Edição 7 - Revista Aquaculture Brasil
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
aquaculturebrasil.com<br />
EDIÇÃO<br />
7<br />
JULHO/<br />
AGOSTO<br />
2017<br />
ISSN 2525-3379<br />
1<br />
<strong>Edição</strong> de<br />
aniversário!<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
3
Editorial<br />
C<br />
omemorando o primeiro ano da <strong>Revista</strong> <strong>Aquaculture</strong> <strong>Brasil</strong>, chegou<br />
a vez de abordar brevemente o tema empreendedorismo neste<br />
editorial de aniversário, afinal, não somos uma revista científica sem fins<br />
lucrativos. A <strong>Aquaculture</strong> <strong>Brasil</strong> é uma startup do “AgroTech”, ou melhor,<br />
do “AquaTech”.<br />
Já houve tempos em que no <strong>Brasil</strong> empreender ou ser empresário<br />
era algo mal visto. Embora ainda encontremos algumas pessoas com<br />
preconceitos contra o “empresariado”, hoje isto é muito mais um resquício<br />
ideológico ultrapassado do que qualquer coisa. Novos tempos!<br />
A cultura do empreendedorismo nas universidades também vem<br />
mudando. Há 20 anos atrás não existiam cursos de graduação<br />
voltados à produção (como por exemplo as Engenharias de Pesca,<br />
Aquicultura, Zootecnia, etc.) que tivessem em sua grade curricular uma disciplina que fosse sobre<br />
“Empreendedorismo”. Hoje todos têm!<br />
Segundo o SEBRAE, ao redor do mundo, centenas de universidades já reconheceram o<br />
papel e o poder da educação empreendedora sobre a inovação e o desenvolvimento econômico<br />
dos países. É a vez de o <strong>Brasil</strong> entrar ativamente nesse movimento.<br />
As universidades brasileiras precisam produzir menos pesquisadores e mais empreendedores!<br />
Não quero aqui desmerecer a importância da ciência para a soberania da aquicultura nacional,<br />
para o desenvolvimento do <strong>Brasil</strong>! Afinal de contas, também sou pesquisador! Mas numa sala de<br />
aula com 40 alunos, é preciso ter ali 4 futuros pesquisadores e 36 futuros empreendedores, e não<br />
o contrário!<br />
Mas como promover o empreendedorismo nas Universidades?<br />
Às vezes como professor, ficamos malucos da vida se um acadêmico não souber o que é<br />
uma ANOVA. Mas não entender de fluxo de caixa tudo bem, correto? É muito mais importante que<br />
um profissional da área saiba desenhar uma comporta do que delinear um experimento!<br />
Como sugestão, os estudantes deveriam espelhar-se no trabalho de nosso homenageado<br />
da seção “Eles fazem a diferença”: o Prof. Dr. Wilson Wasielesky, o Mano, Professor Titular da<br />
FURG. O Mano é um dos grandes empreendedores da aquicultura brasileira, e provavelmente ele<br />
não sabe disso!<br />
Empreender significa criar oportunidades, pensar fora da caixa, liderar equipes de alto<br />
desempenho, desenvolver novas tecnologias, contribuir com a melhoria de processos, criar novos<br />
produtos... O Mano, simplesmente, implantou o sistema de bioflocos no <strong>Brasil</strong>!<br />
Precisa dizer mais alguma coisa? Quer maior exemplo de empreendedorismo do que este?<br />
Viva o Mano, viva a FURG e viva o empreendedorismo!<br />
Giovanni Lemos de Mello<br />
Editor<br />
4<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
Fala Gringo!<br />
Estou de volta...<br />
O MAIOR PORTAL DA<br />
AQUICULTURA BRASILEIRA!<br />
Comitê Editorial<br />
“Estou na correria”<br />
Frase atual de todo mundo para justificar<br />
Sua falta de FOCO<br />
Sua hipocrisia<br />
No máximo está na correria porque quer<br />
Por grana ou por ego<br />
Preso duas horas diárias nos grupos de whats app e nas redes<br />
sociais...<br />
Sendo assim, tem que parar de chorar<br />
Eu estou trabalhando<br />
Velejando<br />
Pegando onda<br />
Sem chorar<br />
Quando meus amigos ou colegas ficam largando suas lágrimas<br />
Fico com vontade de lhes mandar passear...<br />
Eu não estou na correria<br />
Eu tenho tempo de ler<br />
A <strong>Aquaculture</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />
EDITOR-CHEFE:<br />
Giovanni Lemos de Mello<br />
redacao@aquaculturebrasil.com<br />
EDITORA EXECUTIVA:<br />
Jéssica Brol<br />
jessica@aquaculturebrasil.com<br />
EDITORES ASSISTENTES:<br />
Alex Augusto Gonçalves<br />
Artur Nishioka Rombenso<br />
Maurício Gustavo Coelho Emerenciano<br />
Roberto Bianchini Derner<br />
Rodolfo Luís Petersen<br />
COLUNISTAS:<br />
Alex Augusto Gonçalves<br />
Andre Muniz Afonso<br />
André Camargo<br />
Artur Nishioka Rombenso<br />
Eduardo Gomes Sanches<br />
Fábio Rosa Sussel<br />
Luís Alejandro Vinatea Arana<br />
Marcelo Roberto Shei<br />
Maurício Gustavo Coelho Emerenciano<br />
Ricardo Vieira Rodrigues<br />
Roberto Bianchini Derner<br />
Rodolfo Luís Petersen<br />
Santiago Benites de Pádua<br />
As colunas assinadas e imagens são de<br />
responsabilidade dos autores.<br />
Instrução aos autores: www.aquaculturebrasil.com/submissao-artigos<br />
Rodolfo Luís Petersen<br />
Coeditor<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
5
Bem-vindo<br />
A<br />
través de um edital de mobilidade acadêmica tive<br />
o imenso prazer de receber meu grande amigo e<br />
colaborador, Dr. Maurício Gustavo Coelho Emerenciano,<br />
pesquisador e professor da Universidade do Estado de<br />
Santa Catarina (UDESC). Foi apenas uma semana de visita em<br />
nosso laboratório de nutrição, mas, com certeza, foi uma das<br />
semanas mais produtivas da minha vida, com direito a palestra,<br />
minicurso, novos projetos de colaboração, novas linhas de<br />
pesquisa, publicações e contato com pesquisadores de diversas<br />
áreas, empresários e órgãos governamentais. Apesar das várias<br />
atividades, ainda tivemos tempo para explorar a região e buscar<br />
as melhores ondas disponíveis! Mas o que quero ressaltar nesse<br />
editorial é a importância desse tipo de intercâmbio. Resumi essa<br />
experiência em quatro pontos: atualização, integração, motivação<br />
e resultados.<br />
A atualização de informação e conhecimento é inevitável e<br />
flui de forma natural quando pessoas apaixonadas pelo que fazem<br />
trabalham no mesmo campo: o compartilhamento é imediato. A<br />
integração consiste na reciclagem de conhecimentos e na troca<br />
de experiências, e isso se torna mais interessante se os profissionais têm backgrounds e áreas de<br />
atuação distintas, propiciando o surgimento de novas ideias. Aqui é importante estar de mente<br />
aberta para aproveitar esses “insights”. Com isso vem a motivação, a vontade de fazer acontecer<br />
e o ânimo para colocar as coisas para andar. Isso pode ser tanto no âmbito intelectual como no<br />
prático. Por fim vêm os resultados, como novos projetos de pesquisa e colaboração, possíveis<br />
intercâmbios para estudantes, reciclagem de ânimos, ampliação da visão intelectual e prática,<br />
entre outros pontos. Pode-se dizer que é uma “win-win situation”, ou seja, todos saem ganhando.<br />
Um de nossos resultados foi um artigo publicado nessa edição descrevendo a aquicultura aqui da<br />
região da Baja Califórnia. E esse será apenas o primeiro de muitos.<br />
Finalmente, quero dizer que já planejamos repetir essa vivência e espero ter compartilhado<br />
um pouco da minha motivação. Mantenha contato com seus estudantes, colegas, colaboradores e<br />
amigos, visite-os ou convide-os para conhecer seu local de trabalho. Compartilhe suas experiências/<br />
conhecimentos.<br />
Aproveito essa energia para parabenizar a <strong>Aquaculture</strong> <strong>Brasil</strong> por um ano de existência e<br />
excelência e agradeço a você leitor por nos apoiar e fazer possível essa iniciativa. Aproveite essa<br />
edição especial!<br />
Artur Nishioka Rombenso<br />
Coeditor<br />
6<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
R<br />
Opinião<br />
Oportunidades!!!<br />
ecentemente estive em<br />
mobilidade acadêmica na<br />
Universidade Autônoma da<br />
Baja Califórnia, em Ensenada,<br />
noroeste mexicano, por convite do<br />
professor e amigo de longa data Artur<br />
Nishioka Rombenso. Isso mesmo, o cara<br />
ali da página ao lado! Aliás, não posso<br />
deixar de agradecer toda hospitalidade<br />
dele e de todo “crew” do Laboratório<br />
de Nutrição e Fisiologia Digestiva de<br />
Organismos Aquáticos. Foram dias de<br />
muito conhecimento e aprendizado<br />
(e um pouco de surf é claro! rsrs). Até<br />
uma pequena aquaponia foi construída<br />
na casa do nosso querido co-editor!<br />
Experiências assim são exemplos de<br />
momentos incríveis que movem nossa<br />
vida profissional e pessoal! Muito<br />
obrigado Artur! Um ponto interessante é que inúmeras Universidades<br />
estrangeiras oferecem oportunidades como esta para pesquisadores<br />
de outros países. Vale sempre ficar de olho nos editais! No fim, todos<br />
ganham!<br />
Entre minicurso e palestras ministrados para o público local,<br />
dedicamos um tempo para conhecer um pouco da aquicultura da<br />
região e seu potencial. E que potencial! Mesmo com problemas de<br />
suprimento de água doce em certos locais (Ensenada é uma região<br />
desértica) sistemas alternativos com trocas mínimas de água como RAS,<br />
BFT e aquaponia cabem como uma luva para enfrentar tais problemas.<br />
Paralelamente a zona costeira é ampla e possui inúmeras baías<br />
protegidas e regiões de estuário. Foi muito bom ver tanta diversidade<br />
e contrastes aquícolas como as fazendas marinhas de atum, olhete,<br />
produção de abalones, entre outros (mas isso é tema para o artigo a<br />
seguir “Sí, se puede!”). Somados a estes, o ponto crucial é a demanda<br />
local imensa devido ao turismo diário de cruzeiros, esportes de aventura,<br />
além do ecoturismo de vinícolas. Com seus passeios para conhecer todo<br />
o processo produtivo do vinho e ótimas degustações, as vinícolas quase<br />
sempre eram acompanhadas de restaurantes do tipo “gourmet”, ávidos<br />
por produtos aquícolas frescos, locais e de qualidade. Ensenada é muito<br />
conhecida pela gastronomia de frutos do mar. Peixes como atum, marlin<br />
e olhete; moluscos como ostras e mexilhões, além de crustáceos como<br />
camarões, lagostas e caranguejos são base da gastronomia local. Para<br />
um cara como eu, literalmente viciado em “Fish Tacos” (típica comida<br />
mexicana a base de diversos frutos do mar) era um prato cheio todos os<br />
dias! Além disso, um “primo rico” (EUA) que fica a poucos quilômetros<br />
dali é também importador por excelência de produtos aquícolas de<br />
todas as partes do mundo. Em resumo, quantas oportunidades!!!!<br />
Maurício Gustavo Coelho Emerenciano<br />
Coeditor<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
O MAIOR PORTAL DA<br />
AQUICULTURA BRASILEIRA!<br />
DIREÇÃO DE ARTE:<br />
Taiane Lacerda<br />
taiane@aquaculturebrasil.com<br />
DIREÇÃO COMERCIAL:<br />
Diego Molinari<br />
diego@aquaculturebrasil.com<br />
COLABORADORES DESTA<br />
EDIÇÃO:<br />
Alex Augusto Gonçalves, Artur<br />
Nishioka Rombenso, Bruno Corrêa<br />
da Silva, Carla Suzy Brito, Cristina de<br />
Almeida Rocha-Barreira, Ellano José<br />
da Silva, Fernando Malamud, Gabriel<br />
Fernandes Alves Jesus, José Luiz<br />
Pedreira Mouriño, Julianna Stephanie<br />
Barbosa da Silva, Luis Alejandro<br />
Vinatea Arana, Maurício Gustavo<br />
Coelho Emerenciano, Maurício<br />
Laterça Martins, Renata Gomes<br />
Bezerra e Thiago Andrade da Silva.<br />
QUER ANUNCIAR?<br />
publicidade@aquaculturebrasil.com<br />
QUER ASSINAR?<br />
aquaculturebrasil.com/assinatura<br />
assinatura@aquaculturebrasil.com<br />
QUER COMPRAR EDIÇÕES<br />
ANTERIORES?<br />
aquaculturebrasil.com/edicoes<br />
NOSSA REVISTA É IMPRESSA NA:<br />
COAN gráfica Ltda./ coan.com.br<br />
Av. Tancredo Neves, 300, Tubarão/<br />
SC, 88.704-700<br />
A revista AQUACULTURE BRASIL<br />
é uma publicação bimestral da<br />
EDITORA AQUACULTURE BRASIL<br />
LTDA ME.<br />
(ISSN 2525-3379)<br />
www.aquaculturebrasil.com<br />
Av. Senador Galotti, 329/503, Mar<br />
Grosso, Laguna/SC, 88.790-000<br />
A AQUACULTURE BRASIL não se<br />
responsabiliza pelo conteúdo dos<br />
anúncios de terceiros.<br />
7
SUMÁRIO<br />
AQUACULTURE BRASIL<br />
10 FOTO DO LEITOR<br />
12 MÉTRICAS DA FANPAGE<br />
14 O avanço da carcinicultura marinha em águas<br />
continentais<br />
20 AERAÇÃO EM AQUICULTURA: PARTE II<br />
»»<br />
p.14<br />
26 Os moluscos bivalves de água doce do <strong>Brasil</strong>:<br />
Potencial ainda não aproveitado pela<br />
aquicultura<br />
»»<br />
p.20<br />
»»<br />
p.32<br />
»»<br />
p.26<br />
32 ÁCIDOS ORGÂNICOS: UMA NOVA FERRAMENTA<br />
NUTRICIONAL PARA A AQUICULTURA<br />
40 ¡Sí, se puede! Aquicultura com espécies<br />
alternativas em Baja Califórnia, México<br />
46 A matemática da aquicultura:<br />
Otimizando a produção aquícola com<br />
auxílio de modelos matemáticos<br />
54 Desenvolvimento de um produto com valor<br />
agregado: nuggets de camarão recheado com<br />
queijo provolone<br />
62 artigos para curtir e compartilhar<br />
63 charGes<br />
64 BIOTECNOLOGIA DE ALGAS<br />
66 GREEN TECHNOLOGIES<br />
67 empreendedorismo aquícola<br />
8<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
»»<br />
p.90<br />
»»<br />
p.84<br />
68 nutrição<br />
70 atualidades e tendências na aquicultura<br />
72 aquicultura de precisão<br />
74 aquicultura latino-americana<br />
75 piscicultura marinha<br />
»»<br />
p.40<br />
76 rECIRCULATING AQUACULTURE SYSTEMS<br />
77 SANIDADE<br />
78 tecnologia do pescado<br />
79 RANICULTURA<br />
80 DEFENDEU<br />
»»<br />
p.46<br />
82 Aquaonline<br />
84 ENTREVISTA - Marcelo toledo<br />
»»<br />
p.54<br />
89 NOVOS LIVROS<br />
90 ELES FAZEM A DIFERENÇA<br />
96 ESPÉCIES AQUÍCOLAS<br />
98 despescou<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
9
FOTO DO LEITOR<br />
Exemplar de Kinguio<br />
(Nova Friburgo, RJ)<br />
Autor: André Medeiros<br />
Fazenda de Camarão<br />
(Acaraú, CE)<br />
Autor: Cassio Silva<br />
Fazenda Limoacqua “Taludes interligados por<br />
comporta de despesca em Y”<br />
(Limoeiro do Norte, CE)<br />
Autor: João Henrique Cavalcante Bezerra<br />
10<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
Piscicultura + Peixe, Vida Saudável<br />
(Ipameri, GO)<br />
Autor: Lazaro Regis Borges<br />
Juvenil de camarão M. Rosembergii,<br />
@triangulodocamarao<br />
(Ribeirão, PE)<br />
Autor: Daniel Cavalcanti<br />
Secagem de ulva sp para fazer farinha<br />
destinada ao consumo humano<br />
(Baja California, México)<br />
Autor: Daniel Correia<br />
Envie suas fotos mostrando a aquicultura no seu dia-a-dia e participe desta seção.<br />
redacao@aquaculturebrasil.com<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
11
.<br />
.<br />
Métricas<br />
Dia do trabalhador<br />
Tem brasileira na<br />
presidência da World<br />
<strong>Aquaculture</strong> Society<br />
01 de maio<br />
13.182 Pessoas alcançadas<br />
9 Comentários<br />
52 Compartilhamentos<br />
688 Curtidas<br />
5 Amei<br />
15 de maio<br />
18.902Pessoas alcançadas<br />
29 Comentários<br />
54 Compartilhamentos<br />
1.170 Curtidas<br />
50 Amei<br />
curta-nos no<br />
facebook:<br />
www.facebook.com/<br />
aquaculturebrasil<br />
02 de maio<br />
16.047 Pessoas alcançadas<br />
11 Comentários<br />
77 Compartilhamentos<br />
550 Curtidas<br />
3 Amei<br />
A Utilização do Metabissulfito<br />
de Sódio como<br />
Conservante na Indústria<br />
do Camarão Cultivado<br />
18 de maio<br />
15.354 Pessoas<br />
alcançadas<br />
15 Comentários<br />
118 Compartilhamentos<br />
350 Curtidas<br />
Peixes importados<br />
sofriam<br />
adulteração em<br />
empresas de Santa<br />
Catarina<br />
12<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
.<br />
da Fanpage<br />
Criadores de tilápias<br />
vacinam<br />
peixes para<br />
reduzir<br />
mortalidade<br />
Desreguladores<br />
endócrinos: uma<br />
nova abordagem em<br />
pesquisas na aquicultura<br />
25 de junho<br />
36.569 Pessoas alcançadas<br />
53 Comentários<br />
192 Compartilhamentos<br />
1.318 Curtidas<br />
21 Amei<br />
11.712 Pessoas<br />
alcançadas<br />
6 Comentários<br />
50 Compartilhamentos<br />
396 Curtidas<br />
5 Amei<br />
29 de junho<br />
20 de maio<br />
37.254 Pessoas<br />
alcançadas<br />
23 Comentários<br />
109 Compartilhamentos<br />
1.459 Curtidas<br />
33 Amei<br />
29 de junho<br />
10.054 Pessoas<br />
alcançadas<br />
23 Comentários<br />
102 Compartilhamentos<br />
500 Curtidas<br />
12 Amei<br />
Lançamento<br />
5° edição<br />
. .<br />
Uma nova era na<br />
aquicultura<br />
mundial está a<br />
caminho<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
13
O avanço da<br />
carcinicultura marinha<br />
em águas continentais<br />
Fernando Malamud<br />
Engenheiro de Aquicultura<br />
Sócio Diretor Aquatropic Aquacultura e Meio Ambiente Ltda<br />
www.aquatropic.com.br<br />
aquatropic@aquatropic.com.br<br />
14<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
Artigo<br />
O avanço das tecnologias<br />
de criação de organismos<br />
aquáticos em sistemas<br />
superintensivos no <strong>Brasil</strong> e<br />
no mundo permite o surgimento<br />
de uma nova modalidade<br />
de cultivo: o cultivo<br />
de organismos aquáticos<br />
marinhos em águas continentais<br />
e distante a alguns<br />
milhares de quilômetros da<br />
costa marítima. Piscicultores<br />
de águas interiores se tornam<br />
cada vez mais interessados<br />
nas boas margens de lucro<br />
que a carcinicultura pode<br />
oferecer. O inverso também<br />
