém.<br />

-Não é questão <strong>de</strong> confiança, tia Carol. - explicou Abbey. - É só que se faz<br />

mais real se falar disso. Sempre me sinto tão à parte <strong>de</strong> tudo.<br />

-Abbey- disse Sarah. -a vida é para vivê-la. Se a viver, é certo que vai<br />

tropeçar com o passar do caminho.<br />

-Sempre?- Abigail saltou sobre seus pés e começou a passear. -Tenho mau<br />

gênio e quando era uma adolescente, não duvi<strong>de</strong>i em utilizar meu dom por<br />

vingança. Quem por um acaso aqui já o fez?<br />

Joley levantou lentamente a mão, <strong>de</strong>slizando-se para baixo na ca<strong>de</strong>ira<br />

enquanto o fazia. Hannah seguiu o exemplo, embora não parecia nem um pouco<br />

arrependida. Sarah <strong>de</strong>u <strong>de</strong> ombros e levantou a mão e olhou fixamente Elle,<br />

quem só sorriu envergonhada e levantou um par <strong>de</strong> <strong>de</strong>dos. Carol levantou a<br />

cabeça e agitou seu braço com entusiasmo.<br />

-Não! - Disse Abigail emocionada.<br />

-Não somos anjos- assinalou Sarah. -Especialmente Hannah e Joley. -<br />

Lançou a ambas um olhar severo.<br />

-Como ia <strong>de</strong>ixar que aquelas moças se metessem comigo ou com qualquer<br />

uma <strong>de</strong> vocês? -disse Hannah com um pequeno som <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhoso. -Uma vez<br />

Sylvia Fredrickson disse diretamente diante da Anita Monroe que podia ter a<br />

qualquer menino da cida<strong>de</strong>. Incluindo Jonas Harrington, por certo.<br />

-Jonas- Isso conseguiu a atenção <strong>de</strong> todas instantaneamente.<br />

Hannah assentiu, com as mãos nos quadris.<br />

-Realmente me <strong>de</strong>ixou louca a forma que estava falando <strong>de</strong>le. Ele estava na<br />

universida<strong>de</strong>, mas voltava para casa tão freqüentemente como era possível.<br />

Lembram-lhes <strong>de</strong> quando sua mãe esteve tão doente? Sylvia afirmou que ia a sua<br />

casa essa noite e meter-se às escondidas em seu dormitório pela janela.<br />

-O que fez, Hannah? -Perguntou Abigail, incapaz <strong>de</strong> conter-se.<br />

-Nada do outro mundo. Só aticei um pouco à fauna silvestre da zona. O<br />

pátio e particularmente o quarto <strong>de</strong> Jonas foram invadidos por todo tipo <strong>de</strong><br />

répteis. Ela tinha um grito muito escandaloso- acrescentou com satisfação. -Não<br />

que tenha aprendido a lição. E esse idiota do Jonas suspeitou que eu pu<strong>de</strong>sse<br />

havê-lo feito para me vingar por seus aborrecíveis comentários quando nos<br />

encontramos mais cedo aquele dia quando se referiu a mim como uma linda<br />

bonequinha Barbie.<br />

Kate e Libby intercambiaram um largo olhar.<br />

-Não acredito que isto seja muito justo. -disse Kate. -De fato estou<br />

ciumenta por não po<strong>de</strong>r utilizar meu talento para nada exceto para o bem. Houve<br />

algumas pessoas que não foram muito agradáveis comigo na escola e teria<br />

gostado <strong>de</strong> fazer algo.


78<br />

-Eu também. -esteve <strong>de</strong> acordo Libby. - O resto <strong>de</strong> vocês têm toda a<br />

diversão.<br />

-Não se preocupe. - disse Hannah. Ela, Joley, e Elle intercambiaram um<br />

largo e satisfeito sorriso. -Cuidávamos <strong>de</strong> você. Ninguém suspeitou nunca <strong>de</strong> suas<br />

irmãs mais novas.<br />

-E eu não acredito nem por um minuto que vocês duas nunca utilizaram<br />

seus dons ina<strong>de</strong>quadamente - disse Carol. -Hora <strong>de</strong> confessar.<br />

Kate sorriu amplamente.<br />

-Não estou a ponto <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r meu halo. Basta dizer que eu experimentei<br />

alguma vez.<br />

-Não posso acreditá-lo. - Abigail olhou Libby. Ela era a irmã do meio,<br />

dotada para curar. Sempre mantinha um aspecto sereno, inclusive em meio <strong>de</strong><br />

uma crise. Ela tinha uma espessa juba <strong>de</strong> cabelos curtos e negros e seus olhos<br />

eram <strong>de</strong> um ver<strong>de</strong> surpreen<strong>de</strong>nte, muito intenso o que lhe dava uma aparência<br />

<strong>de</strong> outro mundo. De todas as Drakes, era a ela que os meninos chamavam <strong>de</strong><br />

bruxa quando queriam ser cruéis. Abigail nunca a tinha visto reagir, embora <strong>de</strong><br />

vez em quando ela tivesse chorado em seu quarto e isso enviava a Hannah,<br />

Joley, e Elle a sussurrar na varanda do capitão. - Elizabeth Jane Drake. Você<br />

também? Juro-lhes que todas minhas ilusões estão sendo <strong>de</strong>stroçadas.<br />

-Não admito nada.<br />

A risada borbulhou em Abigail. Ao mesmo momento queria chorar. Em cada<br />

crise na família que ela pu<strong>de</strong>sse recordar, suas irmãs tinham unido seus esforços.<br />

Sua mãe e suas tias tinham feito sempre o mesmo, assim como seus tios e<br />

primos. Estava muito agra<strong>de</strong>cida pelo maravilhoso legado <strong>de</strong> <strong>de</strong>voção familiar que<br />

tinha herdado.<br />

-OH, querida. - disse Carol, justo quando Sarah se levantava e caminhava<br />

para a porta.<br />

Todas elas ouviram um golpe um minuto mais tar<strong>de</strong>. Abigail se congelou,<br />

com a mão na garganta, seu coração repentinamente começando a palpitar.<br />

-Relaxe querida. -disse Carol, -É só Inez e alguns outros membros da Re<strong>de</strong><br />

Hat Clube. Vieram me buscar, por que ao final não as chamei. - Acarinhou o<br />

ombro <strong>de</strong> sua sobrinha e se apressou em encontrar seu chapéu vermelho<br />

ornamentado. -Deixei a gra<strong>de</strong> aberta para meus amigos durante o dia.<br />

Várias senhoras entraram em torrentes na habitação, vestidas com calças<br />

ou saias soltas mas todas com brilhantes camisas púrpuras brilhantes e chapéus<br />

vermelhos em suas cabeças. Riram quando saudaram as garotas.<br />

-Carol estava ficando tar<strong>de</strong> e optamos por não <strong>de</strong>ixá-la perdê-la reunião. A<br />

levaremos a força conosco e não esperem que retorne cedo! É nosso dia livre e<br />

temos intenção <strong>de</strong> nos divertir.<br />

-Estou preparada. - Carol falou agitando seu braço, sua câmara pendurada<br />

fortuitamente ao redor <strong>de</strong> seu pescoço. -A menos que me necessitem garotas… -<br />

interrompeu-se, olhando Abbey.<br />

Abigail a beijou.<br />

-Não, estaremos bem. Simplesmente não se meta em muitos problemas.<br />

Isso provocou outra ronda <strong>de</strong> risadas provenientes das mulheres.<br />

-Como a vez que tivemos que tirar você sob fiança do cárcere. -disse Inez.


79<br />

-Ou quando ficou presa na árvore com o Tommy Lofton e tivemos que<br />

chamar os bombeiros. - acrescentou Donna.<br />

-Tia Carol!- Hannah parecia orgulhosa.<br />

-Estou segura que inventam tudo! -Carol soprou beijos a suas sobrinhas e<br />

seguiu às mulheres para fora.<br />

As irmãs Drake escutaram as risadas das mulheres que se perdiam na<br />

distância.<br />

-Po<strong>de</strong>ríamos ter que as tirar sob fianças, -advertiu Sarah. -Acredito que<br />

Carol vai ser uma muito má influência nesse grupo, e o pior, é que elas querem<br />

que o seja.<br />

-A maior parte <strong>de</strong>las foram à escola juntas. É tão agradável que tenham<br />

seguido sendo tão boas amigas, -disse Kate.<br />

Hannah se levantou da ca<strong>de</strong>ira e se tombou sobre o estômago no chão,<br />

mostrando um lugar a seu lado como convite para Abigail.<br />

-Eu não sei muito a respeito <strong>de</strong> muitas coisas, Abbey, mas sei que a<br />

culpabilida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> comer uma pessoa viva. Não po<strong>de</strong> permitir que isso ocorra a<br />

sua vida. A tia Carol nunca o faz. Ela preten<strong>de</strong> estar um pouco no lado louco, mas<br />

ela vive muito bem e é feliz.<br />

Uma a uma as outras Drake se esten<strong>de</strong>ram no chão como quando eram<br />

pequenas. Cada uma estirou uma mão e a colocou em meio <strong>de</strong> seu círculo, uma<br />

em cima da outra em um gesto <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong>. Abigail tomou seu lugar ao lado<br />

da Hannah e sentiu o calor das mãos <strong>de</strong> suas irmãs sobre a sua.<br />

-Acredito que já estou muito velha para estar no chão. -disse Sarah. -<br />

Necessitamos almofadas.<br />

-Notei que está envelhecendo, Sarah. -esteve <strong>de</strong> acordo Joley. -Sobre tudo<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que se comprometeu. Muita diversão, se me perguntar. Está se<br />

convertendo em uma anciã.<br />

Sarah atirou um guardanapo em Joley.<br />

-Não sou tão anciã. Já po<strong>de</strong> começar a correr antes que te esmurre.<br />

Joley fingiu um bocejo aborrecido.<br />

-Não vai ocorrer porque está tão ansiosa como eu por ouvir tudo sobre<br />

Aleksan<strong>de</strong>r, o russo ar<strong>de</strong>nte da voz sexy.<br />

Abigail se ruborizou.<br />

-De acordo. -conce<strong>de</strong>u- Tem uma voz sexy. Completamente sexy.<br />

-E canta, também. -acrescentou Joley. -Tem uma formosa voz. Estava<br />

acostumado a cantar para dormir. -Ela sorriu malvadamente. -Bom, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>...,<br />

já sabem.<br />

O rubor <strong>de</strong> Abigail se fez mais intenso.<br />

-Eu não lhe disse isso!<br />

-Não teve que me dizer isso.<br />

Hannah levantou as mãos e fez intrincados patrões no ar.<br />

-Vou comer algumas bolachas recém tiradas do forno. Alguém mais quer?<br />

Abigail se recostou e esfregou o ombro com o queixo.<br />

-Sempre come bolachas quando temos uma reunião familiar. Como po<strong>de</strong><br />

estar tão magra? Eu faço duas <strong>de</strong> você.<br />

-Jonas disse uma vez que sou um cabi<strong>de</strong> <strong>de</strong> arame on<strong>de</strong> os <strong>de</strong>senhistas<br />

penduram sua roupa. - confessou Hannah. Houve uma nota <strong>de</strong> dor em sua voz. -


80<br />

Ele é um porco às vezes. Depois ficou como louco comigo porque os sapos o<br />

seguiam a todo lado coaxando. Dizia que soava como se estivessem falando com<br />

ele. O que a propósito, po<strong>de</strong>ria aconteceu com Aleksan<strong>de</strong>r se quer lhe fazer<br />

enten<strong>de</strong>r que não vai tomar em conta nenhuma <strong>de</strong> suas tolices.<br />

Abigail esfregou as costas <strong>de</strong> Hannah amavelmente.<br />

-Jonas merece sapos lhe seguindo, especialmente se esteve com a Sylvia.<br />

Quem é seu caso agora?<br />

-Alguém com um lindo corpo. -disse Hannah. -Seus ossos não lhe cravarão<br />

cada vez que a abrace. - Ela agarrou o prato <strong>de</strong> bolachas quando este começou a<br />

flutuar.<br />

Escutou-se um ofego coletivo.<br />

-Ele não disse isso a você!<br />

-OH, ele disse sim. Ele viu a revista com os vestidos do <strong>de</strong>senhista da Itália.<br />

Já sabem, aqueles com muito tecido nas costas e muito pouco na parte frontal<br />

Tem que fazer algum comentário sarcástico cada vez que vou fazer algum<br />

trabalho. Havia minha foto com um mo<strong>de</strong>lo masculino italiano com uma pose<br />

particularmente sexy e Jonas estava extraordinariamente horrorizado por ela.<br />

Teve sorte <strong>de</strong> que só fossem sapos lhe dando uma serenata toda a noite. -<br />

Hannah fez circular o prato <strong>de</strong> bolachas com chocolate para suas irmãs. -<br />

Aleksan<strong>de</strong>r diz coisas mesquinhas, Abbey?<br />

-Aleksan<strong>de</strong>r nunca fez nenhum comentário pessoal que me fizesse sentir<br />

menos que formosa. Justo o contrário. -Abigail mor<strong>de</strong>u uma parte <strong>de</strong> chocolate<br />

quente e o <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong>rreter-se em sua boca enquanto pensava em Aleksan<strong>de</strong>r<br />

Volstov. -Fez me sentir formosa cada instante que estive com ele. Sempre atuava<br />

como se não existisse outra mulher. -Sorriu ao redor da <strong>de</strong>ntada <strong>de</strong> bolacha. -<br />

Mas me disse que tinha mau gênio, uma vez.<br />

-Bom, tem-no - disse Joley. Quando Abigail a fulminou com o olhar <strong>de</strong>u <strong>de</strong><br />

ombros - Tem-no. Sabe que o tem. Não é tão mau como o meu, mas o tem.<br />

-Os homens são tão mandões. -disse Abigail. -Às vezes é muito<br />

<strong>de</strong>sagradável.<br />

-Às vezes? -A sobrancelha <strong>de</strong> Joley subiu rapidamente. -É <strong>de</strong>sagradável<br />

sempre. Não sei como alguém po<strong>de</strong> agüentá-lo. Sério Kate e Sarah, ambas<br />

<strong>de</strong>veriam pensar nisso antes <strong>de</strong> seguir com esta coisa do matrimônio. Homens<br />

tomando o controle. -Agarrou três bolachas e colocou o prato no centro das sete<br />

irmãs. -Aleksan<strong>de</strong>r é absolutamente do tipo mandão.<br />

-Não tem que me dizer isso - admitiu Abigail. -Definitivamente não lhe falta<br />

confiança.<br />

-E o que lhe falta? -perguntou Sarah, com voz amável.<br />

Abigail tomou um profundo fôlego e logo o expulsou.<br />

-Talvez seja eu, honestamente não sei, ou talvez esperasse um cavalheiro<br />

<strong>de</strong> brilhante armadura. Contei tudo sobre nós para ele. Tudo sobre nossos dons,<br />

o bom e o mau e tudo o que vem com o talento. Contei-lhe o difícil e quão<br />

estimulante po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> uma vez. E lhe disse como todas têm dons maravilhosos<br />

que parecem ser tão úteis e que o meu só fazia dano. Acredito que ao princípio<br />

era cético, mas é tremendamente intuitivo. Assim levou a cabo um pequeno<br />

teste, ao menos isso pensava eu que era, e finalmente me pediu que me sentasse<br />

no interrogatório <strong>de</strong> alguns <strong>de</strong> seus presos. Pela primeira vez em minha vida,


81<br />

acreditei que meu talento tinha um sentido, realmente tinha um propósito. Sabia<br />

que lhe estava ajudando e fazendo algo que valia a pena.<br />

Houve uma ansieda<strong>de</strong> em sua voz que suas irmãs não podiam <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />

notar, mas Abigail não podia escondê-la. Pela primeira vez em sua vida se sentiu<br />

parte <strong>de</strong> algo e digna sendo uma Drake.<br />

-Não foi só o fato <strong>de</strong> estar trabalhando com ele, e que se sentisse orgulhoso<br />

<strong>de</strong> mim, mas sim significava que era como o resto <strong>de</strong> vocês e todas as irmãs<br />

Drake que nos prece<strong>de</strong>ram.<br />

-Abigail, - disse Libby, esten<strong>de</strong>ndo a mão para fechar os <strong>de</strong>dos ao redor do<br />

braço <strong>de</strong> sua irmã, - como pô<strong>de</strong> pensar isso?<br />

Imediatamente, com o toque <strong>de</strong> Libby, a dor <strong>de</strong> Abigail se aliviou. Lançou a<br />

Libby um débil sorriso.<br />

-Por isso. São tão extraordinária, todas vocês, as coisas que po<strong>de</strong>m fazer<br />

pelas pessoas. Em todos estes anos em Sea Haven, alguém alguma vez me pediu<br />

ajuda? Evitam-me. A maioria nem sequer conversa comigo. Tenho alguns amigos<br />

fora <strong>de</strong>sta família, mas não muitos. A gente do povoado está muito orgulhosa do<br />

resto e sempre estão lhes pedindo ajuda. Sei que não é fácil para vocês e não<br />

estou tratando <strong>de</strong> minimizar o fato do que isso lhes requer muito, mas que não<br />

me necessitem nunca me faz sentir tão longe do resto <strong>de</strong> vocês. - Abbey se<br />

voltou a olhar a suas irmãs. - Alguma o enten<strong>de</strong>?<br />

Hannah assentiu.<br />

-Eu sou sempre a garota má. Provavelmente por ter que estar comigo<br />

mesma muito tempo. Gasto gran<strong>de</strong> parte do tempo pensando em coisas que não<br />

<strong>de</strong>veria. Não o posso remediar e às vezes me pergunto como todo mundo po<strong>de</strong><br />

ser tão bom. -Tomou uma bolacha <strong>de</strong> chocolate da mão <strong>de</strong> Joley e <strong>de</strong>u uma<br />

<strong>de</strong>ntada. -Bom, exceto Joley, mas ela nunca consegue sermões por que todos<br />

esperam que seja assim.<br />

-Maldição, exatamente- disse Joley. -Ganhei minha reputação e segue<br />

crescendo mesmo que não faça nada.<br />

-Deixa <strong>de</strong> tentar parecer patética, Joley, -admoestou-a Sarah. -Não po<strong>de</strong><br />

mudar isso.<br />

-Jesus. Não posso conseguir nenhum respeito nesta casa. Não é fácil <strong>de</strong><br />

obter o tipo <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> que tenho. Meu favorito <strong>de</strong> sempre é a vez que<br />

alguém enviou a mamãe e papai, esse periódico sensacionalista com o titulo:”<br />

Surpreendida em flagrante: Confissões <strong>de</strong> uma viciada no sexo”. Mamãe me<br />

chamou e me disse que ela e papai abandonavam o país. Esqueceu-se <strong>de</strong> me<br />

dizer que tinham estado planejando a viagem durante anos, assim fiquei<br />

mortificada.<br />

As irmãs estalaram em vendavais <strong>de</strong> risadas.<br />

-Bom, não <strong>de</strong>veria ter confessado seu vício, -apontou Abigail.<br />

-Oxalá, -disse Joley. -Com quem diabos se supõe que vou ter sexo? Estou<br />

na estrada todo o tempo e paquero como uma louca mas todos temem minha<br />

reputação.<br />

-Ooo! -disse Hannah. -O que necessita Joley, é que façamos a cerimônia<br />

das roupas íntimas vermelha para você. Tem um par acima? Para todos que<br />

fizemos disseram que teve efeito.


82<br />

-O meu funcionou, - recordou Abigail. -Aleksan<strong>de</strong>r adorava meu conjunto<br />

vermelho e fui muito, muito afortunada a noite que os coloquei.<br />

-De maneira nenhuma! -Joley sustentou em alto seus <strong>de</strong>dos formando uma<br />

cruz. -Não vou castigar a mim mesma com um homem tão arrogante e mandão<br />

como Aleksan<strong>de</strong>r. Vou procurar um tipo que possa dominar completamente. Ele<br />

me adorará e fará realida<strong>de</strong> cada um dos menores <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> meu coração. Se a<br />

cerimônia das roupas vermelha consegue um ar<strong>de</strong>nte homem mandão dispenso. -<br />

Olhou com curiosida<strong>de</strong> Hannah. - E você? Comprovou se funciona?<br />

Hannah estremeceu abertamente.<br />

-Deitar-se com alguém geralmente requer um encontro <strong>de</strong> algum tipo e ter<br />

encontros geralmente requer falar com alguém e como eu nunca fui capaz <strong>de</strong><br />

falar realmente com um homem que eu gostasse sem parecer uma idiota,<br />

dispenso a cerimônia sagrada, muito obrigada.<br />

-Fala com Jonas. -assinalou Sarah.<br />

-Ele é realmente um homem? Eu acredito que é um andrói<strong>de</strong>. - Hannah<br />

soltou um bufo <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhoso- Duvido seriamente que ele conte e ninguém em seu<br />

são julgamento sairia alguma vez com ele.<br />

Todas olharam Elle. Ela levantou ambas as mãos.<br />

-Como não há forma que o controle <strong>de</strong> natalida<strong>de</strong> vá funcionar comigo,<br />

acredito que para meu melhor interesse <strong>de</strong>vo permanecer o mais longe possível<br />

<strong>de</strong>ssa cerimônia em particular. - Sorriu abertamente a Abigail. -Embora participei<br />

do ritual <strong>de</strong> Abbey pouco antes <strong>de</strong> sair <strong>de</strong> férias. Cantei, acendi velas, e me<br />

diverti muito bem e logo me escondi no armário mais próximo no caso <strong>de</strong> haver<br />

alguma reação reminiscência. Estou muito contente <strong>de</strong> ouvir que funcionou.<br />

-Definitivamente funcionou, - confirmou Abigail. -Jogou-me um olhar o dia<br />

que me pus isso e foi tão ar<strong>de</strong>nte que não acredito como chegamos a sua casa.<br />

Colocou-me contra a pare<strong>de</strong> e… -Interrompeu-se abanando-se. -Basta dizer, que<br />

o ritual surtiu efeito.<br />

-Muito obrigada, Abbey. -disse Elle - Isto não é justo. Estou comendo a<br />

última bolacha e mereço isso.<br />

Todas observaram solenemente como Elle comia a última bolacha com<br />

partes <strong>de</strong> chocolate.<br />

-Assim fez você se sentir formosa, é genial na cama, preparado, divertido e<br />

canta para você. - aventurou Sarah. -Inclusive fez acreditar em si mesma e<br />

compartilhou seu dom. Então nos diga o que foi mau, Abbey.<br />

-Ele trabalhava muito duro em um caso. Tinha vários, mas esta<br />

investigação estava em curso e tinha estado trabalhando nela quase dois anos.<br />

Era horrível. Ao princípio ele não queria falar disso porque envolvia uma série <strong>de</strong><br />

infanticídios brutais. Acreditava estar seguro <strong>de</strong> ter encontrado ao assassino. As<br />

coisas são muito diferentes ali e se frustrava às vezes pelo nível <strong>de</strong> cooperação e<br />

as ameaças <strong>de</strong> seus superiores. Sei que as mortes lhe perseguiam e se sentia<br />

responsável porque o assassino lhe evitava durante tanto tempo.<br />

-Que terrível. - Joley franziu o cenho. Apoiou uma mão sobre Libby. Hannah<br />

fez o mesmo. Todas eram empáticas, mas Libby o sentia mais, especialmente<br />

com sua irmã, e Abigail sentia dor. -Para todo mundo. Os pais, os meninos,<br />

Aleksan<strong>de</strong>r e para você também. Deve ter sido horrível para você experimentar o<br />

que ele e os pais estavam sentindo. Era consciente do empática que é?


83<br />

-Como podia? Como podia alguém? Olhe como Irene Madison segue<br />

insistindo em que Libby sane seu filho, Drew, <strong>de</strong> câncer. Não tem nem idéia <strong>de</strong><br />

quão perigoso seria inclusive tentá-lo. É o mesmo com todo mundo. E quando<br />

tentamos explicá-lo, não querem ouvir porque o que seja que estejam pedindo é<br />

importante para eles. Aleksan<strong>de</strong>r alcançou um ponto on<strong>de</strong> queria que me<br />

envolvesse porque tudo o que lhe importava era salvar aos meninos e eu estive<br />

<strong>de</strong> acordo. - Abigail se sentou erguida e apoiou a cabeça contra o sofá. Olhou-se<br />

as mãos. -Quantas vezes crê que iniciamos coisas com a melhor das intenções e<br />

terminamos machucando a outras pessoas?<br />

-Abbey, -disse Kate -todas nós temos feito coisas das que não nos<br />

orgulhamos. Todo mundo comete enganos. Todas fazemos escolhas apoiadas na<br />

informação que temos nesse momento. É normal e bom repensar e ver o que<br />

<strong>de</strong>veríamos ter feito, mas raramente sabemos que caminho é o melhor quando<br />

damos esse primeiro passo.<br />

-Quando fui à <strong>de</strong>legacia <strong>de</strong> polícia para me encontrar com Aleksan<strong>de</strong>r,<br />

disseram-me que havia trazido um suspeito, que estava em uma sala <strong>de</strong><br />

interrogação esperando por mim para que lhe ajudasse a interrogar ao homem.<br />

Tudo o que eu sabia era que Aleksan<strong>de</strong>r me havia dito que estava muito perto <strong>de</strong><br />

fechar o caso. Assumi que o suspeito em custódia era o homem que ele<br />

acreditava ser o assassino. Quando fui com os oficiais à sala todo mundo gritava<br />

ao suspeito. Elevavam-se por cima <strong>de</strong>le, golpeavam a mesa e lhe acusavam uma<br />

e outra vez.<br />

-Sinto-o tanto, Abbey,- sussurrou Sarah.- Isso não seria fácil para nenhuma<br />

<strong>de</strong> nós.<br />

Abigail sacudiu a cabeça.<br />

-Não sinta lástima por mim. Queria estar ali. Queria lhe ajudar a resolver os<br />

assassinatos. Queria ser importante para ele. -Ela esfregou a testa com a palma<br />

da mão. -Fui tão estúpida. Não pensava. Não fui ali pensando no suspeito ou<br />

sequer com uma mente clara. Entrei pensando em mim mesma. Minha própria<br />

glória, ajudar Aleksan<strong>de</strong>r e lhe fazer feliz - Golpeou a parte <strong>de</strong> atrás <strong>de</strong> sua<br />

cabeça três vezes contra as almofadas do sofá em uma agonia <strong>de</strong> recriminação. -<br />

Estúpida. Estúpida. Estúpida.<br />

-É humana, Abbey, não estúpida. Amava esse homem e queria lhe ajudar.<br />

A magia necessita alguns passos, todas nós sabemos isso, mas todas nos<br />

saltamos esses passos no calor do momento. Imagino que foi muito emocional<br />

para todos os implicados.<br />

-Perguntei-lhe se era culpado. Mas não lhe perguntei <strong>de</strong> que crime ou o que<br />

tinha feito à menina, simplesmente lhe perguntei se era culpado. Os outros<br />

oficiais lhe gritavam perguntas e Aleksan<strong>de</strong>r estava utilizando sua fria e<br />

atemorizante voz e eu estava tão segura <strong>de</strong> que podia lhe fazer confessar sua<br />

culpabilida<strong>de</strong>. Ele disse que sim e <strong>de</strong>pois tranqüilamente esten<strong>de</strong>u a mão e tomou<br />

uma arma que um dos oficiais tinha <strong>de</strong>ixado muito convenientemente na mesa e<br />

disparou a si mesmo na cabeça.<br />

-OH, Meu Deus!- Kate estava horrorizada. -Querida, sinto-o muito.<br />

-Abigail.-começou Sarah.<br />

Abigail sacudiu a cabeça.


84<br />

-Sabem qual foi seu crime? Ficou dormido enquanto se supunha que estava<br />

cuidando <strong>de</strong> sua filha. Tinha bebido e adormeceu e ela saiu da casa para jogar<br />

com seus amigos. O verda<strong>de</strong>iro assassino a agarrou. É obvio que se sentia<br />

culpado. Que pai não o faria? Ele era o pai da menina... eu não sabia nesse<br />

momento. Não me disseram isso e, o que é pior, não me ocorreu perguntar. -Ela<br />

olhou a suas irmãs, as lágrimas brilhavam tenuamente em seus olhos. -Mesmo<br />

que disse que era culpado, eu soube que não o era, mas não tive tempo <strong>de</strong> dizêlo.<br />

Ele simplesmente agarrou a arma. -Elevou as mãos. -Tinha seu sangue sobre<br />

mim. Algumas noites acordo e ainda estou coberta <strong>de</strong> sangue e não posso limpála<br />

por muito que o tente.<br />

-Tem pesa<strong>de</strong>los. -disse Hannah. – Eu a ouço chorar mas sua porta não abre<br />

para mim.<br />

Abigail alargou sua mão para sua irmã.<br />

-Sinto muito, Hannah. Sei que te angustiei, mas não podia enfrentar a<br />

ninguém. Não podia explicar o que tinha feito.<br />

-É essa a razão pela que não quer nada com o Aleksan<strong>de</strong>r? -perguntou<br />

Joley.<br />

Abigail <strong>de</strong>ixou escapar o fôlego.<br />

-Não sei. Só sei que foi um dos momentos mais horrendos <strong>de</strong> minha vida, e<br />

esperava que ele me reconfortasse... que fizesse algo... mas todos os oficiais<br />

começaram a falar realmente rápido, especialmente o dono da arma. Quão<br />

seguinte soube foi que era tirada da sala e que Aleksan<strong>de</strong>r simplesmente ficava<br />

ali em pé vendo como me levavam.<br />

Sarah franziu o cenho.<br />

-Não entendo. Acusavam-lhe <strong>de</strong> algo? O que fez ele?<br />

-Ficou ali muito quieto, seus olhos tão frios como o gelo e vendo como me<br />

tiravam a força da sala <strong>de</strong> interrogatórios como suspeita <strong>de</strong> um <strong>de</strong> seus<br />

assassinatos. Estava coberta do sangue do pobre homem e eles me passaram<br />

justo por diante <strong>de</strong> sua esposa. Olhei-a e ela cravou em mim seu olhar<br />

<strong>de</strong>sesperada. Tinha perdido sua filha e em alguns minutos alguém viria e lhe<br />

falaria <strong>de</strong> seu marido.<br />

-Rato bastardo! -explodiu Joley-. E todo este tempo eu tramando um<br />

complô para que voltassem a estar juntos.<br />

-Os sapos não são suficiente para ele. -<strong>de</strong>clarou Hannah.<br />

Sarah sustentou em alto sua mão para pedir silêncio.<br />

-Abbey, carinho, sei que é duro para você nos contar isso mas precisamos<br />

saber tudo o que ocorreu para ajudar.<br />

Abigail sacudiu a cabeça.<br />

-Para que assim Libby, você e todo mundo possa me fazer sentir melhor<br />

sobre o que fiz? Não posso voltar atrás. Esse pequeno momento no tempo que<br />

entrei nessa sala tão crente <strong>de</strong> mim mesma. Acreditava que apanharia a um<br />

assassino e Aleksan<strong>de</strong>r estaria agra<strong>de</strong>cido. Tão segura <strong>de</strong> que minha magia seria<br />

esgrimida com tanto po<strong>de</strong>r e mestria como as suas. -reclinou-se, lutando contra<br />

as lágrimas. -Nunca po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ter o tempo. Ou voltar atrás. A vida não funciona<br />

assim, verda<strong>de</strong>?<br />

-Não, não é isso, Abbey. -disse Kate. -Mas continuamos. E apren<strong>de</strong>mos <strong>de</strong><br />

nossas experiências. Nos conte o resto. Nos diga o que passou.


85<br />

-Interrogaram-me durante dois dias e duas noites. Aparentemente o oficial<br />

que se <strong>de</strong>scuidou da arma me acusou <strong>de</strong> contrariar ao prisioneiro com minhas<br />

perguntas. Foram horrendos, me pegando e gritando. -<strong>de</strong>rrubou-se, negando<br />

com a cabeça. -Acreditei que fossem me matar. Queriam culpar a alguém pela<br />

morte do pobre homem e suponho que eu era o perfeito bo<strong>de</strong> expiatório. Não<br />

tinha ninguém que me <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>sse e não me permitiam chamar à embaixada.<br />

-Que aterrador. Isto não tem nenhum sentido. -disse Libby.<br />

-Nem sequer me <strong>de</strong>ixaram trocar <strong>de</strong> roupa. Estava muito assustada e<br />

seguia pensando que Aleksan<strong>de</strong>r viria e me tiraria dali, mas não fez. -Abigail<br />

baixou o olhar a suas mãos. -Estava a muita distância <strong>de</strong> vocês e muito<br />

envergonhada para me esten<strong>de</strong>r para vocês. Estava muito assustada, mas até me<br />

assustava mais que soubessem o que tinha feito e nunca me perdoassem. Ainda<br />

não posso me perdoar.<br />

-E não po<strong>de</strong> perdoar a ele. -disse Sarah.<br />

Abigail sacudiu a cabeça.<br />

-Em algum lugar profundamente <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim, sei que é egoísta <strong>de</strong>sejar<br />

que ele me pusesse em primeiro lugar. Querer que me consolasse quando meu<br />

mundo se <strong>de</strong>sfazia.<br />

-Não é egoísta, Abbey. -disse Joley. -É humano. Normal. Não é uma mártir,<br />

é uma mulher. É obvio que queria que seu homem ultrapassasse tudo e, pelo<br />

amor <strong>de</strong> Deus, te <strong>de</strong>sse uma mão quando o necessitava. -Apertou o punho. -<br />

Lamento não ter sabido tudo isto quando lhe estava permitindo me encantar. Lhe<br />

teria feito ver as estrelas.<br />

O vento chegou do mar, uivando quando golpeou a casa. As irmãs olharam<br />

Hannah. Ela <strong>de</strong>u <strong>de</strong> ombros.<br />

-Acontece quando estou realmente zangada, uma fresta da infância. Nem<br />

sempre posso controlá-lo.<br />

-Queremos saber o que lhe fizeram enquanto eles lhe interrogavam ou<br />

Hannah e Joley vão se por psicóticas. -disse Kate.<br />

Abigail sacudiu a cabeça.<br />

-Não vou falar disso. Foi horrível e foi a vez que mais assustada estive em<br />

minha vida, inclusive mais assustada que todas as vezes que estive mergulhando<br />

entre tubarões.<br />

Elle fechou os olhos e afastou o rosto, havia lágrimas em suas pestanas e<br />

correndo por sua face.<br />

- Golpearam-lhe uma e outra vez. Um homem te esbofeteou a cara<br />

muitíssimo. -Sua voz soava distante e havia linhas <strong>de</strong> tensão ao redor <strong>de</strong> sua<br />

boca. -Ameaçaram-lhe e fizeram comentários lascivos. Chamaram-lhe <strong>de</strong> bruxa e<br />

outros nomes. O homem que te esbofeteava queria que nomeasse Aleksan<strong>de</strong>r,<br />

que dissesse que ele <strong>de</strong>ixou a arma ali <strong>de</strong> propósito. - Elle abriu os olhos e olhou<br />

diretamente aos <strong>de</strong> Abbey.<br />

Abigail sentiu uma dolorosa sacudida no coração. Era sempre assim quando<br />

enfrentava Elle. Parecia tão jovem com seu vívido cabelo vermelho e sua pele<br />

pálida, mas quando a olhava aos olhos, eram muito velhos e cheios <strong>de</strong><br />

conhecimento, cheios <strong>de</strong> coisas que ninguém mais via.<br />

-Nunca disse seu nome.<br />

-Não, não o fiz.


86<br />

-Por que? -perguntou Elle brandamente.<br />

Abigail sacudiu a cabeça.<br />

-Não sei.<br />

-Sim, sabe.<br />

-Amava-lhe.<br />

Elle suspirou.<br />

-Amava-lhe muitíssimo, mas não foi por isso que não lhe nomeou. Estava<br />

zangada e assustada e é teimosa como o inferno, Abbey. Isso não foi a razão pela<br />

que recusou lhe entregar. E não foi por isso que queria que ele salvasse você.<br />

Depois das primeiras três horas <strong>de</strong>sse homem erguendo-se sobre você, te<br />

cuspindo,esbofeteando e ameaçando, não se importava se Aleksan<strong>de</strong>r lhe salvaria<br />

ou não.<br />

-Estava zangada. -sussurrou Abigail.<br />

-Com todos eles. -disse Elle.- Em algum lugar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> você era essa a<br />

resposta. Quando passou a cólera e a <strong>de</strong>cepção e <strong>de</strong>ixou a culpabilida<strong>de</strong>, soube<br />

por que. E então foi pior, verda<strong>de</strong>? Porque suspeitava que Aleksan<strong>de</strong>r teve que<br />

fazer algo terrível a fim <strong>de</strong> liberar você.<br />

Abigail assentiu.<br />

-Os homens que me interrogavam foram tirados <strong>de</strong> repente do quarto e<br />

outros tomaram seu lugar, mas não falaram comigo. Sussurravam daqui para lá e<br />

atuavam <strong>de</strong> forma muito diferente... temerosos... e não me perguntaram nada<br />

absolutamente, simplesmente sussurravam juntos, claramente muito assustados.<br />

Pareciam estar i<strong>de</strong>ando alguma história que contar a seus superiores. Sabia que<br />

algo terrível tinha ocorrido.<br />

-Você...<br />

-Não! -Abigail sacudiu a cabeça. -Não o diga. Nem sequer o pense. Não<br />

quero saber o que fez Aleksan<strong>de</strong>r para me tirar dali. Se matou a alguém para me<br />

liberar, se alguém mais morreu por minha culpa, não po<strong>de</strong>ria viver com isso.<br />

-Abbey... -começou Sarah.<br />

-Não, digo-o a sério. Agora que posso respirar algumas vezes pensando<br />

nessa pobre mulher sem seu marido e sua filha não posso voltar ali. Não me peça<br />

isso.<br />

-E talvez por isso foge <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r. -disse Elle. -Não por seus enganos<br />

mas sim por sua força. As mesmas coisas nas que confiava e admirava nele são<br />

as coisas que mais teme.<br />

Abigail não po<strong>de</strong>ria apartar a vista <strong>de</strong> Elle.<br />

-Sabia. Todo este tempo, sabia.<br />

Elle <strong>de</strong>u <strong>de</strong> ombros.<br />

-Sei um montão <strong>de</strong> coisas. As pessoas tem direito a seus segredos, Abbey,<br />

inclusive minhas irmãs. Se tivesse querido que todas soubéssemos, haveria nos<br />

dito isso. Todas sentíamos sua infelicida<strong>de</strong> e você sabia que o fazíamos, mas não<br />

nos <strong>de</strong>u uma explicação, nem tinha por que fazê-lo.- Ela transmitiu um sorriso<br />

macilento. -Nem sempre é fácil ou cômodo, captar partes das vidas <strong>de</strong> minhas<br />

irmãs. Todas queremos privacida<strong>de</strong>, eu incluída. Aprendi a manter a boca<br />

fechada.<br />

Libby imediatamente esten<strong>de</strong>u o braço e apoiou a mão no ombro <strong>de</strong> Elle.<br />

-Suporta uma carga tão terrível, Elle.


87<br />

-Todas nós o fazemos. - disse Sarah. -Precisamos ter mais compaixão por<br />

outros. Dá-me vergonha admitir que nunca me parei a pensar como <strong>de</strong>ve sentirse<br />

Elle sabendo coisas que nós não queremos que se saibam.- Olhou a sua irmã<br />

mais nova. -Deve fazer você se sentir diferente e sozinha, tal como Abigail se<br />

sente com seu dom. E Libby. Todo mundo quer um pouco <strong>de</strong> Libby aon<strong>de</strong> quer<br />

que vá. Não há pausa, nem sequer aqui quando nossa casa <strong>de</strong>veria ser um<br />

refúgio.<br />

-Cada uma <strong>de</strong> nós tem que tomar cuidado com sua magia. - disse Kate. -E<br />

Abbey, todas cometemos enganos. Não po<strong>de</strong>mos ser perfeitas, não importa<br />

quanto o tentemos. - Lançou um breve sorriso a Hannah e Joley. -Algumas nem<br />

sequer queremos tentar.<br />

Joley lhe enviou uma pequena saudação.<br />

-Bem feito, irmã!- Ela sustentou em alto sua palma para que Hannah<br />

chocasse cinco <strong>de</strong>dos.<br />

-Essas <strong>de</strong>vemos ser nós.- esteve <strong>de</strong> acordo Hannah.<br />

Sarah golpeou ligeiramente o pé <strong>de</strong> Hannah.<br />

-Por certo, algo mais... Mamãe e papai voltam para casa para as bodas e<br />

po<strong>de</strong>riam ter algumas coisas para dizer a você.<br />

-Ninguém se atreveria a <strong>de</strong>durar-me. - disse Hannah complacentemente.<br />

-Já sabe, Hannah e todas as <strong>de</strong>mais também que po<strong>de</strong>ria ter a <strong>de</strong>sforra e a<br />

vingança em mente.- disse Joley - A casa <strong>de</strong>ixou entrar Aleksan<strong>de</strong>r a outra noite.<br />

Um ofego coletivo surgiu e todas as irmãs olharam fixamente Abigail. Ela<br />

cobriu sua cara.<br />

-Sei. Sei. Algo errado aconteceu. Não fizemos bem o feitiço e por isso<br />

falhou - elevou a cara. -Tinha as portas <strong>de</strong> meu balcão totalmente abertas, talvez<br />

esse foi o problema.<br />

-OH, Abbey.- disse Hannah -Sinto-o tanto.<br />

-Só que não po<strong>de</strong> ser ele. Não me importa o que diga a profecia e não me<br />

importa se a casa lhe <strong>de</strong>ixa entrar ou não. Não quero lhe ver ou lhe falar ou ter<br />

nada absolutamente que ver com ele. - <strong>de</strong>clarou Abigail.<br />

-OH, não. - disse Sarah. Ela olhou o telefone e fez uma careta.<br />

O telefone soou.<br />

-Não responda- disse Abigail. Olhava Sarah. -É ele, verda<strong>de</strong>? É Aleksan<strong>de</strong>r.<br />

Sarah assentiu.<br />

-Deixa-o soar. - instruiu Abigail.<br />

-A mim não importa lhe or<strong>de</strong>nar que frite a si mesmo. - ofereceu-se<br />

Hannah. -E po<strong>de</strong>ria fazê-lo por telefone.<br />

-Hannah. -avisou Sarah. - Não quererá fazer algo que logo lamentaria.<br />

Abigail atenda o telefone.<br />

Abigail teria recusado se tivesse sido qualquer que não fosse Sarah, ou<br />

Elle, mas ambas tinham o dom <strong>de</strong> "ver" às vezes. Aten<strong>de</strong>u-o.<br />

-O que quer?<br />

-Também me alegra ouvir sua voz . Encontre comigo em meia hora no<br />

McKerricher Park.<br />

-Não vou encontrar com você em nenhuma parte, Sasha.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r suspirou.


88<br />

-Temos que fazer isto todo o tempo? Não tenho tempo para discutir com<br />

você. Encontre comigo ali em meia hora. Iremos navegar em caiaque, assim<br />

vista-se apropriadamente. O meteorologista prediz ondas <strong>de</strong> quatro pés assim<br />

po<strong>de</strong>ríamos ter sorte e ser capazes <strong>de</strong> investigar ao longo da costa em busca <strong>de</strong><br />

cavernas que os contrabandistas po<strong>de</strong>m estar utilizando. Têm que ter seu navio<br />

escondido em algum lugar e vou averiguar on<strong>de</strong>.<br />

-Não vou.<br />

-Conhece o litoral melhor que ninguém. Não posso ir sozinho, Abbey, e<br />

sabe. Isto tem que fazer-se.<br />

-Leva Jonas ou Jackson, seu ajudando. Ambos conhecem o litoral. Ou<br />

melhor ainda, chama a guarda costeira. Lhe darão uma mão. -Abigail esfregou a<br />

têmpora palpitante. Por que cada vez que escutava sua voz perdia sua resolução?<br />

-Abbey, já esbanjamos muito o tempo. Se não ir agora, o mar po<strong>de</strong>ria ficar<br />

muito mau amanhã. Já tenho um carro esperando no porto assim po<strong>de</strong>mos ir em<br />

caiaque ao longo da costa ao menos até o Noyo. Não quererá que vá sozinho. É<br />

perigoso e po<strong>de</strong>ria me per<strong>de</strong>r. Aluguei um par <strong>de</strong> caiaques <strong>de</strong> mar e se sairmos<br />

agora o mar está relativamente em calma e po<strong>de</strong>remos fazê-lo.<br />

-Realmente <strong>de</strong>testo você, Sasha. Sabe <strong>de</strong> sobra que não vai se per<strong>de</strong>r<br />

seguindo a linha da costa- Olhou seu relógio <strong>de</strong> pulso. -Estarei ali em quarenta<br />

minutos. E a próxima vez não me chame.<br />

-Bem, a próxima vez irei buscar você diretamente e evitaremos uma<br />

discussão. - Desligou o telefone antes que pu<strong>de</strong>sse respon<strong>de</strong>r.<br />

Abigail <strong>de</strong>sligou <strong>de</strong> repente o telefone e olhou Sarah.<br />

-É impossível.<br />

-Ren<strong>de</strong>u-se, Abbey! - Joley estava horrorizada. -Simplesmente acatou a<br />

tudo o que ele queria e nem sequer foi amável. Que acontece com as mulheres<br />

quando se apaixonam?- Ela, Hannah e Elle sacudiram as cabeças.<br />

-Não estou apaixonada.- afirmou Abigail. - Só quero que termine seu<br />

trabalho aqui e se vá.<br />

-Então por que não preencheu os vazios <strong>de</strong> Jonas quanto a Aleksan<strong>de</strong>r esta<br />

manhã? -perguntou Joley.<br />

-Não precisa retornar à cama? -Disse Abigail. -Não sei por que não disse<br />

nada ao Jonas. Aleksan<strong>de</strong>r faz um montão <strong>de</strong> coisas que po<strong>de</strong>riam pôr em perigo<br />

sua vida. Não vou cometer um engano falando muito a respeito <strong>de</strong> coisas das que<br />

não sei nada. Quero que sofra e mantenha a distância, quero-lhe <strong>de</strong> joelhos<br />

implorando perdão, o qual nunca lhe darei, mas não quero que lhe façam mal.<br />

-Para mim isso tem perfeito sentido.- <strong>de</strong>clarou Hannah.<br />

-Acredito que todas estamos <strong>de</strong> acordo nisso -disse Sarah.


89<br />

Capítulo - 8<br />

-Não tem que me ajudar -mentiu Abigail enquanto observava Aleksan<strong>de</strong>r<br />

manobrar sobre a areia áspera, carregando seu caiaque. -Sou perfeitamente<br />

capaz <strong>de</strong> fazê-lo por mim mesma. De fato, provavelmente muito melhor que<br />

você.<br />

-Não queria te insultar com isso - disse Aleksan<strong>de</strong>r. -On<strong>de</strong> quer que o<br />

coloque na água?<br />

-O melhor lugar está ali. - Assinalou uma larga praia arenosa perto <strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />

ele já tinha <strong>de</strong>scarregado seu caiaque. - Os escolhos são suaves e teremos menos<br />

problemas para chegar às rochas. Teremos que remar entre elas on<strong>de</strong> há uma<br />

zona mais calma e po<strong>de</strong>remos estudar as formações com o passar do litoral.<br />

Conheço várias cavernas e enseadas capazes <strong>de</strong> escon<strong>de</strong>r um bote, mas o<br />

condutor teria que ser um perito e a água estar medianamente tranqüila, como<br />

esteve essa noite. Devemos chegar facilmente utilizando os caiaques. -Sabia que<br />

ele <strong>de</strong>sfrutava utilizando os caiaques nos rios <strong>de</strong> águas turbulentas, mas duvidava<br />

que o fizesse muito no oceano. A costa do Pacífico podia ser em particular áspera.<br />

-Você manda.<br />

Abigail o fulminou com o olhar. Teve o <strong>de</strong>sejo infantil <strong>de</strong> lhe chutar as<br />

canelas quando caminhou com o caiaque sobre seu ombro sem a menor<br />

indicação <strong>de</strong> que lhe pesasse ou fosse uma carga excessiva.<br />

Os caiaques <strong>de</strong>slizaram na água facilmente tal como ela havia predito. A<br />

maioria das vezes, a água com o passar do litoral era áspera com enormes ondas<br />

assim Abigail se sentiu afortunada <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r remar entre as rochas on<strong>de</strong> a água<br />

estava tranqüila quando foram a caminho.<br />

-É um formoso dia - comentou Aleksan<strong>de</strong>r. Ela estava preciosa, mas não<br />

cometeu o engano <strong>de</strong> dizer-lhe. O sol brilhava em seus cabelos, convertendo-os<br />

em uma chama vibrante <strong>de</strong> cor. Sua pele se via suave e teve que apertar os<br />

remos com força para evitar esten<strong>de</strong>r a mão e tocá-la. Desejava tocá-la.<br />

Provocava-lhe insônia e passava andando a maioria das noites, contemplando as<br />

estrelas e perguntando-se em que parte do mundo estava ela. Agora estava com<br />

ele e ainda assim podia haver um oceano entre eles.<br />

Ela entrecerrou o olhar contra sol.


90<br />

-Por que não está falando com Jonas a respeito do que seja que está<br />

fazendo? Ele é muito bom em seu trabalho.<br />

-Estou <strong>de</strong> acordo que ele é muito bom em seu trabalho, e é óbvio que ele<br />

sente muito carinho por você e suas irmãs. Tem as mãos cheias com a<br />

investigação da morte <strong>de</strong> Danilov.- Não queria falar <strong>de</strong> Jonas Harrington e<br />

maldito seja se queria falar <strong>de</strong> Danilov. Uma fúria fria removia seus intestinos.<br />

Tinha chegado quinze minutos tar<strong>de</strong> para Andre Danilov. A estrada era estreita e<br />

sinuosa e um carro se colocou diante <strong>de</strong>le, lhe atrasando. Quando o ultrapassou e<br />

alcançou a doca, Danilov estava morto. Algumas vezes parecia que sempre<br />

estava indo à carreira para alcançar aos assassinos e tropeçando-se com as<br />

vítimas cada vez que se dava a volta. Danilov tinha sido um bom homem, um<br />

bom agente e Aleksan<strong>de</strong>r não iria <strong>de</strong>sistir sem saber que tinha repartido seu<br />

próprio modo <strong>de</strong> justiça.<br />

-Não é o mesmo o que está fazendo você agora mesmo?- Abigail afundou<br />

seu remo na água <strong>de</strong>slizando-se sobre a superfície.<br />

-As duas coisas estão vinculadas.- Aleksan<strong>de</strong>r manteve o passo sem<br />

esforço algum. -Danilov estava infiltrado investigando o movimento <strong>de</strong> artefatos e<br />

foi assassinado. Diria que há uma conexão direta com minha investigação além<br />

<strong>de</strong> que ele era minha responsabilida<strong>de</strong>. Vou encontrar o filho da puta que lhe<br />

matou.<br />

Abigail fez uma pausa e lhe olhou à cara. Não havia inflexão em sua voz,<br />

nem cólera ou fúria, mas o havia dito com absoluta convicção.<br />

-Não é só um policial, verda<strong>de</strong>, Sasha?<br />

Ele a olhou fixamente enquanto colocava seu remo na água com um<br />

po<strong>de</strong>roso golpe fazendo que seu caiaque se adiantasse ao <strong>de</strong>la.<br />

-Não pergunte se não quer saber, Abbey. -advertiu-lhe. Deveria ter sabido<br />

que lhe revelaria muito. Ela era muito hábil em notar cada matiz. Uma buscadora<br />

da verda<strong>de</strong>. Inclusive sua voz po<strong>de</strong>ria fazer que homem quisesse confessar cada<br />

um <strong>de</strong> seus pecados… e, só Deus sabia que ele tinha um montão <strong>de</strong>les.<br />

Depois do que tinha acontecido na Rússia, Abigail lhe temia. Podia vê-lo em<br />

seus olhos, nas sombras que espreitavam ali. Odiava ter feito isto, ter posto<br />

essas sombras aí, mas não podia mudar o que era ou o que tinha sido. Não podia<br />

<strong>de</strong>sfazer o passado e não podia apagar o que formava gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> seu<br />

caráter.<br />

-Isto fica cada vez melhor, não é? Por que <strong>de</strong>mônios começou inclusive<br />

comigo em primeiro lugar? Acredito que nem sequer você sabe quem é.<br />

-Conheço-me mesmo muito bem, Abbey, e maldito seja se for me <strong>de</strong>sculpar<br />

pelas escolhas que tenho feito. Foram <strong>de</strong>cisões duras, mas tinha boas razões para<br />

as fazer. - Tinha jurado que não se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ria, mas tinha subestimado a reação<br />

<strong>de</strong>la ao que tinha passado e sua obstinada negativa a lhe dar oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

explicar-lhe o tinha pego <strong>de</strong>spreparado. Na Rússia sempre tinha sido tão terna e<br />

compassiva, seu amor por ele tão completo e inquebrável. Agora estava perdido<br />

no que se referia a como tratar com ela. Sabia que po<strong>de</strong>ria ser teimosa e sabia<br />

que tinha gênio, mas não tinha contado apanhar a uma tigresa pela cauda.<br />

-O que sabia <strong>de</strong> mim? Quando fui a Moscou faz quatro anos, sabia <strong>de</strong> mim e<br />

<strong>de</strong> minhas irmãs?- Parecia ridículo que alguém na Rússia tivesse conhecimento


91<br />

das Drakes, mas seu coração retumbava e estava segura <strong>de</strong> estar no caminho<br />

certo.<br />

Uma gaivota gritou no alto. Inclusive com seus óculos escuros, a luz do sol<br />

sobre a água <strong>de</strong>slumbrou seus olhos quando tratou <strong>de</strong> ler sua expressão. O<br />

caiaque cortava o pequeno fluxo enquanto ela remava no silêncio. A superfície<br />

parecia cristal ver<strong>de</strong> e só no fundo se podiam ver ocasionais fiapos <strong>de</strong> algas.<br />

Piscou rapidamente quando roçou o remo na água.<br />

-Sabia, não é? Não foi só um encontro casual.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r amaldiçoou. Dentro <strong>de</strong> sua cabeça, em sua mente, estava<br />

repetindo cada maldição que conhecia. Ela estava enterrando suas oportunida<strong>de</strong>s<br />

como se tivesse tirado uma arma e lhe disparasse através do coração. Não podia<br />

mentir a Abigail, sua voz sempre lhe impedia <strong>de</strong> fazê-lo, mas se lhe dizia a<br />

verda<strong>de</strong>, nunca lhe perdoaria.<br />

-Não acredita que já tem o bastante para me con<strong>de</strong>nar sem entrar em<br />

como começou tudo? Começou. Apaixonei-me por você. - Tudo o que tinha em<br />

sua <strong>de</strong>fesa era a verda<strong>de</strong>. E essa era a única verda<strong>de</strong> que po<strong>de</strong>ria selar a greta<br />

havia entre eles para sempre.<br />

Remaram rápido e no silêncio, passaram várias praias arenosas e entraram<br />

em uma larga extensão on<strong>de</strong> as ondas aumentaram em tamanho e força. Não<br />

havia rochas que usar como amparo e Abigail fez gestos para sair da costa para<br />

evitar o gran<strong>de</strong> escolho <strong>de</strong> ondas.<br />

Quando caíram em um ritmo <strong>de</strong> ondas mais calmas, Abigail lhe olhou<br />

fixamente. Doía lhe olhar. Amava-lhe tanto que lhe doía por <strong>de</strong>ntro.<br />

-Tinha importância para mim que <strong>de</strong>sejasse a Abigail Drake, simplesmente<br />

uma mulher sem nenhuma magia, ou nenhum dom. Eu. Importava-me mais do<br />

que possa imaginar. Supõe-se que <strong>de</strong>vo acreditar nessa parte que a verda<strong>de</strong> é<br />

que se apaixonou por mim, quando todo o resto foi uma mentira?<br />

-Pergunte-me isso então. - <strong>de</strong>safiou ele. -Seu dom é procurar e encontrar a<br />

verda<strong>de</strong>. Pergunte-me se te amo.<br />

Ela virou a face longe <strong>de</strong>le, olhando diretamente para diante enquanto se<br />

<strong>de</strong>slizavam ao longo da extensão <strong>de</strong> praia que estava <strong>de</strong>safortunadamente livre<br />

<strong>de</strong> rochas. Queriam aproximar-se da borda mas era impossível com as gran<strong>de</strong>s<br />

ondas, por isso seguiram remando, guardando a linha da costa à vista.<br />

Abigail normalmente <strong>de</strong>sfrutava navegando em caiaque ao longo da costa.<br />

Podia ver as rochas recortadas na água que se metiam em lugares que um bote<br />

nunca po<strong>de</strong>ria alcançar. Deslizar-se através da água lhe dava uma tremenda<br />

sensação <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>. Agora mesmo, sentia-se ameaçada <strong>de</strong> alguma forma<br />

in<strong>de</strong>finida. Aleksan<strong>de</strong>r não estava em um estado <strong>de</strong> ânimo conciliatório. De fato,<br />

mais que nada, tinha o pressentimento <strong>de</strong> que estava furioso com ela.<br />

-Não vai perguntar-me, verda<strong>de</strong>? -Quis arrastá-la a ele e sacudi-la até lhe<br />

imbuir um pouco <strong>de</strong> bom senso. Estavam bem juntos. Encaixavam. Sua vida<br />

nunca tinha sido completa até que teve Abigail. Nunca se havia sentido completo.<br />

Nunca tinha tido um lar ou uma família. Nunca tinha tido ninguém por quem<br />

retornar a casa. Demônios, nunca tinha <strong>de</strong>sejado voltar para casa. Abigail tinha<br />

mudado tudo e não podia voltar para o vazio. Ela enchia sua vida <strong>de</strong> risada e<br />

amor. Encontrou pontos suaves nele, ternura e uma gentileza que nunca tinha<br />

sabido que tinha.


92<br />

-Não.<br />

-Nunca acreditei que fosse uma covar<strong>de</strong>, Abbey. - Sabia que ele tinha posto<br />

essa cautela em seus olhos. Po<strong>de</strong>ria sentir ela a dor pelo que lhe tinha feito se<br />

não lhe amasse ainda? Ele se aferrou a essa pequena esperança. Sua única<br />

esperança. Estava doída e ele tinha que alegrar-se <strong>de</strong> que ao menos sentisse algo<br />

por ele.<br />

-Para ser honesta, Sasha, importa-me um nada que acredita que me ama<br />

ou não. O teu não é o tipo <strong>de</strong> amor que procuro. -Abigail agarrou o remo até que<br />

seus nódulos ficaram brancos. Estava tremendo <strong>de</strong> fúria e se não fosse pelo fato<br />

<strong>de</strong> que estivessem atrás do rastro <strong>de</strong> assassinos, teria o largado. Mas a quem<br />

seja que ele procurava não só tinha matado a seu amigo, quase tinham matado<br />

a Gene e tinham tentado assassiná-la também.<br />

O caiaque <strong>de</strong>slizou através <strong>de</strong> um espaço bem plano <strong>de</strong> oceano, a atenção<br />

da Abigail estava na costa. Quando dobraram em um ponto concreto da costa ela<br />

pô<strong>de</strong> distinguir uma pequena praia na distância on<strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> mulheres,<br />

todas com saias ondulantes e camisas púrpuras brilhantes, corriam <strong>de</strong>scalças no<br />

mar. O vento levava suas risadas, um som feliz e brilhante que a esquentou.<br />

-Vê essas mulheres, Abbey?<br />

-Impossível não as ver. -encontrou-se sorrindo ao ver os chapéus<br />

vermelhos oscilando acima e abaixo e entrecerrou os olhos para tratar <strong>de</strong> divisar<br />

a sua tia entre elas.<br />

-Sabem como viver a vida. Participam e encontram formas para ser felizes.<br />

Quer se agarrar a coisas que nos separarão para sempre? Para que? -Fez uma<br />

pausa, girou a cabeça para imobilizá-la com seu olhar <strong>de</strong> aço. -Me diga por que<br />

se nega nos permitir ser felizes.<br />

-Vim aqui para ajudar você a encontrar a seus criminosos, mas não para<br />

me envolver em nenhum <strong>de</strong>bate filosófico, Sasha. Pensou que escalaria até meu<br />

dormitório e eu simplesmente me <strong>de</strong>rreteria entre seus braços <strong>de</strong>pois do que<br />

aconteceu?- girou-se para olhar às mulheres correndo para as ondas e saltando<br />

sobre espuma branca. Pareciam felizes e estavam passando um momento<br />

maravilhoso. Inesperadamente lhe doeu o coração. Carol sempre tinha sabido<br />

como divertir-se. Amar, perdoar e gozar <strong>de</strong> cada momento <strong>de</strong> sua vida.<br />

Importava-lhe pouco o que pensavam outros, regia-se por seu código. -Talvez<br />

isso é que vai mal em mim. - refletiu Abigail em voz alta. -Talvez tenha esquecido<br />

meu próprio código.<br />

Ele esten<strong>de</strong>u a mão e imobilizou seu caiaque.<br />

-Vê algo sobre a praia entre as rochas, perto <strong>de</strong>sse pequeno grupo <strong>de</strong><br />

árvores?<br />

Abigail entrecerrou o olhar e espionou para as árvores varridas pelo vento.<br />

-A verda<strong>de</strong> é que não posso ver nada. Há movimento?<br />

-Possivelmente. Essa que está na praia com as outras mulheres é sua tia,<br />

certo?<br />

Abigail fez um varrido lento dos escarpados rochosos, pondo particular<br />

atenção nas árvores e arbustos diretamente sobre a praia on<strong>de</strong> as mulheres<br />

estavam amontoando ma<strong>de</strong>ira para o que se temia seria uma fogueira ilegal. Não<br />

estava tendo nenhuma sensação em sua consciência que às vezes lhe era<br />

transmitida por suas irmãs, e sua tia estava dançando alegremente, seus braços


93<br />

se on<strong>de</strong>avam graciosamente no ar. Certamente Carol sentiria algum alarme se<br />

sentisse perigo.<br />

Abigail extraiu o binóculo <strong>de</strong> sua bolsa e fez outro varrido. As mulheres<br />

formaram um círculo solto ao redor da ma<strong>de</strong>ira e, claro, pequenas chamas<br />

começaram a saltar entre as lenhas. Uma mulher, e era <strong>de</strong>finitivamente sua tia<br />

Carol, saiu do círculo para disparar uma foto com a câmara que sempre levava<br />

com uma cinta ao redor do pescoço. Abigail centrou sua atenção uma segunda<br />

vez no escarpado sobre a praia.<br />

-Vejo-os agora. - disse Abigail, aliviada. -Sim, um par <strong>de</strong> meninos do<br />

povoado e um par <strong>de</strong> seus amigos do Fort Bragg. Estão espiando as mulheres.<br />

Não tem que preocupar-se por eles, a Tia Carol se encarregará.<br />

-Crê que ela sabe que estão ali? -perguntou ele soltando o caiaque <strong>de</strong>la.<br />

-É obvio que sabe. Tia Carol é como Sarah. Definitivamente ‘sabe’ coisas.<br />

Provavelmente os meninos esperam que ela vá fazer algum tipo <strong>de</strong> bruxaria para<br />

po<strong>de</strong>r filmá-lo e mostrá-lo a todos seus amigos. Quem sabe, só para agradá-los<br />

po<strong>de</strong>ria fazê-lo. Acen<strong>de</strong>u as chamas. É mais que provável que Inez Nelson, que<br />

leva a loja <strong>de</strong> comestíveis em Sea Haven e dirige bastante o povoado, dará um<br />

puxão nas orelhas quando os vir.<br />

-Eu gosto <strong>de</strong> sua tia. -Guardou silêncio um momento. -E sua irmã Joley,<br />

também.<br />

Ela não queria que gostasse <strong>de</strong> ninguém <strong>de</strong> sua família.<br />

-Vamos, passemos ao seguinte ponto. Há rochas ali e po<strong>de</strong>mos nos<br />

aproximar da costa.<br />

Abigail tomou a dianteira, remando fortemente para apartar da praia. Carol<br />

saberia que estavam no oceano, observando-a igual aos intrometidos<br />

adolescentes. Não queria que Carol pensasse que a estava espiando.<br />

Perto dali várias rochas se levantavam fora da água. Aleksan<strong>de</strong>r e Abigail<br />

levaram os caiaques sobre as gran<strong>de</strong>s ondas, acelerando seu movimento para<br />

aproximar-se da terra. A pequena enseada prometia. Ocasionalmente uma<br />

gran<strong>de</strong> onda rompia sobre as rochas, mas a água estava mais calma quando<br />

puseram rumo à costa.<br />

Escarpados pedregosos se elevavam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> oceano. Vegetação marrom e<br />

ver<strong>de</strong> crescia em cada fenda possível, mas o terreno parecia <strong>de</strong>solado,<br />

<strong>de</strong>sgastado e esculpido por séculos <strong>de</strong> água. Um comprido <strong>de</strong>do <strong>de</strong> pedra se<br />

elevava do oceano como se os chamasse lhes fazendo gestos e o primeiro grupo<br />

<strong>de</strong> pedras não mostrava nenhuma caverna, remaram para a maior formação <strong>de</strong><br />

rochas.<br />

-Há uma aqui, Sasha. - disse Abigail, avançando pouco a pouco e com<br />

dificulda<strong>de</strong> pela escura entrada. -É pequena, mas bem uma gruta que uma<br />

autêntica caverna. Não acredito que ninguém pu<strong>de</strong>sse escon<strong>de</strong>r-se aqui. -A água<br />

espumosa selava tampava e jogava espuma ao longo da base da rocha e alguma<br />

orvalhava no ar.<br />

Ele lutou para encontrar algo genuíno entre eles, uma ponte para ela. Algo<br />

que aliviasse a tensão e lhes <strong>de</strong>sse um ponto <strong>de</strong> partida.<br />

-Isto é selvagem. Formoso e selvagem, Abbey. Não estranho que você<br />

adore este lugar.


94<br />

-Sim, assim é. Sempre me senti afortunada por crescer aqui. -Era muito<br />

mais fácil remar nas águas mais tranqüilas e Abbey assinalou a borda on<strong>de</strong> a<br />

praia cintilava e brilhava por toda parte que olhava. -Esta é a Praia <strong>de</strong> Cristal,<br />

justo em meio do Fort Bragg. É única e bastante formosa a sua maneira. Tem<br />

toneladas <strong>de</strong> cristal e as pessoas <strong>de</strong>vem buscar cristais da cor exata que querem.<br />

-Como po<strong>de</strong> haver uma praia <strong>de</strong> cristal?<br />

-Originalmente era um lugar <strong>de</strong> <strong>de</strong>scarga. Durante anos, o oceano golpeou<br />

a praia, lhe dando forma e polindo-a até que pareceram bonitas pedras <strong>de</strong> cristal.<br />

- Abigail gesticulou para as enormes formações rochosas que se <strong>de</strong>stacam ao<br />

longo da costa. -Duvido que vamos encontrar algo aqui, e em qualquer caso está<br />

muito perto <strong>de</strong> uma praia popular e bastante concorrida. Quereriam um lugar<br />

muito mais isolado.<br />

Remaram através das centenas <strong>de</strong> formações rochosas que havia ao longo<br />

da praia, até que seus braços estiveram cansados. Havia canais pouco fundos e<br />

várias cavernas, mas nada que pu<strong>de</strong>sse servir para escon<strong>de</strong>r um bote. Os<br />

caiaques não caberiam <strong>de</strong>ntro das poucas pequenas aberturas e Abigail estava<br />

segura <strong>de</strong> que estavam muito perto da costa e os contrabandistas nunca se<br />

arriscariam a ser visto. Bor<strong>de</strong>aram o seguinte ponto on<strong>de</strong> havia uma baía. A praia<br />

inteira era proprieda<strong>de</strong> privada.<br />

Abigail começou imediatamente a manobrar ao redor das rochas para<br />

assegurar-se <strong>de</strong> que não havia nenhum lugar on<strong>de</strong> um bote se pu<strong>de</strong>sse escon<strong>de</strong>r.<br />

-Não acredito que há nenhuma caverna aqui, Sasha. Ao menos eu nunca<br />

notei nenhuma e percorri com caiaque esta costa muitas vezes.<br />

-Está cansada.<br />

Abigail pô<strong>de</strong> sentir a carícia <strong>de</strong> sua voz na pele. Parecia afundar-se através<br />

<strong>de</strong> sua pele e envolver-se ao redor <strong>de</strong> seu coração. Não pela primeira vez se<br />

perguntou se Aleksan<strong>de</strong>r tinha sua própria magia por que ela não podia evitar<br />

reagir a ele, cada vez que lhe escutava.<br />

-Um pouco. Fazia tempo que não o fazia e não estou em forma. Como está<br />

você? -Não parecia cansado. Parecia estar <strong>de</strong>sfrutando. O amparo do caiaque<br />

cobria suas pernas, mas ela po<strong>de</strong>ria ver os po<strong>de</strong>rosos músculos <strong>de</strong> suas costas e<br />

braços trabalhando enquanto ele conduzia o caiaque através da água.<br />

-Disse que tinha um código, Abbey. Tem?- A pergunta pareceu cair do céu e<br />

ela lutou por encontrar seu motivo para perguntar. Ele sabia muito bem que ela<br />

vivia para sua honra o melhor que podia. Fossem quais fossem seus motivos, não<br />

queria ser arrastada a isto.<br />

Um toque <strong>de</strong> vento os encontrou, escorregando sobre ela e acariciando sua<br />

bochecha fazendo que quase não lhe ouvisse. Não foram as palavras, se não<br />

como as disse. Recordou essa voz <strong>de</strong> Moscou, quando lhe amava. Quando se<br />

esforçava por ele. Quando a fazia sentir como se ela fosse a única mulher em seu<br />

mundo. Especial além <strong>de</strong> toda fantasia. Sabia que seria melhor manter a boca<br />

fechada, mas não obstante elevou o queixo, tomando consolo do toque do vento.<br />

-Sei que o tenho. E você? Tem um código, Sasha?<br />

-Absolutamente, vivo por ele, Abbey. -Seu olhar penetrante <strong>de</strong>slizou sobre<br />

ela. -Sabe que o faço. Sabe que nunca voltarei as costas a algo quando sei que é<br />

correto.


95<br />

-E foi correto me sacrificar por sua carreira? -Por que não o <strong>de</strong>ixava? Podia<br />

ouvir-se a si mesma gritando que se <strong>de</strong>tivera mas queria lhe ferir e não estava<br />

fazendo mais que ferir-se si mesma.<br />

-Não. Nunca por minha carreira. Pelas vidas dos outros meninos que o<br />

monstro teria assassinado. Não trocaria vidas por minha própria felicida<strong>de</strong>, ou<br />

pela tua. - Falava tranqüilamente mas seus olhos eram turbulentos e <strong>de</strong> um<br />

profundo azul escuro. -Não posso mudar quem sou, Abbey. Não posso <strong>de</strong>sfazer<br />

as coisas que tenho feito em minha vida. Só posso dizer que te amo e que te<br />

quero em minha vida.<br />

Apartou o olhar <strong>de</strong>le, <strong>de</strong> sua convicção, da falta <strong>de</strong> remorsos. Abigail tragou<br />

várias vezes antes <strong>de</strong> estar segura <strong>de</strong> que tinha o controle absoluto <strong>de</strong> sua voz.<br />

-Este é o último ponto antes que estejamos no Noyo Harbor. Se não<br />

encontrarmos o que está procurando, teremos que tentá-lo outro dia, sair do<br />

porto e nos dirigir mais ao sul pela linha da costa.<br />

-Realmente crê que tomei a <strong>de</strong>cisão equivocada?<br />

Ela <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> remar e fez alar<strong>de</strong> <strong>de</strong> ajustar seu assento. Quando lhe olhou,<br />

<strong>de</strong>liberadamente encontrou seu fixo olhar.<br />

-Quero saber se sabia do meu talento antes que nos conhecêssemos<br />

realmente. - Esperou em agonia pelo que pareceu toda uma vida. Em realida<strong>de</strong><br />

só foi um batimento do coração <strong>de</strong> silêncio.<br />

-Sim, sabia.<br />

A dor chegou <strong>de</strong> nenhuma parte, agarrando-a por surpresa. Podia ouvir-se<br />

gritando por isso, profundamente em seu interior on<strong>de</strong> ninguém mais podia ouvila.<br />

Disse a si mesma que tinha estado esperando essa resposta, mas isso não<br />

aliviava a lacerante e implacável dor. Tinha lhe dado tudo o que era, tudo o que<br />

alguma vez tinha <strong>de</strong>sejado ser. Tinha lhe dado tanto que não ficou nada quando<br />

ele a colocou tão <strong>de</strong>scuidadamente a um lado.<br />

Abigail fez todo o possível para evitar que soubesse que a tinha ferido outra<br />

vez. Inclusive se or<strong>de</strong>nou não formular nenhuma outra pergunta. Não queria<br />

saber até on<strong>de</strong> chegava sua traição, mas sempre tinha sido muito obstinada e<br />

orgulhosa.<br />

-E me <strong>de</strong>ixar fazer a foto foi só um extra acrescentado? Um modo <strong>de</strong> me<br />

conhecer para po<strong>de</strong>r me utilizar?<br />

-Sim.<br />

Abigail lhe voltou as costas, atravessando a água com golpes fortes,<br />

seguros para entrar na baía. O grito <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la se elevou até que a bílis lhe<br />

subiu à garganta, até que seus ouvidos rugiram e suas têmporas palpitaram. A<br />

dor corria tão profundamente que não havia nenhuma palavra nela para dizer a<br />

ele… ou a nenhum outro. Não queria sentir. Nunca mais.<br />

Manteve a face oculta enquanto examinava o litoral em busca dos arcos e<br />

áreas mais escuras que indicariam aberturas na rocha. As lágrimas nublavam sua<br />

visão, mas sacudiu a cabeça para livrar-se <strong>de</strong>las. Ele não precisava saber que ela<br />

nunca tinha amado a ninguém antes <strong>de</strong>le. Ou <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>le. Ou pior até, que ainda<br />

tinha a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> machucá-la.<br />

Abigail divisou várias cavernas perto do ponto.<br />

-Cavernas. - Obrigou à palavra a passar a dolorosa constrição <strong>de</strong> sua<br />

garganta.


96<br />

-Fique atrás <strong>de</strong> mim, Abbey.<br />

-E qual seria a razão? Para me proteger?- Arqueou uma sobrancelha, mas<br />

manteve a cara apartada. -Acredito que é muito tar<strong>de</strong> para isso, Sasha.<br />

-Não vou discutir isto. Eu vou diante e você fica atrás. -Havia aço em sua<br />

voz e um vestígio <strong>de</strong> cólera.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r era um homem com muitíssimo controle. Para que ele <strong>de</strong>ixasse<br />

ver sua cólera <strong>de</strong>via ser que tinha acertado em um ponto sensível. Ficou atrás,<br />

lhe <strong>de</strong>ixando passar. Se alguém estava à espreita, Aleksan<strong>de</strong>r <strong>de</strong>via pensar no<br />

perigo e não em estar zangado com ela. Ou talvez consigo mesmo. Deu-lhe<br />

espaço para manobrar e lhe seguiu por volta da primeira caverna.<br />

A caverna era gran<strong>de</strong> para remar por <strong>de</strong>ntro e Aleksan<strong>de</strong>r o fez com pouca<br />

vacilação, estudando as pare<strong>de</strong>s altas e a espaçosa área. Um bote<br />

<strong>de</strong>finitivamente po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>slizar-se <strong>de</strong>ntro e não ser visto. Sendo tão larga a<br />

câmara, fazia eco e ressonava quando as ondas se estrelavam contra a barreira<br />

<strong>de</strong> rocha, e <strong>de</strong>ntro da caverna a água era extremamente turbulenta. Confiou em<br />

que Abigail permanecesse fora para lhe advertir das maiores ondas que entravam<br />

na caverna que pu<strong>de</strong>ssem ser perigosas. Tratou <strong>de</strong> encontrar algum rastro,<br />

alguma pequena evidência que indicasse que a lancha rápida tinha estado oculta<br />

quando a guarda costeira a tinham estado procurando, mas não havia nada<br />

absolutamente. Havia uma luz que chegava através <strong>de</strong> uma greta a um lado<br />

indicando que ali po<strong>de</strong>ria haver outra abertura ao longo da série <strong>de</strong> cavernas.<br />

A água golpeava a formação rochosa, alargando os ocos, alisando-os e<br />

polindo-os através dos séculos. Aleksan<strong>de</strong>r remou ao redor da baía tentando<br />

encontrar a fonte da luz, mas ficou <strong>de</strong>siludido quando a greta foi muito pequena<br />

para o caiaque. Uma lancha rápida não teria podido entrar. Não havia saída<br />

através da caverna.<br />

Ele negou com a cabeça para Abigail. Ela estava tratando <strong>de</strong> lhe observar,<br />

observar o oceano, e manter um olho nos escarpados circundantes e a baía<br />

próxima se houvesse um atirador apostado alguma, observando-os. Aleksan<strong>de</strong>r<br />

moveu o caiaque com o passar da ponte <strong>de</strong> rocha para a seguinte caverna. Esta<br />

parecia mais prometedora. A câmara era bem gran<strong>de</strong> e facilmente po<strong>de</strong>ria<br />

escon<strong>de</strong>r uma lancha rápida. A água estava muito mais calma, embora fosse<br />

muito menos profunda.<br />

-Vou entrar, Abigail. A água é <strong>de</strong> aproximadamente um metro <strong>de</strong> fundura,<br />

mas a câmara chega muito e parece que há mais do que posso ver daqui. A água<br />

está muito mais tranqüila nesta caverna e eu não gosto <strong>de</strong> ver você exposta aí<br />

fora. Alguém po<strong>de</strong>ria estar naquelas rochas. Não quero que lhe disparem outra<br />

vez.<br />

Abigail tampouco estava particularmente interessada em estar sentada<br />

oferecendo um alvo, assim que lhe seguiu à câmara gran<strong>de</strong>, remando todo o<br />

caminho para a parte <strong>de</strong> atrás on<strong>de</strong> as ondas se chocavam em um túnel menor.<br />

-Po<strong>de</strong>riam ser capazes <strong>de</strong> atravessá-lo - disse Aleksan<strong>de</strong>r. -Você o que crê?<br />

-Duvido que colocassem uma lancha aí- falou <strong>de</strong> modo distante- Parece que<br />

gira para a esquerda e se estreita um pouco. Nós po<strong>de</strong>ríamos atravessá-lo, mas<br />

não acredito que eles se arriscassem. Acredito que esta caverna está perto do<br />

porto e é mais provável que se escon<strong>de</strong>ssem aqui enquanto a guarda costeira os


97<br />

buscavam. Se tivessem que abandonar o bote podiam chegar à costa com uma<br />

equipe <strong>de</strong> mergulho.<br />

-Se aquele túnel chegar até a outra caverna tem uma rota <strong>de</strong> escape<br />

prática. - raciocinou ele.<br />

-Jogamos uma olhada aqui primeiro antes <strong>de</strong> comprová-lo, -propôs Abigail.<br />

-Se encontrarmos algo que pu<strong>de</strong>sse indicar que podiam ter usado o túnel,<br />

veremos se o po<strong>de</strong>mos atravessá-lo.<br />

Remou ao redor da câmara, olhando com atenção sob a água enquanto ele<br />

examinava as pare<strong>de</strong>s rochosas e os poucos espaços e suportes em busca <strong>de</strong><br />

qualquer prova que pu<strong>de</strong>sse indicar que os homens que tinham matado Danilov<br />

tinham estado na câmara. Se a tinham usado uma vez, existia uma boa<br />

probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que a utilizassem outra vez e Aleksan<strong>de</strong>r os estaria esperando.<br />

-Há cavernas sobre Sea Lion Cove, -disse Abigail. -Não é mais provável<br />

que utilizassem, um lugar perto do moinho e a rota dos contrabandistas como<br />

uma base mais permanente? Teria que ter um lugar para escon<strong>de</strong>r o navio<br />

quando eles não o utilizem.<br />

-Não necessariamente.<br />

Abigail se girou rapidamente e cravou os olhos nele.<br />

-A quem está perseguindo, Sasha? São ladrões <strong>de</strong> arte? O que disse ao<br />

Jonas era um boato?<br />

-Meu país tem um dos índices mais altos <strong>de</strong> roubo <strong>de</strong> arte do mundo. -<br />

disse ele.<br />

-Isso não é uma resposta.<br />

-Já viu o colar. É genuíno.<br />

Abigail sentiu a pequena agitação no fundo <strong>de</strong> seu estômago, a que sempre<br />

a advertia quando a verda<strong>de</strong> era algo mais do que estava ouvindo. Havia sentido<br />

essa agitação quatro anos atrás e não tinha atuado o bastante rápido.<br />

-Aleksan<strong>de</strong>r, não envie Jonas a uma busca inútil. Ele não merece isso.<br />

-Seu trabalho é encontrar quem matou Danilov. O assassinato ocorreu em<br />

sua jurisdição e estou seguro que toma seu trabalho a sério. Ele é <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong><br />

homem. Meu trabalho é acabar com o fluxo <strong>de</strong> objetos que saem <strong>de</strong> nosso país e<br />

recuperar o que pu<strong>de</strong>r.<br />

-Então por que estamos aqui remando com os caiaques em busca <strong>de</strong>ssa<br />

lancha?<br />

Ele levantou o olhar, seus olhos brilhavam intensamente, como duros<br />

diamantes.<br />

-Possivelmente seja parte <strong>de</strong> minha investigação.<br />

Abigail estremeceu. Ele tinha mudado nos últimos quatro anos. Sempre<br />

tinha havido um fio em Aleksan<strong>de</strong>r, um lado <strong>de</strong>le que nunca tinha podido alcançar<br />

completamente, mas parecia mais pronunciado agora. Jonas lhe tinha advertido<br />

que se afastasse <strong>de</strong>le e Jonas era um juiz perspicaz <strong>de</strong> caráter.<br />

Sem avisar Aleksan<strong>de</strong>r se estirou e arrastou seu caiaque perto do <strong>de</strong>le com<br />

o que ficaram cara a cara.<br />

-Aparta esse olhar <strong>de</strong> sua cara. Posso merecer cólera <strong>de</strong> você, mas não<br />

isso.<br />

Seu coração saltou grosseiramente e sua mão foi à garganta em um gesto<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa.


