Crónicas de um Presidente
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CRÓNICAS DE UM PRESIDENTE<br />
Pensamentos <strong>de</strong> <strong>um</strong> homem pequeno que queria mudar o<br />
mundo.<br />
Texto <strong>de</strong> Ricardo Pocinho<br />
Ilustrações <strong>de</strong> Inês Massano
Ficha Técnica<br />
Título – Crónicas <strong>de</strong> <strong>um</strong> Presi<strong>de</strong>nte.<br />
Autor – Ricardo Pocinho<br />
Editor - Ricardo Pocinho<br />
Ilustrações – Inês Massano<br />
1.ª Edição<br />
ISBN – 978-989-98174-7-0<br />
Coimbra, Agosto <strong>de</strong> 20167
“A inteligência dos homens está na sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> levar a<br />
vida a brincar e nunca brincar com a vida”.<br />
Pocinho 2016
Nota <strong>de</strong> abertura<br />
Este pequeno livro, recheado <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s pensamentos, é o<br />
resultado do período <strong>de</strong> tempo, em que com muita honra<br />
fui cronista do diário As beiras, o titulo reflete o resto, a<br />
vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguém que tendo nascido n<strong>um</strong>a pequena<br />
al<strong>de</strong>ia do Concelho e Freguesia <strong>de</strong> Soure, vive com a<br />
vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudar o mundo… Tornando-o mais integro,<br />
mais solidário, mas sobretudo n<strong>um</strong> sitio on<strong>de</strong> se consiga ser<br />
feliz.
Quem será novo, quando eu for velho...<br />
Segundo vários órgãos <strong>de</strong> comunicação social, diferentes<br />
instituições e observatórios, a taxa <strong>de</strong> natalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve<br />
<strong>de</strong>scer 20% este ano. A natalida<strong>de</strong> em Portugal continua em<br />
queda e no primeiro semestre <strong>de</strong>ste ano nasceram menos<br />
4 mil bebés. O número <strong>de</strong> nascimentos é agora inferior ao<br />
número <strong>de</strong> óbitos e o país continua a per<strong>de</strong>r população.<br />
Este <strong>de</strong>sequilíbrio <strong>de</strong>mográfico, que é incrementado<br />
Pela crise, pelos casamentos tardios, pelos poucos<br />
incentivos à natalida<strong>de</strong>, e sobretudo por não haver sinais
<strong>de</strong> confiança, põem em causa a sustentabilida<strong>de</strong> do estado<br />
social, <strong>de</strong> tal forma que o país, como hoje o conhecemos,<br />
está em risco <strong>de</strong> “falência”.<br />
As preocupações pequeninas <strong>de</strong> alguns governantes, que<br />
tentam que sejam <strong>um</strong> problema <strong>de</strong> todos, fazendo, com<br />
aquela que é a sua especial habilida<strong>de</strong>, colocar nas costas<br />
dos outros as suas responsabilida<strong>de</strong>s (afinal foram eleitos<br />
para “pelo menos” ter i<strong>de</strong>ias para a resolução <strong>de</strong><br />
problemas), levarão a que Portugal possa vivenciar <strong>um</strong>a<br />
dificulda<strong>de</strong> nunca prevista – falta <strong>de</strong> gente! Gente que<br />
cui<strong>de</strong> <strong>de</strong> outra gente. Pois<br />
os que não nascem hoje, farão por certo falta amanhã. Um<br />
país não vive, não cresce e não avança, quando não têm<br />
essa gente.<br />
De quando em vez assistimos a estas discussões tornadas
maiores, que por serem só <strong>de</strong> vez em quando per<strong>de</strong>m<br />
eficácia. Mesmo sendo interessantes e necessárias,<br />
rapidamente são ultrapassadas, por outros assuntos mais<br />
mediáticos, também<br />
Importantes, que colocam em risco a vida <strong>de</strong> seres<br />
h<strong>um</strong>anos ou que à vida <strong>de</strong>sses dizem respeito, no entanto<br />
esquecemo-nos que o primeiro dos problemas po<strong>de</strong> ser a<br />
falta <strong>de</strong> seres h<strong>um</strong>anos.<br />
O <strong>de</strong>bate tem <strong>de</strong> ser contínuo, constante e imediato, têm<br />
<strong>de</strong> existir incrementos à natalida<strong>de</strong>, apoios a quem quer ter<br />
filhos, ajuda a quem os <strong>de</strong>seja e não os po<strong>de</strong> conceber, pois<br />
este problema que agora observo, só se resolve com<br />
nascimentos, <strong>de</strong> bebés que só serão adultas daqui por 18<br />
anos e mais 40 semanas <strong>de</strong> gestação. Tenho fortes e<br />
fundados receios que quando formos velhos, existam
poucos novos para cuidar <strong>de</strong> nós.
A irresponsabilida<strong>de</strong> é o que os inspira.<br />
Agora que alguns já festejaram a sua eleição para os órgãos<br />
aos quais se candidataram, voltemos ao país real e ao<br />
mundo dos que ainda têm trabalho e dos que o per<strong>de</strong>ram,<br />
nalguns casos culpa <strong>de</strong> alguns <strong>de</strong>stes que agora são<br />
vencedores e dos partidos que representam...<br />
Depois <strong>de</strong> cortes em todos os sítios on<strong>de</strong> se podia cortar, e<br />
<strong>de</strong> a<strong>um</strong>entos em tudo o que se podia a<strong>um</strong>entar... vem o<br />
papão.
O governo e os outros, <strong>de</strong> forma irresponsável e pouco<br />
esclarecedora, falam da possibilida<strong>de</strong> do segundo resgate<br />
como quem fala do estado do tempo.<br />
Assim, é na vida real, o que se insiste em dizer ao povo, é<br />
que modificar aqui e ali é fruto da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> termos<br />
em excesso medidas que levem à compensação do que<br />
temos em falta. Naturalmente é do vil metal que falo. Mas<br />
certo é que a maioria <strong>de</strong> nós, não enten<strong>de</strong> para que<br />
fazemos os tais sacrifícios, pois on<strong>de</strong> está o crescimento<br />
económico? On<strong>de</strong> estão os postos <strong>de</strong> trabalho? On<strong>de</strong> está<br />
a redução do <strong>de</strong>semprego? Ou a felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada <strong>um</strong>, pois<br />
essa é tão subjetiva, que até podia ser <strong>de</strong>sculpa para os<br />
governantes, dizendo que nem isso sabemos ser, com o<br />
pouco que nos resta.
Certo é, que sem terem conseguido passar a i<strong>de</strong>ia da<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> voltar a cortar em salários e pensões (o<br />
tribunal constitucional estava, como sempre, atento), para<br />
conseguir a tal consolidação orçamental que vinha<br />
montada n<strong>um</strong> cavalo branco no passado dia 23 e ainda não<br />
apareceu - espero até que não nos obriguem a comprar<br />
(para ver passar a retoma), uns óculos semelhantes aos que<br />
usei em meados dos anos 80, para ver “O monstro da lagoa<br />
negra” - falam agora do segundo resgate.<br />
Avisando o povo que se não querem que lhes tirem parte<br />
do que adquiriram por direito ou contrato, terá <strong>de</strong> haver<br />
resgate, sendo que assim quem lhe retirará o<br />
anteriormente aludido são os “mauzões da troika”. Uns e<br />
outros vão andando por aí, os que governam a dizer que o<br />
caminho é este, pois não temos sido colaborantes o
suficiente, e os que agora procuram votos, que falam<br />
também <strong>de</strong> resgate da mesma forma suave, mas com ar<br />
sério e grave - dizendo que se vier acontecer é por culpa<br />
dos outros.<br />
Ora valham-nos aqueles em que acreditamos, não é<br />
responsável estagnar a economia dizendo que <strong>de</strong> <strong>um</strong>a<br />
forma ou outra per<strong>de</strong>remos sempre. Por isso e por todo<br />
resto, são irresponsáveis.
Precária dignida<strong>de</strong>.<br />
Des<strong>de</strong> que me conheço que ouço falar <strong>de</strong> incerteza,<br />
imprevisibilida<strong>de</strong>, in<strong>de</strong>terminação, incontingência,<br />
incógnita e outros sinónimos sobre o facto <strong>de</strong> que a<br />
existência é <strong>um</strong>a caixa <strong>de</strong> surpresas. Sempre foi assim e<br />
sempre assim será, pois faz parte <strong>de</strong> algo a que chamamos<br />
vida! Mas nunca ouvi falar <strong>de</strong> indignida<strong>de</strong> ou <strong>de</strong><br />
precarida<strong>de</strong> como algo fatídico… Esse não é o nosso fado.<br />
No entanto, naquilo on<strong>de</strong> esgotamos gran<strong>de</strong> parte da nossa
vida - o trabalho - a precarida<strong>de</strong> cresce como <strong>um</strong> cancro<br />
dia-a-dia, e a perda da dignida<strong>de</strong> cívica é <strong>um</strong>a morte<br />
anunciada em todas as famílias <strong>de</strong> trabalhadores e<br />
pequenos empresários. O trabalho é hoje <strong>um</strong>a via-sacra <strong>de</strong><br />
sofrimento, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a falta <strong>de</strong> condições <strong>de</strong> higiene e<br />
segurança ao <strong>de</strong>semprego, e à emigração forçada, ao<br />
trabalho precário, infantil e clan<strong>de</strong>stino, que inunda a nossa<br />
socieda<strong>de</strong>. No entanto, os senhores que se sentam nas<br />
ca<strong>de</strong>iras dos po<strong>de</strong>res, precarizam-nos a cada virar <strong>de</strong><br />
esquina. Atentemos nas notícias frescas, <strong>de</strong> ignóbeis<br />
<strong>de</strong>cisões governamentais: após não termos comemorado a<br />
nossa amada República, as nossas viúvas são espoliadas no<br />
dia seguinte, naquela pensão <strong>de</strong> nome macabro –<br />
sobrevivência! Não há lodo no cais, porque já não há mais<br />
cais… Precarizam-nos diariamente para nos fragilizarem,
em nome <strong>de</strong> <strong>um</strong>a estabilida<strong>de</strong> económica e financeira, que<br />
é apenas terreno bancário. Os altos dignatários do nosso<br />
país alimentam-se como vampiros da nossa precarida<strong>de</strong><br />
in<strong>de</strong>fesa em nome da estabilida<strong>de</strong> dos mercados. E<br />
roubam-nos as liberda<strong>de</strong>s cívicas, até afrontando os<br />
tribunais, para <strong>de</strong>struírem a socieda<strong>de</strong> solidária que os<br />
portugueses construíram ao longo <strong>de</strong> séculos. Perante esta<br />
precária dignida<strong>de</strong>, como nos ensina o prémio Nobel da<br />
Economia Amartya Sen, só há <strong>um</strong>a saída: a luta pela<br />
liberda<strong>de</strong> como meio para atingir o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
económico e social. Em período pós-eleitoral, aos partidos<br />
que venceram e aos que não per<strong>de</strong>ram, <strong>de</strong>ixo o repto da<br />
luta pela liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser feliz e próspero!
Pedro, o Insensível.<br />
O país pergunta, <strong>um</strong> programa estranho que faz lembrar<br />
outros tempos e outros protagonistas, em tudo<br />
semelhantes a estes <strong>de</strong> agora, os quais com curta<br />
imaginação, julgam que empobrecendo o povo e<br />
roubando-lhe a felicida<strong>de</strong>, fica mais fácil a implementação<br />
das medidas que nenh<strong>um</strong>a mente sã seria capaz <strong>de</strong> sequer<br />
imaginar repetidamente. Os que foram selecionados para<br />
fazer as perguntas ao Pedro, viram as suas questões serem
abordadas da forma mais política possível, pois não basta<br />
tratar as pessoas pelo nome, parecendo assim próximo.<br />
Não chega utilizar as palavras, serieda<strong>de</strong> e honestida<strong>de</strong>,<br />
quase acreditando que se é! Não é necessário fazer muita<br />
pergunta para conseguir ter <strong>um</strong>a resposta, dando assim a<br />
enten<strong>de</strong>r que se está esclarecido. É preciso, sobretudo, ser<br />
h<strong>um</strong>ano... O Pedro manteve-se frio e insensível. Aliás, este<br />
programa visto por <strong>um</strong> qualquer realizador seria <strong>um</strong><br />
extraordinário arg<strong>um</strong>ento para <strong>um</strong> filme, em que <strong>um</strong> robot<br />
tenta fazer-se passar por h<strong>um</strong>ano para po<strong>de</strong>r assim tomar<br />
conta do mundo dos <strong>de</strong> carne e osso, fingindo ser como eles.<br />
Ainda que, não tenha sido neste fantástico programa <strong>de</strong><br />
televisão, que ocorreu a <strong>um</strong>a semana da apresentação do<br />
orçamento <strong>de</strong> estado, e em que as gran<strong>de</strong>s opções, e<br />
medidas, por ainda não estarem <strong>de</strong>finidas, se <strong>de</strong>ixou claro
o que este governo quer, no obscurantismo <strong>de</strong> quem<br />
<strong>de</strong>ci<strong>de</strong> sempre o importante em cima do joelho. Tiram o<br />
sono a muitas famílias, pois não já conseguimos dormir a<br />
ouvir tenebrosos “passos e portas”. Na semana que passou<br />
ficámos a saber que o ajustamento português segue <strong>de</strong><br />
vento em popa, sendo que o Orçamento <strong>de</strong> Estado <strong>de</strong> 2014<br />
será mais do mesmo, e que enquanto houver sinais <strong>de</strong> vida<br />
digna os cortes serão a torto e a direito, sem sentido <strong>de</strong><br />
h<strong>um</strong>anida<strong>de</strong> e com <strong>um</strong>a insensibilida<strong>de</strong> atroz. Um<br />
governante tem <strong>de</strong> ser gente como a gente que governa,<br />
<strong>de</strong>ve recordar-se que foi eleito para por em prática políticas<br />
e programas que conduzam a mais qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida... Não<br />
po<strong>de</strong> o ajustamento financeiro, e a <strong>de</strong>smedida obsessão <strong>de</strong><br />
c<strong>um</strong>prir as metas ditadas pelos outros, transformar<br />
homens em autómatos.
Forte para os fracos...<br />
Nos últimos anos os orçamentos <strong>de</strong> estado, instr<strong>um</strong>ento<br />
legislativo que norteia a governação do país, têm sido<br />
apenas <strong>um</strong> ato <strong>de</strong> “profissão <strong>de</strong> fé” com os nossos credores,<br />
pois são em boa medida <strong>de</strong>sajustados às realida<strong>de</strong>s do país.<br />
Porque não têm tido em conta as necessida<strong>de</strong>s básicas dos<br />
portugueses e, apenas, têm como objectivo “a obtenção <strong>de</strong><br />
boa nota”, sendo que para isso vale tudo.