ocorre, muitos carcinicultores<br />
demonstram um profundo interesse<br />
pela piscicultura com o<br />
objetivo de diversificar a produção<br />
e aumentar a biosseguridade<br />
do empreendimento,<br />
aproveitando os benefícios<br />
que o cultivo de peixes pode<br />
trazer à carcinicultura.<br />
Por motivos técnicos<br />
e econômicos, os animais<br />
escolhidos para essa “Globalização<br />
Aquícola” foram a<br />
tilápia (Oreochromis niloticus)<br />
e o camarão branco do<br />
Pacífico (Litopenaeus vannamei),<br />
sendo o primeiro<br />
um organismo naturalmente<br />
dulciaquícola e o segundo<br />
Piscicultores<br />
de águas interiores<br />
se tornam<br />
cada vez mais<br />
interessados nas<br />
boas margens de<br />
lucro que a<br />
carcinicultura pode<br />
oferecer.<br />
um organismo marinho. Entretanto,<br />
ambos com uma<br />
característica em comum, a<br />
possibilidade de cultivo em<br />
águas com diferentes graus<br />
de salinidade, permitindo<br />
a interconexão destes cultivos<br />
tanto em águas marinhas<br />
quanto em águas continentais.<br />
Nos últimos anos,<br />
a produção de camarões<br />
marinhos na região litorânea<br />
do <strong>Brasil</strong> sofre quedas expressivas<br />
devido ao acometimento<br />
por patógenos como vírus<br />
e bactérias, o que diminuiu<br />
a disponibilidade do produto,<br />
ocasionando o aumento<br />
de preço em supermercados,<br />
peixarias e restaurantes. Este<br />
panorama mercadológico<br />
gerou um novo nicho de mercado<br />
em regiões distantes do<br />
litoral, principalmente em<br />
centros consumidores mais<br />
afastados dos polos produtores<br />
de camarão. A principal<br />
demanda deste mercado que<br />
está em plena expansão é por<br />
um produto “premium/gourmet”<br />
de alta qualidade, sendo<br />
fresco ou resfriado, apresentando<br />
alto valor agregado.<br />
© Aquatropic Aquacultura<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
15
O cultivo do Litopenaeus vannamei no interior do<br />
<strong>Brasil</strong><br />
O cultivo do camarão branco do Pacífico<br />
em águas de baixíssima salinidade é uma realidade<br />
em diversas regiões do nordeste brasileiro.<br />
Estas águas dispõem de íons como sódio, cálcio,<br />
magnésio, potássio, cloretos e outros elementos,<br />
indispensáveis para que o processo osmorregulatório<br />
do camarão ocorra, garantindo a sobrevivência<br />
destes animais em águas de até 0,5 ppt.<br />
Entretanto, a maior parte das águas continentais<br />
no <strong>Brasil</strong> apresentam salinidades muito próximas<br />
a 0,0 ppt, não dispondo de concentração iônica<br />
suficiente para que o processo de osmorregulação<br />
ocorra, ocasionando mortalidades<br />
massivas em poucas horas de exposição.<br />
Para tornar possível a produção de camarões<br />
marinhos em águas continentais, é de vital necessidade<br />
a adição de sais balanceados que criam<br />
um gradiente osmótico favorável para a<br />
sobrevivência e crescimento deste organismo.<br />
Devido ao alto custo dos sais balanceados, para<br />
ser viável economicamente este tipo de produção,<br />
o sistema necessita reaproveitar a água de cultivo<br />
durante vários ciclos, garantir uma boa sobrevivência<br />
dos organismos cultivados e permitir<br />
intensificar a produção em espaços reduzidos,<br />
justificando o investimento no sistema. Assim, as<br />
modalidades de cultivo que mais atenderam essas<br />
características foram os sistemas de Bioflocos<br />
(BFT) e Sistema de Recirculação de Água (RAS).<br />
Bioflocos são sistemas mais simples<br />
em termos de equipamentos e assim de menor<br />
investimento em relação aos RAS, entretanto<br />
são mais complexos de serem operados,<br />
promovendo grande quantidade de sólidos que<br />
devem ser monitorados e retirados do cultivo<br />
quando ultrapassam limites pré-estabelecidos.<br />
Já os RAS utilizam unidades filtradoras anexas<br />
ao cultivo que simplificam o manejo, entretanto<br />
necessitam de maior investimento e geram<br />
um custo adicional de manutenção do sistema.<br />
São inúmeras as dúvidas que pairam sobre produtores<br />
na hora de escolherem qual sistema pretendem<br />
implantar, o que precisa ficar claro é que não<br />
há um sistema melhor que o outro, são estratégias<br />
de cultivo diferentes que podem ser utilizadas de<br />
acordo com cada necessidade. Existe uma sinergia<br />
entre estas duas modalidades de cultivo que pode<br />
levar a uma fusão e associação entre ambos os sistemas,<br />
tornando-os mais produtivos e eficientes.<br />
© Aquatropic Aquacultura<br />
16<br />
ARTIGO<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
© Aquatropic Aquacultura<br />
Desafios nos cultivos em águas interiores<br />
Quando se trabalha com cultivos superintensivos,<br />
observam-se picos de compostos nitrogenados<br />
muito acima de cultivos convencionais extensivos ou<br />
semi-intensivos, oriundos das altas taxas de alimentação<br />
e metabólitos dos organismos cultivados. Por<br />
esse motivo, um dos grandes desafios da interiorização<br />
do cultivo do camarão branco do Pacífico foi adequar<br />
o sistema para que essas concentrações de nitrogenados<br />
não ocasionassem mortalidades expressivas<br />
durante o cultivo, e para isso, o caminho encontrado<br />
foi aumentar a salinidade (ideal acima de 8,0 ppt) dos<br />
sistemas a fim de reduzir a toxicidade dos compostos<br />
nitrogenados dando uma maior segurança ao cultivo<br />
como um todo.<br />
Considerando o alto valor dos sais no mercado<br />
brasileiro, a empresa Aquatropic vem desenvolvendo<br />
nos últimos anos diversos trabalhos com a elaboração<br />
de sais iônicos específicos para cada empreendimento,<br />
sendo possível reduzir o custo e aumentar e eficiência<br />
do balanço iônico conforme a realidade de cada<br />
região.<br />
Um dos principais gargalos encontrados<br />
atualmente é a falta de mão de obra capacitada para<br />
operação deste sistema. Por este motivo, a empresa<br />
Aquatropic realiza diversos cursos e capacitações no<br />
<strong>Brasil</strong> com o objetivo de suprir essa demanda. Outros<br />
gargalos como o alto custo de materiais e equipamentos<br />
como geomembrana, estufas, aeradores, bombas<br />
de água de alto desempenho entre outros acabam encarecendo<br />
o investimento nestes sistemas no <strong>Brasil</strong>.<br />
Por outro lado, surgem empresas desenvolvedoras de<br />
tecnologia com objetivos comerciais que poderão suprir<br />
as adversidades que hoje encontramos.<br />
Estados como Goiás, Distrito Federal, Minas<br />
Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro,<br />
Paraná e possivelmente outros, já possuem produtores<br />
de camarões marinhos em águas continentais salinizadas<br />
artificialmente. Estes cultivos são desenvolvidos<br />
em tanques suspensos ou escavados revestidos<br />
com materiais impermeabilizantes e boa parte deles<br />
utilizam estufas para controle térmico. O isolamento<br />
destes cultivos de regiões litorâneas disseminadoras de<br />
patógenos tais como, a Síndrome da Mancha Branca<br />
(WSS), Mionecrose Infecciosa (IMN), Necrose Infec-<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
ARTIGO<br />
17
© Aquatropic Aquacultura<br />
ciosa Hipodermal e Hematopoiética (IHHN) e outros,<br />
tem sido um grande trunfo para alavancar a produção de<br />
camarões marinhos em águas interiores.<br />
A carcinicultura marinha em águas continentais<br />
demanda a necessidade de utilização de sistemas fechados<br />
(BFT e RAS) o que acaba reduzindo significativamente<br />
a probabilidade de contaminação dos cultivos por<br />
doenças. Todavia, sistemas fechados envolvem maior<br />
controle técnico, o que força produtores e funcionários<br />
a se qualificarem para operar o sistema. Desta forma, a<br />
realização de controles constantes de qualidade de água,<br />
utilização de programas nutricionais de alto rendimento<br />
e protocolos de biossegurança, tornam-se hábitos comuns<br />
destes aquicultores. A possibilidade de baixar custos<br />
através da utilização de ferramentas e equipamentos<br />
que automatizam o processo produtivo desperta nestes<br />
empreendedores um grande interesse por tecnologias.<br />
Produções com um baixo grau de tecnificação e controle<br />
produtivo, dificilmente sobreviverão produzindo<br />
camarões marinhos em águas continentais.<br />
Conclusão<br />
Existe um longo caminho a ser trilhado<br />
para consolidação da carcinicultura em águas<br />
continentais. O que percebemos é que a cada dia<br />
que passa, as tecnologias ficam mais acessíveis,<br />
os sistemas se tornam mais eficientes e as dificuldades<br />
diminuem. Enquanto isso, aqui em Goiás,<br />
consumidores aguardam ansiosamente para<br />
comer um “camarão do cerrado com pequi”.<br />
Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/artigos<br />
18<br />
ARTIGO<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
19
© Trevisan<br />
Artigo<br />
20<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
Aeração em<br />
Aquicultura:<br />
Parte II<br />
Luis Alejandro Vinatea Arana<br />
Programa de Pós-Graduação em Aquicultura,<br />
Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC.<br />
Florianópolis – SC.<br />
luis.vinatea@ufsc.br<br />
N<br />
o artigo “Aeração em aquicultura: Parte<br />
I” foi mencionado que o SOTR (Taxa<br />
padrão de transferência de oxigênio) e o<br />
SAE (eficiência padrão de aeração) são os<br />
indicadores pelos quais podemos decidir<br />
sobre qual aerador adquirir dentre as várias<br />
marcas e modelos existentes no mercado.<br />
Foi dito também que,<br />
quanto maior a demanda<br />
de oxigênio<br />
da unidade de cultivo,<br />
maior o número de<br />
aeradores<br />
necessários<br />
para se manter<br />
uma concentração de<br />
oxigênio capaz de garantir<br />
a produtividade.<br />
Do ponto de vista desta<br />
demanda, ou respiração<br />
(mg O 2<br />
/L/h), as<br />
unidades de cultivo<br />
podem ser divididas<br />
em três partes:<br />
1) Coluna de água;<br />
2) Solo;<br />
3) Organismos que estamos cultivando.<br />
De modo geral, no início da produção,<br />
a coluna de água costuma respirar<br />
mais do que o solo, sendo que quando nos<br />
aproximamos da despesca os papeis se invertem,<br />
isto é, o solo passa a respirar mais<br />
do que a água.<br />
Na coluna de água encontramos o<br />
fitoplâncton, encarregado da produção de<br />
oxigênio durante o dia e respectivo consumo<br />
durante a noite.<br />
No solo temos a<br />
matéria orgânica<br />
sedimentada<br />
(fezes, alimento<br />
não consumido,<br />
animais mortos,<br />
etc.), a qual demanda<br />
grandes<br />
quantidades de<br />
oxigênio devido<br />
à forte atividade<br />
microbiana,<br />
própria da decomposição.<br />
Já no que se<br />
refere aos animais<br />
de cultivo,<br />
constatamos<br />
que estes não<br />
respiram mais do que 10% do total do<br />
viveiro. A exceção são os cultivos super-intensivos<br />
(BFT e RAS), onde a demanda de<br />
oxigênio por parte dos animais pode ultrapassar<br />
30%.<br />
De modo geral, no<br />
início da produção, a<br />
coluna de água<br />
costuma respirar<br />
mais do que o solo, sendo<br />
que<br />
quando nos aproximamos<br />
da despesca os papeis<br />
se invertem, isto é,<br />
o solo passa a<br />
respirar mais do que<br />
a água.<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
21
Nos cultivos semi-intensivos e intensivos<br />
os aeradores mecânicos são os encarregados de<br />
manter o oxigênio dissolvido nas concentrações<br />
Tabela 1. Número de aeradores necessário para 1 ha de viveiro em função do SOTR (kg/h) e da respiração<br />
total (mg/L/h), considerando 50% da saturação do oxigênio na madrugada, como mínimo.<br />
SOTR<br />
(kg/h)<br />
Respiração total (mg/L/h)<br />
0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 1,6 1,8<br />
0,50 6,44 12,87 19,31 25,74 32,18 38,61 45,05 51,48 57,92<br />
0,75 4,29 8,58 12,87 17,16 21,45 25,74 30,03 34,32 38,61<br />
1,00 3,22 6,44 9,65 12,87 16,09 19,31 22,52 25,74 28,96<br />
1,25 2,57 5,15 7,72 10,30 12,87 15,44 18,02 20,59 23,17<br />
1,50 2,15 4,29 6,44 8,58 10,73 12,87 15,02 17,16 19,31<br />
1,75 1,84 3,68 5,52 7,35 9,19 11,03 12,87 14,71 16,55<br />
2,00 1,61 3,22 4,83 6,44 8,04 9,65 11,26 12,87 14,48<br />
2,25 1,43 2,86 4,29 5,72 7,15 8,58 10,01 11,44 12,87<br />
2,50 1,29 2,57 3,86 5,15 6,44 7,72 9,01 10,30 11,58<br />
2,75 1,17 2,34 3,51 4,68 5,85 7,02 8,19 9,36 10,53<br />
3,00 1,07 2,15 3,22 4,29 5,36 6,44 7,51 8,58 9,65<br />
3,25 0,99 1,98 2,97 3,96 4,95 5,94 6,93 7,92 8,91<br />
3,50 0,92 1,84 2,76 3,68 4,60 5,52 6,44 7,35 8,27<br />
adequadas. Em termos gerais, a respiração total<br />
(da água e do solo) oscila entre 0,2 a 1,8 mg/L/h.<br />
Na Tabela 1 encontramos o número de aeradores<br />
necessários por hectare de<br />
espelho de água (com 1 m<br />
de profundidade) em função<br />
do SOTR dos aparelhos e da<br />
respiração total do viveiro de<br />
cultivo.<br />
Como pode ser verificado<br />
nesta tabela, o pior cenário<br />
para o nosso bolso seria<br />
termos aeradores com um<br />
SOTR de apenas 0,5 kg/h e<br />
uma respiração total de 1,8<br />
mg/L/h, situação em que<br />
teríamos que ligar 58 aparelhos<br />
por hectare. Muito<br />
diferente do cenário resultante<br />
de um SOTR maior<br />
de 3 kg/h e respiração de<br />
apenas 0,2 mg/L/h, em que<br />
o número de aeradores por<br />
hectare seria de apenas um.<br />
Determinação da respiração do viveiro (solo e coluna de água)<br />
Para determinar a respiração (mg/L/h) vamos<br />
precisar de dois tubos de PVC com diâmetro<br />
suficiente para permitir a entrada da sonda do<br />
oxímetro (Figura 1). Um dos tubos fica em contanto<br />
com o solo (RS - respiração do solo) e o outro isolado<br />
do solo por meio de uma tampa (RA - respiração<br />
da água). Ambos os tubos são preenchidos com a<br />
água do viveiro e o oxigênio inicial (OI) deve ser<br />
registrado. Logo, os tubos são tampados na parte<br />
superior para evitar a entrada de luz. Após o período<br />
de uma hora e meia (t) o oxigênio é medido novamente,<br />
a fim de se registrar o oxigênio final (OF).<br />
Para calcular a respiração aplicamos as seguintes equações:<br />
RA = (OI - OF)/t, onde RA: respiração da água; OI: oxigênio inicial; OF: oxigênio final; t: tempo (1,5 h).<br />
RS = [(OI - OF)/t] - RA, onde RS: respiração do solo.<br />
RT = RA + RF, onde RT: respiração total.<br />
22<br />
ARTIGO<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
© Luis Alejandro Vinatea Arana<br />
Figura 1. Tubos de PVC para determinar a respiração da água e do solo.<br />
A princípio, só um tubo é necessário para determinar<br />
a respiração total do viveiro, o tubo RS, onde<br />
mediríamos ao mesmo tempo a respiração da água e a<br />
respiração do solo. Entretanto, o tubo RA nos ajuda a entender<br />
se a água sozinha respira mais ou respira menos<br />
que o solo.<br />
Caso a coluna de água respire mais do que o<br />
solo, pode ser um indicativo de eutrofização ou excesso<br />
de fitoplâncton. Já na situação em que o solo respira mais<br />
do que a água, pode ser indício de acumulo de matéria<br />
orgânica no fundo, incorporada no solo ou depositada<br />
em cima deste sob a forma de coloide orgânico (Figura<br />
2a).<br />
A fim de se contar com valores de respiração<br />
próximos da realidade, é recomendável trabalhar com<br />
A<br />
três pares de tubos, colocados de tal forma que seja possível<br />
cobrir toda a superfície da unidade de cultivo (perto<br />
da comporta de entrada, no meio do viveiro e perto<br />
da comporta de saída). No caso dos viveiros de camarão<br />
marinho, onde existem valas profundas (empréstimos),<br />
é aconselhável colocar os tubos longe destas áreas. A interferência<br />
provocada pelo coloide orgânico depositado<br />
(Figura 2b) pode nos levar a sobrestimar a respiração.<br />
Tão importante quanto saber o SOTR/SAE dos<br />
aeradores e o número de aparelhos por hectare, é saber<br />
quantas horas os aeradores devem funcionar a cada noite,<br />
período em que a respiração do fitoplâncton pode<br />
chegar a esgotar todo o oxigênio produzido durante a<br />
fotossíntese.<br />
B<br />
© Luis Alejandro Vinatea Arana<br />
Figura 2. Coloide orgânico depositado no fundo de um viveiro de camarão marinho.<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
ARTIGO<br />
23
Determinação do superávit de oxigênio<br />
SOTR<br />
Respiração total (mg/L/h)<br />
Com base na respiração total do viveiro e da<br />
Tão importante quanto<br />
concentração (kg/h) do oxigênio 0,2 registrado 0,4 às 0,617:00 h, 0,8 é possível<br />
calcular o número de horas com superávit de oxigê-<br />
aeradores e o número de<br />
1 1,2 saber 1,4 o 1,6 SOTR/SAE 1,8 dos<br />
nio por 0,50 meio da seguinte 6,44 equação: 12,87 19,31 25,74 32,18 38,61 aparelhos 45,05 51,48 por 57,92 hectare, é<br />
0,75 4,29<br />
saber quantas horas os<br />
HO = SO 8,58 ÷ RT 12,87 17,16 21,45 25,74 30,03 34,32 38,61<br />
aeradores devem<br />
Onde, 1,00 HO: horas com 3,22 oxigênio; 6,44 SO: superávit 9,65 12,87 de oxigê-16,0nio; RT: 1,25 respiração 2,57 total. 5,15 7,72 10,30 12,87 15,44 18,02 20,59 19,31 funcionar 22,52 a cada 25,74 noite. 28,96<br />
23,17<br />
1,50 O superávit 2,15 de oxigênio 4,29 (SO) 6,44 define-se 8,58 como a 10,73 12,87 Em outras 15,02 palavras, 17,16 já que dispomos 19,31 de 8 horas<br />
