19.09.2020 Views

Revista Fenacerci 2020

A FENACERCI disponibiliza a 27º Edição da Revista FENACERCI.

A FENACERCI disponibiliza a 27º Edição da Revista FENACERCI.

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

prolongando-se no tempo e surgindo repetidas

vezes.

Enquanto experiência que envolve sensações e

emoções desagradáveis, a dor pode ser descrita

por palavras como “picada, pontada, moinha,

peso, …” ou “insuportável, horrível, …”. Mas a incapacidade

de verbalizar a dor não nega a possibilidade

de que um indivíduo a sinta e tenha

necessidade de tratamento para a aliviar.

Hoje sabemos que as pessoas com problemas de

desenvolvimento podem ter dor pelas mesmas

causas que a restante população e têm, além

disso, dores que resultam dos seus problemas

neurológicos, músculo esqueléticos e outros. A

sua condição clínica expõe-nas a tratamentos e

cirurgias de que as outras crianças da mesma

idade não necessitam. Por exemplo, crianças e

jovens com paralisia cerebral necessitam, muitas

vezes, de tratamentos dentários ou cirurgias

para corrigir deformidades, os quais acarretam

dor aguda. Também sofrem de dor crónica relacionada

com a sua espasticidade e posições

desalinhadas da cabeça, do tronco e dos membros.

A fisioterapia de que necessitam pode

também ser dolorosa. O refluxo gastro esofágico

e a obstipação são outra causa frequente de

dor. Crianças com Síndroma de Down, não raro,

têm doenças cardíacas e leucemias. Ou seja, os

estudos indicam que pessoas com problemas de

desenvolvimento têm dor, aguda e crónica, com

maior frequência e intensidade do que a população

em geral.

Ora, quando alguém tem dor, a verbalização

dessa dor, ou autorrelato, é a forma mais comum

e mais fácil de comunicar a dor. E é fácil

de entender por parte de cuidadores e profissionais.

Assim, as pessoas que se expressam de maneira

diferente do habitual ficam em desvantagem

para comunicar a sua dor. A nossa capacidade

de sabermos se têm dor é, pois, inferencial, isto

é, baseia-se na nossa interpretação das suas expressões

e comportamentos. Como já dissemos,

é uma questão de comunicação: o que me está a

“dizer” a pessoa com dor? O que a estou a “ouvir

dizer”?

Dum lado e do outro há muitos fatores a influenciar.

Por um lado, a experiência de dor (sensações,

emoções e pensamentos) é influenciada

por fatores biológicos, genéticos, experiências

anteriores, mas também do contexto em que

ocorre a dor; a expressão da dor depende do

repertório de linguagem e das habilidades motoras.

Muitas manifestações não são específicas

da dor (como a expressão facial, o choro, as vocalizações

ou a agitação motora) e algumas podem

ser atípicas, como os problemas de sono,

manifestações de ansiedade, problemas gastrintestinais,

exacerbação de comportamentos

de autoagressão. O repertório destas manifestações

também é variável, por exemplo, os autistas

têm um leque de expressões faciais menor,

por isso podem mostrar menos expressão

facial, embora tenham mais aceleração cardíaca

quando se colhe sangue, o que mostra a ativação

do seu sistema de stress perante um estímulo

doloroso. Enquanto o autorrelato da dor é,

geralmente, paralelo à experiência de dor, estas

outras manifestações podem ser discordantes

ou estar desfasadas, sobretudo em pessoas com

problemas de desenvolvimento. As suas formas

de expressão verbal e não-verbal podem ser

ambíguas, tornando difícil aos familiares, cuidadores

e profissionais de saúde saberem se se

trata de dor, e se esta necessita de ser tratada.

Por outro lado, a avaliação da dor depende da

atenção, sensibilidade, atitude e empatia do

REVISTA FENACERCI 2020 |

9

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!