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Zaire #02

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DO processo de filtrar-se na<br />

autoRrepreseNtação artística<br />

POR ANNA PETRACCA<br />

A busca para encontrar o caminho do meu trabalho artístico -<br />

talvez pelas experiências que tive o privilégio de ter, ou por<br />

personalidade, por sorte, por esforço, por pensar demais sobre isso,<br />

por tentar aprender a ouvir meus próprios anseios, ou mesmo por um<br />

conjunto de todas estas e outras coisas - surgiu quase como uma<br />

necessidade de forma de comunicação básica, como a necessidade<br />

da fala ou da escrita.<br />

Eu sempre quis, precisei, fiz e falei sobre o corpo, o espaço, e a<br />

autobiografia - principalmente em relação ao “outro” (seja este outro a<br />

sociedade, a cultura, cidade, ou indivíduo). O corpo virtual no espaço<br />

físico, o corpo natural no espaço natural, o corpo construído no<br />

espaço natural, o corpo biológico no espaço construído, tudo isso<br />

através de uma tentativa de se edificar uma relação de alteridade<br />

entre uma vivência e perspectiva pessoal, com a vivência alheia, do<br />

outro, universal.<br />

Acredito que não nos basta, enquanto seres humanos, só<br />

aprendermos a nos comunicar através da língua falada ou escrita,<br />

mas é a escolha de quais palavras usaremos que realmente fará a<br />

diferença. Para mim, o mesmo acontece na comunicação através das<br />

artes. Não basta entender tecnicamente algo, é preciso dar uma<br />

profundidade e sentido pessoal àquilo, para que saia de uma<br />

superfície visualmente agradável (ou não) e comunique algo além,<br />

algo pessoal, mas também universal. Algo que parte de um<br />

pensamento ou sentimento humano, e que urge na<br />

contemporaneidade.<br />

Iniciei a residência artística na Airez conciliando o que buscava<br />

pessoal e artisticamente com a palavra-chave da galeria e fazendo<br />

disso um ponto em comum: o processo. Este seria meu ponto de<br />

partida, de experiência, de quase-chegada, e do que estaria por vir<br />

em seguida. Vindo de referências majoritariamente teóricas e<br />

acadêmicas, e possuindo uma personalidade que tende a querer estar<br />

no controle, aos poucos me forcei a permitir que a incerteza do<br />

processo fizesse parte de mim e, consequentemente, do meu<br />

trabalho, me permitindo estar aberta para viver a experiência do acaso<br />

presente no processo, ao invés de construir um roteiro e segui-lo da<br />

maneira mais categórica possível, a fim de um conjunto final<br />

admissível.<br />

No entanto, permitir que a incerteza integre um trabalho que é,<br />

na maior parte do tempo, autobiográfico, é algo muito difícil, e por<br />

vezes essa “permissão” por si só já é um processo isolado, e<br />

necessário, mas muitas vezes desgastante.<br />

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