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Revista Fenacerci 2020

A FENACERCI disponibiliza a 27º Edição da Revista FENACERCI.

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EDITORIAL

Rogério Cação

Vice-Presidente

do Conselho de

Administração da

FENACERCI

Esta edição acontece num tempo particularmente difícil,

que nos fez alterar rotinas e repensar atitudes. A pandemia

com que ainda nos confrontamos veio pôr à prova

a nossa capacidade de resiliência perante um inimigo

poderoso e desconhecido, que punha particularmente

em causa a segurança dos mais frágeis. Mas fomos capazes

de resistir e, porque a vida continua, cá estamos

com mais uma Revista FENACERCI, onde mostramos um

pouco do que somos e do que sabemos, sempre com o

objetivo de, pela partilha de informações, opiniões e experiências,

podermos fazer mais e melhor.

Curiosamente, o tema da edição deste ano, escolhido

ainda quando a COVID 19 não se manifestava por aqui, já

era a Saúde. E daí contarmos com testemunhos de vários

profissionais conceituados, em domínios que temos necessidade

de conhecer e trabalhar melhor. Abordamos a

nutrição, a saúde oral, a problemática da dor ou a saúde

mental, temáticas que têm um interesse prático evidente,

dada a natureza da ação que desenvolvemos.

Este ano, por razões óbvias, não tivemos a Campanha

Pirilampo Mágico. As exigências de confinamento e as

regras de distanciamento e isolamento social propostas

pelas autoridades sanitárias, não eram compagináveis

com uma iniciativa que vive do contacto com as pessoas,

que faz da solidariedade uma festa de abraços. Mas cá

estaremos para o ano, com redobrada energia e acrescentada

solidariedade.

Não temos dúvidas que iremos sofrer grandes impactos

da situação que vivemos. Quer ao nível da sustentabilidade

das organizações e das famílias, quer ao nível dos

modelos de funcionamento organizacional, quer até ao

nível do quadro relacional com a comunidade. Vamos

ter de gerir fragilidades e inseguranças, e transformar

receios em esperança. E para isso, vamos necessitar de

todo o capital de solidariedade que conseguirmos mobilizar.

Nunca, como agora, a coesão fez tanto sentido e

se alguma coisa aprendemos nestes tempos difíceis que

atravessamos, é que juntos somos mais fortes.

É por isso que esta Revista pretende também ser uma

homenagem especial a todos os que nas nossas organizações,

deram um exemplo de profissionalismo e entrega,

de resiliência e coragem, de capacidade decisória

e bom-senso. Aos profissionais, que na sua esmagadora

maioria mostraram uma disponibilidade imensa para

adaptarem as suas funções às necessidades, fazendo

questão de estar na linha da frente; às famílias, que souberam

assumir uma atitude colaborante e responsável,

facilitando o trabalho das organizações; aos clientes

pelo exemplo de compreensão e civismo que sempre

souberam dar, aos dirigentes pela forma como souberam

reagir a uma situação adversa e inesperada.

Também nós, na FENACERCI, temos razão para estar

orgulhosos. A nossa equipa desdobrou-se para acompanhar

as múltiplas frentes onde foi chamada a intervir. E

fê-lo com empenhamento e qualidade. Muito obrigado a

todos e a todas. Juntos conseguimos!

REVISTA FENACERCI 2020 |

1


Ficha Técnica

Diretor: Rogério Cação

Coordenação de Edição: Ana Rita Peralta

Conselho de Administração: Ana Brás, Joaquim Pequicho,

Julieta Sanches, Rogério Cação, Rosa Neto

Apoio Logístico: Lucília Carrondo; Núria Shocron; Jorge

Duarte; Carlos Pires; Vânia Oliveira

Colaboração: ACIP; Alexandra Teles; Alyson Borges; Ananda

Fernandes; Anne Caroline Soares; Ana Mendes Godinho;

Ana Vieira; Andreia Dias; CECD Mira Sintra; CEERDL;

CERCIAG; CERCIAMA; CERCIAV; CERCIBEJA; CERCIBRAGA;

CERCICA; CERCICOA; CERCICAPER; CERCIDIANA;

CERCIESPINHO; CERCIFAF; CERCIGAIA; CERCIFEL;

CERCIGUI; CERCIGRANDOLA; CERCIMA; CERCIMAC;

CERCIMARANTE; CERCIMB; CERCIMONT; CERCINA;

CERCIPENICHE; CERCIOEIRAS; CERCIPORTALEGRE;

CERCITOP; CERCIZIMBRA; Cidália; CRINABEL; Cristina

Araújo; Cristina Pereira; Daniela Silva; Duarte Correia;

Fábio Miguel; Fátima Bizarra; Filipa Guerreiro; Filipa

Mateus; Floriano Jesus; Grupo de Autorrepresentantes

da Agustin Hernandez; Grupo de Autorepresentantes da

CERCIPORTALEGRE; Grupo de Autorrepresentantes do

CERIN; Iguana Garcia; Helena S.; Isabel Fialho; Jesús Lago

Solis; Joaquim Pequicho; Joana Aguiar; Joana Vieira; João

Paulo Albuquerque; Jorge Pereira; José Pedro Vieira; Lena

D´água; Leonor Sasseti; Lígia Gonçalves; Luís Silva; Mafalda

Diniz; Mafalda Malveiro; Manual Oliveira Carranjeta; Manuel

Silva; Mara Pedro; Marcelo Rebelo de Sousa; Maria Clara

Viegas; Maria Cristina Mealha; Maria João Fernandes; Marta

Jorge; Marta Temido; Miguel Blanco; Neves; Norberto

Mourão; Patricia; Paula Graça; Paulo Jorge Monteiro;

Pedro Leitão; Pedro Monteiro; Raquel Alexandre; Rebeca

Cifuentes; Rosa Couto; Rui; RUMO; Sandra R.; Sara Gésero

Neto; Silvia Gonçalves; Sónia B.; Sónia Nunes; Vânia Castro;

Soraia Abreu; Teresa M.; Teresa Ramos; Vasco Araújo

Sede de Redação e do Editor:

Rua Augusto Macedo, nº 2 A – 1600-794 Lisboa

Fotografia de Autor (Capa e Contracapa):

Ana Rita Peralta

Conceção Gráfica:

Design e Forma

Centro Empresarial de Carnaxide

Av. Tomás Ribeiro nº47 – 4º A,

2790-463 Carnaxide

Impressão: Printer Portuguesa

Av. Major General Machado de Sousa, 28

Edífio Printer – Casais de Mem Martins

2639-001 Rio de Mouro

Tiragem:

4000 Exemplares

Propriedade:

FENACERCI – Federação Nacional de Cooperativas de

Solidariedade Social

Rua Augusto Macedo, nº 2 A – 1600-794 Lisboa

fenacerci@fenacerci.pt

www.fenacerci.pt

https://www.facebook.com/FENACERCI

https://www.instagram.com/fenacerci

Depósito Legal: 77867/94 ISSN 0872 – 7945

Número de Registo na ERC – 126446

NIPC – 501562966

Todos os artigos que integram a Revista FENACERCI

são da inteira responsabilidade dos seus autores, não

se vinculando a Federação às opiniões emitidas pelos

mesmos.

Esta publicação encontra-se escrita ao abrigo do novo

acordo ortográfico.

Estatuto Editorial

A Revista FENACERCI é uma Revista Anual de

informação geral que pretende dar, através do texto e

da imagem, uma ampla cobertura dos mais importantes

e significativos testemunhos em todos os domínios

de interesse na área dos Direitos da População com

Deficiência Intelectual e/ou Multideficiência;

A Revista FENACERCI é independente do poder político,

do poder económico e de quaisquer grupos de pressão;

A Revista FENACERCI identifica-se com os valores da

Democracia Pluralista e Solidária;

A Revista FENACERCI rege-se, no exercício da sua

atividade, pelo cumprimento rigoroso das normas éticas

e deontológicas do jornalismo;

A Revista FENACERCI defende o pluralismo de opinião,

sem prejuízo de poder assumir as suas próprias posições;

A Revista FENACERCI pauta-se pelo princípio de que os

factos e as opiniões, devem ser claramente separados:

os primeiros são intocáveis e as segundas são livres. Em

vigor desde a fundação da Revista.

2 | REVISTA FENACERCI 2020


Índice EDITORIAL 1

MENSAGEM DE ABERTURA 4

OPINIÃO 6

PERPLEXIDADE, COMPLEXIDADE

E SOLIDARIEDADE 28

HAJA SAÚDE 38

CERCI’S: O CAMINHO FAZ-SE A

ANDAR 58

NÓS POR NÓS PRÓPRIOS 92

VENHA DE LÁ ESSE ABRAÇO 102 OLHÓMETRO 116

ATÉ JÁ PIRILAMPO 118

BREVES 130

LISTA DE ASSOCIADOS

E SERVIÇOS 139

PONTO FINAL 144

REVISTA FENACERCI 2020 |

3


MENSAGEM DE ABERTURA

Marta Temido

Ministra da Saúde do XXII Governo Constitucional

Se, como a Organização Mundial de Saúde, definirmos

a saúde como o estado de completo

bem-estar físico, mental e social e não apenas a

ausência de doença, falar de saúde é uma tarefa

com um grau de dificuldade acrescido.

É mais difícil, por ser mais subjetivo, porque depende

do juízo individual de cada um, saber em

cada momento se estamos bons ou não – o que

é bem-estar social para mim, pode não ser para

outra pessoa.

É mais fácil, por ser mais objetivo, olhar para resultados

laboratoriais e verificar se os parâmetros

em análise estão perto ou longe do normal e

assim concluir se há ou não doença.

Já perceber como alguém se relaciona com o respetivo

ecossistema, como interage com a envolvente

social, como se vê a si próprio no seio do

grupo dos pares é mais complexo e desafiante.

Claro que este ano de 2020 levou o tema da saúde

para uma área diferente, muitas vezes esquecida

por ser dada como adquirida nos países desenvolvidos

e que é da saúde pública.

Se estamos habituados a falar de vacinas e do

Plano Nacional de Vacinação ou de estilos de vida

saudáveis, sermos confrontados com uma pandemia

e um vírus novo que provoca uma doença

nova para a qual não há tratamento eficaz nem

vacina, é um problema de saúde pública que a

humanidade não conhecia há algum tempo.

Neste quadro, fomos todos obrigados a reaprender

a viver num novo normal e a sermos agentes

da saúde pública, promotores da sanidade coletiva

e responsáveis por nós individualmente.

O rigor com que cumprimos as regras de etiqueta

respiratória, distanciamento físico e limpeza

das mãos reflete-se coletivamente na saúde de

todos.

Nunca como agora foi tão aguda a consciência

de que estamos todos juntos a lutar contra a CO-

VID-19 e de que o nosso futuro coletivo é igual

para todos, novos e velhos, ricos e pobres.

O facto de enfrentarmos uma doença comum

garante também que estejamos todos empenhados,

cada um à sua medida, na procura das

soluções, tratamentos e vacinas que nos vão

conduzir à saída vitoriosa deste desafio que se

apresentou ao mundo.

Mas relativamente ao significado do esforço coletivo,

a FENACERCI não recebe lições de ninguém

e por isso termino a minha mensagem de

abertura da revista de 2020 com um agradecimento

pelo trabalho desenvolvido e votos acrescidos

de ânimo para continuar.

4 REVISTA FENACERCI 2020


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© DR


OPINIÃO

Às vezes, por estarmos demasiado envolvidos nos problemas, construímos

leituras que são viciadas pela nossa vontade de encontrarmos

os melhores caminhos o mais rapidamente possível. É por isso que é

importante trazermos para o debate vozes que, reconhecidamente

abalizadas para emitirem opiniões, estão suficientemente distanciadas

para não se deixarem levar pelo envolvimento emocional que, quer

queiramos quer não, por vezes, nos tolda uma visão que deveria ser

muito clara dos factos e das coisas. Ouvir os outros, naquilo que têm de

convergente ou divergente do nosso pensamento e da nossa ação, é a

melhor forma de crescermos, de nos questionarmos sobre o que julgamos

que fazemos bem para que, detetadas eventuais falhas ou erros,

os possamos corrigir e fazer melhor. Fica por isso a nossa expressão

de gratidão aos especialistas que se disponibilizaram para, com o seu

saber, nos ajudarem a fazer ainda mais e melhor

com as pessoas que apoiamos.


OPINIÃO

A Importância dos

Instrumentos de Avaliação

da Dor em Pessoas com

Deficiência Intelectual e/ou

Multideficiência

Quem nunca

se perguntou:

estará com

dores?

Ananda Fernandes

Professora Coordenadora da

Escola Superior de Enfermagem

de Coimbra

Especialista em Enfermagem

de Saúde Infantil e Pediatria

amfernandes@esenfc.pt

Quando alguém não consegue dizer “Dói”, como

saber se estará com dores? Quem nunca teve

essa dúvida perante uma pessoa que não comunica

como a maior parte de nós? Porque a avaliação

e tratamento da dor são uma questão de

comunicação.

A forma como a dor é encarada em pessoas com

problemas de desenvolvimento está relacionada

com a maneira como a sociedade encara as pessoas

com deficiência, em particular intelectual.

Durante séculos, prevaleceu o mito de que estas

pessoas não sentiam dor ou, se a sentiam, ela

era-lhes indiferente, não causando sofrimento.

Felizmente, esta visão mudou.

A compreensão da experiência complexa e privada

que é a Dor tem aumentado muito no último

meio século e a investigação dos últimos 30

anos tem nos ajudado a avaliar e tratar melhor

a dor em adultos conscientes e orientados, em

crianças pequenas e mesmo em bebés. Mas sabemos

ainda pouco sobre a avaliação da dor em

pessoas com deficiência cognitiva, alterações

neurológicas, paralisia cerebral, autismo, enfim,

em pessoas não verbais ou que, verbalizando,

se expressam de maneira atípica, diferente da

maioria, independentemente de terem ou não

incapacidade física, e cuja deficiência se traduz

nalguma forma de défice intelectual. Chamemos

a este grupo, com caraterísticas muito diversas,

pessoas com problemas de desenvolvimento.

O que fazer, então, quando surge a dúvida sobre

se estarão com dor?

Desde logo, é necessário entender o que é a

dor, como é que ela atinge as pessoas com problemas

de desenvolvimento e como a podemos

avaliar e tratar.

Do ponto de vista biológico, a dor aguda é uma

experiência fundamental para a nossa sobrevivência,

pois é um sinal de alerta para uma

ameaça à nossa integridade física. É o que nos

ensina a evitar os perigos, leva ao médico, obriga

ao repouso para recuperar de um traumatismo.

Mas a dor é também uma fonte de intenso

sofrimento quando não é reconhecida ou devidamente

tratada, ou quando se torna crónica,

8 | REVISTA FENACERCI 2020


prolongando-se no tempo e surgindo repetidas

vezes.

Enquanto experiência que envolve sensações e

emoções desagradáveis, a dor pode ser descrita

por palavras como “picada, pontada, moinha,

peso, …” ou “insuportável, horrível, …”. Mas a incapacidade

de verbalizar a dor não nega a possibilidade

de que um indivíduo a sinta e tenha

necessidade de tratamento para a aliviar.

Hoje sabemos que as pessoas com problemas de

desenvolvimento podem ter dor pelas mesmas

causas que a restante população e têm, além

disso, dores que resultam dos seus problemas

neurológicos, músculo esqueléticos e outros. A

sua condição clínica expõe-nas a tratamentos e

cirurgias de que as outras crianças da mesma

idade não necessitam. Por exemplo, crianças e

jovens com paralisia cerebral necessitam, muitas

vezes, de tratamentos dentários ou cirurgias

para corrigir deformidades, os quais acarretam

dor aguda. Também sofrem de dor crónica relacionada

com a sua espasticidade e posições

desalinhadas da cabeça, do tronco e dos membros.

A fisioterapia de que necessitam pode

também ser dolorosa. O refluxo gastro esofágico

e a obstipação são outra causa frequente de

dor. Crianças com Síndroma de Down, não raro,

têm doenças cardíacas e leucemias. Ou seja, os

estudos indicam que pessoas com problemas de

desenvolvimento têm dor, aguda e crónica, com

maior frequência e intensidade do que a população

em geral.

Ora, quando alguém tem dor, a verbalização

dessa dor, ou autorrelato, é a forma mais comum

e mais fácil de comunicar a dor. E é fácil

de entender por parte de cuidadores e profissionais.

Assim, as pessoas que se expressam de maneira

diferente do habitual ficam em desvantagem

para comunicar a sua dor. A nossa capacidade

de sabermos se têm dor é, pois, inferencial, isto

é, baseia-se na nossa interpretação das suas expressões

e comportamentos. Como já dissemos,

é uma questão de comunicação: o que me está a

“dizer” a pessoa com dor? O que a estou a “ouvir

dizer”?

Dum lado e do outro há muitos fatores a influenciar.

Por um lado, a experiência de dor (sensações,

emoções e pensamentos) é influenciada

por fatores biológicos, genéticos, experiências

anteriores, mas também do contexto em que

ocorre a dor; a expressão da dor depende do

repertório de linguagem e das habilidades motoras.

Muitas manifestações não são específicas

da dor (como a expressão facial, o choro, as vocalizações

ou a agitação motora) e algumas podem

ser atípicas, como os problemas de sono,

manifestações de ansiedade, problemas gastrintestinais,

exacerbação de comportamentos

de autoagressão. O repertório destas manifestações

também é variável, por exemplo, os autistas

têm um leque de expressões faciais menor,

por isso podem mostrar menos expressão

facial, embora tenham mais aceleração cardíaca

quando se colhe sangue, o que mostra a ativação

do seu sistema de stress perante um estímulo

doloroso. Enquanto o autorrelato da dor é,

geralmente, paralelo à experiência de dor, estas

outras manifestações podem ser discordantes

ou estar desfasadas, sobretudo em pessoas com

problemas de desenvolvimento. As suas formas

de expressão verbal e não-verbal podem ser

ambíguas, tornando difícil aos familiares, cuidadores

e profissionais de saúde saberem se se

trata de dor, e se esta necessita de ser tratada.

Por outro lado, a avaliação da dor depende da

atenção, sensibilidade, atitude e empatia do

REVISTA FENACERCI 2020 |

9


OPINIÃO

cuidador, mas também, do relacionamento

existente; a decisão de intervir ou não, e como,

depende do conhecimento e da experiência do

cuidador/profissional, mas também das circunstâncias

e do contexto.

Por tudo isto, é amplamente reconhecido que

os cuidadores habituais estão geralmente aptos

a identificar que alguma coisa não está

bem, mas, tal como os profissionais, nem sempre

conseguem reconhecer e valorizar corretamente

a dor. Muitas vezes, pensam que não

há nada a fazer. Daí que as pessoas com problemas

de desenvolvimento façam parte de

uma população mais vulnerável ao subtratamento

da dor.

Para tornar a avaliação mais fiável e objetiva,

têm sido propostas algumas escalas para avaliar

a dor em crianças, jovens e adultos com

problemas de desenvolvimento. Entre elas, encontram-se

a DESS (Douleur-Enfant San Salvadour),

a NNCCPC-R (Non-Communicating

Children’s Pain Checklist—Revised), a FLACC-R

(Faces, Legs, Activity, Cry, Consolability - Revised).

Qualquer destas escalas consiste na

observação e pontuação dos comportamentos

apresentados pela pessoa com problemas

de desenvolvimento, para concluir se tem ou

não dor e se o nível de dor requer tratamento.

O tratamento é possível e depende da causa e

de outras medicações, seguindo as mesmas regras

usadas para outras populações.

Devemos, então, ter presente que crianças e

jovens com problemas de desenvolvimento

têm dor com mais frequência que os seus pares

da mesma idade. Porque a sua capacidade

de comunicar é reduzida ou atípica, e porque

a avaliação da dor é uma questão de comunicação,

estas crianças e jovens estão mais vulneráveis

ao não tratamento adequado das suas

dores. Alterações do comportamento habitual

devem levar os familiares e cuidadores habituais

a estar atentos à possibilidade de ser dor,

e a alertar para isso os profissionais de saúde.

Estes, com o apoio dos familiares e cuidadores

habituais, devem ser capazes de examinar

detalhadamente a criança e a sua história, e

de utilizar uma escala de avaliação da dor que

ajude a tomar decisões quanto ao melhor tratamento,

seguindo as recomendações já existentes.

Na dúvida, é preferível tratar e ver se

resulta.

“O acesso ao tratamento da dor é um direito

humano fundamental.” Declaração de Montreal,

2010

BIBLIOGRAFIA

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H Brookes Publishing Co.

10 | REVISTA FENACERCI 2020


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OPINIÃO

Os Desafios da Saúde

Oral que Portugal

enfrenta em Pessoas

com Deficiência Intelectual

e/ou Multideficiência

Para uma boa saúde oral a nossa atenção deve

estar focada na prevenção. Sendo a saúde oral

parte integrante da saúde em geral, manter a

nossa saúde oral deve ser uma prioridade constante.

Nos últimos tempos, tem-se verificado

uma evolução gradual de mentalidades direcionadas

neste sentido. O nosso conhecimento e

atenção assumem uma importância redobrada

quando falamos em pessoas com algum tipo de

deficiência, uma vez que estas têm risco acrescido

de desenvolver doenças orais tais como

cárie dentária, doenças gengivais, entre outras.

Os cuidados diários de higiene oral são indispensáveis

para manter a saúde oral e melhorar

a mastigação, autoestima e aparência. A má

prática de higiene oral, quer pela capacidade

diminuída ou inexistente do indivíduo, quer

pela negligência ou dificuldade dos cuidadores,

representa um dos riscos que compromete a

saúde oral. Uma escovagem deficiente não irá

remover toda a placa bacteriana que se forma

ao longo do dia, provocando a inflamação das

gengivas. Esta placa bacteriana, se ficar durante

algum tempo, pode-se transformar em tártaro

(pedra nos dentes), que irá agravar o estado

gengival com aumento da hemorragia gengival.

Na escovagem dos dentes deve tentar chegar a

todos os dentes e realizá-la a seguir às refeições

ou pelo menos, de manhã após o pequeno-almoço

e à noite, antes do deitar. Porém, o acesso

à cavidade oral pode-se tornar numa tarefa

diária desafiante, pela presença de movimentos

involuntários ou falta de colaboração para a escovagem.

Existem no entanto, técnicas que podem

ajudar nesta tarefa.

Por vezes, existe uma tendência para se adotarem

hábitos alimentares incorretos, bebidas e

alimentos ricos em hidratos de carbono, entre os

quais, os açúcares. Os alimentos de consistência

mole, pegajosa e pastosa são mais retentivos,

ficando longos períodos de tempo na cavidade

oral, aderidos a dentes e gengivas. Como em

muitos casos, a capacidade de autolimpeza oral,

sobretudo pela saliva e língua, está dificultada ou

não existe, levando ao aumento de doenças orais.

Aliado à prática de hábitos saudáveis, surge a

necessidade de visitas regulares ao higienista

oral ou ao dentista, pelo menos duas vezes por

ano. Porém, o acesso ao tratamento dentário

ainda é um obstáculo para muitas famílias, não

12 | REVISTA FENACERCI 2020


Fátima Bizarra

Coordenadora da Clínica de Higiene Oral para Pessoas

com Necessidades Especiais e Professora Auxiliar

da Faculdade de Medicina Dentária

da Universidade de Lisboa

só por dificuldades de acesso devido a barreiras

arquitetónicas como por falta de controlo dos

movimentos, insegurança, medo ou vergonha

de não serem entendidos pelos profissionais de

saúde oral.

Por outro lado, em Portugal, a formação especializada

de profissionais para o tratamento oral

de pessoas com necessidades especiais encontra-se

em via de desenvolvimento. Hoje em dia,

já existem higienistas orais e dentistas experientes

no atendimento desta população. Ainda

assim, determinados profissionais de saúde

oral, sem formação específica neste âmbito, por

vezes manifestam algum receio e falta de confiança

na realização de tratamentos a estes indivíduos,

derivado ao desconhecimento.

No sentido de contrariar essa dificuldade, a Faculdade

de Medicina Dentária da Universidade

de Lisboa (FMDUL), aposta na formação centrada

na realização de cuidados de saúde oral

a indivíduos com deficiências, onde existe uma

consulta para Pacientes com Necessidades Especiais

preparada e capacitada para o atendimento

desta população. Nas consultas, a pessoa

com deficiência, é tratada com todo o carinho,

atenção e profissionalismo mesmo quando manifestam

dificuldade de colaboração, pela existência

de movimentos involuntários, estados

emocionais, comportamentos ou pela falta de

ambientação às instalações. Os profissionais

estão preparados para todas estas adversidades

que contribuem para o comprometimento

da saúde oral, percebendo assim, que estas pessoas

requerem cuidados e serviços próprios, e

tendencialmente mais regulares, que os necessários

pela restante população.

A consulta de higiene oral está focalizada na

prevenção das doenças orais, educação e motivação

para a higiene oral, sendo o objetivo aumentar

a autonomia na realização dos cuidados

de higiene oral, englobando sempre a colaboração

dos cuidadores no processo com o ensino

de técnicas adaptativas aos cuidadores quando

existe falta de colaboração. O tratamento dentário,

sempre que seja necessário, também está

disponível com dentistas especializados neste

grupo populacional.

Ao investirmos na prevenção, para além de assegurarmos

uma boa saúde oral, poupamos na

realização de tratamentos mais complexos e financeiramente

dispendiosos.

Na concretização de bons hábitos e comportamentos

de prevenção, conseguimos progressivamente

assegurar a preservação da saúde oral,

da pessoa com deficiência, melhorando a sua

qualidade de vida.

REVISTA FENACERCI 2020 |

13


OPINIÃO

Deficiência Intelectual

e Doença Mental: Quando

a Fronteira Vira Território

Permitam-me que comece por evitar qualquer dos

termos que identificam este artigo, Deficiência Intelectual

e Doença Mental. Em vez disso, utilizarei

um outro, o das Perturbações do Neurodesenvolvimento,

que permite exatamente isso: apagar a fronteira

e criar território.

As pessoas com Perturbações do Neurodesenvolvimento

lidam com dificuldades de adaptação ao

meio ambiente que enfatizam as diferenças entre

o seu funcionamento e a maioria da população. Tal

deve-se sobretudo à organização desse meio ambiente

de forma a adequar-se à maioria das pessoas,

mas não a todas as pessoas. Destacamos, a propósito

desta abordagem, o movimento da neurodiversidade,

organizado por autistas designados de alto

funcionamento que consideram que o autismo não

é uma doença a ser tratada e se for possível curada.

Trata-se antes de uma diferença humana que deve

ser respeitada como outras diferenças (sexuais, raciais,

entre outras). Os ativistas do movimento de

neurodiversidade opõem-se aos grupos de pais de

filhos autistas e profissionais que procuram uma

cura para a doença (1).

Na tentativa de organizar as manifestações das Perturbações

do Neurodesenvolvimento, definimos

quadros sindromáticos, que queremos objetivos e

bem definidos, mas na realidade o que encontramos

são pessoas, com o seu funcionamento próprio,

em que a presença de determinados traços

predominantes (não lhe querendo chamar “sintomas”)

de comportamento, não exclui outros que

encaixamos noutro quadro diagnóstico. É assim

que surge o conceito de Diagnóstico Duplo dentro

da Perturbação do Desenvolvimento Intelectual,

procurando estruturar um diagnóstico abrangente,

multiaxial, que permita organizar uma intervenção

interdisciplinar o mais eficiente possível.

Vários estudos tentam documentar esta realidade,

embora a sua divulgação seja escassa entre os profissionais

de saúde mental. A prevalência mais alta

de patologia psiquiátrica está bem documentada.

“Em comparação com jovens sem DI (Deficiência

Intelectual), os jovens entre os 3 e os 17 anos com

DI tiveram uma prevalência estatisticamente mais

alta de problemas de saúde mental e do desenvolvimento

neurológico, e de uso de cuidados de saúde

mental e de medicamentos para problemas de

saúde mental e do neurodesenvolvimento (excepto

défice de atenção e hiperatividade) (2).

Esta realidade continua pouco conhecida e valorizada

pelos profissionais de saúde mental. Noutro

estudo, “as perturbações psiquiátricas são comuns

entre adultos com DI e o perfil de transtornos psiquiátricos

difere do encontrado na psiquiatria geral.

É necessária uma estreita colaboração entre os

prestadores de serviços gerais e os especialistas,

para que seja alcançada a mudança para o uso de

serviços psiquiátricos gerais nessa população. As

medidas devem incluir um caminho claro para o

atendimento de pessoas com DI e problemas de

saúde mental, a fim de facilitar a transferência suave

de pacientes entre serviços especializados e cuidados

primários, e acordos para trabalho conjunto,

onde é necessária a contribuição de ambos os

serviços.” (3). Nomeadamente, “o estudo da psicose

em pessoas com deficiência intelectual beneficia a

população com deficiência intelectual e ajuda na

compreensão da psicose na população em geral. Os

profissionais de saúde mental precisam de conhecimento

adequado para lidar com os altos índices

14 | REVISTA FENACERCI 2020


João Paulo Albuquerque

Médico Psiquiatra

Centro de Recuperação

de Menores D. Manuel

Trindade Salgueiro (IHSCJ)

de psicose nessa população” (4).

O limite que separa o normal do patológico nunca

é claro. Nele participam, para além dos sintomas

em si mesmos (ansiedade, tristeza, pensamentos

invasivos, despersonalização ou desrealização, alucinações,

…), a pessoa, que os vive em função da sua

personalidade (valorizando-os mais ou menos, sentindo-se

mais ou menos capaz de lidar com o que

sente), e o meio envolvente, onde se encontram fatores

protetores e outros predisponentes ao adoecer,

e que têm a ver com tudo: as pessoas significativas

(de suporte ou ameaçadoras), a alimentação,

o meio físico, os horários e rotinas, as actividades

que desempenha, os apoios técnicos com que conta,

os tratamentos médicos, … . Desenhamos assim

uma equação complexa, cujo resultado, para o bem

e para o mal, é sempre incerto. Ninguém “é” doente,

porque não está condenado a “estar” sempre

doente. Dentro da sua circunstância, pode encontrar

uma constelação de fatores que o protejam da

manifestação da sua fragilidade, permitindo-lhe

manter um equilíbrio saudável. Da mesma forma, a

pessoa com perturbação do neurodesenvolvimento

não está obrigada a identificar-se sempre com as

dificuldades de funcionamento que sente, e pode

criar um contexto de vida em que essas dificuldades

não são diferentes daquelas que a maioria das

pessoas sente.

Para complicar, a identificação de estados de doença

nas pessoas com perturbação do neurodesenvolvimento,

a manifestação do sofrimento associado à

doença é particular nestas pessoas, e as alterações

do comportamento são muitas vezes a única forma

de expressão desse sofrimento. Num estudo, em

que curiosamente, o autor tem o cuidado de identificar

a população alvo como administrativamente

identificada como tendo DI, salvaguardando a realidade

muito mais complexa que define a circunstância

destas pessoas, “Sessenta e dois por cento da

população com DI (n = 915) tiveram um problema

de comportamento (comportamento auto-destrutivo,

estereotipado ou agressivo / destrutivo)

e 18,7% tiveram um problema de comportamento

identificado como comportamento desafiador,

resultando numa prevalência de 80,3 por 100.000

na população base”. Os marcadores de risco mais

pronunciados para problemas de comportamento

foram: gravidade da DI, autismo, distúrbios do sono

noturno, hipersensibilidade sensorial, disfunção da

comunicação, défices sociais, apoio psiquiátrico e

medicação psicotrópica. Marcadores de proteção

REVISTA FENACERCI 2020 |

15


OPINIÃO

eram Trissomia 21 e, em certa medida, paralisia cerebral”

(5)

A personalidade, sendo crucial na forma como a

pessoa lida com os sintomas como já dissemos, tem

um papel particularmente significativo nas pessoas

mais diferentes, como as pessoas que lidam

com situações identificadas como “deficiência”. A

personalidade é definida como um modo de ser

estável no tempo, identificador da pessoa na sua

relação consigo própria e com o mundo, e resultante

de fatores inatos, eminentemente biológicos,

e outros adquiridos ao longo do desenvolvimento

da pessoa até à idade adulta. Há a tendência a valorizar

sobretudo os fatores relacionais associados

ao desenvolvimento psico-afetivo e à educação da

pessoa, na construção da sua personalidade, talvez

porque a pespetiva compreensiva da maneira de ser

das pessoas é humanamente mais fácil de apreender,

e também mais aliciante. Maldosamente, alguém

dizia que “a psicanálise é uma mentira muito

bem contada”. Sem adotarmos posições extremistas

como esta, temos no entanto de salvaguardar

os aspetos biológicos referidos na definição que

apresentámos de personalidade. Há de facto, sem

que se compreenda, mas porque é a natureza mais

íntima, primária, e essencial da pessoa, um modelo

afetivo que determina, a prióri, a forma como a pessoa

se relaciona consigo e com o mundo. É a partir

desta base que a construção da pessoa se vai organizando.

Infelizmente, as tendências inatas tendem

a ver-se reforçadas nas interações com os outros.

A psicologia animal ajuda-nos nesta compreensão.

Se um indivíduo se sente frágil junto do outro, e por

isso assume uma atitude passiva, o outro é automaticamente

colocado numa posição mais proativa, e

por isso tende a dominá-lo, acentuando essa fragilidade.

Se se sente inseguro e por isso assume uma

postura defensiva, o outro é colocado na posição

de ameaça ou agressor, e reage dentro desse papel,

reforçando a experiência de insegurança face a um

mundo ameaçador. E pouco a pouco a pessoa organiza-se,

com os seus núcleos de fragilidade, de segurança,

com os seus mecanismos de defesa mais

ou menos saudáveis, até estabilizar num adulto em

que o conjunto de todos estes elementos define a

pessoa que é.

As pessoas com perturbações do neurodesenvolvimento

têm, pelas suas caraterísticas inatas, uma

dificuldade de funcionamento no meio de vida habitual

que facilita a experiência de se sentir diferente.

Essa experiência é confirmada na aprendizagem

que fazem ao longo do seu crescimento (orientada

por familiares, educadores, e técnicos) e acabam

por se identificar como tal, como “diferentes”.

Ficam assim impedidos de se verem como mais

um, diferente apenas na medida em que todos

somos diferentes, e por isso integrado, na igualdade

do experimentar-se humano, partilhando

as angústias, incertezas e medos universais. Esta

será, provavelmente, a última grande tarefa que

todos teremos, num contexto técnico ou como

cidadãos, de conseguir que as pessoas que procuramos

ajudar se vejam como mais um, com

fragilidades e potencialidades, mas com um papel

social que não o torna diferente. Só assim

poderemos apagar um outro fator patológico, a

autoestigmatização, que perpetua os papéis de

alguém que precisa de ajuda e de outro que ajuda,

impedindo a integração plena da pessoa que

é o alvo da nossa intervenção. Que em última

análise, não precisa de ajuda, porque o mundo

em que vive também está feito à sua medida.

BIBLIOGRAFIA

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16 | REVISTA FENACERCI 2020


Primórdios da

Pediatria

em Portugal

José Pedro Vieira,

Neuropediatra

do Hospital D.

Estefânia – CHLC,

Lisboa Central

Até ao século XVIII, a criança era considerada uma

miniatura do adulto e a doença interpretada como

um processo de regeneração moral, sendo a elevada

mortalidade um acontecimento esperado. No

século XV e até ao início do século XX era habitual

o abandono de crianças acabadas de nascer com

defeitos congénitos ou com peso deficiente, situações

consideradas incuráveis. Em determinadas

circunstâncias, utilizava-se a chamada Roda, que

era um método utilizado para, preservando o anonimato,

abandonar recém-nascidos que ficavam

entregues a instituições de caridade.

Durante o século XIX, coincidindo com a Revolução

Industrial, por toda a Europa começou a esboçar-

-se um movimento tendente a resolver ou minorar

os problemas sociais e a higiene pública de que o

trabalho infantil era um importante componente.

Um marco histórico foi, a publicação, em 1875, da

Lei Roussel com o objectivo de proteger as crianças

dando-lhes assistência separadamente dos adultos.

Multiplicaram-se os estabelecimentos para o acolhimento

de crianças abandonadas – os hospícios

ou asilos de crianças abandonadas - aos quais se

sucederam as instituições para prestação de cuidados

na doença ou verdadeiros hospitais.

As modernas correntes do século XIX em prol da

assistência hospitalar de crianças conduziram à

construção de hospitais pediátricos, salientando-

-se em 1802 a inauguração do que foi considerado

o primeiro hospital para crianças - o ‘Hôpital des

Enfants Malades de Paris’. Na Europa e América

do Norte, outros hospitais para crianças doentes

foram surgindo e Portugal acompanhou esta tendência.

