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LUGARES POR ONDE ANDEI
CHILE AMIGO
Por Renato Rodrigues Rita
Fotos: Divulgação.
Isabel Allende pode ser considerada a maior embaixatriz
de seu país, mesmo não morando há décadas no
mesmo. Através de seus inúmeros romances históricos,
sempre valorizou a origem valente de seus primeiros
moradores indígenas.
Acrescentando a riqueza provocada pela miscigenação
espanhola, o resultado é uma mistura socialmente educada
e humilde. Não é novidade a simpatia dos chilenos
pelos brasileiros e vice-versa. E isso pude novamente
constatar em minha última viagem àquele país longilíneo,
no fim do ano passado. Neste périplo, por ser profissional,
trouxe um gosto bem diferente e rico, pois fui recebido
por proprietários ou enólogos de várias vinícolas no coração
do país.
Quando falo do coração, me refiro ao interior agrícola,
pois o Chile vive da terra. Primeiro vêm as minas de cobre,
seguidas pelas florestas implantadas, frutas e vinhos.
E conseguem com essa simplicidade produtiva estar entre
os mais desenvolvidos de nossa América. Viva a educação!
A vocação vinícola é consequência de um belo terroir, tradição
e senso de oportunidade de toda uma nação. E como
sua população é pequena, a produção foi sempre voltada
para fora, ao contrário da vizinha Argentina. E na atualidade,
a busca por lugares certos para as castas certas,
ou seja, onde melhor se adaptam melhor cada tipo de uva,
tem levado a uma redescoberta do país por eles mesmos.
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Desde os pés do deserto do Atacama, ao norte, ao sul em
Bio-bio, são inúmeras as surpresas encontradas.
Além e por causa disso, neste momento o Chile está tentando
se reencontrar, pois de tanto buscar o gosto internacional,
seus vinhos ficaram muito parecidos. Há quem diga inclusive
que estejam parkerizados, título adquirido do crítico
americano Robert Parker por elogiar vinhos mais frutados,
alcoólicos e encorpados, com uma sensação de quase doçura.
E isto não é um elogio, pois é despersonificante. Então
percebi, principalmente na visita à vinícola DeMartino, do
premiado enólogo Marcelo Retamal, "inovações" surpreendentes,
como vinificação em grandes ânforas antigas. Inclusive,
dosando muito parcimoniosamente o uso de barricas
de madeira, permitindo que a identidade de cada casta se
pronuncie com a linguagem de seu lugar.
Pude também apreciar a valorização das tradições folclóricas,
quando, numa visita à Terranoble, em pleno vinhedo
se fez uma bela apresentação de música e danças antigas.
Voltei esperançoso em saber que a globalização pode ser
limitada aos ganhos tecnológicos, ou no mínimo não afogar
as riquezas e peculiaridades de cada povo. Pretendo
voltar mais vezes, e muito embora sua capital, Santiago, tenha
se transformado em uma bela metrópole, para o bem e
para o mal, o interior tem mantido sua originalidade única,
tão bem sinalizadas pela imponente e mágica cordilheira
dos Andes e sua ave símbolo, o condor.