Joana Lourinho - Amin Maalouf e o problema das identidades
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tes grupos de cidadãos” 22 . Só assim “cada um dos cidadãos será tratado como um cidadão<br />
de corpo inteiro, quaisquer que sejam as suas pertenças” 23 .<br />
A existência de vários conflitos de <strong>identidades</strong> ao longo dos tempos permitiu que os<br />
Estados adoptassem vários modos de resolução, como a laicização e o regime democrático.<br />
Contudo, estes revelaram-se insuficientes com o tempo. Para haver coexistência harmoniosa,<br />
<strong>Maalouf</strong> propõe “mecanismos de salvaguarda dos valores” 24 . Estes mecanismos são realizados<br />
através do “voto de opinião, o único que terá uma expressão livre” 25 , substituindo-o<br />
por todos os outros tipos de voto maioritários, pois estes não fazem “respeitar os direitos<br />
dos oprimidos” 26 .<br />
Na opinião de <strong>Amin</strong> <strong>Maalouf</strong>, na sociedade actual em que “cada cultura é quotidianamente<br />
confrontada com as outras, em que cada identidade sente a necessidade de se afirmar<br />
com virulência, em que cada país, cada cidade, deve organizar no seu seio uma delicada<br />
coabitação, a questão não consiste em saber se os nossos preconceitos religiosos, étnicos e<br />
culturais são mais fortes ou mais fracos do que os <strong>das</strong> gerações precedentes, mas sim em<br />
saber se conseguiremos impedir as nossas sociedades de derivar para a violência, o fanatismo<br />
e o caos” 27 .<br />
É a nossa evolução moral que deve ser acelerada ao ritmo da evolução material, o que<br />
exige uma verdadeira revolução nos comportamentos, como sugere <strong>Maalouf</strong>. Talvez por<br />
isso, existam ainda limites à possibilidade de existirem “múltiplas pertenças” 28 . A humanidade<br />
ainda não avançou moralmente o suficiente para aceitar o facto de um indivíduo ter<br />
direito a reclamar que pertence a duas culturas distintas. Quando isto é assumido, não se faz<br />
discriminações de uma em relação à outra pelo facto de ser mais ou menos avançada.<br />
A “revolução moral nos comportamentos” 29 e modos de pensar, principalmente no<br />
mundo Ocidental, levarão a que o mundo Oriental se sinta mais integrado e mais aceite,<br />
evitando conflitos e guerras.<br />
4<br />
Referências Bibliográficas:<br />
HUNTINGTON, S. P., “O choque <strong>das</strong> civilizações?”, in AA.VV. (1999) O debate sobre a<br />
tese de Samuel P. Huntington, Lisboa, Gradiva.<br />
22<br />
<strong>Maalouf</strong>, As <strong>identidades</strong> assassinas, p. 165.<br />
23<br />
<strong>Maalouf</strong>, ibid., p. 166.<br />
24<br />
<strong>Maalouf</strong>, ibid., p. 169.<br />
25<br />
<strong>Maalouf</strong>, ibid., p. 169.<br />
26<br />
<strong>Maalouf</strong>, ibid., p. 169.<br />
27<br />
<strong>Maalouf</strong>, O mundo sem regras, p. 73.<br />
28<br />
<strong>Maalouf</strong>, As <strong>identidades</strong> assassinas, p. 13.<br />
29<br />
<strong>Maalouf</strong>, ibid., p. 169.