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Revista Mátria 2019

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ENCARTE<br />

TEÓRICO<br />

No ano de 2004 foi criada a Secretaria de Educação<br />

Continuada, Alfabetização e Diversidade<br />

(Secadi), no âmbito do Ministério da Educação,<br />

responsável pela execução de programas como<br />

“Educação inclusiva: direito à diversidade”, voltado<br />

à valorização das diferenças e da diversidade,<br />

à promoção da educação inclusiva, dos direitos<br />

humanos e da sustentabilidade socioambiental,<br />

visando à efetivação de políticas públicas transversais<br />

e intersetoriais. Outro marco importante<br />

no âmbito da educação das relações étnico raciais<br />

foi a efetivação do projeto “A Cor da Cultura”. Iniciado<br />

em 2008, o qual tem como objetivos elaborar,<br />

ofertar e revisar materiais didáticos audiovisuais<br />

sobre a cultura afro-brasileira, além de capacitar<br />

professores para o uso em sala de aula.<br />

Munanga (2001, p.17) adverte:<br />

Não existem leis no mundo que sejam<br />

capazes de erradicar as atitudes preconceituosas<br />

existentes nas cabeças das pessoas,<br />

atitudes essas provenientes dos sistemas<br />

culturais de todas as sociedades humanas.<br />

No entanto, cremos que a educação<br />

é capaz de oferecer tanto aos jovens como<br />

aos adultos a possibilidade de questionar<br />

e desconstruir os mitos de superioridade e<br />

inferioridade entre grupos humanos que<br />

foram introjetados neles pela cultura racista<br />

na qual foram socializados. Apesar da complexidade<br />

da luta contra o racismo, que<br />

consequentemente exige várias frentes de<br />

batalhas, não temos dúvida de que a transformação<br />

de nossas cabeças de professores<br />

é uma tarefa preliminar importantíssima.<br />

Essa transformação fará de nós os verdadeiros<br />

educadores, capazes de contribuir<br />

no processo de construção da democracia<br />

brasileira, que não poderá ser plenamente<br />

cumprida enquanto perdurar a destruição<br />

das individualidades históricas e culturais<br />

das populações que formaram a matriz<br />

plural do povo e da sociedade brasileira.<br />

Então, cabe aqui uma reflexão sobre quão<br />

importante é o papel da educação no debate das<br />

questões relacionadas à raça, etnia, preconceito e<br />

discriminação racial. Os marcos legais citados são<br />

extremamente positivos, desde que sejam implementados<br />

verdadeiramente no chão das escolas,<br />

ações pontuais são pertinentes, mas infelizmente,<br />

não conseguem atender as demandas advindas de<br />

um processo histórico deformado e silenciado por<br />

longas datas.<br />

No Ensino Superior destaca-se a “Lei das Cotas”,<br />

que dispõe sobre a reserva de vagas com critérios<br />

para estudantes da escola pública, negros e indígenas,<br />

definindo em no mínimo 50% o acesso destes<br />

às universidades federais e às instituições federais<br />

de ensino técnico de nível médio. É também de<br />

grande relevância a criação do Programa de Extensão<br />

Universitária (Proext) em 2011 e do Programa<br />

Institucional de Bolsas de Iniciação Científica nas<br />

Ações Afirmativas (Pibic-AF) em 2009, numa ação<br />

conjunta da Seppir e da CNPQ que oferece cerca de<br />

800 bolsas por ano para estudantes cotistas de instituições<br />

federais de ensino.<br />

No âmbito das políticas públicas para juventude<br />

foi elaborado em 2012, o Plano Juventude Viva,<br />

com um conjunto de iniciativas que envolvem oito<br />

ministérios, visando reverter as altas taxas de<br />

homicídios entre jovens negros.<br />

Uma outra referência significativa dentro do<br />

panorama apresentado é Decreto Presidencial nº<br />

4.887/2003, que estabeleceu os procedimentos para<br />

regularização das comunidades de remanescentes<br />

de quilombos. Considerando-se Quilombolas<br />

os grupos étnico-raciais segundo critérios de auto<br />

atribuição, com trajetória histórica própria, dotados<br />

de relações territoriais específicas, com presunção<br />

de ancestralidade negra relacionada com a<br />

resistência à opressão histórica sofrida. Fruto do<br />

decreto supracitado, a Seppir lançou em março de<br />

2004 o “Programa Brasil Quilombola”, que objetiva<br />

consolidar os marcos da política de Estado para as<br />

áreas quilombolas. Estudos estimam a existência<br />

de mais de 3 mil comunidades quilombolas no<br />

38 | MÁTRIA | MARÇO DE <strong>2019</strong>

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