Revista Fenacerci 2020
A FENACERCI disponibiliza a 27º Edição da Revista FENACERCI.
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EDITORIAL
Rogério Cação
Vice-Presidente
do Conselho de
Administração da
FENACERCI
Esta edição acontece num tempo particularmente difícil,
que nos fez alterar rotinas e repensar atitudes. A pandemia
com que ainda nos confrontamos veio pôr à prova
a nossa capacidade de resiliência perante um inimigo
poderoso e desconhecido, que punha particularmente
em causa a segurança dos mais frágeis. Mas fomos capazes
de resistir e, porque a vida continua, cá estamos
com mais uma Revista FENACERCI, onde mostramos um
pouco do que somos e do que sabemos, sempre com o
objetivo de, pela partilha de informações, opiniões e experiências,
podermos fazer mais e melhor.
Curiosamente, o tema da edição deste ano, escolhido
ainda quando a COVID 19 não se manifestava por aqui, já
era a Saúde. E daí contarmos com testemunhos de vários
profissionais conceituados, em domínios que temos necessidade
de conhecer e trabalhar melhor. Abordamos a
nutrição, a saúde oral, a problemática da dor ou a saúde
mental, temáticas que têm um interesse prático evidente,
dada a natureza da ação que desenvolvemos.
Este ano, por razões óbvias, não tivemos a Campanha
Pirilampo Mágico. As exigências de confinamento e as
regras de distanciamento e isolamento social propostas
pelas autoridades sanitárias, não eram compagináveis
com uma iniciativa que vive do contacto com as pessoas,
que faz da solidariedade uma festa de abraços. Mas cá
estaremos para o ano, com redobrada energia e acrescentada
solidariedade.
Não temos dúvidas que iremos sofrer grandes impactos
da situação que vivemos. Quer ao nível da sustentabilidade
das organizações e das famílias, quer ao nível dos
modelos de funcionamento organizacional, quer até ao
nível do quadro relacional com a comunidade. Vamos
ter de gerir fragilidades e inseguranças, e transformar
receios em esperança. E para isso, vamos necessitar de
todo o capital de solidariedade que conseguirmos mobilizar.
Nunca, como agora, a coesão fez tanto sentido e
se alguma coisa aprendemos nestes tempos difíceis que
atravessamos, é que juntos somos mais fortes.
É por isso que esta Revista pretende também ser uma
homenagem especial a todos os que nas nossas organizações,
deram um exemplo de profissionalismo e entrega,
de resiliência e coragem, de capacidade decisória
e bom-senso. Aos profissionais, que na sua esmagadora
maioria mostraram uma disponibilidade imensa para
adaptarem as suas funções às necessidades, fazendo
questão de estar na linha da frente; às famílias, que souberam
assumir uma atitude colaborante e responsável,
facilitando o trabalho das organizações; aos clientes
pelo exemplo de compreensão e civismo que sempre
souberam dar, aos dirigentes pela forma como souberam
reagir a uma situação adversa e inesperada.
Também nós, na FENACERCI, temos razão para estar
orgulhosos. A nossa equipa desdobrou-se para acompanhar
as múltiplas frentes onde foi chamada a intervir. E
fê-lo com empenhamento e qualidade. Muito obrigado a
todos e a todas. Juntos conseguimos!
REVISTA FENACERCI 2020 |
1
Ficha Técnica
Diretor: Rogério Cação
Coordenação de Edição: Ana Rita Peralta
Conselho de Administração: Ana Brás, Joaquim Pequicho,
Julieta Sanches, Rogério Cação, Rosa Neto
Apoio Logístico: Lucília Carrondo; Núria Shocron; Jorge
Duarte; Carlos Pires; Vânia Oliveira
Colaboração: ACIP; Alexandra Teles; Alyson Borges; Ananda
Fernandes; Anne Caroline Soares; Ana Mendes Godinho;
Ana Vieira; Andreia Dias; CECD Mira Sintra; CEERDL;
CERCIAG; CERCIAMA; CERCIAV; CERCIBEJA; CERCIBRAGA;
CERCICA; CERCICOA; CERCICAPER; CERCIDIANA;
CERCIESPINHO; CERCIFAF; CERCIGAIA; CERCIFEL;
CERCIGUI; CERCIGRANDOLA; CERCIMA; CERCIMAC;
CERCIMARANTE; CERCIMB; CERCIMONT; CERCINA;
CERCIPENICHE; CERCIOEIRAS; CERCIPORTALEGRE;
CERCITOP; CERCIZIMBRA; Cidália; CRINABEL; Cristina
Araújo; Cristina Pereira; Daniela Silva; Duarte Correia;
Fábio Miguel; Fátima Bizarra; Filipa Guerreiro; Filipa
Mateus; Floriano Jesus; Grupo de Autorrepresentantes
da Agustin Hernandez; Grupo de Autorepresentantes da
CERCIPORTALEGRE; Grupo de Autorrepresentantes do
CERIN; Iguana Garcia; Helena S.; Isabel Fialho; Jesús Lago
Solis; Joaquim Pequicho; Joana Aguiar; Joana Vieira; João
Paulo Albuquerque; Jorge Pereira; José Pedro Vieira; Lena
D´água; Leonor Sasseti; Lígia Gonçalves; Luís Silva; Mafalda
Diniz; Mafalda Malveiro; Manual Oliveira Carranjeta; Manuel
Silva; Mara Pedro; Marcelo Rebelo de Sousa; Maria Clara
Viegas; Maria Cristina Mealha; Maria João Fernandes; Marta
Jorge; Marta Temido; Miguel Blanco; Neves; Norberto
Mourão; Patricia; Paula Graça; Paulo Jorge Monteiro;
Pedro Leitão; Pedro Monteiro; Raquel Alexandre; Rebeca
Cifuentes; Rosa Couto; Rui; RUMO; Sandra R.; Sara Gésero
Neto; Silvia Gonçalves; Sónia B.; Sónia Nunes; Vânia Castro;
Soraia Abreu; Teresa M.; Teresa Ramos; Vasco Araújo
Sede de Redação e do Editor:
Rua Augusto Macedo, nº 2 A – 1600-794 Lisboa
Fotografia de Autor (Capa e Contracapa):
Ana Rita Peralta
Conceção Gráfica:
Design e Forma
Centro Empresarial de Carnaxide
Av. Tomás Ribeiro nº47 – 4º A,
2790-463 Carnaxide
Impressão: Printer Portuguesa
Av. Major General Machado de Sousa, 28
Edífio Printer – Casais de Mem Martins
2639-001 Rio de Mouro
Tiragem:
4000 Exemplares
Propriedade:
FENACERCI – Federação Nacional de Cooperativas de
Solidariedade Social
Rua Augusto Macedo, nº 2 A – 1600-794 Lisboa
fenacerci@fenacerci.pt
www.fenacerci.pt
https://www.facebook.com/FENACERCI
https://www.instagram.com/fenacerci
Depósito Legal: 77867/94 ISSN 0872 – 7945
Número de Registo na ERC – 126446
NIPC – 501562966
Todos os artigos que integram a Revista FENACERCI
são da inteira responsabilidade dos seus autores, não
se vinculando a Federação às opiniões emitidas pelos
mesmos.
Esta publicação encontra-se escrita ao abrigo do novo
acordo ortográfico.
Estatuto Editorial
A Revista FENACERCI é uma Revista Anual de
informação geral que pretende dar, através do texto e
da imagem, uma ampla cobertura dos mais importantes
e significativos testemunhos em todos os domínios
de interesse na área dos Direitos da População com
Deficiência Intelectual e/ou Multideficiência;
A Revista FENACERCI é independente do poder político,
do poder económico e de quaisquer grupos de pressão;
A Revista FENACERCI identifica-se com os valores da
Democracia Pluralista e Solidária;
A Revista FENACERCI rege-se, no exercício da sua
atividade, pelo cumprimento rigoroso das normas éticas
e deontológicas do jornalismo;
A Revista FENACERCI defende o pluralismo de opinião,
sem prejuízo de poder assumir as suas próprias posições;
A Revista FENACERCI pauta-se pelo princípio de que os
factos e as opiniões, devem ser claramente separados:
os primeiros são intocáveis e as segundas são livres. Em
vigor desde a fundação da Revista.
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Índice EDITORIAL 1
MENSAGEM DE ABERTURA 4
OPINIÃO 6
PERPLEXIDADE, COMPLEXIDADE
E SOLIDARIEDADE 28
HAJA SAÚDE 38
CERCI’S: O CAMINHO FAZ-SE A
ANDAR 58
NÓS POR NÓS PRÓPRIOS 92
VENHA DE LÁ ESSE ABRAÇO 102 OLHÓMETRO 116
ATÉ JÁ PIRILAMPO 118
BREVES 130
LISTA DE ASSOCIADOS
E SERVIÇOS 139
PONTO FINAL 144
REVISTA FENACERCI 2020 |
3
MENSAGEM DE ABERTURA
Marta Temido
Ministra da Saúde do XXII Governo Constitucional
Se, como a Organização Mundial de Saúde, definirmos
a saúde como o estado de completo
bem-estar físico, mental e social e não apenas a
ausência de doença, falar de saúde é uma tarefa
com um grau de dificuldade acrescido.
É mais difícil, por ser mais subjetivo, porque depende
do juízo individual de cada um, saber em
cada momento se estamos bons ou não – o que
é bem-estar social para mim, pode não ser para
outra pessoa.
É mais fácil, por ser mais objetivo, olhar para resultados
laboratoriais e verificar se os parâmetros
em análise estão perto ou longe do normal e
assim concluir se há ou não doença.
Já perceber como alguém se relaciona com o respetivo
ecossistema, como interage com a envolvente
social, como se vê a si próprio no seio do
grupo dos pares é mais complexo e desafiante.
Claro que este ano de 2020 levou o tema da saúde
para uma área diferente, muitas vezes esquecida
por ser dada como adquirida nos países desenvolvidos
e que é da saúde pública.
Se estamos habituados a falar de vacinas e do
Plano Nacional de Vacinação ou de estilos de vida
saudáveis, sermos confrontados com uma pandemia
e um vírus novo que provoca uma doença
nova para a qual não há tratamento eficaz nem
vacina, é um problema de saúde pública que a
humanidade não conhecia há algum tempo.
Neste quadro, fomos todos obrigados a reaprender
a viver num novo normal e a sermos agentes
da saúde pública, promotores da sanidade coletiva
e responsáveis por nós individualmente.
O rigor com que cumprimos as regras de etiqueta
respiratória, distanciamento físico e limpeza
das mãos reflete-se coletivamente na saúde de
todos.
Nunca como agora foi tão aguda a consciência
de que estamos todos juntos a lutar contra a CO-
VID-19 e de que o nosso futuro coletivo é igual
para todos, novos e velhos, ricos e pobres.
O facto de enfrentarmos uma doença comum
garante também que estejamos todos empenhados,
cada um à sua medida, na procura das
soluções, tratamentos e vacinas que nos vão
conduzir à saída vitoriosa deste desafio que se
apresentou ao mundo.
Mas relativamente ao significado do esforço coletivo,
a FENACERCI não recebe lições de ninguém
e por isso termino a minha mensagem de
abertura da revista de 2020 com um agradecimento
pelo trabalho desenvolvido e votos acrescidos
de ânimo para continuar.
4 REVISTA FENACERCI 2020
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© DR
OPINIÃO
Às vezes, por estarmos demasiado envolvidos nos problemas, construímos
leituras que são viciadas pela nossa vontade de encontrarmos
os melhores caminhos o mais rapidamente possível. É por isso que é
importante trazermos para o debate vozes que, reconhecidamente
abalizadas para emitirem opiniões, estão suficientemente distanciadas
para não se deixarem levar pelo envolvimento emocional que, quer
queiramos quer não, por vezes, nos tolda uma visão que deveria ser
muito clara dos factos e das coisas. Ouvir os outros, naquilo que têm de
convergente ou divergente do nosso pensamento e da nossa ação, é a
melhor forma de crescermos, de nos questionarmos sobre o que julgamos
que fazemos bem para que, detetadas eventuais falhas ou erros,
os possamos corrigir e fazer melhor. Fica por isso a nossa expressão
de gratidão aos especialistas que se disponibilizaram para, com o seu
saber, nos ajudarem a fazer ainda mais e melhor
com as pessoas que apoiamos.
OPINIÃO
A Importância dos
Instrumentos de Avaliação
da Dor em Pessoas com
Deficiência Intelectual e/ou
Multideficiência
Quem nunca
se perguntou:
estará com
dores?
Ananda Fernandes
Professora Coordenadora da
Escola Superior de Enfermagem
de Coimbra
Especialista em Enfermagem
de Saúde Infantil e Pediatria
amfernandes@esenfc.pt
Quando alguém não consegue dizer “Dói”, como
saber se estará com dores? Quem nunca teve
essa dúvida perante uma pessoa que não comunica
como a maior parte de nós? Porque a avaliação
e tratamento da dor são uma questão de
comunicação.
A forma como a dor é encarada em pessoas com
problemas de desenvolvimento está relacionada
com a maneira como a sociedade encara as pessoas
com deficiência, em particular intelectual.
Durante séculos, prevaleceu o mito de que estas
pessoas não sentiam dor ou, se a sentiam, ela
era-lhes indiferente, não causando sofrimento.
Felizmente, esta visão mudou.
A compreensão da experiência complexa e privada
que é a Dor tem aumentado muito no último
meio século e a investigação dos últimos 30
anos tem nos ajudado a avaliar e tratar melhor
a dor em adultos conscientes e orientados, em
crianças pequenas e mesmo em bebés. Mas sabemos
ainda pouco sobre a avaliação da dor em
pessoas com deficiência cognitiva, alterações
neurológicas, paralisia cerebral, autismo, enfim,
em pessoas não verbais ou que, verbalizando,
se expressam de maneira atípica, diferente da
maioria, independentemente de terem ou não
incapacidade física, e cuja deficiência se traduz
nalguma forma de défice intelectual. Chamemos
a este grupo, com caraterísticas muito diversas,
pessoas com problemas de desenvolvimento.
O que fazer, então, quando surge a dúvida sobre
se estarão com dor?
Desde logo, é necessário entender o que é a
dor, como é que ela atinge as pessoas com problemas
de desenvolvimento e como a podemos
avaliar e tratar.
Do ponto de vista biológico, a dor aguda é uma
experiência fundamental para a nossa sobrevivência,
pois é um sinal de alerta para uma
ameaça à nossa integridade física. É o que nos
ensina a evitar os perigos, leva ao médico, obriga
ao repouso para recuperar de um traumatismo.
Mas a dor é também uma fonte de intenso
sofrimento quando não é reconhecida ou devidamente
tratada, ou quando se torna crónica,
8 | REVISTA FENACERCI 2020
prolongando-se no tempo e surgindo repetidas
vezes.
Enquanto experiência que envolve sensações e
emoções desagradáveis, a dor pode ser descrita
por palavras como “picada, pontada, moinha,
peso, …” ou “insuportável, horrível, …”. Mas a incapacidade
de verbalizar a dor não nega a possibilidade
de que um indivíduo a sinta e tenha
necessidade de tratamento para a aliviar.
Hoje sabemos que as pessoas com problemas de
desenvolvimento podem ter dor pelas mesmas
causas que a restante população e têm, além
disso, dores que resultam dos seus problemas
neurológicos, músculo esqueléticos e outros. A
sua condição clínica expõe-nas a tratamentos e
cirurgias de que as outras crianças da mesma
idade não necessitam. Por exemplo, crianças e
jovens com paralisia cerebral necessitam, muitas
vezes, de tratamentos dentários ou cirurgias
para corrigir deformidades, os quais acarretam
dor aguda. Também sofrem de dor crónica relacionada
com a sua espasticidade e posições
desalinhadas da cabeça, do tronco e dos membros.
A fisioterapia de que necessitam pode
também ser dolorosa. O refluxo gastro esofágico
e a obstipação são outra causa frequente de
dor. Crianças com Síndroma de Down, não raro,
têm doenças cardíacas e leucemias. Ou seja, os
estudos indicam que pessoas com problemas de
desenvolvimento têm dor, aguda e crónica, com
maior frequência e intensidade do que a população
em geral.
Ora, quando alguém tem dor, a verbalização
dessa dor, ou autorrelato, é a forma mais comum
e mais fácil de comunicar a dor. E é fácil
de entender por parte de cuidadores e profissionais.
Assim, as pessoas que se expressam de maneira
diferente do habitual ficam em desvantagem
para comunicar a sua dor. A nossa capacidade
de sabermos se têm dor é, pois, inferencial, isto
é, baseia-se na nossa interpretação das suas expressões
e comportamentos. Como já dissemos,
é uma questão de comunicação: o que me está a
“dizer” a pessoa com dor? O que a estou a “ouvir
dizer”?
Dum lado e do outro há muitos fatores a influenciar.
Por um lado, a experiência de dor (sensações,
emoções e pensamentos) é influenciada
por fatores biológicos, genéticos, experiências
anteriores, mas também do contexto em que
ocorre a dor; a expressão da dor depende do
repertório de linguagem e das habilidades motoras.
Muitas manifestações não são específicas
da dor (como a expressão facial, o choro, as vocalizações
ou a agitação motora) e algumas podem
ser atípicas, como os problemas de sono,
manifestações de ansiedade, problemas gastrintestinais,
exacerbação de comportamentos
de autoagressão. O repertório destas manifestações
também é variável, por exemplo, os autistas
têm um leque de expressões faciais menor,
por isso podem mostrar menos expressão
facial, embora tenham mais aceleração cardíaca
quando se colhe sangue, o que mostra a ativação
do seu sistema de stress perante um estímulo
doloroso. Enquanto o autorrelato da dor é,
geralmente, paralelo à experiência de dor, estas
outras manifestações podem ser discordantes
ou estar desfasadas, sobretudo em pessoas com
problemas de desenvolvimento. As suas formas
de expressão verbal e não-verbal podem ser
ambíguas, tornando difícil aos familiares, cuidadores
e profissionais de saúde saberem se se
trata de dor, e se esta necessita de ser tratada.
Por outro lado, a avaliação da dor depende da
atenção, sensibilidade, atitude e empatia do
REVISTA FENACERCI 2020 |
9
OPINIÃO
cuidador, mas também, do relacionamento
existente; a decisão de intervir ou não, e como,
depende do conhecimento e da experiência do
cuidador/profissional, mas também das circunstâncias
e do contexto.
Por tudo isto, é amplamente reconhecido que
os cuidadores habituais estão geralmente aptos
a identificar que alguma coisa não está
bem, mas, tal como os profissionais, nem sempre
conseguem reconhecer e valorizar corretamente
a dor. Muitas vezes, pensam que não
há nada a fazer. Daí que as pessoas com problemas
de desenvolvimento façam parte de
uma população mais vulnerável ao subtratamento
da dor.
Para tornar a avaliação mais fiável e objetiva,
têm sido propostas algumas escalas para avaliar
a dor em crianças, jovens e adultos com
problemas de desenvolvimento. Entre elas, encontram-se
a DESS (Douleur-Enfant San Salvadour),
a NNCCPC-R (Non-Communicating
Children’s Pain Checklist—Revised), a FLACC-R
(Faces, Legs, Activity, Cry, Consolability - Revised).
Qualquer destas escalas consiste na
observação e pontuação dos comportamentos
apresentados pela pessoa com problemas
de desenvolvimento, para concluir se tem ou
não dor e se o nível de dor requer tratamento.
O tratamento é possível e depende da causa e
de outras medicações, seguindo as mesmas regras
usadas para outras populações.
Devemos, então, ter presente que crianças e
jovens com problemas de desenvolvimento
têm dor com mais frequência que os seus pares
da mesma idade. Porque a sua capacidade
de comunicar é reduzida ou atípica, e porque
a avaliação da dor é uma questão de comunicação,
estas crianças e jovens estão mais vulneráveis
ao não tratamento adequado das suas
dores. Alterações do comportamento habitual
devem levar os familiares e cuidadores habituais
a estar atentos à possibilidade de ser dor,
e a alertar para isso os profissionais de saúde.
Estes, com o apoio dos familiares e cuidadores
habituais, devem ser capazes de examinar
detalhadamente a criança e a sua história, e
de utilizar uma escala de avaliação da dor que
ajude a tomar decisões quanto ao melhor tratamento,
seguindo as recomendações já existentes.
Na dúvida, é preferível tratar e ver se
resulta.
“O acesso ao tratamento da dor é um direito
humano fundamental.” Declaração de Montreal,
2010
BIBLIOGRAFIA
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H Brookes Publishing Co.
10 | REVISTA FENACERCI 2020
PUB
OPINIÃO
Os Desafios da Saúde
Oral que Portugal
enfrenta em Pessoas
com Deficiência Intelectual
e/ou Multideficiência
Para uma boa saúde oral a nossa atenção deve
estar focada na prevenção. Sendo a saúde oral
parte integrante da saúde em geral, manter a
nossa saúde oral deve ser uma prioridade constante.
Nos últimos tempos, tem-se verificado
uma evolução gradual de mentalidades direcionadas
neste sentido. O nosso conhecimento e
atenção assumem uma importância redobrada
quando falamos em pessoas com algum tipo de
deficiência, uma vez que estas têm risco acrescido
de desenvolver doenças orais tais como
cárie dentária, doenças gengivais, entre outras.
Os cuidados diários de higiene oral são indispensáveis
para manter a saúde oral e melhorar
a mastigação, autoestima e aparência. A má
prática de higiene oral, quer pela capacidade
diminuída ou inexistente do indivíduo, quer
pela negligência ou dificuldade dos cuidadores,
representa um dos riscos que compromete a
saúde oral. Uma escovagem deficiente não irá
remover toda a placa bacteriana que se forma
ao longo do dia, provocando a inflamação das
gengivas. Esta placa bacteriana, se ficar durante
algum tempo, pode-se transformar em tártaro
(pedra nos dentes), que irá agravar o estado
gengival com aumento da hemorragia gengival.
Na escovagem dos dentes deve tentar chegar a
todos os dentes e realizá-la a seguir às refeições
ou pelo menos, de manhã após o pequeno-almoço
e à noite, antes do deitar. Porém, o acesso
à cavidade oral pode-se tornar numa tarefa
diária desafiante, pela presença de movimentos
involuntários ou falta de colaboração para a escovagem.
Existem no entanto, técnicas que podem
ajudar nesta tarefa.
Por vezes, existe uma tendência para se adotarem
hábitos alimentares incorretos, bebidas e
alimentos ricos em hidratos de carbono, entre os
quais, os açúcares. Os alimentos de consistência
mole, pegajosa e pastosa são mais retentivos,
ficando longos períodos de tempo na cavidade
oral, aderidos a dentes e gengivas. Como em
muitos casos, a capacidade de autolimpeza oral,
sobretudo pela saliva e língua, está dificultada ou
não existe, levando ao aumento de doenças orais.
Aliado à prática de hábitos saudáveis, surge a
necessidade de visitas regulares ao higienista
oral ou ao dentista, pelo menos duas vezes por
ano. Porém, o acesso ao tratamento dentário
ainda é um obstáculo para muitas famílias, não
12 | REVISTA FENACERCI 2020
Fátima Bizarra
Coordenadora da Clínica de Higiene Oral para Pessoas
com Necessidades Especiais e Professora Auxiliar
da Faculdade de Medicina Dentária
da Universidade de Lisboa
só por dificuldades de acesso devido a barreiras
arquitetónicas como por falta de controlo dos
movimentos, insegurança, medo ou vergonha
de não serem entendidos pelos profissionais de
saúde oral.
Por outro lado, em Portugal, a formação especializada
de profissionais para o tratamento oral
de pessoas com necessidades especiais encontra-se
em via de desenvolvimento. Hoje em dia,
já existem higienistas orais e dentistas experientes
no atendimento desta população. Ainda
assim, determinados profissionais de saúde
oral, sem formação específica neste âmbito, por
vezes manifestam algum receio e falta de confiança
na realização de tratamentos a estes indivíduos,
derivado ao desconhecimento.
No sentido de contrariar essa dificuldade, a Faculdade
de Medicina Dentária da Universidade
de Lisboa (FMDUL), aposta na formação centrada
na realização de cuidados de saúde oral
a indivíduos com deficiências, onde existe uma
consulta para Pacientes com Necessidades Especiais
preparada e capacitada para o atendimento
desta população. Nas consultas, a pessoa
com deficiência, é tratada com todo o carinho,
atenção e profissionalismo mesmo quando manifestam
dificuldade de colaboração, pela existência
de movimentos involuntários, estados
emocionais, comportamentos ou pela falta de
ambientação às instalações. Os profissionais
estão preparados para todas estas adversidades
que contribuem para o comprometimento
da saúde oral, percebendo assim, que estas pessoas
requerem cuidados e serviços próprios, e
tendencialmente mais regulares, que os necessários
pela restante população.
A consulta de higiene oral está focalizada na
prevenção das doenças orais, educação e motivação
para a higiene oral, sendo o objetivo aumentar
a autonomia na realização dos cuidados
de higiene oral, englobando sempre a colaboração
dos cuidadores no processo com o ensino
de técnicas adaptativas aos cuidadores quando
existe falta de colaboração. O tratamento dentário,
sempre que seja necessário, também está
disponível com dentistas especializados neste
grupo populacional.
Ao investirmos na prevenção, para além de assegurarmos
uma boa saúde oral, poupamos na
realização de tratamentos mais complexos e financeiramente
dispendiosos.
Na concretização de bons hábitos e comportamentos
de prevenção, conseguimos progressivamente
assegurar a preservação da saúde oral,
da pessoa com deficiência, melhorando a sua
qualidade de vida.
REVISTA FENACERCI 2020 |
13
OPINIÃO
Deficiência Intelectual
e Doença Mental: Quando
a Fronteira Vira Território
Permitam-me que comece por evitar qualquer dos
termos que identificam este artigo, Deficiência Intelectual
e Doença Mental. Em vez disso, utilizarei
um outro, o das Perturbações do Neurodesenvolvimento,
que permite exatamente isso: apagar a fronteira
e criar território.
As pessoas com Perturbações do Neurodesenvolvimento
lidam com dificuldades de adaptação ao
meio ambiente que enfatizam as diferenças entre
o seu funcionamento e a maioria da população. Tal
deve-se sobretudo à organização desse meio ambiente
de forma a adequar-se à maioria das pessoas,
mas não a todas as pessoas. Destacamos, a propósito
desta abordagem, o movimento da neurodiversidade,
organizado por autistas designados de alto
funcionamento que consideram que o autismo não
é uma doença a ser tratada e se for possível curada.
Trata-se antes de uma diferença humana que deve
ser respeitada como outras diferenças (sexuais, raciais,
entre outras). Os ativistas do movimento de
neurodiversidade opõem-se aos grupos de pais de
filhos autistas e profissionais que procuram uma
cura para a doença (1).
Na tentativa de organizar as manifestações das Perturbações
do Neurodesenvolvimento, definimos
quadros sindromáticos, que queremos objetivos e
bem definidos, mas na realidade o que encontramos
são pessoas, com o seu funcionamento próprio,
em que a presença de determinados traços
predominantes (não lhe querendo chamar “sintomas”)
de comportamento, não exclui outros que
encaixamos noutro quadro diagnóstico. É assim
que surge o conceito de Diagnóstico Duplo dentro
da Perturbação do Desenvolvimento Intelectual,
procurando estruturar um diagnóstico abrangente,
multiaxial, que permita organizar uma intervenção
interdisciplinar o mais eficiente possível.
Vários estudos tentam documentar esta realidade,
embora a sua divulgação seja escassa entre os profissionais
de saúde mental. A prevalência mais alta
de patologia psiquiátrica está bem documentada.
“Em comparação com jovens sem DI (Deficiência
Intelectual), os jovens entre os 3 e os 17 anos com
DI tiveram uma prevalência estatisticamente mais
alta de problemas de saúde mental e do desenvolvimento
neurológico, e de uso de cuidados de saúde
mental e de medicamentos para problemas de
saúde mental e do neurodesenvolvimento (excepto
défice de atenção e hiperatividade) (2).
Esta realidade continua pouco conhecida e valorizada
pelos profissionais de saúde mental. Noutro
estudo, “as perturbações psiquiátricas são comuns
entre adultos com DI e o perfil de transtornos psiquiátricos
difere do encontrado na psiquiatria geral.
É necessária uma estreita colaboração entre os
prestadores de serviços gerais e os especialistas,
para que seja alcançada a mudança para o uso de
serviços psiquiátricos gerais nessa população. As
medidas devem incluir um caminho claro para o
atendimento de pessoas com DI e problemas de
saúde mental, a fim de facilitar a transferência suave
de pacientes entre serviços especializados e cuidados
primários, e acordos para trabalho conjunto,
onde é necessária a contribuição de ambos os
serviços.” (3). Nomeadamente, “o estudo da psicose
em pessoas com deficiência intelectual beneficia a
população com deficiência intelectual e ajuda na
compreensão da psicose na população em geral. Os
profissionais de saúde mental precisam de conhecimento
adequado para lidar com os altos índices
14 | REVISTA FENACERCI 2020
João Paulo Albuquerque
Médico Psiquiatra
Centro de Recuperação
de Menores D. Manuel
Trindade Salgueiro (IHSCJ)
de psicose nessa população” (4).
O limite que separa o normal do patológico nunca
é claro. Nele participam, para além dos sintomas
em si mesmos (ansiedade, tristeza, pensamentos
invasivos, despersonalização ou desrealização, alucinações,
…), a pessoa, que os vive em função da sua
personalidade (valorizando-os mais ou menos, sentindo-se
mais ou menos capaz de lidar com o que
sente), e o meio envolvente, onde se encontram fatores
protetores e outros predisponentes ao adoecer,
e que têm a ver com tudo: as pessoas significativas
(de suporte ou ameaçadoras), a alimentação,
o meio físico, os horários e rotinas, as actividades
que desempenha, os apoios técnicos com que conta,
os tratamentos médicos, … . Desenhamos assim
uma equação complexa, cujo resultado, para o bem
e para o mal, é sempre incerto. Ninguém “é” doente,
porque não está condenado a “estar” sempre
doente. Dentro da sua circunstância, pode encontrar
uma constelação de fatores que o protejam da
manifestação da sua fragilidade, permitindo-lhe
manter um equilíbrio saudável. Da mesma forma, a
pessoa com perturbação do neurodesenvolvimento
não está obrigada a identificar-se sempre com as
dificuldades de funcionamento que sente, e pode
criar um contexto de vida em que essas dificuldades
não são diferentes daquelas que a maioria das
pessoas sente.
Para complicar, a identificação de estados de doença
nas pessoas com perturbação do neurodesenvolvimento,
a manifestação do sofrimento associado à
doença é particular nestas pessoas, e as alterações
do comportamento são muitas vezes a única forma
de expressão desse sofrimento. Num estudo, em
que curiosamente, o autor tem o cuidado de identificar
a população alvo como administrativamente
identificada como tendo DI, salvaguardando a realidade
muito mais complexa que define a circunstância
destas pessoas, “Sessenta e dois por cento da
população com DI (n = 915) tiveram um problema
de comportamento (comportamento auto-destrutivo,
estereotipado ou agressivo / destrutivo)
e 18,7% tiveram um problema de comportamento
identificado como comportamento desafiador,
resultando numa prevalência de 80,3 por 100.000
na população base”. Os marcadores de risco mais
pronunciados para problemas de comportamento
foram: gravidade da DI, autismo, distúrbios do sono
noturno, hipersensibilidade sensorial, disfunção da
comunicação, défices sociais, apoio psiquiátrico e
medicação psicotrópica. Marcadores de proteção
REVISTA FENACERCI 2020 |
15
OPINIÃO
eram Trissomia 21 e, em certa medida, paralisia cerebral”
(5)
A personalidade, sendo crucial na forma como a
pessoa lida com os sintomas como já dissemos, tem
um papel particularmente significativo nas pessoas
mais diferentes, como as pessoas que lidam
com situações identificadas como “deficiência”. A
personalidade é definida como um modo de ser
estável no tempo, identificador da pessoa na sua
relação consigo própria e com o mundo, e resultante
de fatores inatos, eminentemente biológicos,
e outros adquiridos ao longo do desenvolvimento
da pessoa até à idade adulta. Há a tendência a valorizar
sobretudo os fatores relacionais associados
ao desenvolvimento psico-afetivo e à educação da
pessoa, na construção da sua personalidade, talvez
porque a pespetiva compreensiva da maneira de ser
das pessoas é humanamente mais fácil de apreender,
e também mais aliciante. Maldosamente, alguém
dizia que “a psicanálise é uma mentira muito
bem contada”. Sem adotarmos posições extremistas
como esta, temos no entanto de salvaguardar
os aspetos biológicos referidos na definição que
apresentámos de personalidade. Há de facto, sem
que se compreenda, mas porque é a natureza mais
íntima, primária, e essencial da pessoa, um modelo
afetivo que determina, a prióri, a forma como a pessoa
se relaciona consigo e com o mundo. É a partir
desta base que a construção da pessoa se vai organizando.
Infelizmente, as tendências inatas tendem
a ver-se reforçadas nas interações com os outros.
A psicologia animal ajuda-nos nesta compreensão.
Se um indivíduo se sente frágil junto do outro, e por
isso assume uma atitude passiva, o outro é automaticamente
colocado numa posição mais proativa, e
por isso tende a dominá-lo, acentuando essa fragilidade.
Se se sente inseguro e por isso assume uma
postura defensiva, o outro é colocado na posição
de ameaça ou agressor, e reage dentro desse papel,
reforçando a experiência de insegurança face a um
mundo ameaçador. E pouco a pouco a pessoa organiza-se,
com os seus núcleos de fragilidade, de segurança,
com os seus mecanismos de defesa mais
ou menos saudáveis, até estabilizar num adulto em
que o conjunto de todos estes elementos define a
pessoa que é.
As pessoas com perturbações do neurodesenvolvimento
têm, pelas suas caraterísticas inatas, uma
dificuldade de funcionamento no meio de vida habitual
que facilita a experiência de se sentir diferente.
Essa experiência é confirmada na aprendizagem
que fazem ao longo do seu crescimento (orientada
por familiares, educadores, e técnicos) e acabam
por se identificar como tal, como “diferentes”.
Ficam assim impedidos de se verem como mais
um, diferente apenas na medida em que todos
somos diferentes, e por isso integrado, na igualdade
do experimentar-se humano, partilhando
as angústias, incertezas e medos universais. Esta
será, provavelmente, a última grande tarefa que
todos teremos, num contexto técnico ou como
cidadãos, de conseguir que as pessoas que procuramos
ajudar se vejam como mais um, com
fragilidades e potencialidades, mas com um papel
social que não o torna diferente. Só assim
poderemos apagar um outro fator patológico, a
autoestigmatização, que perpetua os papéis de
alguém que precisa de ajuda e de outro que ajuda,
impedindo a integração plena da pessoa que
é o alvo da nossa intervenção. Que em última
análise, não precisa de ajuda, porque o mundo
em que vive também está feito à sua medida.
BIBLIOGRAFIA
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16 | REVISTA FENACERCI 2020
Primórdios da
Pediatria
em Portugal
José Pedro Vieira,
Neuropediatra
do Hospital D.
Estefânia – CHLC,
Lisboa Central
Até ao século XVIII, a criança era considerada uma
miniatura do adulto e a doença interpretada como
um processo de regeneração moral, sendo a elevada
mortalidade um acontecimento esperado. No
século XV e até ao início do século XX era habitual
o abandono de crianças acabadas de nascer com
defeitos congénitos ou com peso deficiente, situações
consideradas incuráveis. Em determinadas
circunstâncias, utilizava-se a chamada Roda, que
era um método utilizado para, preservando o anonimato,
abandonar recém-nascidos que ficavam
entregues a instituições de caridade.
Durante o século XIX, coincidindo com a Revolução
Industrial, por toda a Europa começou a esboçar-
-se um movimento tendente a resolver ou minorar
os problemas sociais e a higiene pública de que o
trabalho infantil era um importante componente.
Um marco histórico foi, a publicação, em 1875, da
Lei Roussel com o objectivo de proteger as crianças
dando-lhes assistência separadamente dos adultos.
Multiplicaram-se os estabelecimentos para o acolhimento
de crianças abandonadas – os hospícios
ou asilos de crianças abandonadas - aos quais se
sucederam as instituições para prestação de cuidados
na doença ou verdadeiros hospitais.
As modernas correntes do século XIX em prol da
assistência hospitalar de crianças conduziram à
construção de hospitais pediátricos, salientando-
-se em 1802 a inauguração do que foi considerado
o primeiro hospital para crianças - o ‘Hôpital des
Enfants Malades de Paris’. Na Europa e América
do Norte, outros hospitais para crianças doentes
foram surgindo e Portugal acompanhou esta tendência.