Uma marcante decisão a favor das crianças

doentes portuguesas ficou a dever-se ao Rei Dom

Pedro V, marido da Rainha Dona Estefânia. Em 14

de Agosto de 1860, foi publicado um Decreto au-

torizando a fundação dum Hospital destinado ao

tratamento de crianças pobres e enfermas. Em 1877

foi inaugurado o Hospital de Dona Estefânia que,

contudo, durante várias décadas recebeu adultos e

crianças. Em 1881 foi inaugurado no Porto o Hospital

de Crianças Maria Pia.

Portugal no início do século XX

A Primeira República sucedeu à Monarquia liberal

em 1910. Portugal tinha então uma indústria incipiente

sendo a agricultura a principal atividade da

população. A pequena e média burguesia e os intelectuais,

nas principais cidades, eram o suporte do

regime mas o ambiente político era muitas vezes

efervescente e os governos instáveis. A participação

na Primeira Guerra Mundial foi extremamente

penosa para a sociedade Portuguesa. A população

era maioritariamente analfabeta (75% de analfabetos

em 1913). Os ideais da República impulsionaram

muita legislação com carácter progressista e

avançado para a época, com manifesta dificuldade

de concretização prática. O Estado Novo foi uma

evolução conduzida pelas correntes conservadoras

na sociedade de então, para um regime corporativo,

antiliberal, anticomunista e autoritário. Portugal

permanecia desfasado da realidade Europeia quanto

ao nível de instrução da população, embora tenha

havido um decréscimo para 40% de analfabetos, na

década de 50. Em 1918 ocorreram as epidemias de

tifo exantemático e de gripe (Gripe «Espanhola»)

A mortalidade em geral e a mortalidade infantil

eram elevadas, decorrendo de múltiplas doenças

epidémicas e endémicas. Em 1933 a mortalidade

infantil em Portugal era uma das mais elevadas da

Europa (acima de 140%). A partir dos anos 40 houve

um decréscimo, seguido de estagnação nos anos 50

e um novo decréscimo nos anos 60 (para cerca de

REVISTA FENACERCI 2020 |

17


OPINIÃO

60%). Esta taxa de mortalidade permanecia acima

dos indicadores dos países desenvolvidos (abaixo

de 15% na década de 60, em França e no Reino Unido).

O decréscimo decisivo na mortalidade infantil

em Portugal ocorreu já na 2ª metade do século XX,

na década de 70.

Os cuidados de saúde prestados á população durante

a Primeira República eram dirigidos aos pobres, estavam

confiados às Misericórdias e aos Hospitais das

grandes cidades. Durante o Estado Novo o número

de médicos permanecia insuficiente para as necessidades

da população e a assistência pública não tinha

um alcance universal. Os Hospitais Civis de Lisboa,

da Universidade de Coimbra, de Santo António no

Porto tinham um reduzido número de profissionais

e os concursos eram extremamente seletivos.

Pediatria em Portugal (do final Século XIX a 1911):

os pioneiros

O primeiro diretor da enfermaria para crianças do

Hospital de Dona Estefânia foi Francisco da Cunha

Viana, posteriormente Gaspar Gomes e Jaime Ernesto

Salazar d’ Eça e Sousa.

Este último concluiu o curso de Medicina na Escola

Médico-Cirúrgica de Lisboa em 1893, obteve êxito

nos concursos para cirurgião dos Hospitais Civis

de Lisboa (1894), e para professor de Cirurgia (1898).

Logo a seguir partiu para os Estados Unidos da

América (Nova Iorque e Boston), e obteve nesse País

o título de especialista em Pediatria. Após o regresso

da América, em 1902, dirigiu, no Hospital de São

José, uma consulta para doenças de crianças e mais

tarde, no Hospital de Dona Estefânia, a chamada

Enfermaria de Santa Estefânia. Salazar de Sousa

trabalhou com falta de recursos mas ultrapassou

obstáculos com grande resiliência, salientando-se

que era desinteressado da política numa época de

grande instabilidade social em Portugal.

De entre os seus estudos de investigação, salientam-se

as transfusões de sangue placentário no

tratamento do sarampo e a esplenectomia no tratamento

do kala-azar. Para além de mais de uma

centena de artigos científicos publicou em 1921 as

suas lições num livro intitulado Doenças das Crianças,

saindo no mesmo ano o número um da revista

científica que dirigiu: Archivos de Pediatria e Orthopedia,

por sinal com vida efémera.

A Geração Médica de 1911

Jaime Salazar de Sousa, pertenceu á chamada Geração

Médica de 1911. Este era um grupo de médicos

que reformaram a medicina portuguesa, criando os

primeiros institutos técnico-científicos especializados,

dotados de autonomia administrativa, o que

transformou o ensino livresco das antigas Escolas

Médico-Cirúrgicas num verdadeiro ensino prático,

valorizando as práticas experimentais e a investigação

científica. A lei fundadora das Universidades,

publicada em 1911, foi um ato político de grande

significado e alcance, ao recriar a Universidade de

Lisboa, criar a Universidade do Porto e reformar

a Universidade de Coimbra, o que possibilitou a

transformação das antigas Escolas Médico-Cirúrgicas

de Lisboa e Porto em Faculdades de Medicina.

A Pediatria como “especialidade”

No séc. XX, ao longo dos anos, foram criados nas

principais cidades Portuguesas, serviços hospitalares

de pediatria incipientes.

Sucedeu a Salazar de Sousa, na cátedra de Pediatria

de Lisboa, Leonardo Castro Freire que transitou

para o Hospital Escolar de Santa Marta (e, após 1954,

para o Hospital de Santa Maria).

Sara Barchilon Benoliel foi contemporânea e colaboradora

de Salazar de Sousa e de Castro Freire.

Teve um importante papel de cidadania e foi a

primeira mulher Pediatra em Portugal. De origem

judia, nasceu em 1898 no Brasil e naturalizou-se

Portuguesa em 1928. Frequentou cursos de especialização

fora de Portugal e interessou-se particularmente

pelos problemas sociais ligados à Criança.

Ativista da Hehaber, Organização Ashkenazi da

juventude israelita fundada em 1925, desempenhou

atividades de apoio aos refugiados judeus em Por-

18 | REVISTA FENACERCI 2020


tugal durante a II Guerra Mundial.

Na Escola Médico-Cirúrgica do Porto o primeiro

professor de Pediatria, a partir de 1917, foi A. Dias

de Almeida Jr. que já se dedicava às crianças desde

1894. A este sucedeu António de Almeida Garrett,

sobrinho do escritor com o mesmo apelido. Após

regresso de estágio em Paris foi, em 1912, nomeado

Professor da cadeira de Pediatria e Higiene na

recém-criada (1911) Faculdade de Medicina da Universidade

do Porto. A cidade do Porto foi atingida

pela gripe pneumónica e pelo tifo exantemático em

1918 e Almeida Garrett foi comissário do Governo

para o combate a esta última epidemia. Publicou diversos

estudos e artigos versando sobretudo temas

de epidemiologia nomeadamente sobre as doenças

referidas mas também sobre mortalidade infantil e

estratégias de saúde pública. Em 1932 criou o Instituto

de Puericultura do Porto, do qual foi diretor.

Almeida Garrett foi eleito deputado nas eleições

de 1915 pelo Partido Unionista (fação republicana

conservadora ligada às elites politicas e sociais da

época). Foi novamente eleito deputado pelo Partido

Unionista nas eleições de 1918.

Em Coimbra o ensino da Pediatria na faculdade foi

iniciado em 1917-18, ocupando a cátedra e direcção

do serviço hospitalar António Morais Sarmento.

A este sucederam Elísio de Moura e João Porto,

os quais desenvolveram também atividade clínica

e ensino noutras áreas como Medicina Interna e

Neuropsiquiatria.

Seguidamente Lúcio de Almeida, como catedrático,

criou em 1946 no serviço que dirigia (em condições

muito precárias quanto a instalações) um centro

de preparação e especialização em Pediatria,

o qual não despertou grande interesse junto dos

novos médicos. Contudo, em tal centro sobressaiu

o nome de J Santos Bessa que, mais tarde, veio a

criar um segundo centro e foi convidado por Lúcio

de Almeida para o substituir e dirigir o serviço

universitário. Santos Bessa, pugnava pela criação

dum hospital especializado de doenças de crianças

com o apoio de uma figura com grande peso político

na época, o catedrático de cirurgia de Coimbra

Fernando Bissaya Barreto. O Hospital Pediátrico de

Coimbra foi inaugurado em 1 de Junho de 1977.

A Sociedade Portuguesa de Pediatria

No âmbito dos eventos que influenciaram o desenvolvimento

da Pediatria em Portugal a partir do final

da década de 30 do século XX contam-se, em

1938, o início da publicação regular de uma revista

dedicada à Pediatria e, em 1948, a fundação duma

associação de Pediatras que foi designada por Sociedade

Portuguesa de Pediatria (SPP), mantida até

aos nossos dias.

A referida Revista Portuguesa de Pediatria e Puericultura

foi fundada por Carlos Salazar de Sousa. Da

primeira direção da Sociedade Portuguesa de Pediatria

(1948-1950) fizeram parte os pediatras mais

representativos da época: Almeida Garrett, do Porto

(presidente) assessorado por Lúcio de Almeida

(Coimbra), Manuel Cordeiro Ferreira, Castro Freire,

Carlos Salazar de Sousa e Abel da Cunha (Lisboa).

Agradecimento: O autor expressa profundo agradecimento

ao Professor João Videira Amaral pela revisão deste

texto e pelas muitas e importantes ajudas e sugestões

que foram fundamentais para a sua elaboração.

BIBLIOGRAFIA

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Gonçalves-Ferreira FA. História da Saúde e dos Serviços de Saúde em Portugal. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1990

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Videira Amaral J. A Medicina e a Pediatria em tempos da Iª República (Editorial). Acta Pediatr Port 2010: 41(3): XXXVII-XXXVIII

REVISTA FENACERCI 2020 |

19


OPINIÃO

“As Perturbações

do Comportamento

Alimentar em Pessoas

com Perturbação do

Desenvolvimento

Intelectual”

Leonor Sassetti

Pediatra e Médica

de Adolescentes

Unidade de Adolescentes

Hospital D. Estefânia, Centro

Hospitalar Universitário de Lisboa

Central

Introdução

Uma grande parte das pessoas com perturbação

do desenvolvimento intelectual apresentam,

desde sempre ou nalgum período da sua vida,

questões relacionadas com a alimentação: recusa

alimentar ou de alguns alimentos em particular,

ruminação, pica, dificuldades na mastigação ou

deglutição, comportamento disruptivo durante as

refeições e até anorexia nervosa ou bulimia nervosa.

Estes comportamentos podem conduzir a

emagrecimento, malnutrição, deficiências nutricionais,

atraso de crescimento ou da puberdade,

interferência no funcionamento psicossocial, os

quais agravam ainda mais a situação de base. Dada

a prevalência desta problemática (pode chegar a

80%), a sua persistência para a idade adulta, bem

como, a interferência no dia-a-dia das famílias,

muitas abordagens - específicas - têm sido ensaiadas.

A classificação das doenças mentais mais utilizada

em todo o mundo é a DSM; a última versão é

20 | REVISTA FENACERCI 2020


de 2013 – DSM 5, que engloba no mesmo capítulo

todas estas perturbações, sob a designação genérica

de PERTURBAÇÃO DA ALIMENTAÇÃO E DA

INGESTÃO (Quadro 1).

Hoje em dia ainda se utiliza muito a expressão

“Doenças do Comportamento Alimentar” (DCA)

para designar genericamente as doenças ligadas

ao comportamento alimentar mais típicas

da adolescência, como anorexia nervosa, bulimia

nervosa e ingestão alimentar compulsiva (“binge

eating”). Esta curta revisão vai incidir especificamente

sobre este grupo de doenças.

Particularidades nas Pessoas com Perturbação

do Desenvolvimento Intelectual

A referida DSM 5 que utilizamos hoje em dia, reviu

os critérios diagnósticos da anorexia nervosa

e bulimia nervosa (Quadros 2 e 3); mas nenhum

destes é o quadro mais frequente que encontramos

nas pessoas com perturbação do desenvolvimento

intelectual (PDI). A maioria das DCA destes

doentes enquadra-se numa nova categoria diagnóstica

designada por PERTURBAÇÃO DA INGES-

TÃO ALIMENTAR EVITANTE / RESTRITIVA (“AR-

FID”), e que é semelhante à anorexia nervosa na

medida em que está presente redução da quantidade

e/ou tipo de alimentos ingeridos, mas não se

acompanha de alteração da imagem corporal ou

preocupação com o peso. Tem de estar associada

a (um ou mais): emagrecimento, deficiência nutricional,

dependência de suplementação entérica

ou nutricional e interferência marcada no funcionamento

psicossocial.

A anorexia nervosa e a bulimia nervosa são doenças

mais frequentes em países desenvolvidos e

nas classes sociais mais altas; existem fatores de

risco bem conhecidos como a personalidade (obsessiva,

perfecionista), a presença de história familiar

(mãe, irmãs), a existência prévia de excesso

de peso/obesidade, entre outros. Têm por base

um ideal de beleza e o desejo de ser magro, associado

a uma alteração da imagem corporal. Como

é construída a imagem corporal dos doentes com

perturbação do desenvolvimento? Uma revisão de

19 estudos de caso, referentes a 26 doentes com

deficit sensorial, motor e/ou intelectual identificou

particularidades relacionadas com a auto-apreciação

tátil (doentes cegos ou com baixa

visão), com a informação veiculada por outros ou

com a assunção do ideal de magreza veiculado

pelos media; outros doentes encaravam a perda

QUADRO 1

PERTURBAÇÃO DA ALIMENTAÇÃO

E DA INGESTÃO

Pica

Perturbação da Ruminação

Perturbação da Ingestão Alimentar

Evitante/ Restritiva

Anorexia Nervosa

Bulimia Nervosa

Perturbação da Ingestão Alimentar

Compulsiva (“binge eating”)

Perturbação da Alimentação e Ingestão

Com outra especificação

Perturbação da Ingestão e Alimentação

Não Especificado

QUADRO 2

ANOREXIA NERVOSA

Fonte: DSM 5

Restrição do aporte energético

relativamente às necessidades, levando

a um peso corporal significativamente

baixo

Medo intenso de ganhar peso ou

de ficar gordo, ou comportamento

persistente que interfere com o ganho

ponderal, mesmo estando com peso

significativamente baixo

Perturbação no modo como é vivenciado

o próprio peso ou forma ou não

reconhecimento da gravidade da situação

em que se encontra

Dois subtipos: restritivo e purgativo/

ingestão compulsiva

QUADRO 3

BULIMIA NERVOSA

Fonte: DSM 5

Ingestão compulsiva e rápida de grandes

quantidades de comida, num curto

espaço de tempo

Presença de comportamentos purgativos

(vómitos, laxantes) para compensar

Pelo menos uma vez por semana e

durante 3 meses

Fonte: DSM 5

REVISTA FENACERCI 2020 |

21


OPINIÃO

de peso como uma conquista ou uma compensação

da sua deficiência (p.ex. querer pesar menos

para ser menos dependente e mais autónomo). A

conclusão deste estudo é que nestes doentes há

que ir mais além na identificação do que está na

base do problema do comportamento alimentar,

visto que cada uma das categorias acima mencionadas

implica uma abordagem diferente.

Abordagem

Antes que mais, há que estar atento a pequenas

alterações de comportamento e preocupações, de

modo a identificar precocemente as situações. O

alerta deve ser dado pelos pais, professores, técnicos,

terapeutas, que acompanham cada doente

no dia-a-dia e o conhecem melhor que ninguém;

se a sua intervenção atempada não for suficiente

para interromper a progressão do quadro, há que

procurar ajuda profissional, nomeadamente por

parte de quem tem experiência em DCA e PDI –

os pedopsiquiatras ou psiquiatras. Como vimos

acima, cada doente é particular nas suas motivações

para a perda de peso, e há que construir um

plano terapêutico adequado, sempre com a ajuda

da nutrição e do pediatra ou outro médico que

integre a equipa. Cada elemento da equipa deve

situar-se, inequivocamente do lado da saúde, física

e mental, ou seja, muitos doentes até têm indicação

para emagrecer, mas de modo saudável.

E, sempre, aproveitar para adquirir bons hábitos

de vida, que tantas vezes são descurados nestas

crianças e adolescentes difíceis, que tanto exigem

de quem cuida deles!

Sendo uma categoria diagnóstica recente, a Perturbação

da Ingestão Alimentar Evitante / Restritiva,

suscita hoje em dia muito interesse no que

diz respeito à necessidade de conhecer detalhadamente

cada caso e encontrar abordagens individualizadas

e eficazes. A maioria das descritas

na literatura são de natureza comportamental ou

cognitivo-comportamental, sempre alicerçadas

numa visão global, compreensiva e reflexiva, de

cada doente, que contribua para transformar as

refeições em momentos de prazer para todos.

Prevenção

Nunca é de mais reforçar a importância da prevenção,

visto que a existência de perturbações

alimentares na infância é um claro factor de risco

para DCA na adolescência e juventude, também

nestes doentes.

Muitas famílias de crianças com perturbação do

desenvolvimento intelectual, consideram que não

devem ser exigentes na sua educação, nomeadamente

na educação alimentar; a verdade é que

comportamentos cristalizados são muito mais difíceis

de mobilizar e alterar – em todas as pessoas

e em todas as idades!

Em resumo

As perturbações da ingestão e alimentação são

frequentes nas pessoas com perturbação do desenvolvimento

intelectual e têm particularidades

no seu modo de apresentação.

Antes dos quadros estarem bem instalados, há

que estar atento (família, escola, profissionais de

saúde) para os identificar precocemente e sinalizar

ao psicólogo ou pedopsiquiatra assistente.

Este é o maestro da equipa multidisciplinar que

inclui necessariamente dietista ou nutricionista e,

quase sempre, médico pediatra ou de adolescentes

ou médico de família. Nos casos que persistem,

há que pedir ajuda a equipas com experiência

em ambos os problemas, PDI e Perturbação da

Alimentação e da Ingestão.

Agradecimentos: À Ana Rita Peralta, pelo desafio; à

Rosário Stone e à Margarida Marques pelas pertinentes

sugestões na revisão do texto.

BIBLIOGRAFIA

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22 | REVISTA FENACERCI 2020


Crianças com Doença

Mental e Deficiência

Intelectual: Duplo

Diagnóstico – Duplo

Desafio!

A saúde mental é a base do bem-estar geral, e

por isso, tem existido cada vez mais, um olhar

dedicado e preocupado com o estado psíquico

da população.

Como pedopsiquiatra e tendo como alvo de

intervenção, crianças e jovens que são vulneráveis

por definição, tenho perfeita consciência

que o grau de investimento nestas fases

precoces e fulcrais do desenvolvimento, pode

condicionar o tipo de adultos que se tornarão

no futuro. Se isto é verdade para aqueles que

têm uma estrutura mental sem perturbações

nem deficiências que condicionem o seu grau

de autonomia, para aqueles que padecem de

transtornos psiquiátricos ou limitações cognitivas

(quando não ambas!), representa um

desafio acrescido para todos os que contactam

com estes jovens.

Nas últimas décadas tem-se assistido a um

olhar mais atento sobre as crianças e jovens

com perturbações do foro mental, existindo

atualmente, um conhecimento mais completo,

complexo e apurado dos vários transtor-

Rebeca Cifuentes

Assistente Hospitalar em

Pedopsiquiatria do Hospital

D. Estefânia

REVISTA FENACERCI 2020 |

23


OPINIÃO

nos psiquiátricos que influenciam a vida das

crianças e das suas famílias. Simultaneamente

tem existido também, uma maior compreensão

sobre as necessidades de que os doentes

com limitações do foro cognitivo padecem,

procedendo-se á criação de redes de infraestruturas

que apoiem estes utentes, assim

como, se denota um crescimento do investimento

realizado para ajudar as suas famílias

no que respeita ao domínio socioeconómico.

Este novo enfoque dos últimos anos, acerca

destas problemáticas, tem permitido que os

antigos “modelos asilares” se cinjam a casos

muito esporádicos que, cada vez mais, vão

sendo substituídos por apoios na rede comunitária,

em regime ambulatório, reduzindo

assim, a quantidade e tempo de internamentos

em contexto hospitalar. Também o maior

investimento que tem sido feito nesta área

tem permitido que as crianças e jovens que

antigamente constituiam “adultos condenados”

a um retiro pessoal, social e profissional,

consigam, nos dias de hoje, ser integrados

em termos relacionais e laborais. Este tipo

de apoios não só tem sido benéfico para os

utentes, como também, para os seus cuidadores,

vítimas secundárias da exclusão nas várias

dimensões da vida e que frequentemente

as doenças mentais atingem. A maior compreensão

e conhecimento destas duas áreas

têm trazido também interrogações acerca dos

pontos em que ambas as problemáticas colidem:

a dependência de terceiros, as necessidades

especiais em termos académicos ou

formativos, a vulnerabilidade perante o outro,

o estigma social, entre outros.

Será que quando falamos de duplo diagnóstico,

ou seja, doença mental com deficiência

intelectual associada se duplicam os olhares e

os cuidados? Será isto necessário? E em termos

médicos: existe a mesma sensibilidade

na leitura da sintomatologia psiquiátrica nos

utentes com incapacidades cognitivas do que

nos que têm capacidades ditas normais e que

padecem apenas de doença do foro psiquiátrico?

Se por um lado, os problemas de saúde mental

podem afetar crianças e jovens com deficiência

cognitiva tal como, qualquer outra

pessoa, por outro, sabe-se que existem vulnerabilidades

que predispõem estes utentes a

certas patologias. Parte desta fragilidade tem

por base o facto de que ambas as problemáticas

partilham as raízes etiológicas, como as

doenças de base genética, as condições metabólicas,

as sequelas pós-infeciosas, entre

outras. É também sabido que a discriminação,

a exclusão social, ou mesmo, as dificuldades

do dia a dia que os utentes com deficiências

cognitivas enfrentam, agravam e arrastam

frequentemente os quadros psicopatológicos.

O estabelecimento do diagnóstico da deficiência

intelectual preconiza (para além dos

défices nas funções intelectuais diagnosticados

e categorizados através de avaliações

psicológicas padronizadas), uma falha no funcionamento

global do indivíduo, limitando e

24 | REVISTA FENACERCI 2020


restringindo a sua participação e desempenho

em um ou mais aspetos da vida diária, tais

como, a comunicação, participação social,

funcionamento escolar ou laboral, e na independência

pessoal. Esta limitação do comportamento

adaptativo pode condicionar a leitura

de sinais e sintomas de cariz psiquiátrico

tanto por parte dos profissionais, como por

parte dos cuidadores. Acresce a esta dificuldade,

as limitações na comunicação por parte

das crianças com deficiência intelectual (dificuldades

exponencialmente maiores quanto

mais jovens sejam), podendo dificultar a expressão

de sintomas psiquiátricos, ou mesmo,

a limitação no próprio reconhecimento dos

mesmos.

Existe também a idiossincrasia dos sintomas

psiquiátricos em doentes com deficiência intelectual,

sendo que, em muitas ocasiões, os

quadros nosológicos são diferentes aos identificados

nas crianças sem deficiência intelectual.

Este condicionalismo na deteção ou

mesmo no diagnóstico de doenças do foro

mental em utentes com deficiência intelectual

é conhecida como efeito eclipse, descrito

por Reiss, Levitan e Szysko em 1982. De facto,

até às últimas décadas do século XX, parte da

sintomatologia dos utentes com deficiência

intelectual era explicada unicamente pelas

limitações cognitivas, sem excluir a possibilidade

de terem doenças do foro mental acrescidas.

Sabe-se que o prognóstico das doenças mentais

(e das suas sequelas), dependem do tempo

percorrido entre o aparecimento das mesmas

e a demora do diagnóstico que por sua vez,

permitirá a abordagem e tratamento adequado,

sendo que o impacto negativo decorrente

deste atraso é superior quanto maior seja o

intervalo.

Tratando-se de crianças e jovens e pensando

na cronicidade dos problemas cognitivos,

junto da limitação funcional acrescida (e secundária)

aos problemas do foro mental, parece

fulcral a necessidade de olhar para estes

doentes com um cuidado e acuidade esmerados,

com o fim de prevenir situações mais incapacitantes

àquelas de que já padecem.

O trabalho de quem se dedica a estes utentes

determina que, se o prognóstico quanto ao

estado mental é muitas vezes uma incógnita, a

qualidade de vida, pelo menos em termos funcionais,

melhora quando somos pró-ativos em

lidar com estes casos. A relação de confiança e

proximidade são alicerces fundamentais para

um resultado favorável. Continuar a apoiar os

utentes sem descuidar o rigor científico, é um

dever e uma obrigação para encontrar respostas

que salvaguardem os seus direitos e,

para isso, dever-se-á fomentar a investigação

nesta área.

REVISTA FENACERCI 2020 |

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OPINIÃO

Coração

Saudável:

Principais aspetos que as

pessoas que se encontram

em situação de maior

vulnerabilidade enfrentam

Paulo Jorge Monteiro

PhD e Membro da Comissão

Executiva da Fundação

Portuguesa de Cardiologia

Desde há muitos anos que a bibliografia parece

sustentar que adultos com deficiência intelectual

parecem ter um perfil de risco cardiovascular

semelhante ao da restante população ou

mesmo superior prevalência de doença, e mortalidade,

cardiovasculares em particular no

caso de adultos institucionalizados . Se considerarmos

que a proporção de mortes causadas

por doenças do aparelho circulatório (doenças

cerebrovasculares, doença isquémica do coração

e enfarte agudo do miocárdio), no total de

mortes em Portugal, em 2018, foi de 29% (e

reduzindo de 32,3% em 2008), fica evidente a

importância do investimento nos fatores de

risco modificáveis para alterar esta realidade à

qual as pessoas que se encontram em situação

de grande vulnerabilidade, e fragilidade, estarão,

naturalmente, sobre-expostas em consequência

dos respetivos riscos comportamentais

e condição de saúde de base (ex. no caso

do síndrome de Down existe um elevado risco

(40-50%) de doença cardíaca congénita ).

Neste contexto, assume grande importância a

educação das pessoas com deficiência intelectual,

seus cuidadores e familiares, para os benefícios

dum adequado regime alimentar, hábitos

de atividade física, eliminação de hábitos

tabágicos e regular acompanhamento médico.

Apesar das limitações de movimentos, que

muitas das pessoas mais vulneráveis apresentam,

a atividade física diária (30 a 60 minutos),

praticada de forma regular, pode reduzir o

risco de doença cardíaca, ajudar a controlar o

peso e reduzir o potencial para o surgimento

de outras condições prejudiciais para o coração

como a pressão arterial elevada, o colesterol

elevado e a diabetes tipo II. Igualmente

importante, e em paralelo, será a possibilidade

da ingestão, regular, de alimentos tais como as

frutas e legumes, leguminosas (feijão, lentilha,

ervilhas, grão de bico, tremoço, fava), cereais

integrais, produtos lácteos magros, peixe, carnes

de aves e preferencialmente azeite. A adoção

deste regime alimentar, em casa, ou na

instituição, deve ser acompanhada da redução

26 | REVISTA FENACERCI 2020


da ingestão de sal, açúcar, álcool e gordura saturada

(que se encontra nas carnes vermelhas

e nos produtos lácteos gordos), e das gorduras

trans (ou hidrogenadas que se encontram,

principalmente, nos produtos industriais tais

como bolachas, bolos, batatas fritas etc.). O trio

dos bons hábitos fica completo com o sono o

qual para muitos adultos deve ter a duração

de 7 horas e ser concretizado em ambiente de

escuridão e sossego. Importa que cuidadores

e familiares estejam atentos para o fenómeno

da apneia obstrutiva do sono (em que a respiração

pára, repetidamente, por tempo suficiente

para interromper o sono), a qual pode

aumentar o risco de doença cardiovascular e

que muitas vezes se manifesta por um ressonar

muito audível.

Naturalmente que o atual contexto da pandemia

do COVID-19 vem acentuar os desafios

pré-existentes já que, por um lado, a necessidade

da prestação de cuidados, às pessoas

mais vulneráveis, exige grande proximidade

física obrigando a particulares cuidados, de

proteção individual, por parte dos familiares

e cuidadores e, por outro, se verifica uma

acrescida mortalidade em doentes com patologia

cardiovascular, e de idade mais avançada,

tema que merece particular atenção por parte

do Prof. Manuel Carrageta, Presidente da FPC,

num artigo recentemente disponibilizado no

site da FPC: http://www.fpcardiologia.pt/a-

-covid-19-e-as-doencas-cardiovasculares/.

O que o momento atual sublinha, no que respeita

as pessoas com maior deficiência intelectual

e de desenvolvimento, é a necessidade de

proteção acrescida e da criação de um ecossistema,

que garanta uma adequada saúde cardiovascular

a qual, embora alavancada numa

adequada gestão dos fatores de risco, deve integrar

os adequados processos de socialização

e sobretudo muito amor e carinho por parte de

toda a comunidade.

1

Rimmer et al.(1994). Cardiovascular Risk Factor Levels in Adults with Mental Retardation. American Journal on Mental

Retardation, Vol.98, n.4, 510-518.

2

Christopher Draheim (2006). Cardiovascular disease prevalence and risk factors of persons with mental retardation.

Mental Retardation and Developmental Disabilities Research Reviews;12(1):3-12.

3

INE, Causas de Morte em 2018. 21 Fevereiro de 2020.

4

Marilyn Bull (2011). Clinicar Report – Health Supervision for Children With Down Syndrome. Pediatrics; 128: 393-406.

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PERPLEXIDADE,

COMPLEXIDADE

E SOLIDARIEDADE

© DR


O novo Corona vírus e a COVID 19

confrontaram-nos com três dimensões

que nos puseram à prova. Primeiro

sentimos o peso da perplexidade.

De facto, ninguém esperava

que uma pandemia destas viesse a

pôr em causa tudo o que dávamos

por instítuido, desde rotinas a relações,

passando até por paradigmas

que conformavam o nosso modelo

de atuação enquanto organizações.

Do espanto causado pela situação

inesperada, passámos rapidamente

para a perceção da complexidade

associada à situação, quer pelo

desconhecimento de modos de

atuação perante uma ameaça que

nos era completamente desconhecida,

quer por sermos obrigados a

rever toda a nossa cultura organizacional,

que nem de longe nem de

perto estava preparada para uma

catástrofe destas dimensões que,

soubemo-lo desde logo, não deixaria

nada na mesma. Felizmente que

tínhamos à mão e em abundância

essa arma secreta e infalível que é a

solidariedade. Apoiados uns nos outros

e com um Governo colaborante

e empenhado em trabalhar com as

organizações, designadamente na

área da segurança social e trabalho,

fomos encontrando respostas

para minimizar problemas e derrubar

obstáculos. E a verdade é que

juntos, fomos conseguindo e de tal

modo que, entre as nossas associadas,

nem sequer registámos casos

graves. Claro que ainda estamos

longe de ter a situação resolvida.

Mas aprendendo uns com os outros,

vamos certamente chegar a bom

porto.


PERPLEXIDADE, COMPLEXIDADE E SOLIDARIEDADE

Setor Social:

Um Parceiro

Essencial

Sempre e também

na resposta à pandemia

Ana Mendes Godinho

Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social

do XXII Governo Constitucional

Vivemos tempos excecionais e atípicos.

Portugal, em consequência da pandemia e à semelhança

do que se passa no resto do mundo,

tem-se visto confrontado com situações imprevistas,

externas, exigentes e que têm exigido a

mobilização de todos.

O Estado Social tem demonstrado uma grande

capacidade de resposta, nas suas várias dimensões:

saúde, proteção social e educação e o setor

social tem assumido um papel de especial relevo.

As organizações sociais têm estado na primeira

linha de resposta, de proximidade, de capacidade

de identificar os problemas, de articular e encontrar

soluções.

Movidas pelo seu interesse primeiro e último: o

capital pessoas.

O trabalho que temos desenvolvido em conjunto,

em verdadeira parceria, tem demonstrado esta

capacidade de colaboração e de complementaridade

de intervenção que permite uma capilaridade

e uma especialização para dar uma resposta

personalizada a cada pessoa.

O vírus não afeta todos de forma igual e evidencia

fragilidades e assimetrias que colocam as

pessoas mais vulneráveis em situação de maior

necessidade de acompanhamento e proteção.

Sejam crianças, pessoas com deficiência, idosos,

pessoas em situação de sem abrigo, trabalhadores,

famílias, desempregados.

Temos enormes desafios pela frente e é necessário

garantir respostas rápidas e eficazes que

não deixem ninguém de fora. O setor social é um

aliado por excelência.

Sei que Portugal pode contar com esta armada –

muitas vezes de rosto invisível – que diariamente

está ao serviço dos outros.

Com foco no essencial, na resposta dirigida aos

problemas concretos, descomplicando o acessório,

numa missão partilhada com responsabilidade

e esforço coletivo.

Este é também um momento de valorização e

afirmação do setor social em Portugal.

Um abraço.

30 | REVISTA FENACERCI 2020


O Setor

Cooperativo

Na linha da frente na luta contra a

COVID e a pensar no futuro

A excecionalidade do momento que a sociedade vive

intima o setor cooperativo a uma reflexão que tem

por base os princípios cooperativos. Esta afirmação

para alguns, não deixa de ser um lugar comum, mas

ainda assim, acreditamos que esses princípios são

um fator de competitividade e de sustentabilidade,

particularmente num período ímpar da nossa história

contemporânea em que o setor cooperativo se

assume “na linha da frente na luta contra a COVID”.

Destacamos 3 princípios que nos ajudam nesta reflexão.

• O princípio da intercooperação não só com outras

organizações cooperativas, bem como, com outras

organizações da Economia Social, do setor público

e do setor privado, na procura de um contínuo

aprofundamento das relações organizacionais, assume

uma relevância acrescida. Confrontados com

a adversidade provocada pela pandemia, a intercooperação

não poderá deixar de se assumir como

um desígnio central na superação económica, social

e ambiental. No entanto, não será eficaz se não for

acompanhada de valores organizacionais como o

compromisso, a transparência e a cooperação. O

respeito pelo compromisso para com todos os que

nos rodeiam e com a qualidade dos produtos e serviços

prestados, por um lado, e a transparência e cooperação

em todas as relações internas e externas,

por outro, são essenciais na assunção de responsabilidades

e de decisões, a nível individual e organizacional

e reforçam a importância deste princípio e do

quadro de valores associados.

• Um segundo que sinalizamos, prende-se com o

princípio da gestão democrática e de participação

dos membros das cooperativas expressado de forma

ampla e efetiva na procura das melhores soluções.

Mas não é assim tão linear como parece à primeira

vista, na medida em que, supletivamente a este

Joaquim Pequicho

Diretor Executivo da CONFECOOP

princípio cooperativo, surge aquilo que chamamos

governação multissetorial - um edifício onde residem

diferentes interesses, muitos deles antagónicos

e complexos. Vejam-se as situações em que uma

pessoa pode ser simultaneamente colaborador, cooperador,

dirigente, fornecedor e cliente. Uma multiplicidade

de papéis na sua maioria das vezes com

manifestações opostas, em que a mesma pessoa

pode apresentar mutações dependendo do papel

que assume em cada momento. Daí, considerámos

central a capacidade de introduzir nas práticas diárias

a dimensão da corresponsabilização e da partilha

como valores cooperativos que nos permitam

afirmar que esta complexidade organizacional torna

as cooperativas robustas para enfrentarem as crises

e as dificuldades, como aquela que decorre deste

surto epidemiológico.

• Por último, a preocupação com a comunidade

numa lógica de proximidade aos territórios, às necessidades,

ambições e expetativas, sublinhada pela

vinculação organizacional e comunitária. Este princípio

cooperativo é central não só para a competitividade

destas organizações mas, essencialmente,

para a sustentabilidade dos territórios. A adaptabilidade

aos contextos, a adoção de novas abordagens

e a partilha de conhecimentos são fatores de competitividade

essenciais no contexto atual. A alteração

de práticas e modelos de gestão, com uma aposta na

digitalização e investimento na transposição digital,

ou o contributo para a neutralidade carbónica e investimento

nas energias verdes, são bem exemplos

de como este princípio cooperativo se torna central

na resolução dos problemas atuais, mas também um

contributo do movimento cooperativo “… a pensar

no futuro”.

REVISTA FENACERCI 2020 |

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PERPLEXIDADE, COMPLEXIDADE E SOLIDARIEDADE

O Confinamento

nos Lares Residenciais

Uma leitura sobre comportamentos

e consequências nos residentes

Nestes últimos tempos, o mundo e as nossas vidas

mudaram de forma inesperada, face à situação

de catástrofe natural.

Em Portugal, as organizações da Economia Social

já enfrentavam grandes desafios ao nível

económico, social, político e ambiental. Com o

aparecimento da COVID-19 foi mais um desafio,

como tantos outros, que veio modificar as dinâmicas

de trabalho das organizações, mas acredito

que todas fizeram e estão a fazer o melhor,

em prol dos clientes, famílias e colaboradores.

