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RevistaFenacerci2018

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EDITORIAL<br />

PUB<br />

Rogério Cação<br />

Vice-Presidente da Fenacerci<br />

Neste Ano Internacional do Património Cultural resolvemos fazer da cultura<br />

o tema de base da nossa revista. Curiosamente, é na cultura que<br />

residem os fatores que promovem a inclusão e a exclusão da pessoa<br />

com deficiência. Na realidade, grande parte dos processos que geram<br />

exclusão, são resultado de uma cultura fundada em estereótipos, não raras<br />

vezes imbuída de boas intenções, mas completamente à margem das<br />

realidades concretas das pessoas que são excluídas. Nos antípodas, uma<br />

cultura inclusiva funda-se na promoção de oportunidades de igualdade<br />

e é marcada pela necessidade de aprofundar e partilhar conhecimentos,<br />

tendo em vista otimizar as condições para que todos sem exceção possam<br />

usufruir duma cidadania plena. Por outro lado, a fruição da cultura,<br />

nas suas diferentes formas, é um fator de enriquecimento e afirmação<br />

individual e gera competências facilitadoras dos processos de socialização<br />

e integração social. Nessa medida, quanto mais acessível estiver<br />

dos grupos vulneráveis o evento cultural, mais relevante ele se torna,<br />

enquanto veículo promotor da inclusão.<br />

As Cerci’s são elas próprias um produto cultural com caraterísticas próprias,<br />

que têm a ver com o tempo e o modo como foram criadas. Foram<br />

beber a abril os ventos de esperança por um futuro melhor e souberam<br />

fazer da liberdade uma marca diferenciadora da sua ação. Hoje, 43 anos<br />

depois da criação da primeira Cerci, continuam a ser organizações resilientes<br />

às dificuldades e tenazes na luta por melhores condições e para<br />

que se cumpram plenamente os direitos das pessoas com deficiência e<br />

das suas famílias. Talvez por isso, continuem na linha da frente quando se<br />

trata de inovar, de se adaptarem aos novos desafios que hoje se levantam<br />

às comunidades e aos territórios, na promoção da inclusão e da igualdade<br />

de oportunidades.<br />

A defesa intransigente dos Direitos das Pessoas com Deficiência, continua<br />

a ser o escopo da ação que desenvolvemos. Talvez por isso esta<br />

revista pretende ser ela própria um olhar diferenciado para múltiplos<br />

caminhos que, na sua essência, são espaços de confirmação de direitos,<br />

tendo em conta que estes decorrem das ações mas também podem morar<br />

nas opiniões. Continuamos a lutar por uma sociedade que faça da<br />

inclusão a essência da cidadania. E isso implica a construção de uma cultura<br />

que veja na diferença um fator acrescentador e valorizador do coletivo,<br />

só possível de construir, se cada vez formos mais a pensar assim.<br />

Estatuto Editorial<br />

A Revista FENACERCI é uma Revista Anual de informação geral que pretende dar, através do texto e da imagem, uma ampla<br />

cobertura dos mais importantes e significativos testemunhos em todos os domínios de interesse na área dos Direitos da população<br />

com deficiência intelectual e/ou multideficiência;<br />

A Revista FENACERCI é independente do poder político, do poder económico e de quaisquer grupos de pressão;<br />

A Revista FENACERCI identifica-se com os valores da democracia pluralista e solidária;<br />

A Revista FENACERCI rege-se, no exercício da sua atividade, pelo cumprimento rigoroso das normas éticas e deontológicas<br />

do jornalismo;<br />

A Revista FENACERCI defende o pluralismo de opinião, sem prejuízo de poder assumir as suas próprias posições;<br />

A Revista FENACERCI pauta-se pelo princípio de que os factos e as opiniões, devem ser claramente separadas: os primeiros<br />

são intocáveis e as segundas são livres. Em vigor desde a fundação da Revista<br />

Revista Fenacerci 2018 1


FICHA TÉCNICA<br />

ÍNDICE<br />

1 EDITORIAL<br />

NÓS POR NÓS PRÓPRIOS<br />

DIREÇÃO<br />

Rogério Cação<br />

COORDENAÇÃO DE EDIÇÃO<br />

Ana Rita Peralta<br />

CONSELHO EDITORIAL<br />

Ana Brás, Joaquim Pequicho, Julieta Sanches,<br />

Rosa Neto<br />

APOIO LOGÍSTICO<br />

Lucília Carrondo, Núria Shocron, Jorge Duarte,<br />

Carlos Pires, Vânia Oliveira<br />

COLABORAÇÃO<br />

ACIP, Albino Guimarães, Ana Flores, Ana Isabel Dias, Ana Rita Barata,<br />

Ana Roque, Anabela Barroso, André Barros, Anne Firket, António<br />

Peixoto, Beatriz Campos, Carina, Carla Rocha, Carlos Ferreira, Carolina<br />

Marques, CECD, CEERDL, Celso Antunes, CERCIAG, CERCIA-<br />

MA, CERCIAV, CERCIAZ, CERCIBEJA, CERCIBRAGA, CERCICA,<br />

CERCICAPER, CERCIDIANA, CERCIESPINHO, CERCIESTREMOZ,<br />

CERCIFAF, CERCIFEL, CERCIG, CERCIGRÂNDOLA, CERCIGUI,<br />

CERCILEI, CERCIMA, CERCIMARANTE, CERCIMB, CERCI-<br />

MONT, CERCINA, CERCIOEIRAS, CERCIPENICHE, CERCIPOM,<br />

CERCIPÓVOA, CERCISIAGO, CERCITOP, Cláudio Pinto, Daniela<br />

Gonçalves, Diana Seabra, Elisabete Duarte, Elisabete Moniz, Eloi Silva,<br />

Fernanda Serrano, Filipe Monteiro, Gina Neves, Grupo de Autorrepresentação<br />

da CERCIBEJA, Helena Pereira, Henrique Amoedo, Henrique<br />

Guimarães, Inês Adagói, Inês d´Orey, Ivone Félix, Jacinto Nunes, Joana<br />

Solnado, João Teixeira, Keylla Ferrari, Laura Pimpão, Lídia Martins,<br />

Luís Filipe de Castro Mendes, Mafalda Malveiro, Manuela Ribeiro,<br />

Marco Paiva, Marcos Machado, Margarida Cardoso, Maria de La<br />

Salete Costa, Maria Manuel Costa, Maria Vlachou, Marisa Carvalho,<br />

Marisa Dias, Nelson Monteiro, Nuno Faneco, Nuno Vasa, Olga Alves,<br />

Paula Cristina Nogueira, Pedro Sena Nunes, Rafael Silva, Ricardo<br />

Araújo, Rui Araújo, Rui Jorge, Sandra Batista, Sandra Carneiro, Sara<br />

Espírito Santo, Sara Magalhães, Sara Teixeira, Simone Rodrigues,<br />

Sónia Costa, Telmo Gonçalves, Tiago Azevedo, Tomaz Morais, Vanda<br />

Rodrigues, Vasco Ribeiro, Vítor Borges<br />

SEDE DE REDAÇÃO<br />

Rua Augusto Macedo n.2 - A | 1600-794 Lisboa<br />

FOTOGRAFIA DE CAPA<br />

CERCIFAF | Fotografo Manuel Meira<br />

CONCEÇÃO GRÁFICA<br />

Design e Forma<br />

Centro Empresarial de Carnaxide<br />

Avenida Tomás Ribeiro nº47 1ºH, 2790-463 Carnaxide<br />

IMPRESSÃO<br />

Printer Portuguesa<br />

Avenida Major General Machado De Sousa, 28,<br />

Edifício Printer - Casais de Mem Martins,<br />

2639-001 Rio de Mouro<br />

TIRAGEM<br />

3000 exemplares<br />

PROPRIEDADE<br />

FENACERCI – Federação Nacional de Cooperativas de Solidariedade<br />

Social<br />

Rua Augusto Macedo, nº 2 – A | 1600-794 Lisboa<br />

fenacerci@fenacerci.pt<br />

www.fenacerci.pt<br />

https://www.facebook.com/FENACERCI<br />

https://www.instagram.com/fenacerci<br />

DEPÓSITO LEGAL<br />

77867/94 ISSN 0872-7945<br />

Número de Registo ERC (Entidade Reguladora<br />

para a Comunicação Social) 126446<br />

NIPC – 501 562 966<br />

Todos os artigos que integram a Revista<br />

FENACERCI são da inteira responsabilidade dos seus autores,<br />

não se vinculando a Federação às opiniões emitidas pelos<br />

mesmos.<br />

A presente publicação encontra-se escrita<br />

ao abrigo do novo acordo ortográfico.<br />

l<br />

Rogério Cação<br />

4 MENSAGEM DE ABERTURA<br />

l<br />

Comendadora Julieta Sanches<br />

6 OPINIÃO<br />

l<br />

Por uma Política Cultural Acessível para Todos<br />

l<br />

Pensar a Arte e a Cultura a partir da Acessibilidade: Mito, Realidade<br />

ou Desafio<br />

l<br />

Dança, Arte, Educação e Terapia: uma Possibilidade para Pessoas<br />

com Deficiência<br />

l<br />

Entre o Passado e o Futuro das Coisas<br />

l<br />

A Inclusão Social Através do Acesso à Cultura<br />

l<br />

VO’ARTE: Um Discurso de Sensibilidades<br />

l<br />

Dançando com a Diferença<br />

24 D`ARTE A CULTURA DAS CERCI`S<br />

l<br />

Expressões Artísticas: Um Caminho para a Plena Cidadania!<br />

l<br />

Mais Dança em Mim<br />

l<br />

“Coisas do Arco da Velha”<br />

l<br />

Azul Diferent<br />

l<br />

“O Chocalho” Apresenta Julieta e Romeu<br />

l<br />

Falemos de Outros “Planos”<br />

l<br />

Unir pela Dança<br />

l<br />

Simplesmente Gente<br />

l<br />

As Artes como Ferramenta de Desenvolvimento e de Inclusão<br />

l<br />

Caoetes, Caoboys e Caohábanda<br />

l<br />

Cenas de um Western Português<br />

l<br />

Aquele Lugar Dentro do Mundo<br />

l<br />

Notas de Contacto<br />

l<br />

Gerações de Mãos Dadas<br />

l<br />

Oficina de Teatro<br />

l<br />

Parte de Coisa Nenhuma<br />

l<br />

Sigam a Nossa Cena<br />

l<br />

Teatrei e Teatrando<br />

l<br />

“Artes e Letras”<br />

l Lascarina<br />

54 CERCI’S: O CAMINHO FAZ-SE A ANDAR<br />

l<br />

l<br />

l<br />

l<br />

l<br />

l<br />

l<br />

l<br />

l<br />

l<br />

l<br />

l<br />

l<br />

l<br />

l<br />

l<br />

l<br />

82<br />

Shiatsu na CERCIAMA<br />

A Vontade e Outras Forças!<br />

No Mundo da Blogosfera: os Cercicos<br />

A Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados<br />

O que Fica do que Passa<br />

Crescer na Diferença: Lichinga - Tornar Visível o Invisível<br />

Uma História de Conquistas e Amor!!<br />

Cultivar a Inclusão<br />

Da Rua para o Mundo!<br />

Consigo Todos os Dias<br />

Da Comunicação à Expressão<br />

A Importância do Programa Cidadania para o Desenvolvimento<br />

de Competências Pessoais e Sociais<br />

Quem Somos?<br />

Da Tradição à Inclusão: Jogos Tradicionais na Praça do Moinho<br />

Recursos Desportivos em Rede<br />

À Conversa e Contra a Violência<br />

Inclusão pelo Trabalho<br />

l<br />

l<br />

l<br />

l<br />

l<br />

l<br />

l<br />

l<br />

l<br />

l<br />

l<br />

l<br />

l<br />

l<br />

Equipa 5 Estrelas<br />

Arte em “Duas Senas”<br />

Um Novo Rumo<br />

Uma Coisa que não Era e Hoje Sou!<br />

Começar de Novo...<br />

“A Conversar é que a Gente se Entende”<br />

A Nossa Visita a Guimarães<br />

Direitos, Deveres e Inclusão<br />

Gosto de Estar Aqui!<br />

A Constelação do Sonho<br />

A História de Carina<br />

Eu Gostei Porque Sim!<br />

Um Artista de Mão Cheia<br />

Vontade de Ter Vontade!<br />

96 VENHA DE LÁ ESSE ABRAÇO<br />

l<br />

l<br />

l<br />

l<br />

l<br />

l<br />

l<br />

André Barros<br />

Fernanda Serrano<br />

Joana Solnado<br />

Nuno Vasa<br />

TOMARA - Filipe Monteiro<br />

Tomaz Morais<br />

Vasco Ribeiro<br />

106 OLHÓMETRO<br />

108 CAMPANHA PIRILAMPO MÁGICO 2018<br />

l<br />

Comissão de Honra<br />

l Patrocinadores<br />

114 BREVES<br />

l<br />

De Olhos Fechados<br />

l Azibo<br />

l<br />

XII Encontro da Dança em Amarante<br />

l<br />

Sobre o Arco e a Flecha!<br />

l<br />

Pelo Gosto e Pela Música<br />

l<br />

O Desporto é Para Todos!<br />

l<br />

12 Meses @ Doze Caras<br />

l<br />

Natal Une Duas Causas<br />

l<br />

Porque Rir é o Melhor Remédio!<br />

l<br />

Dança Desportiva<br />

l Experiment`Arte<br />

l<br />

Serviço de Apoio à Inclusão<br />

l<br />

De Mochila às Costas<br />

123 LISTA DE ASSOCIADAS E SERVIÇOS<br />

128 PONTO FINAL<br />

2 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 3


MENSAGEM DE ABERTURA<br />

Comendadora Julieta Sanches<br />

Vivemos um tempo conturbado, em que facilmente se<br />

constroem e alimentam convições que, pese embora<br />

possam porvir de intencionalidades positivas ou até<br />

ser desprovidas de intencionalidades, acabam por ser<br />

geradoras de injustiças e promotoras de impactos negativos<br />

para as organizações. Proponho-me por isso<br />

abordar este tema nesta mensagem de abertura que me<br />

pediram para fazer, socorrendo-me de duas palavras –<br />

chave: desinstitucionalização e desacreditação.<br />

Hoje tornou-se claramente moda a defesa quase intransigente<br />

da desinstitucionalização. E de tal modo se<br />

leva tão longe esta opção discursiva, que nem sequer<br />

se sente a necessidade de explicar ou ter em conta os<br />

impactos reais de uma posição fundamentalista nesta<br />

matéria, tendo em conta que grande parte das pessoas<br />

“institucionalizadas” não têm suportes alternativos na<br />

comunidade, que respondam com eficácia e dignidade<br />

às suas necessidades. Claro que a institucionalização<br />

© DR<br />

deve ser sempre uma solução de recurso, mas dizer que<br />

é dispensável revela insensibilidade ou ignorância relativamente<br />

à realidade que temos e somos. Obviamente<br />

que os paradigmas de apoio à pessoa com deficiência<br />

se alteraram, que hoje (e bem), se defende que o esforço<br />

deve ser conduzido para perspetivas que promovam a<br />

independência e autonomia das pessoas … E os outros,<br />

aqueles com necessidades complexas que dificilmente<br />

se enquadram nos padrões de vida independente que<br />

alguns paladinos da inclusão plena defendem? Confesso<br />

que não sou contra a desinstitucionalização daqueles<br />

que nunca deviam ser institucionalizados, mas preocupa-me<br />

este discurso inconsequente e intransigente<br />

de alguns, como se desinstitucionalizar fosse garantir<br />

a fruição plena dos direitos de cidadania. Precisamos e<br />

continuaremos a precisar de organizações. Diferentes<br />

sim, porventura mais flexíveis e de portas escancaradas<br />

à comunidade, mas continuarão a ser necessárias<br />

e determinantes. É um debate que deve ser feito com a<br />

serenidade que se impõe.<br />

Outra das preocupações têm a ver com os processos<br />

de desacreditação que se geram, a propósito<br />

de situações anómalas e pontuais vividas numa ou<br />

noutra organização. É constrangedor verificar a facilidade<br />

com que muitos pretendem transpor para a<br />

generalidade das organizações, as ações ilícitas que<br />

se descobrem de vez em quando numa ou noutra organização.<br />

São meia dúzia de casos num universo de<br />

milhares de organizações envolvidas, mas a amplificação<br />

que é feita deste tipo de situações, faz parecer<br />

que são poucas as organizações honestas e duvidosas<br />

a grande maioria, o que é obviamente despropositado<br />

e profundamente injusto. Sinto-me por isso na obrigação<br />

de verberar quem tem este tipo de opiniões.<br />

As organizações solidárias têm uma história que fala<br />

por si. São construídas por milhares de cidadãos e<br />

cidadãs que abdicam de muito de si e de seu em prol<br />

das organizações que servem. Mas claro que a imperfeição<br />

faz parte das condições naturais em tudo o<br />

que mete gente e estaremos na linha da frente quando<br />

as ações forem ilícitas. Mas não se confunda a nuvem<br />

com Juno. É injusto e prejudica quem, com seriedade,<br />

faz da solidariedade uma ferramenta ao serviço dos<br />

que mais precisam.<br />

Presidente da FENACERCI<br />

4 Revista Fenacerci 2018


OPINIÃO<br />

© TNDM II, Filipe Ferreira | Produção Crinabel Teatro<br />

SEPARADOR<br />

Para nós, todas as opiniões contam.<br />

Podemos estar mais ou menos de<br />

acordo com elas mas é na divergência<br />

que se constroem os consensos. Muitas<br />

vezes perdemo-nos num olhar que está<br />

viciado à partida pelas vinculações<br />

que temos com as pessoas ou factos<br />

sobre os quais recai o olhar. É por<br />

isso que é importante ouvir os outros,<br />

aqueles que, sendo observadores ou<br />

atores, estão mais distanciados do<br />

que nós das realidades que analisam.<br />

Aprender com o olhar e sentir dos<br />

outros é tarefa que assumimos de<br />

bom grado. Bem hajam todos os<br />

que se disponibilizam para partilhar<br />

connosco ideias e formas de entender<br />

as pessoas e as coisas.


OPINIÃO<br />

POR UMA POLÍTICA<br />

CULTURAL ACESSÍVEL<br />

PARA TODOS<br />

© TNDM II, Filipe Ferreira | Produção Crinabel Teatro<br />

MINISTÉRIO DA CULTURA<br />

O Ministério da Cultura tem procurado,<br />

como o conjunto do governo, desenvolver<br />

políticas que assegurem um acesso sem<br />

discriminação à população com deficiência,<br />

tanto no que respeita à criação como<br />

à fruição. Dois exemplos do muito trabalho<br />

que tem sido feito para uma normalização<br />

das relações entre cidadãos com e sem<br />

deficiência, particularizam a ação do governo<br />

na área cultural.<br />

Em 2016 o Teatro Nacional Dona Maria II<br />

acolheu, em coprodução, o espetáculo comemorativo<br />

dos 30 anos da CRINABEL,<br />

Uma menina está perdida no seu século<br />

à procura do pai, a partir de um texto de<br />

Gonçalo M. Tavares e encenação de Marco<br />

Paiva. Integrada por direito próprio na<br />

programação do principal teatro tutelado<br />

pelo Estado central, foi uma oportunidade<br />

para um diálogo intenso e vivo entre artistas<br />

e públicos, que alargou as experiências<br />

e práticas de sucesso de uma maior acessi-<br />

© TNDM II, Filipe Ferreira | Produção Crinabel Teatro<br />

bilidade de todos os cidadãos aos espaços<br />

de cultura. A par de programas de acessibilidade<br />

para cidadãos com deficiência visual<br />

e motora, bem como linguagem gestual,<br />

os espaços culturais tutelados pelo<br />

Ministério da Cultura têm pugnado por<br />

uma cada vez maior atenção à diversidade<br />

e às necessidades da população. Exemplo<br />

disso são as sessões descontraídas, que<br />

permitem uma outra abordagem, menos<br />

“invasiva” e “formatada” a públicos com<br />

necessidades especiais, e que permitem<br />

aos próprios artistas compreender de que<br />

modo os seus projetos podem criar outras<br />

relações, eventualmente inesperadas, e<br />

outros significados que ampliem a construção<br />

dramatúrgica que elaboraram.<br />

Um outro exemplo que dá bem conta de<br />

como o Ministério da Cultura olha, e entende<br />

a criação contemporânea como um<br />

fator essencial para a coesão social e para<br />

a promoção de um diálogo integrado dos<br />

cidadãos, é a consequência feliz e positiva<br />

promovida pelo alargamento do apoio às<br />

artes às Regiões Autónomas da Madeira<br />

e Açores. Na área da dança, este alargamento<br />

permitiu admitir a concurso, e ver<br />

apoiado, o projeto plurianual da companhia<br />

Dançando com a Diferença que, com<br />

sede no Funchal e residência na Casa das<br />

Mudas, na Calheta, é uma das companhias<br />

mais relevantes não só na criação contemporânea<br />

coreográfica como distinguida<br />

pelo trabalho que tem desenvolvido com<br />

a comunidade de pessoas com deficiência.<br />

Ao longo dos anos têm sido vários os<br />

coreógrafos que têm trabalhado com esta<br />

companhia, cruzando gerações, géneros e<br />

perspetivas.<br />

Por último, e porque estas são questões<br />

que preocupam o Ministério da Cultura<br />

© TNDM II, Filipe Ferreira | Produção Crinabel Teatro<br />

enquanto dinamizador de políticas públicas<br />

de acessibilidade à prática e fruição culturais,<br />

sabemos que os espaços culturais enfrentam<br />

múltiplos desafios para proporcionar<br />

a audiências física e intelectualmente<br />

incapacitadas, a possibilidade de participar<br />

nas suas atividades. As condições socioeconómicas<br />

e o alcance territorial que<br />

os profissionais artísticos têm a oferecer<br />

reabrem a necessidade de estratégias de<br />

longa duração para garantir que as questões<br />

de acessibilidade sejam efetivamente<br />

tidas em conta, com foco no envolvimento,<br />

na diversidade e na divulgação.<br />

Há um longo caminho para percorrer até<br />

deixarmos de usar expressões como inclusão<br />

e comunidade para distinguir, ou<br />

sublinhar, mesmo que num plano de discriminação<br />

positiva, a presença de pessoas<br />

com deficiência num quotidiano que a todos<br />

possa parecer fluido e mais consentâneo<br />

com o que é viver numa sociedade<br />

sem preconceitos.<br />

Os agentes culturais - aqueles que desenvolvem<br />

e apresentam projetos artísticos<br />

- devem considerar a mesma questão:<br />

para quem estão eles a trabalhar e<br />

para que públicos e participantes gostariam<br />

de desenvolver o seu trabalho? Esta<br />

deve ser a base para as decisões sobre as<br />

políticas de financiamento para a acessibilidade.<br />

Luís Filipe de Castro Mendes<br />

Ministro da Cultura<br />

8 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 9


OPINIÃO<br />

Inês d’Orey<br />

PENSAR A ARTE E A CULTURA A PARTIR DA ACESSIBILIDADE<br />

MITO, REALIDADE<br />

OU DESAFIO<br />

A acessibilidade é um conceito polissémico.<br />

Alguns autores consideram seis tipos<br />

de acessibilidade: a atitudinal, a arquitetónica,<br />

a comunicacional, a instrumental, a<br />

metodológica e a programática. Podemos<br />

ainda perguntar-nos, quais os seus fundamentos,<br />

quais os seus objetivos, ou ainda,<br />

como se apresenta e qual a sua importância<br />

social e cultural?<br />

Pensar a arte e a cultura a partir da perspetiva<br />

da acessibilidade, implica considerar<br />

todas estas questões o que não caberá<br />

neste artigo.<br />

A acessibilidade significa, no caso da arte e<br />

da cultura, o acesso livre e desimpedido, de<br />

todos os indivíduos, sem exceção, a qualquer<br />

espaço, manifestação ou participação<br />

artística ou cultural, baseado no direito de<br />

igualdade democrática, numa determinada<br />

sociedade.<br />

Se o conceito de cultura não se limitar à<br />

extensão do conhecimento ou literacia,<br />

a chamada ‘alta cultura’, mas se se referir<br />

aos hábitos, crença e mentalidade duma<br />

determinada sociedade, na sua base está<br />

uma determinada conceção de Homem e<br />

de Sociedade.<br />

A promoção de acessibilidade não pode<br />

partir apenas das necessidades de uma ou<br />

outra pessoa, tomada individualmente, tem<br />

de assentar no respeito pela Pessoa Humana<br />

e no apreço pela participação social de<br />

todos. Deste modo, o nível de acessibilidades<br />

das cidades e instituições é um indicador<br />

claro do nível moral, ético e cívico dos<br />

seus responsáveis, pois revela o seu grau de<br />

preocupação pela inclusão e participação<br />

de todos nas suas vivências e atividades.<br />

O exercício da cidadania pressupõe assim,<br />

que as sociedades se organizem de forma<br />

a garantir a todos, uma efetiva igualdade<br />

de oportunidades em todos os domínios<br />

e etapas da vida dos indivíduos. Assim, os<br />

conceitos de acessibilidade e inclusão social<br />

estão intrinsecamente ligados.<br />

A acessibilidade será um mito em sociedades<br />

homogéneas, propondo aos seus<br />

membros um modelo padrão, igual para<br />

todos, onde a diferença não tem lugar e os<br />

desvios são identificados como uma ameaça<br />

ao equilíbrio, à ordem e à coesão social.<br />

Nesta perspetiva, qualquer manifestação<br />

da diferença deve ser normalizada pelo<br />

padrão ou excluída e afastada da vida social<br />

para não perturbar a sua coesão ou o<br />

bem-estar dos seus membros. Neste caso,<br />

a acessibilidade é um mito, subjacente à<br />

conceção de que a igualdade se consegue,<br />

a partir da sujeição do individuo ao padrão<br />

social existente, sem modificar ou beliscar<br />

as suas estruturas.<br />

A acessibilidade será um desafio em sociedades<br />

inclusivas, onde ela é abrangente e<br />

se fundamenta na igualdade de direitos e<br />

deveres, considerando que todas as pessoas<br />

são diferentes e que, essa diferença,<br />

longe de ser um obstáculo ou problema, é<br />

fator de progresso e desenvolvimento social.<br />

Considera, também, que todas as modificações<br />

introduzidas no meio envolvente<br />

para uma acessibilidade total, vão necessariamente<br />

beneficiar todos os membros da<br />

sociedade, porque melhoram a sua qualidade<br />

de vida. Neste caso, a acessibilidade<br />

é um desafio, numa tentativa contínua, de<br />

adaptar as estruturas e os espaços sociais<br />

e culturais, às necessidades dos indivíduos.<br />

A realidade não é mito nem desafio. Os<br />

grupos sociais tendem a estabelecer categorias<br />

de indivíduos e a atribuir-lhes<br />

caraterísticas e competências. Há neste<br />

processo uma tendência para a formação<br />

de estereótipos e preconceitos, que tomam<br />

a parte pelo todo, definindo os indivíduos<br />

por uma só das suas caraterísticas e generalizando-a,<br />

irracionalmente, a todo um<br />

grupo. Assim, o preconceito emerge muito<br />

cedo na sociedade e é extremamente difícil<br />

de combater, a não ser pela demonstração<br />

da sua irracionalidade e dos prejuízos e injustiças<br />

que acarreta. Para isso é importante<br />

a presença dos grupos marginalizados,<br />

na vida social e cultural. No caso da arte,<br />

essa presença tem como objetivo dar visibilidade<br />

às capacidades criativas destes<br />

artistas, pela sua participação nas atividades<br />

artísticas e culturais, seja como autor,<br />

seja como espetador.<br />

Há poucos anos, fiz uma investigação, a<br />

propósito da visibilidade social de grupos<br />

marginalizados, que constava em gravar,<br />

durante 3 meses, o “prime time” dos<br />

3 canais de TV mais vistos (RTP 1, SIC e<br />

TVI). Nessas gravações, nem por uma vez<br />

apareceu o tema da deficiência. Este caso<br />

mostra que a visibilidade social no que diz<br />

respeito à deficiência é, ainda, secundária<br />

em Portugal. Assim sendo, a acessibilidade<br />

para todos, nos espaços artísticos<br />

e culturais, particularmente no que diz<br />

respeito à deficiência, ainda é diminuta na<br />

cultura do nosso país e é, na maioria dos<br />

casos, apenas realizada por prescrição da<br />

lei, embora comecem a haver espaços culturais<br />

e artísticos com atividades e preocupações<br />

nesse sentido.<br />

Pensar a arte e a cultura a partir da acessibilidade,<br />

torna-se mito, quando as próprias<br />

pessoas excluídas e a sociedade em geral,<br />

desiste de lutar para tornar possível o<br />

acesso e a participação de todos, aos seus<br />

espaços e eventos artisticos e culturais. Se<br />

pelo contrário, houver uma dinâmica social,<br />

aberta para a inclusão de todos, torna-se<br />

um desafio geral de cada um, para conseguir<br />

uma sociedade mais rica e progressiva,<br />

mais justa e humana, onde a cultura da<br />

sociedade e dos grupos, integre a preocupação<br />

permanente e generalizada da<br />

acessibilidade para todos, aos seus espaços<br />

e eventos artísticos e culturais.<br />

Presidente da ANACED – Associação<br />

Nacional de Arte e Criatividade<br />

de e para Pessoas com Deficiência<br />

10 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 11


OPINIÃO<br />

Keyla Ferrari Lopes<br />

DANÇA, ARTE, EDUCAÇÃO<br />

E TERAPIA<br />

UMA POSSIBILIDADE PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA<br />

Fotos: Fábio Barella<br />

A dança carateriza-se pelo uso do corpo<br />

seguindo movimentos previamente estabelecidos<br />

ou improvisados. É uma atividade<br />

artística que se baseia primordialmente<br />

no movimento, no gesto, e possibilita<br />

ao homem transmitir seus pensamentos,<br />

ideias e emoções por meio do corpo. Ela<br />

nasce de sentimentos, sensações, imagens<br />

e baseia-se na perceção dos sentidos e na<br />

motricidade integrando as áreas motoras<br />

e psíquicas do ser humano. A dança pode<br />

existir como manifestação artística, como<br />

forma de divertimento, educação, terapia<br />

ou cerimónia.<br />

A história da dança, em especial no último<br />

século, tem evidenciado uma caraterística<br />

de transgressão por seu caráter<br />

transformador em favor da liberdade de<br />

expressão” (BERTOLDI; MARCHI JR.;<br />

2004; p.3) e pode-se dizer que essa liberdade<br />

de expressão implica atravessar,<br />

ultrapassar limites corporais e noções<br />

pré-estabelecidas de movimentos.<br />

Atualmente acredita-se na dança como<br />

meio de comunicação e transmissão de<br />

ideias, de fala e de expressão dos diferentes<br />

e sobre as diferenças como<br />

possibilidade de movimentos para além<br />

de corpos, de formas e de técnicas perfeitas,<br />

corpos que se expressam com<br />

prazer, valorizando a sua essencialidade,<br />

quebrando ideias ultrapassadas,<br />

despadronizando o que já é criação e<br />

recriando novas realidades corpóreas.<br />

(BARRETO, 2004).<br />

Não há um único modo caraterístico de<br />

se mover, um vocabulário de movimentos<br />

ou um padrão, todo o movimento pode<br />

ser dança. De forma geral, a dança é<br />

para muitos um meio canalizador de expressões,<br />

seja qual estilo for, a dança é a<br />

arte que envolve e desmistifica estereótipos<br />

e preconceitos existentes.<br />

As barreiras existentes no passado com<br />

relação ao corpo com deficiência, já estão<br />

sendo quebradas e hoje em dia qualquer<br />

pessoa pode dançar. Mesmo que<br />

ela tenha alguma deficiência intelectual,<br />

motora, ou sensorial, existem diversos<br />

estilos de dança que dão a liberdade de<br />

cada um optar como, quando, onde e o<br />

que dançar, sendo o seu corpo um instrumento<br />

criativo.<br />

No cenário mundial os trabalhos realizados<br />

na área da dança e expressão corporal<br />

que incluem alunos e dançarinos com<br />

deficiência vem crescendo em uma grande<br />

diversidade de estilos e objetivos e<br />

geralmente, são realizados por profissionais<br />

de diferentes áreas do conhecimento<br />

humano como artistas, terapeutas e<br />

educadores com propostas que possuem<br />

objetivos sociais, terapêuticos, artísticos,<br />

educativos, competitivos, recreativos ou<br />

até mesmo mais de um destes objetivos<br />

reunidos numa mesma proposta. Nestes<br />

contextos, podemos encontrar cada vez<br />

mais pessoas que possuem uma condição<br />

de deficiência inseridas de maneira a<br />

se fazerem presentes no cenário da dança<br />

que por muito tempo os excluiu por os<br />

considerar não hábeis para a realização<br />

de tal atividade.<br />

Isso proporcionou novos olhares do público.<br />

Olhares que quebram os estereótipos<br />

daquilo que se entendia por dança,<br />

onde o virtuosismo era o centro do espetáculo.<br />

Para muitos profissionais o trabalho com<br />

a dança voltado para pessoas com deficiência<br />

é estritamente terapêutico, onde<br />

esta arte, é um meio para que se consiga<br />

reabilitar o indivíduo por conter elementos<br />

que trabalham corpo, consciência e<br />

improviso, tornando-se assim, uma maneira<br />

bastante viável para fins terapêuti-<br />

12 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 13


OPINIÃO<br />

em suas atividades práticas aplicadas<br />

apenas os aspetos físicos e sociais, devem<br />

estabelecer um novo olhar para as<br />

possibilidades que a dança pode revelar<br />

ao seu aluno, ao seu corpo como um<br />

todo, incluindo a descoberta de talentos<br />

e potenciais desconhecidos que representam<br />

sua identidade como ser humano,<br />

como ser único e transformador.<br />

As atividades com a dança que incluem<br />

pessoas com deficiência, geralmente<br />

são realizadas em hospitais, clínicas de<br />

reabilitação, escolas, academias e instituições<br />

específicas para determinadas<br />

condições de deficiência em que o foco é<br />

reabilitar o indivíduo, neste sentido, existe<br />

um elo muito forte entre arte e terapia,<br />

porém devemos destacar que o dançarino<br />

com deficiência quando vai ao palco<br />

está lá pelo fazer artístico criativo, assim<br />

como acontece com os dançarinos sem<br />

deficiência.<br />

A deficiência não modifica a natureza do<br />

artístico. Se pessoas com e sem deficiência<br />

se encontram em cima de um palco<br />

com uma plateia para apreciá-los dançando,<br />

existe um objetivo artístico.<br />

O essencial é que a plateia assista aos<br />

espetáculos levando em consideração<br />

que, independentemente das caraterísticas<br />

dos dançarinos, o processo artístico<br />

é o mesmo e, uma vez inseridos no<br />

contexto da arte, devem ser lidos como<br />

tal. (Souza, 2009)<br />

Cia de Dança Humaniza | Universidade<br />

Estadual de Campinas | FEF- Brasil<br />

cos. O caráter artístico também não deve<br />

ser ignorado pois existe um contato e o<br />

conhecimento da arte.<br />

Com isso, seja pela arte ou pela terapia<br />

como auxiliar no processo de reabilitação,<br />

não há como negar que a dança perpassa<br />

por estes dois objetivos em constante<br />

relação, pois existe uma afinidade<br />

entre a arte e a terapia.<br />

Durante as aulas e vivências com a dança<br />

pessoas com e sem deficiência podem interagir,<br />

conhecer e explorar seus corpos,<br />

habilidades e sentimentos e, isso em algum<br />

nível pode gerar bem-estar, para ambos<br />

os alunos e dançarinos, independentemente<br />

da sua condição de deficiência.<br />

Entretanto, não podemos resumir a dança<br />

para pessoas com deficiência apenas<br />

como dançaterapia, dança-inclusão e<br />

dança-reabilitação, validando nesse ser<br />

humano apenas as suas limitações, não<br />

o valorizando pela sua subjetividade<br />

que está implícita nos movimentos da<br />

dança, nas suas expressões particulares<br />

que estão contidas em cada movimento,<br />

independentemente, se esses movimentos<br />

fogem de um padrão pré-estabelecido.<br />

(FRETAS, 2006).<br />

Sabemos que a cultura do corpo perfeito<br />

e atlético ainda permeia o imaginário social<br />

de grande parte da população quando<br />

se aborda a dança, inclusive dentro do<br />

meio artístico.<br />

Neste sentido, os profissionais que trabalham<br />

com dança, não devem enfatizar<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Percebe-se que a dança oferecida para<br />