de superávit de oxigênio, os aeradores precisariam ser<br />
concentração de oxigênio disponível depois de ter sido<br />
1,75 1,84 3,68 5,52 7,35 9,19 ligados 11,03 só à 01:0012,87 h do dia 14,71 seguinte. 16,55<br />
descontado o 50% da saturação. Isto porque, se os peixes Na Tabela 2 encontramos o número de horas<br />
ou camarões 2,00 ficarem 1,61 expostos 3,22 a concentrações 4,83 6,44 menores 8,04 com sobra 9,65 de oxigênio 11,26 em 12,87 função do 14,48 superávit de oxigênio<br />
(mg/L) e da respiração total do viveiro (mg/L/h). Os<br />
de 50% da saturação, podemos perder crescimento e aumentar<br />
2,25 a conversão 1,43 alimentar. 2,86 4,29 5,72 7,15 cálculos 8,58 foram feitos 10,01 considerando 11,44 12,87 uma concentração<br />
Por exemplo, se em determinada água o 100% mínima de 3 mg/L e a última medição do oxigênio dissolvido,<br />
a das 17:00h.<br />
da saturação 2,50 for 6 1,29 mg/L, o 50% 2,57 3 mg/L 3,86 e o oxigênio 5,15 às 6,44 7,72 9,01 10,30 11,58<br />
17:00 h de 9,5 mg/L, o superávit resultante igual a 6,5 Por fim, não custa repetir: o parâmetro mais importante<br />
de qualidade de água em aquicultura é, e sem-<br />
mg/L (9,5 2,75 - 3) e a respiração 1,17 2,34 total do 3,51 viveiro de 4,68 0,8 mg/ 5,85 7,02 8,19 9,36 10,53<br />
L/h, teríamos uma HO (horas com oxigênio) de:<br />
3,00 1,07 2,15 3,22 4,29 5,36 pre será, 6,44 o oxigênio 7,51 dissolvido 8,58 e, a forma 9,65 de garantir que<br />
este nunca falte, é por meio da aeração.<br />
3,25 HO = 6,5 mg/L 0,99 ÷ 0,8 1,98 mg/L/h 2,97 = 8 horas3,96 4,95 5,94 6,93 7,92 8,91<br />
3,50 0,92 1,84 2,76 3,68 4,60 5,52 6,44 7,35 8,27<br />
Tabela 2.Número de horas com sobra de oxigênio (HO) antes de se atingir a concentração mínima de 3 mg/L (ou 50% da saturação) em função do superávit de<br />
oxigênio (SO) e da respiração total do viveiro (RT).<br />
SO<br />
(mg/L)<br />
RT (mg/L/h)<br />
0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0<br />
Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/artigos<br />
1 5,0 2,5 1,7 1,3 1,0 0,8 0,7 0,6 0,6 0,5<br />
2 10,0 5,0 3,3 2,5 2,0 1,7 1,4 1,3 1,1 1,0<br />
3 15,0 7,5 5,0 3,8 3,0 2,5 2,1 1,9 1,7 1,5<br />
4 10,0 6,7 5,0 4,0 3,3 2,9 2,5 2,2 2,0<br />
5 12,5 8,3 6,3 5,0 4,2 3,6 3,1 2,8 2,5<br />
6 15,0 10,0 7,5 6,0 5,0 4,3 3,8 3,3 3,0<br />
7 11,7 8,8 7,0 5,8 5,0 4,4 3,9 3,5<br />
8 13,3 10,0 8,0 6,7 5,7 5,0 4,4 4,0<br />
9 15,0 11,3 9,0 7,5 6,4 5,6 5,0 4,5<br />
10 12,5 10,0 8,3 7,1 6,3 5,6 5,0<br />
11 13,8 11,0 9,2 7,9 6,9 6,1 5,5<br />
12 15,0 12,0 10,0 8,6 7,5 6,7 6,0<br />
24<br />
ARTIGO<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
ARTIGO<br />
25
Os moluscos<br />
bivalves de água<br />
doce do <strong>Brasil</strong>:<br />
Potencial ainda não<br />
aproveitado pela aquicultura<br />
Ellano José da Silva<br />
Instituto de Assistência<br />
Técnica e Extensão Rural<br />
do Rio Grande do Norte<br />
EMATER RN<br />
ellanosilva7@gmail.com<br />
Renata Bezerra Gomes<br />
Laboratório de Moluscos<br />
LABMOL<br />
Universidade Federal<br />
Rural do Semiárido<br />
UFERSA<br />
Carla Suzy Freire de Brito<br />
Universidade Federal<br />
do Piauí – UFPI<br />
Campus Parnaíba<br />
Cristina de Almeida Rocha-Barreira<br />
Laboratório de Zoobentos<br />
Instituto de Ciências Marinhas<br />
Tropicais<br />
LABOMAR<br />
Universidade Federal do Ceará<br />
UFC<br />
O<br />
s moluscos constituem o segundo grupo de<br />
animais com maior produção pela aquicultura<br />
mundial. A produção aquícola desses<br />
animais vem aumentando a cada ano, em 2014,<br />
ultrapassou as 16.000.000 de toneladas, gerando<br />
uma receita de mais de 19 bilhões de dólares<br />
(FAO, 2016). Além disso, na malacocultura não<br />
há entrada de alimento ou fertilizantes, um dos<br />
principais custos envolvidos na piscicultura<br />
ou carcinicultura, por exemplo (ANDRADE,<br />
2016). Mundialmente, os moluscos marinhos e<br />
estuarinos são os mais cultivados, com destaque<br />
para o grupo dos bivalves, englobando ostras e<br />
mexilhões.<br />
No <strong>Brasil</strong>, o cultivo desse grupo ainda é<br />
pouco difundido. A malacocultura se restringe<br />
ao cultivo de espécies marinhas, das quais os<br />
estados do Sul e Sudeste detém a produção, especialmente<br />
Santa Catarina, maior produtor nacional<br />
(MPA, 2012), alcançando 20.438 toneladas<br />
de ostras e mexilhões no ano de 2015 (EPAGRI,<br />
2016).<br />
A produção de bivalves de água doce<br />
tem como principais finalidades: i) a produção de<br />
pérolas na (principalmente) Ásia, ii) recuperação<br />
de estoques naturais na América do Norte e iii)<br />
a produção de bivalves como fonte de alimento<br />
para o homem no sul da Índia (SICURO, 2015).<br />
No continente sul-americano, o <strong>Brasil</strong><br />
destaca-se quanto ao conhecimento das espécies<br />
de bivalves que ocorrem nos ambientes límnicos<br />
(rios, lagos) (MANSUR e PEREIRA, 2006;<br />
SIMONE, 2006). Contudo, ainda não existem<br />
cultivos comerciais no país, embora alguns esforços<br />
tenham sido direcionados ao cultivo experimental<br />
de espécies ameaçadas de extinção<br />
(LIMA, 2010), uma espécie perlífera (AGU-<br />
DO-PADRÓN, 2016) e recentemente um bivalve<br />
límnico que ocorre em grandes densidades sendo<br />
alvo da pesca, foi “redescoberto” no Nordeste brasileiro<br />
(BRITO et al. 2015). Todavia, o real potencial<br />
desses organismos ainda não foi aproveitado<br />
pela aquicultura.<br />
Neste artigo, listamos os principais grupos<br />
de moluscos dulcícolas nativos com potencial<br />
ao cultivo, bem como os gargalos para o<br />
desenvolvimento desta atividade.<br />
26<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
© Rogério Santos<br />
Artigo<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
Figura 1. Bivalves límnicos dos gêneros Anodontites e Castalia no município de Várzea Grande – MT.<br />
27
Apesar do vasto número de espécies de moluscos descritas mundialmente, o conhecimento sobre moluscos<br />
de água doce brasileiros está longe de ser satisfatório (BRITO et al., 2015). Assim, as espécies nativas do <strong>Brasil</strong><br />
(Figura 1) estão representadas por seis famílias (PIMPÃO e MANSUR, 2009), citadas na Tabela 1.<br />
Tabela 1. Lista dos grupos de bivalves límnicos nativos do <strong>Brasil</strong>. *A ordem Veneroida também engloba espécies marinhas<br />
e estuarinas.<br />
Ordem<br />
Unionoida<br />
Família<br />
Hyriidae<br />
Mycetopodidae<br />
Cyrenidae<br />
Veneroida*<br />
Sphaeridae<br />
Dreissenidae<br />
Pholadomyoida<br />
Lyonsiidae<br />
Figura 2. A espécie Hyriopsis cumingi, em Hong Kong, China, mostrando fileiras de<br />
pérolas cultivadas.<br />
1 O cultivo dos náiades é chamado de naiadicultura.<br />
© Istara CC 3.0<br />
A Ordem Unionoida<br />
representa os principais bivalves<br />
dulcícolas no mundo<br />
(GRAF, 2007). Popularmente<br />
conhecidos por “náiades 1 ”, são os<br />
únicos bivalves a possuírem um<br />
estágio larval parasitário e conhecidos<br />
por produzirem pérolas de<br />
alta qualidade (Figura 2).<br />
28<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
© Conquilogistas do <strong>Brasil</strong><br />
Figura 3. Vistas externa e interna da concha da espécie Diplodon expansus.<br />
Os Unionoida de ocorrência no <strong>Brasil</strong> são representados, principalmente, pelos gêneros:<br />
• Diplodon (Spix & Wagner, 1827)<br />
Apresenta grande variabilidade em suas formas, mesmo entre a mesma população (BONETTO, 1961). As<br />
espécies que, até o presente momento, apresentam possibilidades de cultivo são: Diplodon martensi (Ihering,<br />
1893), D. expansus (Küster, 1856) (Figura 3) e D. rotundus (Spix & Wagner, 1827).<br />
• Anodontites (Brugière, 1792)<br />
Neste gênero, a espécie que se destaca é a A. trapesialis (Lamarck, 1819) (Figura 4). A mesma ocorre em todas<br />
as bacias Sul Americanas. Possui tamanho aproximado de 10 mm a 150 mm (SIMONE, 2006). No <strong>Brasil</strong>,<br />
apenas esta espécie tem sido cultivada experimentalmente para a produção de pérolas, no estado de Santa<br />
Catarina (AGUDO-PADRÓN, 2016).<br />
© Rogério Santos<br />
Figura 4. Espécime de Anodontites trapesialis em seu ambiente natural.<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
ARTIGO<br />
29
A Ordem Veneroida engloba mais de um terço<br />
de todas as espécies atuais de bivalves (PECHENIK,<br />
2016), com destaque para a família Cyrenidae e a espécie<br />
Cyanocyclas brasiliana. Esta espécie, (Figura 5), possui<br />
comprimento médio de 18 mm (SIMONE, 2006), contudo,<br />
Brito (2016) encontrou indivíduos de até 30,45mm.<br />
É uma espécie estenohalina, não suportando salinidade<br />
superior a 3 (BRITO, 2016), o que limita sua ocorrência.<br />
É endêmica da região Norte do <strong>Brasil</strong> (DESHAYES,<br />
1854; PRIME, 1870) e recentemente foi encontrada no<br />
Estado do Piauí (BRITO et al., 2015).<br />
Devido a sua grande abundância, variando em<br />
média 5.992 ind./m² (BRITO, 2016), a C. brasiliana é<br />
capturada pelas marisqueiras da comunidade dos Tatus<br />
em Parnaíba/PI (Figura 6). Esta pescaria pode produzir<br />
mais de 52.000 kg (animal com concha) mensais<br />
(FARIAS et al., 2015), comercializados localmente por<br />
R$10,00/kg, embora a maior parte da produção seja fornecida<br />
a atravessadores por R$ 3,80/kg.<br />
A localização desta pescaria é definida pela profundidade,<br />
abundância dos animais e tipo de substrato.<br />
Quando há uma maior influência marinha sobre o rio,<br />
eventos de mortalidade são registrados pelos pescadores.<br />
Outras variáveis ambientais como o tipo de fundo,<br />
são primordiais para a ocorrência desta espécie que<br />
prefere substrato lamoso ao arenoso.<br />
Cyanocyclas brasiliana é uma das únicas espécies<br />
de moluscos de água doce alvo da pesca no<br />
Nordeste brasileiro, servindo como fonte de alimento e<br />
renda para as comunidades em sua área de ocorrência.<br />
© Carla Brito<br />
© Carla Brito, modificado por Ellano<br />
Figura 5. Fotografia ilustrando o ambiente de ocorrência<br />
natural de Cyanocyclas brasiliana (círculo branco), em Parnaíba<br />
– PI.<br />
Figura 6. Landuá, arte de pesca utilizada na captura do bivalve<br />
límnico Cyanocyclas brasiliana no Piauí.<br />
Gargalos no Cultivo dos bivalves dulcícolas:<br />
Reprodução: Os bivalves límnicos desenvolveram<br />
uma estratégia reprodutiva muito peculiar.<br />
Diferentemente dos bivalves marinhos, como as ostras<br />
nativas, que lançam seus gametas na água onde<br />
ocorre a fertilização e posteriormente o desenvolvimento<br />
embrionário, os bivalves límnicos apresentam<br />
fecundação e desenvolvimento internos. Uma vez que<br />
os embriões morreriam caso forem transportados<br />
pelo fluxo dos rios até a zona de influência salina nos<br />
estuários.<br />
Esta pescaria pode<br />
produzir mais de<br />
52.000 kg (animal com concha)<br />
mensais (FARIAS et<br />
al., 2015), comercializados<br />
localmente por R$10,00/kg,<br />
embora a maior parte da<br />
produção seja fornecida a<br />
atravessadores por<br />
R$ 3,80/kg.<br />
Reprodução dos Unionoida<br />
Na época de reprodução os machos lançam<br />
seus gametas na água, estes são capturados pelos<br />
sifões ou abertura inalante das fêmeas e transportados<br />
para uma região das brânquias modificada em<br />
um marsúpio. Lá, os ovos se desenvolvem até a fase<br />
larval, que possui dois tipos, de acordo com a espécie:<br />
gloquídia (bivalve) ou lasídia (univalve) (BAUER<br />
e WÄCHTLER, 2012). Em ambos os tipos larvais o<br />
bivalve mãe precisa ‘infectar’ um vertebrado hospedeiro<br />
para que o ciclo reprodutivo se complete. Nor-<br />
30<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
malmente as larvas aderem às brânquias ou nadadeiras<br />
de um peixe e permanecem até realizarem a<br />
metamorfose em juvenis, para então assentarem no<br />
substrato (WÄCHTLER et al., 2001).<br />
O grande entrave no cultivo dos Unionoida<br />
está na necessidade de simular as características<br />
do hospedeiro. Lima (2010) utilizou com sucesso o<br />
extrato liofilizado de plasma do lambari (Astyanax<br />
altiparanae), produzindo com sucesso juvenis de<br />
três espécies do gênero Diplodon: Para D. rotundus<br />
gratus, obtiveram sobrevivência de 100% durante<br />
o experimento. Já D. martensi e D. expansus apresentaram<br />
mortalidade entre 40% e 65%, respectivamente.<br />
Estes resultados demonstram que é possível<br />
realizar a larvicultura desses animais.<br />
Não existem estudos sobre a biologia das<br />
espécies do gênero Cyanocyclas, assim, assume-se<br />
que suas estratégias reprodutivas acompanhem o<br />
padrão já conhecido para a maioria das espécies<br />
de Corbicula (BRITO, 2016). Scarabino e Mansur<br />
(2007) citam que Cyanocyclas é hermafrodita simultâneo,<br />
entretanto, reforçam a falta de conhecimentos<br />
sobre o grupo.<br />
Nos Cyrenídeos a fertilização ocorre no<br />
interior da cavidade paleal e a incubação dos embriões<br />
ocorre por entre os filamentos branquiais;<br />
as larvas passam pelos estágios trocófora, véliger e<br />
pedivéliger, sendo liberadas em forma de “D”. Após<br />
a libertação, os juvenis passam um curto período<br />
Reprodução dos Veneroida – Família Cyrenidae<br />
(até quatro dias) na coluna d’água e assentam no<br />
sedimento utilizando um filamento bissal mucilaginoso<br />
(MACKIE & CLAUDI, 2009). No gênero<br />
Cyanocyclas, a incubação das larvas é completa e<br />
ocorre no interior do marsúpio braquial. O número<br />
de embriões é pequeno, de 25 a 45 por brânquia,<br />
e a libertação não é sincronizada (PEREIRA et al.,<br />
2012).<br />
Apesar de serem conhecidos como espécies<br />
invasoras, nos locais onde estas espécies são nativas,<br />
em geral, são alvo da pesca e bastante apreciadas na<br />
culinária (MITO et al., 2014; LIAO et al., 2013; KE<br />
et al., 2011) entretanto, não existem registros também<br />
sobre o cultivo destas espécies.<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
Perspectivas futuras<br />
O uso de bivalves límnicos para a produção de pérolas, conservação de estoques naturais e consumo<br />
humano, são apenas algumas de suas múltiplas aplicações. Esses animais podem ser utilizados como<br />
alimento para organismos cultiváveis, como crustáceos<br />
e reprodutores de peixes (MYERS e TLUSTY, 2009) e<br />
até mesmo as espécies como o molusco exótico invasor<br />
Corbicula fluminea (disseminado em quase todas<br />
as bacias hidrográficas brasileiras) tem sido usado<br />
para remover o fósforo de águas residuais da agricultura<br />
(RILEY, 2008).<br />
Apesar de não existirem cultivos comerciais<br />
no <strong>Brasil</strong>, o mesmo se destaca devido ao grande<br />
número de corpos d’água continentais e parques<br />
aquícolas. A busca pela maximização do lucro e sustentabilidade<br />
na atividade nunca foram tão almejados,<br />
seja no desenvolvimento do policultivo ou na<br />
busca de estratégias de baixo custo para o tratamento<br />
de efluentes da aquicultura. A implementação de<br />
bivalves límnicos na aquicultura pode aliar o útil ao<br />
agradável, além de oferecer uma diversificação a esta<br />
atividade no <strong>Brasil</strong>.<br />
Apesar de não existirem<br />
cultivos comerciais no<br />
<strong>Brasil</strong>, o mesmo se destaca<br />
devido ao grande número de corpos<br />
d’água continentais e parques<br />
aquícolas. A busca pela maximização<br />
do lucro e sustentabilidade<br />
na atividade nunca foram tão almejados,<br />
seja no desenvolvimento<br />
do policultivo ou na busca de<br />
estratégias de baixo custo para o<br />
tratamento de efluentes da<br />
aquicultura.<br />
31<br />
Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/artigos
ácidos<br />
orgânicos:<br />
UMA NOVA FERRAMENTA<br />
NUTRICIONAL PARA A<br />
AQUICULTURA<br />
Bruno Corrêa da Silva<br />
Pesquisador<br />
Centro de Desenvolvimento em<br />
Aquicultura e Pesca CEDAP<br />
Empresa de Pesquisa Agropecuária e<br />
Extensão Rural de<br />
Santa Catarina – EPAGRI<br />
brunosilva@epagri.sc.gov.br<br />
Gabriel Fernandes Alves Jesus<br />
Engenheiro de Aquicultura, discente<br />
de doutorado<br />
Programa de Pós-graduação em<br />
Aquicultura<br />
Laboratório de Sanidade de Organismos<br />
Aquáticos - AQUOS<br />
Universidade Federal de<br />
Santa Catarina – UFSC<br />
gabriel_faj@hotmail.com<br />
Maurício Laterça Martins<br />
Professor/Pesquisador<br />
Programa de Pós-graduação em<br />
Aquicultura<br />
Laboratório de Sanidade de Organismos<br />
Aquáticos – AQUOS<br />
Universidade Federal de Santa<br />
Catarina – UFSC<br />
mauricio.martins@ufsc.br<br />
José Luiz Pedreira Mouriño<br />
Professor/Pesquisador<br />
Programa de Pós-graduação em<br />
Aquicultura<br />
Laboratório de Sanidade de<br />
Organismos<br />
Aquáticos – AQUOS<br />
Universidade Federal de Santa<br />
Catarina – UFSC<br />
jose.mourino@ufsc.br<br />
32<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
Artigo<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
33
Introdução<br />
No <strong>Brasil</strong> e no mundo, a aquicultura tem enfrentado<br />
desafios sanitários que atrapalham a continuidade<br />
do seu crescimento. Tanto a carcinicultura<br />
quanto a piscicultura são atividades em intensificação,<br />
e com isto surgem doenças que devem ser enfrentadas.<br />