Uma marcante decisão a favor das crianças
doentes portuguesas ficou a dever-se ao Rei Dom
Pedro V, marido da Rainha Dona Estefânia. Em 14
de Agosto de 1860, foi publicado um Decreto au-
torizando a fundação dum Hospital destinado ao
tratamento de crianças pobres e enfermas. Em 1877
foi inaugurado o Hospital de Dona Estefânia que,
contudo, durante várias décadas recebeu adultos e
crianças. Em 1881 foi inaugurado no Porto o Hospital
de Crianças Maria Pia.
Portugal no início do século XX
A Primeira República sucedeu à Monarquia liberal
em 1910. Portugal tinha então uma indústria incipiente
sendo a agricultura a principal atividade da
população. A pequena e média burguesia e os intelectuais,
nas principais cidades, eram o suporte do
regime mas o ambiente político era muitas vezes
efervescente e os governos instáveis. A participação
na Primeira Guerra Mundial foi extremamente
penosa para a sociedade Portuguesa. A população
era maioritariamente analfabeta (75% de analfabetos
em 1913). Os ideais da República impulsionaram
muita legislação com carácter progressista e
avançado para a época, com manifesta dificuldade
de concretização prática. O Estado Novo foi uma
evolução conduzida pelas correntes conservadoras
na sociedade de então, para um regime corporativo,
antiliberal, anticomunista e autoritário. Portugal
permanecia desfasado da realidade Europeia quanto
ao nível de instrução da população, embora tenha
havido um decréscimo para 40% de analfabetos, na
década de 50. Em 1918 ocorreram as epidemias de
tifo exantemático e de gripe (Gripe «Espanhola»)
A mortalidade em geral e a mortalidade infantil
eram elevadas, decorrendo de múltiplas doenças
epidémicas e endémicas. Em 1933 a mortalidade
infantil em Portugal era uma das mais elevadas da
Europa (acima de 140%). A partir dos anos 40 houve
um decréscimo, seguido de estagnação nos anos 50
e um novo decréscimo nos anos 60 (para cerca de
REVISTA FENACERCI 2020 |
17
OPINIÃO
60%). Esta taxa de mortalidade permanecia acima
dos indicadores dos países desenvolvidos (abaixo
de 15% na década de 60, em França e no Reino Unido).
O decréscimo decisivo na mortalidade infantil
em Portugal ocorreu já na 2ª metade do século XX,
na década de 70.
Os cuidados de saúde prestados á população durante
a Primeira República eram dirigidos aos pobres, estavam
confiados às Misericórdias e aos Hospitais das
grandes cidades. Durante o Estado Novo o número
de médicos permanecia insuficiente para as necessidades
da população e a assistência pública não tinha
um alcance universal. Os Hospitais Civis de Lisboa,
da Universidade de Coimbra, de Santo António no
Porto tinham um reduzido número de profissionais
e os concursos eram extremamente seletivos.
Pediatria em Portugal (do final Século XIX a 1911):
os pioneiros
O primeiro diretor da enfermaria para crianças do
Hospital de Dona Estefânia foi Francisco da Cunha
Viana, posteriormente Gaspar Gomes e Jaime Ernesto
Salazar d’ Eça e Sousa.
Este último concluiu o curso de Medicina na Escola
Médico-Cirúrgica de Lisboa em 1893, obteve êxito
nos concursos para cirurgião dos Hospitais Civis
de Lisboa (1894), e para professor de Cirurgia (1898).
Logo a seguir partiu para os Estados Unidos da
América (Nova Iorque e Boston), e obteve nesse País
o título de especialista em Pediatria. Após o regresso
da América, em 1902, dirigiu, no Hospital de São
José, uma consulta para doenças de crianças e mais
tarde, no Hospital de Dona Estefânia, a chamada
Enfermaria de Santa Estefânia. Salazar de Sousa
trabalhou com falta de recursos mas ultrapassou
obstáculos com grande resiliência, salientando-se
que era desinteressado da política numa época de
grande instabilidade social em Portugal.
De entre os seus estudos de investigação, salientam-se
as transfusões de sangue placentário no
tratamento do sarampo e a esplenectomia no tratamento
do kala-azar. Para além de mais de uma
centena de artigos científicos publicou em 1921 as
suas lições num livro intitulado Doenças das Crianças,
saindo no mesmo ano o número um da revista
científica que dirigiu: Archivos de Pediatria e Orthopedia,
por sinal com vida efémera.
A Geração Médica de 1911
Jaime Salazar de Sousa, pertenceu á chamada Geração
Médica de 1911. Este era um grupo de médicos
que reformaram a medicina portuguesa, criando os
primeiros institutos técnico-científicos especializados,
dotados de autonomia administrativa, o que
transformou o ensino livresco das antigas Escolas
Médico-Cirúrgicas num verdadeiro ensino prático,
valorizando as práticas experimentais e a investigação
científica. A lei fundadora das Universidades,
publicada em 1911, foi um ato político de grande
significado e alcance, ao recriar a Universidade de
Lisboa, criar a Universidade do Porto e reformar
a Universidade de Coimbra, o que possibilitou a
transformação das antigas Escolas Médico-Cirúrgicas
de Lisboa e Porto em Faculdades de Medicina.
A Pediatria como “especialidade”
No séc. XX, ao longo dos anos, foram criados nas
principais cidades Portuguesas, serviços hospitalares
de pediatria incipientes.
Sucedeu a Salazar de Sousa, na cátedra de Pediatria
de Lisboa, Leonardo Castro Freire que transitou
para o Hospital Escolar de Santa Marta (e, após 1954,
para o Hospital de Santa Maria).
Sara Barchilon Benoliel foi contemporânea e colaboradora
de Salazar de Sousa e de Castro Freire.
Teve um importante papel de cidadania e foi a
primeira mulher Pediatra em Portugal. De origem
judia, nasceu em 1898 no Brasil e naturalizou-se
Portuguesa em 1928. Frequentou cursos de especialização
fora de Portugal e interessou-se particularmente
pelos problemas sociais ligados à Criança.
Ativista da Hehaber, Organização Ashkenazi da
juventude israelita fundada em 1925, desempenhou
atividades de apoio aos refugiados judeus em Por-
18 | REVISTA FENACERCI 2020
tugal durante a II Guerra Mundial.
Na Escola Médico-Cirúrgica do Porto o primeiro
professor de Pediatria, a partir de 1917, foi A. Dias
de Almeida Jr. que já se dedicava às crianças desde
1894. A este sucedeu António de Almeida Garrett,
sobrinho do escritor com o mesmo apelido. Após
regresso de estágio em Paris foi, em 1912, nomeado
Professor da cadeira de Pediatria e Higiene na
recém-criada (1911) Faculdade de Medicina da Universidade
do Porto. A cidade do Porto foi atingida
pela gripe pneumónica e pelo tifo exantemático em
1918 e Almeida Garrett foi comissário do Governo
para o combate a esta última epidemia. Publicou diversos
estudos e artigos versando sobretudo temas
de epidemiologia nomeadamente sobre as doenças
referidas mas também sobre mortalidade infantil e
estratégias de saúde pública. Em 1932 criou o Instituto
de Puericultura do Porto, do qual foi diretor.
Almeida Garrett foi eleito deputado nas eleições
de 1915 pelo Partido Unionista (fação republicana
conservadora ligada às elites politicas e sociais da
época). Foi novamente eleito deputado pelo Partido
Unionista nas eleições de 1918.
Em Coimbra o ensino da Pediatria na faculdade foi
iniciado em 1917-18, ocupando a cátedra e direcção
do serviço hospitalar António Morais Sarmento.
A este sucederam Elísio de Moura e João Porto,
os quais desenvolveram também atividade clínica
e ensino noutras áreas como Medicina Interna e
Neuropsiquiatria.
Seguidamente Lúcio de Almeida, como catedrático,
criou em 1946 no serviço que dirigia (em condições
muito precárias quanto a instalações) um centro
de preparação e especialização em Pediatria,
o qual não despertou grande interesse junto dos
novos médicos. Contudo, em tal centro sobressaiu
o nome de J Santos Bessa que, mais tarde, veio a
criar um segundo centro e foi convidado por Lúcio
de Almeida para o substituir e dirigir o serviço
universitário. Santos Bessa, pugnava pela criação
dum hospital especializado de doenças de crianças
com o apoio de uma figura com grande peso político
na época, o catedrático de cirurgia de Coimbra
Fernando Bissaya Barreto. O Hospital Pediátrico de
Coimbra foi inaugurado em 1 de Junho de 1977.
A Sociedade Portuguesa de Pediatria
No âmbito dos eventos que influenciaram o desenvolvimento
da Pediatria em Portugal a partir do final
da década de 30 do século XX contam-se, em
1938, o início da publicação regular de uma revista
dedicada à Pediatria e, em 1948, a fundação duma
associação de Pediatras que foi designada por Sociedade
Portuguesa de Pediatria (SPP), mantida até
aos nossos dias.
A referida Revista Portuguesa de Pediatria e Puericultura
foi fundada por Carlos Salazar de Sousa. Da
primeira direção da Sociedade Portuguesa de Pediatria
(1948-1950) fizeram parte os pediatras mais
representativos da época: Almeida Garrett, do Porto
(presidente) assessorado por Lúcio de Almeida
(Coimbra), Manuel Cordeiro Ferreira, Castro Freire,
Carlos Salazar de Sousa e Abel da Cunha (Lisboa).
Agradecimento: O autor expressa profundo agradecimento
ao Professor João Videira Amaral pela revisão deste
texto e pelas muitas e importantes ajudas e sugestões
que foram fundamentais para a sua elaboração.
BIBLIOGRAFIA
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Videira Amaral J. A Medicina e a Pediatria em tempos da Iª República (Editorial). Acta Pediatr Port 2010: 41(3): XXXVII-XXXVIII
REVISTA FENACERCI 2020 |
19
OPINIÃO
“As Perturbações
do Comportamento
Alimentar em Pessoas
com Perturbação do
Desenvolvimento
Intelectual”
Leonor Sassetti
Pediatra e Médica
de Adolescentes
Unidade de Adolescentes
Hospital D. Estefânia, Centro
Hospitalar Universitário de Lisboa
Central
Introdução
Uma grande parte das pessoas com perturbação
do desenvolvimento intelectual apresentam,
desde sempre ou nalgum período da sua vida,
questões relacionadas com a alimentação: recusa
alimentar ou de alguns alimentos em particular,
ruminação, pica, dificuldades na mastigação ou
deglutição, comportamento disruptivo durante as
refeições e até anorexia nervosa ou bulimia nervosa.
Estes comportamentos podem conduzir a
emagrecimento, malnutrição, deficiências nutricionais,
atraso de crescimento ou da puberdade,
interferência no funcionamento psicossocial, os
quais agravam ainda mais a situação de base. Dada
a prevalência desta problemática (pode chegar a
80%), a sua persistência para a idade adulta, bem
como, a interferência no dia-a-dia das famílias,
muitas abordagens - específicas - têm sido ensaiadas.
A classificação das doenças mentais mais utilizada
em todo o mundo é a DSM; a última versão é
20 | REVISTA FENACERCI 2020
de 2013 – DSM 5, que engloba no mesmo capítulo
todas estas perturbações, sob a designação genérica
de PERTURBAÇÃO DA ALIMENTAÇÃO E DA
INGESTÃO (Quadro 1).
Hoje em dia ainda se utiliza muito a expressão
“Doenças do Comportamento Alimentar” (DCA)
para designar genericamente as doenças ligadas
ao comportamento alimentar mais típicas
da adolescência, como anorexia nervosa, bulimia
nervosa e ingestão alimentar compulsiva (“binge
eating”). Esta curta revisão vai incidir especificamente
sobre este grupo de doenças.
Particularidades nas Pessoas com Perturbação
do Desenvolvimento Intelectual
A referida DSM 5 que utilizamos hoje em dia, reviu
os critérios diagnósticos da anorexia nervosa
e bulimia nervosa (Quadros 2 e 3); mas nenhum
destes é o quadro mais frequente que encontramos
nas pessoas com perturbação do desenvolvimento
intelectual (PDI). A maioria das DCA destes
doentes enquadra-se numa nova categoria diagnóstica
designada por PERTURBAÇÃO DA INGES-
TÃO ALIMENTAR EVITANTE / RESTRITIVA (“AR-
FID”), e que é semelhante à anorexia nervosa na
medida em que está presente redução da quantidade
e/ou tipo de alimentos ingeridos, mas não se
acompanha de alteração da imagem corporal ou
preocupação com o peso. Tem de estar associada
a (um ou mais): emagrecimento, deficiência nutricional,
dependência de suplementação entérica
ou nutricional e interferência marcada no funcionamento
psicossocial.
A anorexia nervosa e a bulimia nervosa são doenças
mais frequentes em países desenvolvidos e
nas classes sociais mais altas; existem fatores de
risco bem conhecidos como a personalidade (obsessiva,
perfecionista), a presença de história familiar
(mãe, irmãs), a existência prévia de excesso
de peso/obesidade, entre outros. Têm por base
um ideal de beleza e o desejo de ser magro, associado
a uma alteração da imagem corporal. Como
é construída a imagem corporal dos doentes com
perturbação do desenvolvimento? Uma revisão de
19 estudos de caso, referentes a 26 doentes com
deficit sensorial, motor e/ou intelectual identificou
particularidades relacionadas com a auto-apreciação
tátil (doentes cegos ou com baixa
visão), com a informação veiculada por outros ou
com a assunção do ideal de magreza veiculado
pelos media; outros doentes encaravam a perda
QUADRO 1
PERTURBAÇÃO DA ALIMENTAÇÃO
E DA INGESTÃO
Pica
Perturbação da Ruminação
Perturbação da Ingestão Alimentar
Evitante/ Restritiva
Anorexia Nervosa
Bulimia Nervosa
Perturbação da Ingestão Alimentar
Compulsiva (“binge eating”)
Perturbação da Alimentação e Ingestão
Com outra especificação
Perturbação da Ingestão e Alimentação
Não Especificado
QUADRO 2
ANOREXIA NERVOSA
Fonte: DSM 5
Restrição do aporte energético
relativamente às necessidades, levando
a um peso corporal significativamente
baixo
Medo intenso de ganhar peso ou
de ficar gordo, ou comportamento
persistente que interfere com o ganho
ponderal, mesmo estando com peso
significativamente baixo
Perturbação no modo como é vivenciado
o próprio peso ou forma ou não
reconhecimento da gravidade da situação
em que se encontra
Dois subtipos: restritivo e purgativo/
ingestão compulsiva
QUADRO 3
BULIMIA NERVOSA
Fonte: DSM 5
Ingestão compulsiva e rápida de grandes
quantidades de comida, num curto
espaço de tempo
Presença de comportamentos purgativos
(vómitos, laxantes) para compensar
Pelo menos uma vez por semana e
durante 3 meses
Fonte: DSM 5
REVISTA FENACERCI 2020 |
21
OPINIÃO
de peso como uma conquista ou uma compensação
da sua deficiência (p.ex. querer pesar menos
para ser menos dependente e mais autónomo). A
conclusão deste estudo é que nestes doentes há
que ir mais além na identificação do que está na
base do problema do comportamento alimentar,
visto que cada uma das categorias acima mencionadas
implica uma abordagem diferente.
Abordagem
Antes que mais, há que estar atento a pequenas
alterações de comportamento e preocupações, de
modo a identificar precocemente as situações. O
alerta deve ser dado pelos pais, professores, técnicos,
terapeutas, que acompanham cada doente
no dia-a-dia e o conhecem melhor que ninguém;
se a sua intervenção atempada não for suficiente
para interromper a progressão do quadro, há que
procurar ajuda profissional, nomeadamente por
parte de quem tem experiência em DCA e PDI –
os pedopsiquiatras ou psiquiatras. Como vimos
acima, cada doente é particular nas suas motivações
para a perda de peso, e há que construir um
plano terapêutico adequado, sempre com a ajuda
da nutrição e do pediatra ou outro médico que
integre a equipa. Cada elemento da equipa deve
situar-se, inequivocamente do lado da saúde, física
e mental, ou seja, muitos doentes até têm indicação
para emagrecer, mas de modo saudável.
E, sempre, aproveitar para adquirir bons hábitos
de vida, que tantas vezes são descurados nestas
crianças e adolescentes difíceis, que tanto exigem
de quem cuida deles!
Sendo uma categoria diagnóstica recente, a Perturbação
da Ingestão Alimentar Evitante / Restritiva,
suscita hoje em dia muito interesse no que
diz respeito à necessidade de conhecer detalhadamente
cada caso e encontrar abordagens individualizadas
e eficazes. A maioria das descritas
na literatura são de natureza comportamental ou
cognitivo-comportamental, sempre alicerçadas
numa visão global, compreensiva e reflexiva, de
cada doente, que contribua para transformar as
refeições em momentos de prazer para todos.
Prevenção
Nunca é de mais reforçar a importância da prevenção,
visto que a existência de perturbações
alimentares na infância é um claro factor de risco
para DCA na adolescência e juventude, também
nestes doentes.
Muitas famílias de crianças com perturbação do
desenvolvimento intelectual, consideram que não
devem ser exigentes na sua educação, nomeadamente
na educação alimentar; a verdade é que
comportamentos cristalizados são muito mais difíceis
de mobilizar e alterar – em todas as pessoas
e em todas as idades!
Em resumo
As perturbações da ingestão e alimentação são
frequentes nas pessoas com perturbação do desenvolvimento
intelectual e têm particularidades
no seu modo de apresentação.
Antes dos quadros estarem bem instalados, há
que estar atento (família, escola, profissionais de
saúde) para os identificar precocemente e sinalizar
ao psicólogo ou pedopsiquiatra assistente.
Este é o maestro da equipa multidisciplinar que
inclui necessariamente dietista ou nutricionista e,
quase sempre, médico pediatra ou de adolescentes
ou médico de família. Nos casos que persistem,
há que pedir ajuda a equipas com experiência
em ambos os problemas, PDI e Perturbação da
Alimentação e da Ingestão.
Agradecimentos: À Ana Rita Peralta, pelo desafio; à
Rosário Stone e à Margarida Marques pelas pertinentes
sugestões na revisão do texto.
BIBLIOGRAFIA
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Washington, DC: American Psychiatric Association; 2013
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behavioral intervention for feeding problems. Riv Psichiatr 53 (2018) 299-308
22 | REVISTA FENACERCI 2020
Crianças com Doença
Mental e Deficiência
Intelectual: Duplo
Diagnóstico – Duplo
Desafio!
A saúde mental é a base do bem-estar geral, e
por isso, tem existido cada vez mais, um olhar
dedicado e preocupado com o estado psíquico
da população.
Como pedopsiquiatra e tendo como alvo de
intervenção, crianças e jovens que são vulneráveis
por definição, tenho perfeita consciência
que o grau de investimento nestas fases
precoces e fulcrais do desenvolvimento, pode
condicionar o tipo de adultos que se tornarão
no futuro. Se isto é verdade para aqueles que
têm uma estrutura mental sem perturbações
nem deficiências que condicionem o seu grau
de autonomia, para aqueles que padecem de
transtornos psiquiátricos ou limitações cognitivas
(quando não ambas!), representa um
desafio acrescido para todos os que contactam
com estes jovens.
Nas últimas décadas tem-se assistido a um
olhar mais atento sobre as crianças e jovens
com perturbações do foro mental, existindo
atualmente, um conhecimento mais completo,
complexo e apurado dos vários transtor-
Rebeca Cifuentes
Assistente Hospitalar em
Pedopsiquiatria do Hospital
D. Estefânia
REVISTA FENACERCI 2020 |
23
OPINIÃO
nos psiquiátricos que influenciam a vida das
crianças e das suas famílias. Simultaneamente
tem existido também, uma maior compreensão
sobre as necessidades de que os doentes
com limitações do foro cognitivo padecem,
procedendo-se á criação de redes de infraestruturas
que apoiem estes utentes, assim
como, se denota um crescimento do investimento
realizado para ajudar as suas famílias
no que respeita ao domínio socioeconómico.
Este novo enfoque dos últimos anos, acerca
destas problemáticas, tem permitido que os
antigos “modelos asilares” se cinjam a casos
muito esporádicos que, cada vez mais, vão
sendo substituídos por apoios na rede comunitária,
em regime ambulatório, reduzindo
assim, a quantidade e tempo de internamentos
em contexto hospitalar. Também o maior
investimento que tem sido feito nesta área
tem permitido que as crianças e jovens que
antigamente constituiam “adultos condenados”
a um retiro pessoal, social e profissional,
consigam, nos dias de hoje, ser integrados
em termos relacionais e laborais. Este tipo
de apoios não só tem sido benéfico para os
utentes, como também, para os seus cuidadores,
vítimas secundárias da exclusão nas várias
dimensões da vida e que frequentemente
as doenças mentais atingem. A maior compreensão
e conhecimento destas duas áreas
têm trazido também interrogações acerca dos
pontos em que ambas as problemáticas colidem:
a dependência de terceiros, as necessidades
especiais em termos académicos ou
formativos, a vulnerabilidade perante o outro,
o estigma social, entre outros.
Será que quando falamos de duplo diagnóstico,
ou seja, doença mental com deficiência
intelectual associada se duplicam os olhares e
os cuidados? Será isto necessário? E em termos
médicos: existe a mesma sensibilidade
na leitura da sintomatologia psiquiátrica nos
utentes com incapacidades cognitivas do que
nos que têm capacidades ditas normais e que
padecem apenas de doença do foro psiquiátrico?
Se por um lado, os problemas de saúde mental
podem afetar crianças e jovens com deficiência
cognitiva tal como, qualquer outra
pessoa, por outro, sabe-se que existem vulnerabilidades
que predispõem estes utentes a
certas patologias. Parte desta fragilidade tem
por base o facto de que ambas as problemáticas
partilham as raízes etiológicas, como as
doenças de base genética, as condições metabólicas,
as sequelas pós-infeciosas, entre
outras. É também sabido que a discriminação,
a exclusão social, ou mesmo, as dificuldades
do dia a dia que os utentes com deficiências
cognitivas enfrentam, agravam e arrastam
frequentemente os quadros psicopatológicos.
O estabelecimento do diagnóstico da deficiência
intelectual preconiza (para além dos
défices nas funções intelectuais diagnosticados
e categorizados através de avaliações
psicológicas padronizadas), uma falha no funcionamento
global do indivíduo, limitando e
24 | REVISTA FENACERCI 2020
restringindo a sua participação e desempenho
em um ou mais aspetos da vida diária, tais
como, a comunicação, participação social,
funcionamento escolar ou laboral, e na independência
pessoal. Esta limitação do comportamento
adaptativo pode condicionar a leitura
de sinais e sintomas de cariz psiquiátrico
tanto por parte dos profissionais, como por
parte dos cuidadores. Acresce a esta dificuldade,
as limitações na comunicação por parte
das crianças com deficiência intelectual (dificuldades
exponencialmente maiores quanto
mais jovens sejam), podendo dificultar a expressão
de sintomas psiquiátricos, ou mesmo,
a limitação no próprio reconhecimento dos
mesmos.
Existe também a idiossincrasia dos sintomas
psiquiátricos em doentes com deficiência intelectual,
sendo que, em muitas ocasiões, os
quadros nosológicos são diferentes aos identificados
nas crianças sem deficiência intelectual.
Este condicionalismo na deteção ou
mesmo no diagnóstico de doenças do foro
mental em utentes com deficiência intelectual
é conhecida como efeito eclipse, descrito
por Reiss, Levitan e Szysko em 1982. De facto,
até às últimas décadas do século XX, parte da
sintomatologia dos utentes com deficiência
intelectual era explicada unicamente pelas
limitações cognitivas, sem excluir a possibilidade
de terem doenças do foro mental acrescidas.
Sabe-se que o prognóstico das doenças mentais
(e das suas sequelas), dependem do tempo
percorrido entre o aparecimento das mesmas
e a demora do diagnóstico que por sua vez,
permitirá a abordagem e tratamento adequado,
sendo que o impacto negativo decorrente
deste atraso é superior quanto maior seja o
intervalo.
Tratando-se de crianças e jovens e pensando
na cronicidade dos problemas cognitivos,
junto da limitação funcional acrescida (e secundária)
aos problemas do foro mental, parece
fulcral a necessidade de olhar para estes
doentes com um cuidado e acuidade esmerados,
com o fim de prevenir situações mais incapacitantes
àquelas de que já padecem.
O trabalho de quem se dedica a estes utentes
determina que, se o prognóstico quanto ao
estado mental é muitas vezes uma incógnita, a
qualidade de vida, pelo menos em termos funcionais,
melhora quando somos pró-ativos em
lidar com estes casos. A relação de confiança e
proximidade são alicerces fundamentais para
um resultado favorável. Continuar a apoiar os
utentes sem descuidar o rigor científico, é um
dever e uma obrigação para encontrar respostas
que salvaguardem os seus direitos e,
para isso, dever-se-á fomentar a investigação
nesta área.
REVISTA FENACERCI 2020 |
25
OPINIÃO
Coração
Saudável:
Principais aspetos que as
pessoas que se encontram
em situação de maior
vulnerabilidade enfrentam
Paulo Jorge Monteiro
PhD e Membro da Comissão
Executiva da Fundação
Portuguesa de Cardiologia
Desde há muitos anos que a bibliografia parece
sustentar que adultos com deficiência intelectual
parecem ter um perfil de risco cardiovascular
semelhante ao da restante população ou
mesmo superior prevalência de doença, e mortalidade,
cardiovasculares em particular no
caso de adultos institucionalizados . Se considerarmos
que a proporção de mortes causadas
por doenças do aparelho circulatório (doenças
cerebrovasculares, doença isquémica do coração
e enfarte agudo do miocárdio), no total de
mortes em Portugal, em 2018, foi de 29% (e
reduzindo de 32,3% em 2008), fica evidente a
importância do investimento nos fatores de
risco modificáveis para alterar esta realidade à
qual as pessoas que se encontram em situação
de grande vulnerabilidade, e fragilidade, estarão,
naturalmente, sobre-expostas em consequência
dos respetivos riscos comportamentais
e condição de saúde de base (ex. no caso
do síndrome de Down existe um elevado risco
(40-50%) de doença cardíaca congénita ).
Neste contexto, assume grande importância a
educação das pessoas com deficiência intelectual,
seus cuidadores e familiares, para os benefícios
dum adequado regime alimentar, hábitos
de atividade física, eliminação de hábitos
tabágicos e regular acompanhamento médico.
Apesar das limitações de movimentos, que
muitas das pessoas mais vulneráveis apresentam,
a atividade física diária (30 a 60 minutos),
praticada de forma regular, pode reduzir o
risco de doença cardíaca, ajudar a controlar o
peso e reduzir o potencial para o surgimento
de outras condições prejudiciais para o coração
como a pressão arterial elevada, o colesterol
elevado e a diabetes tipo II. Igualmente
importante, e em paralelo, será a possibilidade
da ingestão, regular, de alimentos tais como as
frutas e legumes, leguminosas (feijão, lentilha,
ervilhas, grão de bico, tremoço, fava), cereais
integrais, produtos lácteos magros, peixe, carnes
de aves e preferencialmente azeite. A adoção
deste regime alimentar, em casa, ou na
instituição, deve ser acompanhada da redução
26 | REVISTA FENACERCI 2020
da ingestão de sal, açúcar, álcool e gordura saturada
(que se encontra nas carnes vermelhas
e nos produtos lácteos gordos), e das gorduras
trans (ou hidrogenadas que se encontram,
principalmente, nos produtos industriais tais
como bolachas, bolos, batatas fritas etc.). O trio
dos bons hábitos fica completo com o sono o
qual para muitos adultos deve ter a duração
de 7 horas e ser concretizado em ambiente de
escuridão e sossego. Importa que cuidadores
e familiares estejam atentos para o fenómeno
da apneia obstrutiva do sono (em que a respiração
pára, repetidamente, por tempo suficiente
para interromper o sono), a qual pode
aumentar o risco de doença cardiovascular e
que muitas vezes se manifesta por um ressonar
muito audível.
Naturalmente que o atual contexto da pandemia
do COVID-19 vem acentuar os desafios
pré-existentes já que, por um lado, a necessidade
da prestação de cuidados, às pessoas
mais vulneráveis, exige grande proximidade
física obrigando a particulares cuidados, de
proteção individual, por parte dos familiares
e cuidadores e, por outro, se verifica uma
acrescida mortalidade em doentes com patologia
cardiovascular, e de idade mais avançada,
tema que merece particular atenção por parte
do Prof. Manuel Carrageta, Presidente da FPC,
num artigo recentemente disponibilizado no
site da FPC: http://www.fpcardiologia.pt/a-
-covid-19-e-as-doencas-cardiovasculares/.
O que o momento atual sublinha, no que respeita
as pessoas com maior deficiência intelectual
e de desenvolvimento, é a necessidade de
proteção acrescida e da criação de um ecossistema,
que garanta uma adequada saúde cardiovascular
a qual, embora alavancada numa
adequada gestão dos fatores de risco, deve integrar
os adequados processos de socialização
e sobretudo muito amor e carinho por parte de
toda a comunidade.
1
Rimmer et al.(1994). Cardiovascular Risk Factor Levels in Adults with Mental Retardation. American Journal on Mental
Retardation, Vol.98, n.4, 510-518.
2
Christopher Draheim (2006). Cardiovascular disease prevalence and risk factors of persons with mental retardation.
Mental Retardation and Developmental Disabilities Research Reviews;12(1):3-12.
3
INE, Causas de Morte em 2018. 21 Fevereiro de 2020.
4
Marilyn Bull (2011). Clinicar Report – Health Supervision for Children With Down Syndrome. Pediatrics; 128: 393-406.
REVISTA FENACERCI 2020 |
27
PERPLEXIDADE,
COMPLEXIDADE
E SOLIDARIEDADE
© DR
O novo Corona vírus e a COVID 19
confrontaram-nos com três dimensões
que nos puseram à prova. Primeiro
sentimos o peso da perplexidade.
De facto, ninguém esperava
que uma pandemia destas viesse a
pôr em causa tudo o que dávamos
por instítuido, desde rotinas a relações,
passando até por paradigmas
que conformavam o nosso modelo
de atuação enquanto organizações.
Do espanto causado pela situação
inesperada, passámos rapidamente
para a perceção da complexidade
associada à situação, quer pelo
desconhecimento de modos de
atuação perante uma ameaça que
nos era completamente desconhecida,
quer por sermos obrigados a
rever toda a nossa cultura organizacional,
que nem de longe nem de
perto estava preparada para uma
catástrofe destas dimensões que,
soubemo-lo desde logo, não deixaria
nada na mesma. Felizmente que
tínhamos à mão e em abundância
essa arma secreta e infalível que é a
solidariedade. Apoiados uns nos outros
e com um Governo colaborante
e empenhado em trabalhar com as
organizações, designadamente na
área da segurança social e trabalho,
fomos encontrando respostas
para minimizar problemas e derrubar
obstáculos. E a verdade é que
juntos, fomos conseguindo e de tal
modo que, entre as nossas associadas,
nem sequer registámos casos
graves. Claro que ainda estamos
longe de ter a situação resolvida.
Mas aprendendo uns com os outros,
vamos certamente chegar a bom
porto.
PERPLEXIDADE, COMPLEXIDADE E SOLIDARIEDADE
Setor Social:
Um Parceiro
Essencial
Sempre e também
na resposta à pandemia
Ana Mendes Godinho
Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social
do XXII Governo Constitucional
Vivemos tempos excecionais e atípicos.
Portugal, em consequência da pandemia e à semelhança
do que se passa no resto do mundo,
tem-se visto confrontado com situações imprevistas,
externas, exigentes e que têm exigido a
mobilização de todos.
O Estado Social tem demonstrado uma grande
capacidade de resposta, nas suas várias dimensões:
saúde, proteção social e educação e o setor
social tem assumido um papel de especial relevo.
As organizações sociais têm estado na primeira
linha de resposta, de proximidade, de capacidade
de identificar os problemas, de articular e encontrar
soluções.
Movidas pelo seu interesse primeiro e último: o
capital pessoas.
O trabalho que temos desenvolvido em conjunto,
em verdadeira parceria, tem demonstrado esta
capacidade de colaboração e de complementaridade
de intervenção que permite uma capilaridade
e uma especialização para dar uma resposta
personalizada a cada pessoa.
O vírus não afeta todos de forma igual e evidencia
fragilidades e assimetrias que colocam as
pessoas mais vulneráveis em situação de maior
necessidade de acompanhamento e proteção.
Sejam crianças, pessoas com deficiência, idosos,
pessoas em situação de sem abrigo, trabalhadores,
famílias, desempregados.
Temos enormes desafios pela frente e é necessário
garantir respostas rápidas e eficazes que
não deixem ninguém de fora. O setor social é um
aliado por excelência.
Sei que Portugal pode contar com esta armada –
muitas vezes de rosto invisível – que diariamente
está ao serviço dos outros.
Com foco no essencial, na resposta dirigida aos
problemas concretos, descomplicando o acessório,
numa missão partilhada com responsabilidade
e esforço coletivo.
Este é também um momento de valorização e
afirmação do setor social em Portugal.
Um abraço.
30 | REVISTA FENACERCI 2020
O Setor
Cooperativo
Na linha da frente na luta contra a
COVID e a pensar no futuro
A excecionalidade do momento que a sociedade vive
intima o setor cooperativo a uma reflexão que tem
por base os princípios cooperativos. Esta afirmação
para alguns, não deixa de ser um lugar comum, mas
ainda assim, acreditamos que esses princípios são
um fator de competitividade e de sustentabilidade,
particularmente num período ímpar da nossa história
contemporânea em que o setor cooperativo se
assume “na linha da frente na luta contra a COVID”.
Destacamos 3 princípios que nos ajudam nesta reflexão.
• O princípio da intercooperação não só com outras
organizações cooperativas, bem como, com outras
organizações da Economia Social, do setor público
e do setor privado, na procura de um contínuo
aprofundamento das relações organizacionais, assume
uma relevância acrescida. Confrontados com
a adversidade provocada pela pandemia, a intercooperação
não poderá deixar de se assumir como
um desígnio central na superação económica, social
e ambiental. No entanto, não será eficaz se não for
acompanhada de valores organizacionais como o
compromisso, a transparência e a cooperação. O
respeito pelo compromisso para com todos os que
nos rodeiam e com a qualidade dos produtos e serviços
prestados, por um lado, e a transparência e cooperação
em todas as relações internas e externas,
por outro, são essenciais na assunção de responsabilidades
e de decisões, a nível individual e organizacional
e reforçam a importância deste princípio e do
quadro de valores associados.
• Um segundo que sinalizamos, prende-se com o
princípio da gestão democrática e de participação
dos membros das cooperativas expressado de forma
ampla e efetiva na procura das melhores soluções.
Mas não é assim tão linear como parece à primeira
vista, na medida em que, supletivamente a este
Joaquim Pequicho
Diretor Executivo da CONFECOOP
princípio cooperativo, surge aquilo que chamamos
governação multissetorial - um edifício onde residem
diferentes interesses, muitos deles antagónicos
e complexos. Vejam-se as situações em que uma
pessoa pode ser simultaneamente colaborador, cooperador,
dirigente, fornecedor e cliente. Uma multiplicidade
de papéis na sua maioria das vezes com
manifestações opostas, em que a mesma pessoa
pode apresentar mutações dependendo do papel
que assume em cada momento. Daí, considerámos
central a capacidade de introduzir nas práticas diárias
a dimensão da corresponsabilização e da partilha
como valores cooperativos que nos permitam
afirmar que esta complexidade organizacional torna
as cooperativas robustas para enfrentarem as crises
e as dificuldades, como aquela que decorre deste
surto epidemiológico.
• Por último, a preocupação com a comunidade
numa lógica de proximidade aos territórios, às necessidades,
ambições e expetativas, sublinhada pela
vinculação organizacional e comunitária. Este princípio
cooperativo é central não só para a competitividade
destas organizações mas, essencialmente,
para a sustentabilidade dos territórios. A adaptabilidade
aos contextos, a adoção de novas abordagens
e a partilha de conhecimentos são fatores de competitividade
essenciais no contexto atual. A alteração
de práticas e modelos de gestão, com uma aposta na
digitalização e investimento na transposição digital,
ou o contributo para a neutralidade carbónica e investimento
nas energias verdes, são bem exemplos
de como este princípio cooperativo se torna central
na resolução dos problemas atuais, mas também um
contributo do movimento cooperativo “… a pensar
no futuro”.
REVISTA FENACERCI 2020 |
31
PERPLEXIDADE, COMPLEXIDADE E SOLIDARIEDADE
O Confinamento
nos Lares Residenciais
Uma leitura sobre comportamentos
e consequências nos residentes
Nestes últimos tempos, o mundo e as nossas vidas
mudaram de forma inesperada, face à situação
de catástrofe natural.
Em Portugal, as organizações da Economia Social
já enfrentavam grandes desafios ao nível
económico, social, político e ambiental. Com o
aparecimento da COVID-19 foi mais um desafio,
como tantos outros, que veio modificar as dinâmicas
de trabalho das organizações, mas acredito
que todas fizeram e estão a fazer o melhor,
em prol dos clientes, famílias e colaboradores.