pessoas com deficiência proporciona interação<br />

entre estes participantes criando<br />

um ambiente favorável para a formação<br />

de vínculos afetivos, cumplicidades, reflexões,<br />

busca de identidade artística,<br />

criação, coreografia, entre outros aspetos<br />

que transcendem limites corporais,<br />

emocionais e percetivos.<br />

Com relação ao ensino oferecido a estes<br />

grupos, professores de dança, educadores<br />

e coreógrafos devem respeitar as<br />

possibilidades, limites, habilidades e singularidades<br />

de cada aluno, incentivando<br />

o processo criativo, a descoberta de novas<br />

possibilidades corporais e a relação<br />

entre o grupo, evitando apenas movimentos<br />

pré-estabelecidos e padronizados,<br />

não ignorando as diferenças físicas<br />

motoras, cognitivas, sensoriais e emocionais<br />

existentes entre os participantes.<br />

Afirmações como “A dança é para todos”<br />

fazem sentido, pois a condição não deve<br />

ser um fator limitador para a prática desta<br />

atividade.<br />

Quanto à finalidade das propostas metodológicas<br />

há-de-se considerar como<br />

fator principal, a motivação pessoal destes<br />

alunos dançarinos e a experiência do<br />

profissional que atua na área, pois a escolha<br />

entre ensaiar uma coreografia para<br />

apresentar ao público e realizar espetáculos<br />

ou praticar a atividade apenas para<br />

o seu bem-estar físico e emocional é uma<br />

escolha pessoal. Devemos ressaltar que<br />

em determinados casos de alunos com<br />

condição de deficiência intelectual moderada<br />

ou severa, familiares, terapeutas,<br />

colegas e/ou acompanhantes possuem<br />

um papel fundamental no envolvimento<br />

da atividade e na escolha das propostas<br />

consideradas mais adequadas para estes.<br />

A sociedade e o público dos espetáculos<br />

estão em constante processo de modificação<br />

de seus olhares com relação ao<br />

dançarino com deficiência, pois estes<br />

buscam o reconhecimento como artistas,<br />

visto que o olhar externo é que destaca<br />

as limitações e diferenças corporais, ou o<br />

fazer artístico.<br />

14 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 15


OPINIÃO<br />

Marco Paiva<br />

CRINABEL TEATRO<br />

ENTRE O PASSADO<br />

E O FUTURO DAS COISAS<br />

Nascemos em 1986. Passaram 32 anos.<br />

Fomos crescendo com todos aqueles<br />

que fizeram parte desta casa. Soubemos<br />

aprender com os erros e continuar a encontrar<br />

caminhos, nunca permitindo que<br />

nos fechassem a porta nem que o individual<br />

destruísse a importância do coletivo.<br />

Quando as coisas ficaram por um fio, encontrámos<br />

na necessidade de partilha o<br />

sentido para alcançar um futuro. Se em<br />

1986 o enquadramento de um projeto<br />

como a CRINABEL Teatro se apresentava<br />

como uma novidade e uma aventura<br />

que muitos poderiam afirmar como inabitável,<br />

hoje, em 2018, 32 anos depois e já<br />

com muitos e bons projetos similares ao<br />

nosso, dispersos de norte a sul, tudo isto<br />

continua a ser para muitos uma novidade<br />

e sem dúvida uma aventura que apesar de<br />

habitável, continua a ser coisa para correr<br />

riscos, sem caminho certo, numa espécie<br />

de travessia à deriva. Na verdade, terá<br />

sido também o apetite por essa aventura<br />

meio rebelde que alimentou a vontade de<br />

não parar. Mas o que de facto garantiu a<br />

nossa continuidade durante estes 32 anos,<br />

foi a necessidade de todos os intérpretes<br />

que por aqui passaram, em dialogar com<br />

o Mundo. Através da ideia, do verbo, do<br />

gesto, do aplauso, do jantar e dormir fora<br />

de casa, das viagens, das saudades do<br />

passado ou da ânsia de não perder o fio<br />

ao futuro, esquecemos as nossas histórias,<br />

criámos o nosso referencial, utilizando depois<br />

o teatro como máquina privilegiada<br />

da construção da ilusão, transformando<br />

os nossos mundos em universos paralelos,<br />

encontrando aí uma possibilidade não de<br />

alcançar respostas, nem sequer de colocar<br />

questões, mas de nos mantermos vi-<br />

© Casa da Música Espetáculo “Guia Prático para Artistas Ocupados”<br />

vos, ativos e implicados na desconstrução<br />

das verdades absolutas. E como crescer<br />

implica operar mudanças, fomos também<br />

alterando a maneira de procurar o nosso<br />

teatro. Se ao início os nossos processos<br />

se centravam na urgência de decorar, passámos<br />

depois para o imperativo de procurar.<br />

Procurar até ao limite do possível,<br />

através de conversas, partilha de saberes e<br />

consciências, improvisações, erros, muitos<br />

erros, escrevendo e rescrevendo ideias,<br />

mexendo até ao último dia nas lógicas da<br />

cena, evitando o conforto e o facilitismo da<br />

primeira coisa que aparece. Pôr em causa,<br />

pôr sempre em causa, mesmo depois de<br />

terminar... Se for possível, nunca terminar.<br />

Que uma coisa leve à outra e que o futuro<br />

seja sempre a continuação do hoje, mas<br />

melhor. E tudo isto somando ritmos completamente<br />

diferentes, experiências e capacidades<br />

tão antagónicas que poderiam<br />

parecer entraves a construir seja lá o que<br />

for. Mas na verdade, é este o segredo de<br />

todo o nosso processo: somos tão diferentes<br />

uns dos outros que até nos momentos<br />

em que não nos fazemos entender, criamos<br />

pontos de partida para qualquer coisa<br />

que será de todos. E aqui quando dizemos<br />

todos, somos realmente todos. Cada<br />

um sabe o seu papel e a função que tem,<br />

somos todos co-criadores e responsáveis<br />

pelo nosso trabalho. E sobre o futuro?<br />

É difícil criar metas. De uma maneira<br />

geral, hoje em dia é sempre difícil criar<br />

metas. Está sempre tudo por fazer. Nesta<br />

sociedade que se especializou a “construir<br />

casas pelo telhado”, há que estar<br />

constantemente a adaptar a gramática às<br />

novas modas.<br />

Mas nós cá nos vamos conduzindo. Estamos<br />

juntos todos os dias, e todos os dias<br />

há uma coisa nova para falar e essa coisa<br />

nova pode bem transformar-se no nosso<br />

trabalho dos meses seguintes. Por isso é<br />

difícil desmotivar. Mesmo com pouco dinheiro,<br />

sem espaço, sem pretensão aos<br />

grandes mercados e indústrias culturais,<br />

ou sequer, por vezes a um sistema social<br />

que faça valer o direito do Homem à Cultura,<br />

a Arte e até à dignidade mais primária,<br />

temos uma família unida que quando<br />

tropeçamos, nos ajuda a levantar. O futuro<br />

está aí!<br />

Entre o princípio das coisas e o futuro, estamos<br />

nós. Sempre de portas abertas para<br />

receber todos aqueles que vierem com a<br />

mesma vontade que temos em produzir<br />

memórias.<br />

Ator, Encenador e Coordenador Artístico<br />

do Projeto CRINABEL Teatro<br />

© Miguel Louro Costa Espectáculo “1969”, direção Marco Paiva<br />

16 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 17


OPINIÃO<br />

Maria Vlachou<br />

A INCLUSÃO SOCIAL ATRAVÉS<br />

DO ACESSO À CULTURA<br />

O direito de acesso à cultura está consagrado<br />

pela Declaração Universal dos<br />

Direitos Humanos (art.27º), pela Convenção<br />

sobre os Direitos das Pessoas<br />

com Deficiência (Art.30º) e também pela<br />

Constituição Portuguesa (Art. 78º). Qual a<br />

importância deste direito? Quais as responsabilidades<br />

do Estado e, em especial,<br />

das Organizações Culturais e dos profissionais<br />

do setor?<br />

Todos nós que trabalhamos na área da<br />

Cultura acreditamos no seu contributo<br />

para a criação de uma sociedade de cidadãos<br />

informados, críticos, tolerantes, empáticos,<br />

envolvidos. Uma sociedade que<br />

abraça e não exclui, que se preocupa com<br />

a injustiça, que encara a diferença com<br />

naturalidade e não como algo “especial”<br />

mas... indesejável. Numa altura em que os<br />

“factos alternativos” se tornam em discurso<br />

oficial, em que o “Outro” volta a ser<br />

encarado como a fonte de todos os males,<br />

em que as injustiças sociais se agravam<br />

devido a políticas que não se centram na<br />

pessoa e no bem comum, é necessário repensarmos<br />

as nossas sociedades, relembrarmo-nos<br />

dos nossos valores, defendermos<br />

os nossos princípios. A Cultura,<br />

as Organizações Culturais podem mostrar<br />

o caminho, podem criar um espaço acolhedor<br />

e seguro para o cruzamento de<br />

diferentes pontos de vista, para se contarem<br />

histórias que nos permitem conhecer<br />

melhor a pessoa que está ao nosso lado e<br />

ganhar uma outra visão do nosso mundo,<br />

maior, mais inclusiva, mais rica.<br />

No que diz respeito a este espaço de encontro,<br />

que tanto tem para dar, não há<br />

dúvida que muitos cidadãos permanecem<br />

de fora, incapazes de participar, usufruir,<br />

mas também contribuir. Em Portugal, mui-<br />

tas pessoas ficam excluídas da criação e<br />

fruição cultural devido, essencialmente a:<br />

1. Falta de condições de acesso;<br />

2. Excessiva burocracia e poucos funcionários<br />

considerando o volume de<br />

trabalho;<br />

3. Omissões nas leis e falta de fiscalização;<br />

4. Falta de financiamento para a acessibilidade;<br />

5. Falta de conhecimento e sensibilidade<br />

em relação às necessidades específicas<br />

dos cidadãos.<br />

A Acesso Cultura foi criada em 2013 com<br />

o objetivo de melhorar as condições de<br />

acesso – físico, social, intelectual – aos<br />

espaços culturais e à oferta cultural.<br />

Como associação de profissionais do setor<br />

cultural e de organizações culturais,<br />

procura sensibilizar e formar os profissionais<br />

do setor, ajudar a fazer o diagnóstico<br />

de acessibilidade e elaborar planos<br />

de ação, dialogar com os organismos do<br />

Estado com responsabilidades nesta área,<br />

colocar a acessibilidade no centro da reflexão<br />

da sociedade em geral. Nesse sentido,<br />

realiza cursos de formação, organiza<br />

uma conferência anual e debates públicos,<br />

presta serviços de consultoria e procura<br />

intervir, sempre que necessário, para a<br />

defesa dos direitos culturais de quem reside<br />

em Portugal.<br />

Do ponto de vista da formação e sensibilização,<br />

verifica-se que um cada vez<br />

maior número de profissionais possui<br />

conhecimentos e ferramentas que permitem<br />

tornar a oferta mais acessível. Com a<br />

apoio da Fundação Calouste Gulbenkian,<br />

a Acesso Cultura realizou em 2017, jornadas<br />

de sensibilização “Além do Físico:<br />

Barreiras à Participação Cultural” em todas<br />

as comunidades intermunicipais do<br />

país e nas ilhas. No entanto, sente-se também<br />

a necessidade urgente de sensibilizar<br />

os decisores políticos e as chefias, que<br />

muitas vezes se tornam (talvez por falta<br />

de conhecimento) numa barreira interna.<br />

Quanto às condições de acesso à oferta<br />

cultural, mesmo que ainda muito centradas<br />

em Lisboa e no Porto, algumas entidades<br />

culturais investem de forma permanente<br />

em serviços que tornam a sua<br />

programação mais acessível:<br />

• Interpretação em Língua Gestual<br />

Portuguesa (São Luiz Teatro<br />

Municipal, Teatro Nacional D. Maria<br />

II, Museu Nacional do Azulejo, Casa<br />

Fernando Pessoa, Padrão dos Descobrimentos,<br />

Quinta da Regaleira, Museu<br />

Serralves, Teatro Nacional S. João,<br />

Festival Internacional de Marionetas<br />

do Porto, Museu das Marionetas do<br />

Porto, Museu da Comunidade Concelhia<br />

da Batalha);<br />

• Audiodescrição (São Luiz Teatro<br />

Municipal, Teatro Nacional D. Maria<br />

II, Casa Fernando Pessoa, Padrão dos<br />

Descobrimentos, Quinta da Regaleira,<br />

Museu Serralves, Teatro Nacional S.<br />

João, Museu do Vinho de S. João da<br />

Pesqueira, Museu de Setúbal, Museu<br />

da Comunidade Concelhia da Batalha);<br />

• Guiões com símbolos pictográficos<br />

para a comunicação com pessoas<br />

com deficiência intelectual<br />

(Castelo de Leiria, Mosteiro da Batalha,<br />

MIMO – Museu da Imagem em<br />

Movimento, Leiria, Museu de Leiria,<br />

Museu Municipal de Vila Franca de<br />

Xira, Museu Nacional de Machado de<br />

Castro em Coimbra);<br />

• Sessões descontraídas (São Luiz<br />

Teatro Municipal, Maria Matos, Teatro<br />

Municipal, Teatro Nacional D. Maria II,<br />

Teatro Nacional S. João, Festival Internacional<br />

de Marionetas do Porto, DocLisboa,<br />

MONSTRA, Cinemas NOS).<br />

Com o apoio da Fundação Millennium BCP,<br />

a Acesso Cultura está a preparar um novo<br />

website que irá reunir toda a informação<br />

sobre programação cultural acessível em<br />

Portugal, de forma a torná-la mais visível e<br />

mais acessível para as pessoas interessadas.<br />

Com a promoção destes serviços, procura-se<br />

criar um espaço comum, onde pessoas<br />

com perfis e necessidades diferentes<br />

possam usufruir em conjunto da oferta<br />

cultural, partilhando um lugar que lhes<br />

dá também a oportunidade de se conhecerem,<br />

de reconhecerem a diferença e de<br />

a encararem com naturalidade. Ao mesmo<br />

tempo que as organizações culturais<br />

portuguesas continuam a colaborar com<br />

as associações sociais para a participação<br />

em grupo dos seus utentes em certas<br />

atividades, acreditamos que é igualmente<br />

necessário desenvolver esforços para dar<br />

às pessoas autonomia, a possibilidade de<br />

escolher, de usufruir com os seus familliares<br />

e amigos e ainda com outras pessoas.<br />

A Acesso Cultura e os profissionais do<br />

setor cultural trabalham para que cada<br />

pessoa possa ser o melhor que puder,<br />

possa atingir o máximo das suas capacidades<br />

intelectuais e afetivas. Garantindo<br />

as condições de acesso à cultura, não só<br />

cumprimos um direito que é de todos, mas<br />

trabalhamos em algo que beneficia a sociedade<br />

como um todo.<br />

Diretora Executiva da Associação<br />

Acesso Cultura<br />

18 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 19


OPINIÃO<br />

Pedro Senna Nunes e Ana Rita Barata<br />

VO’ARTE<br />

UM DISCURSO DE SENSIBILIDADES<br />

A Vo’Arte, projeto alicerçado em 20 anos<br />

de experiências, nasceu da vontade de<br />

produzir, promover e valorizar a criação artística<br />

com posicionamento social, através<br />

do cruzamento de linguagens e do desenvolvimento<br />

de projetos nacionais e internacionais,<br />

apoiando o intercâmbio e a transdisciplinaridade<br />

na produção de diversas<br />

atividades e artistas.<br />

A Vo’Arte co-fundou a CiM - Companhia<br />

de Dança em 2007. Uma Companhia que<br />

trabalha com intérpretes com e sem deficiência,<br />

que se assume como um projeto<br />

sustentável de formação artística, social e<br />

pedagógica de continuidade, contribuindo<br />

para a integração de todos nas artes performativas<br />

e para a expansão do território<br />

da acessibilidade às artes.<br />

A CiM tem como parceiros a APCL - Associação<br />

de Paralisia Cerebral de Lisboa, a<br />

Vo’Arte, o Lar Militar da Cruz Vermelha e o<br />

CRPCCG - Centro de Reabilitação de Paralisia<br />

Cerebral Calouste Gulbenkian.<br />

Em 2017, a CiM comemorou 10 anos de<br />

criação, produção, formação artística e<br />

de implementação de recursos acessíveis<br />

à cultura com espetáculos com áudiodescrição<br />

e uso de Língua Gestual<br />

Portuguesa em cena.<br />

Conta com um reportório de 12 espetáculos,<br />

apresentados em mais de 30 cidades<br />

nacionais e em 12 países distintos, com a<br />

participação de mais de 100 artistas com<br />

e sem deficiência, e ainda com uma forte<br />

componente de formação com 38 workshops<br />

e mais de 2 mil participantes. Um<br />

percurso longo e recompensador de grandes<br />

conquistas partilhadas por mais de 200<br />

mil espetadores. Nos últimos 10 anos tem<br />

vindo a promover uma abordagem pioneira<br />

no aperfeiçoamento da criação artística<br />

face à inclusão, sendo que, a sua singularidade<br />

reside na diversidade de propostas<br />

e no constante enriquecimento de práticas<br />

nas quais, a multidisciplinaridade permite o<br />

impulso de novos métodos de trabalho e de<br />

respostas artísticas.<br />

A Vo’Arte e a CiM tiveram o seu trabalho<br />

distinguido em dezembro de 2016 com a<br />

Menção Honrosa do BPI Capacitar, em<br />

2015 com o Prémio Acesso Cultura na<br />

categoria Acessibilidade Intelectual e em<br />

2014 com o Prémio Nacional de Inclusão.<br />

No âmbito do Projeto Europeu Un-Label,<br />

a Vo’Arte foi uma das 10 entidades selecionadas<br />

a integrar o manual “Innovation<br />

Diversity - New approaches of cultural en-<br />

© João Pedro Rodrigues. Teatro São Luiz.<br />

Geração Soma_CiM_VoArte<br />

© Estelle Valente.Teatro São Luiz_CiM_VoArte<br />

counter in Europe”, que destaca as melhores<br />

práticas artísticas inclusivas na Europa.<br />

Atualmente é co-organizadora do Projeto<br />

Europeu inovador “Sign+Sound Theatre”<br />

que pretende explorar novos métodos de<br />

produzir arte inclusiva, para um público<br />

inclusivo. Ainda, no âmbito do programa<br />

PARTIS da Fundação Calouste Gulbenkian,<br />

criou e produziu o projeto artístico e<br />

inclusivo Geração SOMA onde as crianças<br />

e a sua grandeza são a fonte de inspiração.<br />

Pretendemos fomentar a continuidade de<br />

ações de inclusão pela arte, atuando no<br />

combate à exclusão social a comunidades<br />

com menos oportunidades de participação.<br />

Geração SOMA destaca-se pela promoção<br />

da reflexão e de práticas artísticas no<br />

desafio da inclusão pela arte, com crianças<br />

em contexto escolar, através da exploração<br />

de novas estratégias ao nível da integração<br />

a nível artístico, pedagógico, terapêutico e<br />

social, sensibilizando crianças, educadores<br />

e técnicos para a importância da arte como<br />

ferramenta no combate à exclusão social e<br />

na descoberta de novas aptidões e competências.<br />

Pretende aumentar os níveis de<br />

autonomia e participação das crianças com<br />

NEE, no quotidiano escolar.<br />

Um dos eixos fundamentais da Vo’Arte e da<br />

CiM é a formação, direcionada e focada nas<br />

particularidades do movimento e expressividades<br />

únicas de cada bailarino/intérprete,<br />

revelando uma visão criativa da capacidade<br />

e limite de cada colaborador, potenciando<br />

a diversidade como força motriz e espaço<br />

de diálogo. A formação é encarada como<br />

um meio fundamental de valorização social<br />

e pessoal, de aquisição de conhecimentos<br />

relacionais e inter-pessoais que conduzem<br />

o indivíduo de um modo assertivo, à cidadania<br />

e o levam a ganhar habilitações a nível<br />

de direitos para uma participação mais<br />

ativa na sociedade.<br />

O desenvolvimento deste trabalho permite<br />

criar condições que possibilitam à pessoa<br />

com deficiência participar no movimento<br />

cultural pela via profissionalizante, como<br />

agente inventivo e consumidor, numa sociedade<br />

com vocações inclusivas. Um trabalho<br />

que pressupõe um investimento no<br />

cruzamento de gerações e na empatia entre<br />

áreas artísticas, tornando o processo<br />

inovador e único, construindo caminhos<br />

magnetizados por diálogos que nos levam<br />

à descoberta de novos territórios profundamente<br />

humanos.<br />

A CiM é um lugar do corpo, um caminho<br />

de perceções e diferenças que mutuamente<br />

se aproximam. É um ponto de encontro no<br />

qual diferentes gerações podem experienciar<br />

tanto o palco como a plateia, num discurso<br />

de sensibilidades que procura revirar<br />

mundos para outros se criarem. Um espaço<br />

de pessoas com diferentes interesses e<br />

autodesafios, que apresenta uma dinâmica<br />

da escuta ativa, interessada e motivada na<br />

disponibilidade de valorizar o “outro” na<br />

espessura do tempo.<br />

O corpo da CiM incentiva a procura da<br />

multiplicidade dos gestos e a produção de<br />

uma inquietude construtiva que se estende<br />

na afinação de todas as apresentações.<br />

As imagens vão-se somando e ganhando<br />

contornos de qualidade inclusiva e natureza<br />

plástica, onde a temática da integração<br />

pressupõe uma trajetória com valor semiótico.<br />

Os corpos enunciam uma possibilidade<br />

de repetição, de um fazer de novo,<br />

uma e outra vez, de uma composição que<br />

se dilui na imanência da representação.<br />

A CiM está iluminada por ondas gravitacionais,<br />

onde o espaço é dos corpos.<br />

Transforma-se, torna-se elástico, remexe<br />

com o tempo e irradia uma energia contagiante.<br />

Constituem-se trilhos marcados<br />

pela repetição, pela passagem de muitos<br />

corpos somados e afinados, apresentação<br />

após apresentação, linhas invisíveis<br />

que marcam um tempo de conquista.<br />

Este projeto é como uma deambulação de<br />

intenções e pensamentos que nos levam a<br />

fundar novas vivências. A sua narratividade<br />

paisagística espelha estados de espírito<br />

em contraponto com memórias de um<br />

futuro, entrançado com um passado.<br />

As forças combinadas da CiM e da<br />

Vo’Arte, com os seus parceiros, colapsam<br />

na construção de uma memória que<br />

pretende ser coletiva, participativa e inclusiva.<br />

Direção Artística da Associação Vo’Arte<br />

20 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 21


OPINIÃO<br />

Henrique Amoedo<br />

DANÇANDO<br />

COM A DIFERENÇA<br />

Há aproximadamente dezassete anos, mais<br />

precisamente no ano de 2001, surgia na<br />

Região Autónoma da Madeira (RAM), um<br />

projeto que viria a conquistar um importante<br />

espaço no universo da Dança Contemporânea<br />

em Portugal, e também no estrangeiro,<br />

o Dançando com a Diferença.<br />

Este projeto, com autoria e direção artística<br />

de Henrique Amoedo, foi-se fortalecendo<br />

e aos poucos passou a ocupar um<br />

patamar de referência dentro do panorama<br />

artístico europeu quando falamos de Inclusão<br />

através da Dança.<br />

No seu repertório conta com vinte e uma<br />

criações de diferentes coreógrafos. Entre<br />

estas, podemos encontrar trabalhos dos<br />

mais importantes criadores contemporâneos<br />

como Paulo Ribeiro, Rui Horta, Henrique<br />

Rodovalho, Clara Andermatt, Rui<br />

Lopes Graça, Tânia Carvalho e La Ribot,<br />

entre outros.<br />

Sessenta cidades e vinte e cinco países,<br />

entre a Europa e a América, já tiveram a<br />

oportunidade de receber os espetáculos,<br />

workshops, conferências e outras ações<br />

no âmbito da Dança Inclusiva (Amoedo,<br />

2002), promovidas através do Dançando<br />

com a Diferença.<br />

“Podemos chamar “DANÇA INCLUSI-<br />

VA” àqueles trabalhos que incluem pessoas<br />

com e sem deficiência, onde os focos<br />

terapêuticos e educacionais não são<br />

desprezados, mas a ênfase encontra-se,<br />

em toda a elaboração e criação artística”<br />

(Amoedo, 2002).<br />

Este conceito, aquando da sua criação, já<br />

demonstrava a sua intenção de transitoriedade,<br />

algo que ainda está em curso quando<br />

refere: “para terminar pretenderíamos<br />

ressaltar que quando bailarinos com corpos<br />

diferentes forem aceites em todas as<br />

companhias de dança por suas qualidades<br />

artísticas e esta não for mais alvo de tantos<br />

estudos, atitudes incrédulas e/ou de condescendência<br />

dúbia pensamos que teremos<br />

cumprido o nosso papel em busca de uma<br />

© Júlio Silva Castro<br />

© Júlio Silva Castro<br />

real inclusão destas pessoas no universo<br />

da dança, e neste momento, o termo Dança<br />

Inclusiva poderá ser desprezado, ficando<br />

somente para os registos históricos –<br />

sintoma de plena aceitação da unicidade<br />

na diversidade pois, de bailarinos se trata,<br />

que dançam com o corpo e não “apesar<br />

do corpo” (Amoedo, 2002).<br />

Durante estes anos em que “estamos na<br />

estrada” com o Dançando com a Diferença,<br />

constatámos algumas modificações.<br />

Primeiro, mudou a forma como nos<br />

vimos a nós próprios mas, primordialmente,<br />

mudou a forma como os outros<br />

percebem aquilo que fazemos. Há um<br />

respeito muito maior para como o nosso<br />

trabalho e consequentemente para connosco,<br />

enquanto indivíduos.<br />

Percebemos que as pessoas acreditam e<br />

valorizam o nosso trabalho, sejam elas especialistas<br />

da área, o público em geral e<br />

até as pessoas mais próximas, familiares e<br />

amigos, por exemplo.<br />

Sentimos que ainda nos falta conseguir<br />

reunir condições para poder levar o nosso<br />

trabalho a mais pessoas, em diferentes<br />

locais. Atualmente, através da parceria com<br />

o Teatro Viriato e o Conselho Local de<br />

Ação Social (CLAS) há em funcionamento<br />

o Dançando com a Diferença – Viseu, primeiro<br />

núcleo a funcionar fora da RAM.<br />

DANÇANDO<br />

COM A DIFERENÇA<br />

Missão: promover a Inclusão Social e Cultural<br />

através da Dança Inclusiva.<br />

Visão: modificar a imagem social das pessoas com<br />

deficiência e conquistar espaços para a diversidade<br />

humana no universo profissional das Artes Contemporâneas.<br />

Valores: desenvolver o potencial criativo, produtivo<br />

e a valorização profissional dos grupos inclusivos;<br />

estimular o trabalho em equipa e a evolução<br />

das sociedades no sentido da valorização das capacidades<br />

e não discriminação das pessoas com<br />

deficiência, com a sua inclusão nos mais variados<br />

setores sociais.<br />

Diretor Artístico do Projeto Dançando<br />

com a Diferença e Investigador integrado<br />

no Instituto de Etnomusicologia - Centro<br />

de Estudos em Música e Dança<br />

22 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 23


D`ARTE<br />

SEPARADOR<br />

A CULTURA<br />

DAS CERCI`S<br />

A cultura é um domínio de crescimento e de inclusão.<br />

De crescimento porque nos abre horizontes, porque nos<br />

mostra formas diferentes de ver e de sentir. De inclusão<br />

porque nos torna mais competentes para participar, porque<br />

faz sobressair a importância da diferença. Nas Cerci’s<br />

procuramos fazer das vivências culturais, das expressões<br />

da cultura individual, ferramentas ao serviço da afirmação<br />

da individualidade e da facilitação dos percursos<br />

de inclusão. E todos os caminhos ou quase são possíveis<br />

de ser escolhidos, quando o importante é criar oportunidades.<br />

© CERCIAZ | Emoções 2017


D`ARTE A CULTURA DAS CERCI`S<br />

C.E.C.D.<br />

EXPRESSÕES ARTÍSTICAS<br />

UM CAMINHO PARA A PLENA CIDADANIA!<br />

No C.E.C.D. Mira Sintra, a Arte surgiu<br />

como uma atividade facilitadora da inclusão<br />

social das pessoas com Dificuldades<br />

Intelectuais e Desenvolvimentais<br />

(DID), inicialmente para as pessoas residentes<br />

em lar residencial e posteriormente<br />

alargado a outras pessoas com<br />

DID com menores interações pessoais,<br />

familiares ou sociais.<br />

Da prática das atividades de expressão<br />

artística desenvolvida em espaço e tempo<br />

próprio, com o apoio de professor<br />

especializado (artes plásticas e outras),<br />

é facilitado o exercício da criatividade<br />

que concorre para que os participantes<br />

reconheçam as suas capacidades, aumentem<br />

a auto estima e o seu bem-estar.<br />

Também a expressão artística é um instrumento<br />

facilitador do processo de desenvolvimento<br />

pessoal, ao impulsionar<br />

a descoberta de si próprio através da<br />

realização criativa do que projeta, redescobrindo-se,<br />

questionando-se, num<br />

percurso transformativo vivido também<br />

na interação com o outro.<br />

Quando o resultado do exercício criativo<br />

resulta num produto que é partilhado<br />

com a comunidade publicamente,<br />

é potencializada a sua importância,<br />

acrescentado valor, contribuindo para<br />

o reconhecimento pessoal do artista e<br />

também, para a sua realização pessoal e<br />

capacitação social.<br />

Este percurso experimental é desenvolvido<br />

há cerca de 20 anos pelo Atelier do<br />

C.E.C.D. Mira Sintra, com um programa<br />

anual de caráter experimental através do<br />

PrimaverArte, projeto que foi integrando<br />

diferentes áreas expressivas e criativas<br />

(expressão, plástica, dança, escultura,<br />

pintura e mais recentemente canto e<br />

teatro) e diferentes públicos nomeadamente<br />

pessoas com DID, familiares,<br />

jovens ou adultos utilizadores dos Centros<br />

Lúdicos do Concelho de Sintra,<br />

numa perspetiva de desenvolvimento e<br />

inclusão social.<br />

Com o projeto e pela expressão artística<br />

favorece-se o envolvimento de diferentes<br />

pessoas e entidades, na criação<br />

Maria de La Salete Costa<br />

Responsável pelo Atelier e PrimaverArte<br />

do C.E.C.D. MIRA SINTRA<br />

e divulgação de experiências artísticas,<br />

nomeadamente com os parceiros: o Departamento<br />

de Educação (DEDU) da<br />

Câmara Municipal de Sintra e os seus<br />

Centros Lúdicos, a Associação Cultural<br />

Teatromosca, Casa da Cultura Lívio<br />

de Morais em Mira Sintra e o Instituto<br />

Nacional Para a Reabilitação, I.P. (INR,<br />

I.P.).<br />

De 1998 até à presente data, potenciou-<br />

-se a expressão das capacidades pessoais<br />

e artísticas das pessoas com DID e<br />

das que com elas seguem passo a passo.<br />

Hoje, o caminho abre novos desafios<br />

no sentido da valorização do talento<br />

expresso nas obras produzidas e a necessidade<br />

de canais de reconhecimento<br />

que possam traduzir-se na sustentabilidade<br />

da atividade dos artistas.<br />

Hoje, o desejo das pessoas com dificuldades<br />

intelectuais é que estas áreas<br />

possam, também elas, ser uma forma de<br />

vida reconhecida, valorizada e que contribua<br />

para a construção de uma identidade<br />

positiva.<br />

26 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 27


D`ARTE A CULTURA DAS CERCI`S<br />

CERCICA<br />

MAIS DANÇA EM MIM<br />

A definição de dança, como qualquer processo<br />

cultural, sofreu ao longo da História<br />

da Humanidade várias mudanças, ganhando<br />

contornos e caraterísticas diferentes<br />

consoante os padrões sociais, económicos<br />

e conceções artísticas de cada época.<br />

Evoluindo de uma conceção clássica que<br />

valorizava o movimento perfeito e um<br />

corpo sem limitações, a dança moderna<br />

e pós-moderna veio valorizar movimentos<br />

mais naturais e livres do ser humano,<br />

proclamando a dança como uma forma de<br />

expressão e linguagem universal, acessível<br />

a todos. O surgimento da Dança Criativa,<br />

Contacto-Improvisação e outras técnicas<br />

da Dança Contemporânea, permitiram a<br />

vários coreógrafos incluir amadores e bailarinos<br />

nas suas peças, democratizando,<br />

assim, o acesso à dança.<br />

Desta forma, a partir dos anos 80, a Dança<br />

Inclusiva ganha espaço com diferentes<br />

entidades a desenvolver reportório<br />

e investigação nesta área. Atualmente,<br />

a United Nations Educational, Scientific<br />

and Cultural Organisation (UNESCO),<br />

defende que todos podem dançar com a<br />

intenção e o propósito de trabalhar com<br />

base no que as pessoas podem fazer, e<br />

que não podem.<br />

A dança inclusiva procura essencialmente,<br />

sensibilizar participantes e público<br />

para a inclusão de pessoas com deficiência,<br />

derrubando preconceitos, respeitando<br />

os limites de cada um e defendendo<br />

que todos podem e sabem dançar e expressar<br />

a sua criatividade (DanceAbility<br />

International, s/d).<br />

Há alguns anos que a CERCICA utiliza a<br />

dança como atividade recreativa e terapêutica,<br />

promotora das capacidades psicomotoras,<br />

da autonomia e funcionalidade.<br />

Com base no interesse expresso e no<br />

potencial artístico evidenciado por alguns<br />

dos seus clientes, na valorização das suas<br />

capacidades e na sensibilização da população,<br />

a CERCICA adotou, desde 2016,<br />

uma nova visão, a Dança Inclusiva.<br />

Assim, de forma a promover a igualdade<br />

de oportunidades para clientes com interesses<br />

e potencialidades na área da dança<br />

e a sua inclusão na comunidade, a CERCI-<br />

CA promoveu, entre setembro e dezembro<br />

de 2017, o projeto “Mais Dança em Mim”,<br />

co-financiado pelo Instituto Nacional de<br />

Reabilitação. Este projeto permitiu a um<br />

grupo de 8 clientes frequentarem aulas<br />

de dança numa companhia de dança da<br />

comunidade – AluapDans, Companhia/<br />

Escola de Dança.<br />

Acompanhados por uma psicomotricista<br />

ao longo das aulas, de modo a adequar<br />

estratégias e reforços, os bailarinos fre-<br />

quentaram duas aulas semanais na escola,<br />

culminando num espetáculo inclusivo<br />

- “Felidae”, apresentado no dia 15 de dezembro<br />

2017 no Auditório do Centro Paroquial<br />

de S. Pedro e S. João e no dia 28<br />

de janeiro de 2018, no Teatro Gil Vicente,<br />

em Cascais.<br />

Este projeto veio dar resposta à vontade<br />

dos bailarinos se expressarem através da<br />

dança, aprendendo novos movimentos e<br />

estilos, em partilha com outras pessoas,<br />

num contexto fora da instituição, tendo a<br />

oportunidade de mostrar as suas capacidades<br />

e talentos à comunidade.<br />

Da avaliação realizada pelas famílias, pelos<br />

técnicos e professores envolvidos, o<br />

projeto teve um impacto positivo tanto<br />

no bem-estar, como na autonomia dos<br />

bailarinos da CERCICA. Os bailarinos<br />

evidenciaram um envolvimento crescente<br />

no compromisso com o projeto, no cuidado<br />

com a sua imagem, na atenção e<br />

participação nas aulas, na memorização<br />

de coreografias e esquemas espaciais, no<br />

aumento do repertório de movimentos e<br />

na postura. As famílias referiram também<br />

que os bailarinos superaram as suas expetativas<br />

em relação às capacidades e<br />

performance. Este projeto contribuiu ainda<br />

para quebrar barreiras e estereótipos<br />

e modificar a perceção face à deficiência.<br />

Apesar da grande maioria dos bailarinos<br />

da companhia ter uma perceção positiva<br />

da pessoa com deficiência, alguns confessaram<br />

que a sua opinião se modificou<br />

positivamente no decorrer do projeto. Os<br />

bailarinos destacam a velocidade da execução<br />

dos movimentos, o tempo de resposta<br />

e, por vezes, a comunicação.<br />

Todos os bailarinos manifestaram vontade<br />

de vir a estar novamente envolvidos<br />

num projeto semelhante, referindo como<br />

mais-valias da participação do projeto,<br />

a oportunidade de “conhecer melhor as<br />

pessoas com deficiência” e “aprender a<br />

lidar melhor com elas”, “poder estar com<br />

pessoas que não estão no seu dia-a-dia<br />

e que partilham o mesmo gosto pela dança”.<br />

Evidencia-se assim, uma identificação<br />

dos bailarinos da Companhia com<br />

os bailarinos da CERCICA, através deste<br />

gosto comum pela dança como forma de<br />

expressão.<br />

De igual modo, o público que assistiu ao<br />

espetáculo manifestou-se positivamente<br />

satisfeito com o mesmo, do ponto de vista<br />

artístico, salientando o mérito dos bailarinos<br />

na sua generalidade, pelo que recomendariam<br />

este espetáculo de dança.<br />

Podemos assim concluir, que o projeto<br />

teve um impacto positivo para perceção<br />

e aceitação da diferença, promovendo a<br />

escuta, o olhar para o outro, o respeito<br />

pelo seu tempo, adequando a velocidade<br />

da nossa caminhada para o fazermos em<br />

conjunto.<br />

Referências Bibliográficas<br />

www.danceability.com e http://www.cid-portal.org<br />

Lídia Martins, Psicomotricista CerMov - Atividades Terapêuticas e Motoras da CERCICA<br />

Ana Flores, Coordenadora CerMov - Atividades Terapêuticas e Motoras da CERCICA<br />

