10.10.2019 Views

Edição 7 - Revista Aquaculture Brasil

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

aquaculturebrasil.com<br />

EDIÇÃO<br />

7<br />

JULHO/<br />

AGOSTO<br />

2017<br />

ISSN 2525-3379<br />

1<br />

<strong>Edição</strong> de<br />

aniversário!<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

3


Editorial<br />

C<br />

omemorando o primeiro ano da <strong>Revista</strong> <strong>Aquaculture</strong> <strong>Brasil</strong>, chegou<br />

a vez de abordar brevemente o tema empreendedorismo neste<br />

editorial de aniversário, afinal, não somos uma revista científica sem fins<br />

lucrativos. A <strong>Aquaculture</strong> <strong>Brasil</strong> é uma startup do “AgroTech”, ou melhor,<br />

do “AquaTech”.<br />

Já houve tempos em que no <strong>Brasil</strong> empreender ou ser empresário<br />

era algo mal visto. Embora ainda encontremos algumas pessoas com<br />

preconceitos contra o “empresariado”, hoje isto é muito mais um resquício<br />

ideológico ultrapassado do que qualquer coisa. Novos tempos!<br />

A cultura do empreendedorismo nas universidades também vem<br />

mudando. Há 20 anos atrás não existiam cursos de graduação<br />

voltados à produção (como por exemplo as Engenharias de Pesca,<br />

Aquicultura, Zootecnia, etc.) que tivessem em sua grade curricular uma disciplina que fosse sobre<br />

“Empreendedorismo”. Hoje todos têm!<br />

Segundo o SEBRAE, ao redor do mundo, centenas de universidades já reconheceram o<br />

papel e o poder da educação empreendedora sobre a inovação e o desenvolvimento econômico<br />

dos países. É a vez de o <strong>Brasil</strong> entrar ativamente nesse movimento.<br />

As universidades brasileiras precisam produzir menos pesquisadores e mais empreendedores!<br />

Não quero aqui desmerecer a importância da ciência para a soberania da aquicultura nacional,<br />

para o desenvolvimento do <strong>Brasil</strong>! Afinal de contas, também sou pesquisador! Mas numa sala de<br />

aula com 40 alunos, é preciso ter ali 4 futuros pesquisadores e 36 futuros empreendedores, e não<br />

o contrário!<br />

Mas como promover o empreendedorismo nas Universidades?<br />

Às vezes como professor, ficamos malucos da vida se um acadêmico não souber o que é<br />

uma ANOVA. Mas não entender de fluxo de caixa tudo bem, correto? É muito mais importante que<br />

um profissional da área saiba desenhar uma comporta do que delinear um experimento!<br />

Como sugestão, os estudantes deveriam espelhar-se no trabalho de nosso homenageado<br />

da seção “Eles fazem a diferença”: o Prof. Dr. Wilson Wasielesky, o Mano, Professor Titular da<br />

FURG. O Mano é um dos grandes empreendedores da aquicultura brasileira, e provavelmente ele<br />

não sabe disso!<br />

Empreender significa criar oportunidades, pensar fora da caixa, liderar equipes de alto<br />

desempenho, desenvolver novas tecnologias, contribuir com a melhoria de processos, criar novos<br />

produtos... O Mano, simplesmente, implantou o sistema de bioflocos no <strong>Brasil</strong>!<br />

Precisa dizer mais alguma coisa? Quer maior exemplo de empreendedorismo do que este?<br />

Viva o Mano, viva a FURG e viva o empreendedorismo!<br />

Giovanni Lemos de Mello<br />

Editor<br />

4<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


Fala Gringo!<br />

Estou de volta...<br />

O MAIOR PORTAL DA<br />

AQUICULTURA BRASILEIRA!<br />

Comitê Editorial<br />

“Estou na correria”<br />

Frase atual de todo mundo para justificar<br />

Sua falta de FOCO<br />

Sua hipocrisia<br />

No máximo está na correria porque quer<br />

Por grana ou por ego<br />

Preso duas horas diárias nos grupos de whats app e nas redes<br />

sociais...<br />

Sendo assim, tem que parar de chorar<br />

Eu estou trabalhando<br />

Velejando<br />

Pegando onda<br />

Sem chorar<br />

Quando meus amigos ou colegas ficam largando suas lágrimas<br />

Fico com vontade de lhes mandar passear...<br />

Eu não estou na correria<br />

Eu tenho tempo de ler<br />

A <strong>Aquaculture</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />

EDITOR-CHEFE:<br />

Giovanni Lemos de Mello<br />

redacao@aquaculturebrasil.com<br />

EDITORA EXECUTIVA:<br />

Jéssica Brol<br />

jessica@aquaculturebrasil.com<br />

EDITORES ASSISTENTES:<br />

Alex Augusto Gonçalves<br />

Artur Nishioka Rombenso<br />

Maurício Gustavo Coelho Emerenciano<br />

Roberto Bianchini Derner<br />

Rodolfo Luís Petersen<br />

COLUNISTAS:<br />

Alex Augusto Gonçalves<br />

Andre Muniz Afonso<br />

André Camargo<br />

Artur Nishioka Rombenso<br />

Eduardo Gomes Sanches<br />

Fábio Rosa Sussel<br />

Luís Alejandro Vinatea Arana<br />

Marcelo Roberto Shei<br />

Maurício Gustavo Coelho Emerenciano<br />

Ricardo Vieira Rodrigues<br />

Roberto Bianchini Derner<br />

Rodolfo Luís Petersen<br />

Santiago Benites de Pádua<br />

As colunas assinadas e imagens são de<br />

responsabilidade dos autores.<br />

Instrução aos autores: www.aquaculturebrasil.com/submissao-artigos<br />

Rodolfo Luís Petersen<br />

Coeditor<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

5


Bem-vindo<br />

A<br />

través de um edital de mobilidade acadêmica tive<br />

o imenso prazer de receber meu grande amigo e<br />

colaborador, Dr. Maurício Gustavo Coelho Emerenciano,<br />

pesquisador e professor da Universidade do Estado de<br />

Santa Catarina (UDESC). Foi apenas uma semana de visita em<br />

nosso laboratório de nutrição, mas, com certeza, foi uma das<br />

semanas mais produtivas da minha vida, com direito a palestra,<br />

minicurso, novos projetos de colaboração, novas linhas de<br />

pesquisa, publicações e contato com pesquisadores de diversas<br />

áreas, empresários e órgãos governamentais. Apesar das várias<br />

atividades, ainda tivemos tempo para explorar a região e buscar<br />

as melhores ondas disponíveis! Mas o que quero ressaltar nesse<br />

editorial é a importância desse tipo de intercâmbio. Resumi essa<br />

experiência em quatro pontos: atualização, integração, motivação<br />

e resultados.<br />

A atualização de informação e conhecimento é inevitável e<br />

flui de forma natural quando pessoas apaixonadas pelo que fazem<br />

trabalham no mesmo campo: o compartilhamento é imediato. A<br />

integração consiste na reciclagem de conhecimentos e na troca<br />

de experiências, e isso se torna mais interessante se os profissionais têm backgrounds e áreas de<br />

atuação distintas, propiciando o surgimento de novas ideias. Aqui é importante estar de mente<br />

aberta para aproveitar esses “insights”. Com isso vem a motivação, a vontade de fazer acontecer<br />

e o ânimo para colocar as coisas para andar. Isso pode ser tanto no âmbito intelectual como no<br />

prático. Por fim vêm os resultados, como novos projetos de pesquisa e colaboração, possíveis<br />

intercâmbios para estudantes, reciclagem de ânimos, ampliação da visão intelectual e prática,<br />

entre outros pontos. Pode-se dizer que é uma “win-win situation”, ou seja, todos saem ganhando.<br />

Um de nossos resultados foi um artigo publicado nessa edição descrevendo a aquicultura aqui da<br />

região da Baja Califórnia. E esse será apenas o primeiro de muitos.<br />

Finalmente, quero dizer que já planejamos repetir essa vivência e espero ter compartilhado<br />

um pouco da minha motivação. Mantenha contato com seus estudantes, colegas, colaboradores e<br />

amigos, visite-os ou convide-os para conhecer seu local de trabalho. Compartilhe suas experiências/<br />

conhecimentos.<br />

Aproveito essa energia para parabenizar a <strong>Aquaculture</strong> <strong>Brasil</strong> por um ano de existência e<br />

excelência e agradeço a você leitor por nos apoiar e fazer possível essa iniciativa. Aproveite essa<br />

edição especial!<br />

Artur Nishioka Rombenso<br />

Coeditor<br />

6<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


R<br />

Opinião<br />

Oportunidades!!!<br />

ecentemente estive em<br />

mobilidade acadêmica na<br />

Universidade Autônoma da<br />

Baja Califórnia, em Ensenada,<br />

noroeste mexicano, por convite do<br />

professor e amigo de longa data Artur<br />

Nishioka Rombenso. Isso mesmo, o cara<br />

ali da página ao lado! Aliás, não posso<br />

deixar de agradecer toda hospitalidade<br />

dele e de todo “crew” do Laboratório<br />

de Nutrição e Fisiologia Digestiva de<br />

Organismos Aquáticos. Foram dias de<br />

muito conhecimento e aprendizado<br />

(e um pouco de surf é claro! rsrs). Até<br />

uma pequena aquaponia foi construída<br />

na casa do nosso querido co-editor!<br />

Experiências assim são exemplos de<br />

momentos incríveis que movem nossa<br />

vida profissional e pessoal! Muito<br />

obrigado Artur! Um ponto interessante é que inúmeras Universidades<br />

estrangeiras oferecem oportunidades como esta para pesquisadores<br />

de outros países. Vale sempre ficar de olho nos editais! No fim, todos<br />

ganham!<br />

Entre minicurso e palestras ministrados para o público local,<br />

dedicamos um tempo para conhecer um pouco da aquicultura da<br />

região e seu potencial. E que potencial! Mesmo com problemas de<br />

suprimento de água doce em certos locais (Ensenada é uma região<br />

desértica) sistemas alternativos com trocas mínimas de água como RAS,<br />

BFT e aquaponia cabem como uma luva para enfrentar tais problemas.<br />

Paralelamente a zona costeira é ampla e possui inúmeras baías<br />

protegidas e regiões de estuário. Foi muito bom ver tanta diversidade<br />

e contrastes aquícolas como as fazendas marinhas de atum, olhete,<br />

produção de abalones, entre outros (mas isso é tema para o artigo a<br />

seguir “Sí, se puede!”). Somados a estes, o ponto crucial é a demanda<br />

local imensa devido ao turismo diário de cruzeiros, esportes de aventura,<br />

além do ecoturismo de vinícolas. Com seus passeios para conhecer todo<br />

o processo produtivo do vinho e ótimas degustações, as vinícolas quase<br />

sempre eram acompanhadas de restaurantes do tipo “gourmet”, ávidos<br />

por produtos aquícolas frescos, locais e de qualidade. Ensenada é muito<br />

conhecida pela gastronomia de frutos do mar. Peixes como atum, marlin<br />

e olhete; moluscos como ostras e mexilhões, além de crustáceos como<br />

camarões, lagostas e caranguejos são base da gastronomia local. Para<br />

um cara como eu, literalmente viciado em “Fish Tacos” (típica comida<br />

mexicana a base de diversos frutos do mar) era um prato cheio todos os<br />

dias! Além disso, um “primo rico” (EUA) que fica a poucos quilômetros<br />

dali é também importador por excelência de produtos aquícolas de<br />

todas as partes do mundo. Em resumo, quantas oportunidades!!!!<br />

Maurício Gustavo Coelho Emerenciano<br />

Coeditor<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

O MAIOR PORTAL DA<br />

AQUICULTURA BRASILEIRA!<br />

DIREÇÃO DE ARTE:<br />

Taiane Lacerda<br />

taiane@aquaculturebrasil.com<br />

DIREÇÃO COMERCIAL:<br />

Diego Molinari<br />

diego@aquaculturebrasil.com<br />

COLABORADORES DESTA<br />

EDIÇÃO:<br />

Alex Augusto Gonçalves, Artur<br />

Nishioka Rombenso, Bruno Corrêa<br />

da Silva, Carla Suzy Brito, Cristina de<br />

Almeida Rocha-Barreira, Ellano José<br />

da Silva, Fernando Malamud, Gabriel<br />

Fernandes Alves Jesus, José Luiz<br />

Pedreira Mouriño, Julianna Stephanie<br />

Barbosa da Silva, Luis Alejandro<br />

Vinatea Arana, Maurício Gustavo<br />

Coelho Emerenciano, Maurício<br />

Laterça Martins, Renata Gomes<br />

Bezerra e Thiago Andrade da Silva.<br />

QUER ANUNCIAR?<br />

publicidade@aquaculturebrasil.com<br />

QUER ASSINAR?<br />

aquaculturebrasil.com/assinatura<br />

assinatura@aquaculturebrasil.com<br />

QUER COMPRAR EDIÇÕES<br />

ANTERIORES?<br />

aquaculturebrasil.com/edicoes<br />

NOSSA REVISTA É IMPRESSA NA:<br />

COAN gráfica Ltda./ coan.com.br<br />

Av. Tancredo Neves, 300, Tubarão/<br />

SC, 88.704-700<br />

A revista AQUACULTURE BRASIL<br />

é uma publicação bimestral da<br />

EDITORA AQUACULTURE BRASIL<br />

LTDA ME.<br />

(ISSN 2525-3379)<br />

www.aquaculturebrasil.com<br />

Av. Senador Galotti, 329/503, Mar<br />

Grosso, Laguna/SC, 88.790-000<br />

A AQUACULTURE BRASIL não se<br />

responsabiliza pelo conteúdo dos<br />

anúncios de terceiros.<br />

7


SUMÁRIO<br />

AQUACULTURE BRASIL<br />

10 FOTO DO LEITOR<br />

12 MÉTRICAS DA FANPAGE<br />

14 O avanço da carcinicultura marinha em águas<br />

continentais<br />

20 AERAÇÃO EM AQUICULTURA: PARTE II<br />

»»<br />

p.14<br />

26 Os moluscos bivalves de água doce do <strong>Brasil</strong>:<br />

Potencial ainda não aproveitado pela<br />

aquicultura<br />

»»<br />

p.20<br />

»»<br />

p.32<br />

»»<br />

p.26<br />

32 ÁCIDOS ORGÂNICOS: UMA NOVA FERRAMENTA<br />

NUTRICIONAL PARA A AQUICULTURA<br />

40 ¡Sí, se puede! Aquicultura com espécies<br />

alternativas em Baja Califórnia, México<br />

46 A matemática da aquicultura:<br />

Otimizando a produção aquícola com<br />

auxílio de modelos matemáticos<br />

54 Desenvolvimento de um produto com valor<br />

agregado: nuggets de camarão recheado com<br />

queijo provolone<br />

62 artigos para curtir e compartilhar<br />

63 charGes<br />

64 BIOTECNOLOGIA DE ALGAS<br />

66 GREEN TECHNOLOGIES<br />

67 empreendedorismo aquícola<br />

8<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


»»<br />

p.90<br />

»»<br />

p.84<br />

68 nutrição<br />

70 atualidades e tendências na aquicultura<br />

72 aquicultura de precisão<br />

74 aquicultura latino-americana<br />

75 piscicultura marinha<br />

»»<br />

p.40<br />

76 rECIRCULATING AQUACULTURE SYSTEMS<br />

77 SANIDADE<br />

78 tecnologia do pescado<br />

79 RANICULTURA<br />

80 DEFENDEU<br />

»»<br />

p.46<br />

82 Aquaonline<br />

84 ENTREVISTA - Marcelo toledo<br />

»»<br />

p.54<br />

89 NOVOS LIVROS<br />

90 ELES FAZEM A DIFERENÇA<br />

96 ESPÉCIES AQUÍCOLAS<br />

98 despescou<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

9


FOTO DO LEITOR<br />

Exemplar de Kinguio<br />

(Nova Friburgo, RJ)<br />

Autor: André Medeiros<br />

Fazenda de Camarão<br />

(Acaraú, CE)<br />

Autor: Cassio Silva<br />

Fazenda Limoacqua “Taludes interligados por<br />

comporta de despesca em Y”<br />

(Limoeiro do Norte, CE)<br />

Autor: João Henrique Cavalcante Bezerra<br />

10<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


Piscicultura + Peixe, Vida Saudável<br />

(Ipameri, GO)<br />

Autor: Lazaro Regis Borges<br />

Juvenil de camarão M. Rosembergii,<br />

@triangulodocamarao<br />

(Ribeirão, PE)<br />

Autor: Daniel Cavalcanti<br />

Secagem de ulva sp para fazer farinha<br />

destinada ao consumo humano<br />

(Baja California, México)<br />

Autor: Daniel Correia<br />

Envie suas fotos mostrando a aquicultura no seu dia-a-dia e participe desta seção.<br />

redacao@aquaculturebrasil.com<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

11


.<br />

.<br />

Métricas<br />

Dia do trabalhador<br />

Tem brasileira na<br />

presidência da World<br />

<strong>Aquaculture</strong> Society<br />

01 de maio<br />

13.182 Pessoas alcançadas<br />

9 Comentários<br />

52 Compartilhamentos<br />

688 Curtidas<br />

5 Amei<br />

15 de maio<br />

18.902Pessoas alcançadas<br />

29 Comentários<br />

54 Compartilhamentos<br />

1.170 Curtidas<br />

50 Amei<br />

curta-nos no<br />

facebook:<br />

www.facebook.com/<br />

aquaculturebrasil<br />

02 de maio<br />

16.047 Pessoas alcançadas<br />

11 Comentários<br />

77 Compartilhamentos<br />

550 Curtidas<br />

3 Amei<br />

A Utilização do Metabissulfito<br />

de Sódio como<br />

Conservante na Indústria<br />

do Camarão Cultivado<br />

18 de maio<br />

15.354 Pessoas<br />

alcançadas<br />

15 Comentários<br />

118 Compartilhamentos<br />

350 Curtidas<br />

Peixes importados<br />

sofriam<br />

adulteração em<br />

empresas de Santa<br />

Catarina<br />

12<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


.<br />

da Fanpage<br />

Criadores de tilápias<br />

vacinam<br />

peixes para<br />

reduzir<br />

mortalidade<br />

Desreguladores<br />

endócrinos: uma<br />

nova abordagem em<br />

pesquisas na aquicultura<br />

25 de junho<br />

36.569 Pessoas alcançadas<br />

53 Comentários<br />

192 Compartilhamentos<br />

1.318 Curtidas<br />

21 Amei<br />

11.712 Pessoas<br />

alcançadas<br />

6 Comentários<br />

50 Compartilhamentos<br />

396 Curtidas<br />

5 Amei<br />

29 de junho<br />

20 de maio<br />

37.254 Pessoas<br />

alcançadas<br />

23 Comentários<br />

109 Compartilhamentos<br />

1.459 Curtidas<br />

33 Amei<br />

29 de junho<br />

10.054 Pessoas<br />

alcançadas<br />

23 Comentários<br />

102 Compartilhamentos<br />

500 Curtidas<br />

12 Amei<br />

Lançamento<br />

5° edição<br />

. .<br />

Uma nova era na<br />

aquicultura<br />

mundial está a<br />

caminho<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

13


O avanço da<br />

carcinicultura marinha<br />

em águas continentais<br />

Fernando Malamud<br />

Engenheiro de Aquicultura<br />

Sócio Diretor Aquatropic Aquacultura e Meio Ambiente Ltda<br />

www.aquatropic.com.br<br />

aquatropic@aquatropic.com.br<br />

14<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


Artigo<br />

O avanço das tecnologias<br />

de criação de organismos<br />

aquáticos em sistemas<br />

superintensivos no <strong>Brasil</strong> e<br />

no mundo permite o surgimento<br />

de uma nova modalidade<br />

de cultivo: o cultivo<br />

de organismos aquáticos<br />

marinhos em águas continentais<br />

e distante a alguns<br />

milhares de quilômetros da<br />

costa marítima. Piscicultores<br />

de águas interiores se tornam<br />

cada vez mais interessados<br />

nas boas margens de lucro<br />

que a carcinicultura pode<br />

oferecer. O inverso também<br />

ocorre, muitos carcinicultores<br />

demonstram um profundo interesse<br />

pela piscicultura com o<br />

objetivo de diversificar a produção<br />

e aumentar a biosseguridade<br />

do empreendimento,<br />

aproveitando os benefícios<br />

que o cultivo de peixes pode<br />

trazer à carcinicultura.<br />

Por motivos técnicos<br />

e econômicos, os animais<br />

escolhidos para essa “Globalização<br />

Aquícola” foram a<br />

tilápia (Oreochromis niloticus)<br />

e o camarão branco do<br />

Pacífico (Litopenaeus vannamei),<br />

sendo o primeiro<br />

um organismo naturalmente<br />

dulciaquícola e o segundo<br />

Piscicultores<br />

de águas interiores<br />

se tornam<br />

cada vez mais<br />

interessados nas<br />

boas margens de<br />

lucro que a<br />

carcinicultura pode<br />

oferecer.<br />

um organismo marinho. Entretanto,<br />

ambos com uma<br />

característica em comum, a<br />

possibilidade de cultivo em<br />

águas com diferentes graus<br />

de salinidade, permitindo<br />

a interconexão destes cultivos<br />

tanto em águas marinhas<br />

quanto em águas continentais.<br />

Nos últimos anos,<br />

a produção de camarões<br />

marinhos na região litorânea<br />

do <strong>Brasil</strong> sofre quedas expressivas<br />

devido ao acometimento<br />

por patógenos como vírus<br />

e bactérias, o que diminuiu<br />

a disponibilidade do produto,<br />

ocasionando o aumento<br />

de preço em supermercados,<br />

peixarias e restaurantes. Este<br />

panorama mercadológico<br />

gerou um novo nicho de mercado<br />

em regiões distantes do<br />

litoral, principalmente em<br />

centros consumidores mais<br />

afastados dos polos produtores<br />

de camarão. A principal<br />

demanda deste mercado que<br />

está em plena expansão é por<br />

um produto “premium/gourmet”<br />

de alta qualidade, sendo<br />

fresco ou resfriado, apresentando<br />

alto valor agregado.<br />

© Aquatropic Aquacultura<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

15


O cultivo do Litopenaeus vannamei no interior do<br />

<strong>Brasil</strong><br />

O cultivo do camarão branco do Pacífico<br />

em águas de baixíssima salinidade é uma realidade<br />

em diversas regiões do nordeste brasileiro.<br />

Estas águas dispõem de íons como sódio, cálcio,<br />

magnésio, potássio, cloretos e outros elementos,<br />

indispensáveis para que o processo osmorregulatório<br />

do camarão ocorra, garantindo a sobrevivência<br />

destes animais em águas de até 0,5 ppt.<br />

Entretanto, a maior parte das águas continentais<br />

no <strong>Brasil</strong> apresentam salinidades muito próximas<br />

a 0,0 ppt, não dispondo de concentração iônica<br />

suficiente para que o processo de osmorregulação<br />

ocorra, ocasionando mortalidades<br />

massivas em poucas horas de exposição.<br />

Para tornar possível a produção de camarões<br />

marinhos em águas continentais, é de vital necessidade<br />

a adição de sais balanceados que criam<br />

um gradiente osmótico favorável para a<br />

sobrevivência e crescimento deste organismo.<br />

Devido ao alto custo dos sais balanceados, para<br />

ser viável economicamente este tipo de produção,<br />

o sistema necessita reaproveitar a água de cultivo<br />

durante vários ciclos, garantir uma boa sobrevivência<br />

dos organismos cultivados e permitir<br />

intensificar a produção em espaços reduzidos,<br />

justificando o investimento no sistema. Assim, as<br />

modalidades de cultivo que mais atenderam essas<br />

características foram os sistemas de Bioflocos<br />

(BFT) e Sistema de Recirculação de Água (RAS).<br />

Bioflocos são sistemas mais simples<br />

em termos de equipamentos e assim de menor<br />

investimento em relação aos RAS, entretanto<br />

são mais complexos de serem operados,<br />

promovendo grande quantidade de sólidos que<br />

devem ser monitorados e retirados do cultivo<br />

quando ultrapassam limites pré-estabelecidos.<br />

Já os RAS utilizam unidades filtradoras anexas<br />

ao cultivo que simplificam o manejo, entretanto<br />

necessitam de maior investimento e geram<br />

um custo adicional de manutenção do sistema.<br />

São inúmeras as dúvidas que pairam sobre produtores<br />

na hora de escolherem qual sistema pretendem<br />

implantar, o que precisa ficar claro é que não<br />

há um sistema melhor que o outro, são estratégias<br />

de cultivo diferentes que podem ser utilizadas de<br />

acordo com cada necessidade. Existe uma sinergia<br />

entre estas duas modalidades de cultivo que pode<br />

levar a uma fusão e associação entre ambos os sistemas,<br />

tornando-os mais produtivos e eficientes.<br />

© Aquatropic Aquacultura<br />

16<br />

ARTIGO<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


© Aquatropic Aquacultura<br />

Desafios nos cultivos em águas interiores<br />

Quando se trabalha com cultivos superintensivos,<br />

observam-se picos de compostos nitrogenados<br />

muito acima de cultivos convencionais extensivos ou<br />

semi-intensivos, oriundos das altas taxas de alimentação<br />

e metabólitos dos organismos cultivados. Por<br />

esse motivo, um dos grandes desafios da interiorização<br />

do cultivo do camarão branco do Pacífico foi adequar<br />

o sistema para que essas concentrações de nitrogenados<br />

não ocasionassem mortalidades expressivas<br />

durante o cultivo, e para isso, o caminho encontrado<br />

foi aumentar a salinidade (ideal acima de 8,0 ppt) dos<br />

sistemas a fim de reduzir a toxicidade dos compostos<br />

nitrogenados dando uma maior segurança ao cultivo<br />

como um todo.<br />

Considerando o alto valor dos sais no mercado<br />

brasileiro, a empresa Aquatropic vem desenvolvendo<br />

nos últimos anos diversos trabalhos com a elaboração<br />

de sais iônicos específicos para cada empreendimento,<br />

sendo possível reduzir o custo e aumentar e eficiência<br />

do balanço iônico conforme a realidade de cada<br />

região.<br />

Um dos principais gargalos encontrados<br />

atualmente é a falta de mão de obra capacitada para<br />

operação deste sistema. Por este motivo, a empresa<br />

Aquatropic realiza diversos cursos e capacitações no<br />

<strong>Brasil</strong> com o objetivo de suprir essa demanda. Outros<br />

gargalos como o alto custo de materiais e equipamentos<br />

como geomembrana, estufas, aeradores, bombas<br />

de água de alto desempenho entre outros acabam encarecendo<br />

o investimento nestes sistemas no <strong>Brasil</strong>.<br />

Por outro lado, surgem empresas desenvolvedoras de<br />

tecnologia com objetivos comerciais que poderão suprir<br />

as adversidades que hoje encontramos.<br />

Estados como Goiás, Distrito Federal, Minas<br />

Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro,<br />

Paraná e possivelmente outros, já possuem produtores<br />

de camarões marinhos em águas continentais salinizadas<br />

artificialmente. Estes cultivos são desenvolvidos<br />

em tanques suspensos ou escavados revestidos<br />

com materiais impermeabilizantes e boa parte deles<br />

utilizam estufas para controle térmico. O isolamento<br />

destes cultivos de regiões litorâneas disseminadoras de<br />

patógenos tais como, a Síndrome da Mancha Branca<br />

(WSS), Mionecrose Infecciosa (IMN), Necrose Infec-<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

ARTIGO<br />

17


© Aquatropic Aquacultura<br />

ciosa Hipodermal e Hematopoiética (IHHN) e outros,<br />

tem sido um grande trunfo para alavancar a produção de<br />

camarões marinhos em águas interiores.<br />

A carcinicultura marinha em águas continentais<br />

demanda a necessidade de utilização de sistemas fechados<br />

(BFT e RAS) o que acaba reduzindo significativamente<br />

a probabilidade de contaminação dos cultivos por<br />

doenças. Todavia, sistemas fechados envolvem maior<br />

controle técnico, o que força produtores e funcionários<br />

a se qualificarem para operar o sistema. Desta forma, a<br />

realização de controles constantes de qualidade de água,<br />

utilização de programas nutricionais de alto rendimento<br />

e protocolos de biossegurança, tornam-se hábitos comuns<br />

destes aquicultores. A possibilidade de baixar custos<br />

através da utilização de ferramentas e equipamentos<br />

que automatizam o processo produtivo desperta nestes<br />

empreendedores um grande interesse por tecnologias.<br />

Produções com um baixo grau de tecnificação e controle<br />

produtivo, dificilmente sobreviverão produzindo<br />

camarões marinhos em águas continentais.<br />

Conclusão<br />

Existe um longo caminho a ser trilhado<br />

para consolidação da carcinicultura em águas<br />

continentais. O que percebemos é que a cada dia<br />

que passa, as tecnologias ficam mais acessíveis,<br />

os sistemas se tornam mais eficientes e as dificuldades<br />

diminuem. Enquanto isso, aqui em Goiás,<br />

consumidores aguardam ansiosamente para<br />

comer um “camarão do cerrado com pequi”.<br />

Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/artigos<br />

18<br />

ARTIGO<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

19


© Trevisan<br />

Artigo<br />

20<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


Aeração em<br />

Aquicultura:<br />

Parte II<br />

Luis Alejandro Vinatea Arana<br />

Programa de Pós-Graduação em Aquicultura,<br />

Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC.<br />

Florianópolis – SC.<br />

luis.vinatea@ufsc.br<br />

N<br />

o artigo “Aeração em aquicultura: Parte<br />

I” foi mencionado que o SOTR (Taxa<br />

padrão de transferência de oxigênio) e o<br />

SAE (eficiência padrão de aeração) são os<br />

indicadores pelos quais podemos decidir<br />

sobre qual aerador adquirir dentre as várias<br />

marcas e modelos existentes no mercado.<br />

Foi dito também que,<br />

quanto maior a demanda<br />

de oxigênio<br />

da unidade de cultivo,<br />

maior o número de<br />

aeradores<br />

necessários<br />

para se manter<br />

uma concentração de<br />

oxigênio capaz de garantir<br />

a produtividade.<br />

Do ponto de vista desta<br />

demanda, ou respiração<br />

(mg O 2<br />

/L/h), as<br />

unidades de cultivo<br />

podem ser divididas<br />

em três partes:<br />

1) Coluna de água;<br />

2) Solo;<br />

3) Organismos que estamos cultivando.<br />

De modo geral, no início da produção,<br />

a coluna de água costuma respirar<br />

mais do que o solo, sendo que quando nos<br />

aproximamos da despesca os papeis se invertem,<br />

isto é, o solo passa a respirar mais<br />

do que a água.<br />

Na coluna de água encontramos o<br />

fitoplâncton, encarregado da produção de<br />

oxigênio durante o dia e respectivo consumo<br />

durante a noite.<br />

No solo temos a<br />

matéria orgânica<br />

sedimentada<br />

(fezes, alimento<br />

não consumido,<br />

animais mortos,<br />

etc.), a qual demanda<br />

grandes<br />

quantidades de<br />

oxigênio devido<br />

à forte atividade<br />

microbiana,<br />

própria da decomposição.<br />

Já no que se<br />

refere aos animais<br />

de cultivo,<br />

constatamos<br />

que estes não<br />

respiram mais do que 10% do total do<br />

viveiro. A exceção são os cultivos super-intensivos<br />

(BFT e RAS), onde a demanda de<br />

oxigênio por parte dos animais pode ultrapassar<br />

30%.<br />

De modo geral, no<br />

início da produção, a<br />

coluna de água<br />

costuma respirar<br />

mais do que o solo, sendo<br />

que<br />

quando nos aproximamos<br />

da despesca os papeis<br />

se invertem, isto é,<br />

o solo passa a<br />

respirar mais do que<br />

a água.<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

21


Nos cultivos semi-intensivos e intensivos<br />

os aeradores mecânicos são os encarregados de<br />

manter o oxigênio dissolvido nas concentrações<br />

Tabela 1. Número de aeradores necessário para 1 ha de viveiro em função do SOTR (kg/h) e da respiração<br />

total (mg/L/h), considerando 50% da saturação do oxigênio na madrugada, como mínimo.<br />

