Monografia Ozymandias
- No tags were found...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
"meu nome é<br />
rei dos reis"<br />
ESTUDO VISUAL SOBRE<br />
A SÉRIE BREAKING BAD<br />
Natalia Tachian Borensztejn
Escola Superior de Propaganda e Marketing<br />
PGD | Projeto de Graduação em Design<br />
ESTUDO VISUAL SOBRE A SÉRIE BREAKING BAD<br />
NATALIA TACHIAN BORENSZTEJN<br />
São Paulo, 2016
PGD | Projeto de Graduação em Design<br />
OZYMANDIAS<br />
ESTUDO VISUAL SOBRE<br />
A SÉRIE BREAKING BAD<br />
Projeto experimental de graduação em design,<br />
entregue à disciplina Projeto VII B (PGD / Parte 2)<br />
8º semestre, como parte dos requisitos exigidos<br />
para a obtenção do grau de Bacharel em Design<br />
pela ESPM São Paulo.<br />
Orientadora Flavia Renata Stawski<br />
NATALIA TACHIAN BORENSZTEJN<br />
Escola Superior de Propaganda e Marketing<br />
São Paulo, 2016
Um muito obrigada a todos os amigos e queridos que me acompanharam<br />
neste processo e ao longo do curso; agradecimentos<br />
à orientadora Flavia, que acreditou e apostou no potencial deste<br />
projeto desde o início; à banca deste PGD e a todos os professores<br />
do curso que contribuiram para a minha formação profissional e<br />
pessoal; aos meus pais, pela oportunidade e por todo o apoio e<br />
compreensão agora e sempre; e aos meus gatos, que são uns fofos.
RESUMO<br />
Este projeto de caráter experimental tem como objetivo investigar,<br />
discutir e aplicar a forma como a imagem e a linguagem cinematográfica<br />
se comportam dentro do universo dramático de televisão<br />
americana Breaking Bad (2008-2013), criada por Vince Gilligan.<br />
Por meio da pesquisa de embasamento bibliográfico com relação<br />
a sua contextualização e conceito teóricos, o projeto estabelece<br />
reflexões analíticas e faz uma relação entre tema, linguagem audiovisual<br />
e design.<br />
PALAVRAS CHAVE<br />
design, projeto de conclusão de curso, Breaking Bad, linguagem<br />
cinematografia, série televisiva;<br />
ABSTRACT<br />
This experimental project aims to investigate, discuss and apply<br />
the way the image and cinematic language behave in the american<br />
television dramatic universe Breaking Bad (2008-2013), created by<br />
Vince Gilligan. Through bibliographical research foundation with<br />
respect to its context and theoretical concept, the project establishes<br />
analytical reflections and makes a relationship between theme,<br />
visual language and design.<br />
Keywords<br />
design, undergraduate project, Breaking Bad, cinematography,<br />
television series;
SUMÁRIO<br />
11 INTRODUÇÃO<br />
PARTE 1<br />
13 DESIGN EXPERIMENTAL<br />
15 EMBASAMENTO CONCEITUAL<br />
15 TEMAS CONTEXTUALIZADORES<br />
17 Fotografia<br />
22 Televisão<br />
31 Breaking Bad<br />
36 Internet<br />
39 LINGUAGEM CINEMATOGRÁFICA<br />
41 Iluminação<br />
47 Cor<br />
53 Enquadramento e Edição<br />
57 EXPERIÊNCIAS ANTERIORES<br />
59 ERIC<br />
61 SEMIÓTICA<br />
63 EXPERIÊNCIAS CORRELATAS<br />
65 EDWARD HOPPER<br />
66 MURNAU<br />
67 HITCHCOCK<br />
69 ALEXANDRE ROMANO<br />
72 KIERA ROSE<br />
PARTE 2<br />
73 METODOLOGIA<br />
75 ANÁLISE BREAKING BAD<br />
77 PADRÕES DE LINGUAGEM<br />
79 1ª TEMPORADA<br />
81 2ª TEMPORADA<br />
83 3ª TEMPORADA<br />
85 4ª TEMPORADA<br />
87 5ª TEMPORADA<br />
89 EVOLUÇÃO VISUAL<br />
91 EXPERIMENTOS DE LINGUAGEM<br />
93 QUEBRA DE EXPECTATIVAS<br />
95 LINGUAGEM CULTURAL<br />
109 DINAMICIDADE (LET’S COOK)<br />
113 CONTROLE VISUAL<br />
117 CONTROLE NARRATIVO LINEAR<br />
119 CONTEXTUALIZAÇÃO NARRATIVA<br />
PARTE 3<br />
121 CONSIDERAÇÕES PROJETO FINAL<br />
123 PROJETO FINAL<br />
125 PRÉ-PRODUÇÃO<br />
153 PRODUÇÃO<br />
157 PÓS-PRODUÇÃO<br />
161 RESULTADO<br />
167 REGISTROS<br />
169 QUEBRA DE EXPECTATIVAS<br />
170 LINGUAGEM CULTURAL<br />
171 DINAMICIDADE (LET’S COOK)<br />
172 CONTROLE VISUAL<br />
176 CONTROLE NARRATIVO LINEAR<br />
177 CONTEXTUALIZAÇÃO NARRATIVA<br />
178 PROJETO FINAL<br />
181 ESTRATÉGIAS DE DISSEMINAÇÃO<br />
182 REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO<br />
186 ANEXOS
13<br />
INTRODUÇÃO<br />
A série de televisão dramática Breaking Bad pode ser considerada<br />
por parte da crítica e do público como uma representação<br />
tanto do ápice quanto do término da 3ª Era de Ouro 1 da<br />
televisão americana. Este período foi iniciado há quase duas<br />
décadas, mais precisamente em 1999 pela série The Sopranos,<br />
onde ocorreram as primeiras desconstruções nos modelos de<br />
seriados televisivos, como por exemplo a presença de um anti-<br />
-herói na tela de casa. Como consequência, muitas séries que<br />
vieram após The Sopranos seguiram os caminhos do mafioso<br />
no divã e Breaking Bad não foi exceção. O que não se esperava<br />
era que Vince Gilligan & cia. transformasse o desvalorizado<br />
professor de química em um dos mais emblemáticos anti-heróis<br />
da televisão, não somente por criar uma outra desconfiguração<br />
no modelo narrativo, mas também por inserir uma nova<br />
concepção cinematográfica em como esta narrativa é contada<br />
como seriado de tevê.<br />
As séries televisivas, que há apenas algumas décadas<br />
atrás eram vistas pela academia como uma cultura de baixa<br />
categoria e uma forma de entretenimento de pouco investimento<br />
e valorização quando comparadas à sétima arte, vêm<br />
ganhando cada vez mais espaço no cotidiano dos espectadores,<br />
alcançando seu lugar nos meios de comunicação audiovisual<br />
e chegando a ficar frente a frente com o cinema. Com<br />
a internet, a televisão sob demanda e a narrativa transmídia<br />
promoveram a integridade de seu público, que deixava de ter<br />
um papel como espectador passivo e começou a adquirir uma<br />
postura ativa e influente quanto ao conteúdo discutido.<br />
Com um foco principal nos impactos sociais e intelectuais<br />
ao longo do período, os temas contextualizadores nes-<br />
1 1ª Era de Ouro 1958-1971; 2ª Era de Ouro 1980-1990. As datas são aproximações<br />
estimadas, uma vez que não há dados oficiais de delimitação.<br />
te projeto abordam a fotografia e a imagem em movimento<br />
como linguagens técnicas e artísticas inseridas nos diferentes<br />
meios comunicação audiovisual, como no cinema e na televisão,<br />
e a mudança gradativa sobre os meios de distribuição informacional,<br />
desde o sistema de desenvolvimento específico<br />
de conteúdo para cada tipo de mídia até a cultura de convergências<br />
e a narrativa transmídia.<br />
Desde o início do primeiro contato que tive com a série<br />
e com a ligeira percepção de sua direção de arte e fotografia,<br />
os recursos de linguagem cinematográfica em Breaking Bad já<br />
serviam como inspiração e referência para o processo criativo<br />
de outras produções audiovisuais anteriores, me motivando a<br />
querer explorar com mais profundidade este meio linguístico<br />
que a série utiliza.<br />
A análise aprofundada de todos os episódios de Breaking<br />
Bad permitiu um levantamento das principais linguagens cinematográficas<br />
recorrentes ao longo da série, de maneira que<br />
possibilitasse uma melhor visualização das opções a serem<br />
trabalhadas em experimentação, dividindo-se entre tema e<br />
linguagem. Com o maior foco na linguagem em um primeiro<br />
momento, o tema da série foi utilizado como referência para a<br />
realização de uma releitura experimental da abertura de Breaking<br />
Bad, com a intenção de devolver para a série os principais<br />
pontos de sua linguagem cinematográfica.<br />
Este Projeto de Graduação em Design explora a investigação<br />
experimental sobre a força da linguagem imagética de<br />
Breaking Bad e seus efeitos aplicados em narrativa de série<br />
dramática de televisão. Partindo da pesquisa teórica que embasa<br />
seus temas contextualizadores e da análise completa da<br />
série, este projeto conta com o esclarecimento das etapas de<br />
projeto, experimentos, registros e reflexões com relação aos<br />
possíveis caminhos entre tema e linguagem.
14
15<br />
DESIGN EXPERIMENTAL<br />
O objetivo principal que motivou a escolha deste tema como<br />
projeto de graduação foi o interesse em realizar uma investigação<br />
analítica com o intuito de identificar a maneira e os elementos-chave<br />
que Breaking Bad utiliza para desenvolver a força do<br />
storytelling visual, além de sua linguagem cinematográfica na<br />
criação de suspense como um seriado dramático de televisão.<br />
Com foco no universo televisivo de Breaking Bad, o design<br />
em sua modalidade experimental está presente em discutir,<br />
explorar e compreender a força imagética inserida na<br />
comunicação semiótica e cinematográfica, aplicando-se por<br />
meio de exercícios e experimentações as ideias que possam<br />
expressar a linguagem visual contida na série de maneira que<br />
permitam ser empregadas em forma de releitura experimental<br />
de sua própria abertura.
16<br />
PARTE 1<br />
EMBASAMENTO CONCEITUAL<br />
EXPERIÊNCIAS ANTERIORES<br />
EXPERIÊNCIAS CORRELATAS
17<br />
EMBASAMENTO CONCEITUAL<br />
TEMAS CONTEXTUALIZADORES<br />
A seguir apresentarei os assuntos contextualizadores que relacionam-se<br />
com o tema e a linguagem deste projeto, com a<br />
intenção de providenciar um embasamento teórico mais consistente<br />
e preciso para a compreensão geral deste PGD. Esta<br />
contextualização aborda tópicos sobre os impactos que as<br />
novas linguagens técnicas e artísticas causaram na sociedade<br />
desde a criação da fotografia e a imagem em movimento, contribuindo<br />
diretamente para uma parcela da indústria do entretenimento<br />
que se desenvolveu a partir do cinema e da comunicação<br />
televisiva, como os filmes e as séries de televisão. Este<br />
contexto também procura relacionar a recente aproximação<br />
do público espectador com estas mídias por meio de influências<br />
como a internet.
18<br />
[1] Primeira fotografia impressa por Joseph Niepce, em 1826. [2] Ilustração sobre o funcionamento de uma câmara escura.
19<br />
FOTOGRAFIA<br />
A fotografia, cuja palavra de origem grega significa impressão<br />
de luz 1 – técnica de criação de imagens por meio de exposição<br />
luminosa, teve após diversas tentativas seu registro oficial<br />
em 1826 pelo francês Joseph Nicephore Niepce, ao ser bem<br />
sucedido em imprimir a primeira fotografia [1] com duração<br />
indefinida utilizando uma câmara obscura [2].<br />
A partir das pesquisas de Niepce, diversos entusiastas<br />
procuraram inventar seus próprios mecanismos para fotografar<br />
(NEMES, 2014). O pintor Louis Jacques Daguerre, com<br />
o apoio do governo francês, aperfeiçoou o projeto de Niepce,<br />
reduzindo o tempo de exposição à luz de horas para minutos,<br />
além de diminuir consideravelmente o tamanho da câmara<br />
obscura. Este processo fotográfico foi publicamente divulgado<br />
em 1839 e ficou conhecido como Daguerreótipo [3]. Este<br />
equipamento passou a ser vendido em escala comercial, tornando<br />
o aparelho acessível ao público e contribuindo para a<br />
popularização da fotografia (AMERICO, 2011).<br />
A fotografia nasceu como um meio técnico de reprodução<br />
de imagem, mas que de imediato foi capaz de gerar grandes<br />
impactos e rupturas no meio artístico e social. Por consequência<br />
de sua veracidade imagética e praticidade técnica, a fotografia<br />
passou a substituir obras que antes buscavam principalmente<br />
retratar a realidade por meio das tradicionais formas de<br />
representação – como a pintura. Esta ruptura gerou diversas<br />
discussões visuais, reconfigurando a arte e dando origem à<br />
outras formas de interpretações: pintores procuraram outras<br />
maneiras de representação da arte como expressão interna e<br />
subjetiva, assim como outros profissionais procuraram incluir<br />
a fotografia no meio artístico (JUCHEM, 2009). Entretanto, é<br />
importante salientar que, ao contrário de tentar reconhecer ou<br />
não a fotografia como arte, é mais importante entender como<br />
arte moderna se constituiu por meio da fotografia. O crítico<br />
francês e professor da Escola Nacional de Belas Artes em Paris<br />
Jean-François Chevrier, conta em uma entrevista:<br />
A fotografia aparece como uma técnica de produção de imagens. Não<br />
é inicialmente ligada à arte, mas é vista num primeiro momento como<br />
um aparato de difusão de conhecimento. Uma época, metade do século<br />
19, em que vamos ter de um lado o que se chamava de belas artes e de<br />
outro a difusão do conhecimento, que é uma ideia de iluminação, de<br />
modernidade. A fotografia se adapta muito bem a este princípio, está<br />
desde o início entre a mídia e a arte. Considero que a arte moderna se<br />
definiu com a fotografia a partir desta situação intermediária. A fotografia<br />
está nos dois campos e a arte moderna também. Aliás, está ligada<br />
ou ao lado de várias formas de expressão. (apud PERSICHETTI, 2012).<br />
Não há como negar o impacto social que a fotografia causou<br />
em seu contexto histórico desde a sua invenção até os dias de<br />
hoje. Independente de ser considerada ou rejeitada como um<br />
meio artístico, a fotografia se tornou um documento; a tecnologia<br />
tornava seu manuseio cada vez mais simples, o tempo de<br />
exposição mais curto, e sua comercialização em massa mais<br />
intensa, possibilitando cada dia mais a comprovação e o testemunho<br />
imagético. Diferente de um discurso de mil palavras,<br />
uma foto equivale a uma prova incontestável (SONTAG, 2004).<br />
Desta maneira, pode-se dizer que a fotografia foi capaz de alterar<br />
para sempre o comportamento público e as relações em<br />
sociedade (LANSEN, 2013).<br />
1 phosou ou photo = luz / graphein =marcar, desenhar, registrar.
20<br />
Desde tempos antigos, a humanidade procura interpretar<br />
a realidade por meio de informações fornecidas pelas imagens.<br />
Mas quando a fotografia se provou concreta e viável, a sociedade<br />
começou a questionar e querer a realidade que a imagem<br />
fotográfica fornecia; as pessoas começaram a se perguntar sobre<br />
a existência de algo que não pode ser fotografado. As fotos<br />
ensinaram um novo código visual, modificando e ampliando<br />
as ideias sobre o que vale apena ver e sobre o que temos o direitos<br />
de ver. A realidade passou a se parecer cada vez mais com<br />
aquilo que as câmeras mostravam (SONTAG, 2004).<br />
Contudo, vale lembrar que apesar da fotografia ter sido<br />
originada com a característica primária de somente retratar e<br />
não interferir, a fotografia pode criar influências e gerar uma<br />
distorção de perspectivas. Como explica Susan Sontag em seu<br />
livro Sobre Fotografia (2004, p. 92), “a história da fotografia<br />
revela uma longa tradição de ambivalência a respeito de sua<br />
capacidade de tomar partido”. Da mesma maneira em que o<br />
entendimento sobre uma situação pode ser diferente dependendo<br />
do ponto de vista, o mesmo pode ocorrer com a fotografia,<br />
que pode-se revelar distorcida ou manipulada por meio da<br />
sua iluminação ou angulação.<br />
[3] Ilustração sobre o funcionamento do Daguerreótipo.<br />
Imagem em movimento<br />
A imagem e movimento teve sua origem a partir do universo<br />
da fotografia. O britânico Eadweard Muybridge (1830 - 1904) foi<br />
o responsável pela invenção do Zoopraxiscópio, um dispositivo<br />
que possibilitava a simulação da ideia de que exibindo um<br />
número de imagens fotográficas sequenciais criava-se a ilusão<br />
de movimento. Na época, o atual governador do estado da Califórina<br />
Leland Standford queria comprovar de que todos os<br />
cascos do cavalo saíam do chão ao mesmo tempo ao galopar.<br />
Sabendo dos experimentos de Muybridge, o governador convidou<br />
o britânico para fotografar uma corrida de cavalos [4]. A<br />
teoria de Standford provou-se correta e em 1877, Muybridge<br />
foi convidado a expandir o projeto, chegando a capturar uma<br />
grande sequência de fotografias de uma corrida de cavalos,<br />
totalizando com uma duração de 8 segundos. A sequência de<br />
imagens resultou na obra Cavalo em Movimento (1878), podendo<br />
ser considerado o primeiro filme feito (ARANHA, 2015).<br />
Apesar da invenção e das realizações de Muybridge, outros<br />
inventores que experimentaram a imagem em movimento<br />
em paralelo na época. Inspirado no kinetoscópio, invenção<br />
de Thomas Edison, o francês Léon Bouly (1872-1932) desenvolveu<br />
a primeira versão do cinematógrafo, que mais tarde veio<br />
perder a sua parente para os nomes que aperfeiçoaram o equipamento<br />
e vieram a levar os créditos pelo início do cinema:<br />
os franceses Auguste e Louis Lumière, também conhecidos<br />
como os irmãos Lumière, “os pais do cinema”.<br />
No dia 22 de março de 1895, em uma pequena sala, os Lumière<br />
exibiram e divulgaram ao público o filme A Saída da Fábrica<br />
Lumière em Lyon 2 , sua primeira produção cinematográfica<br />
de 60 segundos que mostrava os operários saindo da fábrica. A<br />
exibição deste material permitiu um grande passo rumo à indústria<br />
do entretenimento. Outro filme, apresentado em dezembro<br />
do ano seguinte, mostrava a chegada de um trêm à estação de La<br />
Ciotat 3 . Este foi o primeiro filme a receber exibição pública e comercial,<br />
chegando a entrar para a história de maneira inusitada:<br />
a imagem do trem se aproximando fez com que os espectadores<br />
saíssem em desespero da sala de exibição, com medo que o trêm<br />
fosse sair da tela. Estas foram pequenas conquistas na indústria<br />
que possibilitou os irmãos Lumière se tornarem os responsáveis<br />
por divulgar o aperfeiçoamento e a capacitação cinematográfica<br />
que deu origem a criação do cinema, que futuramente seria considerado<br />
como a Sétima Arte (SANT’ANA, 2016).<br />
2 La Sortie de l’usine Lumière à Lyon.<br />
3 L’Arrivée d’un train à La Ciotat.
21<br />
[4] Ilusão de movimento por<br />
continuidade de fotografias sequenciais.<br />
Neste primeiro momento, a tecnologia ainda criava muitas<br />
limitações, o que permitia apenas registros mais simples e<br />
breves, como cenas do cotidiano. Mas com o passar do tempo,<br />
a tecnologia e a visão cinematográfica foram evoluindo: novas<br />
temáticas, roteiros e aplicações narrativas começaram a ser<br />
explorados (SOUSA, 2016), se tornando uma das funções principais<br />
dos filmes.<br />
Os filmes então começaram a conduziu a prática de contar<br />
histórias por meio de imagens. Apesar do filme ter sito<br />
originado da fotografia, à primeira vista as imagens fotográficas<br />
foram utilizadas para a ilustração de histórias ao invés<br />
de contá-las, deixando esta função para as palavras. Hoje em<br />
dia, temos diversas formas de foto-histórias, mas são mais<br />
um subproduto do cinema do que uma evolução da própria<br />
fotografia. As fotografias estão diretamente relacionadas ao<br />
passado, ao que aconteceu com as pessoas e lugares naquela<br />
época. Por mais que fotos publicitárias tenham a intenção de<br />
transmitir um futuro próspero, a fotografia não deixa de ser<br />
um elemento pretérito (SONTAG, 2004). Mesmo logo após a<br />
foto ser grafada, existe um lapso de tempo entre o momento<br />
fotografado e a imagem fotográfica; a fotografia desempenha<br />
um papel em nossa memória como uma preservação de registros.<br />
Todavia, assim como Roy Armes (1999, p. 116) cita<br />
em seu livro, “a diferença fundamental entre fotografia e cinema<br />
reside na mudança que o movimento traz para a imagem<br />
fotográfica.”<br />
A característica de imagem em movimento do filme permite<br />
que o evento gravado seja reproduzido. Com o significado<br />
da palavra, a reprodução do conteúdo possibilita que o movimento<br />
do vídeo se desenrole em tempo real. Trata-se de uma<br />
combinação paradoxal de passado e presente, o que permite<br />
um histórico ideal para a narrativa. Em outras palavras, diferentemente<br />
da fotografia – cuja característica estática nos<br />
remete à um evento ocorrido e permanecido no passado – o<br />
vídeo permite que seu conteúdo gravado seja reproduzido em<br />
tempo real, alterando a sua perspectiva de passado para presente;<br />
desta maneira, o espectador é capaz de experienciar a<br />
narrativa do filme (ARMES, 1999).
22<br />
Sétima arte<br />
Atualmente vivemos em uma sociedade com uma quantidade<br />
enorme de informações em formato audiovisual, onde as técnicas<br />
cinematográficas que conhecemos hoje já estão, em sua base,<br />
compreendidas. Todavia, a aquisição do conhecimento inicial<br />
destas técnicas percorreram um longo e complexo caminho até<br />
se consolidarem como a linguagem que hoje é conhecida.<br />
O cinema ainda pode ser considerado uma forma de arte<br />
relativamente nova quando comparado com outras as artes<br />
visuais, como a pintura e o teatro, de maneira ele teve a sua<br />
influência inicial a partir destes meios já existentes, onde muitos<br />
diretores e cineastas vieram diretamente do teatro ou, pelo<br />
menos, foram influenciados por ele. No entanto, esta influência<br />
criou um impacto muito grande sobre a composição, uma<br />
vez que o filme se trata da imagem em movimento. Inicialmente,<br />
as técnicas acabaram sendo importados diretamente<br />
do teatro – todos os atores ficavam de frente para a câmera<br />
como se estivessem em um auditório, e os planos raramente<br />
exploravam outros conceitos, como a profundidade de campo.<br />
Muitas vezes, a imagem do filme se encontrava estática e o<br />
filme gravado em uma única tomada. Eventualmente, os cineastas<br />
entenderam que a câmera poderia ter movimento e<br />
a imagem poderia ser retratada em diferentes ângulos de maneira<br />
a criar expressões e significados; assim como as cenas<br />
poderiam ser editadas, fazendo com que a composição fosse<br />
capaz de contar histórias com uma única cena (Lewis, 2015).<br />
Uma das técnicas mais essenciais do cinema é a edição.<br />
Segundo a formadora de opinião em cinema e assuntos diversos<br />
Luisa Clasen (2015), a edição tem dois objetivos principais,<br />
sendo o primeiro a dinamização da história por meio da seleção<br />
de cenas essenciais para contar a narrativa, e na ressignificação<br />
dos planos. Um dos principais realizadores para a<br />
consolidação desta linguagem cinematográfica que temos<br />
atualmente foi o russo Lev Kuleshov (1899 - 1970), professor da<br />
Escola de Cinema Moscovita 4 , que tinha como objetivo desenvolver<br />
uma linguagem própria para o cinema, desvinculando-<br />
-se das origens de produção de característica teatral. Kuleshov<br />
elaborou estudos e experimentações em vídeos feitos desde o<br />
final da década de 1910 até a década de 40 sobre a influência<br />
na teoria da edição e da montagem nos efeitos narrativos do<br />
filme (KOENIG, 2011). As experimentações de edição soviética<br />
exploraram a ressignificação dos planos: o Efeito Kuleshov –<br />
como este experimento ficou conhecido – consiste na justaposição<br />
de planos de uma mesma cena, seguido de outros elementos<br />
distintos [5].<br />
4 – Considerada a primeira escola de cinema do mundo, compostas de jovens vanguardistas,<br />
desenvolvida a partir do grande incentivo do governo russo para o nascimento do<br />
cinema soviético em 1919.<br />
Prato de comida<br />
e em seguida o rosto<br />
de um homem;<br />
Um caixão com<br />
uma menina morta<br />
e o rosto de um homem;<br />
Uma mulher deitada<br />
em um divã e o rosto<br />
de um homem.<br />
[5] Experimento do efeito Kuleshov.
23<br />
O resultado foi que a mesma cena do rosto inexpressivo de<br />
um homem, justaposto com outro plano era capaz de causar<br />
a interpretação de significados e emoções diferentes: no primeiro<br />
caso, os espectadores diziam que o homem sentia fome;<br />
no segundo caso o homem estava em luto; e no terceiro caso<br />
o homem sentia desejo. Entretanto, nenhuma destas reações<br />
emotivas existiam de fato no rosto exibido do homem, porém o<br />
simples recurso do poder da montagem entre estes planos sugeriam<br />
ao espectador esta atribuição de emoções vindos do rosto<br />
do personagem para as cenas observadas (LUDGERO, 2012).<br />
Logo, assim como uma fotografia apenas se expressa pela imagem,<br />
o cinema mudo permitia principalmente esta investigação<br />
visual e imagética da narrativa. A falta inicial do recurso<br />
do som da fala e do diálogo contribuiu para uma grande exploração<br />
e investimento do storytelling visual onde, por muito,<br />
apenas breves textos e placas podiam servir de auxílio narrativo<br />
além da própria imagem. De qualquer maneira, o filme não<br />
deveria precisar de diálogos para contar ao público se tal personagem<br />
deve ser considerado herói ou vilão, por exemplo;<br />
apenas a imagem daquele personagem se relacionando e interagindo<br />
com elementos e situações que o público considera<br />
boas ou más é capaz de contar a história daquele personagem,<br />
além de sua personalidade, valores e interação com o mundo,<br />
chegando a mostrar muito além do que somente a utilização<br />
do que as palavras permitiriam.<br />
A “fase áurea” do cinema Hollywoodiano recebeu este<br />
nome pois correspondeu ao benefício providenciado pelo<br />
enfim sucesso de sincronização do som e da fala nos filmes<br />
para os grandes estudos americanos de produção de filme no<br />
início da década de 30. Manini (2013) explica que a novidade<br />
do recurso sonoro gerou uma grande atratividade dos filmes<br />
para o público em geral e que, para os estúdios, a viabilidade<br />
do som e do diálogo abririam mais possibilidades de abordagem<br />
narrativa, ao mesmo tempo que barateavam dos recursos<br />
imagéticos para a gravação do filme e possibilitavam<br />
intensificar a sua exploração monetária. Todavia, diretores e<br />
cineastas da época demonstravam receio perante esta nova<br />
tecnologia, temendo que os filmes se tornassem uma produção<br />
cada vez mais comercial e menos artística, reduzindo o<br />
poder das imagens com diálogos falados por personagens.<br />
Com a intenção de reafirmar a insubstituição da imagem pelo<br />
áudio, o diretor Hitchcock (1966, apud Manini 2013) alega<br />
que “quando se conta uma história no cinema, só se deveria<br />
recorrer ao diálogo quando fosse impossível fazer de outro<br />
jeito”. Todavia, já Sergei Eisenstein (1990, apud Manini 2013)<br />
alegou que assim como Kuleshov contribuiu para a influência<br />
da edição na linguagem cinematográfica, “apenas o uso<br />
polifônico do som com relação à peça de montagem visual<br />
proporcionará uma nova potencialidade no desenvolvimento<br />
e aperfeiçoamento da montagem”.<br />
Apesar do receio inicial, pode-se afirmar que do mesmo<br />
modo como a fotografia interferiu mas não substituiu as outras<br />
artes visuais, o som não causou um empobrecimento da<br />
linguagem; enquanto alguns diretores preferiram por adotar<br />
um maior emprego do áudio e do diálogo falado, outros optaram<br />
pela criação de uma nova modalidade de escolhas estéticas<br />
que não eram possíveis até então, como a exploração<br />
voluntária do ruído e do silêncio (MANINI, 2013).
24<br />
TELEVISÃO<br />
A TV não acabou com o cinema – assim como o cinema não acabou<br />
com a fotografia, que não acabou com a pintura – mas forçou<br />
uma adaptação das configurações de linguagem (BUTCHER,<br />
2016). O conceito de televisão que temos hoje em dia é extremamente<br />
amplo quando comparado às suas primeiras expectativas<br />
em meados de 1920. Apesar de atualmente a televisão assumir<br />
uma relação visual próxima ao cinema – na perspectiva de<br />
que ambos compartilham alguns dos mesmos recursos expressivos<br />
de linguagem e exibem imagens em movimento em alta<br />
qualidade através de uma tela – devemos entender que ambos<br />
se originaram de tecnologias e propósitos diferentes: enquanto<br />
o cinema nasceu exclusivamente da fotografia, a televisão teve<br />
a sua origem a partir da indústria do rádio.<br />
Assim, da mesma forma como a narração de histórias não foi prevista<br />
por Lumière em relação ao cinematógrafo, também não houve<br />
expectativa inicial de que o rádio (e depois a televisão) pudesse vir<br />
a ser o maior veiculador de notícias da nossa sociedade. (ARMES,<br />
1999; p. 119).<br />
[6] A televisão no ambiente familiar, doméstico e privado.<br />
Como podemos constatar nos dias de hoje, a televisão se tornou<br />
uma estrutura tão familiar que somos praticamente incapazes<br />
de deixar de enxergá-la como um retrato natural e inevitável.<br />
Todavia, para que este cenário se concretizasse nos dias<br />
de hoje, houve diversos investimentos no passado. O projeto<br />
da televisão não ocorreu de um acontecimento científico; ao<br />
invés disso, ele foi financiado pela indústria dos radioemissores<br />
e radiorreceptores, e recebeu aperfeiçoamentos sofisticados<br />
e profissionais. O objetivo principal de seus investimentos<br />
era para a criação de uma estrutura de transmissão televisual<br />
que visava atingir um público em escala massiva. Inicialmente,<br />
ela era vista como uma forma de utilizar as imagens como<br />
apoio para a oratória verbal.<br />
A tecnologia que surgiu no começo do século XX era<br />
voltada particularmente para os bens de consumo individual<br />
(MACHADO, 1997). A proposta de colocar o rádio em “caixas<br />
com som e imagem” também gesticulava com a indústria do<br />
entretenimento, que propunha a tecnologia a um mercado doméstico<br />
e privado [6]. Nesta proposta estava implícita que a<br />
maioria da população tinha poder de compra e tempo de lazer<br />
para ser preenchido (ARMES, 1999).
Com esta expansão de longo alcance em broadcast, a<br />
televisão também fazia parte do projeto do Estado de servir<br />
como uma estrutura de canal de homogeneização política e<br />
padronização cultural e comportamental. Com isso, a difusão<br />
de informações televisivas adquiria uma característica política<br />
e autoritária, uma vez que os espectadores não tinham a capacidade<br />
de opinar ou intervir na influência sobre a emissão,<br />
tornando as residências privadas em um palco de acontecimentos<br />
públicos sem nenhuma chance de resposta do público.<br />
Este intuito de massificar e uniformizar a população por meio<br />
da transmissão unidirecional gerou alguns impactos sociais<br />
nos quais as pessoas passaram a enxergar a televisão como<br />
um alvo de ataque.<br />
Uma das formas de disseminar o poder de concentração<br />
do monopólio televisual era fragmentar a estrutura televisiva<br />
de produção e diversificar o seu conteúdo cultural afim de<br />
direcioná-los a segmentos específicos da população, acompanhando<br />
diretamente a diversidade e as aspirações de seu<br />
público. Como diz Machado (1997, p. 21), “se entendermos<br />
por democracia a coexistência dialética das diferenças e a<br />
constituição de canais onde as minorias possam ter voz e vez,<br />
é preciso conceber sistemas simbólicos que levem em conta<br />
e permitam florescer essa diversidade, desestabilizando, ao<br />
mesmo tempo, o poder de centralização e controle dos regimes<br />
autoritários.”<br />
Felizmente, com os avanços das técnicas de emissão a<br />
partir dos anos 40, foi possível identificar novas frequências<br />
de recepção, como a UFH (frequência ultra-alta) e transmissão<br />
de sinal e receptores por meio de cabos ou fibra ótica,<br />
que permitiam um número infinito canais. Com isso a tevê a<br />
cabo proclamava a independência das emissoras centralizadas<br />
de caráter político e estatal. Apesar dessa tecnologia ter<br />
sido desenvolvida nos anos 40, somente na década de 60 que<br />
seu potencial foi devidamente praticado nos Estados Unidos.<br />
A proposta de distribuir programas de qualidade para<br />
públicos específicos por diferentes emissoras vinha acompanhado<br />
da independência do grande capital; em outras palavras,<br />
este tipo de tecnologia não teria nenhum tipo de suporte<br />
comercial, sendo inteiramente dependente do interesse do<br />
espectador em pagar para ter acesso ao canal de informação.<br />
(MACHADO, 1997).<br />
25
26<br />
Séries<br />
O enredo narrativo de romances, formado por uma estrutura<br />
de capítulos diários, teve origem por meio de publicações em<br />
folhetins – uma forma de publicação de obras literárias que<br />
criou popularidade na Europa 5 e, em seguida, em toda América.<br />
No Brasil, um dos primeiros romances de folhetim foi O<br />
Filho do Pescador, publicado em 1843 pelos autores Teixeira<br />
e Sousa (OLIVIERI, 2005). Segundo Serra (1997, p. 21 apud JÚ-<br />
NIOR, 2011, p.114), “o romance em folhetim tem preocupações<br />
estruturais e temáticas [...] sempre atento à sua organização<br />
interna, com vistas a uma unidade da estrutura narrativa necessária<br />
para seu valor estético.” Mais tarde, estas produções<br />
foram adequadas para obras seriadas em radionovelas e, em<br />
seguida com o advento da televisão, os romances de folhetim<br />
sofreram uma adaptação para o meio audiovisual onde receberam<br />
o nome de telenovelas.<br />
Na década de 50, as telenovelas brasileiras passaram por<br />
um período técnico experimental e, em 1964, começaram a<br />
criar forma a partir da adaptação da novela cubana O Direito<br />
de Nascer, apresentada pela TV Tupi. Este programa significou<br />
um ponto marco de audiência na televisão brasileira, e a telenovela<br />
passou a receber uma grande fonte de investimento de<br />
diversas empresas, conquistando a programação televisiva da<br />
população. Hoje, estas narrativas são popularmente conhecidas<br />
como novelas e apresentam um modelo com um numero<br />
pré-determinado de capítulos e com um fim previsto (COSTA,<br />
2001); além disso, possui uma estrutura narrativa que serve<br />
como uma linha condutora, que compõe uma intriga principal<br />
que se desenvolve ao longo dos capítulos, e diversas outras<br />
subtramas com caráter secundário e complementar, que se<br />
abrem e fecham, criando um apoio narrativo paralelo à trama<br />
principal (COSTA, 2002). As novelas abordam uma grande variedade<br />
de temas, desde cenários antigos e internacionais até<br />
críticas e representações sociais da atualidade. Projetado desde<br />
o início como uma forma de entretenimento para a classe<br />
média, pode-se dizer que hoje as novelas se tornaram um aspecto<br />
cultural presente no cotidiano da maioria dos brasileiros.<br />
Apesar das novelas estarem presentes em parte na programação<br />
televisiva americana, pode-se dizer que os Estados<br />
Unidos atribuíram um outro rumo para os romances de folhetim<br />
com as séries televisivas. Diferentemente das novelas,<br />
uma série de televisão é composta por temporadas sem núme-<br />
5 Titulados de feuilleton, os folhetins tiveram seu surgimento em Paris, no século XIX.
[7] I Love Lucy.<br />
ro definido, podendo variar de uma minissérie com apenas 1<br />
temporada até 10 ou mais temporadas; cada temporada contém<br />
um número específico de episódios, geralmente entre 10<br />
a 25, de 10 minutos a 1h de duração. As séries possuem uma<br />
linearidade narrativa precisa e definida, podendo adquirir um<br />
formato de episódios antológico ou não, mas com uma sequência<br />
interligada entre si.<br />
Segundo Martin (2015), muitos críticos indicam que a<br />
Primeira Era de Ouro da televisão ocorreu no início dos anos<br />
1950, onde o público americano trocava as óperas e o teatro<br />
para assistir a um um conteúdo dramático e original na televisão.<br />
Esta data não é atoa: a primeira série exibida nos Estados<br />
Unidos foi a sitcom 6 I Love Lucy [7], tendo seu início em<br />
outubro de 1951 pela emissora CBS, sendo finalizada quase<br />
7 anos depois. A série representou um marco na história da<br />
tevê: assistida através de 10 milhões de televisores somente<br />
em sua primeira temporada, foi considerada o primeiro legítimo<br />
sucesso das séries televisivas. Em 1953 e 1954, I Love Lucy<br />
venceu o Emmy na categoria sitcom e recebeu outros prêmios,<br />
como Melhor Atriz Coadjuvante (Vivian Vance) em 1954 e Melhor<br />
Atriz (Lucille Ball) em 1956. Ao todo, a série recebeu 14<br />
outras indicações ao Emmy em diversas categorias.<br />
Apesar da influência do sucesso de I Love Lucy, alguns críticos<br />
sugerem que o início ta 1ª Era de Ouro da televisão poderia<br />
ter tido início em 1958. Nesta data, a entidade de controle de<br />
conteúdo televisivo FCC cedeu à diversas censuras, permitindo<br />
uma maior liberdade de temas considerados polêmicos, como<br />
preconceitos raciais e sexuais, diferenças entre gerações e classes<br />
sociais, guerra, espionagem, divórcio, gravidez indesejada,<br />
e entre muitos. Esta liberdade temática possibilitou que as produções<br />
seriadas abandonassem a narrativa moral e explorassem<br />
temas de realidade e de complexidade psicológica humana.<br />
Este período influenciou roteiristas e diretores a buscarem<br />
uma qualidade de produção dramática e patrocinadores<br />
para criação de histórias independentes ou adaptações para<br />
um maior interesse do público. “Levando em consideração a televisão<br />
como um todo, e não apenas a produção dramática [...]<br />
‘1ª Era de Ouro’ da TV americana trouxe grandes e significativas<br />
transformações que fizeram com que o veículo deixasse de ser<br />
conhecido como um simples ‘rádio com imagens’ para se transformar<br />
na televisão que conhecemos hoje” (FURQUIM, 2011).<br />
27<br />
6 Abreviação para situation comedy, ou comédia de situação.
28
29<br />
“Sem Tony Soprano não haveria Walter White ”<br />
– Vince Gilligan<br />
3ª Era de Ouro<br />
Tony Soprano 7 era o tipo de personagem que os conservadores<br />
antes pensaram que o público poderia até aceitá-lo no escurinho<br />
do cinema ou nas páginas de um livro, mas que com certeza<br />
seria rejeitado nas telas da televisão dentro de casa (MARTIN,<br />
2014). Mal esperavam eles que a série The Sopranos [8] em 1999<br />
iria representar o início da 3ª Era de Ouro da televisão, dando<br />
uma nova perspectiva às produções de seriados televisivos.<br />
Por ter um conteúdo agressivo e violento – de maneira<br />
artística – o mafioso no divã foi recusado por diversas emissoras<br />
de televisão, alegando que a série ainda era muito pesada<br />
para ser transmitida em um canal aberto. Entretanto, com<br />
uma visão e um posicionamento diferente das demais emissoras<br />
na época, The Sopranos foi aceito e teve a sua estréia<br />
sob o conteúdo digital pago pela HBO 8 . Com o slogan de “It’s<br />
not TV” 9 a empresa não tinha a existência de uma programação<br />
de grade fixa, deixando de exercer a pressão de produção<br />
rápida e em massa de episódios para a saciedade do público<br />
geral, como havia nas outras emissoras de televisão aberta.<br />
Este aspecto contribuiu para que David Chase 10 e sua equipe<br />
pudessem ter tempo necessário para reformular e modificar<br />
diversas concepções que já estavam presas ao conceito das séries<br />
televisivas, como a arquitetura de episódios e a criação de<br />
identidade entre público e personagem; uma ousadia e quebra<br />
de paradigmas mas que causou um impacto extremamente<br />
positivo e bem aceito pelo público na televisão.<br />
A estrutura de storytelling 11 dos episódios proposta para<br />
The Sopranos adquiriu uma construção sólida de narrativa<br />
para cada episódio, que conectavam-se a uma linha coeren-<br />
te já estabelecida dentro de cada temporada, diferentemente<br />
dos programas de sitcom ou séries em formato antológico, por<br />
exemplo, onde era possível ligar a TV em qualquer episódio<br />
e poder acompanhar a série fora da ordem cronológica (ME-<br />
RIGO, 2013); cada episódio teria uma duração em torno de 45<br />
minutos à 1 hora, e cada temporada teria uma média de 13<br />
episódios (MARTIN, 2014).<br />
David Chase criou um protagonista anti-herói para a série:<br />
um homem que se dividia entre dedicação à sua família e<br />
entre crimes na máfia italiana. Apesar de violento, Tony Soprano<br />
cria empatia no espectador, que é capaz de se identificar<br />
até certo ponto com as dificuldades da vida cotidiana do<br />
personagem. The Sopranos não entrega a história de bandeja<br />
para o espectador, provando que um final feliz não era mais<br />
uma garantia e que personagens regulares também morriam<br />
sem nenhum tipo de encerramento 12 (MERIGO, 2013).<br />
Mas, além de todas estas reestruturações e contribuições<br />
de novo modelo de enredo para o universo seriado, em uma<br />
época em que os programas de televisão eram vistos como<br />
uma produção barata e extremamente inferior aos filmes de<br />
cinema, David Chase destacou a série ao resgatar referências<br />
cinematográficas da sétima arte e deixá-las assumir o comando<br />
da narrativa ao empenhar o uso do storytelling visual como<br />
recurso primário narrativo e utilizar os intervalos de silêncio<br />
em meio a tanto ruído para contar a história. Este recurso possibilitou<br />
que The Sopranos chamasse a atenção do público exclusivamente<br />
apreciador do cinema para uma nova geração de<br />
séries e programas televisivos.<br />
[8] The Sopranos.<br />
7 Representado pelo ator James Gandolfini<br />
8 Home Box Office<br />
9 Não é TV, em inglês.<br />
10 David Chase (1945) é roteirista, cineasta e produtor de televisão americano.<br />
11 Storytelling significa contar histórias.<br />
12 Vide a série Game of Thrones (HBO, 2011 - atual) e sua fama por encerrar personagens<br />
importantes e principais para a narrativa de maneira inexperada.
30<br />
Estrutura de episódios televisivos<br />
As estruturas apresentadas a seguir foram configuradas de<br />
maneira geral utilizando como referência o conteúdo do livro<br />
Da Criação ao Roteiro (DOC COMPARATO, 2009, p. 197; ed:<br />
Rocco), e serve apenas como uma orientação; os episódios geralmente<br />
possuem um formato mais flexível com relação ao<br />
roteiro estrutural.<br />
Filme Televisivo<br />
Os telefilmes, ou filmes feitos para ter a sua aparição na a televisão,<br />
geralmente é constituído de 8 partes e tem o mesmo<br />
formato estrutural de um filme longa-metragem, além de uma<br />
duração média de 90 minutos mas que pode haver variações<br />
de duração.<br />
1 (aprox.) 5 minutos: abertura;<br />
2 (aprox.) 15 minutos;<br />
3 (aprox.) 10 minutos: 1º ato;<br />
4 (aprox.) 15 minutos;<br />
5 (aprox.) 15 minutos: 2º ato;<br />
6 (aprox.) 10 minutos;<br />
7 (aprox.) 15 minutos: 3º ato;<br />
8 (aprox.) 5 minutos: resolução.
31<br />
Formato de 25 minutos<br />
Este formato é utilizado principalmente para séries televisivas<br />
do gênero sitcom. Consiste basicamente em um modelo estrutural<br />
composto por quatro partes:<br />
1 (aprox.) 2-3 minutos: abertura;<br />
2 (aprox.) 10 minutos: desenrolar até a crise;<br />
3 (aprox.) 10 minutos: desenvolv. até o clímax;<br />
4 (aprox.) 2-3 minutos: resolução.<br />
Deve apresentar um gancho para a continuação.<br />
Formato de 50 minutos<br />
Algumas séries apresentam na estrutura inicial de seus episódios,<br />
antes mesmo da abertura narrativa da exposição do<br />
problema (parte 1), o que denomina-se pré-créditos (parte 0),<br />
que trata-se de uma provocação para o espectador contendo<br />
cenas isoladas de ação paralela à narrativa da série, antes do<br />
episódio começar (DOC COMPARATO, 2009).<br />
Os episódios de séries televisivas e minisséries segue o<br />
formato clássico de 50 minutos e muitas vezes utiliza o seguinte<br />
modelo estrutural composto de seis (ou sete) partes:<br />
0 (opcional) 1-3 minutos: pré-créditos<br />
1 (aprox.) 5 minutos: abertura<br />
(exposição do problema);<br />
2 (aprox.) 10 minutos: desenrolar do 1º ato;<br />
3 (aprox.) 10 minutos: desenrolar do 2º ato<br />
até a crise;<br />
4 (aprox.) 10 minutos: passagem do 2º para<br />
o 3º ato;<br />
5 (aprox.) 10 minutos: passagem do 3º ato<br />
até a clímax;<br />
6 (aprox.) 4 minutos: resolução.
32<br />
[9] Breaking Bad.
33<br />
BREAKING BAD<br />
Doutor, minha mulher está grávida de sete meses de um bebê que não<br />
queríamos. Meu filho de 15 anos tem paralisia cerebral. Sou um professor<br />
de química extremamente qualificado. Quando posso trabalhar,<br />
ganho U$43.700 por ano. Assisti a todos os meus colegas e amigos me<br />
superarem de todas as maneiras e dentro de 18 meses, estarei morto.<br />
– Walter White, Bit by a Dead Bee (2ª temporada - episódio 03)<br />
Professor de química, Walter White (Bryan Cranston) descobre<br />
ao completar 50 anos que tem câncer pulmonar terminal<br />
e somente 18 meses de vida. Além disso, Walter tem um filho<br />
com paralisia cerebral, um bebê a caminho, dois empregos<br />
mal remunerados e uma terrível situação financeira, o<br />
que o torna incapaz de arcar com os custos do tratamento de<br />
câncer. Desesperado com o futuro financeiro de sua família<br />
após a sua morte, Walt decide juntar dinheiro o mais rápido<br />
possível usando seus conhecimentos de química para fazer e<br />
vender metanfetamina, uma droga sintética. Junto com Jesse<br />
Pinkman (Aaron Paul), seu ex-aluno traficante, viciado e rebelde,<br />
eles enfrentam vários desafios administrando suas vidas<br />
duplas, incluindo o fato de seu concunhado ser um importante<br />
nome dentro da Agência Anti-Drogas da região.