28 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 29


D`ARTE A CULTURA DAS CERCI`S<br />

CERCIBRAGA<br />

“COISAS DO ARCO<br />

DA VELHA”<br />

O projeto “Do Arco da Velha” propôs<br />

uma viagem aos costumes e tradições<br />

de Portugal e África. Com o co-financiamento<br />

do Instituto Nacional para a<br />

Reabilitação, IP, este decorreu ao longo<br />

de quatro meses. Enquanto projeto<br />

comunitário e inclusivo, centrámos todo<br />

o processo criativo nas culturas tradicionais<br />

de Portugal e África, tendo como<br />

pilares fundamentais: a sua ligação cultural,<br />

criada a partir da diáspora de ambos<br />

os povos no passado e no presente,<br />

bem como, o conceito de comunidade<br />

como conjunto de pessoas que se organizam<br />

sob as normas ou compartilham o<br />

mesmo legado cultural e histórico, que<br />

depois será passado às gerações vindouras.<br />

Através da Arte, este projeto teve como<br />

objetivo principal, ensinar e promover<br />

competências artísticas na comunidade,<br />

fomentar a igualdade e o respeito pela<br />

diferença, preceito fundamental para a<br />

construção de uma comunidade mais<br />

humana, onde TODOS são elementos<br />

importantes e únicos. Desenvolvemos o<br />

projeto usando a Arte como um veículo<br />

privilegiado para este encontro, principalmente<br />

porque entendemos que através<br />

da música, da dança e da representação,<br />

conseguimos promover um leque<br />

de competências variado mas também<br />

conseguimos despertar o interesse e<br />

explorar capacidades em áreas diversificadas.<br />

Em termos práticos, o projeto teve uma<br />

etapa inicial centrada na realização de<br />

oficinas semanais de movimento, nar-<br />

ração, representação e música com o<br />

objetivo de recuperar os ritmos tradicionais<br />

de ambas as culturas, incutindo-<br />

-se alguma contemporaneidade ao nível<br />

dos instrumentos, ritmos e vestuário. As<br />

oficinas foram dinamizadas por artistas<br />

da área da música e da dança com uma<br />

vasta experiência e que, sem dúvida,<br />

foram essenciais para que tudo acontecesse.<br />

Como parceiros foram envolvidas<br />

as seguintes entidades: “Conto que se<br />

conta”, Popolomondo, Synergia, entre<br />

outras.<br />

No projeto foram envolvidos 22 clientes<br />

da Instituição onde as potencialidades<br />

de cada um foram aproveitadas e potenciadas<br />

de forma a terem um papel<br />

o mais ativo possível e participassem<br />

efetivamente em todo o processo. A<br />

descoberta das tradições portuguesas<br />

e africanas foram desenvolvidas não só<br />

no contexto da instituição, mas também,<br />

com recurso a visitas aos locais<br />

onde estas tradições estão mais enraizadas.<br />

Com a visita à Casa do Brinquedo<br />

fomos recuperar as recordações<br />

e memórias das brincadeiras da nossa<br />

infância e, por exemplo, em Cabeceiras<br />

de Basto na Casa da Lã tivemos a<br />

possibilidade de conhecer as Mulheres<br />

de Bucos, de cantar, de desfiar a lã e<br />

claro, de conviver e criar laços com um<br />

grupo de senhoras que encantam pela<br />

humildade e genuinidade que mostram<br />

no seu trabalho. O processo de capacitação<br />

teve sempre como objetivo final a<br />

construção de um espetáculo aberto à<br />

comunidade onde TODOS foram convidados<br />

e entrar nesta nossa viagem e a<br />

usufruírem de um evento que fez a diferença<br />

na vida de quem participou. O<br />

nosso grupo de jovens e adultos esteve<br />

mais dedicado do que nunca. Mesmo<br />

os ensaios mais exaustivos e cansativos<br />

não fizeram esmorecer a vontade de<br />

continuar no dia seguinte. Para o grupo<br />

foi realmente importante fazer a ligação<br />

entre os ensaios, os locais e as pessoas<br />

que mantêm vivas as tradições, portuguesas<br />

e africanas. Como com qualquer<br />

artista, a exibição de todo o trabalho<br />

veio acompanhado de alguma ansiedade<br />

e nervosismo, mas tudo pareceu<br />

compensar no final quando as palmas<br />

não pararam, quando os familiares<br />

exibiram um sorriso rasgado de orgulho,<br />

quando receberam os parabéns de<br />

desconhecidos, quando o sentimento<br />

de realização de todos os participantes<br />

estava estampado na cara de cada<br />

um… E a alegria do grupo parecia não<br />

ter fim…<br />

As famílias e outros espetadores anónimos<br />

tiveram também um importante<br />

papel, especialmente, porque estiveram<br />

presentes e demonstraram valorizar o<br />

trabalho do grupo. As famílias enquanto<br />

pilares fundamentais dos jovens e adultos,<br />

são sempre imprescindíveis e só<br />

pelo facto de estarem presentes, contribuem<br />

para que participantes encarem o<br />

espetáculo com responsabilidade, mas<br />

também, ainda com mais vontade de se<br />

saírem bem e mostrarem o que aprenderam.<br />

Com o projeto “DO ARCO DA VELHA”<br />

reiteramos a nossa vontade de continuar<br />

a capacitar pelas artes, de mostrar<br />

à sociedade que a deficiência e o trabalho<br />

das pessoas com incapacidade tem<br />

valor, deve ser exibido e deve sair das<br />

fronteiras das instituições.<br />

30 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 31


D`ARTE A CULTURA DAS CERCI`S<br />

CERCIFAF<br />

AZUL<br />

DIFERENT<br />

“O Azul Diferent oferece-nos uma<br />

performance que não deixa ninguém<br />

indiferente à mensagem, aos olhares<br />

expressivos daqueles genuínos atores<br />

que, de tão especiais, conseguem envolver<br />

o todo em cada gesto que fica preso nas<br />

palavras e solto na música, como quem diz<br />

sigam-nos porque o mundo feito de amor<br />

é um lugar melhor.”<br />

(J.S. in ARRIVA JORNAL, Nov.-Dez.2017)<br />

Há coisas que não se explicam; sentem-se.<br />

O Azul Diferent, composto por pessoas<br />

com deficiência intelectual (PCDI) e colaboradores<br />

da CERCIFAF, promove um misto<br />

de sensações e emoções a quem assiste<br />

às suas ações de sensibilização, sob a forma<br />

de espetáculos de expressão músico-corporal.<br />

Desde 2015, o grupo desenvolve a<br />

sua ação através de atividades e práticas<br />

culturais que visam, entre outros, contribuir<br />

para a capacitação das PCDI na afirmação<br />

da sua identidade e promover a diversidade<br />

cultural e a coesão social.<br />

“Basta!!!”, um dos espetáculos protagonizados<br />

pelo grupo, faz da sua itinerância uma<br />

das suas armas mais fortes, indo ao encontro<br />

do público – caráter inovador realizado no<br />

TEATROBUS da ARRIVA Portugal (norte)<br />

– e leva a sua mensagem ao maior número<br />

de pessoas possível. Sensibiliza e motiva<br />

para uma maior compreensão dos assuntos<br />

relativos à defesa da dignidade, dos direitos<br />

e do bem-estar do ser humano.<br />

Com um considerável aumento de solicitações<br />

de espetáculos de sensibilização verificado<br />

no último ano, o âmbito geográfico<br />

de atuação foi alargado a outros concelhos,<br />

registando a sua intervenção nos concelhos<br />

de Fafe, Guimarães, Vizela, Póvoa do Lanhoso,<br />

Celorico e Cabeceiras de Basto, Felgueiras,<br />

Braga e também na Ilha da Madeira.<br />

“Quando se juntam olhares diferentes o<br />

inesperado acontece...e aconteceu! Quando<br />

uma semente de ideias germina na mente<br />

de quem quer fazer acontecer, o mágico<br />

acontece”<br />

(Secção de Prevenção Criminal e Policiamento<br />

Comunitário da GNR de Guimarães)<br />

A vontade de levar uma história de vida real<br />

para o exterior da instituição foi o ponto de<br />

partida para este projeto, numa perspetiva<br />

de desmistificação da deficiência junto da<br />

comunidade escolar do concelho de Fafe.<br />

Assim, surgiu o “Quem sou eu?”, concebido<br />

a partir das Sessões de Trabalho da<br />

Estimulação Cognitiva em articulação com<br />

a Expressão Motora, retratando momentos<br />

vividos na primeira pessoa, pelos jovens<br />

dos Centro de Atividades Ocupacionais da<br />

CERCIFAF. Este espetáculo, entretanto, já<br />

na 4ª versão, apresenta as PCDI como pessoas<br />

iguais às demais, com alegrias e tristezas,<br />

dúvidas e certezas, consciencialização<br />

da sua individualidade e merecedoras de<br />

respeito pela sua diversidade e dignidade.<br />

Ao mesmo tempo que desenvolve as suas<br />

atividades, o grupo vai fortalecendo e<br />

criando novas parcerias com instituições<br />

com responsabilidade social e cívica tais<br />

como: Secção de Prevenção Criminal e<br />

Policiamento Comunitário da GNR de<br />

Fafe e de Guimarães, CPCJ-Comissão de<br />

Proteção de Crianças e Jovens, Câmaras<br />

Municipais e outras – ARRIVA Portugal<br />

– Transportes (Norte), Agrupamentos Escolares<br />

e Particulares), com propostas de<br />

intervenção social, nomeadamente na área<br />

de intervenção primária, para temas como<br />

a prevenção da violência e dos maus tratos<br />

(crianças, adultos, idosos), originando outros<br />

espetáculos de sensibilização – “Basta!!!”,<br />

“Sê Diferente” e “Ninguém dá nada<br />

a ninguém”. Paralelamente, o grupo tem<br />

desenvolvido outras intervenções em áreas<br />

específicas, a convite, “Sou Poeta”, “Alma”,<br />

“Sou Natal”.<br />

O grupo de trabalho adaptou-se ao crescimento<br />

registado ao longo da sua existência,<br />

quer alargando a sua área de intervenção<br />

junto de públicos mais diversificados, quer<br />

aos espaços e áreas de atuação, mantendo,<br />

no entanto, os objetivos basilares que norteiam<br />

toda a sua existência, como a desmistificação<br />

da deficiência pela demonstração<br />

das qualidades, capacidades e competências<br />

das PCDI, a atuação de acordo com<br />

os princípios fundamentais da CERCIFAF<br />

- igualdade de oportunidades, de acesso e<br />

de sucesso a todos os níveis de participação;<br />

não discriminação, qualquer que seja<br />

o modo, condição ou grau discriminatório;<br />

o respeito e dignidade pelas pessoas,<br />

em toda a sua dimensão – e o estabelecimento<br />

e manutenção de parcerias fortes e<br />

relevantes que permitam atuar ao nível da<br />

prevenção primária junto de populações<br />

em risco social.<br />

O balanço destes dois anos de trabalho é<br />

claramente positivo, sendo importante o impacto<br />

do trabalho desenvolvido pelo grupo<br />

nos jovens atores e nas suas famílias, na imagem<br />

institucional, nos parceiros e nos públicos-alvo<br />

dos espetáculos de sensibilização.<br />

O número de abordagens para realização de<br />

espetáculos de sensibilização tem sido cada<br />

vez maior, bem como, os convites para a participação<br />

em projetos de grande envergadura<br />

e abrangência, essencialmente por organizações<br />

com peso social a nível nacional.<br />

No âmbito do funcionamento, o Azul Diferent,<br />

cria melhorias nas competências específicas<br />

a trabalhar nos clientes, nos mais<br />

diversos contextos sociais e nas dimensões<br />

do desenvolvimento pessoal, inclusão social<br />

e bem-estar. No campo familiar, tem vindo<br />

a criar um outro nível de proximidade com<br />

Olga Alvas e Rui Araújo<br />

a organização e a aumentar o grau de stisfação,<br />

valorização e gratidão, reformulando<br />

os planos de vida de todos os envolvidos.<br />

“Tudo acontece ao lado, à frente, como<br />

se quem assiste, estivesse no sofá da sua<br />

própria casa e tudo aquilo estivesse a<br />

ocorrer, ali, no momento.”<br />

(M.A. L. in Arriva Jornal, Nov. - Dez. 2017)<br />

Os espetáculos de sensibilização promovem<br />

a interação direta com o público, sendo<br />

privilegiado o contacto das pessoas que<br />

assistem com os atores, como que entrando<br />

na história, revendo-se nos movimentos,<br />

nas palavras, nas emoções.<br />

As PCDI encontram-se socialmente expostas<br />

à discriminação e ao preconceito,<br />

variantes silenciosas de barreiras sociais<br />

existentes. A esfera social é onde estas<br />

condições limitam a afirmação e o respeito<br />

pela identidade e diversidade individual,<br />

tendo repercussões negativas no seu plano<br />

de vida, pela sua exclusão ou segregação<br />

do meio onde estão integradas. Neste sentido,<br />

a participação social, pelos atores do<br />

Azul Diferent, é fundamental na criação e<br />

consolidação de situações inclusivas, que<br />

minimizem ou consigam abolir as falsas<br />

crenças sugestivas de desvalorização e<br />

desqualificação das PCDI enquanto seres<br />

socialmente ativos e capazes.<br />

Atendendo que a participação cultural é<br />

veículo privilegiado para uma difusão mais<br />

alargada de mensagens e alteração de estereótipos<br />

atitudinais, um canal através do<br />

qual se consegue chegar a mais pessoas ao<br />

mesmo tempo, o Azul Diferent, tem utilizado<br />

a sua forma de expressão como estratégia<br />

e ferramenta primordial de afirmação e<br />

sensibilização de massas.<br />

“Testemunha-se a surpresa, fixa-se o<br />

conteúdo e mais logo falaremos com um<br />

amigo ou conhecido a propósito desta<br />

experiência.”<br />

(M.A.L. in Arriva Jornal, Nov. - Dez. 2017)<br />

32 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 33


D`ARTE A CULTURA DAS CERCI`S<br />

CERCIESTREMOZ<br />

“O CHOCALHO”<br />

APRESENTA JULIETA e ROMEU<br />

UMA ADAPTAÇÃO DA OBRA DE WILLIAM SHAKESPEARE<br />

As incursões ao Teatro Bernardim Ribeiro<br />

(TBR), em Estremoz, não constituem<br />

grande novidade para os elementos do<br />

grupo de Teatro da CERCIESTREMOZ<br />

“ O CHOCALHO”. A passagem pelo<br />

palco da mais emblemática sala de espetáculos<br />

da cidade culminou como<br />

habitualmente da mesma forma, com o<br />

público a aplaudir os atores de pé. Foi<br />

assim com as peças: Os Cinco Elementos;<br />

Navio dos Sonhos e Hamlet, e no<br />

passado dia 27 de janeiro de 2018 com<br />

uma ovação em pé que o público que<br />

lotou o TBR, brindou a atuação dos atores<br />

e atrizes do Chocalho.<br />

A peça “Julieta e Romeu” do Grupo de<br />

Teatro contou com a representação de<br />

cerca de duas dezenas de atores: Ana<br />

Raquel Gomes; Catarina Pereiros; Fábio<br />

Cardoso; Francisco Carapinha; João Oliveira;<br />

João Serrachino; Jorge Humberto<br />

Filipe; Luís Paulo Resina; Marco Camões;<br />

Nelson Batanete; Paulo Francisco<br />

Carvalho; Roberto Ourelo e Teresa<br />

Albardeiro (Clientes do Centro de Atividades<br />

Ocupacionais e ex-formandos<br />

da resposta Centro de Qualificação e<br />

Emprego que atualmente se encontram<br />

sem qualquer atividade profissional) -<br />

e com a participação especial de alunas<br />

da Academia Sénior de Estremoz<br />

– Maria Helena Alves; Maximina Paiva<br />

e Rosalda Garrido e Grupo de Dança<br />

- Ginarte de Estremoz.<br />

A dramaturgia esteve a cargo do Professor<br />

da Universidade de Évora - Paulo<br />

Alves Pereira e Luísa Carraça e a<br />

encenação de Luísa Carraça e Luísa<br />

Pereira, ambas colaboradoras da CER-<br />

CIESTREMOZ.<br />

Apesar de uma ligeira adaptação na<br />

designação da Peça de “Romeu e Julieta”<br />

para Julieta e Romeu - a tragédia<br />

voltou a centrar-se na história do amor<br />

de dois jovens que nasceram no seio de<br />

duas famílias inimigas, os Capuleto e os<br />

Montéquio “Duas famílias notáveis da<br />

linda Verona, onde a história se passa,<br />

transformam em guerra as desavenças<br />

antigas, manchando de sangue as<br />

suas mãos. E do seio destas duas famílias<br />

inimigas, nascem dois amantes<br />

predestinados”. Nesta história as lutas<br />

de espada, as máscaras, os equívocos,<br />

a tragédia, o humor e a linguagem da<br />

paixão simbolizam, no seu conjunto, o<br />

amor verdadeiro. Para a história ficou<br />

um amor intenso e trágico que nem a<br />

morte conseguiu separar.<br />

Este projeto tem sido cofinanciado pelo<br />

Programa de Financiamento a Projetos<br />

do INR, I. P.”, desde 2014. Devido ao<br />

sucesso alcançado com a primeira produção<br />

do Grupo (Os cinco elementos),<br />

a Câmara Municipal de Estremoz proporcionou-nos<br />

a possibilidade de realizarmos<br />

os nossos ensaios no TBR. Este<br />

facto contribuiu imenso não só para<br />

uma melhor qualidade das condições<br />

dos ensaios, como para a elevação da<br />

autoestima e consciência dos atores<br />

que se tem refletido na melhoria da<br />

performance do grupo. É nosso objetivo,<br />

que a imagem das pessoas com deficiência<br />

passe de forma digna e capaz,<br />

pois é em prol delas que trabalhamos e<br />

sabemos que elas são capazes!<br />

Todo este processo regista uma série<br />

de êxitos, quer artísticos, quer sobretudo<br />

de natureza sociopedagógica.<br />

É no âmbito do desenvolvimento das<br />

personalidades dos atores (clientes) e,<br />

sem dúvida, no aumento da sua autonomia,<br />

que podemos registar grandes<br />

progressos beneficiários deste trabalho,<br />

conforme o comprovam o público<br />

em Estremoz, Redondo, Alandroal<br />

ou em Évora, locais por onde atuou o<br />

Grupo e para onde fomos convidados a<br />

atuar durante o mês de março (mês do<br />

Teatro).<br />

34 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 35


D`ARTE A CULTURA DAS CERCI`S<br />

CERCIG<br />

FALEMOS DE OUTROS<br />

“PLANOS”<br />

O Grupo de Treino de Competências Sociais<br />

(GTCS), surgiu da necessidade de<br />

promover a participação ocupacional na<br />

comunidade, aliando o treino de competências<br />

sociais à inclusão.<br />

Neste grupo, foram incluídos clientes<br />

adultos do Centro de Atividades Ocupacionais,<br />

que pelas suas caraterísticas,<br />

apresentavam necessidade de melhorar<br />

as competências na interação, não só<br />

entre si, mas também na comunidade<br />

local. As atividades iniciais consistiram,<br />

essencialmente em treino “role-play”<br />

de situações planeadas para contextos<br />

reais, como por exemplo, ida a espaços<br />

públicos e comerciais, cafés e estação de<br />

correios.<br />

À medida que, por vezes de forma surpreendente,<br />

os elementos do grupo foram<br />

demonstrando padrões comportamentais,<br />

atitudes e competências sociais<br />

muito positivas, tornou-se óbvio que<br />

se poderia pensar mais além. Assim, o<br />

GTCS preparou e realizou visitas autónomas<br />

utilizando transportes públicos<br />

para o efeito, primeiro rumo a Celorico<br />

da Beira e posteriormente a Coimbra.<br />

Estas viagens em autocarro e comboio<br />

permitiram vivências e interações que<br />

alguns deles tiveram pela primeira vez,<br />

conhecendo a história, o património e<br />

as tradições destas localidades. Para os<br />

clientes e para os orientadores do grupo,<br />

estas foram, sem dúvida, experiências de<br />

cidadania, não só entre nós, mas também<br />

para as pessoas com quem interagíamos.<br />

A partir daqui tudo pareceu possível.<br />

Entre várias iniciativas, o grupo participou<br />

em visitas a museus e conheceu<br />

os espaços de referência da cidade da<br />

Guarda. Durante os grandes eventos internacionais,<br />

como o Mundial 2014 e o<br />

Euro 2016, o grupo explorou a temática<br />

da diversidade de países e culturas, produzindo<br />

uma caderneta de cromos que<br />

criou grande interação na troca entre<br />

elementos do grupo e restante comunidade<br />

local.<br />

Tendo o grupo adquirido esta dinâmica<br />

de trabalho, e perante a evidente melho-<br />

ria dos seus elementos nas competências<br />

sociais básicas, foi necessário encontrar<br />

novos desafios. Foi desta forma, e pensando<br />

no padrão de ocupação semanal,<br />

que se decidiu produzir o filme “Estrela<br />

da Serra”, fazendo o levantamento de<br />

lendas da zona da Serra da Estrela para<br />

as analisar, associar e interligar numa só<br />

história, recriada pelos clientes e pela<br />

sua perceção das ações e significados<br />

transmitidos por cada uma. Os elementos<br />

do grupo tornaram-se as próprias<br />

estrelas do filme, assumindo papéis por<br />

si escolhidos, transpondo isto para o papel<br />

e identidade ocupacional de “atores”<br />

e realizadores do filme. Esta construção<br />

revelou-se na rotina diária e na ocupação<br />

dos clientes, sendo que diversos ateliês<br />

e técnicos foram-se juntando para<br />

colaborar na produção de adereços, do<br />

guarda-roupa no ensaio de cada cena e<br />

no treino de diálogos e discursos.<br />

Atualmente, encontramo-nos a desenvolver<br />

filmagens realizadas nos locais<br />

reais da ação das lendas, seguindo-se<br />

um processo de trabalho que consiste<br />

no ensaio em contexto controlado para<br />

posterior filmagem em contexto real.<br />

No futuro… após o término da produção<br />

do filme pretende-se que este seja apresentado<br />

à comunidade, como forma não<br />

só de demonstrar no concreto a finalidade<br />

do esforço e dedicação dos clientes,<br />

mas também, como ação de sensibilização<br />

para conceitos como a diferença, a<br />

inclusão e a igualdade. Conceitos que<br />

infelizmente, na maioria das vezes, não<br />

passam de teóricos na nossa sociedade<br />

padronizada e dogmática.<br />

O Bruno Amorim, Bruno Costa, Jorge Ribeiro,<br />

Jorge Fonseca, José Gomes, José<br />

Fernandes, Jorge Brigas, João Lameiras,<br />

Joaquim Hernâni, Luís Carvalho, Rui Ferreira<br />

e o Sérgio Miguel vão continuar a<br />

ser atores principais na história das suas<br />

vidas.<br />

Telmo Gonçalves,<br />

Professor da CERCIG<br />

Elói Silva, Terapeuta<br />

Ocupacional da CERCIG<br />

CERCIFEL<br />

UNIR PELA<br />

DANÇA<br />

O Dia Internacional da Dança vem sendo celebrado no<br />

dia 29 de abril, promovido pelo Conselho Internacional<br />

da Dança (CID), organização interna da UNESCO para<br />

todos os tipos de Dança.<br />

A CERCIFEL juntamente com todas as IPSS`s do Concelho<br />

de Felgueiras vem promovendo já há cerca de 10<br />

anos, nesta data, o Encontro de Dança Interinstitucional,<br />

assinalando assim, o Dia Mundial da Dança.<br />

Este encontro, realizado na Casa das Artes de Felgueiras,<br />

espaço lindíssimo gentilmente cedido pela Autarquia de<br />

Felgueiras, é um momento que integra a atuação de cada<br />

instituição, permitindo assim, a participação de todos:<br />

crianças, jovens, idosos, pessoas com deficiência, clientes,<br />

auxiliares, monitores e diretores técnicos. Um momento<br />

em que cada um tem o seu lugar, o seu papel e a dança<br />

surge como uma linguagem que é universal e compreendida<br />

por todos, e que envolve o poder de unir.<br />

A dança é encarada como fator de mudança da imagem<br />

social das pessoas com deficiência intelectual, mudança<br />

essa, que é efetivada nestes encontros, contrariando assim,<br />

o mito de que as pessoas com deficiência não viabilizam,<br />

ou não são capazes, de traçar planos artísticos e de<br />

os concretizar.<br />

Todos sabemos que o percurso em prol da inclusão é<br />

contrariado dia a dia, mas este dia da Dança, este evento,<br />

com o seu formato e as<br />

suas práticas, tem contribuído<br />

para ultrapassar<br />

barreiras e desencadear<br />

mudanças.<br />

Esta data move-nos e<br />

une-nos por uma arte que<br />

gera transformações em<br />

todos nós, pois transforma<br />

ideias em movimentos<br />

artísticos.<br />

Elisabete Moniz<br />

Assistente Social da CERCIFEL<br />

36 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 37


D`ARTE A CULTURA DAS CERCI`S<br />

CERCIMARANTE<br />

SIMPLESMENTE GENTE<br />

Fotos: Carlos Moura; Hernâni Carneiro; Miguel Varejão<br />

A CERCIMARANTE trouxe para a rua a<br />

magia do teatro na noite de 14 de julho<br />

de 2017, com a realização da XIII edição<br />

do Teatro de Rua.<br />

Como já é habitual, a Comunidade aderiu<br />

em força a este espetáculo que teve<br />

como palco a Praça da República (Largo<br />

de São Gonçalo), em pleno centro histórico<br />

de Amarante. Um espaço que se<br />

tornou pequeno para acolher tanta gente<br />

que não quis perder as várias performances<br />

preparadas especialmente para<br />

esta noite. Luz, cor, movimento, originalidade<br />

e talento foram, uma vez mais,<br />

os ingredientes-chave deste espetáculo<br />

onde, durante cerca de duas horas, foi<br />

possível assistir a performances de teatro<br />

e dança realizados por clientes, formandos,<br />

colaboradores, voluntários, tutores<br />

e representantes legais dos clientes da<br />

CERCIMARANTE, mas também, pelos<br />

jovens voluntários da Casa da Juventude<br />

de Amarante. A apresentação do espetáculo<br />

esteve a cargo da locutora da Rádio<br />

Região de Basto (RRB) - Isabel Carvalho<br />

que, nesta edição, esteve acompanhada<br />

pelo formando do Centro de Formação e<br />

Reabilitação Profissional da Cooperativa<br />

- Ricardo Rodrigues.<br />

Este XIII Teatro de Rua teve início com a<br />

atuação do Grupo de Bombos do Centro<br />

de Atividades Ocupacionais da CERCI-<br />

MARANTE, acompanhado pelo Sr. José<br />

Cerqueira Ribeiro. Um grupo que teve a<br />

sua estreia neste espetáculo e que percorreu<br />

a Praça da República, animando<br />

todos os presentes com esta tradição tão<br />

apreciada.<br />

A atuação que se seguiu foi do Lar Residencial<br />

Amália Mota que pretendeu<br />

retratar o dia-a-dia, os pensamentos e<br />

sentimentos, a forma de ser e de estar<br />

dos clientes e colaboradores deste Lar.<br />

O Centro de Formação e Reabilitação<br />

Profissional deu depois, continuidade a<br />

este espetáculo com uma atuação intitulada<br />

“Simplesmente Gente”, que tinha<br />

como objetivo retratar gente, pessoas,<br />

seres humanos na busca incessante pela<br />

felicidade e pela paz interior. Uma busca<br />

que acontece com todos em qualquer<br />

parte do mundo e em qualquer contexto<br />

social. Não esquecendo o reconhecimento<br />

da dignidade inerente a todos os<br />

membros da família humana, e dos seus<br />

direitos iguais e inalienáveis, que constituem<br />

o fundamento da liberdade, da justiça<br />

e da paz no mundo.<br />

Seguiu-se uma dança ao som de “Ao teu<br />

encontro” de Rui Andrade interpretada<br />

pela formanda Sofia do Centro de Formação<br />

e Reabilitação Profissional e pelo<br />

monitor do Centro de Apoio Ocupacional<br />

- Renato Pinheiro.<br />

O momento que se seguiu foi protagonizado<br />

por um grupo de pais/tutores/representantes<br />

de clientes do C.A.O. que, acompanhados<br />

por colaboradores, clientes e<br />

por alguns jovens voluntários da Casa da<br />

Juventude, marcharam “Sempre em frente<br />

e unidos”, vestidos a rigor pela CERCI-<br />

MARANTE, enchendo o palco de brilho e<br />

alegria. E depois desta marcha, o regresso<br />

ao palco deu-se pela mão de um grupo de<br />

jovens voluntários da Casa da Juventude<br />

que trouxeram uma enérgica e contagiante<br />

coreografia ao som de “I gotta feeling,<br />

um tema dos The Black Eyed Peas.<br />

A fechar esta noite de espetáculo, e perante<br />

uma extensa e calorosa plateia, foi<br />

a vez da história de Robin dos Bosques<br />

entrar em cena. Um homem de origem<br />

pobre que se tornou um símbolo eterno<br />

de liberdade para o povo por roubar à<br />

nobreza para distribuir pelos pobres.<br />

Os atores e bailarinos foram os clientes<br />

e colaboradores do C.A.O. e voluntários<br />

da Casa da Juventude, que fizeram uma<br />

representação teatral e musical com muita<br />

animação e sorrisos à mistura.<br />

De realçar que praticamente todo o<br />

guarda-roupa utilizado neste XIII Teatro<br />

de Rua foi elaborado pelas colaboradoras<br />

Fernanda Sousa do Curso<br />

de Costureiro, a Modista do Centro de<br />

Reabilitação Profissional, auxiliada pelas<br />

formandas e por Helena Carvalho da área<br />

Têxtil do C.A.O.<br />

Saliente-se por último, a elaboração dos<br />

diversos cenários e adereços que, foram<br />

criados pelos jovens voluntários da Casa<br />

da Juventude e por alguns colaboradores<br />

da Cooperativa.<br />

38 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 39


D`ARTE A CULTURA DAS CERCI`S<br />

CERCIESPINHO<br />

AS ARTES<br />

COMO FERRAMENTA DE DESENVOLVIMENTO E DE INCLUSÃO<br />

Desenvolvimento<br />

Pessoal<br />

l TIC, AVD,<br />

Autorrepresentantes<br />

l Expressão Plastica<br />

O modelo de intervenção desenvolvido nos<br />

CAO’s da CERCIESPINHO estrutura-se<br />

em torno de 3 dimensões do modelo de<br />

qualidade de vida de Shallock (Desenvolvimento<br />

Pessoal; Bem-Estar e Inclusão<br />

Social), materializado em 5 domínios<br />

de atividades (Atividades Estritamente<br />

Ocupacionais, Atividades Socialmente<br />

Úteis, Atividades de Desenvolvimento<br />

Pessoal e Social, Atividades Lúdico-terapêuticas,<br />

Atividades Transversais de<br />

Inclusão), num total de 26 atividades diferentes,<br />

oferecidas aos 65 clientes deste<br />

serviço. As artes correspondem a uma<br />

estratégia transversal aos 3 domínios e<br />

concretiza-se na maior parte das atividades<br />

desenvolvidas, tal como o esquema<br />

seguinte operacionaliza com alguns<br />

exemplos.<br />

Bem-Estar<br />

l Atividade Física<br />

adaptada, Snoezelen<br />

l Rancho, Bombos<br />

Dança<br />

l Cuidados saúde<br />

Inclusão Social<br />

l Atividades Ocupacionais<br />

l ASU<br />

l Atividades Transversais<br />

de Inclusão<br />

Artes como ferramenta de desenvolvimento e de inclusão<br />

As artes são operacionalizadas como<br />

conteúdo nas seguintes áreas – pintura,<br />

expressão, dramatização, animação,<br />

dança, artesanato, música, etc - utilizadas<br />

em quase todas as atividades que<br />

desenvolvemos, mas igualmente, como<br />

processo – ferramenta de desenvolvimento<br />

de competências e de motivação<br />

dos clientes, e por fim, como produto –<br />

material ou apresentação/instalação que<br />

permite demonstrar as capacidades das<br />

pessoas com deficiência e promover ao<br />

máximo a sua inclusão nos vários contextos<br />

sociais, culturais e económicos.<br />

Funcionam como meio de sensibilização<br />

para os direitos das pessoas com deficiência<br />

tendo uma componente afetiva e<br />

emocional, fundamental para a mudança<br />

das atitudes e perceções do público em<br />

geral.<br />

Da multiplicidade de exemplos, destacamos<br />

alguns, que pela sua natureza e impacto,<br />

podem evidenciar a importância<br />

desta ferramenta na construção de uma<br />

sociedade mais inclusiva!<br />

No dia 3 de dezembro de 2017, o Centro<br />

de Atividades Ocupacionais da CER-<br />

CIESPINHO comemorou o Dia Internacional<br />

da Pessoa com Deficiência. Esta<br />

iniciativa teve como finalidade, sensibilizar<br />

a comunidade para questões relacionadas<br />

com a deficiência e a mobilização<br />

para a defesa da dignidade, dos direitos<br />

e do bem-estar destas pessoas. Conseguimos<br />

transformar a manhã fria do<br />

Largo do Souto, em Anta, num momento<br />

alegre, caloroso e que permanecerá<br />

na memória das pessoas. Do programa<br />

constaram demonstrações dos grupos<br />

de expressões, nomeadamente o Grupo<br />

de Bombos da CERCIESPINHO, Rancho<br />

“Alegria” e Grupo de Dança “Sorrisos” e<br />

a decoração das árvores do Largo, realizadas<br />

pelos nossos clientes, colaboradores<br />

e pessoas que estavam a assistir, com<br />

trapilhos de várias cores representativas<br />

das “Diferenças” e palavras e frases<br />

alusivas à mensagem que pretendíamos<br />

transmitir.<br />

O filme de animação - “Canção das Carrinhas”<br />

- foi apresentado no Cinanima<br />

2016, na Biblioteca Municipal de Espinho.<br />

Este filme, elaborado pelos clientes,<br />

incluindo a letra da música, retratava os<br />

transportes da organização e apelava à angariação<br />

de fundos para adquirirmos uma<br />

carrinha. A atividade de animação iniciou-<br />

-se com o desenvolvimento de um doutoramento<br />

na nossa organização e desde<br />

então, é da responsabilidade da monitora<br />

de TIC, com a finalidade de aquisição de<br />

conhecimentos e competências na realização<br />

de filmes de animação (ex: construção<br />

de cenários e personagens com diferentes<br />

materiais, construção e compreensão da<br />

história, storyboard, stop motion, manipulação<br />

da máquina fotográfica, gravação<br />

de vozes, criação de efeitos sonoros, entre<br />

outros). Os clientes estão distribuídos por<br />

competências e interesses em pequenos<br />

grupos, que por norma, realizam a atividade<br />

uma vez por semana.<br />

O CAO tem uma colaboradora, licenciada<br />

em animação sociocultural, que tem<br />

como funções planear e implementar, em<br />

conjunto com a equipa técnica do serviço,<br />

atividades e projetos na área artística. A<br />

monitora trabalha com diferentes grupos,<br />

estruturados mediante caraterísticas, competências<br />

e interesses. Desenvolve há cerca<br />

de 5 anos intervenção individual e grupal,<br />

com regularidade semanal, junto dos<br />

grupos de clientes com mais limitações,<br />

com as monitoras de referência.<br />

Nas comemorações do 40º aniversário<br />

da CERCIESPINHO, criámos a iniciativa<br />

“Mud’Arte”, espetáculo que integrou os<br />

grupos de expressões, em parceria com a<br />

Escola de Bailado Adriana Domingues, a<br />

Escola Profissional de Música de Espinho<br />

e o Grupo Cultural e Recreativo Semente,<br />

evento artístico inclusivo.<br />

Por fim, caraterizamos os nossos grupos<br />

de expressões, em funcionamento há cerca<br />

de 10 anos, que visam desenvolver a<br />

motricidade geral, a memória, a consciencialização<br />

corporal e espacial, a autoestima<br />

e a identidade pública positiva<br />

dos nossos clientes. O Rancho “Alegria”<br />

(2007), grupo de folclore, é formado por<br />

20 clientes e realiza cerca de 5 a 7 atuações<br />

anuais; o Grupo de Dança Inclusiva<br />

“Sorrisos” (2007), integra 8 clientes e<br />

tem cerca de 4 atuações anuais. O Grupo<br />

Bombos (2009), integra 8 clientes e<br />

realiza 2 atuações anuais. Os Grupos de<br />

Expressões integram as atividades de<br />

caráter lúdico-terapêutico do Centro de<br />

Atividades Ocupacionais.<br />