SOTR<br />

(kg/h)<br />

Respiração total (mg/L/h)<br />

0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 1,6 1,8<br />

0,50 6,44 12,87 19,31 25,74 32,18 38,61 45,05 51,48 57,92<br />

0,75 4,29 8,58 12,87 17,16 21,45 25,74 30,03 34,32 38,61<br />

1,00 3,22 6,44 9,65 12,87 16,09 19,31 22,52 25,74 28,96<br />

1,25 2,57 5,15 7,72 10,30 12,87 15,44 18,02 20,59 23,17<br />

1,50 2,15 4,29 6,44 8,58 10,73 12,87 15,02 17,16 19,31<br />

1,75 1,84 3,68 5,52 7,35 9,19 11,03 12,87 14,71 16,55<br />

2,00 1,61 3,22 4,83 6,44 8,04 9,65 11,26 12,87 14,48<br />

2,25 1,43 2,86 4,29 5,72 7,15 8,58 10,01 11,44 12,87<br />

2,50 1,29 2,57 3,86 5,15 6,44 7,72 9,01 10,30 11,58<br />

2,75 1,17 2,34 3,51 4,68 5,85 7,02 8,19 9,36 10,53<br />

3,00 1,07 2,15 3,22 4,29 5,36 6,44 7,51 8,58 9,65<br />

3,25 0,99 1,98 2,97 3,96 4,95 5,94 6,93 7,92 8,91<br />

3,50 0,92 1,84 2,76 3,68 4,60 5,52 6,44 7,35 8,27<br />

adequadas. Em termos gerais, a respiração total<br />

(da água e do solo) oscila entre 0,2 a 1,8 mg/L/h.<br />

Na Tabela 1 encontramos o número de aeradores<br />

necessários por hectare de<br />

espelho de água (com 1 m<br />

de profundidade) em função<br />

do SOTR dos aparelhos e da<br />

respiração total do viveiro de<br />

cultivo.<br />

Como pode ser verificado<br />

nesta tabela, o pior cenário<br />

para o nosso bolso seria<br />

termos aeradores com um<br />

SOTR de apenas 0,5 kg/h e<br />

uma respiração total de 1,8<br />

mg/L/h, situação em que<br />

teríamos que ligar 58 aparelhos<br />

por hectare. Muito<br />

diferente do cenário resultante<br />

de um SOTR maior<br />

de 3 kg/h e respiração de<br />

apenas 0,2 mg/L/h, em que<br />

o número de aeradores por<br />

hectare seria de apenas um.<br />

Determinação da respiração do viveiro (solo e coluna de água)<br />

Para determinar a respiração (mg/L/h) vamos<br />

precisar de dois tubos de PVC com diâmetro<br />

suficiente para permitir a entrada da sonda do<br />

oxímetro (Figura 1). Um dos tubos fica em contanto<br />

com o solo (RS - respiração do solo) e o outro isolado<br />

do solo por meio de uma tampa (RA - respiração<br />

da água). Ambos os tubos são preenchidos com a<br />

água do viveiro e o oxigênio inicial (OI) deve ser<br />

registrado. Logo, os tubos são tampados na parte<br />

superior para evitar a entrada de luz. Após o período<br />

de uma hora e meia (t) o oxigênio é medido novamente,<br />

a fim de se registrar o oxigênio final (OF).<br />

Para calcular a respiração aplicamos as seguintes equações:<br />

RA = (OI - OF)/t, onde RA: respiração da água; OI: oxigênio inicial; OF: oxigênio final; t: tempo (1,5 h).<br />

RS = [(OI - OF)/t] - RA, onde RS: respiração do solo.<br />

RT = RA + RF, onde RT: respiração total.<br />

22<br />

ARTIGO<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


© Luis Alejandro Vinatea Arana<br />

Figura 1. Tubos de PVC para determinar a respiração da água e do solo.<br />

A princípio, só um tubo é necessário para determinar<br />

a respiração total do viveiro, o tubo RS, onde<br />

mediríamos ao mesmo tempo a respiração da água e a<br />

respiração do solo. Entretanto, o tubo RA nos ajuda a entender<br />

se a água sozinha respira mais ou respira menos<br />

que o solo.<br />

Caso a coluna de água respire mais do que o<br />

solo, pode ser um indicativo de eutrofização ou excesso<br />

de fitoplâncton. Já na situação em que o solo respira mais<br />

do que a água, pode ser indício de acumulo de matéria<br />

orgânica no fundo, incorporada no solo ou depositada<br />

em cima deste sob a forma de coloide orgânico (Figura<br />

2a).<br />

A fim de se contar com valores de respiração<br />

próximos da realidade, é recomendável trabalhar com<br />

A<br />

três pares de tubos, colocados de tal forma que seja possível<br />

cobrir toda a superfície da unidade de cultivo (perto<br />

da comporta de entrada, no meio do viveiro e perto<br />

da comporta de saída). No caso dos viveiros de camarão<br />

marinho, onde existem valas profundas (empréstimos),<br />

é aconselhável colocar os tubos longe destas áreas. A interferência<br />

provocada pelo coloide orgânico depositado<br />

(Figura 2b) pode nos levar a sobrestimar a respiração.<br />

Tão importante quanto saber o SOTR/SAE dos<br />

aeradores e o número de aparelhos por hectare, é saber<br />

quantas horas os aeradores devem funcionar a cada noite,<br />

período em que a respiração do fitoplâncton pode<br />

chegar a esgotar todo o oxigênio produzido durante a<br />

fotossíntese.<br />

B<br />

© Luis Alejandro Vinatea Arana<br />

Figura 2. Coloide orgânico depositado no fundo de um viveiro de camarão marinho.<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

ARTIGO<br />

23


Determinação do superávit de oxigênio<br />

SOTR<br />

Respiração total (mg/L/h)<br />

Com base na respiração total do viveiro e da<br />

Tão importante quanto<br />

concentração (kg/h) do oxigênio 0,2 registrado 0,4 às 0,617:00 h, 0,8 é possível<br />

calcular o número de horas com superávit de oxigê-<br />

aeradores e o número de<br />

1 1,2 saber 1,4 o 1,6 SOTR/SAE 1,8 dos<br />

nio por 0,50 meio da seguinte 6,44 equação: 12,87 19,31 25,74 32,18 38,61 aparelhos 45,05 51,48 por 57,92 hectare, é<br />

0,75 4,29<br />

saber quantas horas os<br />

HO = SO 8,58 ÷ RT 12,87 17,16 21,45 25,74 30,03 34,32 38,61<br />

aeradores devem<br />

Onde, 1,00 HO: horas com 3,22 oxigênio; 6,44 SO: superávit 9,65 12,87 de oxigê-16,0nio; RT: 1,25 respiração 2,57 total. 5,15 7,72 10,30 12,87 15,44 18,02 20,59 19,31 funcionar 22,52 a cada 25,74 noite. 28,96<br />

23,17<br />

1,50 O superávit 2,15 de oxigênio 4,29 (SO) 6,44 define-se 8,58 como a 10,73 12,87 Em outras 15,02 palavras, 17,16 já que dispomos 19,31 de 8 horas<br />

de superávit de oxigênio, os aeradores precisariam ser<br />

concentração de oxigênio disponível depois de ter sido<br />

1,75 1,84 3,68 5,52 7,35 9,19 ligados 11,03 só à 01:0012,87 h do dia 14,71 seguinte. 16,55<br />

descontado o 50% da saturação. Isto porque, se os peixes Na Tabela 2 encontramos o número de horas<br />

ou camarões 2,00 ficarem 1,61 expostos 3,22 a concentrações 4,83 6,44 menores 8,04 com sobra 9,65 de oxigênio 11,26 em 12,87 função do 14,48 superávit de oxigênio<br />

(mg/L) e da respiração total do viveiro (mg/L/h). Os<br />

de 50% da saturação, podemos perder crescimento e aumentar<br />

2,25 a conversão 1,43 alimentar. 2,86 4,29 5,72 7,15 cálculos 8,58 foram feitos 10,01 considerando 11,44 12,87 uma concentração<br />

Por exemplo, se em determinada água o 100% mínima de 3 mg/L e a última medição do oxigênio dissolvido,<br />

a das 17:00h.<br />

da saturação 2,50 for 6 1,29 mg/L, o 50% 2,57 3 mg/L 3,86 e o oxigênio 5,15 às 6,44 7,72 9,01 10,30 11,58<br />

17:00 h de 9,5 mg/L, o superávit resultante igual a 6,5 Por fim, não custa repetir: o parâmetro mais importante<br />

de qualidade de água em aquicultura é, e sem-<br />

mg/L (9,5 2,75 - 3) e a respiração 1,17 2,34 total do 3,51 viveiro de 4,68 0,8 mg/ 5,85 7,02 8,19 9,36 10,53<br />

L/h, teríamos uma HO (horas com oxigênio) de:<br />

3,00 1,07 2,15 3,22 4,29 5,36 pre será, 6,44 o oxigênio 7,51 dissolvido 8,58 e, a forma 9,65 de garantir que<br />

este nunca falte, é por meio da aeração.<br />

3,25 HO = 6,5 mg/L 0,99 ÷ 0,8 1,98 mg/L/h 2,97 = 8 horas3,96 4,95 5,94 6,93 7,92 8,91<br />

3,50 0,92 1,84 2,76 3,68 4,60 5,52 6,44 7,35 8,27<br />

Tabela 2.Número de horas com sobra de oxigênio (HO) antes de se atingir a concentração mínima de 3 mg/L (ou 50% da saturação) em função do superávit de<br />

oxigênio (SO) e da respiração total do viveiro (RT).<br />

SO<br />

(mg/L)<br />

RT (mg/L/h)<br />

0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0<br />

Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/artigos<br />

1 5,0 2,5 1,7 1,3 1,0 0,8 0,7 0,6 0,6 0,5<br />

2 10,0 5,0 3,3 2,5 2,0 1,7 1,4 1,3 1,1 1,0<br />

3 15,0 7,5 5,0 3,8 3,0 2,5 2,1 1,9 1,7 1,5<br />

4 10,0 6,7 5,0 4,0 3,3 2,9 2,5 2,2 2,0<br />

5 12,5 8,3 6,3 5,0 4,2 3,6 3,1 2,8 2,5<br />

6 15,0 10,0 7,5 6,0 5,0 4,3 3,8 3,3 3,0<br />

7 11,7 8,8 7,0 5,8 5,0 4,4 3,9 3,5<br />

8 13,3 10,0 8,0 6,7 5,7 5,0 4,4 4,0<br />

9 15,0 11,3 9,0 7,5 6,4 5,6 5,0 4,5<br />

10 12,5 10,0 8,3 7,1 6,3 5,6 5,0<br />

11 13,8 11,0 9,2 7,9 6,9 6,1 5,5<br />

12 15,0 12,0 10,0 8,6 7,5 6,7 6,0<br />

24<br />

ARTIGO<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

ARTIGO<br />

25


Os moluscos<br />

bivalves de água<br />

doce do <strong>Brasil</strong>:<br />

Potencial ainda não<br />

aproveitado pela aquicultura<br />

Ellano José da Silva<br />

Instituto de Assistência<br />

Técnica e Extensão Rural<br />

do Rio Grande do Norte<br />

EMATER RN<br />

ellanosilva7@gmail.com<br />

Renata Bezerra Gomes<br />

Laboratório de Moluscos<br />

LABMOL<br />

Universidade Federal<br />

Rural do Semiárido<br />

UFERSA<br />

Carla Suzy Freire de Brito<br />

Universidade Federal<br />

do Piauí – UFPI<br />

Campus Parnaíba<br />

Cristina de Almeida Rocha-Barreira<br />

Laboratório de Zoobentos<br />

Instituto de Ciências Marinhas<br />

Tropicais<br />

LABOMAR<br />

Universidade Federal do Ceará<br />

UFC<br />

O<br />

s moluscos constituem o segundo grupo de<br />

animais com maior produção pela aquicultura<br />

mundial. A produção aquícola desses<br />

animais vem aumentando a cada ano, em 2014,<br />

ultrapassou as 16.000.000 de toneladas, gerando<br />

uma receita de mais de 19 bilhões de dólares<br />

(FAO, 2016). Além disso, na malacocultura não<br />

há entrada de alimento ou fertilizantes, um dos<br />

principais custos envolvidos na piscicultura<br />

ou carcinicultura, por exemplo (ANDRADE,<br />

2016). Mundialmente, os moluscos marinhos e<br />

estuarinos são os mais cultivados, com destaque<br />

para o grupo dos bivalves, englobando ostras e<br />

mexilhões.<br />

No <strong>Brasil</strong>, o cultivo desse grupo ainda é<br />

pouco difundido. A malacocultura se restringe<br />

ao cultivo de espécies marinhas, das quais os<br />

estados do Sul e Sudeste detém a produção, especialmente<br />

Santa Catarina, maior produtor nacional<br />

(MPA, 2012), alcançando 20.438 toneladas<br />

de ostras e mexilhões no ano de 2015 (EPAGRI,<br />

2016).<br />

A produção de bivalves de água doce<br />

tem como principais finalidades: i) a produção de<br />

pérolas na (principalmente) Ásia, ii) recuperação<br />

de estoques naturais na América do Norte e iii)<br />

a produção de bivalves como fonte de alimento<br />

para o homem no sul da Índia (SICURO, 2015).<br />

No continente sul-americano, o <strong>Brasil</strong><br />

destaca-se quanto ao conhecimento das espécies<br />

de bivalves que ocorrem nos ambientes límnicos<br />

(rios, lagos) (MANSUR e PEREIRA, 2006;<br />

SIMONE, 2006). Contudo, ainda não existem<br />

cultivos comerciais no país, embora alguns esforços<br />

tenham sido direcionados ao cultivo experimental<br />

de espécies ameaçadas de extinção<br />

(LIMA, 2010), uma espécie perlífera (AGU-<br />

DO-PADRÓN, 2016) e recentemente um bivalve<br />

límnico que ocorre em grandes densidades sendo<br />

alvo da pesca, foi “redescoberto” no Nordeste brasileiro<br />

(BRITO et al. 2015). Todavia, o real potencial<br />

desses organismos ainda não foi aproveitado<br />

pela aquicultura.<br />

Neste artigo, listamos os principais grupos<br />

de moluscos dulcícolas nativos com potencial<br />

ao cultivo, bem como os gargalos para o<br />

desenvolvimento desta atividade.<br />

26<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


© Rogério Santos<br />

Artigo<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

Figura 1. Bivalves límnicos dos gêneros Anodontites e Castalia no município de Várzea Grande – MT.<br />

27


Apesar do vasto número de espécies de moluscos descritas mundialmente, o conhecimento sobre moluscos<br />

de água doce brasileiros está longe de ser satisfatório (BRITO et al., 2015). Assim, as espécies nativas do <strong>Brasil</strong><br />

(Figura 1) estão representadas por seis famílias (PIMPÃO e MANSUR, 2009), citadas na Tabela 1.<br />

Tabela 1. Lista dos grupos de bivalves límnicos nativos do <strong>Brasil</strong>. *A ordem Veneroida também engloba espécies marinhas<br />

e estuarinas.<br />

Ordem<br />

Unionoida<br />

Família<br />

Hyriidae<br />

Mycetopodidae<br />

Cyrenidae<br />

Veneroida*<br />

Sphaeridae<br />

Dreissenidae<br />

Pholadomyoida<br />

Lyonsiidae<br />

Figura 2. A espécie Hyriopsis cumingi, em Hong Kong, China, mostrando fileiras de<br />

pérolas cultivadas.<br />

1 O cultivo dos náiades é chamado de naiadicultura.<br />

© Istara CC 3.0<br />

A Ordem Unionoida<br />

representa os principais bivalves<br />

dulcícolas no mundo<br />

(GRAF, 2007). Popularmente<br />

conhecidos por “náiades 1 ”, são os<br />

únicos bivalves a possuírem um<br />

estágio larval parasitário e conhecidos<br />

por produzirem pérolas de<br />

alta qualidade (Figura 2).<br />

28<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


© Conquilogistas do <strong>Brasil</strong><br />

Figura 3. Vistas externa e interna da concha da espécie Diplodon expansus.<br />

Os Unionoida de ocorrência no <strong>Brasil</strong> são representados, principalmente, pelos gêneros:<br />

• Diplodon (Spix & Wagner, 1827)<br />

Apresenta grande variabilidade em suas formas, mesmo entre a mesma população (BONETTO, 1961). As<br />

espécies que, até o presente momento, apresentam possibilidades de cultivo são: Diplodon martensi (Ihering,<br />

1893), D. expansus (Küster, 1856) (Figura 3) e D. rotundus (Spix & Wagner, 1827).<br />

• Anodontites (Brugière, 1792)<br />

Neste gênero, a espécie que se destaca é a A. trapesialis (Lamarck, 1819) (Figura 4). A mesma ocorre em todas<br />

as bacias Sul Americanas. Possui tamanho aproximado de 10 mm a 150 mm (SIMONE, 2006). No <strong>Brasil</strong>,<br />

apenas esta espécie tem sido cultivada experimentalmente para a produção de pérolas, no estado de Santa<br />

Catarina (AGUDO-PADRÓN, 2016).<br />

© Rogério Santos<br />

Figura 4. Espécime de Anodontites trapesialis em seu ambiente natural.<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

ARTIGO<br />

29


A Ordem Veneroida engloba mais de um terço<br />

de todas as espécies atuais de bivalves (PECHENIK,<br />

2016), com destaque para a família Cyrenidae e a espécie<br />

Cyanocyclas brasiliana. Esta espécie, (Figura 5), possui<br />

comprimento médio de 18 mm (SIMONE, 2006), contudo,<br />

Brito (2016) encontrou indivíduos de até 30,45mm.<br />

É uma espécie estenohalina, não suportando salinidade<br />

superior a 3 (BRITO, 2016), o que limita sua ocorrência.<br />

É endêmica da região Norte do <strong>Brasil</strong> (DESHAYES,<br />

1854; PRIME, 1870) e recentemente foi encontrada no<br />

Estado do Piauí (BRITO et al., 2015).<br />

Devido a sua grande abundância, variando em<br />

média 5.992 ind./m² (BRITO, 2016), a C. brasiliana é<br />

capturada pelas marisqueiras da comunidade dos Tatus<br />

em Parnaíba/PI (Figura 6). Esta pescaria pode produzir<br />

mais de 52.000 kg (animal com concha) mensais<br />

(FARIAS et al., 2015), comercializados localmente por<br />

R$10,00/kg, embora a maior parte da produção seja fornecida<br />

a atravessadores por R$ 3,80/kg.<br />

A localização desta pescaria é definida pela profundidade,<br />

abundância dos animais e tipo de substrato.<br />

Quando há uma maior influência marinha sobre o rio,<br />

eventos de mortalidade são registrados pelos pescadores.<br />

Outras variáveis ambientais como o tipo de fundo,<br />

são primordiais para a ocorrência desta espécie que<br />

prefere substrato lamoso ao arenoso.<br />

Cyanocyclas brasiliana é uma das únicas espécies<br />

de moluscos de água doce alvo da pesca no<br />

Nordeste brasileiro, servindo como fonte de alimento e<br />

renda para as comunidades em sua área de ocorrência.<br />

© Carla Brito<br />

© Carla Brito, modificado por Ellano<br />

Figura 5. Fotografia ilustrando o ambiente de ocorrência<br />

natural de Cyanocyclas brasiliana (círculo branco), em Parnaíba<br />

– PI.<br />

Figura 6. Landuá, arte de pesca utilizada na captura do bivalve<br />

límnico Cyanocyclas brasiliana no Piauí.<br />

Gargalos no Cultivo dos bivalves dulcícolas:<br />

Reprodução: Os bivalves límnicos desenvolveram<br />

uma estratégia reprodutiva muito peculiar.<br />

Diferentemente dos bivalves marinhos, como as ostras<br />

nativas, que lançam seus gametas na água onde<br />

ocorre a fertilização e posteriormente o desenvolvimento<br />

embrionário, os bivalves límnicos apresentam<br />

fecundação e desenvolvimento internos. Uma vez que<br />

os embriões morreriam caso forem transportados<br />

pelo fluxo dos rios até a zona de influência salina nos<br />

estuários.<br />

Esta pescaria pode<br />

produzir mais de<br />

52.000 kg (animal com concha)<br />

mensais (FARIAS et<br />

al., 2015), comercializados<br />

localmente por R$10,00/kg,<br />

embora a maior parte da<br />

produção seja fornecida a<br />

atravessadores por<br />

R$ 3,80/kg.<br />

Reprodução dos Unionoida<br />

Na época de reprodução os machos lançam<br />

seus gametas na água, estes são capturados pelos<br />

sifões ou abertura inalante das fêmeas e transportados<br />

para uma região das brânquias modificada em<br />

um marsúpio. Lá, os ovos se desenvolvem até a fase<br />

larval, que possui dois tipos, de acordo com a espécie:<br />

gloquídia (bivalve) ou lasídia (univalve) (BAUER<br />

e WÄCHTLER, 2012). Em ambos os tipos larvais o<br />

bivalve mãe precisa ‘infectar’ um vertebrado hospedeiro<br />

para que o ciclo reprodutivo se complete. Nor-<br />

30<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


malmente as larvas aderem às brânquias ou nadadeiras<br />

de um peixe e permanecem até realizarem a<br />

metamorfose em juvenis, para então assentarem no<br />

substrato (WÄCHTLER et al., 2001).<br />

O grande entrave no cultivo dos Unionoida<br />

está na necessidade de simular as características<br />

do hospedeiro. Lima (2010) utilizou com sucesso o<br />

extrato liofilizado de plasma do lambari (Astyanax<br />

altiparanae), produzindo com sucesso juvenis de<br />

três espécies do gênero Diplodon: Para D. rotundus<br />

gratus, obtiveram sobrevivência de 100% durante<br />

o experimento. Já D. martensi e D. expansus apresentaram<br />

mortalidade entre 40% e 65%, respectivamente.<br />

Estes resultados demonstram que é possível<br />

realizar a larvicultura desses animais.<br />

Não existem estudos sobre a biologia das<br />

espécies do gênero Cyanocyclas, assim, assume-se<br />

que suas estratégias reprodutivas acompanhem o<br />

padrão já conhecido para a maioria das espécies<br />

de Corbicula (BRITO, 2016). Scarabino e Mansur<br />

(2007) citam que Cyanocyclas é hermafrodita simultâneo,<br />

entretanto, reforçam a falta de conhecimentos<br />

sobre o grupo.<br />

Nos Cyrenídeos a fertilização ocorre no<br />

interior da cavidade paleal e a incubação dos embriões<br />

ocorre por entre os filamentos branquiais;<br />

as larvas passam pelos estágios trocófora, véliger e<br />

pedivéliger, sendo liberadas em forma de “D”. Após<br />

a libertação, os juvenis passam um curto período<br />

Reprodução dos Veneroida – Família Cyrenidae<br />

(até quatro dias) na coluna d’água e assentam no<br />

sedimento utilizando um filamento bissal mucilaginoso<br />

(MACKIE & CLAUDI, 2009). No gênero<br />

Cyanocyclas, a incubação das larvas é completa e<br />

ocorre no interior do marsúpio braquial. O número<br />

de embriões é pequeno, de 25 a 45 por brânquia,<br />

e a libertação não é sincronizada (PEREIRA et al.,<br />

2012).<br />

Apesar de serem conhecidos como espécies<br />

invasoras, nos locais onde estas espécies são nativas,<br />

em geral, são alvo da pesca e bastante apreciadas na<br />

culinária (MITO et al., 2014; LIAO et al., 2013; KE<br />

et al., 2011) entretanto, não existem registros também<br />

sobre o cultivo destas espécies.<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

Perspectivas futuras<br />

O uso de bivalves límnicos para a produção de pérolas, conservação de estoques naturais e consumo<br />

humano, são apenas algumas de suas múltiplas aplicações. Esses animais podem ser utilizados como<br />

alimento para organismos cultiváveis, como crustáceos<br />

e reprodutores de peixes (MYERS e TLUSTY, 2009) e<br />

até mesmo as espécies como o molusco exótico invasor<br />

Corbicula fluminea (disseminado em quase todas<br />

as bacias hidrográficas brasileiras) tem sido usado<br />

para remover o fósforo de águas residuais da agricultura<br />

(RILEY, 2008).<br />

Apesar de não existirem cultivos comerciais<br />

no <strong>Brasil</strong>, o mesmo se destaca devido ao grande<br />

número de corpos d’água continentais e parques<br />

aquícolas. A busca pela maximização do lucro e sustentabilidade<br />

na atividade nunca foram tão almejados,<br />

seja no desenvolvimento do policultivo ou na<br />

busca de estratégias de baixo custo para o tratamento<br />

de efluentes da aquicultura. A implementação de<br />

bivalves límnicos na aquicultura pode aliar o útil ao<br />

agradável, além de oferecer uma diversificação a esta<br />

atividade no <strong>Brasil</strong>.<br />

Apesar de não existirem<br />

cultivos comerciais no<br />

<strong>Brasil</strong>, o mesmo se destaca<br />

devido ao grande número de corpos<br />

d’água continentais e parques<br />

aquícolas. A busca pela maximização<br />

do lucro e sustentabilidade<br />

na atividade nunca foram tão almejados,<br />

seja no desenvolvimento<br />

do policultivo ou na busca de<br />

estratégias de baixo custo para o<br />

tratamento de efluentes da<br />

aquicultura.<br />

31<br />

Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/artigos


ácidos<br />

orgânicos:<br />

UMA NOVA FERRAMENTA<br />

NUTRICIONAL PARA A<br />

AQUICULTURA<br />

Bruno Corrêa da Silva<br />

Pesquisador<br />

Centro de Desenvolvimento em<br />

Aquicultura e Pesca CEDAP<br />

Empresa de Pesquisa Agropecuária e<br />

Extensão Rural de<br />

Santa Catarina – EPAGRI<br />

brunosilva@epagri.sc.gov.br<br />

Gabriel Fernandes Alves Jesus<br />

Engenheiro de Aquicultura, discente<br />

de doutorado<br />

Programa de Pós-graduação em<br />

Aquicultura<br />

Laboratório de Sanidade de Organismos<br />

Aquáticos - AQUOS<br />

Universidade Federal de<br />

Santa Catarina – UFSC<br />

gabriel_faj@hotmail.com<br />

Maurício Laterça Martins<br />

Professor/Pesquisador<br />

Programa de Pós-graduação em<br />

Aquicultura<br />

Laboratório de Sanidade de Organismos<br />

Aquáticos – AQUOS<br />

Universidade Federal de Santa<br />

Catarina – UFSC<br />

mauricio.martins@ufsc.br<br />

José Luiz Pedreira Mouriño<br />

Professor/Pesquisador<br />

Programa de Pós-graduação em<br />

Aquicultura<br />

Laboratório de Sanidade de<br />

Organismos<br />

Aquáticos – AQUOS<br />

Universidade Federal de Santa<br />

Catarina – UFSC<br />

jose.mourino@ufsc.br<br />

32<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


Artigo<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

33


Introdução<br />

No <strong>Brasil</strong> e no mundo, a aquicultura tem enfrentado<br />

desafios sanitários que atrapalham a continuidade<br />

do seu crescimento. Tanto a carcinicultura<br />

quanto a piscicultura são atividades em intensificação,<br />

e com isto surgem doenças que devem ser enfrentadas.<br />

Por estes motivos, o uso profilático de quimioterápicos<br />

com intuito<br />

de prevenir mortalidades,<br />

ou até mesmo<br />

atuar como promotores<br />

de crescimento é<br />

uma prática observada<br />

na aquicultura, assim<br />

como outras produções<br />

animais, como<br />

por exemplo, a avicultura.<br />

No entanto,<br />

Na aquicultura já<br />

são bem<br />

conhecidos os<br />

probióticos, prebióticos<br />

e também os fitobióticos.<br />

Contudo, nos últimos anos<br />

têm aumentado o número<br />

de pesquisas e produtos<br />

comerciais contendo<br />

ácidos orgânicos ou seus<br />

sais.<br />

os quimioterápicos,<br />

entre eles os antibióticos,<br />

ocasionam diversos<br />

problemas<br />

importantes que devem<br />

ser levados em<br />

consideração. Estes<br />

produtos podem apresentar<br />

toxicidade, principalmente para as fases jovens<br />

(pós-larvas e alevinos), podendo causar má formação<br />

e imunodepressão. Além disso, os resíduos de alimento<br />

e fezes contendo antibiótico podem contaminar o<br />

solo do ambiente de cultivo ou animais que se encontram<br />

neste ambiente. Esta contaminação pode resultar<br />

no aparecimento de cepas resistentes, entre elas,<br />

bactérias patogênicas para os animais aquáticos ou até<br />

mesmo para os seres humanos.<br />

Devido a estes problemas a União Europeia<br />

proibiu, a partir de janeiro de 2006, o uso de antibióticos<br />

na produção animal.<br />

No <strong>Brasil</strong> o Ministério<br />

da Agricultura, Pecuária e<br />

Abastecimento já proibiu o<br />

uso de diversos antibióticos;<br />

cloranfenicol e nitrofuranos<br />

(IN nº 09, 27/06/2003), quilononas<br />

e sufonamidas (IN nº<br />

26, 9/07/2009), espiramicina<br />

e eritromicina (IN nº 14,<br />

17/05/2012); como aditivo<br />

alimentar na produção animal.<br />

Com isso, há um aumento<br />

nas buscas por substâncias<br />

alternativas aos antibióticos<br />

que atuem na inibição de<br />

patógenos, prevenindo enfermidades,<br />

bem como promotores<br />

de crescimento. Dentre<br />

estes produtos, na aquicultura já são bem conhecidos<br />

os probióticos, prebióticos e também os fitobióticos.<br />

Contudo, nos últimos anos têm aumentado o número<br />

de pesquisas e produtos comerciais contendo ácidos<br />

orgânicos ou seus sais.<br />

34<br />

ARTIGO<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


Efeitos dos ácidos orgânicos e seus<br />

sais nas dietas e nos animais<br />

Na dieta, os ácidos orgânicos funcionam<br />

como agentes de conservação, reduzindo o pH do<br />

alimento, inibindo o crescimento microbiano e diminuindo<br />

a absorção de organismos patogênicos. Estes<br />

compostos podem ser utilizados na elaboração de<br />

silagem de pescado. Eles também podem ser utilizados<br />

para modificar o pH das dietas e levá-las a valores<br />

de pH desejados, visando um melhor aproveitamento<br />

dos nutrientes. Contudo, estudos avaliando o efeito<br />

de diferentes valores de pH em dietas para animais<br />

aquáticos são escassos. No trato intestinal dos animais,<br />

os ácidos orgânicos inibem o crescimento de bactérias,<br />

principalmente as gram-negativas, auxiliando<br />

na modificação da microbiota, melhorando a saúde<br />

gastrointestinal, assim como ocorre com os probióticos.<br />

No metabolismo animal, os ácidos orgânicos<br />

também podem afetar a ação de enzimas digestivas,<br />

como a pepsina, através da redução do pH da dieta,<br />

ou ainda, a presença destes ácidos ou seus sais podem<br />

alterar a atividade de tripsina e quimotripsina. Ainda,<br />

podem servir como fonte de energia para o animal,<br />

pois são componentes de diversas rotas metabólicas.<br />

Além disso, os ácidos orgânicos podem promover<br />

uma melhoria na digestibilidade dos minerais<br />

de três formas: (i) baixa do pH, resultando em uma<br />

maior dissociação dos compostos minerais, (ii) redução<br />

da taxa de esvaziamento do estômago, e (iii)<br />

formação de complexos minerais quelados, que são<br />

facilmente absorvidas no intestino.<br />

Tabela 1. Efeitos dos ácidos orgânicos e seus sais na nutrição animal.<br />

1<br />

H + - Forma não ionizada. Ânion - Forma ionizada.<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