98<br />

-Não tenho idéia do que está falando.<br />

-Medo. - Cuspiu a palavra. -Nunca teve razão para me temer. Olha-me<br />

como se fosse tirar uma arma e disparar em você. Não mereço isso e me ponho<br />

malditamente doente quando o vejo.<br />

Ela refreou uma réplica. Queria brigar com ele. Queria estar enfrentada a<br />

ele para lhe manter à distância <strong>de</strong> um braço, mas seu comportamento era muito<br />

incomum. Aleksan<strong>de</strong>r não brigava ou discutia. Não era sua forma <strong>de</strong> ser. Abigail<br />

não gostava <strong>de</strong> discutir tampouco e a maior parte <strong>de</strong> seu tempo juntos tinha sido<br />

ou ar<strong>de</strong>nte e sexual, ou preguiçoso e agradável. Pior que seu estranho<br />

comportamento, e sua cólera incomum que pareceu ar<strong>de</strong>r justo sob a superfície,<br />

era a dor em seus olhos. Não queria vê-lo. Ele não merecia que ela o visse ou o<br />

reconhecesse, mas lhe tinha ferido simplesmente pelo brilho <strong>de</strong> medo que lhe<br />

tinha mostrado.<br />

-Sinto muito, Sasha. - Ela apertou os <strong>de</strong>ntes, molesta <strong>de</strong> que as palavras<br />

lhe tivessem escapado. -Suponho que na realida<strong>de</strong> não nos conhecemos muito<br />

bem. Passou muito tempo. Passei por momentos muito traumáticos e não sou tão<br />

forte como estava acostumado a ser. Talvez você também.<br />

Recusou lhe olhar aos olhos. Não a fascinaria. Não acreditaria nele ou seria<br />

<strong>de</strong>slumbrada pela força <strong>de</strong> sua personalida<strong>de</strong> ou seu propósito <strong>de</strong> controle. Ela<br />

tinha que enfocar com o que po<strong>de</strong>ria ou não po<strong>de</strong>ria viver. Aleksan<strong>de</strong>r Volstov<br />

tinha sido um formoso sonho, um produto <strong>de</strong> sua imaginação. O homem que<br />

estava com ela agora era difícil, duro e sacrificaria qualquer coisa ou algo por seu<br />

objetivo. Tinha que lhe ver <strong>de</strong>sse modo ou voltaria a per<strong>de</strong>r-se outra vez.<br />

Abigail espiou pelo flanco <strong>de</strong> seu caiaque, esquadrinhando a água. Era mais<br />

escura na caverna e as sombras dificultavam ver sob a superfície. Um buraco no<br />

teto perto da parte <strong>de</strong> atrás permitia que a luz do sol se <strong>de</strong>rramasse pela água.<br />

Rastreou uma zona, mantendo-se longe <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r. Tentando não pensar ou<br />

sentir. Havia muitas rochas e rincões e as algas marinhas se bamboleavam daqui<br />

para lá com o movimento das ondas, fazendo quase impossível ver nada.<br />

-O que é isso?- Ele assinalou um ponto justo à esquerda <strong>de</strong>la.<br />

Abigail se moveu ligeiramente. A alga marinha cobria e revelava<br />

alternativamente um pequeno brilho.<br />

-Não posso tirá-lo.<br />

-É algo brilhante. Po<strong>de</strong>ria ser metal.<br />

Recuperar o objeto ia ser uma pequena provocação. Se tivessem estado em<br />

caiaques sem saias, po<strong>de</strong>riam ter saltado e pescá-lo. Mas com o tipo <strong>de</strong> caiaque<br />

que usavam, uma vez que saíam na água, seria difícil voltar <strong>de</strong>ntro sem ajuda.<br />

-O quer?- Perguntou ela.<br />

-O pegarei- disse ele.<br />

Abigail lhe ignorou e se inclinou tudo o que era possível, com o remo pego<br />

firmemente em uma mão enquanto estirava o outro braço para o objeto, fechou<br />

seus olhos, e mergulhou por ele. Sua mão aterrissou com estupi<strong>de</strong>z sobre ele, e o<br />

agarrou enquanto se dava a volta e subia totalmente molhada, com o objeto em<br />

sua palma.<br />

-Fanfarrona - grunhiu Aleksan<strong>de</strong>r. -O que é?<br />

Ela abriu o punho.<br />

-Um relógio. - O entregou. -Reconhece-o?


99<br />

Aleksan<strong>de</strong>r lhe <strong>de</strong>u a volta entre suas mãos.<br />

-Este era o relógio <strong>de</strong> pulso do Danilov. Os bastardos <strong>de</strong>vem haver tirado<br />

antes <strong>de</strong> lhe disparar.<br />

-Sinto muito, Sasha. Por que o tirariam?<br />

-Algumas vezes levamos dispositivos <strong>de</strong> rastreamento. O <strong>de</strong> Danilov estava<br />

em seu relógio <strong>de</strong> pulso.<br />

-Como saberiam eles isso?<br />

-Pu<strong>de</strong>ram havê-lo suposto.<br />

Sua voz era distante, como se sua mente estivesse em algum lugar<br />

longínquo. O apertado nó <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la se moveu e afrouxou. E isso dava medo.<br />

Tinha estado perdida atrás <strong>de</strong> sua traição. Nunca po<strong>de</strong>ria voltar a passar por algo<br />

assim e precisava manter suas <strong>de</strong>fesas em alto. Seu pesar, sua cólera, todas as<br />

emoções <strong>de</strong>le a corroíam até que ela só pô<strong>de</strong> pensar em lhe reconfortar.<br />

Detestava essa parte particularmente empática <strong>de</strong>la que nunca po<strong>de</strong>ria controlar.<br />

-Como era ele?<br />

Aleksan<strong>de</strong>r guardou silêncio um longo momento. O oceano ressonava<br />

contra as rochas como as lavando trabalhando interminavelmente. Ele suspirou.<br />

-Trabalhava com ele, Abbey. Não me relacionava socialmente com ele.<br />

Lamento não ter superado essa parte <strong>de</strong> mim, o menino criado pelo estado para<br />

trabalhar para o estado e nunca confiar em ninguém, mas só o fiz uma vez.-<br />

passou-se a mão pelos cabelos, um sinal <strong>de</strong> agitação que raramente lhe tinha<br />

visto fazer. -Deveria ter falado mais com ele. Tinha família, gente a que estava<br />

unido.- Aleksan<strong>de</strong>r amaldiçoou em sua própria língua e olhou longe <strong>de</strong>la.<br />

Abigail recordou todo o tempo que tinha passado em sua companhia.<br />

Tinham estado tão absortos um no outro que não se <strong>de</strong>u conta nunca <strong>de</strong> que não<br />

lhe tinha apresentado a amigos. Colegas <strong>de</strong> trabalho, muitas vezes, mas amigos<br />

nunca.<br />

-Esteve maravilhoso com Joley, Sasha, sabia exatamente o que lhe tinha<br />

que dizer.<br />

-Tive um montão <strong>de</strong> treinamento, Abbey. Leio às pessoas.<br />

-Realmente esteve apaixonado por mim alguma vez?- No momento em que<br />

as palavras lhe escaparam ela quis as <strong>de</strong>volver a sua garganta. Doía-lhe a<br />

garganta e isto lhe notou na voz.<br />

Ele amaldiçoou outra vez.<br />

-Como po<strong>de</strong> me perguntar isso?<br />

-Acaba <strong>de</strong> me dizer que nosso encontro não foi aci<strong>de</strong>ntal, que sabia <strong>de</strong><br />

minhas habilida<strong>de</strong>s antes que nos conhecêssemos. Posso ter sido ingênua,<br />

Aleksan<strong>de</strong>r, mas agora volto a ser uma pessoa que pensa. Arrumou esse<br />

encontro comigo e fingiu <strong>de</strong>sfrutar <strong>de</strong> minha companhia para que assim ajudasse<br />

você com seu caso.<br />

-Maldição, Abbey. Havia meninos morrendo. Quer que me <strong>de</strong>sculpe porque<br />

quis utilizar cada ferramenta disponível para mim? Estava lutando contra a<br />

papelada burocrática, meus superiores, os pais, outras agências. Ele tinha estado<br />

matando fazia dois anos. Quer saber como são meus pesa<strong>de</strong>los?<br />

Por um momento seu peito ar<strong>de</strong>u e seu estômago se fez um nó e se agitou.<br />

Desejou sacudi-la. Desejou arrastar à força on<strong>de</strong> pu<strong>de</strong>ssem estar sozinhos e ela<br />

não pu<strong>de</strong>sse escapar e tivesse que lhe escutar. Era um escuro e primitivo <strong>de</strong>sejo


100<br />

e se sentiu ligeiramente envergonhado por ele, mas não ia <strong>de</strong>sculpar se pelas<br />

coisas que tinha feito. Não tinha sido ela a que tinha tido que examinar os<br />

pequenos corpos. E não tinha sido ela a que tinha tido que dizer aos pais que seu<br />

filho não voltaria para casa porque um monstro doente e retorcido os tinha pego.<br />

E não tinha sido ela a que lutava dia e noite para obter ajuda, qualquer ajuda,<br />

quando ninguém queria admitir o que estava ocorrendo. Ou até o que po<strong>de</strong>ria<br />

ocorrer.<br />

Estudou sua face. A cólera voltava seus olhos <strong>de</strong> um azul escuro e punha<br />

pequenas linhas brancas ao redor <strong>de</strong> sua boca.<br />

-Por que não me pediu diretamente que ajudasse?<br />

-Não conhecia você. Não sabia como era. Vinha <strong>de</strong> outro país e tinha um<br />

talento que não entendia na realida<strong>de</strong>. Se tivesse que voltar a fazê-lo <strong>de</strong> novo,<br />

Abbey, diria a verda<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o começo, mas inclusive se não fui sincero sobre ter<br />

anterior conhecimento <strong>de</strong> suas habilida<strong>de</strong>s, acredita que meus sentimentos para<br />

você eram... e são... genuínos. Não mudou minha vida, mudou-me . Algo <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong> mim é diferente. Pensei que po<strong>de</strong>ria existir sem você, mas não posso. Não<br />

posso e isso não tem nenhum sentido.<br />

-Aleksan<strong>de</strong>r. - Ela tratou <strong>de</strong> lhe <strong>de</strong>ter mas ele negou com a cabeça.<br />

-Não, você me fez isto. Fez impossível para mim voltar a viver sozinho. O<br />

trabalho não importa como o fazia. Passo por todos os trâmites e consigo que o<br />

trabalho se faça, mas não é o mesmo. Eu tinha um propósito e uma direção e<br />

você levou isso. Pensei muito nisso. Deus sabe que tive bastante tempo para<br />

pensar. Está zangada e doída e aceito que tem direito a está-lo, mas isso não<br />

troca o fato <strong>de</strong> que se supõe que temos que estarmos juntos. Não estou disposto<br />

a jogar pela borda o que tivemos.<br />

Uma forte onda rompeu através da câmara, elevando-se e salpicando água<br />

a gran<strong>de</strong> altura.<br />

-Melhor que saiamos daqui. -advertiu Abigail. Não havia resposta para ele.<br />

Se o que dizia era verda<strong>de</strong>, rompia-lhe o coração. Se era mentira, estava<br />

quebrado <strong>de</strong> qualquer maneira. Queria ir para casa e ser reconfortada pelo calor<br />

e o amor <strong>de</strong> suas irmãs. -Ainda temos que nos aproximar do porto, Sasha. Está<br />

ficando tar<strong>de</strong>. Pelo menos sabe on<strong>de</strong> se escon<strong>de</strong>ram essa noite.<br />

-Não é on<strong>de</strong> guardam o bote. Temos que encontrar o bote.<br />

Abigail franziu o cenho, tratando <strong>de</strong> recordar cada <strong>de</strong>talhe do litoral que<br />

tivesse percorrido. Estalou os <strong>de</strong>dos.<br />

-Espera um momento. Não sei por que não pensei nisso antes, mas há um<br />

lugar ao sul daqui. Está a um pouco <strong>de</strong> distância, mas se fosse escon<strong>de</strong>r um bote<br />

<strong>de</strong> todo o mundo, é aí on<strong>de</strong> o ocultaria. Não é uma caverna, Sasha, mas vê como<br />

entra a maré e as ondas po<strong>de</strong>m ser duras. Isto é tranqüilo para esta zona.<br />

Escon<strong>de</strong>r um bote em uma caverna é perigoso inclusive por curto tempo. É certo<br />

que se escon<strong>de</strong>ram aqui e moveram o bote logo que acreditaram que era seguro.<br />

Não quereriam ser facilmente vistos seja <strong>de</strong> uma praia ou <strong>de</strong>s<strong>de</strong> mar. Há uma<br />

baía ao norte do povoado <strong>de</strong> Elk. Está entre dois <strong>de</strong>dos do Cuffeys Cove. A praia<br />

é arenosa e fica seca nas marés altas a menos que haja tormenta. Um navio<br />

po<strong>de</strong>ria ser atracado ali e colocado entre os arbustos e árvores. Os pescadores<br />

esportivos po<strong>de</strong>riam vê-lo, mas a guarda costeira não porque a baía fica ao sul.<br />

Inclusive as curvas da estrada ficam longe da borda e isso faria possível ocultá-lo.


101<br />

Normalmente têm uma pessoa que espanta a todo mundo quando tentam<br />

transpassar proprieda<strong>de</strong> privada, mas Inez me disse faz um par <strong>de</strong> semanas que<br />

lhe encontraram ferido e está no hospital.<br />

-Comprovemos.<br />

-Sabe que hoje não po<strong>de</strong>mos ir. Olhe o fluxo.- Gesticulou mar <strong>de</strong>ntro. -<br />

Esse litoral po<strong>de</strong> ser muito áspero. Sigamos e o faremos outro dia.<br />

-Ainda necessito <strong>de</strong> você esta noite. Tenho que ir ao Caspar Inn e<br />

necessitarei que venha comigo.<br />

-Por que tenho que ir com você? A estalagem é perfeitamente segura. Todo<br />

mundo passa por ali<br />

-Necessito que venha comigo. Não tenho companheiro, recorda?<br />

-Leva Jonas. - vaiou entre <strong>de</strong>ntes, remando furiosamente para tratar <strong>de</strong><br />

apartar-se <strong>de</strong>le.<br />

Facilmente lhe manteve o passo.<br />

-Todo mundo conhece o Jonas. Acredito que localizei a Ilya Prakenskii.<br />

Trabalha para um homem chamado Sergei Nikitin lhe disse isso, é um homem<br />

muito perigoso. Se estiver comigo, po<strong>de</strong>ria ser uma reunião pacífica. Sem você<br />

ali, acreditarão que vim perseguindo-os e alguém po<strong>de</strong>ria acabar ferido.<br />

Franziu o cenho para ele com aberta suspeita.<br />

-Não posso imaginar que me queira com você se ali houver uma mínima<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> perigo.<br />

-Normalmente, isso seria certo, mas acredito que sua presença impedirá<br />

que haja violência e há muitos inocentes ali.<br />

-Crê que Prakenskii e Nikitin estão envoltos no roubo dos objetos <strong>de</strong> arte?<br />

-Isso é o que tenho intenção <strong>de</strong> averiguar.<br />

Abigail suspirou. Deveria dizer que não. Deveria ser fácil, mas em lugar<br />

disso <strong>de</strong>u <strong>de</strong> ombros, tratando <strong>de</strong> aquietar seu coração.<br />

-A que horas?


102<br />

Capítulo – 9<br />

Abigail pô<strong>de</strong> ouvir um ruidoso coro <strong>de</strong> risinhos enquanto <strong>de</strong>scia as escadas.<br />

A voz <strong>de</strong> sua tia disse algo e <strong>de</strong>pois seguiu um cântico solene. Definitivamente<br />

suas irmãs estavam lançando feitiços e ninguém a tinha chamado para a<br />

diversão. Irritada, irrompeu no salão.<br />

Centenas <strong>de</strong> velas vacilavam, lançando sombras dançando sobre as<br />

pare<strong>de</strong>s. Suas irmãs e sua tia formavam um círculo no meio do chão on<strong>de</strong> sete<br />

velas vermelhas estavam colocadas, uma diante <strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong>las. Abigail<br />

ofegou.<br />

-OH, não! O que estão fazendo? - aproximou-se e para seu horror um<br />

conjunto <strong>de</strong> calcinha e sutiã <strong>de</strong> renda vermelha jazia no centro exato do círculo. -<br />

Será melhor que não sejam minhas!- Pareciam <strong>de</strong>las. Pareciam exatamente as<br />

suas. -Não lhes terão atrevido!<br />

As mulheres levantaram o olhar, sorrindo <strong>de</strong> orelha a orelha, dissolvendose<br />

em risadas ante sua expressão indignada.<br />

-Sei que não roubariam minha roupa íntima <strong>de</strong> minha gaveta!<br />

-Claro que não - disse justificando-se Hannah. -Nunca entraríamos em seu<br />

quarto.<br />

Abigail colocou as mãos nos quadris e as fulminou com o olhar.


1<strong>03</strong><br />

-Nunca me pus isso. Comprei-as faz meses quando estava <strong>de</strong>cidida a<br />

terminar com o Aleksan<strong>de</strong>r, mas <strong>de</strong>cidi que incluso não estava preparada. Não<br />

po<strong>de</strong>m dizer que as encontrou na máquina <strong>de</strong> lavar roupa.<br />

-Já quase terminamos. - Hannah sustentou em alto seu <strong>de</strong>do e se voltou<br />

para o círculo. Seis das sete velas vermelhas estavam acesas. Só ficava a que<br />

estava diante <strong>de</strong> Hannah. As mulheres entoaram as palavras rituais solenemente.<br />

Conjunto escarlate aumenta a chama da paixão<br />

Convoca ao homem <strong>de</strong> sensual atrativo<br />

Amor luxurioso sobre chão e ca<strong>de</strong>ira<br />

Tabuleiro <strong>de</strong> mesa e guarida da zorra<br />

Os fogos engolem, inflamam os sentidos<br />

Com <strong>de</strong>sejo lhe pulsem, ele pronuncia seu nome<br />

Quando suas vozes se elevaram em um acor<strong>de</strong> harmônico, Hannah acen<strong>de</strong>u<br />

a última vela vermelha fazendo que as sete chamas ar<strong>de</strong>ssem ao redor da sexy<br />

roupa íntima <strong>de</strong> renda.<br />

Abigail cobriu brevemente a face com as mãos.<br />

-Não posso acreditá-lo. De verda<strong>de</strong> que não posso acreditá-lo. - Ela olhou<br />

furiosamente a sua irmã mais nova. -Posso enten<strong>de</strong>r às <strong>de</strong>mais... Hannah e Joley<br />

sobretudo e inclusive a tia Carol... mas Elle, você?<br />

Elle sorriu abertamente, claramente impenitente.<br />

-Não tem que pôr isso Abbey, mas no caso, já as tem.<br />

Hannah completou a cerimônia enrolando o papel que continha as palavras<br />

e símbolos do cântico ao redor do conjunto vermelho e selando o cilindro com<br />

uma gota <strong>de</strong> cera <strong>de</strong> cada uma das velas vermelhas.<br />

-Aí tem, Abbey - disse alegremente. -Só recorda ter muito cuidado quando<br />

as levar postas. Po<strong>de</strong> ocorrer algo.<br />

Abigail colocou suas mãos às costas.<br />

-Todas estão em enormes problemas. Tenho a intenção <strong>de</strong> tomar<br />

represálias. Isto está muito mal! Como encontraram minha roupa íntima<br />

completamente nova quando eu a escondi inclusive <strong>de</strong> mim mesma?<br />

Hannah <strong>de</strong>u <strong>de</strong> ombros.<br />

-Flutuaram escada abaixo justo até o interior do círculo.<br />

Abigail franziu o cenho a Joley.<br />

-Você! Bruxa traidora. Você tem feito isto com seu feitiço musical. Essa<br />

coisa... -assinalou à mão estendida <strong>de</strong> Hannah- é letal especialmente que vou<br />

sair com ele esta noite.<br />

Hannah <strong>de</strong>ixou cair o braço a um flanco, retendo a posse da roupa. A risada<br />

se <strong>de</strong>svaneceu <strong>de</strong> seus olhos.<br />

-Como que vai sair com ele? Ele? Aleksan<strong>de</strong>r? O <strong>de</strong>scarado que lhe fez<br />

chorar? Esse ele? A cerimônia era para quando fosse sair com algum outro. Não<br />

para ele.<br />

-Não é exatamente um encontro- corrigiu-a Abigail. -Necessita que lhe<br />

acompanhe ao Caspar Inn.<br />

-De verda<strong>de</strong>? Dançar sempre é divertido. - Joley arqueou uma sobrancelha<br />

e olhou fixamente Hannah. -Tenho vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> festa esta noite você o que diz?


104<br />

-Não po<strong>de</strong> ir- Abigail disse. -Nenhuma <strong>de</strong> vocês. Po<strong>de</strong>ria ser perigoso.<br />

Joley, já recebeu uns quantos disparos e se viu forçada a nadar através <strong>de</strong> uma<br />

caverna submarina.<br />

-Eu estou com Tia Carol. As lembranças são geniais. Estou tirando<br />

fotografias da baía e documentando a experiência, - disse Joley, piscando um<br />

olho a sua tia. -Disse que acreditava que reservar mesa é a melhor maneira <strong>de</strong> ir.<br />

-Proíbo-lhes <strong>de</strong> irem ao Caspar Inn.<br />

-Põem muito boa música - assinalou Sarah.<br />

-Supõe-se que me estão ajudando- gemeu Abigail. -O que acontece com<br />

todas vocês? Isto po<strong>de</strong>ria ser realmente, realmente perigoso.<br />

-Que é precisamente a razão pela que <strong>de</strong>vemos estar ali- disse Joley. -<br />

Aleksan<strong>de</strong>r o Gran<strong>de</strong> não cuidou <strong>de</strong> você apropriadamente assim vamos<br />

assegurar-nos <strong>de</strong> que se faça.<br />

-Não é como se não fossemos dançar ali todo o tempo- acrescentou Kate. -<br />

É normal que vamos. As pessoas nos esperam. Provavelmente Matt sugerirá que<br />

seu irmão Danny traga Trudy Garret. Estão comprometidos. Esqueci <strong>de</strong> contar<br />

isso. Terá que encontrar uma babá para seu garotinho, Davy, mas se chamar<br />

agora, po<strong>de</strong>rá fazê-lo.<br />

-Quantos mais, melhor- disse Joley. -Você o que diz, Tia Carol? Algumas<br />

das damas <strong>de</strong> sua Re<strong>de</strong> Hat Clube quereriam vir?<br />

-Isto soa <strong>de</strong>licioso, querida. E po<strong>de</strong>ria perguntar ao Reginald também- disse<br />

Carol.<br />

-Reginald? -As irmãs Drake intercambiaram olhadas perplexas.<br />

-Acredito que o conheçam como o Velho do Mar- disse Carol, com um pouco<br />

<strong>de</strong> amargura na voz.<br />

O silêncio se alargou e cresceu. A luz <strong>de</strong> vela se movia tremulamente. As<br />

irmãs olharam Sarah. Ela esclareceu a garganta cuidadosamente.<br />

-Tia Carol. Céu. Não estará consi<strong>de</strong>rando ter um interesse romântico no<br />

Velho… er... no senhor Mar, verda<strong>de</strong>?<br />

-E por que não? É bastante elegante e em sua juventu<strong>de</strong> tinha um<br />

maravilhoso senso <strong>de</strong> humor. Vi-lhe em seu posto <strong>de</strong> fruta e conversamos<br />

durante uma hora. Foi bastante encantador e pareceu muito contente <strong>de</strong> me ver.<br />

-Mas tia Carol- protestou Kate.<br />

-Estava extremamente interessado no Creative Memories e consentiu uma<br />

entrevista comigo para abrir um posto em sua casa. Está convidando às damas<br />

<strong>de</strong> Re<strong>de</strong> Hat Clube e vamos elaborar várias páginas para seus álbuns.<br />

-Não sabia que tivesse uma casa- disse Joley.<br />

Carol lhe <strong>de</strong>u um golpe na cabeça com um periódico enrolado.<br />

-Isso não tem graça, senhorita. Reginald é um homem maravilhoso e sua<br />

casa é preciosa.<br />

-Está nos dizendo que o Velho do Mar vai convidar a um montão <strong>de</strong> gente a<br />

sua casa e fazer uns álbuns <strong>de</strong> fotos?- perguntou incredulamente Abigail.<br />

-Não vejo por que têm que lhes pôr tão parvas com isto - disse Carol. -Tive<br />

um encontro com ele faz anos, antes do Jefferson. Rompi-lhe o coração, embora<br />

sem intenção. Foi difícil escolher com qual ficar. Estava comprometida com<br />

ambos, mas tive que me <strong>de</strong>cidir quando minha mãe o averiguou. Chorei durante<br />

dias.


105<br />

Abigail se <strong>de</strong>ixou cair no chão junto à Hannah.<br />

-De verda<strong>de</strong> teve um romance com ele?<br />

-E chorou por ele?- perguntou Joley.<br />

-Estou me enjoando- disse Hannah.<br />

Abigail agarrou as calcinhas vermelhas enroladas a Hannah.<br />

-Talvez lhe <strong>de</strong>veríamos dar estas, tia Carol.<br />

Joley apertou fortemente sua perna.<br />

-Abbey! Morda a língua. Tia Carol, não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>itar-se com esse homem,<br />

digo-o a sério. Tem hostilida<strong>de</strong> reprimida. Po<strong>de</strong>ria te assassinar e lançar seu<br />

corpo ao oceano.<br />

-Sua hostilida<strong>de</strong> está reprimida- disse Sarah. -Atira fruta às pessoas.<br />

-Isso não lhe converte em um assassino em série -disse Carol.<br />

-Espera um momento. - Libby sustentou em alto sua mão. -Estava<br />

comprometida com ambos os homens? Ao mesmo tempo?<br />

Carol suspirou e mexeu nos cabelos.<br />

-Sei, sei. Foi mal <strong>de</strong> minha parte, mas eram tão maravilhosos. Dois homens<br />

<strong>de</strong> aparência agradável e fortes completamente <strong>de</strong>dicados a mim. Não podia<br />

resistir a nenhum <strong>de</strong>les.<br />

-Tia Carol- Libby escolheu suas palavras cuidadosamente. -estabeleceste<br />

algum outra oficina do Creative Memories?<br />

-Bom, Inez quer dar uma aula em sua casa e é obvio também quer Donna.<br />

Detive-me na casa <strong>de</strong> Irene só para dizer olá e Drew estava interessado em seu<br />

pequeno álbum assim que lhe disse que lhe ajudaria com isso. E me topei com o<br />

Frank Warner. - Ela olhou suas caras. -Foi puramente aci<strong>de</strong>ntal. Ele vinha pela<br />

calçada, tropecei em uma greta e quase caí. Dobrei o tornozelo, mas por sorte ele<br />

impediu que caísse e me ajudou a chegar ao Si<strong>de</strong>walk Café. Tomamos café e<br />

conversamos.<br />

-Jonas disse que se mantivera afastada <strong>de</strong>le - repreen<strong>de</strong>u-a Sarah.<br />

-Deveria ter sido grosseira quando me ajudou?- Carol parecia muito<br />

satisfeita consigo mesma. -Em qualquer caso todo resultou excelentemente.<br />

Reginald passou por aí e nos viu juntos e isso <strong>de</strong>finitivamente conseguiu sua<br />

atenção, e Frank convidou a sua casa para ver sua coleção.<br />

-E por que faria ele isso?- perguntou Kate. -Ele nunca convidou ninguém<br />

para ver sua coleção.<br />

-Bom, querida, ele sabia que compartilho seu interesse e estava sendo<br />

educado. Contei-lhe que minha afeição era a fotografia e me perguntou se<br />

praticaria com sua arte. Tirar boas fotos <strong>de</strong> objetos <strong>de</strong> arte é muito mais difícil do<br />

que a gente pensa. Disse-lhe que lhe daria as fotografias em um álbum junto com<br />

os negativos. Esteve muito disposto a cooperar.<br />

-Sabe, tia Carol- disse Hannah- crê que está a salvo dos sermões <strong>de</strong> Jonas<br />

porque é sua tia favorita, mas isso não lhe <strong>de</strong>terá. Ficará muito bravo e fará você<br />

se sentir culpada.<br />

Carol sorriu serenamente.<br />

-Isso não será possível, carinho. Raramente me permito sentir<br />

culpabilida<strong>de</strong>. É uma emoção extenuante e uma perda <strong>de</strong> tempo. Po<strong>de</strong> ser<br />

realmente auto indulgente e algumas pessoas se vêem apanhadas e se <strong>de</strong>rrubam<br />

na culpabilida<strong>de</strong>. Eu prefiro seguir adiante e viver minha vida. Jonas po<strong>de</strong>


106<br />

arreganhar tudo o que queira, mas o fato é que estou pondo à corrente com Sea<br />

Haven e eu gosto bastante <strong>de</strong> Frank.<br />

Joley pôs as mãos sobre as orelhas.<br />

-Não quero ouvir isto. Temos que ir a suas festas <strong>de</strong> insetos estranha cada<br />

vez que vamos a casa. De fato, acredito que só as organiza quando vamos para<br />

casa para mostrar a suas celebrida<strong>de</strong>s. Detesto ir a essas festas. Temos que nos<br />

vestir bem e nos mesclar com toneladas <strong>de</strong> pessoas que não conhecemos e nunca<br />

encontraremos outra vez.<br />

-Sua linguagem é atroz, Joley. E em seu negócio <strong>de</strong>veria estar acostumada<br />

a tratar com <strong>de</strong>sconhecidos- admoestou-a Carol. -Ajudar a sua comunida<strong>de</strong> é um<br />

<strong>de</strong>ver para todos, não só para uma Drake.<br />

Joley sorriu travessamente.<br />

-Muito bem, se quer ter um encontro com esse homem, adiante. Eu me<br />

penetrarei em sua elegante exposição e bisbilhotarei um pouco por mim mesma.<br />

-Não o fará!- Carol e Sarah o disseram ao mesmo tempo.<br />

-Por que todos po<strong>de</strong>m brincar <strong>de</strong> <strong>de</strong>tetives e divertir-se, menos eu? De fato,<br />

talvez tome essas calcinhas vermelhas. Abigail não as necessita. - Estalou os<br />

<strong>de</strong>dos e esten<strong>de</strong>u a mão.<br />

-Atrás, irmã!- Abigail se encontrou a si mesma rindo outra vez. Sempre era<br />

assim com sua família. Quando estavam juntas, não importava o mal que se<br />

sentisse, suas irmãs arrumava para fazê-la rir. -Falando das calcinhas vermelhas,<br />

tia Carol, não há forma <strong>de</strong> que esse feitiço proceda <strong>de</strong> um livro <strong>de</strong> feitiços. É<br />

muito parvo. De on<strong>de</strong> <strong>de</strong>mônios saiu?<br />

Carol participou da risada quando seu olhar <strong>de</strong>scansou na Hannah.<br />

-Certo que vocês tentam coisas novas todo o tempo, verda<strong>de</strong>, querida?<br />

Hannah sustentou em alto suas mãos.<br />

-Esta vez, sou completamente inocente. Não fui eu.<br />

-Não, não foi você. Foi sua tia Blythe. Ela tem seu talento e uma <strong>de</strong> nossas<br />

amigas mais queridas veio uma noite, chorando. Sua vida era muito difícil, já<br />

sabem. Cuidava <strong>de</strong> seu pai, que estava muito doente, e não tinha tido um<br />

encontro romântico <strong>de</strong>s<strong>de</strong> fazia tempo. Anos, na realida<strong>de</strong>. Assim quisemos fazêla<br />

rir e incrementar sua confiança e Blythe saiu com a cerimônia das calcinhas<br />

vermelhas. É obvio nós rimos histericamente e fizemos rir a nossa amiga e em<br />

conjunto passamos uma tar<strong>de</strong> agradável.<br />

-Mas funciona.<br />

-Bom, claro que o faz. Hannah dirá que ela po<strong>de</strong> agarrar algo muito tolo e<br />

fazê-lo funcionar. As mulheres necessitam confiança às vezes; ao igual a muitas<br />

pessoas levam um talismã e acreditam que lhes dá sorte, o suplemento extra fez<br />

que nossa amiga, e qualquer que utilize o ritual, tão parvo como é, sinta-se<br />

formosa e confiante. Cada vez que põe a roupa íntima vermelha não po<strong>de</strong> menos<br />

que recordar a cerimônia e isso faz rir, assim brilha e isso é atrativo também.<br />

Tudo isso influi na confiança <strong>de</strong> uma mulher.<br />

-Vamos, tia Carol!- disse Joley.<br />

-Hannah, <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> po<strong>de</strong> fazer isso?- Perguntou Abigail. -Cria feitiços?<br />

Hannah <strong>de</strong>u <strong>de</strong> ombros e olhou Joley e as duas romperam a rir.


107<br />

-Fazemos todo o tempo, mas algumas vezes sai o tiro pela culatra. -<br />

Hannah <strong>de</strong>u uma cotovelada em Abigail. -A que hora se supõe que tem que estar<br />

pronta para seu encontro? Está ficando tar<strong>de</strong>.<br />

-Não é um encontro- insistiu Abigail. -Estou-lhe ajudando.<br />

-Virá te buscar ou irá em seu próprio carro?- perguntou Sarah.<br />

-OH, por São Pedro, virá me buscar mas se supõe que tem que parecer um<br />

encontro. Esse é o xis da questão.<br />

-Está segura que quer fazer isto?- perguntou Kate. -Sei que te faz mal estar<br />

em sua companhia.<br />

-Dói quando penso nele, o qual é todo o tempo- admitiu Abigail. -Mas lhe<br />

ajudarei, me assegurarei <strong>de</strong> que não o matem e irá embora rapidamente <strong>de</strong> Sea<br />

Haven. Sempre <strong>de</strong>sfruto indo ao Caspar Inn. Conheço todo mundo ali e me<br />

divertirei. - Olhou seu relógio <strong>de</strong> pulso. -Melhor me arrumar. E vocês parem com<br />

as cerimônias.<br />

Hannah esten<strong>de</strong>u sua mão.<br />

-Eu encerrarei essas sob chave até muito tempo <strong>de</strong>pois que ele se vá.<br />

-Não, não o fará. E será melhor que nenhuma outra <strong>de</strong> minhas coisas<br />

comecem a flutuar através da casa- advertiu Abigail.<br />

-Jonas vem pelo caminho- anunciou Sarah.<br />

-Não quero falar com ele- disse Abigail precipitadamente. -Deixou-me um<br />

par <strong>de</strong> mensagens e não tenho nada que lhe dizer.<br />

-Eu não vou abrir a porta- disse Hannah. -Que o faça outra.<br />

- Abbey- protestou Sarah- é Jonas. Não po<strong>de</strong> simplesmente lhe ignorar.<br />

-Não vou ignorar exatamente, estou ocupada. Há uma gran<strong>de</strong> diferença.<br />

Subiu correndo as escadas enquanto Carol abria a porta principal. Suas<br />

irmãs a seguiram com o olhar com súbita <strong>de</strong>silusão.<br />

Abigail esteve sentada na beira <strong>de</strong> sua cama durante muito tempo envolta<br />

em uma toalha <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> sua ducha. Lentamente rompeu o selo do cilindro <strong>de</strong><br />

papel. O feitiço não tinha que surtir efeito e disse a si mesma que quão único<br />

queria era sentir-se formosa. Precisava sentir-se formosa. Não po<strong>de</strong>ria confrontar<br />

o estar em um lugar cheio <strong>de</strong> mulheres com o Aleksan<strong>de</strong>r e sentir a singela e<br />

velha Abigail Drake.<br />

O Caspar Inn não era sofisticado, não tinha que colocar roupas elegantes,<br />

mas queria algo feminino e atrativo. A estalagem estava cheia <strong>de</strong> música e baile,<br />

um lugar que muitos dos resi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> várias das cida<strong>de</strong>s costeiras visitavam.<br />

Tocou o conjunto vermelho com um pequeno suspiro. Não era como se ela e<br />

Aleksan<strong>de</strong>r tivessem pegado um quarto na estalagem, ou em qualquer outro<br />

lugar na realida<strong>de</strong>.<br />

-Hey!- Hannah apareceu com a cabeça no quarto. -Quer companhia?<br />

Abigail assentiu com a cabeça e esperou até que Hannah fechou firmemente<br />

a porta.<br />

-Jonas está ainda lá abaixo, verda<strong>de</strong>?<br />

-Oh, sim. - admitiu Hannah. -Sarah e Kate lhe distraíram entregando a tia<br />

Carol. Dirige-lhe bastante bem, mas sei que se não pu<strong>de</strong>r fazer que ela faça o<br />

que ele diz, Jonas saltará por mim. Sempre o faz quando está furioso com alguma<br />

das outras. Aparentemente eu sou um alvo fácil, assim me estou escon<strong>de</strong>ndo<br />

aqui contigo- Olhou com curiosida<strong>de</strong> o conjunto vermelho. -O que está fazendo?


108<br />

-Não sei. Sentada, aqui. Decidindo se vou ser boa e me vestir com jeans e<br />

uma agradável e cômoda regata, ou pôr a roupa vermelha e um vestido e fazer<br />

que se retorça. Deveria ser a boa garota ou a má?<br />

-Qual quer ser?<br />

-Má. Muito, muito má. Quero que me olhe e <strong>de</strong>seje o que nunca lhe voltarei<br />

a entregar. Quero que ele sonhe comigo e recor<strong>de</strong> cada vez que me tocou.<br />

-Quer lhe torturar?<br />

-Absolutamente quero lhe torturar. E quero que dure muito tempo- admitiu<br />

Abigail.<br />

-A tortura po<strong>de</strong> ser uma arma <strong>de</strong> duplo fio, Abbey, -aconselhou Hannah. -<br />

Está segura que quer se arriscar? E se você se apaixonar por ele uma vez mais?<br />

Abigail olhou a seu redor como se as pare<strong>de</strong>s pu<strong>de</strong>ssem escutar. Baixou a<br />

voz.<br />

-Nunca <strong>de</strong>ixei <strong>de</strong> lhe amar. Estou tão apaixonada por ele que me põe<br />

doente, mas nunca o voltarei a admitir ante ele.<br />

-Definitivamente ponha esse top negro realmente apertado com sutiã<br />

vermelho <strong>de</strong> renda. O top <strong>de</strong>ixa o ventre <strong>de</strong>scoberto. Tem um ventre genial, por<br />

toda essa natação.<br />

Hannah pegou a escova.<br />

-Solte o cabelo. Nunca o leva solto é provável que ele creia que o terá<br />

preso. Tem um cabelo maravilhoso.<br />

-Não sei se <strong>de</strong>veria estar fazendo isto- Abigail avaliou os riscos.<br />

-Po<strong>de</strong> ser que não, mas po<strong>de</strong>ria fazer você se sentir melhor. E em qualquer<br />

caso, se ele te fizer mal, o converteremos em um sapo ou em uma lesma. Eu me<br />

inclino pela lesma <strong>de</strong> momento. - Riu brandamente. -Esse lugar estará até acima.<br />

Sabe que Sylvia Fredrickson estará ali e paquerará como uma louca. Gina Farley<br />

recorda-a, dirige a creche local agora e Patty Granger provavelmente estejam ali<br />

também. Adoram dançar. A um montão <strong>de</strong> mulheres gostam <strong>de</strong> ir ali para<br />

dançar. Precisará se sentir formosa. - Ela fez uma pausa, permitindo que o cabelo<br />

<strong>de</strong> Abigail se colocasse em seu lugar. -Ele é do tipo dos que olham a outras<br />

mulheres quando está com você?<br />

Abigail riu.<br />

-Conhece-me melhor que isso. Golpearia sua cabeça.<br />

-Está formosa, Abbey, e com suas calças jeans negras se verá<br />

impressionante. Ponha essas que se ajustam a seus quadris. Tem um cinto para<br />

levar ao redor da cintura? Se não eu tenho um genial.<br />

-Eu adoraria tomá-lo emprestado - disse Abigail corajosamente. Hannah ia<br />

sempre feita um figurino, enquanto que Abigail tendia a ficar mais confortável. Se<br />

Hannah dizia que necessitava <strong>de</strong> um cinto certamente colocaria um e ia fazer que<br />

Aleksan<strong>de</strong>r Volstov ficasse pasmo.<br />

-Importa se digo algo?- perguntou Hannah. -É uma observação muito<br />

pessoal.<br />

-Adiante. - Abigail se sentia impru<strong>de</strong>nte.<br />

-Abbey, você nunca foi o tipo <strong>de</strong> mulher que se precipita à luta. Inclusive<br />

quando éramos meninas, na realida<strong>de</strong> não discutia, nem com mamãe e papai,<br />

nem conosco, e menos com seus amigos. Se algo te <strong>de</strong>sgosta você fecha as<br />

portas às pessoas.


109<br />

-Sei que o faço. - Abigail ficou com o olhar fixo em suas mãos para evitar o<br />

olhar <strong>de</strong> Hannah. -Desse modo sobrevivo.<br />

-Não é simplesmente sobrevivência. É sua forma <strong>de</strong> brigar. Recusa-se<br />

contra-atacar e assim não po<strong>de</strong> per<strong>de</strong>r. É uma mulher muito forte e não tem<br />

medo. Faz coisas que a maioria das pessoas nunca fariam. É mais forte que eu,<br />

mas tem que saber que quando fecha essas portas não <strong>de</strong>ixa nada para a outra<br />

pessoa. Todo mundo comete enganos. Todo o mundo. Eu te quero muitíssimo e<br />

tudo o que digo é que não permitiria ao Aleksan<strong>de</strong>r Volstov entrar em nossa casa,<br />

em nossas vidas se ainda não tivesse sentimentos muito fortes por ele. Não<br />

admitiria nem por um segundo que ama Aleksan<strong>de</strong>r e nunca consi<strong>de</strong>raria se<br />

vestir para ele.<br />

Hannah <strong>de</strong>u um passo fora do dormitório, suas mãos se moviam com<br />

elegância pelo ar.<br />

-Só penso que se tiver sentimentos tão fortes por ele, <strong>de</strong>veria consi<strong>de</strong>rar<br />

por que. O que ele fez foi terrível. Ou po<strong>de</strong> ser que para nós seja terrível. Não<br />

tenho nem idéia do que seria tratar <strong>de</strong> viver e trabalhar na confusão do que<br />

esteve ocorrendo em seu país durante os últimos anos. Você sempre foi boa<br />

consi<strong>de</strong>rando todos os lados <strong>de</strong> uma questão, Abbey, mas talvez neste caso não<br />

possa ser imparcial.<br />

Seus <strong>de</strong>dos agarraram um cinto brilhante <strong>de</strong> ouro <strong>de</strong> lei que flutuava<br />

através do vestíbulo para ela.<br />

-Esse será perfeita para você.<br />

-Francamente não sei como me sinto sobre o Aleksan<strong>de</strong>r agora mesmo, -<br />

confessou Abigail enquanto Hannah <strong>de</strong>ixava cair o cinto em sua palma estendida.<br />

-Fechei realmente essa porta. Muito firmemente. Assegurei-me <strong>de</strong> me manter em<br />

movimento para que não houvesse possibilida<strong>de</strong> que ele pu<strong>de</strong>sse me alcançar.<br />

Devolvi suas cartas sem abrir. Não havia nada que dizer. Não lhe conheço.<br />

Acreditava que lhe conhecia, mas não. Não posso estar nem confiar em um<br />

homem ao que não conheço.<br />

-Sente-se muito atraída por ele- disse Hannah. -E quando está perto <strong>de</strong><br />

você suas auras se mesclam. Não estão bem <strong>de</strong>finidas. A casa lhe <strong>de</strong>ixou entrar.<br />

Diz que não o quer, mas foi com ele em caiaque e certamente não tinha por que<br />

fazê-lo. Vai com ele esta noite e outra vez não há uma autêntica razão. O que<br />

digo é, que não é uma mulher que faça coisas que não quer fazer. Você quer<br />

estar com ele. Se não quisesse, Abbey, ele nunca se aproximaria <strong>de</strong> você. Estaria<br />

no mar ou na praia ou voando para a Austrália ou Florida ou qualquer outro lugar<br />

on<strong>de</strong> vá estar com seus golfinhos. Não estaria aqui com ele.<br />

Abigail passou o apertado top pela cabeça.<br />

-Desejaria que não tivesse razão, Hannah. - retirou-se os cabelos do<br />

pescoço e o <strong>de</strong>ixou voltar a seu lugar -Não tenho nem idéia do que fazer com ele.<br />

Muito me temo que nunca voltasse a sobreviver a ele.<br />

-Por que?- Hannah rebuscou no porta jóia para encontrar os brincos mais<br />

a<strong>de</strong>quados. -Nem sequer sabe por quê?<br />

De pé com a calcinha vermelha e o top negro, Abigail parecia vulnerável<br />

enquanto pressionava os jeans negros contra seu peito.<br />

-Não acredito que o amor tenha que ser assim, Hannah. Dói todo o tempo.<br />

Penso nele todo o tempo. Sempre estive completa sem um homem, mas <strong>de</strong>


110<br />

algum modo ele trocou isso e agora olho para ele, esse homem que era meu<br />

mundo e me pergunto se realmente lhe conheci. Ele não é como eu pensava.<br />

-O que pensava?<br />

Abigail se afundou na cama.<br />

-Palavras como gentil e terno me vêm à mente. Agora o olho e penso em<br />

palavras como duro e <strong>de</strong>sumano. Como po<strong>de</strong> ser?<br />

-Todos têm muitos lados. Você os tem. Sabe que os tem. Por que sempre<br />

tem tanto cuidado <strong>de</strong> se manter sob controle? Tem caráter e é bastante capaz <strong>de</strong><br />

se <strong>de</strong>sforrar quando alguém incomoda você. Por isso se afasta, tem medo do que<br />

po<strong>de</strong>ria fazer.<br />

Abigail sacudiu a cabeça.<br />

-Não é o mesmo. Pensei que era o mesmo, mas não o é.<br />

Hannah suspirou.<br />

-Não estou segura sobre o que fala assim não posso te ajudar. Ele te faria<br />

mal? Mataria-te?<br />

-Não! Céus não! Ele nunca me faria mal sem importar quão zangado<br />

estivesse. Não. - Abigail sacudiu a cabeça. -Aleksan<strong>de</strong>r se colocaria na frente<br />

para receber uma bala por mim. -Fez-se um pequeno silêncio. Abigail parecia<br />

emocionada. -Acabo <strong>de</strong> dizer isso? É certo, mas não tinha pensado nisso.<br />

Hannah tocou sua mão.<br />

-Se sabe isso tão profundamente em seu coração, Abbey, suspeito que<br />

sabe o muito apaixonado que ele está você. Talvez <strong>de</strong>va a ambos dar outra<br />

oportunida<strong>de</strong>, averiguar exatamente o que ocorreu, seus motivos e ver se po<strong>de</strong><br />

viver com eles.<br />

Abigail colocou as calças.<br />

-Não sei. Ainda não posso acreditar que ele esteja aqui. Parece um sonho. E<br />

me disse que acredita que um homem chamado Leonid Ignatev pôs preço a sua<br />

cabeça. Ignatev tentou um jogo <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r me utilizando como peão e Aleksan<strong>de</strong>r<br />

arrumou para me tirar da Rússia e lhe <strong>de</strong>rrotar.<br />

-Isso não é bom. - disse Hannah e se sentou na cama. -O há dito Jonas?<br />

-Não po<strong>de</strong>mos dizer a Jonas. Tentaria que <strong>de</strong>portassem Aleksan<strong>de</strong>r só para<br />

lhe afastar <strong>de</strong> nós. Sabe que o faria. Não quereria Aleksan<strong>de</strong>r em nenhum lugar<br />

perto <strong>de</strong> nós. - Ela esfregou as têmporas. - Eu não <strong>de</strong>veria lhe <strong>de</strong>ixar estar em<br />

nenhum lugar perto <strong>de</strong> nenhuma <strong>de</strong> vocês, mas conheço todas muito bem. Não<br />

importará o que eu diga. Intrometem-se <strong>de</strong> todas as formas.<br />

Hannah riu.<br />

-Tem muita razão, embora esteja preocupada com a tia Carol brincando <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>tetive com Frank Warner. Nenhuma <strong>de</strong> nós lhe conhece realmente bem.<br />

Po<strong>de</strong>ria estar envolto nisto?<br />

-Ele é muito amigo <strong>de</strong> Inez e ela é uma juíza genial <strong>de</strong> caráter. Não sei. Na<br />

superfície parece que alguns pequenos indícios apontam para ele, mas não quero<br />

tirar conclusões precipitadas- disse Abigail. Colocou-se o cinto <strong>de</strong> ouro ao redor<br />

da cintura. -O que te parece?<br />

-Parece-me que vai <strong>de</strong>ixá-lo louco- disse Hannah. -Não me surpreen<strong>de</strong>ria<br />

que a maior parte <strong>de</strong> Sea Haven apareça esta noite no Caspar Inn.<br />

-Espero todo mundo. Não há forma <strong>de</strong> que tia Carol e seus amigos se<br />

mantenham afastados. E po<strong>de</strong>ria valer a pena ver seu Reginald.


111<br />

-Desejaria po<strong>de</strong>r atrair aos homens como faz ela- disse Hannah<br />

tristemente.<br />

-Hannah!- Abigail abraçou a sua irmã. -Você atrai a toneladas <strong>de</strong> homens.<br />

Hannah sacudiu a cabeça.<br />

-Não, não o faço. Ninguém me convida nunca para sair.<br />

-Quer que alguém te convi<strong>de</strong> para sair? Há alguém em particular em quem<br />

está interessada?- perguntou Abigail.<br />

Hannah <strong>de</strong>u <strong>de</strong> ombros.<br />

-Não. Não realmente. Só gostaria <strong>de</strong> ser capaz <strong>de</strong> ter um encontro se<br />

alguém interessante aparecesse.<br />

Abigail estudou a cara <strong>de</strong> sua irmã, com sua perfeita estrutura óssea.<br />

Hannah era formosa com sua pele imaculada e suas enormes e espessas<br />

pestanas.<br />

-Ocorrerá.<br />

Hannah lhe lançou um breve sorriso.<br />

-Magicamente po<strong>de</strong>rei falar sem gaguejar?<br />

-Po<strong>de</strong> falar com todas nós sem gaguejar. E às vezes com o Jonas. Nem<br />

sempre lhe ajudamos quando ele está ao redor.<br />

-Jonas não conta. Tenho que po<strong>de</strong>r falar com ele para me <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r. E<br />

nunca falo <strong>de</strong> nada importante com ele.<br />

-Ocorrerá.<br />

-Abigail!- A voz <strong>de</strong> Jonas subiu como um estampido escada acima.<br />

Hannah se sobressaltou visivelmente.<br />

-Acredito que vou me vestir e ver se Joley quer vir comigo esta noite.<br />

-Realmente irá aparecer no Caspar Inn, verda<strong>de</strong>?- perguntou Abigail.<br />

-Não per<strong>de</strong>ria isso por nada do mundo- disse Hannah.<br />

-Me <strong>de</strong>seje sorte. - Abigail piscou a Hannah e elevou a voz. -Já vou, Jonas,<br />

não há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar aos mortos. - Ela se apressou escada abaixo<br />

para lhe impedir <strong>de</strong> subir e tropeçar-se com Hannah.<br />

-Sinto muito, Abbey. - Jonas passou a mão pelos cabelos, <strong>de</strong>ixando-o<br />

alvoroçado. -Tenho muitas coisas na cabeça e acredito que Tia Carol vai ser<br />

minha morte. Se a máfia russa estiver <strong>de</strong> alguma forma mesclada com o Frank<br />

Warner, a verda<strong>de</strong> é que não a quero por ali com sua câmara.<br />

-Comeu algo hoje? Parece cansado- disse Abbey. -Vêem a cozinha<br />

enquanto falamos e lhe prepararei algo para comer.<br />

-Obrigado, posso tomar algo no Salt Bar e Grill mais tar<strong>de</strong>.<br />

-Não há problema- Conduziu-lhe para a cozinha e lhe assinalou uma<br />

ca<strong>de</strong>ira. -Não po<strong>de</strong> velar por todo mundo, Jonas. Somos todos responsáveis pelas<br />

escolhas que fazemos.<br />

-Isso eu sei, Abbey. - Jonas apartou uma ca<strong>de</strong>ira com a ponta do pé e a<br />

montou escarranchado, observando como ela agitava casualmente uma mão para<br />

o fogão. -Tenho amigos em todos os pequenos povoados <strong>de</strong>ste litoral. A máfia<br />

joga forte. Se estiverem aqui, quero saber por que. E os quero fora daqui antes<br />

que alguém mais resulte machucado.<br />

-Falou com a Marsha? Como se encontra Gene?


112<br />

-Ainda em cuidados intensivos. Sem você e suas irmãs, estaria morto.<br />

Marsha envia seu amor e diz que fará contato quando Gene estiver fora <strong>de</strong><br />

perigo.<br />

-Pô<strong>de</strong> dizer algo?<br />

Jonas negou com a cabeça.<br />

-Não, ainda está em coma. Os médicos não estão seguros <strong>de</strong> que seja<br />

capaz <strong>de</strong> recordar muito, ou algo absolutamente, inclusive se acordar.<br />

-Pobre Marsha. A família inteira <strong>de</strong>ve estar <strong>de</strong> causar pena. - Abigail<br />

suspirou. -Qualquer um pensaria, que em um povoado tão pequeno, seria fácil<br />

encontrar a um grupo <strong>de</strong> russos. Alguém <strong>de</strong>ve saber on<strong>de</strong> estão ficando, Jonas.<br />

Têm que estar em algum hotel ou hospedaria ou em alguma estalagem. Uma vez<br />

os encontre, todo mundo po<strong>de</strong> manter um olho neles. - Abigail bateu vários ovos<br />

e verteu a mescla na frigi<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> omeletes.<br />

-Infelizmente não é tão fácil. Fiz averiguações, é obvio, mas suponho que<br />

alugaram uma casa através <strong>de</strong> um terceiro assim que o dono da casa nem sequer<br />

sabe quem a alugou. - Assinalou aos ovos. -Mais queijo. Eu gosto com um<br />

montão <strong>de</strong> queijo.<br />

-Estou <strong>de</strong>ixando espaço para verduras. Precisa se nutrir bem. - Suas mãos<br />

voaram pelas verduras fazendo pequenos e fino cortes sobre elas. -É obvio, se<br />

forem todos como Aleksan<strong>de</strong>r e po<strong>de</strong>m falar inglês sem sotaque... - interrompeuse.<br />

-Ele tem sotaque.<br />

-Só quando quer ter. Conheço alguns idiomas, Jonas, e falo seis<br />

medianamente bem, mas nada como Aleksan<strong>de</strong>r. Ele fala com um acento nativo<br />

perfeito, sempre que quer. E <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do dialeto local po<strong>de</strong> trocar o som para<br />

mesclar-se igualmente. Ele é um gênio no que se refere a idiomas.<br />

-Então por que fala com acento russo?<br />

Abigail se <strong>de</strong>u a volta ante o tom <strong>de</strong> voz <strong>de</strong> Jonas. Ele já não estava<br />

sentado relaxado, a não ser completamente alerta, seus olhos brilhavam como<br />

duros diamantes.<br />

-Não sei. É uma boa pergunta. Também falava com acento quando<br />

estávamos na Rússia, mas lhe ouvi falar um inglês impecável e po<strong>de</strong> soar como<br />

se fosse do sul ou um nativo da Califórnia. Eu não po<strong>de</strong>ria assinalar a diferença.<br />

Disse que tinha sido treinado assim.<br />

-Certo que sim- Jonas ficou em pé <strong>de</strong> um salto. -Tem café por aqui?<br />

-Nós não tomamos café, Jonas, já sabe. O que passa?<br />

-Ele é um agente, isso é o que acontece. Provavelmente é um espião.<br />

-Já não há guerra fria... Ainda temos espiões?<br />

-Sabe, Abbey, não é graciosa. Tem que tomar tudo isto muito a sério.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r Volstov é um mau assunto olhe como o olha.<br />

Abigail jogou um molho <strong>de</strong> verduras no ovo batido.<br />

-Sou muito consciente do que é Aleksan<strong>de</strong>r e do que não é. Ele diz que está<br />

aqui fazendo um trabalho para a Interpol, Jonas. Não sou tão sutil para te<br />

enganar.<br />

Houve um silêncio pequeno.<br />

-Obrigado- Jonas agra<strong>de</strong>ceu.<br />

-De nada. Acen<strong>de</strong> a água para o chá.


113<br />

Ele olhou ao redor.<br />

-On<strong>de</strong> está Hannah quando a necessita? De fato, on<strong>de</strong> está todo mundo?<br />

Todas <strong>de</strong>sapareceram.<br />

-Tem medo <strong>de</strong> que se volte contra ela. - Apoiou seu quadril na bancada e<br />

lhe apontou com a espátula. -Realmente a chamou <strong>de</strong> cabi<strong>de</strong> <strong>de</strong> arame?<br />

-Maldição, Abbey, não vá por esse caminho.<br />

-Fez verda<strong>de</strong>? Isso foi cruel, Jonas. Por que é assim com ela? Não crê que<br />

tenha sentimentos?<br />

-Ela sabe que é linda, Abbey. Demônios, todos sabem. Está na capa <strong>de</strong><br />

cada revista daqui ao inferno e volta. Seria cruel se fosse certo. Não me po<strong>de</strong><br />

dizer que firo seus sentimentos quando lhe digo que <strong>de</strong>ve ganhar um pouco <strong>de</strong><br />

peso.<br />

-Ela não precisa ganhar peso para ser bonita, Jonas.<br />

-Não, precisa ganhar peso para estar sã. Vai ficar aí e me dizer que não<br />

notou o pálida e frágil que a vê ultimamente? Um bom vento a po<strong>de</strong>ria tombar.<br />

Fazem-na trabalhar muito.<br />

Abigail girou a omelete cuidadosamente.<br />

-Deixemos isto claro. Observou que Hannah estava pálida, parecia frágil e<br />

com um peso insuficiente e estava preocupado porque crê que está trabalhando<br />

muito, assim sua solução foi lhe dizer que parecia um cabi<strong>de</strong> <strong>de</strong> arame para<br />

roupa?<br />

-Quando o expõe assim, não soa muito bem, mas essa não é a forma em<br />

que o disse.<br />

-Sim, assim soou. Do que outra forma pô<strong>de</strong> soar?- Abigail on<strong>de</strong>ou a mão<br />

para o cesto e esse se abriu.<br />

-É um near<strong>de</strong>ntal, Jonas. E todo este tempo eu pensando que era um<br />

encanto com as mulheres.<br />

-Estive-a controlando ultimamente e não parece estar bem. Pensei pedir a<br />

Libby que lhe <strong>de</strong>sse uma olhada enquanto está aqui, mas então o inferno se<br />

<strong>de</strong>satou por aqui com esse assassinato e não tive oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> falar com a<br />

Libby a sós.<br />

-Hannah está bem. - Inclusive enquanto o dizia, Abigail se perguntava se<br />

era verda<strong>de</strong>. Realmente sabia? Tinha estado tão metida em seus próprios<br />

problemas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que tinha chegado a casa, que realmente não tinha emprestado<br />

muita atenção a nenhuma <strong>de</strong> suas irmãs. Isso a fez envergonhar-se. -Sentiríamos<br />

se não o estivesse.<br />

-Seriamente? Ela escon<strong>de</strong> coisas às pessoas. Eu não sabia que tinha asma<br />

até o último Natal. Conheço-a toda a vida. Como podia não saber isso?<br />

Ela colocou a omelete em um prato e a ofereceu.<br />

-Há muitas coisas que não sabe a respeito <strong>de</strong> Hannah.<br />

-Estou começando a me dar conta disso. E não acredito que seja só eu.<br />

Observo-a agora que está em casa. Sempre faz coisas por outros. Quem as faz<br />

por ela?- Jonas comeu um bocado e sorriu abertamente para ela. -Po<strong>de</strong> cozinhar.<br />

Não tinha nem idéia.<br />

Abigail se encontrou rindo.<br />

-Assombroso, verda<strong>de</strong>? Auto conservação. Alguns lugares on<strong>de</strong> estive<br />

investigando não têm comida rápida ou restaurante.


114<br />

-Hey, vocês dois. - Hannah entrou na cozinha, apoiando um magro quadril<br />

contra a porta.<br />

Abigail estudou sua irmã e pela primeira vez pô<strong>de</strong> ver sinais <strong>de</strong> cansaço.<br />

Estava mais magra que o habitual, embora Abbey tivesse que admitir, que isso<br />

não parecia importar. Hannah era tão atrativa e exótica que parecia bonita<br />

estivesse como estivesse.<br />

-Está faminta? Estou cozinhando.<br />

-Só chá para mim. - Hannah on<strong>de</strong>ou a mão para a bule e esse assobiou<br />

imediatamente.<br />

Jonas sorriu abertamente.<br />

-Eu adoro como faz isso.<br />

A sobrancelha <strong>de</strong> Hannah subiu rapidamente.<br />

-Não acreditava que você adorasse nada que eu fizesse.<br />

-Esta bem vestida. Aon<strong>de</strong> vai?- perguntou Jonas.<br />

-Levo jeans e uma camisa muito cômoda- assinalou Hannah. -Quem se<br />

arrumou foi Abigail.<br />

Jonas se virou para olhá-la.<br />

-Raios! Está genial.<br />

-Obrigado por se dar conta- disse Abbey secamente.<br />

-Tem um encontro com o Aleksan<strong>de</strong>r- anunciou Hannah.<br />

-Ele não me perguntou aon<strong>de</strong> ia.<br />

-Pergunto-lhe agora. - Jonas fulminou com o olhar Abigail.<br />

-Há alguém na porta- disse Hannah com um pequeno sorriso.<br />

-Fique aqui mesmo que vou ver- disse Jonas e partiu através da casa para<br />

abrir bruscamente a porta principal.<br />

Capítulo - 10<br />

-Harrintong- saudou Aleksan<strong>de</strong>r, com traços inexpressivos enquanto<br />

atravessava a porta, obrigando Jonas a lhe ce<strong>de</strong>r espaço. -Abbey está preparada?<br />

-Sim, estou. - disse Abigail precipitadamente e tentou empurrar Jonas, que<br />

estava lhe obstruindo o passo. Intercambiou um olhar com a Hannah, pondo os


115<br />

olhos em branco enquanto o fazia. Os homens tinham que fazer posturas todo o<br />

tempo?<br />

Aleksan<strong>de</strong>r ro<strong>de</strong>ou Jonas e segurou sua mão.<br />

-Está realmente formosa, baushki-bau. - Sua palma acariciou os cabelos<br />

enquanto a aproximava <strong>de</strong>le.<br />

Seu acento era muito mais evi<strong>de</strong>nte e Abigail imediatamente se sentiu<br />

culpada por haver contado a Jonas da super habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r com os<br />

idiomas. Sentiu seus <strong>de</strong>dos fechar-se ao redor dos <strong>de</strong>la, seu calor corporal<br />

envolvendo-a, a força <strong>de</strong> seus músculos enquanto a encaixava sob seu ombro.<br />

Era-lhe tudo tão familiar. Inclusive cheirava como recordava, limpo, masculino e<br />

muito atrativo para seu gosto.<br />

Seu corpo se movia contra o <strong>de</strong>la quase protetoramente quando saíram<br />

andando ao ar noturno. Ao longe o oceano ressonou e pô<strong>de</strong> cheirar o sal no ar. O<br />

céu era claro e as estrelas cintilavam. Uma noite perfeita, justo o que<br />

necessitava.<br />

-Está longe, Abbey. - Sua voz foi baixa, seus lábios contra o ouvido <strong>de</strong>la. -<br />

Me conte o que vai mal.<br />

Ela agitou a mão para abranger os arredores.<br />

-Isto. Você. Eu. Sempre estou tão perdida a seu redor, Sasha.<br />

Ele levou sua mão à boca.<br />

-Não ao redor <strong>de</strong> mim, não enquanto esteja com você, você nunca estará<br />

perdida, Abbey.<br />

A pele formigou ali on<strong>de</strong> os lábios <strong>de</strong>le roçaram seus nódulos. Em todo o<br />

tempo que fazia que conhecia Aleksan<strong>de</strong>r, nunca tinha havido silêncios torpes<br />

entre eles. Agora, sentia-se nervosa e agitada. Com suprema auto-disciplina,<br />

Abigail apartou sua mão <strong>de</strong>le.<br />

-Como vai a investigação?<br />

Houve outro pequeno silêncio e logo ele suspirou com resignação.<br />

-Vai. Tenho algumas pistas. Depois do primeiro exame o colar parece ser<br />

autêntico, mas é obvio o enviamos aos autênticos peritos. - Abriu a porta do<br />

passageiro <strong>de</strong> seu carro para ela.<br />

-Nós?- Inclinou a cabeça, vacilando antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>slizar-se no assento. -Tem<br />

alguém trabalhando com você?<br />

-Era uma forma <strong>de</strong> falar.<br />

-Tem certeza?- Ele fechou a porta e Abigail se sentiu apanhada. Essa<br />

sensação se intensificou quando ele entrou pelo lado do condutor. Seus ombros<br />

quase tocavam os <strong>de</strong>la. Suas mãos eram gran<strong>de</strong>s, fechando os <strong>de</strong>dos ao redor do<br />

volante e lhe recordando muitas coisas. Apartou a cara <strong>de</strong>le para olhar fixamente<br />

pela janela. Por que estava pensando em seu tato, seu beijo, o sabor e a<br />

sensação <strong>de</strong>le em lugar <strong>de</strong> traição e mentiras? Inspirou, tomando em seu corpo<br />

quando <strong>de</strong>veria ter estado rígida e resistente. Imediatamente conteve o fôlego,<br />

procurando evitar a fragrância e sensação <strong>de</strong>le. Tratando <strong>de</strong> não notar que suas<br />

mãos estavam tremendo e, por <strong>de</strong>ntro, seu estômago se apertava em rígidos nós<br />

pela espera.<br />

Quando o veículo entrou na estrada principal, Aleksan<strong>de</strong>r tratou <strong>de</strong> alcançar<br />

sua mão outra vez, entrelaçando seus <strong>de</strong>dos com os <strong>de</strong>la.


116<br />

-Não respira. Se continuar assim terei que fazer o boca a boca e já sabe<br />

aon<strong>de</strong> nos levará isso.<br />

A voz <strong>de</strong>le foi tão baixa e sensual que pareceu vibrar através <strong>de</strong> seu corpo<br />

inteiro. A idéia <strong>de</strong> sua boca sobre a <strong>de</strong>la era perigosa. Recordou a primeira vez<br />

que ele a beijou. Sentiu-o como uma marca, como se lhe tivesse roubado uma<br />

parte <strong>de</strong>ixando seu rastro para sempre.<br />

-Provavelmente <strong>de</strong>smaiaria - formou um pequeno sorriso. -E então on<strong>de</strong><br />

estaria?<br />

-Entre meus braços. A salvo.<br />

Abigail <strong>de</strong>ixou que o silêncio se esten<strong>de</strong>sse entre eles durante alguns<br />

minutos. A idéia <strong>de</strong> estar entre seus braços realmente quase a fez <strong>de</strong>smaiar. Era<br />

perigoso.<br />

-O que quer que faça esta noite?<br />

Pressionou-lhe a mão sobre a coxa e a manteve ali. Podia sentir a forma e<br />

força dos músculos <strong>de</strong>le sob o fino tecido <strong>de</strong> suas calças.<br />

-Simplesmente se divirta. Nikitin gosta <strong>de</strong> música e o Caspar Inn tem um<br />

bom espetáculo em vivo assim é lógico que vai estar ali. Reconhecerá-me, é<br />

obvio, e terá a seu guarda-costas, assim tudo será amistoso. Quero ver com<br />

quem fala, quem está com ele. E logo, vou seguir lhe. Têm que estar escondidos<br />

em uma casa em algum lugar. Não se arriscariam com um hotel. Terão utilizado<br />

um intermediário que lhes alugasse a casa.<br />

-É muito provável que minha família apareça- advertiu-lhe ela. A<br />

temperatura parecia aumentar no carro, ao menos subia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> seu braço e ardia<br />

em sua face.<br />

Ele <strong>de</strong>u <strong>de</strong> ombros.<br />

-Isso nos ajudará a aparentar que é um encontro.<br />

-Haverá algum perigo para minhas irmãs?<br />

-Nikitin nunca começaria problemas em púbico. Mantém a ilusão <strong>de</strong> ser um<br />

homem <strong>de</strong> negócios muito honrado.<br />

-Aleksan<strong>de</strong>r, acredita que Nikitin é o responsável por pôr preço a sua<br />

cabeça? Crê que ele mesmo fará um intento? -Não havia forma <strong>de</strong> ocultar a<br />

ansieda<strong>de</strong> em sua voz e Abigail nem sequer o tentou.<br />

-Não com todo mundo diante. E Nikitin é um intermediário. Ele colhe o<br />

dinheiro e faz os acordos, mas nunca aperta o gatilho. Em realida<strong>de</strong> se acha<br />

mesmo um homem <strong>de</strong> negócios, não um criminoso. - Lançou um breve sorriso. -<br />

Em meu país algumas vezes a linha é muito fina.<br />

-Em qualquer país às vezes a linha é muito fina. - encontrou-se começando<br />

a relaxar-se, mas não era bom quando precisava manter sua armadura estando<br />

ele ao redor. Tinha posto o perfume que ela tanto gostava; cheirava áspero e<br />

tentador.<br />

-Leonid Ignatev está atrás do contrato. A menos que me arrume isso para<br />

lhe neutralizar, terei que olhar sobre meu ombro o resto <strong>de</strong> minha vida.<br />

Entretanto saiba, Abbey que não é nada novo. Enviou a outros por mim, mas eles<br />

falharam e eu não. -<strong>de</strong>u <strong>de</strong> ombros. -Assim é a vida.<br />

Ela sacudiu a cabeça.<br />

-Não, não é. Essa não é a forma <strong>de</strong> viver. Cedo ou tar<strong>de</strong> alguém vai estar<br />

te esperando e você não estará preparado.


117<br />

Os <strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>le cintilaram em um débil sorriso.<br />

-Pensei que estaria a salvo algum tempo nos Estados Unidos investigando<br />

obras <strong>de</strong> arte roubadas, mas parece que me coloquei em um ninho <strong>de</strong> vespas.<br />

-Isso parece. Não acredito nas coincidências. Se houver arte russa roubada<br />

aqui, eles têm que estar envolvidos <strong>de</strong> algum modo, não crê?<br />

Ele assentiu enquanto entravam no Caspar saindo da estrada principal.<br />

-Eu tampouco acredito nas coincidências, Abbey. Em qualquer caso, nada<br />

sai da Rússia sem que Nikitin saiba. E quereria sua parte.<br />

-Aleksan<strong>de</strong>r- Abigail esperou até que ele estacionou o carro no<br />

estacionamento do Caspar Inn. -Po<strong>de</strong> falar sem acento, mas não o faz. Por que<br />

não?<br />

-É o que se espera <strong>de</strong> mim, baushki-bau, e <strong>de</strong> todas as formas não quero<br />

aparentar nada diferente.<br />

-Não, claro que não. - Suspirou brandamente. -Por que me chama baushkibau?<br />

On<strong>de</strong> o ouviu?<br />

Pela primeira vez <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que lhe conhecia, Aleksan<strong>de</strong>r pareceu quase<br />

vulnerável, se tal coisa fosse possível.<br />

-É só um terno carinhoso. Não há tradução.<br />

-Isso sei, mas <strong>de</strong> on<strong>de</strong> o tirou? Por que o usa?<br />

Ele se virou para ela e, no interior do carro, pareceu ocupar todo o espaço.<br />

Seus <strong>de</strong>dos se apertaram ao redor dos <strong>de</strong>la.<br />

-É uma tolice, <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, Abbey.<br />

-Bom, diga-me <strong>de</strong> toda forma.<br />

Ele passou a mão pelos cabelos, outro indício <strong>de</strong> nervos. Aleksan<strong>de</strong>r<br />

Volstov, o homem com nervos <strong>de</strong> aço. Agora estava realmente intrigada. Manteve<br />

constante contato visual, negando-se a lhe permitir escapar sem uma<br />

explicação.<br />

-Isto é ridículo, Abbey, é só um nome absurdo. - Quando ela seguiu lhe<br />

olhando fixamente, <strong>de</strong>u <strong>de</strong> ombros casualmente. -Quando estava na casa on<strong>de</strong><br />

me criei, havia uma mulher que era realmente boa conosco. Cantava-nos uma<br />

canção <strong>de</strong> ninar pelas noites, ou quando um dos meninos menores estava doente<br />

ou assustado. Algumas vezes utilizava esse termo em particular.<br />

-E essa é a canção <strong>de</strong> ninar que sempre me cantava- Lhe fez um nó na<br />

garganta. Pela primeira vez ela pensou na diferença na forma em que ambos<br />

tinham sido educados. Um garotinho em uma casa com outros muitos meninos.<br />

Nenhum <strong>de</strong>les dotado com pais amorosos e nenhuma casa cheia <strong>de</strong> amor e<br />

risada. Emoldurou-lhe a face com as mãos. -Adoro essa canção.<br />

O alívio cintilou brevemente nos olhos <strong>de</strong>le.<br />

-Eu também, mas sei que é um <strong>de</strong>sses vestígios da infância dos que sempre<br />

estamos tratando <strong>de</strong> nos <strong>de</strong>sfazer.<br />

-Isso faz você humano, Sasha. Acredito que faz gran<strong>de</strong>s esforços para não<br />

sentir emoções. Isso não é nada bom.<br />

-Algumas vezes é preciso para sobreviver.<br />

Sentiu-o por <strong>de</strong>ntro por ele. Pelos dois. Sua vida tinha sido tão diferente e<br />

ainda assim, quão mesma a <strong>de</strong>la.<br />

-Odiaria que realmente tivesse razão.<br />

-Sobre o que?


118<br />

-Sobre que <strong>de</strong>veríamos estar juntos. - Quase se tampou a boca com as<br />

mãos, mas as palavras tinham escapado antes <strong>de</strong> que po<strong>de</strong>r as <strong>de</strong>ter. Tinham<br />

que ser as calcinhas vermelhas falando. Certamente não podia estar tão perto<br />

<strong>de</strong>le e não perceber seu fôlego sobre a pele e ansiar seu corpo <strong>de</strong>ntro do <strong>de</strong>la.<br />

-Tenho razão.<br />

Um pequeno sorriso curvou sua boca.<br />

-Sempre crê tê-la. Entremos antes que me meta em mais problemas. -<br />

Abriu sua porta rapidamente, <strong>de</strong>slizando-se fora no ar fresco da noite antes que<br />

pu<strong>de</strong>sse <strong>de</strong>tê-la.<br />

Ele também saiu rapidamente e seu olhar varreu o estacionamento, o<br />

edifício, e a rua, como sempre fazia. Com muito cuidado. Meticulosamente.<br />

Tomando nota <strong>de</strong> cada <strong>de</strong>talhe. Apren<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> cor o traçado. Aleksan<strong>de</strong>r passou<br />

seu braço ao redor <strong>de</strong> Abigail e a conduziu para a pare<strong>de</strong> atrás <strong>de</strong> um dos muitos<br />

arbustos. Seu corpo pressionou contra o <strong>de</strong>la, seus ombros bloquearam a luz do<br />

alpendre. Apanhou-lhe as mãos contra a pare<strong>de</strong> a ambos os lados da cabeça.<br />

Ela parecia pequena e ligeira, com suas curvas suaves apertadas contra<br />

seu peito. As lembranças lhe alagaram. O calor <strong>de</strong> sua pele, a percepção e<br />

textura. Os cabelos <strong>de</strong>rramando-se sobre seu corpo como uma cascata sedosa.<br />

Seu tato. Seu sabor. A boca que provocava seus sentidos até um terrível <strong>de</strong>sejo.<br />

Seu corpo movendo-se com um ritmo perfeito abaixo do <strong>de</strong>le.<br />

Um homem não tinha tanta disciplina. Tinha vivido muitos meses sem<br />

risadas ou o brilho do sol. Muitas noites sem o consolo <strong>de</strong>ste suave corpo. Não<br />

podia esperar até havê-la convencido. Inclusive sabia que a estava pressionando<br />

mas era muito tar<strong>de</strong>. Com um pequeno gemido, inclinou sua cabeça para a <strong>de</strong>la.<br />

Seus lábios eram frescos e suaves e pareceram <strong>de</strong>rreter-se sob os seus.<br />

Riscou sua boca com a língua, percorrendo a comissura <strong>de</strong> seus lábios para<br />

persuadir que os abrisse para ele. O <strong>de</strong>sejo era ar<strong>de</strong>nte e ávido, arranhando seu<br />

interior e propagando-se mais abaixo, correndo velozmente através <strong>de</strong> suas veias<br />

com um tipo <strong>de</strong> fome voraz que endureceu seu corpo até uma dor intolerável.<br />

Beijou-a uma e outra vez, incapaz <strong>de</strong> saciar-se, incapaz <strong>de</strong> afastar-se <strong>de</strong>la.<br />

Seu corpo empurrava agressivamente contra o <strong>de</strong>la e a envolveu entre seus<br />

braços, arrastou-a tão perto que logo só havia espaço entre eles para suas<br />

roupas. Sentia-se faminto <strong>de</strong>la. Tremia <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo. Com uma necessida<strong>de</strong> feroz <strong>de</strong><br />

abraçá-la para sempre.<br />

-Quero <strong>de</strong>ter o tempo, Abbey. Quero que todo mundo <strong>de</strong>sapareça e nos<br />

permita só estar juntos. - Sussurrou contra o ouvido e retornou a sua boca. <strong>Fogo</strong><br />

e mel, uma combinação que nunca po<strong>de</strong>ria resistir. Ela punha seu mundo do<br />

reverso e o fazia sentir-se como se tivesse tudo. Como se tudo o que ele fazia<br />

valesse a pena. -Como o faz?- murmurou, levando-se seus cabelos aos lábios. -<br />

Como me faz sentir fora <strong>de</strong> controle quando minha vida inteira é todo controle?<br />

-Não fale. Beije-me. - Abigail <strong>de</strong>slizou os braços ao redor <strong>de</strong> seu pescoço,<br />

movendo os lábios sinuosamente sobre os ele, daqui para lá, diminutos beijos<br />

brincalhões <strong>de</strong>senhados para lhe voltar louco. -Outra vez, Sasha. Beije-me outra<br />

vez.<br />

A voz <strong>de</strong>la atravessou sua guarda e foi diretamente a seu coração. Maldita<br />

fosse por sua habilida<strong>de</strong> para lhe pôr <strong>de</strong> joelhos. Ele sempre tinha sido um<br />

homem forte, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, até que a conheceu. Agora se sentia incompleto,


119<br />

inclusive perdido. Nunca se havia sentido só ou tinha conhecido realmente o<br />

sentido da palavra até que ela fugiu <strong>de</strong>le.<br />

Beijou-a com cada fibra <strong>de</strong> seu ser, cada emoção <strong>de</strong> seu coração. A cólera e<br />

a luxúria e mais que nada o amor, tudo se mesclava fazendo que não pu<strong>de</strong>sse<br />

separa-os. Abigail Drake lhe tinha dado sua alma e <strong>de</strong>pois tinha <strong>de</strong>saparecido <strong>de</strong><br />

sua vida levando-lhe com ela.<br />

-OH, meu Deus- disse Inez Nelson. -Não olhem, senhoras. Esta gente<br />

jovem já não tem nenhum sentido do <strong>de</strong>coro.<br />

Abigail se tornou para trás, tratando <strong>de</strong> esmagar-se contra a pare<strong>de</strong>, seu<br />

olhar saltou até o do Aleksan<strong>de</strong>r. Tratou <strong>de</strong> fazer-se o menor possível com a<br />

esperança <strong>de</strong> que ninguém a reconhecesse. Um coro <strong>de</strong> risinhos seguiu à<br />

<strong>de</strong>claração <strong>de</strong> Inez.<br />

-Abbey! A cerimônia está funcionando!- Gritou Carol alegremente e a<br />

saudou com a mão.<br />

A cor se arrastou para cima pelo pescoço até as bochechas <strong>de</strong> Abigail. Não<br />

apartou a vista <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r, mesmo que sabia que a via culpado.<br />

-Certamente, tia Carol. -respon<strong>de</strong>u e ficou mortificada quando ouviu<br />

sussurros e outro coro <strong>de</strong> risadas, o qual queria dizer que sua tia tinha explicado<br />

tudo sobre a cerimônia.<br />

-Que cerimônia?- perguntou Aleksan<strong>de</strong>r.<br />

-Não queira sabê-lo- disse Abigail. -É totalmente necessário entrar aí? Não<br />

tem nem idéia <strong>de</strong> quão más po<strong>de</strong>m ser essas mulheres.<br />

Ele acariciou-lhe o cabelo para trás.<br />

-Acredito que tenho que ouvir tudo a respeito <strong>de</strong>ssa cerimônia que <strong>de</strong>ixou<br />

você tão preocupada. Vamos, entremos antes que as coisas realmente fujam do<br />

controle<br />

-As coisas não estavam indo bem?- Abigail era agudamente consciente <strong>de</strong><br />

que a palma do Aleksan<strong>de</strong>r ardia através do fino tecido da parte superior <strong>de</strong> seu<br />

top enquanto subia pela rampa do alpendre que conduzia à entrada do bar. Seus<br />

lábios estavam inchados pelos beijos, sua pele estava sensível pela barba <strong>de</strong> um<br />

dia <strong>de</strong>le. Seu corpo ardia, cada terminação nervosa estava viva. A cerimônia das<br />

calcinhas vermelhas era matadora e ela estava planejando culpá-la<br />

completamente <strong>de</strong> sua resposta ante ele. -Eu acreditava que as coisas estavam<br />

muito bem. - Sem a responsabilida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>ria ser tão sensual como queria ser. E<br />

queria ser muito má.<br />

Atravessou a porta como se <strong>de</strong> um sonho se tratasse, saudando muitas<br />

caras familiares, abraçando um par das mulheres mais velhas, com um sorriso na<br />

face, e todo o tempo o medo arrastando-se em sua mente, afogando por<br />

completo a luxúria. Podia viver com a luxúria. Podia viver com seus beijos, seu<br />

corpo e po<strong>de</strong>ria ser perfeitamente feliz se ela pu<strong>de</strong>sse sair ilesa, mas enquanto se<br />

abria passo através da multidão com o Aleksan<strong>de</strong>r tão perto, compreen<strong>de</strong>u que<br />

estava em pé a beira <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> precipício. Um passo em falso e estaria<br />

perdida para sempre.<br />

Nunca tinha <strong>de</strong>ixado <strong>de</strong> amar Aleksan<strong>de</strong>r Volstov. Jamais, nem sequer<br />

quando lhe odiava e estava tão zangada que jazia acordada noite <strong>de</strong>trás <strong>de</strong> noite<br />

em sua cama com os punhos apertados, inventando intermináveis torturas para<br />

ele. Tinha sabido todo o tempo que se estivesse a sós com ele estaria beijando,


120<br />

<strong>de</strong>sejando ver seu olhar voltando-se quente, sentir o calor <strong>de</strong> sua pele. Tinha<br />

acreditado estar tão zangada que po<strong>de</strong>ria envolver-se em seu aborrecimento<br />

como em uma armadura e estar protegida, mas seu amor fluía in<strong>de</strong>sejado e<br />

assustando-a até a morte.<br />

-Algo vai mal?- Ele abria passo através da multidão, protegendo-a dos<br />

empurrões com seu corpo maior enquanto se dirigiam às mesas menores e<br />

íntimas na parte <strong>de</strong> trás da habitação.<br />

Era impossível não recordar como fazia estas coisas, as pequenas coisas<br />

que a faziam sentir tão segura. Tão amada. Abigail apartou a cara <strong>de</strong>le,<br />

<strong>de</strong>sejando chorar pelas lembranças do que tinha perdido.<br />

-Abbey. - Fechou o braço ao redor <strong>de</strong> sua cintura. -me conte.<br />

-Tenho muito medo <strong>de</strong> te amar outra vez, Sasha. - Fez a confissão em voz<br />

baixa. O nó em sua garganta quase a estrangulava. -Não posso per<strong>de</strong>r você uma<br />

segunda vez. Não posso me per<strong>de</strong>r outra vez. Simplesmente não sou tão forte. -<br />

Doía tanto que não podia explicar-se, não po<strong>de</strong>ria encontrar palavras para<br />

<strong>de</strong>screver as profundas feridas que ainda estavam frescas em seu coração.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r se aproximou mais, movendo-se para a pista <strong>de</strong> baile on<strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>ria abraçá-la com tranqüilida<strong>de</strong>. Manteve-se entre as sombras. As lágrimas<br />

que brilhavam nos olhos lhe rompiam o coração. Ela encaixava tão perfeitamente,<br />

seu corpo se movia a seu ritmo, com a face enterrada em sua camisa.<br />

-Deixa que passe, baushki-bau, tem que <strong>de</strong>ixá-lo partir ou ambos<br />

per<strong>de</strong>remos. Minha vida é melhor com você nela. Sua vida é melhor comigo nela.<br />

- Esfregou o queixo contra a parte superior da cabeça <strong>de</strong>la enquanto seus braços<br />

lhe envolviam a cintura. -Se esten<strong>de</strong>r a mão para mim, só um pouco, Abbey,<br />

po<strong>de</strong>mos fazê-lo.<br />

Ela sacudiu a cabeça, negando algo que sabia era inevitável. Se não se<br />

afastasse do escarpado e esten<strong>de</strong>sse a mão para ele, estaria perdido para ela.<br />

-Estou cansado, moi prekrasnij. Deixei <strong>de</strong> dormir o dia que lhe separaram<br />

<strong>de</strong> mim. Recorda como era estar juntos? Meu corpo enroscado ao redor do seu,<br />

nos abraçando enquanto íamos à <strong>de</strong>riva até o sonho. A princípio acreditava que<br />

seria incapaz <strong>de</strong> permitir alguém passar a noite em minha cama. Não tinha<br />

confiança, mas, com você, foi algo natural. Seu lugar estava comigo. No<br />

momento em que meus braços lhe ro<strong>de</strong>avam, estava em paz. Recorda a<br />

sensação, Abbey?<br />

Suas palavras sussurradas entraram nela, abatendo-se ali, roçando a frágil<br />

barreira que tinha tratado <strong>de</strong> erigir entre eles. A música era lenta e sonhadora,<br />

um número suave <strong>de</strong> blues que se correspondia com seu estado <strong>de</strong> ânimo<br />

melancólico. Podia sentir o toque <strong>de</strong> suas irmãs e soube que tinham chegado,<br />

preocupadas ao sentir a força <strong>de</strong> suas emoções. Deslizou os braços ao redor do<br />

pescoço <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r, tentando não chorar por sua perda <strong>de</strong> confiança nele. Não<br />

só tinha sacudido sua fé nele, mas também em si mesmo e em sua magia. O<br />

passado não a <strong>de</strong>ixava seguir adiante, nem seu amor por ele e nem as<br />

lembranças <strong>de</strong> sua traição.<br />

-Lembranças. - sufocou as palavras contra a garganta <strong>de</strong>le. -Po<strong>de</strong> me ouvir<br />

gritando <strong>de</strong> dor? Po<strong>de</strong>, Sasha? É tão profundo que às vezes não posso me liberar<br />

<strong>de</strong>le e está encerrado em meu interior para sempre.<br />

Ele a esmagou contra ele.