Se a união sempre foi importante para o sucesso
de uma organização, neste momento, esta
assume ainda mais significado, porque todos
juntos, somos mais fortes para enfrentar esta
pandemia.
De acordo com as diretivas da Segurança Social
e da Direção Geral de Saúde, as organizações
procuraram implementar medidas para conter
o surto da COVID-19, alguns clientes, nomeadamente
dos Lares Residenciais, permaneceram
durante este período confinados ao espaço
institucional. Neste seguimento, ficaram privados
das visitas dos familiares e de irem a casa
durante o fim de semana, recorrendo-se assim
às tecnologias para minimizar o impacto do isolamento
físico.
Por várias razões de saúde, as pessoas com deficiência,
de uma forma geral, são uma população
particularmente vulnerável, por isso podem estar
sujeitas a um maior risco de infeção porque
as limitações físicas e/ou intelectuais podem
colocar barreiras no entendimento e na realização
de determinadas ações, nomeadamente na
lavagem das mãos, etiqueta respiratória e dis-
Jorge Pereira
Psicólogo Especialista em Psicologia do Trabalho, Social
e das Organizações
Mestre em Gestão das Organizações do 3º Setor
32 | REVISTA FENACERCI 2020
-COVID-19-COVID-19-COVID-19-COVID-19-COVID-19-COVID-19-COVID-19-COVID-19-COVID-19-COVID-19-COVID-19-COVID-19-COVID-19-COVID
QUARENTENA
QUARENTENA
QUARENTENA
FIQUE eM CASA QUARENTENA FIQUE eM CASA QUARENTENA FIQUE eM CASA QUARENTENA FIQUE eM CASA QUARENTEN
tanciamento social. Compete a cada um de nós
através de documentos de leitura fácil, jogos e
dinâmicas de grupo trabalhar e treinar comportamentos
fundamentais.
Sabemos que todos nós reagimos de forma diferente
às adversidades, porque depende muito
da nossa capacidade de resiliência e das nossas
competências de coping positivo que utilizamos
para enfrentar os obstáculos. Assim, dependente
da condição de saúde e das capacidades
cognitivas, podemos observar um conjunto de
sinais muito variados, aos quais devemos estar
atentos para intervir de forma precoce e assertiva.
A dificuldade em adaptar-se e integrar
todas as alterações provocadas por toda a situação
que vivemos e estamos a viver, são fatores
de stress que podem desencadear alterações ao
nível do: comportamento (maior irritabilidade
e conflito); humor (depressivo ou estados de
ansiedade); sono (insónias ou necessidade de
dormir muito); alimentação (compulsão ou recusa
em comer); motivação (falta de interesse
pelas tarefas). Por vezes, é necessário clarificar
informação que ouvem dos colaboradores
ou nos meios de comunicação e desmistificar
ideias erradas, por forma a reduzir os medos
e a ansiedade. Perante esta situação, a intervenção
especializada de acordo com o modelo
dos primeiros socorros psicológicos é essencial
para reduzir o stress inicial e para promover o
funcionamento adaptativo e os mecanismos de
coping positivos a curto e a médio prazo.
Após o confinamento, regressamos, de forma
faseada, a algumas rotinas que os clientes já
tinham, no entanto é importante explicar-lhes
que o facto de estarmos a retomar algumas atividades,
não significa que é o fim da pandemia
e que devemos continuar a manter os cuidados
que já tínhamos. Neste seguimento, todas as
ações e orientações têm que ser disseminadas
de forma detalhada a todos, nomeadamente o
porquê de estarem em espaços diferentes (salas,
refeitório, etc.), não havendo interações
com os colegas de outros serviços, bem como
com os colaboradores. Isto é, é necessário antecipar
aos clientes as novas dinâmicas e os novos
contextos que irão acontecer no seu dia a dia,
minimizando desta forma eventuais situações
de stress.
Nesta nova fase, é fundamental reconhecer e
identificar medos, sentimentos de ansiedade e
preocupações que possam acontecer, mas sem
cair em exageros. Também é necessário ajudar a
fazer o “luto” pelos aspetos positivos que o confinamento
proporcionou a todos.
Mesmo que tenha sido feita uma intervenção
precoce no âmbito dos primeiros socorros psicológicos,
há clientes que irão experienciar
reações ao stress (físicas, psicológicas, comportamentais,
espirituais) e que algumas destas
reações poderão interferir com o coping adaptativo
e com a recuperação, sendo fundamental
um acompanhamento terapêutico imediato. Por
isso, considero cada vez mais que os psicólogos
são uma “peça” crucial na construção do puzzle
de locais de trabalho saudáveis nas organizações.
É tempo de continuarmos unidos, para bem da
nossa comunidade e promover o bem-estar e a
saúde psicológica.
Estamos juntos!
REVISTA FENACERCI 2020 |
33
PERPLEXIDADE, COMPLEXIDADE E SOLIDARIEDADE
O meu pai usa
máscara e na
natureza nada
se cria, nada se
perde, tudo se
transforma!
A Era COVID trouxe morte, sofrimento e um colossal
teste aos serviços de saúde, aos serviços sociais,
à economia e à resiliência das pessoas e das
comunidades! Efetivamente 2020 ficará na memória
como um período em que percebemos que o
invisível e a natureza são essenciais à vida humana
e o poderio civilizacional não impede que tenhamos
que nos fechar em casa, isolar, parar o funcionamento
da maior parte da economia, cultura,
desporto, serviços sociais para reduzir o risco da
propagação da pandemia COVID. E esta realidade
da pandemia tem implicações muito diferentes em
função do contexto onde ocorre – países desenvolvidos
ou subdesenvolvidos, classes sociais ricas
ou pobres, centros urbanos/zonas rurais, etc. A
desigualdade e a exclusão acentuam o efeito negativo
da pandemia e das suas consequências sendo
evidente que a igualdade e a equidade exigem mais
políticas que as assegurem como direitos e como
realidades concretas.
A Era COVID também trouxe invenções (a necessidade
é a mãe de todas as invenções), inovação e
adaptação rápida e difícil a novas circunstâncias. E
verificamos que as pessoas cumpriram diretrizes,
isolaram-se, assumiram novos comportamentos,
socialmente responsáveis e atitudes de solidariedade
relativamente aos mais desprotegidos. Desenvolvemos
novas formas de trabalhar – teletrabalho,
de nos relacionarmos – telefone, videoconferências,
de dedicarmos tempo e esforço às nossa casas
e famílias - acho que muitas casas tiveram a limpeza
da primavera antecipada e reforçada e nunca
Rosa Couto
Diretora Geral
da CERCIESPINHO
se passou tanto tempo em família, redescobrindo
novas formas do ocupar o tempo num espaço da
casa e de realizar desporto, cultura e lazer a partir
nesse contexto. A saúde e empresas de bens e serviços
essenciais mantiveram-se a trabalhar e foram
reconhecidos pelo seu esforço e dedicação – precisamos
de um médico, bombeiro, caixa de supermercado,
farmacêutico, trabalhadores de limpeza
urbana, eletricidade, água e saneamento!
Ora, é esta a vertente que temos que considerar
– a mudança e a inovação. O meu pai de 87 anos
usa máscara e nunca conseguiu aceitar outras coisas,
como usar sapatilhas. Passou uma vida inteira
sem conseguir introduzir determinadas inovações
e mudanças mas num curto espaço de tempo acedeu
às mudanças desta nova Era. A mudança fez-se
sentir na forma como as pessoas e comunidades
reforçaram a solidariedade – inúmeros projetos
de apoio aos sem-abrigo, hospitais de campanha e
áreas para receberem infetados de serviços sociais e
de cidadãos sem condições de isolamento em casa,
particulares e empresas conceberam, produziram e
ofereceram EPI às comunidades e às organizações.,
Criaram-se produtos, serviços e materiais e reorganizaram-se
as linhas de produção e distribuição.
A solidariedade, a responsabilidade social e a inovação
marcaram este período! E esperemos que
a lei de conservação da matéria, de Lavoisier “ na
natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”
traduza a inovação deste período, em que
tivemos que transformar formas de fazer, de nos
relacionarmos, de assumirmos responsabilidade
pela nossa comunidade. E queremos que estas mudanças
positivas que vieram com a COVID fiquem
e se ampliem – quem sabe mais economia circular,
produção e consumo nas localidades, atividades
ambientalmente responsáveis, etc. Todos sentimos
outro conforto no silêncio pontuado pelos chilrear
dos pássaros e na paisagem vista da nossa janela
cheia de vida e de beleza – esta é também uma mudança
que podemos tentar manter!
34 | REVISTA FENACERCI 2020
Ocupação e tempos
livres em tempo de
distanciamento social –
Que desafios?
A importância de trabalhar os afetos sem toque
Rosa Couto
A Pandemia COVID 19 confrontou-nos com significativas
alterações das rotinas pessoais e dos serviços
desenvolvidos. Assim, a rotina caraterizada por
estarmos fora de casa a maior parte do dia alterou-
-se para uma rotina dentro de casa. O confinamento,
isolamento e a menor atividade em termos de
serviços foram contrabalançados com o estreitar
de relações, pela manutenção dos contatos com
clientes, amigos e familiares através do telefone,
videochamadas e plataformas digitais, pelo reforço
das redes de vizinhança, pelas atividades à janela
ou na varanda, pelo investimento no nosso tempo
pessoal, na organização e investimento na nossa
casa, na leitura e desporto indoor. O distanciamento
físico foi compensado por uma significativa interação
telefónica que permitiu reduzir a incerteza
e insegurança fomentando o contato e a partilha
de informação, facilitando a ligação emocional, o
apoio num período de medo, a partilha de emoções
para reduzir o efeito da separação – afinal estávamos
juntos! Os contatos telefónicos com as famílias
dos nossos clientes e com os clientes, permitiu
trabalhar as emoções como o medo, a solidão ao
mesmo tempo que criou oportunidades para estabelecer
uma ligação, apresentar sugestões de atividades
e fornecer materiais e produtos necessários
como os Manuais de atividades para os clientes do
CAO, do CRI, do Centro Comunitário e do CLDS,
refeições e alimentos a algumas das famílias, garantindo
os bens necessários mas igualmente uma
voz amiga e uma ponte com as restantes pessoas.
As interações pautaram-se pelo medo e distanciamento
levando à maior utilização da comunicação
verbal com base na tecnologia e da não-verbal. Assim,
o afastamento físico permitiu outras formas de
cumprimento (toque do cotovelo, do pé, abanar as
mãos (bater palmas na língua gestual Portuguesa e
a saudação asiática), Destacou-se o sorriso, o olhar
e a palavra como elementos essenciais na relação.
Estes correspondem a componentes muito ricos
no significado da relação e na transmissão de emoções,
que neste período foram essenciais na manifestação
dos nossos sentimentos, na transmissão
de informação e no estabelecimento e manutenção
das relações. As videochamadas, pequenos
filmes e visitas domiciliárias e ao Lar e Residência,
sem contato físico, facilitaram a interação durante
um período de distanciamento físico.
E agora estamos novamente juntos mas com cautelas
e regras de funcionamento diferentes – desinfeção
de mãos e espaços, máscara e distanciamento
físico, grupos pequenos e fixos, suspensão
temporária de atividades no exterior e em grandes
grupos mas somos seres sociais e os reencontros
trouxeram sorrisos, gestos e palavras como
saudade e mesmo sem toque é possível sentir as
emoções, partilhar os sentimentos e reencontrar
formas de interação, de afetos, garantindo a
necessária prevenção da transmissão da COVID.
Temos grandes desafios pela frente, nas organizações
e nos contextos familiares, de manter
relações fortes, saudáveis, de sermos capazes de
partilhar emoções e sentimentos através das palavras,
sorrisos, gestos, formas milenares de interação
humana, mantendo o desejo do toque para
tempos mais seguros, que com certeza estão aí ao
virar da esquina. E nessa altura poderemos acrescentar
o toque, o abraço, o beijo às muitas formas
de interação humana que dão significado à nossa
existência de seres sociais.
REVISTA FENACERCI 2020 |
35
PERPLEXIDADE, COMPLEXIDADE E SOLIDARIEDADE
“Tertúlias
à Sexta”
Sara Gésero Neto
Responsável pelo Núcleo
de Formação e Qualificação
da FENACERCI
Num contexto particularmente adverso, imposto
pela pandemia Covid-19, marcado por tempos de
incerteza, inquietação, isolamento social e suspensão
de atividades nos modelos tradicionalmente
desenvolvidos e conhecidos, surgiu o projeto
“Tertúlias à Sexta”.
Tendo por base a sua missão de representação
e proximidade, a FENACERCI assumiu um papel
preponderante, demonstrando a sua capacidade
de inovação e adequação à realidade atual e às necessidades
concretas da sua rede de associadas,
organizações congéneres e entidades parceiras.
O projeto “Tertúlias à Sexta”, gerido pelo Núcleo
de Formação e Qualificação, consubstancia-se
na realização de tertúlias informativas que visam
abordar um conjunto diversificado de temas visando,
como fim último, contribuir para o progresso, a
reflexão, a disseminação de informação, a criação
de sinergias e o reforço de cooperação e solidariedade
entre as organizações representadas.
Com recurso a ferramentas e plataformas que
até ao momento ainda não tinham sido exploradas
em todos os seus domínios e potencialidades,
desde abril até ao presente (junho de 2020), têm
sido dinamizadas tertúlias semanais, envolvendo
participantes de norte a sul do país, que reconheceram
a importância e as mais valias deste espaço
e tempo de reflexão, partilha e cooperação à distância
e, sobretudo, de alinhamento organizacional
a nível político e técnico.
Os temas abordados em cada tertúlia procuraram
primar pela diversidade de conteúdos e destinatários,
indo de encontro a questões emergentes
relacionadas com os desafios colocados em matéria
de gestão organizacional; gestão de recursos
humanos; organização e funcionamento das
diferentes respostas sociais; gestão emocional, do
stress e motivação de equipas; o papel, a intervenção
e a importância de cada função para a superação
dos desafios emergentes, bem como o reforço
da participação das pessoas com deficiência e das
suas famílias. Foram, assim, dinamizadas 13 tertúlias,
subordinadas aos seguintes temas:
1. Covid-19: Ameaças e desafios para as Cooperativas
de Solidariedade Social;
2. Gestão de emoções e relações em tempo de crise;
3. Humor como ferramenta de gestão do stress;
4. Gerir em tempo de crise;
5. Vamos falar de apoio residencial;
6. O nosso papel como psicólogos/as;
7. Lazer com Prazer: Ler, ver, ouvir e refletir;
8. Vamos falar sobre educação;
9. O nosso papel como assistentes sociais;
36 | REVISTA FENACERCI 2020
10. Nós por Nós Próprios – tertúlia dirigida a pessoas
com deficiência e famílias;
11. Vamos falar sobre Apoio Ocupacional, Cultura,
Desporto e Lazer;
12. O nosso papel como auxiliares, monitores, ajudantes
familiares e assistentes administrativos;
13. E Depois da Covid-19 – abordagem do enquadramento
proposto pela FENACERCI.
Estas tertúlias foram assistidas por 663 participantes
provenientes de 40 organizações (30
associadas da Federação e 10 organizações congéneres).
Importa referir que a participação de
organizações congéneres nestas tertúlias está intrinsecamente
relacionada com o reconhecimento
deste espaço como referência de ação, acesso a
informação e partilha de conhecimento.
O projeto “Tertúlias à Sexta” revelou-se um espaço
de excelência do reforço da coesão e alinhamento
organizacional, uma plataforma de comunicação
e partilha de informação, da qual resultaram um
conjunto de sugestões de temas a abordar, onde
foram lançados novos desafios, bem como propostas
de trabalho concretas.
Fruto desse trabalho profícuo, a FENACERCI preparou
um documento estratégico sobre a retoma
do funcionamento da sua rede de associadas;
definiu uma estratégia de futuro alinhada com os
desafios que se colocam às diferentes respostas
sociais; implementou um modelo de oficinas temáticas
que visa promover a reflexão e o trabalho
inter-organizacional sobre as diferentes respostas
sociais; prolongou o projeto “Tertúlias à Sexta”
atendendo aos diferentes pedidos de continuidade;
dinamizou um novo espaço no seu sítio da
internet dedicado ao tema do humor como ferramenta
de gestão do stress e alargou a oferta temática
de tertúlias de forma a ir ao encontro das
necessidades sentidas pelas famílias e pelas pessoas
com deficiência.
Consciente da importância do seu papel, a FE-
NACERCI tem assumido durante a atual fase de
pandemia uma aposta clara na promoção de uma
cultura organizacional forte, com valores profundamente
arraigados; com estratégias, conteúdos
e canais de comunicação e informação reforçados;
ampliando as competências e capacidades de
liderança; chamando à reflexão e intervenção todos
os profissionais, as famílias e as pessoas com
deficiência, contribuindo de forma indubitável
para as soluções de sucesso que as cooperativas
de solidariedade social têm evidenciado na resposta
à crise mundial que atravessamos. O projeto
“Tertúlias à Sextas” faz parte desta aposta.
Dados estatísticos de avaliação das Tertúlias:
Grau de satisfação avaliado numa Escala de Likert de 0 a 10,
em que 0 corresponde a Nada Satisfeito e 10 corresponde a
Muito Satisfeito obtivemos as seguintes percentagens:
TESTEMUNHOS
“O desafio atual que todos enfrentamos condiciona a nossa proximidade
física mas estas ações devolvem-nos a proximidade intelectual
e emocional que nos tornará mais reflexivos, em comum.”
“Gostaria de deixar uma mensagem de agradecimento pela capacidade
que a FENACERCI tem de se reinventar num momento
de crise, como a que vivemos, promovendo uma aproximação e a
partilha entre organizações. Bem hajam!”
“Considero que a FENACERCI teve uma excelente ideia em promover
estas Tertúlias entre as organizações associadas com temas
que permitem a troca de ideias e experiências no apoio a
pessoa com deficiência e que, fundamentalmente, estabelece
uma partilha comum de conhecimento, aproximando as organizações
associadas.”
“As tertúlias têm sido uma excelente fonte de encontro e aproximação
das pessoas e das organizações, num modelo de debate
participado, profícuo, livre e economicamente construtivo. Ainda
que centradas num tempo de crise, há sinais de mudança e abertura
ao futuro muito interessantes.”
REVISTA FENACERCI 2020 |
37
HAJA
SAÚDE
Nesta altura a frase torna-se quase redundante. Mas a verdade é
que para irmos para qualquer lado o fundamental, antes mesmo da
partida, é que haja saúde. O resto certamente virá por acréscimo.
© DR
HAJA SAÚDE
Perturbação do
Espetro do Autismo e
Integração Sensorial
40 | REVISTA FENACERCI 2020
Muitas crianças com Perturbação do Espetro
do Autismo (PEA), apresentam dificuldades de
processamento sensorial. Estas dificuldades
têm impacto no seu comportamento, aprendizagem,
interação social e participação nas atividades
da vida diária.
Segundo Ayres, J. (2005), a integração sensorial
define-se como o processo neurológico que organiza
as sensações do meio envolvente e do
próprio corpo, permitindo a participação do
indivíduo nos seus contextos de vida. Segundo
diversos estudos científicos, a Terapia de Integração
Sensorial, desenvolvida pela Terapeuta
Ocupacional A. Jean Ayres, comprova-se eficaz
no desenvolvimento das capacidades funcionais
de crianças com PEA.
O processo de integração sensorial abrange as
sensações que recebemos dos sete sistemas
sensoriais: olfativo, tátil, auditivo, visual, gustativo,
propriocetivo e vestibular. Este processo
engloba perceção, reatividade e processamento
sensorial e ainda as funções motoras associadas,
como praxis (capacidade que nos permite
planear e executar uma ação), integração bilateral
e controlo postural.
É comum observar uma criança com PEA com
dificuldades de participação nas rotinas diárias
e em tarefas como vestir/despir, banho, alimentação,
brincar, saídas familiares, atividades
sociais e/ou tarefas escolares.
Muitas crianças com PEA apresentam um perfil
de hiper-reatividade tátil e, por isso, evitam
tocar em determinados materiais e não são capazes
de tolerar determinadas texturas com as
mãos, inibindo assim, a sua participação em tarefas
escolares. Por outro lado, se apresentam
pobre discriminação tátil, poderão apresentar
maior dificuldade em concretizar a tarefa de
apertar os cordões, em identificar ou distinguir
diferentes materiais, exigindo um maior esforço
e atenção por parte da criança. Ao nível do
planeamento motor e da praxis, são observadas
dificuldades na concretização de tarefas mais
complexas e não familiares. A exposição a sons,
como o ruído de determinados equipamentos
domésticos ou festas de aniversário, pode
causar dificuldades de participação e comportamentos
de hiper-reatividade. A área da alimentação
pode ser igualmente um desafio para
crianças com PEA, uma vez que está relacionada
com várias sensações (olfativas, visuais e táteis).
Frequentemente, as dificuldades de participação
social, para além de outras inerentes à PEA,
podem estar também relacionadas com dificuldades
de modulação sensorial. Observam-se
ainda, outras dificuldades como ajustar o nível
de alerta e de arousal (atenção/concentração) e
alterações ao nível do sono e ansiedade.
É importante compreender que estes comportamentos
podem variar de acordo com o perfil,
com o contexto e com a forma como a criança
processa as sensações. Quando as dificuldades
de participação e de comportamento estão
relacionadas com dificuldades de integração
sensorial, esta deve ser encaminhada para um
terapeuta ocupacional especializado, no sentido
de avaliar e definir um plano de intervenção
ajustado às suas necessidades.
Maria João Fernandes
Terapeuta Ocupacional
Referências:
Schaaf, R. C., Mailloux, Z. (2015). Clinician’s guide for
implementing Ayres Sensory Integration – Promoting
participation for children with autism. AOTA,
Montgomery Lane.
REVISTA FENACERCI 2020 |
41
HAJA SAÚDE
Mais Saúde
Oral
CEERDL
Ter uma boa saúde oral significa viver com mais
saúde! Esta é a mensagem que o CEERDL procura
passar a todos os seus clientes e familiares,
através do desenvolvimento do Plano Mais
Saúde Oral uma iniciativa multinível, desenvolvida
em parceria com a Clínica Europa, que visa
melhorar a literacia em saúde oral, promover a
adoção de comportamentos saudáveis, prevenir
doenças da boca através do controlo de fatores
de risco e, acompanhar clientes a consultas de
vigilância regular e tratamentos.
Muitos problemas da boca estão relacionados
com fatores não modificáveis que exigem particular
atenção (e.g. idade, hereditariedade, medicação).
Porém, existem fatores de risco especificamente
relacionados com comportamentos e
hábitos de vida, esses sim, modificáveis (e.g. dieta
rica em açúcar, consumo de tabaco e álcool,
falta de higiene oral).
A fim de prevenir, reduzir e evitar tais problemas,
o CEERDL mantém a preocupação de melhorar
o acesso das pessoas com deficiência e
outras incapacidades à saúde oral, mas mais do
que isso, levá-las a compreender de forma positiva,
a sua importância para uma vida com mais
saúde, bem-estar e qualidade.
As sessões de sensibilização passam por alertar
para a importância de ter uma boca saudável e o
seu impacto na forma como conseguimos realizar
ou não atividades muito importantes do
nosso dia-a-dia como falar, mastigar, engolir,
sorrir, rir e relacionarmo-nos com os outros;
mas também na sua importância para vivermos
com confiança e mantermos uma boa autoestima.
Ainda, é prestada informação acerca das
principais alterações da saúde oral mas também
da importante relação com a saúde geral, nomeadamente,
influência da alimentação (e.g. a
importância de limitar o consumo de alimentos
e bebidas ricas em açúcares), consumo de álcool
e tabaco, outras doenças (e.g. diabetes, doença
cardíaca, infeções).
Nas sessões, é também realizada pela médica
dentista, uma exemplificação sobre como fazer
uma correta escovagem de dentes e sua frequência,
essencial para prevenir inflamações, situações
de dor, cáries dentárias e outras lesões.
Os clientes são alertados para os principais sinais
e sintomas das cáries dentárias e é feita a
distribuição de um Kit Oral a todos os participantes,
composto por uma escova e uma embalagem
de pasta de dentes.
A par das sessões de sensibilização, os clientes
são diariamente estimulados a cumprir, de forma
regular, a sua higiene oral mantendo-se iniciativas
supervisionadas de escovagem de dentes
junto de clientes com menos autonomia.
Finalmente, a fim de serem detetadas e tratadas
o mais atempadamente possível quaisquer tipo
de alterações, evitando tratamentos mais invasivos
e perdas dentárias, os clientes do CEERDL
são acompanhados a consultas regulares ao dentista,
para efeitos de vigilância e tratamentos.
Porque ter uma boa saúde oral significa viver
com mais saúde, Plano Mais Saúde Oral é uma
aposta do CEERDL na promoção da qualidade de
vida dos seus clientes.
42 | REVISTA FENACERCI 2020
Mexe-te, pela
tua saúde!
CERCIBRAGA
O desporto adaptado e atividade física permitem
promover junto dos adultos da CERCI BRAGA hábitos
de vida mais saudáveis mas acima de tudo, combater
os comportamentos de sedentarismo e inatividade
que motivam o aparecimento de doenças bem caraterísticas
nesta população. A obesidade, problemas
cardíacos, diabetes são algumas das patologias mais
comuns, contudo, ao nível da saúde mental também
se denotam quadros de ansiedade, depressões, etc …
A participação em iniciativas de âmbito desportivo
contribuem claramente para ajudar a contrariar este
tipo de problemas e, ao mesmo tempo, ajuda a minimizar
os efeitos negativos de um estilo de vida que a
longo-prazo se torna claramente prejudicial para os
clientes.
O objetivo inerente à prática desportiva é sempre a
melhoria da qualidade de vida e saúde dos clientes,
mas também, o meio para a reabilitação física, psicológica
e social dos mesmos. A escalada, o andebol, o
karaté, o snagolf, a piscina fazem parte do leque de
modalidades à disposição dos nossos jovens e adultos
com deficiência intelectual. Se para uns a integração
em determinadas modalidades visa apenas promover
o bem-estar e a promoção da atividade física, para
outros, definem-se metas mais ambiciosas onde o
foco é a competição e o desenvolvimento de competências
mais avançadas. A instituição investe bastante
na criação de oportunidades que potenciem a participação
em diferentes modalidades desportivas por
isso, apesar de semanalmente haver um foco maior
nas atividades já mencionadas, estamos igualmente
receptivos a participar em eventos ou iniciativas pontuais.
A escalada adaptada, um desafio abraçado desde 2015
através da parceria com o Clube de Escalada de Braga,
constitui atualmente a atividade em que incluímos
mais clientes. Assistimos a um crescimento e visibilidade
surpreendente ao nível da modalidade. No ano
passado, a V Prova de Escalada Adaptada reuniu mais
de 100 pessoas com deficiência intelectual, deficiência
motora e amblíopes, praticantes determinados,
onde os handicaps não são vistos como um problema.
Mais recentemente, a parceria com o ABC de Braga,
despertou uma motivação extra para a prática do andebol
adaptado. Constituída a equipa ABC/CERCI-
BRAGA começámos a dar passos no sentido de participarmos
nos campeonatos regionais organizados
pela ANDDI, bem como, em outros jogos amigáveis
que nos possibilitam criar o sentimento de pertença
à equipa e ao ABC de Braga, clube cuja notoriedade
nacional é evidente. Envergar a camisola oficial do
Clube acrescenta uma maior responsabilidade e motivação
à equipa. De forma a potenciar os resultados
da equipa, temos a treinadora de andebol adaptado
- Beatriz Durães – que assume o treino semanal. O
papel da treinadora, a par do nosso fisioterapeuta e
da nossa monitora tem feito toda a diferença no nosso
percurso. Somos ainda uma equipa em construção
mas em que já se denota uma evolução significativa.
O Centro de Desporto Adaptado da Câmara Municipal
de Braga disponibiliza ainda modalidades como o
karaté, iniciativa em que podemos integrar dois grupos
de clientes, uns em que o objetivo é apenas de
incentivar a que pratiquem algum exercício físico e,
um outro grupo, em que caminhamos no sentido de
os capacitar para irem mais longe e, quem sabe, no
futuro poderem fazer parte de provas ou campeonatos
da modalidade.
Joel Machado, fisioterapeuta da instituição, refere
“enquanto fisioterapeuta e responsável pela área de
desporto da CERCIBRAGA, sei quais as mais-valias
inerentes ao facto dos nossos clientes terem uma prática
desportiva regular”. Em primeiro lugar, e a mais
evidente é o impacto emocional e mental que tem
em cada um deles. O conhecimento corporal adquirido
na sequência das experiências nas modalidades
é também de extrema importância para a sua autonomia
e autoestima. Em segundo lugar, e não menos
importante devido ao facto do índice de sedentarismo
ser mais elevado nesta população, todos os benefícios
físicos e de saúde se tornam mais clarividentes com a
prática desportiva. Reforça ainda que o Karaté, a Escalada
e o Andebol acabam por ter mais impacto devido
ao facto dos técnicos responsáveis e monitores
terem um grande empenho e dedicação no trabalho
desenvolvido na área do desporto adaptado.
REVISTA FENACERCI 2020 |
43
HAJA SAÚDE
COATTITUDE
Um projeto
orientado para a
promoção
da saúde física
e mental
Assumindo a arte como um elemento importante
para promover a expressão, a comunicação e
a integração entre as pessoas, a CERCICOA dá
enfase à criação de projetos que integrem atividades
no âmbito da expressão plástica, motora
e dramática. Nesse contexto, têm sido candidatados
projetos ao financiamento pelo INR,IP
de modo a intervir na melhoria da saúde mental
dos clientes, bem como, no empowerment dos
mesmos no que respeita à sua criatividade, integração
na sociedade e capacidade de iniciativa.
Na sequência dos projetos desenvolvidos e tendo
em conta a importância que ambos demonstraram
ao nível da saúde, uma vez que apelam
para a melhoria do bem estar físico, mental e
emocional dos clientes, sentiu-se a necessidade
44 | REVISTA FENACERCI 2020
de desenvolver o Atelier das Artes, bem como
de criar o Grupo de Expressões, COATTITU-
DE. Com estes grupos, temos desenvolvido um
trabalho que procura explorar as qualidades e
o potencial artístico de todas e todos os participantes.
No atelier de artes plásticas cada cliente tem a
oportunidade de se expressar livremente com
recurso a diversos materiais e técnicas, nomeadamente
pintura, escultura, reutilização de
materiais (papel, cartão, plástico, cortiça) e trabalhos
manuais (crochet, feltros, entre outros).
Estes trabalhos são posteriormente expostos
em entidades nos concelhos de abrangência de
modo a potenciar o conhecimento e a apreciação
do potencial criativo de quem os executa,
permitindo assim, que a comunidade conheça e
se delicie com as suas obras.
Nas sessões com o Grupo COATTITUDE, são
desenvolvidas atividades de dança, música,
expressão dramática, exercícios de expressão
corporal, canto e dinâmicas de relaxamento que
posteriormente culminam num espetáculo de
apresentação pública.
Todas as ações concretizadas permitem a aquisição
de um modo de vida mais ativo, através da
alteração das suas rotinas, a melhoria de competências
ao nível da expressão de emoções e
pensamentos, coordenação motora, orientação
espácio-temporal, concentração, partilha de
conhecimentos e uma melhoria da sua mobilidade
no dia-a-dia. Paralelamente a estes aspetos,
é importante evidenciar também a estreita
articulação com os serviços de saúde, o que
proporciona um acompanhamento de proximidade
e que resulta numa melhoria ao nível da
adesão à terapêutica e consequente redução do
número de internamentos psiquiátricos.
Em suma, o acompanhamento adequado, as
atividades desenvolvidas, bem como, as exposições
e os espetáculos realizados, contribuem
significativamente para uma melhoria contínua
da situação de saúde física e mental de cada interveniente,
assim como, no que respeita à sua
autoestima, autoconhecimento, relação interpessoal,
integração na comunidade e valorização
das suas competências pessoais e sociais.
Filipa Guerreiro
Educadora Social
Raquel Alexandre
Psicóloga
REVISTA FENACERCI 2020 |
45
HAJA SAÚDE
Consulta
Domiciliária
Uma Boa Prática
de Cuidados
Diferenciados
CERCIDIANA
Não se tratando de nenhum projeto formalizado
no domínio da saúde, gostaríamos de partilhar
convosco aquilo que consideramos ser um
exemplo de boas práticas, neste domínio, com
importante impacto na qualidade de vida dos
nossos clientes.
Presentemente, todos os clientes do Lar Residencial
da CERCIDIANA são atendidos no seu
contexto de vida, num ambiente informal, quer
pelo seu médico de família, quer pelo médico
psiquiatra, quer ainda, pela enfermeira sempre
que necessitam da administração de injetáveis.
Os profissionais de saúde diferenciados, assim
como, os elementos da equipa técnica do Lar
Residencial participam nas consultas conjuntas
podendo, desde logo, aferir das terapêuticas e/
ou esclarecer dúvidas de âmbito clínico e/ou
comportamental de maneira mais cuidada. Os
nossos clientes sentem-se, naturalmente, em
casa com todas as vantagens que daí decorrem
para uma intervenção desta natureza.
Daqui resultam melhorias inestimáveis face ao
passado. Melhoram os processos de comunicação,
melhora o comportamento dos clientes,
bem como, a relação entre todos os intervenientes.
De maneira mais prática, é a partir de
uma articulação entre agendas de diferentes
profissionais, assim como, da sua disponibilidade
para se deslocarem ao contexto de vida dos
nossos clientes que tudo isto se torna possível.
Assim, não temos mais necessidade de realizar
deslocações sucessivas a diferentes respostas da
saúde com tempos de espera, por vezes, incomportáveis
para pessoas com estas características
e por caminhos mais ou menos tortuosos, sobretudo,
para quem se desloca em cadeira de
rodas.
Assim, também se agilizam processos e se aprofunda
uma relação de cuidado que se consubstancia
nos cuidados diferenciados prestados
aos nossos clientes, que colaboram com maior
envolvimento e menos ansiedade relacionada
com o contexto.
46 | REVISTA FENACERCI 2020
O Impacto
na Qualidade de
Vida da Psiquiatria
Comunitária
O projeto de psiquiatria comunitária teve início em
2018 e funciona na base da parceria entre o Centro
Hospitalar de Vila Nova de Gaia (CHVNG) e a CER-
CIESPINHO, decorrente de uma proposta formal
à CERCIESPINHO para integrar um projeto piloto
de psiquiatria comunitária do Serviço de Psiquiatria
e Saúde Mental deste Centro Hospitalar.
Considerando a necessidade premente de serviços
na área da saúde mental, da urgência de aproximar
esta área da saúde às pessoas, acrescida do
sentimento de impotência e de dificuldades na
atuação, nesta área da saúde, por parte da nossa
organização, aceitámos imediatamente participar
no projeto. Assim, em 2018, foram estabelecidas
consultas semanais e quinzenais, nas nossas instalações
sendo sinalizados e consultados 13 clientes
entre 15 de outubro a 10 de dezembro.
Ao caráter inovador e indispensável do projeto
acresceu a competência técnica das psiquiatras
envolvidas e principalmente as metodologias de
trabalho implementadas. Assim, semanalmente
foram discutidos pelas equipas do Lar e do Centro
de Atividades Ocupacionais (CAO), os clientes
a propor para consulta, aferidos os indicadores e
informação na área da saúde mental (medicação,
comportamento, outros), e proposto às famílias a
participação no projeto. Após validação pela equipa
e família, o caso era apresentado às psiquiatras
com informação de enquadramento, pelos técnicos
de interface. A médica no dia da consulta, iniciava
uma reunião com os técnicos e depois reunia
com os familiares e também com os clientes,
permitindo um contexto de informação de enquadramento
que raramente é possível em contexto
hospitalar. Deste modo, foram realizadas 18 consultas
a 13 clientes (8 clientes do CAO e 5 do Lar),
sendo que 9 corresponderam a primeiras consultas
tendo-se verificado 18 alterações na medicação
prescrita. A troca de informação na consulta e
por correio electrónico permitiu ajustar a medicação
e contribuiu claramente para o bem-estar dos
clientes e para a redução de crises e de períodos
de descompensação, bem como, eliminou as urgências
psiquiátricas nestes 2 meses.
Durante 2019, mantiveram-se as consultas de abril
a agosto e novamente a partir de novembro, com
uma nova metodologia – uma psiquiatra supervisora
que permite a continuidade do processo e articula
internamente no CHVNG de forma a facilitar
os encaminhamentos ou estruturar a interação da
psiquiatra deste projeto com os psiquiatras que já
acompanham alguns dos nossos clientes. Em 2019
foram realizadas 63 consultas com 24 clientes (10
clientes do Lar, 12 do CAO e 2 do Centro de Apoio
à Vida Independente – CAVI), traduzidas em 15 primeiras
consultas, 40 reavaliações e 32 alterações
na medicação.