Se a união sempre foi importante para o sucesso

de uma organização, neste momento, esta

assume ainda mais significado, porque todos

juntos, somos mais fortes para enfrentar esta

pandemia.

De acordo com as diretivas da Segurança Social

e da Direção Geral de Saúde, as organizações

procuraram implementar medidas para conter

o surto da COVID-19, alguns clientes, nomeadamente

dos Lares Residenciais, permaneceram

durante este período confinados ao espaço

institucional. Neste seguimento, ficaram privados

das visitas dos familiares e de irem a casa

durante o fim de semana, recorrendo-se assim

às tecnologias para minimizar o impacto do isolamento

físico.

Por várias razões de saúde, as pessoas com deficiência,

de uma forma geral, são uma população

particularmente vulnerável, por isso podem estar

sujeitas a um maior risco de infeção porque

as limitações físicas e/ou intelectuais podem

colocar barreiras no entendimento e na realização

de determinadas ações, nomeadamente na

lavagem das mãos, etiqueta respiratória e dis-

Jorge Pereira

Psicólogo Especialista em Psicologia do Trabalho, Social

e das Organizações

Mestre em Gestão das Organizações do 3º Setor

32 | REVISTA FENACERCI 2020


-COVID-19-COVID-19-COVID-19-COVID-19-COVID-19-COVID-19-COVID-19-COVID-19-COVID-19-COVID-19-COVID-19-COVID-19-COVID-19-COVID

QUARENTENA

QUARENTENA

QUARENTENA

FIQUE eM CASA QUARENTENA FIQUE eM CASA QUARENTENA FIQUE eM CASA QUARENTENA FIQUE eM CASA QUARENTEN

tanciamento social. Compete a cada um de nós

através de documentos de leitura fácil, jogos e

dinâmicas de grupo trabalhar e treinar comportamentos

fundamentais.

Sabemos que todos nós reagimos de forma diferente

às adversidades, porque depende muito

da nossa capacidade de resiliência e das nossas

competências de coping positivo que utilizamos

para enfrentar os obstáculos. Assim, dependente

da condição de saúde e das capacidades

cognitivas, podemos observar um conjunto de

sinais muito variados, aos quais devemos estar

atentos para intervir de forma precoce e assertiva.

A dificuldade em adaptar-se e integrar

todas as alterações provocadas por toda a situação

que vivemos e estamos a viver, são fatores

de stress que podem desencadear alterações ao

nível do: comportamento (maior irritabilidade

e conflito); humor (depressivo ou estados de

ansiedade); sono (insónias ou necessidade de

dormir muito); alimentação (compulsão ou recusa

em comer); motivação (falta de interesse

pelas tarefas). Por vezes, é necessário clarificar

informação que ouvem dos colaboradores

ou nos meios de comunicação e desmistificar

ideias erradas, por forma a reduzir os medos

e a ansiedade. Perante esta situação, a intervenção

especializada de acordo com o modelo

dos primeiros socorros psicológicos é essencial

para reduzir o stress inicial e para promover o

funcionamento adaptativo e os mecanismos de

coping positivos a curto e a médio prazo.

Após o confinamento, regressamos, de forma

faseada, a algumas rotinas que os clientes já

tinham, no entanto é importante explicar-lhes

que o facto de estarmos a retomar algumas atividades,

não significa que é o fim da pandemia

e que devemos continuar a manter os cuidados

que já tínhamos. Neste seguimento, todas as

ações e orientações têm que ser disseminadas

de forma detalhada a todos, nomeadamente o

porquê de estarem em espaços diferentes (salas,

refeitório, etc.), não havendo interações

com os colegas de outros serviços, bem como

com os colaboradores. Isto é, é necessário antecipar

aos clientes as novas dinâmicas e os novos

contextos que irão acontecer no seu dia a dia,

minimizando desta forma eventuais situações

de stress.

Nesta nova fase, é fundamental reconhecer e

identificar medos, sentimentos de ansiedade e

preocupações que possam acontecer, mas sem

cair em exageros. Também é necessário ajudar a

fazer o “luto” pelos aspetos positivos que o confinamento

proporcionou a todos.

Mesmo que tenha sido feita uma intervenção

precoce no âmbito dos primeiros socorros psicológicos,

há clientes que irão experienciar

reações ao stress (físicas, psicológicas, comportamentais,

espirituais) e que algumas destas

reações poderão interferir com o coping adaptativo

e com a recuperação, sendo fundamental

um acompanhamento terapêutico imediato. Por

isso, considero cada vez mais que os psicólogos

são uma “peça” crucial na construção do puzzle

de locais de trabalho saudáveis nas organizações.

É tempo de continuarmos unidos, para bem da

nossa comunidade e promover o bem-estar e a

saúde psicológica.

Estamos juntos!

REVISTA FENACERCI 2020 |

33


PERPLEXIDADE, COMPLEXIDADE E SOLIDARIEDADE

O meu pai usa

máscara e na

natureza nada

se cria, nada se

perde, tudo se

transforma!

A Era COVID trouxe morte, sofrimento e um colossal

teste aos serviços de saúde, aos serviços sociais,

à economia e à resiliência das pessoas e das

comunidades! Efetivamente 2020 ficará na memória

como um período em que percebemos que o

invisível e a natureza são essenciais à vida humana

e o poderio civilizacional não impede que tenhamos

que nos fechar em casa, isolar, parar o funcionamento

da maior parte da economia, cultura,

desporto, serviços sociais para reduzir o risco da

propagação da pandemia COVID. E esta realidade

da pandemia tem implicações muito diferentes em

função do contexto onde ocorre – países desenvolvidos

ou subdesenvolvidos, classes sociais ricas

ou pobres, centros urbanos/zonas rurais, etc. A

desigualdade e a exclusão acentuam o efeito negativo

da pandemia e das suas consequências sendo

evidente que a igualdade e a equidade exigem mais

políticas que as assegurem como direitos e como

realidades concretas.

A Era COVID também trouxe invenções (a necessidade

é a mãe de todas as invenções), inovação e

adaptação rápida e difícil a novas circunstâncias. E

verificamos que as pessoas cumpriram diretrizes,

isolaram-se, assumiram novos comportamentos,

socialmente responsáveis e atitudes de solidariedade

relativamente aos mais desprotegidos. Desenvolvemos

novas formas de trabalhar – teletrabalho,

de nos relacionarmos – telefone, videoconferências,

de dedicarmos tempo e esforço às nossa casas

e famílias - acho que muitas casas tiveram a limpeza

da primavera antecipada e reforçada e nunca

Rosa Couto

Diretora Geral

da CERCIESPINHO

se passou tanto tempo em família, redescobrindo

novas formas do ocupar o tempo num espaço da

casa e de realizar desporto, cultura e lazer a partir

nesse contexto. A saúde e empresas de bens e serviços

essenciais mantiveram-se a trabalhar e foram

reconhecidos pelo seu esforço e dedicação – precisamos

de um médico, bombeiro, caixa de supermercado,

farmacêutico, trabalhadores de limpeza

urbana, eletricidade, água e saneamento!

Ora, é esta a vertente que temos que considerar

– a mudança e a inovação. O meu pai de 87 anos

usa máscara e nunca conseguiu aceitar outras coisas,

como usar sapatilhas. Passou uma vida inteira

sem conseguir introduzir determinadas inovações

e mudanças mas num curto espaço de tempo acedeu

às mudanças desta nova Era. A mudança fez-se

sentir na forma como as pessoas e comunidades

reforçaram a solidariedade – inúmeros projetos

de apoio aos sem-abrigo, hospitais de campanha e

áreas para receberem infetados de serviços sociais e

de cidadãos sem condições de isolamento em casa,

particulares e empresas conceberam, produziram e

ofereceram EPI às comunidades e às organizações.,

Criaram-se produtos, serviços e materiais e reorganizaram-se

as linhas de produção e distribuição.

A solidariedade, a responsabilidade social e a inovação

marcaram este período! E esperemos que

a lei de conservação da matéria, de Lavoisier “ na

natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”

traduza a inovação deste período, em que

tivemos que transformar formas de fazer, de nos

relacionarmos, de assumirmos responsabilidade

pela nossa comunidade. E queremos que estas mudanças

positivas que vieram com a COVID fiquem

e se ampliem – quem sabe mais economia circular,

produção e consumo nas localidades, atividades

ambientalmente responsáveis, etc. Todos sentimos

outro conforto no silêncio pontuado pelos chilrear

dos pássaros e na paisagem vista da nossa janela

cheia de vida e de beleza – esta é também uma mudança

que podemos tentar manter!

34 | REVISTA FENACERCI 2020


Ocupação e tempos

livres em tempo de

distanciamento social –

Que desafios?

A importância de trabalhar os afetos sem toque

Rosa Couto

A Pandemia COVID 19 confrontou-nos com significativas

alterações das rotinas pessoais e dos serviços

desenvolvidos. Assim, a rotina caraterizada por

estarmos fora de casa a maior parte do dia alterou-

-se para uma rotina dentro de casa. O confinamento,

isolamento e a menor atividade em termos de

serviços foram contrabalançados com o estreitar

de relações, pela manutenção dos contatos com

clientes, amigos e familiares através do telefone,

videochamadas e plataformas digitais, pelo reforço

das redes de vizinhança, pelas atividades à janela

ou na varanda, pelo investimento no nosso tempo

pessoal, na organização e investimento na nossa

casa, na leitura e desporto indoor. O distanciamento

físico foi compensado por uma significativa interação

telefónica que permitiu reduzir a incerteza

e insegurança fomentando o contato e a partilha

de informação, facilitando a ligação emocional, o

apoio num período de medo, a partilha de emoções

para reduzir o efeito da separação – afinal estávamos

juntos! Os contatos telefónicos com as famílias

dos nossos clientes e com os clientes, permitiu

trabalhar as emoções como o medo, a solidão ao

mesmo tempo que criou oportunidades para estabelecer

uma ligação, apresentar sugestões de atividades

e fornecer materiais e produtos necessários

como os Manuais de atividades para os clientes do

CAO, do CRI, do Centro Comunitário e do CLDS,

refeições e alimentos a algumas das famílias, garantindo

os bens necessários mas igualmente uma

voz amiga e uma ponte com as restantes pessoas.

As interações pautaram-se pelo medo e distanciamento

levando à maior utilização da comunicação

verbal com base na tecnologia e da não-verbal. Assim,

o afastamento físico permitiu outras formas de

cumprimento (toque do cotovelo, do pé, abanar as

mãos (bater palmas na língua gestual Portuguesa e

a saudação asiática), Destacou-se o sorriso, o olhar

e a palavra como elementos essenciais na relação.

Estes correspondem a componentes muito ricos

no significado da relação e na transmissão de emoções,

que neste período foram essenciais na manifestação

dos nossos sentimentos, na transmissão

de informação e no estabelecimento e manutenção

das relações. As videochamadas, pequenos

filmes e visitas domiciliárias e ao Lar e Residência,

sem contato físico, facilitaram a interação durante

um período de distanciamento físico.

E agora estamos novamente juntos mas com cautelas

e regras de funcionamento diferentes – desinfeção

de mãos e espaços, máscara e distanciamento

físico, grupos pequenos e fixos, suspensão

temporária de atividades no exterior e em grandes

grupos mas somos seres sociais e os reencontros

trouxeram sorrisos, gestos e palavras como

saudade e mesmo sem toque é possível sentir as

emoções, partilhar os sentimentos e reencontrar

formas de interação, de afetos, garantindo a

necessária prevenção da transmissão da COVID.

Temos grandes desafios pela frente, nas organizações

e nos contextos familiares, de manter

relações fortes, saudáveis, de sermos capazes de

partilhar emoções e sentimentos através das palavras,

sorrisos, gestos, formas milenares de interação

humana, mantendo o desejo do toque para

tempos mais seguros, que com certeza estão aí ao

virar da esquina. E nessa altura poderemos acrescentar

o toque, o abraço, o beijo às muitas formas

de interação humana que dão significado à nossa

existência de seres sociais.

REVISTA FENACERCI 2020 |

35


PERPLEXIDADE, COMPLEXIDADE E SOLIDARIEDADE

“Tertúlias

à Sexta”

Sara Gésero Neto

Responsável pelo Núcleo

de Formação e Qualificação

da FENACERCI

Num contexto particularmente adverso, imposto

pela pandemia Covid-19, marcado por tempos de

incerteza, inquietação, isolamento social e suspensão

de atividades nos modelos tradicionalmente

desenvolvidos e conhecidos, surgiu o projeto

“Tertúlias à Sexta”.

Tendo por base a sua missão de representação

e proximidade, a FENACERCI assumiu um papel

preponderante, demonstrando a sua capacidade

de inovação e adequação à realidade atual e às necessidades

concretas da sua rede de associadas,

organizações congéneres e entidades parceiras.

O projeto “Tertúlias à Sexta”, gerido pelo Núcleo

de Formação e Qualificação, consubstancia-se

na realização de tertúlias informativas que visam

abordar um conjunto diversificado de temas visando,

como fim último, contribuir para o progresso, a

reflexão, a disseminação de informação, a criação

de sinergias e o reforço de cooperação e solidariedade

entre as organizações representadas.

Com recurso a ferramentas e plataformas que

até ao momento ainda não tinham sido exploradas

em todos os seus domínios e potencialidades,

desde abril até ao presente (junho de 2020), têm

sido dinamizadas tertúlias semanais, envolvendo

participantes de norte a sul do país, que reconheceram

a importância e as mais valias deste espaço

e tempo de reflexão, partilha e cooperação à distância

e, sobretudo, de alinhamento organizacional

a nível político e técnico.

Os temas abordados em cada tertúlia procuraram

primar pela diversidade de conteúdos e destinatários,

indo de encontro a questões emergentes

relacionadas com os desafios colocados em matéria

de gestão organizacional; gestão de recursos

humanos; organização e funcionamento das

diferentes respostas sociais; gestão emocional, do

stress e motivação de equipas; o papel, a intervenção

e a importância de cada função para a superação

dos desafios emergentes, bem como o reforço

da participação das pessoas com deficiência e das

suas famílias. Foram, assim, dinamizadas 13 tertúlias,

subordinadas aos seguintes temas:

1. Covid-19: Ameaças e desafios para as Cooperativas

de Solidariedade Social;

2. Gestão de emoções e relações em tempo de crise;

3. Humor como ferramenta de gestão do stress;

4. Gerir em tempo de crise;

5. Vamos falar de apoio residencial;

6. O nosso papel como psicólogos/as;

7. Lazer com Prazer: Ler, ver, ouvir e refletir;

8. Vamos falar sobre educação;

9. O nosso papel como assistentes sociais;

36 | REVISTA FENACERCI 2020


10. Nós por Nós Próprios – tertúlia dirigida a pessoas

com deficiência e famílias;

11. Vamos falar sobre Apoio Ocupacional, Cultura,

Desporto e Lazer;

12. O nosso papel como auxiliares, monitores, ajudantes

familiares e assistentes administrativos;

13. E Depois da Covid-19 – abordagem do enquadramento

proposto pela FENACERCI.

Estas tertúlias foram assistidas por 663 participantes

provenientes de 40 organizações (30

associadas da Federação e 10 organizações congéneres).

Importa referir que a participação de

organizações congéneres nestas tertúlias está intrinsecamente

relacionada com o reconhecimento

deste espaço como referência de ação, acesso a

informação e partilha de conhecimento.

O projeto “Tertúlias à Sexta” revelou-se um espaço

de excelência do reforço da coesão e alinhamento

organizacional, uma plataforma de comunicação

e partilha de informação, da qual resultaram um

conjunto de sugestões de temas a abordar, onde

foram lançados novos desafios, bem como propostas

de trabalho concretas.

Fruto desse trabalho profícuo, a FENACERCI preparou

um documento estratégico sobre a retoma

do funcionamento da sua rede de associadas;

definiu uma estratégia de futuro alinhada com os

desafios que se colocam às diferentes respostas

sociais; implementou um modelo de oficinas temáticas

que visa promover a reflexão e o trabalho

inter-organizacional sobre as diferentes respostas

sociais; prolongou o projeto “Tertúlias à Sexta”

atendendo aos diferentes pedidos de continuidade;

dinamizou um novo espaço no seu sítio da

internet dedicado ao tema do humor como ferramenta

de gestão do stress e alargou a oferta temática

de tertúlias de forma a ir ao encontro das

necessidades sentidas pelas famílias e pelas pessoas

com deficiência.

Consciente da importância do seu papel, a FE-

NACERCI tem assumido durante a atual fase de

pandemia uma aposta clara na promoção de uma

cultura organizacional forte, com valores profundamente

arraigados; com estratégias, conteúdos

e canais de comunicação e informação reforçados;

ampliando as competências e capacidades de

liderança; chamando à reflexão e intervenção todos

os profissionais, as famílias e as pessoas com

deficiência, contribuindo de forma indubitável

para as soluções de sucesso que as cooperativas

de solidariedade social têm evidenciado na resposta

à crise mundial que atravessamos. O projeto

“Tertúlias à Sextas” faz parte desta aposta.

Dados estatísticos de avaliação das Tertúlias:

Grau de satisfação avaliado numa Escala de Likert de 0 a 10,

em que 0 corresponde a Nada Satisfeito e 10 corresponde a

Muito Satisfeito obtivemos as seguintes percentagens:

TESTEMUNHOS

“O desafio atual que todos enfrentamos condiciona a nossa proximidade

física mas estas ações devolvem-nos a proximidade intelectual

e emocional que nos tornará mais reflexivos, em comum.”

“Gostaria de deixar uma mensagem de agradecimento pela capacidade

que a FENACERCI tem de se reinventar num momento

de crise, como a que vivemos, promovendo uma aproximação e a

partilha entre organizações. Bem hajam!”

“Considero que a FENACERCI teve uma excelente ideia em promover

estas Tertúlias entre as organizações associadas com temas

que permitem a troca de ideias e experiências no apoio a

pessoa com deficiência e que, fundamentalmente, estabelece

uma partilha comum de conhecimento, aproximando as organizações

associadas.”

“As tertúlias têm sido uma excelente fonte de encontro e aproximação

das pessoas e das organizações, num modelo de debate

participado, profícuo, livre e economicamente construtivo. Ainda

que centradas num tempo de crise, há sinais de mudança e abertura

ao futuro muito interessantes.”

REVISTA FENACERCI 2020 |

37


HAJA

SAÚDE

Nesta altura a frase torna-se quase redundante. Mas a verdade é

que para irmos para qualquer lado o fundamental, antes mesmo da

partida, é que haja saúde. O resto certamente virá por acréscimo.

© DR



HAJA SAÚDE

Perturbação do

Espetro do Autismo e

Integração Sensorial

40 | REVISTA FENACERCI 2020


Muitas crianças com Perturbação do Espetro

do Autismo (PEA), apresentam dificuldades de

processamento sensorial. Estas dificuldades

têm impacto no seu comportamento, aprendizagem,

interação social e participação nas atividades

da vida diária.

Segundo Ayres, J. (2005), a integração sensorial

define-se como o processo neurológico que organiza

as sensações do meio envolvente e do

próprio corpo, permitindo a participação do

indivíduo nos seus contextos de vida. Segundo

diversos estudos científicos, a Terapia de Integração

Sensorial, desenvolvida pela Terapeuta

Ocupacional A. Jean Ayres, comprova-se eficaz

no desenvolvimento das capacidades funcionais

de crianças com PEA.

O processo de integração sensorial abrange as

sensações que recebemos dos sete sistemas

sensoriais: olfativo, tátil, auditivo, visual, gustativo,

propriocetivo e vestibular. Este processo

engloba perceção, reatividade e processamento

sensorial e ainda as funções motoras associadas,

como praxis (capacidade que nos permite

planear e executar uma ação), integração bilateral

e controlo postural.

É comum observar uma criança com PEA com

dificuldades de participação nas rotinas diárias

e em tarefas como vestir/despir, banho, alimentação,

brincar, saídas familiares, atividades

sociais e/ou tarefas escolares.

Muitas crianças com PEA apresentam um perfil

de hiper-reatividade tátil e, por isso, evitam

tocar em determinados materiais e não são capazes

de tolerar determinadas texturas com as

mãos, inibindo assim, a sua participação em tarefas

escolares. Por outro lado, se apresentam

pobre discriminação tátil, poderão apresentar

maior dificuldade em concretizar a tarefa de

apertar os cordões, em identificar ou distinguir

diferentes materiais, exigindo um maior esforço

e atenção por parte da criança. Ao nível do

planeamento motor e da praxis, são observadas

dificuldades na concretização de tarefas mais

complexas e não familiares. A exposição a sons,

como o ruído de determinados equipamentos

domésticos ou festas de aniversário, pode

causar dificuldades de participação e comportamentos

de hiper-reatividade. A área da alimentação

pode ser igualmente um desafio para

crianças com PEA, uma vez que está relacionada

com várias sensações (olfativas, visuais e táteis).

Frequentemente, as dificuldades de participação

social, para além de outras inerentes à PEA,

podem estar também relacionadas com dificuldades

de modulação sensorial. Observam-se

ainda, outras dificuldades como ajustar o nível

de alerta e de arousal (atenção/concentração) e

alterações ao nível do sono e ansiedade.

É importante compreender que estes comportamentos

podem variar de acordo com o perfil,

com o contexto e com a forma como a criança

processa as sensações. Quando as dificuldades

de participação e de comportamento estão

relacionadas com dificuldades de integração

sensorial, esta deve ser encaminhada para um

terapeuta ocupacional especializado, no sentido

de avaliar e definir um plano de intervenção

ajustado às suas necessidades.

Maria João Fernandes

Terapeuta Ocupacional

Referências:

Schaaf, R. C., Mailloux, Z. (2015). Clinician’s guide for

implementing Ayres Sensory Integration – Promoting

participation for children with autism. AOTA,

Montgomery Lane.

REVISTA FENACERCI 2020 |

41


HAJA SAÚDE

Mais Saúde

Oral

CEERDL

Ter uma boa saúde oral significa viver com mais

saúde! Esta é a mensagem que o CEERDL procura

passar a todos os seus clientes e familiares,

através do desenvolvimento do Plano Mais

Saúde Oral uma iniciativa multinível, desenvolvida

em parceria com a Clínica Europa, que visa

melhorar a literacia em saúde oral, promover a

adoção de comportamentos saudáveis, prevenir

doenças da boca através do controlo de fatores

de risco e, acompanhar clientes a consultas de

vigilância regular e tratamentos.

Muitos problemas da boca estão relacionados

com fatores não modificáveis que exigem particular

atenção (e.g. idade, hereditariedade, medicação).

Porém, existem fatores de risco especificamente

relacionados com comportamentos e

hábitos de vida, esses sim, modificáveis (e.g. dieta

rica em açúcar, consumo de tabaco e álcool,

falta de higiene oral).

A fim de prevenir, reduzir e evitar tais problemas,

o CEERDL mantém a preocupação de melhorar

o acesso das pessoas com deficiência e

outras incapacidades à saúde oral, mas mais do

que isso, levá-las a compreender de forma positiva,

a sua importância para uma vida com mais

saúde, bem-estar e qualidade.

As sessões de sensibilização passam por alertar

para a importância de ter uma boca saudável e o

seu impacto na forma como conseguimos realizar

ou não atividades muito importantes do

nosso dia-a-dia como falar, mastigar, engolir,

sorrir, rir e relacionarmo-nos com os outros;

mas também na sua importância para vivermos

com confiança e mantermos uma boa autoestima.

Ainda, é prestada informação acerca das

principais alterações da saúde oral mas também

da importante relação com a saúde geral, nomeadamente,

influência da alimentação (e.g. a

importância de limitar o consumo de alimentos

e bebidas ricas em açúcares), consumo de álcool

e tabaco, outras doenças (e.g. diabetes, doença

cardíaca, infeções).

Nas sessões, é também realizada pela médica

dentista, uma exemplificação sobre como fazer

uma correta escovagem de dentes e sua frequência,

essencial para prevenir inflamações, situações

de dor, cáries dentárias e outras lesões.

Os clientes são alertados para os principais sinais

e sintomas das cáries dentárias e é feita a

distribuição de um Kit Oral a todos os participantes,

composto por uma escova e uma embalagem

de pasta de dentes.

A par das sessões de sensibilização, os clientes

são diariamente estimulados a cumprir, de forma

regular, a sua higiene oral mantendo-se iniciativas

supervisionadas de escovagem de dentes

junto de clientes com menos autonomia.

Finalmente, a fim de serem detetadas e tratadas

o mais atempadamente possível quaisquer tipo

de alterações, evitando tratamentos mais invasivos

e perdas dentárias, os clientes do CEERDL

são acompanhados a consultas regulares ao dentista,

para efeitos de vigilância e tratamentos.

Porque ter uma boa saúde oral significa viver

com mais saúde, Plano Mais Saúde Oral é uma

aposta do CEERDL na promoção da qualidade de

vida dos seus clientes.

42 | REVISTA FENACERCI 2020


Mexe-te, pela

tua saúde!

CERCIBRAGA

O desporto adaptado e atividade física permitem

promover junto dos adultos da CERCI BRAGA hábitos

de vida mais saudáveis mas acima de tudo, combater

os comportamentos de sedentarismo e inatividade

que motivam o aparecimento de doenças bem caraterísticas

nesta população. A obesidade, problemas

cardíacos, diabetes são algumas das patologias mais

comuns, contudo, ao nível da saúde mental também

se denotam quadros de ansiedade, depressões, etc …

A participação em iniciativas de âmbito desportivo

contribuem claramente para ajudar a contrariar este

tipo de problemas e, ao mesmo tempo, ajuda a minimizar

os efeitos negativos de um estilo de vida que a

longo-prazo se torna claramente prejudicial para os

clientes.

O objetivo inerente à prática desportiva é sempre a

melhoria da qualidade de vida e saúde dos clientes,

mas também, o meio para a reabilitação física, psicológica

e social dos mesmos. A escalada, o andebol, o

karaté, o snagolf, a piscina fazem parte do leque de

modalidades à disposição dos nossos jovens e adultos

com deficiência intelectual. Se para uns a integração

em determinadas modalidades visa apenas promover

o bem-estar e a promoção da atividade física, para

outros, definem-se metas mais ambiciosas onde o

foco é a competição e o desenvolvimento de competências

mais avançadas. A instituição investe bastante

na criação de oportunidades que potenciem a participação

em diferentes modalidades desportivas por

isso, apesar de semanalmente haver um foco maior

nas atividades já mencionadas, estamos igualmente

receptivos a participar em eventos ou iniciativas pontuais.

A escalada adaptada, um desafio abraçado desde 2015

através da parceria com o Clube de Escalada de Braga,

constitui atualmente a atividade em que incluímos

mais clientes. Assistimos a um crescimento e visibilidade

surpreendente ao nível da modalidade. No ano

passado, a V Prova de Escalada Adaptada reuniu mais

de 100 pessoas com deficiência intelectual, deficiência

motora e amblíopes, praticantes determinados,

onde os handicaps não são vistos como um problema.

Mais recentemente, a parceria com o ABC de Braga,

despertou uma motivação extra para a prática do andebol

adaptado. Constituída a equipa ABC/CERCI-

BRAGA começámos a dar passos no sentido de participarmos

nos campeonatos regionais organizados

pela ANDDI, bem como, em outros jogos amigáveis

que nos possibilitam criar o sentimento de pertença

à equipa e ao ABC de Braga, clube cuja notoriedade

nacional é evidente. Envergar a camisola oficial do

Clube acrescenta uma maior responsabilidade e motivação

à equipa. De forma a potenciar os resultados

da equipa, temos a treinadora de andebol adaptado

- Beatriz Durães – que assume o treino semanal. O

papel da treinadora, a par do nosso fisioterapeuta e

da nossa monitora tem feito toda a diferença no nosso

percurso. Somos ainda uma equipa em construção

mas em que já se denota uma evolução significativa.

O Centro de Desporto Adaptado da Câmara Municipal

de Braga disponibiliza ainda modalidades como o

karaté, iniciativa em que podemos integrar dois grupos

de clientes, uns em que o objetivo é apenas de

incentivar a que pratiquem algum exercício físico e,

um outro grupo, em que caminhamos no sentido de

os capacitar para irem mais longe e, quem sabe, no

futuro poderem fazer parte de provas ou campeonatos

da modalidade.

Joel Machado, fisioterapeuta da instituição, refere

“enquanto fisioterapeuta e responsável pela área de

desporto da CERCIBRAGA, sei quais as mais-valias

inerentes ao facto dos nossos clientes terem uma prática

desportiva regular”. Em primeiro lugar, e a mais

evidente é o impacto emocional e mental que tem

em cada um deles. O conhecimento corporal adquirido

na sequência das experiências nas modalidades

é também de extrema importância para a sua autonomia

e autoestima. Em segundo lugar, e não menos

importante devido ao facto do índice de sedentarismo

ser mais elevado nesta população, todos os benefícios

físicos e de saúde se tornam mais clarividentes com a

prática desportiva. Reforça ainda que o Karaté, a Escalada

e o Andebol acabam por ter mais impacto devido

ao facto dos técnicos responsáveis e monitores

terem um grande empenho e dedicação no trabalho

desenvolvido na área do desporto adaptado.

REVISTA FENACERCI 2020 |

43


HAJA SAÚDE

COATTITUDE

Um projeto

orientado para a

promoção

da saúde física

e mental

Assumindo a arte como um elemento importante

para promover a expressão, a comunicação e

a integração entre as pessoas, a CERCICOA dá

enfase à criação de projetos que integrem atividades

no âmbito da expressão plástica, motora

e dramática. Nesse contexto, têm sido candidatados

projetos ao financiamento pelo INR,IP

de modo a intervir na melhoria da saúde mental

dos clientes, bem como, no empowerment dos

mesmos no que respeita à sua criatividade, integração

na sociedade e capacidade de iniciativa.

Na sequência dos projetos desenvolvidos e tendo

em conta a importância que ambos demonstraram

ao nível da saúde, uma vez que apelam

para a melhoria do bem estar físico, mental e

emocional dos clientes, sentiu-se a necessidade

44 | REVISTA FENACERCI 2020


de desenvolver o Atelier das Artes, bem como

de criar o Grupo de Expressões, COATTITU-

DE. Com estes grupos, temos desenvolvido um

trabalho que procura explorar as qualidades e

o potencial artístico de todas e todos os participantes.

No atelier de artes plásticas cada cliente tem a

oportunidade de se expressar livremente com

recurso a diversos materiais e técnicas, nomeadamente

pintura, escultura, reutilização de

materiais (papel, cartão, plástico, cortiça) e trabalhos

manuais (crochet, feltros, entre outros).

Estes trabalhos são posteriormente expostos

em entidades nos concelhos de abrangência de

modo a potenciar o conhecimento e a apreciação

do potencial criativo de quem os executa,

permitindo assim, que a comunidade conheça e

se delicie com as suas obras.

Nas sessões com o Grupo COATTITUDE, são

desenvolvidas atividades de dança, música,

expressão dramática, exercícios de expressão

corporal, canto e dinâmicas de relaxamento que

posteriormente culminam num espetáculo de

apresentação pública.

Todas as ações concretizadas permitem a aquisição

de um modo de vida mais ativo, através da

alteração das suas rotinas, a melhoria de competências

ao nível da expressão de emoções e

pensamentos, coordenação motora, orientação

espácio-temporal, concentração, partilha de

conhecimentos e uma melhoria da sua mobilidade

no dia-a-dia. Paralelamente a estes aspetos,

é importante evidenciar também a estreita

articulação com os serviços de saúde, o que

proporciona um acompanhamento de proximidade

e que resulta numa melhoria ao nível da

adesão à terapêutica e consequente redução do

número de internamentos psiquiátricos.

Em suma, o acompanhamento adequado, as

atividades desenvolvidas, bem como, as exposições

e os espetáculos realizados, contribuem

significativamente para uma melhoria contínua

da situação de saúde física e mental de cada interveniente,

assim como, no que respeita à sua

autoestima, autoconhecimento, relação interpessoal,

integração na comunidade e valorização

das suas competências pessoais e sociais.

Filipa Guerreiro

Educadora Social

Raquel Alexandre

Psicóloga

REVISTA FENACERCI 2020 |

45


HAJA SAÚDE

Consulta

Domiciliária

Uma Boa Prática

de Cuidados

Diferenciados

CERCIDIANA

Não se tratando de nenhum projeto formalizado

no domínio da saúde, gostaríamos de partilhar

convosco aquilo que consideramos ser um

exemplo de boas práticas, neste domínio, com

importante impacto na qualidade de vida dos

nossos clientes.

Presentemente, todos os clientes do Lar Residencial

da CERCIDIANA são atendidos no seu

contexto de vida, num ambiente informal, quer

pelo seu médico de família, quer pelo médico

psiquiatra, quer ainda, pela enfermeira sempre

que necessitam da administração de injetáveis.

Os profissionais de saúde diferenciados, assim

como, os elementos da equipa técnica do Lar

Residencial participam nas consultas conjuntas

podendo, desde logo, aferir das terapêuticas e/

ou esclarecer dúvidas de âmbito clínico e/ou

comportamental de maneira mais cuidada. Os

nossos clientes sentem-se, naturalmente, em

casa com todas as vantagens que daí decorrem

para uma intervenção desta natureza.

Daqui resultam melhorias inestimáveis face ao

passado. Melhoram os processos de comunicação,

melhora o comportamento dos clientes,

bem como, a relação entre todos os intervenientes.

De maneira mais prática, é a partir de

uma articulação entre agendas de diferentes

profissionais, assim como, da sua disponibilidade

para se deslocarem ao contexto de vida dos

nossos clientes que tudo isto se torna possível.

Assim, não temos mais necessidade de realizar

deslocações sucessivas a diferentes respostas da

saúde com tempos de espera, por vezes, incomportáveis

para pessoas com estas características

e por caminhos mais ou menos tortuosos, sobretudo,

para quem se desloca em cadeira de

rodas.

Assim, também se agilizam processos e se aprofunda

uma relação de cuidado que se consubstancia

nos cuidados diferenciados prestados

aos nossos clientes, que colaboram com maior

envolvimento e menos ansiedade relacionada

com o contexto.

46 | REVISTA FENACERCI 2020


O Impacto

na Qualidade de

Vida da Psiquiatria

Comunitária

O projeto de psiquiatria comunitária teve início em

2018 e funciona na base da parceria entre o Centro

Hospitalar de Vila Nova de Gaia (CHVNG) e a CER-

CIESPINHO, decorrente de uma proposta formal

à CERCIESPINHO para integrar um projeto piloto

de psiquiatria comunitária do Serviço de Psiquiatria

e Saúde Mental deste Centro Hospitalar.

Considerando a necessidade premente de serviços

na área da saúde mental, da urgência de aproximar

esta área da saúde às pessoas, acrescida do

sentimento de impotência e de dificuldades na

atuação, nesta área da saúde, por parte da nossa

organização, aceitámos imediatamente participar

no projeto. Assim, em 2018, foram estabelecidas

consultas semanais e quinzenais, nas nossas instalações

sendo sinalizados e consultados 13 clientes

entre 15 de outubro a 10 de dezembro.

Ao caráter inovador e indispensável do projeto

acresceu a competência técnica das psiquiatras

envolvidas e principalmente as metodologias de

trabalho implementadas. Assim, semanalmente

foram discutidos pelas equipas do Lar e do Centro

de Atividades Ocupacionais (CAO), os clientes

a propor para consulta, aferidos os indicadores e

informação na área da saúde mental (medicação,

comportamento, outros), e proposto às famílias a

participação no projeto. Após validação pela equipa

e família, o caso era apresentado às psiquiatras

com informação de enquadramento, pelos técnicos

de interface. A médica no dia da consulta, iniciava

uma reunião com os técnicos e depois reunia

com os familiares e também com os clientes,

permitindo um contexto de informação de enquadramento

que raramente é possível em contexto

hospitalar. Deste modo, foram realizadas 18 consultas

a 13 clientes (8 clientes do CAO e 5 do Lar),

sendo que 9 corresponderam a primeiras consultas

tendo-se verificado 18 alterações na medicação

prescrita. A troca de informação na consulta e

por correio electrónico permitiu ajustar a medicação

e contribuiu claramente para o bem-estar dos

clientes e para a redução de crises e de períodos

de descompensação, bem como, eliminou as urgências

psiquiátricas nestes 2 meses.

Durante 2019, mantiveram-se as consultas de abril

a agosto e novamente a partir de novembro, com

uma nova metodologia – uma psiquiatra supervisora

que permite a continuidade do processo e articula

internamente no CHVNG de forma a facilitar

os encaminhamentos ou estruturar a interação da

psiquiatra deste projeto com os psiquiatras que já

acompanham alguns dos nossos clientes. Em 2019

foram realizadas 63 consultas com 24 clientes (10

clientes do Lar, 12 do CAO e 2 do Centro de Apoio

à Vida Independente – CAVI), traduzidas em 15 primeiras

consultas, 40 reavaliações e 32 alterações

na medicação.

