MUSEU DO RECOLHIMENTO DOS HUMILDES
por Beto Cerqueira
por Beto Cerqueira
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museu do <strong>RECOLHIMENTO</strong><br />
<strong>DO</strong>S <strong>HUMILDES</strong><br />
Dois séculos de história
<strong>MUSEU</strong> <strong>DO</strong> <strong>RECOLHIMENTO</strong> <strong>DO</strong>S <strong>HUMILDES</strong><br />
Dois séculos de história
2DESIGNERS<br />
<strong>MUSEU</strong> <strong>DO</strong> <strong>RECOLHIMENTO</strong> <strong>DO</strong>S <strong>HUMILDES</strong><br />
Dois séculos de história<br />
Serafim com cornucópia. Madeira policromada. Séc. XVIII.<br />
SALVA<strong>DO</strong>R, 2018
projeto editorial<br />
2Designers<br />
projeto gráfico e editoração<br />
2Designers<br />
fotografia e edição<br />
Aristides Alves<br />
tratamento de imagens<br />
Erik Lingerfelt<br />
texto<br />
Luiz Alberto Ribeiro Freire<br />
revisão de texto<br />
Dalila Pinheiro<br />
F866<br />
Freire, Luiz Alberto Ribeiro<br />
Museu do Recolhimento dos Humildes: dois séculos de<br />
história / Luiz Alberto Ribeiro Freire, Aristides Alves. -<br />
Salvador : 2Designers, 2018.<br />
108 p.: il. ; 21 cm.<br />
Fotografias e edição de Aristides Alves<br />
ISBN: 978-85-641-4208-4<br />
1. Museu do Recolhimento dos Humildes 2. Educação feminina<br />
3. Religião 4. Santo Amaro – Ba 5. Ignácio Teixeira dos Santos<br />
Araújo Filho 6. Arte sacra 7. Fotografia.<br />
I. Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural – IPAC<br />
II. Fundo de Cultura da Bahia III. Alves, Aristides IV. Título<br />
CDD: 704.948<br />
Ficha catalográfica elaborada por Lucimar Oliveira Silva – CRB-5/1239<br />
Deus pai. Madeira policromada e dourada. Séc. XVIII.<br />
APOIO FINANCEIRO:<br />
Esta obra foi financiada integralmente com recursos do Fundo de Cultura da Bahia, por meio do Edital nº 20/2016 - Setorial de Museus.
Conhecer para preservar! É com esta frase que inicio este texto reforçando<br />
a importância da educação quando falamos sobre Patrimônio Histórico.<br />
A cultura e a educação juntas desempenham um papel importante na<br />
construção de uma sociedade cujas bases, entendemos, estão fincadas na história<br />
das pessoas, dos lugares, dos valores, dos costumes e das práticas. E falar do acervo<br />
do Museu do Recolhimento dos Humildes, ou melhor, do Convento dos Humildes,<br />
é viajar no tempo, tempo em que a instituição era uma referência na educação<br />
feminina, responsável pela transformação, principalmente, da mulher.<br />
Este livro revela, através de imagens, o objeto enquanto patrimônio histórico<br />
e a importância do coletivo formado pelas imaginárias, pratarias, indumentárias,<br />
bordados dentre outras raridades que compõem o acervo rico e delicado dos<br />
Humildes. O impacto social e cultural dos Humildes no contexto histórico do<br />
município de Santo Amaro e na vida de cada pessoa que por ali passou, fosse ela<br />
irmã, órfã, escrava ou viúva, enfim, “recolhida”, está reproduzido no que podemos<br />
chamar de “artesanato sacro baiano”. E neste “artesanato sacro” podemos destacar<br />
a imagem da “Divina Pastora”, exemplo de dedicação, delicadeza e cuidado que se<br />
expressam nas pétalas e pérolas que ornam esta imaginária. Contudo, não podemos<br />
nos esquecer de mencionar o grande incentivador da produção do “artesanato<br />
barroco baiano”, Padre Ignácio Teixeira dos Santos Araújo (1769-1841), que, ao<br />
unir o litúrgico e a história no Convento de Nossa Senhora dos Humildes, deu<br />
origem à instituição que, na década de 1980, passamos a chamar de <strong>MUSEU</strong> <strong>DO</strong><br />
