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Revista Fenacerci 2020

A FENACERCI disponibiliza a 27º Edição da Revista FENACERCI.

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Muitas crianças com Perturbação do Espetro

do Autismo (PEA), apresentam dificuldades de

processamento sensorial. Estas dificuldades

têm impacto no seu comportamento, aprendizagem,

interação social e participação nas atividades

da vida diária.

Segundo Ayres, J. (2005), a integração sensorial

define-se como o processo neurológico que organiza

as sensações do meio envolvente e do

próprio corpo, permitindo a participação do

indivíduo nos seus contextos de vida. Segundo

diversos estudos científicos, a Terapia de Integração

Sensorial, desenvolvida pela Terapeuta

Ocupacional A. Jean Ayres, comprova-se eficaz

no desenvolvimento das capacidades funcionais

de crianças com PEA.

O processo de integração sensorial abrange as

sensações que recebemos dos sete sistemas

sensoriais: olfativo, tátil, auditivo, visual, gustativo,

propriocetivo e vestibular. Este processo

engloba perceção, reatividade e processamento

sensorial e ainda as funções motoras associadas,

como praxis (capacidade que nos permite

planear e executar uma ação), integração bilateral

e controlo postural.

É comum observar uma criança com PEA com

dificuldades de participação nas rotinas diárias

e em tarefas como vestir/despir, banho, alimentação,

brincar, saídas familiares, atividades

sociais e/ou tarefas escolares.

Muitas crianças com PEA apresentam um perfil

de hiper-reatividade tátil e, por isso, evitam

tocar em determinados materiais e não são capazes

de tolerar determinadas texturas com as

mãos, inibindo assim, a sua participação em tarefas

escolares. Por outro lado, se apresentam

pobre discriminação tátil, poderão apresentar

maior dificuldade em concretizar a tarefa de

apertar os cordões, em identificar ou distinguir

diferentes materiais, exigindo um maior esforço

e atenção por parte da criança. Ao nível do

planeamento motor e da praxis, são observadas

dificuldades na concretização de tarefas mais

complexas e não familiares. A exposição a sons,

como o ruído de determinados equipamentos

domésticos ou festas de aniversário, pode

causar dificuldades de participação e comportamentos

de hiper-reatividade. A área da alimentação

pode ser igualmente um desafio para

crianças com PEA, uma vez que está relacionada

com várias sensações (olfativas, visuais e táteis).

Frequentemente, as dificuldades de participação

social, para além de outras inerentes à PEA,

podem estar também relacionadas com dificuldades

de modulação sensorial. Observam-se

ainda, outras dificuldades como ajustar o nível

de alerta e de arousal (atenção/concentração) e

alterações ao nível do sono e ansiedade.

É importante compreender que estes comportamentos

podem variar de acordo com o perfil,

com o contexto e com a forma como a criança

processa as sensações. Quando as dificuldades

de participação e de comportamento estão

relacionadas com dificuldades de integração

sensorial, esta deve ser encaminhada para um

terapeuta ocupacional especializado, no sentido

de avaliar e definir um plano de intervenção

ajustado às suas necessidades.

Maria João Fernandes

Terapeuta Ocupacional

Referências:

Schaaf, R. C., Mailloux, Z. (2015). Clinician’s guide for

implementing Ayres Sensory Integration – Promoting

participation for children with autism. AOTA,

Montgomery Lane.

REVISTA FENACERCI 2020 |

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