RevistaFenacerci2018
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EDITORIAL<br />
PUB<br />
Rogério Cação<br />
Vice-Presidente da Fenacerci<br />
Neste Ano Internacional do Património Cultural resolvemos fazer da cultura<br />
o tema de base da nossa revista. Curiosamente, é na cultura que<br />
residem os fatores que promovem a inclusão e a exclusão da pessoa<br />
com deficiência. Na realidade, grande parte dos processos que geram<br />
exclusão, são resultado de uma cultura fundada em estereótipos, não raras<br />
vezes imbuída de boas intenções, mas completamente à margem das<br />
realidades concretas das pessoas que são excluídas. Nos antípodas, uma<br />
cultura inclusiva funda-se na promoção de oportunidades de igualdade<br />
e é marcada pela necessidade de aprofundar e partilhar conhecimentos,<br />
tendo em vista otimizar as condições para que todos sem exceção possam<br />
usufruir duma cidadania plena. Por outro lado, a fruição da cultura,<br />
nas suas diferentes formas, é um fator de enriquecimento e afirmação<br />
individual e gera competências facilitadoras dos processos de socialização<br />
e integração social. Nessa medida, quanto mais acessível estiver<br />
dos grupos vulneráveis o evento cultural, mais relevante ele se torna,<br />
enquanto veículo promotor da inclusão.<br />
As Cerci’s são elas próprias um produto cultural com caraterísticas próprias,<br />
que têm a ver com o tempo e o modo como foram criadas. Foram<br />
beber a abril os ventos de esperança por um futuro melhor e souberam<br />
fazer da liberdade uma marca diferenciadora da sua ação. Hoje, 43 anos<br />
depois da criação da primeira Cerci, continuam a ser organizações resilientes<br />
às dificuldades e tenazes na luta por melhores condições e para<br />
que se cumpram plenamente os direitos das pessoas com deficiência e<br />
das suas famílias. Talvez por isso, continuem na linha da frente quando se<br />
trata de inovar, de se adaptarem aos novos desafios que hoje se levantam<br />
às comunidades e aos territórios, na promoção da inclusão e da igualdade<br />
de oportunidades.<br />
A defesa intransigente dos Direitos das Pessoas com Deficiência, continua<br />
a ser o escopo da ação que desenvolvemos. Talvez por isso esta<br />
revista pretende ser ela própria um olhar diferenciado para múltiplos<br />
caminhos que, na sua essência, são espaços de confirmação de direitos,<br />
tendo em conta que estes decorrem das ações mas também podem morar<br />
nas opiniões. Continuamos a lutar por uma sociedade que faça da<br />
inclusão a essência da cidadania. E isso implica a construção de uma cultura<br />
que veja na diferença um fator acrescentador e valorizador do coletivo,<br />
só possível de construir, se cada vez formos mais a pensar assim.<br />
Estatuto Editorial<br />
A Revista FENACERCI é uma Revista Anual de informação geral que pretende dar, através do texto e da imagem, uma ampla<br />
cobertura dos mais importantes e significativos testemunhos em todos os domínios de interesse na área dos Direitos da população<br />
com deficiência intelectual e/ou multideficiência;<br />
A Revista FENACERCI é independente do poder político, do poder económico e de quaisquer grupos de pressão;<br />
A Revista FENACERCI identifica-se com os valores da democracia pluralista e solidária;<br />
A Revista FENACERCI rege-se, no exercício da sua atividade, pelo cumprimento rigoroso das normas éticas e deontológicas<br />
do jornalismo;<br />
A Revista FENACERCI defende o pluralismo de opinião, sem prejuízo de poder assumir as suas próprias posições;<br />
A Revista FENACERCI pauta-se pelo princípio de que os factos e as opiniões, devem ser claramente separadas: os primeiros<br />
são intocáveis e as segundas são livres. Em vigor desde a fundação da Revista<br />
Revista Fenacerci 2018 1
FICHA TÉCNICA<br />
ÍNDICE<br />
1 EDITORIAL<br />
NÓS POR NÓS PRÓPRIOS<br />
DIREÇÃO<br />
Rogério Cação<br />
COORDENAÇÃO DE EDIÇÃO<br />
Ana Rita Peralta<br />
CONSELHO EDITORIAL<br />
Ana Brás, Joaquim Pequicho, Julieta Sanches,<br />
Rosa Neto<br />
APOIO LOGÍSTICO<br />
Lucília Carrondo, Núria Shocron, Jorge Duarte,<br />
Carlos Pires, Vânia Oliveira<br />
COLABORAÇÃO<br />
ACIP, Albino Guimarães, Ana Flores, Ana Isabel Dias, Ana Rita Barata,<br />
Ana Roque, Anabela Barroso, André Barros, Anne Firket, António<br />
Peixoto, Beatriz Campos, Carina, Carla Rocha, Carlos Ferreira, Carolina<br />
Marques, CECD, CEERDL, Celso Antunes, CERCIAG, CERCIA-<br />
MA, CERCIAV, CERCIAZ, CERCIBEJA, CERCIBRAGA, CERCICA,<br />
CERCICAPER, CERCIDIANA, CERCIESPINHO, CERCIESTREMOZ,<br />
CERCIFAF, CERCIFEL, CERCIG, CERCIGRÂNDOLA, CERCIGUI,<br />
CERCILEI, CERCIMA, CERCIMARANTE, CERCIMB, CERCI-<br />
MONT, CERCINA, CERCIOEIRAS, CERCIPENICHE, CERCIPOM,<br />
CERCIPÓVOA, CERCISIAGO, CERCITOP, Cláudio Pinto, Daniela<br />
Gonçalves, Diana Seabra, Elisabete Duarte, Elisabete Moniz, Eloi Silva,<br />
Fernanda Serrano, Filipe Monteiro, Gina Neves, Grupo de Autorrepresentação<br />
da CERCIBEJA, Helena Pereira, Henrique Amoedo, Henrique<br />
Guimarães, Inês Adagói, Inês d´Orey, Ivone Félix, Jacinto Nunes, Joana<br />
Solnado, João Teixeira, Keylla Ferrari, Laura Pimpão, Lídia Martins,<br />
Luís Filipe de Castro Mendes, Mafalda Malveiro, Manuela Ribeiro,<br />
Marco Paiva, Marcos Machado, Margarida Cardoso, Maria de La<br />
Salete Costa, Maria Manuel Costa, Maria Vlachou, Marisa Carvalho,<br />
Marisa Dias, Nelson Monteiro, Nuno Faneco, Nuno Vasa, Olga Alves,<br />
Paula Cristina Nogueira, Pedro Sena Nunes, Rafael Silva, Ricardo<br />
Araújo, Rui Araújo, Rui Jorge, Sandra Batista, Sandra Carneiro, Sara<br />
Espírito Santo, Sara Magalhães, Sara Teixeira, Simone Rodrigues,<br />
Sónia Costa, Telmo Gonçalves, Tiago Azevedo, Tomaz Morais, Vanda<br />
Rodrigues, Vasco Ribeiro, Vítor Borges<br />
SEDE DE REDAÇÃO<br />
Rua Augusto Macedo n.2 - A | 1600-794 Lisboa<br />
FOTOGRAFIA DE CAPA<br />
CERCIFAF | Fotografo Manuel Meira<br />
CONCEÇÃO GRÁFICA<br />
Design e Forma<br />
Centro Empresarial de Carnaxide<br />
Avenida Tomás Ribeiro nº47 1ºH, 2790-463 Carnaxide<br />
IMPRESSÃO<br />
Printer Portuguesa<br />
Avenida Major General Machado De Sousa, 28,<br />
Edifício Printer - Casais de Mem Martins,<br />
2639-001 Rio de Mouro<br />
TIRAGEM<br />
3000 exemplares<br />
PROPRIEDADE<br />
FENACERCI – Federação Nacional de Cooperativas de Solidariedade<br />
Social<br />
Rua Augusto Macedo, nº 2 – A | 1600-794 Lisboa<br />
fenacerci@fenacerci.pt<br />
www.fenacerci.pt<br />
https://www.facebook.com/FENACERCI<br />
https://www.instagram.com/fenacerci<br />
DEPÓSITO LEGAL<br />
77867/94 ISSN 0872-7945<br />
Número de Registo ERC (Entidade Reguladora<br />
para a Comunicação Social) 126446<br />
NIPC – 501 562 966<br />
Todos os artigos que integram a Revista<br />
FENACERCI são da inteira responsabilidade dos seus autores,<br />
não se vinculando a Federação às opiniões emitidas pelos<br />
mesmos.<br />
A presente publicação encontra-se escrita<br />
ao abrigo do novo acordo ortográfico.<br />
l<br />
Rogério Cação<br />
4 MENSAGEM DE ABERTURA<br />
l<br />
Comendadora Julieta Sanches<br />
6 OPINIÃO<br />
l<br />
Por uma Política Cultural Acessível para Todos<br />
l<br />
Pensar a Arte e a Cultura a partir da Acessibilidade: Mito, Realidade<br />
ou Desafio<br />
l<br />
Dança, Arte, Educação e Terapia: uma Possibilidade para Pessoas<br />
com Deficiência<br />
l<br />
Entre o Passado e o Futuro das Coisas<br />
l<br />
A Inclusão Social Através do Acesso à Cultura<br />
l<br />
VO’ARTE: Um Discurso de Sensibilidades<br />
l<br />
Dançando com a Diferença<br />
24 D`ARTE A CULTURA DAS CERCI`S<br />
l<br />
Expressões Artísticas: Um Caminho para a Plena Cidadania!<br />
l<br />
Mais Dança em Mim<br />
l<br />
“Coisas do Arco da Velha”<br />
l<br />
Azul Diferent<br />
l<br />
“O Chocalho” Apresenta Julieta e Romeu<br />
l<br />
Falemos de Outros “Planos”<br />
l<br />
Unir pela Dança<br />
l<br />
Simplesmente Gente<br />
l<br />
As Artes como Ferramenta de Desenvolvimento e de Inclusão<br />
l<br />
Caoetes, Caoboys e Caohábanda<br />
l<br />
Cenas de um Western Português<br />
l<br />
Aquele Lugar Dentro do Mundo<br />
l<br />
Notas de Contacto<br />
l<br />
Gerações de Mãos Dadas<br />
l<br />
Oficina de Teatro<br />
l<br />
Parte de Coisa Nenhuma<br />
l<br />
Sigam a Nossa Cena<br />
l<br />
Teatrei e Teatrando<br />
l<br />
“Artes e Letras”<br />
l Lascarina<br />
54 CERCI’S: O CAMINHO FAZ-SE A ANDAR<br />
l<br />
l<br />
l<br />
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l<br />
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l<br />
l<br />
l<br />
l<br />
l<br />
82<br />
Shiatsu na CERCIAMA<br />
A Vontade e Outras Forças!<br />
No Mundo da Blogosfera: os Cercicos<br />
A Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados<br />
O que Fica do que Passa<br />
Crescer na Diferença: Lichinga - Tornar Visível o Invisível<br />
Uma História de Conquistas e Amor!!<br />
Cultivar a Inclusão<br />
Da Rua para o Mundo!<br />
Consigo Todos os Dias<br />
Da Comunicação à Expressão<br />
A Importância do Programa Cidadania para o Desenvolvimento<br />
de Competências Pessoais e Sociais<br />
Quem Somos?<br />
Da Tradição à Inclusão: Jogos Tradicionais na Praça do Moinho<br />
Recursos Desportivos em Rede<br />
À Conversa e Contra a Violência<br />
Inclusão pelo Trabalho<br />
l<br />
l<br />
l<br />
l<br />
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l<br />
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l<br />
l<br />
l<br />
l<br />
l<br />
l<br />
l<br />
Equipa 5 Estrelas<br />
Arte em “Duas Senas”<br />
Um Novo Rumo<br />
Uma Coisa que não Era e Hoje Sou!<br />
Começar de Novo...<br />
“A Conversar é que a Gente se Entende”<br />
A Nossa Visita a Guimarães<br />
Direitos, Deveres e Inclusão<br />
Gosto de Estar Aqui!<br />
A Constelação do Sonho<br />
A História de Carina<br />
Eu Gostei Porque Sim!<br />
Um Artista de Mão Cheia<br />
Vontade de Ter Vontade!<br />
96 VENHA DE LÁ ESSE ABRAÇO<br />
l<br />
l<br />
l<br />
l<br />
l<br />
l<br />
l<br />
André Barros<br />
Fernanda Serrano<br />
Joana Solnado<br />
Nuno Vasa<br />
TOMARA - Filipe Monteiro<br />
Tomaz Morais<br />
Vasco Ribeiro<br />
106 OLHÓMETRO<br />
108 CAMPANHA PIRILAMPO MÁGICO 2018<br />
l<br />
Comissão de Honra<br />
l Patrocinadores<br />
114 BREVES<br />
l<br />
De Olhos Fechados<br />
l Azibo<br />
l<br />
XII Encontro da Dança em Amarante<br />
l<br />
Sobre o Arco e a Flecha!<br />
l<br />
Pelo Gosto e Pela Música<br />
l<br />
O Desporto é Para Todos!<br />
l<br />
12 Meses @ Doze Caras<br />
l<br />
Natal Une Duas Causas<br />
l<br />
Porque Rir é o Melhor Remédio!<br />
l<br />
Dança Desportiva<br />
l Experiment`Arte<br />
l<br />
Serviço de Apoio à Inclusão<br />
l<br />
De Mochila às Costas<br />
123 LISTA DE ASSOCIADAS E SERVIÇOS<br />
128 PONTO FINAL<br />
2 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 3
MENSAGEM DE ABERTURA<br />
Comendadora Julieta Sanches<br />
Vivemos um tempo conturbado, em que facilmente se<br />
constroem e alimentam convições que, pese embora<br />
possam porvir de intencionalidades positivas ou até<br />
ser desprovidas de intencionalidades, acabam por ser<br />
geradoras de injustiças e promotoras de impactos negativos<br />
para as organizações. Proponho-me por isso<br />
abordar este tema nesta mensagem de abertura que me<br />
pediram para fazer, socorrendo-me de duas palavras –<br />
chave: desinstitucionalização e desacreditação.<br />
Hoje tornou-se claramente moda a defesa quase intransigente<br />
da desinstitucionalização. E de tal modo se<br />
leva tão longe esta opção discursiva, que nem sequer<br />
se sente a necessidade de explicar ou ter em conta os<br />
impactos reais de uma posição fundamentalista nesta<br />
matéria, tendo em conta que grande parte das pessoas<br />
“institucionalizadas” não têm suportes alternativos na<br />
comunidade, que respondam com eficácia e dignidade<br />
às suas necessidades. Claro que a institucionalização<br />
© DR<br />
deve ser sempre uma solução de recurso, mas dizer que<br />
é dispensável revela insensibilidade ou ignorância relativamente<br />
à realidade que temos e somos. Obviamente<br />
que os paradigmas de apoio à pessoa com deficiência<br />
se alteraram, que hoje (e bem), se defende que o esforço<br />
deve ser conduzido para perspetivas que promovam a<br />
independência e autonomia das pessoas … E os outros,<br />
aqueles com necessidades complexas que dificilmente<br />
se enquadram nos padrões de vida independente que<br />
alguns paladinos da inclusão plena defendem? Confesso<br />
que não sou contra a desinstitucionalização daqueles<br />
que nunca deviam ser institucionalizados, mas preocupa-me<br />
este discurso inconsequente e intransigente<br />
de alguns, como se desinstitucionalizar fosse garantir<br />
a fruição plena dos direitos de cidadania. Precisamos e<br />
continuaremos a precisar de organizações. Diferentes<br />
sim, porventura mais flexíveis e de portas escancaradas<br />
à comunidade, mas continuarão a ser necessárias<br />
e determinantes. É um debate que deve ser feito com a<br />
serenidade que se impõe.<br />
Outra das preocupações têm a ver com os processos<br />
de desacreditação que se geram, a propósito<br />
de situações anómalas e pontuais vividas numa ou<br />
noutra organização. É constrangedor verificar a facilidade<br />
com que muitos pretendem transpor para a<br />
generalidade das organizações, as ações ilícitas que<br />
se descobrem de vez em quando numa ou noutra organização.<br />
São meia dúzia de casos num universo de<br />
milhares de organizações envolvidas, mas a amplificação<br />
que é feita deste tipo de situações, faz parecer<br />
que são poucas as organizações honestas e duvidosas<br />
a grande maioria, o que é obviamente despropositado<br />
e profundamente injusto. Sinto-me por isso na obrigação<br />
de verberar quem tem este tipo de opiniões.<br />
As organizações solidárias têm uma história que fala<br />
por si. São construídas por milhares de cidadãos e<br />
cidadãs que abdicam de muito de si e de seu em prol<br />
das organizações que servem. Mas claro que a imperfeição<br />
faz parte das condições naturais em tudo o<br />
que mete gente e estaremos na linha da frente quando<br />
as ações forem ilícitas. Mas não se confunda a nuvem<br />
com Juno. É injusto e prejudica quem, com seriedade,<br />
faz da solidariedade uma ferramenta ao serviço dos<br />
que mais precisam.<br />
Presidente da FENACERCI<br />
4 Revista Fenacerci 2018
OPINIÃO<br />
© TNDM II, Filipe Ferreira | Produção Crinabel Teatro<br />
SEPARADOR<br />
Para nós, todas as opiniões contam.<br />
Podemos estar mais ou menos de<br />
acordo com elas mas é na divergência<br />
que se constroem os consensos. Muitas<br />
vezes perdemo-nos num olhar que está<br />
viciado à partida pelas vinculações<br />
que temos com as pessoas ou factos<br />
sobre os quais recai o olhar. É por<br />
isso que é importante ouvir os outros,<br />
aqueles que, sendo observadores ou<br />
atores, estão mais distanciados do<br />
que nós das realidades que analisam.<br />
Aprender com o olhar e sentir dos<br />
outros é tarefa que assumimos de<br />
bom grado. Bem hajam todos os<br />
que se disponibilizam para partilhar<br />
connosco ideias e formas de entender<br />
as pessoas e as coisas.
OPINIÃO<br />
POR UMA POLÍTICA<br />
CULTURAL ACESSÍVEL<br />
PARA TODOS<br />
© TNDM II, Filipe Ferreira | Produção Crinabel Teatro<br />
MINISTÉRIO DA CULTURA<br />
O Ministério da Cultura tem procurado,<br />
como o conjunto do governo, desenvolver<br />
políticas que assegurem um acesso sem<br />
discriminação à população com deficiência,<br />
tanto no que respeita à criação como<br />
à fruição. Dois exemplos do muito trabalho<br />
que tem sido feito para uma normalização<br />
das relações entre cidadãos com e sem<br />
deficiência, particularizam a ação do governo<br />
na área cultural.<br />
Em 2016 o Teatro Nacional Dona Maria II<br />
acolheu, em coprodução, o espetáculo comemorativo<br />
dos 30 anos da CRINABEL,<br />
Uma menina está perdida no seu século<br />
à procura do pai, a partir de um texto de<br />
Gonçalo M. Tavares e encenação de Marco<br />
Paiva. Integrada por direito próprio na<br />
programação do principal teatro tutelado<br />
pelo Estado central, foi uma oportunidade<br />
para um diálogo intenso e vivo entre artistas<br />
e públicos, que alargou as experiências<br />
e práticas de sucesso de uma maior acessi-<br />
© TNDM II, Filipe Ferreira | Produção Crinabel Teatro<br />
bilidade de todos os cidadãos aos espaços<br />
de cultura. A par de programas de acessibilidade<br />
para cidadãos com deficiência visual<br />
e motora, bem como linguagem gestual,<br />
os espaços culturais tutelados pelo<br />
Ministério da Cultura têm pugnado por<br />
uma cada vez maior atenção à diversidade<br />
e às necessidades da população. Exemplo<br />
disso são as sessões descontraídas, que<br />
permitem uma outra abordagem, menos<br />
“invasiva” e “formatada” a públicos com<br />
necessidades especiais, e que permitem<br />
aos próprios artistas compreender de que<br />
modo os seus projetos podem criar outras<br />
relações, eventualmente inesperadas, e<br />
outros significados que ampliem a construção<br />
dramatúrgica que elaboraram.<br />
Um outro exemplo que dá bem conta de<br />
como o Ministério da Cultura olha, e entende<br />
a criação contemporânea como um<br />
fator essencial para a coesão social e para<br />
a promoção de um diálogo integrado dos<br />
cidadãos, é a consequência feliz e positiva<br />
promovida pelo alargamento do apoio às<br />
artes às Regiões Autónomas da Madeira<br />
e Açores. Na área da dança, este alargamento<br />
permitiu admitir a concurso, e ver<br />
apoiado, o projeto plurianual da companhia<br />
Dançando com a Diferença que, com<br />
sede no Funchal e residência na Casa das<br />
Mudas, na Calheta, é uma das companhias<br />
mais relevantes não só na criação contemporânea<br />
coreográfica como distinguida<br />
pelo trabalho que tem desenvolvido com<br />
a comunidade de pessoas com deficiência.<br />
Ao longo dos anos têm sido vários os<br />
coreógrafos que têm trabalhado com esta<br />
companhia, cruzando gerações, géneros e<br />
perspetivas.<br />
Por último, e porque estas são questões<br />
que preocupam o Ministério da Cultura<br />
© TNDM II, Filipe Ferreira | Produção Crinabel Teatro<br />
enquanto dinamizador de políticas públicas<br />
de acessibilidade à prática e fruição culturais,<br />
sabemos que os espaços culturais enfrentam<br />
múltiplos desafios para proporcionar<br />
a audiências física e intelectualmente<br />
incapacitadas, a possibilidade de participar<br />
nas suas atividades. As condições socioeconómicas<br />
e o alcance territorial que<br />
os profissionais artísticos têm a oferecer<br />
reabrem a necessidade de estratégias de<br />
longa duração para garantir que as questões<br />
de acessibilidade sejam efetivamente<br />
tidas em conta, com foco no envolvimento,<br />
na diversidade e na divulgação.<br />
Há um longo caminho para percorrer até<br />
deixarmos de usar expressões como inclusão<br />
e comunidade para distinguir, ou<br />
sublinhar, mesmo que num plano de discriminação<br />
positiva, a presença de pessoas<br />
com deficiência num quotidiano que a todos<br />
possa parecer fluido e mais consentâneo<br />
com o que é viver numa sociedade<br />
sem preconceitos.<br />
Os agentes culturais - aqueles que desenvolvem<br />
e apresentam projetos artísticos<br />
- devem considerar a mesma questão:<br />
para quem estão eles a trabalhar e<br />
para que públicos e participantes gostariam<br />
de desenvolver o seu trabalho? Esta<br />
deve ser a base para as decisões sobre as<br />
políticas de financiamento para a acessibilidade.<br />
Luís Filipe de Castro Mendes<br />
Ministro da Cultura<br />
8 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 9
OPINIÃO<br />
Inês d’Orey<br />
PENSAR A ARTE E A CULTURA A PARTIR DA ACESSIBILIDADE<br />
MITO, REALIDADE<br />
OU DESAFIO<br />
A acessibilidade é um conceito polissémico.<br />
Alguns autores consideram seis tipos<br />
de acessibilidade: a atitudinal, a arquitetónica,<br />
a comunicacional, a instrumental, a<br />
metodológica e a programática. Podemos<br />
ainda perguntar-nos, quais os seus fundamentos,<br />
quais os seus objetivos, ou ainda,<br />
como se apresenta e qual a sua importância<br />
social e cultural?<br />
Pensar a arte e a cultura a partir da perspetiva<br />
da acessibilidade, implica considerar<br />
todas estas questões o que não caberá<br />
neste artigo.<br />
A acessibilidade significa, no caso da arte e<br />
da cultura, o acesso livre e desimpedido, de<br />
todos os indivíduos, sem exceção, a qualquer<br />
espaço, manifestação ou participação<br />
artística ou cultural, baseado no direito de<br />
igualdade democrática, numa determinada<br />
sociedade.<br />
Se o conceito de cultura não se limitar à<br />
extensão do conhecimento ou literacia,<br />
a chamada ‘alta cultura’, mas se se referir<br />
aos hábitos, crença e mentalidade duma<br />
determinada sociedade, na sua base está<br />
uma determinada conceção de Homem e<br />
de Sociedade.<br />
A promoção de acessibilidade não pode<br />
partir apenas das necessidades de uma ou<br />
outra pessoa, tomada individualmente, tem<br />
de assentar no respeito pela Pessoa Humana<br />
e no apreço pela participação social de<br />
todos. Deste modo, o nível de acessibilidades<br />
das cidades e instituições é um indicador<br />
claro do nível moral, ético e cívico dos<br />
seus responsáveis, pois revela o seu grau de<br />
preocupação pela inclusão e participação<br />
de todos nas suas vivências e atividades.<br />
O exercício da cidadania pressupõe assim,<br />
que as sociedades se organizem de forma<br />
a garantir a todos, uma efetiva igualdade<br />
de oportunidades em todos os domínios<br />
e etapas da vida dos indivíduos. Assim, os<br />
conceitos de acessibilidade e inclusão social<br />
estão intrinsecamente ligados.<br />
A acessibilidade será um mito em sociedades<br />
homogéneas, propondo aos seus<br />
membros um modelo padrão, igual para<br />
todos, onde a diferença não tem lugar e os<br />
desvios são identificados como uma ameaça<br />
ao equilíbrio, à ordem e à coesão social.<br />
Nesta perspetiva, qualquer manifestação<br />
da diferença deve ser normalizada pelo<br />
padrão ou excluída e afastada da vida social<br />
para não perturbar a sua coesão ou o<br />
bem-estar dos seus membros. Neste caso,<br />
a acessibilidade é um mito, subjacente à<br />
conceção de que a igualdade se consegue,<br />
a partir da sujeição do individuo ao padrão<br />
social existente, sem modificar ou beliscar<br />
as suas estruturas.<br />
A acessibilidade será um desafio em sociedades<br />
inclusivas, onde ela é abrangente e<br />
se fundamenta na igualdade de direitos e<br />
deveres, considerando que todas as pessoas<br />
são diferentes e que, essa diferença,<br />
longe de ser um obstáculo ou problema, é<br />
fator de progresso e desenvolvimento social.<br />
Considera, também, que todas as modificações<br />
introduzidas no meio envolvente<br />
para uma acessibilidade total, vão necessariamente<br />
beneficiar todos os membros da<br />
sociedade, porque melhoram a sua qualidade<br />
de vida. Neste caso, a acessibilidade<br />
é um desafio, numa tentativa contínua, de<br />
adaptar as estruturas e os espaços sociais<br />
e culturais, às necessidades dos indivíduos.<br />
A realidade não é mito nem desafio. Os<br />
grupos sociais tendem a estabelecer categorias<br />
de indivíduos e a atribuir-lhes<br />
caraterísticas e competências. Há neste<br />
processo uma tendência para a formação<br />
de estereótipos e preconceitos, que tomam<br />
a parte pelo todo, definindo os indivíduos<br />
por uma só das suas caraterísticas e generalizando-a,<br />
irracionalmente, a todo um<br />
grupo. Assim, o preconceito emerge muito<br />
cedo na sociedade e é extremamente difícil<br />
de combater, a não ser pela demonstração<br />
da sua irracionalidade e dos prejuízos e injustiças<br />
que acarreta. Para isso é importante<br />
a presença dos grupos marginalizados,<br />
na vida social e cultural. No caso da arte,<br />
essa presença tem como objetivo dar visibilidade<br />
às capacidades criativas destes<br />
artistas, pela sua participação nas atividades<br />
artísticas e culturais, seja como autor,<br />
seja como espetador.<br />
Há poucos anos, fiz uma investigação, a<br />
propósito da visibilidade social de grupos<br />
marginalizados, que constava em gravar,<br />
durante 3 meses, o “prime time” dos<br />
3 canais de TV mais vistos (RTP 1, SIC e<br />
TVI). Nessas gravações, nem por uma vez<br />
apareceu o tema da deficiência. Este caso<br />
mostra que a visibilidade social no que diz<br />
respeito à deficiência é, ainda, secundária<br />
em Portugal. Assim sendo, a acessibilidade<br />
para todos, nos espaços artísticos<br />
e culturais, particularmente no que diz<br />
respeito à deficiência, ainda é diminuta na<br />
cultura do nosso país e é, na maioria dos<br />
casos, apenas realizada por prescrição da<br />
lei, embora comecem a haver espaços culturais<br />
e artísticos com atividades e preocupações<br />
nesse sentido.<br />
Pensar a arte e a cultura a partir da acessibilidade,<br />
torna-se mito, quando as próprias<br />
pessoas excluídas e a sociedade em geral,<br />
desiste de lutar para tornar possível o<br />
acesso e a participação de todos, aos seus<br />
espaços e eventos artisticos e culturais. Se<br />
pelo contrário, houver uma dinâmica social,<br />
aberta para a inclusão de todos, torna-se<br />
um desafio geral de cada um, para conseguir<br />
uma sociedade mais rica e progressiva,<br />
mais justa e humana, onde a cultura da<br />
sociedade e dos grupos, integre a preocupação<br />
permanente e generalizada da<br />
acessibilidade para todos, aos seus espaços<br />
e eventos artísticos e culturais.<br />
Presidente da ANACED – Associação<br />
Nacional de Arte e Criatividade<br />
de e para Pessoas com Deficiência<br />
10 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 11
OPINIÃO<br />
Keyla Ferrari Lopes<br />
DANÇA, ARTE, EDUCAÇÃO<br />
E TERAPIA<br />
UMA POSSIBILIDADE PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA<br />
Fotos: Fábio Barella<br />
A dança carateriza-se pelo uso do corpo<br />
seguindo movimentos previamente estabelecidos<br />
ou improvisados. É uma atividade<br />
artística que se baseia primordialmente<br />
no movimento, no gesto, e possibilita<br />
ao homem transmitir seus pensamentos,<br />
ideias e emoções por meio do corpo. Ela<br />
nasce de sentimentos, sensações, imagens<br />
e baseia-se na perceção dos sentidos e na<br />
motricidade integrando as áreas motoras<br />
e psíquicas do ser humano. A dança pode<br />
existir como manifestação artística, como<br />
forma de divertimento, educação, terapia<br />
ou cerimónia.<br />
A história da dança, em especial no último<br />
século, tem evidenciado uma caraterística<br />
de transgressão por seu caráter<br />
transformador em favor da liberdade de<br />
expressão” (BERTOLDI; MARCHI JR.;<br />
2004; p.3) e pode-se dizer que essa liberdade<br />
de expressão implica atravessar,<br />
ultrapassar limites corporais e noções<br />
pré-estabelecidas de movimentos.<br />
Atualmente acredita-se na dança como<br />
meio de comunicação e transmissão de<br />
ideias, de fala e de expressão dos diferentes<br />
e sobre as diferenças como<br />
possibilidade de movimentos para além<br />
de corpos, de formas e de técnicas perfeitas,<br />
corpos que se expressam com<br />
prazer, valorizando a sua essencialidade,<br />
quebrando ideias ultrapassadas,<br />
despadronizando o que já é criação e<br />
recriando novas realidades corpóreas.<br />
(BARRETO, 2004).<br />
Não há um único modo caraterístico de<br />
se mover, um vocabulário de movimentos<br />
ou um padrão, todo o movimento pode<br />
ser dança. De forma geral, a dança é<br />
para muitos um meio canalizador de expressões,<br />
seja qual estilo for, a dança é a<br />
arte que envolve e desmistifica estereótipos<br />
e preconceitos existentes.<br />
As barreiras existentes no passado com<br />
relação ao corpo com deficiência, já estão<br />
sendo quebradas e hoje em dia qualquer<br />
pessoa pode dançar. Mesmo que<br />
ela tenha alguma deficiência intelectual,<br />
motora, ou sensorial, existem diversos<br />
estilos de dança que dão a liberdade de<br />
cada um optar como, quando, onde e o<br />
que dançar, sendo o seu corpo um instrumento<br />
criativo.<br />
No cenário mundial os trabalhos realizados<br />
na área da dança e expressão corporal<br />
que incluem alunos e dançarinos com<br />
deficiência vem crescendo em uma grande<br />
diversidade de estilos e objetivos e<br />
geralmente, são realizados por profissionais<br />
de diferentes áreas do conhecimento<br />
humano como artistas, terapeutas e<br />
educadores com propostas que possuem<br />
objetivos sociais, terapêuticos, artísticos,<br />
educativos, competitivos, recreativos ou<br />
até mesmo mais de um destes objetivos<br />
reunidos numa mesma proposta. Nestes<br />
contextos, podemos encontrar cada vez<br />
mais pessoas que possuem uma condição<br />
de deficiência inseridas de maneira a<br />
se fazerem presentes no cenário da dança<br />
que por muito tempo os excluiu por os<br />
considerar não hábeis para a realização<br />
de tal atividade.<br />
Isso proporcionou novos olhares do público.<br />
Olhares que quebram os estereótipos<br />
daquilo que se entendia por dança,<br />
onde o virtuosismo era o centro do espetáculo.<br />
Para muitos profissionais o trabalho com<br />
a dança voltado para pessoas com deficiência<br />
é estritamente terapêutico, onde<br />
esta arte, é um meio para que se consiga<br />
reabilitar o indivíduo por conter elementos<br />
que trabalham corpo, consciência e<br />
improviso, tornando-se assim, uma maneira<br />
bastante viável para fins terapêuti-<br />
12 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 13
OPINIÃO<br />
em suas atividades práticas aplicadas<br />
apenas os aspetos físicos e sociais, devem<br />
estabelecer um novo olhar para as<br />
possibilidades que a dança pode revelar<br />
ao seu aluno, ao seu corpo como um<br />
todo, incluindo a descoberta de talentos<br />
e potenciais desconhecidos que representam<br />
sua identidade como ser humano,<br />
como ser único e transformador.<br />
As atividades com a dança que incluem<br />
pessoas com deficiência, geralmente<br />
são realizadas em hospitais, clínicas de<br />
reabilitação, escolas, academias e instituições<br />
específicas para determinadas<br />
condições de deficiência em que o foco é<br />
reabilitar o indivíduo, neste sentido, existe<br />
um elo muito forte entre arte e terapia,<br />
porém devemos destacar que o dançarino<br />
com deficiência quando vai ao palco<br />
está lá pelo fazer artístico criativo, assim<br />
como acontece com os dançarinos sem<br />
deficiência.<br />
A deficiência não modifica a natureza do<br />
artístico. Se pessoas com e sem deficiência<br />
se encontram em cima de um palco<br />
com uma plateia para apreciá-los dançando,<br />
existe um objetivo artístico.<br />
O essencial é que a plateia assista aos<br />
espetáculos levando em consideração<br />
que, independentemente das caraterísticas<br />
dos dançarinos, o processo artístico<br />
é o mesmo e, uma vez inseridos no<br />
contexto da arte, devem ser lidos como<br />
tal. (Souza, 2009)<br />
Cia de Dança Humaniza | Universidade<br />
Estadual de Campinas | FEF- Brasil<br />
cos. O caráter artístico também não deve<br />
ser ignorado pois existe um contato e o<br />
conhecimento da arte.<br />
Com isso, seja pela arte ou pela terapia<br />
como auxiliar no processo de reabilitação,<br />
não há como negar que a dança perpassa<br />
por estes dois objetivos em constante<br />
relação, pois existe uma afinidade<br />
entre a arte e a terapia.<br />
Durante as aulas e vivências com a dança<br />
pessoas com e sem deficiência podem interagir,<br />
conhecer e explorar seus corpos,<br />
habilidades e sentimentos e, isso em algum<br />
nível pode gerar bem-estar, para ambos<br />
os alunos e dançarinos, independentemente<br />
da sua condição de deficiência.<br />
Entretanto, não podemos resumir a dança<br />
para pessoas com deficiência apenas<br />
como dançaterapia, dança-inclusão e<br />
dança-reabilitação, validando nesse ser<br />
humano apenas as suas limitações, não<br />
o valorizando pela sua subjetividade<br />
que está implícita nos movimentos da<br />
dança, nas suas expressões particulares<br />
que estão contidas em cada movimento,<br />
independentemente, se esses movimentos<br />
fogem de um padrão pré-estabelecido.<br />
(FRETAS, 2006).<br />
Sabemos que a cultura do corpo perfeito<br />
e atlético ainda permeia o imaginário social<br />
de grande parte da população quando<br />
se aborda a dança, inclusive dentro do<br />
meio artístico.<br />
Neste sentido, os profissionais que trabalham<br />
com dança, não devem enfatizar<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
Percebe-se que a dança oferecida para<br />
pessoas com deficiência proporciona interação<br />
entre estes participantes criando<br />
um ambiente favorável para a formação<br />
de vínculos afetivos, cumplicidades, reflexões,<br />
busca de identidade artística,<br />
criação, coreografia, entre outros aspetos<br />
que transcendem limites corporais,<br />
emocionais e percetivos.<br />
Com relação ao ensino oferecido a estes<br />
grupos, professores de dança, educadores<br />
e coreógrafos devem respeitar as<br />
possibilidades, limites, habilidades e singularidades<br />
de cada aluno, incentivando<br />
o processo criativo, a descoberta de novas<br />
possibilidades corporais e a relação<br />
entre o grupo, evitando apenas movimentos<br />
pré-estabelecidos e padronizados,<br />
não ignorando as diferenças físicas<br />