Por estes motivos, o uso profilático de quimioterápicos<br />
com intuito<br />
de prevenir mortalidades,<br />
ou até mesmo<br />
atuar como promotores<br />
de crescimento é<br />
uma prática observada<br />
na aquicultura, assim<br />
como outras produções<br />
animais, como<br />
por exemplo, a avicultura.<br />
No entanto,<br />
Na aquicultura já<br />
são bem<br />
conhecidos os<br />
probióticos, prebióticos<br />
e também os fitobióticos.<br />
Contudo, nos últimos anos<br />
têm aumentado o número<br />
de pesquisas e produtos<br />
comerciais contendo<br />
ácidos orgânicos ou seus<br />
sais.<br />
os quimioterápicos,<br />
entre eles os antibióticos,<br />
ocasionam diversos<br />
problemas<br />
importantes que devem<br />
ser levados em<br />
consideração. Estes<br />
produtos podem apresentar<br />
toxicidade, principalmente para as fases jovens<br />
(pós-larvas e alevinos), podendo causar má formação<br />
e imunodepressão. Além disso, os resíduos de alimento<br />
e fezes contendo antibiótico podem contaminar o<br />
solo do ambiente de cultivo ou animais que se encontram<br />
neste ambiente. Esta contaminação pode resultar<br />
no aparecimento de cepas resistentes, entre elas,<br />
bactérias patogênicas para os animais aquáticos ou até<br />
mesmo para os seres humanos.<br />
Devido a estes problemas a União Europeia<br />
proibiu, a partir de janeiro de 2006, o uso de antibióticos<br />
na produção animal.<br />
No <strong>Brasil</strong> o Ministério<br />
da Agricultura, Pecuária e<br />
Abastecimento já proibiu o<br />
uso de diversos antibióticos;<br />
cloranfenicol e nitrofuranos<br />
(IN nº 09, 27/06/2003), quilononas<br />
e sufonamidas (IN nº<br />
26, 9/07/2009), espiramicina<br />
e eritromicina (IN nº 14,<br />
17/05/2012); como aditivo<br />
alimentar na produção animal.<br />
Com isso, há um aumento<br />
nas buscas por substâncias<br />
alternativas aos antibióticos<br />
que atuem na inibição de<br />
patógenos, prevenindo enfermidades,<br />
bem como promotores<br />
de crescimento. Dentre<br />
estes produtos, na aquicultura já são bem conhecidos<br />
os probióticos, prebióticos e também os fitobióticos.<br />
Contudo, nos últimos anos têm aumentado o número<br />
de pesquisas e produtos comerciais contendo ácidos<br />
orgânicos ou seus sais.<br />
34<br />
ARTIGO<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
Efeitos dos ácidos orgânicos e seus<br />
sais nas dietas e nos animais<br />
Na dieta, os ácidos orgânicos funcionam<br />
como agentes de conservação, reduzindo o pH do<br />
alimento, inibindo o crescimento microbiano e diminuindo<br />
a absorção de organismos patogênicos. Estes<br />
compostos podem ser utilizados na elaboração de<br />
silagem de pescado. Eles também podem ser utilizados<br />
para modificar o pH das dietas e levá-las a valores<br />
de pH desejados, visando um melhor aproveitamento<br />
dos nutrientes. Contudo, estudos avaliando o efeito<br />
de diferentes valores de pH em dietas para animais<br />
aquáticos são escassos. No trato intestinal dos animais,<br />
os ácidos orgânicos inibem o crescimento de bactérias,<br />
principalmente as gram-negativas, auxiliando<br />
na modificação da microbiota, melhorando a saúde<br />
gastrointestinal, assim como ocorre com os probióticos.<br />
No metabolismo animal, os ácidos orgânicos<br />
também podem afetar a ação de enzimas digestivas,<br />
como a pepsina, através da redução do pH da dieta,<br />
ou ainda, a presença destes ácidos ou seus sais podem<br />
alterar a atividade de tripsina e quimotripsina. Ainda,<br />
podem servir como fonte de energia para o animal,<br />
pois são componentes de diversas rotas metabólicas.<br />
Além disso, os ácidos orgânicos podem promover<br />
uma melhoria na digestibilidade dos minerais<br />
de três formas: (i) baixa do pH, resultando em uma<br />
maior dissociação dos compostos minerais, (ii) redução<br />
da taxa de esvaziamento do estômago, e (iii)<br />
formação de complexos minerais quelados, que são<br />
facilmente absorvidas no intestino.<br />
Tabela 1. Efeitos dos ácidos orgânicos e seus sais na nutrição animal.<br />
1<br />
H + - Forma não ionizada. Ânion - Forma ionizada.<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
ARTIGO<br />
35
Figura 1. Imagens do epitélio intestinal do camarão marinho (Litopenaeus vannamei) alimentado com dieta suplementada com 2% de butirato de sódio, polihidroxibutirato<br />
(PHB) e sem suplementação (grupo controle), por 42 dias. A: Seção histológica do grupo controle; B: Seção histológica do grupo PHB; C: Seção<br />
histológica do grupo butirato; D: Microscopia eletrônica de transmissão do grupo controle; E: Microscopia eletrônica de transmissão eletrônica do grupo PHB;<br />
F: Microscopia eletrônica de transmissão do grupo butirato. Siglas = L: Lúmen; MV: Microvilos; V: Vilos; N: Núcleo; TJ: Junção celular.<br />
Uso de ácidos/sais<br />
orgânicos na aquicultura<br />
Uma forma de facilitar o manuseio dos ácidos<br />
orgânicos é utilizá-los na forma de sais, que estão sob a<br />
forma de pó, facilitando a manipulação e sua inclusão<br />
na dieta. Além disso, eles ainda são fontes de nutrientes<br />
como cálcio e sódio, por exemplo.<br />
O diformiato de potássio (KDF) foi a primeira<br />
substância aprovada pelo Conselho Europeu para uso<br />
como promotor de crescimento não antibiótico na produção<br />
animal, sendo utilizado pela indústria de suínos<br />
e aves, e apresentando diversos estudos na aquicultura.<br />
Além do KDF, os ácidos orgânicos mais estudados<br />
e mais presentes em produtos comerciais são: ácido<br />
cítrico, ácido fórmico, ácido láctico, ácido propriônico<br />
e ácido fumárico. Além dos sais, propionato de sódio,<br />
propionato de cálcio e butirato de sódio. O propionato<br />
já é comumente utilizado em rações como antifúngico,<br />
contudo, para conseguir os efeitos citados como aditivo<br />
alimentar promotor de crescimento a inclusão na ração<br />
deverá ser maior que o comumente utilizado.<br />
Inúmeras pesquisas já foram realizadas avaliando<br />
diversos tipos de produtos com várias espécies, contudo,<br />
dentre as principais já estudadas estão o salmão, a<br />
truta arco-íris, o robalo europeu, a tilápia (tilápia-do-Nilo<br />
e híbrida) e os camarões marinhos (principalmente o<br />
Litopenaeus vannamei). De forma geral, estes produtos<br />
têm obtido resultados em estudos com concentrações<br />
variando de 0,1 a 1% de inclusão na dieta. Também já foi<br />
verificada a eficácia da aplicação destes produtos na água<br />
pós eclosão da artêmia, melhorando a sobrevivência e<br />
diminuindo a carga de bactérias que este microcrustáceo<br />
carrega como vetores, principalmente do gênero Vibrio.<br />
Para o uso de sais e ácidos orgânicos em dietas de<br />
peixes há necessidade de adaptações, visto que existem<br />
diferenças anatômicas e fisiológicas essenciais no sistema<br />
digestivo desses animais. Devem ser considerados<br />
aspectos relacionados ao comprimento do trato intestinal<br />
da espécie alvo, o tempo de passagem do alimento<br />
no trato intestinal, a capacidade de o ácido/sal orgânico<br />
resistir à ação do ácido clorídrico no estômago, entre<br />
outros.<br />
A fim de buscar uma maior eficiência desses<br />
ácidos/sais orgânicos, alguns destes produtos possuem<br />
revestimentos, que possibilitam a proteção e liberação<br />
do seu princípio ativo somente no intestino dos animais<br />
cultivados. Apesar dos ácidos orgânicos não dissociados<br />
poderem atravessar a membrana e serem absorvidos<br />
36 ARTIGO<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
© Carlos Eduardo Zacarkim<br />
pelas primeiras porções do intestino, a microencapsulação<br />
(proteção) poderá garantir a sua chegada até o<br />
final do intestino, sendo absorvido ao longo de todo o<br />
trato intestinal.<br />
Além disso, a grande desvantagem do uso dos<br />
ácidos orgânicos ou seus sais na aquicultura é o fato de<br />
possuírem alta solubilidade em água, havendo grande<br />
lixiviação na ração, necessitando assim de grandes<br />
quantidades para manter sua eficiência. Contudo, a utilização<br />
destas proteções já é uma realidade no mercado<br />
atual, como por exemplo o butirato de sódio protegido<br />
com ácido graxo (óleo de palma) ou protegido por<br />
solução tampão, que impede que o butirato de sódio se<br />
dissolva ou dissocie durante as primeiras etapas da digestão.<br />
Outra forma também utilizada são os polímeros<br />
de ácidos orgânicos, ou polihidroxialcanoatos, sendo o<br />
polihidroxibutirato (PHB, polímeros biodegradáveis<br />
de ácido butírico) o mais comumente estudado. Estes<br />
polímeros são hidrofóbicos, e em teoria necessitariam<br />
de uma menor porcentagem de inclusão na dieta. Curiosamente,<br />
vários estudos forneceram evidências de<br />
que estes polímeros podem ser degradados no trato<br />
gastrintestinal dos animais e, com isso, resultar na ação<br />
do produto diretamente no local desejado, no sistema<br />
digestivo. Porém, o tamanho deste polímero deve ser<br />
considerado. O PHB é amplamente utilizado para a<br />
produção de plástico biodegradável (bioplástico), contudo<br />
são utilizadas moléculas com alto peso molecular,<br />
o que não é desejado para a aquicultura, pois serão mais<br />
difíceis de ser degradadas.<br />
O butirato de sódio e seus derivados já possuem<br />
amplo uso pela indústria do camarão marinho, pois são<br />
efetivos no combate a doenças bacterianas como as causadas<br />
por bactérias do gênero Vibrio. Nacionalmente,<br />
é possível encontrar rações comerciais para camarão<br />
marinho com a inclusão do butirato de sódio.<br />
© Bruno C. da Silva<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
Figura 2. Unidades experimentais utilizadas nos ensaios de cultivo do camarão<br />
marinho em água clara (6.000 L) e cultivo no sistema de bioflocos (800 L).<br />
ARTIGO<br />
37
Pesquisas desenvolvidas<br />
pelo CEDAP e AQUOS<br />
Os primeiros trabalhos foram realizados com o camarão-do-pacífico (L. vannamei), onde inicialmente<br />
foi observado o potencial de seis sais de sódio (acetato, butirato, citrato, formiato, l-lactato, propionato) como<br />
aditivos alimentares através de:<br />
Ensaios de inibição de patógenos in vitro;<br />
Contagem bacteriológica da microbiota intestinal, atratividade;<br />
Consumo e digestibilidade das dietas suplementadas com estes sais<br />
orgânicos.<br />
Os resultados mostraram boa atividade<br />
inibitória de vibrios para acetato, butirato, formiato e<br />
propionato. Além disso, o butirato apresentou efeito<br />
atrativo na dieta e aumento de consumo, enquanto o<br />
propionato apresentou aumento na digestibilidade de<br />
fósforo e energia.<br />
Em estudos posteriores foi observado no cultivo<br />
de L. vannamei em água clara,<br />
que a suplementação dietética<br />
de propionato e butirato<br />
de sódio em diferentes<br />
concentrações (0,5<br />
a 2%) modificou a<br />
microbiota intestinal<br />
e melhorou<br />
o crescimento<br />
do camarão<br />
m a r i n h o .<br />
Além disso,<br />
a suplementação<br />
do butirato<br />
de sódio<br />
melhorou a<br />
retenção de<br />
nitrogênio,<br />
taxa de eficiência<br />
proteica,<br />
e título<br />
de aglutinação<br />
do soro, melhorando consequentemente a eficiência<br />
alimentar, sobrevivência e produtividade. Em bioflocos<br />
(250 camarões.m³) a suplementação de butirato de<br />
sódio melhorou a sobrevivência do cultivo de L. vannamei,<br />
além de aumentar o número de hemócitos e<br />
alterar a microbiota intestinal.<br />
Em estudos conduzidos em parceria do Centro<br />
de Investigaciones del Noroeste (CIBNOR, Baja<br />
California, México) observou-se que o fumarato de<br />
sódio apresentou grande potencial como promotor<br />
de crescimento para camarões marinhos, aumentando<br />
a digestibilidade in vitro de proteína, aumentando<br />
o consumo e ganho de peso após suplementação dietética<br />
de 1,17%. Além disso, camarões alimentados<br />
com butirato de sódio mostraram maior atividade de<br />
protease no hepatopâncreas (quimiotripsina e tripsina),<br />
e maior digestibilidade in vitro de proteína, polissacarídeos<br />
e lipídeos.<br />
Atualmente, vem sendo realizado um estudo<br />
onde se busca verificar o efeito do butirato de sódio<br />
em diferentes concentrações de inclusão na dieta, na<br />
forma pura e em diferentes formas protegidas, nos<br />
parâmetros zootécnicos, hemato-imunológicos, histopatológicos,<br />
enzimáticos, microbiológicos e de resistência<br />
à doença, em diferentes fases de cultivo da<br />
tilápia-do-Nilo (Oreochromis niloticus). Além desse<br />
estudo, com jundiá (Rhamdia quelen) está sendo investigado<br />
o efeito de diferentes concentrações de propionato<br />
de cálcio e propionato de sódio, sobre os mesmos<br />
parâmetros destacados no trabalho acima.<br />
38<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
Considerações finais<br />
Atualmente existe uma série de produtos<br />
comerciais à base de sais orgânicos no mercado agropecuário,<br />
porém a grande maioria é direcionada para<br />
o uso em animais terrestres, sendo pouco conhecidos<br />
os seus efeitos, as formas de proteção e concentrações<br />
ideais de aplicação na dieta de animais aquáticos.<br />
Dessa forma, o número limitado de informações<br />
sobre a influência dos sais orgânicos na nutrição de<br />
animais aquáticos abre um imenso leque para futuras<br />
parcerias e pesquisas entre empresas e universidade,<br />
visando o desenvolvimento de produtos eficientes e<br />
específicos para aquicultura.<br />
O número limitado de<br />
informações sobre a<br />
influência dos sais<br />
orgânicos na nutrição de<br />
animais aquáticos abre um<br />
imenso leque para futuras<br />
parcerias e pesquisas<br />
entre empresas e universidade,<br />
visando o desenvolvimento<br />
de produtos eficientes e<br />
específicos para<br />
aquicultura.<br />
© Gabriel F. A. Jesus<br />
Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/artigos<br />
Figura 3. Preparo de ração experimental extrusada, no Laboratório de Nutrição de Espécies Aquícolas – LABNUTRI/UFSC, contendo diferentes porcentagens<br />
de inclusão de sais orgânicos.<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
ARTIGO<br />
39
¡Sí, se puede!<br />
Aquicultura com espécies<br />
alternativas em Baja Califórnia,<br />
México<br />
Maurício Gustavo Coelho Emerenciano<br />
Laboratório de Nutrição de Organismos Aquáticos<br />
(LANOA) e Laboratório de Aquicultura (LAQ),<br />
Universidade do Estado de Santa Catarina<br />
(UDESC)<br />
mauricioemerenciano@hotmail.com<br />
Artur Nishioka Rombenso<br />
Laboratório de Nutrição e Fisiologia Digestiva de<br />
Organismos Aquáticos<br />
Universidade Autônoma de Baja Califórnia (UABC)<br />
artur.nishioka@uabc.edu.mx<br />
© Artur Rombenso e Maurício Emerenciano<br />
40<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
Artigo<br />
Baja Califórnia é um estado mexicano localizado na região noroeste<br />
do país banhado pelo oceano Pacífico e o mar de Cortês. Essa<br />
região é reconhecida pelo grande potencial aquícola exemplificado por<br />
diversas iniciativas piloto-comerciais como cultivo de peixes marinhos<br />
(atum Thunnus orientalis, olhete Seriola dorsalis e lubina rayada Morone<br />
saxatilis), cultivo de moluscos (mexilhão Mytilus sp, ostra Crassostrea<br />
gigas, abalones Haliotis sp) e também cultivo de macroalgas Ulva sp.<br />
Além disso, centros de pesquisa como o Centro de Investigação Científica<br />
e de Educação Superior de Ensenada CICESE e o Centro Regional<br />
de Investigação Aquícola e Pesqueira de Ensenada (CRIP-Ensenada)<br />
e universidades como a Universidade Autônoma de Baja Califórnia<br />
(UABC) e Universidade Autônoma do México (UNAM) contribuem<br />
com a expansão da atividade através de pesquisas básicas e aplicadas e<br />
parcerias público-privadas.<br />
Visitamos Ejido Erendira, região norte da Baja Califórnia, um<br />
parque aquícola em desenvolvimento que reúne algumas iniciativas<br />
comerciais com espécies alternativas. O intuito desse artigo é mostrar<br />
brevemente as atividades desenvolvidas e futuramente dar continuidade<br />
com mais matérias sobre o assunto.<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
41
Figura 1. Vista panorâmica dos centros de pesquisa e universidades de Ensenada.<br />
Cultivo de Abalones e Ostras<br />
A empresa Marinos Baja<br />
liderada por um casal de oceanólogos,<br />
produz três espécies de<br />
abalones (amarelo Haliotis corrugata,<br />
vermelho Haliotis refescens<br />
e azul Haliotis fulgens) e ostras<br />
(Crassostrea gigas).<br />
A produção é focada para o<br />
mercado internacional e apenas parte<br />
é destinada para o nacional. Além<br />
disso a empresa produz também<br />
pérolas oriundas de abalones por<br />
meio de técnica semelhante à aplicada<br />
em ostras.<br />
O ciclo de produção dos<br />
abalones é gradual, demorando de<br />
3 até 5 anos para despescar, porém<br />
com um elevado valor agregado. Os<br />
abalones são produzidos em laboratório,<br />
parte da engorda é feita em<br />
tanques em terra com fluxo aberto<br />
de água e parte no mar utilizando o<br />
sistema “travesseiro”. O mesmo é válido<br />
para as ostras.<br />
A alimentação dos abalones<br />
consiste em um mix de macroalgas,<br />