ARTIGO<br />

35


Figura 1. Imagens do epitélio intestinal do camarão marinho (Litopenaeus vannamei) alimentado com dieta suplementada com 2% de butirato de sódio, polihidroxibutirato<br />

(PHB) e sem suplementação (grupo controle), por 42 dias. A: Seção histológica do grupo controle; B: Seção histológica do grupo PHB; C: Seção<br />

histológica do grupo butirato; D: Microscopia eletrônica de transmissão do grupo controle; E: Microscopia eletrônica de transmissão eletrônica do grupo PHB;<br />

F: Microscopia eletrônica de transmissão do grupo butirato. Siglas = L: Lúmen; MV: Microvilos; V: Vilos; N: Núcleo; TJ: Junção celular.<br />

Uso de ácidos/sais<br />

orgânicos na aquicultura<br />

Uma forma de facilitar o manuseio dos ácidos<br />

orgânicos é utilizá-los na forma de sais, que estão sob a<br />

forma de pó, facilitando a manipulação e sua inclusão<br />

na dieta. Além disso, eles ainda são fontes de nutrientes<br />

como cálcio e sódio, por exemplo.<br />

O diformiato de potássio (KDF) foi a primeira<br />

substância aprovada pelo Conselho Europeu para uso<br />

como promotor de crescimento não antibiótico na produção<br />

animal, sendo utilizado pela indústria de suínos<br />

e aves, e apresentando diversos estudos na aquicultura.<br />

Além do KDF, os ácidos orgânicos mais estudados<br />

e mais presentes em produtos comerciais são: ácido<br />

cítrico, ácido fórmico, ácido láctico, ácido propriônico<br />

e ácido fumárico. Além dos sais, propionato de sódio,<br />

propionato de cálcio e butirato de sódio. O propionato<br />

já é comumente utilizado em rações como antifúngico,<br />

contudo, para conseguir os efeitos citados como aditivo<br />

alimentar promotor de crescimento a inclusão na ração<br />

deverá ser maior que o comumente utilizado.<br />

Inúmeras pesquisas já foram realizadas avaliando<br />

diversos tipos de produtos com várias espécies, contudo,<br />

dentre as principais já estudadas estão o salmão, a<br />

truta arco-íris, o robalo europeu, a tilápia (tilápia-do-Nilo<br />

e híbrida) e os camarões marinhos (principalmente o<br />

Litopenaeus vannamei). De forma geral, estes produtos<br />

têm obtido resultados em estudos com concentrações<br />

variando de 0,1 a 1% de inclusão na dieta. Também já foi<br />

verificada a eficácia da aplicação destes produtos na água<br />

pós eclosão da artêmia, melhorando a sobrevivência e<br />

diminuindo a carga de bactérias que este microcrustáceo<br />

carrega como vetores, principalmente do gênero Vibrio.<br />

Para o uso de sais e ácidos orgânicos em dietas de<br />

peixes há necessidade de adaptações, visto que existem<br />

diferenças anatômicas e fisiológicas essenciais no sistema<br />

digestivo desses animais. Devem ser considerados<br />

aspectos relacionados ao comprimento do trato intestinal<br />

da espécie alvo, o tempo de passagem do alimento<br />

no trato intestinal, a capacidade de o ácido/sal orgânico<br />

resistir à ação do ácido clorídrico no estômago, entre<br />

outros.<br />

A fim de buscar uma maior eficiência desses<br />

ácidos/sais orgânicos, alguns destes produtos possuem<br />

revestimentos, que possibilitam a proteção e liberação<br />

do seu princípio ativo somente no intestino dos animais<br />

cultivados. Apesar dos ácidos orgânicos não dissociados<br />

poderem atravessar a membrana e serem absorvidos<br />

36 ARTIGO<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


© Carlos Eduardo Zacarkim<br />

pelas primeiras porções do intestino, a microencapsulação<br />

(proteção) poderá garantir a sua chegada até o<br />

final do intestino, sendo absorvido ao longo de todo o<br />

trato intestinal.<br />

Além disso, a grande desvantagem do uso dos<br />

ácidos orgânicos ou seus sais na aquicultura é o fato de<br />

possuírem alta solubilidade em água, havendo grande<br />

lixiviação na ração, necessitando assim de grandes<br />

quantidades para manter sua eficiência. Contudo, a utilização<br />

destas proteções já é uma realidade no mercado<br />

atual, como por exemplo o butirato de sódio protegido<br />

com ácido graxo (óleo de palma) ou protegido por<br />

solução tampão, que impede que o butirato de sódio se<br />

dissolva ou dissocie durante as primeiras etapas da digestão.<br />

Outra forma também utilizada são os polímeros<br />

de ácidos orgânicos, ou polihidroxialcanoatos, sendo o<br />

polihidroxibutirato (PHB, polímeros biodegradáveis<br />

de ácido butírico) o mais comumente estudado. Estes<br />

polímeros são hidrofóbicos, e em teoria necessitariam<br />

de uma menor porcentagem de inclusão na dieta. Curiosamente,<br />

vários estudos forneceram evidências de<br />

que estes polímeros podem ser degradados no trato<br />

gastrintestinal dos animais e, com isso, resultar na ação<br />

do produto diretamente no local desejado, no sistema<br />

digestivo. Porém, o tamanho deste polímero deve ser<br />

considerado. O PHB é amplamente utilizado para a<br />

produção de plástico biodegradável (bioplástico), contudo<br />

são utilizadas moléculas com alto peso molecular,<br />

o que não é desejado para a aquicultura, pois serão mais<br />

difíceis de ser degradadas.<br />

O butirato de sódio e seus derivados já possuem<br />

amplo uso pela indústria do camarão marinho, pois são<br />

efetivos no combate a doenças bacterianas como as causadas<br />

por bactérias do gênero Vibrio. Nacionalmente,<br />

é possível encontrar rações comerciais para camarão<br />

marinho com a inclusão do butirato de sódio.<br />

© Bruno C. da Silva<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

Figura 2. Unidades experimentais utilizadas nos ensaios de cultivo do camarão<br />

marinho em água clara (6.000 L) e cultivo no sistema de bioflocos (800 L).<br />

ARTIGO<br />

37


Pesquisas desenvolvidas<br />

pelo CEDAP e AQUOS<br />

Os primeiros trabalhos foram realizados com o camarão-do-pacífico (L. vannamei), onde inicialmente<br />

foi observado o potencial de seis sais de sódio (acetato, butirato, citrato, formiato, l-lactato, propionato) como<br />

aditivos alimentares através de:<br />

Ensaios de inibição de patógenos in vitro;<br />

Contagem bacteriológica da microbiota intestinal, atratividade;<br />

Consumo e digestibilidade das dietas suplementadas com estes sais<br />

orgânicos.<br />

Os resultados mostraram boa atividade<br />

inibitória de vibrios para acetato, butirato, formiato e<br />

propionato. Além disso, o butirato apresentou efeito<br />

atrativo na dieta e aumento de consumo, enquanto o<br />

propionato apresentou aumento na digestibilidade de<br />

fósforo e energia.<br />

Em estudos posteriores foi observado no cultivo<br />

de L. vannamei em água clara,<br />

que a suplementação dietética<br />

de propionato e butirato<br />

de sódio em diferentes<br />

concentrações (0,5<br />

a 2%) modificou a<br />

microbiota intestinal<br />

e melhorou<br />

o crescimento<br />

do camarão<br />

m a r i n h o .<br />

Além disso,<br />

a suplementação<br />

do butirato<br />

de sódio<br />

melhorou a<br />

retenção de<br />

nitrogênio,<br />

taxa de eficiência<br />

proteica,<br />

e título<br />

de aglutinação<br />

do soro, melhorando consequentemente a eficiência<br />

alimentar, sobrevivência e produtividade. Em bioflocos<br />

(250 camarões.m³) a suplementação de butirato de<br />

sódio melhorou a sobrevivência do cultivo de L. vannamei,<br />

além de aumentar o número de hemócitos e<br />

alterar a microbiota intestinal.<br />

Em estudos conduzidos em parceria do Centro<br />

de Investigaciones del Noroeste (CIBNOR, Baja<br />

California, México) observou-se que o fumarato de<br />

sódio apresentou grande potencial como promotor<br />

de crescimento para camarões marinhos, aumentando<br />

a digestibilidade in vitro de proteína, aumentando<br />

o consumo e ganho de peso após suplementação dietética<br />

de 1,17%. Além disso, camarões alimentados<br />

com butirato de sódio mostraram maior atividade de<br />

protease no hepatopâncreas (quimiotripsina e tripsina),<br />

e maior digestibilidade in vitro de proteína, polissacarídeos<br />

e lipídeos.<br />

Atualmente, vem sendo realizado um estudo<br />

onde se busca verificar o efeito do butirato de sódio<br />

em diferentes concentrações de inclusão na dieta, na<br />

forma pura e em diferentes formas protegidas, nos<br />

parâmetros zootécnicos, hemato-imunológicos, histopatológicos,<br />

enzimáticos, microbiológicos e de resistência<br />

à doença, em diferentes fases de cultivo da<br />

tilápia-do-Nilo (Oreochromis niloticus). Além desse<br />

estudo, com jundiá (Rhamdia quelen) está sendo investigado<br />

o efeito de diferentes concentrações de propionato<br />

de cálcio e propionato de sódio, sobre os mesmos<br />

parâmetros destacados no trabalho acima.<br />

38<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


Considerações finais<br />

Atualmente existe uma série de produtos<br />

comerciais à base de sais orgânicos no mercado agropecuário,<br />

porém a grande maioria é direcionada para<br />

o uso em animais terrestres, sendo pouco conhecidos<br />

os seus efeitos, as formas de proteção e concentrações<br />

ideais de aplicação na dieta de animais aquáticos.<br />

Dessa forma, o número limitado de informações<br />

sobre a influência dos sais orgânicos na nutrição de<br />

animais aquáticos abre um imenso leque para futuras<br />

parcerias e pesquisas entre empresas e universidade,<br />

visando o desenvolvimento de produtos eficientes e<br />

específicos para aquicultura.<br />

O número limitado de<br />

informações sobre a<br />

influência dos sais<br />

orgânicos na nutrição de<br />

animais aquáticos abre um<br />

imenso leque para futuras<br />

parcerias e pesquisas<br />

entre empresas e universidade,<br />

visando o desenvolvimento<br />

de produtos eficientes e<br />

específicos para<br />

aquicultura.<br />

© Gabriel F. A. Jesus<br />

Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/artigos<br />

Figura 3. Preparo de ração experimental extrusada, no Laboratório de Nutrição de Espécies Aquícolas – LABNUTRI/UFSC, contendo diferentes porcentagens<br />

de inclusão de sais orgânicos.<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

ARTIGO<br />

39


¡Sí, se puede!<br />

Aquicultura com espécies<br />

alternativas em Baja Califórnia,<br />

México<br />

Maurício Gustavo Coelho Emerenciano<br />

Laboratório de Nutrição de Organismos Aquáticos<br />

(LANOA) e Laboratório de Aquicultura (LAQ),<br />

Universidade do Estado de Santa Catarina<br />

(UDESC)<br />

mauricioemerenciano@hotmail.com<br />

Artur Nishioka Rombenso<br />

Laboratório de Nutrição e Fisiologia Digestiva de<br />

Organismos Aquáticos<br />

Universidade Autônoma de Baja Califórnia (UABC)<br />

artur.nishioka@uabc.edu.mx<br />

© Artur Rombenso e Maurício Emerenciano<br />

40<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


Artigo<br />

Baja Califórnia é um estado mexicano localizado na região noroeste<br />

do país banhado pelo oceano Pacífico e o mar de Cortês. Essa<br />

região é reconhecida pelo grande potencial aquícola exemplificado por<br />

diversas iniciativas piloto-comerciais como cultivo de peixes marinhos<br />

(atum Thunnus orientalis, olhete Seriola dorsalis e lubina rayada Morone<br />

saxatilis), cultivo de moluscos (mexilhão Mytilus sp, ostra Crassostrea<br />

gigas, abalones Haliotis sp) e também cultivo de macroalgas Ulva sp.<br />

Além disso, centros de pesquisa como o Centro de Investigação Científica<br />

e de Educação Superior de Ensenada CICESE e o Centro Regional<br />

de Investigação Aquícola e Pesqueira de Ensenada (CRIP-Ensenada)<br />

e universidades como a Universidade Autônoma de Baja Califórnia<br />

(UABC) e Universidade Autônoma do México (UNAM) contribuem<br />

com a expansão da atividade através de pesquisas básicas e aplicadas e<br />

parcerias público-privadas.<br />

Visitamos Ejido Erendira, região norte da Baja Califórnia, um<br />

parque aquícola em desenvolvimento que reúne algumas iniciativas<br />

comerciais com espécies alternativas. O intuito desse artigo é mostrar<br />

brevemente as atividades desenvolvidas e futuramente dar continuidade<br />

com mais matérias sobre o assunto.<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

41


Figura 1. Vista panorâmica dos centros de pesquisa e universidades de Ensenada.<br />

Cultivo de Abalones e Ostras<br />

A empresa Marinos Baja<br />

liderada por um casal de oceanólogos,<br />

produz três espécies de<br />

abalones (amarelo Haliotis corrugata,<br />

vermelho Haliotis refescens<br />

e azul Haliotis fulgens) e ostras<br />

(Crassostrea gigas).<br />

A produção é focada para o<br />

mercado internacional e apenas parte<br />

é destinada para o nacional. Além<br />

disso a empresa produz também<br />

pérolas oriundas de abalones por<br />

meio de técnica semelhante à aplicada<br />

em ostras.<br />

O ciclo de produção dos<br />

abalones é gradual, demorando de<br />

3 até 5 anos para despescar, porém<br />

com um elevado valor agregado. Os<br />

abalones são produzidos em laboratório,<br />

parte da engorda é feita em<br />

tanques em terra com fluxo aberto<br />

de água e parte no mar utilizando o<br />

sistema “travesseiro”. O mesmo é válido<br />

para as ostras.<br />

A alimentação dos abalones<br />

consiste em um mix de macroalgas,<br />

porém a principal fonte de alimento<br />

é a macroalga Macrocystis pyrifera<br />

que é cultivada no mar pela própria<br />

empresa e um limitante para aumentar<br />

a produção. Iniciativas com<br />

rações tem sido realizadas, mas o<br />

custo de produção se elevou e dificultou<br />

a viabilidade dos cultivos.<br />

Atualmente a produção de abalones<br />

está em 30 toneladas, a de ostra em<br />

100 toneladas e 250 toneladas de<br />

macroalgas.<br />

A produção é<br />

focada para o<br />

mercado<br />

internacional e<br />

apenas parte é<br />

destinada<br />

para o<br />

nacional.<br />

42<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


Hatchery de Olhete<br />

Ao lado da empresa de<br />

moluscos está um “hatchery”<br />

(laboratório de produção de formas<br />

jovens) de olhete (Seriola dorsalis)<br />

chamada de Ocean Baja Labs (OBL).<br />

Este laboratório pertence a empresa<br />

Baja Seas que domina o ciclo de produção<br />

da espécie.<br />

O OBL é um laboratório de<br />

última geração totalmente equipado<br />

e automatizado. A produção de<br />

juvenis se baseia nos protocolos padrões<br />

de peixes marinhos utilizando<br />

rotíferos e artêmias nas fases iniciais<br />

e depois implementando o desmame<br />

gradual com dietas formuladas.<br />

A larvicultura dura aproximadamente<br />

30-40 dias com juvenis<br />

de 2g e possui uma sobrevivência<br />

média de 50%, algo bem impressionante<br />

para espécies marinhas.<br />

Uma vez atingido o peso de 2-5g os<br />

juvenis são transferidos para tanques<br />

de berçário de 70 mil litros. Depois<br />

de 30-40 dias os juvenis são transportados<br />

de barco para a engorda em<br />

tanques-rede na região sul da Baja<br />

Califórnia. O OBL está com perspectivas<br />

de exportar juvenis para Dubai.<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

43


A<br />

B<br />

C<br />

D<br />

E<br />

© Artur Rombenso e Maurício Emerenciano<br />

Figura 2. a) Fazenda de atum; b) tanques com olhetes; c) exemplar jovem de pepino do mar; d) ostra e e) sistema experimental.<br />

Fazenda de macroalgas<br />

Vizinha da OBL está localizada<br />

a empresa de produção de<br />

macroalgas. A mesma ainda está<br />

em fase de implantação. Porém<br />

uma planta piloto-comercial já está<br />

em andamento na Universidade<br />

Autônoma de Baja Califórnia, projeto<br />

liderado pelo pesquisador e<br />

empreendedor Dr. José Zertuche. O<br />

pesquisador pretende aplicar todo o<br />

conhecimento e “know-how” gerado<br />

no seu laboratório na indústria.<br />

Várias espécies de macroalgas,<br />

principalmente Ulva sp, serão<br />

cultivadas com a finalidade de produzir<br />

biomassa para consumo humano.<br />

A empresa pretende entrar no<br />

mercado americano com produtos a<br />

base de alga seca para ser incorporados<br />

na alimentação cotidiana de<br />

forma fácil e saudável. A alimentação<br />

das macroalgas consiste em<br />

nutrientes provenientes da água do<br />

mar e também de nutrientes suplementados.<br />

Nos planos, está a utilização<br />

da água descartada da empresa<br />

de moluscos para o cultivo das<br />

macroalgas e a mesma água retornar<br />

para o cultivo de moluscos de forma<br />

apropriada.<br />

© lib.noaa.gov<br />

44<br />

ARTIGO<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


Considerações finais<br />

O potencial da Península da<br />

Baja Califórnia é incontestável. No<br />

entanto, a visita nas empresas certamente<br />

fez refletirmos sobre algo bem<br />

importante: os custos de implantação<br />

dos diferentes projetos, uns utilizando<br />

técnicas ditas “high-tech” (com<br />

equipamentos sofisticados e de alto<br />

custo de aquisição) versus técnicas<br />

mais “low-tech” (com equipamentos<br />

ou técnicas mais simples e de baixo<br />

custo). Obviamente que cada caso<br />

e espécie (com suas demandas biológicas<br />

específicas) deve ser levado<br />

em consideração. No entanto, apesar<br />

de “encher os olhos” todo e qualquer<br />

projeto deve ser bem planificado e<br />

questionado principalmente quanto<br />

a um ponto crucial: o tempo de retorno<br />

do investimento. Operar e com<br />

resultados, sim! Mas a que custo? Se<br />

não for bem planejado e eficiente, o<br />

mesmo pode nunca se viabilizar e<br />

frustrar expectativas de investidores<br />

e trabalhadores/técnicos envolvidos.<br />

As espécies já produzidas<br />

e as que apresentam demandas na<br />

região são inúmeras. Algumas parecidas<br />

com o cenário brasileiro (como<br />

as tilápias e camarões marinhos),<br />

mas outras bem diferentes como<br />

olhetes, macroalgas e abalones. A<br />

diversidade de espécies e a capacidade<br />

técnica (nas suas diferentes<br />

realidades financeiras) nos chamou<br />

a atenção. Os proprietários e investidores<br />

acreditam fielmente no potencial<br />

da atividade e investem cada<br />

vez mais focando no fortalecimento<br />

dos empreendimentos e no desenvolvimento<br />

regional. Paralelamente,<br />

programas estaduais de fomento<br />

fornecem subsídios aos projetos<br />

chegando a cifras de custear até<br />

80% dos custos de implantação. Os<br />

produtos ganham selos locais e são<br />

vendidos por todo país e até mesmo<br />

exportados. Com um pouco de criatividade<br />

e boa vontade por parte de<br />

todas as esferas da cadeia produtiva<br />

vimos, mais do que nunca, que “¡sí,<br />

se puede!”<br />

© Artur Rombenso e Maurício Emerenciano<br />

Figura 3. Oceanólogo José Enrique Vázquez Moreno dono da Marinos Baja apresentando sua empresa.<br />

Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/artigos<br />

© Artur Rombenso e Maurício Emerenciano<br />

Figura 4. Adultos de abalones sendo separados por tamanho.<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

ARTIGO<br />

45


A matemática da<br />

aquicultura:<br />

Otimizando a produção<br />

aquícola com auxílio de<br />

modelos matemáticos<br />

Zoot. Thiago Andrade da Silva<br />

Prof.de Aquicultura no Instituto Centro de Ensino Tecnológico - CENTEC<br />

Unidade de Ensino EEEP José Ivanilton Nocrato, Guaiúba - CE<br />

thiagoandrade@zootecnista.com.br<br />

46<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


Artigo<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

47


O que é melhor: produzir<br />

tilápias de 600 g e vendê-las<br />

a R$ 5,00/kg ou deixá-las<br />

crescer até atingir 1,0 kg e<br />

vendê-las a R$ 6,50/kg?<br />

Supondo que há mercado<br />

para ambos os tamanhos, podem<br />

existir argumentos favoráveis<br />

a qualquer uma. Ao vender tilápias<br />

menores, obtém-se uma conversão<br />

alimentar melhor e o viveiro, ou<br />

tanque-rede é usado em mais ciclos<br />

dentro de um mesmo período. Em<br />

favor da tilápia maior, há o apelo<br />

do preço diferenciado. Essa é uma<br />

discussão interessante e pode ser resolvida<br />

com matemática básica, utilizando-se<br />

equações e funções.<br />

Primeiro deve-se ter em<br />

mente que o lucro é diretamente proporcional<br />

à receita, o que favorece a<br />

tilápia maior, e inversamente proporcional<br />

ao custo, que, sob esse<br />

viés, torna a tilápia menor mais interessante.<br />

Então, para maximizar o<br />

lucro, pode-se pensar em diminuir o<br />

custo, ou aumentar a receita, o que<br />

implica em decidir qual será o produto.<br />

Analisando os custos de<br />

produção<br />

Considerando o custo,<br />

sabe-se que a alimentação pode<br />

representar até 70% deste, assim,<br />

pode-se concluir que um uso eficiente<br />

de ração, pode reduzi-lo<br />

significativamente. O índice mais<br />

comum para avaliação da eficiência<br />

da ração é a conversão alimentar<br />

(C.A.), que é a relação entre o consumo<br />

e a produção. Considere o seguinte<br />

exemplo:<br />

Foram consumidos 14.000<br />

kg de ração para a produção de 10.000<br />

kg de peixe, então, a conversão alimentar,<br />

também chamada de taxa de<br />

conversão alimentar (T.C.A.) ou fator<br />

de conversão alimentar (F.C.A.),<br />

será de 1,4 (14.000/10.000).<br />

Tomando a conversão<br />

alimentar anterior e considerando<br />

que um saco de ração de 25 kg usada<br />

na engorda (32% Proteína bruta e<br />

pellet de 8,0 mm) custa R$ 60,00,<br />

pode-se afirmar que a ração contribuiu<br />

para o custo unitário com R$<br />

3,36 (60,00/25 * 1,4). Imaginando<br />

que nesse exemplo a tilápia, de<br />

600 g, foi vendida a R$ 5,00/kg e que<br />

a ração equivale a 70% do custo, o<br />

lucro unitário, por quilo de tilápia<br />

produzida, foi de R$ 0,20 (5,00 –<br />

(3,36/0,70)) 1 .<br />

O produtor poderia<br />

imaginar que aumentaria seu lucro<br />

deixando suas tilápias crescerem<br />

mais. Contudo, deve-se atentar que,<br />

nessa condição, a conversão alimentar<br />

vai piorar e as estruturas de<br />

cultivo estarão ocupadas por mais<br />

tempo. Outro ponto importante a<br />

considerar é que, para essa análise<br />

ser válida, não haverá variação na<br />

demanda de outros elementos componentes<br />

do custo de produção<br />

(demanda de mão-de-obra, por<br />

exemplo) ou que estes não sofrerão<br />

variação significativa ao deixar os<br />

peixes atingirem um maior tamanho<br />

de comercialização.<br />

Nesse caso, o custo em<br />

relação à alimentação aumenta,<br />

mas a receita aumenta junto.<br />

Considerando que a conversão alimentar<br />

será de 1,8 quando a tilápia<br />

atingir 1,0 kg, o custo relativo à<br />

alimentação será R$ 4,32 e o lucro<br />

unitário R$ 0,33 (6,50 – (4,32/0,70)).<br />

Houve um incremento de<br />

65% no lucro em favor da tilápia de<br />

1,0 kg em relação à tilápia de 600 g,<br />

mas essa comparação ainda não é<br />

conclusiva, pois deve-se ainda considerar<br />

o tempo.<br />

Ganhos no tempo<br />

Se a tilápia de 600 g levar<br />

4 meses para atingir esse tamanho,<br />

considerando apenas a fase de engorda,<br />

a mesma estrutura de cultivo<br />

poderá ser utilizada até 3 vezes<br />

em um ano. Considerando que os<br />

viveiros ou tanques-rede podem<br />

suportar até 10 toneladas de peixes,<br />

tem-se então um lucro anual de R$<br />

6.000,00 (10.000*0,20*3).<br />

A tilápia de 1 kg pode atingir<br />

esse tamanho por volta de 6 meses,<br />

em condições adequadas. Nessa<br />

situação, serão obtidos 2 ciclos, cada<br />

um produzindo 10 toneladas, garantindo<br />

um lucro de R$ 6.600,00<br />

(10.000,00*0,33*2). Um lucro 10%<br />

maior.<br />

Nas condições dadas, o<br />

melhor negócio é a tilápia de 1,0 kg,<br />

mas a situação pode mudar rapidamente.<br />

O quadro 1 compara dois<br />

cenários. A partir da análise dos<br />

dados, percebe-se que, para tilápias<br />

de 600 g, um acréscimo de R$ 0,20<br />

no valor pago ao produtor (4% de<br />

incremento) dobrou o lucro anual,<br />

enquanto que a piora de 0,1 na conversão<br />

alimentar para peixes de 1,0<br />

kg gerou prejuízo.<br />

Assim, conclui-se que a decisão<br />

de que produto vai ser gerado<br />

deve levar em conta vários fatores,<br />

dentre os quais são mais importantes<br />

os seguintes:<br />

1. Preço pago ao produtor;<br />

2. Preço pago pela ração;<br />

3. Qualidade do manejo e da ração<br />

traduzidas em conversão alimentar e<br />

taxa de crescimento.<br />

1<br />

A estimativa do custo com base no preço da ração de engorda é uma boa aproximação pois, embora as rações inicias sejam mais onerosas, a quantidade utilizada<br />

é bem inferior. Em relação ao peso da ração no custo total, 70% é um valor médio e está diretamente relacionado ao sistema de produção adotado. Esse<br />

valor pode apresentar uma variação significativa entre diferentes propriedades.<br />

48<br />

ARTIGO<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


Quadro 1.<br />

Encontrando uma solução<br />

ideal com a matemática<br />

Cenário 1 Cenário 2<br />

FCA Ração¹ Vlr.px² Luc.Unit³ Luc. An 4 FCA Ração¹ Vlr.px² Luc.Unit³ Luc. An 4<br />

600 g 1,4 R$ 2,40 R$ 5,00 R$ 0,20 R$ 6.000,00 1,4 R$ 2,40 R$ 5,20 R$ 0,40 R$ 12.000,00<br />

1.000 g 1,8 R$ 2,40 R$ 6,50 R$ 0,33 R$ 6.600,00 1,9 R$ 2,40 R$ 6,50 R$ 0,01<br />

(negativo)<br />

1 – Saco de ração de 25 kg comprado a R$ 60,00.<br />

2 – Valor pago ao produtor por 1 kg de peixe.<br />

3 – Lucro unitário: valor pago por 1 kg de peixe, subtraindo-se os custos, calculados a partir dos custos com ração a 70%.<br />

4 – Lucro anual: considerando um ciclo de 4 meses para peixes de 600 g e 6 meses para peixes de 1.000 g; lucro estimado para 10 toneladas.<br />