34<br />
A origem da série Breaking bad foi no ano de 2008, quando<br />
foi criada pelo roteirista, diretor e produtor executivo de televisão<br />
americana Vince Gilligan. Antes mesmo do estrondoso<br />
sucesso de Breaking Bad, Vince fez grandes feitos na indústria<br />
cinematográfica. Logo após de se formar em Artes com especialização<br />
em Produção de Filmes na Universidade de Nova<br />
Iorque, Gilligan recebeu o Prêmio de Roteiro do governador<br />
da Virgínia em 1989 por seu roteiro Home Fries – que mais<br />
tarde foi transformado em um filme estrelado por Drew Barrymore<br />
e Luke Wilson – e onde teve seu primeiro contato com<br />
o Produtor Executivo da série Mark Johnson.<br />
Conhecido também por ter sido o escritor e produtor<br />
executivo de The X-Files, Gilligan recebeu o Prêmio Globo de<br />
Ouro em 1995, 1997 e 1998 de Melhor Série Dramática. Seus<br />
outros créditos incluem a co-criação da série Os Pistoleiros<br />
Solitários (The Lone Gunmen) da Fox Television; Hancock, estrelado<br />
por Will Smith e Charlize Theron, e O Fogo da Paixão<br />
(Wilder Napalm), estrelado por Debra Winger e Dennis Quaid.<br />
Depois de escrever e dirigir o piloto de Breaking Bad<br />
em 2008, Gilligan recebeu o Writers Guild Award de Melhor<br />
Série Dramática e aceitou o Peabody Award, que honrava<br />
a primeira temporada da série. Em 2012, o Writers Guild<br />
honrou o show mais uma vez com as premiações de Drama<br />
Episódica e Prêmio Serie Dramática. Em 2013, a premiação<br />
veio a se repetir com a vitória de Série Dramática. Breaking<br />
Bad ganhou indicações ao Emmy em 2008, 2010 e 2012 de<br />
Melhor Direção de Série Dramática e, em 2009, 2010 e 2012<br />
para Melhor Série Dramática. Em 2008, 2010, 2011 e 2012 foi<br />
nomeado para um dos Top 10 Programas do Ano pelo American<br />
Film Institute, e saudado em 2009 como “O Melhor do<br />
Século 21” por Stephen King 13 .<br />
Como dito anteriormente, Vince Gilligan conheceu o<br />
Produtor Executivo de Breaking Bad Mark Johnson há anos<br />
atrás, quando este estava na Universidade de Virginia para<br />
julgar um concurso de roteiro e uma das histórias que leu foi<br />
Home Fries, de Gilligan. A partir deste encontro os dois iniciaram<br />
uma amizade e trabalharam juntos por um bom tempo.<br />
Mark revela que o que mais se destaca em Gilligan são suas<br />
ideias e situações originais.<br />
O produtor executivo conta em uma entrevista de 2008<br />
com a AMC 14 que o elemento que mais o atrai como produtor<br />
são os personagens. “Os filmes e programas de TV que eu fiz<br />
são muito raramente definidos por sua trama. Há muito poucos<br />
assaltos a banco e perseguições de carro em meus filmes.<br />
Eu particularmente adoro personagens que estão em perigo.<br />
Eu gosto de explorar a forma como uma pessoa decente pode<br />
sair dessa. E isso é exatamente o que fazemos com Walt. Walt<br />
é uma pessoa muito decente, e depois, de repente, ele está em<br />
uma situação onde ele quer desesperadamente fazer a coisa<br />
certa para a sua família.”<br />
Em um total de 9 indicações e 7 prêmios, Mark Johnson<br />
teve como destaque a vitória do Oscar de Melhor Filme<br />
no Academy Awards em 1989 por Rain Man, e o prêmio Primetime<br />
Emmy Awards pelo Breaking Bad como melhor série<br />
dramática de pelos anos de 2013 e 2014.<br />
Além do Criador/Diretor e do Produtor Executivo, Breaking<br />
Bad teve também como principal destaque o extraordinário<br />
elenco que trouxe vida à drama (AMC, 2015).<br />
Bryan Cranston [10] é ator, dublador, roteirista, diretor e<br />
produtor americano que teve seu destaque em Breaking Bad e<br />
hoje é principalmente reconhecido pela atuação do personagem<br />
Walter White. Bryan tem um total de 55 indicações e 37<br />
vitórias, 5 Emmy Awards de Melhor Ator em Série Dramática,<br />
sendo três deles vitórias consecutivas em 2008, 2009 e 2010. Ele<br />
teve a honra de ser o primeiro ator em televisão a cabo, e o segundo<br />
ator na história do Emmy Awards a receber três prêmios<br />
consecutivos. Em 2014, Bryan recebeu o Globo de Ouro de Melhor<br />
Ator em Série Dramática em Breaking Bad (IMDB, 2015).<br />
Além de Walter White, Bryan é conhecido por interpretar<br />
Dr. Tim Whatley na série Seinfield (1994-1997), Hal na<br />
série de comédia Malcolm in the Middle (2000-2006) e participações<br />
como Hammond Druthers em How I Met Your Mother<br />
(2006-2013). Em entrevista com a AMC 15 , Bryan comenta<br />
como foi a transação entre séries de comédia para o drama.<br />
“Eu gosto de fazer comédia pelo o fato de que você trabalha<br />
e se diverte. Essa é uma boa combinação. Eu fiz isso por sete<br />
anos, e depois de um tempo você pensa, ‘Ok, agora eu realmente<br />
preciso me concentrar em fazer outra coisa.’ Mas eu<br />
13 Stephen King (1947) é um escritor americano considerado um dos mais notáveis escritores<br />
de contos de horror fantástico e ficção de sua geração. Com mais de 350 milhões<br />
de cópias de livros vendidas e com publicações em mais de 40 países, ele é o nono autor<br />
mais traduzido no mundo.<br />
14 Fonte: <br />
15 Fonte:
acho que qualquer bom drama vale sempre uma pitada de<br />
comédia na mesma, porque você pode aliviar a tensão da<br />
audiência quando é necessário, e em seguida, construí-lo de<br />
volta. Walter White não tem nenhum indício que ele é ocasionalmente<br />
engraçado, mas como ator eu reconheço quando há<br />
momentos cômicos e oportunidades.” Esta pitada de comédia<br />
que o ator traz pode ser notada em alguns momentos da série,<br />
como por exemplo no episódio “Fly” da terceira temporada.<br />
Segundo Guffey e Koontz (2014), escritores do livro Vamos<br />
Cozinhar? O Guia Completo e Não Autorizado da Série Breaking<br />
Bad, os autores analisam o peso psicológico que o episódio<br />
tem em retratar o significado da mosca e a obsessão de<br />
Walter em capturá-la. “O episódio tem todos os ingredientes<br />
para ser algo que o espectador vai ter dificuldade em aguentar,<br />
mas Gilligan & Cia conseguem tornar palatável essa noite<br />
de trevas com o uso brilhante da comédia. Bryan Cranston<br />
apoia-se no talento notável para a comédia física que tanto<br />
demonstrou no seriado Malcolm in the Middle. Suas tentativas<br />
frustradas de acertar a mosca levam-no a mancar com<br />
um sapato só, acionar máquinas sem querer, desliga-las aos<br />
tapas e, num dos melhores momentos do episódio, fazer Jesse<br />
acertar sua cabeça com o mata-moscas improvisado que o<br />
próprio Walt inventou Em nenhum instante perde-se a angústia<br />
do tumulto interno de Walt, mas os resultados externos<br />
são notavelmente engraçados.”<br />
Mas o que levou Vince a contratar o comediante a ser<br />
protagonista na drama que vai desde o professor de química<br />
fracassado com câncer pulmonar até o frio cozinheiro de<br />
metanfetamina e acertar na escolha foi após Gilligan dirigir<br />
“Drive”, um episódio da 6ª temporada de The X-Files onde Bryan<br />
Cranston havia atuado. Quando Gilligan escreveu o personagem<br />
Walt, ele manteve a inesperada empatia que sentiu<br />
quando viu Bryan atuar. “Eu sabia que ele podia ser engraçado.<br />
Eu sabia que ele poderia interpretar o papel. Mas a chave para<br />
isso é que estamos lidando com um cara que está fazendo uma<br />
decisão terrível como um traficante de drogas. Ele está cozinhando<br />
metanfetamina. Ele está fazendo uma coisa terrível<br />
para ajudar sua família, mas você tem que ter um cara que<br />
você vai viajar junto nessa jornada.” (SEPINWALL, 2015).<br />
Aaron Paul [11] já apareceu diversas vezes atuando na<br />
televisão americana – com um destaque para seu papel como<br />
Scott Quittman na série Amor Imenso – mas sua carreira decolou<br />
depois que se tornou Jesse Pinkman em Breaking Bad.<br />
Aaron pode não ter metade do repertório que Bryan Cranston<br />
possui em sua carreira, mas Vince Gilligan conta que Pinkman<br />
inicialmente tinha a participação programada para durar apenas<br />
uma temporada mudou a opinião do diretor devido a excelente<br />
atuação e a química entre os atores Aaron e Bryan. Tão<br />
parabenizada foi a atuação, Aaron foi premiado com três Primetime<br />
Emmy Awards como Melhor Ator Coadjuvante em Série<br />
Dramática por seu papel em 2010, 2012 e 2014 e indicação a<br />
um Globo de Ouro em 2014. Aaron tem no total 13 indicações<br />
e 15 vitórias em sua carreira.<br />
[10] Bryan Cranston (cima) e [11] Aaron Paul (baixo).<br />
35
36<br />
“Assistimos a uma transformação enorme, de um<br />
meio onde não era possível fazer arte, para o local<br />
onde as grandes histórias são contadas”<br />
– Brett Martin<br />
As novas regras da televisão<br />
Assim como The Sopranos, Breaking Bad foi recusada por diversas<br />
emissoras de televisão antes de ser finalmente aceita pela<br />
AMC, a única que não havia recusado a proposta da série. A TNT<br />
inclusive abraçou o enredo mas questionou a metanfetamina,<br />
por ser considerada uma droga sintética muito pesada e prejudicial;<br />
a FX até concordou em comprar os direitos de roteiro<br />
da série, mas com a intenção de arquivá-la e tirá-la do mercado.<br />
Breaking Bad então seguia os passos e caminhava na mesma<br />
direção de The Sopranos. Como comentado no item anterior<br />
(ver pág. 27), este último já havia desenvolvido e contribuído<br />
para uma nova estruturação de episódios de série dramática,<br />
mas as emissoras ainda enxergavam com aquele mesmo receio<br />
com relação ao seu tema incorreto e quanto a sua possível<br />
rejeição pelo público. Isso até ter a sua ideia totalmente aceita<br />
por uma emissora (MERIGO, 2013).<br />
Ambas as séries contam – ou melhor, mostram – o personagem<br />
e todos os seus problemas e defeitos do anti-herói<br />
evoluírem aos poucos. Nada precisa ser dito ou dialogado para<br />
o espectador compreender a trama. Logo a partir do episódio<br />
Piloto, acompanhamos um dia rotineiro de Walter White sendo<br />
desvalorizado e tratado como uma pessoa inferior e socialmente<br />
descapacitada, apesar de intelectualmente brilhante; e<br />
ainda mais: descobrir que está com câncer terminal sem nenhuma<br />
condição financeira. Com o recurso de storytelling visual,<br />
a câmera traduz a visão do espectador e passamos a compreender<br />
a sua rotina como um cidadão americano de classe<br />
média relativamente ordinária, sua situação pessoal e suas dores,<br />
passando a nos identificar com as intenções e os defeitos de um dos<br />
anti-heróis mais emblemáticos da idade de ouro da televisão americana.<br />
Desde o primeiro episódio sabemos que aquela história terá um fim.<br />
A expectativa desse fim, porém, é trabalhada durante toda a narrativa,<br />
elevando o suspense do possível término, tanto do personagem quanto<br />
da série. Com isso, todos os episódios são previamente planejados dentro<br />
de cada temporada e mantendo a consistência narrativa entre si; dessa<br />
forma, sabemos que a série andará para frente e não para os lados, desenrolando<br />
a narrativa e caminhando sempre em direção ao seu fechamento<br />
que um dia chegará – só não sabemos nem como nem quando.<br />
Alguns críticos como Brett Martin, autor do livro Homens Difíceis<br />
(2014; ed: Aleph), colocam que Breaking Bad pode ser a série responsável<br />
por significar o fechamento da 3ª Era de Ouro da televisão americana,<br />
reformulando as regras da televisão que The Sopranos iniciou em 1999. A<br />
partir de então, as séries televisivas se tornaram capaz de superar a apreciação<br />
e as expectativas audiovisuais que antes eram reservadas apenas<br />
às produções da sétima arte (NOGUEIRA,2016).<br />
A repercussão de Breaking Bad<br />
Breaking Bad está inserido no contexto do movimento Cultura Pop [12],<br />
ou Pop Culture. Este movimento nasceu na década de 60 nos Estados Unidos<br />
e tinha como conceito e objetivo principal a influência cultural, uma<br />
arma importante na luta pela hegemonia global, com o intuito de exportar<br />
o american way of life como idealização mundial e deter o avanço do<br />
[12] Alguns ícones da cultura pop sendo contextualizados no mesmo estilo do pop art.
37<br />
comunismo sobre outros países, em conjunto com o avanço<br />
do meio de comunicação em massa. Desta maneira, o Pop<br />
Art representava um retorno da arte figurativa, desafiando as<br />
tradições das artes plásticas, utilizando imagens inerentes ao<br />
universo da propaganda norte-americana e materiais da cultura<br />
popular, da cultura de comunicação em massa, como por<br />
exemplo imagens televisivas, fotos, histórias em quadrinhos,<br />
cinema, entre outros.<br />
Nos dias de hoje, a Cultura Pop caracteriza-se essencialmente<br />
pelo termo “popular”: está sempre sendo comentada<br />
e discutida; é uma cultura que evolui e se atualiza constantemente,<br />
apresentando picos e vales de popularidade de um<br />
dia para o outro. Tem como principal meio de disseminação<br />
de informação a comunicação “boca-a-boca” (ou melhor: visualizações,<br />
curtidas e compartilhamentos) em massa pelos<br />
meios virtuais, nas redes sociais e sites de compartilhamento<br />
(KHUMTHUKTHIT, 2015).<br />
Breaking Bad é uma série de televisão, ou seja, é um<br />
meio de comunicação em massa. Ainda mais atualmente, a<br />
televisão digital interativa permite ao espectador escolher o<br />
que quer assistir e quando quer assistir (televisão por demanda),<br />
assim passando a ter uma postura ativa por meio de suas<br />
escolhas. Além disso, com a internet, esta comunicação se<br />
expandiu para o mundo virtual, criando-se uma inteligência<br />
coletiva de fãs, que interagem com a série através de downloads,<br />
criação de conteúdo, legendas, fanfictions 16 , redes so-<br />
ciais, eventos, entre outros, ao ponto de criar uma economia<br />
afetiva, onde o público cria uma conexão emocional com a<br />
marca (ROCAMORA, 2015).<br />
Pode ser bastante relativo considerar uma série de televisão<br />
revolucionária ou a melhor de todos os tempos. Com um<br />
pouco de pesquisa, navegação na internet ou um bate-papo entre<br />
amigos sobre o tema, é possível notar a grande aprovação<br />
de Breaking Bad. Porém, gostar ou não de algo é muito relativo,<br />
subjetivo, uma opinião. Então como é possível classificar algo<br />
bom, revolucionário? Apesar de premiações 17 da academia, o<br />
público interativo que faz parte da contextualização da série<br />
é quem decide. São envolvimentos com a série que permite a<br />
análise, a comparação e a observação profunda e constante do<br />
show, como se analisa cada detalhe de uma obra. E é isto que<br />
Breaking Bad se tornou: uma obra de referência no universo<br />
das séries televisivas na Cultura Pop.<br />
Em entrevista com o diretor de fotografia Michael Slovis,<br />
ele conta que o diretor “Vince Gilligan compara o seriado<br />
a um sundae. O sundae perfeito leva sorvete, um pouco de<br />
chocolate em calda, umas castanhas, um pouco de chantilly<br />
e uma cereja. No entanto, se você pegar uma bola de sorvete<br />
e cobrir de marshmallow, depois colocar abacaxi, cobrir<br />
com castanhas, melado, mais chocolate, depois mais abacaxi<br />
e mais chantilly e mais de tudo, fica uma meleca – e não um<br />
sundae lindo, maravilhoso, legal, delicioso e atraente.” (GUF-<br />
FEY; KOONTZ, 2014).<br />
16 Fanfiction é uma narrativa ficcional escrita e divulgada por fãs sobre um tema ou<br />
uma narrativa pré-existente com personagens anteriormente definidos. Os temas mais<br />
comuns são filmes, séries, quadrinhos, videogames, ou qualquer outra história midiática.<br />
Os autores de fanfictions não têm a intenção de ferir direitos autoriais e não visam<br />
nenhum tipo de lucro.<br />
17 Em 2010 e 2012, Breaking Bad ganhou o prêmio TCA de Excelência em Drama , bem<br />
como o prêmio TCA para o Programa do Ano em 2013. Em 2009 e 2010, a série ganhou o<br />
Satellite Award para Melhor Série de Televisão - Drama, juntamente com o Saturn Award<br />
de Melhor Série de Televisão por Cabo sindicalizado em 2010, 2011 e 2012. A série ganhou<br />
o Writers Guild of America Award para Televisão: Série Dramática . tanto em 2012 e 2013.<br />
Em 2013, foi nomeado nº. 13 na lista dos 101 mais bem escrito séries de TV de todos os<br />
tempos pelo Writers Guild da América e venceu, pela primeira vez, o Primetime Emmy<br />
Award para Melhor Série Dramática. No geral, o show ganhou 45 prêmios da indústria<br />
e foi nomeado para 113. Em 2014, Bryan Cranston, Aaron Paul e Anna Gunn ganharam<br />
o Primetime Emmy Award por melhor ator, melhor ator e atriz coadjuvantes em serie<br />
dramática. E, se não bastasse, Breaking Bad entrou para o Guinness Book de 2014 como<br />
a melhor série de todos os tempos.
38<br />
INTERNET<br />
Com 47 anos de existência, a internet se mostra cada dia mais<br />
presente na vida cotidiana e com tudo que nos relaciona. Apesar<br />
de ativamente presente em nossas vidas, a internet teve a<br />
sua explosão somente a partir dos anos 90, quando o cientista<br />
Tim Berners-Lee criou a World Wide Web, que propunha<br />
a criação de hipertextos permitiam a conexão da rede para<br />
o mundo todo ter acesso aos mesmos documentos. Logo em<br />
seguida, a empresa americana Netscape criou o protocolo HT-<br />
TPS (HyperText Transfer Protocol Secure) que garantia o envio<br />
de dados criptografados pela WWW; desta maneira, qualquer<br />
pessoa teria acesso à rede (BARROS, 2013).<br />
Nicholas Carr conta em entrevista que antes a função<br />
principal da internet era basicamente composta no sistema da<br />
troca de informações e como fonte de pesquisa. Com o tempo,<br />
a internet foi gradativamente se remodelando e hoje é uma das<br />
principais fontes de troca de mensagens e de relacionamento.<br />
O mais surpreendente [sobre o avanço da internet] foi a transformação de<br />
um meio de informação para um meio de mensagens – particularmente<br />
nos últimos anos, as pessoas tendem a usar a tecnologia para trocar mensagens<br />
pessoais, mais do que para procurar informação. Desde o princípio<br />
que o email foi uma parte importante da Internet, mas a web era mais<br />
usada para a visita de páginas, para encontrar informação e explorar assuntos.<br />
À medida que usamos mais as redes sociais, a internet torna-se<br />
mais num meio para enviar e receber mensagens. Não esperava que o<br />
uso da tecnologia mudasse tão drasticamente (apud HENRIQUES, 2012).<br />
Estamos em contato com a internet em todo o lugar, tanto de<br />
maneira intangível como na rede e nas nuvens, como tangível<br />
por meio de aparelhos como o computador e do smartphone.<br />
No mundo contemporâneo quase sempre precisamos<br />
dela na vida profissional e fazemos questão de tê-la em nosso<br />
tempo pessoal e nos momentos de lazer. A influência de sua<br />
necessidade de atenção e alimentação constante de conteúdo<br />
transforma as funções cerebrais de pensar e a forma como<br />
passamos a lidar e interagir hoje com o mundo a nossa volta<br />
(HENRIQUES, 2012).<br />
Apesar do espaço ilimitado de armazenamento permanente<br />
de informações na web por meio de uploads e downloads,<br />
a internet é um novo meio de comunicação, e uma das características<br />
que mais determina os nossos relacionamentos e a<br />
atual relação interpessoal que temos hoje dá-se pelo intenso<br />
uso de diversos tipos e formatos de redes sociais, que favoreceram<br />
a criação de conteúdo, a forma livre de expressão, o<br />
compartilhamento e a troca de informações e ideias geradas<br />
a partir do ponto de vista individual para o coletivo. Apesar<br />
de muita crítica quanto ao distanciamento das relações próximas<br />
criado pela tecnologia, entende-se também que houve<br />
uma aproximação virtual entre as pessoas, que por meio de<br />
um fácil e rápido contato passaram a se identificar e se reconhecer<br />
como um grupo, contribuindo para o crescimento de<br />
informação e conteúdo desenvolvido a partir de um determinado<br />
assunto (FREITAS, 2014).
TV digital e interatividade<br />
Fundada em 1997 na Califórnia como uma empresa de aluguel<br />
de DVDs online por uma assinatura acessível e mensal, a Netflix<br />
é conhecida hoje por se tornar o maior providor global de<br />
filmes e séries de televisão via streaming 18 com mais de 75 milhões<br />
de assinantes (2016), disponível para ser assistida pela<br />
para televisão (smart tvs, plataformas de video game PlayStation<br />
e Xbox, Apple TV, tecnologia Blue-ray, etc.); nos dispositivos<br />
móveis como smartphones e tablets, e no próprio computador<br />
pelo site oficial da empresa.<br />
O sistema de disponibilidade de títulos recebe o nome<br />
de televisão sob demanda ou tv interativa. Conforme o slogan<br />
da empresa, o assinante tem a liberdade de escolher assistir<br />
quantos programas quiser dentro um grande leque de filmes<br />
e séries e no momento que lhe convir. Este modelo de serviço<br />
desconstruiu completamente a estrutura de grade de horário<br />
e conteúdo que existia nas emissoras de televisão e desconfigurou<br />
a maneira como o público passou a interagir com a<br />
mídia. “Na tv interativa, o espectador deixa de ter uma postura<br />
passiva e torna-se o agente por meio de suas escolhas” (CAN-<br />
NITO, 2010 apud ROCAMORA 2013)<br />
Apesar do reconhecível sucesso que permanece até o<br />
momento, outras empresas de televisão e compartilhamento<br />
de vídeos entenderam esta visão de distribuição de conteúdo<br />
online da Netflix e procuraram acompanhar os passos, inves-<br />
18 Tecnologia de distribuição de dados e fluxo de mídia.<br />
tindo no serviço de streaming online e compartilhamento público<br />
ou privado de conteúdo virtual, como a HBO Go, iTunes,<br />
Youtube, uTorrent, e outros.<br />
Juntamente com incentivo do relacionamento virtual<br />
das redes sociais e a abertura de canais que permitiam a troca<br />
de ideias, os fãs – que sempre existiram – finalmente recebiam<br />
o poder da opinião e da fala, se tornando cada vez mais visíveis<br />
como contribuintes da construção desse segmento cada vez<br />
essencial para a indústria do entretenimento.<br />
Como explicado brevemente sobre a estrutura inicial<br />
de informação da televisão aberta (ver pág. 22), os conteúdos<br />
antes eram desenvolvidos especificamente para cada tipo de<br />
mídia como informações desenvolvidas para a televisão, para<br />
o rádio, para materiais impressos, e outros. Com o desenvolvimento<br />
de novas tecnologias, os conteúdos hoje são pensados<br />
para serem transmitidos em diferentes tipos de mídia, como<br />
computadores, videogames e dispositivos móveis (FEDRIZZI;<br />
MACHADO; WOICIECHOSKI, 2014).<br />
A narrativa transmídia define o conteúdo que se transfere<br />
de uma mídia para a outra, não tratando-se de uma adaptação,<br />
mas de um desdobramento das informações por meio de diferentes<br />
plataformas, ampliando a sua distribuição e repercussão<br />
do conteúdo em grande escala de forma isolada. Todavia,<br />
quando o público consome o conteúdo de diversas mídias, ele<br />
passa a ter uma visão muito mais ampla e rica sobre o aquele<br />
conteúdo. Desta forma, quando a internet possibilita que as<br />
mídias sejam distribuídas em escala global, a consequência<br />
será uma repercussão de mesmo tamanho. A conversão dos<br />
meios de comunicação complementa e expande conteúdos de<br />
todos os tipos (TADEU, 2009).<br />
A série é uma linguagem universal que pode ser falada e<br />
discutida em todo o lugar do mundo e, a partir da internet e a<br />
conectividade cada dia mais ilimitada entre as pessoas, é capaz<br />
de produzir uma participação interativa na criação e distribuição<br />
de conteúdos relacionados entre fãs e interessados,<br />
alimentando cada vez mais a economia afetiva. “A narrativa<br />
transmídia é uma das responsáveis pela criação de um universo<br />
para sustentar múltiplos personagens e múltiplas histórias<br />
e [...] promove a integridade com o seu público. A audiência<br />
não se vê mais no papel de simples espectadora de eventos<br />
sobre os quais não possui qualquer controle” (JENKINS, 2007;<br />
pág. 2 apud ROCAMORA, 2013).<br />
39
40
41<br />
LINGUAGEM CINEMATOGRÁFICA<br />
Por meio da linguagem, o cinema se transformou em um poderoso<br />
meio de comunicação; tanto a fotografia quanto o cinema<br />
utilizam a semiótica da representação mediatizada da imagem<br />
sobre a realidade. Marcel Martin (2007, p.18) relata que:<br />
“[...] o que distingue o cinema de todos os outros meios de expressão<br />
culturais é o poder excepcional que vem do fato de sua linguagem funcionar<br />
a partir da reprodução fotográfica da realidade. [...] Se cinema<br />
é linguagem, é porque opera com a imagem dos objetos, não com os<br />
próprios objetos.”<br />
Em seu livro A Estética do Filme, Jacques Aumont (2007) relata<br />
que o cinema precisava provar que poderia ser considerado<br />
uma forma de expressão artística própria e única, assim como o<br />
teatro e a literatura. A noção de linguagem cinematográfica teve<br />
sua origem dentro deste contexto; o cinema criou uma série de<br />
convenções e passou a adotar uma linguagem específica, estruturada<br />
e concretizada sobre as suas teorias, conceitos e técnicas.<br />
Para a conceitualização sobre a linguagem cinematográfica<br />
deste PGD será focado somente nos aspectos visuais das<br />
técnicas mais relevantes para a análise, como iluminação, cor<br />
e enquadramento.
42<br />
“[...] um homem sensato recordar-se-á que os<br />
olhos podem perturbar-se de duas maneiras e por<br />
duas causas opostas: pela passagem da luz à obscuridade<br />
e pela passagem da obscuridade à luz.”<br />
— Platão<br />
[13] Luz dura (esq.) e luz suave (dir.)<br />
[14] Luz frontal (esquerda), luz direcional (centro) e contraluz (direita).
ILUMINAÇÃO<br />
A evolução da fotografia contribuiu para que a luz deixasse de desempenhar<br />
um papel de caráter puramente físico – de simplesmente<br />
gerar iluminação para a captura de imagem – e passasse<br />
a construir, por meio de técnicas específicas e dramaticamente<br />
poderosas de iluminação, princípios visuais e emocionais fundamentais<br />
para a estética e a narrativa cinematográfica.<br />
43<br />
Fontes de Iluminação<br />
No total temos três tipos de fonte de iluminação: a natural, a<br />
artificial e a ambiente (disponível). O tipo de luz mais comum<br />
é a iluminação natural. A principal delas é chamada de luz solar<br />
– como o próprio nome diz – que é a fonte de luz provida<br />
do sol durante o dia. Durante a noite, a luz do sol é refletida na<br />
lua resultando na luz lunar, fonte de iluminação mais fraca e<br />
suave, porém existente e considerável.<br />
Em seguida temos a iluminação artificial que são providas<br />
de energia elétrica (ou bateria) e são extremamente presentes<br />
em nosso cotidiano, como lanternas, lâmpadas, postes<br />
de luz, faróis, refletores, holofortes, flash, etc.<br />
Por fim, há uma terceira fonte de iluminação chamada<br />
de luz ambiente, ou disponível, que caracteriza-se por qualquer<br />
fonte de iluminação que faz parte do ambiente, seja ela<br />
natural ou artificial; caracteriza-se por ser mais difícil de controlar.<br />
Um poste de luz, por exemplo, é uma luz artificial, mas<br />
que também pode se enquadrar nesta categoria dependendo<br />
da situação. É uma luz de pouco controle uma vez que não<br />
conseguimos simplesmente apagá-lo se estiver atrapalhando.<br />
Dureza da Luz<br />
Quando nos referimos à dureza da luz estamos nos referindo<br />
sobre a intensidade que a luz é refletida em um objeto, e<br />
se ela é dura ou suave. A luz é considerada dura quando está<br />
incidindo diretamente sobre o objeto, causando uma sombra<br />
definida e nítida. A luz solar, em um dia sem nuvens, é um<br />
exemplo de projeção de luz dura. Por outro lado, a luz suave<br />
gera sombras sem contornos nítidos; como o próprio nome<br />
define. Em um dia nublado, o tipo de luz incidida será suave.<br />
A luz dura pode ser notada sendo usada em filmes dramáticos,<br />
de suspense e de terror, uma vez que ela enfatiza o contraste<br />
entre o claro e escuro, dando uma ideia de mistério e causando<br />
um impacto muito mais forte do que a luz suave. Se tratando de<br />
opostos, a luz suave e difusa é ideal para transmitir delicadeza,<br />
fragilidade, calma e tranquilidade (NEMES, 2015) [13].<br />
Direção da Luz<br />
A direção da luz é responsável por produzir as áreas de<br />
luz e de sombras em uma foto, criando forma e textura. A direção<br />
pode ser categorizada em três tipos principais: frontal,<br />
direcionada e contraluz.<br />
A primeira, como o próprio nome diz, é a luz que vem<br />
de frente, e muitas vezes cria-se uma imagem chapada e sem<br />
sombras significativas (pouco volume). A luz direcional (lateral,<br />
superior, etc.) é aplicada em um dos lados da câmera, projetando<br />
sombras e criando profundidade e texturas. Por fim,<br />
para reproduzir o resultado da contraluz, coloca-se o objeto<br />
a ser fotografado entre a fonte de luz e a câmera, realçando<br />
formas e silhuetas (SESTREM, 2015) [14].
44<br />
Evolução da luz no cinema<br />
Logo no início do cinema 21 , não havia uma preocupação sobre<br />
a utilização dramática da iluminação. O fotógrafo controlava a<br />
luz natural – principal forma de iluminação – por meio de cortinas<br />
e operava uma câmera estática. A iluminação artificial<br />
tinha por objetivo obter uma luz plana e difusa, que propiciava<br />
um estilo mais suave de iluminação. Todavia, a luz artificial<br />
era utilizada somente para alcançar fins especificamente decorativos.<br />
Na época era considerado um erro técnico quando<br />
os efeitos da iluminação sobressaíam a fotografia. O cineasta<br />
americano Cecil B. DeMille 22 (1881-1959) conta:<br />
Já tinha muita prática de trabalho no palco, quando, certa vez, quis usar<br />
num filme um determinado efeito de luz que tinha sido já aplicado no<br />
teatro. Na cena em questão, um espião passava às escondidas por baixo<br />
de uma cortina e, para tornar o efeito mais misterioso, decidi iluminar<br />
apenas metade da cara do espião e deixar a outra metade na escuridão.<br />
Observei o resultado na tela e achei-o extraordinariamente bom. Fiquei<br />
tão satisfeito com esse artifício de iluminação que o apliquei mais vezes,<br />
isto é, empreguei focos de luz de um lado ou do outro – um método que<br />
hoje se utiliza à vontade. Depois de ter enviado o filme para a distribuição<br />
recebi um telegrama do gerente que muito me surpreendeu: “Enlouqueceu?<br />
Julga que posso vender o filme pelo preço inteiro quando<br />
mostra apenas a metade de um homem?” (apud MARTINS 2004; p. 15)<br />
Com resistência para a utilização da luz artificial nas filmagens,<br />
foi necessário criar diversos tipos de adaptação para o aproveitamento<br />
das filmagens utilizando excessivamente a luz natural<br />
como fonte iluminaria. Uma dessas adaptações foi o primeiro<br />
estúdio cinematográfico, que pertenceu a Thomas Edison 23<br />
[15]. No estúdio, montava-se o cenário sobre uma plataforma<br />
giratória com uma cobertura aberta que permitia aproveitar ao<br />
máximo a luz solar. Diversos outros estúdios foram criados a<br />
fim de aproveitar a luz natural, porém isso acabou se tornando<br />
uma limitação cinematográfica muito grande uma vez que nenhum<br />
estúdio conseguia aproveitar a luz por mais tempo e ao<br />
mesmo tempo obter controle de luz com precisão.<br />
Gradativamente, os fotógrafos perceberam que podiam<br />
melhorar a qualidade das imagens acrescentando luz artificial<br />
à luz natural. A França foi uma das pioneiras na substituição<br />
da luz natural pela adoção da luz artificial (em 1906), de maneira<br />
que as lâmpadas de mercúrio supriam a ausência do sol,<br />
e a indústria cinematográfica continuasse funcionando independentemente<br />
do clima e das poucas horas disponíveis de luz<br />
solar no dia.<br />
Foi somente a partir de 1914, quando o cinema começava<br />
a ser aceito como uma das principais formas de entretenimento,<br />
que a iluminação começou a ser percebida como um<br />
acessório artístico para a criação de efeito dramático, o que<br />
resultou em um grande estímulo do desenvolvimento artístico<br />
de fotografia. Com mais abertura de expressão, fotógrafo<br />
cinematográfico finalmente veio a ser reconhecido como um<br />
artista, reconhecido na forma do título Diretor de Fotografia.<br />
A partir de então, a câmara passava a ser operada por seu subordinado:<br />
o cinegrafista. Seu trabalho passa a ser essencialmente<br />
o de controlar a iluminação dirigindo a equipe de eletricistas<br />
(MARTINS, 2004).<br />
21 O cinema nasceu no final do século XIX (1895) pelos irmãos franceses Luois e<br />
Auguste Lumière. A fotografia já havia sido inventada por Louis-Jacques Daguerre<br />
e Joseph Nicéphore Niepce, o que possibilitou a criação desta revolucionária arte e<br />
indústria cultural.<br />
22 Cecil B. DeMille foi um dos 36 fundadores da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.<br />
23 Thomas Alva Edison (1847 - 1931) foi um empresário americano que patenteou e<br />
financiou o desenvolvimento de muitos dispositivos importantes de grande interesse<br />
industrial, como a lâmpada elétrica incandescente.<br />
[15] “Black Maria”, o estúdio de Thomas Edison.
Iluminação fotográfica<br />
O valor plástico de uma imagem cinematográfica depende da composição<br />
e da luz para constituir seu poder expressivo. Uma imagem é<br />
composta pelo cenário, pela atuação dos atores, pelos ângulos e movimentos<br />
de câmara. Para avivar a composição da imagem, acrescenta-se<br />
a luz, produzindo-lhe uma atmosfera peculiar e dando-lhe todo um significado.<br />
(MARTINS, 2004; p. 22).<br />
45<br />
Segundo Curotto e Ghomes (2013), uma das traduções literal<br />
de fotografia é “impressão de luz”, e é uma das justificativas<br />
pelo qual a iluminação é a fonte de maior parte do trabalho de<br />
um diretor de fotografia. A luz é o principal agente na construção<br />
da fotografia e é ela quem determina a base do clima e o<br />
envolvimento visual da narrativa.<br />
Como vimos anteriormente, a iluminação deixou de simplesmente<br />
fornecer luz e passou a participar da própria narrativa<br />
do filme, muitas vezes estabelecendo o clímax, elevando<br />
o realismo, e enfatizando as emoções, que podem ser claras,<br />
quietas, sombrias, trágicas, sinistras, melodramáticas, etc.<br />
Luz e Sombra<br />
“O contraste por luz e tom baseia-se nas sucessivas oposições claro-escuro.<br />
O efeito da luz, reproduzindo-se sobre os objetos, cria a noção de volume<br />
– com a presença ou ausência de cor.” (GOMES FILHO, 2004, p.64).<br />
O contraste por meio da iluminação (claro-escuro) cria na fotografia<br />
principalmente a noção de volume e de excelentes efeitos<br />
de profundidade de campo empregada de forma expressiva<br />
ou sutil, criando um foco visual capaz de separar dois planos<br />
ou mais. Os contrastes intensos de luz e sombra contém um<br />
efeito dramatizador e dão vida para uma personagem ou uma<br />
cena sem que esta precise estar completamente iluminada. Os<br />
efeitos criados pela iluminação permitem criar no espectador<br />
um sentimento de angústia pela ameaça representada pelo<br />
desconhecido, além de mistério, intrigante ou obscuro.<br />
Esta técnica também é chamada de chiaronoscuro: Italiano<br />
para luz (chiara) e sombra (scouro), chiaroscuro, ou graduações<br />
de luz e escuridão. Estabelecem a percepção de profundidade<br />
e criam foco visual (MARTINS, 2004). O chiaroscuro<br />
tem origens desde as primeiras artes visuais, sendo aplicada
46<br />
principalmente na pintura. A técnica do contraste dramático<br />
era espessamente usada no movimento artístico Barroco pelo<br />
pintor italiano Caravaggio 24 (1571-1610) no fim do século 16<br />
(GOMES FILHO, 2004). O alto contraste de luz e sombra inserido<br />
em suas obras intensificavam a força dramática e artística,<br />
chegando a elevar a qualidade de detalhes e uma proporcioná-los<br />
uma aparência tridimensional [16]. Para o auxílio da<br />
composição nas pinturas, muitas vezes era utilizado a fonte<br />
de luz vinda de uma simples vela ou de uma pequena fogueira<br />
(CHIAROSCURO…, 2016).<br />
O chiaroscuro também foi uma técnica de iluminação<br />
fundamental para os filmes do movimento expressionista em<br />
filmes clássicos como O Gabinete do Dr. Caligari (1920) [17]<br />
e Nosferatu (1922) e servia principalmente para intensificar<br />
os momentos e os sentimentos no filme. Muitas vezes no expressionismo<br />
alemão, a luz era utilizada como metáfora para<br />
a personalidade interior de alguns personagens, como uma<br />
iluminação mais suave quando suas intenções boas ou com<br />
uma luz tão dura que criava uma sombra atrás do personagem,<br />
expressando as suas intenções maléficas. Neste movimento 25 ,<br />
a luz servia como um refletidor de tensões, medos e inseguranças<br />
das civilizações europeias do período pós-guerra no<br />
qual o movimento estava inserido, indo muito além do simples<br />
caráter estético do filme (NJUGUNA, 2013).<br />
Em 1975, O diretor Stanley Kubrick 26 (1928-1999), junto<br />
com o auxílio da tecnologia espacial da NASA, levou para o<br />
filme Barry Lyndon uma lente fotográfica muito avançada<br />
para a época, que permitia a abertura do diafragma em até<br />
f/0.7. Com uma abertura tão ampla, a lente possibilitava que<br />
a câmera captasse a sensibilidade de luz com maior facilidade,<br />
permitindo que Kubrick gravasse todas as cenas do filme com<br />
luz natural, sem nenhum recurso de luz artificial. O efeito da<br />
iluminação exclusiva pela luz de velas durante as cenas noturas<br />
criou um interessante efeito de contraste de característica<br />
intensa e dramática [18], e se tornou uma das cenas de maior<br />
triunfo cinematográfico para o filme (MACAULAY, 2015).<br />
24 Caravaggio foi um pintor italiano normalmente identificado como um artista barroco,<br />
estilo do qual foi o primeiro grande representante.<br />
25 A iluminação chiaroscuro do expressionismo alemão serviu como influenciador para<br />
o cinema francês noir entre as décadas de 40 e 50.<br />
26 Alguns dos filmes mais conhecidos dirigidos por Kubrick além de Barry Lyndon são:<br />
2001: Uma Odisséia no Espaço (1968), Laranja Mecânica (1971) e O Iluminado (1980).<br />
[16] Obra San Gerolamo de Caravaggio (1606).<br />
[17] O Gabinete do Dr. Caligari (1920).<br />
[18] Cena do filme Barry Lydon (1975)<br />
iluminada somente por ve.
[19] Diretor Glauber Rocha, líder do movimento Cinema Novo.<br />
No início do cinema nacional, também conhecido como o<br />
período que antecede o Cinema Novo, os filmes brasileiros ainda<br />
procuravam importar as técnicas cinematográficas hollywoodianas<br />
e europeias, mas a falta de recursos inviabilizava a ascensão<br />
da sétima arte no Brasil. Com origem na metade dos anos 50, o<br />
Cinema Novo foi comandado pelo princípio da frase “uma câmera<br />
na mão e uma ideia na cabeça” com a proposta de deixar os<br />
obstáculos técnicos em segundo plano e realizar, a partir dos recursos<br />
disponíveis, um cinema com apelo popular para a formação<br />
de uma consciência da realidade nacional, inspirada nos traços<br />
da própria cultura (SOUSA, 2016). Esta nova proposta surge<br />
com a necessidade de utilizar a “luz nacional” para compor a característica<br />
estética dos filmes brasileiros, passando a ser chama<br />
da de Luz Tropical [19]. Este recurso natural e disponível foi utilizado<br />
principalmente em filmes que retratavam a vida nordestina,<br />
como a adaptação da literatura clássica brasileira de Graciliano<br />
Ramos Vidas Secas (1963): a dureza da intensidade da luz tropical<br />
expressava um alto contraste nas películas preto e branco<br />
do filme de maneira que intensificava o drama presente naquela<br />
realidade [20]. Esta nova ideologia cinematográfica permitiu<br />
o estabelecimento de uma nova linguagem no cinema nacional,<br />
que passou a retratar de maneira acessível e ao mesmo tempo<br />
coerente a realidade do nordeste brasileiro (SANTOS, 2001).<br />
Em conclusão, as inovações da iluminação integram a narrativa<br />
do filme, mas raramente são destacadas. Quando bem aplicadas,<br />
elas podem passar desapercebidas; quando mal aplicadas,<br />
podem destruir uma produção. Cabe ao diretor de fotografia utilizar<br />
os movimentos de câmera, composição e iluminação das<br />
cenas de maneira que ressaltem e contribuam visualmente para<br />
a narrativa do filme (CUROTTO JUNIOR; GHOMES, 2013).<br />
[20] Vidas Secas (1963).<br />
47
48<br />
[21] Cores quentes [22] Cores frias<br />
[23] Relatividade de temperatura cromática<br />
[24] Comprimento de onda<br />
[25] Saturação (cima) e luminosidade (baixo) .
49<br />
“Todas as cores concordam no escuro”<br />
– Francis Bacon<br />
COR<br />
As cores são, basicamente, ondas eletromagnéticas de diferentes<br />
intensidades e comprimentos (entre 400 e 700 nanômetros)<br />
variados que se pronunciam com a interferência da luz visível<br />
19 e são percebidas pelos receptores de partícula no olho<br />
humano (CSILLAG, 2015).<br />
As cores primárias são aquelas que não resulta de nenhuma<br />
mistura de outras cores, e podem ser categorizadas em aditivas<br />
e subtrativas. Cores aditivas têm como síntese aditiva a<br />
luz branca (cor-luz), que estimulam os receptores de nossos<br />
olhos e são a base cromática para a imagem digital: vermelho,<br />
verde e azul; comumente denominadas RGB (red, green e blue,<br />
em inglês). A adição destas três cores-luz resulta no branco; já<br />
as subtrativas são cores que derivam da subtração e absorção<br />
da luz, como tintas e pigmentos (cor-pigmento): ciano, magenta<br />
e amarelo. Quando todas as subtrativas são sobrepostas<br />
resulta-se no preto. Este último sistema denomina-se CMYK<br />
(cyan, yellow e black, em inglês) (FRASER, 2007).<br />
As cores secundárias são obtidas pela combinação de<br />
qualquer duas cores primárias na mesma proporção, como a<br />
adição do verde no vermelho resulta no amarelo (aditivo), e a<br />
combinação de amarelo e azul resulta em verde (subtrativo).<br />
Por fim, a combinação de uma cor secundária com uma cor<br />
primária resulta em uma cor terciária.<br />
A partir deste entendimento, podemos ir mais a fundo<br />
com relação aos termos com relação as dimensões da cor.<br />
Danger (1973) relata que as cores podem ser grosseiramente<br />
19 A luz é uma forma de radiação eletromagnética que propaga energia pelos raios<br />
gama, X, ultravioleta, infravermelhos (calor) e ondas de rádio. A luz visível é denominada<br />
por uma pequena parcela destas ondas (entre 400 e 700 nanômetros).<br />
divididas em cores quentes e cores frias, sendo as quentes: vermelho,<br />
alaranjado e amarelo e suas variações [21], e as frias:<br />
verde, azul e violeta e suas variações [22]. As cores quentes<br />
geralmente são classificadas como cores impulsivas, enquanto<br />
as frias são retardantes. Entretanto, Csillag (2015) defende<br />
em seu livro Comunicação com cores que a comunicação de<br />
espacialidade por quente-frio é relativo, uma vez que a percepção<br />
de cor é definido pela cor em sua adjacência. Segundo<br />
a autora, a cor magenta pode ser considerada uma cor quente<br />
com relação ao ciano; porém, quando colocada em relação ao<br />
vermelho, essa se comporta como uma cor fria [23].<br />
Chamamos de Matiz o termo que se refere a característica<br />
única que distingue uma cor da outra, como vermelho e<br />
violeta. As matizes, ou cores, são formadas pelas diferentes<br />
frequência e comprimentos de onda no espectro visível, sendo<br />
vermelho a onda de maior comprimento (700 nm) e menor<br />
frequência e a violeta de menor comprimento (400 nm) e<br />
maior frequência [24].<br />
A saturação faz referência à pureza da cor com relação<br />
ao brilho tonal, resultando em sua vivacidade ou esmaecimento.<br />
Veremos mais intensidade da cor quanto mais saturada<br />
ela for, assim como veremos menos intensidade (cinza, cor<br />
acromática) se seu grau de saturação for baixo ou inexistente<br />
(insaturado). Os matizes puros são completamente saturados.<br />
Por fim, a luminosidade ou brilho (em oposição à escuridão)<br />
define se a cor é clara ou escura. Se misturarmos um<br />
matiz puro, como o vermelho, com preto, o resultado será<br />
uma tonalidade [25].
50<br />
Círculos cromáticos<br />
Diversos artistas e teóricos procuraram ao longo dos séculos,<br />
representar diferentes abordagens sobre a cor e a sua estrutura<br />
organizacional. Diante de tantas experimentações, teorias,<br />
e modelos, não há um círculo cromático melhor ou pior, certo<br />
ou errado. Queiroz (2015) explica que “a estrutura organizacional<br />
dos círculos cromáticos é baseada na ordenação das cores<br />
encontradas no arco-íris”.<br />
Porém, um fato interessante é que, além do sistema RGB<br />
(aditivo) e CMYK (subtrativo), foi construído também um outro<br />
círculo cromático denominado RYB, que compõe o vermelho,<br />
amarelo e o azul como matizes primários, e a combinação<br />
destas gerando o preto. Esta estrutura também chamado<br />
de círculo de pigmentos. Estas três matizes primárias foram<br />
defendidas – diferenciando-se em algumas variantes – como<br />
estrutura organizacional da cor por diversos artistas e teóricos,<br />
tais como Moses Harris (1731-1785) [26], Johanes Itten (1889–<br />
1967) [27], e Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) [28].<br />
O sistema RYB contém suas limitações e deve usado principalmente<br />
em artes plásticas e na fabricação de tintas que não<br />
exijam pigmentos “puros”. Este sistema necessita da combinação<br />
da cor branca e preto de modo a aproximar-se de outra cor<br />
não existente no círculo, como o ciano e o magenta. Apesar disso,<br />
esta estrutura representa a ideia visual de que as principais<br />
características das cores são a simetria e a complementaridade,<br />
de maneira que as cores complementares estão localizadas<br />
em posições opostas no círculo (AURAÚJO, 2013). Falarei mais<br />
sobre cores complementares e harmonias cromáticas a seguir.<br />
Harmonia das cores<br />
O objetivo principal de criar uma harmonização de cores<br />
é, através do círculo cromático, localizar e indicar matizes<br />
que juntas criam uma comunicação visual efetiva através dos<br />
esquemas monocromático, análogo, triádico e complementar.<br />
As imagens ao lado [29] são capazes de transmitir com<br />
simplicidade a origem de cada harmonia baseado no modelo<br />
RYB. O esquema monocromático representa tonalidades de<br />
uma única cor de saturação e iluminação variáveis.<br />
A análoga é a harmonia criada entre duas ou mais cores<br />
vizinhas no círculo cromático. Depois temos o esquema triádica,<br />
composta por três cores espaçadas uniformemente no círculo. E<br />
por último, temos a harmonia complementar comentada anteriormente,<br />
que se trata da união entre duas cores em lados opostos<br />
no círculo (FRASER, 2007). As cores complementares, quando<br />
colocadas juntas, têm o poder de criar uma vibração visual.<br />
[26] Harris [27] Itten [28] Goethe
A psicologia da cor<br />
51<br />
Cada olhar envolve uma observação, cada observação uma reflexão,<br />
cada reflexão uma síntese: ao olharmos atentamente para o mundo já<br />
estamos teorizando. Devemos, porém, teorizar e proceder com consciência,<br />
autoconhecimento, liberdade e – se for preciso usar uma palavra<br />
audaciosa – com ironia: tal destreza é indispensável para que a<br />
abstração, que receiamos, não seja prejudicial, e o resultado empírico,<br />
que desejamos, nos seja útil e vital. (Goethe)<br />
Um dos primeiros elementos que percebemos quando notamos<br />
algo pela primeira vez é a cor. A Teoria das Cores foi publicada<br />
em 1810, por Wolfgang Goethe. Diferentemente do físico<br />
Isaac Newton (1643-1747) que na época acreditava que as cores<br />
eram somente um fenômeno puramente físico de interferência<br />
da luz, Goethe defendeu a ideia de que as sensações transmitidas<br />
pelas cores são moldadas pela nossa percepção e como<br />
o nosso cérebro processa as informações 20 (ARAÚJO, 2013).<br />
Em seu círculo cromático, Goethe separa as cores<br />
em lados positivos e negativos (onde alguns indicam como<br />
quentes e frias) e indica efeitos e as impressões causadas por<br />
cada cor: as cores do lado positivo transmitem excitação e<br />
alegria, uma impressão calorosa e confortável. O amarelo,<br />
por exemplo, está associado à luz, brilho, força, calor e proximidade.<br />
Já as cores negativas abalam os humores, estimulam<br />
a fraqueza e a saudade. Para Goethe, o azul traz um sentimento<br />
de frieza, privação, sombra, escuridão e distância<br />
(QUEIROZ, 2015).<br />
Em suma, Goethe acreditava que os estímulos incidentes<br />
devem ser em primeiro lugar analisados e, então, separados<br />
e decompostos de acordo com o modo como observamos o<br />
mundo. Então, inicia-se o processo de síntese, através da qual<br />
extraímos informações, características e significados.<br />
Desta maneira, o contexto em que a cor se encontra pode<br />
ser colocada de maneira a ser relacionado com a semiótica<br />
visual no processo de criação de significados pelas cores.<br />
Porém, existe uma variante cultural que é determinada<br />
por determinação demográfica, geográfica, psicológica, tendências,<br />
relacionamentos, etc., que variam de indivíduo para<br />
indivíduo no momento de interpretação de significado da cor.<br />
Como as autoras Stamato, Staffa e von Zeidler (2013) exemplificam,<br />
“o vermelho que para nós ocidentais representa o amor,<br />
para os orientais representa poder. O luto é representado por<br />
nós pela cor preta, já para eles o branco que o indica, simbolizando<br />
também aspectos espirituais da alma. Por isso, a análise<br />
das cores deve ocorrer de modo específico, levando em<br />
consideração os seus receptores.” Em outras palavras, as cores<br />
imprimes significado, mas cabe ao receptor interpretá-los.<br />
20 O Alemão Itten também não se limitou a examinar a cor como um elemento puramente<br />
físico e, seguindo o pensamento de Goethe, acreditava que as cores poderiam ter<br />
efeitos psicológicos e espirituais nos indivíduos.<br />
[29] análoga (esq.), trádica (centro) e complementar (dir.)