porém a principal fonte de alimento<br />
é a macroalga Macrocystis pyrifera<br />
que é cultivada no mar pela própria<br />
empresa e um limitante para aumentar<br />
a produção. Iniciativas com<br />
rações tem sido realizadas, mas o<br />
custo de produção se elevou e dificultou<br />
a viabilidade dos cultivos.<br />
Atualmente a produção de abalones<br />
está em 30 toneladas, a de ostra em<br />
100 toneladas e 250 toneladas de<br />
macroalgas.<br />
A produção é<br />
focada para o<br />
mercado<br />
internacional e<br />
apenas parte é<br />
destinada<br />
para o<br />
nacional.<br />
42<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
Hatchery de Olhete<br />
Ao lado da empresa de<br />
moluscos está um “hatchery”<br />
(laboratório de produção de formas<br />
jovens) de olhete (Seriola dorsalis)<br />
chamada de Ocean Baja Labs (OBL).<br />
Este laboratório pertence a empresa<br />
Baja Seas que domina o ciclo de produção<br />
da espécie.<br />
O OBL é um laboratório de<br />
última geração totalmente equipado<br />
e automatizado. A produção de<br />
juvenis se baseia nos protocolos padrões<br />
de peixes marinhos utilizando<br />
rotíferos e artêmias nas fases iniciais<br />
e depois implementando o desmame<br />
gradual com dietas formuladas.<br />
A larvicultura dura aproximadamente<br />
30-40 dias com juvenis<br />
de 2g e possui uma sobrevivência<br />
média de 50%, algo bem impressionante<br />
para espécies marinhas.<br />
Uma vez atingido o peso de 2-5g os<br />
juvenis são transferidos para tanques<br />
de berçário de 70 mil litros. Depois<br />
de 30-40 dias os juvenis são transportados<br />
de barco para a engorda em<br />
tanques-rede na região sul da Baja<br />
Califórnia. O OBL está com perspectivas<br />
de exportar juvenis para Dubai.<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
43
A<br />
B<br />
C<br />
D<br />
E<br />
© Artur Rombenso e Maurício Emerenciano<br />
Figura 2. a) Fazenda de atum; b) tanques com olhetes; c) exemplar jovem de pepino do mar; d) ostra e e) sistema experimental.<br />
Fazenda de macroalgas<br />
Vizinha da OBL está localizada<br />
a empresa de produção de<br />
macroalgas. A mesma ainda está<br />
em fase de implantação. Porém<br />
uma planta piloto-comercial já está<br />
em andamento na Universidade<br />
Autônoma de Baja Califórnia, projeto<br />
liderado pelo pesquisador e<br />
empreendedor Dr. José Zertuche. O<br />
pesquisador pretende aplicar todo o<br />
conhecimento e “know-how” gerado<br />
no seu laboratório na indústria.<br />
Várias espécies de macroalgas,<br />
principalmente Ulva sp, serão<br />
cultivadas com a finalidade de produzir<br />
biomassa para consumo humano.<br />
A empresa pretende entrar no<br />
mercado americano com produtos a<br />
base de alga seca para ser incorporados<br />
na alimentação cotidiana de<br />
forma fácil e saudável. A alimentação<br />
das macroalgas consiste em<br />
nutrientes provenientes da água do<br />
mar e também de nutrientes suplementados.<br />
Nos planos, está a utilização<br />
da água descartada da empresa<br />
de moluscos para o cultivo das<br />
macroalgas e a mesma água retornar<br />
para o cultivo de moluscos de forma<br />
apropriada.<br />
© lib.noaa.gov<br />
44<br />
ARTIGO<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
Considerações finais<br />
O potencial da Península da<br />
Baja Califórnia é incontestável. No<br />
entanto, a visita nas empresas certamente<br />
fez refletirmos sobre algo bem<br />
importante: os custos de implantação<br />
dos diferentes projetos, uns utilizando<br />
técnicas ditas “high-tech” (com<br />
equipamentos sofisticados e de alto<br />
custo de aquisição) versus técnicas<br />
mais “low-tech” (com equipamentos<br />
ou técnicas mais simples e de baixo<br />
custo). Obviamente que cada caso<br />
e espécie (com suas demandas biológicas<br />
específicas) deve ser levado<br />
em consideração. No entanto, apesar<br />
de “encher os olhos” todo e qualquer<br />
projeto deve ser bem planificado e<br />
questionado principalmente quanto<br />
a um ponto crucial: o tempo de retorno<br />
do investimento. Operar e com<br />
resultados, sim! Mas a que custo? Se<br />
não for bem planejado e eficiente, o<br />
mesmo pode nunca se viabilizar e<br />
frustrar expectativas de investidores<br />
e trabalhadores/técnicos envolvidos.<br />
As espécies já produzidas<br />
e as que apresentam demandas na<br />
região são inúmeras. Algumas parecidas<br />
com o cenário brasileiro (como<br />
as tilápias e camarões marinhos),<br />
mas outras bem diferentes como<br />
olhetes, macroalgas e abalones. A<br />
diversidade de espécies e a capacidade<br />
técnica (nas suas diferentes<br />
realidades financeiras) nos chamou<br />
a atenção. Os proprietários e investidores<br />
acreditam fielmente no potencial<br />
da atividade e investem cada<br />
vez mais focando no fortalecimento<br />
dos empreendimentos e no desenvolvimento<br />
regional. Paralelamente,<br />
programas estaduais de fomento<br />
fornecem subsídios aos projetos<br />
chegando a cifras de custear até<br />
80% dos custos de implantação. Os<br />
produtos ganham selos locais e são<br />
vendidos por todo país e até mesmo<br />
exportados. Com um pouco de criatividade<br />
e boa vontade por parte de<br />
todas as esferas da cadeia produtiva<br />
vimos, mais do que nunca, que “¡sí,<br />
se puede!”<br />
© Artur Rombenso e Maurício Emerenciano<br />
Figura 3. Oceanólogo José Enrique Vázquez Moreno dono da Marinos Baja apresentando sua empresa.<br />
Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/artigos<br />
© Artur Rombenso e Maurício Emerenciano<br />
Figura 4. Adultos de abalones sendo separados por tamanho.<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
ARTIGO<br />
45
A matemática da<br />
aquicultura:<br />
Otimizando a produção<br />
aquícola com auxílio de<br />
modelos matemáticos<br />
Zoot. Thiago Andrade da Silva<br />
Prof.de Aquicultura no Instituto Centro de Ensino Tecnológico - CENTEC<br />
Unidade de Ensino EEEP José Ivanilton Nocrato, Guaiúba - CE<br />
thiagoandrade@zootecnista.com.br<br />
46<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
Artigo<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
47
O que é melhor: produzir<br />
tilápias de 600 g e vendê-las<br />
a R$ 5,00/kg ou deixá-las<br />
crescer até atingir 1,0 kg e<br />
vendê-las a R$ 6,50/kg?<br />
Supondo que há mercado<br />
para ambos os tamanhos, podem<br />
existir argumentos favoráveis<br />
a qualquer uma. Ao vender tilápias<br />
menores, obtém-se uma conversão<br />
alimentar melhor e o viveiro, ou<br />
tanque-rede é usado em mais ciclos<br />
dentro de um mesmo período. Em<br />
favor da tilápia maior, há o apelo<br />
do preço diferenciado. Essa é uma<br />
discussão interessante e pode ser resolvida<br />
com matemática básica, utilizando-se<br />
equações e funções.<br />
Primeiro deve-se ter em<br />
mente que o lucro é diretamente proporcional<br />
à receita, o que favorece a<br />
tilápia maior, e inversamente proporcional<br />
ao custo, que, sob esse<br />
viés, torna a tilápia menor mais interessante.<br />
Então, para maximizar o<br />
lucro, pode-se pensar em diminuir o<br />
custo, ou aumentar a receita, o que<br />
implica em decidir qual será o produto.<br />
Analisando os custos de<br />
produção<br />
Considerando o custo,<br />
sabe-se que a alimentação pode<br />
representar até 70% deste, assim,<br />
pode-se concluir que um uso eficiente<br />
de ração, pode reduzi-lo<br />
significativamente. O índice mais<br />
comum para avaliação da eficiência<br />
da ração é a conversão alimentar<br />
(C.A.), que é a relação entre o consumo<br />
e a produção. Considere o seguinte<br />
exemplo:<br />
Foram consumidos 14.000<br />
kg de ração para a produção de 10.000<br />
kg de peixe, então, a conversão alimentar,<br />
também chamada de taxa de<br />
conversão alimentar (T.C.A.) ou fator<br />
de conversão alimentar (F.C.A.),<br />
será de 1,4 (14.000/10.000).<br />
Tomando a conversão<br />
alimentar anterior e considerando<br />
que um saco de ração de 25 kg usada<br />
na engorda (32% Proteína bruta e<br />
pellet de 8,0 mm) custa R$ 60,00,<br />
pode-se afirmar que a ração contribuiu<br />
para o custo unitário com R$<br />
3,36 (60,00/25 * 1,4). Imaginando<br />
que nesse exemplo a tilápia, de<br />
600 g, foi vendida a R$ 5,00/kg e que<br />
a ração equivale a 70% do custo, o<br />
lucro unitário, por quilo de tilápia<br />
produzida, foi de R$ 0,20 (5,00 –<br />
(3,36/0,70)) 1 .<br />
O produtor poderia<br />
imaginar que aumentaria seu lucro<br />
deixando suas tilápias crescerem<br />
mais. Contudo, deve-se atentar que,<br />
nessa condição, a conversão alimentar<br />
vai piorar e as estruturas de<br />
cultivo estarão ocupadas por mais<br />
tempo. Outro ponto importante a<br />
considerar é que, para essa análise<br />
ser válida, não haverá variação na<br />
demanda de outros elementos componentes<br />
do custo de produção<br />
(demanda de mão-de-obra, por<br />
exemplo) ou que estes não sofrerão<br />
variação significativa ao deixar os<br />
peixes atingirem um maior tamanho<br />
de comercialização.<br />
Nesse caso, o custo em<br />
relação à alimentação aumenta,<br />
mas a receita aumenta junto.<br />
Considerando que a conversão alimentar<br />
será de 1,8 quando a tilápia<br />
atingir 1,0 kg, o custo relativo à<br />
alimentação será R$ 4,32 e o lucro<br />
unitário R$ 0,33 (6,50 – (4,32/0,70)).<br />
Houve um incremento de<br />
65% no lucro em favor da tilápia de<br />
1,0 kg em relação à tilápia de 600 g,<br />
mas essa comparação ainda não é<br />
conclusiva, pois deve-se ainda considerar<br />
o tempo.<br />
Ganhos no tempo<br />
Se a tilápia de 600 g levar<br />
4 meses para atingir esse tamanho,<br />
considerando apenas a fase de engorda,<br />
a mesma estrutura de cultivo<br />
poderá ser utilizada até 3 vezes<br />
em um ano. Considerando que os<br />
viveiros ou tanques-rede podem<br />
suportar até 10 toneladas de peixes,<br />
tem-se então um lucro anual de R$<br />
6.000,00 (10.000*0,20*3).<br />
A tilápia de 1 kg pode atingir<br />
esse tamanho por volta de 6 meses,<br />
em condições adequadas. Nessa<br />
situação, serão obtidos 2 ciclos, cada<br />
um produzindo 10 toneladas, garantindo<br />
um lucro de R$ 6.600,00<br />
(10.000,00*0,33*2). Um lucro 10%<br />
maior.<br />
Nas condições dadas, o<br />
melhor negócio é a tilápia de 1,0 kg,<br />
mas a situação pode mudar rapidamente.<br />
O quadro 1 compara dois<br />
cenários. A partir da análise dos<br />
dados, percebe-se que, para tilápias<br />
de 600 g, um acréscimo de R$ 0,20<br />
no valor pago ao produtor (4% de<br />
incremento) dobrou o lucro anual,<br />
enquanto que a piora de 0,1 na conversão<br />
alimentar para peixes de 1,0<br />
kg gerou prejuízo.<br />
Assim, conclui-se que a decisão<br />
de que produto vai ser gerado<br />
deve levar em conta vários fatores,<br />
dentre os quais são mais importantes<br />
os seguintes:<br />
1. Preço pago ao produtor;<br />
2. Preço pago pela ração;<br />
3. Qualidade do manejo e da ração<br />
traduzidas em conversão alimentar e<br />
taxa de crescimento.<br />
1<br />
A estimativa do custo com base no preço da ração de engorda é uma boa aproximação pois, embora as rações inicias sejam mais onerosas, a quantidade utilizada<br />
é bem inferior. Em relação ao peso da ração no custo total, 70% é um valor médio e está diretamente relacionado ao sistema de produção adotado. Esse<br />
valor pode apresentar uma variação significativa entre diferentes propriedades.<br />
48<br />
ARTIGO<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
Quadro 1.<br />
Encontrando uma solução<br />
ideal com a matemática<br />
Cenário 1 Cenário 2<br />
FCA Ração¹ Vlr.px² Luc.Unit³ Luc. An 4 FCA Ração¹ Vlr.px² Luc.Unit³ Luc. An 4<br />
600 g 1,4 R$ 2,40 R$ 5,00 R$ 0,20 R$ 6.000,00 1,4 R$ 2,40 R$ 5,20 R$ 0,40 R$ 12.000,00<br />
1.000 g 1,8 R$ 2,40 R$ 6,50 R$ 0,33 R$ 6.600,00 1,9 R$ 2,40 R$ 6,50 R$ 0,01<br />
(negativo)<br />
1 – Saco de ração de 25 kg comprado a R$ 60,00.<br />
2 – Valor pago ao produtor por 1 kg de peixe.<br />
3 – Lucro unitário: valor pago por 1 kg de peixe, subtraindo-se os custos, calculados a partir dos custos com ração a 70%.<br />
4 – Lucro anual: considerando um ciclo de 4 meses para peixes de 600 g e 6 meses para peixes de 1.000 g; lucro estimado para 10 toneladas.<br />
Peso<br />
CA<br />
500 g 1,40 o lucro, R significa receitas e C é o<br />
custo.<br />
800 g 1,60<br />
Para uma comparação justa,<br />
ambos os produtos devem estar<br />
Os preços pagos pelo peixe<br />
produzido conforme seu tamanho e<br />
sobre um mesmo período e unidade,<br />
neste caso, pode-se ampliar a<br />
1200 g 2,00<br />
o valor da ração encontram variações<br />
significativas em cada região do país.<br />
equação do lucro para lucro modular<br />
A qualidade da água, do manejo e da<br />
anual, que representa o lucro esperado<br />
para um tanque-rede ou viveiro,<br />
ração podem interferir diretamente<br />
no aproveitamento da ração e taxa<br />
ficando da seguinte maneira: L m<br />
=<br />
Peso<br />
CA<br />
de crescimento. Assim, não há um<br />
(P – (C.A*R/P.R.C))mn, sendo:<br />
tamanho de 500 peixe g que seja ideal para 1,40 • P: preço a pago por 1 kg do produto;<br />
todas as regiões do país. Cada um<br />
• C.A.: conversão alimentar esperada;<br />
a<br />
deve avaliar 800 sua g própria condição. 1,60<br />
Para auxiliar a tomada de<br />
• R: valor de 1 kg da ração de<br />
900 g 1,69<br />
decisão, podem-se utilizar as ferramentas<br />
da 1.000 modelagem g de sistemas. 1,78 • P.R.C: b peso da ração nos custos<br />
engorda;<br />
b<br />
Um modelo matemático é composto<br />
por expressões<br />
(valor médio 70%);<br />
1.200 g<br />
matemáticas que<br />
2,00 • m: a capacidade de suporte do<br />
indicam o comportamento de um<br />
módulo de produção (tanque-rede<br />
1.500 g 2,40<br />
sistema de forma a prever os resultados<br />
e compreender de que forma<br />
ou viveiros);<br />
b<br />
• n: número de ciclos anuais (12/<br />
pode-se utilizá-los no dia a dia (Badue<br />
tempo médio em meses de cada ciclo).<br />
CA<br />
Tamanho<br />
e Amorim, 2012).<br />
Tempo Preço<br />
(g) Na literatura (meses) científica há<br />
diversos modelos propostos, sendo<br />
que estes podem ter diferentes<br />
graus de complexidade. Um modelo<br />
simples 500 pode ser o 3,5 suficiente R$ para 5,00 1,4<br />
auxiliar na decisão de que produto<br />
será entregue ao mercado. Para solucionar<br />
800<br />
a questão do melhor<br />
5,0<br />
tamanho<br />
R$ 6,00 1,6<br />
de peixe a produzir, o primeiro passo<br />
é 1.200 definir as principais 8,0 variáveis R$ 6,50 2,0<br />
que influenciam a rentabilidade da<br />
atividade. Nesse caso pode-se<br />
partir da equação do lucro:<br />
L = R – C, onde L representa<br />
R$ 200,00<br />
(negativo)<br />
Conhecendo a equação<br />
do lucro modular anual estimado,<br />
pode-se então fazer simulações a<br />
partir do tamanho do produto para<br />
determinar qual é o mais lucrativo, o<br />
peixe menor ou maior. Obviamente<br />
é necessário dispor dos demais fatores<br />
da equação.<br />
O preço unitário pago ao<br />
produtor, conversão alimentar e<br />
número de ciclos anuais têm relação<br />
direta com o tamanho médio do<br />
peixe produzido. Assim, podem-se<br />
definir três funções matemáticas<br />
que estimam tais variáveis. Essas<br />
funções podem ser definidas com<br />
diferentes graus de precisão, utilizando-se<br />
recursos matemáticos mais<br />
sofisticados, mas para uma análise<br />
ao nível da propriedade, podem<br />
ser definidas funções quadráticas<br />
do tipo f(x) = ax² + bx + c, onde x<br />
representa o tamanho do peixe que<br />
pretende-se comercializar e os coeficientes<br />
a, b e c são obtidos a partir<br />
do preço do peixe em diferentes tamanhos,<br />
do tempo necessário para<br />
atingir tal tamanho bem como da<br />
conversão alimentar que pode ser<br />
obtida localmente.<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
49
Cenário 1<br />
FCA Ração¹ Vlr.px² Cenário Luc.Unit³ 1 Luc. An 4 FCA<br />
600 g 1,4<br />
FCA<br />
R$<br />
Ração¹<br />
2,40 R$<br />
Vlr.px²<br />
5,00 R$<br />
Luc.Unit³<br />
0,20 R$<br />
Luc.<br />
6.000,00<br />
An 4 1,4<br />
FCA<br />
A definição de funções quadráticas é um bom modo de correlacionar<br />
o tamanho do peixe com preço, conversão alimentar e<br />
número de ciclos anuais pois considera o aspecto não linear observado.<br />
Para entender melhor o que as funções podem predizer, considere<br />
o seguinte exemplo:<br />
O histórico de uma propriedade, utilizando-se uma ração<br />
de um mesmo fabricante pode ser conferido no quadro 2, quanto aos<br />
resultados para conversão alimentar.<br />
Utilizando os dados do quadro 2 é possível definir uma função<br />
para estimar a conversão alimentar em diferentes pesos. Considere<br />
CA(x) uma função quadrática que expressa a conversão alimentar de<br />
acordo com o tamanho do peixe. Define-se da seguinte forma CA(x):<br />
Sendo CA(x) = ax² + bx + c, temos que:<br />
CA(500) = a*500² + b*500 + c = 1,40<br />
CA(800) = a*800² + b*800 + c = 1,60<br />
CA(1200) = a*1200² + b*1200 + c = 2,00<br />
Desta forma, temos 3 equações e 3 incógnitas, ou seja, um<br />
sistema de equações. Solucionando-o, temos os seguintes valores: a<br />
= 0,000000476190476190476; b = 0,0000476190476190477; e c =<br />