Peso<br />

CA<br />

500 g 1,40 o lucro, R significa receitas e C é o<br />

custo.<br />

800 g 1,60<br />

Para uma comparação justa,<br />

ambos os produtos devem estar<br />

Os preços pagos pelo peixe<br />

produzido conforme seu tamanho e<br />

sobre um mesmo período e unidade,<br />

neste caso, pode-se ampliar a<br />

1200 g 2,00<br />

o valor da ração encontram variações<br />

significativas em cada região do país.<br />

equação do lucro para lucro modular<br />

A qualidade da água, do manejo e da<br />

anual, que representa o lucro esperado<br />

para um tanque-rede ou viveiro,<br />

ração podem interferir diretamente<br />

no aproveitamento da ração e taxa<br />

ficando da seguinte maneira: L m<br />

=<br />

Peso<br />

CA<br />

de crescimento. Assim, não há um<br />

(P – (C.A*R/P.R.C))mn, sendo:<br />

tamanho de 500 peixe g que seja ideal para 1,40 • P: preço a pago por 1 kg do produto;<br />

todas as regiões do país. Cada um<br />

• C.A.: conversão alimentar esperada;<br />

a<br />

deve avaliar 800 sua g própria condição. 1,60<br />

Para auxiliar a tomada de<br />

• R: valor de 1 kg da ração de<br />

900 g 1,69<br />

decisão, podem-se utilizar as ferramentas<br />

da 1.000 modelagem g de sistemas. 1,78 • P.R.C: b peso da ração nos custos<br />

engorda;<br />

b<br />

Um modelo matemático é composto<br />

por expressões<br />

(valor médio 70%);<br />

1.200 g<br />

matemáticas que<br />

2,00 • m: a capacidade de suporte do<br />

indicam o comportamento de um<br />

módulo de produção (tanque-rede<br />

1.500 g 2,40<br />

sistema de forma a prever os resultados<br />

e compreender de que forma<br />

ou viveiros);<br />

b<br />

• n: número de ciclos anuais (12/<br />

pode-se utilizá-los no dia a dia (Badue<br />

tempo médio em meses de cada ciclo).<br />

CA<br />

Tamanho<br />

e Amorim, 2012).<br />

Tempo Preço<br />

(g) Na literatura (meses) científica há<br />

diversos modelos propostos, sendo<br />

que estes podem ter diferentes<br />

graus de complexidade. Um modelo<br />

simples 500 pode ser o 3,5 suficiente R$ para 5,00 1,4<br />

auxiliar na decisão de que produto<br />

será entregue ao mercado. Para solucionar<br />

800<br />

a questão do melhor<br />

5,0<br />

tamanho<br />

R$ 6,00 1,6<br />

de peixe a produzir, o primeiro passo<br />

é 1.200 definir as principais 8,0 variáveis R$ 6,50 2,0<br />

que influenciam a rentabilidade da<br />

atividade. Nesse caso pode-se<br />

partir da equação do lucro:<br />

L = R – C, onde L representa<br />

R$ 200,00<br />

(negativo)<br />

Conhecendo a equação<br />

do lucro modular anual estimado,<br />

pode-se então fazer simulações a<br />

partir do tamanho do produto para<br />

determinar qual é o mais lucrativo, o<br />

peixe menor ou maior. Obviamente<br />

é necessário dispor dos demais fatores<br />

da equação.<br />

O preço unitário pago ao<br />

produtor, conversão alimentar e<br />

número de ciclos anuais têm relação<br />

direta com o tamanho médio do<br />

peixe produzido. Assim, podem-se<br />

definir três funções matemáticas<br />

que estimam tais variáveis. Essas<br />

funções podem ser definidas com<br />

diferentes graus de precisão, utilizando-se<br />

recursos matemáticos mais<br />

sofisticados, mas para uma análise<br />

ao nível da propriedade, podem<br />

ser definidas funções quadráticas<br />

do tipo f(x) = ax² + bx + c, onde x<br />

representa o tamanho do peixe que<br />

pretende-se comercializar e os coeficientes<br />

a, b e c são obtidos a partir<br />

do preço do peixe em diferentes tamanhos,<br />

do tempo necessário para<br />

atingir tal tamanho bem como da<br />

conversão alimentar que pode ser<br />

obtida localmente.<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

49


Cenário 1<br />

FCA Ração¹ Vlr.px² Cenário Luc.Unit³ 1 Luc. An 4 FCA<br />

600 g 1,4<br />

FCA<br />

R$<br />

Ração¹<br />

2,40 R$<br />

Vlr.px²<br />

5,00 R$<br />

Luc.Unit³<br />

0,20 R$<br />

Luc.<br />

6.000,00<br />

An 4 1,4<br />

FCA<br />

A definição de funções quadráticas é um bom modo de correlacionar<br />

o tamanho do peixe com preço, conversão alimentar e<br />

número de ciclos anuais pois considera o aspecto não linear observado.<br />

Para entender melhor o que as funções podem predizer, considere<br />

o seguinte exemplo:<br />

O histórico de uma propriedade, utilizando-se uma ração<br />

de um mesmo fabricante pode ser conferido no quadro 2, quanto aos<br />

resultados para conversão alimentar.<br />

Utilizando os dados do quadro 2 é possível definir uma função<br />

para estimar a conversão alimentar em diferentes pesos. Considere<br />

CA(x) uma função quadrática que expressa a conversão alimentar de<br />

acordo com o tamanho do peixe. Define-se da seguinte forma CA(x):<br />

Sendo CA(x) = ax² + bx + c, temos que:<br />

CA(500) = a*500² + b*500 + c = 1,40<br />

CA(800) = a*800² + b*800 + c = 1,60<br />

CA(1200) = a*1200² + b*1200 + c = 2,00<br />

Desta forma, temos 3 equações e 3 incógnitas, ou seja, um<br />

sistema de equações. Solucionando-o, temos os seguintes valores: a<br />

= 0,000000476190476190476; b = 0,0000476190476190477; e c =<br />

1,25714285714286. Conhecidos os coeficientes da função, temos que:<br />

CA(x) = 0,000000476190476190476x² + 0,0000476190476190477x +<br />

1,25714285714286<br />

Definida a função, pode-se calcular qual seria a conversão<br />

alimentar para diferentes pesos. Segue exemplo no quadro 3.<br />

A definição das funções para tempo de cultivo – n(x), que determina<br />

quantos ciclos serão obtidos anualmente, e o valor<br />

pago pelo quilo de tilápia – p(x), podem ser obtidas da<br />

mesma forma descrita para a conversão alimentar,<br />

sempre em função do tamanho de comercialização.<br />

Uma observação importante é que o preço pago<br />

pela produção nem sempre acompanha o peso<br />

médio dos peixes, estando sujeito a outros fatores<br />

do mercado, principalmente pela demanda. Entretanto,<br />

o valor pago por tamanhos específicos<br />

é um importante parâmetro para a definição do<br />

preço pago por outros tamanhos.<br />

Se, na equação do lucro modular anual,<br />

L m<br />

= (P – (CA*R/PRC))mn, substituir-se<br />

P, CA e n pelas funções p(x), CA(x) e n(x),<br />

respectivamente, todas com diferentes valores<br />

para cada tamanho (x) de peixe comercializado,<br />

tem-se então uma função que estima qual o<br />

lucro esperado para o respectivo produto gerado:<br />

1.000<br />

600 g<br />

1,8<br />

1,4<br />

R$<br />

R$<br />

2,40<br />

2,40<br />

R$<br />

R$<br />

6,50<br />

5,00<br />

R$<br />

R$<br />

0,33<br />

0,20<br />

R$<br />

R$<br />

6.600,00<br />

6.000,00<br />

1,9<br />

1,4<br />

g<br />

1.000 1,8 R$ 2,40 R$ 6,50 R$ 0,33 R$ 6.600,00 1,9<br />

g<br />

Cenário 1<br />

Quadro 2.<br />

FCA Ração¹ Vlr.px² Luc.Unit³ Luc. An 4 FCA R<br />

Quadro 3.<br />

Peso<br />

CA<br />

600 g 1,4 R$ 2,40 R$ 5,00 R$ 0,20 R$ 6.000,00 1,4 R<br />

1.000<br />

g<br />

Peso<br />

CA<br />

500 g 1,40<br />

1,8 R$ 2,40 R$ 6,50 R$ 0,33 R$ 6.600,00 1,9 R<br />

500 g 1,40<br />

800 1,60<br />

800 g 1,60<br />

1200 2,00<br />

Peso<br />

CA<br />

1200 g 2,00<br />

500 g 1,40<br />

800 g 1,60<br />

1200 Peso g 2,00 CA<br />

500 g 1,40 a<br />

800 g 1,60 a<br />

Peso 900 g CA 1,69 b<br />

1.000 500 g g 1,40 1,78 a b<br />

1.200 800 g g 1,60 2,00 a a<br />

1.500 900 g g 1,69 2,40 b b<br />

a: valores originais; b: valores estimados com a função<br />

CA(x).<br />

Quadro 4.<br />

Tamanho<br />

(g)<br />

1.000 g 1,78 b<br />

1.200 g 2,00 a<br />

1.500 g 2,40 b<br />

Tempo<br />

(meses)<br />

Preço<br />

CA<br />

500 3,5 R$ 5,00 1,4<br />

800 5,0 R$ 6,00 1,6<br />

1.200 8,0 R$ 6,50 2,0<br />

Lm(x) = [(p(x) – (CA(x)*R/PRC))m]*12/n(x)<br />

50<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


Exemplo 1:<br />

A partir das informações do quadro 4 são definidas funções que estimam quanto tempo levaria, qual o preço<br />

esperado e a conversão alimentar observada em diferentes tamanhos de comercialização.<br />

Fazendo simulações com a função lucro modular anual, tem-se os seguintes resultados:<br />

Quadro 5.<br />

Tamanho (g) Tempo Preço CA Lucro modular anual<br />

(meses)<br />

estimado*<br />

500 3,5 R$ 5,00 1,40 R$ 6.900,00<br />

600 3,9 R$ 5,39 1,46 R$ 12.124,68<br />

700 4,4 R$ 5,73 1,52 R$ 13.594,47<br />

800 5,0 R$ 6,00 1,60 R$ 12.342,86<br />

Tamanho 900 (g) Tempo 5,6 R$ Preço 6,20 1,69 CA Lucro R$ modular 9.244,12 anual<br />

1.000 (meses) 6,4 R$ 6,37 1,78 R$ estimado* 4.963,08<br />

500<br />

1.100<br />

3,5<br />

7,1<br />

R$<br />

R$ 6,46<br />

5,00<br />

1,88<br />

1,40<br />

R$ 17,14<br />

R$ 6.900,00<br />

(negativo)<br />

Tamanho 1.200 8,0 R$ 6,50 2,00 R$ 5.357,14 (negativo)<br />

600 (g) Tempo 3,9 Preço R$ 5,39 1,46 CA Lucro R$ modular 12.124,68 anual<br />

* Módulo para a produção de 10 toneladas, considerando que um saco da ração de engorda de 25 kg custa R$ 60,00.<br />

700 (meses) 4,4 R$ 5,73 1,52 R$ estimado* 13.594,47<br />

Observe 500 800 que o lucro máximo 3,5 5,0 ocorre, a partir R$ 5,00 6,00 das condições 1,40 1,60 iniciais, quando se comercializam R$ 12.342,86 6.900,00 tilápias com<br />

peso em torno 600 900 de 700 g. Na situação 3,9 5,6 dada, peixes R$ com 5,39 6,20800 g são comercializados 1,46 1,69 a R$ R$ 6,00/kg 12.124,68 9.244,12 e, para o produtor,<br />

mesmo que a<br />

700<br />

tilápia de 700 g seja vendida por 0,27 a menos, ainda é mais vantajoso a tilápia de 700 g. Outra<br />

conclusão importante<br />

1.000 4,4<br />

é que, nesse<br />

6,4 R$<br />

caso, peixes maiores 5,73 6,37 1,52<br />

não são um<br />

1,78 R$<br />

bom negócio. Além 13.594,47<br />

dos<br />

4.963,08<br />

800 g, o lucro diminui<br />

rapidamente, 800 1.100 sendo que para peixes 5,0 7,1 de 1,2 kg, há R$ um 6,00 6,46 prejuízo significativo. 1,60 1,88 R$ R$ 17,14 12.342,86 (negativo)<br />

Exemplo 900 1.200 2: 5,6 8,0 R$ 6,20 6,50 1,69 2,00 R$ 5.357,14 R$ 9.244,12 (negativo)<br />

Quadro 1.000 6.<br />

6,4 R$ 6,37 1,78 R$ 4.963,08<br />

1.100<br />

Tamanho (g)<br />

7,1<br />

Tempo<br />

R$ 6,46 1,88<br />

Preço<br />

R$ 17,14 (negativo)<br />

CA<br />

1.200 8,0 (meses) R$ 6,50 2,00 R$ 5.357,14 (negativo)<br />

500 3,5 R$ 4,50 1,4<br />

Tamanho 800 (g)<br />

Tempo 4,5 R$ Preço 5,50 1,6 CA<br />

1.200 (meses) 7,5 R$ 7,00 2,0<br />

Na condição 500 dada acima, observa-se que 3,5 o mercado valoriza mais R$ peixes 4,50 maiores e que o crescimento 1,4 é um<br />

pouco mais acelerado. 800 A conversão alimentar 4,5 mantém-se a mesma que R$ no exemplo 5,50 1.<br />

1,6<br />

Assim, podem-se inferir os seguintes resultados:<br />

1.200 7,5 R$ 7,00 2,0<br />

Quadro 7.<br />

Tamanho (g) Tempo Preço CA Lucro modular anual*<br />

(meses)<br />

500 3,5 R$ 4,50 1,40 R$ 10.285,71 (negativo)<br />

600 3,7 R$ 4,82 1,46 R$ 5.637,36 (negativo)<br />

700 4,0 R$ 5,15 1,52 R$ 2.067,23 (negativo)<br />

800 4,5 R$ 5,50 1,60 R$ 380,95<br />

900 5,1 R$ 5,86 1,69 R$ 1.835,01<br />

1.000 5,8 R$ 6,23 1,78 R$ 2.500,59<br />

1.100 6,6 R$ 6,61 1,88 R$ 2.590,06<br />

1.200 7,5 R$ 7,00 2,00 R$ 2.285,71<br />

1.400 9,7 R$ 7,82 2,26 R$ 1.021,01<br />

* Módulo para a produção de 10 toneladas, considerando que um saco da ração de engorda de 25 kg custa R$ 60,00.<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

ARTIGO<br />

51


Como podia-se imaginar,<br />

para esse mercado específico é<br />

interessante entregar peixes maiores,<br />

sendo que o lucro máximo se dá entre<br />

1.000 g e 1.100 g.<br />

A definição das funções<br />

pode ser um exercício trabalhoso,<br />

entretanto com o uso de planilhas<br />

eletrônicas a manipulação dos dados<br />

é facilitada. Uma planilha para<br />

auxiliar os produtores e técnicos está<br />

disponível no link https://goo.gl/<br />

12j4s5. Para utilizá-la basta informar<br />

os dados iniciais: valor pago, conversão<br />

alimentar e tempo necessário<br />

respectivos a três diferentes<br />

tamanhos de comercialização. A partir<br />

desses valores, é obtida a função<br />

lucro modular anual – Lm(x), e sua<br />

função derivada – L’m(x). A planilha<br />

determina o valor para x que torna<br />

L’m(x) = 0, valor este que representa<br />

o tamanho de peixe que gera<br />

o lucro máximo. Na planilha também<br />

é possível fazer simulações com<br />

diferentes tamanhos e observar o lucro<br />

estimado para cada um.<br />

Considerações finais<br />

A matemática pode ser uma<br />

aliada poderosa na tomada de decisões.<br />

As simulações feitas acima<br />

podem estar distantes da realidade<br />

de muitos produtores, mas bem<br />

próximas do que alguns encontram<br />

localmente. Assim, é possível manipular<br />

a planilha para que os resultados<br />

sejam consistentes. Embora as<br />

aplicações tenham sido feitas para a<br />

tilápia, o mesmo exercício pode ser<br />

feito para outras espécies de peixes e<br />

também camarões, desde que sejam<br />

atualizados os dados da planilha disponibilizada.<br />

Para que os dados gerados<br />

sejam confiáveis, é imprescindível<br />

alimentar o modelo com valores o<br />

mais reais possível, obtidos localmente<br />

ou em lotes anteriores, também<br />

com preços praticados no mercado<br />

local.<br />

As simulações feitas não<br />

podem ser tomadas como definitivas,<br />

embora sejam orientadoras, e<br />

as decisões tomadas em cada propriedade<br />

deve levar em conta que<br />

a disponibilidade de estruturas, o<br />

desempenho da linhagem utilizada,<br />

a qualidade da água, da ração e<br />

do manejo bem como a demanda<br />

do mercado local e outros fatores<br />

vão interferir diretamente sobre a<br />

rentabilidade da atividade.<br />

Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/artigos<br />

52<br />

ARTIGO<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

53


© Alex Augusto<br />

Artigo<br />

54<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


Desenvolvimento de<br />

um produto com<br />

valor agregado:<br />

nuggets de camarão recheado<br />

com queijo provolone<br />

Prof. Dr. Alex Augusto Gonçalves<br />

Chefe do Laboratório de Tecnologia e Controle de Qualidade do<br />

Pescado (LAPESC)<br />

Centro de Ciências Agrárias (CCA)<br />

Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA)<br />

Mossoró, RN, <strong>Brasil</strong><br />

alaugo@gmail.com<br />

Julianna Stephanie Barbosa da Silva<br />

Engenheira de Pesca<br />

LAPESC/CCA/UFERSA<br />

Mossoró, RN, <strong>Brasil</strong><br />

juliannastephanie@hotmail.com<br />

A produção de proteína de alta qualidade<br />

proveniente das atividades da pesca e da aquicultura<br />

tem sido ultimamente bastante discutida,<br />

visto que tais atividades são capazes de gerar<br />

volumes consideráveis de renda, tanto em países<br />

desenvolvidos, quanto naqueles em desenvolvimento.<br />

Atualmente a atividade da pesca extrativa<br />

perde espaço no <strong>Brasil</strong>, pois o país já atingiu o<br />

limite de captura de espécies devido ao avanço<br />

indiscriminado da pesca predatória, enquanto<br />

que a aquicultura está em expressiva ascensão<br />

(Bombardelli et al., 2005).<br />

Segundo a Associação <strong>Brasil</strong>eira de Criadores<br />

de Camarão (ABCC, 2016) apesar de<br />

uma diminuição de 2% na produção mundial<br />

de camarão cultivado em 2015, quando comparado<br />

a 2014, espera-se uma retomada na produção<br />

total em 2017 para aproximadamente 4,75<br />

milhões de toneladas, e a espécie L. vannamei<br />

será responsável por 75% do total da produção de<br />

camarão de cultivo.<br />

Dessa forma, na tentativa de diversificar<br />

a oferta de produtos à base de pescado e<br />

agregar ainda mais valor a produtos que já são<br />

considerados nobres, pesquisadores têm estudado<br />

a produção de reestruturados e empanados,<br />

que apresentam grande aceitação em redes de fast<br />

food, restaurantes institucionais e como produtos<br />

de conveniência. Os produtos reestruturados<br />

oferecem inúmeras vantagens por serem desossados,<br />

possuírem tamanho e formato apropriado,<br />

proporcionarem menor perda durante o cozimento<br />

e melhor aproveitamento dos músculos<br />

que seriam subutilizados. Os reestruturados empanados,<br />

do tipo nuggets, podem ser elaborados<br />

de uma grande variedade de carnes, sendo geralmente<br />

processados com o músculo moído e refletem<br />

a preferência do consumidor local (Nunes,<br />

2003; Lustosa Neto & Gonçalves, 2011).<br />

A aplicação da tecnologia de<br />

empanamento, amplamente conhecida tanto<br />

no país como fora dele, já se fixou no mercado<br />

devido à facilidade no preparo, tornando possível<br />

a melhora das características do produto, como<br />

cor, textura, sabor e aroma (Gonçalves & Leonhardt,<br />

2011). Um produto empanado é um produto<br />

cárneo industrializado, obtido de diversas<br />

espécies de animais de açougue, contendo ingredientes<br />

em sua composição, podendo apresentar<br />

moldes ou não e apresenta cobertura apropriada<br />

que o caracterize. Este produto pode ser cru,<br />

pré-cozido, cozido, pré-frito, frito, além de outras<br />

formas. Por esse sistema ser um tanto complexo,<br />

pois envolve diferentes processos, é de suma<br />

importância que se conheça as características<br />

químicas e físicas do substrato utilizado, de modo<br />

a produzir um produto com boas características<br />

sensoriais (Gonçalves & Leonhardt, 2011).<br />

Assim, o presente trabalho teve como<br />

objetivo desenvolver um produto de valor agregado<br />

(nuggets) a partir do camarão branco (L.<br />

vannamei), conhecer o rendimento do produto<br />

após o processo de empanamento, sua aceitação<br />

sensorial e os aspectos nutricionais desse novo<br />

produto.<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

55


Materiais e métodos<br />

Matéria-prima e insumos<br />

A matéria prima utilizada foi o camarão branco<br />

(Litopenaeus vannamei) fornecido pela empresa<br />

Aquarium Aquicultura do <strong>Brasil</strong> Ltda, localizada<br />

no município de Mossoró (RN). Os camarões foram<br />

despescados e imediatamente acondicionados em caixa<br />

isotérmica (com gelo em escamas na proporção 1:1, camarão:gelo),<br />

e transportados ao Laboratório de Tecnologia<br />

e Controle de Qualidade do Pescado (LAPESC), da<br />

Universidade Federal Rural do Semi Árido (UFERSA)<br />

onde foram lavados, descabeçados, descascados, pesados,<br />

embalados a vácuo, congelados em ultra freezer<br />

(-35 o C) e armazenados nesta temperatura até o momento<br />

do desenvolvimento do produto. Posteriormente os<br />

camarões foram descongelados sob refrigeração (4°C)<br />

24h antes do desenvolvimento do produto.<br />

Foram utilizados os seguintes insumos: queijo<br />

provolone, gelo moído, NaCl, proteína texturizada de<br />

soja granulada, amido de milho, farinha de trigo, tempero<br />

pronto de alho e cebola, pimenta do reino, glutamato<br />

monossódico e<br />

hexametafosfato<br />

Produtos reestruturados<br />

oferecem<br />

de sódio. O<br />

sistema de cobertura<br />

utiliza-<br />

inúmeras vantagens<br />

por serem<br />

do foi: farinha<br />

desossados, possuírem<br />

de pré cobertura<br />

(pre dust<br />

tamanho e formato apropriado,<br />

proporcionarem menor<br />

– Pré-Coating<br />

3.61), o líquido perda durante o cozimento<br />

e melhor<br />

de empanamento<br />

(batter – Powder<br />

Link 5.24) dos músculos<br />

aproveitamento<br />

e a farinha de que seriam<br />

empanamento<br />

(breading<br />

subutilizados.<br />

– Kraker Mill Flocada 7.42), fornecidos<br />

pelo Moinho Romariz (São Paulo, SP).<br />

Desenvolvimento do nuggets<br />

Os nuggets foram desenvolvidos seguindo o<br />

fluxograma apresentado nas Figuras 1 e 2. Após o descongelamento<br />

os camarões foram triturados em multiprocessador<br />

de alimentos. Aos poucos foram adicionados<br />

o NaCl, o gelo, a proteína texturizada da soja (50%<br />

natural e 50% hidratada), a farinha de trigo, o amido de<br />

milho, a pimenta do reino, o alho e cebola (flocos finos<br />

– Aroma das Ervas®, o hexametafosfato de sódio e o glutamato<br />

monossódico.<br />

Amostras dos nuggets de camarão recheado<br />

com queijo provolone foram fritas em óleo vegetal e em<br />

seguida foram avaliados sensorialmente com 50 provadores<br />

não treinados (faixa etária variando<br />

de 18 a 51 anos) compreendendo<br />

alunos, professores e funcionários<br />

da UFERSA de ambos os sexos e<br />

que concordaram em participar da<br />

pesquisa assinando o Termo de<br />

Consentimento Livre e Esclarecido<br />

(TCLE), onde constava o objetivo<br />

da pesquisa assim como os<br />

procedimentos metodológicos<br />

realizados na mesma. Pessoas<br />

que relataram alergia<br />

e/ou intolerância alimentar<br />

aos componentes dos<br />

produtos não participaram da pesquisa.<br />

A análise sensorial foi feita no LAPESC e utilizou-se<br />

o Teste de Aceitação Global com escala hedônica,<br />

estruturada em nove pontos que variam desde “gostei<br />

muitíssimo” até “desgostei muitíssimo” (Stone & Sidel,<br />

2004; Dutcosky, 2007). O índice de aceitabilidade (IA) foi<br />

calculado considerando como 100% o máximo de pontuação<br />

alcançada pela formulação testada na pesquisa, e<br />

o critério de decisão para o índice ser de boa aceitação<br />

é de no mínimo 70% (Teixeira et al., 1987). Foi avaliada,<br />

também, a intenção de compra em relação ao produto<br />

utilizando o Teste de Escala de Atitude estruturada, em<br />

sete pontos que variam de “compraria sempre” até “nunca<br />

compraria” (Stone & Sidel, 2004).<br />

A importância da rotulagem nutricional<br />

dos alimentos para a promoção da alimentação saudável<br />

é destacada em grande parte dos estudos e pesquisas<br />

que envolvem a área da nutrição e sua relação com estratégias<br />

para a redução do risco de doenças crônicas. A<br />

demanda crescente da sociedade por informações confiáveis<br />

acerca dos produtos exige esforço do governo e<br />

setor produtivo para implantação de uma efetiva rotulagem<br />

nutricional de alimentos. Portanto, foi elaborada a<br />

rotulagem nutricional para o produto desenvolvido, de<br />

acordo com a legislação brasileira.<br />

56<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


Figura 1. Fluxograma do nuggets de camarão recheado com queijo provolone.<br />

Figura 2. Etapas do desenvolvimento do nuggets de camarão recheado com queijo provolone.<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

57


Resultados e discussão<br />

A formulação inicial da massa não apresentou a consistência desejada, o que dificultou o porcionamento<br />

e formatação. Acrescentou-se 10 gramas de proteína texturizada da soja, uma vez que o uso de proteínas<br />

vegetais contribui na formação do gel e na estabilização da matriz proteica dos produtos reestruturados, conferindo<br />

maior estabilidade.<br />

Tabela 1. Formulação inicial dos nuggets de camarão recheado com queijo provolone.<br />

Para os cálculos de rendimento do processo<br />

(Tabela 2) foram registrados os pesos do camarão inteiro,<br />

descascado (antes e após o descongelamento) e<br />

o peso do bolinho antes e depois do processo de empanamento.<br />

Após o descabeçamento e descasque, o rendimento<br />

foi de 53,17%, o que representa 46,84% de<br />

resíduo. Após o descongelamento, o rendimento foi de<br />

88,47% (perdeu 11,53% de água). A partir do camarão<br />

descongelado, são calculados os rendimentos das massas:<br />

sem recheio apresentou 135,71% de rendimento<br />

(ganho de 35,71%) e com recheio apresentou rendimento<br />

de 116,50% (ganho de 16,5%). O produto final<br />

apresentou rendimento de 156% em relação ao peso<br />

do camarão descongelado. O rendimento global com<br />

relação ao camarão inteiro foi de 116% e com relação<br />

ao camarão descascado foi de 209%. O ganho de peso<br />

foi devido a incorporação de ingredientes e principalmente<br />

após o pick up do processo de empanamento.<br />

A alta crocância do produto deveu-se à utilização da<br />

farinha de cobertura (breader) de maior granulometria.<br />

O queijo provolone contido no interior do nugget<br />

apresentou derretimento desejado, e a massa que o envolvia<br />

possuía textura macia e homogênea.<br />

Na análise sensorial do nuggets, a faixa etária<br />

entre 21-30 anos foi a predominante, sendo que as<br />

mulheres constituíram o maior número de entrevistados.<br />

Na faixa etária de 18-20, os números de entrevistados<br />

foram iguais, diferentemente das classes 31-40 e<br />

41-50 onde os homens foram entrevistados em maior<br />

58 ARTIGO<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


número e a classe acima de 50 anos apresentou maioria<br />

feminina.<br />

Gonçalves et al. (2008), correlacionaram a<br />

preferência de consumo com a faixa etária e observaram<br />

que os consumidores com idade inferior a 20 anos têm<br />

preferência por peixe inteiro congelado, filés empanados<br />

e nuggets. A forma de consumo preferida pela maioria<br />

dos entrevistados foi o frito, independente de ocupação<br />

e faixa etária. No trabalho realizado por Minozzo (2008)<br />

ainda que a análise sensorial não tenha inclinação para<br />

a questão de gênero, faz-se necessário comentar que a<br />

maioria do público consumidor foi do sexo feminino,<br />

pois são as principais clientes em quantidade e qualidade,<br />

além de serem tomadoras de decisão no momento<br />

da compra e determinam o próprio consumo e o da<br />

família.<br />

Os resultados da escala hedônica de aceitação<br />

do produto apresentaram maiores percentuais da escala<br />

de aceitação para gostei extremamente (62%) e gostei<br />

muito (34%), seguidos de gostei moderadamente e<br />

gostei ligeiramente, ambos com 2%. As demais escalas<br />

obtiveram percentual zero em relação ao total. O Índice<br />

de Aceitabilidade calculado foi de 95,3%. O critério de<br />

decisão para o índice de boa aceitação é quando o produto<br />

apresenta percentual acima de 70% de aprovação.<br />

A média das notas obtidas na análise sensorial foi de<br />

8,6, valor este que está compreendido entre as escalas de<br />

“gostei muito” e “gostei extremamente”.<br />

Na avaliação da intenção de compra dos consumidores,<br />

resultou num percentual de 88% para certamente<br />

eu compraria, 10% para provavelmente eu<br />

compraria, 2% para talvez eu compraria/talvez eu não<br />

compraria e 0% para as demais opções. Esses resultados<br />

estão diretamente ligados às justificativas dadas pelos<br />

consumidores, de ser um alimento diferenciado e não<br />

possuir oferta no mercado, ser à base de carne de pescado<br />

e também por ter a vantagem de um rápido e fácil<br />

preparo para complementar as refeições ou ser oferecido<br />

como petisco.<br />

Dentre as razões que limitam o consumo de pescado,<br />

Minozzo (2008) identificou que o preço é o principal<br />

fator, quando comparado a outros tipos de carnes.<br />

As características do consumo de carne no <strong>Brasil</strong> ainda<br />

são muito ligadas em preço, não sendo diferente com os<br />

produtos de pescado. Isto pode ser comprovado através<br />

das observações descritas pelos provadores na ficha da<br />

análise sensorial, relacionando a compra do produto<br />

com o preço que seria imposto.<br />

Com relação aos valores da composição<br />

centesimal do nugget de camarão recheado com queijo<br />

provolone, estes estão apresentados na Tabela de Informação<br />

Nutricional, e foram calculados com base na<br />

composição centesimal dos ingredientes presentes na<br />

formulação dos nuggets. O valor calórico foi de 216 kcal<br />

em uma porção de 95 gramas (3 bolinhos). O valor proteico<br />

encontrado (16g) indica que o produto pode ser<br />

uma excelente fonte de aminoácidos, o que pode ser<br />

confirmado através do estudo de Sriket et al. (2007) e<br />

Gonçalves & Gomes (2008), onde encontraram valores<br />

próximos de proteína para a mesma espécie de camarão.<br />

Tabela 2. Rendimento dos nuggets de camarão recheado com queijo provolone.<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