52<br />
A cor no audiovisual<br />
Vimos que a cor oferece infinitas possibilidades de ser trabalhada<br />
como elemento criativo. Ela é a mais imediata comunicação<br />
visual e pode ser usada para representar ideias, pensamentos,<br />
e emoções de forma única.<br />
Não demorou muito para os cineastas descobrirem que<br />
a cor era um componente visual essencial para a narrativa.<br />
Apesar de na época ainda não ser possível a filmagem de cor<br />
diretamente pela película, os diretores utilizavam todos e os<br />
mais diversos recursos que tinham para colorir o filme. O primeiro<br />
filme colorido foi feito por Georges Méliès no final do<br />
século XIX. Le manoir du diable utilizou centenas de milhares<br />
de quadros pintados por operários à mão, um processo muito<br />
trabalhoso, principalmente conforme os filmes foram ficando<br />
maiores [31]. Porém, o resultado foi tão bem aceito pelo<br />
público que esta técnica continuou em uso até os anos 1930<br />
(STAMATO, STAFFA, VON ZEIDLER, 2013).<br />
Desde então já haviam indícios com relação à subjetividade<br />
da cor: películas azul eram usadas para indicar a noite<br />
(nossos olhos detectam comprimentos de ondas azuis em<br />
pouca luz), enquanto películas laranja eram usadas para a<br />
mesma função de representar a noite de filmes de Faroeste,<br />
fazendo referência à quente luz da noite daquela região (FRA-<br />
SER, 2007). No filme Intolerância (1916), o diretor D.W. Griffith<br />
(1875-1948) utilizou diferentes tons de cores para diversificar<br />
as diferenças entre lugar e tempo no filme [32]. A direção de<br />
arte pode utilizar a cor para mostrar histórias em diferentes<br />
perspectivas, assim como para também diferenciar múltiplas<br />
histórias ou ditar diferentes atmosferas de uma única história<br />
em particular (BOND, 2015).<br />
Aos poucos os inventos para adicionar de alguma maneira<br />
cor nos filmes foram sendo criados, até que em 1932 foi desenvolvido<br />
para a câmera Technicolor (com origem nos anos 20)<br />
que continha três películas de cores primárias, dando maior<br />
realismo aos filmes. O primeiro filme a utilizar este recurso foi<br />
Vaidade e Beleza de Rouben Mamoulian, em 1935. Os estúdios<br />
logo descobriram que a cor atraía mais público, resultando em<br />
um incentivo do uso da cor no processo cinematográfico de<br />
maneira artística e simbólica. A correção da cor se tornou uma<br />
tarefa muito importante e relevante na pós-produção de um<br />
filme. Progressivamente, as cores – juntamente com a iluminação<br />
– passaram a cumprir um papel fundamental na expressão<br />
[30] Análise feita pela designer Roxy Radulescu<br />
Fonte <br />
metafórica de transmissão de mensagens críticas e psicológicas,<br />
comunicadas de maneira não verbal.<br />
Seres humanos sempre terão uma reação psicológica<br />
para determinadas cores; logo, certas cores serão usadas em<br />
determinados momentos. Vermelho é, teoricamente, a cor<br />
pelo qual temos a reação mais forte, mas enquanto pode ser<br />
usada como uma imagem de violência e crueldade, outros<br />
usos do vermelho podem servir para demonstrar paixão e<br />
amor. O mesmo com verde: um vasto campo verde nos traz<br />
esperança e fertilidade, assim como locais verdes também podem<br />
mostrar um lugar vazio e sem vida. Não há regras explícitas<br />
para o uso correto da cor; precisamos apenas entender a<br />
ideia central e o seu efeito cognitivo (BOND, 2015).<br />
Alguns filmes são grandes exemplo por utilizarem a cor<br />
como meio primordial de comunicação simbólicas. O Fabuloso<br />
Destino de Amelie Poulain (2001) traz o vermelho, o verde<br />
e o amarelo como paleta cromática principal do filme. Além
da intenção do diretor francês Jean Pierre Jeunet de utilizar as<br />
cores com a intenção de transmitir uma sensação visual positiva<br />
e agradável, o filme também é capaz de despertar uma<br />
sensação poética e melancólica por meio das cores. No filme,<br />
o vermelho, faz referência à força, energia, intensidade e o<br />
amor. Interessantemente, algumas pessoas apontem o vermelho<br />
do filme como sensibilidade e ingenuidade de Amelie. A<br />
cor verde muitas vezes representa proteção, segurança, calma;<br />
já o amarelo é comum representar calor, luz, otimismo<br />
e alegria. Muito além, as cores modelam e projetam todo o<br />
universo e a personalidade insegurança porém imaginativa da<br />
personagem (GOMES, 2015) [33].<br />
Kill Bill (2003) de Quentin Tarantino é uma excelente referência<br />
visual que se destaca pela utilização constante e consistente<br />
da cor amarela, seja pelo figurino, por diversos objetos,<br />
pelo cenário ou pela própria iluminação e filtro cromático.<br />
Diferentemente da paleta cromática de Amelie, o amarelo em<br />
Kill Bill simboliza integralmente o sentimento de morte e vingança<br />
– para os orientais. Ela também está associada ao ciúme,<br />
egoísmo, esperança, expectativa e ao ódio. O vermelho, também<br />
presente no filme, remete à morte (STAMATO, STAFFA,<br />
VON ZEIDLER, 2013) [34].<br />
Ao questionar o propósito da cor na narrativa audiovisual,<br />
indo além de somente ditar a atmosfera referente à cena<br />
em particular, o cineasta Lewis Bond (2015) explica que em<br />
questões de storytelling, a cor pode ser resumida em duas questões<br />
principais: associação e transição. O inglês explica que<br />
quando uma matiz é utilizada no filme com um caráter primário,<br />
se repetindo consistentemente por diversas vezes ao<br />
longo da história, ela está sendo usada como uma referência<br />
de associação para um elemento ou uma ideia. Todavia, não<br />
significa que todas as cores possuem uma mesma associação.<br />
A constante apresentação da cor vermelha em Precisamos<br />
falar sobre Kevin (2011) é utilizada no filme como uma substituição<br />
simbólica de uma violência explícita, servindo como<br />
um lembrete para a audiência de que a violência é um evento<br />
que ocorre em toda a história e que, neste caso, vermelho está<br />
associado ao sangue [35]. Logo, se uma matiz que antes estava<br />
associada a um elemento de repente muda, esta cor demonstra<br />
uma mudança em algo, uma transição. Muitas vezes a associação<br />
e a transição é feita pela cor da roupa do personagem<br />
por estar sempre em contato com ele, mas também é feita por<br />
ambientes e objetos, e pode representar até mesmo a transição<br />
de estado mental do personagem.<br />
Em conclusão, foi entendido que a atribuição de significado<br />
pelas cores no audiovisual trata-se de uma leitura que<br />
deve ser feita de maneira independente e não generalizada,<br />
onde uma mesma cor usada em dois filmes pode carregar<br />
metáforas e significados completamente opostos. Cabe ao receptor<br />
da mensagem observar e analisar a cor de determinada<br />
produção audiovisual de maneira íntegra e particular. As cores<br />
têm o poder de criar significado e elas são sempre colocadas<br />
em filme ou um material com um propósito, na maioria<br />
das vezes tento a importante função de criar uma associação<br />
e/ou um efeito transicional (CSILLAG, 2015), (GOMES, 2015),<br />
(STAMATO, STAFFA, VON ZEIDLER, 2013).<br />
53<br />
[35] Precisamos falar sobre Kevin<br />
[31] Le manoir du diable<br />
[32] Intolerância<br />
[33] Kill Bill<br />
[34] O Fabuloso Destino de Amelie Poulain
54<br />
[38] Câmera ponto-de-vista<br />
[41] Ângulo contra-plongée<br />
[44] ângulo de nuca<br />
[37] Câmera subjetiva<br />
[40] Ângulo Plongée<br />
[43] Ângulo lateral<br />
[36] Câmera bjetiva<br />
[39] Ângulo normal e frontal<br />
[42] Ângulo ¾
“O cinema é a mais poderosa máquina de contar<br />
mentiras que a humanidade já criou”<br />
– Humberto ECO<br />
55<br />
ENQUADRAMENTO E EDIÇÃO<br />
Antes de aprofundar nas diferentes categorias de câmera e<br />
ângulos, é necessário antes fazer a definição dos seguintes<br />
termos: cena, plano e sequência. De origem teatral, cena diz<br />
questão ao cenário em que ação ocorre. O plano refere-se à<br />
uma visão contínua filmada por uma câmera sem nenhum<br />
curte ou interrupção. E, por fim, a sequência é uma série de<br />
cenas ou planos. Em uma sequência pode haver corte e interrupções,<br />
mudança de cenário, câmera, ângulo, etc.<br />
Câmeras e ângulos<br />
Há três categorias principais de câmera: objetiva, subjetiva e<br />
a ponto de vista. A câmera objetiva retrata a ação de maneira<br />
impessoal [36]. Trata-se de um ponto de vista externo, equivalente<br />
a uma “terceira pessoa”, comportando-se como um<br />
observador oculto. Neste tipo de câmera não deve haver olhar<br />
direto para a lente.<br />
Em seguida tempos a câmera subjetiva [37] que, como o<br />
próprio nome diz, a câmera se comporta de maneira subjetiva;<br />
ou seja, como se o espectador estivesse inserido no filme<br />
e fosse um participante ativo. Ao contrário da câmera objetiva,<br />
a subjetiva filma em um ponto de vista pessoal, relatando uma<br />
experiência própria do público. Este tipo de câmera permite<br />
ao ator olhar diretamente para a lente, envolvendo desta maneira<br />
o espectador no filme e assumindo-se como um personagem<br />
e observar o mundo com seus olhos.<br />
Por últimos temos a câmera ponto-de-vista [38]. Pelo<br />
nome já nos evidencia: a câmera grava a cena com a perspectiva<br />
do personagem ou de um objeto em particular. Como<br />
Mascelli (2010, p. 29) conta em seu livro Os Cinco Cs da Cinematografia,<br />
“um plano ponto de vista é o plano mais próximo<br />
que um plano objetivo pode chegar de um plano subjetivo – e<br />
ainda continuar sendo objeto.”<br />
Com relação a altura dos ângulos de câmera, são três posições<br />
fundamentais: ângulo normal [39] a câmera encontra-<br />
-se no nível dos olhos do personagem; plongée [40] (do francês<br />
que significa “mergulho”) a câmera encontra-se acima do nível<br />
dos olhos, voltada para baixo, também chamada de “câmera<br />
alta”; e contra-plongée [41] (do francês que significa “contra-<br />
-mergulho”) a câmera está abaixo do nível dos olhos, voltada<br />
para cima, também chamada de “câmera baixa”.<br />
Sobre os lado dos ângulos de câmera, são quatro posições<br />
fundamentais: frontal [39] a câmera está em linha reta<br />
com o nariz da pessoa filmada; o ângulo ¾ [42] a câmera<br />
forma um ângulo de aproximadamente 45 graus com o nariz<br />
da pessoa filmada; lateral [43] a câmera forma um ângulo de<br />
aproximadamente 90 graus com o nariz da pessoa filmada;<br />
e de nuca [44] a câmera está em linha reta com a nuca da<br />
pessoa filmada.
56<br />
[45] Grande Plano Geral (GPG).<br />
[46] Plano Geral (PG).<br />
[47] Plano Médio (PM).<br />
[48] Plano Americano (PA).<br />
[49] Meio Primeiro Plano (MPP).<br />
[50] Primeiríssimo Plano (PP).<br />
[51] Plano Fechado (PF).<br />
[52] Plano Detalhe (PD).<br />
A seguir temos a definição de alguns dos mais diversos<br />
e mais importantes de enquadramento e ângulos de câmera.<br />
Eles se dividem em três grupos: planos gerais, planos médios<br />
e primeiros planos. Nos planos gerais nomeia-se o Grande<br />
Plano Geral (GPG) [45] tem como principal função descrever<br />
o cenário e contextualizar a região geográfica por meio de um<br />
grande plano geral totalmente aberto; e o Plano Geral (PG)<br />
[46], que tem grande valor descritivo, integrando o espaço<br />
com o personagem em um ângulo visual bem aberto.<br />
Dos planos médios temos o Plano Médio (PM) [47] que<br />
consiste em um plano de posicionamento e movimentação em<br />
que a câmera está a uma distância média (intermediário entre<br />
um Plano Geral e um primeiro plano) do objeto e quando a figura<br />
humana pode ser encaixada por inteiro; e o Plano Americano<br />
(PA) [48], em que a figura é colocada dos joelhos para cima.<br />
Para os primeiros planos categoriza-se: o Meio Primeiro<br />
Plano (MPP) [49] onde a figura humana é encaixada no plano<br />
da cintura para cima; Primeiríssimo Plano (PPP) [50] onde a<br />
figura humana é enquadrada dos ombros para cima; o Plano<br />
Fechado (PF) [51] enquadra o rosto do personagem, é utilizado<br />
para transmitir intimidade e expressão; e por fim o Plano<br />
Detalhe (PD) [52] destaca-se pelo grande impacto expressivo e<br />
em algumas vezes descritivo que se dá pela ampliação do enquadramento<br />
de um rosto, corpo ou objeto (CABELLO, 2015),<br />
(MASCELLI, 2010) e (PRIMEIRO FILME, 2015).<br />
Edição e continuidade<br />
Um filme (ou projeto audiovisual) deve apresentar uma continuidade<br />
de imagens visuais de maneira suave e lógica, desenvolvendo<br />
assim uma narrativa coerente e eficiente. O caráter<br />
contínuo do filme, ou sua continuidade, tem papel fundamental<br />
e decisivo para a produção.<br />
Segundo Mascelli (2010), “o filme é um registro de acontecimentos”.<br />
Este registro é baseado em planos, que podem seguir<br />
uma linha cronológica linear (normal) com começo, desenvolvimento<br />
e fim, ou pode criar seu próprio tempo e espaço de maneira<br />
que melhor contribua para o entendimento e a atração<br />
do espectador para a narrativa. Caso deseje que o filme assuma<br />
uma linha cronológica não-linear, deve-se fazer o uso de duas<br />
técnicas de continuação: flashback e flashforward. O flashback<br />
(retrospectiva, em inglês) apresenta um fato ocorrido antes<br />
da história presente começa, contando uma história passada<br />
ou explicando algum acontecimento na história presente que<br />
não havia sido revelada antes. Já o flashforward (projeção futura,<br />
em inglês) tem sentido oposto: as cenas avançam para o futuro<br />
com a finalidade de descrever eventos e fatos que vão, poderão<br />
ou poderiam acontecer. Estas duas técnicas explicadas acima<br />
devem ser usadas com cautela e precisão para não atrapalhar o<br />
rumo narrativo. Porém, quando empregadas corretamente, são<br />
capazes de criar um grande impacto positivo no filme.
57<br />
[53] Um famoso exemplo de match cut do filme 2001: Uma Odisséia no Espaço (1968), de Stanley Kubrick<br />
Outra técnica utilizada para o senso de continuidade que<br />
provoca grande impacto de efeito é o match cut, que estabelece<br />
relação e conexão entre cortes de cenas espacialmente e temporalmente<br />
diferentes, mas que combinam-se tanto no visual<br />
quanto no sonoro, podendo trazer um sentido metafórico ou<br />
simbólico para a sequência (DUCKWORTH, 2008) [53].<br />
Passagem de tempo<br />
Diversas técnicas de filmagem e edição são utilizadas para controlar<br />
a passagem do tempo no cinema e no audiovisual. Nesta<br />
contextualização, irei definir algumas relevantes para a análise,<br />
que são: vídeo acelerado, câmera lenda, timlapse e jump cuts.<br />
Tanto o vídeo acelerado quanto a câmera lenta modificam<br />
o tempo do material filmado de maneira uniforme, de<br />
modo a parecer mais rápido do que a velocidade de tempo real<br />
(vídeo acelerado), ou mais lento do que a velocidade de tempo<br />
real (câmera lenta). Para ambos os casos não há uma velocidade<br />
definida que deva ser utilizada, cabendo ao editor decidir<br />
qual velocidade melhor se aplica (BROOKLYN COLLEGE, 2015).<br />
A timelapse é um recurso fotográfico de passagem extremamente<br />
acelerada de tempo por meio de fotografias sequenciais<br />
com um intervalo unitário entre si. Este intervalo pode<br />
variar de segundos, minutos, horas e até mesmo dias. Quando<br />
colocados na sequência de 24 planos por segundo, as fotos timelapse<br />
são capazes de reproduzir uma passagem de tempo<br />
muito mais acelerada do que o recurso de aceleração de vídeo.<br />
Vale adicionar que, dependendo da quantidade de fotos tiradas<br />
em um intervalo de tempo, a timelapse pode conter uma<br />
reprodução bastante similar a de aceleração de vídeo, porém<br />
com um efeito muito mais acelerado.<br />
Por fim, os jump cuts, que se trata da junção de dois planos<br />
em tempos descontínuos dentro de uma ação contínua.<br />
Como resultado, a sequência apresenta um mesmo personagem/objeto<br />
em dois ou mais planos mas variações sutis, criando<br />
um efeito de avanço de tempo por meio de saltos na sequência<br />
(HOOPER, 2015).
58
59<br />
EXPERIÊNCIAS ANTERIORES<br />
Entre 2012 e 2014, tive a oportunidade de aprender e estudar<br />
mais sobre o universo cinematográfico por meio de disciplinas<br />
acadêmicas que cursei entre estes anos. Além de realizar<br />
projetos que se relacionam diretamente com o tema deste<br />
trabalho, eles podem ser considerados conhecimento base<br />
e ponto de partida para o desenvolvimento do interesse pela<br />
escolha de pesquisa e experimentação deste projeto de conclusão<br />
de curso.
60<br />
Estúdio da universidade – gravação de áudio/voz, 13 out 2014.
61<br />
Ilustração retirada do livro Eric,<br />
desenhada por Shaun Tan.<br />
VÍDEO<br />
vimeo.com/111187541<br />
MAKING OF<br />
vimeo.com/146519879<br />
ERIC<br />
Em 2014, tive a oportunidade de viajar e fazer intercâmbio<br />
na Austrália pelo Ciência sem Fronteiras, onde estudei Design<br />
Communication na Monash University. Ainda indecisa quanto à<br />
minha área de maior interesse dentro da comunicação visual,<br />
experimentei aulas que iam desde artes plásticas, como fotografia<br />
conceitual e escultura em vidro, até marketing e gestão<br />
de marcas. Até que no último semestre decidi cursar a disciplina<br />
Digital Audio Video. Esta aula foi considerada um marco<br />
na minha formação acadêmica, pois ela foi capaz de ensinar,<br />
instigar e estimular todo o meu interesse e curiosidade pelo<br />
universo audiovisual e cinematográfico por meio de exercícios<br />
e experimentações, e com a realização final de um projeto individual<br />
de curta metragem de tema livre.<br />
O tema livre inicialmente é capaz de proporcionar uma<br />
complexidade muito grande, uma vez em que não há limites<br />
e qualquer possibilidade de criação é válida. Optei fazer<br />
uma adaptação de um conto do autor e ilustrador Australiano<br />
Shaun Tan, que é conhecido por desenvolver literatura infanto<br />
juvenil. Suas histórias possuem um cunho de realidade<br />
mágica de simples reflexões e sentimentos, que compõem<br />
um estilo narrativo único e de sensibilidade marcante. O autor<br />
utiliza suas próprias ilustrações como uma parte essencial<br />
para a interpretação da obra, de modo a narrar visualmente<br />
ao invés de palavras. A Coisa Perdida (The Lost Thing)<br />
é uma de suas obras mais conhecidas, e se tornou um curta<br />
metragem em forma de animação em 2010. Dos contos de<br />
Shaun Tan, Eric foi a história escolhida para a adaptação audiovisual<br />
do projeto.<br />
Shaun Tan relata 27 que o conto Eric se trata essencialmente<br />
de um tipo de ansiedade que pode vir a surgir ao se<br />
receber um hóspede em casa, além das possíveis falhas de comunicação<br />
e interpretação por questão cultural. Na estória, o<br />
autor transforma Eric em um estudante de intercâmbio muito<br />
quieto e tímido, de tamanho similar a uma castanha e com<br />
a aparência de monstrinho um tanto amigável, que dorme<br />
no armário de despensa da cozinha da família que o hospeda.<br />
Apesar de todo o esforço desta de agradá-lo e acolhê-lo em<br />
sua nova cultura, Eric prefere dedicar seu tempo estudando e<br />
colecionando pequenos objetos inúteis e descartáveis. Para a<br />
realização do curta metragem para o projeto acadêmico, foram<br />
retirados algumas características fantasiosas do enredo:<br />
em vez de um pequeno monstrinho morando no armário da<br />
despensa, Eric foi modificado para um estudante comum que<br />
morou no quarto de hóspedes da família. As alterações no roteiro<br />
original foram mínimas, apenas o suficiente para que tal<br />
mudança fosse alterada.<br />
27 Fonte:
62<br />
Adaptação de Eric para o curta,<br />
representado por Otávio Neto.<br />
Referências de Breaking Bad<br />
Por acaso, eu comecei a assistir Breaking Bad pela primeira<br />
vez aproximadamente no mesmo período de iniciação das filmagens<br />
e produção do projeto. Em conjunto com as aulas de<br />
audiovisual e com o desenvolvimento inicial do curta, minha<br />
atenção estava bastante voltada à direção de arte e fotografia<br />
de qualquer filme em geral. Logo, eu não somente assisti<br />
Breaking Bad com uma visão de simples telespectadora, mas<br />
já com uma visão mais visualmente analítica. Apesar da linguagem<br />
que Shaun Tan utiliza no conto ser infanto juvenil, a<br />
estória possui um aspecto misterioso, de maneira que e eu<br />
queria trazer esta característica para a adaptação. Por este motivo,<br />
as observações principais feitas deram ênfase nos enquadramentos<br />
e a iluminação da série e estas serviram como referência<br />
principal (observação simples, sem análise completa e<br />
aprofundamento teórico) na produção de Eric.<br />
A seguir, um comparativo visual de algumas cenas do<br />
curta Eric (cima) com as de Breaking Bad (baixo).
63<br />
SEMIÓTICA<br />
Releitura semiótica do filme<br />
Bastardos Inglórios de Quentin Tarantino<br />
desenvolvida na disciplina em grupo.<br />
Posso dizer que o ponto de partida para a decisão do tema para<br />
este projeto de conclusão de curso teve uma origem gradual.<br />
No segundo ano de faculdade, em 2012, cursei na ESPM São<br />
Paulo a disciplina de Semiótica Aplicada ao Design, e dela obtive<br />
conhecimento sobre a observação semiótica com relação<br />
a comunicação e, principalmente, com relação ao cinema, adquirindo<br />
assim um olhar de curiosidade e passando a ter mais<br />
interesse em analisar o audiovisual semioticamente.
64
65<br />
EXPERIÊNCIAS CORRELATAS<br />
A seleção de referências de obras e autores a seguir foram<br />
classificadas como experiências correlatas, uma vez que elas<br />
são capazes de fazer conexões que correspondem em diversos<br />
pontos com este trabalho além de auxiliar na construção do<br />
projeto como um todo.
66<br />
Drugstore (1927) Automat (1927) Nighthawks (1942) Summer Evening (1947)
67<br />
EDWARD HOPPER (1882 - 1967)<br />
Nascido em uma localidade próxima a Nova York, nos Estados<br />
Unidos, Edward Hopper foi um pintor, ilustrador e artista gráfico.<br />
Ele é hoje considerado um dos mais importantes pintores<br />
do novo realismo norte-americano do século XX.<br />
Em sua vida, Hopper passou por épocas de crise como<br />
a Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918), a Grande Depressão<br />
Americana (1929) e a Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945),<br />
momentos históricos que influenciaram diretamente em suas<br />
pinturas e criações. O pintor inspirou-se principalmente na<br />
descrença da Guerra e no pessimismo do cotidiano, reinterpretando<br />
a realidade do vazio, do silêncio, dos símbolos de solidão<br />
e do aprisionamento das emoções humanas.<br />
Se F. Scott Fitzgerald (1896-1940) retratou na literatura o fracasso do<br />
“sonho americano”, Hopper fê-lo nas telas. Em “O Grande Gatsby”, Fitzgerald<br />
mostra-nos a solidão do milionário Jay Gatsby, embora sempre<br />
rodeado de multidões e festas na sua mansão. As pinturas de Hopper<br />
representam esse sentimento através das suas melancólicas paisagens e<br />
protagonistas. (RIBEIRO, [2013])<br />
[54] Macomb’s Dam Bridge (1935).<br />
grande movimento e fluxo de pessoas, como a Macomb’s Dam<br />
Bridge em Nova York [54], são representados pelo pintor em<br />
tons de amarelo pouco saturado, pela simplicidade de um ambiente<br />
estático e inteiramente vazio (RIBEIRO, 2012).<br />
Hopper não somente nos apresenta uma imagem, mas<br />
guia o olhar de quem vê para os detalhes nas sombras, para<br />
o espaço interno e externo. Suas pinturas mostram elementos<br />
comuns do cotidianos, que reenforçam o novo realismo na<br />
quietude do movimento e a geometria na iluminação, nos convidando<br />
a abrir os olhos para lugares revelados pela sombra e<br />
pelas luzes natural e artificial (PARKER, 2007).<br />
A força da imagem nas obras de Hopper força o observador<br />
a inventar histórias para justificar aquela situação retratada.<br />
Suas pinturas pesadas não necessariamente têm a intenção<br />
de nos afastar, mas de nos convidar a reconhecer a solidão<br />
que muito frequentemente acompanha a tristeza. Pode ser<br />
uma imagem de tristeza, mas não é necessariamente uma<br />
imagem triste (ROXBURGH, 2015).<br />
As obras de Hopper contém uma característica de observação<br />
e distanciamento do elemento: mesmo quando em grupo, as<br />
pessoas representadas em suas obras se tornam indivíduos,<br />
parecendo não se importar com presença do observador e<br />
seguindo com suas vidas rotineiras e pensamentos próprios;<br />
lugares centrais e populosos conhecidos principalmente pelo
68<br />
A ÚLTIMA GARGALHADA (1924) – MURNAU<br />
O expressionismo alemão desenvolveu-se na Alemanha pós-<br />
-guerra na década de 20, onde o povo alemão se sentia derrotado,<br />
humilhado e iludido em um cenário pessimista e desolador.<br />
O movimento, emergido como uma reação ao impressionismo,<br />
buscava expressar as representações do interior humano sobre<br />
as abstrações do mundo, suas angústias e fantasias, combatendo<br />
a razão usando a emoção. O estilo se propagou em<br />
diversas formas de arte, inclusive no cinema (ARAÚJO, [2013]).<br />
Como um dos principais representantes deste movimento<br />
no cinema mudo, o diretor alemão Friedrich Wilhelm Murnau<br />
(1888 - 1931) tinha interesse em explorar o lado reprimido<br />
e primitivo dos seres humanos, com o forte uso de sombra<br />
com movimentos teatrais para sugerir uma perspectiva alterada<br />
do mundo (BELOTTI, 2015). O filme A Última Gargalhada,<br />
conta a história de um velho e carismático porteiro de um elegante<br />
hotel, muito orgulhoso e respeitado pelo seu trabalho,<br />
que se vê substituído por um porteiro mais jovem, sendo atribuído<br />
à nova função de ajudante de lavatório, passando a ser<br />
ridicularizado por todos e influenciando diretamente em sua<br />
autoestima e razão de viver.<br />
A Última Gargalhada é um filme mudo em preto e branco,<br />
que revela por meio da arte cinematográfica e uma linguagem<br />
metafórica os sentimentos vividos na época, com expressões<br />
cruas de emoção e um estado de representação interna de paranoia<br />
e alienação. O protagonista incorpora o seu uniforme<br />
de porteiro e comporta-se com orgulho com relação ao seu<br />
trabalho, sendo reconhecido exclusivamente pela sua profissão,<br />
e é mostrado como sendo admirado e respeitado por todos<br />
à sua volta. Quando rebaixado de cargo, o seu uniforme é<br />
praticamente descascado de seu corpo, descaracterizando a<br />
sua persona tanto profissional como pessoal, passando a ser<br />
ridiculizado por aqueles que antes o demonstravam respeito.<br />
Este efeito imagético é reproduzido por meio da comparação<br />
de situações opostas ao qual o protagonista é mostrado. Murnau<br />
faz a história ser compreendida apenas com o visual, sem<br />
que haja muitas intervenções escritas como suporte narrativo.<br />
A iluminação de característica chiaroscuro acentua a dramaticidade<br />
do filme em preto e branco. O uso de técnicas cinematográficas<br />
como travellings e ângulos diferenciados, que<br />
segue e se desloca entre os personagens incorpora o espectador<br />
como uma câmera subjetiva, e retrata visualmente o<br />
personagem com superioridade quando em seu momento de<br />
glória e heroísmo, e filmado de cima para baixo quando esmagado<br />
pela opressão e decadência (BEZERRA, 2008).<br />
Cenas retiradas do filme A Última Gargalhada que expressam<br />
a iluminação expressionista e o enquadramento.
69<br />
JANELA INDISCRETA (1954) – HITCHCOCK<br />
[55] Montagem dos planos sobre a<br />
possível perspectiva de Jeffries.<br />
Produzido em 1954, o filme Janela Indiscreta trabalha com<br />
voyeurismo, o prazer de observar os outros em suas vidas privativas.<br />
Morador de um apartamento em uma pequena e populosa<br />
vizinhança, Jefferies é um fotógrafo que devido a um<br />
acidente de trabalho precisa ficar descansando em seu apartamento<br />
por semanas até curar a sua perna quebrada. Com o tédio<br />
do confinamento, o protagonista começa a observar a vida<br />
cotidiana de seus vizinhos, até começar a suspeitar de que um<br />
deles possa ter cometido um assassinato.<br />
O filme foi dirigido por Alfred Hitchcock (1899 - 1980), um<br />
cineasta britânico que é considerado até hoje um dos mais respeitados<br />
e admirados diretores de cinema. Também conhecido<br />
como “Mestre do Suspense” pela sua forma de construção narrativa<br />
em seus filmes, Hitchcock conduz a interpretação do público<br />
induzindo o pensamento com pistas visuais (PIOLA, 2011).<br />
Para Hitchcock, mostrar significa analisar. O filme inicia-se<br />
apresentando uma vizinhança sempre em uma mesma<br />
perspectiva, mostrando um pouco mais de perto a vida cotidiana<br />
dos vizinhos através de suas janelas, contando visualmente<br />
a característica de cada personagem que está ali em<br />
poucos segundos. Podemos assim, apenas com a imagem de<br />
cada um através de suas respectivas janelas entender o universo<br />
particular que ocorre dentro de cada apartamento, seja<br />
pela vista de uma mulher em roupas íntimas se alongando<br />
enquanto arruma seu apartamento, pela imagem de uma senhora<br />
jantando sozinha à luz de velas em seu apartamento, ou<br />
pela discussão fervorosa ocorrendo entre um casal.<br />
Hitchcock compreendia com precisão o poder da edição<br />
de imagens na composição narrativa e, seguindo o experimento<br />
de Kuleshov, o diretor explorou os efeitos de continuação<br />
visual quando justapondo os planos de uma mesma cena com<br />
outros planos. O diretor fez um demonstrativo similar: primeiramente,<br />
um plano frontal de seu rosto inexpressivo; em seguida,<br />
um plano de uma mulher com um bebê, e depois um<br />
plano de seu rosto novamente. O experimento é feito quando<br />
somente a cena da mãe com o bebê é substituído por um plano<br />
de uma mulher em biquíni. Somente esta mudança dos elementos<br />
contidos na imagem observada faz com que o público<br />
interprete a mesma reação do homem de maneiras completamente<br />
diferentes: no primeiro caso, o público enxerga um homem<br />
bondoso; já no segundo, o homem é visto como desavergonhado.<br />
No caso de Janela Indiscreta, Hithcock expunha para<br />
o público o plano do rosto protagonista observando, em seguida<br />
o plano de um dos vizinhos, e depois voltando para o rosto
70<br />
Planos dos vizinhos.<br />
[56] Efeito Kuleshov exemplificado por Hitchcock.<br />
de Jefferies para o público interpretar a sua reação perante a<br />
cada personagem ali apresentado por meio desta técnica [56].<br />
A câmera logo no início faz uma viagem pela história do<br />
protagonista Jefferies, que se encontra dormindo em uma cadeira<br />
de rodas próximo a janela de seu apartamento. A câmera<br />
navega pelos detalhes da sua perna engessada com escrito<br />
“aqui jaz os ossos quebrados de L. B. Jefferies”; vemos por<br />
meio de um plano fechado uma câmera fotográfica quebrada,<br />
onde logo atrás do equipamento está uma foto de um acidente<br />
que ocorreu muito próximo ao fotógrafo, fazendo relação<br />
com a perna quebrada do personagem. Somente este plano<br />
visual foi o suficiente para revelar ao espectador a condição<br />
atual e limitada do personagem, a profissão e a sua personalidade<br />
aventureira.<br />
Imobilizado por sua perna quebrada e incapaz de interferir<br />
no caso do assassinato, o protagonista pode somente observar<br />
a cena da janela de seu apartamento, fazendo referência<br />
ao próprio espectador com a tela do cinema. Assim como um<br />
narrador observador, nós sabemos somente o que Jeff sabe e<br />
nos tornamos cúmplices daquela situação, querendo desvendar<br />
aquele mistério junto com ele (OLIVEIRA, 2015).<br />
O protagonista Jefferies observando os vizinhos.
71<br />
[57] Abertura de Sessão da tarde (2013) [58] Abertura de Meu Pedacinho de Chão (2014) [59] Abertura de I Love Paraisópolis (2015)<br />
ALEXANDRE ROMANO<br />
O carioca Alexandre Romano é formado em design gráfico e<br />
iniciou sua carreira como motion designer na TV Globo em<br />
1996. Atualmente, Romano é responsável pela direção de arte<br />
de diversas aberturas de programas televisivos da emissora,<br />
como a mais recente abertura da Sessão da Tarde (2013) [57],<br />
Meu Pedacinho de Chão (2014) [58], I Love Paraisópolis (2015)<br />
[59], e a abertura da atual novela Velho Chico (2016) [60].<br />
Em seus trabalhos, o designer busca explorar qualidades<br />
que traduzam a essência da narrativa a ser apresentada. Alexandre<br />
também procura representar a identidade estética que<br />
o diretor televisivo utiliza em suas filmagens e aplicá-las da<br />
melhor maneira possível nas aberturas. Em uma entrevista sobre<br />
a produção da abertura de Velho Chico, Alexandre conta:<br />
Nosso maior desafio foi interpretar as ideias e referências trazidas pelo<br />
diretor, criando uma identidade que representasse toda a obra de uma<br />
forma original, funcionando em harmonia ao mesmo tempo que apresentada<br />
de forma diferente dos episódios. (SENS, 2010).<br />
[60] Abertura de Velho Chico (2016)
72<br />
[61] Planos da abertura de Velho Chico.<br />
A abertura de Velho Chico consiste na apresentação visual<br />
de uma única obra composta de diferentes práticas artísticas,<br />
como pintura e gravura em madeira (criação dos artistas Mello<br />
Menezes e Samuel Casal), ao mesmo tempo em que ela está<br />
em desenvolvimento. A câmera navega pela obra em procedimento<br />
com foco em seus detalhes que visam traduzir o mundo<br />
mitológico e simbólico que permeia o rio São Francisco numa<br />
narrativa excepcionalmente visual (ALMEIDA, 2016) [61].<br />
A criação de Romano e equipe representa um conjunto<br />
de múltiplos organismos sígnicos que se unem formando um<br />
único retrato do universo brasileiro, trabalhando assim com<br />
uma relação de escala micro e macro. Um exemplo desta relação<br />
de escala pode ser feito pela paleta de cores que, empenhada<br />
em variações tonais de saturação, traduz a realidade<br />
cromática de cada elemento – como o azul da água e seus ele-<br />
mentos; a matiz amarelada do calor nordestino – mas que ao<br />
mesmo tempo compõem uma obra que em uma visão geral<br />
do todo representa a intensidade e as cores características da<br />
identidade brasileira.<br />
Na filmagem, esta relação de escala pode ser também<br />
comparada à percepção de controle visual em storytelling. A<br />
abertura permanece boa parte de sua duração com o foco<br />
extremamente fechado na qualidade dos detalhes da obra, limitando<br />
assim a quantidade de informações visuais a serem<br />
exibidas, chegando a sufocar a visão geral do elemento em<br />
questão sendo apresentado – no caso, a obra. A partir do momento<br />
em que a criação é mostrada por meio do foco aberto,<br />
torna-se possível a visualização da imagem total em “macro”<br />
criada a partir da ofuscação dos detalhes que antes eram apreciados<br />
em menos escala.
73<br />
KIERA ROSE<br />
A imagem da esquerda (cima) corresponde ao vídeo Lush Bash Bomb Demos < youtube.com/watch?v=3Trlyksqp1Q><br />
e os restantes ao vídeo Leeds Festival < youtube.com/watch?v=oVNrrQaobxc><br />
Aos 24 anos, Kiera Rose é primeiramente conhecida por ser<br />
uma youtuber britânica. Além do canal, ela produz acessórios<br />
alternativos em sua loja virtual Little Doe, e ocasionalmente<br />
participa de ensaios fotográficos de moda.<br />
Kiera cursou faculdade de produção de mídia e universidade<br />
de produção de filme digital, mas não chegou a finalizar<br />
nenhum dos cursos devido a questões pessoais. Com a necessidade<br />
de continuar produzindo e desenvolvendo material audiovisual,<br />
a britânica inaugurou seu canal no Youtube em 2011<br />
com a ideia inicial de criar e compartilhar seus vídeos como<br />
uma alternativa criativa de combater suas crises de ansiedade.<br />
Em alguns de seus vídeos que narram seu cotidiano e/ou<br />
evento, Kiera muitas vezes utiliza referências da linguagem<br />
cinematográfica como regulagem cromática de acordo com<br />
a atmosfera do tema/vídeo, câmera subjetiva e ponto-de-vista,<br />
uso de planos fechados para aumentar a qualidade de detalhes<br />
presentes no foco, aproximando assim o espectador do<br />
elemento narrativo; alternância entre foque e desfoque para<br />
a criação e intensificação da percepção de profundidade; e a<br />
edição da passagem de tempo em câmera lenta, criando assim<br />
uma linguagem artística própria e consistente em relação a<br />
preocupação estética fotográfica e a narrativa visual.<br />
A facilitação do acesso à internet que vêm se tornando<br />
cada vez mais real para a população no mundo todo, possibilita<br />
que mais pessoas de toda a parte possam assistir ao conteúdo de<br />
seus vídeos e tenham contato com as suas opiniões e visão de<br />
mundo. Seu perfil de experiência jovem, contemporânea, genuína<br />
e familiar estabelece um relacionamento lógico com o espectador<br />
e facilita na criação de laços de identidade e conexão afetiva<br />
entre persona social e público (COUTINHO; SILVEIRA, 2007).<br />
Até hoje, Kiera se preocupa em conscientizar as pessoas sobre<br />
dificuldades mentais como a ansiedade e insegurança, mas<br />
também é uma formadora de opinião sobre diversos assuntos,<br />
como o feminismo, veganismo, moda e proteção aos animais.
74<br />
PARTE 2<br />
METODOLOGIA<br />
ANÁLISE BREAKING BAD<br />
EXPERIMENTOS DE LINGUAGEM
75<br />
“Metodologias experimentais absorvem o acaso, o<br />
erro, o inesperado como formas de aprendizado.”<br />
— Anna Lúcia Silva (2016, pág. 13)<br />
METODOLOGIA<br />
Com base na pesquisa bibliográfica desenvolvida para um<br />
compreendimento ampliado com relação aos temas contextualizadores<br />
e o embasamento teórico sobre a linguagem cinematográfica<br />
que englobam o universo de Breaking Bad, realizei<br />
uma análise detalhada de todos os episódios da série, procurando<br />
destacar os pontos essenciais e relevantes que compunham<br />
a sua linguagem e a maneira como ela se manifesta para<br />
o espectador. A partir do entendimento geral sobre a obra e do<br />
ponto-chave da modalidade experimental, tracei em um mapa<br />
mental com as possibilidades de ensaios e testes para visualizar<br />
melhor o objetivo deste projeto. As opções se dividiram em<br />
dois leques: linguagem e tema.<br />
As experimentações iniciais realizadas têm o objetivo<br />
principal de investigar a linguagem visual e cinematográfica,<br />
além da narrativa do drama e a forma que ela está sendo retratada<br />
visualmente. Busquei descobrir diferentes maneiras<br />
de colocar estas observações em prática, com documentação<br />
e registros (ver registros na pág. 167), para assim vivenciar os<br />
experimentos e relacioná-los tanto com o universo interno da<br />
série quanto com a linguagem audiovisual utilizada, para então,<br />
na segunda parte do projeto, aplicá-las dentro do tema da<br />
própria série.
76
77<br />
ANÁLISE DA SÉRIE<br />
Este tópico esclarece os pontos chave de cada temporada,<br />
que foram analisadas detalhadamente (vide anexo pág. 186)<br />
afim de compreender melhor o tipo de linguagem visual que<br />
Breaking Bad utiliza para contar a narrativa do seriado. Desta<br />
maneira, é possível estabelecer uma percepção melhor sobre<br />
o deslocamento visual que a série utiliza de uma temporada<br />
para a outra, contribuindo na criação de uma linha narrativa.<br />
Foram levados em consideração principalmente aspectos<br />
visuais e cinematográficos como cor, iluminação e fotografia,<br />
além de outras observações visualmente relevantes para a<br />
narrativa. Além disso, há características cinematográficas que<br />
estão presentes na série como um todo, e/ou que aparecem<br />
diversas vezes em todas as temporadas.<br />
Abaixo serão apresentados os padrões de linguagem<br />
identificados no seriado em geral; em seguida, os pontos visuais<br />
e cinematográficos relevantes observados ao longo das<br />
temporadas; e por ultimo, as transformações visuais e cromáticas<br />
ao longo da série.
78<br />
[62] Representação semiótica por divisão visual para representar conflito ou incesição; episódio (01;03) à esquerda e episódio (03;04) à direita.
79<br />
PADRÕES DE LINGUAGEM<br />
Ângulos pouco usuais estão presentes na maioria dos episódios.<br />
Os tipos de câmera muito utilizadas durante a série, e<br />
que contribuem para uma melhor perspectiva do espectador<br />
na narrativa e na criação de destes ângulos, consistem no uso<br />
de câmera subjetiva e câmera ponto-de-vista. A primeira insere<br />
o espectador como se fosse um personagem oculto na cena,<br />
vivenciando de perto aquela situação. Já a câmera ponto-de-<br />
-vista, como o próprio nome diz, troca o olhar de um personagem<br />
ou de um objeto com o do espectador. Breaking Bad<br />
faz bastante uso da segunda câmera para dar ao espectador<br />
uma visão do olhar do personagem ou sobre o ponto de vista<br />
de objetos.<br />
Durante a série, alguns elementos são apresentados afim<br />
de induzir o pensamento do espectador e criar indícios e pistas<br />
visuais para a construção de suspense na narrativa. Todavia,<br />
estas pistas nem sempre se concretizam verdadeiras. Algumas<br />
representações semióticas visuais também são sutilmente<br />
mostradas de maneira a representar a situação atual de personagem.<br />
Por exemplo, cria-se uma divisão visual ente personagens<br />
em conflito, ou um personagem indeciso sobre uma<br />
estrada de dois sentidos [62].<br />
Técnicas cinematográficas como jump cuts, aceleração/<br />
desaceleração de vídeo e timelapse são utilizadas para retratar<br />
passagem de tempo e criar dinamismo na cena. O primeiro,<br />
jump cuts, é utilizado muitas vezes principalmente durante o<br />
preparo da metanfetamina – tema central da obra – e, como<br />
não se trata de uma passagem de tempo simétrica, pode também<br />
representar a euforia de um personagem.<br />
De maneira geral, todas as temporadas adquirem uma<br />
iluminação de alto contraste, também denominado chiaroscuro,<br />
iluminação derivada do estilo expressionista que enfatiza a<br />
dramaticidade da cena. Muitas vezes, o rosto dos personagens<br />
estão somente iluminado de um lado, enquanto o outro fica<br />
praticamente coberto em sombra. Assim como o chiaroscuro, o<br />
uso de iluminação contraluz também é muito utilizada na série,<br />
gerando silhuetas e limitando a quantidade de detalhes na cena,<br />
contribuindo para o suspense da narrativa.<br />
Outro fator interessante é a percepção de controle visual.<br />
Muitas vezes esta percepção pode ser criada a partir do ângulo<br />
de enquadramento, como contra-plongée, que filmando de<br />
baixo para a cima pode aumentar o tamanho e gerar ênfase<br />
em um elemento, fazendo com que este passe a ter um controle<br />
principal sobre a cena. Para demonstrar a percepção de<br />
controle, a cena muitas vezes adquire uma característica mais<br />
centrada: o plano é fechado ou detalhe, que juntamente com<br />
a iluminação reduzida, tem o propósito de limitar a quantidade<br />
de informações e guiar o olhar do espectador para o ponto<br />
central da cena, criando assim um controle visual.<br />
Assim como a palavra sugere o contrário, o descontrole<br />
é representado pela falta de foco: quanto mais aberto o plano<br />
e quanto mais iluminação disponível, maior será a quantidade<br />
de informações apresentadas na cena; desta maneira, possivelmente<br />
criará uma confusão visual sobre a cena/situação<br />
pois não há nenhum direcionamento focal, o que gera assim<br />
um descontrole visual.
80<br />
[70] Apresentação do protagonista Walter White.<br />
[71] Pistas visuais que revelam mais sobre o personagem. [72] A passagem de tempo de Walt (idade) é<br />
representada por ovos e bacon.<br />
[73] Tanto o personagem quanto o ambiente adquirem a mesma<br />
coloração esverdeada.<br />
[74] No caso de Jesse, sua casa também adquire tons<br />
amarelados, cor que o personagem veste com frequência.<br />
[75] O verde e o amarelo compõem<br />
a abertura de Breaking Bad.
[63] Walter White<br />
[64] Jesse Pinkman<br />
1ª TEMPORADA<br />
Apresentação dos personagens<br />
Walter White Protagonista da história, Walt é um professor de<br />
química extremamente qualificado, porém desvalorizado e<br />
mal remunerado. Descobre que tem câncer pulmonar e passa<br />
a cozinhar metanfetamina com Jesse para não levar sua família<br />
à falência após a sua morte [63].<br />
Jesse Pinkman Ex-aluno de Walt na casa dos 20 e poucos anos, metido<br />
a gângster se rua, viciado e cozinheiro de metanfetamina [64].<br />
Skyler White Esposa de Walter. Nesta primeira temporada Skyler<br />
está grávida de uma criança não planejada pelo casal [65].<br />
Hank Schrader Marido de Marie e cunhado de Walter. É um<br />
agente do Departamento de Investigações sobre Narcóticos<br />
(DENARC) [66].<br />
Marie Schrader Irmã de Skyler e esposa de Hank [67].<br />
Emilio Ex-parceiro de Jesse na fabricação e na venda de<br />
metanfetamina.<br />
Krazy-8 Primo de Emilio e respeitado vendedor de droga<br />
da região [68].<br />
81<br />
[67] Krazy-8 [66] Hank e Marie<br />
[65] Skyler White<br />
Schrader<br />
[68] Tuco Salamanca<br />
Walter Jr (Flynn) Filho de quase 16 anos de Walter e Skyler.<br />
Possui paralisia cerebral com dificuldades motoras.<br />
A primeira temporada é responsável por apresentar os personagens,<br />
suas personalidades, histórias, ambições e características,<br />
sendo o ponto de partida e o primeiro contato que o<br />
espectador tem com a série.<br />
A série faz um bom proveito do uso de flashbacks e flashfowards,<br />
sendo que a primeira pré-créditos da série se trata de<br />
um flashback do protagonista Walter White, que aparece seminu<br />
em cuecas whitie Tighties dirigindo uma RV em desespero<br />
pelo deserto [70]. A apresentação da situação atual do personagem<br />
é mostrada por planos fechados de elementos como embalagens<br />
de presente de um possível chá de bebê e um quadro<br />
de prêmio Nobel como o nome do protagonista [71] ; sua idade<br />
(50 anos) é visualmente enfatizada para o espectador por de<br />
pedaços de bacon em seu café-da-manhã [72] e reaparece ao<br />
longo da série, indicando a passagem de tempo. Há muito uso<br />
de câmera subjetiva na mão, onde acompanhamos o cotidiano<br />
do personagem, como sua rotina sendo desvalorizado como<br />
Tuco Salamanca Traficante mexicano sociopata da região<br />
de Albuquerque [69].<br />
professor colegial de Química e desrespeitado como caixa em<br />
seu segundo emprego em um lava-rápido.<br />
O verde está sempre presente em Walt, e diversas vezes<br />
utiliza cores secundárias como bege e marrom. O ambiente<br />
de sua casa também adquire esta mesma coloração, como se<br />
ironicamente Walt fizesse parte da decoração [73]. Da mesma<br />
maneira, Jesse está sempre em contato com amarelo e vermelho,<br />
assim como a sua casa também contém tons amarelados<br />
[74]. Curiosamente, as cores principais da série são compostas<br />
de verde e amarelo [75]. Neste caso, o verde pode significar ganância,<br />
crescimento e segurança; já o amarelo pode representar<br />
prosperidade, empatia, instabilidade, atenção e covardia<br />
(SERRANO, 2014).<br />
No último episódio da primeira temporada, Walter raspa<br />
os cabelos e passa pela sua primeira mudança visual de<br />
identidade para Heisenberg, juntamente com o chapéu e os<br />
óculos escuros.
82<br />
[81] Urso de pelúcia cor de rosa do acidente aéreo<br />
[82] Identificação do óculos de Walt. [83] Dois corpos ao lado do carro de Walt.<br />
[84] A casa dos White adquire agora uma cor mais amarronzada. [85] Elementos amarelos de Jesse. [86] Mudança visual de Walt.
2ª TEMPORADA<br />
Evolução visual dos personagens<br />
83<br />
[74] Walter White<br />
[75] Jesse Pinkman<br />
Walter White [76]<br />
Jesse Pinkman [77]<br />
Skyler White [78]<br />
Apresentação dos personagens<br />
Hector Salamanca Tio de Tuco. um velho, de aparência frágil e<br />
demente, quase em estado vegetativo que se comunica por meio<br />
de um sino: um toque para “sim”, sem toque para “não” [79].<br />
Gustavo Fring De origem chilena, Gustavo Fring (ou Gus) é o<br />
dono da rede de frango frito Los Pollos Hermanos, e um dos<br />
maiores distribuidores de metanfetamina da costa oeste americana<br />
[80].<br />
[77] Hector Salamanca [76] Skyler White<br />
[78] Gustavo Fring<br />
Jane Vizinha e administradora do imóvel de Jesse.<br />
Brandon “Badger” Mayhew, Skinny Pete e Christian “Combo”<br />
Ortega São os amigos drogados e longa data de Jesse.<br />
A segunda temporada tem como destaque principal a pré-créditos<br />
de alguns episódios (episódios 1, 4, 10 e 13), que contam<br />
aos poucos uma história em paralelo com a narrativa atual da<br />
série. Esta história é desenvolvida em forma de flashfowards<br />
monocromáticos, que tem como uma única fonte de cor um<br />
urso de pelúcia rosa sem metade de sua face [81]. Aos poucos,<br />
a câmera mostra em planos fechados elementos que são de<br />
possível identificação de Walter e sua família, como a piscina<br />
de sua casa, seus óculos e seu carro [82]. A série muitas vezes<br />
coloca pistas visuais que induzem o pensamento do espectador;<br />
por exemplo, ao colorar dois sacos de necrotério, indicando<br />
ali dois corpos mortos, imediatamente pensamos ser os<br />
corpos de Walter e sua esposa, ao lado de seu carro [83]. Mas<br />
assim como na maioria das vezes na série, estas pistas não necessariamente<br />
podem se revelar verdadeiras.<br />
A casa da família não apresenta mais a coloração esverdeada<br />
que tinha na primeira temporada [84]. Jesse, todavia,<br />
continua interagindo com diversos elementos amarelos [85].<br />
Ao final da segunda temporada, Walter decide deixar sua barba<br />
crescer estilo cavanhaque, marcando a segunda mudança<br />
visual de identidade do personagem [86].
84<br />
[92] Filtro de matiz amarela para identificar local.<br />
[93] Iluminação para determinar sentimento. [93] Iluminação para estabelecer divisão visual. [95] Enquadramento para<br />
estabelecer divisão visual<br />
[96] Indícios visuais por cor.<br />
[97] Uso mais frequênte<br />
do azul royal
3ª TEMPORADA<br />
Evolução visual dos personagens<br />
Apresentação dos personagens<br />
85<br />
[87] Walter White<br />
Walter White [87]<br />
Jesse Pinkman [88]<br />
Skyler White [89]<br />
Saul Goodman Advogado criminalista de Walt [90].<br />
Mike Ehrmantraut Em geral, Mike atua como Informante,<br />
investigador, segurança de Saul e de Gus [91].<br />
Brock É o filho pequeno de Andrea e amigo de Jesse. A mãe<br />
começou a participar da terapia em grupo junto com este.<br />
[88] Jesse Pinkman<br />
[90] Saul Goodman [89] Skyler White<br />
[91] Mike Ehrmantraut<br />
O território mexicano é apresentado nesta temporada como<br />
um novo ambiente na série, sendo visualmente distinguido das<br />
demais localizações ao apresentar um filtro de matiz amarela<br />
sobre as cenas. Desta maneira, o espectador sabe de maneira<br />
direta – sem o auxilio de elementos suportes de cenário e<br />
personagens característicos daquela região – que a cena em<br />
questão está se passando no México ou nos Estados Unidos [92].<br />
Há cenas nesta temporada que enfatizam o fato dos ambientes<br />
serem iluminados de acordo com o sentimento e/ou<br />
situação. Por exemplo, quando Skyler elabora uma história<br />
paralela que justifica o dinheiro da família ter sido ganho por<br />
meios de jogos de apostas, a iluminação do ambiente torna-<br />
-se clara e suave, como uma clareza de ideias sobre liberdade<br />
que aquela história – mais moralmente e socialmente aceita<br />
– pode representar à família [93]. Esta iluminação destacou-se<br />
por ter se apresentado muito diferente e oposta da iluminação<br />
predominante na série até então, que exibe características<br />
expressionistas cada vez mais intensas e contrastantes na narrativa:<br />
capaz de produzir deformações, focos concentradores,<br />
sombras e projeções como uma forma de expressão, revelando<br />
sentimentos e emoções por meio da luz. Uma destas características<br />
de iluminação também conhecida como chiaroscuro.<br />
Os indícios visuais podem ser representados de diversas<br />
maneiras, como pela iluminação, pelo enquadramento, e também<br />
pela cor. Um exemplo da utilização da iluminação como<br />
indícios visuais aparece durante a reunião de Gustavo com o<br />
cartel mexicano, onde este recebe uma fonte de luz enquanto<br />
Gus permanece às sombras, podendo representar visualmente<br />
e simbolicamente que há uma oposição e um conflito de<br />
interesses de ambos os lados [94].<br />
Em questão de fotografia e enquadramento, Walt aparece<br />
cada vez mais isolado e excluído da própria família após seu<br />
segredo ser descoberto e rejeitado pela esposa. Apenas com<br />
um movimento de câmera, o pilar da sala de jantar que antes<br />
separava a família entre Walt e Jr. e Skyler em uma proporção<br />
de ⅓ para ⅔, é colocado exatamente entre o casal e passa a<br />
dividir igualmente os dois lados [95].<br />
Além de indícios visuais por enquadramento, há também<br />
os criados pela cor. Dividido entre a possibilidade de parar de<br />
cozinhar metanfetamina ou continuar devido à oportunidade<br />
de oferta de trabalho de Gustavo, o protagonista encontra-se<br />
em conflito sobre qual rumo tomar. A decisão é representada<br />
com um semáforo de transito: o elemento, antes vermelho,<br />
torna-se verde e obriga o personagem a seguir em frente [96].<br />
Além disso, Walter passa a ter contato e se vestir cada vez mais<br />
com tons de azul, percorrendo da tonalidade de azul claro ao<br />
azul royal. O azul claro representa lealdade e fidelidade, já o<br />
royal – também conhecido pela cor utilizada pela realeza e<br />
aristocracia – pode ser utilizado para representar poder, egocentrismo<br />
e superioridade (BOURN, 2011) [97].