A arte move e comove, tocando no mais<br />

fundo dos arquétipos culturais, comuns a<br />

uma sociedade e à humanidade, revelando<br />

um elo entre as pessoas e a representação<br />

do mundo. Demonstra ainda, competências,<br />

capacidades e emociona quem a produz e<br />

quem a vê, criando um impacto profundo<br />

nas mentalidades da comunidade.<br />

40 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 41


D`ARTE A CULTURA DAS CERCI`S<br />

CERCIMB<br />

CAOETES, CAOBOYS<br />

e CAOháBANDA<br />

O Centro de Atividades Ocupacionais<br />

da Moita da CERCIMB iniciou o seu<br />

funcionamento em setembro de 2013,<br />

e desde então, as atividades artísticas<br />

têm-se tornado uma forma de partilha<br />

cultural com a comunidade através de<br />

apresentações de teatro, dança e música.<br />

É nossa convicção que a arte promove<br />

a auto-estima, a segurança e o<br />

desenvolvimento afetivo da pessoa com<br />

deficiência, pois desenvolve a sensibilidade<br />

e a expressão dos nossos clientes.<br />

Mobiliza e potencializa as capacidades<br />

das pessoas com deficiência para abrir<br />

um caminho de transformação social.<br />

Percebemos que através de apresentações<br />

na comunidade de tais atividades<br />

artísticas, não estamos a pretender negar<br />

diferenças, mas sim buscar a adaptação<br />

e contribuir para superar dificuldades<br />

e limitações impostas tanto pela<br />

deficiência da pessoa, como pela inadequação<br />

do meio às suas caraterísticas.<br />

Desde o início que sentimos a necessidade<br />

de “mostrar fora de portas”, formas<br />

de expressão dos nossos clientes.<br />

A expressão “artística” que temos hoje<br />

nasceu de uma pequena necessidade de<br />

dar um papel às nossas clientes que não<br />

participavam no grupo de futebol. Criámos<br />

assim as CAOETES, surgindo de<br />

imediato, a necessidade de criar roupas<br />

e adereços. Depressa se transformou<br />

num grupo de dança, com coreografias<br />

próprias. Seguindo-se os clientes do<br />

sexo masculino que também quiseram<br />

criar o seu grupo de dança (CAOBOYS).<br />

Observámos que a dança proporciona<br />

uma consciência corporal no individuo,<br />

além de desenvolver a sua criatividade,<br />

expressividade, habilidade motora<br />

e cognitiva e de promover a autoafirmação<br />

e a valorização da auto-estima.<br />

Assim sendo, a dança como linguagem<br />

artística é um meio fortíssimo de comunicação.<br />

Também foi criado um grupo de música<br />

(CAOháBANDA), para dar voz aos clientes,<br />

através da exploração de instrumentos<br />

variados, com escolhas de temas do<br />

seu interesse, sempre com a preocupação<br />

de lhes proporcionar vivências de<br />

prazer dentro do grupo através da intercomunicação<br />

que estabelecem. As atuações<br />

procuram transmitir uma forma de<br />

expressão, da individualidade de cada<br />

elemento, que no seu conjunto, acaba<br />

por criar um grupo de música.<br />

É de referir que até então, as nossas<br />

apresentações em público limitavam-se<br />

à peça de teatro anual na Feira Medieval<br />

de Alhos Vedros na qual a CER-<br />

CIMB participa desde 2008. Nestas<br />

apresentações, para além da encenação<br />

da peça, somos também responsáveis<br />

pela criação do texto, pela construção<br />

de adereços e ainda pela criação de cenários<br />

com diversos tipos de materiais,<br />

por norma, reciclados. Temos tido desde<br />

o início, a colaboração da Associação<br />

Cultural História e Património ALIUS-<br />

VETUS que sempre acreditou em nós,<br />

que nos disponibiliza as roupas para as<br />

personagens da peça e adapta o palco<br />

às nossas necessidades.<br />

Não são raras as vezes, que ouvimos<br />

das famílias a enorme surpresa perante<br />

o que vêem ali representado, mas a<br />

fórmula é simples, basta que estejam<br />

perto de quem confiam e lhes assegura<br />

que são capazes, e eles libertam-se e<br />

entregam-se, com simplicidade, entrando<br />

em “jogos” que lhes são propostos.<br />

O resultado aparece colocando em palco,<br />

por vezes, 60 pessoas. Este elevado<br />

número de participantes e os recursos<br />

necessários tem-nos criado algum impedimento<br />

em participações porque<br />

obriga a uma logística de transporte,<br />

nem sempre possível de ser suportada<br />

pela instituição. Sentimos que a solução<br />

para este problema pode passar por<br />

parcerias com as estruturas da comunidade,<br />

despertas para a importância destas<br />

apresentações.<br />

Ao longo do caminho, observámos a<br />

mais-valia destas formas de arte, não só<br />

pelas nossas apresentações, mas também,<br />

pela interação e colaboração com<br />

outras instituições que partilham connosco<br />

a convicção de que são a porta de<br />

entrada para a valorização das relações<br />

humanas e a construção de uma sociedade<br />

universalmente mais justa e igualitária.<br />

A arte ajuda a expressar o que<br />

não se consegue apenas com palavras.<br />

Não basta apenas aceitar a deficiência<br />

porque as leis assim o orientam. O que<br />

interessa é reconhecer as capacidades<br />

de cada um e dar-lhes oportunidade de<br />

crescimento e de desenvolvimento social<br />

e cognitivo.<br />

42 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 43


D`ARTE A CULTURA DAS CERCI`S<br />

CEERDL<br />

CENAS DE UM WESTERN<br />

PORTUGUÊS<br />

CERCIAZ<br />

AQUELE LUGAR DENTRO<br />

DO MUNDO<br />

Luzes, Câmara, Ação!! Algures numa vila<br />

faz-se a inauguração de um Sallon. Aparece<br />

o Presidente da Junta e a sua esposa, o<br />

Padre, o Fotógrafo, as Taberneiras e os Cowboys.<br />

O forasteiro entra no Sallon e dirige-se<br />

ao balcão onde duas belas raparigas<br />

servem bebidas aos clientes que jogam às<br />

cartas. O desconhecido, que acaba de entrar,<br />

é desafiado a jogar um jogo de cartas<br />

porque ninguém se mete com a mulher do<br />

Cowboy! O Duelo só termina quando um<br />

dos dois morrer. Mas... aconteceu algo de<br />

inexplicável…<br />

E assim inicia a primeira experiência em<br />

cinema pelo Fórum Sócio Ocupacional do<br />

CEERDL, uma mistura de Western com filme<br />

mudo em que as expressões faciais e a<br />

linguagem corporal falam por si.<br />

O produto final resultou numa curta-metragem<br />

que reflete todo o trabalho e dedicação<br />

dos clientes no processo onde foram<br />

guionistas, figurinistas e atores. A história<br />

em si… reflete o receio do desconhecido,<br />

a insegurança. Quando algo novo e desconhecido<br />

surge no nosso quotidiano… um<br />

problema vivido no Fórum quando a entrada<br />

de um novo cliente provoca algum de-<br />

sequilíbrio em laços criados entre clientes.<br />

Ah… e o dia das gravações… parecia Hollywood,<br />

não que já lá estivéssemos estado….<br />

mas como ele existe no nosso imaginário…<br />

Ouviam-se vários “Corta!!’’…. “Vamos repetir!”…<br />

“Ação”!! ...”Cena 1 - Take 8 ….”<br />

E os camarins ???? Sim, foram criados<br />

espaços de artistas!! Com a roupa, digo<br />

figurino de cada um…. Sim. Foi uma aprendizagem!<br />

Corrijo. É uma aprendizagem!<br />

Mas não termina aqui! Este filme “O Duelo”,<br />

é agora uma ferramenta. Uma estratégia.<br />

Uma mensagem! Ao exibi-la quer às<br />

nossas famílias, quer à comunidade, é levar<br />

a todos, as estrelas que somos, mesmo que<br />

não sejamos atores natos!<br />

A experiência foi bem vivida e conseguida!<br />

Assim, decidimos ir mais além….<br />

Brevemente “Cartas para Rosa” - o novo<br />

filme - retrata a relação de 2 vizinhos que<br />

se amam em segredo… e não desvendamos<br />

mais….<br />

O espetáculo “Emoções” que a CERCIAZ<br />

lança todos os anos no Cineteatro Caracas,<br />

em Oliveira de Azeméis premeia o que de<br />

melhor se faz na Educação pela Arte e pelos<br />

afetos.<br />

As artes como todas as expressões não-<br />

-verbais, favorecem a exploração, a expressão<br />

e a comunicação, promovendo o<br />

contato com o outro e estimulando a interação<br />

entre grupos, melhorando de forma<br />

inequívoca as competências sociais. Neste<br />

sentido, a CERCIAZ tem promovido parcerias<br />

que incentivam à utilização da arte<br />

como forma estimuladora de momentos de<br />

transcendência e deslumbramento dos jovens,<br />

em contato com pares provenientes<br />

de outras realidades e contextos sociais.<br />

As aulas de teatro com jovens da academia<br />

de teatro permitiram que regras fossem incutidas<br />

através do simples prazer de participação<br />

em cena. As aulas de dança, conjunto<br />

de arte, ciência e amor, descontraídos<br />

momentos de comemoração da vida, numa<br />

explosão de emoções que originam sentimentos<br />

de felicidade e plenitude, numa<br />

metamorfose, que possibilita de uma forma<br />

espontânea, a expressão dos sujeitos.<br />

A experiência artística provoca o individuo<br />

a sair “para além do eu” e a olhar para o<br />

espaço que o envolve, promovendo um<br />

ambiente acolhedor em relação à diversidade.<br />

As atividades artísticas são oportunidades<br />

para a expressão de sentimentos,<br />

alguns deles, apenas a partir da criação e<br />

da imaginação, por isso, devem ser encaradas<br />

como um direito de todo o cidadão.<br />

Porém nem todos têm acesso à arte de maneira<br />

completa. As pessoas com deficiência<br />

muitas vezes vêem-se privadas de apreciar<br />

ou praticar diversas atividades artísticas<br />

por contingências de ordem pessoal, familiar,<br />

financeira ou até social.<br />

Consciencializarmo-nos para a importância<br />

da implementação das artes como<br />

forma de desenvolver a inteligência emocional,<br />

treinada e aprimorada por meio da<br />

construção de novos hábitos, novas formas<br />

de pensar e de se comportar, leva-nos a<br />

mudar mentalidades e formas de ser e estar<br />

na sociedade. Impulsionar estas vivências<br />

através da Inclusão pela Arte, promovendo<br />

o apoio às abordagens desenvolvidas pelos<br />

diferentes parceiros educacionais, tais<br />

como Escolas de Dança ou Companhias<br />

de Teatro, fazem-nos crer que a arte é uma<br />

terapia híbrida que procura aliar e extrair o<br />

que há de melhor em cada um de nós, devendo<br />

por isso ser impulsionada.<br />

Foi com esta confiança que nasceu o projeto<br />

Emoções…“Estar incluído é ser bem-<br />

-vindo…” sem preconceitos, sem barreiras,<br />

sem condicionalismos, apenas com vontade<br />

de pertencer a uma grande causa, a<br />

um momento de partilha de competências,<br />

num processo interativo numa arquitetura<br />

de pertença. E assim, se inclui!<br />

Paula Cristina Nogueira<br />

Diretora Geral da CERCIAZ<br />

44 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 45


D`ARTE A CULTURA DAS CERCI`S<br />

CERCIOEIRAS<br />

NOTAS DE CONTACTO<br />

“A MÚSICA APROXIMA, TRANSFORMA, ELEVA,<br />

CONECTA E SUPERA …“<br />

O Notas de Contacto - OCPsolidária na<br />

CERCIOEIRAS é um projeto cofinanciado<br />

pelo programa PARTIS da Fundação<br />

Calouste Gulbenkian, de acesso<br />

à cultura e aprendizagem através da<br />

música para pessoas com dificuldades<br />

intelectuais e desenvolvimentais.<br />

Os músicos da Orquestra de Câmara<br />

Portuguesa em parceria com os terapeutas<br />

da CERCIOEIRAS, desenvolvem<br />

estratégias de aprendizagem<br />

musical para estes adultos, realizando<br />

atividades em que a música se apresenta<br />

como meio facilitador de comunicação<br />

na melhoria de competências<br />

físicas e cognitivas.<br />

As atividades realizadas semanalmente<br />

integram: manuseamento de instrumentos,<br />

compreensão de notação, interiorização<br />

e memorização de partituras,<br />

trabalho de grupo nos ensembles de<br />

música de câmara, apresentações em<br />

público, entre outras.<br />

O impacto nas rotinas dos participantes<br />

tem tido testemunhos impressionantes!<br />

A música fica na CERCIOEIRAS quando<br />

os músicos saem. Os clientes que estão<br />

inseridos no projeto têm tido evoluções<br />

fantásticas, que são notórias nas aulas e<br />

no decorrer dos concertos.<br />

“O projeto continua a ser uma aposta<br />

extraordinária, na forma como faz chegar<br />

a música, e tudo o que lhe está associado,<br />

aos clientes desta Instituição.<br />

As mais-valias continuam a desenvolver-se<br />

nos diferentes aspetos, tais<br />

como, a correção da postura, o esforço<br />

intelectual para a aprendizagem, a interajuda<br />

entre os membros do grupo e,<br />

sobretudo, o prazer de sentir e viver a<br />

música por dentro. Os concertos em que<br />

têm participado e a que pessoalmente<br />

assisti… são momentos muito especiais<br />

não só para os jovens, mas também<br />

para as famílias. Ali, perante o esforço,<br />

a concentração e o entusiasmo dos<br />

participantes, conseguimos perceber<br />

o sucesso do projeto. É um programa<br />

feliz e contamos com a sua continuidade!”<br />

(Custódia Coroa, mãe do Ricardo<br />

Lopes)<br />

“É uma alegria enorme ver o meu filho<br />

Gonçalo a atuar juntamente com todos<br />

os seus amigos do Grupo Notas de<br />

Contacto. Este é um projeto que muita<br />

satisfação dá quer ao Gonçalo, quer à<br />

família… Vê-lo atuar com a Orquestra<br />

de Câmara Portuguesa (OCP), no Centro<br />

Cultural de Belém por ocasião do aniversário<br />

desta orquestra, foi um momento<br />

sublime. Todas as atuações do grupo<br />

Notas de Contacto são momentos sublimes.<br />

Nós, pais, enchemo-nos de orgulho<br />

e sentimos uma enorme alegria e rejubilamos<br />

com as apresentações do grupo…”.<br />

(Isabel Nunes, mãe do Gonçalo).<br />

Para além do aumento da atenção, concentração,<br />

compreensão de conceitos<br />

abstratos, comportamento adequado<br />

durante as aulas, tolerância aos ensaios<br />

com maior duração, responsabilidade<br />

no manuseamento de instrumentos, os<br />

clientes do Projeto diversificaram o seu<br />

conhecimento sobre os vários géneros<br />

musicais, assim como aumentaram o<br />

conhecimento e identificação de instrumentos.<br />

Os clientes tiveram oportunidades<br />

únicas de explorar e ouvir vários<br />

instrumentos musicais (vibrafone,<br />

bateria, violino, violoncelo, clarinete,<br />

flauta, cajon, piano, trompete, xilofone,<br />

tuba, contrabaixo, entre outros). Neste<br />

projeto, existe uma parceria com um<br />

construtor de instrumentos que criou e<br />

adaptou instrumentos adequados às caraterísticas<br />

e necessidades dos clientes<br />

que o integram. Outra estratégia utilizada<br />

com vista a potenciar a participação<br />

dos clientes, é o Soundbeam. Este<br />

Ana Isabel Dias e Ana Roque<br />

Técnicas Superiores de Reabilitação Psicomotora e elementos da equipa<br />

do Projeto Notas de Contacto – OCP Solidária na CERCIOEIRAS<br />

sistema, utiliza sensores de movimento<br />

que possibilita a tradução de gestos e<br />

movimentos em música, permitindo que<br />

mesmo as pessoas com dificuldades<br />

motoras profundas, possam tornar-se<br />

expressivas, criativas e comunicar as<br />

próprias emoções, através da música.<br />

É de destacar a atitude em palco dos<br />

clientes, a seriedade com que tocam, a<br />

disciplina, o comportamento, a resposta<br />

às exigências que vão sendo maiores.<br />

Em suma, o seu extraordinário profissionalismo.<br />

Depois do Auditório Ruy de Carvalho,<br />

do Jardim de Inverno do Teatro S. Luiz<br />

e do Grande Auditório do CCB, neste<br />

momento, a equipa está a ensaiar para o<br />

concerto inserido na mostra “Isto é Partis”<br />

que terá lugar no dia 27 de janeiro<br />

na Fundação Calouste Gulbenkian. Este<br />

concerto realiza-se em parceria com a<br />

5ª Punkada da Associação de Paralisia<br />

Cerebral de Coimbra.<br />

46 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 47


D`ARTE A CULTURA DAS CERCI`S<br />

CERCIBEJA<br />

CERCIGRÂNDOLA<br />

GERAÇÕES DE MÃOS DADAS<br />

O projeto Gerações de Mãos Dadas nasceu<br />

de uma parceria já existente entre o<br />

Comando Territorial da GNR de Beja e a<br />

CERCIBEJA.<br />

Foi proposto ao Grupo de Teatro ExpressArte,<br />

a possibilidade de abordar<br />

as temáticas da Violência com Idosos e<br />

Burlas. Este Grupo de Teatro, criado há<br />

cerca de três anos, tem vindo a cimentar<br />

o seu trabalho junto da comunidade<br />

com peças de teatro, animações de rua<br />

e outras performances artísticas. Estes<br />

temas foram debatidos junto dos jovens<br />

artistas, através de pesquisas de notícias<br />

e vídeos, o que lhes permitiu uma<br />

maior consciencialização desta problemática.<br />

A partir daí as situações que<br />

fazem parte desta apresentação foram<br />

surgindo naturalmente. Ao teatro juntámos<br />

a dança e rapidamente a performance<br />

ficou montada e teve a sua estreia<br />

em Beja, no Cineteatro Pax Julia no<br />

passado dia 24 de janeiro, onde estiveram<br />

presentes representantes da Câmara<br />

Municipal de Beja, da Rede Social do<br />

Concelho de Beja, CLDS de Beja, Comandos<br />

Territoriais da GNR dos Concelhos<br />

do Distrito de Beja, CERCIBEJA,<br />

utentes dos Lares e Centros de Dia de<br />

Idosos da cidade. Esperamos com este<br />

trabalho, consciencializar o público em<br />

geral, especialmente, a população em<br />

risco e mais vulnerável, dotando-os de<br />

estratégias para evitar estas situações e<br />

orientando-os sobre como pedir ajuda<br />

junto das autoridades.<br />

A apresentação foi do agrado do público<br />

e vai continuar a percorrer os concelhos<br />

de Castro Verde, Mértola, Odemira, Mou-<br />

ra, Serpa, Ferreira do Alentejo e Aljustrel.<br />

O Capitão Daniel Ferreira do Comando<br />

Territorial da GNR de Beja, referiu ainda<br />

que “No desenvolvimento da atividade<br />

diária da Guarda Nacional Republicana<br />

num dos seus Programas Especiais<br />

de Policiamento de Proximidade, contar<br />

com parcerias exemplares como esta,<br />

que acrescentam valor à mensagem que<br />

se pretende transmitir com este tipo de<br />

ações de sensibilização, constitui uma<br />

mais-valia incontestável. Contar com<br />

uma peça de teatro que retrate as situações<br />

que mais afetam a população<br />

idosa no seu quotidiano, permitirá que<br />

a mensagem seja transmitida mais facilmente,<br />

pois como dizia o filósofo chinês<br />

Confúcio. Uma imagem vale mais que mil<br />

palavras.”<br />

Juntos Construímos Felicidade!<br />

Fotos: Câmara Municipal de Beja<br />

OFICINA DE TEATRO<br />

A história deste projeto começa há quase<br />

dois anos atrás, quando a direção da<br />

CERCIGRÂNDOLA e a Junta de Freguesia<br />

de Grândola e Santa Margarida<br />

da Serra me desafiaram para iniciar<br />

um projeto de oficina de teatro com os<br />

clientes da instituição. Com apenas uma<br />

sessão semanal, o grupo realizou já três<br />

apresentações públicas, mas o mais importante,<br />

na minha perspetiva, tem sido<br />

todo o processo.<br />

Através do jogo dramático desenvolvemos<br />

várias competências sociais, estimulámos<br />

a criatividade, a concentração,<br />

a imaginação, a auto-estima e auto-confiança,<br />

o respeito pelo outro e a empatia,<br />

para além de competências técnicas<br />

como a respiração, a dicção e colocação<br />

da voz, a motricidade e expressão corporal,<br />

a capacidade de exposição, etc. O<br />

projeto propõe-se também, promover a<br />

alegria e felicidade dos seus participan-<br />

tes, objetivos importantíssimos, no meu<br />

ponto de vista.<br />

Comigo nas sessões, sempre que possível,<br />

estão a Terapeuta Ocupacional ou<br />

a Psicóloga da instituição. Este trabalho<br />

em parceria, tem sido muito importante<br />

e permite otimizar as atividades, tornando<br />

as aprendizagens e experiências ainda<br />

mais relevantes para os participantes.<br />

Quero referir que este projeto foi muitíssimo<br />

bem recebido na instituição e<br />

tenho sentido o carinho e o apoio de todos<br />

sem exceção, técnicos, terapeutas e<br />

auxiliares.<br />

Em boa hora aceitei este desfio pois<br />

tem sido uma experiência fantástica.<br />

Os “meus” vinte “atores” são duma entrega<br />

e generosidade ímpares e tenho<br />

aprendido imenso com eles. Espero que<br />

continuemos juntos este caminho e que<br />

possamos presentear-vos com mais e<br />

melhores apresentações.<br />

Sara Teixeira e Vanda Rodrigues<br />

Maria Manuel Costa<br />

Professora de Teatro da CERCIGRÂNDOLA<br />

48 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 49


D`ARTE A CULTURA DAS CERCI`S<br />

CERCIOEIRAS<br />

CERCIDIANA<br />

PARTE DE COISA NENHUMA<br />

“(…) Afinal o fado nasceu daquele que<br />

não se sentia parte de coisa nenhuma.<br />

Curioso ser o marginal, quem vem fazer<br />

com que todos se sintam em casa.<br />

O imperfeito enaltece o perfeito, o<br />

perfeito cria o imperfeito e alimenta-<br />

-se dele. Que parte representa afinal o<br />

primoroso, distinto e completo na vida<br />

do inacabado e do imperfeito? Quem é<br />

o imperfeito? Onde pertence cada um?<br />

Como se forma um grupo? Quem pertence<br />

a quê? Quem se sente mais parte<br />

de algo ou parte de coisa nenhuma?<br />

Por onde anda quem se sente pertencido<br />

e por onde viaja quem se sente desamparado?<br />

Virá o Fado encontrar o perdido ou<br />

achado? O famoso ou o esquecido?<br />

Quem é o marginal? Seremos provavelmente<br />

parte de coisa nenhuma.”<br />

A criação de “Parte de Coisa Nenhuma”<br />

nasceu da colaboração entre a CER-<br />

CIOEIRAS e a coreógrafa Diana Seabra<br />

para a criação de um bailado inclusivo<br />

ao som de fado contemporâneo, com o<br />

grupo de dança Korpus, 6 bailarinos e<br />

3 músicos profissionais. O objetivo pri-<br />

mordial deste projeto prendeu-se com a<br />

valorização das competências artísticas<br />

das pessoas com deficiência, potencialização<br />

das suas capacidades criativas<br />

e performativas no domínio não-verbal,<br />

bem como, a realização de boas práticas<br />

artísticas e sensibilização da sociedade<br />

para a diversidade e inclusão.<br />

O projeto foi cofinanciado pelo Instituto<br />

Nacional dpara a Reabilitação (INR), e<br />

a Fundação Gestão dos Direitos dos Artistas<br />

(FGDA), tendo a estreia sido nos<br />

dias 9 e 10 de dezembro de 2017 no Auditório<br />

do Museu da Fundação Oriente<br />

em Lisboa, com lotação esgotada em<br />

ambos os dias.<br />

O bailado refletiu apenas uma parte de<br />

todo um processo criativo em estúdio<br />

durante 2 meses, o qual foi documentado<br />

em vídeo e estará disponível para ser<br />

visionado em documentário no final de<br />

janeiro de 2018. A exploração de movimento<br />

alternou-se entre a expressividade<br />

de um indivíduo singular e a expressividade<br />

de um grupo e em como ambos<br />

se afetaram mutuamente. As fortes relações<br />

interpessoais que foram construí-<br />

das ao longo deste processo, reforçaram<br />

a premissa de que o movimento, dança<br />

e a música são meios de comunicação<br />

potenciadores de uma compreensão interpessoal<br />

mútua e autêntica.<br />

É de realçar o quão gratificante foi, observar<br />

desde o primeiro momento, a empatia<br />

e ambiente saudável que se estabeleceu<br />

com o grupo de trabalho, onde<br />

a diversidade e as dificuldades apenas<br />

se tornaram uma força e sucesso.<br />

O apoio financeiro a este tipo de projetos<br />

é essencial para dar a oportunidade<br />

às pessoas com deficiência de fazerem<br />

algo que as motiva, tomarem contato<br />

com profissionais, partilharem momentos<br />

e aprendizagens, estabelecerem<br />

relações e por outro lado, dignificar as<br />

pessoas com deficiência, atribuindo-lhes<br />

uma imagem positiva e de sucesso junto<br />

da sociedade.<br />

Sara Espírito Santo, Terapeuta<br />

Ocupacional, Técnica responsável<br />

pelo Grupo Korpus da<br />

CERCIOEIRAS<br />

Diana Seabra, Coordenadora de<br />

Projeto e Coreógrafa e Diretora<br />

Artística do bailado “Parte de Coisa<br />

Nenhuma”<br />

SIGAM A<br />

NOSSA CENA<br />

O Grupo de Teatro da CERCIDIANA criado<br />

em 2003, surgiu do Projeto de Formação<br />

“Metodologias de Aprendizagem<br />

do Drama em Populações com Necessidades<br />

Educativas Especiais”, subsidiado<br />

pelo IEFP e ministrado pelo IPJ.<br />

O Grupo tem uma vasta experiência na<br />

apresentação de espetáculos de teatro<br />

e mantém o objetivo principal de desenvolvimento<br />

de competências pessoais e<br />

sociais das pessoas com deficiência.<br />

Este ano, e pela segunda vez, o Grupo<br />

de Teatro da CERCIDIANA vai participar<br />

numa Oficina Internacional de<br />

Teatro que se realiza em Madrid no mês<br />

de maio, com a participação de grupos<br />

de Itália, França, Espanha e Marrocos.<br />

Este projeto é da responsabilidade da<br />

“Fundacion Instituto Internacional del<br />

Teatro del Mediterraneo”, e encerra<br />

com a apresentação de um espetáculo<br />

no Teatro Espanhol de Madrid nos dias<br />

8, 9 e 10 de junho, visando desta forma,<br />

a projeção social e artística das pessoas<br />

com deficiência.<br />

50 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 51


D`ARTE A CULTURA DAS CERCI`S<br />

CERCILEI<br />

TEATREI E TEATRANDO<br />

Os grupos de teatro da CERCILEI -<br />

TEATREI e TEATRANDO, o primeiro<br />

sedeado em Leiria e o segundo em Porto<br />

de Mós, surgiram da necessidade de<br />

desenvolver diversas competências pedagógico-sociais<br />

por meio da prática de<br />

uma atividade artística de interesse por<br />

parte de todos os participantes.<br />

Através de jogos e atividades de expressão<br />

dramática, competências como<br />

a atenção e concentração, relação interpessoal<br />

e de relação social com o mundo<br />

que os rodeia, são desenvolvidas de forma<br />

a tornarem-se benéficas para a sua<br />

vida em múltiplas áreas, tornando estes<br />

jovens mais conscientes do seu eu e do<br />

outro que os rodeia, podendo simultaneamente,<br />

vivenciar múltiplas experiências<br />

imaginadas e criadas pelos próprios<br />

jovens.<br />

As histórias surgem de forma criativa<br />

pelos jovens que nelas atuam e participam,<br />

orientados por diversos técnicos<br />

da CERCILEI, de forma a tornarem estas<br />

experiências o mais completas possível<br />

para os nossos tão talentosos atores.<br />

Pontos altos são também a motivação<br />

para a continuidade desta área. Para além<br />

das visitas regulares a escolas, aproveitando<br />

os seus talentos, os Encontros<br />

Formativos organizados pela CERCILEI<br />

são enriquecidos com momentos lúdicos<br />

que surpreendem todos os que nela participam,<br />

despertando curiosidade, sensibilizando<br />

e valorizando as capacidades<br />

destes jovens.<br />

Os aplausos merecidos enaltecem o “ser<br />

pessoa” motivando-os a continuar.<br />

A todos os que colaboram na inclusão de<br />

todos, o nosso bem-haja!<br />

CERCINA<br />

“ARTES<br />

E LETRAS”<br />

O Projeto “Artes e Letras”, co-financiado pelo Programa<br />

de Financiamento a Projetos pelo INR, I.P, decorreu no<br />

período de 1 de setembro a 31 de dezembro de 2017, no<br />

Centro de Atividades Ocupacionais da CERCINA. Este<br />

Projeto contou com a colaboração da Rádio Nazaré quer<br />

ao nível da sua divulgação, quer ao nível da gravação de<br />

recitais de poesia, contos e lendas permitindo, por um lado,<br />

uma experiência única e inovadora aos participantes e, por<br />

outro, sensibilizar a comunidade local para a problemática<br />

das pessoas com deficiência, promovendo a visibilidade do<br />

potencial artístico da pessoa com deficiência.<br />

A implementação deste projeto permitiu a criação de um<br />

espaço destinado à leitura e exploração de contos, poesia,<br />

lendas e informação geral atual, devidamente equipado,<br />

facilitando e promovendo o desenvolvimento pessoal e<br />

social dos clientes, no sentido da melhoria da qualidade<br />

de vida e respetiva capacitação.<br />

No âmbito deste projeto, foram realizadas várias atividades<br />

inovadoras (Poesia para todos; Histórias da minha<br />

terra; Saber mais; Poetas por uns dias), cujos participantes<br />

manifestaram grande interesse e motivação, contribuindo<br />

claramente para o aumento da sua autoestima e valorização.<br />

O Centro possui agora um novo espaço de leitura, no<br />

qual os clientes têm a possibilidade de ler, explorar e analisar<br />

conteúdos informativos do interesse individual geral<br />

e da cultura local, em particular. Este espaço oferece, ainda,<br />

a possibilidade dos participantes serem os autores do<br />

próprio desenvolvimento.<br />

CERCISIAGO<br />

LASCARINA<br />

A memória de D. Vataça Lascaris – uma dama italiana<br />

de origem bizantina que acompanhou na corte portuguesa<br />

a Rainha Isabel de Aragão e o Rei D. Dinis de<br />

Portugal – perdura ainda hoje na região do Alentejo<br />

Litoral.<br />

Os clientes da CERCISIAGO ouviram a história e a<br />

lenda, duas narrativas que andam de mãos dadas e puseram<br />

mãos à obra.<br />

Trouxeram à memória coletiva algo “perdido” no tempo,<br />

aproveitou-se material menos nobre como papel<br />

descartado, para fazer esculturas, às quais se foi dando<br />

forma e colorido e nasceu a Lascarina, uma dama de<br />

coração cheio.<br />

Como alguém disse no nosso livro de opiniões, aquando<br />

da exposição, “Os trabalhos feitos com Amor fazem-nos<br />

descobrir o melhor de nós mesmos”.<br />

Fotos: DR<br />

52 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 53


CERCI’S<br />

O CAMINHO<br />

FAZ-SE A ANDAR<br />

SEPARADOR<br />

Por muito relevante que possa ser<br />

o caminho já percorrido ao longo destas<br />

quatro décadas da história das Cerci’s, é<br />

longo e difícil o que ainda falta percorrer. É<br />

por isso que as Cerci’s continuam à procura<br />

de novas paragens, de novas estradas que<br />

melhorem a eficácia da sua ação e que<br />

sejam promotoras de novas pontes para a<br />

inclusão das pessoas com deficiência. São<br />

caminhos que por vezes são bem difíceis de<br />

trilhar, mas não é coisa que faça desanimar<br />

quem tem os olhos postos no futuro.<br />

© 2016 CERCIGUI | Rostos com Alma


CERCI’S O CAMINHO FAZ SE A ANDAR<br />

CERCIAMA<br />

SHIATSU NA CERCIAMA<br />

O Shiatsu é uma terapia de origem japonesa.<br />

Literalmente a palavra shiatsu<br />

significa pressão com os dedos (shi=<br />

dedo, atsu= pressão). O Ministério da<br />

Saúde do Japão define Shiatsu como um<br />

tratamento que, ao aplicarmos pressões<br />

com os dedos polegares e as palmas das<br />

mãos sobre determinados pontos, corrige<br />

irregularidades, mantém e melhora a<br />

saúde e contribui para o alívio de certas<br />

doenças (desconfortos, dores, stress,<br />

transtornos de origem nervosa, etc.). O<br />

Shiatsu ativa a capacidade de auto-cura<br />

do corpo humano e não tem efeitos secundários.<br />

A Escola Japonesa de Shiatsu-Do Portugal<br />

é uma extensão da Escuela Japonesa<br />

de Shiatsu em Madrid, que por sua<br />

vez, é a representação na Europa do<br />

Japan Shiatsu College de Tóquio, única<br />

escola de ensino superior oficial do<br />

Japão, reconhecida pelos Ministérios da<br />

Saúde, da Educação e do Trabalho.<br />

Desde novembro que a CERCIAMA tem<br />

recebido uma vez por semana duas alunas,<br />

Anne Firket e Inês Adagói da Escola<br />

Japonesa de Shiatsu-Do Portugal ao<br />

abrigo de um projeto de parceria entre<br />

estas duas entidades.<br />

Esta parceria surgiu da necessidade de<br />

poder fornecer aos alunos que se encontram<br />

em formação na Escola Japonesa<br />

de Shiatsu-Do oportunidades de trabalho<br />

em situações reais, num ambiente de<br />

confiança e profissionalismo, antecipando<br />

e envolvendo-os de uma forma progressiva<br />

no mercado de trabalho.<br />

Uma parceria com a CERCIAMA representava<br />

uma excelente oportunidade e<br />

um verdadeiro desafio para colocar em<br />

prática esta mesma necessidade dos<br />

alunos da Escola Japonesa de Shiatsu-<br />

-Do. Assim, foi lançado um convite à<br />

CERCIAMA, que foi rapidamente aceite,<br />

e todas as condições foram criadas<br />

Inês Adagói e Anne Firket<br />

Terapeutas de Shiatsu<br />

para que o projeto fosse rapidamente<br />

posto em prática.<br />

Foi necessário realizar um trabalho bibliográfico<br />

prévio em várias plataformas<br />

de pesquisa científica, relativamente à<br />

aplicabilidade do Shiatsu em jovens e<br />

adultos com deficiência intelectual e/<br />

ou multideficiência e foi interessante<br />

verificar a escassez de documentação<br />

relativa a este assunto. Este pormenor<br />

tornou o projeto ainda mais interessante<br />

e estimulante, na medida em que se<br />

iria trabalhar num território ainda pouco<br />

conhecido e estudado. Ainda assim, as<br />

poucas referências bibliográficas descreviam<br />

várias dificuldades de um terapeuta<br />

na relação e conquista de confiança<br />

com várias crianças autistas com<br />

quem trabalhava.<br />

Foram escolhidos alguns jovens e adultos<br />

para fazerem parte deste projeto como<br />

pacientes, todos com problemas e necessidades<br />

diferentes, mas com um mesmo<br />

objetivo comum de terapia: contribuir<br />

para a melhoria da qualidade de vida e<br />

para o bem-estar destes jovens e adultos.<br />

Este constituía um verdadeiro desafio<br />

para as duas alunas, que nunca tinham<br />

trabalhado na área e no início questionaram-se:<br />

será que vão gostar das sessões<br />

de Shiatsu? Como é que vão reagir<br />

às pressões? Será que vou conseguir<br />

ajudar no alívio das dores e desconforto<br />

deles? Será que vamos conseguir conquistar<br />

a confiança deles?<br />

Desde a primeira sessão que estas<br />

questões foram respondidas positivamente<br />

e arrumadas. Verificou-se, rapidamente,<br />

que eles tinham muita vontade<br />

de ir para as sessões que, com o tempo,<br />

conseguiam relaxar verdadeiramente e<br />