Sobre o orçamento que foi apresentado, que muitos julgam<br />
conter normas inconstitucionais, e estranhe-se, então, n<strong>um</strong><br />
estado <strong>de</strong> direito, ser permitida a apresentação <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />
instr<strong>um</strong>ento legislativo, que à priori se suspeita violar a lei<br />
fundamental, sendo, assim, dizer apenas que é<br />
excessivamente punidor dos mais vulneráveis.<br />
Este orçamento, sobre o qual o Senhor Presi<strong>de</strong>nte da<br />
República tenciona apenas intervir quando estiver em vigor,<br />
pois consi<strong>de</strong>ra que pior que ter <strong>um</strong> orçamento mau, com<br />
suspeitas fundadas <strong>de</strong> violar as normas constitucionais e<br />
que conduzirá o país para o cataclismo económico, seria se<br />
não estivesse em vigor a 1 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 2014. Não<br />
querendo aqui aludir a suposição que muitos têm veiculado<br />
<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r estar a ser posto em causa o juramento <strong>de</strong><br />
“c<strong>um</strong>prir e fazer c<strong>um</strong>prir a constituição”, estou mais
preocupado com a imagem externa, pois importa que<br />
sejamos responsáveis, e não é consciente querer<br />
teimosamente ter <strong>um</strong> mau orçamento, que entre em vigor<br />
no prazo <strong>de</strong>vido, para <strong>de</strong>pois termos que inventar planos B<br />
ou C... Não po<strong>de</strong>rão as cúpulas continuar a refugiar-se nas<br />
<strong>de</strong>cisões do Tribunal Constitucional para justificar o<br />
injustificável, pois conhecer as regras é requisito para<br />
governar, e submeter-se a elas é viver em <strong>de</strong>mocracia.<br />
Não sou dos que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> o discurso do “bota abaixo”,<br />
compreendo os compromissos ass<strong>um</strong>idos, no entanto, não<br />
entendo como se po<strong>de</strong> querer crescimento económico<br />
quando se retira po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> compra. Defendo que todos<br />
temos <strong>de</strong> pagar, mas uns po<strong>de</strong>m mais que outros...<br />
Não é admissível que se agrave a iniquida<strong>de</strong> social, nem<br />
compreensível que se quebre o princípio da confiança. Este
orçamento é mau para os portugueses e penalizador para<br />
Portugal, é <strong>um</strong> orçamento forte para os fracos e fraco para<br />
os fortes.
Desemprego, empreen<strong>de</strong>dorismo e formação.<br />
Esta semana a UGT <strong>de</strong> Coimbra festeja o 4.º Aniversário.<br />
Elege como marca da data o terrível flagelo do <strong>de</strong>semprego,<br />
as oportunida<strong>de</strong>s do empreen<strong>de</strong>dorismo n<strong>um</strong> país em que<br />
os governantes <strong>de</strong> diligentes têm pouco e o valor da<br />
formação.<br />
Nos últimos 4 anos, e mormente nos últimos 4 meses, a<br />
UGT – Coimbra elegeu como seu principal inimigo o<br />
<strong>de</strong>semprego.
N<strong>um</strong> distrito com 30 000 <strong>de</strong>sempregados, têm sido muitas<br />
as ações que a estrutura da central sindical em Coimbra<br />
tem levado a cabo.<br />
De certa maneira, a formação tem sido encarada como o<br />
“salva vidas”, pois para quem nada tem (falamos <strong>de</strong><br />
pessoas <strong>de</strong>sempregadas à vários anos), esta parece ser <strong>um</strong>a<br />
boa forma <strong>de</strong> regresso à vida ativa.<br />
A formação, sobretudo em períodos <strong>de</strong> ausência <strong>de</strong><br />
ativida<strong>de</strong> profissional, consubstancia-se como <strong>um</strong>a das<br />
melhores e mais completas terapêuticas que se po<strong>de</strong>m<br />
administrar.<br />
O bem-estar gerado pela ativida<strong>de</strong> formativa é por si só<br />
motivador para que façamos mais e melhor. Os formandos<br />
apren<strong>de</strong>m com gosto, são selecionados <strong>de</strong> forma voluntária,
o que é para nós garante que o investimento público tantas<br />
vezes posto em causa, é <strong>de</strong>sta vez gasto <strong>de</strong> forma assertiva.<br />
Positiva também, a manutenção <strong>de</strong> papéis sociais, pois o<br />
fato <strong>de</strong> quem frequenta estas ações <strong>de</strong> formação ter <strong>um</strong>a<br />
“obrigação” em cada dia, renova o predicado da inclusão,<br />
pois o <strong>de</strong>semprego é marcado pela solidão e ser solitário<br />
não significa somente estar só.<br />
Por último, o acionamento cognitivo, a ativida<strong>de</strong> formativa<br />
provoca nos seres h<strong>um</strong>anos <strong>um</strong> sentimento <strong>de</strong> ocupação e<br />
cria auto estima, dois elementos importantes que são<br />
verificados no processo <strong>de</strong> recrutamento.<br />
A UGT –Coimbra comemora o seu aniversário como forma<br />
<strong>de</strong> elevar os valores do “Trabalho com direitos e da Justiça<br />
Social”, pois este foi o mote escolhido para este mandato.
No entanto, o clima apesar <strong>de</strong> festejo não será <strong>de</strong> festa,<br />
pois para quem como nós representa não só os<br />
trabalhadores, mas também os que não trabalham porque<br />
não têm emprego, os que já trabalharam e hoje veem os<br />
seus direitos diminuídos, as crianças, os jovens e as mães<br />
<strong>de</strong>stes, mulheres trabalhadoras, e também aqueles que<br />
com necessida<strong>de</strong>s especiais <strong>de</strong>veriam ter o mesmo espaço<br />
no mercado <strong>de</strong> trabalho, não representa hoje motivo <strong>de</strong><br />
alegria. Pediremos por isso ao governo na altura <strong>de</strong> “trincar<br />
a vela” o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar os portugueses viverem e serem<br />
felizes. Parabéns UGT Coimbra.
Fazer Greve, porque a coisa é grave.<br />
A greve que ocorrerá na próxima Sexta-Feira é mais do que<br />
<strong>um</strong>a resposta dos trabalhadores da administração pública<br />
e do sector empresarial do estado ao agoniante orçamento<br />
aprovado na semana que passou. É <strong>um</strong>a necessária e<br />
imprescindível reação daqueles que <strong>um</strong> dia, por concurso<br />
público conseguiram <strong>um</strong> posto <strong>de</strong> trabalho, e entretanto<br />
viram o contrato que firmaram alterado por apenas <strong>um</strong>a<br />
das partes. Por imposição unilateral dos mesmos viram os
vencimentos diminuídos, a progressão e os a<strong>um</strong>entos<br />
congelados, os subsídios subtraídos... e como se tal não<br />
bastasse, assistiram como todos ao a<strong>um</strong>ento <strong>de</strong> impostos e<br />
dos bens essenciais como para qualquer <strong>um</strong>.<br />
Para além do anteriormente aludido, medidas para as quais<br />
já se conheceram várias versões da data fim, po<strong>de</strong>ndo<br />
mesmo alg<strong>um</strong>as das <strong>de</strong>las virem a tornar-se irrevogáveis,<br />
ao contrário <strong>de</strong> outras coisas nesta novela governativa, não<br />
conheço nenh<strong>um</strong> caso em que a atitu<strong>de</strong> zelosa que<br />
caracteriza aqueles que optaram por trabalhar na<br />
administração pública e no sector empresarial do estado<br />
tenha colocado em condição gravosa alg<strong>um</strong> português. A<br />
sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resistir está comprovada, que é quem<br />
mais or<strong>de</strong>na, e o fim público é para muitos mais importante
que os honrosos, mas diminutos, 485 euros que o estado<br />
lhes paga.<br />
O que está em causa nesta greve é a <strong>de</strong>fesa do estado social,<br />
dos serviços públicos, pois só com funcionários públicos<br />
estes po<strong>de</strong>m ser assegurados, pois não há serviços públicos<br />
entregues a privados.<br />
É pois tempo <strong>de</strong> unidos, <strong>de</strong>mostrarmos com o nosso<br />
sacrifício económico, sim, porque quem faz greve per<strong>de</strong> <strong>um</strong><br />
dia <strong>de</strong> vencimento, que não estamos dispostos a per<strong>de</strong>r o<br />
que conseguimos, também unidos. Mais que os empregos,<br />
mais do que perdas <strong>de</strong> direitos, o que está em causa é o<br />
ataque <strong>de</strong>smedido aos serviços públicos. Com esta greve<br />
não se preten<strong>de</strong> a queda do governo, nem mais<br />
reestruturações feitas <strong>de</strong> forma apresada e em que<br />
levamos com mais do mesmo. O que se preten<strong>de</strong> é a
mudança <strong>de</strong> políticas, pois este governo foi legitimado para<br />
governar, o que curiosamente é coisa que tem feito pouco.<br />
Porque o momento que o país atravessa é grave, eu faço<br />
greve.
Confiança, estabilida<strong>de</strong> e transparência.<br />
Ainda no rescaldo da última greve da administração pública,<br />
importa que alguns dirigentes políticos, pois serão só esses<br />
que aqui tenciono visar, tirem sérias ilações do que move<br />
os portugueses.<br />
É tempo <strong>de</strong> se ser responsável. Um país não po<strong>de</strong>, “só<br />
porque o povo é sereno”, viver ao sabor <strong>de</strong> quem com<br />
pouco saber governa, ou quer governar, alicerçando as suas<br />
<strong>de</strong>cisões em pareceres pouco fundamentados e em
experiências nunca ensaiadas. Hoje, como nunca antes, “o<br />
mercado da política” está empobrecido. Longe vãos os<br />
tempos em que a política era <strong>um</strong>a ocupação para homens<br />
e mulheres, que tendo as suas profissões se entregavam à<br />
causa pública com o intuito maior <strong>de</strong> trabalhar para os<br />
outros, e não como carreira profissional, como hoje suce<strong>de</strong>.<br />
Exige-se confiança, pois os políticos governantes, ou com<br />
vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> o ser, têm que dar <strong>um</strong> sinal <strong>de</strong> firmeza, porque<br />
todos já <strong>de</strong>monstrámos que aguentamos quase tudo, mas<br />
também que não suportamos mais; a economia para<br />
crescer precisa <strong>de</strong> resolução, pois só se investe no que se<br />
acredita.<br />
À instabilida<strong>de</strong> financeira, motivada por razões inúmeras,<br />
causas que não poucas vezes saem até do controlo do<br />
com<strong>um</strong> dos mortais, não é boa prática juntar instabilida<strong>de</strong>
política e instabilida<strong>de</strong> social. Também neste capitulo, o<br />
comprometimento, não é a melhor palavra para <strong>de</strong>finir a<br />
atuação dos nossos políticos, e enquanto fazem do ataque<br />
uns aos outros o passatempo preferido às segundas,<br />
quartas e sextas, alternando com os elogios e aproximações<br />
às terças e quintas, os mercados reagem negativamente, o<br />
preço a pagar a<strong>um</strong>enta, e a crise, quase que como <strong>um</strong><br />
castigo, justifica quase tudo o que se faz recair sobre os que<br />
não têm nenh<strong>um</strong>a responsabilida<strong>de</strong> sobre os <strong>de</strong>stinos que<br />
foram escolhidos para o país nos últimos anos.<br />
Ao po<strong>de</strong>r político, hoje, falta transparência, pois este está<br />
cedido ao po<strong>de</strong>r financeiro. As instituições <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong><br />
emprestar dinheiro à produção e começaram a emprestar<br />
ao risco, em pacotes mais ou menos bem embrulhados,<br />
sabendo-se agora que alguns <strong>de</strong>les eram lixo.
Em nome <strong>de</strong> tudo isto, <strong>de</strong>vemos relembrar que é preciso<br />
travar o <strong>de</strong>sperdício e a má gestão, únicos motivos para a<br />
situação que atualmente vivemos, e não castigar aqueles<br />
que trabalham todos os dias, c<strong>um</strong>prindo o que lhes é<br />
pedido e aceitando as <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong> quem legisla e julga.
Empenho máximo pelo salário mínimo.<br />
O salário mínimo nacional instituído em Portugal em Maio<br />
<strong>de</strong> 1974, revelou-se como <strong>um</strong> importante instr<strong>um</strong>ento <strong>de</strong><br />
equilíbrio social e <strong>de</strong> irradicação da pobreza. Foi mais <strong>um</strong>a<br />
das conquistas da <strong>de</strong>mocracia, que hoje pelo seu não<br />
a<strong>um</strong>ento é, a par <strong>de</strong> outros direitos postos em causa,<br />
também ele ameaçado nas suas funções principais.<br />
O não a<strong>um</strong>ento do salário mínimo nacional é <strong>um</strong>a forma<br />
<strong>de</strong>liberada <strong>de</strong> retirar po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> compra aos portugueses e
<strong>de</strong> tornar Portugal n<strong>um</strong> país em que se auferem salários<br />
baixos, pensando talvez com isto, que a nossa capacida<strong>de</strong><br />
produtiva po<strong>de</strong>rá a<strong>um</strong>entar se tivermos menos obrigações<br />
sociais e o preço do trabalho à hora baixar.<br />
É obrigação dos governos assegurar a soberania do país. É<br />
<strong>de</strong>ver <strong>de</strong> quem governa tentar equiparar-nos aos melhores<br />
da Europa e não conformar-se com a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
virmos a ser como os piores do mundo. Portugal, com os<br />
seus parcos 485 euros <strong>de</strong> salário mínimo, tem atrás <strong>de</strong> si<br />
apenas 8 países em que este rendimento é menor, e fica<br />
muito distante dos mais <strong>de</strong> 1800 euros por mês que são<br />
auferidos no Luxemburgo.<br />
Mais <strong>de</strong> meio milhão <strong>de</strong> pessoas vive hoje em Portugal com<br />
o salário mínimo, e por isso, se todos queremos<br />
crescimento económico <strong>de</strong>veremos a<strong>um</strong>entar o salário
mínimo, já, pois este <strong>de</strong>veria em 2011 ter chegado aos 500<br />
euros, por força <strong>de</strong> acordo livremente firmado. É<br />
obrigatório que seja em valor superior a esse, pois ao<br />
contrário do que vergonhosamente afirmou neste domingo<br />
o licenciado em economia João César das Neves<br />
“...A<strong>um</strong>entar salário mínimo é estragar a vida aos pobres.”<br />
- <strong>de</strong>fendo que é importante revê-lo, pois é <strong>um</strong> dos<br />
instr<strong>um</strong>entos capazes <strong>de</strong> tornar o pais mais justo e<br />
potenciar o <strong>de</strong>senvolvimento económico.<br />
No entanto, tenho presente e até me atrevo a adivinhar<br />
porque não quererá Pedro & Paulo tocar neste assunto. Há<br />
que <strong>de</strong>finir patamares o mais baixo possível <strong>de</strong> salários,<br />
porque <strong>de</strong>sse modo é mais fácil <strong>de</strong>pauperar uns e outros, o<br />
que <strong>de</strong> resto já o fizeram com o programa impulso jovem e<br />
com os estágios profissionais, on<strong>de</strong> passaram a pagar aos
licenciados dois terços do anteriormente <strong>de</strong>cidido, ficando<br />
assim <strong>de</strong>finido <strong>um</strong> salário <strong>de</strong> 700 euros, mais coisa menos<br />
coisa, para quem estudou. Tivessem eles passado pelo<br />
mesmo e tudo seria diferente!
Mais para os mesmos.<br />
Com todo o respeito que me merece o Tribunal<br />
Constitucional, não posso <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> manifestar o meu<br />
<strong>de</strong>scontentamento pelo ch<strong>um</strong>bo dos Juízes do Palácio<br />
Raton às aspirações apontadas no pedido <strong>de</strong> fiscalização<br />
sucessiva apresentado por todos os partidos da oposição<br />
com assento parlamentar, confirmando assim a intenção<br />
<strong>de</strong>ste governo em a<strong>um</strong>entar para 40, o número <strong>de</strong> horas <strong>de</strong>
trabalho que os funcionários da administração pública<br />
terão que praticar.<br />
O meu <strong>de</strong>sagrado nada tem a ver com o facto <strong>de</strong> se pedir<br />
mais produtivida<strong>de</strong> a <strong>um</strong> sector que é estratégico para o<br />
crescimento do país, pois todos os países economicamente<br />
<strong>de</strong>senvolvidos assentam as suas economias n<strong>um</strong>a<br />
administração pública produtiva e <strong>de</strong>sburocratizada e n<strong>um</strong><br />
forte cons<strong>um</strong>o interno, o que me inquieta é a forma como<br />
os trabalhadores são impelidos à pratica <strong>de</strong> novas regras,<br />
vendo assim o que em tempo acordaram, alterado apenas<br />
por <strong>um</strong>a das partes, sem que haja qualquer sinal do fim<br />
<strong>de</strong>stas medidas <strong>de</strong>sajustadas, sem resultados visíveis e <strong>de</strong><br />
pouco valor para o todo que se preten<strong>de</strong>.<br />
Sei do que falo, a maioria dos que vestiram a camisola do<br />
sector público entregando-se assim a <strong>um</strong>a causa, sempre
trabalharam mais tempo do que aquele a que agora estão<br />
obrigados, na maioria dos casos sem qualquer tipo <strong>de</strong><br />
acréscimo remuneratório ou qualquer outra compensação<br />
ou beneficio, no entanto faziam-no porque assim são os<br />
portugueses, empenhados, interessados e trabalhadores.<br />
Contudo, agora a coisa já não é opcional, e só por isso<br />
configura pelo menos <strong>um</strong>a imoralida<strong>de</strong>, alterar o horário <strong>de</strong><br />
trabalho sem consentimento das partes e sem acréscimo <strong>de</strong><br />
remuneração.<br />
Estou certo que com esta medida per<strong>de</strong>mos todos, pois a<br />
<strong>de</strong>smotivação e <strong>de</strong>salento que as constantes medidas <strong>de</strong><br />
austerida<strong>de</strong> que têm recaído sobretudo em quem serve os<br />
portugueses com muito mais zelo do que quem nos<br />
governa, não aproveita a ninguém.
Só não po<strong>de</strong>mos acusar o governo <strong>de</strong> não ser equilibrado,<br />
senão vejamos… para 3 medidas <strong>de</strong> redução (<strong>de</strong><br />
remunerações) - sobretaxa <strong>de</strong> IRS, cortes nos subsídios e a<br />
anunciada redução salarial, implementou 3 medidas <strong>de</strong><br />
a<strong>um</strong>ento (<strong>de</strong> trabalho) - eliminação <strong>de</strong> 4 feriados,<br />
diminuição do número <strong>de</strong> dias <strong>de</strong> férias e a<strong>um</strong>ento das<br />
horas <strong>de</strong> trabalho.<br />
As pessoas querem-se motivadas, estimuladas e bem<br />
retribuídas pelo esforço que empreen<strong>de</strong>m. Quem trata mal<br />
não po<strong>de</strong> esperar bom trato, po<strong>de</strong>m continuar a pisar os<br />
mesmos mas quando tirarem o pé… corram!!!
O dia da in<strong>de</strong>pendência...<br />
Festejou-se no passado domingo, ainda que sem feriado, a<br />
Restauração da In<strong>de</strong>pendência, <strong>de</strong>signação dada ao golpe<br />
<strong>de</strong> estado revolucionário ocorrido a 1 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1640,<br />
revolta dos portugueses contra a tentativa da anulação da<br />
in<strong>de</strong>pendência do Reino <strong>de</strong> Portugal pela governação dos<br />
Castelhanos.<br />
Sendo que este dia festivo e <strong>de</strong> elevado significado para a<br />
nação é resultado <strong>de</strong> <strong>um</strong>a das primeiras <strong>de</strong>cisões da
República Portuguesa, em 1910, está explicado o seu fim<br />
enquanto feriado, pois foi o mesmo Governo <strong>de</strong> Passos<br />
Coelho, que <strong>de</strong> <strong>um</strong>a vez só acabou com este e com o que<br />
aludia à implantação da in<strong>de</strong>pendência que lhe <strong>de</strong>u tal<br />
estatuto.<br />
Contudo, importa mais que isso repensarmos a nossa<br />
in<strong>de</strong>pendência atual, que está absolutamente posta em<br />
causa. Desta vez não são os espanhóis, mas antes aqueles<br />
que à custa do sofrimento h<strong>um</strong>ano e apenas preocupados<br />
com o vil metal vão ratoneando tudo o que po<strong>de</strong>m.<br />
Os governantes com a <strong>de</strong>sculpa já gasta e esfarrapada <strong>de</strong><br />
que foi quem os antece<strong>de</strong>u o causador <strong>de</strong> todos os males,<br />
como se nunca lá tivessem estado, ficam impávidos e<br />
serenos ao passar dos tristes acontecimentos, afirmandose<br />
impotentes perante os interesses económicos e os
agentes externos que, sem que se entenda até quando, por<br />
aqui vão andando a rapinar tudo o que conseguem.<br />
A in<strong>de</strong>pendência está hoje posta em causa, pelo simples<br />
fato do país não produzir tão-somente para pagar o que<br />
<strong>de</strong>ve, estando assim n<strong>um</strong>a posição <strong>de</strong>bilitada para<br />
reivindicar o que quer que seja. Mas pior é a falta <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> quem manda, ou pelo menos acha que o<br />
faz, para fazer enten<strong>de</strong>r aos que nos emprestaram o<br />
dinheiro que com as medidas que nos impuseram e as<br />
outras <strong>de</strong> pouca imaginação que posteriormente foram<br />
empreendidas dificilmente pagaremos o que <strong>de</strong>vemos.<br />
Urge in<strong>de</strong>pendência nas politicas, sem que o po<strong>de</strong>r<br />
económico tenha que ser o beneficiário primeiro <strong>de</strong><br />
medidas que são tomadas em nome <strong>de</strong> <strong>um</strong> povo a quem
querem travar a in<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> viver, resistir, amar e ser<br />
feliz.<br />
Neste contexto, apenas <strong>um</strong>a questão simples, em nome da<br />
in<strong>de</strong>pendência - se a crise é económica porque <strong>de</strong>ixam ser<br />
os políticos a tentarem resolvê-la?
Sem Man<strong>de</strong>la o mundo seria pior...<br />
Na semana que passou o mundo <strong>de</strong>spediu-se da presença<br />
física <strong>de</strong> Nelson Man<strong>de</strong>la. Para a história fica <strong>um</strong>a vida<br />
inteira <strong>de</strong>dicada à <strong>de</strong>fesa da liberda<strong>de</strong>, da justiça, da<br />
dignida<strong>de</strong> h<strong>um</strong>ana, da igualda<strong>de</strong>.<br />
A forma como viveu os seus 95 anos são <strong>um</strong>a inspiração<br />
para todos os que vivemos no mesmo tempo que ele e para<br />
as gerações vindouras, pois é incomparável o número <strong>de</strong><br />
causas em que interveio, bem como é inigualável a forma
<strong>de</strong>terminada com que empreen<strong>de</strong>u a construção <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />
país livre da discriminação e da exploração.<br />
Des<strong>de</strong> a sua morte tanto já foi dito, enaltecendo a obra, o<br />
homem e a sua vida, embora fique por dizer que alguns dos<br />
que agora se pronunciam nem sempre pensaram da mesma<br />
maneira, mesmo em relação ao mesmo homem e ao que<br />
fez pela h<strong>um</strong>anida<strong>de</strong>.<br />
Na vida, e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>la, Man<strong>de</strong>la foi "Primus inter Pares"!<br />
Todas as coisas que sabemos sobre si, e são tantas, revelam<br />
<strong>um</strong> político ímpar, que não ce<strong>de</strong>u aos interesses, à<br />
corrupção e a outros po<strong>de</strong>res. Esta sua forma livre e<br />
<strong>de</strong>terminada <strong>de</strong> viver, valeu- lhe o cárcere.<br />
Falar <strong>de</strong> Nelson Man<strong>de</strong>la transmite esperança e força para<br />
a construção <strong>de</strong> <strong>um</strong> mundo melhor, em que todos <strong>de</strong>vemos<br />
ser intervenientes. A Man<strong>de</strong>la privaram da sua liberda<strong>de</strong>,
da sua dignida<strong>de</strong>, da sua vida… Mas sempre soube perdoar,<br />
sempre soube reconciliar. Com firmeza, é verda<strong>de</strong>, mas<br />
procurando a harmonia entre todos, n<strong>um</strong>a visão h<strong>um</strong>anista<br />
rara. Não foi fomentando ódios, afirmando dogmas<br />
inquestionáveis, <strong>de</strong>gradando outros… que a sua missão foi<br />
c<strong>um</strong>prida. Olhou para o futuro com esperança, envolveu<br />
todos e fez o milagre acontecer. Perante a sua gran<strong>de</strong>za,<br />
alguns dos atuais lí<strong>de</strong>res políticos não passam <strong>de</strong> tristes, e<br />
alguns sinistras, figuras.<br />
Do tanto que se po<strong>de</strong> escrever sobre este Homem, permitome<br />
apenas a olhar, com h<strong>um</strong>ilda<strong>de</strong> e pequenez, para tudo<br />
o que fez, pois ao pé <strong>de</strong>le sou quase nada. No entanto,<br />
quero terminar dizendo que se há coisa que me preocupa<br />
com a morte <strong>de</strong> MANDELA é suspeitar que no meu tempo<br />
não haverá nenh<strong>um</strong> homem que sequer se assemelhe.
O Natal e a ceia dos pobres.<br />
Chegados que estamos ao mês <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> <strong>um</strong> ano<br />
particularmente difícil para todos os portugueses, mas em<br />
especial para os que menos têm, acercados daquela que é<br />
a noite <strong>de</strong> todos os sonhos, n<strong>um</strong> país que há muito está<br />
vedado à fantasia, abeirados da ceia farta, dos fatos <strong>de</strong> luxo<br />
e das iguarias, perto das excentricida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> alguns que à<br />
custa dos outros viram as suas riquezas crescerem
colossalmente, o país engalana-se <strong>de</strong> forma pobre, com<br />
il<strong>um</strong>inações mais envergonhadas aqui e mais cintilantes ali.<br />
O governo, esse aproveita estes últimos dias para <strong>de</strong> mão<br />
farta dizer que está tudo melhor, e o vice, lembrando a<br />
música, diz que "vai ficar tudo bem".<br />
Contudo, neste quadro mal pintado com aguarela a<br />
esborratar, o traço das atitu<strong>de</strong>s h<strong>um</strong>anas com falta <strong>de</strong><br />
h<strong>um</strong>anismo é a base. On<strong>de</strong> estão os valores da socieda<strong>de</strong><br />
que pouco se empreen<strong>de</strong>m por estes dias, <strong>de</strong>sfazendo-se?<br />
Porque não lembrar aqueles que nesta quadra queriam<br />
apenas ter <strong>um</strong> pão, <strong>um</strong> prato <strong>de</strong> sopa e <strong>um</strong> agasalho? Sei<br />
que muitos são solidários, agora e durante o ano, e eu<br />
também sou assim; contudo os outros, os que têm muito...<br />
dão muito pouco!
A ceia dos pobres, fracos, h<strong>um</strong>ilhados e excluídos <strong>de</strong>sta<br />
socieda<strong>de</strong> não ocorre apenas no Natal, ocorre a cada dia, e<br />
em cada dia há mais <strong>um</strong> ou vários que se sentam a esta<br />
mesa gran<strong>de</strong> e farta, não <strong>de</strong> comida, mas antes <strong>de</strong> tristeza,<br />
angústia e <strong>de</strong>sespero.<br />
Sejamos capazes <strong>de</strong> partilhar, aproveitar esta época, e ao<br />
menos <strong>um</strong>a vez no ano pensarmos naqueles que no ano<br />
inteiro tiveram quase nada.<br />
O papa Francisco no dia 16 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 2013, Dia<br />
mundial da alimentação, disse a propósito "Igreja católica<br />
percorre convosco estes caminhos, ciente <strong>de</strong> que a<br />
carida<strong>de</strong>, o amor, é a alma da sua missão. Que a celebração<br />
hodierna não seja <strong>um</strong>a simples comemoração anual, mas<br />
<strong>um</strong>a ocasião verda<strong>de</strong>ira para nos estimularmos a nós<br />
mesmos e às instituições a agir segundo <strong>um</strong>a cultura do
encontro e da solidarieda<strong>de</strong>, para dar respostas a<strong>de</strong>quadas<br />
ao problema da fome e da subalimentação e às outras<br />
problemáticas que se referem à dignida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada ser<br />
h<strong>um</strong>ano."<br />
Assim <strong>de</strong>veríamos ser todos, pois para além <strong>de</strong> muitos<br />
sacrifícios que todos já fizemos, para adiante <strong>de</strong> tudo o que<br />
já <strong>de</strong>mos, para lá <strong>de</strong> tudo, há algo que po<strong>de</strong>mos ser mais...<br />
Solidários.
