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26 DE FAXINEIRO A PROCURADOR DA REPÚBLICA – <strong>Manoel</strong> <strong>Pastana</strong><br />
energético, o prejuízo era certo, pois não era aceita a devolução, mas<br />
não havia estragos: bebíamos tudo o que sobrava.<br />
Ain<strong>da</strong> como ativi<strong>da</strong>de, lavávamos telha. Havia um senhor que comprava<br />
telhas usa<strong>da</strong>s, man<strong>da</strong>va fazer as devi<strong>da</strong>s limpezas e as revendia. Éramos<br />
contratados para essa tarefa: muito trabalho para poucos trocados.<br />
Fazíamos outros tipos de tarefas como quebrar pedra para a prefeitura,<br />
porém, de todos os trabalhos desenvolvidos em plena infância, o<br />
mais penoso era descascar palmitos. Trabalhávamos no sol quente, manuseando<br />
enormes facões para extrair o caule <strong>da</strong> palmeira que relutava<br />
em desprender-se. O golpe do facão nem sempre acertava o alvo e, em<br />
algumas vezes, o erro no manuseio atingia partes do corpo, como mãos<br />
e braços.<br />
Assim, com muito sacrifício, conciliando o trabalho de todos, conseguíamos<br />
sobreviver, passando enormes dificul<strong>da</strong>des.<br />
O LAZER<br />
Fora o trabalho, tínhamos como ativi<strong>da</strong>des a escola e a religião. Dois<br />
anos após meu nascimento, meus pais se tornaram evangélicos. To<strong>da</strong>s<br />
as noites e aos domingos pela manhã e à noite tínhamos de ir aos cultos.<br />
O cansaço era extremo, às vezes, não suportávamos e acabávamos<br />
dormindo em plena reunião, e logo vinha o porteiro nos acor<strong>da</strong>r com<br />
“leve” puxão na orelha.<br />
Meus pais eram aqueles crentes fervorosos aos extremos, conhecidos<br />
como “crentes-bandeira”, e acreditavam que qualquer tipo de lazer, como<br />
futebol e outros jogos de criança, era pecado mortal, por isso que até hoje<br />
não sei jogar futebol, e olha que já tentei, pois gosto do esporte, mas sequer<br />
sei dominar a bola ou <strong>da</strong>r um passe. Sou o autêntico perna-de-pau.<br />
Tentava inutilmente driblar a proibição, mas não adiantava. Como<br />
to<strong>da</strong>s as pessoas se conheciam na pequena comuni<strong>da</strong>de, quando éramos<br />
vistos jogando futebol, logo nos “deduravam” para a “irmã A<strong>da</strong>lgisa”<br />
(mamãe) ou o “irmão Isaias” (como papai era conhecido, apesar de o<br />
seu nome ser Benedito), e o castigo era inevitável.<br />
Com minha mãe, quando não éramos pegos em flagrante, até que a<br />
negativa de autoria funcionava, mas com meu pai não tinha conversa: