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PE DA LETRA JUNHO 2018

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REPRODUÇÃO <strong>PE</strong>RMITI<strong>DA</strong><br />

Comemoração de 191 anos<br />

da cidade de Rio Claro=SP<br />

Junho <strong>2018</strong><br />

Capela da Floresta Estadual Edmundo<br />

Navarro de Andrade<br />

Foto Estilizada: Nilce Franco Bueno


Apoio:<br />

Secretaria Municipal da Cultura<br />

Sistema Público de Bibliotecas


INTELIGENTES COLMEIAS ARTESÃS<br />

Vós sois mui, mui belíssima, Rio Claro!<br />

Fina elegante cidade nobre e luzente,<br />

Riquíssima na formação dos históricos valores<br />

Duma tradição constante, na cultura influente<br />

Onde, desde a primeira iluminação elétrica,<br />

Vossa sociedade organizou-se de forma sábia,<br />

Sob o céu guarido nas belas matizes do azul<br />

Ao irem desenhando-vos num ordeiro paradigma<br />

A Vossa História composta numa fé tão suprema<br />

Perpetuando-vos no trabalho das vossas gerações<br />

Tecendo-vos no belo Cenário do Brasil vigente!<br />

Hoje, o vosso povo, entreolha-se, comovido,<br />

Cruzando entre si, belos, obstinados sonhos,<br />

Focados nessa ótica feita nos nobres anseios<br />

Numa laboriosa criação executada com maestria<br />

Nessa construção feita nas cores do dia-a-dia<br />

Vividos nessa hiper ativa dinâmica das honras<br />

A Vós atribuídas de mui magnífica feliz cidade!<br />

Odenir Ferro<br />

Portal da Santa Casa de Misericórdia<br />

Desenho em bico de pena por Percy Oliveira<br />

A Vossa composição urbana é gerada por Indústrias<br />

Criadas na base dos alicerces da Vossa estrutura,<br />

Onde Vosso Povo digno, forte, trabalha e produz<br />

Contribuindo com o Mercado das Exportações<br />

Gerando Divisas e Intercâmbios Culturais,<br />

Elevando-Vos assim, o Vosso Nome, Rio Claro,<br />

No mérito do destaque de Pólo Industrial!<br />

A Vossa grande mão-de-obra é produzida sempre<br />

Por mãos ativas incansáveis e trabalhadoras<br />

Regidas por mentes que brilham, criadoras,<br />

Tal qual inteligentes Colmeias Artesãs<br />

Compondo a Vossa Arte nas Telas da Vida,<br />

Onde impressões fotográficas desse Amor<br />

Diversificam-vos na Poesia das Verdades,<br />

Registradas no pano de fundo da Vossa Sorte!<br />

Onde sois Drama, sois Trama, do emocionante Enredo,<br />

Filmado dentro das cenas reais do Vosso cotidiano<br />

Produzido no labor do teor do Vosso real Panorama<br />

No Vosso cinema encenado por Vosso povo amoroso.<br />

HINO DE RIO CLARO<br />

Letra: Professora Celeste Calil<br />

Música: Professora Ligia Do Carmo Polastri<br />

Salve, salve Rio Claro querida,<br />

Linda terra de céu sempre azul,<br />

Quem te vê uma vez, não te olvida<br />

Pois te embala o Cruzeiro do Sul!<br />

O nascer no teu seio de ouro,<br />

É trazer no feliz coração.<br />

O teu nome, sublime tesouro,<br />

Protegido por meigo São João!<br />

Rio-clarenses, bem alto cantemos<br />

Este hino, com todo fervor,<br />

Pois à terra maior pertencemos<br />

Em carinho, energia e valor!<br />

O teu solo tão fér l, encerra<br />

Mil riquezas, fartura sem par,<br />

Teu comércio engrandece esta terra,<br />

Tua indústria operosa é exemplar!<br />

E a instrução que é estrela potente<br />

A brilhar no teu céu cor de anil<br />

Faz do jovem, valor consciente<br />

Na defesa do nosso Brasil!