O presépio.<br />
Quando pensamos em presépio, a maioria <strong>de</strong> nós pensa em<br />
coisas extraordinariamente boas, sobretudo porque<br />
juntamos as peças <strong>de</strong>ssa representação bíblica e histórica,<br />
e o resultado é paz, harmonia e felicida<strong>de</strong>.<br />
Contudo, dou por mim, apesar <strong>de</strong> ser crente e religioso, a<br />
pensar no presépio da atualida<strong>de</strong>...<br />
José já não seria carpinteiro, pois para o ser teria que ter<br />
<strong>um</strong> certificado <strong>de</strong> aptidão profissional, e as escolas
profissionais <strong>de</strong>svalorizam alg<strong>um</strong>as profissões, entre as<br />
quais a que honrosamente tinha José.<br />
Maria mãe <strong>de</strong> Jesus, apesar <strong>de</strong> ser a mãe do mais<br />
importante dos homens, seria responsabilizada porque<br />
teve <strong>um</strong> parto simples, sem privilegiar os gran<strong>de</strong>s grupos<br />
económicos que minam o serviço nacional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Mais,<br />
o recém-nascido teria mil produtos oferecidos, seria figura<br />
<strong>de</strong> campanhas publicitárias <strong>de</strong> cremes e toalhitas, pois o<br />
que faz bem ao filho do criador, aos outros mal não fará.<br />
A vaca, agora substituída por <strong>um</strong> qualquer sistema <strong>de</strong><br />
climatização, viveria assustada à espera <strong>de</strong> ser encontrada<br />
<strong>um</strong> dia por <strong>um</strong> qualquer órgão <strong>de</strong> polícia criminal, mal<br />
remunerado e que com o tanto que se lhe exige, do tanto<br />
que fazem parece que não fazem nada.
O burro, espécie agora em extinção, estaria quase <strong>de</strong><br />
certeza disponível para estar a aquecer o menino, pois<br />
apesar <strong>de</strong> no <strong>de</strong>semprego, <strong>um</strong>a milagrosa medida <strong>de</strong><br />
contratação precária inventada por uns senhores que por<br />
aí pairam, o fariam estar disponível para quase tudo a troco<br />
<strong>de</strong> quase nada.<br />
E o menino? Teríamos que procurar bem... pois em Portugal<br />
cada vez há menos, por culpa ou a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uns<br />
e outros, pois às Marias e Josés tudo se lhes exige, tudo se<br />
obriga, nada se dá e pouco se oferece.<br />
Que houvesse magos, que em vez <strong>de</strong> ouro, incenso e mirra,<br />
trouxessem estabilida<strong>de</strong>, crescimento e emprego. Os reis<br />
hoje são outros, Fundo Monetário Internacional, Banco<br />
Central Europeu e Comissão Europeia, e também são três.<br />
O que trazem faz com que não hajam Josés, Marias ou
Meninos, tentam que não possamos ven<strong>de</strong>r as nossas vacas,<br />
fomentam políticas para que não tenhamos os nossos<br />
meninos e criam em nós <strong>um</strong> sentimento <strong>de</strong> que a peça que<br />
falta po<strong>de</strong>ria ser qualquer <strong>um</strong> dos que são h<strong>um</strong>il<strong>de</strong>s,<br />
honestos e trabalhadores.<br />
Que o galo cante, que o anjo anuncie, que o país avance e<br />
que todos sejamos felizes, FELIZ NATAL.
O ano velho...<br />
Estamos hoje a chegar ao fim do ano <strong>de</strong> 2013, ano<br />
particularmente difícil que ficará a par <strong>de</strong> outros na história<br />
do pais, marcado pelo agravamento do <strong>de</strong>semprego, do<br />
a<strong>um</strong>ento <strong>de</strong> impostos, da redução <strong>de</strong> salários, dos cortes<br />
nas pensões, do agravamento das taxas <strong>de</strong> acesso a<br />
serviços públicos básicos e pelo fim <strong>de</strong> alguns feriados.<br />
A par disso a manutenção do principio da não punibilida<strong>de</strong><br />
para alguns dos que exercendo cargos <strong>de</strong> gestão da coisa
publica, tropeçam aqui e ali na legislação, e sem zelar<br />
verda<strong>de</strong>iramente pela aludida coisa, permitem que obras<br />
novas tenham aspeto <strong>de</strong> velhas, consentem que pessoas<br />
sem qualquer tipo <strong>de</strong> conhecimento especifico ocupem<br />
lugares <strong>de</strong> especialistas, consultores e assessores,<br />
autorizam tudo e mais alg<strong>um</strong>a coisa, sem qualquer sentido<br />
<strong>de</strong> gestão e <strong>de</strong> corte no <strong>de</strong>sperdício...<br />
Este é o ano velho, mal tratado tal qual aqueles que por<br />
consequência <strong>de</strong> terem mais uns anos assim são<br />
consi<strong>de</strong>rados.<br />
Um ano que se traduziu, em mais do mesmo, com <strong>um</strong>a<br />
receita <strong>de</strong>sajustada e pouco imaginativa, que<br />
teimosamente foi servida aos Portugueses, mesmo com o<br />
conhecimento que a triste iguaria, não seria do agrado da<br />
maioria, faria mal à maior parte, e apenas seria como
"manteiga em nariz <strong>de</strong> cão" para os gulosos da nação, que<br />
a saboreiam até à ultima gota, espremendo tudo o que<br />
po<strong>de</strong>m, sendo que daqui não se po<strong>de</strong> inferir que tudo é<br />
aproveitado, mas antes que a maioria esta absolutamente<br />
espremida.<br />
Do ano que agora chega ao fim tem que ser tiradas gran<strong>de</strong>s<br />
lições, pois por ser, o ano velho, <strong>de</strong>ve trazer tal qual os que<br />
carregam nos ombros o peso dos anos, a sabedoria que os<br />
mais idosos transportam. Não po<strong>de</strong>mos para sempre<br />
continuar a cometer os mesmos erros, o pais tem que<br />
avançar, tem que ser dado a quem trabalha e a quem<br />
investe <strong>um</strong> sinal claro <strong>de</strong> esperança e confiança no pais.<br />
Aos que não trabalham tem que ser dado o apoio<br />
necessário, com medidas eficazes, que não só permitam às
pessoas viver, mas também o regresso ao mercado <strong>de</strong><br />
trabalho.<br />
Aos casais tem <strong>de</strong> ser permitido, sonharem, amarem e<br />
terem filhos, pois os 7000 bebes que não nasceram neste<br />
ano, agora velho, são o maior sinal <strong>de</strong> empobrecimento <strong>de</strong><br />
<strong>um</strong>a socieda<strong>de</strong>.<br />
Aos reformados tem que se lhes permitir viver com a<br />
garantia que trabalharam <strong>um</strong>a vida inteira c<strong>um</strong>prindo as<br />
regras contributivas impostas pelos mesmos que agora, e<br />
no momento <strong>de</strong> se ver assistido, alteram as regras.<br />
Às crianças e jovens permitir que façam opções, que<br />
tenham no seu pais as mais básicas condições para serem<br />
educados, para crescerem e para trabalharem... Ao<br />
contrário <strong>de</strong> outros nunca sugeriria a ninguém a emigração,
mas neste caso peço ao ano velho que vá embora e para<br />
bem longe...
Pantera Negra.<br />
Este fim-<strong>de</strong>-semana ficou ensombrado e na história pela<br />
triste notícia daquele que para mim é o melhor jogador <strong>de</strong><br />
sempre, Eusébio da Silva Ferreira, para além <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />
extraordinário e completo atleta, conseguiu como ninguém<br />
unir os portugueses em torno <strong>de</strong> causas, transmitiu muitas<br />
alegrias, catapultou para <strong>um</strong> nível galáctico o <strong>de</strong>sporto rei<br />
português, colocando-nos a jogar no campeonato dos<br />
maiores.
O KING como lhe chamavam os colegas e amigos não foi<br />
apenas <strong>um</strong> futebolista, foi o futebolista, mas para além dos<br />
atributos que o tornam <strong>um</strong> atleta inigualável, pois na<br />
análise e comparação é preciso ter em conta a altura em<br />
que cresceu, o período em que jogou e a forma como se<br />
mediatizou, longe dos meios que hoje todos temos ao<br />
nosso dispor.<br />
Serviu <strong>de</strong> forma afincada os valores em que acreditava, não<br />
se entregou ao vil metal, foi procurado por muitos que lhe<br />
ofereceram meio mundo <strong>de</strong> tudo abdicou, pois era <strong>um</strong><br />
homem <strong>de</strong> causas, serviu aquela em que acreditava o seu<br />
clube <strong>de</strong> sempre.<br />
Por ser quem foi, também mereceu a exceção <strong>de</strong> ter sido<br />
homenageado ainda em vida por diversas personalida<strong>de</strong>s e<br />
pelo clube que serviu com amor, o que não e habito no
nosso pais, em que o normal é homenagear <strong>de</strong>pois do<br />
<strong>de</strong>saparecimento, contudo as homenagens que sejam<br />
feitas a este homem <strong>de</strong>pois do seu fim material, igualmente<br />
serão diferentes, pois ele jamais <strong>de</strong>saparecerá.<br />
A forma <strong>de</strong>scomprometida e <strong>de</strong>sinteressada como se<br />
entregou à sua segunda nacionalida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo o pais<br />
e promovendo-o, tornou-o n<strong>um</strong> dos maiores embaixadores<br />
nacionais, sem que tivesse essa obrigação, foi a paixão que<br />
o moveu, é esse o legado que <strong>de</strong>ixa, <strong>um</strong>a lição <strong>de</strong> vida <strong>de</strong><br />
como com paixão, com verda<strong>de</strong>, com transparência e com<br />
h<strong>um</strong>ilda<strong>de</strong> conseguimos ser os maiores.<br />
Viver como viveu este homem, sem vaida<strong>de</strong>, não<br />
procurando o mediatismo, não precisando <strong>de</strong> estar para<br />
que o sintamos, é ser maior, pois a existência h<strong>um</strong>ana faz<br />
tanto sentido, quanto maior for o legado que <strong>de</strong>ixamos.
Escrevo assim sobre alguém que não conheci, que nunca vi<br />
jogar, com quem nunca convivi, mas a escrita é fácil pois o<br />
ser h<strong>um</strong>ano é gran<strong>de</strong>.
Estranhas formas <strong>de</strong> pensar...<br />
Ainda no rescaldo do congresso do partido que suporta a<br />
coligação e que permite que este governo ponha em prática<br />
as suas políticas - não querendo ser politólogo ou tentar<br />
passar a imagem que tenho opinião sobre tudo - dizer que<br />
não consigo ficar indiferente às questões da educação, é<br />
impossível.
Fiquei surpreso com a i<strong>de</strong>ia "peregrina" da rapaziada mais<br />
nova do partido <strong>de</strong> Portas propor que a escolarida<strong>de</strong><br />
obrigatória recuasse para o 9.º ano.<br />
Ora vejamos: o ensino obrigatório foi mais <strong>um</strong>a das<br />
conquistas da socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocrática e civilizada que<br />
muitos dos portugueses ajudaram a construir, perante <strong>um</strong>a<br />
educação tantas vezes <strong>de</strong>sprezada, e por alguns odiada.<br />
Pois o povo <strong>de</strong>sprovido <strong>de</strong> conhecimento é mais fácil <strong>de</strong><br />
enganar, embora seja o suporte fundamental para o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> <strong>um</strong> país – contradições!<br />
Aquilo pelo que temos <strong>de</strong> pugnar é pelo a<strong>um</strong>ento da<br />
escolarida<strong>de</strong> obrigatória e não pela sua redução. O que<br />
temos <strong>de</strong> propor é que todos os portugueses tenham<br />
acesso à escolarida<strong>de</strong> enquanto quiserem, mas ao mesmo
tempo criando e apoiando estratégias para que todos<br />
c<strong>um</strong>pram o mínimo e o mínimo tem <strong>de</strong> ser mais!<br />
Aquilo com que os jotinhas, a quem os papás pagam tudo,<br />
se <strong>de</strong>veriam preocupar é com miúdos e jovens que são<br />
gente como eles, mas que não têm as mesmas<br />
oportunida<strong>de</strong>s. Crianças que a única refeição que fazem é a<br />
da escola, e que à primeira oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ganharem<br />
alg<strong>um</strong> dinheiro, naturalmente, fogem do sistema escolar<br />
para po<strong>de</strong>r ter uns trocos para comer, ou para serem o<br />
único sustento da família…<br />
Sejamos sérios e inclusivos – estas crianças e jovens<br />
também fazem parte do sistema político, pois há mais país<br />
para além dos partidos. E, infelizmente, os partidos vão<br />
retirando da bela ciência da política o interesse <strong>de</strong> todos,
quando apresentam propostas que não têm interesse para<br />
ninguém.<br />
A proposta que <strong>de</strong>veriam ter apresentado po<strong>de</strong>ria ter sido<br />
para combater o abandono escolar, logrando garantir o<br />
acesso <strong>de</strong> todos à educação.<br />
O país real ainda passa <strong>um</strong> pouco ao lado dos nossos<br />
políticos e daqueles que iniciando a sua carreira nos<br />
partidos confun<strong>de</strong>m a escola com a escolarida<strong>de</strong>, pois<br />
alguns andam na política menos <strong>de</strong> 9 anos e têm a escola<br />
toda!