121<br />

-Sim. Eu grito também. - Abraçou-a, permanecendo entre as sombras, sua<br />

face enterrada na sedosa juba <strong>de</strong>la. Estava gritando, profundamente em seu<br />

interior on<strong>de</strong> ninguém mais podia lhe ouvir. On<strong>de</strong> doía tanto que não podia<br />

encontrar palavras para <strong>de</strong>ixá-lo sair. Nunca tinha necessitado a ninguém antes<br />

que Abigail houvesse trazido amor e risada a seu <strong>de</strong>solado mundo. Seu <strong>de</strong>ver<br />

tinha sido sua vida, e nessa árida existência só tinha havido violência, dor e<br />

traição. Abigail tinha sido um tesouro inesperado, preciosa além <strong>de</strong> sua<br />

compreensão até que a tinha perdido. Doía como o inferno saber que ele era o<br />

responsável por sua dor. -Sinto muito, Abbey.<br />

Ela não respon<strong>de</strong>u e ele tinha pronunciado as palavras tão brandamente<br />

que não estava seguro <strong>de</strong> que as tivesse ouvido. Inclinou-se sobre ela e pôs os<br />

lábios contra seu ouvido.<br />

-Ouviu-me?- Não podia recordar um momento em sua vida em que<br />

houvesse dito essas palavras a alguém. As dizendo a sério. E agora soube que as<br />

diria uma e outra vez até que corrigisse o que tinha feito mal entre eles.<br />

Aproximou seus lábios contra o ouvido <strong>de</strong>la. -Sinto muito, Abbey, sinto muito.<br />

-Ouvi. - Seus <strong>de</strong>dos se fecharam ao redor da nuca <strong>de</strong>le, acariciando a pele<br />

nua até que ele sentiu como seu toque queimava através do seu corpo como uma<br />

marca. -Ouvi.<br />

As luzes piscaram quando as últimas notas da canção se <strong>de</strong>svaneceram e<br />

Aleksan<strong>de</strong>r virou para a parte posterior da habitação e as pequenas mesas.<br />

Encaixando o corpo <strong>de</strong>la sob seu ombro protetoramente para impedir que outros<br />

vissem sua expressão compungida, seu olhar percorreu a habitação, um exame<br />

lento, pausado, tomando nota da colocação do mobiliário, saídas e sobre tudo as<br />

caras que havia no local. Vários pescadores se sentavam na barra. Um grupo <strong>de</strong><br />

paroquianos riam juntos em um grupo maior no extremo mais afastado da barra,<br />

perto da entrada. Os casais se agarravam nas mãos, alguns em pé, alguns<br />

sentados. As irmãs <strong>de</strong> Abigail se sentavam juntas justo ao lado da mesa on<strong>de</strong><br />

Carol e suas amigas se agrupavam. Deliberadamente, Aleksan<strong>de</strong>r escolheu uma<br />

pequena mesa entre os membros da família <strong>de</strong> Abigail e ele tomou a ca<strong>de</strong>ira que<br />

ficava <strong>de</strong> cara à entrada, sentando-a junto a ele em vez <strong>de</strong> em frente.<br />

-Vê os homens da mesa <strong>de</strong>trás da divisão?- levou-se a mão <strong>de</strong>la a sua boca<br />

e lhe mordiscou os nódulos, sorrindo enquanto o fazia. - Só dê uma olhada,<br />

Abbey, e veja se há alguém que seja familiar.<br />

Tinha esquecido para que tinham vindo à estalagem. Abigail <strong>de</strong>scansou a<br />

cabeça no ombro <strong>de</strong>le e moveu o olhar. As pessoas vinham <strong>de</strong> vários dos<br />

povoados circundantes, e não podia conhecer todos eles pelo nome, mas<br />

conhecia suas faces. A camaradagem era forte na costa, e inclinou a cabeça e<br />

sorriu a aqueles com os que estabeleceu contato visual. A maior parte dos<br />

homens jovens cravavam abertamente os olhos em Joley e Hannah. Uns poucos<br />

<strong>de</strong>sconhecidos estavam pendurados na barra, ao redor da pista <strong>de</strong> baile, e em<br />

grupinhos em um par das mesas. Depois da divisão baixa um gran<strong>de</strong> grupo <strong>de</strong><br />

homens que se sentavam juntos e não pareciam estar <strong>de</strong>sfrutando muito da<br />

música.<br />

-Não se confun<strong>de</strong>m com as pessoas- disse ela.


122<br />

-Não, e provavelmente isso molesta como o inferno ao Prakenskii. - Havia<br />

gran<strong>de</strong> satisfação na voz <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r. Abriu a mão <strong>de</strong> Abigail e pressionou um<br />

beijo no centro exato da palma. -Gosta <strong>de</strong> ser o camaleão, que não lhe note.<br />

-Prakenskii? O homem que disse era um...<br />

Atraiu-lhe um <strong>de</strong>do a sua boca, distraindo-a. O olhar <strong>de</strong> Abigail saltou a sua<br />

cara. Parecia cautelosa. Excitada. Interessada. Sorriu-lhe.<br />

-Sabe muito bem.<br />

-Será melhor que preste atenção a seu trabalho. Qual <strong>de</strong>les é Prakenskii?<br />

-Que está em pé contra a pare<strong>de</strong>, com uma mão na jaqueta, muito<br />

consciente que estou na mesma habitação que ele. Terei que me aproximar e<br />

reconhecer ao Nikitin. Não seria educado não fazê-lo- Sustentou-lhe o olhar, a<br />

imagem <strong>de</strong> um homem cativado por seu encontro.<br />

Um guardanapo enrugado pegou Abigail em um lado da cabeça. Virou-se<br />

para ver Joley lhe fazendo caretas.<br />

-Necessita ajuda?- perguntou Aleksan<strong>de</strong>r. -Está tendo algum tipo <strong>de</strong><br />

ataque?<br />

Abigail inundou o guardanapo em seu copo <strong>de</strong> água e o atirou <strong>de</strong> retorno<br />

com pontaria, golpeando a bochecha <strong>de</strong> Joley.<br />

-Está me advertindo. E é quase tão sutil como um megafone.<br />

-Está te advertindo do que?<br />

-Não do que. Se não <strong>de</strong> quem. Sylvia Fredrickson chegou. “Devora-homemlocal”.<br />

Sylvia não me tem muito carinho. Preferiria não entrar em <strong>de</strong>talhes. Basta<br />

dizer que minha magia foi um pouco mal e seu matrimônio terminou. Não só seu<br />

matrimônio, mas também o <strong>de</strong> seu amante. - suspirou Abigail.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r lia sua linguagem corporal facilmente. Tinha sido treinado toda<br />

sua vida para ler os menores <strong>de</strong>talhes na expressão e a postura. Abigail estava<br />

incômoda com a outra mulher no local. Examinou a recém chegada, uma loira<br />

com o top ajustado e curvas generosas para levá-lo. Parecia frágil, ria muito forte<br />

e tocava a cada homem enquanto abria passo através da multidão.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r colocou seu braço ao redor <strong>de</strong> Abigail.<br />

-Sinto lástima por ela. Está <strong>de</strong>sesperada. O <strong>de</strong>sespero freqüentemente faz<br />

fazer coisas às pessoas das que logo se envergonham. Sua vida não <strong>de</strong>ve ser<br />

fácil.<br />

-Não, estou segura <strong>de</strong> que não é. Quando se casou com o Mason<br />

Fredrickson eu esperava que se assentasse. Mason é um bom homem e<br />

realmente a amava e parecia enten<strong>de</strong>r sua necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atenção constante,<br />

mas lhe enganou igualmente. Infelizmente, ao fazer sua própria vida difícil, faz a<br />

todos que tem a seu redor também.<br />

A banda tocou um ritmo dançante mais rápido e imediatamente a pista <strong>de</strong><br />

baile estava lotada <strong>de</strong> gente que se balançava. Aleksan<strong>de</strong>r observou como Carol<br />

se unia às irmãs Drake em um pequeno círculo on<strong>de</strong> dançavam juntas. Seu olhar<br />

se <strong>de</strong>sviou <strong>de</strong> retorno aos russos e franziu o cenho enquanto entrelaçava seus<br />

<strong>de</strong>dos com os <strong>de</strong> Abigail.<br />

-Eu não gosto da forma em que Nikitin observa sua irmã.<br />

Seu queixo esfregado o dorso da mão <strong>de</strong>la. Abigail encontrou o pequeno<br />

gesto sensual. Sua consciência <strong>de</strong>le estava tão intensificada que sentia que podia<br />

apalpar cada fôlego que o tomava. Tentou olhar para Nikitin casualmente, como


123<br />

se só jogasse uma olhada à habitação. Todo o tempo se inclinava para o<br />

Aleksan<strong>de</strong>r, <strong>de</strong>sejando estar entre seus braços outra vez. Desejando po<strong>de</strong>r dar<br />

marcha atrás ao relógio. Se só tivesse fé em sua magia como Drake, em si<br />

mesmo como mulher, mas estava mais sacudida <strong>de</strong> que acreditava.<br />

Nikitin cravava os olhos na pista <strong>de</strong> baile, inclinando-se para frente em sua<br />

ca<strong>de</strong>ira. Enquanto ela observava, fez gestos a alguém em sua mesa sem apartar<br />

nunca a vista dos bailarinos, pôs um montão <strong>de</strong> dinheiro na mão do homem, e se<br />

recostou para trás, ainda observando. Abigail seguiu seu olhar até Joley.<br />

Sua irmã era uma bailarina selvagem e <strong>de</strong>sinibida. Como autêntico músico,<br />

perdia-se no batimento do coração, seus olhos brilhavam <strong>de</strong> risada, seu corpo se<br />

movia em uma sexy interpretação do ritmo. Enquanto Abigail olhava, um<br />

<strong>de</strong>sconhecido se aproximou <strong>de</strong> sua irmã, inserindo-se atrás <strong>de</strong>la, movendo-se<br />

com ela em uma tentativa <strong>de</strong> baile. No momento em que seu corpo a tocou, Joley<br />

se <strong>de</strong>u a volta, tirada <strong>de</strong> repente <strong>de</strong> seu sonho. Junto à Abigail, Aleksan<strong>de</strong>r se<br />

esticou e meio ficou em pé.<br />

-Joley po<strong>de</strong> cuidar <strong>de</strong> si mesma. -assegurou-lhe Abigail. -E as <strong>de</strong>mais estão<br />

ali. Não quererá atenção quando se está divertindo. Olhe, esse é o gerente. -<br />

Assinalou com o queixo a um homem que se movia através da multidão. -Joley<br />

vem muito aqui para relaxar e escutar música. Ele não vai permitir que ninguém<br />

se meta com ela.<br />

Enquanto observava, Ilya Prakenskii saiu das sombras e apanhou ao<br />

homem que acossava Joley e o tirou da pista. Fez sem um só som, sem<br />

estardalhaço, tão rapidamente que ninguém pareceu notá-lo. Joley ficou em pé<br />

um momento, observando aos dois homens <strong>de</strong>saparecer pela porta e logo <strong>de</strong>u <strong>de</strong><br />

ombros, sorriu ao gerente e voltou para seu baile.<br />

-O que acaba <strong>de</strong> ocorrer?- Perguntou Abigail. -Juraria que faz dois minutos<br />

Prakenskii estava em pé contra a pare<strong>de</strong> <strong>de</strong>trás <strong>de</strong> Nikitin. Como <strong>de</strong>mônios<br />

passou assim através da multidão e por que não o notei? -Inclinou a cabeça para<br />

trás para elevar a vista para o Aleksan<strong>de</strong>r. -Você se move assim. Como<br />

Prakenskii. Às vezes nem sequer te ouço ou te vejo até que cruza a habitação.<br />

Sorriu-lhe abertamente.<br />

-Mesclamo-nos. Espero que o jovem ansioso esteja bem. Prakenskii,<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> seu humor, po<strong>de</strong> ser um pouco entusiasta em seu trabalho. -<br />

Assentiu para a pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> trás <strong>de</strong> Joley e Abigail franziu o cenho quando viu que<br />

o russo havia retornado sem que se notasse.<br />

-Isto é simplesmente horripilante. Não está olhando Joley absolutamente,<br />

mas ainda assim eu não gosto que esteja tão perto <strong>de</strong>la.<br />

-Vê-a. Vê tudo.<br />

-Genial. - Seus <strong>de</strong>dos se apertaram ao redor dos <strong>de</strong>le. -Como po<strong>de</strong> fazer<br />

isto dia <strong>de</strong>trás dia? Eu pareço um molho <strong>de</strong> nervos, preocupada com minha<br />

família, por você. Que <strong>de</strong>mônios estão tramando? O homem ao que Nikitin <strong>de</strong>u<br />

seu dinheiro não foi à barra a conseguir bebidas; aproximou-se da banda.<br />

-É possível que Nikitin queira certa canção e esteja subornando à banda.<br />

Tem reputação <strong>de</strong> adorar realmente a música e isso é algo que ele faria. O<br />

dinheiro fala por ele. Não há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> preocupar-se. Prakenskii reconheceu<br />

duas vezes minha presença e indicou que estão aqui pacificamente.


124<br />

-Bom, simplesmente genial. O oposto a ir à batalha?- Brincou com a bebida<br />

sobre a mesa. -Ao menos tia Carol e as outras senhoras se divertem.<br />

Quando a música acabou, as irmãs Drake retornaram a sua mesa. Joley fez<br />

uma pausa e se aproximou <strong>de</strong> Prakenskii. Abigail conteve o fôlego. O homem não<br />

era excepcionalmente alto, mas pareceu erguer-se sobre sua irmã, po<strong>de</strong>roso e<br />

com aspecto enormemente forte. Mais que nada tinha uma aura <strong>de</strong> perigo lhe<br />

ro<strong>de</strong>ando. Suas irmãs não tinham <strong>de</strong>ixado <strong>de</strong> reconhecê-la.<br />

-Eu gostaria <strong>de</strong> convidar você para tomar uma bebida. - disse Joley quando<br />

ele caminhou com ela para a mesa. -Não era necessário que me resgatasse, mas<br />

foi muito cavalheiresco. Obrigada.<br />

-Deveria ser mais consciente do que está ocorrendo a seu redor -<br />

repreen<strong>de</strong>u-a Prakenskii. -E chamar a atenção sobre você mesma dançando tão<br />

sugestivamente é completamente estúpido para uma mulher em sua posição.<br />

-Oh, Meu Deus. - Abigail cobriu o rosto com as mãos. Não ajudou que todas<br />

as mulheres sentadas à mesa <strong>de</strong> tia Carol escutassem às escondidas e<br />

afirmassem com a cabeça em completo acordo.<br />

Joley jogou a cabeça para trás, enviando seu cabelo voando em todas as<br />

direções. Saltaram faíscas em seus olhos.<br />

-De verda<strong>de</strong>? Que encantador me dar um conselho não solicitado e<br />

in<strong>de</strong>sejado. Desaparece, amigo.<br />

-Levava uma faca e droga para jogar nas bebidas das mulheres.<br />

Joley havia tornado as costas ao Prakenskii, mas isso acabou com sua<br />

frieza. Voltou a virar-se lentamente.<br />

-On<strong>de</strong> está? Conseguiu seu nome?<br />

-Conhece esse homem?<br />

-Não, mas às vezes me enviam cartas... -interrompeu-se. - On<strong>de</strong> está?<br />

-Sugeri-lhe que se afastasse antes que chamassem à polícia. Sua faca e as<br />

drogas foram confiscadas e eliminadas. Que cartas?<br />

Joley fugiu da questão.<br />

-Deveríamos ter chamado ao xerife e ter feito que lhe pren<strong>de</strong>ssem. -<br />

Inclinou o queixo. -Homens como esse não necessitam um baile sugestivo para<br />

fazer o que fazem. São doentes pervertidos.<br />

-Isso é certo, mas não <strong>de</strong>sculpa que incite <strong>de</strong>liberadamente aos homens<br />

com seu baile sugestivo.<br />

-É um imbecil.<br />

O cantor da banda se aproximou do microfone quando a música <strong>de</strong>caiu.<br />

-Estou seguro <strong>de</strong> que se todos juntarmos nossas mãos po<strong>de</strong>mos persuadir<br />

a Joley Drake <strong>de</strong> que cante para nós.<br />

O gerente do bar riscou freneticamente uma linha ao longo <strong>de</strong> sua<br />

garganta, assinalando ao membro da banda que se <strong>de</strong>tivera, mas foi ignorado.<br />

Abigail amaldiçoou brandamente.<br />

-O Caspar Inn é um dos poucos refúgios que fica a Joley on<strong>de</strong> po<strong>de</strong> passar<br />

um bom momento sem medo <strong>de</strong> repórteres sensacionalistas ou fãs<br />

enlouquecidos. Cantando <strong>de</strong>finitivamente atrairia atenção in<strong>de</strong>sejada e este lugar<br />

se per<strong>de</strong>ria para ela se correr a voz <strong>de</strong> que alguma vez canta aqui.<br />

-Agora sabemos por que Nikitin <strong>de</strong>u dinheiro a seu homem. Queria<br />

subornar ao grupo para que pedissem a Joley que cantasse. - Aleksan<strong>de</strong>r se


125<br />

recostou em sua ca<strong>de</strong>ira. -O interessante é que Nikitin soubesse que a quem<br />

tinha que subornar era à banda, não ao gerente. Sabia <strong>de</strong> antemão que o gerente<br />

não agarraria o dinheiro e a poria sobre aviso. Como sabia isso?<br />

A multidão se tornou louca, chutando e batendo palmas em um esforço por<br />

conseguir que Joley subisse ao cenário. Abigail podia ver resignação na face <strong>de</strong><br />

sua irmã.<br />

-Po<strong>de</strong> dizer que não- disse Prakenskii.<br />

-Como?- perguntou Joley, tragando com força. Tomou fôlego e passou junto<br />

a ele, saudando e sorrindo à multidão.<br />

-Nikitin tem que ter alguém do povoado para obter informação, alguém<br />

que saberia um pequeno <strong>de</strong>talhe como esse. A pessoa teria que conhecer sua<br />

família e os lugares que todas vocês gostam <strong>de</strong> freqüentar. Reconhece a alguém<br />

ao redor <strong>de</strong> sua mesa, ou alguém em pé o bastante perto para falar com ele?<br />

A banda tocou um blues e a voz do Joley se verteu na habitação, rica,<br />

afiada e evocadora. Carregava magia, po<strong>de</strong>r e paixão e fluía nos que a escutava,<br />

levando-os longe com ela.<br />

Abigail manteve o olhar fixo em Nikitin. Ele olhava fixamente Joley com<br />

entusiasmada atenção, certamente não falava com nenhum dos <strong>de</strong> sua mesa.<br />

Quando alguém começou a dizer algo, sustentou a mão em alto pedindo silêncio.<br />

A garçonete se aproximou da mesa e on<strong>de</strong>ou a mão para que partisse também.<br />

-Acredito que está obcecado com ela - disse Abigail. -Lhe olhe.<br />

-Não, olhe a seu redor. Tem que ver além do óbvio. Quem vê que te pareça<br />

familiar?<br />

-Tim Robbins, um pescador que vejo freqüentemente no Noyo Harbor. É o<br />

cavalheiro mais velho à esquerda <strong>de</strong> Nikitin fora da divisão. Tim virtualmente vive<br />

em seu bote. Vem aqui ou se <strong>de</strong>ixa cair pelo Salt Bar e Grill. - Abigail estudou à<br />

multidão que ro<strong>de</strong>ava ao Nikitin. -Ali está Ned Fanner, é o homem distinto em pé<br />

justo ao outro lado do Tim. É economista, tem um montão <strong>de</strong> dinheiro, e possui<br />

um montão <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>s. Acredito que tem as mãos metidas em vários dos<br />

negócios menores do Fort Bragg e <strong>de</strong> Sea Haven. Esteve pelos arredores há anos<br />

e todo mundo gosta <strong>de</strong>le. Está casado e tem três filhos. Fui à escola com eles. Os<br />

três se mudaram fora da zona, mas o visitam freqüentemente.<br />

-Ele vem aqui freqüentemente?<br />

-Todo mundo vem aqui, Aleksan<strong>de</strong>r. Vi-lhe aqui com freqüência.<br />

Normalmente com sua esposa, mas às vezes sozinho.<br />

-Está ela aqui?<br />

Abigail olhou ao redor.<br />

-Não a vejo <strong>de</strong> momento, mas a multidão parece estar crescendo.<br />

-Algum mais?<br />

-Outros dois. Os homens jovens que olham fixamente Joley.<br />

-Todo mundo olha fixamente Joley.<br />

-Um leva uma camisa azul e o outro uma ver<strong>de</strong>. O <strong>de</strong> azul é Lance<br />

Parkente. O outro é Chad Kingman e trabalha para o Frank Warner.<br />

Joley terminou a canção e o lugar estalou em um aplauso ensur<strong>de</strong>cedor.<br />

-Não se reservou nada- disse Aleksan<strong>de</strong>r.<br />

-Sua pequena vingança para a banda. Não soarão tão bons agora que as<br />

pessoas a ouviram.


126<br />

Joley abriu passo através da multidão, <strong>de</strong> retorno à mesa, mas antes que<br />

pu<strong>de</strong>sse sentar-se, Prakenskii estava ali.<br />

-O Sr. Nikitin gostaria <strong>de</strong> conhecer você. Pergunta se uniria a ele em sua<br />

mesa.<br />

Joley lançou um falso sorriso.<br />

-Obrigado pelo convite, mas acredito que não.<br />

-O Sr. Nikitin não é um homem ao que diga que não.<br />

-Então lhe diga que se vá ao inferno- disse Joley. -Não aprecio que me<br />

forçasse a cantar para uma multidão quando vim aqui com minha família para<br />

passar um bom momento. Corre com seu amo e lhe diga que obrigada, mas não.<br />

Os <strong>de</strong>dos <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r se apertaram ao redor da mão <strong>de</strong> Abigail para<br />

evitar que saltasse a proteger sua irmã. Prakenskii não trocou <strong>de</strong> expressão, mas<br />

sim <strong>de</strong>u meia volta para empreen<strong>de</strong>r a viagem <strong>de</strong> volta para seu chefe.<br />

Joley on<strong>de</strong>ou a mão a suas costas, só um pequeno empurrão <strong>de</strong> ar que<br />

<strong>de</strong>veria ter feito Prakenskii cambalear-se. Em lugar disso o ar rangido se rompeu,<br />

pequenas faíscas se arquearam ao redor da palma e ela gritou, sujeitando-lhe<br />

As Drake ficaram imediatamente em pé, com expressões sobressaltadas<br />

enquanto empurravam Joley atrás <strong>de</strong>las e se enfrentavam com Prakenskii.


127<br />

Capítulo - 11<br />

Aleksan<strong>de</strong>r se inseriu entre as irmãs Drake e Prakenskii, apesar da mão<br />

conten<strong>de</strong>dora <strong>de</strong> Abigail. Não tinha nem idéia do que acabava <strong>de</strong> ocorrer, mas a<br />

tensão se elevou significativamente. Joley esfregava a palma como se tivesse<br />

resultado ferida.<br />

-Se afaste <strong>de</strong> Hannah - insistiu Abigail, segurando ele-. Dê-lhe campo livre<br />

até o Prakenskii.<br />

A multidão parecia formar re<strong>de</strong>moinhos ao redor <strong>de</strong>les, as pessoas se<br />

moviam continuamente. A música chegava estrondosa do cenário e os bailarinos<br />

giravam, mas ninguém tocava ao Prakenskii e ninguém se aproximava das<br />

Drakes.<br />

-Quão único sei -respon<strong>de</strong>u Aleksan<strong>de</strong>r- é que nenhuma <strong>de</strong> vocês quer<br />

cercar batalha com esse homem. Sentem. Todas. Abbey vêem comigo. Agora é<br />

tão bom momento como qualquer outro para apresentar nossos respeitos, assim<br />

adiante, até o Nikitin.<br />

Prakenskii não se voltou para enfrentar às oito mulheres. Partiu sem mais<br />

inci<strong>de</strong>ntes para a mesa <strong>de</strong> seu chefe e se inclinou para lhe sussurrar algo.<br />

Abigail segurava o braço <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r com um apertão mortal, evitando<br />

que seguisse ao russo enquanto as irmãs Drake trocavam longas e assombradas<br />

olhadas.<br />

-Como fez isso? -perguntou Joley a Hannah.<br />

-Tia Carol? -perguntou Hannah.<br />

-Não sei, garotas, mas isto não é bom. Creio que <strong>de</strong>veríamos voltar para<br />

casa tão rapidamente como é possível e consultar os livros. Sei que houve<br />

rumores <strong>de</strong> homens com nossos dons, mas certamente nunca me cruzei com<br />

outro que tivesse nossos talentos. -Carol inclinou a cabeça para cima para olhar a<br />

Aleksan<strong>de</strong>r-. O que sabe <strong>de</strong>le?<br />

Abigail lhe salvou.<br />

-Falaremos disso logo, quando estivermos em casa, Tia Carol.<br />

-É obvio, querida. No amparo da casa. Devo estar me fazendo velha para<br />

cometer semelhante engano. Perdoa.<br />

-Isso é estúpido, Tia Carol. Todas ficamos sacudidas por um momento.<br />

Nenhuma <strong>de</strong> nós nunca viu antes que nossa magia se voltando contra nós por um<br />

homem. -Libby pôs um braço ao redor <strong>de</strong> sua tia e se esten<strong>de</strong>u para Joley. - Dói<br />

muito?<br />

Hannah lhe apartou a mão antes que pu<strong>de</strong>sse tocar Joley.


128<br />

-Aqui não. Não lhe <strong>de</strong>mos nada que possa utilizar contra nós. Deveríamos<br />

partir agora. Abigail, você vem conosco. Po<strong>de</strong>ria não ser seguro.<br />

-Não a tocará. -Tranqüilizou-as Aleksan<strong>de</strong>r. - Estará a salvo comigo-.<br />

Captou um movimento quando Hannah acotovelou Joley.<br />

Joley encontrou seu olhar.<br />

-Será melhor que esteja a salvo com você.<br />

Abigail lançou os cabelos sobre o ombro.<br />

-Estarei bem. Estou mais preocupada com Joley. Prakenskii não se<br />

aproximou o suficiente <strong>de</strong> você para conseguir nada pessoal, verda<strong>de</strong>?<br />

-Duvido-o. Saiamos daqui. Dói-me a palma como o inferno e sei que vou<br />

per<strong>de</strong>r o controle e lhe cruzar a cara se vier <strong>de</strong> novo com uma proposta <strong>de</strong> seu<br />

amo, bastardo superior e arrogante.<br />

-Abre caminho, Sasha, interessa-me muito conhecer o senhor Nikitin. -<br />

Havia um látego <strong>de</strong> fúria na voz <strong>de</strong> Abigail.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r segurou sua bebida e abriu passo através da multidão para a<br />

mesa <strong>de</strong> Nikitin, com a mão firmemente agarrada na <strong>de</strong> Abigail. As irmãs Drake,<br />

sua tia, e seus amigas lhes seguiam, saudando os amigos enquanto levavam<br />

acabo seu êxodo. Quando Joley passou junto à partição on<strong>de</strong> Nikitin e seu panda<br />

estavam sentados, Prakenskii esten<strong>de</strong>u e segurou a mão ferida <strong>de</strong>la, seu<br />

polegar <strong>de</strong>slizou brevemente sobre a palma e <strong>de</strong>pois a soltou igualmente rápido.<br />

No momento em que tocou Joley, o ar ao redor <strong>de</strong>les estalou. Os pêlos dos<br />

braços <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r ficaram arrepiados.<br />

Joley parou uma fração <strong>de</strong> segundo, com olhos turbulentos, mas Hannah e<br />

as outras irmãs a apuraram e a mantiveram em movimento quando pu<strong>de</strong>ram ver<br />

claramente que <strong>de</strong>sejava vingar-se.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r ignorou o joguinho não querendo enredar o assunto. Tinha que<br />

concentrar-se em averiguar tanta informação como fosse possível. As Drakes<br />

estavam bem versadas em magia. Esse era seu campo, não o <strong>de</strong>le.<br />

-Que pequeno é o mundo, Sergei. A gente nunca sabe on<strong>de</strong> encontrará<br />

conhecidos - Estreitou a mão do homem e se virou para Abbey-. Esta é Abigail<br />

Drake.<br />

-Encantado <strong>de</strong> conhecê-la, senhorita Drake - Nikitin a saudou com a cabeça<br />

como se lhe estivesse conce<strong>de</strong>ndo uma gran<strong>de</strong> honra-. Importa-lhes unir-se a<br />

nós?<br />

-Não quero interromper - disse Aleksan<strong>de</strong>r-. Só queria saudar.<br />

Nikitin indicou com a mão a dois dos homens que abandonassem suas<br />

ca<strong>de</strong>iras e oferecessem uma a Abigail.<br />

-Insisto, Aleksan<strong>de</strong>r. Estamos longe do lar e é bom ver uma cara familiar-.<br />

Aproximou-se mais <strong>de</strong> Abigail-. Joley Drake é sua irmã? Tem uma maravilhosa<br />

voz. Nunca ouvi ninguém melhor.<br />

-Obrigado. Estou muito orgulhosa <strong>de</strong>la. Assegurarei <strong>de</strong> lhe transmitir seu<br />

maravilhoso recado - Seus <strong>de</strong>dos se retorceram contra os <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r.<br />

-Por favor, lhe peça que perdoe minha estupi<strong>de</strong>z. Prakenskii me diz que lhe<br />

incomodou que a pusesse em posição <strong>de</strong> ter que cantar. Eu não entendia por que<br />

uma gran<strong>de</strong> cantora se via forçada a suportar outro talento menor e ninguém a<br />

solicitava. Deveriam ter estado a seus pés emprestando tributo a sua gran<strong>de</strong>za.


129<br />

-Gosta <strong>de</strong> vir aqui e relaxar -disse Abigail com um pequeno sorriso que não<br />

alcançou <strong>de</strong> todo seus olhos-. Ficam poucos lugares.<br />

Arriscou-se a olhar Prakenskii. Aleksan<strong>de</strong>r acreditava que Sergei Nikitin era<br />

o mais perigoso dos dois russos, mas ela sabia que não era assim. Prakenskii<br />

vestia violência, engano e morte como uma segunda pele. Não mostrava emoção,<br />

atuava como se todo o inci<strong>de</strong>nte com Joley nunca tivesse ocorrido, mas seu olhar<br />

era inquieto como o <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r. Era consciente <strong>de</strong> cada <strong>de</strong>talhe do lugar, a<br />

multidão, inclusive as conversações, enquanto que Nikitin estava completamente<br />

absorto em si mesmo. E Prakenskii tinha sua própria agenda, lhe ficava muito<br />

claro. Não era leal ao Nikitin como acreditava seu chefe, nem tinha o mínimo<br />

medo do homem.<br />

O polegar <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r lhe esfregava o dorso da mão como advertência e<br />

lançou outro sorriso a Nikitin.<br />

-Estou segura <strong>de</strong> que sabe como é isso.<br />

-Sim, é obvio. Tem perfeito sentido. Disseram-me que ela po<strong>de</strong>ria vir aqui.<br />

É por isso que escolhi este lugar, mas não tinha nem idéia <strong>de</strong> que não estaria<br />

cantando.<br />

-Seriamente? Se sentirá muito adulada. -Abigail inclinou a cabeça,<br />

<strong>de</strong>scansando o queixo na mão enquanto se inclinava um pouco para ele-. On<strong>de</strong><br />

ouviu que viria aqui? Todo este tempo pensávamos que seu segredo estava bem<br />

guardado.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r se recostou em sua ca<strong>de</strong>ira. Nikitin estava mais interessado em<br />

conversar com a Abigail sobre Joley e isso <strong>de</strong>ixava ele livre para estudar o local e<br />

ao Prakenskii. Nikitin quase tinha esquecido que ele estava ali. O homem tinha<br />

estreitado sua atenção a Abigail, e a Aleksan<strong>de</strong>r lhe ocorreu que Nikitin nunca<br />

tinha sido consciente do pequeno intercâmbio entre Joley e Prakenskii. Isso não<br />

encaixava com a imagem que tinha <strong>de</strong> Nikitin. O homem tinha reputação <strong>de</strong> ser<br />

um tubarão, não um boneco <strong>de</strong> pano.<br />

Abigail tinha um talento nato para conduzir uma conversação. Sua voz tinha<br />

a entonação perfeita, seus olhos se abriam <strong>de</strong> par em par com interesse. Resistiu<br />

a urgência <strong>de</strong> reconhecer suas habilida<strong>de</strong>s lhe beijando a mão; em vez disso<br />

voltou sua atenção por volta dos dois homens que tinha <strong>de</strong>ixado seus assentos<br />

para dar a Aleksan<strong>de</strong>r e Abigail a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sentar-se com Nikitin.<br />

-Não é difícil conseguir informação sobre sua irmã. É uma figura muito<br />

pública. Um <strong>de</strong> meus amigos conhecia uma mulher da localida<strong>de</strong> e lhe perguntou.<br />

Os <strong>de</strong>dos <strong>de</strong> Abigail se afundaram na mão <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r, mas manteve o<br />

sorriso enquanto olhava ao redor procurando Sylvia Fredrickson. Estava em uma<br />

esquina próxima conversando animadamente com vários homens, incluindo o<br />

Chad Kingman, Ned Farmer e Lance Parker. Sua mão estava sobre o braço do<br />

Chad e se inclinava para Lance, quase esfregando seu corpo contra o <strong>de</strong>le.<br />

Ocasionalmente <strong>de</strong>scansava a palma da mão sobre a coxa <strong>de</strong> Ned Farmer.<br />

Abigail podia sentir como seu gênio começava a elevar-se e lutou por não<br />

on<strong>de</strong>ar a mão para a bebida <strong>de</strong> Silvia. Em vez disso se concentrou nas leis<br />

universais e olhou brevemente para a porta, esperando que isso fosse suficiente<br />

para obter uma resposta, antes <strong>de</strong> lançar outro sorriso ao russo.<br />

-Eu adoro que você <strong>de</strong>sfrute com a voz <strong>de</strong> Joley. Nós acreditamos que é<br />

incrível.


130<br />

-Realmente eu gostaria <strong>de</strong> conhecê-la. -Nikitin elevou seu copo vazio e<br />

imediatamente um <strong>de</strong> seus homens se levantou correndo a lhe conseguir uma<br />

bebida-. Acredita que é possível arrumar semelhante encontro? Estaria muito<br />

agra<strong>de</strong>cido. Sou um homem que <strong>de</strong>volve os favores.<br />

Por um terrível momento Abigail <strong>de</strong>sejo intercambiar um encontro com sua<br />

irmã pelo contrato contra a vida <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r. A urgência chegou <strong>de</strong> nenhuma<br />

parte e a golpeou com força. As pare<strong>de</strong>s do bar pareceram mover-se, quase<br />

esmagando-a. Foi quase impossível aspirar ar aos pulmões ar<strong>de</strong>ntes. Podia ver as<br />

palavras flutuando ante seus olhos, estranhos titulares luzes <strong>de</strong> alerta. A urgência<br />

<strong>de</strong> falar era tão forte que se mor<strong>de</strong>u com força o lábio inferior, esperando que a<br />

pequena dor da <strong>de</strong>ntada a ajudasse a concentrar-se.<br />

Só outra vez em sua vida lhe tinha acontecido semelhante coisa. Ela e Joley<br />

tinham estado experimentando, trabalhando com um feitiço para influenciar a<br />

outros utilizando um fluxo constante <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e este se tornou contra elas. O<br />

reconhecimento instantâneo a alagou. Recostou-se e uniu as mãos, on<strong>de</strong>ando o<br />

ar ao redor <strong>de</strong> volta para o Prakenskii, lhe <strong>de</strong>safiando abertamente. Seu gênio<br />

tinha o controle agora e se ele queria guerra, estava mais que disposta a plantar<br />

cara. Ele tinha segredos. Sua aura lhe falava disso e seus segredos não estavam<br />

a salvo com ela. Ele tinha po<strong>de</strong>r, mas não era imune à magia mais do que o era<br />

ela.<br />

Um dos dois homens aos que Aleksan<strong>de</strong>r estava observando se inclinou<br />

sobre a partição, disse algo a Chad Kingman e lhe <strong>de</strong>u um acen<strong>de</strong>dor, Kingman<br />

assentiu e o <strong>de</strong>slizou no bolso. Inclusive enquanto Aleksan<strong>de</strong>r os observava,<br />

sentiu o ar ao redor crescer em estática pela eletricida<strong>de</strong>. Os olhos <strong>de</strong> Abigail<br />

brilhavam olhando Prakenskii. Temendo <strong>de</strong> repente o que ela pu<strong>de</strong>sse fazer,<br />

agarrou-lhe a mão <strong>de</strong> novo e a apertou com força. Lhe ignorou.<br />

-Possivelmente <strong>de</strong>veríamos jogar a um joguinho <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> ou<br />

conseqüência -disse Abbey ao Prakenskii-. É um jogo maravilhoso que nós<br />

praticamos. O que lhe parece?<br />

O alarme titilou nos olhos <strong>de</strong> Prakenskii, <strong>de</strong>pois se apagou, lhe <strong>de</strong>ixando<br />

com cara <strong>de</strong> pedra. Inclinou-se ligeiramente para Abigail.<br />

-Eu não <strong>de</strong>sfruto dos jogos americanos. Aleksan<strong>de</strong>r, não me disse que<br />

tinham que partir logo? -Seu tom era fundido, sem indicar nada absolutamente.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r aproveitou a <strong>de</strong>sculpa, sem enten<strong>de</strong>r o que estava passando<br />

entre o Prakenskii e Abigail e não querendo arriscar-se com a vida <strong>de</strong>la. Ficou em<br />

pé e puxou Abbey até que se viu forçada a ficar em pé também.<br />

-Obrigado, Ilya -Olhou seu relógio-. Prometi às irmãs <strong>de</strong> Abbey que<br />

estaríamos em casa a tempo para ajudar com os planos <strong>de</strong> bodas.<br />

-Senhor Nikitin - Abigail esten<strong>de</strong>u a mão-. Foi um prazer lhe conhecer.<br />

Assegurarei <strong>de</strong> passar seus cumpridos a Joley. -Manteve seus olhos sobre o<br />

Prakenskii todo o momento.<br />

-Ficarei na zona uns poucos dias mais e espero que possamos marcar um<br />

encontro.<br />

-O farei saber se for possível Joley lhe encontrar -Permitiu que Aleksan<strong>de</strong>r a<br />

conduzisse até a porta. Quando se aproximavam <strong>de</strong>la, a porta se abriu e Mason<br />

Fredrickson a atravessou. Abigail olhou para trás a tempo para ver Silvia esticarse<br />

estupefata. O lado esquerdo <strong>de</strong> sua face estava marcada por um vermelhão


131<br />

com a forma brilhante e vermelha do rastro <strong>de</strong> uma mão como se alguém a<br />

tivesse esbofeteado. Abbey olhou <strong>de</strong> novo Prakenskii. Lhe <strong>de</strong>dicou um débil<br />

sorriso a modo <strong>de</strong> breve saudação.<br />

-Que <strong>de</strong>mônios está acontecendo aqui? -exigiu Aleksan<strong>de</strong>r enquanto se<br />

apressavam a <strong>de</strong>scer a rampa até o estacionamento.<br />

Antes que pu<strong>de</strong>sse replicar ele a empurrou <strong>de</strong>pois dos gran<strong>de</strong>s arbustos,<br />

seus braços ro<strong>de</strong>ando-a e sua cabeça inclinando-se para a <strong>de</strong>la fazendo que seus<br />

lábios estivessem a um fôlego <strong>de</strong> distância.<br />

-Ele está aqui fora.<br />

-Quem está aqui fora?<br />

-Chad Kingman, um dos homens que me assinalou. Agarrou emprestado<br />

um acen<strong>de</strong>dor a um dos homens do Nikitin e está aqui fora fumando. Quero que<br />

volte para <strong>de</strong>ntro antes que subamos ao carro.<br />

-Não vou rondar aqui fora <strong>de</strong>pois dos arbustos com você como uma<br />

adolescente, por amor <strong>de</strong> Deus -disse Abigail-. Embora a idéia tem mérito. O que<br />

realmente eu gostaria <strong>de</strong> fazer é me converter na Hannah só uns minutos e dar<br />

ao Prakenskii uma pequena advertência.<br />

-Que fez Prakenskii a Joley que todas levantaram em armas? -Empurrou-a<br />

mais perto, encaixando seu corpo firmemente contra o seu, suas mãos<br />

<strong>de</strong>slizando-se para baixo pelas costas para a curva da espinha-. Não vi que a<br />

tocasse.<br />

-Não a tocou, não fisicamente. Ele é como nós. Tem po<strong>de</strong>r, magia, talento,<br />

como quer chamá-lo.<br />

Isso fez que ele fizesse uma pausa. Olhou-a fixamente, sem compreen<strong>de</strong>r o<br />

que estava tentando dizer ela.<br />

-Prakenskii? Faz como isso? As pessoas lhe revelam a verda<strong>de</strong>?<br />

Ela sacudiu a cabeça.<br />

-Não exatamente como meu talento, é mais como o da Hannah ou Joley.<br />

Possivelmente inclusive como o <strong>de</strong> Elle. Espero que não como o <strong>de</strong> Elle. Isso seria<br />

mau.<br />

-Por que?<br />

-Elle po<strong>de</strong> fazer tudo. Ela carrega todos os dons para passá-los a seguinte<br />

geração. Vi como ele roçava a palma <strong>de</strong> Joley quando ela ia para a porta. Não<br />

tenho nem idéia se fez <strong>de</strong>saparecer a dor, mas se o fez, isso <strong>de</strong>finitivamente lhe<br />

faz um muito po<strong>de</strong>roso adversário porque é a<strong>de</strong>pto em mais <strong>de</strong> uma coisa.<br />

Ele virou a cabeça ligeiramente para manter melhor um olho sobre o Chad<br />

Kingman. O homem apagou a bituca <strong>de</strong> seu cigarro com o sapato, olhou ao redor,<br />

e perambulou <strong>de</strong> volta rampa acima até o alpendre que ro<strong>de</strong>ava a construção. Em<br />

vez <strong>de</strong> entrar, apoiou-se na mureta e contemplou as estrelas.<br />

-Esclareçamos isto. Está me dizendo que Ilya Prakenskii, o homem ao que<br />

conheci <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que era menino, é capaz <strong>de</strong> utilizar a mesma classe <strong>de</strong> magia que<br />

você e suas irmãs.<br />

-Tem que ter nascido com o talento, Sasha. O que sabe <strong>de</strong> seus<br />

antece<strong>de</strong>ntes? Viu-lhe alguma vez fazer algo diferente? Algo que pensasse era<br />

estranho? Quando era menino te disse que era diferente?<br />

Aleksan<strong>de</strong>r tentou recordar como tinha sido Ilya Prakrenskii nos dias antes<br />

<strong>de</strong> que fossem separados.


132<br />

-Cuidava <strong>de</strong> si mesmo. Era rápido e forte e um dos primeiros da classe<br />

assim em certo modo competíamos, mas éramos amigos. Uma vez me disse que<br />

tinha irmãos, mas foram todos enviados a diferentes lares. Não tenho idéia se<br />

alguma vez os encontrou ou não, ou se contatou com eles.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r murmurou uma advertência a Abigail quando viu o mesmo russo<br />

que tinha dado ao Chad um acen<strong>de</strong>dor sair ao alpendre. O homem olhou ao<br />

redor, colocou as mãos em seus bolsos e se moveu mais perto <strong>de</strong> Chad. Chad se<br />

endireitou junto aos passamanes quando o russo ficou a seu lado.<br />

-Obrigado pelo acen<strong>de</strong>dor, tio -disse Chad enquanto oferecia o objeto <strong>de</strong><br />

volta.<br />

O russo <strong>de</strong>u <strong>de</strong> ombros e tomou o que queira que fosse que lhe oferecia,<br />

ocultando-o em sua mão enquanto se virava e afastava rapidamente para a<br />

entrada do bar. Chad abriu passo até um carro no estacionamento. Aleksan<strong>de</strong>r<br />

captou uma chama justo antes <strong>de</strong> que Chad se <strong>de</strong>slizasse <strong>de</strong>pois do volante. Um<br />

cigarro brilhou brevemente e <strong>de</strong>pois o carro saiu do estacionamento.<br />

-Isso foi um intercâmbio muito mal feito -disse Aleksan<strong>de</strong>r, assombrado.<br />

Beijou ligeiramente a Abigail e saiu dos arbustos- Por que me atrairia Prakenskii<br />

fora bem a tempo para ver um intercâmbio? -Sacudiu a cabeça enquanto abria a<br />

porta do carro para ela.- Não tem sentido. Ilya sabia que veria esse sinal.<br />

-Possivelmente me tirar dali era mais importante que visse o Chad fazer o<br />

que estava fazendo -disse Abigail.- Tentou um jogo <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r comigo, tentou me<br />

fazer intercambiar um encontro com Joley pelo contrato contra você. Tive que<br />

lutar duro contra o impulso.<br />

-E crê que Prakenskii pôs o impulso em sua cabeça?<br />

-Sei que o fez. E não podia arriscar-se a ser suscetível a meu talento. Tem<br />

muitos segredos, o menor dos quais não é que não está precisamente apaixonado<br />

por seu chefe. Não está trabalhando para o Nikitin. Não estou segura <strong>de</strong> que seja<br />

capaz <strong>de</strong> trabalhar para ninguém exceto para si mesmo. Sua aura é muito<br />

perigosa e violenta. A morte está muito perto <strong>de</strong>le, lhe ro<strong>de</strong>ando - Olhou-lhe<br />

fixamente-. Sua aura é muito similar à sua.<br />

-Não tem que gostar do homem para o que trabalha -Aleksan<strong>de</strong>r fez girar o<br />

carro ao final da estrada e <strong>de</strong>u marcha atrás até um abrigo antes <strong>de</strong> apagar as<br />

luzes para esperar.<br />

-Ele não quereria que Nikitin soubesse o que pensa <strong>de</strong>le, mas isso seria tão<br />

importante como para que <strong>de</strong>ixasse ao <strong>de</strong>scoberto a seu contato local? -<strong>de</strong>tevese<br />

por um momento, olhando-a fixamente. - E minha aura, seja o que for isso,<br />

não é nada como a <strong>de</strong>le.<br />

Lhe lançou um breve sorriso.<br />

-Se tivesse sentimentos fortes em uma ou outra direção, seria. Tenho a<br />

impressão <strong>de</strong> que <strong>de</strong>testa a esse homem. De fato, iria tão longe para dizer que<br />

Prakenskii é uma ameaça muito real para Sergei Nikitin. E sim, é igual.<br />

-Como po<strong>de</strong> ler tudo isso nele?<br />

-Utilizou po<strong>de</strong>r um par <strong>de</strong> vezes aí. Utilizou-o quando se moveu através da<br />

multidão também. Não pu<strong>de</strong> captá-lo ao princípio porque é muito sutil. Ele é<br />

muito forte e muito disciplinado. Mas o po<strong>de</strong>r tem um rastro muito claro. Sei<br />

quando minhas irmãs estão lançando feitiços e que irmã fez que feitiço. O uso da<br />

magia <strong>de</strong>ixa ao que a lança em certo modo vulnerável.


133<br />

-Isto está fora <strong>de</strong> meu campo <strong>de</strong> ação e a duras penas posso compreendêlo.-<br />

Aleksan<strong>de</strong>r lhe agarrou a mão esquerda e roçou os <strong>de</strong>dos nus por on<strong>de</strong> seu<br />

anel <strong>de</strong>veria ter estado-. Estou tentando recordar quando Ilya era menino.<br />

Olhando atrás, po<strong>de</strong>ria haver uma ou duas coisas estranhas. Uma vez estava<br />

falando com ele e sua bebida estava na mesa a vários pés <strong>de</strong> distância. Girei a<br />

cabeça e quando voltei a olhar, estava em sua mão. Eu estava trabalhando em<br />

notar <strong>de</strong>talhes. Era um exercício e eu não só o <strong>de</strong>sfrutava, mas sim estava<br />

orgulhoso <strong>de</strong> mim mesmo nele. Sabia que a bebida tinha estado na mesa e não<br />

podia me figurar como a tinha pego. -levou-se a mão à boca e roçou os lábios<br />

sobre os nódulos, sua língua lhe saboreou a pele. - E não po<strong>de</strong> ser tão boa lendo<br />

auras porque a minha está cheia <strong>de</strong> um arco íris <strong>de</strong> cores e a do Prakenskii é<br />

negra.<br />

Abigail estalou em gargalhadas.<br />

-Você não sabe nada <strong>de</strong> auras. Por isso sabe, negro po<strong>de</strong>ria ser bom e arco<br />

íris mau-. Puxou sua mão mas Aleksan<strong>de</strong>r se negou a soltar seu apertão-. Sou eu<br />

que estou tendo dificulda<strong>de</strong> em acreditar que Prakenskii realmente po<strong>de</strong>ria ter a<br />

habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> utilizar uma mágia tão forte. Além <strong>de</strong> minha família, nunca conheci<br />

ninguém nascido com a mesma classe <strong>de</strong> força. Suponho que foi bastante<br />

arrogante pensar que éramos as únicas.<br />

-Seu café estava sempre quente. Nunca se esfriava. -De repente<br />

Aleksan<strong>de</strong>r lhe sorriu-. Estávamos acostumados a sair em excursão. Nossas<br />

excursões eram para apren<strong>de</strong>r a seguir alguém sem ser vistos, fazer um<br />

intercâmbio ou nos citar com um contato sob os narizes <strong>de</strong> nossos instrutores<br />

sem seu conhecimento.<br />

-Como podiam fazê-lo se eles lhes estavam vigiando?<br />

-Esse era o objetivo do exercício, apren<strong>de</strong>r a ser o suficientemente hábil<br />

para fazer um intercâmbio ou seguir a alguém que sabia que podia estar sendo<br />

seguido sem que lhe agarrassem. Quando treinávamos juntos, não importava<br />

quão larga fosse a vigilância ou quão fria fosse a noite, o café <strong>de</strong> Ilya sempre<br />

estava quente. Pergunto-me como o fazia.<br />

-Sei que você crê que é perigoso por suas habilida<strong>de</strong>s como agente<br />

a<strong>de</strong>strado, mas Sasha, com seu po<strong>de</strong>r po<strong>de</strong> fazer coisas incríveis e isso lhe faz<br />

muito mais perigoso do que possa imaginar. Po<strong>de</strong> <strong>de</strong>slizar-se <strong>de</strong>ntro e fora <strong>de</strong><br />

lugares utilizando sugestões para fazer que aqueles dos que queira permanecer<br />

oculto olhem para outro lado. Não funciona com todo mundo, e às vezes é<br />

perigoso inclusive <strong>de</strong>fendido pela magia, mas ele é muito hábil em seu uso, posso<br />

dizê-lo só por quão sutil foi.<br />

-O que fez a Joley?<br />

Abigail suspirou.<br />

-Todas tomamos absurdas vinganças infantis quando estamos zangadas. É<br />

melhor que per<strong>de</strong>r o controle <strong>de</strong> nosso gênio. Joley quis lhe fazer tropeçar<br />

enquanto voltava para sua mesa, mas ele sentiu o impulso <strong>de</strong> sua magia e se<br />

vingou com uma bofetada virtual <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. A energia se volta contra o usuário. E<br />

para ser honesta acredito que ele empurrou um pouco mais forte do que<br />

pretendia e lhe fez mal na mão. Não <strong>de</strong>ixamos que Libby a tocasse porque ele<br />

po<strong>de</strong>ria haver sentido o "rastro" <strong>de</strong> Libby.


134<br />

-Crê que realmente tentou fazer mal a Joley?- Aleksan<strong>de</strong>r se inclinou para<br />

frente para olhar pela janela-. Aí estão. Têm dois carros. Vou manter-me atrás<br />

porque suponho que terão um carro adormecido também.<br />

-Não sei o que é isso.<br />

-Algumas vezes um terceiro carro espera para ver se o principal... neste<br />

caso, Nikitin... é seguido. Ilya está conduzindo o segundo carro-. Permaneceu<br />

imóvel enquanto os dois carros saíam do estacionamento-. É um risco esperar um<br />

terceiro carro, mas não posso imaginar que Ilya, se for o responsável pela<br />

segurança do Nikitin, não tomasse a precaução <strong>de</strong> saber se estiver aqui.<br />

-Treinaram juntos, Sasha. Ele teria que saber que estaria esperando para<br />

segui-los. Se houver um terceiro carro e te conduz à casa on<strong>de</strong> se alojam, está te<br />

<strong>de</strong>ixando <strong>de</strong>liberadamente que lhes encontre. E melhor se preocupar por uma<br />

armadilha, especialmente se acredita que Nikitin é o intermediário do Leonid<br />

Ignatev.<br />

-Tenho fontes fi<strong>de</strong>dignas que me dizem que Ignatev assinala o objetivo e<br />

Nikitin lhe abate para ele.<br />

-E Ilya Prakenskii trabalha para o Nikitin. Diz que tem reputação <strong>de</strong> ser um<br />

assassino.- Abigail suspirou-. Conheço você o bastante para saber que há<br />

respeito e inclusive admiração em sua voz quando fala <strong>de</strong>le.<br />

-Tive poucos amigos em minha infância, Abbey.<br />

Essa simples <strong>de</strong>claração mexeu nas fibras <strong>de</strong> seu coração. Maldito fosse por<br />

lhe fazer isso. Não havia forma <strong>de</strong> manter um só propósito quando se lamentava<br />

por ele. Esfregou as têmporas, tentando aliviar os princípios <strong>de</strong> uma dor <strong>de</strong><br />

cabeça.<br />

-Não é um amigo se está tentando te matar. Tem que me escutar,<br />

Aleksan<strong>de</strong>r. Se po<strong>de</strong> esgrimir magia da forma em que suspeito que po<strong>de</strong>, tem<br />

uma tremenda vantagem sobre você.<br />

-Tivemos várias batalhas. Tenho cicatrizes. Ele tem cicatrizes. Se tiver tanta<br />

vantagem, por que não a utilizou contra mim? Lutamos com os punhos, com<br />

facas, inclusive nos pegamos um par <strong>de</strong> tiros um ao outro.<br />

-Custa-me acreditar que lhe disparasse e não lhe acertasse.<br />

-Acertei-lhe -Ligou o motor-. Aí está, o terceiro carro.<br />

-Não lhe matou, Sasha. E isso po<strong>de</strong>ria ser qualquer um abandonando o bar,<br />

não necessariamente um dos russos.<br />

-Tenho um pressentimento para estas coisas. É o adormecido.<br />

-Não lhe matou -repetiu ela-. Estava utilizando a magia para <strong>de</strong>sviar sua<br />

pontaria. O... -<strong>de</strong>teve-se para estudar sua face <strong>de</strong>le-. Deliberadamente lhe feriu<br />

em vez <strong>de</strong> lhe matar, verda<strong>de</strong>?<br />

Ele murmurou uma maldição russa.<br />

-Eu não vejo as coisas <strong>de</strong>sse modo. Não ia atrás <strong>de</strong>le. Ele não era meu<br />

trabalho. Não era pessoal e não eram negócios. Cruzamo-nos no caminho um do<br />

outro. -<strong>de</strong>u <strong>de</strong> ombros-. Isso passa. Entretanto lhe feri. Se realmente tiver a<br />

mesma habilida<strong>de</strong> para utilizar a magia que você e suas irmãs, teria sido capaz<br />

<strong>de</strong> fazer isso?<br />

-Se tivesse meu talento ou o <strong>de</strong> Libby. Em minha opinião, Hannah seria a<br />

mais difícil <strong>de</strong> ferir, a menos que alguém a surpreen<strong>de</strong>sse, chegando a ela<br />

inesperadamente.


135<br />

-Por que não Elle?<br />

-O po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Hannah está muito concentrado em uma ou duas áreas. Elle<br />

carrega todos os elementos assim não é tão forte. E Hannah utiliza seus dons<br />

diariamente e trabalha em fortalecê-los. Seria uma po<strong>de</strong>rosa adversária. Libby<br />

utiliza seu po<strong>de</strong>r também, mas não estou segura <strong>de</strong> que com seu dom fosse<br />

capaz <strong>de</strong> fazer mal a alguém.<br />

-Crê que Prakenskii é como Elle?<br />

-Exibe sinais <strong>de</strong> tremendo controle com vários talentos, não só em um. Eu<br />

posso fazer várias coisas, todas nós po<strong>de</strong>mos, mas não somos geniais em todas<br />

elas.<br />

-Suponho que não <strong>de</strong>veria aventurar a hipótese <strong>de</strong> que ele é um homem e<br />

possivelmente mais forte por isso.<br />

-Não se quer viver além dos próximos minutos.<br />

-Isso era o que pensava - Lançou-lhe um pequeno sorriso-. A idéia nem me<br />

passaria pela cabeça.<br />

-Boa coisa - Agarrou-lhe o braço quando ele foi tomar um <strong>de</strong>svio da estrada<br />

principal a outra, seguindo ao carro adormecido.- Espera! Não tome essa estrada.<br />

Segue. Não estão em nenhuma casa alugada nessa estrada. Essa faz um giro <strong>de</strong><br />

volta à estrada principal. Você simplesmente conduz subindo essa costa -<br />

assinalou- e estaciona. Deveríamos po<strong>de</strong>r ver se continuarem para o sul ou giram<br />

<strong>de</strong> volta para nós e voltam para o norte.<br />

Sem titubear, Aleksan<strong>de</strong>r fez o que ela dizia. Manteve-se o bastante atrás<br />

para estar seguro na estrada principal, inclusive com a pouca quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

tráfico, <strong>de</strong> que o condutor não era capaz <strong>de</strong> lhe divisar. Apagou as luzes.<br />

-Nenhum dos homens que estavam com o Nikitin era familiar? Algum <strong>de</strong>les<br />

po<strong>de</strong>riam ser os homens que mataram ao Danilov?<br />

Abigail franziu o cenho.<br />

-Não. E feri um dos homens com meu arpão. Se não lhe rompeu um osso<br />

lhe fez uma ferida aguda e teria que limpar-lhe durante uns dias. O arpão tem<br />

um golpe muito po<strong>de</strong>roso. Deixar a um tubarão com o punho não é <strong>de</strong> todo<br />

efetivo, assim utilizo um pequeno dispositivo disparador e realmente dá um bom<br />

golpe. Se vê coxear a alguém, lhe comprove.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r tamborilou os <strong>de</strong>dos sobre o painel.<br />

-O que estamos procurando?<br />

-Sabemos que alguém está trazendo coisas da Rússia por meio <strong>de</strong> um<br />

cargueiro e as <strong>de</strong>ixando cair em um navio <strong>de</strong> pesca nesta costa. Há boas<br />

probabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> que os artigos estejam sendo passados <strong>de</strong> contrabando através<br />

da galeria do Warner. Ele po<strong>de</strong> ser consciente ou não, mas é uma rota genial.<br />

Envia artigos à cida<strong>de</strong> todo o tempo e seria muito pouco provável que alguém<br />

abrisse uma <strong>de</strong> suas caixas.<br />

-E se o fizessem, saberiam inclusive o que procurar? Envia obras <strong>de</strong> arte e<br />

esculturas todo o tempo - disse Abigail-. Eu não saberia a diferença.<br />

-Ele é um dos proprietários do navio <strong>de</strong> pesca que suspeitamos está sendo<br />

utilizado. Mas também o é Ned Farnner. Reconheci seu nome no minuto em que o<br />

pronunciou.<br />

Ela sorriu.


136<br />

-Sempre teve gran<strong>de</strong> memória para os <strong>de</strong>talhes. Eu conheço às pessoas e<br />

nunca posso recordar seu nome cinco minutos <strong>de</strong>pois. Como o faz?<br />

Ele <strong>de</strong>u <strong>de</strong> ombros.<br />

-Parcialmente treinando, mas sempre tive talento para nomes e lugares.<br />

Posso ler algo e não esquecê-lo. É uma tremenda vantagem quando me dão<br />

tantos dados que cruzar. -inclinou-se para frente para esquadrinhar pela janela. -<br />

Aí está. Vê os faróis? Desvia-se um pouco. Vai ao sul.<br />

-Espera só um minuto. A estrada faz ziguezague e tem curvas e curvas, e<br />

estaríamos sobre eles. Po<strong>de</strong>remos captar olhadas <strong>de</strong>les nas curvas.<br />

Ele assentiu em acordo e esperou até que o carro teve tomado a curva e<br />

sacado antes <strong>de</strong> sair da estrada principal atrás <strong>de</strong>le.<br />

-Seria útil saber se Chad Kingman trabalha em envios.<br />

-Jonas saberia. E Inez Nelson. Ela conhece todo mundo. Se entrar em seu<br />

armazém e fica por ali uns minutos escutando todo mundo lhe conta todo. É<br />

como a conselheira local. Não é muito difícil conduzir a conversação para on<strong>de</strong><br />

você quer, mas é aguda, Sasha. Muito aguda. Não <strong>de</strong>ixe que te engane. Se<br />

acredita que vai a enganar, equivoca-se.<br />

-Ela <strong>de</strong>ve conhecer o Warner e Ned Fanner. Também é proprietária <strong>de</strong> parte<br />

do navio.<br />

-Nem te ocorre sequer que Inez pu<strong>de</strong>sse fazer algo ilegal. Nasceu e cresceu<br />

em Sea Haven. Seu marido era um homem maravilhoso, nascido e criado aqui<br />

também. Donal Nelson era um lí<strong>de</strong>r da comunida<strong>de</strong> e quando morreu faz cinco<br />

anos, Inez calçou seus sapatos e assumiu o controle ajudando aos pequenos<br />

negócios a crescer e aos bairros a prosperar. Está <strong>de</strong>pois da pequena biblioteca e<br />

o teatro e inclusive o parque. É absolutamente impossível que esteja envolta em<br />

algo ilegal.<br />

-Tem muita fé nas pessoas, Abbey.<br />

Ela estudou sua cara inexpressiva. Sem importar o que ela dissesse <strong>de</strong> Inez<br />

ou Frank ou qualquer outro dos habitantes do povoado, Aleksan<strong>de</strong>r se reservava<br />

o julgamento. As coisas que as pessoas faziam nunca pareciam lhe surpreen<strong>de</strong>r.<br />

Deu <strong>de</strong> ombros, ligeiramente molesta.<br />

-Po<strong>de</strong> investigá-la se quiser, mas é uma perda <strong>de</strong> tempo.<br />

-Investigo a todo mundo. Sabia que sua Tia Carol tomou um café com o<br />

Frank Warner outro dia?<br />

-Sim, sabia. Isso a faz suspeita? Por amor <strong>de</strong> Deus, acaba <strong>de</strong> voltar a Sea<br />

Haven. Suspeita <strong>de</strong> mim?<br />

-Não seja tão sensível, Abbey. Tenho que ser consciencioso em minha<br />

investigação.<br />

-Bom, e o que tem que seu amigo Prakenskii? Acredita que está metido<br />

nisto?<br />

-Não necessariamente. Nikitin está aqui por uma razão. Po<strong>de</strong>ria ser tão<br />

simples como o fato <strong>de</strong> que admire Joley e tenha ouvido que estava em seu<br />

povoado natal e esperasse conhecê-la. Sei que é um gran<strong>de</strong> entusiasta da música<br />

e <strong>de</strong>finitivamente tem sentido do espetáculo. Pensaria que a ele lhe <strong>de</strong>viam<br />

conce<strong>de</strong>r privilégios extra. Po<strong>de</strong>ria ser que Ignatev aceitasse um contrato contra<br />

mim e o <strong>de</strong>sse ao Nikitin. Este teria investigado um pouco, compreendido que eu


137<br />

estava aqui, e teria vindo primeiro para montar o alpendre. Isso é altamente<br />

improvável.<br />

-Por que?<br />

-Porque Nikitin não quereria estar nas cercanias quando chegasse o golpe.<br />

Gosta <strong>de</strong> parecer limpo.<br />

Abigail <strong>de</strong>ixou que sua cabeça caísse para trás. De repente estava cansada<br />

e a dor <strong>de</strong> cabeça que tinha estado tão perto toda a noite se converteu em uma<br />

dor palpitante.<br />

-O que não me está contando?<br />

-Acredito que Nikitin está aqui por uma razão completamente diferente que<br />

não tem nada que ver contigo nem comigo. Acredito que é um pouco pior que<br />

isso.<br />

Um calafrio <strong>de</strong>sceu pela espinha <strong>de</strong> Abigail.<br />

-Pior que tentar te matar? O que seria pior que isso?<br />

-Matar a um montão <strong>de</strong> gente.<br />

-Por que quereria fazer isso Nikitin?<br />

Ele sacudiu a cabeça, freando o veículo. Estavam alcançando ao outro carro<br />

assim entrou em uma estrada secundária, apagando as luzes.<br />

-Disse-lhe isso, Nikitin é um homem <strong>de</strong> negócios. Tem que pensar como<br />

ele. Não tem razão para matar a um gran<strong>de</strong> grupo <strong>de</strong> gente. Em sua mente ele<br />

simplesmente faz entendimentos. Sabemos que muitos dos objetos roubados que<br />

saem da Rússia chegam a esta costa. Isso significa que a rota tem aberta algum<br />

tempo e muito provavelmente Nikitin seria consciente disso. Provavelmente ele<br />

intervém nos roubos.<br />

-Assim está envolto com o roubo <strong>de</strong> objetos.<br />

-Se consegue sua percentagem, estará contente. Por que teriam matado ao<br />

Danilor por uma rota <strong>de</strong> contrabando? Quando uma rota fica quente<br />

simplesmente a fecha e move a outra até que as coisas se esfriam <strong>de</strong> novo.<br />

Ninguém <strong>de</strong>veria ter morrido a menos que não possam abandonar a rota por<br />

alguma razão. E teria que ser uma gran<strong>de</strong> razão e valer uma gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> dinheiro para arriscar-se a matar um agente da Interpol, especialmente<br />

sabendo que eu estou aqui.<br />

-Algumas obras <strong>de</strong> arte valem milhões. -Abigail colocou uma mão em seu<br />

pulso e lhe assinalou a rua em que o carro tinha virado-. Continua, este é outro<br />

giro. Várias <strong>de</strong>ssas casas estão alugadas e po<strong>de</strong>mos entrar pelo outro lado.<br />

Seremos capazes <strong>de</strong> lhe ver sair do carro e subir à casa.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r fez o que ela sugeria, voltando a pôr o carro em movimento.<br />

-As obras <strong>de</strong> arte po<strong>de</strong>m valer gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dinheiro, mas este não<br />

é um bom momento. Por que não trocar a rota? Po<strong>de</strong>ria transladar-se a São<br />

Francisco ou qualquer outro lugar ao longo <strong>de</strong>sta costa. Levaria um pouco <strong>de</strong><br />

tempo, mas po<strong>de</strong>ria fazer-se. Assim estão trazendo algo para o que têm que<br />

utilizar esta rota porque tudo está já preparado.<br />

-Como o que?<br />

-Nikitin trafica com violência, Abbey. Tem laços com dúzia <strong>de</strong> grupos<br />

terroristas e agarraria dinheiro <strong>de</strong> qualquer <strong>de</strong>les.<br />

-Há estações <strong>de</strong> guarda costeira só a poucas jardas <strong>de</strong> on<strong>de</strong> seu<br />

companheiro foi assassinado. Se forem fazer algo que envolva a terroristas não


138<br />

escolheriam um lugar melhor para fazê-lo? -Abigail estava consternada- Por que<br />

<strong>de</strong>ste semelhante salto entre as obras <strong>de</strong> arte e terroristas?<br />

-Porque conheço o Nikitin e certamente Prakenskii não sabia do golpe<br />

contra Danilov. Há só uma ou duas coisas para as que Nikitin não utilizaria Ilya. É<br />

bastante conhecido que Ilya <strong>de</strong>spreza aos terroristas. Consi<strong>de</strong>ra-os covar<strong>de</strong>s.<br />

Nikitin trata com eles, mas nunca através <strong>de</strong> Prakenskii. Uma vez ouvi o rumor <strong>de</strong><br />

que Nikitin lhe tinha enviado a uma reunião e quando a polícia apareceu havia<br />

explosivos por toda parte, armas e vários terroristas mortos, mas não Prakenskii.<br />

Como foi a verda<strong>de</strong>ira história, não sei, mas se Nikitin não utilizou Prakenskii<br />

para matar a meu companheiro, o que seja que Danilov averiguou essa noite<br />

envolve a terroristas. -Nem sequer olhou para a casa quando passaram por<br />

diante e voltaram para a estrada principal.<br />

-Parece estranho que Nikitin tenha a alguém trabalhando para ele que não<br />

faria algo que ele quisesse. Nikitin parecer absorto em si mesmo, um homem<br />

muito violento que insiste na cooperação instantânea.<br />

-É todas essas coisas, Abbey.<br />

Soava cansado. Ela virou a cabeça para lhe olhar.<br />

-Está me levando para casa?<br />

-Quero que venha comigo. -Esten<strong>de</strong>u a mão em busca da <strong>de</strong>la, seu polegar<br />

<strong>de</strong>slizando-se sobre a pele, enviando pequenos estremecimentos por sua<br />

espinha.- Aluguei uma casinha quase perto da praia.<br />

Ela sacudiu a cabeça.<br />

-Não posso fazer isso.<br />

O reafirmou seu apertão da mão como se ela pu<strong>de</strong>sse escorrer-se.<br />

-Dizia a verda<strong>de</strong> quando disse que não tinha sido capaz <strong>de</strong> dormir. Levantome<br />

cada hora durante toda a noite. Algumas noites não me incomodo em ir à<br />

cama. Passeio pela habitação e penso em te chamar e o que direi quando<br />

respon<strong>de</strong>r. Algumas vezes escrevo cartas e não me incomodo em enviar porque<br />

sei que não as lerá. Estou cansado, baushki-bau e não posso dormir sem te<br />

abraçar. Ao menos <strong>de</strong>ita comigo. Juro que não farei nada que não queira que<br />

faça.<br />

-Sabe exatamente o que quererei se estiver na cama a sós com você.<br />

Nunca fui capaz <strong>de</strong> resistir a você, Sasha.<br />

-Estou sendo honesto. Me pergunte. Me pergunte com quanta freqüência<br />

durmo sem você. Necessito <strong>de</strong> você, Abbey. Vêem para casa comigo.


139<br />

Capítulo – 12<br />

Abigail passeou pela casa. O que estava fazendo ali? Não tinha sentido que<br />

tivesse permitido a Aleksan<strong>de</strong>r levá-la a nenhuma parte on<strong>de</strong> estivessem<br />

sozinhos. Não podia resistir a ele quando estavam a sós. Fechou os olhos<br />

brevemente e saiu pela porta <strong>de</strong> vidro que conduzia ao alpendre mais baixo on<strong>de</strong><br />

estava a jacuzzi. A vista do oceano era espetacular. Podia ver o arco branco que<br />

se formava no ar quando as ondas chocavam ao longo dos <strong>de</strong>dos <strong>de</strong> rocha.<br />

Estava frio fora, mas as estrelas brilhavam no alto. Ficou em pé um momento,<br />

refletindo sobre se era ou não o bastante forte para fazer amor com o<br />

Aleksan<strong>de</strong>r, abraçá-lo toda a noite e partir na manhã seguinte.<br />

-O que está fazendo aqui fora? -Aleksan<strong>de</strong>r surgiu <strong>de</strong> <strong>de</strong>trás <strong>de</strong>la. -Faz frio,<br />

Abbey.<br />

-Mas é formoso. Olhe a lua. - Assinalou a gran<strong>de</strong> esfera <strong>de</strong> prata<br />

<strong>de</strong>slumbrante. -Tivemos um tempo incrível ultimamente.<br />

Ele a envolveu entre seus braços <strong>de</strong>s<strong>de</strong> atrás, lhe acariciando os cabelos<br />

com o nariz e apartando-o para po<strong>de</strong>r lhe beijar a nuca.<br />

-Vamos falar do tempo?<br />

Ela estremeceu ante seu toque.<br />

-Não, só queria que visse a noite e escutasse o oceano. Às vezes posso<br />

ouvir o canto das baleias incluso na escuridão.- Girou entre seus braços e<br />

entrelaçou as mãos <strong>de</strong>trás <strong>de</strong> seu pescoço. -Recorda a noite em que me levou ao<br />

terraço <strong>de</strong> seu apartamento? Disse que a cida<strong>de</strong> parecia ser um lugar <strong>de</strong> luzes e<br />

cor, um palácio com milhares <strong>de</strong> segredos como nas Noites da Arábia. Quis<br />

compartilhar isso comigo.


140<br />

As mãos lhe acariciavam a sedosa pele, seu corpo e seu cérebro levavam<br />

impresso a lembrança das curvas suaves, o calor apertado e os suaves gritos <strong>de</strong><br />

rendição.<br />

-Lembro <strong>de</strong> <strong>de</strong>itar você em minha manta sob as estrelas e fazer amor a<br />

maior parte da noite. E justo antes da alvorada, começou a chover. Segurei você<br />

nos braços e corri à escada, envoltos na manta e nada mais.<br />

-Ríamos tão alto que tememos que saíssem os vizinhos. - Voltou a<br />

gesticular por volta do mar. -Este é meu mundo. O lugar que quero compartilhar<br />

com você. - Olhou nos olhos <strong>de</strong>le e os encontrou fascinantes. -Nunca quis<br />

compartilhá-lo com nenhum outro, Sasha.<br />

-Está tremendo.<br />

-Estou?- Em realida<strong>de</strong> não o tinha notado. A pele <strong>de</strong>le era forte e quente e<br />

cheirava a fresco, limpo e masculino. Tinha-lhe necessitado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> fazia tanto<br />

tempo, quase não podia acreditar que estivesse com ela. Ter-lhe ali com o oceano<br />

ressonando interminavelmente como cortina <strong>de</strong> fundo, com as estrelas no alto,<br />

parecia um presente, surrealista, um sonho no que queria viver para sempre. O<br />

passado e futuro pareciam longínquos. A realida<strong>de</strong> eram seus braços e pouco<br />

mais.<br />

-Está. -Deixou-lhe um rastro <strong>de</strong> beijos com o passar do pescoço. -Vamos<br />

para <strong>de</strong>ntro.<br />

Abigail sacudiu a cabeça enquanto lhe enredava os <strong>de</strong>dos nos cabelos,<br />

enquanto alisava os sedosos fios e apoiava a cabeça contra seu peito. Queria que<br />

a abraçasse assim, sob as estrelas on<strong>de</strong> podia ouvir a chamada do mar e sentir a<br />

limpa brisa marinha em sua face. Não queria sentir medo. Não queria recordar<br />

nada exceto seu tato, seu corpo e a forma que a amava.<br />

Abigail se separou <strong>de</strong> seus braços e procurou seu ajustado top. O tirou pela<br />

cabeça e o atirou a um lado. Aleksan<strong>de</strong>r acreditava que recordava cada linha <strong>de</strong><br />

seu corpo, cada generosa curva, mas a visão <strong>de</strong> seus suaves seios encapsulados<br />

no sutiã <strong>de</strong> renda, o ar fresco convertendo seus mamilos em picos convidativos,<br />

apanhou-o em uma rajada <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo tão forte que lhe sacudiu.<br />

- Façamos uma cama aqui fora- sugeriu ela, com voz baixa e sensual.<br />

Levantou os braços para o céu, abrangendo a noite, sua larga cabeleira fluía a<br />

seu redor como uma sedosa capa.<br />

-Está segura, Abbey? Faz frio esta noite.<br />

Ela girou pela meta<strong>de</strong> a cabeça, seus olhos exóticos e seus cabelos lhe<br />

dando uma aparência fantasiosa à luz da lua.<br />

-Estou segura. Está muito resguardado aqui fora. Po<strong>de</strong>mos usar a banheira<br />

<strong>de</strong> água quente e a ducha está justo <strong>de</strong>ntro.<br />

- Abbey.... - lhe fechou a garganta. -Se só quiser que abrace você esta<br />

noite, farei só isso. Disse a sério.<br />

Lançou-lhe outro <strong>de</strong>sses sorrisos que ele não podia interpretar, lenta,<br />

sedutora, e justo um pouco fora <strong>de</strong> seu alcance.<br />

-Quero esta noite. Dê-me esta noite, Sasha e po<strong>de</strong>remos pensar no resto<br />

mais tar<strong>de</strong>.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r elevou a temperatura da banheira <strong>de</strong> água quente e voltou a<br />

entrar para voltar com o colchão e os lençóis. Enquanto Abbey fazia a cama, ele<br />

tirou vários cobertores e gran<strong>de</strong>s toalhas <strong>de</strong> banho.