Verificamos, ao longo do projeto um conjunto de
resultados muito positivos, nomeadamente a ausência
de urgências psiquiátricas no período das
consultas, reduzindo processos de crise, permitindo
fazer ajustamentos entre consultas que reduziram
o sofrimento dos clientes e contribuíram
para o bem-estar de colegas e colaboradores,
proporcionando um melhor funcionamento dos
serviços e claramente impactando na qualidade de
vida dos clientes, famílias e dos colaboradores dos
serviços envolvidos. O impacto nas famílias foi evidente,
quer na desconstrução de estereótipos relativamente
ao disgnóstico duplo e à saúde mental,
quer facilitando a deslocação para as consultas e
evitando faltas, quer ainda, pelos encaminhamentos
para outras especialidades propostas e cuja
articulação interna facilitou o processo. Acresce, a
melhorada monitorização e acompanhamento que
os serviços envolvidos realizaram quer em termos
de capacitação das equipas para identificar especificamente
sintomas e evidências representativas
de alterações na situação de saúde do cliente, quer
no apoio às famílias no acompanhamento da administração
terapêutica e facilitação de troca de
informação sobre as especificidades da deficiência
intelectual com as psiquiatras envolvidas.
O projeto claramente enriqueceu todas as partes
envolvidas, fomentando uma curva de aprendizagem
expressiva mas, acima de tudo, forneceu aos
nossos clientes e famílias um apoio essencial, numa
área tão sensível da saúde, contribuindo para a sua
saúde mental e para a sua qualidade de vida.
Rosa Couto
Diretora Geral da CERCIESPINHO
REVISTA FENACERCI 2020 |
47
HAJA SAÚDE
O Reiki e a
Saúde Mental
CERCIGUI
Reiki a arte de ser feliz na CERCIGUI é um Projeto
destinado a jovens adultos com deficiência
que, além do seu diagnóstico que normalmente
implica, défices cognitivos, físicos e mentais,
muitas das vezes não possuem ferramentas para
gerir as suas emoções, apresentando consequentemente
alterações comportamentais que
dificultam o envolvimento e participação ativa
nos seus contextos. Estas alterações podem dar
origem a doenças psicossomáticas, isolamento,
agressividade, etc. As psicoterapias e terapias
medicamentosas por vezes não surtem o efeito
desejado e o recurso à aplicação de terapias
alternativas como é o caso do Reiki, surge como
um caminho eficaz. Esta terapia holística trabalha
o campo energético e constitui-se como terapia
não invasiva. Aliás, as terapias de cura pelo
toque são práticas ancestrais muito em voga
nos tempos atuais, e embora sendo de natureza
espiritual, não estão associadas a nenhuma religião
ou prática religiosa.
48 | REVISTA FENACERCI 2020
COOPER ATIVA DE EDUCAÇÃO E REABILIT AÇÃO
DE CID ADÃOS C OM INCA PA CID ADES DE GUIMARÃES
O projeto na CERCIGUI, iniciado em 2016, aposta
no Reiki inclusivo pois para além das aplicações
da terapia, promove ainda o ensinamento
da mesma para posterior aplicação a outros
públicos. Um ano após o arranque em 2017, foi
possível iniciar um projeto de voluntariado dos
jovens da CERCIGUI, aos clientes do Lar de Mascotelos,
em Guimarães. Esta é a verdadeira inovação
do nosso projeto, pois não se trata só do
ensino de Reiki com acompanhamento a jovens
da CERCIGUI, como também, da sua capacitação
como voluntários, com bons resultados nas
terapias implementadas. Esta particularidade
do nosso projeto de Reiki foi salientada recentemente
no Seminário “Reiki na Saúde Mental
- Diminuir diferenças, construir pontes”, organizado
pela Associação Portuguesa de Reiki. O
projeto da CERCIGUI foi um dos apresentados
ao auditório, sendo mais uma oportunidade de
espelhar a abordagem integrativa desta terapia
complementar.
Recorde-se que Portugal é o 5º país, na União
Europeia, com mais casos de doença mental,
indicando que 18,4% da população sofre de depressão,
ansiedade ou problemas no consumo
de álcool e drogas. Sendo este um grande desafio
para a sociedade, respostas inovadoras são
necessárias para auxiliar o trabalho do Sistema
Nacional de Saúde e instituições que se dedicam
à problemática da saúde mental. O Reiki,
como prática de terapia complementar, poderá
ajudar numa abordagem integradora. Cada vez
mais, clínicas e hospitais oferecem esta terapia
complementar para diversas doenças e condições
de saúde. Quem a recebe, relata alívio dos
sintomas de inúmeras patologias, incluindo as
do foro mental, alívio do stress, ansiedade, depressão
e dor crónica. Atualmente existem pesquisas
que comprovam a eficácia do Reiki em
diversas áreas da saúde. Nestas pesquisas, os
tratamentos de Reiki produziram sinais claros
de redução do stress, verificados pelas alterações
das medidas autónomas e biológicas como
os batimentos cardíacos (Baldwin, Wagers and
Schwartz, 2008) e informações celulares (Baldwin,
Wagers and Schwartz, 2006). A aplicação
e a aprendizagem da Terapia Reiki aprofunda o
auto conhecimento, desenvolve a auto estima,
bem como o equilíbrio físico, mental, emocional
e energético, o que trará uma maior harmonia
às pessoas que a utilizam ou usufruem da
mesma, podendo assim ajudar o ser humano a
manifestar as suas necessidades e a envolver-se
num leque de atividades que promovam a sua
felicidade. E tem sido assim que com este projeto,
somos felizes na CERCIGUI e como dizem
os 5 princípios do Reiki… só por hoje:
Sou Calmo,
Confio,
Trabalho Honestamente,
Sou Bondoso,
Sou Grato!
REVISTA FENACERCI 2020 |
49
HAJA SAÚDE
Doutor Risadas
CERCIMARANTE
A CERCIMARANTE recebeu a 7 de novembro
de 2019, a visita do Projeto “Dr. Risadas”, promovido
pela Organização Não-Governamental
“Mundo a Sorrir” em parceria com a Entrajuda,
e que arrecadou o prémio BPI Capacitar 2018.
O objetivo da visita foi o de impulsionar a saúde
oral, os estilos de vida saudáveis e o acompanhamento
médico-dentário continuado a pessoas
com necessidades especiais.
Assim, a médica dentista e voluntária da “Mundo
a Sorrir”, Catarina Vítor, esteve no Centro de
Atividades Ocupacionais (C.A.O.), onde, da parte
da manhã, realizou três ações de capacitação
sobre cuidados de higiene oral e estilos de vida
saudáveis. Uma das ações destinou-se a tutores/representantes
legais dos clientes, onde
todos tiveram a oportunidade de esclarecer dúvidas.
As outras duas ações destinaram-se aos
clientes e colaboradores.
Das 13h30 às 14h00, a médica dentista esteve no
Centro de Formação e Reabilitação Profissional
(CFRP), onde, igualmente, ministrou uma ação
de capacitação para clientes, formandos e colaboradores
deste Serviço.
À tarde, novamente no C.A.O., Catarina Vítor efetuou
rastreios dentários a um grupo de clientes,
onde diagnosticou algumas patologias orais. No
final, foram oferecidos, a cada um desses clientes,
um dentífrico e uma escova de dentes.
Futuramente, poderão vir a ser realizados tratamentos
dentários gratuitos, previamente diagnosticados
nos rastreios.
As pessoas com necessidades especiais apresentam
desvios no padrão de normalidade da
sua condição física, mental, orgânica e/ou social
e, por terem incapacidades motoras e/
ou cognitivas, manifestam uma incapacidade
de executar a sua higiene oral de modo satisfatório.
Esta situação leva a que, muitas vezes,
apresentem uma alta prevalência de patologias
orais.
Por isso, a “Mundo a Sorrir”, através do projeto
“Dr. Risadas”, pretende reduzir as doenças mais
prevalentes na cavidade oral das Pessoas com
Necessidades de Saúde Especiais (NSE), proporcionando
melhores cuidados preventivos e
melhor acessibilidade a cuidados de saúde.
50 | REVISTA FENACERCI 2020
Diário de
uma Médica
Desafiando
receios e ideias
préconcebidas!
“Nada do que é humano deverá ser estranho ao
médico!” …foi a máxima transmitida pelo Professor
Joaquim Pinto Machado, fundador da Escola
de Medicina onde fiz a minha formação académica,
e que cada dia me parece fazer mais sentido
e inspirar.
Apesar de cerca de 18% da população portuguesa
apresentar algum tipo de limitação física, intelectual
ou sensorial que inibe a sua participação
nas várias dimensões da vida e da cidadania em
iguais circunstâncias com os demais, o contacto
com a deficiência é extremamente escasso ao
longo da atividade formativa e profissional do
médico. E por ser escasso torna-o estranho e
amedronta quem o tenta fazer… Mas como defendia
Jean Vanier, “O medo está na base de todas
as formas de exclusão, tal como a confiança
está na génese de todas as formas de inclusão.”
E assim foi, com medo, mas também com muita
confiança de que poderia ser uma mais-valia
para os clientes do Centro de Atividades Ocupacionais
(C.A.O.), e como consequência, para
todos aqueles com que me cruzo, que aceitei o
desafio de colaborar como médica no C.A.O. da
CERCIMARANTE.
Apesar de todas as inseguranças e dúvidas iniciais
acerca do trabalho com a diferença, a minha
atividade no CAO tem-se revelado uma aprendizagem
e mais-valia também para a minha formação
profissional e pessoal.
Contrariando os receios e ideias preconcebidas
(talvez mesmo preconceituosas), tem sido
possível interagir e estabelecer uma relação
médica-utente próxima, empática e de confiança,
marcada pelo desafio contínuo de ajustar a
forma de comunicação, interação e processo de
tomada de decisão às particularidades tão especiais
de cada utente. Além disso, a colaboração
multidisciplinar entre profissionais de diversas
áreas, como o serviço social, a psicologia, a terapia
ocupacional e a nutrição tem permitido uma
abordagem holística de cada utente, no sentido
da melhoria não só do seu estado de saúde, mas
também, de potenciação e valorização das capacidades
de cada um. E este trabalho tem sido tão
gratificante!
Cada utente é único e especial, e na diferença,
todos se revelam semelhantes na forma afetiva
como se expressam e agradecem cada minuto da
nossa dedicação. E se sinto um agradecimento
enorme pelo meu trabalho, também tenho imenso
a agradecer pela forma carinhosa e acolhedora
como me receberam. Porque “aqueles que
passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós.
Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós.”
À CERCIMARANTE o meu muito obrigada!
Soraia Abreu
Médica no Centro de Atividades Ocupacionais
da CERCIMARANTE
REVISTA FENACERCI 2020 |
51
HAJA SAÚDE
Sensorialmente
Inclusivo
A CERCIMONT ambicionava há já algum tempo
a oportunidade de disponibilizar aos seus clientes
uma sala de estimulação multissensorial.
Na falta de uma sala específica e completa de
materiais de estimulação foram desenvolvidas
nos últimos meses, atividades multissensoriais
num registo lúdico e de relaxamento com recurso
a materiais de estimulação visual, tátil,
olfativo que os clientes carinhosamente designam
de “luzinhas”. Desde a primeira sessão desenvolvida,
a recetividade e adesão dos clientes
à atividade foi surpreendente, tendo vincado
ainda mais, a vontade e necessidade de providenciar
uma sala com todas as condições e materiais
necessários, para a realização de sessões
terapêuticas mais abrangentes.
No seguimento desta experiência, procedeu-se
à candidatura ao prémio BPI “La Caixa” Capacitar.
Após vários meses de trabalho, dedicação
e empenho neste projeto tão desejado para a
CERCIMONT, foi com grande expetativa, entusiasmo
e felicidade que no final de 2019 a instituição
recebeu a notícia de que o sonho iria
ser possível de concretizar já que a candidatura
apresentada foi uma das premiadas.
A sala de estimulação multissensorial veio responder
às necessidades dos clientes da CERCI-
MONT através da promoção do relaxamento,
facilitação da estimulação física e cognitiva,
interação social, regulação emocional e afetiva,
gestão comportamental, intervindo diretamente
em disfunções sensoriais decorrentes
dos quadros clínicos existentes muito pautados
inclusivé pela multideficiência. De ressaltar
que, com a criação da sala multissensorial não
se pretende que os benefícios sejam restritos
exclusivamente para uso dos clientes, funcio-
nários e familiares da CERCIMONT, mas gerar
também, uma resposta alargada à comunidade
local.
Deste modo, creches, escolas e lares do Concelho
terão ao dispor os serviços terapêuticos
prestados pelo ambiente multissensorial a partir
do estabelecimento prévio de parcerias. No
que concerne ao trabalho que se pretende desenvolver
em parceria com as creches, este terá
como objetivo promover a estimulação sensoriomotora,
tendo em conta a fase do desenvolvimento
sensoriomotor e a exploração a partir
do brincar na primeira infância. Já no que se
refere ao trabalho com as escolas, pretende-se
promover o relaxamento dos alunos, bem como,
estimular competências do desenvolvimento,
facilitadas em ambientes multissensoriais, algo
que é comprovado cientificamente! Relativamente
às parcerias que se pretendem estabelecer
com os lares de idosos, estas têm como
objetivo a promoção do relaxamento e as reminiscências
na população idosa, cujas evidências
científicas ressaltam o efeito preventivo a longo
prazo do declínio cognitivo ligeiro (DCL) resultante
do processo natural de envelhecimento,
ou mesmo, o retardar do aparecimento e desenvolvimento
de demências.
Todo o trabalho realizado em ambiente multissensorial
será desenvolvido por uma equipa
especializada, uma vez que a construção da sala
compreende não apenas os materiais e equipamentos
necessários ao seu funcionamento, mas
também, a devida formação dos técnicos.
Equipa de Apoio Psicossocial
Equipa de Reabilitação
52 | REVISTA FENACERCI 2020
CERCINA
Prepara clientes para alimentação
saudável e diversificada
Na cozinha da Residência Autónoma “Solar da
Praia”, na CERCINA, vai uma grande agitação.
Hoje, vai-se fazer panquecas de aveia e banana
para o lanche. Os ingredientes já estão na bancada
e, agora, é tempo de pôr mãos à obra e seguir a receita
para mais uma refeição saudável e nutritiva.
Desde a entrada em funcionamento da Residência
Autónoma, há pouco mais de dois anos, a equipa
técnica da CERCINA tem procurado incutir nos
seus cinco residentes, hábitos de alimentação
saudáveis. Para tal, é elaborada uma ementa com
refeições nutricionalmente equilibradas, confecionadas
com alimentos frescos e diversificados.
Aqui reside, aliás, uma das especificidades deste
programa: a sensibilização dos clientes para a
existência de produtos “alternativos”, menos comuns
e nutricionalmente ricos, bem como, formas
mais saudáveis de preparação das refeições.
Definida a ementa, o passo seguinte é a ida ao supermercado.
Com a lista de compras na mão, os
clientes percorrem os corredores à procura dos
produtos e dos ingredientes mais adequados. Sabem
quais os cuidados a ter: comparar marcas,
características e preços e verificar os prazos de
validade.
Já de volta à Residência Autónoma, arrumam-se
as compras e começa-se a preparar a próxima refeição.
Cada cliente sabe o que tem a fazer na gestão
diária da vida doméstica, de acordo com a lista
de tarefas definida na reunião semanal de grupo
realizada com a Psicóloga Tânia Sequeira. Complementarmente,
é assegurado o atendimento
individual e personalizado, tendo em conta as necessidades
específicas de cada um dos residentes.
O cuidado com o plano alimentar começa por ser
uma questão de saúde, pela importância que a nutrição
equilibrada tem no bem-estar e na melhoria
da qualidade de vida de cada pessoa. Mas para a
equipa técnica da CERCINA, a medida tem outros
impactos: trabalhar na capacitação dos clientes
da Residência Autónoma para a organização das
atividades quotidianas contribui para potenciar a
sua autonomia e melhorar a sua autoestima. Afinal,
quem não se sente orgulhoso por conseguir
confecionar uma refeição deliciosa e saudável?
TESTEMUNHOS
«Aprendi a importância de comer saladas, sopas e alimentos
com os nutrientes que são precisos para a nossa saúde. No
meu caso, como muitas saladas, porque faz melhor do que comer
fritos. Para melhorar os meus problemas de saúde, tenho
que ter mais cuidado com a alimentação.»
Fábio Miguel
Autorrepresentante da CERCINA
«A CERCINA assume-se como uma organização que aposta na
capacitação das pessoas apoiadas para que elas possam fruir
da sua cidadania nas várias dimensões da vida em comunidade.
As preocupações com os hábitos de vida saudáveis, em
particular com a alimentação saudável e diversificada, são essenciais
para a mudança de comportamento dos próprios e,
claramente, da comunidade da qual a CERICNA é parte integrante».
Joaquim Pequicho
Presidente do Conselho de Administração da CERCINA
REVISTA FENACERCI 2020 |
53
HAJA SAÚDE
PES
Programa
Exercício e Saúde
Na CERCIOEIRAS a educação para a saúde é levada
muito a sério!
A atividade e o exercício físico ocupam desde
sempre um papel de destaque no nosso programa
de atividades.
Em 2015, de uma forma mais estruturada e com
o apoio de parceiros estratégicos (Faculdade de
Motricidade Humana), iniciámos a implementação
de um Programa de Exercício e Saúde (PES),
para alguns dos nossos clientes, que nos permitiu
avaliar, monitorizar e tomar decisões acerca
do tipo e frequência de exercícios a realizar para
atingirmos diversos objetivos. Esses objetivos
podem ser a diminuição da sedentariedade, a redução
de peso, entre outros, sendo a melhoria
das condições cardiorrespiratórias um objetivo
transversal a todos os participantes.
Como é também importante saber o porquê de
se fazer algo de determinada forma, fomos um
pouco além da nossa atividade PES. Assim, um
conjunto de clientes participou numa ação de
sensibilização acerca do tema da saúde.
Nesta sessão, todos ficaram a conhecer melhor
o seu corpo e aprenderam que muitas das vezes
há sinais que são evidentes, mas há também uns
que não são visíveis e que devemos ir avaliando
ao longo do tempo. Todos aprenderam a avaliar
em si e no outro, com uma introdução teórica
seguida de uma experimentação, o peso e a altura;
o índice de massa corporal – que nos diz se
estamos dentro do peso expectável para a nossa
altura; a pressão arterial, a frequência cardíaca e
a oximetria (quantidade de oxigénio no sangue).
Depois de uma conversa animada acerca de todos
estes fatores e da sua importância para regular
a nossa vida, foram dadas dicas para que
todos se mantenham saudáveis em duas áreas de
peso: a alimentação – que deve ser o mais variada
possível, evitando as gorduras e apostando sempre
forte na fruta e nos legumes, não esquecendo
beber muita água! - e a atividade física – que deve
ser feita numa proporção mínima de 30 minutos
por dia, se possível de forma moderada!
No final todos se sentiram mais preparados para
auto avaliar e analisar as suas informações fisiológicas
bem como ajudar um amigo a fazê-lo. E todos
ficaram mais conscientes do que é preciso fazermos
para vivermos uma vida com mais saúde!
Duarte Correia
Técnico Superior de Reabilitação Psicomotora
Avaliação
Programa
Saúde
e Exercício
54 | REVISTA FENACERCI 2020
CERCIOEIRAS
Aposta na formação
na área da saúde
As doenças cardiovasculares são a maior causa
de morte em todo o mundo. Só em Portugal
morrem anualmente cerca de 35 mil pessoas, um
número elevado mas que está a diminuir, porque
há fármacos mais eficazes e a prevenção já está
a dar frutos.
Consciente desta realidade, há vários anos que a
CERCIOEIRAS tem vindo a apostar na formação
na área da saúde, e este ano já organizou um Simulacro
seguido de mais uma formação em Suporte
Básico de Vida com e sem DAE - Desfibrilhadores
Automáticos Externos, um equipamento
oferecido pela Fundação Portuguesa de Cardiologia,
em parceria com a Senilife e os Hipermercados
Auchan de Alfragide, a propósito do Projeto
Salva-vidas, uma campanha pública de âmbito nacional
de sensibilização para a morte súbita.
Composta por 6 pessoas, a equipa de operacionais
com formação em Suporte Básico de Vida
com Desfibrilhação foi testada relativamente ao
tempo de resposta numa situação de incêndio
com uma vítima em paragem cardiorrespiratória.
Foi verificado se sabiam da localização do DAE e
o tempo que os operacionais demoraram a chegar
ao local com o equipamento, que neste dia,
foi inferior a 3 minutos.
Além do simulacro neste dia, os operacionais e
vários coordenadores tiveram a oportunidade
de revalidar conhecimentos na formação em Suporte
Básico de Vida com e sem DAE e concluíram
que ações como esta são necessárias para
melhorar procedimentos e para que estejam todos
preparados para salvar vidas.
Durante a formação recordou-se que em caso
de paragem cardiorrespiratória o DAE desfibrilha
o coração, isto é, faz o ritmo cardíaco voltar
ao normal, e não precisa de ser utilizado obrigatoriamente
por profissionais da área da saúde,
mas tem de se ter formação para o fazer. Além
do desfibrilhador DAE ser seguro também conta
com um comando de voz em todas as etapas do
procedimento, dando indicações à pessoa que
está a realizar a desfibrilhação.
VOS (Ver, Ouvir e Sentir) foi a palavra de ordem
da equipa de socorro à vítima, num dia dedicado
à saúde, onde se concluiu que ainda há aspetos
a melhorar mas o balanço foi positivo, algo que
para a CERCIOEIRAS é bastante importante porque
vem confirmar que a equipa está preparada
para ultrapassar imprevistos, e que a aposta na
formação tem sido uma mais-valia para todos.
Mafalda Diniz
Técnica de Comunicação e Marketing
REVISTA FENACERCI 2020 |
55
HAJA SAÚDE
Clínica Equilíbris
A Clínica da CERCITOP
56 | REVISTA FENACERCI 2020
A Clínica Equilibris é uma clinica de reabilitação
e dermato-estética situada no concelho de Sintra,
mais concretamente no Bairro de Ouressa,
freguesia de Algueirão Mem-Martins.
Abriu as suas portas em novembro de 2005 e
conta com profissionais altamente qualificados
que trabalham todos os dias para a saúde e
bem-estar dos seus clientes e comunidade.
A Clínica Equilibris é a clinica da casa mãe -
CERCITOP, defendendo os seus valores, missão,
tradições e objetivos que se encontram espelhados
na sua missão e estatutos.
Esta clínica é uma das várias valências da CER-
CITOP que não tem qualquer acordo com o Estado.
É totalmente privada e, por isso, depende
totalmente dos seus clientes particulares e
companhias de seguros. O seu principal objetivo
é obter lucros para financiar a parte não
lucrativa da CERCITOP, pois as verbas que recebe
do Estado não são suficientes para pagar o
custo das respostas sociais e de saúde que esta
disponibiliza. Apesar deste objetivo e, no cumprimento
da sua missão, a CERCITOP pratica
preços acessíveis, procurando que os seus serviços
possam chegar a todas as camadas sociais
da comunidade. De entre as suas várias especialidades,
destacam-se todos os cuidados de fisiatria
e reabilitação, fisioterapia, hidroterapia,
terapia da fala, ocupacional e pilates clínico.
Defendendo que o acompanhamento ao cliente
deverá ser multidisciplinar e abrangente, a
CERCITOP providencia igualmente, consultas
de psicologia, de nutrição ou mesmo de medicina
tradicional chinesa, mediante as necessidades
de cada um.
Nunca esquecendo os mais pequenos e as novas
gerações, a Clínica dispõe ainda de um Serviço
de Apoio e Intervenção à Criança (SIAC), no qual
as crianças e as suas famílias podem integrar
um plano de reabilitação pediátrica, consoante
as suas dificuldades e limitações, visando a
sua evolução e desenvolvimento, com o acompanhamento
especializado que tanto merecem.
No que toca ao bem-estar e ‘wellness’, essenciais
para um estilo de vida em pleno, a clínica
apresenta também variadas massagens e planos
de tratamento de dermato-estética direcionadas
a qualquer pessoa e para as quais disponibiliza,
durante todo o ano, um variado número de
promoções e vales de oferta.
É também através da clínica que a CERCITOP
gere o SPA do Hotel Vila Galé de Sintra (de categoria
5 estrelas), onde proporciona tratamentos
e massagens combinados com os serviços que
oferece na clínica e de acordo com os padrões
definidos pelo grupo Vila Galé, para os seus diversos
SPA`s.
É hábito a CECITOP realizar e incentivar diversas
campanhas e ações de sensibilização, dentro
e fora das instalações, pelo que aproveita este
artigo para realizar mais uma: venha visitar-
-nos e conhecer os nossos serviços. Trazendo a
Revista FENACERCI 2020 consigo, oferecemos
uma massagem gratuita!!
Clínica Equilíbris
O seu parceiro de saúde e bem-estar!
Rua Francisco Sá Carneiro, n.º25 Ouressa
2725-317 Mem-Martins
Tel.: 21 910 06 90
e-mail: geral@equilibris.pt
REVISTA FENACERCI 2020 |
57
© DR
CERCI’S
O CAMINHO
FAZ-SE A ANDAR
É mesmo: o caminho faz-se a andar. E por isso as nossas Cerci não param.
Antes da COVID a atividade era intensa, com propostas inovadoras para
abordagens cada vez mais inclusivas para as pessoas que apoiamos. Durante
a pandemia houve que improvisar, claro, mas sem nunca perdermos de vista
que o nosso foco principal de ação são as pessoas com deficiência e as suas
famílias. E fez-se muito e bom trabalho antes de a situação pandémica nos
surpreender. Ficam alguns exemplos para registo de memória futura, mas
muitos mais poderiam estar inscritos nesta rúbrica.
CERCI’S O CAMINHO FAZ-SE A ANDAR
CUIDAR: de
pais para pais
CECD MIRA SINTRA
O envolvimento e proximidade com as famílias,
marca a própria história do CECD – Cooperativa
para a Inclusão que desde há 43 anos intervém
com pessoas com deficiência intelectual e/ou
multideficiência.
Desde sempre, o CECD tem desenvolvido projetos
de intervenção com as famílias, nomeadamente,
pela dinamização de grupos de pais e famílias,
tendo esse trabalho sido intensificado nos últimos
três anos, pelo desenvolvimento de ações apoiadas
pelo Instituto Nacional para a Reabilitação. IP,
espelhadas nos Projetos: Cuidar dos Cuidadores
em Sintra (2016); Cuidadores em rede (2017) e Cuidar:
de Pais para Pais (desde 2018), cujo enquadramento
foi sendo atualizado em função da maturidade,
conhecimento e estadios dos próprios
grupos, como respostas válidas pertinentes e impactantes
na Pessoa com DID (Diagnóstico Duplo)
e seus cuidadores, donde o envelhecimento das
pessoas apoiadas e dos próprios cuidadores assumiu
um papel determinante. Olhar o processo
de cuidar na perspetiva do cuidador informal é o
campo de abrangência deste trabalho.
Cuidador: Formal vs. Informal
O cuidar é considerado uma ação humana mobilizadora,
que se traduz no respeitar o sofrimento,
os princípios, os valores e a dignidade do depen-
60 | REVISTA FENACERCI 2020
dente, enquanto pessoa singular, proporcionar-
-lhe melhor qualidade de vida e simultaneamente,
ter qualidade de vida, enquanto cuidador.
O Cuidador Formal é aquele que providencia cuidados
de saúde ou apoio social, para outros, de
acordo com a sua área profissional, usando as
suas competências específicas. O Cuidador Informal,
assenta a sua ação numa expressão de
amor e carinho por alguém que lhe é significativo,
sem remuneração.
Transversal a ambos os papéis, ser Cuidador implica
entrega, dedicação, empenho, criatividade,
no sentido de uma (re)construção e atuação
conjunta, do dependente, do cuidador, da rede de
apoio, simultaneamente racional e afetiva, plena
de significados e sentimentos de todos os envolvidos.
Em Portugal e de acordo com o INE - Instituto Nacional
de Estatística, as tarefas asseguradas pelo
Cuidador Informal podem variar das mais simples
(supervisão) às mais complexas (higiene pessoal) e
variar na frequência (diariamente, aos fins-de-semana,
etc.), periodicidade (tempo parcial vs. tempo
integral), duração (meses ou anos) e intensidade
(grau de dependência de quem é cuidado).
Por esta razão, os cuidadores informais, de forma
global (…) enfrentam no seu dia-a-dia enormes
desafios quer do ponto de vista físico quer emocional,
configurando-se uma experiência simultânea
de emoções positivas e negativas.
De referir que, em algumas situações, as repercussões
negativas podem evoluir para um quadro
denominado por sobrecarga, que é entendido
como um estado psicológico resultado da combinação
do esforço físico, da pressão emocional,
das limitações sociais e das exigências económicas
que surgem ao cuidar de uma pessoa com dependência.
A DID na Pessoa: Fator potenciador de dependência
Na Pessoa com DID, e de acordo com a experiência
decorrida da existência de grupos de cuidadores,
no CECD, tem sido recorrente a necessidade
de reflexão acerca do conceito de finitude.
De facto, em famílias em que o cuidado é dirigido
a Pessoas com DID, cujo futuro após desaparecimento
dos cuidadores é incerto, a temática da
finitude surge como pano de fundo, de uma dor
agravada.
A deficiência surge como um fator potenciador de
dependência, estando esta diretamente relacionada
com a perda brusca de autonomia a vários
níveis: físico, psíquico e social, com a necessidade
de outrem para dar resposta às dificuldades funcionais
instaladas ou que se vão instalando. São
inúmeros os impactos sociais e familiares, na própria
pessoa dependente e no cuidador principal.
Muitas são as pessoas com deficiência e/ou incapazes
que permanecem dependentes, mesmo
em idade ativa, dos seus cuidadores informais ou
retomam a esse estatuto, devido à ausência de soluções
alternativas.
Cuidar: Sobrecarga objetiva vs subjetiva
As famílias são as tradicionais prestadoras de
cuidados. Constituem-se como “porto seguro”,
de ancoragem, porque se assume ser este o seu
papel e função, a de amparo e ser sua responsabilidade
“cuidar dos seus”. Pela pressão emocional
e o desgaste físico a que estão sujeitos, os cuidadores
constituem um grupo de risco, vulnerável à
perturbação afetiva e relacional, à desorganização
pessoal, familiar e social, à doença física e mesmo
à doença psiquiátrica e outra sintomatologia orgânica
e/ou manifestação psicossomática.
Estes problemas complexos atingem os cuidadores
no seu todo, na sua individualidade, na forma como
se relacionam com os outros e interagem com os
diferentes contextos, de tal forma que este mau estar
pode refletir-se nos que dele dependem.
A sobrecarga inerente ao processo de cuidar compreende
duas formas, objetiva e subjetiva. Assim,
entende-se por sobrecarga objetiva as repercussões
concretas, quantificáveis e observáveis, na
vida diária do cuidador, em situações de doença
e dependência da Pessoa a Cuidar p.e. dificuldade
em conciliar trabalho e prestação de cuidados;
maior vulnerabilidade em termos económicos,
isolamento social e perda de saúde física. Os sentimentos,
atitudes e reações emocionais do cuidador,
associados a estados de fragilidade emocional,
nem sempre “visíveis”, traduzem-se em
sobrecarga subjetiva.
Deste modo, torna-se pertinente e necessário
voltar a atenção para os cuidadores informais,
nomeadamente de Pessoas com DID, com a adequada
orientação de cuidadores formais, fazendo
sentido a dinamização de ações como: sensibilizar,
(in) formar, aprender, partilhar conhecimentos,
sentimentos e angústias, de forma a facilitar
estratégias que promovam o ultrapassar de constrangimentos
e dificuldades, presentes e futuras,
numa perspetiva proativa que poderão minimizar
os efeitos negativos para o dependente e para o
cuidador.
REVISTA FENACERCI 2020 |
61
CERCI’S O CAMINHO FAZ-SE A ANDAR
Os grupos, através do seu papel contentor, são,
indubitavelmente, uma forma privilegiada de intervenção
de aliviar a dor, através da partilha e
pelo sentimento de identidade que proporcionam.
Intervenção: Grupos Socio Terapêuticos (GST)
Segundo Guerra M., P., Lima, L. & Torres, S. (2014)
“… os grupos procuram congregar e promover a
coesão e o encontro entre pessoas para que reconheçam
as similitudes dos seus problemas, encontrem
uma forma de suporte social alternativo,
necessário para apoiar a construção e o desenvolvimento
da sua própria identidade e equilíbrio nas
mais variadas situações.”
Segundo Rossell (1998) os cuidadores encontram
no grupo, um espaço para partilha de experiências
construtivas, aprendendo assim a gerir melhor
as suas emoções e a compreender o impacto
que o cuidar tem no seio da sua família. Desta
forma, conseguirão “enfrentar-se” a si mesmos
e ao meio ambiente, encontrando as respostas
mais ajustadas. Estes grupos poderão representar
um processo de crescimento pessoal e social.
O Papel do Facilitador
Acautelando que, numa fase inicial de construção
grupal, a presença de elementos “facilitadores”
seja uma forma de cimentar a construção
da identidade de um grupo, considera-se importante
evidenciar as funções do facilitador e o
impacto do seu papel no assegurar da continuidade
dos grupos, embora, a intenção maior seja
a de que um grupo, enquanto rede de suporte
emocional e social, viva por si sem necessidade
de facilitadores. Assim, segundo Rossell (1998), o
facilitador tem como funções:
l
Motivar;
l
Ajudar a verbalizar;
l
Sintetizar a informação;
l
Reformular e devolver perguntas ao Grupo;
l
Ser imparcial e não dar opiniões pessoais.
Nos Grupos Socio Terapêuticos, o facilitador assume
um papel importante para assegurar a comunicação.
Em qualquer grupo os níveis conscientes
e inconscientes de funcionamento grupal são os
mesmos, e os participantes têm as mesmas aflições
e pedidos básicos. O que deve variar é a atitude do
coordenador do grupo que, de acordo com os diversos
objetivos, irá reagir ao grupo de forma diferente,
desde que o facilitador tenha clarificado os objetivos
de intervenção e capacidade de se manter focado
dentro dos limites dos mesmos (Rossell, 1998).
Rede Social
A rede social constitui-se, primordialmente, como
um espaço de pertença cujos laços sociais alicerçam
um recurso que promove o processo de apoio
aos que dele fazem parte. Uma intervenção, em
grupo, encerra em si mesma essa possibilidade,
garantido, para além do suporte emocional, momentos
de convívio, interação e rede que podem,
potencialmente, replicar-se para além do
espaço físico em que decorre o grupo.
Ação
Avaliar o impacto da intervenção em grupos socio
terapêuticos, na promoção da qualidade de
vida e redução da sobrecarga dos cuidadores
informais.
Metodologia
Critérios de inclusão
Foram auscultadas as 176 famílias apoiadas no
Centro de Atividades Ocupacionais, do CECD,
no sentido de se aferirem manifestações de
interesse e participação/disponibilidade, em
Grupos Abertos, sob a chancela do objetivo a alcançar,
supramencionado. Na constituição dos
grupos, o critério de seleção foi efetivamente a
disponibilidade de horário embora, no decorrer
da mesma e ainda que de forma casual, o Grupo
I, tenha enquadrado maioritariamente casais e
o Grupo II, mães.
62 | REVISTA FENACERCI 2020
Caracterização dos grupos
Grupo I: 6 casais (Pais de Pessoas com DID)
Grupo II: 7 cuidadoras do sexo feminino (mães e
irmãs de Pessoas com DID)
Estrutura das sessões
Foi construído um “guião” de sessão, pelas Facilitadoras,
por forma a assegurar uma estrutura
base de operacionalização, nos dois grupos alvo
deste estudo, sem perder, contudo, a flexibilidade
e adaptabilidade da estrutura inerente a
este tipo de intervenção. Do guião, constavam
os seguintes tópicos: apresentação dos facilitadores,
associada à identificação das regras
de funcionamento do Grupo, nomeadamente:
confidencialidade e cortesia a par da explicitação
do objetivo major destes grupos, na
sua vertente socio terapêutica. A definição de
temas foi surgindo, naturalmente, ou por um
sentir individual, ou pela manifestação de uma
necessidade, coletiva, enquanto cuidadores de
Pessoas com DID, por um tema da atualidade
ou pela partilha de situações do quotidiano. Inicialmente,
como catalisador da construção de
uma Identidade de Grupo, delinearam-se atividades
de Quebra Gelo donde, se destacam p.e.
