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Estação Aeroporto: O que levou você a optar por filosofia<br />

como opção no vestibular?<br />

Suzana Pires: Eu fui uma criança com muita criatividade<br />

nas brincadeiras, e acho que isso acontecia por eu ler bastante,<br />

desde cedo. Na adolescência meu pai me presenteou<br />

com os livros da Simone de Beauvoir, e no Colégio eu<br />

tinha filosofia. Então, acho que foi uma união coerente no<br />

momento de escolher o que cursar na faculdade. Eu já era<br />

apaixonada por filosofia, na verdade apaixonada por pensamento<br />

e criação.<br />

Encontra de alguma forma auxílio na filosofia durante<br />

seu processo criativo?<br />

Nos dois primeiros anos da faculdade eu tive muita dificuldade<br />

para entender as matérias. Uma coisa é você ler o<br />

que te fala a alma em termos de pensamento, outra é mergulhar<br />

em filosofia da linguagem, lógica, enfim, num estudo<br />

que não era o meu foco, mas que era fundamental como<br />

base para que eu chegasse ao que queria estudar, que era:<br />

arte e filosofia, teatro e filosofia, quando o pensamento<br />

encontra a criação. A partir daí, eu tinha as aulas normais<br />

e ficava para os grupos de estudo e “mergulhei” na Grécia<br />

Antiga, em Platão, Poética de Aristóteles, Romantismo<br />

alemão e Nietzsche. Hoje a Filosofia é uma soma geral ao<br />

meu trabalho e também a mim, pessoalmente. Acredito<br />

que qualquer conhecimento, seja ele formal, acadêmico ou<br />

o da vida, entre na nossa célula e é isso que nos alimenta.<br />

Quais são suas referências no universo da filosofia?<br />

Pré-Socráticos, epopéias, tragédias gregas, Platão, Aristóteles,<br />

Kant, Schiller, Nietzsche, Walter Benjamim também.<br />

Todos que de alguma forma tiveram pensamentos em que<br />

dialogavam com a arte.<br />

Quando surgiu a Suzana atriz?<br />

A Suzana- atriz existe desde que nasci... (rs) Eu já trabalhava<br />

profissionalmente como atriz, no teatro, desde os<br />

15 anos e, quando aos 18 anos decidi estudar filosofia, eu<br />

conciliava as aulas com os trabalhos e foi fluindo, fui engrenando<br />

um trabalho após o outro... Até hoje...<br />

E como foi parar na equipe de roteiristas de "Os Caras<br />

de Pau"?<br />

Eu estava contratada como autora na TV Globo há alguns<br />

dias e tinha algumas equipes possíveis para eu ir, mas o<br />

Marcius Melhem se adiantou e me ligou num sábado de<br />

Carnaval fazendo o convite para integrar a equipe de autores<br />

do programa. Ele queria reunir logo e eu falei prá ele<br />

que desfilava como Musa da Viradouro (risos) no domingo<br />

e que segunda estaria na redação. E foi assim. Na segunda<br />

de Carnaval acertamos tudo e comecei lá.<br />

Como e quando surgiu o convite para escrever uma novela?<br />

A escrita sempre esteve presente na minha vida profissional.<br />

Desde 2003 que tenho textos meus sendo montados,<br />

infanto-juvenis, adultos, comédias. É um trabalho passo a<br />

passo, e equilibrar as duas funções requer tranquilidade,<br />

foco e firmeza para saber o momento em que cada uma<br />

das funções está. Na televisão eu comecei escrevendo<br />

para a Conspiração filmes, programas para canal a cabo<br />

e também na criação, e ao mesmo tempo trabalhava na<br />

Globo como atriz. Depois a Globo me contratou como autora<br />

também e entrei para a equipe de autores dos "Caras<br />

de Pau". A novela surgiu através de um pedido do Negrão<br />

para que eu criasse um argumento a partir de um tema<br />

que ele propôs. Criei, entreguei, ele gostou da minha escrita<br />

e me chamou para a equipe dele. Esse argumento foi<br />

um teste e não é a trama da novela que estamos desenvolvendo.<br />

Estou muito feliz em fazer parte dessa equipe,<br />

pois o Negrão trabalha com autores de muita experiência<br />

e qualidade, como o Julio Fischer e o Vinícius Viana.<br />

Enfim, é uma alegria e uma honra estar trabalhando com<br />

profissionais que sempre admirei.<br />

Pode adiantar algo sobre a sinopse que escreve com<br />

Walther Negrão?<br />

Acho cedo para adiantar qualquer detalhe sobre a trama,<br />

pois ainda está em desenvolvimento. Mas, posso te<br />

adiantar que está sendo um processo incrível trabalhar<br />

com o Negrão. Ele é um mestre de verdade, sabe muito, é<br />

pioneiro, generosíssimo, entusiasma sua equipe e acredita<br />

nela. É aquele tipo de trabalho em que você não sente<br />

o tempo passar e sente falta das reuniões.<br />

Você transita com facilidade entre o humor ("Caras e<br />

Bocas") e o drama ("Fina Estampa"). Qual o segredo?<br />

Acredito que seja a respiração. Cada personagem respira<br />

de uma maneira, numa cadência, e isso faz suas reações<br />

emocionais à vida e às situações. Eu não vejo a cena como<br />

humor ou drama, mas sim a partir do contexto da dramaturgia<br />

em que estão inseridas, e aí a cena vai fluindo...<br />

Por falar em "Caras e Bocas", o trio formado por você,<br />

Fabio Lago e Otaviano Costa roubou a cena. Para você<br />

qual é o fator determinante para o sucesso de um personagem?<br />

Não saberia te dizer o fator determinante do sucesso de<br />

uma personagem. Acredito que o sucesso de um trabalho<br />

esteja nas mãos do público. O que a gente procura fazer<br />

e, no caso, de "Caras e Bocas", eu, Otaviano e Fabinho<br />

fizemos, foi dar dedicação total àquilo. Nós chegávamos<br />

mais cedo para passar todas as cenas antes de gravar, trocávamos<br />

muita informação, desenvolvemos uma confiança<br />

em cena que nos comunicávamos com o olhar e isso<br />

nos dava muito prazer ao interpretar. E tínhamos um diretor<br />

maravilhoso, o Jorginho Fernando, que trazia uma<br />

agilidade cênica grande para o nosso núcleo.<br />

Foi um caco seu ou indicação de Walcyr Carrasco o bordão<br />

“Não me absorva!”, de sua personagem Ivonete, em<br />

"Caras e Bocas"?<br />

Caco? Num texto? Jamais! Eu não curto colocar caco<br />

porque sei que cada frase que está escrita ali foi muito<br />

pensada pelo autor. O “não me absorva” veio no texto do<br />

Walcyr. O que eu fiz foi torná-lo um bordão na maneira<br />

que a personagem dizia aquilo. Eu falava num tom grave,<br />

pausado, e aí foi uma união perfeita do texto com a maneira<br />

de dizê-lo. Acho que o fato de eu já ter uma certa<br />

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