Antiga Estação da Companhia Paulista<br />

Construída em 1876 e substituída pela atual em 1910.<br />

Rua 1 entre Avenidas 2 e 3<br />

Desenho em bico de pena por Percy Oliveira<br />

SEGREDO <strong>DA</strong> VI<strong>DA</strong><br />

Millo Ribeiro<br />

Cada passo que cada um deve dar,<br />

e a estrada que cada um escolher.<br />

Se o destino é traçado contra a vontade,<br />

aqui embaixo a gente nunca vai saber.<br />

Se o sopro da vida é graça dada,<br />

ninguém pede na vida pra nascer.<br />

Se o presente foi dado contra a vontade,<br />

é preciso ter coragem pra viver.<br />

Se eu posso fazer a minha história,<br />

não ficar esperando ao “Deus dará”.<br />

Se o futuro não for da minha vontade,<br />

o presente bem vivido é que dirá.<br />

Ninguém sabe mais quem manda nesse mundo,<br />

não dá mais pra dizer: “Se Deus quiser”.<br />

Se o fardo é pesado contra a vontade:<br />

esse é o segredo da vida.<br />

FUZUÊ<br />

Antonia F. A.Leite<br />

Na casa dos preguiçosos,<br />

Há sempre falta de pão.<br />

Todos ralham,<br />

todos gritam,<br />

Porém, ninguém tem razão.<br />

ATREVIMENTO<br />

Íris Freitas<br />

Enquanto em minhas veias<br />

correr apenas medo,<br />

e a valentia continuar<br />

pequena<br />

amores e sonhos serão<br />

apenas segredo<br />

de uma ciranda infindável,<br />

com a mesma cantiga amena.<br />

(Sobra-me apenas a fraqueza<br />

típica das borboletas.)<br />

GOTA DE SAL<br />

David Ferreira<br />

Lágrima caída no chão:<br />

semente que brota e aflora,<br />

Sentimentos cedidos.<br />

Amores perdidos.<br />

Saudade de alguém.<br />

Desejo do que passou.<br />

Nostalgia querida,<br />

Que o tempo levou.<br />

Que a morte afastou,<br />

Você de mim!


Teatro Variedade<br />

iInaugurado em 1914 - Avenida 1 com rua 6<br />

Desenho em bico de pena por Percy Oliveira<br />

SE FOI<br />

Denise Cristina Ferreira Leite<br />

De repente, tudo acabou,<br />

De repente, a vida se foi,<br />

De repente, a felicidade findou,<br />

De repente, não havia mais riso,<br />

De repente, houve só prejuízo,<br />

De repente, a culpada sou eu,<br />

De repente, o estimulo passou,<br />

De repente, a vontade de mudar desapareceu,<br />

De repente, alguém desfere palavras ruins,<br />

De repente, eu as acolhi,<br />

De repente, não há estimulo na vida,<br />

De repente, não existe motivos para lutar,<br />

De repente, imposição é posta,<br />

De repente, que nos deixa torta,<br />

De repente, da vontade de gritar e de correr,<br />

De repente, eu sinto a gargante,<br />

o peito e uma mão me apertar,<br />

De repente, eu sinto tamanho sofrimento,<br />

De repente, eu vejo que não tenho mais lugar,<br />

De repente, vejo que há nenhum lugar mais eu pertenço,<br />

De repente, não quero fazer parte desse ritmo<br />

descontente,<br />

De repente, não sinto desvarios de liberdade,<br />

De repente, tenho que seguir todos os pálidos,<br />

De repente, as suas regras impostas são ultrajantes,<br />

De repente, não há felicidade, só amargura,<br />

De repente, a morte sinto breve,<br />

De repente, não me importo mais com os que pensam,<br />

De repente, rezo um Pai Nosso e peço o fim desse<br />

tormento,<br />

De repente, assim tão de repente,<br />

Não há motivo algum para lutar e viver,<br />

E, assim, tão repentinamente,<br />

Tudo se foi.<br />

VAMOS FALAR DE POESIA<br />

Verena Venancio<br />

Poesia acalenta a alma,<br />

lava a tristeza,<br />

limpa o coração.<br />

Enobrece o humilde,<br />

abraça o contrito,<br />

sustenta o faminto.<br />

Poesia, existe para ser real,<br />

mesmo que no sonho do poeta.<br />

Existe para espalhar amor,<br />

mesmo no coração do bruto.<br />

Poesia vivifica a flor morta,<br />

abraça o vazio<br />

e o transforma em oásis.<br />

Poesia,<br />

poesia é a musa do apaixonado,<br />

a espada do indignado,<br />

o bálsamo do acamado.<br />

COMO ESCREVER<br />

Leandro<br />

O lápis está pronto<br />

Posicionado no papel<br />

Se quiser inspiração<br />

Basta olhar para o céu<br />

Olhe em tudo<br />

Reflita em sua vida<br />

Pense também<br />

Em uma pessoa querida<br />

Inspiração não é o problema<br />

O problema é ter um tema<br />

Mas basta olhar ao redor<br />

Que a inspiração se torna maior


Casa do Advogado Raimundo Pereira<br />

mais tarde residência da família Piccoli<br />

Rua 4, entre avenidas 1 e 3<br />

Desenho em bico de pena por Percy Oliveira<br />

NA BEIRA DO MAR<br />

Marcelo Seixas<br />

Ondas<br />

bailam com o vento litoral<br />

Ondas<br />

evaporam-se em brisa,<br />

bruma do mar,<br />

numa cortina de partículas salgadas<br />

Onda<br />

que leva meu pensamento<br />

para muito além da linha do horizonte<br />

Onda<br />

que devolve o pensamento<br />

no estouro das ondas,<br />

na ressaca da maré,<br />

no espumar das emoções<br />

Na beira do mar<br />

o suor escorre pelo corpo<br />

e a maresia tempera nossa alma<br />

Mar<br />

útero iodado,<br />

onde nasce o caranguejo,<br />

onde mora a Mãe D'água<br />

As ondas pequeninas<br />

beijam nossos pés,<br />

quando passam por nós<br />

E as maiores,<br />

acariciam o céu da nossa cabeça,<br />

para em seguida<br />

marcar um rastro de espumas...<br />

como um véu de noiva<br />

ILUSÕES E MENEIOS<br />

Reginaldo Honório da Silva<br />

Vou te decorar<br />

Te declamar num poema infantil<br />

Pegar tuas mãos numa ciranda de roda<br />

E te afastar de olhares alheios<br />

E na solidão das ilusões e meneios<br />

Arrastar-te num canto escuro<br />

Onde possas te despir dos teus medos<br />

De te confessares a mim, sem receios<br />

Teus pensamentos mais ousados<br />

Que te fazem arfar os teus seios<br />

Toda vez que aporto nos teus olhos<br />

E descarrego o clandestino desejo<br />