ARTIGO<br />

59


Conclusões<br />

Ações no sentido de estimular o consumo<br />

de pescado devem ser promovidas para aumentar o<br />

consumo per capita e melhorar a qualidade de vida<br />

da população. Apesar dos fatores culturais e econômicos<br />

direcionarem o consumo de pescado em nível<br />

nacional, os principais fatores que influenciam são a<br />

indisponibilidade de produtos de valor agregado, em<br />

quantidade e qualidade e que sejam de fácil preparo.<br />

O aproveitamento da carne de camarão<br />

utilizado como matéria prima para elaboração de<br />

nuggets mostrou-se promissor no desenvolvimento de<br />

um novo produto com valor agregado, uma vez que o<br />

produto possui elevado valor nutricional e apresentou<br />

ótima aceitação sensorial.<br />

Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/artigos<br />

60<br />

ARTIGO<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


R<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

61


A rt i g o s pa r a cur t i r<br />

e compa rt i l h a r<br />

Apparent digestibility of nutrients, energy, essential amino acids and fatty<br />

acids of juvenile Atlantic salmon (Salmo salar L.) diets containing whole-cell<br />

or cell-ruptured Chlorella vulgaris meals at five dietary inclusion levels<br />

Os pesquisadores Sean M. Tibbetts, Jason<br />

Mann e André Dumas publicaram recentemente<br />

na revista <strong>Aquaculture</strong> (Amsterdã), Vol. 481 (01<br />

de dezembro de 2017), um interessante estudo<br />

reunindo o salmão, microalgas e nutrição!<br />

Segundo os autores, a Chlorella vulgaris, uma<br />

das microalgas mais investigadas em termos de<br />

aplicações biotecnológicas, jamais tinha sido<br />

avaliada como um potencial “low-trophic” ingrediente<br />

para o Salmão do Atlântico (Salmo salar<br />

L.).<br />

Os resultados do trabalho são bastante animadores,<br />

destacando-se, entre eles:<br />

A utilização da farinha de clorela de<br />

parede celular rompida não afetou o<br />

coeficiente de digestibilidade aparente<br />

para matéria seca quando inclusa até<br />

30%, proteína até 24% e lipídeo até 18%;<br />

A digestibilidade dos aminoácidos<br />

essenciais foi alta (83–95%) para<br />

a farinha de clorela de parede celular<br />

rompida (C. vulgaris);<br />

A inclusão da farinha de clorela de<br />

parede celular rompida aumentou a<br />

digestibilidade dos carboidratos e do<br />

amido em mais de 20%.<br />

62<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


C h a r g e s<br />

máximo aproveitamento<br />

wi-fi zone<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

63


BIOTECNOLOGIA DE ALGAS<br />

Metabolismo das<br />

microalgas – parte II<br />

Dr. Roberto Bianchini Derner<br />

Laboratório de Cultivo de Algas<br />

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)<br />

Florianópolis, SC<br />

roberto.derner@ufsc.br<br />

N<br />

a Coluna anterior (6ª <strong>Edição</strong>, Maio/Junho 2017)<br />

tratamos de alguns dos fatores ambientais que<br />

influenciam o crescimento das culturas de microalgas<br />

e, consequentemente, também implicam em<br />

variações na composição bioquímica da biomassa.<br />

Tais fatores podem ser definidos como inibitórios –<br />

que não permitem o desenvolvimento das microalgas;<br />

limitantes – que causam redução da taxa de crescimento<br />

(divisão celular) e/ou de alguma outra reação<br />

fisiológica; estressantes – aqueles que implicam num<br />

desequilíbrio metabólico, que demanda ajustes bioquímicos<br />

antes que as células possam estabelecer um<br />

novo estado de crescimento.<br />

Como todos os organismos vivos, as microalgas<br />

crescem satisfatoriamente considerando limites<br />

mínimos e máximos destes fatores, entretanto, algumas<br />

espécies podem se desenvolver em faixas muito<br />

amplas (água doce ou salgada, por exemplo), desde<br />

que exista um período de aclimatação. Além daqueles<br />

fatores apresentados na edição anterior (luz e nutrientes<br />

como carbono e nitrogênio), diversos outros nutrientes<br />

são necessários para o desenvolvimento das<br />

culturas de microalgas (fósforo, potássio, ferro, sódio,<br />

magnésio etc.), sendo que cada um tem papel fundamental<br />

e específico no metabolismo celular.<br />

Reconhecidamente, o silício (sílica ou silicato)<br />

é imprescindível para as diatomáceas, porém,<br />

quando em excessiva concentração pode causar redução<br />

da síntese de lipídios nestas microalgas, levando<br />

à redução do valor nutricional da biomassa<br />

para uso na alimentação de larvas de moluscos e de<br />

camarões, por exemplo. Outro fator ambiental importante<br />

é a temperatura, que além de influenciar a<br />

taxa metabólica, também pode causar alterações na<br />

© Roberto Bianchini Derner<br />

64<br />

COLUNA<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


natureza do metabolismo. Nas<br />

culturas, nem sempre a elevação<br />

da temperatura implica em maior<br />

crescimento, cabe esclarecer que<br />

algumas espécies crescem melhor<br />

em temperaturas mais amenas e,<br />

caso o crescimento seja favorecido,<br />

pode ocorrer aumento da cota<br />

celular, assim, maior cuidado será<br />

necessário em relação à concentração<br />

dos nutrientes, que podem<br />

se tornar limitantes num curto espaço<br />

de tempo.<br />

Quanto à natureza do<br />

metabolismo, alguns componentes<br />

celulares são sintetizados<br />

exclusivamente visando atender<br />

funções fisiológicas básicas/específicas,<br />

enquanto outros compostos<br />

estão associados ao metabolismo<br />

secundário. Tanto a<br />

temperatura, quanto o estado fisiológico<br />

das células microalgais,<br />

podem dirigir o metabolismo à<br />

síntese de lipídios que funcionam<br />

como componentes de membrana,<br />

produtos de reserva, metabólitos<br />

ou como fonte de energia.<br />

Assim, convém estudar<br />

o desenvolvimento das culturas<br />

em temperaturas adequadas ao<br />

produto esperado: PUFA, ácidos<br />

graxos saturados (para elaborar<br />

biodiesel, p. e.) etc. A agitação das<br />

culturas também tem papel determinante,<br />

uma vez que o movimento<br />

da água implica numa série<br />

de efeitos positivos: permite uma<br />

distribuição homogênea das células<br />

e dos nutrientes (prevenção de<br />

gradientes nutricionais e gasosos<br />

ao redor das células, que levam<br />

a restrições no crescimento);<br />

melhora na distribuição da luz<br />

(por célula); evita a sedimentação<br />

das células (zonas anaeróbicas);<br />

facilita a “entrada” de CO 2<br />

nas culturas.<br />

Para a agitação das culturas<br />

têm sido empregados agitadores<br />

de pás (paddle wheel), sendo também<br />

muito comum o emprego da<br />

injeção de ar pressurizado através<br />

de mangueiras e tubos perfurados<br />

dispostos no fundo dos tanques,<br />

fazendo com que as bolhas de ar<br />

criem um movimento ascendente<br />

e, consequentemente causem<br />

movimento da água. O tamanho<br />

das bolhas de ar é igualmente importante,<br />

mas este assunto será<br />

apresentado nas próximas edições.<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

65


Green Technologies<br />

O<br />

66<br />

Bioflocos:<br />

onde tudo começou?<br />

COLUNA<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

Dr. Maurício Gustavo Coelho Emerenciano<br />

UDESC, Laguna, SC<br />

mauricioemerenciano@hotmail.com<br />

interesse nos cultivos de bioflocos é crescente e a coluna<br />

“Green Technologies” desta edição discorre sobre a<br />

origem deste sistema. Não é incomum que produtores<br />

de longa data, iniciantes ou até mesmo futuros investidores<br />

do setor se questionem sobre os primórdios dos cultivos BFT.<br />

Afinal, onde tudo começou?<br />

Contrariando muitas hipóteses, os cultivos utilizando<br />

a tecnologia de bioflocos iniciaram na década de 70 na<br />

França, mais precisamente na Polinésia Francesa, em um centro<br />

de pesquisa chamado IFREMER, localizado na paradisíaca<br />

ilha do Taiti. Multinacionais norte-americanas em colaboração<br />

com o time francês chamado de AQUACOP aplicaram<br />

esta tecnologia para diversas espécies como o camarão tigre<br />

Penaeus monodon, camarão branco do Pacífico Litopenaeus<br />

vannamei e o camarão azul L. stylirostris, muito apreciado<br />

naquela região e pelo mercado francês.<br />

Os primeiros testes foram a nível de pesquisa no<br />

IFREMER (avaliando aspectos de engorda, microbiológicos e<br />

reprodutivos), mas também a nível comercial na ilha e em território<br />

norte-americano. Uma fazenda de destaque chama-se<br />

Sopomer, localizada no Taiti. Essa fazenda, com tanques de<br />

concreto de 1000 m², chegou a produzir 20-25 toneladas/ha/<br />

ano, um recorde para o setor naquele momento.<br />

Passados alguns anos, final da década de 80 e início<br />

dos anos 90, o Waddell Mariculture Center nos EUA (com<br />

camarões marinhos) e Instituto Tecnológico de Israel (com<br />

tilápias) também iniciaram suas pesquisas. Entre os motivos<br />

que impulsionaram as pesquisas naquelas regiões estão a<br />

limitação/custos de terras, questões ambientais e escassez de<br />

água. Em termos comerciais algumas merecidas considerações<br />

devem ser feitas. Além da Sopomer do Taiti, outro exemplo<br />

ímpar é a fazenda Belize <strong>Aquaculture</strong>, localizada em Belize,<br />

América Central. No início dos anos 2000 após investimento<br />

do Banco mundial na ordem de 150 milhões de dólares, a<br />

fazenda de camarões que operava no modelo tradicional foi<br />

toda transformada em uma fazenda de bioflocos com trocas<br />

de água limitada e toda recoberta com geomembrana. O<br />

sistema de aeração era misto composto por aeradores do tipo<br />

injetores e de pás, em viveiros com cerca de 1,6 ha com 1,2-<br />

1,5 m de profundidade.<br />

Algo inovador era o manejo microbiano utilizando<br />

melaço, “grain pellets” (ou pellets de grãos) e relação C:N alta<br />

para fomentar microrganismos heterotróficos. Este conceito<br />

logo se expandiu e fazendas na Tailândia, e posteriormente,<br />

Malásia, Indonésia, China e Vietnã iniciavam seus testes e<br />

aplicavam comercialmente o conceito BFT. Vale recordar<br />

que o conceito sobre manejo microbiano preconizado pelo<br />

sistema de bioflocos possui diversas variantes, o que originou<br />

atualmente diversas outras nomenclaturas como sistemas<br />

mixotróficos, entre outros. Hoje países como México, Equador,<br />

Peru e mais recentemente <strong>Brasil</strong> estão amplamente utilizando<br />

tal tecnologia em ao menos uma fase de produção de<br />

L. vannamei.<br />

Tratando-se de fazendas do tipo “indoor” (hiperintensivas<br />

em estufas) destaque para a fazenda<br />

chamada Marvesta, no nordeste americano.<br />

Fundada em 2002 a produção local de camarões<br />

tem um mercado certo: a alta gastronomia<br />

da vizinha cidade de Nova Iorque, EUA.<br />

Hoje este conceito se expande por todo EUA e<br />

também Europa.<br />

No <strong>Brasil</strong>, os primeiros impulsos foram<br />

dados no Rio Grande do Sul com tilápias e camarões.<br />

Um divisor de águas certamente foram<br />

os avanços realizados e divulgados pelo Projeto<br />

Camarão, liderados pelo pesquisador Wilson<br />

Wasielesky da Universidade Federal do Rio<br />

Grande (FURG). Os avanços em pesquisa impulsionaram<br />

pequenas fazendas naquele estado<br />

e posteriormente também em Santa Catarina.<br />

Logo após o sistema “ganhou asas” no nordeste<br />

brasileiro, bem como outras regiões como centro-oeste<br />

e sudeste que também vem aplicando<br />

o sistema em escala comercial.<br />

Devido a questões associadas a escassez de<br />

© Maurício Emerenciano<br />

Figura 1. Sistema de bioflocos no centro de pesquisa francês IFREMER, Taiti (A), Fazenda Sopomer, Taiti (B),<br />

Waddell Mariculture Center (C) e Israel (D).<br />

água, proximidade do mercado consumidor e/<br />

ou biossegurança algo é certo: muitas histórias<br />

ainda serão contadas sobre este sistema que<br />

certamente veio para ficar!


Empreendedorismo<br />

Aquícola<br />

Hora de virar o jogo<br />

André Camargo<br />

Escama Forte<br />

andre@escamaforte.com.br<br />

S<br />

empre soubemos que a grande reserva hídrica,<br />

a diversidade genética de nossas espécies de<br />

peixes, a alta produção de grãos e a vocação para o<br />

agronegócio são os pontos que mantem o <strong>Brasil</strong> como<br />

“potencial” produtor aquícola do mundo.<br />

Neste mesmo sentido, dois estados da<br />

federação, Mato Grosso e Tocantins, desprezando<br />

apenas a diversidade genética de suas bacias hidrográficas,<br />

surgem no cenário nacional como destaque<br />

devido à eminência de aprovação da criação de tilápia<br />

em suas águas.<br />

Estrategicamente sabemos da importância<br />

deste fato, pois dois estados com tamanha vocação podem<br />

dar a escala que sempre sonhamos para a tilapicultura<br />

nacional. Isso porque em suas águas quentes<br />

e de qualidade, estes dois estados tendem a melhorar<br />

os índices zootécnicos e assim trazer a tão sonhada<br />

competitividade à Tilápia do <strong>Brasil</strong>.<br />

Tal salto previsto demonstra o grande momento<br />

de nossa atividade no <strong>Brasil</strong>. Finalmente sinais<br />

de amadurecimento de uma cadeia<br />

produtiva passam a ser<br />

nossos destaques.<br />

Mostram ao <strong>Brasil</strong><br />

e ao mundo<br />

que nosso<br />

setor<br />

começa a ser uma atividade regularizada. Ao mesmo<br />

tempo, os entes públicos de licenciamento mostram<br />

maturidade para não mais deixar de licenciar por falta<br />

de conhecimento.<br />

Pensando por este lado, ninguém imaginava<br />

que o licenciamento ambiental seria protagonista<br />

deste novo momento da aquicultura do <strong>Brasil</strong> e do<br />

mundo. Ninguém imaginava que nossos potenciais<br />

estão mais próximos do que nunca de sua realização<br />

devido à clareza das normas de regularização dos empreendimentos.<br />

Pode ser que este momento entre para nossa<br />

história como grande ponto de inflexão de nosso<br />

crescimento, e assim, mostre à sociedade brasileira<br />

que a iniciativa privada organizada tem condições de<br />

mudar nossos rumos. Isso fica claro e é importante<br />

ser dito, se não fosse o trabalho de nossas associações,<br />

não estaríamos passando por isso. Fica aqui registrado<br />

os parabéns a PeixeBR, PeixeSP, Aquamat entre<br />

outras associações. Fica também os parabéns à Embrapa,<br />

entidade decisora em todo o agronegócio<br />

brasileiro e que agora participa também de<br />

forma ativa em nossa aquicultura.<br />

Esperamos estar cada vez<br />

mais próximos do fim do estigma<br />

de “eterno potencial” e<br />

de uma vez por todas<br />

mostrar porque viemos.<br />

© Jéssica Brol<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

COLUNA<br />

67


NUTRIÇÃO<br />

Modelo misto de alimentação em<br />

função da taxa de arraçoamento<br />

Dr. Artur Nishioka Rombenso<br />

Laboratório de Nutrição, Instituto de Oceanografia,<br />

Universidade Autônoma de Baja California, Ensenada, México.<br />

artur.nishioka@uabc.edu.mx<br />

Na coluna anterior apresentei o modelo<br />

misto de alimentação intercalando duas rações<br />

com diferentes conteúdos proteicos, uma com<br />

níveis mais altos de proteína e outra com níveis<br />

mais baixos. Hoje abordarei a outra vertente desse<br />

modelo, que muitos acreditam ser a melhor das<br />

opções, a qual consiste na variação da taxa de arraçoamento<br />

(quantidade de ração ofertada) diária<br />

entre uma alimentação otimizada (O = taxa de arraçoamento<br />

otimizada) e outra mais reduzida (B<br />

= taxa de arraçoamento baixa). Um recado para<br />

os leitores que não estão familiarizados com conceitos<br />

de regime alimentar (taxa de arraçoamento e<br />

frequência alimentar): não se preocupem, pois nas<br />

próximas colunas tratarei do assunto.<br />

Vou utilizar o mesmo estudo da coluna<br />

anterior como exemplo, mas agora com enfoque<br />

na variação da quantidade de alimento ofertada.<br />

Relembrando, esse experimento foi realizado<br />

com juvenis de tilápia de 40g, criados em viveiros<br />

semi-intensivos por 60 dias, alimentados diariamente<br />

com uma dieta de 33% de proteína bruta intercalando<br />

duas taxas de arraçoamento (O = 2,3%<br />

de biomassa por dia e B = 1,5% de biomassa por dia).<br />

No total, foram 9 tratamentos: O, B, 1O/1B, 2O/2B,<br />

3O/1B, 1O/3B, 3O/2B, 2O/3B e 3O/3B. O tratamento<br />

O indica alimentação com a taxa de arraçoamento<br />

O (otimizada) enquanto que o tratamento 1O/1B intercala<br />

um dia com taxa de arraçoamento O e um<br />

dia com taxa de arraçoamento B (baixa), e assim<br />

por diante.<br />

Os principais resultados são apresentados<br />

nas figuras 1 e 2. Assim como no experimento anterior,<br />

não observou-se diferença significativa em<br />

ganho de peso, porém, em termos de conversão<br />

alimentar aparente (CAA), peixes alimentados<br />

Figura 1. Ganho em peso e conversão alimentar aparente de juvenis de tilápia (40g) criados em viveiros semi-intensivos e alimentados<br />

com uma mesma dieta de 33% de proteína bruta, porém intercalando a taxa de arraçoamento (O = 2,3% de biomassa por dia e B = 1,5% de<br />

biomassa por dia), utilizando o modelo misto de alimentação (Patel e Yakupitiyage, 2003).<br />

68<br />

COLUNA<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


com o tratamento B (taxa de arraçoamento baixa)<br />

apresentaram um valor de CAA mais reduzido em<br />

relação aos demais tratamentos, com exceção do<br />

tratamento 2O/3B. Em termos de taxa de eficiência<br />

proteica (definida como a relação entre ganho em<br />

massa corporal por consumo proteico), os tratamentos<br />

com mais dias de alimentação com baixas<br />

taxas de arraçoamento (2B e 3B) foram mais eficientes<br />

em converter proteína da dieta em massa corporal.<br />

Porém, o mais interessante foi a combinação<br />

das taxas de arraçoamento, pois resultou em pontos<br />

positivos de ambas as taxas. Por exemplo, os tratamentos<br />

com mais dias de alimentação com taxas de<br />

arraçoamento otimizadas (2O e 3O) apresentaram<br />

maior crescimento ao custo de CAA mais elevada e<br />

menor eficiência proteica. Por outro lado, o oposto<br />

ocorreu com os tratamentos com mais dias de alimentação<br />

com baixas taxas de arraçoamento. Conclui-se<br />

que, nas condições experimentais apresentadas,<br />

o melhor modelo de alimentação misto foi em<br />

função da taxa de arraçoamento, principalmente<br />

devido à análise de viabilidade econômica, pois<br />

em muitos locais o preço das dietas com diferentes<br />

níveis de proteína são similares. Outro ponto favorável<br />

desse modelo está relacionado à logística,<br />

pois a existência de dois tipos de dietas pode dificultar<br />

a compra, armazenamento e organização dos<br />

alimentos, resultando na oferta de alimento equivocado.<br />

Espero ter esclarecido os conceitos básicos<br />

do modelo misto de alimentação. Ressalto que<br />

existe muito material sobre o assunto, inclusive na<br />

fase de larvicultura de peixes de água doce. Assim,<br />

tire proveito desses e outros conceitos existentes e<br />

otimize o modelo de alimentação de sua fazenda,<br />

maximizando seus ganhos de forma eficiente e com<br />

menor impacto ambiental.<br />

Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/colunas<br />

Figura 2. Taxa de eficiência proteica (ganho em massa corporal pelo consumo proteico) de juvenis de tilápia (40g) criados em viveiros<br />

semi-intensivos e alimentados com uma mesma dieta de 33% de proteína bruta, porém intercalando a taxa de arraçoamento (O = 2,3% de<br />

biomassa por dia e B = 1,5% de biomassa por dia), utilizando o modelo misto de alimentação (Patel e Yakupitiyage 2003).<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

COLUNA<br />

69


Convivendo com a Mancha Branca:<br />

150<br />

A carcinicultura brasileira encontra-se em fase de<br />

transição para um novo momento:<br />

economicamente viável, ambientalmente correta<br />

e socialmente justa.<br />

A<br />

fase mais crítica já passou. Inquestionavelmente,<br />

deixou algumas cicatrizes. No entanto, conforme consenso<br />

entre alguns especialistas, “foi um mal que veio<br />

para o bem”. Opinião a qual este colunista pactua. E vou<br />

além: é o início de uma nova fase na carcinicultura brasileira.<br />

Com alguns diferenciais: mais profissional, mais<br />

tecnificada e o mais importante, absurdamente sustentável.<br />

Sim meus amigos, sinto-me confortável para afirmar<br />

que a produção de camarão marinho no Nordeste do<br />

<strong>Brasil</strong> esta caminhando, a largos passos, rumo a produção<br />

de proteína animal mais eficiente do mundo. Digo isto<br />

com o olhar de um profissional da produção animal imbuído<br />

da nobre missão de encontrar soluções para atender<br />

parte da crescente demanda por alimentos mundo afora. E<br />

convencido que o <strong>Brasil</strong> será, se já não é, o principal player<br />

deste desafio.<br />

E tem mais coisa interessante envolvida nesta nova<br />

fase da carcinicultura brasileira. A tilápia! Sim, criação de<br />

camarão marinho integrado com tilápia. Seja nos sistemas<br />

intensivos ou extensivos a tilápia tem sido decisiva<br />

para convivência com a mancha branca. Mas pensando na<br />

tilápia, tal produção integrada só seria viável em fazendas<br />

com baixa salinidade? Não. Até 38 – 40 de salinidade, a<br />

valente tilápia tem se saído bem!<br />

E o que significa 150? Significa os<br />

extremos no que se refere às densidades de povoamento.<br />

Há forte tendência de não mais haver criações com 20, 30<br />

ou 40 camarões por m 2 . Exceto algumas fazendas em específico,<br />

o que se tem observado no campo são criações<br />

extensivas com até 10 camarões por m 2 ou os intensivos e<br />

superintensivos com mais de 150 por m 2 (tecnicamente o<br />

mais correto seria m 3 , mas por enquanto tem se usado m 2 ).<br />

Em alguns caso, até 400 camarões por m 2 .<br />

Investir em sistemas extensivos, ou seja, com baixa<br />

densidade de estocagem, não significa abrir mão de tecnificação.<br />

Estabilidade do ambiente de criação, seja extensivo<br />

ou intensivo, é palavra de ordem. E aí, acompanhamento<br />

dos parâmetros de qualidade de água, aeração adicional e<br />

© Fábio Sussel<br />

Figura 1. Tilápia criada em salinidade 18 no Sistema AquaScience/<br />

Camanor<br />

reutilização da água estão sendo imperativos, mesmo nos<br />

sistemas com pouco camarão por m 2 .<br />

Enquanto que nos sistemas intensivos, onde estamos<br />

nos referindo a viveiros com fundo revestido e cobertos<br />

com sombrite ou plástico, os mesmos cuidados citados<br />

para o sistema extensivo são necessários. Porém, com um<br />

adicional: backup do backup! Ou seja, o monitoramento<br />

full time do pleno funcionamento dos equipamentos,<br />

sopradores e aeradores principalmente, é imprescindível.<br />

Via de regra, 10 minutos de pane elétrica pode ser o suficiente<br />

para colocar a tal estabilidade dos sistemas intensivos<br />

em risco.<br />

Ainda relacionado há determinados sistemas intensivos<br />

(existem vários) é importante destacar que alguns<br />

ajustes ainda se fazem necessários. Diria que não<br />

estão completamente dominados. Falta repetibilidade nos<br />

70<br />

COLUNA<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


ATUALIDADES & TENDÊNCIAS<br />

NA AQUICULTURA<br />

Fábio Rosa Sussel - Zootecnista, Dr.;<br />

Pesquisador científico da Apta - UPD<br />

Pirassununga, SP.<br />

sussel@apta.sp.gov.br<br />

resultados. Ao menos 5 ou 6 resultados positivos, sem<br />

ter que antecipar despesca para evitar mortandades,<br />

seria o ideal para afirmar que aquele sistema intensivo<br />

foi dominado. E isto é específico pra cada fazenda e pra<br />

cada módulo ou viveiro dentro de uma mesma área.<br />

Fatores como salinidade, temperatura, adoção de boas<br />

práticas de manejo, quantidade e nível de patógenos presentes,<br />

são decisivos para a manutenção do bem estar<br />

dos camarões. Então, protocolos que estão dando certo<br />

em determinada fazenda, não necessariamente darão<br />

certo em outra. Servem de referência, mas ajustes locais<br />

são necessários.<br />

Falando em bem estar animal, esta seria a segunda<br />

palavra de ordem. Até porque, a estabilidade do<br />

sistema possui efeito direto sobre o bem estar dos animais<br />

aquáticos. Seja para aqueles que estamos criando<br />

em si ou para os microrganismos benéficos ao sistema.<br />

E aí o elemento chave para a manutenção desta estabilidade<br />

chama-se: OXIGÊNIO. Sem sombra de dúvidas<br />

© Fábio Sussel<br />

Figura 2. Criação em sistema protegido e uso constante de aeração.<br />

este elemento tem poder de operar verdadeiros “milagres”<br />

nos sistemas aquícolas. Contrariando um pouco<br />

ao ensinado nas grades curriculares dos cursos afins,<br />

água de cultivo tem sim que voltar para o sistema. Pois,<br />

é esta água rica em nutrientes que, após ter sido devidamente<br />

oxigenada, dará estabilidade ao sistema.<br />

Reforçando a importância do oxigênio, tem<br />

se observado que: na presença de oxigênio as reações<br />

de oxidação, estabilidade do pH e a transformação de<br />

matéria orgânica em nutrientes desejáveis para o ambiente<br />

ocorrem em harmonia, proporcionando condições<br />

favoráveis para as produções intensivas. Enquanto que<br />

a ausência de oxigênio implica em oscilações de pH,<br />

decomposição anaeróbica da matéria orgânica que, por<br />

consequência, produção de gás sulfídrico e metano, implicando<br />

em completa desestabilidade do sistema.<br />

Lógico que nada disso seria possível sem as bactérias<br />

nitrificantes. Neste caso, aí está outra tecnologia<br />

que não podemos abrir mão: uso constante de probióticos.<br />

Em resumo: água rica em nutrientes + alta população<br />

de bactérias + oxigênio = estabilidade do sistema.<br />

Consequentemente: bem estar dos animais. Simples?<br />

Não! Nem na teoria e muito menos na prática. Porém,<br />

possível. E este é o caminho, este deve ser o entendimento.<br />

Seja para sistemas extensivos ou intensivos.<br />

Conforme já comentado, os modelos produtivos<br />

ainda não estão completamente formatados. Enquanto<br />

alguns precisam ajustar para ter repetibilidade, outros já<br />

se encontram mais avançados e buscam maior eficiência.<br />

Mas uma coisa é certa e volto a afirmar: estamos muito<br />

próximos da forma mais eficiente de se produzir proteína<br />

animal no mundo. Recheada de conceitos modernos:<br />

produção intensiva com sustentabilidade ambiental,<br />

viável economicamente tanto para o grande quanto para<br />

o pequeno, socialmente justa, pois, ao gerar emprego e<br />

renda contribui para o desenvolvimento regional, produção<br />

de proteína nobre e com alto valor agregado em<br />

áreas que, até então, não se explorava para nenhuma<br />

outra forma de produção de alimentos, seja animal ou<br />

vegetal.<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

COLUNA<br />

71


Aquicultura de Precisão<br />

A precisão das cores<br />

Dr. Eduardo Gomes Sanches - Instituto de Pesca de São Paulo, Ubatuba, SP<br />

esanches@pesca.sp..gov.br<br />

N<br />

esta coluna sempre tratamos da aquicultura de precisão,<br />

falando de equipamentos e tecnologia, só que<br />

desta vez vamos falar de outro viés da precisão. Estivemos<br />

no final do mês de (maio) em Atibaia/SP, visitando a 36 a<br />

Exposição <strong>Brasil</strong>eira de Nishikigoi. Antes que se perguntem<br />

o que é isto, deixem-me explicar o que são nishikigois.<br />

Nishikigois? São as carpas coloridas? Caro leitor,<br />

isto dito a um criador (como nosso amigo André Camargo,<br />

colunista da <strong>Aquaculture</strong> <strong>Brasil</strong>) pode soar como ofensa.<br />

Nishikigois (Nishiki = êxito na vida + Koi = carpa) são<br />

carpas selecionadas ao longo de muitos anos exibindo padrões<br />

de cores que as permitem ser divididas em diferentes<br />

variedades. As quatro principais são: Kohaku (base branca<br />

com estampas vermelhas), Taisho (base branca com<br />

estampa vermelha e preta, além de apresentar listras pretas<br />

nas nadadeiras peitorais), Showa (base preta com estampa<br />

branca e vermelha devendo possuir uma estampa preta na<br />

base das nadadeiras peitorais) e Utsurimono (base preta e<br />

estampa branca ou vermelha, devendo possuir base da cor<br />

da estampa nas nadadeiras peitorais). Mas existe um total de<br />

20 variedades reconhecidas.<br />

O evento foi promovido pela Associação <strong>Brasil</strong>eira<br />

de Nishikigoi, entidade que congrega os criadores desta<br />

espécie. Aliás, esta associação foi fundada em 10 de setembro<br />

de 1978 representando nosso país na renomada entidade<br />

ZNA (Zen Nippon Airinkai), que reúne todas as associações<br />

de diversos países. A credibilidade desta associação é motivo<br />

de orgulho para todos que trabalham com aquicultura no<br />

<strong>Brasil</strong>. Seu atual presidente, André Palumbo, é um gentleman<br />

de carteirinha, atendendo a todos com atenção e cortesia.<br />

Segundo a associação, no <strong>Brasil</strong> temos exemplares<br />

de Nishikigoi em vários órgãos públicos tais como o Palácio<br />

do Planalto em Brasília e no Pavilhão Japonês no Parque<br />

do Ibirapuera em São Paulo. Esses Nishikigois foram trazidos<br />

diretamente do Japão e presenteados às autoridades<br />

brasileiras, sendo soltos nos lagos em cerimônias especiais,<br />

como símbolo de amizade e intercâmbio entre o Japão e o<br />

<strong>Brasil</strong>.<br />

Um pouquinho de história... As carpas tem sua<br />

origem reconhecida na Pérsia chegando ao Japão através<br />

da China. No ano de 538 a.C., por ocasião do nascimento<br />

do primeiro filho de Confúcio, o Rei Shoko do Ro presenteou<br />

o sábio com uma carpa que recebeu o nome de “Koi”,<br />

pelo qual passaram a ser conhecidas. O Nishikigoi passou<br />

a ser conhecido no <strong>Brasil</strong> através da dedicação de Saburo<br />

Furukubo, que por volta de 1960, com a orientação de Takahiro<br />

Yabe, começou sua criação em Atibaia, SP.<br />

Em 20 de julho de 1975 foi realizada a 1 a Exposição<br />

de Nishikigoi no <strong>Brasil</strong>. O julgamento dos nishikigois é feito<br />

separadamente por tamanho e variedade de cores. São selecionados<br />

os três primeiros lugares de cada classe, procedendo-se<br />

a seleção dos Campeões e Vice-Campeões de cada BU<br />

(divisão por tamanho), do Campeão Juvenil, o melhor até 45<br />

BU e do Campeão Geral. A divisão por tamanho (BU) pode<br />

ser vista na tabela 1.<br />

Várias empresas prestigiaram o evento este ano, ex-<br />

Tabela 1. Divisão por tamanho (BU) utilizada para o julgamento dos nishikigois.<br />