motoras, cognitivas, sensoriais e emocionais<br />
existentes entre os participantes.<br />
Afirmações como “A dança é para todos”<br />
fazem sentido, pois a condição não deve<br />
ser um fator limitador para a prática desta<br />
atividade.<br />
Quanto à finalidade das propostas metodológicas<br />
há-de-se considerar como<br />
fator principal, a motivação pessoal destes<br />
alunos dançarinos e a experiência do<br />
profissional que atua na área, pois a escolha<br />
entre ensaiar uma coreografia para<br />
apresentar ao público e realizar espetáculos<br />
ou praticar a atividade apenas para<br />
o seu bem-estar físico e emocional é uma<br />
escolha pessoal. Devemos ressaltar que<br />
em determinados casos de alunos com<br />
condição de deficiência intelectual moderada<br />
ou severa, familiares, terapeutas,<br />
colegas e/ou acompanhantes possuem<br />
um papel fundamental no envolvimento<br />
da atividade e na escolha das propostas<br />
consideradas mais adequadas para estes.<br />
A sociedade e o público dos espetáculos<br />
estão em constante processo de modificação<br />
de seus olhares com relação ao<br />
dançarino com deficiência, pois estes<br />
buscam o reconhecimento como artistas,<br />
visto que o olhar externo é que destaca<br />
as limitações e diferenças corporais, ou o<br />
fazer artístico.<br />
14 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 15
OPINIÃO<br />
Marco Paiva<br />
CRINABEL TEATRO<br />
ENTRE O PASSADO<br />
E O FUTURO DAS COISAS<br />
Nascemos em 1986. Passaram 32 anos.<br />
Fomos crescendo com todos aqueles<br />
que fizeram parte desta casa. Soubemos<br />
aprender com os erros e continuar a encontrar<br />
caminhos, nunca permitindo que<br />
nos fechassem a porta nem que o individual<br />
destruísse a importância do coletivo.<br />
Quando as coisas ficaram por um fio, encontrámos<br />
na necessidade de partilha o<br />
sentido para alcançar um futuro. Se em<br />
1986 o enquadramento de um projeto<br />
como a CRINABEL Teatro se apresentava<br />
como uma novidade e uma aventura<br />
que muitos poderiam afirmar como inabitável,<br />
hoje, em 2018, 32 anos depois e já<br />
com muitos e bons projetos similares ao<br />
nosso, dispersos de norte a sul, tudo isto<br />
continua a ser para muitos uma novidade<br />
e sem dúvida uma aventura que apesar de<br />
habitável, continua a ser coisa para correr<br />
riscos, sem caminho certo, numa espécie<br />
de travessia à deriva. Na verdade, terá<br />
sido também o apetite por essa aventura<br />
meio rebelde que alimentou a vontade de<br />
não parar. Mas o que de facto garantiu a<br />
nossa continuidade durante estes 32 anos,<br />
foi a necessidade de todos os intérpretes<br />
que por aqui passaram, em dialogar com<br />
o Mundo. Através da ideia, do verbo, do<br />
gesto, do aplauso, do jantar e dormir fora<br />
de casa, das viagens, das saudades do<br />
passado ou da ânsia de não perder o fio<br />
ao futuro, esquecemos as nossas histórias,<br />
criámos o nosso referencial, utilizando depois<br />
o teatro como máquina privilegiada<br />
da construção da ilusão, transformando<br />
os nossos mundos em universos paralelos,<br />
encontrando aí uma possibilidade não de<br />
alcançar respostas, nem sequer de colocar<br />
questões, mas de nos mantermos vi-<br />
© Casa da Música Espetáculo “Guia Prático para Artistas Ocupados”<br />
vos, ativos e implicados na desconstrução<br />
das verdades absolutas. E como crescer<br />
implica operar mudanças, fomos também<br />
alterando a maneira de procurar o nosso<br />
teatro. Se ao início os nossos processos<br />
se centravam na urgência de decorar, passámos<br />
depois para o imperativo de procurar.<br />
Procurar até ao limite do possível,<br />
através de conversas, partilha de saberes e<br />
consciências, improvisações, erros, muitos<br />
erros, escrevendo e rescrevendo ideias,<br />
mexendo até ao último dia nas lógicas da<br />
cena, evitando o conforto e o facilitismo da<br />
primeira coisa que aparece. Pôr em causa,<br />
pôr sempre em causa, mesmo depois de<br />
terminar... Se for possível, nunca terminar.<br />
Que uma coisa leve à outra e que o futuro<br />
seja sempre a continuação do hoje, mas<br />
melhor. E tudo isto somando ritmos completamente<br />
diferentes, experiências e capacidades<br />
tão antagónicas que poderiam<br />
parecer entraves a construir seja lá o que<br />
for. Mas na verdade, é este o segredo de<br />
todo o nosso processo: somos tão diferentes<br />
uns dos outros que até nos momentos<br />
em que não nos fazemos entender, criamos<br />
pontos de partida para qualquer coisa<br />
que será de todos. E aqui quando dizemos<br />
todos, somos realmente todos. Cada<br />
um sabe o seu papel e a função que tem,<br />
somos todos co-criadores e responsáveis<br />
pelo nosso trabalho. E sobre o futuro?<br />
É difícil criar metas. De uma maneira<br />
geral, hoje em dia é sempre difícil criar<br />
metas. Está sempre tudo por fazer. Nesta<br />
sociedade que se especializou a “construir<br />
casas pelo telhado”, há que estar<br />
constantemente a adaptar a gramática às<br />
novas modas.<br />
Mas nós cá nos vamos conduzindo. Estamos<br />
juntos todos os dias, e todos os dias<br />
há uma coisa nova para falar e essa coisa<br />
nova pode bem transformar-se no nosso<br />
trabalho dos meses seguintes. Por isso é<br />
difícil desmotivar. Mesmo com pouco dinheiro,<br />
sem espaço, sem pretensão aos<br />
grandes mercados e indústrias culturais,<br />
ou sequer, por vezes a um sistema social<br />
que faça valer o direito do Homem à Cultura,<br />
a Arte e até à dignidade mais primária,<br />
temos uma família unida que quando<br />
tropeçamos, nos ajuda a levantar. O futuro<br />
está aí!<br />
Entre o princípio das coisas e o futuro, estamos<br />
nós. Sempre de portas abertas para<br />
receber todos aqueles que vierem com a<br />
mesma vontade que temos em produzir<br />
memórias.<br />
Ator, Encenador e Coordenador Artístico<br />
do Projeto CRINABEL Teatro<br />
© Miguel Louro Costa Espectáculo “1969”, direção Marco Paiva<br />
16 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 17
OPINIÃO<br />
Maria Vlachou<br />
A INCLUSÃO SOCIAL ATRAVÉS<br />
DO ACESSO À CULTURA<br />
O direito de acesso à cultura está consagrado<br />
pela Declaração Universal dos<br />
Direitos Humanos (art.27º), pela Convenção<br />
sobre os Direitos das Pessoas<br />
com Deficiência (Art.30º) e também pela<br />
Constituição Portuguesa (Art. 78º). Qual a<br />
importância deste direito? Quais as responsabilidades<br />
do Estado e, em especial,<br />
das Organizações Culturais e dos profissionais<br />
do setor?<br />
Todos nós que trabalhamos na área da<br />
Cultura acreditamos no seu contributo<br />
para a criação de uma sociedade de cidadãos<br />
informados, críticos, tolerantes, empáticos,<br />
envolvidos. Uma sociedade que<br />
abraça e não exclui, que se preocupa com<br />
a injustiça, que encara a diferença com<br />
naturalidade e não como algo “especial”<br />
mas... indesejável. Numa altura em que os<br />
“factos alternativos” se tornam em discurso<br />
oficial, em que o “Outro” volta a ser<br />
encarado como a fonte de todos os males,<br />
em que as injustiças sociais se agravam<br />
devido a políticas que não se centram na<br />
pessoa e no bem comum, é necessário repensarmos<br />
as nossas sociedades, relembrarmo-nos<br />
dos nossos valores, defendermos<br />
os nossos princípios. A Cultura,<br />
as Organizações Culturais podem mostrar<br />
o caminho, podem criar um espaço acolhedor<br />
e seguro para o cruzamento de<br />
diferentes pontos de vista, para se contarem<br />
histórias que nos permitem conhecer<br />
melhor a pessoa que está ao nosso lado e<br />
ganhar uma outra visão do nosso mundo,<br />
maior, mais inclusiva, mais rica.<br />
No que diz respeito a este espaço de encontro,<br />
que tanto tem para dar, não há<br />
dúvida que muitos cidadãos permanecem<br />
de fora, incapazes de participar, usufruir,<br />
mas também contribuir. Em Portugal, mui-<br />
tas pessoas ficam excluídas da criação e<br />
fruição cultural devido, essencialmente a:<br />
1. Falta de condições de acesso;<br />
2. Excessiva burocracia e poucos funcionários<br />
considerando o volume de<br />
trabalho;<br />
3. Omissões nas leis e falta de fiscalização;<br />
4. Falta de financiamento para a acessibilidade;<br />
5. Falta de conhecimento e sensibilidade<br />
em relação às necessidades específicas<br />
dos cidadãos.<br />
A Acesso Cultura foi criada em 2013 com<br />
o objetivo de melhorar as condições de<br />
acesso – físico, social, intelectual – aos<br />
espaços culturais e à oferta cultural.<br />
Como associação de profissionais do setor<br />
cultural e de organizações culturais,<br />
procura sensibilizar e formar os profissionais<br />
do setor, ajudar a fazer o diagnóstico<br />
de acessibilidade e elaborar planos<br />
de ação, dialogar com os organismos do<br />
Estado com responsabilidades nesta área,<br />
colocar a acessibilidade no centro da reflexão<br />
da sociedade em geral. Nesse sentido,<br />
realiza cursos de formação, organiza<br />
uma conferência anual e debates públicos,<br />
presta serviços de consultoria e procura<br />
intervir, sempre que necessário, para a<br />
defesa dos direitos culturais de quem reside<br />
em Portugal.<br />
Do ponto de vista da formação e sensibilização,<br />
verifica-se que um cada vez<br />
maior número de profissionais possui<br />
conhecimentos e ferramentas que permitem<br />
tornar a oferta mais acessível. Com a<br />
apoio da Fundação Calouste Gulbenkian,<br />
a Acesso Cultura realizou em 2017, jornadas<br />
de sensibilização “Além do Físico:<br />
Barreiras à Participação Cultural” em todas<br />
as comunidades intermunicipais do<br />
país e nas ilhas. No entanto, sente-se também<br />
a necessidade urgente de sensibilizar<br />
os decisores políticos e as chefias, que<br />
muitas vezes se tornam (talvez por falta<br />
de conhecimento) numa barreira interna.<br />
Quanto às condições de acesso à oferta<br />
cultural, mesmo que ainda muito centradas<br />
em Lisboa e no Porto, algumas entidades<br />
culturais investem de forma permanente<br />
em serviços que tornam a sua<br />
programação mais acessível:<br />
• Interpretação em Língua Gestual<br />
Portuguesa (São Luiz Teatro<br />
Municipal, Teatro Nacional D. Maria<br />
II, Museu Nacional do Azulejo, Casa<br />
Fernando Pessoa, Padrão dos Descobrimentos,<br />
Quinta da Regaleira, Museu<br />
Serralves, Teatro Nacional S. João,<br />
Festival Internacional de Marionetas<br />
do Porto, Museu das Marionetas do<br />
Porto, Museu da Comunidade Concelhia<br />
da Batalha);<br />
• Audiodescrição (São Luiz Teatro<br />
Municipal, Teatro Nacional D. Maria<br />
II, Casa Fernando Pessoa, Padrão dos<br />
Descobrimentos, Quinta da Regaleira,<br />
Museu Serralves, Teatro Nacional S.<br />
João, Museu do Vinho de S. João da<br />
Pesqueira, Museu de Setúbal, Museu<br />
da Comunidade Concelhia da Batalha);<br />
• Guiões com símbolos pictográficos<br />
para a comunicação com pessoas<br />
com deficiência intelectual<br />
(Castelo de Leiria, Mosteiro da Batalha,<br />
MIMO – Museu da Imagem em<br />
Movimento, Leiria, Museu de Leiria,<br />
Museu Municipal de Vila Franca de<br />
Xira, Museu Nacional de Machado de<br />
Castro em Coimbra);<br />
• Sessões descontraídas (São Luiz<br />
Teatro Municipal, Maria Matos, Teatro<br />
Municipal, Teatro Nacional D. Maria II,<br />
Teatro Nacional S. João, Festival Internacional<br />
de Marionetas do Porto, DocLisboa,<br />
MONSTRA, Cinemas NOS).<br />
Com o apoio da Fundação Millennium BCP,<br />
a Acesso Cultura está a preparar um novo<br />
website que irá reunir toda a informação<br />
sobre programação cultural acessível em<br />
Portugal, de forma a torná-la mais visível e<br />
mais acessível para as pessoas interessadas.<br />
Com a promoção destes serviços, procura-se<br />
criar um espaço comum, onde pessoas<br />
com perfis e necessidades diferentes<br />
possam usufruir em conjunto da oferta<br />
cultural, partilhando um lugar que lhes<br />
dá também a oportunidade de se conhecerem,<br />
de reconhecerem a diferença e de<br />
a encararem com naturalidade. Ao mesmo<br />
tempo que as organizações culturais<br />
portuguesas continuam a colaborar com<br />
as associações sociais para a participação<br />
em grupo dos seus utentes em certas<br />
atividades, acreditamos que é igualmente<br />
necessário desenvolver esforços para dar<br />
às pessoas autonomia, a possibilidade de<br />
escolher, de usufruir com os seus familliares<br />
e amigos e ainda com outras pessoas.<br />
A Acesso Cultura e os profissionais do<br />
setor cultural trabalham para que cada<br />
pessoa possa ser o melhor que puder,<br />
possa atingir o máximo das suas capacidades<br />
intelectuais e afetivas. Garantindo<br />
as condições de acesso à cultura, não só<br />
cumprimos um direito que é de todos, mas<br />
trabalhamos em algo que beneficia a sociedade<br />
como um todo.<br />
Diretora Executiva da Associação<br />
Acesso Cultura<br />
18 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 19
OPINIÃO<br />
Pedro Senna Nunes e Ana Rita Barata<br />
VO’ARTE<br />
UM DISCURSO DE SENSIBILIDADES<br />
A Vo’Arte, projeto alicerçado em 20 anos<br />
de experiências, nasceu da vontade de<br />
produzir, promover e valorizar a criação artística<br />
com posicionamento social, através<br />
do cruzamento de linguagens e do desenvolvimento<br />
de projetos nacionais e internacionais,<br />
apoiando o intercâmbio e a transdisciplinaridade<br />
na produção de diversas<br />
atividades e artistas.<br />
A Vo’Arte co-fundou a CiM - Companhia<br />
de Dança em 2007. Uma Companhia que<br />
trabalha com intérpretes com e sem deficiência,<br />
que se assume como um projeto<br />
sustentável de formação artística, social e<br />
pedagógica de continuidade, contribuindo<br />
para a integração de todos nas artes performativas<br />
e para a expansão do território<br />
da acessibilidade às artes.<br />
A CiM tem como parceiros a APCL - Associação<br />
de Paralisia Cerebral de Lisboa, a<br />
Vo’Arte, o Lar Militar da Cruz Vermelha e o<br />
CRPCCG - Centro de Reabilitação de Paralisia<br />
Cerebral Calouste Gulbenkian.<br />
Em 2017, a CiM comemorou 10 anos de<br />
criação, produção, formação artística e<br />
de implementação de recursos acessíveis<br />
à cultura com espetáculos com áudiodescrição<br />
e uso de Língua Gestual<br />
Portuguesa em cena.<br />
Conta com um reportório de 12 espetáculos,<br />
apresentados em mais de 30 cidades<br />
nacionais e em 12 países distintos, com a<br />
participação de mais de 100 artistas com<br />
e sem deficiência, e ainda com uma forte<br />
componente de formação com 38 workshops<br />
e mais de 2 mil participantes. Um<br />
percurso longo e recompensador de grandes<br />
conquistas partilhadas por mais de 200<br />
mil espetadores. Nos últimos 10 anos tem<br />
vindo a promover uma abordagem pioneira<br />
no aperfeiçoamento da criação artística<br />
face à inclusão, sendo que, a sua singularidade<br />
reside na diversidade de propostas<br />
e no constante enriquecimento de práticas<br />
nas quais, a multidisciplinaridade permite o<br />
impulso de novos métodos de trabalho e de<br />
respostas artísticas.<br />
A Vo’Arte e a CiM tiveram o seu trabalho<br />
distinguido em dezembro de 2016 com a<br />
Menção Honrosa do BPI Capacitar, em<br />
2015 com o Prémio Acesso Cultura na<br />
categoria Acessibilidade Intelectual e em<br />
2014 com o Prémio Nacional de Inclusão.<br />
No âmbito do Projeto Europeu Un-Label,<br />
a Vo’Arte foi uma das 10 entidades selecionadas<br />
a integrar o manual “Innovation<br />
Diversity - New approaches of cultural en-<br />
© João Pedro Rodrigues. Teatro São Luiz.<br />
Geração Soma_CiM_VoArte<br />
© Estelle Valente.Teatro São Luiz_CiM_VoArte<br />
counter in Europe”, que destaca as melhores<br />
práticas artísticas inclusivas na Europa.<br />
Atualmente é co-organizadora do Projeto<br />
Europeu inovador “Sign+Sound Theatre”<br />
que pretende explorar novos métodos de<br />
produzir arte inclusiva, para um público<br />
inclusivo. Ainda, no âmbito do programa<br />
PARTIS da Fundação Calouste Gulbenkian,<br />
criou e produziu o projeto artístico e<br />
inclusivo Geração SOMA onde as crianças<br />
e a sua grandeza são a fonte de inspiração.<br />
Pretendemos fomentar a continuidade de<br />
ações de inclusão pela arte, atuando no<br />
combate à exclusão social a comunidades<br />
com menos oportunidades de participação.<br />
Geração SOMA destaca-se pela promoção<br />
da reflexão e de práticas artísticas no<br />
desafio da inclusão pela arte, com crianças<br />
em contexto escolar, através da exploração<br />
de novas estratégias ao nível da integração<br />
a nível artístico, pedagógico, terapêutico e<br />
social, sensibilizando crianças, educadores<br />
e técnicos para a importância da arte como<br />
ferramenta no combate à exclusão social e<br />
na descoberta de novas aptidões e competências.<br />
Pretende aumentar os níveis de<br />
autonomia e participação das crianças com<br />
NEE, no quotidiano escolar.<br />
Um dos eixos fundamentais da Vo’Arte e da<br />
CiM é a formação, direcionada e focada nas<br />
particularidades do movimento e expressividades<br />
únicas de cada bailarino/intérprete,<br />
revelando uma visão criativa da capacidade<br />
e limite de cada colaborador, potenciando<br />
a diversidade como força motriz e espaço<br />
de diálogo. A formação é encarada como<br />
um meio fundamental de valorização social<br />
e pessoal, de aquisição de conhecimentos<br />
relacionais e inter-pessoais que conduzem<br />
o indivíduo de um modo assertivo, à cidadania<br />
e o levam a ganhar habilitações a nível<br />
de direitos para uma participação mais<br />
ativa na sociedade.<br />
O desenvolvimento deste trabalho permite<br />
criar condições que possibilitam à pessoa<br />
com deficiência participar no movimento<br />
cultural pela via profissionalizante, como<br />
agente inventivo e consumidor, numa sociedade<br />
com vocações inclusivas. Um trabalho<br />
que pressupõe um investimento no<br />
cruzamento de gerações e na empatia entre<br />
áreas artísticas, tornando o processo<br />
inovador e único, construindo caminhos<br />
magnetizados por diálogos que nos levam<br />
à descoberta de novos territórios profundamente<br />
humanos.<br />
A CiM é um lugar do corpo, um caminho<br />
de perceções e diferenças que mutuamente<br />
se aproximam. É um ponto de encontro no<br />
qual diferentes gerações podem experienciar<br />
tanto o palco como a plateia, num discurso<br />
de sensibilidades que procura revirar<br />
mundos para outros se criarem. Um espaço<br />
de pessoas com diferentes interesses e<br />
autodesafios, que apresenta uma dinâmica<br />
da escuta ativa, interessada e motivada na<br />
disponibilidade de valorizar o “outro” na<br />
espessura do tempo.<br />
O corpo da CiM incentiva a procura da<br />
multiplicidade dos gestos e a produção de<br />
uma inquietude construtiva que se estende<br />
na afinação de todas as apresentações.<br />
As imagens vão-se somando e ganhando<br />
contornos de qualidade inclusiva e natureza<br />
plástica, onde a temática da integração<br />
pressupõe uma trajetória com valor semiótico.<br />
Os corpos enunciam uma possibilidade<br />
de repetição, de um fazer de novo,<br />
uma e outra vez, de uma composição que<br />
se dilui na imanência da representação.<br />
A CiM está iluminada por ondas gravitacionais,<br />
onde o espaço é dos corpos.<br />
Transforma-se, torna-se elástico, remexe<br />
com o tempo e irradia uma energia contagiante.<br />
Constituem-se trilhos marcados<br />
pela repetição, pela passagem de muitos<br />
corpos somados e afinados, apresentação<br />
após apresentação, linhas invisíveis<br />
que marcam um tempo de conquista.<br />
Este projeto é como uma deambulação de<br />
intenções e pensamentos que nos levam a<br />
fundar novas vivências. A sua narratividade<br />
paisagística espelha estados de espírito<br />
em contraponto com memórias de um<br />
futuro, entrançado com um passado.<br />
As forças combinadas da CiM e da<br />
Vo’Arte, com os seus parceiros, colapsam<br />
na construção de uma memória que<br />
pretende ser coletiva, participativa e inclusiva.<br />
Direção Artística da Associação Vo’Arte<br />
20 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 21
OPINIÃO<br />
Henrique Amoedo<br />
DANÇANDO<br />
COM A DIFERENÇA<br />
Há aproximadamente dezassete anos, mais<br />
precisamente no ano de 2001, surgia na<br />
Região Autónoma da Madeira (RAM), um<br />
projeto que viria a conquistar um importante<br />
espaço no universo da Dança Contemporânea<br />
em Portugal, e também no estrangeiro,<br />
o Dançando com a Diferença.<br />
Este projeto, com autoria e direção artística<br />
de Henrique Amoedo, foi-se fortalecendo<br />
e aos poucos passou a ocupar um<br />
patamar de referência dentro do panorama<br />
artístico europeu quando falamos de Inclusão<br />
através da Dança.<br />
No seu repertório conta com vinte e uma<br />
criações de diferentes coreógrafos. Entre<br />
estas, podemos encontrar trabalhos dos<br />
mais importantes criadores contemporâneos<br />
como Paulo Ribeiro, Rui Horta, Henrique<br />
Rodovalho, Clara Andermatt, Rui<br />
Lopes Graça, Tânia Carvalho e La Ribot,<br />
entre outros.<br />
Sessenta cidades e vinte e cinco países,<br />
entre a Europa e a América, já tiveram a<br />
oportunidade de receber os espetáculos,<br />
workshops, conferências e outras ações<br />
no âmbito da Dança Inclusiva (Amoedo,<br />
2002), promovidas através do Dançando<br />
com a Diferença.<br />
“Podemos chamar “DANÇA INCLUSI-<br />
VA” àqueles trabalhos que incluem pessoas<br />
com e sem deficiência, onde os focos<br />
terapêuticos e educacionais não são<br />
desprezados, mas a ênfase encontra-se,<br />
em toda a elaboração e criação artística”<br />
(Amoedo, 2002).<br />
Este conceito, aquando da sua criação, já<br />
demonstrava a sua intenção de transitoriedade,<br />
algo que ainda está em curso quando<br />
refere: “para terminar pretenderíamos<br />
ressaltar que quando bailarinos com corpos<br />
diferentes forem aceites em todas as<br />
companhias de dança por suas qualidades<br />
artísticas e esta não for mais alvo de tantos<br />
estudos, atitudes incrédulas e/ou de condescendência<br />
dúbia pensamos que teremos<br />
cumprido o nosso papel em busca de uma<br />
© Júlio Silva Castro<br />
© Júlio Silva Castro<br />
real inclusão destas pessoas no universo<br />
da dança, e neste momento, o termo Dança<br />
Inclusiva poderá ser desprezado, ficando<br />
somente para os registos históricos –<br />
sintoma de plena aceitação da unicidade<br />
na diversidade pois, de bailarinos se trata,<br />
que dançam com o corpo e não “apesar<br />
do corpo” (Amoedo, 2002).<br />
Durante estes anos em que “estamos na<br />
estrada” com o Dançando com a Diferença,<br />
constatámos algumas modificações.<br />
Primeiro, mudou a forma como nos<br />
vimos a nós próprios mas, primordialmente,<br />
mudou a forma como os outros<br />
percebem aquilo que fazemos. Há um<br />
respeito muito maior para como o nosso<br />
trabalho e consequentemente para connosco,<br />
enquanto indivíduos.<br />
Percebemos que as pessoas acreditam e<br />
valorizam o nosso trabalho, sejam elas especialistas<br />
da área, o público em geral e<br />
até as pessoas mais próximas, familiares e<br />
amigos, por exemplo.<br />
Sentimos que ainda nos falta conseguir<br />
reunir condições para poder levar o nosso<br />
trabalho a mais pessoas, em diferentes<br />
locais. Atualmente, através da parceria com<br />
o Teatro Viriato e o Conselho Local de<br />
Ação Social (CLAS) há em funcionamento<br />
o Dançando com a Diferença – Viseu, primeiro<br />
núcleo a funcionar fora da RAM.<br />
DANÇANDO<br />
COM A DIFERENÇA<br />
Missão: promover a Inclusão Social e Cultural<br />
através da Dança Inclusiva.<br />
Visão: modificar a imagem social das pessoas com<br />
deficiência e conquistar espaços para a diversidade<br />
humana no universo profissional das Artes Contemporâneas.<br />
Valores: desenvolver o potencial criativo, produtivo<br />
e a valorização profissional dos grupos inclusivos;<br />
estimular o trabalho em equipa e a evolução<br />
das sociedades no sentido da valorização das capacidades<br />
e não discriminação das pessoas com<br />
deficiência, com a sua inclusão nos mais variados<br />
setores sociais.<br />
Diretor Artístico do Projeto Dançando<br />
com a Diferença e Investigador integrado<br />
no Instituto de Etnomusicologia - Centro<br />
de Estudos em Música e Dança<br />
22 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 23
D`ARTE<br />
SEPARADOR<br />
A CULTURA<br />
DAS CERCI`S<br />
A cultura é um domínio de crescimento e de inclusão.<br />
De crescimento porque nos abre horizontes, porque nos<br />
mostra formas diferentes de ver e de sentir. De inclusão<br />
porque nos torna mais competentes para participar, porque<br />
faz sobressair a importância da diferença. Nas Cerci’s<br />
procuramos fazer das vivências culturais, das expressões<br />
da cultura individual, ferramentas ao serviço da afirmação<br />
da individualidade e da facilitação dos percursos<br />
de inclusão. E todos os caminhos ou quase são possíveis<br />
de ser escolhidos, quando o importante é criar oportunidades.<br />
© CERCIAZ | Emoções 2017
D`ARTE A CULTURA DAS CERCI`S<br />
C.E.C.D.<br />
EXPRESSÕES ARTÍSTICAS<br />
UM CAMINHO PARA A PLENA CIDADANIA!<br />
No C.E.C.D. Mira Sintra, a Arte surgiu<br />
como uma atividade facilitadora da inclusão<br />
social das pessoas com Dificuldades<br />
Intelectuais e Desenvolvimentais<br />
(DID), inicialmente para as pessoas residentes<br />
em lar residencial e posteriormente<br />
alargado a outras pessoas com<br />
DID com menores interações pessoais,<br />
familiares ou sociais.<br />
Da prática das atividades de expressão<br />
artística desenvolvida em espaço e tempo<br />
próprio, com o apoio de professor<br />
especializado (artes plásticas e outras),<br />
é facilitado o exercício da criatividade<br />
que concorre para que os participantes<br />
reconheçam as suas capacidades, aumentem<br />
a auto estima e o seu bem-estar.<br />
Também a expressão artística é um instrumento<br />
facilitador do processo de desenvolvimento<br />
pessoal, ao impulsionar<br />
a descoberta de si próprio através da<br />
realização criativa do que projeta, redescobrindo-se,<br />
questionando-se, num<br />
percurso transformativo vivido também<br />
na interação com o outro.<br />
Quando o resultado do exercício criativo<br />
resulta num produto que é partilhado<br />
com a comunidade publicamente,<br />
é potencializada a sua importância,<br />
acrescentado valor, contribuindo para<br />
o reconhecimento pessoal do artista e<br />
também, para a sua realização pessoal e<br />
capacitação social.<br />
Este percurso experimental é desenvolvido<br />
há cerca de 20 anos pelo Atelier do<br />
C.E.C.D. Mira Sintra, com um programa<br />
anual de caráter experimental através do<br />
PrimaverArte, projeto que foi integrando<br />
diferentes áreas expressivas e criativas<br />
(expressão, plástica, dança, escultura,<br />
pintura e mais recentemente canto e<br />
teatro) e diferentes públicos nomeadamente<br />
pessoas com DID, familiares,<br />
jovens ou adultos utilizadores dos Centros<br />
Lúdicos do Concelho de Sintra,<br />
numa perspetiva de desenvolvimento e<br />
inclusão social.<br />
Com o projeto e pela expressão artística<br />
favorece-se o envolvimento de diferentes<br />
pessoas e entidades, na criação<br />
Maria de La Salete Costa<br />
Responsável pelo Atelier e PrimaverArte<br />
do C.E.C.D. MIRA SINTRA<br />
e divulgação de experiências artísticas,<br />
nomeadamente com os parceiros: o Departamento<br />
de Educação (DEDU) da<br />
Câmara Municipal de Sintra e os seus<br />
Centros Lúdicos, a Associação Cultural<br />
Teatromosca, Casa da Cultura Lívio<br />
de Morais em Mira Sintra e o Instituto<br />
Nacional Para a Reabilitação, I.P. (INR,<br />
I.P.).<br />
De 1998 até à presente data, potenciou-<br />
-se a expressão das capacidades pessoais<br />
e artísticas das pessoas com DID e<br />
das que com elas seguem passo a passo.<br />
Hoje, o caminho abre novos desafios<br />
no sentido da valorização do talento<br />
expresso nas obras produzidas e a necessidade<br />
de canais de reconhecimento<br />
que possam traduzir-se na sustentabilidade<br />
da atividade dos artistas.<br />
Hoje, o desejo das pessoas com dificuldades<br />
intelectuais é que estas áreas<br />
possam, também elas, ser uma forma de<br />
vida reconhecida, valorizada e que contribua<br />
para a construção de uma identidade<br />
positiva.<br />
26 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 27
D`ARTE A CULTURA DAS CERCI`S<br />
CERCICA<br />
MAIS DANÇA EM MIM<br />
A definição de dança, como qualquer processo<br />
cultural, sofreu ao longo da História<br />
da Humanidade várias mudanças, ganhando<br />
contornos e caraterísticas diferentes<br />
consoante os padrões sociais, económicos<br />
e conceções artísticas de cada época.<br />
Evoluindo de uma conceção clássica que<br />
valorizava o movimento perfeito e um<br />
corpo sem limitações, a dança moderna<br />
e pós-moderna veio valorizar movimentos<br />
mais naturais e livres do ser humano,<br />
proclamando a dança como uma forma de<br />
expressão e linguagem universal, acessível<br />
a todos. O surgimento da Dança Criativa,<br />
Contacto-Improvisação e outras técnicas<br />
da Dança Contemporânea, permitiram a<br />
vários coreógrafos incluir amadores e bailarinos<br />
nas suas peças, democratizando,<br />
assim, o acesso à dança.<br />
Desta forma, a partir dos anos 80, a Dança<br />
Inclusiva ganha espaço com diferentes<br />
entidades a desenvolver reportório<br />
e investigação nesta área. Atualmente,<br />
a United Nations Educational, Scientific<br />
and Cultural Organisation (UNESCO),<br />
defende que todos podem dançar com a<br />
intenção e o propósito de trabalhar com<br />
base no que as pessoas podem fazer, e<br />
que não podem.<br />
A dança inclusiva procura essencialmente,<br />
sensibilizar participantes e público<br />
para a inclusão de pessoas com deficiência,<br />
derrubando preconceitos, respeitando<br />
os limites de cada um e defendendo<br />
que todos podem e sabem dançar e expressar<br />
a sua criatividade (DanceAbility<br />
International, s/d).<br />
Há alguns anos que a CERCICA utiliza a<br />
dança como atividade recreativa e terapêutica,<br />
promotora das capacidades psicomotoras,<br />
da autonomia e funcionalidade.<br />
Com base no interesse expresso e no<br />
potencial artístico evidenciado por alguns<br />
dos seus clientes, na valorização das suas<br />
capacidades e na sensibilização da população,<br />
a CERCICA adotou, desde 2016,<br />
uma nova visão, a Dança Inclusiva.<br />
Assim, de forma a promover a igualdade<br />
de oportunidades para clientes com interesses<br />
e potencialidades na área da dança<br />
e a sua inclusão na comunidade, a CERCI-<br />
CA promoveu, entre setembro e dezembro<br />
de 2017, o projeto “Mais Dança em Mim”,<br />
co-financiado pelo Instituto Nacional de<br />
Reabilitação. Este projeto permitiu a um<br />
grupo de 8 clientes frequentarem aulas<br />
de dança numa companhia de dança da<br />
comunidade – AluapDans, Companhia/<br />
Escola de Dança.<br />
Acompanhados por uma psicomotricista<br />
ao longo das aulas, de modo a adequar<br />
estratégias e reforços, os bailarinos fre-<br />
quentaram duas aulas semanais na escola,<br />
culminando num espetáculo inclusivo<br />
- “Felidae”, apresentado no dia 15 de dezembro<br />
2017 no Auditório do Centro Paroquial<br />
de S. Pedro e S. João e no dia 28<br />
de janeiro de 2018, no Teatro Gil Vicente,<br />
em Cascais.<br />
Este projeto veio dar resposta à vontade<br />
dos bailarinos se expressarem através da<br />
dança, aprendendo novos movimentos e<br />
estilos, em partilha com outras pessoas,<br />
num contexto fora da instituição, tendo a<br />
oportunidade de mostrar as suas capacidades<br />
e talentos à comunidade.<br />
Da avaliação realizada pelas famílias, pelos<br />
técnicos e professores envolvidos, o<br />
projeto teve um impacto positivo tanto<br />
no bem-estar, como na autonomia dos<br />
bailarinos da CERCICA. Os bailarinos<br />
evidenciaram um envolvimento crescente<br />
no compromisso com o projeto, no cuidado<br />
com a sua imagem, na atenção e<br />
participação nas aulas, na memorização<br />
de coreografias e esquemas espaciais, no<br />
aumento do repertório de movimentos e<br />
na postura. As famílias referiram também<br />
que os bailarinos superaram as suas expetativas<br />
em relação às capacidades e<br />
performance. Este projeto contribuiu ainda<br />
para quebrar barreiras e estereótipos<br />
e modificar a perceção face à deficiência.<br />
Apesar da grande maioria dos bailarinos<br />
da companhia ter uma perceção positiva<br />
da pessoa com deficiência, alguns confessaram<br />
que a sua opinião se modificou<br />
positivamente no decorrer do projeto. Os<br />
bailarinos destacam a velocidade da execução<br />
dos movimentos, o tempo de resposta<br />
e, por vezes, a comunicação.<br />
Todos os bailarinos manifestaram vontade<br />
de vir a estar novamente envolvidos<br />
num projeto semelhante, referindo como<br />
mais-valias da participação do projeto,<br />
a oportunidade de “conhecer melhor as<br />
pessoas com deficiência” e “aprender a<br />
lidar melhor com elas”, “poder estar com<br />
pessoas que não estão no seu dia-a-dia<br />
e que partilham o mesmo gosto pela dança”.<br />
Evidencia-se assim, uma identificação<br />
dos bailarinos da Companhia com<br />
os bailarinos da CERCICA, através deste<br />
gosto comum pela dança como forma de<br />
expressão.<br />
De igual modo, o público que assistiu ao<br />
