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Agenda Cultural de Proença-a-Nova - Maio de 2019

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<strong>Agenda</strong> <strong>Cultural</strong> <strong>de</strong> <strong>Proença</strong>-a-<strong>Nova</strong> maio <strong>2019</strong><br />

pela encosta escarpada da serra, passando pelo Vale<br />

Almourão com as suas “portas” integradas no Geopark<br />

Naturtejo, pelos grifos que nidificam nestas paragens<br />

e on<strong>de</strong> facilmente se encontram abutres e cegonhas<br />

pretas, ou nas margens on<strong>de</strong> estão diversas<br />

conheiras (escombreiras formadas por amontoados<br />

<strong>de</strong> seixos) que testemunham a extração <strong>de</strong> ouro nas<br />

épocas romana e medieval, justificando os diferentes<br />

passeios pe<strong>de</strong>stres <strong>de</strong> pequena rota marcados e<br />

homologados pela Fe<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> Campismo e Montanhismo<br />

<strong>de</strong> Portugal e a GR 39 - Gran<strong>de</strong> Rota da<br />

Cortiçada. Um <strong>de</strong>stes percursos, o PR 2, tem o nome<br />

inspirado no segredo <strong>de</strong>sta terra: “Os segredos do<br />

Vale Almourão”. Também a escalada projetou as<br />

Portas <strong>de</strong> Almourão e a al<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Sobral Fernando<br />

a nível internacional, uma opinião partilhada por todos<br />

habitantes, já habituados a receber escaladores<br />

<strong>de</strong> diferentes paragens.<br />

“O rio separa, mas também nos une”, <strong>de</strong>screve<br />

uma das habitantes da al<strong>de</strong>ia. A vivência <strong>de</strong>stas<br />

gentes esteve sempre ligada à Foz do Cobrão. Os<br />

rebanhos, por exemplo: havia pastores que trabalhavam<br />

para as famílias do outro lado do rio. O<br />

rebanho era entregue ao pastor que cuidava do<br />

gado por cinco anos, findo os quais tinha direito a<br />

meta<strong>de</strong> do rebanho e anualmente recebia também<br />

um pagamento em alqueires <strong>de</strong> cereais. A antiga<br />

fábrica <strong>de</strong> fiação na Foz do Cobrão representou<br />

uma importante fonte <strong>de</strong> rendimento: as pessoas<br />

vendiam a lã para a fábrica ou a lenha que era o seu<br />

combustível. A ligação também se fazia por amor:<br />

são muitos os casamentos que ligam as duas margens.<br />

A ponte data da década <strong>de</strong> 70, mas até lá a<br />

barca era a única forma <strong>de</strong> se fazer travessia entre<br />

as duas al<strong>de</strong>ias e era explorada pela única família<br />

<strong>de</strong> barqueiros resi<strong>de</strong>ntes na Foz do Cobrão.<br />

As margens <strong>de</strong>ste rio também foram o palco das<br />

<strong>de</strong>spedidas entre as famílias e os ratinhos que aqui<br />

faziam a travessia rumo à ceifa no Alentejo. Era o<br />

rio que também dava <strong>de</strong> comer às famílias. No leito<br />

construíam-se as “barrelas”, dois amontoados <strong>de</strong><br />

pedras que encaminhavam a corrente, e consequentemente<br />

o peixe, para uma caixa <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira<br />

com fundo <strong>de</strong> re<strong>de</strong> que era colocada na extremida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sses amontoados. Este método <strong>de</strong> pesca<br />

era muitas vezes feito a meias, mas também era<br />

motivo <strong>de</strong> quezílias, pois roubavam a barrela uns<br />

aos outros; havia quem dormisse junto à margem<br />

para guardar a pescaria.<br />

A união e a amiza<strong>de</strong> entre as pessoas dos dois<br />

concelhos perduram até hoje. A Associação para<br />

o Desenvolvimento do Sobral Fernando tem sócios<br />

na Foz do Cobrão e vice-versa, tal como o convívio<br />

anual que se realiza habitualmente no primeiro fim<br />

<strong>de</strong> semana <strong>de</strong> agosto que reúne pessoas <strong>de</strong> ambas<br />

as margens. É este o segredo mais bem guardado<br />

do Sobral Fernando que perdura no tempo, esta<br />

confraternização, a simpatia das gentes, o bem receber<br />

e o espírito <strong>de</strong> partilha com o próximo.<br />

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