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12 JANEIRO/ 2019<br />
Hugo de São Vitor, o monge,<br />
e o intelectual do século XXI<br />
Lucas Fonseca dos Santos<br />
Escritor em Soliloquios Filosofia<br />
https://soliloquiosfilosofia.blogspot.com<br />
Da Abadia de São Vitor, no século XII, até<br />
nossos dias, os estudantes das chamadas<br />
“humanidades” tem muito a agradecer ao Abade<br />
Hugo, que foi um dos maiores <strong>ed</strong>ucadores que<br />
o período da baixa idade média nos legou, e que<br />
soube sistematizar um plano completo da <strong>ed</strong>ucação<br />
do homem de letras — humanas e divinas.<br />
É particularmente intrigante para um homem<br />
de nosso tempo que o tratamento que<br />
Hugo dá ao filosofo — em sua obra magistral<br />
Didascalicon — , tratando-o como um sinonimo<br />
quase perfeito do monge, que recluso<br />
em sua cela do mosteiro, vive numa vida de<br />
abnegação e oração, penitencia e contemplação,<br />
temperança e disciplina, e assim é capaz<br />
de se d<strong>ed</strong>icar aos altos estudos. Este ideal de<br />
formação moral e espiritual do sábio cristão<br />
na <strong>ed</strong>ucação — que Werner Jaeger chamou<br />
de Paideia Christi ao tratar do surgimento do<br />
ideal nos Santos Padres — é válido ainda hoje<br />
para toda e qualquer pessoa que, tendo a vocação<br />
intelectual e a graça da fé católica, busca<br />
crescer em sab<strong>ed</strong>oria, ser <strong>ed</strong>ucado pelo Logos<br />
Divino e dar frutos. É neste mesmo tom que<br />
A.D. Sertillanges, em um de seus mais célebres<br />
livros, clama o intelectual a cultivar a virtude<br />
do silêncio, do recolhimento, da m<strong>ed</strong>itação da<br />
verdade:<br />
“Querem os senhores compor uma obra<br />
intelectual? Comecem por criar em seu interior<br />
uma zona de silencio, um hábito de recolhimento,<br />
uma vontade de despojamento, de desapego,<br />
que os deixem inteiramente disponíveis para a<br />
obra; adquiram esta disposição das faculdades<br />
mentais isenta do peso de desejos e de vontade<br />
própria, que é o estado de graça do intelectual.<br />
Sem isso, não farão nada, em todo caso, nada<br />
que valha.” A <strong>ed</strong>ucação do intelectual cristão<br />
tem então como pressuposto uma prévia <strong>ed</strong>ucação<br />
moral e espiritual, uma submissão ao Logos<br />
Divino que se fez carne e habitou entre nós. Uma<br />
submissão que muito distante de nos restringir<br />
intelectualmente, abre horizontes que só podem<br />
ser vistos sob a luz da fé: é o mesmo Sertillanges<br />
que recorda que“ razão tem por ambição apenas<br />
um mundo; a fé lhe da a imensidão” ( p. 18).<br />
E entre esses pressupostos morais e intelectuais,<br />
Hugo põe em primeiro lugar — em seu Opusculo<br />
Sobre o Modo de Aprender e M<strong>ed</strong>itar — a<br />
humildade.