Alfarelos... Vai partir!<br />
A estação <strong>de</strong> Alfarelos é <strong>um</strong>a das mais antigas da ferrovia<br />
nacional, tendo mais <strong>de</strong> 100 anos. Há alg<strong>um</strong>as décadas<br />
atrás trabalhavam diariamente nesta estação várias<br />
<strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> pessoas, mas nos últimos anos, como em todos<br />
os serviços <strong>de</strong>sta nação <strong>de</strong> governação europeia, tem sido<br />
reduzido drasticamente o número <strong>de</strong> trabalhadores.<br />
No final do ano <strong>de</strong> 2012 o quadro <strong>de</strong> pessoal na estação era<br />
composto por 19 trabalhadores da Refer, entre os quais, 11
Controladores <strong>de</strong> Circulação, 3 Operadores <strong>de</strong> Circulação e<br />
5 Operadores <strong>de</strong> Manobras. No início do ano <strong>de</strong> 2013 foi<br />
extinto o posto <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> todos os Operadores <strong>de</strong><br />
Manobras; estes colaboradores tinham como missões<br />
fundamentais auxiliar nas manobras que se efetuavam<br />
nesta estação com comboios <strong>de</strong> mercadorias e ter toda a<br />
atenção à passagem <strong>de</strong> comboios nesta estação,<br />
essencialmente para salvaguardar o máximo <strong>de</strong> segurança<br />
dos passageiros. Nessa altura, todos os Operadores <strong>de</strong><br />
Manobras foram transferidos para outras estações, sendo<br />
<strong>um</strong> <strong>de</strong>les transferido para a estação <strong>de</strong> Valença, estação<br />
esta que fica a cerca <strong>de</strong> 250 km <strong>de</strong> distância da estação <strong>de</strong><br />
Alfarelos. A partir do momento em que os Operadores <strong>de</strong><br />
Manobras foram transferidos, a verificação da passagem<br />
dos comboios nesta estação passou a ser efetuada pelos
Operadores <strong>de</strong> Circulação e Controladores <strong>de</strong> Circulação.<br />
No dia 19 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 2013 foi <strong>de</strong>sativada a cabine <strong>de</strong><br />
controlo <strong>de</strong>sta estação, on<strong>de</strong> estava a mesa <strong>de</strong> comando e<br />
controlo <strong>de</strong> circulação <strong>de</strong> comboios da estação <strong>de</strong> Alfarelos;<br />
até essa altura era em Alfarelos que se efetuava toda a<br />
gestão da circulação <strong>de</strong>sta estação, mas partir <strong>de</strong>ssa data<br />
todo o controlo da circulação <strong>de</strong> comboios passou a ser<br />
efetuada pelo Centro <strong>de</strong> Comando Operacional (CCO) <strong>de</strong><br />
Lisboa, e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> essa altura que gran<strong>de</strong> parte dos<br />
colaboradores da estação anda <strong>de</strong>stacada em outras<br />
estações. Refira-se que antes da <strong>de</strong>sativação da cabine <strong>de</strong><br />
controlo existiam 8 turnos <strong>de</strong> serviço diário, e atualmente<br />
só existem 3 turnos.<br />
Segundo alg<strong>um</strong>as notícias, a Refer preten<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />
pouco tempo encerrar por completo a estação, e segundo
outras informações talvez isso se venha a verificar até final<br />
<strong>de</strong>ste mês. Atualmente o quadro da estação é <strong>de</strong> 11<br />
colaboradores. Os trabalhadores não sabem o que os<br />
espera n<strong>um</strong> futuro próximo! Não sabem se serão<br />
transferidos para outras estações ou se serão <strong>de</strong>spedidos<br />
por extinção <strong>de</strong> posto <strong>de</strong> trabalho.<br />
Também é <strong>de</strong> salientar que esta estação não tem condições<br />
para encerrar, pois não tem passagens inferiores, nem<br />
superiores para os passageiros se <strong>de</strong>slocarem. Apenas tem<br />
sinalização que atua com sinais sonoros à passagem dos<br />
comboios, o que é insuficiente, aten<strong>de</strong>ndo a que os<br />
comboios rápidos passam na estação a velocida<strong>de</strong>s<br />
superiores a 120 km/hora.<br />
Para além <strong>de</strong> estarem em causa postos <strong>de</strong> trabalho,<br />
importa também refletir que o encerramento <strong>de</strong>sta estação
é o fim da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> muitos povos, pelo termo da<br />
divulgação regional <strong>de</strong> pequenas vilas e al<strong>de</strong>ias que este<br />
tipo <strong>de</strong> transporte permite.<br />
"Partida para Alfarelos"… a última está para breve.<br />
Houvessem autarcas como antigamente, que tudo seria<br />
como dantes.
No bico <strong>de</strong> <strong>um</strong>a cegonha.<br />
Agora que as intempéries climáticas abrandaram, já<br />
observamos nos campos da nossa região os primeiros sinais<br />
da primavera. Oxalá também assim <strong>de</strong>spontasse <strong>um</strong>a<br />
primavera política em Portugal. Mas por falar em primavera,<br />
eis que arribam as cegonhas, ave do ano 2014. E as<br />
cegonhas recordam-nos o discurso do senhor primeiroministro<br />
sobre a natalida<strong>de</strong>! Um discurso <strong>de</strong> fábula negra,<br />
pois nada <strong>de</strong> concreto se disse – apenas mais <strong>um</strong>a comissão
criada... Ou será que o senhor primeiro-ministro acredita<br />
que os bebés vêm no bico <strong>de</strong> <strong>um</strong>a cegonha? Como diz a<br />
poesia e a canção (Ary e Simone): “quem faz <strong>um</strong> filho, fá-lo<br />
por gosto”. Trazer ao mundo <strong>um</strong>a criança n<strong>um</strong> campo<br />
pejado <strong>de</strong> aves <strong>de</strong> rapina, não me parece ser <strong>um</strong> berçário<br />
cor-<strong>de</strong>-rosa. Ficam as intenções, e só isso... Pois chego até<br />
a acreditar que alguns <strong>de</strong>les acham que é no bico da troika<br />
e da austerida<strong>de</strong> que virá o rejuvenescimento necessário e<br />
urgente, única forma <strong>de</strong> contrariar a falência do estado<br />
social. Só que a austerida<strong>de</strong>, para além da manipulação<br />
governativa das estatísticas, só fez nascer mais<br />
<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s: no trabalho, na saú<strong>de</strong>, na educação, na<br />
justiça, no envelhecimento…, Este país que se imagina, lá<br />
em Lisboa "...on<strong>de</strong> a vida é boa...", como diz a canção, não<br />
é nem para velhos, nem para bebés! … As crianças sabem
ler melhor do que ninguém os pensamentos dos outros. Um<br />
país on<strong>de</strong> a maioria da classe política diz - olha para o que<br />
eu digo e não olhes para o que eu faço - não é o melhor dos<br />
locais para assistir ao crescimento <strong>de</strong> crianças! A mentira é<br />
<strong>um</strong> mau princípio educativo. Os nossos futuros homens não<br />
querem que lhes digam que não há solução, ou que só<br />
existe <strong>um</strong>a solução, a do governo. Que amanhã tudo será<br />
diferente, e <strong>de</strong>pois será mais do mesmo; querem <strong>um</strong> país<br />
on<strong>de</strong> ninguém se arrependa <strong>de</strong> sentir que agora ainda não<br />
é tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> mais. A partir do provérbio africano “it takes a<br />
village to raise a child”, que Hillary Clinton transformou em<br />
pensamento e livro fundamental, aos senhores que<br />
mandam, peço, antes <strong>de</strong> ouvirem os mercados, ouçam as<br />
mães, escutem os seus bebés, atentem nas nossas al<strong>de</strong>ias,<br />
e criem condições para que as cegonhas tragam esta
primavera nos seus bicos, a esperança, isso sim, <strong>de</strong><br />
voltarmos a ser o país que já fomos.
O Serviço e a Administração Públicos.<br />
Recentemente, n<strong>um</strong> típico e normal dia <strong>de</strong> praia em família,<br />
no meio <strong>de</strong> outras, “fui forçado”, pois tal era o teor, a<br />
durante alg<strong>um</strong> tempo ter <strong>de</strong> dar alg<strong>um</strong>a atenção ao diálogo<br />
<strong>de</strong> <strong>um</strong> casal...<br />
A conversa era sobre os “safados” dos funcionários públicos<br />
(agora trabalhadores em funções públicas), os ditos<br />
senhores achavam que este governo, <strong>um</strong>a das medidas<br />
positivas que está a tomar, é a <strong>de</strong> reduzir os benefícios
daqueles que trabalham para o estado, pois, segundo eles,<br />
são todos muito bem pagos, trabalham pouco e ainda têm<br />
ADSE, ou lá o que isso é... Como se não pagassem para <strong>de</strong>la<br />
usufruírem.<br />
Vejamos, os ditos funcionários públicos, que são aqueles<br />
que nos permitem <strong>de</strong> manhã ter as ruas limpas, que quando<br />
chegamos a <strong>um</strong> hospital nos aten<strong>de</strong>m, e se por lá<br />
permanecermos, nos tratam, nos limpam e nos ajudam na<br />
alimentação, são também os que nos educaram e educam<br />
os nosso filhos, os que nos protegem a nós, aos nossos e ao<br />
que é nosso, são ainda aqueles que <strong>de</strong> todas as formas<br />
contribuem dando o seu melhor para que o país avance,<br />
cresça e funcione, e alguns <strong>de</strong>stes <strong>de</strong> quem falo, ganham<br />
menos <strong>de</strong> 500 euros.
Os únicos que i<strong>de</strong>ntifico no que ouvi, são os dirigentes (os<br />
nomeados) que trabalham com estes primeiros, que vão<br />
alternando conforme a cor do cartão e ao sabor das<br />
eleições, às vezes com poucas competências (apesar das<br />
qualificações), muitas das vezes com qualificações<br />
<strong>de</strong>sa<strong>de</strong>quadas, com pouco treino <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> laboral, pois<br />
julgam que passar “por <strong>um</strong>a universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> verão” é<br />
elemento <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> suficiente para brincar aos<br />
chefes, sendo que alguns são tão il<strong>um</strong>inados que<br />
conseguem ao fim <strong>de</strong> <strong>um</strong>a licenciatura ser administradores<br />
<strong>de</strong> empresas ou até <strong>de</strong> serviços públicos. Estes que agora<br />
refiro ganham incomparavelmente mais do que os<br />
primeiros, não são funcionários públicos, são os que tomam<br />
as <strong>de</strong>cisões ou influenciam quem as toma.
Os funcionários, ditos públicos, são os que mantêm os<br />
serviços públicos, porque estes só existem enquanto os<br />
primeiros tiverem esse estatuto, pois todos saberemos<br />
reconhecer os males da privatização e da externalização<br />
<strong>de</strong>stes serviços, que apenas trará lucro para alguns e<br />
prejuízo para todos.<br />
A administração pública, que hoje está a ser <strong>de</strong>struída, e<br />
que muitos aplau<strong>de</strong>m, pois imaginam que mandando uns<br />
quantos para casa o país viverá melhor, tem <strong>de</strong> ser<br />
<strong>de</strong>fendida. Caso contrário <strong>um</strong> dia <strong>de</strong>stes teremos <strong>um</strong> país<br />
privatizado.
Dividir para reinar.<br />
A expressão é antiga, mas o conceito é atual. Ultimamente,<br />
e com refúgio na lei, como se esta servisse <strong>de</strong> <strong>de</strong>sculpa para<br />
a incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> levar avante alg<strong>um</strong>as medidas, que em<br />
nada resolveriam aquele que é o problema grave em que o<br />
nosso país se encontra, dividir tem sido a estratégia.<br />
Com uns contra os outros, os uns distraem-se com os<br />
outros que são apontados como sendo os causadores do<br />
problema, e assim são <strong>de</strong>sculpabilizados os que dividindo
uns e outros, lá conseguem escapar à indignação<br />
generalizada. Quando a coisa per<strong>de</strong> eficácia então a culpa<br />
é da constituição.<br />
Senão vejamos: nunca em tão pouco tempo se tinha falado<br />
tanto dos sindicatos e dos sindicalistas, trabalhadores como<br />
os outros, que abdicando da sua carreira profissional se<br />
<strong>de</strong>dicam aos outros; mas claro está, se os representados<br />
estiverem contra quem os po<strong>de</strong> representar, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndoos,<br />
o po<strong>de</strong>r reivindicativo, já por si quase inexistente pelo<br />
bloqueio da contratação coletiva, fica menorizado. O<br />
intuito é acabar com ele.<br />
Alertar para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se ser excelente na<br />
administração pública, ainda que há muito tempo não<br />
hajam promoções nem progressões, e as rondas negociais<br />
<strong>de</strong> outros tempos, em que se negociavam a<strong>um</strong>entos,
servirem apenas para lutar para não per<strong>de</strong>r tudo <strong>de</strong> <strong>um</strong>a<br />
vez, coloca colegas uns contra os outros na tentativa <strong>de</strong> se<br />
ser o melhor <strong>de</strong> coisa nenh<strong>um</strong>a, pois estamos perante <strong>um</strong>a<br />
espécie <strong>de</strong> corrida sem meta, em que qualquer <strong>um</strong> po<strong>de</strong> ser<br />
o eterno primeiro do caminho para lado nenh<strong>um</strong>.<br />
Criar <strong>um</strong> falso mito dos privilegiados do sector público<br />
contra os trabalhadores do sector privado, como se fossem<br />
estes últimos os únicos que se esforçam para que o país<br />
avance, é mais <strong>um</strong>a manobra <strong>de</strong> distração, enquanto vão<br />
ao bolso a todos, dizendo a uns que a culpa é dos outros.<br />
Nunca na história <strong>de</strong> quase 40 anos <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracia,<br />
houveram tantos e tão gran<strong>de</strong>s motivos para nos<br />
mantermos unidos, pois é esta resignação que os <strong>de</strong>ixa<br />
<strong>de</strong>scansados, po<strong>de</strong>ndo cortar quase tudo em nome <strong>de</strong><br />
quase nada.
Pois <strong>de</strong> que valeram os sacrifícios, os <strong>de</strong> agora e os <strong>de</strong><br />
outrora, se é para assistirmos impávidos e serenos ao fim<br />
<strong>de</strong> tudo o que foi construído ao longo <strong>de</strong>stes anos?<br />
Acredito em Portugal e nos portugueses, e tenho a firme<br />
convicção que <strong>de</strong>stas tentativas <strong>de</strong> colocar uns contra<br />
outros, pois assim é mais fácil reinar, conduziu apenas a<br />
<strong>um</strong>a forma diferente <strong>de</strong> todos termos o ínfimo ou infinito<br />
<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> <strong>um</strong>a clara mudança <strong>de</strong> políticas.