De me apossar da ilusão do teu beijo<br />

E marejar na estrutura do teu coração<br />

Poemas que os românticos do mar<br />

Não contêm em seus tesouros<br />

Poesias que os poetas da eternidade<br />

Não compuseram em qualquer dos versos<br />

Que ousaram rimar a ti, em nome do amor<br />

E eu, poeta que te digo, apaixonado<br />

Sem rimas que agucem a pretensão dos letrados<br />

Vou te decorar<br />

Te declamar num poema infantil<br />

Para que tuas mãos na ciranda de roda<br />

Não permitam te perderes de mim!<br />

BULLING<br />

Roberto Teco Junior<br />

Onde estão as palavras para enfeitar a existência?<br />

Onde estão os cân cos de Heloisa?<br />

Onde estão as vibrações juvenis?<br />

O sen do da vida, nua e ferida.<br />

Onde estão as lembranças da noite veloz?<br />

Os melodramas que fazem vir à tona,<br />

a desgraça escondida no inconsciente?<br />

Onde estão os cuidados<br />

com os que amamos e veneramos?<br />

A poesia contestatória e marginal<br />

Onde está a certeza?<br />

A liberdade e a liber nagem,<br />

A filosofia? O amor? A empa a?<br />

Onde estão os homens feridos pelas palavras<br />

de desa nos, no silencio dos quartos?<br />

Onde está Jesus com sua mensagem libertaria,<br />

a impedir jovens<br />

de serem ví mas de preconceito e morte?<br />

Estaria no céu, inferno ou purgatório?<br />

No verso do poeta inconformado e triste?<br />

Ferido pelas brincadeiras de seus “colegas”?<br />

O inferno não existe.<br />

Ele está no meio de nós nos alfinetando<br />

com palavras de desamor e ódio.<br />

Está no homem e mulher que olhando<br />

não enxerga o obvio no semblante do pedinte,<br />

Do filho,<br />

Da filha,<br />

Da esposa....<br />

Para onde ir? Como acreditar? Em Deus?<br />

Nos polí cos? Nas promessas de redenção?<br />

Na igreja e seus algozes?<br />

Com quem caminhar?<br />

Se à margem do caminho vê se apenas<br />

sinais de preconceito e desumanidade.


SÁBIA SABEDORIA<br />

Lelia Alice Bertanha<br />

Ao singrar os caminhos,<br />

A procura de sentidos,<br />

Súbito sentimento clama!<br />

O complexo êxtase,<br />

Sublime,<br />

Aflora. Inibindo, agora,<br />

O profano.<br />

O vento, na sua fina essência,<br />

Vive a magia dos horizontes<br />

Cósmicos, os quais transcrevem<br />

Mensagens eternas e reflexivas<br />

Aos mais sensíveis corações...<br />

E no pulsar das vidas<br />

Podem-se ouvir sinfonias,<br />

Em sintonias supremas,<br />

Serenas! Com muita<br />

Pureza no tom e ritmo,<br />

O amor se faz tema e, se eleva!<br />

Sendo o maior lema da humanidade!<br />

O amor é música e também poesia<br />

Ele é a mais sábia sabedoria!<br />

SONETO <strong>DA</strong> VER<strong>DA</strong>DE VER<strong>DA</strong>DEIRA<br />

Fernando Cavalheiro<br />

Saudade é a dor física<br />

que somente a alma pode explicar;<br />

Transpassa a lucidez<br />

e encontra no desespero,<br />

Sorriso a soluçar;<br />

Tão forte esmaga o peito austero<br />

Da força parida,<br />

a verdade surge cansada<br />

soberba matéria e teimosa,<br />

fita-lhe os olhos,<br />

requer a coisa amada<br />

não se lhe vem compreender a demora<br />

Mas não há resposta convincente<br />

que a'lma não possa dar:<br />

"abranda-te, saudade permanente<br />

que a verdade, quanto mais lhe insiste<br />

clamor à ausência sentida de amar,<br />

também maior força enaltece o amor".<br />

Cadeia e Casa de Câmara<br />

Inaugurada em 1870<br />

e demolida em 1967<br />

Desenho em bico de pena<br />

EU E AS ESTRELAS<br />

Márcia Fátima S. L. da Silva<br />

Oh! Estrelinha linda!<br />

Fale comigo, por favor!<br />

Tu pareces tão infinda,<br />

Repleta de esplendor!<br />

Caminhando na solidão,<br />

Gosto de contemplá-la,<br />

Graciosa e pequenina na imensidão...<br />

Como gostaria de alcançá-la!<br />

Tua presença me traz alegria,<br />

Já não me sinto mais sozinha.<br />

Meu coração irradia!<br />

Com o brilho de tua luzinha!<br />

Obrigado “Bondoso Deus”!<br />

Por tanta graça e beleza!<br />

Guardada no azul do céu...<br />

Presenteando a noite com realeza!...