Verificamos, ao longo do projeto um conjunto de

resultados muito positivos, nomeadamente a ausência

de urgências psiquiátricas no período das

consultas, reduzindo processos de crise, permitindo

fazer ajustamentos entre consultas que reduziram

o sofrimento dos clientes e contribuíram

para o bem-estar de colegas e colaboradores,

proporcionando um melhor funcionamento dos

serviços e claramente impactando na qualidade de

vida dos clientes, famílias e dos colaboradores dos

serviços envolvidos. O impacto nas famílias foi evidente,

quer na desconstrução de estereótipos relativamente

ao disgnóstico duplo e à saúde mental,

quer facilitando a deslocação para as consultas e

evitando faltas, quer ainda, pelos encaminhamentos

para outras especialidades propostas e cuja

articulação interna facilitou o processo. Acresce, a

melhorada monitorização e acompanhamento que

os serviços envolvidos realizaram quer em termos

de capacitação das equipas para identificar especificamente

sintomas e evidências representativas

de alterações na situação de saúde do cliente, quer

no apoio às famílias no acompanhamento da administração

terapêutica e facilitação de troca de

informação sobre as especificidades da deficiência

intelectual com as psiquiatras envolvidas.

O projeto claramente enriqueceu todas as partes

envolvidas, fomentando uma curva de aprendizagem

expressiva mas, acima de tudo, forneceu aos

nossos clientes e famílias um apoio essencial, numa

área tão sensível da saúde, contribuindo para a sua

saúde mental e para a sua qualidade de vida.

Rosa Couto

Diretora Geral da CERCIESPINHO

REVISTA FENACERCI 2020 |

47


HAJA SAÚDE

O Reiki e a

Saúde Mental

CERCIGUI

Reiki a arte de ser feliz na CERCIGUI é um Projeto

destinado a jovens adultos com deficiência

que, além do seu diagnóstico que normalmente

implica, défices cognitivos, físicos e mentais,

muitas das vezes não possuem ferramentas para

gerir as suas emoções, apresentando consequentemente

alterações comportamentais que

dificultam o envolvimento e participação ativa

nos seus contextos. Estas alterações podem dar

origem a doenças psicossomáticas, isolamento,

agressividade, etc. As psicoterapias e terapias

medicamentosas por vezes não surtem o efeito

desejado e o recurso à aplicação de terapias

alternativas como é o caso do Reiki, surge como

um caminho eficaz. Esta terapia holística trabalha

o campo energético e constitui-se como terapia

não invasiva. Aliás, as terapias de cura pelo

toque são práticas ancestrais muito em voga

nos tempos atuais, e embora sendo de natureza

espiritual, não estão associadas a nenhuma religião

ou prática religiosa.

48 | REVISTA FENACERCI 2020


COOPER ATIVA DE EDUCAÇÃO E REABILIT AÇÃO

DE CID ADÃOS C OM INCA PA CID ADES DE GUIMARÃES

O projeto na CERCIGUI, iniciado em 2016, aposta

no Reiki inclusivo pois para além das aplicações

da terapia, promove ainda o ensinamento

da mesma para posterior aplicação a outros

públicos. Um ano após o arranque em 2017, foi

possível iniciar um projeto de voluntariado dos

jovens da CERCIGUI, aos clientes do Lar de Mascotelos,

em Guimarães. Esta é a verdadeira inovação

do nosso projeto, pois não se trata só do

ensino de Reiki com acompanhamento a jovens

da CERCIGUI, como também, da sua capacitação

como voluntários, com bons resultados nas

terapias implementadas. Esta particularidade

do nosso projeto de Reiki foi salientada recentemente

no Seminário “Reiki na Saúde Mental

- Diminuir diferenças, construir pontes”, organizado

pela Associação Portuguesa de Reiki. O

projeto da CERCIGUI foi um dos apresentados

ao auditório, sendo mais uma oportunidade de

espelhar a abordagem integrativa desta terapia

complementar.

Recorde-se que Portugal é o 5º país, na União

Europeia, com mais casos de doença mental,

indicando que 18,4% da população sofre de depressão,

ansiedade ou problemas no consumo

de álcool e drogas. Sendo este um grande desafio

para a sociedade, respostas inovadoras são

necessárias para auxiliar o trabalho do Sistema

Nacional de Saúde e instituições que se dedicam

à problemática da saúde mental. O Reiki,

como prática de terapia complementar, poderá

ajudar numa abordagem integradora. Cada vez

mais, clínicas e hospitais oferecem esta terapia

complementar para diversas doenças e condições

de saúde. Quem a recebe, relata alívio dos

sintomas de inúmeras patologias, incluindo as

do foro mental, alívio do stress, ansiedade, depressão

e dor crónica. Atualmente existem pesquisas

que comprovam a eficácia do Reiki em

diversas áreas da saúde. Nestas pesquisas, os

tratamentos de Reiki produziram sinais claros

de redução do stress, verificados pelas alterações

das medidas autónomas e biológicas como

os batimentos cardíacos (Baldwin, Wagers and

Schwartz, 2008) e informações celulares (Baldwin,

Wagers and Schwartz, 2006). A aplicação

e a aprendizagem da Terapia Reiki aprofunda o

auto conhecimento, desenvolve a auto estima,

bem como o equilíbrio físico, mental, emocional

e energético, o que trará uma maior harmonia

às pessoas que a utilizam ou usufruem da

mesma, podendo assim ajudar o ser humano a

manifestar as suas necessidades e a envolver-se

num leque de atividades que promovam a sua

felicidade. E tem sido assim que com este projeto,

somos felizes na CERCIGUI e como dizem

os 5 princípios do Reiki… só por hoje:

Sou Calmo,

Confio,

Trabalho Honestamente,

Sou Bondoso,

Sou Grato!

REVISTA FENACERCI 2020 |

49


HAJA SAÚDE

Doutor Risadas

CERCIMARANTE

A CERCIMARANTE recebeu a 7 de novembro

de 2019, a visita do Projeto “Dr. Risadas”, promovido

pela Organização Não-Governamental

“Mundo a Sorrir” em parceria com a Entrajuda,

e que arrecadou o prémio BPI Capacitar 2018.

O objetivo da visita foi o de impulsionar a saúde

oral, os estilos de vida saudáveis e o acompanhamento

médico-dentário continuado a pessoas

com necessidades especiais.

Assim, a médica dentista e voluntária da “Mundo

a Sorrir”, Catarina Vítor, esteve no Centro de

Atividades Ocupacionais (C.A.O.), onde, da parte

da manhã, realizou três ações de capacitação

sobre cuidados de higiene oral e estilos de vida

saudáveis. Uma das ações destinou-se a tutores/representantes

legais dos clientes, onde

todos tiveram a oportunidade de esclarecer dúvidas.

As outras duas ações destinaram-se aos

clientes e colaboradores.

Das 13h30 às 14h00, a médica dentista esteve no

Centro de Formação e Reabilitação Profissional

(CFRP), onde, igualmente, ministrou uma ação

de capacitação para clientes, formandos e colaboradores

deste Serviço.

À tarde, novamente no C.A.O., Catarina Vítor efetuou

rastreios dentários a um grupo de clientes,

onde diagnosticou algumas patologias orais. No

final, foram oferecidos, a cada um desses clientes,

um dentífrico e uma escova de dentes.

Futuramente, poderão vir a ser realizados tratamentos

dentários gratuitos, previamente diagnosticados

nos rastreios.

As pessoas com necessidades especiais apresentam

desvios no padrão de normalidade da

sua condição física, mental, orgânica e/ou social

e, por terem incapacidades motoras e/

ou cognitivas, manifestam uma incapacidade

de executar a sua higiene oral de modo satisfatório.

Esta situação leva a que, muitas vezes,

apresentem uma alta prevalência de patologias

orais.

Por isso, a “Mundo a Sorrir”, através do projeto

“Dr. Risadas”, pretende reduzir as doenças mais

prevalentes na cavidade oral das Pessoas com

Necessidades de Saúde Especiais (NSE), proporcionando

melhores cuidados preventivos e

melhor acessibilidade a cuidados de saúde.

50 | REVISTA FENACERCI 2020


Diário de

uma Médica

Desafiando

receios e ideias

préconcebidas!

“Nada do que é humano deverá ser estranho ao

médico!” …foi a máxima transmitida pelo Professor

Joaquim Pinto Machado, fundador da Escola

de Medicina onde fiz a minha formação académica,

e que cada dia me parece fazer mais sentido

e inspirar.

Apesar de cerca de 18% da população portuguesa

apresentar algum tipo de limitação física, intelectual

ou sensorial que inibe a sua participação

nas várias dimensões da vida e da cidadania em

iguais circunstâncias com os demais, o contacto

com a deficiência é extremamente escasso ao

longo da atividade formativa e profissional do

médico. E por ser escasso torna-o estranho e

amedronta quem o tenta fazer… Mas como defendia

Jean Vanier, “O medo está na base de todas

as formas de exclusão, tal como a confiança

está na génese de todas as formas de inclusão.”

E assim foi, com medo, mas também com muita

confiança de que poderia ser uma mais-valia

para os clientes do Centro de Atividades Ocupacionais

(C.A.O.), e como consequência, para

todos aqueles com que me cruzo, que aceitei o

desafio de colaborar como médica no C.A.O. da

CERCIMARANTE.

Apesar de todas as inseguranças e dúvidas iniciais

acerca do trabalho com a diferença, a minha

atividade no CAO tem-se revelado uma aprendizagem

e mais-valia também para a minha formação

profissional e pessoal.

Contrariando os receios e ideias preconcebidas

(talvez mesmo preconceituosas), tem sido

possível interagir e estabelecer uma relação

médica-utente próxima, empática e de confiança,

marcada pelo desafio contínuo de ajustar a

forma de comunicação, interação e processo de

tomada de decisão às particularidades tão especiais

de cada utente. Além disso, a colaboração

multidisciplinar entre profissionais de diversas

áreas, como o serviço social, a psicologia, a terapia

ocupacional e a nutrição tem permitido uma

abordagem holística de cada utente, no sentido

da melhoria não só do seu estado de saúde, mas

também, de potenciação e valorização das capacidades

de cada um. E este trabalho tem sido tão

gratificante!

Cada utente é único e especial, e na diferença,

todos se revelam semelhantes na forma afetiva

como se expressam e agradecem cada minuto da

nossa dedicação. E se sinto um agradecimento

enorme pelo meu trabalho, também tenho imenso

a agradecer pela forma carinhosa e acolhedora

como me receberam. Porque “aqueles que

passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós.

Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós.”

À CERCIMARANTE o meu muito obrigada!

Soraia Abreu

Médica no Centro de Atividades Ocupacionais

da CERCIMARANTE

REVISTA FENACERCI 2020 |

51


HAJA SAÚDE

Sensorialmente

Inclusivo

A CERCIMONT ambicionava há já algum tempo

a oportunidade de disponibilizar aos seus clientes

uma sala de estimulação multissensorial.

Na falta de uma sala específica e completa de

materiais de estimulação foram desenvolvidas

nos últimos meses, atividades multissensoriais

num registo lúdico e de relaxamento com recurso

a materiais de estimulação visual, tátil,

olfativo que os clientes carinhosamente designam

de “luzinhas”. Desde a primeira sessão desenvolvida,

a recetividade e adesão dos clientes

à atividade foi surpreendente, tendo vincado

ainda mais, a vontade e necessidade de providenciar

uma sala com todas as condições e materiais

necessários, para a realização de sessões

terapêuticas mais abrangentes.

No seguimento desta experiência, procedeu-se

à candidatura ao prémio BPI “La Caixa” Capacitar.

Após vários meses de trabalho, dedicação

e empenho neste projeto tão desejado para a

CERCIMONT, foi com grande expetativa, entusiasmo

e felicidade que no final de 2019 a instituição

recebeu a notícia de que o sonho iria

ser possível de concretizar já que a candidatura

apresentada foi uma das premiadas.

A sala de estimulação multissensorial veio responder

às necessidades dos clientes da CERCI-

MONT através da promoção do relaxamento,

facilitação da estimulação física e cognitiva,

interação social, regulação emocional e afetiva,

gestão comportamental, intervindo diretamente

em disfunções sensoriais decorrentes

dos quadros clínicos existentes muito pautados

inclusivé pela multideficiência. De ressaltar

que, com a criação da sala multissensorial não

se pretende que os benefícios sejam restritos

exclusivamente para uso dos clientes, funcio-

nários e familiares da CERCIMONT, mas gerar

também, uma resposta alargada à comunidade

local.

Deste modo, creches, escolas e lares do Concelho

terão ao dispor os serviços terapêuticos

prestados pelo ambiente multissensorial a partir

do estabelecimento prévio de parcerias. No

que concerne ao trabalho que se pretende desenvolver

em parceria com as creches, este terá

como objetivo promover a estimulação sensoriomotora,

tendo em conta a fase do desenvolvimento

sensoriomotor e a exploração a partir

do brincar na primeira infância. Já no que se

refere ao trabalho com as escolas, pretende-se

promover o relaxamento dos alunos, bem como,

estimular competências do desenvolvimento,

facilitadas em ambientes multissensoriais, algo

que é comprovado cientificamente! Relativamente

às parcerias que se pretendem estabelecer

com os lares de idosos, estas têm como

objetivo a promoção do relaxamento e as reminiscências

na população idosa, cujas evidências

científicas ressaltam o efeito preventivo a longo

prazo do declínio cognitivo ligeiro (DCL) resultante

do processo natural de envelhecimento,

ou mesmo, o retardar do aparecimento e desenvolvimento

de demências.

Todo o trabalho realizado em ambiente multissensorial

será desenvolvido por uma equipa

especializada, uma vez que a construção da sala

compreende não apenas os materiais e equipamentos

necessários ao seu funcionamento, mas

também, a devida formação dos técnicos.

Equipa de Apoio Psicossocial

Equipa de Reabilitação

52 | REVISTA FENACERCI 2020


CERCINA

Prepara clientes para alimentação

saudável e diversificada

Na cozinha da Residência Autónoma “Solar da

Praia”, na CERCINA, vai uma grande agitação.

Hoje, vai-se fazer panquecas de aveia e banana

para o lanche. Os ingredientes já estão na bancada

e, agora, é tempo de pôr mãos à obra e seguir a receita

para mais uma refeição saudável e nutritiva.

Desde a entrada em funcionamento da Residência

Autónoma, há pouco mais de dois anos, a equipa

técnica da CERCINA tem procurado incutir nos

seus cinco residentes, hábitos de alimentação

saudáveis. Para tal, é elaborada uma ementa com

refeições nutricionalmente equilibradas, confecionadas

com alimentos frescos e diversificados.

Aqui reside, aliás, uma das especificidades deste

programa: a sensibilização dos clientes para a

existência de produtos “alternativos”, menos comuns

e nutricionalmente ricos, bem como, formas

mais saudáveis de preparação das refeições.

Definida a ementa, o passo seguinte é a ida ao supermercado.

Com a lista de compras na mão, os

clientes percorrem os corredores à procura dos

produtos e dos ingredientes mais adequados. Sabem

quais os cuidados a ter: comparar marcas,

características e preços e verificar os prazos de

validade.

Já de volta à Residência Autónoma, arrumam-se

as compras e começa-se a preparar a próxima refeição.

Cada cliente sabe o que tem a fazer na gestão

diária da vida doméstica, de acordo com a lista

de tarefas definida na reunião semanal de grupo

realizada com a Psicóloga Tânia Sequeira. Complementarmente,

é assegurado o atendimento

individual e personalizado, tendo em conta as necessidades

específicas de cada um dos residentes.

O cuidado com o plano alimentar começa por ser

uma questão de saúde, pela importância que a nutrição

equilibrada tem no bem-estar e na melhoria

da qualidade de vida de cada pessoa. Mas para a

equipa técnica da CERCINA, a medida tem outros

impactos: trabalhar na capacitação dos clientes

da Residência Autónoma para a organização das

atividades quotidianas contribui para potenciar a

sua autonomia e melhorar a sua autoestima. Afinal,

quem não se sente orgulhoso por conseguir

confecionar uma refeição deliciosa e saudável?

TESTEMUNHOS

«Aprendi a importância de comer saladas, sopas e alimentos

com os nutrientes que são precisos para a nossa saúde. No

meu caso, como muitas saladas, porque faz melhor do que comer

fritos. Para melhorar os meus problemas de saúde, tenho

que ter mais cuidado com a alimentação.»

Fábio Miguel

Autorrepresentante da CERCINA

«A CERCINA assume-se como uma organização que aposta na

capacitação das pessoas apoiadas para que elas possam fruir

da sua cidadania nas várias dimensões da vida em comunidade.

As preocupações com os hábitos de vida saudáveis, em

particular com a alimentação saudável e diversificada, são essenciais

para a mudança de comportamento dos próprios e,

claramente, da comunidade da qual a CERICNA é parte integrante».

Joaquim Pequicho

Presidente do Conselho de Administração da CERCINA

REVISTA FENACERCI 2020 |

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HAJA SAÚDE

PES

Programa

Exercício e Saúde

Na CERCIOEIRAS a educação para a saúde é levada

muito a sério!

A atividade e o exercício físico ocupam desde

sempre um papel de destaque no nosso programa

de atividades.

Em 2015, de uma forma mais estruturada e com

o apoio de parceiros estratégicos (Faculdade de

Motricidade Humana), iniciámos a implementação

de um Programa de Exercício e Saúde (PES),

para alguns dos nossos clientes, que nos permitiu

avaliar, monitorizar e tomar decisões acerca

do tipo e frequência de exercícios a realizar para

atingirmos diversos objetivos. Esses objetivos

podem ser a diminuição da sedentariedade, a redução

de peso, entre outros, sendo a melhoria

das condições cardiorrespiratórias um objetivo

transversal a todos os participantes.

Como é também importante saber o porquê de

se fazer algo de determinada forma, fomos um

pouco além da nossa atividade PES. Assim, um

conjunto de clientes participou numa ação de

sensibilização acerca do tema da saúde.

Nesta sessão, todos ficaram a conhecer melhor

o seu corpo e aprenderam que muitas das vezes

há sinais que são evidentes, mas há também uns

que não são visíveis e que devemos ir avaliando

ao longo do tempo. Todos aprenderam a avaliar

em si e no outro, com uma introdução teórica

seguida de uma experimentação, o peso e a altura;

o índice de massa corporal – que nos diz se

estamos dentro do peso expectável para a nossa

altura; a pressão arterial, a frequência cardíaca e

a oximetria (quantidade de oxigénio no sangue).

Depois de uma conversa animada acerca de todos

estes fatores e da sua importância para regular

a nossa vida, foram dadas dicas para que

todos se mantenham saudáveis em duas áreas de

peso: a alimentação – que deve ser o mais variada

possível, evitando as gorduras e apostando sempre

forte na fruta e nos legumes, não esquecendo

beber muita água! - e a atividade física – que deve

ser feita numa proporção mínima de 30 minutos

por dia, se possível de forma moderada!

No final todos se sentiram mais preparados para

auto avaliar e analisar as suas informações fisiológicas

bem como ajudar um amigo a fazê-lo. E todos

ficaram mais conscientes do que é preciso fazermos

para vivermos uma vida com mais saúde!

Duarte Correia

Técnico Superior de Reabilitação Psicomotora

Avaliação

Programa

Saúde

e Exercício

54 | REVISTA FENACERCI 2020


CERCIOEIRAS

Aposta na formação

na área da saúde

As doenças cardiovasculares são a maior causa

de morte em todo o mundo. Só em Portugal

morrem anualmente cerca de 35 mil pessoas, um

número elevado mas que está a diminuir, porque

há fármacos mais eficazes e a prevenção já está

a dar frutos.

Consciente desta realidade, há vários anos que a

CERCIOEIRAS tem vindo a apostar na formação

na área da saúde, e este ano já organizou um Simulacro

seguido de mais uma formação em Suporte

Básico de Vida com e sem DAE - Desfibrilhadores

Automáticos Externos, um equipamento

oferecido pela Fundação Portuguesa de Cardiologia,

em parceria com a Senilife e os Hipermercados

Auchan de Alfragide, a propósito do Projeto

Salva-vidas, uma campanha pública de âmbito nacional

de sensibilização para a morte súbita.

Composta por 6 pessoas, a equipa de operacionais

com formação em Suporte Básico de Vida

com Desfibrilhação foi testada relativamente ao

tempo de resposta numa situação de incêndio

com uma vítima em paragem cardiorrespiratória.

Foi verificado se sabiam da localização do DAE e

o tempo que os operacionais demoraram a chegar

ao local com o equipamento, que neste dia,

foi inferior a 3 minutos.

Além do simulacro neste dia, os operacionais e

vários coordenadores tiveram a oportunidade

de revalidar conhecimentos na formação em Suporte

Básico de Vida com e sem DAE e concluíram

que ações como esta são necessárias para

melhorar procedimentos e para que estejam todos

preparados para salvar vidas.

Durante a formação recordou-se que em caso

de paragem cardiorrespiratória o DAE desfibrilha

o coração, isto é, faz o ritmo cardíaco voltar

ao normal, e não precisa de ser utilizado obrigatoriamente

por profissionais da área da saúde,

mas tem de se ter formação para o fazer. Além

do desfibrilhador DAE ser seguro também conta

com um comando de voz em todas as etapas do

procedimento, dando indicações à pessoa que

está a realizar a desfibrilhação.

VOS (Ver, Ouvir e Sentir) foi a palavra de ordem

da equipa de socorro à vítima, num dia dedicado

à saúde, onde se concluiu que ainda há aspetos

a melhorar mas o balanço foi positivo, algo que

para a CERCIOEIRAS é bastante importante porque

vem confirmar que a equipa está preparada

para ultrapassar imprevistos, e que a aposta na

formação tem sido uma mais-valia para todos.

Mafalda Diniz

Técnica de Comunicação e Marketing

REVISTA FENACERCI 2020 |

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HAJA SAÚDE

Clínica Equilíbris

A Clínica da CERCITOP

56 | REVISTA FENACERCI 2020


A Clínica Equilibris é uma clinica de reabilitação

e dermato-estética situada no concelho de Sintra,

mais concretamente no Bairro de Ouressa,

freguesia de Algueirão Mem-Martins.

Abriu as suas portas em novembro de 2005 e

conta com profissionais altamente qualificados

que trabalham todos os dias para a saúde e

bem-estar dos seus clientes e comunidade.

A Clínica Equilibris é a clinica da casa mãe -

CERCITOP, defendendo os seus valores, missão,

tradições e objetivos que se encontram espelhados

na sua missão e estatutos.

Esta clínica é uma das várias valências da CER-

CITOP que não tem qualquer acordo com o Estado.

É totalmente privada e, por isso, depende

totalmente dos seus clientes particulares e

companhias de seguros. O seu principal objetivo

é obter lucros para financiar a parte não

lucrativa da CERCITOP, pois as verbas que recebe

do Estado não são suficientes para pagar o

custo das respostas sociais e de saúde que esta

disponibiliza. Apesar deste objetivo e, no cumprimento

da sua missão, a CERCITOP pratica

preços acessíveis, procurando que os seus serviços

possam chegar a todas as camadas sociais

da comunidade. De entre as suas várias especialidades,

destacam-se todos os cuidados de fisiatria

e reabilitação, fisioterapia, hidroterapia,

terapia da fala, ocupacional e pilates clínico.

Defendendo que o acompanhamento ao cliente

deverá ser multidisciplinar e abrangente, a

CERCITOP providencia igualmente, consultas

de psicologia, de nutrição ou mesmo de medicina

tradicional chinesa, mediante as necessidades

de cada um.

Nunca esquecendo os mais pequenos e as novas

gerações, a Clínica dispõe ainda de um Serviço

de Apoio e Intervenção à Criança (SIAC), no qual

as crianças e as suas famílias podem integrar

um plano de reabilitação pediátrica, consoante

as suas dificuldades e limitações, visando a

sua evolução e desenvolvimento, com o acompanhamento

especializado que tanto merecem.

No que toca ao bem-estar e ‘wellness’, essenciais

para um estilo de vida em pleno, a clínica

apresenta também variadas massagens e planos

de tratamento de dermato-estética direcionadas

a qualquer pessoa e para as quais disponibiliza,

durante todo o ano, um variado número de

promoções e vales de oferta.

É também através da clínica que a CERCITOP

gere o SPA do Hotel Vila Galé de Sintra (de categoria

5 estrelas), onde proporciona tratamentos

e massagens combinados com os serviços que

oferece na clínica e de acordo com os padrões

definidos pelo grupo Vila Galé, para os seus diversos

SPA`s.

É hábito a CECITOP realizar e incentivar diversas

campanhas e ações de sensibilização, dentro

e fora das instalações, pelo que aproveita este

artigo para realizar mais uma: venha visitar-

-nos e conhecer os nossos serviços. Trazendo a

Revista FENACERCI 2020 consigo, oferecemos

uma massagem gratuita!!

Clínica Equilíbris

O seu parceiro de saúde e bem-estar!

Rua Francisco Sá Carneiro, n.º25 Ouressa

2725-317 Mem-Martins

Tel.: 21 910 06 90

e-mail: geral@equilibris.pt

REVISTA FENACERCI 2020 |

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© DR


CERCI’S

O CAMINHO

FAZ-SE A ANDAR

É mesmo: o caminho faz-se a andar. E por isso as nossas Cerci não param.

Antes da COVID a atividade era intensa, com propostas inovadoras para

abordagens cada vez mais inclusivas para as pessoas que apoiamos. Durante

a pandemia houve que improvisar, claro, mas sem nunca perdermos de vista

que o nosso foco principal de ação são as pessoas com deficiência e as suas

famílias. E fez-se muito e bom trabalho antes de a situação pandémica nos

surpreender. Ficam alguns exemplos para registo de memória futura, mas

muitos mais poderiam estar inscritos nesta rúbrica.


CERCI’S O CAMINHO FAZ-SE A ANDAR

CUIDAR: de

pais para pais

CECD MIRA SINTRA

O envolvimento e proximidade com as famílias,

marca a própria história do CECD – Cooperativa

para a Inclusão que desde há 43 anos intervém

com pessoas com deficiência intelectual e/ou

multideficiência.

Desde sempre, o CECD tem desenvolvido projetos

de intervenção com as famílias, nomeadamente,

pela dinamização de grupos de pais e famílias,

tendo esse trabalho sido intensificado nos últimos

três anos, pelo desenvolvimento de ações apoiadas

pelo Instituto Nacional para a Reabilitação. IP,

espelhadas nos Projetos: Cuidar dos Cuidadores

em Sintra (2016); Cuidadores em rede (2017) e Cuidar:

de Pais para Pais (desde 2018), cujo enquadramento

foi sendo atualizado em função da maturidade,

conhecimento e estadios dos próprios

grupos, como respostas válidas pertinentes e impactantes

na Pessoa com DID (Diagnóstico Duplo)

e seus cuidadores, donde o envelhecimento das

pessoas apoiadas e dos próprios cuidadores assumiu

um papel determinante. Olhar o processo

de cuidar na perspetiva do cuidador informal é o

campo de abrangência deste trabalho.

Cuidador: Formal vs. Informal

O cuidar é considerado uma ação humana mobilizadora,

que se traduz no respeitar o sofrimento,

os princípios, os valores e a dignidade do depen-

60 | REVISTA FENACERCI 2020


dente, enquanto pessoa singular, proporcionar-

-lhe melhor qualidade de vida e simultaneamente,

ter qualidade de vida, enquanto cuidador.

O Cuidador Formal é aquele que providencia cuidados

de saúde ou apoio social, para outros, de

acordo com a sua área profissional, usando as

suas competências específicas. O Cuidador Informal,

assenta a sua ação numa expressão de

amor e carinho por alguém que lhe é significativo,

sem remuneração.

Transversal a ambos os papéis, ser Cuidador implica

entrega, dedicação, empenho, criatividade,

no sentido de uma (re)construção e atuação

conjunta, do dependente, do cuidador, da rede de

apoio, simultaneamente racional e afetiva, plena

de significados e sentimentos de todos os envolvidos.

Em Portugal e de acordo com o INE - Instituto Nacional

de Estatística, as tarefas asseguradas pelo

Cuidador Informal podem variar das mais simples

(supervisão) às mais complexas (higiene pessoal) e

variar na frequência (diariamente, aos fins-de-semana,

etc.), periodicidade (tempo parcial vs. tempo

integral), duração (meses ou anos) e intensidade

(grau de dependência de quem é cuidado).

Por esta razão, os cuidadores informais, de forma

global (…) enfrentam no seu dia-a-dia enormes

desafios quer do ponto de vista físico quer emocional,

configurando-se uma experiência simultânea

de emoções positivas e negativas.

De referir que, em algumas situações, as repercussões

negativas podem evoluir para um quadro

denominado por sobrecarga, que é entendido

como um estado psicológico resultado da combinação

do esforço físico, da pressão emocional,

das limitações sociais e das exigências económicas

que surgem ao cuidar de uma pessoa com dependência.

A DID na Pessoa: Fator potenciador de dependência

Na Pessoa com DID, e de acordo com a experiência

decorrida da existência de grupos de cuidadores,

no CECD, tem sido recorrente a necessidade

de reflexão acerca do conceito de finitude.

De facto, em famílias em que o cuidado é dirigido

a Pessoas com DID, cujo futuro após desaparecimento

dos cuidadores é incerto, a temática da

finitude surge como pano de fundo, de uma dor

agravada.

A deficiência surge como um fator potenciador de

dependência, estando esta diretamente relacionada

com a perda brusca de autonomia a vários

níveis: físico, psíquico e social, com a necessidade

de outrem para dar resposta às dificuldades funcionais

instaladas ou que se vão instalando. São

inúmeros os impactos sociais e familiares, na própria

pessoa dependente e no cuidador principal.

Muitas são as pessoas com deficiência e/ou incapazes

que permanecem dependentes, mesmo

em idade ativa, dos seus cuidadores informais ou

retomam a esse estatuto, devido à ausência de soluções

alternativas.

Cuidar: Sobrecarga objetiva vs subjetiva

As famílias são as tradicionais prestadoras de

cuidados. Constituem-se como “porto seguro”,

de ancoragem, porque se assume ser este o seu

papel e função, a de amparo e ser sua responsabilidade

“cuidar dos seus”. Pela pressão emocional

e o desgaste físico a que estão sujeitos, os cuidadores

constituem um grupo de risco, vulnerável à

perturbação afetiva e relacional, à desorganização

pessoal, familiar e social, à doença física e mesmo

à doença psiquiátrica e outra sintomatologia orgânica

e/ou manifestação psicossomática.

Estes problemas complexos atingem os cuidadores

no seu todo, na sua individualidade, na forma como

se relacionam com os outros e interagem com os

diferentes contextos, de tal forma que este mau estar

pode refletir-se nos que dele dependem.

A sobrecarga inerente ao processo de cuidar compreende

duas formas, objetiva e subjetiva. Assim,

entende-se por sobrecarga objetiva as repercussões

concretas, quantificáveis e observáveis, na

vida diária do cuidador, em situações de doença

e dependência da Pessoa a Cuidar p.e. dificuldade

em conciliar trabalho e prestação de cuidados;

maior vulnerabilidade em termos económicos,

isolamento social e perda de saúde física. Os sentimentos,

atitudes e reações emocionais do cuidador,

associados a estados de fragilidade emocional,

nem sempre “visíveis”, traduzem-se em

sobrecarga subjetiva.

Deste modo, torna-se pertinente e necessário

voltar a atenção para os cuidadores informais,

nomeadamente de Pessoas com DID, com a adequada

orientação de cuidadores formais, fazendo

sentido a dinamização de ações como: sensibilizar,

(in) formar, aprender, partilhar conhecimentos,

sentimentos e angústias, de forma a facilitar

estratégias que promovam o ultrapassar de constrangimentos

e dificuldades, presentes e futuras,

numa perspetiva proativa que poderão minimizar

os efeitos negativos para o dependente e para o

cuidador.

REVISTA FENACERCI 2020 |

61


CERCI’S O CAMINHO FAZ-SE A ANDAR

Os grupos, através do seu papel contentor, são,

indubitavelmente, uma forma privilegiada de intervenção

de aliviar a dor, através da partilha e

pelo sentimento de identidade que proporcionam.

Intervenção: Grupos Socio Terapêuticos (GST)

Segundo Guerra M., P., Lima, L. & Torres, S. (2014)

“… os grupos procuram congregar e promover a

coesão e o encontro entre pessoas para que reconheçam

as similitudes dos seus problemas, encontrem

uma forma de suporte social alternativo,

necessário para apoiar a construção e o desenvolvimento

da sua própria identidade e equilíbrio nas

mais variadas situações.”

Segundo Rossell (1998) os cuidadores encontram

no grupo, um espaço para partilha de experiências

construtivas, aprendendo assim a gerir melhor

as suas emoções e a compreender o impacto

que o cuidar tem no seio da sua família. Desta

forma, conseguirão “enfrentar-se” a si mesmos

e ao meio ambiente, encontrando as respostas

mais ajustadas. Estes grupos poderão representar

um processo de crescimento pessoal e social.

O Papel do Facilitador

Acautelando que, numa fase inicial de construção

grupal, a presença de elementos “facilitadores”

seja uma forma de cimentar a construção

da identidade de um grupo, considera-se importante

evidenciar as funções do facilitador e o

impacto do seu papel no assegurar da continuidade

dos grupos, embora, a intenção maior seja

a de que um grupo, enquanto rede de suporte

emocional e social, viva por si sem necessidade

de facilitadores. Assim, segundo Rossell (1998), o

facilitador tem como funções:

l

Motivar;

l

Ajudar a verbalizar;

l

Sintetizar a informação;

l

Reformular e devolver perguntas ao Grupo;

l

Ser imparcial e não dar opiniões pessoais.

Nos Grupos Socio Terapêuticos, o facilitador assume

um papel importante para assegurar a comunicação.

Em qualquer grupo os níveis conscientes

e inconscientes de funcionamento grupal são os

mesmos, e os participantes têm as mesmas aflições

e pedidos básicos. O que deve variar é a atitude do

coordenador do grupo que, de acordo com os diversos

objetivos, irá reagir ao grupo de forma diferente,

desde que o facilitador tenha clarificado os objetivos

de intervenção e capacidade de se manter focado

dentro dos limites dos mesmos (Rossell, 1998).

Rede Social

A rede social constitui-se, primordialmente, como

um espaço de pertença cujos laços sociais alicerçam

um recurso que promove o processo de apoio

aos que dele fazem parte. Uma intervenção, em

grupo, encerra em si mesma essa possibilidade,

garantido, para além do suporte emocional, momentos

de convívio, interação e rede que podem,

potencialmente, replicar-se para além do

espaço físico em que decorre o grupo.

Ação

Avaliar o impacto da intervenção em grupos socio

terapêuticos, na promoção da qualidade de

vida e redução da sobrecarga dos cuidadores

informais.

Metodologia

Critérios de inclusão

Foram auscultadas as 176 famílias apoiadas no

Centro de Atividades Ocupacionais, do CECD,

no sentido de se aferirem manifestações de

interesse e participação/disponibilidade, em

Grupos Abertos, sob a chancela do objetivo a alcançar,

supramencionado. Na constituição dos

grupos, o critério de seleção foi efetivamente a

disponibilidade de horário embora, no decorrer

da mesma e ainda que de forma casual, o Grupo

I, tenha enquadrado maioritariamente casais e

o Grupo II, mães.

62 | REVISTA FENACERCI 2020


Caracterização dos grupos

Grupo I: 6 casais (Pais de Pessoas com DID)

Grupo II: 7 cuidadoras do sexo feminino (mães e

irmãs de Pessoas com DID)

Estrutura das sessões

Foi construído um “guião” de sessão, pelas Facilitadoras,

por forma a assegurar uma estrutura

base de operacionalização, nos dois grupos alvo

deste estudo, sem perder, contudo, a flexibilidade

e adaptabilidade da estrutura inerente a

este tipo de intervenção. Do guião, constavam

os seguintes tópicos: apresentação dos facilitadores,

associada à identificação das regras

de funcionamento do Grupo, nomeadamente:

confidencialidade e cortesia a par da explicitação

do objetivo major destes grupos, na

sua vertente socio terapêutica. A definição de

temas foi surgindo, naturalmente, ou por um

sentir individual, ou pela manifestação de uma

necessidade, coletiva, enquanto cuidadores de

Pessoas com DID, por um tema da atualidade

ou pela partilha de situações do quotidiano. Inicialmente,

como catalisador da construção de

uma Identidade de Grupo, delinearam-se atividades

de Quebra Gelo donde, se destacam p.e.

