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De Faxineiro a Procurador da Republica - Manoel Pastana - 2012-2

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26 DE FAXINEIRO A PROCURADOR DA REPÚBLICA – <strong>Manoel</strong> <strong>Pastana</strong><br />

energético, o prejuízo era certo, pois não era aceita a devolução, mas<br />

não havia estragos: bebíamos tudo o que sobrava.<br />

Ain<strong>da</strong> como ativi<strong>da</strong>de, lavávamos telha. Havia um senhor que comprava<br />

telhas usa<strong>da</strong>s, man<strong>da</strong>va fazer as devi<strong>da</strong>s limpezas e as revendia. Éramos<br />

contratados para essa tarefa: muito trabalho para poucos trocados.<br />

Fazíamos outros tipos de tarefas como quebrar pedra para a prefeitura,<br />

porém, de todos os trabalhos desenvolvidos em plena infância, o<br />

mais penoso era descascar palmitos. Trabalhávamos no sol quente, manuseando<br />

enormes facões para extrair o caule <strong>da</strong> palmeira que relutava<br />

em desprender-se. O golpe do facão nem sempre acertava o alvo e, em<br />

algumas vezes, o erro no manuseio atingia partes do corpo, como mãos<br />

e braços.<br />

Assim, com muito sacrifício, conciliando o trabalho de todos, conseguíamos<br />

sobreviver, passando enormes dificul<strong>da</strong>des.<br />

O LAZER<br />

Fora o trabalho, tínhamos como ativi<strong>da</strong>des a escola e a religião. Dois<br />

anos após meu nascimento, meus pais se tornaram evangélicos. To<strong>da</strong>s<br />

as noites e aos domingos pela manhã e à noite tínhamos de ir aos cultos.<br />

O cansaço era extremo, às vezes, não suportávamos e acabávamos<br />

dormindo em plena reunião, e logo vinha o porteiro nos acor<strong>da</strong>r com<br />

“leve” puxão na orelha.<br />

Meus pais eram aqueles crentes fervorosos aos extremos, conhecidos<br />

como “crentes-bandeira”, e acreditavam que qualquer tipo de lazer, como<br />

futebol e outros jogos de criança, era pecado mortal, por isso que até hoje<br />

não sei jogar futebol, e olha que já tentei, pois gosto do esporte, mas sequer<br />

sei dominar a bola ou <strong>da</strong>r um passe. Sou o autêntico perna-de-pau.<br />

Tentava inutilmente driblar a proibição, mas não adiantava. Como<br />

to<strong>da</strong>s as pessoas se conheciam na pequena comuni<strong>da</strong>de, quando éramos<br />

vistos jogando futebol, logo nos “deduravam” para a “irmã A<strong>da</strong>lgisa”<br />

(mamãe) ou o “irmão Isaias” (como papai era conhecido, apesar de o<br />

seu nome ser Benedito), e o castigo era inevitável.<br />

Com minha mãe, quando não éramos pegos em flagrante, até que a<br />

negativa de autoria funcionava, mas com meu pai não tinha conversa:

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