até adormecer durante as mesmas. Uma<br />

prova desta vontade é o desejo que alguns<br />

mostram em ir para a sessão antes<br />

da sua vez.<br />

A nível de dores e manifestação de sintomas<br />

durante as sessões, verifica-se<br />

que estes pacientes, de uma forma geral,<br />

apresentam uma série de dores localizadas<br />

e sintomatismos que estão diretamente<br />

relacionados com más posturas<br />

corporais, a movimentos repetitivos ou<br />

relacionados com frustrações ou outras<br />

manifestações emocionais. A nível comportamental,<br />

principalmente ao início,<br />

era comum agitarem-se, quererem falar,<br />

atentarem aos barulhos à volta da sala,<br />

abraçar e brincar, mas com algumas estratégias,<br />

foi sendo possível serenarem<br />

e confiarem. As estratégias que as terapeutas<br />

têm de aplicar são uma busca<br />

constante, porque cada paciente é diferente<br />

e os problemas que trazem para<br />

cada sessão às vezes não são os mesmos<br />

da sessão anterior. Com esta busca<br />

os pacientes têm sido capazes de relaxar<br />

mais e beneficiar de uma forma mais<br />

eficaz das sessões de Shiatsu.<br />

São estes pormenores que tornam este<br />

projeto um desafio constante para que<br />

se consiga atingir, nem que seja um bocadinho,<br />

dos objetivos iniciais a cada<br />

sessão, esperando que no fim se tenha<br />

contribuído para uma melhoria geral da<br />

qualidade de vida dos jovens e adultos<br />

que as integram.<br />

56 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 57


CERCI’S O CAMINHO FAZ SE A ANDAR<br />

CERCILEI<br />

A VONTADE<br />

E OUTRAS FORÇAS!<br />

A CERCILEI sempre investiu na prática<br />

da atividade física e no desporto, como<br />

meio da promoção e implementação de<br />

oportunidades de interação, integração<br />

e inclusão dos nossos jovens na comunidade,<br />

fomentando o princípio da<br />

igualdade de oportunidades.<br />

Para além do próprio envolvimento<br />

desportivo, a prática do desporto contribui<br />

para a aquisição de hábitos de<br />

vida saudável e competências que aumentam<br />

o bem-estar físico, psicológico<br />

e social.<br />

A Carta Europeia do Desporto para<br />

Todos do Conselho da Europa (1988),<br />

reconhece a atividade física como “um<br />

meio privilegiado de educação, valorização<br />

do lazer e integração social”<br />

O projeto do Andebol adaptado nasceu<br />

em 2011, com um grupo de clientes das<br />

nossas unidades residenciais com o objetivo<br />

de lhes proporcionar uma ocupação<br />

saudável também embutida de um<br />

sentido coletivo e relacional, interpessoal,<br />

terminando em 2015. Em outubro<br />

de 2017, por sugestão e colaboração<br />

voluntária do treinador José Bento, retomou-se<br />

a atividade, mas desta vez,<br />

aberta a todos os clientes da CERCILEI<br />

que tivessem interesse em participar.<br />

Concordando com Ferreira (1993), que<br />

diz que, as atividades desportivas são<br />

um meio ótimo para retirar a pessoa<br />

com deficiência da sua inatividade e<br />

fraca iniciativa, permitindo a sua integração<br />

social, bem como, uma forma<br />

privilegiada de aceitação da relação<br />

com os outros, assim como promove a<br />

maximização das suas potencialidades,<br />

a CERCILEI aproveitou a oportunidade<br />

para retomar o andebol adaptado.<br />

Dois meses depois (dezembro), também<br />

como forma de manter a motivação<br />

dos jovens para o treino, a CERCILEI<br />

participou num convívio de andebol<br />

adaptado com o CEERIA, revelando-se<br />

um desempenho deveras encorajador e<br />

promissor. Resultante desse primeiro<br />

contato competitivo, surgiu a convocatória<br />

de uma das nossas atletas para<br />

participar num estágio da seleção nacional<br />

de andebol adaptado, podendo<br />

o treinador da CERCILEI indicar outra<br />

atleta que se justificasse a participar<br />

também no referido estágio.<br />

Foi notícia de 1ª página no jornal Diário<br />

de Leiria, trazendo um impacto motivacional<br />

não só nas duas atletas mas também<br />

em toda a equipa.<br />

De acordo com Alves (2000) a prática<br />

regular de atividade física, (…) reforça a<br />

autoestima, promove a alegria de viver<br />

e a qualidade de vida, reforça a vontade<br />

para a ação, promove a disponibilidade<br />

de se aproximar dos outros para comunicar<br />

e conviver, combate eficazmente<br />

atitudes pessimistas, permite a mediação<br />

das suas atividades incidindo sobre<br />

as suas capacidades em desfavor das<br />

limitações.<br />

Para além disso, de acordo com Ferreira<br />

(1993), o desporto contribuiu para<br />

melhorar os padrões normais de movimento,<br />

desenvolve a autonomia motora,<br />

estimula e desenvolve a comunicação,<br />

contribuiu para o autodomínio e confiança,<br />

permite ser uma situação de sucesso<br />

perante si próprio e os outros.<br />

Tendo em conta estes benefícios e<br />

muitos outros subjacentes, o Andebol<br />

é uma realidade em Leiria e agora na<br />

CERCILEI. Desta forma, espera-nos a<br />

participação em mais estágios de preparação<br />

para o Campeonato da Europa,<br />

Andebol-5 ANDDI-PORTUGAL,<br />

Associação Nacional de Desporto para<br />

a Deficiência Intelectual - Portugal .<br />

Mas o sucesso alcançado até agora<br />

não significa que as dificuldades desaparecem.<br />

De facto, os jovens com dificuldade<br />

de equilíbrio, de estruturação<br />

do esquema corporal e de orientação<br />

no espaço são confrontados com novos<br />

problemas nestes domínios (Matos,<br />

1981), mas com treino e persistência, o<br />

processo de aprendizagem segue o seu<br />

curso e os jovens lidam com dificuldades,<br />

mas também com o sucesso.<br />

© DR<br />

Marisa Dias<br />

Terapeuta Ocupacional da CERCILEI<br />

58 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 59


CERCI’S O CAMINHO FAZ SE A ANDAR<br />

© DR<br />

CERCICA<br />

NO MUNDO DA<br />

BLOGOSFERA:<br />

OS CERCICOS<br />

O blogue “Os Cercicos” foi criado em<br />

2012 e partiu da necessidade de dar voz<br />

aos autorrepresentantes da CERCICA e<br />

visibilidade ao seu trabalho, como estratégia<br />

de operacionalização do princípio<br />

da autodeterminação.<br />

A construção deste blogue reuniu, em<br />

parceria, clientes e técnicos que se empenharam<br />

na concretização de uma página<br />

de internet que transmitisse, de<br />

forma clara, o trabalho realizado pelos<br />

clientes e as atividades mais significati-<br />

vas das suas vidas. A intenção foi fazer<br />

chegar a mensagem a um número alargado<br />

de pessoas.<br />

No processo de criação do blogue estiveram<br />

envolvidos, essencialmente, os<br />

autorrepresentantes. No entanto, pretendendo-se<br />

que o blogue espelhasse o<br />

trabalho e as atividades da generalidade<br />

dos clientes, a produção de notícias foi<br />

aberta a todos. Em resultado deste processo,<br />

necessariamente lento, a construção<br />

da primeira versão do blogue foi,<br />

Cristina Figueiredo e Sara Matias<br />

com orgulho de todos, lançada a 30 de<br />

outubro de 2012.<br />

O nome do blogue “Os Cercicos” foi<br />

escolhido, por votação, de entre muitas<br />

ideias criativas surgidas em momento de<br />

brainstorming com clientes. A partir de<br />

então foi iniciado um trabalho contínuo<br />

de produção de notícias, visando a divulgação<br />

de eventos ocorridos na CER-<br />

CICA, das atividades realizadas pelos<br />

formandos, no desenvolvimento dos seus<br />

cursos e ainda, as realizadas nos ateliês,<br />

pelos clientes do Centro de Atividades<br />

Ocupacionais.<br />

Para a produção de notícias e respetiva<br />

edição foi determinante a colaboração de<br />

técnicos, enquanto facilitadores. Importa<br />

sublinhar que este trabalho permitiu, também,<br />

desenvolver competências académicas,<br />

tecnológicas e comunicacionais.<br />

Se no início a produção de notícias pelos<br />

clientes foi um desafio, rapidamente<br />

se tornou numa rotina de trabalho, com<br />

uma forte adesão que conduziu, no ano<br />

de 2015 à edição de 85 notícias – o maior<br />

número até então conseguido. Com o aumento<br />

da produção de notícias e com o<br />

número de visualizações e de partilhas<br />

a aumentar, surgiu a ideia de reformular<br />

o blogue para que contemplasse mais<br />

informação sobre os clientes, sobre a<br />

CERCICA e ainda, sobre assuntos do<br />

dia-a-dia.<br />

No âmbito deste processo de reformulação<br />

foram realizadas reuniões entre técnicos<br />

e clientes, tendo sido decidido pelos<br />

autorrepresentantes, que o blogue passaria<br />

a ter vários separadores: Home com as<br />

notícias | Quem somos | Contactos | O que<br />

fazemos | Agenda | Isto interessa-nos.<br />

Organizou-se, então, um grupo de trabalho<br />

com autorrepresentantes para a<br />

produção dos conteúdos em leitura fácil,<br />

para cada separador.<br />

O novo blogue foi lançado em janeiro de<br />

2016. O trabalho de atualização de conteúdos<br />

tem sido uma tarefa exigente e<br />

constante, mas o envolvimento e a motivação<br />

de todos os participantes contribuiu<br />

para a sua concretização.<br />

A partir do lançamento do novo blogue<br />

iniciou-se a sua divulgação nos encontros,<br />

nos momentos em que se recebem<br />

visitas, no facebook da CERCICA e ainda<br />

por correio eletrónico.<br />

Como diz o autorrepresentante João<br />

Pereira, “…deveria haver um blogue de<br />

clientes nas outras CERCIS para partilharmos<br />

informações e ideias e também<br />

gostávamos que o nosso blogue fosse<br />

visto por muitas pessoas para mostrar a<br />

todos o que somos capazes de fazer”.<br />

Num processo de melhoria contínua, o<br />

blogue tem sido um meio de aprendizagem<br />

informal e uma poderosa estratégia<br />

para o exercício do direito à autorrepresentação.<br />

Seja bem-vindo ao blogue “Os Cercicos”,<br />

o blogue dos clientes da CERCICA!<br />

Conheça as atividades, as opiniões, as<br />

potencialidades, os interesses, as expetativas<br />

e os sonhos dos bloguistas<br />

da CERCICA e visite-nos em https://<br />

oscercicos.wordpress.com/<br />

60 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 61


CERCI’S O CAMINHO FAZ SE A ANDAR<br />

CERCITOP<br />

A REDE NACIONAL DE<br />

CUIDADOS CONTINUADOS<br />

INTEGRADOS<br />

UMA RESPOSTA TAMBÉM AO DISPOR DAS PESSOAS<br />

COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL?<br />

A Rede Nacional de Cuidados Continuados<br />

Integrados – Uma resposta também<br />

ao dispor das pessoas com deficiência<br />

intelectual?<br />

O decreto-lei nº 101/2006 de 6 de junho<br />

cria a Rede Nacional de Cuidados<br />

Continuados Integrados (RNCCI) e define-a<br />

como um modelo de intervenção<br />

integrado e/ou articulado da saúde e da<br />

segurança social, de natureza preventiva,<br />

recuperadora e paliativa.<br />

A RNCCI constitui-se assim, como uma<br />

resposta do Serviço Nacional de Saúde<br />

(SNS) de nível intermédio de cuidados<br />

de saúde e de apoio social entre os de<br />

base comunitária e os de internamento<br />

hospitalar, cujos princípios assentam na:<br />

- equidade no acesso e mobilidade<br />

entre os diferentes tipos de unidades<br />

e equipas da RNCCI; multidisciplinaridade<br />

e interdisciplinaridade na<br />

prestação dos cuidados; dignidade;<br />

não discriminação; pleno exercício<br />

da cidadania.<br />

O referido decreto-lei define também,<br />

que são destinatárias das unidades e<br />

equipas da rede, pessoas que se encontrem<br />

em alguma das seguintes situações:<br />

dependência funcional transitória decorrente<br />

de processo de convalescença ou<br />

outro; dependência funcional prolongada;<br />

idosos com critério de fragilidade;<br />

incapacidade grave e com forte impacto<br />

psicossocial; doença severa em fase<br />

avançada ou terminal.<br />

Os efeitos cumulativos da diminuição da<br />

mortalidade por força também dos avanços<br />

da medicina da melhoria da prestação<br />

de cuidados têm-se traduzido no<br />

progressivo envelhecimento da população.<br />

Esta realidade não é diferente, e está<br />

bem presente na população que as CER-<br />

CI`s atendem, sendo cada vez mais frequente,<br />

encontrarmos nos nossos CAO`s<br />

e Residências pessoas que já passaram a<br />

casa dos 50, com efeitos bem visíveis do<br />

envelhecimento e suas patologias associadas<br />

e em que a condição clínica e os<br />

cuidados necessários, se vão tornando<br />

desafios diários que exigem recursos de<br />

que as CERCI’s não dispõem, nomeadamente<br />

médicos e enfermeiros.<br />

Assentando nestes pressupostos, será<br />

legítimo entender que a RNCCI se constitui<br />

como uma resposta também ao serviço<br />

das pessoas com deficiência intelectual<br />

e suas famílias. Com efeito, à medida<br />

Elisabete Duarte<br />

Diretora Técnica da CERCITOP<br />

que os clientes das CERCI`s vão envelhecendo,<br />

surgem as situações de doença<br />

crónica, internamentos hospitalares que<br />

resultam frequentemente em períodos<br />

de hospitalização prolongados, sendo<br />

que após a alta, muitas das situações se<br />

alteram substancialmente, carecendo de<br />

cuidados diferenciados, especializados e<br />

prolongados no tempo, aos quais as estruturas<br />

ocupacionais e residenciais, por<br />

força da sua organização e recursos, não<br />

podem dar resposta.<br />

Assim poderá surgir a necessidade de<br />

ser ponderada uma referenciação para a<br />

RNCCI numa das tipologias de internamento<br />

- Média Duração e Reabilitação,<br />

com uma duração máxima de 3 meses ou<br />

Longa Duração e Manutenção quando é<br />

expetável que o internamento se prolongue<br />

por um período superior a 3 meses.<br />

Por outro lado, é frequente ao longo dos<br />

anos a família, principal cuidadora, sobretudo<br />

pais, apresentar níveis de cansaço<br />

elevados e comuns naqueles que<br />

cuidam no domicílio, não raro também,<br />

associados à ausência de períodos de<br />

descanso ou mesmo férias para retemperar<br />

forças e organização da vida familiar.<br />

Mais uma vez, a RNCCI poderá ser uma<br />

resposta com a figura do Descanso do<br />

Cuidador em que por avaliação e referenciação<br />

do médico de família, a família<br />

poderá beneficiar de um período máximo<br />

de 30 dias seguidos em que o seu<br />

familiar dependente ou com deficiência<br />

poderá fazer um internamento numa unidade<br />

da RNCCI na tipologia de Longa<br />

Duração e Manutenção.<br />

A nossa experiência diz-nos que estas<br />

situações são ainda muito raras e, poderíamos<br />

mesmo dizer, que não são consideradas<br />

respostas ao serviço das pessoas<br />

com deficiência intelectual.<br />

Cabe a cada um de nós, a sensibilização<br />

dos parceiros da comunidade, sobretudo<br />

dos cuidados de saúde primários, mas<br />

também, dos hospitais e a divulgação e<br />

informação às famílias.<br />

62 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 63


CERCI’S O CAMINHO FAZ SE A ANDAR<br />

CERCIGUI<br />

O QUE FICA<br />

DO QUE PASSA<br />

Em 2017 a CERCIGUI viveu intensamente<br />

as comemorações do seu 40º<br />

Aniversário. Cada vez mais, transformar<br />

a CERCIGUI numa instituição aberta a<br />

todos, muito voltada para a comunidade<br />

e para a cidade nas suas tradições,<br />

vivências e na sua forma única de nos<br />

acarinhar, serviu de mote à programação<br />

das atividades.<br />

Janeiro começou com o relembrar dos 20<br />

anos do CAO Ponte . Os rostos dos nossos<br />

utentes mostraram toda a sua “alma”<br />

na exposição de fotografia patente durante<br />

6 meses no GuimarãeShopping .<br />

As fotografias foram tiradas no contexto<br />

dos ensaios de dança e movimento, como<br />

parte do processo criativo.<br />

A residência artística “VivArt-5 dias 5<br />

noites”, financiada pelo INR, surgiu como<br />

mais um passo em frente na relação entre<br />

os utentes da CERCIGUI e a arte, iniciada<br />

no âmbito da CEC Guimarães 2012.<br />

2017 foi também o ano de reconhecimento.<br />

No evento “CERCIGUI RECO-<br />

NHECE” a instituição reconheceu todos<br />

aqueles que de forma voluntária e entusiasta,<br />

colaboram na Campanha Pirilampo<br />

Mágico que todos os anos envolve<br />

centenas de pessoas.<br />

O Corpo Nacional de Escutas celebrou<br />

o 94º Aniversário em Guimarães onde<br />

cerca de 1000 escuteiros partiram à<br />

descoberta dos monumentos e locais<br />

históricos da cidade. Neste evento, divulgaram-se<br />

os resultados do projeto<br />

inovador “Plataforma Madre Teresa de<br />

Calcutá”, desenvolvido pela CERCIGUI<br />

e que integra desde 2012, utentes da<br />

instituição nos agrupamentos escutistas<br />

de Guimarães. Simbolicamente o CNE<br />

ofereceu a cada participante, o Pirilampo<br />

Mágico 2017.<br />

No Encontro de Empresários, realizado<br />

no Paço dos Duques de Bragança e com<br />

o apoio do INR, abordou-se a temática<br />

da empregabilidade nas pessoas com<br />

deficiência ou incapacidade e reconhecemos<br />

as empresas que integraram nos<br />

seus quadros ex-formandos do CRFP<br />

da CERCIGUI.<br />

Aproveitando o “treino” na Estafeta da<br />

Amizade, que mais uma vez, uniu pela<br />

solidariedade as cidades de Braga e<br />

Guimarães em junho e em cenário de<br />

Feira Afonsina, foram mais de 7000 as<br />

pessoas que integraram a EDP Meia<br />

Maratona de Guimarães e Caminhada<br />

Solidária da CERCIGUI.<br />

Este foi mais um ano, em que muitos atletas<br />

da CERCIGUI, foram medalhados e<br />

bateram até Recordes do Mundo em modalidades<br />

como Judo, Atletismo e Futsal.<br />

Mas não foi só a caminhar ou a correr<br />

que percorremos 2017. Na Concentração<br />

Motard de Guimarães, a solidariedade,<br />

fez-se em duas rodas e também<br />

andámos pelo ar com o Batismo de Voo<br />

de alguns clientes dos Centros de Atividades<br />

Ocupacionais.<br />

Num singelo “tributo” da CERCIGUI à<br />

cidade e aos seus monumentos, inauguramos<br />

o Mural de Azulejos “Porque a<br />

CERCIGUI tem história e cria histórias”.<br />

Em agosto, dezenas de milhares de pessoas<br />

encheram as ruas de Guimarães<br />

para a Marcha Gualteriana que encerra<br />

as Festas da Cidade. Apesar da grandiosidade<br />

e beleza de todas as viaturas,<br />

as maiores salvas de palmas ouviram-se<br />

à passagem do carro comemorativo do<br />

40º Aniversário da CERCIGUI.<br />

O dia de aniversário trouxe o presente<br />

mais desejado. A inauguração da remodelação<br />

do edifício do Centro de Ativi-<br />

dades Ocupacionais II, só possível com<br />

o apoio do Município de Guimarães,<br />

Segurança Social e mecenas sociais<br />

que desde a primeira hora abraçaram<br />

o “CAUSA NOSTRA” , a campanha de<br />

angariação de fundos promovida durante<br />

todo o ano com o objectivo de<br />

encontrar “padrinhos” que ajudem na<br />

reabilitação deste edifício sem qualquer<br />

medida de melhoria nos últimos<br />

anos.<br />

Em novembro rufaram os bombos. O<br />

grupo de percussão CERCISSONS vai<br />

continuar ainda com mais força. Acompanhados<br />

pelos Velhos Nicolinos, fizeram<br />

parar o GuimarãeShopping com o<br />

toque nicolino.<br />

O Jantar Comemorativo do 40º Aniversário<br />

da CERCIGUI reuniu cerca de<br />

500 pessoas. Reviveram-se através de<br />

um vídeo, os momentos que marcaram<br />

a nossa existência. Solenemente foram<br />

também reconhecidos com a medalha<br />

da Instituição, os Voluntários que de<br />

forma sistemática colaboram nas atividades<br />

dinamizadas pela CERCIGUI.<br />

Terminámos as Comemorações dos 40<br />

Anos da CERCIGUI com a boa sensação<br />

de que existe um passado que nos<br />

leva para a frente, para um futuro que<br />

sabemos e queremos promissor.<br />

A CERCIGUI é e será sempre uma instituição<br />

de afetos, mas também de Desporto,<br />

de Educação e de Cultura.<br />

64 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 65


CERCI’S O CAMINHO FAZ SE A ANDAR<br />

CERCIOEIRAS<br />

CRESCER NA DIFERENÇA<br />

LICHINGA – TORNAR VISÍVEL O INVISÍVEL<br />

O Projeto Crescer na Diferença, tornar<br />

Visível o Invisível, nasce da vontade da<br />

Direção da CERCIOEIRAS de colocar o<br />

seu Know-How na área das pessoas com<br />

deficiência, ao serviço da comunidade e,<br />

de certo modo, assumir um papel ativo no<br />

mundo que nos rodeia.<br />

Crescer na Diferença é um projeto promovido<br />

pela CERCIOEIRAS (Oeiras, Portugal),<br />

desde 2015, em parceria com a Universidade<br />

Católica de Moçambique – Extensão<br />

de Lichinga. Segundo dados da Saúde de<br />

Lichinga (2016), 13% da população de Lichinga<br />

tem deficiência. O reconhecimento<br />

da deficiência é um assunto delicado e mal<br />

visto no seio da sociedade moçambicana,<br />

com forte impacto na vida de pessoas com<br />

deficiência e das suas famílias. As famílias<br />

negligenciam as crianças com deficiência,<br />

que na sua maioria vivem sem qualquer<br />

apoio e não frequentam qualquer estrutura<br />

educativa. A invisibilidade das crianças com<br />

deficiência “abandonadas” nos “quintais<br />

das casas”, faz com que o conhecimento do<br />

seu número, das suas patologias e do apoio<br />

e acompanhamento que essas crianças e<br />

suas famílias necessitam, seja mínimo. Face<br />

ao diagnóstico do contexto o presente projeto<br />

tem como objetivos, rastrear, avaliar e<br />

apoiar os casos de crianças e jovens com<br />

deficiência na Cidade e Bairros de Lichinga.<br />

Para a obtenção dos resultados foram<br />

utilizados os métodos da observação direta,<br />

nomeadamente, visitas domiciliárias,<br />

instrumento de sinalização dos casos e a<br />

Schedule of Growing Skills . Das 165 pessoas<br />

já rastreadas, 69 são do sexo feminino<br />

e 96 do sexo masculino, 129 tem menos de<br />

18 anos e destas, somente 15, frequentam<br />

uma estrutura educativa, dos quais 11 apresentam<br />

deficiência física, 2 surdez e somente<br />

1, paralisia cerebral e 1 deficiência intelectual.<br />

As restantes, dos dados disponíveis,<br />

encontram-se em casa. Procurámos saber,<br />

quem são as pessoas com deficiência, com<br />

quem vivem, o que fazem, qual o tipo de<br />

deficiência, qual o apoio que recebem, se<br />

estudam, idade e sexo.<br />

Moçambique é um dos 128 países que ratificaram<br />

a Convenção Sobre os Direitos da<br />

Criança com Deficiência e o Protocolo Opcional.<br />

A Convenção sobre os Direitos da<br />

Criança e a Convenção Sobre os Direitos<br />

da Criança com Deficiência propõem uma<br />

abordagem séria que valorize as competências<br />

das pessoas com deficiência, numa<br />

perspetiva inclusiva, benéfica para toda a<br />

sociedade, cujo foco está na mudança de<br />

atitudes e comportamentos. Cidadãs e cidadãos,<br />

familiares e profissionais precisam<br />

de ser os motores desta mudança, com<br />

base na aprendizagem.<br />

Ocupando o 22º lugar na classificação relativa<br />

à taxa de mortalidade infantil, em<br />

menores de 5 anos, como indicador crítico<br />

de bem-estar da criança (dados relativos a<br />

2011, UNICEF), Moçambique possui 16%<br />

de crianças com baixo peso ao nascer<br />

(menos de 2.5 kg); retardo de crescimento<br />

(moderado e grave) de 43% no período<br />

compreendido entre 2007 e 2011; marasmo<br />

moderado e grave (de 2007 a 2011) na ordem<br />

dos 6%.<br />

De acordo com o Diretor Provincial de<br />

Saúde de Lichinga, 12 a 14% da população<br />

de Lichinga tem deficiência. O reconhecimento<br />

da deficiência continua a ser um<br />

assunto delicado e mal visto no seio da sociedade<br />

moçambicana, com forte impacto<br />

na vida de pessoas com deficiência e das<br />

suas famílias. A maioria dos pais abandona<br />

as mães e as crianças, e procuram outra família<br />

após o nascimento da criança com deficiência.<br />

Estas vivem na sua maioria com as<br />

mães ou com as avós e sem qualquer apoio.<br />

Não frequentam as escolinhas e muito menos<br />

a escola básica. A invisibilidade das<br />

crianças e dos jovens com deficiência faz<br />

com que o conhecimento exato do número<br />

de crianças deficientes, suas patologias e,<br />

consequentemente, o apoio e acompanhamento<br />

que essas crianças/ jovens e suas<br />

famílias necessitam, seja nulo.<br />

Crescer na Diferença – Tornar Visível o Invisível,<br />

visa conhecer para apoiar as instituições/organizações<br />

locais em 3 grandes<br />

áreas:<br />

1 - Rastrear, avaliar e apoiar as crianças<br />

referenciadas;<br />

2 - Formar profissionais de Saúde e de<br />

Educação e sensibilizar os líderes comunitários,<br />

as mães e demais agentes;<br />

3 - Advocacy junto dos atores políticos<br />

para que a deficiência faça parte da sua<br />

agenda política e ponham em prática<br />

a Convenção dos Direitos das Pessoas<br />

com Deficiência.<br />

Foi construído um instrumento de recolha<br />

de dados e uma base de dados (em excel),<br />

que permitiu o tratamento e análise da informação<br />

que se apresenta. A recolha de<br />

dados está a ser obtida através da sensibilização<br />

dos alunos da UCM, diretamente no<br />

Hospital Provincial de Lichinga – serviço<br />

de fisioterapia, em associações locais como<br />

a FAMOD e a Associação Renascer a Vida<br />

e ainda, por todos os que conheçam pessoas<br />

com deficiência. Os dados são ainda<br />

recolhidos através de visitas domiciliárias a<br />

crianças com deficiência.<br />

Os resultados apresentados são resultantes<br />

da análise da base de dados construída em<br />

2015 e reportam à data de 30 de setembro<br />

de 2017.<br />

A base de dados tem vindo a evoluir à<br />

medida que existe um maior conhecimento<br />

do Projeto Crescer na Diferença e que<br />

mais pessoas se encontram envolvidas no<br />

rastreamento de pessoas com deficiência.<br />

Do final de 2015 a 30 de setembro de 2017,<br />

existiu um aumento de 400% do número<br />

de pessoas com deficiência sinalizadas.<br />

Quanto ao sexo, verificámos que 42% são<br />

do sexo feminino e 58% do sexo masculino.<br />

Das 165 pessoas sinalizadas, 129 têm menos<br />

de 18 anos. O maior grupo sinalizado tem<br />

até 4 anos, com 61 crianças. Não podemos<br />

deixar de realçar, e isto mostra bem um<br />

dos constrangimentos que encontramos,<br />

que são as 22 pessoas sem dados. Quem<br />

acompanha as crianças não sabe a idade<br />

delas e os adultos também não sabem a sua<br />

idade, “ perderam-se nos anos”. Um dado<br />

a explorar é a diminuição do número de<br />

pessoas sinalizadas com mais de 15 anos.<br />

Onde estão? Não existem falecidos? Estão<br />

escondidos? De acordo aos dados de que<br />

dispomos, apenas uma criança faleceu depois<br />

de sinalizada.<br />

Quanto aos registos de nascimento, mais de<br />

50%, das pessoas inscritas na Base de Dados,<br />

não tem, ou não sabe, se tem registos<br />

de nascimento.<br />

Das 165 pessoas sinalizadas, só temos o<br />

tipo de deficiência de 147 pessoas o que<br />

significa que, existem 12 sobre as quais<br />

desconhecemos qual o tipo de deficiência.<br />

Dos dados conhecidos o maior número é<br />

das pessoas que apresenta uma deficiência<br />

física, seguidos de 51 pessoas com paralisia<br />

cerebral. No entanto, não podemos deixar<br />

de realçar que dentro do grande número de<br />

66 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 67


CERCI’S O CAMINHO FAZ SE A ANDAR<br />

pessoas com deficiência física não possam<br />

existir mais algumas que a causa tenha sido<br />

uma paralisia cerebral.<br />

Poderemos especular que, a iliteracia das<br />

pessoas que preenchem a base de dados<br />

não lhes permite acrescentar este dado na<br />

ficha de sinalização.<br />

Por outro lado, a Paralisia Cerebral é uma<br />

causa de Deficiência que pode ter como<br />

consequência uma deficiência física. Neste<br />

caso, não sabemos se entre as deficiências<br />

físicas sinalizadas existem casos<br />

em que a causa foi uma paralisia cerebral<br />

ou se nos casos sinalizados com paralisia<br />

cerebral, a principal manifestação é uma<br />

deficiência física.<br />

Por outro lado, sabemos que situações de<br />

pobreza extrema, concomitantes com a escassez<br />

de alimentos, de cuidados de saúde<br />

e da qualidade das interações criança/família,<br />

podem ser responsáveis por um atraso<br />

global no desenvolvimento da criança e,<br />

esse é um dos graves problemas da população<br />

moçambicana. Das 165 pessoas sinalizadas,<br />

129 tem menos de 18 anos e destas,<br />

somente 15 frequentam uma estrutura educativa,<br />

dos quais 11 apresentam deficiência<br />

física, 2 surdez e somente 1, paralisia cerebral<br />

e 1 deficiência intelectual. As restantes,<br />

dos dados disponíveis, encontram-se em<br />

casa. Das restantes 36, com mais de 18 anos<br />

e de acordo com os dados disponíveis, 2<br />

ainda estudam e outras 2 estudaram.<br />

O Projeto Crescer na Diferença permite<br />

evidenciar o desconhecimento do número<br />

de pessoas com deficiência na cidade de<br />

Lichinga. Onde se encontram, o que fazem,<br />

que apoios têm e que obstáculos enfrentam.<br />

Em todo o mundo, milhões de crianças<br />

veem negados os seus direitos e são privadas<br />

de tudo o que precisam para crescer<br />

saudáveis e fortes, devido a terem nascido<br />

com uma deficiência.<br />

Alguns fatores ambientais, tais como, baixo<br />

peso ao nascer e falta de nutrientes dietéticos<br />

essenciais tais como iodo ou ácido fólico,<br />

a prevalência de problemas de saúde<br />

associados a deficiências, é bem reconhecido<br />

na literatura epidemiológica. Mas o<br />

quadro é bastante diferente devido à exposição<br />

a péssimas condições de saneamento,<br />

desnutrição e falta de acesso aos serviços<br />

de saúde (por exemplo, para obter imunização),<br />

todos variam muito no mundo todo,<br />

e geralmente são associados a outros fenómenos<br />

sociais tais como pobreza, a qual<br />

também representa um risco de deficiência.<br />

De forma a colmatar os problemas identificados<br />

é importante uma forte aposta nos<br />

cuidados de saúde materno-infantis, na capacitação<br />

e sensibilização dos profissionais<br />

de saúde e de educação.<br />

Por outro lado, encontra-se em curso a<br />

criação de um Conselho de Proteção para<br />

as Pessoas com Deficiência composto por<br />

elementos da Direção Provincial de Saúde,<br />

dos Serviços da Mulher e Ação Social,<br />

da FAMOD e da UCM que serão garante<br />

que os direitos das pessoas com deficiências<br />

farão parte das agendas políticas.<br />

Os desafios são muitos e variados. Por um<br />

lado a questão da sala de atendimento às<br />

crianças com deficiência, e por outro, a<br />

entrega da base de dados e a constatação<br />

do número de crianças com Paralisia Cerebral<br />

resultantes de eventuais problemas<br />

de parto (partos demorados, sem assistência)<br />

e daí a necessidade de formação<br />

materno-infantil aos técnicos de saúde<br />

que se encontram dispersos nas Unidades<br />

Sanitárias. Por outro lado, sem conhecermos<br />

efetivamente de quem falamos, o tipo<br />

de diagnóstico, não poderemos realizar<br />

um planeamento que vá ao encontro das<br />

necessidades e expetativas dos destinatários<br />

finais.<br />

Conhecer as pessoas com deficiência, a<br />

Ivone Félix<br />

Diretora Executiva<br />

da CERCIOEIRAS<br />

sua idade, onde estão, o que fazem, como<br />

sobrevivem, qual a sua esperança de vida,<br />

os cuidados a que têm acesso, entre outras<br />

variáveis será, decerto, a forma de<br />

tornar visível o que até agora se tem mantido<br />

invisível. Nunca poderemos intervir<br />

naquilo que não conhecemos.<br />

Garantir a articulação entre os serviços<br />

de saúde, educação e ação social. Nada<br />

disto é possível sem uma forte união e<br />

capacitação de todos os intervenientes<br />

e, só assim, Moçambique poderá cumprir<br />

os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável<br />

(ONU, 2015) e a Convenção dos<br />

Direitos das Pessoas com Deficiência<br />

(ONU, 2006).<br />

Referências Bibliográficas:<br />

Bailey, D. B. & Simeonsson, R. J. (1988). Family assesment<br />

in early intervention. Melboune: Merrill publishing<br />

Company.<br />

Comissão Europeia (2011). Aumentar o impacto da<br />

política de desenvolvimento da UE: uma Agenda para a<br />

Mudança, Bruxelas, 13.10.2011.<br />

Governo de Moçambique (2012). Plano Nacional da Área<br />

da Deficiência – PNAD II 2012 – 2019.<br />

ILO, UNESCO, WHO (2004). CBR: A Strategy for<br />

Rehabilitation, Equalization of Opportunities, Poverty<br />

Reduction and Social Inclusion of People with Disabilities.<br />

Joint Position Paper, Geneva.<br />

Leitão, F. R. (1991). Intervenção Educativa Precoce/<br />

um modelo. In Fundação Calouste Gulbenkian<br />

(Ed), IV Encontro Nacional de Educação Especial<br />

“Comunicações” (pp. 75-92). Lisboa: Fundação Calouste<br />

Gulbenkian.<br />

OMS (2014). Relatório Mundial sobre a Deficiência.<br />

Pessanha, M. (2008). Vulnerabilidade e Resiliência no<br />

Desenvolvimento dos Indivíduos: Influência da Qualidade<br />

dos Contextos de Socialização no Desenvolvimento das<br />

Crianças. Fundação Calouste Gulbenkian<br />

PNUD (2013). A ascensão do Sul: Progresso Humano<br />

num Mundo Diversificado. Relatório do Desenvolvimento<br />

Humano<br />

Resolução do Conselho de Ministros n.º 17/2014.<br />

Conceito Estratégico da Cooperação Portuguesa 2014-<br />

2020.<br />

Schulze, M. (2009). Understanding the UN Convention<br />

on the Rights of Persons with Disabilities. Handicap<br />

International<br />

UNICEF (2013). Situação Mundial da Infância 2013:<br />

Crianças com Deficiência.<br />

UNICEF (2016). The State of the world’s Children 2016: A<br />

Faire Chance for every Child.<br />

United Nations (2006). Convention on the Rights of<br />

Persons with Disabilities.<br />