Governar ou ser governo.<br />
No próximo domingo o nosso país vai a votos, no nosso<br />
distrito apresentam-se a estas eleições 71 candidatos à<br />
li<strong>de</strong>rança dos 17 municípios, até aqui nada <strong>de</strong> estranho,<br />
pois a <strong>de</strong>mocracia quer-se participada, e é até salutar que<br />
ainda hajam no nosso país tantos homens e mulheres<br />
capazes <strong>de</strong> se entregar à causa pública.<br />
O que acho estranho foi o pouco interesse que mereceram<br />
alguns assuntos na agenda <strong>de</strong> alguns <strong>de</strong>stes candidatos,
nomeadamente o <strong>de</strong>semprego no distrito, e relembro que<br />
são mais <strong>de</strong> 25000 os que neste momento não tem trabalho,<br />
e nem sequer me quero referir ao fato <strong>de</strong> entre tantas<br />
candidaturas apenas duas terem <strong>de</strong> forma responsável,<br />
<strong>de</strong>sinteressada e com sentimento <strong>de</strong> compromisso reunido<br />
com a UGT – Coimbra, contudo e sobre este assunto, <strong>de</strong>pois<br />
<strong>de</strong> dia 29 por certo tudo será diferente e todos estaremos<br />
disponíveis para <strong>de</strong>bater o crescimento e emprego <strong>de</strong><br />
forma sustentada, e formas <strong>de</strong> apoio aos <strong>de</strong>sempregados<br />
em cada <strong>um</strong> dos municípios, queiram os futuros<br />
presi<strong>de</strong>ntes. Também esquisito, salvo raras e louváveis<br />
exceções, o facto <strong>de</strong> não me recordar <strong>de</strong> ter visto neste<br />
período que antece<strong>de</strong> o ato eleitoral, e alguns candidatos<br />
já estão em campanha à mais <strong>de</strong> <strong>um</strong> ano e outros por serem<br />
profissionais ou profissionalizados não <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> estar
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que ocorreu o ultimo ato eleitoral, seminários,<br />
conferencias e fóruns para <strong>de</strong>bater o crescimento e<br />
emprego, antes arruada acima arruada a baixo. Em poucos<br />
<strong>de</strong>stes concelhos houveram <strong>de</strong>bates com a socieda<strong>de</strong> civil<br />
com envolvimento <strong>de</strong> especialistas, antes jantar à sexta ida<br />
à feira ao sábado.<br />
Não <strong>de</strong>i por conta, e não sai do pais, nem fiz férias em<br />
Agosto que fossem anunciadas gran<strong>de</strong>s medidas para<br />
apoiar socialmente as famílias carenciadas em muitos casos<br />
com mais que <strong>um</strong> <strong>de</strong>sempregado por lar, em vez disso<br />
pendão aqui outdoor acolá.<br />
N<strong>um</strong> pais mergulhado n<strong>um</strong>a crise sem prece<strong>de</strong>ntes, não<br />
po<strong>de</strong>mos continuar a ter campanhas como estas, pouco<br />
explicitas, em nada esclarecedoras, da mal discência, em<br />
que o fim único é ganhar.
Estou preocupado que no próximo domingo tudo fique<br />
como antes no nosso distrito e o nosso distrito já não e<br />
como dantes, por isso tenho hoje a firme certeza há<br />
candidatos que <strong>de</strong>monstraram que querem e sabem<br />
governar outros porém <strong>de</strong>ram clara nota que apenas<br />
queriam ser governo.
Bebés precisam-se.<br />
Nos últimos anos a estrutura populacional tem vindo a<br />
sofrer <strong>de</strong> forma significativa alg<strong>um</strong>as alterações. No geral a<br />
dinâmica das populações apresentada pelos países a nível<br />
mundial leva ao surgimento <strong>de</strong> <strong>um</strong> novo fenómeno. Em<br />
Portugal e no resto da Europa evi<strong>de</strong>ncia-se este novo<br />
fenómeno, o envelhecimento <strong>de</strong>mográfico. O<br />
envelhecimento da população resulta do a<strong>um</strong>ento da<br />
esperança média <strong>de</strong> vida e da diminuição da taxa <strong>de</strong>
natalida<strong>de</strong>. O número <strong>de</strong> pessoas idosas é cada vez mais<br />
elevado e representativo, consequência da diminuição do<br />
número <strong>de</strong> nascimentos e pelo facto <strong>de</strong> cada individuo<br />
permanecer vivo durante mais anos, não possibilitando a<br />
renovação <strong>de</strong> gerações, este facto não <strong>de</strong>ve ser encarado<br />
como <strong>um</strong> problema em si mesmo, pois viver até mais tar<strong>de</strong><br />
é positivo, as socieda<strong>de</strong>s tem antes que dar resposta ao<br />
<strong>de</strong>sequilíbrio <strong>de</strong>mográfico, e permitir a estes que vivem<br />
hoje mais que vivam também melhor.<br />
As causas e consequências <strong>de</strong>ste fenómeno são <strong>um</strong> <strong>de</strong>safio<br />
constante para todos os países para que respondam às<br />
necessida<strong>de</strong>s emergentes, <strong>de</strong> <strong>um</strong>a população em<br />
transformação. Em causa está o futuro e a sustentabilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> todas as gerações. Trata-se <strong>de</strong> <strong>um</strong>a mudança e da<br />
existência <strong>de</strong> <strong>um</strong>a nova socieda<strong>de</strong>, com exigências a vários
níveis, social, económico, político e cultural. Os dados<br />
estatísticos comprovam esta realida<strong>de</strong> e nas últimas<br />
décadas a pirâmi<strong>de</strong> etária tem sofrido <strong>um</strong>a alteração<br />
estrutural, espelhando o duplo envelhecimento, por <strong>um</strong><br />
lado, o estreitamento da base da pirâmi<strong>de</strong> que ocorre<br />
<strong>de</strong>vido à drástica redução do número <strong>de</strong> crianças e jovens,<br />
por outro lado, o alargamento do topo, pelo a<strong>um</strong>ento do<br />
número <strong>de</strong> idosos. O a<strong>um</strong>ento da longevida<strong>de</strong> implica <strong>um</strong><br />
a<strong>um</strong>ento <strong>de</strong> carências <strong>de</strong> cuidados <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, causando<br />
pressão sobre o financiamento do sistema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e sobre<br />
o sistema <strong>de</strong> pensões. De acordo com as projeções<br />
populacionais do Europop2008 (Eurostat – Serviço <strong>de</strong><br />
Estatística da União Europeia), a população da EU27<br />
(European Union, 27 member countries) tem vindo a<br />
a<strong>um</strong>entar gradualmente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2008, on<strong>de</strong> era <strong>de</strong> 495,4
milhões <strong>de</strong> indivíduos, esperando-se que atinja o pico<br />
máximo em 2035, <strong>de</strong> 520,7 milhões <strong>de</strong> indivíduos. Em 2060<br />
o número <strong>de</strong> indivíduos irá baixar para os 505,7 milhões. As<br />
projeções apontam para <strong>um</strong> a<strong>um</strong>ento da ida<strong>de</strong> média da<br />
população da EU27, exce<strong>de</strong>ndo os 40,4 anos em 2008, para<br />
os 45,4 anos em 2030 (Eurostat, Europop2010). Dados<br />
avançados na Estratégia Europeia 2020, garantem que este<br />
envelhecimento populacional irá continuar a a<strong>um</strong>entar<br />
durante este ano e nos próximos. Espera-se por outro lado<br />
<strong>um</strong>a diminuição da população ativa da União Europeia,<br />
consequência do futuro a<strong>um</strong>ento <strong>de</strong> reformados da<br />
geração “baby-boomers”, o que em ultima instancia faz<br />
antever <strong>um</strong>a falência do estado social e das socieda<strong>de</strong>s<br />
como hoje as conhecemos.
Deixai-os viver a reforma!<br />
O avançar da ida<strong>de</strong> traz consigo a chamada crise da meiaida<strong>de</strong>,<br />
i<strong>de</strong>ia criada em 1965 pelo médico Elliott Jaques,<br />
segundo este e outros especialistas em questões do<br />
<strong>de</strong>senvolvimento, este conflito marca <strong>um</strong>a das fases do<br />
<strong>de</strong>senvolvimento h<strong>um</strong>ano comportando gran<strong>de</strong>s dúvidas e<br />
medos. É, pois, agravada pela aproximação <strong>de</strong> <strong>um</strong> marco<br />
tão importante como a ida<strong>de</strong> da aposentação/reforma,<br />
ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> real e sentida transição, como pelo surgimento <strong>de</strong>
<strong>um</strong> sem número <strong>de</strong> interrogações, incógnitas e<br />
sentimentos contraditórios, agravados mormente pelo<br />
período conturbado que o nosso pais atravessa e que para<br />
esta franja populacional fez crescer estas inseguranças e<br />
temores. Coloca-se a sabedoria adquirida em questão n<strong>um</strong><br />
futuro também incerto on<strong>de</strong> as dúvidas e o receio<br />
subsistem, ou até mesmo a<strong>um</strong>entam. Citando o ator e<br />
comediante George Burns “a única razão que o <strong>de</strong>ve levar<br />
a reformar-se é ter alg<strong>um</strong>a coisa que ambicione fazer e que<br />
prefira ao que presentemente faz”, este <strong>de</strong>veria ser o mote<br />
único da <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> se retirar do mercado <strong>de</strong> trabalho, a<br />
firme certeza <strong>de</strong> que terá agora tempo para fazer o que<br />
antes não teve oportunida<strong>de</strong>, fruto das limitações geradas<br />
pelas obrigações laborais. Contudo as questões financeiras<br />
e económicas fazem hoje com que os mais velhos, ao
contrário <strong>de</strong> quem dita estas incertezas, pense ainda na<br />
família e naqueles que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m do seu salario, às vezes o<br />
único no agregado familiar.<br />
Ao longo da fase adulta, o sonho embalado é o atingir da<br />
reforma e viver a plenitu<strong>de</strong> da vida, juntamente com a<br />
comodida<strong>de</strong> e garantia financeira que a primeira comporta.<br />
Com o aproximar <strong>de</strong>ssa realida<strong>de</strong>, constata-se que a<br />
plenitu<strong>de</strong> já não é aspirável, muito menos <strong>de</strong>sejável,<br />
ass<strong>um</strong>indo-se friamente <strong>um</strong>a vulnerabilida<strong>de</strong> iminente,<br />
com as alterações necessárias a <strong>um</strong>a rotina já tão<br />
sedimentada, assim como <strong>um</strong>a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> finitu<strong>de</strong>. Surge,<br />
assim, <strong>um</strong>a dicotomia <strong>de</strong> sentimentos: <strong>um</strong>a vida até então<br />
em ascensão atinge o seu ponto alto e marca o início <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />
processo que se sente inverso.
A verda<strong>de</strong>ira felicida<strong>de</strong> que se busca durante os anos em<br />
que se trabalha é agora assolada pelas preocupações com<br />
filhos e netos e ainda com o futuro incerto que ninguém<br />
consegue garantir.<br />
É tempo <strong>de</strong> se olhar para a reforma como <strong>um</strong> período <strong>de</strong><br />
felicida<strong>de</strong> que não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> só do sujeito mas sobretudo<br />
daqueles que os sujeitam. Deixai-os viver a reforma, <strong>de</strong>ixaios<br />
ser felizes.
Gerontologia sim, Social também.<br />
O mundo está cada vez mais envelhecido, é <strong>um</strong> facto<br />
inegável. O nosso país não é exceção e apresenta-se bem<br />
colocado para ser lí<strong>de</strong>r <strong>de</strong>ste fenómeno. O envelhecimento,<br />
processo que muitos apelidam <strong>de</strong> problema <strong>de</strong>ve antes ser<br />
<strong>de</strong>nominado <strong>de</strong> <strong>de</strong>sequilíbrio <strong>de</strong>mográfico, pois “durar<br />
mais anos” não é em si mesmo nenh<strong>um</strong> problema, é, a meu<br />
ver, <strong>um</strong>a felicida<strong>de</strong>.
O que realmente <strong>de</strong>verá hoje ser motivo <strong>de</strong> preocupação é<br />
termos as estratégias, os meios e as politicas, capazes <strong>de</strong><br />
fazerem que esta felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se chegar a velho, possa ser<br />
vivida com essa mesma característica, em felicida<strong>de</strong>.<br />
Contudo se atentarmos às preocupações atrás referidas<br />
<strong>de</strong>vemos pugnar por ter profissionais capazes <strong>de</strong> saber<br />
<strong>de</strong>linear estratégias, conduzir políticas e criar parcerias<br />
e/ou re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> intervenção social capazes <strong>de</strong> diminuir custos<br />
e a<strong>um</strong>entar a eficácia das respostas. E quem é essa classe<br />
trabalhadora? O Gerontólogo.<br />
Se há poucas coisas sobre as quais tenho dúvidas neste<br />
processo <strong>de</strong> envelhecimento a que assistimos e da extrema<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se continuarem a formar este tipo <strong>de</strong><br />
profissionais, pois para além dos cuidados ao idoso, da<br />
animação e do estimulo cognitivo, que também lhes é
permitido executar em função da sua formação<br />
multidisciplinar, mais importante é que as instituições e<br />
organismos, compreendam que <strong>um</strong> problema tão grave<br />
como este a que hoje assistimos, com <strong>um</strong>a socieda<strong>de</strong><br />
envelhecida, com a taxa <strong>de</strong> natalida<strong>de</strong> a bater recor<strong>de</strong>s com<br />
os níveis mais baixos conhecidos na historia recente e<br />
<strong>de</strong>mocrática, tem que obrigatoriamente ser tratado por <strong>um</strong><br />
profissional especialista em Gerontologia.<br />
A preparação da socieda<strong>de</strong> para este fenómeno é<br />
irreversível, pois teremos que obrigatoriamente, mesmo<br />
com mudanças significativas <strong>de</strong> impulso à natalida<strong>de</strong> que<br />
todos esperamos, antecipar a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong><br />
modo a conviver o melhor possível com esta realida<strong>de</strong>.
Torna-se urgente que todos os que têm responsabilida<strong>de</strong>s<br />
tomem consciência da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contratar estes<br />
profissionais, e às escolas fazer mais e melhor.<br />
A importância <strong>de</strong> saber tratar esta questão po<strong>de</strong> fazer a<br />
diferença entre <strong>um</strong>a socieda<strong>de</strong> on<strong>de</strong> seja possível<br />
envelhecer ou <strong>um</strong> mundo que apesar <strong>de</strong> envelhecido não<br />
esta preparado para ter idosos. Por tudo isto Gerontologia<br />
sim, Social também.
