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A Camminare Traveller - Viagens de Experiência, Gastronomia e Lifestyle - Ed 02

Revista de Viagem, Gastronomia e Lifestyle com um novo olhar sobre viajar bem, comer bem e viver bem. Neste mês trazemos entrevista com Marco Brotto, caçador de aurora boreais e Laércio Zulu, um dos 50 melhores bartenders do mundo e o melhor do Brasil. Temos Eduado Kobra em Mônaco, hotel destino na Reserva do Ibitipoca, o novo tema do Dia da Terra para 2019 e colunistas convidados falando sobre aviação, finanças e momentos enriquecedores. Vem viajar conosco!

Revista de Viagem, Gastronomia e Lifestyle com um novo olhar sobre viajar bem, comer bem e viver bem. Neste mês trazemos entrevista com Marco Brotto, caçador de aurora boreais e Laércio Zulu, um dos 50 melhores bartenders do mundo e o melhor do Brasil. Temos Eduado Kobra em Mônaco, hotel destino na Reserva do Ibitipoca, o novo tema do Dia da Terra para 2019 e colunistas convidados falando sobre aviação, finanças e momentos enriquecedores. Vem viajar conosco!

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A <strong>Camminare</strong><br />

<strong>Traveller</strong><br />

RESERVA DO<br />

IBITIPOCA<br />

LAÉRCIO<br />

ZULU<br />

AURORA<br />

BOREAL<br />

A N O I • N O . 2<br />

1 | A CAMMINARE


2 | A CAMMINARE


CARTA AO LEITOR<br />

ADRIANA LAGE<br />

<strong>Ed</strong>itora-chefe<br />

@adri.lage<br />

Bem-vindo(a) a bordo! Feliz<br />

em compartilhar com você<br />

nesta segunda edição algumas<br />

das nossas experiências pelo<br />

mundo, apresentar pessoas<br />

fascinantes por trás dos profissionais<br />

incríveis que são e<br />

trazer uma dose <strong>de</strong> história e<br />

cultura brasileira tão ricas mas<br />

<strong>de</strong>sconhecidas para nós.<br />

Uma <strong>de</strong> nossas missões é<br />

inspirar viajantes a se conscientizar<br />

da importância <strong>de</strong><br />

sua postura sustentável para<br />

diminuir nosso impacto <strong>de</strong>strutivo<br />

aon<strong>de</strong> passamos para<br />

que a nossa geração e as futuras<br />

<strong>de</strong>sfrutem das maravilhas<br />

<strong>de</strong> nosso planeta. Proponho a<br />

leitura da matéria sobre o Dia<br />

da Terra como parte <strong>de</strong>sta jornada.Finalmente,<br />

aproveite as<br />

colunas especiais com os convidados<br />

<strong>de</strong>ste mês, repartindo<br />

sua visão <strong>de</strong> mundo nas mais<br />

diversas searas.<br />

Excelente leitura e viagens<br />

fenomenais em 2019!<br />

A CAMMINARE | 3


Mural do leitor<br />

Mensagens para a redação<br />

Gostei muito da Revista A <strong>Camminare</strong>. <strong>Ed</strong>itorial<br />

e entrevistas muito boas e diversificadas. –<br />

Marly Parra, Forbes 2018, uma das 40 mulheres<br />

mais po<strong>de</strong>rosas do Brasil, Conselheira EY Winning<br />

Women<br />

Parabéns pela A <strong>Camminare</strong> <strong>Traveller</strong>. Revista<br />

clean e fluída. Sílvia e eu gostamos do primeiro<br />

número e dos artigos concisos e interessantes<br />

com boas imagens - Heitor e Silvia Reali,<br />

<strong>Ed</strong>itores na Viramundo e Mundovirado<br />

Acabei <strong>de</strong> efetuar a leitura <strong>de</strong> sua revista e os<br />

conteúdos são <strong>de</strong> excelente qualida<strong>de</strong>, parabéns!<br />

– Leonardo Brito, CEO iFriend<br />

Meus parabéns, fiquei encantada! Adorei o<br />

estilo, as dicas, me passa confiança, empatia... o<br />

que creio ser importantíssimo quando esten<strong>de</strong>mos<br />

um convite a este lifestyle, o que muitos<br />

acham ainda intangível. Percebe-se que a pesquisa<br />

foi minuciosa, gostei muito muito mesmo.<br />

– Tamara Hakeem, Consultora <strong>de</strong> <strong>Viagens</strong> na Teresa<br />

Perez Tours<br />

É colorida, alto-astral e traz tendências, gente que<br />

enten<strong>de</strong> do assunto dando orientações, turismo<br />

gastronômico... muito legal. – Joyce Moysés, jornalista<br />

e produtora <strong>de</strong> conteúdo<br />

Estou lendo agora a revista e gostei muito,<br />

mas principalmente da diagramação, está<br />

muito clean, leve e fácil <strong>de</strong> ler... – Lilian Marsari,<br />

Trotamundo <strong>Viagens</strong><br />

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<strong>de</strong> pautas, elogios, broncas,<br />

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Adoramos ouvir notícias suas!<br />

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info@acamminare.com.<br />

Fique por <strong>de</strong>ntro!<br />

Clique aqui e<br />

receba novida<strong>de</strong>s,<br />

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4 | A CAMMINARE


O mais sofisticado grupo hoteleiro do mundo<br />

nos mais interessantes <strong>de</strong>stinos do planeta.<br />

mandarinoriental.com<br />

A CAMMINARE | 5<br />

A <strong>Camminare</strong> <strong>Traveller</strong>


Suas viagens aqui<br />

Desafio do mês: Eu amo grafite!<br />

Marque suas fotos do Instagram com a hashtag #acamminare para<br />

ver sua viagem publicada na revista e em nossas re<strong>de</strong>s sociais<br />

escolhida por nossa equipe.<br />

6 | A CAMMINARE


anuncio_mysim_a4.pdf 1 25/10/18 18:50<br />

C<br />

M<br />

Y<br />

CM<br />

MY<br />

CY<br />

CMY<br />

K<br />

A CAMMINARE | 7


oteiros temáticos<br />

Inspire-se nestas sugestões <strong>de</strong> viagens temáticas e mergulhe na história, conheça<br />

pessoas, saboreie a gastronomia local e visite cenários além do roteiro tradicional.<br />

Uma sucinta lista <strong>de</strong>ntre a inesgotável possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>stinos únicos no planeta.<br />

GRÉCIA, Barco e Bike<br />

A antiga história grega se revela nas<br />

pedaladas por estradas costeiras entre<br />

al<strong>de</strong>ias e crateras vulcânicas entremeadas<br />

por belas enseadas vistas a<br />

partir da sua cabine a bordo do gulet,<br />

embarcação turca que navega pelas<br />

intocadas Ilhas Gregas banhadas pelo<br />

Mediterrâneo.<br />

Ver Itinerário<br />

EQUADOR,<br />

Natureza e História<br />

5d/4n<br />

Patrimônio Cultural da Unesco<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1978 e uma das cida<strong>de</strong>s<br />

mais prósperas da América do<br />

Sul, o centro histórico <strong>de</strong> Quito<br />

surpreen<strong>de</strong> pela beleza colonial<br />

e pelo excelente estado<br />

<strong>de</strong> conservação, cujos edifícios<br />

abrigam museus, bares, restaurantes<br />

e vida noturna. O<br />

imponente Vulcão Cotopaxi e<br />

a bucólica Otavalo fecham o<br />

roteiro <strong>de</strong> cinco dias e quatro<br />

noites por este país ainda fora<br />

dos holofotes <strong>de</strong> brasileiros.<br />

URUGUAI, Enocultural<br />

4d/3n<br />

O charme <strong>de</strong> Colônia <strong>de</strong>l<br />

Sacramento e seu centro histórico,<br />

também Patrimônio da<br />

Humanida<strong>de</strong>, encantam tanto<br />

como os vinhos <strong>de</strong> Carmelo<br />

neste itinerário que inclui a visita<br />

a duas excelentes vinícolas: a<br />

El Legado e a Finca Narbona.<br />

Você <strong>de</strong>scobrirá a influência<br />

portuguesa e espanhola visitando<br />

museus acompanhado <strong>de</strong><br />

um especialista. Complemente<br />

a viagem com aquela paradinha<br />

básica em Buenos Aires.<br />

Ver Itinerário<br />

Ver Itinerário<br />

8 | A CAMMINARE


PORTUGAL, Alentejo<br />

Enogastronômico<br />

As paisagens intocadas do Alentejo<br />

<strong>de</strong>senhadas por vinhedos, campos, vilarejos<br />

e bosques <strong>de</strong> cortiça permanecem<br />

intocadas há décadas e encantam pela<br />

gastronomia farta e belezas arquitetônicas<br />

e históricas ainda preservadas, como<br />

o Convento do Espinheiro, do século XV,<br />

e o Cromeleque dos Almendres, o maior<br />

sítio megalítico <strong>de</strong> Portugal, construído<br />

há milênios.<br />

Ver Itinerário<br />

JALAPÃO, Viagem <strong>de</strong><br />

Transformação<br />

Um roteiro cuidadosamente pensado<br />

para você se maravilhar com<br />

a grandiosida<strong>de</strong> da natureza brasileira<br />

com apoio <strong>de</strong>dicado e exclusivo.<br />

Um santuário <strong>de</strong> vida selvagem<br />

numa região árida pontilhada<br />

<strong>de</strong> oásis torna-se o cenário <strong>de</strong><br />

fundo para uma imersão no autoconhecimento,<br />

com workshops e<br />

ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

pessoal, funcionamento da mente<br />

e superação <strong>de</strong> bloqueios emocionais,<br />

sob a sombra <strong>de</strong> cajueiros e<br />

mangabeiras<br />

Saída única em grupo VIP: 15 a<br />

20 <strong>de</strong> outubro<br />

Ver Itinerário<br />

ROTA DA SEDA, Sob Trilhos<br />

14 dias <strong>de</strong> uma jornada ferroviária<br />

do Mar Cáspio às montanhas<br />

<strong>de</strong> Tien Shan, percorrendo<br />

Turcomenistão, Uzbequistão e<br />

Cazaquistão, países surpreen<strong>de</strong>ntes<br />

pela rica história, cultura<br />

e gastronomia. O trem privativo<br />

oferece amplo conforto e a <strong>de</strong>gustação<br />

<strong>de</strong> pratos regionais elaborados<br />

a bordo na hora. Sem dúvida,<br />

uma viagem inesquecível para<br />

fazer nesta vida.<br />

Ver Itinerário<br />

A <strong>Camminare</strong> <strong>Viagens</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Experiência</strong>s<br />