141<br />

-É uma casa maravilhosa- disse Abigail. -Um <strong>de</strong>senho brilhante. Muitas das<br />

casas ao longo da costa se harmonizam bastante bem com a paisagem.<br />

-Você adora viver aqui, verda<strong>de</strong>?<br />

Lançou-lhe um débil sorriso.<br />

-É meu lar. É obvio que eu adoro. O som do oceano me reconforta e cada<br />

vez que o vejo, sinto paz. Não importa se estiver em calma ou turbulento, há<br />

algo consolador no mar.<br />

Ele se esten<strong>de</strong>u para ela, puxando para aproximá-la.<br />

-Isso é o que eu sinto por você. Recorda a seu mar. Com freqüência os<br />

pescadores dizem que o mar é seu amante e está em seu sangue. - Beijou-lhe o<br />

pescoço, roçou as mãos dos seios ao estômago. Os elos dourados do cinto que<br />

ro<strong>de</strong>ava sua cintura já estavam frios pelo ar da noite, mas isso serviu como<br />

combustível para abastecer o crescente calor <strong>de</strong> sua virilha. -Está em meu<br />

sangue, Abbey. E nem sequer quero que <strong>de</strong>le saia.<br />

Ouviu o assobio suave do zíper quando ela se afastou um pouco. A dor<br />

faminta se intensificava a um agonizante inchaço. Ela <strong>de</strong>slizou os jeans negros<br />

lentamente sobre seus quadris e para baixo pela longitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas pernas, saiu<br />

<strong>de</strong>les <strong>de</strong> modo que finalmente ficou em pé no alpendre levando tão só seu sutiã e<br />

as calcinhas <strong>de</strong> renda vermelho com um par <strong>de</strong> saltos altos negros.<br />

-Está me matando, Abbey- confessou ele brandamente, <strong>de</strong>ixando cair sua<br />

mão até o vulto duro como uma rocha que se apertava contra suas calças. -<br />

Sonhei com você vindo para mim, mas minhas fantasias não se aproximam o<br />

bastante à realida<strong>de</strong>.<br />

A luz da lua a envolveu <strong>de</strong> tal maneira que sua pele pareceu uma brilhante<br />

pérola. Seu arbusto <strong>de</strong> espesso cabelo vermelho caía por <strong>de</strong>baixo da cintura,<br />

atraindo a atenção à curva <strong>de</strong> seu traseiro. Seu mundo <strong>de</strong> violência e traição era<br />

uma forma <strong>de</strong> vida. Ele o entendia. Não confiava em nada. E logo estava Abigail<br />

com sua risada e cali<strong>de</strong>z, com seu corpo suave e fundido e o refúgio secreto <strong>de</strong><br />

um prazer além <strong>de</strong> seus sonhos mais selvagens. Ela estava ali em pé, esten<strong>de</strong>ndo<br />

a mão para ele, sem reconhecer o que significava para ele.<br />

Um rugido começou em alguma parte <strong>de</strong> sua cabeça e lhe consumiu.<br />

Ardiam lágrimas atrás <strong>de</strong> suas pálpebras. Conteve-se durante tanto tempo,<br />

negando-se a sentir ou pensar ou sonhar, e agora a represa tinha explorado e as<br />

comportas estavam totalmente abertas. Que lhe con<strong>de</strong>nassem se a ia per<strong>de</strong>r. Ela<br />

acreditava estar oferecendo uma noite <strong>de</strong> distração. Podia senti-la manter uma<br />

parte <strong>de</strong> si mesma longe <strong>de</strong>le, mas isso não ia ocorrer. Abigail Drake era <strong>de</strong>le, e<br />

cada célula <strong>de</strong> seu corpo lhe pertencia. Ele tinha uma noite para fazê-la admiti-lo<br />

e não ia <strong>de</strong>sperdiçar sua oportunida<strong>de</strong>.<br />

Envolveu a mão <strong>de</strong>la na sua e a puxou até que seu corpo esteve contra o<br />

<strong>de</strong>le. Tinha esperado quatro anos por este momento e não po<strong>de</strong>ria esperar um<br />

segundo mais. Seu punho se apertou entre os cabelos <strong>de</strong>la, sua boca encontrou a<br />

<strong>de</strong>la para capturar esse primeiro pequeno gemido <strong>de</strong> rendição que sempre fazia.<br />

Celebrou esse som, esse momento no que soube que se entregaria a ele. Tinham<br />

sido muitas noites nas que <strong>de</strong>spertou sozinho, seu corpo tão duro como uma<br />

pedra, e esse pequeno gemido enchendo sua mente e provocando uma dor em<br />

seu coração.


142<br />

As mãos <strong>de</strong>las se <strong>de</strong>slizaram para seus ombros, os <strong>de</strong>dos se afundaram em<br />

seus músculos enquanto a língua se afundava no profundo calor doce <strong>de</strong> sua<br />

boca. Pressionou sua virilha dolorida contra o ventre suave, permitindo que a<br />

sensação <strong>de</strong> sua pele e suas curvas exuberantes lhe empurrassem a beira do<br />

controle. Cada recordação <strong>de</strong> acariciá-la, o prazer interminável, o incrível amor<br />

que entrou em seu coração e em sua alma tão <strong>de</strong>vagar que não o tinha<br />

reconhecido a tempo para proteger-se. Tinha sido muito tar<strong>de</strong> quando soube o<br />

que estava acontecendo. Necessitava-a quando nunca tinha necessitado a<br />

ninguém.<br />

A boca <strong>de</strong> Abbey era calor aveludado, sua língua se enredava com a <strong>de</strong>le,<br />

aumentando o prazer. Logo não po<strong>de</strong> respirar enquanto passava as mãos<br />

possessivamente sobre ela.<br />

-Leva muita roupa em cima, Sasha - queixou-se ela.<br />

Resistente a romper seu beijo, seus <strong>de</strong>ntes lhe mordiscaram o lábio inferior.<br />

Elevou a cabeça, se tomando tão somente o tempo necessário para passar a<br />

camisa pela cabeça e atirá-la a um lado. Antes que pu<strong>de</strong>sse alcançá-la outra vez<br />

a palma <strong>de</strong>la se <strong>de</strong>slizou sobre a parte dianteira <strong>de</strong> suas calças. Seu corpo se<br />

estremeceu ante o calor repentino e a fricção quando lhe esfregou através do<br />

tecido.<br />

-Segue havendo muita roupa- enfatizou ela, lhe olhando aos olhos.<br />

Estava perdido e sabia. Quantas vezes se afogou em seu olhar? Abigail era<br />

um <strong>de</strong>sejo que não queria livrar-se nunca. Tinha <strong>de</strong>ixado <strong>de</strong> lutar com o fato <strong>de</strong><br />

que a necessitava. Era só questão <strong>de</strong> fazê-la compreen<strong>de</strong>r que também<br />

necessitava a ele. Livrou-se <strong>de</strong> sua roupa, <strong>de</strong>ixando-a cair <strong>de</strong>scuidadamente<br />

enquanto se estendia <strong>de</strong> novo para ela, conduzindo-a à cama.<br />

Encontrou o calor <strong>de</strong> seu pescoço, beijando e mordiscando gentilmente,<br />

brincando com sua orelha e sua garganta. Seus mamilos lhe pressionavam os<br />

duros músculos do peito, tão somente o sutiã separava suas peles. Ela estava<br />

emitindo sons suaves <strong>de</strong> prazer, suas unhas lhe cravavam nas costas e seus<br />

quadris se moviam sinuosamente abaixo <strong>de</strong>le.<br />

Seu corpo ardia com um <strong>de</strong>sejo febril. Beijou um caminho para a plenitu<strong>de</strong><br />

dos seios para encontrar os apertados e duros brotos que empurravam através do<br />

sutiã vermelho.<br />

-É tão formosa. - Só podia olhá-la enquanto a luz da lua acariciava seu<br />

corpo. Inclinou a cabeça lentamente e lambeu o calor que formava re<strong>de</strong>moinhos<br />

sobre cada mamilo. O corpo <strong>de</strong>la reagiu, contraindo os músculos, os quadris<br />

agitando-se <strong>de</strong>scontroladamente. Ela gemia ante a intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu prazer.<br />

Abigail nunca guardava nada, sempre lhe tinha <strong>de</strong>monstrado o muito que<br />

lhe <strong>de</strong>sejava. O conhecimento lhe ajudou a manter o controle quando tanto a<br />

<strong>de</strong>sejava. Estava <strong>de</strong>cidido a ir <strong>de</strong>vagar e lhe proporcionar a mesma intensida<strong>de</strong><br />

agonizante que mantinha a ele <strong>de</strong>tento em suas garras.<br />

Abigail arqueou para ele, empurrando os seios para sua boca como um<br />

convite, seus punhos lhe aferraram os cabelos. Tirou seu sutiã e abaixou a<br />

cabeça, fechando a boca apaixonadamente sobre o mamilo, sugando com ansiosa<br />

luxúria. Sua mão subiu pela perna para a coxa. Podia sentir o calor, a umida<strong>de</strong> na<br />

barreira da calcinha vermelha entre eles. Ela pronunciou seu nome, um som<br />

dolorido e sem fôlego, lhe suplicando.


143<br />

Acariciou as coxas sedosas enquanto dirigia sua atenção ao outro seio, seus<br />

<strong>de</strong>ntes dando pequenas <strong>de</strong>ntadas e sua língua lambendo apaixonadamente a pele<br />

enquanto beijava o caminho para seu ventre. O fôlego <strong>de</strong>la se converteu em<br />

ofegos, seus <strong>de</strong>dos lhe apertaram os ombros. As mãos <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r estavam<br />

por toda parte, moldando cada curva, encontrando cada sombra, brincando com<br />

seus mamilos e acariciando-a até que girou vertiginosamente fora <strong>de</strong> controle<br />

junto com ele. Havia uma súplica em sua voz enquanto seus quadris se moviam<br />

continuamente abaixo <strong>de</strong>le.<br />

-Adoro essa calcinha vermelha- sussurrou contra seu ventre. Com as mãos<br />

separou as coxas enquanto seu queixo esfregava a calcinha úmida. Inalou seu<br />

perfume. Sua fragrância o envolvia. Recordava-o tão vividamente, o sabor e o<br />

aroma excepcional <strong>de</strong>la. Seus <strong>de</strong>ntes mordiscaram o tecido <strong>de</strong> renda sobre o<br />

montículo pulsante.<br />

-Sasha!- A Abigail sua própria voz soou rouca pelo <strong>de</strong>sejo.<br />

Sua língua se <strong>de</strong>slizou através dos ocos da calcinha e acariciou<br />

profundamente. Ela se agitou abaixo <strong>de</strong>le, quase se <strong>de</strong>sfazendo entre seus<br />

braços.<br />

-O que está fazendo? Passou muito tempo. Quero você <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim.<br />

Ele sorriu ante a exigência <strong>de</strong> sua voz.<br />

-Quero tudo <strong>de</strong> você. Inclusive as partes que não quer me dar. Tudo. - Sua<br />

língua se <strong>de</strong>slizou profundamente outra vez, uma correria através da renda, lhe<br />

roubando o fôlego. -Não é culpa minha que a calcinha esteja no meio.<br />

As mãos <strong>de</strong>la empurraram freneticamente a calcinha.<br />

-Tira-me isso. Depressa. Tira-me isso. - Chutou com os pés até que seus<br />

saltos altos saíram voando.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r abaixou o olhar à face <strong>de</strong>la, ao olhar vidrado, a forma em que<br />

seus seios se elevavam. Sua pele era imaculada e sensível, tão formosa que lhe<br />

doía o coração. Rasgou a calcinha com um movimento rápido, proporcionando-se<br />

acesso ao corpo <strong>de</strong>la. Passou a palma sobre ela, afundando um <strong>de</strong>do na<br />

intrigante umida<strong>de</strong>. Seus músculos se apertaram com força quando lhe separou<br />

as coxas e se <strong>de</strong>slizou entre eles.<br />

-Tinha esquecido como é saborosa.<br />

Abaixou a cabeça para ela, sua boca encontrou o ponto mais sensível.<br />

Tomou seu tempo, sugando, lambendo, conduzindo-a a beira do controle e<br />

mantendo-a ali. O corpo <strong>de</strong> Abigail palpitava com a excitação. Suplicava por ele,<br />

com os punhos enterrados entre seus cabelos, puxando enquanto o fogo rabiava<br />

através <strong>de</strong> sua corrente sangüínea e seu corpo serpenteava mais e mais tenso.<br />

Abigail estava a beira da loucura. Ele emitia ar<strong>de</strong>ntes sons sensuais <strong>de</strong><br />

prazer enquanto a <strong>de</strong>gustava, lambendo e mor<strong>de</strong>ndo gentilmente. Soava<br />

<strong>de</strong>sesperado por ela, mas não tomava, não a enchia ou lhe permitia chegar<br />

quando necessitava alívio. Seus olhos eram tão escuros que pareciam negros.<br />

Parecia tão faminto, com um escuro <strong>de</strong>sejo esculpido profundamente nas linhas<br />

<strong>de</strong> sua face. Os <strong>de</strong>dos substituíram à língua quando se inclinou para frente,<br />

esfregado seu rosto no ventre <strong>de</strong>la. Seu útero se esticou e lhe escapou outro<br />

grito.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r trocou <strong>de</strong> posição, elevando-se sobre ela <strong>de</strong> joelhos. Seu corpo<br />

era duro e <strong>de</strong> músculos <strong>de</strong>finidos, seus ombros largos. Tinha esquecido quão


144<br />

gran<strong>de</strong> era. Ajoelhado entre suas pernas como estava, até com seu corpo<br />

pulsando <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo e úmida em boas vindas teve um momento <strong>de</strong> incerteza.<br />

-Fizemos isto muitas vezes- recordou-lhe ele enquanto pressionava a<br />

gran<strong>de</strong> cabeça <strong>de</strong> sua ereção contra ela.<br />

Empurrou entre suas apertadas dobras, estirando-a lentamente. Ofegou.<br />

-É tão con<strong>de</strong>nadamente apertada, Abbey. -Seu fôlego era áspero, igualando<br />

ao <strong>de</strong>la. Era apertada e tão malditamente quente que não estava seguro se<br />

estava no paraíso ou no inferno. Nunca a tinha <strong>de</strong>sejado tanto e a sensação<br />

estava em algum lugar entre o puro êxtase e a dor quando se introduziu mais<br />

profundamente em seu corpo.<br />

O calor e o fogo açoitaram seu corpo, esten<strong>de</strong>u-se e a consumiu. Abigail<br />

sentiu as lágrimas correndo por sua face e se perguntou como tinha vivido<br />

alguma vez sem ele. Tinha querido reter alguma parte <strong>de</strong> si mesma a salvo, mas<br />

ele estava tomando tudo o que ela era, exigindo-o tudo e não podia evitar a<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo que emanava <strong>de</strong> seu interior. Seu corpo se <strong>de</strong>rreteu ao<br />

redor do <strong>de</strong>le, passou a formar parte do corpo <strong>de</strong>le. Pele com pele se balançaram,<br />

os quadris encontraram o ritmo perfeito, o corpo <strong>de</strong>le introduzindo-se duro,<br />

rápido e profundo no <strong>de</strong>la. Elevou-se para encontrá-lo, apertando os músculos<br />

para sujeitá-lo. Estava segura <strong>de</strong> que não sobreviveria, <strong>de</strong> que morreria com ele<br />

profundamente enterrado em seu interior enquanto seu corpo se esticava mais e<br />

mais pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alívio.<br />

Mergulhou-se nela com golpes duros e <strong>de</strong>sesperados enquanto seu corpo<br />

pulsava e pulsava ao redor <strong>de</strong>le. Suas mãos lhe aferraram os quadris, o que lhe<br />

permitia introduzir-se nela, furiosas estocadas que enviavam ondas expansivas<br />

por todo seu corpo. As sensações se vertiam nela, através <strong>de</strong>la, aumentando e<br />

aumentado até que só existiu Aleksan<strong>de</strong>r em seu mundo. Sentia seu corpo<br />

esticar-se, alcançar um frenesi <strong>de</strong> luxúria e <strong>de</strong>sejo, mais e mais alto.<br />

Ele não <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> mover-se, empurrando mais e mais forte e levando-a a<br />

tal altura que temeu não po<strong>de</strong>r retornar nunca. Não tinha importância, sujeitavaa<br />

com sua força, seu rosto era uma máscara <strong>de</strong> escura intensida<strong>de</strong>, enquanto seu<br />

ritmo furioso se incrementava. Ouviu-se gritar quando ele roçou seu ponto mais<br />

sensível, lançando-a sobre a beira fazendo que seu útero se convulsionasse,<br />

enviando ondas expansivas que a rasgaram.<br />

Sentiu o ar<strong>de</strong>nte jorro da liberação <strong>de</strong>le enchendo-a, ouviu seu rouco grito<br />

mesclando-se com o <strong>de</strong>la. Deitou sobre ela, seu corpo estremecendo-se, quente,<br />

gotas <strong>de</strong> suor ume<strong>de</strong>cendo seus cabelos, o coração lhe palpitando no peito.<br />

Jazeu abaixo <strong>de</strong>le lutando por respirar, seu corpo já não lhe pertencia, mas<br />

era assim <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a primeira vez que se <strong>de</strong>itou com ele. As lágrimas escaparam<br />

pela comissura <strong>de</strong> seus olhos.<br />

-Lyubof maia - Sua voz era gentil, sensual. –Me arrancará o coração outra<br />

vez se chorar - Seus <strong>de</strong>dos penetraram entre os <strong>de</strong>la. -Quero você mais que a<br />

minha vida. Não há esperança para nós? Não tive nada até que entrou em minha<br />

vida e quando partiu, <strong>de</strong>ixou-me sem nada. - Beijou-lhe os olhos, sua língua<br />

tomando as lágrimas. -Tenta-o por mim, Abbey.<br />

-Estou tentando. - Seu corpo ainda palpitava ao redor do <strong>de</strong>le, pequenos<br />

tremores a estremeciam, enviando diminutos impulsos elétricos por sua corrente<br />

sanguínea.


145<br />

-Está tentando não me amar. - Beijou-lhe a garganta, pressionou outro<br />

beijo entre seus seios. -Conheço você muito bem. Não quer me amar.<br />

Odiava que soubesse isso. Que a conhecesse tão bem que pu<strong>de</strong>sse dizer o<br />

que estava pensando e sentindo. Tocou-lhe a face. Sua amada face.<br />

-Temos que estar juntos. Complementamo-nos, Abbey. Pertencemo-nos.<br />

-Tive que trabalhar muito duro para me encontrar <strong>de</strong> novo, Aleksan<strong>de</strong>r. -<br />

Havia dor em sua voz. -Estava tão perdida sem você. Deixou-me tosca e ferida;<br />

apanhada em um lugar escuro sem janelas ou portas. Não sabia como viver sem<br />

você. Não sabia como sorrir ou sentir ou ser. Levou-me quase dois anos aceitar<br />

que realmente se acabou e tive que encontrar a maneira <strong>de</strong> seguir. Obriguei-me<br />

a ser forte. Estou viva outra vez. Posso me levantar algumas manhãs e ser feliz.<br />

Posso olhar ao oceano e encontrar paz outra vez. Agora me pe<strong>de</strong> que o arrisque<br />

tudo uma vez mais; e não estou segura <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r sobreviver se tudo voltasse a<br />

<strong>de</strong>rrubar-se.<br />

Estava estendido sobre ela, seu corpo suave impresso na dura carne <strong>de</strong>le.<br />

Ainda estava enterrado profundamente <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la e acabavam <strong>de</strong> ter sexo <strong>de</strong><br />

sacudia a terra. Estava-lhe olhando com uma mescla <strong>de</strong> amor e medo e nem<br />

sequer podia fingir que não sabia por que. Fazia mal uso <strong>de</strong> certas coisas por<br />

causa <strong>de</strong> sua arrogância, <strong>de</strong> sua confiança em que era tão capitalista que a<br />

ninguém lhe ocorreria tratar <strong>de</strong> afundá-lo. Tinha estado equivocado e Abigail<br />

tinha sido a que pagou o preço.<br />

-Sei, rebyonak, sinto muito. Sei que tenho culpa do que você passou e sei o<br />

preço que pagou por meu engano. Mas lhe juro isso, não permitirei que volte a<br />

ocorrer. - Beijou-lhe a comissura da boca. -Não cometo duas vezes o mesmo<br />

engano.<br />

Penteou-lhe os cabelos para trás.<br />

-Me dê tempo.<br />

-Conseguirei algo para beber. Quer algo quente ou frio?<br />

-Algo frio. Vou tomar uma ducha e você enche a banheira <strong>de</strong> água quente.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r a beijou outra vez, longo e <strong>de</strong>vagar, tentando sem palavras lhe<br />

mostrar como se sentia. A contra gosto <strong>de</strong>slizou fora do refúgio <strong>de</strong> seu corpo.<br />

Tinha um apertão tão precário sobre ela que não queria <strong>de</strong>ixá-la nem por um<br />

momento, temendo que se afastasse e lhe <strong>de</strong>ixasse sozinho outra vez.<br />

Abigail pren<strong>de</strong>u os cabelos para evitar que se molhassem e permitiu que a<br />

água quente se vertesse sobre seu corpo. Tinha passado muito tempo da última<br />

vez que tinha feito amor e estava sensível, seu corpo ligeiramente dolorido.<br />

Aleksandr sempre tinha estado tão faminto <strong>de</strong>la. Faziam amor com freqüência,<br />

em várias ocasiões ao dia. As coisas que tinham feito, nunca as faria com<br />

nenhum outro. Com ele sempre parecia correto e natural. Seu corpo ainda<br />

palpitava por ele. Podia senti-lo pulsando em seu útero, <strong>de</strong>sejando mais.<br />

Nua, saiu ao alpendre. Aleksan<strong>de</strong>r já tinha tirado a coberta da banheira <strong>de</strong><br />

água quente e tomava a mão, ajudando-a a entrar na água. O contraste do fresco<br />

ar noturno e a água quente a fez ofegar quando se sentou nas profundida<strong>de</strong>s.<br />

Recostou-se, com a cabeça apoiada na almofada, olhando as estrelas e escutando<br />

o rugir do oceano enquanto ele tomava sua ducha.<br />

Abigail se sentou erguida e lhe observou andar para ela quando ouviu abrir<br />

porta. Levava duas taças <strong>de</strong> champagne cheias <strong>de</strong> líquido dourado. Aproximou-se


146<br />

da banheira e lhe ofereceu uma taça. Ela a colocou na beirada da banheira e<br />

embalou seu testículo na palma, apertando gentilmente enquanto se elevava <strong>de</strong><br />

joelhos. Seus seios flutuaram na água quente quando se inclinou para ele.<br />

-É um homem muito atraente.<br />

Ante seu toque, voltou para a vida incluso no meio do frio da noite. Ela<br />

fechou os <strong>de</strong>dos a seu redor, sentiu-lhe crescer e endurecer-se em resposta.<br />

-Só fique aí, Sasha e bebe seu champagne. Quero tocar você.<br />

Ele tinha explorado seu corpo, mas ela só tinha conseguido ancorar-se a si<br />

mesma lhe cravando as unhas e sujeitando-se quando as sensações se voltaram<br />

muito. Agora tinha tempo para uma exploração muito mais pausada.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r fechou os olhos quando o fôlego quente <strong>de</strong>la se moveu sobre<br />

seu corpo. As mãos roçando sobre sua pele, riscando linhas e músculos, voltando<br />

para sua repentinamente raivosa ereção. Levantou a taça até seus lábios e tomou<br />

um pequeno sorvo <strong>de</strong> champagne justo quando a boca se fechou sobre ele.<br />

Quase <strong>de</strong>ixou cair a taça e se afogou. Sua mão livre posou nos cabelos <strong>de</strong>la.<br />

-Adoro sua boca- Sentia-se outra vez atormentadamente duro e palpitava<br />

pesadamente.<br />

Ela não respon<strong>de</strong>u. A umida<strong>de</strong> se estava já acumulando e seu útero se<br />

esticava <strong>de</strong> novo, apertando-se e palpitando <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo. Ambas as mãos subiram<br />

para lhe agarrar as coxas, seus <strong>de</strong>dos se afundaram no pesado músculo enquanto<br />

enchia sua boca com sua plenitu<strong>de</strong>. Começou a sugar com força, sua língua<br />

dançando e brincando enquanto ele gemia <strong>de</strong> prazer.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r jogou a cabeça para trás e contemplou o céu. A lua os banhava<br />

com sua luz enquanto o oceano tocava uma forte melodia como cortina <strong>de</strong> fundo.<br />

O calor da banheira não era nada em comparação com o fogo da boca aveludada<br />

<strong>de</strong>la. Não tinha nem idéia do que tinha feito em uma vida anterior para merecer a<br />

uma mulher como Abigail. Nunca havia concebido ter uma mulher que<br />

compartilhasse tão completamente, tão honestamente. Uma que <strong>de</strong>sfrutaria <strong>de</strong><br />

seu corpo com tão completo abandono. Ela podia fazer coisas assombrosas com<br />

sua boca e parecia encantar fazer-lhe a ele.<br />

Tremiam-lhe as pernas e sentia como se estivesse estrangulando <strong>de</strong> prazer,<br />

seu fôlego chegava em ofegos <strong>de</strong>siguais, os pulmões lhe ardiam procurando ar.<br />

Ele empurrou mais profundamente em sua boca, seus quadris agarrando o fluxo<br />

<strong>de</strong> seus movimentos. Seus testículos estavam tão tensos que temeu que<br />

explodissem.<br />

-Quero acabar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> você Abbey. Estou perto, tão perto.<br />

O corpo <strong>de</strong> Abbey palpitava com tal necessida<strong>de</strong> que a contra gosto<br />

abandonou o prazer <strong>de</strong> lhe voltar louco e lhe permitiu retirar-se <strong>de</strong> sua boca.<br />

Agarrou-a pela cintura, levantando-a sem preâmbulo sobre seus pés e<br />

girando-a para almofada da beira da banheira. Com a mão aberta em suas<br />

costas, obrigou-a a inclinar-se para frente. Ela se encontrou olhando ao palpitante<br />

mar enquanto a mão <strong>de</strong>le escorregava entre suas pernas, seus <strong>de</strong>dos procurando<br />

a umida<strong>de</strong>.<br />

Ele gemeu.<br />

-Está tão preparada para mim. Tem a menor idéia do que isto po<strong>de</strong> fazer a<br />

um homem?- Podia lhe pôr <strong>de</strong> joelhos. Abigail não tinha nem idéia do que tinha<br />

feito por ele, <strong>de</strong> como tinha mudado sua vida, <strong>de</strong> como lhe tinha trocado como


147<br />

pessoa. Não voltaria a ser o que tinha sido sem ela. Afundou-se nela com força,<br />

necessitando o prazer que palpitava por todo seu corpo para afugentar a seus<br />

<strong>de</strong>mônios. Estes se tinham apresentado muito inesperadamente. Abigail tinha<br />

admitido quanto lhe havia flanco recuperar sua vida e continuar sem ele, mas ao<br />

menos ela tinha podido. Ele não tinha sido capaz <strong>de</strong> fazê-lo.<br />

Tinha vertido seu coração em suas cartas e ela as havia <strong>de</strong>volvido sem<br />

abrir. Antes <strong>de</strong> Abbey nunca tinha tido importância se era feliz enquanto<br />

cumprisse com seu <strong>de</strong>ver. Perseguia criminosos e se esquivava <strong>de</strong> balas, voltando<br />

<strong>de</strong>pois para um apartamento vazio. Não confiava em ninguém e não se<br />

preocupava com ninguém. Tinha podido viver no labirinto <strong>de</strong> dor e traição,<br />

manobrando <strong>de</strong>stramente através dos campos <strong>de</strong> minas <strong>de</strong> seu mundo, mas ela<br />

tinha trocado todo isso. Per<strong>de</strong>u-se com tanta segurança como se per<strong>de</strong>u ela. Não<br />

podia pensar em perdê-la outra vez; duvidava que ele pu<strong>de</strong>sse sobreviver<br />

tampouco.<br />

Seus <strong>de</strong>dos lhe apertaram os quadris. Ela estava quente e apertada e era<br />

um milagre <strong>de</strong> prazer que expulsava os pensamentos perigosos <strong>de</strong> sua cabeça.<br />

Podia sentir seu corpo lhe banhando em ar<strong>de</strong>nte líquido, seus músculos lhe<br />

aferrando com força, apertando e massageando, a fricção era incrível quando se<br />

inundava em seu interior. Abigail empurrou para trás contra ele, balançando seu<br />

traseiro contra o tenso escroto com cada profunda estocada, enviando o prazer<br />

<strong>de</strong>le a um vertiginoso giro inverificado. Sentiu o corpo <strong>de</strong>la paralisar-se a seu<br />

redor, convulsionando-se e contraindo-se fortemente. Seu suave grito se elevou<br />

na noite.<br />

Um grito rouco se liberou <strong>de</strong> sua garganta quando se esvaziou nela, seus<br />

braços lhe ro<strong>de</strong>ando a cintura, sua boca encontrando a nuca. Pressionou um<br />

rastro <strong>de</strong> beijos <strong>de</strong>scendo pela coluna vertebral para o traseiro enquanto se<br />

<strong>de</strong>slizava fora <strong>de</strong>la.<br />

Virou-a, ajudando-a a sentar-se recostada na banheira <strong>de</strong> água quente já<br />

que ambos tinham as pernas trementes. Olhava-lhe com tal mescla <strong>de</strong> dor e<br />

prazer que sentiu que lhe arrancavam o coração. Havia tanta tristeza nela que<br />

não o podia suportar.<br />

Agarrou-lhe o queixo e colocou a outra mão no peito.<br />

-Baushki-bau, está me rompendo o coração. Não po<strong>de</strong> ver que o que sinto<br />

por você é real? Que quero você mais que a nada neste mundo? Faria qualquer<br />

coisa para apagar a dor que causei. Diga-me o que posso fazer. Por favor, Abbey,<br />

não po<strong>de</strong> continuar tão ferida.<br />

Lançou-lhe um débil sorriso, enquanto lhe tocava as pequenas linhas ao<br />

redor da boca.<br />

-Não é só minha dor. É a sua também. Eu sinto como você me sente. -<br />

pressionou-se a mão sobre o coração em um gesto quase idêntico ao <strong>de</strong>le. -<br />

Superaremos isto. Só que nos levará tempo. Nunca pensei que voltaria a ver você<br />

e ainda estou em estado <strong>de</strong> choque.<br />

-Seduziu-me <strong>de</strong>liberadamente esta noite.<br />

O sorriso <strong>de</strong>la se ampliou.<br />

-Não preciso muito para seduzir você, Sasha. Com tão só um olhar penso<br />

que te seduzo.<br />

Ele <strong>de</strong>u <strong>de</strong> ombros.


148<br />

-Isso é certo.<br />

Abigail esten<strong>de</strong>u o braço em busca <strong>de</strong> sua champagne.<br />

-Menos mal que estou tomando pílula. Se não estaríamos em gran<strong>de</strong>s<br />

problemas. Só porque Elle seja a <strong>de</strong>stinada a ter as sete filhas não quer dizer que<br />

o resto <strong>de</strong> nós não possamos ficar grávidas. Deveria ter pensado nisso antes <strong>de</strong><br />

te pôr tão selvagem.<br />

Tirou-lhe a taça e a inclinou ligeiramente para que umas poucas gotas<br />

corressem pela fenda entre seus seios.<br />

-Pensei nisso- murmurou enquanto inclinava a cabeça para lamber o<br />

champagne da pele. -Esperava que tivesse esquecido.<br />

Sua língua enviou pequenas <strong>de</strong>scargas elétricas pulsantes através <strong>de</strong> seu<br />

centro. Ele se recostou para trás, com a cabeça contra uma das almofadas<br />

acolchoadas e a atraiu até seu peito.<br />

-Recoste e olhe as estrelas. É uma noite incrível e só quero te abraçar.<br />

Abigail relaxou, movendo os quadris até que ela pô<strong>de</strong> sentir sua virilha ao<br />

longo da união <strong>de</strong> suas ná<strong>de</strong>gas. Permitiu que sua cabeça <strong>de</strong>scansasse no peito<br />

<strong>de</strong>le. Imediatamente as mãos <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r subiram até seus seios.<br />

-Isso não é possível.<br />

-Não, mas posso abraçar você. Senti falta <strong>de</strong> tocar você. - Seus <strong>de</strong>dos lhe<br />

massageavam os seios, brincando com seus mamilos. -Eu adorava <strong>de</strong>spertar na<br />

meta<strong>de</strong> da noite e te encontrar a meu lado nua. Seu corpo sempre era tão<br />

receptivo.<br />

-É um maníaco sexual. - Havia um sorriso em sua voz e outro arrastandose<br />

até seu coração. Talvez ela fosse a maníaca sexual. Quando estava com ele,<br />

sempre estava úmida e pronta, seu corpo pulsava e palpitava. Não importava o<br />

que lhe pedisse ele, nem quando, <strong>de</strong>sejava-lhe.<br />

Gostava <strong>de</strong> tocar seu corpo e o fazia com freqüência. Inclusive quando saía<br />

recordava como sua mão a roçava aci<strong>de</strong>ntalmente os mamilos ou o traseiro. Uma<br />

vez estavam em um clube noturno e sua mão tinha subido sigilosamente pela<br />

coxa sob a mesa. Tinha estado tão quente por ele quando partiram, que apenas<br />

as tinham arrumado para chegar a seu apartamento antes que lhe arrancasse a<br />

roupa.<br />

Nunca lhe importava que tomasse a iniciativa, o que fazia freqüentemente,<br />

lhe excitando <strong>de</strong>liberadamente quando sabia que não podia fazer nada a respeito.<br />

Adorava esse olhar em seus olhos, ar<strong>de</strong>nte com promessas, e sempre acabava as<br />

cumprindo.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r lhe mordiscou o ombro, seus <strong>de</strong>ntes lhe arranhavam a pele<br />

jocosamente enquanto suas mãos vagavam pelo corpo. Ela <strong>de</strong>ixou que o<br />

champagne escorregasse por sua garganta e lhe <strong>de</strong>u a taça outra vez. Ele tomou<br />

um sorvo e logo lhe jogou a cabeça para trás para beijá-la, tendo sabor <strong>de</strong><br />

champagne e sexo.<br />

-Quer ir à cama?- perguntou Abigail.<br />

Devolveu-lhe a taça e <strong>de</strong>slizou ambas as mãos <strong>de</strong> volta sob a água, lhe<br />

buscando as coxas.<br />

-Sim. Com você. Quero te comer toda a noite.<br />

-Acreditava que queria me abraçar toda a noite.


149<br />

-Isso também. - Suas mãos lhe separaram as coxas e <strong>de</strong>scansou as palmas<br />

a ambos os lados <strong>de</strong> seu montículo, os polegares movendo-se com uma lenta<br />

persuasão através dos apertados cachos. -Quero que esta noite dure para<br />

sempre.<br />

Ela suspirou e se moveu um pouco mais para acomodar seus <strong>de</strong>dos<br />

acariciantes.<br />

-Eu também quero que esta noite dure para sempre. - Ele fazia que ar<strong>de</strong>sse<br />

uma vez mais com seus intensos beijos e seus <strong>de</strong>dos <strong>de</strong>slizando-se<br />

profundamente em seu interior, acariciando e dançando com uma experiência que<br />

provinha <strong>de</strong> todas as noites que tinham feito amor.<br />

-Vêem por mim. - Sussurrou-lhe tentadoramente. Empurrou os <strong>de</strong>dos mais<br />

profundamente, enchendo-a, acariciando seus clitóris e lhe murmurando em<br />

russo fantasias explícitas ao seu ouvido.<br />

Ela empurrou para frente os quadris, montando sua mão, seu fôlego<br />

entrecortado e seus seios levantando-se com a excitação do crescente prazer. Ele<br />

a beijou uma e outra vez, lhe roubando o fôlego, lhe estimulando os seios com<br />

uma mão enquanto com a outra acariciava e entrava na apertada vagina. Entre<br />

seus beijos lhe sussurrava em russo. Ela só podia captar algumas das coisas que<br />

estava propondo <strong>de</strong> tão perdida que estava no crescente torvelinho <strong>de</strong> calor e<br />

prazer. Elevou os quadris para encontrar o impulso rítmico <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>dos,<br />

<strong>de</strong>sejando mais, <strong>de</strong>sesperada por mais.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r mordiscou sua clavícula, uma pequena <strong>de</strong>ntada <strong>de</strong> dor que<br />

aliviou com a língua. Empurrou profundamente em seu interior com os <strong>de</strong>dos,<br />

friccionando seu ponto mais sensível. A excitação flamejou através <strong>de</strong>la, ar<strong>de</strong>nte<br />

e necessitada. Podia sentir seu corpo chegando mais e mais alto.<br />

-É tão apertada- sussurrou ele. - Tão quente e apertada.<br />

Ela explodiu, o orgasmo chegou rápido e duro; estremecendo-a com sua<br />

força. O calor se apressou através <strong>de</strong> seu corpo e realmente se sentiu <strong>de</strong>sfalecer.<br />

-Vou ter que sair daqui- disse ela. -Mas acredito que não vou po<strong>de</strong>r me pôr<br />

em pé.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r a levantou facilmente e saiu da banheira <strong>de</strong> água quente.<br />

Colocou-a na beirada e secou seu corpo com uma gran<strong>de</strong> toalha <strong>de</strong> banho.<br />

-Obrigado por estar aqui comigo esta noite, Abbey.<br />

-Aconteça o que acontecer mais tar<strong>de</strong>, me alegro <strong>de</strong> havê-lo feito, Sasha.<br />

Sua voz <strong>de</strong>ixou transparecer seu excessivo cansaço e ele a levou a cama e<br />

a esten<strong>de</strong>u, lhe apartando os cabelos do rosto.<br />

-Fique sob as mantas enquanto eu volto a pôr a coberta da banheira <strong>de</strong><br />

água quente. Não quero que pegue frio.<br />

Ela se enroscou sob as grosas mantas.<br />

-Tenho tanto sono que não acredito que o notasse. Vá <strong>de</strong>pressa e vêem a<br />

cama.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r limpou o alpendre e voltou para ela, ficou olhando-a por um<br />

longo momento, assombrado <strong>de</strong> que realmente estivesse com ele. Era muito<br />

consciente que ela não tinha falado <strong>de</strong> compromisso e sabia que ia afastar-se<br />

pela manhã. Mas agora a tinha com ele e isso era mais do que nunca tinha<br />

esperado.


150<br />

Aleksan<strong>de</strong>r subiu engatinhando à cama junto à Abigail e curvou seu corpo<br />

ao redor do <strong>de</strong>la.<br />

-O que sabe do Jonas Harrington?- Envolveu-lhe os braços ao redor e lhe<br />

beijou a nuca.<br />

-O que quer saber?- Havia uma nota <strong>de</strong> cautela em sua voz.<br />

Ele sorriu na escuridão.<br />

-É muito protetora com esse homem.<br />

-Ele não acreditaria assim. É <strong>de</strong> nossa família. Quero-lhe. Minhas irmãs,<br />

meus pais, inclusive minhas tias lhe querem. É um grão no traseiro a maior parte<br />

do tempo, mas caminharia entre o fogo por nós.<br />

-Averigüei muito sobre ele e parece ser muito bom em seu trabalho, tem<br />

uma folha <strong>de</strong> serviços excelente.<br />

-Como averiguou isso?<br />

-Estes são tempos mo<strong>de</strong>rnos e os agentes da Interpol russa utilizam<br />

computadores portáteis e Internet para enviar e receber arquivos. Interpol tem<br />

bastante renome como agência <strong>de</strong> informação. -Esfregou o nariz contra os<br />

cabelos <strong>de</strong>la. -Eu adoro como cheira seus cabelos.<br />

-Uso um xampu <strong>de</strong> ervas que fazem minhas irmãs. É um gran<strong>de</strong> produto.<br />

-Me fale do Harrington como pessoa. Como homem. É rígido com respeito<br />

às normas? Segue estritamente o livro? Respaldaria a seu companheiro se as<br />

coisas ficassem difíceis?<br />

Abigail abriu os olhos e se virou para lhe olhar. Seu suave corpo se moveu<br />

contra o <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r com um doce fogo que lhe estremeceu. Essa era uma das<br />

coisas que mais sentia falta <strong>de</strong> estar na cama com ela, sentindo-a simplesmente<br />

mover-se contra ele.<br />

-Não se atreva a utilizar Jonas para nada perigoso.<br />

-Parece estar muito em cima da investigação e se aproxima muito <strong>de</strong> Nikitin<br />

e Prakenskii. Não quero que eles lhe apontem como objetivo. Não acredito que<br />

Prakenskii matasse Harrington exceto em <strong>de</strong>fesa própria, mas a resposta do<br />

Nikitin quando alguém se cruza em seu caminho no geral suporta algum tipo <strong>de</strong><br />

violência. Acredito que po<strong>de</strong>ria proteger melhor o Harrington se trabalhar com<br />

ele.<br />

-Jonas leva seu trabalho muito a sério e averiguará quem assassinou seu<br />

companheiro. Se me perguntar se ajudaria você, então sim. E se está preocupado<br />

por que esteja se aproximando muito da verda<strong>de</strong> e que quem está <strong>de</strong>trás disto<br />

lhe queira morto por isso… é tenaz e encontrará o assassino. Estarei muito<br />

agra<strong>de</strong>cida se lhe vigiasse- Bocejou. -Tenho tanto sono.<br />

Beijou-lhe o pescoço outra vez.<br />

-Durma então. Amanhã temos que falar.<br />

-Sasha...- Sua voz era sonada. -Tenho que estar na baía a primeira hora da<br />

manhã para dar os antibióticos ao golfinho e logo tenho uma reunião com minhas<br />

irmãs. Supõe-se que teria que estar as ajudando a planejar umas bodas duplas e<br />

até agora não contribuí absolutamente em nada aos planos. Também tem essa<br />

coisa. - Emitiu um ruído <strong>de</strong> repugnância.<br />

-Que coisa?<br />

-Frank Warner oferece uma festa para todos os peixes gordos e recebemos<br />

a convocatória real <strong>de</strong> Inez, o qual quer dizer que temos que ir.


151<br />

-Está me afastando?<br />

Ela se enrijeceu ante seu tom.<br />

-Não. Digo que tenho planos amanhã e não po<strong>de</strong>rei ver você. Tenho uma<br />

vida, sabe. E acreditava que estava aqui por negócios. Não tem uma investigação<br />

que levar a cabo?<br />

-Minha investigação vai bem. Posso tratar com mais <strong>de</strong> uma coisa em<br />

minha vida <strong>de</strong> uma vez.<br />

Olhou-lhe com seus expressivos olhos ver<strong>de</strong>s.<br />

-Eu sou uma <strong>de</strong>ssas coisas?<br />

-Você é tudo que importa.<br />

Capítulo – 13<br />

-Abbey! Chegando tar<strong>de</strong>!- Hannah fulminou com o olhar sua irmã. -E está<br />

molhando o chão.<br />

Abigail ficou em pé na entrada por um momento, com aspecto <strong>de</strong> menina<br />

que tivessem apanhado com uma mão no pote das bolachas. Seu cabelo ruivo<br />

normalmente vívido pendurava em mechas úmidas, gotejando água por seu<br />

pescoço e ombros. Havia água inclusa em suas espessas pestanas.<br />

Hannah a percorreu com o olhar divertido. Abigail tinha tirado seu traje <strong>de</strong><br />

mergulho em algum lugar antes <strong>de</strong> chegar em casa, mas os óculos ainda estavam<br />

pendurados da ponta <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>dos como se tivesse esquecido que o levava.<br />

Estava <strong>de</strong>scalça e vestia uma camiseta e um par <strong>de</strong> calças cômodas e muito<br />

úmidas.


152<br />

-Sei, sei. Sinto muito. - Abigail Drake fechou <strong>de</strong> repente a porta da cozinha<br />

e olhou ansiosamente para o bule. -Estou <strong>de</strong>sesperada por uma xícara <strong>de</strong> chá.<br />

Hannah não pô<strong>de</strong> resistir aos enormes olhos <strong>de</strong> cachorrinho abandonado da<br />

irmã e <strong>de</strong>u uma olhada ao bule colocado sobre um queimador. Como se isso fosse<br />

um sinal, o queimador voltou para a vida, as chamas vaiaram brandamente sob o<br />

bule.<br />

-Farei uma xícara para você enquanto toma banho, mas an<strong>de</strong> <strong>de</strong>pressa. -<br />

Olhou seu relógio. - Chegamos meia hora atrasadas.<br />

Abigail correu pelas escadas, Hannah foi atrás <strong>de</strong>la.<br />

-Não pu<strong>de</strong> evitá-lo. Tinha que dar os antibióticos a Kiwi esta manhã e<br />

<strong>de</strong>pois os outros golfinhos estavam na baía e estavam muito sensíveis e não<br />

pu<strong>de</strong> resistir a tomar um banho com eles. Estava tudo tão tranqüilo que me<br />

esqueci da hora. - Sorriu abertamente a sua irmã sobre o ombro. -Se tivesse que<br />

escolher entre doces e divertidos golfinhos ou ir à galeria <strong>de</strong> Frank Warner, o que<br />

seria? Além disso, Frank me evita mais ou menos como o resto <strong>de</strong> Sea Haven se<br />

pu<strong>de</strong>r. O<strong>de</strong>io estas coisas.<br />

-Não lhe evitam Abbey. - disse Hannah.<br />

-Claro que sim, todos têm medo <strong>de</strong> que vá escapar a palavra equivocada e<br />

vão contar a todo mundo um profundo e escuro segredo. Prefiro estar sob o mar<br />

com os golfinhos.<br />

-Ponto para você, mas também per<strong>de</strong>u a reunião sobre os planos <strong>de</strong> bodas<br />

<strong>de</strong> Sarah e Kate. Inclusive Tia Carol se zangou por isso e sabe que te adora.<br />

Abigail se <strong>de</strong>teve na entrada do banheiro.<br />

-Sei. - retirou-se a massa <strong>de</strong> cabelo molhado e salgado da cara. -Não<br />

<strong>de</strong>veria havê-lo feito. É só que… - Interrompeu-se com um pequeno suspiro.<br />

-É o Jonas ou o Aleksan<strong>de</strong>r a quem está evitando? -perguntou Hannah.<br />

Abigail ficou rígida, uma ligeira reação, mas Hannah a captou em seguida. A<br />

expressão <strong>de</strong> Abigail se suavizou imediatamente.<br />

-A ambos. Algum <strong>de</strong>les chamou?<br />

-Sim. - Hannah pôs uma mão sobre o ombro da irmã para evitar que<br />

escapasse ao banheiro. -Jonas esteve chamando toda a manhã. Por que está<br />

chateada com ele? - Observou a sua irmã atentamente em busca <strong>de</strong> uma reação.<br />

Moveram-se sombras nos olhos <strong>de</strong> Abigail, velando sua expressão. Hannah<br />

pressionou a mão sobre o coração. Realmente lhe doía e soube que estava<br />

sentindo a dor <strong>de</strong> sua irmã apesar <strong>de</strong> Abigail lhe sorrir. -Abbey, queria po<strong>de</strong>r<br />

ajudar você.<br />

-Sei, carinho. Tenho que me ocupar das coisas eu mesma. Agora mesmo<br />

estou confusa e não me ajuda que Jonas esteja chamando e exigindo que lhe fale<br />

<strong>de</strong> coisas das que na realida<strong>de</strong> não sei nada. Deveria simplesmente falar com o<br />

Aleksan<strong>de</strong>r e me <strong>de</strong>ixar fora disto. Vim para casa para ajudar a planejar as bodas<br />

<strong>de</strong> minhas irmãs e investigar meus golfinhos. Não quero saber nada sobre objetos<br />

roubados ou assassinatos. Só <strong>de</strong>sejo que todos eles me <strong>de</strong>ixem em paz.<br />

Hannah avaliou sua irmã com olhos solenes.<br />

-Dormiu com ele, verda<strong>de</strong>?<br />

Um débil sorriso tocou a boca <strong>de</strong> Abbey.<br />

-Bom, sim.<br />

-E não foi bom?


153<br />

-Foi genial. Aleksan<strong>de</strong>r e eu somos muito compatíveis. Não é o sexo. É o<br />

muito que lhe necessito. Como po<strong>de</strong> me acen<strong>de</strong>r. Quero que isto seja só sexo...<br />

assim seria muito mais seguro, Hannah.<br />

-Abbey, qualquer mulher que passa a vida no mar não está segura. Não<br />

digo que vá atrás <strong>de</strong>le, porque francamente não sei como é ele. Sua aura está<br />

muito mesclada e indica conflito, violência e perigo, mas também amparo e um<br />

montão <strong>de</strong> outras gran<strong>de</strong>s qualida<strong>de</strong>s.<br />

-Sofro por ele. Não posso tirá-lo da cabeça.<br />

-Sinto muito, carinho, sei que sofre. E ele chamou cada hora perguntando<br />

por você. Sei que pensa que minto quando lhe digo que não está aqui. - Hannah<br />

assinalou o banheiro. -Toma uma ducha. Está molhando todo o corredor. Farei<br />

seu chá. Necessitará para ir a essa festa. - Fez uma careta.<br />

-Sei quanto a o<strong>de</strong>ia Hannah.<br />

-Sinto-me como se tivesse duas pessoas <strong>de</strong>ntro, Abigail. - Hannah baixou o<br />

olhar para suas mãos. -Meu verda<strong>de</strong>iro eu, como sou com minha família,<br />

extrovertida e forte, e logo quando estou em público e não posso falar sem<br />

gaguejar. É tão frustrante. Acredito em mim mesma. Não me importa o que<br />

outros pensem <strong>de</strong> mim. - Fez uma pausa. -Bom, minha família e talvez esse rato<br />

do Jonas, embora por que me importa ele, não tenho nem idéia.<br />

Abigail estudou a sua irmã. Era sempre ligeiramente surpreen<strong>de</strong>nte quão<br />

formosa era Hannah na realida<strong>de</strong>. Era alta, magra como marcava a moda, mas<br />

ainda assim tinha seios cheios, naturais. Seus cabelos eram ouro branco, espesso<br />

e comprido, e tinha um brilho incrível. Tudo em Hannah era elegante e com<br />

classe, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> seus gran<strong>de</strong>s olhos <strong>de</strong> espessas pestanas e maçãs do rosto altos<br />

até sua boca ampla e cheia. Havia po<strong>de</strong>r no corpo esbelto <strong>de</strong>la e uma natureza<br />

maquiavélica oculta sob seu exterior. Poucos viam alguma vez esse lado <strong>de</strong><br />

Hannah. Quanto maior era o dom, quanto mais forte o po<strong>de</strong>r, com mais<br />

<strong>de</strong>svantagens o compensava a natureza, e o po<strong>de</strong>r da Hannah era extremo. E<br />

Jonas tinha razão. Parecia cansada e muito magra apesar <strong>de</strong> sua beleza.<br />

-Não. - Hannah piscou para conter as lágrimas. -Estou bem.<br />

-Abraçaria você, mas estou molhada. - disse Abigail. -Sempre po<strong>de</strong>ria<br />

convertê-lo em sapo. Isso solucionaria nossos problemas.<br />

-Estive consi<strong>de</strong>rando. Ou melhor ainda, cada vez que abra a boca para me<br />

dizer que algo, sairá um agradável e ruidoso “croac”.<br />

Ambas estalaram em gargalhadas<br />

A porta da cozinha se fechou <strong>de</strong> repente justo quando o bule começava a<br />

assobiar.<br />

-Hey! -Sarah Drake gritou para cima pelo vão da escada- Posso ouvir as<br />

duas cacarejando como um par <strong>de</strong> bruxas, mas creio que não lhes vejo na<br />

galeria, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>veriam estar. Como vão?<br />

As duas irmãs intercambiaram um largo olhar culpado.<br />

-Me salve. - articulou Abigail e se precipitou ao banheiro para tirar todo o<br />

sal do cabelo e do corpo.<br />

Hannah <strong>de</strong>sceu correndo as escadas para interceptar sua irmã mais velha. -<br />

- Sarah! Acreditava que nos encontraríamos na galeria do Frank.<br />

Sarah elevou uma sobrancelha enquanto examinava a cara imaculada <strong>de</strong><br />

Hannah.


154<br />

-Certo que sim. Abbey e você estavam pensando em escapulir certo?<br />

-Estava fazendo uma rápida xícara <strong>de</strong> chá para Abbey - arriscou Hannah.<br />

-Estavam consi<strong>de</strong>rando, verda<strong>de</strong>?- Sarah colocou um <strong>de</strong>do nas costelas <strong>de</strong><br />

sua irmã. -Você vai muito formosa com aquele vestido tão elegante. On<strong>de</strong> pô<strong>de</strong><br />

comprar um vestido bonito em Sea Haven?<br />

-Eu estava pensando em meu velho pijama <strong>de</strong> flanela, um bom filme e<br />

algumas pipocas. - disse Hannah. Suas mãos se moviam graciosamente enquanto<br />

vertia o chá em um pequeno bule.<br />

-Abbey acaba <strong>de</strong> retornar, não é? Kate disse que ela e Matt se <strong>de</strong>ixaram<br />

cair pelo velho moinho para fazer algumas mudanças nos planos e viram o bote<br />

<strong>de</strong> Abbey fora <strong>de</strong> Sea Lion Cave. Abigail passou o dia brincando com os golfinhos.<br />

-Não é uma brinca<strong>de</strong>ira, Sarah. É trabalho. É bióloga marinha.<br />

Sarah soltou um bufo pouco elegante.<br />

-Não aqui, aqui não o é. Você é mo<strong>de</strong>lo, Hannah, mas quando vem para<br />

casa, é nossa irmã e está aqui para planejar umas bodas. Umas bodas duplas.<br />

Abigail sai ao oceano cada dia em vez <strong>de</strong> trabalhar conosco.<br />

-Sei. - Hannah abaixou a cabeça. -Está preocupada com o golfinho que foi<br />

ferido e vai cuidar <strong>de</strong>le. Sabe que os golfinhos se congregam e a chamam quando<br />

está pelos arredores.<br />

-Está se escon<strong>de</strong>ndo como faz sempre- disse Sarah, com uma mescla <strong>de</strong><br />

preocupação e exasperação em sua voz. -Dormiu com esse homem, verda<strong>de</strong>?-<br />

Jogou uma olhada para a escada. -Disse algo sobre o outro? Temos que saber<br />

contra o que nos enfrentamos.<br />

-Não lhe perguntei ainda, mas estava por fazê-lo ao terminar o chá.<br />

-Só quero saber quão perigoso é. E se Jonas sabe algo <strong>de</strong>le.<br />

-Jonas não tem por que saber nada sobre esse outro homem. Não po<strong>de</strong><br />

dirigir alguém com essa classe <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. - disse Hannah. -Sentiu a eletricida<strong>de</strong><br />

acumulando-se no ar com esse pequeno empurrão que enviou a Joley? Realmente<br />

queimou a mão <strong>de</strong>la e ainda assim, só lhe roçando a palma com o polegar fez<br />

<strong>de</strong>saparecer a dor.<br />

-Joley estava furiosa. Nunca a tinha visto assim- disse Sarah. -Realmente<br />

temi que iniciasse algum tipo <strong>de</strong> batalha com ele ali mesmo.<br />

-Você tem um montão <strong>de</strong> conexões. Po<strong>de</strong> averiguar algo <strong>de</strong>le?<br />

-Se conseguirmos seu nome, começarei a perguntar.<br />

Hannah assentiu e jogou uma olhada para as escadas. A água da ducha<br />

tinha parado mas Abigail estaria acima uns minutos mais.<br />

-Estou preocupada com Abbey. Foi realmente infeliz durante anos e com o<br />

Aleksan<strong>de</strong>r voltando para sua vida está mais transtornada que nunca. Sua<br />

solução é sempre <strong>de</strong>saparecer. Parte a outro lugar do mundo a investigar e assim<br />

não tem que relacionar-se conosco absolutamente. Simplesmente se retira.<br />

Sarah estudou as sombras nos olhos <strong>de</strong> Hannah.<br />

- Está realmente preocupada, verda<strong>de</strong>?<br />

-Não está você?- rebateu Hannah.<br />

Sarah assentiu, seus ombros se encurvaram um pouco.<br />

-A verda<strong>de</strong> é que estive temendo por Abbey. Esperava que só fosse uma<br />

paranóia. Mas <strong>de</strong>ixa você se aproximar mais que a qualquer uma <strong>de</strong> nós. Não a<br />

perca, Hannah. Sei que é uma carga para você por que é muito empática e ela


155<br />

está muito preocupada, mas tem que se pendurar nela até que possamos<br />

averiguar como trazer ela <strong>de</strong> volta a nós. - Sarah lançou um olhar para a escada,<br />

logo forçou um sorriso.- E como está você? O que está fazendo? Como foram as<br />

fotos na África?<br />

-O fotógrafo era um gênio. Eu gostaria <strong>de</strong> trabalhar com ele outra vez.<br />

Desfruto viajando e a África é muito formosa. Contratei um guia e fiquei três<br />

semanas só para tratar <strong>de</strong> conhecer o máximo possível. Nem sequer posso<br />

começar a contar para você a emoção que senti em meio a selva. -Seus olhos<br />

cintilavam. -Foi como sentir-se livre. O estranho foi que não tive nem um só<br />

ataque <strong>de</strong> pânico na selva, só estávamos o guia e eu. Não gaguejei. Realmente<br />

pu<strong>de</strong> conversar com ele. Principalmente só escutava. Tinha histórias tão<br />

maravilhosas para me contar.<br />

-Me alegro muito por você, Hannah. - disse Sarah. -Perguntava-me por que<br />

não recebemos nada negativo <strong>de</strong> sua parte.<br />

Hannah serviu uma xícara <strong>de</strong> chá, acrescentou leite e ofereceu a Sarah<br />

antes <strong>de</strong> servir uma segunda xícara.<br />

-Sei que <strong>de</strong>ve ser uma carga para todos ter que me ajudar quando estou<br />

trabalhando. É exaustivo para todas a tão longa distância. - girou-se com uma<br />

sincronização perfeita e ofereceu o chá a Abigail quando ela entrou vestida com<br />

elegante traje <strong>de</strong> calça e blusa que era mais feminino do que nada que suas<br />

irmãs a tivessem visto vestir.<br />

-Genial, Abbey. Espera ter um encontro com o Frank?<br />

Abigail fez uma careta.<br />

-Melhor não. Isso <strong>de</strong>ixarei para tia Carol. Ela já está lá?<br />

-Ajuda a fiscalizar todos os <strong>de</strong>talhes com os fornecedores e planeja a festa<br />

junto com Inez. Querem que seja um enorme êxito. A tia Carol me or<strong>de</strong>nou que<br />

viesse e lhes ajudasse- explicou Sarah. Olhou seu relógio. -Já chegaremos tar<strong>de</strong>,<br />

assim que alguns minutos mais não importarão muito. Não tive oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

perguntar sobre o outro russo, o da magia. Quem é?<br />

-Seu nome é Ilya Prakenskii. Criou-se na mesma casa estatal que<br />

Aleksan<strong>de</strong>r. Perguntei ao Aleksan<strong>de</strong>r se recordava algo diferente sobre o<br />

Prakenskii e recordou algumas coisas que indicavam que o homem po<strong>de</strong> ter<br />

nascido com os mesmos dons que temos nós. Definitivamente é um perito neles.<br />

Tentou me empurrar sutilmente para que dissesse algo que não queria dizer, e<br />

quando o notei, <strong>de</strong>safiei-o a um jogo <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> ou conseqüência. - Sorriu com<br />

satisfação. -Definitivamente não quis jogar.<br />

-Crê Aleksan<strong>de</strong>r que é perigoso para nós?<br />

-Diz que é um homem perigoso, tem reputação <strong>de</strong> capanga e trabalha para<br />

o Sergei Nikitin, que casualmente é cabeça <strong>de</strong> uma das famílias da máfia russa.<br />

Nikitin adora absolutamente a música <strong>de</strong> Joley e quer ter um encontro com ela.<br />

-Ela atrai gente da pior índole. Acredito que necessita um selo na testa que<br />

diz, “Se for um psicótico, aproxime-se.” - Sarah suspirou e olhou seu relógio<br />

outra vez. -Temos que averiguar tanto como possamos sobre Prakenskii. E todas<br />

têm que manter vigiada Joley. Ela mesma po<strong>de</strong> ser um pouco psicótica se alguém<br />

a empurrar muito forte. Deveríamos nos pôr em marcha. Depois <strong>de</strong> tudo, Frank<br />

fez saber à imprensa que Hannah estaria ali.


156<br />

-Não só Hannah. - disse Abigail. -A pobre Joley e Kate também. Deixou cair<br />

muitos nomes para atrair uma multidão. Conseguirá, além disso, atraindo as três<br />

assim.<br />

-Inez está muito orgulhosa <strong>de</strong>le por isso. Quer que este acontecimento seja<br />

um êxito enorme e que os cidadãos lhe apóiem incondicionalmente- disse Sarah.<br />

-Ela acredita que nos proporciona cultura.<br />

Hannah levantou uma mão em sinal <strong>de</strong> rendição.<br />

-Bem, irei, mas <strong>de</strong>sejaria que Frank não tivesse a tantos <strong>de</strong> seus famosos<br />

coletores <strong>de</strong> recursos. Parece saber <strong>de</strong> antemão muito casualmente quando estou<br />

<strong>de</strong> volta no povoado.<br />

-É verda<strong>de</strong>. - disse Abbey.<br />

-Homem ardiloso- acrescentou Sarah. -Publicida<strong>de</strong> grátis para ele.<br />

A cida<strong>de</strong>, geralmente tranqüila e caseira, estava animada com tanta gente.<br />

Várias limusines estavam estacionadas ao longo das calçadas e vários mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong><br />

carros caros circulavam pelas ruas. Os jovens se <strong>de</strong>ixavam cair em grupos para<br />

admirar os carros mais exóticos enquanto que as jovens tratavam <strong>de</strong> vislumbrar<br />

às celebrida<strong>de</strong>s enquanto estas entravam na galeria <strong>de</strong> arte da moda.<br />

Frank Warner tinha passado em Sea Haven uns <strong>de</strong>z anos e sua galeria era<br />

elegante, espaçosa e cheia <strong>de</strong> interessantes objetos antigos e pinturas. Sarah<br />

tinha estado em sua casa uma vez com Inez e dizia que estava cheia <strong>de</strong> objetos<br />

formosos <strong>de</strong> todo o mundo. Antigas e reverenciadas pinturas estavam guardadas<br />

em quartos especiais on<strong>de</strong> o sol nunca as tocava.<br />

A galeria apresentava esculturas contemporâneas também, formas <strong>de</strong> arte<br />

em vários tipos <strong>de</strong> material, todas agradáveis à vista e que levavam uma etiqueta<br />

<strong>de</strong> alto preço. Só a umas horas <strong>de</strong> carro <strong>de</strong> São Francisco, a beleza pitoresca da<br />

cida<strong>de</strong>, seu teatro e sua cultura, tinham atraído a Warner e foi ficando,<br />

conseguindo um êxito surpreen<strong>de</strong>nte com sua galeria.<br />

Freqüentemente exibia algumas <strong>de</strong> suas próprias pinturas locais, portos e<br />

escarpados, gran<strong>de</strong>s paisagens açoitadas pelo vento. As irmãs Drake<br />

consi<strong>de</strong>ravam que tinha talento, era excêntrico e um pouco covar<strong>de</strong>, utilizando<br />

sua fama, mas não querendo expor-se muito aos estranhos dons mágicos que<br />

compartilhavam.<br />

Hannah saudou uma multidão <strong>de</strong> adolescentes e Abigail lançou um breve<br />

sorriso, aproximando-se <strong>de</strong> sua irmã mais nova. Hannah sempre parecia<br />

equilibrada e confiante, inclusive um pouco arrogante quando passava ante uma<br />

multidão com sua beleza elegante e exótica, mas era dolorosamente tímida e<br />

freqüentemente tinha ataques <strong>de</strong> pânico. Sempre que fazia aparições públicas<br />

suas irmãs a ajudavam unindo-se todas para que pu<strong>de</strong>sse falar e respirar sem<br />

problemas. Isto drenava a todas, mas estavam tão acostumadas que o faziam<br />

automaticamente.<br />

-Está muito bonita, Abigail- disse-lhe Sarah enquanto entravam na galeria.<br />

-Eu gosto <strong>de</strong>sta roupa em você. E fez algo diferente no cabelo.<br />

Hannah se pôs a rir, o som fez que se girassem várias cabeças.<br />

-O penteou e não está empapado e jorrando água <strong>de</strong> mar.<br />

-Hey, vá!- protestou Abigail. -Nem sempre estou molhada.<br />

Sarah fez um som zombador.


157<br />

-Sim, está. Acredito que viveria no mar se lhe <strong>de</strong>ixássemos. Kate pensa que<br />

está se convertendo em sereia. Verda<strong>de</strong>, Kate?- acrescentou quando Kate se<br />

aproximou <strong>de</strong>las.<br />

Kate Drake riu ante a expressão <strong>de</strong> Abbey<br />

-Sabe que é verda<strong>de</strong>, não se incomo<strong>de</strong> em negá-lo. Caso-me em um par <strong>de</strong><br />

meses e não contribuiu em muito mais que na escolha <strong>de</strong> cores ou flores.<br />

-Eu que acreditava que um centro <strong>de</strong> recifes <strong>de</strong> coral seria bonito como<br />

peça central nas mesas- assinalou Abigail.<br />

Kate quase cuspiu um sorvo <strong>de</strong> vinho pelo nariz. Empurrou Abigail,<br />

afastando-a.<br />

-Vá mesclar se com as pessoas, assim Inez estará feliz conosco. Olhou seu<br />

relógio cinqüenta vezes nos últimos <strong>de</strong>z minutos e está <strong>de</strong>sgostada porque Joley<br />

fez um comentário sobre uma das esculturas <strong>de</strong> <strong>de</strong>usas <strong>de</strong> Frank que parece um<br />

pouco anoréxica.<br />

-Essa é nossa Joley, animando o albergue- disse Sarah. -Vamos, Kate,<br />

reparemos o dano. Vocês duas não se metam em problemas.<br />

Hannah captou uma olhada <strong>de</strong> Joley saudando-a entre a multidão e <strong>de</strong>u<br />

uma cotovelada em Abigail.<br />

-Aí esta Joley. Faz uma passada rápida e nos abramos passo até ela. Talvez<br />

possamos sair antes que Inez nos peça que façamos algo como entregar a<br />

alguém nossas cabeças.<br />

-Boa idéia-. Abigail foi vagando ao redor da habitação, murmurando<br />

saudações às pessoas que conhecia e reconhecendo apresentações rapidamente<br />

para proteger Hannah tanto como lhe era possível.<br />

-Há muita gente- disse Hannah. -E se houvesse um incêndio? On<strong>de</strong> se<br />

meteria toda esta gente?<br />

-Ali está tia Carol. Joga uma olhada ao homem que tem pendurado em seu<br />

braço. -Abigail assinalou grosseiramente mas estava tão impressionada que não<br />

se preocupou- -É o velho do Mar.<br />

Hannah riu.<br />

-Quer dizer Reginald. Está limpo e bem arrumado. A tia Carol faz fotografias<br />

como uma louca. Esperemos que consiga uma <strong>de</strong>le porque se houvesse um<br />

momento para a posterida<strong>de</strong>, seria este. Nunca o vi com nada que não fosse seu<br />

“uniforme” e uma cara <strong>de</strong>salinhada.<br />

-É realmente atraente.<br />

Abigail sorriu e saudou Frank Warner quando ele, rápida mas muito<br />

cortesmente, moveu-se entre a multidão em direção oposta. A diversão pôs um<br />

sorriso na cara <strong>de</strong> Abbey enquanto Hannah assinava outro autógrafo. Em um<br />

canto Kate estava assinando um livro que tinha escrito e Joley estampava seu<br />

nome ao longo <strong>de</strong> uma boina <strong>de</strong> beisebol.<br />

-Abbey?- Hannah lhe agarrou a mão com força. -Tenho problemas para<br />

respirar aqui. - Sua voz era apenas um sussurro que Abigail quase não pô<strong>de</strong><br />

ouvir.<br />

Imediatamente Abigail passou o braço ao redor da cintura <strong>de</strong> Hannah.<br />

-Tudo irá bem, neném, você está junto <strong>de</strong> mim. Sabe que todo mundo me<br />

tem medo. Especialmente, Sylvia. Está ela aqui?- Queria fazer Hannah rir e teve<br />

êxito, embora fosse uma resposta ofegante e breve.


158<br />

-Acredito que tem mais medo <strong>de</strong> mim - confessou Hannah. -Você nunca lhe<br />

fez nada.<br />

Abigail riu em voz alta e o som fez girar algumas cabeças na habitação.<br />

- Assim que o admite! Deveria se alegrar <strong>de</strong> que seja eu e não Sarah ou<br />

ganharia um sermão.<br />

Hannah <strong>de</strong>u <strong>de</strong> ombros.<br />

-Alguém tem que ser a garota má.<br />

Abigail abraçou sua irmã aproximando-a um pouco mais.<br />

-Você tem o proverbial coração <strong>de</strong> ouro, Hannah. Joley é a má. Você é um<br />

doce.<br />

-Ouça! Eu escutei isso!- Joley apareceu <strong>de</strong>trás <strong>de</strong>las, pondo seu braço ao<br />

redor <strong>de</strong> Hannah também e Abigail a guardou pelo outro lado, protegendo-a do<br />

impulso da multidão. Infelizmente Joley era uma estrela muito conhecida para<br />

cruzar o lugar sem que uma dúzia <strong>de</strong> pessoas lhe pedissem um autógrafo.<br />

-Me alegro muito não ser uma estrela do rock- sussurrou Hannah.<br />

Joley fez uma careta.<br />

-Eu não sou uma estrela <strong>de</strong> rock. - Sacudiu sua cabeça e assumiu uma<br />

expressão arrogante. Hannah parecia arrogante por natureza mas Joley podia<br />

fingi-lo maravilhosamente quando queria. -Eu também quero ir daqui, mas Sarah,<br />

Inez e a tia Carol nos arrancarão a pele a tiras se saímos correndo muito cedo.<br />

-Tenho uma idéia- disse Abigail. -É realmente, realmente má e<br />

provavelmente nos metamos em uma confusão. Querem ouvi-la?<br />

-Estou <strong>de</strong>ntro- disse Joley. -Mostra o caminho. Não tenho que ouvi-lo.<br />

Abigail abriu o passo entre as pessoas para uma porta com um pôster que<br />

punha “Só empregados”.<br />

-Chad Kingman trabalha na parte traseira. Lembram-se <strong>de</strong>le?<br />

Joley fez uma careta.<br />

-Não estará pensando enviar seu noivo russo contra Chad, verda<strong>de</strong>?<br />

Lembra-se <strong>de</strong> como era na escola? Era totalmente aborrecível.<br />

Hannah estalou <strong>de</strong> novo em gargalhadas.<br />

-Todo mundo era aborrecível na escola, Joley. Todos crescemos, inclusive<br />

Chad.<br />

-Bem, a safada não po<strong>de</strong> dormir com um e ir-se correndo para estar com o<br />

outro<br />

-Sei que não está me chamando <strong>de</strong> safada, não é Joley? - Abigail a<br />

fulminou com o olhar. -Não tem nem idéia se dormi ou não com o Aleksan<strong>de</strong>r.<br />

Joley sorriu abertamente.<br />

-Hannah me disse que levava postas a calcinha vermelha. Tinha toda a<br />

intenção <strong>de</strong> se <strong>de</strong>itar com esse homem e passou fora toda a noite. Não necessito<br />

confirmação <strong>de</strong> que é uma safada. Sei!<br />

Abigail tratou <strong>de</strong> aparentar inocência mas o rubor subiu sigilosamente por<br />

seu pescoço para suas bochechas e suas irmãs riram bobamente como colegiais.<br />

-Bem, bom, talvez o fiz. - conce<strong>de</strong>u Abigail. -Mas não vou para me<br />

encontrar com Chad Kingman, por amor <strong>de</strong> Deus. Ele nunca falaria comigo nem<br />

que eu pensasse que fosse atraente, o que não acho. Houve aquele pequeno<br />

inci<strong>de</strong>nte em uma festa quando era novato na escola secundária. Muito mau.<br />

Nunca fui sua pessoa favorita após.


159<br />

Jogou uma olhada ao redor, abriu a porta <strong>de</strong> um empurrão, e fez gestos a<br />

suas irmãs para que passassem. A parte <strong>de</strong> trás era triste e sombria. Haviam<br />

caixas <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nadas no chão e nas mesas. Esculturas <strong>de</strong> diversos tamanhos<br />

cobriam a habitação.<br />

-É um pouco horripilante- disse Hannah.<br />

-Que estamos fazendo?- disse Joley. -Embora, isto não está mau. Ao menos<br />

não temos que sorrir ao Frank e lhe ver flertar com Tia Carol. Ela está<br />

provocando <strong>de</strong>liberadamente a esse homem para po<strong>de</strong>r espiar para o Jonas.<br />

-Tia Carol adora o drama. E não lhe faz mal ter a dois homens pen<strong>de</strong>ntes<br />

<strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong> suas palavras. - disse Hannah. -Não sei como o faz. Uma vez<br />

consegui estar perto <strong>de</strong>la para ver se posso sentir a labareda <strong>de</strong> magia quando<br />

está flertando, mas não posso. É realmente seu sex appeal. Faz sentir muito bem<br />

a todo mundo.<br />

-Ela ilumina o mundo- disse Joley. -Abigail, <strong>de</strong>veria se aproximar<br />

furtivamente <strong>de</strong> retorno à mesa do bufê e nos conseguir comida e algo <strong>de</strong> beber<br />

para que possamos montar nossa própria festa aqui mesmo.<br />

-Não estamos <strong>de</strong> festa, estamos espiando.<br />

Hannah a agarrou pelo braço excitada.<br />

-Espiando?- Baixou a voz e olhou ao redor. -Necessitamos a câmara <strong>de</strong> Tia<br />

Carol.<br />

-Bem, vocês duas esperem aqui e eu conseguirei a câmara e um pouco <strong>de</strong><br />

comida. - Abigail escapuliu pela porta outra vez e se uniu à multidão vagando<br />

pela galeria.<br />

Carol estava em um canto rindo com Reginald Mares. Abigail agarrou um<br />

prato, encheu-o <strong>de</strong> comida e abriu passo até sua tia.<br />

-Olá, Senhor Mar- saudou. -Está absolutamente maravilhoso.<br />

Carol passou a mão <strong>de</strong> acima a abaixo pelo braço <strong>de</strong> Reginald.<br />

-Não é atraente?- Comentou para o homem, seus olhos brilhavam e seu<br />

sorriso era genuíno.<br />

O velho Mar estreitou a mão <strong>de</strong> Abigail cortesmente e lhe dirigiu um sorriso<br />

encantador. Só tinha olhos para sua tia.<br />

-Me alegro em vê-la, Abbey.<br />

-Espero que os dois estejam passando um bom momento. Tia Carol,<br />

importaria em me emprestar a câmara uns minutos? Joley quer algumas fotos<br />

para seu álbum.<br />

-Bom, querida, é obvio. - Carol tirou a câmara e a ofereceu a Abigail. -Mas<br />

tomei várias fotos <strong>de</strong> todas vocês enquanto passeavam pela sala. Quer que te<br />

mostre como utilizá-la?<br />

-Sou boa nisso, obrigada. - Abigail tratou <strong>de</strong> mostrar-se tão inocente como<br />

lhe era possível. O sorriso se <strong>de</strong>svanecia lentamente na cara <strong>de</strong> sua tia e esse era<br />

um mau sinal. –Divirtam-se!- Ela apressou a afastar-se antes que Carol pu<strong>de</strong>sse<br />

obter uma boa "leitura" <strong>de</strong>la.<br />

-O que nos traz <strong>de</strong> comer?- saudou Joley quando Abigail passou através da<br />

porta. -Morro <strong>de</strong> fome.<br />

-Como po<strong>de</strong> estar morta <strong>de</strong> fome? Esteve todo o tempo pendurada na mesa<br />

do bufê. - objetou Abigail. -Trouxe a câmara. A comida é simplesmente uma<br />

cobertura no caso <strong>de</strong> alguém estar observando


160<br />

-Então bem po<strong>de</strong>mos comer isso. - disse Joley. - É simplesmente prático.<br />

Hannah pôs os olhos em branco, mas agarrou uma azeitona negra.<br />

-O que estamos procurando, Abbey?<br />

-Ouça garota, comeu minha azeitona!- Joley golpeou a mão <strong>de</strong> sua irmã. -<br />

Coma os pepinos japoneses. Esses eu o<strong>de</strong>io.<br />

-Algo que po<strong>de</strong>ria ser um objeto russo. O pacote talvez pu<strong>de</strong>sse ter vindo<br />

da Rússia. Algo que possa indicar algo ilegal que tenha chegado até aqui.<br />

Joley estava diante da estátua nua <strong>de</strong> um homem, girou a cabeça daqui<br />

para lá estudando seus pequenos dotes.<br />

-Patético se me pergunta isso. Sério, esta coisa <strong>de</strong>veria ser ilegal. On<strong>de</strong><br />

diabos o poria? No jardim?<br />

Abigail a arrastou longe da estátua.<br />

-É uma pervertida, Joley. Só você encontraria ao único homem nu da<br />

habitação.<br />

Joley ficou atrás.<br />

-Acredito que estou apaixonada. Bom, quase. Necessitarei que Frank lhe<br />

faça um pequeno acerto. Po<strong>de</strong> imaginar a cara do Frank se lhe pedir que aumente<br />

as proporções?- Estalou os <strong>de</strong>dos. -Me dê a câmara.<br />

Abigail intercambiou a câmara pelo prato <strong>de</strong> comida.<br />

-O que encontrou?<br />

-Vou dar a Tia Carol uma vista antecipada do que po<strong>de</strong>ria ser sua vida se<br />

escolher ao homem equivocado. - Joley começou a tirar fotos da estátua. -Nunca<br />

se sabe, Frank po<strong>de</strong> haver utilizado a si mesmo como mo<strong>de</strong>lo, em cujo caso Tia<br />

Carol <strong>de</strong>veria escolher <strong>de</strong>finitivamente ao velho Mar, tão doce como é, em troca.<br />

-Joley!- Abigail tratou <strong>de</strong> soar severa. -Este é assunto muito sério.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r diz que um carregamento <strong>de</strong> arte roubada proce<strong>de</strong>nte da Rússia foi<br />

entregue <strong>de</strong> um cargueiro a um navio <strong>de</strong> pesca. Teve que ir a alguma parte e o<br />

nome <strong>de</strong> Frank surgiu um par <strong>de</strong> vezes. Chad trabalha aqui carregando e<br />

<strong>de</strong>scarregando pacotes que se enviam a outros lugares.<br />

Joley andou ao redor <strong>de</strong> duas caixas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira abertas no chão, olhando<br />

com atenção para ver o que continham.<br />

-Não consigo nenhum respeito- queixou-se. -Estou apren<strong>de</strong>ndo a ser uma<br />

perita em arte. Sabe quantas vezes algum homem me perguntou se queria ver<br />

suas gravuras?<br />

Hannah reprimiu a risada com sua mão.<br />

-Vai fazer que me engasgue.<br />

-Não se engasgaria se não tivesse roubado minhas azeitonas, docinho. -<br />

Joley espiou embaixo da mesa. -Há muitos objetos aqui, Abbey. Alguns têm<br />

sinais <strong>de</strong> terem sido molhados. Se estão trazendo coisas <strong>de</strong> um navio ao outro,<br />

provavelmente estariam úmidas, não?<br />

Abigail ro<strong>de</strong>ou apressadamente várias caixas para olhar sob a mesa.<br />

-Inclusive se encontrarmos provas, como vamos saber quem é o<br />

responsável, ou seja, se é Chad ou Frank ou se ambos estão envoltos? -agachouse<br />

para conseguir aproximar-se mais do papel. -Isto <strong>de</strong>finitivamente tem marcas<br />

<strong>de</strong> ter estado molhado, mas é só um envoltório marrom. - Tomou uma foto <strong>de</strong><br />

todos os modos, fazendo zoom sobre a mancha. -Provavelmente isto é uma


161<br />

absoluta perda <strong>de</strong> tempo, mas conseguiu que nos escapulamos da festa durante<br />

um momento.<br />

-Não nos trouxeste nada <strong>de</strong> beber- queixou-se Joley. -Olhar obras <strong>de</strong> arte<br />

que não são o bastante boas para estar em exposição é um trabalho duro.<br />

Abigail virou e a olhou.<br />

-Por que não está tudo isto na exposição? Está preparado para ser enviado?<br />

Comprou-o alguém já? Frank <strong>de</strong>ve havê-lo or<strong>de</strong>nado, correto?<br />

-Talvez alguém lhe encomendou a venda <strong>de</strong>stas coisas.<br />

-Abbey- disse Hannah -se aproxime. Isto está diferente.<br />

Abigail cruzou imediatamente a habitação. Não era nem <strong>de</strong> perto tão<br />

sensível como Hannah às mudanças, mas inclusive ela sentia a estranha alteração<br />

que ro<strong>de</strong>ava um pequeno canto do lugar. Seu coração começou a acelerar-se e a<br />

boca ficou seca.<br />

-O que acredita que é?<br />

-Não po<strong>de</strong> senti-lo? Violência. Não morte, mas <strong>de</strong>finitivamente violência. -<br />

Hannah registrou o chão e as pare<strong>de</strong>s, tomando cuidado com sua roupa. -Olhe ao<br />

redor e veja se po<strong>de</strong> notar algo que indique uma briga recente. Tem que ser<br />

muito recente para ser tão forte.<br />

Joley se colocou junto à Hannah.<br />

-Nas últimas duas horas. - Tremeu. -Foi <strong>de</strong>finitivamente uma briga física <strong>de</strong><br />

alguma classe. Alguma das duas se fixou nos nódulos <strong>de</strong> Frank?<br />

-Frank está no fim dos cinqüenta anos. Não posso imaginá-lo em uma briga<br />

a murros uma hora antes que a imprensa e uma habitação cheia <strong>de</strong> gente e<br />

celebrida<strong>de</strong>s apareçam- disse Abigail. -Simplesmente não é <strong>de</strong>sse tipo.<br />

-Chad. - disse Joley. -Na escola, qualquer briga ele arrumava com os<br />

punhos.<br />

Abigail se agachou para examinar o chão.<br />

-Há sangue aqui. Pequenas manchas. Umas quantas nas pernas da mesa. -<br />

Passou a mão sobre o chão, "sentindo" os restos <strong>de</strong> um encontro violento-. -Há<br />

sangue até nas gavetas. –Abriu uma e contemplou as quatro pinturas que havia<br />

<strong>de</strong>ntro. Estavam empilhadas para cima, as assinaturas <strong>de</strong> cara a ela. -Hannah,<br />

olhe estes.<br />

Hannah, utilizando dois dos guardanapos que Abigail havia trazido do bufê,<br />

tirou cuidadosamente uma das pinturas do lugar on<strong>de</strong> estavam.<br />

-Isto não é uma falsificação, Abbey. São autênticas. Não sei muito <strong>de</strong> arte,<br />

mas posso sentir a ida<strong>de</strong> do tecido. Você o que acha, Joley?<br />

Joley sustentou mão a centímetros do tecido.<br />

-Acredito que Frank Warner é um porco <strong>de</strong> primeiro grau e será melhor que<br />

não ponha suas ávidas garras sobre minha tia.<br />

-Ainda po<strong>de</strong>ria ser Chad. - Abigail enfocou a câmara e tomou várias fotos,<br />

indicando a Hannah que colocasse o seguinte. -Mostrarei estas ao Aleksan<strong>de</strong>r e<br />

veremos se foram roubadas.<br />

-Não há forma <strong>de</strong> saber se estas pinturas não pertencem a um museu em<br />

alguma parte - disse Joley. -E seria difícil acreditar que Chad tenha o cérebro<br />

suficiente par ven<strong>de</strong>r pinturas quentes proce<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> outros países.<br />

-Além disso bebe- assinalou Hannah enquanto sujeitava o terceiro tecido. -<br />

Fala <strong>de</strong> tudo e nada quando está bebendo. Não colocaria a pata e se gabaria?