WHO, UNESCO, ILO, IDDC (2010). Community Based<br />

Rehabilitation: CBR Guidelines. Geneva. ‘ Making it Work’<br />

database.lo<br />

Zanini, G., Cemin, N.F., Peralles, S. N (2009). PARALISIA<br />

CEREBRAL: causas e prevalências. Fisioterapia Mov.,<br />

Curitiba, v. 22, n. 3, p. 375-381.<br />

CERCISIAGO<br />

UMA<br />

HISTÓRIA DE<br />

CONQUISTAS<br />

E AMOR!!<br />

A História da CERCISIAGO é semelhante<br />

à história de outras CERCI´S, sobretudo<br />

no desejo, no acreditar e na vontade<br />

de encontrar um lugar para a diferença.<br />

Um abrir caminhos, mudar consciências<br />

e mentalidades.<br />

Ir mais longe, ousar olhar, criar e responder<br />

às necessidades mais importantes do<br />

Ser Humano! A sua dignidade, vida e os<br />

seus direitos fundamentais!<br />

Sim, passaram 40 anos…<br />

Estamos mais crescidos, mais experientes,<br />

mais desejosos de querer mais.<br />

Crentes de que é preciso mais e melhor!<br />

Sempre prontos para aceitar e abraçar<br />

novos desafios e dar respostas concretas<br />

de qualidade às pessoas<br />

com deficiência.<br />

A nossa história escreve-se<br />

e conta-se de<br />

rostos concretos, gestos<br />

profundos e genuínos,<br />

conquistas, sorrisos,<br />

emoções, partilhas,<br />

vidas e de eternidade.<br />

Gostaríamos de partilhar<br />

esta data com todos<br />

que ao longo destes<br />

anos têm feito parte<br />

da nossa vida e nos têm<br />

ajudado a escrever a<br />

nossa história.<br />

68 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 69


CERCI’S O CAMINHO FAZ SE A ANDAR<br />

CERCICAPER<br />

CULTIVAR A INCLUSÃO<br />

É de geração em geração, desde o nascimento<br />

da CERCICAPER, que a instituição<br />

visa integrar no mercado de trabalho<br />

as pessoas com deficiência às quais dá<br />

resposta, sendo esta uma tarefa que se<br />

tem vindo a revelar de grande dificuldade.<br />

Neste sentido, e a fim de contrariar esta<br />

limitação, candidatámo-nos ao Programa<br />

FACES – Financiamento e Apoio para o<br />

Combate à Exclusão Social da Fundação<br />

Montepio, que promove e apoia projetos<br />

na área da empregabilidade da pessoa<br />

com deficiência. Concorremos com o<br />

projeto denominado “Cultivar a Inclusão”,<br />

que tem por objetivo empregar<br />

esta população especial, através da implementação<br />

de uma produção de ervas<br />

aromáticas, condimentares e infusões.<br />

Assim que foi obtida a aprovação e consequente<br />

financiamento do projeto, começámos<br />

a trabalhar para alcançar os<br />

objetivos a que nos tínhamos proposto.<br />

Encontramo-nos agora em fase de arranque<br />

e implementação do mesmo.<br />

O objetivo específico passa por abranger<br />

doze dos nossos clientes do Centro<br />

de Atividades Ocupacionais que estarão<br />

em permanência a trabalhar no terreno,<br />

no âmbito do Plano de Atividades desta<br />

resposta social, bem como, três ex-formandos<br />

do nosso Centro de Formação<br />

Profissional, cuja expetativa passa por<br />

ser um processo de transição, com vista<br />

à futura inserção no mercado de trabalho.<br />

Desenhou-se o projeto de forma a produzir<br />

em modo de agricultura biológica,<br />

tendo já sido submetido o pedido de certificação.<br />

Além da produção pretende-se efetuar<br />

a comercialização dos produtos, após<br />

todo o processo de secagem das plantas,<br />

embalamento e etiquetagem, que serão<br />

também realizados pelos clientes.<br />

O “Cultivar a Inclusão” conta com parcerias<br />

estratégicas, que na nossa opinião,<br />

valorizam muito o crescimento e<br />

desenvolvimento do mesmo. Entre os<br />

parceiros com quem já estabelecemos<br />

protocolos, referimos o Município de<br />

Castanheira de Pera, a União das Freguesias<br />

de Castanheira de Pera e Coentral,<br />

a ONG - Médicos do Mundo, a Escola<br />

Superior Agrária de Coimbra e FICAPE<br />

- Cooperativa Agrícola do Norte do Distrito<br />

de Leiria.<br />

Estas sinergias serão muito importantes,<br />

não só na fase de arranque do projeto,<br />

mas também na divulgação da marca que<br />

pretendemos criar e na sua implementação<br />

no mercado.<br />

Para concluir, é de salientar a importância<br />

e a relevância do “Cultivar a Inclusão”<br />

para a Instituição, já que para além<br />

de elevar o seu nome, vai ao encontro da<br />

sua missão e valores humanos praticados<br />

por quem nela trabalha diariamente.<br />

CERCIESPINHO<br />

DA RUA PARA O MUNDO!<br />

O Contrato Local de Desenvolvimento<br />

Social de Espinho (CLDS 3G – “Espinho<br />

Vivo”), trabalha temáticas que vão<br />

de encontro com às preocupações dos<br />

habitantes do Concelho. A formação<br />

profissional e o combate ao desemprego<br />

estão no topo da “pirâmide” de operações.<br />

O trabalho com crianças e jovens,<br />

a promoção do envelhecimento ativo e<br />

o trabalho na comunidade, são outras<br />

áreas de intervenção deste projeto. De<br />

facto, a mudança de comportamento e<br />

de atitudes em relação a certos aspetos<br />

do quotidiano dos indivíduos, assume-se<br />

como transversal a todos os eixos de intervenção.<br />

A CERCIESPINHO, enquanto entidade<br />

executora do Contrato Local de Desenvolvimento<br />

Social de Espinho (EIXO 2),<br />

promoveu o contato de jovens residentes<br />

nos complexos habitacionais de Espinho,<br />

com uma nova modalidade desportiva:<br />

Futebol de Rua! Este desporto, para além<br />

de combater o sedentarismo, treina a<br />

vertente social, promove o contato entre<br />

jovens de outros contextos e fomenta o<br />

trabalho em prol de normas e valores socialmente<br />

partilhados. A inclusão social e<br />

o trabalho em equipa estiveram sempre<br />

presentes, ao longo deste ano.<br />

Em 2017, com a parceria da Associação<br />

CAIS, foi organizado, no Complexo Habitacional<br />

da Ponte de Anta, o primeiro<br />

Torneio Concelhio da modalidade. Esta<br />

competição transportou 47 atletas da<br />

cidade de Espinho para a final distrital<br />

que teve lugar em Aveiro. Com o ânimo a<br />

crescer, constituíu-se uma equipa feminina<br />

que defendeu com unhas e dentes as<br />

cores da CERCIEPINHO e do concelho<br />

no torneio nacional de Futebol de Rua<br />

Fotos: DR<br />

(Batalha). Mas, a viagem não havia terminado<br />

aí… Em novembro de 2017, 4 atletas<br />

representaram a Seleção Nacional de Futebol<br />

de Rua no “European Street Football<br />

Festival” que teve lugar na magnífica cidade<br />

de Manchester, em Inglaterra.<br />

Todas estas experiências contribuíram para<br />

que jovens residentes em complexos habitacionais<br />

do concelho de Espinho, tivessem<br />

oportunidade de conhecer novas<br />

realidades, partilhar sentimentos e emoções<br />

e fundamentalmente, desenvolver o<br />

gosto em viver na comunidade na qual<br />

estão inseridos.<br />

Em 2018, participaremos novamente em<br />

todas as fases que dão acesso ao torneio<br />

nacional e já foram efetuadas as candidaturas<br />

para participação na competição<br />

mundial que se realizará na Rússia do<br />

próximo ano. Esperemos ter sorte!<br />

© DR<br />

Rui Jorge<br />

Técnico de Serviço Social da CERCIESPINHO<br />

70 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 71


CERCI’S O CAMINHO FAZ SE A ANDAR<br />

CERCIAG<br />

CONSIGO<br />

TODOS OS DIAS<br />

No âmbito da comemoração dos seus 40<br />

anos, a CERCIAG, juntamente com algumas<br />

empresas parceiras, desenvolveu<br />

uma Campanha com o intuito de sensibilizar<br />

e comprometer a comunidade e<br />

entidades empregadoras a conhecerem<br />

a realidade sobre a empregabilidade<br />

de pessoas com deficiência e incapacidade.<br />

É também uma Campanha que<br />

pretende quebrar barreiras e tabus que<br />

ainda existem na sociedade atual sobre<br />

as capacidades e a participação destas<br />

pessoas, a nível profissional.<br />

“Consigo... sou capaz!” – um Projeto<br />

cofinanciado pelo Programa de Financiamento<br />

a Projetos pelo INR, I. P., foi<br />

logo à partida uma aposta ganha pelo<br />

empenho e dedicação de todos os parceiros<br />

envolvidos, desde as empresas ao<br />

profissional de fotografia, passando inevitavelmente<br />

pelas pessoas que deram a<br />

cara com orgulho e satisfação.<br />

A campanha foi divulgada em outdoors<br />

e cartazes na cidade de Águeda, jornais<br />

e revistas locais e em diversas plataformas<br />

digitais, tornando-se viral logo no<br />

momento do seu lançamento. Além do<br />

impacto e da visibilidade duma realidade<br />

tantas vezes ignorada, foi também<br />

uma forma de reconhecer todas as empresas<br />

e organizações que ao longo dos<br />

anos têm caminhado lado a lado com a<br />

CERCIAG na construção duma sociedade<br />

mais justa e mais inclusiva através<br />

das oportunidades que proporcionam<br />

a pessoas com deficiência, tendo consciência<br />

que além do trabalho que estas<br />

pessoas desenvolvem, trazem muitas<br />

vezes, verdadeiras lições de vida aos<br />

colaboradores das empresas que as recebem<br />

nas suas equipas.<br />

Acreditamos que a Isabel, a Carla, o<br />

Fernando, a Rosa, o Paulo, o António,<br />

o Álvaro, o Armando, o Carlos e o<br />

João são o rosto de tantos outros que<br />

todos os dias, com vontade, força, alegria<br />

e dedicação dão o seu contributo,<br />

e de forma entusiasta demonstram que<br />

CONSEGUEM! SÃO CAPAZES!<br />

CERCIAV<br />

DA COMUNICAÇÃO<br />

À EXPRESSÃO<br />

O Centro de Recursos para a Inclusão<br />

(CRI) tem como missão implementar o<br />

Modelo de Educação Inclusiva dos Alunos<br />

com Necessidades Educativas Especiais<br />

numa abordagem centrada no aluno e na<br />

interação entre este e os ambientes em que<br />

participa, visando o desenvolvimento do<br />

seu potencial de aprendizagem global.<br />

No âmbito das práticas do modelo inclusivo,<br />

o terapeuta da fala, como profissional<br />

integrante da equipa técnica do CRI, tem<br />

como função a avaliação das competências<br />

comunicativas do aluno. Quando existe algum<br />

tipo de incapacidade de origem neurológica,<br />

física, emocional ou cognitiva, podem<br />

surgir dificuldades na interação social<br />

e na comunicação.<br />

Define-se a comunicação como um processo<br />

complexo e ativo de troca de informação<br />

entre pelo menos dois intervenientes<br />

para transmitir uma informação (ideias,<br />

desejos, necessidades, vontades), requerendo<br />

a combinação de capacidades motoras,<br />

cognitivas, sensoriais e sociais que<br />

potenciam a interação, o acesso ao mundo<br />

e a aprendizagem. Preferencialmente, o<br />

indivíduo comunica através da fala com o<br />

mundo envolvente, no entanto, existem diversas<br />

formas de comunicação não-verbal<br />

e verbal, tais como o olhar, expressões corporais,<br />

mímica facial, gestos, sons, escrita,<br />

imagens, entre outras. Sendo a fala o meio<br />

natural pelo qual comunicamos uns com os<br />

outros no nosso dia-a-dia, nos diferentes<br />

contextos, quando existe um comprometimento<br />

da fala, existirão barreiras na comunicação?<br />

Muitas, certamente! Tomando<br />

como referência, a intervenção do terapeuta<br />

da fala do CRI junto das crianças com<br />

dificuldades na interação e comunicação,<br />

constata-se que a forma como estas interagem<br />

e comunicam com o mundo, constituem<br />

uma barreira à comunicação. Neste<br />

sentido, torna-se fundamental a seleção e<br />

implementação de um sistema aumentativo<br />

e alternativo de comunicação, que mais se<br />

adeque ao perfil de funcionalidade do aluno,<br />

facilitando a interação comunicativa nos<br />

diferentes ambientes em que participa.<br />

O recurso a objetos tangíveis, gestos, expressões<br />

faciais, vocalizações e símbolos<br />

pictográficos e imagens, constituem estratégias<br />

e técnicas de comunicação aumentativa<br />

e alternativa. Para tal, existem<br />

diversas tecnologias (baixa e alta), tais<br />

como, as tabelas e cadernos de comunicação,<br />

mapas, digitalizadores de voz, GRID,<br />

Speaking Dinamically, entre outros. Para<br />

além da intervenção direta com o aluno,<br />

torna-se fundamental que o terapeuta da<br />

fala capacite os vários contextos comunicativos,<br />

através de diversas modalidades<br />

de intervenção (individual, em grupo ou<br />

consultoria), de forma a criar oportunidades<br />

para a sua participação.<br />

Sendo a comunicação um pilar na inclusão,<br />

a implementação de um sistema aumentativo<br />

e alternativo de comunicação poderá ser<br />

um facilitador em todo o processo inclusivo<br />

do aluno, promovendo a igualdade de<br />

oportunidades e consequentemente, o seu<br />

sucesso educativo.<br />

72 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 73


CERCI’S O CAMINHO FAZ SE A ANDAR<br />

C.E.C.D.<br />

A IMPORTÂNCIA<br />

DO PROGRAMA CIDADANIA PARA O DESENVOLVIMENTO<br />

DE COMPETÊNCIAS PESSOAIS E SOCIAIS<br />

A matriz epistemológica histórico-cultural<br />

considera que o desenvolvimento<br />

e a aprendizagem se interrelacionam<br />

desde o nascimento, estabelecendo<br />

um movimento dialético que assiste à<br />

constituição da pessoa. Sabe-se que às<br />

pessoas com Dificuldades Intelectuais<br />

e Desenvolvimentais (DID), falta-lhes,<br />

muitas vezes, as condições mínimas<br />

necessárias a um desenvolvimento saudável.<br />

Estas, muitas vezes, associadas<br />

à carência de competências pessoais<br />

e sociais ajustadas às caraterísticas e<br />

exigências do contexto social onde se<br />

inserem e onde se pretende que estejam<br />

incluídas.<br />

Contrariar a tendência de exclusão<br />

passa pela adaptação do contexto às<br />

especificidades individuais, promovendo<br />

um ambiente acessível a todos.<br />

Mas passa também pela capacitação<br />

das pessoas com informação esclarecida.<br />

Implica desenvolver um conjunto<br />

de conceitos sobre direitos e deveres,<br />

para que, dentro das suas especificidades,<br />

cada um se sinta incluído, tenha<br />

oportunidade para fazer escolhas informadas<br />

e possa exercer a sua cidadania<br />

ativa.<br />

Para que isto se efetive, é também determinante<br />

a capacitação daqueles que<br />

asseguram a prestação do cuidado,<br />

respondendo à necessidade de desenvolver<br />

competências de enquadramento<br />

e entendimento do cuidado numa<br />

perspetiva centrada na pessoa.<br />

Ao longo dos seus 41 anos de existência,<br />

o C.E.C.D. Mira Sintra tem investido<br />

na formação dos seus colaboradores<br />

numa perspetiva de melhoria contínua,<br />

que visa assegurar a qualidade de vida<br />

das pessoas que atende. No caso dos<br />

supervisores do Centro de Emprego<br />

Protegido, a experiência demonstrou-<br />

-nos a mais-valia de desenvolver ações<br />

formativas de uma forma coparticipada,<br />

considerando a capacitação das<br />

pessoas com DID, daqueles que os<br />

enquadram laboralmente no dia-a-dia<br />

e dos respetivos familiares e significativos.<br />

É assim que surge em 2017 o Programa<br />

Cidadania – Desenvolvimento de Competências<br />

Pessoais e Sociais, elaborado<br />

e ministrado pela equipa de enquadramento<br />

psicossocial da Curva Quatro.<br />

Os familiares e significativos foram<br />

convidados a participar em grupos de<br />

reflexão e sensibilização para a temática,<br />

enquanto os filhos beneficiavam de<br />

ações dirigidas simultaneamente a si e<br />

aos supervisores.<br />

O programa abrangeu 42 colaboradores<br />

com DID e 10 supervisores, divi-<br />

didos em 4 grupos de 13 participantes,<br />

durante um período aproximado de 4<br />

sessões de 1h30, com periodicidade<br />

semanal.<br />

As atividades foram concebidas com<br />

vista à resposta das necessidades específicas<br />

identificadas na avaliação diagnóstica,<br />

organizando-se num conjunto<br />

estruturado de sessões, enquadradas<br />

teórica e empiricamente, segundo os<br />

pressupostos da perspetiva de Vygotsky<br />

(potenciar em cada pessoa a sua<br />

“zona de desenvolvimento proximal”) e<br />

na perspetiva de aprendizagem sociocognitiva<br />

de Bandura (ação de aspetos<br />

sociais, cognitivos e emocionais no<br />

processo de aprendizagem).<br />

A definição dos grupos foi constituída<br />

numa perspetiva de aprendizagem<br />

colaborativa, integrando elementos<br />

em diferentes níveis de aprendizagem,<br />

embora próximos na capacidade para<br />

a realização das tarefas. Aqui, tanto as<br />

facilitadoras como os supervisores e<br />

os colegas com competências cognitivas<br />

mais desenvolvidas, funcionaram<br />

também como mediadores. E porquê?<br />

Sabemos que grande parte das nossas<br />

aprendizagens se efetuam através da<br />

observação dos modelos sociais existentes<br />

e com os quais contatamos. A<br />

socialização pressupõe uma sequência<br />

de experiências de aprendizagem social,<br />

cujo resultado é a integração da<br />

pessoa na sociedade.<br />

Assumiu-se assim uma perspetiva preventiva,<br />

contrariando a tendência de<br />

focalização nas dificuldades, promovendo<br />

competências e a participação<br />

ativa na reflexão do exercício da cidadania,<br />

promovendo contextos de reflexão<br />

de conceitos e a sua transposição<br />

para outros contextos da vida.<br />

Laura Pimpão<br />

Psicóloga Clínica do Centro de Emprego<br />

Protegido do C.E.C.D. MIRA SINTRA<br />

CERCIMONT<br />

QUEM SOMOS?<br />

A CERCIMONT foi constituída em 2011 por<br />

um grupo de cidadãos empenhados na causa<br />

da deficiência. Desde a sua constituição<br />

até à abertura da primeira valência, passaram<br />

5 anos. O Centro de Atividades Ocupacionais<br />

da CERCIMONT abriu no dia 15 de<br />

setembro de 2016 com 16 utentes, e tendo<br />

neste momento 27 utentes do concelho de<br />

Montalegre, que tem cerca de 800 Km2, o<br />

que torna a questão dos transportes muito<br />

complicada e dispendiosa. Contamos com<br />

o apoio da Câmara Municipal de Montalegre<br />

na cedência das nossas instalações e<br />

no transporte dos nossos clientes. Importa<br />

referir que sem este apoio, seria impossível<br />

ter o CAO a funcionar. O nosso Quadro de<br />

Pessoal é constituído por 11 colaboradores<br />

que inclui a Diretora Técnica, Psicóloga,<br />

Assistente Social, Fisioterapeuta, Terapeuta<br />

Ocupacional, 2 Monitores e 4 Auxiliares.<br />

Nunca existiu no concelho de Montalegre<br />

nenhum tipo de resposta para as pessoas<br />

com deficiência o que transforma esta nossa<br />

causa numa luta difícil e diária. Estamos<br />

empenhados em prestar um serviço de excelência<br />

e temos a ambição de, num futuro<br />

próximo, lançar o projeto de construção de<br />

um Lar Residencial e Residência Autónoma,<br />

para poder prestar apoio aos mais dependentes<br />

e permitir dar autonomia aos mais<br />

capazes.<br />

Sandra Batista<br />

Diretora Técnica da CERCIMOT<br />

74 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 75


CERCI’S O CAMINHO FAZ SE A ANDAR<br />

CERCIPENICHE<br />

DA TRADIÇÃO À INCLUSÃO<br />

JOGOS TRADICIONAIS NA PRAÇA DO MOINHO<br />

Fotos: DR<br />

Desde início que o objetivo principal<br />

deste projeto foi fundamentalmente a<br />

interação intergeracional – pessoas com<br />

deficiência, população sénior e crianças,<br />

no vivenciar e na partilha de experiências<br />

relacionadas com os jogos tradicionais e<br />

na promoção de valores como a solidariedade,<br />

o património cultural e a inclusão.<br />

Estes serão um estímulo à promoção<br />

da nossa identidade, na inclusão das<br />

pessoas com deficiência, porque relatam<br />

a história e cultura da nossa região e do<br />

nosso país. Resgatar a história dos jogos,<br />

das brincadeiras e jogos tradicionais de<br />

outros tempos como expressão da nossa<br />

história e cultura, na mostra de estilos de<br />

vida e maneiras de pensar, sentir, falar e<br />

sobretudo, maneiras de brincar e interagir,<br />

configurando-se em presença viva de<br />

um passado presente.<br />

Foi lançado o desafio aos nossos parceiros<br />

para realizarem pesquisa e recolha de<br />

jogos de outros tempos, quer pelas vivências,<br />

quer por documentação existentes.<br />

Posteriormente, dado o inúmero de<br />

jogos apresentados foi necessário realizar<br />

uma seleção, recuperando tradições e<br />

adequando-os à população alvo. Seguiu-<br />

-se a construção de Jogos Tradicionais<br />

em conjunto com os parceiros envolvidos<br />

no projeto, aquisição de materiais e estruturas<br />

de apoio ao espaço envolvente<br />

por forma a criar condições para a sua<br />

realização e o seu desenvolvimento.<br />

O passo seguinte foi fazer o convite à<br />

comunidade escolar, famílias dos clientes,<br />

à população sénior e à comunidade<br />

em geral para a participação ativa nas<br />

atividades que iríamos desenvolver. Com<br />

o objetivo de aprender hábitos dos avós<br />

que foram crianças num mundo menos<br />

digitalizado, criar curiosidade na geração<br />

jovem para aprender jogos tradicionais<br />

que praticamente não são jogados nos<br />

dias de hoje. Ao contrário dos jogos de<br />

computador e outros jogos eletrónicos,<br />

os jogos tradicionais incentivam à relação<br />

e no estreitar de laços afetivos entre os<br />

jogadores e ao mesmo tempo, a serem<br />

fisicamente ativos.<br />

Assim com a colaboração de todos os que<br />

contribuíram para a pesquisa, recolha e<br />

construção de jogos, conseguimos pôr<br />

em prática um conjunto de 18 Jogos Tradicionais<br />

que têm feito a delícia de todos<br />

quantos têm participado nestes convívios<br />

entre gerações. Os jogos que selecionámos,<br />

entre uma quantidade imensa de<br />

tantos outros jogos e que pensámos que<br />

se adequavam mais quer aos clientes da<br />

CERCIPENICHE que atendemos, como à<br />

população mais jovem são: Jogo da Banca,<br />

Jogo da Carreta, Corrida de Sacos,<br />

Macaca ou Aeroplano, Jogo dos Batos,<br />

Saltar à corda, Macaquinho do Chinês,<br />

Celso Antunes<br />

Jogo da Malha/Chinquilho, Jogo do Pião,<br />

Jogo do Galo, Jogo do Burro, Jogo do Telefone,<br />

Aqui Vai o Lenço, Jogo da Corda<br />

de Tração, Barra do Lenço, Jogo das Latas,<br />

Jogo do Arco e Jogo da Chula.<br />

Até ao final de dezembro, contámos com<br />

331 participantes que jogaram conjuntamente<br />

com os Clientes do ocupacional da<br />

CERCIPENICHE.<br />

Este projeto foi Financiado pelo Programa<br />

de financiamento a Projetos do INR<br />

- Instituto Nacional para a Reabilitação,<br />

sem o qual não seria possível o desenvolvimento<br />

do projeto nas mesmas condições.<br />

“O jogo é o mais eficiente meio estimulador<br />

das inteligências. O espaço do jogo<br />

permite que a criança ou até o adulto,<br />

realize tudo quanto deseja”<br />

76 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 77


CERCI’S O CAMINHO FAZ SE A ANDAR<br />

CERCIBRAGA<br />

RECURSOS DESPORTIVOS<br />

EM REDE<br />

Em 2014, a CERCI Braga iniciou um projeto<br />

de Escalada Adaptada com muitas<br />

incertezas, mas com muita vontade de<br />

fazer algo diferente que permitisse que<br />

as competências do nosso grupo de<br />

clientes sobressaíssem. O desafio foi lançado<br />

pelo Clube de Escalada de Braga e<br />

o seu mentor, Filipe Costa, que acreditou<br />

que podíamos ir mais longe. Iniciámos<br />

com um grupo mais restrito, com mais<br />

autonomia e bastante motivado. Fomos<br />

ao longo deste tempo tendo avanços e<br />

recuos, e alguns dos que iniciaram, perceberam<br />

que esta não era a modalidade<br />

que pretendiam, por isso não continuaram,<br />

mas outros mantêm-se muito motivados<br />

e todas as semanas aguardam com<br />

expetativa, a sessão de escalada. Para<br />

uns definimos objetivos individuais mais<br />

ambiciosos, com um grau de exigência<br />

no treino maior, enquanto que, para outros,<br />

o fator motivação e cumprimento<br />

de pequenas metas semanais permite-<br />

-nos continuar a investir nesta modalidade.<br />

Da parceria da CERCI Braga com<br />

o Clube de Escalada de Braga, surgiu a<br />

ideia de se realizar em 2015 a I Prova<br />

Nacional de Escalada Adaptada onde<br />

foram envolvidos todos os praticantes<br />

da modalidade com deficiência intelectual,<br />

visual ou física. A III edição desta<br />

prova realizou-se no ano passado e<br />

permitiu perceber que cada vez mais<br />

jovens e instituições, acreditam na escalada<br />

como um desporto inclusivo.<br />

A trajetória positiva com a escalada<br />

fez-nos pensar mais além e contribuiu<br />

para que a estratégia passasse por explorar<br />

outras modalidades e voltássemos<br />

a aceitar novos desafios, que numa<br />

fase inicial, pareciam pouco concretizáveis.<br />

E é assim que surge o convite da<br />

Academia de Patinagem de Guimarães<br />

para sermos parceiros de um projeto<br />

de patinagem adaptada. Várias outras<br />

instituições estiveram envolvidas, uma<br />

delas foi a CERCIGUI, contudo, esta<br />

iniciativa tinha os seus dias contados<br />

logo à partida. À semelhança de muitos<br />

outros projetos, a duração deste, também<br />

estava dependente do valor de financiamento,<br />

por isso sabíamos desde o<br />

início que teríamos de encontrar outras<br />

formas de dar continuidade à modalidade.<br />

Da nossa abertura à comunidade<br />

e de um amigo em especial, Elisário<br />

Cunha, da empresa Lalo & Wind surgiu<br />

o convite para arriscarmos numa outra<br />

modalidade, o Stand UP Paddle (SUP).<br />

Ainda pouco conhecida para alguns, o<br />

SUP tornou-se uma modalidade que<br />

com as devidas adaptações resultava e<br />

podia ser praticada por pessoas com<br />

incapacidade. As adaptações neste desporto<br />

podem incluir meras alterações ao<br />

nível da distância a percorrer, existência<br />

ou não de supervisão, escolha de locais<br />

mais seguros.<br />

E é nestas circunstâncias de experimentação<br />

de diferentes modalidades e<br />

de uma clara escassez de recursos que<br />

submetemos uma candidatura ao Instituto<br />

Nacional de Reabilitação com o<br />

projeto “ReDe” - Centro de Recursos<br />

Desportivos em Rede. Com o ReDe<br />

criámos um Centro de Recursos onde<br />

se reuniram os equipamentos e os materiais<br />

necessários à prática da Patinagem,<br />

SUP, Escalada, SNAGolf e Karaté.<br />

Estes recursos eram disponibilizados<br />

às instituições locais, cabendo às mesmas<br />

conseguir os recursos humanos<br />

habilitados. Mas rapidamente percebemos<br />

que surgia um outro problema,<br />

as entidades não tinham os recursos<br />

humanos necessários. Neste sentido, a<br />

Câmara Municipal de Braga compreendendo<br />

a necessidade de ser mais proativa<br />

relativamente ao desporto para<br />

pessoas com deficiência, criou o Centro<br />

Municipal de Desporto Adaptado<br />

onde, atualmente, apoia algumas atividades<br />

e permite que várias instituições<br />

e jovens e adultos com deficiência, tenham<br />

a oportunidade de estarem mais<br />

incluídos através do desporto.<br />

78 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 79


CERCI’S O CAMINHO FAZ SE A ANDAR<br />

CERCIPOM<br />

À CONVERSA E CONTRA<br />

A VIOLÊNCIA<br />

Entre os dias 26 e 28 de setembro a CER-<br />

CIPOM esteve presente em Bruxelas no<br />

“Leadership Training for Self - Advocates<br />

and for Family Members” organizado pela<br />

Inclusion Europe. Esta formação além de<br />

proporcionar o encontro de autorrepresentantes<br />

e membros de famílias de vários países<br />

da União Europeia, teve como objetivo<br />

principal, a partilha de experiências e o desenvolvimento<br />

de capacidades para moldar<br />

as políticas da União Europeia.<br />

O tema principal em discussão era a “Violência<br />

contra mulheres com deficiência intelectual<br />

nos diversos contextos”, onde através<br />

da apresentação do estudo ainda em<br />

curso de Juultje Holla, “Life after violence”<br />

(vida depois da violência), se concluiu ainda<br />

haver muito a fazer para prevenir e cessar<br />

esta problemática. Na procura de dar um<br />

primeiro passo para se fazerem ouvir, todos<br />

os participantes dos diferentes países tiveram<br />

a oportunidade de levar esta problemática<br />

ao Parlamento Europeu, onde estiveram<br />

reunidos com Membros do Parlamento<br />

(MEP), nos seus gabinetes de trabalho, tendo<br />

aí apresentado alguns testemunhos pessoais,<br />

bem como, algumas das conclusões já<br />

obtidas pelo referido estudo.<br />

O grupo da CERCIPOM aí presente, esteve<br />

reunido com dois MEP´s da Polónia o Sr<br />

Marek Plura e Sr.ª Agnieszka Kozlowska-<br />

-Rajewicz e o com o assistente da MEP<br />

grego Sr.Kostadinka Kuneve, que se mostraram<br />

solícitos para os ouvir e participar<br />

em futuros debates no Parlamento Europeu<br />

onde se contestem questões relacionadas<br />

com a pessoa com deficiência intelectual.<br />

A autorrepresentante Cátia Freitas descreve<br />

que toda esta experiência foi importante,<br />

não só por ter o privilégio de representar<br />

o seu País e Instituição, como de conhecer<br />

pessoas maravilhosas e outras experiências<br />

de vida.“Para mim, é um tema muito forte,<br />

que me comove muito, mesmo quando escuto<br />

histórias de vida de outras pessoas<br />

que vivem este problema. A mensagem<br />

que trago é de partilha de histórias, não<br />

ter medo de falar”. Para Cátia Martins, representante<br />

dos membros de família pela<br />

CERCIPOM “toda esta formação foi, sem<br />

dúvida, muito interessante, enriquecedora<br />

em termos pessoais, permitindo conhecer<br />

pessoas com e sem deficiência corajosas,<br />

perseverantes e com um coração enorme,<br />

que todos os dias lutam pelo direito a uma<br />

vida melhor”.<br />

A colaboradora Simone Rodrigues considera<br />

que esta foi sem dúvida uma marca importante<br />

para a CERCIPOM, sendo a única<br />

Instituição Portuguesa a estar presente neste<br />

encontro, permitiu não só dar a conhecer<br />

a Instituição fora de fronteiras, bem como,<br />

reforçar todo o trabalho que tem vido a ser<br />

desenvolvido pelo grupo dos autorrepresentantes,<br />

acreditando que este deve ser<br />

um trabalho de continuidade por forma a<br />

dar voz a todas as pessoas com deficiência<br />

intelectual.<br />

Simone Rodrigues<br />

© DR<br />

CEERDL<br />

INCLUSÃO PELO TRABALHO<br />

No Centro de Educação Especial Rainha<br />

D. Leonor a prestação de serviços de lavandaria<br />

iniciou em 1999. Tem cumprido<br />

objetivos de inclusão socioprofissional de<br />

pessoas com vulnerabilidades e gerado<br />

anualmente resultados líquidos sustentáveis.<br />

A Lavandaria da Rainha é uma oportunidade<br />

para a igualdade social e um<br />

desafio à mudança: desafia estereótipos e<br />

preconceitos, esbatendo medos e receios;<br />

desafia a discriminação e desperta consciências<br />

porque promove a aceitação das<br />

pessoas com deficiência pelos seus pares<br />

e pelas suas comunidades, obrigando-nos<br />

a olhar as diferenças com mais igualdade!<br />

Dando visibilidade ao potencial de trabalho<br />

dos seus trabalhadores, a Lavandaria<br />

da Rainha tem contribuído para a<br />

diminuição do estigma social que associa<br />

a deficiência à incapacidade para o<br />

emprego. A integração socioprofissional<br />

neste serviço, além de representar fonte<br />

de rendimento para agregados familiares<br />

desfavorecidos, tem impacto na autonomia,<br />

motivação e realização pessoal, fatores<br />

essenciais para a cidadania ativa. Tratando-se<br />

da integração profissional de<br />

públicos vulneráveis, o acompanhamento<br />

aos colaboradores é multidimensional e<br />

holístico, sendo que o investimento na<br />

sua produtividade, implica um envolvimento<br />

da Organização que não finda no<br />

indivíduo estendendo-se à sua rede familiar<br />

e social.<br />

O CEERDL propôs à Fundação EDP que<br />

apoiasse em 2018, o cumprimento da nossa<br />

missão a partir do patrocínio do projeto<br />

- “O Trabalho Inclui”. Este apresenta<br />

o crescimento e redimensionamento dos<br />

serviços, justificando a existência de um<br />

mercado para explorar, e apresentando<br />

as necessidades que o CEERDL identifica<br />

como essenciais ao desenvolvimento<br />

do negócio: ampliação e reorganização<br />

de espaços de atendimento e produção,<br />

novos equipamentos de lavagem e tratamento<br />

de roupa e viatura para recolhas e<br />

entregas.<br />

O que se pretende é criar condições para<br />

aumentar a capacidade de resposta e o<br />

volume de negócio para que, consequentemente,<br />

seja possível integrar mais pessoas<br />

em ocupação, formação e emprego.<br />

Assim, a ampliação da Lavandaria da Rainha,<br />

em parceria com a Fundação EDP<br />

não só irá consolidar, como impulsionar os<br />

resultados de inclusão até agora alcançados:<br />

nº de pessoas em inserção profissional;<br />

níveis de eficiência e de produção no<br />

tratamento de roupa; nº de clientes e níveis<br />

de satisfação com a qualidade dos serviços.<br />

Mas fundamentalmente, vai enfatizar<br />

e disseminar a ideia de que o trabalho é<br />

uma importante dimensão em que a igualdade<br />

de oportunidades tem que ser efetiva<br />

de modo a que seja uma realidade acessível<br />

para TODOS os que tiverem capacidades<br />

de realização, mesmo quando há<br />

necessidade de ajustar e estruturar tarefas,<br />

não sendo a palavra deficiência, igual<br />

a total incapacidade para o emprego.<br />

80 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 81


SEPARADOR<br />

NÓS POR NÓS<br />

PRÓPRIOS<br />

© JMC | CSCD Mira Sintra<br />

Se querem saber a nossa opinião, perguntem-nos! Se querem<br />

ficar a conhecer as nossas esperanças e sonhos dêem-nos<br />

espaço para que vos possamos mostrar. Afinal, somos como<br />

qualquer um de vós: igual nos direitos, diferentes na maneira de<br />

ser e de estar. Por isso, não falem por nós: falem connosco!