86<br />
[101] Resgate de elementos.<br />
[102] Percepção de controle visual.<br />
[103] Equilíbrio narrativo e visual. [104] Desequilíbrio narrativo e visual.<br />
[105] Influência da cor vermelha.<br />
[106] Vermelho no verde-amarelado.
87<br />
4ª TEMPORADA<br />
Evolução visual dos personagens<br />
Walter White [98]<br />
Jesse Pinkman [99]<br />
Skyler White [100]<br />
[98] Walter White<br />
[99] Jesse Pinkman<br />
[100] Skyler White<br />
A série utiliza muito o resgate de elementos no decorrer da<br />
narrativa, que são elementos mostrados em um momento inicial<br />
da narrativa. Quando são apresentados, estes elementos<br />
passam a ter uma importância muito grande na construção<br />
de suspense na narrativa por indícios visuais. Esta percepção<br />
é executada por meio do controle visual, onde o elemento em<br />
questão controla a narrativa naquele momento. Estes elementos<br />
são então reapresentados no decorrer dos episódios, muitas<br />
vezes mudando a perspectiva do espectador. Como exemplo,<br />
em um flashback da pré-créditos do primeiro episódio<br />
desta temporada, vemos um estilete verde e um caderno de<br />
anotações de laboratório. Estes objetos voltam a aparecer no<br />
decorrer do episódio e da série [101].<br />
Assim como o controle, o descontrole visual também é<br />
muito colocado em prática. Em Thirty-Eight Snub (04;02) quando<br />
Walter planeja ir a casa de Gus para matá-lo, o personagem<br />
tem uso exclusivo do controle principal da cena, e isto é representado<br />
cinematograficamente pelo uso de planos fechados<br />
em sua face e nuca. Entretanto, seu plano é interrompido por<br />
uma ligação anônima para impedi-lo; Walter então perde o<br />
seu controle principal, a câmera se afasta do protagonista e o<br />
envolve gradativamente com o ambiente, tirando seu controle<br />
sobre a narrativa. As cores azul royal e preto com iluminação<br />
chiaroescuro predominam a cena por completo [102].<br />
O controle narrativo também pode ser representado somente<br />
pelo enquadramento e movimento de câmera. Quando<br />
dois elementos estão igualmente centralizados no foco, temos<br />
um equilíbrio de controle visual e narrativo, como Walter e<br />
Skyler em Open House (04,03) [103]. Assim como a falta de geometria<br />
no enquadramento também representa desequilíbrio<br />
e descontrole, podendo ser muito utilizado para passar a percepção<br />
de apreensão e ansiedade de um personagem, como o<br />
casal novamente em Crawl Space (04,11) [104].<br />
“Apesar de já ter transgredido aos poucos a um maior estado de vilão,<br />
nosso protagonista veste vermelho. Porém, um pouco antes dele ficar<br />
ainda mais maléfico, ele remove sua camiseta para revelar uma ainda<br />
mais escura. Sua presença visual representa seu arco de personagem;<br />
algo maligno está presente em Walt.” (Bond, 2015)<br />
A influência da cor vermelha vem aumentando na série, principalmente<br />
nesta quarta temporada. Walt passa a vestir tons mais<br />
escuros, chegando ao preto e até mesmo tons de vermelho e vinho<br />
entra em contato com diversos elementos da cor, como por<br />
exemplo o carro esportivo que compra para seu filho, as roupas<br />
que veste e o vinho que bebe enquanto revela à Hank que ele<br />
acredita que Heisenberg ainda está solto [105]. Segundo Serrano<br />
(2014), esta cor representa principalmente malícia, liderança,<br />
raiva e perigo. Há também outros indícios visuais pela cor, como<br />
por exemplo no episódio Hermanos (04; 08), em que a coloração<br />
amarelo-esverdeada (cores oficiais da série) da piscina no México<br />
recebe aos poucos a coloração vermelha do sangue [106].
88<br />
[114] Elementos semióticos de aprisionamento.<br />
[115] Elementos semióticos<br />
de liberdade.<br />
[116] A liquidez da água remete primeiramente à sensação de fluidez e leveza, porém neste caso ela pode estar representando sufoco.
[107] e [113] Walter White<br />
5ª TEMPORADA<br />
Evolução visual dos personagens<br />
Walter White [107]<br />
Jesse Pinkman [108]<br />
Skyler White [109]<br />
89<br />
[110] Todd [108] Jesse Pinkman<br />
[111] Tio Jack [109] Skyler White<br />
[112] Lydia<br />
Apresentação dos personagens<br />
Todd Funcionário criminoso da Vamonos Pest [110]<br />
Tio Jack Tio (e amigos) criminosos de Todd, também trabalham<br />
para a Vamonos Pest [111]<br />
Lydia Rodarte-Quayle Funcionária da Madrigal e ex-distribuidora<br />
de metanfetamina de Gus [112]<br />
O primeiro episódio da última temporada inicia-se com a pré-<br />
-créditos de um flashfoward de Walter com barba cheia, óculos<br />
de armação preta e cabelo, representando o último marco de<br />
reconhecimento e identificação do personagem [113].<br />
A quinta temporada da série apresenta diversos elementos<br />
gráficos que são capazes de compor diferentes percepções por<br />
meio da semiótica visual. Elementos rígidos, paralelos, transpassados<br />
e afunilados, como barras, grades e canos geralmente<br />
transmitem a sensação de controle e aprisionamento [114]. Ao<br />
contrário disso, quando a dupla volta a cozinhar metanfetamina<br />
pela primeira vez como donos do próprio negócio em Hazard<br />
Pay (05;03), por exemplo, os elementos mostrados durante a<br />
fabricação da droga são elementos de formas orgânicas, suaves,<br />
fluídos e líquidos, que podem passar a sensação de paixão,<br />
liberdade [115]. Porém tudo depende do contexto em que<br />
estes elementos são colocados, pois ao mesmo tempo em que<br />
elementos como líquido e sensação de leveza podem ser primeiramente<br />
associado à liberdade, também pode representar<br />
descontrole dependendo da situação. Em Fifty-One (05;04), por<br />
exemplo, quando Skyler perde o controle sobre sua família e<br />
seu destino por conta de Walt, a personagem imerge nas águas<br />
da piscina. Observa-se que a iluminação e o enquadramento<br />
também contribuem para esta interpretação semiótica [116].
90<br />
[117] Walter White na 1ª temporada, 2ª temporada, 3-5ª temporada e 5ª temporada, respectivamente.<br />
[118] Ordem cromática de acordo com linha cronológica.<br />
Exemplo de iluminação cromática com referência às cores acima.
91<br />
EVOLUÇÃO VISUAL<br />
A aparência do protagonista Walter White modifica-se periodicamente<br />
ao longo da série, geralmente após algum acontecimento<br />
ou marco. Junto com a aparência, os sentimentos e<br />
personalidade dos personagens em geral são principalmente<br />
representados pelas cores em que entram em contato em tal<br />
momento da narrativa, criando assim uma relação entre personagem<br />
e cor [117].<br />
Para a definição de uma régua cromática cronológica,<br />
foram levadas em consideração as principais cores de apoio<br />
de elementos e iluminação, além das cores majoritariamente<br />
utilizadas ou que estiveram em contato com personagens<br />
Walter White e Jesse Pinkman ao longo da série. Unindo estas<br />
cores principais, pode-se dizer que houve uma transferência<br />
entre o verde e o amarelo para azul royal, e então para o vermelho<br />
[118]. Além disso, a iluminação também contribui para<br />
a influência das cores nas cenas. Vale lembrar que a série não<br />
se resume a apenas estas cores citadas acima, mas também explora<br />
a tonalidade e a associação de outras cores para diferentes<br />
personagens, como laranja para Hank e roxo para Marie.
92<br />
[120] Mapa mental 8º semestre<br />
[119] Mapa mental 7º semestre
“Em poéticas de cunho experimental [...] cuja vivência do processo artístico<br />
é parte fundamental da constituição sígnica, a inserção da visão<br />
acerca do inacabado possibilita, de certa forma, uma visão plural calcada<br />
na multiplicidade de gestos e ações artísticas.” (MELLO, 2004, pág. 54)<br />
93<br />
EXPERIMENTOS INICIAIS<br />
Os experimentos a seguir foram realizados com o objetivo<br />
principal de explorar a linguagem visual, narrativa e cinematográfica<br />
do universo em que Breaking Bad está incluído. Na<br />
primeira parte deste projeto (2015), eu havia desenvolvido um<br />
mapa mental para auxiliar na visualização das possibilidades<br />
de experimentações [119] que envolviam majoritariamente a<br />
exploração da linguagem visual cinematográfica. Para a segunda<br />
parte do projeto (2016), fiz um levantamento das novas<br />
possíveis fontes de exercício, onde foram mais voltadas para<br />
a investigação da narrativa por meio do visual [120]. Todo o<br />
registro relativo ao processo criativo e de formação de pensamento<br />
dos experimentos pode ser lido a partir da página 167<br />
desta monografia. Para uma melhor visualização dos projetos<br />
iniciais de linguagem como um todo e seus propósitos experimentais,<br />
organizei-os nas duas classificações abaixo:<br />
CINEMATOGRÁFICO<br />
(1) QUEBRA DE EXPECTATIVAS<br />
LINGUAGEM CULTURAL<br />
(2) ENQUADRAMENTO<br />
(3) ILUMINAÇÃO<br />
(4) SUBJETIVIDADE<br />
(5) DINAMICIDADE<br />
NARRATIVO<br />
(6) CONTROLE VISUAL<br />
(7) CONTROLE NARRATIVO LINEAR<br />
(8) CONTEXTUALIZAÇÃO NARRATIVA
94<br />
Algumas mortes nada convencionais em Breaking Bad.
95<br />
O poderoso Heisenberg veste meia antiderrapante com estampa de patinhas ao fazer o exame.<br />
QUEBRA DE EXPECTATIVAS<br />
Um professor de química extremamente qualificado, submisso,<br />
orgulhoso, mal reconhecido e remunerado, com dois empregos<br />
diários para sustentar a família – sua esposa, grávida<br />
de um lho não planejado, e seu lho de 16 anos com paralisia<br />
cerebral – descobre no dia de seu aniversário de 50 anos de<br />
idade que tem câncer pulmonar em estágio terminal e, para<br />
não levar sua família a falência após a sua morte, decide cozinhar<br />
metanfetamina. Claro, sem contar que seu cunhado é um<br />
agente do Departamento de Investigações sobre Narcóticos.<br />
Ufa! Não há dúvidas quanto a dramaticidade e o clima pesado<br />
e sombrio em Breaking Bad; o próprio enredo principal do<br />
seriado televisivo é baseado em uma tragédia contemporânea.<br />
Pior não fica! (Fica sim).<br />
Ao longo da série acompanhamos a melhor dupla de cozinheiros<br />
especialistas em culinária química nas mais diversas<br />
situações relacionado ao narcotráfico, como poder, manipulação,<br />
vida dupla, dependência, prostituição, overdose, e<br />
diversas mortes. Apesar destas convencionalidades, percebi<br />
que a série explora um recurso de grande impacto que faz<br />
referência à quebra de expectativas do espectador de maneira<br />
inusitada: algumas mortes na série, por exemplo, não são<br />
nada convencionais: dissolução de corpos em banheira, estrangulamento<br />
com cadeado formato U de bicicleta, cabeça<br />
amassada por um caixa eletrônico, espancamento até a morte<br />
sem motivo nenhum, cabeça explosiva decapita- da em cima<br />
de uma tartaruga explosiva, cadeira de rodas explosiva (...);<br />
Breaking Bad consegue surpreender o espectador com a utilização<br />
do humor imprevisto como recurso criativo.<br />
Percebemos que apesar do drama intenso, Breaking Bad<br />
consegue transmitir um humor sutil de ironia em diversos<br />
momentos graças a ignorância alheia. Durante uma reunião<br />
geral na escola para discutir o roubo de equipamentos de química,<br />
Walt – que sabemos ser o responsável pelo roubo – é<br />
aplaudido por estar presente na reunião do caso. A mesma<br />
ironia acontece quando, na casa de Jesse que foi colocada a<br />
venda, a representante da imobiliária refere-se ao porão (laboratório<br />
de metanfetamina provisório) como um lugar espaçoso<br />
e de grandes possibilidades “imaginem tudo que dá pra<br />
fazer aqui.” 28<br />
Em seu artigo Do trágico ao drama, salve-se pelo humor!,<br />
Ribeiro (2015) define: “o humor na mídia: o humorismo como<br />
forma de provocar o riso e a graça voluntariamente, ao abordar,<br />
com acentuado exagero, irreverência e crítica, temas do<br />
cotidiano, evidenciando as contradições do humano.” e é desta<br />
maneira sutil que a série quebra as expectativas do espectador.<br />
O impacto da contradição da seriedade dramática – que<br />
prende a atenção com tanta intensidade que chega a ser surreal<br />
– com a casualidade existente no dia a dia.<br />
Este impacto entre essas duas realidades ocorrem em<br />
diversos momentos na série, podendo resultar em uma sátira<br />
29 . Em Peekaboo (02;06), a sátira aparece quando Jesse, muito<br />
nervoso e inseguro, prepara com raiva seu discurso para o casal<br />
de drogados com o objetivo de recuperar sua autoridade e<br />
28 Referências ao episódio A No-Rough-Stuff-Type Deal (01;07).<br />
29 A sátira, no contexto poético, representa uma crítica irônica da adjacência temática<br />
em foco, com a realidade.
96<br />
[121]<br />
[122]<br />
reputação de traficante nas ruas – quando uma carteira muito<br />
bem humorada e descontraída aparece para entregar as correspondências<br />
do domicílio [121].<br />
Outra situação satírica similar aconteceu em Confessions<br />
(05;11) durante o confronto familiar organizado em um local<br />
público (restaurante mexicano), quando o casal Schraders e o<br />
casal White se encontram para uma conversa seríssima, esperando<br />
a confissão sobre o império de cristal Walter – quando<br />
o atendente do restaurante, muito bem humorado e prestativo,<br />
aparece para recepcioná-los e recomendar pratos do menu.<br />
Duas vezes [122].<br />
Além da ironia e da sátira, o humor sutil reaparece quando<br />
Walter e Jesse roubam o galão de Metilamina, com toucas<br />
de pompom e carregando – em vez de rolar – o galão enquanto<br />
o guarda do local está preso em um banheiro químico [123].<br />
Por fim, diversos outros elementos humorísticos na série<br />
são representados visualmente de maneira simples e sutil,<br />
alguns até podem passar despercebidos. Seja humorismo, ironia<br />
ou sátira, esses são detalhes e percepções que são capazes<br />
de levantar um pouco todo o peso do drama em Breaking Bad.<br />
[123] Invenção mal sucedida de Jesse para captar energia (cima);<br />
Walter vestido somente com suas cuecas tighty whities (baixo).
97<br />
LINGUAGEM CULTURAL<br />
Tendo como base a análise feita sobre a série, fiz um levantamento<br />
de observações e categorizei os itens que considerei<br />
como mais predominantes e relevantes na estrutura visual<br />
dos episódios.<br />
Durante o desenvolvimento deste Projeto de Graduação,<br />
surgiu uma oportunidade de viagem pessoal ao Leste Europeu.<br />
Esta viagem gerou uma grande fonte de inspiração para um<br />
dos ensaios do qual eu estava com mais ambição de explorar<br />
dentro do tema deste projeto: experimentação visual com<br />
base na linguagem fotográfica de Breaking Bad. As fotos foram<br />
tiradas majoritariamente nas cidades de Praga (República<br />
Tcheca), Viena (Áustria) e Budapeste (Hungria).<br />
Durante a viagem, minha atenção estava em tudo aquilo<br />
que poderia ser considerado material fotográfico que poderia<br />
estar relacionado à estética do seriado, e que ao mesmo tempo<br />
transpassasse – somente pelas imagens – a percepção das<br />
peculiaridades culturais presentes em cada local captado. Dos<br />
resultados fotografados, foi possível dividir este experimento<br />
em três partes: Enquadramento, Iluminação e subjetividade.<br />
Enquadramento<br />
As seguintes imagens se encontram classificadas nas seguintes<br />
categorias:<br />
subjetividade;<br />
repetição/textura em plano fechado;<br />
foque e desfoque;<br />
ângulo aberto;<br />
reflexo;<br />
ponto de vista.<br />
Foto tirada por Simone Borensztejn, em Budapeste.
98<br />
Categoria(s): 4 (esq.) | 4 (dir.) CONJUNTO<br />
Praga<br />
Categoria(s): 1 (esq.) | 1 (dir.)<br />
Viena<br />
Categoria(s): 1 (esq.) | 4 (dir.) CONJUNTO<br />
Viena<br />
1. subjetividade;<br />
2. repetição/textura em plano fechado;<br />
3. foque e desfoque;<br />
4. ângulo aberto;<br />
5. reflexo;<br />
6. ponto de vista.
99<br />
Categoria(s): 1 e 2 (esq.) | 1 e 2 (dir.)<br />
Budapeste<br />
Categoria(s): 2 e 3 (esq.) | 2 e 3 (dir.) CONJUNTO<br />
Viena<br />
Categoria(s): 1 (esq.) | 1 (dir.) CONJUNTO<br />
Budapeste<br />
1. subjetividade;<br />
2. repetição/textura em plano fechado;<br />
3. foque e desfoque;<br />
4. ângulo aberto;<br />
5. reflexo;<br />
6. ponto de vista.
100<br />
Categoria(s): 1 (esq.) | 1 e 4 (dir.)<br />
Viena<br />
Categoria(s): 1 (esq.) | 1 (dir.)<br />
Budapeste<br />
Categoria(s): 4 e 6 (esq.) | 1 e 6 (dir.)<br />
Budapeste; trêm de Budapeste-Praga<br />
1. subjetividade;<br />
2. repetição/textura em plano fechado;<br />
3. foque e desfoque;<br />
4. ângulo aberto;<br />
5. reflexo;<br />
6. ponto de vista.
Categoria(s): 1 e 5 (esq.) | 4 e 6 (dir.)<br />
Budapeste (esq); trêm de<br />
Budapeste-Praga (dir.)<br />
101<br />
Categoria(s): 2 e 5 (esq.) | 2 (dir.)<br />
Budapeste<br />
Categoria(s): 1 e 4 (esq.) | 1 e 4 (dir.)<br />
Praga (esq.); Viena (dir.)<br />
1. subjetividade;<br />
2. repetição/textura em plano fechado;<br />
3. foque e desfoque;<br />
4. ângulo aberto;<br />
5. reflexo;<br />
6. ponto de vista.
102<br />
Conclusão enquadramento<br />
Dentre as seis categorias exploradas como base para as imagens<br />
clicadas, a qual – ao final do experimento – eu senti mais<br />
satisfação e conectividade com a narrativa visual de Breaking<br />
Bad foi por meio das fotografias que representavam a subjetividade<br />
(número 1).<br />
Que pessoas são essas? O que estava acontecendo durante<br />
esta foto? Para onde vamos? O ângulo em que esta foto foi<br />
tirada está querendo me dizer alguma coisa?<br />
Apesar do programa ser característico por seus planos<br />
com ângulos ponto-de-vista dentro de algum lugar improvável,<br />
a subjetividade está sempre presente na série, e é com este<br />
olhar que o espectador é incluído de tal modo na história, que<br />
passa a se comportar como um personagem oculto e ter suas<br />
próprias experiências.<br />
A subjetividade é sutil; se trata de um olhar diferenciado,<br />
detalhado, cuidadoso. Nem sempre consigo ver uma mensagem<br />
de primeira – ou o plano subjetivo não requisita um olhar<br />
mais analítico – mas quando sou capaz de notá-la, a sensação<br />
de satisfação é recompensador.<br />
Esta foi a experiência vivida durante este projeto: não<br />
necessariamente é preciso um ângulo inesperado, mas se o<br />
efeito for capaz de despertar algo inesperado, então a missão<br />
está cumprida.<br />
Iluminação<br />
Criei esta subdivisão a fim de diferenciar das demais fotos e<br />
visando ressaltar a importância da iluminação na série. As<br />
imagens resultantes destacam-se por seu contraste (superexposição<br />
e subexposição), iluminação chiaroscuro, definição de<br />
silhueta por contraluz, e cor. Ao mesmo tempo que prioriza a<br />
iluminação, também levei em conta os demais critérios estabelecidos<br />
anteriormente para a fotografia.<br />
Foto tirada por Simone Borensztejn, em Budapeste.
Budapeste<br />
103<br />
Budapeste (esq); Viena (dir.)<br />
Budapeste (esq); Praga (dir.)
104<br />
Budapeste (todas esq); Viena (todas dir.)
105<br />
LINGUAGEM CULTURAL<br />
Subjetividade<br />
Enquanto eu observava e procurava fotografar de acordo com<br />
os critérios selecionados sobre os enquadramentos da série,<br />
me deparei com um conjunto de fotos que, curiosamente,<br />
eram capazes de transmitir como Breaking Bad visualmente<br />
se comunica. Desta maneira, percebi que estas fotos precisavam<br />
de uma subcategoria especial.<br />
Foto tirada por Simone Borensztejn, em Viena.
106<br />
[224] [225]<br />
É preciso ver estas fotografias de maneira conceitual, possivelmente<br />
além do que a imagem está mostrando. A primeira foto<br />
clicada criava uma especie de “borda infinita” entre o piso que<br />
eu me encontrava no momento e o piso térreo [224]. Sabemos<br />
por experiência que ali há uma escada. Mas, se procurarmos<br />
olhar com outros olhos, será que há mesmo? Já imaginamos<br />
que ali tem uma escada, mas tudo o vemos na foto é apenas<br />
um declínio. Dando um passo a frente, a imagem então se revela<br />
um corrimão e um degrau intermediário. Estas imagens<br />
também representam a falta de informações passadas na série.<br />
Por mais que série avance no enredo, estas informações<br />
continuam não reveladas, como uma espécie de espaços obscuros<br />
na narrativa; da mesma maneira como na escada nas<br />
fotos: sabemos que está lá, mas não vemos.<br />
A sequência de fotos acima [225] transmitem o mistério<br />
da série, que vai se revelando aos poucos. Notei que algumas<br />
cenas são colocadas estrategicamente – na maioria das vezes<br />
aparecem em forma de flashforward nas pré-créditos de cada<br />
episódio – de maneira que obriga o espectador a criar ideias e<br />
superstições do que aquela cena representa sobre o que poderá<br />
acontecer. Aos poucos, as cenas vão criando ligações e sentidos<br />
e por fim revelam-se (e, na maioria das vezes, revela-se<br />
de maneira inesperada).
Nesta sequência de fotos mostra primeiramente o foco<br />
em um poste em frente aos degraus de uma escada. Já na segunda<br />
foto, temos um novo ângulo da mesma foto, onde vemos<br />
que este poste cobre o corrimão da escada. Aparentemente<br />
representa uma cena simples e cotidiana, mas que traz uma<br />
referência visual muito relevante em Breaking Bad. No primeiro<br />
exemplo, Junior é coberto por um pilar e este reflete a<br />
separação de lados entre Walter e Skyler. Quando a câmera se<br />
move, vemos que Walt é aquele que está descolado da situação<br />
familiar. A segunda referência trazida do último episódio da<br />
série (Felina) tem um forte impacto quanto a emissão inicial de<br />
informações. Apenas quando a câmera se move é que Walter é<br />
revelado atrás do pilar e incluído na cena. Logo após, o enquadramento<br />
posiciona o pilar entre o casal, da mesma maneira<br />
que o enquadramento na mesa de jantar do primeiro exemplo.<br />
107<br />
Viena<br />
Cenas retiradas do episódio<br />
Felina (05; 06).<br />
Cenas retiradas do episódio<br />
Mas (03;05).
108<br />
Da mesma maneira em que o experimento do corrimão<br />
oculto explora o enquadramento, as fotos acima exploram o<br />
enquadramento da câmera colocada de maneira subjetiva. Fiz<br />
comparações com algumas cenas da série com enquadramento<br />
subjetivo e que procuram enfatizar algo ou algum elemento.<br />
Por exemplo, tanto o jogo de facas de Skyler, o reflexo da cabeça<br />
de Walter no furo de bala no carro e a arma jogada no chão<br />
que Hank quer alcançar para se defender são enfatizadas com<br />
o enquadramento adequado. Tentei recriar tal enquadramento<br />
com objetos encontrados aleatoriamente nas escadas. Notei<br />
que a segunda e a terceira dessas fotos tiveram mais sucesso em<br />
criar este impacto de ênfase na subjetividade. Enquanto que, na<br />
primeira foto (com a pena), apesar dela também se comportar<br />
como uma câmera subjetiva, o enquadramento me transmitiu<br />
mais uma impressão de mistério do que de ênfase, uma vez que<br />
a câmera se encontra posicionada atrás do poste de metal.<br />
Cenas retiradas do episódio <strong>Ozymandias</strong> (05; 14).
109<br />
Conclusão Linguagem Cultural<br />
Este experimento foi inicialmente pensado para compreender<br />
melhor as técnicas de enquadramento e iluminação através de<br />
experimentações fotográficas e transmitir peculiaridades da<br />
cultura local pela imagem.<br />
A princípio, meu foco era encontrar ângulos e composições<br />
para as fotos de maneira que se encaixasse nos tópicos<br />
analisados na narrativa visual de Breaking Bad, porém, conforme<br />
os cliques, fui utilizando diferentes olhares e perspectivas<br />
e assim me deparei a possibilidade de diversos outros<br />
projetos além do enquadramento.<br />
Encontrei, por meio de uma das categorias levantadas<br />
para o estudo do enquadramento, que uma das características<br />
visuais da série em que eu classifiquei como a mais relevante<br />
e a qual eu mais senti uma relação pessoal foi sobre a questão<br />
da subjetividade através do enquadramento.<br />
Me deparei com a enorme potencialidade fotográfica<br />
com relação a iluminação, principalmente a iluminação denominada<br />
chiaroscuro (muito usada na série) e a iluminação de cores,<br />
o que resultou em uma categoria específica para o tópico.<br />
As primeiras fotos clicadas dentro da categoria Subjetividade<br />
(escadas) foram uma das primeiras do experimento. No<br />
meu olhar, essas fotografias apresentaram não só uma composição<br />
gráfica, mas fizeram uma representação visual e aderiram<br />
um significado metafórico com relação a narrativa de<br />
Breaking Bad, e isso só foi possível a partir de um enquadramento<br />
único e um olhar subjetivo.
110<br />
Experimento Cooking
111<br />
DINAMICIDADE (LET’S COOK)<br />
O termo utilizado para a produção de metanfetamina na série<br />
não é “produção” nem “fabricar”, o termo utilizado é “cozinhar”<br />
(to cook, em inglês) metanfetamina. Apesar de ser um<br />
processo puramente químico, o termo é utilizado no mesmo<br />
empenho da culinária e da gastronomia. O propósito deste experimento<br />
é testar a união de três elementos bastante observados<br />
em Breaking Bad, como a essencialidade do verbo cozinhar<br />
(no termo empregado de cozer alimentos), a qualidade<br />
estética de foque e desfoque, e por último um elemento visual<br />
bastante característico da série: passagem de tempo em forma<br />
de timelapse e jump cuts.<br />
Com esta observação realizei dois exercícios, sendo um<br />
com fotos desfocadas e utilização de timelapse, e o outro de<br />
fotos com foque, sequenciais, utilizando a técnica de jump cuts.<br />
COOKING – desfoque em timelapse<br />
Ao lado, o exercício de Cooking foi feito a partir de planos<br />
detalhes, timelapse e desfoque dos objetos da cena. Durante<br />
a análise da série, reparei que há uma qualidade estética cinematográfica<br />
de foque e desfoque, muito utilizada com o intuito<br />
de compor e transmitir uma sensação visual. Diversas vezes<br />
esta técnica foi empenhada em Breaking Bad, sendo que um<br />
desses momentos foi durante os ataques de pânico de Hank no<br />
elevador. Nesta cena específica, combinou-se o desfoque com<br />
o uso de câmera lenta [226].<br />
[226] Cenas retiradas do episódio Breakage (02;05).
112<br />
Experimento Cooked
113<br />
COOKED – foque em jump cuts<br />
Ao lado, as fotos com foque clicadas com um intervalo de tempo<br />
não unitário (jump cuts) com variação de primeiros planos<br />
e planos médios traz uma sensação bastante diferente do experimento<br />
Cooking. Por conta dos jump cuts, Cooked traz uma<br />
sensação de agilidade e dinamicidade. Efeito bastante similar<br />
de quando ocorria as distribuições da metanfetamina blue magic<br />
nas ruas [227].<br />
[227] Cenas retiradas do episódio Breakage (02; 05).
114<br />
Experimento Cooking.<br />
Experimento Cooked.<br />
Conclusão Dinamicidade (Let’s Cook)<br />
Após realizar e comparar os dois experimentos de Let’s Cook,<br />
pude concluir que ambos remetem e trazem referências visuais<br />
diretas de Breaking Bad. Tanto o exercício Cooking<br />
(desfoque em timelapse), quanto Cooked (foque em sequência<br />
cuts) trazem sensações antagônicas de dinamismo e fadiga,<br />
mas somente quando comparados lado-a-lado.<br />
Na conclusão pessoal que tive, o experimento Cooked<br />
apresenta uma sensação de dinamismo, uma vez que o foco<br />
do objeto permite identificar a situação e é apresentada em<br />
sequência de intervalos não constantes. Já o experimento<br />
Cooking chega a provocar o efeito inverso: em velocidade uniforme,<br />
o desfoque cria uma imagem nebulosa e incerta, uma<br />
sensação de fadiga, cansaço e ansiedade.<br />
Independentemente da situação inserida (cozinha), as<br />
estéticas visuais de foque e desfoque em passagem de tempo<br />
timelapse e jump cuts podem curiosamente ser associadas com<br />
os efeitos do uso das drogas mais presentes em Breaking Bad,<br />
como a maconha (improdutividade) 30 e a própria metanfetamina<br />
(euforia) 31 .<br />
Todavia, ao apresentar o experimento sem revelar as minhas<br />
conclusões pessoais, e perguntar separadamente para<br />
quatro pessoas próximas sobre qual animação mais trazia à<br />
elas a sensação de fadiga ou dinamicidade, três disseram ter<br />
tido conclusões inversas das concluídas por mim sobre as sensações<br />
que cada exercício passou, e uma disse não ter conseguido<br />
chegar a uma conclusão concreta sobre estas sensações.<br />
Desta maneira, podemos concluir que o exercício é válido<br />
como experimentação de linguagem, mas que não teve uma<br />
síntese comparativa clara e estruturada, de maneira que as<br />
sensações passadas se tornassem subjetivas à percepção do<br />
outro, não podendo assim ser considerado um experimento<br />
comparativo bem sucedido.<br />
30 Segundo o artigo da bióloga Paula Louredo (2015) escreve os efeitos físicos da maconha<br />
como sendo “[...] memória prejudicada, confusão entre passado, presente e futuro,<br />
sentidos aguçados, mas com pouco equilíbrio e força muscular, perda da coordenação,<br />
aumento dos batimentos cardíacos, percepção distorcida, ansiedade, olhos avermelhados<br />
por causa da dilatação dos vasos sanguíneos oculares, boca seca e dificuldade com<br />
pensamentos e solução de problemas.”<br />
31 O neuropsiquiatra Adalberto Tripicchio (2015) afirma que a metanfetamina contém<br />
propriedades euforizantes capazes de diminuir o apetite e o sono e aumentar o desempenho<br />
físico e intelectual (estado de alerta aumentado).
115<br />
CONTROLE VISUAL<br />
A percepção de controle visual foi uma das características cinematográficas<br />
que mais atraiu a atenção durante a análise<br />
de Breaking Bad (explico mais detalhadamente sobre este conceito<br />
na página 172). Não se trata de uma técnica exclusiva da<br />
série – muito pelo contrário, o que aqui chamo de “controle<br />
visual” está presente na própria visão humana. Por isso, esta<br />
percepção está tão enraizada no universo visual e cinematográfico<br />
que nos cerca atualmente que, para identificá-lo, pode<br />
ser necessário desconstruir a imagem primeiro.<br />
Quando me refiro ao “descontrole” visual, faço relação à<br />
quantidade de informações visuais disponíveis para o processamento<br />
cerebral e a sua falta de foco direcional à algum elemento<br />
em específico na imagem. No audiovisual é comum que<br />
o controle visual seja apresentado de acordo com a narrativa<br />
em questão. Um exemplo disso: quando um personagem está<br />
distraído ou desiludido, ele provavelmente estará perdendo o<br />
controle participativo da linha narrativa e, para representar<br />
este descontrole, o diretor pode optar por abrir o foco do plano,<br />
acrescentando mais informações visuais a imagem, fazendo<br />
com que outros elementos compitam visualmente com a presença<br />
daquele personagem. Um exemplo mais prático para uma<br />
melhor visualização do conceito está no jogo “onde está Wally?”,<br />
em que o objetivo consiste em identificar Wally em meio a tanta<br />
informação visual [228]. O “controle” visual representa exatamente<br />
o processo inverso do raciocínio: como o próprio diretor<br />
Alfred Hitchcock já dizia, quanto maior for a importância de<br />
um elemento na narrativa, maior deverá ser o seu tamanho e<br />
foco em tela a partir de uma maior limitação de informações<br />
visuais, fazendo com que a atenção do espectador seja direcionada<br />
com mais precisão para o elemento em questão.<br />
Para este experimento, eu procurei utilizar como tema principal<br />
de experimentação um cenário comum e corriqueiro, com<br />
o intuito de despertar e realçar para o espectador a presença<br />
e a naturalidade deste recurso na visão humana. Utilizando a<br />
linguagem da imagem em movimento (vídeo), procurei gravar<br />
imagens que pudessem representar este conceito de “controle”<br />
e “descontrole” visual. Para demonstrar a sutileza deste recurso,<br />
editei as cenas para que a passagem de controle para descontrole<br />
fosse lenta progressiva, mas ao mesmo tempo procurando<br />
intensificar suas extremidades de efeito visual.<br />
[228] Exemplo imagético da aplicação literal do conceito<br />
de descontrole (cima) e controle (baixo) visual em<br />
“Onde está Wally?”<br />
VÍDEO<br />
vimeo.com/166428097
116<br />
Experimento Controle Visual
117<br />
Conclusão Controle Visual<br />
Neste experimento editei as imagens para que a sequência<br />
de transição fosse gradativa de controle para descontrole visual<br />
apenas para fins comparativos. Nos filmes, todavia, este<br />
recurso pode ser utilizado de maneira tanto pontual quanto<br />
comparativa, dependendo das intenções dos criadores. Para<br />
a realização este experimento, os recursos base de linguagem<br />
utilizados foram a relação de proporção entre enquadramento<br />
e iluminação.<br />
Este exercício de vídeo foi produzido para colocar um foco<br />
maior na demonstração de percepção de controle, chegando a<br />
exibir a percepção de descontrole de maneira mais exagerada<br />
e expressiva. Acredito que ambas as representações visuais de<br />
controle narrativo tenham sua devida importância em representar<br />
da melhor maneira a intenção expressiva do criador.<br />
Ao explicar o conceito de controle visual e em seguida<br />
apresentar o experimento para quatro pessoas, todas disseram<br />
entender a mensagem e o propósito do vídeo e concordaram<br />
com a importância deste recurso na linguagem cinematográfica.
118<br />
Experimento Controle Narrativo Linear
119<br />
CONTROLE NARRATIVO LINEAR<br />
Este experimento ao lado foi realizado como um estudo da elaboração<br />
controle narrativo, resultado pela percepção de controle<br />
visual (experimento anterior). Para visualizar melhor o<br />
processo criativo e auxiliar a narrativa, adicionei personagens<br />
ao experimento. A preferência deste exercício era de uma narrativa<br />
simples, porém consistente.<br />
A metodologia utilizada para este exercício foi tirar fotos<br />
de maneira aleatória com o potencial de posteriormente compor<br />
uma narrativa linear com uma caixa e um gato. Inicialmente,<br />
as fotos foram tiradas sem um roteiro definido, não sendo<br />
importante neste primeiro momento em criar uma narrativa,<br />
mas sim conseguir criar a percepção de controle. No segundo<br />
momento, agrupei as fotos mais impactantes neste sentido<br />
e organizei-as de maneira que compunham uma narrativa. A<br />
sequência fotográfica ao lado deve ser lida da esquerda para a<br />
direita, de cima para baixo em trajetória zigue-zague.<br />
Conclusão Controle Narrativo Linear<br />
Durante este último processo, senti uma grande dificuldade<br />
em escolher uma única narrativa diante de tantas possibilidades<br />
que a organização das fotos permitiam, entendendo assim<br />
que somente pela edição da sequência dispositiva das mesmas<br />
fotos abriam diferentes caminhos de roteiros narrativos.<br />
O experimento desenvolvido em Linguagem Cultural utilizava<br />
a mesma linguagem fotográfica sobre enquadramentos,<br />
porém tinha um foco maior no exercício cinematográfico; já<br />
este experimento, apesar de se tratar também de uma série fotográfica,<br />
diferencia-se principalmente por estabelecer uma<br />
narrativa que envolve personagens: o(s) gato(s) e a caixa.
120<br />
Experimento Contextualização Narrativa Visual
121<br />
CONTEXTUALIZAÇÃO NARRATIVA VISUAL<br />
O propósito deste exercício em vídeo é de possibilitar a reprodução<br />
de uma simples narrativa utilizando apenas o recurso<br />
imagético de elementos mostrados por meio de planos fechados.<br />
O objetivo gira em torno da possibilidade de utilização de<br />
um único tipo de ângulo, e que somente a utilização deste tornasse<br />
viável a apresentação e representação de personagens e<br />
suas determinadas ações em uma narrativa.<br />
Em cada plano há uma única ação acontecendo. A intenção<br />
do experimento é de, por meio da edição, conectar as diferentes<br />
ações em cada plano, de maneira que estes formem<br />
uma pequena narrativa contendo elementos que simbolizam<br />
a percepção de serenidade e paz.<br />
A escolha de utilizar somente o plano fechado dá-se em<br />
razão do tamanho do foco e detalhes contidos em um único<br />
plano, direciona com cuidado o olhar do espectador sem sufocá-lo<br />
de informações, diferentemente de um ângulo aberto.<br />
Além destes fatores cinematográficos, a análise da série permite<br />
que entendemos como Breaking Bad também utiliza o<br />
fechamento do foco com o intuito de de ampliar a intensidade<br />
simbólica dos elementos presentes na cena [229].<br />
Além disso, como este exercício se trata de uma produção<br />
audiovisual, a inclusão do som deveria ter uma participação<br />
tão presente quanto a imagem, de maneira que a<br />
complementasse. A escolha do áudio (Let The Drummer Kick<br />
[Instrumental], de Citizen Cope) foi estabelecida por um material<br />
instrumental, com uma melodia calma e tranquila, mas<br />
ao mesmo tempo marcante e ritmada. Ouve uma preocupação<br />
em procurar sincronizar as imagens com as batidas sequencias<br />
da trilha sonora.<br />
[229] Exemplo de alteração simbólica dos mesmos elementos quando<br />
apresentados em foco aberto (esq.) e em foco fechado (dir).<br />
Conclusão Contextualização Narrativa Visual<br />
O experimento em vídeo adquiriu um enredo pouco linear, porém<br />
a relação semiótica dos elementos mostrados atribuem ao<br />
vídeo a característica de narrativa. Somente o relacionamento<br />
das imagens inseridas no vídeo, entendemos a atmosfera relaxante<br />
do contexto e identificamos o estilo de vida do personagem<br />
sem ao menos apresentá-lo diretamente para o espectador.<br />
O foco fechado nos planos contribuiu para orientar o espectador<br />
a dedicar a devida atenção na ampliação os significados<br />
simbólicos daqueles elementos presentes nos planos: a<br />
linha telefônica desconectada, o vento balançando a persiana,<br />
a preparação de uma bebida quente e os segundos passando<br />
no relógio analógico contribuem para a percepção da atmosfera,<br />
tempo e espaço; já a apresentação dos outros elementos,<br />
como a leitura de revistas de viagem, a presença de souvenirs<br />
turísticos na geladeira, a lembrança fotografia, os gatos, e a<br />
execução de um trabalho manual artesanal ditam os interesses,<br />
os gostos e o estilo de vida daquele personagem.<br />
O resultado final da combinação do áudio com o visual foi<br />
interessante e se tratou de um processo divertido de realizar.<br />
A procura por criar uma sutil sincronização da imagem com<br />
a música em momentos iniciais do vídeo proporcionou ao espectador<br />
um maior engajamento no conteúdo visual do vídeo.<br />
VÍDEO<br />
vimeo.com/166385807
122<br />
PARTE 3<br />
CONSIDERAÇÕES<br />
PROJETO FINAL<br />
REGISTROS
CONSIDERAÇÕES PROJETO FINAL<br />
123<br />
Ao fim do 7º semestre as ideias potenciais a serem trabalhadas<br />
no 8º semestre ainda estavam ainda bastante nebulosas.<br />
As experimentações iniciais giraram em torno de um melhor<br />
entendimento sobre a experiência da linguagem cinematográfica<br />
e a noção de percepção pela força da imagem.<br />
Durante a banca de qualificação, algumas ideias foram<br />
levantadas pelos professores avaliadores da banca de acordo<br />
com a visão que cada um obteve ao final da apresentação. As<br />
ideias foram relacionadas a possibilidade do projeto final ter<br />
um elemento gráfico como fio condutor de um vídeo, como<br />
por exemplo um grafismo urbano (ideia sugerida pelo professor<br />
Luciano Cardinalli), ou um vídeo ou materiais gráficos que<br />
fizessem referência à percepção (ideia sugerida pelo professor<br />
Marcello Montore). Ficou claro que exite um universo de possibilidades<br />
para o projeto final, como o desenvolvimento de<br />
cartazes, ou releituras.<br />
Levei em consideração as ideias sugeridas pela banca e<br />
procurei também levantar outras possibilidades de temas que<br />
poderiam ser explorados na segunda parte deste PGD. Esta<br />
era uma parte do projeto onde encontrei muita dificuldade:<br />
definir um tema para trabalhar diante de tantas opções que a<br />
linguagem permitia, mas que ao mesmo tempo deveria permanecer<br />
ou estar em contato com o tema principal deste PGD,<br />
que é Breaking Bad.<br />
Algumas dúvidas foram surgindo ao longo do caminho:<br />
se o projeto for utilizar outro tema em paralelo, o quão ligado<br />
este tema deve estar da série? O quanto de Breaking Bad deveria<br />
estar presente nesta segunda parte? Eu tinha duas opções<br />
principais: deixar a série apenas na primeira parte do PGD e<br />
seguir somente com as referências visuais analisadas, ou levar<br />
a série comigo do começo ao final.<br />
Então levantei duas opções para cada possibilidade. Caso<br />
optasse por deixar a série somente na primeira parte do projeto,<br />
uma primeira opção de experimento final seria a criação<br />
de uma vídeoarte baseada em uma narrativa, em que fosse<br />
aplicado a linguagem visual de Breaking Bad. Esta era uma<br />
opção que estava muito presente na minha cabeça desde o<br />
no inicio desde PGD, possivelmente pela influência de experiências<br />
anteriores, como o curta desenvolvido em 2014 para<br />
a adaptação do conto Eric, de Shaun Tan. Porém o problema<br />
sobre a definição de um tema externo ter necessidade de uma<br />
relação com a série ainda persistia, e o tempo de execução<br />
disponível para a elaboração da narrativa e execução geral do<br />
vídeo estava ficando cada vez mais curto.<br />
Uma segunda opção sobre a possibilidade de trabalhar<br />
um tema paralelo com Breaking Bad – sem ser Breaking Bad –,<br />
era de explorar a percepção de controle e descontrole visual e<br />
a força da imagem. Para isso eu fiz um exercício fotográfico de<br />
linguagem (experimento de Controle Narrativo Linear, na pág.<br />
119) para compreender um pouco mais sobre a possibilidade<br />
de utilizar este tema como experimento final.<br />
Agora, a ideia de devolver o estudo visual para a própria<br />
série soava bastante interessante. Em vez de desconstruir o<br />
tema do PGD em um outro em paralelo, relacionar toda a análise<br />
imagética de Breaking Bad e aplicá-lo de alguma maneira<br />
na própria série me fazia mais sentido. Além disso, eu via<br />
esta opção como um presente de gratidão por tudo que este<br />
programa me proporcionou e significou para mim. Considerei<br />
primeiramente realizar um teaser ou vídeo promo para a série<br />
com o intuito de criar e apresentar com a própria linguagem<br />
de Breaking Bad um primeiro contato com a série para aqueles<br />
que nunca assistiram.<br />
Neste momento, muitas portas se abriam e a maior dificuldade<br />
foi de fechá-las e seguir somente por um caminho.<br />
Ainda estava muito indecisa quanto ao melhor tema seguir o<br />
projeto, pois nenhum parecia muito adequado ao o que eu tinha<br />
em mente no início deste PGD. A orientadora Flavia me<br />
ajudou com algumas sugestões, além de muita paciência mas<br />
ao mesmo tempo redobrando a exigência neste processo.<br />
Assistindo a outros seriados, notei o quanto de informação<br />
sobre a série pode ser passado somente por suas aberturas,<br />
sendo capaz de mostrar o conceito da série sem mostrar a série.<br />
Já havia previamente reparado o quão simples a abertura<br />
de Breaking Bad era por ser relativamente curta e com elementos<br />
mínimos e óbvios da narrativa, mas foi quando reparei<br />
no potencial que esta abertura poderia ter no sentido de representar<br />
a qualidade do conteúdo visual que a série oferece.<br />
Foi então que a ideia de devolver o estudo para a própria série<br />
poderia estar dentro da mesma: desenvolver uma releitura<br />
da abertura de Breaking Bad; uma vez que a abertura original,<br />
na minha visão de estudante de design, não contempla o<br />
universo imagético plural da série.
124
125<br />
PROJETO FINAL<br />
Nesta etapa do PGD, encontra-se tanto quanto as definições<br />
do projeto, quanto o registros do processo e reflexões extraídas<br />
com relação ao exercício visual de releitura experimental<br />
da abertura de Breaking Bad. Considero importante ressaltar<br />
que, apesar de ser considerado o projeto final, ele não deve<br />
ser considerado mais importante do que os experimentos iniciais<br />
de linguagem realizados e citados anteriormente; ele foi<br />
colocado em uma categoria separada por se tratar de um experimento<br />
mais longo e complexo e por ser o único a resgatar<br />
e fazer referência direta com o tema da série.
126
127<br />
PRÉ-PRODUÇÃO<br />
Diante dessa nova etapa e início do projeto final, levei em consideração<br />
a quantidade de fatores variantes que influenciavam<br />
diretamente na definição no produto final, como uma base de<br />
análise comparativa, estruturação, duração, quantidade, abordagem<br />
temática, etc. Para isso, foi necessário realizar uma<br />
estruturação da sequência de tópicos essenciais para a pré-<br />
-produção, com o intuito de apresentar devidamente as predefinições,<br />
os pensamentos e os questionamentos necessários<br />
para dar início ao projeto de criação da releitura experimental<br />
da abertura de Breaking Bad.<br />
Análise de aberturas<br />
Lista de possibilidades<br />
As séries televisivas a seguir estão dentro do gênero drama<br />
que seguem uma estrutura de episódios com uma linha<br />
narrativa contínua, onde cada episódio é sólido por si só mas<br />
se conectam de forma coerente dentro da temporada; diferentemente<br />
de uma série antológica. Além de Breaking Bad, os<br />
títulos marcados em negrito foram os selecionados para a análise<br />
por terem a abertura dentro do critério de transferir para<br />
o espectador o conceito da série sem mostrar sua narrativa de<br />
maneira explícita ou direta; seja utilizando metáforas, semióticas,<br />
elementos de auxílio da narrativa, e outros.<br />
Breaking Bad / Deadwood / Dexter / Game of Thrones /<br />
House of Cards / Jessica Jones / Lost / Mad Men / Narcos /<br />
Prision Break / Six Feet Under / Sherlock / Sons of Anarchy /<br />
The Shield / The Sopranos / The Walking Dead / The Wire /<br />
True Blood / Vikings /<br />
Registro de processo.
128<br />
Breaking Bad<br />
Duração: 00:19 (19 segundos);<br />
Gênero: crime, drama, thriller;<br />
Resumo: professor de química descobre que tem câncer pulmonar<br />
e começa a fabricar metanfetamina para dar mais viabilidade<br />
financeira à família após a sua morte.<br />
Abertura: a abertura de Breaking bad faz relação com a química<br />
na teoria e na prática; consiste em destacar sobre um fundo<br />
verde os elementos Br e Ba (bromo e bário) da tabela química<br />
periódica, formando a palavra Breking Bad e sendo apagados<br />
em seguida por uma fumaça amarelada.<br />
Linguagem: animação gráfica;<br />
Estilo: sobreposição de elementos gráficos e tipográficos, bicolor;<br />
Variantes: a abertura é a mesma para as 5 temporadas (completas).
129<br />
Dexter<br />
Duração: 01:33 (93 segundos)<br />
Gênero: crime, drama, mistério;<br />
Resumo: por fora, Dexter é um expert criminalístico,<br />
irmão leal, amante e amigo. Por dentro,<br />
ele é um assassino em série que caça o mal.<br />
Abertura: a abertura da série mostra a rotina<br />
matinal do protagonista Dexter – teoricamente<br />
uma rotina comum e casual, porém<br />
de modo que faça ligação com a sua persona<br />
como assassino em série. O foco principal<br />
desta abertura é estimular ao máximo o aspecto<br />
sensorial de sua rotina, explorando e ampliando<br />
elementos visuais que intensificam e relembram<br />
sua personalidade violenta.<br />
Linguagem: filmagem;<br />
Estilo: planos detalhes e foco fechado, câmera lenta;<br />
Variantes: a abertura é a mesma para as 8 temporadas<br />
(completas).
