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Maria Rosário Silva - O Tratado de Lisboa e a Europa dos Cidadãos

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O <strong>Tratado</strong> <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong> e a <strong>Europa</strong> <strong>dos</strong> Cidadãos<br />

<strong>Maria</strong> do Rosário <strong>Silva</strong> *<br />

Resumo: Uma <strong>Europa</strong> mais próxima <strong>dos</strong> cidadãos é um <strong>dos</strong> <strong>de</strong>safios do <strong>Tratado</strong> <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong>.<br />

O documento já está em vigor, afigura-se como uma alavanca para a construção europeia e<br />

a afirmação da <strong>Europa</strong> no mundo. Para além da recuperação económica, a presidência<br />

espanhola da União Europeia espera dar um passo importante na concretização do tratado<br />

que, contudo, ainda está longe do dia-a-dia <strong>dos</strong> cidadãos europeus.<br />

Palavras-chave: <strong>Tratado</strong> <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong>, <strong>Europa</strong>, Cidadãos.<br />

Abstract: A Europe closer to its citizens is one of the challenges of the Lisbon Treaty. The<br />

document is already, and appears as strength for European integration and Europe’s position<br />

in the world. Although the economic recovery, the Spanish presi<strong>de</strong>ncy of the European<br />

Union, hopes take a major step in implementing the treaty, however, is still far from<br />

the life of citizens.<br />

1<br />

Key Words: Lisbon Treaty, Europe, Citizens.<br />

Depois <strong>de</strong> um impasse <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos, muita controvérsia e reflexão e, dois anos <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> ter sido assinado na capital portuguesa pelos lí<strong>de</strong>res da União Europeia, o <strong>Tratado</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Lisboa</strong> entrou finalmente em vigor. “Esperança”, “Confiança” ou um “Novo começo”, as<br />

palavras que mais se ouviram na recente cerimónia simbólica da Torre <strong>de</strong> Belém, com o<br />

chefe do Estado português, Aníbal Cavaco <strong>Silva</strong>, a sublinhar na sua intervenção, o facto da<br />

União Europeia ficar “melhor preparada para enfrentar a crise económica e financeira e as<br />

suas consequências sociais”, em particular o <strong>de</strong>semprego. O <strong>Tratado</strong> <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong> é assim<br />

anunciado como “um instrumento <strong>de</strong> esperança para o futuro da <strong>Europa</strong>”. Mas para aceitar<br />

*<br />

Aluna do 2.º ano da Licenciatura em Relações Internacionais da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora.


esta verda<strong>de</strong>, sobretudo num tempo marcado por dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> várias or<strong>de</strong>m, é necessário<br />

explicar porque e como vai o <strong>Tratado</strong> <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong> dar mais força à União Europeia, projectando-a<br />

mais ainda na cena mundial, ao mesmo tempo permitindo agilizar os processos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>cisão e, simultaneamente, apelando ao empenho e participação <strong>dos</strong> cidadãos. A verda<strong>de</strong> é<br />

que existe um largo <strong>de</strong>sconhecimento sobre os fundamentos <strong>de</strong>ste documento que mais não<br />

faz do que estabelecer um novo quadro jurídico para a União, dotando-a <strong>de</strong> mecanismos<br />

consi<strong>de</strong>ra<strong>dos</strong> fundamentais para que a <strong>Europa</strong> possa enfrentar novos <strong>de</strong>safios, fazendo <strong>dos</strong><br />

cidadãos, pelo menos em teoria, o centro da sua actuação. Mas para que os cidadãos possam<br />

efectivamente ser parte integrante <strong>de</strong> todo este processo, é necessário que estejam informa<strong>dos</strong><br />

e, nesta matéria, há uma falha tremenda. As questões europeias continuam a estar muito<br />

distantes <strong>dos</strong> cidadãos: basta observar os resulta<strong>dos</strong> <strong>dos</strong> sucessivos actos eleitorais para<br />

eleger o Parlamento Europeu e, nem é preciso sair <strong>de</strong> Portugal. No caso do nosso país, ao<br />

não ter sido referendado o <strong>Tratado</strong> <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong>, po<strong>de</strong> ter significado a perda <strong>de</strong> uma oportunida<strong>de</strong><br />

para esclarecer os portugueses sobre as virtu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um tratado que, obviamente, não<br />

agrada a to<strong>dos</strong>, consoante as diferentes i<strong>de</strong>ologias politicas.<br />