espetáculo manifestou-se positivamente<br />
satisfeito com o mesmo, do ponto de vista<br />
artístico, salientando o mérito dos bailarinos<br />
na sua generalidade, pelo que recomendariam<br />
este espetáculo de dança.<br />
Podemos assim concluir, que o projeto<br />
teve um impacto positivo para perceção<br />
e aceitação da diferença, promovendo a<br />
escuta, o olhar para o outro, o respeito<br />
pelo seu tempo, adequando a velocidade<br />
da nossa caminhada para o fazermos em<br />
conjunto.<br />
Referências Bibliográficas<br />
www.danceability.com e http://www.cid-portal.org<br />
Lídia Martins, Psicomotricista CerMov - Atividades Terapêuticas e Motoras da CERCICA<br />
Ana Flores, Coordenadora CerMov - Atividades Terapêuticas e Motoras da CERCICA<br />
28 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 29
D`ARTE A CULTURA DAS CERCI`S<br />
CERCIBRAGA<br />
“COISAS DO ARCO<br />
DA VELHA”<br />
O projeto “Do Arco da Velha” propôs<br />
uma viagem aos costumes e tradições<br />
de Portugal e África. Com o co-financiamento<br />
do Instituto Nacional para a<br />
Reabilitação, IP, este decorreu ao longo<br />
de quatro meses. Enquanto projeto<br />
comunitário e inclusivo, centrámos todo<br />
o processo criativo nas culturas tradicionais<br />
de Portugal e África, tendo como<br />
pilares fundamentais: a sua ligação cultural,<br />
criada a partir da diáspora de ambos<br />
os povos no passado e no presente,<br />
bem como, o conceito de comunidade<br />
como conjunto de pessoas que se organizam<br />
sob as normas ou compartilham o<br />
mesmo legado cultural e histórico, que<br />
depois será passado às gerações vindouras.<br />
Através da Arte, este projeto teve como<br />
objetivo principal, ensinar e promover<br />
competências artísticas na comunidade,<br />
fomentar a igualdade e o respeito pela<br />
diferença, preceito fundamental para a<br />
construção de uma comunidade mais<br />
humana, onde TODOS são elementos<br />
importantes e únicos. Desenvolvemos o<br />
projeto usando a Arte como um veículo<br />
privilegiado para este encontro, principalmente<br />
porque entendemos que através<br />
da música, da dança e da representação,<br />
conseguimos promover um leque<br />
de competências variado mas também<br />
conseguimos despertar o interesse e<br />
explorar capacidades em áreas diversificadas.<br />
Em termos práticos, o projeto teve uma<br />
etapa inicial centrada na realização de<br />
oficinas semanais de movimento, nar-<br />
ração, representação e música com o<br />
objetivo de recuperar os ritmos tradicionais<br />
de ambas as culturas, incutindo-<br />
-se alguma contemporaneidade ao nível<br />
dos instrumentos, ritmos e vestuário. As<br />
oficinas foram dinamizadas por artistas<br />
da área da música e da dança com uma<br />
vasta experiência e que, sem dúvida,<br />
foram essenciais para que tudo acontecesse.<br />
Como parceiros foram envolvidas<br />
as seguintes entidades: “Conto que se<br />
conta”, Popolomondo, Synergia, entre<br />
outras.<br />
No projeto foram envolvidos 22 clientes<br />
da Instituição onde as potencialidades<br />
de cada um foram aproveitadas e potenciadas<br />
de forma a terem um papel<br />
o mais ativo possível e participassem<br />
efetivamente em todo o processo. A<br />
descoberta das tradições portuguesas<br />
e africanas foram desenvolvidas não só<br />
no contexto da instituição, mas também,<br />
com recurso a visitas aos locais<br />
onde estas tradições estão mais enraizadas.<br />
Com a visita à Casa do Brinquedo<br />
fomos recuperar as recordações<br />
e memórias das brincadeiras da nossa<br />
infância e, por exemplo, em Cabeceiras<br />
de Basto na Casa da Lã tivemos a<br />
possibilidade de conhecer as Mulheres<br />
de Bucos, de cantar, de desfiar a lã e<br />
claro, de conviver e criar laços com um<br />
grupo de senhoras que encantam pela<br />
humildade e genuinidade que mostram<br />
no seu trabalho. O processo de capacitação<br />
teve sempre como objetivo final a<br />
construção de um espetáculo aberto à<br />
comunidade onde TODOS foram convidados<br />
e entrar nesta nossa viagem e a<br />
usufruírem de um evento que fez a diferença<br />
na vida de quem participou. O<br />
nosso grupo de jovens e adultos esteve<br />
mais dedicado do que nunca. Mesmo<br />
os ensaios mais exaustivos e cansativos<br />
não fizeram esmorecer a vontade de<br />
continuar no dia seguinte. Para o grupo<br />
foi realmente importante fazer a ligação<br />
entre os ensaios, os locais e as pessoas<br />
que mantêm vivas as tradições, portuguesas<br />
e africanas. Como com qualquer<br />
artista, a exibição de todo o trabalho<br />
veio acompanhado de alguma ansiedade<br />
e nervosismo, mas tudo pareceu<br />
compensar no final quando as palmas<br />
não pararam, quando os familiares<br />
exibiram um sorriso rasgado de orgulho,<br />
quando receberam os parabéns de<br />
desconhecidos, quando o sentimento<br />
de realização de todos os participantes<br />
estava estampado na cara de cada<br />
um… E a alegria do grupo parecia não<br />
ter fim…<br />
As famílias e outros espetadores anónimos<br />
tiveram também um importante<br />
papel, especialmente, porque estiveram<br />
presentes e demonstraram valorizar o<br />
trabalho do grupo. As famílias enquanto<br />
pilares fundamentais dos jovens e adultos,<br />
são sempre imprescindíveis e só<br />
pelo facto de estarem presentes, contribuem<br />
para que participantes encarem o<br />
espetáculo com responsabilidade, mas<br />
também, ainda com mais vontade de se<br />
saírem bem e mostrarem o que aprenderam.<br />
Com o projeto “DO ARCO DA VELHA”<br />
reiteramos a nossa vontade de continuar<br />
a capacitar pelas artes, de mostrar<br />
à sociedade que a deficiência e o trabalho<br />
das pessoas com incapacidade tem<br />
valor, deve ser exibido e deve sair das<br />
fronteiras das instituições.<br />
30 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 31
D`ARTE A CULTURA DAS CERCI`S<br />
CERCIFAF<br />
AZUL<br />
DIFERENT<br />
“O Azul Diferent oferece-nos uma<br />
performance que não deixa ninguém<br />
indiferente à mensagem, aos olhares<br />
expressivos daqueles genuínos atores<br />
que, de tão especiais, conseguem envolver<br />
o todo em cada gesto que fica preso nas<br />
palavras e solto na música, como quem diz<br />
sigam-nos porque o mundo feito de amor<br />
é um lugar melhor.”<br />
(J.S. in ARRIVA JORNAL, Nov.-Dez.2017)<br />
Há coisas que não se explicam; sentem-se.<br />
O Azul Diferent, composto por pessoas<br />
com deficiência intelectual (PCDI) e colaboradores<br />
da CERCIFAF, promove um misto<br />
de sensações e emoções a quem assiste<br />
às suas ações de sensibilização, sob a forma<br />
de espetáculos de expressão músico-corporal.<br />
Desde 2015, o grupo desenvolve a<br />
sua ação através de atividades e práticas<br />
culturais que visam, entre outros, contribuir<br />
para a capacitação das PCDI na afirmação<br />
da sua identidade e promover a diversidade<br />
cultural e a coesão social.<br />
“Basta!!!”, um dos espetáculos protagonizados<br />
pelo grupo, faz da sua itinerância uma<br />
das suas armas mais fortes, indo ao encontro<br />
do público – caráter inovador realizado no<br />
TEATROBUS da ARRIVA Portugal (norte)<br />
– e leva a sua mensagem ao maior número<br />
de pessoas possível. Sensibiliza e motiva<br />
para uma maior compreensão dos assuntos<br />
relativos à defesa da dignidade, dos direitos<br />
e do bem-estar do ser humano.<br />
Com um considerável aumento de solicitações<br />
de espetáculos de sensibilização verificado<br />
no último ano, o âmbito geográfico<br />
de atuação foi alargado a outros concelhos,<br />
registando a sua intervenção nos concelhos<br />
de Fafe, Guimarães, Vizela, Póvoa do Lanhoso,<br />
Celorico e Cabeceiras de Basto, Felgueiras,<br />
Braga e também na Ilha da Madeira.<br />
“Quando se juntam olhares diferentes o<br />
inesperado acontece...e aconteceu! Quando<br />
uma semente de ideias germina na mente<br />
de quem quer fazer acontecer, o mágico<br />
acontece”<br />
(Secção de Prevenção Criminal e Policiamento<br />
Comunitário da GNR de Guimarães)<br />
A vontade de levar uma história de vida real<br />
para o exterior da instituição foi o ponto de<br />
partida para este projeto, numa perspetiva<br />
de desmistificação da deficiência junto da<br />
comunidade escolar do concelho de Fafe.<br />
Assim, surgiu o “Quem sou eu?”, concebido<br />
a partir das Sessões de Trabalho da<br />
Estimulação Cognitiva em articulação com<br />
a Expressão Motora, retratando momentos<br />
vividos na primeira pessoa, pelos jovens<br />
dos Centro de Atividades Ocupacionais da<br />
CERCIFAF. Este espetáculo, entretanto, já<br />
na 4ª versão, apresenta as PCDI como pessoas<br />
iguais às demais, com alegrias e tristezas,<br />
dúvidas e certezas, consciencialização<br />
da sua individualidade e merecedoras de<br />
respeito pela sua diversidade e dignidade.<br />
Ao mesmo tempo que desenvolve as suas<br />
atividades, o grupo vai fortalecendo e<br />
criando novas parcerias com instituições<br />
com responsabilidade social e cívica tais<br />
como: Secção de Prevenção Criminal e<br />
Policiamento Comunitário da GNR de<br />
Fafe e de Guimarães, CPCJ-Comissão de<br />
Proteção de Crianças e Jovens, Câmaras<br />
Municipais e outras – ARRIVA Portugal<br />
– Transportes (Norte), Agrupamentos Escolares<br />
e Particulares), com propostas de<br />
intervenção social, nomeadamente na área<br />
de intervenção primária, para temas como<br />
a prevenção da violência e dos maus tratos<br />
(crianças, adultos, idosos), originando outros<br />
espetáculos de sensibilização – “Basta!!!”,<br />
“Sê Diferente” e “Ninguém dá nada<br />
a ninguém”. Paralelamente, o grupo tem<br />
desenvolvido outras intervenções em áreas<br />
específicas, a convite, “Sou Poeta”, “Alma”,<br />
“Sou Natal”.<br />
O grupo de trabalho adaptou-se ao crescimento<br />
registado ao longo da sua existência,<br />
quer alargando a sua área de intervenção<br />
junto de públicos mais diversificados, quer<br />
aos espaços e áreas de atuação, mantendo,<br />
no entanto, os objetivos basilares que norteiam<br />
toda a sua existência, como a desmistificação<br />
da deficiência pela demonstração<br />
das qualidades, capacidades e competências<br />
das PCDI, a atuação de acordo com<br />
os princípios fundamentais da CERCIFAF<br />
- igualdade de oportunidades, de acesso e<br />
de sucesso a todos os níveis de participação;<br />
não discriminação, qualquer que seja<br />
o modo, condição ou grau discriminatório;<br />
o respeito e dignidade pelas pessoas,<br />
em toda a sua dimensão – e o estabelecimento<br />
e manutenção de parcerias fortes e<br />
relevantes que permitam atuar ao nível da<br />
prevenção primária junto de populações<br />
em risco social.<br />
O balanço destes dois anos de trabalho é<br />
claramente positivo, sendo importante o impacto<br />
do trabalho desenvolvido pelo grupo<br />
nos jovens atores e nas suas famílias, na imagem<br />
institucional, nos parceiros e nos públicos-alvo<br />
dos espetáculos de sensibilização.<br />
O número de abordagens para realização de<br />
espetáculos de sensibilização tem sido cada<br />
vez maior, bem como, os convites para a participação<br />
em projetos de grande envergadura<br />
e abrangência, essencialmente por organizações<br />
com peso social a nível nacional.<br />
No âmbito do funcionamento, o Azul Diferent,<br />
cria melhorias nas competências específicas<br />
a trabalhar nos clientes, nos mais<br />
diversos contextos sociais e nas dimensões<br />
do desenvolvimento pessoal, inclusão social<br />
e bem-estar. No campo familiar, tem vindo<br />
a criar um outro nível de proximidade com<br />
Olga Alvas e Rui Araújo<br />
a organização e a aumentar o grau de stisfação,<br />
valorização e gratidão, reformulando<br />
os planos de vida de todos os envolvidos.<br />
“Tudo acontece ao lado, à frente, como<br />
se quem assiste, estivesse no sofá da sua<br />
própria casa e tudo aquilo estivesse a<br />
ocorrer, ali, no momento.”<br />
(M.A. L. in Arriva Jornal, Nov. - Dez. 2017)<br />
Os espetáculos de sensibilização promovem<br />
a interação direta com o público, sendo<br />
privilegiado o contacto das pessoas que<br />
assistem com os atores, como que entrando<br />
na história, revendo-se nos movimentos,<br />
nas palavras, nas emoções.<br />
As PCDI encontram-se socialmente expostas<br />
à discriminação e ao preconceito,<br />
variantes silenciosas de barreiras sociais<br />
existentes. A esfera social é onde estas<br />
condições limitam a afirmação e o respeito<br />
pela identidade e diversidade individual,<br />
tendo repercussões negativas no seu plano<br />
de vida, pela sua exclusão ou segregação<br />
do meio onde estão integradas. Neste sentido,<br />
a participação social, pelos atores do<br />
Azul Diferent, é fundamental na criação e<br />
consolidação de situações inclusivas, que<br />
minimizem ou consigam abolir as falsas<br />
crenças sugestivas de desvalorização e<br />
desqualificação das PCDI enquanto seres<br />
socialmente ativos e capazes.<br />
Atendendo que a participação cultural é<br />
veículo privilegiado para uma difusão mais<br />
alargada de mensagens e alteração de estereótipos<br />
atitudinais, um canal através do<br />
qual se consegue chegar a mais pessoas ao<br />
mesmo tempo, o Azul Diferent, tem utilizado<br />
a sua forma de expressão como estratégia<br />
e ferramenta primordial de afirmação e<br />
sensibilização de massas.<br />
“Testemunha-se a surpresa, fixa-se o<br />
conteúdo e mais logo falaremos com um<br />
amigo ou conhecido a propósito desta<br />
experiência.”<br />
(M.A.L. in Arriva Jornal, Nov. - Dez. 2017)<br />
32 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 33
D`ARTE A CULTURA DAS CERCI`S<br />
CERCIESTREMOZ<br />
“O CHOCALHO”<br />
APRESENTA JULIETA e ROMEU<br />
UMA ADAPTAÇÃO DA OBRA DE WILLIAM SHAKESPEARE<br />
As incursões ao Teatro Bernardim Ribeiro<br />
(TBR), em Estremoz, não constituem<br />
grande novidade para os elementos do<br />
grupo de Teatro da CERCIESTREMOZ<br />
“ O CHOCALHO”. A passagem pelo<br />
palco da mais emblemática sala de espetáculos<br />
da cidade culminou como<br />
habitualmente da mesma forma, com o<br />
público a aplaudir os atores de pé. Foi<br />
assim com as peças: Os Cinco Elementos;<br />
Navio dos Sonhos e Hamlet, e no<br />
passado dia 27 de janeiro de 2018 com<br />
uma ovação em pé que o público que<br />
lotou o TBR, brindou a atuação dos atores<br />
e atrizes do Chocalho.<br />
A peça “Julieta e Romeu” do Grupo de<br />
Teatro contou com a representação de<br />
cerca de duas dezenas de atores: Ana<br />
Raquel Gomes; Catarina Pereiros; Fábio<br />
Cardoso; Francisco Carapinha; João Oliveira;<br />
João Serrachino; Jorge Humberto<br />
Filipe; Luís Paulo Resina; Marco Camões;<br />
Nelson Batanete; Paulo Francisco<br />
Carvalho; Roberto Ourelo e Teresa<br />
Albardeiro (Clientes do Centro de Atividades<br />
Ocupacionais e ex-formandos<br />
da resposta Centro de Qualificação e<br />
Emprego que atualmente se encontram<br />
sem qualquer atividade profissional) -<br />
e com a participação especial de alunas<br />
da Academia Sénior de Estremoz<br />
– Maria Helena Alves; Maximina Paiva<br />
e Rosalda Garrido e Grupo de Dança<br />
- Ginarte de Estremoz.<br />
A dramaturgia esteve a cargo do Professor<br />
da Universidade de Évora - Paulo<br />
Alves Pereira e Luísa Carraça e a<br />
encenação de Luísa Carraça e Luísa<br />
Pereira, ambas colaboradoras da CER-<br />
CIESTREMOZ.<br />
Apesar de uma ligeira adaptação na<br />
designação da Peça de “Romeu e Julieta”<br />
para Julieta e Romeu - a tragédia<br />
voltou a centrar-se na história do amor<br />
de dois jovens que nasceram no seio de<br />
duas famílias inimigas, os Capuleto e os<br />
Montéquio “Duas famílias notáveis da<br />
linda Verona, onde a história se passa,<br />
transformam em guerra as desavenças<br />
antigas, manchando de sangue as<br />
suas mãos. E do seio destas duas famílias<br />
inimigas, nascem dois amantes<br />
predestinados”. Nesta história as lutas<br />
de espada, as máscaras, os equívocos,<br />
a tragédia, o humor e a linguagem da<br />
paixão simbolizam, no seu conjunto, o<br />
amor verdadeiro. Para a história ficou<br />
um amor intenso e trágico que nem a<br />
morte conseguiu separar.<br />
Este projeto tem sido cofinanciado pelo<br />
Programa de Financiamento a Projetos<br />
do INR, I. P.”, desde 2014. Devido ao<br />
sucesso alcançado com a primeira produção<br />
do Grupo (Os cinco elementos),<br />
a Câmara Municipal de Estremoz proporcionou-nos<br />
a possibilidade de realizarmos<br />
os nossos ensaios no TBR. Este<br />
facto contribuiu imenso não só para<br />
uma melhor qualidade das condições<br />
dos ensaios, como para a elevação da<br />
autoestima e consciência dos atores<br />
que se tem refletido na melhoria da<br />
performance do grupo. É nosso objetivo,<br />
que a imagem das pessoas com deficiência<br />
passe de forma digna e capaz,<br />
pois é em prol delas que trabalhamos e<br />
sabemos que elas são capazes!<br />
Todo este processo regista uma série<br />
de êxitos, quer artísticos, quer sobretudo<br />
de natureza sociopedagógica.<br />
É no âmbito do desenvolvimento das<br />
personalidades dos atores (clientes) e,<br />
sem dúvida, no aumento da sua autonomia,<br />
que podemos registar grandes<br />
progressos beneficiários deste trabalho,<br />
conforme o comprovam o público<br />
em Estremoz, Redondo, Alandroal<br />
ou em Évora, locais por onde atuou o<br />
Grupo e para onde fomos convidados a<br />
atuar durante o mês de março (mês do<br />
Teatro).<br />
34 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 35
D`ARTE A CULTURA DAS CERCI`S<br />
CERCIG<br />
FALEMOS DE OUTROS<br />
“PLANOS”<br />
O Grupo de Treino de Competências Sociais<br />
(GTCS), surgiu da necessidade de<br />
promover a participação ocupacional na<br />
comunidade, aliando o treino de competências<br />
sociais à inclusão.<br />
Neste grupo, foram incluídos clientes<br />
adultos do Centro de Atividades Ocupacionais,<br />
que pelas suas caraterísticas,<br />
apresentavam necessidade de melhorar<br />
as competências na interação, não só<br />
entre si, mas também na comunidade<br />
local. As atividades iniciais consistiram,<br />
essencialmente em treino “role-play”<br />
de situações planeadas para contextos<br />
reais, como por exemplo, ida a espaços<br />
públicos e comerciais, cafés e estação de<br />
correios.<br />
À medida que, por vezes de forma surpreendente,<br />
os elementos do grupo foram<br />
demonstrando padrões comportamentais,<br />
atitudes e competências sociais<br />
muito positivas, tornou-se óbvio que<br />
se poderia pensar mais além. Assim, o<br />
GTCS preparou e realizou visitas autónomas<br />
utilizando transportes públicos<br />
para o efeito, primeiro rumo a Celorico<br />
da Beira e posteriormente a Coimbra.<br />
Estas viagens em autocarro e comboio<br />
permitiram vivências e interações que<br />
alguns deles tiveram pela primeira vez,<br />
conhecendo a história, o património e<br />
as tradições destas localidades. Para os<br />
clientes e para os orientadores do grupo,<br />
estas foram, sem dúvida, experiências de<br />
cidadania, não só entre nós, mas também<br />
para as pessoas com quem interagíamos.<br />
A partir daqui tudo pareceu possível.<br />
Entre várias iniciativas, o grupo participou<br />
em visitas a museus e conheceu<br />
os espaços de referência da cidade da<br />
Guarda. Durante os grandes eventos internacionais,<br />
como o Mundial 2014 e o<br />
Euro 2016, o grupo explorou a temática<br />
da diversidade de países e culturas, produzindo<br />
uma caderneta de cromos que<br />
criou grande interação na troca entre<br />
elementos do grupo e restante comunidade<br />
local.<br />
Tendo o grupo adquirido esta dinâmica<br />
de trabalho, e perante a evidente melho-<br />
ria dos seus elementos nas competências<br />
sociais básicas, foi necessário encontrar<br />
novos desafios. Foi desta forma, e pensando<br />
no padrão de ocupação semanal,<br />
que se decidiu produzir o filme “Estrela<br />
da Serra”, fazendo o levantamento de<br />
lendas da zona da Serra da Estrela para<br />
as analisar, associar e interligar numa só<br />
história, recriada pelos clientes e pela<br />
sua perceção das ações e significados<br />
transmitidos por cada uma. Os elementos<br />
do grupo tornaram-se as próprias<br />
estrelas do filme, assumindo papéis por<br />
si escolhidos, transpondo isto para o papel<br />
e identidade ocupacional de “atores”<br />
e realizadores do filme. Esta construção<br />
revelou-se na rotina diária e na ocupação<br />
dos clientes, sendo que diversos ateliês<br />
e técnicos foram-se juntando para<br />
colaborar na produção de adereços, do<br />
guarda-roupa no ensaio de cada cena e<br />
no treino de diálogos e discursos.<br />
Atualmente, encontramo-nos a desenvolver<br />
filmagens realizadas nos locais<br />
reais da ação das lendas, seguindo-se<br />
um processo de trabalho que consiste<br />
no ensaio em contexto controlado para<br />
posterior filmagem em contexto real.<br />
No futuro… após o término da produção<br />
do filme pretende-se que este seja apresentado<br />
à comunidade, como forma não<br />
só de demonstrar no concreto a finalidade<br />
do esforço e dedicação dos clientes,<br />
mas também, como ação de sensibilização<br />
para conceitos como a diferença, a<br />
inclusão e a igualdade. Conceitos que<br />
infelizmente, na maioria das vezes, não<br />
passam de teóricos na nossa sociedade<br />
padronizada e dogmática.<br />
O Bruno Amorim, Bruno Costa, Jorge Ribeiro,<br />
Jorge Fonseca, José Gomes, José<br />
Fernandes, Jorge Brigas, João Lameiras,<br />
Joaquim Hernâni, Luís Carvalho, Rui Ferreira<br />
e o Sérgio Miguel vão continuar a<br />
ser atores principais na história das suas<br />
vidas.<br />
Telmo Gonçalves,<br />
Professor da CERCIG<br />
Elói Silva, Terapeuta<br />
Ocupacional da CERCIG<br />
CERCIFEL<br />
UNIR PELA<br />
DANÇA<br />
O Dia Internacional da Dança vem sendo celebrado no<br />
dia 29 de abril, promovido pelo Conselho Internacional<br />
da Dança (CID), organização interna da UNESCO para<br />
todos os tipos de Dança.<br />
A CERCIFEL juntamente com todas as IPSS`s do Concelho<br />
de Felgueiras vem promovendo já há cerca de 10<br />
anos, nesta data, o Encontro de Dança Interinstitucional,<br />
assinalando assim, o Dia Mundial da Dança.<br />
Este encontro, realizado na Casa das Artes de Felgueiras,<br />
espaço lindíssimo gentilmente cedido pela Autarquia de<br />
Felgueiras, é um momento que integra a atuação de cada<br />
instituição, permitindo assim, a participação de todos:<br />
crianças, jovens, idosos, pessoas com deficiência, clientes,<br />
auxiliares, monitores e diretores técnicos. Um momento<br />
em que cada um tem o seu lugar, o seu papel e a dança<br />
surge como uma linguagem que é universal e compreendida<br />
por todos, e que envolve o poder de unir.<br />
A dança é encarada como fator de mudança da imagem<br />
social das pessoas com deficiência intelectual, mudança<br />
essa, que é efetivada nestes encontros, contrariando assim,<br />
o mito de que as pessoas com deficiência não viabilizam,<br />
ou não são capazes, de traçar planos artísticos e de<br />
os concretizar.<br />
Todos sabemos que o percurso em prol da inclusão é<br />
contrariado dia a dia, mas este dia da Dança, este evento,<br />
com o seu formato e as<br />
suas práticas, tem contribuído<br />
para ultrapassar<br />
barreiras e desencadear<br />
mudanças.<br />
Esta data move-nos e<br />
une-nos por uma arte que<br />
gera transformações em<br />
todos nós, pois transforma<br />
ideias em movimentos<br />
artísticos.<br />
Elisabete Moniz<br />
Assistente Social da CERCIFEL<br />
36 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 37
D`ARTE A CULTURA DAS CERCI`S<br />
CERCIMARANTE<br />
SIMPLESMENTE GENTE<br />
Fotos: Carlos Moura; Hernâni Carneiro; Miguel Varejão<br />
A CERCIMARANTE trouxe para a rua a<br />
magia do teatro na noite de 14 de julho<br />
de 2017, com a realização da XIII edição<br />
do Teatro de Rua.<br />
Como já é habitual, a Comunidade aderiu<br />
em força a este espetáculo que teve<br />
como palco a Praça da República (Largo<br />
de São Gonçalo), em pleno centro histórico<br />
de Amarante. Um espaço que se<br />
tornou pequeno para acolher tanta gente<br />
que não quis perder as várias performances<br />
preparadas especialmente para<br />
esta noite. Luz, cor, movimento, originalidade<br />
e talento foram, uma vez mais,<br />
os ingredientes-chave deste espetáculo<br />
onde, durante cerca de duas horas, foi<br />
possível assistir a performances de teatro<br />
e dança realizados por clientes, formandos,<br />
colaboradores, voluntários, tutores<br />
e representantes legais dos clientes da<br />
CERCIMARANTE, mas também, pelos<br />
jovens voluntários da Casa da Juventude<br />
de Amarante. A apresentação do espetáculo<br />
esteve a cargo da locutora da Rádio<br />
Região de Basto (RRB) - Isabel Carvalho<br />
que, nesta edição, esteve acompanhada<br />
pelo formando do Centro de Formação e<br />
Reabilitação Profissional da Cooperativa<br />
- Ricardo Rodrigues.<br />
Este XIII Teatro de Rua teve início com a<br />
atuação do Grupo de Bombos do Centro<br />
de Atividades Ocupacionais da CERCI-<br />
MARANTE, acompanhado pelo Sr. José<br />
Cerqueira Ribeiro. Um grupo que teve a<br />
sua estreia neste espetáculo e que percorreu<br />
a Praça da República, animando<br />
todos os presentes com esta tradição tão<br />
apreciada.<br />
A atuação que se seguiu foi do Lar Residencial<br />
Amália Mota que pretendeu<br />
retratar o dia-a-dia, os pensamentos e<br />
sentimentos, a forma de ser e de estar<br />
dos clientes e colaboradores deste Lar.<br />
O Centro de Formação e Reabilitação<br />
Profissional deu depois, continuidade a<br />
este espetáculo com uma atuação intitulada<br />
“Simplesmente Gente”, que tinha<br />
como objetivo retratar gente, pessoas,<br />
seres humanos na busca incessante pela<br />
felicidade e pela paz interior. Uma busca<br />
que acontece com todos em qualquer<br />
parte do mundo e em qualquer contexto<br />
social. Não esquecendo o reconhecimento<br />
da dignidade inerente a todos os<br />
membros da família humana, e dos seus<br />
direitos iguais e inalienáveis, que constituem<br />
o fundamento da liberdade, da justiça<br />
e da paz no mundo.<br />
Seguiu-se uma dança ao som de “Ao teu<br />
encontro” de Rui Andrade interpretada<br />
pela formanda Sofia do Centro de Formação<br />
e Reabilitação Profissional e pelo<br />
monitor do Centro de Apoio Ocupacional<br />
- Renato Pinheiro.<br />
O momento que se seguiu foi protagonizado<br />
por um grupo de pais/tutores/representantes<br />
de clientes do C.A.O. que, acompanhados<br />
por colaboradores, clientes e<br />
por alguns jovens voluntários da Casa da<br />
Juventude, marcharam “Sempre em frente<br />
e unidos”, vestidos a rigor pela CERCI-<br />
MARANTE, enchendo o palco de brilho e<br />
alegria. E depois desta marcha, o regresso<br />
ao palco deu-se pela mão de um grupo de<br />
jovens voluntários da Casa da Juventude<br />
que trouxeram uma enérgica e contagiante<br />
coreografia ao som de “I gotta feeling,<br />
um tema dos The Black Eyed Peas.<br />
A fechar esta noite de espetáculo, e perante<br />
uma extensa e calorosa plateia, foi<br />
a vez da história de Robin dos Bosques<br />
entrar em cena. Um homem de origem<br />
pobre que se tornou um símbolo eterno<br />
de liberdade para o povo por roubar à<br />
nobreza para distribuir pelos pobres.<br />
Os atores e bailarinos foram os clientes<br />
e colaboradores do C.A.O. e voluntários<br />
da Casa da Juventude, que fizeram uma<br />
representação teatral e musical com muita<br />
animação e sorrisos à mistura.<br />
De realçar que praticamente todo o<br />
guarda-roupa utilizado neste XIII Teatro<br />
de Rua foi elaborado pelas colaboradoras<br />
Fernanda Sousa do Curso<br />
de Costureiro, a Modista do Centro de<br />
Reabilitação Profissional, auxiliada pelas<br />
formandas e por Helena Carvalho da área<br />
Têxtil do C.A.O.<br />
Saliente-se por último, a elaboração dos<br />
diversos cenários e adereços que, foram<br />
criados pelos jovens voluntários da Casa<br />
da Juventude e por alguns colaboradores<br />
da Cooperativa.<br />
38 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 39
D`ARTE A CULTURA DAS CERCI`S<br />
CERCIESPINHO<br />
AS ARTES<br />
COMO FERRAMENTA DE DESENVOLVIMENTO E DE INCLUSÃO<br />
Desenvolvimento<br />
Pessoal<br />
l TIC, AVD,<br />
Autorrepresentantes<br />
l Expressão Plastica<br />
O modelo de intervenção desenvolvido nos<br />
CAO’s da CERCIESPINHO estrutura-se<br />
em torno de 3 dimensões do modelo de<br />
qualidade de vida de Shallock (Desenvolvimento<br />
Pessoal; Bem-Estar e Inclusão<br />
Social), materializado em 5 domínios<br />
de atividades (Atividades Estritamente<br />
Ocupacionais, Atividades Socialmente<br />
Úteis, Atividades de Desenvolvimento<br />
Pessoal e Social, Atividades Lúdico-terapêuticas,<br />
Atividades Transversais de<br />
Inclusão), num total de 26 atividades diferentes,<br />
oferecidas aos 65 clientes deste<br />
serviço. As artes correspondem a uma<br />
estratégia transversal aos 3 domínios e<br />
concretiza-se na maior parte das atividades<br />
desenvolvidas, tal como o esquema<br />
seguinte operacionaliza com alguns<br />
exemplos.<br />
Bem-Estar<br />
l Atividade Física<br />
adaptada, Snoezelen<br />
l Rancho, Bombos<br />
Dança<br />
l Cuidados saúde<br />
Inclusão Social<br />
l Atividades Ocupacionais<br />
l ASU<br />
l Atividades Transversais<br />
de Inclusão<br />
Artes como ferramenta de desenvolvimento e de inclusão<br />
As artes são operacionalizadas como<br />
conteúdo nas seguintes áreas – pintura,<br />
expressão, dramatização, animação,<br />
dança, artesanato, música, etc - utilizadas<br />
em quase todas as atividades que<br />
desenvolvemos, mas igualmente, como<br />
processo – ferramenta de desenvolvimento<br />
de competências e de motivação<br />
dos clientes, e por fim, como produto –<br />
material ou apresentação/instalação que<br />
permite demonstrar as capacidades das<br />
pessoas com deficiência e promover ao<br />
máximo a sua inclusão nos vários contextos<br />
sociais, culturais e económicos.<br />
Funcionam como meio de sensibilização<br />
para os direitos das pessoas com deficiência<br />
tendo uma componente afetiva e<br />
emocional, fundamental para a mudança<br />
das atitudes e perceções do público em<br />
geral.<br />
Da multiplicidade de exemplos, destacamos<br />
alguns, que pela sua natureza e impacto,<br />
podem evidenciar a importância<br />
desta ferramenta na construção de uma<br />
sociedade mais inclusiva!<br />
No dia 3 de dezembro de 2017, o Centro<br />
de Atividades Ocupacionais da CER-<br />
CIESPINHO comemorou o Dia Internacional<br />
da Pessoa com Deficiência. Esta<br />
iniciativa teve como finalidade, sensibilizar<br />
a comunidade para questões relacionadas<br />
com a deficiência e a mobilização<br />
para a defesa da dignidade, dos direitos<br />
e do bem-estar destas pessoas. Conseguimos<br />
transformar a manhã fria do<br />
Largo do Souto, em Anta, num momento<br />
alegre, caloroso e que permanecerá<br />
na memória das pessoas. Do programa<br />
constaram demonstrações dos grupos<br />
de expressões, nomeadamente o Grupo<br />
de Bombos da CERCIESPINHO, Rancho<br />
“Alegria” e Grupo de Dança “Sorrisos” e<br />
a decoração das árvores do Largo, realizadas<br />
pelos nossos clientes, colaboradores<br />
e pessoas que estavam a assistir, com<br />
trapilhos de várias cores representativas<br />
das “Diferenças” e palavras e frases<br />
alusivas à mensagem que pretendíamos<br />
transmitir.<br />
O filme de animação - “Canção das Carrinhas”<br />
- foi apresentado no Cinanima<br />
2016, na Biblioteca Municipal de Espinho.<br />
Este filme, elaborado pelos clientes,<br />
incluindo a letra da música, retratava os<br />
transportes da organização e apelava à angariação<br />
de fundos para adquirirmos uma<br />
carrinha. A atividade de animação iniciou-<br />
-se com o desenvolvimento de um doutoramento<br />
na nossa organização e desde<br />
então, é da responsabilidade da monitora<br />
de TIC, com a finalidade de aquisição de<br />
conhecimentos e competências na realização<br />
de filmes de animação (ex: construção<br />
de cenários e personagens com diferentes<br />
materiais, construção e compreensão da<br />
história, storyboard, stop motion, manipulação<br />
da máquina fotográfica, gravação<br />
de vozes, criação de efeitos sonoros, entre<br />
outros). Os clientes estão distribuídos por<br />
competências e interesses em pequenos<br />
grupos, que por norma, realizam a atividade<br />
uma vez por semana.<br />
O CAO tem uma colaboradora, licenciada<br />
em animação sociocultural, que tem<br />
como funções planear e implementar, em<br />
conjunto com a equipa técnica do serviço,<br />
atividades e projetos na área artística. A<br />
monitora trabalha com diferentes grupos,<br />
estruturados mediante caraterísticas, competências<br />
e interesses. Desenvolve há cerca<br />
de 5 anos intervenção individual e grupal,<br />
com regularidade semanal, junto dos<br />
grupos de clientes com mais limitações,<br />
com as monitoras de referência.<br />
Nas comemorações do 40º aniversário<br />
da CERCIESPINHO, criámos a iniciativa<br />
“Mud’Arte”, espetáculo que integrou os<br />
grupos de expressões, em parceria com a<br />
Escola de Bailado Adriana Domingues, a<br />
Escola Profissional de Música de Espinho<br />
e o Grupo Cultural e Recreativo Semente,<br />
evento artístico inclusivo.<br />
Por fim, caraterizamos os nossos grupos<br />
de expressões, em funcionamento há cerca<br />
de 10 anos, que visam desenvolver a<br />