QUALI<strong>DA</strong>DE DE VI<strong>DA</strong> EM RIO CLARO<br />

Crônica publicada no Jornal Cidade de Rio Claro em 17/07/1997<br />

Nilce Franco Bueno<br />

Um amigo declarou outro dia, que um dos locais em<br />

que mais gosta de passear na cidade de Rio Claro é o Jardim<br />

Público. Falávamos, então, na 12ª colocação de alcançada por<br />

Rio Claro dentro do Estado, em qualidade de vida.<br />

Ele falou que ali se desliga de tudo e sente-se integrado à<br />

vegetação de origem nativa e ao microclima formado dentro<br />

dele, que é ameno.<br />

Acho que, devido talvez a motivos similares, este recanto<br />

especial da Cidade Azul é o ponto preferido da maioria dos<br />

cidadãos rio-clarenses. Ou foi em outras épocas.<br />

Eu mesmo, sempre gostei de passear por suas alamedas,<br />

fosse dia ou fosse noite. Ter um contato maior com a natureza,<br />

através de suas árvores idosas, sempre me trouxe paz e desejo<br />

de novas experiências.<br />

Os passeios noturnos, então, nem se fala. Era uma<br />

delícia, ao sair do trabalho já tarde, passar por baixo de suas<br />

árvores lacrimejantes de orvalho e, pelo menos durante o trajeto,<br />

me desligar do mundo, como faz o senhor prefeito.<br />

Era como se eu passasse por um filtro natural, onde<br />

deixava as energias negativas adquiridas durante o dia e me<br />

restabelecesse das energias positivas dessas árvores antigas.<br />

Seguia então para casa, em plena harmonia com o universo.<br />

Quando era dia, muitas vezes cheguei em cima da hora<br />

no serviço, pois não resistia ao chamado do anjo. Ele nunca me<br />

deixava passar direto, sem dar uma palavrinha com ele...<br />

Eu sempre arrumava um banco onde dava para sentarme<br />

e admirá-lo, como se, de alguma forma, pudesse mergulhar<br />

em seu mundo celestial, nem que fosse ao menos por uma fração<br />

de segundo.<br />

De certa forma, acho que dava certo. Eu olhava para o<br />

anjo, que por sua vez também me olhava, e conseguia viajar para<br />

lugares distantes. O aroma das flores e o canto dos pássaros<br />

contribuíam para completar o clima. E assim, eu ficava ali, quieta,<br />

pensativa, como um engenheiro a rabiscar mil sonhos.<br />

Anjo da Concórdia<br />

Foto estilizada da escultura instalada<br />

no Jardim Público<br />

Doação de imigrantes italianos<br />

durante o centenário da<br />

cidade de Rio Claro-SP<br />

Quando olhava para o relógio, que susto! Já<br />

se havia passado um quarto de hora ou mais. Apressada, ia<br />

para o trabalho bem leve, como se tivesse tomado<br />

emprestado o par de asas do anjo do jardim.<br />

Depois, a violência das gangues foi tomando conta<br />

da cidade. Primeiro invadiram os bairros e as casas se<br />

encheram de grades. A invasão foi se alastrando pelas ruas.<br />

Até que um dia as gangues chegaram ao Jardim Público. Era<br />

preciso fazer algo para preservar a beleza das estátuas!<br />

E assim se fez. Em vez de prenderem os marginais<br />

que depredavam tudo, prenderam o anjo entre as grades...<br />

Prenderam o índio também. Dizem que era para protegêlos.<br />

Como se anjo ou índio precisasse da proteção do<br />

homem.<br />

Desde então, o Jardim Público nunca mais foi o meu<br />

jardim... Hoje, de vez em quando, ainda passo por ele. Viro<br />

o rosto de outro lado, procurando não olhar nos olhos tristes<br />

do anjo.<br />

Mesmo assim, uma grande tristeza me invade, e um<br />

nó se instala na garganta. Continuo meu caminho,<br />

cabisbaixa, pensando num meio de tirar o anjo das grades e<br />

soltá-lo aos céus, como se solta um passarinho.<br />

Às vezes, eu ouço seu chamado baixinho, como se<br />

lhe faltasse forças até para gritar. Apresso o passo e saio do<br />

jardim quase correndo, prometendo a mim mesmo nunca<br />

mais passar por lá. Mas em outro dia, tudo se repete.<br />

E agora, quando ouço falar da qualidade de vida em<br />

Rio Claro, fico muito triste. Não sei se é certo, mas fico triste<br />

ao pensar que a violência se instalou aqui, e bem pouco foi<br />

feito para detê-la.<br />

Acho que Rio Claro poderia ocupar melhor posição<br />

em qualidade de vida. Desde que os homens, ao invés de<br />

sair prendendo anjos por aí, prendessem as pessoas certas.


Solar Navarro de Andrade<br />

na Floresta Estadual de Rio Claro - SP<br />

Foto Estilizada: Nilce Franco Bueno

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