1,25714285714286. Conhecidos os coeficientes da função, temos que:<br />
CA(x) = 0,000000476190476190476x² + 0,0000476190476190477x +<br />
1,25714285714286<br />
Definida a função, pode-se calcular qual seria a conversão<br />
alimentar para diferentes pesos. Segue exemplo no quadro 3.<br />
A definição das funções para tempo de cultivo – n(x), que determina<br />
quantos ciclos serão obtidos anualmente, e o valor<br />
pago pelo quilo de tilápia – p(x), podem ser obtidas da<br />
mesma forma descrita para a conversão alimentar,<br />
sempre em função do tamanho de comercialização.<br />
Uma observação importante é que o preço pago<br />
pela produção nem sempre acompanha o peso<br />
médio dos peixes, estando sujeito a outros fatores<br />
do mercado, principalmente pela demanda. Entretanto,<br />
o valor pago por tamanhos específicos<br />
é um importante parâmetro para a definição do<br />
preço pago por outros tamanhos.<br />
Se, na equação do lucro modular anual,<br />
L m<br />
= (P – (CA*R/PRC))mn, substituir-se<br />
P, CA e n pelas funções p(x), CA(x) e n(x),<br />
respectivamente, todas com diferentes valores<br />
para cada tamanho (x) de peixe comercializado,<br />
tem-se então uma função que estima qual o<br />
lucro esperado para o respectivo produto gerado:<br />
1.000<br />
600 g<br />
1,8<br />
1,4<br />
R$<br />
R$<br />
2,40<br />
2,40<br />
R$<br />
R$<br />
6,50<br />
5,00<br />
R$<br />
R$<br />
0,33<br />
0,20<br />
R$<br />
R$<br />
6.600,00<br />
6.000,00<br />
1,9<br />
1,4<br />
g<br />
1.000 1,8 R$ 2,40 R$ 6,50 R$ 0,33 R$ 6.600,00 1,9<br />
g<br />
Cenário 1<br />
Quadro 2.<br />
FCA Ração¹ Vlr.px² Luc.Unit³ Luc. An 4 FCA R<br />
Quadro 3.<br />
Peso<br />
CA<br />
600 g 1,4 R$ 2,40 R$ 5,00 R$ 0,20 R$ 6.000,00 1,4 R<br />
1.000<br />
g<br />
Peso<br />
CA<br />
500 g 1,40<br />
1,8 R$ 2,40 R$ 6,50 R$ 0,33 R$ 6.600,00 1,9 R<br />
500 g 1,40<br />
800 1,60<br />
800 g 1,60<br />
1200 2,00<br />
Peso<br />
CA<br />
1200 g 2,00<br />
500 g 1,40<br />
800 g 1,60<br />
1200 Peso g 2,00 CA<br />
500 g 1,40 a<br />
800 g 1,60 a<br />
Peso 900 g CA 1,69 b<br />
1.000 500 g g 1,40 1,78 a b<br />
1.200 800 g g 1,60 2,00 a a<br />
1.500 900 g g 1,69 2,40 b b<br />
a: valores originais; b: valores estimados com a função<br />
CA(x).<br />
Quadro 4.<br />
Tamanho<br />
(g)<br />
1.000 g 1,78 b<br />
1.200 g 2,00 a<br />
1.500 g 2,40 b<br />
Tempo<br />
(meses)<br />
Preço<br />
CA<br />
500 3,5 R$ 5,00 1,4<br />
800 5,0 R$ 6,00 1,6<br />
1.200 8,0 R$ 6,50 2,0<br />
Lm(x) = [(p(x) – (CA(x)*R/PRC))m]*12/n(x)<br />
50<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
Exemplo 1:<br />
A partir das informações do quadro 4 são definidas funções que estimam quanto tempo levaria, qual o preço<br />
esperado e a conversão alimentar observada em diferentes tamanhos de comercialização.<br />
Fazendo simulações com a função lucro modular anual, tem-se os seguintes resultados:<br />
Quadro 5.<br />
Tamanho (g) Tempo Preço CA Lucro modular anual<br />
(meses)<br />
estimado*<br />
500 3,5 R$ 5,00 1,40 R$ 6.900,00<br />
600 3,9 R$ 5,39 1,46 R$ 12.124,68<br />
700 4,4 R$ 5,73 1,52 R$ 13.594,47<br />
800 5,0 R$ 6,00 1,60 R$ 12.342,86<br />
Tamanho 900 (g) Tempo 5,6 R$ Preço 6,20 1,69 CA Lucro R$ modular 9.244,12 anual<br />
1.000 (meses) 6,4 R$ 6,37 1,78 R$ estimado* 4.963,08<br />
500<br />
1.100<br />
3,5<br />
7,1<br />
R$<br />
R$ 6,46<br />
5,00<br />
1,88<br />
1,40<br />
R$ 17,14<br />
R$ 6.900,00<br />
(negativo)<br />
Tamanho 1.200 8,0 R$ 6,50 2,00 R$ 5.357,14 (negativo)<br />
600 (g) Tempo 3,9 Preço R$ 5,39 1,46 CA Lucro R$ modular 12.124,68 anual<br />
* Módulo para a produção de 10 toneladas, considerando que um saco da ração de engorda de 25 kg custa R$ 60,00.<br />
700 (meses) 4,4 R$ 5,73 1,52 R$ estimado* 13.594,47<br />
Observe 500 800 que o lucro máximo 3,5 5,0 ocorre, a partir R$ 5,00 6,00 das condições 1,40 1,60 iniciais, quando se comercializam R$ 12.342,86 6.900,00 tilápias com<br />
peso em torno 600 900 de 700 g. Na situação 3,9 5,6 dada, peixes R$ com 5,39 6,20800 g são comercializados 1,46 1,69 a R$ R$ 6,00/kg 12.124,68 9.244,12 e, para o produtor,<br />
mesmo que a<br />
700<br />
tilápia de 700 g seja vendida por 0,27 a menos, ainda é mais vantajoso a tilápia de 700 g. Outra<br />
conclusão importante<br />
1.000 4,4<br />
é que, nesse<br />
6,4 R$<br />
caso, peixes maiores 5,73 6,37 1,52<br />
não são um<br />
1,78 R$<br />
bom negócio. Além 13.594,47<br />
dos<br />
4.963,08<br />
800 g, o lucro diminui<br />
rapidamente, 800 1.100 sendo que para peixes 5,0 7,1 de 1,2 kg, há R$ um 6,00 6,46 prejuízo significativo. 1,60 1,88 R$ R$ 17,14 12.342,86 (negativo)<br />
Exemplo 900 1.200 2: 5,6 8,0 R$ 6,20 6,50 1,69 2,00 R$ 5.357,14 R$ 9.244,12 (negativo)<br />
Quadro 1.000 6.<br />
6,4 R$ 6,37 1,78 R$ 4.963,08<br />
1.100<br />
Tamanho (g)<br />
7,1<br />
Tempo<br />
R$ 6,46 1,88<br />
Preço<br />
R$ 17,14 (negativo)<br />
CA<br />
1.200 8,0 (meses) R$ 6,50 2,00 R$ 5.357,14 (negativo)<br />
500 3,5 R$ 4,50 1,4<br />
Tamanho 800 (g)<br />
Tempo 4,5 R$ Preço 5,50 1,6 CA<br />
1.200 (meses) 7,5 R$ 7,00 2,0<br />
Na condição 500 dada acima, observa-se que 3,5 o mercado valoriza mais R$ peixes 4,50 maiores e que o crescimento 1,4 é um<br />
pouco mais acelerado. 800 A conversão alimentar 4,5 mantém-se a mesma que R$ no exemplo 5,50 1.<br />
1,6<br />
Assim, podem-se inferir os seguintes resultados:<br />
1.200 7,5 R$ 7,00 2,0<br />
Quadro 7.<br />
Tamanho (g) Tempo Preço CA Lucro modular anual*<br />
(meses)<br />
500 3,5 R$ 4,50 1,40 R$ 10.285,71 (negativo)<br />
600 3,7 R$ 4,82 1,46 R$ 5.637,36 (negativo)<br />
700 4,0 R$ 5,15 1,52 R$ 2.067,23 (negativo)<br />
800 4,5 R$ 5,50 1,60 R$ 380,95<br />
900 5,1 R$ 5,86 1,69 R$ 1.835,01<br />
1.000 5,8 R$ 6,23 1,78 R$ 2.500,59<br />
1.100 6,6 R$ 6,61 1,88 R$ 2.590,06<br />
1.200 7,5 R$ 7,00 2,00 R$ 2.285,71<br />
1.400 9,7 R$ 7,82 2,26 R$ 1.021,01<br />
* Módulo para a produção de 10 toneladas, considerando que um saco da ração de engorda de 25 kg custa R$ 60,00.<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
ARTIGO<br />
51
Como podia-se imaginar,<br />
para esse mercado específico é<br />
interessante entregar peixes maiores,<br />
sendo que o lucro máximo se dá entre<br />
1.000 g e 1.100 g.<br />
A definição das funções<br />
pode ser um exercício trabalhoso,<br />
entretanto com o uso de planilhas<br />
eletrônicas a manipulação dos dados<br />
é facilitada. Uma planilha para<br />
auxiliar os produtores e técnicos está<br />
disponível no link https://goo.gl/<br />
12j4s5. Para utilizá-la basta informar<br />
os dados iniciais: valor pago, conversão<br />
alimentar e tempo necessário<br />
respectivos a três diferentes<br />
tamanhos de comercialização. A partir<br />
desses valores, é obtida a função<br />
lucro modular anual – Lm(x), e sua<br />
função derivada – L’m(x). A planilha<br />
determina o valor para x que torna<br />
L’m(x) = 0, valor este que representa<br />
o tamanho de peixe que gera<br />
o lucro máximo. Na planilha também<br />
é possível fazer simulações com<br />
diferentes tamanhos e observar o lucro<br />
estimado para cada um.<br />
Considerações finais<br />
A matemática pode ser uma<br />
aliada poderosa na tomada de decisões.<br />
As simulações feitas acima<br />
podem estar distantes da realidade<br />
de muitos produtores, mas bem<br />
próximas do que alguns encontram<br />
localmente. Assim, é possível manipular<br />
a planilha para que os resultados<br />
sejam consistentes. Embora as<br />
aplicações tenham sido feitas para a<br />
tilápia, o mesmo exercício pode ser<br />
feito para outras espécies de peixes e<br />
também camarões, desde que sejam<br />
atualizados os dados da planilha disponibilizada.<br />
Para que os dados gerados<br />
sejam confiáveis, é imprescindível<br />
alimentar o modelo com valores o<br />
mais reais possível, obtidos localmente<br />
ou em lotes anteriores, também<br />
com preços praticados no mercado<br />
local.<br />
As simulações feitas não<br />
podem ser tomadas como definitivas,<br />
embora sejam orientadoras, e<br />
as decisões tomadas em cada propriedade<br />
deve levar em conta que<br />
a disponibilidade de estruturas, o<br />
desempenho da linhagem utilizada,<br />
a qualidade da água, da ração e<br />
do manejo bem como a demanda<br />
do mercado local e outros fatores<br />
vão interferir diretamente sobre a<br />
rentabilidade da atividade.<br />
Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/artigos<br />
52<br />
ARTIGO<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
53
© Alex Augusto<br />
Artigo<br />
54<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
Desenvolvimento de<br />
um produto com<br />
valor agregado:<br />
nuggets de camarão recheado<br />
com queijo provolone<br />
Prof. Dr. Alex Augusto Gonçalves<br />
Chefe do Laboratório de Tecnologia e Controle de Qualidade do<br />
Pescado (LAPESC)<br />
Centro de Ciências Agrárias (CCA)<br />
Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA)<br />
Mossoró, RN, <strong>Brasil</strong><br />
alaugo@gmail.com<br />
Julianna Stephanie Barbosa da Silva<br />
Engenheira de Pesca<br />
LAPESC/CCA/UFERSA<br />
Mossoró, RN, <strong>Brasil</strong><br />
juliannastephanie@hotmail.com<br />
A produção de proteína de alta qualidade<br />
proveniente das atividades da pesca e da aquicultura<br />
tem sido ultimamente bastante discutida,<br />
visto que tais atividades são capazes de gerar<br />
volumes consideráveis de renda, tanto em países<br />
desenvolvidos, quanto naqueles em desenvolvimento.<br />
Atualmente a atividade da pesca extrativa<br />
perde espaço no <strong>Brasil</strong>, pois o país já atingiu o<br />
limite de captura de espécies devido ao avanço<br />
indiscriminado da pesca predatória, enquanto<br />
que a aquicultura está em expressiva ascensão<br />
(Bombardelli et al., 2005).<br />
Segundo a Associação <strong>Brasil</strong>eira de Criadores<br />
de Camarão (ABCC, 2016) apesar de<br />
uma diminuição de 2% na produção mundial<br />
de camarão cultivado em 2015, quando comparado<br />
a 2014, espera-se uma retomada na produção<br />
total em 2017 para aproximadamente 4,75<br />
milhões de toneladas, e a espécie L. vannamei<br />
será responsável por 75% do total da produção de<br />
camarão de cultivo.<br />
Dessa forma, na tentativa de diversificar<br />
a oferta de produtos à base de pescado e<br />
agregar ainda mais valor a produtos que já são<br />
considerados nobres, pesquisadores têm estudado<br />
a produção de reestruturados e empanados,<br />
que apresentam grande aceitação em redes de fast<br />
food, restaurantes institucionais e como produtos<br />
de conveniência. Os produtos reestruturados<br />
oferecem inúmeras vantagens por serem desossados,<br />
possuírem tamanho e formato apropriado,<br />
proporcionarem menor perda durante o cozimento<br />
e melhor aproveitamento dos músculos<br />
que seriam subutilizados. Os reestruturados empanados,<br />
do tipo nuggets, podem ser elaborados<br />
de uma grande variedade de carnes, sendo geralmente<br />
processados com o músculo moído e refletem<br />
a preferência do consumidor local (Nunes,<br />
2003; Lustosa Neto & Gonçalves, 2011).<br />
A aplicação da tecnologia de<br />
empanamento, amplamente conhecida tanto<br />
no país como fora dele, já se fixou no mercado<br />
devido à facilidade no preparo, tornando possível<br />
a melhora das características do produto, como<br />
cor, textura, sabor e aroma (Gonçalves & Leonhardt,<br />
2011). Um produto empanado é um produto<br />
cárneo industrializado, obtido de diversas<br />
espécies de animais de açougue, contendo ingredientes<br />
em sua composição, podendo apresentar<br />
moldes ou não e apresenta cobertura apropriada<br />
que o caracterize. Este produto pode ser cru,<br />
pré-cozido, cozido, pré-frito, frito, além de outras<br />
formas. Por esse sistema ser um tanto complexo,<br />
pois envolve diferentes processos, é de suma<br />
importância que se conheça as características<br />
químicas e físicas do substrato utilizado, de modo<br />
a produzir um produto com boas características<br />
sensoriais (Gonçalves & Leonhardt, 2011).<br />
Assim, o presente trabalho teve como<br />
objetivo desenvolver um produto de valor agregado<br />
(nuggets) a partir do camarão branco (L.<br />
vannamei), conhecer o rendimento do produto<br />
após o processo de empanamento, sua aceitação<br />
sensorial e os aspectos nutricionais desse novo<br />
produto.<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
55
Materiais e métodos<br />
Matéria-prima e insumos<br />
A matéria prima utilizada foi o camarão branco<br />
(Litopenaeus vannamei) fornecido pela empresa<br />
Aquarium Aquicultura do <strong>Brasil</strong> Ltda, localizada<br />
no município de Mossoró (RN). Os camarões foram<br />
despescados e imediatamente acondicionados em caixa<br />
isotérmica (com gelo em escamas na proporção 1:1, camarão:gelo),<br />
e transportados ao Laboratório de Tecnologia<br />
e Controle de Qualidade do Pescado (LAPESC), da<br />
Universidade Federal Rural do Semi Árido (UFERSA)<br />
onde foram lavados, descabeçados, descascados, pesados,<br />
embalados a vácuo, congelados em ultra freezer<br />
(-35 o C) e armazenados nesta temperatura até o momento<br />
do desenvolvimento do produto. Posteriormente os<br />
camarões foram descongelados sob refrigeração (4°C)<br />
24h antes do desenvolvimento do produto.<br />
Foram utilizados os seguintes insumos: queijo<br />
provolone, gelo moído, NaCl, proteína texturizada de<br />
soja granulada, amido de milho, farinha de trigo, tempero<br />
pronto de alho e cebola, pimenta do reino, glutamato<br />
monossódico e<br />
hexametafosfato<br />
Produtos reestruturados<br />
oferecem<br />
de sódio. O<br />
sistema de cobertura<br />
utiliza-<br />
inúmeras vantagens<br />
por serem<br />
do foi: farinha<br />
desossados, possuírem<br />
de pré cobertura<br />
(pre dust<br />
tamanho e formato apropriado,<br />
proporcionarem menor<br />
– Pré-Coating<br />
3.61), o líquido perda durante o cozimento<br />
e melhor<br />
de empanamento<br />
(batter – Powder<br />
Link 5.24) dos músculos<br />
aproveitamento<br />
e a farinha de que seriam<br />
empanamento<br />
(breading<br />
subutilizados.<br />
– Kraker Mill Flocada 7.42), fornecidos<br />
pelo Moinho Romariz (São Paulo, SP).<br />
Desenvolvimento do nuggets<br />
Os nuggets foram desenvolvidos seguindo o<br />
fluxograma apresentado nas Figuras 1 e 2. Após o descongelamento<br />
os camarões foram triturados em multiprocessador<br />
de alimentos. Aos poucos foram adicionados<br />
o NaCl, o gelo, a proteína texturizada da soja (50%<br />
natural e 50% hidratada), a farinha de trigo, o amido de<br />
milho, a pimenta do reino, o alho e cebola (flocos finos<br />
– Aroma das Ervas®, o hexametafosfato de sódio e o glutamato<br />
monossódico.<br />
Amostras dos nuggets de camarão recheado<br />
com queijo provolone foram fritas em óleo vegetal e em<br />
seguida foram avaliados sensorialmente com 50 provadores<br />
não treinados (faixa etária variando<br />
de 18 a 51 anos) compreendendo<br />
alunos, professores e funcionários<br />
da UFERSA de ambos os sexos e<br />
que concordaram em participar da<br />
pesquisa assinando o Termo de<br />
Consentimento Livre e Esclarecido<br />
(TCLE), onde constava o objetivo<br />
da pesquisa assim como os<br />
procedimentos metodológicos<br />
realizados na mesma. Pessoas<br />
que relataram alergia<br />
e/ou intolerância alimentar<br />
aos componentes dos<br />
produtos não participaram da pesquisa.<br />
A análise sensorial foi feita no LAPESC e utilizou-se<br />
o Teste de Aceitação Global com escala hedônica,<br />
estruturada em nove pontos que variam desde “gostei<br />
muitíssimo” até “desgostei muitíssimo” (Stone & Sidel,<br />
2004; Dutcosky, 2007). O índice de aceitabilidade (IA) foi<br />
calculado considerando como 100% o máximo de pontuação<br />
alcançada pela formulação testada na pesquisa, e<br />
o critério de decisão para o índice ser de boa aceitação<br />
é de no mínimo 70% (Teixeira et al., 1987). Foi avaliada,<br />
também, a intenção de compra em relação ao produto<br />
utilizando o Teste de Escala de Atitude estruturada, em<br />
sete pontos que variam de “compraria sempre” até “nunca<br />
compraria” (Stone & Sidel, 2004).<br />
A importância da rotulagem nutricional<br />
dos alimentos para a promoção da alimentação saudável<br />
é destacada em grande parte dos estudos e pesquisas<br />
que envolvem a área da nutrição e sua relação com estratégias<br />
para a redução do risco de doenças crônicas. A<br />
demanda crescente da sociedade por informações confiáveis<br />
acerca dos produtos exige esforço do governo e<br />
setor produtivo para implantação de uma efetiva rotulagem<br />
nutricional de alimentos. Portanto, foi elaborada a<br />
rotulagem nutricional para o produto desenvolvido, de<br />
acordo com a legislação brasileira.<br />
56<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
Figura 1. Fluxograma do nuggets de camarão recheado com queijo provolone.<br />
Figura 2. Etapas do desenvolvimento do nuggets de camarão recheado com queijo provolone.<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
57
Resultados e discussão<br />
A formulação inicial da massa não apresentou a consistência desejada, o que dificultou o porcionamento<br />
e formatação. Acrescentou-se 10 gramas de proteína texturizada da soja, uma vez que o uso de proteínas<br />