Saiba mais<br />

Seu próximo <strong>de</strong>stino não está na<br />

lista? Fale conosco e conheça nossas<br />

sugestões.<br />

A CAMMINARE | 9


A <strong>Camminare</strong> <strong>Traveller</strong><br />

ANO 1 | No. <strong>02</strong><br />

Clique no título para ler a matéria<br />

10<br />

ENTREVISTAS<br />

Marco Brotto, o caçador <strong>de</strong> Auroras<br />

Boreais<br />

68<br />

Laércio Zulu, o melhor barten<strong>de</strong>r do<br />

Brasil<br />

20<br />

DESTINOS E<br />

EXPERIÊNCIAS<br />

Reserva do Ibitipoca<br />

72<br />

Paranapiacaba, suas vidas<br />

SUSTENTABILIDADE<br />

34<br />

<strong>Ed</strong>uardo Kobra colore Mônaco<br />

44<br />

52<br />

ARTE<br />

Como comprar um Van Gogh<br />

Dia da Terra, salvem nossos animais<br />

10 | A CAMMINARE


66<br />

GASTRONOMIA<br />

O voo alto da culinária paraense e<br />

amazônica<br />

70<br />

Cachaça: a hora do <strong>de</strong>stilado brasileiro<br />

chegou<br />

SEÇÕES<br />

87 Aviação<br />

Como os pilotos se preparam para um<br />

voo ?<br />

88 Finanças<br />

Construindo um sonho com os filhos<br />

86<br />

MOMENTOS DE<br />

VIAGEM<br />

O pedaço da África em mim<br />

90<br />

O que Langkawi me ensinou<br />

A CAMMINARE | 11


O Caçador <strong>de</strong> Auroras Boreais<br />

O caçador<br />

<strong>de</strong><br />

Auroras<br />

Boreais<br />

Fotos Marco Brotto<br />

12 | A CAMMINARE


A CAMMINARE | 13


A caça e o caçador<br />

14 | A CAMMINARE


Lapônia, Finlândia<br />

Em busca das famosas Northern<br />

Lights <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2008 após uma viagem<br />

frustrante como turista em que não<br />

conseguiu ver as luzes, Marco Brotto<br />

se especializou no fenômeno mais<br />

incrivel da natureza e hoje se realiza<br />

toda vez que vê um rosto fascinado<br />

diante da Dama da Noite.<br />

Marcão, como é carinhosamente<br />

chamado, conce<strong>de</strong>u esta entrevista<br />

exclusiva à revista A <strong>Camminare</strong><br />

enquanto embarcava para sua 66ª<br />

expedição, todas bem sucedidas.<br />

Lapônia, Finlândia<br />

A CAMMINARE | 15


Islândia<br />

AC: Como Marco Brotto <strong>de</strong>fine a<br />

Aurora Boreal?<br />

MB: Como o mais lindo espetáculo da<br />

natureza, o que mais se aproxima do<br />

que seria o contato com o ser superior,<br />

Deus, ou qualquer outra entida<strong>de</strong><br />

em que você acredite. É um momento<br />

<strong>de</strong> introspecção fantástico, só quando<br />

estamos embaixo da Aurora conseguimos<br />

sentir a energia <strong>de</strong>la dançando<br />

sobre nós.<br />

AC: Quais são os maiores equívocos<br />

que as pessoas cometem<br />

ao falar da Aurora Boreal?<br />

MB: Esta é uma questão muito importante,<br />

costumamos dizer que existem<br />

dois tipos <strong>de</strong> especialistas, o <strong>de</strong> dois<br />

segundos e o <strong>de</strong> muitos anos. Ano a<br />

ano temos nos especializado e percebemos<br />

que boa parte das informações<br />

que são colocadas na internet são<br />

<strong>de</strong>sinformações e muitas coisas foram<br />

<strong>de</strong>smistificadas por nós.<br />

Islândia<br />

16 | A CAMMINARE


Uma <strong>de</strong>las é a <strong>de</strong> que é necessário<br />

fazer um caminho muito longo para<br />

ver a Aurora, não é bem assim.<br />

É mais fácil, mas ao mesmo tempo<br />

difícil. Existem dois pontos que não<br />

são o 8 e nem o 80. Dizem que<br />

não po<strong>de</strong>mos avistá-la no verão,<br />

mas po<strong>de</strong>mos. As pessoas não têm<br />

acesso às informações corretas,<br />

muitos dizem que não é possível<br />

ver durante a lua cheia, mas é.<br />

Eu particularmente gosto muito,<br />

ela fica mais cintilante, não existe<br />

tanto contraste. Cada lugar ou dia<br />

me dá uma possibilida<strong>de</strong> e esqueletos<br />

diferentes.<br />

AC: Em que momento você<br />

atingiu a maturida<strong>de</strong> e a<br />

qualida<strong>de</strong> que buscava como<br />

fotógrafo <strong>de</strong> Auroras Boreais?<br />

MB: Eu <strong>de</strong>finitivamente não atingi<br />

a maturida<strong>de</strong> nem como fotógrafo<br />

e nem como nada, apesar da minha<br />

Lapônia, Finlândia<br />

Marco Brotto<br />

ida<strong>de</strong>. Maturida<strong>de</strong> como fotógrafo<br />

não atingi e nem vou atingir, não<br />

sou fotógrafo profissional. Gosto<br />

<strong>de</strong> fotografar a Aurora, fico tão<br />

emocionado, ainda mais se tiver<br />

pessoas junto, porque acabo produzindo<br />

fotos interessantes. Mas<br />

não tenho a pretensão <strong>de</strong> ser um<br />

fotógrafo. O que busco é mostrar<br />

à maior parte <strong>de</strong> pessoas a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> se ver a Aurora Boreal,<br />

permitindo com isso que elas realizem<br />

seus sonhos da maneira<br />

mais completa possível, porque é<br />

frustrante ouvir que a pessoa foi<br />

para lá, ficou 30 minutos e voltou.<br />

O que fazemos é <strong>de</strong> coração e o<br />

que nos gratifica é a amiza<strong>de</strong> que<br />

conquistamos.<br />

AC: Quais foram os erros que<br />

você já cometeu e quais fotos<br />

da Autora Boreal não <strong>de</strong>ram<br />

certo?<br />

MB: Eu não tenho vergonha <strong>de</strong> mostrar<br />

uma foto que não <strong>de</strong>u certo,<br />

porque em tudo que a gente faz na<br />

vida em algum momento não vai dar<br />

certo. É como as expedições, estou<br />

embarcando agora para o Alasca<br />

A CAMMINARE | 17


para a Expedição <strong>de</strong> número 66 e em<br />

todas elas eu vi a Aurora Boreal. E<br />

po<strong>de</strong> ser que nesta aqui eu tenha pela<br />

primeira vez uma expedição em que<br />

não verei a Aurora.<br />

Erros acontecem frequentemente, mas<br />

aconselho as pessoas primeiramente<br />

a apren<strong>de</strong>r a mexer no equipamento<br />

antes <strong>de</strong> iniciar a viagem, porque<br />

senão você irá se bater bastante. São<br />

fotografias muito dolorosas, porque<br />

tem vento, frio, cansaço, então são<br />

fotografias muito difíceis. Também<br />

qualquer poluição visual, qualquer ataque<br />

<strong>de</strong> luminosida<strong>de</strong> perto <strong>de</strong> você, vai<br />

estragar sua foto.<br />

AC: Qual foi a Aurora Boreal<br />

mais inesquecível que você já<br />

fotografou na sua vida?<br />

MB: Olha, tenho muitas tanto da vida<br />

pessoal como profissional, fatos que<br />

ocorreram durante as viagens. A intensida<strong>de</strong><br />

da Aurora, momentos da vida,<br />

quando você está em um ... não gosto<br />

<strong>de</strong> chamar <strong>de</strong> trabalho, porque não é<br />

trabalho pra mim, <strong>de</strong> tão lindo que é<br />

isso, você fica muito sensível. Então<br />

Lapônia, Finlândia<br />

Groenlânida<br />

18 | A CAMMINARE


hoje eu sou uma pessoa que choro<br />

muito mais do que chorava antigamente<br />

porque a emoção das pessoas<br />

acaba transcen<strong>de</strong>ndo este campo<br />

visual, sabe, as pessoas se abrem,<br />

parece que todos os seus poros estãoabertos<br />

para que essa energia entre.<br />

Então eu tenho muita foto legal, acho<br />

que uns 20 teras <strong>de</strong> fotos.<br />

O segredo é você ter paciência,<br />

conhecer seu equipamento, acertar<br />

o foco, a gente per<strong>de</strong> muita foto por<br />

falta <strong>de</strong> foco porque é muito difícil<br />

focar à noite. Isso também é uma<br />

questão importante da lua cheia, porque<br />

ela te propicia isso. É como tudo,<br />

o motorista tem que conhecer o carro<br />

<strong>de</strong>le, o fotógrafo tem que conhecer a<br />

câmera fotográfica <strong>de</strong>le.<br />

AC: Situações inesperadas ocorrem<br />

em viagens, principalmente<br />

consi<strong>de</strong>rando condições climáticas<br />

adversas e infraestruturas<br />

mais precárias. Conte para nós<br />

alguma experiência engraçada<br />

que aconteceu durante uma caça<br />

e como foi o fim da história.<br />

MB: Quando a gente fala do Ártico,<br />

a gente viaja para lugares inóspitos<br />

e temos a infraestrutura muito boa<br />

para aquilo que as pessoas precisam<br />

e não para aquilo que elas não<br />

precisam.<br />

Lapônia, Finlândia<br />

A CAMMINARE | 19


Alasca<br />

Você não tem carregador <strong>de</strong> mala,<br />

pessoa que vai fazer o check in pra<br />

você, serviço 24 horas <strong>de</strong> quarto, 10<br />

pessoas pra fazer a comida quando<br />

você chegar ao restaurante, tem que<br />

reservar o restaurante com antecedência,<br />

tem que carregar sua própria<br />

mala, fazer seu próprio check in.<br />

Eu faço muita pesquisa com avalanches,<br />

estradas fechadas, minha<br />

principal preocupação na viagem<br />

é com a segurança. Então, dificilmente<br />

a gente passa uma expedição<br />

sem uma modificação <strong>de</strong> roteiro,<br />

sem cancelamento <strong>de</strong> alguma ativida<strong>de</strong>,<br />

porque tenho um protocolo<br />

<strong>de</strong> segurança que é seguido à risca<br />

e se estiver no limite vou chamar os<br />

meus pra me ajudar.<br />

Obviamente, nosso motorista tem<br />

que ser local, tenho back up <strong>de</strong><br />

carro e motorista, tenho o controle<br />

da garagem on<strong>de</strong> a gente está o<br />

tempo todo, motorista com horas <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>scanso controladas, equipa-mento<br />

<strong>de</strong> bafômetro no veículo que só liga<br />

se ele estiver ok.<br />

Alasca<br />

20 | A CAMMINARE


“Só quando estamos embaixo<br />

da Aurora conseguimos<br />

sentir a energia <strong>de</strong>la<br />

dançando sobre nós.”<br />

_ Marco Brotto<br />

Groenlândia<br />

A CAMMINARE | 21


Reserva <strong>de</strong> Ibitipoca<br />

Em<br />

comunhão<br />

com a<br />

natureza<br />

na<br />

RESERVA<br />

DO<br />

IBITIPOCA<br />

Por Adriana Lage, Fotos Angela Manta<br />

22 | A CAMMINARE


A CAMMINARE | 23


Viajar proporciona oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

crescimento pessoal se você se permitir<br />

olhar além do óbvio, traz uma<br />

sensação <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> e um sentimento<br />