“Teia de Amizade”; “O que este objeto me faz

sentir”; “Porque escolho esta imagem”, entre

outras. O final das sessões era marcado pela escrita

de uma palavra que, para cada cuidador,

marcava o seu sentir, naquela sessão. Ao longo

do processo e por proposta dos Facilitadores,

os Grupos foram aderindo a dinâmicas específicas,

através das quais foi possível observar-se

o nascimento da sua própria identidade. Neste

âmbito, destaca-se o exercício “Termino a tua

palavra”, apelando o mesmo à intersubjetividade

de cada cuidador mas também o texto “Viagem

à Holanda” onde se abordou a questão do

Luto, face a uma vida expectável e a uma vida

real. À medida que o processo de construção

de identidade dos grupos, se foi tornando mais

claro, foram surgindo temas mais descentrados

dos aspetos do cuidar, e mais voltados para a

necessidade de momentos de encontro, respiro,

descanso e lazer. O encontrar destes espaços

físicos e emocionais, foi assumindo um papel

mais relevante, no decorrer das últimas sessões.

1. O que sentimos

QUADRO 1

Objetivos baseados no Registo de Expetativas

dos Cuidadores Informais

Prevenir o isolamento social dos cuidadores

informais

Criar laços e identidade de grupo

Dinamizar um espaço securizante de partilha e

compreensão mútuas

Partilhar estratégias e atividades, entre

cuidadores informais

Usufruir de tempos de respiro/ descanso;

QUADRO 2

Registos dos Cuidadores Informais

Da apreciação realizada pelos cuidadores de

ambos os grupos, destacam-se:

“Obrigada pela possibilidade destas partilhas;

pela aproximação das coordenadoras e

por apresentarem algumas questões que,

de outra forma, teria mais dificuldades em

esclarecer e tirar dúvidas”; “Gostei das sessões

de grupo, foram muito interessantes e o

almoço, foi um almoço convívio entre os pais

e o almoço de Natal também foi interessante

e o convívio entre todos do grupo”; “Sessões

bem estruturadas com objetivos definidos”;

“Em relação ao caminhar com outros pais, com

problemas semelhantes, achei muito úteis as

reuniões que tivemos pois é sempre bom ouvir

outros e aprende-se sempre pois nós, pais com

filhos diferentes, todos os dias há episódios

novos e que, por vezes, nos deixam impotentes

por não os saber resolver e ouvindo as soluções

que os outros pais têm, aprendemos muito.

Acho que devemos continuar, pois além de

aprendermos uns com os outros, também

temos momentos muito divertidos em que nos

esquecemos do que nos preocupa”; “ao expor

os nossos casos com respeitos às dificuldades

(..) foi muito bom falarmos e ouvir os outros

e achar que éramos bem compreendidos,

o que, por vezes, nos falta, e assim ficamos

um bocadinho mais aliviados”; “Em relação

aos assuntos que foram aqui abordados,

acho que se trocaram experiências dos

nossos problemas que a todos nos afetam”;

“Na minha opinião, o trabalho efetuado foi

bastante simpático e útil. Simpático, porque

conhecemos pessoas com problemas idênticos

aos nossos e conseguimos desabafar de

forma positiva. Conseguimos aqui falar e

brincar sobre coisas sérias. Foi útil, porque

da experiência de cada um, conseguimos

absorver alguma coisa que foi de um

ensinamento muito útil”; “O companheirismo

foi bastante bom”; “Palavra de honra, isto foi

terapêutico para mim”; “um espaço onde se

pode falar das coisas boas dos nossos filhos”.

REVISTA FENACERCI 2020 |

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CERCI’S O CAMINHO FAZ-SE A ANDAR

Discussão de Resultados

O caminho feito entre Cuidadores de Pessoas

com Dificuldades Intelectuais e de Desenvolvimento

tem-se constituído como um marco

fundamental na defesa à abertura de partilha de

sentires, entre pares, visando a consolidação de

fatores de proteção, nomeadamente, a resiliência

dos cuidadores e esbatendo os fatores de

risco (sobrecarga objetiva e subjetiva) associados

ao papel de CUIDAR.

Dos resultados apresentados importa referir

que as sessões de grupo tiveram um impacto

muito positivo na vida dos cuidadores, refletido

no grau de satisfação que se situa entre o “satisfeito”

e o “totalmente satisfeito”, o que vem

comprovar a importância de dar continuidade a

este tipo de intervenção numa lógica de envolvimento

ativo dos cuidadores, proporcionando-lhes

uma aproximação a outros cuidadores

e reduzindo a situação de isolamento social

em que, muitas vezes se encontram. O fato de

terem sido criadas respostas concomitantes a

este processo, que passaram por criar atividades

dirigidas às Pessoas com DID, garantiu a

securização dos cuidadores para que, com tranquilidade,

pudessem eles próprios usufruir de

tempos de descanso e lazer. Este fator acabou

por ser determinante para que os cuidadores se

permitissem “olhar para dentro”. Olhar para si

como alguém que também merece ser cuidado.

Pela análise dos registos de sessão foi possível

criar uma linha do tempo na qual ficou evidente

o processo pelo qual os cuidadores se ligaram

entre si. Numa primeira fase, de forma mais distanciada

do Outro, mais fechada em si, sendo

que uma maior estruturação das temáticas acabou

por funcionar como catalisador. À medida

que permitiram dar-se a conhecer, as temáticas

foram surgindo de forma espontânea e por isso

mesmo, os grupos foram ganhando uma maior

coesão e identidade. Importa referir que, relativamente

ao Grupo I e Grupo II, à medida que

o processo de identidade de cada um se foi intensificando,

o caminho seguido por cada um

dos grupos, foi sendo naturalmente diferenciado.

No grupo II, constituído essencialmente por

cuidadoras, com uma faixa etária dentro dos 40

anos, a temática do luto por fazer de um bebé

idealizado assumiu um maior protagonismo.

Por outro lado, ficou neste grupo, evidente, a

solidão sentida no ato de cuidar. No grupo I, sobressaiu

a componente positiva do Cuidar, ou

seja, a da aproximação, no caso específico, dos

casais que integravam o grupo, com uma média

de idades dentro dos 70 anos, em que o fato de

cuidarem de uma Pessoa com DID parece ter

desencadeado no casal um vínculo para a vida.

De fato, esta é uma perceção, uma observação

empírica que merece um estudo mais aprofundado.

Também o tema da finitude, talvez pela

faixa etária dos cuidadores e das pessoas com

DID, foi um assunto bastante marcante. A finitude

dos cuidadores vs confiança nos cuidadores

formais do CECD, impulsionou uma procura de

alargamento de respostas no âmbito das Unidades

Residenciais e de Residências Autónomas

junto da Cooperativa. Este envolvimento ativo

dos cuidadores encontrou-se com a própria essência

da criação do CECD, valorizando o papel

das famílias no encontrar de respostas que

acompanham o percurso das Pessoas Apoiadas,

de forma longitudinal.

Se numa fase inicial, as temáticas ficaram muito

centradas nos problemas das Pessoas com DID,

ao longo do tempo essa necessidade foi sendo

dissipada, sendo que o foco passou a ser a Pessoa

do Cuidador, das suas necessidades, do direito

a ter tempo, a ter amigos, a ter vida social.

Conclusões

“Não nos conhecemos todos mas une-nos o facto

de sermos cuidadores de Pessoas especiais: os

nossos filhos, irmãos, netos...” foi este o mote de

partida. Durante as sessões, os cuidadores usufruíram

de um espaço de suporte que proporcionou

o acesso a vivências de caráter cultural

e de lazer, considerando, simultaneamente, o

processo de autonomização e independência

das Pessoas com DID.

Quando no final, os cuidadores encontraram palavras

para descreverem o que sentiram durante

este período, as mesmas espelharam aquilo que

foram as suas expetativas e, no fundo, os próprios

objetivos dos Grupos Socio Terapêuticos. Assim

sendo, parece ser essa a melhor forma de concluir,

uma vez que essas palavras encerram em si

os motivos pelos quais os grupos foram criados:

desanuviar, compreensão, identificação, preocupação

com o futuro, residência para pais e filhos,

convívio e amizade sendo que um dos cuidadores

conclui ainda que “é importante chegar aqui

e encontrar um grupo de amigos”…

Lígia Gonçalves

Técnica Superior de Educação Especial e Reabilitação

64 | REVISTA FENACERCI 2020


@RML – Receita

Maria Leonor

CERCIAG

A Receita Maria Leonor é uma marca registada

pela CERCIAG, relativa a um projeto implementado

por esta organização na área da doçaria

regional. Esta nova área de atuação teve como

ponto de partida a apresentação de candidatura

ao BPI Capacitar 2018 que, sendo aprovada, permitiu

o arranque do projeto.

Essencialmente, tem como objetivos a integração

profissional de pessoas com deficiência, a

dinamização e produção de produtos regionais

de Águeda e o desenvolvimento de uma forma

alternativa de serviços sustentáveis.

É, em primeiro lugar, mais uma área de atuação

na integração profissional de Pessoas com Deficiência

ou Incapacidades (PCDI), estimulando

o acesso ao mercado de trabalho, com uma

vertente maioritariamente prática, mantendo a

retaguarda de apoio técnico da instituição. Este

objetivo concretiza-se não só na contratação de

pessoas com deficiência, como na disponibilização

de um espaço para a realização de experiências

práticas em contexto de trabalho, de

atividades socialmente úteis ou até de transição

para a vida adulta.

Embora com uma vertente secundária, sentimos

institucionalmente que trouxemos benefícios para

a comunidade local, recuperando a produção de

alguns produtos da doçaria regional, de acordo

com as receitas da D. Maria Leonor Lemos, aguedense

que durante muitos anos deu continuidade

a este negócio familiar, iniciado na década de 60.

Paralelamente, e como consequência, a dinamização

desta atividade permite à CERCIAG ter uma

fonte alternativa de rendimento, que sustentam

o próprio projeto , continuando a responder aos

pressupostos da sua missão.

Com lançamento em setembro de 2019, pela

CERCIAG, esta marca conta para já com 4 produtos:

Fuzis de Águeda, Sequilhos, Cavacas e Suspiros,

segundo a receita e método de produção da

D. Maria Leonor. A reentrada destes produtos na

comunidade foi bastante acarinhada por todos e

contou, desde o início, com o apoio incondicional

da pessoa que deu o nome à marca.

A integração de pessoas com deficiência e incapacidades

nos postos de trabalho possíveis, tem

sido manifestamente positiva, na medida em que

a adaptação às tarefas foi rápida e a motivação e o

rigor com que as desempenham são extraordinariamente

notáveis.

A produção, distribuição e venda dos produtos já

se encontra em curso, tanto na CERCIAG como

em pontos de revenda locais e nos concelhos limítrofes,

com resultados francamente encorajadores.

REVISTA FENACERCI 2020 |

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CERCI’S O CAMINHO FAZ-SE A ANDAR

Desporto:

Caminhos para

a Igualdade de

Oportunidades

CERCIAG

O desporto é uma excelente ferramenta social

de melhoria da qualidade de vida e da saúde das

pessoas e um fator fundamental de coesão. É

também considerado, de uma forma abrangente,

como a atividade que mais aproxima e iguala as

pessoas.

Por sua vez, o desporto adaptado deve ser assumido

como um modelo cultural que respeita as

capacidades dos seus intervenientes. Ser adaptado

não significa estar limitado de importância

sociológica ou desportiva, antes pelo contrário,

a adaptação visa somente respeitar as limitações

óbvias de cada tipo de deficiência, mas permitir

a excelência desportiva através da realização

das máximas performances. O desporto adaptado,

tal como todo o desporto, deve ser analisado

numa perspetiva de grau ou nível de desenvolvimento.

Segundo Marta (1998), a pessoa com deficiência

deve ter o direito de participar nas mesmas atividades

desportivas que os outros cidadãos. Da

mesma forma, deve poder escolher participar em

várias atividades, como o desporto de alto rendimento,

o desporto organizado de forma regular,

o desporto de recreação para satisfação pessoal,

o desporto orientado para a saúde ou para a manutenção

e desenvolvimento da condição física.

Todas estas formas de desporto trazem para os

praticantes benefícios psicológicos, sociais, físicos

e fisiológicos.

A pessoa com deficiência consegue descobrir

através do desporto os seus limites e potencialidades,

ultrapassar algumas barreiras impostas

pela sociedade, relacionar-se e trocar experiências

com os outros. Desta forma, as suas limitações

e habilidades são postas à prova para a en-

corajar a superar os seus limites, valorizando as

suas ações. Estas, no desporto, são tomadas de

decisões rápidas, que ela própria tem de selecionar,

desenvolvendo, assim, a sua autoconfiança,

autonomia e liberdade (Silva, 1998).

Partindo destes pressupostos, a CERCIAG tem

vindo a apostar no Desporto com vista a promover

a inclusão ativa, a igualdade de oportunidades

e a saúde dos seus clientes, tendo

atualmente um papel relevante na promoção e

dinamização da prática desportiva, indo também

de encontro à estratégia do Município de

Águeda, “Desporto para Todos”, que cria oportunidades

para a prática desportiva a todas as

pessoas do Concelho.

No âmbito da referida estratégia, estabeleceu

um Protocolo de Cooperação com esta autarquia

em 2016. A aposta atual abrangendo o desporto

adaptado, situa-se essencialmente em 3

modalidades desportivas de competição: o Judo,

o Ciclismo e a Canoagem. Estas modalidades,

uma vez enquadradas na estratégia concelhia,

são dinamizadas em estruturas da comunidade,

integrando atletas com e sem deficiência. Os resultados

desportivos são francamente positivos,

não só no que respeita aos títulos alcançados,

em nome individual pelos nossos atletas, e em

representação do país no âmbito das competições

europeias e mundiais, mas também, no que

respeita aos benefícios sociais, culturais e psicológicos

que tais vitórias impactam nos atletas

vencedores, nas suas famílias e comunidade.

66 | REVISTA FENACERCI 2020


Dos principais títulos alcançados pelos atletas da

CERCIAG nos últimos 4 anos, e ao abrigo das modalidades

deste Protocolo, destacamos os atletas

Paulo Lino (Campeão da Europa de Futsal Síndrome

Down, Vice-campeão do Mundo de Futsal

Síndrome Down, Campeão da Europa de Judo

-66kg Síndrome Down, Campeão do Mundo de

Judo -66kg Síndrome Down), André Vieira (Campeão

do Mundo de Judo -81kg Síndrome Down,

Vice-campeão da Europa de Judo -81kg Síndrome

Down) e António Gomes (Vice-campeão do

Mundo de Judo -81kg e medalha de bronze no

Campeonato da Europa de Judo -81kg).

Para Paulo Lino, atual Campeão do Mundo de

Judo e atleta da CERCIAG, a vitória foi um dos

momentos mais felizes da sua vida, destacando

que “é importante ser o melhor do mundo”

e que todo o trabalho que desenvolve é com o

objetivo de “ganhar mais prémios importantes”.

André Vieira, Campeão do Mundo de Judo - 81kg

Síndrome Down, considera que fazer desporto

o deixa “muito feliz” e considera que “ganhar

prémios é o mais importante”. Regra geral, os

desportistas da CERCIAG sentem que o desporto

melhora a sua qualidade de vida e que os deixa

bastante felizes, sobretudo quando se tratam de

vitórias.

Paralelamente, e considerando os claros benefícios

da atividade desportiva nos seus clientes,

a CERCIAG tem incentivado e mediado a prática

de outras modalidades, no âmbito de competição,

como de lazer.

Não só um dos nossos atletas como o nosso técnico

de desporto integram a Seleção Nacional de

Futsal para Síndrome de Down, modalidade na

qual se sagraram Vice-campeões do Mundo em

Viseu em 2017, Campeões Europeus em Itália em

2018, tendo alcançado um honroso 5º lugar no

Campeonato do Mundo de 2019, no Brasil.

Os resultados alcançados, a todos os níveis, fazem-nos

acreditar que o investimento nos nossos

atletas, para além de meritório, teve bastantes

mais benefícios que o expectável.

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CERCI’S O CAMINHO FAZ-SE A ANDAR

Velejando

Pela Inclusão e pelas maravilhas da nossa Região – Aveiro!

Todas as experiências que promovam o contacto

com a Natureza e o Desporto são sempre

muito ricas para todos nós, sendo um meio

de inclusão, não só social, como também para

participação da vida recreativa e desportiva da

região. Por isso, em 2019 quando fomos desafiados

pela Academia de Vela do Sporting Clube de

Aveiro – Classe Hansa, através de um projeto financiado

pelo BPI – Capacitar 2018, a participar

em aulas de Vela Adaptada teóricas e práticas,

claro que a nossa resposta foi um grande SIM!

Movidos pelo desejo e pela vontade de novas

experiências lá fomos nós de vento em popa e,

“Quanto mais difíceis e duros são os obstáculos,

mais prazer e emoção nos dão de completarmos

os desafios” (Ken Read).

Nesta atividade participaram 16 pessoas com

deficiência intelectual do Centro de Atividades

Ocupacionais em 10 sessões, realizadas

entre fevereiro e junho de 2019. Os responsáveis,

Pedro Coutinho e António Sérgio, foram

o nosso leme, levando-nos Ria adentro sempre

em segurança! Entre dias ventosos, marés atrevidas

e barcos balançantes todos os dias foram

uma aventura, momentos de grandes risadas

e, acima de tudo, aprendizagens. O espírito de

equipa esteve sempre presente, e o sentido de

responsabilidade sempre alerta, afinal…tivemos

atletas corajosos que se atreveram a velejar sozinhos

logo na primeira viagem! Tiveram ainda

oportunidade de experimentar esta nova aventura

11 técnicos e 7 monitores que adoraram e

até querem repetir.

A experiência foi tão enriquecedora para todos

que nos propuseram a continuidade no presente

ano, o que irá acontecer a partir do mês de

março 2 vezes por mês! Para além dos benefícios

inerentes à prática da atividade no exterior,

tentaremos proporcionar novas vivências motoras

e sensoriais a um maior número de pessoas

apoiadas.

Aveiro, popular pelas suas salinas, atividade

pesqueira, pela sua gastronomia, onde se destacam

os deliciosos ovos moles, é atualmente

conhecida como a “Veneza Portuguesa”. Uma

cidade urbana que se situa entre a serra e o

mar, recortada por uma rede de canais de água

salgada por onde passeiam os seus coloridos

68 | REVISTA FENACERCI 2020


barcos moliceiros, outrora utilizados para a recolha

do moliço, algas fertilizantes destinadas

à produção agrícola e que são atualmente explorados

para passeios turísticos que deslizam

suavemente pelos seus canais apresentando os

encantos da cidade aos inúmeros turistas que

vêm diariamente conhecer a nossa cidade tão

bela! Uma cidade plana com uma paisagem variada,

Aveiro, é considerada uma cidade turística

encantadora onde se pode pedalar nas bugas

gratuitamente ou simplesmente caminhar junto

aos seus inúmeros canais onde se pode desfrutar

da maresia, tão característica da nossa região.

Pelas ruas e parques da cidade destacam-

-se os seus edifícios de estilo Arte Nova, que

nos levam a viagens históricas.

E não experienciássemos nós a longa Ria que

Aveiro nos oferece…

Sem navegar não é possível explorar detalhadamente

os seus milhares de canais, ilhotas

e toda a fauna e flora rica em vida selvagem e

que acolhe várias espécies de animais, que vêm

à procura de alimento, abrigo ou reprodução,

destacando-se o perna-longa, a andorinha-do-

-mar-anã e o borrelho-decoleira-interrompida.

Aproveitamos para vos convidar a todos a virem

visitar e vivenciar as belezas naturais de Aveiro

e perceber como a prática de Vela Adaptada

aqui faz tanto sentido!

Saudações Náuticas!

Ana Vieira, Alexandra Teles, Joana Aguiar, Alyson Borges

Técnicos de Reabilitação do CAO

REVISTA FENACERCI 2020 |

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CERCI’S O CAMINHO FAZ-SE A ANDAR

O Planeta

Precisa Muito

de Nós!

Em 2010 iniciámos o nosso primeiro projeto, intitulado

“Brigada Verde”. Projeto que surgiu no

âmbito da política ambiental que a Câmara Municipal

de Ílhavo desenvolveu junto das Instituições

Escolares e Sociais locais e que respondeu aos

sonhos e preocupações das Pessoas Apoiadas e

Colaboradores da CERCIAV. Em 2013 publicámos

o nosso primeiro artigo na Revista da FENACERCI:

“PROJETO BRIGADA VERDE - A CERCIAV em defesa

da Sustentabilidade Ambiental”. Já se passou

uma década, e ao longo destes anos a Sustentabilidade

Ambiental continua a ser uma preocupação

constante de todos nós. Continuámos a arregaçar

as mangas e desde então não parámos. Devagarinho

vamos fazendo mudanças! Atualmente, para

além da Brigada Verde, temos mais um projeto

com a CMI, a BRIGADA FLORESTAL, onde realizamos

quinzenalmente a limpeza da Mata da Colónia

Agrícola, situada entre a Gafanha de Aquém,

Gafanha da Nazaré e Gafanha da Encarnação. Este

grupo colabora na recolha de resíduos poluentes,

na separação e contabilização dos mesmos, sendo

que no final de cada ano, é enviado, para a entidade

Parceira, um relatório discriminativo dos produtos

recolhidos. Os resíduos são colocados nos

Ecopontos públicos situados junto aos locais de

limpeza.

E como o nosso Planeta precisa muito de nós,

pusemos mãos à obra em várias atividades. Surgiram

assim as Atividades Complementares, as

quais são desenvolvidas semanalmente e onde,

as nossas Pessoas Apoiadas, se podem inscrever

de acordo com os seus interesses e motivações.

Continuamos com a BRIGADA DE LIMPEZA NA

COMUNIDADE, que consiste na limpeza de Espaços

Comunitários. Trata-se de uma parceria com

o Grupo Desportivo do Gafanha da Nazaré, que se

realiza às sextas-feiras, antecedendo os torneios

de futebol previamente calendarizados no local.

Esta Brigada participou igualmente, na limpeza do

Espaço Florestal da CERCIAV recolhendo os resíduos

poluentes que se encontravam no local, tendo

cooperado na renovação deste espaço, onde se

abriram caminhos para as caminhadas realizadas

pelos grupos das Atividades Físicas. Preocupados

com todos os espaços da nossa “Casa”, surgiu assim,

o grupo da BRIGADA DE LIMPEZA NA CER-

CIAV, que colabora na recolha e separação de resíduos

das papeleiras, ecopontos e espaços verdes

envolventes. Este grupo recolhe ainda pinhas e

cascas de pinheiros que posteriormente são tratados

pelo SERVIÇO ECO. O Serviço ECO é também

uma atividade muito querida por todos nós! Todas

as manhãs um grupo de pessoas percorrem todas

as Respostas Sociais, Serviços, Seções e Oficinas

da nossa Instituição para recolher o papel, cartões

e caixas que já não têm utilidade. Com eles levam

uma pasta, onde cada responsável do serviço assina

e, um balde, onde são colocados os papéis e

cartões. Posteriormente, no período da tarde é

realizado, alternadamente, o tratamento do papel

e das pinhas. Aqui é onde o papel ou cartão é

rasgado, cortado ou triturado, em pequenos pedaços

e embalado, e as caixas de cartão são espalmadas

e empilhadas, seguindo para uma empresa

de reciclagem onde é vendido a peso. Já as pinhas

recolhidas pelo grupo da Brigada de Limpeza na

CERCIAV, após tempo de secagem, são escolhidas.

Separa-se assim as pinhas “novas” das “velhas”. As

pinhas “novas” são aproveitadas para consumo de

lareiras e churrasqueiras. As velhas são descamadas…e

como tudo é aproveitado…as escamas das

pinhas, assim como as cascas dos pinheiros, são

utilizadas para revestimentos dos solos, que servem

para conservar a temperatura e embelezar

os espaços, e os caroços são reservados para posteriormente

serem triturados e utilizados como

fertilizante natural, ajudando a fixar o dióxido de

carbono no solo, melhorando assim, a pegada climática.

Também ajuda a adicionar nutrientes melhorando

a qualidade do nosso solo.

E porque os materiais também podem ser reutilizados,

surgiu a CERCIAVDÊCOR. Um espaço cheio

de cor, onde semanalmente se pintam pneus, garrafas,

e outros materiais para realização de diversos

trabalhos decorativos. Recentemente iniciou-

-se neste espaço a produção de velas decorativas.

Todas as segundas feiras, no período da tarde, encontramos

o grupo da CERCIAV BIO-AROMAS,

ora a cortar, a desfolhar, a secar ou embalar, para

posterior comercialização seja para infusão, ou

para ambientar ecologicamente os espaços, evitando

os sprays nocivos para o ambiente. Também

70 | REVISTA FENACERCI 2020


ajudamos a manter as nossas ervas aromáticas

aparadas, mantendo o espaço bonito!

Ainda, em 2019, a CERCIAV juntou-se à Coca-Cola

e Liga para a Proteção da Natureza para mais

uma ação de sensibilização do programa “Mares

Circulares”, que visa a limpeza da costa portuguesa,

onde recolhemos 70 Kg de resíduos na praia de

São Jacinto. Posteriormente tivemos uma ação de

sensibilização sobre a poluição dos nossos mares!

É tão preocupante saber que ainda há tanto para

fazer! Vamos continuar a almejar a diferença não

ficando indiferentes à destruição do nosso planeta!

Estas atividades, apesar de serem pequenas

iniciativas, vão-se juntando a tantas outras e acreditamos

que vão crescendo com a partilha e com

a concretização, contribuindo desta forma, para

uma melhor justiça social, qualidade de vida, equilíbrio

ambiental e sustentabilidade económica.

Ainda de referir que todas as nossas atividades são

realizadas pelas nossas Pessoas Apoiadas do Centro

de Atividades Ocupacionais, com acompanhamento

de Terapeutas Ocupacionais e Monitores

de algumas Seções. Aqui todas as competências

são estimuladas…motoras, cognitivas, percetivas,

sensoriais e sociais! Mas o mais importante é que

se trata de atividades que não só dão resposta aos

seus sonhos e preocupações, mas também, às diferentes

necessidades e características das nossas

Pessoas Apoiadas, conseguindo envolvê-las ativamente

e contribuindo para um sentimento de capacidade

e cidadania!

As nossas medidas de sustentabilidade ambiental

passam também pela divulgação e adoção de pequenas

atitudes no dia-a-dia por parte de todos

os usuários da CERCIAV, e que podem fazer toda a

diferença. Economizar a água e a luz, fechando as

torneiras quando não estiverem a uso, apagar as

luzes e aparelhos que não estão a serem utilizados,

manter as portas fechadas aquando da utilização

do ar condicionado, reciclar separando os lixos nos

ecopontos, são alguns dos itens das nossas metas.

E porque a sustentabilidade ambiental também

passa pela partilha, divulgamos para todos vós o

embrião das nossas ações, desejando a todos um

crescimento sustentável, saudável e feliz!

Sabemos que ainda estamos no início e temos um

caminho longo a percorrer, mas iremos continuar

a melhorar e a contribuir desta forma para a sustentabilidade

ambiental, esperando brevemente

partilhar mais notícias bio criativas!

Ana Vieira, Alexandra Teles e Joana Aguiar

Terapeutas Ocupacionais do CAO

REVISTA FENACERCI 2020 |

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CERCI’S O CAMINHO FAZ-SE A ANDAR

Erasmus+

O Programa Unificado

que Une a Europa

CERCICA

A construção de uma Comunidade Europeia implica

a partilha de valores comuns que têm de ser

vivenciados e isto ainda é mais relevante no caso

de pessoas, com ou sem deficiência, que têm dificuldade

em compreender conceitos abstratos.

Os projetos de partilha transnacional podem ser

desenvolvidos através de diversos programas da

união europeia, muitos dos quais recentemente

unificados no programa Erasmus+.

A CERCICA desenvolve desde 1992 projetos europeus

em que estiveram diretamente envolvidos

mais de 30 técnicos e de 250 clientes sendo

que a riqueza do que foi aprendido e as melhorias

implementadas na nossa prática são tantas que é

impossível enumerar todas, pelo que vamos focar

dois dos projetos atualmente em desenvolvimento,

ao abrigo do programa Erasmus+: o projeto

EICON e o projeto UEDD.

O Projeto EICON (www.eicon-project.eu) visa

refletir sobre a relevância das tecnologias de

informação e comunicação (TIC) na criação de

uma formação profissional (FP) mais inclusiva e

mais eficaz. A partilha de boas práticas e o trabalho

em torno deste tema tem produzido material

muito relevante, concretamente um questionário

exaustivo que ajuda à reflexão sobre as formas

através das quais cada organização de FP pode,

em vários domínios que vão da liderança à pedagogia,

potenciar a utilização que faz das TIC.

O Projeto UEDD envolve todos os formandos da

CERCICA em torno do tema desenvolvimento

sustentável, juntamente com os alunos do Lycée

Professionnel Jean Guéhenno (França) e do Colegio

Virgen Mediadora (Espanha), com destaque

para o perigo das espécies de plantas invasoras.

Uma das atividades que a CERCICA está a desenvolver

no Parque Natural Sintra-Cascais é a erradicação

das mimosas (Acácia sp.), uma árvore

da Oceania que se reproduz muito rapidamente

impedindo as outras espécies de se desenvolverem

e que é extremamente propícia à propagação

dos incêndios. Como a forma mais eficaz

de a erradicar, sem colocar em perigo o meio

ambiente é manualmente, esta é também uma

potencial área de emprego. O projeto UEDD

tem também uma vertente ligada à alimentação

saudável com produtos biológicos produzidos

localmente, uma área em que todos os alunos

deveriam ter formação.

Os princípios inscritos na Carta dos Direitos

Fundamentais da União Europeia só podem ser

implementados através do envolvimento dos

cidadãos, com destaque para aqueles que têm

menores oportunidades, e os programas que

promovem o intercâmbio e a partilha de boas

práticas são fulcrais nesse sentido. Importa a

FENACERCI e as suas associadas continuarem a

utilizar estes programas, como o Erasmus+, para

capacitar os seus colaboradores e promover o

desenvolvimento dos seus clientes através de

experiências transnacionais.

72 | REVISTA FENACERCI 2020


Castanheira

a Cores

No seguimento de uma candidatura apresentada

ao Programa Nacional de Desporto para Todos

(PNdpT), ao IPDJ - Instituto Português de Desporto

e Juventude, a CERCICAPER realizou no dia 3 de

dezembro de 2019, uma Color Run Adaptada em

Castanheira de Pera, de aproximadamente 3 km.

Esta iniciativa surgiu da necessidade de oferecer

aos cidadãos a quem prestamos apoio diariamente,

as mesmas oportunidades que são disponibilizadas

aos cidadãos comuns, numa lógica de inclusão,

igualdade de direitos e encontro intergeracional.

Contudo e apesar deste tipo de eventos serem realizados,

na maioria das vezes, em grandes centros

urbanos, o nosso intuito foi dar a conhecer uma

região do país afastada de grandes massas populacionais

e que em 2017 foi completamente fustigada

pelos incêndios, deixando marcas irreversíveis.

Para isso, contámos com outras congéneres que

prestam apoio a pessoas com deficiência provenientes

dos distritos de Leiria e Castelo Branco,

assim como, com grupo de idosos e crianças, do

próprio concelho.

O sol brindou quem a nós se juntou, logo à chegada!

O cenário estava “montado”! A azáfama tomou

conta da Praça da Notabilidade e a música ecoou

por todos os cantos… já se viam corpos dançantes,

mãos no ar e muitos sorrisos contagiantes. E foi

então que o primeiro pó esvoaçou pelos ares de

Castanheira, pousando sobre cada um daqueles

que sem medo se deixou colorir com os tons da

amizade, da alegria e da vida!

Eram sensivelmente 200, as pessoas que rodopiavam

alegremente pelas ruas da Vila de Peralta… e

que sem preconceito, sem vergonhas, olhavam e

sorriam para os que partilhavam da mesma energia

e da mesma alegria.

O objetivo foi inteiramente alcançado… gente feliz,

sorrisos abertos e muitos abraços, pairavam na

pacata Castanheira de Pera. O dia, terá com toda a

certeza, ficado gravado na memória e no coração

de todos… porque as coisas boas, também deixam

marcas… e dessas todos precisamos, muito!

Mas a verdade é que tamanha alegria e animação

não teriam sido possíveis, sem o apoio e presença

de todos. Terminamos com a sensação de dever

cumprido… e com um desejo indubitável de repetir.

Que ações como esta possam trazer mais cor e luz

a terras e gentes, como Castanheira de Pera, para

que não fiquem esquecidas nem gravadas apenas

nas lembranças de quem nos visita.

Até para o ano!

Marta Jorge

Técnica Superior de Reabilitação Psicomotora

REVISTA FENACERCI 2020 |

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CERCI’S O CAMINHO FAZ-SE A ANDAR

Em nome

do Interior

A CERCICOA, cooperativa criada há mais de 40

anos, com sede no concelho de Almodôvar, tem

como áreas de abrangência os concelhos de Almodôvar,

Castro Verde e Ourique, assim como,

outros concelhos da região do Baixo Alentejo.

A dispersão geográfica e fraca rede de transportes

que caracterizam o território onde se insere,

assim como, a centralização dos principais serviços

da instituição na sua sede, exige uma disponibilização

diária de transportes próprios, adaptados,

que assegura não só a frequência direta de

muitos utentes às respostas sociais, bem como,

o acesso destes e algumas famílias a outros serviços

e projetos quer da CERCICOA, quer da comunidade,

designadamente de saúde, segurança

social, entre outros.

Considerando estes constrangimentos territoriais,

assim como, a necessidade de dar resposta

às listas de espera existentes para as diversas

respostas da organização, tornou-se fundamental

apostar no alargamento e descentralização

dos serviços, no sentido de garantir uma melhor

proximidade à população e, consequentemente,

contribuir para uma maior igualdade de oportunidades

e qualidade de vida da mesma.

Neste sentido, a CERCICOA inaugurou no passado

dia 31 de janeiro de 2020, o novo Centro de

Atividades Ocupacionais (CAO) de Grandaços, um

projeto em parceria com o Município de Ourique,

que se constitui como o primeiro passo para o

descentralizar da instituição, sendo este o primeiro

equipamento social a ser inaugurado fora

do concelho da sede.

O CAO de Grandaços é uma resposta social destinada

a jovens e adultos, com idade igual ou superior

a 16 anos, cujas capacidades não permitam

temporária ou permanentemente o exercício de

uma atividade produtiva, sendo um serviço especializado

para proporcionar aos clientes com

deficiência grave e profunda, a realização de atividades

socialmente úteis e estritamente ocupacionais,

apoio técnico permanente nos planos físico,

psíquico e social, assim como, a participação

em ações culturais, desportivas e recreativas.

Tem como principal objetivo estimular e facilitar

o desenvolvimento possível das capacidades

remanescentes dos clientes, facilitar a sua integração

social e auxiliar o encaminhamento das

pessoas para programas adequados às suas capacidades,

promovendo a qualidade de vida e a

autodeterminação.

Este projeto, iniciado há vários anos pela CERCI-

COA, conjuntamente com o Município de Ourique

consistiu, através do recurso a fundos comunitários,

na adaptação de um edifício existente

na localidade e sem qualquer tipo de utilização,

tornando-o adequado às necessidades dos clientes

que dele agora beneficiam. Esta nova resposta

social permitiu ainda, a integração de novos colaboradores

Sónia Nunes

Diretora Técnica do Centro de Atividades Ocupacionais

74 | REVISTA FENACERCI 2020


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CERCI’S O CAMINHO FAZ-SE A ANDAR

“A Assistência Pessoal

como um fator essencial

para o meu bem-estar,

independência e qualidade

de vida!”

Há dezoito anos, o divisor de águas na minha

vida foi um acidente de automóvel, no qual,

ocasionou uma lesão medular. A cadeira de

rodas tornou-se a minha aliada. Nunca me revoltei.

É preciso continuar, sempre! Mas após

vários internamentos, fisioterapias e a procura

de uma cura milagrosa, o impacto com a realidade

foi inevitável. Como seguir em frente?

Procurando alternativas e, principalmente lutando

por formas de alcançar os meus objetivos.

As pessoas com deficiência, adquirida ou congénita,

são indivíduos com capacidades para

tomarem as suas próprias decisões e escolherem

os seus rumos. Mas, isso ainda não se sucede,

de todo!

É um facto: a pessoa dependente está vulnerável.

É urgente, a pessoa com deficiência abandonar

a situação passiva e, deixar, se for o caso

(o que é na maioria), de ser refém de um meio

que não lhe proporciona as condições para

exercer a sua cidadania. Através desta luta, as

pessoas com deficiência começaram a mobilizar-se

e deu frutos. Surgiu a implementação

em Portugal do projeto piloto do Modelo de

Apoio à Vida Independente (MAVI) que visa a

emancipação das pessoas com deficiência.

