GAZETA DIARIO 543
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Foz do Iguaçu, sábado e domingo, 31 de março e 1 de abril de 2018<br />
TRÁFICO<br />
Geral<br />
09<br />
Paraguai importou 52 milhões de<br />
projéteis de armas entre 2016 e 2017<br />
Importação pode ser legal, mas depois as armas são<br />
contrabandeadas ao Brasil para abastecer o crime organizado<br />
Adelino de Souza<br />
Freelancer<br />
Entre 2016 e 2017, o Paraguai<br />
importou quase 26 mil<br />
armas de fogo como pistolas,<br />
revólveres, fuzis, espingardas<br />
e metralhadoras. No mesmo<br />
período, o país importou 52<br />
milhões de projéteis dos mais<br />
diferentes calibres. A informação<br />
foi publicada no diário<br />
Vanguardia.<br />
O Paraguai possui uma<br />
população estimada em sete<br />
milhões de habitantes. Isso<br />
significa mais de sete projéteis<br />
para cada habitante. Mas<br />
a matemática desta vez não<br />
é exata porque a maioria dos<br />
paraguaios não possui sequer<br />
um projétil em seu poder. Boa<br />
parte dos paraguaios nem usa<br />
armas, apesar de a venda ser<br />
permitida.<br />
O que acontece então?<br />
Acontece que o país vizinho<br />
é um entreposto das armas<br />
que — importadas de outros<br />
países — desembarcam no<br />
Paraguai e chegam ao Brasil<br />
por meio do contrabando.<br />
As principais portas de<br />
entrada estão em Foz do<br />
Iguaçu, Guaíra, Ponta Porã<br />
e Coronel Sapucaia.<br />
Essas armas abastecem<br />
o crime organizado das principais<br />
cidades brasileiras,<br />
como Rio de Janeiro e São<br />
Paulo. Em Ciudad del Este<br />
essas armas são vendidas livremente<br />
em lojas especializadas<br />
porque no Paraguai<br />
existe uma lei que permite<br />
a comercialização de armas<br />
até determinados calibres.<br />
No ano passado, a Polícia<br />
Federal em Foz do Iguaçu<br />
apreendeu 11 mil armas<br />
e munições. O tráfico de armas<br />
é um dos temas que<br />
costumam ser debatidos no<br />
Comando Tripartite, que integra<br />
forças policiais do Brasil,<br />
Paraguai e Argentina.<br />
Durante as reuniões ocorre<br />
intercâmbio de experiências<br />
e troca de informações.<br />
Como resultado dessa cooperação<br />
foi realizada uma<br />
série de apreensões em casas<br />
que vendem armas ilegais em<br />
Ciudad del Este. Durante as<br />
ações foi confirmada a venda<br />
de armas sem a devida<br />
documentação.<br />
Rastreamento<br />
"Embora o Paraguai figure<br />
como principal país de<br />
trânsito de armas para o<br />
Brasil, os EUA continuam<br />
sendo nosso maior fornecedor<br />
indireto de pistolas e<br />
fuzis ilegais, como resultado<br />
do livre comércio em lojas<br />
e feiras livres que ocorrem<br />
em cidades americanas",<br />
diz um relatório da<br />
PF que rastreia o caminho<br />
das armas.<br />
A maioria das armas apreendidas no Brasil é fabricada<br />
nos EUA, mas chega via Paraguai<br />
O relatório conclui que<br />
a maioria das armas longas<br />
ilegais apreendidas no Brasil<br />
tem como origem os Estados<br />
Unidos, por meio de<br />
três métodos: contrabando<br />
da arma completa diretamente<br />
dos Estados Unidos<br />
para o Brasil, contrabando<br />
de componentes de armas<br />
diretamente dos Estados<br />
Unidos para o Brasil, e contrabando<br />
dos Estados Unidos<br />
para o Brasil utilizando<br />
terceiros países, especialmente<br />
Paraguai e Bolívia.<br />
O relatório, assinado<br />
pelo delegado Luiz Flávio<br />
Zampronha, chefe dessa divisão,<br />
aponta que a demanda<br />
por armas no Brasil é<br />
contínua, apesar de o tráfico<br />
ser caracterizado como<br />
"conta-gotas" ou "formiguinha",<br />
em que as armas são<br />
trazidas em pequenas quantidades<br />
ou em partes.<br />
A entrada de armas de<br />
grosso calibre é associada,<br />
segundo a PF, ao abastecimento<br />
de grupos dedicados<br />
a crimes violentos, como o<br />
roubo a bancos, a caixas<br />
eletrônicos, a veículos de<br />
transporte de valores e cargas.<br />
São crimes, diz o relatório,<br />
"cujos criminosos necessitam<br />
se utilizar de armamento<br />
pesado para garantir<br />
sua superioridade<br />
bélica em caso de eventual<br />
confronto com os seguranças<br />
privados, escoltas armadas<br />
e a polícia". Também<br />
servem para enfrentar milícias<br />
e quadrilhas rivais.<br />
Aumenta o<br />
contrabando de<br />
"kit rajada" no país<br />
As forças policiais do Rio de Janeiro e São<br />
Paulo constataram o aumento da circulação<br />
e apreensão do chamado "kit rajada"<br />
ou "kit metralhadora". Esse tipo de acessório<br />
se tornou o preferido dos bandidos dos<br />
morros do Rio por seu alto poder de fogo,<br />
manuseio fácil e, principalmente, pelo<br />
baixo custo.<br />
O referido kit é um dispositivo que<br />
transforma uma pistola 9mm em<br />
metralhadora, capaz de disparar até sete<br />
tiros por segundo. Uma pistola normal<br />
dispara cerca de 20 tiros. Equipada com<br />
esse kit, pode disparar mais de 130 tiros.<br />
O acessório também é fabricado nos<br />
Estados Unidos e chega ao Brasil via<br />
Paraguai. O equipamento pode ser<br />
encontrado em algumas lojas de Ciudad del<br />
Este ao preço de R$ 4 mil. Junto com a<br />
pistola, ele chega a custar R$ 7 mil. No<br />
Brasil, passa a custar quase o dobro.<br />
"Kit rajada": um equipamento poderoso<br />
capaz de disparar mais de 130 tiros