vegetais contribui na formação do gel e na estabilização da matriz proteica dos produtos reestruturados, conferindo<br />
maior estabilidade.<br />
Tabela 1. Formulação inicial dos nuggets de camarão recheado com queijo provolone.<br />
Para os cálculos de rendimento do processo<br />
(Tabela 2) foram registrados os pesos do camarão inteiro,<br />
descascado (antes e após o descongelamento) e<br />
o peso do bolinho antes e depois do processo de empanamento.<br />
Após o descabeçamento e descasque, o rendimento<br />
foi de 53,17%, o que representa 46,84% de<br />
resíduo. Após o descongelamento, o rendimento foi de<br />
88,47% (perdeu 11,53% de água). A partir do camarão<br />
descongelado, são calculados os rendimentos das massas:<br />
sem recheio apresentou 135,71% de rendimento<br />
(ganho de 35,71%) e com recheio apresentou rendimento<br />
de 116,50% (ganho de 16,5%). O produto final<br />
apresentou rendimento de 156% em relação ao peso<br />
do camarão descongelado. O rendimento global com<br />
relação ao camarão inteiro foi de 116% e com relação<br />
ao camarão descascado foi de 209%. O ganho de peso<br />
foi devido a incorporação de ingredientes e principalmente<br />
após o pick up do processo de empanamento.<br />
A alta crocância do produto deveu-se à utilização da<br />
farinha de cobertura (breader) de maior granulometria.<br />
O queijo provolone contido no interior do nugget<br />
apresentou derretimento desejado, e a massa que o envolvia<br />
possuía textura macia e homogênea.<br />
Na análise sensorial do nuggets, a faixa etária<br />
entre 21-30 anos foi a predominante, sendo que as<br />
mulheres constituíram o maior número de entrevistados.<br />
Na faixa etária de 18-20, os números de entrevistados<br />
foram iguais, diferentemente das classes 31-40 e<br />
41-50 onde os homens foram entrevistados em maior<br />
58 ARTIGO<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
número e a classe acima de 50 anos apresentou maioria<br />
feminina.<br />
Gonçalves et al. (2008), correlacionaram a<br />
preferência de consumo com a faixa etária e observaram<br />
que os consumidores com idade inferior a 20 anos têm<br />
preferência por peixe inteiro congelado, filés empanados<br />
e nuggets. A forma de consumo preferida pela maioria<br />
dos entrevistados foi o frito, independente de ocupação<br />
e faixa etária. No trabalho realizado por Minozzo (2008)<br />
ainda que a análise sensorial não tenha inclinação para<br />
a questão de gênero, faz-se necessário comentar que a<br />
maioria do público consumidor foi do sexo feminino,<br />
pois são as principais clientes em quantidade e qualidade,<br />
além de serem tomadoras de decisão no momento<br />
da compra e determinam o próprio consumo e o da<br />
família.<br />
Os resultados da escala hedônica de aceitação<br />
do produto apresentaram maiores percentuais da escala<br />
de aceitação para gostei extremamente (62%) e gostei<br />
muito (34%), seguidos de gostei moderadamente e<br />
gostei ligeiramente, ambos com 2%. As demais escalas<br />
obtiveram percentual zero em relação ao total. O Índice<br />
de Aceitabilidade calculado foi de 95,3%. O critério de<br />
decisão para o índice de boa aceitação é quando o produto<br />
apresenta percentual acima de 70% de aprovação.<br />
A média das notas obtidas na análise sensorial foi de<br />
8,6, valor este que está compreendido entre as escalas de<br />
“gostei muito” e “gostei extremamente”.<br />
Na avaliação da intenção de compra dos consumidores,<br />
resultou num percentual de 88% para certamente<br />
eu compraria, 10% para provavelmente eu<br />
compraria, 2% para talvez eu compraria/talvez eu não<br />
compraria e 0% para as demais opções. Esses resultados<br />
estão diretamente ligados às justificativas dadas pelos<br />
consumidores, de ser um alimento diferenciado e não<br />
possuir oferta no mercado, ser à base de carne de pescado<br />
e também por ter a vantagem de um rápido e fácil<br />
preparo para complementar as refeições ou ser oferecido<br />
como petisco.<br />
Dentre as razões que limitam o consumo de pescado,<br />
Minozzo (2008) identificou que o preço é o principal<br />
fator, quando comparado a outros tipos de carnes.<br />
As características do consumo de carne no <strong>Brasil</strong> ainda<br />
são muito ligadas em preço, não sendo diferente com os<br />
produtos de pescado. Isto pode ser comprovado através<br />
das observações descritas pelos provadores na ficha da<br />
análise sensorial, relacionando a compra do produto<br />
com o preço que seria imposto.<br />
Com relação aos valores da composição<br />
centesimal do nugget de camarão recheado com queijo<br />
provolone, estes estão apresentados na Tabela de Informação<br />
Nutricional, e foram calculados com base na<br />
composição centesimal dos ingredientes presentes na<br />
formulação dos nuggets. O valor calórico foi de 216 kcal<br />
em uma porção de 95 gramas (3 bolinhos). O valor proteico<br />
encontrado (16g) indica que o produto pode ser<br />
uma excelente fonte de aminoácidos, o que pode ser<br />
confirmado através do estudo de Sriket et al. (2007) e<br />
Gonçalves & Gomes (2008), onde encontraram valores<br />
próximos de proteína para a mesma espécie de camarão.<br />
Tabela 2. Rendimento dos nuggets de camarão recheado com queijo provolone.<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
ARTIGO<br />
59
Conclusões<br />
Ações no sentido de estimular o consumo<br />
de pescado devem ser promovidas para aumentar o<br />
consumo per capita e melhorar a qualidade de vida<br />
da população. Apesar dos fatores culturais e econômicos<br />
direcionarem o consumo de pescado em nível<br />
nacional, os principais fatores que influenciam são a<br />
indisponibilidade de produtos de valor agregado, em<br />
quantidade e qualidade e que sejam de fácil preparo.<br />
O aproveitamento da carne de camarão<br />
utilizado como matéria prima para elaboração de<br />
nuggets mostrou-se promissor no desenvolvimento de<br />
um novo produto com valor agregado, uma vez que o<br />
produto possui elevado valor nutricional e apresentou<br />
ótima aceitação sensorial.<br />
Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/artigos<br />
60<br />
ARTIGO<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
R<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
61
A rt i g o s pa r a cur t i r<br />
e compa rt i l h a r<br />
Apparent digestibility of nutrients, energy, essential amino acids and fatty<br />
acids of juvenile Atlantic salmon (Salmo salar L.) diets containing whole-cell<br />
or cell-ruptured Chlorella vulgaris meals at five dietary inclusion levels<br />
Os pesquisadores Sean M. Tibbetts, Jason<br />
Mann e André Dumas publicaram recentemente<br />
na revista <strong>Aquaculture</strong> (Amsterdã), Vol. 481 (01<br />
de dezembro de 2017), um interessante estudo<br />
reunindo o salmão, microalgas e nutrição!<br />
Segundo os autores, a Chlorella vulgaris, uma<br />
das microalgas mais investigadas em termos de<br />
aplicações biotecnológicas, jamais tinha sido<br />
avaliada como um potencial “low-trophic” ingrediente<br />
para o Salmão do Atlântico (Salmo salar<br />
L.).<br />
Os resultados do trabalho são bastante animadores,<br />
destacando-se, entre eles:<br />
A utilização da farinha de clorela de<br />
parede celular rompida não afetou o<br />
coeficiente de digestibilidade aparente<br />
para matéria seca quando inclusa até<br />
30%, proteína até 24% e lipídeo até 18%;<br />
A digestibilidade dos aminoácidos<br />
essenciais foi alta (83–95%) para<br />
a farinha de clorela de parede celular<br />
rompida (C. vulgaris);<br />
A inclusão da farinha de clorela de<br />
parede celular rompida aumentou a<br />
digestibilidade dos carboidratos e do<br />
amido em mais de 20%.<br />
62<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
C h a r g e s<br />
máximo aproveitamento<br />
wi-fi zone<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
63
BIOTECNOLOGIA DE ALGAS<br />
Metabolismo das<br />
microalgas – parte II<br />
Dr. Roberto Bianchini Derner<br />
Laboratório de Cultivo de Algas<br />
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)<br />
Florianópolis, SC<br />
roberto.derner@ufsc.br<br />
N<br />
a Coluna anterior (6ª <strong>Edição</strong>, Maio/Junho 2017)<br />
tratamos de alguns dos fatores ambientais que<br />
influenciam o crescimento das culturas de microalgas<br />
e, consequentemente, também implicam em<br />
variações na composição bioquímica da biomassa.<br />
Tais fatores podem ser definidos como inibitórios –<br />
que não permitem o desenvolvimento das microalgas;<br />
limitantes – que causam redução da taxa de crescimento<br />
(divisão celular) e/ou de alguma outra reação<br />
fisiológica; estressantes – aqueles que implicam num<br />
desequilíbrio metabólico, que demanda ajustes bioquímicos<br />
antes que as células possam estabelecer um<br />
novo estado de crescimento.<br />
Como todos os organismos vivos, as microalgas<br />
crescem satisfatoriamente considerando limites<br />
mínimos e máximos destes fatores, entretanto, algumas<br />
espécies podem se desenvolver em faixas muito<br />
amplas (água doce ou salgada, por exemplo), desde<br />
que exista um período de aclimatação. Além daqueles<br />
fatores apresentados na edição anterior (luz e nutrientes<br />
como carbono e nitrogênio), diversos outros nutrientes<br />
são necessários para o desenvolvimento das<br />
culturas de microalgas (fósforo, potássio, ferro, sódio,<br />
magnésio etc.), sendo que cada um tem papel fundamental<br />
e específico no metabolismo celular.<br />
Reconhecidamente, o silício (sílica ou silicato)<br />
é imprescindível para as diatomáceas, porém,<br />
quando em excessiva concentração pode causar redução<br />
da síntese de lipídios nestas microalgas, levando<br />
à redução do valor nutricional da biomassa<br />
para uso na alimentação de larvas de moluscos e de<br />
camarões, por exemplo. Outro fator ambiental importante<br />
é a temperatura, que além de influenciar a<br />
taxa metabólica, também pode causar alterações na<br />
© Roberto Bianchini Derner<br />
64<br />
COLUNA<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
natureza do metabolismo. Nas<br />
culturas, nem sempre a elevação<br />
da temperatura implica em maior<br />
crescimento, cabe esclarecer que<br />
algumas espécies crescem melhor<br />
em temperaturas mais amenas e,<br />
caso o crescimento seja favorecido,<br />
pode ocorrer aumento da cota<br />
celular, assim, maior cuidado será<br />
necessário em relação à concentração<br />
dos nutrientes, que podem<br />
se tornar limitantes num curto espaço<br />
de tempo.<br />
Quanto à natureza do<br />
metabolismo, alguns componentes<br />
celulares são sintetizados<br />
exclusivamente visando atender<br />
funções fisiológicas básicas/específicas,<br />
enquanto outros compostos<br />
estão associados ao metabolismo<br />
secundário. Tanto a<br />
temperatura, quanto o estado fisiológico<br />
das células microalgais,<br />
podem dirigir o metabolismo à<br />
síntese de lipídios que funcionam<br />
como componentes de membrana,<br />
produtos de reserva, metabólitos<br />
ou como fonte de energia.<br />
Assim, convém estudar<br />
o desenvolvimento das culturas<br />
em temperaturas adequadas ao<br />
produto esperado: PUFA, ácidos<br />
graxos saturados (para elaborar<br />
biodiesel, p. e.) etc. A agitação das<br />
culturas também tem papel determinante,<br />
uma vez que o movimento<br />
da água implica numa série<br />
de efeitos positivos: permite uma<br />
distribuição homogênea das células<br />
e dos nutrientes (prevenção de<br />
gradientes nutricionais e gasosos<br />
ao redor das células, que levam<br />
a restrições no crescimento);<br />
melhora na distribuição da luz<br />
(por célula); evita a sedimentação<br />
das células (zonas anaeróbicas);<br />
facilita a “entrada” de CO 2<br />
nas culturas.<br />
Para a agitação das culturas<br />
têm sido empregados agitadores<br />
de pás (paddle wheel), sendo também<br />
muito comum o emprego da<br />
injeção de ar pressurizado através<br />
de mangueiras e tubos perfurados<br />
dispostos no fundo dos tanques,<br />
fazendo com que as bolhas de ar<br />
criem um movimento ascendente<br />
e, consequentemente causem<br />
movimento da água. O tamanho<br />
das bolhas de ar é igualmente importante,<br />
mas este assunto será<br />
apresentado nas próximas edições.<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
65
Green Technologies<br />
O<br />
66<br />
Bioflocos:<br />
onde tudo começou?<br />
COLUNA<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
Dr. Maurício Gustavo Coelho Emerenciano<br />
UDESC, Laguna, SC<br />
mauricioemerenciano@hotmail.com<br />
interesse nos cultivos de bioflocos é crescente e a coluna<br />
“Green Technologies” desta edição discorre sobre a<br />
origem deste sistema. Não é incomum que produtores<br />
de longa data, iniciantes ou até mesmo futuros investidores<br />
do setor se questionem sobre os primórdios dos cultivos BFT.<br />
Afinal, onde tudo começou?<br />
Contrariando muitas hipóteses, os cultivos utilizando<br />
a tecnologia de bioflocos iniciaram na década de 70 na<br />
França, mais precisamente na Polinésia Francesa, em um centro<br />
de pesquisa chamado IFREMER, localizado na paradisíaca<br />
ilha do Taiti. Multinacionais norte-americanas em colaboração<br />
com o time francês chamado de AQUACOP aplicaram<br />
esta tecnologia para diversas espécies como o camarão tigre<br />
Penaeus monodon, camarão branco do Pacífico Litopenaeus<br />
vannamei e o camarão azul L. stylirostris, muito apreciado<br />
naquela região e pelo mercado francês.<br />
Os primeiros testes foram a nível de pesquisa no<br />
IFREMER (avaliando aspectos de engorda, microbiológicos e<br />
reprodutivos), mas também a nível comercial na ilha e em território<br />
norte-americano. Uma fazenda de destaque chama-se<br />
Sopomer, localizada no Taiti. Essa fazenda, com tanques de<br />
concreto de 1000 m², chegou a produzir 20-25 toneladas/ha/<br />
ano, um recorde para o setor naquele momento.<br />
Passados alguns anos, final da década de 80 e início<br />
dos anos 90, o Waddell Mariculture Center nos EUA (com<br />
camarões marinhos) e Instituto Tecnológico de Israel (com<br />
tilápias) também iniciaram suas pesquisas. Entre os motivos<br />
que impulsionaram as pesquisas naquelas regiões estão a<br />
limitação/custos de terras, questões ambientais e escassez de<br />
água. Em termos comerciais algumas merecidas considerações<br />
devem ser feitas. Além da Sopomer do Taiti, outro exemplo<br />
ímpar é a fazenda Belize <strong>Aquaculture</strong>, localizada em Belize,<br />
América Central. No início dos anos 2000 após investimento<br />
do Banco mundial na ordem de 150 milhões de dólares, a<br />
fazenda de camarões que operava no modelo tradicional foi<br />
toda transformada em uma fazenda de bioflocos com trocas<br />
de água limitada e toda recoberta com geomembrana. O<br />
sistema de aeração era misto composto por aeradores do tipo<br />
injetores e de pás, em viveiros com cerca de 1,6 ha com 1,2-<br />
1,5 m de profundidade.<br />
Algo inovador era o manejo microbiano utilizando<br />
melaço, “grain pellets” (ou pellets de grãos) e relação C:N alta<br />
para fomentar microrganismos heterotróficos. Este conceito<br />
logo se expandiu e fazendas na Tailândia, e posteriormente,<br />
Malásia, Indonésia, China e Vietnã iniciavam seus testes e<br />
aplicavam comercialmente o conceito BFT. Vale recordar<br />
que o conceito sobre manejo microbiano preconizado pelo<br />
sistema de bioflocos possui diversas variantes, o que originou<br />
atualmente diversas outras nomenclaturas como sistemas<br />
mixotróficos, entre outros. Hoje países como México, Equador,<br />
Peru e mais recentemente <strong>Brasil</strong> estão amplamente utilizando<br />
tal tecnologia em ao menos uma fase de produção de<br />
L. vannamei.<br />
Tratando-se de fazendas do tipo “indoor” (hiperintensivas<br />
em estufas) destaque para a fazenda<br />
chamada Marvesta, no nordeste americano.<br />
Fundada em 2002 a produção local de camarões<br />
tem um mercado certo: a alta gastronomia<br />
da vizinha cidade de Nova Iorque, EUA.<br />
Hoje este conceito se expande por todo EUA e<br />
também Europa.<br />
No <strong>Brasil</strong>, os primeiros impulsos foram<br />
dados no Rio Grande do Sul com tilápias e camarões.<br />
Um divisor de águas certamente foram<br />
os avanços realizados e divulgados pelo Projeto<br />
Camarão, liderados pelo pesquisador Wilson<br />
Wasielesky da Universidade Federal do Rio<br />
Grande (FURG). Os avanços em pesquisa impulsionaram<br />
pequenas fazendas naquele estado<br />
e posteriormente também em Santa Catarina.<br />
Logo após o sistema “ganhou asas” no nordeste<br />
brasileiro, bem como outras regiões como centro-oeste<br />
e sudeste que também vem aplicando<br />
o sistema em escala comercial.<br />
Devido a questões associadas a escassez de<br />
© Maurício Emerenciano<br />
Figura 1. Sistema de bioflocos no centro de pesquisa francês IFREMER, Taiti (A), Fazenda Sopomer, Taiti (B),<br />
Waddell Mariculture Center (C) e Israel (D).<br />
água, proximidade do mercado consumidor e/<br />
ou biossegurança algo é certo: muitas histórias<br />
ainda serão contadas sobre este sistema que<br />
certamente veio para ficar!