motricidade geral, a memória, a consciencialização<br />
corporal e espacial, a autoestima<br />
e a identidade pública positiva<br />
dos nossos clientes. O Rancho “Alegria”<br />
(2007), grupo de folclore, é formado por<br />
20 clientes e realiza cerca de 5 a 7 atuações<br />
anuais; o Grupo de Dança Inclusiva<br />
“Sorrisos” (2007), integra 8 clientes e<br />
tem cerca de 4 atuações anuais. O Grupo<br />
Bombos (2009), integra 8 clientes e<br />
realiza 2 atuações anuais. Os Grupos de<br />
Expressões integram as atividades de<br />
caráter lúdico-terapêutico do Centro de<br />
Atividades Ocupacionais.<br />
A arte move e comove, tocando no mais<br />
fundo dos arquétipos culturais, comuns a<br />
uma sociedade e à humanidade, revelando<br />
um elo entre as pessoas e a representação<br />
do mundo. Demonstra ainda, competências,<br />
capacidades e emociona quem a produz e<br />
quem a vê, criando um impacto profundo<br />
nas mentalidades da comunidade.<br />
40 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 41
D`ARTE A CULTURA DAS CERCI`S<br />
CERCIMB<br />
CAOETES, CAOBOYS<br />
e CAOháBANDA<br />
O Centro de Atividades Ocupacionais<br />
da Moita da CERCIMB iniciou o seu<br />
funcionamento em setembro de 2013,<br />
e desde então, as atividades artísticas<br />
têm-se tornado uma forma de partilha<br />
cultural com a comunidade através de<br />
apresentações de teatro, dança e música.<br />
É nossa convicção que a arte promove<br />
a auto-estima, a segurança e o<br />
desenvolvimento afetivo da pessoa com<br />
deficiência, pois desenvolve a sensibilidade<br />
e a expressão dos nossos clientes.<br />
Mobiliza e potencializa as capacidades<br />
das pessoas com deficiência para abrir<br />
um caminho de transformação social.<br />
Percebemos que através de apresentações<br />
na comunidade de tais atividades<br />
artísticas, não estamos a pretender negar<br />
diferenças, mas sim buscar a adaptação<br />
e contribuir para superar dificuldades<br />
e limitações impostas tanto pela<br />
deficiência da pessoa, como pela inadequação<br />
do meio às suas caraterísticas.<br />
Desde o início que sentimos a necessidade<br />
de “mostrar fora de portas”, formas<br />
de expressão dos nossos clientes.<br />
A expressão “artística” que temos hoje<br />
nasceu de uma pequena necessidade de<br />
dar um papel às nossas clientes que não<br />
participavam no grupo de futebol. Criámos<br />
assim as CAOETES, surgindo de<br />
imediato, a necessidade de criar roupas<br />
e adereços. Depressa se transformou<br />
num grupo de dança, com coreografias<br />
próprias. Seguindo-se os clientes do<br />
sexo masculino que também quiseram<br />
criar o seu grupo de dança (CAOBOYS).<br />
Observámos que a dança proporciona<br />
uma consciência corporal no individuo,<br />
além de desenvolver a sua criatividade,<br />
expressividade, habilidade motora<br />
e cognitiva e de promover a autoafirmação<br />
e a valorização da auto-estima.<br />
Assim sendo, a dança como linguagem<br />
artística é um meio fortíssimo de comunicação.<br />
Também foi criado um grupo de música<br />
(CAOháBANDA), para dar voz aos clientes,<br />
através da exploração de instrumentos<br />
variados, com escolhas de temas do<br />
seu interesse, sempre com a preocupação<br />
de lhes proporcionar vivências de<br />
prazer dentro do grupo através da intercomunicação<br />
que estabelecem. As atuações<br />
procuram transmitir uma forma de<br />
expressão, da individualidade de cada<br />
elemento, que no seu conjunto, acaba<br />
por criar um grupo de música.<br />
É de referir que até então, as nossas<br />
apresentações em público limitavam-se<br />
à peça de teatro anual na Feira Medieval<br />
de Alhos Vedros na qual a CER-<br />
CIMB participa desde 2008. Nestas<br />
apresentações, para além da encenação<br />
da peça, somos também responsáveis<br />
pela criação do texto, pela construção<br />
de adereços e ainda pela criação de cenários<br />
com diversos tipos de materiais,<br />
por norma, reciclados. Temos tido desde<br />
o início, a colaboração da Associação<br />
Cultural História e Património ALIUS-<br />
VETUS que sempre acreditou em nós,<br />
que nos disponibiliza as roupas para as<br />
personagens da peça e adapta o palco<br />
às nossas necessidades.<br />
Não são raras as vezes, que ouvimos<br />
das famílias a enorme surpresa perante<br />
o que vêem ali representado, mas a<br />
fórmula é simples, basta que estejam<br />
perto de quem confiam e lhes assegura<br />
que são capazes, e eles libertam-se e<br />
entregam-se, com simplicidade, entrando<br />
em “jogos” que lhes são propostos.<br />
O resultado aparece colocando em palco,<br />
por vezes, 60 pessoas. Este elevado<br />
número de participantes e os recursos<br />
necessários tem-nos criado algum impedimento<br />
em participações porque<br />
obriga a uma logística de transporte,<br />
nem sempre possível de ser suportada<br />
pela instituição. Sentimos que a solução<br />
para este problema pode passar por<br />
parcerias com as estruturas da comunidade,<br />
despertas para a importância destas<br />
apresentações.<br />
Ao longo do caminho, observámos a<br />
mais-valia destas formas de arte, não só<br />
pelas nossas apresentações, mas também,<br />
pela interação e colaboração com<br />
outras instituições que partilham connosco<br />
a convicção de que são a porta de<br />
entrada para a valorização das relações<br />
humanas e a construção de uma sociedade<br />
universalmente mais justa e igualitária.<br />
A arte ajuda a expressar o que<br />
não se consegue apenas com palavras.<br />
Não basta apenas aceitar a deficiência<br />
porque as leis assim o orientam. O que<br />
interessa é reconhecer as capacidades<br />
de cada um e dar-lhes oportunidade de<br />
crescimento e de desenvolvimento social<br />
e cognitivo.<br />
42 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 43
D`ARTE A CULTURA DAS CERCI`S<br />
CEERDL<br />
CENAS DE UM WESTERN<br />
PORTUGUÊS<br />
CERCIAZ<br />
AQUELE LUGAR DENTRO<br />
DO MUNDO<br />
Luzes, Câmara, Ação!! Algures numa vila<br />
faz-se a inauguração de um Sallon. Aparece<br />
o Presidente da Junta e a sua esposa, o<br />
Padre, o Fotógrafo, as Taberneiras e os Cowboys.<br />
O forasteiro entra no Sallon e dirige-se<br />
ao balcão onde duas belas raparigas<br />
servem bebidas aos clientes que jogam às<br />
cartas. O desconhecido, que acaba de entrar,<br />
é desafiado a jogar um jogo de cartas<br />
porque ninguém se mete com a mulher do<br />
Cowboy! O Duelo só termina quando um<br />
dos dois morrer. Mas... aconteceu algo de<br />
inexplicável…<br />
E assim inicia a primeira experiência em<br />
cinema pelo Fórum Sócio Ocupacional do<br />
CEERDL, uma mistura de Western com filme<br />
mudo em que as expressões faciais e a<br />
linguagem corporal falam por si.<br />
O produto final resultou numa curta-metragem<br />
que reflete todo o trabalho e dedicação<br />
dos clientes no processo onde foram<br />
guionistas, figurinistas e atores. A história<br />
em si… reflete o receio do desconhecido,<br />
a insegurança. Quando algo novo e desconhecido<br />
surge no nosso quotidiano… um<br />
problema vivido no Fórum quando a entrada<br />
de um novo cliente provoca algum de-<br />
sequilíbrio em laços criados entre clientes.<br />
Ah… e o dia das gravações… parecia Hollywood,<br />
não que já lá estivéssemos estado….<br />
mas como ele existe no nosso imaginário…<br />
Ouviam-se vários “Corta!!’’…. “Vamos repetir!”…<br />
“Ação”!! ...”Cena 1 - Take 8 ….”<br />
E os camarins ???? Sim, foram criados<br />
espaços de artistas!! Com a roupa, digo<br />
figurino de cada um…. Sim. Foi uma aprendizagem!<br />
Corrijo. É uma aprendizagem!<br />
Mas não termina aqui! Este filme “O Duelo”,<br />
é agora uma ferramenta. Uma estratégia.<br />
Uma mensagem! Ao exibi-la quer às<br />
nossas famílias, quer à comunidade, é levar<br />
a todos, as estrelas que somos, mesmo que<br />
não sejamos atores natos!<br />
A experiência foi bem vivida e conseguida!<br />
Assim, decidimos ir mais além….<br />
Brevemente “Cartas para Rosa” - o novo<br />
filme - retrata a relação de 2 vizinhos que<br />
se amam em segredo… e não desvendamos<br />
mais….<br />
O espetáculo “Emoções” que a CERCIAZ<br />
lança todos os anos no Cineteatro Caracas,<br />
em Oliveira de Azeméis premeia o que de<br />
melhor se faz na Educação pela Arte e pelos<br />
afetos.<br />
As artes como todas as expressões não-<br />
-verbais, favorecem a exploração, a expressão<br />
e a comunicação, promovendo o<br />
contato com o outro e estimulando a interação<br />
entre grupos, melhorando de forma<br />
inequívoca as competências sociais. Neste<br />
sentido, a CERCIAZ tem promovido parcerias<br />
que incentivam à utilização da arte<br />
como forma estimuladora de momentos de<br />
transcendência e deslumbramento dos jovens,<br />
em contato com pares provenientes<br />
de outras realidades e contextos sociais.<br />
As aulas de teatro com jovens da academia<br />
de teatro permitiram que regras fossem incutidas<br />
através do simples prazer de participação<br />
em cena. As aulas de dança, conjunto<br />
de arte, ciência e amor, descontraídos<br />
momentos de comemoração da vida, numa<br />
explosão de emoções que originam sentimentos<br />
de felicidade e plenitude, numa<br />
metamorfose, que possibilita de uma forma<br />
espontânea, a expressão dos sujeitos.<br />
A experiência artística provoca o individuo<br />
a sair “para além do eu” e a olhar para o<br />
espaço que o envolve, promovendo um<br />
ambiente acolhedor em relação à diversidade.<br />
As atividades artísticas são oportunidades<br />
para a expressão de sentimentos,<br />
alguns deles, apenas a partir da criação e<br />
da imaginação, por isso, devem ser encaradas<br />
como um direito de todo o cidadão.<br />
Porém nem todos têm acesso à arte de maneira<br />
completa. As pessoas com deficiência<br />
muitas vezes vêem-se privadas de apreciar<br />
ou praticar diversas atividades artísticas<br />
por contingências de ordem pessoal, familiar,<br />
financeira ou até social.<br />
Consciencializarmo-nos para a importância<br />
da implementação das artes como<br />
forma de desenvolver a inteligência emocional,<br />
treinada e aprimorada por meio da<br />
construção de novos hábitos, novas formas<br />
de pensar e de se comportar, leva-nos a<br />
mudar mentalidades e formas de ser e estar<br />
na sociedade. Impulsionar estas vivências<br />
através da Inclusão pela Arte, promovendo<br />
o apoio às abordagens desenvolvidas pelos<br />
diferentes parceiros educacionais, tais<br />
como Escolas de Dança ou Companhias<br />
de Teatro, fazem-nos crer que a arte é uma<br />
terapia híbrida que procura aliar e extrair o<br />
que há de melhor em cada um de nós, devendo<br />
por isso ser impulsionada.<br />
Foi com esta confiança que nasceu o projeto<br />
Emoções…“Estar incluído é ser bem-<br />
-vindo…” sem preconceitos, sem barreiras,<br />
sem condicionalismos, apenas com vontade<br />
de pertencer a uma grande causa, a<br />
um momento de partilha de competências,<br />
num processo interativo numa arquitetura<br />
de pertença. E assim, se inclui!<br />
Paula Cristina Nogueira<br />
Diretora Geral da CERCIAZ<br />
44 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 45
D`ARTE A CULTURA DAS CERCI`S<br />
CERCIOEIRAS<br />
NOTAS DE CONTACTO<br />
“A MÚSICA APROXIMA, TRANSFORMA, ELEVA,<br />
CONECTA E SUPERA …“<br />
O Notas de Contacto - OCPsolidária na<br />
CERCIOEIRAS é um projeto cofinanciado<br />
pelo programa PARTIS da Fundação<br />
Calouste Gulbenkian, de acesso<br />
à cultura e aprendizagem através da<br />
música para pessoas com dificuldades<br />
intelectuais e desenvolvimentais.<br />
Os músicos da Orquestra de Câmara<br />
Portuguesa em parceria com os terapeutas<br />
da CERCIOEIRAS, desenvolvem<br />
estratégias de aprendizagem<br />
musical para estes adultos, realizando<br />
atividades em que a música se apresenta<br />
como meio facilitador de comunicação<br />
na melhoria de competências<br />
físicas e cognitivas.<br />
As atividades realizadas semanalmente<br />
integram: manuseamento de instrumentos,<br />
compreensão de notação, interiorização<br />
e memorização de partituras,<br />
trabalho de grupo nos ensembles de<br />
música de câmara, apresentações em<br />
público, entre outras.<br />
O impacto nas rotinas dos participantes<br />
tem tido testemunhos impressionantes!<br />
A música fica na CERCIOEIRAS quando<br />
os músicos saem. Os clientes que estão<br />
inseridos no projeto têm tido evoluções<br />
fantásticas, que são notórias nas aulas e<br />
no decorrer dos concertos.<br />
“O projeto continua a ser uma aposta<br />
extraordinária, na forma como faz chegar<br />
a música, e tudo o que lhe está associado,<br />
aos clientes desta Instituição.<br />
As mais-valias continuam a desenvolver-se<br />
nos diferentes aspetos, tais<br />
como, a correção da postura, o esforço<br />
intelectual para a aprendizagem, a interajuda<br />
entre os membros do grupo e,<br />
sobretudo, o prazer de sentir e viver a<br />
música por dentro. Os concertos em que<br />
têm participado e a que pessoalmente<br />
assisti… são momentos muito especiais<br />
não só para os jovens, mas também<br />
para as famílias. Ali, perante o esforço,<br />
a concentração e o entusiasmo dos<br />
participantes, conseguimos perceber<br />
o sucesso do projeto. É um programa<br />
feliz e contamos com a sua continuidade!”<br />
(Custódia Coroa, mãe do Ricardo<br />
Lopes)<br />
“É uma alegria enorme ver o meu filho<br />
Gonçalo a atuar juntamente com todos<br />
os seus amigos do Grupo Notas de<br />
Contacto. Este é um projeto que muita<br />
satisfação dá quer ao Gonçalo, quer à<br />
família… Vê-lo atuar com a Orquestra<br />
de Câmara Portuguesa (OCP), no Centro<br />
Cultural de Belém por ocasião do aniversário<br />
desta orquestra, foi um momento<br />
sublime. Todas as atuações do grupo<br />
Notas de Contacto são momentos sublimes.<br />
Nós, pais, enchemo-nos de orgulho<br />
e sentimos uma enorme alegria e rejubilamos<br />
com as apresentações do grupo…”.<br />
(Isabel Nunes, mãe do Gonçalo).<br />
Para além do aumento da atenção, concentração,<br />
compreensão de conceitos<br />
abstratos, comportamento adequado<br />
durante as aulas, tolerância aos ensaios<br />
com maior duração, responsabilidade<br />
no manuseamento de instrumentos, os<br />
clientes do Projeto diversificaram o seu<br />
conhecimento sobre os vários géneros<br />
musicais, assim como aumentaram o<br />
conhecimento e identificação de instrumentos.<br />
Os clientes tiveram oportunidades<br />
únicas de explorar e ouvir vários<br />
instrumentos musicais (vibrafone,<br />
bateria, violino, violoncelo, clarinete,<br />
flauta, cajon, piano, trompete, xilofone,<br />
tuba, contrabaixo, entre outros). Neste<br />
projeto, existe uma parceria com um<br />
construtor de instrumentos que criou e<br />
adaptou instrumentos adequados às caraterísticas<br />
e necessidades dos clientes<br />
que o integram. Outra estratégia utilizada<br />
com vista a potenciar a participação<br />
dos clientes, é o Soundbeam. Este<br />
Ana Isabel Dias e Ana Roque<br />
Técnicas Superiores de Reabilitação Psicomotora e elementos da equipa<br />
do Projeto Notas de Contacto – OCP Solidária na CERCIOEIRAS<br />
sistema, utiliza sensores de movimento<br />
que possibilita a tradução de gestos e<br />
movimentos em música, permitindo que<br />
mesmo as pessoas com dificuldades<br />
motoras profundas, possam tornar-se<br />
expressivas, criativas e comunicar as<br />
próprias emoções, através da música.<br />
É de destacar a atitude em palco dos<br />
clientes, a seriedade com que tocam, a<br />
disciplina, o comportamento, a resposta<br />
às exigências que vão sendo maiores.<br />
Em suma, o seu extraordinário profissionalismo.<br />
Depois do Auditório Ruy de Carvalho,<br />
do Jardim de Inverno do Teatro S. Luiz<br />
e do Grande Auditório do CCB, neste<br />
momento, a equipa está a ensaiar para o<br />
concerto inserido na mostra “Isto é Partis”<br />
que terá lugar no dia 27 de janeiro<br />
na Fundação Calouste Gulbenkian. Este<br />
concerto realiza-se em parceria com a<br />
5ª Punkada da Associação de Paralisia<br />
Cerebral de Coimbra.<br />
46 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 47
D`ARTE A CULTURA DAS CERCI`S<br />
CERCIBEJA<br />
CERCIGRÂNDOLA<br />
GERAÇÕES DE MÃOS DADAS<br />
O projeto Gerações de Mãos Dadas nasceu<br />
de uma parceria já existente entre o<br />
Comando Territorial da GNR de Beja e a<br />
CERCIBEJA.<br />
Foi proposto ao Grupo de Teatro ExpressArte,<br />
a possibilidade de abordar<br />
as temáticas da Violência com Idosos e<br />
Burlas. Este Grupo de Teatro, criado há<br />
cerca de três anos, tem vindo a cimentar<br />
o seu trabalho junto da comunidade<br />
com peças de teatro, animações de rua<br />
e outras performances artísticas. Estes<br />
temas foram debatidos junto dos jovens<br />
artistas, através de pesquisas de notícias<br />
e vídeos, o que lhes permitiu uma<br />
maior consciencialização desta problemática.<br />
A partir daí as situações que<br />
fazem parte desta apresentação foram<br />
surgindo naturalmente. Ao teatro juntámos<br />
a dança e rapidamente a performance<br />
ficou montada e teve a sua estreia<br />
em Beja, no Cineteatro Pax Julia no<br />
passado dia 24 de janeiro, onde estiveram<br />
presentes representantes da Câmara<br />
Municipal de Beja, da Rede Social do<br />
Concelho de Beja, CLDS de Beja, Comandos<br />
Territoriais da GNR dos Concelhos<br />
do Distrito de Beja, CERCIBEJA,<br />
utentes dos Lares e Centros de Dia de<br />
Idosos da cidade. Esperamos com este<br />
trabalho, consciencializar o público em<br />
geral, especialmente, a população em<br />
risco e mais vulnerável, dotando-os de<br />
estratégias para evitar estas situações e<br />
orientando-os sobre como pedir ajuda<br />
junto das autoridades.<br />
A apresentação foi do agrado do público<br />
e vai continuar a percorrer os concelhos<br />
de Castro Verde, Mértola, Odemira, Mou-<br />
ra, Serpa, Ferreira do Alentejo e Aljustrel.<br />
O Capitão Daniel Ferreira do Comando<br />
Territorial da GNR de Beja, referiu ainda<br />
que “No desenvolvimento da atividade<br />
diária da Guarda Nacional Republicana<br />
num dos seus Programas Especiais<br />
de Policiamento de Proximidade, contar<br />
com parcerias exemplares como esta,<br />
que acrescentam valor à mensagem que<br />
se pretende transmitir com este tipo de<br />
ações de sensibilização, constitui uma<br />
mais-valia incontestável. Contar com<br />
uma peça de teatro que retrate as situações<br />
que mais afetam a população<br />
idosa no seu quotidiano, permitirá que<br />
a mensagem seja transmitida mais facilmente,<br />
pois como dizia o filósofo chinês<br />
Confúcio. Uma imagem vale mais que mil<br />
palavras.”<br />
Juntos Construímos Felicidade!<br />
Fotos: Câmara Municipal de Beja<br />
OFICINA DE TEATRO<br />
A história deste projeto começa há quase<br />
dois anos atrás, quando a direção da<br />
CERCIGRÂNDOLA e a Junta de Freguesia<br />
de Grândola e Santa Margarida<br />
da Serra me desafiaram para iniciar<br />
um projeto de oficina de teatro com os<br />
clientes da instituição. Com apenas uma<br />
sessão semanal, o grupo realizou já três<br />
apresentações públicas, mas o mais importante,<br />
na minha perspetiva, tem sido<br />
todo o processo.<br />
Através do jogo dramático desenvolvemos<br />
várias competências sociais, estimulámos<br />
a criatividade, a concentração,<br />
a imaginação, a auto-estima e auto-confiança,<br />
o respeito pelo outro e a empatia,<br />
para além de competências técnicas<br />
como a respiração, a dicção e colocação<br />
da voz, a motricidade e expressão corporal,<br />
a capacidade de exposição, etc. O<br />
projeto propõe-se também, promover a<br />
alegria e felicidade dos seus participan-<br />
tes, objetivos importantíssimos, no meu<br />
ponto de vista.<br />
Comigo nas sessões, sempre que possível,<br />
estão a Terapeuta Ocupacional ou<br />
a Psicóloga da instituição. Este trabalho<br />
em parceria, tem sido muito importante<br />
e permite otimizar as atividades, tornando<br />
as aprendizagens e experiências ainda<br />
mais relevantes para os participantes.<br />
Quero referir que este projeto foi muitíssimo<br />
bem recebido na instituição e<br />
tenho sentido o carinho e o apoio de todos<br />
sem exceção, técnicos, terapeutas e<br />
auxiliares.<br />
Em boa hora aceitei este desfio pois<br />
tem sido uma experiência fantástica.<br />
Os “meus” vinte “atores” são duma entrega<br />
e generosidade ímpares e tenho<br />
aprendido imenso com eles. Espero que<br />
continuemos juntos este caminho e que<br />
possamos presentear-vos com mais e<br />
melhores apresentações.<br />
Sara Teixeira e Vanda Rodrigues<br />
Maria Manuel Costa<br />
Professora de Teatro da CERCIGRÂNDOLA<br />
48 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 49
D`ARTE A CULTURA DAS CERCI`S<br />
CERCIOEIRAS<br />
CERCIDIANA<br />
PARTE DE COISA NENHUMA<br />
“(…) Afinal o fado nasceu daquele que<br />
não se sentia parte de coisa nenhuma.<br />
Curioso ser o marginal, quem vem fazer<br />
com que todos se sintam em casa.<br />
O imperfeito enaltece o perfeito, o<br />
perfeito cria o imperfeito e alimenta-<br />
-se dele. Que parte representa afinal o<br />
primoroso, distinto e completo na vida<br />
do inacabado e do imperfeito? Quem é<br />
o imperfeito? Onde pertence cada um?<br />
Como se forma um grupo? Quem pertence<br />
a quê? Quem se sente mais parte<br />
de algo ou parte de coisa nenhuma?<br />
Por onde anda quem se sente pertencido<br />
e por onde viaja quem se sente desamparado?<br />
Virá o Fado encontrar o perdido ou<br />
achado? O famoso ou o esquecido?<br />
Quem é o marginal? Seremos provavelmente<br />
parte de coisa nenhuma.”<br />
A criação de “Parte de Coisa Nenhuma”<br />
nasceu da colaboração entre a CER-<br />
CIOEIRAS e a coreógrafa Diana Seabra<br />
para a criação de um bailado inclusivo<br />
ao som de fado contemporâneo, com o<br />
grupo de dança Korpus, 6 bailarinos e<br />
3 músicos profissionais. O objetivo pri-<br />
mordial deste projeto prendeu-se com a<br />
valorização das competências artísticas<br />
das pessoas com deficiência, potencialização<br />
das suas capacidades criativas<br />
e performativas no domínio não-verbal,<br />
bem como, a realização de boas práticas<br />
artísticas e sensibilização da sociedade<br />
para a diversidade e inclusão.<br />
O projeto foi cofinanciado pelo Instituto<br />
Nacional dpara a Reabilitação (INR), e<br />
a Fundação Gestão dos Direitos dos Artistas<br />
(FGDA), tendo a estreia sido nos<br />
dias 9 e 10 de dezembro de 2017 no Auditório<br />
do Museu da Fundação Oriente<br />
em Lisboa, com lotação esgotada em<br />
ambos os dias.<br />
O bailado refletiu apenas uma parte de<br />
todo um processo criativo em estúdio<br />
durante 2 meses, o qual foi documentado<br />
em vídeo e estará disponível para ser<br />
visionado em documentário no final de<br />
janeiro de 2018. A exploração de movimento<br />
alternou-se entre a expressividade<br />
de um indivíduo singular e a expressividade<br />
de um grupo e em como ambos<br />
se afetaram mutuamente. As fortes relações<br />
interpessoais que foram construí-<br />
das ao longo deste processo, reforçaram<br />
a premissa de que o movimento, dança<br />
e a música são meios de comunicação<br />
potenciadores de uma compreensão interpessoal<br />
mútua e autêntica.<br />
É de realçar o quão gratificante foi, observar<br />
desde o primeiro momento, a empatia<br />
e ambiente saudável que se estabeleceu<br />
com o grupo de trabalho, onde<br />
a diversidade e as dificuldades apenas<br />
se tornaram uma força e sucesso.<br />
O apoio financeiro a este tipo de projetos<br />
é essencial para dar a oportunidade<br />
às pessoas com deficiência de fazerem<br />
algo que as motiva, tomarem contato<br />
com profissionais, partilharem momentos<br />
e aprendizagens, estabelecerem<br />
relações e por outro lado, dignificar as<br />
pessoas com deficiência, atribuindo-lhes<br />
uma imagem positiva e de sucesso junto<br />
da sociedade.<br />
Sara Espírito Santo, Terapeuta<br />
Ocupacional, Técnica responsável<br />
pelo Grupo Korpus da<br />
CERCIOEIRAS<br />
Diana Seabra, Coordenadora de<br />
Projeto e Coreógrafa e Diretora<br />
Artística do bailado “Parte de Coisa<br />
Nenhuma”<br />
SIGAM A<br />
NOSSA CENA<br />
O Grupo de Teatro da CERCIDIANA criado<br />
em 2003, surgiu do Projeto de Formação<br />
“Metodologias de Aprendizagem<br />
do Drama em Populações com Necessidades<br />
Educativas Especiais”, subsidiado<br />
pelo IEFP e ministrado pelo IPJ.<br />
O Grupo tem uma vasta experiência na<br />
apresentação de espetáculos de teatro<br />
e mantém o objetivo principal de desenvolvimento<br />
de competências pessoais e<br />
sociais das pessoas com deficiência.<br />
Este ano, e pela segunda vez, o Grupo<br />
de Teatro da CERCIDIANA vai participar<br />
numa Oficina Internacional de<br />
Teatro que se realiza em Madrid no mês<br />
de maio, com a participação de grupos<br />
de Itália, França, Espanha e Marrocos.<br />
Este projeto é da responsabilidade da<br />
“Fundacion Instituto Internacional del<br />
Teatro del Mediterraneo”, e encerra<br />
com a apresentação de um espetáculo<br />
no Teatro Espanhol de Madrid nos dias<br />
8, 9 e 10 de junho, visando desta forma,<br />
a projeção social e artística das pessoas<br />
com deficiência.<br />
50 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 51
D`ARTE A CULTURA DAS CERCI`S<br />
CERCILEI<br />
TEATREI E TEATRANDO<br />
Os grupos de teatro da CERCILEI -<br />
TEATREI e TEATRANDO, o primeiro<br />
sedeado em Leiria e o segundo em Porto<br />
de Mós, surgiram da necessidade de<br />
desenvolver diversas competências pedagógico-sociais<br />
por meio da prática de<br />
uma atividade artística de interesse por<br />
parte de todos os participantes.<br />
Através de jogos e atividades de expressão<br />
dramática, competências como<br />
a atenção e concentração, relação interpessoal<br />
e de relação social com o mundo<br />
que os rodeia, são desenvolvidas de forma<br />
a tornarem-se benéficas para a sua<br />
vida em múltiplas áreas, tornando estes<br />
jovens mais conscientes do seu eu e do<br />
outro que os rodeia, podendo simultaneamente,<br />
vivenciar múltiplas experiências<br />
imaginadas e criadas pelos próprios<br />
jovens.<br />
As histórias surgem de forma criativa<br />
pelos jovens que nelas atuam e participam,<br />
orientados por diversos técnicos<br />
da CERCILEI, de forma a tornarem estas<br />
experiências o mais completas possível<br />
para os nossos tão talentosos atores.<br />
Pontos altos são também a motivação<br />
para a continuidade desta área. Para além<br />
das visitas regulares a escolas, aproveitando<br />
os seus talentos, os Encontros<br />
Formativos organizados pela CERCILEI<br />
são enriquecidos com momentos lúdicos<br />
que surpreendem todos os que nela participam,<br />
despertando curiosidade, sensibilizando<br />
e valorizando as capacidades<br />
destes jovens.<br />
Os aplausos merecidos enaltecem o “ser<br />
pessoa” motivando-os a continuar.<br />
A todos os que colaboram na inclusão de<br />
todos, o nosso bem-haja!<br />
CERCINA<br />
“ARTES<br />
E LETRAS”<br />
O Projeto “Artes e Letras”, co-financiado pelo Programa<br />
de Financiamento a Projetos pelo INR, I.P, decorreu no<br />
período de 1 de setembro a 31 de dezembro de 2017, no<br />
Centro de Atividades Ocupacionais da CERCINA. Este<br />
Projeto contou com a colaboração da Rádio Nazaré quer<br />
ao nível da sua divulgação, quer ao nível da gravação de<br />
recitais de poesia, contos e lendas permitindo, por um lado,<br />
uma experiência única e inovadora aos participantes e, por<br />
outro, sensibilizar a comunidade local para a problemática<br />
das pessoas com deficiência, promovendo a visibilidade do<br />
potencial artístico da pessoa com deficiência.<br />
A implementação deste projeto permitiu a criação de um<br />
espaço destinado à leitura e exploração de contos, poesia,<br />
lendas e informação geral atual, devidamente equipado,<br />
facilitando e promovendo o desenvolvimento pessoal e<br />
social dos clientes, no sentido da melhoria da qualidade<br />
de vida e respetiva capacitação.<br />
No âmbito deste projeto, foram realizadas várias atividades<br />
inovadoras (Poesia para todos; Histórias da minha<br />
terra; Saber mais; Poetas por uns dias), cujos participantes<br />
manifestaram grande interesse e motivação, contribuindo<br />
claramente para o aumento da sua autoestima e valorização.<br />
O Centro possui agora um novo espaço de leitura, no<br />
qual os clientes têm a possibilidade de ler, explorar e analisar<br />
conteúdos informativos do interesse individual geral<br />
e da cultura local, em particular. Este espaço oferece, ainda,<br />
a possibilidade dos participantes serem os autores do<br />
próprio desenvolvimento.<br />
CERCISIAGO<br />
LASCARINA<br />
A memória de D. Vataça Lascaris – uma dama italiana<br />
de origem bizantina que acompanhou na corte portuguesa<br />
a Rainha Isabel de Aragão e o Rei D. Dinis de<br />
Portugal – perdura ainda hoje na região do Alentejo<br />
Litoral.<br />
Os clientes da CERCISIAGO ouviram a história e a<br />
lenda, duas narrativas que andam de mãos dadas e puseram<br />
mãos à obra.<br />
Trouxeram à memória coletiva algo “perdido” no tempo,<br />
aproveitou-se material menos nobre como papel<br />
descartado, para fazer esculturas, às quais se foi dando<br />
forma e colorido e nasceu a Lascarina, uma dama de<br />
coração cheio.<br />
Como alguém disse no nosso livro de opiniões, aquando<br />
da exposição, “Os trabalhos feitos com Amor fazem-nos<br />
descobrir o melhor de nós mesmos”.<br />
Fotos: DR<br />
52 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 53
CERCI’S<br />
O CAMINHO<br />
FAZ-SE A ANDAR<br />
SEPARADOR<br />
Por muito relevante que possa ser<br />
o caminho já percorrido ao longo destas<br />
quatro décadas da história das Cerci’s, é<br />
longo e difícil o que ainda falta percorrer. É<br />
por isso que as Cerci’s continuam à procura<br />
de novas paragens, de novas estradas que<br />
melhorem a eficácia da sua ação e que<br />
sejam promotoras de novas pontes para a<br />
inclusão das pessoas com deficiência. São<br />
caminhos que por vezes são bem difíceis de<br />
trilhar, mas não é coisa que faça desanimar<br />
quem tem os olhos postos no futuro.<br />
© 2016 CERCIGUI | Rostos com Alma
CERCI’S O CAMINHO FAZ SE A ANDAR<br />
CERCIAMA<br />
SHIATSU NA CERCIAMA<br />
O Shiatsu é uma terapia de origem japonesa.<br />
Literalmente a palavra shiatsu<br />
significa pressão com os dedos (shi=<br />
dedo, atsu= pressão). O Ministério da<br />
Saúde do Japão define Shiatsu como um<br />
tratamento que, ao aplicarmos pressões<br />
com os dedos polegares e as palmas das<br />
mãos sobre determinados pontos, corrige<br />
irregularidades, mantém e melhora a<br />
saúde e contribui para o alívio de certas<br />
doenças (desconfortos, dores, stress,<br />
transtornos de origem nervosa, etc.). O<br />
Shiatsu ativa a capacidade de auto-cura<br />
do corpo humano e não tem efeitos secundários.<br />
A Escola Japonesa de Shiatsu-Do Portugal<br />
é uma extensão da Escuela Japonesa<br />
de Shiatsu em Madrid, que por sua<br />
vez, é a representação na Europa do<br />
Japan Shiatsu College de Tóquio, única<br />
escola de ensino superior oficial do<br />
Japão, reconhecida pelos Ministérios da<br />
Saúde, da Educação e do Trabalho.<br />
Desde novembro que a CERCIAMA tem<br />
recebido uma vez por semana duas alunas,<br />
Anne Firket e Inês Adagói da Escola<br />
Japonesa de Shiatsu-Do Portugal ao<br />
abrigo de um projeto de parceria entre<br />
estas duas entidades.<br />
Esta parceria surgiu da necessidade de<br />
poder fornecer aos alunos que se encontram<br />
em formação na Escola Japonesa<br />
de Shiatsu-Do oportunidades de trabalho<br />
em situações reais, num ambiente de<br />
confiança e profissionalismo, antecipando<br />
e envolvendo-os de uma forma progressiva<br />
no mercado de trabalho.<br />
Uma parceria com a CERCIAMA representava<br />
uma excelente oportunidade e<br />
um verdadeiro desafio para colocar em<br />
prática esta mesma necessidade dos<br />
alunos da Escola Japonesa de Shiatsu-<br />
-Do. Assim, foi lançado um convite à<br />
CERCIAMA, que foi rapidamente aceite,<br />
e todas as condições foram criadas<br />
Inês Adagói e Anne Firket<br />
Terapeutas de Shiatsu<br />
para que o projeto fosse rapidamente<br />
posto em prática.<br />
Foi necessário realizar um trabalho bibliográfico<br />
prévio em várias plataformas<br />
de pesquisa científica, relativamente à<br />
aplicabilidade do Shiatsu em jovens e<br />
adultos com deficiência intelectual e/<br />
ou multideficiência e foi interessante<br />
verificar a escassez de documentação<br />
relativa a este assunto. Este pormenor<br />
tornou o projeto ainda mais interessante<br />
e estimulante, na medida em que se<br />
iria trabalhar num território ainda pouco<br />
conhecido e estudado. Ainda assim, as<br />
poucas referências bibliográficas descreviam<br />
várias dificuldades de um terapeuta<br />
na relação e conquista de confiança<br />
com várias crianças autistas com<br />
quem trabalhava.<br />
Foram escolhidos alguns jovens e adultos<br />
para fazerem parte deste projeto como<br />
pacientes, todos com problemas e necessidades<br />
diferentes, mas com um mesmo<br />
objetivo comum de terapia: contribuir<br />
para a melhoria da qualidade de vida e<br />
para o bem-estar destes jovens e adultos.<br />
Este constituía um verdadeiro desafio<br />
para as duas alunas, que nunca tinham<br />
trabalhado na área e no início questionaram-se:<br />
será que vão gostar das sessões<br />
de Shiatsu? Como é que vão reagir<br />
às pressões? Será que vou conseguir<br />