“Teia de Amizade”; “O que este objeto me faz
sentir”; “Porque escolho esta imagem”, entre
outras. O final das sessões era marcado pela escrita
de uma palavra que, para cada cuidador,
marcava o seu sentir, naquela sessão. Ao longo
do processo e por proposta dos Facilitadores,
os Grupos foram aderindo a dinâmicas específicas,
através das quais foi possível observar-se
o nascimento da sua própria identidade. Neste
âmbito, destaca-se o exercício “Termino a tua
palavra”, apelando o mesmo à intersubjetividade
de cada cuidador mas também o texto “Viagem
à Holanda” onde se abordou a questão do
Luto, face a uma vida expectável e a uma vida
real. À medida que o processo de construção
de identidade dos grupos, se foi tornando mais
claro, foram surgindo temas mais descentrados
dos aspetos do cuidar, e mais voltados para a
necessidade de momentos de encontro, respiro,
descanso e lazer. O encontrar destes espaços
físicos e emocionais, foi assumindo um papel
mais relevante, no decorrer das últimas sessões.
1. O que sentimos
QUADRO 1
Objetivos baseados no Registo de Expetativas
dos Cuidadores Informais
Prevenir o isolamento social dos cuidadores
informais
Criar laços e identidade de grupo
Dinamizar um espaço securizante de partilha e
compreensão mútuas
Partilhar estratégias e atividades, entre
cuidadores informais
Usufruir de tempos de respiro/ descanso;
QUADRO 2
Registos dos Cuidadores Informais
Da apreciação realizada pelos cuidadores de
ambos os grupos, destacam-se:
“Obrigada pela possibilidade destas partilhas;
pela aproximação das coordenadoras e
por apresentarem algumas questões que,
de outra forma, teria mais dificuldades em
esclarecer e tirar dúvidas”; “Gostei das sessões
de grupo, foram muito interessantes e o
almoço, foi um almoço convívio entre os pais
e o almoço de Natal também foi interessante
e o convívio entre todos do grupo”; “Sessões
bem estruturadas com objetivos definidos”;
“Em relação ao caminhar com outros pais, com
problemas semelhantes, achei muito úteis as
reuniões que tivemos pois é sempre bom ouvir
outros e aprende-se sempre pois nós, pais com
filhos diferentes, todos os dias há episódios
novos e que, por vezes, nos deixam impotentes
por não os saber resolver e ouvindo as soluções
que os outros pais têm, aprendemos muito.
Acho que devemos continuar, pois além de
aprendermos uns com os outros, também
temos momentos muito divertidos em que nos
esquecemos do que nos preocupa”; “ao expor
os nossos casos com respeitos às dificuldades
(..) foi muito bom falarmos e ouvir os outros
e achar que éramos bem compreendidos,
o que, por vezes, nos falta, e assim ficamos
um bocadinho mais aliviados”; “Em relação
aos assuntos que foram aqui abordados,
acho que se trocaram experiências dos
nossos problemas que a todos nos afetam”;
“Na minha opinião, o trabalho efetuado foi
bastante simpático e útil. Simpático, porque
conhecemos pessoas com problemas idênticos
aos nossos e conseguimos desabafar de
forma positiva. Conseguimos aqui falar e
brincar sobre coisas sérias. Foi útil, porque
da experiência de cada um, conseguimos
absorver alguma coisa que foi de um
ensinamento muito útil”; “O companheirismo
foi bastante bom”; “Palavra de honra, isto foi
terapêutico para mim”; “um espaço onde se
pode falar das coisas boas dos nossos filhos”.
REVISTA FENACERCI 2020 |
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CERCI’S O CAMINHO FAZ-SE A ANDAR
Discussão de Resultados
O caminho feito entre Cuidadores de Pessoas
com Dificuldades Intelectuais e de Desenvolvimento
tem-se constituído como um marco
fundamental na defesa à abertura de partilha de
sentires, entre pares, visando a consolidação de
fatores de proteção, nomeadamente, a resiliência
dos cuidadores e esbatendo os fatores de
risco (sobrecarga objetiva e subjetiva) associados
ao papel de CUIDAR.
Dos resultados apresentados importa referir
que as sessões de grupo tiveram um impacto
muito positivo na vida dos cuidadores, refletido
no grau de satisfação que se situa entre o “satisfeito”
e o “totalmente satisfeito”, o que vem
comprovar a importância de dar continuidade a
este tipo de intervenção numa lógica de envolvimento
ativo dos cuidadores, proporcionando-lhes
uma aproximação a outros cuidadores
e reduzindo a situação de isolamento social
em que, muitas vezes se encontram. O fato de
terem sido criadas respostas concomitantes a
este processo, que passaram por criar atividades
dirigidas às Pessoas com DID, garantiu a
securização dos cuidadores para que, com tranquilidade,
pudessem eles próprios usufruir de
tempos de descanso e lazer. Este fator acabou
por ser determinante para que os cuidadores se
permitissem “olhar para dentro”. Olhar para si
como alguém que também merece ser cuidado.
Pela análise dos registos de sessão foi possível
criar uma linha do tempo na qual ficou evidente
o processo pelo qual os cuidadores se ligaram
entre si. Numa primeira fase, de forma mais distanciada
do Outro, mais fechada em si, sendo
que uma maior estruturação das temáticas acabou
por funcionar como catalisador. À medida
que permitiram dar-se a conhecer, as temáticas
foram surgindo de forma espontânea e por isso
mesmo, os grupos foram ganhando uma maior
coesão e identidade. Importa referir que, relativamente
ao Grupo I e Grupo II, à medida que
o processo de identidade de cada um se foi intensificando,
o caminho seguido por cada um
dos grupos, foi sendo naturalmente diferenciado.
No grupo II, constituído essencialmente por
cuidadoras, com uma faixa etária dentro dos 40
anos, a temática do luto por fazer de um bebé
idealizado assumiu um maior protagonismo.
Por outro lado, ficou neste grupo, evidente, a
solidão sentida no ato de cuidar. No grupo I, sobressaiu
a componente positiva do Cuidar, ou
seja, a da aproximação, no caso específico, dos
casais que integravam o grupo, com uma média
de idades dentro dos 70 anos, em que o fato de
cuidarem de uma Pessoa com DID parece ter
desencadeado no casal um vínculo para a vida.
De fato, esta é uma perceção, uma observação
empírica que merece um estudo mais aprofundado.
Também o tema da finitude, talvez pela
faixa etária dos cuidadores e das pessoas com
DID, foi um assunto bastante marcante. A finitude
dos cuidadores vs confiança nos cuidadores
formais do CECD, impulsionou uma procura de
alargamento de respostas no âmbito das Unidades
Residenciais e de Residências Autónomas
junto da Cooperativa. Este envolvimento ativo
dos cuidadores encontrou-se com a própria essência
da criação do CECD, valorizando o papel
das famílias no encontrar de respostas que
acompanham o percurso das Pessoas Apoiadas,
de forma longitudinal.
Se numa fase inicial, as temáticas ficaram muito
centradas nos problemas das Pessoas com DID,
ao longo do tempo essa necessidade foi sendo
dissipada, sendo que o foco passou a ser a Pessoa
do Cuidador, das suas necessidades, do direito
a ter tempo, a ter amigos, a ter vida social.
Conclusões
“Não nos conhecemos todos mas une-nos o facto
de sermos cuidadores de Pessoas especiais: os
nossos filhos, irmãos, netos...” foi este o mote de
partida. Durante as sessões, os cuidadores usufruíram
de um espaço de suporte que proporcionou
o acesso a vivências de caráter cultural
e de lazer, considerando, simultaneamente, o
processo de autonomização e independência
das Pessoas com DID.
Quando no final, os cuidadores encontraram palavras
para descreverem o que sentiram durante
este período, as mesmas espelharam aquilo que
foram as suas expetativas e, no fundo, os próprios
objetivos dos Grupos Socio Terapêuticos. Assim
sendo, parece ser essa a melhor forma de concluir,
uma vez que essas palavras encerram em si
os motivos pelos quais os grupos foram criados:
desanuviar, compreensão, identificação, preocupação
com o futuro, residência para pais e filhos,
convívio e amizade sendo que um dos cuidadores
conclui ainda que “é importante chegar aqui
e encontrar um grupo de amigos”…
Lígia Gonçalves
Técnica Superior de Educação Especial e Reabilitação
64 | REVISTA FENACERCI 2020
@RML – Receita
Maria Leonor
CERCIAG
A Receita Maria Leonor é uma marca registada
pela CERCIAG, relativa a um projeto implementado
por esta organização na área da doçaria
regional. Esta nova área de atuação teve como
ponto de partida a apresentação de candidatura
ao BPI Capacitar 2018 que, sendo aprovada, permitiu
o arranque do projeto.
Essencialmente, tem como objetivos a integração
profissional de pessoas com deficiência, a
dinamização e produção de produtos regionais
de Águeda e o desenvolvimento de uma forma
alternativa de serviços sustentáveis.
É, em primeiro lugar, mais uma área de atuação
na integração profissional de Pessoas com Deficiência
ou Incapacidades (PCDI), estimulando
o acesso ao mercado de trabalho, com uma
vertente maioritariamente prática, mantendo a
retaguarda de apoio técnico da instituição. Este
objetivo concretiza-se não só na contratação de
pessoas com deficiência, como na disponibilização
de um espaço para a realização de experiências
práticas em contexto de trabalho, de
atividades socialmente úteis ou até de transição
para a vida adulta.
Embora com uma vertente secundária, sentimos
institucionalmente que trouxemos benefícios para
a comunidade local, recuperando a produção de
alguns produtos da doçaria regional, de acordo
com as receitas da D. Maria Leonor Lemos, aguedense
que durante muitos anos deu continuidade
a este negócio familiar, iniciado na década de 60.
Paralelamente, e como consequência, a dinamização
desta atividade permite à CERCIAG ter uma
fonte alternativa de rendimento, que sustentam
o próprio projeto , continuando a responder aos
pressupostos da sua missão.
Com lançamento em setembro de 2019, pela
CERCIAG, esta marca conta para já com 4 produtos:
Fuzis de Águeda, Sequilhos, Cavacas e Suspiros,
segundo a receita e método de produção da
D. Maria Leonor. A reentrada destes produtos na
comunidade foi bastante acarinhada por todos e
contou, desde o início, com o apoio incondicional
da pessoa que deu o nome à marca.
A integração de pessoas com deficiência e incapacidades
nos postos de trabalho possíveis, tem
sido manifestamente positiva, na medida em que
a adaptação às tarefas foi rápida e a motivação e o
rigor com que as desempenham são extraordinariamente
notáveis.
A produção, distribuição e venda dos produtos já
se encontra em curso, tanto na CERCIAG como
em pontos de revenda locais e nos concelhos limítrofes,
com resultados francamente encorajadores.
REVISTA FENACERCI 2020 |
65
CERCI’S O CAMINHO FAZ-SE A ANDAR
Desporto:
Caminhos para
a Igualdade de
Oportunidades
CERCIAG
O desporto é uma excelente ferramenta social
de melhoria da qualidade de vida e da saúde das
pessoas e um fator fundamental de coesão. É
também considerado, de uma forma abrangente,
como a atividade que mais aproxima e iguala as
pessoas.
Por sua vez, o desporto adaptado deve ser assumido
como um modelo cultural que respeita as
capacidades dos seus intervenientes. Ser adaptado
não significa estar limitado de importância
sociológica ou desportiva, antes pelo contrário,
a adaptação visa somente respeitar as limitações
óbvias de cada tipo de deficiência, mas permitir
a excelência desportiva através da realização
das máximas performances. O desporto adaptado,
tal como todo o desporto, deve ser analisado
numa perspetiva de grau ou nível de desenvolvimento.
Segundo Marta (1998), a pessoa com deficiência
deve ter o direito de participar nas mesmas atividades
desportivas que os outros cidadãos. Da
mesma forma, deve poder escolher participar em
várias atividades, como o desporto de alto rendimento,
o desporto organizado de forma regular,
o desporto de recreação para satisfação pessoal,
o desporto orientado para a saúde ou para a manutenção
e desenvolvimento da condição física.
Todas estas formas de desporto trazem para os
praticantes benefícios psicológicos, sociais, físicos
e fisiológicos.
A pessoa com deficiência consegue descobrir
através do desporto os seus limites e potencialidades,
ultrapassar algumas barreiras impostas
pela sociedade, relacionar-se e trocar experiências
com os outros. Desta forma, as suas limitações
e habilidades são postas à prova para a en-
corajar a superar os seus limites, valorizando as
suas ações. Estas, no desporto, são tomadas de
decisões rápidas, que ela própria tem de selecionar,
desenvolvendo, assim, a sua autoconfiança,
autonomia e liberdade (Silva, 1998).
Partindo destes pressupostos, a CERCIAG tem
vindo a apostar no Desporto com vista a promover
a inclusão ativa, a igualdade de oportunidades
e a saúde dos seus clientes, tendo
atualmente um papel relevante na promoção e
dinamização da prática desportiva, indo também
de encontro à estratégia do Município de
Águeda, “Desporto para Todos”, que cria oportunidades
para a prática desportiva a todas as
pessoas do Concelho.
No âmbito da referida estratégia, estabeleceu
um Protocolo de Cooperação com esta autarquia
em 2016. A aposta atual abrangendo o desporto
adaptado, situa-se essencialmente em 3
modalidades desportivas de competição: o Judo,
o Ciclismo e a Canoagem. Estas modalidades,
uma vez enquadradas na estratégia concelhia,
são dinamizadas em estruturas da comunidade,
integrando atletas com e sem deficiência. Os resultados
desportivos são francamente positivos,
não só no que respeita aos títulos alcançados,
em nome individual pelos nossos atletas, e em
representação do país no âmbito das competições
europeias e mundiais, mas também, no que
respeita aos benefícios sociais, culturais e psicológicos
que tais vitórias impactam nos atletas
vencedores, nas suas famílias e comunidade.
66 | REVISTA FENACERCI 2020
Dos principais títulos alcançados pelos atletas da
CERCIAG nos últimos 4 anos, e ao abrigo das modalidades
deste Protocolo, destacamos os atletas
Paulo Lino (Campeão da Europa de Futsal Síndrome
Down, Vice-campeão do Mundo de Futsal
Síndrome Down, Campeão da Europa de Judo
-66kg Síndrome Down, Campeão do Mundo de
Judo -66kg Síndrome Down), André Vieira (Campeão
do Mundo de Judo -81kg Síndrome Down,
Vice-campeão da Europa de Judo -81kg Síndrome
Down) e António Gomes (Vice-campeão do
Mundo de Judo -81kg e medalha de bronze no
Campeonato da Europa de Judo -81kg).
Para Paulo Lino, atual Campeão do Mundo de
Judo e atleta da CERCIAG, a vitória foi um dos
momentos mais felizes da sua vida, destacando
que “é importante ser o melhor do mundo”
e que todo o trabalho que desenvolve é com o
objetivo de “ganhar mais prémios importantes”.
André Vieira, Campeão do Mundo de Judo - 81kg
Síndrome Down, considera que fazer desporto
o deixa “muito feliz” e considera que “ganhar
prémios é o mais importante”. Regra geral, os
desportistas da CERCIAG sentem que o desporto
melhora a sua qualidade de vida e que os deixa
bastante felizes, sobretudo quando se tratam de
vitórias.
Paralelamente, e considerando os claros benefícios
da atividade desportiva nos seus clientes,
a CERCIAG tem incentivado e mediado a prática
de outras modalidades, no âmbito de competição,
como de lazer.
Não só um dos nossos atletas como o nosso técnico
de desporto integram a Seleção Nacional de
Futsal para Síndrome de Down, modalidade na
qual se sagraram Vice-campeões do Mundo em
Viseu em 2017, Campeões Europeus em Itália em
2018, tendo alcançado um honroso 5º lugar no
Campeonato do Mundo de 2019, no Brasil.
Os resultados alcançados, a todos os níveis, fazem-nos
acreditar que o investimento nos nossos
atletas, para além de meritório, teve bastantes
mais benefícios que o expectável.
REVISTA FENACERCI 2020 |
67
CERCI’S O CAMINHO FAZ-SE A ANDAR
Velejando
Pela Inclusão e pelas maravilhas da nossa Região – Aveiro!
Todas as experiências que promovam o contacto
com a Natureza e o Desporto são sempre
muito ricas para todos nós, sendo um meio
de inclusão, não só social, como também para
participação da vida recreativa e desportiva da
região. Por isso, em 2019 quando fomos desafiados
pela Academia de Vela do Sporting Clube de
Aveiro – Classe Hansa, através de um projeto financiado
pelo BPI – Capacitar 2018, a participar
em aulas de Vela Adaptada teóricas e práticas,
claro que a nossa resposta foi um grande SIM!
Movidos pelo desejo e pela vontade de novas
experiências lá fomos nós de vento em popa e,
“Quanto mais difíceis e duros são os obstáculos,
mais prazer e emoção nos dão de completarmos
os desafios” (Ken Read).
Nesta atividade participaram 16 pessoas com
deficiência intelectual do Centro de Atividades
Ocupacionais em 10 sessões, realizadas
entre fevereiro e junho de 2019. Os responsáveis,
Pedro Coutinho e António Sérgio, foram
o nosso leme, levando-nos Ria adentro sempre
em segurança! Entre dias ventosos, marés atrevidas
e barcos balançantes todos os dias foram
uma aventura, momentos de grandes risadas
e, acima de tudo, aprendizagens. O espírito de
equipa esteve sempre presente, e o sentido de
responsabilidade sempre alerta, afinal…tivemos
atletas corajosos que se atreveram a velejar sozinhos
logo na primeira viagem! Tiveram ainda
oportunidade de experimentar esta nova aventura
11 técnicos e 7 monitores que adoraram e
até querem repetir.
A experiência foi tão enriquecedora para todos
que nos propuseram a continuidade no presente
ano, o que irá acontecer a partir do mês de
março 2 vezes por mês! Para além dos benefícios
inerentes à prática da atividade no exterior,
tentaremos proporcionar novas vivências motoras
e sensoriais a um maior número de pessoas
apoiadas.
Aveiro, popular pelas suas salinas, atividade
pesqueira, pela sua gastronomia, onde se destacam
os deliciosos ovos moles, é atualmente
conhecida como a “Veneza Portuguesa”. Uma
cidade urbana que se situa entre a serra e o
mar, recortada por uma rede de canais de água
salgada por onde passeiam os seus coloridos
68 | REVISTA FENACERCI 2020
barcos moliceiros, outrora utilizados para a recolha
do moliço, algas fertilizantes destinadas
à produção agrícola e que são atualmente explorados
para passeios turísticos que deslizam
suavemente pelos seus canais apresentando os
encantos da cidade aos inúmeros turistas que
vêm diariamente conhecer a nossa cidade tão
bela! Uma cidade plana com uma paisagem variada,
Aveiro, é considerada uma cidade turística
encantadora onde se pode pedalar nas bugas
gratuitamente ou simplesmente caminhar junto
aos seus inúmeros canais onde se pode desfrutar
da maresia, tão característica da nossa região.
Pelas ruas e parques da cidade destacam-
-se os seus edifícios de estilo Arte Nova, que
nos levam a viagens históricas.
E não experienciássemos nós a longa Ria que
Aveiro nos oferece…
Sem navegar não é possível explorar detalhadamente
os seus milhares de canais, ilhotas
e toda a fauna e flora rica em vida selvagem e
que acolhe várias espécies de animais, que vêm
à procura de alimento, abrigo ou reprodução,
destacando-se o perna-longa, a andorinha-do-
-mar-anã e o borrelho-decoleira-interrompida.
Aproveitamos para vos convidar a todos a virem
visitar e vivenciar as belezas naturais de Aveiro
e perceber como a prática de Vela Adaptada
aqui faz tanto sentido!
Saudações Náuticas!
Ana Vieira, Alexandra Teles, Joana Aguiar, Alyson Borges
Técnicos de Reabilitação do CAO
REVISTA FENACERCI 2020 |
69
CERCI’S O CAMINHO FAZ-SE A ANDAR
O Planeta
Precisa Muito
de Nós!
Em 2010 iniciámos o nosso primeiro projeto, intitulado
“Brigada Verde”. Projeto que surgiu no
âmbito da política ambiental que a Câmara Municipal
de Ílhavo desenvolveu junto das Instituições
Escolares e Sociais locais e que respondeu aos
sonhos e preocupações das Pessoas Apoiadas e
Colaboradores da CERCIAV. Em 2013 publicámos
o nosso primeiro artigo na Revista da FENACERCI:
“PROJETO BRIGADA VERDE - A CERCIAV em defesa
da Sustentabilidade Ambiental”. Já se passou
uma década, e ao longo destes anos a Sustentabilidade
Ambiental continua a ser uma preocupação
constante de todos nós. Continuámos a arregaçar
as mangas e desde então não parámos. Devagarinho
vamos fazendo mudanças! Atualmente, para
além da Brigada Verde, temos mais um projeto
com a CMI, a BRIGADA FLORESTAL, onde realizamos
quinzenalmente a limpeza da Mata da Colónia
Agrícola, situada entre a Gafanha de Aquém,
Gafanha da Nazaré e Gafanha da Encarnação. Este
grupo colabora na recolha de resíduos poluentes,
na separação e contabilização dos mesmos, sendo
que no final de cada ano, é enviado, para a entidade
Parceira, um relatório discriminativo dos produtos
recolhidos. Os resíduos são colocados nos
Ecopontos públicos situados junto aos locais de
limpeza.
E como o nosso Planeta precisa muito de nós,
pusemos mãos à obra em várias atividades. Surgiram
assim as Atividades Complementares, as
quais são desenvolvidas semanalmente e onde,
as nossas Pessoas Apoiadas, se podem inscrever
de acordo com os seus interesses e motivações.
Continuamos com a BRIGADA DE LIMPEZA NA
COMUNIDADE, que consiste na limpeza de Espaços
Comunitários. Trata-se de uma parceria com
o Grupo Desportivo do Gafanha da Nazaré, que se
realiza às sextas-feiras, antecedendo os torneios
de futebol previamente calendarizados no local.
Esta Brigada participou igualmente, na limpeza do
Espaço Florestal da CERCIAV recolhendo os resíduos
poluentes que se encontravam no local, tendo
cooperado na renovação deste espaço, onde se
abriram caminhos para as caminhadas realizadas
pelos grupos das Atividades Físicas. Preocupados
com todos os espaços da nossa “Casa”, surgiu assim,
o grupo da BRIGADA DE LIMPEZA NA CER-
CIAV, que colabora na recolha e separação de resíduos
das papeleiras, ecopontos e espaços verdes
envolventes. Este grupo recolhe ainda pinhas e
cascas de pinheiros que posteriormente são tratados
pelo SERVIÇO ECO. O Serviço ECO é também
uma atividade muito querida por todos nós! Todas
as manhãs um grupo de pessoas percorrem todas
as Respostas Sociais, Serviços, Seções e Oficinas
da nossa Instituição para recolher o papel, cartões
e caixas que já não têm utilidade. Com eles levam
uma pasta, onde cada responsável do serviço assina
e, um balde, onde são colocados os papéis e
cartões. Posteriormente, no período da tarde é
realizado, alternadamente, o tratamento do papel
e das pinhas. Aqui é onde o papel ou cartão é
rasgado, cortado ou triturado, em pequenos pedaços
e embalado, e as caixas de cartão são espalmadas
e empilhadas, seguindo para uma empresa
de reciclagem onde é vendido a peso. Já as pinhas
recolhidas pelo grupo da Brigada de Limpeza na
CERCIAV, após tempo de secagem, são escolhidas.
Separa-se assim as pinhas “novas” das “velhas”. As
pinhas “novas” são aproveitadas para consumo de
lareiras e churrasqueiras. As velhas são descamadas…e
como tudo é aproveitado…as escamas das
pinhas, assim como as cascas dos pinheiros, são
utilizadas para revestimentos dos solos, que servem
para conservar a temperatura e embelezar
os espaços, e os caroços são reservados para posteriormente
serem triturados e utilizados como
fertilizante natural, ajudando a fixar o dióxido de
carbono no solo, melhorando assim, a pegada climática.
Também ajuda a adicionar nutrientes melhorando
a qualidade do nosso solo.
E porque os materiais também podem ser reutilizados,
surgiu a CERCIAVDÊCOR. Um espaço cheio
de cor, onde semanalmente se pintam pneus, garrafas,
e outros materiais para realização de diversos
trabalhos decorativos. Recentemente iniciou-
-se neste espaço a produção de velas decorativas.
Todas as segundas feiras, no período da tarde, encontramos
o grupo da CERCIAV BIO-AROMAS,
ora a cortar, a desfolhar, a secar ou embalar, para
posterior comercialização seja para infusão, ou
para ambientar ecologicamente os espaços, evitando
os sprays nocivos para o ambiente. Também
70 | REVISTA FENACERCI 2020
ajudamos a manter as nossas ervas aromáticas
aparadas, mantendo o espaço bonito!
Ainda, em 2019, a CERCIAV juntou-se à Coca-Cola
e Liga para a Proteção da Natureza para mais
uma ação de sensibilização do programa “Mares
Circulares”, que visa a limpeza da costa portuguesa,
onde recolhemos 70 Kg de resíduos na praia de
São Jacinto. Posteriormente tivemos uma ação de
sensibilização sobre a poluição dos nossos mares!
É tão preocupante saber que ainda há tanto para
fazer! Vamos continuar a almejar a diferença não
ficando indiferentes à destruição do nosso planeta!
Estas atividades, apesar de serem pequenas
iniciativas, vão-se juntando a tantas outras e acreditamos
que vão crescendo com a partilha e com
a concretização, contribuindo desta forma, para
uma melhor justiça social, qualidade de vida, equilíbrio
ambiental e sustentabilidade económica.
Ainda de referir que todas as nossas atividades são
realizadas pelas nossas Pessoas Apoiadas do Centro
de Atividades Ocupacionais, com acompanhamento
de Terapeutas Ocupacionais e Monitores
de algumas Seções. Aqui todas as competências
são estimuladas…motoras, cognitivas, percetivas,
sensoriais e sociais! Mas o mais importante é que
se trata de atividades que não só dão resposta aos
seus sonhos e preocupações, mas também, às diferentes
necessidades e características das nossas
Pessoas Apoiadas, conseguindo envolvê-las ativamente
e contribuindo para um sentimento de capacidade
e cidadania!
As nossas medidas de sustentabilidade ambiental
passam também pela divulgação e adoção de pequenas
atitudes no dia-a-dia por parte de todos
os usuários da CERCIAV, e que podem fazer toda a
diferença. Economizar a água e a luz, fechando as
torneiras quando não estiverem a uso, apagar as
luzes e aparelhos que não estão a serem utilizados,
manter as portas fechadas aquando da utilização
do ar condicionado, reciclar separando os lixos nos
ecopontos, são alguns dos itens das nossas metas.
E porque a sustentabilidade ambiental também
passa pela partilha, divulgamos para todos vós o
embrião das nossas ações, desejando a todos um
crescimento sustentável, saudável e feliz!
Sabemos que ainda estamos no início e temos um
caminho longo a percorrer, mas iremos continuar
a melhorar e a contribuir desta forma para a sustentabilidade
ambiental, esperando brevemente
partilhar mais notícias bio criativas!
Ana Vieira, Alexandra Teles e Joana Aguiar
Terapeutas Ocupacionais do CAO
REVISTA FENACERCI 2020 |
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CERCI’S O CAMINHO FAZ-SE A ANDAR
Erasmus+
O Programa Unificado
que Une a Europa
CERCICA
A construção de uma Comunidade Europeia implica
a partilha de valores comuns que têm de ser
vivenciados e isto ainda é mais relevante no caso
de pessoas, com ou sem deficiência, que têm dificuldade
em compreender conceitos abstratos.
Os projetos de partilha transnacional podem ser
desenvolvidos através de diversos programas da
união europeia, muitos dos quais recentemente
unificados no programa Erasmus+.
A CERCICA desenvolve desde 1992 projetos europeus
em que estiveram diretamente envolvidos
mais de 30 técnicos e de 250 clientes sendo
que a riqueza do que foi aprendido e as melhorias
implementadas na nossa prática são tantas que é
impossível enumerar todas, pelo que vamos focar
dois dos projetos atualmente em desenvolvimento,
ao abrigo do programa Erasmus+: o projeto
EICON e o projeto UEDD.
O Projeto EICON (www.eicon-project.eu) visa
refletir sobre a relevância das tecnologias de
informação e comunicação (TIC) na criação de
uma formação profissional (FP) mais inclusiva e
mais eficaz. A partilha de boas práticas e o trabalho
em torno deste tema tem produzido material
muito relevante, concretamente um questionário
exaustivo que ajuda à reflexão sobre as formas
através das quais cada organização de FP pode,
em vários domínios que vão da liderança à pedagogia,
potenciar a utilização que faz das TIC.
O Projeto UEDD envolve todos os formandos da
CERCICA em torno do tema desenvolvimento
sustentável, juntamente com os alunos do Lycée
Professionnel Jean Guéhenno (França) e do Colegio
Virgen Mediadora (Espanha), com destaque
para o perigo das espécies de plantas invasoras.
Uma das atividades que a CERCICA está a desenvolver
no Parque Natural Sintra-Cascais é a erradicação
das mimosas (Acácia sp.), uma árvore
da Oceania que se reproduz muito rapidamente
impedindo as outras espécies de se desenvolverem
e que é extremamente propícia à propagação
dos incêndios. Como a forma mais eficaz
de a erradicar, sem colocar em perigo o meio
ambiente é manualmente, esta é também uma
potencial área de emprego. O projeto UEDD
tem também uma vertente ligada à alimentação
saudável com produtos biológicos produzidos
localmente, uma área em que todos os alunos
deveriam ter formação.
Os princípios inscritos na Carta dos Direitos
Fundamentais da União Europeia só podem ser
implementados através do envolvimento dos
cidadãos, com destaque para aqueles que têm
menores oportunidades, e os programas que
promovem o intercâmbio e a partilha de boas
práticas são fulcrais nesse sentido. Importa a
FENACERCI e as suas associadas continuarem a
utilizar estes programas, como o Erasmus+, para
capacitar os seus colaboradores e promover o
desenvolvimento dos seus clientes através de
experiências transnacionais.
72 | REVISTA FENACERCI 2020
Castanheira
a Cores
No seguimento de uma candidatura apresentada
ao Programa Nacional de Desporto para Todos
(PNdpT), ao IPDJ - Instituto Português de Desporto
e Juventude, a CERCICAPER realizou no dia 3 de
dezembro de 2019, uma Color Run Adaptada em
Castanheira de Pera, de aproximadamente 3 km.
Esta iniciativa surgiu da necessidade de oferecer
aos cidadãos a quem prestamos apoio diariamente,
as mesmas oportunidades que são disponibilizadas
aos cidadãos comuns, numa lógica de inclusão,
igualdade de direitos e encontro intergeracional.
Contudo e apesar deste tipo de eventos serem realizados,
na maioria das vezes, em grandes centros
urbanos, o nosso intuito foi dar a conhecer uma
região do país afastada de grandes massas populacionais
e que em 2017 foi completamente fustigada
pelos incêndios, deixando marcas irreversíveis.
Para isso, contámos com outras congéneres que
prestam apoio a pessoas com deficiência provenientes
dos distritos de Leiria e Castelo Branco,
assim como, com grupo de idosos e crianças, do
próprio concelho.
O sol brindou quem a nós se juntou, logo à chegada!
O cenário estava “montado”! A azáfama tomou
conta da Praça da Notabilidade e a música ecoou
por todos os cantos… já se viam corpos dançantes,
mãos no ar e muitos sorrisos contagiantes. E foi
então que o primeiro pó esvoaçou pelos ares de
Castanheira, pousando sobre cada um daqueles
que sem medo se deixou colorir com os tons da
amizade, da alegria e da vida!
Eram sensivelmente 200, as pessoas que rodopiavam
alegremente pelas ruas da Vila de Peralta… e
que sem preconceito, sem vergonhas, olhavam e
sorriam para os que partilhavam da mesma energia
e da mesma alegria.
O objetivo foi inteiramente alcançado… gente feliz,
sorrisos abertos e muitos abraços, pairavam na
pacata Castanheira de Pera. O dia, terá com toda a
certeza, ficado gravado na memória e no coração
de todos… porque as coisas boas, também deixam
marcas… e dessas todos precisamos, muito!
Mas a verdade é que tamanha alegria e animação
não teriam sido possíveis, sem o apoio e presença
de todos. Terminamos com a sensação de dever
cumprido… e com um desejo indubitável de repetir.
Que ações como esta possam trazer mais cor e luz
a terras e gentes, como Castanheira de Pera, para
que não fiquem esquecidas nem gravadas apenas
nas lembranças de quem nos visita.
Até para o ano!
Marta Jorge
Técnica Superior de Reabilitação Psicomotora
REVISTA FENACERCI 2020 |
73
CERCI’S O CAMINHO FAZ-SE A ANDAR
Em nome
do Interior
A CERCICOA, cooperativa criada há mais de 40
anos, com sede no concelho de Almodôvar, tem
como áreas de abrangência os concelhos de Almodôvar,
Castro Verde e Ourique, assim como,
outros concelhos da região do Baixo Alentejo.
A dispersão geográfica e fraca rede de transportes
que caracterizam o território onde se insere,
assim como, a centralização dos principais serviços
da instituição na sua sede, exige uma disponibilização
diária de transportes próprios, adaptados,
que assegura não só a frequência direta de
muitos utentes às respostas sociais, bem como,
o acesso destes e algumas famílias a outros serviços
e projetos quer da CERCICOA, quer da comunidade,
designadamente de saúde, segurança
social, entre outros.
Considerando estes constrangimentos territoriais,
assim como, a necessidade de dar resposta
às listas de espera existentes para as diversas
respostas da organização, tornou-se fundamental
apostar no alargamento e descentralização
dos serviços, no sentido de garantir uma melhor
proximidade à população e, consequentemente,
contribuir para uma maior igualdade de oportunidades
e qualidade de vida da mesma.
Neste sentido, a CERCICOA inaugurou no passado
dia 31 de janeiro de 2020, o novo Centro de
Atividades Ocupacionais (CAO) de Grandaços, um
projeto em parceria com o Município de Ourique,
que se constitui como o primeiro passo para o
descentralizar da instituição, sendo este o primeiro
equipamento social a ser inaugurado fora
do concelho da sede.
O CAO de Grandaços é uma resposta social destinada
a jovens e adultos, com idade igual ou superior
a 16 anos, cujas capacidades não permitam
temporária ou permanentemente o exercício de
uma atividade produtiva, sendo um serviço especializado
para proporcionar aos clientes com
deficiência grave e profunda, a realização de atividades
socialmente úteis e estritamente ocupacionais,
apoio técnico permanente nos planos físico,
psíquico e social, assim como, a participação
em ações culturais, desportivas e recreativas.
Tem como principal objetivo estimular e facilitar
o desenvolvimento possível das capacidades
remanescentes dos clientes, facilitar a sua integração
social e auxiliar o encaminhamento das
pessoas para programas adequados às suas capacidades,
promovendo a qualidade de vida e a
autodeterminação.
Este projeto, iniciado há vários anos pela CERCI-
COA, conjuntamente com o Município de Ourique
consistiu, através do recurso a fundos comunitários,
na adaptação de um edifício existente
na localidade e sem qualquer tipo de utilização,
tornando-o adequado às necessidades dos clientes
que dele agora beneficiam. Esta nova resposta
social permitiu ainda, a integração de novos colaboradores
Sónia Nunes
Diretora Técnica do Centro de Atividades Ocupacionais
74 | REVISTA FENACERCI 2020
PUB
CERCI’S O CAMINHO FAZ-SE A ANDAR
“A Assistência Pessoal
como um fator essencial
para o meu bem-estar,
independência e qualidade
de vida!”
Há dezoito anos, o divisor de águas na minha
vida foi um acidente de automóvel, no qual,
ocasionou uma lesão medular. A cadeira de
rodas tornou-se a minha aliada. Nunca me revoltei.
É preciso continuar, sempre! Mas após
vários internamentos, fisioterapias e a procura
de uma cura milagrosa, o impacto com a realidade
foi inevitável. Como seguir em frente?
Procurando alternativas e, principalmente lutando
por formas de alcançar os meus objetivos.
As pessoas com deficiência, adquirida ou congénita,
são indivíduos com capacidades para
tomarem as suas próprias decisões e escolherem
os seus rumos. Mas, isso ainda não se sucede,
de todo!
É um facto: a pessoa dependente está vulnerável.
É urgente, a pessoa com deficiência abandonar
a situação passiva e, deixar, se for o caso
(o que é na maioria), de ser refém de um meio
que não lhe proporciona as condições para
exercer a sua cidadania. Através desta luta, as
pessoas com deficiência começaram a mobilizar-se
e deu frutos. Surgiu a implementação
em Portugal do projeto piloto do Modelo de
Apoio à Vida Independente (MAVI) que visa a
emancipação das pessoas com deficiência.
Como tetraplégica, tornei-me dependente fisicamente
e precisei de recorrer aos serviços
do apoio domiciliário. Este serviço resumia-
-se basicamente a uma higiene no leito e, com
muita persistência da minha parte, três banhos
76 | REVISTA FENACERCI 2020
por semana. E, tinha que me sujeitar ao horário
que me podiam vir levantar de manhã, de acordo
com a rota dos utentes. Um serviço básico,
completamente desajustado às necessidades
de um ser vivo.
