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Revista Fenacerci 2020

A FENACERCI disponibiliza a 27º Edição da Revista FENACERCI.

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Primórdios da

Pediatria

em Portugal

José Pedro Vieira,

Neuropediatra

do Hospital D.

Estefânia – CHLC,

Lisboa Central

Até ao século XVIII, a criança era considerada uma

miniatura do adulto e a doença interpretada como

um processo de regeneração moral, sendo a elevada

mortalidade um acontecimento esperado. No

século XV e até ao início do século XX era habitual

o abandono de crianças acabadas de nascer com

defeitos congénitos ou com peso deficiente, situações

consideradas incuráveis. Em determinadas

circunstâncias, utilizava-se a chamada Roda, que

era um método utilizado para, preservando o anonimato,

abandonar recém-nascidos que ficavam

entregues a instituições de caridade.

Durante o século XIX, coincidindo com a Revolução

Industrial, por toda a Europa começou a esboçar-

-se um movimento tendente a resolver ou minorar

os problemas sociais e a higiene pública de que o

trabalho infantil era um importante componente.

Um marco histórico foi, a publicação, em 1875, da

Lei Roussel com o objectivo de proteger as crianças

dando-lhes assistência separadamente dos adultos.

Multiplicaram-se os estabelecimentos para o acolhimento

de crianças abandonadas – os hospícios

ou asilos de crianças abandonadas - aos quais se

sucederam as instituições para prestação de cuidados

na doença ou verdadeiros hospitais.

As modernas correntes do século XIX em prol da

assistência hospitalar de crianças conduziram à

construção de hospitais pediátricos, salientando-

-se em 1802 a inauguração do que foi considerado

o primeiro hospital para crianças - o ‘Hôpital des

Enfants Malades de Paris’. Na Europa e América

do Norte, outros hospitais para crianças doentes

foram surgindo e Portugal acompanhou esta tendência.

Uma marcante decisão a favor das crianças

doentes portuguesas ficou a dever-se ao Rei Dom

Pedro V, marido da Rainha Dona Estefânia. Em 14

de Agosto de 1860, foi publicado um Decreto au-

torizando a fundação dum Hospital destinado ao

tratamento de crianças pobres e enfermas. Em 1877

foi inaugurado o Hospital de Dona Estefânia que,

contudo, durante várias décadas recebeu adultos e

crianças. Em 1881 foi inaugurado no Porto o Hospital

de Crianças Maria Pia.

Portugal no início do século XX

A Primeira República sucedeu à Monarquia liberal

em 1910. Portugal tinha então uma indústria incipiente

sendo a agricultura a principal atividade da

população. A pequena e média burguesia e os intelectuais,

nas principais cidades, eram o suporte do

regime mas o ambiente político era muitas vezes

efervescente e os governos instáveis. A participação

na Primeira Guerra Mundial foi extremamente

penosa para a sociedade Portuguesa. A população

era maioritariamente analfabeta (75% de analfabetos

em 1913). Os ideais da República impulsionaram

muita legislação com carácter progressista e

avançado para a época, com manifesta dificuldade

de concretização prática. O Estado Novo foi uma

evolução conduzida pelas correntes conservadoras

na sociedade de então, para um regime corporativo,

antiliberal, anticomunista e autoritário. Portugal

permanecia desfasado da realidade Europeia quanto

ao nível de instrução da população, embora tenha

havido um decréscimo para 40% de analfabetos, na

década de 50. Em 1918 ocorreram as epidemias de

tifo exantemático e de gripe (Gripe «Espanhola»)

A mortalidade em geral e a mortalidade infantil

eram elevadas, decorrendo de múltiplas doenças

epidémicas e endémicas. Em 1933 a mortalidade

infantil em Portugal era uma das mais elevadas da

Europa (acima de 140%). A partir dos anos 40 houve

um decréscimo, seguido de estagnação nos anos 50

e um novo decréscimo nos anos 60 (para cerca de

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