ajudar no alívio das dores e desconforto<br />
deles? Será que vamos conseguir conquistar<br />
a confiança deles?<br />
Desde a primeira sessão que estas<br />
questões foram respondidas positivamente<br />
e arrumadas. Verificou-se, rapidamente,<br />
que eles tinham muita vontade<br />
de ir para as sessões que, com o tempo,<br />
conseguiam relaxar verdadeiramente e<br />
até adormecer durante as mesmas. Uma<br />
prova desta vontade é o desejo que alguns<br />
mostram em ir para a sessão antes<br />
da sua vez.<br />
A nível de dores e manifestação de sintomas<br />
durante as sessões, verifica-se<br />
que estes pacientes, de uma forma geral,<br />
apresentam uma série de dores localizadas<br />
e sintomatismos que estão diretamente<br />
relacionados com más posturas<br />
corporais, a movimentos repetitivos ou<br />
relacionados com frustrações ou outras<br />
manifestações emocionais. A nível comportamental,<br />
principalmente ao início,<br />
era comum agitarem-se, quererem falar,<br />
atentarem aos barulhos à volta da sala,<br />
abraçar e brincar, mas com algumas estratégias,<br />
foi sendo possível serenarem<br />
e confiarem. As estratégias que as terapeutas<br />
têm de aplicar são uma busca<br />
constante, porque cada paciente é diferente<br />
e os problemas que trazem para<br />
cada sessão às vezes não são os mesmos<br />
da sessão anterior. Com esta busca<br />
os pacientes têm sido capazes de relaxar<br />
mais e beneficiar de uma forma mais<br />
eficaz das sessões de Shiatsu.<br />
São estes pormenores que tornam este<br />
projeto um desafio constante para que<br />
se consiga atingir, nem que seja um bocadinho,<br />
dos objetivos iniciais a cada<br />
sessão, esperando que no fim se tenha<br />
contribuído para uma melhoria geral da<br />
qualidade de vida dos jovens e adultos<br />
que as integram.<br />
56 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 57
CERCI’S O CAMINHO FAZ SE A ANDAR<br />
CERCILEI<br />
A VONTADE<br />
E OUTRAS FORÇAS!<br />
A CERCILEI sempre investiu na prática<br />
da atividade física e no desporto, como<br />
meio da promoção e implementação de<br />
oportunidades de interação, integração<br />
e inclusão dos nossos jovens na comunidade,<br />
fomentando o princípio da<br />
igualdade de oportunidades.<br />
Para além do próprio envolvimento<br />
desportivo, a prática do desporto contribui<br />
para a aquisição de hábitos de<br />
vida saudável e competências que aumentam<br />
o bem-estar físico, psicológico<br />
e social.<br />
A Carta Europeia do Desporto para<br />
Todos do Conselho da Europa (1988),<br />
reconhece a atividade física como “um<br />
meio privilegiado de educação, valorização<br />
do lazer e integração social”<br />
O projeto do Andebol adaptado nasceu<br />
em 2011, com um grupo de clientes das<br />
nossas unidades residenciais com o objetivo<br />
de lhes proporcionar uma ocupação<br />
saudável também embutida de um<br />
sentido coletivo e relacional, interpessoal,<br />
terminando em 2015. Em outubro<br />
de 2017, por sugestão e colaboração<br />
voluntária do treinador José Bento, retomou-se<br />
a atividade, mas desta vez,<br />
aberta a todos os clientes da CERCILEI<br />
que tivessem interesse em participar.<br />
Concordando com Ferreira (1993), que<br />
diz que, as atividades desportivas são<br />
um meio ótimo para retirar a pessoa<br />
com deficiência da sua inatividade e<br />
fraca iniciativa, permitindo a sua integração<br />
social, bem como, uma forma<br />
privilegiada de aceitação da relação<br />
com os outros, assim como promove a<br />
maximização das suas potencialidades,<br />
a CERCILEI aproveitou a oportunidade<br />
para retomar o andebol adaptado.<br />
Dois meses depois (dezembro), também<br />
como forma de manter a motivação<br />
dos jovens para o treino, a CERCILEI<br />
participou num convívio de andebol<br />
adaptado com o CEERIA, revelando-se<br />
um desempenho deveras encorajador e<br />
promissor. Resultante desse primeiro<br />
contato competitivo, surgiu a convocatória<br />
de uma das nossas atletas para<br />
participar num estágio da seleção nacional<br />
de andebol adaptado, podendo<br />
o treinador da CERCILEI indicar outra<br />
atleta que se justificasse a participar<br />
também no referido estágio.<br />
Foi notícia de 1ª página no jornal Diário<br />
de Leiria, trazendo um impacto motivacional<br />
não só nas duas atletas mas também<br />
em toda a equipa.<br />
De acordo com Alves (2000) a prática<br />
regular de atividade física, (…) reforça a<br />
autoestima, promove a alegria de viver<br />
e a qualidade de vida, reforça a vontade<br />
para a ação, promove a disponibilidade<br />
de se aproximar dos outros para comunicar<br />
e conviver, combate eficazmente<br />
atitudes pessimistas, permite a mediação<br />
das suas atividades incidindo sobre<br />
as suas capacidades em desfavor das<br />
limitações.<br />
Para além disso, de acordo com Ferreira<br />
(1993), o desporto contribuiu para<br />
melhorar os padrões normais de movimento,<br />
desenvolve a autonomia motora,<br />
estimula e desenvolve a comunicação,<br />
contribuiu para o autodomínio e confiança,<br />
permite ser uma situação de sucesso<br />
perante si próprio e os outros.<br />
Tendo em conta estes benefícios e<br />
muitos outros subjacentes, o Andebol<br />
é uma realidade em Leiria e agora na<br />
CERCILEI. Desta forma, espera-nos a<br />
participação em mais estágios de preparação<br />
para o Campeonato da Europa,<br />
Andebol-5 ANDDI-PORTUGAL,<br />
Associação Nacional de Desporto para<br />
a Deficiência Intelectual - Portugal .<br />
Mas o sucesso alcançado até agora<br />
não significa que as dificuldades desaparecem.<br />
De facto, os jovens com dificuldade<br />
de equilíbrio, de estruturação<br />
do esquema corporal e de orientação<br />
no espaço são confrontados com novos<br />
problemas nestes domínios (Matos,<br />
1981), mas com treino e persistência, o<br />
processo de aprendizagem segue o seu<br />
curso e os jovens lidam com dificuldades,<br />
mas também com o sucesso.<br />
© DR<br />
Marisa Dias<br />
Terapeuta Ocupacional da CERCILEI<br />
58 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 59
CERCI’S O CAMINHO FAZ SE A ANDAR<br />
© DR<br />
CERCICA<br />
NO MUNDO DA<br />
BLOGOSFERA:<br />
OS CERCICOS<br />
O blogue “Os Cercicos” foi criado em<br />
2012 e partiu da necessidade de dar voz<br />
aos autorrepresentantes da CERCICA e<br />
visibilidade ao seu trabalho, como estratégia<br />
de operacionalização do princípio<br />
da autodeterminação.<br />
A construção deste blogue reuniu, em<br />
parceria, clientes e técnicos que se empenharam<br />
na concretização de uma página<br />
de internet que transmitisse, de<br />
forma clara, o trabalho realizado pelos<br />
clientes e as atividades mais significati-<br />
vas das suas vidas. A intenção foi fazer<br />
chegar a mensagem a um número alargado<br />
de pessoas.<br />
No processo de criação do blogue estiveram<br />
envolvidos, essencialmente, os<br />
autorrepresentantes. No entanto, pretendendo-se<br />
que o blogue espelhasse o<br />
trabalho e as atividades da generalidade<br />
dos clientes, a produção de notícias foi<br />
aberta a todos. Em resultado deste processo,<br />
necessariamente lento, a construção<br />
da primeira versão do blogue foi,<br />
Cristina Figueiredo e Sara Matias<br />
com orgulho de todos, lançada a 30 de<br />
outubro de 2012.<br />
O nome do blogue “Os Cercicos” foi<br />
escolhido, por votação, de entre muitas<br />
ideias criativas surgidas em momento de<br />
brainstorming com clientes. A partir de<br />
então foi iniciado um trabalho contínuo<br />
de produção de notícias, visando a divulgação<br />
de eventos ocorridos na CER-<br />
CICA, das atividades realizadas pelos<br />
formandos, no desenvolvimento dos seus<br />
cursos e ainda, as realizadas nos ateliês,<br />
pelos clientes do Centro de Atividades<br />
Ocupacionais.<br />
Para a produção de notícias e respetiva<br />
edição foi determinante a colaboração de<br />
técnicos, enquanto facilitadores. Importa<br />
sublinhar que este trabalho permitiu, também,<br />
desenvolver competências académicas,<br />
tecnológicas e comunicacionais.<br />
Se no início a produção de notícias pelos<br />
clientes foi um desafio, rapidamente<br />
se tornou numa rotina de trabalho, com<br />
uma forte adesão que conduziu, no ano<br />
de 2015 à edição de 85 notícias – o maior<br />
número até então conseguido. Com o aumento<br />
da produção de notícias e com o<br />
número de visualizações e de partilhas<br />
a aumentar, surgiu a ideia de reformular<br />
o blogue para que contemplasse mais<br />
informação sobre os clientes, sobre a<br />
CERCICA e ainda, sobre assuntos do<br />
dia-a-dia.<br />
No âmbito deste processo de reformulação<br />
foram realizadas reuniões entre técnicos<br />
e clientes, tendo sido decidido pelos<br />
autorrepresentantes, que o blogue passaria<br />
a ter vários separadores: Home com as<br />
notícias | Quem somos | Contactos | O que<br />
fazemos | Agenda | Isto interessa-nos.<br />
Organizou-se, então, um grupo de trabalho<br />
com autorrepresentantes para a<br />
produção dos conteúdos em leitura fácil,<br />
para cada separador.<br />
O novo blogue foi lançado em janeiro de<br />
2016. O trabalho de atualização de conteúdos<br />
tem sido uma tarefa exigente e<br />
constante, mas o envolvimento e a motivação<br />
de todos os participantes contribuiu<br />
para a sua concretização.<br />
A partir do lançamento do novo blogue<br />
iniciou-se a sua divulgação nos encontros,<br />
nos momentos em que se recebem<br />
visitas, no facebook da CERCICA e ainda<br />
por correio eletrónico.<br />
Como diz o autorrepresentante João<br />
Pereira, “…deveria haver um blogue de<br />
clientes nas outras CERCIS para partilharmos<br />
informações e ideias e também<br />
gostávamos que o nosso blogue fosse<br />
visto por muitas pessoas para mostrar a<br />
todos o que somos capazes de fazer”.<br />
Num processo de melhoria contínua, o<br />
blogue tem sido um meio de aprendizagem<br />
informal e uma poderosa estratégia<br />
para o exercício do direito à autorrepresentação.<br />
Seja bem-vindo ao blogue “Os Cercicos”,<br />
o blogue dos clientes da CERCICA!<br />
Conheça as atividades, as opiniões, as<br />
potencialidades, os interesses, as expetativas<br />
e os sonhos dos bloguistas<br />
da CERCICA e visite-nos em https://<br />
oscercicos.wordpress.com/<br />
60 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 61
CERCI’S O CAMINHO FAZ SE A ANDAR<br />
CERCITOP<br />
A REDE NACIONAL DE<br />
CUIDADOS CONTINUADOS<br />
INTEGRADOS<br />
UMA RESPOSTA TAMBÉM AO DISPOR DAS PESSOAS<br />
COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL?<br />
A Rede Nacional de Cuidados Continuados<br />
Integrados – Uma resposta também<br />
ao dispor das pessoas com deficiência<br />
intelectual?<br />
O decreto-lei nº 101/2006 de 6 de junho<br />
cria a Rede Nacional de Cuidados<br />
Continuados Integrados (RNCCI) e define-a<br />
como um modelo de intervenção<br />
integrado e/ou articulado da saúde e da<br />
segurança social, de natureza preventiva,<br />
recuperadora e paliativa.<br />
A RNCCI constitui-se assim, como uma<br />
resposta do Serviço Nacional de Saúde<br />
(SNS) de nível intermédio de cuidados<br />
de saúde e de apoio social entre os de<br />
base comunitária e os de internamento<br />
hospitalar, cujos princípios assentam na:<br />
- equidade no acesso e mobilidade<br />
entre os diferentes tipos de unidades<br />
e equipas da RNCCI; multidisciplinaridade<br />
e interdisciplinaridade na<br />
prestação dos cuidados; dignidade;<br />
não discriminação; pleno exercício<br />
da cidadania.<br />
O referido decreto-lei define também,<br />
que são destinatárias das unidades e<br />
equipas da rede, pessoas que se encontrem<br />
em alguma das seguintes situações:<br />
dependência funcional transitória decorrente<br />
de processo de convalescença ou<br />
outro; dependência funcional prolongada;<br />
idosos com critério de fragilidade;<br />
incapacidade grave e com forte impacto<br />
psicossocial; doença severa em fase<br />
avançada ou terminal.<br />
Os efeitos cumulativos da diminuição da<br />
mortalidade por força também dos avanços<br />
da medicina da melhoria da prestação<br />
de cuidados têm-se traduzido no<br />
progressivo envelhecimento da população.<br />
Esta realidade não é diferente, e está<br />
bem presente na população que as CER-<br />
CI`s atendem, sendo cada vez mais frequente,<br />
encontrarmos nos nossos CAO`s<br />
e Residências pessoas que já passaram a<br />
casa dos 50, com efeitos bem visíveis do<br />
envelhecimento e suas patologias associadas<br />
e em que a condição clínica e os<br />
cuidados necessários, se vão tornando<br />
desafios diários que exigem recursos de<br />
que as CERCI’s não dispõem, nomeadamente<br />
médicos e enfermeiros.<br />
Assentando nestes pressupostos, será<br />
legítimo entender que a RNCCI se constitui<br />
como uma resposta também ao serviço<br />
das pessoas com deficiência intelectual<br />
e suas famílias. Com efeito, à medida<br />
Elisabete Duarte<br />
Diretora Técnica da CERCITOP<br />
que os clientes das CERCI`s vão envelhecendo,<br />
surgem as situações de doença<br />
crónica, internamentos hospitalares que<br />
resultam frequentemente em períodos<br />
de hospitalização prolongados, sendo<br />
que após a alta, muitas das situações se<br />
alteram substancialmente, carecendo de<br />
cuidados diferenciados, especializados e<br />
prolongados no tempo, aos quais as estruturas<br />
ocupacionais e residenciais, por<br />
força da sua organização e recursos, não<br />
podem dar resposta.<br />
Assim poderá surgir a necessidade de<br />
ser ponderada uma referenciação para a<br />
RNCCI numa das tipologias de internamento<br />
- Média Duração e Reabilitação,<br />
com uma duração máxima de 3 meses ou<br />
Longa Duração e Manutenção quando é<br />
expetável que o internamento se prolongue<br />
por um período superior a 3 meses.<br />
Por outro lado, é frequente ao longo dos<br />
anos a família, principal cuidadora, sobretudo<br />
pais, apresentar níveis de cansaço<br />
elevados e comuns naqueles que<br />
cuidam no domicílio, não raro também,<br />
associados à ausência de períodos de<br />
descanso ou mesmo férias para retemperar<br />
forças e organização da vida familiar.<br />
Mais uma vez, a RNCCI poderá ser uma<br />
resposta com a figura do Descanso do<br />
Cuidador em que por avaliação e referenciação<br />
do médico de família, a família<br />
poderá beneficiar de um período máximo<br />
de 30 dias seguidos em que o seu<br />
familiar dependente ou com deficiência<br />
poderá fazer um internamento numa unidade<br />
da RNCCI na tipologia de Longa<br />
Duração e Manutenção.<br />
A nossa experiência diz-nos que estas<br />
situações são ainda muito raras e, poderíamos<br />
mesmo dizer, que não são consideradas<br />
respostas ao serviço das pessoas<br />
com deficiência intelectual.<br />
Cabe a cada um de nós, a sensibilização<br />
dos parceiros da comunidade, sobretudo<br />
dos cuidados de saúde primários, mas<br />
também, dos hospitais e a divulgação e<br />
informação às famílias.<br />
62 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 63
CERCI’S O CAMINHO FAZ SE A ANDAR<br />
CERCIGUI<br />
O QUE FICA<br />
DO QUE PASSA<br />
Em 2017 a CERCIGUI viveu intensamente<br />
as comemorações do seu 40º<br />
Aniversário. Cada vez mais, transformar<br />
a CERCIGUI numa instituição aberta a<br />
todos, muito voltada para a comunidade<br />
e para a cidade nas suas tradições,<br />
vivências e na sua forma única de nos<br />
acarinhar, serviu de mote à programação<br />
das atividades.<br />
Janeiro começou com o relembrar dos 20<br />
anos do CAO Ponte . Os rostos dos nossos<br />
utentes mostraram toda a sua “alma”<br />
na exposição de fotografia patente durante<br />
6 meses no GuimarãeShopping .<br />
As fotografias foram tiradas no contexto<br />
dos ensaios de dança e movimento, como<br />
parte do processo criativo.<br />
A residência artística “VivArt-5 dias 5<br />
noites”, financiada pelo INR, surgiu como<br />
mais um passo em frente na relação entre<br />
os utentes da CERCIGUI e a arte, iniciada<br />
no âmbito da CEC Guimarães 2012.<br />
2017 foi também o ano de reconhecimento.<br />
No evento “CERCIGUI RECO-<br />
NHECE” a instituição reconheceu todos<br />
aqueles que de forma voluntária e entusiasta,<br />
colaboram na Campanha Pirilampo<br />
Mágico que todos os anos envolve<br />
centenas de pessoas.<br />
O Corpo Nacional de Escutas celebrou<br />
o 94º Aniversário em Guimarães onde<br />
cerca de 1000 escuteiros partiram à<br />
descoberta dos monumentos e locais<br />
históricos da cidade. Neste evento, divulgaram-se<br />
os resultados do projeto<br />
inovador “Plataforma Madre Teresa de<br />
Calcutá”, desenvolvido pela CERCIGUI<br />
e que integra desde 2012, utentes da<br />
instituição nos agrupamentos escutistas<br />
de Guimarães. Simbolicamente o CNE<br />
ofereceu a cada participante, o Pirilampo<br />
Mágico 2017.<br />
No Encontro de Empresários, realizado<br />
no Paço dos Duques de Bragança e com<br />
o apoio do INR, abordou-se a temática<br />
da empregabilidade nas pessoas com<br />
deficiência ou incapacidade e reconhecemos<br />
as empresas que integraram nos<br />
seus quadros ex-formandos do CRFP<br />
da CERCIGUI.<br />
Aproveitando o “treino” na Estafeta da<br />
Amizade, que mais uma vez, uniu pela<br />
solidariedade as cidades de Braga e<br />
Guimarães em junho e em cenário de<br />
Feira Afonsina, foram mais de 7000 as<br />
pessoas que integraram a EDP Meia<br />
Maratona de Guimarães e Caminhada<br />
Solidária da CERCIGUI.<br />
Este foi mais um ano, em que muitos atletas<br />
da CERCIGUI, foram medalhados e<br />
bateram até Recordes do Mundo em modalidades<br />
como Judo, Atletismo e Futsal.<br />
Mas não foi só a caminhar ou a correr<br />
que percorremos 2017. Na Concentração<br />
Motard de Guimarães, a solidariedade,<br />
fez-se em duas rodas e também<br />
andámos pelo ar com o Batismo de Voo<br />
de alguns clientes dos Centros de Atividades<br />
Ocupacionais.<br />
Num singelo “tributo” da CERCIGUI à<br />
cidade e aos seus monumentos, inauguramos<br />
o Mural de Azulejos “Porque a<br />
CERCIGUI tem história e cria histórias”.<br />
Em agosto, dezenas de milhares de pessoas<br />
encheram as ruas de Guimarães<br />
para a Marcha Gualteriana que encerra<br />
as Festas da Cidade. Apesar da grandiosidade<br />
e beleza de todas as viaturas,<br />
as maiores salvas de palmas ouviram-se<br />
à passagem do carro comemorativo do<br />
40º Aniversário da CERCIGUI.<br />
O dia de aniversário trouxe o presente<br />
mais desejado. A inauguração da remodelação<br />
do edifício do Centro de Ativi-<br />
dades Ocupacionais II, só possível com<br />
o apoio do Município de Guimarães,<br />
Segurança Social e mecenas sociais<br />
que desde a primeira hora abraçaram<br />
o “CAUSA NOSTRA” , a campanha de<br />
angariação de fundos promovida durante<br />
todo o ano com o objectivo de<br />
encontrar “padrinhos” que ajudem na<br />
reabilitação deste edifício sem qualquer<br />
medida de melhoria nos últimos<br />
anos.<br />
Em novembro rufaram os bombos. O<br />
grupo de percussão CERCISSONS vai<br />
continuar ainda com mais força. Acompanhados<br />
pelos Velhos Nicolinos, fizeram<br />
parar o GuimarãeShopping com o<br />
toque nicolino.<br />
O Jantar Comemorativo do 40º Aniversário<br />
da CERCIGUI reuniu cerca de<br />
500 pessoas. Reviveram-se através de<br />
um vídeo, os momentos que marcaram<br />
a nossa existência. Solenemente foram<br />
também reconhecidos com a medalha<br />
da Instituição, os Voluntários que de<br />
forma sistemática colaboram nas atividades<br />
dinamizadas pela CERCIGUI.<br />
Terminámos as Comemorações dos 40<br />
Anos da CERCIGUI com a boa sensação<br />
de que existe um passado que nos<br />
leva para a frente, para um futuro que<br />
sabemos e queremos promissor.<br />
A CERCIGUI é e será sempre uma instituição<br />
de afetos, mas também de Desporto,<br />
de Educação e de Cultura.<br />
64 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 65
CERCI’S O CAMINHO FAZ SE A ANDAR<br />
CERCIOEIRAS<br />
CRESCER NA DIFERENÇA<br />
LICHINGA – TORNAR VISÍVEL O INVISÍVEL<br />
O Projeto Crescer na Diferença, tornar<br />
Visível o Invisível, nasce da vontade da<br />
Direção da CERCIOEIRAS de colocar o<br />
seu Know-How na área das pessoas com<br />
deficiência, ao serviço da comunidade e,<br />
de certo modo, assumir um papel ativo no<br />
mundo que nos rodeia.<br />
Crescer na Diferença é um projeto promovido<br />
pela CERCIOEIRAS (Oeiras, Portugal),<br />
desde 2015, em parceria com a Universidade<br />
Católica de Moçambique – Extensão<br />
de Lichinga. Segundo dados da Saúde de<br />
Lichinga (2016), 13% da população de Lichinga<br />
tem deficiência. O reconhecimento<br />
da deficiência é um assunto delicado e mal<br />
visto no seio da sociedade moçambicana,<br />
com forte impacto na vida de pessoas com<br />
deficiência e das suas famílias. As famílias<br />
negligenciam as crianças com deficiência,<br />
que na sua maioria vivem sem qualquer<br />
apoio e não frequentam qualquer estrutura<br />
educativa. A invisibilidade das crianças com<br />
deficiência “abandonadas” nos “quintais<br />
das casas”, faz com que o conhecimento do<br />
seu número, das suas patologias e do apoio<br />
e acompanhamento que essas crianças e<br />
suas famílias necessitam, seja mínimo. Face<br />
ao diagnóstico do contexto o presente projeto<br />
tem como objetivos, rastrear, avaliar e<br />
apoiar os casos de crianças e jovens com<br />
deficiência na Cidade e Bairros de Lichinga.<br />
Para a obtenção dos resultados foram<br />
utilizados os métodos da observação direta,<br />
nomeadamente, visitas domiciliárias,<br />
instrumento de sinalização dos casos e a<br />
Schedule of Growing Skills . Das 165 pessoas<br />
já rastreadas, 69 são do sexo feminino<br />
e 96 do sexo masculino, 129 tem menos de<br />
18 anos e destas, somente 15, frequentam<br />
uma estrutura educativa, dos quais 11 apresentam<br />
deficiência física, 2 surdez e somente<br />
1, paralisia cerebral e 1 deficiência intelectual.<br />
As restantes, dos dados disponíveis,<br />
encontram-se em casa. Procurámos saber,<br />
quem são as pessoas com deficiência, com<br />
quem vivem, o que fazem, qual o tipo de<br />
deficiência, qual o apoio que recebem, se<br />
estudam, idade e sexo.<br />
Moçambique é um dos 128 países que ratificaram<br />
a Convenção Sobre os Direitos da<br />
Criança com Deficiência e o Protocolo Opcional.<br />
A Convenção sobre os Direitos da<br />
Criança e a Convenção Sobre os Direitos<br />
da Criança com Deficiência propõem uma<br />
abordagem séria que valorize as competências<br />
das pessoas com deficiência, numa<br />
perspetiva inclusiva, benéfica para toda a<br />
sociedade, cujo foco está na mudança de<br />
atitudes e comportamentos. Cidadãs e cidadãos,<br />
familiares e profissionais precisam<br />
de ser os motores desta mudança, com<br />
base na aprendizagem.<br />
Ocupando o 22º lugar na classificação relativa<br />
à taxa de mortalidade infantil, em<br />
menores de 5 anos, como indicador crítico<br />
de bem-estar da criança (dados relativos a<br />
2011, UNICEF), Moçambique possui 16%<br />
de crianças com baixo peso ao nascer<br />
(menos de 2.5 kg); retardo de crescimento<br />
(moderado e grave) de 43% no período<br />
compreendido entre 2007 e 2011; marasmo<br />
moderado e grave (de 2007 a 2011) na ordem<br />
dos 6%.<br />
De acordo com o Diretor Provincial de<br />
Saúde de Lichinga, 12 a 14% da população<br />
de Lichinga tem deficiência. O reconhecimento<br />
da deficiência continua a ser um<br />
assunto delicado e mal visto no seio da sociedade<br />
moçambicana, com forte impacto<br />
na vida de pessoas com deficiência e das<br />
suas famílias. A maioria dos pais abandona<br />
as mães e as crianças, e procuram outra família<br />
após o nascimento da criança com deficiência.<br />
Estas vivem na sua maioria com as<br />
mães ou com as avós e sem qualquer apoio.<br />
Não frequentam as escolinhas e muito menos<br />
a escola básica. A invisibilidade das<br />
crianças e dos jovens com deficiência faz<br />
com que o conhecimento exato do número<br />
de crianças deficientes, suas patologias e,<br />
consequentemente, o apoio e acompanhamento<br />
que essas crianças/ jovens e suas<br />
famílias necessitam, seja nulo.<br />
Crescer na Diferença – Tornar Visível o Invisível,<br />
visa conhecer para apoiar as instituições/organizações<br />
locais em 3 grandes<br />
áreas:<br />
1 - Rastrear, avaliar e apoiar as crianças<br />
referenciadas;<br />
2 - Formar profissionais de Saúde e de<br />
Educação e sensibilizar os líderes comunitários,<br />
as mães e demais agentes;<br />
3 - Advocacy junto dos atores políticos<br />
para que a deficiência faça parte da sua<br />
agenda política e ponham em prática<br />
a Convenção dos Direitos das Pessoas<br />
com Deficiência.<br />
Foi construído um instrumento de recolha<br />
de dados e uma base de dados (em excel),<br />
que permitiu o tratamento e análise da informação<br />
que se apresenta. A recolha de<br />
dados está a ser obtida através da sensibilização<br />
dos alunos da UCM, diretamente no<br />
Hospital Provincial de Lichinga – serviço<br />
de fisioterapia, em associações locais como<br />
a FAMOD e a Associação Renascer a Vida<br />
e ainda, por todos os que conheçam pessoas<br />
com deficiência. Os dados são ainda<br />
recolhidos através de visitas domiciliárias a<br />
crianças com deficiência.<br />
Os resultados apresentados são resultantes<br />
da análise da base de dados construída em<br />
2015 e reportam à data de 30 de setembro<br />
de 2017.<br />
A base de dados tem vindo a evoluir à<br />
medida que existe um maior conhecimento<br />
do Projeto Crescer na Diferença e que<br />
mais pessoas se encontram envolvidas no<br />
rastreamento de pessoas com deficiência.<br />
Do final de 2015 a 30 de setembro de 2017,<br />
existiu um aumento de 400% do número<br />
de pessoas com deficiência sinalizadas.<br />
Quanto ao sexo, verificámos que 42% são<br />
do sexo feminino e 58% do sexo masculino.<br />
Das 165 pessoas sinalizadas, 129 têm menos<br />
de 18 anos. O maior grupo sinalizado tem<br />
até 4 anos, com 61 crianças. Não podemos<br />
deixar de realçar, e isto mostra bem um<br />
dos constrangimentos que encontramos,<br />
que são as 22 pessoas sem dados. Quem<br />
acompanha as crianças não sabe a idade<br />
delas e os adultos também não sabem a sua<br />
idade, “ perderam-se nos anos”. Um dado<br />
a explorar é a diminuição do número de<br />
pessoas sinalizadas com mais de 15 anos.<br />
Onde estão? Não existem falecidos? Estão<br />
escondidos? De acordo aos dados de que<br />
dispomos, apenas uma criança faleceu depois<br />
de sinalizada.<br />
Quanto aos registos de nascimento, mais de<br />
50%, das pessoas inscritas na Base de Dados,<br />
não tem, ou não sabe, se tem registos<br />
de nascimento.<br />
Das 165 pessoas sinalizadas, só temos o<br />
tipo de deficiência de 147 pessoas o que<br />
significa que, existem 12 sobre as quais<br />
desconhecemos qual o tipo de deficiência.<br />
Dos dados conhecidos o maior número é<br />
das pessoas que apresenta uma deficiência<br />
física, seguidos de 51 pessoas com paralisia<br />
cerebral. No entanto, não podemos deixar<br />
de realçar que dentro do grande número de<br />
66 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 67
CERCI’S O CAMINHO FAZ SE A ANDAR<br />
pessoas com deficiência física não possam<br />
existir mais algumas que a causa tenha sido<br />
uma paralisia cerebral.<br />
Poderemos especular que, a iliteracia das<br />
pessoas que preenchem a base de dados<br />
não lhes permite acrescentar este dado na<br />
ficha de sinalização.<br />
Por outro lado, a Paralisia Cerebral é uma<br />
causa de Deficiência que pode ter como<br />
consequência uma deficiência física. Neste<br />
caso, não sabemos se entre as deficiências<br />
físicas sinalizadas existem casos<br />
em que a causa foi uma paralisia cerebral<br />
ou se nos casos sinalizados com paralisia<br />
cerebral, a principal manifestação é uma<br />
deficiência física.<br />
Por outro lado, sabemos que situações de<br />
pobreza extrema, concomitantes com a escassez<br />
de alimentos, de cuidados de saúde<br />
e da qualidade das interações criança/família,<br />
podem ser responsáveis por um atraso<br />
global no desenvolvimento da criança e,<br />
esse é um dos graves problemas da população<br />
moçambicana. Das 165 pessoas sinalizadas,<br />
129 tem menos de 18 anos e destas,<br />
somente 15 frequentam uma estrutura educativa,<br />
dos quais 11 apresentam deficiência<br />
física, 2 surdez e somente 1, paralisia cerebral<br />
e 1 deficiência intelectual. As restantes,<br />
dos dados disponíveis, encontram-se em<br />
casa. Das restantes 36, com mais de 18 anos<br />
e de acordo com os dados disponíveis, 2<br />
ainda estudam e outras 2 estudaram.<br />
O Projeto Crescer na Diferença permite<br />
evidenciar o desconhecimento do número<br />
de pessoas com deficiência na cidade de<br />
Lichinga. Onde se encontram, o que fazem,<br />
que apoios têm e que obstáculos enfrentam.<br />
Em todo o mundo, milhões de crianças<br />
veem negados os seus direitos e são privadas<br />
de tudo o que precisam para crescer<br />
saudáveis e fortes, devido a terem nascido<br />
com uma deficiência.<br />
Alguns fatores ambientais, tais como, baixo<br />
peso ao nascer e falta de nutrientes dietéticos<br />
essenciais tais como iodo ou ácido fólico,<br />
a prevalência de problemas de saúde<br />
associados a deficiências, é bem reconhecido<br />
na literatura epidemiológica. Mas o<br />
quadro é bastante diferente devido à exposição<br />
a péssimas condições de saneamento,<br />
desnutrição e falta de acesso aos serviços<br />
de saúde (por exemplo, para obter imunização),<br />
todos variam muito no mundo todo,<br />
e geralmente são associados a outros fenómenos<br />
sociais tais como pobreza, a qual<br />
também representa um risco de deficiência.<br />
De forma a colmatar os problemas identificados<br />
é importante uma forte aposta nos<br />
cuidados de saúde materno-infantis, na capacitação<br />
e sensibilização dos profissionais<br />
de saúde e de educação.<br />
Por outro lado, encontra-se em curso a<br />
criação de um Conselho de Proteção para<br />
as Pessoas com Deficiência composto por<br />
elementos da Direção Provincial de Saúde,<br />
dos Serviços da Mulher e Ação Social,<br />
da FAMOD e da UCM que serão garante<br />
que os direitos das pessoas com deficiências<br />
farão parte das agendas políticas.<br />
Os desafios são muitos e variados. Por um<br />
lado a questão da sala de atendimento às<br />
crianças com deficiência, e por outro, a<br />
entrega da base de dados e a constatação<br />
do número de crianças com Paralisia Cerebral<br />
resultantes de eventuais problemas<br />
de parto (partos demorados, sem assistência)<br />
e daí a necessidade de formação<br />
materno-infantil aos técnicos de saúde<br />
que se encontram dispersos nas Unidades<br />
Sanitárias. Por outro lado, sem conhecermos<br />
efetivamente de quem falamos, o tipo<br />
de diagnóstico, não poderemos realizar<br />
um planeamento que vá ao encontro das<br />
necessidades e expetativas dos destinatários<br />
finais.<br />
Conhecer as pessoas com deficiência, a<br />
Ivone Félix<br />
Diretora Executiva<br />
da CERCIOEIRAS<br />
sua idade, onde estão, o que fazem, como<br />
sobrevivem, qual a sua esperança de vida,<br />
os cuidados a que têm acesso, entre outras<br />
variáveis será, decerto, a forma de<br />
tornar visível o que até agora se tem mantido<br />
invisível. Nunca poderemos intervir<br />
naquilo que não conhecemos.<br />
Garantir a articulação entre os serviços<br />
de saúde, educação e ação social. Nada<br />
disto é possível sem uma forte união e<br />
capacitação de todos os intervenientes<br />
e, só assim, Moçambique poderá cumprir<br />
os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável<br />
(ONU, 2015) e a Convenção dos<br />
Direitos das Pessoas com Deficiência<br />
(ONU, 2006).<br />
Referências Bibliográficas:<br />
Bailey, D. B. & Simeonsson, R. J. (1988). Family assesment<br />
in early intervention. Melboune: Merrill publishing<br />
Company.<br />
Comissão Europeia (2011). Aumentar o impacto da<br />
política de desenvolvimento da UE: uma Agenda para a<br />
Mudança, Bruxelas, 13.10.2011.<br />
Governo de Moçambique (2012). Plano Nacional da Área<br />
da Deficiência – PNAD II 2012 – 2019.<br />
ILO, UNESCO, WHO (2004). CBR: A Strategy for<br />
Rehabilitation, Equalization of Opportunities, Poverty<br />
Reduction and Social Inclusion of People with Disabilities.<br />
Joint Position Paper, Geneva.<br />
Leitão, F. R. (1991). Intervenção Educativa Precoce/<br />
um modelo. In Fundação Calouste Gulbenkian<br />
(Ed), IV Encontro Nacional de Educação Especial<br />
“Comunicações” (pp. 75-92). Lisboa: Fundação Calouste<br />
Gulbenkian.<br />
OMS (2014). Relatório Mundial sobre a Deficiência.<br />
Pessanha, M. (2008). Vulnerabilidade e Resiliência no<br />
Desenvolvimento dos Indivíduos: Influência da Qualidade<br />
dos Contextos de Socialização no Desenvolvimento das<br />
Crianças. Fundação Calouste Gulbenkian<br />
PNUD (2013). A ascensão do Sul: Progresso Humano<br />
num Mundo Diversificado. Relatório do Desenvolvimento<br />
Humano<br />
Resolução do Conselho de Ministros n.º 17/2014.<br />
Conceito Estratégico da Cooperação Portuguesa 2014-<br />
2020.<br />
Schulze, M. (2009). Understanding the UN Convention<br />
on the Rights of Persons with Disabilities. Handicap<br />
International<br />
UNICEF (2013). Situação Mundial da Infância 2013:<br />
Crianças com Deficiência.<br />