BU<br />

Comprimento (cm)<br />

15 Até 15<br />

20 15,1 a 20<br />

25 20,1 a 25<br />

30 25,1 a 30<br />

35 30,1 a 35<br />

40 35,1 a 40<br />

45 40,1 a 45<br />

55 45,1 a 55<br />

65 55,1 a 65<br />

75 65,1 a 75<br />

Jumbo<br />

superior a 75 cm<br />

72<br />

COLUNA<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


© Eduardo Sanches<br />

Figura 1. Da esquerda para a direita, Mario Porto, Eduardo Sanches, Silvio Romero<br />

e André Camargo.<br />

pondo seus produtos e serviços, o que tornou a exposição<br />

um evento bem interessante para se atualizar em relação<br />

às novidades do setor. Afinal, a aquicultura ornamental<br />

movimenta um importante nicho de mercado. Impressionante<br />

a diversidade de rações para Nishikigoi com os<br />

fabricantes apresentando produtos<br />

que fariam inveja até ao mais<br />

exigente criador de tilápias ou<br />

pintados.<br />

As diferentes variedades<br />

de Nishikigois, expostas em tanques<br />

circulares com água límpida,<br />

exibiam suas cores e estampas,<br />

chamando a atenção desde<br />

os especialistas até das crianças<br />

que se maravilhavam com os<br />

peixes. Um capítulo à parte foi<br />

a cerimônia de premiação. Um<br />

merecido reconhecimento aos<br />

que se empenham em criar e<br />

manter exemplares de ímpar<br />

beleza. A precisão nas cores,<br />

estampas, e a harmonia na distribuição<br />

do colorido ao longo<br />

do corpo dos exemplares me<br />

fizeram refletir sobre o quanto<br />

da precisão compõe este ramo<br />

da aquicultura.<br />

alegria ver o sucesso dos mesmos. Um destaque para o<br />

criador do Rio de Janeiro, Mario Porto, companheiro de<br />

aquicultura que eu não via há mais de dez anos e fiquei<br />

emocionado quando um dos seus peixes foi premiado. E<br />

por sinal, o André Camargo também teve alguns de seus<br />

peixes premiados. O evento ainda teve uma apresentação<br />

de Taikô (apresentação conjunta de diferentes tambores)<br />

que chamou a atenção da plateia pelo ritmo e habilidade<br />

dos artistas. E quem acha que um evento deste não tem<br />

muito público, está muito enganado. Pelas fotos dá para<br />

ver que este evento reúne produção, entretenimento e<br />

lazer, trazendo um público bem diversificado.<br />

Finalizando, foi um excelente programa que<br />

nos proporcionou muito conhecimento e reflexão. Não<br />

podemos restringir o conceito de aquicultura de precisão<br />

apenas a equipamentos e tecnologias. Tem muita precisão<br />

nos organismos produzidos pela aquicultura no <strong>Brasil</strong>.<br />

Até a próxima coluna.<br />

Pudemos também encontrar<br />

velhos amigos e com<br />

Figura 2. Nishikigois premiados.<br />

© Eduardo Sanches<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

73


Aquicultura<br />

Latino-americana<br />

Situação atual e desenvolvimento<br />

tecnológico da piscicultura<br />

Amazônica Peruana<br />

Guillermo Alvarez¹,², Leonidas Mulluhara¹, Juan Ramón Esquivel Garciac³ e Rodolfo<br />

Petersen<br />

¹ Bioaqual S.A.C. Lima – Perú. galvarez@bioaqual.com, www.bioaqual.com<br />

² Laboratorio de Biología Acuática y Acuicultura – Facultad de CC. BB. UNMSM<br />

³ Piscicultura Panamá (Paulo Lopes, SC, <strong>Brasil</strong>)<br />

Dr. Rodolfo Luís Petersen<br />

Universidade Federal do Paraná<br />

(UFPR), Pontal, PR.<br />

rodolfopetersen@hotmail.com<br />

Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/colunas<br />

O<br />

crescimento da aquicultura no Peru tem sido constante<br />

e significativo nos últimos 15 anos. Conforme dados<br />

oficiais, passou de 7.539 toneladas produzidas no ano<br />

de 2001 para 98.691 toneladas em 2016. Deste total, 70 a 80%<br />

correspondiam a produção de recursos marinhos. Entretanto,<br />

nos últimos três anos houve um equilíbrio na produção<br />

em relação aos recursos continentais, chegando a 50% cada,<br />

aproximadamente, sem considerar os volumes de produção<br />

informal que não são registrados oficialmente e podem atingir<br />

de 15 a 20% da produção atual.<br />

As espécies marinhas produzidas pela aquicultura<br />

são principalmente o camarão branco do Pacífico (Litopenaeus<br />

vannamei) e a “concha de abanico” (Argopecten purpuratus).<br />

Já a produção continental é liderada pela Truta (Oncorhynchus<br />

mikiss), representando aproximadamente 90%.<br />

As espécies de peixes nativos amazônicos ainda<br />

não têm uma presença significativa no cenário de produção<br />

aquícola nacional peruana. No ano de 2016, a produção foi<br />

liderada pela Tambaqui (Colossoma macropomum), com<br />

1.863t e pelo Pacu (Piaractus brachypomus), com 1.390t<br />

produzidas, seguido de “Boquichico” (Prochilodus nigricans).<br />

Por outro lado, destaca-se que nos últimos anos têm<br />

surgido espécies com um potencial de crescimento aquícola<br />

ainda maior. Atualmente, a demanda destas espécies é coberta<br />

principalmente pela pesca, destacando-se a “Doncella”<br />

(Pseudoplatystoma fasciatum), 719t em 2015, “Sábalo” (Brycon<br />

cephalus), 1.775t em 2015, “Zungaro” (Zungaro zungaro),<br />

2.164t em 2015 e o Pirarucu (Arapaima gigas) com 1.091<br />

toneladas em 2015 pela pesca e 142t produzidas pela aquicultura.<br />

Tabela 1. Produção de espécies nativas amazônicas pela aquicultura peruana<br />

(PRODUCE, 2016).<br />

De forma geral, podemos assegurar que a região<br />

amazônica peruana destaca-se pela existência de diversas espécies<br />

nativas com potencial produtivo, uma alta demanda de<br />

pescado a nível local, existência de terrenos adequados para<br />

o cultivo, clima estável e disponibilidade de água. Contudo,<br />

estas vantagens não estão sendo exploradas na sua totalidade.<br />

O desenvolvimento aquícola das regiões amazônicas<br />

tem sido guiado pela intervenção do estado através de pesquisas<br />

e processos de experimentação realizados pelo IIAP, FON-<br />

DEPES e o IVITA. O avanço alcançado pelas instituições tem<br />

sido significativo na reprodução e cultivo de Tambaqui, Pacu<br />

e “Boquichico”. Nos últimos anos houve uma intensificação<br />

da utilização destas espécies já que a produção de alevinos<br />

está sendo realizada pelos próprios produtores. Esta ação vem<br />

refletindo no aumento dos níveis de produção, porém é importante<br />

destacar que a oferta de alevinos ainda é insuficiente.<br />

Resultados importantes com pesquisas sobre cultivo<br />

e reprodução estão sendo alcançados com os peixes nativos,<br />

como o Pirarucu, “Zungaro” e “Doncella”. Para esta última<br />

espécie tem se obtido a tecnologia de produção de alevinos<br />

em condições controladas através do esforço em conjunto das<br />

empresas BIOAQUAL e PISCICULTURA PANAMÁ (<strong>Brasil</strong>),<br />

em colaboração com UNMSM e a UNISUL, com financiamento<br />

compartilhado da INNOVATE.<br />

Mesmo com o cenário promissor apresentado pela<br />

piscicultura na Amazônia peruana, ainda há várias espécies<br />

de maior demanda e com potencial que se encontram em um<br />

estado de pesquisa básica. A tecnologia de produção massiva<br />

de alevinos continua sendo uma limitante. Outros aspectos<br />

também requerem atenção para serem superados, necessitando<br />

de maiores estudos. Entre eles podemos destacar a<br />

melhoria das técnicas utilizadas nos processos de produção,<br />

uma vez que na maioria dos municípios ainda se praticam<br />

processos artesanais. A maior parte da ração fornecida e utilizada<br />

comercialmente está sendo formulada principalmente<br />

para Gamitana. Para as espécies potenciais e emergentes o<br />

que se têm são apenas dietas experimentais.<br />

A piscicultura de espécies nativas amazônicas constitui<br />

uma grande alternativa afim de diminuir a pressão extrativa,<br />

contribuir com a geração de empregos de forma direta<br />

e indireta e para o desenvolvimento de processos produtivos<br />

sustentáveis sem afetar a biodiversidade nacional. Assim, se<br />

destaca como uma excelente oportunidade econômica para a<br />

iniciativa privada peruana.<br />

74<br />

COLUNA<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


Piscicultura Marinha<br />

A importância do zooplâncton na<br />

larvicultura de peixes marinhos<br />

Dr. Ricardo Vieira Rodrigues<br />

Estação Marinha de Aquicultura (EMA)<br />

Universidade Federal do Rio Grande (FURG)<br />

vr.ricardo@gmail.com<br />

A<br />

larvicultura de peixes marinhos é um dos principais<br />

gargalos para a produção em larga escala de juvenis,<br />

e isso é devido ao diminuto tamanho das larvas. A<br />

grande maioria das espécies de peixes marinhos produzidas<br />

são desovantes pelágicos e as larvas são altriciais com<br />

tamanho geralmente inferior a 2mm. O primeiro alimento<br />

dessas larvas é o vitelo e posteriormente passa ao alimento<br />

exógeno após a abertura da boca, que é o zooplâncton.<br />

Dessa forma, a disponibilidade e a qualidade nutricional do<br />

zooplâncton é essencial para o sucesso da larvicultura.<br />

Existem basicamente dois grupos de zooplâncton<br />

que são amplamente utilizados para larvicultura de peixes<br />

marinhos, os rotíferos e as artêmias. O rotífero é o primeiro<br />

alimento vivo empregado na alimentação de larvas e a espécie<br />

mais utilizada é Brachionus plicatilis. Após um período<br />

de coalimentação de alguns dias com os rotíferos, a Artemia<br />

sp. é o segundo zooplâncton oferecido antes das larvas<br />

receberem alimento inerte. As artêmias são geralmente<br />

comercializadas na forma de cistos e os náuplios recém<br />

eclodidos possuem aproximadamente (450µm).<br />

A simplicidade na produção de rotíferos e a fácil<br />

aquisição e eclosão dos cistos de artêmia possibilitam a ampla<br />

utilização desses dois grupos de zooplâncton para aquicultura<br />

intensiva. Contudo, uma característica inerente aos<br />

dois grupos é que nutricionalmente ambos não são os mais<br />

adequados para alimentação de larvas de peixes marinhos,<br />

pois são deficientes em ácidos graxos altamente insaturados<br />

(AGAI) e alguns minerais e vitaminas. Para minimizar<br />

os problemas nutricionais desses grupos de zooplâncton<br />

a bioencapsulação ou enriquecimento são essenciais para<br />

a nutrição das larvas de peixes marinhos, aumentando o<br />

manejo e o custo de produção final com o zooplâncton.<br />

Dessa forma, a busca por novos grupos de<br />

zooplâncton que<br />

© Ricardo Vieira Rodrigues<br />

possam ser produzidos<br />

de forma massiva<br />

a um custo adequado<br />

são recorrentes<br />

a décadas. Nesse<br />

Figura 1. Fêmea ovada de rotífero Brachionus plicatis.<br />

sentido, principalmente<br />

a produção<br />

de copépodes vêm<br />

sendo avaliada. Os<br />

copépodes são ricos<br />

em AGAI, os<br />

náuplios possuem<br />

© Ricardo Vieira Rodrigues<br />

Figura 2. Náuplio de artêmia.<br />

um diminuto tamanho (~100µm) e demonstram excelentes<br />

resultados quando empregados na alimentação de larvas de<br />

peixes marinhos. Então, porque os copépodes não são utilizados<br />

de forma massiva?<br />

De forma geral, os copépodes possuem três fases de<br />

desenvolvimento, os náuplios (6 estágios), os copepoditos<br />

(6 estágios) e os adultos. Essas várias fases de desenvolvimento<br />

implicam em organismos de diferentes tamanhos<br />

que precisam ser separados para serem ofertados as larvas,<br />

pois uma larva no início de sua alimentação irá predar apenas<br />

os náuplios. Os copépodes precisam ser alimentados<br />

com mais de uma espécie de fitoplâncton para sua produção<br />

adequada, o que aumenta os custos e o manejo de<br />

sua produção. E o principal problema é uma inconstância<br />

na sua produção.<br />

Concluindo, o zooplâncton é essencial para a<br />

alimentação de larvas de peixes marinhos. Os rotíferos e as<br />

artêmias são amplamente utilizados e é possível produzir<br />

juvenis graças a esses grupos que são mundialmente empregados.<br />

Os copépodes são uma alternativa de elevada<br />

qualidade nutricional e os seus náuplios possuem um tamanho<br />

pequeno, podendo ser empregados para larvas de<br />

diminuto tamanho. Os copépodes vêm ganhando espaço,<br />

principalmente para larvicultura de peixes marinhos ornamentais.<br />

A Acartia tonsa e Tisbe sp. são espécies estudas<br />

no <strong>Brasil</strong> e que podem surpreender no futuro. Vamos<br />

aguardar!!<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

COLUNA<br />

75


Recirculating <strong>Aquaculture</strong> Systems<br />

INTRODUÇÃO A<br />

DESINFECÇÃO POR UV-C<br />

Dr. Marcelo Shei<br />

Altamar Equipamentos e Sistemas Aquáticos<br />

shei@altamar.com.br<br />

www.altamar.com.br<br />

O QUE É DESINFECÇÃO?<br />

Desinfecção pode ser descrita como a redução<br />

de microrganismos como bactérias, vírus,<br />

fungos e parasitas a uma determinada concentração.<br />

É bastante comum encontrar indicações<br />

para esterilização, que consiste na eliminação de<br />

todos os microrganismos da água. Em aquicultura,<br />

a meta é conseguir reduzir o risco da transferência<br />

de uma doença infecciosa através da água, para um<br />

nível aceitável, ou seja, a desinfecção.<br />

Outro ponto a ser considerado é o nível<br />

de inativação ou remoção desses microrganismos.<br />

Normalmente, trabalha-se com uma expectativa<br />

de redução entre 99 e 99,99% do total de microrganismos.<br />

Esse termo não indica a quantidade<br />

de organismos restantes, mas sim a quantidade<br />

reduzida da concentração inicial.<br />

LUZ UV-C<br />

A luz ultravioleta é uma radiação eletromagnética<br />

com um comprimento de onda de 1-400<br />

nanômetros. A habilidade da luz UV de inativar e<br />

destruir microrganismos varia com o comprimento<br />

de onda e com o microrganismo a ser inativado.<br />

O comprimento de onda mais eficiente para desinfecção<br />

está entre 250 -270 nm, localizado na banda<br />

C. A Luz UV irá danificar o material genético<br />

(DNA e ou RNA) dos microrganismos através da<br />

destruição das cadeias, que resultará em inativação<br />

e morte dos organismos.<br />

A dose de radiação é dada em μWs/cm²<br />

(microwatt por segundo por centímetro quadrado),<br />

que é a intensidade de radiação por unidade de<br />

área. É possível encontrar a dose requerida para a<br />

inativação de diversos organismos que afeta a produção<br />

de pescado. De forma geral, vírus e bactérias<br />

necessitam de doses entre 2.000 e 10.000 μWs/<br />

cm² para inativar 90% dos organismos; fungos demandam<br />

doses entre 10.000 a 100.000 e parasitas<br />

pequenos, doses de 50.000 a 200.000 μWs/cm².<br />

Muitas instalações possuem equipamentos<br />

de desinfecção por UV-C, mas continuam apresentando<br />

queixas antigas, relacionadas a baixa<br />

eficiência e ocorrência de patógenos facilmente<br />

tratáveis. Normalmente esses problemas ocorrem<br />

por uma má seleção do equipamento. A grande<br />

maioria dos equipamentos disponíveis no <strong>Brasil</strong> não<br />

descreve a capacidade dos seus equipamentos pela<br />

dose, o que deveria ser obrigatório. Normalmente<br />

são apresentados diferentes potências de lâmpadas<br />

“x” por uma determinada vazão de água, ou pior<br />

ainda, por um volume, sem qualquer menção a dose<br />

aplicada. Com isso, muitos sistemas operam com<br />

doses desconhecidas e abaixo do necessário para a<br />

inativação do microrganismo alvo.<br />

O uso combinado de um bom filtro mecânico<br />

para a remoção de sólidos e matéria orgânica, irá<br />

deixar a água com maior transmitância e uma carga<br />

bacteriana mais baixa, otimizando o uso do sistema<br />

de desinfecção UV-C.<br />

A Altamar possui uma linha exclusiva de<br />

equipamentos de desinfeção UV-C para aquicultura<br />

que podem ser facilmente dimensionados para<br />

atender diversas vazões em diferentes exigências de<br />

doses, podendo ser utilizados de forma segura em<br />

sistemas de abastecimento ou recirculação de água.<br />

© Altamar<br />

76<br />

COLUNA<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


SANIDADE<br />

Critérios para seleção de<br />

fornecedores de alevinos<br />

Dr. Santiago Benites de<br />

Pádua<br />

AQUIVET Saúde Aquática,<br />

São José do Rio Preto, SP.<br />

A principal forma<br />

de disseminação<br />

e dispersão de<br />

doenças entre<br />

diferentes pisciculturas<br />

é a partir<br />

da introdução de<br />

animais portadores de patógenos diversos. A ocorrência<br />

de perdas relacionadas à mortalidade, ou diminuição do<br />

desempenho produtivo decorrentes de infecções crônicas<br />

estabelecidas desde as fases iniciais de criação, certamente<br />

dependerá dos fatores de riscos e desafios durante<br />

o ciclo de crescimento e engorda. Contudo, a estocagem<br />

de animais livres de doenças torna-se um pré-requisito<br />

muito importante para obtermos um ciclo de resultados<br />

produtivos, rentáveis e com mínimo impacto sobre o<br />

ambiente a partir de intervenções medicamentosas.<br />

No entanto, a seleção de fornecedores de formas<br />

jovens muitas vezes é realizada sem a utilização de<br />

critérios técnicos. Para tanto, torna-se necessário uma<br />

Coleta de ovos vs<br />

01<br />

coleta de nuvens:<br />

Entre os fornecedores de<br />

formas jovens, especialmente<br />

no caso da tilapicultura, podem<br />

utilizar a coleta de nuvens de larvas nos<br />

viveiros das matrizes (que por sua vez ficam<br />

soltas), ou então realizar a coleta de ovos na<br />

boca das matrizes (geralmente mantidas em<br />

hapas). Mas existe diferença sobre a sanidade<br />

dos alevinos de acordo com o modelo<br />

utilizado? Sim, e grande. As matrizes e reprodutores<br />

tornam-se as principais fontes de<br />

contaminação para a prole, portanto, quanto<br />

maior o tempo de contato entre estes, maior<br />

será a exposição à patógenos de importância<br />

para a piscicultura. Optar por fornecedores<br />

que realizam coleta e incubação de ovos é<br />

um ponto importante que proporciona maior<br />

controle sanitário desde a etapa de larvicultura,<br />

bem como reflete sobre a taxa de masculinização,<br />

uma vez que se sabe o dia de<br />

eclosão, e a oferta da dieta com hormônio é<br />

realizada no período certo, o que já não pode<br />

ser garantido para quem realiza coleta de<br />

nuvens, mesmo utilizando a classificação de<br />

larvas.<br />

02<br />

Outros fatores são importantes na seleção de fornecedores<br />

de alevinos, no entanto, os critérios aqui apresentados<br />

são princípios básicos, que trazem ganhos para<br />

avaliação entre diferentes modelos utilizados na produção<br />

de alevinos para estabelecer uma relação de confiança<br />

focada em seguridade entre fornecedor e comprador,<br />

com ganho real para o setor. Entre os pontos que<br />

devemos avaliar, listo os seguintes:<br />

Desinfecção de ovos:<br />

Sabendo que matrizes<br />

e reprodutores são capazes<br />

de transmitir patógenos para<br />

a prole, torna-se fundamental a utilização<br />

de uma barreira sanitária nesta etapa,<br />

com o objetivo de impedir a circulação de<br />

doenças para a próxima fase de criação,<br />

que é a larvicultura. Como o ovo possui<br />

uma membrana externa de proteção,<br />

denominado de córion, que tolera uma<br />

série de produtos desinfetantes (ex.:<br />

Cloramina-T) e permite a eliminação da<br />

contaminação superficial decorrente do<br />

contato direto com matrizes e reprodutores.<br />

Portanto, o uso de técnicas de<br />

desinfecção de ovos permite um controle<br />

sanitário superior quando comparado com<br />

àqueles que não a realizam, impactando<br />

desde a taxa de eclosão dos ovos, bem<br />

como na sobrevivência durante a etapa<br />

de masculinização, com a eliminação de<br />

parasitos tais como vermes monogenéticos,<br />

Trichodina, entre outros.<br />

03<br />

© Santiago de Pádua<br />

All in/all out:<br />

O termo All in/all<br />

out se refere ao vazio<br />

sanitário que deve ser<br />

realizado entre cada etapa de criação,<br />

inclusive no sistema de incubação de<br />

ovos, larvicultura, masculinização, bem<br />

como durante as fases de crescimento<br />

e engorda quando realizadas em viveiros<br />

escavados. Aliado ao vazio sanitário,<br />

torna-se fundamental realizar a limpeza<br />

e desinfecção das estruturas utilizadas,<br />

de forma a garantir a inocuidade do<br />

ambiente de criação para o próximo lote<br />

de ovos ou larvas que forem estocados.<br />

Caso seja implementado o vazio sanitário<br />

sem a realização dos procedimentos<br />

de limpeza e desinfecção das estruturas,<br />

sua funcionalidade deixa de existir. Para<br />

as etapas de crescimento e engorda<br />

realizadas nos tanques-rede instalados<br />

em reservatórios, esta prática atualmente<br />

não se aplica; sendo então utilizada<br />

a setorização das diferentes fases de<br />

criação.<br />

toda a cadeia de criação. Em adição, o uso destas técnicas<br />

contribui fortemente na minimização da dispersão de<br />

doenças entre diferentes fazendas de criação.<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

COLUNA<br />

77


TECNOLOGIA DO<br />

PESCADO<br />

INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS:<br />

PODE UM ROBÔ<br />

PROCESSAR CARANGUEJOS?<br />

Prof. Dr. Alex Augusto Gonçalves<br />

Chefe do Laboratório de Tecnologia e Controle de Qualidade do<br />

Pescado (LAPESC)<br />

Universidade Federal Rural do Semi Árido (UFERSA)<br />

Mossoró, RN, <strong>Brasil</strong><br />

alaugo@gmail.com<br />

A capacidade tecnológica é a capacidade de absorção,<br />

domínio, adaptação, melhoramento de uma tecnologia<br />

ou de inovação por parte de uma organização. A<br />

partir do conhecimento do ambiente tecnológico (principais<br />

características da indústria) e da capacidade tecnológica<br />

(conhecimentos e habilidades), a empresa pode<br />

preparar-se para um tipo de estratégia tecnológica, ou<br />

seja, o enfoque que a empresa adota para o desenvolvimento<br />

e uso da tecnologia, constituindo um ingrediente<br />

essencial de sua estratégia competitiva.<br />

Nesse sentido, muitas indústrias estão se<br />

adaptando e seguindo esse caminho, principalmente na<br />

adoção de inovações em suas plantas de processamento,<br />

como é o caso de alguns centros de pesquisas e indústrias<br />

canadenses que processam caranguejo.<br />

A extração de carne do caranguejo é feita<br />

manualmente nas plantas processadoras de Newfoundland<br />

and Labrador (Canadá), mas o trabalho tornou-se<br />

muito caro, resultando na exportação do caranguejo<br />

inteiro para ser processado em outros países, onde a<br />

mão de obra é consideravelmente mais barata. Trazer<br />

essa etapa de volta às plantas processadoras canadenses<br />

permitiria aos operadores ganhar maior remuneração e<br />

agregar valor ao caranguejo.<br />

Após 7 anos do conceito<br />

inicial, um novo processador<br />

está pronto para sanar<br />

a demanda de Newfoundland<br />

and Labrador, de acordo<br />

com seus criadores, do Canadian<br />

Centre for Fisheries<br />

Innovation - Fisheries and<br />

Marine Institute of Memorial<br />

University of Newfoundland<br />

(Canadá). Segundo o Dr. Bob<br />

Verge, esse equipamento de<br />

processamento robótico do<br />

caranguejo poderá ter implicações<br />

significativas para as<br />

78<br />

COLUNA<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

indústrias em Newfoundland and Labrador, uma vez<br />

que este robô pode processar um caranguejo em segundos.<br />

Com apenas um toque sobre uma tela digital, corpos<br />

de caranguejo são transportados ao longo de uma<br />

esteira até um o local onde braços robóticos começam a<br />

cortar e dividir o caranguejo da forma desejada. Além<br />

disso, espera-se que o novo equipamento também resolva<br />

um problema socioeconômico, uma vez que a população<br />

da Newfoundland and Labrador está envelhecendo<br />

e diminuindo.<br />

Durante o desenvolvimento do protótipo do<br />

equipamento, foi observada a necessidade de transferir a<br />

prática manual de processamento para os braços robóticos.<br />

Muitos componentes tiveram de ser adaptados e então<br />

a resolução de todos os problemas, desde a vibração<br />

indesejada para os controles digitais até o produto desejado.<br />

Suas funções são simples: cortar o caranguejo ao<br />

meio, ou retirar suas pernas - mas seu impacto pode ser<br />

enorme.<br />

Por final, respondendo à pergunta inicial<br />

“PODE UM ROBÔ PROCESSAR CARANGUEJOS?” A<br />

resposta é SIM. Percebe-se claramente que a iniciativa<br />

privada associada à iniciativa institucional de uma universidade<br />

de excelência (Canadian Centre for Fisheries<br />

Innovation - Fisheries<br />

© CBC News and Marine Institute of<br />

Memorial University of<br />

Newfoundland (Canadá)<br />

e o conhecimento do ambiente<br />

tecnológico (principais<br />

características da<br />

indústria) e da capacidade<br />

tecnológica (conhecimentos<br />

e habilidades),<br />

qualquer empresa pode<br />

preparar-se e implementar<br />

inovações tecnológicas e<br />

emergentes.<br />

Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/colunas


RANICULTURA<br />

D<br />

INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NA<br />

CADEIA RANÍCOLA – PARTE II:<br />

ando continuidade ao tema “Inovações Tecnológicas<br />

na Cadeia Ranícola”, apresentamos aquelas<br />

que trouxeram algum benefício ao processo produtivo<br />

das larvas da rã, vulgarmente conhecidas como girinos.<br />

A vida desses animais se inicia logo após o processo<br />

reprodutivo, quando os ovos são transferidos para o<br />

Setor de Girinagem, mais especificamente para a área<br />

de embrionagem.<br />

Existem algumas variações na embrionagem,<br />

alguns produtores transferem a desova coletada<br />

na reprodução para as incubadoras, estruturas<br />

caracterizadas por uma armação de madeira ou de<br />

PVC, em formato circular ou retangular, com uma tela<br />

no interior (Figura 1a). Seu objetivo principal é o de<br />

manter a desova o mais próximo da superfície possível,<br />

onde os níveis de oxigênio dissolvido são os maiores.<br />

Há também aqueles que mantém as desovas em bandejas<br />

plásticas (Figura 1b), onde podem fazer uma estimativa<br />

da quantidade de ovos produzidos, bem como<br />

das taxas de fecundação e de eclosão.<br />

Após a absorção do vitelo os girinos iniciam<br />

sua busca por alimento exógeno e é aí que entram na<br />

fase de crescimento e desenvolvimento. As inovações<br />

para essa fase estão ligadas ao tipo de tanque e a alimentação<br />

diversificada, cada vez mais empregada. Os<br />

tanques de criação usados possuem algumas variações<br />

e, hoje, se combina um período inicial de manejo em tanques<br />

artificiais (cimentados, de fibra, lona plástica), por 15<br />

a 20 dias, onde o animal começa a ser acostumado a ingerir<br />

a ração em pó, à posterior transferência para tanques de<br />

terra, que possuem maior diversidade alimentar, representada<br />

pela presença de maior quantidade e variedade de<br />

plâncton, perifiton e musgo, combinadas com a introdução<br />

de legumes e frutas, como a abóbora, pois recentemente se<br />

descobriu que digerem e aproveitam melhor os carboidratos<br />

do que proteínas e lipídeos na alimentação.<br />

Com o passar do tempo as pernas começam a aparecer<br />

e a cauda inicia seu processo de desintegração, servindo<br />

de alimento final (proteico) para os animais. Chamamos<br />

esse período de metamorfose final e existem duas variantes<br />

para a coleta dos girinos nos tanques: a primeira é<br />

denominada de “seleção natural”, que se configura como<br />

um pequeno tanque contíguo ao tanque maior (Figura 2a),<br />

onde, por meio de uma rampa, os animais se auto selecionam<br />

e se separam dos demais; e a segunda é a caixa coletora<br />

(Figura 2b), representada por uma caixa flutuante que<br />

confere apoio e ambiente menos luminoso, normalmente<br />

procurados pelos girinos em clímax metamórfico.<br />

INOVAÇÕES EM INSTALAÇÕES E MANEJO NA LARVICULTURA<br />

Dr. Andre Muniz Afonso<br />

Universidade Federal do Paraná (UFPR), Palotina, PR.<br />

andremunizafonso@gmail.com<br />

A<br />

Quando comparamos a fase larval com as demais<br />

da rã-touro, fica nítido que, suas “inovações” são relativamente<br />

mais simples que aquelas encontradas para as demais<br />

fases e isso se deve ao fato de que essa fase foi a menos<br />

pesquisada de todas.<br />

Certamente ainda há uma longa estrada para que<br />

se chegue ao ideal em termos de criação de girinos. O pacote<br />

tecnológico atual é bom, mas precisa ser muito aprimorado,<br />

pois a chave para a viabilidade econômica tem<br />

nesse momento da vida do animal um ponto estratégico.<br />

Se existem girinos em bom número e de boa qualidade, a<br />

engorda será muito facilitada. O contrário também é verdadeiro<br />

e, pelas nossas andanças em diversos ranários aqui<br />

e fora do país, infelizmente ainda encontramos esse quadro<br />

desfavorável.<br />

Termino, portanto, com uma mensagem provocativa:<br />

Você, técnico, produtor ou pesquisador, já desenvolveu<br />

alguma melhoria específica para a girinagem? No caso da<br />

resposta ser negativa lhe faço outra pergunta: Está esperando<br />

o quê?<br />

SAUDAÇÕES RANÍCOLAS!<br />

© Andre Muniz Afonso<br />

Figura 1. a) Tanque de embrionagem com incubadora circular; b) Bandejas<br />

plásticas usadas na embrionagem da rã-touro.<br />

A<br />

© Andre Muniz Afonso<br />

B<br />

B<br />

Figura 2. a)Tanque de girinagem com estrutura de seleção natural lateral;<br />

b) Caixa coletora de girinos em clímax metamórfico.<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

