GAZETA DIARIO 418

04 Cidade
Foz do Iguaçu, quinta-feira, 26 de outubro de 2017
SAÚDE
"Queria entender melhor minha doença",
diz esquizofrênico atendido em Foz
Usuários do CAPs II confirmam necessidade de melhorias para tratamento
de suas demandas; prefeitura sustenta normalidade do serviço
Bruno Soares
Reportagem
WSC tem 26 anos e trabalha
como cabeleireiro. Há três
meses foi diagnosticado pela
rede municipal de saúde de Foz
do Iguaçu como esquizofrênico.
"Eu vejo anjos. Tudo começou
um tempo atrás quando eu
passei por uma situação pessoal
muito complicada. Desde
então passei a ouvir vozes e
isso foi crescendo até que eu
simplesmente passei a ver anjos.
Eles saem da Bíblia, são
grandes e aparecem por trás de
pessoas. Eu não tenho medo,
mas me incomoda", compartilhou
com naturalidade o jovem
assistido pelo Centro de Atenção
Psicossocial (CAPs) II.
A reportagem do jornal Gazeta
Diário voltou ao espaço na
tarde de ontem (25), após ter a
entrada barrada durante visita
realizada na última terça-feira
(24). Na oportunidade, a recepcionista
do espaço justificou a
negativa ao informar que o acesso
ao interior do equipamento
só poderia ocorrer mediante autorização
prévia.
Acompanhada pelo diretor
da Atenção Especializada da
Secretaria Municipal de Saúde,
Daniel Barcelos, a reportagem
pôde enfim conhecer o funcionamento
do CAPs II. No período
da tarde, apenas dois assistidos
se encontravam no local:
WSC e outro paciente que
não quis informar seu nome.
Ambos destacaram em entrevista
a importância do trabalho
de assistência médica ofertado
pelo município, entretanto
queixas por melhorias também
foram unânimes.
"Eu vou dizer uma coisa, eu
queria entender melhor a minha
doença. Eu não quero ficar
maluco. Eu trabalho, não
faço mal a ninguém, mas eu
vejo coisas que as pessoas não
veem. Me disseram que sou esquizofrênico.
Desde então passei
a tomar medicação e me sinto
muito melhor, mas ainda
estou confuso. Não sei o que
vai ser de mim no futuro. Eu
tenho medo", desabafou.
Já o outro paciente, frequentador
do equipamento há
mais de três anos, reclamou sobre
a perda da qualidade dos
serviços promovidos ao longo
dos últimos meses. "Antes tinha
atividade física. As terapias
eram mais ativas e frequentes.
A gente se ocupava
mais. Hoje ficamos ociosos.
Pararam de nos oferecer lanches
no período da tarde. Não
está bom como já foi", afirmou.
Assim como o CAPs AD,
voltado especificamente para
dependentes químicos de álcool
e outras drogas, situado no
bairro Vila Yolanda, o CAPs II
atua com equipes incompletas.
A situação foi contornada pelo
representante da Secretaria de
Saúde. "A questão é que o funcionalismo
público no momento
está incapacitado de promover
novas contratações por conta
de Lei de Responsabilidade
Fiscal. Há anos não são realizados
concursos públicos para
ampliarmos o quadro de servidores
e completarmos as equipes.
Tão logo isto seja superado,
o concurso será feito; e as
contratações, providenciadas",
iniciou Daniel Barcelos.
Foto: Roger Meireles
Paciente diagnosticado
com esquizofrenia reclama
falta de informações sobre
sua doença: "Tenho medo,
queria entender melhor"
Outro problema flagrante
no CAPs II diz respeito à infraestrutura
do equipamento.
"Este imóvel foi alugado pela
gestão passada e seu contrato
vence no início do ano que vem.
Cientes disso já iniciamos o
processo para locarmos um
novo espaço, mas ainda não
encontramos algo que atenda
às exigências legais para instalação
de serviços de saúde
como os prestados por um
CAPs. Estamos em busca. É
uma prioridade", garantiu.
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