130<br />
Game of Thrones<br />
Duração: 01:40 (100 segundos)<br />
Gênero: aventura, drama, fantasia;<br />
Resumo: a luta entre famílias nobres pelos continentes de<br />
Westeros pelo poder do trono acontece ao mesmo tempo em<br />
que uma raça esquecida e destruidora reaparece depois de milhares<br />
de anos.<br />
Abertura: a abertura consiste em situar e auxiliar o espectador<br />
geograficamente dentro do mapa de Westeros, guiando-o<br />
entre as cidades, que são emergidas no mapa em formas de<br />
engrenagens, conforme são apresentadas em cada episódio.<br />
Linguagem: animação CGI;<br />
Estilo: a abertura preserva a estética medieval e<br />
rústica da série;<br />
Variantes: a abertura modifica-se acrescentando<br />
novas cidades na geografia, conforme novas cidades<br />
são apresentadas ao longo dos episódios.
131<br />
Mad Men<br />
Duração 00:36 (36 segundos)<br />
Gênero: drama;<br />
Resumo: a série se passa no início da década de 1960 em Nova<br />
York, e retrata a vida pessoal e profissional de personagens de<br />
umas das mais prestigiadas agências de publicidade, como o<br />
diretor de criação Donald Draper, personagem central da série.<br />
Abertura: uma silhueta engravatada cai de prédios cobertos<br />
de anúncios publicitários dos anos 60, podendo fazer relação<br />
com a representando de pessoas que perdem sua identidade<br />
em meio a quantidade de propaganda a qual são expostas.<br />
Linguagem: animação gráfica;<br />
Estilo: a abertura traz referências de estilos cinematográficos da<br />
época retratada na série, como filmes do diretor inglês Alfred Hitchcock.<br />
A série utiliza técnicas do filme Um Corpo que Cai (1958)<br />
durante a queda da silhueta, focando no corpo rodeado de linhas<br />
verticais, sugerindo a atração pela queda (ROSSIN, 2014).<br />
Variantes: a abertura é a mesma para as 7 temporadas (completas).
132<br />
Six Feet Under<br />
Duração 01:34 (94 segundos)<br />
Gênero: drama;<br />
Resumo: uma série dramática que lança um olhar sobriamente<br />
cômico em membros de uma família disfuncional que dirige<br />
uma agência funerária independente.<br />
Abertura: a abertura mostra o caminho que um cadáver passa<br />
desde o necrotério até a sepultura; utiliza elementos semióticos<br />
ligados à vida e ao renascimento, como a árvore e a flor de<br />
lótus (morrendo), e elementos simbolicamente relacionado à<br />
mote, como o corvo. As mão e os pés são muitas vezes mostrados,<br />
assim como a intervenção humana no processo de devolver<br />
o corpo à natureza.<br />
Linguagem: filmagem, pós-produção;<br />
Estilo: planos e focos fechados em elementos, uso de filtros de<br />
cor azul e verde;<br />
Variantes: a mesma abertura é utilizada nas 5 temporadas<br />
(completas).
133<br />
The Sopranos<br />
Duração 01:38 (98 segundos)<br />
Gênero: crime, drama;<br />
Resumo: chefe da máfia italo-americana de New Jersey, Tony<br />
Soprano lida com questões pessoais e profissionais em sua<br />
vida doméstica e empresarial.<br />
Abertura: a abertura mostra lugares icônicos de Nova York na<br />
perspectiva de dentro do carro de Tony Soprano, que dirige ao<br />
mesmo tempo que fuma seu charuto, até chegar à sua casa em<br />
um subúrbio do estado de New Jersey.<br />
Linguagem: filmagem;<br />
Estilo: uso predominante da câmera subjetiva em mãos de dentro<br />
do carro;<br />
Variantes: a mesma abertura é utilizada nas 6 temporadas da série<br />
(completas).
134<br />
The Walking Dead<br />
Duração: 00:35 (35 segundos)<br />
Gênero: drama, terror, thriller;<br />
Resumo: a série acompanha o protagonista Rick e outros sobreviventes<br />
em um cenário pós apocalíptico zumbi nos Estados<br />
Unidos.<br />
Abertura: a abertura retrata o vazio, o caos e a destruição estabelecida<br />
em lugares e cidades desertas, representando um<br />
cenário pós apocalíptico. A imagem de alguns personagens<br />
principais aparecem inseridas dentro desde cenário como<br />
foto em jornal e porta-retratos.<br />
Linguagem: filmagem/pós produção;<br />
Estilo: sépia, desgaste, iluminação obscura;<br />
Variantes: as imagens nas aberturas variam conforme a narrativa<br />
central abordada e os elementos chave mostrados em<br />
cada temporada, como cenários e objetos, mantendo o mesmo<br />
padrão de linguagem, com o visual sépio e desgastado.
135<br />
True Blood<br />
Duração: 01:30 (90 segundos)<br />
Gênero: drama, fantasia, mistério;<br />
Resumo: com a invenção de um sangue sintético, os vampiros<br />
passaram de monstros lendários para cidadãos noturnos.<br />
Apesar da modificação radical em sua dieta, os humanos ainda<br />
permanecem apreensivos e defensivos quanto a existência<br />
vampiresca.<br />
Abertura: a abertura apresenta uma série de vídeos curtos<br />
com imagens consideradas politicamente incorretas como violência,<br />
luxúria, crenças e rituais, agressividade física e moral,<br />
chegando a fazer uma ironia comparativa de que o ser humano<br />
pode ter um lado tão selvagem e cruel quanto os vampiros.<br />
Linguagem: filmagem;<br />
Estilo: junção de filmes com estética caseira em alta velocidade<br />
com sobreposição de imagens;<br />
Variantes: a abertura permanece a mesma nas 7 temporadas<br />
(completas).
136<br />
Vikings<br />
Duração 00:25 (25 segundos)<br />
Gênero: ação, drama, história;<br />
Resumo: a série se passa na Escandinávia no início do período<br />
medieval, acompanhando o viking Ragnar Lodbrok e sua<br />
família, suas aventuras, e suas lutas até tornar-se um rei semi-lendário.<br />
Abertura: o propósito desta abertura é de absorver o espectador<br />
dentro da realidade e da emoção das lutas nórdicas. O cenário<br />
predominante ocorre nas águas de oceano, de maneira<br />
que realça o simbolismo do primitivo e natural, da morte e da<br />
solidão que a cultura Viking relatada na série.<br />
Linguagem: filmagem, pós-produção;<br />
Estilo: cores predominantemente frias e azuladas, baixa iluminação<br />
com alto contraste, distanciamento de elementos,<br />
alternância entre focos fechados e abertos, exploração da percepção<br />
de gravidade.<br />
Variações: a abertura se modifica sutilmente ao longo das<br />
temporadas, mas mantém a mesma linguagem visual e a mesma<br />
temática sobre o corpo e oceano. Enquanto uma parte da<br />
abertura se mantém constante em todas as temporadas, as<br />
variações consistem em diferentes imagens – relacionadas à<br />
temporada atual – que são colocadas ao longo da abertura.
137<br />
Observações comparativas<br />
Representações da abertura:<br />
Rotina (Dexter, The Sopranos);<br />
Auxílio geográfico (Game of Thrones);<br />
Tema central em semiótica (Mad Men, Six Feet Under, Vikings);<br />
Tema central de maneira direta/construção do logo (Breaking<br />
Bad, Six Feet Under);<br />
Síntese comparativa (Dexter, True Blood);<br />
Crítica (True Blood);<br />
Duração média: 590 segundos / 9 = 65 segundos<br />
(1 minuto e 5 segundos)<br />
< 60 segundos: Breaking Bad, Mad Men, The Walking Dead<br />
e Vikings (4/9);<br />
> 60 segundos: Dexter, Game of Thrones, Six Feet Under,<br />
The Sopranos e True Blood (5/9);<br />
Tipos de linguagem:<br />
filmagem (3/9) - Dexter, The Sopranos e True Blood;<br />
filmagem + pós-produção (3/9) - Six Feet Under, The Walking<br />
Dead e Vikings;<br />
animação CGI (1/9) - Game of Thrones;<br />
animação gráfica (2/9) - Breaking Bad e Mad Men;<br />
Variantes:<br />
mesma abertura em todas as temporadas: 6/9<br />
variação sutil ao longo dos episódios/temporadas: 3/9<br />
Momento em que o logo aparece:<br />
Primeira cena (0/9)<br />
Segunda cena (1/9) - Dexter<br />
Penúltima cena (2/9) - Breaking Bad e True Blood<br />
Última cena (6/9) - Game of Thrones, Mad Men, Six Feet Under,<br />
The Sopranos, The Walking Dead e Vikings.<br />
Observações relevantes<br />
Cada abertura faz uma representação da série de alguma maneira.<br />
Algumas séries se relacionam ao objetivar um mesmo<br />
tópico, mas representando-o de maneiras diferentes. Podemos<br />
notar, por exemplo, que tanto a abertura de Dexter quanto de<br />
True Blood visam amplificar metaforicamente uma perspectiva<br />
por meio de imagens que podem ser consideradas comparativas<br />
com a realidade ou com um outro tema. Dessa maneira,<br />
a abertura de Dexter desenvolve a cotidiana e relativamente<br />
comum rotina do psicopata, mas que, ao exaltar as qualidades<br />
sensoriais dos elementos, eles intensificam sua persona violenta<br />
e insensível, de modo a realizar uma comparação com as<br />
percepções de um neurotípico. já True Blood faz uma crítica<br />
somente por mostrar imagens da humanidade em seus estados<br />
mais selvagens, criando uma síntese comparativa com a<br />
concepção de instinto selvagem dos vampiros. Outro exemplo<br />
de métodos visuais de representação da série pela abertura<br />
está em Six Feet Under: a ideia central da trama (uma empresa<br />
funerária) utiliza tanto o formato de storytelling – narrando o<br />
corpo sem vida indo de encontro à terra – , ao mesmo tempo<br />
em que mostra elementos semióticos que representam os significados<br />
de vida e morte, como flor de lótus e corvos.<br />
Em questão de tempo, pude reparar que dentro das séries<br />
analisadas a duração das aberturas variavam entre até<br />
aproximadamente 35 segundos, ou duravam até 1 minuto e 40<br />
segundos. O tempo médio de duração das aberturas, dentre as<br />
nove séries analisadas, é de 1 minuto e 5 segundos.<br />
Além disso, pude analisar que a maioria das séries (6 séries<br />
de 9 analisadas) manteve a mesma abertura para todas as<br />
temporadas, enquanto as outras séries fizeram uma variação da<br />
abertura ao longo dos episódios/temporadas. Entretanto, esta<br />
variação se apresentava de maneira muito sutil, uma vez em<br />
que as aberturas mantém entre si a mesma linguagem visual.
138<br />
Visuzalização da fragmentação do número de aberturas de cinco no total para três.<br />
DEFINIÇÃO DE ESTRUTURAS<br />
O próximo passo era definir a estrutura para a(s) abertura(s).<br />
Depois de realizado a síntese comparativa de aberturas em<br />
outras séries (ver tópico anterior), pude ter uma perspectiva<br />
maior sobre a possibilidade de estruturas que as séries permitiam<br />
em suas respectivas aberturas.<br />
Considerei então o número de aberturas que Breaking<br />
Bad poderia ter. As alternativas iniciais giravam em torno de<br />
somente uma abertura para todas as temporadas, ou uma<br />
abertura para cada temporada, resultando em 5 projetos.<br />
Caso optasse por apenas uma abertura, estipulei que seu<br />
tempo médio poderia ser em torno de 1 minuto à 1 minuto e<br />
30 segundos para possibilitar mais conteúdo. Todavia, considerando<br />
que a primeira abertura é apresentada ao espectador<br />
a partir dos primeiros minutos, e que a mesma abertura seria<br />
utilizada até o episódio final da série, a abertura não poderia<br />
conter um tema que fizesse relação direta com a narrativa em<br />
si, pois isto resultaria tanto em uma possível revelação não<br />
intencional de narrativa para um novo espectador, como se<br />
apresentar muito desatualizada ao longo das temporadas, resultando<br />
na perda de relação da abertura com a narrativa atual.<br />
Respeitando a transformação que o protagonista sofre ao<br />
longo da narrativa que o seriado busca mostrar, e que toda a<br />
análise cinematográfica estudada em cima de Breaking Bad<br />
está relacionada em mostrar principalmente esta evolução<br />
visual, optar por não utilizar este conceito nas aberturas não<br />
faria sentido para este projeto. Além disso, considerando-se<br />
única abertura, representar esta evolução mesmo de maneira<br />
indireta (por por meio de semiótica e metáforas), a abertura<br />
poderia criar uma confusão para um novo espectador que ainda<br />
não compreende tal transformação.<br />
A partir desta conclusão, passei a considerar o desenvolvimento<br />
de cinco aberturas curtas, uma para cada temporada.<br />
Por se tratar de vários projetos, o tempo de duração de cada<br />
uma deveria ser de até no máximo 25 segundos, somando 2<br />
minutos e 5 segundos no total. Esta opção era positiva pois permitia<br />
fragmentar a transformação visual da série e aplicá-las<br />
em suas respectivas temporadas, sem corromper o suspense<br />
da série e sem tirar a relação entre abertura e narrativa, dos<br />
quais eram os principais problemas encontrados na execução<br />
de uma única abertura. O lado negativo desta opção é a probabilidade<br />
de cinco diferentes aberturas se tornarem algo visualmente<br />
exaustivo e extremamente elaborado para o espectador,<br />
uma vez que a série em si já é relativamente intensa, tanto cinematograficamente<br />
quanto em seu conteúdo. A produção de<br />
tantas aberturas poderia resultar em um excesso de detalhes<br />
que poderiam, de certa forma, tirar a expectativa do suspense<br />
da temporada. Além disso, é válido lembrar que Breaking Bad<br />
tem uma proposta de inicialmente introduzir indícios visuais<br />
para gerar suspense, para depois surpreender o espectador ao<br />
romper estas expectativas narrativas ao longo dos episódios<br />
com algo totalmente diferente. A tentativa de representar estes<br />
indícios e ao mesmo tempo manter a coerência com estas<br />
quebras de expectativas em todas as aberturas pode se tornar<br />
algo prejudicial à série e/ou inviável.<br />
Ao perceber que tanto o desenvolvimento de uma única<br />
abertura para todas as temporadas quanto a elaboração de<br />
cinco diferentes aberturas geravam um conflito com a narrativa<br />
e sua abordagem, comecei a considerar a possibilidade<br />
de outras alternativas de estrutura menos rígidas. Ao observar<br />
com mais cuidado o número de temporadas, reparei que o número<br />
cinco permitia uma sequência alternada e interessante:<br />
era viável a criação de uma série de três aberturas, possibilitando<br />
um começo, meio e fim.
139<br />
Estrutura de três fases: começo, meio e fim.<br />
ESTRUTURA DE 3 FASES<br />
A estrutura de três aberturas diferentes possibilita fragmentar<br />
a evolução visual em uma quantidade ideal, solucionando os<br />
problemas encontrados nas opções anteriores. Além disso, as<br />
três aberturas possibilitam seguir uma sequência narrativa de<br />
início, meio e fim, sendo um fator muito positivo para retratar<br />
a evolução progressiva. Cada abertura teria uma média de 35<br />
segundos cada.<br />
Idealisticamente, cada abertura deveria cobrir o mesmo<br />
número de episódios ou um número médio de episódios e de<br />
forma igualitária, ou até mesmo dividir os episódios de uma<br />
única temporada entre duas respectivas aberturas caso esta esteja<br />
de acordo com a coerência narrativa. Entretanto, visando<br />
simplificar a divisão unitária entre temporada e abertura, fez-<br />
-se mais sentido recorrer à fragmentação evolutiva da narrativa<br />
e atribuir as três aberturas para as seguintes temporadas:<br />
Abertura 1 - Temporadas 1 e 2<br />
Abertura 2 - Temporadas 3 e 4<br />
Abertura 3 - Temporada 5<br />
Apesar das duas primeiras aberturas se relacionarem com<br />
duas temporadas cada, direcionar a terceira abertura somente<br />
a uma temporada não deve visto como um problema; em<br />
questões narrativas, a 5ª temporada se desvincula das demais<br />
ao imediatamente apresentar o declínio estabelecido do protagonista<br />
em forma de flashfoward, que vão desde a primeira<br />
pré-créditos da temporada até o antepenúltimo episódio da<br />
série, onde se une com a narrativa atual até o fechamento da<br />
série. Pode-se dizer assim que a última temporada se apresenta<br />
de uma forma narrativa mais distante das demais.
140<br />
1 2 3<br />
[230] Modo 1<br />
1/3 2/3 3/3<br />
[231] Modo 2<br />
1 2 3<br />
CONTINUIDADE<br />
[232] Modo 3 [233] O Jardim das Delicias Terrenas (1504).<br />
Após a definição do número de aberturas e o tempo médio de<br />
cada uma, foi necessário definir também como seria a abordagem<br />
do tema e a distribuição do conteúdo ao longo dessas<br />
aberturas. Com base nisso, fiz um levantamento de três opções:<br />
a primeira opção consistia na interpretação das aberturas<br />
como três elementos distintos e independentes, somente<br />
unificados pela linguagem e consistência visual. Caso seguisse<br />
por esta opção, cada abertura deveria expor um conceito<br />
com início, meio e fim, não dependendo das outras aberturas<br />
para o entendimento central do vídeo [230].<br />
A segunda opção fazia referência ao conceito oposto<br />
da alternativa anterior: tratar as aberturas como partes unidas<br />
e indispensáveis entre si para o entendimento geral dos<br />
vídeos. Desta maneira, o conteúdo deveria ser tratado de forma<br />
contínua porém interruptiva e dependentes, onde a primeira,<br />
a segunda e a terceira abertura representariam o início,<br />
o meio e o fim, respectivamente. Todavia, este caminho não<br />
se apresentava positivo por questões práticas; apesar de possivelmente<br />
interessantes quando assistidas em sequência, as<br />
aberturas ficariam com um aspecto solto e fora do contexto<br />
quando assistidas separadamente em cada episódio, podendo<br />
não satisfazer totalmente a função de abertura [231].<br />
A terceira e última opção foi a escolhida pois considerava<br />
as duas alternativas anteriores de forma conjunta. Enquanto<br />
a primeira tratava cada abertura de modo totalmente<br />
independente e separada, a segunda, em seu extremo, lidava<br />
com as aberturas como um quebra-cabeça, se interligando<br />
para fazer sentido. Logo, a proposta da última opção visava<br />
combinar e equilibrar estas características opostas de interdependência,<br />
idealizando três aberturas independentes – ou<br />
seja, que podem ser interpretadas como um todo sem necessitar<br />
das outras – mas que ao mesmo tempo criam uma conexão<br />
entre si, compondo uma imagem mais amplificada quando<br />
vistas em sequência [232].<br />
Para uma melhor visualização deste último conceito,<br />
podemos utilizar o exemplo da pintura O Jardim das Delicias<br />
Terrenas (1504) do artista holandês Hieronymus Bosch (1459<br />
- 1516) como representação [233]. A obra consiste em um conjunto<br />
de três pinturas: à esquerda O Jardim do Éden, O Jardim<br />
das Delícias Terrenas ao centro, e O Inferno à direita. Quando<br />
observamos as pinturas, vemos que cada painel representa<br />
um universo próprio e independente, onde um único painel é<br />
capaz de mostrar um conceito exclusivo por si só. Entretanto,<br />
quando expostos lado a lado em uma sequência, entendemos<br />
que apesar de cada pintura fazer referência a um organismo<br />
em particular, quando juntas elas se transformam em uma<br />
composição onde a continuidade visual das imagens constrói<br />
uma narrativa linear, se tornando responsáveis por contar a<br />
história do mundo a partir da criação.<br />
Acima, uma representação visual de cada uma das opções<br />
de sequência e continuidade sobre a abordagem temática<br />
na abertura.
141<br />
ABORDAGEM TEMÁTICA<br />
Apesar de Breaking Bad ter, superficialmente, uma maior exploração<br />
visual de temas diretamente relacionados ao enredo<br />
da série, como os procedimentos químicos e o narcotráfico,<br />
desde o início desse projeto eu procurei identificar da maneira<br />
mais objetiva possível qual era a essência fundamental da<br />
série em seu sentido imagético.<br />
Com base na análise das temporadas de Breaking Bad e<br />
no estudo da série como um todo, fiz um levantamento dos<br />
possíveis temas apresentados na narrativa visual e que teriam<br />
potencial para serem abordados na abertura. Das possibilidades<br />
pensadas, os temas de maior destaque na influência visual<br />
na série foram os seguintes:<br />
Homem versus meio<br />
- Gênero western moderno<br />
- Relação de escala<br />
Transformação visual<br />
- Evolução<br />
- Controle<br />
Homem versus natureza<br />
Gênero western moderno<br />
O western, também conhecido no Brasil como faroeste,<br />
consiste em um gênero de produção cinematográfica desenvolvido<br />
a partir do acontecimento histórico americano de incetivo<br />
à colonização de terras na faixa oeste dos Estados Unidos<br />
como forma de crescimento econômico e expansão territorial<br />
do país, eventos também conhecidos como Marcha para o Oeste<br />
e Corrida do Ouro na Califórnia entre das décadas de 1860<br />
e 1890.<br />
Este gênero foi amplamente repercutido na sétima arte<br />
e teve seu ápice entre os anos 1930 e 1940, marcado principalmente<br />
pelo estilo de caracterização pela disputa de território<br />
entre cowboys e índios, a relação do homem com o deserto, o<br />
certo e o errado, o bem e o mal (MS, 2016). O faroeste foi um<br />
gênero indispensável na formação da sétima arte, se tornando<br />
o mais popular nos Estados Unidos, onde muitos filmes foram<br />
produzidos sob esta estética, com alguns marcando a história<br />
do cinema. Poucos anos após a divulgação ao público do cinematógrafo<br />
pelos irmãos Lumiére, o curta metragem O Grande<br />
Assalto ao Trem (1903) de Edwin S. Porter [234]foi considerado<br />
o filme pioneiro do gênero western, sendo nomeado na época<br />
como inovador em termos técnicos e por apresentar uma<br />
construção narrativa sólida. Segundo Halfen (2016), o filme<br />
[234] Cena de tiro na câmera em O Grande Assalto ao Trem (esq.) e<br />
[235] Clint Eastwood como anti-heróis nos filmes da Trilogia dos Dólares (dir.)<br />
inovou a forma de fazer cinema, utilizando pela primeira vez em um filme<br />
de ficção, ambientes externos, movimento de câmera e montagem<br />
paralela, além de romper pela primeira vez a “quarta parede” na famosa<br />
cena do tiro na câmera; [...] É conhecido que nesta cena o público<br />
demonstrou certo desespero com medo que a bala os atingisse.
142<br />
[236] Relação direta entre o tiro na câmera em O Grande Assalto ao Trem (dir.) e a o episódio piloto de Breaking Bad (esq.)<br />
Outra referência do gênero vem da produção europeia Trilogia<br />
dos Dólares (1964/1965/1966) dirigido por Sergio Leone,<br />
que deu origem ao subgênero western spaghetti, também conhecido<br />
como faroeste macarrônico ou bang-bang à italiana.<br />
Este estilo inicialmente recebeu este nome como deboche<br />
pela crítica estrangeira pelas produções em baixo orçamento<br />
dos filmes westerns de produção majoritariamente italiana<br />
com colaboração de outros países europeus, como Espanha e<br />
Alemanha. Apesar do nome depreciativo e do baixo orçamento,<br />
o faroeste macarrônico foi capaz de produzir resultados<br />
inovadores e artísticos. Em comparação com o western americano,<br />
o subgênero é mais orientado para a ação, com diálogos<br />
escassos e com uma narrativa ilustrada pela trilha sonora. Na<br />
trilogia de Leone, o ator protagonista Clint Eastwood [235] inovou<br />
a ideologia de herói faroeste americano, transformando-o<br />
na concepção de um anti-herói nos anos 60 (PEREIRA, 2015).<br />
As referências acima são uma base para podermos contextualizar<br />
Breaking Bad como um western moderno, sutilmente<br />
aplicado como um de seus gêneros. O criador da série,<br />
Vince Gilligan, comentou em entrevista 32 que começou a enxergar<br />
a série como uma possibilidade de interpretação de um<br />
western contemporâneo durante a gravação do episódio piloto<br />
por conta do impacto visual criado pelo cenário – com características<br />
desérticas de Albuquerque, no Novo México. O criador<br />
também citou a relação que o protagonista Walter White teria<br />
com o personagem anti-herói de Clint Eastwood.<br />
De maneira geral, é possível dizer que a definição e, especialmente<br />
a reputação dos westerns mudaram muito ao longo dos<br />
anos, uma vez que a consciência cultural também mudou. A típica<br />
imagem de cowboys solitários em seus cavalos fazendo justiça<br />
pelo deserto já foi arquivada como documento antigo na cabeça<br />
do espectador ao longo das últimas décadas (GREEN, 2014). Breaking<br />
Bad, porém, foi capaz de mostrar o estilo faroeste de outra<br />
perspectiva e redesenhá-lo à sua maneira, alterando as concepções<br />
ultrapassadas como a divisão de opiniões extremas e bipolares<br />
entre o bem e o mal, o certo e o errado, o bandido e o herói, e<br />
adaptando-se à complexidade psicológica e a realidade humana,<br />
ao mesmo tempo mantendo aspectos chaves do gênero como a<br />
sua estética integral e suas referências clássicas representadas de<br />
uma forma mais abstrata e sutil ao longo da série.<br />
Acima, podemos ver comparações colocadas lado-a-lado<br />
de algumas referências típicas do faroeste que foram aplicadas<br />
em Breaking Bad de maneira direta e clara, com o intuito<br />
de reforçar a presença clássica do gênero na série [236].<br />
Apesar das referências cinematográficas diretas e indiretas,<br />
a força do gênero não teria metade da força na série<br />
se o cenário fosse outro. A função imagética do deserto em<br />
Breaking Bad é extrema relevância para a construção de percepção<br />
da narrativa visual da série para o espectador. Dificilmente<br />
esta percepção seria a mesma – ou até mesmo parecida<br />
– caso a trama se passasse em uma cidade na Flórida com<br />
um praia ao fundo, por exemplo. O cenário desértico escolhido<br />
para a série tem papel fundamental de situar o espectador<br />
no contexto narrativo e acentuar o simbolismo; em Breaking<br />
Bad, o deserto desempenha as mesmas funções de um personagem<br />
coadjuvante.<br />
32 Fonte: http://goo.gl/Ls11dr
143<br />
“Poderia estar encerrado em uma casca de noz e me sentir rei de<br />
um espaço infinito...”<br />
— Shakespeare, Hamlet<br />
Exemplo da influência cinematográfica do gênero western e dos duelos de tiro<br />
presentes nas cenas do confronto entre Walter e Hank, retiradas do episódio<br />
Buried, na 5ª temporada.<br />
[237] Cenas de Era uma vez no Oeste<br />
que mostram o deserto com plano geral.<br />
Relação de escala entre homem versus natureza<br />
Acompanhando a linha construtiva do tópico anterior, entendemos<br />
que o gênero western possui como uma de suas características<br />
mostrar a relação do homem com a natureza, que<br />
muitas vezes é representada pela imagem do deserto. O filme<br />
Era uma vez no Oeste (1968) [237], de Sergio Leone, explora esta<br />
presença do deserto com planos gerais e faz uma relação de escala<br />
com os humanos, tornando-os insignificantes em comparação<br />
com o meio; como coloca Ferradans (2010), “[...] no universo<br />
de Leone, a civilização é mais selvagem que a natureza”.<br />
A princípio, acredito que Breaking Bad possa transmitir<br />
como relação principal da trama a luta entre homem versus<br />
homem, entre a moralidade individual e social. Entretanto,<br />
em questões narrativas, a trama se inicia logo após Walt completar<br />
50 anos e ter conhecimento sobre seu câncer pulmonar,<br />
desenvolvendo o enredo a partir de uma luta entre homem<br />
versus o corpo e versus o tempo. Além disso, a própria linha<br />
guia da série é a química e todas estas questões ilícitas são tanto<br />
abordadas quanto resolvidas no deserto, como a fabricação<br />
da metanfetamina e suas eventuais consequências. Em outras<br />
palavras, pode-se dizer que Breaking Bad lida tanto com a relação<br />
e o conflito de homem versus natureza quanto sobre homem<br />
versus homem e versus ele mesmo.
144<br />
Um jeito que a série coloca esta relação de maneira clara<br />
e direta é no penúltimo episódio da última temporada, em<br />
<strong>Ozymandias</strong> (05,14). A titulação do episódio é uma homenagem<br />
ao soneto escrito por Percy Bysshe Shelley em 1818 sobre arrogância<br />
e a transição de poder. <strong>Ozymandias</strong> é o apelido do faraó<br />
Ramsés II, cuja dinastia durou 67 anos (durante o século XIII<br />
a. C) e foi considerada a mais longa e poderosa do Egito. Percy<br />
escreve em seu poema sobre a relação entre o domínio que<br />
<strong>Ozymandias</strong> acumulou ao longo de seus 90 anos de vida, e que<br />
são historiados até hoje, e o que restou dele séculos depois. O<br />
autor descreve que apesar de todas as conquistas e influência<br />
que O Grande Faraó teve em vida, mesmo suas riquezas<br />
e grandes feitos não resistem ao tempo; a realidade concreta<br />
que permanece hoje sobre seu comando e soberania, na época<br />
gravados em uma escultura feita em sua homenagem, hoje<br />
se encontra desgastada e fragmentada no deserto, aos poucos<br />
sendo encoberta pela vasta areia (OZYMANDIAS..., 2013).<br />
Enquanto o episódio anterior termina com um tiroteio<br />
entre Hank, Gomez e os neonazistas, <strong>Ozymandias</strong> inicia [238]<br />
com um flashback de uma cena não exibida do episódio piloto<br />
sobre o momento em que Walt e Jesse estão cozinhando pela<br />
primeira vez no deserto. Com o cenário, a RV e os dois personagens<br />
enquadrados em um Plano Geral, vemos os homens e os<br />
elementos serem retirados aos poucos da cena em efeito fade<br />
out, deixamos somente o retrato do deserto. Após os créditos<br />
de abertura que aparecem logo após a cena anterior, a mesma<br />
imagem do deserto vazio é recomposta aos poucos, com<br />
efeito fade in, com os elementos e os personagens do episódio<br />
anterior. Esta colocação é muito poderosa para retratar dois<br />
aspectos: 1) a cena atual ocorre exatamente no mesmo lugar<br />
onde tudo começou para Walt e Jesse, e 2) tudo que já ocorreu<br />
naquele ambiente foi irrelevante para o deserto, que permanece<br />
intacto. E, como se não bastasse, as calças que Walt perde no<br />
primeiro episódio podem ser revistas sutilmente no penúltimo<br />
<strong>Ozymandias</strong> (original)<br />
I met a traveller from an antique land<br />
Who said: two vast and trunkless legs of stone<br />
Stand in the desert. Near them on the sand,<br />
Half sunk, a shatter’d visage lies, whose frown<br />
And wrinkled lip and sneer of cold command<br />
Tell that its sculptor well those passions read<br />
Which yet survive, stamp’d on these lifeless things,<br />
The hand that mock’d them and the heart that fed.<br />
And on the pedestal these words appear:<br />
“My name is <strong>Ozymandias</strong>, king of kings:<br />
Look on my works, ye mighty, and despair!”<br />
Nothing beside remains: round the decay<br />
Of that colossal wreck, boundless and bare,<br />
The lone and level sands stretch far away.<br />
<strong>Ozymandias</strong> (tradução)<br />
Eu encontrei um viajante de uma antiga terra<br />
Que disse: duas imensas e destroncadas pernas de pedra<br />
Erguem-se no deserto. Perto delas na areia<br />
Meio enterrada, jaz uma viseira despedaçada, cuja fronte<br />
E lábio enrugado e sorriso de frio comando<br />
Dizem que seu escultor bem suas paixões leu<br />
Que ainda sobrevivem, estampadas nessas coisas inertes,<br />
A mão que os escarneceu e o coração que os alimentou.<br />
E no pedestal aparecem estas palavras:<br />
“Meu nome é <strong>Ozymandias</strong>, rei dos reis:<br />
Contemplem as minhas obras, ó poderosos, e desesperai-vos!”<br />
Nada mais resta: em redor a decadência<br />
Daquele destroço colossal, sem limite e vazio<br />
As areias solitárias e planas espalham-se para longe.
episódio, largadas e sem importância pelo chão do deserto, da<br />
mesma maneira que foi deixada há tanto tempo atrás [239].<br />
A percepção de escala que quero colocar com estas cenas<br />
e assim como no soneto de Percy, é o quão pequeno e insignificante<br />
toda a ação humana que se passou ali naquele cenário<br />
tem em relação a ele mesmo. O show mostra a evolução do<br />
protagonista, que ao longo da série se torna responsável pela<br />
morte de mais de 190 pessoas e pelo domínio do império de<br />
metanfetamina em escala internacional, mas ainda sim resultando<br />
em um impacto insignificante na imensidão desértica.<br />
O cientista físico Stephen Hawkin faz um paralelo desta<br />
abordagem de relação temporal em seu livro O Universo numa<br />
casca de Noz:<br />
há outro tipo de tempo, chamado tempo imaginário, que forma ângulos<br />
retos com o tempo real comum, cuja passagem sentimos. A história do<br />
universo no tempo real determina sua história no tempo imaginário, e<br />
vice-versa, mas os dois tipos de histórias podem ser bem diferentes. Em<br />
especial, o universo não precisa ter início nem fim no tempo imaginário.O<br />
tempo imaginário comporta-se apenas como uma outra direção<br />
no espaço. Assim, as histórias do universo no tempo imaginário podem<br />
ser concebidas como superfícies curvas, como, a exemplo de uma bola,<br />
um plano ou uma forma de sela, mas com quatro dimensões em vez de<br />
duas. [...] O comportamento do vasto universo pode ser compreendido<br />
em termos de sua história no tempo imaginário, que é uma esfera minúscula<br />
e ligeiramente achatada. É como a casca de noz de Hamlet, mas<br />
esta noz codifica tudo o que acontece no tempo real. Assim, Hamlet<br />
estava certo. Poderíamos viver reclusos numa casca de noz e nos considerar<br />
reis do espaço infinito. (HAWKIN, 2002, inas 82, 83 e 99).<br />
[239] A calça de White voando no episódio Piloto (1,01) (esq.) e revistas em <strong>Ozymandias</strong> (05,14) (dir.)<br />
[238] Cena flashback do episódio Piloto em <strong>Ozymandias</strong> (esq.) para depois<br />
adquirir com o mesmo enquadramento os elementos da cena atual (dir.)<br />
Assim como a abertura de True Blood faz uma crítica comparativa<br />
sobre o pior lado da existência e selvageria humana<br />
com relação aos vampiros, a ideia é retratar por meio desta<br />
releitura experimental da abertura de Breaking Bad, a relação<br />
de escala e conflito entre homem versus natureza, fazendo<br />
uma crítica à egocêntrica percepção humana de tempo e espaço<br />
– “em uma casca de noz” – com relação ao tempo “real”<br />
da natureza e do mundo, que neste caso é retratada pela força<br />
imagética do deserto.<br />
Uma das formas de reforçar visualmente o conceito de<br />
conectividade, sequência, ciclo e, principalmente, a relação<br />
de escala de deserto versus humanidade, é de colocar a última<br />
cena da 3ª abertura igual à primeira cena da 1ª abertura. Desta<br />
maneira, retrata-se que mesmo depois de tudo que aconteceu<br />
ali (ao longo das 3 aberturas), o deserto continua o mesmo.<br />
145
146<br />
[240] Respectivamente: Mr. Chips, Walter White 1ª temporada, Walter White 4ª temporada e Scarface<br />
1 2 3<br />
[241] Exemplo da iluminação aplicada como evolução visual da narrativa na casa dos Walts na temporada 1 (esq.), 3 (centro) e 5 (dir.)
Transformação visual<br />
147<br />
Evolução<br />
A expressão em inglês to break bad é utilizada principalmente<br />
no sudeste americano para se referir à alguém que se<br />
desvia do caminho politicamente certo e correto para fazer o<br />
mal, desafiando as convenções e a autoridade. Uma das possíveis<br />
traduções dessa expressão para o português coloquial é<br />
“mudar da água para o vinho”.<br />
Como concluído ao final da análise da série (ver pág. 89),<br />
acompanhamos o desvalorizado professor de química Walter<br />
White passar por um momento de ruptura de personalidade<br />
ao descobrir sobre eu câncer pulmonar, já em estado avançado,<br />
e iniciar gradativamente um processo de transformação<br />
ao se tornar cada vez mais seu alter-ego Heisenberg. Assim<br />
como o enredo acompanha o protagonista, esta evolução no<br />
arco do personagem caminha de mãos dadas com a narrativa<br />
visual da série.<br />
Algumas das maneiras que Breaking Bad utiliza para<br />
ilustrar esta transformação narrativa pela imagem é por meio<br />
da iluminação e das cores.<br />
Iluminação<br />
O uso da iluminação na fotografia e no cinema representa<br />
uma carga semântica poderosa, capaz de intervir e contribuir<br />
diretamente na dramatização da cena e no ambiente<br />
(SOUSA, 2012). Como vimos no estudo sobre a iluminação cinematográfica<br />
neste projeto (ver pág. 41), a luz se comporta<br />
como um elemento fundamental para a arte, desempenhando<br />
a função de elemento chave para diversos tipos de experimentações<br />
que tiveram o intuito de explorar a dramaticidade e expressão,<br />
como por exemplo em pinturas barrocas no século<br />
XVII e no cinema expressionista no final do século XIX.<br />
Considerando uma escala evolutiva em Breaking Bad,<br />
a iluminação não deve ser somente interpretada como um<br />
elemento pontual, mas também como uma transformação<br />
gradativa e evolutiva; conforme o protagonista se transmuta<br />
– conforme colocado por Vince Gilligan 33 – de Mr. Chips para<br />
Scarface 34 , a iluminação o acompanha. Desta maneira, podemos<br />
considerar que a iluminação clara pode representar a<br />
ingenuidade, o bom caráter, e transparência que Mr. Chips e<br />
Walter White representam, assim como pouca luminosidade<br />
(escuro) pode representar a violência, o segredo, a malícia de<br />
Scarface e Heisenberg [240].<br />
Tratando desta forma, a forma gradual da representação<br />
da narrativa imagética de Breaking Bad ao longo das três aberturas<br />
propostas ficaria distribuído da seguinte maneira de<br />
acordo com o que foi analisado durante a série de uma maneira<br />
geral: a primeira abertura, que representa a ruptura inicial<br />
e o início da presença do alter ego de Walter, deverá apresentar<br />
uma iluminação geral relativamente mais clara; enquanto<br />
a terceira abertura representa a reta final de Heisenberg, representado<br />
por uma iluminação relativamente mais escura.<br />
A segunda abertura servirá como um intermediador gradual<br />
entre a primeira e a última abertura [241].<br />
33 Fonte: http://www.theguardian.com/tv-and-radio/2012/may/19/vince-gilligan-breaking-bad<br />
34 Mr. Chips é o protagonista do filme britânico Adeus, Mr. Chips (1969) dirigido por<br />
Herbert Ross, que conta a história do um professor ao relembrar sua carreira e vida<br />
pessoal ao longo das décadas; já Scarface (1983), representado por Al Pacino e dirigido<br />
por Brian De Palma, é um exilado criminoso cubano que toma posse de um cartel de<br />
drogas em Miami.
148<br />
[244]<br />
[242]<br />
[243]
149<br />
Cores<br />
Assim como no audiovisual, as cores em Breaking Bad<br />
têm uma função importante de transmitir percepções e até<br />
mesmo mensagens e sutis indícios narrativos. Como apresentado<br />
no tópico de transformações visuais e cromáticas após a<br />
análise das temporadas da série (ver pág. 89), Breaking Bad<br />
traz como cores primárias o verde e o amarelo [242]. Podemos<br />
ver nos materiais de comunicação da série a presença constante<br />
destas duas matizes. Ao longo da série, algumas cores<br />
são introduzidas aos poucos e reforçando sua influência nos<br />
episódios, não se tratando de uma maneira pontual mas sim<br />
cumulativa. Com bastante presença do verde, amarelo e também<br />
do vermelho nas primeiras temporadas, a cor ciano aparece<br />
principalmente como “registro” da metanfetamina da dupla.<br />
Esta cor pode ser interpretada como cor suporte e, a partir<br />
de seu aparecimento no fim da primeira temporada, continua<br />
presente ao longo da série.<br />
A cor azul royal começa a ter presença na 3ª temporada,<br />
tanto em elementos como vestuário e objeto, como na própria<br />
fonte de luminosidade da cena [243]. Assim como as cores citadas<br />
acima, este tom de azul aparece em alguns momentos<br />
antes da 3ª temporada, mas sua presença significativa acontece<br />
a partir desta e sua tonalidade continua presente até o<br />
fim. Já o vermelho se apresenta desde a variação de sangue até<br />
o vinho, aparece algumas vezes na primeira temporada principalmente<br />
como peça de vestimenta de Jesse, mas sua força<br />
cromática é notória a partir da penúltima temporada, e reforçada<br />
em diversos elemento-chave na última temporada [244].<br />
Tendo em mente que a estrutura de aberturas foi estabelecida<br />
em três, sendo a primeira abertura relativa à 1ª e 2ª<br />
temporada, a segunda abertura para os episódios da 3ª e da 4ª<br />
temporada, e a terceira temporada para os últimos episódios<br />
presentes na 5ª temporada da série.<br />
Tratando a variação cromática de maneira evolutiva na<br />
série para aplicar ao longo das três aberturas, temos o seguinte<br />
resultado:<br />
1<br />
2<br />
3<br />
apoio<br />
cores<br />
Representação do conceito de evolução<br />
cromática aplicado nas três aberturas
150<br />
[245] Exemplo de percepção de controle visual<br />
no episódio To’hajiilee (05;13) .<br />
[246] Exemplo de percepção de controle para o descontrole visual no episódio To’hajiilee (05;13) .<br />
1 2 3<br />
[247] Representação do conceito de descontrole pro<br />
controle visual aplicado nas três aberturas
Controle<br />
O controle visual está muitas vezes relacionado diretamente<br />
com a transformação imagética da série e a própria<br />
narrativa. O cineasta Lewis Bond (2016), fundador do Channel<br />
Criswell, explica em um de seus vídeos Composition in Storytelling<br />
35 como um elemento passa a ter o controle da cena. Lewis<br />
divide o controle em dois tipos: o artificial e o principal. O controle<br />
artificial trata-se de uma questão estética que direciona<br />
o olhar do espectador para o elemento; já o controle principal<br />
faz referência sobre qual assunto ou elemento está controlando<br />
mais a narrativa naquele determinado momento. O<br />
elemento em questão pode se tratar de relações interpessoais<br />
entre os personagens, relações entre personagem e ambiente,<br />
ou ser estabelecido por uma comparação de tamanho e escala.<br />
Tentando entender um pouco mais sobre esta percepção<br />
de controle (ver registros em pág. 172 e análise das temporadas<br />
em pág. 75), cheguei a conclusão de que existe dois tipos<br />
de controle e descontrole: o narrativo e o visual, e que quase<br />
sempre eles estão diretamente ligados.<br />
Coloco com a palavra descontrole ao fazer referência à<br />
falta de controle, ou a perda deste controle. Considerando<br />
que a série é narrada quase que completamente pelo ponto de<br />
vista do protagonista, com suas próprias visões e perspectivas<br />
de mundo, então ele tem o controle narrativo. Quanto mais o<br />
drama se aproxima das intenções narrativas do protagonista;<br />
ou seja, das ações que ele pretende tomar para controlar a linha<br />
narrativa do drama, maior controle ele adquire. Por exemplo,<br />
no episódio 13 da 5ª temporada (To’hajiilee) Walt requisita<br />
os serviços do tio Jack e os neonazistas para matar Jesse. Neste<br />
momento, o protagonista está em completo controle da narrativa,<br />
uma vez que ele e somente ele está definindo o rumo da<br />
história de acordo com o que ele espera [245].<br />
Porém, quando outros elementos da história participam<br />
e interferem no andamento da narrativa dramática de acordo<br />
com a visão de Walt, estes elementos estão tirando o controle<br />
narrativo do protagonista. Por exemplo, neste mesmo episódio<br />
do exemplo anterior (To’hajiilee), Jesse decide colaborar<br />
com Hank para vingar-se de Walt e atraí-lo para uma emboscada,<br />
dizendo por telefone que ele irá queimar todo o dinheiro<br />
“The size of an object in the frame should equal it’s importance in<br />
the story at that moment.”<br />
— Alfred Hitchcock<br />
enterrado de Walt caso ele não chegue ao local o quanto antes.<br />
Enquanto dirige rumo ao deserto para resgatar sua fortuna,<br />
Pinkman para de responder as chamadas telefonicas e Walt<br />
encontra-se desesperado. Nesta situação, podemos observar<br />
que Pinkman está tirado o controle narrativo do protagonista,<br />
direcionando o rumo dramático para a incerteza do acontecimento,<br />
tirando o controle narrativo de Walt.<br />
Quando me refiro ao controle e descontrole visual, me<br />
refiro em como a imagem precisa ser composta cinematograficamente<br />
para passar esta percepção de controle narrativo.<br />
As imagens ao lado são referente às cenas das respectivas<br />
situações descritas acima. Quando Walt está com o controle<br />
narrativo, buscando matar o próprio parceiro, a imagem adquire<br />
uma iluminação escura com a influência da cor vermelha<br />
como indício visual. Há poucos elementos na tela e o foco<br />
está fechado no rosto do protagonista. O enquadramento e a<br />
iluminação agem em conjunto para deixar a imagem com uma<br />
característica mais centrada, de maneira que a quantidade de<br />
informação visual exposta naquela cena seja mais limitada,<br />
direcionando o olhar do espectador com maior precisão (controle<br />
artificial) para o elemento que está em maior controle da<br />
narrativa (controle principal). Enquanto o protagonista perde<br />
seu controle narrativo para Jesse e a incerteza de seu dinheiro,<br />
a câmera vai abrindo o foco e se distanciando progressivamente,<br />
agindo em conjunto com a iluminação presente na<br />
cena, ao ponto de termos dificuldade de acompanhar o carro<br />
de Walt na estrada diante de tantas informações visuais, e depois<br />
perdê-lo por completo nas areias do deserto [246].<br />
Com isso, tenho a intenção de aplicar estas percepções de<br />
controle e descontrole visual a partir da visão do controle narrativo<br />
que Breaking Bad apresenta ao longo das 5 temporadas,<br />
fragmentando-as em três aberturas. Em uma maneira generalista,<br />
unindo estas concepções para desenvolver a ideia de controle/descontrole<br />
visual, teríamos um resultado similar a esta<br />
representação, onde a tonalidade representa a intensidade da<br />
iluminação, e o tamanho o foco dos enquadramentos. [247]<br />
151<br />
35 Fonte:
152<br />
“Num filme o que importa não é a realidade, mas<br />
o que dela possa extrair a imaginação.”<br />
— Charles Chaplin<br />
Trilha sonora<br />
O som em composição com a imagem é determinante para a compreensão<br />
e composição da narrativa, pelo qual não se restringe apenas a utilização<br />
de músicas, mas também qualquer ruído emitido durante a construção<br />
da história a ser narrada. (FARIAS, 2011, p. 2).<br />
No meio audiovisual, como o próprio nome já esclarece, o áudio<br />
tem tanta participação quanto o visual da série ambas as<br />
partes se compõem em um todo. Mesmo antes da tecnologia<br />
de captação do som do diálogo, o cinema mudo contou com<br />
trilhas sonoras em formato de orquestra para criar ou enfatizar<br />
climas narrativos na imagem (SALLES, 2008), ditando o<br />
passo rítmico de uma cena que, sincronizando com o visual,<br />
formava a atmosfera da cena ou do filme.<br />
Podemos utilizar a análise comparativa entre as aberturas<br />
da série nesta, feita nesta parte do projeto (ver página 75)<br />
para identificarmos que, apesar de todas as diferenças entre<br />
os shows, todas elas têm um mesmo aspecto em comum: todas<br />
utilizam sempre a mesma trilha sonora em suas respectivas<br />
aberturas, independente do número de temporadas ou<br />
aberturas feitas. Como Farias (2011) coloca em seu artigo, a<br />
música possui um poder de identificação por assimilação de<br />
memória de ritmos e melodias, sendo assim utilizada muitas<br />
vezes como uma forma de comunicação.<br />
Por isto, optei por manter a mesma trilha sonora na releitura<br />
das três aberturas experimentais propostas para Breaking<br />
Bad nesta etapa do projeto. Um dos meus objetivos com<br />
esta releitura era de desassociar o máximo possível os principais<br />
aspectos de identificação originais presentes na abertura<br />
da série, como o logo de Breaking Bad e a sua trilha sonora<br />
atual. Como o projeto se trata do universo temático da própria<br />
série, procurei em sua própria trilha sonora (composta pelo<br />
músico Dave Porter) uma opção que se enquadrasse dentro<br />
do visual que eu queria propor: procurei por uma música que<br />
transmitisse uma característica de drama e suspense, com batidas<br />
fortes e ritmadas mas que, ao mesmo, tempo tivesse uma<br />
variação sonora distinta tanto no início quanto no fim da trilha.<br />
Após escutar os dois CDs da trilha sonora oficial da série,<br />
levantei algumas possibilidades, ficando em dúvida entre as<br />
músicas Crawl Space e Cleaning House. Optei por fazer alguns<br />
testes de compatibilidade dentro do trecho de 35 segundos<br />
que eu havia estabelecido previamente para cada abertura e,<br />
por fim, optei por utilizar Cleaning House pois a trilha me possibilitou<br />
criar uma edição simples na estrutura do áudio, se<br />
encaixando perfeitamente nos itens requisitados acima, além<br />
de possuir um caráter que faz referência ao gênero western.
153<br />
Elementos do storybard<br />
Como uma proposta de releitura experimental visual da série,<br />
preferi evitar utilizar elementos e símbolos de identificação<br />
direta com a série, como equipamentos químicos, fumaça,<br />
drogas e narcotráfico e o chapéu de Heisenberg, por exemplo.<br />
Com isso, a solução mais apropriada e viável consistia em<br />
mostrar elementos indiretos e não relacionados com Breaking<br />
Bad, mas que ao mesmo tempo somente os valores simbólicos<br />
e imagéticos fossem capazes criar um elo com a série e e transmitir<br />
a sua ideia central.<br />
Refleti sobre o que cada abertura deveria representar de<br />
acordo com a minha interpretação pessoal sobre a narrativa<br />
gradual da série e cheguei ao seguintes resultado: a base narrativa<br />
da série se trata de um processo evolutivo que vai de ruptura<br />
de carácter para afirmação e perigo. Procurei então compor<br />
os elementos de cada abertura que melhor representasse estas<br />
características respectivamente. Além da narrativa, era essencial<br />
vincular os temas selecionados para representar a série de<br />
maneira visual, como visto no tópico de Abordagem Temática,<br />
na página 141, que seria o gênero western, a relação de escala<br />
entre humanidade e deserto, a evolução visual por meio das cores,<br />
iluminação e a percepção de controle e descontrole visual.<br />
O gênero western seria basicamente representado pela<br />
presença do cenário desértico, e que ao mesmo tempo seria<br />
usado para servir de comparação com o conceito de humanidade.<br />
Para representar esta relação de escala, busquei fazê-la<br />
por meio da saturação cromática e da percepção de controle/descontrole<br />
visual, aplicando-as gradativamente ao longo<br />
das aberturas, utilizando maior intensidade de saturação e<br />
fechando o foco para planos dos detalhes da fauna e da flora<br />
presentes naquele meio, amplificando seu significado e existência<br />
no mundo.<br />
Em paralelo com as imagens do deserto estariam as cenas<br />
que representariam a humanidade dentro desta relação<br />
de natureza. Seguindo as características narrativas citadas acima,<br />
a evolução visual seria adicionada por meio da variação<br />
gradativa da intensidade da matiz presente em cada plano e<br />
a adicionação cumulativa de cores específicas em cada abertura.<br />
Para uma melhor visualização da ideia, desenvolvi este<br />
gráfico explicativo e comparativo ao lado.