Como tetraplégica, tornei-me dependente fisicamente

e precisei de recorrer aos serviços

do apoio domiciliário. Este serviço resumia-

-se basicamente a uma higiene no leito e, com

muita persistência da minha parte, três banhos

76 | REVISTA FENACERCI 2020


por semana. E, tinha que me sujeitar ao horário

que me podiam vir levantar de manhã, de acordo

com a rota dos utentes. Um serviço básico,

completamente desajustado às necessidades

de um ser vivo.

A minha integração no Centro de Apoio à Vida

Independente Horizontes e com a atribuição

da assistência pessoal, proporcionou-me poder

escolher a hora que necessito, na parte

da manhã, para me levantar, tomo banho diariamente

(sem a pressa do apoio domiciliário),

tenho a limpeza do meu quarto e do wc assegurada,

a minha roupa lavada e organizada e

as refeições preparadas e, também usufruo de

acompanhamento imprescindível por parte de

uma das minhas assistentes pessoais, às consultas,

proporcionando-me bem-estar e mais

qualidade de vida. De salientar que moro apenas

com minha mãe idosa e, com problemas de

saúde.

Este projeto, por ser piloto, obviamente, ainda

tem algumas restrições, como o horário noturno

e o número de horas atribuídas aos beneficiários.

Mas chegaremos lá! Com certeza!

E sem dúvida alguma, está a dar-me oportunidade,

porque quando solicito, consigo ter uma

participação mais ativa na sociedade, fora do

horário estipulado. Graças ao projeto, que me

proporcionou o transporte e o acompanhamento

de uma das minhas assistentes pessoais,

participei no “1.º Sunset sobre rodas” no Porto,

onde houve o debate sobre o sistema urinário

nas pessoas com deficiência. Assim como também

me permitiu participar no “III Encontro

sobre lesão medular”, realizado no Centro de

Reabilitação do Norte.

A pessoa com deficiência, quer e precisa de

abandonar uma posição passiva. Deve tomar

as suas decisões, escolher os seus rumos. Libertar-se

da dependência das circunstâncias

e das outras pessoas. Cada vez mais é preciso

discutir a dependência em toda a sua dimensão

e alcance, para aperfeiçoar o modelo e conseguirmos

almejar os resultados pretendidos.

É preciso continuar esse caminho - o da independência.

É longo o caminho, mas já estamos

muito mais perto!!!

Anne Caroline Soares

Beneficiária do Centro de Apoio à Vida Independente

Horizontes da CERCIESPINHO

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CERCI’S O CAMINHO FAZ-SE A ANDAR

Internamento

Temporário -

Um Serviço de

Descanso ao

Cuidador

Os serviços residenciais da CERCIESPINHO contemplam

3 respostas: Residência Autónoma, Lar

Residencial e Internamento Temporário.

Desde a abertura do Serviço de Lar Residencial, foi

notório que os familiares apresentavam cansaço

da responsabilidade e da exigência física do cuidar,

sendo que a média de idades dos cuidadores

dos clientes que integraram este serviço, se situava

nos 73 anos de idade.

A utilização de uma cama, para o serviço temporário,

foi possível pela atribuição da capacidade do

lar para 25 clientes, estando 24 vagas protocoladas

com o Instituto de Segurança Social de Aveiro. Foi

decisão da Direção da CERCIESPINHO, a utilização

desta última vaga para um serviço de descanso

aos cuidadores, que funcionasse de forma rotativa.

Tradicionalmente, são os familiares, nomeadamente

as mulheres, que assumem o papal de cuidadoras

informais. O cuidar revela-se uma tarefa

difícil e de exigência emocional, que de modo

sistemático e prolongado tem consequências na

dinâmica familiar e no desgaste do cuidador, que

muitas vezes se secundariza em prol de quem cuida.

Este desgaste tem consequências na sua saúde,

sendo por isso prioritária uma pausa temporária

na responsabilidade de cuidar. É de salientar que

muitas vezes, as famílias sentem-se culpadas por

não conseguirem conciliar as suas necessidades e

cansaço com as necessidades de quem cuidam. Algumas

famílias acabam mesmo por estar mais isoladas

e viver em função do filho com deficiência.

Este serviço já apoiou 33 famílias, sendo possível

usufruir de 30 dias interpolados durante um ano,

preferencialmente do concelho de Espinho. Inicialmente

pensava-se que o serviço seria sobretu-

do para os familiares terem tempos de descanso e

mudança de rotina que proporcionasse momentos

de lazer e/ou lúdicos. No entanto, o que se tem verificado

é que cerca de metade dos internamentos

(51%), são por motivos de saúde dos cuidadores,

alguns deles adiaram sistematicamente cirurgias

ou tratamentos que implicavam descanso total.

Em internamentos temporários, nomeadamente

em situações de repetição do serviço, as famílias

referem programas lúdicos que já não faziam desde

o nascimento do filho (ir ao cinema, ao futebol

ou visitar um familiar que reside longe).

Assim, salienta-se a necessidade de serviços de

apoio aos cuidadores, não só do direito a descanso,

mas de capacitação e bem-estar, evitando-se

recair na sobre responsabilização da família e

consequentes impactos já estudados na sua saúde

(isolamento, burnout, rutura de relações e vida social,

depressões, entre outras).

O papel do Estado no apoio aos cuidadores através

do alargamento de serviços e apoios ao dependente

e cuidador será essencial, nomeadamente

nos domínios da saúde e proteção social.

Teresa Ramos

Assistente Social e Coordenadora do Lar Residencial

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Juntos pela mesma causa!

A 29 de janeiro de 2020, um grupo de clientes

e colaboradores do CAO - Centro de Atividades

Ocupacionais “D. Aurora Ribeiro e Castro” da

CERCIFAF, trilhou caminho em direção a Navarra

- Braga para se juntar às comemorações do

9º aniversário da CERCI Braga. A iniciativa partiu

do interesse comum, e incessante procura,

pela partilha de conhecimentos, experiências e

convívio entre colaboradores e clientes das duas

instituições.

Integrando-se esta iniciativa no âmbito das comemorações

do aniversário da instituição anfitriã

(CERCI Braga), o grupo da CERCIFAF resolveu

presentear a mesma com uma atividade prática

e original, da qual resultou a prenda oferecida.

Esta atividade já é uma prática comum na área de

Arte de Ocupação, desenvolvida pelos clientes da

CERCIFAF, e tem como mote, a reciclagem ainda

que singela, da enorme quantidade de lixo, que

todos nós geramos todos os dias. É através desta

atitude indispensável, que pretendemos contagiar

todos os que nos rodeiam para a manutenção

do meio ambiente, promovendo ao mesmo

tempo o nosso bem-estar e do planeta.

Subordinado ao logotipo da CERCI Braga, foram

construídos “papelejos” - azulejos criados com

pasta de papel reciclado e com recurso a moldes

de baixo e alto relevo - de forma a serem

posteriormente pintados e organizados num

mural da aniversariante. Ainda antes da execução

da atividade prática conjunta, o grupo da

CERCIFAF teve a oportunidade de realizar uma

visita guiada às instalações da CERCI Braga,

conhecendo um pouco melhor as suas áreas e

dinâmicas de trabalho. Quanto à atividade propriamente

dita, revelou-se ser uma experiência

enriquecedora tanto para clientes, como para

colaboradores, de ambas as instituições, ver a

forma harmoniosa como facilmente os diferentes

grupos se integraram e interagiram ao longo

da execução da atividade e do dia. Para os colaboradores,

esta iniciativa foi apenas a semente,

que se pretende, que germine para futuras

partilhas de momentos e experiências que conduzirão,

sem dúvida, ao crescimento mútuo das

instituições envolvidas.

REVISTA FENACERCI 2020 |

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COOPER ATIVA DE EDUCAÇÃO E REABILIT AÇÃO

DE CID ADÃOS C OM INCA PA CID ADES DE GUIMARÃES

CERCI’S O CAMINHO FAZ-SE A ANDAR

Uma Almofada

que nos

aconchega o

Coração

CERCIGUI

A Almofada Coração é um projeto de apoio às mulheres

mastectomizadas, que têm assim a oportunidade

de receber, aquando da hospitalização,

nas 48 horas após a cirurgia, um objeto que é ao

mesmo tempo de conforto, elegância, afeto mas

também anatomicamente adaptado para utilização

por baixo da axila, reduzindo os desconfortos

da cirurgia. Esta iniciativa gerida pela organização

Soroptimist International Clube Lisboa Caravela,

com o apoio de empresas e instituições, tem a

CERCIGUI como parceira. As Almofadas Coração

que estão a ser distribuídas no Hospital Sr.ª da

Oliveira, em Guimarães, são confecionadas pela

CERCIGUI, com os fantásticos tecidos da Lameirinho.

E assim, nós que tantas vezes pedimos ajuda,

e sentimos a necessidade do apoio solidário,

passamos a dar! E damos às mulheres que passam

por um período em que também elas se sentem

diferentes. Inclusão é também isto. Mostrar outras

realidades, outras dores, outras esperanças, outros

afetos. Esta é a nossa homenagem à mulher,

na forma de um coração, no conforto de uma almofada,

na união de tantos por tantas!

A Soroptimist International Clube Lisboa Caravela

lançou este projeto em 2013 e já foi merecedor de

reconhecimento internacional, ao nível da federação

Europeia do Grupo, que o considera valioso

por ser um objeto de custo “0” para as pacientes,

decorrente da ajuda promovida por pessoas com

deficiência, que assim se sentem integradas em

ações de serviço da maior utilidade. Esta organização

promove o estatuto da mulher e os direitos

humanos em geral, favorece a proteção das crian-

ças, contribui para a compreensão internacional,

paz e amizade universal, ajuda à eliminação da pobreza,

da discriminação de género, do tráfico de

seres humanos e de todas as formas de violência

contra mulheres e meninas, apoia e participa em

programas e estratégias que assegurem o acesso

à saúde, à educação e ao desenvolvimento económico

e social, incentiva a nomeação de mulheres

para cargos de direção e de altas responsabilidades,

defende e age no sentido da implementação

da igualdade de direitos, promove ações para a

criação de oportunidades que transformem a vida

de mulheres e de crianças através de uma rede

global de membros e de parcerias internacionais,

presta serviços no âmbito da solidariedade e serviços

em prol do desenvolvimento, progresso e

bem-estar das comunidades locais, nacionais e

internacionais, participa ativamente em processos

de decisão em todos os níveis da sociedade e implementa

um conjunto de boas práticas nas áreas

de intervenção e alertar consciências para problemas

sociais prementes. É um orgulho enorme ser

parceiro de uma instituição com esta dimensão e

com objetivos tão nobres. Pela promoção da saúde

das mulheres, pelo bem-estar das famílias e pelo

empoderamento de uma sociedade mais justa e

igualitária, a CERCIGUI está de mãos e coração

abertos neste projeto inovador e solidário.

80 | REVISTA FENACERCI 2020


Desporto

para todos!

TESTEMUNHOS

“Senti liberdade! Eu adoro água pois é um meio em que os

meus músculos relaxam. Adorei participar e fiz coisas que nunca

tinha feito. Quero voltar a fazer canoagem”.

Helena

Cliente da CERCIMAC

CERCIMAC

O desporto é um importante meio na reabilitação

global e integral das pessoas com deficiência,

sendo também um recurso vinculador da

afirmação das suas potencialidades. A prática

desportiva contribui igualmente para a sensibilização

de diferentes agentes para a necessidade

de quebrar barreiras e de provocar mudanças

positivas promotoras da inclusão das

pessoas com deficiência.

Reconhecendo os diversos e amplos benefícios

a nível psicológico, social, físico e fisiológico

que a prática de desporto produz na pessoa com

deficiência, e tendo como pilares norteadores

a promoção da igualdade de oportunidades,

de participação e de estilos de vida saudável, a

CERCIMAC tem desenvolvido vários projetos na

área do desporto adaptado. Vários têm sido os

desportos recreativos dinamizados pela nossa

instituição e praticados pelos seus clientes, que

vão ao encontro dos seus perfis, necessidades

e interesses, contando já com a prática de modalidades

desportivas como Goalball, Boccia,

Pollybat, passando pelas modalidades aquáticas

e náuticas como a Natação, a Canoagem e o Paddle.

Em 2019, a CERCIMAC e o Município de Macedo

de Cavaleiros, em parceria com a FENACERCI e

várias federações e entidades desportivas nacionais,

promoveram as I Jornadas de Náutica

para Todos, na Barragem do Azibo, em Macedo

de Cavaleiros. O evento assente na premissa

máxima: “desporto para todos”, decorreu com a

dinamização de várias ações: desde formação

técnica, a atividades de experimentação de modalidades

e workshops de convívio e partilha de

experiências, dirigidas a profissionais da área,

bem como, a pessoas com deficiência, de várias

instituições do distrito de Bragança.

“Adorei a atividade. Senti muita adrenalina e gostei de experimentar

o paddle e canoagem onde consegui manter uma

postura correta com a ajuda dos técnicos”

Teresa

Cliente da CERCIMAC

“Alem da experiência em água foi bom fazer o workshop pois

aprendi a importância destes desportos e como adaptavam as

canoas e o paddle. No Azibo foi muito divertido.”

Vânia

Cliente da CERCIMAC

REVISTA FENACERCI 2020 |

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CERCI’S O CAMINHO FAZ-SE A ANDAR

A Educação

Sexual Não

é Tabu!

CERCIMARANTE

Com o objetivo de sensibilizar clientes e formandos,

respetivamente, do Centro de Atividades

Ocupacionais (C.A.O.), e do Centro de

Formação e Reabilitação Profissional (CFRP), da

CERCIMARANTE, para a questão da Educação

Sexual, a psicóloga e colaboradora da Cooperativa,

Mónica Ribeiro, de forma voluntária, tem

vindo a realizar, de há quatro anos a esta parte,

sessões de esclarecimento, sobre esta temática.

Todas as quartas-feiras, entre as 13h30 e as

14h00, no Auditório do CFRP, a psicóloga aborda

temas como o afeto; autoestima; autoconceito;

importância da higiene corporal; aparelho reprodutor

masculino e feminino; sexualidade;

doenças sexualmente transmissíveis; métodos

contracetivos; prevenção do abuso sexual a

pessoas mais suscetíveis; resolução de conflitos,

entre outros.

Ao longo das sessões, os clientes e formandos,

presentes de forma voluntária, têm a oportunidade

de expor duvidas e colocar questões à

psicóloga.

Estas sessões de esclarecimento sobre Educação

Sexual, de acordo com Mónica Ribeiro, têm

contribuído para o importante “desenvolvimento

cognitivo, afetivo e global dos clientes, e ainda

para a sua inclusão, assim como para consolidar

alguns dos seus direitos, nomeadamente o

direito à sexualidade”.

82 | REVISTA FENACERCI 2020


IMProVE - Inclusive

Methods in Professional

Volunteering in Europe

Em 2019, a CERCIOEIRAS iniciou o IMProVE –

Inclusive Methods in Professional Volunteering

in Europe – um projeto cofinanciado pelo Programa

ERASMUS+ da União Europeia, juntamente

com outras organizações – Dobrovolnické

Centrum (Republica Checa), Gemeinsam Leben

& Lernen in Europa e.V. (Alemanha) e Atempo

(Áustria).

O objetivo foi criar um PhotoBook e um E-book

para clarificar e difundir o conceito de voluntariado

inclusivo, identificando as barreiras existentes

para o seu. O IMProVE também procurou

explorar e dar a conhecer onde é necessário investir

para promover o voluntariado inclusivo,

procurando soluções reais para esta necessidade.

O PhotoBook e o E-book são ferramentas desenhadas

para disseminar boas práticas já implementadas

em diversas áreas de atuação, nomea-

damente ações de voluntariado praticadas por

pessoas com deficiência. A iniciativa e a motivação

de cada um são a recompensa do desempenho

de atividades saudáveis e enriquecedoras

para a sociedade.

Estas duas ferramentas foram elaboradas tendo

em conta os requisitos da linguagem fácil e estarão

disponíveis a partir de agosto de 2020.

Voluntariado inclusivo significa que todos têm

oportunidade e acesso a ser voluntários. Todas

as pessoas têm o direito de explorar os seus

potenciais, independentemente do seu estado

físico/mental/ limitação, religião, cultura, origem

étnica ou educacional, género ou idade.

Mafalda Malveiro

Diretora Técnica da Unidade Residencial

da CERCIOEIRAS

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CERCI’S O CAMINHO FAZ-SE A ANDAR

“Alumbramento”

A palavra solidariedade não é oca nem vazia, é sim uma

palavra cheia de afeto e Amor!

Em fevereiro de 2019, o João Ramos, o João

Croca e a Maria Laura Martins, apresentaram-

-nos o projeto de um possível livro, com fotografias

da nossa zona ribeirinha e textos relativos

às mesmas, tudo original e fruto de uma

seleção feita durante alguns anos de trabalho e

qual não foi a nossa admiração, pois nunca nos

tinha acontecido, quando nos disseram que

todo o valor que fizéssemos com a venda dos

livros, iria reverter para a nossa Instituição. Seria

um grande gesto de solidariedade para com

a CERCIMB. Mostraram-nos as fotos e os textos,

tinham pré reservas de algumas empresas

dos nossos concelhos e havia já o compromisso

da Câmara Municipal da Moita, para ceder a

sala, no Fórum José Manuel Figueiredo, para a

apresentação do livro. Acreditámos imediatamente

naquele projeto a que os autores chamaram

“Alumbramento”. Para além da qualidade

das fotos e dos textos, os autores estavam

completamente comprometidos e cheios de

vontade de conseguir um bom donativo para

a nossa Instituição. Iniciaram a construção do

livro, procuraram uma editora com qualidade e

ao mesmo tempo, fomos também divulgando

o mesmo. Os autores começaram a divulgar o

projeto nas redes sociais, e muito rapidamente,

o número de seguidores era enorme.

No decorrer de meses, fomos ficando encantados

com o que nos apresentavam. Concluído o

84 | REVISTA FENACERCI 2020


livro, apenas na forma digital, ficamos deslumbrados

com toda aquela inspiração e beleza e

crescia em nós o empenho de divulgar e entusiasmar

as pessoas para fazerem a pré reserva

do mesmo. Muita gente, encomendou e o que

mais nos encantou, foi o número de pré reservas

estar a aumentar bastante sem ainda se

conhecer o livro. Era a grande força da solidariedade.

As pessoas sabiam que o valor do livro

revertia por completo, para a CERCIMB e isso

bastou. Portanto, todo este projeto se desenvolveu

com o grande propósito de solidariedade

por parte dos autores e de todos aqueles

que têm adquirido o livro. Quase nas vésperas

da apresentação, o livro chegou. Ficou maravilhoso.

Uma obra magnífica.

Dia 23 de novembro, festa de apresentação do

livro! Superou todas as nossas expetativas. Não

foi uma apresentação formal. A Helena Madeira

tocou algumas músicas na harpa e foi também

acompanhando com música de fundo, a leitura

profunda e emotiva de textos do livro, ao mesmo

tempo que eram projetadas as fotografias

relativas aos mesmos. A música e estas leituras,

iam sendo intercaladas com as palavras comoventes

dos autores, do autor do prefácio e da

vereadora da Câmara. Todo este conjunto de

episódios foi criando uma envolvência de serenidade

e de paz, que terminou com um ponto

alto, que foi a apresentação de uma dança por

parte de alguns jovens da CERCIMB.

A sala estava esgotada e no fim, todos estavam

emocionados e deslumbrados. Foi esse o efeito

do projeto ”Alumbramento”. Vendemos bastantes

livros e a partir daí, juntamente com os

autores, temos vendido a edição que foi feita.

A CERCIMB tem que agradecer este gesto solidário

dos autores, que não ficou apenas pela

construção do livro. Têm envidado esforços para

que o nosso donativo seja cada vez maior. Têm-

-se empenhado neste projeto com muito amor e

um grande carinho pela nossa Instituição.

Também queremos mostrar a nossa gratidão

a toda a Comunidade, Empresas, Bibliotecas

escolares, Juntas de Freguesia e Municípios

dos Concelhos da Moita e Barreiro, bem como

outros fora destes concelhos, como a FENA-

CERCI, que adquiriram e divulgaram o livro,

mostrando uma grande envolvência com a

nossa Instituição e reconhecendo todo o trabalho

que a CERCIMB tem vindo a desenvolver

à sua volta.

A palavra solidariedade não é oca nem vazia, é

sim uma palavra cheia de afeto e Amor. É o que

estamos a sentir com este projeto.

Maria Clara Viegas

Presidente do Conselho de Administração da CERCIMB

REVISTA FENACERCI 2020 |

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CERCI’S O CAMINHO FAZ-SE A ANDAR

Turistas de

Mochila às

Costas

Um sonho tornado realidade!

CERCIPORTALAGRE

O projeto Turistas de Mochila às Costas nasceu da

iniciativa “Ter ideias para Mudar o Mundo” cujo

objetivo final foi construir um trabalho relacionado

com o Ser Jovem Empreendedor (formação

promovida pelo Coração Delta e pela Comunidade

Intermunicipal do Alto Alentejo e dinamizada pela

formadora Sandra Nicolau).

A complexidade da temática levantou, no início,

algumas dúvidas face aos resultados a alcançar,

no entanto, a meio do percurso o grupo fez-nos

acreditar que o conceito estava adquirido e com

sucesso, tendo emergido a ideia de concretizar

um projeto que determinasse a concretização de

um sonho, ser turista e poder viajar de mochila às

costas. Neste sentido, o grupo definiu: “Chegar

a Santiago de Compostela e fazer o percurso de

alguns dos seus caminhos”. Com muitas dúvidas,

se seria possível ou não, o grupo ultrapassou barreiras,

meteu mãos à obra e, com o conceito de

empreendedorismo assimilado, durante dois anos

trabalhou com o objetivo de realizar dinheiro para

alcançar o resultado pretendido.

Na base das competências de cada elemento do

grupo definiram-se objetivos que cada um tinha de

atingir, desde a produção de peças de artesanato,

até à respetiva venda e distribuição no mercado.

Durante cerca de 2 anos o grupo trabalhou, trabalhou…para

conseguir chegar a Santiago e como

em qualquer projeto, verificaram-se altos e baixos,

ganhos e perdas. Pelo caminho ficaram dois

elementos que tiveram que sair do grupo, por incumprimento

dos objetivos definidos, mas pouco

a pouco, o grupo foi fortalecendo a sua coesão,

definindo e alterando estratégias até que chegou

o dia 3 de outubro de 2019, com tudo pronto para

partirem rumo a Santiago de Compostela, de mochila

às costas. De cidade em cidade, de aventura

em aventura, de percurso em percurso, o sonho

foi concretizado.

Resumidamente, o sentimento de missão cumprida

e de orgulho reinou em todo o grupo, não esquecendo

as experiências vividas ao longo de todo

o processo que os marcou para sempre, mantendo

o espírito empreendedor e o desejo de continuar

com novos projetos e realizando novos sonhos.

Hoje, na CERCIPORTALEGRE, temos um olhar

bastante diferente, face ao conceito de empreendedorismo,

um olhar de acreditar, de dinamizar,

de criar, de empoderar, mas também, de fazer crer

que TODOS temos ideias para mudar o mundo,

TODOS somos capazes de concretizar sonhos,

basta sermos empreendedores.

Em suma: O empreendedorismo ficou como um

pilar bastante importante na CERCIPORTALEGRE,

tanto ao nível do trabalho diário desenvolvido com

os clientes e colaboradores, como ao nível dos

parceiros.

86 | REVISTA FENACERCI 2020


Os Benefícios

da Partilha

“Ninguém é tão rico que não

precise de nada, nem tão pobre

que não tenha algo para dar”

O Lar Residencial da CRINABEL realizou em

agosto de 2019 a habitual colónia de ferias de

Verão, este ano com o apoio de quatro excelentes

voluntários estrangeiros, com nacionalidade

turca, acolhidos pela Organização Não Governamental

SVE Acolhimento ProAtlantico - Associação

Juvenil.

A organização ProAtlântico desenvolve programas

de âmbito europeu com o objetivo de promover

o voluntariado de jovens estrangeiros que

pretendam experimentar e desenvolver novas

competências interculturais e linguísticas na

área social e apoiar instituições em Portugal.

Não é á primeira vez que fazemos parceria com

esta organização que nos faculta voluntários

para apoio aos clientes nas atividades, mas tem-

-se verificado uma melhoria de qualidade dos

voluntários que vêm prestar apoio, jovens estrangeiros,

muitos deles estudantes e outros no

início da atividade profissional com formação em

diferentes áreas de trabalho.

Foi uma surpreendente partilha o apoio que os

voluntários turcos proporcionaram no mês de

agosto 2019, durante o programa de Verão realizado

pelo Lar Residencial da CRINABEL.

Os voluntários demonstraram desde logo, um

sentido de responsabilidade e solidariedade para

com a equipa que se encontrava a apoiar a colónia

de férias de Verão, bem como, total disponibilidade

para realizar todas as tarefas que lhes

foram solicitadas pela Instituição, independentemente

da sua área de formação (Matemática,

Biologia, Teatro e Ensino de Língua Inglesa).

A atitude afável e disponível que demonstraram

para qualquer tipo de colaboração com os nossos

clientes foi surpreendente tendo em conta que

não dispunham de experiência de trabalho na

área da deficiência intelectual.

A relação com os clientes foi estupenda, uma vez

que não falavam português, só inglês; a comunicação

começou por ser feita através de gestos,

sons e brincadeiras, ensinando palavras em língua

turca e aprendendo com os nossos clientes

outras palavras em português.

A CRINABEL pode partilhar com estes voluntários

a alegria de uma convivência saudável,

a gastronomia portuguesa, e conceder-lhes a

oportunidade de conhecerem um pouco do nosso

património histórico (Batalha, Mosteiro dos

Jerónimos, ‘Budha Parque’ - Bombarral) e visitar

a região de Lisboa (Setúbal, lezíria de Vila Franca

de Xira, Cascais, Praia das Maçãs), onde decorreram

as atividades do programa da Colónia de Férias

de Verão 2019, de tal forma que ambicionam

regressar e outros permaneceram em Portugal.

Precisamos sempre de alguma coisa para nos desenvolvermos

e progredir!

O benefício das parcerias resulta da partilha que

realizamos e do que recebemos em ideias, conhecimentos,

criatividade. Trabalho e procedimentos

que nos ensinam e estimulam a melhorar

a qualidade dos serviços que prestamos.

Maria Cristina Mealha

Diretora Técnica do Lar Residencial da CRINABEL

REVISTA FENACERCI 2020 |

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CERCI’S O CAMINHO FAZ-SE A ANDAR

Animação

Itinerante

CERCIZIMBRA

Estávamos no Verão de 2004 e a equipa do

Centro de Animação para a infância (C.A.I) da

CERCIZIMBRA, foi desafiada a desenvolver um

projeto nas áreas de intervenção comunitária

e abandono escolar. Refrescando as ideias nas

praias de Sesimbra entre jogos e brincadeiras

com as crianças e jovens do projeto “Animação

Itinerante” e refletindo sobre a nossa experiência

de trabalho na área da animação e intervenção

comunitária em rede com a comunidade sesimbrense,

aceitámos o desafio. Importa referir

que o C.A.I. é um serviço direcionado para a animação

e intervenção comunitária com crianças

e jovens dos 6 aos 23 anos, caraterizado pela

inovação e diferenciação no panorama das

CERCI’s e dos espaços de ocupação de tempos

livres. Funciona em regime de porta-aberta e

dispõem de um espaço físico onde diariamente

têm lugar uma panóplia de iniciativas impulsionadas

por profissionais das áreas da educação,

animação, ambiente, artes e psicologia.

Agarrando na nossa “bagagem” enquanto saber

nesta área - diminuição dos índices de abandono

escolar precoce – assumimos enquanto estratégia

a exaltação de experiências pessoais e

coletivas: positivas, estimulantes, de sucesso, de

partilha, prazer e satisfação nos recreios, para

nós espaço fantástico de intervenção. Acreditamos

que através de recreios estimulantes,

os alunos conseguem aumentar os seus níveis

de vinculação ao contexto formal de educação,

bem como, apurar competências fundamentais

do desenvolvimento global (cognitivas, sociais,

emocionais e psico-motoras). Neste sentido, e

seguindo as orientações dos autores de referência

em intervenção comunitária e metodologias

relacionais de cariz lúdico, projetámos a

intervenção de combate ao abandono através

da concentração das ações em recreios dinâmicos

e de qualidade, encarando a prevenção de

situações de Bullying como fator determinante

no combate ao abandono escolar precoce.

Com base nas orientações de Natália Pais, Denise

Garron e da colaboração da Professora

Amália Rebolo (aluna do Prof. Carlos Neto)

candidatamo-nos ao Programa Escolhas (PE)

e, durante 5 anos, através do financiamento da

C.M. de Sesimbra e PE, implementámos o projeto

de animação dos recreios “C.A.I. na Escola”

em 3 Agrupamentos de Escolas do Concelho de

Sesimbra. O feedback obtido por parte de toda

a comunidade educativa, bem como, os resultados

alcançados foram de tal forma positivos,

que só a continuidade do projeto seria legitimamente

aceite.

Desta feita, o projeto sofreu algumas alterações

e centrou-se essencialmente na ideia de um recreio

estimulante e ativo enquanto motor de in-

88 | REVISTA FENACERCI 2020


clusão e determinante para o desenvolvimento

global da criança.

Atualmente passa pela facilitação diária de experiências

intensas de elevado potencial motor,

cognitivo, emocional e social num curto espaço

de tempo, em interação ou não, com a equipa

do C.A.I., uma equipa atenta e disponível para

brincar, perceber e intervir, em detalhes fulcrais

do recreio (captação de potenciais; isolamento

entre pares; agressividade descontrolada; riscos

desnecessários). Contamos com a colaboração

diária das assistentes operacionais no projeto e,

entre muitos dias de brincadeira e diversão, temos

também dinamizado alguns workshops de

reflexão e promovido um maior envolvimento e

segurança no papel de parceiros de jogo e facilitadores

de brincadeiras durante os intervalos.

É nosso desafio para o ano letivo 2020/21,

alargar o projeto a mais escolas, respondendo

também, às necessidades realçadas por técnicos

especializados e docentes de educação especial,

para que nos recreios se promova uma

maior inclusão, a aceitação da diferença e o

convívio entre crianças com níveis de capacidade

diferentes, para que TODOS possam usufruir

de momentos de brincadeira livre, espontânea

e no exterior.

REVISTA FENACERCI 2020 |

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CERCI’S O CAMINHO FAZ-SE A ANDAR

CAR

Uma Resposta e

Alternativa Transitória

de Enquadramento

Sócio Familiar

RUMO

A Casa de Acolhimento Residencial (CAR) da

RUMO - Cooperativa de Solidariedade Social,

CRL. “destina-se a Crianças e Jovens até aos 18

anos em situação de perigo, a quem a Comissão

de Proteção de Crianças e Jovens ou o Tribunal

tenha aplicado a medida de promoção e proteção

de acolhimento residencial”.

Neste momento, o intervalo de idades das nossas

crianças situa-se entre os 7 e os 19 anos. Os diagnósticos

e problemáticas, circundam as questões

associadas às fragilidades emocionais e comportamentais,

mas também ao nível das limitações

intelectuais, cognitivas e de aprendizagem.

Sem exceção, todas as crianças ficaram privadas

de uma dinâmica familiar estruturada, evidenciando-se

histórias de vida conturbadas e penosas,

sendo que a CAR, se assume como uma resposta

e alternativa transitória de enquadramento

sócio familiar de qualidade, visando sempre, o

desenvolvimento físico, intelectual, emocional,

e moral dos jovens, bem como, a sua integração

comunitária.

Após uma exaustiva avaliação diagnóstica, é definido

um Plano Individual de Intervenção e um

Projeto de Vida para cada uma destas crianças e

jovens acolhidos, adequado e ajustado às necessidades

e caraterísticas de cada um.

Aquando da existência de perturbações no âmbito

psíquico e da necessidade da administração

de medicação, estão definidos procedimentos em

manuais específicos para o efeito, bem como, o

acompanhamento Pedopsiquiátrico e/ ou Psicológico.

Este acompanhamento torna-se regular,

através da equipa multidisciplinar que temos ao

nosso dispor, constituída por um Psicólogo, uma

Assistente Social e Auxiliares de Ação Educativa

que promovem a aquisição de competências psicossociais,

assentes numa abordagem educativa,

inclusiva, afetiva e relacional.

Uma vez que perspetivamos sempre a melhoria

da qualidade de vida das nossas crianças e jovens

consideramos que “A Nossa CASA”, deverá

ser o mais similar possível a um lar familiar dito

“normal”, tendo iniciado, há já algum tempo, restruturações

internas profundas, quer ao nível do

edificado, quer no que respeita à otimização dos

espaços interiores.

Mantendo o nosso lema “Para cada Pessoa um

Projeto de Vida”, assumimos que a nossa intervenção

é direcionada para o indivíduo de acordo

com as suas idiossincrasias. Dessa forma, estamos

empenhados em construir um Plano de Autonomização

para cada uma das crianças e jovens

que residem na CAR, assumindo que a empregabilidade

é um fator para que essa autonomia

ocorra. Assim, mantemos o que defendemos...

concretizando o modelo de emprego apoiado

como estratégia de inclusão e integração na sociedade.

“Se queremos um mundo de paz e de justiça,

devemos por a inteligência ao serviço do amor.”

Antoine de Saint-Exupery

90 | REVISTA FENACERCI 2020


A Saúde

Como Fator para Melhorar as

Condições para

a Empregabilidade

O Serviço de Empregabilidade - Formação Profissional

da CERCIMA conhece o perfil dos seus

formandos, das suas famílias, dos seus contextos

sociais, das suas fragilidades e das suas potencialidades.

Conhece o mercado de trabalho e as exigências

de quem emprega, porque trabalhamos

em parceria com todos aqueles que se disponibilizam

e acreditam que incluir é a única forma de gerar

igualdade e equidade de oportunidades. É com

este conhecimento que, entendemos como prioritário,

o investimento em atividades e projetos de

promoção de competências sociais, facilitadoras

das condições de empregabilidade. O desenvolvimento

de competências pessoais, pertence ao

grupo dos requisitos comuns a quase todos os empregos,

ou seja, são estas características que nos

tornam “empregáveis” e incluídos na comunidade.

Porquê a necessidade de desenvolver atividades

orientadas para a saúde?

Não sendo um grupo com características homogéneas,

no entanto, existem situações que sinalizamos,

como diagnóstico para intervenção na

Área da Formação e do Emprego com Pessoas com

Deficiência e Incapacidade (PDI):

• Imagem negativamente conotada;

• Desvalorização da autoimagem;

• Situações de fragilidade emocional;

• Problemas motivacionais;

• Fragilidade das condições básicas de empregabilidade

(meio familiar e residencial desfavorecido);

• Níveis baixos de habilitação escolar e/ou de qualificação

profissional;

• Cuidados com a higiene e a imagem pessoal;

• Cuidados de saúde;

• Higiene oral;

• Rotinas de sono.

Dois Projetos de parceria com o Departamento

de Psiquiatria e Saúde Mental – Hospital do

Barreiro Montijo:

“Projeto o Sono na Qualidade de Vida – Educação

para a saúde”

Esta iniciativa teve por base uma avaliação diagnóstica

sobre os hábitos de sono em que se registam

problemas na interiorização de rotinas, nomeadamente

a hora de deitar, o uso de aparelhos eletrónicos,

perturbadores de um desenvolvimento harmonioso

dos formandos e com um impacto negativo

ao nível da aprendizagem na formação em sala,

formação em posto de trabalho e na sua integração

profissional. Verificam-se também dificuldades no

controlo parental dessas mesmas rotinas.

Atividades desenvolvidas

• Sessão para formandos e famílias: “Sono e Qualidade

de Vida – Educação para a Saúde”;

• Distribuição dos folhetos informativos: Sono –

“Porque precisamos de dormir e o que nos impede”,

elaborado pela Equipa Comunitária Montijo-Alcochete,

sendo a avaliação da sessão pelos

participantes de Muito Bom.

“Projeto Intervenção Multidisciplinar para a

Saúde Mental”

Atividades desenvolvidas

• Supervisão de análise de casos;

• Acompanhamento de formandos a consultas, de

forma a assegurar a estabilidade na sua saúde.

“Projeto Sorriso”

Estabelecimento de parceria com clínica

dentária privada para dotação de plano de

tratamento dentário.

“IOGA”

O IOGA iniciou em outubro de 2019 com

a colaboração da professora de IOGA, com

objetivo de:

• Promover o relaxamento e a concentração;

• Corrigir posturas;

• Promover o bem-estar físico e o humor.

Atividades desenvolvidas

Sessão de 30 minutos, 3 vezes por semana.