UNICEF (2016). The State of the world’s Children 2016: A<br />
Faire Chance for every Child.<br />
United Nations (2006). Convention on the Rights of<br />
Persons with Disabilities.<br />
WHO, UNESCO, ILO, IDDC (2010). Community Based<br />
Rehabilitation: CBR Guidelines. Geneva. ‘ Making it Work’<br />
database.lo<br />
Zanini, G., Cemin, N.F., Peralles, S. N (2009). PARALISIA<br />
CEREBRAL: causas e prevalências. Fisioterapia Mov.,<br />
Curitiba, v. 22, n. 3, p. 375-381.<br />
CERCISIAGO<br />
UMA<br />
HISTÓRIA DE<br />
CONQUISTAS<br />
E AMOR!!<br />
A História da CERCISIAGO é semelhante<br />
à história de outras CERCI´S, sobretudo<br />
no desejo, no acreditar e na vontade<br />
de encontrar um lugar para a diferença.<br />
Um abrir caminhos, mudar consciências<br />
e mentalidades.<br />
Ir mais longe, ousar olhar, criar e responder<br />
às necessidades mais importantes do<br />
Ser Humano! A sua dignidade, vida e os<br />
seus direitos fundamentais!<br />
Sim, passaram 40 anos…<br />
Estamos mais crescidos, mais experientes,<br />
mais desejosos de querer mais.<br />
Crentes de que é preciso mais e melhor!<br />
Sempre prontos para aceitar e abraçar<br />
novos desafios e dar respostas concretas<br />
de qualidade às pessoas<br />
com deficiência.<br />
A nossa história escreve-se<br />
e conta-se de<br />
rostos concretos, gestos<br />
profundos e genuínos,<br />
conquistas, sorrisos,<br />
emoções, partilhas,<br />
vidas e de eternidade.<br />
Gostaríamos de partilhar<br />
esta data com todos<br />
que ao longo destes<br />
anos têm feito parte<br />
da nossa vida e nos têm<br />
ajudado a escrever a<br />
nossa história.<br />
68 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 69
CERCI’S O CAMINHO FAZ SE A ANDAR<br />
CERCICAPER<br />
CULTIVAR A INCLUSÃO<br />
É de geração em geração, desde o nascimento<br />
da CERCICAPER, que a instituição<br />
visa integrar no mercado de trabalho<br />
as pessoas com deficiência às quais dá<br />
resposta, sendo esta uma tarefa que se<br />
tem vindo a revelar de grande dificuldade.<br />
Neste sentido, e a fim de contrariar esta<br />
limitação, candidatámo-nos ao Programa<br />
FACES – Financiamento e Apoio para o<br />
Combate à Exclusão Social da Fundação<br />
Montepio, que promove e apoia projetos<br />
na área da empregabilidade da pessoa<br />
com deficiência. Concorremos com o<br />
projeto denominado “Cultivar a Inclusão”,<br />
que tem por objetivo empregar<br />
esta população especial, através da implementação<br />
de uma produção de ervas<br />
aromáticas, condimentares e infusões.<br />
Assim que foi obtida a aprovação e consequente<br />
financiamento do projeto, começámos<br />
a trabalhar para alcançar os<br />
objetivos a que nos tínhamos proposto.<br />
Encontramo-nos agora em fase de arranque<br />
e implementação do mesmo.<br />
O objetivo específico passa por abranger<br />
doze dos nossos clientes do Centro<br />
de Atividades Ocupacionais que estarão<br />
em permanência a trabalhar no terreno,<br />
no âmbito do Plano de Atividades desta<br />
resposta social, bem como, três ex-formandos<br />
do nosso Centro de Formação<br />
Profissional, cuja expetativa passa por<br />
ser um processo de transição, com vista<br />
à futura inserção no mercado de trabalho.<br />
Desenhou-se o projeto de forma a produzir<br />
em modo de agricultura biológica,<br />
tendo já sido submetido o pedido de certificação.<br />
Além da produção pretende-se efetuar<br />
a comercialização dos produtos, após<br />
todo o processo de secagem das plantas,<br />
embalamento e etiquetagem, que serão<br />
também realizados pelos clientes.<br />
O “Cultivar a Inclusão” conta com parcerias<br />
estratégicas, que na nossa opinião,<br />
valorizam muito o crescimento e<br />
desenvolvimento do mesmo. Entre os<br />
parceiros com quem já estabelecemos<br />
protocolos, referimos o Município de<br />
Castanheira de Pera, a União das Freguesias<br />
de Castanheira de Pera e Coentral,<br />
a ONG - Médicos do Mundo, a Escola<br />
Superior Agrária de Coimbra e FICAPE<br />
- Cooperativa Agrícola do Norte do Distrito<br />
de Leiria.<br />
Estas sinergias serão muito importantes,<br />
não só na fase de arranque do projeto,<br />
mas também na divulgação da marca que<br />
pretendemos criar e na sua implementação<br />
no mercado.<br />
Para concluir, é de salientar a importância<br />
e a relevância do “Cultivar a Inclusão”<br />
para a Instituição, já que para além<br />
de elevar o seu nome, vai ao encontro da<br />
sua missão e valores humanos praticados<br />
por quem nela trabalha diariamente.<br />
CERCIESPINHO<br />
DA RUA PARA O MUNDO!<br />
O Contrato Local de Desenvolvimento<br />
Social de Espinho (CLDS 3G – “Espinho<br />
Vivo”), trabalha temáticas que vão<br />
de encontro com às preocupações dos<br />
habitantes do Concelho. A formação<br />
profissional e o combate ao desemprego<br />
estão no topo da “pirâmide” de operações.<br />
O trabalho com crianças e jovens,<br />
a promoção do envelhecimento ativo e<br />
o trabalho na comunidade, são outras<br />
áreas de intervenção deste projeto. De<br />
facto, a mudança de comportamento e<br />
de atitudes em relação a certos aspetos<br />
do quotidiano dos indivíduos, assume-se<br />
como transversal a todos os eixos de intervenção.<br />
A CERCIESPINHO, enquanto entidade<br />
executora do Contrato Local de Desenvolvimento<br />
Social de Espinho (EIXO 2),<br />
promoveu o contato de jovens residentes<br />
nos complexos habitacionais de Espinho,<br />
com uma nova modalidade desportiva:<br />
Futebol de Rua! Este desporto, para além<br />
de combater o sedentarismo, treina a<br />
vertente social, promove o contato entre<br />
jovens de outros contextos e fomenta o<br />
trabalho em prol de normas e valores socialmente<br />
partilhados. A inclusão social e<br />
o trabalho em equipa estiveram sempre<br />
presentes, ao longo deste ano.<br />
Em 2017, com a parceria da Associação<br />
CAIS, foi organizado, no Complexo Habitacional<br />
da Ponte de Anta, o primeiro<br />
Torneio Concelhio da modalidade. Esta<br />
competição transportou 47 atletas da<br />
cidade de Espinho para a final distrital<br />
que teve lugar em Aveiro. Com o ânimo a<br />
crescer, constituíu-se uma equipa feminina<br />
que defendeu com unhas e dentes as<br />
cores da CERCIEPINHO e do concelho<br />
no torneio nacional de Futebol de Rua<br />
Fotos: DR<br />
(Batalha). Mas, a viagem não havia terminado<br />
aí… Em novembro de 2017, 4 atletas<br />
representaram a Seleção Nacional de Futebol<br />
de Rua no “European Street Football<br />
Festival” que teve lugar na magnífica cidade<br />
de Manchester, em Inglaterra.<br />
Todas estas experiências contribuíram para<br />
que jovens residentes em complexos habitacionais<br />
do concelho de Espinho, tivessem<br />
oportunidade de conhecer novas<br />
realidades, partilhar sentimentos e emoções<br />
e fundamentalmente, desenvolver o<br />
gosto em viver na comunidade na qual<br />
estão inseridos.<br />
Em 2018, participaremos novamente em<br />
todas as fases que dão acesso ao torneio<br />
nacional e já foram efetuadas as candidaturas<br />
para participação na competição<br />
mundial que se realizará na Rússia do<br />
próximo ano. Esperemos ter sorte!<br />
© DR<br />
Rui Jorge<br />
Técnico de Serviço Social da CERCIESPINHO<br />
70 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 71
CERCI’S O CAMINHO FAZ SE A ANDAR<br />
CERCIAG<br />
CONSIGO<br />
TODOS OS DIAS<br />
No âmbito da comemoração dos seus 40<br />
anos, a CERCIAG, juntamente com algumas<br />
empresas parceiras, desenvolveu<br />
uma Campanha com o intuito de sensibilizar<br />
e comprometer a comunidade e<br />
entidades empregadoras a conhecerem<br />
a realidade sobre a empregabilidade<br />
de pessoas com deficiência e incapacidade.<br />
É também uma Campanha que<br />
pretende quebrar barreiras e tabus que<br />
ainda existem na sociedade atual sobre<br />
as capacidades e a participação destas<br />
pessoas, a nível profissional.<br />
“Consigo... sou capaz!” – um Projeto<br />
cofinanciado pelo Programa de Financiamento<br />
a Projetos pelo INR, I. P., foi<br />
logo à partida uma aposta ganha pelo<br />
empenho e dedicação de todos os parceiros<br />
envolvidos, desde as empresas ao<br />
profissional de fotografia, passando inevitavelmente<br />
pelas pessoas que deram a<br />
cara com orgulho e satisfação.<br />
A campanha foi divulgada em outdoors<br />
e cartazes na cidade de Águeda, jornais<br />
e revistas locais e em diversas plataformas<br />
digitais, tornando-se viral logo no<br />
momento do seu lançamento. Além do<br />
impacto e da visibilidade duma realidade<br />
tantas vezes ignorada, foi também<br />
uma forma de reconhecer todas as empresas<br />
e organizações que ao longo dos<br />
anos têm caminhado lado a lado com a<br />
CERCIAG na construção duma sociedade<br />
mais justa e mais inclusiva através<br />
das oportunidades que proporcionam<br />
a pessoas com deficiência, tendo consciência<br />
que além do trabalho que estas<br />
pessoas desenvolvem, trazem muitas<br />
vezes, verdadeiras lições de vida aos<br />
colaboradores das empresas que as recebem<br />
nas suas equipas.<br />
Acreditamos que a Isabel, a Carla, o<br />
Fernando, a Rosa, o Paulo, o António,<br />
o Álvaro, o Armando, o Carlos e o<br />
João são o rosto de tantos outros que<br />
todos os dias, com vontade, força, alegria<br />
e dedicação dão o seu contributo,<br />
e de forma entusiasta demonstram que<br />
CONSEGUEM! SÃO CAPAZES!<br />
CERCIAV<br />
DA COMUNICAÇÃO<br />
À EXPRESSÃO<br />
O Centro de Recursos para a Inclusão<br />
(CRI) tem como missão implementar o<br />
Modelo de Educação Inclusiva dos Alunos<br />
com Necessidades Educativas Especiais<br />
numa abordagem centrada no aluno e na<br />
interação entre este e os ambientes em que<br />
participa, visando o desenvolvimento do<br />
seu potencial de aprendizagem global.<br />
No âmbito das práticas do modelo inclusivo,<br />
o terapeuta da fala, como profissional<br />
integrante da equipa técnica do CRI, tem<br />
como função a avaliação das competências<br />
comunicativas do aluno. Quando existe algum<br />
tipo de incapacidade de origem neurológica,<br />
física, emocional ou cognitiva, podem<br />
surgir dificuldades na interação social<br />
e na comunicação.<br />
Define-se a comunicação como um processo<br />
complexo e ativo de troca de informação<br />
entre pelo menos dois intervenientes<br />
para transmitir uma informação (ideias,<br />
desejos, necessidades, vontades), requerendo<br />
a combinação de capacidades motoras,<br />
cognitivas, sensoriais e sociais que<br />
potenciam a interação, o acesso ao mundo<br />
e a aprendizagem. Preferencialmente, o<br />
indivíduo comunica através da fala com o<br />
mundo envolvente, no entanto, existem diversas<br />
formas de comunicação não-verbal<br />
e verbal, tais como o olhar, expressões corporais,<br />
mímica facial, gestos, sons, escrita,<br />
imagens, entre outras. Sendo a fala o meio<br />
natural pelo qual comunicamos uns com os<br />
outros no nosso dia-a-dia, nos diferentes<br />
contextos, quando existe um comprometimento<br />
da fala, existirão barreiras na comunicação?<br />
Muitas, certamente! Tomando<br />
como referência, a intervenção do terapeuta<br />
da fala do CRI junto das crianças com<br />
dificuldades na interação e comunicação,<br />
constata-se que a forma como estas interagem<br />
e comunicam com o mundo, constituem<br />
uma barreira à comunicação. Neste<br />
sentido, torna-se fundamental a seleção e<br />
implementação de um sistema aumentativo<br />
e alternativo de comunicação, que mais se<br />
adeque ao perfil de funcionalidade do aluno,<br />
facilitando a interação comunicativa nos<br />
diferentes ambientes em que participa.<br />
O recurso a objetos tangíveis, gestos, expressões<br />
faciais, vocalizações e símbolos<br />
pictográficos e imagens, constituem estratégias<br />
e técnicas de comunicação aumentativa<br />
e alternativa. Para tal, existem<br />
diversas tecnologias (baixa e alta), tais<br />
como, as tabelas e cadernos de comunicação,<br />
mapas, digitalizadores de voz, GRID,<br />
Speaking Dinamically, entre outros. Para<br />
além da intervenção direta com o aluno,<br />
torna-se fundamental que o terapeuta da<br />
fala capacite os vários contextos comunicativos,<br />
através de diversas modalidades<br />
de intervenção (individual, em grupo ou<br />
consultoria), de forma a criar oportunidades<br />
para a sua participação.<br />
Sendo a comunicação um pilar na inclusão,<br />
a implementação de um sistema aumentativo<br />
e alternativo de comunicação poderá ser<br />
um facilitador em todo o processo inclusivo<br />
do aluno, promovendo a igualdade de<br />
oportunidades e consequentemente, o seu<br />
sucesso educativo.<br />
72 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 73
CERCI’S O CAMINHO FAZ SE A ANDAR<br />
C.E.C.D.<br />
A IMPORTÂNCIA<br />
DO PROGRAMA CIDADANIA PARA O DESENVOLVIMENTO<br />
DE COMPETÊNCIAS PESSOAIS E SOCIAIS<br />
A matriz epistemológica histórico-cultural<br />
considera que o desenvolvimento<br />
e a aprendizagem se interrelacionam<br />
desde o nascimento, estabelecendo<br />
um movimento dialético que assiste à<br />
constituição da pessoa. Sabe-se que às<br />
pessoas com Dificuldades Intelectuais<br />
e Desenvolvimentais (DID), falta-lhes,<br />
muitas vezes, as condições mínimas<br />
necessárias a um desenvolvimento saudável.<br />
Estas, muitas vezes, associadas<br />
à carência de competências pessoais<br />
e sociais ajustadas às caraterísticas e<br />
exigências do contexto social onde se<br />
inserem e onde se pretende que estejam<br />
incluídas.<br />
Contrariar a tendência de exclusão<br />
passa pela adaptação do contexto às<br />
especificidades individuais, promovendo<br />
um ambiente acessível a todos.<br />
Mas passa também pela capacitação<br />
das pessoas com informação esclarecida.<br />
Implica desenvolver um conjunto<br />
de conceitos sobre direitos e deveres,<br />
para que, dentro das suas especificidades,<br />
cada um se sinta incluído, tenha<br />
oportunidade para fazer escolhas informadas<br />
e possa exercer a sua cidadania<br />
ativa.<br />
Para que isto se efetive, é também determinante<br />
a capacitação daqueles que<br />
asseguram a prestação do cuidado,<br />
respondendo à necessidade de desenvolver<br />
competências de enquadramento<br />
e entendimento do cuidado numa<br />
perspetiva centrada na pessoa.<br />
Ao longo dos seus 41 anos de existência,<br />
o C.E.C.D. Mira Sintra tem investido<br />
na formação dos seus colaboradores<br />
numa perspetiva de melhoria contínua,<br />
que visa assegurar a qualidade de vida<br />
das pessoas que atende. No caso dos<br />
supervisores do Centro de Emprego<br />
Protegido, a experiência demonstrou-<br />
-nos a mais-valia de desenvolver ações<br />
formativas de uma forma coparticipada,<br />
considerando a capacitação das<br />
pessoas com DID, daqueles que os<br />
enquadram laboralmente no dia-a-dia<br />
e dos respetivos familiares e significativos.<br />
É assim que surge em 2017 o Programa<br />
Cidadania – Desenvolvimento de Competências<br />
Pessoais e Sociais, elaborado<br />
e ministrado pela equipa de enquadramento<br />
psicossocial da Curva Quatro.<br />
Os familiares e significativos foram<br />
convidados a participar em grupos de<br />
reflexão e sensibilização para a temática,<br />
enquanto os filhos beneficiavam de<br />
ações dirigidas simultaneamente a si e<br />
aos supervisores.<br />
O programa abrangeu 42 colaboradores<br />
com DID e 10 supervisores, divi-<br />
didos em 4 grupos de 13 participantes,<br />
durante um período aproximado de 4<br />
sessões de 1h30, com periodicidade<br />
semanal.<br />
As atividades foram concebidas com<br />
vista à resposta das necessidades específicas<br />
identificadas na avaliação diagnóstica,<br />
organizando-se num conjunto<br />
estruturado de sessões, enquadradas<br />
teórica e empiricamente, segundo os<br />
pressupostos da perspetiva de Vygotsky<br />
(potenciar em cada pessoa a sua<br />
“zona de desenvolvimento proximal”) e<br />
na perspetiva de aprendizagem sociocognitiva<br />
de Bandura (ação de aspetos<br />
sociais, cognitivos e emocionais no<br />
processo de aprendizagem).<br />
A definição dos grupos foi constituída<br />
numa perspetiva de aprendizagem<br />
colaborativa, integrando elementos<br />
em diferentes níveis de aprendizagem,<br />
embora próximos na capacidade para<br />
a realização das tarefas. Aqui, tanto as<br />
facilitadoras como os supervisores e<br />
os colegas com competências cognitivas<br />
mais desenvolvidas, funcionaram<br />
também como mediadores. E porquê?<br />
Sabemos que grande parte das nossas<br />
aprendizagens se efetuam através da<br />
observação dos modelos sociais existentes<br />
e com os quais contatamos. A<br />
socialização pressupõe uma sequência<br />
de experiências de aprendizagem social,<br />
cujo resultado é a integração da<br />
pessoa na sociedade.<br />
Assumiu-se assim uma perspetiva preventiva,<br />
contrariando a tendência de<br />
focalização nas dificuldades, promovendo<br />
competências e a participação<br />
ativa na reflexão do exercício da cidadania,<br />
promovendo contextos de reflexão<br />
de conceitos e a sua transposição<br />
para outros contextos da vida.<br />
Laura Pimpão<br />
Psicóloga Clínica do Centro de Emprego<br />
Protegido do C.E.C.D. MIRA SINTRA<br />
CERCIMONT<br />
QUEM SOMOS?<br />
A CERCIMONT foi constituída em 2011 por<br />
um grupo de cidadãos empenhados na causa<br />
da deficiência. Desde a sua constituição<br />
até à abertura da primeira valência, passaram<br />
5 anos. O Centro de Atividades Ocupacionais<br />
da CERCIMONT abriu no dia 15 de<br />
setembro de 2016 com 16 utentes, e tendo<br />
neste momento 27 utentes do concelho de<br />
Montalegre, que tem cerca de 800 Km2, o<br />
que torna a questão dos transportes muito<br />
complicada e dispendiosa. Contamos com<br />
o apoio da Câmara Municipal de Montalegre<br />
na cedência das nossas instalações e<br />
no transporte dos nossos clientes. Importa<br />
referir que sem este apoio, seria impossível<br />
ter o CAO a funcionar. O nosso Quadro de<br />
Pessoal é constituído por 11 colaboradores<br />
que inclui a Diretora Técnica, Psicóloga,<br />
Assistente Social, Fisioterapeuta, Terapeuta<br />
Ocupacional, 2 Monitores e 4 Auxiliares.<br />
Nunca existiu no concelho de Montalegre<br />
nenhum tipo de resposta para as pessoas<br />
com deficiência o que transforma esta nossa<br />
causa numa luta difícil e diária. Estamos<br />
empenhados em prestar um serviço de excelência<br />
e temos a ambição de, num futuro<br />
próximo, lançar o projeto de construção de<br />
um Lar Residencial e Residência Autónoma,<br />
para poder prestar apoio aos mais dependentes<br />
e permitir dar autonomia aos mais<br />
capazes.<br />
Sandra Batista<br />
Diretora Técnica da CERCIMOT<br />
74 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 75
CERCI’S O CAMINHO FAZ SE A ANDAR<br />
CERCIPENICHE<br />
DA TRADIÇÃO À INCLUSÃO<br />
JOGOS TRADICIONAIS NA PRAÇA DO MOINHO<br />
Fotos: DR<br />
Desde início que o objetivo principal<br />
deste projeto foi fundamentalmente a<br />
interação intergeracional – pessoas com<br />
deficiência, população sénior e crianças,<br />
no vivenciar e na partilha de experiências<br />
relacionadas com os jogos tradicionais e<br />
na promoção de valores como a solidariedade,<br />
o património cultural e a inclusão.<br />
Estes serão um estímulo à promoção<br />
da nossa identidade, na inclusão das<br />
pessoas com deficiência, porque relatam<br />
a história e cultura da nossa região e do<br />
nosso país. Resgatar a história dos jogos,<br />
das brincadeiras e jogos tradicionais de<br />
outros tempos como expressão da nossa<br />
história e cultura, na mostra de estilos de<br />
vida e maneiras de pensar, sentir, falar e<br />
sobretudo, maneiras de brincar e interagir,<br />
configurando-se em presença viva de<br />
um passado presente.<br />
Foi lançado o desafio aos nossos parceiros<br />
para realizarem pesquisa e recolha de<br />
jogos de outros tempos, quer pelas vivências,<br />
quer por documentação existentes.<br />
Posteriormente, dado o inúmero de<br />
jogos apresentados foi necessário realizar<br />
uma seleção, recuperando tradições e<br />
adequando-os à população alvo. Seguiu-<br />
-se a construção de Jogos Tradicionais<br />
em conjunto com os parceiros envolvidos<br />
no projeto, aquisição de materiais e estruturas<br />
de apoio ao espaço envolvente<br />
por forma a criar condições para a sua<br />
realização e o seu desenvolvimento.<br />
O passo seguinte foi fazer o convite à<br />
comunidade escolar, famílias dos clientes,<br />
à população sénior e à comunidade<br />
em geral para a participação ativa nas<br />
atividades que iríamos desenvolver. Com<br />
o objetivo de aprender hábitos dos avós<br />
que foram crianças num mundo menos<br />
digitalizado, criar curiosidade na geração<br />
jovem para aprender jogos tradicionais<br />
que praticamente não são jogados nos<br />
dias de hoje. Ao contrário dos jogos de<br />
computador e outros jogos eletrónicos,<br />
os jogos tradicionais incentivam à relação<br />
e no estreitar de laços afetivos entre os<br />
jogadores e ao mesmo tempo, a serem<br />
fisicamente ativos.<br />
Assim com a colaboração de todos os que<br />
contribuíram para a pesquisa, recolha e<br />
construção de jogos, conseguimos pôr<br />
em prática um conjunto de 18 Jogos Tradicionais<br />
que têm feito a delícia de todos<br />
quantos têm participado nestes convívios<br />
entre gerações. Os jogos que selecionámos,<br />
entre uma quantidade imensa de<br />
tantos outros jogos e que pensámos que<br />
se adequavam mais quer aos clientes da<br />
CERCIPENICHE que atendemos, como à<br />
população mais jovem são: Jogo da Banca,<br />
Jogo da Carreta, Corrida de Sacos,<br />
Macaca ou Aeroplano, Jogo dos Batos,<br />
Saltar à corda, Macaquinho do Chinês,<br />
Celso Antunes<br />
Jogo da Malha/Chinquilho, Jogo do Pião,<br />
Jogo do Galo, Jogo do Burro, Jogo do Telefone,<br />
Aqui Vai o Lenço, Jogo da Corda<br />
de Tração, Barra do Lenço, Jogo das Latas,<br />
Jogo do Arco e Jogo da Chula.<br />
Até ao final de dezembro, contámos com<br />
331 participantes que jogaram conjuntamente<br />
com os Clientes do ocupacional da<br />
CERCIPENICHE.<br />
Este projeto foi Financiado pelo Programa<br />
de financiamento a Projetos do INR<br />
- Instituto Nacional para a Reabilitação,<br />
sem o qual não seria possível o desenvolvimento<br />
do projeto nas mesmas condições.<br />
“O jogo é o mais eficiente meio estimulador<br />
das inteligências. O espaço do jogo<br />
permite que a criança ou até o adulto,<br />
realize tudo quanto deseja”<br />
76 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 77
CERCI’S O CAMINHO FAZ SE A ANDAR<br />
CERCIBRAGA<br />
RECURSOS DESPORTIVOS<br />
EM REDE<br />
Em 2014, a CERCI Braga iniciou um projeto<br />
de Escalada Adaptada com muitas<br />
incertezas, mas com muita vontade de<br />
fazer algo diferente que permitisse que<br />
as competências do nosso grupo de<br />
clientes sobressaíssem. O desafio foi lançado<br />
pelo Clube de Escalada de Braga e<br />
o seu mentor, Filipe Costa, que acreditou<br />
que podíamos ir mais longe. Iniciámos<br />
com um grupo mais restrito, com mais<br />
autonomia e bastante motivado. Fomos<br />
ao longo deste tempo tendo avanços e<br />
recuos, e alguns dos que iniciaram, perceberam<br />
que esta não era a modalidade<br />
que pretendiam, por isso não continuaram,<br />
mas outros mantêm-se muito motivados<br />
e todas as semanas aguardam com<br />
expetativa, a sessão de escalada. Para<br />
uns definimos objetivos individuais mais<br />
ambiciosos, com um grau de exigência<br />
no treino maior, enquanto que, para outros,<br />
o fator motivação e cumprimento<br />
de pequenas metas semanais permite-<br />
-nos continuar a investir nesta modalidade.<br />
Da parceria da CERCI Braga com<br />
o Clube de Escalada de Braga, surgiu a<br />
ideia de se realizar em 2015 a I Prova<br />
Nacional de Escalada Adaptada onde<br />
foram envolvidos todos os praticantes<br />
da modalidade com deficiência intelectual,<br />
visual ou física. A III edição desta<br />
prova realizou-se no ano passado e<br />
permitiu perceber que cada vez mais<br />
jovens e instituições, acreditam na escalada<br />
como um desporto inclusivo.<br />
A trajetória positiva com a escalada<br />
fez-nos pensar mais além e contribuiu<br />
para que a estratégia passasse por explorar<br />
outras modalidades e voltássemos<br />
a aceitar novos desafios, que numa<br />
fase inicial, pareciam pouco concretizáveis.<br />
E é assim que surge o convite da<br />
Academia de Patinagem de Guimarães<br />
para sermos parceiros de um projeto<br />
de patinagem adaptada. Várias outras<br />
instituições estiveram envolvidas, uma<br />
delas foi a CERCIGUI, contudo, esta<br />
iniciativa tinha os seus dias contados<br />
logo à partida. À semelhança de muitos<br />
outros projetos, a duração deste, também<br />
estava dependente do valor de financiamento,<br />
por isso sabíamos desde o<br />
início que teríamos de encontrar outras<br />
formas de dar continuidade à modalidade.<br />
Da nossa abertura à comunidade<br />
e de um amigo em especial, Elisário<br />
Cunha, da empresa Lalo & Wind surgiu<br />
o convite para arriscarmos numa outra<br />
modalidade, o Stand UP Paddle (SUP).<br />
Ainda pouco conhecida para alguns, o<br />
SUP tornou-se uma modalidade que<br />
com as devidas adaptações resultava e<br />
podia ser praticada por pessoas com<br />
incapacidade. As adaptações neste desporto<br />
podem incluir meras alterações ao<br />
nível da distância a percorrer, existência<br />
ou não de supervisão, escolha de locais<br />
mais seguros.<br />
E é nestas circunstâncias de experimentação<br />
de diferentes modalidades e<br />
de uma clara escassez de recursos que<br />
submetemos uma candidatura ao Instituto<br />
Nacional de Reabilitação com o<br />
projeto “ReDe” - Centro de Recursos<br />
Desportivos em Rede. Com o ReDe<br />
criámos um Centro de Recursos onde<br />
se reuniram os equipamentos e os materiais<br />
necessários à prática da Patinagem,<br />
SUP, Escalada, SNAGolf e Karaté.<br />
Estes recursos eram disponibilizados<br />
às instituições locais, cabendo às mesmas<br />
conseguir os recursos humanos<br />
habilitados. Mas rapidamente percebemos<br />
que surgia um outro problema,<br />
as entidades não tinham os recursos<br />
humanos necessários. Neste sentido, a<br />
Câmara Municipal de Braga compreendendo<br />
a necessidade de ser mais proativa<br />
relativamente ao desporto para<br />
pessoas com deficiência, criou o Centro<br />
Municipal de Desporto Adaptado<br />
onde, atualmente, apoia algumas atividades<br />
e permite que várias instituições<br />
e jovens e adultos com deficiência, tenham<br />
a oportunidade de estarem mais<br />
incluídos através do desporto.<br />
78 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 79
CERCI’S O CAMINHO FAZ SE A ANDAR<br />
CERCIPOM<br />
À CONVERSA E CONTRA<br />
A VIOLÊNCIA<br />
Entre os dias 26 e 28 de setembro a CER-<br />
CIPOM esteve presente em Bruxelas no<br />
“Leadership Training for Self - Advocates<br />
and for Family Members” organizado pela<br />
Inclusion Europe. Esta formação além de<br />
proporcionar o encontro de autorrepresentantes<br />
e membros de famílias de vários países<br />
da União Europeia, teve como objetivo<br />
principal, a partilha de experiências e o desenvolvimento<br />
de capacidades para moldar<br />
as políticas da União Europeia.<br />
O tema principal em discussão era a “Violência<br />
contra mulheres com deficiência intelectual<br />
nos diversos contextos”, onde através<br />
da apresentação do estudo ainda em<br />
curso de Juultje Holla, “Life after violence”<br />
(vida depois da violência), se concluiu ainda<br />
haver muito a fazer para prevenir e cessar<br />
esta problemática. Na procura de dar um<br />
primeiro passo para se fazerem ouvir, todos<br />
os participantes dos diferentes países tiveram<br />
a oportunidade de levar esta problemática<br />
ao Parlamento Europeu, onde estiveram<br />
reunidos com Membros do Parlamento<br />
(MEP), nos seus gabinetes de trabalho, tendo<br />
aí apresentado alguns testemunhos pessoais,<br />
bem como, algumas das conclusões já<br />
obtidas pelo referido estudo.<br />
O grupo da CERCIPOM aí presente, esteve<br />
reunido com dois MEP´s da Polónia o Sr<br />
Marek Plura e Sr.ª Agnieszka Kozlowska-<br />
-Rajewicz e o com o assistente da MEP<br />
grego Sr.Kostadinka Kuneve, que se mostraram<br />
solícitos para os ouvir e participar<br />
em futuros debates no Parlamento Europeu<br />
onde se contestem questões relacionadas<br />
com a pessoa com deficiência intelectual.<br />
A autorrepresentante Cátia Freitas descreve<br />
que toda esta experiência foi importante,<br />
não só por ter o privilégio de representar<br />
o seu País e Instituição, como de conhecer<br />
pessoas maravilhosas e outras experiências<br />
de vida.“Para mim, é um tema muito forte,<br />
que me comove muito, mesmo quando escuto<br />
histórias de vida de outras pessoas<br />
que vivem este problema. A mensagem<br />
que trago é de partilha de histórias, não<br />
ter medo de falar”. Para Cátia Martins, representante<br />
dos membros de família pela<br />
CERCIPOM “toda esta formação foi, sem<br />
dúvida, muito interessante, enriquecedora<br />
em termos pessoais, permitindo conhecer<br />
pessoas com e sem deficiência corajosas,<br />
perseverantes e com um coração enorme,<br />
que todos os dias lutam pelo direito a uma<br />
vida melhor”.<br />
A colaboradora Simone Rodrigues considera<br />
que esta foi sem dúvida uma marca importante<br />
para a CERCIPOM, sendo a única<br />
Instituição Portuguesa a estar presente neste<br />
encontro, permitiu não só dar a conhecer<br />
a Instituição fora de fronteiras, bem como,<br />
reforçar todo o trabalho que tem vido a ser<br />
desenvolvido pelo grupo dos autorrepresentantes,<br />
acreditando que este deve ser<br />
um trabalho de continuidade por forma a<br />
dar voz a todas as pessoas com deficiência<br />
intelectual.<br />
Simone Rodrigues<br />
© DR<br />
CEERDL<br />
INCLUSÃO PELO TRABALHO<br />
No Centro de Educação Especial Rainha<br />
D. Leonor a prestação de serviços de lavandaria<br />
iniciou em 1999. Tem cumprido<br />
objetivos de inclusão socioprofissional de<br />
pessoas com vulnerabilidades e gerado<br />
anualmente resultados líquidos sustentáveis.<br />
A Lavandaria da Rainha é uma oportunidade<br />
para a igualdade social e um<br />
desafio à mudança: desafia estereótipos e<br />
preconceitos, esbatendo medos e receios;<br />
desafia a discriminação e desperta consciências<br />
porque promove a aceitação das<br />
pessoas com deficiência pelos seus pares<br />
e pelas suas comunidades, obrigando-nos<br />
a olhar as diferenças com mais igualdade!<br />
Dando visibilidade ao potencial de trabalho<br />
dos seus trabalhadores, a Lavandaria<br />
da Rainha tem contribuído para a<br />
diminuição do estigma social que associa<br />
a deficiência à incapacidade para o<br />
emprego. A integração socioprofissional<br />
neste serviço, além de representar fonte<br />
de rendimento para agregados familiares<br />
desfavorecidos, tem impacto na autonomia,<br />
motivação e realização pessoal, fatores<br />
essenciais para a cidadania ativa. Tratando-se<br />
da integração profissional de<br />
públicos vulneráveis, o acompanhamento<br />
aos colaboradores é multidimensional e<br />
holístico, sendo que o investimento na<br />
sua produtividade, implica um envolvimento<br />
da Organização que não finda no<br />
indivíduo estendendo-se à sua rede familiar<br />
e social.<br />
O CEERDL propôs à Fundação EDP que<br />
apoiasse em 2018, o cumprimento da nossa<br />
missão a partir do patrocínio do projeto<br />
- “O Trabalho Inclui”. Este apresenta<br />
o crescimento e redimensionamento dos<br />
serviços, justificando a existência de um<br />
mercado para explorar, e apresentando<br />
as necessidades que o CEERDL identifica<br />
como essenciais ao desenvolvimento<br />
do negócio: ampliação e reorganização<br />
de espaços de atendimento e produção,<br />
novos equipamentos de lavagem e tratamento<br />
de roupa e viatura para recolhas e<br />
entregas.<br />
O que se pretende é criar condições para<br />
aumentar a capacidade de resposta e o<br />
volume de negócio para que, consequentemente,<br />
seja possível integrar mais pessoas<br />
em ocupação, formação e emprego.<br />
Assim, a ampliação da Lavandaria da Rainha,<br />
em parceria com a Fundação EDP<br />
não só irá consolidar, como impulsionar os<br />
resultados de inclusão até agora alcançados:<br />
nº de pessoas em inserção profissional;<br />
níveis de eficiência e de produção no<br />
tratamento de roupa; nº de clientes e níveis<br />
de satisfação com a qualidade dos serviços.<br />
Mas fundamentalmente, vai enfatizar<br />
e disseminar a ideia de que o trabalho é<br />
uma importante dimensão em que a igualdade<br />
de oportunidades tem que ser efetiva<br />
de modo a que seja uma realidade acessível<br />
para TODOS os que tiverem capacidades<br />
de realização, mesmo quando há<br />
necessidade de ajustar e estruturar tarefas,<br />
não sendo a palavra deficiência, igual<br />
a total incapacidade para o emprego.<br />
80 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 81
SEPARADOR<br />
NÓS POR NÓS<br />
PRÓPRIOS<br />
© JMC | CSCD Mira Sintra<br />
Se querem saber a nossa opinião, perguntem-nos! Se querem<br />
ficar a conhecer as nossas esperanças e sonhos dêem-nos<br />
espaço para que vos possamos mostrar. Afinal, somos como<br />
qualquer um de vós: igual nos direitos, diferentes na maneira de<br />
ser e de estar. Por isso, não falem por nós: falem connosco!