A minha integração no Centro de Apoio à Vida
Independente Horizontes e com a atribuição
da assistência pessoal, proporcionou-me poder
escolher a hora que necessito, na parte
da manhã, para me levantar, tomo banho diariamente
(sem a pressa do apoio domiciliário),
tenho a limpeza do meu quarto e do wc assegurada,
a minha roupa lavada e organizada e
as refeições preparadas e, também usufruo de
acompanhamento imprescindível por parte de
uma das minhas assistentes pessoais, às consultas,
proporcionando-me bem-estar e mais
qualidade de vida. De salientar que moro apenas
com minha mãe idosa e, com problemas de
saúde.
Este projeto, por ser piloto, obviamente, ainda
tem algumas restrições, como o horário noturno
e o número de horas atribuídas aos beneficiários.
Mas chegaremos lá! Com certeza!
E sem dúvida alguma, está a dar-me oportunidade,
porque quando solicito, consigo ter uma
participação mais ativa na sociedade, fora do
horário estipulado. Graças ao projeto, que me
proporcionou o transporte e o acompanhamento
de uma das minhas assistentes pessoais,
participei no “1.º Sunset sobre rodas” no Porto,
onde houve o debate sobre o sistema urinário
nas pessoas com deficiência. Assim como também
me permitiu participar no “III Encontro
sobre lesão medular”, realizado no Centro de
Reabilitação do Norte.
A pessoa com deficiência, quer e precisa de
abandonar uma posição passiva. Deve tomar
as suas decisões, escolher os seus rumos. Libertar-se
da dependência das circunstâncias
e das outras pessoas. Cada vez mais é preciso
discutir a dependência em toda a sua dimensão
e alcance, para aperfeiçoar o modelo e conseguirmos
almejar os resultados pretendidos.
É preciso continuar esse caminho - o da independência.
É longo o caminho, mas já estamos
muito mais perto!!!
Anne Caroline Soares
Beneficiária do Centro de Apoio à Vida Independente
Horizontes da CERCIESPINHO
REVISTA FENACERCI 2020 |
77
CERCI’S O CAMINHO FAZ-SE A ANDAR
Internamento
Temporário -
Um Serviço de
Descanso ao
Cuidador
Os serviços residenciais da CERCIESPINHO contemplam
3 respostas: Residência Autónoma, Lar
Residencial e Internamento Temporário.
Desde a abertura do Serviço de Lar Residencial, foi
notório que os familiares apresentavam cansaço
da responsabilidade e da exigência física do cuidar,
sendo que a média de idades dos cuidadores
dos clientes que integraram este serviço, se situava
nos 73 anos de idade.
A utilização de uma cama, para o serviço temporário,
foi possível pela atribuição da capacidade do
lar para 25 clientes, estando 24 vagas protocoladas
com o Instituto de Segurança Social de Aveiro. Foi
decisão da Direção da CERCIESPINHO, a utilização
desta última vaga para um serviço de descanso
aos cuidadores, que funcionasse de forma rotativa.
Tradicionalmente, são os familiares, nomeadamente
as mulheres, que assumem o papal de cuidadoras
informais. O cuidar revela-se uma tarefa
difícil e de exigência emocional, que de modo
sistemático e prolongado tem consequências na
dinâmica familiar e no desgaste do cuidador, que
muitas vezes se secundariza em prol de quem cuida.
Este desgaste tem consequências na sua saúde,
sendo por isso prioritária uma pausa temporária
na responsabilidade de cuidar. É de salientar que
muitas vezes, as famílias sentem-se culpadas por
não conseguirem conciliar as suas necessidades e
cansaço com as necessidades de quem cuidam. Algumas
famílias acabam mesmo por estar mais isoladas
e viver em função do filho com deficiência.
Este serviço já apoiou 33 famílias, sendo possível
usufruir de 30 dias interpolados durante um ano,
preferencialmente do concelho de Espinho. Inicialmente
pensava-se que o serviço seria sobretu-
do para os familiares terem tempos de descanso e
mudança de rotina que proporcionasse momentos
de lazer e/ou lúdicos. No entanto, o que se tem verificado
é que cerca de metade dos internamentos
(51%), são por motivos de saúde dos cuidadores,
alguns deles adiaram sistematicamente cirurgias
ou tratamentos que implicavam descanso total.
Em internamentos temporários, nomeadamente
em situações de repetição do serviço, as famílias
referem programas lúdicos que já não faziam desde
o nascimento do filho (ir ao cinema, ao futebol
ou visitar um familiar que reside longe).
Assim, salienta-se a necessidade de serviços de
apoio aos cuidadores, não só do direito a descanso,
mas de capacitação e bem-estar, evitando-se
recair na sobre responsabilização da família e
consequentes impactos já estudados na sua saúde
(isolamento, burnout, rutura de relações e vida social,
depressões, entre outras).
O papel do Estado no apoio aos cuidadores através
do alargamento de serviços e apoios ao dependente
e cuidador será essencial, nomeadamente
nos domínios da saúde e proteção social.
Teresa Ramos
Assistente Social e Coordenadora do Lar Residencial
78 | REVISTA FENACERCI 2020
Juntos pela mesma causa!
A 29 de janeiro de 2020, um grupo de clientes
e colaboradores do CAO - Centro de Atividades
Ocupacionais “D. Aurora Ribeiro e Castro” da
CERCIFAF, trilhou caminho em direção a Navarra
- Braga para se juntar às comemorações do
9º aniversário da CERCI Braga. A iniciativa partiu
do interesse comum, e incessante procura,
pela partilha de conhecimentos, experiências e
convívio entre colaboradores e clientes das duas
instituições.
Integrando-se esta iniciativa no âmbito das comemorações
do aniversário da instituição anfitriã
(CERCI Braga), o grupo da CERCIFAF resolveu
presentear a mesma com uma atividade prática
e original, da qual resultou a prenda oferecida.
Esta atividade já é uma prática comum na área de
Arte de Ocupação, desenvolvida pelos clientes da
CERCIFAF, e tem como mote, a reciclagem ainda
que singela, da enorme quantidade de lixo, que
todos nós geramos todos os dias. É através desta
atitude indispensável, que pretendemos contagiar
todos os que nos rodeiam para a manutenção
do meio ambiente, promovendo ao mesmo
tempo o nosso bem-estar e do planeta.
Subordinado ao logotipo da CERCI Braga, foram
construídos “papelejos” - azulejos criados com
pasta de papel reciclado e com recurso a moldes
de baixo e alto relevo - de forma a serem
posteriormente pintados e organizados num
mural da aniversariante. Ainda antes da execução
da atividade prática conjunta, o grupo da
CERCIFAF teve a oportunidade de realizar uma
visita guiada às instalações da CERCI Braga,
conhecendo um pouco melhor as suas áreas e
dinâmicas de trabalho. Quanto à atividade propriamente
dita, revelou-se ser uma experiência
enriquecedora tanto para clientes, como para
colaboradores, de ambas as instituições, ver a
forma harmoniosa como facilmente os diferentes
grupos se integraram e interagiram ao longo
da execução da atividade e do dia. Para os colaboradores,
esta iniciativa foi apenas a semente,
que se pretende, que germine para futuras
partilhas de momentos e experiências que conduzirão,
sem dúvida, ao crescimento mútuo das
instituições envolvidas.
REVISTA FENACERCI 2020 |
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COOPER ATIVA DE EDUCAÇÃO E REABILIT AÇÃO
DE CID ADÃOS C OM INCA PA CID ADES DE GUIMARÃES
CERCI’S O CAMINHO FAZ-SE A ANDAR
Uma Almofada
que nos
aconchega o
Coração
CERCIGUI
A Almofada Coração é um projeto de apoio às mulheres
mastectomizadas, que têm assim a oportunidade
de receber, aquando da hospitalização,
nas 48 horas após a cirurgia, um objeto que é ao
mesmo tempo de conforto, elegância, afeto mas
também anatomicamente adaptado para utilização
por baixo da axila, reduzindo os desconfortos
da cirurgia. Esta iniciativa gerida pela organização
Soroptimist International Clube Lisboa Caravela,
com o apoio de empresas e instituições, tem a
CERCIGUI como parceira. As Almofadas Coração
que estão a ser distribuídas no Hospital Sr.ª da
Oliveira, em Guimarães, são confecionadas pela
CERCIGUI, com os fantásticos tecidos da Lameirinho.
E assim, nós que tantas vezes pedimos ajuda,
e sentimos a necessidade do apoio solidário,
passamos a dar! E damos às mulheres que passam
por um período em que também elas se sentem
diferentes. Inclusão é também isto. Mostrar outras
realidades, outras dores, outras esperanças, outros
afetos. Esta é a nossa homenagem à mulher,
na forma de um coração, no conforto de uma almofada,
na união de tantos por tantas!
A Soroptimist International Clube Lisboa Caravela
lançou este projeto em 2013 e já foi merecedor de
reconhecimento internacional, ao nível da federação
Europeia do Grupo, que o considera valioso
por ser um objeto de custo “0” para as pacientes,
decorrente da ajuda promovida por pessoas com
deficiência, que assim se sentem integradas em
ações de serviço da maior utilidade. Esta organização
promove o estatuto da mulher e os direitos
humanos em geral, favorece a proteção das crian-
ças, contribui para a compreensão internacional,
paz e amizade universal, ajuda à eliminação da pobreza,
da discriminação de género, do tráfico de
seres humanos e de todas as formas de violência
contra mulheres e meninas, apoia e participa em
programas e estratégias que assegurem o acesso
à saúde, à educação e ao desenvolvimento económico
e social, incentiva a nomeação de mulheres
para cargos de direção e de altas responsabilidades,
defende e age no sentido da implementação
da igualdade de direitos, promove ações para a
criação de oportunidades que transformem a vida
de mulheres e de crianças através de uma rede
global de membros e de parcerias internacionais,
presta serviços no âmbito da solidariedade e serviços
em prol do desenvolvimento, progresso e
bem-estar das comunidades locais, nacionais e
internacionais, participa ativamente em processos
de decisão em todos os níveis da sociedade e implementa
um conjunto de boas práticas nas áreas
de intervenção e alertar consciências para problemas
sociais prementes. É um orgulho enorme ser
parceiro de uma instituição com esta dimensão e
com objetivos tão nobres. Pela promoção da saúde
das mulheres, pelo bem-estar das famílias e pelo
empoderamento de uma sociedade mais justa e
igualitária, a CERCIGUI está de mãos e coração
abertos neste projeto inovador e solidário.
80 | REVISTA FENACERCI 2020
Desporto
para todos!
TESTEMUNHOS
“Senti liberdade! Eu adoro água pois é um meio em que os
meus músculos relaxam. Adorei participar e fiz coisas que nunca
tinha feito. Quero voltar a fazer canoagem”.
Helena
Cliente da CERCIMAC
CERCIMAC
O desporto é um importante meio na reabilitação
global e integral das pessoas com deficiência,
sendo também um recurso vinculador da
afirmação das suas potencialidades. A prática
desportiva contribui igualmente para a sensibilização
de diferentes agentes para a necessidade
de quebrar barreiras e de provocar mudanças
positivas promotoras da inclusão das
pessoas com deficiência.
Reconhecendo os diversos e amplos benefícios
a nível psicológico, social, físico e fisiológico
que a prática de desporto produz na pessoa com
deficiência, e tendo como pilares norteadores
a promoção da igualdade de oportunidades,
de participação e de estilos de vida saudável, a
CERCIMAC tem desenvolvido vários projetos na
área do desporto adaptado. Vários têm sido os
desportos recreativos dinamizados pela nossa
instituição e praticados pelos seus clientes, que
vão ao encontro dos seus perfis, necessidades
e interesses, contando já com a prática de modalidades
desportivas como Goalball, Boccia,
Pollybat, passando pelas modalidades aquáticas
e náuticas como a Natação, a Canoagem e o Paddle.
Em 2019, a CERCIMAC e o Município de Macedo
de Cavaleiros, em parceria com a FENACERCI e
várias federações e entidades desportivas nacionais,
promoveram as I Jornadas de Náutica
para Todos, na Barragem do Azibo, em Macedo
de Cavaleiros. O evento assente na premissa
máxima: “desporto para todos”, decorreu com a
dinamização de várias ações: desde formação
técnica, a atividades de experimentação de modalidades
e workshops de convívio e partilha de
experiências, dirigidas a profissionais da área,
bem como, a pessoas com deficiência, de várias
instituições do distrito de Bragança.
“Adorei a atividade. Senti muita adrenalina e gostei de experimentar
o paddle e canoagem onde consegui manter uma
postura correta com a ajuda dos técnicos”
Teresa
Cliente da CERCIMAC
“Alem da experiência em água foi bom fazer o workshop pois
aprendi a importância destes desportos e como adaptavam as
canoas e o paddle. No Azibo foi muito divertido.”
Vânia
Cliente da CERCIMAC
REVISTA FENACERCI 2020 |
81
CERCI’S O CAMINHO FAZ-SE A ANDAR
A Educação
Sexual Não
é Tabu!
CERCIMARANTE
Com o objetivo de sensibilizar clientes e formandos,
respetivamente, do Centro de Atividades
Ocupacionais (C.A.O.), e do Centro de
Formação e Reabilitação Profissional (CFRP), da
CERCIMARANTE, para a questão da Educação
Sexual, a psicóloga e colaboradora da Cooperativa,
Mónica Ribeiro, de forma voluntária, tem
vindo a realizar, de há quatro anos a esta parte,
sessões de esclarecimento, sobre esta temática.
Todas as quartas-feiras, entre as 13h30 e as
14h00, no Auditório do CFRP, a psicóloga aborda
temas como o afeto; autoestima; autoconceito;
importância da higiene corporal; aparelho reprodutor
masculino e feminino; sexualidade;
doenças sexualmente transmissíveis; métodos
contracetivos; prevenção do abuso sexual a
pessoas mais suscetíveis; resolução de conflitos,
entre outros.
Ao longo das sessões, os clientes e formandos,
presentes de forma voluntária, têm a oportunidade
de expor duvidas e colocar questões à
psicóloga.
Estas sessões de esclarecimento sobre Educação
Sexual, de acordo com Mónica Ribeiro, têm
contribuído para o importante “desenvolvimento
cognitivo, afetivo e global dos clientes, e ainda
para a sua inclusão, assim como para consolidar
alguns dos seus direitos, nomeadamente o
direito à sexualidade”.
82 | REVISTA FENACERCI 2020
IMProVE - Inclusive
Methods in Professional
Volunteering in Europe
Em 2019, a CERCIOEIRAS iniciou o IMProVE –
Inclusive Methods in Professional Volunteering
in Europe – um projeto cofinanciado pelo Programa
ERASMUS+ da União Europeia, juntamente
com outras organizações – Dobrovolnické
Centrum (Republica Checa), Gemeinsam Leben
& Lernen in Europa e.V. (Alemanha) e Atempo
(Áustria).
O objetivo foi criar um PhotoBook e um E-book
para clarificar e difundir o conceito de voluntariado
inclusivo, identificando as barreiras existentes
para o seu. O IMProVE também procurou
explorar e dar a conhecer onde é necessário investir
para promover o voluntariado inclusivo,
procurando soluções reais para esta necessidade.
O PhotoBook e o E-book são ferramentas desenhadas
para disseminar boas práticas já implementadas
em diversas áreas de atuação, nomea-
damente ações de voluntariado praticadas por
pessoas com deficiência. A iniciativa e a motivação
de cada um são a recompensa do desempenho
de atividades saudáveis e enriquecedoras
para a sociedade.
Estas duas ferramentas foram elaboradas tendo
em conta os requisitos da linguagem fácil e estarão
disponíveis a partir de agosto de 2020.
Voluntariado inclusivo significa que todos têm
oportunidade e acesso a ser voluntários. Todas
as pessoas têm o direito de explorar os seus
potenciais, independentemente do seu estado
físico/mental/ limitação, religião, cultura, origem
étnica ou educacional, género ou idade.
Mafalda Malveiro
Diretora Técnica da Unidade Residencial
da CERCIOEIRAS
REVISTA FENACERCI 2020 |
83
CERCI’S O CAMINHO FAZ-SE A ANDAR
“Alumbramento”
A palavra solidariedade não é oca nem vazia, é sim uma
palavra cheia de afeto e Amor!
Em fevereiro de 2019, o João Ramos, o João
Croca e a Maria Laura Martins, apresentaram-
-nos o projeto de um possível livro, com fotografias
da nossa zona ribeirinha e textos relativos
às mesmas, tudo original e fruto de uma
seleção feita durante alguns anos de trabalho e
qual não foi a nossa admiração, pois nunca nos
tinha acontecido, quando nos disseram que
todo o valor que fizéssemos com a venda dos
livros, iria reverter para a nossa Instituição. Seria
um grande gesto de solidariedade para com
a CERCIMB. Mostraram-nos as fotos e os textos,
tinham pré reservas de algumas empresas
dos nossos concelhos e havia já o compromisso
da Câmara Municipal da Moita, para ceder a
sala, no Fórum José Manuel Figueiredo, para a
apresentação do livro. Acreditámos imediatamente
naquele projeto a que os autores chamaram
“Alumbramento”. Para além da qualidade
das fotos e dos textos, os autores estavam
completamente comprometidos e cheios de
vontade de conseguir um bom donativo para
a nossa Instituição. Iniciaram a construção do
livro, procuraram uma editora com qualidade e
ao mesmo tempo, fomos também divulgando
o mesmo. Os autores começaram a divulgar o
projeto nas redes sociais, e muito rapidamente,
o número de seguidores era enorme.
No decorrer de meses, fomos ficando encantados
com o que nos apresentavam. Concluído o
84 | REVISTA FENACERCI 2020
livro, apenas na forma digital, ficamos deslumbrados
com toda aquela inspiração e beleza e
crescia em nós o empenho de divulgar e entusiasmar
as pessoas para fazerem a pré reserva
do mesmo. Muita gente, encomendou e o que
mais nos encantou, foi o número de pré reservas
estar a aumentar bastante sem ainda se
conhecer o livro. Era a grande força da solidariedade.
As pessoas sabiam que o valor do livro
revertia por completo, para a CERCIMB e isso
bastou. Portanto, todo este projeto se desenvolveu
com o grande propósito de solidariedade
por parte dos autores e de todos aqueles
que têm adquirido o livro. Quase nas vésperas
da apresentação, o livro chegou. Ficou maravilhoso.
Uma obra magnífica.
Dia 23 de novembro, festa de apresentação do
livro! Superou todas as nossas expetativas. Não
foi uma apresentação formal. A Helena Madeira
tocou algumas músicas na harpa e foi também
acompanhando com música de fundo, a leitura
profunda e emotiva de textos do livro, ao mesmo
tempo que eram projetadas as fotografias
relativas aos mesmos. A música e estas leituras,
iam sendo intercaladas com as palavras comoventes
dos autores, do autor do prefácio e da
vereadora da Câmara. Todo este conjunto de
episódios foi criando uma envolvência de serenidade
e de paz, que terminou com um ponto
alto, que foi a apresentação de uma dança por
parte de alguns jovens da CERCIMB.
A sala estava esgotada e no fim, todos estavam
emocionados e deslumbrados. Foi esse o efeito
do projeto ”Alumbramento”. Vendemos bastantes
livros e a partir daí, juntamente com os
autores, temos vendido a edição que foi feita.
A CERCIMB tem que agradecer este gesto solidário
dos autores, que não ficou apenas pela
construção do livro. Têm envidado esforços para
que o nosso donativo seja cada vez maior. Têm-
-se empenhado neste projeto com muito amor e
um grande carinho pela nossa Instituição.
Também queremos mostrar a nossa gratidão
a toda a Comunidade, Empresas, Bibliotecas
escolares, Juntas de Freguesia e Municípios
dos Concelhos da Moita e Barreiro, bem como
outros fora destes concelhos, como a FENA-
CERCI, que adquiriram e divulgaram o livro,
mostrando uma grande envolvência com a
nossa Instituição e reconhecendo todo o trabalho
que a CERCIMB tem vindo a desenvolver
à sua volta.
A palavra solidariedade não é oca nem vazia, é
sim uma palavra cheia de afeto e Amor. É o que
estamos a sentir com este projeto.
Maria Clara Viegas
Presidente do Conselho de Administração da CERCIMB
REVISTA FENACERCI 2020 |
85
CERCI’S O CAMINHO FAZ-SE A ANDAR
Turistas de
Mochila às
Costas
Um sonho tornado realidade!
CERCIPORTALAGRE
O projeto Turistas de Mochila às Costas nasceu da
iniciativa “Ter ideias para Mudar o Mundo” cujo
objetivo final foi construir um trabalho relacionado
com o Ser Jovem Empreendedor (formação
promovida pelo Coração Delta e pela Comunidade
Intermunicipal do Alto Alentejo e dinamizada pela
formadora Sandra Nicolau).
A complexidade da temática levantou, no início,
algumas dúvidas face aos resultados a alcançar,
no entanto, a meio do percurso o grupo fez-nos
acreditar que o conceito estava adquirido e com
sucesso, tendo emergido a ideia de concretizar
um projeto que determinasse a concretização de
um sonho, ser turista e poder viajar de mochila às
costas. Neste sentido, o grupo definiu: “Chegar
a Santiago de Compostela e fazer o percurso de
alguns dos seus caminhos”. Com muitas dúvidas,
se seria possível ou não, o grupo ultrapassou barreiras,
meteu mãos à obra e, com o conceito de
empreendedorismo assimilado, durante dois anos
trabalhou com o objetivo de realizar dinheiro para
alcançar o resultado pretendido.
Na base das competências de cada elemento do
grupo definiram-se objetivos que cada um tinha de
atingir, desde a produção de peças de artesanato,
até à respetiva venda e distribuição no mercado.
Durante cerca de 2 anos o grupo trabalhou, trabalhou…para
conseguir chegar a Santiago e como
em qualquer projeto, verificaram-se altos e baixos,
ganhos e perdas. Pelo caminho ficaram dois
elementos que tiveram que sair do grupo, por incumprimento
dos objetivos definidos, mas pouco
a pouco, o grupo foi fortalecendo a sua coesão,
definindo e alterando estratégias até que chegou
o dia 3 de outubro de 2019, com tudo pronto para
partirem rumo a Santiago de Compostela, de mochila
às costas. De cidade em cidade, de aventura
em aventura, de percurso em percurso, o sonho
foi concretizado.
Resumidamente, o sentimento de missão cumprida
e de orgulho reinou em todo o grupo, não esquecendo
as experiências vividas ao longo de todo
o processo que os marcou para sempre, mantendo
o espírito empreendedor e o desejo de continuar
com novos projetos e realizando novos sonhos.
Hoje, na CERCIPORTALEGRE, temos um olhar
bastante diferente, face ao conceito de empreendedorismo,
um olhar de acreditar, de dinamizar,
de criar, de empoderar, mas também, de fazer crer
que TODOS temos ideias para mudar o mundo,
TODOS somos capazes de concretizar sonhos,
basta sermos empreendedores.
Em suma: O empreendedorismo ficou como um
pilar bastante importante na CERCIPORTALEGRE,
tanto ao nível do trabalho diário desenvolvido com
os clientes e colaboradores, como ao nível dos
parceiros.
86 | REVISTA FENACERCI 2020
Os Benefícios
da Partilha
“Ninguém é tão rico que não
precise de nada, nem tão pobre
que não tenha algo para dar”
O Lar Residencial da CRINABEL realizou em
agosto de 2019 a habitual colónia de ferias de
Verão, este ano com o apoio de quatro excelentes
voluntários estrangeiros, com nacionalidade
turca, acolhidos pela Organização Não Governamental
SVE Acolhimento ProAtlantico - Associação
Juvenil.
A organização ProAtlântico desenvolve programas
de âmbito europeu com o objetivo de promover
o voluntariado de jovens estrangeiros que
pretendam experimentar e desenvolver novas
competências interculturais e linguísticas na
área social e apoiar instituições em Portugal.
Não é á primeira vez que fazemos parceria com
esta organização que nos faculta voluntários
para apoio aos clientes nas atividades, mas tem-
-se verificado uma melhoria de qualidade dos
voluntários que vêm prestar apoio, jovens estrangeiros,
muitos deles estudantes e outros no
início da atividade profissional com formação em
diferentes áreas de trabalho.
Foi uma surpreendente partilha o apoio que os
voluntários turcos proporcionaram no mês de
agosto 2019, durante o programa de Verão realizado
pelo Lar Residencial da CRINABEL.
Os voluntários demonstraram desde logo, um
sentido de responsabilidade e solidariedade para
com a equipa que se encontrava a apoiar a colónia
de férias de Verão, bem como, total disponibilidade
para realizar todas as tarefas que lhes
foram solicitadas pela Instituição, independentemente
da sua área de formação (Matemática,
Biologia, Teatro e Ensino de Língua Inglesa).
A atitude afável e disponível que demonstraram
para qualquer tipo de colaboração com os nossos
clientes foi surpreendente tendo em conta que
não dispunham de experiência de trabalho na
área da deficiência intelectual.
A relação com os clientes foi estupenda, uma vez
que não falavam português, só inglês; a comunicação
começou por ser feita através de gestos,
sons e brincadeiras, ensinando palavras em língua
turca e aprendendo com os nossos clientes
outras palavras em português.
A CRINABEL pode partilhar com estes voluntários
a alegria de uma convivência saudável,
a gastronomia portuguesa, e conceder-lhes a
oportunidade de conhecerem um pouco do nosso
património histórico (Batalha, Mosteiro dos
Jerónimos, ‘Budha Parque’ - Bombarral) e visitar
a região de Lisboa (Setúbal, lezíria de Vila Franca
de Xira, Cascais, Praia das Maçãs), onde decorreram
as atividades do programa da Colónia de Férias
de Verão 2019, de tal forma que ambicionam
regressar e outros permaneceram em Portugal.
Precisamos sempre de alguma coisa para nos desenvolvermos
e progredir!
O benefício das parcerias resulta da partilha que
realizamos e do que recebemos em ideias, conhecimentos,
criatividade. Trabalho e procedimentos
que nos ensinam e estimulam a melhorar
a qualidade dos serviços que prestamos.
Maria Cristina Mealha
Diretora Técnica do Lar Residencial da CRINABEL
REVISTA FENACERCI 2020 |
87
CERCI’S O CAMINHO FAZ-SE A ANDAR
Animação
Itinerante
CERCIZIMBRA
Estávamos no Verão de 2004 e a equipa do
Centro de Animação para a infância (C.A.I) da
CERCIZIMBRA, foi desafiada a desenvolver um
projeto nas áreas de intervenção comunitária
e abandono escolar. Refrescando as ideias nas
praias de Sesimbra entre jogos e brincadeiras
com as crianças e jovens do projeto “Animação
Itinerante” e refletindo sobre a nossa experiência
de trabalho na área da animação e intervenção
comunitária em rede com a comunidade sesimbrense,
aceitámos o desafio. Importa referir
que o C.A.I. é um serviço direcionado para a animação
e intervenção comunitária com crianças
e jovens dos 6 aos 23 anos, caraterizado pela
inovação e diferenciação no panorama das
CERCI’s e dos espaços de ocupação de tempos
livres. Funciona em regime de porta-aberta e
dispõem de um espaço físico onde diariamente
têm lugar uma panóplia de iniciativas impulsionadas
por profissionais das áreas da educação,
animação, ambiente, artes e psicologia.
Agarrando na nossa “bagagem” enquanto saber
nesta área - diminuição dos índices de abandono
escolar precoce – assumimos enquanto estratégia
a exaltação de experiências pessoais e
coletivas: positivas, estimulantes, de sucesso, de
partilha, prazer e satisfação nos recreios, para
nós espaço fantástico de intervenção. Acreditamos
que através de recreios estimulantes,
os alunos conseguem aumentar os seus níveis
de vinculação ao contexto formal de educação,
bem como, apurar competências fundamentais
do desenvolvimento global (cognitivas, sociais,
emocionais e psico-motoras). Neste sentido, e
seguindo as orientações dos autores de referência
em intervenção comunitária e metodologias
relacionais de cariz lúdico, projetámos a
intervenção de combate ao abandono através
da concentração das ações em recreios dinâmicos
e de qualidade, encarando a prevenção de
situações de Bullying como fator determinante
no combate ao abandono escolar precoce.
Com base nas orientações de Natália Pais, Denise
Garron e da colaboração da Professora
Amália Rebolo (aluna do Prof. Carlos Neto)
candidatamo-nos ao Programa Escolhas (PE)
e, durante 5 anos, através do financiamento da
C.M. de Sesimbra e PE, implementámos o projeto
de animação dos recreios “C.A.I. na Escola”
em 3 Agrupamentos de Escolas do Concelho de
Sesimbra. O feedback obtido por parte de toda
a comunidade educativa, bem como, os resultados
alcançados foram de tal forma positivos,
que só a continuidade do projeto seria legitimamente
aceite.
Desta feita, o projeto sofreu algumas alterações
e centrou-se essencialmente na ideia de um recreio
estimulante e ativo enquanto motor de in-
88 | REVISTA FENACERCI 2020
clusão e determinante para o desenvolvimento
global da criança.
Atualmente passa pela facilitação diária de experiências
intensas de elevado potencial motor,
cognitivo, emocional e social num curto espaço
de tempo, em interação ou não, com a equipa
do C.A.I., uma equipa atenta e disponível para
brincar, perceber e intervir, em detalhes fulcrais
do recreio (captação de potenciais; isolamento
entre pares; agressividade descontrolada; riscos
desnecessários). Contamos com a colaboração
diária das assistentes operacionais no projeto e,
entre muitos dias de brincadeira e diversão, temos
também dinamizado alguns workshops de
reflexão e promovido um maior envolvimento e
segurança no papel de parceiros de jogo e facilitadores
de brincadeiras durante os intervalos.
É nosso desafio para o ano letivo 2020/21,
alargar o projeto a mais escolas, respondendo
também, às necessidades realçadas por técnicos
especializados e docentes de educação especial,
para que nos recreios se promova uma
maior inclusão, a aceitação da diferença e o
convívio entre crianças com níveis de capacidade
diferentes, para que TODOS possam usufruir
de momentos de brincadeira livre, espontânea
e no exterior.
REVISTA FENACERCI 2020 |
89
CERCI’S O CAMINHO FAZ-SE A ANDAR
CAR
Uma Resposta e
Alternativa Transitória
de Enquadramento
Sócio Familiar
RUMO
A Casa de Acolhimento Residencial (CAR) da
RUMO - Cooperativa de Solidariedade Social,
CRL. “destina-se a Crianças e Jovens até aos 18
anos em situação de perigo, a quem a Comissão
de Proteção de Crianças e Jovens ou o Tribunal
tenha aplicado a medida de promoção e proteção
de acolhimento residencial”.
Neste momento, o intervalo de idades das nossas
crianças situa-se entre os 7 e os 19 anos. Os diagnósticos
e problemáticas, circundam as questões
associadas às fragilidades emocionais e comportamentais,
mas também ao nível das limitações
intelectuais, cognitivas e de aprendizagem.
Sem exceção, todas as crianças ficaram privadas
de uma dinâmica familiar estruturada, evidenciando-se
histórias de vida conturbadas e penosas,
sendo que a CAR, se assume como uma resposta
e alternativa transitória de enquadramento
sócio familiar de qualidade, visando sempre, o
desenvolvimento físico, intelectual, emocional,
e moral dos jovens, bem como, a sua integração
comunitária.
Após uma exaustiva avaliação diagnóstica, é definido
um Plano Individual de Intervenção e um
Projeto de Vida para cada uma destas crianças e
jovens acolhidos, adequado e ajustado às necessidades
e caraterísticas de cada um.
Aquando da existência de perturbações no âmbito
psíquico e da necessidade da administração
de medicação, estão definidos procedimentos em
manuais específicos para o efeito, bem como, o
acompanhamento Pedopsiquiátrico e/ ou Psicológico.
Este acompanhamento torna-se regular,
através da equipa multidisciplinar que temos ao
nosso dispor, constituída por um Psicólogo, uma
Assistente Social e Auxiliares de Ação Educativa
que promovem a aquisição de competências psicossociais,
assentes numa abordagem educativa,
inclusiva, afetiva e relacional.
Uma vez que perspetivamos sempre a melhoria
da qualidade de vida das nossas crianças e jovens
consideramos que “A Nossa CASA”, deverá
ser o mais similar possível a um lar familiar dito
“normal”, tendo iniciado, há já algum tempo, restruturações
internas profundas, quer ao nível do
edificado, quer no que respeita à otimização dos
espaços interiores.
Mantendo o nosso lema “Para cada Pessoa um
Projeto de Vida”, assumimos que a nossa intervenção
é direcionada para o indivíduo de acordo
com as suas idiossincrasias. Dessa forma, estamos
empenhados em construir um Plano de Autonomização
para cada uma das crianças e jovens
que residem na CAR, assumindo que a empregabilidade
é um fator para que essa autonomia
ocorra. Assim, mantemos o que defendemos...
concretizando o modelo de emprego apoiado
como estratégia de inclusão e integração na sociedade.
“Se queremos um mundo de paz e de justiça,
devemos por a inteligência ao serviço do amor.”
Antoine de Saint-Exupery
90 | REVISTA FENACERCI 2020
A Saúde
Como Fator para Melhorar as
Condições para
a Empregabilidade
O Serviço de Empregabilidade - Formação Profissional
da CERCIMA conhece o perfil dos seus
formandos, das suas famílias, dos seus contextos
sociais, das suas fragilidades e das suas potencialidades.
Conhece o mercado de trabalho e as exigências
de quem emprega, porque trabalhamos
em parceria com todos aqueles que se disponibilizam
e acreditam que incluir é a única forma de gerar
igualdade e equidade de oportunidades. É com
este conhecimento que, entendemos como prioritário,
o investimento em atividades e projetos de
promoção de competências sociais, facilitadoras
das condições de empregabilidade. O desenvolvimento
de competências pessoais, pertence ao
grupo dos requisitos comuns a quase todos os empregos,
ou seja, são estas características que nos
tornam “empregáveis” e incluídos na comunidade.
Porquê a necessidade de desenvolver atividades
orientadas para a saúde?
Não sendo um grupo com características homogéneas,
no entanto, existem situações que sinalizamos,
como diagnóstico para intervenção na
Área da Formação e do Emprego com Pessoas com
Deficiência e Incapacidade (PDI):
• Imagem negativamente conotada;
• Desvalorização da autoimagem;
• Situações de fragilidade emocional;
• Problemas motivacionais;
• Fragilidade das condições básicas de empregabilidade
(meio familiar e residencial desfavorecido);
• Níveis baixos de habilitação escolar e/ou de qualificação
profissional;
• Cuidados com a higiene e a imagem pessoal;
• Cuidados de saúde;
• Higiene oral;
• Rotinas de sono.
Dois Projetos de parceria com o Departamento
de Psiquiatria e Saúde Mental – Hospital do
Barreiro Montijo:
“Projeto o Sono na Qualidade de Vida – Educação
para a saúde”
Esta iniciativa teve por base uma avaliação diagnóstica
sobre os hábitos de sono em que se registam
problemas na interiorização de rotinas, nomeadamente
a hora de deitar, o uso de aparelhos eletrónicos,
perturbadores de um desenvolvimento harmonioso
dos formandos e com um impacto negativo
ao nível da aprendizagem na formação em sala,
formação em posto de trabalho e na sua integração
profissional. Verificam-se também dificuldades no
controlo parental dessas mesmas rotinas.
Atividades desenvolvidas
• Sessão para formandos e famílias: “Sono e Qualidade
de Vida – Educação para a Saúde”;
• Distribuição dos folhetos informativos: Sono –
“Porque precisamos de dormir e o que nos impede”,
elaborado pela Equipa Comunitária Montijo-Alcochete,
sendo a avaliação da sessão pelos
participantes de Muito Bom.
“Projeto Intervenção Multidisciplinar para a
Saúde Mental”
Atividades desenvolvidas
• Supervisão de análise de casos;
• Acompanhamento de formandos a consultas, de
forma a assegurar a estabilidade na sua saúde.
“Projeto Sorriso”
Estabelecimento de parceria com clínica
dentária privada para dotação de plano de
tratamento dentário.
“IOGA”
O IOGA iniciou em outubro de 2019 com
a colaboração da professora de IOGA, com
objetivo de:
• Promover o relaxamento e a concentração;
• Corrigir posturas;
• Promover o bem-estar físico e o humor.
Atividades desenvolvidas
Sessão de 30 minutos, 3 vezes por semana.