Cristina Pereira

Isabel Fialho

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NÓS POR

NÓS

PRÓPRIOS

A mensagem na primeira pessoa é sempre a mais importante. Por muito

preocupados e empenhados que sejam os profissionais ou os familiares, nada

pode substituir a opinião das pessoas com deficiência. E de facto, continuamos

a pensar e decidir muitas coisas em nome delas, mas sem as ouvir. Esta rubrica

é apenas um modesto contributo de alerta para a necessidade de dar voz às

pessoas com deficiência, para que possam dizer o que lhes vai na alma, sobre

coisas que muitos teimem em decidir por eles.


© FENACERCI


NÓS POR NÓS PRÓPRIOS

Eu Sou a

Daniela

“Pimentinha

Estafeta”

Eu sou a Daniela Silva e tenho 26 anos, vivo presentemente

na CERCICOA . Entrei no dia 10 de

fevereiro 2014, há seis anos. Quando entrei nessa

altura, considerava-me uma criança ainda, só chorava

e dava-me “amoques”. Estava sempre muito

descontrolada. Estive num curso de hotelaria onde

estagiei no “ Lar São Barnabé” depois fizeram-me

um contrato de trabalho primeiro na CERCICOA

“Cova da Burra”, depois tive outro contrato na “

Junta da Freguesia em Almodôvar. Agora estou a

trabalhar na Câmara Municipal de Almodôvar, na

secção de contabilidade, contrato este por um período

de nove meses. A todas as colegas de serviço

chamo-lhes tias do coração.

Sou uma pessoa muito responsável no serviço e

em tudo o que faço.

Gostam muito de mim, e faço todo o serviço que

me mandam com carinho, até sou chamada de “Pimentinha

a Estafeta para todos”.

Estou sempre disponível para tratar de todos os

assuntos, quer no exterior, tais como nas Institui-

ções Bancárias, Finanças e entrego pagamentos

aos Munícipes sempre que o Tesoureiro me solicita,

quer no próprio serviço no Município, onde

tiro fotocópias, carimbo documentos, recolho assinaturas

dos responsáveis e entrego nos serviços

respetivos. Ajudo muito também nos eventos culturais

como por exemplo: Facal, Carnaval, S. João

e outros eventos.

Acho que sou competente no serviço que faço

porque todos me elogiam.

Gosto muito de estar a trabalhar onde estou, sou

muito feliz na Câmara.

No dia 21 de fevereiro, dia dos meus anos, os meus

colegas e tias do coração fizeram-me uma festa,

onde todos contribuíram para me comprarem um

grande bolo, foi uma grande festa de surpresa,

cantámos os parabéns e eu chorei muito de alegria,

adorei muito, pois nunca tinha tido uma festa

assim tão bonita como esta.

Com o restante dinheiro que sobrou do pagamento

do bolo, estou a programar ir nadar com os Golfinhos.

Daniela Silva

Cliente da Residência Autónoma da CERCICOA

Falando agora o que penso das minhas

tias de coração com quem trabalho

na contabilidade:

Piedade: Simpática, vai comigo aos golfinhos,

sempre amiga de ajudar, é muito boa.

Teresa: Amiga, ajuda-me sempre e às vezes e

também me repreende no que faço mal.

Ana Morgadinho: Também amiga e, às vezes,

também me repreende.

Pereira: Amigo que brinca sempre comigo

porque diz que eu faço muito barulho porque

dou muitas gargalhadas.

O que é que as amigas e colegas acham do

meu trabalho?

l

A Daniela é uma rapariga muito atenciosa e

responsável no trabalho, o que lhe é pedido

para fazer, faz sem reclamar e faz bem feito,

pede-nos sempre para a ensinar a fazer coisas

novas, gosta de aprender.

l

Não só trabalha na contabilidade como

também auxilia o pessoal de todo o edifício,

a Daniela está sempre pronta a ajudar, não

nega ajuda a ninguém.

94 | REVISTA FENACERCI 2020


Sentimo-nos bem, quando

somos nós próprios!

No CERIN trabalhamos diariamente sobre

o bem-estar e qualidade de vida.

Promovemos a saúde com pesquisas e atividades

sobre cuidados a ter no frio e calor, a importância

do desporto, como comprar e confecionar

uma alimentação saudável, a higiene pessoal,

sexualidade, afetos, etc. Construímos jogos e até

um supermercado com embalagens vazias para

aprender mais sobre a alimentação. Aprendemos

a ler rótulos e a analisá-los e vamos às compras

para cozinhar refeições simples e saudáveis, que

repetimos em casa.

Semanalmente desenvolvemos atividades terapêuticas

e desportivas como: natação, boccia,

taças tibetanas, corfebol, mindfullness, ténis,

danças, surf, toque +, e várias terapias. Aprendemos

a respirar, relaxar, estar mais concentrados,

ter melhor coordenação, resistência física, melhoramos

o relacionamento com os outros e com

o que nos rodeia.

Estamos sempre prontos para desafios e fazemos

caminhadas pela natureza, peddy papers,

yoga, hip hop, tang soo doo e capoeira.

Para o bem-estar global, temos que exercitar o

corpo e a mente, estar incluídos, ter amigos e

uma ocupação útil. Promovemos atividades de

jardinagem, horta, bar e cozinha. Desenvolvemos

um grupo de voluntariado, danças, conversas de

raparigas, teatro, área de projeto e jornal. Estamos

sempre envolvidos com a comunidade em

projetos e parcerias. São muitas as oportunidades

de participação ativa e útil na sociedade. Isso

é estar saudável!

Grupo de Autorrepresentantes do CERIN

Centro de Respostas Integradas da CERCIPENICHE

REVISTA FENACERCI 2020 |

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NÓS POR NÓS PRÓPRIOS

As Boas

Energias

do REIKI

A prática de Reiki existe no Centro de Atividades

da CERCIMONT desde 2017. Desde esse tempo

que faço parte do grupo de clientes que realiza

a atividade e tem sido uma boa experiência

para mim. Sinto-me bem a dar Reiki. Todas as

quartas-feiras à tarde fazemos Reiki aos colegas

e aos funcionários, e uma vez por mês, vamos ao

Lar de São José praticar com os idosos.

A partir do momento que passei a ser Reikiana

senti-me muito feliz e aprendi que existem boas

e más energias. Tanto se pode fazer o Reiki a

nós próprios como nas outras pessoas. Algumas

pedem mesmo para lhe tocarmos para sentirem

melhor a energia.

O Reiki dá muita energia a quem o recebe, mas

também ao Reikiano quando se sente triste ou

com menos energia. Se assim for vamos buscar

energia e sentimo-nos mais relaxados e calmos.

O Reiki é uma troca de energia que melhora

o nosso estado. É uma técnica já muito usada

como tratamento em alguns hospitais, para tratar

algumas doenças ou apenas para nos sentirmos

melhor com o nosso corpo.

No início de cada sessão de Reiki ouvimos algumas

músicas e realizam-se alguns rituais tais

como: o Enraizamento, a Chuva de Reiki e o Auto

Tratamento. Depois acontece a aplicação do

Reiki. No final fazemos a Limpeza do Espaço -

um ritual que consiste em libertar todas as energias

que possam estar em excesso de modo a ficarmos

num estado de equilíbrio energético.

Cristina Araújo

Cliente da CERCIMONT

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NÓS POR NÓS PRÓPRIOS

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NÓS POR NÓS PRÓPRIOS

O dia em que

colocamos os

nossos corações

à solta…

O dia 14 de fevereiro tem para “Nós”, um significado mais

abrangente. De alguns anos a esta parte é elaborado um

projeto na CERCIPORTALEGRE para o Dia dos Afetos, este

ano concebido pela Valência Educativa e pelo Centro de

Apoio Ocupacional (CAO), sendo alargado à participação de

Todos, nomeadamente às Famílias.

Um dos objetivos estabelecidos foi transformar a data,

associada ao Dia dos Namorados, num dia em que se demonstrem

afetos através da Amizade, do Amor e da Alegria

que nos une a Todos.

Neste sentido, o Grupo de Autorrepresentantes foi para a

rua partilhar o que de melhor temos, o nosso carinho, simbolizado

num simples mas mágico coração.

Para além de visitarmos alguns dos nossos Parceiros, para

reconhecer e agradecer a importância da Amizade, escondida

na parceria, visitámos um colega, que estava hospitalizado

e uma família que se encontrava mais frágil.

Ainda a quem passava por “NÓS” partilhámos carinho e afeto,

dissemos que: “… colocámos os nossos corações à solta”.

Grupo de Autorrepresentantes da CERCIPORTALEGRE

100 | REVISTA FENACERCI 2020


SER

Saudável

O meu nome é Paula Graça tenho 45 anos,

moro no Lar Residencial Vidas Coloridas da

CERCIBEJA e durante o dia estou no Centro

de Atividades Ocupacionais.

Faço imensas atividades, tais como teatro,

desporto (natação, corfebol e caminhadas),

danço no Rancho Folclórico e ainda faço atividades

de voluntariado no Banco Alimentar

e Cantinho dos Animais de Beja.

Quando venho para a instituição e participo

nestas atividades percebo as minhas reais

capacidades. Tenho muitos amigos que me

fazem sentir feliz e que me têm ajudado a

ultrapassar alguns momentos mais difíceis.

Na residência também ajudo nas tarefas do

dia-a-dia, o que me faz sentir útil.

No que se refere à minha saúde, sei que tenho

de evitar o sal e os doces e não esquecer

de beber muita água. Tudo isto, em conjunto

com as atividades desportivas que me facilitam

a mobilidade e me fazem andar melhor.

Tenho de agradecer a todos os colaboradores

da CERCIBEJA, pois desde que vim para

cá, me têm ajudado a SER uma pessoa mais

feliz e com melhor qualidade de vida.

Paula Graça

Cliente da CERCIBEJA

Fim-de-

-semana

com cor…

CERCIAMA

“Eu gostei muito de ir a Ponte de Sor. O passeio noturno

por Ponte de Sor foi engraçado e bonito, porque passei

por uma ponte colorida.

Passeei por Abrantes. Os doces tradicionais são a Palha

de Abrantes e as Tigeladas”

Teresa M.

Cliente da UR da CERCIAMA

“Eu gostei de passear por Ponte de Sor. Em Abrantes

passeei pela cidade e pelo parque de merendas do Rossio

de Abrantes”

Sónia B.

Cliente da UR da CERCIAMA

REVISTA FENACERCI 2020 |

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VENHA DE LÁ

ESSE ABRAÇO

© DR


A COVID 19 proibiu os abraços. Mas resolvemos

manter o nome da rubrica. O

abraço é, talvez, o melhor símbolo da

solidariedade. Num abraço mora compreensão,

cooperação, afeto, amizade, e

muitos outros ingredientes de que é feita

a solidariedade. Fica por isso a nossa

gratidão para todas as figuras públicas,

mais conhecidas ou menos conhecidas,

que todos os anos nos emprestam o

seu nome e prestígio para levar a nossa

mensagem mais longe e a mais gente.

Bem hajam.


VENHA DE LÁ ESSE ABRAÇO

Agustin

Hernandez

Fotógrafo (SP)

Sou fotógrafo e retrato é o gênero que mais me interessa.

A revelação de um rosto depende em parte do fotógrafo,

mas sobretudo de quem posa abrindo ou fechando a alma

aos outros. Eu nunca encontrei pessoas mais dedicadas do

que as pessoas com deficiência intelectual. Se há algo que

têm em comum, é a ausência de máscara social. Não conheço

grupo mais aberto e generoso. Quero mostrar uma

pequena parte do meu trabalho com retratos nos quais

emoções e sentimentos são expressos. São pessoas com

deficiência intelectual expostas ao nosso olhar, sem impor

importância, sem falsidade, mostrando as qualidades

humanas comuns a todos, sem distinção de posição ou

origem social.

No fim, há uma pergunta que se desdobra em outras: o que

vemos, como nos vemos neles, quem são e quem somos?

Conheça mais sobre a obra deste fotografo em https://

agustin-hernandez.myportfolio.com/retratos-de-la-fragilidad

104 | REVISTA FENACERCI 2020


Lena

D’água

Cantora

Sou avó de um menino com hemiparesia.

Nunca chegámos a saber se foi antes, durante ou logo

depois do nascimento, que um AVC deixou no Vicente

uma lesão cerebral e nos juntou às famílias que acordam

com aquela dor tramada no coração, uma dor que

se vai lentamente transformando em esperança e que

às tantas já é quase só esperança. E alegria também.

Passaram sete anos. Aprendemos a viver com o nosso

menino especial. Não é fácil, o desafio é enorme. Mas o

apetite gourmet do Vicente, as travessuras do Vicente,

as músicas do Vicente, a paixão que ele tem pelos cães

da avó Lena, aquele sorriso do Vicente, dizem tudo sobre

o que mais importa na vida, e o que mais importa na

vida é o amor.

REVISTA FENACERCI 2020 |

105


VENHA DE LÁ ESSE ABRAÇO

Miguel

Blanco

Surfista Profissional

© Damien Poullenot

“Uma viagem,

uma aprendizagem

sem limites”

Desde muito cedo que tive a oportunidade de viajar graças

à profissão que escolhi, o surf.

Este desporto/lifestyle levou-me a descobrir novos destinos,

não somente para concorrer no circuito mundial, mas

especialmente para ir atrás das ondas que sempre sonhei

surfar.

Explorar os mais diversos destinos levou-me a conhecer

muitas pessoas, realidades e culturas diferentes. Viajar

sempre tem os seus imprevistos e, ao estarmos longe de

casa, obriga-nos a sair da nossa zona de conforto e fazer o

necessário para podermos continuar a nossa jornada.

É sem dúvida uma constante aprendizagem. Convivi com

pessoas de várias religiões em diferentes línguas e nas mais

diversas circunstâncias e concluí que realmente não importa

o que as pessoas têm, mas sim o que elas são e a maneira

como vivem as suas vidas.

Com a minha experiência competitiva aprendi também que

quem chega ao topo não é o surfista “perfeito” e com mais

talento, mas sim aquele que inspira mais perseverança,

acredita em si próprio e não olha para qualquer tipo de limitação

que possa ter. Aquele que em qualquer circunstância

não vê um problema, mas sim uma oportunidade. Não

existem atletas perfeitos e a perfeição é ilusória. Tudo o que

uma pessoa se tem de focar é em dar o melhor de si próprio

todos os dias. É isso o que realmente importa e nos vai fazer

chegar ao fim do dia com um sentimento de realização.

Portanto, segue o teu próprio caminho e não tenhas medo

de ser feliz.

106 | REVISTA FENACERCI 2020


Floriano

Jesus

Atleta de Canoagem

Fala-se tanto nos direitos, de igualdade, de inclusão, de

respeito, mas a verdade é que neste mundo cada vez

mais “cada um por si”, passamos ao lado de tudo e de

todos. Lutaremos, no nosso dia-a-dia, pela justa e clara

igualdade de direitos. Por vezes passando ao lado de todos,

os “incapazes” conseguem conquistas notáveis que

os “capazes” não o conseguem, e no desporto é notável

as nossas conquistas. Continuaremos a lutar dia após dia

para novas conquistas.

REVISTA FENACERCI 2020 |

107


VENHA DE LÁ ESSE ABRAÇO

Iguana Garcia

Músico

Era uma vez um menino feliz. Corria. Brincava. Fazia amigos.

Gostava de tocar a terra e do cheiro das coisas

Gostava de correr até cair, e quase não ter ar nos pulmões

E achava que assim seria a vida toda.

Mas o tempo passou, e o menino mudou.

Os amigos já não importavam tanto

Teve que se fazer indiferente para crescer.

E de um mundo de correria e brincadeira

Passou para a cidade, onde as serpentes abundam e estão camufladas.

No início queria ser menino e homem na cidade,

Mas sem se perceber,

Foi apagando tudo o que nele o tornava verdadeiro e bom,

E esse menino acabou a perder o seu dom.

O de ser feliz e inocente

E de tratar com amor toda a gente.

Por isso ouve o que te digo,

E sê puro e bom,

Não como este menino!

108 | REVISTA FENACERCI 2020


© AnaViotti

REVISTA FENACERCI 2020 |

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VENHA DE LÁ ESSE ABRAÇO

Norberto

Mourão

Atleta de Canoagem

Olá a todos, chamo-me Norberto Mourão, tenho 39 anos

e sou atleta da paracanoagem.

A paracanoagem apareceu na minha vida em setembro

2010, num evento de canoagem e de mergulho, esse

evento foi organizado em parte por aquele que se viria a

tornar o meu treinador, o Ivo Quendera, que se mantém

até aos dias de hoje.

Este evento apareceu para mim numa altura em que estava

a recuperar de um grave acidente no qual perdi as

duas pernas e tive conhecimento dele através de uma

antiga atleta com Paralisia Cerebral, a Carla Ferreira.

A partir de janeiro de 2010 comecei a treinar com regularidade

e aos poucos fui evoluindo. Nem sempre as coisas

foram fáceis, mas a persistência, o empenho nos treinos

e sobretudo, ter as pessoas certas ao meu lado para me

ajudarem a evoluir de treino para treino, foram a chave

para alcançar resultados de excelência, como são os casos

dos resultados do ano passado, onde destaco a Medalha

de Bronze no Campeonato Europeu e a Medalha

de Prata no Campeonato do Mundo, este último deu-me

a vaga para os Jogos Paralímpicos Tokyo 2020.

Um dos segredos que me ajudou a superar tudo, foi a

forma de pensar e de encarar as coisas, focando-me no

que tinha para fazer e no que conseguia fazer, seguindo

sempre um lema desde o dia do acidente, voltar a fazer

o que fazia antes, posso-vos dizer que já fiz tudo o que

fazia antes e até faço mais, tenho uma vida mais preenchida

e mais ativa do que antes do acidente.

É neste sentido que vos digo uma coisa que vos poderá

ajudar a ver a vida de forma diferente, nunca olhem

para as vossas limitações ou dificuldades que têm em

fazer algo, olhem antes para o que conseguem fazer e

tentem aprender o máximo possível, isso irá ajudar-vos

a aumentar a vossa autoestima, a enfrentar os obstáculos

com mais confiança, mas sobretudo, a serem pessoas

mais completas e felizes.

110 | REVISTA FENACERCI 2020


REVISTA FENACERCI 2020 |

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VENHA DE LÁ ESSE ABRAÇO

112 | REVISTA FENACERCI 2020


VASCO

ARAÚJO

Escultor e Artista Plástico

A principal questão para o Ser Humano é descobrir-se

enquanto sujeito, enquanto ser livre e consciente de si,

e de si em relação aos “Outros”. Qualquer um pode percorrer

este caminho através da compaixão, solidariedade

e do amor a si e aos outros.

REVISTA FENACERCI 2020 |

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VENHA DE LÁ ESSE ABRAÇO

Jesús

Lago Solis

Ator

“Olá, eu sou Jesús Lago Solis. Há dois anos participei como ator no filme

“Campeões”, o que me deixou muito entusiasmado. Eu nunca fiz filmes,

apenas teatro na minha escola.

O que mais gostei foi poder fazer novos e bons amigos, que ainda hoje,

são meus amigos passado tanto tempo.

Também gosto muito de quando vou a algum lado, as pessoas me aplaudam

e tirem fotos comigo. Deixa-me muito contente.

Todas as pessoas que participaram no filme eram muito amorosas

connosco, o realizador também. Rimo-nos muito e divertimo-nos muito!

Adoro quando vou às escolas e as pessoas me dizem que, graças ao filme,

passaram a ter uma melhor compreensão das pessoas com deficiência.”

Um beijo para todos.

114 | REVISTA FENACERCI 2020


A NÃO PERDER!

O filme Campeões é uma

comédia dramática espanhola

inspirada numa história

verídica passada em Burjassot,

Valência. Uma história em que

Marco Montes é o treinador

assistente de uma equipa de

basquetebol madrilena que é

despedido depois de discutir

com o treinador principal. Depois

disso, é sentenciado a serviço

comunitário por, alcoolizado,

bater com o seu carro num da

polícia. A sentença é trabalhar

com uma equipa de jogadores

com deficiência, pessoas que

ele a início despreza mas que

acabam por lhe ensinar mais

a ele, como é comum nestas

andanças, do que o inverso. Um

filme de Javier Fesser que vale a

pena ver.

REVISTA FENACERCI 2020 |

115


OLHÓMETRO

l O trabalho de parceria com as organizações, desenvolvida pela Senhora Ministra do Trabalho,

Solidariedade e Segurança Social e pelas Senhoras Secretárias de Estado do seu Ministério,

na formulação de estratégias de combate à COVID 19.

l O empenhamento do Sr. Ministro do Planeamento na procura de soluções associadas a ações

inscritas no Quadro Comunitário.

l A resposta positiva e assertiva das Organizações da Economia Social, que foram um exemplo

de oportunidade e responsabilidade.

l Os profissionais das nossas cooperativas, pelo exemplo de profissionalismo e solidariedade que

têm dado ao longo de toda a crise associada à pandemia.

l A interação local com autarquias, estruturas da segurança social e serviços de proteção civil.

l A disponibilidade dos gestores do IEFP e do POISE para encontrarem soluções em interação com

as organizações.

l As medidas inscritas no Plano de Estabilidade Social.

l A linha de apoio à aquisição de EPI disponibilizada através do MTSSS.

116

116 | REVISTA FENACERCI 2020 2020


l A aplicação de testes a clientes e profissionais de algumas respostas.

l O tratamento desigual que mereceram os Lares Residenciais relativamente às ERPI.

l A dificuldade de articulação com o Ministério da Educação e designadamente a ausência de resposta

a solicitações.

l A dificuldade e especulação associadas à aquisição de EPI.

l A dificuldade de articulação com o Ministério da Saúde.

l A ausência de linhas orientadoras para a reabertura das Escolas de Educação Especial.

l O atraso na implementação da Linha de Financiamento para o Setor Solidário.

l O pouco envolvimento da Economia Solidária no seu todo ao nível do desenho das soluções para

a pandemia, designadamente ao nível do Conselho Nacional da Economia Social e da Confederação

Portuguesa da Economia Social.

l O atraso na implementação do Grupo de Tarefa para a avaliação dos CRI, previsto em sede

de Compromisso.

REVISTA FENACERCI 2020|

117



ATÉ JÁ

PIRILAMPO


ATÉ JÁ PIRILAMPO

Sobre a Campanha

Pirilampo Mágico 2020

Uma mensagem com os olhos postos no futuro

Marcelo Rebelo de Sousa

Presidente da República Portuguesa

Deveria ser lançado, no dia 30 de abril, o Pirilampo

Mágico deste ano de 2020. São 34 anos

sem parar na vida do Pirilampo Mágico, o que

significa também na vida de muitas instituições

ao serviço da comunidade portuguesa, instituições

de solidariedade social. É uma causa que

o Presidente da República sempre abraçou, é

uma causa que o país sempre abraçou, é uma

causa popular. Os tempos foram mudando e o

Pirilampo Mágico permanecia porque as necessidades

permaneciam. Este ano não vamos ter

Pirilampo Mágico, mas isso não significa o fim,

significa uma suspensão. O espírito fica, o espírito

de solidariedade, o espírito de fraternidade,

o espírito serviço e fica também a gratidão

a todos os voluntários que, por todo o país, se

moveram e estavam prontos para o arranque.

Depois de ultrapassada esta fase difícil da vida,

que todos nós vivemos, cá estaremos para o ano

que vem, em 2021, para o novo Pirilampo Mágico

para com ele prosseguir aquilo que foi, em

boa hora, lançado a pensar no que mais sofrem,

nos que mais precisam, nos mais carenciadas

e que estão sempre no nosso pensamento, por

maioria de razão, no momento em que tantos

de nós sofrem, morrem ou vivem confinados na

esperança de um futuro melhor.

120 | REVISTA FENACERCI 2020


A Razão de Ser de um

Adiamento Inevitável

É importante no momento presente deixar uma

mensagem a propósito de não podermos desenvolver

a Campanha deste ano do Pirilampo Mágico.

É uma situação triste, como é óbvio, até porque

a Campanha já faz parte do nosso cotidiano

do mês de maio, mas podemos pensar de uma

forma mais positiva! Temos um ano excecional,

com todos os desafios que a Covid 19 nos trouxe e

temos acima de tudo que apostar neste momento

naquilo que é essencial: salvar vidas, apoiar as pessoas

e estarmos todos muito atentos a este perigo

imenso e invisível que é a Covid. Portanto, aquilo

que fizemos não foi deixar de fazer a Campanha,

foi transportá-la para mais tarde na certeza abso-

Rogério Cação

Vice Presidente do Conselho de Administração

da FENACERCI

luta que, com a colaboração de todos, iremos ter

uma Campanha Pirilampo Mágico que vai exceder

todas as expetativas. Assim, fica uma mensagem

de apoio, de esperança por parte daqueles que

acreditam que nestas situações, por vezes, temos

de fazer aquilo que não esperávamos e que não estava

nos nossos planos como seja adiar a Campanha.

Mas se é preciso então vamos fazê-lo! Vamos

fazê-lo na certeza absoluta que vamos conseguir e

que para o ano que vem vamos ter uma Campanha

muito mais apelativa e participada!

REVISTA FENACERCI 2020 |

121


ATÉ JÁ PIRILAMPO

O Pirilampo,

a COVID 19

e o Futuro

FENACERCI

A COVID 19 trouxe-nos uma série de problemas

mas também nos coloca múltiplos desafios.

Na realidade, por muito otimistas que sejam

as perspetivas, nada vai ser como dantes. As

relações sociais estão prejudicadas pela desconfiança,

os impactos no emprego vão fazer

aumentar as bolsas de pobreza, a necessidade

de acautelar situações futuro irá impor novas

regras no modelo de funcionamento das organizações

e o próprio paradigma de apoio aos

grupos vulneráveis, consubstanciado num conjunto

de respostas que todos conhecemos, irá

certamente ser posto em causa nos próximos

tempos. Na realidade, uma das coisas boas que

a pandemia nos legou foi expor as nossas fragilidades,

quer as das organizações, quer as dos

sistemas de saúde e segurança social. E vamos

ter que repensar, nalguns casos de reconstruir

os nossos modelos de apoio.

O discurso político europeu e mundial que contesta

aquilo que chamam soluções institucionalizantes

recrudesceu nos últimos tempos. O

problema é que misturam numa mesma análise

soluções que são completamente distintas. A

título de exemplo, na linha daquilo que parece

ser o pensamento europeu, as nossas organi-

zações não têm nada de institucionalizantes.

Temos estruturas completamente abertas à

comunidade e em interação constante com ela,

abraçamos tudo o que é inovação e desenvolvimento

no capítulo do cumprimento dos direitos

das pessoas com deficiência e suas famílias

e temos até a possibilidade de as pessoas com

deficiência participarem na gestão das próprias

organizações. Mas a verdade é que, se a moda

da desinstitucionalização sem regra pega, como

alguns políticos parecem defender, quem irá

pagar a fatura são obviamente as pessoas com

deficiência e as suas famílias.

E certamente que o Pirilampo Mágico 2021 não

deixará de trazer consigo estas duas mensagens:

por um lado, os grandes desafios que a

pandemia nos deixou em mãos, ainda por cima

sem que haja um fim à vista e, por outro a grande

reflexão que tem que ser feita ao nível dos

paradigmas que suportam o modelo de apoio à

pessoa com deficiência e sua família. O grande

conselho que o Pirilampo nos pode deixar é

que, se nos mantivermos unidos, cooperantes e

informados como aconteceu nestes tempos de

pandemia, não haverá desafio que não consigamos

ultrapassar.

122 | REVISTA FENACERCI 2020


O Pirilampo

e o Dia do Coração

Apontamento da

parceria com a Fundação

Portuguesa de Cardiologia

As doenças cardiovasculares constituem a principal

causa de morte não só em Portugal, como

em todo o mundo. Sendo doenças da civilização,

resultam essencialmente de estilos de vida não

saudáveis, pelo que são altamente evitáveis.

Na verdade, cometemos muitos erros e excessos

alimentares, consumindo maioritariamente gorduras

saturadas e hidratos de carbono refinados e

esquecendo os alimentos mais saudáveis ricos em

fibra vegetal, as gorduras polinsaturadas, como a

gordura do peixe e os óleos vegetais, e ainda as

gorduras monoinsaturadas, em que se destaca o

azeite. Lamentavelmente, a alimentação portuguesa

tem-se tornado cada vez mais desequilibrada

e vindo a afastar-se progressivamente da tradicional

e saudável alimentação mediterrânica. É

notório que a nossa juventude está a comer cada

vez mais fast-food, alimentação demasiado rica

em gordura saturada, sal, açúcar e calorias, prejudicial

para a saúde. Por outro lado, comemos cada

vez menos cereais integrais, vegetais e fruta, ou

seja, alimentos ricos em hidratos de carbono complexos,

fibras vegetais, vitaminas e antioxidantes.

A inatividade física é outra das mais importantes

causas de doença e de morte no mundo moderno.

O exercício físico tem um valor enorme na

promoção da saúde e na prevenção da doença,

em particular das doenças cardiovasculares. A

atividade física regular ajuda a controlar o peso,

aumenta a saúde do aparelho cardiovascular, dos

pulmões e do aparelho músculo-esquelético. Está

também provado que a atividade física melhora a

saúde cerebral e aumenta a longevidade.

No entanto, os portugueses são o povo da União

Europeia que se destaca em todos os inquéritos

por ser aquele que menos atividade física pratica,

talvez porque ainda não assumiu verdadeiramente

a forte relação que existe entre o exercício, a

Prof. Doutor Manuel Oliveira Carrageta

Presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia

saúde e o bem-estar. Infelizmente, passamos os

dias fisicamente inativos, sentados quer durante

o trabalho quer nos períodos de lazer, geralmente

junto à televisão ou ao computador, despendendo

uma quantidade mínima de energia.

Por tudo isto, a obesidade está em verdadeira expansão,

- atingindo crianças e adolescentes – pelo

que é necessário educar as populações para a necessidade

de controlo do excesso de peso, o que

se está a tornar um dos mais importantes problemas

de saúde, não só em Portugal como em todo

o mundo.

Os livros abrem novos mundos a crianças e adultos,

podendo ser fontes de inspiração e de motivação,

neste caso para ajudar a ter um coração

saudável. Livros que encorajem hábitos de vida

saudáveis às nossas crianças são extremamente

importantes e bem-vindos.

Um dos maiores desafios que os pais enfrentam é

levar as crianças a ter uma alimentação saudável,

rica em vegetais e alimentos ricos em nutrientes.

Também o exercício físico deve ser estimulado

desde tenra idade para se estruturar como um

hábito, particularmente nos nossos dias em que

as crianças estão frequentemente imersas em jogos

de computador e vídeos.

A publicação “Coração Bom e Bom Coração” vem

pois, em boa hora, muito bem escrita e com conceitos

modernos e corretos sobre estilos de vida

saudáveis e prevenção da doença, que em muito

contribuirá para a saúde das nossas crianças. Por

isso, recomendo a leitura desta publicação, que é

excelente.

REVISTA FENACERCI 2020 |

123


ATÉ JÁ PIRILAMPO

BREVEMENTE DISPONÍVEL

PARA VENDA

124 | REVISTA FENACERCI 2020


Um Livro que nos fala do e ao

coração. Um estímulo à leitura

e um contributo para as CERCI

REVISTA FENACERCI 2020 |

125


ATÉ JÁ PIRILAMPO

Que saudades, ter que esperar para o ano....

Graciete Domingues Gonçalves

Também espero uma super campanha em

2021. O Pirilampo está “vivo” e recomenda-

-se. ........todos contamos com ele.

Vicente Oliveira

Tenham em conta a sugestão/pedido dos

vossos seguidores incluindo eu, que apenas

pedimos que em 2021 vendam 2 pirilampos

mágicos, o de 2020 e o de 2021. Tenho a

coleção toda e tal como muitos seguidores

não queremos ter um espaço vazio na

coleção. Têm sido muitos os comentários

nas vossas publicações a pedir que hajam 2

pirilampos no próximo ano, o de 2020 não

pode faltar, especialmente pelo ano que

está a ser. Felicidades.

Ana Dias

Que pena. É compreensível. Tenho os

pirilampos todos e agora vai ficar este ano a

faltar

Patrícia Rodrigues

Nos tempos que correm a venda dos pirilampos

e outro merchandising online seria uma

excelente opção. Houve um ano que a minha

patuda destruiu o pirilampo, penso que foi o

de 2018, quando a campanha tinha terminado

e fiquei com a esperança de que o venderiam

online...mas não passou disso...de esperança...

Seria possivelmente uma boa aposta da

FENACERCI. Bem hajam a todos

Cláudia Pinho

Ficamos a espera duma super e mega

campanha 2021...

Pedro Pereira

Felicidades fica para o ano.

Maria Carmo Salvador

Compro sempre, gostava que fosse azul a cor

do planeta. Um abraço mágico... até 2021.

Zé Tó Manata

Aguardo ansiosamente

Nídia Fernandes

Eu não concordo de não haver este ano o

pirilampo , não dá para fazer mais tarde

2021 podia ser um arco íris

Mamie Brunk

Tiago Henrique

É pena este ano não haver pirilampo seria

uma boa ajuda e para além disso ficaria

uma recordação interessante do covid se o

pirilampo tivesse máscara. Isto porque faço

coleção e não percebo mesmo o porquê de

não existir pirilampo este ano.

Joana Coelho

Vou sentir a falta deste amigo este ano

mas a vossa decisão foi a melhor e a

mais sensata protejam-se!

Marta Deus

Oh... Façam na mesma deste ano para quem

quiser comprar o de 2020 e 2021. Estamos

a fazer coleção.

Vanessa Guerra

126 | REVISTA FENACERCI 2020


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ATÉ JÁ PIRILAMPO

Pedro Leitão

CEO do Banco Montepio

Pela primeira vez em 34 anos o Pirilampo Mágico,

uma das mais emblemáticas campanhas de

solidariedade social no país, não vai sair à rua. A

pandemia da COVID-19 adiou a campanha, mas

o espírito solidário, os valores de entreajuda, do

respeito e da inclusão, não se apagam.

O Banco Montepio continua a apoiar esta causa,

como tem feito desde 2017, para que o Pirilampo

continue a levar esperança, a simbolizar a inclusão

e a fazer a diferença na vida das pessoas

com deficiência intelectual.

Comprometido com estes valores da sustentabilidade

e responsabilidade social, mas também

económica, o Banco Montepio continuou

próximo mesmo na adversidade trazida pela

pandemia. Mantivemos as portas abertas e os

profissionais na linha da frente, nas comunidades

estamos inseridos, para entregar a mesma

missão de sempre: estar perto das famílias, das

empresas e das instituições da economia social

e apoiá-las.

De portas abertas a par com a aceleração digital,

porque no Banco Montepio tradição e inovação

complementam-se.

Desde o início da quarentena, o Banco Montepio

inovou, agilizou e foi pioneiro. Implementou

o processo de adesão a moratórias de forma

100% digital - através de quatro passos simples

e confirmação por SMS -, desenvolveu o processo

de atualização de dados de cliente por via

digital e foi o 1º banco a lançar a abertura de

conta 100% digital para empresas. E materializando

o seu compromisso com a solidariedade,

criou a Conta Acordo, uma facilidade de descoberto

dedicada às entidades da economia social.

É assim há 176 anos. As pessoas antes de tudo

e a confiança de que, ao nosso lado, há sempre

um recomeço.

Também o Pirilampo voltará a voar. Esperança

e confiança!

128 | REVISTA FENACERCI 2020



© DR


BREVES


BREVES

O Impacto

da Dança

na Qualidade

de Vida

Em novembro de 2018 iniciámos uma parceria com a Escola

de Dança Dancespot. A atividade de dança é de suma

importância na área da inclusão pois a sua prática promove

a reeducação motora e mental (Santos Rebelo 2014).

Esta atividade ocorre uma vez por semana durante uma

hora, e pode-se observar o impacto da atividade na qualidade

de vida dos clientes. A dança capacita cada praticante

com uma consciência de grupo e uma liberdade individual

facilitadora de inclusão social.

Uma Experiência

Enriquecedora

Neves

Há dois anos iniciámos na Associação na qual colaboro

- Avante 3 – Associação para a Promoção de Pessoas

com Deficiência Intelectual (https://www.avante3.org/),

um belo projeto de intercâmbio, inserido no

Programa de intercâmbio Erasmus. Nós nunca tínhamos

realizado intercâmbios com pessoas com deficiência

na organização, e desde logo, considerei esta oportunidade

um enorme desafio. Entrámos em contacto

com a FENACERCI e tivemos a sorte de desenvolver e

disfrutar de dois intercâmbios, um na zona da Nazaré e

outro na zona de Lisboa.