Um <strong>dos</strong> aspectos mais visíveis e que po<strong>de</strong> suscitar maior apreensão junto do cidadão<br />

comum, é a criação <strong>de</strong> novos cargos, pois se o <strong>Tratado</strong> <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong> visa simplificar o funcionamento<br />

da União Europeia, como se explicam estes novos cargos e, se na prática, não irão<br />

antes, complexificar todo o processo. Antes <strong>de</strong> mais dizer que o <strong>Tratado</strong> <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong> cria a<br />

função <strong>de</strong> Presi<strong>de</strong>nte do Conselho Europeu, com um mandato <strong>de</strong> dois anos e meio. É também<br />

criado o novo cargo <strong>de</strong> Alto Representante para os Negócios Estrangeiros e a Política<br />

<strong>de</strong> Segurança e Vice-presi<strong>de</strong>nte da Comissão: o belga Herman Van Rompuy é o novo presi<strong>de</strong>nte<br />

do Conselho e, Catherine Ashton, a nova chefe da Diplomacia Europeia. Ora, a<br />

criação <strong>de</strong>stes novos cargos divi<strong>de</strong> opiniões: há os que consi<strong>de</strong>ram que ao dar rostos políticos<br />

à União, todo o processo torna-se mais simples e transparente; há quem <strong>de</strong>fenda que a<br />

articulação das políticas europeias está para além das novas caras; mas existe igualmente<br />

quem advogue uma maior confusão, já para não falar da pouca transparência na escolha <strong>dos</strong><br />

novos protagonistas, da falta <strong>de</strong> clareza quanto às suas competências e, num aumento <strong>dos</strong><br />

custos económicos a suportar pelos cidadãos europeus. São, seguramente, perspectivas diferentes<br />

e dúvidas legítimas. Só o tempo po<strong>de</strong>rá dizer se os novos protagonistas são <strong>de</strong> facto<br />

uma mais-valia para a construção europeia.<br />

2<br />

Um outro aspecto consi<strong>de</strong>rado importante, pren<strong>de</strong>-se com o facto do <strong>Tratado</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Lisboa</strong> possibilitar que mais <strong>de</strong>cisões venham a ser tomadas por maioria qualificada em vez<br />

<strong>de</strong> por unanimida<strong>de</strong>. E neste processo que, to<strong>dos</strong> querem seja mais <strong>de</strong>mocrático, eficiente e<br />

transparente, é também dada a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> os cidadãos po<strong>de</strong>rem solicitar à Comissão<br />

Europeia a apresentação <strong>de</strong> novas propostas políticas.


Em suma, o <strong>Tratado</strong> <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong> encerra em si, um conjunto <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s que<br />

po<strong>de</strong>m e <strong>de</strong>vem ser do domínio público. É um processo <strong>de</strong>masiado importante para que<br />

nós, cidadãos da <strong>Europa</strong>, passemos ao lado. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> sermos ou não favoráveis<br />

à sua implementação, a verda<strong>de</strong> é que não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar cair em saco roto esta nova<br />

dinâmica ou nova dimensão que se nos afigura.<br />

Para dar um impulso significativo ao tratado, aí está também a presidência espanhola<br />

da União Europeia. A Espanha assume a direcção rotativa da União pela quarta vez <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

que a<strong>de</strong>riu à então Comunida<strong>de</strong> Europeia, em 1 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1986. O primeiro-ministro<br />

espanhol, José Luís Rodríguez Zapatero já fez saber que o gran<strong>de</strong> tema a abordar neste<br />

semestre <strong>de</strong> presidência, é a recuperação económica e a superação da crise. Para Zapatero, a<br />

<strong>Europa</strong> necessita <strong>de</strong> mudanças profundas, sendo <strong>de</strong>sejável que os cidadãos se sintam mais<br />

próximos das instituições. Na página online da presidência espanhola da União Europeia, o<br />

primeiro-ministro sublinha que o <strong>Tratado</strong> <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong> vai permitir à <strong>Europa</strong> ser “mais eficaz e<br />

dinâmica” e conquistar “mais apoio <strong>dos</strong> cidadãos”. A Espanha tem também um outro gran<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>safio: partilhar as responsabilida<strong>de</strong>s com os dois novos rostos da <strong>Europa</strong>.<br />

Trezentas reuniões, várias cimeiras e uma agenda com vários temas quentes, como a<br />

economia, o ambiente ou o <strong>Tratado</strong> <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong>, configuram este semestre <strong>de</strong> presidência<br />

espanhola que, Portugal acompanha <strong>de</strong> uma forma atenta, não só pela proximida<strong>de</strong> geográfica<br />

mas aten<strong>de</strong>ndo, sobretudo, ao bom relacionamento que caracteriza os Governos <strong>de</strong><br />

ambos os países ibéricos. Aqui está também uma oportunida<strong>de</strong> <strong>dos</strong> cidadãos se inteirarem<br />

das questões europeias e <strong>dos</strong> novos <strong>de</strong>safios que se colocam a este espaço regional, bem com<br />

as suas ambições relativamente ao resto do mundo, consignadas no <strong>Tratado</strong> <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong>.<br />

3

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