<strong>de</strong> conquista intraduzíveis.<br />

E não precisamos atravessar oceanos<br />

para viver isso. Na Reserva do<br />

Ibitipoca, sul <strong>de</strong> Minas Gerais, tive o<br />

privilégio <strong>de</strong> conhecer pessoas especiais,<br />

que me ensinaram muito sem<br />

mesmo eles saberem disso, <strong>de</strong>ixam<br />

sauda<strong>de</strong>s até hoje e o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> um<br />

breve retorno.<br />

O pequeno hotel boutique me conquistou<br />

em 2016 por seu propósito<br />

sustentável holístico, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a preocupação<br />

em melhorar a qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida dos moradores da região ao<br />

projeto <strong>de</strong> proteger o ecossistema<br />

do Parque Estadual do Ibitipoca.<br />

A Reserva abraça +80% da área do<br />

parque, protegendo-o, e visa <strong>de</strong>volver<br />

à natureza a fauna e a flora que<br />

estavam <strong>de</strong>saparecendo por causa<br />

das fazendas <strong>de</strong> gado.<br />

24 | A CAMMINARE


A CAMMINARE | 25


Um gran<strong>de</strong> casarão, antiga se<strong>de</strong><br />

da fazenda <strong>de</strong> engenho construída<br />

em 1715 acomoda 8 aconchegantes<br />

suítes exclusivas em ambiente<br />

típico <strong>de</strong> interior e oferecem vista<br />

para as colinas mineiras ver<strong>de</strong>jantes.<br />

As refeições são preparadas<br />

no fogão à lenha e Tuca, o tucano<br />

mascote, está sempre presente.<br />

É difícil falar das experiências em<br />

Ibitipoca porque elas são tão únicas<br />

que se eu revelá-las, po<strong>de</strong> per<strong>de</strong>r<br />

um pouquinho do seu charme.<br />

Só digo que é um <strong>de</strong>sses lugares<br />

escondidos no Brasil, divulgado <strong>de</strong><br />

boca a boca, para que mantenha sempre<br />

sua atmosfera tranquila, uma casa<br />

<strong>de</strong> fazenda da vó que nos remete à<br />

infância. Vá e me conte <strong>de</strong>pois.<br />

Na Reserva, apren<strong>de</strong>mos a ouvir os<br />

sons da água, do vento e dos animais.<br />

Apren<strong>de</strong>mos a enxergar o verda<strong>de</strong>iro<br />

valor da fauna, da flora e das comunida<strong>de</strong>s<br />

que nela habitam. Apren<strong>de</strong>mos<br />

a nos conscientizar <strong>de</strong> nossa responsabilida<strong>de</strong><br />

em não apenas preservar,<br />

mas ajudar a restabelecer o que foi<br />

perdido. E, acima <strong>de</strong> tudo, apren<strong>de</strong>mos<br />

com as pessoas o verda<strong>de</strong>iro significado<br />

do compartilhar e viver feliz.<br />

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34 | A CAMMINARE


“Acima <strong>de</strong> tudo,<br />

apren<strong>de</strong>mos com as<br />

pessoas o verda<strong>de</strong>iro<br />

significado do<br />

compartilhar e<br />

viver feliz”.<br />

_ adriana lage<br />

A CAMMINARE | 35


Kobra em Mônaco<br />

36 | A CAMMINARE


Kobra<br />

sustentável<br />

em<br />

Mônaco<br />

A CAMMINARE | 37


Brasileiros agora têm mais um<br />

motivo para visitar Mônaco, aninhado<br />

no sul da França. As cores vibrantes<br />

<strong>de</strong> <strong>Ed</strong>uardo Kobra chegam ao principado,<br />

um dos países mais sensíveis a<br />

problemas ambientais. Reconhecido<br />

por suas artes impactantes que<br />

geram reflexões sobre causas sociais<br />

e ambientais, o artista inaugurou ao<br />

lado <strong>de</strong> S.A.S. Príncipe Albert II <strong>de</strong><br />

Mônaco seu primeiro grafite no país<br />

em 18 <strong>de</strong> março último.<br />

Seu mural foi inspirado na obra<br />

“A Persistência da Memória”, <strong>de</strong><br />

Salvador Dalí (1904-1989), e retrata<br />

os icônicos relógios <strong>de</strong>rretendo nas<br />

geleiras da Antártida. É uma crítica<br />

às ações humanas responsáveis pelo<br />

aquecimento global prejudiciais ao<br />

meio ambiente. Com 12m <strong>de</strong> largura<br />

por 7m <strong>de</strong> altura, o grafite pintado<br />

no rochedo à beira-mar parece continuar<br />

o cenário mediterrâneo, em<br />

tons <strong>de</strong> azul e branco.<br />

38 | A CAMMINARE


A obra alinha-se à campanha nacional<br />

“Green is the new Glam”, transmitindo<br />

a mensagem para o mundo<br />

que a sustentabilida<strong>de</strong> é o novo<br />

glamour. O governo, empresas e a<br />

população monegascos envolvem-se<br />

cotidianamente em questões relacionadas<br />

ao <strong>de</strong>senvolvimento sustentável,<br />

como mobilida<strong>de</strong> urbana, gastronomia<br />

orgânica, preservação do<br />

meio ambiente, proteção dos oceanos,<br />

energias renováveis e eficiência<br />

energética.<br />

Cassino <strong>de</strong> Monte Carlo<br />

“Mônaco é muito engajado em causas sustentáveis<br />

e a arte <strong>de</strong> Kobra nos ajudará<br />

a chamar a atenção do mundo inteiro para<br />

o aquecimento global. Convidamos todos os<br />

brasileiros a conhecerem a obra e embarcarem<br />

nesta jornada a favor <strong>de</strong> um mundo<br />

mais consciente e engajado”, comenta Gisele<br />

Abrahão, representante<br />

do Escritório <strong>de</strong> Turismo <strong>de</strong><br />

Mônaco no Brasil.<br />

“Eu já tinha bastante conhecimento<br />

sobre Mônaco, até porque sou fã do<br />

Ayrton Senna, que tem uma longa<br />

história aqui no país. Então, como<br />

brasileiro eu já tinha essa conexão<br />

com o principado. Po<strong>de</strong>r trazer<br />

minha obra para cá neste momento<br />

é uma forma <strong>de</strong> conscientizar as<br />

pessoas através da arte sobre um<br />

tema tão importante que é o aquecimento<br />

global”, revela Kobra.<br />

O artista também ce<strong>de</strong>u oito cópias<br />

<strong>de</strong> uma versão reduzida da obra,<br />

que serão colocadas à venda para<br />

angariar fundos e apoiar projetos<br />

beneficentes e ambientais da<br />

Associação Brasil Monaco Project e<br />

da Fundação Prince Albert II.<br />

Mônaco para todos<br />

Shutterstock<br />

A CAMMINARE | 39


pelos Pequenos Cantores <strong>de</strong> Mônaco<br />

e o coro da catedral. Imperdível.<br />

Vale a pena visitar o Museu Oceanográfico,<br />

criado pelo Príncipe<br />

Albert I para ser um palácio <strong>de</strong>dicado<br />

à arte e ciência, um convite<br />

para conhecer e se apaixonar pelo<br />

mundo submarino. Uma das salas<br />

abriga fósseis <strong>de</strong> baleias, que chegam<br />

a medir 18m <strong>de</strong> comprimento.<br />

Apaixonados por carros antigos<br />

não per<strong>de</strong>m a Coleção do príncipe<br />

Rainier III, exibindo mais <strong>de</strong> 100<br />

veículos em 4000 m 2 <strong>de</strong> área, categorizados<br />

<strong>de</strong> acordo com o tipo e<br />

período.<br />

Mônaco oferece atrações para todos<br />

os bolsos e estilos e engana-se<br />

quem pensa que é <strong>de</strong>stino exclusivo<br />

para milionários. Os passeios à pé<br />

são <strong>de</strong>liciosos e acessíveis graças<br />

às escadas rolantes e elevadores<br />

espalhados pelas ruas. É daqueles<br />

lugares que você visita e se arrepen<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> não ficar mais tempo, prometendo<br />

retornar em breve para ir<br />

além <strong>de</strong> seu principal cartão postal,<br />

o Cassino e Ópera <strong>de</strong> Monte-Carlo.<br />

O Palácio do Príncipe no alto do<br />

rochedo oferece vista panorâmica<br />

do país e o interior impressiona os<br />

visitantes pelo esplendor e <strong>de</strong>coração<br />

impecável em um tour aberto<br />

ao público <strong>de</strong> abril a outubro.<br />

A linda catedral romântico-bizantina<br />

é a morada eterna dos antigos<br />

membros da família real, como o<br />

príncipe Rainier e a princesa Grace.<br />

De setembro a junho, todos os<br />

domingos, às 10h, há missa cantada<br />

Um tesouro bem guardado <strong>de</strong><br />

Mônaco que visitantes <strong>de</strong> bate e<br />

volta per<strong>de</strong>m são os jardins. A<br />

gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espaços<br />

arborizados coloca Mônaco em<br />

segundo lugar na Europa, atrás<br />

apenas <strong>de</strong> Viena. Cada jardim tem<br />

personalida<strong>de</strong> e características<br />

próprias, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> um jardim japonês<br />

a um que representa o coração da<br />

princesa Grace Kelly.<br />

Port Hercule é cartão postal dopaís<br />

com um visual lindo dos iates e<br />

barcos pespontando o mar cristalino<br />

<strong>de</strong> branco durante o dia, tingido <strong>de</strong><br />

laranja ao entar<strong>de</strong>cer e animado<br />

local <strong>de</strong> bares e baladas à noite.<br />

Poucos turistas pensam em Mônaco<br />

como <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> praia, mas suas<br />

duas praias, Larvotto Beach e<br />

Monte Carlo Beach oferecem muitas<br />

ativida<strong>de</strong>s aquáticas, como windsurf,<br />

esqui aquático, wake board,<br />

jet ski e banana boat.<br />

Entremeando os passeios, <strong>de</strong>scanse,<br />

saboreie e relaxe nos cafés,<br />

restaurantes, spas e hotéis, tudo<br />

concentrado numa privilegiada área<br />

<strong>de</strong> 2 km 2 .<br />

40 | A CAMMINARE


Shutterstock Shutterstock<br />

Japanese Gar<strong>de</strong>n<br />

Les Jardin du Casino<br />

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Shutterstock


Palácio do Príncipe<br />

Shutterstock<br />

Shutterstock<br />

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shutterstock


“Trazer minha obra para cá é uma<br />

forma <strong>de</strong> conscientizar as pessoas<br />

através da arte sobre a importância<br />

do aquecimento global”.<br />

_ eduardo kobra<br />

Shutterstock


O Dia da Terra<br />

46 | A CAMMINARE


O Dia<br />

da<br />

Terra<br />

Por Priscila Gorzoni e Adriana Lage


Imagine a Terra sem os animais, as<br />

abelhas, girafas, elefantes, baleias.<br />

Como seria? Em pouco tempo, se<br />

não cuidarmos do planeta e <strong>de</strong> algumas<br />

espécies que correm risco <strong>de</strong><br />

extinção, tudo se tornará um gran<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>serto.<br />