A experiência foi magnífica. Em primeiro lugar, o relacionamento

com os participantes portugueses foi muito

bom. Os meninos fizeram amigos que mantiveram a

comunicação entre eles, e os monitores proporcionaram-nos

duas estadias muito agradáveis. As atividades

em Portugal e Madrid foram experiências de vida muito

enriquecedoras. Conhecer novas pessoas que apreciam

o que visitamos e com quem nos sentimos à vontade é

muito importante. Por outro lado, o facto de os participantes

viverem uma semana longe da sua família e país,

tomando decisões diferentes e vivendo fortes experiências

pessoais, constituiu-se uma experiência muito

positiva para todos eles. Eu recomendo que todos

vivenciem uma experiência como esta. Estamos felizes

em ter participado e repetiremos o mais breve possível.

Um Forte Abraço.

TESTEMUNHOS

“Gosto muito da Dança, a professora é porreirinha e

gostava de ter mais aulas. São aulas muito divertidas

e aprendo técnicas de dança. Também fazemos espetáculos,

o que gosto muito”

Sónia B.

“É uma atividade que me acalma. Quando danço sinto-me

tranquila, ou seja, quando danço acalmo-me. É

uma atividade de grupo interativa, temos todos que

saber o que fazer. Às vezes enganamo-nos e é divertido,

depois procuramos fazer melhor os movimentos,

concentramo-nos”

Helena S. S

132 | REVISTA FENACERCI 2020


3º Encontro

de Atletismo

da CERCIAMA

Sandra R.

Construindo

Sorrisos!

A CERCIBEJA recebeu uma proposta de parceria da

Novaclínica, pela mão da Dra. Heloísa Alves, no sentido

de proporcionar os seus serviços ao nível da saúde

oral aos nossos clientes e também aos familiares e

colaboradores da CERCIBEJA. Esta parceria foi muito

bem-vinda e abraçámos este gesto solidário, pois desta

forma, os nossos clientes conseguem ter melhores

condições de saúde, recebendo os tratamentos e cuidados

necessários atempadamente e a um custo bastante

acessível. Graças a esta iniciativa, já com cerca de

dois anos de existência, podemos dar continuidade à

nossa Missão, não esquecendo que Juntos Construímos

Felicidade!

Os Encontros InterCentros visam proporcionar atividades

desportivas a toda a população das instituições

que trabalham com pessoas com deficiência. Com o seu

cariz lúdico-recreativo todos cabem nestas ações!

No dia 29 de janeiro de 2020, a CERCIAMA organizou

a sua 3ª prova de Atletismo em parceria com o Regimento

Lanceiros 2. As instalações do Regimento serviram

de palco para diferentes modalidades de Atletismo,

entre elas o salto em comprimento, o lançamento do

peso, a corrida de barreiras, o lançamento do dardo, a

corrida de velocidade, a corrida de estafetas, e a corrida

de cadeira de rodas.

Houve ainda uma demonstração cinotécnica que muito

agradou a todos os participantes.

Esta divertida manhã contou com a presença de dezassete

instituições com um total de cerca de duzentos

clientes e cinquenta técnicos.

“Estava tudo bonito e bem feito. Gostei muito dos

Um momento sem dúvida a repetir!

REVISTA FENACERCI 2020 |

133


BREVES

Em 2018 a CERCIFEL, iniciou um Projeto que denominou

Espaço Família e Comunidade, procurando levar ao conhecimento

geral as vivências da Pessoa com deficiência e

incapacidades, interagindo com as famílias e comunidade

através de ações de formação, encontros e seminários.

No passado dia 13 de dezembro de 2019, a CERCIFEL promoveu

o Seminário “NÓS E A (D) EFICIÊNCIA”.

Este seminário foi aberto aos profissionais de Serviço Social,

Psicologia, Advocacia, Professores, outros intervenientes

sociais, Famílias e Comunidade em geral e dirigido

a todos os interessados no âmbito da Deficiência, Idosos e

outras Incapacidades.

Em especial, neste seminário, procurou-se refletir sobre

diversos temas abrangentes, mas dando especial enfoque

ao Guia Prático “os Direitos das Pessoas com Deficiência

em Portugal”; 10 Anos da Convenção dos Direitos das Pessoas

com Deficiência; O Regime do Maior Acompanhado e

o Estatuto do Cuidador Informal.

Deste modo, objetivamente procurou-se promover a reflexão

sobre os instrumentos e ferramentas dirigidas às

Pessoas com Deficiência e Dependência, partilhar experiências,

orientações práticas e normativas, valorizar a

Pessoa nas suas Capacidades, conhecer as novas abordagens

dos direitos das pessoas com capacidades diminuídas

e, também celebrar e dar maior visibilidade ao Dia

Mundial da Pessoa com Deficiência.

O Dr. Joaquim Correia Gomes, Juiz Desembargador no

Tribunal da Relação do Porto, veio partilhar com os participantes,

conhecimentos sobre o regime do Maior Acompanhado

à luz da Convenção sobre os Direitos das Pessoas

com Deficiência, dando especial tónica aos conceitos de

constituição, constitucionalismo, deficiência, direitos fundamentais,

direitos humanos e incapacidade.

A Dra. Fátima Alves, Diretora de Serviços da Unidade de Investigação,

Formação e Desenvolvimento do INR, fez a sua

apresentação sobre os 10 Anos sobre da Convenção dos

Direitos das Pessoas com Deficiência. A Oradora, na sua

apresentação, fez o ponto de situação sobre os Direitos

das Pessoas com Deficiência à luz da referida Convenção.

A Dra. Marina Van Zeller, Vice-Presidente do INR – Instituto

Nacional para a Reabilitação, IP, falou-nos sobre o

recente Guia Prático “Os Direitos das Pessoas com Deficiência

em Portugal”, a sua importância enquanto instrumento/ferramenta

de apoio à garantia do acesso aos Direitos

das Pessoas com Deficiência, apresentando o Guia

como um instrumento de apoio fundamental à INCLUSÃO

plena da Pessoa com Deficiência.

Por fim, a Dra. Liliana Gonçalves, da Associação Nacional

dos Cuidadores Informais, falou sobre o recentemente

aprovado Estatuto do Cuidador Informal. O ponto de

situação atual, em termos de implementação, próximos

passos com vista à sua regulamentação e a importância/

reconhecimento do papel do Cuidador Informal.

Este seminário, contou com a presença de 123 participantes

oriundos de diversas localizações bem díspares, (Cinfães,

Santo Tirso, Lousada, Paços de Ferreira, Amarante,

Chaves), além, obviamente do Concelho de Felgueiras. Os

participantes consideraram ter sido um dia de reflexão

e partilha de conhecimentos e experiências de grande

mais-valia. Deixaram nota, na sua avaliação, da importância

da realização deste tipo de eventos, propondo a sua

continuidade.

O Seminário “NÓS E A (D) EFICIÊNCIA”, foi organizado

pela CERCIFEL com o apoio do INR através do Programa

de Financiamento a Projetos, e com o apoio e parceria da

Câmara Municipal de Felgueiras.

Teve também o apoio da Casa das Artes de Felgueiras e do

CFAE Sousa Nascente (Centro de Formação de Associação

de Escolas Sousa Nascente).

A Todos o Nosso Obrigado! Até para o Ano!...

134 | REVISTA FENACERCI 2020


ASÚ

Atividades Socialmente

Úteis na Creche

CERCIGAIA

Projeto Mares

Circulares

Um dos grandes objetivos da nossa Creche é integrar nas

atividades/tarefas diárias da Creche, jovens adultos com

deficiência apoiados por outras respostas sociais da CER-

CIGAIA. Em articulação com o Centro de Atividades Ocupacionais

da organização foram estabelecidos protocolos

de atividades socialmente úteis com jovens dessa resposta

social. As atividades socialmente úteis têm como objetivo

proporcionar a valorização pessoal e competências dos

clientes, no sentido de aumentar a sua autonomia. Nesta

atividade, são realizadas diversas tarefas de acordo com as

seguintes áreas de funcionamento da creche: lavandaria,

cozinha, limpeza e arrumação, apoio no transporte, jardinagem

e apoio na alimentação. Cada cliente desempenha

tarefas relacionadas com estas áreas e de acordo com as

suas competências de desempenho.

Para além das atividades socialmente úteis que os clientes

desenvolvem na Creche, realizam e participam em atividades

ocupacionais no CAO que são definidas no seu plano

individual tendo em conta as suas necessidades, gostos e

interesses.

TESTEMUNHOS

Andreia Dias

“O que eu mais gosto de fazer na Creche é dar de comer

aos meninos. Lavo a louça da cozinha e passo os lençóis a

ferro. Gosto de trabalhar na creche”.

Joana Vieira

“Gosto de lavar a louça, pôr a mesa, passar a ferro, dar comida

aos bebés e arrumar a louça. Gosto de estar na creche”.

Cidália

“Gosto de vir para a Creche, gosto de ajudar o Herculano”.

Rui

A Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia colocou o desafio

à CERCIGAIA para participar no Projeto “Mares Circulares”.

No âmbito do projeto, a Liga para a Proteção da

Natureza e a Coca Cola European Partners em articulação

com outras ONG’s desenvolveram um projeto de sensibilização

ambiental sobre a problemática do lixo marinho.

No dia 30 de outubro foi realizada uma ação de sensibilização

para todos os clientes de CAO nas instalações da

CERCIGAIA. A formadora explicou como o lixo chega às

praias, a importância da reciclagem bem como, a separação

correta dos resíduos domésticos e, fundamentalmente,

a importância de um consumo responsável.

Sílvia Gonçalves (Assistente Social)

Foi um momento informativo e de troca de experiências

sobre as boas práticas a ter.

No dia 28 de novembro, após momento de sensibilização,

os clientes participaram na limpeza da Praia de Salgueiros

com bastante entusiasmo e encontraram garrafas, esferovite,

cotonetes e pequenos pedaços de plástico. No fim foi

oferecido a cada cliente uma peça de fruta e um sumo.

Pedro Monteiro (Monitor)

“No dia 26 de Novembro de 2019 fomos à limpeza de praia

em Salgueiros. Foi muito bonito, eu adorei mesmo muito.

Fomos acompanhados pelo nosso monitor Pedro Monteiro

e estava muito frio. Apanhamos muito lixo e no fim

alguns dos meus colegas da CERCIGAIA comeram banana

e outros beberam coca-cola e eu bebi coca-cola. Quem

foi dos clientes, fui eu, o Rui, o Óscar, o José Marques, o

Herculano, a Célia, o José Arménio e o Paulo Jorge. Foi uma

tarde bem divertida.

Vânia Castro” (Cliente)

“Quando vou para a creche passo a ferro, dou de comer

aos bebés e ajudo a por a mesa. Vou para a creche à 4ª e

6ª feira de manha. Gosto muito de trabalhar na creche”.

Manuel Silva

“Gosto de fazer tudo na Creche…. Mas o que mais gosto é

de dar a comida e estar com as crianças nas salas a brincar”

Patrícia

REVISTA FENACERCI 2020 |

135


BREVES

Passeio

ao Buda Éden

No passado dia 15 de abril organizámos uma visita ao

exterior diferente! Planeámos ir ao Buda Éden no Bombarral!

Contámos com o apoio do Município de Alcácer

do Sal para o transporte e lá fomos nós passear. No

jardim, vimos estátuas enormes a representar vários

países, lagos, árvores, animais e plantas das mais diversas!

Para os clientes foi um momento de conhecimento,

mas também de surpresa, pois não contavam encontrar

obras tão majestosas. Foi um momento partilhado por

clientes dependentes e autónomos com grande satisfação

e com o sentimento de querer voltar de novo ao

Bombarral!

Mara Pedro

Terapeuta Ocupacional do CAO

Filipa Mateus

Psicóloga do CAO

Casa 4 Patas

visita

CERCIGRÂNDOLA

Foi com surpresa e agrado que os clientes da CERCI-

GRÂNDOLA receberam os animais da Casa4Patas no

dia 5 de Junho! Este é um serviço que se responsabiliza

pela recolha dos animais do Município de Grândola,

mas também, por ações de sensibilização e de educação,

com vista à redução do abandono de animais e na

adoção responsável. Ainda que não seja considerado

um momento de terapia com animais, este contato com

os mesmos, potencia a capacidade empática na troca

dos afetos, o desenvolvimento de sentimentos positivos

(bem estar e conforto), a promoção do conceito de

responsabilidade e a estimulação emocional, física e

mental. Foi delicioso ver os clientes a interagirem com

os animais! Eles querem mais!

Agradecemos à equipa da Casa4Patas de Grândola por

nos ter possibilitado esta iniciativa, especialmente à

veterinária Sara Nunes!

Filipa Mateus

Psicóloga do CAO

136 | REVISTA FENACERCI 2020


Cuidar de

Quem Cuida

A CERCIMARANTE é uma das dez entidades parceiras

da Rede Social de Amarante, que integram o Eixo Estratégico

de intervenção Comunidades & Território,

que operacionaliza, no terreno, o Projeto “Cuidar de

Quem Cuida” (CQC), cujo objetivo passa por criar e dar

respostas de apoio especializado junto dos cuidadores

informais, desenvolvido pelo Centro de Assistência Social

à Terceira Idade e Infância (CASTIIS).

Para este efeito, a CERCIMARANTE disponibiliza três

técnicas voluntárias, nomeadamente uma assistente

social, uma psicóloga e uma terapeuta ocupacional.

O Município de Amarante, ciente da importância desta

temática, estabeleceu, assim, um Acordo de Cooperação

com os parceiros da Rede Social de Amarante, com

o intuito de criar respostas ao nível da Saúde, nomeadamente

mental, que permitam melhorar a qualidade

de vida das pessoas dependentes e seus cuidadores.

Para além da CERCIMARANTE, estão ligados a este

projeto, o Agrupamento de Centros de Saúde Tâmega

I - Baixo Tâmega; Associação Desenvolvimento Comunitário

(ADESCO); Associação Emília Conceição Babo;

Associação Humanitária de Santiago; Associação Progredir;

Centro Social e Cultural da Paróquia do Divino

Salvador de Real; Centro Local de Animação e Promoção

Rural (CLAP); O Bem-Estar e a Santa Casa da Misericórdia

de Amarante.

O “Cuidar de Quem Cuida”, que decorre até março

de 2022, tem atualmente como investidores sociais, a

Fundação Calouste Gulbenkian e o Grupo José Mello

Saúde; como cofinanciadores, o Programa Operacional

Inclusão Social e Emprego, o Portugal 2020 e o Fundo

Social Europeu, e como parceiros, o Portugal Inovação

Social, a Administração Central dos Serviços de Saúde e

o CINTESIS - Centro de Investigação em Tecnologias e

Serviços de Saúde da Universidade do Porto.

Aprovada

candidatura

da Estrutura

Residencial Para

Idosos (ERPI)

A Estrutura Residencial Para Idosos (ERPI), da CERCIMA-

RANTE viu a sua candidatura ao “Programa Apoiar”, da

Fundação Altice, ser aprovada, para instalação e equipamento

de uma sala de fisioterapia.

Como explicou a diretora técnica da ERPI, Vera Silva, a

candidatura ao Programa Apoiar teve como pretensão

“dotar um gabinete multiterapêutico, ligado às áreas de

reabilitação e estimulação sensorial, de forma a promover

um envelhecimento ativo e saudável, retardando os efeitos

nefastos decorrentes do processo de envelhecimento”.

Destes serviços irão beneficiar os clientes e os colaboradores

do Lar.

Programa Apoiar

O Programa Apoiar, que vai já na segunda edição, é uma iniciativa

de responsabilidade social da Fundação Altice, que

visa financiar instituições de solidariedade social, no âmbito

do desenvolvimento de projetos para a melhoria das condições

de vida, com especial impacto na inclusão social da

população em situação de carência ou elevada vulnerabilidade.

Nas suas primeiras edições, o Programa Apoiar tem

como principal foco os séniores, tendo em consideração as

vantagens do envelhecimento ativo da população que, nesta

faixa, já soma mais de 2 milhões, em Portugal.

REVISTA FENACERCI 2020 |

137


BREVES

Porque

Desporto

é Inclusão

A prática de atividade física é uma das prioridades da

nossa instituição, onde promovemos muitos momentos

dinâmicos e adequados às capacidades e necessidades

dos nossos alunos. Consideramos extremamente importante,

manter os nossos utentes ativos, e incutir-

-lhes hábitos e estilos de vida saudáveis.

Para desenvolvermos estes objetivos, preconizamos

diariamente, atividades direcionadas às qualidades

próprias de cada individuo, à sua resistência, velocidade,

agilidade, força e flexibilidade, ajustadas às suas

capacidades físicas. As atividades desportivas que praticamos

são as mais diversificadas possíveis, desde a

natação, às modalidades coletivas, Atletismo, Ginástica,

Boccia, Tag Rugby e Corfebol. Contamos também

com a participação de dois grupos equipa no Projeto

de Desporto Escolar, Grupo Equipa de Boccia e Grupo

Equipa de Desporto Adaptado. Disputamos a Liga

de Futebol pela Inclusão e dinamizamos/participamos

nos Jogos do Alto Alentejo que envolvem atividades

desportivas como Minigolfe, Aeróbica Adaptada, Atividades

Aquáticas, Futsal Adaptado, Atletismo Adaptado,

Desporto Aventura, Canoagem e Boccia.

Desenvolvemos um conjunto de atividades desportivas

pontuais, como Orientação, Caminhadas, Trail,

Ski, Peddy Paper, Hidroginástica, Dança, Corta-Mato,

Corridas de Velocidade, Lançamento de Precisão entre

outras.

Porque defendemos o nosso lema: “…porque Desporto

é Inclusão”!

Luís Silva

Professor de Valência Escolar

138 | REVISTA FENACERCI 2020


LISTA DE

ASSOCIADAS


LISTA DE ASSOCIADAS

ACIP

Rua da Ribeira, Ed. Fonte - Loja C, E e F

4770-207 Joane

Tel: 252 928 610 / Fax: 252 928 608

acip.geral@gmail.com

www.acip.com.pt

www.facebook.com/acip.cooperativa

C.E.C.D. Mira Sintra

Av. 25 de Abril, 190

2735-418 Cacém

Tel: 219 188 560 / Fax: 219 188 579

geral@cecdmirasintra.org

www.cecdmirasintra.org

www.facebook.com/cecd.mirasintra

CEE RAINHA DONA LEONOR

Rua Maria Ernestina Martins Pereira, nº 37

2500-234 Caldas da Rainha

Tel: 262 837 160 / Fax: 262 837 161

ceerdl.administrativo@ceerdl.org

www.ceerdl.org

CERCIAG

Raso de Paredes

3750-316 Águeda

Tel: 234 612 020 / Fax: 234 612 022

cerciag@cerciag.pt

www.cerciag.pt

www.facebook.com/cerciag.pt

CERCIAMA

Rua Mestre Roque Gameiro, nº 12

2700-578 Amadora

Tel: 214 986 830 / Fax: 214 986 838

geral@cerciama.pt

www.cerciama.pt

www.facebook.com/cerciama.pt

CERCIAV

Rua do Aires, 53-57

S. Bernardo

3810-205 Aveiro

Tel: 234 390 980 / Fax: 234 350 039

sede@cerciav.pt

www.cerciav.pt

CERCIBEJA

Quinta dos Britos

Apartado 6115

7801-908 Beja

Tel: 284 311 390 / Fax: 284 311 399

geral@cercibeja.org.pt

www.cercibeja.org.pt

www.facebook.com/cercibeja.crl

CERCI Braga

Rua Dr. Domingos Soares, 25

4710-670 Navarra

Tel: 253 248 592

info@cercibraga.pt

www.cercibraga.pt

www.facebook.com/CERCIBraga.pt

CERCICA

Rua Principal, 320

Livramento

2765-383 Estoril

Tel: 214 658 590 / Fax: 214 661 307

cercica@cercica.pt

www.cercica.pt

www.facebook.com/CERCICASCAIS

CERCICAPER

Dordio, Variante do Troviscal

3280-050 Castanheira de Pêra

Tel: 236 434 227 / Fax: 236 434 225

cercicaper@sapo.pt

www.cercicaper.pt

www.facebook.com/cercicaper.ipss/

CERCICHAVES

Antigo Jardim de Infância Santa Cruz

Rua Inácio Pizarro

5400-693 Chaves

T.M. 915 720 804

cercichaves@gmail.com

http://cercichaves.wixsite.com/cercichaves2016

https://pt-pt.facebook.com/people/Cerci-

-Chaves/100015224535044

CERCICOA

Estrada de S. Barnabé, nº 28

7700-015 Almodôvar

Tel: 286 660 040 / Fax: 286 660 049

cercicoa.dir@gmail.com

www.cercicoa.pt

https://www.facebook.com/cercicoa.

almodovar

CERCIDIANA

Quinta do Feijão ao Espinheiro

Apartado 92

7002-502 Évora

Tel: 266 759 530 / Fax: 266 751 964

cercidianadireccao@gmail.com

http://cercidianaevora.wixsite.com/cercidiana

https://pt-br.facebook.com/Cercidiana-%-

C3%89vora-1833702023543265

CERCIESPINHO

Rua de S. Martinho e Rua 25 de Abril

Apartado 177

Anta

4501-909 Espinho

Tel: 227 319 061 / Fax: 227 348 588

cerciespinho@cerciespinho.org.pt

www.cerciespinho.org.pt

http://pt-pt.facebook.com/cerci.espinho

CERCIESTREMOZ

Quinta de Santo Antão

Apartado 108

7101-909 Estremoz

Tel: 268 105 258

cerciestremoz@gmail.com

www.cerciestremoz.pt

www.facebook.com/cerciestremoz.crl

CERCIFAF

Rua 9 de Dezembro, 99

4820-161 Fafe

Tel: 253 490 830 / Fax: 253 490 839

geral@cercifaf.pt

www.cercifaf.pt

www.facebook.com/cercifaf

CERCIFEIRA

Rua Dr. Santos Carneiro, 4

4520-221 Santa Maria da Feira

Tel: 256 374 472 / Fax: 256 375 535

cercifeira@sapo.pt

www.cercifeira.pt

CERCIFEL

Rua do Padre João, nº 5

4650-747 Felgueiras – Varziela

Tel: 255 336 417 / Fax: 255 336 417

geral@cercifel.org.pt

www.cercifel.org.pt

https://pt-pt.facebook.com/Cercifel-

-Cooperativa-de-Solidariedade-Social-

-CRL-252904978116708

CERCI FLOR DA VIDA

Quinta das Rosas, 2050-369 Azambuja

Tel: 263 409 320

geral.flordavida@mail.telepac.pt

www.cerciflordavida.pt

https://pt-pt.facebook.com/cerciflordavida

CERCIFOZ

Rua Rogério Reynauld, nº 20 - Loja 22, Buarcos

3080-251 Figueira da Foz

Tel: 233 429 595

cerci.foz@sapo.pt

http://cercifoz.org/

https://www.facebook.com/cercifoz?fref=ts

CERCIG

Parque da Saúde da Guarda

6300-777 Guarda

Tel: 271 212 739 / Fax: 271 210 064

secretaria@cercig.org.pt

www.cercig.org.pt

https://pt-pt.facebook.com/cerciguarda

CERCIGAIA

Rua Escola de S. Paio, 211

4400-442 Vila Nova de Gaia

Tel: 227 819 268 / Fax: 227 819 269

cercigaia@cercigaia.org.pt

http://cercigaia.weebly.com/

https://www.facebook.com/Cercigaia/

CERCIGRÂNDOLA

Rua Vitor Manuel Ribeiro da Rocha

7570-256 Grândola

Tel: 269 451 552 / Fax: 269 442 505

cercicrl@netvisao.pt

www.cercigrandola.org

www.facebook.com/cercigrandola

CERCIGUI

Rua Raul Brandão, 195

4810-282 Guimarães

Tel: 253 423 370 / Fax: 253 423 379

cercigui@cercigui.pt

www.cercigui.pt

www.facebook.com/Cercigui/

CERCILAMAS

Rua do Auditório, nº 125

4535-576 Santa Maria de Lamas

Tel: 227 442 478 / Fax: 227 460 085

cercilamas@sapo.pt

www.cerci-lamas.org.pt

www.facebook.com/cercilamas

CERCILEI

Estrada das Moitas Altas, 279, Pinheiros

2401-976 Leiria

Tel: 244 850 970 / Fax: 244 850 971

geral@cercilei.pt

www.cercilei.pt

www.facebook.com/cooperativa.leiria

140 | REVISTA FENACERCI 2020


CERCI

Av. Avelino Teixeira da Mota, Lote E

1950-035 Lisboa

Tel: 218 391 700 / Fax: 211 954 667

geral@cercilisboa.org.pt

www.cercilisboa.org.pt

https://www.facebook.com/Cerci-Lisboa-235171093183654/

CERCIMA

Rua D. Nuno Álvares Pereira, nº 141

2870-097 Montijo

Tel: 212 308 510 / Fax: 212 308 511

gestao@cercima.pt

www.cercima.pt

www.facebook.com/cercima.montijo.crl

CERCIMAC

Rua Dr. Henrique José Gonçalves, nº 21

5340-532 Macedo de Cavaleiros

Tel: 278 421 769 / Fax: 278 421 506

cercimac@gmail.com

https://cercimac.pt/

www.facebook.com/cercimac.macedodecavaleiros

CERCIMARANTE

Rua de Guimarães, nº 869, 4600-112 Amarante

Tel: 255 410 930 / Fax: 255 432 788

geral@cercimarante.pt

http://cercimarante.pt

www.facebook.com/Cercimarante

CERCIMB

Rua Grão Vasco, nº 25, 2835-440 Lavradio

Tel: 212 048 340 / Fax: 212 020 224

cercimb.sede@gmail.com

www.cercimb.pt

www.facebook.com/cercimb

CERCIMIRA

Rua do Claros, Cabeças Verdes

3070-504 Seixo de Mira

Tel: 231 489 560 / Fax: 231 489 569

geral@cercimira.pt

www.cercimira.pt

www.facebook.com/cercimira

CERCIMONT

Av. Dom Nuno Álvares Pereira, nº 553

5470-203 Montalegre

Tel: 276 094 067

cercimont@sapo.pt

https://cercimont.wordpress.com/

www.facebook.com/Cercimont-1670893733154448/

CERCIMOR

Crespa da Figueira, 7050-010 Montemor-o-Novo

Tel: 266 899 410 / Fax: 266 899 415

cercimor.crl@gmail.com

www.cercimor.pt

www.facebook.com/cercimor

CERCINA

Caminho Real, Alto Romão

2450-060 Nazaré

Tel: 262 562 595 / Fax: 262 562 596

cercina.secretaria@gmail.com

www.cercina.pt

https://www.facebook.com/CERCI-

NA-182339101825256/

CERCIOEIRAS

Rua 7 de Junho, nº 57, 2730-174 Barcarena

Tel: 214 239 680 / Fax: 214 239 689

geral@cercioeiras.pt

www.cercioeiras.pt

www.facebook.com/CERCIOEI-

RAS-115373211819030/?ref=hl

CERCIPENELA

Av. Infante D. Pedro, n.º 3, 3230-268 Penela

Tel: 239 560 140 / Fax: 239 560 149

cercipenela@cercipenela.org.pt

http://www.cercipenela.org.pt/

https://www.facebook.com/cerci.penela

CERCIPENICHE

Rua Adelino Amaro da Costa

2520-268 Peniche

Tel: 262 780 080 / Fax: 262 789 963

cercipeniche@cercipeniche.pt

www.cercipeniche.pt

www.facebook.com/cercipeniche

CERCIPOM

Av. Heróis do Ultramar, nº 108

3100-462 Pombal

Tel: 236 209 240 / Fax: 236 209 241

geral@cercipom.org.pt

www.cercipom.org.pt

www.facebook.com/Cercipom

CERCIPORTALEGRE

Rua D. Olinda Sardinha

Quinta da Lage

7300-050 Portalegre

Tel: 245 300 730 / Fax: 245 300 731

cerciportalegre@cerciportalegre.pt

https://www.facebook.com/Cerciportalegre-1518311555138062/

CERCIPÓVOA

Rua do Morgado da Póvoa, Lote 1

2ª Fase - Quinta da Piedade

2625-229 Póvoa de Santa Iria

Tel: 219 533 080 / Fax: 219 533 089

geral@cercipovoa.pt

www.cercipovoa.pt

www.facebook.com/cercipovoa.ipss?fref=ts

CERCISA

Rua Eça de Queirós, Miratejo

2855-236 Corroios

Tel: 212 535 660 / Fax: 212 531 280

cercisa.secretaria@gmail.com

http://www.cercisa.pt/

https://pt-pt.facebook.com/cercisa

CERCISIAGO

Rua das Nogueiras

7540-162 Santiago do Cacém

Tel: 269 818 660 / Fax: 269 818 668

cercisiago@gmail.com

www.cercisiago.org.pt

https://pt-pt.facebook.com/cercisiago/

CERCITEJO

Rua da Esperança, nº 6, Bom Sucesso

2615-305 Alverca do Ribatejo

Tel: 219 582 286 / Fax: 219 582 286

geral@cercitejo.org.pt

www.cercitejo.org.pt

https://www.facebook.com/CERCITEJ0/

CERCITOP

Rua Vale de S. Martinho, nº 1

2710-402 Sintra

Tel: 219 100 690 / Fax: 219 100 691

geral@cercitop.org

www.cercitop.org

www.facebook.com/cercitop.oficial

CERCIVAR

Rua da Cercivar

3880-161 Ovar

Tel: 256 579 640 / Fax: 256 572 565

geral@cercivar.pt

www.cercivar.pt

https://pt-pt.facebook.com/Cercivar-418371931599708/

CERCIZIMBRA

Rua dos Casais Ricos, nº1

Sampaio

2970-577 Sesimbra

Tel: 212 681 335 / Fax: 212 682 001

cercizimbra@cercizimbra.pt

www.cercizimbra.org.pt

www.facebook.com/Cercizimbra

CRACEP

Rua Coronel Armando da Silva Maçanita

Coca Maravilhas

8500-383 Portimão

Tel: 282 420 820 / Fax: 282 420 829

geral@cracep.pt

www.cracep.pt

https://www.facebook.com/cracep/

CREACIL

Rua Adão Manuel Ramos Barata, nº 6 a 6 A

1886-058 Moscavide

Tel: 212 468 340

creacil@hotmail.com

http://creacilblog.blogspot.pt/

www.facebook.com/loures.creacil/

CRINABEL

Largo do Conde Barão, 5

1200-118 Lisboa

Tel: 213 943 350 / Fax: 213 943 359

geral@crinabel.pt

www.crinabel.pt

https://pt-pt.facebook.com/CRINABEL

RUMO

Caixa Postal 5063

Rua 19, nº 13

Baía do Tejo

2831-904 Barreiro

Tel: 212 064 920 / Fax: 212 064 921

geral@rumo.org.pt

http://rumo.org.pt/wp/

https://www.facebook.com/Cooperativa.

Rumo/

REVISTA FENACERCI 2020 |

141


LISTA DE ASSOCIADAS

INSTITUIÇÃO

APOIO ATIVIDADES

DOMICILIÁRIO OCUPACIONAIS

CRI

EDUCAÇÃO

ESPECIAL

EMPREGO

PROTEGIDO

FORMAÇÃO INTERVENÇÃO UNIDADE

PROFISSIONAL PRECOCE RESIDENCIAL

OUTRAS

ACIP

CECD

CEERDL

CERCIAG

CERCIAMA

CERCIAV

CERCIBEJA

CERCIBRAGA

CERCICA

CERCICAPER

CERCICHAVES

CERCICOA

CERCIDIANA

CERCIESPINHO

CERCIESTREMOZ

CERCIFAF

CERCIFEIRA

CERCIFEL

CERCI FOR DA VIDA

CERCIFOZ

CERCIG

CERCIGAIA

CERCIGRÂNDOLA

CERCIGUI

CERCILAMAS

CERCILEI

CERCI

CERCIMA

CERCIMAC

CERCIMARANTE

CERCIMB

CERCIMIRA

CERCIMONT

CERCIMOR

CERCINA

CERCIOEIRAS

CERCIPENELA

CERCIPENICHE

CERCIPOM

CERCIPORTALEGRE

CERCIPÓVOA

CERCISA

CERCISIAGO

CERCITEJO

CERCITOP

CERCIVAR

CERCIZIMBRA

CRACEP

CREACIL

CRINABEL

RUMO

142 | REVISTA FENACERCI 2020


INSTITUIÇÃO

OUTRAS

ACIP

CECD

CEERDL

CERCIAG

Gabinete de Inserção Profissional; Atendimento e Acompanhamento Social; Rendimento Social de Inserção e Serviços Terapêuticos; Centro de Recursos Local do IEFP

Clinica de Medicina e Reabilitação

Residência Autónoma; Forum Socio Ocupacional; Centro de Atendimento, Acompanhamento da Pessoa com Deficiência

Centro de Recursos do Centro de Emprego de Agueda; Casa de Abrigo para Mulheres Vitimas de Violência com Deficiência e/u Incapacidade

CERCIAMA –

CERCIAV

Rendimento Social de Inserção; Centro de Recursos

CERCIBEJA –

CERCIBRAGA –

CERCICA

CERCICAPER

CERCICHAVES

CERCICOA

ATL Especializado; CERMOV; Editora Gráfica; CER Garden; CER Jardim; CER Plant - Centro de Recursos do Centro de Emprego; GIP-Gabinete de Inserção Profissional

Centro de Acolhimento Temporário para Crianças e Jovens em Risco

Atividades de Tempos Livres; Integração Social e Emprego; Alojamento Apoiado e Vida Independente; Acompanhamento à Familia

Centro de Recursos Local; Residência Autónoma; Serviço de Atribuição de Produtos de Apoio; CAVI

CERCIDIANA –

CERCIESPINHO

CERCIESTREMOZ

CERCIFAF

CERCIFEIRA

Residência Autónoma; Centro Comunitário da Ponte de Anta; Contrato Local e Desenvolvimento Social; Centro de Recursos do IEFP; Oficinas de Produção; Serviço de Cedência de

Produtos de Apoio; Banco de Alimentos e Recursos; Serviços e Atividades Complementares; CAVI

Centro de Recurso Local

Centro de Recursos Local (IEFP); Serviço de Atendimento e Apoio Social

Jardim de Infância; ATL e Creche

CERCIFEL –

CERCI F.VIDA –

CERCIFOZ –

CERCIG

CERCIGAIA

Centro de Atividades de Tempos Livres; Residência Autónoma; Lar Residencial; RSI; Unidade Residencial de Apoio à Formação Profissional

Creche

CERCIGRÂNDOLA –

CERCIGUI –

CERCILAMAS

CERCILEI

CERCI

CERCIMA

Rendimento Social de Inserção

Empresa de Jardinagem e Lavandaria

CAARPD; Centro de Recursos IEFP

Centro Comunitário; Residência Autónoma

CERCIMAC –

CERCIMARANTE

Centro de Apoio Familiar e Aconselhamento Parental; Estrutura Residencial para Idosos; Lar Residencial

CERCIMB –

CERCIMIRA –

CERCIMONT –

CERCIMOR

CERCINA

CERCIOEIRAS

CERCIPENELA

CERCIPENICHE

CERCIPOM

Centro de Apoio Familiar e Aconselhamento Parental; Centro de Recursos Local

Centro Qualifica; Centro de Atividades Aquáticas Adaptadas do Oeste; CAET; Erasmus +; Residência Autónoma

Banco de Equipamentos e Tecnologias de Apoio; AAAF - Atividades de Animação_Apoio à Familia

Centro de Recursos para o IEFP

Centro de Recursos IEFP; Serviço de Intervenção Terapêutica

Centro de Formação Profissional

CERCIPORTALEGRE –

CERCIPÓVOA

ATL

CERCISA –

CERCISIAGO

CERCITEJO

CERCITOP

Residência Autónoma; Centro de Recursos Local

Espaço Tejo Saúde - Nucleo de Apoio Terapêutico; ATL

Unidades de Cuidados Continuados Integrados; Clinica de Reabilitação; Cantina SociaL

CERCIVAR –

CERCIZIMBRA

Creche e Pré-Escolar; Centro de Animação para a Infância; Apoio aos Beneficiários do Rendimento Social e Inserção

CRACEP –

CREACIL –

CRINABEL –

RUMO

Formação de Técnicos; Programa Empreendedorismo Imigrante; Rede para a Empregabilidade Barreiro/Moita; Projeto Escolhas; Projeto Sem Abrigo e Vítimas de Violência

REVISTA FENACERCI 2020 |

143


PONTO

FINAL

E pronto. Mais uma edição que se fecha onde, como

não poderia deixar de ser, voltaremos a ficar com a

sensação de ter ficado muito por dizer. Mas fizemos o

nosso melhor e esperamos pela vossa avaliação. Não

saiu em maio, como de costume, mas esperemos que

provem nela o mesmo espírito solidário que sempre

presidiu à nossa, e também vossa, revista. Queremos

obviamente agradecer a todos quantos, na qualidade de

patrocinadores ou autores, nos ajudaram a levar esta

tarefa até ao fim. E agora sim: é mesmo ponto final.

© DR



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