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DO processo de filtrar-se na<br />
autoRrepreseNtação artística<br />
POR ANNA PETRACCA<br />
A busca para encontrar o caminho do meu trabalho artístico -<br />
talvez pelas experiências que tive o privilégio de ter, ou por<br />
personalidade, por sorte, por esforço, por pensar demais sobre isso,<br />
por tentar aprender a ouvir meus próprios anseios, ou mesmo por um<br />
conjunto de todas estas e outras coisas - surgiu quase como uma<br />
necessidade de forma de comunicação básica, como a necessidade<br />
da fala ou da escrita.<br />
Eu sempre quis, precisei, fiz e falei sobre o corpo, o espaço, e a<br />
autobiografia - principalmente em relação ao “outro” (seja este outro a<br />
sociedade, a cultura, cidade, ou indivíduo). O corpo virtual no espaço<br />
físico, o corpo natural no espaço natural, o corpo construído no<br />
espaço natural, o corpo biológico no espaço construído, tudo isso<br />
através de uma tentativa de se edificar uma relação de alteridade<br />
entre uma vivência e perspectiva pessoal, com a vivência alheia, do<br />
outro, universal.<br />
Acredito que não nos basta, enquanto seres humanos, só<br />
aprendermos a nos comunicar através da língua falada ou escrita,<br />
mas é a escolha de quais palavras usaremos que realmente fará a<br />
diferença. Para mim, o mesmo acontece na comunicação através das<br />
artes. Não basta entender tecnicamente algo, é preciso dar uma<br />
profundidade e sentido pessoal àquilo, para que saia de uma<br />
superfície visualmente agradável (ou não) e comunique algo além,<br />
algo pessoal, mas também universal. Algo que parte de um<br />
pensamento ou sentimento humano, e que urge na<br />
contemporaneidade.<br />
Iniciei a residência artística na Airez conciliando o que buscava<br />
pessoal e artisticamente com a palavra-chave da galeria e fazendo<br />
disso um ponto em comum: o processo. Este seria meu ponto de<br />
partida, de experiência, de quase-chegada, e do que estaria por vir<br />
em seguida. Vindo de referências majoritariamente teóricas e<br />
acadêmicas, e possuindo uma personalidade que tende a querer estar<br />
no controle, aos poucos me forcei a permitir que a incerteza do<br />
processo fizesse parte de mim e, consequentemente, do meu<br />
trabalho, me permitindo estar aberta para viver a experiência do acaso<br />
presente no processo, ao invés de construir um roteiro e segui-lo da<br />
maneira mais categórica possível, a fim de um conjunto final<br />
admissível.<br />
No entanto, permitir que a incerteza integre um trabalho que é,<br />
na maior parte do tempo, autobiográfico, é algo muito difícil, e por<br />
vezes essa “permissão” por si só já é um processo isolado, e<br />
necessário, mas muitas vezes desgastante.<br />
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