162<br />

-Deve fazer muito dinheiro se realmente isto for coisa <strong>de</strong>le- disse Abigail<br />

enquanto fotografava a última pintura. -Sabem que carro conduz ou se tem casa<br />

própria?<br />

-Eu ouvi que é jogador- Hannah <strong>de</strong>volveu a última pintura a seu lugar e<br />

fechou a porta da <strong>de</strong>spensa. -Inez o mencionou um par <strong>de</strong> vezes. Uma vez disse<br />

que se não tomava cuidado ia conseguir que lhe rompessem as pernas<br />

-E o que há a respeito do Frank?- Abigail voltou a riscar seus passos para a<br />

porta. É jogador? O que ouviu sobre ele?<br />

-Estranhamente, não muito. Parece levar uma vida tranqüila- disse Hannah.<br />

-Gosta do teatro e é muito solidário com a comunida<strong>de</strong>. Não sei, simplesmente<br />

não parece o tipo que faria algo ilegal como isto.<br />

Joley agarrou Abigail antes que esta pu<strong>de</strong>sse abrir a porta.<br />

-Vem alguém- sussurrou. -Às pressas, temos que nos escon<strong>de</strong>r.<br />

Abigail não questionou a <strong>de</strong>cisão mas sim mergulhou <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma fonte<br />

<strong>de</strong> arte mo<strong>de</strong>rna que havia sido colocada a um canto escuro. Hannah se meteu<br />

sob uma mesa ro<strong>de</strong>ada por uma fortaleza <strong>de</strong> caixas e Joley se escorreu em um<br />

pequeno lugar <strong>de</strong>trás <strong>de</strong> uma das estátuas maiores. A porta se abriu e Sylvia<br />

Fredrickson se arrastou até o centro do lugar, puxando a mão <strong>de</strong> um homem.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r Volstov a seguiu, fechando a porta atrás <strong>de</strong>le.<br />

-Às pressas- disse Sylvia. -Sei que achará isto muito interessante. Meu<br />

amigo Chad trabalha aqui e lhe visitei dúzias <strong>de</strong> vezes. - Seus olhos se lançaram<br />

ao redor do quarto, procurando nos cantos. Deu um pequeno suspiro <strong>de</strong> <strong>de</strong>cepção<br />

e colocou um sorriso coquete em sua cara.<br />

-Está segura <strong>de</strong> que po<strong>de</strong>mos estar aqui <strong>de</strong>ntro?<br />

Abigail tragou com força enquanto observava Sylvia arrastar Aleksan<strong>de</strong>r ao<br />

centro da habitação. Aleksan<strong>de</strong>r parecia educado e interessado, mas não havia<br />

dúvida <strong>de</strong> que não queria que a mulher o acariciasse intimamente. Sua aura<br />

mantinha a si mesmo longe da Sylvia, retirando-se cada vez que ela se<br />

aproximava. A muito <strong>de</strong>scarada mantinha um forte apertão sobre sua mão e batia<br />

as pestanas para ele.<br />

O olhar <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r era inquieto, tomava nota dos <strong>de</strong>talhes da habitação,<br />

procurando cada segredo em cada canto escuro. Abigail o conhecia o<br />

suficientemente bem para saber que estava alerta e inquieto. Duas vezes olhou<br />

para a fonte on<strong>de</strong> ela se escondia, tentando não respirar.<br />

-Não é gran<strong>de</strong> coisa. - Sylvia se girou para Aleksan<strong>de</strong>r. -Disse te mostraria<br />

algo assombroso. - Suas mãos foram aos botões <strong>de</strong> sua blusa.<br />

-Você disse arte. - Ele a <strong>de</strong>teve colocando sua mão sobre a <strong>de</strong>la.<br />

-Eu sou uma obra <strong>de</strong> arte- respon<strong>de</strong>u ela, com um sorriso sedutor.<br />

Abigail conteve a respiração, tinha um nó no estômago <strong>de</strong>vido à terrível<br />

cólera. Olhou para suas irmãs. Precisava sair, afastar-se rapidamente antes que<br />

seu crescente ódio se convertesse em algo que não pu<strong>de</strong>sse controlar.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r ro<strong>de</strong>ou Sylvia para rastrear ao redor da habitação. Abigail podia<br />

ver que se sentia atraído pelo canto on<strong>de</strong> tinha encontrado o sangue. Ele ficou <strong>de</strong><br />

cócoras, como tinha feito ela e examinou o chão.<br />

-Acredito que não <strong>de</strong>veríamos estar aqui- objetou ele outra vez.<br />

Sylvia havia tornado a <strong>de</strong>sabotoar a blusa.


163<br />

-Não seja tolo. Não nos pegarão. Todo mundo está ocupado pedindo<br />

autógrafos a nossas celebrida<strong>de</strong>s locais. - Havia uma amargura em sua voz.<br />

Hannah elevou as mãos e uma brisa levantou pó através da habitação.<br />

Sylvia imediatamente começou a espirrar, um violento ataque que não se<br />

<strong>de</strong>tinha. Aleksan<strong>de</strong>r se viu forçado a lhe fechar os botões da blusa e guiá-la fora<br />

da habitação. Quando atravessou a porta, olhou <strong>de</strong> volta para a fonte.


164<br />

Capítulo – 14<br />

Joley e Hannah saíram às escondidas <strong>de</strong> seus escon<strong>de</strong>rijos, ambas tentando<br />

não rir. Apressaram-se para Abigail e a tiraram a força <strong>de</strong>trás da fonte.<br />

Joley jogou outra azeitona negra em sua boca.<br />

-Acreditava que fossem nos apanhar. Ou pior, que Sylvia ia <strong>de</strong>spir-se<br />

diante <strong>de</strong> nossos próprios narizes.<br />

Hannah esfregou a mão para baixo pelo braço <strong>de</strong> Abigail em um esforço<br />

por apaziguá-la.<br />

-Aleksan<strong>de</strong>r não parecia muito interessado em seu "trabalho artístico". Eu<br />

diria que <strong>de</strong>finitivamente ela vem com o Chad aqui.<br />

Abigail olhou ao redor da habitação, qualquer lugar para evitar olhar a suas<br />

irmãs. Estava furiosa. Furiosa. Ela não teria feito voar pó. Hannah tinha sido<br />

amável. Seu gênio se agitava em seu estômago e teria podido tirar as garras,<br />

po<strong>de</strong>ria ter consi<strong>de</strong>rado rastelar a cara da Sylvia.<br />

-A próxima vez que ponha uma mão sobre ele, vai se encontrar a si mesma<br />

em uma fossa em alguma parte sentindo-se muito miserável.<br />

Suas irmãs intercambiaram um pequeno olhar <strong>de</strong> alarme.<br />

-Provavelmente viu você com ele a outra noite- disse Joley. -Já conhece a<br />

Sylvia, tomaria vingança seduzindo seu homem. Saiamos daqui enquanto<br />

possamos. - apressou-se a atravessar a soleira, movendo-se a um lado para<br />

permitir que Hannah e Abigail passassem.<br />

A multidão parecia ter crescido em número. Estavam apertados <strong>de</strong>ntro do<br />

local. Abigail tratou <strong>de</strong> aspirar ar em seus repentinamente ar<strong>de</strong>ntes pulmões.<br />

Sylvia podia ter tratado <strong>de</strong> seduzir Aleksan<strong>de</strong>r, mas ele não tinha estado<br />

interessado. Então, por que tinha entrado com ela lá atrás? Estava utilizando a<br />

Sylvia tão certamente como Sylvia o estava utilizando. E isso o que significava?<br />

Ela sabia até on<strong>de</strong> chegaria Aleksan<strong>de</strong>r para solucionar um caso. Incluía<br />

isso a sedução? O pensamento se arrastou até sua mente. Apertando como um<br />

nó corrediço ao redor <strong>de</strong> seu coração. Deitaria se com outra mulher em que não<br />

tivesse o menor interesse? Ele tinha permitido que Abigail fosse interrogada,<br />

encarcerada e <strong>de</strong>portada para manter sua posição como <strong>de</strong>tetive. Se Sylvia<br />

pu<strong>de</strong>sse lhe proporcionar informação sobre Chad Kingman e o único modo que a<br />

compartilhasse fosse que ele cooperasse sexualmente, o faria?<br />

Abigail elevou a vista e seu olhar colidiu com um par <strong>de</strong> olhos escuros,<br />

quase cor meia-noite. Aleksan<strong>de</strong>r e Sylvia estavam a tão só um passo <strong>de</strong><br />

distância. O bastante perto para alargar o braço e tocar-se. O coração <strong>de</strong> Abigail<br />

quase se <strong>de</strong>teve, <strong>de</strong>pois começou a palpitar. Por um momento não pô<strong>de</strong> respirar,<br />

não pô<strong>de</strong> pensar, até sua visão se rabiscou. Disse a si mesma que ele não se<br />

<strong>de</strong>itaria com outra mulher para obter informação, mas a mão <strong>de</strong> Sylvia estava<br />

colocada possessivamente ao redor <strong>de</strong> seu braço. E o que não faria ele para<br />

resolver seus casos?<br />

Hannah virou a cabeça e olhou Abigail. O sorriso se <strong>de</strong>svaneceu do rosto <strong>de</strong><br />

Joley. Não havia forma <strong>de</strong> evitar a conexão que saltava <strong>de</strong> uma irmã Drake a


165<br />

seguinte. A emoção era muito forte e inclusive através da habitação, Sarah e<br />

Kate ficaram em alerta, virando-se para ver o que tinha causado a perturbação.<br />

O olhar fixo <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r sustentou o <strong>de</strong> Abbey, obrigando-a a manter o<br />

olhar fixo nele, cativa, embora necessitasse <strong>de</strong>sesperadamente apartar a vista,<br />

recuperar a compostura. Havia um estranho rugido em sua cabeça.<br />

-Olá, Sylvia- disse Joley -Como está?<br />

Sylvia esclareceu voz.<br />

-Olá, Joley, Hannah, Abigail. - Sua voz se esticou quando pronunciou o<br />

nome <strong>de</strong> Abigail.<br />

Abigail lhe jogou uma olhada, mas voltou a olhar essa face familiar. Esses<br />

olhos familiares. Sentia que o coração se comprimia. Seu estômago se contraiu e<br />

sentiu um murro, um autêntico murro físico no estômago. A dor a atravessou,<br />

sacudindo-a, salpicando fora <strong>de</strong>la para alagar a habitação e encher cada espaço.<br />

As risadas cessaram quando a intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas emoções golpearam ao resto<br />

dos ocupantes do lugar.<br />

-Abbey- sussurrou-lhe Joley em advertência, seus <strong>de</strong>dos apertavam<br />

profundamente a cintura <strong>de</strong> Abigail.<br />

Sarah chegou, flanqueada por Kate.<br />

-Que estupendo ver você esta noite, Sylvia- disse Sarah, parecia tranqüila,<br />

mas sua expressão, quando olhou Sylvia, era assassina.<br />

Tia Carol agarrou a câmara da mão frouxa <strong>de</strong> Abigail.<br />

Abigail tomou fôlego e tratou <strong>de</strong> recuperar o controle <strong>de</strong> suas emoções. Sua<br />

dor era tão forte, as lembranças <strong>de</strong> traição, medo e a dor <strong>de</strong>scarnada <strong>de</strong> quando<br />

tinha compreendido que Aleksan<strong>de</strong>r tinha vendido seu amor para salvar seu<br />

trabalho. Não tinha querido pensar que ele po<strong>de</strong>ria ter matado alguém para tirála<br />

da Rússia, mas sabia que era capaz <strong>de</strong> qualquer coisa quando sentia que tinha<br />

justificativa. O ver com Sylvia e compreen<strong>de</strong>r que muito bem a po<strong>de</strong>ria trair <strong>de</strong><br />

outras formas esmagou sua frágil esperança <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r fazer com que as coisas<br />

funcionassem. Eram muito diferentes. Muito diferentes.<br />

As mãos <strong>de</strong> Hannah se moveram elegantemente e a habitação se limpou <strong>de</strong><br />

tudo exceto da risada e da alegria.<br />

-Abbey- murmurou Aleksandr, reconhecendo a dor em seus olhos. Esten<strong>de</strong>u<br />

a mão para ela.<br />

Ela <strong>de</strong>ixou escapar um pequeno som, muito parecido ao <strong>de</strong> um animal<br />

ferido e retroce<strong>de</strong>u, evitando o contato <strong>de</strong> modo que a mão <strong>de</strong>le caiu ao flanco.<br />

Seus traços se endureceram perceptivelmente e um músculo se contraiu<br />

em sua mandíbula. Seus olhos se voltaram duros e frios como o gelo.<br />

-Vamos a algum lugar e falemos- sugeriu e se aproximou mais a ela.<br />

Abigail sentiu o calor do corpo <strong>de</strong>le através <strong>de</strong> suas roupas. Deu outro<br />

passo atrás, odiando-se por ser tão covar<strong>de</strong>. Ardia-lhe a mão pela vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

esbofetear sua cara, mas na realida<strong>de</strong> era consigo mesma que estava revoltada.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r não podia evitar ser quem e o que era, mas ela era mais esperta que<br />

isso.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r se moveu <strong>de</strong> novo e esta vez foi um claro ato <strong>de</strong> agressão.<br />

Kate <strong>de</strong>u um passo adiante <strong>de</strong> Abbey, cortando o acesso a ela.<br />

-Vou vomitar- sussurrou Abbey para Hannah, sua voz foi tão baixa que<br />

resultou quase inaudível, ou possivelmente foi através da conexão telepática que


166<br />

as irmãs compartilhavam. -Me tire daqui. - Tinha sido tão incrivelmente estúpida,<br />

acreditando que po<strong>de</strong>ria viver com o estilo <strong>de</strong> vida do Aleksan<strong>de</strong>r. Ele não tinha<br />

remorsos por fazer coisas que ela acreditava totalmente equivocadas. Para ele, o<br />

fim justificava os meios.<br />

Hannah e Joley se viraram imediatamente e a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ram com seus corpos<br />

enquanto se apressavam a sair da habitação.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r <strong>de</strong>u um passo para segui-las, ignorando o puxão que Sylvia <strong>de</strong>u<br />

em seu braço. Sarah se plantou tranqüilamente em seu caminho, ombro com<br />

ombro junto com Kate, fazendo que se visse obrigado a <strong>de</strong>ter-se. Sorriu-lhe,<br />

mas seus olhos eram duros e frios enquanto olhava Sylvia.<br />

-Ouvi que esta visitando Lucinda Parker no Point Areia, Sylvia. - Manteve a<br />

voz alegre, um tom cortês, mas não havia nada <strong>de</strong> amistoso em seu olhar firme.<br />

Sylvia ficou pálida e retroce<strong>de</strong>u ante Sarah.<br />

Sarah manteve o sorriso.<br />

-Deveria ter muito cuidado experimentando com forças que não enten<strong>de</strong>,<br />

Sylvia. Po<strong>de</strong> sair o tiro pela culatra e então estaria em autêntica confusão.<br />

O fôlego <strong>de</strong> Sylvia escapou em um vaio e sua mão se elevou até a<br />

bochecha.<br />

-Não estou fazendo nada, seriamente, Sarah. Só queria me <strong>de</strong>sfazer <strong>de</strong>sta<br />

erupção que tenho às vezes. - Jogou uma olhada a Aleksan<strong>de</strong>r, mas ele olhava<br />

fixamente para Abigail. -Tenho que me <strong>de</strong>sfazer <strong>de</strong>la. Não posso suportá-la mais.<br />

-Então faz o correto. - Sarah girou sobre seus pés, subitamente consciente<br />

da mão <strong>de</strong> Kate sobre seu cotovelo. Sacudiu sua cabeça e se afastou.<br />

-Estava a ameaçando- disse Kate, emocionada. -Nunca fez isso em sua<br />

vida.<br />

-Estava advertindo. Há uma gran<strong>de</strong> diferença. - As feições suaves <strong>de</strong> Sarah<br />

se endureceram perceptivelmente. -Sentiu a dor <strong>de</strong> Abbey? Aterroriza-me. Sylvia<br />

faria bem em não recorrer à magia negra. Não tem forma <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r o que<br />

po<strong>de</strong> ocorrer. Se fizer mal a Abbey <strong>de</strong> algum jeito, me vingarei.<br />

Havia um tom sinistro em sua voz que Kate nunca antes tinha escutado.<br />

Sarah era sempre a prática e sensata.<br />

-Sylvia esteve visitando a rainha da magia negra?- Perguntou-lhe. -Lucinda<br />

é uma frau<strong>de</strong>. Todo mundo sabe. O inventa tudo e mescla todas as práticas. Não<br />

é real.<br />

-Sim, mas po<strong>de</strong> revolver coisas que é melhor <strong>de</strong>ixar em paz. Só Deus sabe<br />

o que disse a Sylvia. Po<strong>de</strong> ter uma boneca vodu que seja supostamente Abbey.<br />

-Sarah! Espera!- Sylvia se apressou através da multidão e agarrou o braço<br />

<strong>de</strong> Sarah. Quando o olhar <strong>de</strong> Sarah colidiu com a seu se <strong>de</strong>teve. -Sei que po<strong>de</strong><br />

ver coisas com antecipação. Está me dizendo que me vai ocorrer algo? O que<br />

quer dizer?<br />

Sarah olhou sobre ela a Aleksan<strong>de</strong>r, que as tinha seguido. Por um momento<br />

se imobilizou, tudo em seu interior se rebelava ante a presença <strong>de</strong>le com a<br />

Sylvia. Sua aura sempre se fundia com a <strong>de</strong> Abigail quando ela estava perto <strong>de</strong>le.<br />

Tudo o que tinha aprendido sobre seu dom, sobre seu ofício, dizia-lhe que o lugar<br />

<strong>de</strong>ste homem estava com Abigail. Parecia obsceno que estivesse com Sylvia.<br />

Sarah po<strong>de</strong>ria sentir a relutância <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r a ter contato físico com a<br />

Sylvia. Agora mesmo uma aura <strong>de</strong> perigo lhe ro<strong>de</strong>ava e duas vezes trocou


167<br />

sutilmente posição para evitar que Sylvia se pendurasse <strong>de</strong>le. Sarah moveu o<br />

olhar <strong>de</strong> seus traços duros até Silvia. Sylvia <strong>de</strong>sejava atenção, a atenção <strong>de</strong><br />

qualquer homem. Necessitava-a para sentir-se bem consigo mesma. Se pu<strong>de</strong>sse<br />

levar o homem <strong>de</strong> Abigail estaria eufórica.<br />

O po<strong>de</strong>r se aferrava a Aleksan<strong>de</strong>r. Estava em seus largos ombros e nos<br />

<strong>de</strong>finidos músculos <strong>de</strong> seus braços, na amplitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu peito e na fluída forma<br />

em que se movia. Sarah tinha passado gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> sua vida tanto como<br />

atleta como guarda-costas e reconhecia a um homem perigoso inclusive sem suas<br />

capacida<strong>de</strong>s aguçadas. Sylvia só via seu atraente tipo ru<strong>de</strong>. Seu forte sex<br />

appeal. Nunca veria nada mais além disso.<br />

-Tome cuidado Sylvia- aconselhou-lhe. -Reconhece a seus verda<strong>de</strong>iros<br />

amigos. - partiu dando meia volta para seguir Kate fora da galeria.<br />

-O que quer dizer isso?- gemeu Sylvia. -Não entendo. Sarah. Tem que me<br />

dizer o que significa. - Foi atrás <strong>de</strong> Kate e Sarah, saindo a tempo para ver a cara<br />

pálida <strong>de</strong> Abigail iluminada enquanto Joley levava o carro à estrada.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r amaldiçoou quando o carro passou por diante <strong>de</strong>les.<br />

-Nos conte- disse Hannah. -Que aconteceu, Abbey?<br />

Abigail se balançava para frente e para trás, enrodilhada longe <strong>de</strong> suas<br />

irmãs no assento traseiro, sua face estava voltada para o mar com seus<br />

on<strong>de</strong>antes cheiros. O rugido em seus ouvidos parecia mais forte. Como podia<br />

explicá-lo? O que podia dizer? Que era tão fraca que amava a um homem com<br />

quem sabia que não po<strong>de</strong>ria viver? Soava tão patético. Quando havia se tornado<br />

patética? E por que estavam suas emoções tão amplificadas, tão fora <strong>de</strong> controle?<br />

Havia sentido uma dor mil vezes pior do que recordava haver sentido alguma vez.<br />

-Abbey?- Hannah foi tão amável como era possível.<br />

-Pára o carro. Às pressas. Vou vomitar- disse Abbey com <strong>de</strong>sespero.<br />

Joley freou <strong>de</strong> repente, dirigindo o carro para o estreito acostamento da<br />

estrada do escarpado. Antes que o carro se <strong>de</strong>tivesse completamente, Abigail<br />

saiu <strong>de</strong> um salto, inclinando-se enquanto seu estômago protestava. Odiava<br />

vomitar, sempre resistia a isso, mas nada podia <strong>de</strong>ter a reação <strong>de</strong> seu corpo à<br />

dor aguda que havia sentido ao reconhecer essa familiar veia <strong>de</strong>sumana no<br />

Aleksan<strong>de</strong>r. Não havia lugar para alguém como ela em sua vida. Ele necessitava<br />

<strong>de</strong> uma mulher que ficasse em segundo plano, um posto por <strong>de</strong>trás <strong>de</strong> seu<br />

trabalho e sua necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> êxito em algo que estivesse fazendo. Alguém que<br />

nunca lhe interrogasse muito atentamente sobre seus métodos <strong>de</strong> investigação.<br />

Hannah lhe ofereceu um lenço e Abbey limpou a boca enquanto baixava a<br />

vista para as ondas que se chocavam contra as rochas abaixo <strong>de</strong>la. O coração lhe<br />

doía tanto que pressionou a mão com força contra o peito para aliviar a dor. Mais<br />

à frente do fluxo, vários golfinhos saltaram no ar, virando antes <strong>de</strong> voltar a<br />

mergulhar-se no mar. Uma baleia apareceu com sua cabeça por cima da água,<br />

como se estivesse procurando por ela. Ouviu a música das criaturas marinhas<br />

levada até ela pelo vento. Chamando-a. Aliviando a dor <strong>de</strong> seu coração.<br />

-Abbey!- Joley a agarrou pela cintura e a puxou para afastá-la da beirada<br />

do escarpado. -O que está fazendo?- Havia alarme em sua voz.<br />

Abigail piscou para enfocá-la.<br />

-Estão me chamando.


168<br />

-Não me importa o que estão fazendo. Vamos para casa. Não é possível que<br />

pense que Aleksan<strong>de</strong>r estava no mais mínimo interessado em Sylvia Fredrickson,<br />

verda<strong>de</strong>?- Joley estava horrorizada ante a idéia. -Não podia suportar que lhe<br />

tocasse. Teve que senti-lo.<br />

-É obvio que o fiz. - Abigail massageou as palpitantes têmporas.<br />

-Sylvia tocou em você? Po<strong>de</strong>ria ter conseguido um cabelo ou algo pessoal<br />

seu?- Joley guiou Abigail à parte posterior do carro.<br />

Hannah manteve a porta aberta.<br />

-Recebeu algo estranho pelo correio?<br />

Abigail se <strong>de</strong>slizou na cali<strong>de</strong>z do assento traseiro.<br />

-Acreditam que Sylvia me fez alguma classe <strong>de</strong> feitiço?<br />

-Quase se atirou pelo escarpado, Abbey. - disse Joley, girando o volante<br />

para levar o carro <strong>de</strong> volta à estrada. -Isso não é normal.<br />

Abigail baixou o olhar a suas mãos. Estavam tremendo.<br />

-Sylvia não tem a virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sestabilizar minha vida absolutamente. Ela<br />

não tem nada que ver com isto.<br />

-Será melhor que não- disse Hannah. -Tratou <strong>de</strong> nos fazer a vida impossível<br />

na escola. Seria próprio <strong>de</strong>la tentar seduzir a um homem no que pensasse que<br />

alguma <strong>de</strong> nós estivesse interessada. Juro-o, acreditava que estava tentando<br />

voltar com seu marido.<br />

-Eu tinha a esperança <strong>de</strong> que tentasse voltar com ele- disse Abigail, lutando<br />

por controlar suas emoções. Era injusto para suas irmãs que não controlasse seus<br />

sentimentos. -Sinto muito. Não posso imaginar o que Sarah e Kate estarão<br />

pensando.<br />

-Libby está em casa e quero que faça uma cura psíquica em você - disse<br />

Hannah firmemente. -Tem que <strong>de</strong>ixá-la fazer. A dor está piorando, não<br />

melhorando.<br />

-Po<strong>de</strong>ria ter caído pelo escarpado- assinalou Joley.<br />

Hannah e Joley olharam uma à outra.<br />

-Prakenskii- soltaram simultaneamente.<br />

-Será?- perguntou Joley.<br />

Abigail <strong>de</strong>u <strong>de</strong> ombros.<br />

-Sinto-me tão estúpida. Estava vendo Aleksan<strong>de</strong>r com a Sylvia e<br />

compreendi que ele po<strong>de</strong>ria muito bem <strong>de</strong>itar-se com ela, não porque se sentisse<br />

atraído ou tivesse o impulso, mas sim porque po<strong>de</strong> ter o suficiente sangue-frio<br />

para utilizar qualquer meio que crê necessário para confrontar sua investigação.<br />

Eu fui a responsável pela morte <strong>de</strong> um homem, ou ao menos <strong>de</strong>sempenhei um<br />

papel importante na tragédia <strong>de</strong> sua morte, enquanto estava na Rússia. Todo<br />

este tempo, perguntei-me se Aleksan<strong>de</strong>r po<strong>de</strong>ria ter matado alguém, talvez a<br />

mais que um homem, para me tirar da Rússia. Não podia enfrentar isso. Quis<br />

fingir que ele nunca faria tal coisa. E não quis me sentir responsável por mais<br />

mortes. Mas po<strong>de</strong>ria havê-lo feito. Po<strong>de</strong>ria ter feito algo assim se acreditou que<br />

não havia outro caminho.<br />

-Abigail, isso não sabe - protestou Hannah.<br />

Ela secou as lágrimas da cara.<br />

-Mas o fez. Sei que o fez. Po<strong>de</strong> ser absolutamente <strong>de</strong>sumano. E se isso era<br />

o que fazia falta para me tirar da Rússia, o teria feito. No momento em que vi a


169<br />

verda<strong>de</strong> e tive que admitir o que ele fez por mim, compreendi que o amava tanto<br />

ou mais do que lhe amava faz quatro anos. Nunca vou <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> fazê-lo e não<br />

posso viver com ele. - cobriu-se a cara. -Não posso viver com ele. - Levantou a<br />

cabeça para olhar a suas irmãs com olhos enfeitiçados. -E não sei se posso viver<br />

sem ele.<br />

Hannah retorceu as mãos.<br />

-Teve que ser Prakenskii. Quem mais teria o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> amplificar suas<br />

emoções até chegar a semelhante estado?<br />

-Abigail sempre sente as coisas amplificadas- disse Joley. -Embora eu<br />

gostaria <strong>de</strong> me encontrar com Prakenskii uma vez mais sem todo mundo ao<br />

redor.<br />

Chegaram a casa e estacionaram. Na entrada da casa encontraram Libby<br />

que as esperava, pressionando-se com uma mão o estômago.<br />

-Acredito que ela está sentindo a dor dos dois - disse Libby a Hannah - a do<br />

Aleksan<strong>de</strong>r é igual a sua própria. Pergunto-me se ele o sente também.<br />

-Suas auras se mesclam - disse Hannah.<br />

-Notei. - Joley olhou para a entrada do passeio. -Acredito que aparecerá por<br />

aqui muito em breve. Não é o tipo <strong>de</strong> homem que <strong>de</strong>ixe sua mulher afastar-se<br />

assim <strong>de</strong>le. - Entrecerrou o olhar enquanto olhava em ambas as direções. -Ainda<br />

acredito que Prakenskii tem algo que ver com isto.<br />

-Acredito que reconheceríamos seus rastros <strong>de</strong> magia. - Hannah era<br />

prática. Entregou Abigail a Libby. -Formemos o círculo e estejamos prontas para<br />

quando as <strong>de</strong>mais voltem para casa.<br />

-Eu gostaria <strong>de</strong> igualar minha magia com a <strong>de</strong>sse homem. - Joley esfregou<br />

a palma <strong>de</strong> cima abaixo pela calça, franzindo o cenho para suas irmãs. -Juraria<br />

que ainda lhe sinto me tocando.<br />

Hannah a olhou agudamente.<br />

-Não nos contou isso. Deveria havê-lo dito imediatamente, Joley. Prakenskii<br />

é uma incógnita total. Temos que ter muito cuidado até que saibamos<br />

exatamente a que nos enfrentamos.<br />

Abigail estava sentada no chão em meio à sala <strong>de</strong> estar enquanto suas<br />

irmãs <strong>de</strong>senhavam um círculo <strong>de</strong> amparo ao redor <strong>de</strong>la utilizando fortificações <strong>de</strong><br />

ma<strong>de</strong>ira. Descansava a bochecha sobre seus joelhos encolhidos, sentindo-se<br />

esgotada e <strong>de</strong>rrotada.<br />

-Hannah, não andávamos procurando magia na festa. Procurávamos provas<br />

<strong>de</strong> contrabando. Teríamos reconhecido a magia <strong>de</strong> Prakenskii? Exceto por quando<br />

<strong>de</strong>volveu a magia <strong>de</strong> Joley aquela noite na estalagem, seu po<strong>de</strong>r foi muito sutil.<br />

Não estou segura se saberia se estava sendo influenciada... saberia você? Exceto<br />

que minha reação ao ver Sylvia com o Aleksan<strong>de</strong>r é muito antinatural.<br />

-Honestamente não sei- admitiu Hannah. -Está fora <strong>de</strong> meu campo <strong>de</strong><br />

experiência. Além das tias, mamãe e a avó, nunca conheci ninguém mais que<br />

utilizasse a magia, e certamente nunca dirigida contra nós.<br />

-E se ele estivesse contra nós?- disse Libby, -Acredito que a pergunta seria<br />

por quê? O que estamos fazendo nós que interfere no que está fazendo ele?<br />

Fez-se um brusco silêncio repentino enquanto todas elas se olhavam umas<br />

às outras, tratando <strong>de</strong> achar uma resposta. Sarah e Kate atravessaram a porta,<br />

seguidas por sua tia e Aleksan<strong>de</strong>r Volstov.


170<br />

Ele entrou andando sem titubear e ignorou as advertências dos círculos e o<br />

amparo e foi diretamente a Abigail.<br />

As irmãs compartilharam um longo olhar quando ele simplesmente passou<br />

por cima das fortificações <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira do chão e nada ocorreu.<br />

-O que aconteceu, baushki-bau? Senti a dor te golpear e quando olhei seus<br />

olhos, golpeou-me.<br />

Abigail sacudiu a cabeça, as lágrimas fluíram.<br />

-O que está fazendo aqui? Não <strong>de</strong>veria estar aqui. - On<strong>de</strong>ou a mão<br />

assinalando as fortificações <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira colocados formando um círculo. -Isto não<br />

te concerne.<br />

-Tudo a respeito <strong>de</strong> você me concerne. Diga-me o que aconteceu. - Quando<br />

não obteve resposta, seu olhar percorreu às mulheres da habitação. -Me digam. -<br />

Havia uma dura autorida<strong>de</strong> em sua voz.<br />

-Não sabemos- respon<strong>de</strong>u Joley. –Acreditamos que é possível que<br />

Prakenskii utilizasse magia para amplificar seus sentimentos <strong>de</strong> dor e <strong>de</strong>sespero.<br />

Uma mescla <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconcerto e cólera cruzou a face <strong>de</strong>le.<br />

-Por que teria sentimentos <strong>de</strong> dor e <strong>de</strong>sespero? Certamente não acreditaria<br />

nem por um momento que me sentia atraído por essa mulher, certo?<br />

Ela negou com a cabeça.<br />

-Alguém viu Prakenskii na festa?- perguntou Joley. -Sergei Nikitin esteve<br />

mais cedo, me seguindo a todos os lados e em geral ficando como um completo<br />

asno.<br />

-O que queria?- perguntou Sarah.<br />

-Ser meu namorado, suponho- disse Joley. -Disse-lhe que não tenho<br />

encontros. Não ficou muito contente com isso.<br />

-Duvido que esteja acostumado a ser rechaçado por uma mulher- disse<br />

Aleksan<strong>de</strong>r enquanto se sentava no chão no centro do círculo e puxava Abigail<br />

até seu colo. -Eu, entretanto, tenho conhecimento <strong>de</strong> primeira mão sobre isso <strong>de</strong><br />

forma regular.<br />

Abigail levantou a cabeça e o olhou nos olhos. Ali havia dor. Amor. Uma<br />

súplica que provavelmente ele nem sequer se <strong>de</strong>u conta <strong>de</strong> estar revelando.<br />

Suspirou e se apoiou em seu peito.<br />

-Eu não te rechacei.<br />

-Esteve me rechaçando durante anos, Abbey- disse ele.<br />

-Na realida<strong>de</strong>- comentou Tia Carol enquanto tocava o círculo protetor,<br />

endireitando-o e colocando várias velas em diversos pontos - Prakenskii esteve<br />

na galeria antes. Falou com o Frank sobre a assistência do senhor Nikitin à festa<br />

e <strong>de</strong>pois acreditei que partiu, mas em troca, entrou na parte <strong>de</strong> trás. Ele e esse<br />

jovem com quem foram à escola, que sempre estava metendo-se em brigas.<br />

Devem ter tido uma espécie <strong>de</strong> discussão.<br />

-Por que diz isso, tia Carol?- perguntou Sarah.<br />

-Acen<strong>de</strong> essas velas sobre a chaminé, querida- instruiu Carol. -Como se<br />

chamava esse menino aborrecível?<br />

-Chad. Chad Kingman- disse Kate.<br />

-Sim, é obvio, Chad. Sua mãe trabalhava muito duro, mas seu pai era um<br />

bêbado habitual. Acreditava que tudo se arrumava com os punhos. Vi o


171<br />

Prakenskii falando com ele. Chad parecia bastante zangado, embora Prakenskii<br />

não o parecesse absolutamente.<br />

-Tia Carol- repreen<strong>de</strong>u Sarah -estava lá atrás presenciando isto?<br />

-Prometi ao Frank que seria a fotógrafa oficial <strong>de</strong> sua festa. Como é normal<br />

tirei fotos da preparação. Naturalmente incluíram tirar <strong>de</strong> lá.<br />

-Naturalmente. - Kate a olhou fixamente - Deve ter <strong>de</strong>ixados loucos à avó e<br />

ao avô, tia Carol. Sabe perfeitamente bem que não <strong>de</strong>veria ter estado naquele<br />

lugar.<br />

-Po<strong>de</strong> procurar todas as <strong>de</strong>sculpas do mundo- somou-se Sarah -mas<br />

estava espiando. É muito perigoso para você fazer esse tipo <strong>de</strong> coisas. Jonas te<br />

disse que não o fizesse.<br />

A sobrancelha <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r se disparou para cima. Curvou seu mindinho<br />

para Sarah.<br />

-Tem manchas <strong>de</strong> resina branca em sua jaqueta e Kate também as tem. Vi<br />

esse mesmo pó lá trás on<strong>de</strong> estava a estátua quebrada.<br />

Sarah tirou precipitadamente o pó da jaqueta. Kate fez o mesmo. Hannah,<br />

Joley e Abigail intercambiaram um largo olhar <strong>de</strong> completa e absoluta<br />

culpabilida<strong>de</strong>.<br />

Libby estalou em gargalhadas.<br />

-Esse lugar <strong>de</strong>ve ser muito popular. A tia Carol, todas vocês e até o<br />

Aleksan<strong>de</strong>r, todos bisbilhotando. Eu fiquei em casa e li um livro com os pés para<br />

cima per<strong>de</strong>ndo toda a diversão.<br />

-Trouxemos fotos da casa- consolou-a Joley. -Tia Carol, crê que Prakenskii<br />

e Chad brigaram a murros? Encontramos sangue em um canto e uma zona on<strong>de</strong><br />

se percebia violência.<br />

-OH, houve uma rixa terrível. Chad rompeu uma estátua na cabeça do<br />

Prakenskii. Acredito que tinha intenção <strong>de</strong> lhe matar. Tiveram um intercâmbio <strong>de</strong><br />

palavras, que não pu<strong>de</strong> ouvir. Eu estava no pequeno armário perto da porta que<br />

leva ao beco por aon<strong>de</strong> chegam os caminhões <strong>de</strong> partilha. Prakenskii logo que<br />

parecia mover-se, mas acabou com o Chad. Se não tivesse visto Chad lhe atacar<br />

primeiro, teria sentido lástima por ele.<br />

-O que aconteceu ao Chad?<br />

Carol suspirou.<br />

-Acreditava que po<strong>de</strong>ria tirar uma foto da briga, mas <strong>de</strong>vo ter me chocado<br />

contra uma porta porque fez barulho. Prakenskii não olhou para mim, mas<br />

agarrou Chad com uma <strong>de</strong>ssas chaves <strong>de</strong> polícia e o obrigou a sair pela porta<br />

traseira. Decidi que era melhor não segui-los e lhes permitir continuar sua<br />

discussão em privado.<br />

Joley estalou em gargalhadas.<br />

-Po<strong>de</strong>ríamos ter tido uma convenção familiar Drake na traseira da galeria. O<br />

que diz isso <strong>de</strong> nós?<br />

-Diz que são todas parvas e dá o que pensar- disse Aleksan<strong>de</strong>r.<br />

-Bom, você também estava ali- disse Joley. -E nós quase tivemos que tratar<br />

com a traumática, para sempre estampada em nossa memória, visão <strong>de</strong>ssas que<br />

se leva a tumba da Sylvia <strong>de</strong>spindo seus seios, muito obrigada.<br />

-Antes que façamos outra coisa, quero levar a cabo uma cerimônia <strong>de</strong> cura<br />

para Abigail e bem po<strong>de</strong>mos ver também se ajuda Aleksan<strong>de</strong>r- disse Libby, lhe


172<br />

imobilizando com o olhar. -Não foi convidado, mas parece que não tem planos <strong>de</strong><br />

partir logo.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r observou com interesse como Libby <strong>de</strong>sembrulhava várias<br />

formosas pedras e as colocava cuidadosamente <strong>de</strong>ntro do círculo. As pedras eram<br />

arredondadas e <strong>de</strong> um vermelho sangue.<br />

-Esses não são rubis autênticos, verda<strong>de</strong>?- Perguntou ele.<br />

Carol assentiu.<br />

-Estiveram em nossa família durante gerações e os usamos quando é<br />

necessário os elementos <strong>de</strong> terra, ar, fogo, e água. O rubi é uma pedra forte e<br />

po<strong>de</strong> servir para amparo assim como também para a cura. Este é um rubi<br />

estrelado e particularmente po<strong>de</strong>roso. Utilizaremos um segundo rubi fora do<br />

círculo colocado junto a uma vela vermelha para acrescentar nossa energia a<br />

cura.<br />

Aleksandr sacudiu a cabeça.<br />

-Não posso imaginar Prakenskii fazendo algo disto.<br />

Carol lhe lançou um olhar recriminatório.<br />

-Se for <strong>de</strong>sacreditar <strong>de</strong> nossas práticas, jovem, agora é bom momento para<br />

partir.<br />

-Sinto muito, não queria dizer isso. É só que Prakenskii é um <strong>de</strong>sses<br />

homens muito orientados para a ação. Não posso lhe ver tentando manipular<br />

energia com cristais e pedras. - Assinalou a pedra na mão <strong>de</strong> Libby. -Não tinha<br />

visto nada como isso antes... o que é?<br />

Libby a sustentou no alto. Parecia quase a uma opala <strong>de</strong> ouro alaranjado,<br />

com intensos brilhos <strong>de</strong> muitas cores quando era sustentada em alto para a luz.<br />

-É um tipo muito estranho <strong>de</strong> pedra <strong>de</strong> feldspato da Índia, chamam-na<br />

pedra solar.<br />

Enquanto as irmãs <strong>de</strong> Abigail e sua tia preparavam a purificação,<br />

Aleksan<strong>de</strong>r acariciou os cabelos <strong>de</strong> Abbey para trás e a beijou na nuca.<br />

-No que estava pensando? Por que se zangou tanto na festa?<br />

-Compreendi coisas a respeito <strong>de</strong> você. A respeito <strong>de</strong> mim. Quer realmente<br />

discuti-lo agora?<br />

-Não quero ver você assim ferida. Dê-me algo com o que trabalhar, Abbey.<br />

Não me <strong>de</strong>ixe fora. - Seus lábios subiram pelo pescoço para a orelha. -Se sentir<br />

coisas, <strong>de</strong>ve sentir quanto te amo. Se po<strong>de</strong> ouvir a verda<strong>de</strong> nas vozes, tem que<br />

ouvi-la na minha. - Beijou-lhe o pescoço, seus <strong>de</strong>ntes lhe mordiscavam a pele<br />

sedutoramente. -Tem que acreditar só um pouco em mim.<br />

Estava sendo muito obstinada aferrando-se a sua dor e a sua cólera,<br />

acreditando que ele a tinha traído? Estava tão aterrorizada <strong>de</strong> viver com seu lado<br />

<strong>de</strong>sumano, sabendo o que ele era capaz <strong>de</strong> fazer, que preferia per<strong>de</strong>r tudo? Era<br />

tão covar<strong>de</strong> que não podia <strong>de</strong>ixar atrás o passado?<br />

-O que seria capaz <strong>de</strong> fazer para resolver um crime, Aleksan<strong>de</strong>r? Deitaria<br />

com outra mulher para conseguir informação? Iria tão longe?- Sentia a garganta<br />

apertada e <strong>de</strong>scarnada pela dor quando perguntou. Seu coração troava com tanta<br />

força em seu peito que temeu que pu<strong>de</strong>sse arrebentar. Não podia lhe perguntar<br />

se tinha matado a alguém para pô-la em liberá-la. As palavras palpitavam em sua<br />

cabeça, mas não podia as forçar a passar o estrangulamento <strong>de</strong> sua garganta.


173<br />

Aleksan<strong>de</strong>r ficou rígido, seus braços a soltaram lentamente. Podia ver por<br />

sua cara que não tinha que fazer a verda<strong>de</strong>ira pergunta. Ele sabia. Sabia o que<br />

ela mais temia.<br />

-Realmente po<strong>de</strong> pensar tão nefastamente sobre mim? Passei perto <strong>de</strong> três<br />

anos perseguindo aquele assassino <strong>de</strong> meninos. O primeiro ano, fiz sozinho...<br />

meus superiores se negavam sequer admitir a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que pu<strong>de</strong>sse<br />

haver um assassino em série <strong>de</strong> meninos na Rússia. Duas vezes me relevaram do<br />

<strong>de</strong>ver <strong>de</strong> procurar ajuda nas agências externas ao país. E enquanto isso ele<br />

estava lá fora, atraindo meninos até ele.<br />

-Aleksan<strong>de</strong>r- protestou ela.<br />

-Não, Abigail. Tiremos tudo ao <strong>de</strong>scoberto. Admito completamente que<br />

cometi enganos. Disse ao empregado do escritório que levasse você a sala <strong>de</strong><br />

interrogatórios. Acreditei que seguiria as or<strong>de</strong>ns. Não tinha nem idéia <strong>de</strong> que<br />

Ignatev estava trabalhando entre bastidores para me <strong>de</strong>rrubar e que tinha a seus<br />

homens em posição. Quando tudo se foi ao inferno, valorei minhas opções. Em<br />

minha mente pensava que estaria perfeitamente a salvo, meus homens lhe<br />

levariam algo <strong>de</strong> beber, guiariam lhe fora e tudo teria terminado.<br />

Ela esfregou o queixo contra os joelhos encolhidos, abraçando-se a si<br />

mesma enquanto se balançava.<br />

-Mas não foi <strong>de</strong>sse modo.<br />

-Não. Ignatev aproveitou a oportunida<strong>de</strong> para me golpear. Seus homens,<br />

não meus, estavam na sala <strong>de</strong> interrogatórios com você. Não estava a salvo,<br />

embora isso não soube ao princípio. Eu lutava por controlar o dano. Estava muito<br />

perto <strong>de</strong> solucionar o caso e não queria que se fosse as pistas. Quando averigüei<br />

o que acontecia e que os homens <strong>de</strong> Ignatev lhe tinham em seu po<strong>de</strong>r, tive que<br />

me mover rápido para tirar você dali. Nesse ponto não po<strong>de</strong>ria respon<strong>de</strong>r pelo<br />

que tinha acontecido porque se assumia a culpa <strong>de</strong> tudo, não só me teriam<br />

tirado do caso, mas também não teria podido te pôr em liberda<strong>de</strong>.<br />

Abigail lhe olhou.<br />

-O que fez?<br />

-O que foi necessário para te tirar dali. Teriam matado você. Ignatev queria<br />

me atacar, você não estava cooperando e quis aumentar a violência contra você.<br />

Tão somente minha reputação fez que não o fizessem em princípio. E sim, Abbey,<br />

se tivesse tido que me <strong>de</strong>itar com outra mulher para te salvar a vida, que me<br />

con<strong>de</strong>nem mas o teria feito. Faria qualquer coisa para te salvar. É isto o que<br />

queria saber <strong>de</strong> mim?<br />

Os olhos <strong>de</strong>le flamejavam fogo para ela. Aleksan<strong>de</strong>r, sempre tão calmo e<br />

controlado, parecia que <strong>de</strong>sejasse sacudi-la. Estudou seu rosto, as linhas que não<br />

tinham estado ali quatro anos antes, a comissura <strong>de</strong> sua boca e sua mandíbula<br />

forte. Do que tinha na realida<strong>de</strong> tanto medo? Teria querido que ele abandonasse<br />

aos meninos mortos? Teria querido que a abandonasse? Provavelmente lhe tinha<br />

salvado a vida, como tinha salvado a outros meninos <strong>de</strong> um louco.<br />

A compreensão chegou lentamente, mas Abigail sabia que lhe amava por<br />

essas mesmas qualida<strong>de</strong>s, sua <strong>de</strong>terminação firme <strong>de</strong> levar a um assassino ante<br />

os tribunais, seus instintos protetores que o faziam agressivo na busca <strong>de</strong> um<br />

assassino em série. Tantos traços bons, era isso o que tanto temia?<br />

-Como me tirou da Rússia?


174<br />

Seu olhar se endureceu.<br />

-Fiz o que tinha que fazer. Essa é minha vida, Abbey. Isso é quem sou. É a<br />

única pessoa que amei alguma vez. Crê que faria menos por você do que faria<br />

por aqueles pobres meninos? Maldita seja por me perguntar isso. - inclinou-se<br />

mais perto <strong>de</strong>la, a poucos centímetros <strong>de</strong> sua cara. -Tenho um montão <strong>de</strong> coisas<br />

pelas que me <strong>de</strong>sculpar, sei, mas tirar você da Rússia, salvar sua vida, não é uma<br />

<strong>de</strong>las. Se tivesse tido que dormir com quarenta mulheres, matar a quarenta<br />

homens, ou trocar minha vida pela sua, o teria feito e não vou pedir perdão por<br />

isso. Se quer me sentenciar, adiante.<br />

-On<strong>de</strong> há um futuro para nós, Sasha? Eu não posso ir a Rússia. Não sei se<br />

posso estar vivendo os extremos que você está disposto a assumir. O que vamos<br />

fazer?<br />

-Tem que haver um futuro para nós. Temos que encontrar a maneira. É<br />

feliz sem mim? Po<strong>de</strong> dizer que verda<strong>de</strong>iramente foi feliz se escon<strong>de</strong>ndo no mar<br />

com seus golfinhos, vivendo sua vida sem mim, Abigail?<br />

Abigail se sentou erguida e colocou para trás os cabelos.<br />

-Segura seu chá antes que se <strong>de</strong>rrame.<br />

Assinalou vagamente a um ponto diante <strong>de</strong>le e quando Aleksan<strong>de</strong>r virou a<br />

cabeça a xícara <strong>de</strong> chá quase lhe golpeou no rosto. Parecia flutuar no ar. Suas<br />

irmãs e sua tia tinham <strong>de</strong>saparecido, <strong>de</strong>ixando-os sentados em meio <strong>de</strong> um<br />

círculo feito com um tipo <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira que ele não podia i<strong>de</strong>ntificar e o que<br />

pareciam ser centenas <strong>de</strong> velas acesas. Tomou a xícara do ar e observou Abigail<br />

fazer o mesmo.<br />

Quando tinham estado juntos na Rússia, Abigail sempre tinha mantido o<br />

uso da magia em suas vidas ao mínimo. Ele não tinha pensado muito além <strong>de</strong> seu<br />

dom <strong>de</strong> obrigar a outros a dizer a verda<strong>de</strong>. Suas habilida<strong>de</strong>s e as <strong>de</strong> suas irmãs<br />

iam obviamente muito mais longe do que nunca tinha concebido. A magia parecia<br />

ser esgrimida sem nenhum esforço, algo habitual nas vidas das irmãs Drake. Isto<br />

sempre seria parte <strong>de</strong> Abigail.<br />

-Não estou disposto a viver minha vida sem você, Abbey. Tentei. Tentei me<br />

enterrar no trabalho. Aceitei cada caso perigoso, cada caso interessante, algo em<br />

que pensar, mas nada surtiu efeito. Quero recuperar você. Diga-me o que tenho<br />

que fazer para te recuperar.<br />

-Não é que não ame você, Aleksan<strong>de</strong>r. Te amo com todo meu ser. Admiro a<br />

força <strong>de</strong> sua resolução e respeito sua <strong>de</strong>terminação que é tão parte <strong>de</strong> você. Sei<br />

que isso é o que te faz ter êxito no que faz. Mas ao mesmo tempo, acredito que<br />

não posso conviver com eles.<br />

-Isso é um clichê, algo ridículo que dizer quando não está disposta a<br />

discutir algo a fundo e não vou aceitar isso <strong>de</strong> você. Faço o que tenho que fazer<br />

para sobreviver e manter vivos a outros. Não sou nenhum maníaco que vai por<br />

aí correndo com uma arma disparando às pessoas sem uma boa razão. Demônios<br />

sim, apanhei aos homens <strong>de</strong> Ignatev. A cada um ao que pu<strong>de</strong> pôr as mãos em<br />

cima. Teria matado a ele se tivesse podido me aproximar, mas já se per<strong>de</strong>u entre<br />

as sombras. É por isso puseram preço a minha cabeça. Ele ia fazer que lhe<br />

matassem, mas primeiro queria torturar você. Isso não ia acontecer. Po<strong>de</strong><br />

enten<strong>de</strong>r isso <strong>de</strong> mim? Não ia acontecer. Não a você.


175<br />

-Simplesmente sinto que perco a cabeça te amando. Assustada <strong>de</strong> lhe<br />

per<strong>de</strong>r. Temendo sua força. -Estava tão confusa. Como podia ser tão<br />

pateticamente frágil quando se tratava <strong>de</strong> lhe amar?<br />

-Você não é covar<strong>de</strong>, Abbey. Não nadaria no mar com golfinhos se fosse.<br />

Não teria tirado esse pescador da água, nem tampouco teria atacado ao atirador<br />

quando teve a oportunida<strong>de</strong>. Po<strong>de</strong> fazer todas essas coisas, mas te dá medo se<br />

permitir estar comigo. Se eu partir, me amará menos? Levará isso a dor do que<br />

consi<strong>de</strong>ra uma traição? -Pôs seu chá sobre o chão e lhe agarrou o queixo,<br />

obrigando-a a lhe olhar aos olhos. -Estou con<strong>de</strong>nado <strong>de</strong> qualquer forma. Estou<br />

con<strong>de</strong>nado por não te proteger quando não sabia que estava em problemas, e<br />

estou con<strong>de</strong>nado por te tirar <strong>de</strong> uma situação muito perigosa. Qual é meu<br />

verda<strong>de</strong>iro pecado?<br />

-Fazer que te ame. - A verda<strong>de</strong> saiu <strong>de</strong>la. Separou-se <strong>de</strong>le. -Não quero te<br />

amar.<br />

-Bem, bem-vinda ao clube carinho. Eu não queria te amar tampouco. Minha<br />

vida era muitíssimo mais fácil antes que entrasse nela.<br />

Ela suspirou brandamente.<br />

-Eu nunca tive que viver como teve que viver você. Po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>sumano se<br />

as circunstâncias o requererem. Como viver juntos quando nossas vidas são tão<br />

diferentes? Quando vamos <strong>de</strong> dois recursos e culturas tão diferentes?<br />

-Enten<strong>de</strong> sequer as escolhas que fiz? Teria feito você <strong>de</strong> forma diferente?<br />

-Não sei. Honestamente não sei. Quase me <strong>de</strong>struiu. Quando acreditei que<br />

tinha me traído senti como se me tivesse arrancado o coração e a ferida<br />

simplesmente não se curava. O<strong>de</strong>io dizer isso. Parece tão melodramático, mas é<br />

a verda<strong>de</strong>. Quero que tenha esse po<strong>de</strong>r sobre mim outra vez? Um dia trabalhará<br />

em algo terrível, algum crime horrível e terá que tomar <strong>de</strong>cisões que não estou<br />

segura <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r aceitar. O que faço então?- Brilhavam lágrimas em seus olhos.<br />

Sua garganta estava <strong>de</strong>scarnada- Não po<strong>de</strong> ser menos do que é. Eu não te<br />

amaria igual se <strong>de</strong>ixasse <strong>de</strong> ser você. Como faço para mudar o suficiente para<br />

aceitar essa veia <strong>de</strong>sumana que há em você?<br />

-Não sei, Abigail. Tem que <strong>de</strong>cidir se me ama o suficiente. Crê que eu<br />

tenho todo esse po<strong>de</strong>r sobre você, mas na realida<strong>de</strong> é inverso. Você se afastou<br />

<strong>de</strong> mim e não voltou a vista atrás. Po<strong>de</strong> chamá-lo auto conservação se quiser,<br />

mas ao final, não me amou o suficiente para viver com o que tenho que fazer.<br />

E sim, não é sempre bonito e envolto em um pacote elegante. Para perseguir o<br />

tipo <strong>de</strong> criminosos que normalmente persigo tenho que me pôr ao nível da<br />

porcaria e me enlamear com eles. Há más pessoas neste mundo, realmente más,<br />

Abbey. Eu os caço. Faço o que posso por levá-los ante a justiça. Nem sempre é<br />

possível utilizar regras civilizadas e aceitáveis para lhes <strong>de</strong>ter. Quando vai <strong>de</strong>pois<br />

do mal ou atrás <strong>de</strong> gente doente que não têm regras, tem que fazer o que for<br />

para <strong>de</strong>tê-las. Há vezes que faço coisas das que não me orgulho. E há vezes nas<br />

que tenho que tomar uma vida. E se for por você, Abigail, nunca haverá, em<br />

nenhum momento, que perguntar se estiver disposto ou não a fazer algo que faça<br />

falta. Isto é o que realmente sou. A verda<strong>de</strong>ira pergunta é, po<strong>de</strong> amar ao<br />

autêntico eu? Não à pessoa perfeita que quer que seja, não a essa imagem que<br />

tinha <strong>de</strong> mim, a não ser quem realmente sou?


176<br />

Capítulo – 15<br />

Abigail suspirou brandamente.<br />

-Estou lutando por enten<strong>de</strong>r tudo isto, Sasha. Não tinha nem idéia do que<br />

tinha acontecido na Rússia, por que <strong>de</strong>ixou que me afastassem <strong>de</strong> você e talvez<br />

<strong>de</strong>veria ter aberto todas essas cartas que me enviou…<br />

-Arrancou-me o coração quando me <strong>de</strong>volveu isso- disse Aleksan<strong>de</strong>r.<br />

-Assim ambos acabamos feridos. De verda<strong>de</strong> quer voltar ali outra vez?<br />

-Perguntou-se por que não te pedi que 'falasse' com o Nikitin ou sequer<br />

com o Chad Kingman ou Frank Warner? Saberíamos imediatamente quem estava<br />

fazendo o que se tivesse uma conversa com eles.<br />

Abigail esten<strong>de</strong>u as mãos ante ela.<br />

-Cometi um terrível engano e isso custou a vida <strong>de</strong> um homem.<br />

-Isso é uma tolice e sabe, Abbey. Esse homem morreu porque estava<br />

afligido pela culpa e um dos oficiais virtualmente lhe <strong>de</strong>u uma arma. Não teve<br />

nada que ver com você. Observei a fita uma e outra vez antes que fosse<br />

<strong>de</strong>struída e você estava tratando <strong>de</strong> nos dizer que não era culpado. Não houve<br />

nenhum engano com sua magia ou a forma em que a usou. Não te pedi que me<br />

aju<strong>de</strong> porque me equivoquei ao te utilizar. Ao princípio queria cada instrumento<br />

possível. Ouvi um rumor a respeito <strong>de</strong> uma mulher com po<strong>de</strong>res psíquicos e<br />

investiguei um pouco e <strong>de</strong>cidi te conhecer para ver se podia ajudar, inclusive<br />

embora o que pu<strong>de</strong>sse fazer soasse uma loucura infernal.<br />

Ela abaixou a cabeça, incapaz para lhe respon<strong>de</strong>r. Tinha pesa<strong>de</strong>los com<br />

esse pobre homem, tão perturbado pela morte <strong>de</strong> sua filha. Ela <strong>de</strong>veria havê-lo<br />

sabido, sentido o que estava ocorrendo, colocar seu ego <strong>de</strong> lado para adivinhar a<br />

verda<strong>de</strong>. Aleksan<strong>de</strong>r a absolvia <strong>de</strong> culpa, mas a tinham criado para acreditar que<br />

com seu dom também vinha a responsabilida<strong>de</strong>.<br />

-Não quero utilizar a alguém a quem amo como instrumento ou arma por<br />

nenhuma razão. Amo você, Abbey. - colocou uma mão sobre o coração. -Não sei<br />

que outro método utilizar para que acredite, além <strong>de</strong> dizê-lo mil vezes.<br />

Ela só podia olhá-lo, com uma mescla <strong>de</strong> dor e amor formando re<strong>de</strong>moinhos<br />

nas profundida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> seus olhos. Queria-lhe. Desejava esten<strong>de</strong>r-se e começar<br />

tudo <strong>de</strong> novo, mas o passado estava ali, uma feia e crua ferida que a aterrava.<br />

Aleksandr procurava uma forma <strong>de</strong> reconfortá-la, <strong>de</strong> chegar mais à frente<br />

do passado e limpar esse olhar <strong>de</strong> medo <strong>de</strong> seus olhos para sempre. Quando já


177<br />

não pô<strong>de</strong> pensar em nada mais que dizer, trocou <strong>de</strong> tática, procurando uma<br />

distração. As grossas fortificações <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira que formavam o círculo não se<br />

pareciam com nada que tivesse visto antes. Tocou um.<br />

-O que é isto?<br />

Abigail lhe apartou mão.<br />

-Não toque isso. Sempre está tocando tudo. A ma<strong>de</strong>ira é muito, muito<br />

antiga e veio da Itália. Esteve em nossa família durante séculos e possui gran<strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>r. E se tivesse torrado você? Deveria ter torrado você quando entrou no<br />

círculo sem permissão.<br />

Ele pôs seu <strong>de</strong>do sobre a ma<strong>de</strong>ira polida uma vez mais.<br />

-Mas não o fez. A sua casa parece que gosta <strong>de</strong> mim.<br />

Carol ia <strong>de</strong>pois das irmãs Drake quando retornaram à habitação. Abigail<br />

sabia que tinham ouvido cada palavra da conversa e, o que era pior, que suas<br />

emoções eram muito fortes, muito fora <strong>de</strong> controle, que podiam sentir o<br />

profundo amor que lhe abrasava a alma e que sentia por ele. Podia dizer por suas<br />

caras que simpatizavam com sua causa. E ele podia vê-lo também.<br />

Aleksandr apelou a elas.<br />

-Se todas vocês souberem <strong>de</strong> magia, nenhuma conhece uma boa poção <strong>de</strong><br />

amor? Se simplesmente colocar em sua bebida, resolveríamos isto.<br />

-O que te faz pensar que não a temos, querido?- perguntou Carol, lhe<br />

piscando um olho. -Ainda não terminou toda sua xícara <strong>de</strong> chá.<br />

-Estas coisas levam seu tempo- somou-se Joley.<br />

Abigail levantou o olhar, alarmada. Colocou cuidadosamente a xícara no<br />

meio do chão.<br />

-Não se atreveriam. Aleksan<strong>de</strong>r, não beba isso.<br />

-Se ajuda, bebo. - Esvaziou rapidamente a xícara <strong>de</strong> chá e a esten<strong>de</strong>u a<br />

Joley. -Mais, por favor. Está muito bom.<br />

Joley riu.<br />

-Ela é a que precisa beber o chá, não você. Acredito que você já está bem<br />

como está.<br />

-Não respire- disse Abigail.<br />

-Alguém tem que respirar. - Aleksan<strong>de</strong>r colocou a xícara no chão e a<br />

avaliou com um sorriso apenas perceptível. -Certamente você não o faz.<br />

-Não é que vá por aí se <strong>de</strong>itando com muitos homens- assinalou Hannah.<br />

Dispôs uma pequena mesa e colocou um morteiro e uma mão do morteiro justo<br />

fora do círculo. -Eu diria que <strong>de</strong>veria se sentir muito animado.<br />

-Não vamos discutir se me <strong>de</strong>ito ou não com homens <strong>de</strong> forma regularopôs-se<br />

Abigail.<br />

-Bom, querida, não é que haja muito do que falar- disse Carol. - Por certo,<br />

<strong>de</strong>ixei o filme nessa loja <strong>de</strong> revelação <strong>de</strong> uma hora do Fort Bragg e Jonas a trará<br />

esta tar<strong>de</strong> assim provavelmente estará aqui <strong>de</strong> um momento a outro.<br />

-Genial. Po<strong>de</strong>mos falar <strong>de</strong> minha vida sexual diante <strong>de</strong>le também- disse<br />

Abigail. -Se apresse, Libby. Não posso estar sentada aqui para sempre.<br />

Kate ofereceu várias ervas a Libby.<br />

-Está muito irritável. Deve ser toda essa conversação sobre sexo e o estar<br />

apanhada aqui com todas nós ao redor e não po<strong>de</strong>r fazer nada a respeito.


178<br />

-Está dizendo que está frustrada?- perguntou Aleksan<strong>de</strong>r. -E supõe que não<br />

<strong>de</strong>vemos abandonar este círculo?<br />

-Não, não até que Libby tenha acabado- aconselhou Kate.<br />

Um gran<strong>de</strong> sorriso se esten<strong>de</strong>u pela cara <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r.<br />

-Acredito que o chá está funcionando, baushki-bau. Vêem aqui, minha<br />

pequena bolinha.<br />

Esquivou-se com uma mão.<br />

-O que acredita que está fazendo?<br />

-Não posso me controlar. Sua tia pôs algo no chá e não posso manter as<br />

mãos longe <strong>de</strong> você.<br />

-Não há nada no chá e <strong>de</strong> toda forma isso não funciona assim. - Abigail<br />

protestou, tentando não rir quando ele a acolheu entre seus braços.<br />

-Assim funciona em mim- disse ele, aproximando-a. Inclinou a cabeça até<br />

que seus lábios estiveram a um simples suspiro dos <strong>de</strong>la. -Necessito que me<br />

beije.<br />

-Não posso te beijar diante <strong>de</strong> todo mundo.<br />

Joley riu dissimuladamente.<br />

-Seguro que po<strong>de</strong>. Não olharemos.<br />

Libby escolheu várias ervas e começou às preparar para a cerimônia <strong>de</strong><br />

purificação e amparo.<br />

-Eu estou olhando. Se separem.<br />

Abigail sorriu abertamente para ela.<br />

-Finalmente, alguém que está <strong>de</strong> meu lado.<br />

-Não disse que estivesse <strong>de</strong> seu lado. Simplesmente não vou ficar olhando<br />

como se fazem bajulações e <strong>de</strong>pois explodam porque esse Prakenskii tenha posto<br />

um malefício sobre os dois.<br />

-Realmente crê que o fez? Os autênticos malefícios são muito estranhos.<br />

Libby juntou as ervas na pequena tigela feita <strong>de</strong> ágata polida.<br />

-Fez algo. Olhe a diferença em você já, Abbey. Estava com uma gran<strong>de</strong> dor<br />

emocional, pronta para se <strong>de</strong>spedir <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r, e agora, no interior <strong>de</strong>sta<br />

casa, <strong>de</strong>ntro do círculo, está rindo com ele <strong>de</strong> novo. Está muito mais calma e não<br />

te dói como doía antes.<br />

Joley soltou um pequeno bufo.<br />

-Já disse a vocês que Prakenskii é um rato bastardo.<br />

-Você crê que todos os homens são ratos bastardos. Acredito que também<br />

chamou Aleksan<strong>de</strong>r disso.<br />

Aleksandr ofegou.<br />

-Joley!<br />

Ela agitou a mão.<br />

-Ela me tirou arrastada da cama antes do meio-dia. Todo mundo é um rato<br />

bastardo antes do meio-dia.<br />

-Do que serviria ao Prakenskii realçar meus sentimentos?- perguntou<br />

Abigail.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r se esten<strong>de</strong>u em busca <strong>de</strong> sua mão.<br />

-Nos manter separados?<br />

Ela apartou a mão.<br />

-Estamos separados.


179<br />

-Vamos, Abbey- - a voz <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r foi uma carícia zombadora -<br />

Acreditava que tínhamos esclarecido isso quando foi à cama comigo.<br />

-Não o fizemos. - Abigail levantou o olhar para suas irmãs e sua tia que<br />

tinham <strong>de</strong>tido os preparativos. -Todas vocês não têm algo que fazer?<br />

-Bom, ele tem um ponto, Abbey- disse Joley.<br />

-Que ponto seria esse?- Exigiu Abigail.<br />

-Bom, em realida<strong>de</strong> querida- disse Carol. -Não <strong>de</strong>veria dormir com um<br />

homem se não tem intenção <strong>de</strong> ficar com ele. Realmente não é educado lhe<br />

incitar <strong>de</strong>sse modo.<br />

-Não, não, tia Carol- Joley <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u a sua irmã, com os olhos abertos com<br />

inocência. -Estão comprometidos. Não lhe está incitando exatamente. É oficial e<br />

tudo. Tem um anel.<br />

-Um anel! Não nos mostrou um anel- disse Kate. Inclinou-se sobre as<br />

fortificações <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira para olhara mão <strong>de</strong> Abigail.<br />

Abigail se cobriu os <strong>de</strong>dos nus com a outra palma e fulminou com o olhar a<br />

sua irmã mais nova.<br />

-Joley! É um rato. Deixem <strong>de</strong> me olhar <strong>de</strong>ssa forma. Libby vá <strong>de</strong>pressa.<br />

Nunca te vi tão lenta.<br />

-Sinto muito- murmurou Libby, um pequeno nevoeiro franzido apareceu em<br />

sua cara. -Só estava pensando em por que Prakenskii faria isto. Se ia atacar a<br />

alguma <strong>de</strong> nós com magia, por que não faz algo que realmente nos fizesse mal?<br />

-E o que tem as leis da magia?- perguntou Sarah. -Nos remontemos aos<br />

fundamentos.<br />

Hannah <strong>de</strong>u <strong>de</strong> ombros.<br />

-Sei o que quer dizer, mas dizer que a magia po<strong>de</strong> ser utilizada como<br />

<strong>de</strong>fesa e não como ataque não tem valor se isto está fazendo ele. A magia é<br />

natural e <strong>de</strong>veria ser utilizada sempre para o bem e não por proveito próprio,<br />

mas sabe muito bem que isso lhe po<strong>de</strong> dar a volta.<br />

-Mas não tem feito mal a ninguém- persistiu Libby.<br />

Joley esfregou a palma com o passar da coxa.<br />

-Fez-me mal.<br />

-Talvez não foi <strong>de</strong> propósito. Você lhe empurrou com magia e ele a<br />

<strong>de</strong>volveu. Isso é utilizar a magia como <strong>de</strong>fesa, não como ataque. Talvez não teve<br />

intenção <strong>de</strong> empurrar tão forte e resultou chamuscada. Curou sua mão, verda<strong>de</strong>?<br />

Por que o faria se realmente tinha intenção <strong>de</strong> te fazer dano?<br />

Joley franziu o cenho para Libby.<br />

-Não se atreva sequer a soar tão interessada nele. Jesus, Libby.<br />

Provavelmente agora esteja removendo um cal<strong>de</strong>irão e conjurando a algum<br />

<strong>de</strong>mônio do inferno. - esfregou-se a ponta do polegar sobre a ferida e<br />

estremeceu. -Ainda lhe sinto. É como se tivesse <strong>de</strong>ixado seus rastros sobre mim<br />

ou um pouco parecido. O<strong>de</strong>io-o.<br />

-Me <strong>de</strong>ixe ver. - Libby esten<strong>de</strong>u a mão para Joley.<br />

Joley <strong>de</strong>u um passo apressado para trás, embalando sua mão contra o<br />

coração.<br />

-Está bem, não é nada. Supõe-se que temos que nos concentrarmos em<br />

Abbey.<br />

Sarah soltou um pequeno gemido.


180<br />

-Jonas está subindo os <strong>de</strong>graus.<br />

Logo que <strong>de</strong>u a voz <strong>de</strong> alarme a porta principal se abriu e Jonas entrou em<br />

pernadas. Deteve-se abruptamente, observando as centenas <strong>de</strong> velas acesas, a<br />

pequena mesa colocada para o norte com o equipamento <strong>de</strong> Libby para um ritual,<br />

e as fortificações <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira antiga da Itália formando um círculo com a Abigail e<br />

Aleksan<strong>de</strong>r sentados no meio. Um semblante carrancudo se posou em sua face<br />

quando seu olhar caiu sobre Aleksan<strong>de</strong>r.<br />

-Não vão matar nenhuma galinha, verda<strong>de</strong>?- Saudou as irmãs Drake,<br />

fechando a porta com o pé. -Estive no Point Areia três vezes o mês passado<br />

comprovando queixa contra Lucinda e estou seguro <strong>de</strong> não querer nada disso<br />

aqui.<br />

-É muito engraçado, Jonas- disse Joley. - Como se nós pudéssemos fazer<br />

mal a um animal. - Soltou um bufo indignado.<br />

-Hannah sempre faz mal a meus chapéus- assinalou Jonas. -Comecei a<br />

comprá-los a granel. - colocou-se as mãos nos quadris e avaliou ao Aleksan<strong>de</strong>r<br />

com um pouco <strong>de</strong> diversão apesar <strong>de</strong> sua óbvia cautela. -É um homem valente,<br />

Senhor Volstov.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r lançou um breve sorriso.<br />

-Minha prometida insiste nestas estranhas cerimônias. - <strong>de</strong>u <strong>de</strong> ombros. -O<br />

que vou fazer?<br />

-Como vai a investigação?- perguntou Jonas. -Está perto <strong>de</strong> encontrar seus<br />

objetos <strong>de</strong> arte roubados?<br />

-Tenho algo. Quero consultar você sobre um par <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes. Talvez<br />

pu<strong>de</strong>sse me conce<strong>de</strong>r alguns minutos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> que acabemos aqui. E me<br />

po<strong>de</strong>ria informar sobre como vai sua investigação.<br />

Jonas lhe olhou com perspicácia.<br />

-Claro. Gene Dockins, o pescador que Abbey tirou da água, saiu do coma,<br />

mas não recorda nada absolutamente sobre o tiroteio ou o que conduziu até isso.<br />

Os doutores dizem que provavelmente nunca o fará.<br />

-Isso não é estranho- disse Libby. -Agrada-me ouvir que se recuperou.<br />

-Sim, aparentemente fez algum progresso bastante milagroso <strong>de</strong>pois que<br />

você o foi visitar esta manhã.<br />

-Libby!- Sarah a olhou fixamente. -Por isso não assistiu à festa do Frank.<br />

Deve ter ficado totalmente esgotada. Por que não nos disse isso?<br />

-Estou bem. Prometi a Marsha que lhe faria uma verificação. Os doutores<br />

lhe tinham dado um prognóstico muito pobre e não mostrava nenhum sinal <strong>de</strong><br />

sair do coma, assim foi quão mínimo podia fazer.<br />

-Podíamos ter te ajudado- disse Sarah.<br />

-Passei a tar<strong>de</strong> <strong>de</strong>scansando com os pés em alto - disse Libby. -<br />

Comecemos.<br />

-Está segura <strong>de</strong> que não está muito cansada?- perguntou Elle. -Posso<br />

assumir o controle por você. Acabo <strong>de</strong> comer todas as bolachas que fez Hannah<br />

esta tar<strong>de</strong>.<br />

-Bolachas?- ecoou Jonas. -Guardou-me alguma, Hannah?<br />

-Não o faz sempre?- respon<strong>de</strong>u Joley. -É a única forma <strong>de</strong> mate-la fora do<br />

cárcere. Sempre está ameaçando-a <strong>de</strong> prendê-la por algo.<br />

Jonas piscou um olho para Hannah.


181<br />

-É a única forma <strong>de</strong> conseguir bolachas. - Gesticulou para a cozinha. –<br />

Trouxe as fotos <strong>de</strong> tia Carol comigo. Vou dar uma olhada e comer as bolachas da<br />

Hannah enquanto todos vocês fazem o que seja que estão fazendo... e não me<br />

contem isso porque na realida<strong>de</strong> não quero sabê-lo.<br />

-Que ervas está usando, Libby?- perguntou Elle.<br />

-Raiz <strong>de</strong> ágüe para proteger; malva, no caso <strong>de</strong> Prakenskii estar utilizando<br />

magia negra. É uma ajuda muito efetiva. E é obvio vervena. Você gostaria <strong>de</strong><br />

observar o que faço e ver como preparo tudo?<br />

Elle assentiu com a cabeça e se aproximou enquanto Libby ficava em pé<br />

ante a mesa que olhava para o norte, que tinha preparado como seu altar. Não<br />

consi<strong>de</strong>ravam sua prática uma religião; entretanto, referiam-se sempre a sua<br />

plataforma <strong>de</strong> trabalho como um altar. Libby colocou a mescla <strong>de</strong> ervas no centro<br />

da mesa com velas a cada lado.<br />

-Estou usando velas púrpura, brancas e azuis porque quero dar amparo a<br />

Abbey e curar- explicou. -Também vou alinhar as vibrações para incrementar sua<br />

efetivida<strong>de</strong>.<br />

-Algumas vezes posso ver as vibrações como um cometa. Sempre é assim?-<br />

perguntou Elle.<br />

Libby sacudiu a cabeça.<br />

-Algumas vezes po<strong>de</strong>m ser linhas <strong>de</strong>ntadas ou uma espécie <strong>de</strong> espiral. Uma<br />

vez que as vê ou as sente po<strong>de</strong> energizar as ervas. - Fez gestos às <strong>de</strong>mais e ao<br />

momento a habitação se imobilizou.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r sentiu uma rajada <strong>de</strong> adrenalina bombeando através <strong>de</strong> seu<br />

corpo. Era agudamente consciente <strong>de</strong> cada <strong>de</strong>talhe no quarto. A escuridão. As<br />

velas titilando ao redor <strong>de</strong> todos eles. A espera aumentava sua consciência. A<br />

eletricida<strong>de</strong> rangia e estalava através da habitação. A voz <strong>de</strong> Libby encheu o<br />

silêncio, um cântico harmonioso requerendo o po<strong>de</strong>r da terra, o vento, o fogo, e<br />

água. As irmãs Drake e sua tia lhe ofereciam apoio, com os olhos fechados,<br />

formando um círculo, com o Aleksan<strong>de</strong>r e Abigail <strong>de</strong>ntro. O ar foi cobrando<br />

intensida<strong>de</strong> com a eletricida<strong>de</strong> que parecia sair em certa medida <strong>de</strong> seus cabelos.<br />

Aleksandr fez uma profunda inspiração e lhe chegou a estranha<br />

combinação <strong>de</strong> fragrâncias das ervas, velas e incenso. O ar se espessou.<br />

Pequenas faíscas <strong>de</strong> ouro formaram um arco ao redor das Drake e nas pontas <strong>de</strong><br />

seus <strong>de</strong>dos, primeiro branco aceso e logo amarelo.<br />

O coração <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r se acelerou. Que as xícaras <strong>de</strong> chá flutuassem e<br />

gente dissesse a verda<strong>de</strong> era uma coisa, mas esta cerimônia era algo<br />

completamente distinto. O po<strong>de</strong>r crescia na habitação. Atraiu a mão <strong>de</strong> Abigail<br />

até seu coração e a manteve ali enquanto a casa chiava e trocava <strong>de</strong> posição<br />

como se estivesse cobrando vida. Sentiu algo estremecer-se e as pare<strong>de</strong>s<br />

pareceram expandir-se. Pequenos cometas <strong>de</strong> púrpura e azul cruzaram<br />

velozmente o teto, <strong>de</strong>pois se <strong>de</strong>svaneceram, só para reaparecer, fundindo-se<br />

paulatinamente, para pulsar com vívida intensida<strong>de</strong>.<br />

Os quadros da pare<strong>de</strong> que mostravam as irmãs Drake e seus antepassados<br />

começaram a sacudir-se ligeiramente. O cântico aumentou <strong>de</strong> volume e<br />

Aleksan<strong>de</strong>r estava seguro <strong>de</strong> que outras vozes se uniram a elas. Podia ouvir um<br />

som na distância, como o tinido <strong>de</strong> campainhas ao vento, as notas marcavam um


182<br />

tom estranhamente discordante que faziam que os cabelos <strong>de</strong> sua nuca e seus<br />

braços se arrepiassem.<br />

As cores giraram mais rápido, rabiscando-se juntas, as caudas dos cometas<br />

<strong>de</strong>ixavam faíscas no ar. As campainhas se fizeram mais ruidosas e mais claras.<br />

Uma chamada. Uma convocatória. Persistente. Reverente. A espera esticou os<br />

nós <strong>de</strong> seu estômago. Na entrada, sobre um <strong>de</strong>talhado mosaico, um movimento<br />

captou a atenção <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r. Formavam re<strong>de</strong>moinhos <strong>de</strong> sombras, elevandose<br />

dos azulejos, tomando forma enquanto emergiam. Mulheres. Um exército <strong>de</strong><br />

mulheres.<br />

Des<strong>de</strong> sete em sete saíram dos azulejos formando re<strong>de</strong>moinhos juntas em<br />

uma massa cinza relatório e logo dividindo-se em indivíduos bem <strong>de</strong>finidos. Eram<br />

transparentes um momento e sólidas ao seguinte. Mais e mais se uniram a elas,<br />

enchendo a habitação, permanecendo em pé solidamente atrás do círculo das<br />

irmãs Drake. As mulheres se acumularam, as vozes foram aumentando, as velas<br />

titilavam, o po<strong>de</strong>r ia aumentando, enchendo a habitação até que pareceu como se<br />

fosse impossível que coubesse nada mais.<br />

As mulheres sombrias se alinharam diretamente atrás <strong>de</strong> cada uma das<br />

irmãs Drake. As que estavam <strong>de</strong>trás <strong>de</strong> Libby levantavam os braços para a luz da<br />

lua que se <strong>de</strong>rramava pelas janelas, como fazia ela. As <strong>de</strong>mais estendiam as<br />

mãos umas para as outras e as mesmas faíscas se arqueavam das pontas <strong>de</strong><br />

seus <strong>de</strong>dos que das Drake. O último grupo formou um círculo protetor ao redor<br />

<strong>de</strong> todas elas.<br />

Libby <strong>de</strong>ixou cair seus braços e todas as sombras <strong>de</strong>trás <strong>de</strong>la seguiram o<br />

exemplo. Um silêncio sepulcral caiu sobre a habitação. Aleksan<strong>de</strong>r conteve o<br />

fôlego. Começando pela mulher mais próxima a Libby avançaram, aproximandose<br />

<strong>de</strong>la impossivelmente, sobrepondo-se a ela, fundindo-se com ela até que<br />

<strong>de</strong>sapareceram, <strong>de</strong>ixando só Libby. Jogou uma olhada ao redor. O mesmo<br />

processo se repetiu com cada uma das outras mulheres até que só as sete irmãs<br />

e Carol ficaram na habitação<br />

Outra vez esse momento <strong>de</strong> espera. As mulheres Drake elevaram os braços<br />

para a luz <strong>de</strong> lua e a quebra <strong>de</strong> onda <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r foi tremenda. Trouxe látegos <strong>de</strong><br />

eletricida<strong>de</strong> que dançaram com um branco ar<strong>de</strong>nte através da sala. Uma chama<br />

azulada <strong>de</strong>bruava cada látego. As caudas <strong>de</strong> luz rangente formaram re<strong>de</strong>moinhos<br />

através do ar e replicando pelo teto e <strong>de</strong>scendo pelas pare<strong>de</strong>s da casa,<br />

<strong>de</strong>slizando-se pelo chão para o círculo. Os látegos <strong>de</strong>ixavam atrás um filme<br />

luminescente, um fino recobrimento <strong>de</strong> arroxeado azulado sobre tudo o que<br />

tocava. A cor se propagou através do chão para o círculo <strong>de</strong> fortificações <strong>de</strong><br />

ma<strong>de</strong>ira e por um momento sentiu a carga elétrica passando através e sobre ele.<br />

Baixou o olhar para seus <strong>de</strong>dos, entrelaçados com os <strong>de</strong> Abbey, brilhando com<br />

essa mesma luz colorida.<br />

As campainhas se <strong>de</strong>svaneceram. A cor <strong>de</strong>caiu. As velas se apagaram em<br />

silêncio. Aleksan<strong>de</strong>r forçou o ar a atravessar seus pulmões. A tensão começou a<br />

gotejar <strong>de</strong>le e forçou seus músculos a relaxar-se. Não tinha sido consciente <strong>de</strong><br />

estar cobrindo parcialmente o corpo <strong>de</strong> Abigail com o próprio em um esforço por<br />

protegê-la do <strong>de</strong>sconhecido. Ela não tinha emitido nem um som, mas tinha um<br />

braço lhe ro<strong>de</strong>ando o pescoço.


