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16 MARÇO / 18<br />
OPINIÃO<br />
O CRISTÃO FRENTE A<br />
CORRUPÇÃO NA POLÍTICA<br />
De acordo com a Doutrina Social da Igreja, “entre<br />
as deformações do sistema democrático, a corrupção<br />
política é uma das mais graves porque trai, ao mesmo<br />
tempo, os princípios da moral e as normas da justiça social;<br />
compromete o correto funcionamento do Estado, influindo<br />
negativamente na relação entre governantes e governados;<br />
introduzindo uma crescente desconfiança em relação à<br />
política e aos seus representantes, com o consequente<br />
enfraquecimento das instituições. A corrupção política<br />
distorce na raiz a função das instituições representativas,<br />
porque as usa como terreno de barganha política entre<br />
solicitações clientelistas e favores dos governantes”<br />
(Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 411).<br />
No Antigo Testamento, o Livro dos Reis (1 Rs<br />
21) narra o episódio de Nabot, que possuía uma vinha<br />
nos subúrbios da cidade de Jezreel, perto do palácio de<br />
Acabe, rei da Samaria. Um dia o rei propôs-lhe comprar<br />
aquele pedaço de terra, mas Nabot recusou vender, por<br />
ser herança familiar. Jezabel, mulher de Acabe, vendo<br />
seu marido desolado sugeriu uma saída corrupta junto<br />
aos anciãos do reino. Para ela, seu marido, por ser rei,<br />
tinha direito de ter o que quisesse e fazer o que quisesse.<br />
Solicitou duas falsas testemunhas que acusaram Nabot de<br />
ter amaldiçoado Deus e o rei. Nabot foi arrastado para fora<br />
da cidade e apedrejado até a morte. Assim, Acabe pode<br />
injustamente se apropriar da vinha desejada.<br />
A atitude do rei Acabe não é incomum em nossa<br />
sociedade. Muitas vezes, governantes esquecem que<br />
sua vocação e missão é para fazer reinar a concórdia<br />
e potencializar o bem entre os indivíduos do seu povo.<br />
A corrupção é responsável por muitos males como “o<br />
analfabetismo, a insegurança alimentar, a ausência de<br />
estruturas e serviços, a carência de medidas para garantir o<br />
saneamento básico, a falta de água potável, a precariedade<br />
das instituições e da própria vida política” (DSI, n. 447).<br />
De acordo com o teólogo André Marcelo M.<br />
Soares, no prefácio do livro Conhecimento e Sociedade<br />
VI, publicado em 2016, “a falta de responsabilidade na<br />
gestão dos bens públicos e a utilização do Estado como<br />
moeda de barganha, comumente em transações obscuras<br />
com operadores financeiros e investidores privados,<br />
provoca uma adulteração da ‘coisa pública’ em nome de<br />
ideologias partidárias que, simplesmente, não traduzem<br />
os interesses dos indivíduos manifestos através dos<br />
processos democráticos e fundados sobre a Constituição.<br />
A corrupção e a indiferença em relação às necessidades da<br />
população são as marcas dos governos, tanto de esquerda<br />
quanto de direita, que se revezam no esvaziamento do<br />
sentido genuíno da República”.<br />
Para Dom Giampaolo Crepaldi, ex-secretário do<br />
Conselho Pontifício Justiça e Paz: “devemos buscar na<br />
Doutrina Social da Igreja [...] possíveis caminhos para uma<br />
luta eficaz contra a corrupção”. Não devemos esquecer que<br />
além da corrupção na política, existem situações nas quais<br />
a corrupção pode passar desapercebida pelo fato de todos<br />
a acharem trivial, como é o caso dos chamados “gatos” de<br />
luz e TV a cabo, o “agrado” que se dá a um servidor público<br />
ou até mesmo a um prestador de serviços para obter um<br />
tratamento “diferenciado”. É sempre bom ter na mente e<br />
no coração as palavras de Paulo: “não vos conformeis a<br />
este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa<br />
mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável,<br />
e perfeita vontade de Deus” (Rm 12, 2).<br />
>> Diácono Vicente Arruda