Cristina Pereira
Isabel Fialho
REVISTA FENACERCI 2020 |
91
NÓS POR
NÓS
PRÓPRIOS
A mensagem na primeira pessoa é sempre a mais importante. Por muito
preocupados e empenhados que sejam os profissionais ou os familiares, nada
pode substituir a opinião das pessoas com deficiência. E de facto, continuamos
a pensar e decidir muitas coisas em nome delas, mas sem as ouvir. Esta rubrica
é apenas um modesto contributo de alerta para a necessidade de dar voz às
pessoas com deficiência, para que possam dizer o que lhes vai na alma, sobre
coisas que muitos teimem em decidir por eles.
© FENACERCI
NÓS POR NÓS PRÓPRIOS
Eu Sou a
Daniela
“Pimentinha
Estafeta”
Eu sou a Daniela Silva e tenho 26 anos, vivo presentemente
na CERCICOA . Entrei no dia 10 de
fevereiro 2014, há seis anos. Quando entrei nessa
altura, considerava-me uma criança ainda, só chorava
e dava-me “amoques”. Estava sempre muito
descontrolada. Estive num curso de hotelaria onde
estagiei no “ Lar São Barnabé” depois fizeram-me
um contrato de trabalho primeiro na CERCICOA
“Cova da Burra”, depois tive outro contrato na “
Junta da Freguesia em Almodôvar. Agora estou a
trabalhar na Câmara Municipal de Almodôvar, na
secção de contabilidade, contrato este por um período
de nove meses. A todas as colegas de serviço
chamo-lhes tias do coração.
Sou uma pessoa muito responsável no serviço e
em tudo o que faço.
Gostam muito de mim, e faço todo o serviço que
me mandam com carinho, até sou chamada de “Pimentinha
a Estafeta para todos”.
Estou sempre disponível para tratar de todos os
assuntos, quer no exterior, tais como nas Institui-
ções Bancárias, Finanças e entrego pagamentos
aos Munícipes sempre que o Tesoureiro me solicita,
quer no próprio serviço no Município, onde
tiro fotocópias, carimbo documentos, recolho assinaturas
dos responsáveis e entrego nos serviços
respetivos. Ajudo muito também nos eventos culturais
como por exemplo: Facal, Carnaval, S. João
e outros eventos.
Acho que sou competente no serviço que faço
porque todos me elogiam.
Gosto muito de estar a trabalhar onde estou, sou
muito feliz na Câmara.
No dia 21 de fevereiro, dia dos meus anos, os meus
colegas e tias do coração fizeram-me uma festa,
onde todos contribuíram para me comprarem um
grande bolo, foi uma grande festa de surpresa,
cantámos os parabéns e eu chorei muito de alegria,
adorei muito, pois nunca tinha tido uma festa
assim tão bonita como esta.
Com o restante dinheiro que sobrou do pagamento
do bolo, estou a programar ir nadar com os Golfinhos.
Daniela Silva
Cliente da Residência Autónoma da CERCICOA
Falando agora o que penso das minhas
tias de coração com quem trabalho
na contabilidade:
Piedade: Simpática, vai comigo aos golfinhos,
sempre amiga de ajudar, é muito boa.
Teresa: Amiga, ajuda-me sempre e às vezes e
também me repreende no que faço mal.
Ana Morgadinho: Também amiga e, às vezes,
também me repreende.
Pereira: Amigo que brinca sempre comigo
porque diz que eu faço muito barulho porque
dou muitas gargalhadas.
O que é que as amigas e colegas acham do
meu trabalho?
l
A Daniela é uma rapariga muito atenciosa e
responsável no trabalho, o que lhe é pedido
para fazer, faz sem reclamar e faz bem feito,
pede-nos sempre para a ensinar a fazer coisas
novas, gosta de aprender.
l
Não só trabalha na contabilidade como
também auxilia o pessoal de todo o edifício,
a Daniela está sempre pronta a ajudar, não
nega ajuda a ninguém.
94 | REVISTA FENACERCI 2020
Sentimo-nos bem, quando
somos nós próprios!
No CERIN trabalhamos diariamente sobre
o bem-estar e qualidade de vida.
Promovemos a saúde com pesquisas e atividades
sobre cuidados a ter no frio e calor, a importância
do desporto, como comprar e confecionar
uma alimentação saudável, a higiene pessoal,
sexualidade, afetos, etc. Construímos jogos e até
um supermercado com embalagens vazias para
aprender mais sobre a alimentação. Aprendemos
a ler rótulos e a analisá-los e vamos às compras
para cozinhar refeições simples e saudáveis, que
repetimos em casa.
Semanalmente desenvolvemos atividades terapêuticas
e desportivas como: natação, boccia,
taças tibetanas, corfebol, mindfullness, ténis,
danças, surf, toque +, e várias terapias. Aprendemos
a respirar, relaxar, estar mais concentrados,
ter melhor coordenação, resistência física, melhoramos
o relacionamento com os outros e com
o que nos rodeia.
Estamos sempre prontos para desafios e fazemos
caminhadas pela natureza, peddy papers,
yoga, hip hop, tang soo doo e capoeira.
Para o bem-estar global, temos que exercitar o
corpo e a mente, estar incluídos, ter amigos e
uma ocupação útil. Promovemos atividades de
jardinagem, horta, bar e cozinha. Desenvolvemos
um grupo de voluntariado, danças, conversas de
raparigas, teatro, área de projeto e jornal. Estamos
sempre envolvidos com a comunidade em
projetos e parcerias. São muitas as oportunidades
de participação ativa e útil na sociedade. Isso
é estar saudável!
Grupo de Autorrepresentantes do CERIN
Centro de Respostas Integradas da CERCIPENICHE
REVISTA FENACERCI 2020 |
95
NÓS POR NÓS PRÓPRIOS
As Boas
Energias
do REIKI
A prática de Reiki existe no Centro de Atividades
da CERCIMONT desde 2017. Desde esse tempo
que faço parte do grupo de clientes que realiza
a atividade e tem sido uma boa experiência
para mim. Sinto-me bem a dar Reiki. Todas as
quartas-feiras à tarde fazemos Reiki aos colegas
e aos funcionários, e uma vez por mês, vamos ao
Lar de São José praticar com os idosos.
A partir do momento que passei a ser Reikiana
senti-me muito feliz e aprendi que existem boas
e más energias. Tanto se pode fazer o Reiki a
nós próprios como nas outras pessoas. Algumas
pedem mesmo para lhe tocarmos para sentirem
melhor a energia.
O Reiki dá muita energia a quem o recebe, mas
também ao Reikiano quando se sente triste ou
com menos energia. Se assim for vamos buscar
energia e sentimo-nos mais relaxados e calmos.
O Reiki é uma troca de energia que melhora
o nosso estado. É uma técnica já muito usada
como tratamento em alguns hospitais, para tratar
algumas doenças ou apenas para nos sentirmos
melhor com o nosso corpo.
No início de cada sessão de Reiki ouvimos algumas
músicas e realizam-se alguns rituais tais
como: o Enraizamento, a Chuva de Reiki e o Auto
Tratamento. Depois acontece a aplicação do
Reiki. No final fazemos a Limpeza do Espaço -
um ritual que consiste em libertar todas as energias
que possam estar em excesso de modo a ficarmos
num estado de equilíbrio energético.
Cristina Araújo
Cliente da CERCIMONT
96 | REVISTA FENACERCI 2020
REVISTA FENACERCI 2020 |
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NÓS POR NÓS PRÓPRIOS
98 | REVISTA FENACERCI 2020
REVISTA FENACERCI 2020 |
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NÓS POR NÓS PRÓPRIOS
O dia em que
colocamos os
nossos corações
à solta…
O dia 14 de fevereiro tem para “Nós”, um significado mais
abrangente. De alguns anos a esta parte é elaborado um
projeto na CERCIPORTALEGRE para o Dia dos Afetos, este
ano concebido pela Valência Educativa e pelo Centro de
Apoio Ocupacional (CAO), sendo alargado à participação de
Todos, nomeadamente às Famílias.
Um dos objetivos estabelecidos foi transformar a data,
associada ao Dia dos Namorados, num dia em que se demonstrem
afetos através da Amizade, do Amor e da Alegria
que nos une a Todos.
Neste sentido, o Grupo de Autorrepresentantes foi para a
rua partilhar o que de melhor temos, o nosso carinho, simbolizado
num simples mas mágico coração.
Para além de visitarmos alguns dos nossos Parceiros, para
reconhecer e agradecer a importância da Amizade, escondida
na parceria, visitámos um colega, que estava hospitalizado
e uma família que se encontrava mais frágil.
Ainda a quem passava por “NÓS” partilhámos carinho e afeto,
dissemos que: “… colocámos os nossos corações à solta”.
Grupo de Autorrepresentantes da CERCIPORTALEGRE
100 | REVISTA FENACERCI 2020
SER
Saudável
O meu nome é Paula Graça tenho 45 anos,
moro no Lar Residencial Vidas Coloridas da
CERCIBEJA e durante o dia estou no Centro
de Atividades Ocupacionais.
Faço imensas atividades, tais como teatro,
desporto (natação, corfebol e caminhadas),
danço no Rancho Folclórico e ainda faço atividades
de voluntariado no Banco Alimentar
e Cantinho dos Animais de Beja.
Quando venho para a instituição e participo
nestas atividades percebo as minhas reais
capacidades. Tenho muitos amigos que me
fazem sentir feliz e que me têm ajudado a
ultrapassar alguns momentos mais difíceis.
Na residência também ajudo nas tarefas do
dia-a-dia, o que me faz sentir útil.
No que se refere à minha saúde, sei que tenho
de evitar o sal e os doces e não esquecer
de beber muita água. Tudo isto, em conjunto
com as atividades desportivas que me facilitam
a mobilidade e me fazem andar melhor.
Tenho de agradecer a todos os colaboradores
da CERCIBEJA, pois desde que vim para
cá, me têm ajudado a SER uma pessoa mais
feliz e com melhor qualidade de vida.
Paula Graça
Cliente da CERCIBEJA
Fim-de-
-semana
com cor…
CERCIAMA
“Eu gostei muito de ir a Ponte de Sor. O passeio noturno
por Ponte de Sor foi engraçado e bonito, porque passei
por uma ponte colorida.
Passeei por Abrantes. Os doces tradicionais são a Palha
de Abrantes e as Tigeladas”
Teresa M.
Cliente da UR da CERCIAMA
“Eu gostei de passear por Ponte de Sor. Em Abrantes
passeei pela cidade e pelo parque de merendas do Rossio
de Abrantes”
Sónia B.
Cliente da UR da CERCIAMA
REVISTA FENACERCI 2020 |
101
VENHA DE LÁ
ESSE ABRAÇO
© DR
A COVID 19 proibiu os abraços. Mas resolvemos
manter o nome da rubrica. O
abraço é, talvez, o melhor símbolo da
solidariedade. Num abraço mora compreensão,
cooperação, afeto, amizade, e
muitos outros ingredientes de que é feita
a solidariedade. Fica por isso a nossa
gratidão para todas as figuras públicas,
mais conhecidas ou menos conhecidas,
que todos os anos nos emprestam o
seu nome e prestígio para levar a nossa
mensagem mais longe e a mais gente.
Bem hajam.
VENHA DE LÁ ESSE ABRAÇO
Agustin
Hernandez
Fotógrafo (SP)
Sou fotógrafo e retrato é o gênero que mais me interessa.
A revelação de um rosto depende em parte do fotógrafo,
mas sobretudo de quem posa abrindo ou fechando a alma
aos outros. Eu nunca encontrei pessoas mais dedicadas do
que as pessoas com deficiência intelectual. Se há algo que
têm em comum, é a ausência de máscara social. Não conheço
grupo mais aberto e generoso. Quero mostrar uma
pequena parte do meu trabalho com retratos nos quais
emoções e sentimentos são expressos. São pessoas com
deficiência intelectual expostas ao nosso olhar, sem impor
importância, sem falsidade, mostrando as qualidades
humanas comuns a todos, sem distinção de posição ou
origem social.
No fim, há uma pergunta que se desdobra em outras: o que
vemos, como nos vemos neles, quem são e quem somos?
Conheça mais sobre a obra deste fotografo em https://
agustin-hernandez.myportfolio.com/retratos-de-la-fragilidad
104 | REVISTA FENACERCI 2020
Lena
D’água
Cantora
Sou avó de um menino com hemiparesia.
Nunca chegámos a saber se foi antes, durante ou logo
depois do nascimento, que um AVC deixou no Vicente
uma lesão cerebral e nos juntou às famílias que acordam
com aquela dor tramada no coração, uma dor que
se vai lentamente transformando em esperança e que
às tantas já é quase só esperança. E alegria também.
Passaram sete anos. Aprendemos a viver com o nosso
menino especial. Não é fácil, o desafio é enorme. Mas o
apetite gourmet do Vicente, as travessuras do Vicente,
as músicas do Vicente, a paixão que ele tem pelos cães
da avó Lena, aquele sorriso do Vicente, dizem tudo sobre
o que mais importa na vida, e o que mais importa na
vida é o amor.
REVISTA FENACERCI 2020 |
105
VENHA DE LÁ ESSE ABRAÇO
Miguel
Blanco
Surfista Profissional
© Damien Poullenot
“Uma viagem,
uma aprendizagem
sem limites”
Desde muito cedo que tive a oportunidade de viajar graças
à profissão que escolhi, o surf.
Este desporto/lifestyle levou-me a descobrir novos destinos,
não somente para concorrer no circuito mundial, mas
especialmente para ir atrás das ondas que sempre sonhei
surfar.
Explorar os mais diversos destinos levou-me a conhecer
muitas pessoas, realidades e culturas diferentes. Viajar
sempre tem os seus imprevistos e, ao estarmos longe de
casa, obriga-nos a sair da nossa zona de conforto e fazer o
necessário para podermos continuar a nossa jornada.
É sem dúvida uma constante aprendizagem. Convivi com
pessoas de várias religiões em diferentes línguas e nas mais
diversas circunstâncias e concluí que realmente não importa
o que as pessoas têm, mas sim o que elas são e a maneira
como vivem as suas vidas.
Com a minha experiência competitiva aprendi também que
quem chega ao topo não é o surfista “perfeito” e com mais
talento, mas sim aquele que inspira mais perseverança,
acredita em si próprio e não olha para qualquer tipo de limitação
que possa ter. Aquele que em qualquer circunstância
não vê um problema, mas sim uma oportunidade. Não
existem atletas perfeitos e a perfeição é ilusória. Tudo o que
uma pessoa se tem de focar é em dar o melhor de si próprio
todos os dias. É isso o que realmente importa e nos vai fazer
chegar ao fim do dia com um sentimento de realização.
Portanto, segue o teu próprio caminho e não tenhas medo
de ser feliz.
106 | REVISTA FENACERCI 2020
Floriano
Jesus
Atleta de Canoagem
Fala-se tanto nos direitos, de igualdade, de inclusão, de
respeito, mas a verdade é que neste mundo cada vez
mais “cada um por si”, passamos ao lado de tudo e de
todos. Lutaremos, no nosso dia-a-dia, pela justa e clara
igualdade de direitos. Por vezes passando ao lado de todos,
os “incapazes” conseguem conquistas notáveis que
os “capazes” não o conseguem, e no desporto é notável
as nossas conquistas. Continuaremos a lutar dia após dia
para novas conquistas.
REVISTA FENACERCI 2020 |
107
VENHA DE LÁ ESSE ABRAÇO
Iguana Garcia
Músico
Era uma vez um menino feliz. Corria. Brincava. Fazia amigos.
Gostava de tocar a terra e do cheiro das coisas
Gostava de correr até cair, e quase não ter ar nos pulmões
E achava que assim seria a vida toda.
Mas o tempo passou, e o menino mudou.
Os amigos já não importavam tanto
Teve que se fazer indiferente para crescer.
E de um mundo de correria e brincadeira
Passou para a cidade, onde as serpentes abundam e estão camufladas.
No início queria ser menino e homem na cidade,
Mas sem se perceber,
Foi apagando tudo o que nele o tornava verdadeiro e bom,
E esse menino acabou a perder o seu dom.
O de ser feliz e inocente
E de tratar com amor toda a gente.
Por isso ouve o que te digo,
E sê puro e bom,
Não como este menino!
108 | REVISTA FENACERCI 2020
© AnaViotti
REVISTA FENACERCI 2020 |
109
VENHA DE LÁ ESSE ABRAÇO
Norberto
Mourão
Atleta de Canoagem
Olá a todos, chamo-me Norberto Mourão, tenho 39 anos
e sou atleta da paracanoagem.
A paracanoagem apareceu na minha vida em setembro
2010, num evento de canoagem e de mergulho, esse
evento foi organizado em parte por aquele que se viria a
tornar o meu treinador, o Ivo Quendera, que se mantém
até aos dias de hoje.
Este evento apareceu para mim numa altura em que estava
a recuperar de um grave acidente no qual perdi as
duas pernas e tive conhecimento dele através de uma
antiga atleta com Paralisia Cerebral, a Carla Ferreira.
A partir de janeiro de 2010 comecei a treinar com regularidade
e aos poucos fui evoluindo. Nem sempre as coisas
foram fáceis, mas a persistência, o empenho nos treinos
e sobretudo, ter as pessoas certas ao meu lado para me
ajudarem a evoluir de treino para treino, foram a chave
para alcançar resultados de excelência, como são os casos
dos resultados do ano passado, onde destaco a Medalha
de Bronze no Campeonato Europeu e a Medalha
de Prata no Campeonato do Mundo, este último deu-me
a vaga para os Jogos Paralímpicos Tokyo 2020.
Um dos segredos que me ajudou a superar tudo, foi a
forma de pensar e de encarar as coisas, focando-me no
que tinha para fazer e no que conseguia fazer, seguindo
sempre um lema desde o dia do acidente, voltar a fazer
o que fazia antes, posso-vos dizer que já fiz tudo o que
fazia antes e até faço mais, tenho uma vida mais preenchida
e mais ativa do que antes do acidente.
É neste sentido que vos digo uma coisa que vos poderá
ajudar a ver a vida de forma diferente, nunca olhem
para as vossas limitações ou dificuldades que têm em
fazer algo, olhem antes para o que conseguem fazer e
tentem aprender o máximo possível, isso irá ajudar-vos
a aumentar a vossa autoestima, a enfrentar os obstáculos
com mais confiança, mas sobretudo, a serem pessoas
mais completas e felizes.
110 | REVISTA FENACERCI 2020
REVISTA FENACERCI 2020 |
111
VENHA DE LÁ ESSE ABRAÇO
112 | REVISTA FENACERCI 2020
VASCO
ARAÚJO
Escultor e Artista Plástico
A principal questão para o Ser Humano é descobrir-se
enquanto sujeito, enquanto ser livre e consciente de si,
e de si em relação aos “Outros”. Qualquer um pode percorrer
este caminho através da compaixão, solidariedade
e do amor a si e aos outros.
REVISTA FENACERCI 2020 |
113
VENHA DE LÁ ESSE ABRAÇO
Jesús
Lago Solis
Ator
“Olá, eu sou Jesús Lago Solis. Há dois anos participei como ator no filme
“Campeões”, o que me deixou muito entusiasmado. Eu nunca fiz filmes,
apenas teatro na minha escola.
O que mais gostei foi poder fazer novos e bons amigos, que ainda hoje,
são meus amigos passado tanto tempo.
Também gosto muito de quando vou a algum lado, as pessoas me aplaudam
e tirem fotos comigo. Deixa-me muito contente.
Todas as pessoas que participaram no filme eram muito amorosas
connosco, o realizador também. Rimo-nos muito e divertimo-nos muito!
Adoro quando vou às escolas e as pessoas me dizem que, graças ao filme,
passaram a ter uma melhor compreensão das pessoas com deficiência.”
Um beijo para todos.
114 | REVISTA FENACERCI 2020
A NÃO PERDER!
O filme Campeões é uma
comédia dramática espanhola
inspirada numa história
verídica passada em Burjassot,
Valência. Uma história em que
Marco Montes é o treinador
assistente de uma equipa de
basquetebol madrilena que é
despedido depois de discutir
com o treinador principal. Depois
disso, é sentenciado a serviço
comunitário por, alcoolizado,
bater com o seu carro num da
polícia. A sentença é trabalhar
com uma equipa de jogadores
com deficiência, pessoas que
ele a início despreza mas que
acabam por lhe ensinar mais
a ele, como é comum nestas
andanças, do que o inverso. Um
filme de Javier Fesser que vale a
pena ver.
REVISTA FENACERCI 2020 |
115
OLHÓMETRO
l O trabalho de parceria com as organizações, desenvolvida pela Senhora Ministra do Trabalho,
Solidariedade e Segurança Social e pelas Senhoras Secretárias de Estado do seu Ministério,
na formulação de estratégias de combate à COVID 19.
l O empenhamento do Sr. Ministro do Planeamento na procura de soluções associadas a ações
inscritas no Quadro Comunitário.
l A resposta positiva e assertiva das Organizações da Economia Social, que foram um exemplo
de oportunidade e responsabilidade.
l Os profissionais das nossas cooperativas, pelo exemplo de profissionalismo e solidariedade que
têm dado ao longo de toda a crise associada à pandemia.
l A interação local com autarquias, estruturas da segurança social e serviços de proteção civil.
l A disponibilidade dos gestores do IEFP e do POISE para encontrarem soluções em interação com
as organizações.
l As medidas inscritas no Plano de Estabilidade Social.
l A linha de apoio à aquisição de EPI disponibilizada através do MTSSS.
116
116 | REVISTA FENACERCI 2020 2020
l A aplicação de testes a clientes e profissionais de algumas respostas.
l O tratamento desigual que mereceram os Lares Residenciais relativamente às ERPI.
l A dificuldade de articulação com o Ministério da Educação e designadamente a ausência de resposta
a solicitações.
l A dificuldade e especulação associadas à aquisição de EPI.
l A dificuldade de articulação com o Ministério da Saúde.
l A ausência de linhas orientadoras para a reabertura das Escolas de Educação Especial.
l O atraso na implementação da Linha de Financiamento para o Setor Solidário.
l O pouco envolvimento da Economia Solidária no seu todo ao nível do desenho das soluções para
a pandemia, designadamente ao nível do Conselho Nacional da Economia Social e da Confederação
Portuguesa da Economia Social.
l O atraso na implementação do Grupo de Tarefa para a avaliação dos CRI, previsto em sede
de Compromisso.
REVISTA FENACERCI 2020|
117
ATÉ JÁ
PIRILAMPO
ATÉ JÁ PIRILAMPO
Sobre a Campanha
Pirilampo Mágico 2020
Uma mensagem com os olhos postos no futuro
Marcelo Rebelo de Sousa
Presidente da República Portuguesa
Deveria ser lançado, no dia 30 de abril, o Pirilampo
Mágico deste ano de 2020. São 34 anos
sem parar na vida do Pirilampo Mágico, o que
significa também na vida de muitas instituições
ao serviço da comunidade portuguesa, instituições
de solidariedade social. É uma causa que
o Presidente da República sempre abraçou, é
uma causa que o país sempre abraçou, é uma
causa popular. Os tempos foram mudando e o
Pirilampo Mágico permanecia porque as necessidades
permaneciam. Este ano não vamos ter
Pirilampo Mágico, mas isso não significa o fim,
significa uma suspensão. O espírito fica, o espírito
de solidariedade, o espírito de fraternidade,
o espírito serviço e fica também a gratidão
a todos os voluntários que, por todo o país, se
moveram e estavam prontos para o arranque.
Depois de ultrapassada esta fase difícil da vida,
que todos nós vivemos, cá estaremos para o ano
que vem, em 2021, para o novo Pirilampo Mágico
para com ele prosseguir aquilo que foi, em
boa hora, lançado a pensar no que mais sofrem,
nos que mais precisam, nos mais carenciadas
e que estão sempre no nosso pensamento, por
maioria de razão, no momento em que tantos
de nós sofrem, morrem ou vivem confinados na
esperança de um futuro melhor.
120 | REVISTA FENACERCI 2020
A Razão de Ser de um
Adiamento Inevitável
É importante no momento presente deixar uma
mensagem a propósito de não podermos desenvolver
a Campanha deste ano do Pirilampo Mágico.
É uma situação triste, como é óbvio, até porque
a Campanha já faz parte do nosso cotidiano
do mês de maio, mas podemos pensar de uma
forma mais positiva! Temos um ano excecional,
com todos os desafios que a Covid 19 nos trouxe e
temos acima de tudo que apostar neste momento
naquilo que é essencial: salvar vidas, apoiar as pessoas
e estarmos todos muito atentos a este perigo
imenso e invisível que é a Covid. Portanto, aquilo
que fizemos não foi deixar de fazer a Campanha,
foi transportá-la para mais tarde na certeza abso-
Rogério Cação
Vice Presidente do Conselho de Administração
da FENACERCI
luta que, com a colaboração de todos, iremos ter
uma Campanha Pirilampo Mágico que vai exceder
todas as expetativas. Assim, fica uma mensagem
de apoio, de esperança por parte daqueles que
acreditam que nestas situações, por vezes, temos
de fazer aquilo que não esperávamos e que não estava
nos nossos planos como seja adiar a Campanha.
Mas se é preciso então vamos fazê-lo! Vamos
fazê-lo na certeza absoluta que vamos conseguir e
que para o ano que vem vamos ter uma Campanha
muito mais apelativa e participada!
REVISTA FENACERCI 2020 |
121
ATÉ JÁ PIRILAMPO
O Pirilampo,
a COVID 19
e o Futuro
FENACERCI
A COVID 19 trouxe-nos uma série de problemas
mas também nos coloca múltiplos desafios.
Na realidade, por muito otimistas que sejam
as perspetivas, nada vai ser como dantes. As
relações sociais estão prejudicadas pela desconfiança,
os impactos no emprego vão fazer
aumentar as bolsas de pobreza, a necessidade
de acautelar situações futuro irá impor novas
regras no modelo de funcionamento das organizações
e o próprio paradigma de apoio aos
grupos vulneráveis, consubstanciado num conjunto
de respostas que todos conhecemos, irá
certamente ser posto em causa nos próximos
tempos. Na realidade, uma das coisas boas que
a pandemia nos legou foi expor as nossas fragilidades,
quer as das organizações, quer as dos
sistemas de saúde e segurança social. E vamos
ter que repensar, nalguns casos de reconstruir
os nossos modelos de apoio.
O discurso político europeu e mundial que contesta
aquilo que chamam soluções institucionalizantes
recrudesceu nos últimos tempos. O
problema é que misturam numa mesma análise
soluções que são completamente distintas. A
título de exemplo, na linha daquilo que parece
ser o pensamento europeu, as nossas organi-
zações não têm nada de institucionalizantes.
Temos estruturas completamente abertas à
comunidade e em interação constante com ela,
abraçamos tudo o que é inovação e desenvolvimento
no capítulo do cumprimento dos direitos
das pessoas com deficiência e suas famílias
e temos até a possibilidade de as pessoas com
deficiência participarem na gestão das próprias
organizações. Mas a verdade é que, se a moda
da desinstitucionalização sem regra pega, como
alguns políticos parecem defender, quem irá
pagar a fatura são obviamente as pessoas com
deficiência e as suas famílias.
E certamente que o Pirilampo Mágico 2021 não
deixará de trazer consigo estas duas mensagens:
por um lado, os grandes desafios que a
pandemia nos deixou em mãos, ainda por cima
sem que haja um fim à vista e, por outro a grande
reflexão que tem que ser feita ao nível dos
paradigmas que suportam o modelo de apoio à
pessoa com deficiência e sua família. O grande
conselho que o Pirilampo nos pode deixar é
que, se nos mantivermos unidos, cooperantes e
informados como aconteceu nestes tempos de
pandemia, não haverá desafio que não consigamos
ultrapassar.
122 | REVISTA FENACERCI 2020
O Pirilampo
e o Dia do Coração
Apontamento da
parceria com a Fundação
Portuguesa de Cardiologia
As doenças cardiovasculares constituem a principal
causa de morte não só em Portugal, como
em todo o mundo. Sendo doenças da civilização,
resultam essencialmente de estilos de vida não
saudáveis, pelo que são altamente evitáveis.
Na verdade, cometemos muitos erros e excessos
alimentares, consumindo maioritariamente gorduras
saturadas e hidratos de carbono refinados e
esquecendo os alimentos mais saudáveis ricos em
fibra vegetal, as gorduras polinsaturadas, como a
gordura do peixe e os óleos vegetais, e ainda as
gorduras monoinsaturadas, em que se destaca o
azeite. Lamentavelmente, a alimentação portuguesa
tem-se tornado cada vez mais desequilibrada
e vindo a afastar-se progressivamente da tradicional
e saudável alimentação mediterrânica. É
notório que a nossa juventude está a comer cada
vez mais fast-food, alimentação demasiado rica
em gordura saturada, sal, açúcar e calorias, prejudicial
para a saúde. Por outro lado, comemos cada
vez menos cereais integrais, vegetais e fruta, ou
seja, alimentos ricos em hidratos de carbono complexos,
fibras vegetais, vitaminas e antioxidantes.
A inatividade física é outra das mais importantes
causas de doença e de morte no mundo moderno.
O exercício físico tem um valor enorme na
promoção da saúde e na prevenção da doença,
em particular das doenças cardiovasculares. A
atividade física regular ajuda a controlar o peso,
aumenta a saúde do aparelho cardiovascular, dos
pulmões e do aparelho músculo-esquelético. Está
também provado que a atividade física melhora a
saúde cerebral e aumenta a longevidade.
No entanto, os portugueses são o povo da União
Europeia que se destaca em todos os inquéritos
por ser aquele que menos atividade física pratica,
talvez porque ainda não assumiu verdadeiramente
a forte relação que existe entre o exercício, a
Prof. Doutor Manuel Oliveira Carrageta
Presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia
saúde e o bem-estar. Infelizmente, passamos os
dias fisicamente inativos, sentados quer durante
o trabalho quer nos períodos de lazer, geralmente
junto à televisão ou ao computador, despendendo
uma quantidade mínima de energia.
Por tudo isto, a obesidade está em verdadeira expansão,
- atingindo crianças e adolescentes – pelo
que é necessário educar as populações para a necessidade
de controlo do excesso de peso, o que
se está a tornar um dos mais importantes problemas
de saúde, não só em Portugal como em todo
o mundo.
Os livros abrem novos mundos a crianças e adultos,
podendo ser fontes de inspiração e de motivação,
neste caso para ajudar a ter um coração
saudável. Livros que encorajem hábitos de vida
saudáveis às nossas crianças são extremamente
importantes e bem-vindos.
Um dos maiores desafios que os pais enfrentam é
levar as crianças a ter uma alimentação saudável,
rica em vegetais e alimentos ricos em nutrientes.
Também o exercício físico deve ser estimulado
desde tenra idade para se estruturar como um
hábito, particularmente nos nossos dias em que
as crianças estão frequentemente imersas em jogos
de computador e vídeos.
A publicação “Coração Bom e Bom Coração” vem
pois, em boa hora, muito bem escrita e com conceitos
modernos e corretos sobre estilos de vida
saudáveis e prevenção da doença, que em muito
contribuirá para a saúde das nossas crianças. Por
isso, recomendo a leitura desta publicação, que é
excelente.
REVISTA FENACERCI 2020 |
123
ATÉ JÁ PIRILAMPO
BREVEMENTE DISPONÍVEL
PARA VENDA
124 | REVISTA FENACERCI 2020
Um Livro que nos fala do e ao
coração. Um estímulo à leitura
e um contributo para as CERCI
REVISTA FENACERCI 2020 |
125
ATÉ JÁ PIRILAMPO
Que saudades, ter que esperar para o ano....
Graciete Domingues Gonçalves
Também espero uma super campanha em
2021. O Pirilampo está “vivo” e recomenda-
-se. ........todos contamos com ele.
Vicente Oliveira
Tenham em conta a sugestão/pedido dos
vossos seguidores incluindo eu, que apenas
pedimos que em 2021 vendam 2 pirilampos
mágicos, o de 2020 e o de 2021. Tenho a
coleção toda e tal como muitos seguidores
não queremos ter um espaço vazio na
coleção. Têm sido muitos os comentários
nas vossas publicações a pedir que hajam 2
pirilampos no próximo ano, o de 2020 não
pode faltar, especialmente pelo ano que
está a ser. Felicidades.
Ana Dias
Que pena. É compreensível. Tenho os
pirilampos todos e agora vai ficar este ano a
faltar
Patrícia Rodrigues
Nos tempos que correm a venda dos pirilampos
e outro merchandising online seria uma
excelente opção. Houve um ano que a minha
patuda destruiu o pirilampo, penso que foi o
de 2018, quando a campanha tinha terminado
e fiquei com a esperança de que o venderiam
online...mas não passou disso...de esperança...
Seria possivelmente uma boa aposta da
FENACERCI. Bem hajam a todos
Cláudia Pinho
Ficamos a espera duma super e mega
campanha 2021...
Pedro Pereira
Felicidades fica para o ano.
Maria Carmo Salvador
Compro sempre, gostava que fosse azul a cor
do planeta. Um abraço mágico... até 2021.
Zé Tó Manata
Aguardo ansiosamente
Nídia Fernandes
Eu não concordo de não haver este ano o
pirilampo , não dá para fazer mais tarde
2021 podia ser um arco íris
Mamie Brunk
Tiago Henrique
É pena este ano não haver pirilampo seria
uma boa ajuda e para além disso ficaria
uma recordação interessante do covid se o
pirilampo tivesse máscara. Isto porque faço
coleção e não percebo mesmo o porquê de
não existir pirilampo este ano.
Joana Coelho
Vou sentir a falta deste amigo este ano
mas a vossa decisão foi a melhor e a
mais sensata protejam-se!
Marta Deus
Oh... Façam na mesma deste ano para quem
quiser comprar o de 2020 e 2021. Estamos
a fazer coleção.
Vanessa Guerra
126 | REVISTA FENACERCI 2020
PUB
ATÉ JÁ PIRILAMPO
Pedro Leitão
CEO do Banco Montepio
Pela primeira vez em 34 anos o Pirilampo Mágico,
uma das mais emblemáticas campanhas de
solidariedade social no país, não vai sair à rua. A
pandemia da COVID-19 adiou a campanha, mas
o espírito solidário, os valores de entreajuda, do
respeito e da inclusão, não se apagam.
O Banco Montepio continua a apoiar esta causa,
como tem feito desde 2017, para que o Pirilampo
continue a levar esperança, a simbolizar a inclusão
e a fazer a diferença na vida das pessoas
com deficiência intelectual.
Comprometido com estes valores da sustentabilidade
e responsabilidade social, mas também
económica, o Banco Montepio continuou
próximo mesmo na adversidade trazida pela
pandemia. Mantivemos as portas abertas e os
profissionais na linha da frente, nas comunidades
estamos inseridos, para entregar a mesma
missão de sempre: estar perto das famílias, das
empresas e das instituições da economia social
e apoiá-las.
De portas abertas a par com a aceleração digital,
porque no Banco Montepio tradição e inovação
complementam-se.
Desde o início da quarentena, o Banco Montepio
inovou, agilizou e foi pioneiro. Implementou
o processo de adesão a moratórias de forma
100% digital - através de quatro passos simples
e confirmação por SMS -, desenvolveu o processo
de atualização de dados de cliente por via
digital e foi o 1º banco a lançar a abertura de
conta 100% digital para empresas. E materializando
o seu compromisso com a solidariedade,
criou a Conta Acordo, uma facilidade de descoberto
dedicada às entidades da economia social.
É assim há 176 anos. As pessoas antes de tudo
e a confiança de que, ao nosso lado, há sempre
um recomeço.
Também o Pirilampo voltará a voar. Esperança
e confiança!
128 | REVISTA FENACERCI 2020
© DR
BREVES
BREVES
O Impacto
da Dança
na Qualidade
de Vida
Em novembro de 2018 iniciámos uma parceria com a Escola
de Dança Dancespot. A atividade de dança é de suma
importância na área da inclusão pois a sua prática promove
a reeducação motora e mental (Santos Rebelo 2014).
Esta atividade ocorre uma vez por semana durante uma
hora, e pode-se observar o impacto da atividade na qualidade
de vida dos clientes. A dança capacita cada praticante
com uma consciência de grupo e uma liberdade individual
facilitadora de inclusão social.
Uma Experiência
Enriquecedora
Neves
Há dois anos iniciámos na Associação na qual colaboro
- Avante 3 – Associação para a Promoção de Pessoas
com Deficiência Intelectual (https://www.avante3.org/),
um belo projeto de intercâmbio, inserido no
Programa de intercâmbio Erasmus. Nós nunca tínhamos
realizado intercâmbios com pessoas com deficiência
na organização, e desde logo, considerei esta oportunidade
um enorme desafio. Entrámos em contacto
com a FENACERCI e tivemos a sorte de desenvolver e
disfrutar de dois intercâmbios, um na zona da Nazaré e
outro na zona de Lisboa.