NÓS POR NÓS PRÓPRIOS<br />
ACIP<br />
EQUIPA 5 ESTRELAS<br />
CECD<br />
ARTE EM “DUAS SENAS”<br />
Sou o Henrique João Guimarães, tenho 14<br />
anos e sou natural de Moreira de Cónegos,<br />
uma freguesia do concelho de Guimarães.<br />
Em janeiro de 2006, com 3 anos,<br />
fui diagnosticado com Síndrome de Asperger<br />
e aos 4 anos iniciei na ACIP com<br />
um plano de terapias semanais. Estas<br />
terapias consistiam em terapia da fala,<br />
terapia ocupacional, terapia de grupo,<br />
neurofeedback e apoio psicológico, este<br />
último, mantido até aos dias de hoje.<br />
Desde a pré-escola até aos dias de hoje<br />
fui sempre acompanhado pela minha família,<br />
pela equipa da ACIP e pelos professores.<br />
Todo este acompanhamento foi<br />
muito importante, mudou-me a vida para<br />
melhor. A disponibilidade dos técnicos<br />
foi fundamental para a minha evolução e<br />
sucesso, tanto académico, como pessoal<br />
e social.<br />
Todos são incríveis comigo e divertimo-<br />
-nos muito!<br />
Hoje, tenho uma vida normal, tal como<br />
todas as crianças e adolescentes do país<br />
e do mundo.<br />
Estou integrado na comunidade, nos escuteiros,<br />
no agrupamento 663 de Moreira<br />
de Cónegos há cerca de 7 anos. Graças<br />
a esta integração, comecei a gostar<br />
de acampar, descobrir a natureza e conheci<br />
muitas pessoas fantásticas de quase<br />
todos os cantos do país.<br />
O meu clube é o Moreirense Futebol<br />
Clube, clube da minha terra e sou sócio<br />
desde pequeno por influência do meu<br />
avô.<br />
Como eu, na ACIP existem mais crianças<br />
e jovens, não hesite em visitar-nos, caso<br />
necessitem deste ou de outros serviços.<br />
A equipa é 5 estrelas comigo e com a minha<br />
família e também o serão consigo e<br />
com o seu filho!<br />
Eu sou o Cláudio Pinho e tenho 24 anos.<br />
Sou ator do Grupo Teatro Duas Senas<br />
há quatro anos e gosto imenso de estar<br />
neste grupo todos os sábados. Tenho<br />
de me levantar cedo para ir para a Casa<br />
da Cultura Lívio de Morais (em Mira<br />
Sintra) e vou sempre com o Francisco<br />
e o Senhor Filipe e quando lá chegamos<br />
já lá está a encenadora Inês Oliveira<br />
para começarmos a trabalhar.<br />
O grupo é nosso e somos nós que temos<br />
a responsabilidade de o levar para<br />
a frente. No futuro gostava que o grupo<br />
já fosse independente do Teatromosca<br />
e do CECD, que conseguíssemos<br />
tratar de tudo sozinhos, sem ajuda de<br />
mais ninguém. Confesso que gosto do<br />
Duas Senas – amo este grupo. Às vezes<br />
temos zangas entre nós mas nada que<br />
não se resolva com um grande trabalho<br />
e muito foco nos nossos objetivos. Para<br />
além de colegas de trabalho, às vezes<br />
também fazemos almoços e outro tipo<br />
de saídas todos juntos.<br />
Uma coisa muito importante no nosso<br />
percurso e que nos deu muita força<br />
para continuarmos a trabalhar e nos<br />
mostrou que o nosso trabalho tinha<br />
valor foi a apresentação do espetáculo<br />
“O Labirinto Mágico” na Malaposta,<br />
há dois anos. Foi a primeira vez que fizemos<br />
apresentações num local novo,<br />
onde não conhecíamos ninguém e onde<br />
era tudo novo. Estávamos super nervosos<br />
mas acabou por correr tudo bem.<br />
Este ano voltámos a apresentar o novo<br />
espetáculo “Uma Casa de Loucos!” na<br />
Malaposta e tivemos, duas vezes, a sala<br />
quase cheia. Ficámos muito contentes<br />
por poder mostrar o nosso trabalho e<br />
mostrar a outras pessoas o que é trabalhar<br />
com a deficiência e, como diz a<br />
frase, juntos somos mais fortes, e conseguimos<br />
fazer espetáculos que são um<br />
sucesso. E agora aguardem por novas<br />
novidades de 2018 que já começámos<br />
a preparar o novo ano cheio de atividades!<br />
© Catarina Lobo<br />
Henrique Guimarães<br />
Cliente da ACIP<br />
Claúdio Pinto<br />
Ator, Assistente de Produção e Cliente do CECD<br />
84 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 85
NÓS POR NÓS PRÓPRIOS<br />
CERCIMA<br />
UM NOVO RUMO<br />
Quando entrei para a formação da CER-<br />
CI, não sabia bem o que esperar, vinha<br />
de um estado depressivo sem atividade<br />
nem ocupação! Ao início, estava um pouco<br />
reticente, ansioso! A ideia de fazer 6<br />
horas de formação assustava-me, tinha<br />
receio das vozes (alucinações) e alterações<br />
de humor (maníaco-depressivo),<br />
me afetarem o desempenho. A verdade<br />
é que influenciado por pessoas como o<br />
meu irmão e a minha psiquiatra, entrei<br />
para me sentir integrado na sociedade,<br />
ter uma atividade, sentir-me integro, ter<br />
dignidade! O dinheiro ajudou, ao principio<br />
não tinha uma perceção de que o<br />
dinheiro fosse fazer a diferença, mas acabou<br />
por ser uma motivação! Comecei por<br />
trabalhar a fazer limpezas em quartos no<br />
Motel Mood, mas não correu bem, desmotivava-me<br />
fazer algo que não me interessava,<br />
tive dificuldades de integração,<br />
foi-me dada uma segunda oportunidade,<br />
de fazer algo que tivesse interesse e gostasse,<br />
e fui encaminhado para a escola<br />
profissional, onde ainda estou hoje, bem<br />
mais motivado, faço o meu trabalho e sou<br />
pontual e assíduo. Encontrei na CERCI<br />
um novo rumo, uma nova abordagem do<br />
Cliente da CERCIMA<br />
real, anterior à CERCI, vivia fechado sem<br />
sair da minha área de conforto, e não tinha<br />
uma rotina, como acordar cedo, ter<br />
horários para comer, dormir! A CER-<br />
CI ajudou-me a recuperar estabilidade,<br />
hoje encontro-me estabilizado e com os<br />
antigos sintomas dominados! Fiz novos<br />
amigos, e hoje fazemos atividades extra<br />
CERCI, como ir ao cinema, atividades<br />
perdidas e que recuperei. Com a CERCI,<br />
comecei a fazer psicoterapia que me ajudou<br />
a estruturar o pensamento, a estabilizar<br />
o emocional, e a equilibrar sintomas<br />
como vozes ou delírios, e com a ajuda de<br />
toda a equipa, voltei a ter uma vida real, a<br />
viver uma rotina, ter uma atividade ocupacional,<br />
e com o apoio necessário, recuperei<br />
a motivação. Com a CERCI cresci<br />
interiormente, aprendi a construir defesas<br />
para as minhas assombrações, a viver<br />
com a minha patologia, e não deixar que<br />
isso me impeça de levar uma vida regular!<br />
O ambiente na formação é bom e sinto-<br />
-me integrado socialmente, mais independente<br />
e mais autónomo. Hoje coexisto<br />
sociolaboralmente, e ter uma formação,<br />
atividade, ajudou-me a criar condições e<br />
equilíbrio mental, vivo com mais balanço,<br />
foram-me dadas as ferramentas, e só tive<br />
que fazer o exercício de as pôr em prática.<br />
Vi os resultados surgirem, a CERCI<br />
foi um catalisador para a recuperação e<br />
hoje, deixei de a associar ao misticismo<br />
estigmático que existe para pessoas com<br />
deficiência. Com a instituição progredi<br />
e evoluí para um melhor funcionamento,<br />
passei a funcionar e alterou o meu olhar<br />
perante a realidade. Sinto-me refrescado<br />
com a CERCI, mais capaz, mais realizado<br />
e vou sentir a falta desta nova e positiva<br />
experiência.<br />
CERCIMA<br />
UMA COISA QUE NÃO<br />
ERA E HOJE SOU!<br />
Bem aqui vou-vos contar um pouco do<br />
que aconteceu na minha vida, antes e depois<br />
de ir para a formação na CERCIMA.<br />
Há uns aninhos atrás, eu trabalhava numa<br />
fábrica de roupeiros e o trabalho era um<br />
bocado duro, tinha que lixar várias vezes<br />
portas de roupeiros, era um trabalho<br />
muito repetitivo e pesado, o tempo foi<br />
passando e comecei a ficar com dores no<br />
meu ombro esquerdo, fui para o seguro<br />
fizeram-me fisioterapia durante 3 meses e<br />
nada, ao fim dos 3 meses deram-me alta<br />
e eu sem conseguir trabalhar, comecei a<br />
entrar em depressão. Fui despedida e andei<br />
mais de 11 anos de médico em médico,<br />
parecia uma bola de ping-pong ninguém<br />
resolvia nada e eu sem poder trabalhar<br />
sentia-me uma inútil, cheguei a ser operada<br />
a uma tendinite crónica mas fiquei na<br />
mesma, fiz mais fisioterapia mas era como<br />
se não tivesse feito nada, e fui-me ainda<br />
mais a baixo, fiquei sem sensibilidade no<br />
meu ombro esquerdo, nesse momento,<br />
foi como se o mundo tivesse desabado<br />
em cima de mim, a depressão agravou-<br />
-se, perdi a vontade de tudo, estava triste,<br />
não saía de casa, nem com amigos, só me<br />
apetecia estar deitada, foi muito difícil, os<br />
meus pais perguntavam se eu estava com<br />
medo de ir trabalhar ou se não queria trabalhar,<br />
mas não era nada disso.<br />
Passado algum tempo uma prima minha<br />
veio falar comigo sobre a CERCIMA<br />
onde há muitas pessoas que pensam que<br />
só há lá jovens com problemas motores,<br />
trissomia 21, etc mas não, lá também ajudam<br />
pessoas com incapacidade como eu.<br />
Assim que a minha prima falou na CER-<br />
CIMA eu fui lá, ainda me lembro de estar<br />
muito nervosa quando fui falar com a<br />
coordenadora da formação e assim foi, fui<br />
integrada num curso. No primeiro dia sem<br />
conhecer ninguém fui para uma sala com<br />
varias pessoas que iriam ser formandos e<br />
onde estavam as nossas formadoras, mas<br />
eu continuava nervosa até que chegou a<br />
minha vez de me apresentar, nervosa e a<br />
gaguejar, mas apresentei-me.<br />
Ao princípio quando começámos a ter a<br />
formação eu era muito caladinha, se algumas<br />
das formadoras me perguntassem<br />
alguma coisa eu não conseguia responder<br />
porque ficava enervada, bloqueava e não<br />
conseguia falar. Então foi-me proposto<br />
apoio psicológico e eu aceitei logo, não<br />
sei explicar logo a primeira vez que falei<br />
com a psicóloga senti-me logo diferente e<br />
continuando com o apoio fui-me sentindo<br />
cada vez melhor, deixei de ser envergonhada.<br />
Uma coisa que não era e hoje sou…<br />
Feliz! Hoje tenho a autoestima em cima,<br />
autonomia, sei tomar decisões. Isto tudo<br />
se não fosse a psicóloga, que me ajuda<br />
no apoio, não era possível, sinto-me bem,<br />
sinto-me outra pessoa, ganhei amigos,<br />
dois são como irmãos de sangue - o Zé<br />
e o Daniro sem me esquecer onde estou<br />
a estagiar não podia estar mais satisfeita.<br />
A comparar como era quando entrei na<br />
CERCIMA e a minha evolução, eu não<br />
me farto de dizer e de agradecer a toda<br />
a equipa, vocês são a minha segunda família,<br />
não há palavras para descrever o<br />
quanto têm feito por mim ficarei eternamente<br />
grata a cada uma de vocês, gosto<br />
muito de vocês, vai-me custar muito,<br />
mas muito mesmo, quando eu terminar o<br />
curso e tiver que deixar a CERCIMA. Um<br />
beijo com muito amor e carinho para a<br />
CERCIMA toda.<br />
Marisa Carvalho<br />
Cliente da CERCIMA<br />
86 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 87
NÓS POR NÓS PRÓPRIOS<br />
CERCIPÓVOA<br />
COMEÇAR DE NOVO...<br />
Estava em Luanda. Depois do 25 de abril,<br />
vim para Chaves. Foi bom porque conheci<br />
os meus primos, as minhas tias e a minha<br />
avó. Vim com a minha madrinha. Fomos<br />
passear, arranjei amigas, e uma ficou para<br />
sempre comigo. Íamos ao café e às compras,<br />
comprava pulseiras e roupas.<br />
Em Chaves, arranjámos uma empregada,<br />
que está connosco até hoje. Chama-se<br />
Cristina. É muito minha amiga, trocamos<br />
mensagens e telefonemas. Depois a minha<br />
madrinha morreu, fiquei muito triste, faz-<br />
-me muita falta porque gostava dela...Ela<br />
era muito boa para mim, fazia-me tudo o<br />
que eu pedia, já lá vão 4 anos!<br />
Depois, mais tarde, morreu a minha mãe.<br />
Antes dela morrer, estávamos sempre juntas.<br />
Ela já não conhecia as pessoas, mas a<br />
mim sempre me conheceu!<br />
Viamos sempre televisão: as novelas, a<br />
Fátima Lopes e o Goucha. Via muita televisão<br />
e ouvia muita música. Gosto do<br />
Marco Paulo, Tony Carreira e da Ágata,<br />
principalmente aquela música “Conselhos<br />
de Mãe”, é muito bonita, fala de Belém!<br />
Também gosto de ser entrevistada.<br />
Gosto muito de tomar café e o meu prato<br />
favorito é o leitão.<br />
Depois tudo se acabou...quando a mãe<br />
morreu tudo mudou! Vim para Lisboa e<br />
deixei lá as minhas coisas!<br />
Aqui não conheço ninguém, mas a minha<br />
irmã e o meu sobrinho são muito bons<br />
para mim, fazem-me tudo, mas está a custar-me<br />
ambientar...<br />
Depois fui para a CERCI. Também me<br />
custou a habituar, porque lá há muito barulho<br />
e a comida não era aquilo que eu<br />
costumava comer.<br />
Mas agora já gosto da Tina, da Cristina,<br />
da Teresa, da Nati, da Bina e da Lídia.<br />
Também gosto muito do Reiki e das aulas<br />
da Tina, já me estava a esquecer! Gosto<br />
de pintar, de fazer ponto de cruz, mas não<br />
gosto de escrever!<br />
Aqui, já fui passear pelo Algarve e já fui ao<br />
Oceanário ver os peixinhos.<br />
Fui passar o Natal com a minha prima.<br />
Já conheci duas colegas da minha irmã e<br />
também gosto de andar bem arranjada.<br />
E agora gostava de partilhar aqui um sonho<br />
que tive:<br />
O MEU SONHO<br />
Estava no meu quarto.<br />
Estava chuva e frio... veio um passarinho<br />
bater na minha janela, perguntei-lhe o<br />
que queria, ele respondeu que tinha uma<br />
carta para mim e pediu-me:<br />
- Vem comigo para o céu, estão lá duas<br />
pessoas que te querem ver!<br />
Eu fui com ele! Estava lá a minha mãe e<br />
a minha madrinha. Elas pediram-me para<br />
ficar junto delas e eu fiquei...<br />
Elas ficaram todas contentes!<br />
Vi lá muitas estrelas bonitas, que falavam<br />
e me perguntavam o que estava lá a fazer.<br />
Eu respondi que ia lá ficar para sempre e<br />
fui passear, vi lá muitas estrelas e anjos<br />
que falavam!<br />
E fiquei lá para sempre...<br />
Anabela Barroso<br />
Cliente do CAO<br />
da CERCIPÓVOA<br />
CERCIBEJA<br />
“A CONVERSAR É QUE<br />
A GENTE SE ENTENDE”<br />
O grupo de autorrepresentação da CER-<br />
CIBEJA tem aproximadamente 1 ano de<br />
existência e tem como princípios fundamentais<br />
a questão da autonomia, da responsabilidade,<br />
da escolha, do respeito e<br />
da liberdade dos indivíduos. Tem como<br />
objetivo a tomada de consciência desses<br />
princípios, assumi-los como algo inerente<br />
à sua própria vida, exerce-los no quotidiano<br />
e realizar atividades que demonstrem<br />
na organização e na comunidade<br />
que as pessoas com deficiência podem<br />
ter um papel ativo em todas as “esferas<br />
da vida” enquanto pessoas e cidadãos.<br />
O grupo é composto por 19 pessoas, clientes<br />
da UPS - Centro de Atividades Ocupacionais.<br />
É dinamizado por um elemento<br />
eleito por todos os outros que assume um<br />
papel mais ativo dentro do grupo.<br />
Cada encontro explora uma temática que<br />
vai de encontro aos interesses do grupo.<br />
Reúne duas vezes por semana, com o<br />
apoio de dois técnicos facilitadores.<br />
Atividades gerais:<br />
• Desenvolvimento de atividades do interesse<br />
do grupo de autorrepresentação;<br />
• Participação em sugestões de melhoria<br />
sobre o funcionamento da<br />
CERCIBEJA e do bem-estar dos colaboradores;<br />
• Participação em atividades que se<br />
encontrem a decorrer na e para a comunidade;<br />
• Participação no projeto “Violência<br />
Doméstica e Deficiência” em parceria<br />
com a FENACERCI.<br />
Grupo de Autorrepresentação<br />
da CERCIBEJA<br />
O que fazemos na Comunidade: dois<br />
exemplos<br />
• Voluntariado no Banco Alimentar de<br />
Beja, onde participamos na elaboração<br />
de dois cabazes para as IPSS da cidade;<br />
• Participação nas compras diárias<br />
com duas idosas, em parceria com a<br />
Santa Casa Misericórdia de Beja.<br />
O que mudou nas nossas vidas?<br />
“É muito importante a gente estar aqui<br />
reunidos para falar de ideias, de saídas,<br />
de tudo”, Gertrudes<br />
“Estar com os amigos, com os colegas,<br />
conversar e fazer atividades”, Ivan<br />
“Ir ao lagar, provar o azeite, molhar o pão<br />
no sabor doce e azedo. Gosto de vir para<br />
aqui por causa dos passeios e de ajudar<br />
os velhotes”, Florival<br />
“Gosto dos filmes, de ter ido comer o<br />
bolo na pastelaria”, Ana Sofia<br />
88 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 89
NÓS POR NÓS PRÓPRIOS<br />
CERCIMARANTE<br />
CERCIMARANTE<br />
“DIREITOS, DEVERES<br />
E INCLUSÃO”<br />
No âmbito do projeto FACTO (Formação,<br />
Apoio e Capacitação de Todos),<br />
realizou-se uma Tertúlia intitulada: Direitos,<br />
Deveres e Inclusão.<br />
O tema é bastante pertinente porque em<br />
pleno século XXI, ainda existem preconceitos<br />
e falta de informação da pessoa<br />
dita “normal” para com as pessoas que<br />
têm limitações e/ou deficiência(s) de várias<br />
ordens. Na Tertúlia abordaram-se<br />
temas para discussão onde os intervenientes<br />
davam a sua opinião.<br />
Sobre a temática da desigualdade, as<br />
opiniões foram unânimes e chegou-se<br />
à conclusão que a nível laboral, as pessoas<br />
que têm limitações não possuem as<br />
mesmas oportunidades, mesmo tendo as<br />
mesmas capacidades, o que faz com que<br />
haja uma grande discriminação, principalmente<br />
pela parte do empregador.<br />
Outro tema do debate foram as acessibilidades.<br />
Os clientes mostraram grande<br />
consenso e indignação pois, para quem<br />
tem dificuldades a nível de mobilidade<br />
reduzida, certos locais não têm rampas<br />
ou elevadores para se ter acesso a<br />
todos os serviços e no que diz respeito<br />
aos transportes, concluiu-se que existe<br />
um número muito reduzido daqueles que<br />
estão preparados para as pessoas com<br />
limitações motoras.<br />
No que diz respeito ao tema do preconceito<br />
da sociedade perante as pessoas<br />
consideradas “diferentes” constatou-se<br />
que ainda há muito a fazer em prol da<br />
igualdade.<br />
Em suma, muito há a mudar em todos os<br />
aspetos, mas principalmente a aceitação<br />
da diferença e o respeito são fundamentais<br />
para todos.<br />
António Peixoto, Margarida Cardoso, Gina Neves, João Teixeira, Daniela Gonçalves,<br />
Sónia Costa, Sara Magalhães, Marcos Machado, Rafael Silva | Clientes do Centro<br />
de Formação e Reabilitação Profissional da CERCIMARANTE<br />
90 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 91
NÓS POR NÓS PRÓPRIOS<br />
CERCIDIANA<br />
CERCIMA<br />
GOSTO DE ESTAR AQUI!<br />
O António chegou à CERCIDIANA depois<br />
de ter perdido quase tudo na sua<br />
vida, isto é, familia, emprego, a sua terra.<br />
Fez um percurso na formação profissional,<br />
sem sucesso. As perspetivas de vida<br />
eram desanimadoras. Entretanto, integrou<br />
o nosso CAO e Lar Residencial. A<br />
vida do António transformou-se, o seu<br />
sorriso é hoje constante e contagioso!<br />
Para completar esta felicidade, foi colocado<br />
em ASU – Atividades Socialmente<br />
Úteis no Café Horta das Tâmaras. O seu<br />
percurso tem sido um sucesso, ficam os<br />
testemunhos:<br />
O empresário Nuno Damas: “Encontrou<br />
uma família. É uma mais-valia”.<br />
“O António foi uma agradável surpresa,<br />
uma grande experiência. É super dedicado,<br />
gosta do que faz, é bom vê-lo evoluir,<br />
ver que está contente. O António é<br />
respeitado, valorizado, faz as tarefas com<br />
eficácia. Os clientes reconhecem a sua<br />
dedicação, criou laços com os clientes. É<br />
uma pessoa fundamental na casa.”<br />
António Pombinho “Quero continuar<br />
aqui!”<br />
“Sinto-me bem, os clientes são simpáticos,<br />
sinto-me à vontade. Sinto que gostam<br />
de mim. Conheço os hábitos dos<br />
clientes”.<br />
CERCIDIANA | Pela Técnica de Serviço Social<br />
Empresário Nuno Damas com António Pombinho<br />
Colaborador da Century 21, Hugo Rebocho<br />
“dá 10 a 0 a muitos trabalhadores<br />
de espaços comerciais”<br />
“No início estranhei, apercebi-me que<br />
ele era diferente. Fico agradado pela forma<br />
como tudo está a decorrer… Admiro<br />
a coragem do empresário em colocar<br />
aqui uma pessoa com estas caraterísticas!..<br />
Há clientes mais sensíveis... Gabo<br />
a coragem! O António é muito atencioso<br />
com os clientes”<br />
A CONSTELAÇÃO<br />
DO SONHO<br />
Bem vim aqui vos falar um pouco da autonomia<br />
e o quanto a CERCIMA me ajudou<br />
a tê-la.<br />
A autonomia para mim é uma das coisas<br />
muito importantes que devemos ter na<br />
vida pois sem ela, estaremos sempre a<br />
depender dos outros e a nossa vida não<br />
avança em nada.<br />
O simples facto de iniciarmos uma conversa<br />
com alguém e sermos nós a darmos<br />
o primeiro passo, de sermos sociais<br />
sem termos de estar a depender de outra<br />
pessoa para começarmos a falar com<br />
outra pessoa fora da nossa zona de con-<br />
Tiago Azevedo<br />
Cliente da CERCIMA<br />
forto já nos torna autónomos.<br />
Antes de entrar para a CERCIMA era<br />
assim, não dava o primeiro passo num<br />
diálogo. Dependia dos outros que puxavam<br />
por mim para eu iniciar o diálogo.<br />
A CERCIMA ajudou-me a ter confiança,<br />
ajudou-me a não ser assim tão tímido,<br />
para mostrar a pessoa que sou e que assim,<br />
os outros iam fazer o mesmo comigo<br />
e isso foi um grande avanço para mim<br />
e para o meu futuro pois a comunicação<br />
é das coisas mais essenciais que precisamos<br />
de ter para vingar nesta sociedade,<br />
agradeço à CERCIMA por isso.<br />
Todos nós devemos ter um projeto de<br />
vida, objetivos para alcançar - o que nos<br />
vemos a fazer no futuro. Eu, os objetivos<br />
que tinha, eram muito vagos e pouco<br />
concretos. Gostava de fazer algo que<br />
gostasse, mas não sabia o quê, nem tinha<br />
ferramentas para tal.<br />
Hoje em dia posso dizer que tenho objetivos<br />
bem concretos e tenho as ferramentas<br />
necessárias para os mesmos.<br />
Quero trabalhar na área de armazém,<br />
fazer contrato na empresa onde estou a<br />
estagiar e quem sabe se torna num trabalho<br />
para a vida, é esse o meu objetivo<br />
principal.<br />
Ouvi uma vez na televisão “se conseguires<br />
sonhar és capaz” obrigado à CER-<br />
CIMA por me fazer sonhar e acreditar<br />
que sou capaz de alcançar tudo o que<br />
quiser na vida.<br />
92 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 93
NÓS POR NÓS PRÓPRIOS<br />
CERCIMONT<br />
A HISTÓRIA<br />
DE CARINA<br />
Olá eu sou a Carina! Vou contar-vos a minha história.<br />
Eu nasci com uma deficiência motora que me dificulta a<br />
vida, mas eu consigo ultrapassar as dificuldades. As minhas<br />
principais dificuldades são: subir escadas e os autocarros.<br />
Eu até aos meus dezanove anos vivi com a minha mãe, mas<br />
entretanto ela faleceu e eu tive de ir para uma família de<br />
acolhimento.<br />
Eu sou feliz e encontrei a Tia São que me ajuda muito. Dá-<br />
-me conselhos quando eu preciso e dá-me carinho. E eu<br />
agradeço muito o que ela tem feito por mim. Eu encontrei<br />
uma família de que gosto muito, mas, muito…<br />
Eu encontrei também uma escola que se chama CER-<br />
CIMONT. Eu gosto muito de andar nessa escola. Nós<br />
fazemos muitos trabalhos como por exemplo: flores,<br />
porquinhos mealheiros, sabonetes, alfinetes, bruxas, porta-retratos<br />
etc.<br />
Eu muitas vezes penso: como seria a minha vida se não<br />
tivesse este problema?<br />
Talvez não desse valor às coisas que consigo fazer sozinha<br />
como ir à casa de banho, brincar com os cães da Tia São e<br />
fazer as minhas coisas básicas.<br />
Eu tenho alguns sonhos e não desisto deles. Eu sei que<br />
sou capaz de fazer quase tudo. Só tenho de continuar a<br />
lutar!<br />
Carina<br />
Cliente da CERCIMONT<br />
CECD<br />
UM ARTISTA DE MÃO CHEIA<br />
Sou o Nuno Faneco, tenho 27 anos e adoro música, teatro,<br />
dança… Dizem que o meu traço é inconfundível e os meus<br />
desenhos uma inspiração. Faço da Arte a forma de comunicação<br />
mais imediata e transparente no meu dia-a-dia.<br />
Estou no “AgitArte – as ideias” desde 2012. Entrei no grupo<br />
porque gostava de aprender a dançar e representar,<br />
mostrar o que sou no palco. Ao mesmo tempo queria conhecer<br />
pessoas novas e novos sítios.<br />
O grupo é importante porque ajuda-nos a conseguir libertar<br />
os nossos medos, a vergonha de estar em frente aos<br />
outros, o preconceito… Enfrentamos o receio de falhar, a<br />
ansiedade, o nervosismo.<br />
Sou “amigo do improviso” e da interação, reconheço que o<br />
grupo AgitArte em cada atuação mostra aos outros o nosso<br />
talento, a nossa arte, que somos capazes de fazer melhor!<br />
Nas palavras das coordenadoras do grupo, o Nuno é um<br />
Homem das Artes, mais-valia no grupo, elemento imprescindível<br />
nos trilhos do “AgitArte – as ideias”.<br />
Nuno Faneco<br />
Cliente do Centro de Atividades<br />
Ocupacionais do CECD<br />
CERCISA<br />
CECD<br />
EU GOSTEI PORQUE SIM!<br />
VONTADE DE TER VONTADE!<br />
Eu gostei da Festa de Natal porque estava gira.<br />
Eu gostei das apresentações dos senhores a cantarem.<br />
Lanchámos aqui na sala com os senhores da música.<br />
Gostei da decoração porque estava alegre e gira e da<br />
música.<br />
Da nossa apresentação gostei de dançar, os pais gostaram<br />
muito, disseram que dançámos bem.<br />
Recebi muitas prendas e gostei de todas.<br />
Beatriz Campos<br />
Cliente da CERCISA<br />
Nelson Monteiro, Vitor Borges,<br />
Carlos Ferreira, Jacinto Nunes<br />
Autorrepresentantes da CERCIOEIRAS<br />
© DR<br />
Deixamos o nosso especial agradecimento,<br />
à Associação Noor Fátima, que nos integrou para esta ação.<br />
São todos pessoas muito especiais<br />
que todas as semanas dedicam o seu tempo<br />
a trazer conforto à vida de outras pessoas.<br />
No plano de atividades da CERCIOEIRAS<br />
Tínhamos proposto realizar uma ação de voluntariado<br />
Na comunidade, junto dos Sem Abrigo.<br />
Esta ideia surgiu, porque além de Direitos,<br />
Temos também Deveres enquanto cidadãos.<br />
Esta foi uma experiência muito emocional,<br />
E ainda nos lembramos dos olhares tristes que vimos,<br />
E também das palavras de agradecimento que recebemos.<br />
Fez-nos pensar na sorte que temos em estar na CER-<br />
CIOEIRAS.<br />
Temos uma família, amigos, uma casa para onde voltar,<br />
Temos roupa, temos comida e amor, MUITO AMOR.<br />
94 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 95
VENHA<br />
DE LÁ<br />
ESSE ABRAÇO<br />
SEPARADOR<br />
Os amigos não são para as ocasiões: são para sempre que é preciso. E nós<br />
temos a felicidade de contar com muitos e bons amigos, gente conhecida<br />
da comunidade que nos empresta o seu prestígio para podermos chegar<br />
mais longe e a mais pessoas. A solidariedade mostra-se nestes pequenos<br />
gestos, desinteressados e espontâneos, sinceros e cidadãos. A todos os nossos<br />
amigos deixamos o nosso muito obrigado, sob a forma de um abraço, que<br />
leva nele toda a nossa gratidão e consideração. Bem hajam.<br />
© D.c – PHOTOMOVI | CECD
VENHA DE LÁ ESSE ABRAÇO<br />
ANDRÉ<br />
BARROS<br />
Pianista e Compositor<br />
“Num mundo cada vez mais global, a<br />
consciência de que todos merecemos<br />
iguais oportunidades é cada vez mais<br />
evidente... tolerável será ser-nos negado<br />
um posto de trabalho em função<br />
de fracas habilitações académicas ou<br />
de ausência de idoneidade moral. Será<br />
no entanto intolerável essa discriminação,<br />
quando acontece meramente<br />
por termos uma deficiência. Lutemos,<br />
no nosso dia-a-dia, pela justa e clara<br />
igualdade de direitos, pela derradeira<br />
tolerância e empatia que nos unirá a<br />
todos e nos moverá enquanto sociedade<br />
responsável, solidária, humana e<br />
sustentável. Apelemos todos à razão e,<br />
sobretudo, à nossa inteligência emocional<br />
para, paulatinamente e junto<br />
da nossa comunidade, erradicarmos<br />
de uma vez a indiferença e a obsoleta<br />
discricionariedade na distribuição de<br />
oportunidades (e responsabilidades!).<br />
Procurarei sempre estar à altura deste<br />
desafio.”<br />
© Carla de Sousa<br />
© Pedro Ferreira<br />
FERNANDA<br />
SERRANO<br />
Atriz<br />
“Fala-se tanto na diferença, na igualdade<br />
de direitos e deveres, do respeito,<br />
da falta de condições, na deficiência<br />
no sentido lato, mas a verdade é<br />
que todos somos altamente responsáveis<br />
por tanta demagogia e tao pouca<br />
ação. No fundo, os “incapazes”, como<br />
por vezes a sociedade e o sistema denomina<br />
estas pessoas, somos todos, os<br />
que temos conhecimento, mas nada<br />
fazemos para mudar, para melhorar as<br />
condições de vida e por vezes até de<br />
sobrevivência destas pessoas e seus<br />
familiares. As sociedades desenvolvidas,<br />
estarão realmente organizadas<br />
para responder às necessidades dos<br />
seus cidadãos com deficiência? Ainda<br />
há tanto por fazer. Mas comecemos<br />
então, por cada um de nós, fazer algo,<br />
por menor que nos possa parecer, mas<br />
que esteja ao nosso alcance, que tenha<br />
um resultado. Será um excelente começo.<br />
Para ambas as partes...<br />
Boa sorte e... Bom trabalho! A todos!”<br />
98 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 99
VENHA DE LÁ ESSE ABRAÇO<br />
JOANA<br />
SOLNADO<br />
Atriz<br />
NUNO<br />
VASA<br />
Artista Plástico<br />
e Escultor<br />
“Quando dizemos deficiência estamos<br />
à partida a considerar que a<br />
pessoa tem défice de algo, estamos<br />
portanto a focar no negativo.<br />
Ao focar no positivo, consideramos<br />
o que a pessoa tem em abundância,<br />
decerto outras qualidades importantíssimas.<br />
O ser humano tem mais<br />
facilidade em encontrar os defeitos<br />
do que as virtudes. É um desafio<br />
encontrar o que de melhor todos<br />
temos.<br />
Sem julgamento e com sentido de<br />
igualdade é a única forma honesta<br />
de estar num mundo de sobreviventes.<br />
De outro modo, não é possível<br />
a harmonia.<br />
Não estamos sozinhos neste mundo,<br />
precisamos uns dos outros. Somos<br />
todos humanos, somos todos<br />
um só. “<br />
© Revista Prevenir / Carlos Ramos<br />
“ A paixão pelo ofício é dos sentimentos<br />
o mais belo na formação do<br />
ser. Fazer diferente e viver com a diferença<br />
na arte/vida, é uma constante<br />
aprendizagem de (in)significados<br />
numa leitura sem letras nem linhas. É<br />
tempo de (re)escrever, viver e deixar<br />
viver diferente... Venha de lá esse<br />
Abraço!”<br />
100 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 101
VENHA DE LÁ ESSE ABRAÇO<br />
TOMARA<br />
FILIPE MONTEIRO<br />
Músico<br />
“Entender a Diferença é um desafio.<br />
Obriga-nos a ver o Outro; a colocar-<br />
-nos no seu lugar. Essa é a base da<br />
Empatia, um dos mais preciosos valores<br />
humanos que podemos cultivar.<br />
Ao proporcionarmos um Mundo justo<br />
e pleno para as pessoas com deficiência,<br />
estamos também a expandir<br />
a nossa própria noção de “normalidade”.<br />
E isso é um crescimento pessoal<br />
e humano de riqueza maior.”<br />
TOMAZ<br />
MORAIS<br />
Antigo Jogador<br />
e Atual Treinador<br />
de Râguebi<br />
© Estelle Valente<br />
“A nossa liberdade começa na atitude<br />
com que encaramos os desafios<br />
que temos. Nunca desistir é a força<br />
que nos mantém ativos e afastados<br />
das barreiras que nos impedem de<br />
seguirmos os nossos sonhos”<br />
102 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 103
VENHA DE LÁ ESSE ABRAÇO<br />
VASCO<br />
RIBEIRO<br />
Campeão Nacional de Surf<br />
© Ricardo Bravo<br />
Ser diferente não é um problema, o<br />
problema é ser-se tratado de forma<br />
diferente.<br />
Apesar de acreditar que a nossa<br />
sociedade caminha no bom sentido,<br />
também sei que ainda há muito<br />
a fazer.<br />
Uma pessoa não é um diagnóstico,<br />
e cabe a cada um de nós ajudar e<br />
contribuir para tornar o mundo, um<br />
sítio mais justo para todos.<br />
104 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 105
OLHÓMETRO<br />
l As propostas de Apoio à Vida Independente, concretizadas na criação de CAVIS, que não<br />
parecem ajustadas a todas as tipologias de deficiência;<br />
l O processo de Atribuição da Prestação Social de Inclusão, que provocou atrasos consideráveis<br />
no recebimento por parte de muitos clientes e continua a gerar problemas.<br />
l Os problemas sentidos ao nível do funcionamento da plataforma eletrónica SIFFSE, que gerou<br />
problemas graves ao nível da gestão da formação profissional de pessoas com deficiência;<br />
© CERCIMB | António Matias Fotografia | Emoções 2017<br />
l As situações de utilização ilícita de fundos detetadas nalgumas organizações;<br />
l A desacreditação abusiva, despropositada e injusta promovida por alguns setores, através<br />
da extrapolação de casos pontuais para a generalidade das organizações;<br />
l A insuficiência de vagas de apoio ocupacional e residencial que é preocupante, tendo em<br />
conta a proximidade do fim do ano letivo;<br />
l O prazo demasiado curto que é dado às organizações para se adaptarem às novas regras<br />
de proteção de dados;<br />
l O modelo de apoio financeiro a projetos e ao funcionamento seguido pelo INR que<br />
inviabiliza o desenvolvimento de projetos de relevância, por via de mecanismos de<br />
distribuição dos montantes disponíveis de discutível coerência e, sobretudo, eficácia.<br />
l A publicação do Decreto-lei 143/2017 de 29/11 que consagra a participação do Setor<br />
Cooperativo na Comissão Permanente do Setor Social e Solidário;<br />
l A constituição da Confederação Nacional da Economia Social, de que é membro fundador<br />
a CONFECOOP;<br />
l As alterações introduzidas na Campanha Pirilampo Mágico, que refrescam o boneco<br />
mantendo no essencial a linha de comunicação;<br />
l A criação da Prestação Social de Inclusão;<br />
l A iniciativa com debate público de revisão do Decreto-lei 3/2008 (Educação Inclusiva);<br />
l O trabalho de parceria que tem sido desenvolvido entre as organizações representativas<br />
de entidades que promovem a formação e o apoio ao emprego de pessoas com deficiência;<br />
l A recetividade para análise de problemas e procura de soluções que tem havido por parte<br />
de alguns interlocutores institucionais, e designadamente por parte da Senhora Secretária<br />
de Estado para a Inclusão das Pessoas com Deficiência e do Senhor Secretário de Estado<br />
para o Desenvolvimento e Coesão.<br />
© CERCIMB | António Matias Fotografia | Emoções 2017<br />
Revista Fenacerci 2018 107
CAMPANHA<br />
PRODUTOS PARA VENDA<br />
CAMPANHA PIRILAMPO<br />
MÁGICO 2018<br />
108 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 109
CAMPANHA<br />
COMISSÃO DE HONRA<br />
Marcelo Rebelo de Sousa<br />
Presidente da Comissão de Honra<br />
Nunca teríamos chegado tão longe não fora termos connosco figuras públicas de reconhecida idoneidade<br />
e importância na sociedade portuguesa. O facto de estarem connosco nesta iniciativa, atesta<br />
a credibilidade da mesma e faz com que a mensagem solidária que passamos chegue mais facilmente<br />
aos cidadãos. Sentimo-nos orgulhosos e honrados por termos connosco figuras prestigiadas da nossa<br />
cena política, artística, social e cultural, cujo primeiro nome é o do Senhor Presidente da República,<br />
Professor Marcelo Rebelo de Sousa.<br />
Daniel Sampaio<br />
Eduardo Ferro Rodrigues<br />
Eduardo Graça<br />
Elia Pombeiro Gonçalves<br />
Fernanda Freitas<br />
Fernando Medina<br />
Francisco Pinto Balsemão<br />
Heloísa Apolónia<br />
Isabel Maria Cottinelli Telmo<br />
Jaime Calado<br />
Jerónimo de Sousa<br />
Jerónimo Teixeira<br />
João Oliveira<br />
José António Vieira da Silva<br />
José Gaspar Arruda<br />
José Lima<br />
José Manuel Nunes<br />
Luís Aleluia<br />
Luis Farinha<br />
Luís Montenegro<br />
Manuel Canaveira de Campos<br />
Manuel Mateus Costa da Silva Couto<br />
Psiquiatra<br />
Presidente da Assembleia da República<br />
Presidente da CASES<br />
Pioneira do Movimento CERCI<br />
Apresentadora<br />
Presidente da Câmara Municipal de Lisboa<br />
Presidente do Conselho de Administração do Grupo Impresa<br />
Grupo Parlamentar “Os Verdes”<br />
Presidente da FPDA<br />
Ex-Presidente da Direção da FENACERCI<br />
Secretário-Geral do PCP<br />
Vice-Presidente da CONFECOOP<br />
Presidente do Grupo Parlamentar do PCP<br />
Ministro do Trabalho, Solidariadade e Segurança Social<br />
Presidente da ADFA<br />
Coordenador do Plano Nacional de Ética no Desporto<br />
Ex-Presidente do Conselho de Administração da RDP<br />
Ator<br />
Diretor Nacional da Polícia de Segurança Pública<br />
Presidente do Grupo Parlamentar do PSD<br />
Ex-Presidente do INSCOOP<br />
General e Comandante-Geral da GNR<br />
Adelaide Sousa<br />
Apresentadora/Atriz<br />
Manuela Ramalho Eanes<br />
Antiga Madrinha da Campanha Pirilampo Mágico<br />
Ana Sofia Antunes<br />
Secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiêcia<br />
Maria Cavaco Silva<br />
Antiga Madrinha da Campanha Pirilampo Mágico<br />
António Pessegueiro<br />
Pioneiro Movimento CERCI<br />
Maria Joaquina Madeira<br />
Presidente da Associação dos Profissionais de Serviço Social<br />
António Sala<br />
Locutor de Rádio<br />
Maria José Ritta<br />