NÓS POR NÓS PRÓPRIOS<br />

ACIP<br />

EQUIPA 5 ESTRELAS<br />

CECD<br />

ARTE EM “DUAS SENAS”<br />

Sou o Henrique João Guimarães, tenho 14<br />

anos e sou natural de Moreira de Cónegos,<br />

uma freguesia do concelho de Guimarães.<br />

Em janeiro de 2006, com 3 anos,<br />

fui diagnosticado com Síndrome de Asperger<br />

e aos 4 anos iniciei na ACIP com<br />

um plano de terapias semanais. Estas<br />

terapias consistiam em terapia da fala,<br />

terapia ocupacional, terapia de grupo,<br />

neurofeedback e apoio psicológico, este<br />

último, mantido até aos dias de hoje.<br />

Desde a pré-escola até aos dias de hoje<br />

fui sempre acompanhado pela minha família,<br />

pela equipa da ACIP e pelos professores.<br />

Todo este acompanhamento foi<br />

muito importante, mudou-me a vida para<br />

melhor. A disponibilidade dos técnicos<br />

foi fundamental para a minha evolução e<br />

sucesso, tanto académico, como pessoal<br />

e social.<br />

Todos são incríveis comigo e divertimo-<br />

-nos muito!<br />

Hoje, tenho uma vida normal, tal como<br />

todas as crianças e adolescentes do país<br />

e do mundo.<br />

Estou integrado na comunidade, nos escuteiros,<br />

no agrupamento 663 de Moreira<br />

de Cónegos há cerca de 7 anos. Graças<br />

a esta integração, comecei a gostar<br />

de acampar, descobrir a natureza e conheci<br />

muitas pessoas fantásticas de quase<br />

todos os cantos do país.<br />

O meu clube é o Moreirense Futebol<br />

Clube, clube da minha terra e sou sócio<br />

desde pequeno por influência do meu<br />

avô.<br />

Como eu, na ACIP existem mais crianças<br />

e jovens, não hesite em visitar-nos, caso<br />

necessitem deste ou de outros serviços.<br />

A equipa é 5 estrelas comigo e com a minha<br />

família e também o serão consigo e<br />

com o seu filho!<br />

Eu sou o Cláudio Pinho e tenho 24 anos.<br />

Sou ator do Grupo Teatro Duas Senas<br />

há quatro anos e gosto imenso de estar<br />

neste grupo todos os sábados. Tenho<br />

de me levantar cedo para ir para a Casa<br />

da Cultura Lívio de Morais (em Mira<br />

Sintra) e vou sempre com o Francisco<br />

e o Senhor Filipe e quando lá chegamos<br />

já lá está a encenadora Inês Oliveira<br />

para começarmos a trabalhar.<br />

O grupo é nosso e somos nós que temos<br />

a responsabilidade de o levar para<br />

a frente. No futuro gostava que o grupo<br />

já fosse independente do Teatromosca<br />

e do CECD, que conseguíssemos<br />

tratar de tudo sozinhos, sem ajuda de<br />

mais ninguém. Confesso que gosto do<br />

Duas Senas – amo este grupo. Às vezes<br />

temos zangas entre nós mas nada que<br />

não se resolva com um grande trabalho<br />

e muito foco nos nossos objetivos. Para<br />

além de colegas de trabalho, às vezes<br />

também fazemos almoços e outro tipo<br />

de saídas todos juntos.<br />

Uma coisa muito importante no nosso<br />

percurso e que nos deu muita força<br />

para continuarmos a trabalhar e nos<br />

mostrou que o nosso trabalho tinha<br />

valor foi a apresentação do espetáculo<br />

“O Labirinto Mágico” na Malaposta,<br />

há dois anos. Foi a primeira vez que fizemos<br />

apresentações num local novo,<br />

onde não conhecíamos ninguém e onde<br />

era tudo novo. Estávamos super nervosos<br />

mas acabou por correr tudo bem.<br />

Este ano voltámos a apresentar o novo<br />

espetáculo “Uma Casa de Loucos!” na<br />

Malaposta e tivemos, duas vezes, a sala<br />

quase cheia. Ficámos muito contentes<br />

por poder mostrar o nosso trabalho e<br />

mostrar a outras pessoas o que é trabalhar<br />

com a deficiência e, como diz a<br />

frase, juntos somos mais fortes, e conseguimos<br />

fazer espetáculos que são um<br />

sucesso. E agora aguardem por novas<br />

novidades de 2018 que já começámos<br />

a preparar o novo ano cheio de atividades!<br />

© Catarina Lobo<br />

Henrique Guimarães<br />

Cliente da ACIP<br />

Claúdio Pinto<br />

Ator, Assistente de Produção e Cliente do CECD<br />

84 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 85


NÓS POR NÓS PRÓPRIOS<br />

CERCIMA<br />

UM NOVO RUMO<br />

Quando entrei para a formação da CER-<br />

CI, não sabia bem o que esperar, vinha<br />

de um estado depressivo sem atividade<br />

nem ocupação! Ao início, estava um pouco<br />

reticente, ansioso! A ideia de fazer 6<br />

horas de formação assustava-me, tinha<br />

receio das vozes (alucinações) e alterações<br />

de humor (maníaco-depressivo),<br />

me afetarem o desempenho. A verdade<br />

é que influenciado por pessoas como o<br />

meu irmão e a minha psiquiatra, entrei<br />

para me sentir integrado na sociedade,<br />

ter uma atividade, sentir-me integro, ter<br />

dignidade! O dinheiro ajudou, ao principio<br />

não tinha uma perceção de que o<br />

dinheiro fosse fazer a diferença, mas acabou<br />

por ser uma motivação! Comecei por<br />

trabalhar a fazer limpezas em quartos no<br />

Motel Mood, mas não correu bem, desmotivava-me<br />

fazer algo que não me interessava,<br />

tive dificuldades de integração,<br />

foi-me dada uma segunda oportunidade,<br />

de fazer algo que tivesse interesse e gostasse,<br />

e fui encaminhado para a escola<br />

profissional, onde ainda estou hoje, bem<br />

mais motivado, faço o meu trabalho e sou<br />

pontual e assíduo. Encontrei na CERCI<br />

um novo rumo, uma nova abordagem do<br />

Cliente da CERCIMA<br />

real, anterior à CERCI, vivia fechado sem<br />

sair da minha área de conforto, e não tinha<br />

uma rotina, como acordar cedo, ter<br />

horários para comer, dormir! A CER-<br />

CI ajudou-me a recuperar estabilidade,<br />

hoje encontro-me estabilizado e com os<br />

antigos sintomas dominados! Fiz novos<br />

amigos, e hoje fazemos atividades extra<br />

CERCI, como ir ao cinema, atividades<br />

perdidas e que recuperei. Com a CERCI,<br />

comecei a fazer psicoterapia que me ajudou<br />

a estruturar o pensamento, a estabilizar<br />

o emocional, e a equilibrar sintomas<br />

como vozes ou delírios, e com a ajuda de<br />

toda a equipa, voltei a ter uma vida real, a<br />

viver uma rotina, ter uma atividade ocupacional,<br />

e com o apoio necessário, recuperei<br />

a motivação. Com a CERCI cresci<br />

interiormente, aprendi a construir defesas<br />

para as minhas assombrações, a viver<br />

com a minha patologia, e não deixar que<br />

isso me impeça de levar uma vida regular!<br />

O ambiente na formação é bom e sinto-<br />

-me integrado socialmente, mais independente<br />

e mais autónomo. Hoje coexisto<br />

sociolaboralmente, e ter uma formação,<br />

atividade, ajudou-me a criar condições e<br />

equilíbrio mental, vivo com mais balanço,<br />

foram-me dadas as ferramentas, e só tive<br />

que fazer o exercício de as pôr em prática.<br />

Vi os resultados surgirem, a CERCI<br />

foi um catalisador para a recuperação e<br />

hoje, deixei de a associar ao misticismo<br />

estigmático que existe para pessoas com<br />

deficiência. Com a instituição progredi<br />

e evoluí para um melhor funcionamento,<br />

passei a funcionar e alterou o meu olhar<br />

perante a realidade. Sinto-me refrescado<br />

com a CERCI, mais capaz, mais realizado<br />

e vou sentir a falta desta nova e positiva<br />

experiência.<br />

CERCIMA<br />

UMA COISA QUE NÃO<br />

ERA E HOJE SOU!<br />

Bem aqui vou-vos contar um pouco do<br />

que aconteceu na minha vida, antes e depois<br />

de ir para a formação na CERCIMA.<br />

Há uns aninhos atrás, eu trabalhava numa<br />

fábrica de roupeiros e o trabalho era um<br />

bocado duro, tinha que lixar várias vezes<br />

portas de roupeiros, era um trabalho<br />

muito repetitivo e pesado, o tempo foi<br />

passando e comecei a ficar com dores no<br />

meu ombro esquerdo, fui para o seguro<br />

fizeram-me fisioterapia durante 3 meses e<br />

nada, ao fim dos 3 meses deram-me alta<br />

e eu sem conseguir trabalhar, comecei a<br />

entrar em depressão. Fui despedida e andei<br />

mais de 11 anos de médico em médico,<br />

parecia uma bola de ping-pong ninguém<br />

resolvia nada e eu sem poder trabalhar<br />

sentia-me uma inútil, cheguei a ser operada<br />

a uma tendinite crónica mas fiquei na<br />

mesma, fiz mais fisioterapia mas era como<br />

se não tivesse feito nada, e fui-me ainda<br />

mais a baixo, fiquei sem sensibilidade no<br />

meu ombro esquerdo, nesse momento,<br />

foi como se o mundo tivesse desabado<br />

em cima de mim, a depressão agravou-<br />

-se, perdi a vontade de tudo, estava triste,<br />

não saía de casa, nem com amigos, só me<br />

apetecia estar deitada, foi muito difícil, os<br />

meus pais perguntavam se eu estava com<br />

medo de ir trabalhar ou se não queria trabalhar,<br />

mas não era nada disso.<br />

Passado algum tempo uma prima minha<br />

veio falar comigo sobre a CERCIMA<br />

onde há muitas pessoas que pensam que<br />

só há lá jovens com problemas motores,<br />

trissomia 21, etc mas não, lá também ajudam<br />

pessoas com incapacidade como eu.<br />

Assim que a minha prima falou na CER-<br />

CIMA eu fui lá, ainda me lembro de estar<br />

muito nervosa quando fui falar com a<br />

coordenadora da formação e assim foi, fui<br />

integrada num curso. No primeiro dia sem<br />

conhecer ninguém fui para uma sala com<br />

varias pessoas que iriam ser formandos e<br />

onde estavam as nossas formadoras, mas<br />

eu continuava nervosa até que chegou a<br />

minha vez de me apresentar, nervosa e a<br />

gaguejar, mas apresentei-me.<br />

Ao princípio quando começámos a ter a<br />

formação eu era muito caladinha, se algumas<br />

das formadoras me perguntassem<br />

alguma coisa eu não conseguia responder<br />

porque ficava enervada, bloqueava e não<br />

conseguia falar. Então foi-me proposto<br />

apoio psicológico e eu aceitei logo, não<br />

sei explicar logo a primeira vez que falei<br />

com a psicóloga senti-me logo diferente e<br />

continuando com o apoio fui-me sentindo<br />

cada vez melhor, deixei de ser envergonhada.<br />

Uma coisa que não era e hoje sou…<br />

Feliz! Hoje tenho a autoestima em cima,<br />

autonomia, sei tomar decisões. Isto tudo<br />

se não fosse a psicóloga, que me ajuda<br />

no apoio, não era possível, sinto-me bem,<br />

sinto-me outra pessoa, ganhei amigos,<br />

dois são como irmãos de sangue - o Zé<br />

e o Daniro sem me esquecer onde estou<br />

a estagiar não podia estar mais satisfeita.<br />

A comparar como era quando entrei na<br />

CERCIMA e a minha evolução, eu não<br />

me farto de dizer e de agradecer a toda<br />

a equipa, vocês são a minha segunda família,<br />

não há palavras para descrever o<br />

quanto têm feito por mim ficarei eternamente<br />

grata a cada uma de vocês, gosto<br />

muito de vocês, vai-me custar muito,<br />

mas muito mesmo, quando eu terminar o<br />

curso e tiver que deixar a CERCIMA. Um<br />

beijo com muito amor e carinho para a<br />

CERCIMA toda.<br />

Marisa Carvalho<br />

Cliente da CERCIMA<br />

86 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 87


NÓS POR NÓS PRÓPRIOS<br />

CERCIPÓVOA<br />

COMEÇAR DE NOVO...<br />

Estava em Luanda. Depois do 25 de abril,<br />

vim para Chaves. Foi bom porque conheci<br />

os meus primos, as minhas tias e a minha<br />

avó. Vim com a minha madrinha. Fomos<br />

passear, arranjei amigas, e uma ficou para<br />

sempre comigo. Íamos ao café e às compras,<br />

comprava pulseiras e roupas.<br />

Em Chaves, arranjámos uma empregada,<br />

que está connosco até hoje. Chama-se<br />

Cristina. É muito minha amiga, trocamos<br />

mensagens e telefonemas. Depois a minha<br />

madrinha morreu, fiquei muito triste, faz-<br />

-me muita falta porque gostava dela...Ela<br />

era muito boa para mim, fazia-me tudo o<br />

que eu pedia, já lá vão 4 anos!<br />

Depois, mais tarde, morreu a minha mãe.<br />

Antes dela morrer, estávamos sempre juntas.<br />

Ela já não conhecia as pessoas, mas a<br />

mim sempre me conheceu!<br />

Viamos sempre televisão: as novelas, a<br />

Fátima Lopes e o Goucha. Via muita televisão<br />

e ouvia muita música. Gosto do<br />

Marco Paulo, Tony Carreira e da Ágata,<br />

principalmente aquela música “Conselhos<br />

de Mãe”, é muito bonita, fala de Belém!<br />

Também gosto de ser entrevistada.<br />

Gosto muito de tomar café e o meu prato<br />

favorito é o leitão.<br />

Depois tudo se acabou...quando a mãe<br />

morreu tudo mudou! Vim para Lisboa e<br />

deixei lá as minhas coisas!<br />

Aqui não conheço ninguém, mas a minha<br />

irmã e o meu sobrinho são muito bons<br />

para mim, fazem-me tudo, mas está a custar-me<br />

ambientar...<br />

Depois fui para a CERCI. Também me<br />

custou a habituar, porque lá há muito barulho<br />

e a comida não era aquilo que eu<br />

costumava comer.<br />

Mas agora já gosto da Tina, da Cristina,<br />

da Teresa, da Nati, da Bina e da Lídia.<br />

Também gosto muito do Reiki e das aulas<br />

da Tina, já me estava a esquecer! Gosto<br />

de pintar, de fazer ponto de cruz, mas não<br />

gosto de escrever!<br />

Aqui, já fui passear pelo Algarve e já fui ao<br />

Oceanário ver os peixinhos.<br />

Fui passar o Natal com a minha prima.<br />

Já conheci duas colegas da minha irmã e<br />

também gosto de andar bem arranjada.<br />

E agora gostava de partilhar aqui um sonho<br />

que tive:<br />

O MEU SONHO<br />

Estava no meu quarto.<br />

Estava chuva e frio... veio um passarinho<br />

bater na minha janela, perguntei-lhe o<br />

que queria, ele respondeu que tinha uma<br />

carta para mim e pediu-me:<br />

- Vem comigo para o céu, estão lá duas<br />

pessoas que te querem ver!<br />

Eu fui com ele! Estava lá a minha mãe e<br />

a minha madrinha. Elas pediram-me para<br />

ficar junto delas e eu fiquei...<br />

Elas ficaram todas contentes!<br />

Vi lá muitas estrelas bonitas, que falavam<br />

e me perguntavam o que estava lá a fazer.<br />

Eu respondi que ia lá ficar para sempre e<br />

fui passear, vi lá muitas estrelas e anjos<br />

que falavam!<br />

E fiquei lá para sempre...<br />

Anabela Barroso<br />

Cliente do CAO<br />

da CERCIPÓVOA<br />

CERCIBEJA<br />

“A CONVERSAR É QUE<br />

A GENTE SE ENTENDE”<br />

O grupo de autorrepresentação da CER-<br />

CIBEJA tem aproximadamente 1 ano de<br />

existência e tem como princípios fundamentais<br />

a questão da autonomia, da responsabilidade,<br />

da escolha, do respeito e<br />

da liberdade dos indivíduos. Tem como<br />

objetivo a tomada de consciência desses<br />

princípios, assumi-los como algo inerente<br />

à sua própria vida, exerce-los no quotidiano<br />

e realizar atividades que demonstrem<br />

na organização e na comunidade<br />

que as pessoas com deficiência podem<br />

ter um papel ativo em todas as “esferas<br />

da vida” enquanto pessoas e cidadãos.<br />

O grupo é composto por 19 pessoas, clientes<br />

da UPS - Centro de Atividades Ocupacionais.<br />

É dinamizado por um elemento<br />

eleito por todos os outros que assume um<br />

papel mais ativo dentro do grupo.<br />

Cada encontro explora uma temática que<br />

vai de encontro aos interesses do grupo.<br />

Reúne duas vezes por semana, com o<br />

apoio de dois técnicos facilitadores.<br />

Atividades gerais:<br />

• Desenvolvimento de atividades do interesse<br />

do grupo de autorrepresentação;<br />

• Participação em sugestões de melhoria<br />

sobre o funcionamento da<br />

CERCIBEJA e do bem-estar dos colaboradores;<br />

• Participação em atividades que se<br />

encontrem a decorrer na e para a comunidade;<br />

• Participação no projeto “Violência<br />

Doméstica e Deficiência” em parceria<br />

com a FENACERCI.<br />

Grupo de Autorrepresentação<br />

da CERCIBEJA<br />

O que fazemos na Comunidade: dois<br />

exemplos<br />

• Voluntariado no Banco Alimentar de<br />

Beja, onde participamos na elaboração<br />

de dois cabazes para as IPSS da cidade;<br />

• Participação nas compras diárias<br />

com duas idosas, em parceria com a<br />

Santa Casa Misericórdia de Beja.<br />

O que mudou nas nossas vidas?<br />

“É muito importante a gente estar aqui<br />

reunidos para falar de ideias, de saídas,<br />

de tudo”, Gertrudes<br />

“Estar com os amigos, com os colegas,<br />

conversar e fazer atividades”, Ivan<br />

“Ir ao lagar, provar o azeite, molhar o pão<br />

no sabor doce e azedo. Gosto de vir para<br />

aqui por causa dos passeios e de ajudar<br />

os velhotes”, Florival<br />

“Gosto dos filmes, de ter ido comer o<br />

bolo na pastelaria”, Ana Sofia<br />

88 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 89


NÓS POR NÓS PRÓPRIOS<br />

CERCIMARANTE<br />

CERCIMARANTE<br />

“DIREITOS, DEVERES<br />

E INCLUSÃO”<br />

No âmbito do projeto FACTO (Formação,<br />

Apoio e Capacitação de Todos),<br />

realizou-se uma Tertúlia intitulada: Direitos,<br />

Deveres e Inclusão.<br />

O tema é bastante pertinente porque em<br />

pleno século XXI, ainda existem preconceitos<br />

e falta de informação da pessoa<br />

dita “normal” para com as pessoas que<br />

têm limitações e/ou deficiência(s) de várias<br />

ordens. Na Tertúlia abordaram-se<br />

temas para discussão onde os intervenientes<br />

davam a sua opinião.<br />

Sobre a temática da desigualdade, as<br />

opiniões foram unânimes e chegou-se<br />

à conclusão que a nível laboral, as pessoas<br />

que têm limitações não possuem as<br />

mesmas oportunidades, mesmo tendo as<br />

mesmas capacidades, o que faz com que<br />

haja uma grande discriminação, principalmente<br />

pela parte do empregador.<br />

Outro tema do debate foram as acessibilidades.<br />

Os clientes mostraram grande<br />

consenso e indignação pois, para quem<br />

tem dificuldades a nível de mobilidade<br />

reduzida, certos locais não têm rampas<br />

ou elevadores para se ter acesso a<br />

todos os serviços e no que diz respeito<br />

aos transportes, concluiu-se que existe<br />

um número muito reduzido daqueles que<br />

estão preparados para as pessoas com<br />

limitações motoras.<br />

No que diz respeito ao tema do preconceito<br />

da sociedade perante as pessoas<br />

consideradas “diferentes” constatou-se<br />

que ainda há muito a fazer em prol da<br />

igualdade.<br />

Em suma, muito há a mudar em todos os<br />

aspetos, mas principalmente a aceitação<br />

da diferença e o respeito são fundamentais<br />

para todos.<br />

António Peixoto, Margarida Cardoso, Gina Neves, João Teixeira, Daniela Gonçalves,<br />

Sónia Costa, Sara Magalhães, Marcos Machado, Rafael Silva | Clientes do Centro<br />

de Formação e Reabilitação Profissional da CERCIMARANTE<br />

90 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 91


NÓS POR NÓS PRÓPRIOS<br />

CERCIDIANA<br />

CERCIMA<br />

GOSTO DE ESTAR AQUI!<br />

O António chegou à CERCIDIANA depois<br />

de ter perdido quase tudo na sua<br />

vida, isto é, familia, emprego, a sua terra.<br />

Fez um percurso na formação profissional,<br />

sem sucesso. As perspetivas de vida<br />

eram desanimadoras. Entretanto, integrou<br />

o nosso CAO e Lar Residencial. A<br />

vida do António transformou-se, o seu<br />

sorriso é hoje constante e contagioso!<br />

Para completar esta felicidade, foi colocado<br />

em ASU – Atividades Socialmente<br />

Úteis no Café Horta das Tâmaras. O seu<br />

percurso tem sido um sucesso, ficam os<br />

testemunhos:<br />

O empresário Nuno Damas: “Encontrou<br />

uma família. É uma mais-valia”.<br />

“O António foi uma agradável surpresa,<br />

uma grande experiência. É super dedicado,<br />

gosta do que faz, é bom vê-lo evoluir,<br />

ver que está contente. O António é<br />

respeitado, valorizado, faz as tarefas com<br />

eficácia. Os clientes reconhecem a sua<br />

dedicação, criou laços com os clientes. É<br />

uma pessoa fundamental na casa.”<br />

António Pombinho “Quero continuar<br />

aqui!”<br />

“Sinto-me bem, os clientes são simpáticos,<br />

sinto-me à vontade. Sinto que gostam<br />

de mim. Conheço os hábitos dos<br />

clientes”.<br />

CERCIDIANA | Pela Técnica de Serviço Social<br />

Empresário Nuno Damas com António Pombinho<br />

Colaborador da Century 21, Hugo Rebocho<br />

“dá 10 a 0 a muitos trabalhadores<br />

de espaços comerciais”<br />

“No início estranhei, apercebi-me que<br />

ele era diferente. Fico agradado pela forma<br />

como tudo está a decorrer… Admiro<br />

a coragem do empresário em colocar<br />

aqui uma pessoa com estas caraterísticas!..<br />

Há clientes mais sensíveis... Gabo<br />

a coragem! O António é muito atencioso<br />

com os clientes”<br />

A CONSTELAÇÃO<br />

DO SONHO<br />

Bem vim aqui vos falar um pouco da autonomia<br />

e o quanto a CERCIMA me ajudou<br />

a tê-la.<br />

A autonomia para mim é uma das coisas<br />

muito importantes que devemos ter na<br />

vida pois sem ela, estaremos sempre a<br />

depender dos outros e a nossa vida não<br />

avança em nada.<br />

O simples facto de iniciarmos uma conversa<br />

com alguém e sermos nós a darmos<br />

o primeiro passo, de sermos sociais<br />

sem termos de estar a depender de outra<br />

pessoa para começarmos a falar com<br />

outra pessoa fora da nossa zona de con-<br />

Tiago Azevedo<br />

Cliente da CERCIMA<br />

forto já nos torna autónomos.<br />

Antes de entrar para a CERCIMA era<br />

assim, não dava o primeiro passo num<br />

diálogo. Dependia dos outros que puxavam<br />

por mim para eu iniciar o diálogo.<br />

A CERCIMA ajudou-me a ter confiança,<br />

ajudou-me a não ser assim tão tímido,<br />

para mostrar a pessoa que sou e que assim,<br />

os outros iam fazer o mesmo comigo<br />

e isso foi um grande avanço para mim<br />

e para o meu futuro pois a comunicação<br />

é das coisas mais essenciais que precisamos<br />

de ter para vingar nesta sociedade,<br />

agradeço à CERCIMA por isso.<br />

Todos nós devemos ter um projeto de<br />

vida, objetivos para alcançar - o que nos<br />

vemos a fazer no futuro. Eu, os objetivos<br />

que tinha, eram muito vagos e pouco<br />

concretos. Gostava de fazer algo que<br />

gostasse, mas não sabia o quê, nem tinha<br />

ferramentas para tal.<br />

Hoje em dia posso dizer que tenho objetivos<br />

bem concretos e tenho as ferramentas<br />

necessárias para os mesmos.<br />

Quero trabalhar na área de armazém,<br />

fazer contrato na empresa onde estou a<br />

estagiar e quem sabe se torna num trabalho<br />

para a vida, é esse o meu objetivo<br />

principal.<br />

Ouvi uma vez na televisão “se conseguires<br />

sonhar és capaz” obrigado à CER-<br />

CIMA por me fazer sonhar e acreditar<br />

que sou capaz de alcançar tudo o que<br />

quiser na vida.<br />

92 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 93


NÓS POR NÓS PRÓPRIOS<br />

CERCIMONT<br />

A HISTÓRIA<br />

DE CARINA<br />

Olá eu sou a Carina! Vou contar-vos a minha história.<br />

Eu nasci com uma deficiência motora que me dificulta a<br />

vida, mas eu consigo ultrapassar as dificuldades. As minhas<br />

principais dificuldades são: subir escadas e os autocarros.<br />

Eu até aos meus dezanove anos vivi com a minha mãe, mas<br />

entretanto ela faleceu e eu tive de ir para uma família de<br />

acolhimento.<br />

Eu sou feliz e encontrei a Tia São que me ajuda muito. Dá-<br />

-me conselhos quando eu preciso e dá-me carinho. E eu<br />

agradeço muito o que ela tem feito por mim. Eu encontrei<br />

uma família de que gosto muito, mas, muito…<br />

Eu encontrei também uma escola que se chama CER-<br />

CIMONT. Eu gosto muito de andar nessa escola. Nós<br />

fazemos muitos trabalhos como por exemplo: flores,<br />

porquinhos mealheiros, sabonetes, alfinetes, bruxas, porta-retratos<br />

etc.<br />

Eu muitas vezes penso: como seria a minha vida se não<br />

tivesse este problema?<br />

Talvez não desse valor às coisas que consigo fazer sozinha<br />

como ir à casa de banho, brincar com os cães da Tia São e<br />

fazer as minhas coisas básicas.<br />

Eu tenho alguns sonhos e não desisto deles. Eu sei que<br />

sou capaz de fazer quase tudo. Só tenho de continuar a<br />

lutar!<br />

Carina<br />

Cliente da CERCIMONT<br />

CECD<br />

UM ARTISTA DE MÃO CHEIA<br />

Sou o Nuno Faneco, tenho 27 anos e adoro música, teatro,<br />

dança… Dizem que o meu traço é inconfundível e os meus<br />

desenhos uma inspiração. Faço da Arte a forma de comunicação<br />

mais imediata e transparente no meu dia-a-dia.<br />

Estou no “AgitArte – as ideias” desde 2012. Entrei no grupo<br />

porque gostava de aprender a dançar e representar,<br />

mostrar o que sou no palco. Ao mesmo tempo queria conhecer<br />

pessoas novas e novos sítios.<br />

O grupo é importante porque ajuda-nos a conseguir libertar<br />

os nossos medos, a vergonha de estar em frente aos<br />

outros, o preconceito… Enfrentamos o receio de falhar, a<br />

ansiedade, o nervosismo.<br />

Sou “amigo do improviso” e da interação, reconheço que o<br />

grupo AgitArte em cada atuação mostra aos outros o nosso<br />

talento, a nossa arte, que somos capazes de fazer melhor!<br />

Nas palavras das coordenadoras do grupo, o Nuno é um<br />

Homem das Artes, mais-valia no grupo, elemento imprescindível<br />

nos trilhos do “AgitArte – as ideias”.<br />

Nuno Faneco<br />

Cliente do Centro de Atividades<br />

Ocupacionais do CECD<br />

CERCISA<br />

CECD<br />

EU GOSTEI PORQUE SIM!<br />

VONTADE DE TER VONTADE!<br />

Eu gostei da Festa de Natal porque estava gira.<br />

Eu gostei das apresentações dos senhores a cantarem.<br />

Lanchámos aqui na sala com os senhores da música.<br />

Gostei da decoração porque estava alegre e gira e da<br />

música.<br />

Da nossa apresentação gostei de dançar, os pais gostaram<br />

muito, disseram que dançámos bem.<br />

Recebi muitas prendas e gostei de todas.<br />

Beatriz Campos<br />

Cliente da CERCISA<br />

Nelson Monteiro, Vitor Borges,<br />

Carlos Ferreira, Jacinto Nunes<br />

Autorrepresentantes da CERCIOEIRAS<br />

© DR<br />

Deixamos o nosso especial agradecimento,<br />

à Associação Noor Fátima, que nos integrou para esta ação.<br />

São todos pessoas muito especiais<br />

que todas as semanas dedicam o seu tempo<br />

a trazer conforto à vida de outras pessoas.<br />

No plano de atividades da CERCIOEIRAS<br />

Tínhamos proposto realizar uma ação de voluntariado<br />

Na comunidade, junto dos Sem Abrigo.<br />

Esta ideia surgiu, porque além de Direitos,<br />

Temos também Deveres enquanto cidadãos.<br />

Esta foi uma experiência muito emocional,<br />

E ainda nos lembramos dos olhares tristes que vimos,<br />

E também das palavras de agradecimento que recebemos.<br />

Fez-nos pensar na sorte que temos em estar na CER-<br />

CIOEIRAS.<br />

Temos uma família, amigos, uma casa para onde voltar,<br />

Temos roupa, temos comida e amor, MUITO AMOR.<br />

94 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 95


VENHA<br />

DE LÁ<br />

ESSE ABRAÇO<br />

SEPARADOR<br />

Os amigos não são para as ocasiões: são para sempre que é preciso. E nós<br />

temos a felicidade de contar com muitos e bons amigos, gente conhecida<br />

da comunidade que nos empresta o seu prestígio para podermos chegar<br />

mais longe e a mais pessoas. A solidariedade mostra-se nestes pequenos<br />

gestos, desinteressados e espontâneos, sinceros e cidadãos. A todos os nossos<br />

amigos deixamos o nosso muito obrigado, sob a forma de um abraço, que<br />

leva nele toda a nossa gratidão e consideração. Bem hajam.<br />

© D.c – PHOTOMOVI | CECD


VENHA DE LÁ ESSE ABRAÇO<br />

ANDRÉ<br />

BARROS<br />

Pianista e Compositor<br />

“Num mundo cada vez mais global, a<br />

consciência de que todos merecemos<br />

iguais oportunidades é cada vez mais<br />

evidente... tolerável será ser-nos negado<br />

um posto de trabalho em função<br />

de fracas habilitações académicas ou<br />

de ausência de idoneidade moral. Será<br />

no entanto intolerável essa discriminação,<br />

quando acontece meramente<br />

por termos uma deficiência. Lutemos,<br />

no nosso dia-a-dia, pela justa e clara<br />

igualdade de direitos, pela derradeira<br />

tolerância e empatia que nos unirá a<br />

todos e nos moverá enquanto sociedade<br />

responsável, solidária, humana e<br />

sustentável. Apelemos todos à razão e,<br />

sobretudo, à nossa inteligência emocional<br />

para, paulatinamente e junto<br />

da nossa comunidade, erradicarmos<br />

de uma vez a indiferença e a obsoleta<br />

discricionariedade na distribuição de<br />

oportunidades (e responsabilidades!).<br />

Procurarei sempre estar à altura deste<br />

desafio.”<br />

© Carla de Sousa<br />

© Pedro Ferreira<br />

FERNANDA<br />

SERRANO<br />

Atriz<br />

“Fala-se tanto na diferença, na igualdade<br />

de direitos e deveres, do respeito,<br />

da falta de condições, na deficiência<br />

no sentido lato, mas a verdade é<br />

que todos somos altamente responsáveis<br />

por tanta demagogia e tao pouca<br />

ação. No fundo, os “incapazes”, como<br />

por vezes a sociedade e o sistema denomina<br />

estas pessoas, somos todos, os<br />

que temos conhecimento, mas nada<br />

fazemos para mudar, para melhorar as<br />

condições de vida e por vezes até de<br />

sobrevivência destas pessoas e seus<br />

familiares. As sociedades desenvolvidas,<br />

estarão realmente organizadas<br />

para responder às necessidades dos<br />

seus cidadãos com deficiência? Ainda<br />

há tanto por fazer. Mas comecemos<br />

então, por cada um de nós, fazer algo,<br />

por menor que nos possa parecer, mas<br />

que esteja ao nosso alcance, que tenha<br />

um resultado. Será um excelente começo.<br />

Para ambas as partes...<br />

Boa sorte e... Bom trabalho! A todos!”<br />

98 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 99


VENHA DE LÁ ESSE ABRAÇO<br />

JOANA<br />

SOLNADO<br />

Atriz<br />

NUNO<br />

VASA<br />

Artista Plástico<br />

e Escultor<br />

“Quando dizemos deficiência estamos<br />

à partida a considerar que a<br />

pessoa tem défice de algo, estamos<br />

portanto a focar no negativo.<br />

Ao focar no positivo, consideramos<br />

o que a pessoa tem em abundância,<br />

decerto outras qualidades importantíssimas.<br />

O ser humano tem mais<br />

facilidade em encontrar os defeitos<br />

do que as virtudes. É um desafio<br />

encontrar o que de melhor todos<br />

temos.<br />

Sem julgamento e com sentido de<br />

igualdade é a única forma honesta<br />

de estar num mundo de sobreviventes.<br />

De outro modo, não é possível<br />

a harmonia.<br />

Não estamos sozinhos neste mundo,<br />

precisamos uns dos outros. Somos<br />

todos humanos, somos todos<br />

um só. “<br />

© Revista Prevenir / Carlos Ramos<br />

“ A paixão pelo ofício é dos sentimentos<br />

o mais belo na formação do<br />

ser. Fazer diferente e viver com a diferença<br />

na arte/vida, é uma constante<br />

aprendizagem de (in)significados<br />

numa leitura sem letras nem linhas. É<br />

tempo de (re)escrever, viver e deixar<br />

viver diferente... Venha de lá esse<br />

Abraço!”<br />

100 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 101


VENHA DE LÁ ESSE ABRAÇO<br />

TOMARA<br />

FILIPE MONTEIRO<br />

Músico<br />

“Entender a Diferença é um desafio.<br />

Obriga-nos a ver o Outro; a colocar-<br />

-nos no seu lugar. Essa é a base da<br />

Empatia, um dos mais preciosos valores<br />

humanos que podemos cultivar.<br />

Ao proporcionarmos um Mundo justo<br />

e pleno para as pessoas com deficiência,<br />

estamos também a expandir<br />

a nossa própria noção de “normalidade”.<br />

E isso é um crescimento pessoal<br />

e humano de riqueza maior.”<br />

TOMAZ<br />

MORAIS<br />

Antigo Jogador<br />

e Atual Treinador<br />

de Râguebi<br />

© Estelle Valente<br />

“A nossa liberdade começa na atitude<br />

com que encaramos os desafios<br />

que temos. Nunca desistir é a força<br />

que nos mantém ativos e afastados<br />

das barreiras que nos impedem de<br />

seguirmos os nossos sonhos”<br />

102 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 103


VENHA DE LÁ ESSE ABRAÇO<br />

VASCO<br />

RIBEIRO<br />

Campeão Nacional de Surf<br />

© Ricardo Bravo<br />

Ser diferente não é um problema, o<br />

problema é ser-se tratado de forma<br />

diferente.<br />

Apesar de acreditar que a nossa<br />

sociedade caminha no bom sentido,<br />

também sei que ainda há muito<br />

a fazer.<br />

Uma pessoa não é um diagnóstico,<br />

e cabe a cada um de nós ajudar e<br />

contribuir para tornar o mundo, um<br />

sítio mais justo para todos.<br />

104 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 105


OLHÓMETRO<br />

l As propostas de Apoio à Vida Independente, concretizadas na criação de CAVIS, que não<br />

parecem ajustadas a todas as tipologias de deficiência;<br />

l O processo de Atribuição da Prestação Social de Inclusão, que provocou atrasos consideráveis<br />

no recebimento por parte de muitos clientes e continua a gerar problemas.<br />

l Os problemas sentidos ao nível do funcionamento da plataforma eletrónica SIFFSE, que gerou<br />

problemas graves ao nível da gestão da formação profissional de pessoas com deficiência;<br />

© CERCIMB | António Matias Fotografia | Emoções 2017<br />

l As situações de utilização ilícita de fundos detetadas nalgumas organizações;<br />

l A desacreditação abusiva, despropositada e injusta promovida por alguns setores, através<br />

da extrapolação de casos pontuais para a generalidade das organizações;<br />

l A insuficiência de vagas de apoio ocupacional e residencial que é preocupante, tendo em<br />

conta a proximidade do fim do ano letivo;<br />

l O prazo demasiado curto que é dado às organizações para se adaptarem às novas regras<br />

de proteção de dados;<br />

l O modelo de apoio financeiro a projetos e ao funcionamento seguido pelo INR que<br />

inviabiliza o desenvolvimento de projetos de relevância, por via de mecanismos de<br />

distribuição dos montantes disponíveis de discutível coerência e, sobretudo, eficácia.<br />

l A publicação do Decreto-lei 143/2017 de 29/11 que consagra a participação do Setor<br />

Cooperativo na Comissão Permanente do Setor Social e Solidário;<br />

l A constituição da Confederação Nacional da Economia Social, de que é membro fundador<br />

a CONFECOOP;<br />

l As alterações introduzidas na Campanha Pirilampo Mágico, que refrescam o boneco<br />

mantendo no essencial a linha de comunicação;<br />

l A criação da Prestação Social de Inclusão;<br />

l A iniciativa com debate público de revisão do Decreto-lei 3/2008 (Educação Inclusiva);<br />

l O trabalho de parceria que tem sido desenvolvido entre as organizações representativas<br />

de entidades que promovem a formação e o apoio ao emprego de pessoas com deficiência;<br />

l A recetividade para análise de problemas e procura de soluções que tem havido por parte<br />

de alguns interlocutores institucionais, e designadamente por parte da Senhora Secretária<br />

de Estado para a Inclusão das Pessoas com Deficiência e do Senhor Secretário de Estado<br />

para o Desenvolvimento e Coesão.<br />

© CERCIMB | António Matias Fotografia | Emoções 2017<br />

Revista Fenacerci 2018 107


CAMPANHA<br />

PRODUTOS PARA VENDA<br />

CAMPANHA PIRILAMPO<br />

MÁGICO 2018<br />

108 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 109


CAMPANHA<br />

COMISSÃO DE HONRA<br />

Marcelo Rebelo de Sousa<br />

Presidente da Comissão de Honra<br />

Nunca teríamos chegado tão longe não fora termos connosco figuras públicas de reconhecida idoneidade<br />

e importância na sociedade portuguesa. O facto de estarem connosco nesta iniciativa, atesta<br />

a credibilidade da mesma e faz com que a mensagem solidária que passamos chegue mais facilmente<br />

aos cidadãos. Sentimo-nos orgulhosos e honrados por termos connosco figuras prestigiadas da nossa<br />

cena política, artística, social e cultural, cujo primeiro nome é o do Senhor Presidente da República,<br />

Professor Marcelo Rebelo de Sousa.<br />

Daniel Sampaio<br />

Eduardo Ferro Rodrigues<br />

Eduardo Graça<br />

Elia Pombeiro Gonçalves<br />

Fernanda Freitas<br />

Fernando Medina<br />

Francisco Pinto Balsemão<br />

Heloísa Apolónia<br />

Isabel Maria Cottinelli Telmo<br />

Jaime Calado<br />

Jerónimo de Sousa<br />

Jerónimo Teixeira<br />

João Oliveira<br />

José António Vieira da Silva<br />

José Gaspar Arruda<br />

José Lima<br />

José Manuel Nunes<br />

Luís Aleluia<br />

Luis Farinha<br />

Luís Montenegro<br />

Manuel Canaveira de Campos<br />

Manuel Mateus Costa da Silva Couto<br />

Psiquiatra<br />

Presidente da Assembleia da República<br />

Presidente da CASES<br />

Pioneira do Movimento CERCI<br />

Apresentadora<br />

Presidente da Câmara Municipal de Lisboa<br />

Presidente do Conselho de Administração do Grupo Impresa<br />

Grupo Parlamentar “Os Verdes”<br />

Presidente da FPDA<br />

Ex-Presidente da Direção da FENACERCI<br />

Secretário-Geral do PCP<br />

Vice-Presidente da CONFECOOP<br />

Presidente do Grupo Parlamentar do PCP<br />

Ministro do Trabalho, Solidariadade e Segurança Social<br />

Presidente da ADFA<br />

Coordenador do Plano Nacional de Ética no Desporto<br />

Ex-Presidente do Conselho de Administração da RDP<br />

Ator<br />

Diretor Nacional da Polícia de Segurança Pública<br />

Presidente do Grupo Parlamentar do PSD<br />

Ex-Presidente do INSCOOP<br />

General e Comandante-Geral da GNR<br />

Adelaide Sousa<br />

Apresentadora/Atriz<br />

Manuela Ramalho Eanes<br />

Antiga Madrinha da Campanha Pirilampo Mágico<br />

Ana Sofia Antunes<br />

Secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiêcia<br />

Maria Cavaco Silva<br />

Antiga Madrinha da Campanha Pirilampo Mágico<br />

António Pessegueiro<br />

Pioneiro Movimento CERCI<br />

Maria Joaquina Madeira<br />

Presidente da Associação dos Profissionais de Serviço Social<br />

António Sala<br />

Locutor de Rádio<br />

Maria José Ritta<br />

Antiga Madrinha da Campanha Pirilampo Mágico<br />

Assunção Cristas<br />

Presidente do CDS<br />

Pedro Cegonho<br />

Presidente do Conselho Diretivo da ANAFRE<br />

Augusto Máximo Flor<br />

Presidente da CPCCRD<br />

Pedro Filipe Soares<br />

Presidente do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda<br />

Carlos Alberto Vidal<br />

Cantor<br />

Rosa Monteiro<br />

Secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade<br />

Carlos Cesar<br />

Presidente do Grupo Parlamentar do PS<br />

Rosa Mota<br />

Ex-Atleta<br />

Carlos Monjardino<br />

Presidente do Conselho de Administração da Fudanção Oriente<br />

Rui Moreira<br />

Presidente da Câmara Municipal do Porto<br />

Catarina Furtado<br />

Apresentadora<br />

Rui Rio<br />

Presidente do PSD<br />

Catarina Martins<br />

Porta-Voz da Comissão Política do Bloco de Esquerda<br />

Teresa Caeiro<br />

Deputada CDS-PP<br />

110 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 111


CAMPANHA<br />

CAIXA<br />

ECONÓMICA<br />

MONTEPIO<br />

GERAL<br />

O Pirilampo Mágico nasceu em 1987, mudou de cor, mas continua<br />

igual na essência: ajudar pessoas com deficiência mental ou intelectual,<br />

devolver-lhes parte dos sonhos. É a pensar nelas, nas suas<br />

famílias, e nas organizações que as apoiam, que a Caixa Económica<br />

Montepio Geral se associa – orgulhosamente - e pelo segundo ano<br />

consecutivo, a esta campanha solidária.<br />

O Pirilampo tem na história a proeza de ter ajudado muitas instituições<br />

que trabalham na área da deficiência mental a ultrapassar<br />

dificuldades financeiras, que as impossibilitavam de proporcionar o<br />

conforto, o bem-estar e a qualidade de vida a muitos dos associados.<br />

Conseguiu mais, sobretudo melhor: dar à deficiência a normalidade<br />

de que precisa para ser igual nas oportunidades, na integração<br />

social e laboral.<br />

Apoiar o Pirilampo, ajudar a FENACERCI e as suas associadas enriquece-nos<br />

como pessoas, como instituição, como Banco.<br />

Na próxima vez que visitar uma das mais de 300 agências da Caixa<br />

Económica Montepio Geral, faremos questão de o receber lado a<br />

lado com o Pirilampo Mágico.<br />

Talvez um só Pirilampo não faça tudo, mas sem ele, muito ficará por<br />

fazer.<br />

Carlos Tavares<br />

Presidente do Conselho de Administração<br />

da Caixa Económica Montepio Geral<br />

Sem a colaboração desinteressada das empresas, seria muito difícil chegar tão longe como chegámos com<br />

a mensagem solidária do Pirilampo Mágico. E, felizmente, todos os anos contamos com a prestimosa colaboração<br />

de um grupo de prestigiadas empresas que se dispõem a fazer esta caminhada pela igualdade de<br />

oportunidade connosco. Para elas, o reconhecimento público pela importância que assumem neste grande<br />