Este é apenas um dos <strong>de</strong>safios da<br />

humanida<strong>de</strong> para mitigar e reverter<br />

as ações danosas ao meio ambiente.<br />

Des<strong>de</strong> 22 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1970, quando<br />

o primeiro Dia da Terra acionou 20<br />

milhões <strong>de</strong> americanos, a Earth Day<br />

Network expandiu suas fronteiras<br />

e mobiliza anualmente 1 bilhão <strong>de</strong><br />

pessoas em mais <strong>de</strong> 190 países,<br />

levantando questões ambientais<br />

para o cenário mundial.<br />

Mais do que um evento pontual, a<br />

organização trabalha no trinômio<br />

educação, políticas públicas e campanhas<br />

para o consumidor, além<br />

<strong>de</strong> criar programas inovadores,<br />

envolvendo <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s menos<br />

favorecidas a gran<strong>de</strong>s empresas<br />

para conscientização e engajamento<br />

cívico.<br />

Em 2018 o tema foi “Acabe com a<br />

Poluição Plástica” e, para 2019, a<br />

ONG abraça a questão “Proteja nossas<br />

espécies”, com o propósito <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolver ações para reduzir a<br />

taxa <strong>de</strong> extinções <strong>de</strong> espécies ameaçadas<br />

e em perigo, em especial<br />

abelhas, recifes <strong>de</strong> corais, elefantes,<br />

girafas, insetos e baleias.<br />

Talvez você não saiba, mas o mundo<br />

está enfrentando uma taxa maior<br />

<strong>de</strong> extinção <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os dinossauros,<br />

há 60 milhões <strong>de</strong> anos. Tudo<br />

isso <strong>de</strong>vido a ações predatórias do<br />

homem, <strong>de</strong>smatamento, tráfico,<br />

caça ilegal, agricultura insustentável,<br />

entre outros.<br />

Ainda temos tempo <strong>de</strong> reduzir<br />

essa taxa e muitas <strong>de</strong>ssas espécies<br />

po<strong>de</strong>m se recuperar se unirmos<br />

consumidores, eleitores, lí<strong>de</strong>res e<br />

cientistas em um movimento global<br />

para educar e conscientizar a população<br />

sobre a gravida<strong>de</strong> da situação,<br />

implantar leis protetoras, encorajar<br />

ações individuais e construir um<br />

mindset que prestigie a natureza e<br />

seus valores.<br />

Veja abaixo por que essas espécies<br />

tiveram enfoque e o que você po<strong>de</strong><br />

fazer por elas:<br />

Abelhas<br />

Elas existem em todos os tipos <strong>de</strong><br />

climas e lugares, dos <strong>de</strong>sertos africanos<br />

às florestas tropicais e ao<br />

Círculo Polar Ártico, no solo, em<br />

buracos e em árvores. Nos últimos<br />

10 anos, apicultores têm relatado<br />

perdas anuais insustentáveis superiores<br />

a 30% das colmeias.<br />

Abelhas são fundamentais para a<br />

natureza e não sobrevivemos sem<br />

elas, porque são responsáveis pela<br />

polinização da maioria dos ecossistemas,<br />

não apenas para o cresci-<br />

48 | A CAMMINARE


mento da flora, mas também para<br />

alimentar outros organismos. Ao<br />

<strong>de</strong>saparecem as abelhas polinizadoras,<br />

o efeito sobre a viabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

plantações e plantas nativas será<br />

<strong>de</strong>sastroso.<br />

Maiores ameaças: uso generalizado<br />

<strong>de</strong> pesticidas, alterações climáticas,<br />

perda <strong>de</strong> habitat, pragas e doenças.<br />

O que você po<strong>de</strong> fazer: Consumir<br />

alimentos orgânicos e exigir políticas<br />

públicas que proíbem o uso <strong>de</strong><br />

agrotóxicos em plantações.<br />

Girafas<br />

O mamífero mais alto do mundo<br />

ajuda animais selvagens a fugirem<br />

<strong>de</strong> predadores, que a usam comsitema<br />

<strong>de</strong> alerta antecipado.<br />

Assim que as girafas saem correndo<br />

quando avistam perigo,<br />

outros animais as seguem. Elas<br />

também exercem papel vital no<br />

ecossistema local, espalhando<br />

sementes pela savana africana<br />

após plantas e frutas passarem<br />

por seus sistemas digestivos.<br />

A população diminuiu <strong>de</strong><br />

155.000 em 1985 para 80.000<br />

em 2018, <strong>de</strong> acordo com a<br />

Fundação Africano Wildlife. Das<br />

nove subespécies <strong>de</strong> girafas,<br />

três caíram abaixo <strong>de</strong> 1.000.<br />

Maiores ameaças: perda <strong>de</strong><br />

habitat, guerras civis, caça<br />

ilegal, alterações climáticas<br />

e caçadores <strong>de</strong> troféus<br />

americanos.<br />

A CAMMINARE | 49


O que você po<strong>de</strong> fazer: Não comprar<br />

produtos com matéria prima oriunda<br />

<strong>de</strong>la, não consumir carne <strong>de</strong> caça em<br />

viagens, protestar contra caça furtiva<br />

e <strong>de</strong> lazer.<br />

Recifes <strong>de</strong> Corais<br />

Presentes em mais <strong>de</strong> 100 países,<br />

cobrem uma área aproximada <strong>de</strong><br />

285 mil km 2 , quase equivalente ao<br />

estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. Mais<br />

<strong>de</strong> 25% <strong>de</strong> toda a vida marinha no<br />

planeta vivem em recifes <strong>de</strong> corais.<br />

No entanto, 25% <strong>de</strong>les já são consi<strong>de</strong>rados<br />

danificados e 65% correm<br />

sérios riscos <strong>de</strong> extinção.<br />

Estão entre os organismos mais antigos<br />

do mundo, abrigam e alimentam<br />

espécies marinhas e seus FIlhotes,<br />

movimentam a economia<br />

pesqueira e turística e são fontes<br />

para medicamentos.<br />

Maiores ameaças: mudanças climáticas,<br />

poluição, pesca predatória e<br />

turismo <strong>de</strong> massa.<br />

O que você po<strong>de</strong> fazer: não usar<br />

protetores solares com oxibenzona,<br />

presente na maioria das composições;<br />

reciclar todo seu lixo; consumir<br />

alimentos orgânicos; fugir <strong>de</strong><br />

passeios <strong>de</strong> turismo <strong>de</strong> massa; não<br />

pisar em corais ou ancorar neles.<br />

Baleias<br />

Existem 48 espécies conhecidas <strong>de</strong><br />

baleias e no último século a população<br />

caiu <strong>de</strong> 720.000 para cerca <strong>de</strong><br />

20.000. Elas exercem importante<br />

50 | A CAMMINARE


papel no ecossistema marinho,<br />

pois reciclam nutrientes, como o<br />

ferro; fornecem nutrientes para<br />

fotossíntese <strong>de</strong> plânctons, ajudando<br />

no combate à mudança climática;<br />

e está na base da ca<strong>de</strong>ia<br />

que cria quase meta<strong>de</strong> do oxigênio<br />

que respiramos.<br />

Maiores ameaças: poluição sonora<br />

e da água, construção <strong>de</strong> barragens,<br />

colisão com embarcações,<br />

caça predatória, mudança<br />

climática.<br />

O que você po<strong>de</strong> fazer: Não comer<br />

carne <strong>de</strong> baleia ou consumir<br />

produtos oriundos <strong>de</strong>la; evitar<br />

lixo não reciclável, principalmente<br />

plástico; comprar pescados vindos<br />

<strong>de</strong> produtores sustentáveis.<br />

A CAMMINARE | 51


Elefantes<br />

O maior animal terrestre do mundo<br />

viu sua população diminuir <strong>de</strong> 5 a 10<br />

milhões em 1930 para cerca <strong>de</strong> 500<br />

mil hoje. Mais <strong>de</strong> 20.000 elefantes<br />

são caçados anualmente, +100 por<br />

dia por causa <strong>de</strong> seus marfins e, por<br />

exemplo, da espécie Sumatra restam<br />

apenas 2.500 na Terra. Estima-se<br />

que cada elefante caçado e morto<br />

reduz o turismo africano em 25<br />

milhões por ano. O mamífero é responsável<br />

pelo nivelamento <strong>de</strong> florestas<br />

e planícies e criação <strong>de</strong> buracos,<br />

que se tornam habitat para espécies<br />

menores; e suas fezes semeiam os<br />

campos pelas suas jornadas.<br />

Maiores ameaças: caça ilegal, perda<br />

<strong>de</strong> habitat, mudanças climáticas.<br />

O que você po<strong>de</strong> fazer: a<strong>de</strong>rir ao<br />

movimento para findar o comércio<br />

<strong>de</strong> marfim e à caça <strong>de</strong> lazer; boicotar<br />

exposições, shows e eventos<br />

que usem elefantes, praticar apenas<br />

o turismo sustentável viajando com<br />

empresas certificadas como ver<strong>de</strong>s.<br />

Insetos<br />

Compõem cerca <strong>de</strong> 80% <strong>de</strong> todas<br />

as espécies conhecidas do planeta.<br />

Mais <strong>de</strong> 900.000 espécies <strong>de</strong> insetos<br />

foram registradas em todo<br />

o mundo. Ao longo das últimas<br />

quatro décadas, os cientistas têm<br />

observado um <strong>de</strong>clínio <strong>de</strong> 45% no<br />

total <strong>de</strong>sta população. Sua importância<br />

é a polinização <strong>de</strong> plantas e<br />

flores e, sem eles, nossos ecossistemas<br />

entrariam em colapso. São<br />

fontes <strong>de</strong> alimentos para várias<br />

espécies, ajudam no processo <strong>de</strong><br />

reciclagem <strong>de</strong> nutrientes para uso<br />

por outros animais e protegem<br />

plantações.<br />

Maiores ameaças: mudanças climáticas,<br />

perda <strong>de</strong> habitat, uso <strong>de</strong> pesticidas,<br />

importação <strong>de</strong> espécies não<br />

nativas.<br />

O que você po<strong>de</strong> fazer: conscientizar<br />

sua re<strong>de</strong> sobre a importância dos<br />

insetos, aplicar remédios naturais<br />

nos jardins, comprar produtos orgânicos,<br />

cultivar jardins em casa.<br />

52 | A CAMMINARE


“O mundo está<br />

enfrentando uma<br />

taxa maior <strong>de</strong><br />

extinção <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os<br />

dinossauros, há<br />

60 milhões <strong>de</strong><br />

anos”.<br />

_ Earth Day Network<br />

S<br />

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E<br />

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B<br />

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L<br />

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A<br />

D<br />

E<br />

A CAMMINARE | 53


No Mundo da Arte<br />

NO<br />

MUNDO<br />

DA<br />

ARTE<br />

Texto Priscila Gorzoni<br />

Coleção Relievo:<br />

As obras da alma <strong>de</strong><br />

Van Gogh<br />

Amendoeira em Flor (1890)<br />

Fotos Van Gogh Museum<br />

54 | A CAMMINARE


A CAMMINARE | 55


Estreado em março passado no<br />

Brasil, No Portal da Eternida<strong>de</strong>, do<br />

diretor Julian Schnabel, dramatiza<br />

os últimos anos da vida <strong>de</strong> um dos<br />

maiores pintores do século XIX, o<br />

holandês Vincent Van Gogh, retratando<br />

a controversa teoria <strong>de</strong> que o<br />

artista não se suicidou.<br />

Paisagens, iluminação, música e a<br />

expressão perturbada <strong>de</strong> Willem<br />

Dafoe, indicado ao Oscar <strong>de</strong> Melhor<br />

Ator pela interpretação <strong>de</strong> Van Gogh,<br />

<strong>de</strong>monstram bem os inimigos interiores,<br />

muitas vezes revelados em suas<br />

obras, na forma <strong>de</strong> cores.<br />

Exprimir o vento em pinceladas, o<br />

sofrimento no olhar da família que<br />

divi<strong>de</strong> a última batata do dia ou a<br />

esperança no brilho das estrelas são<br />

alguns dos sentimentos que van Gogh<br />

conseguiu colocar em suas telas.<br />

Nenhum artista conseguiu traduzir<br />

tão visceralmente seus sentimentos<br />

em uma obra <strong>de</strong> arte como ele.<br />

Suas pinturas são tão <strong>de</strong>soladoras,<br />

que se tornaram atemporais, emocionais,<br />

sociais.<br />

Viveu pouco e produziu muito, <strong>de</strong>ixando<br />

um legado <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 200<br />

pinturas, 500 <strong>de</strong>senhos e 800 cartas.<br />

Este material está hoje sob os<br />

cuidados da Fundação Vincent Van<br />

Gogh e só po<strong>de</strong> ser apreciado em<br />

alguns museus ao redor do globo<br />

ou por quem visita o Museu Van<br />

Gogh em Amsterdã, na Holanda,<br />

que possui a maior coleção do<br />

mundo das obras produzidas por<br />

ele.<br />

Colecionadores ao redor do globo<br />

anseiam pela praticamente impossível<br />

aquisição <strong>de</strong> uma tela original<br />

do pintor impressionista. Por isso,<br />

a Fundação e a Fuji Film da Bélgica<br />

emplacaram um projeto revolucionário:<br />

criar uma coleção <strong>de</strong> réplicas<br />

idênticas às originais e assim nasceu<br />

a Coleção Relievo.<br />

56 | A CAMMINARE


Os Girassóis (1888)<br />

A CAMMINARE | 57


A coleção possui uma edição limitada<br />

<strong>de</strong> 260 reproduções tridimensionais<br />

<strong>de</strong> nove obras primas <strong>de</strong><br />

Van Gogh e foi produzida por meio<br />

do empréstimo dos originais <strong>de</strong><br />

Van Gogh pelo Museu à FujiFilm,<br />

que <strong>de</strong>senvolveu uma tecnologia<br />

<strong>de</strong> escaneamento tridimensional<br />

e impressão em alta resolução <strong>de</strong><br />

suas pinturas mais famosas.<br />

Na produção das telas houve uma<br />

preocupação especial com o tamanho,<br />

cor, brilho e textura das obras.<br />

Todos esses aspectos foram reproduzidos<br />

com precisão e atenção<br />

aos mínimos <strong>de</strong>talhes. A parte <strong>de</strong><br />

trás dos quadros recebeu moldura<br />

especial e numeração controlada<br />

do museu. Uma caixa <strong>de</strong>luxe feita à<br />

mão guarda cada Relievo, acompanhado<br />

<strong>de</strong> certificado oficial e informações<br />

sobre a obra original.<br />

O Museu e a Fuji também agregaram<br />

valor social ao projeto. A<br />

coleção está exposta no Museu Van<br />

Gogh etambém viaja o mundo propondo<br />

novas experiências com fins<br />

educativos e <strong>de</strong> inclusão, entre eles<br />

a opotunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> permitir crianças<br />

e <strong>de</strong>ficientes visuais tocarem<br />

as telas para sentir as vibrantes<br />

pinceladas.<br />

Van Gogh sempre <strong>de</strong>sejou que as<br />

suas obras fossem acessíveis a<br />

todas as pessoas¸ expressado em<br />

carta enviada ao irmão Theo em<br />

03 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1882: “Espero<br />

que você consi<strong>de</strong>re um dia aquilo<br />

que escrevi em minha última carta<br />

sobre planos <strong>de</strong> fazer impressões<br />

para as pessoas. Não tenho planos<br />

fixos sobre isso ainda… mas não<br />

duvido da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer<br />

algo assim, nem <strong>de</strong> sua utilida<strong>de</strong>.<br />

Também não posso duvidar que<br />

encontraremos pessoas cujos corações<br />

estariam voltados para elas.<br />

Enfim, acredito que po<strong>de</strong>ríamos<br />

fazê-lo <strong>de</strong> tal maneira que ninguém<br />

precisaria se arrepen<strong>de</strong>r por ter<br />

participado.”<br />

Entre as obras da coleção estão<br />

Os Girassóis (1888), Amendoeira<br />

em Flor (1890), A Colheita (1888),<br />

Campo <strong>de</strong> Trigo sob um Céu <strong>de</strong><br />

Tempesta<strong>de</strong> (1890), Boulevard <strong>de</strong><br />

Clichy (1887), Barcos <strong>de</strong> Saintes-<br />

Maries (1888), O Quarto (1888),<br />

Paisagem no Crepúsculo (1890) e<br />

Barcos <strong>de</strong> Pesca na Praia (1888).<br />

Interessados na Coleção Relievo<br />

Van Gogh <strong>de</strong>vem contatar o museu<br />

pelo email relievo@vangoghmuseum.nl.<br />

58 | A CAMMINARE


“Eu sinto que não<br />

há nada mais<br />

verda<strong>de</strong>iramente<br />

artístico do que<br />

amar as pessoas”.<br />

_ Van Gogh


Bar Can<strong>de</strong>eiro<br />

60 | A CAMMINARE


ESTÓRIAS DE<br />

BASTIDORES<br />

by<br />

LAÉRCIO ZULU


Bar Can<strong>de</strong>eiro<br />

Foto Angela Manta<br />

Numa entrevista exclusiva,<br />

Zulu me recebeu na sua nova<br />

casa, o Bar Can<strong>de</strong>eiro, inaugurado<br />

no Dia <strong>de</strong> Iemanjá em<br />

2 <strong>de</strong> fevereiro passado. Entre<br />

um Banzeiro, uma Maria Bonita<br />

e um Eita baiana!, todos<br />

drinks autorais <strong>de</strong> Zulu com<br />

ingredientes brasileiros preparados<br />

por ele, falou <strong>de</strong> sua<br />

carreira como barten<strong>de</strong>r até<br />

os dias <strong>de</strong> hoje, agora sócio<br />

-proprietário do Can<strong>de</strong>eiro,<br />

bar-restaurante brasileiro<br />

do Grupo Antonietta em São<br />

Paulo, que eleva a<br />

cachaça para a posição <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque<br />

no menu <strong>de</strong> bebidas.<br />

“A cachaça é nossa bebida nacional,<br />

temos empresas sérias<br />

<strong>de</strong>senvolvendo produtos excelentes,<br />

<strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> ímpar, e trago<br />

todas elas para o Can<strong>de</strong>eiro.<br />

Conheço a origem da matéria<br />

-prima, as <strong>de</strong>stilarias e o processo<br />

até o produto final. Assim,<br />

garanto que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início da<br />

ca<strong>de</strong>ia há pessoas profissionais<br />

envolvidas, respeitando os trabalhadores<br />

e o meio ambiente”,<br />

revela Zulu.<br />

62 | A CAMMINARE


AC: Como o Zulu <strong>de</strong>fine o<br />

Can<strong>de</strong>eiro?<br />

LZ: Minha casa, um lugar para<br />

você se sentir à vonta<strong>de</strong>, relaxar e<br />

bater papo até cansar, on<strong>de</strong> recebo<br />

novos e velhos amigos que trazem a<br />

família sem pressa para ir embora.<br />

Servimos comidinhas caseiras bem<br />

elaboradas, valorizando nossas raízes<br />

brasileiras.<br />

AC: Você <strong>de</strong>u pitaco na escolha<br />

do cardápio <strong>de</strong> petiscos e<br />

comidinhas?<br />

LZ: Lá na cozinha eu não dou palpite,<br />

mas em casa <strong>de</strong> baiano não<br />

po<strong>de</strong> faltar acarajé! O Milton Freitas,<br />

meu sócio e o restaurateur por trás<br />

do Grupo Antonnieta, é muito criterioso<br />

na escolha dos fornecedores.<br />

Assim como eu só uso cachaças <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>stilarias em que confio, buscamos<br />

sempre produtores locais que<br />

entregam ingredientes <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />

e respeitam o meio ambiente e os<br />

funcionários.<br />

AC: Me conta um segredo que<br />

rola no meio dos melhores<br />

barten<strong>de</strong>rs.<br />

LZ: Sabe o Fernet, um digestivo<br />

famoso? Na Europa a marca tem<br />

um engajamento muito bacana com<br />

profissionais <strong>de</strong> bar e coquetelaria.<br />

Todo barten<strong>de</strong>r gosta do Fernet. Ele<br />

tem um coletivo, em que eles escolhem<br />

os melhores países on<strong>de</strong> estão<br />

os barten<strong>de</strong>rs <strong>de</strong> expressão e imprimem<br />

uma moeda, uma Fernet coin,<br />

que é um <strong>de</strong>safio.<br />

O barten<strong>de</strong>r que tem essa moeda<br />

chega num bar engajado com a<br />

coquetelaria, bate a moeda e a<br />

empurra no balcão e se o barten<strong>de</strong>r<br />

do outro lado não tem outra, ele<br />

paga um shot <strong>de</strong> Fernet. Eu fiz isso<br />

no Employees Only em Nova York,<br />

Foto Can<strong>de</strong>eiro<br />

Maria Bonita, drink autoral <strong>de</strong> Zulu<br />

A CAMMINARE | 63


Fotos Angela Manta<br />

Bar Can<strong>de</strong>eiro<br />

só coloquei a moeda em cima do<br />

balcão, o barman olhou pra mim<br />

e falou “ahhhhhhrg, não tenho”.<br />

Aí ele serviu três shots, um pra<br />

mim, um pra ele e um para o<br />

colega que estava do nosso lado.<br />

AC: Quais estórias <strong>de</strong> bar<br />

marcaram suas viagens?<br />

LZ: Uma foi o dia em que visitei<br />

o American Bar no The Savoy<br />

em Londres, o bar mais icônico<br />

do mundo, referência para os<br />

barten<strong>de</strong>rs. Bono Vox do U2<br />

estava sentado ao meu lado<br />

e quem me avisou foi o barman,<br />

Erik Lorincz, outra lenda,<br />

eleito o melhor barten<strong>de</strong>r do<br />

mundo naquele ano pelo 2 o ano<br />

consecutivo.<br />

Eu estava apaixonado pelo bar,<br />

feliz em estar com Erik que saiu<br />

<strong>de</strong> trás do balcão para me cumprimentar,<br />

encantado com toda a<br />

história do Savoy e do ambiente,<br />

e eu estava lá, tomando meus<br />

coquetéis, quando ele me perguntou<br />

se eu sabia quem estava<br />

ao meu lado. Eu nem tinha prestado<br />

atenção e só pensei “que<br />

beleza”.<br />

Leia aqui quais bares ao redor<br />

do mundo Zulu recomenda.<br />

64 | A CAMMINARE


As possibilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> envelhecimento<br />

em ma<strong>de</strong>iras nativas<br />

e o processo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>stilação da cachaça<br />

surpreen<strong>de</strong>m, é uma<br />

arte fascinante.<br />

_ Laércio Zulu


<strong>Gastronomia</strong> no Pará<br />

O voo alto da<br />

gastronomia<br />

paraense e dos<br />

ingredientes<br />

amazônicos<br />

Texto e fotos Thiago Ramos<br />

66 | A CAMMINARE


Há 403 anos, Belém, capital do<br />

Pará, nascia com o objetivo <strong>de</strong><br />

proteger a floresta amazônica<br />

e agora abre as suas fronteiras<br />

para o mundo por meio da cozinha.<br />

Comemorou conquistas,<br />

como o título “Cida<strong>de</strong> Criativa<br />

na <strong>Gastronomia</strong>”, concedido pela<br />

Unesco em 2015 e, no ano seguinte,<br />

foi eleita como a preferida dos turistas<br />

estrangeiros, com 99,2% <strong>de</strong><br />

aprovação no quesito gastronomia,<br />

enquanto a média do país ficou em<br />

95,4%, em pesquisa realizada pelo<br />

Ministério do Turismo.<br />

A cida<strong>de</strong> abriga o emblemático Vero-Peso,<br />

maior feira livre da América<br />

Latina, querido pelos Chefs <strong>de</strong> todos<br />

os continentes, <strong>de</strong>vido à pluralida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> ingredientes, serviços e expressões<br />

culturais – como o aglomerado<br />

<strong>de</strong> barracas <strong>de</strong> ervas medicinais<br />

e quiosques que servem uma das<br />

mais preciosas combinações dos<br />

paraenses: o peixe com açaí.<br />

Vivemos um momento <strong>de</strong> alta na<br />

gastronomia no Brasil, nunca a<br />

população esteve tão interessada e<br />

envolvida com o tema. Programas<br />

<strong>de</strong> TV, eventos e feiras transformaram<br />

chefs em celebrida<strong>de</strong>s e aproximaram<br />

os restaurantes gastronômicos<br />

do público.<br />

Buscando diversida<strong>de</strong> para as suas<br />

cozinhas, muitos chefs trouxeram<br />

para os restaurantes ingredientes<br />

amazônicos para inovar suas entregas.<br />

Vemos, nas outras gran<strong>de</strong>s<br />

capitais do país, chefs inserindo<br />

pitadas da Amazônia em seus pratos,<br />

como é o caso <strong>de</strong> Alex Atala,<br />

proprietário do D.O.M. em São<br />

Paulo, <strong>de</strong>tentor <strong>de</strong> duas estrelas<br />

no mais respeitado guia <strong>de</strong> hotéis<br />

e restaurantes do mundo, o Guia<br />

Michelin.<br />

Atala faz pratos como o “Pirarucu<br />

com tucupi e tapioca”, que acompanha<br />

purê <strong>de</strong> banana e aviú (micro<br />

Desembarque <strong>de</strong> mercadorias em Belém<br />

A CAMMINARE | 67


camarão <strong>de</strong>w água doce). Ainda na<br />

mesma capital, o barten<strong>de</strong>r Laercio<br />

Zulu, do novo bar Can<strong>de</strong>eiro, emplacou<br />

a vitória no mais importante<br />

campeonato <strong>de</strong> coquetelaria do<br />

mundo, o World Class, com a ajuda<br />

do coquetel “Piladinho - cupuaçu e<br />

melado <strong>de</strong> abaetetuba e cachaça”.<br />

Saindo <strong>de</strong> São Paulo e pegando a<br />

rodovia Dutra, no Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

Felipe Bronze, do ORO, também<br />

duas estrelas Michelin, diversas<br />

vezes gelificou o tucupi com nitrogênio<br />

líquido.<br />

Como dizia o gran<strong>de</strong> chef Paulo<br />

Martins, falecido em 2010: “… um<br />

dia, o tucupi será o shoyu do século<br />

XXI”. Paulo foi um dos principais<br />

divulgadores da cozinha paraense<br />

para o mundo e seu trabalho ainda<br />

permanece vivo graças ao Instituto<br />

Paulo Martins, projeto capitaneado<br />

hoje por sua família. Daniela, Joanna<br />

e Tânia Martins fazem eventos como<br />

o “Ver-o-Peso da Cozinha Paraense”,<br />

que <strong>de</strong>sperta o olhar do mundo para<br />

Belém.<br />

Embora nem todo paraense aprove<br />

as releituras <strong>de</strong> pratos típicos e<br />

ingredientes amazônicos, todos<br />

precisam concordar que esse movimento<br />

na gastronomia ajuda a divulgar<br />

a cultura do estado, pois essa é<br />

uma das formas <strong>de</strong> atrair pessoas<br />

através do turismo e assim, conhecerem<br />

as raízes. É o momento <strong>de</strong><br />

levantarmos ainda mais os serviços<br />

prestados aos visitantes e projetar<br />

o Pará como <strong>de</strong>stino, seja pela história,<br />

pela arquitetura, pela música<br />

e claro, pela sua cozinha com miscigenação<br />

indígena, africana e<br />

portuguesa.<br />

Thiago Ramos é especialista em<br />

Alimentos e Bebidas, MBA em<br />

Marketing, Gerente Geral do Grupo<br />

Antonietta, Pós Graduado em Gestão<br />

em Negócios <strong>de</strong> Alimentação e em<br />

Gestão em meios <strong>de</strong> hospedagem<br />

pelo Senac São Paulo.<br />

68 | A CAMMINARE


“… um dia, o tucupi será o<br />

shoyu do século XXI”.<br />

_ Chef Paulo Martins


A Cachaça e o Requinte<br />

A Cachaça<br />

e<br />

o Requinte<br />

70 | A CAMMINARE


Produto 100% brasileiro, <strong>de</strong> exportação.<br />

O líquido <strong>de</strong>stilado a partir do<br />

Mosto da Cana-<strong>de</strong>-açúcar é nascido<br />

e criado em nosso Brasil. A cachaça<br />

po<strong>de</strong> ser branca ou envelhecida em<br />

barris <strong>de</strong> Amburana, Amendoeira,<br />

Bálsamo, Carvalho entre muitos<br />

outros. Inúmeros aromas, inúmeras<br />

sensações e uma nova experiência a<br />

cada gole. Em Bruxelas, no ano <strong>de</strong><br />

2013, diante <strong>de</strong> bebidas do mundo<br />

inteiro, a cachaça pela primeira vez<br />

foi consi<strong>de</strong>rada o melhor <strong>de</strong>stilado<br />

do mundo, entretanto como é a<br />

experiência <strong>de</strong> pedir uma cachaça<br />

no Brasil?<br />

Ainda vivemos o estigma do cachaceiro,<br />

da ressaca, do bebum, do<br />

pé <strong>de</strong> cana entre outras inúmeras<br />

expressões conotativas, mas que<br />

na verda<strong>de</strong> <strong>de</strong>veriam ser um elogio.<br />

Temos em mãos, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> muitos<br />

anos <strong>de</strong> experiência e estudo, o<br />

know-how da plantação, do corte,<br />

da alambicagem <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> e<br />

contamos com um ambiente perfeito<br />

para cultivação da Cana <strong>de</strong> açúcar.<br />

Por parte dos produtores, há um<br />

trabalho árduo e constante em<br />

busca <strong>de</strong> melhorias para oferecer<br />

um produto que seja <strong>de</strong> primeira,<br />

mas que seja como a Cachaça<br />

<strong>de</strong>ve ser: alegre, <strong>de</strong>mocrática, que<br />

caiba em todos os bolsos e atenda<br />

aos diferentes gostos <strong>de</strong> seus<br />

apreciadores.<br />

Nossa missão como apreciadores<br />

e fãs da cachaça é mostrar como<br />

beber cachaça não tem nada a ver<br />

com embriaguez e sim com a verda<strong>de</strong>ira<br />

experiência única que nos traz<br />

sensações diferentes em cada ponto<br />

<strong>de</strong> nossa língua.<br />

Como em diversos países, o <strong>de</strong>stilado<br />

local acaba sendo produzido <strong>de</strong><br />

inúmeras formas diferentes e a preços<br />

variados sem levar em consi<strong>de</strong>ração<br />

toda sua qualida<strong>de</strong> e história.<br />

A CAMMINARE | 71


O potencial da cachaça <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />

vem crescendo nos últimos anos<br />

com o trabalho duro e cuidados <strong>de</strong><br />

alambiques que prezam por nossa<br />

história e cultura. A “marvada” ou<br />

“aquela que matou o guarda”, ao<br />

contrário do que essas expressões<br />

dizem, tem um valor cultural e histórico<br />

que não se po<strong>de</strong> questionar.<br />

A cachaça já é vista e apreciada<br />

no mesmo patamar <strong>de</strong> importantes<br />

<strong>de</strong>stilados internacionais, como<br />

o Gin na Inglaterra, o Uísque na<br />

Escócia, a Tequila no México e a<br />

Vodka na Rússia. Temos em mãos<br />

um produto <strong>de</strong> puro requinte e que<br />

po<strong>de</strong> ser apreciado <strong>de</strong> várias maneiras.<br />

Além <strong>de</strong> todas varieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

envelhecimento, aromas e notas a<br />

cachaça tem um incrível Drinkability<br />

e quando cai nas mãos <strong>de</strong> um bom<br />

barten<strong>de</strong>r e Mixologista, boom!<br />

Temos um drink incrivelmente gostoso<br />

e apresentável.<br />

Os alambiques estão num importante<br />

movimento em busca <strong>de</strong><br />

excelência e qualida<strong>de</strong> que mostra<br />

a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> vencedora <strong>de</strong> um <strong>de</strong>stilado<br />

tão saboroso. Des<strong>de</strong> o plantio<br />

da cana, o cuidado com o solo, a<br />

qualida<strong>de</strong> do alambique, a apresentação<br />

do produto, a Cachaça aos<br />

poucos está chegando ao seu lugar<br />

como um produto histórico e <strong>de</strong><br />

requinte.<br />

Fica aqui meu convite ao mundo<br />

da Cachaça, entre e explore todas<br />

as possibilida<strong>de</strong>s que ela po<strong>de</strong> lhe<br />

oferecer.<br />

Por Fábio Médici Neto, apreciador e<br />

amante da boa cachaça<br />

Fotos: Fazenda da Quinta<br />

72 | A CAMMINARE


Temos em mãos um<br />

produto <strong>de</strong> puro<br />

requinte e que po<strong>de</strong><br />

ser apreciado <strong>de</strong><br />

várias maneiras.<br />

_ Fábio Médici Neto


Paranapiacaba, suas vidas<br />

74 | A CAMMINARE


Paranapiacaba,<br />

suas vidas<br />

Por <strong>Ed</strong>uardo Pin<br />

Fotos Angela Manta<br />

A CAMMINARE | 75


A existência tão somente do espaço<br />

físico não é condição suficiente para<br />

a consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> um “lugar especial”.<br />