154<br />
Registro de processo.
155<br />
PRODUÇÃO<br />
Depois de toda a estrutura do projeto já definida na pré-produção,<br />
nesta parte explicarei um pouco mais sobre como foram<br />
as decisões com relação ao processo de filmagem para os<br />
vídeos das três aberturas, tanto os vídeos a serem usados por<br />
meios externos (internet) para compor a ideia no resultado final,<br />
quanto a produção própria das filmagens.
156<br />
1ª abertura<br />
2ª abertura<br />
Filmagens externas (internet)<br />
<br />
<br />
Deserto<br />
Primeiramente, foi necessário estabelecer quais imagens<br />
seriam gravadas e entender que nem todas as ideias seriam<br />
possíveis de serem realizadas por produção própria, como no<br />
caso das imagens de planos aberto do deserto. Deste modo, foi<br />
necessário utilizar uma metragem alternativa disponível na<br />
internet para incluir como reprodução do conceito.<br />
As imagens do deserto precisavam mostrar as características<br />
de seu ambiente por um ângulo relativamente aberto<br />
e extenso (1ª e 2ª aberturas) e/ou detalhes peculiares de seu<br />
meio. As ideias que permitiam a produção própria eram somente<br />
as da 3ª abertura, uma vez que o foco fechado proposto<br />
para as imagens desérticas desta abertura não precisavam<br />
exibir a imagem clara do deserto no plano de fundo, bastando<br />
a filmagem de pequenas suculentas e plantas áridas. Ao lado,<br />
os vídeos externos e de produção própria sobre o deserto que<br />
foram incluídos no projeto.<br />
3ª abertura<br />
<br />
<br />
Filmagens originais<br />
3ª abertura
Humanidade<br />
Para as imagens que retratam o que defini por humanidade,<br />
optei por fazer filmagens espontâneas e com a câmera na<br />
mão, sem o auxílio de um storyboard fixo e definido, nem o<br />
uso de equipamentos técnicos como tripé ou estúdio, de maneira<br />
a não limitar nem deixar complexo as oportunidades de<br />
captação de material visual, apenas seguindo as referências<br />
temáticas que eu procurava transmitir para cada imagem nas<br />
respectivas aberturas (ruptura, afirmação e perigo). Esta metodologia<br />
foi aplicada pois eu queria ter a oportunidade de<br />
gravar tudo aquilo que me chamava a atenção sobre as imagens<br />
que fizessem referência aos temas procurados naquele<br />
determinado momento, flexibilizando as filmagens e apurando<br />
mais o olhar subjetivo casual e cotidiano.<br />
As imagens foram feitas ao longo de um período de aproximadamente<br />
duas semanas, filmando tudo que eu achava interessante.<br />
Quando não estava com a câmera junto, anotava<br />
as ideias para filmar quando possível. A maioria das imagens<br />
foram feitas andando pela rua, em transportes públicos, em<br />
espaços públicos como no Centro Cultural São Paulo, além de<br />
alguns vídeos feitos na própria ESPM e em ambientes internos.<br />
Depois deste período de filmagem, todos os vídeos feitos<br />
foram analisados e separados para qual abertura mais era<br />
representada e em seguida editadas de acordo como visualmente<br />
estabelecido anteriormente (ver pág. 151). Algumas vezes,<br />
vídeos que pensei que ficariam melhor em uma abertura<br />
determinada abertura acabaram por se encaixar melhor em<br />
outra.<br />
157<br />
Fotos dos vídeos e/ou inspirações, sem edição e pós-produção.
158<br />
Registro de processo de pós-produção no Final cut pro (cima);<br />
After Effect (abaixo).
159<br />
PÓS-PRODUÇÃO<br />
O processo de edição e correção visual de pós-produção do material<br />
videográfico – como ajuste de cor, iluminação e adição<br />
de efeitos em geral – foi realizado tanto no software Adobe After<br />
Effects quanto no Final Cut Pro. A edição dos vídeos para a<br />
composição narrativa foi feita exclusivamente no Final Cut Pro,<br />
pelo simples fato de já possuir conhecimento prévio e familiaridade<br />
com o programa.<br />
Durante a montagem, procurei primeiramente sincronizar<br />
o material gráfico com o ritmo do áudio. Desta maneira,<br />
consegui identificar com facilidade o melhor período de aparição<br />
do logo de Breaking Bad de acordo com a trilha sonora<br />
e baseado nos estudos comparativos de outras séries (ver pág.<br />
125), sendo colocado no final do vídeo.<br />
A edição dos vídeos possibilitava um mundo de possibilidades<br />
visuais; tudo que o programa permite com o material<br />
apresentado era possível. Logo, era necessário estabelecer parâmetros<br />
visuais com o intuito de padronizar, de certa forma,<br />
os materiais escolhidos, de maneira que houvesse uma sincronia<br />
e uma régua uniforme entre os gráficos, mas que ao mesmo<br />
tempo houvesse flexibilidade suficiente para que os vídeos<br />
se expressassem de acordo com o pedido.<br />
Confesso que a edição é a minha parte preferida de um<br />
projeto audiovisual, e a composição fílmica deste experimento<br />
foi, como esperado, um processo extremamente divertido e<br />
prazeroso. Apesar de existir uma barreira de dificuldade com<br />
relação a filtragem e seleção do filme mais apropriado, e além<br />
de todas as possibilidades e roteiros alternativos que a edição<br />
por si só é capaz influenciar na intenção e na compreensão<br />
geral do vídeo – como a ordem cronológica de aparição dos<br />
elementos, duração de exposição de cada um, etc. – eu enxerguei<br />
este processo de materialização visual do projeto como<br />
uma realização pessoal.
160<br />
Logo do Breaking Bad na primeira, segunda<br />
e terceira abertura, respectivamente.<br />
[248] Pôster comparativo entre as tipografias Avenir, Futura e Univers.<br />
161<br />
Breaking Bad<br />
Optei por não utilizar o logo oficial da série com o intuito de<br />
desassociá-lo com a abertura original, uma vez que esta representa<br />
principalmente a construção da tabela periódica contida<br />
no logo. Desta maneira, escolhi apenas por utilizar um logotipo<br />
formado por uma tipografia que transmitisse toda a frieza<br />
e violência da série, mas que ao mesmo tempo explorasse seu<br />
lado humano e sentimental.<br />
Avenir (Futuro, em francês) é uma tipografia geométrica<br />
sem serifa, projetada em 1988 pelo tipógrafo suíço Adrian Frutiger,<br />
com uma construção baseada em formas geométricas<br />
simples, objetivando formar uma curvatura que facilitasse a<br />
leitura. Em geral, as fontes geométricas sem serifa são acompanhadas<br />
de uma percepção fria e quase inexpressiva, com<br />
ângulos afiados e curvas perfeitas; contudo, Frutiger projetou<br />
a Avenir para ser uma tipografia mais humanista e orgânica<br />
quando comparada a outras fontes da categoria, como a Futura,<br />
por exemplo (GUERRA, 2013).<br />
Ao utilizar este logotipo em amarelo com o fundo verde,<br />
procurei implementá-lo dentro do conceito visual da releitura<br />
das aberturas de uma maneira geral, representando a passagem<br />
por um processo de transformação, dessaturação e ruptura<br />
ao longo dos três vídeos. Primeiramente, o logo seria moldado<br />
com um efeito de aspecto líquido e maleável, representando<br />
a reação de abalo a um impacto; no segundo, o logotipo recebe<br />
um efeito de choque ou disfunção elétrica, fazendo também<br />
associação com a narrativa audiovisual; e, por último, a fonte<br />
estaria corrompida e próxima ao ponto de sua autodestruição,<br />
chegando até mesmo a comprometer a sua legibilidade.
162
Imagens da releitura da primeira abertura.<br />
163
164
Imagens da releitura da segunda abertura.<br />
165
166
Imagens da releitura da terceira abertura.<br />
167
168
169<br />
REFLEXÃO & REGISTROS<br />
Como considero o processo em geral como algo contínuo e<br />
evolutivo de ideias, pensamentos e percepções, não querendo<br />
somente a pontuação do processo de cada experimento, achei<br />
melhor organizar a documentação sobre os registro na forma<br />
de história narrativa cronológica dos acontecimentos ao longo<br />
das duas partes do PGD, identificando com títulos ao longo do<br />
diário para identificar com mais precisão a posição de cada<br />
experimento nas ideias, para facilitar a sua procura imediata.
170<br />
PGD - PT. 1 PGD - PT. 2<br />
PESQUISA BREAKING BAD<br />
ANÁLISE TEMPORADAS 1-3<br />
TEMAS<br />
CONTEXTUALIZADORES<br />
PONTOS PRINCIPAIS<br />
COR<br />
ILUMINAÇÃO<br />
LINGUAGEM VISUAL<br />
HUMOR VISUAL SUTIL<br />
ANÁLISE<br />
TEMPORADAS 4 E 5<br />
EMBASAMENTO TEÓRICO<br />
CONSIDERAÇÕES DE<br />
EXPERIMENTAÇÃO<br />
EXPERIMENTOS<br />
QUEBRA DE EXPECTATIVAS<br />
LINGUAGEM VISUAL<br />
- ENQUADRAMENTO<br />
- ILUMINAÇÃO<br />
-SUBJETIVIDADE<br />
DINAMICIDADE<br />
EXPERIMENTOS<br />
CONTROLE VISUAL;<br />
CONTROLE NARRATIVO;<br />
CONTEXTUALIZAÇÃO;<br />
RELEITURA ABERTURA:<br />
- PRÉ<br />
- PRODUÇÃO<br />
- PÓS
171<br />
PGD - PT. 1<br />
A minha investigativa inicial era explorar Breaking Bad e<br />
como a série conta a sua narrativa visualmente, de maneira a<br />
engajar profundamente sua audiência, juntamente com o roteiro<br />
de drama e suspense e a personalidade de anti-herói do<br />
protagonista. Desde o primeiro contato que tive com a série<br />
em 2014, fiquei instigada na forma como Breaking Bad é capaz<br />
de transmitir sensações através da imagem, tanto que me<br />
serviu como inspiração e referência fotográfica para realizar<br />
o curta-metragem Eric em 2014, e das diversas vezes em que<br />
assisti novamente e procurei mais sobre a série, suas teorias<br />
e explicações. Com isso, o meu ponto de partida para a definição<br />
do tema deste projeto era a vontade de analisar e entender<br />
melhor a produção cinematográfica e as referências visuais da<br />
série, principalmente sua direção de arte e fotografia.<br />
Junto com a orientadora Prof. Flavia, discutimos quais os<br />
caminhos a seguir e decidimos iniciar o projeto fazendo uma<br />
pesquisa sobre Breaking Bad, tentando entender mais sobre<br />
seus criadores, origem, processo criativo, influências e alguns<br />
motivos pelos quais ela poderia ser considerada uma série revolucionária.<br />
Ainda com uma visão muito limitada sobre o assunto,<br />
a pesquisa realizada consistiu em relatar os fatos sobre a série,<br />
reforçando a cultura pop com o seu poder de identificação e relacionação<br />
com o público em escala massiva como sua principal<br />
fonte de sucesso. Contudo, achei que esta era uma visão muito<br />
superficial e mecânica sobre o assunto e que não fazia jus a explicar<br />
todo o potencial que tinha por trás da série. Percebi que não<br />
era possível encontrar uma resposta direta: se tratava de um conjunto<br />
de vários fatores que influenciaram a repercussão de Breaking<br />
Bad e que os presentes na pesquisa eram apenas alguns deles.<br />
É ai que entrava a curiosidade de investigação deste projeto.<br />
O segundo passo foi fazer uma análise sobre a série. Este<br />
processo foi longo e extensivo, sendo somente finalizadona segunda<br />
parte do PGD. A princípio, pensei que seria uma análise<br />
simples e relativamente rápida, uma vez que naquela época eu<br />
já tinha assistido Breaking Bad duas vezes completas e estava<br />
relativamente a par dos eventos dentro da série, pensei que<br />
somente iria relatar os seus pontos chave da linguagem cinematográfica;<br />
todavia, a partir do momento em que vi as calças<br />
de Walter White voando pelo deserto (sim, nos primeiros 20<br />
segundos de série), senti a necessidade de abrir um documento<br />
e registrar absolutamente tudo o que conseguia do ponto de<br />
vista de um espectador analítico que assistia a série pela primeira<br />
vez. Notei coisas que já havia notado antes, assim como<br />
notei inúmeras coisas que nunca havia reparado. Por questão<br />
de tempo e dedicação na análise de cada episódio na série,<br />
somente consegui realizar a análise até a terceira temporada<br />
para banca de qualificação, mas isso não foi visto como um<br />
problema. Até a terceira temporada consegui nesta primeira<br />
parte, consegui ter uma ideia relativamente clara dos recursos<br />
visuais que Breaking Bad utilizava.<br />
Quebra de expectativas<br />
Uma das coisas que eu somente reparei ao assistir a série pela<br />
3ª vez, mas mesmo assim não sendo nem mais e nem menos<br />
importante do que as outras obervações, e que mais me chamou<br />
a atenção como um ponto distinto na série em questão de<br />
cinematografia foi do uso do humor visual e sutil como alívio<br />
dramático, mas não somente utilizando personagens ou diá-
172<br />
longos para aliviar a tensão, como por exemplo o que acredito<br />
ser o propósito principal da caracterização pouco usual para<br />
um advogado criminalista de Saul Goodman, interpretado por<br />
Bob Odenkirk. Os indícios utilizados como sátira eram extremamente<br />
sutis, fazendo com que agissem como forma quase<br />
que inconsciente de aliviar o drama pesado da série no espectador.<br />
Para mim, estas sátiras visuais muitas vezes pareciam<br />
ter também o objetivo de disseminar um pouco de uma forma<br />
quase imperceptível a super-projeção de anti-herói criada em<br />
Walt e em Jesse, trazendo suas falhas egocêntricas<br />
para a realidade de simples seres humanos também dispostos<br />
aos atos imprevisíveis do mundo em que vivemos, criando<br />
assim uma possível correlação de identificação entre personagem<br />
fictício e espectador. Apesar de não ter sido feito um<br />
exercício de experimentação direta em cima destas quebras de<br />
expectativas visuais da série, ao apresentar estas observações<br />
em orientação, a prof. Flavia sugeriu colocá-las em forma de<br />
exercício de observação dentro do projeto por se tratar de um<br />
ponto de vista pessoal, porém relevante para reforçar o uso da<br />
reação imagética sutil na série. Vale realçar, porém, que este<br />
conceito permaneceu subentendido e contribuiu indiretamente<br />
para a execução de outros experimentos, como por exemplo<br />
o humor visual presente em algumas fotografias (como a fotografia<br />
abaixo) no experimento de Linguagem Cultural, a seguir.<br />
Linguagem Cultural<br />
Fotografia [249] tirada por Simone Borensztejn,<br />
na Museum Square em Viena (out/2015).<br />
A viagem pessoal em 2015 (de 5 a 15 de outubro) foi agendada<br />
de maneira espontânea com alguns meses de antecedência por<br />
ter sido uma oportunidade vinda de diversos lados e fatores,<br />
como feriado prolongado, oferta, disponibilidade, baixa temporada,<br />
etc. Apesar dela acontecer no meio do período letivo,<br />
desde o início eu não enxerguei o evento como um possível<br />
impacto negativo e prejudicial para o andamento do processo;<br />
muito pelo contrário, eu via a ideia de juntar o turismo com<br />
um projeto acadêmico algo muito interessante e enriquecedor.<br />
Já com a análise da série em um progresso mais avançado,<br />
consegui listar as características que achei mais presentes<br />
e relevantes na linguagem cinematográfica de Breaking Bad, e<br />
usei-as como base para realizar este projeto.<br />
Foto tirada por Simone Borensztejn em Budapeste, Hungria (out/2015).
O que era apenas para ser um experimento sobre linguagem<br />
relativo ao enquadramento, este projeto se desdobrou logo<br />
no início de sua execução, conforme fui tirando as primeiras<br />
fotografias. A foto [249] foi tirada pela minha mãe aproximadamente<br />
no momento em que eu descobri a relação entre o<br />
poder metafórico da subjetividade presente na ideia simbólica<br />
das escadas e Breaking Bad. A partir de então, eu tinha dois experimentos<br />
acontecendo ao mesmo tempo e que, mais tarde,<br />
com a realização da potencialidade de exploração da iluminação,<br />
se desdobrou em três experimentos paralelos.<br />
Inicialmente, este experimento foi denominado como experimento<br />
fotográfico que seria voltado somente para a exploração<br />
do conceito de enquadramento, mas que acabou se desdobrando<br />
em outros três experimentos sobre enquadramento,<br />
iluminação, e subjetividade (escadas). Todavia, com as experiências<br />
de mesma linguagem que surgiram ao longo do projeto,<br />
não havia mais sentido em chamá-lo de fotográfico uma vez<br />
que este meio não era mais exclusivo deste experimento. Ao<br />
refletir um pouco mais com relação ao seu significado essencial<br />
além da linguagem em si, me deparei com algo de uma escala<br />
grande e que mesmo assim eu não havia enxergado antes:<br />
as imagens gravadas nesta viagem não só representaram um<br />
exercício de reprodução de linguagem cinematográfica, mas as<br />
mensagens visuais que continham nestas imagens representa<br />
muito mais do que apenas o desenvolvimento do meio técnico;<br />
trata-se do registro visual a partir de um ponto de vista estrangeiro<br />
e isolado sobre três culturas completamente diferentes.<br />
Registro de processo.<br />
173<br />
Dinamicidade (Let’s Cook)<br />
O Let’s Cook foi um experimento espontâneo, não ouve planejamento<br />
prévio para a sua execução além das conclusões<br />
feitas a partir da análise dos episódios. Alguma das formas de<br />
passagem de tempo muito utilizado na série é por timelapse<br />
e jump cuts e a maneira como escolhi representá-la imediatamente<br />
devido a imagem que se formava a minha frente. Mesmo<br />
agindo por impulso e sem preparação, não quis perder a<br />
oportunidade de tentar o experimento. Ao final dos registros<br />
fotográficos, editei as fotos formando imagens estáticas em<br />
movimento, formato também conhecido como GIF 36 com o<br />
mesmo tempo de passagem estipulado para ambas.<br />
Fotografias de registro tiradas por Simone Borensztejn,<br />
em Budapeste (out/2015).<br />
36 Abreviatura popular para Graphics Interchange Format.
174<br />
Até a banca de qualificação, o experimento tinha sido<br />
bem sucedido em minha visão pessoal. Entretanto, os professores<br />
da banca comentaram que era importante mostrar e<br />
questionar o experimento com outras pessoas, principalmente<br />
estes exercícios que resultam em conclusões distintas e/ou<br />
ambíguas, para conferir se o entendimento geral era realmente<br />
este. E, de fato, ao perguntar para algumas pessoas sobre<br />
os resultados, pude ver que o experimento não foi bem sucedido<br />
a final. Acredito que a falta de planejamento tenha sido o<br />
maior motivo pelo qual o experimento falhou em seu objetivo<br />
quando conferido com a opinião de outras pessoas. Todavia,<br />
por se tratar de um projeto experimental, a falha não deve<br />
anular o experimento, mas sim servir como aprendizado.<br />
PGD - PT. 2<br />
Registro de processo.<br />
Agora na segunda parte do projeto, após a banca de qualificação<br />
e com os comentários e sugestões dos professores e<br />
orientadora, eu tinha um novo desafio: como aplicar o design<br />
utilizando a linguagem visual e cinematográfica de Breaking<br />
Bad por meio de experimentações. Retirar do estudo visual<br />
da série as técnicas de filmagem? A percepção? O subjetivo?<br />
Onde, o que, como aplicar este estudo, relacionando-o com<br />
os meus experimentos passados? Neste momento eu estava<br />
encontrando bastante dificuldade em prosseguir com o trabalho.<br />
Tentei de várias formar colocar este pensamento melhor<br />
organizado no papel para que o raciocínio fluísse melhor.<br />
Deveria deixar a referência de Breaking Bad lá no inicio e<br />
utilizar somente sua linguagem visual ou trazer a série para<br />
o tema das experimentações? Qual seria o foco principal, a<br />
linguagem ou o tema? Qualquer que fosse a decisão, ainda<br />
seria interessante desenvolver um elemento gráfico para o<br />
projeto? Ou, até mesmo, identificar este elemento gráfico e<br />
utilizar ele como fio condutor do projeto, conforme a sugestão<br />
do Prof. Luciano?<br />
De qualquer forma, também era essencial que a análise<br />
das temporadas restantes (4 e 5) fossem finalizadas o quanto<br />
antes. O término desta etapa foi de extrema importância para<br />
que eu pudesse ter uma visão geral da série e os aspectos que<br />
a compõe. Com a visão ampla, pude fazer uma seleção entre<br />
os padrões de linguagem que estão presente ao longo de toda<br />
a série, e dos pontos chave em cada temporada. Além disso,
175<br />
após analisar detalhadamente os 62 episódios de Breaking Bad,<br />
pude ver o quanto que a transformação e a evolução visual<br />
agem na série, de maneira sutil e gradual.<br />
Neste momento eu estava bastante indecisa sobre o quanto<br />
que Breaking Bad deveria e precisaria estar incluído neste projeto.<br />
Caso optasse por seguir com uma linha narrativa, as chances<br />
de distanciamento da série eram maiores, pois a narrativa provavelmente<br />
seria baseada principalmente na linguagem visual<br />
da série. Eu me sentia no “planteou” deste PGD, uma vez que a<br />
ideia inicial de realizar um estudo visual da linguagem da série<br />
e explorá-la com outros temas já não parecia o melhor caminho<br />
a seguir. Agradeço toda a paciência e sugestões de caminho da<br />
prof. Flavia neste momento e nas próximas duas semanas que se<br />
seguiram após o início da segunda parte do PGD, pois foi muito<br />
difícil para mim conseguir fechar todas as portas de possibilidades<br />
que eu abri até então e seguir com uma única ideia.<br />
Depois do não-tão-breve momento de desespero, considerei<br />
criar também um terceiro o caminho, seguindo o projeto<br />
tanto pelo tema visual da série quanto pela linguagem<br />
que ela apresenta. Refleti sobre o que a série visualmente<br />
me transmitia, sua essência, que foram os seguintes aspectos:<br />
transformação, controle/descontrole, fragilidade, valor,<br />
perigo. Levei para a orientação algumas dessas sensações,<br />
enfatizando principalmente a sensação de controle pessoal/<br />
narrativo por meio do visual. Ficou combinado de elencar 10<br />
elementos dos quais eu considerava principais na série, sem<br />
ser elementos óbvios e superficiais visualmente diretos como<br />
equipamentos químicos, relacionado ao câncer/hospital, drogas<br />
e narcotráfico, ao dinheiro e as autoridades, e a visualização<br />
dos personagens em si. A lista ficou definida como:<br />
1. Explosão/Quebrando/Cortando<br />
2. Cristal/diamante<br />
3. Vidro quebrado<br />
4. “Prisão de vidro” Vidro/containers (não equipamentos químicos)<br />
para representar aprisionamento e fragilidade/transparência<br />
5. Meia-face<br />
6. Sufoco (relacionado a tosse/câncer)<br />
7. Visão “vignette”/foco intenso (relacionado a ambição e ao poder)<br />
8. Cenário aberto/extenso (falta de poder/controle e ao inesperado)<br />
9. Mosca (conflito interno)<br />
10. Óculos Walt/o formato das lentes (referência objeto personagem)<br />
+Iluminação/reflexo<br />
(Os elementos em cinza são os que eu removi posteriormente<br />
pois eram muito diretos com a série)<br />
Com os elementos listados, procurei as imagens que<br />
mais se aproximavam do conceito visual em que eu estava<br />
formando e elaborei um painel semântico e organizei-o pelos<br />
elementos (em geral) que mais me passavam a percepção de<br />
controle/descontrole:
Controle Visual<br />
Este foi um dos experimentos mais importantes dentro da segunda<br />
etapa do PGD. Com a finalização da análise de todas as<br />
temporadas, as características sobre o controle do personagem/elemento<br />
na narrativa e como isto era visualmente retratado<br />
foi o que me chamou mais a atenção para explorar nesta<br />
segunda parte do Projeto.<br />
Para a realização deste exercício, elaborei um mapa<br />
mental para ter uma melhor visualização da ideia. Separei o<br />
mapa em dois ramos principais: controle e descontrole, e do<br />
painel semântico elaborado para a lista de elementos essenciais<br />
retirados da série, reorganizei as imagens, separando-as<br />
entre as que me causavam sensação de controle e as que me<br />
passavam a sensação de descontrole. Desta separação eu confirmei<br />
o que já tinha observado antes com relação as similaridades<br />
dos aspectos visuais que cada categoria apresenta.<br />
Registro de processo.
Foi quando eu dei um passo para trás e me perguntei:<br />
afinal, o que é controle? E exatamente que tipo de controle<br />
eu estou falando aqui? Eu conseguia mentalmente visualizar<br />
o que eu gostaria de representar, mas as ideias ainda estavam<br />
muito emaranhadas entre si e uma clareza visual era necessária.<br />
Então desenvolvi um outro mapa mental, que acredito que<br />
o desenvolvimento prévio deste era essencial para o entendimento<br />
das características visuais de cada categoria.<br />
Centralizando a ideia de controle, fiz uma correlação<br />
com descontrole. Primeiramente, observei que controle poderia<br />
ser basicamente uma técnica cinematográfica que visa<br />
ordenar o olhar do espectador na cena, criando uma importância<br />
momentânea a um elemento, capaz de controlar a narrativa<br />
naquele momento. Porém, vendo controle desta maneira,<br />
onde exatamente entra o descontrole? Afinal, antes mesmo<br />
de definir controle, o que eu entendo por descontrole? Retirei<br />
três possibilidades: seria o descontrole somente um elemento<br />
antagônico comparativo ao controle, no sentido que um não<br />
existe sem o outro? Ou será que a palavra “descontrole” se<br />
refere a um aspecto imagético e funcional similar a um erro<br />
ou uma falta de sucesso em produzir e reproduzir controle?<br />
Ou, por fim, seria o descontrole uma composição visual com<br />
o intuito de criar ou simular a sensação de descontrole físico<br />
e emocional ao espectador/personagem? Esta última observação<br />
era o que eu estava buscando transmitir com a palavra<br />
“descontrole”, e era exatamente isso que eu gostaria de fazer<br />
com a palavra controle: inseri-lo na narrativa e, por meio da<br />
composição visual, iluminação e cor, criar uma percepção de<br />
controle físico e emocional. Porém, A não exclui B nem vice-<br />
-versa, mas se complementam: o controle visual auxilia na<br />
criação do controle narrativo.<br />
177<br />
A<br />
B<br />
A<br />
c<br />
B
178<br />
A representação deste conceito em forma de experimento<br />
era um pouco ambíguo, porém. Considero que a visualização<br />
do conceito já pronto é algo relativamente simples, a<br />
maior dificuldade aqui foi chegar na conclusão deste conceito<br />
e explicar toda a linha de pensamento. Retratar o conceito poderia<br />
ser feito desde simplesmente pegando duas imagens da<br />
internet e colocando-as lado a lado (como foi feito algumas vezes<br />
aqui nesta monografia para reforçar o conceito), então me<br />
peguei pensando em como iria colocar “a mão na massa” para<br />
ter a minha própria maneira de representação. Decidi por faze-lo<br />
em vídeo, uma vez que eu gostaria de explorar mais este<br />
recurso. Optei também por utilizar uma situação cotidiana e<br />
simples, onde quem visse e entendesse o conceito do vídeo<br />
pudesse relembrar ao viver aquela situação.<br />
O trânsito de veículo nas ruas foi algo que sempre me<br />
instigou. É uma situação relativamente organizada, com faixas,<br />
placas, sinalizações... mas da mesma forma os carros colocados<br />
nas ruas criam um caos visual, um descontrole visual. Escolhi<br />
por fim fazer filmagens dentro do carro em uma estrada<br />
passando por um túnel. Acabei com mais metragem do que<br />
imaginei e me peguei na dúvida em como editá-las. Primeiramente,<br />
desenvolvi a composição indo do descontrole visual<br />
para o controle, que era a sequência em que Breaking Bad<br />
mais mostrava na minha visão pessoal. Entretanto, durante<br />
a edição, achei que o resultado não ficou satisfatório. Talvez<br />
pelo jeito em que as filmagens foram feitas, ou não havia um<br />
material de meio termo que se encaixasse melhor ali no meio.<br />
Com isso, fiz o caminho inverso, indo do controle visual para<br />
descontrole. Acrescentei e tirei algumas filmagens da tentativa<br />
anterior e o resultado foi bem melhor.<br />
As imagens feitas fora do túnel, e que foram as escolhidas<br />
para representar a percepção de descontrole visual, ficaram<br />
extremamente trêmulas; entretanto, este fator contribuiu<br />
como suporte do conceito de descontrole. Optei por dramatizar<br />
a sensação de descontrole, incluindo efeitos mais impactantes<br />
na tentativa de representar este conceito. O vídeo não<br />
possui áudio pois não achei que seria necessário, uma vez que<br />
o experimento se trata de uma representação de um conceito<br />
puramente visual.<br />
Ao explicar o conceito e o objetivo do vídeo, mostrei o experimento<br />
para 5 pessoas, onde todas disseram compreender<br />
e visualizar com precisão. Apesar da complexidade do conceito,<br />
concluo então que o experimento foi bem sucedido. :)<br />
Controle Narrativo Linear<br />
Com o intuito de acrescentar a percepção de controle visual do<br />
exercício anterior dentro de uma narrativa linear, a prof. Flavia<br />
sugeriu fazer experimentações acrescentando personagens<br />
para auxiliar melhor a visualização da narrativa. A preferência<br />
era um experimento com uma narrativa e meio simples, porém<br />
que fosse consistente. Os personagens constem em um gato<br />
protagonista, uma caixa e outro gato (idêntico) coadjuvante.<br />
Como se trata de um estudo de criação do controle narrativo<br />
estabelecido pela edição e composição da ordem sequencial<br />
das imagens, tirei as fotos de maneira aleatória, não me importando<br />
neste primeiro momento em criar uma narrativa – pois<br />
isto seria feito posteriormente – mas com o objetivo inicial de<br />
conseguir captar nas fotos a sensação de controle visual para<br />
então formar um narrativo coerente. Após 113 fotos, agrupei as<br />
imagens mais impactantes no sentido de percepção de controle<br />
visual, e organizei-as de maneira que criassem uma narrativa.<br />
Algumas dificuldades pelo<br />
processo...<br />
Personagens
Fotos organizadas por ordem cronológica de cliques.<br />
Contextualização Narrativa Visual<br />
Com o conceito de controle visual definido e o exercício de<br />
sua aplicação na criação de uma narrativa linear com personagens,<br />
eu queria então explorar um pouco mais sobre o poder<br />
que a imagem tem de contextualizar o espectador.<br />
Assim, diferentemente do exercício anterior, imaginei<br />
uma narrativa não tão linear, mas que contextualizasse o vídeo<br />
sobre um possível personagem, seus gostos e interesses<br />
e a atmosfera da situação naquele momento. Assim como no<br />
vídeo sobre controle e descontrole visual (ver pág. 115) quis<br />
retratar uma realidade de um cotidiano relativamente simples<br />
que retratasse uma situação de relaxamento e tranquilidade.<br />
Buscando atingir este objetivo, fiz um breve brainstorm de elementos<br />
que passassem esta sensação, e que ao mesmo tempo<br />
pudessem contar um pouco mais sobre aquele personagem<br />
(que não apareceria de forma direta na história). Busquei utilizar<br />
elementos do qual tenho contato e dos quais seriam de<br />
fácil acesso para a filmagem.<br />
179<br />
Dentro da ordem, a seleção das fotos que foram escolhidas para a narrativa final<br />
Durante este último processo, senti uma grande dificuldade<br />
em escolher uma única narrativa diante de tantas possibilidades<br />
que a organização das fotos permitiam, entendendo<br />
assim que somente pela edição da sequência dispositiva das<br />
mesmas fotos abriam diferentes caminhos de roteiros narrativos.<br />
As fotos marcadas acima foram as selecionadas para a<br />
apresentação final da composição de controle narrativo, porém<br />
está é somente uma das possibilidades de formação de<br />
enredo em dezenas outras composições que a combinação de<br />
fotos dentre estas 113 permitem.<br />
Como eu queria reforçar a percepção de controle visual tão<br />
presente na série, era fundamental que as filmagens adquirissem<br />
um plano fechado dos elementos, pois como demonstrado<br />
ao longo da pesquisa, o foco mais centrado é capaz de<br />
direcionar o olhar do espectador para o seu significado, tanto<br />
real quanto simbólico. Desta maneira, a intenção de utilizar<br />
as imagens com o objetivo principal de contextualização seria<br />
melhor sucedida.<br />
A opção para o áudio foi uma tarefa um pouco mais complicada.<br />
Procurava algo que transmitisse a tranquilidade, mas<br />
que ao mesmo tempo tivesse um passo ritmado e marcante.<br />
Após procurar algumas alternativas em sites de música como<br />
o SoundCloud 37 , percebi o mundo de possibilidades que existe<br />
em questões de trilha sonora e o como esta é capaz de influenciar<br />
no resultado geral final do vídeo. Ao decidir por utilizar<br />
37
180<br />
a música Let The Drummer Kick (Instrumental), de Citizen<br />
Cope, procurei incluí-la de maneira que o vídeo sincronizasse<br />
sutilmente com o ritmo que a trilha providenciava.<br />
Ao mostrar o vídeo para três pessoas sem explicar o objetivo<br />
do experimento, perguntando depois sobre o que elas entenderam<br />
com o vídeo, duas souberam dizer que se tratava se<br />
uma situação com gatos e elementos de tranquilos, como café<br />
e leitura de revista de viagem, enquanto uma pessoa relatou<br />
não entender o objetivo.<br />
Registro de processo.<br />
Releitura Experimental Abertura de Breaking Bad<br />
Diversos tipos de ideias vieram à mente sobre como colocar<br />
em prática todos os itens (estrutura, duração, continuidade,<br />
toda a abordagem temática e relação musical) em três vídeos<br />
de 35 apenas segundos cada. Além de todos os assuntos relevantes<br />
da série que foram selecionados previamente para<br />
compor o tema (ver pág. 141), ideias complementares surgiam<br />
a todo o instante, tais como: representar do ciclo diário da<br />
vida (nascer, crescer e morrer) incorporado no ciclo diário do<br />
deserto; representar os três estados químicos da água (gasoso,<br />
líquido e sólido); e outros. Para isso, eu teria que utilizar somente<br />
elementos semióticos.<br />
Além disso, inicialmente pensei em aplicar o conceito<br />
de controle e descontrole visual de maneira geral e inflexível<br />
nas aberturas, sendo a primeira abertura praticamente inteira<br />
feita em planos abertos e iluminada; a segunda um meio termo<br />
até chegar na terceira, com planos fechados e iluminação<br />
escura. Todavia, percebi que esta poderia não ser a melhor<br />
maneira de transmitir toda a evolução visual da série, principalmente<br />
em termos narrativos, uma vez que ambos andam<br />
juntos. Utilizar somente planos abertos na primeira abertura,<br />
poderia causar apenas confusão, uma vez que não há muita<br />
identificação do que estaria acontecendo naquele plano; poderia<br />
ser uma abordagem subjetiva demais para o espectador.<br />
Com isso eu queria, aparentemente, criar um monstro<br />
Frankstein de ideias, praticamente impossível de ser produzido<br />
dentro da realidade atual e das limitações técnicas do projeto.<br />
De fato, era muito conteúdo para abordar de maneira extremamente<br />
subjetiva. Então limitei a quantidade de ideias apenas<br />
para o que foi estabelecido dentro dos pontos principais<br />
da série para serem abordados como tema das aberturas, que<br />
é a característica western e a relação crítica entre humanidade<br />
e deserto e a transformação visual, que inclui a evolução das<br />
cores, da iluminação e a percepção do descontrole para o controle<br />
visual. Para mais informações com relação a elaboração<br />
da linha de raciocínio sobre esta ideia inicial ver na sessão de<br />
Anexos desta monografia, na página 186.
181<br />
ESTRATÉGIAS DE DISSEMINAÇÃO<br />
Se tratando de um projeto de cunho experimental, é importante<br />
adquirir a perspectiva de que este trabalho, desenvolvido<br />
a partir de um tema de investigação, pode ser considerado<br />
uma forma de contribuição intelectual; possibilitar o acesso<br />
sobre as informações aqui exploradas é uma ótima maneira<br />
de girar e ampliar seu conteúdo e, se possível, abrir o ponto de<br />
vista geral sobre este tema para outras pessoas.<br />
Como explicado no embasamento teórico desta monografia<br />
(ver pág. 36), a internet é uma das tecnologias que possibilitou<br />
que o conteúdo navegasse pela plataforma da rede e<br />
tomasse uma escala de acesso mundial e sem fronteiras, tanto<br />
de forma intacta 38 como expandida e complementar 39 . Deste<br />
modo, considero que utilizar os recursos sociais da web seja a<br />
melhor maneira de disseminar o conteúdo este projeto.<br />
Acredito que há várias possibilidades de disponibilizar o<br />
acesso às informações aqui presente. Assim como tive acesso<br />
à produções feitas por fãs e interessados enquanto buscava<br />
pelas informações, acredito que a disseminação do conteúdo<br />
por meio de plataformas populares de compartilhamento<br />
audiovisual, como o Youtube e o Vimeo, sejam a alternativa<br />
mais coerente e que possam servir como referências futuras<br />
para alguém que procura. Com isso, todos os experimentos<br />
em formato de vídeo estão disponibilizados em uma playlist<br />
do projeto nos seguintes links: <br />
e .<br />
Além disso, uma forma interessante de compartilhar<br />
este estudo seria por meio do Reddit. Segundo o próprio site<br />
, o Reddit tem como objetivo unir pessoas em<br />
uma comunidade por meio do compartilhamento de ideias,<br />
com votação e a abertura de qualquer tópico para discussão.<br />
Além disso, este PGD serviu de inspiração para iniciar<br />
um pequeno projeto paralelo de fotografias subjetivas feitas<br />
pelas cidades e centros urbanos, inicialmente sendo compartilhado<br />
pelo Instagram com o nome de Subjecity . Como boa parte das fotos tiradas como experimentação<br />
deste projeto possuem este cunho, pretendo subi-las<br />
com o objetivo de disseminar ainda mais o seu conceito.<br />
38 Crossmídia<br />
39 Narrativa transmídia.
182
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
183<br />
Comecei este PGD na segunda metade de 2015 como uma simples<br />
fã de séries televisivas e admiradora do espaço em que<br />
elas vêm conquistando no universo cinematográfico, e de sua<br />
presença conversativa – praticamente já estabelecida – no<br />
dia-a-dia dos espectadores. Desde que entrei em contato pela<br />
primeira vez com a série, Breaking Bad foi capaz de me providenciar<br />
uma base de referência para inspirações visuais e<br />
enxergar experiências paralelas dentro do universo cinematográfico,<br />
crescendo cada vez mais o interesse de estudá-la e<br />
investigá-la com mais amplitude.<br />
Um ano depois, finalizo este projeto com muita felicidade<br />
por ter conseguido adquirir uma visão tão rica e extensa<br />
sobre o assunto, não somente limitando ao mundo de Breaking<br />
Bad e outras séries, mas sim compreendendo os fatores<br />
e componentes que contribuíram tanto diretamente quanto<br />
indiretamente para o desenvolvimento deste universo audiovisual,<br />
sendo refletido o seu impacto na sociedade antes e hoje.<br />
A possibilidade de explorar este tema como projeto de<br />
graduação dentro da modalidade experimental de design visual<br />
proporcionou uma experiência inteiramente nova para<br />
mim. Ao longo do trabalho, adquiri uma nova perspectiva sobre<br />
os conceitos sobre a falha, o erro, o imprevisível e o inacabado,<br />
tomaram outro posicionamento e contribuindo diretamente<br />
para o desenvolvimento de uma experiência e o seu<br />
processo criativo; ao contrário da expectativa de um produto<br />
final e pronto “para ontem”, como estamos tão acostumados<br />
na sociedade exigente e instantânea em que vivemos hoje.<br />
Apesar de um prazo limite estipulado, o projeto experimental<br />
não exige um fim concreto: a curiosidade e o interesse representam<br />
os combustíveis necessários para permitir a continuação<br />
e o desenvolvimento constate da proposta.<br />
Tudo produzido neste projeto foi desenvolvido com os<br />
recursos técnicos, intelectuais e emocionais disponíveis dentro<br />
do prazo estabelecido para o trabalho. Acredito e reconheço<br />
que tudo estudado ao longo deste ano representa apenas o<br />
topo do iceberg diante de tantas alternativas e possibilidades<br />
de exploração e investigação, tanto do próprio Breaking Bad,<br />
quanto das séries televisivas e de seu universo cinematográfico<br />
em geral.
184<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
ALMEIDA, Giselle. Painel da abertura de “Velho<br />
Chico” levou cinco dias para ficar pronto. 2016 mar.<br />
Disponível em: .<br />
Acesso em: 10<br />
abril 2016.<br />
AMERICO, André. Niépce, Daguerre e Talbot: os<br />
pioneiros. 2011 abril. Disponível em: . Acesso em<br />
16 abril 2016.<br />
ARANHA, Eduardo. 1º filme de sempre: Cavalo<br />
em Movimento. 2015 jul. Disponível em: . Acesso<br />
em: 18 abril 2016.<br />
BOURN, Jennifer. Color Meaning: Meaning of The<br />
Color Blue. 2011 jan. Disponível em: . Acesso<br />
em: 15 abril 2016.<br />
BROOKLYN COLLEGE. Film Department. Film Glossary.<br />
Disponível em: .<br />
Acesso em: 11 nov. 2015.<br />
AMBROSE, Gavin; HARRIS, Paul. Design básico: cor.<br />
Porto Alegre: Bookman, 2009.<br />
AMC, Aaron Paul. Disponível em: . Acesso<br />
em: 16 agosto 2015.<br />
AMC, Breaking Bad. Disponível em: . Acesso em:<br />
16 agosto 2015.<br />
AMC, Bryan Cranston. Disponível em: .<br />
Acesso em: 16 agosto 2015.<br />
AMC, Mark Johnson. Disponível em: .<br />
Acesso em: 16 agosto 2015.<br />
AMC, Q&A: Bryan Cranston (Walter White) – Part 1.<br />
Disponível em: Acesso em: .<br />
Acesso em: 16 agosto 2015.<br />
AMC, Q&A: Mark Johnson (Executive Producer).<br />
Disponível em: Acesso em: .<br />
Acesso Acesso em: 16 agosto 2015.<br />
ARAÚJO, Felipe. [2013]. Expressionismo Alemão.<br />
Disponível em: .<br />
Acesso em: 4 abril 2016.<br />
ARAÚJO, Leonardo Carneiro de. A teoria das cores de<br />
Goethe. 2013. Disponível em: .<br />
Acesso em: 6 nov. 2015.<br />
ARMES, Roy. On Video: o significado do vídeo nos<br />
meios de comunicação. São Paulo: Ed. Summus, 1999.<br />
AUMONT, Jacques. A Estética do Filme. 5. ed. Campinas:<br />
Papirus Editora, 2007.<br />
AUGUSTO, Peterson. As músicas de abertura mais<br />
marcantes das séries de TV. Diponível em: .<br />
Acesso em: 13 maio 2016.<br />
BARROS, Lilian Ried Miller. A cor no processo criativo:<br />
um estudo sobre a Bauhaus e a teoria de Goethe. São<br />
Paulo: Ed. Senac, 2006.<br />
BELOTTI, Tiago. Expressionismo Alemão. 2015<br />
jun. Disponível em: . Acesso em: 4 abril 2016.<br />
BRUM, Bernardo. A “química moral” de Breaking<br />
Bad. Disponível em: .<br />
Acesso em: 17 agosto 2015.<br />
BUTCHER, Pedro. Brevíssimo histórico das relações<br />
cinema/TV no Brasil. Disponível em: . Acesso em: 21<br />
abril 2016.<br />
CABELLO, Camila. Imagem: Codificações, Técnicas e<br />
Iconografias. Disponível em: . Acesso em: 10 out. 2015.<br />
CHIAROSCURO in painting: the power of light<br />
and dark. Disponível em: .<br />
Acesso em: 6 maio 2016.<br />
CLASEN, Luisa. Expressionismo Alemão - Lully de<br />
Verdade 176. 2013 dez. Disponível em: . Acesso em: 4 abril<br />
2016.<br />
CLASEN, Luisa. O que é Efeito Kuleshov? - Lully de<br />
Verdade 264. 2015 dec. Disponível em: . Acesso em: 5 maio<br />
2016.<br />
AMC, Vince Gilligan. Disponível em: .<br />
Acesso em: 16 agosto 2015.<br />
BEZERRA, Julio. Uma Tragédia na Alemanha. 2008 dez.<br />
Disponível em: . Acesso em: 4 abril 2016.<br />
COSTA, Jorge. Telenovela: origem, evolução e<br />
genealogias de um modo de produção. 2001.<br />
Disponível em: . Acesso em: 23 abril 2016.
COSTA, Jorge. Telenovela: origem, evolução e<br />
genealogias de um modo de produção. 2002.<br />
Disponível em: . Acesso em:23 abril 2016.<br />
COUTINHO, Iluska; SILVEIRA, Junior. Comunicação:<br />
tecnologia e identidade. Rio de Janeiro: Mauad, 2007.<br />
CSILLAG, Paula. Comunicação com cores: Uma<br />
abordagem científica pela percepção visual. São<br />
Paulo: Senai-sp, 2015.<br />
CUROTTO JUNIOR, José Antonio; GHOMES, Rogério. Luz<br />
em Movimento. Londrina: Ed. Projética, 2013, v.4, n.2, p.<br />
207-225<br />
DANGER, Eric P.; SÁ, Ilza Marques de. A cor na<br />
comunicação. Rio de Janeiro: Forum, 1973.<br />
FRASER, T.; BANKS, A. O guia completo da cor. São<br />
Paulo: Ed. Senac, 2007.<br />
FREITAS, Rafael. Sociabilidade, tecnologia da internet<br />
e comunicação. 2014 jan. Disponível em: . Acesso em: 6 maio 2016.<br />
FURQUIM, Fernanda. A 1ª Era de Ouro da TV<br />
Americana: 1958-1971. 2011 abril. Disponível em:<br />
.<br />
Acesso em 24 abril 2016.<br />
GIO. Breaking Bad & a Narrativa Química. Disponível<br />
em: . Acesso em: 11<br />
nov. 2015.<br />
HOOPER, Riley. Understanding Jump Cuts. Disponível<br />
em: .<br />
Acesso em: 11 out. 2015.<br />
IMDB, Aaron Paul. Disponível em: . Acesso em:<br />
15 agosto 2015.<br />
IMDB, Breaking Bad. Disponível em: . Acesso em: 15<br />
agosto 2015.<br />
IMDB, Bryan Cranston. Disponível em: . Acesso em: 15 agosto<br />
2015.<br />
IMDB, Mark Johnson. Disponível em: . Acesso em:<br />
15 agosto 2015.<br />
185<br />
DOC COMPARADO (Org.). DA CRIACAO AO ROTEIRO:<br />
Teoria e prática. São Paulo: Summus, 2009.<br />
DUCKWORTH, A. R. Basic Film Techniques: Match-Cut.<br />
2008. Disponível em: .<br />
Acesso em: 11 nov. 2015.<br />
DURÁN, Claudia. Technicolor, o cinema de cores vivas.<br />
Disponível em: . Acesso em: 7 nov. 2015.<br />
FARIAS, Maria. A Importância Da Trilha Sonora<br />
Como Elemento Comunicacional Na Composição<br />
De Musicais: Uma Análise Do Filme “Moulin Rouge-<br />
Amor Em Vermelho”. 2011 jun. Disponível em: . Acesso em: 13 maio 2016.<br />
FEDRIZZI, Vitória; MACHADO, Nicolas; WOICIECHOSKI, Camila.<br />
5 Conceitos de Henry Jenkins - Cultura da Convergência.<br />
2014 out. Disponível em: . Acesso em: 6 maio 2016.<br />
GLAUBER, Willians. Os bastidores das séries<br />
antológicas e como elas funcionam. 2014 set.<br />
Disponível em: . Acesso em: 15 abril 2016.<br />
GOMES FILHO, João. Gestalt do objeto: sistema de<br />
leitura visual da forma. 6. ed. São Paulo: Escrituras<br />
Editora, 2004.<br />
GOMES, Krissia. As cores por trás do filme O fabuloso<br />
destino de Amelie Poulain. Disponível em: . Acesso em: 7 nov. 2015.<br />
GUFFEY, Ensley F., KOONTZ, K. Dale. Vamos Cozinhar?<br />
O guia completo e não autorizado da série Breaking<br />
Bad. 1ª Edição. São Paulo: Leya Editora LTDA, 2014.<br />
HENRIQUE, Pedro. Fundamentos das Cores. Disponível<br />
em: . Acesso em: 4 nov. 2015.<br />
IMDB, Vince Gilligan. Disponível em: . Acesso em:<br />
15 agosto 2015.<br />
JAKEWARNER96X. Breaking Bad - The Evolution of<br />
Walter White. Disponível em: . Acesso em: 15 agosto<br />
2015.<br />
JANELA, Mike. Breaking Bad cooks up recordbreaking<br />
formula for GUINNESS WORLD RECORDS<br />
2014 edition. 2013 set. Disponível em: .<br />
Acesso em: 18 agosto<br />
2015.<br />
JUCHEM, Marcelo. E fez-se a luz: contribuições do<br />
medium fotográfico para a instauração do realismo<br />
literário. 2009. Disponível em: . Acesso em 16<br />
abril 2016.