Envelhecer entre Abril e Maio.<br />
Comemorámos recentemente a alvorada da liberda<strong>de</strong> que<br />
abril <strong>de</strong> 1974 trouxe ao nosso querido país, assim como os<br />
direitos no trabalho a que o 1 <strong>de</strong> maio conduziu, sobretudo<br />
a jornada <strong>de</strong> 8 horas <strong>de</strong> trabalho reivindicadas em 1886, em<br />
Chicago e que se pagaram com a vida.<br />
Contudo este ano, como nos mais recentes, estas<br />
comemorações ficaram enlutadas pela perda sucessiva <strong>de</strong><br />
direitos, pelo agravamento da carga fiscal, pela redução do
po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> compra <strong>de</strong> todos, mas, mormente, daqueles que<br />
fizeram abril.<br />
Passamos <strong>um</strong>a parte da nossa vida a pedir aos nossos filhos<br />
que agra<strong>de</strong>çam o rebuçado e o chocolate à vizinha do lado,<br />
ao senhor do autocarro porque parou na paragem, ao<br />
polícia que estando a trabalhar nos indica a rua, a quem nos<br />
ven<strong>de</strong> o pão, pagando nós, aos médicos, enfermeiros e<br />
outros que estão ao serviço da causa pública nos prestam<br />
auxílio ou outros serviços.<br />
O erro ate aqui é nenh<strong>um</strong>, pois agra<strong>de</strong>cer é <strong>um</strong> apanágio<br />
dos homens. O que está errado é a forma como abril feito<br />
e maio <strong>de</strong>fendido pelos que hoje são reformados está<br />
obscuramente <strong>de</strong>finido, colocando em causa os valores<br />
pelos quais tantos se bateram, não <strong>de</strong>scurando os direitos
que entretanto conquistaram, muitas vezes com a própria<br />
vida.<br />
Hoje vivemos n<strong>um</strong> país governado por jovens, malta nova<br />
que não sabe o que custou a liberda<strong>de</strong> nem como se ganha<br />
<strong>um</strong>a ban<strong>de</strong>ira, como se nada tivesse mudado nada no país<br />
e no mundo, no que à <strong>de</strong>mografia toca. Estes instauram,<br />
implementam, medidas simpáticas que contradizem a<br />
liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> amar, que retiram a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> envelhecer,<br />
que roubam os valores da felicida<strong>de</strong>, que <strong>de</strong>sassossegam os<br />
velhos, que atordoam os reformados e que matam a<br />
esperança <strong>de</strong> todos.<br />
Abril, como o fizeram, e maio, pelo qual lutaram, tem que<br />
ser respeitado, pois a politica tem mais porte, assente nos<br />
valores simbolísticos <strong>de</strong>stas duas datas. Ser velho é hoje<br />
<strong>um</strong>a tarefa difícil n<strong>um</strong> pais governado por gente mais nova,
que pensa que vai toda a vida ter pouca ida<strong>de</strong>, e para quem<br />
o valor da vida é isso mesmo, o “agora” e o ”já”.<br />
Ser velho é ser portador <strong>de</strong> valores incomensuráveis<br />
obtidos em circunstâncias que só quem tem mais ida<strong>de</strong><br />
po<strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r. Que o abril que festejamos e o maio<br />
que comemoramos seja hoje, e sempre, o alimento<br />
daqueles que essas datas concretizaram e permita aos mais<br />
novos, sobretudo os que conduzem os nossos <strong>de</strong>stinos, <strong>um</strong><br />
fiel <strong>de</strong> balança que nem sempre consi<strong>de</strong>ram, em<br />
<strong>de</strong>trimento do prato da esquerda ou da direita, valores<br />
únicos n<strong>um</strong> país plural.
Filhos da Lei.<br />
No passado dia 15 os senhores <strong>de</strong>putados da nação<br />
resolveram voltar a discutir as políticas <strong>de</strong> natalida<strong>de</strong>. Ora,<br />
n<strong>um</strong> pais em que se estima que se per<strong>de</strong>m 58 pessoas por<br />
dia, falar <strong>de</strong> vez em quando do assunto parece-me<br />
insuficiente. Rapidamente transformaram o <strong>de</strong>bate no<br />
Parlamento sobre a natalida<strong>de</strong> n<strong>um</strong>a discussão sobre as<br />
políticas, empobrecendo a questão, dando aqui, e ali,<br />
alguns contributos que até podiam ser úteis caso o <strong>de</strong>bate
tivesse continuado nos dias seguintes e durante o tempo<br />
necessário, pois projetos não faltam, e até ficámos a saber<br />
que são 38 as propostas efetivas. Ficou claro que todos<br />
consi<strong>de</strong>raram a questão da quebra <strong>de</strong> nascimentos muito<br />
importante. Mas os portugueses, o que esperam daqueles<br />
que elegeram é mais que isso, pois todos achamos que…<br />
mas faltam políticas concretas que criem as condições<br />
necessárias para os casais serem encorajados a ter filhos.<br />
Contudo para quem, como eu, se interessa com estas<br />
questões, rapidamente constata que o <strong>de</strong>bate se tornou<br />
estéril centrando-se antes em acusações da oposição aos<br />
partidos que sustentam a maioria, as quais vetorizam a<br />
quebra <strong>de</strong> natalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vida às políticas do Governo, que<br />
muito empobreceram os portugueses. Sendo mais do<br />
mesmo, já ninguém tem paciência para tal fenómeno, da
culpa ter tantos autores e acabar por “morrer solteira”.<br />
Certo é que a culpa agora é dos que mandam, mas também<br />
daqueles que, obtusamente pensando e protegidos por<br />
esta falta <strong>de</strong> princípios, brincam nos seus aposentos<br />
institucionais aos meninos maus, pedindo às mulheres que<br />
espremam os peitos até sair leite, como prova que estão<br />
amamentar. Estão a conduzir o país ao maior dos<br />
empobrecimentos: a falta <strong>de</strong> crianças. A pergunta repetese,<br />
com <strong>um</strong> país envelhecido quem pagará o estado social?<br />
Quem pagará a saú<strong>de</strong>? Ou a i<strong>de</strong>ia é não suportar os custos<br />
e o que se passa nas Urgências é já o ensaio geral da peça a<br />
que teremos que assistir. Os senhores <strong>de</strong>putados que<br />
continuem a “empurrar com a barriga” a questão da<br />
natalida<strong>de</strong>, na profunda ilusão <strong>de</strong> virem a ser padrinhos do<br />
<strong>de</strong>spacho, filho da dona lei e do senhor <strong>de</strong>creto. Aqueles
que hoje representam a nação se não pensarem em mais<br />
nada, pensem sobretudo que o tempo está próximo em que<br />
não haverá pessoas que justifiquem o lugar <strong>de</strong> tantos.
Mitos sobre o envelhecimento ativo.<br />
Com a população a envelhecer emergiram <strong>um</strong> conjunto <strong>de</strong><br />
teóricos e pseudo especialistas, que logo à tona vieram,<br />
com pensamentos firmados em coisa nenh<strong>um</strong>a e ao sabor<br />
da corrente vão, quais cog<strong>um</strong>elos do tempo em que os há,<br />
aparecendo por todo o país, ven<strong>de</strong>ndo aqui e ali as mais<br />
refinadas “pilulas” sem receita nem terapêutica para que os<br />
nossos seniores tenham os últimos anos da sua vida<br />
envoltos em profunda ativida<strong>de</strong>.
Depois <strong>de</strong> termos tido <strong>um</strong> ano europeu que comemorou<br />
isso mesmo, o envelhecimento ativo, em 2012, pouco ficou<br />
em termos <strong>de</strong> estratégia e <strong>de</strong> políticas para prosseguir estas<br />
questões, os mesmos pensadores que na altura fizeram<br />
inúmeras ativida<strong>de</strong>s, rapidamente esqueceram a ativida<strong>de</strong><br />
que eles próprios <strong>de</strong>monstram não ter.<br />
Vivemos hoje n<strong>um</strong> mundo envelhecido e cabe a todos<br />
reorganizar o espaço, “pois o tempo não volta atrás”, para<br />
que os que tem mais ida<strong>de</strong> consigam viver no nosso espaço<br />
e no nosso tempo.<br />
Necessitam-se políticas concretas, sólidas e coerentes que<br />
promovam o envelhecimento ativo <strong>de</strong> forma continuada,<br />
<strong>um</strong>a vez que as medidas avulsas são <strong>de</strong> dúbia utilida<strong>de</strong>, pois<br />
esgotam-se no tempo para que os que ainda tem muito<br />
(tempo) para viver e acabam por cair no esquecimento.
É essencial que se <strong>de</strong>smistifique a i<strong>de</strong>ia que o conceito <strong>de</strong><br />
envelhecimento ativo está apenas ligado à ativida<strong>de</strong> física,<br />
para além <strong>de</strong>sta interessam a ativida<strong>de</strong> cognitiva e a social,<br />
pois todos temos que nos sentir pertença da mesma<br />
socieda<strong>de</strong> e só com capacida<strong>de</strong> intelectual mantida<br />
po<strong>de</strong>mos viver todos, novos e velhos, a <strong>um</strong>a mesma<br />
velocida<strong>de</strong>: a da socieda<strong>de</strong> do conhecimento e da<br />
informação.<br />
Importa ainda que cada vez mais se pense o idoso como <strong>um</strong><br />
todo e como <strong>um</strong> ser único, não promovendo ativida<strong>de</strong>s que<br />
possam funcionar inversamente, promovendo riscos<br />
<strong>de</strong>snecessários e, por outro lado, incluindo nas ativida<strong>de</strong>s<br />
não todos, porque todos tem mais ida<strong>de</strong> e “por isso são<br />
iguais”, mas antes os que po<strong>de</strong>m e querem participar.
O envelhecimento ativo <strong>de</strong> hoje tem que ser<br />
necessariamente saudável, consciente e bem-sucedido,<br />
mantendo papéis sociais e felicida<strong>de</strong>.<br />
Envelhecer tem que ser <strong>um</strong> processo em que se acrescente<br />
vida aos anos e não apenas anos à vida. É este viver pleno<br />
que dá corpo ao processo e, se assim é, diria que para além<br />
<strong>de</strong> todas as <strong>de</strong>finições, envelhecer ativamente não é mais<br />
que se sentir vivo.
O Dia da Criança…<br />
Celebrámos na passada segunda-feira, dia 01 <strong>de</strong> junho, o<br />
Dia da Criança. Ainda que seja público que não sou muito<br />
apologista <strong>de</strong> dias festivos, sobretudo os que se traduzem<br />
n<strong>um</strong>a assoberbada i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> cons<strong>um</strong>ismo obrigatório,<br />
entendo como importante estas datas e esta <strong>de</strong> sobre<br />
maneira, não para adquirir mais <strong>um</strong> carro para o menino e<br />
<strong>um</strong>a boneca para a menina, mas sobretudo para que sejam<br />
lembrados os direitos consagrados internacionalmente
para esta faixa etária e que nem todos <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m da mesma<br />
forma.<br />
As crianças, tal como os idosos, são frágeis na sua estrutura<br />
e fruto das suas múltiplas <strong>de</strong>pendências <strong>de</strong> outros, são<br />
muitas vezes sujeitos a atos ou omissões que se traduzem<br />
não n<strong>um</strong> fenómeno <strong>de</strong> compreensão <strong>de</strong>ssa mesma<br />
fragilida<strong>de</strong>, mas antes n<strong>um</strong>a imensa violência nas suas<br />
diferentes estirpes, capaz <strong>de</strong> condicionar o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento e até a existência <strong>de</strong>stes “anjos térreos”.<br />
Para além <strong>de</strong>ste pensamento, <strong>de</strong>i por mim a pensar como<br />
será festejado o Dia da Criança quando não houver crianças.<br />
Usando a imaginação, <strong>de</strong>i por mim a i<strong>de</strong>ar <strong>um</strong>a espécie <strong>de</strong><br />
festejo <strong>de</strong> Carnaval <strong>de</strong> Primavera em que os velhos que<br />
povoarão a terra se vestirão <strong>de</strong> crianças, ou talvez não seja<br />
necessário, pois os “comandantes do paço” a essa altura já
terão dito aos com mais ida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>viam ter feito filhos,<br />
pois agora não há reformas, e, por essa altura, andarão<br />
apenas <strong>de</strong> fralda, a tanga dos tempos mo<strong>de</strong>rnos.<br />
Tudo isto po<strong>de</strong>ria ir só na imaginação <strong>de</strong> alguém como eu,<br />
mas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ver encenada <strong>um</strong>a manifestação <strong>de</strong> crianças<br />
contra outros da mesma ida<strong>de</strong> fantasiados <strong>de</strong> polícias,<br />
penso que talvez seja possível que este meu <strong>de</strong>vaneio<br />
carnavalesco, e, ainda que contra a minha vonta<strong>de</strong>, possa<br />
vir a <strong>de</strong>sfilar pelas ruas da amargura, caminho único para<br />
on<strong>de</strong> o pais se encaminha.<br />
As crianças como os velhos são a maior fonte <strong>de</strong> riqueza <strong>de</strong><br />
<strong>um</strong> país. Por isso <strong>de</strong>vemos festejar efusivamente todos dos<br />
dias, sem arraiais, mas com a clara perceção <strong>de</strong> que pela<br />
sua <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za merecem trato diferenciado. E distinguir,<br />
não <strong>de</strong>ve ser visto da forma pejorativa, a qual é a mais fácil
e que acomoda alguns nos tratos a estas faixas etárias,<br />
sobretudo aos mais idosos discriminando-os.
Ser e sentir-se velho.<br />
O envelhecimento do nosso organismo <strong>de</strong> <strong>um</strong>a forma geral<br />
está ligado, entre outros fenómenos, ao envelhecimento<br />
das células. A ancianida<strong>de</strong> aparece caraterizada pela<br />
diminuição da capacida<strong>de</strong> do organismo em respon<strong>de</strong>r aos<br />
<strong>de</strong>safios da função orgânica. Com o acentuar dos anos<br />
começam a verificar-se sintomas claros <strong>de</strong> perda <strong>de</strong><br />
capacida<strong>de</strong>s para executar <strong>de</strong>terminadas tarefas sobretudo<br />
as que carecem <strong>de</strong> mais empenho da condição física.
O processo <strong>de</strong> envelhecimento biológico não po<strong>de</strong> ser<br />
travado, contudo po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>sacelerado, tendo por base o<br />
conceito que temos <strong>de</strong> preparar o envelhecimento antes <strong>de</strong><br />
chegarmos à ida<strong>de</strong> em que nos sentimos nessa condição,<br />
<strong>de</strong> velhos, poupando o nosso organismo a riscos<br />
<strong>de</strong>snecessários, que são os hábitos <strong>de</strong> <strong>um</strong>a socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
vícios e <strong>de</strong> estranhos cost<strong>um</strong>es, libertando o nosso<br />
organismo do cons<strong>um</strong>o exagerado <strong>de</strong> tabaco, álcool,<br />
proteínas animais e stress.<br />
Contudo, a par do envelhecimento do corpo, que na<br />
maioria das socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas é alvo <strong>de</strong> negação do<br />
processo, sendo gastos muitos recursos financeiros para<br />
escon<strong>de</strong>r os efeitos da ida<strong>de</strong>, existe o envelhecimento<br />
social e psicológico.
É centrado nestes dois últimos que está escondido o elixir<br />
da juventu<strong>de</strong> tao procurado, pois não se sente velho quem<br />
mantém os seus papéis sociais, quem se sente inserido na<br />
socieda<strong>de</strong> on<strong>de</strong> a sua vida se <strong>de</strong>senvolve e quem mantém<br />
objetivos <strong>de</strong> vida, prosseguindo <strong>de</strong>terminadas tarefas e<br />
vendo reconhecida a sua ativida<strong>de</strong>.<br />
Um sentimento <strong>de</strong> velhice é inexistente se mantivermos<br />
<strong>um</strong>a ativida<strong>de</strong> cognitiva, a aprendizagem ao longo e<br />
durante toda a vida é <strong>um</strong> importante catalisador da<br />
proteção da memória e do raciocínio, permitindo que cada<br />
<strong>um</strong> tenha <strong>um</strong>a maior ligação ao mundo em que vivemos e<br />
<strong>um</strong>a melhor compreensão dos acontecimentos que nos<br />
ro<strong>de</strong>ia.<br />
Entre a biologia, dos anos que passam, e os sentimentos <strong>de</strong><br />
envelhecimento que afastamos convive a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> viver
<strong>de</strong> cada <strong>um</strong>, sendo esta o que dita o quão velhos somos e<br />
nos sentimos.<br />
Pelo que agora se escreve, tenho por certo que cada <strong>um</strong>,<br />
inevitavelmente e por felicida<strong>de</strong>, vai ser velho, mas sentirse<br />
velho é só para os que assim o enten<strong>de</strong>rem.
No bico <strong>de</strong> <strong>um</strong>a cegonha.<br />
Agora que as intempéries climáticas abrandaram, já<br />
observamos nos campos da nossa região os primeiros sinais<br />
da primavera. Oxalá também assim <strong>de</strong>spontasse <strong>um</strong>a<br />
primavera política em Portugal. Mas por falar em primavera,<br />
eis que arribam as cegonhas, ave do ano 2014. E as<br />
cegonhas recordam-nos o discurso do senhor primeiroministro<br />
sobre a natalida<strong>de</strong>! Um discurso <strong>de</strong> fábula negra,
pois nada <strong>de</strong> concreto se disse – apenas mais <strong>um</strong>a comissão<br />
criada... Ou será que o senhor primeiro-ministro acredita<br />
que os bebés vêm no bico <strong>de</strong> <strong>um</strong>a cegonha? Como diz a<br />
poesia e a canção (Ary e Simone): “quem faz <strong>um</strong> filho, fá-lo<br />
por gosto”. Trazer ao mundo <strong>um</strong>a criança n<strong>um</strong> campo<br />
pejado <strong>de</strong> aves <strong>de</strong> rapina, não me parece ser <strong>um</strong> berçário<br />
cor-<strong>de</strong>-rosa. Ficam as intenções, e só isso... pois chego até<br />
a acreditar que alguns <strong>de</strong>les acham que é no bico da troika<br />
e da austerida<strong>de</strong> que virá o rejuvenescimento necessário e<br />
urgente, única forma <strong>de</strong> contrariar a falência do estado<br />
social. Só que a austerida<strong>de</strong>, para além da manipulação<br />
governativa das estatísticas, só fez nascer mais<br />
<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s: no trabalho, na saú<strong>de</strong>, na educação, na<br />
justiça, no envelhecimento…, Este país que se imagina, lá<br />
em Lisboa "...on<strong>de</strong> a vida é boa...", como diz a canção , não
é nem para velhos, nem para bebés! … As crianças sabem<br />
ler melhor do que ninguém os pensamentos dos outros. Um<br />
país on<strong>de</strong> a maioria da classe política diz - olha para o que<br />
eu digo e não olhes para o que eu faço - não é o melhor dos<br />
locais para assistir ao crescimento <strong>de</strong> crianças! A mentira é<br />
<strong>um</strong> mau princípio educativo. Os nossos futuros homens não<br />
querem que lhes digam que não há solução, ou que só<br />
existe <strong>um</strong>a solução, a do governo. Que amanhã tudo será<br />
diferente, e <strong>de</strong>pois será mais do mesmo; querem <strong>um</strong> país<br />
on<strong>de</strong> ninguém se arrependa <strong>de</strong> sentir que agora ainda não<br />
é tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> mais. A partir do provérbio africano “it takes a<br />
village to raise a child”, que Hillary Clinton transformou em<br />
pensamento e livro fundamental, aos senhores que<br />
mandam, peço, antes <strong>de</strong> ouvirem os mercados, ouçam as<br />
mães, escutem os seus bebés, atentem nas nossas al<strong>de</strong>ias,
e criem condições para que as cegonhas tragam esta<br />
primavera nos seus bicos, a esperança, isso sim, <strong>de</strong><br />
voltarmos a ser o país que já fomos.
Mulheres, Mães e Trabalho.<br />
Como é do conhecimento <strong>de</strong> todos, Portugal está hoje<br />
mergulhado n<strong>um</strong>a profunda crise Financeira, Económica e<br />
Social, situação que se ten<strong>de</strong> a agravar em face daquelas<br />
que têm sido as medidas <strong>de</strong>sajustadas tomadas por este<br />
governo, excessivamente austeras, e que têm apenas<br />
conduzido ao que muitos ousam chamar <strong>de</strong> “espiral<br />
recessiva”.
A par <strong>de</strong>stas medidas, tem vindo a agravar-se <strong>um</strong>a outra<br />
que já vem <strong>de</strong> muito mais <strong>de</strong> trás, e que agora, fundada nas<br />
outras, tem sido também <strong>um</strong> “travão” ao crescimento da<br />
taxa <strong>de</strong> natalida<strong>de</strong>, e motivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>terioração daquele que<br />
é o tempo não trabalho, po<strong>de</strong>ndo e <strong>de</strong>vendo ser tempo da<br />
família.<br />
Para alguém como eu, que sou do tempo em que <strong>um</strong>a<br />
instituição bancária não contratava mulheres, que assisto<br />
ainda a relatos <strong>de</strong> entrevistas <strong>de</strong> emprego, as poucas que<br />
vão havendo por estas bandas, e em que se pergunta às<br />
candidatas mulheres se tencionam engravidar, como se isso<br />
não fosse assunto do exclusivo foro íntimo e familiar... não<br />
acho estranho que se alicerce no trabalho, ou na vonta<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> ter <strong>um</strong>, a prática com<strong>um</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar para mais tar<strong>de</strong>,
aquele que é o sonho primeiro <strong>de</strong> quase todos os casais, ter<br />
filhos.<br />
No entanto, se por <strong>um</strong> lado a gravi<strong>de</strong>z incomoda<br />
empregadores, também é motivo <strong>de</strong> retração <strong>de</strong>ssa mesma<br />
vonta<strong>de</strong>, quando se pensa que há mulheres que ao<br />
comunicarem o seu estado <strong>de</strong> graça não vêm alteradas as<br />
suas funções, às vezes duras, e por outro lado são também<br />
vítimas das mais diversas formas <strong>de</strong> trato indiferenciado.<br />
Como se não bastasse assim, a tal crise é hoje <strong>de</strong>sculpa para<br />
forçar, em nome da competitivida<strong>de</strong> e da recuperação<br />
económica, mulheres mães a permanecerem nos seus<br />
locais <strong>de</strong> trabalho sem limite <strong>de</strong> horário, e sim com <strong>um</strong><br />
infinito número <strong>de</strong> objetivos para c<strong>um</strong>prir.<br />
O trabalho tem <strong>de</strong> ser digno, e permitir a vida para além<br />
<strong>de</strong>le com dignida<strong>de</strong>. A ativida<strong>de</strong> profissional <strong>de</strong>ve ser
alicerce da vida familiar, permitindo que haja espaço para<br />
esta família que nele encontra sustento financeiro.<br />
As mulheres são nesta ca<strong>de</strong>ia <strong>um</strong> elo mais fraco. Contudo,<br />
são para além das suas vidas profissionais aquelas que<br />
carregam nas suas barrigas o futuro. Sejamos, pois, capazes<br />
<strong>de</strong> lutar por <strong>um</strong> país on<strong>de</strong> todos fiquem tão felizes por <strong>um</strong>a<br />
gravi<strong>de</strong>z como cada <strong>um</strong>a das mães que a <strong>de</strong>sejou.<br />
O envelhecimento ativo <strong>de</strong> hoje tem que ser<br />
necessariamente saudável, consciente e bem-sucedido,<br />
mantendo papéis sociais e felicida<strong>de</strong>.<br />
Envelhecer tem que ser <strong>um</strong> processo em que se acrescente<br />
vida aos anos e não apenas anos à vida. É este viver pleno<br />
que dá corpo ao processo e, se assim é, diria que para além<br />
<strong>de</strong> todas as <strong>de</strong>finições, envelhecer ativamente não é mais<br />
que se sentir vivo.
Pancadinhas <strong>de</strong> horror…<br />
Celebrou-se na passada segunda-feira dia 15 <strong>de</strong> julho o Dia<br />
Internacional <strong>de</strong> Sensibilização sobre a Prevenção da<br />
Violência Contra as Pessoas Idosas. Segundo dados da<br />
Associação Portuguesa <strong>de</strong> Apoio à Vitima, os crimes contra<br />
os idosos mais do que duplicaram (a<strong>um</strong>entaram 158%)<br />
entre 2000 e 2011, período durante o qual a associação<br />
apoiou 6.240 pessoas vítimas <strong>de</strong> crime. Os casos <strong>de</strong><br />
violência contra idosos que chegam à referida associação
cresceram <strong>de</strong> 774, em 2013, para 852, no ano passado,<br />
contudo estes números já per si vergonhosos po<strong>de</strong>m não<br />
retratar o que efetivamente se passa pois ainda há quem<br />
cale, ainda há quem se esconda.<br />
Tira-me o sono pensar que em média todas as semanas 16<br />
idosos são vítimas <strong>de</strong> violência em Portugal …<br />
A situação é tao mais repugnante quando se sabe que a<br />
maioria <strong>de</strong>stes “cobar<strong>de</strong>s heróis” que perpetua o ignóbil<br />
ato <strong>de</strong> <strong>de</strong>sferrar <strong>um</strong>as “arrochadas” nos tristes e in<strong>de</strong>fesos<br />
velhos são os filhos os netos e outros parentes próximos.<br />
Lembro, sempre, que idosos tal como as crianças pela sua<br />
fragilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vem ser alvo <strong>de</strong> proteção especial, pois são<br />
muitos os que vivem sozinhos (23.996), estando isolados<br />
5.205, e 6.727 idosos encontram-se n<strong>um</strong>a situação <strong>de</strong><br />
vulnerabilida<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rando as suas limitações físicas
e/ou psicológicas, dados <strong>de</strong> acordo com a “Operação<br />
Censos Sénior 2015” da Guarda Nacional Republicana<br />
obtidos entre 01 e 30 <strong>de</strong> abril. Mas o discurso continua, o<br />
País vai ficando velho, a Europa esta a envelhecer … mentes<br />
enferrujadas, paradas no tempo que são patrocinadoras do<br />
discurso fácil, o País é velho, é <strong>de</strong> velhos, só falta que seja<br />
para estes, pois agora é tar<strong>de</strong>… quando acordarem faltarão<br />
os 9 meses <strong>de</strong> gestação e os 18 anos para que atinjam a<br />
maiorida<strong>de</strong>, ate lá, há que construir <strong>um</strong>a socieda<strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />
possamos coabitar com o sentido que quem não é velho, o<br />
ficará <strong>um</strong> pouco mais, quando o dia <strong>de</strong> hoje passar.<br />
Tem <strong>de</strong> haver mão pesada e justiça rápida para as burlas,<br />
assaltos, violência a pessoas com mais ida<strong>de</strong>. Temos que<br />
pensar em ter comissões <strong>de</strong> idosos em risco, precisamos<br />
consciencializar os mais novos para o respeito para com
esta faixa etária, pois a solidarieda<strong>de</strong> entre gerações não<br />
po<strong>de</strong> ter terminado a 31 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 2012 e<br />
intergeracionalida<strong>de</strong> não é só contar <strong>um</strong>a história aos<br />
meninos à quinta e passear o velhinho pela mão à sexta.
Quando a solidão pren<strong>de</strong> as pernas.<br />
O envelhecimento é <strong>um</strong> processo conhecido por todos, pois<br />
cada <strong>um</strong> <strong>de</strong> nós <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o dia que nasce fica mais velho a cada<br />
dia que passa. Amplamente sabido é também o facto <strong>de</strong><br />
hoje vivermos n<strong>um</strong>a socieda<strong>de</strong> extraordinariamente<br />
envelhecida, on<strong>de</strong> as projeções e os cenários futuros já não<br />
fazem sentido, pois Portugal Envelhecido é aqui e hoje. No<br />
entanto assistimos ainda a <strong>um</strong> <strong>de</strong>sinvestimento nesta
franja da população, mais notório nos meios rurais on<strong>de</strong> os<br />
recursos e as respostas são menores.<br />
O a<strong>um</strong>ento da ida<strong>de</strong> e a quebra <strong>de</strong> laços sociais muitas<br />
vezes motivada pelo fim do exercício da ativida<strong>de</strong><br />
profissional, leva ao isolamento, on<strong>de</strong> a tao <strong>de</strong>sejada<br />
reforma se transforma em agonia, on<strong>de</strong> os dias são<br />
passados entre o nada para fazer e o pouco em que pensar.<br />
Esta solidão eu inva<strong>de</strong> as cida<strong>de</strong>s mais povoadas, é a<br />
verda<strong>de</strong>ira pan<strong>de</strong>mia do seculo XXI, há que a combater com<br />
<strong>de</strong>terminação.<br />
É necessário potenciar e criar condições para que as<br />
pessoas idosas permaneçam integradas socialmente e que<br />
ao mesmo tempo se possa garantir a sua presença na vida<br />
coletiva. A perceção <strong>de</strong> que a população idosa existe, cada<br />
dia que passa em maior número, torna urgente que se
consi<strong>de</strong>rem recursos para esta faixa da população,<br />
nomeadamente no que respeita à restruturação das<br />
políticas sociais, sendo que a promoção da autonomia e<br />
in<strong>de</strong>pendência na pessoa idosa são aspetos fundamentais<br />
para o individuo e, consequentemente, para as suas re<strong>de</strong>s<br />
sociais próximas e socieda<strong>de</strong> on<strong>de</strong> se insere.<br />
O exercício social a par do cognitivo e físico, são os únicos<br />
capazes <strong>de</strong> sustentar o conceito que todos procuramos, o<br />
envelhecimento ativo.