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16 | OPINIÃO | QUA 2 AGO 2017<br />

O discurso e a realidade<br />

Élia Ascensão<br />

Vereadora na Câmara Municipal<br />

de Santa Cruz<br />

Opovo diz, e com razão, que<br />

falar é fácil. Aliás, falar é<br />

talvez das coisas mais fáceis.<br />

Desde que dominada<br />

a linguagem e os seus<br />

meandros, não há como falhar.<br />

Com maior ou menor fluência,<br />

pode-se sempre dizer. Com mais<br />

ou menos verdade, pode-se sempre<br />

afirmar. Com maior ou menor<br />

honestidade, pode-se sempre conjeturar,<br />

acusar, até delirar. Tudo<br />

em pleno discurso.<br />

E se há área em que o discurso<br />

prolifera nas suas mais variadas<br />

formas, essa área é a política. Isto<br />

aprendi eu muito recentemente.<br />

Há três anos que fui eleita vereadora<br />

na Câmara Municipal de<br />

Santa Cruz e, para mim, além de<br />

uma enriquecedora experiência<br />

de trabalho, de contacto com as<br />

pessoas, de conhecimento da realidade<br />

e de vontade de fazer, tem<br />

sido também um percurso de<br />

aprendizagem sobre o que é a<br />

realidade e o que pode ser o discurso<br />

sobre essa mesma realidade.<br />

E em política a realidade e o<br />

discurso podem ser duas coisas<br />

completamente distintas.<br />

O que me preocupa, contudo,<br />

é que, num momento em que o<br />

discurso prolifera, em que são<br />

inúmeras as formas de produzir<br />

discurso e de o difundir, que o<br />

discurso se sobreponha à realidade<br />

como coisa real.<br />

Vamos então a exemplos. Dizse<br />

que a Câmara de Santa Cruz<br />

nada fez. Já aqui falei da estranha<br />

noção de nada que este tipo de<br />

discurso encerra. Pois não pode<br />

ser considerado nada a recuperação<br />

financeira alcançada, não<br />

pode ser considerada de nada o<br />

apoio a famílias e estudantes que<br />

foi majorado por nós, não pode<br />

ser considerado nada o asfaltamento<br />

de estradas que não tinham<br />

investimento há anos, não<br />

pode ser considerado de nada a<br />

melhoria nos nossos parques infantis,<br />

não pode ser considerado<br />

nada a melhoria da nossa frente<br />

mar, entre outros investimentos.<br />

No entanto, o discurso permite a<br />

utilização dessa palavra, desse<br />

nada, que, afinal, não corresponde<br />

à realidade, mas pode, efetivamente,<br />

ser dito.<br />

Vamos a outra palavra. Pasmaceira.<br />

Dizem os nossos opositores<br />

que Santa Cruz está, há quatro<br />

anos, numa pasmaceira. Mais<br />

uma vez, uma coisa é o discurso,<br />

outra é a realidade. Santa Cruz<br />

tem assistido ao regresso do investimento.<br />

Novos hotéis, hotéis<br />

remodelados, novas empresas.<br />

Um esforço da iniciativa privada<br />

que assim se junta ao esforço da<br />

autarquia em dar um novo rumo<br />

a este concelho de potencialidades<br />

várias e com um povo que sabe o<br />

que quer e para onde vai. E vai<br />

trilhar esse caminho sem dívidas,<br />

sem vergonha, com credibilidade.<br />

A esta altura deste meu artigo,<br />

já muitos se devem estar a questionar<br />

que este também é um<br />

discurso, que isto também é falar,<br />

que escrever também é fácil. Mas,<br />

se permitem a defesa, este discurso<br />

está sustentado em factos<br />

verídicos. Se for preciso prová-lo<br />

estão aí os números, que não enganam.<br />

Se for preciso mostrar as<br />

obras, elas também estão aí como<br />

coisa real e não como coisa do<br />

discurso. Se for preciso provar<br />

os apoios, estão aí os mais de 150<br />

estudantes e 150 famílias que deles<br />

beneficiaram.<br />

Agora, se for preciso provar o<br />

nada e a pasmaceira de que nos<br />

acusam, fácil será concluir que<br />

nada existe na realidade que sustente<br />

esse grande nada ficcional<br />

de que nos acusam.<br />

Há discursos com correspondência<br />

no real, e há nadas que<br />

não têm correspondência em realidade<br />

nenhuma. Os discursos podem<br />

ser ficcionados, a realidade<br />

não tem uma maleabilidade tão<br />

grande.<br />

E, em Santa Cruz, o trabalho<br />

será sempre mais real do que os<br />

exercícios de linguagem por muito<br />

repetidos que sejam, por muito<br />

elaborados que pareçam. Esta é<br />

a verdade. JM<br />

Estatísticas oficiais: um bem precioso<br />

Paulo Vieira<br />

Diretor Regional de Estatísticas<br />

da Madeira<br />

Seja através da Comunicação<br />

Social, das redes sociais<br />

ou enquanto navegamos<br />

pelas páginas de internet<br />

somos bombardeados por<br />

um conjunto de números, percentagens<br />

e índices por vezes<br />

acompanhados de gráficos que<br />

tentam descrever algum fenómeno<br />

da realidade em que nos inserimos.<br />

Na verdade, essa presença<br />