186<br />
JÚNIOR, Luís. A influência inconfessável: como o<br />
folhetim formou o romance brasileiro. 2011. Disponível<br />
em: . Acesso em: 23 abril 2016.<br />
KHUMTHUKTHIT, Ploy. A nova diplomacia pública do<br />
Japão, capítulo 4: o que é cultura pop. Disponível em:<br />
Acesso em 9 de junho de 2015.<br />
KOENING, Christian. Montagem e efeito Kuleshov.<br />
2011 jun. Disponível em: . Acesso<br />
em: 5 maio 2016.<br />
LANSEN, Marta. A Invenção da Fotografia e Seu<br />
Impacto na Sociedade. 2013 mar. Disponível em:<br />
. Acesso em: 16 abril 2016.<br />
LUDGERO, Pedro. Derivações do “Efeito Kuleshov”.<br />
2012 set. Disponível em: .<br />
Acesso em: 5 maio 2016.<br />
MACAULAY, Scott. How Stanley Kubrick Shot Barry<br />
Lyndon Using Natural Light. 2015 abril. Disponível em:<br />
. Acesso em: 6 maio 2016.<br />
MACHADO, Arlindo. A Arte do Vídeo. São Paulo:<br />
Brasilience, 3ª edição, 1997.<br />
MANINI, Ricardo. Entre silêncios e ruídos, experiências<br />
sonoras no cinema. 2013 set. Disponível em:<br />
. Acesso em: 5 maio<br />
2016.<br />
MARTIN, Brett. Homens Difíceis: Os bastidores do<br />
processo criativo de Breaking Bad, Família Soprano,<br />
Mad Man e outras séries revolucionárias. São Paulo:<br />
Aleph, 2014.<br />
MARTIN, Marcel; NEVES, Paulo (Trad.). A linguagem<br />
cinematográfica. São Paulo: Brasiliense, 2007.<br />
MARTINS, André R. A Luz no Cinema. Belo Horizonte:<br />
UFMG, 2004.<br />
MASCELLI, Joseph. Os Cinco Cs da Cinematografia:<br />
Técnicas de Filmagem. Brasil: Ed. Summus, 2010.<br />
MELLO, Christine. Os VJs e as imagens ao vivo,<br />
inacabadas, imersivas: o corpo em partilha com a<br />
obra. 2004. Disponível em: . Acesso em:<br />
8 maio 2016.<br />
MERIGO, Carlos. “Breaking Bad” e as novas regras<br />
da televisão. 2013 Ago. Disponível em: .<br />
Acesso em: 4 abril 2016.<br />
MORAES, Paula Louredo. “Maconha”; Brasil Escola.<br />
Disponível em . Acesso em 08 de novembro de 2015.<br />
NEMES, Ana. 175 anos de fotografia: conheça a<br />
história dessa forma de arte. 2014 ago. Disponível<br />
em: .<br />
Acesso em: 16 abril 2016.<br />
NEMES, Ana. Fotografia: Entenda os diferentes tipos<br />
de iluminação. Disponível em: .<br />
Acesso em: 10 nov. 2015.<br />
NOGUEIRA, Rodrigo. E se este for o fim de uma era<br />
na TV? Disponível em: .<br />
Acesso em: 5 maio 2016.<br />
OLIVEIRA, Ricardo. Janela Indiscreta - Análise - O Meu<br />
Filme Preferido. 2015 fev. Disponível em: . Acesso em: 3 abril<br />
2016.<br />
OLIVIERI, Antonio. Romantismo no Brasil (5): Folhetins<br />
para entreter classe média. 2005 jul. Disponível em:<br />
.<br />
Acesso em: 23 abril 2016.<br />
PARKER, Charley. Edward Hopper. 2007. Disponível<br />
em: <br />
. Acesso em: 4 abril 2016.<br />
PERSICHETTI, Simonetta. Arte moderna e fotografia.<br />
2012 mar. Disponível em: .<br />
Acesso em: 16 abril 2016.<br />
PIOLA, Bruno. Projeto Hitchcock: Janela Indiscreta<br />
(1954). 2011. Disponível em: .<br />
Acesso em: 3 abril 2016.<br />
PRIMEIRO FILME. 9. Enquadramentos: planos e<br />
ângulos. Disponível em: .<br />
Acesso em: 10 out. 2015.<br />
QUEIROZ, Mônica. Círculos cromáticos. Disponível em:<br />
.<br />
Acesso em: 6 nov. 2015.<br />
RADULESCU, Roxy. Movies in Color. Disponível em:<br />
. Acesso em: 4 nov. 2015.<br />
RIBEIRO, Diana. Edward Hopper: O Pintor da Solidão.<br />
[2013] Disponível em: . Acesso em: 4 abril 2016.<br />
RIBEIRO, Maria Mazzarello Cotta. Do trágico ao drama,
salve-se pelo humor! Belo Horizonte, 2008. Disponível<br />
em: . Acesso em: 12<br />
nov. 2015.<br />
RIBEIRO, Milton. Edward Hopper, os 130 anos do poeta<br />
da solidão urbana. 2013 jan. Disponível em: .<br />
Acesso em:<br />
4 abril 2016.<br />
ROCAMORA, José Carlos. Apresentação - TCC sobre TV,<br />
Fãs e Seriados. Disponível em: .<br />
Acesso em: 17 agosto 2015.<br />
ROSSIN, Giovanna. Seis coisas que você nunca soube<br />
sobre Mad Men. 2014 maio. Disponível em: .<br />
Acesso em: 12 abril 2016.<br />
SALLES Filipe. A Origem da Trilha Sonora. 2008 jul.<br />
Disponível em: .<br />
Acesso em: 13 maio 2016.<br />
SANT’ANA, Lorena. Há 119 anos os irmãos Lumiere<br />
exibiram o primeiro filme da história. Disponível em:<br />
.<br />
Acesso em: 18 abril 2016.<br />
SANTOS, Adriana. Cinema nacional: a luz natural<br />
ainda é a melhor fonte de iluminação para os filmes<br />
brasileiros. 2001 jun. Disponível em: .<br />
Acesso em: 6 maio 2016.<br />
SILVA, Anna Lúcia dos Santos Vieira e. Aprendiz,<br />
docência e escola: novas perspectivas. 2016 abril.<br />
Disponível em: . Acesso em:<br />
8 maio 2016.<br />
SOUSA, Rainer Gonçalves. Cinema Novo Brasil.<br />
Disponível em: . Acesso em: 6 maio 2016.<br />
SENS, André. Abertura: Afinal, o Que Querem<br />
as Mulheres? 2010 nov. Disponível em: .<br />
Acesso em: 10 abril 2016.<br />
SEPINWALL, Allan. Sepinwall on TV: Bryan Cranston<br />
talks ‘Breaking Bad’season two. Disponível em:<br />
.<br />
Acesso em: 15 agosto 2015.<br />
SERRANO, Daniel Portillo. O Significado das cores: O<br />
Amarelo em Propaganda, Publicidade e Marketing.<br />
2014. Disponível em: .<br />
Acesso em:<br />
15 abril 2016.<br />
SERRANO, Daniel Portillo. O Significado das cores: O<br />
Verde em Propaganda, Publicidade e Marketing. 2014.<br />
Disponível em: .<br />
Acesso em: 15 abril 2016.<br />
SERRANO, Daniel Portillo. O Significado das cores: O<br />
Vermelho em Propaganda, Publicidade e Marketing.<br />
2014. Disponível em: .<br />
Acesso em: 15<br />
abril 2016.<br />
SHUTTERSTOCK. Magia audiovisual: 4 maneiras<br />
pelas quais a paleta de cores pode transformar<br />
seu trabalho. 2013. Disponível em: .<br />
Acesso em: 4 nov. 2015.<br />
SESTREM, Gabriel. Estudo sobre iluminação (direção<br />
da luz e sombras). Disponível em: .<br />
Acesso em: 10 nov. 2015.<br />
SONTAG, Susan. Sobre fotografia. Trad. Rubens<br />
Figueiredo. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2004.<br />
SOUSA, Rainer. O cinematógrafo dos Lumière.<br />
Disponível em: . Acesso em:<br />
18 abril 2016.<br />
STAMATO, Ana Beatriz Taube; STAFFA, Gabriela; VON<br />
ZEIDLER, Júlia Piccolo. A Influência das Cores na<br />
Construção Audiovisual. 2013. Disponível em: . Acesso em: 4 nov. 2015.<br />
TACHIAN, Natalia. Eric. 2014. Disponível em: . Acesso em: 4 nov. 2015.<br />
TADEU, Marcus. Transmídia: a narrativa da atualidade.<br />
2009 set. Disponível em: .<br />
Acesso em: 6 maio 2016.<br />
TAN, Shaun. Comments on Tales From Outer Suburbia.<br />
Disponível em: . Acesso em: 4 nov. 2015.<br />
TEIXEIRA, André. Aula fotografia - iluminação em<br />
estúdio. Disponível em: .<br />
Acesso em: 10 nov. 2015.<br />
TRIPICCHIO, Adalberto. Ice: droga antiga volta<br />
mais poderosa. Disponível em: . Acesso em: 8 nov. 2015.<br />
187
188<br />
ANEXOS<br />
ANÁLISE DAS TEMPORADAS<br />
Este tópico analisa os pontos importantes de cada episódio<br />
individualmente. A análise da série Breaking Bad teve<br />
como foco principal a linguagem cinematográfica como<br />
cores, iluminação e enquadramento, além de outras observações<br />
visualmente relevantes para a narrativa. Os<br />
nomes dos episódios são organizados no formato Nome<br />
(temporada; episódio), por exemplo Pilot (01;01).<br />
1ª Temporada<br />
Apresentação dos personagens<br />
Walter White Protagonista da história, Walt é um professor<br />
de química extremamente qualificado, porém<br />
desvalorizado e mal remunerado. Descobre que tem<br />
câncer pulmonar e passa a cozinhar metanfetamina<br />
com Jesse para não levar sua família à falência após a<br />
sua morte [250].<br />
Jesse Pinkman Ex-aluno de Walt na casa dos 20 e poucos<br />
anos, metido a gângster se rua, viciado e cozinheiro<br />
de metanfetamina [251].<br />
Skyler White Esposa de Walter. Nesta primeira temporada<br />
Skyler está grávida de uma criança não planejada<br />
pelo casal [252].<br />
Walter Jr (Flynn) Filho de quase 16 anos de Walter e Skyler.<br />
Possui paralisia cerebral com dificuldades motoras.<br />
Hank Schrader Marido de Marie e cunhado de Walter.<br />
É um agente do Departamento de Investigações sobre<br />
Narcóticos (DENARC) [253].<br />
Marie Schrader Irmã de Skyler e esposa de Hank [253].<br />
Emilio Ex-parceiro de Jesse na fabricação e na venda<br />
de metanfetamina.<br />
Krazy-8 Primo de Emilio e respeitado vendedor de droga<br />
da região [254].<br />
Tuco Salamanca Traficante mexicano sociopata da região<br />
de Albuquerque [255].<br />
[255]<br />
[254]<br />
[253]<br />
[252]<br />
[251]<br />
[250]
[256]<br />
[257]<br />
[258]<br />
No episódio Piloto (01;01), a série começa sem fazer<br />
meras introduções quanto ao local, tempo, personagens<br />
e história. O espectador já se depara com uma<br />
calça bege esvoaçante sendo atropelada por uma RV no<br />
deserto, dirigida por um homem meia-idade seminu em<br />
completo desespero. Há muito uso de câmera subjetiva<br />
nesta cena, o que é extremamente eficaz em logo de<br />
imediato colocar o espectador dentro da situação.<br />
O interior da RV é quase indefinido: escuro, contrasteando<br />
com o exterior muito claro – referências de<br />
luz chiaroscuro [256] – o que nos mostra poucos detalhes:<br />
há mais pessoas no veículo desacordadas e algo<br />
nojento aconteceu ali dentro.<br />
No inicio da cena vemos através de planos fechados<br />
um pouco do ambiente casa: com baixa iluminação,<br />
vemos embalagens de presente de um possível Chá de<br />
bebê recente e um prêmio Nobel com o nome Walt [257]<br />
pendurado na parede. O episódio Piloto acontece no<br />
aniversário de 50 anos de Walt. Conhecemos sua esposa<br />
Skyler e seu filho Walter Jr. Acompanhamos de perto um<br />
dia comum e rotineiro na vida de Walt – com a câmera<br />
subjetiva na mão – que nos deixa desconfortável ao assistir<br />
todas as vezes em que Walt é passivamente desvalorizado<br />
e desrespeitado com frequência, tanto em<br />
seu principal emprego como professor de química (no<br />
qual é extremamente qualificado) em uma escola, tanto<br />
quanto em seu segundo emprego provisório no Lava Rápido<br />
por seu chefe Bogdan Wolynetz. Até mesmo em sua<br />
festa de aniversário surpresa, seu cunhado – e agente do<br />
DENARC – Hank Schrader, tira o copo que está em sua<br />
mão para celebrá-lo, deixando-o sem copo para brindar<br />
durante sua própria homenagem. A câmera movimenta-se<br />
abrindo da Televisão para a sala, em uma iluminação<br />
de grande contraste, mostrando que todos – menos<br />
Walt, a princípio – assistem atenciosamente à entrevista<br />
de Hank, e este é o primeiro contato que Walt têm com<br />
a metanfetamina de fato. Descobrimos, também, que<br />
Walter é diagnosticado com câncer pulmonar terminal.<br />
A câmera subjetiva é muito presente na série.<br />
Quando o médico lhe informa sobre o câncer, a câmera<br />
inclusive troca de lugar com o ponto de vista dos personagens,<br />
como se estivesse contanto diretamente para<br />
o público sobre a doença. Nesta cena a iluminação é<br />
bastante contrastante, deixando um lado do rosto de<br />
Walt iluminado e o outro quase coberto pela sombra.<br />
Esta iluminação se repete diversas vezes ao longo desta<br />
temporada, principalmente quando Walt está com<br />
a sua personalidade “passiva”. Ainda no consultório, a<br />
câmera nos mostra a distração de Walt através de planos<br />
detalhe em câmera lenta e em conjunto com um<br />
barulho agudo [258].<br />
E é a partir daí que Walt muda sua perspectiva<br />
com relação a ações que antes do câncer estavam fora<br />
de cogitação. Logo, conhecemos Jesse Pinkman (também<br />
de cueca), que é forçado por Walt a ser seu novo<br />
parceiro na fabricação e venda de metanfetamina.<br />
A fornada do cristal inicial de Walt e Jesse é representada<br />
em uma sequência de jump cuts de planos<br />
fechados e detalhe, uma maneira dinâmica de mostrar<br />
[259]<br />
189
190<br />
[262]<br />
[261]<br />
[260]<br />
de perto todo o processo químico da produção da metanfetamina<br />
para o espectador [259].<br />
Na série e nesta primeira temporada, a iluminação aparecem<br />
muitas vezes com a mesma característica intensa<br />
de contraste caracterizado por chiaroscuro e que causa<br />
uma impressão de mistério. Vemos este tipo de iluminação,<br />
por exemplo, no episódio The Cat’s in the Bag<br />
(01;02), no café de manhã da família White [260] e também<br />
na a casa de Jesse.<br />
Quanto às cores, há uma predominância do tom<br />
bege amarelado, as vezes esverdeado, de temperatura<br />
fria. Com o avanço da série, já podemos definir um<br />
pouco sobre a direção de arte sobre o figurino dos personagens.<br />
Percebe-se que Walter usa roupas com uma<br />
constante paleta de cor verde-musgo, bege e marrom; já<br />
Skyler mantém roupas com azul claro e branco; e Jesse<br />
veste preto juntamente com uma peça de roupa (casaco<br />
e gorro) – alternando entre matizes amarelo e vermelho<br />
[261]. Quanto aos Schrader, Hank veste diversos tons<br />
alaranjados, enquanto Marie caracteriza-se pelo consistente<br />
uso da cor violeta.<br />
Com o desenrolar da história, Walter e Jesse têm<br />
um conflito mortal com Emílio e Krazy-8. Drogado, Jesse<br />
dissolve o corpo de Emilio com ácido fluorídrico em uma<br />
banheira. Quando esta é destruída, os ângulos da câmera<br />
alternam entre plongée [262] e contra-plongée para<br />
intensificar a situação inusitada do ocorrido.<br />
mos ver detalhes de seu rosto. Conseguimos em um momento<br />
ver o rosto da mulher, mas no momento ela não<br />
é identificável, somente soa como uma pessoa próxima<br />
ou íntima de um Walt que um dia foi confiante. O tom<br />
da cena é azul, um tom bem frio, sinalizando que é uma<br />
memória antiga, que contrasta com o ambiente atual<br />
de temperatura quente. Um passado aparentemente<br />
brilhante e próspero, contrastando com o presente de<br />
fracassos, ao mesmo tempo que utiliza o mesmo tópico<br />
de assunto: o corpo humano.<br />
Durante todo o momento o espectador está com<br />
Walter decidindo se deve ou não matar o personagem<br />
Krazy-8. A câmera mostra todo o processo de raciocínio<br />
do personagem sobre a situação, desde o episódio anterior,<br />
a lista de prós e contras, a determinação de Walter<br />
em continuar tratando o prisioneiro ainda como um<br />
ser humano em uma tentativa de converter a situação,<br />
alimentando-o e conversando para conhecê-lo melhor.<br />
Quando toma a decisão de soltá-lo, Walt leva o público<br />
junto com uma câmera subjetiva a sua realização do<br />
pedaço de prato faltando de que Krazy-8 quer – como<br />
todos menos Walt esperavam – matá-lo. A cor amarela<br />
ainda é predominante.<br />
[264]<br />
[263]<br />
Em And the Bag’s in the River (01;03), a pré-credito<br />
começa com a fotografia utilizando a câmera ponto-de-<br />
-vista que é colocada sob uma tela de vidro sendo limpada<br />
de restos mortais, colocando assim o espectador<br />
no lugar da carcaça [263].<br />
Enquanto Walt trabalha na limpeza, flashbacks<br />
surgem de um momento que parece ter acontecido em<br />
um passado distante: a luz exterior é extremamente<br />
contrastante com a inferior (contraluz), logo podemos<br />
visualizar duas silhuetas em um ambiente que parece<br />
ser uma exuberante sala de aula ou de conferência,<br />
com várias cadeiras, uma loura e uma vista panorâmica<br />
[264]. Identificamos que o homem escrevendo na lousa<br />
é Walt somente pela silhueta e pela voz, mas não pode-<br />
[265]
[270]<br />
[269]<br />
[268]<br />
[267]<br />
[266]<br />
A penúltima cena do episódio mostra Walt em<br />
cima de uma ponte, no fundo uma estrada de duas mãos<br />
(figura ). Uma metáfora significando que a partir daquele<br />
momento ele tomou uma direção contrária [265].<br />
Uma câmera ponto-de-vista é colocada junto com o<br />
dinheiro de Walt na tubulação de ar [266] no episódio<br />
Cancer Man (01;04). A cor verde-musgo e bege continua<br />
predominante em Walt e em sua casa [267].<br />
A fotografia em timelapse é usada para retratar<br />
a passagem de tempo na casa dos pais de Jesse [268].<br />
A iluminação dentro da casa é escura e predomina-se<br />
uma cor suave.<br />
Em um segundo momento prevalece cores quentes<br />
como rosa e vermelho. A câmera mostra detalhes do<br />
passado próspero de Jesse como criança, como seus<br />
desenhos, até encontrar uma prova antiga de química.<br />
Jesse inicia a pré-créditos de Gray Matter (01;05) sendo<br />
entrevistado para um emprego. Ele, que até então vimos<br />
com roupas pretas com peças amarelas ou vermelhas,<br />
veste um terno preto fechado, mostrando um pedaço da<br />
camiseta vermelha e gravata amarela. Ou seja, apenas<br />
uma vestimenta formal do que geralmente usa. É notável<br />
que nos ambientes apresentados, a maioria dos<br />
homens veste roupas de cores neutras. Jesse prefere ir<br />
contra a regra. Após a entrevista e a decepção com a realidade<br />
do trabalho, Pinkman tira a gravata amarela mas<br />
mantém o terno preto com a camisa vermelha. Vemos<br />
uma atuação mais formal de Jesse tentando seguir com<br />
a vida fora do tráfico, mas ele não está disposto a aceitar<br />
qualquer emprego (diferente de seu amigo Bagder, que<br />
havia aceitado a oferta).<br />
O casal White vai à festa de aniversário de Elliot<br />
Schwartz, marido de Gretchen e um amigo de longa<br />
data de Walt). Esta cena traz uma informação visual<br />
muito poderosa. O casal Schwartz é dono da Gray<br />
Matter 1 , hoje uma empresa bilionária e originalmente<br />
fundada por Walt e Elliot. A princípio, o que parece ser<br />
somente uma má escolha de roupas para usar em uma<br />
1 White, em inglês, significa branco e schwartz, em alemão, significa<br />
preto. Branco com preto equivale a cinza, ou gray, em inglês. Gray<br />
Matter significa massa cinzenta (cerebral), em inglês.<br />
festa, na verdade reflete no desespero atual da situação<br />
financeira dos White. Tanto Walter quanto Skyler estão<br />
formalmente vestidos, de maneira que chega a ser fora<br />
de época [269], principalmente quando colocados em<br />
um ambiente onde absolutamente todos ao seu redor<br />
estão vestidos de cores neutras e claras [270]. Skyler usa<br />
um vestido formal de festa longo azul royal – na qual ela<br />
mesma comenta que parece um vestido de baile de formatura<br />
de 1985 – com jóias e acessórios combinando;<br />
Walt está com um terno preto, uma gravata estampada<br />
com uma camisa listrada com o mesmo tom de azul<br />
combinando. Ambos vestem roupas aparentemente<br />
antigas e extravagantes, como se tivessem parado no<br />
tempo, fora de contexto com a possível realidade do estilo<br />
de vida atual de alto padrão que procura manter um<br />
estilo extremamente suave, casual e simples apesar da<br />
riqueza. Os White também evidencia uma possível falta<br />
de contato social nos últimos anos.<br />
Até então, os ambientes internos apresentavam<br />
uma iluminação de muito contraste e dura, na maioria<br />
das vezes chegando a revelar somente metade do rosto<br />
de Walt, personagem principal que a câmera acompanha.<br />
Porém, quando Walter está na biblioteca do casal<br />
de amigos, apesar do ambiente interno, a iluminação é<br />
mais clara e suave, mostrando um Walter confortável no<br />
ambiente repleto de conhecimento que se encontra.<br />
Quando Jesse se associa com Badger a situação<br />
que era Jesse com Walter se inverte. Vemos um Jesse<br />
mais sério e dedicado que sabe o que está fazendo, enquanto<br />
seu amigo Badger se coloca na situação anterior<br />
de Jesse, distraído e com brincadeiras. A cena inclui<br />
jump cuts no mesmo estilo da fornada do primeiro episódio,<br />
apresentando um conhecimento e precisão nos<br />
movimentos de Jesse enquanto cozinha, praticamente<br />
uma repetição de Walter. Tanto a técnica de timelapse<br />
quanto a de aceleração de vídeo é usada quase em seguida,<br />
e esta transforma um trailer no meio do deserto<br />
em apenas luzes no escuro.<br />
Walt acorda sozinho na cama. A cama do casal é<br />
composta das mesmas cores bege, verde e azul pouco<br />
saturadas que Walt veste. Walt pode até ser considerado<br />
uma uma parte da decoração [271].<br />
191
192<br />
[274]<br />
[273]<br />
[272]<br />
[271]<br />
A sala de espera do tratamento tem uma cor geral<br />
terra-amarelada. Não há nenhuma outra cor que se destaca<br />
além dela até Skyler entrar na sala e preenchendo-<br />
-a com seu tom rotineiro azul claro. Há pessoas no ambiente<br />
mas a posição destas com o ângulo da câmera<br />
e a iluminação não nos permite detalhes (chiaroscuro)<br />
[272]. A mesma iluminação prevalece em diversas cenas.<br />
Após a cena do tratamento, Walter veste um casaco preto<br />
quando vai procurar Jesse para voltarem a cozinhar.<br />
A pré-creditos de Crazy Handful of Nothin’ (01;06)<br />
inicia-se com uma fotografia interessante e porém misteriosa,<br />
que entendemos apenas segundos depois como<br />
sendo o poeira velha armazenada dentro do trailer, que<br />
nos mostra inicialmente somente pela luz dos buracos<br />
de tiro na porta do veículo (contraluz) [273]. Em seguida,<br />
Walt dá um discurso à Jesse: Walter será encarregado<br />
apenas da fabricação silenciosa da droga, enquanto é<br />
Jesse que será o encarregado de ir as ruas e cuidar da<br />
distribuição, sem contato e interação com os clientes,<br />
sem violência e sem mortes. O que deixa claro para o espectador<br />
que todo este discurso é uma falácia, uma vez<br />
que enquanto Walt cria este acordo com Jesse, há uma<br />
transição sonora com flashfowards que nos mostram<br />
um Walter careca, poderoso, confiante, andando por<br />
ruas perigosas e com um saco ensanguentado em mãos.<br />
Utilização de timelapse e aceleração de vídeo<br />
para apresentar passagem de tempo (muitos dias). Jesse<br />
assume a sua parte do acordo com a distribuição. Inicia-se<br />
então uma sequência utilizando a técnica de jump<br />
cuts por um ambiente já antes apresentado: o Palácio de<br />
Cristal (conjunto de casas onde se concentra moradores<br />
drogados e viciados). Assumindo uma música descontraída<br />
(It is such a good night, de Charlie Steinmann), a<br />
cena tem aspecto de gravação caseira, acompanhando<br />
Jesse nas vendas e retratando seus clientes, transações<br />
e locais.<br />
Agora careca e vestindo preto, começamos a fazer<br />
relações com o flashforward do pré-créditos. E é assim<br />
que conhecemos Heisenberg [274].<br />
geral, quase tudo que ele está em contato é verde, até<br />
mesmo as luvas de borracha enquanto cozinha metanfetamina.<br />
Além disso, em diversos episódios é possível<br />
identificar diversos elementos e objetos amarelos que<br />
destacam-se em diversas cenas, como a cor do terno da<br />
corretora na casa de Jesse, o suco de laranja que Skyler<br />
entrega para Walt, e outros. A casa de Jesse contém tons<br />
amarelados enquanto a de Walt contém tons esverdeados.<br />
Isto compõe as duas cores principais de Breaking<br />
Bad [275].<br />
No ferro-velho, mesmo vestindo roupas escuras<br />
e incorporado o chapéu e o óculos escuros para se tornar<br />
mais intimidador, a câmera fecha closes no rosto de<br />
Walt que alterna com a violência de Tuco, mostrando<br />
seu pavor e ingenuidade com relação ao mundo das<br />
drogas que está se adentrando cada vez mais.<br />
[275]<br />
Já no final da primeira temporada, percebe-se que<br />
em A No-Rough-Stuff-Type Deal (01;07) Walter está vestindo<br />
roupas mais escuras agora. Entretanto, de maneira
2ª Temporada<br />
Apresentação dos personagens<br />
Walter White [276]<br />
Jesse Pinkman [277]<br />
Skyler White [278]<br />
Apresentação dos personagens<br />
Hector Salamanca Tio de Tuco. um velho, de aparência<br />
frágil e demente, quase em estado vegetativo que se comunica<br />
por meio de um sino: um toque para “sim”, sem<br />
toque para “não” [279].<br />
Gustavo Fring De origem chilena, Gustavo Fring (ou<br />
Gus) é o dono da rede de frango frito Los Pollos Hermanos,<br />
e um dos maiores distribuidores de metanfetamina<br />
da costa oeste americana [280].<br />
Jane Vizinha e administradora do imóvel de Jesse.<br />
Brandon “Badger” Mayhew, Skinny Pete e Christian<br />
“Combo” Ortega São os amigos drogados e longa data<br />
de Jesse.<br />
[280]<br />
[279]<br />
[278]<br />
[277]<br />
[276]<br />
Pré-créditos monocromática (parte 1) em Seven-Thirty-<br />
-Seven (02;01).<br />
A pré-créditos do primeiro episódio da segunda<br />
temporada tem um inicio visual diferente das demais;<br />
a câmera retrata planos fechados de diversos elementos<br />
em preto e branco do que parece ser a área externa<br />
da casa de Walt. A cena nos mostra um olho flutuando<br />
na água e sendo sugado pelo filtro da piscina. Em meio<br />
a toda a monocromia aparece um urso de pelúcia rosa<br />
choque com metade do rosto e do corpo destruído<br />
boiando na água [281].<br />
Nota-se que Skyler usa em seu rosto um creme<br />
verde e na cena seguinte Jesse come guacamole. A lanchonete<br />
é um dos pontos de venda da droga que foi retratado<br />
no episódio Crazy Handful of Nothin’ (01;06). A<br />
noite, o letreiro Dog House atrás de Jesse destaca-se o<br />
amarelo, vermelho e a parede com luz esverdeada.<br />
A iluminação da cena seguinte na cozinha de Jesse<br />
é intensa e contrastante com características – muitas<br />
vezes apresentadas durante a primeira temporada – de<br />
chiaroscuro e contraluz [282].<br />
Pela primeira vez vemos uma parte da casa dos<br />
Schrader. Primeiramente vemos alguns detalhes, como<br />
um pacote de adoçante e um telefone que ativa por voz.<br />
Depois vemos Marie na cozinha preparando algo na garrafa<br />
térmica com uma enorme quantidade de adoçante.<br />
É uma cozinha organizada, onde todos os objetos são<br />
roxos: cafeteira, toalha, flores, garrafa térmica, detergente,<br />
bolsa, decoração; Marie se envolve de maneira<br />
excessiva com a cor violeta, sempre presentes inclusive<br />
em suas roupas casuais e acessórios. Já Hank mantém-<br />
-se constante com a vestimenta no tom alaranjado, mas<br />
nunca chegando a envolvendo-se com ela da mesma<br />
maneira em que Marie envolve-se e expande-se com o<br />
roxo. A cena da conversa do casal no lado externo da<br />
casa é aproximada pelo carrinho de brinquedo do vizinho<br />
que traz uma câmera subjetiva em plano fechado.<br />
Com o plano de matar Tuco, Walt fabrica um veneno<br />
de ricina. A cena de seu preparo é composta de<br />
planos detalhe rápidos que mostram o processo de trituração<br />
do grão. Utiliza-se transições entre as cenas de<br />
maneira rápida e explosiva, representando toda a ansiedade<br />
e nervosismo da situação. A cena aproveita-se da<br />
193
194<br />
[281]<br />
percepção sensorial principalmente da sonora, como<br />
som de água, vidro e motor [283].<br />
Enquanto Walt e Jesse planejam sua estratégia<br />
para matar Tuco, a iluminação retoma a anterior na cozinha<br />
de Jesse: chiaroscuro. Novamente, o verde presente<br />
na camisa de Walt com a cadeira amarela em que Jesse<br />
se apóia traz novamente a combinação já conhecida de<br />
cores da série. Além disto, quando Jesse se apressa para<br />
resgatar o dinheiro embaixo da pia, a câmera posicionada<br />
no chão foca em três objetos que ele tira do armário:<br />
uma tigela verde, outra amarela e outra vermelha [284].<br />
[286]<br />
[283]<br />
[282]<br />
Em Grilled (02;02), Walter e Jesse são levados contra<br />
própia vontade para a casa de Tuco Salamanca – traficante<br />
mexicano sociopata da região – e seu tio. O ambiente<br />
muda drasticamente para algo que ainda não<br />
tivemos contato: um ambiente quente, rústico, maltratado,<br />
de cores quentes. A tensão de Walter e Jesse em<br />
envenenar Tuco aumenta, e a câmera representa esta<br />
tensão com o uso de planos fechados nas alternativas<br />
dos dois em matar Tuco por meio do veneno químico de<br />
risina que Walter fabricou. O tio de Tuco, Hector Salamanca<br />
[285], era subestimado por sua idade e condição<br />
física até ele torna uma ameaça para Walter e Jesse ao<br />
mostrar que estava ciente do comportamento de ambos<br />
o tempo todo. Nesta hora o espectador está torcendo<br />
pelos dois e é frustrante quando acompanhamos os dois<br />
ficarem cada vez mais encurralados.<br />
[288] e [289]<br />
[287]<br />
[285]<br />
[284]<br />
O terceiro episódio Bit by a Dead Bee (02;03) inicia de<br />
maneira semelhante ao terceiro episódio da primeira<br />
temporada (And the Bag’s in the River), com uma câmera<br />
subjetiva em contra-plongée (que mostrou Walt e Jesse<br />
limpando os restos de Emilio), porém desta vez eles<br />
estão cavando um buraco na terra no meio do deserto<br />
para se livrando da arma com suas digitais.<br />
A cena dos dois caminhando de volta pra a cidade<br />
é apresentada com um efeito desfocado que foca-se aos<br />
poucos nos dois, representando fadiga [286]. Os planos<br />
vão se abrindo em grandes planos gerais (GPG) e mostrando-os<br />
cada vez mais pequenos em um deserto tão<br />
grande [287]. Junto com Badger, o porão de Jesse adquire<br />
a iluminação intensa e contrastante (chiaroscuro),<br />
[291]<br />
[290]
principalmente quando Badger tenta desafiá-lo e se depara<br />
com um Jesse determinado porém apreensivo. Enquanto<br />
movem os equipamentos pelo exterior da casa, a<br />
câmera foca os detalhes do portão em um plano fechado,<br />
enquanto sabemos em ao fundo, desfocado, eles colocam<br />
o plano de sumir com as evidências em prática [288].<br />
No hospital, Walt continua a encarar a uma pintura<br />
que retrata um homem saindo para o oceano em um<br />
marco enquanto se despede de sua família [289].<br />
Pré-créditos monocromática (parte 2) em Down (02;04).<br />
A pré-créditos monocromática do primeiro episódio da<br />
temporada continua e o urso de pelúcia rosa é apreendido<br />
junto com outros objetos, que nos são mostrados<br />
em planos fechados. O único dos demais objetos<br />
apreendidos que conseguimos identificar é o icônico<br />
óculos de Walt [290].<br />
A casa de Walt não tem mais verde como cor/iluminação<br />
predominante que tinha antes [291]. Skyler e<br />
Walter Jr. vestem cores escuras. No dia seguinte ao desaparecimento,<br />
após Walt tentar arrumar uma desculpa<br />
para seu segundo celular, Skyler veste marrom e Walt<br />
não veste verde pela primeira vez.<br />
O episódio Breakage (02;05) inicia com uma direção de<br />
fotografia avermelhada planos detalhe que entendemos<br />
ser o soro da quimioterapia de Walt. A o vídeo acelerado<br />
mostra Walt sozinho durante o tratamento por<br />
horas, enquanto os outros pacientes conversam com<br />
visitas e funcionários do hospital. A primeira vez que o<br />
vimos na quimioterapia, Skyler estava junto. Durante a<br />
consulta de Walt, só vemos que ele veio desacompanhado<br />
quando o médico pergunta sobre seu relacionamento<br />
com Skyler. A tomada com a cadeira vazia ao lado de<br />
Walt repete novamente quando o médico volta a perguntar<br />
da relação deles e Walt insiste em mentir.<br />
É muito interessante como é retratado o mal estar<br />
de Hank quando entra no elevador. O vídeo fica em câmera<br />
lenta cambaleada, alternando entre foque e desfoque<br />
[292]. O legal é o impacto contraditório quando<br />
a porta do elevador abre. Apesar do vídeo voltar a sua<br />
velocidade normal, o contraste com a câmera lenta do<br />
segundo anterior é impactante.<br />
A cena assume uma coloração predominantemente<br />
esverdeada e amarelada, e iluminação estourada/escura<br />
durante a comercialização da droga pelos<br />
companheiros de Jesse (Badger, Combo e Skinny Pete)<br />
ao som de uma música leve e animada (The Peanut Vendor,<br />
de Alvin “Red” Tyler), com a mesma técnica cinematográfica<br />
de jump cuts [293] apresentada no episódio<br />
Crazy Handful of Nothin’ (01;06), quando vemos Jesse ir<br />
às vendas.<br />
Durante a comercialização da metanfetamina<br />
produzida, um casal de viciados, ao comprar a droga,<br />
embosca Skinny Pete e rouba-lhe o dinheiro. Como uma<br />
alternativa para conquistar a sua autoria e reputação<br />
nas ruas, Walter obriga Jesse a recuperar o dinheiro<br />
roubado pelos viciados.<br />
A ansiedade de Jesse na pré-créditos em Peekaboo<br />
(02;06) é retratada pelo uso intenso de câmera subjetiva<br />
e por diversos primeiros planos colocados em sequência<br />
de jump cut [294].<br />
Percebemos por meio da narrativa visual do besouro,<br />
que apesar de todo seu estilo pessoal de gângster<br />
traficante de rua, Jesse é um personagem que tem a<br />
sensibilidade bem mais intensificada do que os outros<br />
personagens; ele brinca e vê beleza no inseto, enquanto<br />
[292]<br />
[293]<br />
[298]<br />
[297]<br />
[296]<br />
[295]<br />
[294]<br />
195
196<br />
Skinny Pete esmaga-o (uso o ângulo contra-plongée) assim<br />
que o vê [295].<br />
É uma sensação similar quando Pinkman vai à<br />
casa dos viciados para conquistar sua reputação nas<br />
ruas e dá de cara com um garotinho de aproximadamente<br />
5 anos, quieto, sujo e mal tratado na casa destruída<br />
do casal. Na série, é a primeira vez que vemos a<br />
realidade dos efeitos de longo prazo de uso das drogas<br />
na vida de uma pessoa ou família.<br />
Esta é uma sequência muito forte visualmente com<br />
relação as cores e faz referência visual direta à abertura<br />
da série, que é representada por um fundo verde escuro<br />
sendo preenchido com uma fumaça amarela. A maior<br />
fonte de luz 1 da sala dos viciados passa por uma janela<br />
com filtro amarelo esverdeado e ilumina praticamente<br />
todo o ambiente – inclusive a família – com uma intensidade<br />
muito grande. Porém, nota-se que há um pequeno<br />
ponto de luz branca que somente ilumina Jesse [296].<br />
A pré-crédito de Better Call Saul (02;08) faz uma introdução<br />
a um novo personagem na série. O banco em que<br />
Badger e o policial disfarçado estão sentados está uma<br />
propaganda do advogado criminalista Saul Goodman.<br />
Toda a cena é filmada em plano geral frontal.<br />
É utilizado aceleração de vídeo para relatar a passagem<br />
do tempo.<br />
Com seu novo emprego na empresa Benneke (em<br />
que trabalhava há anos atrás), Skyler usa um vestido<br />
marrom. Walter veste branco sob um casaco marrom.<br />
Walt visita o escritório de Saul para negociar a<br />
liberdade de Brandon (Badge). O escritório possui predominantemente<br />
as cores vermelho, amarelo e azul royal.<br />
Nesta cena é bastante utilizado a câmera subjetiva,<br />
incluindo o espectador no plano [298].<br />
O banco em que Badger e o policial disfarçado<br />
estavam sentados no inicio do episódio tem uma propaganda<br />
do advogado criminalista.<br />
[300]<br />
[299]<br />
Até então na história, vemos a droga blue magic sendo<br />
vendida somente pelas ruas de ABQ. Por meio da pré-<br />
-créditos do episódio Negro y Azul (02;07), por meio de<br />
um videoclipe de produção caseira e simples (utilizando<br />
efeitos de transição de cenas considerados simples<br />
e amadores, e que acaba contrastando com toda a produção<br />
cinematográfica da série) que nos conta por meio<br />
da música Negro y Azul da banda Los Cuates de Sinaloa<br />
que a fama da metanfetamina de Walt – quer dizer, Heisenberg<br />
– já chegou ao conhecimento dos carteis, além<br />
de já ser vendida internacionalmente.<br />
Pela primeira vez, Jesse veste laranja e se enrola<br />
em um cobertor azul (cores complementares) após o incidente<br />
com o casal de drogados. Dentro da nova casa,<br />
ele mantém uma iluminação mínima.<br />
Em seu novo emprego na barreira dos Estados<br />
Unidos com o México, acompanhamos Hank através<br />
de diversas câmeras subjetivas [297], presenciar um<br />
ataque contra o DEA (uma bomba implantada em uma<br />
cabeça decapitada sobre uma tartaruga). No momento<br />
da explosão, combina-se a câmera subjetiva com a de<br />
ponto-de-vista, juntamente com efeito sonoro abafado,<br />
colocando espectador no lugar de Hank.<br />
1 Técnica de iluminação denominada shaft of light.<br />
Em 4 Days Out (02;09), a família de Walter é apresentada<br />
cada um vestindo suas cores mais típicas e marcantes<br />
de cada personagem, sendo: laranja/terra, Hank;<br />
roxo, Marie; azul claro, Skyler. Walter, porém, ao contrário<br />
do verde que era muito presente em sua vestimenta<br />
na primeira temporada, ele agora veste uma cor escura,<br />
como se estivesse incorporando Heisenberg em sua<br />
vida pessoal.<br />
Na casa de Jesse, um dos poucos móveis que ele<br />
possui é sua cama de casal, e a cor de lençol que ele escolhe<br />
para forrar é o mesmo tom de amarelo que geralmente<br />
veste [299]. Jane, a vizinha e a administradora do<br />
aluguel da casa de Jesse, passa mais tempo nesta do que<br />
em sua própria (do qual nunca foi apresentado o interior).<br />
Mesmo sem ver os resultados do exame para analisar<br />
se o câncer pulmonar regrediu ou expandiu, Walter<br />
assume que seu câncer está piorando. Em um momento<br />
de desespero após perceber que está com pouco dinheiro<br />
para deixar para sua família quando morrer, ele inventa<br />
a desculpa para Skyler que irá fazer uma viagem de<br />
quatro dias para visitar a sua mãe (interessantemente<br />
não temos demais informações sobre esta durante toda<br />
a série) e contá-la sobre o câncer. Após ser deixado no<br />
aeroporto, a câmera é bastante utilizada como subjetiva<br />
[303]<br />
[302]<br />
[301]
e ponto-de-vista. A iluminação é contraluz, ressaltando<br />
a silhueta dos personagens. Durante toda a sequência<br />
da viagem do aeroporto até o local no deserto escolhido<br />
para cozinhar, a passagem de tempo no interior da RV é<br />
feita pela técnica de timelapse.<br />
A técnica de jump cuts com planos fechados e<br />
planos detalhes é usada como de costume para relatar<br />
o processo de fabricação do cristal. Nesta sequência, a<br />
relação dos dois parceiros é mais enfatizada do que simplesmente<br />
a fabricação da droga.<br />
Técnicas de jump cuts, timelapse, aceleração de<br />
vídeo são utilizados para passagem de tempo, a iluminação<br />
contraluz [300], foque e desfoque (noção de profundidade),<br />
câmera subjetiva e ponto-de-vista [301] são<br />
as linguagens usadas somente para relatar os dias fora<br />
cozinhando no deserto.<br />
Trapeados no deserto sem bateria na RV, sem celular,<br />
sem água, sem comunicação, a câmera transmite<br />
a fadiga dos personagens utilizando cenas inicialmente<br />
desfocadas [302].<br />
Pré-créditos monocromática (parte 3) em Over (02;10).<br />
Desta vez, vemos o carro de Walt estacionado em sua<br />
garagem com os vidros trincados e ao lado o que da a<br />
impressão de ser dois corpos cobertos e embalados, aumentando<br />
ainda mais o suspense e a curiosidade [303].<br />
Há uma transição de cena correspondente (match<br />
cut) interessante neste episódio e o primeiro até então<br />
na série, quando Walt examina a água suja do encanamento<br />
e o aquecedor já muito desgastado com a cor do<br />
chá de Skyler que aparece logo em seguida [304]. Trata-<br />
-se de uma metáfora, significando que a relação entre o<br />
casal – e da família em geral – não está das mais saudáveis<br />
e transparentes.<br />
Vendo os White economizar dinheiro desde então,<br />
pela primeira vez vemos Walt de fato fazendo consertos<br />
na casa, e como ele mesmo diz “dinheiro não é um problema”.<br />
Apesar disso, ele mesmo escolhe por fazer a instalação.<br />
Walt está mais confiante. Heisenberg está cada<br />
vez mais presente, mesmo quando não está cozinhando.<br />
Walt já quer ser identificado como poderoso, mesmo<br />
quando deve tomar máximo cuidado.<br />
Em Breaking Bad, diversas vezes nos deparamos com<br />
o inesperável e o imprevisível. Vemos Combo em Mandala<br />
(02;11) vestido todo de branco (quase nos remetendo<br />
à pomba da paz, porém bem longe disso). Combo<br />
está claramente vendendo droga fora de seu território<br />
convencional, potencialmente colocando o plano de<br />
Walt em prática de expandir a zona de vendas da metanfetamina.<br />
A cena em si é aberta por um garotinho<br />
andando de bicicleta. Porém, em diversas vezes na série<br />
as cenas são abertas por um elemento externo mas que<br />
não necessariamente tenham um significado ou um envolvimento<br />
no decorrer da cena, muitas vezes são usados<br />
apenas para trazer o espectador mais perto, ou para<br />
contextualizar, como é o exemplo da cena no episódio<br />
em Seven-Thirty-Seven (02;01) quando a cena externa<br />
é trazida pela câmera no carrinho de brinquedo do vizinho<br />
dos Schrader mas ele não tem nenhuma relação<br />
impactante no decorrer da cena.<br />
Muitas vezes, quando um elemento nos é apresentado<br />
em uma série, tendemos a esperar que esta<br />
apresentação seja impactante e que crie um significado<br />
em um momento breve ou distante. Breaking Bad, porém,<br />
diversas vezes nos apresentou elementos ou situações<br />
mas que, no decorrer, não tiveram envolvimento<br />
ou impacto. Até então, a série foi desacostumando o espectador<br />
com tal suspeita. Portanto, quando a cena de<br />
Combo vendendo em território inimigo é aberta por um<br />
garotinho andando em sua bicicleta e logo em seguida<br />
aparecem dois homens mal encarados em um carro preto,<br />
o espectador não sabe muito o que esperar daí; sabe<br />
que algo sinistro vai acontecer, os dois homens têm cara<br />
de suspeito. Porém, ninguém espera – até mesmo o próprio<br />
Combo não esperava – que o responsável pela sua<br />
morte fosse o próprio garotinho que ficou rondando-o<br />
com sua bicicleta. Vimos depois que os homens e o garotinho<br />
estavam envolvidos [305].<br />
Diferentemente de quando Walt foi diagnosticado, Walt<br />
pensou em decidiu por não optar pelo tratamento [306].<br />
Desta vez, Walt foi preciso e confiante e imediatamente<br />
aceitou a proposta da cirurgia [307].<br />
A fotografia quando Jesse experimenta a Heroína<br />
pela primeira vez é magnífica pelo seu diferencial estético<br />
e de produção. Segundo o diretor de fotografia Michael<br />
[309] [308]<br />
[306] e [307]<br />
[305]<br />
[304]<br />
197
198<br />
Slovis, está foi uma cena bem simples de ser feita além<br />
de eficaz. Apenas amarraram o ator Aaron Paul e levantaram<br />
ele da cama juntamente com a câmera filmando seu<br />
rosto. Está foi mais uma das representações visuais que<br />
nos permitiu sentir e experimentar os efeitos superficiais<br />
da droga junto com o personagem. Com o decorrer da<br />
cena, conseguimos ver tanto Jesse já em êxtase quanto<br />
Jane ao lado preparando sua seringa. É muito importante<br />
apontar que a cor amarela com preto está predominantemente<br />
presente nesta cena. A música extremamente calma<br />
e relaxante (Enchanted, de The Platters) está presente<br />
mais uma vez em situações que envolve drogas [308].<br />
Em Phoenix (02;12) nota-se que Walter alterna suas<br />
roupas entre tons de vermelho, vinho e preto.<br />
O website que Jr cria para arrecadar dinheiro para<br />
a cirurgia de Walt é composto somente das cores amarelo<br />
e verde.<br />
Quando Walter entra no bar, a iluminação é avermelhada.<br />
Este senta de um modo que não vemos ninguém<br />
ao seu lado, separado em perspectiva por garrafas<br />
em luz verde. Depois, após a ligação, é que vemos o<br />
pai de Jane bem ao seu lado. Ambos vestem preto [309].<br />
A titulação do episódio está representada de várias<br />
maneiras: Phoenix é o animal que representa o renascimento.<br />
No caso, o nascimento de Holly (sua filha recém<br />
nascida), a morte de Jane. No bar em que Walt e o pai<br />
de Jane estão, passa na televisão sobre Phoenix, uma<br />
nave espacial que pousou em marte. Vemos também no<br />
episódio seguinte que Jane nasceu em Phoenix.<br />
O pai de Jane reforça a importância da família e,<br />
em seguida, vemos Walt estacionar o carro e a princípio<br />
imaginamos que tenha finalmente ido para casa, mas<br />
foi para a casa de Jesse. Walt considera Jesse família. Ao<br />
tentar acordar Jesse, Jane inconscientemente vira-se<br />
de bruços e começa a engasgar com seu próprio vômito.<br />
Quando Jane se engasga, a câmera mostra mais o rosto<br />
de Walt do que Jane em si [310].<br />
O pré-crédito monocromático chega ao fim com a<br />
parte 4 em ABQ (02;13). Para isso, foi juntado a primeira<br />
parte Seven Thirty-Seven (02;01) sem cortes, “colando”com<br />
segunda parte de Down (02;04) com cortes, seguido da<br />
terceira parte Over (02;10) com cortes. Todos estes cortes<br />
tiram aquele suspense de envolvimento de Walt, no<br />
caso, seu óculos junto com as evidências.<br />
Depois da recapitulação necessária das demais<br />
partes anteriores como um resumo para o espectador,<br />
nos é apresentado a parte final: vemos diversos outros<br />
trabalhadores buscando pelas evidências ainda espalhadas<br />
pelo exterior da casa. Até então a possível sensação<br />
era do descobrimento de Walt com a fabricação de<br />
droga e uma possível invasão. Nesta cena final vemos<br />
que o cenário é muito maior, finalmente mostrando a<br />
coloração original da cena vemos os trabalhadores em<br />
roupas especiais amarelas e botas verdes [311].<br />
A iluminação da sala de Walt quando Jesse o telefona<br />
para contar sobre a morte de Jane é extremamente<br />
contrastante para o escuro. A casa dos White não tem mais<br />
aquela iluminação esverdeada da primeira temporada;<br />
agora se trata de uma iluminação marrom-alaranjado [312].<br />
Semelhante ao episódio anterior (quando Walter<br />
entra no bar e de imediato a câmera não nos revela o<br />
pai de Jane), quando Hank é introduzido aos principais<br />
patrocinadores da corrida do DEA. A princípio a câmera<br />
mostra somente 2 homens e logo em seguida muda o ângulo<br />
e nos revela Gustavo Fring, ou Gus, como um terceiro<br />
patrocinador, o que nos revela uma surpresa quando<br />
sabemos que um dos maiores distribuidores de metanfetamina<br />
da região por meio de seu restaurante Los Pollos<br />
Hermanos, e está fazendo negócios com Walt [313].<br />
Após a cirurgia, Walter decide deixar barba estilo cavanhaque.<br />
Esta é a segunda mudança visual no personagem<br />
até agora, sendo a primeira foi o visual careca. Além<br />
disso, vemos pela primeira vez Walter vestir rosa. Uma cor<br />
extremamente chamativa para o que ele vestiu até então. O<br />
que remete muito ao urso de pelúcia rosa na sequência criada<br />
nos pré-créditos monocromáticos. Skyler desmascara<br />
todas as mentiras de Walter e este se encontra sozinho, com<br />
rejeição de sua família. Os pontos se ligam entre as cenas do<br />
pré-crédito com a morte de Jane e o ursinho rosa finalmente<br />
aparece na história. É uma metáfora para Walter, que está<br />
indo água abaixo (em ângulo contra-plongée) [314].<br />
Seven-Thirty-Seven Down Over ABQ.<br />
O avião 373 caiu em Albuquerque.<br />
[314]<br />
[313]<br />
[312]<br />
[311]<br />
[310]
3ª Temporada<br />
Evolução visual dos personagens<br />
Walter White [315]<br />
Jesse Pinkman [316]<br />
Skyler White [317]<br />
Apresentação dos personagens<br />
Saul Goodman Advogado criminalista de Walt<br />
(e muita gente) [318].<br />
Mike Ehrmantraut Em geral, Mike atua como Informante,<br />
investigador, segurança de Saul e de Gus [319].<br />
[318]<br />
[317]<br />
[316]<br />
[315]<br />
A 3ª temporada inicia com um filtro de matiz amarela<br />
sobre uma cena de pessoas rastejando em um ambiente<br />
novo [320]. Essa pré-créditos de No Más (03;01) parece<br />
não ter ligação nenhuma com Breaking Bad até vermos<br />
– nos últimos segundos – pendurado na parede de um<br />
santuário, um desenho retrato-falado com traços muito<br />
semelhantes ao rosto e as características de Heisenberg<br />
[321]. É apresentado dois personagens novos.<br />
A série nos conta o que veio a seguir do acidente<br />
aéreo 737 da 2ª temporada: utilizando diversas redes de<br />
jornais televisivos, sobrepondo as notícias sobre o acidente<br />
com transição sonora, nos mostrando o tamanho<br />
da gravidade do acidente, da repercussão da notícia e<br />
na surpresa de uma colisão daquela escala. Utiliza gravações<br />
de baixa resolução, uma maneira de distanciar e<br />
diferenciar as gravações da própria série de uma gravação<br />
“real” de televisão.<br />
A cena sai da notícia, focando no ambiente em<br />
que a televisão está ligada: na vazia sala dos White. Apesar<br />
da falta de audiência, vemos diferente jornais sobre<br />
a matéria jogados pela sala. Enquanto a notícia na televisão<br />
acontece, Walter está sentado perto da piscina<br />
descuidada, no local do acidente aéreo. Em suas mãos<br />
há uma caixinha de fósforo com uma propaganda de<br />
Saul Goodman, seu advogado criminalista.<br />
Walt veste bege claro (ou uma percepção de<br />
branco “sujo”?). Na reunião da escola para discussão<br />
do acidente aéreo, a maioria dos estudantes veste azul<br />
e branco. Dos professores, todos vestem bege/branco/<br />
amarelo, apenas Walter veste preto.<br />
Depois de ser expulso da própria casa pela esposa,<br />
Skyler veste verde quando vai visitar Walt em seu<br />
novo apartamento. A iluminação na nova casa de Walt é<br />
bastante escura, nos dando pouca visibilidade sobre o<br />
novo ambiente, criando uma sensação sufocante pelo<br />
mistério causado pela falta de informações visuais [322].<br />
199<br />
[319]<br />
A passagem do tempo em Caballo Sin Nobre (03;02) é<br />
mostrada pela técnica de timelapse e aceleração de vídeo.<br />
Uso de câmera ponto-de-vida do carro de Walt pela<br />
estrada e subjetiva ao mostrar um carro policial fazendo<br />
um retorno [323]. A imagem de Jesse está bem diferente<br />
desde que voltou da clínica, a começar por suas roupas.