A experiência foi magnífica. Em primeiro lugar, o relacionamento
com os participantes portugueses foi muito
bom. Os meninos fizeram amigos que mantiveram a
comunicação entre eles, e os monitores proporcionaram-nos
duas estadias muito agradáveis. As atividades
em Portugal e Madrid foram experiências de vida muito
enriquecedoras. Conhecer novas pessoas que apreciam
o que visitamos e com quem nos sentimos à vontade é
muito importante. Por outro lado, o facto de os participantes
viverem uma semana longe da sua família e país,
tomando decisões diferentes e vivendo fortes experiências
pessoais, constituiu-se uma experiência muito
positiva para todos eles. Eu recomendo que todos
vivenciem uma experiência como esta. Estamos felizes
em ter participado e repetiremos o mais breve possível.
Um Forte Abraço.
TESTEMUNHOS
“Gosto muito da Dança, a professora é porreirinha e
gostava de ter mais aulas. São aulas muito divertidas
e aprendo técnicas de dança. Também fazemos espetáculos,
o que gosto muito”
Sónia B.
“É uma atividade que me acalma. Quando danço sinto-me
tranquila, ou seja, quando danço acalmo-me. É
uma atividade de grupo interativa, temos todos que
saber o que fazer. Às vezes enganamo-nos e é divertido,
depois procuramos fazer melhor os movimentos,
concentramo-nos”
Helena S. S
132 | REVISTA FENACERCI 2020
3º Encontro
de Atletismo
da CERCIAMA
Sandra R.
Construindo
Sorrisos!
A CERCIBEJA recebeu uma proposta de parceria da
Novaclínica, pela mão da Dra. Heloísa Alves, no sentido
de proporcionar os seus serviços ao nível da saúde
oral aos nossos clientes e também aos familiares e
colaboradores da CERCIBEJA. Esta parceria foi muito
bem-vinda e abraçámos este gesto solidário, pois desta
forma, os nossos clientes conseguem ter melhores
condições de saúde, recebendo os tratamentos e cuidados
necessários atempadamente e a um custo bastante
acessível. Graças a esta iniciativa, já com cerca de
dois anos de existência, podemos dar continuidade à
nossa Missão, não esquecendo que Juntos Construímos
Felicidade!
Os Encontros InterCentros visam proporcionar atividades
desportivas a toda a população das instituições
que trabalham com pessoas com deficiência. Com o seu
cariz lúdico-recreativo todos cabem nestas ações!
No dia 29 de janeiro de 2020, a CERCIAMA organizou
a sua 3ª prova de Atletismo em parceria com o Regimento
Lanceiros 2. As instalações do Regimento serviram
de palco para diferentes modalidades de Atletismo,
entre elas o salto em comprimento, o lançamento do
peso, a corrida de barreiras, o lançamento do dardo, a
corrida de velocidade, a corrida de estafetas, e a corrida
de cadeira de rodas.
Houve ainda uma demonstração cinotécnica que muito
agradou a todos os participantes.
Esta divertida manhã contou com a presença de dezassete
instituições com um total de cerca de duzentos
clientes e cinquenta técnicos.
“Estava tudo bonito e bem feito. Gostei muito dos
Um momento sem dúvida a repetir!
REVISTA FENACERCI 2020 |
133
BREVES
Em 2018 a CERCIFEL, iniciou um Projeto que denominou
Espaço Família e Comunidade, procurando levar ao conhecimento
geral as vivências da Pessoa com deficiência e
incapacidades, interagindo com as famílias e comunidade
através de ações de formação, encontros e seminários.
No passado dia 13 de dezembro de 2019, a CERCIFEL promoveu
o Seminário “NÓS E A (D) EFICIÊNCIA”.
Este seminário foi aberto aos profissionais de Serviço Social,
Psicologia, Advocacia, Professores, outros intervenientes
sociais, Famílias e Comunidade em geral e dirigido
a todos os interessados no âmbito da Deficiência, Idosos e
outras Incapacidades.
Em especial, neste seminário, procurou-se refletir sobre
diversos temas abrangentes, mas dando especial enfoque
ao Guia Prático “os Direitos das Pessoas com Deficiência
em Portugal”; 10 Anos da Convenção dos Direitos das Pessoas
com Deficiência; O Regime do Maior Acompanhado e
o Estatuto do Cuidador Informal.
Deste modo, objetivamente procurou-se promover a reflexão
sobre os instrumentos e ferramentas dirigidas às
Pessoas com Deficiência e Dependência, partilhar experiências,
orientações práticas e normativas, valorizar a
Pessoa nas suas Capacidades, conhecer as novas abordagens
dos direitos das pessoas com capacidades diminuídas
e, também celebrar e dar maior visibilidade ao Dia
Mundial da Pessoa com Deficiência.
O Dr. Joaquim Correia Gomes, Juiz Desembargador no
Tribunal da Relação do Porto, veio partilhar com os participantes,
conhecimentos sobre o regime do Maior Acompanhado
à luz da Convenção sobre os Direitos das Pessoas
com Deficiência, dando especial tónica aos conceitos de
constituição, constitucionalismo, deficiência, direitos fundamentais,
direitos humanos e incapacidade.
A Dra. Fátima Alves, Diretora de Serviços da Unidade de Investigação,
Formação e Desenvolvimento do INR, fez a sua
apresentação sobre os 10 Anos sobre da Convenção dos
Direitos das Pessoas com Deficiência. A Oradora, na sua
apresentação, fez o ponto de situação sobre os Direitos
das Pessoas com Deficiência à luz da referida Convenção.
A Dra. Marina Van Zeller, Vice-Presidente do INR – Instituto
Nacional para a Reabilitação, IP, falou-nos sobre o
recente Guia Prático “Os Direitos das Pessoas com Deficiência
em Portugal”, a sua importância enquanto instrumento/ferramenta
de apoio à garantia do acesso aos Direitos
das Pessoas com Deficiência, apresentando o Guia
como um instrumento de apoio fundamental à INCLUSÃO
plena da Pessoa com Deficiência.
Por fim, a Dra. Liliana Gonçalves, da Associação Nacional
dos Cuidadores Informais, falou sobre o recentemente
aprovado Estatuto do Cuidador Informal. O ponto de
situação atual, em termos de implementação, próximos
passos com vista à sua regulamentação e a importância/
reconhecimento do papel do Cuidador Informal.
Este seminário, contou com a presença de 123 participantes
oriundos de diversas localizações bem díspares, (Cinfães,
Santo Tirso, Lousada, Paços de Ferreira, Amarante,
Chaves), além, obviamente do Concelho de Felgueiras. Os
participantes consideraram ter sido um dia de reflexão
e partilha de conhecimentos e experiências de grande
mais-valia. Deixaram nota, na sua avaliação, da importância
da realização deste tipo de eventos, propondo a sua
continuidade.
O Seminário “NÓS E A (D) EFICIÊNCIA”, foi organizado
pela CERCIFEL com o apoio do INR através do Programa
de Financiamento a Projetos, e com o apoio e parceria da
Câmara Municipal de Felgueiras.
Teve também o apoio da Casa das Artes de Felgueiras e do
CFAE Sousa Nascente (Centro de Formação de Associação
de Escolas Sousa Nascente).
A Todos o Nosso Obrigado! Até para o Ano!...
134 | REVISTA FENACERCI 2020
ASÚ
Atividades Socialmente
Úteis na Creche
CERCIGAIA
Projeto Mares
Circulares
Um dos grandes objetivos da nossa Creche é integrar nas
atividades/tarefas diárias da Creche, jovens adultos com
deficiência apoiados por outras respostas sociais da CER-
CIGAIA. Em articulação com o Centro de Atividades Ocupacionais
da organização foram estabelecidos protocolos
de atividades socialmente úteis com jovens dessa resposta
social. As atividades socialmente úteis têm como objetivo
proporcionar a valorização pessoal e competências dos
clientes, no sentido de aumentar a sua autonomia. Nesta
atividade, são realizadas diversas tarefas de acordo com as
seguintes áreas de funcionamento da creche: lavandaria,
cozinha, limpeza e arrumação, apoio no transporte, jardinagem
e apoio na alimentação. Cada cliente desempenha
tarefas relacionadas com estas áreas e de acordo com as
suas competências de desempenho.
Para além das atividades socialmente úteis que os clientes
desenvolvem na Creche, realizam e participam em atividades
ocupacionais no CAO que são definidas no seu plano
individual tendo em conta as suas necessidades, gostos e
interesses.
TESTEMUNHOS
Andreia Dias
“O que eu mais gosto de fazer na Creche é dar de comer
aos meninos. Lavo a louça da cozinha e passo os lençóis a
ferro. Gosto de trabalhar na creche”.
Joana Vieira
“Gosto de lavar a louça, pôr a mesa, passar a ferro, dar comida
aos bebés e arrumar a louça. Gosto de estar na creche”.
Cidália
“Gosto de vir para a Creche, gosto de ajudar o Herculano”.
Rui
A Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia colocou o desafio
à CERCIGAIA para participar no Projeto “Mares Circulares”.
No âmbito do projeto, a Liga para a Proteção da
Natureza e a Coca Cola European Partners em articulação
com outras ONG’s desenvolveram um projeto de sensibilização
ambiental sobre a problemática do lixo marinho.
No dia 30 de outubro foi realizada uma ação de sensibilização
para todos os clientes de CAO nas instalações da
CERCIGAIA. A formadora explicou como o lixo chega às
praias, a importância da reciclagem bem como, a separação
correta dos resíduos domésticos e, fundamentalmente,
a importância de um consumo responsável.
Sílvia Gonçalves (Assistente Social)
Foi um momento informativo e de troca de experiências
sobre as boas práticas a ter.
No dia 28 de novembro, após momento de sensibilização,
os clientes participaram na limpeza da Praia de Salgueiros
com bastante entusiasmo e encontraram garrafas, esferovite,
cotonetes e pequenos pedaços de plástico. No fim foi
oferecido a cada cliente uma peça de fruta e um sumo.
Pedro Monteiro (Monitor)
“No dia 26 de Novembro de 2019 fomos à limpeza de praia
em Salgueiros. Foi muito bonito, eu adorei mesmo muito.
Fomos acompanhados pelo nosso monitor Pedro Monteiro
e estava muito frio. Apanhamos muito lixo e no fim
alguns dos meus colegas da CERCIGAIA comeram banana
e outros beberam coca-cola e eu bebi coca-cola. Quem
foi dos clientes, fui eu, o Rui, o Óscar, o José Marques, o
Herculano, a Célia, o José Arménio e o Paulo Jorge. Foi uma
tarde bem divertida.
Vânia Castro” (Cliente)
“Quando vou para a creche passo a ferro, dou de comer
aos bebés e ajudo a por a mesa. Vou para a creche à 4ª e
6ª feira de manha. Gosto muito de trabalhar na creche”.
Manuel Silva
“Gosto de fazer tudo na Creche…. Mas o que mais gosto é
de dar a comida e estar com as crianças nas salas a brincar”
Patrícia
REVISTA FENACERCI 2020 |
135
BREVES
Passeio
ao Buda Éden
No passado dia 15 de abril organizámos uma visita ao
exterior diferente! Planeámos ir ao Buda Éden no Bombarral!
Contámos com o apoio do Município de Alcácer
do Sal para o transporte e lá fomos nós passear. No
jardim, vimos estátuas enormes a representar vários
países, lagos, árvores, animais e plantas das mais diversas!
Para os clientes foi um momento de conhecimento,
mas também de surpresa, pois não contavam encontrar
obras tão majestosas. Foi um momento partilhado por
clientes dependentes e autónomos com grande satisfação
e com o sentimento de querer voltar de novo ao
Bombarral!
Mara Pedro
Terapeuta Ocupacional do CAO
Filipa Mateus
Psicóloga do CAO
Casa 4 Patas
visita
CERCIGRÂNDOLA
Foi com surpresa e agrado que os clientes da CERCI-
GRÂNDOLA receberam os animais da Casa4Patas no
dia 5 de Junho! Este é um serviço que se responsabiliza
pela recolha dos animais do Município de Grândola,
mas também, por ações de sensibilização e de educação,
com vista à redução do abandono de animais e na
adoção responsável. Ainda que não seja considerado
um momento de terapia com animais, este contato com
os mesmos, potencia a capacidade empática na troca
dos afetos, o desenvolvimento de sentimentos positivos
(bem estar e conforto), a promoção do conceito de
responsabilidade e a estimulação emocional, física e
mental. Foi delicioso ver os clientes a interagirem com
os animais! Eles querem mais!
Agradecemos à equipa da Casa4Patas de Grândola por
nos ter possibilitado esta iniciativa, especialmente à
veterinária Sara Nunes!
Filipa Mateus
Psicóloga do CAO
136 | REVISTA FENACERCI 2020
Cuidar de
Quem Cuida
A CERCIMARANTE é uma das dez entidades parceiras
da Rede Social de Amarante, que integram o Eixo Estratégico
de intervenção Comunidades & Território,
que operacionaliza, no terreno, o Projeto “Cuidar de
Quem Cuida” (CQC), cujo objetivo passa por criar e dar
respostas de apoio especializado junto dos cuidadores
informais, desenvolvido pelo Centro de Assistência Social
à Terceira Idade e Infância (CASTIIS).
Para este efeito, a CERCIMARANTE disponibiliza três
técnicas voluntárias, nomeadamente uma assistente
social, uma psicóloga e uma terapeuta ocupacional.
O Município de Amarante, ciente da importância desta
temática, estabeleceu, assim, um Acordo de Cooperação
com os parceiros da Rede Social de Amarante, com
o intuito de criar respostas ao nível da Saúde, nomeadamente
mental, que permitam melhorar a qualidade
de vida das pessoas dependentes e seus cuidadores.
Para além da CERCIMARANTE, estão ligados a este
projeto, o Agrupamento de Centros de Saúde Tâmega
I - Baixo Tâmega; Associação Desenvolvimento Comunitário
(ADESCO); Associação Emília Conceição Babo;
Associação Humanitária de Santiago; Associação Progredir;
Centro Social e Cultural da Paróquia do Divino
Salvador de Real; Centro Local de Animação e Promoção
Rural (CLAP); O Bem-Estar e a Santa Casa da Misericórdia
de Amarante.
O “Cuidar de Quem Cuida”, que decorre até março
de 2022, tem atualmente como investidores sociais, a
Fundação Calouste Gulbenkian e o Grupo José Mello
Saúde; como cofinanciadores, o Programa Operacional
Inclusão Social e Emprego, o Portugal 2020 e o Fundo
Social Europeu, e como parceiros, o Portugal Inovação
Social, a Administração Central dos Serviços de Saúde e
o CINTESIS - Centro de Investigação em Tecnologias e
Serviços de Saúde da Universidade do Porto.
Aprovada
candidatura
da Estrutura
Residencial Para
Idosos (ERPI)
A Estrutura Residencial Para Idosos (ERPI), da CERCIMA-
RANTE viu a sua candidatura ao “Programa Apoiar”, da
Fundação Altice, ser aprovada, para instalação e equipamento
de uma sala de fisioterapia.
Como explicou a diretora técnica da ERPI, Vera Silva, a
candidatura ao Programa Apoiar teve como pretensão
“dotar um gabinete multiterapêutico, ligado às áreas de
reabilitação e estimulação sensorial, de forma a promover
um envelhecimento ativo e saudável, retardando os efeitos
nefastos decorrentes do processo de envelhecimento”.
Destes serviços irão beneficiar os clientes e os colaboradores
do Lar.
Programa Apoiar
O Programa Apoiar, que vai já na segunda edição, é uma iniciativa
de responsabilidade social da Fundação Altice, que
visa financiar instituições de solidariedade social, no âmbito
do desenvolvimento de projetos para a melhoria das condições
de vida, com especial impacto na inclusão social da
população em situação de carência ou elevada vulnerabilidade.
Nas suas primeiras edições, o Programa Apoiar tem
como principal foco os séniores, tendo em consideração as
vantagens do envelhecimento ativo da população que, nesta
faixa, já soma mais de 2 milhões, em Portugal.
REVISTA FENACERCI 2020 |
137
BREVES
Porque
Desporto
é Inclusão
A prática de atividade física é uma das prioridades da
nossa instituição, onde promovemos muitos momentos
dinâmicos e adequados às capacidades e necessidades
dos nossos alunos. Consideramos extremamente importante,
manter os nossos utentes ativos, e incutir-
-lhes hábitos e estilos de vida saudáveis.
Para desenvolvermos estes objetivos, preconizamos
diariamente, atividades direcionadas às qualidades
próprias de cada individuo, à sua resistência, velocidade,
agilidade, força e flexibilidade, ajustadas às suas
capacidades físicas. As atividades desportivas que praticamos
são as mais diversificadas possíveis, desde a
natação, às modalidades coletivas, Atletismo, Ginástica,
Boccia, Tag Rugby e Corfebol. Contamos também
com a participação de dois grupos equipa no Projeto
de Desporto Escolar, Grupo Equipa de Boccia e Grupo
Equipa de Desporto Adaptado. Disputamos a Liga
de Futebol pela Inclusão e dinamizamos/participamos
nos Jogos do Alto Alentejo que envolvem atividades
desportivas como Minigolfe, Aeróbica Adaptada, Atividades
Aquáticas, Futsal Adaptado, Atletismo Adaptado,
Desporto Aventura, Canoagem e Boccia.
Desenvolvemos um conjunto de atividades desportivas
pontuais, como Orientação, Caminhadas, Trail,
Ski, Peddy Paper, Hidroginástica, Dança, Corta-Mato,
Corridas de Velocidade, Lançamento de Precisão entre
outras.
Porque defendemos o nosso lema: “…porque Desporto
é Inclusão”!
Luís Silva
Professor de Valência Escolar
138 | REVISTA FENACERCI 2020
LISTA DE
ASSOCIADAS
LISTA DE ASSOCIADAS
ACIP
Rua da Ribeira, Ed. Fonte - Loja C, E e F
4770-207 Joane
Tel: 252 928 610 / Fax: 252 928 608
acip.geral@gmail.com
www.acip.com.pt
www.facebook.com/acip.cooperativa
C.E.C.D. Mira Sintra
Av. 25 de Abril, 190
2735-418 Cacém
Tel: 219 188 560 / Fax: 219 188 579
geral@cecdmirasintra.org
www.cecdmirasintra.org
www.facebook.com/cecd.mirasintra
CEE RAINHA DONA LEONOR
Rua Maria Ernestina Martins Pereira, nº 37
2500-234 Caldas da Rainha
Tel: 262 837 160 / Fax: 262 837 161
ceerdl.administrativo@ceerdl.org
www.ceerdl.org
CERCIAG
Raso de Paredes
3750-316 Águeda
Tel: 234 612 020 / Fax: 234 612 022
cerciag@cerciag.pt
www.cerciag.pt
www.facebook.com/cerciag.pt
CERCIAMA
Rua Mestre Roque Gameiro, nº 12
2700-578 Amadora
Tel: 214 986 830 / Fax: 214 986 838
geral@cerciama.pt
www.cerciama.pt
www.facebook.com/cerciama.pt
CERCIAV
Rua do Aires, 53-57
S. Bernardo
3810-205 Aveiro
Tel: 234 390 980 / Fax: 234 350 039
sede@cerciav.pt
www.cerciav.pt
CERCIBEJA
Quinta dos Britos
Apartado 6115
7801-908 Beja
Tel: 284 311 390 / Fax: 284 311 399
geral@cercibeja.org.pt
www.cercibeja.org.pt
www.facebook.com/cercibeja.crl
CERCI Braga
Rua Dr. Domingos Soares, 25
4710-670 Navarra
Tel: 253 248 592
info@cercibraga.pt
www.cercibraga.pt
www.facebook.com/CERCIBraga.pt
CERCICA
Rua Principal, 320
Livramento
2765-383 Estoril
Tel: 214 658 590 / Fax: 214 661 307
cercica@cercica.pt
www.cercica.pt
www.facebook.com/CERCICASCAIS
CERCICAPER
Dordio, Variante do Troviscal
3280-050 Castanheira de Pêra
Tel: 236 434 227 / Fax: 236 434 225
cercicaper@sapo.pt
www.cercicaper.pt
www.facebook.com/cercicaper.ipss/
CERCICHAVES
Antigo Jardim de Infância Santa Cruz
Rua Inácio Pizarro
5400-693 Chaves
T.M. 915 720 804
cercichaves@gmail.com
http://cercichaves.wixsite.com/cercichaves2016
https://pt-pt.facebook.com/people/Cerci-
-Chaves/100015224535044
CERCICOA
Estrada de S. Barnabé, nº 28
7700-015 Almodôvar
Tel: 286 660 040 / Fax: 286 660 049
cercicoa.dir@gmail.com
www.cercicoa.pt
https://www.facebook.com/cercicoa.
almodovar
CERCIDIANA
Quinta do Feijão ao Espinheiro
Apartado 92
7002-502 Évora
Tel: 266 759 530 / Fax: 266 751 964
cercidianadireccao@gmail.com
http://cercidianaevora.wixsite.com/cercidiana
https://pt-br.facebook.com/Cercidiana-%-
C3%89vora-1833702023543265
CERCIESPINHO
Rua de S. Martinho e Rua 25 de Abril
Apartado 177
Anta
4501-909 Espinho
Tel: 227 319 061 / Fax: 227 348 588
cerciespinho@cerciespinho.org.pt
www.cerciespinho.org.pt
http://pt-pt.facebook.com/cerci.espinho
CERCIESTREMOZ
Quinta de Santo Antão
Apartado 108
7101-909 Estremoz
Tel: 268 105 258
cerciestremoz@gmail.com
www.cerciestremoz.pt
www.facebook.com/cerciestremoz.crl
CERCIFAF
Rua 9 de Dezembro, 99
4820-161 Fafe
Tel: 253 490 830 / Fax: 253 490 839
geral@cercifaf.pt
www.cercifaf.pt
www.facebook.com/cercifaf
CERCIFEIRA
Rua Dr. Santos Carneiro, 4
4520-221 Santa Maria da Feira
Tel: 256 374 472 / Fax: 256 375 535
cercifeira@sapo.pt
www.cercifeira.pt
CERCIFEL
Rua do Padre João, nº 5
4650-747 Felgueiras – Varziela
Tel: 255 336 417 / Fax: 255 336 417
geral@cercifel.org.pt
www.cercifel.org.pt
https://pt-pt.facebook.com/Cercifel-
-Cooperativa-de-Solidariedade-Social-
-CRL-252904978116708
CERCI FLOR DA VIDA
Quinta das Rosas, 2050-369 Azambuja
Tel: 263 409 320
geral.flordavida@mail.telepac.pt
www.cerciflordavida.pt
https://pt-pt.facebook.com/cerciflordavida
CERCIFOZ
Rua Rogério Reynauld, nº 20 - Loja 22, Buarcos
3080-251 Figueira da Foz
Tel: 233 429 595
cerci.foz@sapo.pt
http://cercifoz.org/
https://www.facebook.com/cercifoz?fref=ts
CERCIG
Parque da Saúde da Guarda
6300-777 Guarda
Tel: 271 212 739 / Fax: 271 210 064
secretaria@cercig.org.pt
www.cercig.org.pt
https://pt-pt.facebook.com/cerciguarda
CERCIGAIA
Rua Escola de S. Paio, 211
4400-442 Vila Nova de Gaia
Tel: 227 819 268 / Fax: 227 819 269
cercigaia@cercigaia.org.pt
http://cercigaia.weebly.com/
https://www.facebook.com/Cercigaia/
CERCIGRÂNDOLA
Rua Vitor Manuel Ribeiro da Rocha
7570-256 Grândola
Tel: 269 451 552 / Fax: 269 442 505
cercicrl@netvisao.pt
www.cercigrandola.org
www.facebook.com/cercigrandola
CERCIGUI
Rua Raul Brandão, 195
4810-282 Guimarães
Tel: 253 423 370 / Fax: 253 423 379
cercigui@cercigui.pt
www.cercigui.pt
www.facebook.com/Cercigui/
CERCILAMAS
Rua do Auditório, nº 125
4535-576 Santa Maria de Lamas
Tel: 227 442 478 / Fax: 227 460 085
cercilamas@sapo.pt
www.cerci-lamas.org.pt
www.facebook.com/cercilamas
CERCILEI
Estrada das Moitas Altas, 279, Pinheiros
2401-976 Leiria
Tel: 244 850 970 / Fax: 244 850 971
geral@cercilei.pt
www.cercilei.pt
www.facebook.com/cooperativa.leiria
140 | REVISTA FENACERCI 2020
CERCI
Av. Avelino Teixeira da Mota, Lote E
1950-035 Lisboa
Tel: 218 391 700 / Fax: 211 954 667
geral@cercilisboa.org.pt
www.cercilisboa.org.pt
https://www.facebook.com/Cerci-Lisboa-235171093183654/
CERCIMA
Rua D. Nuno Álvares Pereira, nº 141
2870-097 Montijo
Tel: 212 308 510 / Fax: 212 308 511
gestao@cercima.pt
www.cercima.pt
www.facebook.com/cercima.montijo.crl
CERCIMAC
Rua Dr. Henrique José Gonçalves, nº 21
5340-532 Macedo de Cavaleiros
Tel: 278 421 769 / Fax: 278 421 506
cercimac@gmail.com
https://cercimac.pt/
www.facebook.com/cercimac.macedodecavaleiros
CERCIMARANTE
Rua de Guimarães, nº 869, 4600-112 Amarante
Tel: 255 410 930 / Fax: 255 432 788
geral@cercimarante.pt
http://cercimarante.pt
www.facebook.com/Cercimarante
CERCIMB
Rua Grão Vasco, nº 25, 2835-440 Lavradio
Tel: 212 048 340 / Fax: 212 020 224
cercimb.sede@gmail.com
www.cercimb.pt
www.facebook.com/cercimb
CERCIMIRA
Rua do Claros, Cabeças Verdes
3070-504 Seixo de Mira
Tel: 231 489 560 / Fax: 231 489 569
geral@cercimira.pt
www.cercimira.pt
www.facebook.com/cercimira
CERCIMONT
Av. Dom Nuno Álvares Pereira, nº 553
5470-203 Montalegre
Tel: 276 094 067
cercimont@sapo.pt
https://cercimont.wordpress.com/
www.facebook.com/Cercimont-1670893733154448/
CERCIMOR
Crespa da Figueira, 7050-010 Montemor-o-Novo
Tel: 266 899 410 / Fax: 266 899 415
cercimor.crl@gmail.com
www.cercimor.pt
www.facebook.com/cercimor
CERCINA
Caminho Real, Alto Romão
2450-060 Nazaré
Tel: 262 562 595 / Fax: 262 562 596
cercina.secretaria@gmail.com
www.cercina.pt
https://www.facebook.com/CERCI-
NA-182339101825256/
CERCIOEIRAS
Rua 7 de Junho, nº 57, 2730-174 Barcarena
Tel: 214 239 680 / Fax: 214 239 689
geral@cercioeiras.pt
www.cercioeiras.pt
www.facebook.com/CERCIOEI-
RAS-115373211819030/?ref=hl
CERCIPENELA
Av. Infante D. Pedro, n.º 3, 3230-268 Penela
Tel: 239 560 140 / Fax: 239 560 149
cercipenela@cercipenela.org.pt
http://www.cercipenela.org.pt/
https://www.facebook.com/cerci.penela
CERCIPENICHE
Rua Adelino Amaro da Costa
2520-268 Peniche
Tel: 262 780 080 / Fax: 262 789 963
cercipeniche@cercipeniche.pt
www.cercipeniche.pt
www.facebook.com/cercipeniche
CERCIPOM
Av. Heróis do Ultramar, nº 108
3100-462 Pombal
Tel: 236 209 240 / Fax: 236 209 241
geral@cercipom.org.pt
www.cercipom.org.pt
www.facebook.com/Cercipom
CERCIPORTALEGRE
Rua D. Olinda Sardinha
Quinta da Lage
7300-050 Portalegre
Tel: 245 300 730 / Fax: 245 300 731
cerciportalegre@cerciportalegre.pt
https://www.facebook.com/Cerciportalegre-1518311555138062/
CERCIPÓVOA
Rua do Morgado da Póvoa, Lote 1
2ª Fase - Quinta da Piedade
2625-229 Póvoa de Santa Iria
Tel: 219 533 080 / Fax: 219 533 089
geral@cercipovoa.pt
www.cercipovoa.pt
www.facebook.com/cercipovoa.ipss?fref=ts
CERCISA
Rua Eça de Queirós, Miratejo
2855-236 Corroios
Tel: 212 535 660 / Fax: 212 531 280
cercisa.secretaria@gmail.com
http://www.cercisa.pt/
https://pt-pt.facebook.com/cercisa
CERCISIAGO
Rua das Nogueiras
7540-162 Santiago do Cacém
Tel: 269 818 660 / Fax: 269 818 668
cercisiago@gmail.com
www.cercisiago.org.pt
https://pt-pt.facebook.com/cercisiago/
CERCITEJO
Rua da Esperança, nº 6, Bom Sucesso
2615-305 Alverca do Ribatejo
Tel: 219 582 286 / Fax: 219 582 286
geral@cercitejo.org.pt
www.cercitejo.org.pt
https://www.facebook.com/CERCITEJ0/
CERCITOP
Rua Vale de S. Martinho, nº 1
2710-402 Sintra
Tel: 219 100 690 / Fax: 219 100 691
geral@cercitop.org
www.cercitop.org
www.facebook.com/cercitop.oficial
CERCIVAR
Rua da Cercivar
3880-161 Ovar
Tel: 256 579 640 / Fax: 256 572 565
geral@cercivar.pt
www.cercivar.pt
https://pt-pt.facebook.com/Cercivar-418371931599708/
CERCIZIMBRA
Rua dos Casais Ricos, nº1
Sampaio
2970-577 Sesimbra
Tel: 212 681 335 / Fax: 212 682 001
cercizimbra@cercizimbra.pt
www.cercizimbra.org.pt
www.facebook.com/Cercizimbra
CRACEP
Rua Coronel Armando da Silva Maçanita
Coca Maravilhas
8500-383 Portimão
Tel: 282 420 820 / Fax: 282 420 829
geral@cracep.pt
www.cracep.pt
https://www.facebook.com/cracep/
CREACIL
Rua Adão Manuel Ramos Barata, nº 6 a 6 A
1886-058 Moscavide
Tel: 212 468 340
creacil@hotmail.com
http://creacilblog.blogspot.pt/
www.facebook.com/loures.creacil/
CRINABEL
Largo do Conde Barão, 5
1200-118 Lisboa
Tel: 213 943 350 / Fax: 213 943 359
geral@crinabel.pt
www.crinabel.pt
https://pt-pt.facebook.com/CRINABEL
RUMO
Caixa Postal 5063
Rua 19, nº 13
Baía do Tejo
2831-904 Barreiro
Tel: 212 064 920 / Fax: 212 064 921
geral@rumo.org.pt
http://rumo.org.pt/wp/
https://www.facebook.com/Cooperativa.
Rumo/
REVISTA FENACERCI 2020 |
141
LISTA DE ASSOCIADAS
INSTITUIÇÃO
APOIO ATIVIDADES
DOMICILIÁRIO OCUPACIONAIS
CRI
EDUCAÇÃO
ESPECIAL
EMPREGO
PROTEGIDO
FORMAÇÃO INTERVENÇÃO UNIDADE
PROFISSIONAL PRECOCE RESIDENCIAL
OUTRAS
ACIP
CECD
CEERDL
CERCIAG
CERCIAMA
CERCIAV
CERCIBEJA
CERCIBRAGA
CERCICA
CERCICAPER
CERCICHAVES
CERCICOA
CERCIDIANA
CERCIESPINHO
CERCIESTREMOZ
CERCIFAF
CERCIFEIRA
CERCIFEL
CERCI FOR DA VIDA
CERCIFOZ
CERCIG
CERCIGAIA
CERCIGRÂNDOLA
CERCIGUI
CERCILAMAS
CERCILEI
CERCI
CERCIMA
CERCIMAC
CERCIMARANTE
CERCIMB
CERCIMIRA
CERCIMONT
CERCIMOR
CERCINA
CERCIOEIRAS
CERCIPENELA
CERCIPENICHE
CERCIPOM
CERCIPORTALEGRE
CERCIPÓVOA
CERCISA
CERCISIAGO
CERCITEJO
CERCITOP
CERCIVAR
CERCIZIMBRA
CRACEP
CREACIL
CRINABEL
RUMO
142 | REVISTA FENACERCI 2020
INSTITUIÇÃO
OUTRAS
ACIP
CECD
CEERDL
CERCIAG
Gabinete de Inserção Profissional; Atendimento e Acompanhamento Social; Rendimento Social de Inserção e Serviços Terapêuticos; Centro de Recursos Local do IEFP
Clinica de Medicina e Reabilitação
Residência Autónoma; Forum Socio Ocupacional; Centro de Atendimento, Acompanhamento da Pessoa com Deficiência
Centro de Recursos do Centro de Emprego de Agueda; Casa de Abrigo para Mulheres Vitimas de Violência com Deficiência e/u Incapacidade
CERCIAMA –
CERCIAV
Rendimento Social de Inserção; Centro de Recursos
CERCIBEJA –
CERCIBRAGA –
CERCICA
CERCICAPER
CERCICHAVES
CERCICOA
ATL Especializado; CERMOV; Editora Gráfica; CER Garden; CER Jardim; CER Plant - Centro de Recursos do Centro de Emprego; GIP-Gabinete de Inserção Profissional
Centro de Acolhimento Temporário para Crianças e Jovens em Risco
Atividades de Tempos Livres; Integração Social e Emprego; Alojamento Apoiado e Vida Independente; Acompanhamento à Familia
Centro de Recursos Local; Residência Autónoma; Serviço de Atribuição de Produtos de Apoio; CAVI
CERCIDIANA –
CERCIESPINHO
CERCIESTREMOZ
CERCIFAF
CERCIFEIRA
Residência Autónoma; Centro Comunitário da Ponte de Anta; Contrato Local e Desenvolvimento Social; Centro de Recursos do IEFP; Oficinas de Produção; Serviço de Cedência de
Produtos de Apoio; Banco de Alimentos e Recursos; Serviços e Atividades Complementares; CAVI
Centro de Recurso Local
Centro de Recursos Local (IEFP); Serviço de Atendimento e Apoio Social
Jardim de Infância; ATL e Creche
CERCIFEL –
CERCI F.VIDA –
CERCIFOZ –
CERCIG
CERCIGAIA
Centro de Atividades de Tempos Livres; Residência Autónoma; Lar Residencial; RSI; Unidade Residencial de Apoio à Formação Profissional
Creche
CERCIGRÂNDOLA –
CERCIGUI –
CERCILAMAS
CERCILEI
CERCI
CERCIMA
Rendimento Social de Inserção
Empresa de Jardinagem e Lavandaria
CAARPD; Centro de Recursos IEFP
Centro Comunitário; Residência Autónoma
CERCIMAC –
CERCIMARANTE
Centro de Apoio Familiar e Aconselhamento Parental; Estrutura Residencial para Idosos; Lar Residencial
CERCIMB –
CERCIMIRA –
CERCIMONT –
CERCIMOR
CERCINA
CERCIOEIRAS
CERCIPENELA
CERCIPENICHE
CERCIPOM
Centro de Apoio Familiar e Aconselhamento Parental; Centro de Recursos Local
Centro Qualifica; Centro de Atividades Aquáticas Adaptadas do Oeste; CAET; Erasmus +; Residência Autónoma
Banco de Equipamentos e Tecnologias de Apoio; AAAF - Atividades de Animação_Apoio à Familia
Centro de Recursos para o IEFP
Centro de Recursos IEFP; Serviço de Intervenção Terapêutica
Centro de Formação Profissional
CERCIPORTALEGRE –
CERCIPÓVOA
ATL
CERCISA –
CERCISIAGO
CERCITEJO
CERCITOP
Residência Autónoma; Centro de Recursos Local
Espaço Tejo Saúde - Nucleo de Apoio Terapêutico; ATL
Unidades de Cuidados Continuados Integrados; Clinica de Reabilitação; Cantina SociaL
CERCIVAR –
CERCIZIMBRA
Creche e Pré-Escolar; Centro de Animação para a Infância; Apoio aos Beneficiários do Rendimento Social e Inserção
CRACEP –
CREACIL –
CRINABEL –
RUMO
Formação de Técnicos; Programa Empreendedorismo Imigrante; Rede para a Empregabilidade Barreiro/Moita; Projeto Escolhas; Projeto Sem Abrigo e Vítimas de Violência
REVISTA FENACERCI 2020 |
143
PONTO
FINAL
E pronto. Mais uma edição que se fecha onde, como
não poderia deixar de ser, voltaremos a ficar com a
sensação de ter ficado muito por dizer. Mas fizemos o
nosso melhor e esperamos pela vossa avaliação. Não
saiu em maio, como de costume, mas esperemos que
provem nela o mesmo espírito solidário que sempre
presidiu à nossa, e também vossa, revista. Queremos
obviamente agradecer a todos quantos, na qualidade de
patrocinadores ou autores, nos ajudaram a levar esta
tarefa até ao fim. E agora sim: é mesmo ponto final.
© DR
PUB