tem-se intensificado, havendo<br />

números para todos os<br />

gostos e feitios. Como é que o<br />

leitor ou o utilizador de internet<br />

consegue distinguir a informação<br />

que é fiável e fidedigna daquela<br />

que não o é?<br />

Bem, nem sempre isso é um<br />

processo simples, até porque muitas<br />

das estatísticas não vêm acompanhadas<br />

de informação sobre<br />

como foram produzidas ou então<br />

surgem com fichas técnicas que<br />

não são fáceis de interpretar por<br />

parte do cidadão comum.<br />

Contrariamente, as estatísticas<br />

oficiais, ou seja, as estatísticas<br />

produzidas pelas autoridades estatísticas<br />

(ou sob delegação de<br />

competências) têm associadas<br />

uma descrição detalhada de como<br />

são construídas, da sua metodologia,<br />

nomenclatura e questionário<br />

utilizado, nos casos em que<br />

há recurso a este suporte.<br />

No mundo das estatísticas, nem<br />

tudo o que reluz é ouro. Com<br />

efeito, não basta encontrar um<br />

número, é preciso ter presente<br />

que há formas levianas ou equivocadas<br />

de construir estatísticas.<br />

As consequências são óbvias: estudos<br />

e análises baseadas em números<br />

pouco consistentes levam<br />

a conclusões erradas. E com isso,<br />

os erros de planeamento podem<br />

acarretar prejuízos enormes para<br />

um país, uma região ou um município.<br />

Como é do conhecimento geral,<br />

a Direção Regional de Estatística<br />

da Madeira (DREM) é a autoridade<br />

central relativamente às estatísticas<br />

de âmbito regional, funcionando<br />

também como delegação<br />

do INE para as estatísticas<br />

de âmbito nacional. Nos últimos<br />

anos, a DREM estreitou também<br />

laços com o Banco de Portugal,<br />

mantendo ao mesmo tempo uma<br />

colaboração já mais longa com<br />

o Serviço Regional de Estatística<br />

dos Açores, essencialmente no<br />

âmbito de projetos comunitários,<br />

ao abrigo do programa de cooperação<br />

territorial MAC. Estas 4<br />

entidades são, com efeito, as autoridades<br />

estatísticas no nosso<br />

país, cada uma com a sua esfera<br />

de competências.<br />

Tendo começado por ser uma<br />

delegação regional do INE, instalada<br />

em 1967, a DREM passou<br />

a serviço regionalizado em 1980.<br />

São assim 50 anos de serviço<br />

prestado à comunidade e, ao longo<br />

desse período, foram produzidas<br />

milhares de estatísticas sobre<br />

a realidade regional, divulgadas<br />

primeiro através de publicações,<br />

morosa e cuidadosamente<br />

editadas, e agora mais recentemente,<br />

disponibilizadas através<br />

do portal de estatísticas oficiais<br />

da DREM em http://estatistica.madeira.gov.pt.<br />

A procura de dados na Região<br />

é cada vez maior, as estatísticas<br />

de consulta ao portal de internet<br />

da DREM apresentam crescimentos<br />

sucessivos e esta Direção Regional<br />

tenta responder às solicitações<br />

dos utilizadores, alargando<br />

o leque de indicadores disponíveis.<br />

Em 2016, a DREM difundiu<br />

173 notícias (praticamente uma<br />

a cada dois dias), a que estão associadas<br />

análises de dados, quadros<br />

e séries longas. Grande parte<br />

desta informação é divulgada<br />

também em língua inglesa, sendo<br />

procurada por investidores e por<br />

instituições supranacionais que<br />

acompanham a evolução socioeconómica<br />

da Região (16% dos<br />

acessos ao portal da DREM são<br />

feitos a partir do estrangeiro).<br />

Tudo isto é a devolução à sociedade<br />

da informação que é prestada<br />

por empresas, organismos<br />

da Administração Pública e cidadãos.<br />

É notório que a sensibilidade<br />

dos madeirenses para a<br />

importância das estatísticas tem<br />

vindo a crescer. A taxa de resposta<br />

das empresas da RAM aos inquéritos<br />

do INE é próxima dos 100%,<br />

sendo raro o recurso ao contencioso.<br />

Junto dos cidadãos que<br />

são contactados pelos nossos entrevistadores<br />

nas suas residências<br />

e também telefonicamente, as<br />

taxas de respostas são das mais<br />

altas do país. No entanto, é com<br />

um apelo que termino este artigo.<br />

Para que as empresas e as instituições<br />

públicas possam fazer os<br />

seus estudos, conhecer a realidade<br />

e planear corretamente é<br />

fundamental que todos colaborem<br />

com a DREM, com os seus<br />

técnicos e com os seus entrevistadores.<br />

Só com dados prestados<br />

dentro dos prazos, com seriedade<br />

e sentido de responsabilidade, é<br />

que se torna possível devolver à<br />

comunidade informação fiável,<br />

que permita conhecer a realidade<br />

da Região nas suas diferentes<br />

vertentes. JM

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