EMPODERAMENTO Foto: Arquivo pessoal Neze: concursada, não abandona a militância passou o bastão para ela, porque era a única pessoa da comunidade, da família, que poderia tomar conta e falar sempre a verdade”, afirma João Pereira. “Não tem sido fácil”, reconhece Sandra, que foi a primeira mulher vereadora da Cidade Ocidental, município ao qual pertence o quilombo Mesquita. “Como é difícil, como mulher, ter que impulsionar e trabalhar a soberania; alimentar, cuidar do meio ambiente, da casa, da família e também fazer o papel de mostrar o quanto isso é importante. Não podemos abrir mão!”, resiste. Muda a unidade da Federação, mas não muda a realidade. Sentimento semelhante tem Xiforneze Santos, 41 anos, do quilombo Caraíbas, no município de Canhoba, em Sergipe. A área possui mais de três mil hectares e 160 famílias quilombolas. Mãe de nove filhos, Neze, como é conhecida, trabalha há 20 anos como merendeira na escola municipal Manoel Gonçalves Sobrinho. “Sou concursada e tenho formação na militância”, orgulha-se. Três dos seus filhos moram fora do quilombo por necessidade de trabalho e estudos. “Um estuda Agroecologia e outro Serviço Social, e os demais concluindo ensino médio”, conta. Neze ressalta que a luta tem que ser constante, principalmente contra o sistema. “Tenho desenvolvido, com a comunidade, ações para que percebam a importância da comunidade, com discussões, ocupando espaços de conselhos, fóruns, tenho representado minha comunidade”, explica. Assim, como Sandra, do quilombo Mesquita, Neze enfrenta fazendeiros da região que querem desconstruir e desmanchar o quilombo. As duas já sofreram ameaças: “até de morte”, lamenta Sandra. Mas, segundo ambas, a luta quilombola não tem preço. “Precisamos nos unir e nos conscientizar ainda mais. E com o estudo e o empoderamento das mulheres, principalmente, vamos mais longe”, aposta Neze. “Acho que não podemos parar. É resistência mesmo”, completa Sandra. Sirlene concluiu mestrado da UnB Foto: Arquivo pessoal Quantos são? O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pelo recenseamento da população brasileira e organização de dados estatísticos socioeconômicos e demográficos oficiais do país, realizará em 2020 o primeiro censo da população quilombola do Brasil. O Censo Demográfico do Brasil incluirá o perfil de comunidades quilombolas de todo território nacional. A iniciativa é fruto de uma parceria entre o Ministério dos Direitos Humanos, por meio da Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), com a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas, a Fundação Cultural Palmares, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária e o Fundo de População das Nações Unidas. 34 | MÁTRIA | MARÇO DE <strong>2019</strong>
ENCARTE TEÓRICO A RELEVÂNCIA DAS POLÍTICAS DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL E OS RETROCESSOS GERADOS POR UM GOVERNO SEM DIREITOS E SEM IGUALDADE RACIAL MARÇO DE <strong>2019</strong> | MÁTRIA | 35