Se o espaço é moldado pelo<br />

homem, seja em sua ação transformadora<br />

ou em sua produção valorativa<br />

e significadora, não existe patrimônio<br />

sem humanida<strong>de</strong>. E somente<br />

na relação do homem com o espaço<br />

é que se constroem aspectos como<br />

os <strong>de</strong> territorialida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

e <strong>de</strong> pertencimento.<br />

O que <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> dá sentido a um<br />

lugar é o conjunto <strong>de</strong> significados,<br />

simbólicos ou não, que a cultura<br />

local imprimiu e continuará imprimindo<br />

ao espaço, e é isso que leva<br />

o outro também a sentir, a partir<br />

<strong>de</strong> seus próprios valores, o lugar ao<br />

qual visita, produzindo uma percepção,<br />

talvez nova, mas sempre dinâmica,<br />

legitimamente humana.<br />

No caso da Vila <strong>de</strong> Paranapiacaba,<br />

no distrito <strong>de</strong> Santo André, interior<br />

<strong>de</strong> São Paulo, a formação <strong>de</strong> uma<br />

classe trabalhadora é o primeiro<br />

traço <strong>de</strong> um patrimônio humano<br />

local. A Estrada <strong>de</strong> Ferro Santos a<br />

Jundiaí foi pioneira na criação <strong>de</strong> um<br />

operariado até então <strong>de</strong>sconhecido<br />

entre nós.<br />

A São Paulo Railway Company não<br />

só revolucionou os meios <strong>de</strong> transporte,<br />

mas também as relações<br />

sociais e <strong>de</strong> trabalho.<br />

Tal empreendimento, dito “faraônico”<br />

para a época, foi capaz <strong>de</strong> criar, no<br />

Alto da Serra do Mar — em lugar<br />

remoto, quase inacessível —, uma<br />

socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um<br />

Brasil ainda escravista, <strong>de</strong> economia<br />

baseada no extrativismo e na monocultura<br />

agrária.<br />

Nesse pequeno universo, o vapor, o<br />

ferro, o carvão mineral, toda a sorte<br />

<strong>de</strong> materiais importados e elementos<br />

pré-fabricados, e ainda o trabalho<br />

livre, assalariado, imigrante, tudo foi<br />

organizado num regime <strong>de</strong> especia-<br />

76 | A CAMMINARE


lização e hierarquia, consolidando a<br />

primeira cida<strong>de</strong>-empresa no Brasil,<br />

antecessora <strong>de</strong> qualquer outra.<br />

Em Paranapiacaba, a partir <strong>de</strong> 1867,<br />

<strong>de</strong>sponta um país diferente, uma<br />

socieda<strong>de</strong> que vivia a Revolução<br />

Industrial — só que nos trópicos, à<br />

época do Império... Se o trinômio<br />

do <strong>de</strong>senvolvimento econômico e<br />

social do Estado foi o café, a ferrovia<br />

e a imigração, a Vila é testemunho<br />

absoluto das transformações<br />

que <strong>de</strong>terminaram a construção <strong>de</strong><br />

um Brasil mo<strong>de</strong>rno.<br />

A exigência <strong>de</strong> uma mão <strong>de</strong> obra<br />

mais qualificada para a operação<br />

da ferrovia levou, inicialmente, à<br />

contratação <strong>de</strong> trabalhadores vindos<br />

da Europa, o que fortaleceu o<br />

sentimento <strong>de</strong> coletivida<strong>de</strong>; porém,<br />

a necessária dissolução <strong>de</strong> certos<br />

patriotismos <strong>de</strong> origem fez surgir<br />

um dos traços formadores do caráter<br />

<strong>de</strong>sse peculiar operariado, a<br />

sensação <strong>de</strong> pertencer à ferrovia,<br />

<strong>de</strong> ser um “cidadão ferroviário”. O<br />

mesmo fenômeno irá se repetir, a<br />

partir dos anos <strong>de</strong> 1930, quando<br />

da contratação <strong>de</strong> migrantes, sobre<br />

tudo mineiros e baianos, pela<br />

Companhia.<br />

A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> territorialida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse pertencimento<br />

se estendia para muito<br />

além da Vila, da estação ou das oficinas,<br />

e abrangia os 139 quilômetros<br />

—entre Santos e Luz, Luz e Jundiaí<br />

— da Estrada <strong>de</strong> Ferro. Trabalhar na<br />

Companhia era sempre o elemento<br />

i<strong>de</strong>ntitário mais forte.<br />

Tamanha “cidadania ferroviária”<br />

consolidou-se também pelos aspectos<br />

distintivos <strong>de</strong>sse operário assalariado,<br />

com remuneração periódica,<br />

benefícios trabalhistas extensivos à<br />

família, além do emprego que, por si<br />

só, era signo <strong>de</strong> qualificação e, portanto,<br />

<strong>de</strong> notorieda<strong>de</strong>.<br />

O orgulho <strong>de</strong> pertencer à ferrovia<br />

como coisa mais organizada e<br />

organizadora da existência dava<br />

ao ferroviário ares <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za, no<br />

A CAMMINARE | 77


sentido mesmo <strong>de</strong> diferenciação<br />

dos <strong>de</strong>mais trabalhadores brasileiros.<br />

Gente <strong>de</strong> ferro, forte e orgulhosa<br />

da sua categoria, sua função<br />

<strong>de</strong> transportar, participar do<br />

“progresso”.<br />

Ser da “Estrada”, trabalhar na<br />

“Inglesa” — como era chamada<br />

a São Paulo Railway —e, mesmo<br />

<strong>de</strong>pois, trabalhar na “Re<strong>de</strong>” permanecia<br />

como i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> repleta <strong>de</strong><br />

glória. Fazer parte da “família ferroviária”<br />

nobilitava o trabalhador<br />

e envernizava as feições operárias<br />

da classe, chegando mesmo a torná-las<br />

obscuras, secundárias.<br />

Na Vila, essa “nobre distinção”<br />

revelava, por um lado, uma a<strong>de</strong>são<br />

alienada à monárquica hierarquia<br />

britânica, assim como camuflava o<br />

sofrimento do trabalho, as adversida<strong>de</strong>s<br />

climáticas da região, o relativo<br />

isolamento da Vila, e a dura<br />

realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se viver no mesmo<br />

local em que se trabalhava, <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong> um complexo ferroviário barulhento,<br />

fumegante, fuliginoso, controlado<br />

por rigorosa vigilância, a<br />

funcionar todos os dias da semana,<br />

com a vida regulada pelo ciclópico<br />

relógio da estação, em estafantes<br />

doze horas <strong>de</strong> jornada.<br />

As condições naturais, o clima,<br />

também moldariam <strong>de</strong>cisivamente<br />

hábitos e costumes em<br />

Paranapiacaba. O sol escasso e a<br />

umida<strong>de</strong> constante ensinam que as<br />

casas <strong>de</strong>vem permanecer fechadas.<br />

A proximida<strong>de</strong> da mata facilitou a<br />

prática extrativista e exploratória<br />

— não propriamente exploradora<br />

— que incorporou à dieta alimentar<br />

da família ferroviária sortimentos<br />

nativos como o cambuci, o araçá e<br />

o palmito, além da carne <strong>de</strong> caça.<br />

78 | A CAMMINARE


A CAMMINARE | 79


80 | A CAMMINARE


Na época da “Inglesa”, tais recursos<br />

eram relativamente abundantes na<br />

Serra do Mar.<br />

Mas, curiosamente, talvez pela rígida<br />

hierarquização com que presença britânica<br />

se impôs na vida brasileira do<br />

trabalho —o que condicionava distanciamentos<br />

interpessoais e <strong>de</strong> classe<br />

— pouco se incorporou dos costumes<br />

e hábitos cotidianos dos administradores.<br />

Na Vila, não se toma o chá<br />

das cinco, mas muito se experimenta<br />

a pinga curtida no cambuci, consi<strong>de</strong>rada<br />

mais eficaz no combate ao frio<br />

úmido dos dias serranos.<br />

O orgulho <strong>de</strong> pertencer à ferrovia foi<br />

trocado atualmente pela empatiacom<br />

o lugar e sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida,<br />

fenômeno frequentemente reforçado<br />

pelo olhar mara- vihado do visitante<br />

que reconhece Paranapiacaba como<br />

especial.<br />

A CAMMINARE | 81


82 | A CAMMINARE


E ainda que, hodiernamente,<br />

a parada <strong>de</strong> trem tenha se<br />

tornado <strong>de</strong>stino turístico e<br />

a dinâmica cida<strong>de</strong> operária,<br />

lugar <strong>de</strong> tranquilida<strong>de</strong><br />

e sossego, o legado ferroviário<br />

não po<strong>de</strong>rá jamais<br />

ser obliterado e permanece<br />

importante, significativo<br />

para Santo André, para São<br />

Paulo,para o Brasil e, quem<br />

sabe, para o mundo.<br />

<strong>Ed</strong>uardo Pin é morador da<br />

Vila<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1997, historiador,<br />