<strong>RECOLHIMENTO</strong> <strong>DO</strong>S <strong>HUMILDES</strong>; porque “Museu” é, na definição de 2001<br />
do Internacional Council of Museums, “uma instituição permanente, sem fins<br />
lucrativos, a serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público e que<br />
adquire, conserva, investiga, difunde e expõe os testemunhos materiais do homem<br />
e de seu entorno, para educação e deleite da sociedade” e de forma humilde, mas<br />
determinada, buscamos desenvolver e promover a preservação do acervo dos<br />
Humildes e de outros patrimônios para que as gerações futuras possam usufruir<br />
deste grande legado.<br />
João Carlos Cruz de Oliveira<br />
diretoria geral/diger – ipac<br />
Em 1980, na cidade de Santo Amaro, Bahia, foi instalado, no Convento de Nossa<br />
Senhora dos Humildes, o Museu do Recolhimento dos Humildes, o qual<br />
concentra valioso acervo de arte sacra cristã com peças representativas dos<br />
séculos XVIII, XIX e XX. É importante ressaltar que as maquinetas, os bordados das<br />
indumentárias religiosas e o primoroso trabalho ornamental realizado nas imagens<br />
do Menino Jesus e da Divina Pastora foram elaborados pelas irmãs desse Convento.<br />
Com objetivo de preservar o acervo e manter o funcionamento do Museu ,<br />
em 1983, a Congregação de Nossa Senhora dos Humildes celebrou um Convênio<br />
de Cooperação Técnica e Administrativa com a Arquidiocese de Salvador, com<br />
a Prefeitura Municipal de Santo Amaro, com a Fundação Cultural do Estado da<br />
Bahia (FUNCEB) e com o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia<br />
(IPAC). O referido Convênio encontra-se em vigência através do Termo Aditivo<br />
firmado em 2015 entre a Congregação e o IPAC, por meio da Diretoria de Museus<br />
(DIMUS), responsável pelas ações de salvaguarda desse acervo e dos demais que<br />
estão sob a sua jurisdição, em consonância com a Política Nacional de Museus e,<br />
mais especificamente, com a Política Setorial de Museus da Secretaria de Cultura<br />
do Estado da Bahia, lançada em 2013 pela DIMUS/IPAC.<br />
Ao longo desses trinta e sete anos no Museu do Recolhimento dos Humildes<br />
foram realizados procedimentos técnicos essenciais ao seu funcionamento, tais<br />
como: conservação do monumento e dos objetos, exposições de longa e curta<br />
duração, que revelavam por meio do seu excepcional acervo, inventariado<br />
pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 1995,<br />
a riqueza das peças que evidenciam a diversidade de material e de técnicas,<br />
sobretudo, a singularidade da confecção de suas peças, que são representativas do<br />
saber e fazer das irmãs do Convento de Nossa Senhora dos Humildes. Há de se<br />
destacar, também, as ações socioeducativas realizadas com objetivo de informar<br />
à comunidade santamarense, por meio de palestras, oficinas e seminários, sobre<br />
a importância da preservação deste e de outros patrimônios representativos da<br />
história da Bahia e do Brasil.<br />
É importante destacar, ainda, o profissionalismo dos colaboradores, protagonistas<br />
relevantes na história deste Museu, os quais , imbuídos das suas responsabilidades<br />
administrativas e técnicas, mantiveram ao longo desses anos o firme propósito de<br />
preservar a memória da Congregação de Nossa Senhora dos Humildes, por meio do<br />
excepcional acervo que constitui o Museu do Recolhimento dos Humildes.<br />
diretoria de museus
O MARAVILHOSO<br />
FEMININO <strong>DO</strong>S<br />
<strong>HUMILDES</strong><br />
Luiz Alberto Ribeiro Freire*<br />
* Pesquisador CNPQ 2 – doutor em História da Arte – Universidade<br />
