Revista Fenacerci 2020
A FENACERCI disponibiliza a 27º Edição da Revista FENACERCI.
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O Impacto
na Qualidade de
Vida da Psiquiatria
Comunitária
O projeto de psiquiatria comunitária teve início em
2018 e funciona na base da parceria entre o Centro
Hospitalar de Vila Nova de Gaia (CHVNG) e a CER-
CIESPINHO, decorrente de uma proposta formal
à CERCIESPINHO para integrar um projeto piloto
de psiquiatria comunitária do Serviço de Psiquiatria
e Saúde Mental deste Centro Hospitalar.
Considerando a necessidade premente de serviços
na área da saúde mental, da urgência de aproximar
esta área da saúde às pessoas, acrescida do
sentimento de impotência e de dificuldades na
atuação, nesta área da saúde, por parte da nossa
organização, aceitámos imediatamente participar
no projeto. Assim, em 2018, foram estabelecidas
consultas semanais e quinzenais, nas nossas instalações
sendo sinalizados e consultados 13 clientes
entre 15 de outubro a 10 de dezembro.
Ao caráter inovador e indispensável do projeto
acresceu a competência técnica das psiquiatras
envolvidas e principalmente as metodologias de
trabalho implementadas. Assim, semanalmente
foram discutidos pelas equipas do Lar e do Centro
de Atividades Ocupacionais (CAO), os clientes
a propor para consulta, aferidos os indicadores e
informação na área da saúde mental (medicação,
comportamento, outros), e proposto às famílias a
participação no projeto. Após validação pela equipa
e família, o caso era apresentado às psiquiatras
com informação de enquadramento, pelos técnicos
de interface. A médica no dia da consulta, iniciava
uma reunião com os técnicos e depois reunia
com os familiares e também com os clientes,
permitindo um contexto de informação de enquadramento
que raramente é possível em contexto
hospitalar. Deste modo, foram realizadas 18 consultas
a 13 clientes (8 clientes do CAO e 5 do Lar),
sendo que 9 corresponderam a primeiras consultas
tendo-se verificado 18 alterações na medicação
prescrita. A troca de informação na consulta e
por correio electrónico permitiu ajustar a medicação
e contribuiu claramente para o bem-estar dos
clientes e para a redução de crises e de períodos
de descompensação, bem como, eliminou as urgências
psiquiátricas nestes 2 meses.
Durante 2019, mantiveram-se as consultas de abril
a agosto e novamente a partir de novembro, com
uma nova metodologia – uma psiquiatra supervisora
que permite a continuidade do processo e articula
internamente no CHVNG de forma a facilitar
os encaminhamentos ou estruturar a interação da
psiquiatra deste projeto com os psiquiatras que já
acompanham alguns dos nossos clientes. Em 2019
foram realizadas 63 consultas com 24 clientes (10
clientes do Lar, 12 do CAO e 2 do Centro de Apoio
à Vida Independente – CAVI), traduzidas em 15 primeiras
consultas, 40 reavaliações e 32 alterações
na medicação.
Verificamos, ao longo do projeto um conjunto de
resultados muito positivos, nomeadamente a ausência
de urgências psiquiátricas no período das
consultas, reduzindo processos de crise, permitindo
fazer ajustamentos entre consultas que reduziram
o sofrimento dos clientes e contribuíram
para o bem-estar de colegas e colaboradores,
proporcionando um melhor funcionamento dos
serviços e claramente impactando na qualidade de
vida dos clientes, famílias e dos colaboradores dos
serviços envolvidos. O impacto nas famílias foi evidente,
quer na desconstrução de estereótipos relativamente
ao disgnóstico duplo e à saúde mental,
quer facilitando a deslocação para as consultas e
evitando faltas, quer ainda, pelos encaminhamentos
para outras especialidades propostas e cuja
articulação interna facilitou o processo. Acresce, a
melhorada monitorização e acompanhamento que
os serviços envolvidos realizaram quer em termos
de capacitação das equipas para identificar especificamente
sintomas e evidências representativas
de alterações na situação de saúde do cliente, quer
no apoio às famílias no acompanhamento da administração
terapêutica e facilitação de troca de
informação sobre as especificidades da deficiência
intelectual com as psiquiatras envolvidas.
O projeto claramente enriqueceu todas as partes
envolvidas, fomentando uma curva de aprendizagem
expressiva mas, acima de tudo, forneceu aos
nossos clientes e famílias um apoio essencial, numa
área tão sensível da saúde, contribuindo para a sua
saúde mental e para a sua qualidade de vida.
Rosa Couto
Diretora Geral da CERCIESPINHO
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