200<br />
[322]<br />
[320] e [321]<br />
No episódio, Jesse está vestindo roupas neutras casuais<br />
(calça jeans, camiseta branca e jaqueta preta), diferente<br />
das roupas largas cheias de personalidade de rua. Até<br />
estranhamos vê-lo com a barba feita e sem nenhuma<br />
touca na cabeça [324].<br />
A placa do carro de Saul é LWYRUP, uma abreviação<br />
para o termo em inglês lawyer up, que traduz-se por<br />
aquele que que segue e se beneficia da lei .<br />
Dentro do escritório de Saul, Jesse empilha seu<br />
dinheiro próximo a uma decoração de balança da justiça,<br />
o que pode ser uma interpretação para um desequilíbrio<br />
na justiça; o dinheiro está acumulado apenas de<br />
um lado. Ou o fato de Saul ser um advogado criminalista<br />
e criminoso [325].<br />
Os gêmeos Salamanca vão até o asilo onde seu<br />
tio Hector está. A sátira é grande ao mostrar três personagens<br />
importantes do cartal mexicano dentro de uma<br />
casa de repouso (onde os idosos montam quebra-cabeças<br />
de gatinhos). Para se comunicar com o tio, os irmãos<br />
usam um jogo de comunicação com espíritos [326] e<br />
descobrem o nome de Walt [327].<br />
[327]<br />
[326]<br />
[325]<br />
[324]<br />
[323]<br />
O filtro amarelado novamente, em I.F.T. (03;03), sabemos<br />
que estamos no México devido à informação nos<br />
episódios anteriores [328]. Mas é interessante notar que<br />
o filtro dentro do estabelecimento/bar que a cena se encontra<br />
fica mais esverdeado do que amarelado. De fato,<br />
a luz é bastante similar à iluminação dentro da casa da<br />
família de viciados no episódio Peekaboo (02;06) [329].<br />
A câmera subjetiva se coloca atrás das barras da<br />
escada na casa de Jesse quando Saul vai visita-lo [330].<br />
Outra iluminação interessante neste episódio é<br />
durante o encontro entre o cartal mexicano e Gus. Tanto<br />
o ângulo quando a iluminação são bem sucedidos ao relatar<br />
visualmente que Gus não está do mesmo lado que<br />
o carte. A iluminação escura sobre ele evidencia que<br />
Gus esconde algo ou tem algum plano [331].<br />
Este é um momento na série em que o foco da trama<br />
está mais no exterior do que no interior. No interior<br />
(Jesse e Walt) as coisas estão fluindo com dificuldade.<br />
Jesse está sem motivações após a morte de Jane e a reabilitação.<br />
O mesmo se passa com Walt, depois de Skyler<br />
descobrir a verdade e querer tirá-lo da família. Mas<br />
[331]<br />
[330]<br />
[328] e [329]
[332]<br />
temos a trama exterior acontecendo simultaneamente:<br />
vemos cenas acontecendo no México, vemos Mike vigiando<br />
a casa dos White, Saul insistindo na volta do cozinheiro,<br />
até mesmo Gus envolvido indiretamente.<br />
O maior impacto visual do episódio Green Light (03;04)<br />
está no final, onde inclusive entra a titulação Green Light<br />
(luz verde). Walt, ouvindo no rádio enquanto dirige mais<br />
uma notícia sobre Don, o então responsável pelo acidente<br />
aéreo, troca rapidamente de estação e para em<br />
um semáforo vermelho. A fotografia desta cena é simples<br />
mas ao mesmo tempo poderosa: com a câmera<br />
somente apontando para o vidro frontal do carro, a imagem<br />
do semáforo vermelho é apresentada pelo reflexo<br />
do para-brisas recém colocado no carro de Walt [332].<br />
Isto até o comparsa de Gus aparecer ao seu lado e jogar<br />
sua metade do pagamento. No momento em que Walt<br />
pega o dinheiro em suas mãos, surpreso, o semáforo<br />
muda para verde. Um sinal aberto para voltar a cozinhar.<br />
É interessante também notar onde esta cena acontece:<br />
ao aguardar o semáforo, Walt está parado em uma<br />
área de três faixas. A as duas faixas da lateral são para<br />
conversão, uma para a direita e outra para a esquerda.<br />
Walter está parado na faixa do meio, que é a única faixa<br />
disponível para seguir em frente. A noticia no rádio<br />
sobre o acidente faz uma relação com sinal vermelho. O<br />
dinheiro que recebe faz relação com o sinal verde e, em<br />
seguida, Walt é praticamente forçado, pelo carro de trás,<br />
a seguir em frente. Esta observação visual é muito importante<br />
para a narrativa geral da série.<br />
Somente pela titulação Mas (03;05) vemos algo acontecendo.<br />
Referente ao primeiro episódio da 3ª temporada,<br />
onde o nome é No Más (sem mais, em espanhol, referindo-se<br />
sobre a desistência da produção de metanfetamina<br />
tanto para Walt quanto para Jesse). Temos então o<br />
Green Light (sinal verde) e depois Mas (mais).<br />
Começando a pré-créditos com um flashback do<br />
episódio Piloto (01;01). Este flashback é o necessário<br />
para vermos o quanto os personagens mudaram visualmente.<br />
Também nos dá uma cena seguinte que não vimos<br />
antes: como aquele RV não foi comprado, mas sim<br />
roubado por Combo de sua própria tia.<br />
[339] e [340]<br />
[337] e [338]<br />
[335] e [336]<br />
[333]<br />
[333]<br />
201
202<br />
Pela primeira vez em muito tempo, Walt veste<br />
verde novamente. Os White jantam após Walter fazer<br />
um tour pelo super laboratório químico de Gus. A direção<br />
de fotografia é fantástica ao retratar, apenas com<br />
um ângulo de câmera, a presente divisão e exclusão de<br />
Walt na casa. Com a câmera atrás de um pilar, a coluna<br />
visualmente divide Walter de Jr e Skyler em uma proporção<br />
de 1 para 2/3 [333]. Quando Jr se dispensa do<br />
jantar, a câmera move, deixando o pilar centralizado e<br />
dividindo os dois meio a meio [334]. Esta técnica será<br />
usada ainda algumas vezes no decorrer da série.<br />
A casa dos White está com uma iluminação muito<br />
mais sombria (chiaroscuro) [335], principalmente se<br />
comparado a primeira temporada [336].<br />
Em Sunset (03;06), Jesse pela primeira vez veste tons<br />
de bege e, para o primeiro dia no trabalho, Walt escolhe<br />
uma blusa azul, tom que nunca vestiu antes.<br />
Até o momento, a série já mostrou Walt preparando<br />
sanduíches diversas vezes, porém desde seu segundo<br />
lanche, Walter começou a tirar as cascas do pão do<br />
mesmo jeito que fazia Krazy-8 (que foi encorcado com<br />
um cadeado de bicicleta por Walter em And The Bag’s In<br />
The River [01;03]).<br />
[344]<br />
[345]<br />
[341]<br />
[342]<br />
[343]<br />
O início de One Minute (03;07) se trata e um flashback de<br />
anos atrás dos irmãos gêmeos (ainda crianças) Salamanca<br />
e seu tio Hector, bem mais jovem [337]. O filtro amarelo<br />
nos indica que esta cena se passa no México. Curiosamente,<br />
quando Hank vai à casa de Pinkman para vingar-se da<br />
contra-emboscada no ferro-velho, o ambiente adquire<br />
uma iluminação amarelada pelo por-do-sol muito similar<br />
ao filtro amarelo, mesmo estando em Albuquerque [338].<br />
A aproximação de Hank é feita utilizando uma câmera subjetiva,<br />
acrescentando o espectador como um terceiro personagem<br />
próximo à Hank. Enquanto Hank espanca Jesse,<br />
o plano alterna entre Geral (PG) e Fechado (PF) (figura ),<br />
a iluminação adquire a característica de contraluz, ressaltando<br />
a escuridão e a silhueta dos personagens [339].<br />
Neste episódio a iluminação em Hank é escura, intensa e<br />
expressiva, com características de chiaroscuro [340].<br />
A câmera subjetiva posicionada dentro do carro<br />
de Hank nos transforma de espectador à passageiro mu-<br />
[346]<br />
[347]<br />
[348]
dando a nossa perspectiva. Acompanhamos, então Hank<br />
de perto, desde sua procura pelos possíveis matadores<br />
até sua quase frustrada tentativa de colocar a bala na<br />
arma. A câmera faz isso por meio de vários primeiros planos<br />
dinâmicos colocados juntos em um pequeno espaço<br />
de tempo, juntamente com câmeras ponto-de-vista, nos<br />
deixando tão ansiosos e nervosos como Hank. O ângulo<br />
Contra-Plongée é muito utilizado nesta sequência [341].<br />
Uma câmera ponto-de-vista nos coloca no lugar de<br />
Hank em I See You (03;08).<br />
Após ser gravemente agredido por Hank no episódio<br />
anterior, Jesse retorna à sua personalidade imatura.<br />
Em seu primeiro dia de trabalho, é como se Jesse voltasse<br />
ao episódio Piloto, como se deixasse de lado todo o<br />
Jesse casual e maduro que vimos após a morte e Jane e a<br />
reabilitação. Exceto pelo seu rosto repleto de hematomas.<br />
Com uma introdução paralela em Kafkaesque (03;09),<br />
vemos como toda a metanfetamina que Walt e Jesse cozinham<br />
é distribuída em pelas Los Pollos Hermanos. Porém,<br />
ao invés de simplesmente mostrarem o processo<br />
de distribuição em grande escala – desde os cozinheiros<br />
até os caminhões – a cena inicia-se com a história em<br />
efeito séptico da origem do restaurante e conecta graficamente<br />
utilizando a técnica de match cut [342], a produção<br />
de frango com a distribuição de metanfetamina<br />
do restaurante. Esta história causa um efeito cômico ao<br />
fazer a ligação ironizando o orgulho da receita de família<br />
e a distribuição em massa de drogas de Gus.<br />
Walter e Gus se encontram para se entenderem<br />
sobre o telefonema que Hank recebeu um minuto antes<br />
de ser atacado, e graças a isso sobreviver. A iluminação<br />
durante o encontro dentro da casa é de alto contraste<br />
característico da iluminação chiaroscuro, ao ponto de somente<br />
revelar metade da face de ambos os rostos [343].<br />
O macacão amarelo de laboratório foi introduzido<br />
aos poucos (primeiro Walter e Gale) na série mas agora<br />
oficialmente temos Walter e Jesse com uma das vestimentas<br />
mais marcantes de todo o Breaking Bad [344].<br />
A ausência de Andrea na terapia de rehabilitação é<br />
mostrada com um ângulo de nuca, porém a cadeira está<br />
vazia, visualmente resultando em uma sensação maior<br />
de espaço deixado pela ausência de uma figura ali [345].<br />
É interessante notar que, apesar de toda iluminação<br />
escura, intenss e contrastante, já característica<br />
na série, a iluminação está clara e suave quando Skyler<br />
conta a Marie a mentira sobre Walt ter se tornado um<br />
viciado em jogo e ter ganhado muito dinheiro e como<br />
eles podem ajudar financeiramente a família por este<br />
motivo [346].<br />
Temos em Fly (03;10) a mais breve pré-créditos da série<br />
até então, que consiste de planos fechados (PF) e<br />
detalhe (PD) [347] de uma mosca com uma canção de<br />
ninar ao fundo.<br />
A passagem do tempo de exatamente 4 horas é<br />
retratada em um simples corte seco focado no relógio<br />
despertador de Walt [348]. Acontece um match cut gráfico<br />
entre as cenas de Jesse assoprando com a água<br />
[349]<br />
[350]<br />
[351]<br />
[355]<br />
[354]<br />
[353]<br />
[352]<br />
203
204<br />
despejando de uma mangueira industrial [349]. Assim<br />
como a cena do relógio, a passagem de tempo dentro<br />
do laboratório é novamente retratada por meio de câmera<br />
fixa e cortes secos seguidos em jump cut.<br />
Número de câmeras ponto-de-vista utilizadas (colocar<br />
imagens): 1 – escovão de Jesse [350]; 2 – prancheta<br />
de Walt [351]; 3 – mosca no teto; 4 – mosca voando.<br />
A pré-créditos de Abiquiu (03;11) se trata de um<br />
flashback de uma cena não apresentada que conta a origem<br />
do cigarro com marca de batom de Jane deixado no<br />
carro de Jesse, de quando os dois foram ver a exposição<br />
da pintora Georgia O’keeffe. Muito interessante notar as<br />
vestimentas: Jesse veste preto e amarelo, porém desta<br />
vez a touca realça ainda mais o amarelo, enquanto Jane,<br />
que em todos os episódios a vimos vestir preto ou cinza,<br />
veste verde nesta cena [352].<br />
Desde que Walt se mudou para fora da casa dos<br />
White, vemos Skyler vestir verde com muito mais frequência,<br />
cor que ela antes não vestia. Interessantemente,<br />
vemos Walt vestir mais azul (escuro), cor anterior<br />
predominante de Skyler que também não vestia antes.<br />
A cena com Skyler no escritório de Saul reforça ainda<br />
mais esta “troca” de cores entre os personagens, muitas<br />
vezes com um toque de preto [353].<br />
Walt é convidado para jantar na casa de Gus. Ao<br />
chegar, este pede-o para cortar o alho, e o reflexo da<br />
faca mostra o rosto de Walt [354].<br />
Half Measures (03;12) inicia o episódio com uma linguagem<br />
visual muito parecida principalmente com a<br />
sequência das comercializações da blue magic nas ruas<br />
em Crazy Handful of Nothin’ (01;06) e Breakage (02;05);<br />
entretanto, desta vez vemos o cotidiano da prostituta<br />
Wendy que, assim como as outras suas cenas, também<br />
possui um ar leve e divertido (com a música de fundo<br />
Wendy, de The Association), apesar da real situação dramática<br />
da viciada [355].<br />
Descobrimos também a relação de personagens<br />
que desenvolveu-se entre Wendy, Jesse e com a dupla de<br />
capangas que supervisionavam o irmão de Andrea (assassino<br />
de Combo quando Walt quis expandir seus territórios<br />
em Mandala [02;11]). Apesar da importância em<br />
relatar o relacionamento dos personagens de modo geral,<br />
esta pré-créditos também retrata a relação que Wendy<br />
tem com a metanfetamina, mostrando no momento do<br />
prazer do fumo uma iluminação com filtro verde.<br />
A pré-créditos de Full Measure (03;13) nos mostra um<br />
flashback do casal White há 16 anos atrás: jovens e com<br />
um próspero futuro a frente (o que não aconteceu bem<br />
como eles planejavam). Acompanhamos Skyler grávida<br />
de Holly durante as primeiras temporadas, e agora vemos<br />
ela esperando Walter Jr; uma diferença bem grande<br />
tanto de comportamento quanto com a aparência<br />
(vestido longo rosa).<br />
Walter, Gus e Mike se reúnem para criar um acordo<br />
quanto à situação de Pinkman. Em um Plano Geral (PG),<br />
a iluminação é contraluz, escura, e pouco saturada. Com<br />
todos os personagens vestindo preto (e Walter usando<br />
seu chapéu que invoca a figura Heisenberg), predomina-<br />
-se a silhueta dos personagens no ambiente [356].<br />
Saul leva Walter e Jesse para uma reunião sigilosa<br />
no Laser Tag. Aqui temos uma iluminação muito semelhante<br />
ao comentário acima: ambiente escuro, silhuetas<br />
e, desta vez, as luzes de fundo do estabelecimento (em<br />
contraluz) contribuem para uma coloração um pouco<br />
azulada mas majoritariamente verde. Porém, quando<br />
Walter discute sobre matar Gale, a câmera se reposiciona,<br />
mostrando somente metade de seu rosto com um fundo<br />
azul escuro, intensificando ainda mais a cena [357].<br />
Na cena seguinte, a câmera é usada da mesma<br />
maneira que nos apresentou a recém comprada casa<br />
dos White, porém desta vez vemos concretizado, 16<br />
anos depois, as expectativas do casal quanto ao futuro<br />
promissor eram mais altas do que a realidade [358].<br />
A mesma cor observada atrás de Walt na parede<br />
no Laser Tag [359] é a cor que ele veste quando é abordado<br />
por Mike [360], e o assunto é o mesmo – ele pretende<br />
que Gale seja morto.<br />
Impossibilitado de matar o co-cozinheiro ele mesmo,<br />
Walter aciona Pinkman, que se encontra na entrada<br />
do Laser Tag e uma iluminação intensamente avermelhada<br />
[361] e Jesse veste vermelho. Uma câmera ponto-de-vista<br />
de grande impacto é utilizado quando Jesse<br />
atira em Gale (ou em nós?) [362].<br />
[361] e [362]<br />
[359] e [560]<br />
[358]<br />
[357]<br />
[356]
4ª Temporada<br />
Evolução visual dos personagens<br />
Walter White [363]<br />
Jesse Pinkman [364]<br />
Skyler White [365]<br />
A 4ª temporada se inicia em Box Cutter (04;01) com um<br />
flashback inédito como pré-créditos sobre o laboratório<br />
de Gus sendo montado por Gale. Logo no início do episódio,<br />
a câmera fecha o foco e se posiciona de maneira<br />
a acentuar a importância e relevância narrativa (também<br />
denominado controle principal) de dois objetos: o estilete<br />
verde (box cutter, titulação do episódio) que Gale utiliza<br />
para desembalar as caixas de transporte com os equipamentos<br />
de laboratório encomendados, e um caderno de<br />
anotações de laboratório repousando em cima da mesa.<br />
Os dois objetos reaparecem ao longo do episódio [366].<br />
Além da roupa vermelho com preto, Gus recebe<br />
uma forte iluminação avermelhada. O Catchup da porção<br />
é ironizamente usado logo em seguida de mostrar<br />
Walt limpando o chão ensanguentado [367]. A roupa<br />
“pós-assassinato” escolhida para Walter é uma sátira,<br />
deixando assim a série um pouco mais leve diante de<br />
todo o drama e violência do episódio [368].<br />
[366]<br />
[367]<br />
205<br />
[363]<br />
[364]<br />
Apesar da conversa acontecendo entre Skinny Pete e<br />
Badger em Thirty-Eight Snub (04;02), o controle principal<br />
da cena está em Jesse. Isto fica evidenciado pela<br />
direção em que os personagens estão voltados na cena:<br />
Pete direcionado para a direita, Badger para a esquerda,<br />
e Jesse bem ao centro [369].<br />
Walt planeja ir a casa de Gus para matá-lo. Enquanto<br />
coloca seu plano em ação, o personagem tem uso exclusivo<br />
do controle principal da cena, e isto é representado<br />
cinematograficamente pelo uso de planos fechados<br />
em sua face e nuca. Seu plano é interrompido por uma<br />
ligação anônima para impedi-lo. Perdendo seu controle<br />
principal, a câmera se afasta do personagem e o envolve<br />
gradativamente com o ambiente, tirando seu controle<br />
sobre a narrativa. As cores azul e preto com iluminação<br />
chiaroescuro predominam a cena por completo [370].<br />
[368]<br />
[369]<br />
[365]<br />
Em Open House (04;03), a série mostra o equilíbrio de poder<br />
dos personagens até momento, tanto de Walter quanto<br />
de Skyler. Demonstrando visualmente, tanto a mão de<br />
Walter quanto a de Skyler são mostrados em planos fechados<br />
em diferentes situações. Além disso, quando juntos no<br />
ambiente, o casal é centralizado no frame, equilibrando o<br />
controle principal dos personagens na narrativa [371].<br />
[370]
206<br />
[371]<br />
[370]<br />
Observando o figurino dos personagens em Bullet Points<br />
(04;04), Walter, que nas primeiras temporadas vestia<br />
cores neutras como bege, marrom e verde musgo, agora<br />
usa roupas de cores avermelhadas, vinho e preto. A<br />
mesma modificação sobre a intensidade modificada da<br />
narrativa é percebida na casa dos White: está com uma<br />
iluminação suave e clara, menos sufocante. As cortinas,<br />
que quase sempre estavam fechadas, estão abertas. Esta<br />
mesma diferença de iluminação foi também percebida a<br />
partir do momento em que Skyler elabora a história de<br />
Walter com o jogo (gambling) no episódio Kafkaesque<br />
(03;09). A desculpa do problema inventado parece ser<br />
uma alternativa possível, uma luz no fim do túnel para<br />
o casal [372].<br />
A pré-créditos do episódio Shotgun (04;05) inicia-se de<br />
maneira dinâmica. Por meio de uma câmera subjetiva<br />
POV no para-choque do carro, o espectador é posicionado<br />
no lugar do veículo e no desespero de Walter. Há uma<br />
combinação de planos fechados que dão destaque a falta<br />
de cuidado do personagem e o seu descontrole [373].<br />
O jantar em família na casa de Hank e Marie provoca<br />
um sinal de perigo; junto com a cor extremamente<br />
avermelhada do vinho (que quase chega a cor de sangue),<br />
Walt veste a mesma cor, intensificando cada vez<br />
mais o orgulho que lhe representa [374].<br />
[376]<br />
[375] [374]<br />
Em Cornered (04;06), Skyler e Walt compram o Lava-<br />
-Jato de seu antigo chefe, Bogdam. A câmera revela<br />
Bogdam com maior controle principal da cena [375].<br />
Quando Walt retruta a provocação, Walt é que recebe o<br />
destaque da narrativa no momento: a câmera em contra-plongée<br />
enfatiza o poder de Walt [376].<br />
[373]<br />
[372]<br />
Em Problem Dog (04;07), Walter é forçado a devolver<br />
no dia seguinte o carro novo e esportivo – de pintura<br />
vermelho-sangue – que presenteou seu filho. Tento a<br />
devolução praticamente negada pela concessionária,<br />
Walt decide dirigir o carro e usar todo o potencial que<br />
o veículo permite, apenas por diversão. A cena varia de<br />
primeiríssimos planos à planos fechados [377].<br />
O tamanho de um objeto em cena define sua importância.<br />
O veneno de risina que Walt fabrica visando<br />
[378]<br />
[377]
matar Gus recebe planos detalhes no frame [378]. Tendo<br />
uma breve oportunidade de utilizar a risina durante<br />
o encontro entre Gus e o representante do Cartel, a<br />
apreensão e indecisão de Jesse quanto a incluir o veneno<br />
no café é mostrada com planos fechados editados de<br />
maneira dinâmica durante a preparação da bebida.<br />
Os Hermanos (04;08) em questão é Gus e seu parceiro<br />
Max. A narrativa revela um flashback inédito sobre o<br />
primeiro encontro dos fundadores da rede de fast-food<br />
com o Cartel no México. O Cartel questiona quanto a<br />
necessidade de Gus no esquema. Apesar de Max ser o<br />
único a falar no momento, o controle principal da cena<br />
está de Gus [379]. O espectador é surpreendido quando<br />
Max é quem recebe um tiro, ao invés de Gus. Mesmo<br />
depois disparo do tiro, a câmera continua em Gus. Ao<br />
matar Max, seu corpo cai próximo à piscina e o sangue<br />
acrescenta a coloração vermelha à água verde-amarelada<br />
– cor muito utilizada principalmente por Walt e Jesse<br />
em vários episódios da primeira e da segunda temporada<br />
[380].<br />
A fotografia da pré-créditos de Bug (05;09) consiste em<br />
retratar com apenas Planos Detalhe itens que pertence a<br />
Walt (óculos e sapato) juntamente com sangue. As imagens<br />
são levemente borradas e recebem uma iluminação<br />
dura. O primeiro take após a pré-créditos mostra o sapato<br />
de Walt limpo e sem sangue. Isso nos confirma a identidade<br />
de Walt na cena anterior e também revela que a<br />
pré-créditos se trata de um flashforward, provocando e<br />
inserindo ainda mais o espectador no drama da série.<br />
Após o conflito com o Cartel, Gus recebe uma iluminação<br />
chiaroscuro, que enfatiza a dramaticidade da<br />
cena. A mesma iluminação acontece no quarto de Walt,<br />
quando ele planeja grampear (bug, titulação do episódio)<br />
o carro de Jesse.<br />
Em Salud (04;10), As consequências da briga no episódio<br />
anterior entre Jesse e Walter são refletidas na iluminação<br />
de característica chiaroscuro no apartamento de<br />
Walt. A câmera mais uma vez usa a técnica de apresentar<br />
com um Plano Fechado o papel manchado de sangue<br />
e do óculos quebrado.<br />
Em Crawl Space (04;11), Walt, encapuzado para o meio do<br />
deserto, de início recebe um Grande Plano Geral, que pode<br />
visualmente indicar um descontrole de Walt, mostrando<br />
sua fragilidade e seu tamanho insignificante comparadado<br />
ao deserto. Gus mantém o controle principal da cena por<br />
meio da técnica de contra-plongée, que faz o personagem<br />
parecer visualmente maior e mais poderoso [381].<br />
Neste episódio está uma das cenas mais marcantes<br />
do personagem de Walt. Em extremo desespero devido a<br />
ameaça de Gus, Walt precisa pegar todo o seu dinheiro<br />
e junto com sua família desaparecer do mapa. Mas tudo<br />
vai por água abaixo quando ele não encontra o dinheiro.<br />
Por meio da fotografia, a câmera se coloca tanto no lugar<br />
de Walt como de Skyler de acordo com suas visões,<br />
com Walt olhando em contra-plongée para cima e Skyler<br />
olhando para baixo em plongée. Esta posição nos mostra<br />
como a situação está desequilibrada e fora de controle.<br />
Em End of Times (04;12), Walt pede para Saul acionar<br />
anonimamente o DENARC e sua família é escoltada com<br />
seguranças para a casa de Hank, com exceção de Walt,<br />
que senta no lado externo de sua casa e gira sua arma enquanto<br />
aguarda o próximo passo de Gus. Primeiramente,<br />
a arma aponta para Walt. Ao girar a arma novamente, ela<br />
aponta para a sua direita. O movimento da câmera revela<br />
um vaso com uma planta. Este movimento de câmera<br />
tira o controle principal e artificial, tanto do personagem<br />
quanto da arma, e deposita no vaso de planta.<br />
Em Face Off (04;13), Gus troca sua camisa amarela e<br />
gravata azul para uma camisa e gravata preta e um terno<br />
azul quando vai visitar Hector pela última vez para<br />
matá-lo por ter entrado em contato com o DENARC.<br />
Tanto a cena de Hector em seu quarto quanto<br />
Gus no estacionamento do asilo apresentam controle<br />
artificial e principal dos personagens [382]. Quando<br />
Gus sai de perfil do quarto e ajeita a gravata logo após<br />
a explosão, a câmera não mostra de imediato, mas ela<br />
vira lentamente nos revelando a outra face de seu rosto.<br />
Podemos então fazer uma relação visual sobre Gus com<br />
o elemento que nos foi apresentado logo no começo da<br />
segunda temporada: o urso rosa de pelúcia após o acidente<br />
aéreo indiretamente causado por Walt [383].<br />
[383]<br />
[382]<br />
[381]<br />
[380] [379]<br />
207
208<br />
5ª Temporada<br />
Evolução visual dos personagens<br />
Walter White [384]<br />
Jesse Pinkman [385]<br />
Skyler White [386]<br />
Apresentação dos personagens<br />
Todd Funcionário criminoso da Vamonos Pest [387]<br />
Tio Jack Tio (e amigos) criminosos de Todd, também<br />
trabalham para a Vamonos Pest [388]<br />
Lydia Rodarte-Quayle Funcionária da Madrigal e ex-<br />
-distribuidora de metanfetamina de Gus [389]<br />
[389]<br />
[388]<br />
[387]<br />
[386]<br />
[385]<br />
[384]<br />
Logo na pré-créditos do episódio Live Free or Die<br />
(05;01), a série nos apresenta Walter quase irreconhecível,<br />
com cabelo, barba cheia e novo óculos, sozinho em<br />
uma lanchonete. Ele nos revela ser seu aniverário de 52<br />
anos. Ou seja, esta cena se passa depois um longo tempo<br />
desde o último episódio [390]. Segundo a ID de Walter,<br />
ele agora mora em New Hampshire e seu sobrenome<br />
passou de White para Lambert.<br />
A iluminação na casa dos White está como um final<br />
de tarde, intenso e com características de chiaroscuro;<br />
a casa possivelmente nunca esteve tão escura [391].<br />
Desde o começo do episódio Madrigal (05;02), o alemão<br />
adquire o controle artificial e principal da cena<br />
[392]. A câmera nos mostra um retrato de amizade entre<br />
o homem e Gus. Com isso, percebemos que a morte de<br />
Gus desencadeia um efeito dominó muito maior do que<br />
esperávamos. Vale observar que o banheiro que o homem<br />
se matou contém elementos fortes de vermelho,<br />
além de sua própria gravata [393]. Um detalhe mínimo<br />
seria também a cor da caixa do aparelho médico: azul<br />
royal. A pesar da cena forte, há presente novamente o<br />
humor quando o homem (Sr. Schuler) se suicida e cai<br />
morto no chão, a descarga é ativada automaticamente.<br />
Nas temporadas anteriores, quando a dupla ainda era<br />
inexperiente e/ou trabalhavam sobre pressão externa<br />
de perigo ou sob o comando de Gus, as cenas do processo<br />
de fabricação da droga eram retratadas com o uso<br />
de jump cuts e aceleração de vídeo, focando principalmente<br />
no relacionamento pessoal e profissional entre<br />
os dois homens, com a intenção de criar a sensação de<br />
euforia e desarmonia. Entretanto, desta vez em Hazard<br />
Pay (05;03), a câmera utiliza uma filmagem mais contínua<br />
e lenta ao retratar o primeiro processo de fabricação<br />
da metanfetamina como donos do próprio negócio.<br />
A fotografia exibe elementos visuais com formas orgânicas<br />
e fluídas, como fumaça e líquidos, e elementos quase<br />
sensoriais, como água fervente e até mesmo as moléculas<br />
se fundindo por meio da reação química [394]. O<br />
controle principal da cena está voltado para o ambiente<br />
e os equipamentos do novo laboratório. Toda esta nova<br />
visualidade do processo, complementado pelo jazz bri-
tânico (On a Clear Day You Can See Forever, de The Peddlers)<br />
como trilha sonora.<br />
209<br />
[395]<br />
[394]<br />
[392] e [393]<br />
[391]<br />
[390]<br />
Um dos elementos visuais que ainda remetia ao personagem<br />
de Walt antes do surgimento do seu alterego Heisenberg<br />
era seu carro presente desde o início da série.<br />
Segundo GUFFEY e KOONTZ (2014), Walt tinha um Pontiac<br />
Aztek de tom verde samambaia, um carro feito para atrair<br />
a geração X mas que virou um desastre, sendo nomeado<br />
em 2007 pela revista Time um dos piores carros de todos<br />
os tempos. Em Fifty-One (05;04), Walter levar o carro para<br />
um conserto geral e, ao reencontra seu chapéu – característica<br />
marcante de Heisenberg – no interior do veículo,<br />
oferece ao mecânico o veículo por apenas 50 dólares, alugando<br />
seguida um Chrysler 300, veículo que ficou famoso<br />
na cultura gângster (GUFFEY; KOONTZ, 2014) [395].<br />
Desesperada, Skyler entra aos poucos na piscina<br />
da casa dos White na noite de aniversário de Walt.<br />
A piscina iluminada adquire o mesmo azul da metanfetamina<br />
feita pelo marido, criando um contraste intenso<br />
com a escuridão da noite. Uma câmera ponto-de-vista<br />
é colocada dentro da piscina para colocar o espectador<br />
no lugar de Skyler [396].<br />
Nesta cena em Dead Freight (05;05), o computador dividindo<br />
a tela pode representar uma distância emocional<br />
entre Walt e seu cunhado Hank [397].<br />
Ao defender o seu império em Buyout (05;06), Walter<br />
veste azul Royal – cor associada ao ego, poder e à superioridade<br />
– e a iluminação adquire uma característica<br />
chiaroscuro cobrindo sua meia-face [398].<br />
Breaking Bad mostra em Say My Name (05;07) como é<br />
feito o processo de divisão salarial pelo advogado dos 9<br />
homens presos de Mike, que recebem o dinheiro para não<br />
dedurar. Este procedimento é retratado utilizando diversos<br />
ângulos específicos, como plongée, contra-plongée, câmera<br />
subjetiva, câmera ponto de vista, Planos Fechados e takes<br />
editados em jump cut, juntamente com o efeito de uma<br />
trilha sonora calma e agradável (Overture, de Duke Ellington),<br />
como já é marca registrada na série de satirizar uma<br />
situação ilícita com um Jazz relaxante e animado [399].<br />
[400]<br />
[399]<br />
[398]<br />
[397]<br />
[396]
210<br />
[404]<br />
[403]<br />
[402]<br />
[401]<br />
Quando Walter pede para conhecer os tios de Todd que<br />
têm contatos com homens em prisões em Gliding Over<br />
All (05;08), apenas a descrição visual de alguns elementos<br />
presentes no ambiente da cena e suas características<br />
são capazes de contar a história os personagens. Nesta<br />
cena do encontro, vemos os seguintes elementos na casa<br />
dos tios: tatuagem da suástica nazista, pizza barata perto<br />
de um cinzeiro cheio de bituca de cigarros, ambiente<br />
velho, sujo e descuidado, etc [400]. Há também um retrato<br />
que nós – e Walt – já vimos antes na segunda temporada<br />
em Bit by a Dead Bee (02;03), quando Walt finalmente<br />
concorda em receber o tratamento para o câncer.<br />
A casa dos White adquiriu uma iluminação extremamente<br />
escura, de característica chiaroscuro e caráter<br />
expressionista, o suficiente para enxergar a silhueta alguns<br />
objetos da casa. Dos itens que se destacam pela<br />
pouca iluminação são as grades decorativas, enfatizando<br />
os elementos visuais rígidos e alinhados, contribuindo<br />
para a identidade visual ainda mais obscura e manipulativa<br />
de Walt. O momento é retratado na sala escura<br />
de Walt, é compartilhado com cenas de vários Planos<br />
Detalhe em seu relógio (presente de aniversário de Jesse)<br />
mostrando a passagem de tempo de um período de<br />
2 minutos e cenas dos homens de Mike na prisão sendo<br />
assassinados pelos contatos dos tios de Todd. Como característica<br />
sonora já presente na série, todo este processo<br />
violento é acompanhado por uma música de Jazz<br />
(Pick Yourself Up, de Nat King Cole) [401].<br />
Durante uma sequência de cenas sobre a evolução<br />
e a expansão da produção de Walter e Todd, são feitas<br />
nesta sequência algumas transações de cena utilizando<br />
a técnica de match cut entre os procedimentos do laboratório<br />
e a vida casual. Alguns dos match cuts apresentados:<br />
de Walter sentado no sofá da casa dos Schrader em<br />
uma conversa com Hank para Walt vestindo seu macacão<br />
amarelo de trabalho; da cena onde o avião decola<br />
para a metanfetamina líquida está sendo enformada;<br />
o líquido da água Saul bebe é transacionado para uma<br />
substância química; a mesma caneca de Skyler se transforma<br />
na caneca com chá de Lydia. Está tudo conectado<br />
e ocorrendo de maneira dinâmica e fluída. A mudança<br />
das vestimentas e das repetitivas cenas seguidas nos relatam<br />
tal rotina e passagem de tempo [402].<br />
Quando Hank abre o livro de Walt Whitman e tem<br />
a realização de que Walt é Heisenberg a câmera se aproxima<br />
cada vez mais do personagem, começando em um<br />
Primeiríssimo Plano e terminando em Plano Detalhe de<br />
seu rosto [403].<br />
Depois de terminar o episódio anterior com o momento<br />
mais ansiado da série, nos deparamos em Blood Money<br />
(05;09) com a continuação do flashforward de Walt do primeiro<br />
episódio desta temporada. Agora em sua casa, sua<br />
piscina que até a última cena do episódio anterior abrigava<br />
uma reunião familiar, virou uma rampa de skate, e a<br />
casa se encontra completamente abandonada e fechada.<br />
Este impacto de cenas tão juntas e tão repentinas pode<br />
provocar um confronto visual sobre a nova realidade atual<br />
da família e o desastre que poderá acontecer no futuro,<br />
agora que sabemos que Hank desmascarou Heisenberg.<br />
Aos poucos as partes do quebra-cabeça vão se montando.<br />
É interessante notar que a pré-créditos se inicia em Plano<br />
Detalhes, desfocados e trêmulos. Lentamente, a câmera<br />
vai abrindo os planos e criando foco até chegar em um<br />
Plano Geral da piscina abandonada da casa dos White<br />
transformada em uma pista de skate [404].<br />
O episódio Buried (05;10) inicia-se com uma continuação<br />
da cena do episódio anterior, com Walt saindo da<br />
garagem de Hank após o conflito entre os dois. Com a<br />
utilização do ângulo em contra-plongée em ambos os<br />
personagens, a cena de Walt parado em frente à garagem<br />
e Hank esperando a porta ser fechada remete a uma<br />
cena clássica entre dois pistoleiros nos faroestes [404].<br />
Temos uma imagem dos sapatos que Lydia usa ao<br />
descer pelas escadas do buraco quando ela faz uma visita<br />
à Declan, o seu novo produtor de metanfetamina da<br />
região onde tem sua base de fabricação em um ônibus<br />
escolar enterrado no meio do deserto. Seus sapatos pertencem<br />
à da marca Louboutin, considerados sapatos de<br />
grife e caríssimos que têm como sua característica distintiva<br />
a sola de cor vermelha, de mesmo tom do sangue<br />
derrubado nesta cena [405].<br />
Em Confessions (05;11), Jesse é levado pelo FBI para<br />
uma sala de interrogatório, que é retratada por uma<br />
câmera subjetiva colocada na entrada do ar-condicio-
[408]<br />
[407]<br />
[406]<br />
[405]<br />
nado da sala [406]. Skyer é iluminada pela luz natural<br />
enquanto Walt é mostrado no escuro apenas com a sua<br />
silhueta enquanto garante à esposa que a sua gravação<br />
de confissão era necessária para o bem deles [4078.<br />
Ao perceber que Walt foi o verdadeiro responsável<br />
pelo envenenamento de Brock, Jesse vai à casa de<br />
Walt em um ato de impulsividade e começa a derrama<br />
gasolina pela casa vazia da família. A cena é feita com<br />
uma câmera subjetiva e ponto-de-vista, além de um desequilíbrio<br />
visual, deixando deixa evidente todo o descontrole<br />
e euforia do parceiro. O ator derruba o líquido<br />
diretamente na câmera, como se estivesse jogando a<br />
gasolina no espectador [407].<br />
Em Rapid Dog (05;12), Walter chega à sua casa procurando<br />
por Jesse, entrando na residência pelos fundos,<br />
avançando lentamente pelos cômodos. Ao chegar na<br />
porta do cômodo final, o quarto do casal, a câmera fica<br />
mostra a imagem de baixo para cima em contra-plongée,<br />
elevando o tamanho da maçaneta da porta, enfatizando<br />
o momento de tensão depositado ali quando Walt planeja<br />
abrir a porta. O plano é fechado e os cantos da imagem<br />
são escurecidos, afunilando a visão do espectador<br />
com relação a expectativa do controle de Walt depositada<br />
naquele momento. Ao entrar no último cômodo<br />
e perceber que não há mais sinais de Jesse na casa, a<br />
câmera se distancia do quarto e de Walt, diminuindo o<br />
tamanho e tirando o controle e a importância de ambos.<br />
O controle é então colocado na garrafa vermelha de gasolina<br />
abandonada no carpete da sala [409].<br />
Uma câmera subjetiva é posicionada dentro da<br />
mangueira utilizada pela empresa de limpeza de carpetes<br />
e preenche temporariamente a tela com a cor azul-<br />
-royal, cor representada pelo ego de Walt [410].<br />
Walt propõe à Jesse de se encontrarem no Plaza<br />
da cidade para conversar. Caminhando por trás de Walt<br />
em direção ao mesmo, vários elementos visuais nos<br />
mostra a insegurança do mais novo, como crianças correndo<br />
e esbarrando nele, pessoas olhando, e até mesmo<br />
percebe uma figura muito parecida com Walt atrás de<br />
uma parede como se estivesse se escondendo. Neste<br />
momento, as imagens brincam com a pespectiva como<br />
se fosse uma ilusão de ótica. Segundo a visão do binó-<br />
[412]<br />
[411]<br />
[410]<br />
[409]<br />
211
212<br />
[413]<br />
[414]<br />
[415]<br />
culo de Hank, Jesse está bem atrás do banco onde Walt<br />
está sentado. Porém, pensando que o que temia fosse<br />
de fato se tornar realidade e Walt estava ali para matá-<br />
-lo, a fotografia da cena feita com uma câmera ao alto<br />
em plongée, revela a distância real entre Walt e Jesse.<br />
Quando Jesse cancela o encontro com uma ameaça à<br />
Walt, este sai da cena em direção ao outro homem careca,<br />
como se ambos se conhecessem. Até que o homem<br />
encontra a sua filha, que na realidade estava ali esperando<br />
pela menina enquanto Walt continua a andar<br />
e passando o homem, mostrando que a percepção de<br />
Jesse estava errada sobre Walt [411].<br />
Walt contrata os serivços os tios de Todd mais uma vez<br />
no episódio To’hajiilee (05;13), e durante a reunião<br />
Todd que está atrás de Walt recebe uma iluminação vermelho-sangue<br />
[412].<br />
Walt pretende ir ao encontro de Jesse quando o<br />
último ameaça de queimar todo o dinheiro que Walt enterrou<br />
em sete barris no deserto. A imagem alterna entre<br />
Planos Fechados do rosto de Walt com uma câmera subjetiva<br />
dentro. Quando Walt confessa à Jesse pelo celular<br />
o envenenamento de Brock e os assassinatos que cometeu<br />
desde que começaram a cozinhar a metanfetamina,<br />
a câmera começa a abrir o plano sequencialmente, alternando<br />
entre Plano Fechado até chegar em um Grande<br />
Plano Geral do carro de Walt se distanciando cada<br />
vez mais da câmera, perdendo o controle da cena e da<br />
situação [413]. Esta cena é uma boa representação visual<br />
do que podemos entender de controle: tentando se<br />
segurar aos últimos resquícios de argumento para manipular<br />
Jesse, a imagem de Walt é predominantemente<br />
escura em contraste com o céu azul externo. Esta iluminação<br />
em contraluz do interior do carro afunila a iluminação<br />
da imagem, criando quase uma sensação claustrofóbica,<br />
além de limitar os detalhes visuais da cena e<br />
fazer com que o espectador veja apenas o que Walt vê.<br />
Já o plano exterior – que se abre cada vez mais – contém<br />
uma iluminação clara e natural, mostrando que o<br />
carro de Walt é quase como um elemento insignificante<br />
para tal proporção de imagem, tirando o seu controle de<br />
cena. Quando o carro entra na estrada de terra, a areia<br />
que esvoaça cobre o carro por completo.<br />
A pré-créditos de <strong>Ozymandias</strong> (05;14) inicia com um<br />
flashback da primeira temporada mostrando a primeira<br />
desculpa que Walt dá à Skyler quando começa a<br />
cozinhar no deserto com Jesse. Com a câmera fixa na<br />
paisagem do deserto, aos poucos os personagens e os<br />
elementos são retirados do cenário com um efeito de<br />
desaparecimento (fade out), e são substituídos com o<br />
efeito de aparecimento (fade in) pelos personagens e<br />
elementos referentes à continuação do episódio anterior<br />
enquanto o cenário continua o mesmo [414]. Esta é<br />
uma maneira bem direta de mostrar tudo o que aconteceu<br />
desde o episódio piloto da série até o momento sem<br />
movimentar a câmera ou mesmo cortar a cena, além de<br />
representar o deserto como uma natureza indiferente às<br />
consequências ocorridas ali.<br />
Walt está no caminho de volta para casa com seu barril<br />
de dinheiro restante no carro quando seu o Chrysler 300<br />
para no meio da estrada de terra. Ele então percebe um buraco<br />
de bala no tanque de gasolina do veículo que, de acordo<br />
com o enquadramento, deixa um indício visual do buraco<br />
de bala exatamente na testa de Walt.As calças de Walt no<br />
episódio Piloto (01;01) são vistas novamente no chão do deserto<br />
enquanto o mesmo rola seu barriu de dinheiro [415].<br />
Ainda rolando seu barril, Walt tira alguns segundos<br />
para descansar e contemplar todo o caminho que<br />
ainda terá que perseguir. A partir de um Plano Fechado<br />
de seu rosto, a câmera já parte para um Grande Plano<br />
Geral, abrindo e ampliando aquele cenário cada vez<br />
mais, tirando absolutamente o controle de Walt da cena,<br />
deixando-o quase que imperceptível no deserto além de<br />
intensificar a sua insignificância naquele lugar [416].<br />
Durante o flashback da pré-créditos, Skyler aparece<br />
na cozinha perto de um jogo de facas. Durante esta cena,<br />
o faqueiro não tem nenhum tipo de destaque. Entretanto,<br />
este mesmo jogo reaparece quando Skyler tenta defender<br />
o filho e a si mesma do marido; desta vez, o enquadramento<br />
sobre o faqueiro é diferente, e ele passa a receber o<br />
controle principal da cena, se tornando um elemento importante<br />
para a narrativa naquele momento [417].<br />
Vários tons escuros são utilizados em Granite State<br />
(05;15), principalmente para retratar tanto a escravidão<br />
de Jesse quanto o aprisionamento de Heisenberg. No caso
[420]<br />
[419]<br />
[418]<br />
[417]<br />
[416]<br />
de Jesse, o uso de símbolos de impedimento e retração,<br />
como barras verticais e grades, foi utilizado diversas vezes;<br />
a iluminação também contribuiu para a criação de um efeito<br />
de aprisionamento e impotência do personagem [418].<br />
Já no caso de Walt, sua solidão e isolamento foram<br />
visualmente representadas pela pouca fonte de luz<br />
dentro da cabana, criando trevas sobre o personagem.<br />
Mesmo quando Walt sai da cabana, a câmera mostra as<br />
árvores em contraluz, ofuscando a visão do céu.<br />
Sabemos somente pela queda da aliança do dedo<br />
de Walt que sua saúde está cada vez pior. Tentando um último<br />
contato com o filho e rejeitado pelo mesmo, a imagem<br />
mostra a desistência total do personagem com a sua vida<br />
ao contatar o DENARC e revelar sua identidade e local de<br />
contato ao abandonar o telefone público ainda ligado para<br />
poderem rastreá-lo. Entretanto, após assistir ao noticiário<br />
sobre a sua mísera participação na fundação da empresa<br />
bilionária Gray Matter e o repúdio do casal com relação à<br />
Walt, a câmera aproxima-se por trás de Walt lentamente. A<br />
polícia chega finalmente ao bar, local onde Walt fez o contato<br />
com o DENARC, e somente com a câmera posicionada<br />
no whisky de Walt e no dinheiro é que sabemos que o personagem<br />
mudou de ideia quanto ao seu destino.<br />
No último episódio da série Felina (05;16), assistimos a<br />
um flashback de um Jesse iluminado por uma cor quente<br />
e dourada, nos passando a sensação de suavidade,<br />
satisfação e conforto enquanto trabalhava em criar uma<br />
caixa de madeira. A cena corta com um match cut contrastando<br />
o sonho de ouro de Jesse com a sua situação<br />
atual em um laboratório metálico e gélido, sobrevivendo<br />
como um escravo químico [419].<br />
Diversas vezes nesta temporada vimos Lydia adoçar<br />
e beber seu chá de camomila. Desta vez, a cena recebe<br />
atenção especial para a ação quando ela coloca o<br />
seu adoçante no chá, acompanhando até a solução dissolver<br />
no líquido. Descobrimos depois que Walt havia<br />
trocado o pó da embalagem de Stevia pelo veneno de<br />
Ricina com a intenção de matá-la. Lydia veste azul-royal<br />
e sua caneca é vermelho-sangue.<br />
Um movimento de câmera exibe um pouco sobre a<br />
nova moradia de Skyler: muito menor e mais simples do que<br />
a casa dos White. Além disso, a imagem nos mostra que ela<br />
está sozinha na casa quando Marie liga para falar sobre os<br />
boatos de Walt ter sido visto em Albuquerque e para alertá-<br />
-la, pois ele pode estar atrás delas. Quando Skyler desliga o<br />
telefone, a câmera começa a se aproximar lentamente, exibindo<br />
Walt que antes estava escondido da câmera coberto<br />
por uma coluna. Walt usa as mesmas roupas que vestia na<br />
primeira temporada: camisa verde, calças bege e uma jaqueta<br />
fina bege. A cena apresenta um outro ângulo do ambiente,<br />
colocando a coluna – que antes bloqueava a imagem<br />
de Walt do espectador – entre ele e Skyler, demonstrando a<br />
barreira que ainda permanece entre o casal [420].<br />
Finalmente livre, Jesse começa a retomar controle da<br />
sua vida. Ao pegar o carro de Jack, Jesse dá a marcha ré e<br />
a câmera subjetiva colocada dentro do carro se comporta<br />
como uma de percepção alterada ou uma ilusão, chegando<br />
a parecer que Jesse pretende atropelar Walt na sua saída.<br />
O ângulo da câmera muda, e o carro vai em direção à Walt<br />
confirmando a percepção, até que ele simplesmente passa<br />
por Walt sem consequências [421]. Depois de diversas vezes<br />
sendo um passageiro de onde ia, Jesse finalmente assume<br />
a direção de seu destino. Walt morre contemplando o laboratório<br />
químico. A câmera abre de um Plano Fechado de seu<br />
rosto sobe lentamente e em sentido vertical em plongée em<br />
movimentos circulares até um Plano Geral, mostrando o laboratório<br />
e a polícia chegando tarde demais ao local [422].<br />
[421]<br />
[422]<br />
213
215