do Porto, Portugal e professor de História da Arte Brasileira da<br />
Escola de Belas Artes da UFBA.<br />
Em uma sociedade escravista e patriarcal, uma<br />
instituição criada por um padre possibilitou o cultivo<br />
das expressões artísticas das mulheres, cuja educação<br />
destinava-se preponderantemente aos afazeres<br />
domésticos e à administração do lar. No Recolhimento de<br />
Nossa Senhora dos Humildes, o aprendizado dos trabalhos com<br />
agulha, do bordado a ouro, foram potencializados e geraram<br />
objetos artísticos especiais, que constam do acervo do Museu do<br />
Recolhimento dos Humildes, em Santo Amaro da Purificação, e<br />
que estão representadas neste livro.<br />
O Recolhimento de Nossa Senhora dos Humildes foi fundado<br />
pelo santamarense Ignácio Teixeira dos Santos Araújo, filho do<br />
boticário Tomaz Teixeira de Araújo e Santos e de Eugênia do<br />
Nascimento de Maria. Era tão grande sua devoção que construiu<br />
na adolescência uma capelinha de barro às margens do rio Subaé,<br />
que constantemente era reparada por causa das frequentes cheias<br />
do rio (lose; mazzoni, 2016, p.14-5).<br />
De 1792 a 1793, seu pai e um tio paterno, o Padre José de Araújo<br />
Santos, ajudaram-no na edificação de uma capelinha de pedra e<br />
cal, dedicada a Nossa Senhora, onde cabiam quinze pessoas. Na<br />
ocasião, recebeu do Vigário Cônego Requião, a quem tinha servido<br />
como sacristão, uma imagem da Imaculada Nossa Senhora dos<br />
Humildes para ser colocada no altar. Desde então passou a rezar<br />
diariamente com o colega José de Albuquerque o terço da Virgem<br />
(lose; mazzoni, 2016, p.15).<br />
Ignácio ingressou no seminário e se tornou padre aos 32 anos<br />
de idade, em 1801, ano em que planejou reedificar a capelinha para<br />
nela fazer uma Casa de Oração, ou Recolhimento, para abrigar<br />
virgens cristãs no exercício da piedade. Seu irmão, o Padre Miguel<br />
Teixeira, viajou à Lisboa e conheceu a obra das Irmãs Adoradoras,<br />
que era semelhante à que Ignácio pretendia fazer. Ao retornar,<br />
trouxe um órgão, uma imagem das Irmãs Adoradoras, que<br />
informou o modelo da vestimenta das recolhidas, e a notícia do<br />
indeferimento da autorização para a fundação do Recolhimento<br />
(lose; mazzoni, 2016, p.16).<br />
Padre Ignácio sofreu revezes nas suas intenções, que lhe<br />
renderam condenação ao exílio por mais de um ano na Ilha de<br />
Padre Ignácio. Óleo sobre tela. Séc. XIX.<br />
9
Todos os bens materiais de valor histórico e artístico<br />
trazidos ao Recolhimento, legados por herança,<br />
manufaturados pelas recolhidas, doados pela comunidade<br />
e adquiridos ao longo dos séculos XIX e XX<br />
passaram a ser expostos no<br />
Museu do Recolhimento dos Humildes
Crucifixo.<br />
Madeira policromada.<br />
Séc. XIX.<br />
Castiçal com seis bocas.<br />
Metal prateado.<br />
Séc. XIX.<br />
54 55
São José com Menino.<br />
Madeira policromada.<br />
Séc. XVIII.<br />
São Bento.<br />
Madeira policromada.<br />
Séc. XVIII.<br />
74 75
Menino Jesus do Monte. Detalhe.<br />
Menino Jesus do Monte.<br />
Madeira policromada, tecido,<br />
pedraria e douramento.<br />
Séc. XIX.<br />
88 89
Maquineta - Nossa Senhora das Dores. Madeira Papel, vidro.<br />
Séc. XIX.<br />
Símbolo do Amor do Pai (Espírito Santo).<br />
Óleo sobre tela e madeira.<br />
Séc. XIX.<br />
102 103
Par de jarros.<br />
Opalina.<br />
Séc. XIX.<br />
Par de Jarros.<br />
Opalina.<br />
Séc. XIX.<br />
104 105
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
ASSIS, Dilberto Raimundo Araújo de. O gradil de ferro<br />
em Salvador no século XIX. 2003. 237f. Dissertação<br />
