Revista Fenacerci 2020
A FENACERCI disponibiliza a 27º Edição da Revista FENACERCI.
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João Paulo Albuquerque
Médico Psiquiatra
Centro de Recuperação
de Menores D. Manuel
Trindade Salgueiro (IHSCJ)
de psicose nessa população” (4).
O limite que separa o normal do patológico nunca
é claro. Nele participam, para além dos sintomas
em si mesmos (ansiedade, tristeza, pensamentos
invasivos, despersonalização ou desrealização, alucinações,
…), a pessoa, que os vive em função da sua
personalidade (valorizando-os mais ou menos, sentindo-se
mais ou menos capaz de lidar com o que
sente), e o meio envolvente, onde se encontram fatores
protetores e outros predisponentes ao adoecer,
e que têm a ver com tudo: as pessoas significativas
(de suporte ou ameaçadoras), a alimentação,
o meio físico, os horários e rotinas, as actividades
que desempenha, os apoios técnicos com que conta,
os tratamentos médicos, … . Desenhamos assim
uma equação complexa, cujo resultado, para o bem
e para o mal, é sempre incerto. Ninguém “é” doente,
porque não está condenado a “estar” sempre
doente. Dentro da sua circunstância, pode encontrar
uma constelação de fatores que o protejam da
manifestação da sua fragilidade, permitindo-lhe
manter um equilíbrio saudável. Da mesma forma, a
pessoa com perturbação do neurodesenvolvimento
não está obrigada a identificar-se sempre com as
dificuldades de funcionamento que sente, e pode
criar um contexto de vida em que essas dificuldades
não são diferentes daquelas que a maioria das
pessoas sente.
Para complicar, a identificação de estados de doença
nas pessoas com perturbação do neurodesenvolvimento,
a manifestação do sofrimento associado à
doença é particular nestas pessoas, e as alterações
do comportamento são muitas vezes a única forma
de expressão desse sofrimento. Num estudo, em
que curiosamente, o autor tem o cuidado de identificar
a população alvo como administrativamente
identificada como tendo DI, salvaguardando a realidade
muito mais complexa que define a circunstância
destas pessoas, “Sessenta e dois por cento da
população com DI (n = 915) tiveram um problema
de comportamento (comportamento auto-destrutivo,
estereotipado ou agressivo / destrutivo)
e 18,7% tiveram um problema de comportamento
identificado como comportamento desafiador,
resultando numa prevalência de 80,3 por 100.000
na população base”. Os marcadores de risco mais
pronunciados para problemas de comportamento
foram: gravidade da DI, autismo, distúrbios do sono
noturno, hipersensibilidade sensorial, disfunção da
comunicação, défices sociais, apoio psiquiátrico e
medicação psicotrópica. Marcadores de proteção
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