COLUNA<br />

79


DEFENDEU!<br />

Novidades em teses e dissertações<br />

Em algum lugar do <strong>Brasil</strong>, um acadêmico de pós-graduação<br />

contribui com novas informações para nossa aquicultura.<br />

Acadêmico: Lucas de Oliveira Soares Rebouças.<br />

Orientador:Dr. Alex Augusto Gonçalves, Pesquisador<br />

e Chefe do Laboratório de Tecnologia e Controle de<br />

Qualidade do Pescado (LAPESC).<br />

Programa: Pós-graduação em Produção Animal (PPGPA),<br />

Centro de Ciências Agrárias (CCA), Universidade Federal<br />

Rural do Semi Árido (UFERSA).<br />

Título da dissertação: “Quantificação do percentual<br />

de glaciamento no camarão branco do Pacífico<br />

(Litopenaeus vannamei) congelado – Uma nova<br />

metodologia”.<br />

Figura 1. A) Ultrafreezer com temperatura ajustada para -30°C; B) Camarões dispostos<br />

individualmente em bandeja para congelamento; C) Pesagem do camarão<br />

congelado em amostras de 100g; D) Imersão do camarão congelado em água gelada<br />

(0±1°C); E) Amostra de camarão glaciado embalada a vácuo.<br />

Devido à alta perecibilidade do pescado, uma das<br />

principais preocupações da indústria é aperfeiçoar as tecnologias<br />

de conservação, alcançando um produto final de boa<br />

qualidade. Dentre os vários métodos utilizados destaca-se o<br />

glaciamento após o congelamento, que proporciona maior<br />

estabilidade e vida de prateleira ao produto. Em contrapartida<br />

alguns abusos têm sido relatados no tocante ao excesso<br />

de água nos produtos glaciados, caracterizando-se como<br />

fraude econômica. As metodologias existentes que quantificam<br />

o percentual glaciamento no pescado não descrevem<br />

os procedimentos em detalhes, podendo induzir ao erro na<br />

quantificação, muitas vezes evitáveis.<br />

Alguns autores vêm relatando algumas dificuldades<br />

e pontos críticos encontrados na aplicação das metodologias<br />

para a quantificação do percentual de glaciamento.<br />

Diante do exposto, estudos sobre a padronização<br />

dos métodos existentes e sua validação, serão de extrema<br />

importância para que possam servir efetivamente como<br />

ferramenta para os órgãos responsáveis por inspecionar os<br />

produtos.<br />

Objetivo: Nesse contexto, o objetivo do presente estudo<br />

foi avaliar a eficiência dos métodos oficiais para quantificação do percentual de glaciamento em amostras de camarão<br />

branco do Pacífico (Litopenaeus vannamei) congelado.<br />

80<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


Materiais e métodos:<br />

As amostras de camarão (L. vannamei)<br />

foram obtidas de fazendas localizadas nas<br />

proximidades da cidade de Mossoró, acondicionadas<br />

em caixas isotérmicas com gelo<br />

em escamas (1:1), e transportadas ao Laboratório<br />

de Tecnologia e Controle de Qualidade<br />

do Pescado (LAPESC/UFERSA).<br />

No laboratório os camarões foram lavados,<br />

pesados, conferiu-se a gramatura (peças/<br />

kg), descascados manualmente, divididos<br />

em porções (100g), congelados individualmente<br />

em ultrafreezer a -30°C por 24 horas,<br />

embalados em sacos de polietileno e armazenados<br />

em ultrafreezer (-30ºC). Posteriormente<br />

os camarões receberam cinco percentuais<br />

de glaciamento (15, 30, 40, 50 e 60%).<br />

O percentual de glaciamento foi quantificado<br />

com base nas metodologias do INMETRO,<br />

MAPA, CODEX, AOAC/NIST e através da<br />

nova proposta sugerida no trabalho.<br />

Resultados e discussão:<br />

As metodologias oficiais utilizadas<br />

para quantificação do percentual de glaciamento<br />

em pescado tiveram relação proporcionalmente<br />

inversa ao percentual de glaciamento<br />

presente nas amostras, ou seja, a eficácia<br />

das metodologias é reduzida com o aumento<br />

do percentual de glaciamento do produto. A<br />

subjetividade dos métodos (i. e., temperatura<br />

da água “fria” e “ambiente”; sentir a retirada<br />

total do gelo “pelo tato”) acarretou grande<br />

variabilidade de resultados em amostras idênticas,<br />

não oferecendo precisão na quantificação.<br />

Deve-se ser considerada a adoção de<br />

medidas que possam minimizar essa variação,<br />

como, utilização e calibração de balanças<br />

com quatro casas decimais, treinamento dos<br />

avaliadores e monitoramento constante da<br />

temperatura do banho de imersão.<br />

Os resultados da metodologia proposta<br />

se aproximaram mais aos valores do percentual<br />

de glaciamento das amostras de camarão<br />

congelado, confirmando que a metodologia<br />

pode ser uma alternativa a ser utilizada pelos<br />

órgãos fiscalizadores, após estudo colaborativo<br />

de validação da metodologia.<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

81


AquaOnline <strong>Brasil</strong><br />

Foi realizado entre os dias 11 e 16 de setembro<br />

de 2017 o I Congresso <strong>Brasil</strong>eiro Online de Aquicultura, o<br />

AquaOnline <strong>Brasil</strong>. Um evento inédito para o setor em âmbito<br />

nacional e também desafiador a toda equipe da <strong>Aquaculture</strong><br />

<strong>Brasil</strong>, organizadora do congresso.<br />

Já imaginou reunir em um mesmo evento o diretor<br />

geral da Embrapa Pesca e Aquicultura, o presidente da Peixe<br />

BR, a presidente da WAS, o diretor da Rede Canadense de<br />

Aquicultura Multitrófica e a chefe do departamento de Nutrição<br />

de Organismos Aquáticos da Universidade Autônoma da Baja<br />

Califórnia, no México?<br />

E se além desses, tivessem outros palestrantes, tão<br />

competentes e importantes quanto? Sim, o AquaOnline proporcionou<br />

isso tudo! Com inscrições gratuitas, milhares de<br />

pessoas puderam acompanhar esses cinco dias de palestras,<br />

mais o dia bônus, com três minicursos. Este último, disponível<br />

apenas para congressistas VIP.<br />

Evento técnico-científico de forma online é uma<br />

grande tendência mundial e encaixou-se muito bem em um<br />

país com tamanha extensão territorial, como o <strong>Brasil</strong>. No dia<br />

e horário marcado, com apenas um clique, os congressistas<br />

inscritos eram direcionados a uma página para visualização<br />

das palestras gravadas.<br />

Para aqueles que perderam ou desejam rever, o plano<br />

VIP ainda está disponível e você pode assistir com calma<br />

qualquer uma das palestras ou minicursos, quando desejar.<br />

Confira abaixo os benefícios de ser um congressista VIP.<br />

Beneficios:<br />

i<br />

Certificado Digital de participação no evento;<br />

Mais de 30 palestras para ver e rever a hora que<br />

desejar*;<br />

Assinatura por um ano da revista <strong>Aquaculture</strong> <strong>Brasil</strong>**;<br />

3 minicursos de 4 horas/cada: Nutrição, Aquaponia<br />

e Policultivo.<br />

*Por um período de 180 dias a partir da data de compra.<br />

**Aos que já são assinantes, o período será renovado.<br />

Plano VIP<br />

R$ 159,90<br />

82<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


Nome Palestra Hora Foto<br />

Dia 3 Dia 2 Dia 1<br />

Nome Palestra Hora Foto<br />

Dra. Maria Célia A inserção Dia da 1<br />

9:00 1<br />

Portella<br />

Aquicultura <strong>Brasil</strong>eira no<br />

Nome Contexto Palestra Mundial: os Hora Foto<br />

exemplos da WAS e<br />

Dra. Maria Célia<br />

rede<br />

A inserção<br />

LARVAplus.<br />

da<br />

9:00 1<br />

Dr.<br />

Portella<br />

Luciano Caetano Automação<br />

Aquicultura <strong>Brasil</strong>eira<br />

na<br />

no<br />

11:00<br />

Contexto Mundial: os<br />

2<br />

de Oliveira<br />

Aquicultura: perspectivas<br />

exemplos da WAS e<br />

atuais e futuras.<br />

rede LARVAplus.<br />

André<br />

Dr. Luciano<br />

Camargo<br />

Caetano<br />

A<br />

Automação<br />

história da<br />

na<br />

Escama<br />

11:00<br />

13:00<br />

2<br />

3<br />

de Oliveira<br />

Forte<br />

Aquicultura:<br />

– 18<br />

perspectivas<br />

anos de<br />

luta.<br />

atuais e futuras.<br />

Dr.Wilson<br />

André Camargo<br />

Wasielesky Cultivo<br />

A história<br />

de<br />

da<br />

camarões<br />

Escama<br />

em<br />

13:00<br />

15:00<br />

34<br />

sistema Forte – 18 bioflocos anos no de<br />

<strong>Brasil</strong>: luta. Histórico, a<br />

Dr.Wilson Wasielesky Pesquisa; Cultivo de a camarões Indústria em e 15:00 4<br />

Perspectivas sistema bioflocos Futuras. no<br />

Dr. Artur Nishioka Lipídios <strong>Brasil</strong>: Histórico, alternativos a na 17:00 5<br />

Rombenso<br />

nutrição Pesquisa; de a peixes Indústria e<br />

marinhos. Perspectivas Futuras.<br />

MSc. Dr. Artur Ivã Guidini Nishioka Lopes A Lipídios compostagem alternativos orgânica na 17:00 19:00 56<br />

Rombenso<br />

como nutrição solução de peixes para o<br />

descarte marinhos. de resíduos na<br />

MSc. Ivã Guidini Lopes aquicultura. A compostagem orgânica 19:00 6<br />

como solução para o<br />

descarte de resíduos na<br />

aquicultura. Dia 2<br />

Nome Palestra<br />

Dia 2<br />

Hora Foto<br />

Francisco das Chagas Tanques-rede de 9:00 7<br />

Medeiros Nome grande volume: Palestra futuro<br />

ou realidade?<br />

Hora Foto<br />

Dr. Francisco Leopoldo das Barreto Chagas “Aquicultura Tanques-rede ornamental: de 11:00 9:00 78<br />

Medeiros<br />

do grande tanque volume: ao aquário”. futuro<br />

Dr. José Zertuche- Pond ou realidade? Cultivation of ulva 13:00 9<br />

González Dr. Leopoldo Barreto spp “Aquicultura in Baja ornamental: California, 11:00 8<br />

Mexico. do tanque ao aquário”.<br />

MSc. Dr. José Penélope Zertuche- Bastos Cultivo Pond Cultivation de polvo: of um ulva 13:00 15:00 910<br />

González<br />

novo spp in desafio Baja California, para a<br />

aquicultura. Mexico.<br />

Léo MSc. de Penélope Oliveira Bastos Qualificação Cultivo de polvo: de kits um e 15:00 17:00 10 11<br />

equipamentos novo desafio para para a<br />

análise aquicultura. de água e<br />

Léo de Oliveira aquicultura Qualificação de de precisão. kits e 17:00 11<br />

Dr. Ricardo Vieira Larvicultura equipamentos de para peixes 19:00 12<br />

Rodrigues<br />

marinhos: análise de revisão água e do<br />

conhecimento<br />

aquicultura de<br />

atual<br />

precisão.<br />

e<br />

Dr. Ricardo Vieira perspectivas Larvicultura de futuras. peixes 19:00 12<br />

Rodrigues<br />

marinhos: Dia revisão 3 do<br />

conhecimento atual e<br />

Nome<br />

perspectivas futuras.<br />

Palestra Hora Foto<br />

Dr. Luis Conceição SPAROS Lda, pesquisa<br />

na interface entre<br />

universidade e a<br />

indústria.<br />

Dr. Andre Muniz Como viabilizar a<br />

Afonso<br />

Ranicultura?<br />

Dr a . Katt Regina Lapa Tecnologias avançadas<br />

para produção aquícola<br />

com uso de sistemas<br />

de recirculação de água<br />

no <strong>Brasil</strong>: uma<br />

perspectiva sobre a<br />

sustentabilidade<br />

ambiental.<br />

Dr. Fábio Sussel Lambari para petiscos:<br />

desafio de transformar<br />

MSc. Bruno Ricardo<br />

Scopel<br />

Jenner Tavares Bezerra<br />

de Menezes<br />

demanda em mercado.<br />

Empreendedorismo,<br />

inovação e<br />

oportunidades na<br />

aquicultura.<br />

Aspectos eficientes para<br />

a produção de peixes<br />

nativos.<br />

9:00 13<br />

11:00 14<br />

13:00 15<br />

15:00 16<br />

17:00 17<br />

19:00 18<br />

Nome<br />

pROGRAMAÇÃO<br />

Roberto Bianchini Derner<br />

Microalgas: Aplicações Biotecnoló<br />

Dr. Darci Carlos Fornari<br />

Dia<br />

Produção<br />

4<br />

de Pintado Amazônico.<br />

Dr. Maria<br />

Nome<br />

Teresa Viana<br />

Palestra<br />

¿Qué<br />

Hora<br />

comen los peces?<br />

Dr. Gabriela Tomas Jerônimo<br />

Medidas profiláticas para enfermid<br />

parasitárias de peixes nativos cu<br />

Dr. Carlos Jorge Magno Chávez Campos Rigaíl O papel da Embrapa no Criterio 9:00 biológico en la interpretac<br />

da Rocha<br />

desenvolvimento de parâmetros químicos, como indica<br />

pesquisas aplicadas na Calidad de Agua”.<br />

Dr. Wagner C. Valenti aquicultura e pesca Freshwather prawn farming in int<br />

brasileira.<br />

systems.<br />

Dr. Maurício Thierry G. B.R.Chopin C. Bioflocos e Aquaponia: Integrated 11:00 Multi-Trophic Aquacultu<br />

Emerenciano<br />

rumo a uma maior<br />

sustentabilidade na<br />

aquicultura brasileira?<br />

Dia 6<br />

Dr. Eduardo Antônio Otimização dos<br />

13:00<br />

Sanches<br />

reprodutores: como<br />

MINICURSOS:<br />

melhorar as taxas de<br />

fertilização em peixes<br />

1. AQUAPONIA – Do hobby ao negócio. Ministrado pelo Prof. Dr. Maurí<br />

nativos?<br />

Dra. Janine Bezerra de Mercados e<br />

15:00<br />

2. NUTRIÇÃO – De olho na qualidade das rações. Ministrado pelo Prof.<br />

Menezes<br />

internacionalização do<br />

peixe nativo da Amazônia.<br />

3. POLICULTIVO – Aumentando os lucros e reduzindo os riscos. Ministra<br />

Vinícius Marcus Ramos Apresentando uma Fazenda 17:00<br />

Marinha de Ostras.<br />

Dr. Rodolfo Luís Petersen Qualidade das pós-larvas na 19:00<br />

carcinicultura marinha.<br />

Nome Palestra Dia 5 Hora Foto<br />

Dia 5<br />

Palestra<br />

Dr. Roberto Bianchini Nome Microalgas:<br />

9:00 Palestra 25<br />

Hora<br />

Roberto Derner Bianchini Derner Aplicações Microalgas: Aplicações Biotecnológicas. 9:00<br />

Biotecnológicas.<br />

Dr. Darci Carlos Fornari Produção de Pintado Amazônico. 11:00<br />

Dra. Dr. Maria Darci Teresa Carlos Viana Produção de ¿Qué Pintado comen los 11:00 peces? 26<br />

13:00<br />

Fornari<br />

Amazônico.<br />

Dra. Gabriela Tomas Jerônimo<br />

Medidas profiláticas para enfermidades 15:00<br />

Dr a.Maria Teresa ¿Qué comen los<br />

parasitárias de peixes 13:00 nativos cultivados. 27<br />

Dr. Viana<br />

peces?<br />

Jorge Chávez Rigaíl<br />

Criterio biológico en la interpretación de 17:00<br />

Dr a. Gabriela Tomas Medidas profiláticas los parâmetros químicos, 15:00 como 28<br />

Jerônimo<br />

para enfermidades indicadores de “Calidad de Agua”.<br />

Dr. Wagner C. Valenti parasitárias Freshwather de peixes prawn farming in integrated 19:00<br />

nativos cultivados. systems.<br />

Dr. Dr. Thierry Jorge B.R.Chopin Chávez Criterio biológico Integrated en Multi-Trophic 17:00 <strong>Aquaculture</strong> 29<br />

21:00<br />

Rigaíl<br />

la interpretación (IMTA). de<br />

los parâmetros<br />

químicos, como<br />

indicadores de “ Dia 6<br />

Calidad de Agua”.<br />

MINICURSOS:<br />

Dr. Wagner C. Freshwather prawn 19:00 30<br />

1. Valenti AQUAPONIA – Do hobby ao farming negócio. in Ministrado integrated pelo Prof. Dr. Maurício Emerenciano.<br />

systems.<br />

2. Dr. NUTRIÇÃO Thierry – De olho na qualidade Integrated das Multi- rações. Ministrado 21:00 pelo Prof. Dr. 31 Artur Rombenso.<br />

B.R.Chopin Trophic <strong>Aquaculture</strong><br />

3. POLICULTIVO – Aumentando os lucros e reduzindo os riscos. Ministrado pelo Prof. Dr. Giovan<br />

(IMTA).<br />

MINICURSOS:<br />

1. AQUAPONIA – Do hobby ao negócio. Ministrado<br />

pelo Prof. Dr. Maurício Emerenciano.<br />

2. NUTRIÇÃO – De olho na qualidade das rações.<br />

Ministrado pelo Prof. Dr. Artur Rombenso.<br />

3. POLICULTIVO – Aumentando os lucros e reduzindo<br />

os riscos. Ministrado pelo Prof. Dr. Giovanni Lemos<br />

de Mello.<br />

Dia 4<br />

Dia 5<br />

Dia 6<br />

AQUACULTURE Dia 4 BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

83


ENTREVISTA<br />

84<br />

© Marcelo Toledo<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


MARCELO<br />

TOLEDO<br />

Conversamos com um dos gigantes da aquicultura nacional!<br />

O Biólogo Marcelo Toledo, Diretor de Produtos da NUTRECO no <strong>Brasil</strong> e agora<br />

vice-presidente da Associação <strong>Brasil</strong>eira de Piscicultura, PeixeBR, concedeu uma entrevista<br />

exclusiva para 7ª edição da <strong>Revista</strong> <strong>Aquaculture</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />

Especialista em nutrição, “Marcelão” falou de sua carreira, do status da nutrição aquícola<br />

brasileira e internacional, dos desafios do setor que trabalha há 27 anos e fez projeções<br />

para o futuro da produção de peixes e camarões no <strong>Brasil</strong>.<br />

AQUACULTURE BRASIL: Marcelo, conte-nos um<br />

pouco da sua carreira (graduação e atuação profissional)<br />

e como a aquicultura entrou na sua vida.<br />

Marcelo Toledo: Sou biólogo, formado pela UNESP de<br />

Rio Claro, e minha carreira na aquicultura começou ainda<br />

na graduação, quando estudava a reprodução de peixes.<br />

Já no 3º ano de faculdade fiz um estágio na companhia de<br />

energias de São Paulo, acompanhando o repovoamento<br />

de rios a partir da reprodução de pacu, curimba, entre<br />

outros peixes nativos, todos por indução hormonal via<br />

extrato de hipófise. Ainda na graduação estudei a dinâmica<br />

populacional de uma espécie de bagre existente no rio<br />

Tietê, o Pimelodus maculatus, vulgo mandi. Concluí a<br />

graduação em 1989 e imediatamente comecei a trabalhar<br />

com um amigo em uma empresa de consultoria. Foi na<br />

época em que os pesque-pagues estavam começando a<br />

surgir. Fiquei três anos realizando trabalhos à campo,<br />

incluindo toda a parte de construção de viveiros, ocupação<br />

dos extratos com diferentes espécies, etc. Após<br />

este período, prestei a prova de mestrado em aquicultura,<br />

na primeira turma do CAUNESP, onde entravam<br />

apenas nove candidatos. Fiquei na décima colocação,<br />

mas por sorte uma pessoa desistiu e acabei ingressando,<br />

em 1991. No CAUNESP iniciei minha experiência com<br />

a orientação do prof. Newton Castagnolli, e também<br />

comecei a acompanhar alguns colegas no laboratório<br />

de nutrição. Acabei me apaixonando por essa área e fazendo<br />

minha dissertação de mestrado nela, avaliando a<br />

soja integral na nutrição de tambaqui, sob a orientação<br />

do Prof. Dalton Carneiro. Defendi o mestrado em 1993<br />

e logo já estava<br />

empregado em Você pode conhecer<br />

uma cooperativa<br />

as exigências do<br />

agrícola da região<br />

de Ribeirão Preto.<br />

animal, mas a entrega<br />

Permaneci seis anos<br />

desse nível de<br />

nesta cooperativa, aminoácido exigido<br />

trabalhando principalmente<br />

com ex-<br />

digestibilidade das<br />

e o conhecimento da<br />

tensão. Juntamente matérias-primas em<br />

com o pessoal da função de cada fornecedor,<br />

esse sim é o grande<br />

American Soybean<br />

Association, realizamos<br />

os primeiros as empresas.<br />

diferencial entre<br />

experimentos com<br />

tanques-rede de 1m³, visando demonstrar que existia<br />

viabilidade nesta ideia. Esta foi uma iniciativa da empresa<br />

Guabi, junto ao Silvio Romero, que na época trabalhava<br />

na empresa. Nestes seis anos também fizemos<br />

alguns testes com o cultivo do pacu em tanques-rede<br />

de grande volume. Depois desse período, tive a oportunidade<br />

de trabalhar em uma das primeiras empresas a<br />

desenvolver tanques-rede para piscicultura de água doce<br />

do país. Fiquei nesta empresa 2,5 anos, mas como o trabalho<br />

era um pouco estressante fui parar no hospital!<br />

A partir disto resolvi que iria mudar de vida e entrei no<br />

doutorado, trabalhando com nutrição de tilápia. Após a<br />

defesa de minha tese, em meados de 2003, fui contratado<br />

pela Poli-Nutri, lançando toda a linha “Aqua” da empresa,<br />

que ainda não atuava no setor aquícola. Trabalhei<br />

na Poli-Nutri durante seis anos. Finalmente, aproveitan-<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

85


ENTREVISTA<br />

Nova diretoria da Peixe BR (2017-2019)<br />

do uma grande oportunidade, justamente quando a Nutreco comprou a Fri-Ribe, surgiu uma vaga a acabei vindo<br />

trabalhar na empresa. Fui contratado em 1º de novembro de 2009. Daí em diante estou há praticamente 7 anos nessa<br />

migração das empresas que a Nutreco tem realizado no <strong>Brasil</strong>. Atualmente sou Diretor de Produtos da Nutreco no<br />

País.<br />

AQUACULTURE BRASIL: Você tem uma longa trajetória e experiência na parte de nutrição animal, que é sem<br />

dúvida, um dos pilares mais importantes da aquicultura. Houve uma evolução das rações aquícolas nos últimos<br />

anos?<br />

Marcelo Toledo: Com certeza houve uma transferência interessante do conhecimento e da tecnologia para as indústrias<br />

de ração, a partir do investimento que as fábricas fizeram na contratação de pessoas especializadas na área,<br />

com mestrado e doutorado. Vejo que a pesquisa brasileira contribuiu bastante no que tange a tilápia e aos peixes<br />

redondos como tambaqui, pacu e seus híbridos. Estes trabalhos, em especial acerca das exigências nutricionais<br />

básicas como proteína, energia, relação proteína:energia e energia digestível, promoveram um avanço considerável<br />

para a aquicultura brasileira e estas pesquisas/tecnologias estão disponíveis para as indústrias. Contudo, vejo que<br />

há muita diferença entre as empresas com relação ao fornecimento de matéria prima e o entendimento das qualidades<br />

nutricionais de cada matéria prima. Você pode conhecer as exigências do animal, mas a entrega desse nível<br />

de aminoácido exigido e o conhecimento da digestibilidade das matérias primas em função de cada fornecedor, esse<br />

sim é o grande diferencial entre as empresas. Existem empresas que conhecem estas exigências, por outro lado, tem<br />

aquelas que mudam de fornecedor de matéria prima acreditando que a qualidade nutricional será a mesma. E isso<br />

nem sempre é verdade! Em resumo, houve sim uma evolução. Entretanto, não é o fato de que as empresas estejam<br />

empregando conceitos errados, o que existe é um nível tecnológico diferente entre as empresas de nutrição.<br />

AQUACULTURE BRASIL: Perto de completar um ano da entrada definitiva da Skretting no <strong>Brasil</strong> (lançada na<br />

Fenacam 2016), qual a sua perspectiva sobre o setor da carcinicultura no <strong>Brasil</strong>, enquanto Diretor de Produtos<br />

da Nutreco?<br />

Marcelo Toledo: Hoje, falando especificamente da carcinicultura brasileira, se utiliza muito pouca ração devido às<br />

baixas densidades, com uma conversão alimentar média de 0,8 e 0,9:1. Desta forma, o que se comercializa de ração<br />

no país para a produção de camarão é pouco, comparado ao que foi vendido num passo recente. Com a entrada da<br />

marca Skretting, a partir da tecnologia e do diferencial nutricional, com produtos extrusados e micro-péletes para<br />

a alimentação de camarões, nossa evolução dentro desse mercado foi muito significativa. Hoje temos um marketing<br />

8% acima do que tínhamos antes da mancha branca, frente a outros concorrentes. Nós ganhamos espaço e o<br />

consumidor hoje reconhece esta posição. Acredito que a recuperação da carcinicultura está mais rápida do que eu<br />

inicialmente tinha estimado. Fiz uma avaliação acreditando que nós iríamos atingir os volumes de produção de<br />

camarão em torno de 60 mil toneladas (que foram fechadas em 2015, antes da mancha branca atingir o Estado do<br />

Ceará) no ano de 2022. Mas vejo um alento e creio que iremos adiantar isso até 2019/2020.<br />

AQUACULTURE BRASIL: Já se pensa em uma ração diferenciada para o sistema de bioflocos?<br />

Marcelo Toledo: O fato de termos uma ração de menor nível proteico para o sistema de bioflocos, ainda é um fato<br />

controverso. Acredito que podemos investir em produtos que coloquem o sistema de bioflocos em uma situação<br />

mais estável, até porque o que acontece hoje não é exatamente “bioflocos”, e sim um sistema “mixotrófico”. Uma vez<br />

que o bioflocos é ainda instável para manter-se em uma condição operacional de campo. Por isso ainda continuamos<br />

com a ideia de manter o padrão das rações, empregando os melhores nutrientes nas dietas para estes animais.<br />

86<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


O ideal é focar<br />

em alguns<br />

mercados do mundo,<br />

especificamente até<br />

aonde consigamos<br />

atender de forma<br />

permanente, e aí a<br />

medida que a demanda<br />

for crescendo<br />

aumentamos a<br />

produção.<br />

AQUACULTURE BRASIL: Seria um diferencial da Skretting o fato de ser uma empresa<br />

multinacional, com centros de pesquisa focados em aquicultura e espalhados<br />

por diversos países?<br />

Marcelo Toledo: A Skretting tem dois centros de pesquisa, um focado em peixes<br />

de clima frio, localizado na Noruega, trabalhando basicamente com salmonídeos; e<br />

outro mais recente, exclusivamente para peixes e camarões tropicais, que se encontra<br />

na China. Temos uma estação de pesquisa em carcinicultura junto à nossa unidade<br />

operacional do Equador, e temos uma associação muito importante com dois centros<br />

de pesquisa na Espanha e na Itália, focados em peixes tropicais marinhos do Mediterrâneo.<br />

Hoje também temos um centro de pesquisa trabalhando com rações para<br />

atum, na Austrália. O que posso dizer com relação à tilápia, carro chefe da piscicultura<br />

brasileira, é que o centro de pesquisa da Skretting revisou todas as exigências básicas<br />

desta espécie, ou seja, tudo o que existia na literatura, a Skretting repetiu de forma experimental,<br />

porque notamos que existe uma grande variedade de resultados ligados ao delineamento experimental<br />

de cada trabalho. Como a Skretting possui um padrão a seguir, achou-se que seria interessante confirmar todos estes<br />

experimentos, gerando nossa própria base de dados a respeito das exigências nutricionais das tilápias. Hoje podemos<br />

dizer que temos à disposição uma formulação própria, tendo em vista que estudamos do alevino até a engorda<br />

final. Nos últimos cinco anos já temos inclusive colhido os frutos deste trabalho.<br />

AQUACULTURE BRASIL: A Nutreco é uma empresa multinacional que já atuava no <strong>Brasil</strong>, contudo não ainda<br />

na linha “Aqua”. O que voltou os olhos dessa multinacional para desenvolver a linha “Aqua” brasileira?<br />

Marcelo Toledo: A Nutreco é composta de duas marcas no mundo, Trouw Nutrition, que é ligada a linha “Agri” e a<br />