183<br />

Jonas <strong>de</strong>u um golpe a um interruptor na pare<strong>de</strong>, alagando o local <strong>de</strong> luz.<br />

Apoiou um quadril contra o marco da porta e sorriu abertamente para<br />

Aleksan<strong>de</strong>r.<br />

-Bem-vindo à família Drake. - Ofereceu um molho <strong>de</strong> bolachas. -Tem fome?<br />

Abigail ficou <strong>de</strong> joelhos e emoldurou a face <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r com suas mãos.<br />

-Isto é o que sou, Sasha. Este é meu legado.<br />

-Essas mulheres...?- enfrentou muitos assassinos em sua vida, muitas<br />

situações perigosas, mas nenhuma lhe metido tanto medo no corpo como tinha<br />

feito esta cerimônia. Não sabia o que pensar ou sentir. Olhando ao redor a<br />

habitação parecia quase normal outra vez. Nada <strong>de</strong> cores. Nada <strong>de</strong> arcos <strong>de</strong><br />

eletricida<strong>de</strong>. As fortificações <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira tinham <strong>de</strong>saparecido, as velas já não<br />

estavam acesas. Inclusive a pequena mesa tinha <strong>de</strong>saparecido.<br />

-Minhas antepassadas.<br />

-Quando disse que a casa estava protegida, realmente o dizia literalmentedisse<br />

ele, sentindo-se ligeiramente aturdido. Inclusive vendo-o, sentia que era<br />

impossível compreen<strong>de</strong>r completamente o que tinha ocorrido.<br />

-Parece um pouco pálido- disse Jonas e cruzou a sala para puxar<br />

Aleksan<strong>de</strong>r e lhe pôr em pé. -Não trate <strong>de</strong> entendê-lo- aconselhou. -<br />

Simplesmente aceita-o.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r pôs em pé Abigail e a aproximou <strong>de</strong> seu corpo. Necessitava a<br />

tranqüilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sabê-la real e sólida contra ele.<br />

-Foi incrível. Não estou seguro <strong>de</strong> acreditar no que vi. -Esperou um<br />

batimento do coração. -O que acredito que vi.<br />

-Sente-se diferente, Abbey?- perguntou Libby. -Desapareceu a dor<br />

emocional?<br />

Abigail assentiu com a cabeça.<br />

-Diminuiu <strong>de</strong>ntro do círculo e agora <strong>de</strong>sapareceu - Sorriu para Aleksan<strong>de</strong>r. -<br />

E o que diz você? Sente-se melhor?<br />

-Sabia que estava sentindo sua dor. Não sei como soube, mas me afligiu.<br />

Acredito que a idéia <strong>de</strong> que eu podia ter feito mal a você, te causar tanta dor, era<br />

mais angustiante que outra coisa. Isso e pensar que não me daria outra<br />

oportunida<strong>de</strong>. - Inclinou a cabeça para lhe beijar a ponta do nariz. -Distraía-me<br />

muito.<br />

Sarah virou.<br />

-O que há dito?<br />

Aleksan<strong>de</strong>r levantou o olhar.<br />

-Quero outra oportunida<strong>de</strong> com Abbey.<br />

Sarah rechaçou a explicação.<br />

-Certo. Certo. Mas estava distraído. Por quê? O que estava fazendo?<br />

Joley riu dissimuladamente.<br />

-Admirando o "trabalho artístico" <strong>de</strong> Sylvia no fundo da galeria <strong>de</strong> Frank.<br />

De toda forma, o que estava fazendo ali? Essa habitação está fora dos limites.<br />

-Para todos exceto para a família Drake?- Aleksan<strong>de</strong>r elevou uma<br />

sobrancelha.<br />

Jonas olhou a um e à outra.<br />

-Por que estão todos tão interessados nesse lugar?


184<br />

-Queria dar uma olhada- admitiu Aleksan<strong>de</strong>r. -Sylvia se ofereceu e<br />

aproveitei a ocasião.<br />

-Quer dizer que expôs a sugestão- corrigiu Abigail.<br />

Ele <strong>de</strong>u <strong>de</strong> ombros.<br />

-Estava furiosa com você por alguma razão. Algo sobre seu ex-marido.<br />

Aparentemente esteve tentando voltar com ele. Ele estava na festa e viu seu<br />

bate-papo inocente com Ned Farmer. O que dizia não tinha muito sentido.<br />

Afirmava que seu ex-marido odiava uma erupção em sua face que Abigail era<br />

responsável e falar com o Farmer <strong>de</strong> algum modo provocava a erupção. Eu não vi<br />

nenhuma erupção.<br />

-Ned está casado- disse Hannah. -E ela tinha que estar paquerando se<br />

apareceu a erupção.<br />

-Acredito que a paquera é sua forma habitual <strong>de</strong> conversar com os homens,<br />

Hannah- disse Sarah. -Assim Aleksan<strong>de</strong>r entrou na parte <strong>de</strong> trás com a Sylvia<br />

procurando algo. O que?<br />

-Bom, Sylvia viu seu ex entrar lá. Não saiu, assim ao final quis ver o que<br />

estava tramando. Seguia falando disso assim é que não foi muito difícil lhe dar<br />

um pequeno empurrãozinho. Acreditei que po<strong>de</strong>ria obter algumas respostas.<br />

-Estava procurando pinturas roubadas- ofereceu Joley. -Encontramo-las. Ao<br />

menos acreditam que eram roubadas. Encontramos quatro em uma <strong>de</strong>spensa e<br />

tiramos fotos <strong>de</strong>las. Deveriam estar entre as fotos que trouxe Jonas.<br />

-Têm as fotos?- perguntou Aleksan<strong>de</strong>r.<br />

-Essas fotos são <strong>de</strong> arte roubada?- perguntou Jonas e voltou para a cozinha<br />

on<strong>de</strong> tinha estendido as fotos sobre a mesa <strong>de</strong> cozinha. O resto começou a lhe<br />

seguir.<br />

-Jonas!- A voz da Carol lhe repreen<strong>de</strong>u da cozinha. -<strong>de</strong>ixou cair miolos <strong>de</strong><br />

bolacha sobre elas.<br />

Sarah <strong>de</strong>teve Aleksan<strong>de</strong>r antes que pu<strong>de</strong>sse seguir os outros.<br />

-Quando sentiu a dor <strong>de</strong> Abigail, <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> investigar a parte traseira,<br />

verda<strong>de</strong>?<br />

-Abbey ou alguma das outras removeram o pó no quarto. Sylvia começou a<br />

espirrar. Eu sabia que elas estavam ali. Não elas, as Drake, ao princípio. Só sabia<br />

que não estávamos sozinhos e quando o pó formou re<strong>de</strong>moinhos ao redor <strong>de</strong> nós<br />

e Sylvia começou a espirrar incontrolavelmente, aproveitei a oportunida<strong>de</strong> para<br />

sair, mas tinha intenção <strong>de</strong> voltar mais tar<strong>de</strong> para dar uma olhada ao redor.<br />

-Porque suspeita do Frank?<br />

-Sei que está comprometido e também o homem que trabalha para ele,<br />

Chad Kingman. Queria encontrar provas e se Abigail tiver conseguido tirar fotos<br />

<strong>de</strong> pinturas roubadas estas po<strong>de</strong>m nos conduzir aos ladrões. Frank cantará. Não é<br />

um tipo duro.<br />

-Prakenskii po<strong>de</strong>ria ter estado mantendo você afastado <strong>de</strong>liberadamente<br />

<strong>de</strong>sse local?<br />

Isto lhe <strong>de</strong>teve. Abigail tinha estado escutando e <strong>de</strong>u meia volta.<br />

-Houve uma briga. Sei que viu as manchas <strong>de</strong> sangue. Pu<strong>de</strong>mos sentir<br />

todas as vibrações <strong>de</strong> violência. E estamos seguras <strong>de</strong> que essas pinturas são<br />

autênticas, percebia-se que eram antigas, não algo que Frank po<strong>de</strong>ria ter<br />

adquirido legalmente.


185<br />

-Se Prakenskii partiu realmente e sua tia Carol me disse que o tinha feito,<br />

como teria sabido que eu estava lá, ou que ia voltar para ela?- perguntou<br />

Aleksan<strong>de</strong>r.<br />

-Sarah algumas vezes sabe coisas.<br />

-Não como isto entretanto, Abigail- disse-lhe Sarah. -Não funciona assim.<br />

Não acredito que Prakenskii pu<strong>de</strong>sse havê-lo sabido sem estar presente. Deve ter<br />

visto você entrar e utilizou Abigail para te distrair e que não voltasse.<br />

-Sabemos que é bom movendo-se entre a multidão sem ser visto- disse<br />

Abbey. -Quero saber o que aconteceu com o Mason Fredrickson. Crê que era seu<br />

sangue e não do Chad? Se Sylvia lhe viu entrar mais cedo, mas nenhuma <strong>de</strong> nós<br />

lhe viu, aon<strong>de</strong> foi? Tia Carol disse que viu Prakenskii dar uma surra em Chad,<br />

mas Mason não estava em nenhuma parte. Esteve ali antes, viu algo que não<br />

<strong>de</strong>veria ter visto e lhe fizeram mal? Ou po<strong>de</strong>ria estar comprometido?<br />

-Há uma porta que sai ao beco on<strong>de</strong> chegam os caminhões <strong>de</strong> partilhadisse<br />

Aleksan<strong>de</strong>r.<br />

-E Manson e Chad são bons amigos. Foram juntos à escola- acrescentou<br />

Sarah. -Estou mais preocupada que Prakenskii parece estar influenciando<br />

sutilmente a todo mundo.<br />

Os três entraram na cozinha e Aleksan<strong>de</strong>r passou Abigail para furtar a<br />

última das bolachas do prato que tinha Jonas diante.<br />

-Prakenskii segue suas próprias regras. Não tenho nem idéia do que tem<br />

em sua agenda, mas posso lhes dizer, que seja o que seja o que está fazendo<br />

aqui não é exatamente o que Nikitin crê.<br />

-O que é isto?- Jonas agarrou uma foto da estátua <strong>de</strong> um homem nu e a<br />

empurrou para Hannah. -Suponho que esta é sua idéia <strong>de</strong> uma pintura roubada.<br />

Ela assentiu, lhe tirando a foto e passando-lhe a sua tia. Carol riu.<br />

-Joley, você tirou esta, verda<strong>de</strong>?<br />

Joley abriu os olhos inocentemente.<br />

-Não posso imaginar por que acreditaria que fui eu, tia Carol. Abbey e<br />

Hannah também estavam ali.<br />

Abigail olhou por cima as fotografias pulverizadas sobre a mesa e seu<br />

coração repentinamente começou a palpitar. Olhou fixamente a uma <strong>de</strong>las<br />

incredulamente, segura <strong>de</strong> que seus olhos a enganavam. A cara e o corpo lhe<br />

eram familiares, apareciam em seus pesa<strong>de</strong>los, estava segura disso. Inclinou-se<br />

mais perto, quase temendo tocar a foto.<br />

-Abbey?- Aleksan<strong>de</strong>r passou o braço ao redor <strong>de</strong>la. -O que acontece?<br />

Parece que viu um fantasma.<br />

Abigail passou além <strong>de</strong> Hannah para agarrar a foto e on<strong>de</strong>á-la para o Jonas<br />

e Aleksan<strong>de</strong>r.<br />

-Este é um dos homens que dispararam em Gene e Danilov. Sei que é ele.<br />

Estou segura disso.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r a tirou da mão.<br />

-Quem fez esta?- Havia surpresa em sua cara e em seus olhos.<br />

Carol levantou a mão.<br />

-Eu. As damas do Clube <strong>de</strong> Chapéu Vermelho <strong>de</strong>cidiram que íamos visitar<br />

algumas das praias privadas como uma espécie <strong>de</strong> <strong>de</strong>safio contra a proprieda<strong>de</strong><br />

privada das praias. Estou bastante segura que ele se hospedava na velha casa


186<br />

Hogan. Vi-lhe <strong>de</strong>scer os <strong>de</strong>graus do alpendre e sabia que estávamos por ali. Tirei<br />

um par <strong>de</strong> fotos <strong>de</strong>le usando o zoom. Esta é genial, não é?<br />

-Invadiu uma proprieda<strong>de</strong> privada- enfatizou Jonas. -E o fez malditamente<br />

<strong>de</strong> propósito, Tia Carol. Sabia que os assassinos eram forasteiros e que<br />

provavelmente alugavam uma das casas mais isoladas da praia, verda<strong>de</strong>?<br />

-Bom, querido, po<strong>de</strong> ser que me tenha ocorrido. Se eu fosse alugar uma<br />

casa e não quisesse que a lei me apanhasse, usaria a algum outro para<br />

administrar o aluguel. Como <strong>de</strong>mônios po<strong>de</strong>ria encontrá-los? Às damas adoraram<br />

a idéia <strong>de</strong> invadir as praias privadas. Dançamos e cantamos e entramos correndo<br />

<strong>de</strong>scalçar ao mar! Foi tão divertido. E é obvio tomei um montão <strong>de</strong> fotos para<br />

nossos álbuns.<br />

-Carol, não po<strong>de</strong> estar fazendo este tipo <strong>de</strong> coisas. Não é uma espiã, pelo<br />

amor <strong>de</strong> Deus. E não po<strong>de</strong> levar com você Inez e às <strong>de</strong>mais em uma <strong>de</strong> suas<br />

pequenas aventuras. - Jonas passou as mãos pelos cabelos. -Permanece fora<br />

disto.<br />

-Só diga obrigado, Jonas- disse Joley. -Conseguiu a direção para você.<br />

Abigail escutava distraída, a rixa que com freqüência estalava entre Jonas e<br />

sua família. Sua atenção estava em Aleksan<strong>de</strong>r.<br />

-O que acontece? Quem é este homem?<br />

-Leonid Ignatev. Está aqui, nos Estados Unidos.<br />

-Isso o que quer dizer?- O coração <strong>de</strong> Abigail começou a palpitar.<br />

-Não estaria aqui por obras <strong>de</strong> arte roubadas. - Levantou o olhar para<br />

Jonas. -Acredito que sua investigação <strong>de</strong> assassinato e a minhas sobre obras <strong>de</strong><br />

arte roubadas se acabam <strong>de</strong> cruzar.<br />

-Quem é este homem?<br />

-Era membro <strong>de</strong> alta fila do <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> polícia com aspirações<br />

políticas. Quando Abigail e eu nos conhecemos, faz quatro anos, minha carreira<br />

tinha superado a sua e eu sem intenção, no transcurso <strong>de</strong> várias investigações,<br />

pisei-lhe nos pés. Sabia que não estava limpo e que tinha uma mão em negócios<br />

turvos na cida<strong>de</strong>. - Aleksan<strong>de</strong>r <strong>de</strong>u <strong>de</strong> ombros. -Po<strong>de</strong> ser uma forma <strong>de</strong> vida, e<br />

há muitos como ele, não lhe dava muita importância. Teria-lhe <strong>de</strong>ixado em paz<br />

incluso sabendo que estava profundamente metido na máfia se tivesse se<br />

mantido fora <strong>de</strong> meu caminho.<br />

-Mas não o fez- apressou Jonas.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r atraiu Abigail para ele.<br />

-Não, não o fez. Foi por minha carreira e por Abigail. Não tive mais escolha<br />

que acabar com ele. Foi a única forma <strong>de</strong> salvar a vida <strong>de</strong> Abbey. Seus homens a<br />

teriam matado quando tivessem obtido o que queriam <strong>de</strong>la.<br />

-O que queriam?- perguntou Sarah.<br />

-Que me entregasse. Se tivesse dado meu nome eu teria perdido tudo, mas<br />

se manteve firme e quando me inteirei do que estava ocorrendo, movi-me<br />

rapidamente para liberá-la e <strong>de</strong>struir a ele. Vários <strong>de</strong> seus homens morreram e<br />

foram <strong>de</strong>scobertas provas contra ele. Teve que fugir para sobreviver. Pôs preço a<br />

minha cabeça utilizando Nikitin como agente. Sabemos que Nikitin é muito<br />

violento e pertence à máfia, mas nunca fomos capazes <strong>de</strong> conseguir nada<br />

absolutamente contra ele. Várias vezes enviaram agentes encobertos e todos<br />

apareceram mortos.


187<br />

Jonas esfregou a mandíbula.<br />

-Estivemos vigiando este Nikitin. Tenho um arquivo sobre ele <strong>de</strong> uns poucos<br />

centímetros <strong>de</strong> grossura, mas não <strong>de</strong>u nem um só passo em falso e está no certo,<br />

não há nada com o que lhe acusar. Atua como se estivesse <strong>de</strong> férias<br />

simplesmente <strong>de</strong>sfrutando da costa. Freqüenta os melhores restaurantes e<br />

compra em todas as lojas.<br />

-E faz contatos- assinalou Aleksan<strong>de</strong>r. -Po<strong>de</strong> ser muito encantador, mas<br />

não há dúvida <strong>de</strong> que é um tubarão. - Tamborilou a fotografia. -Este traz entre<br />

mãos algo muito mau. Nunca per<strong>de</strong>ria o tempo com arte roubada. O que temos<br />

aqui é uma rota estabelecida e o que for que estão trazendo para o país por esta<br />

rota está quente e chegará logo. Estão dispostos a matar para proteger o que<br />

for. Nikitin está até o pescoço nisto, ele <strong>de</strong>ve ser a ligação, mas Ignatev é quase<br />

com segurança a pessoa ao cargo.<br />

-Está segura <strong>de</strong> que o homem que aparece nessa foto era um dos que<br />

estava no atracadouro?- perguntou Jonas. -Estava escuro.<br />

Abigail assentiu.<br />

-Absolutamente. Havia lua cheia e não estavam tão longe <strong>de</strong> mim.<br />

-Se Ignatev estava ali para recolher algo e houve um problema, por<br />

pequeno que fora, <strong>de</strong>ve haver-se zangado muito. Não tem paciência e resolve<br />

seus problemas com violência.<br />

-O que será isso tão importante que vão trazer?- perguntou Carol.<br />

O olhar <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r se <strong>de</strong>sviou para o Jonas. Seus olhos se encontraram<br />

sobre a cabeça <strong>de</strong> Carol. Jonas assentiu muito ligeiramente. Aleksan<strong>de</strong>r <strong>de</strong>ixou<br />

escapar o fôlego.<br />

-Ignatev estava envolto com um grupo que utilizava táticas terroristas para<br />

tentar <strong>de</strong>rrocar ao governo. Sei que foi a<strong>de</strong>strado na África e tem laços com<br />

vários grupos terroristas. Suponho que está <strong>de</strong>volvendo um favor a alguém e<br />

fazendo-se muito rico <strong>de</strong> passagem. Para sair da Rússia <strong>de</strong> forma segura, teve<br />

que usar suas conexões e essa classe <strong>de</strong> favores sempre exige algo em troca.<br />

Necessitaria dinheiro para voltar a levantar-se.<br />

Abigail olhou <strong>de</strong> uma cara sombria a outra. Voltou-se para Sarah. Sarah<br />

parecia assustada.<br />

-Sasha, crê que está trazendo uma bomba <strong>de</strong> algum tipo?<br />

O braço <strong>de</strong>le a aproximou ainda mais e a beijou na testa.<br />

-Acredito que vai atrair uma bomba suja. Ignatev está aqui para recebê-la e<br />

passá-la a uma toupeira. Nunca a usaria ele mesmo, mas estaria em posição <strong>de</strong><br />

não ter eleição se lhe pediram que a trouxesse a aqui. Nikitin conhecia a rota<br />

para as obras <strong>de</strong> arte roubadas, <strong>de</strong>ve estar funcionando durante anos, assim<br />

quando Ignatev se aproximou, naturalmente a escolheu. Infelizmente, estávamos<br />

em meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> nossa investigação e Danilov estava já em posição encoberta. Não<br />

sabiam <strong>de</strong>le ou <strong>de</strong> que a Interpol controlava esta costa.<br />

-Não sabe com segurança- disse Joley, sua mão se dirigiu a sua garganta.<br />

Hannah soltou um pequeno som <strong>de</strong> angústia e Jonas esten<strong>de</strong>u o braço e lhe<br />

acariciou o braço para tranqüilizá-la.<br />

-Os <strong>de</strong>teremos, agora que Volstov está trabalhando comigo. - Franziu o<br />

cenho. -Por que está trabalhando comigo? Esteve respon<strong>de</strong>ndo com evasivas todo<br />

o tempo. Por que a mudança repentina?


188<br />

-Depois que Abigail e eu nos casemos, vou necessitar um trabalho e alguém<br />

a meu favor- disse Aleksan<strong>de</strong>r.<br />

Abigail fez uma careta e pôs os olhos em branco para suas irmãs, mas<br />

guardou silêncio. Aleksan<strong>de</strong>r podia ter injetado um rastro <strong>de</strong> diversão em sua<br />

voz, mas falava a sério<br />

Jonas lhe avaliou durante um longo momento. Abigail podia ouvir o relógio<br />

fazendo tic-tac no silencioso da habitação enquanto Jonas sopesava sua reação.<br />

-Um trabalho, não é? Tem algumas habilida<strong>de</strong>s que po<strong>de</strong>riam ser úteis.<br />

-Umas quantas- esteve <strong>de</strong> acordo Aleksan<strong>de</strong>r.<br />

Joley e Abigail trocaram um sorriso rápido. Os homens sempre pareciam<br />

grunhir e soprar ao redor dos outros, arrepiando-se por nada e <strong>de</strong> repente se<br />

faziam companheiros nos momentos mais improváveis.<br />

-Tia Carol- Jonas fixou sua atenção na mulher mais velha. -Realmente tem<br />

que me escutar esta vez. Não quero que espie a ninguém mais. Isto é muito<br />

perigoso. Po<strong>de</strong> ver por tudo o que havemos dito que correu perigo o notasse ou<br />

não enquanto brincava <strong>de</strong> James Bond. Tem que me dar sua palavra <strong>de</strong> que não<br />

andará espreitando por aí com sua câmara escavando no ninho <strong>de</strong> vespas.<br />

-Eu nunca ando espreitando, querido- disse Carol.<br />

-Tia Carol- insistiu Sara, com sua voz mais severa. -Jonas tem razão esta<br />

vez.<br />

-Esta vez- resmungou Hannah enquanto baixava o olhar para uma das<br />

fotografias.<br />

Jonas franziu o cenho sombriamente, lhe arrebatando a foto da estátua nua<br />

e enrugando-a em uma pequena bola.<br />

-Não tem necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> olhar esta tolice. - Parecia exasperado. -E o digo a<br />

sério, tia Carol, não mais bisbilhotar por aí.<br />

-Seguro que não vou fazer algo tão tolo. - Carol lhe sorriu abertamente. -<br />

Mas tem que admiti-lo, solucionei o caso!<br />

Aplacando-se, Jonas <strong>de</strong>slizou o braço ao redor <strong>de</strong>la e a beijou na cabeça.<br />

-Fez. Agora tenho os cabelos cinza, mas <strong>de</strong>finitivamente nos proporcionou<br />

uma informação muito importante.<br />

-Voltarei para minha casa, farei algumas pesquisas imediatamente e verei<br />

que dados po<strong>de</strong> me proporcionar a Interpol sobre movimentos recentes <strong>de</strong><br />

materiais necessários para uma bomba. Também comprovarei os cargueiros que<br />

se aproximarão da costa nos próximos dias- disse Aleksan<strong>de</strong>r. -Harrington, não<br />

vá atrás <strong>de</strong>sta gente sozinho. Nikitin é perigoso e tem com ele algumas pessoas<br />

que o são inclusive mais. Ignatev é uma serpente venenosa.<br />

-Não posso me mover até que tenha algo mais sólido- disse Jonas. -Agora<br />

mesmo, tudo é especulação.<br />

-Levo Abigail para casa comigo- anunciou Aleksan<strong>de</strong>r às irmãs Drake. -<br />

Quando retornar, lhe peçam que mostre o anel.


189<br />

Capítulo - 16<br />

-O que quis dizer ao Jonas?- Perguntou-lhe Abigail enquanto lançava sua<br />

bolsa sobre o sofá <strong>de</strong> couro suave e se girava para lhe enfrentar.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r fechou a porta <strong>de</strong> sua casa alugada da praia e passou a chave.<br />

-Normalmente digo o que quero dizer, baushki-bau. A que se refere<br />

exatamente?<br />

-À parte <strong>de</strong> que quando nos casarmos necessitará <strong>de</strong> um trabalho.<br />

-Não sou in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte economicamente e certamente não irei viver com<br />

seu dinheiro. Eu gosto <strong>de</strong> trabalhar- replicou ele.<br />

Seu olhar estava fixo nele. Brilhante, meio esperançosa, meio assustada.<br />

Parecia-lhe tão bela, ali esperando. Podia ver como subia e baixava seu peito, a<br />

forma em que seus seios se esticavam contra a fina seda do top. Parecia uma<br />

dama elegante, ainda com sua roupa <strong>de</strong> festa. Desejava-a como sempre fazia<br />

assim que estavam a sós. Sempre lhe golpeava assim, o <strong>de</strong>sejo cru e intenso e<br />

tão forte que lhe sacudia. Alguma vez se incomodava em escon<strong>de</strong>r-lhe isso mas<br />

do que serviria? Tinha tanto po<strong>de</strong>r sobre ele, sobre seu corpo, sobre seu coração.<br />

Ela lambeu os lábios, esse pequeno golpe <strong>de</strong> sua língua lhe fez gemer.<br />

-Aqui? Estaria disposto a trabalhar aqui?<br />

-Acredito que é pessoa non grata em meu país natal- apontou ele. -<br />

Po<strong>de</strong>mos viver on<strong>de</strong> você queira, mas acredito que aqui é on<strong>de</strong> é mais feliz.<br />

Os lábios <strong>de</strong>la se curvaram, tremeram, mas conteve o sorriso, ainda<br />

temendo muito acreditar-lhe<br />

-Viajo muito por meu trabalho.<br />

-Eu gosto <strong>de</strong> viajar.


190<br />

Tremia-lhe a boca e pressionou os <strong>de</strong>dos sobre ela.<br />

-Diz a sério?<br />

-Sim lyublyu tibya. Amo-te em qualquer idioma, Abigail. Em qualquer lugar<br />

que esteja sua casa, está a minha.<br />

-Mas você ama muito seu país.<br />

-Isso nunca mudará. Que viva aqui ou em uma ilha em qualquer parte não<br />

troca quem sou ou <strong>de</strong> on<strong>de</strong> venho. Sempre amarei meu país, mas isso não quer<br />

dizer que não possa amar outro igualmente. Você é a pessoa mais importante da<br />

minha vida, Abbey. Tentei viver sem você. Eu não gostei.<br />

-Está seguro, Sasha? Muito, muito seguro?- A cor <strong>de</strong>sapareceu <strong>de</strong> sua cara.<br />

-Não po<strong>de</strong>ria suportar te per<strong>de</strong>r outra vez. Digo-o a sério. Pensa-o antes <strong>de</strong><br />

respon<strong>de</strong>r. Somos muito diferentes. E você po<strong>de</strong> ser muito cruel às vezes. Não<br />

estou segura <strong>de</strong> que sejamos capazes <strong>de</strong> conviver durante muito tempo.<br />

-Sou incapaz <strong>de</strong> viver sem você, Abbey, assim encontraremos a maneira<br />

<strong>de</strong> fazê-lo funcionar. Assim são as coisas.<br />

Estudou sua cara como tentando ver além <strong>de</strong> sua expressão o que jazia<br />

mais profundamente. Ele havia dito a pura verda<strong>de</strong> e contava com o fato <strong>de</strong> que<br />

ela era uma mulher que reconhecia a verda<strong>de</strong> quando a ouvia. Tomou uns<br />

instantes para acreditar-lhe<br />

O coração saía do peito <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r e sentia os familiares nós em seu<br />

estômago. E então a alegria iluminou a face <strong>de</strong>la, seus olhos, e pô<strong>de</strong> respirar<br />

outra vez.<br />

Abigail se lançou sobre ele, cruzando a distância que os separava com um<br />

par <strong>de</strong> saltos. Aleksan<strong>de</strong>r a apanhou, sua boca encontrando a <strong>de</strong>la, suas mãos lhe<br />

arrancando a roupa. Desceu-lhe <strong>de</strong> um puxão a jaqueta pelos braços e arrancou<br />

três botões <strong>de</strong> sua blusa <strong>de</strong> seda. Abbey foi pior, rasgou-lhe a camisa fazendo<br />

que todos os botões se pulverizassem em todas as direções. Ele <strong>de</strong>sejava tocá-la,<br />

tocar essa suave pele acetinada que lhe punha tão selvagem. Sempre o fazia<br />

ar<strong>de</strong>r sozinho <strong>de</strong> saber que estava tão ansiosa por ele, <strong>de</strong>slizando as mãos para<br />

cima por seu estômago e peito, a boca frenética sobre a sua, pequenos sons <strong>de</strong><br />

loucura emergindo-se <strong>de</strong> sua garganta.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r lhe atirou as calças baixando-as pelos quadris, insistindo-a a<br />

que saísse <strong>de</strong>las. Ela tirou os sapatos <strong>de</strong> salto e permitiu que lhe tirasse a roupa.<br />

Fez girar aproximando-a e a colocou contra a pare<strong>de</strong>, aprisionando-a. A blusa <strong>de</strong><br />

seda branca ficou totalmente aberta, lhe proporcionando uma tentadora visão <strong>de</strong><br />

seus seios cheios que se sobressaíam através do sutiã cor carne. Uma simples<br />

tira negra cobria só uma fração <strong>de</strong> seus apertados cachos vermelhos e três tiras<br />

formando um V embalavam a parte alta <strong>de</strong> suas ná<strong>de</strong>gas.<br />

A boca <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r foi áspera e ávida em seu <strong>de</strong>sejo pela <strong>de</strong>la. Ela se<br />

entregava, mas não era suficiente. Uma parte <strong>de</strong>le estava furiosa com ela, furioso<br />

com ela por esses quatro longos anos passados e por que lhe tivesse <strong>de</strong>ixado<br />

sozinho. Forçando-o a estar sem ela. Simplesmente partiu e não olhou atrás.<br />

Ficou só em um inferno em vida, enquanto viajava pelo mundo fazendo o que<br />

fosse que fizesse. Tirou-lhe os passadores astutamente colocados em sua<br />

vermelha cabeleira a fim <strong>de</strong> que esta se <strong>de</strong>sabasse grosseiramente <strong>de</strong>spenteada,<br />

justo como adorava.


191<br />

-Me diga que me ama. - Or<strong>de</strong>nou-lhe bruscamente enquanto sua boca<br />

abandonava a <strong>de</strong>la para lhe encontrar a garganta, lambendo e chupando sua pele<br />

suave. Deixou um rastro <strong>de</strong> beijos para baixo, até que seus <strong>de</strong>ntes encontraram<br />

um sensível mamilo e a arqueou contra ele, com a cabeça arremessada para trás<br />

e seu fôlego convertido em pequenos ofegos.<br />

Não era suficiente, sua rendição, sua oferenda. Tinha sido <strong>de</strong>la, seu corpo<br />

entregue a ele e logo tinha tirado. Lambeu e sugou nos mamilos, sua mão que se<br />

<strong>de</strong>slizou sobre o estômago para o belo púbico avermelhado. Diminutas gotas <strong>de</strong><br />

umida<strong>de</strong> lhe <strong>de</strong>ram bem-vinda.<br />

-Maldita seja, Abbey, diga-me isso, diga-me isso em voz alta e será melhor<br />

que o diga a sério esta vez.<br />

Ela lançou um grito quando a boca tomou posse <strong>de</strong> seu seio, sugando, seus<br />

<strong>de</strong>ntes arranhando-a gentilmente, pequenos beliscões e <strong>de</strong>ntadas brincalhonas.<br />

Afundou os <strong>de</strong>dos em sua cintura enquanto a mantinha sujeita contra a pare<strong>de</strong>.<br />

Ela tentava lhe tirar a roupa; suas mãos foram para o zíper da calça e sentiu a<br />

sensação <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>dos roçarem contra ele, os gritos roucos, e a úmida vagina<br />

quase lhe voltaram louco. Só Abbey podia <strong>de</strong>struir todo seu auto controle. Só seu<br />

corpo lhe voltava louco <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo.<br />

Estava <strong>de</strong>sesperado por ela, <strong>de</strong>sesperado por sepultar-se em sua ar<strong>de</strong>nte e<br />

apertada vagina, por notá-la tão úmida e pronta para ele. Saber que lhe<br />

necessitava tanto como ele necessitava a ela. Queria ver seus olhos empanados<br />

pela luxúria enquanto conduzia seu corpo até quase a liberação uma e outra vez.<br />

Queria saber que seus pequenos gritos <strong>de</strong>sesperados eram só por ele.<br />

-Se apresse, Sasha. - Logo que pô<strong>de</strong> pronunciar as palavras, ofegando<br />

enquanto tentava tirar-lhe a calça.- Não posso esperar para te sentir <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

mim.<br />

Encantava-o a pequena tanga, mas tinha que <strong>de</strong>saparecer. Puxou a fina tira<br />

<strong>de</strong> tecido arrancando-lhe do corpo e <strong>de</strong>ixando-a cair <strong>de</strong>scuidadamente a um lado<br />

enquanto ficava <strong>de</strong> joelhos e lhe separava as coxas.<br />

-Maldita seja, Abbey, tem a menor idéia do muito que senti sua falta?<br />

Quanto senti falta <strong>de</strong> seu sabor? A sensação <strong>de</strong> ter você a meu redor? A outra<br />

noite não foi suficiente. Toda uma vida nunca será suficiente.<br />

Os <strong>de</strong>dos <strong>de</strong>la estavam enterrados em seus cabelos, tentava puxá-lo para<br />

po<strong>de</strong>r aproximar-se, mas as mãos <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r capturaram as suaves curvas <strong>de</strong><br />

seu traseiro e sua língua lambeu sobre e <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la. Gritou, seu corpo saltou<br />

entre as mãos <strong>de</strong>le, mas a sujeitou firmemente, seus <strong>de</strong>dos a massageavam<br />

enquanto lambia seu calor e seu fogo. Tinha sonhado com isto noite atrás <strong>de</strong><br />

noite, <strong>de</strong>spertando com o corpo quente e o calor <strong>de</strong>la ainda em sua boca. Ela<br />

chegou, o orgasmo a atravessou, lhe <strong>de</strong>ixando as pernas totalmente frouxas.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r a agarrou pela cintura e a elevou em seus fortes braços,<br />

apertando-a contra a pare<strong>de</strong> e afundando-se nela duramente, sem preâmbulos,<br />

enterrando-se profundamente em sua latente vagina. Ela era ferozmente ar<strong>de</strong>nte.<br />

Mais excitada do que a havia sentido nunca antes. Suas mãos foram ru<strong>de</strong>s em<br />

suas <strong>de</strong>mandas, mas Abbey o tomou em seu interior, ofegando, pedindo mais a<br />

gritos, cravando as unhas profundamente, jogando a cabeça para trás e seus<br />

seios bamboleando-se com cada duro impulso dos quadris <strong>de</strong>le.


192<br />

Ali estava, esse olhar vidrado <strong>de</strong> absoluta rendição, <strong>de</strong> êxtase, que lhe<br />

cativava. Ardia por ele, emparelhando suas ferozes necessida<strong>de</strong>s com as suas<br />

próprias, lhe oferecendo seu corpo como refúgio, como sua zona <strong>de</strong> jogo, como<br />

um instrumento <strong>de</strong> amor intenso. O dava tudo e ninguém nunca tinha feito isso<br />

por ele.<br />

As pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sua vagina pulsavam e lhe aferravam fortemente, tão ávidas<br />

<strong>de</strong>le como ele o estava <strong>de</strong>la. Inclinou-se para frente, tomando sua boca, um beijo<br />

tão faminto como sua ereção, sua necessida<strong>de</strong> era tão gran<strong>de</strong> que resultava<br />

brutal em seus impulsos. Ela gritou outra vez, lhe alagando com nata quente, as<br />

pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sua vagina lhe or<strong>de</strong>nhavam e o aferravam, mas ele se negava a<br />

chegar.<br />

Colocou-a no chão, enterrado profundamente em seu corpo, montando-a<br />

dura, rápida e profundamente, sua face estava gravada por linhas <strong>de</strong> tensão, <strong>de</strong><br />

excitação e prazer.<br />

-Sasha. - Ela ofegou seu nome, elevando-se para igualar cada impulso com<br />

outro próprio. Não podia colher fôlego quando orgasmo atrás <strong>de</strong> orgasmo a<br />

transpassavam. A sensação rasgou seu corpo, sua vagina, seu útero, subiu<br />

através do estômago até seus seios. Seu corpo inteiro pareceu pulsar, pulsar e<br />

fraturar-se.<br />

-Mais. Necessito mais <strong>de</strong> você. - Ele disse as palavras entre <strong>de</strong>ntes. Não<br />

tinha nem idéia do que apaziguaria a terrível dor <strong>de</strong> seu coração. Mas a queria<br />

totalmente entregue entre seus braços, submetida a cada uma <strong>de</strong> suas<br />

<strong>de</strong>mandas, gritando seu nome uma e outra vez e admitindo que lhe amava.<br />

Ficando <strong>de</strong> joelhos entre suas coxas, lhe separou mais as pernas,<br />

observando a forma em que se uniam, observando seu corpo movendo-se <strong>de</strong>ntro<br />

e fora <strong>de</strong>la. Estava tão molhada, tão quente, seus peitos túrgidos e seus mamilos<br />

incrivelmente eretos. Levantou-lhe os joelhos ainda mais alto para ter ângulo<br />

para pressionar com firmeza contra seu clitóris.<br />

O corpo <strong>de</strong>la estremecia <strong>de</strong> prazer, quase lhe levando com ela enquanto<br />

ultrapassado <strong>de</strong> novo a beira, o orgasmo foi forte, mas ele se conteve,<br />

imobilizando seu corpo, sujeitando-a contra ele <strong>de</strong> tal forma que podia sentir a<br />

tensão <strong>de</strong> seus testículos enquanto repousavam contra a curva das ná<strong>de</strong>gas <strong>de</strong>la.<br />

Acariciou com seus <strong>de</strong>dos, sentindo-a saltar em resposta. Seus punhos tratavam<br />

<strong>de</strong> cravar-se no chão, <strong>de</strong>sesperada por encontrar algo ao que segurar. Retorceuse<br />

abaixo <strong>de</strong>le, gemendo brandamente, lhe suplicando.<br />

Ele se inclinou para frente para lhe murmurar, ar<strong>de</strong>ntes palavras<br />

apaixonadas, todas as coisas que tinha tido sauda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fazer com ela, todas as<br />

coisas que tinha intenção <strong>de</strong> fazer. Todas as formas em que a tomaria. Quanto<br />

<strong>de</strong>sejava sua boca, tão formosa, tão quente e apertada sobre ele. Cada palavra<br />

erótica enviava estremecimentos <strong>de</strong> espera através <strong>de</strong> seu corpo fazendo que<br />

seus músculos se esticassem mais, fazendo que as pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sua vagina<br />

pulsassem com fogo e ar<strong>de</strong>nte líquido.<br />

-Diga que me ama, Abbey. -disse-lhe outra vez.<br />

Ela queria agüentar. Sabia o que ele faria, como reagiria exatamente a sua<br />

teimosa negativa. Ele era muito exigente ao fazer amor e gostava mais quando<br />

era assim, ru<strong>de</strong>, insistente e criativo. Estava grosso, comprido e tão<br />

en<strong>de</strong>moniadamente duro que se sentia estirada e cheia. Ele estava ativando cada


193<br />

terminação nervosa que tinha. Seus <strong>de</strong>dos estavam ocupados, acariciando,<br />

morando profundamente, brincando e atormentando; inclusive enquanto<br />

ocasionalmente se inclinava sobre ela para utilizar os <strong>de</strong>ntes para entregar uma<br />

série <strong>de</strong> pequenas <strong>de</strong>ntadas, sua língua seguia aliviando as diminutas espetadas<br />

<strong>de</strong> dor.<br />

Empurrou nela tão profundamente que pô<strong>de</strong> sentir a grossa cabeça<br />

topando-se contra sua matriz. A face <strong>de</strong>le estava esculpida com intenção, com<br />

<strong>de</strong>sejo, seu corpo po<strong>de</strong>roso empurrava com força e profundamente, repetidas<br />

vezes, conduzindo-a mais e mais perto da beirada do êxtase.<br />

-Diga-me isso - disse ele, sua expressão se voltou selvagem.<br />

Ela não podia suportar a dor em seus olhos. Sua cara era áspera e escura e<br />

seus olhos eram como duas tormentas. Necessitava-a. Estava cru e sério e tão<br />

intenso que não podia lhe negar nada. Nem sequer a verda<strong>de</strong>.<br />

-Atemoriza-me o muito que te amo- admitiu ela.<br />

Ele ficou imóvel. Enterrado profundamente nela, sua sedosa vagina um<br />

punho que lhe aferrava, seu corpo suave em sinal <strong>de</strong> rendição abaixo <strong>de</strong>le, ficou<br />

com o olhar fixo nos olhos <strong>de</strong>la. Os lábios estavam machucados por seus beijos,<br />

os seios rosados, os mamilos dois duros picos, e os olhos estavam meio aturdidos<br />

pelo <strong>de</strong>sejo, mas viu mais à frente do frenesi selvagem <strong>de</strong> calor e luxúria que<br />

compartilhavam. Viu-o claramente nas profundida<strong>de</strong>s dos olhos <strong>de</strong>la.<br />

-Abbey- sussurrou seu nome.<br />

Ela sacudiu a cabeça.<br />

-Desejo-te tanto que algumas vezes não posso respirar, ou pensar<br />

corretamente. Não me importa o que está bem ou mau. Esqueço-me do futuro,<br />

do passado, <strong>de</strong> tudo, porque te <strong>de</strong>sejo. Desejo-te tão profundamente enterrado<br />

em mim que nunca volte a sair. Quero estar estirada e cheia e cair adormecida<br />

com você me beijando e me abraçando e <strong>de</strong>spertar com você me lambendo como<br />

um caramelo, como se nunca fosse ter o suficiente <strong>de</strong> mim. O que mais me aterra<br />

do mundo é te amar, Sasha, porque não sei o que faria sem você.<br />

Ele inclinou a cabeça e encontrou sua boca, beijando-a uma e outra vez,<br />

tratando <strong>de</strong> apagar a dor <strong>de</strong> sua voz e o medo <strong>de</strong> seu coração. Sua língua se<br />

enredou com a <strong>de</strong>le, um baile <strong>de</strong> amor que rapidamente aumentou em ardor e<br />

<strong>de</strong>sejo. Seus quadris começaram <strong>de</strong> novo um ritmo lento e sedutor. Ele se<br />

endireitou e lhe colocou os tornozelos sobre seus ombros.<br />

-Está a salvo comigo.<br />

Abigail fechou os olhos quando o corpo <strong>de</strong>le se <strong>de</strong>slizou quase fora do <strong>de</strong>la<br />

e logo voltou a <strong>de</strong>slizar-se profundamente em seu interior com um duro golpe. O<br />

calor começou a acumular-se, propagando-se como um fogo incontrolado, seu<br />

corpo serpenteava cada vez mais e mais apertado enquanto os quadris <strong>de</strong>le<br />

baixavam e ele a colocava <strong>de</strong> forma que pu<strong>de</strong>sse acariciar seu ponto mais<br />

sensível. O prazer aumentou até que acreditou que teria que gritar pedindo alívio.<br />

Aumentou e aumentou, mais e mais alto, mais e mais apertado, seu corpo já<br />

não era <strong>de</strong>la, estava completamente a sua mercê.<br />

-Não posso chegar outra vez, é muito- ofegou sem fôlego, sua cabeça se<br />

movia <strong>de</strong> um lado a outro. Mas tinha que fazê-lo, necessitava alívio mais que<br />

nada neste momento.


194<br />

-Chegará para mim- <strong>de</strong>cretou ele. -Uma e outra vez. Nunca há muito<br />

prazer. Sinta-nos, maia lyubof. - Estava mais duro e mais grosso do que nunca<br />

tinha estado, inchando-se <strong>de</strong>ntro da ar<strong>de</strong>nte luva que lhe ro<strong>de</strong>ava. Ela era como<br />

um punho, lhe sujeitando, lhe esfregando, lhe espremendo e exigindo mais.<br />

Sempre mais. Não queria que terminasse. Não queria que as súplicas ofegantes e<br />

ansiosas se <strong>de</strong>tivessem.<br />

Ela gemeu, um pequeno som suave que ele tinha estado esperando,<br />

sabendo que chegaria quando empurrasse levando-a mais à frente do ponto on<strong>de</strong><br />

ela pensava que po<strong>de</strong>ria chegar. Estava perdida no prazer, retorcendo-se abaixo<br />

<strong>de</strong>le, elevando-se para encontrar o duro impulso <strong>de</strong> seu corpo no <strong>de</strong>la. Deleitouse<br />

na sensação dos músculos aferrando e ondulando, tão <strong>de</strong>sesperada por ele.<br />

Começou a mergulhar-se nela, sujeitando fortemente os tornozelos a seus<br />

ombros para ter o ângulo perfeito e po<strong>de</strong>r introduzir-se como um pistão nela mais<br />

e mais rápido.<br />

Sentiu estremecer o corpo <strong>de</strong>la, romper-se, explodindo ao redor <strong>de</strong>le, lhe<br />

levando com ela, as pare<strong>de</strong>s vaginais lhe sujeitaram como um apertado punho,<br />

tão ar<strong>de</strong>nte que pensou que estalaria em chamas. Seu grito rouco se uniu ao <strong>de</strong>la<br />

e sentiu ce<strong>de</strong>r seus joelhos enquanto se esvaziava profundamente em seu<br />

interior. Soltando seus tornozelos, ajudou-a a baixar as pernas ao chão e<br />

permitiu que seu próprio corpo se posasse sobre o suave colchão do <strong>de</strong>la.<br />

Manteve-a sujeita contra o chão, seu corpo profundamente enterrado nela<br />

sentindo cada ondulação, cada sacudida elétrica. Adorava isto, o momento <strong>de</strong>pois<br />

quando o mais ligeiro toque a seus mamilos ou pescoço, o embalar suas ná<strong>de</strong>gas<br />

ou lamber sua pele, enviava outro estremecimento do prazer através <strong>de</strong>la <strong>de</strong><br />

modo que seus músculos se convulsionavam ao redor <strong>de</strong>le.<br />

Abigail jazia com o duro chão contra as costas e o corpo <strong>de</strong>rretido ao redor<br />

do <strong>de</strong>le. Havia linhas gravadas na face <strong>de</strong>le que não tinham estado ali antes e<br />

levantou a mão e as riscou com a ponta do <strong>de</strong>do. Acariciou seus lábios cinzelados<br />

e passou a palma sobre sua mandíbula obscurecida. Inclusive agora, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

ter compartilhado tanto, podia parecer tão solitário. Nunca parecia importar<br />

quanto se entregava, podia ver a solidão nele. Era parte <strong>de</strong>le, embora ele não<br />

parecia notar que estava ali.<br />

-Por que chora, baushki-bau?- Havia um grunhido gutural <strong>de</strong> <strong>de</strong>sgosto em<br />

sua voz. Inclinou-se para frente e lambeu as lágrimas <strong>de</strong> sua face com a língua.<br />

O simples movimento fez que seus músculos revoassem e se fechassem<br />

hermeticamente ao redor <strong>de</strong>le.<br />

Ela virou a cabeça apartando-a <strong>de</strong>le, mas não antes que visse um brilho <strong>de</strong><br />

dor em seus olhos. Seu coração saltou. Imediatamente ele saiu <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la,<br />

ficou <strong>de</strong> joelhos para tirar seu peso enquanto olhava ao redor, fazendo uma<br />

valoração rápida do quarto. Suas roupas não podiam ser recuperadas. Teria que<br />

fazer uma escapada cedo na manhã para lhe conseguir algo que vestir, mas<br />

agora o mais importante, aqui não havia um lugar confortável para dormir.<br />

Agarrou-a em braços, embalando-a contra seu peito.<br />

-É tão formosa.<br />

-Pareço um <strong>de</strong>sastre- protestou ela, escon<strong>de</strong>ndo a cara contra seus<br />

pesados músculos. Ele sentiu o toque <strong>de</strong> sua língua sobre a pele e suas<br />

terminações nervosas saltaram <strong>de</strong> prazer.


195<br />

-É formosa. - Levou-a através da casa até o dormitório mais próximo e a<br />

seguiu até o colchão <strong>de</strong> plumas, lhe beijando o rosto, os olhos, as comissuras da<br />

boca e lhe mordiscando o lábio inferior antes <strong>de</strong> colocar seu corpo ao redor do<br />

<strong>de</strong>la, seus braços sujeitando-a perto. -Me diga por que chora.<br />

-Talvez seja realmente feliz. - Tragou e tentou um aquoso sorriso.<br />

-Os buscadores <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> são uns mentirosos terríveis. - Beijou-lhe a<br />

ponta <strong>de</strong> seu nariz, <strong>de</strong>u uma pequena <strong>de</strong>ntada a seu queixo e a beijou ali<br />

também. -Por que me olha assim às vezes <strong>de</strong>pois que fazemos amor? Vi-o antes.<br />

Parece tão triste, embora saiba que é feliz comigo.<br />

Ela se virou entre seus braços <strong>de</strong> maneira que pu<strong>de</strong>sse lhe olhar o rosto.<br />

-Mas você é realmente feliz comigo?- Riscou seus ru<strong>de</strong>s rasgos, exatamente<br />

como tinha feito antes, e a lembrança <strong>de</strong>la fazendo isso mesmo o alagou. A forma<br />

em que as pontas <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>dos lhe acariciavam como apagando algo.<br />

-Percorri meio mundo para te encontrar. Verti meu coração e minha alma<br />

em cartas que escrevi minuciosamente. Tive que enviar as malditas cartas<br />

através <strong>de</strong> toda parte da Europa porque estava tão paranóico que acreditava que<br />

alguém as leria. Até estabeleci uma compartimento postal na França em vez <strong>de</strong><br />

em meu país quando compreendi que iria seguir as <strong>de</strong>volvendo. Contudo, ainda<br />

assim persisti que não me faz feliz?<br />

Ela <strong>de</strong>u <strong>de</strong> ombros, seu olhar se separou do <strong>de</strong>le. Aleksan<strong>de</strong>r apanhou seu<br />

queixo.<br />

-Abigail, me diga. Simplesmente diga-o em voz alta. Fale tudo para<br />

po<strong>de</strong>rmos viver juntos como <strong>de</strong>veria ter sido todo este tempo,<br />

-Você gosta do meu corpo.<br />

Ele ficou com o olhar fixo em sua face durante um longo momento,<br />

tratando <strong>de</strong>sesperadamente <strong>de</strong> não chorar. Adorava seu corpo. Que homem não<br />

adoraria as curvas exuberantes e suaves como a seda? Adorava a forma em que<br />

respondia a ele, a forma em que confiava nele tão completamente. Ela era um<br />

refúgio, um lugar secreto <strong>de</strong> beleza absoluta em um mundo on<strong>de</strong> encontrava a<br />

maior parte das coisas tristes e feias. Agora mesmo jazia quase abaixo <strong>de</strong>le,<br />

sujeita por seu peso, seus seios suaves empurrando contra seu peito, os<br />

mamilos roçando sua pele, uma perna enredada com a <strong>de</strong>le. Sua mão embalava a<br />

curva <strong>de</strong> seu traseiro, seus <strong>de</strong>dos a acariciavam, e nem uma vez se afastou <strong>de</strong>le.<br />

Nunca dizia basta. Nunca protestava por nada que ele queria fazer. Entregava-se<br />

a ele total e completamente.<br />

O nó <strong>de</strong> sua garganta ar<strong>de</strong>u.<br />

-Adoro seu corpo, sim. Eu adoro tudo em você, Abbey. Inclusive sua veia<br />

teimosa, embora acredite que a próxima vez que se volte contra mim vou<br />

converter-me em um cavernícola e ser politicamente incorreto e insensível. Não<br />

quer que adore seu corpo?- Deslizou as mãos para baixo pela espinha <strong>de</strong>la,<br />

atraindo os apertados cachos contra os seus. -Cada vez que te toco, cada vez que<br />

tomo, não importa quanto o faça, estou dizendo da única forma que sei quão<br />

intensos são meus sentimentos por você. Na realida<strong>de</strong> não há forma <strong>de</strong> expressar<br />

com palavras o que sinto por você.<br />

-Mas <strong>de</strong>pois, quando acabamos, quando termina, parece tão sozinho. Nunca<br />

quero que termine porque sei que esse olhar se arrastará <strong>de</strong> volta sem importar o<br />

que eu faça.


196<br />

Havia dor em sua voz. As lágrimas alagavam seus olhos.<br />

O coração <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r se <strong>de</strong>rreteu <strong>de</strong> uma forma curiosa que nunca<br />

antes tinha experimentado.<br />

-Sim lyublyu tibya. Sempre. Nunca haverá suficiente tempo no mundo para<br />

estar com você. Para te tocar e fazer amor. Amo você sempre, Abbey. Quando<br />

estamos pele contra pele e meu corpo está <strong>de</strong>ntro do seu, sei que estou em casa<br />

a salvo e sou amado. Nunca tinha tido isso antes e talvez uma parte <strong>de</strong> mim<br />

incluso não confie nisso. Sei que não quero ser autoritário quando fazemos amor,<br />

mas uma parte <strong>de</strong> mim o necessita. Preciso fazer que se entregue para mim. As<br />

mãos <strong>de</strong>le emolduraram sua face. Beijou-lhe a garganta, o queixo e ele sentiu<br />

suas lágrimas sobre a pele. Seu corpo se moveu abaixo do <strong>de</strong>le, uma pequena<br />

mudança sutil, flexível e acolhedor. Estava-lhe matando. Como po<strong>de</strong>ria lhe<br />

<strong>de</strong>monstrar alguma vez o que significava para ele? Enredou as mãos entre seus<br />

cabelos, puxando para lhe jogar a cabeça para trás para olhá-la aos olhos. -Não<br />

me <strong>de</strong>ixe outra vez, Abbey. Não me faça isto. Não estou nunca só quando estou<br />

com você. Nunca. Não importa o como parece estar, não me sinto sozinho<br />

quando está comigo.<br />

-Amo tanto você que dói, Sasha. Não acredito que pu<strong>de</strong>sse suportar outra<br />

separação.<br />

-Satisfaz-me completamente, Abbey, nunca creia que não o faz. -<br />

Aleksan<strong>de</strong>r esfregou o nariz contra o pescoço <strong>de</strong>la enquanto a envolvia entre seus<br />

braços, seu corpo encaixava ao redor do <strong>de</strong>la protetoramente. -Eu adoro como<br />

cheira <strong>de</strong>pois que fazemos amor.<br />

Ela sorriu na escuridão.<br />

-Eu acredito que é primitivo. Quer seu aroma sobre mim.<br />

-Isso também. - Pressionou seu corpo mais perto, <strong>de</strong>sejando meter-se sob<br />

sua pele. -Depois <strong>de</strong> que foi, passava acordado as noites, recordando as curvas<br />

<strong>de</strong> seu corpo e quão suave foi. - Sua mão lhe embalou um seio, seu polegar<br />

<strong>de</strong>slizou sobre o mamilo. -Assim. Cheio, redondo e tão con<strong>de</strong>nadamente suave<br />

que parece o céu. - Fechou os olhos e enterrou a face em sua sedosa cabeleira. -<br />

Recordava cada <strong>de</strong>talhe. E quando não podia dormir pensava em como seu corpo<br />

se retorcia, cada vale, seus quadris e seu traseiro. Adoro seu traseiro.<br />

-Está obcecado, Aleksan<strong>de</strong>r. Isso não é bom.<br />

-Po<strong>de</strong> ser que não, mas me manteve cordato. - Beijou um lugar entre suas<br />

omoplatas. -Antes <strong>de</strong> conhecer você, tinha uma vida satisfatória. Levantava-me<br />

pela manhã, tomava meu café e ia ao trabalho. Qualquer que fosse o caso no que<br />

estava trabalhando, consumia minha manhã, tar<strong>de</strong> e noite. Algumas vezes<br />

trabalhava até as duas ou três da madrugada. Olhando atrás, dou-me conta <strong>de</strong><br />

que não tinha amigos. Não me atrevia. A traição é uma forma <strong>de</strong> vida e<br />

aproximar-se muito a alguém é questão perigosa. Quando te conheci, a primeira<br />

coisa que me golpeou realmente foi a forma em que sorriu. Era tão genuína.<br />

Iluminava seus olhos e seu rosto e parecia sair <strong>de</strong> algum lugar <strong>de</strong> seu interior.<br />

Não queria absolutamente nada <strong>de</strong> mim. -Seus <strong>de</strong>ntes lhe mor<strong>de</strong>ram a pele, sua<br />

língua lambeu a marca pequena. -Eu queria algo <strong>de</strong> você e estava<br />

envergonhado. Nunca tinha sentido vergonha antes. Foi uma experiência nova e<br />

muito <strong>de</strong>sagradável para mim. Desejei que nosso encontro tivesse sido realmente<br />

casual.


197<br />

-Doeu quando me disse isso pela primeira vez- admitiu ela -mas agora não<br />

parece tão terrível. Ao menos nos conhecemos. Eu adorei a forma em que me<br />

tocou. Muito forte, muito seguro, me guiando através <strong>de</strong> uma rua lotada. - Sorriu<br />

ante a lembrança. Sua expressão tinha sido tão forte, tão completamente séria,<br />

mas <strong>de</strong> confiança. Tinha sido um quebra-cabeças para ela. Quanto mais estava<br />

em sua companhia, mais coisas <strong>de</strong>scobria. A primeira vez que ele riu, seu coração<br />

se elevou e soube que era ele. Que sempre seria ele. Adorava ser a pessoa que<br />

punha risada em seus olhos. Ele sorria, mas raramente chegava a seus olhos e<br />

quando ria, ela respondia com todo seu ser.<br />

-Eu não sabia que existia gente como você- admitiu ele. -Cresci em uma<br />

escola. Um lugar on<strong>de</strong> eles me treinavam. Não tínhamos mães nem pais,<br />

tínhamos professores. Trabalhamos em nossas habilida<strong>de</strong>s todo o tempo e<br />

inclusive na hora do recreio. Não sabíamos que outros tinham diferentes vidas,<br />

porque isso nos parecia natural.<br />

Seu coração se condoeu por ele. Trocou <strong>de</strong> posição outra vez, <strong>de</strong> costas a<br />

ele, pressionando suas ná<strong>de</strong>gas firmemente contra a virilha <strong>de</strong>le, sua face<br />

sepultada no travesseiro. Se chorasse, ele <strong>de</strong>ixaria <strong>de</strong> falar <strong>de</strong> seu passado.<br />

Sempre se <strong>de</strong>tinha se acreditava que estava triste e por muito que lhe doesse<br />

ouvir falar <strong>de</strong> sua infância, queria saber. Era sempre tão taxativo. Nunca <strong>de</strong>ixava<br />

lugar para a simpatia. Não tinha conhecido outra forma <strong>de</strong> vida e isso lhe parecia<br />

natural. Dever. Trabalho. Adquirir as habilida<strong>de</strong>s necessárias. Ela sabia que seus<br />

professores tinham moldado uma arma, ampliando sua mente e aumentado sua<br />

habilida<strong>de</strong> atlética natural e seus reflexos.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r acariciou sua sedosa cabeleira.<br />

-Tínhamos que pedir a comida em ao menos três idiomas. Nunca tínhamos<br />

permissão para utilizar só um idioma quando falávamos. Se dizia algo a um<br />

professor, ou a qualquer outro, tinha que dizê-lo três vezes. - Levantou-lhe os<br />

cabelos da nuca, seus lábios passaram sobre a pele. -Não me importava. Era uma<br />

provocação ser capaz fazê-lo, mas nem todos tinham habilida<strong>de</strong> para os idiomas<br />

e era mais duro para eles.<br />

-Como <strong>de</strong> duro foi para você?- Seus <strong>de</strong>ntes e sua boca a voltavam louca<br />

lentamente. Ele mordiscava, lambia e chupava e seu corpo começava a respon<strong>de</strong>r<br />

à estimulação com um lento ardor.<br />

Sentiu o sorriso <strong>de</strong>le contra o pescoço.<br />

-Eu não gostava que ninguém me dissesse o que tinha que fazer. Se<br />

pensava que havia uma forma melhor <strong>de</strong> obter algo, o fazia a minha maneira.<br />

-Metia-se em problemas?- Fechou os olhos quando as mãos lhe embalaram<br />

os seios e seus <strong>de</strong>dos fortes começaram um lento assalto a seus sensíveis<br />

mamilos.<br />

-Freqüentemente era repreendido. Acredito que era parte consi<strong>de</strong>rável do<br />

treinamento. Não tínhamos permissão para fazer nenhum som ou respon<strong>de</strong>r<br />

quando nos golpeavam. Acredito que estabeleciam essa condição para ajudar<br />

como operação no caso <strong>de</strong> que fossemos capturados e torturados.<br />

Sua ereção estava aumentando contra ela, endurecendo-se até uma<br />

persistente protuberância. Sentiu uma pequena gota <strong>de</strong> umida<strong>de</strong> sobre sua<br />

ná<strong>de</strong>ga. Os quadris <strong>de</strong>le se moveram com um lento e lânguido ritmo, quase<br />

pesaroso, quase como se não pu<strong>de</strong>sse evitar enterrar-se em sua suavida<strong>de</strong>.


198<br />

-Só eram meninos- protestou Abigail. -Não era certo. - Não pô<strong>de</strong> evitá-lo,<br />

empurrou para trás, esfregando o traseiro contra ele em um lento <strong>de</strong>slizar,<br />

<strong>de</strong>scansando a cabeça para trás contra ele para po<strong>de</strong>r arquear os seios entre<br />

suas mãos.<br />

-Não conhecíamos nada diferente- ele disse <strong>de</strong> novo. -Como diabo faz para<br />

ser tão suave?- Suas mãos eram calosas e ásperas mas ela nunca protestava.<br />

Abigail nunca evitava que a tocasse e isso significava tudo para ele. Às vezes se<br />

sentia ansioso por seu tato. Pelas mãos <strong>de</strong>la sobre ele, por suas mãos sobre ela.<br />

Massageou-lhe os seios, puxando seus mamilos, sua boca na nuca.<br />

-Tem que dormir- disse ela, mas seu corpo <strong>de</strong>slizou contra o <strong>de</strong>le <strong>de</strong> forma<br />

convidativa.<br />

Ele fechou os olhos brevemente, saboreando que ela era seu milagre. Seu<br />

convite. Sua aceitação. A forma em que parecia saber o que ele necessitava.<br />

-Não posso dormir. Minha mente não <strong>de</strong>scansará.<br />

Freqüentemente era assim. A maioria das noites se levantava e caminhava<br />

quando não podia dormir, ou tirava os arquivos <strong>de</strong> seu caso ou estudava os<br />

dados no computador. Ficar na cama abraçado a Abigail normalmente dava<br />

suficiente paz para <strong>de</strong>scansar, mas não esta noite. Esta noite havia nós em seu<br />

estômago. O medo que ela pu<strong>de</strong>sse <strong>de</strong>saparecer ainda lhe apunhalava. O medo<br />

que não fosse capaz <strong>de</strong> lhe aceitar como realmente era. Ele tinha sido formado<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> muito jovem para ser <strong>de</strong>sumano e frio quando era necessário, para fazer o<br />

que fosse necessário para obter seu objetivo. Havia um lado escuro nele, um que<br />

Abigail tinha vislumbrado antes. E sabia que essa parte <strong>de</strong>le a assustava. Talvez<br />

sempre a assustaria.<br />

-Não vou <strong>de</strong>ixar você outra vez, Aleksan<strong>de</strong>r.<br />

-Disse que eu aterrorizava você.<br />

Ela riu brandamente.<br />

-Disse que me aterrorizava o muito que te amo. Há uma enorme diferença.<br />

- Separou-se <strong>de</strong> seus braços, tirando com um puxão a pesada colcha enquanto se<br />

ajoelhava junto a ele. Seu comprido cabelo caiu como uma cascata sedosa e lhe<br />

roçou intimamente o estômago. -Precisa dormir.<br />

-Soa como uma pequena ditadora. - Seu corpo estava <strong>de</strong> repente<br />

totalmente ereto, rígido, duro e dolorido. Deslizou a mão sobre o pulsante eixo.<br />

Desejava-a uma e outra vez. Não havia nenhum final para isso. Agora mesmo<br />

lutava contra a urgência <strong>de</strong> agarrar um punhado <strong>de</strong> cabelos e lhe arrastar a<br />

cabeça para sua ereção cheia, dolorida.<br />

Ela lambeu os lábios, lhe observando com seus misteriosos olhos ver<strong>de</strong>s,<br />

olhos que se tornaram sonolentos e sexys. Seu fôlego se fez mais rápido e seus<br />

seios se elevavam tentadoramente com cada inspiração que tomava.<br />

-Sei. Não precisa pensar em nada agora mesmo.<br />

As mãos <strong>de</strong>la trataram <strong>de</strong> alcançar sua palpitante ereção e o fôlego<br />

abandonou seus pulmões em uma larga rajada. Parecia tão sexy elevada sobre<br />

ele, seus seios cheios e arredondados, rebolando enquanto se movia sobre ele. A<br />

curva <strong>de</strong> seu traseiro lhe seduzia e subiu as mãos para acariciar as arredondadas<br />

bochechas.<br />

De repente ela inclinou a cabeça, sua ar<strong>de</strong>nte boca tomou a meta<strong>de</strong> da<br />

ereção.


199<br />

-Oh, <strong>de</strong>mônios, Abbey. - ofegou, suas mãos se elevaram para enredar-se<br />

entre os cabelos <strong>de</strong>la. Sua boca era pura seda ar<strong>de</strong>nte, apertada e úmida e<br />

<strong>de</strong>slizando-se sobre ele com malvadas intenções. Uma mão acariciou o apertado<br />

escroto e com a outra agarrou a base.<br />

Moveu a cabeça para ter uma vista melhor dos lábios <strong>de</strong>la <strong>de</strong>slizando-se<br />

acima e abaixo. A boca estava molhada enquanto se <strong>de</strong>slizava sobre sua ereção,<br />

<strong>de</strong>ixando atrás um brilhante rastro <strong>de</strong> umida<strong>de</strong>. Era tão formosa que queria<br />

chorar, tão sexy que uma parte <strong>de</strong>le se sentia quase animal em seu <strong>de</strong>sejo por<br />

ela. A visão fez que seu coração palpitasse ferozmente e apartou todo<br />

pensamento cordato <strong>de</strong> sua mente. Essa língua realizava uma espécie <strong>de</strong> baile<br />

formando re<strong>de</strong>moinhos e a necessida<strong>de</strong> atou seu estômago. Tinha que tê-la mas<br />

já estava preparado para fazer erupção no calor <strong>de</strong> sua boca e sua língua que<br />

executava um baile selvagem. Ela respirou e ele o sentiu vibrar diretamente<br />

através <strong>de</strong> sua ereção. Ela trabalhou até sua garganta e seu corpo inteiro se<br />

sacudiu.<br />

-Tem que se <strong>de</strong>ter. Isto vai muito rápido e quero estar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> você outra<br />

vez. - Seus punhos se apertaram entre os cabelos <strong>de</strong>la, pensava arrastar a<br />

cabeça longe <strong>de</strong>le, mas seu corpo tinha outras idéias e a sujeitou contra ele<br />

enquanto empurrava os quadris profundamente. Podia sentir o sedoso calor da<br />

boca, apertada como uma luva e um gemido rouco escapou antes que pu<strong>de</strong>sse<br />

<strong>de</strong>tê-lo. -Outra vez - or<strong>de</strong>nou com voz irreconhecível. -Faz isso outra vez. -Teria<br />

jurado que ela riu. As sensações lhe atravessavam e seu <strong>de</strong>sejo lhe arranhou as<br />

vísceras até que esteve seguro <strong>de</strong> que explodiria. Tomou um fôlego tranqüilizador<br />

e se retirou, <strong>de</strong>sejando o refúgio <strong>de</strong> seu corpo outra vez. Arrastou-lhe a cabeça<br />

atrás e a agarrou pela cintura, levantando-a. - Me monte escarranchado.<br />

Abigail abriu as coxas e se colocou sobre ele com um lento e sedutor<br />

rebolado que enviou profundos estremecimentos <strong>de</strong> prazer através <strong>de</strong> seu corpo.<br />

Ela estava quente, mais quente do que a tinha visto antes, tão apertada que teve<br />

que trabalhar para atravessar as suaves dobras aveludadas, e cada empurrão<br />

enviou um rugido através <strong>de</strong> sua cabeça e apertou os nós <strong>de</strong> seu estômago. Com<br />

os <strong>de</strong>dos lhe apertava a cintura e começou a forçá-la a lhe montar com dureza e<br />

rapi<strong>de</strong>z, estabelecendo um ritmo brutal com seus quadris que empurravam para<br />

cima.<br />

Os músculos <strong>de</strong>la se convulsionaram a seu redor quase imediatamente. Ela<br />

gritou, com a cabeça para trás, seu longo cabelo lhe acariciou as coxas. Embutiuse<br />

nela, conduzindo-se mais profundamente, essa afiada necessida<strong>de</strong> lhe<br />

reclamava, tomando, enquanto ela se arqueava para trás, lhe dando melhor<br />

acesso a seu ponto mais sensível. Os músculos se fecharam em torno <strong>de</strong>le como<br />

um punho; um calor líquido lhe ro<strong>de</strong>ou. Seu corpo inteiro sentiu o crescente<br />

<strong>de</strong>sejo, uma contração dolorosa <strong>de</strong> cada músculo, esperando, à expectativa.<br />

Ela chegou ao clímax outra vez, tão forte que seu corpo estremeceu e seus<br />

pequenos músculos lhe aferraram como um ar<strong>de</strong>nte punho, lhe <strong>de</strong>ixando seco,<br />

tomando-o tudo <strong>de</strong>le até que não teve mais eleição que per<strong>de</strong>r o controle e<br />

esvaziar-se nela.<br />

Abigail se paralisou sobre ele, com a cabeça sobre seu ombro, seus cabelos<br />

esparramados em um selvagem matagal <strong>de</strong> seda vermelha. Seu fôlego chegava<br />

nos mesmo ásperos ofegos que o <strong>de</strong>le. Podia sentir o palpitar <strong>de</strong> seu coração


200<br />

através <strong>de</strong> sua suave pele. Aleksan<strong>de</strong>r abriu seus braços abraçando-a firmemente<br />

contra ele.<br />

-Preciso ouvir dizer isso, Abbey.<br />

-Acabo <strong>de</strong> lhe <strong>de</strong>monstrar isso. -Lambeu-lhe a garganta, com uma pequena<br />

passada da língua.<br />

Ele estava <strong>de</strong>sfrutando dos tremores secundários que atravessavam o corpo<br />

<strong>de</strong>la e essa pequena lambida só aumentou seu prazer. Seus <strong>de</strong>dos lhe apartaram<br />

os cabelos a um lado.<br />

-Ainda quero ouvir você dizer isso.<br />

-É muito exigente. Quer tudo.<br />

Adorava essa nota sonolenta e sexy em sua voz quando brincava com ele.<br />

Agachou-se e puxou a colcha sobre seus corpos. Assim era como recordava<br />

tantas noites com ela. Fazendo amor muitas vezes, <strong>de</strong> muitas formas até que<br />

ficavam esgotados e cobertos <strong>de</strong> sexo e grudados um no outro. Não podiam<br />

mover-se. Não queriam mover-se. Só podiam jazer enredados um nos braços do<br />

outro tentando averiguar como respirar e acalmar seus palpitantes corações.<br />

-Diga. - insistiu ele. -Eu digo isso a você todo o tempo. Acredito que <strong>de</strong>veria<br />

haver uma regra segundo a qual tivesse que me dizer isso ao menos uma vez<br />

cada vez que façamos amor.<br />

-Estaria mimando você. - Seus olhos estavam fechados. Ele podia ver o cós<br />

escuro das pestanas sobre suas bochechas e o sorriso apenas perceptível lhe<br />

curvando a boca.<br />

-Necessito que me mime.<br />

Ela bocejou e se agarrou contra ele.<br />

-Amo você muitíssimo, Sasha.<br />

A satisfação lhe alagou. Abraçou-a, sentindo a elevada e queda <strong>de</strong> seus<br />

seios contra o peito. Seu corpo se <strong>de</strong>slizou fora do <strong>de</strong>la, mas jazia acomodado em<br />

seu ninho <strong>de</strong> cachos. Trocou-a <strong>de</strong> posição gentilmente até que a teve <strong>de</strong> flanco<br />

com ele preso ao seu redor, sua posição favorita para dormir. E sabia que<br />

dormiria. Ela tinha conseguido acalmar sua mente e apaziguar aos <strong>de</strong>mônios que<br />

lhe tinham em suas garras.<br />

Abraçou-a, escutando-a respirar. Quando ela estava quase dormindo lhe<br />

sussurrou ao ouvido,<br />

-Se tocar você outra vez, cobrará vida para mim? Me <strong>de</strong>ixará ter você,<br />

Abbey?- Deslizou a mão entre suas coxas e a cavou sobre seu montículo<br />

feminino. -Tão cansada como está, se entregaria para mim?<br />

Ela virou sua cabeça para ele, sorrindo, seus olhos ver<strong>de</strong>s lhe olhavam<br />

diretamente. Esten<strong>de</strong>u para trás uma mão lhe alcançando o pescoço, arqueandose<br />

para trás e encontrando sua boca, lhe beijando apaixonadamente e mostrando<br />

a rendição anterior.<br />

-Acredita que mudou algo em <strong>de</strong>z minutos?<br />

Estava rindo <strong>de</strong>le. Mor<strong>de</strong>u-lhe o lábio inferior, afastou-se um momento,<br />

logo envolveu os braços ao redor <strong>de</strong>la e apoiou o queixo em sua cabeça.<br />

-Durma.<br />

-Po<strong>de</strong>rá dormir?<br />

-Sim.<br />

-Se <strong>de</strong>spertar no meio da noite....


-Já sei exatamente como <strong>de</strong>spertarei- prometeu-lhe.<br />

201<br />

Capítulo – 17<br />

Os golpes na porta da casa das irmãs Drake fizeram que Abigail se<br />

levantasse, os papéis sobre a investigação nos que estava trabalhando <strong>de</strong>slizaram<br />

até o chão e as notas se pulverizaram por todas as direções. Soube que algo ia<br />

mal antes <strong>de</strong> abrir a porta, mas a última pessoa que esperava ver era Sylvia<br />

Fredrickson.<br />

Abigail cravou os olhos na mulher, impressionada por sua aparência. Os<br />

olhos <strong>de</strong> Sylvia estavam avermelhados e inchados <strong>de</strong> chorar. Suas roupas<br />

estavam <strong>de</strong>sarrumadas e soluçava grosseiramente.<br />

-Sylvia!- Incapaz <strong>de</strong> pensar que mais fazer Abigail a ajudou a entrar na<br />

casa. -O que passou? Teve um aci<strong>de</strong>nte?


202<br />

-Não sabia aon<strong>de</strong> mais ir. - Os olhos <strong>de</strong>la aumentaram com surpresa<br />

quando olhou ao redor da sala <strong>de</strong> estar, como se temesse que algo saltasse e a<br />

atacasse. -Não tinha nenhum outro lugar aon<strong>de</strong> ir.<br />

-Me <strong>de</strong>ixe chamar Libby. Necessita uma ambulância? A polícia?- Abigail<br />

podia ver a aura vermelha e negra ro<strong>de</strong>ando Sylvia. - Sente-se. Vai <strong>de</strong>smaiar?<br />

-Não! Não chame à polícia. Faça o que faça não os chame. Tem que me<br />

ajudar. Não sei o que fazer. - Começou a retorcer as mãos. -Não sei o que fazer.<br />

Você é muito preparada. Todas vocês são realmente preparadas. Tem que me<br />

dizer o que fazer.<br />

Abigail jogou uma olhada às unhas rotas, às contusões nos pulsos e braços<br />

<strong>de</strong> Sylvia.<br />

-De acordo. Só sente-se. Respira fundo. Ajudarei você. O farei Sylvia. Por<br />

favor sente-se.- Pô<strong>de</strong> sentir como tremia a mulher enquanto a ajudava a sentarse<br />

na ca<strong>de</strong>ira. -Só me diga o que aconteceu e tentaremos resolvê-lo juntas.<br />

Abigail agitou uma mão <strong>de</strong>spreocupadamente para a chaminé para acen<strong>de</strong>r<br />

várias velas e difusores aromáticos e encher o ar dos perfumes <strong>de</strong> camomila<br />

romana, gerânio e lavanda para ajudar a reconfortar Sylvia.<br />

-Sei que me o<strong>de</strong>ia e não <strong>de</strong>veria ter vindo aqui, mas não há nenhum outro<br />

lugar aon<strong>de</strong> possa ir. Não sei o que fazer e você sempre sabe. - Sylvia agarrou o<br />

lenço que Abigail lhe oferecia e assuou o nariz. -Não acreditará em mim, mas<br />

realmente amo ao Mason. De verda<strong>de</strong>. Nunca lhe teria enganado, mas tivemos<br />

uma briga terrível e estava furiosa com ele; Bruce estava no bar se queixando e<br />

ambos nos embebedamos. Estava muito bêbada.<br />

-O que aconteceu esta noite?- animou Abigail.<br />

-Vão fazer mal a ele. - Sylvia saltou sobre seus pés e começou a andar,<br />

retorcendo as mãos <strong>de</strong> novo com agitação. -Inclusive po<strong>de</strong>riam lhe matar. Tem<br />

que lhe ajudar. Tem que fazer algo.<br />

-Quem vai matar ao Mason? Por quê?<br />

-Chad Kidman. - Sylvia virou. -Está fazendo algo terrível. Ilegal. E sei que<br />

se mesclou com gente muito má. Chad tinha um aspecto horrível, sua cara estava<br />

toda negra, azul e torcida.<br />

-Sylvia, está Mason em problemas agora mesmo? On<strong>de</strong> está?- Abigail se<br />

manteve firme em sua paciência. -Sei que está nervosa, mas se não se acalmar e<br />

me contar tudo, não vou po<strong>de</strong>r ajudar ninguém.<br />

-Sylvia- Libby saudou a mulher enquanto entrava na sala, as outras irmãs<br />

Drake a seguiam. Libby tomou à mulher pelo braço e a conduziu <strong>de</strong> volta à<br />

ca<strong>de</strong>ira. -Faz o favor <strong>de</strong> se sentar. Trouxe uma xícara <strong>de</strong> chá. Toma um par <strong>de</strong><br />

sorvos e se sentirá muito melhor para nos contar o acontecido.<br />

-Não po<strong>de</strong>m ir à polícia- disse Sylvia ansiosamente. -Sei que se formos à<br />

polícia o matarão. Ouvi-lhes às escondidas quando falavam. Querem ao russo,<br />

Aleksan<strong>de</strong>r Volstov. Abigail lhe conhece. Estava com ele a outra noite no Caspar<br />

Inn. - Esten<strong>de</strong>u a mão outra vez para Abigail e a agarrou fortemente. - Por favor,<br />

fala com ele. Diga que tem que ir e trazer Mason <strong>de</strong> volta.<br />

-Por que querem Aleksan<strong>de</strong>r?- Abigail estabeleceu contato visual com Joley,<br />

que assentiu com a cabeça e saiu da sala para chamar Aleksan<strong>de</strong>r.<br />

Sylvia tomou a xícara <strong>de</strong> chá da Libby e inalou o aroma tranqüilizador.<br />

Obviamente lutava por recuperar o fôlego. Libby se sentou a seu lado e muito


2<strong>03</strong><br />

amavelmente envolveu os <strong>de</strong>dos ao redor da mão <strong>de</strong> Sylvia. O tremor diminuiu e<br />

Sylvia arrastou ar a seus pulmões.<br />

Abigail se agachou ante a mulher <strong>de</strong>spenteada.<br />

-Nos conte no que está metido Mason. - Queria manter Sylvia tranqüila até<br />

que chegasse Aleksan<strong>de</strong>r.<br />

-Chad me chamou ontem a sua casa e me disse que Mason iria a gran<strong>de</strong><br />

festa da galeria <strong>de</strong> arte. Ele sabe o que sinto pelo Mason. Sempre fomos bons<br />

amigos e sabia que eu queria arrumar as coisas com o Mason. - tocou-se a cara.<br />

-Saí correndo, comprei um vestido novo e fui, incluso sabendo que seria terrível e<br />

que ninguém falaria comigo. Só queria que Mason visse que falava a sério <strong>de</strong><br />

estar com ele, mas tudo saiu errado.<br />

-E você estava zangada comigo- disse Abigail.<br />

Sylvia assentiu.<br />

-Acreditava que era sua culpa. Ele averiguou o caso da aventura que contei<br />

por sua causa e cada vez que via o vermelhão em meu rosto se recordava do que<br />

eu tinha feito. - Abaixou a cabeça. -Estava tão <strong>de</strong>sesperada para me <strong>de</strong>sfazer<br />

disso que até fui ver Lucinda, a dama vodu do Point Areia, mas não serve <strong>de</strong><br />

nada. Estava conversando com o Ned Farmer e a estúpida erupção estava <strong>de</strong><br />

repente outra vez em minha face; virei e Mason estava ali em pé. Pu<strong>de</strong> ver sua<br />

<strong>de</strong>silusão. Partiu sem dizer uma palavra. - As lágrimas encheram seus olhos <strong>de</strong><br />

novo.<br />

-Sinto muito, Sylvia- disse Abigail amavelmente-, mas on<strong>de</strong> está Mason<br />

agora? Tem que nos contar o que aconteceu. O que se passou?<br />

-Estou tentando- Sylvia tomou outro sorvo <strong>de</strong> chá. -Mason entrou nos<br />

fundos da galeria on<strong>de</strong> trabalha Chad. Esperei e esperei por ele para que<br />

pudéssemos falar, mas não saiu. E então me topei com o russo, que estava com<br />

você no Caspar Inn. - Tragou convulsivamente várias vezes. -Estava tão zangada<br />

com você. Queria te ferir como eu estava ferida e lhe perguntei se queria ir aos<br />

fundos comigo. Acreditava que Mason estaria ali, mas não estava.<br />

-Está bem, Sylvia- consolou-a Abigail. -Entendo.<br />

Sylvia sacudiu a cabeça.<br />

-Não, não enten<strong>de</strong>. Mason nunca voltou para casa. Fiquei sentada no<br />

alpendre toda a noite e nunca voltou para casa. Passei por seu barco mas<br />

tampouco estava ali assim <strong>de</strong>cidi perguntar ao Chad. São muito bons amigos. -<br />

Sua voz se rompeu. -Eu acreditava que eram bons amigos.<br />

-Estou segura que Aleksan<strong>de</strong>r nos ajudará- ofereceu Abigail. Conhecia<br />

Sylvia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a terceira série e nunca a tinha visto tão mal.<br />

-Mason me amava realmente. Ele não pensava que fosse estúpida ou uma<br />

prostituta, ou nenhuma das outras coisas que pensam todos os outros. Não posso<br />

acreditar quão estúpida fui em arruinar tudo por uma briga estúpida.<br />

-Sylvia, on<strong>de</strong> está ele? O que aconteceu?<br />

-Quando não voltou para casa, fui on<strong>de</strong> estava Chad para lhe perguntar se<br />

tinha visto Mason. Chad estava entrando em seu caminhão e não viu que lhe<br />

chamava. Segui-lhe até esse velho celeiro abandonado que há <strong>de</strong>pois do <strong>de</strong>svio<br />

do Caspar. Já sabe, esse que parece que vai cair <strong>de</strong> um momento a outro. A<br />

vegetação cresceu por todo o caminho até a casa. Estacionei meu carro a certa<br />

distância e me aproximei arrastando-me


204<br />

-Por que?- Abigail olhou aos jeans sujos <strong>de</strong> Sylvia, os joelhos com rodas<br />

negras.<br />

-Não sei. Ele estava atuando <strong>de</strong> forma estranha e estava espancado como<br />

se tivesse participado <strong>de</strong> uma briga terrível. Seguia olhando continuamente a seu<br />

redor para ver se alguém o seguia e tive medo. Acreditei que talvez tivesse<br />

brigado com o Mason. Escondi-me entre os matos e me aproximei<br />

sorrateiramente do celeiro até que pu<strong>de</strong> olhar através <strong>de</strong> uma das tábuas<br />

rachadas.<br />

-Sylvia!- Abigail estava horrorizada. -Po<strong>de</strong>riam ter matado você. No que<br />

estava pensando?<br />

-Não sei. Só queria encontrar Mason.<br />

-Aleksan<strong>de</strong>r está aqui- disse Joley brandamente. -Ele nos ajudará Sylvia.<br />

Sylvia ofegou com horror quando viu Jonas seguir Aleksan<strong>de</strong>r através da<br />

porta. Começou a sacudir a cabeça violentamente.<br />

Abigail resgatou a xícara <strong>de</strong> chá.<br />

-Jonas não está <strong>de</strong> uniforme, Sylvia. Sabe que é amigo <strong>de</strong> Mason. Nunca<br />

faria nada que pusesse em perigo sua vida.<br />

-Estava com o Aleksan<strong>de</strong>r quando Joley lhe chamou- explicou Jonas. -Não<br />

pu<strong>de</strong> evitar escutar. Conheço esta costa melhor que a maioria, Sylvia e ninguém<br />

vai matar ao Mason se eu pu<strong>de</strong>r evitar.<br />

-Sylvia justamente nos estava contando que tinha seguido Chad até o velho<br />

celeiro que está na saída do Caspar. Esperava encontrar Mason e acreditou que<br />

Chad estava atuando <strong>de</strong> maneira estranha- disse Abigail. -Assim lhe seguiu.<br />

Sylvia assentiu<br />

-Olhei no interior do celeiro e havia um homem ali em pé apontando uma<br />

pistola à cabeça <strong>de</strong> Mason. - Estalou em soluços outra vez, sufocando-se,<br />

pressionando a palma da mão sobre a boca para amortecer os sons. - Iam darlhe<br />

um tiro ali mesmo. Naquele momento, diante <strong>de</strong> mim. -Elevou o olhar para<br />

Abigail. -Estava tão assustada. Tinha medo <strong>de</strong> me mover.<br />

-É obvio que tinha. Qualquer um teria tido.<br />

-Antes que pu<strong>de</strong>sse apertar o gatilho outro homem saiu <strong>de</strong> entre as<br />

sombras. Não o tinha visto nunca, mas posso dizer que todo mundo lhe tinha<br />

medo, especialmente Chad.<br />

-Chad ia <strong>de</strong>ixar que disparassem em Mason?- Jonas amaldiçoou e se virou.<br />

-Nunca teria pensado isso <strong>de</strong>le.<br />

-Talvez não tivesse escolha- disse Abigail. Olhou inquisitivamente<br />

Aleksan<strong>de</strong>r, lendo a resposta em seus olhos. Ele acreditava, como ela, que o<br />

homem que saiu das sombras era Prakenskii. Era lógico que Chad lhe tivesse<br />

muito medo.<br />

-O homem disse que podiam utilizar Mason. Disse que Volstov ou a polícia<br />

não tinham nenhuma pista do que estava ocorrendo e que <strong>de</strong>veriam aproveitar a<br />

oportunida<strong>de</strong>. Chad podia transportar isso e eles reteriam o Mason até que<br />

retornasse. Não sei o que era, mas Chad seguia sacudindo a cabeça e parecia que<br />

iria chorar.<br />

-Referiram-se a algo como "isso", mas não disseram nada absolutamente<br />

que te ajudasse a i<strong>de</strong>ntificar o que era?- perguntou Jonas.<br />

Sylvia sacudiu a cabeça.