monitor ambiental e cultural,<br />

guia <strong>de</strong> turismo e presi<strong>de</strong>nte da<br />

AMA – Associação <strong>de</strong> Monitores<br />

Ambientais e Culturais <strong>de</strong><br />

Paranapiacaba. Foi membro do<br />

Conselho <strong>de</strong> Representantes <strong>de</strong><br />

Paranapiacaba (2001 a 2008);<br />

do FUNGEPHAAPA (20<strong>02</strong> a<br />

2008); e do COMDEPHAAPASA<br />

(2006 a 2010).<br />

A CAMMINARE | 83


84 | A CAMMINARE


Trabalhar na<br />

“Inglesa” - como<br />

era chamada a<br />

São Paulo Railway<br />

- permanecia<br />

como i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

repleta <strong>de</strong> glória.<br />

_ <strong>Ed</strong>uardo Pin


O pedaço da<br />

África em mim<br />

Com o coração cheio <strong>de</strong> amor, me<br />

<strong>de</strong>spedi da Tanzânia, cada vez<br />

mais convencida do quanto uma<br />

viagem à África ensina, emociona,<br />

renova, transforma. Mostra como<br />

o mundo é bem maior, reforça a<br />

nossa conexão, relembra a força<br />

<strong>de</strong> um sorriso, renova a crença na<br />

generosida<strong>de</strong> e no amor <strong>de</strong> Deus.<br />

Um continente diversificado e<br />

completo, nos seus contrastes em<br />

que a maior riqueza não está nos<br />

bolsos. Bem maior que os tão buscados<br />

Big Five. De povo encantador<br />

e cenários <strong>de</strong>slumbrantes on<strong>de</strong><br />

a vida pulsa em cada canto.<br />

Por Mayra Iguchi, sócia-diretora da HipHotels<br />

Foi lindo admirar as estrelas, <strong>de</strong>scobrir<br />

a “milk way”, ver a incrível<br />

migração, apren<strong>de</strong>r mais sobre a<br />

simbiose da vida, admirar cada<br />

nascer e pôr do sol, cada nova<br />

paisagem, nadar com os golfinhos<br />

no seu ambiente natural, sentir o<br />

carinho e amor <strong>de</strong>sse povo, provar<br />

dos temperos, respirar <strong>de</strong>sse ar e<br />

partir pensando no retorno. E que<br />

seja breve.<br />

Ouvi uma vez que cada um que<br />

visita à África leva um pedaço<br />

<strong>de</strong>la e é esse pedaço que o traz <strong>de</strong><br />

volta. Meu pedaço está com certeza<br />

cada vez maior.<br />

86 | A CAMMINARE


Como os pilotos se preparam para o voo?<br />

Como os pilotos se<br />

preparam para um voo?<br />

Os pilotos <strong>de</strong>vem se preparar antes<br />

<strong>de</strong> sairem para o seu voo com relação<br />

a meteorologia, regras, restrições,<br />

frequências do controle <strong>de</strong><br />

tráfego aeéreo <strong>de</strong> cada área a qual<br />

irá sobrevoar e, principalmente, as<br />

informações do <strong>de</strong>stino e alternativas<br />

em caso <strong>de</strong> não po<strong>de</strong>r pousar<br />

no aeroporto planejado <strong>de</strong> <strong>de</strong>stino<br />

por algum motivo e sempre conhecendo<br />

bem o tipo <strong>de</strong> aeronave a<br />

qual opera, respeitando os limites e<br />

a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> combustível e óleo.<br />

Os pilotos operam tanto por regras<br />

<strong>de</strong> voo Visual (VFR) Visual Flight<br />

Rules ou por regras <strong>de</strong> voo por<br />

Instrumentos (IFR) Instruments<br />

Flight Rules, sobrevoando áreas<br />

operadas por Controle <strong>de</strong> Tráfego<br />

Aereo, seguindo aerovias ou, por<br />

vezes, fora <strong>de</strong>las.<br />

Para o controle <strong>de</strong> tráfego aéreo<br />

manter as aeronaves or<strong>de</strong>nadas e<br />

separadas com segurança e sobre<br />

vigilância, principalmente por<br />

radares, foram criadas Cartas<br />

<strong>de</strong> Radio Navegação. Os pilotos<br />

voam nas aerovias <strong>de</strong>stas cartas<br />

balizadas por equipamentos <strong>de</strong><br />

solo e coor<strong>de</strong>nadas geográficas.<br />

Por isso, a preparação <strong>de</strong>ntro<br />

do cockpit é muito importante,<br />

pois os pilotos das aeronaves<br />

mo<strong>de</strong>rnas precisam inserir uma<br />

gran<strong>de</strong> gama <strong>de</strong> informações nos<br />

computadores <strong>de</strong> bordo e, assim<br />

que nescessário após a <strong>de</strong>colagem,<br />

conectarem o piloto automático<br />

para que a aeronave siga<br />

por meio <strong>de</strong> seus computadores<br />

toda a navegação aérea inserida<br />

pelos pilotos. Assim, perfazemos<br />

um voo com segurança,<br />

precisão, rapi<strong>de</strong>z e economia <strong>de</strong><br />

combustível.<br />

Por Jorge Metran,<br />

Comandante <strong>de</strong> voos internacionais<br />

do Airbus A350


Construindo um sonho com os filhos<br />

Construindo um sonho<br />

com os filhos<br />

Por Daniella Rolim, MBA em gestão <strong>de</strong><br />

negócios e finanças. <strong>Ed</strong>ucadora e planejadora<br />

financeira certificada CFP(c)<br />

As viagens em família são esperadas<br />

durante o ano inteiro. Os filhos<br />

ansiosos pelas férias escolares e<br />

para passar mais tempo com os pais<br />

e se divertir. Este momento po<strong>de</strong> ser<br />

a construção <strong>de</strong> um sonho ou mais<br />

uma simples viagem.<br />

Acontece que as viagens <strong>de</strong>vem ser<br />

programadas com antecedência,<br />

tanto para que se possa economizar<br />

com a compra das passagens<br />

e escolha <strong>de</strong> hospedagens, quanto<br />

para a programação financeira.<br />

Porém algumas vezes os filhos não<br />

colaboram tanto com aquele orçamento<br />

mental que programamos. Ou<br />

por <strong>de</strong>sejarem coisas no período que<br />

antece<strong>de</strong> as viagens ou por pedirem<br />

coisas em excesso. Mas existem formas<br />

eficientes <strong>de</strong> conseguir que os<br />

filhos participem ativamente da programação<br />

das férias e ainda possam<br />

arcar com os <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> consumo<br />

durante a viagem.<br />

Você po<strong>de</strong> até achar que não é tão<br />

importante isso, mas já é uma lição<br />

<strong>de</strong> educação financeira que você<br />

dará para seus filhos.<br />

Vamos lá, uma parte importante é<br />

integrar os filhos no processo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>cisão, ou seja, uma vez que você<br />

já tem um orçamento <strong>de</strong>finido, <strong>de</strong>limite<br />

algumas opções, faça seus<br />

88 | A CAMMINARE


filhos participarem da escolha do<br />

local a ser viajado. Desta forma,<br />

eles acabam sendo parte do processo<br />

e estarão mais cientes <strong>de</strong> que<br />

há um objetivo comum e um orçamento<br />

a ser seguido.<br />

A partir <strong>de</strong>ste momento, foi estabelecida<br />

uma meta familiar: poupar para<br />

essa viagem. Quando você conecta o<br />

ato <strong>de</strong> poupar a uma realização, principalmente<br />

<strong>de</strong> curto prazo, o ato <strong>de</strong><br />

poupar se torna mais interessante. As<br />

respostas negativas aos <strong>de</strong>sejos intermináveis<br />

<strong>de</strong> nossos filhos ou a solicitação<br />

<strong>de</strong> redução no tempo do banho,<br />

apagar a luz quando sair <strong>de</strong> um<br />

cômodo, entre tantos outros pedidos<br />

para que se gaste com mo<strong>de</strong>ração,<br />

passam a ter uma nova linguagem,<br />

pois ao invés <strong>de</strong> serem os pais chatos,<br />

vocês passarão a direcionar o dinheiro<br />

economizado para a viagem.<br />

As crianças ten<strong>de</strong>m a ser mais lúdicas,<br />

então vocês po<strong>de</strong>m criar um<br />

cofre em casa, assim todo o dinheiro<br />

economizado po<strong>de</strong> ser guardado<br />

nele. Esse montante po<strong>de</strong> ser o que<br />

vai garantir as compras dos filhos<br />

durante a viagem, ou até mesmo as<br />

<strong>de</strong>spesas extraordinárias.<br />

Brinquem com seus filhos atrelando<br />

recompensas à economia proposta,<br />

pergunte a eles quais os seus<br />

sonhos ou <strong>de</strong>sejos, não só para essa<br />

viagem, mas para o dia-a-dia. Eles<br />

po<strong>de</strong>m, inclusive, apren<strong>de</strong>r a direcionar<br />

parte da mesada ou dinheiro<br />

que ganharem <strong>de</strong> familiares para<br />

esses sonhos.<br />

Realizando o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> viajar, vocês<br />

ainda po<strong>de</strong>m dar valiosas lições <strong>de</strong><br />

educação financeira que seus filhos<br />

levarão por toda a vida.<br />

Acredito que o recado mais importante<br />

<strong>de</strong> tudo isso é o quanto faz<br />

diferença este momento ser curtido<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, em conjunto,<br />

sonhando junto, pesquisando<br />

junto, poupando junto e realizando<br />

um sonho que foi construído<br />

em equipe.<br />

A CAMMINARE | 89


O que Langkawi me ensinou<br />

O que Langkawi me ensinou<br />

baía há 8 mil anos. Ela funcionou<br />

como uma gran<strong>de</strong> muralha, recebendo<br />

toda a força das gigantescas<br />

ondas, tal qual o pai que se agiganta<br />

abrindo os braços para salvaguardar<br />

seus filhos. A praia ficou<br />

intacta, mas 90% do recife foram<br />

<strong>de</strong>struídos.<br />

Engajado em pesquisa, disseminação<br />

e práticas sustentáveis, o hotel<br />

<strong>de</strong>senvolve projetos <strong>de</strong> conservação<br />

e conscientização ambiental, com<br />

uma equipe <strong>de</strong> biólogos e alunos<br />

universitários, que interagem com<br />

hóspe<strong>de</strong>s em tours pela proprieda<strong>de</strong><br />

para conhecer a flora e a fauna<br />

malaia.<br />

Aninhado entre centenárias árvores<br />

da floresta tropical e uma praia<br />

idílica na tranquila Baía Datay em<br />

Langkawi, ilha no noroeste da<br />

Malásia, The Andaman Resort abre<br />

uma janela para a história, a cultura<br />

e a vida selvagem malaia. Da arquitetura<br />

tradicional à <strong>de</strong>coração indígena,<br />

da gastronomia com sabores<br />

e rituais locais aos tratamentos com<br />

ervas nativas no SPA, ali o hóspe<strong>de</strong><br />

inspira e respira a integração entre<br />

corpo, mente e o entorno, como<br />

faziam os ancestrais da região.<br />

Esta sintonia foi posta à prova em<br />

2004, quando o tsunami que assolou<br />

diversas praias da costa asiáticateria<br />

<strong>de</strong>struído o hotel, não fosse<br />

a barreira <strong>de</strong> corais que protege a<br />

Um <strong>de</strong>sses projetos é o berçário <strong>de</strong><br />

corais, que replanta colônias em<br />

pedras calcárias maiores e, quando<br />

atingem a maturida<strong>de</strong>, são transferidas<br />

para o mar, recompondo o<br />

recife, num trabalho <strong>de</strong> formiguinha<br />

que levará anos.<br />

Um dos momentos mais marcantes<br />

do meu sabático foi aqui. Hóspe<strong>de</strong>s<br />

adultos e crianças são convidados a<br />

participar <strong>de</strong>ste esforço, plantando<br />

seu próprio coral bebê. Me emocionei<br />

ao fazer parte da reconstrução<br />

<strong>de</strong>ste pedacinho <strong>de</strong> paraíso, ao colar<br />

seres vivos tão pequeninos e <strong>de</strong>licados<br />

que unidos se tornam uma<br />

fortaleza intransponível.<br />

Ficou a lição <strong>de</strong> que juntos somos<br />

mais fortes, que a paciência e o<br />

tempo constroem alicerces sólidos<br />

e que toda e qualquer ação em prol<br />

do bem é grandiosa e generosa.<br />

Adriana Lage agora quer replantar os corais<br />

no mundo.<br />

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