(Mestrado em Artes Visuais) – Escola de Belas Artes,<br />
Universidade Federal da Bahia.<br />
ANDRADE, Maria José de Souza. Os recolhimentos<br />
baianos – seu papel social nos séculos XVIII e XIX.<br />
Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia,<br />
Salvador, n.90, 1992.<br />
L’éducation des jeunes filles, il y a cent ans. Exposition<br />
Inaugurale de la Maison des Quatre Fils Aymon,<br />
Rouen, 1983.<br />
FREIRE, Luiz Alberto Ribeiro Freire. As maquinetas<br />
dos Humildes como representação do universo religioso<br />
feminino. In: XXXIII, 2014, Campinas. Anais... Campinas:<br />
Comitê Brasileiro de História da Arte, 2014. 850p.<br />
_____. As maquinetas dos Humildes: maravilhoso<br />
diminuto e afetivo feminino. In: KNAUSS, Paulo;<br />
MALTA, Marise. (Orgs.) Objetos do olhar: história e arte.<br />
São Paulo: Rafael Copetti, 2015.<br />
FAUSTO, Cláudia Maria Guanais Aguiar. Padrões,<br />
cromatismos e douramentos na escultura sacra católica<br />
baiana nos séculos XVIII e XIX. 2010. 410f. Dissertação<br />
(Mestrado em Artes Visuais) – Escola de Belas Artes,<br />
Universidade Federal da Bahia.<br />
LOSE, Alicia Duhá; MAZZONI, Vanilda. Manuscritos do<br />
Antigo Recolhimento dos Humildes: documentos de uma<br />
história. Salvador: Memória & arte, 2016.<br />
MOTT, Luiz. Rosa egipcíaca; uma santa africana no<br />
Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1993.<br />
_____. Cotidiano e vivência religiosa: entre a Capela e o<br />
Calundu. In: SOUZA, Laura de Mello e. (Org.) História<br />
da vida privada no Brasil: cotidiano e vida privada na<br />
América Portuguesa. São Paulo: Companhia das Letras,<br />
1997.<br />
QUERINO, Manoel Raymundo. Artistas bahianos:<br />
indicações biographicas. Rio de Janeiro: Imprensa<br />
Nacional, 1909.<br />
SILVA, Edjane Cristina Rodrigues. Menino Jesus do<br />
Monte: arte e religiosidade na cidade de Santo Amaro<br />
da Purificação no século XIX. 2010. 218f. Dissertação<br />
(Mestrado em Artes Visuais) – Escola de Belas Artes,<br />
Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2010.<br />
REFERÊNCIAS ARQUIVÍSTICAS<br />
ADIMUS-IPACBA. 17.01.1975. Fotocópia de Termo de<br />
Compromisso assinado por D. Avelar Brandão Vilela entre<br />
a Arquidiocese de São Salvador da Bahia, Congregação<br />
de Nossa Senhora dos Humildes, Prefeitura Municipal<br />
de Santo Amaro e fundação do Patrimônio Artístico<br />
e Cultural da Bahia para ocupação, manutenção e<br />
funcionamento do Convento a ser restaurado. 1 p.<br />
datilografada e assinada.<br />
_____. 02.04.1975. Compromisso de Anuência feito pela<br />
Congregação de Nossa Senhora dos Humildes declarando<br />
anuência com o projeto de restauração e adaptação do<br />
Recolhimento feito pela FPCABA, autorizando o início da<br />
obra. 1 p. datilografada assinada pela Superiora Geral Irmã<br />
Yolanda Bitencourt Bombinho.<br />
agradecimentos<br />
Equipe do Museu do Recolhimento dos Humildes:<br />
Mário de Jesus e Roberto Pereira (serviços gerais),<br />
Ana Rita Freitas, Jorge Santos, Creuza Santos e<br />
Joanita Correia (auxiliares administrativos).<br />
Equipe da Diretoria de Museus/DIMUS – IPAC<br />
Dilserôse Côrtes Costa (museóloga), Yara Chamusca (restauradora) e<br />
Marcos Brito (restaurador).<br />
Irmãs da Congregação de Nossa Senhora dos Humildes<br />
Foto da página 11: Adolpho Moreira de Oliveira
nesta publicação,<br />
com formato fechado 21 x 21 cm,<br />
foi utilizada tipografia servus slab.<br />
impressão e acabamento nas<br />
oficinas da luripress.<br />
tiragem de 1.000 exemplares.<br />
salvador, abril de 2018.