Antiga Madrinha da Campanha Pirilampo Mágico<br />
Assunção Cristas<br />
Presidente do CDS<br />
Pedro Cegonho<br />
Presidente do Conselho Diretivo da ANAFRE<br />
Augusto Máximo Flor<br />
Presidente da CPCCRD<br />
Pedro Filipe Soares<br />
Presidente do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda<br />
Carlos Alberto Vidal<br />
Cantor<br />
Rosa Monteiro<br />
Secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade<br />
Carlos Cesar<br />
Presidente do Grupo Parlamentar do PS<br />
Rosa Mota<br />
Ex-Atleta<br />
Carlos Monjardino<br />
Presidente do Conselho de Administração da Fudanção Oriente<br />
Rui Moreira<br />
Presidente da Câmara Municipal do Porto<br />
Catarina Furtado<br />
Apresentadora<br />
Rui Rio<br />
Presidente do PSD<br />
Catarina Martins<br />
Porta-Voz da Comissão Política do Bloco de Esquerda<br />
Teresa Caeiro<br />
Deputada CDS-PP<br />
110 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 111
CAMPANHA<br />
CAIXA<br />
ECONÓMICA<br />
MONTEPIO<br />
GERAL<br />
O Pirilampo Mágico nasceu em 1987, mudou de cor, mas continua<br />
igual na essência: ajudar pessoas com deficiência mental ou intelectual,<br />
devolver-lhes parte dos sonhos. É a pensar nelas, nas suas<br />
famílias, e nas organizações que as apoiam, que a Caixa Económica<br />
Montepio Geral se associa – orgulhosamente - e pelo segundo ano<br />
consecutivo, a esta campanha solidária.<br />
O Pirilampo tem na história a proeza de ter ajudado muitas instituições<br />
que trabalham na área da deficiência mental a ultrapassar<br />
dificuldades financeiras, que as impossibilitavam de proporcionar o<br />
conforto, o bem-estar e a qualidade de vida a muitos dos associados.<br />
Conseguiu mais, sobretudo melhor: dar à deficiência a normalidade<br />
de que precisa para ser igual nas oportunidades, na integração<br />
social e laboral.<br />
Apoiar o Pirilampo, ajudar a FENACERCI e as suas associadas enriquece-nos<br />
como pessoas, como instituição, como Banco.<br />
Na próxima vez que visitar uma das mais de 300 agências da Caixa<br />
Económica Montepio Geral, faremos questão de o receber lado a<br />
lado com o Pirilampo Mágico.<br />
Talvez um só Pirilampo não faça tudo, mas sem ele, muito ficará por<br />
fazer.<br />
Carlos Tavares<br />
Presidente do Conselho de Administração<br />
da Caixa Económica Montepio Geral<br />
Sem a colaboração desinteressada das empresas, seria muito difícil chegar tão longe como chegámos com<br />
a mensagem solidária do Pirilampo Mágico. E, felizmente, todos os anos contamos com a prestimosa colaboração<br />
de um grupo de prestigiadas empresas que se dispõem a fazer esta caminhada pela igualdade de<br />
oportunidade connosco. Para elas, o reconhecimento público pela importância que assumem neste grande<br />
projeto coletivo. Bem hajam!<br />
112 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 113
BREVES<br />
SEPARADOR<br />
© CERCIFAF
BREVES<br />
CERCISIAGO<br />
DE OLHOS FECHADOS<br />
No dia 13 de dezembro, o Grupo de Expressões “Arca<br />
dos Sonhos” da CERCISIAGO estreou “ De Olhos Fechados”<br />
no Auditório Municipal António Chainho em<br />
Santiago do Cacém.<br />
Este trabalho resultou da parceria com a CRINABEL<br />
Teatro existente desde 2012, com a direção criativa de<br />
Marco Paiva.<br />
Ao longo do ano realizámos vários laboratórios teatrais<br />
e a partir destas partilhas, surgiu o processo criativo<br />
com origem nas memórias mais remotas que nos<br />
surgem, quando fechamos os olhos.<br />
E assim, mais uma vez, subimos ao palco, partilhámos<br />
emoções e abrimos os nossos corações e as portas da<br />
nossa casa à comunidade.<br />
CERCIMARANTE<br />
XII ENCONTRO DA DANÇA EM AMARANTE<br />
Com o objetivo de assinalar o Dia Mundial da Dança celebrado<br />
a 29 de abril, o Centro de Atividades Ocupacionais<br />
(C.A.O.) da CERCIMARANTE organizou, no auditório<br />
do Centro Cultural de Amarante (CCA), o “XII Encontro<br />
da Dança” tendo, para isso, convidado várias instituições<br />
para integrarem esta atividade.<br />
Apresentado pela Diretora Técnica do C.A.O., Carla Macedo,<br />
este “XII Encontro da Dança” contou com a participação<br />
da CERCIMARCO; Santa Casa da Misericórdia de<br />
Baião – CAO da Mesquinhata; Santa Casa da Misericórdia<br />
de Amarante; Associação de Pais e Amigos dos Diminuídos<br />
Mentais de Penafiel (APADIMP); Universidade Sénior de<br />
Amarante (USA); Jardim de Infância da Associação para<br />
o Desenvolvimento Comunitário (ADESCO); Infantário-<br />
-Creche “O Miúdo”, e do CAO da CERCIMARANTE.<br />
Depois de um primeiro conjunto de atuações, a CERCI-<br />
MARANTE ofereceu um lanche a todos os presentes,<br />
onde todas as iguarias foram confecionadas por um grupo<br />
de clientes e colaboradores da Cooperativa.<br />
A vitalidade e alegria de miúdos e graúdos que participaram<br />
neste “XII Encontro da Dança” foram notórias e levaram<br />
a plateia a aplaudir, em muitos momentos, de forma<br />
efusiva as diversas atuações.<br />
No final deste espetáculo, todas as instituições foram<br />
agraciadas com uma original lembrança e um diploma feitos<br />
na CERCIMARANTE.<br />
CERCIMARANTE<br />
AZIBO<br />
Em 2017 as atividades de verão do Centro de Atividades<br />
Ocupacionais (C.A.O.) da CERCIMARANTE culminaram<br />
com a organização de um passeio, que proporcionou<br />
mais um dia feliz aos clientes. O destino escolhido<br />
foi a praia fluvial da Albufeira do Azibo, em Macedo de<br />
Cavaleiros, para onde os clientes foram acompanhados<br />
por um grupo de colaboradores e pela Diretora Técnica,<br />
Carla Macedo.<br />
Esta praia fluvial foi a primeira a ser distinguida com<br />
a Bandeira Azul e foi também classificada como sendo<br />
uma “praia para todos” por ser acessível, pois conta<br />
com infraestruturas de acesso a pessoas com deficiência<br />
e dispõe, igualmente, de todos os equipamentos e<br />
serviços de apoio a veraneantes.<br />
Envolvida pela paisagem protegida da Albufeira do<br />
Azibo, esta praia fluvial torna-se numa zona de rara<br />
beleza. Indescritível foi também a alegria dos clientes<br />
por poderem mergulhar e brincar nas águas quentes<br />
do Azibo.<br />
Foi, de facto, um dia feliz para todos!<br />
Fotos: Telma Pinto Ferreira, Dep. de Com. da Cercimarante<br />
CERCIMARANTE<br />
SOBRE O ARCO<br />
E A FLECHA!<br />
Robin dos Bosques” foi o clássico escolhido para dar vida<br />
à peça de teatro apresentada em três sessões, no Cinema<br />
Teixeira de Pascoaes, às turmas do quarto ano do Ensino<br />
Básico do concelho de Amarante, por um grupo de<br />
Clientes, Monitores e pela Diretora Técnica do Centro de<br />
Atividades Ocupacionais (C.A.O.) da CERCIMARANTE,<br />
juntamente com alguns jovens estagiários.<br />
Esta iniciativa, que teve lugar nos dias 6 e 7 de dezembro<br />
de 2017, foi promovida pelo Município de Amarante,<br />
em parceria com esta Cooperativa, e esteve inserida na<br />
Campanha “Amarante de Igual Para Igual”, com o objetivo<br />
de sensibilizar a comunidade escolar mais jovem para<br />
a problemática da deficiência, tendo, por isso, surgido no<br />
âmbito das comemorações do Dia Internacional da Pessoa<br />
com Deficiência, assinalado a 3 de dezembro.<br />
De 27 de outubro a 10 de dezembro, o Município de<br />
© Telma Pinto Ferreira, Dep. de Com. da Cercimarante<br />
Amarante levou, assim, a cabo, pelo terceiro ano consecutivo,<br />
“Amarante de Igual para Igual” para promover a<br />
reflexão e o diálogo alargados a toda a sociedade civil<br />
sobre as diferentes representações sociais e formas de<br />
discriminação que subsistem na sociedade atual. Ainda<br />
no âmbito do Dia Internacional da Pessoa com Deficiência,<br />
o grupo apresentou a mesma peça mas, desta feita, na<br />
EB 2/3 de Amarante, para os alunos do 2º ciclo.<br />
No final, a “Companhia de Teatro”, como foi gentilmente<br />
apelidado o grupo pela diretora do Agrupamento de Escolas<br />
de Amarante, Dina Sanches, foi agraciado com um<br />
saboroso lanche.<br />
116 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 117
BREVES<br />
ACIP<br />
PELO GOSTO E PELA MÚSICA<br />
O DESPORTO É PARA TODOS!<br />
Os Centros de Atividades Ocupacionais da Casa da<br />
Villa e Casa da Boavista desenvolvem um vasto conjunto<br />
de atividades desportivas em parceria com as<br />
autarquias de Lousada e Vila Nova de Famalicão que<br />
têm como estratégia promover o desporto para todos.<br />
Nos vários desportos praticados e dos quais salientamos<br />
o Atletismo, Natação, Adaptação ao Meio Aquático<br />
e Boccia são promovidas competências e simultaneamente,<br />
são adquiridos e desenvolvidos benefícios<br />
terapêuticos e de bem-estar. O principal objetivo é<br />
que todos os nossos jovens possam beneficiar de uma<br />
prática desportiva que promova a qualidade de vida e<br />
a sua inclusão na comunidade.<br />
“Somos campeões” porque participamos e nos dedicamos<br />
com muita determinação e motivação em cada<br />
uma das modalidades desportivas. Para além de todos<br />
os prémios já conquistados, o que mais nos orgulha, é<br />
o trabalho individual e de equipa que faz de nós verdadeiros<br />
“campeões”.<br />
Foi no Atelier de Artes & Expressões que nasceu<br />
o nome – Os Boavisteiros. É com a maior garra que<br />
este grupo de jovens e adultos treina semanalmente.<br />
Aprender um instrumento é um processo de construção<br />
do conhecimento musical cujo principal objetivo<br />
é despertar e desenvolver o gosto pela música, estimulando<br />
e contribuindo com formação global do ser<br />
humano.<br />
Traz inúmeros benefícios como integração social, desenvolvimento<br />
cognitivo, criatividade, coordenação<br />
motora, espacialidade, lateralidade, além de favorecer<br />
a sua comunicação.<br />
O gosto pela música, a vontade de aprender e a inclusão<br />
social estão de mãos dadas neste desafio.<br />
O nosso sonho? Aquecer os corações de quem nos<br />
ouve e fazer do lema.<br />
“ Nada para nós sem nós” uma citação de sucesso, inclusão<br />
e muita felicidade.<br />
CERCIBEJA<br />
12 MESES @ DOZE<br />
CARAS<br />
A CERCIBEJA este ano pretende organizar diversas<br />
atividades direcionadas para a comunidade onde se encontra<br />
inserida, de forma a agradecer o que a mesma lhe<br />
tem “oferecido” ao longo destes 40 anos de existência.<br />
Como lançamento destas comemorações, foi criado um<br />
Calendário para o ano de 2018 com 12 fotos dos nossos<br />
clientes. Estas fotos foram selecionadas entre inúmeras,<br />
que resultaram de duas sessões fotográficas em ambientes<br />
diversos sob a objetiva de Lia Rodrigues.<br />
O objetivo deste trabalho passa pela valorização e autodeterminação<br />
dos envolvidos, vivenciando ambientes<br />
e personagens que permitiram aos mesmos exteriorizar<br />
as suas emoções de forma artística.<br />
Estas fotos vão ainda, possibilitar a realização de exposições<br />
que vão circular ao longo deste ano pelos 10 Municípios<br />
a que a CERCIBEJA dá resposta, enquadradas<br />
num ciclo de tertúlias temáticas.<br />
Nesta comemoração dos 40 Anos de existência a CER-<br />
CIBEJA pretende fortalecer laços e intensificar relações<br />
de parceria com reconhecimento público, através de<br />
outras iniciativas que serão desenvolvidas ao longo de<br />
todo o ano.<br />
Juntos Construímos Felicidade!<br />
CERCIDIANA<br />
NATAL UNE<br />
DUAS CAUSAS<br />
Desafiados pela “Campanha do Barrete Solidário” da<br />
Associação Salvador, e aproveitando a época natalícia,<br />
a CERCIDIANA decidiu realizar uma Caminhada<br />
aliando as duas causas - dar visibilidade às duas organizações<br />
e aproveitar mais uma oportunidade para<br />
sensibilizar a população para o trabalho que ambas<br />
desenvolvem.<br />
Uma pequena multidão de barrete prateado compôs a<br />
época, animando todos os que caminharam pelas ruas<br />
do centro histórico da cidade de Évora, um passeio<br />
coletivo, solidário e cultural. Um percurso desenhado<br />
a pensar em todos os que têm vontade de aderir<br />
a caminhos para se fazerem em conjunto. É assim que<br />
consideramos as ações de sensibilização e aproveitamos<br />
para angariar fundos, para colmatar algumas necessidades<br />
e melhorar a qualidade de vida daqueles a<br />
quem nos dedicamos e que caminham todos os dias<br />
connosco.<br />
Tivemos também como objetivo, sensibilizar para a<br />
deficiência intelectual e incapacidade. Os Eborenses<br />
aderiram a estas duas causas, mostrando mais uma vez,<br />
espírito de solidariedade!<br />
Manuela Ribeiro<br />
Técnica de Serviço Social<br />
da CERCIDIANA<br />
118 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 119
BREVES<br />
CERCIESTREMOZ<br />
CERCIPOM<br />
CERCIVAR<br />
PORQUE RIR É O<br />
MELHOR REMÉDIO!<br />
A CERCIESTREMOZ realizou pelo terceiro ano consecutivo<br />
o Projeto Interdependência Saudável cofinanciado pelo<br />
INR - Instituto Nacional para a Reabilitação. Este projeto<br />
tem como principal objetivo proporcionar aos nossos clientes<br />
e seus cuidadores formais e informais, atividades lúdicas<br />
de caráter terapêutico, cuja prática promove o alívio<br />
do stress e previne o desgaste de todos os intervenientes<br />
na relação: clientes, famílias e colaboradores, promovendo<br />
assim, esta relação de interdependência de uma forma saudável,<br />
pois acreditamos que deste modo, conseguiremos<br />
promover a qualidade de vida dos nossos clientes.<br />
A primeira atividade do projeto foi destinada aos nossos<br />
clientes e seus familiares e cuidadores, atendendo a um<br />
pedido realizado por ambas as partes (a realização da atividade<br />
em conjunto). Esta atividade integrou um Passeio<br />
Turístico pela Serra de Sintra e Cabo da Roca com almoço<br />
no Restaurante do Hotel Vila Galé no Estoril, seguindo-se<br />
uma visita à Boca do Inferno.<br />
CERCIMOR<br />
DANÇA DESPORTIVA<br />
A CERCIMOR através dos Centros de Atividades Ocupacionais<br />
de Montemor-o-Novo e Vendas Novas<br />
formalizou uma parceria com a Casa do Benfica de<br />
Vendas Novas com o objetivo de desenvolver sessões<br />
semanais de dança desportiva direcionadas a adultos<br />
com Síndrome de Down. A Casa do Benfica já desenvolvia<br />
a prática da dança desportiva dirigida a crianças<br />
e jovens do Concelho. Desta forma, pretendeu-se facilitar<br />
às pessoas com deficiência a participação na vida<br />
cultural, recreação, lazer e desporto, de acordo com<br />
a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.<br />
A professora Patrícia Tico, responsável por<br />
ministrar as sessões de dança na Casa do Benfica, foi<br />
uma das principais dinamizadoras deste projeto.<br />
As sessões decorreram nas instalações da Casa do<br />
Benfica em horário pós-laboral, envolvendo o apoio<br />
logístico da CERCIMOR. A evolução na aprendizagem<br />
observada em alguns dos elementos do grupo, faz prever<br />
que brevemente atinjam um desempenho que lhes<br />
permita entrar em competições distritais, nacionais ou<br />
Fechamos com chave de ouro (ou neste caso, prata!) com<br />
uma visita ao Casino do Estoril onde os 28 participantes<br />
assistiram, no magnífico Salão Preto e Prata, ao espetáculo<br />
de Revista “Volta ao Mundo em 80 Minutos”, com<br />
o ator João Baião entre outros, numa encenação de Filipe<br />
Lá Feria.<br />
Foi um espetáculo inesquecível que muito encheu de alegria<br />
e cor todos os participantes.<br />
A segunda e última atividade do projeto foi um Workshop<br />
de Yoga do Riso destinado aos colaboradores da nossa<br />
organização promovido pela Fundadora da Escola do<br />
Riso Joanne Helms, que teve a amabilidade de oferecer<br />
aos nossos clientes um workshop de Yoga do Riso que<br />
se realizou no dia 28 de dezembro e foi rir a bom rir do<br />
princípio ao fim!<br />
até internacionais. O grupo já fez apresentações em<br />
espetáculos de dança desportiva e eventos na comunidade<br />
especificamente em Setúbal, Vendas Novas e<br />
Redondo.<br />
Carla Rocha, Psicóloga e Diretora Técnica do CAO<br />
Carolina Marques, Técnica Superior<br />
de Serviço Social da CERCIMOR<br />
EXPERIMENT`ARTE<br />
Aqui fica um resumo da experiência da participação<br />
no âmbito do Projeto Laboratório Criativo Dança<br />
II - Residência Artística, promovida pala CERCI-<br />
MA durante os dias 20 a 24 de novembro 2017, cofinanciado<br />
pelo INR 2017. Ao longo de cinco dias,<br />
a cliente Joana Moita, acompanhada por mim, monitora<br />
da CERCIPOM, juntámo-nos a um grupo de<br />
cerca de 35 pessoas, entre técnicos e clientes de outras<br />
CERCI´s do país…. Maravilhoso, mágico e muita<br />
aprendizagem. Foi uma semana onde não faltou a<br />
partilha de experiências, fomentando a inclusão social,<br />
autonomia pessoal e social. Experienciámos várias<br />
dinâmicas de grupo promovendo a criatividade<br />
e capacidade de improvisação. E nada melhor para<br />
terminar esta semana, divulgando a dança inclusiva<br />
na comunidade.<br />
Tivemos o privilégio de apresentar o que todos nós<br />
trabalhámos durante os cinco dias, na Praça da República<br />
no Montijo. Magnífico, conseguimos fazer<br />
chegar as pessoas que ali passavam até nós. Foi tão<br />
bom… Foi sem dúvida uma excelente iniciativa, obrigado<br />
a todos por esta oportunidade.<br />
Paula Fonseca<br />
SERVIÇO DE APOIO<br />
À INCLUSÃO<br />
O SAI – Serviço de Apoio à Inclusão da CERCIVAR visa<br />
permitir a ocupação dos tempos livres das crianças e jovens<br />
com deficiência e/ou necessidades educativas especiais<br />
com atividades lúdicas, promovendo o seu bem-<br />
-estar e o prazer de brincar, a sua socialização e o seu<br />
desenvolvimento nos mais diferentes domínios, incutindo<br />
conceitos e valores de desenvolvimento sustentável, ambiente,<br />
vida saudável e por fim, uma inclusão ativa.<br />
O objetivo do SAI foi desde o início, criar um campo<br />
de férias para as pessoas com deficiência e/ou necessidades<br />
educativas especiais, promovendo a inclusão<br />
social através da Arte, do Desporto, da Cultura e outras<br />
atividades. Este projeto iniciado em 2015, já vai<br />
no terceiro ano de existência, e tem contado com uma<br />
boa adesão por parte dos familiares destas crianças e<br />
jovens.<br />
Em 2017, pudemos contar com a participação de várias<br />
entidades e empresas, na promoção de atividades<br />
experienciais, diferentes para esta população, tais<br />
como, aula de iniciação de surf, atividades de arte, hipoterapia,<br />
canoagem, ténis de praia, visita a museus,<br />
entre outras.<br />
120 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 121
BREVES<br />
CERCIOEIRAS<br />
DE MOCHILA ÀS COSTAS<br />
LISTA DE<br />
ASSOCIADAS<br />
onde comer, planear confeção de refeições quando<br />
possível, conhecer os recursos da comunidade a utilizar,<br />
recordar regras sociais e de segurança, decidir<br />
o que levar, fazer as malas/preparar a mochila...<br />
Durante a viagem: os participantes utilizaram de<br />
forma autónoma os serviços da comunidade necessários<br />
(transportes, bilheteiras, restaurantes,<br />
cafetarias, alojamento, sanitários, lojas, espaços<br />
culturais, etc.), e outros recursos, fizeram compras,<br />
escolheram refeições e estabelecimentos, identificaram<br />
custos, conheceram os pontos singulares<br />
das três cidades, conheceram outras pessoas com<br />
outros hábitos, experimentaram atividades típicas e<br />
divertiram-se.<br />
O Projeto ‘Mochila às Costas’ foi planeado e organizado<br />
pelos clientes e equipa técnica da Unidade<br />
Residencial da CERCIOEIRAS, e cofinanciado pelo<br />
Instituto Nacional para a Reabilitação (INR).<br />
O objetivo foi proporcionar a um grupo de 8 clientes,<br />
a possibilidade de participação e inclusão na<br />
comunidade, no seu expoente máximo, através da<br />
realização de um mini interrail de mochila às costas.<br />
Por outro lado, trabalhar competências funcionais<br />
ao nível da autonomia e, numa vertente pedagógica,<br />
aumentar conhecimentos culturais.<br />
O grupo era constituído por 8 clientes e 2 acompanhantes.<br />
Resultados: participação numa atividade inclusiva<br />
e inovadora para os clientes, maior consciencialização<br />
das oportunidades e barreiras da comunidade<br />
por parte das pessoas com deficiência, promoção<br />
da qualidade de vida, desenvolvimento da motivação<br />
para explorar diferentes interesses e necessidades<br />
e crescimento pessoal.<br />
Preparação da viagem: os clientes planearam uma<br />
viagem/roteiro completo de 6 dias, de 18 a 23 de<br />
setembro, a três cidades de Portugal (Porto, Aveiro e<br />
Coimbra). Foi necessário organizar todos os passos,<br />
desde assegurar as reservas de comboio e de alojamento,<br />
decidir os locais a visitar em cada cidade,<br />
Mafalda Malveiro<br />
Diretora Técnica do Lar Residencial<br />
da CERCIOEIRAS<br />
© CERCIFAF<br />
122 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 123
LISTA DE ASSOCIADAS<br />
ACIP<br />
Rua da Ribeira, Ed. Fonte - Loja C, E e F<br />
4770-207 Joane<br />
Tel: 252 928 610 / Fax: 252 928 608<br />
geral@acip.com.pt<br />
www.acip.com.pt<br />
www.facebook.com/acip.cooperativa<br />
C.E.C.D. Mira Sintra<br />
Av. 25 de Abril, 190<br />
2735-418 Cacém<br />
Tel: 219 188 560 / Fax: 219 188 579<br />
geral@cecdmirasintra.org<br />
www.cecdmirasintra.org<br />
www.facebook.com/cecd.mirasintra<br />
CEE RAINHA DONA LEONOR<br />
Rua Maria Ernestina Martins Pereira, nº 37<br />
2500-234 Caldas da Rainha<br />
Tel: 262 837 160 / Fax: 262 837 161<br />
ceerdl.administrativo@ceerdl.org<br />
www.ceerdl.org<br />
CERCIAG<br />
Raso de Paredes<br />
3750-316 Águeda<br />
Tel: 234 612 020 / Fax: 234 612 022<br />
cerciag@cerciag.pt<br />
www.cerciag.pt<br />
www.facebook.com/cerciag.pt<br />
CERCIAMA<br />
Rua Mestre Roque Gameiro, nº 12<br />
2700-578 Amadora<br />
Tel: 214 986 830 / Fax: 214 986 838<br />
geral@cerciama.pt<br />
www.cerciama.pt<br />
www.facebook.com/cerciama.pt<br />
CERCIAV<br />
Rua do Aires, 53-57<br />
S. Bernardo<br />
3810-205 Aveiro<br />
Tel: 234 390 980<br />
sede@cerciav.pt<br />
www.cerciav.pt<br />
CERCIAZ<br />
Rua Francisco Abreu e Sousa, nº 800<br />
3720-340 Oliveira de Azeméis<br />
Tel: 256 673 894 / Fax: 256 681 038<br />
geral@cerciaz.pt<br />
www.cerciaz.pt<br />
CERCIBEJA<br />
Quinta dos Britos, Apartado 6115<br />
7801-908 Beja<br />
Tel: 284 311 390<br />
geral@cercibeja.org.pt<br />
www.cercibeja.org.pt<br />
www.facebook.com/cercibeja.crl<br />
CERCI Braga<br />
Rua Dr. Domingos Soares, 25<br />
4710-670 Navarra<br />
Tel: 253 248 592 / Fax: 253 248 592<br />
info@cercibraga.pt<br />
www.cercibraga.pt<br />
www.facebook.com/CERCIBraga.pt<br />
CERCICA<br />
Rua Principal, 320, Livramento<br />
2765-383 Estoril<br />
Tel: 214 658 590 / Fax: 214 661 307<br />
cercica@cercica.pt<br />
www.cercica.pt<br />
www.facebook.com/CERCICASCAIS<br />
CERCICAPER<br />
Dordio<br />
Variante do Troviscal<br />
3280-050 Castanheira de Pêra<br />
Tel: 236 434 227 / Fax: 236 434 225<br />
cercicaper@sapo.pt<br />
www.cercicaper.pt<br />
www.facebook.com/cercicaper.ipss<br />
CERCICHAVES<br />
Antigo Jardim de Infância Santa Cruz<br />
Rua Inácio Pizarro<br />
5400-693 Chaves<br />
Tlm: 939403474<br />
cercichaves@gmail.com<br />
http://cercichaves.wixsite.com/cercichaves2016<br />
https://pt-pt.facebook.com/people/Cerci-Chaves/100015224535044<br />
CERCICOA<br />
Estrada de S. Barnabé, nº 28<br />
7700-015 Almodôvar<br />
Tel: 286 660 040 / Fax: 286 660 049<br />
cercicoa.dir@gmail.com<br />
www.cercicoa.pt<br />
https://www.facebook.com/cercicoa.almodovar<br />
CERCIDIANA<br />
Quinta do Feijão ao Espinheiro<br />
Apartado 92<br />
7002-502 Évora<br />
Tel: 266 759 530<br />
cercidianadireccao@gmail.com<br />
http://cercidianaevora.wix.com<br />
www.facebook.com/Cercidiana Évora<br />
CERCIESPINHO<br />
Rua de S. Martinho e Rua 25 de Abril<br />
Apartado 177, Anta<br />
4501-909 Espinho<br />
Tel: 227 319 061<br />
cerciespinho@cerciespinho.org.pt<br />
www.cerciespinho.org.pt<br />
http://pt-pt.facebook.com/cerci.espinho<br />
CERCIESTREMOZ<br />
Quinta de Santo Antão<br />
Apartado 108<br />
7101-909 Estremoz<br />
Tel: 268 339 750<br />
cerciestremoz@gmail.com<br />
www.cerciestremoz.pt<br />
www.facebook.com/cerciestremoz.crl<br />
CERCIFAF<br />
Rua 9 de Dezembro, 99<br />
4820-161 Fafe<br />
Tel: 253 490 830<br />
geral@cercifaf.pt<br />
www.cercifaf.pt<br />
www.facebook.com/cercifaf<br />
CERCIFEIRA<br />
Rua Dr. Santos Carneiro, 4<br />
4520-221 Santa Maria da Feira<br />
Tel: 256 374 472 / Fax: 256 375 535<br />
cercifeira@sapo.pt<br />
www.cercifeira.pt<br />
CERCIFEL<br />
Rua do Padre João, nº 5, Varziela<br />
4650-747 Felgueiras<br />
Tel: 255 336 417 / Fax: 255 336 417<br />
geral@cercifel.org.pt<br />
https://pt-pt.facebook.com/Cercifel-<br />
-Cooperativa-de-Solidariedade-Social-<br />
-CRL-252904978116708<br />
CERCI FLOR DA VIDA<br />
Quinta das Rosas<br />
2050-369 Azambuja<br />
Tel: 263 409 320<br />
geral.flordavida@mail.telepac.pt<br />
www.cerciflordavida.pt<br />
https://pt-pt.facebook.com/cerciflordavida<br />
CERCIFOZ<br />
Rua Visconde Sousa Prego, nº 14 - r/c Esq.º<br />
3080-110 Figueira da Foz<br />
Tel: 233 429 595 / Fax: 233 429 595<br />
cerci.foz@sapo.pt<br />
http://cercifoz.org<br />
https://www.facebook.com/cercifoz?fref=ts<br />
CERCIG<br />
Parque da Saúde da Guarda<br />
6300-777 Guarda<br />
Tel: 271 212 739<br />
secretaria@cercig.org.pt<br />
www.cercig.org.pt<br />
https://pt-pt.facebook.com/cerciguarda<br />
CERCIGAIA<br />
Rua Escola de S. Paio, 211<br />
4400-442 Vila Nova de Gaia<br />
Tel: 227 819 268 / Fax: 227 819 269<br />
cercigaia.dir@cercigaia.org.pt<br />
http://cercigaia.weebly.com<br />
https://www.facebook.com/Cercigaia<br />
CERCIGRÂNDOLA<br />
Rua Vitor Manuel Ribeiro da Rocha<br />
7570-256 Grândola<br />
Tel: 269 451 552 / Fax: 269 442 505<br />
cercicrl@netvisao.pt<br />
www.cercigrandola.org<br />
www.facebook.com/cercigrandola<br />
CERCIGUI<br />
Rua Raul Brandão, 195<br />
4810-282 Guimarães<br />
Tel: 253 423 370 / Fax: 253 423 379<br />
cercigui@cercigui.pt<br />
www.cercigui.pt<br />
www.facebook.com/Cercigui/<br />
CERCILAMAS<br />
Rua do Auditório, nº 125<br />
4535-576 Santa Maria de Lamas<br />
Tel: 227 442 478 / Fax: 227 460 085<br />
cercilamas@sapo.pt<br />
www.cerci-lamas.org.pt<br />
www.facebook.com/cercilamas<br />
CERCILEI<br />
Estrada das Moitas Altas, 279<br />
Pinheiros<br />
2401-976 Leiria<br />
Tel: 244 850 970 / Fax: 244 850 971<br />
geral@cercilei.pt<br />
www.cercilei.pt<br />
www.facebook.com/cooperativa.leiria<br />
CERCI<br />
Av. Avelino Teixeira da Mota, Lote E<br />
1950-035 Lisboa<br />
Tel: 218 391 700 / Fax: 211 954 667<br />
geral@cercilisboa.org.pt<br />
www.cercilisboa.org.pt<br />
https://www.facebook.com/Cerci-Lisboa-235171093183654<br />
CERCIMA<br />
Rua D. Nuno Álvares Pereira, nº 141<br />
2870-097 Montijo<br />
Tel: 212 308 510 / Fax: 212 308 511<br />
gestao@cercima.pt<br />
www.cercima.pt<br />
www.facebook.com/cercima.montijo.crl<br />
CERCIMAC<br />
Rua Dr. Henrique José Gonçalves, nº 21<br />
5340-532 Macedo de Cavaleiros<br />
Tel: 278 421 769<br />
cercimac@gmail.com<br />
www.facebook.com/cercimac.macedodecavaleiros<br />
CERCIMARANTE<br />
Rua de Guimarães, nº 869<br />
4600-112 Amarante<br />
Tel: 255 410 930<br />
geral@cercimarante.pt<br />
http://cercimarante.pt<br />
www.facebook.com/Cercimarante<br />
CERCIMB<br />
Rua Grão Vasco, nº 25<br />
2835-440 Lavradio<br />
Tel: 212 048 340 / Fax: 212 020 224<br />
cercimb.sede@gmail.com<br />
www.cercimb.pt<br />
www.facebook.com/cercimb<br />
CERCIMIRA<br />
Rua do Claros<br />
Cabeças Verdes<br />
3070-504 Seixo de Mira<br />
Tel: 231 489 560 / Fax: 231 489 569<br />
geral@cercimira.pt<br />
www.cercimira.pt<br />
www.facebook.com/cercimira<br />
CERCIMONT<br />
Av. Dom Nuno Álvares Pereira, nº 553<br />
5470-203 Montalegre<br />
Tel: 938 371 717<br />
cercimont@sapo.pt<br />
https://cercimont.wordpress.com<br />
www.facebook.com/Cercimont-1670893733154448<br />
CERCIMOR<br />
Crespa da Figueira<br />
7050-010 Montemor-o-Novo<br />
Tel: 266 899 410 / Fax: 266 899 415<br />
cercimor.crl@gmail.com<br />
www.cercimor.pt<br />
www.facebook.com/cercimor<br />
CERCINA<br />
Caminho Real<br />
Alto Romão<br />
2450-060 Nazaré<br />
Tel: 262 562 595 / Fax: 262 562 596<br />
cercina.secretaria@gmail.com<br />
www.cercina.pt<br />
https://www.facebook.com/CERCI-<br />
NA-182339101825256/<br />
CERCIOEIRAS<br />
Rua 7 de Junho, nº 57<br />
2730-174 Barcarena<br />
Tel: 214 239 680 / Fax: 214 239 689<br />
geral@cercioeiras.pt<br />
www.cercioeiras.pt<br />
www.facebook.com/CERCIOEI-<br />
RAS-115373211819030/?ref=hl<br />
CERCIPENELA<br />
Av. Infante D. Pedro, n.º 3<br />
3230-268 Penela<br />
Tel: 239 560 140 / Fax: 239 560 149<br />
cercipenela@cercipenela.org.pt<br />
http://www.cercipenela.org.pt<br />
https://www.facebook.com/cerci.penela<br />
CERCIPENICHE<br />
Rua Adelino Amaro da Costa<br />
2520-268 Peniche<br />
Tel: 262 780 080 / Fax: 262 789 963<br />
cercipeniche@cercipeniche.pt<br />
www.cercipeniche.pt<br />
www.facebook.com/cercipeniche<br />
CERCIPOM<br />
Av. Heróis do Ultramar, nº 108<br />
3100-462 Pombal<br />
Tel: 236 209 240 / Fax: 236 209 241<br />
geral@cercipom.org.pt<br />
www.cercipom.org.pt<br />
www.facebook.com/Cercipom<br />
CERCIPORTALEGRE<br />
Rua D. Olinda Sardinha<br />
Quinta da Lage<br />
7300-050 Portalegre<br />
Tel: 245 300 730 / Fax: 245 300 731<br />
cerciportalegre@cerciportalegre.pt<br />
https://www.facebook.com/Cerciportalegre-1518311555138062<br />
CERCIPÓVOA<br />
Rua do Morgado da Póvoa<br />
Lote 1, 2ª Fase<br />
Quinta da Piedade<br />
2625-229 Póvoa de Santa Iria<br />
Tel: 219 533 080 / Fax: 219 533 089<br />
geral@cercipovoa.pt<br />
www.cercipovoa.pt<br />
www.facebook.com/cercipovoa.ipss?fref=ts<br />
CERCISA<br />
Rua Eça de Queirós<br />
Miratejo, 2855-236 Corroios<br />
Tel: 212 535 660 / Fax: 212 531 280<br />
cercisa.secretaria@gmail.com<br />
http://www.cercisa.pt<br />
https://pt-pt.facebook.com/cercisa<br />
CERCISIAGO<br />
Rua das Nogueiras<br />
7540-162 Santiago do Cacém<br />
Tel: 269 818 660 / Fax: 269 818 668<br />
cercisiago@gmail.com<br />
www.cercisiago.org.pt<br />
https://pt-pt.facebook.com/cercisiago<br />
CERCITEJO<br />
Rua da Esperança, nº 6<br />
Bom Sucesso<br />
2615-305 Alverca<br />
Tel: 219 582 286<br />
geral@cercitejo.org.pt<br />
www.cercitejo.org.pt<br />
https://www.facebook.com/CERCITEJ0<br />
CERCITOP<br />
Rua Vale de S. Martinho, nº 1<br />
2710-402 Sintra<br />
Tel: 219 100 690 / Fax: 219 100 691<br />
geral@cercitop.org<br />
www.cercitop.org<br />
www.facebook.com/cercitop.oficial<br />
CERCIVAR<br />
Rua da Cercivar<br />
3880-161 Ovar<br />
Tel: 256 579 640 / Fax: 256 572 565<br />
geral@cercivar.pt<br />
www.cercivar.pt<br />
https://pt-pt.facebook.com/Cercivar-418371931599708/<br />
CERCIZIMBRA<br />
Rua dos Casais Ricos, nº1<br />
Sampaio<br />
2970-577 Sesimbra<br />
Tel: 212 681 335 / Fax: 212 682 001<br />
cercizimbra@cercizimbra.pt<br />
www.cercizimbra.org.pt<br />
www.facebook.com/Cercizimbra<br />
CRACEP<br />
Rua Coronel Armando da Silva Maçanita<br />
8500-383 Portimão<br />
Tel: 282 420 820 / Fax: 282 420 829<br />
geral@cracep.pt<br />
www.cracep.pt<br />
https://www.facebook.com/cracep<br />
CREACIL<br />
Rua da Fonte de S. Sebastião,<br />
Lote 1 ABC cave<br />
S. Sebastião de Guerreiros<br />
2670-517 Loures<br />
Tel: 219 891 092<br />
creacil@hotmail.com<br />
http://creacilblog.blogspot.pt<br />
www.facebook.com/loures.creacil<br />
CRINABEL<br />
Largo do Conde Barão, 5<br />
1200-118 Lisboa<br />
Tel: 213 943 350<br />
geral@crinabel.pt<br />
www.crinabel.pt<br />
https://pt-pt.facebook.com/CRINABEL<br />
RUMO<br />
Caixa Postal 5063<br />
Rua 19, nº 13, Baía do Tejo<br />
2831-904 Barreiro<br />
Tel: 212 064 920 / Fax: 212 064 921<br />
geral@rumo.org.pt<br />
http://rumo.org.pt/wp/<br />
https://www.facebook.com/Cooperativa.<br />
Rumo/<br />
124 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 125
LISTA DE ASSOCIADAS<br />
INSTITUIÇÃO<br />
APOIO ATIVIDADES<br />
DOMICILIÁRIO OCUPACIONAIS<br />
CRI<br />
EDUCAÇÃO<br />
ESPECIAL<br />
EMPREGO<br />
PROTEGIDO<br />
FORMAÇÃO INTERVENÇÃO UNIDADE<br />
PROFISSIONAL PRECOCE RESIDENCIAL<br />
OUTRAS<br />
INSTITUIÇÃO<br />
OUTRAS<br />
ACIP<br />
CECD<br />
CEERDL<br />
CERCIAG<br />
CERCIAMA<br />
CERCIAV<br />
CERCIAZ<br />
CERCIBEJA<br />
CERCIBRAGA<br />
CERCICA<br />
CERCICAPER<br />
CERCICHAVES<br />
CERCICOA<br />
CERCIDIANA<br />
CERCIESPINHO<br />
CERCIESTREMOZ<br />
CERCIFAF<br />
CERCIFEIRA<br />
CERCIFEL<br />
CERCI F.VIDA<br />
CERCIFOZ<br />
CERCIG<br />
CERCIGAIA<br />
CERCIGRÂNDOLA<br />
CERCIGUI<br />
CERCILAMAS<br />
CERCILEI<br />
CERCI<br />
CERCIMA<br />
CERCIMAC<br />
CERCIMARANTE<br />
CERCIMB<br />
CERCIMIRA<br />
CERCIMONT<br />
CERCIMOR<br />
CERCINA<br />
CERCIOEIRAS<br />
CERCIPENELA<br />
CERCIPENICHE<br />
CERCIPOM<br />
CERCIPORTALEGRE<br />
CERCIPÓVOA<br />
CERCISA<br />
CERCISIAGO<br />
CERCITEJO<br />
CERCITOP<br />
CERCIVAR<br />
CERCIZIMBRA<br />
CRACEP<br />
CREACIL<br />
CRINABEL<br />
RUMO<br />
ACIP<br />
Gabinete de Inserção Profissional; Atendimento e Acompanhamento Social; Rendimento Social de Inserção e Serviços Terapêuticos<br />
CECD<br />
Clinica de Medicina e Reabilitação<br />
CEERDL Residência Autónoma; Forum Socio Ocupacional; Centro de Atendimento, Acompanhamento da Pessoa com Deficiência<br />
CERCIAG<br />
Centro de Recursos do Centro de Emprego de Agueda; CLDS 3G “ADRO”<br />
CERCIAMA –<br />
CERCIAV<br />
Rendimento Social de Inserção; Centro de Recursos<br />
CERCIAZ –<br />
CERCIBEJA –<br />
CERCIBRAGA –<br />
CERCICA<br />
ATL Especializado; CERMOV; Editora Gráfica; CER Garden; CER Jardim; CER Plant - Centro de Recursos do Centro de Emprego<br />
CERCICAPER<br />
Centro de Acolhimento Temporário para Crianças e Jovens em Risco<br />
CERCICHAVES –<br />
CERCICOA<br />
Centro de Recursos Local; Residência Autónoma; Serviço de Atribuição de Produtos de Apoio<br />
CERCIDIANA –<br />
CERCIESPINHO Residência Autónoma; Centro Comunitário da Ponte de Anta; Contrato Local e Desenvolvimento Social; Centro de Recursos do IEFP; Oficinas de Produção; Serviços de Produção<br />
CERCIESTREMOZ Centro de Recursos Local<br />
CERCIFAF<br />
Centro de Recursos Local (IEFP); Serviço de Atendimento e Apoio Social<br />
CERCIFEIRA<br />
Jardim de Infância; ATL e Creche<br />
CERCIFEL –<br />
CERCI F.VIDA –<br />
CERCIFOZ –<br />
CERCIG<br />
Centro de Atividades de Tempos Livres; Residência Autónoma; Lar Residencial; RSI; Unidade Residencial de Apoio à Formação Profissional<br />
CERCIGAIA<br />
Creche<br />
CERCIGRÂNDOLA –<br />
CERCIGUI –<br />
CERCILAMAS<br />
Rendimento Social de Inserção<br />
CERCILEI<br />
Empresa de Jardinagem e Lavandaria<br />
CERCI<br />
CAARPD; Centro de Recursos IEFP<br />
CERCIMA<br />
Centro Comunitário; Residência Autónoma<br />
CERCIMAC –<br />
CERCIMARANTE Centro de Apoio Familiar e Aconselhamento Parental; Estrutura Residencial para Idosos; Lar Residencial<br />
CERCIMB –<br />
CERCIMIRA –<br />
CERCIMONT –<br />
CERCIMOR<br />
Centro de Apoio Familiar e Aconselhamento Parental; Centro de Recursos Local<br />
CERCINA<br />
Centro Qualifica; Centro de Atividades Aquáticas Adaptadas do Oeste; CAET; Erasmus +; Residência Autónoma<br />
CERCIOEIRAS<br />
Banco de Equipamentos e Tecnologias de Apoio<br />
CERCIPENELA Centro de Recursos para o IEFP; Residências Autónomas<br />
CERCIPENICHE Centro de Recursos IEFP; Serviço de Intervenção Terapêutica<br />
CERCIPOM<br />
Centro de Formação Profissional<br />
CERCIPORTALEGRE –<br />
CERCIPÓVOA<br />
ATL<br />
CERCISA –<br />
CERCISIAGO<br />
Residência Autónoma; Centro de Recursos Local<br />
CERCITEJO<br />
Espaço Tejo Saúde - Nucleo de Apoio Terapêutico; ATL<br />
CERCITOP<br />
Unidades de Cuidados Continuados Integrados; Clinica de Reabilitação; Cantina SociaL<br />
CERCIVAR –<br />
CERCIZIMBRA Creche e Pré-Escolar; Centro de Animação para a Infância<br />
CRACEP –<br />
CREACIL –<br />
CRINABEL –<br />
RUMO<br />
Formação de Técnicos; Programa Empreendedorismo Imigrante; Rede para a Empregabilidade Barreiro/Moita; Projeto Escolhas; Projeto Sem Abrigo e Vítimas de Violência<br />
126 Revista Fenacerci 2018<br />
Revista Fenacerci 2018 127
© CERCIMB | Street Paride | Chama da Solidariedade 2017<br />
E pronto, já está. Mais uma edição concluída, certamente deixando de fora muitas histórias<br />
e factos que seria importante partilhar convosco. Mas fomos até onde era possível ir e o<br />
resultado fica para vossa avaliação. O nosso agradecimento a todos quantos tornaram<br />
possível concretizar mais este número da revista: aos patrocinadores, sem os quais não<br />
podíamos ousar reembarcar nesta aventura, aos que colaboraram com textos e imagens<br />
que dão substância a este projeto anualmente renovado, às Cerci’s pela inspiração que nos<br />
transmitem e que alimenta esta vontade de mostrar o que fazem e aos colaboradores da<br />
Fenacerci pela disponibilidade para darem uma mãozinha sempre que é preciso. E como<br />
queremos voltar não dizemos adeus: talvez ATÉ JÁ!
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