Skretting, voltada ao meio “Aqua”. Na realidade a Skretting está ampliando o seu mercado, buscando outras espécies<br />

que não sejam apenas salmonídeos. Como estratégia de negócios, há cinco anos a empresa começou a trabalhar<br />

dentro de um conceito de diversificação de espécies na aquicultura mundial. Com isso, ocorreu uma migração para<br />

peixes marinhos mediterrâneos, carcinicultura e, mais recentemente (há apenas três anos), vem trabalhando fortemente<br />

com a tilápia. A Skretting está fazendo essa migração, buscando a diversificação de espécies, uma vez que o<br />

salmão também está sofrendo diversas pressões no mundo e as grandes produtoras, como Marine Harvest e outras<br />

empresas, passaram a produzir sua própria ração. Essa estratégia de expansão tem se mostrado bastante efetiva, sendo<br />

que o melhor resultado hoje da Skretting é no Equador, com ração para a carcinicultura marinha, que deve fechar<br />

esse ano com a venda de 300 mil toneladas. Mas no <strong>Brasil</strong> estamos com certeza bastante otimistas.<br />

AQUACULTURE BRASIL: O estrago causado pelo vírus “Tilapia Lake Vírus” ou TiLV, tem deixado centenas de<br />

tilapicultores preocupados. Enquanto vice-presidente da Peixe BR, já há alguma medida por parte da entidade<br />

sobre como lidar e prevenir a entrada deste vírus no país?<br />

Marcelo Toledo: Com certeza. Vai haver inclusive um evento em Brasília, da Peixe BR junto com o MAPA, onde<br />

estamos buscando empresas que têm mais contato com a área de saúde animal para estar presentes nesta reunião. A<br />

finalidade é discutir junto ao Ministério medidas de avaliação sanitária e possibilidade de importação de reprodutores,<br />

etc. Sabemos que a genética é uma situação importantíssima, que traz um benefício para a produção, talvez<br />

muito mais rápido do que uma grande descoberta atual na nutrição, por isso não se pode impedir esta situação. Por<br />

outro lado, temos que estar muito conscientes dos riscos das importações, e de como podemos minimizar qualquer<br />

possibilidade da entrada deste vírus, que ainda não apresenta uma forma de controle.<br />

AQUACULTURE BRASIL: Um dos gargalos para o desenvolvimento da piscicultura marinha no <strong>Brasil</strong> reside<br />

nas fases iniciais de produção, como a larvicultura e o alimento vivo. A Skretting tem novidades em termos de<br />

rações micro-extrusadas para estas fases iniciais?<br />

Marcelo Toledo: Sim, temos um produto que é utilizado largamente nas fases iniciais de peixes marinhos, que se<br />

chama “Gemma Wean”. Esse produto começa com 0,1 mm, indo até 0,8 mm, onde temos uma mudança de nomenclatura,<br />

passando a se chamar de “Gemma Diamond”, a ser fornecido na fase seguinte ao desmame. A ideia é de se<br />

ter somente um alimento, com diferentes granulometrias para todas as fases, e que atenda todas as exigências nutricionais<br />

dos peixes marinhos. Hoje no <strong>Brasil</strong> já temos esse produto em estoque, realizamos algumas experiências<br />

com peixes marinhos e também temos testado em tilápias e carnívoros de água doce, substituindo a artêmia. São<br />

produtos “top” de linha, produzidos em uma unidade na França e entregues em todo o mundo. Desta forma, ainda<br />

não é um produto barato. Ele passa por um alto padrão de produção, todos são micro-extrusados a frio, garantindo<br />

a qualidade, sem desnaturar as proteínas de origem marinha e com alto nível proteico (54%). Estamos com a solução<br />

e com o protocolo de manejo para diferentes espécies. Agora é uma questão de poder estar próximo ao mercado, e o<br />

setor realmente se interessar e buscar esse produto diferenciado.<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

87


ENTREVISTA<br />

AQUACULTURE BRASIL: E para a engorda, existem soluções em termos de rações para peixes marinhos que<br />

poderiam contribuir com o desenvolvimento da piscicultura marinha brasileira?<br />

Marcelo Toledo: Nós por exemplo, conhecemos muito bem a necessidade do bijupirá que é cultivado no <strong>Brasil</strong>. Já<br />

produzimos em outras unidades operacionais ao redor do mundo rações para bijupirá, como no Vietnã, China e<br />

também no Chile, buscando exportar para alguns países da América Central. Deve-se ter cautela para investir nesse<br />

segmento, fazendo a coisa de forma correta. Este peixe exige pelo menos um nível em torno de 15% de gordura nas<br />

rações. E nossas empresas no <strong>Brasil</strong> não têm o equipamento necessário e adequado para poder trabalhar com esse<br />

nível de gordura nos produtos. O investimento não é pequeno, pelo contrário, é bem considerável. Hoje o mercado<br />

para esses peixes é um mercado em desenvolvimento, por isso depende muito do foco de cada empresa. Nós, por<br />

exemplo, estamos tentando buscar o mercado de valor agregado um pouco diferenciado, que é uma oportunidade.<br />

Hoje temos equipamentos que infelizmente estão na região Nordeste, longe da produção atual de bijupirás no <strong>Brasil</strong><br />

que é SP e RJ, mas que pode fazer esse tipo de produto. Dessa forma, estamos procurando nos alinhar para entregar<br />

um produto em padrão internacional, para a produção de bijupirá e outros peixes marinhos no <strong>Brasil</strong>, apesar de o<br />

volume ser ainda muito pequeno.<br />

AQUACULTURE BRASIL: Falando em novas oportunidades, quais peixes você apostaria, além da tilápia e dos<br />

redondos, em termos de contribuição para a produção brasileira nos próximos anos?<br />

Marcelo Toledo: Sem entrar no mérito se híbrido é permitido ou não, acredito que o pintado da Amazônia tem<br />

grande potencial. É possível produzir em tanque-rede, com uma qualidade de carne e rendimento de carcaça superior<br />

à tilápia. Não diria que em qualidade é superior, são diferentes, mas que possui um padrão diferente que com<br />

certeza deve encontrar o paladar do consumidor. Dentre as espécies brasileiras que são factíveis de trabalho na aquicultura,<br />

acredito que ainda não conhecemos 10% do total. Isto também é um ponto bastante importante. A pesquisa<br />

brasileira parece estar desfocada quanto a essas oportunidades. Não estamos pesquisando o que é necessário para<br />

que tenhamos opções de produção. No Vietnã por exemplo, ou sudeste Asiático como um todo, há uma variedade<br />

enorme de espécies e o produtor “navega” dentro desta diversidade, buscando a melhor oportunidade de lucro para<br />

ele. No <strong>Brasil</strong> estamos bastante limitados a algumas espécies.<br />

AQUACULTURE BRASIL: Voltando à nutrição, para finalizar, as rações para a aquicultura experimentaram<br />

importantes mudanças de paradigmas, que foram verdadeiros divisores de água, como no caso do surgimento<br />

das rações extrusadas, posteriormente das rações específicas para determinada espécie ou clima, rações para<br />

períodos de doenças, rações com probióticos ou imuno-estimulantes, etc. O que vamos ver no futuro na formulação<br />

e no conceito das dietas para peixes e camarões? Até onde a nutrição poderá avançar?<br />

Marcelo Toledo: Esses pontos que você citou ainda temos que trabalhar e muito, como por exemplo, as rações para<br />

situações de alta temperatura ou rações para baixo nível de oxigênio dissolvido. Rações para períodos de doenças<br />

também muito pouco se sabe, o conhecimento ainda é muito superficial sobre a ação de ácidos orgânicos e óleos<br />

essenciais. É um universo novo que está se abrindo agora. No que tange a probióticos, suínos e aves estão com um<br />

caminho já bem consolidado, enquanto na aquicultura estamos ainda começando. Olhando para o futuro, na questão<br />

da genética teremos que estudar as exigências das linhagens, porque as linhagens possuem exigências nutricionais<br />

diferentes. E com a possibilidade da nutrigenômica, que é um campo da ciência bastante interessante, onde é possível<br />

colocar a nutrição específica para a característica genética, acredito ser um caminho de pesquisa a ser trilhado.<br />

AQUACULTURE BRASIL: Por fim...<br />

Marcelo Toledo: De modo geral tenho bastante confiança na aquicultura brasileira. A mesma sofreu um salto importantíssimo<br />

nos últimos 10 anos. Estou há 27 anos nesse ramo e ainda não caminhamos nada do potencial que o<br />

país possui. Tenho muita preocupação com relação às nossas restrições da legislação ambiental para a produção de<br />

peixes e camarões. Sofremos um desconhecimento por parte das nossas autoridades ambientais, por acharem que a<br />

aquicultura é uma atividade de extremo impacto. Quando na realidade a aquicultura é um segmento que respeita o<br />

ambiente de forma mandatória, porque se não houver um bom ambiente não é possível produzir. Em comparação<br />

com as demais atividades zootécnicas, posso dizer que esta é a mais eficiente em termos de conversão de proteína.<br />

Particularmente, precisamos conhecer melhor o que é aquicultura, olhar como o mundo produz. O maior produtor<br />

de salmão por exemplo, é a Noruega, com a legislação ambiental mais rígida de todo o mundo...<br />

88<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


NOVOS LIVROS<br />

Alevinagem, Recria e<br />

Engorda de Pirarucu<br />

Editores: Adriana Ferreira Lima, Ana Paula Oeda Rodrigues, Leandro Kanamaru<br />

Franco de Lima, Patrícia Oliveira Maciel, Fabrício Pereira Rezende, Luiz Eduardo Lima<br />

de Freitas, Marcos Tavares-Dias, M. e Tácito Araújo Bezerra.<br />

Editora: Embrapa, Brasília/DF Idioma: Português - 152 páginas<br />

Lançamento: Agosto de 2017<br />

Lançado pela Embrapa Pesca e Aquicultura (TO), o livro aborda todas as fases de<br />

produção do pirarucu, espécie de grande potencial para a aquicultura nacional, uma vez<br />

que pode atingir até 10 kg em apenas um ano de cultivo. Em seu conteúdo aborda-se todas as fases de produção, incluindo a captura de<br />

ovos, preparação de viveiros, qualidade de água, treinamento alimentar, engorda, despesca e por fim, processamento e comercialização.<br />

Segundo a pesquisadora da Embrapa Adriana Ferreira Lima, uma das autoras do livro, a obra vem atender à demanda por material<br />

didático sobre o assunto e suprir uma carência de informações sobre cultivo da espécie.<br />

Design and Operation of Super-Intensive Biofloc-Dominated<br />

Systems for the Production of<br />

Pacific White Shrimp<br />

Editores: Tzachi M. Samocha, David I. Prangnell, Terrill R. Hanson, Granvil D. Treece, Timothy<br />

C. Morris, Leandro F. Castro e Nick Staresinic<br />

Editora: World <strong>Aquaculture</strong> Society Idioma: Inglês - 368 páginas<br />

Lançamento: 2017<br />

No <strong>Brasil</strong>, o sistema de bioflocos acabou se tornando uma verdadeira “febre” entre produtores,<br />

estudantes e entusiastas na área de aquicultura. Isso porque é um sistema que utiliza pouca ou<br />

nenhuma renovação de água, promovendo o uso eficiente do recurso hídrico, diminuindo os riscos<br />

de doenças, além de os flocos presentes no sistema servirem como fonte suplementar de alimento aos camarões que estão sendo cultivados.<br />

Sendo assim, para quem está começando seus projetos seja em escala experimental ou comercial, esse guia é sem dúvida, um<br />

grande aliado, englobando desde qualidade de água a análise econômica. Segundo os editores, o objetivo deste manual é exatamente o<br />

de disseminar este tipo de sistema, tido como mais ecológico e sustentável da aquicultura.<br />

Biology and Culture of<br />

Portunid Crabs of World Seas<br />

Autor: Ramasamy Santhanam<br />

Editora: CRC Press Idioma: Inglês - 395 páginas<br />

Lançamento: Outubro de 2017<br />

Este livro fornece uma abundante e valiosa contribuição, de forma inédita, sobre a diversidade,<br />

biologia, ecologia e cultivo dos caranguejos portunídeos. Embora muitas espécies de caranguejos<br />

desta família sejam comestíveis e comercialmente importantes, somente algumas espécies dos<br />

gêneros Scylla e Portunus são amplamente cultivadas. Isto ocorre em grande parte devido à falta de<br />

informações sobre a biologia dos caranguejos portunídeos.<br />

DIVULGUE AQUI O SEU LANÇAMENTO EDITORIAL!<br />

redacao@aquaculturebrasil.com<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

89


Eles fazem<br />

a diferença!<br />

A<br />

seção “Eles fazem a diferença” da 7ª edição da <strong>Revista</strong> <strong>Aquaculture</strong><br />

<strong>Brasil</strong> homenageia um ícone da aquicultura brasileira.<br />

Afinal, quem não conhece o Prof. Dr. Wilson Francisco Britto Wasielesky<br />

Júnior? Também chamado somente de Wilson Wasielesky, ou<br />

ainda “Mano” da FURG, para os mais íntimos. Gaúcho nato, nascido<br />

em Pelotas, Wilson é autor de mais de 100 trabalhos científicos<br />

em periódicos indexados e atualmente é pesquisador e professor<br />

titular do Instituto de Oceanografia da Universidade Federal do<br />

Rio Grande. Filho de Wilson Francisco Britto Wasielesky (médico)<br />

e Carmen Miguens Wasielesky (professora e diretora de escola).<br />

Pai da Ana e da Gabriela. Esposo da Mariusa. Wilson é com<br />

certeza um orgulho para a família e um pesquisador reconhecido,<br />

não somente no <strong>Brasil</strong>, mas com certeza em vários outros países.<br />

Mas se você acha que o Mano já nasceu trabalhando<br />

com aquicultura...<br />

Quem olha seu curriculum e envolvimento com a aquicultura até pensa que<br />

sim. Que essa foi uma atividade que Wilson sonhou desde a infância. Contudo, poucos<br />

sabem que sua formação inicial é em Engenharia civil (1981-1984), pela Universidade<br />

Católica de Pelotas. Mais difícil ainda é imaginar que ele também já foi da Escola<br />

de Aviação Civil do Aero Clube de Pelotas. Mas não eram por esses caminhos que<br />

Wilson desejava “voar”. E foi na Fundação Universidade do Rio Grande (FURG), com<br />

o curso de Oceanologia (1987-1991), que de fato começou a “voar”, porém dessa vez,<br />

como pesquisador.<br />

Em 1989 começou os primeiros trabalhos como bolsista na recém inaugurada<br />

Estação Marinha de Aquacultura (EMA), sob orientação do professor Marcos Alberto<br />

Marchiori.<br />

“Além das atividades de rotina da EMA, passei a trabalhar em<br />

pesquisa com o então mestrando Antônio Ostrensky. Realizamos vários<br />

experimentos sobre a toxicidade de nitrogenados no processo produtivo<br />

do camarão rosa Farfantepenaeus paulensis. Os trabalhos renderam<br />

quatro publicações em periódicos. Pessoalmente, considero que<br />

esta foi a primeira fase de pesquisa científica que participei, ou seja,<br />

minha iniciação científica”.<br />

“No dia a dia, dentro da sala de aula, nos laboratórios e nas<br />

saídas de campo, obtinha respostas e explicações a muitas questões<br />

antigas. Foi muito fácil cursar Oceanologia!!!”<br />

90<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


Uma “cria” da FURG e um dos criadores<br />

do PPGAq<br />

Após a graduação, Wilson continuou<br />

seus trabalhos na FURG através do mestrado em<br />

Oceanografia Biológica (1992-1994). Sob a orientação<br />

do Prof. Dr. Adalto Bianchini, desenvolveu trabalhos<br />

com linguado, sendo capturados cerca de 2000 juvenis<br />

para realização das pesquisas. O resultado? Seis<br />

capítulos da dissertação, gerando 5 artigos científicos<br />

em revistas indexadas!<br />

Ainda, nesse período, mais 5 trabalhos foram<br />

realizados com peixes marinhos (tainhas e papa-terra),<br />

com a participação dos então estagiários/bolsistas<br />

Luis Poersch e Kleber Miranda, totalizando 10 artigos.<br />

Em 1996 iniciou o doutorado, também na<br />

FURG, porém agora trabalhando com o cultivo do<br />

camarão rosa Farfantepenaeus paulensis, no estuário da Lagoa dos Patos. A partir daí a carcinicultura foi o foco<br />

dos trabalhos e pesquisas que viriam a seguir. Com 10 capítulos, a tese gerou 7 publicações e pelo menos 10<br />

capítulos de livro.<br />

Wilson já fazia parte do quadro de professores da FURG desde 1994, quando foi aprovado em um<br />

concurso público para Professor Assistente I. Sempre ativo e percebendo a necessidade de uma pós-graduação<br />

focada em aquicultura, iniciou, juntamente com demais professores, a estruturação do Programa de Pós<br />

Graduação em Aquicultura do Instituto de Oceanografia da FURG, a partir dos anos 2000. “No final de 2001<br />

realizamos a primeira seleção para o mestrado, com ingresso dos alunos em março de 2002. Já em 2007 foi<br />

aprovado o curso de doutorado, hoje nota 5 da CAPES”.<br />

E o sistema de bioflocos?<br />

Um dos pioneiros desse sistema no <strong>Brasil</strong>, Wilson foi buscar conhecimento nos Estados Unidos.<br />

“No ano de 2004, iniciei um pós-doutorado no Waddell Mariculture Center, nos Estados Unidos da América.<br />

Esse centro já contava com uma equipe de tradição como o Dr. Al Stokes, engajados com pesquisa e desenvolvimento<br />

de cultivo de camarões em sistema superintensivos com bioflocos. Além disso, os estudos com<br />

sistema BFT eram realizados somente nos Estados Unidos, portanto o domínio da metodologia do sistema foi<br />

de grande importância para poder trazer esta tecnologia para o <strong>Brasil</strong>”.<br />

Um dos trabalhos realizados no pós-doutorado, intitulado “Effect of natural production in a zero<br />

exchange suspended microbial floc based super-intensive culture system for white shrimp Litopenaeus vannamei”<br />

lhe rendeu mais de 200 citações.<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

91


Trabalhos de extensão: duas fases<br />

No total foram ministrados 27 cursos de extensão com objetivo principal de repassar as tecnologias geradas<br />

no Laboratório de Carcinicultura para a comunidade de pescadores artesanais, produtores, técnicos da indústria,<br />

extensionistas e alunos de graduação. Os trabalhos podem ser divididos em duas fases:<br />

Primeira fase (até 2007): Repasse de tecnologias<br />

sobre os cultivos de camarões em estruturas<br />

alternativas e sistemas convencionais de<br />

cultivo semi-intensivo. Foram ministrados cursos<br />

e montadas estruturas demonstrativas sobre o<br />

cultivo em cercados em diferentes locais do estuário<br />

da Lagoa dos Patos - RS, Tramandaí - RS,<br />

Imaruí - SC, Lagoa do Camacho - SC e La Paloma<br />

no Uruguai.<br />

Segunda Fase: (a partir de 2008): Repasse da<br />

tecnologia gerada sobre sistema de Bioflocos,<br />

através de cursos de curta duração em diferentes<br />

eventos nacionais e internacionais, e também na<br />

Estação Marinha de Aquicultura da FURG. Só na<br />

EMA já foram realizados 12 cursos para produtores<br />

de camarões, com a participação de cerca<br />

de 400 pessoas, onde 2/3 dos participantes são<br />

produtores ou pessoas que trabalham no setor<br />

produtivo e desejam se aperfeiçoar nesta nova<br />

tecnologia, principalmente por se tratar de cultivos<br />

mais biosseguros, ecologicamente corretos e<br />

de alta produtividade.<br />

Nos últimos três anos, em função do crescente interesse pelo uso do sistema BFT nas fazendas brasileiras<br />

de cultivo de camarões, o grupo de Carcinicultura da FURG vem realizando visitas técnicas a diferentes fazendas<br />

localizadas na região Nordeste, principalmente no Ceará, Rio Grande do Norte e Bahia. As visitas têm sido realizadas<br />

na busca de soluções para conversão de sistemas convencionais para sistema BFT, aplicação de sistema BFT na<br />

fase de berçários e aumento de biossegurança.<br />

92<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


Projetos de pesquisa<br />

“Desde 1994 até o presente momento fui responsável e/ou participei<br />

de aproximadamente 40 projetos de Pesquisa, Extensão e<br />

de Desenvolvimento Tecnológico. Nesse período foram concluídas<br />

mais de 100 orientações e coorientações em nível de graduação,<br />

mestrado, doutorado e supervisão de pós-doutorado. As<br />

publicações estão relacionadas principalmente a (1) toxicidade de<br />

produtos nitrogenados com camarões e peixes, (2) maturação de<br />

camarões, (3) cultivos de camarões em estruturas alternativas (gaiolas<br />

e cercados) e mais recentemente sobre (4) cultivo de camarões<br />

em sistema de Bioflocos (BFT)”.<br />

Estruturação da Estação Marinha de Aquicultura (EMA)<br />

“Durante os anos 90 foram realizadas uma serie de melhorias na Estação Marinha de Aquacultura como forma<br />

de aperfeiçoar as estruturas para as atividades de maturação, desova e larvicultura do camarão rosa Farfantepenaeus<br />

paulensis.<br />

Entre 2000 e 2006 foram estruturados 10 viveiros da EMA, incluindo revestimento com geomembrana. Esse<br />

conjunto de viveiros revestidos na EMA é provavelmente a única estrutura de pesquisa deste porte no país.<br />

Em 2006, com recursos do MPA, CNPq, Fapergs, CAPES etc, e com o apoio da empresa SulQuímica S.A., foi<br />

construída uma unidade piloto com raceways cobertos por uma estufa, viabilizando a realização de pesquisas<br />

com sistema superintensivo de produção de camarões em bioflocos. Nesta unidade foram realizados os primeiros<br />

experimentos neste modelo de cultivo no <strong>Brasil</strong> em escala piloto.<br />

Com apoio da FINEP e MPA, em 2014 estruturamos uma estufa para a produção de camarões em sistema superintensivo,<br />

utilizando a tecnologia de bioflocos, na qual foi aplicado todo o conhecimento gerado na EMA,<br />

viabilizando a produção em escala comercial. Esta unidade serve como unidade demonstrativa para os cursos<br />

de extensão e para a formação de alunos nos diferentes níveis”.<br />

Perspectivas Futuras<br />

Estrutura: “O setor de cultivo de camarões do Instituto de Oceanografia, da FURG teve um crescimento muito<br />

grande nos últimos anos. Portanto, o desafio é aperfeiçoar o que temos e tornar os laboratórios melhor equipados<br />

e conseguir mantê-los”.<br />

Repasse de Tecnologia: “Também é um dos objetivos futuros, intensificar o repasse das tecnologias geradas.<br />

Apesar de minhas atividades já serem realizadas atualmente com este objetivo, estima-se que é possível aperfeiçoar”.<br />

Publicações: “Em função de muitas tecnologias geradas nos últimos anos, a ideia é manter um bom nível de<br />

publicação de artigos científicos e de popularização da ciência, mas o objetivo é investir nos livros técnicos.<br />

Um primeiro livro intitulado “Cultivo de camarão rosa em gaiolas e cercados no estuário da Lagoa dos Patos”,<br />

editado em parceria com o Dr. Luis Poersch, está na fase de impressão. No momento existem mais dois livros<br />

em fase de redação. O primeiro tem como foco o ensino de Aquicultura geral para alunos na fase de graduação.<br />

O segundo tem como objetivo reunir o conhecimento atual sobre cultivo de camarões sistema BFT, utilizando<br />

o material gerado por professores e alunos do Projeto Camarão”.<br />

Pós-Doutorado: “Há um planejamento pessoal de realizar outro período pós doutoral com objetivo de iniciar<br />

uma nova linha de pesquisa para se obter um novo pacote tecnológico com outra espécie de crustáceo. Existe<br />

uma serie de possibilidades, mas a definição será nos próximos anos, pois temos que ver claramente com qual<br />

espécie trabalhar, aonde e com quem seria interessante trabalhar, além da factibilidade interna (na FURG),<br />

financiamento (CNPq, CAPES) da proposta e aceite no exterior.”<br />

Uma última palavra:<br />

Somente posso dizer uma coisa:<br />

Muito obrigado a tudo e a todos!!!<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

93


AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

95


Robalo-flecha<br />

camurim<br />

common snook<br />

Centropomus undecimalis<br />

A espécie escolhida para a 7ª edição,<br />

comemorativa de 1 ano da <strong>Revista</strong> <strong>Aquaculture</strong><br />

<strong>Brasil</strong>, apresenta grande potencial para a piscicultura<br />

marinha brasileira. Tema da tese de doutorado<br />

do Editor da <strong>Revista</strong> <strong>Aquaculture</strong> <strong>Brasil</strong> (mas não é<br />

por isto que acreditamos na espécie, ok?), chegou a<br />

vez de um peixe marinho estrear na Seção “Espécies<br />

Aquícolas”.<br />

Maior representante da família Centropomidae,<br />

podendo alcançar 24 kg, o robalo-flecha é<br />

Reprodução e produção de juvenis<br />

encontrado desde a Carolina do Sul, nos EUA até a<br />

região Sul do <strong>Brasil</strong>.<br />

Peixe branco, preferido dos restaurantes<br />

de comida oriental e dos consumidores em geral,<br />

lamentavelmente sua captura é muito escassa no<br />

País, tendo em vista que não é um peixe que forma<br />

grandes cardumes ou possui considerável biomassa<br />

em ambiente natural.<br />

A solução é cultivar!<br />

A reprodução é realizada somente via indução hormonal. No <strong>Brasil</strong>, entre 2005 e 2009 foram obtidas as<br />

primeiras desovas da espécie em laboratório (UFSC e Laboratório Estaleirinho) a partir de reprodutores selvagens<br />

capturados já maduros. Em 2012, pela primeira vez na América Latina, obteve-se sucesso na indução e desova de<br />

reprodutores de C. undecimalis mantidos em laboratório, no Laboratório de Piscicultura Marinha da UFSC, através<br />

dos esforços do Prof. Dr. Vinícius Ronzani Cerqueira e equipe.<br />

SISTEMAS DE PRODUÇÃO<br />

O robalo-flecha pode ser produzido<br />

em viveiros de terra, tanques-rede<br />

ou sistemas de recirculação<br />

de água, tanto em água<br />

doce, quanto salobra ou salgada,<br />

pelo fato da espécie ser eurihalina.<br />

No <strong>Brasil</strong>, somente pequenas<br />

tentativas isoladas e em pequena<br />

escala foram conduzidas até o<br />

momento.<br />

© Giovanni Lemos de Mello<br />

© Andre Muniz Afonso<br />

96<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


Nutrição e alimentação<br />

Espécie carnívora, sua exigência nutricional<br />

ainda não está estabelecida. A exigência<br />

proteica é, provavelmente, acima de 45-50%,<br />

devendo-se utilizar a farinha de peixe como<br />

fonte proteica principal. No <strong>Brasil</strong>, utiliza-se<br />

rações que são produzidas para bijupirá ou<br />

carnívoros de água doce.<br />

Preço de mercado<br />

Este é um dos motivos que chamam a atenção da espécie:<br />

ela é uma das mais valorizadas no <strong>Brasil</strong>. Sua cotação atual<br />

na CEAGESP é de R$ 38,00 o quilo (valor médio para o peixe inteiro).<br />

No caso das fazendas, sugere-se que elas consigam comercializar,<br />

por exemplo, para restaurantes de comida oriental, por<br />

cerca de R$ 25,00 a R$ 30,00 o quilo. Estudos preliminares conduzidos<br />

pela UDESC em parceria com o “Umi Cozinha Oriental”,<br />

apontaram que um robalo-flecha de 500 g atende perfeitamente<br />

às exigências de pratos como sashimi, niguiri, entre outros.<br />

Tempo de cultivo<br />

Em temperaturas altas<br />

(28-30 o C), o robalo-flecha pode<br />

atingir 1 (um) quilo em cerca<br />

de dois anos. A maior dificuldade<br />

é atingir as primeiras 50<br />

gramas. Num estudo conduzido<br />

na Universidade do Estado<br />

de Santa Catarina (UDESC), o<br />

peixe partiu de 350 para 500<br />

gramas em apenas 41 dias. Na<br />

Figura 1, pode-se observar o<br />

crescimento da espécie após<br />

24 meses de engorda, em tanques-rede,<br />

no México.<br />

Figura 1. Curva de crescimento do robalo-flecha, C. undecimalis,<br />

cultivado durante dois anos em tanques-rede no México<br />

(Oviedo-Pérez, 2013).<br />

ENTRAVES<br />

CARACTERÍSTICAS POSITIVAS<br />

A principal é cultural. Para uma aquicultura<br />

nacional acostumada a produzir- camarões<br />

marinhos em 3 meses ou tilápia em 5-6 meses,<br />

“demorar” dois anos para engordar uma espécie<br />

não anima os produtores;<br />

Não existem reprodutores domesticados;<br />

A produção de juvenis é escassa;<br />

Não existe ração comercial para a espécie;<br />

Faltam diversas informações sobre os sistemas<br />

de cultivo.<br />

Preço de mercado;<br />

Rendimento de filé (40-43%);<br />

Carne branca, sem espinhos, com ótima aceitação<br />

de mercado;<br />

Rústico, apresenta altas taxas de sobrevivência na<br />

criação.<br />

Fonte: Giovanni Lemos de Mello<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />

97


DESPESCOU!<br />

Por que não a última página de conteúdo da nossa revista também<br />

apresentar alguma novidade ou inovação?<br />

Pensando nisso, inauguramos a partir desta edição a Seção “Despescou!”.<br />

Na 7ª edição, trazemos os resultados da despesca de um berçário intensivo com camarões marinhos<br />

(Litopenaeus vannamei) da Fazenda Tabatinga, localizada no município de Goiana (PE), de propriedade do<br />

Eng. Civil Cláudio Moreira da Cunha Rabelo.<br />

Área (m³) 640<br />

Data de povoamento 31/mai/17<br />

Número de pós-larvas 990.000<br />

Densidade inicial (pl´s/m³) 1.546,9<br />

Peso inicial (mg) 40<br />

Biomassa inicial (kg) 39.600<br />

Data de despesca 10/jul/17<br />

Dias de cultivo 40<br />

Peso final (mg) 880<br />

Biomassa final (kg) 909<br />

Produtividade (kg/m³) 1,42<br />

Sobrevivência (%) 100,00<br />

Total de ração (kg)<br />

Conversão alimentar<br />

1.556<br />

98<br />

1,71:1<br />

AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017


Nós alimentamos milhões.<br />

As pessoas estão comendo cada vez mais peixes e camarões. Grande parte<br />

dos produtores tem prosperado utilizando alimentos Skretting. Somos líderes<br />

mundiais em soluções nutricionais inovadoras e sustentáveis para peixes e<br />

camarões cultivados. Produzimos alimentos nos cinco continentes. Gostaríamos<br />

de agradecer aos nossos clientes que contribuem para alimentar milhões e a todos<br />

os consumidores de peixes e camarões. Conheça mais em:<br />

www.skretting.com/pt-br/

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!