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<strong>ED</strong>ITORIAL por: Ivan Roberto Peroni Está chegando um projeto salvador para a reabrir a nossa Beneficência Portuguesa Ao completar 103 anos de fundação em <strong>2017</strong>, a Beneficência Portuguesa de Araraquara sofreu em março mais uma das suas desilusões, motivada pelo desencontro de informações e atitudes isoladas que conspiram contra os princípios de uma instituição centenária. Entre o desenrolar de um projeto motivado por uma empresa chamada Gestal e um interessado em colocar o carro na frente dos bois, estavam cerca de três mil trabalhadores enfileirados pelas ruas da cidade, buscando emprego em um momento de tristeza e solidão para a economia brasileira. No domingo, 12 de março, ao folhear O Imparcial e ver a manchete “João Batista da Silva: o homem que vai reabrir a Beneficência”, sentí que os ventos vindos do norte finalmente sopravam favoravelmente para solucionar uma das mais dramáticas crises de ordem econômica e social já observadas nos últimos 10 anos em Araraquara. Parafraseando, ou então, mantendo o sentido original do discurso e carreira de Sassá Mutema, imaginei estar diante do “Salvador da Pátria”, mesmo que ele tenha dito ao jornal: “Ainda não somos oficialmente os novos responsáveis pelo hospital, mas posso afirmar que dificilmente esse negócio não ocorra”. De fato. Um ou dois dias depois das declarações, a Beneficência Portuguesa abriu suas portas para receber mais de 3 mil pessoas interessadas em entregar currículos e ver no fim do túnel uma luz a iluminar seus novos caminhos. Mergulhados num sol senegalesco e o calor de 35 graus Celsius, homens e mulheres atravessaram horas de espera, buscando compreender em uma simples troca de olhar e palavras, porque estamos num País de 13 milhões de desempregados. Sofrimento a parte, as especulações cruzaram a cidade. Umas dizendo que a Gestal já havia acertado a transferência da presidência com os conselheiros. Outras que a ideia do grupo seria de contratar 350 pessoas para fazer funcionar o hospital. Louve-se a iniciativa da Gestal, que se apresenta na rede social como empresa capacitada a oferecer soluções para gestão hospitalar. No caso em questão, revitalizar a instituição nascida com o sangue e o suor dos portugueses da cidade no início do século 20, até parece louvável, porém, os caminhos por ela (Gestal) implantados para essa retomada não foram os mais adequados, pois suas ações iniciais se transformaram num espetáculo teatral. Se a intenção da empresa é realmente reativar a Beneficência, é evidente também que antes de recolher currículos, seriam quatro os pilares em que a Gestal poderia apresentar publicamente seu projeto salvador e pedir apoio: Ministério Público, Justiça do Trabalho, Prefeitura Municipal e o sindicato que cuida dos interesses dos empregados em empresas de saúde, afinal há pendências em todos estes setores. Ora, se fez isso é sinal que todos estão bem intencionados, então, vamos acreditar que a iniciativa é séria e a ela devemos mobilizar a opinião pública para tornar real o que parece um sonho. O que Araraquara não pode aceitar é que aqui se chegue e se plante esperanças em uma terra que parece não ser de ninguém, afinal, estamos falando de um hospital com mais de 100 anos de vida, de patrimônio invejável, de técnicos de enfermagem, enfermeiras, auxiliares e médicos, que deram a ele, suas próprias vidas, a exemplo dos profissionais de limpeza e administração. Que a Gestal venha, desempenhe seu papel com transparência e sem ferir os sentimentos daqueles que estão necessitados de um emprego. 7