205<br />

-Falavam da ameaça que podia ser Volstov. Inclusive Chad disse. - Olhou<br />

Aleksan<strong>de</strong>r. - Devem ter muito medo <strong>de</strong> você. Po<strong>de</strong> fazer algo? Por favor, faça<br />

algo.<br />

-Esse homem, do que todos tinham medo, falava com acento russo? Levava<br />

os cabelos relativamente longos?- perguntou Aleksan<strong>de</strong>r.<br />

Sylvia assentiu.<br />

-Disse algo a Mason que não pu<strong>de</strong> ouvir e Mason chutou para ele. O homem<br />

pareceu voltar-se louco e disse ao Mason que se aparecesse a polícia perto do<br />

celeiro, era um homem morto. Mason lhe cuspiu. Ele empurrou a arma contra a<br />

cabeça <strong>de</strong> Mason e não pu<strong>de</strong> evitar e gritei.<br />

-Isso não soa a Prakenskii- disse Aleksan<strong>de</strong>r.<br />

-Sim! Esse era seu nome. O outro russo lhe chamou Prakenskii. Entretanto,<br />

soava diferente quando ele disse. - Agarrou o lenço <strong>de</strong> Joley e assuou o nariz. -<br />

Saiu do celeiro e eu corri tanto como pu<strong>de</strong>. A meio caminho <strong>de</strong> meu carro<br />

alcançou-me, agarrou-me pelo tornozelo e caí. Chutei, arranhei-lhe e briguei até<br />

que me liberei. Estava frenética. Corri <strong>de</strong> volta a meu carro e ele disparou a arma<br />

uma vez e falhou. Gritou que se eu fosse à polícia, mataria Mason e Chad e me<br />

seguiria a pista.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r ficou <strong>de</strong> cócoras.<br />

-Escapou <strong>de</strong> Prakenskii? Disparou e falhou?<br />

-Segui lhe dando chutes até que suas mãos se afastaram <strong>de</strong> mim- disse<br />

Sylvia. -Jonas, se me ver com você e sabe que é polícia, matará Mason.<br />

-Sylvia, - disse Libby -quero ajudar você a se tranqüilizar um pouco. Jonas<br />

e Aleksan<strong>de</strong>r trarão Mason e eu te administrarei um sedativo. Po<strong>de</strong> ficar aqui<br />

conosco até que lhe tragam Mason. Não lhe ajudará se pondo adoece.<br />

Sylvia tocou o rosto.<br />

-Po<strong>de</strong> me tirar o prurido?<br />

Libby olhou para Hannah, que <strong>de</strong>u <strong>de</strong> ombros e elevou as mãos com as<br />

palmas para cima em um gesto <strong>de</strong> rendição.<br />

-Só você po<strong>de</strong> fazer isso, Sylvia - disse-lhe Libby. -Tem que fazer o correto.<br />

-Isso já me disse antes- gemeu Sylvia. -Não sei o que é o correto.<br />

-Se <strong>de</strong>sculpe com Abbey por esbofeteá-la. - Joley lutou por liberar sua voz<br />

<strong>de</strong> exasperação. -Não acredito que seja pedir muito. Ela não utilizou<br />

intencionalmente a palavra "verda<strong>de</strong>" e foi você quem tinha falhado e estava<br />

tendo uma aventura. Nunca <strong>de</strong>veria havê-la golpeado.<br />

-Não tem importância- disse Abigail.<br />

-Tem sim. - insistiu Joley, Hannah assentiu com a cabeça em acordo. -É a<br />

única forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>sfazer-se <strong>de</strong>le.<br />

-Tudo o que tenho que fazer é me <strong>de</strong>sculpar?- perguntou Sylvia<br />

incredulamente. -Sinto um milhar <strong>de</strong> vezes. Não tem nem idéia <strong>de</strong> quanto o sinto.<br />

Libby a levantou da ca<strong>de</strong>ira.<br />

-Vêem comigo. Tomará um banho e po<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>scansar.<br />

Sylvia tocou a face.<br />

-Desaparecerá realmente agora?<br />

-Sim- confirmou Joley.<br />

-E vocês dois trarão Mason?- perguntou Sylvia aos homens.<br />

Jonas assentiu com a cabeça e esperou até que Libby a levou.


206<br />

-Não acredita que pu<strong>de</strong>sse escapar por seus próprios meios? Crê que está<br />

mentindo?<br />

-É possível, embora não sei por que o faria. - Aleksan<strong>de</strong>r franziu o cenho<br />

enquanto tentava <strong>de</strong>cifrá-lo. -Não sei como pô<strong>de</strong> haver-se liberado <strong>de</strong> Prakenskii.<br />

E ele nunca falha.<br />

Abigail esclareceu a garganta. Tomou um profundo fôlego e o <strong>de</strong>ixou<br />

escapar.<br />

-Não estava mentindo. - prometeu-se que nunca voltaria a utilizar o dom da<br />

verda<strong>de</strong>, não para as forças da lei, mas não podia lhes <strong>de</strong>ixar pensar que Sylvia<br />

estava <strong>de</strong> algum modo tratando <strong>de</strong> enganá-los. O medo <strong>de</strong> Sylvia e sua<br />

preocupação por seu ex marido eram muito genuínos.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r lhe esten<strong>de</strong>u a mão e entrelaçou seus <strong>de</strong>dos com os <strong>de</strong>la,<br />

sabendo o difícil que era para ela lhes dar esse pedacinho <strong>de</strong> informação.<br />

-Assim Sylvia escapou. Logo não pô<strong>de</strong> ter sido Prakenskii. Ele nunca<br />

falharia e nenhuma mulher, especialmente uma não treinada, po<strong>de</strong>ria havê-lo<br />

repelido.<br />

-Pô<strong>de</strong> havê-la <strong>de</strong>ixado partir <strong>de</strong> propósito?- Perguntou Abigail.<br />

Todos ficaram em silêncio. Jonas tamborilou com os <strong>de</strong>dos sobre a mesa<br />

até que Hannah se inclinou e pôs sua mão sobre a <strong>de</strong>le para <strong>de</strong>ter o irritante<br />

som. Quando ele a olhou, apartou a mão <strong>de</strong> um puxão.<br />

- É T. T. tão incômodo.<br />

-Que agradável que Barbie fale comigo hoje- disse Jonas.<br />

Hannah lhe fez uma careta.<br />

-Não comecem!- Or<strong>de</strong>nou Abigail. -Eu não gosto nada <strong>de</strong> tudo isto e quero<br />

as cabeças claras enquanto o enten<strong>de</strong>mos. Se era Prakenskii e Aleksan<strong>de</strong>r tem<br />

razão sobre ele, então <strong>de</strong>liberadamente <strong>de</strong>ixou escapar Sylvia. Queria que ela<br />

encontrasse Aleksan<strong>de</strong>r.<br />

-Tenho que estar <strong>de</strong> acordo nisso- disse Jonas enquanto seus <strong>de</strong>dos<br />

começavam a tamborilar sobre a mesa outra vez. -Alguma idéia, Aleksan<strong>de</strong>r?<br />

Estão lhe atraindo <strong>de</strong>liberadamente a uma armadilha?<br />

Aleksan<strong>de</strong>r <strong>de</strong>u <strong>de</strong> ombros.<br />

-Não é o estilo <strong>de</strong> Prakenskii. Se fosse me matar, estaria fora da casa <strong>de</strong><br />

Abbey e me dispararia através <strong>de</strong> uma janela ou quando saísse fora. Não o<br />

<strong>de</strong>scarto, mas parece bastante rebuscado. Não é um homem que <strong>de</strong>ixe as coisas<br />

ao azar. E se Sylvia tivesse ido a sua casa e se escon<strong>de</strong>sse sob os lençóis? E se<br />

tivesse ido à polícia? Há muitas variáveis para que um homem como Prakenskii a<br />

utilize para me fazer cair em uma armadilha mortal.<br />

Carol se afundou em uma ca<strong>de</strong>ira.<br />

-Disparar em você através <strong>de</strong> uma janela? Diz a sério?<br />

-Sinto muito- disse Aleksan<strong>de</strong>r, observando como estava pálida. -Não<br />

pretendia preocupar você. Gostaria que te trouxesse um copo <strong>de</strong> água?<br />

Carol on<strong>de</strong>ou a mão para a cozinha ao mesmo tempo que Hannah. Lançou a<br />

Aleksan<strong>de</strong>r um leve sorriso.<br />

-É um bom homem. Espero que minha sobrinha possa te perdoar e lhe dar<br />

uma nova chance.<br />

-Não <strong>de</strong>veríamos ter discutido sobre isso diante <strong>de</strong> você, tia Carol. - disse<br />

Jonas.


207<br />

-Não me incomoda que falemos <strong>de</strong> assassinos e assassinatos. Acabo <strong>de</strong><br />

compreen<strong>de</strong>r que alguém estava olhando através <strong>de</strong> nossa janela com algo que<br />

refletia a luz. Arma com mira talvez, ou um binóculo. Jefferson foi caçador antes<br />

que nos casássemos e guardou seus rifles. Esse primeiro dia, quando Abbey se<br />

encontrou com os assassinos, eu fazia fotos das garotas, mais que nada para as<br />

fazer rir. Era <strong>de</strong> noite e estava voltada para a janela gran<strong>de</strong> e houve um<br />

resplendor na câmara. Fiz o disparo e tenho a foto na outra sala. - estremeceu. -<br />

Só a idéia que alguém pu<strong>de</strong>sse ter estado olhando através <strong>de</strong> nossa janela e<br />

apontando com uma pistola a uma <strong>de</strong> nós, é aterradora.<br />

Abigail apertou os <strong>de</strong>dos ao redor dos <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r.<br />

-Foi a noite que invadiu meu quarto. Recordo tia Carol fazendo fotos.<br />

Tirávamos o sarro <strong>de</strong> Jonas sobre ser espiãs e ela pegou a câmara. Disse-nos que<br />

havia uma espécie <strong>de</strong> luz na janela. Isso nos pôs nervosas e fechamos as cortinas<br />

e acrescentamos amparo à casa. Disse-me que tinha encontrado Prakenskii essa<br />

noite. Ele po<strong>de</strong>ria ter estado aqui todo o tempo esperando ter um alvo claro <strong>de</strong><br />

você?<br />

-Eu gosto da parte do trabalho <strong>de</strong> espiã, - confessou Carol - mas não o<br />

perigo. Acredito que me está subindo a pressão arterial.<br />

Joley se sentou no braço da ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> sua tia.<br />

-Deveria trazer Libby?<br />

-Não, claro que não. - Carol se abanou. -Jonas, realmente crê que Frank<br />

está envolvido em algo ilegal? Talvez ele não saiba nada das pinturas roubadas<br />

que está nos fundos <strong>de</strong> sua galeria. Chad não pô<strong>de</strong> ter escondido?<br />

Aleksan<strong>de</strong>r lhe tocou o ombro gentilmente.<br />

-Sinto muito, Carol, se for seu amigo. Estivemos rastreando seus envios há<br />

algum tempo.<br />

-Mas é Chad quem prepara e envia as obras <strong>de</strong> arte a todo o paísprotestou<br />

Carol. -Po<strong>de</strong>ria estar fazendo-o sem o conhecimento <strong>de</strong> Frank?<br />

-Está interessada no Frank?- perguntou Joley. -Como algo mais que um<br />

amigo?<br />

-Eu não- disse Carol. -Mas Inez esteve durante algum tempo. Eu<br />

pessoalmente acredito que Reginald é o mais ar<strong>de</strong>nte que há na cida<strong>de</strong>. Frank<br />

não tem senso <strong>de</strong> humor e eu acredito que uma pessoa tem que ter senso <strong>de</strong><br />

humor ou não <strong>de</strong>sfruta da vida. E eu quero <strong>de</strong>sfrutar.<br />

Jonas parecia confuso.<br />

-Reginald?<br />

-A tia Carol está saindo com o Velho Mar.- confiou Abigail em um sussurro.<br />

-É um homem adorável.<br />

Jonas teve um acesso <strong>de</strong> tosse. Hannah lhe golpeou as costas<br />

servicialmente.<br />

-Bem, acredito que Aleksan<strong>de</strong>r e eu <strong>de</strong>vemos ir - <strong>de</strong>clarou Jonas. -Temos<br />

que recuperar Mason para a Sylvia. Não estou seguro <strong>de</strong> não estar melhor on<strong>de</strong><br />

está. Essa mulher po<strong>de</strong> lhe amar genuinamente, mas nunca mudará. Se tiverem<br />

uma briga, melhor que tome cuidado.<br />

-Não po<strong>de</strong> ir- disse Abigail, pendurando-se em Aleksan<strong>de</strong>r. -Você mesmo<br />

disse que Prakenskii a <strong>de</strong>ixou escapar. Estarão lhe esperando. Fizeram uma<br />

armadilha e não po<strong>de</strong> simplesmente cair nela.


208<br />

-Eu estarei com ele. - apontou Jonas.<br />

Os olhos <strong>de</strong>la cintilaram, passando a um profundo ver<strong>de</strong> azulado,<br />

turbulento e tempestuoso.<br />

-Que arrogante. Deveria havê-lo esperado. A recompensa é pelo<br />

Aleksan<strong>de</strong>r, não por você, Jonas. Como pensa mantê-lo vivo?<br />

Aleksan<strong>de</strong>r se inclinou para ela e lhe roçou um beijo na têmpora.<br />

-Baushki-bau, - Sua voz era baixa e íntima, tocando suas terminações<br />

nervosas e enviando pequenas mariposas formando re<strong>de</strong>moinhos ao fundo <strong>de</strong><br />

seu estômago. - se preocupa muito. Esta é minha especialida<strong>de</strong>. Não me coloco<br />

às cegas nestas situações. Não po<strong>de</strong>mos abandonar a esse jovem para que<br />

morra.<br />

Ela fechou os punhos.<br />

-Po<strong>de</strong> estar morto já. Por que lhe manteria vivo Prakenskii? E não ficariam<br />

nesse celeiro. Moveram-lhe. Sabe que o fizeram. Terão a um atirador colocado<br />

esperando para matar você e Mason morrerá <strong>de</strong> toda forma.<br />

-Na realida<strong>de</strong>, Abbey tem muita razão- esteve <strong>de</strong> acordo Jonas <strong>de</strong><br />

improviso. -Por que manteriam vivo ao Mason? Se necessitarem uma mula para<br />

algo, têm ao Chad. Se Mason não formar parte disto, por que não lhe colocar<br />

uma bala na cabeça e <strong>de</strong>sfazer-se <strong>de</strong>le?<br />

Hannah tremeu e Carol <strong>de</strong>ixou escapar um pequeno som <strong>de</strong> consternação.<br />

Abigail o fulminou com o olhar.<br />

-Disse isso <strong>de</strong>liberadamente, Jonas Harrington. Queria que tivéssemos uma<br />

imagem muito vívida <strong>de</strong> Mason com uma bala na cabeça. Eu vejo uma imagem<br />

<strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r ou <strong>de</strong> você mortos no chão.<br />

Abigail estava tremendo e Aleksan<strong>de</strong>r a arrastou até seus braços e a<br />

balançou, lhe murmurando frases consoladoras em sua própria língua. Tentava<br />

não se alegrar muito porque estava preocupada com ele. Obviamente ela estava<br />

<strong>de</strong> causar pena e em vez <strong>de</strong> tranqüilizá-la, sua primeira reação era <strong>de</strong> euforia por<br />

que se importava o bastante para preocupar-se com ele.<br />

-Sou muito teimoso para morrer. - disse ele, lhe mordiscando a orelha. -Já<br />

sabe. E Jonas guardará minhas costas. Não é como se fossemos ali sem<br />

comprovar primeiro as coisas.<br />

-Simplesmente eu não gosto, Sasha. Algo está errado em tudo isto.<br />

Acredito que está se aproximando muito do que seja que querem escon<strong>de</strong>r e esta<br />

é uma forma <strong>de</strong> atrair você até on<strong>de</strong> possam <strong>de</strong>sfazer-se <strong>de</strong> você - insistiu<br />

Abigail. -Que sentido tem que Prakenskii a <strong>de</strong>ixasse partir? Tem que mover<br />

Mason. Se Sylvia ia à polícia... e como po<strong>de</strong>ria saber ele que não o faria?...a<br />

polícia simplesmente ro<strong>de</strong>aria o celeiro e solicitaria um negociador. Ele per<strong>de</strong>ria.<br />

-Prakenskii não per<strong>de</strong>.<br />

-Isso mesmo. - Voltou para o ataque com isso. -Não o faz. Querem-lhe<br />

morto e encontrou a forma <strong>de</strong> atrair você a campo aberto on<strong>de</strong> possa te matar.<br />

-Talvez- refletiu Aleksan<strong>de</strong>r -Mas para mim, ainda não tem sentido.<br />

Simplesmente Prakenskii não é homem <strong>de</strong> joguinhos. É mais provável que<br />

apareça na porta principal e me dê um tiro que algo como isto. - Olhou fixamente<br />

ao Jonas sobre a cabeça <strong>de</strong> Abigail. -Conheço-lhe. Esta não é sua forma <strong>de</strong> fazer<br />

as coisas.


209<br />

-Tomaremos cuidado, Abbey. - acrescentou Jonas. -Jackson virá conosco e<br />

sabe do que é capaz com um rifle. Teremos ele nos cobrindo.<br />

-Eu v..v..vou também- anunciou Hannah.<br />

Jonas bufou.<br />

-Quando o inferno se congele, nem te ocorra pensar nisso.<br />

Abigail saiu dos braços <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r.<br />

-Hannah tem razão. Prakenskii trabalha com magia e vocês três não po<strong>de</strong>m<br />

combater isso.<br />

Hannah elevou o queixo.<br />

-Eu posso.<br />

-Importa-me um nada o que possa fazer. - Jonas apontou Hannah com um<br />

<strong>de</strong>do, seu olhar era uma escura advertência. -Faz o que seja daqui, acima na<br />

varanda do capitão ou não faça nada absolutamente. Nem sequer vou discutir<br />

isso. E se for subir ali acima, Hannah, por todos os infernos fique atrás do<br />

corrimão; quase caiu a última vez que <strong>de</strong>smaiou.<br />

Ele se ergueu e caminhou para a cozinha.<br />

-Sarah faço você a responsável. Você sabe malditamente bem on<strong>de</strong> nos<br />

colocamos. Terei Aleksan<strong>de</strong>r e Jackson ali, isso é tudo. Qualquer outro será um<br />

inimigo.<br />

-Ninguém abandonará a casa. - disse Sarah. -Trabalhamos melhor <strong>de</strong> uma<br />

fonte <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e esta casa tem um tremendo po<strong>de</strong>r. Estaremos na varanda.<br />

Sentirá o vento sobre você e essas seremos nós.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r emoldurou o rosto <strong>de</strong> Abigail com suas gran<strong>de</strong>s mãos e inclinou<br />

a cabeça para a <strong>de</strong>la.<br />

-Não serei <strong>de</strong>scuidado, Abbey, você me conhece melhor que isso. Quando<br />

voltar por você, esteja com o anel. Tenho sauda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vê-lo em seu <strong>de</strong>do. -<br />

Beijou-a tão meigamente como foi possível, tentando pôr no beijo tanto amor<br />

como pô<strong>de</strong>. -Não estou preparado para per<strong>de</strong>r você outra vez- adicionou,<br />

pressionando pequenos beijos da comissura <strong>de</strong> sua boca até chegar a seus olhos.<br />

-Sairemos pela porta do escarpado ao pátio traseiro- <strong>de</strong>cidiu Jonas. –Só no<br />

caso <strong>de</strong> alguém estar vigiando o lugar. Mantenham Sylvia aqui. É capaz <strong>de</strong> tentar<br />

conseguir uma arma e lançar-se ao resgate ela mesma.<br />

-Libby está com ela- tranqüilizou-lhe Sarah.<br />

Abigail caminhou com o Aleksan<strong>de</strong>r até a porta, seus <strong>de</strong>dos entrelaçados<br />

com os <strong>de</strong>le.<br />

-Retorna para mim.<br />

-Farei.<br />

Não havia luzes acesas na cozinha e Jonas saiu da casa na escuridão,<br />

<strong>de</strong>slizando-se rapidamente até a cobertura das sombras e esperando que<br />

Aleksan<strong>de</strong>r se unisse a ele. Abriram passo através dos espessos arbustos até o<br />

carro que esperava. Jonas examinou a área ao redor do carro cuidadosamente<br />

enquanto Aleksan<strong>de</strong>r comprovava todas as posições altas on<strong>de</strong> um francoatirador<br />

pu<strong>de</strong>sse estar postado na espera. Quando estiveram seguros <strong>de</strong> que não<br />

havia ninguém, entraram no carro e se foram, Jonas utilizou o rádio para chamar<br />

a seu ajudante, Jackson Deveaux, um homem que tinha servido com ele nos<br />

Rangers e, o que era mais importante, um franco-atirador com uma pontaria<br />

mortal.


210<br />

-Não queremos utilizar um carro oficial- disse Jonas. -Jackson trará o seu.<br />

Ele conhece a estrada e seu carro po<strong>de</strong> correr muito se necessitarmos velocida<strong>de</strong>.<br />

-Não estarão ali. Terão lhe movido. -disse Aleksan<strong>de</strong>r.<br />

-Sim, seriam idiotas se não o fizessem e não acredito que sejam tão<br />

estúpidos. Mas po<strong>de</strong>ríamos recolher algumas pistas. Jackson é genial como o<br />

<strong>de</strong>mônio rastreando. Po<strong>de</strong>rá averiguar quem estava ali e o que aconteceu.<br />

Também po<strong>de</strong>rá ver on<strong>de</strong> estava Sylvia e se foi possível que escapasse <strong>de</strong><br />

Prakenskii. - Jonas <strong>de</strong>u uma olhada em Aleksan<strong>de</strong>r. -Suponho que Prakenskii é<br />

um dos seus.<br />

Um sorriso breve, sem humor curvou a boca <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r.<br />

-Po<strong>de</strong>ria dizer que sim.<br />

Encontraram-se com Jackson ao norte do Caspar e intercambiaram os<br />

veículos em uma das muitas estradas secundárias.<br />

-O caminho do celeiro é estreito formando um gran<strong>de</strong> laço. Só há um par<br />

<strong>de</strong> casas ao longe, se alguém nos esperar, ao minuto <strong>de</strong> ver os faróis saberão<br />

que chegamos - advertiu Jonas.<br />

Jackson estreitou a mão <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r brevemente.<br />

-Me <strong>de</strong>ixe a certa distância e me dê tempo <strong>de</strong> tomar posição para lhes<br />

cobrir. Farei um sinal quando estiver preparado e logo <strong>de</strong>ixa cair Volstov um<br />

pouco mais perto para que possa ir através do mato até o celeiro.<br />

-Eu sou o chamariz. -disse Jonas. -Genial.<br />

-Tenho <strong>de</strong>sfeito as luzes e aconselharia conduzir sem faróis. - disse<br />

Jackson.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r observou as mãos do ajudante acariciar o rifle. Era um rifle <strong>de</strong><br />

franco-atirador e bem cuidado. Antes no carro, Jonas lhe tinha contado algo sobre<br />

seu ajudante. Jackson Deveaux tinha servido com Jonas como Ranger e <strong>de</strong>pois se<br />

<strong>de</strong>dicou a fazer outras coisas. Aleksan<strong>de</strong>r estava bastante seguro <strong>de</strong> que essas<br />

"outras coisas" incluíam incursões em "zonas quentes" e completar missões<br />

solitárias antes <strong>de</strong> ser extraído. Jackson Deveaux não parecia estar muito longe<br />

<strong>de</strong> Ilya Prakenskii, um homem com seu próprio código, letal, leal e um bom<br />

homem ao que ter a seu lado quando entrava em combate.<br />

Jonas sorriu abertamente a seu ajudante.<br />

-Se me ocorrer algo, parte da cida<strong>de</strong>. As Drake provavelmente lhe<br />

converteriam em algum tipo <strong>de</strong> sapo realmente feio.<br />

-Me darão uma medalha- resmungou Jackson enquanto o carro freava.<br />

Abriu sua porta e rodou sobre o mato.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r se colocou em posição. Jonas manteve o veículo a passo lento<br />

enquanto subiam pelo retorcido e estreito caminho <strong>de</strong> terra. Inclusive assim,<br />

Aleksan<strong>de</strong>r golpeou o chão com força, per<strong>de</strong>u o fôlego, seu corpo ficou sacudido<br />

enquanto rodava entre o mato alto. Jazeu um momento tentando recuperar a<br />

respiração e repassar seu corpo em busca <strong>de</strong> qualquer dano. Quando esteve<br />

seguro <strong>de</strong> que não havia nenhum osso quebrado, começou a arrastar-se através<br />

da vegetação para o velho celeiro.<br />

Jonas e Jackson lhe tinham proporcionado informação <strong>de</strong>talhada do terreno<br />

e sabia que havia várias áreas gran<strong>de</strong>s que uma vez tinham sido zonas<br />

ajardinadas. A vegetação e as flores silvestres eram mais espessas naqueles<br />

pontos e abriu passo por volta do primeiro <strong>de</strong>les tão rapidamente como foi


211<br />

possível. Quando esteve seguro <strong>de</strong> estar bem coberto, fez uma pausa para<br />

orientar-se e escutar os sons da noite.<br />

A lua <strong>de</strong>rramava luz através do prado. Vários cervos pastavam a uns cem<br />

metros a sua esquerda. Os grilos cantavam uns com aos outros e as rãs se<br />

chamavam em uma sinfonia firme. Teve que mover-se cuidadosamente para não<br />

espantar os insetos. A falta <strong>de</strong> som resultava <strong>de</strong>latora para qualquer francoatirador<br />

consumado. Era muito consciente que Jackson Deveaux avançava para<br />

terreno alto e que não havia nem uma só mudança nos ruídos da noite. Isso lhe<br />

disse, mais que nenhuma outra coisa, o que precisava saber sobre o ajudante.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r escutou em busca <strong>de</strong> sons que chegassem do celeiro, mas não<br />

havia nenhum. Ele avançou centímetro a centímetro sobre o terreno aci<strong>de</strong>ntado,<br />

ganhando passos, <strong>de</strong>pois metros. Ele sabia que Jonas tinha intenção <strong>de</strong><br />

estacionar o carro na entrada do caminho <strong>de</strong> terra, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> algumas árvores,<br />

invisível da outra direção.<br />

Um mocho ululou uma vez, o som chegou fácil e naturalmente através do<br />

prado. Jackson tinha encontrado terreno o suficientemente alto para cobri-los e<br />

assinalava que o caminho estava espaçoso. Aleksan<strong>de</strong>r sentiu um pouco <strong>de</strong><br />

tensão abandonar seu corpo. Havia mais olhos e ouvidos na noite que os seus<br />

próprios. Seu cérebro lhe dizia que Prakenskii tinha ido faz tempo, nunca ficaria<br />

no lugar uma vez que Sylvia houvesse ido mas, ainda assim, o homem tinha<br />

que saber que Aleksan<strong>de</strong>r mor<strong>de</strong>ria a isca. Como po<strong>de</strong>ria não fazê-lo? Como<br />

po<strong>de</strong>ria abandonar Mason Fredrickson para que lhe matassem sem ao menos<br />

tentar lhe salvar?<br />

Nada em todo o assunto tinha sentido para ele e Aleksan<strong>de</strong>r era um homem<br />

que gostava da lógica. Estava familiarizado com a traição e o engano. Nunca lhe<br />

surpreendia, mas ali tinha que haver uma lógica, embora fosse um pouco<br />

retorcida. Prakenskii estava muito bem treinado para cometer semelhantes<br />

enganos, a menos que contasse com o fato <strong>de</strong> que Aleksan<strong>de</strong>r preferia trabalhar<br />

sozinho. Po<strong>de</strong>ria não haver lhe ocorrido que Aleksan<strong>de</strong>r contasse com o xerife<br />

local.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r cravou os cotovelos no pó e se arrastou aproximando-se do<br />

celeiro. O edifício se elevava na noite, ma<strong>de</strong>iras velhas e ruidosas, pintura<br />

<strong>de</strong>scascada e cortada. O celeiro inteiro se inclinava como se fosse <strong>de</strong>rrubar-se <strong>de</strong><br />

lado até o chão <strong>de</strong> um momento a outro. Houve um movimento nos arbustos<br />

perto do celeiro. Aleksan<strong>de</strong>r se congelou, com o fôlego apanhado nos pulmões.<br />

Picava-lhe um ponto entre as omoplatas. Tirou sua faca fora do cinturão e<br />

esperou.<br />

O mocho chiou <strong>de</strong> frustração e fúria ante uma presa perdida. Aleksan<strong>de</strong>r<br />

permitiu que o fôlego abandonasse lentamente seus pulmões ante a advertência,<br />

cuidando <strong>de</strong> não emitir nem um só som. Jackson era assombroso com seus gritos<br />

<strong>de</strong> pássaro, que pareciam tão reais, tinha-lhe levado um momento notar que não<br />

tinha sido um mocho. Esperou imóvel, escutando em busca <strong>de</strong> outro sussurro ou<br />

movimento.<br />

Uma rã coaxou em alguma parte para sua esquerda e quase imediatamente<br />

escutou um ruído, o roçar <strong>de</strong> algo contra a ma<strong>de</strong>ira <strong>de</strong>ntro do celeiro. Aleksan<strong>de</strong>r<br />

se propulsou outro pé para diante através da vegetação sobre o estômago como<br />

um lagarto. Era um homem gran<strong>de</strong> e não era fácil mover-se sem fazer nenhum


212<br />

som. Parou imóvel outra vez, suando, esperando a mordida <strong>de</strong> uma bala nas<br />

costas.<br />

Uma rã coaxou outra vez, muito mais próxima <strong>de</strong>ssa vez. Sua tensão se<br />

aliviou um pouco quando se precaveu que Jonas estava se aproximando pelo lado<br />

contrário do celeiro. Rodou para a entrada. Não havia porta, só um pedaço <strong>de</strong><br />

ma<strong>de</strong>ira sobre um buraco aberto on<strong>de</strong> esta <strong>de</strong>veria ter estado. A luz da lua se<br />

<strong>de</strong>rramada através das gretas do teto, mas <strong>de</strong>ixava muitas sombras nas que<br />

alguém po<strong>de</strong>ria escon<strong>de</strong>r-se. Soou esse roçar outra vez, esta vez um pouco mais<br />

frenético. Algo gran<strong>de</strong> se chocando contra a pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> trás do celeiro. Ouviu-se<br />

um xingamento amortecido. Aleksan<strong>de</strong>r não sabia fazer ruídos <strong>de</strong> animais para<br />

advertir Jonas, assim esperou que o homem estivesse o suficientemente perto<br />

para ouvir.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r parou na entrada do celeiro, justo sob a porta e estudou as<br />

áreas mais escuras do interior. Pô<strong>de</strong> ver Mason Fredrickson preso, amordaçado e<br />

lutando por liberar-se quase diretamente diante. Era uma visão tentadora. Entrar,<br />

cortar as amarras e sair. Sorriu. Certamente Prakenskii lhe tinha mais respeito.<br />

Este era um plano juvenil. Tinha-lhe atraído até ali, assim tinha funcionado. A<br />

idéia chegou inesperadamente. Ficou congelado, seu coração se acelerou.<br />

Era uma velha tática. A mais simples das armadilhas. O jogo básico do gato<br />

e o camundongo. Captou um movimento e não esteve disposto a mover-se.<br />

Jackson podia protegê-los fora do celeiro, mas uma vez <strong>de</strong>ntro, uma vez entrasse<br />

para liberar o Mason, Aleksan<strong>de</strong>r contaria somente consigo mesmo. Jazeu na<br />

entrada, <strong>de</strong> barriga para baixo, o fôlego movendo-se através <strong>de</strong> seus pulmões<br />

absolutamente silencioso, esperando. O tempo passava. Cinco minutos. Quinze.<br />

Meia hora.<br />

Os insetos zumbiam perto <strong>de</strong> seu ouvido. O vento lhe tocou a cara e sentiu<br />

Abigail perto <strong>de</strong>le. Por que se tomaria Prakenskii tantas moléstias para lhe trazer<br />

para um velho celeiro para resgatar Mason Fredrickson? A pergunta lhe dava<br />

voltas na cabeça sem uma resposta concreta. Mas esperou, porque no jogo do<br />

gato e o camundongo o primeiro que se movia estava morto.<br />

No canto mais afastado, acima entre as vigas, houve um sussurro <strong>de</strong> roupa.<br />

-Amarrou muito forte, não está fazendo suficiente ruído. - A voz era<br />

americana.<br />

-Se cale!- Aleksan<strong>de</strong>r não reconheceu ao russo. Não era Prakenskii, mas<br />

agora sabia on<strong>de</strong> estavam os assassinos.<br />

Uma rã coaxou fora do canto mais afastado do celeiro e o alívio o alagou.<br />

Jonas era completamente consciente dos homens armados que custodiavam<br />

Fredrickson. Necessitavam <strong>de</strong>sesperadamente uma distração.<br />

Imediatamente, nas asas <strong>de</strong>sse pensamento, chegou o vento, não a ligeira<br />

brisa <strong>de</strong> antes, a não ser uma rajada que trazia o perfume do mar e levava um<br />

cântico apenas perceptível <strong>de</strong> vozes femininas. Quase imediatamente chegou<br />

uma resposta. Um estranho roçar <strong>de</strong> asas, agudos sons pulsantes, enchendo o ar.<br />

Aleksandr permitiu que seu olhar <strong>de</strong>slizasse para cima e viu o céu noturno<br />

cheio <strong>de</strong> morcegos. As asas trovejaram quando os morcegos giraram,<br />

mergulharam e fluíram em um círculo em espiral para o celeiro. O ar estava<br />

carregado com a migração quando mais morcegos chegaram, dançando no ar,<br />

lançando-se para os insetos enquanto estes voavam para o celeiro.


213<br />

A rã coaxou uma amigável saudação. Requereu uma fração <strong>de</strong> segundo<br />

registrar que o som tinha vindo <strong>de</strong> cima em vez da terra. Jonas estava em<br />

posição no teto inclinado, diretamente sobre os dois assassinos. Na beirada do<br />

limite da linha <strong>de</strong> árvores mais próxima ao celeiro, o mocho emitiu um suave som<br />

inquisitivo. Jackson tinha se aproximado <strong>de</strong>les, abandonando sua posição alta<br />

para lhes proporcionar mais cobertura no resgate.<br />

Os morcegos alagaram o celeiro, utilizando cada greta das pranchas, o<br />

buraco que havia no teto e a abertura ao redor e sob a porta. Aleksan<strong>de</strong>r entrou<br />

rodando no celeiro com eles, diretamente através do chão para Mason<br />

Fredrickson.<br />

Capítulo – 18


214<br />

Os morcegos encheram o celeiro com o puro peso do número, voavam alto<br />

até as vigas, batendo as asas contra os dois pistoleiros sentados no teto. Chad<br />

Kingman <strong>de</strong>ixou cair sua arma e se agarrou à ma<strong>de</strong>ira podre, balançando-se<br />

precariamente enquanto os pequenos corpos peludos golpeavam seu peito e<br />

rosto. O russo lutou por rechaçar o ataque dos morcegos, golpeando cegamente<br />

com as mãos para afastá-los <strong>de</strong>le. Seu braço golpeou Chad, jogando-o da viga ao<br />

sujo chão. Chad golpeou com força, o fôlego abandonou seus pulmões.<br />

Sobre eles, Jonas se inclinou através <strong>de</strong> uma greta particularmente gran<strong>de</strong><br />

e empurrou sua arma contra o pescoço do russo.<br />

-Joga a arma- or<strong>de</strong>nou -Sou o xerife e você está preso.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r utilizou sua faca para cortar as cordas que atavam Mason<br />

Fredrickson. O homem tinha estado preso durante tanto tempo que seus braços e<br />

pernas eram como <strong>de</strong> chumbo. Tratou <strong>de</strong> mover-se mas só pô<strong>de</strong> olhar fixamente<br />

Chad. Aleksan<strong>de</strong>r lhe tirou a fita a<strong>de</strong>siva da boca com um movimento fluído.<br />

Mason chiou, seu olhar era furioso enquanto se cravava em seu velho amigo.<br />

Chad se equilibrou sobre a arma que estava a tão somente uns passos <strong>de</strong><br />

on<strong>de</strong> ele jazia.<br />

-Eu não o faria. - Jackson Deveaux apareceu a um lado da porta, seu rifle<br />

apontava Chad. Deu um passo adiante e afastou a arma com um ponta pé,<br />

procurou com o olhar Aleksan<strong>de</strong>r, que tinha o braço jogado para trás para o<br />

lançamento, com a faca em posição. -Nem um só movimento, Kingman.<br />

Chad se sentou no chão amaldiçoando enquanto Jackson lhe revistava em<br />

busca <strong>de</strong> armas e Jonas fazia o mesmo com o russo.<br />

Uma ligeira brisa soprou através do celeiro, tirando os morcegos ao ar livre<br />

e <strong>de</strong>ixando aos homens para enfrentá-los uns aos outros. Aleksan<strong>de</strong>r franziu o<br />

cenho, incômodo pela facilida<strong>de</strong> com que tinham recuperado Fredrickson. Não<br />

reconheceu ao russo, mas quando o homem <strong>de</strong>sceu das vigas, coxeava. Jonas lhe<br />

examinou a panturrilha e encontrou uma contusão enorme.<br />

-Tem má aparência. Como fez isto? - O homem resmungou algo<br />

ininteligível. -Suponho que não lhe faria isso uma mulher, não? Encurralou-te<br />

com seu pequeno arpão para tubarões?<br />

Aleksan<strong>de</strong>r estudou ao russo.<br />

-Você <strong>de</strong>ve ser Chernyshev.<br />

O homem se mostrou alarmado e afastou o rosto. Jonas e Jackson<br />

apressaram Chad e Chernyshev para o carro algemados.<br />

-Esperem!!- protestou Mason, sua voz era rouca pelo <strong>de</strong>sgosto. Olhou<br />

Aleksan<strong>de</strong>r com <strong>de</strong>sespero. -Dispararam em uma mulher, minha ex-esposa,<br />

Sylvia Fredrickson. Ouvi-a gritar, ouvi-a suplicar ao Prakenskii. Soava muito<br />

assustada e logo houve um disparo. Eles <strong>de</strong>vem saber o que lhe aconteceu.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r tocou o ombro do homem um pouco torpemente.<br />

-Escapou. Está na casa das Drake. Foi a elas em busca <strong>de</strong> ajuda para você.<br />

Por um momento as lágrimas brilharam tenuamente nos olhos <strong>de</strong> Mason<br />

mas piscou para afastá-las.<br />

-Está seguro <strong>de</strong> que se encontra bem? Nunca gostou das Drake. Não posso<br />

acreditar que foi até elas.


215<br />

-Acredito que nada lhe importava exceto que fosse resgatado. Estava<br />

segura <strong>de</strong> que lhe fossem matar e as Drake são mulheres po<strong>de</strong>rosas. Acredito<br />

que pensou que eram sua melhor oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sobreviver. Foi muito valente.<br />

Mason abaixou a cabeça, mas Aleksan<strong>de</strong>r percebeu a florescente<br />

compreensão em seus olhos.<br />

-Sim, foi não é?<br />

Aleksan<strong>de</strong>r ajudou Mason Fredrickson a sentar-se.<br />

-Fizeram-lhe mal <strong>de</strong> algum modo?- Ainda estava intranqüilo. Nada neste<br />

inci<strong>de</strong>nte lhe parecia bem.<br />

-Chernyshev me golpeou um pouco. Chad se manteve longe <strong>de</strong> mim. -<br />

Mason lambeu os lábios ressecados. -Não tem água, certo? Depois que o outro<br />

russo partiu, ninguém me <strong>de</strong>u <strong>de</strong> beber.<br />

-Prakenskii?- Aleksan<strong>de</strong>r manteve a voz casual.<br />

Mason assentiu com a cabeça.<br />

-Sim, esse era seu nome. Ele dirigia tudo. Chernyshev queria me matar<br />

imediatamente. Entrei no beco <strong>de</strong> trás da galeria e eles estavam ali fora com o<br />

Chad. Acreditei que lhe estava extorquindo, assim fui lhe ajudar. Ouvi Chad dizer<br />

que queria cem mil dólares para transportar a bomba. A seguinte coisa que<br />

soube, é que Chernyshev me colocava uma arma contra a cabeça e que ia matarme<br />

ali mesmo. Chad não disse nada mas esse tipo, Prakenskii, saiu do nada e os<br />

<strong>de</strong>teve. Disse que po<strong>de</strong>riam me utilizar. Chernyshev começou a discutir com ele,<br />

mas não muito. Pu<strong>de</strong> ver que todos lhe tinham medo.<br />

-Prakenskii fez mal a você?<br />

-Não, <strong>de</strong>u-me água e comida e quando Chernyshev se zangou por algo e<br />

me <strong>de</strong>u um chute, Prakenskii lhe disse que se voltasse a fazê-lo ia matá-lo.<br />

Disse-o realmente baixo, sem nenhuma inflexão, mas Chernyshev assustou-se<br />

como o inferno. Não voltou a me tocar <strong>de</strong>pois disso.<br />

-Vou te pôr em pé. Só se agarre a mim e vejamos se suas pernas<br />

funcionam.<br />

Mason apertou os <strong>de</strong>ntes.<br />

-Cara, dói como o <strong>de</strong>mônio. Sinto como se me estivessem picando mil<br />

abelhas.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r lhe ajudou a levantar-se, lhe mantendo agarrado quando<br />

Fredrickson cambaleou e rompeu a suar copiosamente.<br />

-Aon<strong>de</strong> foi Prakenskii?<br />

-Não sei. Disse ao Chad e ao tipo russo que lhe esperassem aqui e se<br />

encontrassem com ele <strong>de</strong>pois que houvessem dado encargo <strong>de</strong> você.<br />

-O que disse exatamente?<br />

Jonas retornou e segurou Mason pelo lado esquerdo.<br />

-Po<strong>de</strong> caminhar?<br />

Aleksan<strong>de</strong>r se <strong>de</strong>teve.<br />

-Realmente tenho que saber o que disse Prakenskii. É importante. -<br />

Encontrou o olhar <strong>de</strong> Jonas. -Acredito que isto é um chamariz. Fazem-nos olhar<br />

em uma direção enquanto eles vão em outra. Prakenskii sabia que eu nunca<br />

cairia nesta armadilha. Com ou sem você, não há modo que me pegassem.<br />

Enviou-nos aqui para nos tirar do caminho. E isso significa que vão fazer a<br />

entrega esta noite.


216<br />

Fredrickson sacudiu a cabeça.<br />

-Não. Iriam utilizar Chad para transportar a bomba.<br />

Jonas encontrou o olhar <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r e esten<strong>de</strong>u a mão para tomar o<br />

braço <strong>de</strong> Fredrickson, caminhando com ele até o carro on<strong>de</strong> pu<strong>de</strong>sse sentar-se<br />

comodamente e esperar seus ajudantes.<br />

Quando retornou, Aleksan<strong>de</strong>r esclareceu a garganta<br />

-Estava temendo que pu<strong>de</strong>ssem estar trazendo uma bomba nuclear. Não<br />

teria que ser muito maior que o tamanho <strong>de</strong> uma mala. - passou os <strong>de</strong>dos pelo<br />

cabelo. -Em meu país temos todo tipo <strong>de</strong> material <strong>de</strong> refugo putrefato espalhado<br />

por toda parte, abandonado da era nuclear. Po<strong>de</strong>ria contar a você histórias sobre<br />

isso que nem sequer acreditaria. Nikitin provavelmente está muito comprometido<br />

no contrabando. Essa não é minha jurisdição, mas ouvi rumores. Ele é muito<br />

violento e é um fato conhecido que os contrabandistas <strong>de</strong> urânio são os mais<br />

repugnantes. - Olhou ao Jonas. -Não faz muito tempo que o vice-presi<strong>de</strong>nte<br />

emitiu uma advertência <strong>de</strong>clarando que as bombas nucleares e as substâncias<br />

biológicas feitas <strong>de</strong> material radioativos seriam as armas que os terroristas mais<br />

tentariam obter. Sabia do que estava falando. Temos informação a algum tempo<br />

<strong>de</strong> que os terroristas estão tratando <strong>de</strong> adquirir os materiais. As centrais elétricas<br />

e institutos nucleares e biológicos são vulneráveis na Rússia, não são como aqui<br />

nos Estados Unidos. O vice-presi<strong>de</strong>nte esteve trabalhando para melhorar a<br />

segurança.<br />

Jonas amaldiçoou em tom baixo.<br />

-Por que a trariam aqui? Por que não a Florida ou ao sul da Califórnia?<br />

-Porque ninguém suspeitaria <strong>de</strong>sta zona e têm uma rota viável. Foi só má<br />

sorte que um pescador o notasse, avisasse a Interpol e puséssemos em marcha<br />

nossa investigação. - Aleksan<strong>de</strong>r soltou o fôlego <strong>de</strong>vagar. -Terão que encontrar o<br />

cargueiro esta noite. Cherynshev e Kingman eram peões sacrificáveis.<br />

Provavelmente Prakenskii pensou que morreriam.<br />

Jonas olhou seu relógio <strong>de</strong> pulso.<br />

-Outros ajudantes chegaram para levar os prisioneiros e <strong>de</strong>ixaremos que<br />

também levem Fredrickson. Quereremos Jackson conosco.<br />

-Sua guarda costeira vai querer encarregar-se disso. Terá que notificar-lhe<br />

e lhes dar uma lista com os nomes dos cargueiros que estivemos rastreandodisse<br />

Aleksan<strong>de</strong>r. -Se algum dos cargueiros está na zona, esse é seu navio. O<br />

cargueiro se aproximará do pesqueiro ou alguns homens se aproximarão<br />

diretamente utilizando uma embarcação. - No momento em que escaparam as<br />

palavras, sua cabeça se elevou <strong>de</strong> repente.<br />

Jonas lhe dirigiu um olhar interrogativo, mas Aleksan<strong>de</strong>r olhava para os<br />

ajudantes e prisioneiros e sacudiu a cabeça.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r esperou impacientemente enquanto o xerife e seu ajudante<br />

realizavam a mudança <strong>de</strong> prisioneiros ao outro veículo e notificavam a guarda<br />

costeira suas suspeitas. Proporcionou-lhes os nomes <strong>de</strong> vários cargueiros<br />

conhecidos pela Interpol por ter sido utilizados por contrabandistas ou terroristas<br />

e que po<strong>de</strong>riam estar na zona. Um segundo carro do escritório do xerife levou<br />

Mason Fredrickson. Jonas disse ao condutor que levasse Fredrickson a casa das<br />

Drake. O homem parecia mais preocupado por ver a ex-mulher que a um médico.


217<br />

No momento em que ficaram sozinhos no carro, Jonas se voltou para<br />

Aleksan<strong>de</strong>r.<br />

-Por que quer que a guarda costeira intercepte o navio sem nós? Eles nunca<br />

os <strong>de</strong>terão.<br />

-Por isso. Acredito que é muito tar<strong>de</strong>. Há muitos nomes, muitos lugares<br />

on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m estar mar a<strong>de</strong>ntro. Inclusive com toda a tecnologia atual. Como vão<br />

encontrar a tempo? Quando Abigail e eu comprovávamos as cavernas, ela me<br />

falou <strong>de</strong> uma que po<strong>de</strong>ria ser utilizada para escon<strong>de</strong>r uma embarcação.<br />

Mencionou especificamente que estava encarada para o sul e guarda costeira<br />

não seria capaz <strong>de</strong> vê-los quando passassem por ali. Disse que se podia acessar à<br />

pequena praia por terra, mas que havia um guarda muito enérgico que evitava<br />

que as pessoas a utilizasse. Pelo visto recentemente teve um aci<strong>de</strong>nte.<br />

Jonas e Jackson <strong>de</strong>ram <strong>de</strong> ombros, intrigados.<br />

-Há centenas <strong>de</strong> pequenas baías ao longo <strong>de</strong>ste litoral.<br />

-Alguma perto do Elk?<br />

-Não falaria do Cuffey's Cove verda<strong>de</strong>?- Perguntou Jackson. -Uns poucos<br />

campistas a utilizam. Não haveria muita privacida<strong>de</strong>.<br />

-Mencionou Cuffey's Cove, mas não era essa. É uma baía ao norte do Elk e<br />

não tem acesso ao público.<br />

Jonas tamborilou com os <strong>de</strong>dos sobre o volante.<br />

-Espera um momento. Já sei <strong>de</strong> que lugar estava falando- virou-se para<br />

olhar Jackson. -Recorda faz uns poucos anos quando uma baleia cinza esteve<br />

perto da praia?<br />

Jackson assentiu.<br />

-As pessoas atravessaram proprieda<strong>de</strong>s privadas, rompendo as cercas para<br />

olhar a baleia.<br />

-Foi um <strong>de</strong>sastre- esteve <strong>de</strong> acordo Jonas. –Estou certo que essa é a baía<br />

que se referia Abbey. O guarda, com nossa ajuda, expulsou-os. É uma zona<br />

formosa, mas proprieda<strong>de</strong> privada. Abigail tem razão. Po<strong>de</strong>riam escon<strong>de</strong>r<br />

facilmente uma zodíac pequena ali. - Tirou o celular. -Farei uma comprovação<br />

com Abbey e as alertarei <strong>de</strong> on<strong>de</strong> nos dirigimos. Se estão preocupadas com o<br />

Prakenskii, quererei as preparadas para nos ajudar.<br />

-Abigail não é telepática- disse Aleksan<strong>de</strong>r. -Como saberão quando<br />

necessitamos <strong>de</strong> ajuda?<br />

Jonas <strong>de</strong>u <strong>de</strong> ombros, com um débil sorriso no rosto.<br />

-Com as Drake, simplesmente não pergunta. Disse-lhe isso, tem que aceitar<br />

o que vê e ouve com elas. E inclusive embora Abbey não seja telepática, um par<br />

das outras o são.<br />

-Genial. - suspirou Aleksan<strong>de</strong>r. -Vamos à baía. Falar das Drake me dá dor<br />

<strong>de</strong> cabeça.<br />

Jonas riu brandamente.<br />

-Isso é porque são uma dor <strong>de</strong> cabeça.<br />

-Bem, as chame e terminemos com isso.<br />

-Estamos na costa, Aleksan<strong>de</strong>r. Só há um par <strong>de</strong> lugares nos arredores<br />

on<strong>de</strong> um celular funciona realmente.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r admirou a forma que Jonas conduziu ao longo da estrada,<br />

manobrando pelas curvas do caminho com muita segurança. Não gostava <strong>de</strong>


218<br />

confiar na guarda costeira para tratar <strong>de</strong> interceptar o navio, mas a verda<strong>de</strong> era<br />

que acreditava que não tinham feito a chamada a tempo. A tática dilatória <strong>de</strong><br />

Prakenskii certamente tinha surtido efeito. Viram-se forçados a fazer uma<br />

aproximação lenta ao celeiro para assegurar segurança. O plano inteiro tinha sido<br />

concebido para atrasá-los tanto tempo como fosse possível.<br />

Jonas lhe olhou através do espelho retrovisor.<br />

-Pensa em voz alta.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r <strong>de</strong>u <strong>de</strong> ombros.<br />

-Tenho mais pergunta que respostas.<br />

-As ouçamos.<br />

-Isto ainda não tem nenhum sentido para mim. - Aleksan<strong>de</strong>r repousou a<br />

cabeça contra o assento, tratando <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar fora toda o resto além da<br />

adivinhação. -Prakenskii sacrificou <strong>de</strong>liberadamente Chad Kingman e Chernyshev.<br />

Por quê? Simplesmente para ganhar tempo? E se Sylvia não tivesse ido à polícia?<br />

E se não tivesse ido às Drake? Abigail diz que ele é como elas, que é capaz <strong>de</strong><br />

utilizar magia. É possível que plantasse uma sugestão na mente <strong>de</strong> Sylvia para<br />

que fosse a casa das Drake? Foi assim que pô<strong>de</strong> fazer sua armadilha tão<br />

exitosamente? - Algo ficava continuamente ao fundo <strong>de</strong> sua mente e <strong>de</strong> repente<br />

se inclinou para frente em seu assento. -Por que <strong>de</strong>mônios está Prakenskii<br />

trabalhando tão duramente para colocar uma bomba nuclear nos Estados Unidos?<br />

Se os rumores forem certos, <strong>de</strong>spreza aos terroristas. Nikitin trata com<br />

terroristas, mas mantém Prakenskii ao redor para seu amparo pessoal. Todo<br />

mundo teme Prakenskii. Especialmente os terroristas. A coisa é que Nikitin<br />

mantém Prakenskii longe <strong>de</strong>les.<br />

-Deve ser um homem valioso para que Nikitin lhe conserve- murmurou<br />

Jonas.<br />

-Prakenskii tem fontes às que ninguém mais po<strong>de</strong> aproximar-se. Não passa<br />

muito sem que ele esteja à par <strong>de</strong> tudo que acontece. - Logo que pronunciou as<br />

palavras em voz alta esse outro pensamento que lhe tinha estado incomodando<br />

no fundo <strong>de</strong> sua mente saltou à vanguarda. -É possível que nos oferecesse em<br />

ban<strong>de</strong>ja Kingman e Chernyshev? Entregou-nos isso?<br />

-Por que faria isso?<br />

-Encontrei-me com ele faz um par <strong>de</strong> dias nos terrenos das Drake. Acreditei<br />

que estava ali para matar Abigail ou esperando por mim, mas ele o negou. E<br />

negou ter matado Danilov. Prakenskii é um montão <strong>de</strong> coisas, mas não um<br />

mentiroso.<br />

Jonas soprou.<br />

-Acreditar que um capanga não é um mentiroso é uma boa forma <strong>de</strong> fazer<br />

que lhe matem. Por que <strong>de</strong>mônios diria a verda<strong>de</strong> a você? Que outra razão teria<br />

tido para estar nas imediações da casa Drake exceto para te matar ou matar a<br />

uma das mulheres?- Não gostava da idéia <strong>de</strong> um assassino espreitando em<br />

nenhuma parte perto da família Drake e se notava no grunhido em sua voz.<br />

-Carol estava tirando fotos das irmãs Drake nesse momento e afirmou que<br />

havia uma luz em uma das janelas. Suponho que alguém mais, alguém como<br />

Leonid Ignatev, estava planejando matar Abigail e Prakenskii cuidava <strong>de</strong>la. Isso é<br />

algo que ele faria.


219<br />

-Por que quereria Ignatev matar Abbey?- Perguntou Jonas, a cólera<br />

suprimida estava voltando muito mais forte e muito mais letal.<br />

-Era prioritário para mim tirar da Rússia Abigail ilesa, para isso tive que pôr<br />

Ignatev ao <strong>de</strong>scoberto. Ele a teria matado. Teve a seus homens golpeando-a para<br />

obrigá-la a me entregar. Eliminei a seus interrogadores e apresentei provas o<br />

suficientemente sólidas contra ele para lhe obrigar a fugir porque puseram preço<br />

a sua cabeça. Ele pôs preço à minha e estou seguro <strong>de</strong> que fez o que pô<strong>de</strong> por<br />

matar Abbey só para chegar até mim.<br />

-Como planeja lhe <strong>de</strong>ter?<br />

-Você é o xerife. Não acredito que discutir isso com você seja o melhor<br />

plano- disse Aleksan<strong>de</strong>r. -Especialmente quando na realida<strong>de</strong> tenho planejado<br />

pedir trabalho para você quando Abbey e eu nos casarmos.<br />

-Só se assegure <strong>de</strong> acabar o trabalho- disse-lhe Jonas.<br />

-Eu não <strong>de</strong>ixo cabos soltos. - Aleksan<strong>de</strong>r observou a costa passar voando<br />

enquanto conduziam velozmente pela estrada. O oceano se inchava em gran<strong>de</strong>s e<br />

po<strong>de</strong>rosas ondas que se aproximavam dos escarpados, coroadas <strong>de</strong> branco e<br />

enviando gotas no ar quando a água me chocava contra as formações rochosas.<br />

-Por que protegeria Prakenskii a Abigail?- perguntou Jackson.<br />

Era a primeira frase que Aleksan<strong>de</strong>r lhe tinha ouvido pronunciar.<br />

Obviamente era homem <strong>de</strong> poucas palavras.<br />

-Essa é uma boa pergunta. Na realida<strong>de</strong> não posso respondê-la. Crescemos<br />

e nos a<strong>de</strong>straram juntos. Ele escolheu um lado e eu ao outro. Encontramo-nos<br />

umas poucas vezes após e nos enfrentamos, ambos terminamos nos lambendo as<br />

feridas.<br />

-Lhe protegeria?- perguntou Jonas.<br />

O primeiro pensamento <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r foi negá-lo, mas quem sabia na<br />

realida<strong>de</strong> o que acontecia na mente <strong>de</strong> Ilya Prakenskii? Freqüentemente fazia o<br />

inesperado. Sempre tinha havido muitos rumores sobre ele. Era quase uma lenda<br />

em alguns lugares da Rússia, seu nome se sussurrava em vez <strong>de</strong> ser pronunciado<br />

em voz alta.<br />

-Não sei. Por que o faria? Disparou-me uma vez e me feriu outra vez,<br />

<strong>de</strong>ixou-me fora <strong>de</strong> jogo durante um par <strong>de</strong> meses.<br />

-É o bastante bom para ferir você sem danificar seriamente?- perguntou<br />

Jonas.<br />

-Depen<strong>de</strong> do que entenda por me danificar seriamente. Não me senti<br />

precisamente maravilhosamente bem <strong>de</strong>pois que me <strong>de</strong>u um tiro. - Mas sabia que<br />

Prakenskii tinha escolhido não lhe matar. Prakenskii simplesmente não falhava.<br />

Acertava exatamente no alvo ao que apontava cada vez. Se tivesse querido lhe<br />

matar, Aleksan<strong>de</strong>r estaria morto. -Falhou <strong>de</strong>liberadamente.<br />

-E você lhe <strong>de</strong>ixou escapar <strong>de</strong>liberadamente. - Declarou Jackson.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r estava incomodamente consciente que Jonas lhe observava pelo<br />

espelho retrovisor. Ele não tinha as respostas que eles <strong>de</strong>sejavam. Algo<br />

profundamente em seu interior <strong>de</strong>sculpava Prakenskii. Ou talvez fosse lealda<strong>de</strong><br />

mal-entendida. Ou possivelmente a magia <strong>de</strong> Prakenskii. Esse era ainda um fato<br />

difícil <strong>de</strong> tragar para Aleksandr. Po<strong>de</strong>ria Prakenskii havê-lo estado manipulando-o<br />

como estava seguro <strong>de</strong> que tinha manipulado a Sylvia?<br />

Amaldiçoou.


220<br />

-Não sei. Simplesmente isto não encaixa com tudo o que sei <strong>de</strong> Prakenskii.<br />

Não posso lhe ver envolto com terroristas. Há histórias sobre ele que sei que não<br />

são certas, mas muitas o são, e algumas são piores do que contam. Nikitin lhe<br />

enviou a encontrar-se com um grupo <strong>de</strong> terroristas que se acreditava estavam<br />

colocando bombas em vias <strong>de</strong> ferrovia. Bombar<strong>de</strong>ar os trens é uma tática muito<br />

utilizada nas reivindicações políticas. Isso foi nos primeiros dias quando Nikitin<br />

não conhecia muito bem Prakenskii e não tinha nem idéia <strong>de</strong> seus pontos <strong>de</strong> vista<br />

sobre o terrorismo. Todos os terroristas estavam armados, todos muito bem<br />

treinados e experimentados. Depois vi as fotos da cena. Estavam todos mortos e<br />

morreram duramente. Ele partiu sem um só arranhão.<br />

-É uma maravilha que Nikitin não o fizesse matar. - disse Jonas.<br />

-Pensei-o naquele momento. Preocupei-me com ele. - Aleksan<strong>de</strong>r esfregou<br />

a sombra <strong>de</strong> sua mandíbula. Exalou lentamente, sopesando quanto <strong>de</strong>via dizer.<br />

Abigail confiava em Jonas explicitamente e era óbvio que Jonas confiava no<br />

Jackson. -Ouvi um rumor muito suave sobre a formação <strong>de</strong> uma unida<strong>de</strong><br />

antiterrorista. Havia rumores que participam vários países. A informação se faz<br />

quase certa -vacilou outra vez- -Parece-se muito a Interpol e uma vez que<br />

<strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m que encontraram uma célula terrorista enviam um grupo <strong>de</strong> assalto. Os<br />

membros da equipe são totalmente anônimos; entram silenciosamente e saem.<br />

Executam a todos. Por isso sei são totalmente anônimos para po<strong>de</strong>r operar com<br />

segurança, já que <strong>de</strong> outro modo os terroristas iriam certamente atrás <strong>de</strong> suas<br />

famílias.<br />

Jonas lhe olhou com olhos duros e frios.<br />

-Como conseguem informação se não fazem prisioneiros?<br />

Aleksan<strong>de</strong>r <strong>de</strong>u <strong>de</strong> ombros, lhe <strong>de</strong>volvendo um olhar inexpressivo.<br />

-Demônios. Sabe muito mais do que está disposto a admitir.<br />

-Estou te dizendo que há uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que esta equipe exista e Ilya<br />

Prakenskii forme parte <strong>de</strong>la. Quando vi essas fotos, me ocorreu que Prakenskii<br />

seria o recruta perfeito para uma força internacional.<br />

Fez-se um pequeno silêncio. Jonas o rompeu primeiro.<br />

-Assim se ele estivesse nessa força internacional e estivesse aqui, estaria<br />

trabalhando encoberto. É aí on<strong>de</strong> quer ir parar com tudo isto, verda<strong>de</strong>? Suspeitao<br />

há algum tempo, mas não tem certeza.<br />

-Não, não tenho. Se estou equivocado e na realida<strong>de</strong> é o braço forte <strong>de</strong><br />

Nikitin, <strong>de</strong>sperdicei várias oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> lhe matar.<br />

-E se está seguindo a uma célula terroristas e veio aqui, então significa que<br />

em meu condado há um problema grave. - Jonas golpeou o volante com a palma<br />

da mão. -E se estiver encoberto, entregou Chernyshev porque averiguou que<br />

Chernyshev tinha matado Danilov. Chad Kingman não tinha nenhum valor para<br />

ele.<br />

-E nos tirou do seu caminho.<br />

-Terá apoio?- perguntou Jackson.<br />

-Duvido. Nunca soube que trabalhasse com ninguém. Tentou manipular<br />

Abbey na noite que fomos ao Caspar Inn. Ela o <strong>de</strong>safiou a um jogo <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> ou<br />

conseqüência e se notava que estava incômodo. - Aleksan<strong>de</strong>r espiou pela janela.<br />

-Devemos estar perto. Não queremos que nos vejam se tiverem a um vigia.


221<br />

-Não se preocupe. Conheço a zona- disse Jonas. -Digamos, só por um<br />

momento, que tem razão e Prakenskii está em alguma equipe antiterrorista<br />

internacional mas não o po<strong>de</strong> admitir. Não estaria em alto mar lhes observando<br />

fazer a entrega, certo?<br />

-Não, não o faria. - A voz <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r era sombria. Seu olhar estava já<br />

procurando os lugares altos sobre eles. -Sentará em algum lugar sobre essas<br />

pedras com uma visão telescópica e um rifle e eliminará a todos.<br />

Jonas estacionou o carro <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uns arbustos muito crescidos em uma<br />

estrada secundária.<br />

-Caminharemos daqui.<br />

-Irei colocar-me- disse Jackson. -Terão que me dar uns minutos para<br />

encontrar minha posição, especialmente se tiver que me preocupar que ele esteja<br />

aí fora.<br />

-Em meu país, a folha da faca está freqüentemente impregnada <strong>de</strong> veneno<br />

<strong>de</strong> forma que um simples corte, inclusive um arranhão, mataria. - Até com a<br />

cobertura dos arbustos, Aleksan<strong>de</strong>r se agachou e manteve a voz baixa. -<br />

Prakenskii po<strong>de</strong> atacar com igual habilida<strong>de</strong> com as duas mãos. Vi muito poucos<br />

com a suficiente habilida<strong>de</strong> para enfrentá-lo.<br />

-Não vou por ele- disse Jackson. –Protejo você e ao Jonas.<br />

-Se tiver que disparar, ele verá o brilho e te rastreará. - Aleksan<strong>de</strong>r não<br />

sabia como sacudir o ajudante, lhe fazer consciente <strong>de</strong> quão perigoso era<br />

Prakenskii na realida<strong>de</strong>. Os olhos <strong>de</strong> Jackson eram negros, duros, frios e vazios.<br />

Não havia expressão em sua cara e nada do que lhe dizia o agente da Interpol<br />

parecia lhe alarmar. Aleksan<strong>de</strong>r conhecia esse olhar muito bem. Quando se<br />

olhava no espelho, esses mesmos olhos mortos lhe <strong>de</strong>volviam o olhar.<br />

-Jackson sabe o que se faz- Jonas lhe <strong>de</strong>u uns óculos <strong>de</strong> visão noturna. -<br />

Po<strong>de</strong> precisar <strong>de</strong> um <strong>de</strong>stes.<br />

-Obrigado.<br />

-Vou assinalar com a luz quando estiverem bem longe do navio- disse<br />

Jonas, sustentando um gran<strong>de</strong> foco. -Espera que me i<strong>de</strong>ntifique e lhes diga que<br />

estão a vista.<br />

-Não tenho nenhum problema com isso.<br />

-Vamos, então- disse Jonas.<br />

Jonas conhecia o terreno, assim Aleksan<strong>de</strong>r ficou atrás <strong>de</strong>ixando ir primeiro.<br />

Permaneceram entre as sombras da folhagem, mantendo-se fora da luz da lua<br />

enquanto abriam passo através do terreno aci<strong>de</strong>ntado para a cerca. Passaram<br />

através dos arames <strong>de</strong> um em um, mantendo seus movimentos lentos e fluidos,<br />

tentando fundir-se com as sombras em movimento. O vento os acompanhava,<br />

movendo a vegetação, mantendo-a em constante movimento para lhes ajudar a<br />

confundir o olho <strong>de</strong> qualquer observador.<br />

Jonas se agachou quando a terra começou a inchar-se, movendo-se mais<br />

rápido agora para cobrir mais terreno e colocar-se em posição. Aleksan<strong>de</strong>r se<br />

separou e foi à esquerda enquanto <strong>de</strong>sciam pelo outro lado da pequena colina. A<br />

baía apareceu à vista, embalada entre dois afiados escarpados. Ciprestes<br />

açoitados pelo vento cobriam o topo <strong>de</strong> ambos os escarpados, embora um<br />

suporte rochoso se estendia por volta do mar, abrigando a baía <strong>de</strong> olhos curiosos.<br />

A zona inteira era uma amalucada explosão <strong>de</strong> flores, arbustos e árvores.


222<br />

As ondas banhavam a borda arenosa, <strong>de</strong>dilhada <strong>de</strong> rochas. Partes retorcidas <strong>de</strong><br />

ma<strong>de</strong>ira flutuavam dispersos pela areia, formando escuras e malévolas formas. O<br />

retumbar do mar era forte e ressonava através da pequena baía bem protegida.<br />

Águas brancas salpicavam aos flancos do escarpado.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r se agachou, engatinhando até aproximar-se da beirada da<br />

cobertura da vegetação como pô<strong>de</strong>. Duas gran<strong>de</strong>s rochas arredondadas estavam<br />

juntas ante a linha <strong>de</strong> vegetação e as utilizou, estirando-se <strong>de</strong>itado atrás, o<br />

buraco entre elas era perfeito para ver através. Tinha uma boa vista da baía e o<br />

mar. A idéia <strong>de</strong> Prakenskii à espera com um rifle em alguma parte sobre ele lhe<br />

provocou um arrepio muito familiar entre as omoplatas. Não se moveu, não<br />

cometeu o engano <strong>de</strong> procurar outro lugar, mas sim manteve os olhos fixos no<br />

mar.<br />

Passaram os minutos. Quinze. Trinta. Uma hora. O ar noturno era frio sobre<br />

sua pele. Voltou a olhar seu relógio <strong>de</strong> pulso. Podia estar equivocado. Era possível<br />

que estivessem na baía equivocada. Ou que fosse a noite equivocada, que tivesse<br />

interpretado mal completamente os sinais. Permaneceu quieto e agra<strong>de</strong>ceu a<br />

profissionalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jonas. O xerife não fazia o mais mínimo ruído.<br />

O vento se fez mais forte, lhe alvoroçando os cabelos e a vegetação ao seu<br />

redor. Ouviu uma canção suave, vozes femininas montando a brisa marinha. As<br />

palavras eram incompreensíveis, mas as notas se <strong>de</strong>slizaram em sua mente com<br />

uma advertência. Tirou a arma com um movimento lento, cuidadoso e a posou no<br />

oco amplo entre as duas rochas. Tinha bom ângulo da praia e podia cobrir quase<br />

toda a borda.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r sentiu o vento tocar sua face e se endireitou para ver além da<br />

larga meseta rochosa. O som <strong>de</strong> um motor se elevou sobre o rugido do mar.<br />

Soltou o fôlego lentamente e <strong>de</strong>slizou os <strong>de</strong>dos <strong>de</strong>ntro da camisa para esquentálos.<br />

A zodiac apareceu à vista, aproximando-se com rapi<strong>de</strong>z, rodando sobre as<br />

ondas e diretamente para a borda. Aleksan<strong>de</strong>r elevou os óculos <strong>de</strong> visão noturna<br />

para sua cara, os enfocando sobre o bote que se aproximava. Havia quatro<br />

homens, dois em pé e dois sentados. Reconheceu a três dos homens com o AK-<br />

47S embaladas entre os braços. Tinham estado sentados à mesa <strong>de</strong> Nikitin no<br />

Caspar Inn. O quarto era um <strong>de</strong>sconhecido. Sustentava o que parecia uma<br />

pequena mala. O condutor colocou o bote sobre a areia, montando uma onda<br />

tanto como foi possível. Dois dos homens saltaram fora e arrastaram o bote mais<br />

para a praia.<br />

Outros <strong>de</strong>sembarcaram e começaram a apressar-se para a cobertura dos<br />

arbustos mais <strong>de</strong>nsos. Aleksan<strong>de</strong>r manteve os olhos no homem da mala. Foi o<br />

último a sair do bote e ficou atrás dos outros três, que agora tinham os AKs<br />

levantados e preparados para a ação enquanto se <strong>de</strong>sdobravam e avançavam<br />

pela areia para terreno mais frondoso. Obviamente protegiam ao homem da<br />

mala.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r esperou que se afastasse do bote. Cada poucos passos se<br />

<strong>de</strong>tinha e olhava a seu redor, claramente <strong>de</strong>sejando que os outros alcançassem<br />

os arbustos antes <strong>de</strong> aventurar-se muito longe da segurança do bote. Os três<br />

homens tinham um pé na zona coberta. Aleksan<strong>de</strong>r amaldiçoou para si mesmo.


223<br />

Jonas ia ver-se forçado a lhes <strong>de</strong>slumbrar com a luz e o homem da mala estava<br />

muito perto da zodiac e possivelmente po<strong>de</strong>ria escapar.<br />

O vento trocou ligeiramente. Ouviu a tensão nas vozes das mulheres.<br />

Alarme. Foi a única advertência que teve. O homem da mala caiu ao chão,<br />

jazendo ajeitado só a uns pés do bote, com a mala abaixo <strong>de</strong>le na areia. Olhando<br />

através dos óculos <strong>de</strong> visão noturna, Aleksan<strong>de</strong>r viu uma mancha esten<strong>de</strong>ndo-se<br />

como um halo ao redor <strong>de</strong> sua cabeça.<br />

Inclusive quando Jonas <strong>de</strong>slumbrou aos outros três homens com o foco,<br />

cegando-os temporariamente, um segundo homem caiu e logo um terceiro sem<br />

emitir nem um som. O homem que ficou lançou a sua direita, mas Aleksan<strong>de</strong>r<br />

sabia que era muito tar<strong>de</strong>. Alguém tinha que estar utilizando um VSS Vintorez <strong>de</strong><br />

fabricação russa, um rifle <strong>de</strong> franco-atirador com silenciador e ondas subsônicas.<br />

O raio das ondas subsônicas não tinha tanto alcance como a munição regular<br />

assim se o franco-atirador era Prakenskii, tinha que estar apostado nos <strong>de</strong>dos <strong>de</strong><br />

rocha justo sobre eles.<br />

O franco-atirador teve que faz um, dois, três, quatro disparos rapidamente.<br />

Apertar o gatilho mover-se ao seguinte objetivo e repetir a operação. Quatro<br />

rondas rápidas e quatro mortos na areia. Não houve nenhum brilho que indicasse<br />

sua posição. O som carregado através da água não parecia o <strong>de</strong> uma arma, mas<br />

sim um suave “rat-rat-rat” que quase se perdia entre o retumbar do oceano e o<br />

movimento do vento. Aleksan<strong>de</strong>r manteve os óculos enfocados sobre os quatro<br />

homens que jaziam na areia, mas nenhum <strong>de</strong>les se movia absolutamente. Quatro<br />

tiros. Quatro mortos.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r podia ouvir Jonas soltando uma réstia <strong>de</strong> maldições.<br />

-Que diabos vou fazer com esse ato agora? Maldito seja. - Elevou a voz. -<br />

Maldito seja! Não po<strong>de</strong> fazer esse tipo <strong>de</strong> coisas nos Estados Unidos! Eu teria<br />

<strong>de</strong>tido esses bastardos. Tinham a prova com eles. Agora se encontro algo que te<br />

associe com esta matança vou ter que acusar o seu traseiro <strong>de</strong> assassinato.<br />

O silêncio respon<strong>de</strong>u a sua explosão. Jonas não se moveu. Permaneceu<br />

longe da luz, obviamente esperando um sinal do Jackson. Passou muito tempo. O<br />

ajudante teve que abrir passo ao redor do <strong>de</strong>do <strong>de</strong> rochas <strong>de</strong> on<strong>de</strong> tinham<br />

chegado os disparos. Ao Aleksan<strong>de</strong>r lhe ocorreu que enquanto eles esperavam<br />

para assegurar-se <strong>de</strong> que estava tudo bem, estavam dando tempo ao Prakenskii<br />

para afastar-se. Esse tinha que abrir passo trabalhosamente através dos arbustos<br />

em silêncio, evitando Jackson, evitando <strong>de</strong>ixar rastro e realizar sua fuga.<br />

Não haveria nenhuma prova. Nunca havia provas do passo <strong>de</strong> Prakenskii.<br />

Só os cadáveres <strong>de</strong>ixados atrás. Aleksan<strong>de</strong>r estava seguro <strong>de</strong> que o atirador era o<br />

russo, mas já se havia ido fazia muito e seria impossível lhe encontrar. Até se<br />

Jonas tivesse sorte e lhe punha as mãos em cima, nunca po<strong>de</strong>ria provar-se nada.<br />

Não encontrariam o rifle. Provavelmente estava já no mar. Não haveria nenhum<br />

resíduo, nenhum sinal <strong>de</strong>le. Esse era Prakenskii. O fantasma, mais lenda que real.<br />

O mocho ululou. Uma vez. Duas. Três.<br />

Jonas amaldiçoou outra vez.<br />

-Jackson não po<strong>de</strong> lhe encontrar. Não temos nem idéia se está por aí assim<br />

sairei e examinarei os corpos para ver se há sinal <strong>de</strong> vida. Fique fora da vista e<br />

dê um tiro no filho da puta se me matar.