projeto coletivo. Bem hajam!<br />

112 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 113


BREVES<br />

SEPARADOR<br />

© CERCIFAF


BREVES<br />

CERCISIAGO<br />

DE OLHOS FECHADOS<br />

No dia 13 de dezembro, o Grupo de Expressões “Arca<br />

dos Sonhos” da CERCISIAGO estreou “ De Olhos Fechados”<br />

no Auditório Municipal António Chainho em<br />

Santiago do Cacém.<br />

Este trabalho resultou da parceria com a CRINABEL<br />

Teatro existente desde 2012, com a direção criativa de<br />

Marco Paiva.<br />

Ao longo do ano realizámos vários laboratórios teatrais<br />

e a partir destas partilhas, surgiu o processo criativo<br />

com origem nas memórias mais remotas que nos<br />

surgem, quando fechamos os olhos.<br />

E assim, mais uma vez, subimos ao palco, partilhámos<br />

emoções e abrimos os nossos corações e as portas da<br />

nossa casa à comunidade.<br />

CERCIMARANTE<br />

XII ENCONTRO DA DANÇA EM AMARANTE<br />

Com o objetivo de assinalar o Dia Mundial da Dança celebrado<br />

a 29 de abril, o Centro de Atividades Ocupacionais<br />

(C.A.O.) da CERCIMARANTE organizou, no auditório<br />

do Centro Cultural de Amarante (CCA), o “XII Encontro<br />

da Dança” tendo, para isso, convidado várias instituições<br />

para integrarem esta atividade.<br />

Apresentado pela Diretora Técnica do C.A.O., Carla Macedo,<br />

este “XII Encontro da Dança” contou com a participação<br />

da CERCIMARCO; Santa Casa da Misericórdia de<br />

Baião – CAO da Mesquinhata; Santa Casa da Misericórdia<br />

de Amarante; Associação de Pais e Amigos dos Diminuídos<br />

Mentais de Penafiel (APADIMP); Universidade Sénior de<br />

Amarante (USA); Jardim de Infância da Associação para<br />

o Desenvolvimento Comunitário (ADESCO); Infantário-<br />

-Creche “O Miúdo”, e do CAO da CERCIMARANTE.<br />

Depois de um primeiro conjunto de atuações, a CERCI-<br />

MARANTE ofereceu um lanche a todos os presentes,<br />

onde todas as iguarias foram confecionadas por um grupo<br />

de clientes e colaboradores da Cooperativa.<br />

A vitalidade e alegria de miúdos e graúdos que participaram<br />

neste “XII Encontro da Dança” foram notórias e levaram<br />

a plateia a aplaudir, em muitos momentos, de forma<br />

efusiva as diversas atuações.<br />

No final deste espetáculo, todas as instituições foram<br />

agraciadas com uma original lembrança e um diploma feitos<br />

na CERCIMARANTE.<br />

CERCIMARANTE<br />

AZIBO<br />

Em 2017 as atividades de verão do Centro de Atividades<br />

Ocupacionais (C.A.O.) da CERCIMARANTE culminaram<br />

com a organização de um passeio, que proporcionou<br />

mais um dia feliz aos clientes. O destino escolhido<br />

foi a praia fluvial da Albufeira do Azibo, em Macedo de<br />

Cavaleiros, para onde os clientes foram acompanhados<br />

por um grupo de colaboradores e pela Diretora Técnica,<br />

Carla Macedo.<br />

Esta praia fluvial foi a primeira a ser distinguida com<br />

a Bandeira Azul e foi também classificada como sendo<br />

uma “praia para todos” por ser acessível, pois conta<br />

com infraestruturas de acesso a pessoas com deficiência<br />

e dispõe, igualmente, de todos os equipamentos e<br />

serviços de apoio a veraneantes.<br />

Envolvida pela paisagem protegida da Albufeira do<br />

Azibo, esta praia fluvial torna-se numa zona de rara<br />

beleza. Indescritível foi também a alegria dos clientes<br />

por poderem mergulhar e brincar nas águas quentes<br />

do Azibo.<br />

Foi, de facto, um dia feliz para todos!<br />

Fotos: Telma Pinto Ferreira, Dep. de Com. da Cercimarante<br />

CERCIMARANTE<br />

SOBRE O ARCO<br />

E A FLECHA!<br />

Robin dos Bosques” foi o clássico escolhido para dar vida<br />

à peça de teatro apresentada em três sessões, no Cinema<br />

Teixeira de Pascoaes, às turmas do quarto ano do Ensino<br />

Básico do concelho de Amarante, por um grupo de<br />

Clientes, Monitores e pela Diretora Técnica do Centro de<br />

Atividades Ocupacionais (C.A.O.) da CERCIMARANTE,<br />

juntamente com alguns jovens estagiários.<br />

Esta iniciativa, que teve lugar nos dias 6 e 7 de dezembro<br />

de 2017, foi promovida pelo Município de Amarante,<br />

em parceria com esta Cooperativa, e esteve inserida na<br />

Campanha “Amarante de Igual Para Igual”, com o objetivo<br />

de sensibilizar a comunidade escolar mais jovem para<br />

a problemática da deficiência, tendo, por isso, surgido no<br />

âmbito das comemorações do Dia Internacional da Pessoa<br />

com Deficiência, assinalado a 3 de dezembro.<br />

De 27 de outubro a 10 de dezembro, o Município de<br />

© Telma Pinto Ferreira, Dep. de Com. da Cercimarante<br />

Amarante levou, assim, a cabo, pelo terceiro ano consecutivo,<br />

“Amarante de Igual para Igual” para promover a<br />

reflexão e o diálogo alargados a toda a sociedade civil<br />

sobre as diferentes representações sociais e formas de<br />

discriminação que subsistem na sociedade atual. Ainda<br />

no âmbito do Dia Internacional da Pessoa com Deficiência,<br />

o grupo apresentou a mesma peça mas, desta feita, na<br />

EB 2/3 de Amarante, para os alunos do 2º ciclo.<br />

No final, a “Companhia de Teatro”, como foi gentilmente<br />

apelidado o grupo pela diretora do Agrupamento de Escolas<br />

de Amarante, Dina Sanches, foi agraciado com um<br />

saboroso lanche.<br />

116 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 117


BREVES<br />

ACIP<br />

PELO GOSTO E PELA MÚSICA<br />

O DESPORTO É PARA TODOS!<br />

Os Centros de Atividades Ocupacionais da Casa da<br />

Villa e Casa da Boavista desenvolvem um vasto conjunto<br />

de atividades desportivas em parceria com as<br />

autarquias de Lousada e Vila Nova de Famalicão que<br />

têm como estratégia promover o desporto para todos.<br />

Nos vários desportos praticados e dos quais salientamos<br />

o Atletismo, Natação, Adaptação ao Meio Aquático<br />

e Boccia são promovidas competências e simultaneamente,<br />

são adquiridos e desenvolvidos benefícios<br />

terapêuticos e de bem-estar. O principal objetivo é<br />

que todos os nossos jovens possam beneficiar de uma<br />

prática desportiva que promova a qualidade de vida e<br />

a sua inclusão na comunidade.<br />

“Somos campeões” porque participamos e nos dedicamos<br />

com muita determinação e motivação em cada<br />

uma das modalidades desportivas. Para além de todos<br />

os prémios já conquistados, o que mais nos orgulha, é<br />

o trabalho individual e de equipa que faz de nós verdadeiros<br />

“campeões”.<br />

Foi no Atelier de Artes & Expressões que nasceu<br />

o nome – Os Boavisteiros. É com a maior garra que<br />

este grupo de jovens e adultos treina semanalmente.<br />

Aprender um instrumento é um processo de construção<br />

do conhecimento musical cujo principal objetivo<br />

é despertar e desenvolver o gosto pela música, estimulando<br />

e contribuindo com formação global do ser<br />

humano.<br />

Traz inúmeros benefícios como integração social, desenvolvimento<br />

cognitivo, criatividade, coordenação<br />

motora, espacialidade, lateralidade, além de favorecer<br />

a sua comunicação.<br />

O gosto pela música, a vontade de aprender e a inclusão<br />

social estão de mãos dadas neste desafio.<br />

O nosso sonho? Aquecer os corações de quem nos<br />

ouve e fazer do lema.<br />

“ Nada para nós sem nós” uma citação de sucesso, inclusão<br />

e muita felicidade.<br />

CERCIBEJA<br />

12 MESES @ DOZE<br />

CARAS<br />

A CERCIBEJA este ano pretende organizar diversas<br />

atividades direcionadas para a comunidade onde se encontra<br />

inserida, de forma a agradecer o que a mesma lhe<br />

tem “oferecido” ao longo destes 40 anos de existência.<br />

Como lançamento destas comemorações, foi criado um<br />

Calendário para o ano de 2018 com 12 fotos dos nossos<br />

clientes. Estas fotos foram selecionadas entre inúmeras,<br />

que resultaram de duas sessões fotográficas em ambientes<br />

diversos sob a objetiva de Lia Rodrigues.<br />

O objetivo deste trabalho passa pela valorização e autodeterminação<br />

dos envolvidos, vivenciando ambientes<br />

e personagens que permitiram aos mesmos exteriorizar<br />

as suas emoções de forma artística.<br />

Estas fotos vão ainda, possibilitar a realização de exposições<br />

que vão circular ao longo deste ano pelos 10 Municípios<br />

a que a CERCIBEJA dá resposta, enquadradas<br />

num ciclo de tertúlias temáticas.<br />

Nesta comemoração dos 40 Anos de existência a CER-<br />

CIBEJA pretende fortalecer laços e intensificar relações<br />

de parceria com reconhecimento público, através de<br />

outras iniciativas que serão desenvolvidas ao longo de<br />

todo o ano.<br />

Juntos Construímos Felicidade!<br />

CERCIDIANA<br />

NATAL UNE<br />

DUAS CAUSAS<br />

Desafiados pela “Campanha do Barrete Solidário” da<br />

Associação Salvador, e aproveitando a época natalícia,<br />

a CERCIDIANA decidiu realizar uma Caminhada<br />

aliando as duas causas - dar visibilidade às duas organizações<br />

e aproveitar mais uma oportunidade para<br />

sensibilizar a população para o trabalho que ambas<br />

desenvolvem.<br />

Uma pequena multidão de barrete prateado compôs a<br />

época, animando todos os que caminharam pelas ruas<br />

do centro histórico da cidade de Évora, um passeio<br />

coletivo, solidário e cultural. Um percurso desenhado<br />

a pensar em todos os que têm vontade de aderir<br />

a caminhos para se fazerem em conjunto. É assim que<br />

consideramos as ações de sensibilização e aproveitamos<br />

para angariar fundos, para colmatar algumas necessidades<br />

e melhorar a qualidade de vida daqueles a<br />

quem nos dedicamos e que caminham todos os dias<br />

connosco.<br />

Tivemos também como objetivo, sensibilizar para a<br />

deficiência intelectual e incapacidade. Os Eborenses<br />

aderiram a estas duas causas, mostrando mais uma vez,<br />

espírito de solidariedade!<br />

Manuela Ribeiro<br />

Técnica de Serviço Social<br />

da CERCIDIANA<br />

118 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 119


BREVES<br />

CERCIESTREMOZ<br />

CERCIPOM<br />

CERCIVAR<br />

PORQUE RIR É O<br />

MELHOR REMÉDIO!<br />

A CERCIESTREMOZ realizou pelo terceiro ano consecutivo<br />

o Projeto Interdependência Saudável cofinanciado pelo<br />

INR - Instituto Nacional para a Reabilitação. Este projeto<br />

tem como principal objetivo proporcionar aos nossos clientes<br />

e seus cuidadores formais e informais, atividades lúdicas<br />

de caráter terapêutico, cuja prática promove o alívio<br />

do stress e previne o desgaste de todos os intervenientes<br />

na relação: clientes, famílias e colaboradores, promovendo<br />

assim, esta relação de interdependência de uma forma saudável,<br />

pois acreditamos que deste modo, conseguiremos<br />

promover a qualidade de vida dos nossos clientes.<br />

A primeira atividade do projeto foi destinada aos nossos<br />

clientes e seus familiares e cuidadores, atendendo a um<br />

pedido realizado por ambas as partes (a realização da atividade<br />

em conjunto). Esta atividade integrou um Passeio<br />

Turístico pela Serra de Sintra e Cabo da Roca com almoço<br />

no Restaurante do Hotel Vila Galé no Estoril, seguindo-se<br />

uma visita à Boca do Inferno.<br />

CERCIMOR<br />

DANÇA DESPORTIVA<br />

A CERCIMOR através dos Centros de Atividades Ocupacionais<br />

de Montemor-o-Novo e Vendas Novas<br />

formalizou uma parceria com a Casa do Benfica de<br />

Vendas Novas com o objetivo de desenvolver sessões<br />

semanais de dança desportiva direcionadas a adultos<br />

com Síndrome de Down. A Casa do Benfica já desenvolvia<br />

a prática da dança desportiva dirigida a crianças<br />

e jovens do Concelho. Desta forma, pretendeu-se facilitar<br />

às pessoas com deficiência a participação na vida<br />

cultural, recreação, lazer e desporto, de acordo com<br />

a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.<br />

A professora Patrícia Tico, responsável por<br />

ministrar as sessões de dança na Casa do Benfica, foi<br />

uma das principais dinamizadoras deste projeto.<br />

As sessões decorreram nas instalações da Casa do<br />

Benfica em horário pós-laboral, envolvendo o apoio<br />

logístico da CERCIMOR. A evolução na aprendizagem<br />

observada em alguns dos elementos do grupo, faz prever<br />

que brevemente atinjam um desempenho que lhes<br />

permita entrar em competições distritais, nacionais ou<br />

Fechamos com chave de ouro (ou neste caso, prata!) com<br />

uma visita ao Casino do Estoril onde os 28 participantes<br />

assistiram, no magnífico Salão Preto e Prata, ao espetáculo<br />

de Revista “Volta ao Mundo em 80 Minutos”, com<br />

o ator João Baião entre outros, numa encenação de Filipe<br />

Lá Feria.<br />

Foi um espetáculo inesquecível que muito encheu de alegria<br />

e cor todos os participantes.<br />

A segunda e última atividade do projeto foi um Workshop<br />

de Yoga do Riso destinado aos colaboradores da nossa<br />

organização promovido pela Fundadora da Escola do<br />

Riso Joanne Helms, que teve a amabilidade de oferecer<br />

aos nossos clientes um workshop de Yoga do Riso que<br />

se realizou no dia 28 de dezembro e foi rir a bom rir do<br />

princípio ao fim!<br />

até internacionais. O grupo já fez apresentações em<br />

espetáculos de dança desportiva e eventos na comunidade<br />

especificamente em Setúbal, Vendas Novas e<br />

Redondo.<br />

Carla Rocha, Psicóloga e Diretora Técnica do CAO<br />

Carolina Marques, Técnica Superior<br />

de Serviço Social da CERCIMOR<br />

EXPERIMENT`ARTE<br />

Aqui fica um resumo da experiência da participação<br />

no âmbito do Projeto Laboratório Criativo Dança<br />

II - Residência Artística, promovida pala CERCI-<br />

MA durante os dias 20 a 24 de novembro 2017, cofinanciado<br />

pelo INR 2017. Ao longo de cinco dias,<br />

a cliente Joana Moita, acompanhada por mim, monitora<br />

da CERCIPOM, juntámo-nos a um grupo de<br />

cerca de 35 pessoas, entre técnicos e clientes de outras<br />

CERCI´s do país…. Maravilhoso, mágico e muita<br />

aprendizagem. Foi uma semana onde não faltou a<br />

partilha de experiências, fomentando a inclusão social,<br />

autonomia pessoal e social. Experienciámos várias<br />

dinâmicas de grupo promovendo a criatividade<br />

e capacidade de improvisação. E nada melhor para<br />

terminar esta semana, divulgando a dança inclusiva<br />

na comunidade.<br />

Tivemos o privilégio de apresentar o que todos nós<br />

trabalhámos durante os cinco dias, na Praça da República<br />

no Montijo. Magnífico, conseguimos fazer<br />

chegar as pessoas que ali passavam até nós. Foi tão<br />

bom… Foi sem dúvida uma excelente iniciativa, obrigado<br />

a todos por esta oportunidade.<br />

Paula Fonseca<br />

SERVIÇO DE APOIO<br />

À INCLUSÃO<br />

O SAI – Serviço de Apoio à Inclusão da CERCIVAR visa<br />

permitir a ocupação dos tempos livres das crianças e jovens<br />

com deficiência e/ou necessidades educativas especiais<br />

com atividades lúdicas, promovendo o seu bem-<br />

-estar e o prazer de brincar, a sua socialização e o seu<br />

desenvolvimento nos mais diferentes domínios, incutindo<br />

conceitos e valores de desenvolvimento sustentável, ambiente,<br />

vida saudável e por fim, uma inclusão ativa.<br />

O objetivo do SAI foi desde o início, criar um campo<br />

de férias para as pessoas com deficiência e/ou necessidades<br />

educativas especiais, promovendo a inclusão<br />

social através da Arte, do Desporto, da Cultura e outras<br />

atividades. Este projeto iniciado em 2015, já vai<br />

no terceiro ano de existência, e tem contado com uma<br />

boa adesão por parte dos familiares destas crianças e<br />

jovens.<br />

Em 2017, pudemos contar com a participação de várias<br />

entidades e empresas, na promoção de atividades<br />

experienciais, diferentes para esta população, tais<br />

como, aula de iniciação de surf, atividades de arte, hipoterapia,<br />

canoagem, ténis de praia, visita a museus,<br />

entre outras.<br />

120 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 121


BREVES<br />

CERCIOEIRAS<br />

DE MOCHILA ÀS COSTAS<br />

LISTA DE<br />

ASSOCIADAS<br />

onde comer, planear confeção de refeições quando<br />

possível, conhecer os recursos da comunidade a utilizar,<br />

recordar regras sociais e de segurança, decidir<br />

o que levar, fazer as malas/preparar a mochila...<br />

Durante a viagem: os participantes utilizaram de<br />

forma autónoma os serviços da comunidade necessários<br />

(transportes, bilheteiras, restaurantes,<br />

cafetarias, alojamento, sanitários, lojas, espaços<br />

culturais, etc.), e outros recursos, fizeram compras,<br />

escolheram refeições e estabelecimentos, identificaram<br />

custos, conheceram os pontos singulares<br />

das três cidades, conheceram outras pessoas com<br />

outros hábitos, experimentaram atividades típicas e<br />

divertiram-se.<br />

O Projeto ‘Mochila às Costas’ foi planeado e organizado<br />

pelos clientes e equipa técnica da Unidade<br />

Residencial da CERCIOEIRAS, e cofinanciado pelo<br />

Instituto Nacional para a Reabilitação (INR).<br />

O objetivo foi proporcionar a um grupo de 8 clientes,<br />

a possibilidade de participação e inclusão na<br />

comunidade, no seu expoente máximo, através da<br />

realização de um mini interrail de mochila às costas.<br />

Por outro lado, trabalhar competências funcionais<br />

ao nível da autonomia e, numa vertente pedagógica,<br />

aumentar conhecimentos culturais.<br />

O grupo era constituído por 8 clientes e 2 acompanhantes.<br />

Resultados: participação numa atividade inclusiva<br />

e inovadora para os clientes, maior consciencialização<br />

das oportunidades e barreiras da comunidade<br />

por parte das pessoas com deficiência, promoção<br />

da qualidade de vida, desenvolvimento da motivação<br />

para explorar diferentes interesses e necessidades<br />

e crescimento pessoal.<br />

Preparação da viagem: os clientes planearam uma<br />

viagem/roteiro completo de 6 dias, de 18 a 23 de<br />

setembro, a três cidades de Portugal (Porto, Aveiro e<br />

Coimbra). Foi necessário organizar todos os passos,<br />

desde assegurar as reservas de comboio e de alojamento,<br />

decidir os locais a visitar em cada cidade,<br />

Mafalda Malveiro<br />

Diretora Técnica do Lar Residencial<br />

da CERCIOEIRAS<br />

© CERCIFAF<br />

122 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 123


LISTA DE ASSOCIADAS<br />

ACIP<br />

Rua da Ribeira, Ed. Fonte - Loja C, E e F<br />

4770-207 Joane<br />

Tel: 252 928 610 / Fax: 252 928 608<br />

geral@acip.com.pt<br />

www.acip.com.pt<br />

www.facebook.com/acip.cooperativa<br />

C.E.C.D. Mira Sintra<br />

Av. 25 de Abril, 190<br />

2735-418 Cacém<br />

Tel: 219 188 560 / Fax: 219 188 579<br />

geral@cecdmirasintra.org<br />

www.cecdmirasintra.org<br />

www.facebook.com/cecd.mirasintra<br />

CEE RAINHA DONA LEONOR<br />

Rua Maria Ernestina Martins Pereira, nº 37<br />

2500-234 Caldas da Rainha<br />

Tel: 262 837 160 / Fax: 262 837 161<br />

ceerdl.administrativo@ceerdl.org<br />

www.ceerdl.org<br />

CERCIAG<br />

Raso de Paredes<br />

3750-316 Águeda<br />

Tel: 234 612 020 / Fax: 234 612 022<br />

cerciag@cerciag.pt<br />

www.cerciag.pt<br />

www.facebook.com/cerciag.pt<br />

CERCIAMA<br />

Rua Mestre Roque Gameiro, nº 12<br />

2700-578 Amadora<br />

Tel: 214 986 830 / Fax: 214 986 838<br />

geral@cerciama.pt<br />

www.cerciama.pt<br />

www.facebook.com/cerciama.pt<br />

CERCIAV<br />

Rua do Aires, 53-57<br />

S. Bernardo<br />

3810-205 Aveiro<br />

Tel: 234 390 980<br />

sede@cerciav.pt<br />

www.cerciav.pt<br />

CERCIAZ<br />

Rua Francisco Abreu e Sousa, nº 800<br />

3720-340 Oliveira de Azeméis<br />

Tel: 256 673 894 / Fax: 256 681 038<br />

geral@cerciaz.pt<br />

www.cerciaz.pt<br />

CERCIBEJA<br />

Quinta dos Britos, Apartado 6115<br />

7801-908 Beja<br />

Tel: 284 311 390<br />

geral@cercibeja.org.pt<br />

www.cercibeja.org.pt<br />

www.facebook.com/cercibeja.crl<br />

CERCI Braga<br />

Rua Dr. Domingos Soares, 25<br />

4710-670 Navarra<br />

Tel: 253 248 592 / Fax: 253 248 592<br />

info@cercibraga.pt<br />

www.cercibraga.pt<br />

www.facebook.com/CERCIBraga.pt<br />

CERCICA<br />

Rua Principal, 320, Livramento<br />

2765-383 Estoril<br />

Tel: 214 658 590 / Fax: 214 661 307<br />

cercica@cercica.pt<br />

www.cercica.pt<br />

www.facebook.com/CERCICASCAIS<br />

CERCICAPER<br />

Dordio<br />

Variante do Troviscal<br />

3280-050 Castanheira de Pêra<br />

Tel: 236 434 227 / Fax: 236 434 225<br />

cercicaper@sapo.pt<br />

www.cercicaper.pt<br />

www.facebook.com/cercicaper.ipss<br />

CERCICHAVES<br />

Antigo Jardim de Infância Santa Cruz<br />

Rua Inácio Pizarro<br />

5400-693 Chaves<br />

Tlm: 939403474<br />

cercichaves@gmail.com<br />

http://cercichaves.wixsite.com/cercichaves2016<br />

https://pt-pt.facebook.com/people/Cerci-Chaves/100015224535044<br />

CERCICOA<br />

Estrada de S. Barnabé, nº 28<br />

7700-015 Almodôvar<br />

Tel: 286 660 040 / Fax: 286 660 049<br />

cercicoa.dir@gmail.com<br />

www.cercicoa.pt<br />

https://www.facebook.com/cercicoa.almodovar<br />

CERCIDIANA<br />

Quinta do Feijão ao Espinheiro<br />

Apartado 92<br />

7002-502 Évora<br />

Tel: 266 759 530<br />

cercidianadireccao@gmail.com<br />

http://cercidianaevora.wix.com<br />

www.facebook.com/Cercidiana Évora<br />

CERCIESPINHO<br />

Rua de S. Martinho e Rua 25 de Abril<br />

Apartado 177, Anta<br />

4501-909 Espinho<br />

Tel: 227 319 061<br />

cerciespinho@cerciespinho.org.pt<br />

www.cerciespinho.org.pt<br />

http://pt-pt.facebook.com/cerci.espinho<br />

CERCIESTREMOZ<br />

Quinta de Santo Antão<br />

Apartado 108<br />

7101-909 Estremoz<br />

Tel: 268 339 750<br />

cerciestremoz@gmail.com<br />

www.cerciestremoz.pt<br />

www.facebook.com/cerciestremoz.crl<br />

CERCIFAF<br />

Rua 9 de Dezembro, 99<br />

4820-161 Fafe<br />

Tel: 253 490 830<br />

geral@cercifaf.pt<br />

www.cercifaf.pt<br />

www.facebook.com/cercifaf<br />

CERCIFEIRA<br />

Rua Dr. Santos Carneiro, 4<br />

4520-221 Santa Maria da Feira<br />

Tel: 256 374 472 / Fax: 256 375 535<br />

cercifeira@sapo.pt<br />

www.cercifeira.pt<br />

CERCIFEL<br />

Rua do Padre João, nº 5, Varziela<br />

4650-747 Felgueiras<br />

Tel: 255 336 417 / Fax: 255 336 417<br />

geral@cercifel.org.pt<br />

https://pt-pt.facebook.com/Cercifel-<br />

-Cooperativa-de-Solidariedade-Social-<br />

-CRL-252904978116708<br />

CERCI FLOR DA VIDA<br />

Quinta das Rosas<br />

2050-369 Azambuja<br />

Tel: 263 409 320<br />

geral.flordavida@mail.telepac.pt<br />

www.cerciflordavida.pt<br />

https://pt-pt.facebook.com/cerciflordavida<br />

CERCIFOZ<br />

Rua Visconde Sousa Prego, nº 14 - r/c Esq.º<br />

3080-110 Figueira da Foz<br />

Tel: 233 429 595 / Fax: 233 429 595<br />

cerci.foz@sapo.pt<br />

http://cercifoz.org<br />

https://www.facebook.com/cercifoz?fref=ts<br />

CERCIG<br />

Parque da Saúde da Guarda<br />

6300-777 Guarda<br />

Tel: 271 212 739<br />

secretaria@cercig.org.pt<br />

www.cercig.org.pt<br />

https://pt-pt.facebook.com/cerciguarda<br />

CERCIGAIA<br />

Rua Escola de S. Paio, 211<br />

4400-442 Vila Nova de Gaia<br />

Tel: 227 819 268 / Fax: 227 819 269<br />

cercigaia.dir@cercigaia.org.pt<br />

http://cercigaia.weebly.com<br />

https://www.facebook.com/Cercigaia<br />

CERCIGRÂNDOLA<br />

Rua Vitor Manuel Ribeiro da Rocha<br />

7570-256 Grândola<br />

Tel: 269 451 552 / Fax: 269 442 505<br />

cercicrl@netvisao.pt<br />

www.cercigrandola.org<br />

www.facebook.com/cercigrandola<br />

CERCIGUI<br />

Rua Raul Brandão, 195<br />

4810-282 Guimarães<br />

Tel: 253 423 370 / Fax: 253 423 379<br />

cercigui@cercigui.pt<br />

www.cercigui.pt<br />

www.facebook.com/Cercigui/<br />

CERCILAMAS<br />

Rua do Auditório, nº 125<br />

4535-576 Santa Maria de Lamas<br />

Tel: 227 442 478 / Fax: 227 460 085<br />

cercilamas@sapo.pt<br />

www.cerci-lamas.org.pt<br />

www.facebook.com/cercilamas<br />

CERCILEI<br />

Estrada das Moitas Altas, 279<br />

Pinheiros<br />

2401-976 Leiria<br />

Tel: 244 850 970 / Fax: 244 850 971<br />

geral@cercilei.pt<br />

www.cercilei.pt<br />

www.facebook.com/cooperativa.leiria<br />

CERCI<br />

Av. Avelino Teixeira da Mota, Lote E<br />

1950-035 Lisboa<br />

Tel: 218 391 700 / Fax: 211 954 667<br />

geral@cercilisboa.org.pt<br />

www.cercilisboa.org.pt<br />

https://www.facebook.com/Cerci-Lisboa-235171093183654<br />

CERCIMA<br />

Rua D. Nuno Álvares Pereira, nº 141<br />

2870-097 Montijo<br />

Tel: 212 308 510 / Fax: 212 308 511<br />

gestao@cercima.pt<br />

www.cercima.pt<br />

www.facebook.com/cercima.montijo.crl<br />

CERCIMAC<br />

Rua Dr. Henrique José Gonçalves, nº 21<br />

5340-532 Macedo de Cavaleiros<br />

Tel: 278 421 769<br />

cercimac@gmail.com<br />

www.facebook.com/cercimac.macedodecavaleiros<br />

CERCIMARANTE<br />

Rua de Guimarães, nº 869<br />

4600-112 Amarante<br />

Tel: 255 410 930<br />

geral@cercimarante.pt<br />

http://cercimarante.pt<br />

www.facebook.com/Cercimarante<br />

CERCIMB<br />

Rua Grão Vasco, nº 25<br />

2835-440 Lavradio<br />

Tel: 212 048 340 / Fax: 212 020 224<br />

cercimb.sede@gmail.com<br />

www.cercimb.pt<br />

www.facebook.com/cercimb<br />

CERCIMIRA<br />

Rua do Claros<br />

Cabeças Verdes<br />

3070-504 Seixo de Mira<br />

Tel: 231 489 560 / Fax: 231 489 569<br />

geral@cercimira.pt<br />

www.cercimira.pt<br />

www.facebook.com/cercimira<br />

CERCIMONT<br />

Av. Dom Nuno Álvares Pereira, nº 553<br />

5470-203 Montalegre<br />

Tel: 938 371 717<br />

cercimont@sapo.pt<br />

https://cercimont.wordpress.com<br />

www.facebook.com/Cercimont-1670893733154448<br />

CERCIMOR<br />

Crespa da Figueira<br />

7050-010 Montemor-o-Novo<br />

Tel: 266 899 410 / Fax: 266 899 415<br />

cercimor.crl@gmail.com<br />

www.cercimor.pt<br />

www.facebook.com/cercimor<br />

CERCINA<br />

Caminho Real<br />

Alto Romão<br />

2450-060 Nazaré<br />

Tel: 262 562 595 / Fax: 262 562 596<br />

cercina.secretaria@gmail.com<br />

www.cercina.pt<br />

https://www.facebook.com/CERCI-<br />

NA-182339101825256/<br />

CERCIOEIRAS<br />

Rua 7 de Junho, nº 57<br />

2730-174 Barcarena<br />

Tel: 214 239 680 / Fax: 214 239 689<br />

geral@cercioeiras.pt<br />

www.cercioeiras.pt<br />

www.facebook.com/CERCIOEI-<br />

RAS-115373211819030/?ref=hl<br />

CERCIPENELA<br />

Av. Infante D. Pedro, n.º 3<br />

3230-268 Penela<br />

Tel: 239 560 140 / Fax: 239 560 149<br />

cercipenela@cercipenela.org.pt<br />

http://www.cercipenela.org.pt<br />

https://www.facebook.com/cerci.penela<br />

CERCIPENICHE<br />

Rua Adelino Amaro da Costa<br />

2520-268 Peniche<br />

Tel: 262 780 080 / Fax: 262 789 963<br />

cercipeniche@cercipeniche.pt<br />

www.cercipeniche.pt<br />

www.facebook.com/cercipeniche<br />

CERCIPOM<br />

Av. Heróis do Ultramar, nº 108<br />

3100-462 Pombal<br />

Tel: 236 209 240 / Fax: 236 209 241<br />

geral@cercipom.org.pt<br />

www.cercipom.org.pt<br />

www.facebook.com/Cercipom<br />

CERCIPORTALEGRE<br />

Rua D. Olinda Sardinha<br />

Quinta da Lage<br />

7300-050 Portalegre<br />

Tel: 245 300 730 / Fax: 245 300 731<br />

cerciportalegre@cerciportalegre.pt<br />

https://www.facebook.com/Cerciportalegre-1518311555138062<br />

CERCIPÓVOA<br />

Rua do Morgado da Póvoa<br />

Lote 1, 2ª Fase<br />

Quinta da Piedade<br />

2625-229 Póvoa de Santa Iria<br />

Tel: 219 533 080 / Fax: 219 533 089<br />

geral@cercipovoa.pt<br />

www.cercipovoa.pt<br />

www.facebook.com/cercipovoa.ipss?fref=ts<br />

CERCISA<br />

Rua Eça de Queirós<br />

Miratejo, 2855-236 Corroios<br />

Tel: 212 535 660 / Fax: 212 531 280<br />

cercisa.secretaria@gmail.com<br />

http://www.cercisa.pt<br />

https://pt-pt.facebook.com/cercisa<br />

CERCISIAGO<br />

Rua das Nogueiras<br />

7540-162 Santiago do Cacém<br />

Tel: 269 818 660 / Fax: 269 818 668<br />

cercisiago@gmail.com<br />

www.cercisiago.org.pt<br />

https://pt-pt.facebook.com/cercisiago<br />

CERCITEJO<br />

Rua da Esperança, nº 6<br />

Bom Sucesso<br />

2615-305 Alverca<br />

Tel: 219 582 286<br />

geral@cercitejo.org.pt<br />

www.cercitejo.org.pt<br />

https://www.facebook.com/CERCITEJ0<br />

CERCITOP<br />

Rua Vale de S. Martinho, nº 1<br />

2710-402 Sintra<br />

Tel: 219 100 690 / Fax: 219 100 691<br />

geral@cercitop.org<br />

www.cercitop.org<br />

www.facebook.com/cercitop.oficial<br />

CERCIVAR<br />

Rua da Cercivar<br />

3880-161 Ovar<br />

Tel: 256 579 640 / Fax: 256 572 565<br />

geral@cercivar.pt<br />

www.cercivar.pt<br />

https://pt-pt.facebook.com/Cercivar-418371931599708/<br />

CERCIZIMBRA<br />

Rua dos Casais Ricos, nº1<br />

Sampaio<br />

2970-577 Sesimbra<br />

Tel: 212 681 335 / Fax: 212 682 001<br />

cercizimbra@cercizimbra.pt<br />

www.cercizimbra.org.pt<br />

www.facebook.com/Cercizimbra<br />

CRACEP<br />

Rua Coronel Armando da Silva Maçanita<br />

8500-383 Portimão<br />

Tel: 282 420 820 / Fax: 282 420 829<br />

geral@cracep.pt<br />

www.cracep.pt<br />

https://www.facebook.com/cracep<br />

CREACIL<br />

Rua da Fonte de S. Sebastião,<br />

Lote 1 ABC cave<br />

S. Sebastião de Guerreiros<br />

2670-517 Loures<br />

Tel: 219 891 092<br />

creacil@hotmail.com<br />

http://creacilblog.blogspot.pt<br />

www.facebook.com/loures.creacil<br />

CRINABEL<br />

Largo do Conde Barão, 5<br />

1200-118 Lisboa<br />

Tel: 213 943 350<br />

geral@crinabel.pt<br />

www.crinabel.pt<br />

https://pt-pt.facebook.com/CRINABEL<br />

RUMO<br />

Caixa Postal 5063<br />

Rua 19, nº 13, Baía do Tejo<br />

2831-904 Barreiro<br />

Tel: 212 064 920 / Fax: 212 064 921<br />

geral@rumo.org.pt<br />

http://rumo.org.pt/wp/<br />

https://www.facebook.com/Cooperativa.<br />

Rumo/<br />

124 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 125


LISTA DE ASSOCIADAS<br />

INSTITUIÇÃO<br />

APOIO ATIVIDADES<br />

DOMICILIÁRIO OCUPACIONAIS<br />

CRI<br />

EDUCAÇÃO<br />

ESPECIAL<br />

EMPREGO<br />

PROTEGIDO<br />

FORMAÇÃO INTERVENÇÃO UNIDADE<br />

PROFISSIONAL PRECOCE RESIDENCIAL<br />

OUTRAS<br />

INSTITUIÇÃO<br />

OUTRAS<br />

ACIP<br />

CECD<br />

CEERDL<br />

CERCIAG<br />

CERCIAMA<br />

CERCIAV<br />

CERCIAZ<br />

CERCIBEJA<br />

CERCIBRAGA<br />

CERCICA<br />

CERCICAPER<br />

CERCICHAVES<br />

CERCICOA<br />

CERCIDIANA<br />

CERCIESPINHO<br />

CERCIESTREMOZ<br />

CERCIFAF<br />

CERCIFEIRA<br />

CERCIFEL<br />

CERCI F.VIDA<br />

CERCIFOZ<br />

CERCIG<br />

CERCIGAIA<br />

CERCIGRÂNDOLA<br />

CERCIGUI<br />

CERCILAMAS<br />

CERCILEI<br />

CERCI<br />

CERCIMA<br />

CERCIMAC<br />

CERCIMARANTE<br />

CERCIMB<br />

CERCIMIRA<br />

CERCIMONT<br />

CERCIMOR<br />

CERCINA<br />

CERCIOEIRAS<br />

CERCIPENELA<br />

CERCIPENICHE<br />

CERCIPOM<br />

CERCIPORTALEGRE<br />

CERCIPÓVOA<br />

CERCISA<br />

CERCISIAGO<br />

CERCITEJO<br />

CERCITOP<br />

CERCIVAR<br />

CERCIZIMBRA<br />

CRACEP<br />

CREACIL<br />

CRINABEL<br />

RUMO<br />

ACIP<br />

Gabinete de Inserção Profissional; Atendimento e Acompanhamento Social; Rendimento Social de Inserção e Serviços Terapêuticos<br />

CECD<br />

Clinica de Medicina e Reabilitação<br />

CEERDL Residência Autónoma; Forum Socio Ocupacional; Centro de Atendimento, Acompanhamento da Pessoa com Deficiência<br />

CERCIAG<br />

Centro de Recursos do Centro de Emprego de Agueda; CLDS 3G “ADRO”<br />

CERCIAMA –<br />

CERCIAV<br />

Rendimento Social de Inserção; Centro de Recursos<br />

CERCIAZ –<br />

CERCIBEJA –<br />

CERCIBRAGA –<br />

CERCICA<br />

ATL Especializado; CERMOV; Editora Gráfica; CER Garden; CER Jardim; CER Plant - Centro de Recursos do Centro de Emprego<br />

CERCICAPER<br />

Centro de Acolhimento Temporário para Crianças e Jovens em Risco<br />

CERCICHAVES –<br />

CERCICOA<br />

Centro de Recursos Local; Residência Autónoma; Serviço de Atribuição de Produtos de Apoio<br />

CERCIDIANA –<br />

CERCIESPINHO Residência Autónoma; Centro Comunitário da Ponte de Anta; Contrato Local e Desenvolvimento Social; Centro de Recursos do IEFP; Oficinas de Produção; Serviços de Produção<br />

CERCIESTREMOZ Centro de Recursos Local<br />

CERCIFAF<br />

Centro de Recursos Local (IEFP); Serviço de Atendimento e Apoio Social<br />

CERCIFEIRA<br />

Jardim de Infância; ATL e Creche<br />

CERCIFEL –<br />

CERCI F.VIDA –<br />

CERCIFOZ –<br />

CERCIG<br />

Centro de Atividades de Tempos Livres; Residência Autónoma; Lar Residencial; RSI; Unidade Residencial de Apoio à Formação Profissional<br />

CERCIGAIA<br />

Creche<br />

CERCIGRÂNDOLA –<br />

CERCIGUI –<br />

CERCILAMAS<br />

Rendimento Social de Inserção<br />

CERCILEI<br />

Empresa de Jardinagem e Lavandaria<br />

CERCI<br />

CAARPD; Centro de Recursos IEFP<br />

CERCIMA<br />

Centro Comunitário; Residência Autónoma<br />

CERCIMAC –<br />

CERCIMARANTE Centro de Apoio Familiar e Aconselhamento Parental; Estrutura Residencial para Idosos; Lar Residencial<br />

CERCIMB –<br />

CERCIMIRA –<br />

CERCIMONT –<br />

CERCIMOR<br />

Centro de Apoio Familiar e Aconselhamento Parental; Centro de Recursos Local<br />

CERCINA<br />

Centro Qualifica; Centro de Atividades Aquáticas Adaptadas do Oeste; CAET; Erasmus +; Residência Autónoma<br />

CERCIOEIRAS<br />

Banco de Equipamentos e Tecnologias de Apoio<br />

CERCIPENELA Centro de Recursos para o IEFP; Residências Autónomas<br />

CERCIPENICHE Centro de Recursos IEFP; Serviço de Intervenção Terapêutica<br />

CERCIPOM<br />

Centro de Formação Profissional<br />

CERCIPORTALEGRE –<br />

CERCIPÓVOA<br />

ATL<br />

CERCISA –<br />

CERCISIAGO<br />

Residência Autónoma; Centro de Recursos Local<br />

CERCITEJO<br />

Espaço Tejo Saúde - Nucleo de Apoio Terapêutico; ATL<br />

CERCITOP<br />

Unidades de Cuidados Continuados Integrados; Clinica de Reabilitação; Cantina SociaL<br />

CERCIVAR –<br />

CERCIZIMBRA Creche e Pré-Escolar; Centro de Animação para a Infância<br />

CRACEP –<br />

CREACIL –<br />

CRINABEL –<br />

RUMO<br />

Formação de Técnicos; Programa Empreendedorismo Imigrante; Rede para a Empregabilidade Barreiro/Moita; Projeto Escolhas; Projeto Sem Abrigo e Vítimas de Violência<br />

126 Revista Fenacerci 2018<br />

Revista Fenacerci 2018 127


© CERCIMB | Street Paride | Chama da Solidariedade 2017<br />

E pronto, já está. Mais uma edição concluída, certamente deixando de fora muitas histórias<br />

e factos que seria importante partilhar convosco. Mas fomos até onde era possível ir e o<br />

resultado fica para vossa avaliação. O nosso agradecimento a todos quantos tornaram<br />

possível concretizar mais este número da revista: aos patrocinadores, sem os quais não<br />

podíamos ousar reembarcar nesta aventura, aos que colaboraram com textos e imagens<br />

que dão substância a este projeto anualmente renovado, às Cerci’s pela inspiração que nos<br />

transmitem e que alimenta esta vontade de mostrar o que fazem e aos colaboradores da<br />

Fenacerci pela disponibilidade para darem uma mãozinha sempre que é preciso. E como<br />

queremos voltar não dizemos adeus: talvez ATÉ JÁ!


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