224<br />

O vento soprou <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o mar. Aleksan<strong>de</strong>r sentiu o ligeiro golpe <strong>de</strong><br />

tranqüilida<strong>de</strong>.<br />

-Faz tempo que se foi. - Como sabiam as irmãs Drake e como podiam lhe<br />

transmitir a informação, não estava muito seguro, mas sabia que Prakenskii se<br />

<strong>de</strong>svaneceu na noite.<br />

Jonas saiu <strong>de</strong> entre os arbustos cautelosamente.<br />

-Acredito que uma das Drake po<strong>de</strong>ria lhe rastrear se ele for realmente como<br />

elas. Sempre parecem saber quando há problemas com alguma outra. - abriu<br />

passo até o primeiro corpo. -Eu diria que está morto. Disparou-lhe no olho<br />

esquerdo. Cada morte se fez <strong>de</strong>ste modo. Este tipo é bom. -Elevou a voz. -<br />

Jackson, temos que processar a cena do crime. Tem uma câmara com você?<br />

Teremos que fazê-lo <strong>de</strong> longe. Não quero me aproximar em nada a essa bomba.<br />

-No carro. Luvas também. - Jackson estava ainda sobre eles. -Não há<br />

nenhum rastro absolutamente, Jonas. É um fantasma.<br />

-O que estava utilizando?<br />

Aleksan<strong>de</strong>r respon<strong>de</strong>u.<br />

-Um rifle russo <strong>de</strong> franco atirador. Provavelmente um VSS Vintorez SP-6<br />

com silenciador incorporado e cartuchos subsônicos. Foi <strong>de</strong>senhado para<br />

operações especiais. As novas balas po<strong>de</strong>m transpassar a maior parte dos anti<br />

balas, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da distância.<br />

-Essa seria também minha hipótese- esteve <strong>de</strong> acordo Jackson.<br />

-É a arma favorita <strong>de</strong> Prakenskii?- exigiu Jonas. -Isto vai ser uma maldita<br />

dor <strong>de</strong> cabeça para informar. Maldito seja, <strong>de</strong>veria ter <strong>de</strong>ixado por nossa conta.<br />

Tínhamos tudo sob controle.<br />

-Prakenskii não tem nenhuma arma favorita. E você não tem absolutamente<br />

nada contra <strong>de</strong>le, nem o terá. Se chegasse a lhe pren<strong>de</strong>r e lhe interrogar, terá<br />

um álibi e não será alguém <strong>de</strong> quem <strong>de</strong>sconfie. Será alguém como a Tia Carol.<br />

Provavelmente plantará a sugestão <strong>de</strong> que estiveram juntos todo o tempo e a<br />

pessoa acreditará que assim foi. - Aleksan<strong>de</strong>r se sentou erguido, com a arma<br />

ainda preparada entre as mãos. -Não é estranho que haja tantos rumores sobre<br />

ele.<br />

-Antes que façamos qualquer outra coisa, chamemos à brigada <strong>de</strong> artífices<br />

e ao FBI- disse Jonas. Va<strong>de</strong>ou a ma<strong>de</strong>ira à <strong>de</strong>riva e os cadáveres para alcançar ao<br />

quarto homem, on<strong>de</strong> ficou <strong>de</strong> cócoras, cuidando <strong>de</strong> não danificar a cena ou<br />

aproximar-se muito à bomba. -Po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar por conta <strong>de</strong>les. Quero ter filhos<br />

algum dia. Envenenar-me com radiações não é minha idéia <strong>de</strong> diversão. -Jonas<br />

olhou fixamente em direção ao Aleksan<strong>de</strong>r. -Reconhece a algum <strong>de</strong>stes homens?<br />

-O três dos AKs trabalhavam para Nikitin. Estavam sentados a sua mesa no<br />

Caspar Inn. O quarto, aqui estou incerto, provavelmente pertencerá a qual seja o<br />

grupo terrorista que queria comprar a bomba. Ele é o repartidor. Iriam matar<br />

Kingman <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o começo. Prakenskii nos entregou isso, figurando-se que tinha<br />

uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cinqüenta por cento conosco e nenhuma com o Nikitin.<br />

Jonas se tinha agachado junto à mala.<br />

-Chernyshev certamente po<strong>de</strong>ria i<strong>de</strong>ntificar Prakenskii.<br />

-Não como nosso atirador- disse-lhe Aleksan<strong>de</strong>r.<br />

Jackson ofereceu luvas ao Jonas e a câmara que tinha tirado do carro.


225<br />

-Eu não contaria que Chernyshev i<strong>de</strong>ntificasse a ninguém. Acabo <strong>de</strong> ligar o<br />

rádio. O <strong>de</strong>spacho dizia que alguém tirou o carro do Tom da estrada antes que<br />

pu<strong>de</strong>ssem chegar ao Ukiah com os prisioneiros. O ajudante está no hospital mas<br />

os dois prisioneiros estão mortos. Ambos com uma bala na garganta.<br />

Jonas amaldiçoou outra vez.<br />

-Muitos cadáveres em um ano. - lançou a Aleksan<strong>de</strong>r um olhar escuro,<br />

suspicaz. -Não parece muito surpreso.<br />

-Não posso dizer que o esteja. Nikitin é conhecido por sua inclinação a<br />

matar a quem lhe possa trair. Kingman e Chernyshev podiam lhe i<strong>de</strong>ntificar. Era<br />

questão <strong>de</strong> tempo.<br />

-Po<strong>de</strong>ria ter me advertido. Po<strong>de</strong>ria ter perdido a um bom ajudante. Tal e<br />

como saíram as coisas Tom está ferido.<br />

-Não tinha forma <strong>de</strong> saber que Nikitin golpearia tão rapidamente.<br />

Jonas se endireitou e caminhou ao redor com cuidado enquanto tomava<br />

fotos <strong>de</strong> cada corpo <strong>de</strong> vários ângulos.<br />

-Po<strong>de</strong>ria ter sido Prakenskii.<br />

-Sabe que não foi. - Aleksan<strong>de</strong>r esten<strong>de</strong>u os braços <strong>de</strong> par em par para<br />

incluir a baía inteira. -Este é o trabalho <strong>de</strong> Prakenskii. Temos a bomba e isso é o<br />

que conta.<br />

-E eu tenho um montão <strong>de</strong> cadáveres - resmungou Jonas. -Vamos estar<br />

aqui toda a noite assegurando a cena e a maior parte do dia <strong>de</strong> amanhã,<br />

esperando aos fe<strong>de</strong>rais.<br />

-Vou procurar café- disse Jackson.


226<br />

Capítulo – 19<br />

Abigail apertou os <strong>de</strong>dos ao redor dos <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r e lhe arrastou atrás do<br />

balcão do pão, agachando-se em um esforço por escon<strong>de</strong>r-se. A loja <strong>de</strong><br />

comestíveis estava enchendo rapidamente <strong>de</strong> clientes madrugadores.<br />

-Acreditei que aqui estaríamos a salvo- vaiou -Quem se levanta tão cedo?<br />

-Aparentemente todo mundo. - Não pô<strong>de</strong> evitar sorrir ante suas<br />

travessuras.<br />

-Agora acredita que é gracioso. - Abigail o fulminou com o olhar. -Não o<br />

será em um ou dois minutos. Tenho que ir à baía hoje. Não posso <strong>de</strong>ixar aos<br />

golfinhos outro dia ou se dirigirão mar a<strong>de</strong>ntro e per<strong>de</strong>rei noventa por cento <strong>de</strong><br />

meu tempo tratando <strong>de</strong> encontrá-los.<br />

As vozes vagaram até eles:<br />

-Inez, isso não po<strong>de</strong> ser. Ouvi que ali havia ao menos trinta corpos<br />

pulverizados pela praia. A bomba explodiu. Provavelmente todos fomos expostos<br />

à radiação. Acredite, o câncer vai proliferar aqui em Sea Haven.<br />

Abigail espiou através das prateleiras abertas do pão para ver Cly<strong>de</strong> Dar<strong>de</strong>n<br />

agarrar a sua esposa fortemente enquanto soltava sua mensagem com voz forte.<br />

Vários vizinhos ofegaram com alarme.<br />

Atrás do balcão Inez Nelson sacudiu a cabeça.<br />

-Isso é uma tolice, Cly<strong>de</strong>. Jonas estava ali mesmo e se encarregou <strong>de</strong> tudo.<br />

A brigada <strong>de</strong> artífices chegou e a dirigiram sem problemas. A bomba certamente<br />

não explodiu. Havia só quatro homens mortos, não trinta e se me perguntar, o<br />

tinham merecido. Não <strong>de</strong>veriam ter trazido bombas a nosso país. - Soltou um<br />

pequeno bufo e fechou ruidosamente a caixa registradora com um golpe um<br />

pouco mais ru<strong>de</strong> do necessário.<br />

Cly<strong>de</strong> se inclinou sobre o balcão para recolher suas duas bolsas <strong>de</strong><br />

comestíveis.<br />

-Frank Warner estava envolvido. Sua galeria está fechada e ele está na<br />

ca<strong>de</strong>ia. Levaram várias pinturas do lugar como prova. Algum agente <strong>de</strong> gatilho<br />

fácil da Interpol lhe estava controlando todo o tempo.<br />

Abigail cravou o polegar nas costelas <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r.


227<br />

-Esse é você - sussurrou. - O <strong>de</strong> gatilho fácil.<br />

-Isso é certo, Inez?- perguntou Gina Farley, a professora da pré-escolar<br />

local. -Frank está realmente <strong>de</strong>tido? Parecia um bom homem.<br />

-E tão tranqüilo- acrescentou a Sra. Dal<strong>de</strong>n.<br />

-Tinha um olhar ardiloso- disse Cly<strong>de</strong>. -Sempre suspeitei que fosse um<br />

espião.<br />

-É um ladrão <strong>de</strong> arte, não um espião- corrigiu-lhe Inez com um pequeno<br />

suspiro. -Não tinha nada que ver com a bomba. Chad Kingman era o que estava<br />

envolvido nisso, junto com os russos que estavam no povoado.<br />

Cly<strong>de</strong> sacudiu a cabeça.<br />

-É a guerra fria outra vez. Invadiram-nos e vigiam nossa costa. Disse<br />

aqueles jovenzinhos da estação da guarda costeira que tinham que estar alerta,<br />

mas não me escutaram.<br />

-Não nos invadiram- corrigiu-lhe Inez outra vez, com uma pequena<br />

amargura incomum na voz. -De verda<strong>de</strong>, Cly<strong>de</strong>. Tivemos um inci<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong>safortunado e per<strong>de</strong>mos a um homem <strong>de</strong> negócios realmente genial. Frank<br />

Warner fez muito por nosso povoado. Por favor, recorda-o quando começar a<br />

falar <strong>de</strong>le. - Abaixou a cabeça, concentrando-se em cobrar ao seguinte cliente.<br />

-O que vai acontecer com ele, Inez?- perguntou Gina.<br />

-Não sei. - Sua voz resultou estrangulada. -A verda<strong>de</strong> é que não sei.<br />

Abigail pressionou a mão sobre o coração.<br />

-Realmente está preocupada com ele, Sasha. Meu coração dói pelo <strong>de</strong>la.<br />

Acredito que direi a Libby que a aju<strong>de</strong> e lhe alivie um pouco o sofrimento.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r se inclinou para lhe dar um beijo na têmpora.<br />

-O<strong>de</strong>ia ver alguém infeliz.<br />

-Isso não é necessariamente certo - objetou ela. -Ao menos aten<strong>de</strong><br />

rapidamente aos clientes. Isso significa que <strong>de</strong>veríamos ser capazes <strong>de</strong> sair daqui<br />

sem interrogatórios.<br />

Retorceu-lhe o rabo-<strong>de</strong>-cavalo ao redor <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>do.<br />

-Sabe que temos que tomar cuidado, Abbey. Não quer pensar nisso, mas<br />

passa que as pessoas morrem quando têm alguém como Ignatev atrás <strong>de</strong>les.<br />

Temos que ser conscientes cada minuto.<br />

-Sei. - Encontrou seu olhar. -Ninguém lhe viu e a polícia revistou todas as<br />

casas que alugaram. Sabe que <strong>de</strong>ve fugir da zona. Não é como se estivesse em<br />

pé aqui fora. - Baixou a voz ainda mais. -Os povoados pequenos são muito<br />

fofoqueiros. Sabemos o que faz todo mundo. Cly<strong>de</strong> Dar<strong>de</strong>n até guarda um par <strong>de</strong><br />

binóculos junto à ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> seu alpendre para po<strong>de</strong>r vigiar a todos seus vizinhos.<br />

Afirma que observa aos pássaros.<br />

-Não quero saber estas coisas.<br />

Ela esfregou a cabeça contra seu braço.<br />

-É um bebê. Deveria ter visto sua cara quando Sylvia Fredrickson te<br />

abraçou <strong>de</strong>pois que trouxeram <strong>de</strong> volta ao Mason. E eu todo este tempo<br />

pensando que tinha cara <strong>de</strong> jogador <strong>de</strong> pôquer.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r lhe agarrou a mão esquerda e acariciou seu <strong>de</strong>do nu.<br />

-Ainda não colocou meu anel. -Os olhos <strong>de</strong>le se obscureceram a um azul<br />

meia-noite, o início <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> tormenta. Abigail sentiu seu coração saltar e<br />

correr com excitação como sempre quando ele ficava um pouco selvagem com


228<br />

ela. O apertão se firmou sobre sua mão quando levou os <strong>de</strong>dos à boca e mor<strong>de</strong>u<br />

gentilmente. -Não estou muito feliz por isso. E não me dê <strong>de</strong>sculpas. Posso vê-lo<br />

em seus olhos. Pensei que quando voltasse você o estaria usando<br />

Ela inclinou a cabeça.<br />

-Ah, sim? Eu acreditava que o homem o punha no <strong>de</strong>do da mulher.<br />

Ele franziu o cenho.<br />

-Coloquei uma vez. Você tirou.<br />

Inez elevou a voz.<br />

-Vocês dois po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> andar às escondidas atrás do balcão do pão e<br />

sair já. É seguro no momento.<br />

Abigail teria saltado à liberda<strong>de</strong>, mas Aleksan<strong>de</strong>r a conteve, inclinando-se<br />

mais perto lhe sussurrou ao ouvido,<br />

-Po<strong>de</strong> ter conseguido um indulto, mas vai ser muito curto.<br />

Ela fez uma careta e se apressou para Inez.<br />

-Como está?- Tocou <strong>de</strong>liberadamente a mão da mulher mais velha. Ela não<br />

era Libby com suas milagrosas habilida<strong>de</strong>s curativas, mas ao menos podia aliviar<br />

a <strong>de</strong>pressão <strong>de</strong> Inez a pequena escala.<br />

-Ocupada. - Inez tentou um pequeno sorriso. -Os escândalos vão sempre<br />

bem para o negócio.<br />

-Sinto pelo Frank, Inez. Sei que os dois foram muito bons amigos.<br />

Inez elevou o queixo.<br />

-Ainda somos muito bons amigos. Vou ajudar em tudo o que possa ser<br />

possível, manterei sua galeria aberta. A maior parte <strong>de</strong> seu negócio era legítimo.<br />

Infelizmente acredito que seu amor pela arte e sua necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter<br />

ultrapassou a seu sentido comum. Tinha que possuir as pinturas, embora nunca<br />

pu<strong>de</strong>sse as compartilhar. E para financiar sua necessida<strong>de</strong>, ven<strong>de</strong>u pinturas a<br />

outros colecionadores como ele. - Suspirou. -Acredito que é um vício, muito pior<br />

que o jogo ou as drogas. - Encontrou o olhar <strong>de</strong> Abigail pela primeira vez. -Ele<br />

não teve nada absolutamente a ver com essa bomba em nosso país. Nunca faria<br />

algo assim.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r se refreou <strong>de</strong> lhe recordar que Frank Warner era o responsável<br />

por abrir uma rota <strong>de</strong> contrabando que tinha possibilitado que os terroristas<br />

aproveitassem a vulnerabilida<strong>de</strong>. A mulher obviamente era muito leal a seu<br />

amigo e era tolerante com qualquer <strong>de</strong> seus enganos. Estava angustiada e ele<br />

não queria piorar as coisas, mas Frank Warner teria sido o responsável se a<br />

bomba tivesse explodido em uma área lotada.<br />

-A Tia Carol veio ver você?- perguntou Abigail.<br />

-Sim, foi ela quem me contou que Frank tinha sido <strong>de</strong>tido. Não quis que<br />

escutasse nas notícias. - Inez tragou com força e soltou um pequeno suspiro. -<br />

Realmente apreciei que viesse pessoalmente.<br />

-Tia Carol sempre foi muito doce. Dirigimo-nos a Sea Lion Cove. Estive me<br />

encarregando <strong>de</strong> um dos golfinhos, embora acredite que está muito melhor.<br />

-Como vão os planos <strong>de</strong> bodas?<br />

-Não tivemos muito tempo para trabalhar neles, mas vamos conseguirassegurou-lhe<br />

Abbey.


229<br />

-Ouvi rumores <strong>de</strong> que se comprometeu. - Inez olhou com mordacida<strong>de</strong> o<br />

<strong>de</strong>do <strong>de</strong> Abbey e logo a Aleksan<strong>de</strong>r. -É costume dar a uma mulher um anel se lhe<br />

pediu em casamento.<br />

-Dei-lhe um anel - disse Aleksan<strong>de</strong>r e levou os <strong>de</strong>dos <strong>de</strong> Abigail à boca.<br />

Ela apartou a mão <strong>de</strong> um puxão e a pôs atrás das costas enquanto lhe<br />

fulminava com o olhar.<br />

-Tem uma fixação oral. - voltou-se para Inez com um sorriso. -Acredito que<br />

temos tudo, Inez. Talvez um par <strong>de</strong> seus famosos cafés para nos manter quentes<br />

enquanto estamos na baía?<br />

Inez sorriu pela primeira vez <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que tinham entrado na loja.<br />

-As Drake e seus homens. - Sacudiu a cabeça enquanto começava a lhes<br />

fazer os cafés. -Carol está fazendo acontecer um mau momento a Reginald. Tem<br />

ao pobre homem fazendo piruetas por ela. Barbeou-se, cortou os cabelos e leva<br />

posta roupa muito elegante.<br />

-Sabia que tinham estado comprometidos uma vez?- perguntou Abigail<br />

sobre o som da máquina <strong>de</strong> café expresso.<br />

-Certamente. Foi um gran<strong>de</strong> escândalo naquele momento. Reginald<br />

terminou com o coração quebrado e com o tempo se voltou tão introvertido que<br />

não permitiu que nenhum <strong>de</strong> nós fosse um amigo muito próximo. Voltou-se muito<br />

solitário. Disse a Carol que tivesse muito cuidado com seu coração esta vez. Não<br />

acredito que pu<strong>de</strong>sse aceitar um rechaço <strong>de</strong>la uma segunda vez.<br />

-Não tinha nem idéia- disse Abigail. Agarrou os dois cafés enquanto<br />

Aleksan<strong>de</strong>r segurava a pequena bolsa <strong>de</strong> comestíveis. -Obrigada, Inez. Verei você<br />

logo.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r pôs a mão sobre o ombro <strong>de</strong> Abigail antes que esta pu<strong>de</strong>sse sair<br />

da loja.<br />

-Inez, se importaria que saíssemos por <strong>de</strong>trás?<br />

A mulher levantou o olhar alerta, mas assentiu sem fazer perguntas.<br />

-Crê que é necessário?- perguntou-lhe Abigail enquanto lhe seguia através<br />

da loja para a parte atrás.<br />

-Até que apanhemos Ignatev, sim, é necessário. Jonas po<strong>de</strong> pensar que se<br />

foi, mas eu lhe conheço melhor. Não tenho nenhuma dúvida <strong>de</strong> que o recente<br />

giro <strong>de</strong> acontecimentos não só lhe tirou muito dinheiro, mas também lhe colocou<br />

em problemas com seus amigos terroristas e quererá vingança. Interferi em seus<br />

planos muitas vezes para que simplesmente o <strong>de</strong>ixe passar. E diferente <strong>de</strong><br />

Nikitin, que provavelmente faz muito que <strong>de</strong>sapareceu, Ignatev gosta <strong>de</strong> matar<br />

ele mesmo quando po<strong>de</strong>.<br />

Abigail estremeceu enquanto lhe observava pôr suas compras no assento<br />

traseiro do carro.<br />

-Ao menos estaremos a salvo na baía.<br />

Ele negou com a cabeça.<br />

-O porto é perigoso, muitos edifícios e barcos. Somos vulneráveis ali.<br />

Deveríamos estar mais seguros na baía. Inclusive se estivermos em meio <strong>de</strong>la,<br />

um franco-atirador teria problema para nos disparar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> essa distância.<br />

-E se o franco-atirador é como Jackson?<br />

-Abigail...<br />

Ela abriu <strong>de</strong> um puxão a porta do condutor.


230<br />

-O que quer que faça? Ficar em casa todo o tempo?- Ele apenas se<br />

grampeou o cinto <strong>de</strong> segurança quando ela arrancou o carro e girou tomando a<br />

estrada principal.<br />

-Sim, se quiser a verda<strong>de</strong>. Seria mais seguro até que lhe encontre.<br />

-Estou segura <strong>de</strong> que o seria, mas isso não ajudará a meu golfinho e duvido<br />

que você se escon<strong>de</strong>sse na casa comigo. Estaria correndo <strong>de</strong> um lado a outro<br />

tentando lhe atrair longe <strong>de</strong> mim como o herói <strong>de</strong> alguma novela.<br />

Ele se aproximou para lhe mordiscar o pescoço.<br />

-Sou seu herói.<br />

Ela o empurrou, mas sem muito entusiasmo.<br />

-Vai fazer que tenhamos um aci<strong>de</strong>nte. - Esquivou-lhe o resto do curto<br />

passeio <strong>de</strong> carro até o porto e ria quando estacionou o carro.<br />

Enquanto carregavam a comida, a bebida e o equipamento <strong>de</strong> Abigail ao<br />

barco, ela se precaveu <strong>de</strong> que ele a <strong>de</strong>fendia com seu corpo.<br />

-Vai estar assim todo o tempo que passemos em alto mar?<br />

-Não. Só enquanto estejamos no porto.<br />

Abigail sacudiu a cabeça ante sua teimosia. Era impossível discutir com ele<br />

quando estava empenhado em algo, assim simplesmente pôs em marcha o motor<br />

e tirou o barco lentamente do porto, ignorando a forma em que ele gravitava a<br />

seu redor. Uma vez em mar aberto, ele relaxou e se recostou para trás, bebendo<br />

seu café e estudando os arredores através <strong>de</strong> seus óculos escuros. Ela sentiu a<br />

paz familiar do oceano começar a alagá-la e esperou que lhe afetasse da mesma<br />

forma.<br />

-Quão logo po<strong>de</strong>mos conseguir nos casar em seu país?<br />

Abigail <strong>de</strong>ixou cair seu café. Ele recolheu o copo do chão do barco antes que<br />

o líquido se filtrasse através da ma<strong>de</strong>ira.<br />

-Isso não tem graça, Sasha.<br />

-Não estava sendo gracioso. Digo muito a sério. Não vou <strong>de</strong>ixar escapar<br />

nenhuma oportunida<strong>de</strong> esta vez. Suas irmãs planejam estas complicadas bodas<br />

que parece acontecerá em menos <strong>de</strong> um ano e eu não quero esperar tanto.<br />

A sobrancelha <strong>de</strong>la levantou.<br />

-De verda<strong>de</strong>? Quanto tempo quer esperar?<br />

-Nada absolutamente Temos que ter uma gran<strong>de</strong> boda? Não po<strong>de</strong>mos nos<br />

casar silenciosamente e saltar todo esse alvoroço?<br />

Ela incrementou a velocida<strong>de</strong> do navio fazendo que esse se chocasse contra<br />

um par <strong>de</strong> ondas <strong>de</strong> forma brusca lhe <strong>de</strong>rramando o café sobre as coxas.<br />

-Alvoroço? Acredita que uma cerimônia <strong>de</strong> bodas é um alvoroço?<br />

Ele verteu o resto da bebida ao mar e jogou o copo num pequeno cubo.<br />

-Acredito que o mais importante é fazer você oficialmente minha esposa. E<br />

tem muita sorte <strong>de</strong>sse café já estar frio.<br />

Tratou <strong>de</strong> parecer inocente mas um lento sorriso saiu <strong>de</strong> sua boca até que<br />

começou a rir.<br />

-Crê que quando estiver casada com você terá mais controle sobre mim,<br />

verda<strong>de</strong>?- Seus olhos cintilaram para ele. -Por que <strong>de</strong>mônios acredita nisso?<br />

Aleksan<strong>de</strong>r estirou as pernas ante ele e lhe cravou o olhar fixamente <strong>de</strong>trás<br />

<strong>de</strong> seus escuros óculos, mantendo a face inexpressiva. Seria impossível que ela


231<br />

não visse a dura protuberância em suas calças jeans ou a forma em que sua mão<br />

a roçava sugestivamente.<br />

Abigail jogou a cabeça para trás, seus olhos cintilavam. A luz do sol brilhava<br />

sobre seus cabelos vermelhos e o vento pressionava suas roupas carinhosamente<br />

contra seu corpo enquanto pilotava o navio sobre a água. Era tão atraente que<br />

lhe doía o corpo só <strong>de</strong> olhá-la. Quando tirava o sarro, rendo-se <strong>de</strong>ssa maneira,<br />

quando o calor <strong>de</strong>la emanava e se <strong>de</strong>rramava sobre ele, era irresistível.<br />

-Nem o pense- advertiu-lhe ela, mas a respiração ficou entupida na<br />

garganta e seu olhar <strong>de</strong>slizou com evi<strong>de</strong>nte interesse sobre a virilha <strong>de</strong>le. -Não<br />

fique carinhoso comigo. Estou trabalhando. A única razão pela qual te trouxe foi<br />

porque queria ver o que faço.<br />

-Quero nadar com seus golfinhos- corrigiu-a quando ela <strong>de</strong>sacelerou o<br />

barco e o guiou até o centro da baía. -Prometeu-me a aventura <strong>de</strong> minha vida.<br />

Para mim, isso inclui sexo. E não qualquer sexo. Sexo selvagem e incontrolado.<br />

Ela riu outra vez, tal como ele sabia que faria. Adorava a forma em que<br />

jogava a cabeça para trás, expondo a formosa linha <strong>de</strong> sua garganta. Ao sol<br />

parecia brilhar. Às vezes, como agora, não podia acreditar em sua sorte, que<br />

pu<strong>de</strong>sse estar com ela. Que ela estivesse disposta a entregar-se a ele. Que lhe<br />

encantasse sua companhia tanto como a ele a <strong>de</strong>la.<br />

O som da risada <strong>de</strong>la jogou sobre sua pele como uma carícia. Sentia o<br />

toque sobre seu corpo, <strong>de</strong>ntro, profundamente, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> sabia que nunca po<strong>de</strong>ria<br />

tirá-la. Nunca se cansaria <strong>de</strong> falar com ela. E nunca se cansaria <strong>de</strong> fazer amor<br />

com ela.<br />

-Aqui não!- Abigail sacudiu a cabeça inflexível. -Não me importa se leva<br />

óculos escuros ou não, sei o que significa esse olhar. - Ela sustentou em alto um<br />

<strong>de</strong>do acusador. -Não vai tocar-me. Garanto que minhas irmãs estão na varanda<br />

do capitão neste momento nos vigiando. Estão tão preocupadas comigo que não<br />

me <strong>de</strong>ixam ir sozinha a nenhuma parte <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que pren<strong>de</strong>u o Frank e <strong>de</strong>scobrimos<br />

que Nikitin e Ignatev tinham <strong>de</strong>saparecido. Não tive nem um momento <strong>de</strong> paz.<br />

-Eu tão pouco. - levantou-se e se aproximou, colocando-a contra seu corpo,<br />

encaixando o seu menor contra o <strong>de</strong>le, sua mão sob o queixo <strong>de</strong>la. -Ao menos<br />

conseguirei beijar você.<br />

Abigail abriu a boca para protestar. Não existia só um beijo com<br />

Aleksan<strong>de</strong>r. Acen<strong>de</strong>ria seu corpo e ela per<strong>de</strong>ria todo o controle. Esqueceria que<br />

estavam em pé em seu barco em meio da baía e que suas irmãs podiam ver cada<br />

um <strong>de</strong> seus movimentos. Esqueceria tudo exceto a maestria <strong>de</strong> sua boca, seu<br />

sabor e seu aroma, a necessida<strong>de</strong> se elevaria com ânsia.<br />

Ele embalou a cabeça <strong>de</strong> Abbey na mão com <strong>de</strong>liciosa gentileza e baixou<br />

seus lábios muito <strong>de</strong>vagar para os <strong>de</strong>la. Suas mãos eram ternas, íntimas e<br />

amorosas enquanto a sustentava. Seus lábios roçaram os <strong>de</strong>la, um toque lento,<br />

daqui para lá, um só toque.<br />

Abigail sentiu o puxão <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>ntes no lábio inferior, a <strong>de</strong>scida da língua<br />

sobre a comissura <strong>de</strong> sua boca, os beijos pausados, suaves no canto <strong>de</strong> sua boca.<br />

Ele parecia estar em todas as partes, voltando-a louca <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo, embora nunca<br />

posando sua boca <strong>de</strong> tudo sobre a <strong>de</strong>la.<br />

Ela segurou seu rosto entre as mãos para lhe imobilizar, ficando nas pontas<br />

dos pés até que pô<strong>de</strong> tomar o controle, capturando seus lábios com os <strong>de</strong>la, sua


232<br />

língua <strong>de</strong>slizando-se na escuridão, carícias aveludadas. Fechou os olhos e lhe<br />

saboreou. Ele se moveu, uma mudança sutil que a atraiu mais completamente<br />

contra ele, alinhando seus corpos enquanto assumia o controle do beijo,<br />

aprofundando-o, envolvendo-a entre seus braços.<br />

O vento trouxe risadas femininas junto com música que revoou ao redor<br />

<strong>de</strong>les. Aleksan<strong>de</strong>r ouviu os sons vagando a seu redor, ressonando em seus<br />

ouvidos, o vento lhe tocava a face e acariciava seus ombros. Levantou sua<br />

cabeça.<br />

-Não se supõe que burlar-se <strong>de</strong> nós fará que suas irmãs fiquem tão fracas<br />

que terão que <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> nos vigiar?<br />

-Não tem a mínima possibilida<strong>de</strong>. - Abigail roçou outro beijo sobre sua boca<br />

tentadora. -Mas temos companhia <strong>de</strong> qualquer maneira. Olhe. - Assinalou para a<br />

boca da baía.<br />

Por um momento o sol cintilou sobre a água fazendo que não pu<strong>de</strong>sse ver<br />

nem sequer com seus óculos escuros. Então os viu, os golfinhos subindo<br />

vertiginosamente <strong>de</strong> <strong>de</strong>baixo da água, simples borrões <strong>de</strong> sombras salpicadas que<br />

corriam para o barco. Estavam só uns pés <strong>de</strong> distância e nadando em formação,<br />

curvando primeiro em um sentido <strong>de</strong>pois ao outro no momento preciso. Seu<br />

coração saltou. Se encaminhou sobre o flanco do barco, aferrando-se à amurada.<br />

-São formosos.<br />

-Se apresse. Nos preparemos- aconselhou Abigail. -Não ficarão muito<br />

tempo.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r <strong>de</strong>sceu à pequena cabine e colocou o traje <strong>de</strong> mergulho. Tinha<br />

ouvido Abigail contar histórias <strong>de</strong> suas imersões com os golfinhos, mas nunca<br />

tinha <strong>de</strong>sfrutado da experiência <strong>de</strong> nadar com eles. Só ver tantos na água,<br />

saltando e dando voltas, <strong>de</strong>sfrutando <strong>de</strong> sua exuberância, fazia que lhe subisse a<br />

adrenalina. Não podia esperar para meter-se na água. Compartilhou um sorriso<br />

largo e lento <strong>de</strong> espera com Abigail. Obviamente lhe agradava sua reação.<br />

-Recorda tudo o que contei sobre nadar com eles, Sasha. Nunca, e quero<br />

dizer nunca, aproximar-se <strong>de</strong> um golfinho <strong>de</strong> lado ou em ângulo reto. Tem que<br />

<strong>de</strong>ixar que se aproximem <strong>de</strong> você e manter um ângulo oblíquo. Sempre muito<br />

suave, nada brusco. Os machos têm um comportamento muito agressivo, assim<br />

qualquer um que se aproxime <strong>de</strong>les <strong>de</strong> frente é uma ameaça.<br />

-Já sei. E não ce<strong>de</strong>rei à tentação <strong>de</strong> tocá-los- acrescentou antes que ela<br />

pu<strong>de</strong>sse repetir a advertência. Tinham discutido a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nadar com os<br />

golfinhos, mas na realida<strong>de</strong> ele nunca tinha consi<strong>de</strong>rado como se sentiria ao estar<br />

ro<strong>de</strong>ado pelas criaturas. -É um presente incrível que poucas pessoas recebem<br />

alguma vez em sua vida.<br />

Ela sorriu abertamente, seus olhos brilhavam.<br />

-Estamos trabalhando; só recorda que po<strong>de</strong> comentar suas observações<br />

quando voltarmos à superfície.<br />

Ele se meteu na água, feliz pelos golfinhos selvagens que nadavam pela<br />

água azul, brilhos tão rápidos que mal podia distingui-los exceto como uns<br />

borrões. Cortavam o mar a velocida<strong>de</strong>s tremendas, lhe fazendo sentir-se gran<strong>de</strong><br />

e torpe. Abigail se uniu a ele, com uma filmadora entre as mãos e nadou em meio<br />

<strong>de</strong> quase uma dúzia <strong>de</strong> golfinhos.


233<br />

Tão <strong>de</strong> perto, Aleksan<strong>de</strong>r podia ver quão gran<strong>de</strong> eram estas formosas<br />

criaturas, pesando perto <strong>de</strong> mil quilos ou mais. Eram fortes e po<strong>de</strong>rosos e<br />

pareciam ameaçadores junto ao corpo mais frágil <strong>de</strong> Abigail. Seu coração se<br />

acelerou. Na realida<strong>de</strong> nunca tinha consi<strong>de</strong>rado que ela pu<strong>de</strong>sse estar em perigo<br />

com os golfinhos. Com tubarões talvez, mas não com os golfinhos. Por que<br />

sempre os tinha consi<strong>de</strong>rado criaturas alegres e divertidas? Tinha ouvido as<br />

histórias <strong>de</strong>la, sabia que as orcas eram em realida<strong>de</strong> um ramo da família dos<br />

golfinhos. Nadou para Abigail, com intenção <strong>de</strong> lhe fazer gestos para que subisse<br />

à superfície, mas um dos golfinhos maiores nadou em sua direção, entrando <strong>de</strong><br />

lado em um ângulo oblíquo, o que Abigail tinha insistido era o modo apropriado<br />

<strong>de</strong> nadar com golfinhos.<br />

O golfinho mais próximo a Aleksan<strong>de</strong>r parecia estar emitindo um convite.<br />

Nadou mais abaixo, uma atuação lenta em vez da anterior, muito mais rápida, e<br />

se colocou abaixo <strong>de</strong>le <strong>de</strong> forma que ficaram ventre contra ventre. Deu uma<br />

olhada a sua direita e outro golfinho se uniu a eles. Um terceiro se aproximou por<br />

sua esquerda. Nadou formando um gran<strong>de</strong> laço, assombrado pelo perto que<br />

estavam <strong>de</strong>le e uns dos outros. Os golfinhos igualaram sua velocida<strong>de</strong> quando<br />

<strong>de</strong>u a volta. Podia vê-los a seu redor, olhos escuros, inteligentes enquanto lhe<br />

observavam.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r voltou o olhar para Abigail. Ela estava seguindo um golfinho,<br />

obviamente registrando cada movimento com sua filmadora enquanto os outros a<br />

ro<strong>de</strong>avam, nadando em círculos sinuosos. Os golfinhos pareciam muito mais<br />

amistosos com ela, tocando-a e vocalizando, sempre se aproximando <strong>de</strong>vagar<br />

em ângulo inclinado, emitindo ocasionalmente aquilo ao que ela se referiu como<br />

"trem <strong>de</strong> estalos". Os golfinhos em vez <strong>de</strong> parecer ameaçadores como os tinha<br />

recebido a princípio, agora pareciam brincalhões e sociáveis; criaturas curiosas e<br />

inteligentes lhe estudando tanto como eles os observava.<br />

A euforia lhe encheu quando os golfinhos formaram re<strong>de</strong>moinhos ao redor<br />

<strong>de</strong>le e Abigail, mantendo aos dois humanos em seu grupo como se tivessem sido<br />

aceitos como membros. Abigail estava concentrada em seu filme, fazendo um<br />

círculo longo enquanto Aleksan<strong>de</strong>r <strong>de</strong>liberadamente trocava <strong>de</strong> direção para ver<br />

se seu contingente lhe seguia. Fizeram-no e os grupos <strong>de</strong> golfinhos se moveram<br />

em lentos círculos opostos.<br />

Abigail sacudiu o polegar para a superfície. Ele sacudiu a cabeça, não<br />

querendo <strong>de</strong>ixar a tão assombrosas criaturas. Ela assinalou seu relógio <strong>de</strong> pulso e<br />

quando ele olhou o seu próprio, sobressaltou-lhe dar se conta <strong>de</strong> que, embora o<br />

estranho balé com os golfinhos parecia ter durado só poucos minutos, na<br />

realida<strong>de</strong>, tinha passado mais tempo do que ele tinha notado. Vários dos<br />

golfinhos estavam rompendo sua formação e iniciando a ascensão. Ele assentiu<br />

assinalando seu acordo a Abigail.<br />

Humanos e golfinhos saíram juntos à superfície. Aleksan<strong>de</strong>r quase saltou<br />

fora da água, incapaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> sorrir abertamente. Apanhou Abigail pela<br />

cintura e a beijou, inclinando-se sobre a filmadora.<br />

-Isto foi... in<strong>de</strong>scritível! - colocou uma mão sobre o coração. -Obrigado,<br />

lyubof maia. Que sensação tão incrível! - <strong>de</strong>u a volta para observar como os<br />

golfinhos tomavam fôlego e se mergulhavam profundamente, um após o outro,<br />

dois <strong>de</strong>slizando-se perto <strong>de</strong> Abigail como a convidando a outra ronda <strong>de</strong> baile.


234<br />

Abigail nadou para o barco e começou a subir sua filmadora para a parte<br />

segura da embarcação. Aleksan<strong>de</strong>r a segurou e a colocou cuidadosamente a um<br />

lado.<br />

-Acabamos?- Havia <strong>de</strong>cepção em suas palavras, mas não podia evitar a<br />

excitação da experiência ou o sorriso em seu rosto.<br />

-Estavam indicando que se dirigiam por volta do mar, mas às vezes quando<br />

nado para o barco, voltam. Em particular Kiwi e Boscoe. – tirou os óculos e jogou<br />

a cabeça para trás, rindo alegremente.<br />

-Quais são Kiwi e Boscoe?- Desejou arrastá-la para ele e beijá-la até que<br />

nenhum <strong>de</strong>les pu<strong>de</strong>sse respirar. Era formosa. O dia era formoso.<br />

-São dois dos machos maiores. Kiwi foi o golfinho que ficou ferido e se<br />

acostumou a que eu lhe toque. Isto é o que fazia outro dia lá na baía quando nos<br />

dispararam. - Limpou as gotas <strong>de</strong> água da face. -Comprovei-lhe outro dia e está<br />

bem outra vez<br />

-O que são essas cicatrizes que têm alguns?- Estava esquadrinhando a<br />

água, esperando outro encontro.<br />

-Chamam-se restelos. As cicatrizes distintivas em realida<strong>de</strong> nos ajudam a<br />

i<strong>de</strong>ntificar aos indivíduos. Quando os golfinhos são agressivos uns com os outros<br />

remoem sem atravessar a pele e <strong>de</strong>ixam um sinal <strong>de</strong> restelo. Quase todos os<br />

golfinhos os têm. Os restelos menos sérios se curam com o tempo e<br />

<strong>de</strong>saparecem, mas muitas vezes a ferida é bastante profunda para causar uma<br />

cicatriz permanente.<br />

-Voltemos para baixo para ver se voltarem- sugeriu Aleksan<strong>de</strong>r. Resistia em<br />

abandonar a baía quando po<strong>de</strong>ria não voltar a ter nunca uma oportunida<strong>de</strong>.<br />

Ela riu brandamente e lhe tocou a bochecha.<br />

-Alegra-me que você adore meu mundo. Mas não se <strong>de</strong>cepcione se já se<br />

foram.<br />

-Nada po<strong>de</strong> me <strong>de</strong>cepcionar. Foi verda<strong>de</strong>iramente maravilhoso.<br />

Mergulharam juntos, procurando as águas mais profundas com a esperança<br />

<strong>de</strong> outro encontro. Abigail ficou atrás e <strong>de</strong>ixou Aleksan<strong>de</strong>r tomar a dianteira.<br />

Queria chorar <strong>de</strong> tão feliz que era. Nunca tinha visto essa expressão em particular<br />

em sua face, como se lhe tivesse dado um presente incomensurável. Tinha dado<br />

um presente a ela abraçando seu mundo com o mesmo amor, excitação e alegria<br />

que ela sentia sempre que se encontrava com golfinhos selvagens.<br />

Enquanto nadava atrás <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r, a água a seu redor <strong>de</strong> improviso fez<br />

erupção, formando re<strong>de</strong>moinhos e borbulhando, subindo do chão do oceano como<br />

um gran<strong>de</strong> gêiser. A água ferveu em um frenesi <strong>de</strong> espuma branca, cortando sua<br />

visão <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r durante uns segundos, mas as borbulhas eram frias, como se<br />

tivesse entrado em uma corrente submarina que a elevava para cima. Soube<br />

imediatamente que suas irmãs a advertiam <strong>de</strong> um perigo iminente.<br />

Abigail nadou através das borbulhas, dando rápidas patadas para abrir<br />

espaço através da água para Aleksan<strong>de</strong>r. Para seu horror uma sombra escura se<br />

elevou do leito <strong>de</strong> algas marinhas, colocando-se atrás <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r, <strong>de</strong>slizandose<br />

através da água diretamente para ele. Se tivesse podido gritar uma<br />

advertência a Aleksan<strong>de</strong>r, o teria feito, mas ele estava muito longe e estavam sob<br />

a água. Só pô<strong>de</strong> observar com horror, com o coração na boca, enquanto o<br />

mergulhador elevava um rifle <strong>de</strong> arpão.


235<br />

As borbulhas <strong>de</strong> advertência estalaram ao redor <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r quando o<br />

arpão foi disparado. Aleksan<strong>de</strong>r se <strong>de</strong>teve <strong>de</strong> repente, meio virado para trás para<br />

a Abigail quando a espuma fria o envolveu como advertência. O arpão <strong>de</strong>slizou<br />

através da água e lhe golpeou o ombro, atravessando-o. A espuma branca a seu<br />

redor se converteu em um vulcão vermelho. A dor e o medo pela Abigail se<br />

mesclaram, quando reconheceu Leonid Ignatev.<br />

Com golpes seguros e po<strong>de</strong>rosos, Abigail fechou a distância entre ela e<br />

Ignatev. Podia lhe ver encaixando outro arpão em seu rifle com tranqüila<br />

precisão, sua atenção estava centrada em Aleksan<strong>de</strong>r.<br />

Como se soubesse que ela não era uma ameaça para ele.<br />

Seu coração trovejou com alarme. Virou-se quando a folha <strong>de</strong> uma faca se<br />

<strong>de</strong>slizava para ela. Um segundo mergulhador se chocou contra ela. Abbey<br />

agarrou suas mãos e levantou o pé, batendo com todas suas forças na virilha <strong>de</strong><br />

seu atacante. Ele se dobrou e o movimento a levou para trás, lhe dando tempo<br />

para alcançar a faca <strong>de</strong> seu cinturão. Nadou ao redor <strong>de</strong>le, cortando suas<br />

mangueiras <strong>de</strong> ar e lhe empurrando para pôr distância entre eles quando ele se<br />

virou.<br />

O homem se equilibrou sobre ela outra vez, sua cara retorcida <strong>de</strong>notava<br />

<strong>de</strong>terminação. Peixes, milhares <strong>de</strong>les nadando em apertada formação, nadaram<br />

entre eles, outra barreira lançada por suas irmãs para protegê-la do homem que<br />

queria esfaqueá-la grosseiramente com sua faca. O atacante <strong>de</strong> Abigail estava<br />

ficando sem ar e se viu obrigado a iniciar a ascensão à superfície. Ela lutou por<br />

abrir espaço através da tela <strong>de</strong> peixes para Ignatev, faca em mão.<br />

Através <strong>de</strong> uma neblina <strong>de</strong> dor, Aleksan<strong>de</strong>r utilizou suas pernas, chutando<br />

dura e rapidamente em um esforço por aproximar-se <strong>de</strong> Ignatev. A ponta afiada<br />

do arpão tinha atravessado completamente o músculo e aparecia pela parte<br />

dianteira <strong>de</strong> seu ombro. Seu braço estava inútil e torpe para nadar, mas se<br />

limitou a utilizar as pernas, chutando po<strong>de</strong>rosamente enquanto tratava <strong>de</strong><br />

alcançar Ignatev antes que o homem pu<strong>de</strong>sse disparar um segundo arpão.<br />

Ignatev se colocou no fundo da baía no meio do leito <strong>de</strong> algas, tomando-se<br />

tempo para apontar. Sabia que Aleksan<strong>de</strong>r não po<strong>de</strong>ria lhe alcançar e havia uma<br />

satisfatória mancha vermelha que crescia em círculos e se ia alargando ao redor<br />

do homem ferido. Quando levantou o rifle, o leito marinho tremeu, sacudiu-se,<br />

on<strong>de</strong>ando com uma série <strong>de</strong> pequenos terremotos que puseram Ignatev <strong>de</strong><br />

joelhos. O som era levado através da água. Vozes femininas elevando-se em um<br />

cântico melódico, palavras <strong>de</strong>sconhecidas, mas implacáveis, o volume elevandose<br />

e caindo com o fluxo. Cada vez que Ignatev tentava apontar, a terra se movia<br />

lhe lançando para frente sobre o peito. Aferrou o arpão com força amaldiçoando<br />

silenciosamente quando as algas se enredaram em seus tornozelos e pernas.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r abriu passo com unhas e <strong>de</strong>ntes através das algas marinhas<br />

tentando alcançar Ignatev. Abigail estava quase sobre o homem e, para seu<br />

horror, Aleksan<strong>de</strong>r pô<strong>de</strong> ver Ignatev virando para ela. Ignatev era um homem<br />

gran<strong>de</strong> e forte e além disso um perito assassino. O braço <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r<br />

pendurava inútil a seu flanco, negando-se a lhe ajudar a propulsar-se através da<br />

água. As algas obstaculizavam ainda mais seus movimentos. Recorreu a cada<br />

reserva <strong>de</strong> força e <strong>de</strong>terminação que possuía, lançando-se para frente para<br />

alcançar Ignatev.


236<br />

Ignatev se lançou para Abigail, chocando-se com ela enquanto tratava <strong>de</strong><br />

lhe alcançar, golpeando para sua cabeça com o punho, o arpão ainda obstinado<br />

com força. Ela jogou a cabeça para trás bem a tempo e torceu a mão, lhe<br />

cortando o braço com o fio <strong>de</strong> sua faca. Ele se virou, disparando em Aleksan<strong>de</strong>r,<br />

tendo calculado quando estaria seu inimigo sobre ele. O arpão acertou Aleksan<strong>de</strong>r<br />

no flanco, <strong>de</strong>slizando-se através da pele, músculo e osso, lhe conduzindo para<br />

trás.<br />

Abigail atacou outra vez, entrando abaixo com sua faca, agarrando Ignatev<br />

pelo pescoço com o braço e lhe golpeando com a pequena folha no ventre com<br />

tanta força como pô<strong>de</strong> reunir.<br />

Ele apanhou seu pulso e lhe tirou a faca da mão, apunhalando-a várias<br />

vezes enquanto ela tratava <strong>de</strong> espernear para trás. A folha era pequena e as<br />

feridas pouco profundas, mesmo assim Abigail sabia que tinha muito pouco<br />

tempo. Quando Ignatev se ergueu sobre ela, com o braço elevado, Aleksan<strong>de</strong>r lhe<br />

agarrou por <strong>de</strong>trás, fazendo girar o homem e lhe conduzindo para frente com<br />

todo seu peso e força, incrustando a ponta do arpão que tinha atravessado seu<br />

ombro profundamente na garganta <strong>de</strong> Ignatev.<br />

Houve um pequeno momento <strong>de</strong> surpresa, como se o oceano mesmo<br />

tivesse cessado todo movimento. Abigail viu Aleksan<strong>de</strong>r esten<strong>de</strong>r o braço em<br />

busca <strong>de</strong>la e logo seu braço caiu e os dois corpos, unidos pelo arpão, começaram<br />

a afundar-se para o fundo do oceano.<br />

“Libby! Aju<strong>de</strong>-me! Oh, Meu Deus! Libby necessito <strong>de</strong> você!” Abigail gritou e<br />

gritou repetidas vezes em sua mente para sua irmã. Uma dor crua apertava sua<br />

garganta e seu ventre quando separou os dois corpos e enganchou os braços sob<br />

as axilas <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r. Ela não era telepática, mas suas irmãs estavam<br />

conectadas. Elas sabiam. Eram conscientes.<br />

Começou a arrastar Aleksan<strong>de</strong>r pela água, elevando-se para a superfície.<br />

Era impossível lutar contra a força do mar, arrastar seu peso e lhe manter o<br />

regulador em seu lugar. Esse seguia escapando sem importar quantas vezes<br />

tratasse <strong>de</strong> colocar-lhe na boca. Estava mais próxima da praia que do barco e em<br />

qualquer caso não importava. Ele sangrava apesar da água fria. E estava se<br />

afogando, seus pulmões se enchiam <strong>de</strong> água enquanto arrastava seu corpo<br />

inconsciente para a praia.<br />

Suas irmãs verteram sua força nela, ajudando-a apesar da distância, todo o<br />

tempo tentando controlar às criaturas marinhas que cheiravam o sangue na água.<br />

Foi uma longa batalha, lutando contra a corrente e tentando remontar as ondas<br />

com o Aleksan<strong>de</strong>r a rastros. Exausta, aterrorizada <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r Aleksan<strong>de</strong>r, Abigail<br />

recordou, muito tar<strong>de</strong>, ao segundo homem que tinha conseguido chegar à<br />

superfície e estava à espreita. Seu coração saltou, <strong>de</strong>pois começou a palpitar<br />

alarmado.<br />

Ficou em pé, cambaleando-se enquanto arrastava o peso <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r<br />

para a areia molhada. O homem a esperava crédulo, com um pequeno sorriso no<br />

rosto. Observou sua luta por levar o corpo a terreno mais elevado. Abigail caiu <strong>de</strong><br />

joelhos, lutando por respirar, tirando a máscara e arrancando a <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r e<br />

colocando ambas as mãos sobre suas feridas. Era impossível conter o fluxo <strong>de</strong><br />

sangue.<br />

Pôs os lábios contra o ouvido <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r.


237<br />

-Não me <strong>de</strong>ixe. - Começou o trabalho <strong>de</strong> ressuscitação, lhe animando a<br />

respirar <strong>de</strong> novo, lhe animando a tossir e tirar a água do mar <strong>de</strong> seus pulmões.<br />

O homem <strong>de</strong>u um passo para ela, chamando sua atenção. Ela olhou para<br />

cima para lhe ver sustentar em alto uma faca <strong>de</strong> aspecto maligno. Ele sorriu<br />

enquanto dava um segundo passo para ela. A bala lhe golpeou antes que se<br />

ouvisse o disparo. Atravessou o olho esquerdo do homem, atirando sua cabeça<br />

para trás e fazendo que se <strong>de</strong>rrubasse como uma boneca <strong>de</strong> trapo.<br />

Abigail pôs a cabeça sobre o peito <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r brevemente, <strong>de</strong>pois olhou<br />

ao redor.<br />

-Prakenskii! Venha <strong>de</strong>pressa! Ele está morrendo. Eu não posso lhe curar.<br />

Minhas irmãs estão tão exaustas como eu. Sei que está aí. O vento tocou sua<br />

face. Suas irmãs. Sempre com ela, tão assustadas pelo Aleksan<strong>de</strong>r como ela. -Por<br />

favor. - Sussurrou - Por favor. - Chamou tão forte como pô<strong>de</strong>, as lágrimas lhe<br />

entupiam a garganta.<br />

Uma só voz se elevou em asas no vento. Suave. Melódica. Encantada. A voz<br />

<strong>de</strong> Joley era incrivelmente formosa, uma fumegante mescla <strong>de</strong> persuasão sensual<br />

e efusão emocional. Seu feitiço cantando era hipnotizante e irresistível.<br />

Prakenskii saiu <strong>de</strong> trás das rochas, sua arma já estava <strong>de</strong>smontada. Envioua<br />

girando às profundida<strong>de</strong>s da baía enquanto cruzava a areia para Abigail.<br />

-Tem que estar mal para que sua irmã me <strong>de</strong>ixe ver o caminho rastreando<br />

sua magia. Deixe-me ver.<br />

-Tem que lhe ajudar. - Abigail limpou as lágrimas que corriam por sua face.<br />

O esgotamento <strong>de</strong> suas irmãs era tão pesado como o seu. Tinha esgotado toda<br />

sua força física. -Eu não posso lhe salvar, mas você po<strong>de</strong>.<br />

-Se o fizer, não terei forças para escapar da polícia. - Prakenskii <strong>de</strong>veria ter<br />

se afastado em direção contrária rapidamente, mas em vez disso se agachou<br />

junto a Aleksan<strong>de</strong>r. -Tratei <strong>de</strong> lhe advertir. Fiz tudo que esteve em minha mão<br />

para lhe manter fora disso. É um filho da puta muito teimoso.<br />

-Sei que po<strong>de</strong> lhe salvar. Eu ajudarei. Minhas irmãs ajudarão. E lançaremos<br />

um manto <strong>de</strong> amparo entre a polícia e você para que possa escapar. - Arrumou<br />

os ombros. -Sei que se preocupa por ele. Salva sua vida. Por favor.<br />

-Me <strong>de</strong>verá uma. Todas vocês me <strong>de</strong>verão isso. Quando retornar, espero<br />

que me aju<strong>de</strong>m.<br />

Abigail assentiu com a cabeça, insegura se estava pactuando com o diabo,<br />

mas sem que isso lhe preocupasse. Tudo o que importava era que Aleksan<strong>de</strong>r<br />

vivesse.


238<br />

Capítulo – 20<br />

Aleksan<strong>de</strong>r ouviu a voz <strong>de</strong> Abigail que lhe chamava. A porta se fechou <strong>de</strong><br />

repente abaixo. Chamou-lhe uma segunda vez. Adorava o som <strong>de</strong> sua voz<br />

quando dizia seu nome. Havia uma nota <strong>de</strong> impaciência, <strong>de</strong> alegria que lhe<br />

esquentava.<br />

Ficava sempre preso nesse momento ao <strong>de</strong>spertar, quando ainda acreditava<br />

que estava na Rússia ou em algum hotel triste, sozinho, sem ela. Ainda tinha<br />

pesa<strong>de</strong>los <strong>de</strong> Abigail sendo esbofeteada e coisas piores na sala <strong>de</strong> interrogatórios<br />

<strong>de</strong> Ignatev e <strong>de</strong>spertava molhado <strong>de</strong> suor e o nome <strong>de</strong>la ressonando através da<br />

habitação.<br />

Colocou a mão contra o coração e olhou por cima do corrimão para o<br />

amado oceano <strong>de</strong>la. Sempre tinha vivido em cida<strong>de</strong>s lotadas, com sua estranha<br />

beleza <strong>de</strong> luzes e edifícios e prenhes <strong>de</strong> engano e crime. O oceano lhe consolava<br />

e lhe trazia paz. Suspeitava que fosse porque não podia separar o amor e a<br />

necessida<strong>de</strong> do oceano que sentia ela, uma parte integral <strong>de</strong> sua personalida<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong> Abigail.<br />

-On<strong>de</strong> está, Sasha?- Havia uma nota entrecortada em sua voz.<br />

Sorriu ante essa nota, esse pequeno sinal <strong>de</strong> preocupação.<br />

-Aqui fora, no alpendre. - Ela tinha se mudado com ele para lhe cuidar uma<br />

vez que lhe permitiram sair do hospital e, embora alugava a casa da praia <strong>de</strong><br />

maneira temporária, Abigail fazia que parecesse um lar.<br />

Ela correu através da porta <strong>de</strong> vidro aberta até seu lado.


239<br />

-Supõe-se que não tem que vagar por aí. - Tentou soar brava mas não<br />

pô<strong>de</strong> evitar mostrar seu alívio ao lhe encontrar sentado em uma ca<strong>de</strong>ira.<br />

-Queria olhar o oceano. - Entrelaçou seus <strong>de</strong>dos com os <strong>de</strong>la e puxou sua<br />

mão até a boca para beijar o anel. -Acredito que o som me ajuda a dormir. Fiquei<br />

dormindo como um bebê <strong>de</strong> dois anos.<br />

-Recuperará sua força. Sei que é difícil para você ser paciente. Libby diz<br />

que está se recuperando.<br />

-E você?- Levantou-lhe o top para examinar as cicatrizes <strong>de</strong> seu estômago.<br />

-O que diz <strong>de</strong> você?<br />

Abigail se inclinou para roçar um beijo sobre seus lábios.<br />

-Estou bem. Disse a você que estava perfeitamente bem. As punhaladas<br />

foram pouco profundas. Posso ter todos os bebês que quer que tenhamos. Os<br />

dois.<br />

-Ao menos sete. As garotinhas <strong>de</strong> Elle têm que ter alguém com quem<br />

brincar. - Suas mãos a agarraram pela cintura e a atraíram para frente para<br />

po<strong>de</strong>r pressionar pequenos beijos sobre cada marca arroxeada que lhe marcava a<br />

pele. -Quando o vi indo por você, juro Abbey, que nunca pensei que pu<strong>de</strong>sse<br />

sentir tal raiva ou tal medo. - Isso lhe tinha dado a força necessária para golpear<br />

seu corpo mortalmente ferido com tal força contra o <strong>de</strong> Ignatev, o que lhe<br />

permitiu matar ao homem. -Ainda não sei como conseguiu me tirar do oceano.<br />

-Não ia per<strong>de</strong>r você outra vez. - Ela disse <strong>de</strong>cididamente, lhe embalando a<br />

cabeça entre os braços enquanto ele pressionava outro beijo em seu intrigante<br />

umbigo.<br />

Reafirmou seu apertão sobre ela e a trocou <strong>de</strong> posição até que ficou<br />

colocada entre suas coxas.<br />

-Prakenskii realmente me salvou a vida?<br />

-Já me perguntou isso três vezes. Sem sua ajuda, teria morrido ali mesmo.<br />

Ele disparou ao segundo homem para lhe manter a distância <strong>de</strong> mim e logo<br />

ajudou você. Tem todos os dons, não cabe dúvida, é igual à Elle. Carrega todo o<br />

código genético necessário para transpassar cada um dos dons a outra geração.<br />

Oxalá soubéssemos mais sobre seu passado. - aproximou-se mais <strong>de</strong>le,<br />

recostando-se sobre ele porque sua língua estava realizando uma pequena dança<br />

ao redor do umbigo, brincando com o pequeno buraco dali e fazendo alguma<br />

correria mais baixo.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r lhe <strong>de</strong>sabotoou as calças, <strong>de</strong>slizando-lhe sobre a curva dos<br />

quadris, baixando-lhe pelas coxas até as panturrilhas. Ela tirou obedientemente<br />

os sapatos e chutou as calças a um lado.<br />

-Tire o top.<br />

Abigail não vacilou, puxou o tecido ajustado por cima da cabeça e o <strong>de</strong>ixou<br />

cair sobre o alpendre.<br />

-Solte o cabelo.<br />

-Definitivamente se sente mais forte. Está voltando a ser muito mandão. -<br />

Tirou a trava do cabelo, permitindo que sua cabeleira vermelha <strong>de</strong>slizasse livre<br />

até a cintura.<br />

-Não tive muito que fazer exceto pensar em você enquanto estou aqui<br />

totalmente sozinho.<br />

Abigail olhou fixamente a ban<strong>de</strong>ja que havia junto à ca<strong>de</strong>ira.


240<br />

-A tia Carol esteve aqui.<br />

-Com seu Reginald. Ficaram um par <strong>de</strong> horas. Ele é um homem<br />

interessante.<br />

Ela espionou a cesta <strong>de</strong> fruta junto à ca<strong>de</strong>ira.<br />

-Hannah também veio, não é? E as revistas são <strong>de</strong> Joley. Kate <strong>de</strong>ve ter<br />

trazido a coleção <strong>de</strong> livros. Sei que Libby veio dar uma olhada em você.<br />

Ele sorriu enquanto suas mãos <strong>de</strong>slizavam sobre a pele nua, moldando seus<br />

quadris.<br />

-Sarah e Damon pararam por aqui também. E Jonas. - Seu sorriso ampliou<br />

a uma careta juvenil. -Inez e as damas do clube do Chapéu Vermelho me fizeram<br />

uma visita e <strong>de</strong>ixaram o jantar na gela<strong>de</strong>ira. Disseram que só terei que esquentálo.<br />

-Quando teve tempo para pensar em mim?- sacudiu os cabelos para trás,<br />

sabendo que lhe encantava a sensação e sua aparência.<br />

-Cada maldito minuto. E foi um maldito inferno ocultar minha ereção a todo<br />

mundo. Tive que pôr uma manta sobre o colo. Sonhei com você, tal e como<br />

estamos, em pé ante <strong>de</strong> mim com seus cabelos brilhando como um raio <strong>de</strong> sol. É<br />

malditamente formosa.<br />

-Acredito que está <strong>de</strong>lirando. Talvez muito sol. - Mas não pô<strong>de</strong> evitar a<br />

excitação e o prazer que a atravessou<br />

-Você não se vê como eu vejo você. - reclinou-se em sua ca<strong>de</strong>ira e se <strong>de</strong>u<br />

um festim <strong>de</strong>la com o olhar. Com o sol atrás, parecia mais formosa que nunca. –<br />

Quero você mais do que nunca po<strong>de</strong>rei expressar, Abbey. Por que me sinto<br />

sempre como se você estivesse escorrendo entre meus <strong>de</strong>dos e não pu<strong>de</strong>sse te<br />

apanhar?<br />

-Não tenho nem idéia. -Estava apoiada sobre a beirada da jacuzzi com sutiã<br />

e tanga negra, sua pele pálida parecia suaves pétalas <strong>de</strong> rosa. -Po<strong>de</strong>ria tirar a<br />

manta do colo para que possa ver no que estou me colocando- Sua perna<br />

torneada se balançava daqui para lá. -Tirei você arrastado do oceano e fiz um<br />

trato com o diabo para salvar sua vida. Que mais necessita que eu faça para<br />

<strong>de</strong>monstrar a você que não vou a nenhuma parte?<br />

-Não estou seguro <strong>de</strong> qualificar Prakenskii como diabo. - Aleksan<strong>de</strong>r retirou<br />

a manta, revelando sua nu<strong>de</strong>z sem um rastro <strong>de</strong> modéstia. -Jonas suspeita que<br />

ajudou Ilya a escapar. Disse-me que os rastros entravam no mar, mas que<br />

pareciam bem preparadas em vez <strong>de</strong> algo real. Jonas me perguntou outra vez<br />

sobre isso. Felizmente eu estava inconsciente quando Prakenskii esteve ali, assim<br />

não tive que mentir.<br />

-Eu não menti ao Jonas. - disse Abigail, seu olhar se esquentou mais<br />

quando caiu <strong>de</strong> seu torso enfaixado até sua virilha cheia. -Espero que tenha<br />

conservado essa manta sobre você quando todas suas visitas estavam te<br />

mimando tanto.<br />

-Disse-lhe que Prakenskii fazia muito que se foi, que salvou sua vida e logo<br />

a minha.<br />

-O qual foi a pura verda<strong>de</strong>. - <strong>de</strong>ixou-se cair <strong>de</strong> joelhos diante <strong>de</strong>le. -Adoro a<br />

forma em que me sente falta Sasha. - Embalou seu dolorido escroto na palma da<br />

mão, seus <strong>de</strong>dos acariciavam a base da ereção. -Sempre me faz sentir formosa.<br />

-É formosa.


241<br />

-E você me necessita <strong>de</strong>sesperadamente.<br />

-Necessito <strong>de</strong>sesperadamente <strong>de</strong> você. - Fechou os olhos ante o puro<br />

prazer que atravessou seu corpo quando lhe tocou. Tinha <strong>de</strong>dos mágicos. Um<br />

corpo e uma boca mágica. E quando lhe tocava <strong>de</strong>sse modo, o fazia sentir como<br />

se lhe amasse mais que a nada no mundo.<br />

-Quero fazer amor apropriadamente- disse-lhe, olhando-a <strong>de</strong> cima. Seus<br />

cabelos brilhavam, um vermelho vibrante que nunca <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> lhe fazer <strong>de</strong>sejar<br />

tocar os sedosos fios. Enredou o punho entre sua cabeleira. -Quero estar <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong> você Abigail.<br />

-É tão impaciente. - Sua língua lhe <strong>de</strong>u um suave golpe, seu fôlego quente<br />

lhe engoliu.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r pren<strong>de</strong>u seus <strong>de</strong>dos sobre o peito. Sorriu quando ela<br />

estremeceu em reação.<br />

-Quando vai casar comigo?<br />

-Acreditava que tínhamos concordado não falar <strong>de</strong> matrimônio enquanto<br />

fazemos amor. - Brincou com ele lhe arranhando brandamente com os <strong>de</strong>ntes,<br />

<strong>de</strong>u-lhe outra pequena lambida com a língua. -Concordamos que era injusto<br />

aproveitar-se assim.<br />

-Não, não o fizemos. Quero me casar imediatamente. - Quase saiu da<br />

ca<strong>de</strong>ira quando a boca quente se fechou sobre ele e sugou, lambendo com a<br />

língua adiante e atrás. -Imediatamente.<br />

Abigail riu, o som vibrou diretamente através <strong>de</strong> sua pesada ereção e<br />

enviou ondas <strong>de</strong> prazer através <strong>de</strong> seu ventre.<br />

-Não posso me casar com você até que meus pais voltem para casa. Nunca<br />

me perdoariam isso.<br />

-Está <strong>de</strong>sfrutando do fato que supõe que te <strong>de</strong>ixo fazer o que quiser comigo<br />

porque não posso me vingar, verda<strong>de</strong>?- perguntou ele.<br />

-Oh sim- disse ela, levantando a cabeça, seus olhos dançando e seu sorriso<br />

ampliando-se. -Eu adoro isso.<br />

-Tenho notícias para você, baushki-bau, sinto-me bastante forte <strong>de</strong> novo.<br />

Ela riu outra vez e lhe <strong>de</strong>u um golpe com a língua e pequenas lambidas que<br />

enviaram eletricida<strong>de</strong> através <strong>de</strong> suas veias.<br />

-Eu acredito que não.<br />

-Sim. Vêem para cá. - Agarrou-lhe a cintura entre suas fortes mãos e a<br />

puxou com força.<br />

Abigail lhe fez uma careta.<br />

-Está me estragando toda a diversão.<br />

-Absolutamente. - Sua mão embalou os ferozes cachos fogosos sobre o<br />

cetim negro. Seus <strong>de</strong>dos se inundaram nas suaves e úmidas dobras. -Acredito<br />

que não necessitamos disso. - Arrancou-lhe a tanga e a lançou a alguma parte<br />

atrás <strong>de</strong>le. -Me monte, Abbey. Tenho que estar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> você agora mesmo.<br />

Não posso esperar outro dia. Nem outro minuto.<br />

Abigail lhe ro<strong>de</strong>ou o pescoço com os braços, cuidando <strong>de</strong> não apoiar-se<br />

contra suas bandagens quando se colocou sobre suas coxas e em câmara lenta<br />

<strong>de</strong>liberadamente introduziu seu corpo sobre o <strong>de</strong>le.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r jogou para trás a cabeça quando o prazer lhe alagou. Ela se<br />

sentou lentamente, sua vagina, apertada como um punho quente, suas dobras


242<br />

suave veludo, aferraram-lhe quando empurrou abrindo passo em seu interior<br />

mais profundamente. O fôlego abandonou seus pulmões em um ofego <strong>de</strong> prazer.<br />

Unir-se a Abigail não se parecia com nenhuma outra coisa. A doce e quente<br />

rajada, o vício <strong>de</strong> seu corpo, a forma em que ela se movia com um ritmo perfeito,<br />

não importa quão duramente ou com que rapi<strong>de</strong>z, ou lentidão fosse ele. Sempre<br />

se sentia como se introduzido sob a pele <strong>de</strong>la e tivesse encontrado o paraíso.<br />

-Adoro como sempre me <strong>de</strong>seja, Abbey. Tem alguma idéia do presente que<br />

é isso para um homem? - Os <strong>de</strong>dos <strong>de</strong>le acariciaram os cabelos da nuca <strong>de</strong>la. -<br />

Tem a menor idéia do presente que faz a um homem ao lhe olhar <strong>de</strong>ssa maneira?<br />

- Ela montou seu corpo com um lento e fácil <strong>de</strong>slizar, cobrindo cada polegada,<br />

atormentando-o, aumentando seu prazer e ao mesmo tempo sendo muito<br />

cuidadosa com suas feridas. Elevou-se fora <strong>de</strong>le, aferrando com seus músculos,<br />

criando tal fricção que lhe roubou o fôlego. -Sei o que sinto cada vez que me<br />

toca, rebyonak, cada vez que transpassa a porta e seus olhos se iluminam<br />

quando me vêem.<br />

Suas mãos lhe agarraram os quadris com uma força inesperada, lhe<br />

cravando os <strong>de</strong>dos, sustentando-a imóvel enquanto empurrava dura e<br />

profundamente.<br />

Abigail gritou, incapaz <strong>de</strong> conter-se, o prazer foi profundo até o osso,<br />

esticando cada músculo <strong>de</strong> seu corpo. Sempre era assim com Aleksan<strong>de</strong>r. Ela<br />

começava tendo o controle e ele o tirava com seu corpo enchendo o <strong>de</strong>la e lhe<br />

proporcionando tal êxtase que acreditava que ia se romper em um milhão <strong>de</strong><br />

pedaços. Sustentou-a imóvel enquanto ele começava a afundar-se nela com<br />

seguras e duras estocadas, seu corpo palpitava ao redor do <strong>de</strong>le, fundindo-se no<br />

intenso calor e em um dilacerador <strong>de</strong>sejo que nublava a mente e a atravessava<br />

até que estava gritando seu nome.<br />

Ela <strong>de</strong>sejava alívio. Necessitava alívio. Estava justo ali, justo no bordo, tão<br />

perto que podia notar cada músculo esticar-se com espera. Com <strong>de</strong>sejo. Mas<br />

nunca chegava. Sabia que ele não <strong>de</strong>veria gastar tanta energia mas se<br />

encontrava suplicando algo mais. Estava-a matando, obrigando-a a esperar.<br />

Mantendo-a justo ao bordo do precipício.<br />

-Prometa-me isso<br />

-Prometer o que?- A penas podia pensar com o corpo tão tenso, suplicando<br />

alívio. -Sasha! O que quer?- Moveu os quadris urgentemente, tratando <strong>de</strong> lhe<br />

obrigar que a aliviasse.<br />

-Promete que se casará comigo logo que seus pais retornem.<br />

Ela quase soluçava <strong>de</strong> prazer.<br />

-Está me matando. Não posso mais. Acredito que estou às portas da morte.<br />

-Pensou errado. - moveu-se outra vez, introduzindo-se muito lentamente<br />

nela, e jogou marcha atrás, lhe sujeitando os quadris <strong>de</strong> tal maneira que ela não<br />

pu<strong>de</strong>sse lhe seguir. -Quando seus pais retornarem se casará comigo. Diga.<br />

-Maldição. O que queira. Prometo-lhe isso. É um ditador. - Não ia dizer que<br />

seus pais não voltariam para casa até as bodas <strong>de</strong> suas irmãs e que isso<br />

<strong>de</strong>moraria vários meses ainda. Seu corpo se estremecia pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

alívio e <strong>de</strong>liberadamente apertou os músculos quando ele se elevou para ela outra<br />

vez, <strong>de</strong>sesperada por alívio.


243<br />

Ele empurrou <strong>de</strong> novo, esta vez quase brutalmente estrelando-se contra<br />

seu corpo. O fôlego abandonou seu corpo, as ferozes sensações a absorveram.<br />

-Mais!- or<strong>de</strong>nou, sentindo suas po<strong>de</strong>rosas coxas abaixo <strong>de</strong>la. Realmente lhe<br />

podia sentir enchendo-a, empurrando através dos suaves músculos <strong>de</strong> sua<br />

pare<strong>de</strong> vaginal, enquanto lhe aferrava firmemente, mantendo-o muito perto, lhe<br />

sujeitando <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la.<br />

Abigail olhou seus olhos, ficando apanhada e sujeita pela intensida<strong>de</strong> das<br />

emoções que formavam re<strong>de</strong>moinhos nas escuras profundida<strong>de</strong>s. Podia ver seu<br />

amor por ela, a necessida<strong>de</strong> e o <strong>de</strong>sejo lhe atravessando com a mesma força da<br />

paixão que sentia ela. Tinha tido tanto medo <strong>de</strong> sentir-se assim outra vez, o<br />

potente amor que a enchia e se negava a <strong>de</strong>ixá-la partir. Estava ali nos olhos<br />

<strong>de</strong>le.<br />

Ele se afundou com força, procurando estar muito profundamente <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong>la. Sentia-lhe mover-se através <strong>de</strong>la, grosso, duro e quente, até seu útero.<br />

Sentiu o corpo <strong>de</strong>le saltar quando seus músculos apertaram como um punho,<br />

negando-se a lhe <strong>de</strong>ixar. Quando seus músculos se convulsionaram, com<br />

estremecedores espasmos que a <strong>de</strong>ixaram sem fôlego, brilharam lágrimas nos<br />

olhos <strong>de</strong>le. Sua quente liberação emanou profundamente nela e pressionou a<br />

testa contra o ombro bom <strong>de</strong>le, saboreando os pequenos tremores que<br />

mantinham seu corpo estremecendo-se <strong>de</strong> prazer.<br />

-Amo você, Sasha. Mais que nada. Assusta-me o muito que te amo.<br />

-Não está sozinha, Abbey. Não po<strong>de</strong>ria viver sem você. Você se arrumou<br />

sem mim. Foi capaz <strong>de</strong> prescindir <strong>de</strong> mim completamente. Isso me aterra.<br />

-É a única forma <strong>de</strong> auto conservação que tenho.<br />

-Me olhe, Abigail. - Abriu-lhe os <strong>de</strong>dos <strong>de</strong> ao redor <strong>de</strong> seu pescoço e lhe <strong>de</strong>u<br />

a volta. A ação enviou outro estremecimento através <strong>de</strong> seu corpo e ao redor do<br />

<strong>de</strong>le.<br />

Olhou aos seus olhos e sentiu seu coração saltar grosseiramente. Ele<br />

sempre parecia a afetar <strong>de</strong>ssa maneira.<br />

-Amo você. Não vou te <strong>de</strong>ixar. Nunca. Lê minhas cartas. Saberá o<br />

<strong>de</strong>sesperadamente que necessito <strong>de</strong> você em minha vida e não voltará a ter<br />

medo.<br />

Abigail lhe beijou. Já tinha lido as cartas. Tinha-as lido uma e outra vez<br />

durante todas essas longas horas e dias nos que ele lutava por sua vida.<br />

Entesourava cada uma <strong>de</strong>las e tinha chorado mais que nunca pela forma em que<br />

ele tinha vertido seu coração para ela<br />

-Amo você, Sasha. Amo você.<br />

O vento soprou da superfície do oceano para o alpendre, trazendo o cheiro<br />

do mar, sal e o som amortecido <strong>de</strong> vozes femininas. Distante. Musical. Zombador.<br />

Abigail ficou rígida, separou-se <strong>de</strong> Aleksan<strong>de</strong>r com alarme, seus olhos<br />

estavam enormes.<br />

-Oh, não. - Olhou ao redor freneticamente. -Minha roupa. On<strong>de</strong> está minha<br />

roupa?<br />

Aleksan<strong>de</strong>r lhe ofereceu a camisa e observou como a passava <strong>de</strong> um puxão<br />

pela cabeça. Saltou fora <strong>de</strong> seu colo, atirando a manta sobre ele.<br />

-Rápido, tem que entrar na casa e se vestir. Vamos, vá <strong>de</strong>pressa.


244<br />

O vento se retirou, lançando folhas e ramos em vários mini-tornados. Des<strong>de</strong><br />

vários cantos da casa o vento balançou os carrilhões musicais em uma melodia<br />

estranha.<br />

-O que acontece, Abbey?- Tirou uma arma <strong>de</strong> <strong>de</strong>baixo do pano <strong>de</strong> cozinha<br />

que havia na ban<strong>de</strong>ja que estava a seu lado. Seu olhar se movia em todas as<br />

direções, procurando o perigo, avaliando suas opções.<br />

Ela alcançou suas calças e as subiu pelas pernas.<br />

-É minha mãe. E meu pai! Não posso acreditar nisso. Retornaram para<br />

casa. Isto é horrível. On<strong>de</strong> está sua roupa? Estarão aqui <strong>de</strong> um momento a outro.<br />

E não diga nada escandaloso.<br />

Ele sorriu e esten<strong>de</strong>u o braço em busca <strong>de</strong> sua mão, visivelmente<br />

<strong>de</strong>pravado.<br />

-Isto é maravilhoso. Estive <strong>de</strong>sejando conhecer seus pais. Está se<br />

ruborizando.<br />

Ela se <strong>de</strong>u uma palmada na face como se pu<strong>de</strong>sse eliminar a mancha <strong>de</strong><br />

cor.<br />

-Não estou. Não posso acreditar que essas malvadas irmãs não me<br />

advertissem imediatamente. É obvio que voltaram para casa. A tia Carol lhes<br />

<strong>de</strong>ve ter contado que Ignatev me apunhalou. - Agachou-se para lhe ajudar a ficar<br />

em pé. -Disse que ia fazer mas lhe disse que não lhes dissesse nenhuma palavra.<br />

Provavelmente contou à família inteira. Teremos sorte se todas minhas tias, tios,<br />

e primos não aparecem também.<br />

Aleksan<strong>de</strong>r cambaleou e isso a estabilizou. Respirou fundo.<br />

-Está bem. Estaremos bem. - <strong>de</strong>teve-se <strong>de</strong> repente e lhe fulminou com o<br />

olhar. -Sabia. Bastardo putrefato, mentiroso, sabia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o começo que meus<br />

pais vinham, verda<strong>de</strong>? A tia Carol lhe disse isso.<br />

Ele arqueou uma sobrancelha, impassível ante sua acusação.<br />

-Pô<strong>de</strong> havê-lo mencionado quando esteve aqui antes.<br />

-A única razão pela que ajudo você a entrar em casa em vez <strong>de</strong> te empurrar<br />

fora do alpendre é que ainda está ferido. Nego qualquer promessa.<br />

-Nem sonhe, Abbey. Farei cumprir a promessa. - sentou-se na cama e<br />

limpou as pequenas gotas <strong>de</strong> suor da testa.<br />

-Foi feita sob pressão e me enganou. - Lhe trouxe uma toalha. -Aqui tem,<br />

isto ajudará. Trata <strong>de</strong> <strong>de</strong>scansar, Aleksan<strong>de</strong>r. Não po<strong>de</strong> se recuperar das feridas<br />

tão rapidamente. Tem que <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> se empurrar com tanta força. Quase morre.<br />

Teria morrido sem a magia <strong>de</strong> Prakenskii. Não <strong>de</strong>veria ter permitido que fizesse<br />

amor assim. Deixamo-nos levar.<br />

Ele a atraiu <strong>de</strong> um puxão.<br />

-Amo você, Abbey. Não nos <strong>de</strong>ixamos levar. Simplesmente necessitávamos<br />

um ao outro. Há uma diferença.<br />

Abigail lhe beijou.<br />

-Amo você, Aleksan<strong>de</strong>r Volstov, mas não tenho nem idéia <strong>de</strong> por que. É<br />

mandão e insiste em acreditar que é invencível. - Limpou-lhe rapidamente e lhe<br />

ajudou a colocar uma calça e uma camisa suave. -Está pálido. Quer tomar algo<br />

para a dor? Libby vai matar-me por isso.


245<br />

-Para, Abbey. - disse ele, com voz terna. -Libby não vai ficar brava. Não<br />

fizemos nenhum dano. Estou me sentindo muito melhor. - Envolveu os braços ao<br />

redor <strong>de</strong>la e acariciou com o nariz a parte superior <strong>de</strong> sua cabeça.<br />

Ela o olhou.<br />

-Mencionei o mandão?<br />

-Acredito que mais <strong>de</strong> uma vez. Vamos à sala <strong>de</strong> estar. Prefiro conhecer<br />

seus pais pela primeira vez ali e não no dormitório. - Respirou fundo, sentiu a<br />

rajada <strong>de</strong> dor que sempre chegava quando se esquecia e inalava muito<br />

profundamente. Sorriu para ela <strong>de</strong> todos os modos. Já tinha tido bastante <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>scanso e cura. Se ela soubesse quão débil estava na realida<strong>de</strong>, faria voltar para<br />

a cama em um abrir e fechar <strong>de</strong> olhos e já não haveria mais <strong>de</strong> sua boca<br />

brincalhona e seu corpo ar<strong>de</strong>nte que drenasse sua força. Alimentaria-lhe com<br />

sopa <strong>de</strong> frango.<br />

Abigail lhe olhou suspicaz, mas lhe ajudou obedientemente a levantar-se.<br />

-Suponho que há certa <strong>de</strong>svantagem em conhecer os pais pela primeira vez<br />

no dormitório, mas nunca pensariam que é débil, Sasha. Eles não são assim<br />

absolutamente. São amorosos e gente agradável.<br />

Ele riu brandamente.<br />

-Não quero estar no dormitório, pensando em você em minha cama e o que<br />

eu gostaria <strong>de</strong> estar fazendo no momento em que estivéssemos a sós, quando<br />

temos companhia. - Ela grunhiu, realmente grunhiu, lhe franzindo o cenho com<br />

ferocida<strong>de</strong>, com expressão <strong>de</strong> não estar para tolices. Aleksan<strong>de</strong>r estalou em<br />

gargalhadas, uma dor esfaqueou todo seu corpo, mas não teve importância. -Não<br />

tem nem idéia do quanto te amo.<br />

Abigail ajudou Aleksan<strong>de</strong>r a sentar-se na ca<strong>de</strong>ira mais confortável justo<br />

quando soava a campainha da porta.<br />

-Estão aqui. - anunciou <strong>de</strong>snecessariamente. Queria que seus pais lhe<br />

quisessem. Que lhe vissem através <strong>de</strong> seus olhos. Que vissem o autêntico<br />

Aleksan<strong>de</strong>r, não ao homem duro e cruel que ele apresentava ao resto do mundo.<br />

Enquanto ia para a porta, enten<strong>de</strong>u que não havia nada do que preocuparse.<br />

Seus pais confiavam nela, amavam-na e abraçariam Aleksan<strong>de</strong>r na família.<br />

Seu coração palpitava <strong>de</strong> alegria e abriu a porta em um puxão.<br />

FIM

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