Empreendedorismo<br />
Aquícola<br />
Hora de virar o jogo<br />
André Camargo<br />
Escama Forte<br />
andre@escamaforte.com.br<br />
S<br />
empre soubemos que a grande reserva hídrica,<br />
a diversidade genética de nossas espécies de<br />
peixes, a alta produção de grãos e a vocação para o<br />
agronegócio são os pontos que mantem o <strong>Brasil</strong> como<br />
“potencial” produtor aquícola do mundo.<br />
Neste mesmo sentido, dois estados da<br />
federação, Mato Grosso e Tocantins, desprezando<br />
apenas a diversidade genética de suas bacias hidrográficas,<br />
surgem no cenário nacional como destaque<br />
devido à eminência de aprovação da criação de tilápia<br />
em suas águas.<br />
Estrategicamente sabemos da importância<br />
deste fato, pois dois estados com tamanha vocação podem<br />
dar a escala que sempre sonhamos para a tilapicultura<br />
nacional. Isso porque em suas águas quentes<br />
e de qualidade, estes dois estados tendem a melhorar<br />
os índices zootécnicos e assim trazer a tão sonhada<br />
competitividade à Tilápia do <strong>Brasil</strong>.<br />
Tal salto previsto demonstra o grande momento<br />
de nossa atividade no <strong>Brasil</strong>. Finalmente sinais<br />
de amadurecimento de uma cadeia<br />
produtiva passam a ser<br />
nossos destaques.<br />
Mostram ao <strong>Brasil</strong><br />
e ao mundo<br />
que nosso<br />
setor<br />
começa a ser uma atividade regularizada. Ao mesmo<br />
tempo, os entes públicos de licenciamento mostram<br />
maturidade para não mais deixar de licenciar por falta<br />
de conhecimento.<br />
Pensando por este lado, ninguém imaginava<br />
que o licenciamento ambiental seria protagonista<br />
deste novo momento da aquicultura do <strong>Brasil</strong> e do<br />
mundo. Ninguém imaginava que nossos potenciais<br />
estão mais próximos do que nunca de sua realização<br />
devido à clareza das normas de regularização dos empreendimentos.<br />
Pode ser que este momento entre para nossa<br />
história como grande ponto de inflexão de nosso<br />
crescimento, e assim, mostre à sociedade brasileira<br />
que a iniciativa privada organizada tem condições de<br />
mudar nossos rumos. Isso fica claro e é importante<br />
ser dito, se não fosse o trabalho de nossas associações,<br />
não estaríamos passando por isso. Fica aqui registrado<br />
os parabéns a PeixeBR, PeixeSP, Aquamat entre<br />
outras associações. Fica também os parabéns à Embrapa,<br />
entidade decisora em todo o agronegócio<br />
brasileiro e que agora participa também de<br />
forma ativa em nossa aquicultura.<br />
Esperamos estar cada vez<br />
mais próximos do fim do estigma<br />
de “eterno potencial” e<br />
de uma vez por todas<br />
mostrar porque viemos.<br />
© Jéssica Brol<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
COLUNA<br />
67
NUTRIÇÃO<br />
Modelo misto de alimentação em<br />
função da taxa de arraçoamento<br />
Dr. Artur Nishioka Rombenso<br />
Laboratório de Nutrição, Instituto de Oceanografia,<br />
Universidade Autônoma de Baja California, Ensenada, México.<br />
artur.nishioka@uabc.edu.mx<br />
Na coluna anterior apresentei o modelo<br />
misto de alimentação intercalando duas rações<br />
com diferentes conteúdos proteicos, uma com<br />
níveis mais altos de proteína e outra com níveis<br />
mais baixos. Hoje abordarei a outra vertente desse<br />
modelo, que muitos acreditam ser a melhor das<br />
opções, a qual consiste na variação da taxa de arraçoamento<br />
(quantidade de ração ofertada) diária<br />
entre uma alimentação otimizada (O = taxa de arraçoamento<br />
otimizada) e outra mais reduzida (B<br />
= taxa de arraçoamento baixa). Um recado para<br />
os leitores que não estão familiarizados com conceitos<br />
de regime alimentar (taxa de arraçoamento e<br />
frequência alimentar): não se preocupem, pois nas<br />
próximas colunas tratarei do assunto.<br />
Vou utilizar o mesmo estudo da coluna<br />
anterior como exemplo, mas agora com enfoque<br />
na variação da quantidade de alimento ofertada.<br />
Relembrando, esse experimento foi realizado<br />
com juvenis de tilápia de 40g, criados em viveiros<br />
semi-intensivos por 60 dias, alimentados diariamente<br />
com uma dieta de 33% de proteína bruta intercalando<br />
duas taxas de arraçoamento (O = 2,3%<br />
de biomassa por dia e B = 1,5% de biomassa por dia).<br />
No total, foram 9 tratamentos: O, B, 1O/1B, 2O/2B,<br />
3O/1B, 1O/3B, 3O/2B, 2O/3B e 3O/3B. O tratamento<br />
O indica alimentação com a taxa de arraçoamento<br />
O (otimizada) enquanto que o tratamento 1O/1B intercala<br />
um dia com taxa de arraçoamento O e um<br />
dia com taxa de arraçoamento B (baixa), e assim<br />
por diante.<br />
Os principais resultados são apresentados<br />
nas figuras 1 e 2. Assim como no experimento anterior,<br />
não observou-se diferença significativa em<br />
ganho de peso, porém, em termos de conversão<br />
alimentar aparente (CAA), peixes alimentados<br />
Figura 1. Ganho em peso e conversão alimentar aparente de juvenis de tilápia (40g) criados em viveiros semi-intensivos e alimentados<br />
com uma mesma dieta de 33% de proteína bruta, porém intercalando a taxa de arraçoamento (O = 2,3% de biomassa por dia e B = 1,5% de<br />
biomassa por dia), utilizando o modelo misto de alimentação (Patel e Yakupitiyage, 2003).<br />
68<br />
COLUNA<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
com o tratamento B (taxa de arraçoamento baixa)<br />
apresentaram um valor de CAA mais reduzido em<br />
relação aos demais tratamentos, com exceção do<br />
tratamento 2O/3B. Em termos de taxa de eficiência<br />
proteica (definida como a relação entre ganho em<br />
massa corporal por consumo proteico), os tratamentos<br />
com mais dias de alimentação com baixas<br />
taxas de arraçoamento (2B e 3B) foram mais eficientes<br />
em converter proteína da dieta em massa corporal.<br />
Porém, o mais interessante foi a combinação<br />
das taxas de arraçoamento, pois resultou em pontos<br />
positivos de ambas as taxas. Por exemplo, os tratamentos<br />
com mais dias de alimentação com taxas de<br />
arraçoamento otimizadas (2O e 3O) apresentaram<br />
maior crescimento ao custo de CAA mais elevada e<br />
menor eficiência proteica. Por outro lado, o oposto<br />
ocorreu com os tratamentos com mais dias de alimentação<br />
com baixas taxas de arraçoamento. Conclui-se<br />
que, nas condições experimentais apresentadas,<br />
o melhor modelo de alimentação misto foi em<br />
função da taxa de arraçoamento, principalmente<br />
devido à análise de viabilidade econômica, pois<br />
em muitos locais o preço das dietas com diferentes<br />
níveis de proteína são similares. Outro ponto favorável<br />
desse modelo está relacionado à logística,<br />
pois a existência de dois tipos de dietas pode dificultar<br />
a compra, armazenamento e organização dos<br />
alimentos, resultando na oferta de alimento equivocado.<br />
Espero ter esclarecido os conceitos básicos<br />
do modelo misto de alimentação. Ressalto que<br />
existe muito material sobre o assunto, inclusive na<br />
fase de larvicultura de peixes de água doce. Assim,<br />
tire proveito desses e outros conceitos existentes e<br />
otimize o modelo de alimentação de sua fazenda,<br />
maximizando seus ganhos de forma eficiente e com<br />
menor impacto ambiental.<br />
Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/colunas<br />
Figura 2. Taxa de eficiência proteica (ganho em massa corporal pelo consumo proteico) de juvenis de tilápia (40g) criados em viveiros<br />
semi-intensivos e alimentados com uma mesma dieta de 33% de proteína bruta, porém intercalando a taxa de arraçoamento (O = 2,3% de<br />
biomassa por dia e B = 1,5% de biomassa por dia), utilizando o modelo misto de alimentação (Patel e Yakupitiyage 2003).<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
COLUNA<br />
69
Convivendo com a Mancha Branca:<br />
150<br />
A carcinicultura brasileira encontra-se em fase de<br />
transição para um novo momento:<br />
economicamente viável, ambientalmente correta<br />
e socialmente justa.<br />
A<br />
fase mais crítica já passou. Inquestionavelmente,<br />
deixou algumas cicatrizes. No entanto, conforme consenso<br />
entre alguns especialistas, “foi um mal que veio<br />
para o bem”. Opinião a qual este colunista pactua. E vou<br />
além: é o início de uma nova fase na carcinicultura brasileira.<br />
Com alguns diferenciais: mais profissional, mais<br />
tecnificada e o mais importante, absurdamente sustentável.<br />
Sim meus amigos, sinto-me confortável para afirmar<br />
que a produção de camarão marinho no Nordeste do<br />
<strong>Brasil</strong> esta caminhando, a largos passos, rumo a produção<br />
de proteína animal mais eficiente do mundo. Digo isto<br />
com o olhar de um profissional da produção animal imbuído<br />
da nobre missão de encontrar soluções para atender<br />
parte da crescente demanda por alimentos mundo afora. E<br />
convencido que o <strong>Brasil</strong> será, se já não é, o principal player<br />
deste desafio.<br />
E tem mais coisa interessante envolvida nesta nova<br />
fase da carcinicultura brasileira. A tilápia! Sim, criação de<br />
camarão marinho integrado com tilápia. Seja nos sistemas<br />
intensivos ou extensivos a tilápia tem sido decisiva<br />
para convivência com a mancha branca. Mas pensando na<br />
tilápia, tal produção integrada só seria viável em fazendas<br />
com baixa salinidade? Não. Até 38 – 40 de salinidade, a<br />
valente tilápia tem se saído bem!<br />
E o que significa 150? Significa os<br />
extremos no que se refere às densidades de povoamento.<br />
Há forte tendência de não mais haver criações com 20, 30<br />
ou 40 camarões por m 2 . Exceto algumas fazendas em específico,<br />
o que se tem observado no campo são criações<br />
extensivas com até 10 camarões por m 2 ou os intensivos e<br />
superintensivos com mais de 150 por m 2 (tecnicamente o<br />
mais correto seria m 3 , mas por enquanto tem se usado m 2 ).<br />
Em alguns caso, até 400 camarões por m 2 .<br />
Investir em sistemas extensivos, ou seja, com baixa<br />
densidade de estocagem, não significa abrir mão de tecnificação.<br />
Estabilidade do ambiente de criação, seja extensivo<br />
ou intensivo, é palavra de ordem. E aí, acompanhamento<br />
dos parâmetros de qualidade de água, aeração adicional e<br />
© Fábio Sussel<br />
Figura 1. Tilápia criada em salinidade 18 no Sistema AquaScience/<br />
Camanor<br />
reutilização da água estão sendo imperativos, mesmo nos<br />
sistemas com pouco camarão por m 2 .<br />
Enquanto que nos sistemas intensivos, onde estamos<br />
nos referindo a viveiros com fundo revestido e cobertos<br />
com sombrite ou plástico, os mesmos cuidados citados<br />
para o sistema extensivo são necessários. Porém, com um<br />
adicional: backup do backup! Ou seja, o monitoramento<br />
full time do pleno funcionamento dos equipamentos,<br />
sopradores e aeradores principalmente, é imprescindível.<br />
Via de regra, 10 minutos de pane elétrica pode ser o suficiente<br />
para colocar a tal estabilidade dos sistemas intensivos<br />
em risco.<br />
Ainda relacionado há determinados sistemas intensivos<br />
(existem vários) é importante destacar que alguns<br />
ajustes ainda se fazem necessários. Diria que não<br />
estão completamente dominados. Falta repetibilidade nos<br />
70<br />
COLUNA<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
ATUALIDADES & TENDÊNCIAS<br />
NA AQUICULTURA<br />
Fábio Rosa Sussel - Zootecnista, Dr.;<br />
Pesquisador científico da Apta - UPD<br />
Pirassununga, SP.<br />
sussel@apta.sp.gov.br<br />
resultados. Ao menos 5 ou 6 resultados positivos, sem<br />
ter que antecipar despesca para evitar mortandades,<br />
seria o ideal para afirmar que aquele sistema intensivo<br />
foi dominado. E isto é específico pra cada fazenda e pra<br />
cada módulo ou viveiro dentro de uma mesma área.<br />
Fatores como salinidade, temperatura, adoção de boas<br />
práticas de manejo, quantidade e nível de patógenos presentes,<br />
são decisivos para a manutenção do bem estar<br />
dos camarões. Então, protocolos que estão dando certo<br />
em determinada fazenda, não necessariamente darão<br />
certo em outra. Servem de referência, mas ajustes locais<br />
são necessários.<br />
Falando em bem estar animal, esta seria a segunda<br />
palavra de ordem. Até porque, a estabilidade do<br />
sistema possui efeito direto sobre o bem estar dos animais<br />
aquáticos. Seja para aqueles que estamos criando<br />
em si ou para os microrganismos benéficos ao sistema.<br />
E aí o elemento chave para a manutenção desta estabilidade<br />
chama-se: OXIGÊNIO. Sem sombra de dúvidas<br />
© Fábio Sussel<br />
Figura 2. Criação em sistema protegido e uso constante de aeração.<br />
este elemento tem poder de operar verdadeiros “milagres”<br />
nos sistemas aquícolas. Contrariando um pouco<br />
ao ensinado nas grades curriculares dos cursos afins,<br />
água de cultivo tem sim que voltar para o sistema. Pois,<br />
é esta água rica em nutrientes que, após ter sido devidamente<br />
oxigenada, dará estabilidade ao sistema.<br />
Reforçando a importância do oxigênio, tem<br />
se observado que: na presença de oxigênio as reações<br />
de oxidação, estabilidade do pH e a transformação de<br />
matéria orgânica em nutrientes desejáveis para o ambiente<br />
ocorrem em harmonia, proporcionando condições<br />
favoráveis para as produções intensivas. Enquanto que<br />
a ausência de oxigênio implica em oscilações de pH,<br />
decomposição anaeróbica da matéria orgânica que, por<br />
consequência, produção de gás sulfídrico e metano, implicando<br />
em completa desestabilidade do sistema.<br />
Lógico que nada disso seria possível sem as bactérias<br />
nitrificantes. Neste caso, aí está outra tecnologia<br />
que não podemos abrir mão: uso constante de probióticos.<br />
Em resumo: água rica em nutrientes + alta população<br />
de bactérias + oxigênio = estabilidade do sistema.<br />
Consequentemente: bem estar dos animais. Simples?<br />
Não! Nem na teoria e muito menos na prática. Porém,<br />
possível. E este é o caminho, este deve ser o entendimento.<br />
Seja para sistemas extensivos ou intensivos.<br />
Conforme já comentado, os modelos produtivos<br />
ainda não estão completamente formatados. Enquanto<br />
alguns precisam ajustar para ter repetibilidade, outros já<br />
se encontram mais avançados e buscam maior eficiência.<br />
Mas uma coisa é certa e volto a afirmar: estamos muito<br />
próximos da forma mais eficiente de se produzir proteína<br />
animal no mundo. Recheada de conceitos modernos:<br />
produção intensiva com sustentabilidade ambiental,<br />
viável economicamente tanto para o grande quanto para<br />
o pequeno, socialmente justa, pois, ao gerar emprego e<br />
renda contribui para o desenvolvimento regional, produção<br />
de proteína nobre e com alto valor agregado em<br />
áreas que, até então, não se explorava para nenhuma<br />
outra forma de produção de alimentos, seja animal ou<br />
vegetal.<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
COLUNA<br />
71
Aquicultura de Precisão<br />
A precisão das cores<br />
Dr. Eduardo Gomes Sanches - Instituto de Pesca de São Paulo, Ubatuba, SP<br />
esanches@pesca.sp..gov.br<br />
N<br />
esta coluna sempre tratamos da aquicultura de precisão,<br />
falando de equipamentos e tecnologia, só que<br />
desta vez vamos falar de outro viés da precisão. Estivemos<br />
no final do mês de (maio) em Atibaia/SP, visitando a 36 a<br />
Exposição <strong>Brasil</strong>eira de Nishikigoi. Antes que se perguntem<br />
o que é isto, deixem-me explicar o que são nishikigois.<br />
Nishikigois? São as carpas coloridas? Caro leitor,<br />
isto dito a um criador (como nosso amigo André Camargo,<br />
colunista da <strong>Aquaculture</strong> <strong>Brasil</strong>) pode soar como ofensa.<br />
Nishikigois (Nishiki = êxito na vida + Koi = carpa) são<br />
carpas selecionadas ao longo de muitos anos exibindo padrões<br />
de cores que as permitem ser divididas em diferentes<br />
variedades. As quatro principais são: Kohaku (base branca<br />
com estampas vermelhas), Taisho (base branca com<br />
estampa vermelha e preta, além de apresentar listras pretas<br />
nas nadadeiras peitorais), Showa (base preta com estampa<br />
branca e vermelha devendo possuir uma estampa preta na<br />
base das nadadeiras peitorais) e Utsurimono (base preta e<br />
estampa branca ou vermelha, devendo possuir base da cor<br />
da estampa nas nadadeiras peitorais). Mas existe um total de<br />
20 variedades reconhecidas.<br />
O evento foi promovido pela Associação <strong>Brasil</strong>eira<br />
de Nishikigoi, entidade que congrega os criadores desta<br />
espécie. Aliás, esta associação foi fundada em 10 de setembro<br />
de 1978 representando nosso país na renomada entidade<br />
ZNA (Zen Nippon Airinkai), que reúne todas as associações<br />
de diversos países. A credibilidade desta associação é motivo<br />
de orgulho para todos que trabalham com aquicultura no<br />
<strong>Brasil</strong>. Seu atual presidente, André Palumbo, é um gentleman<br />
de carteirinha, atendendo a todos com atenção e cortesia.<br />
Segundo a associação, no <strong>Brasil</strong> temos exemplares<br />
de Nishikigoi em vários órgãos públicos tais como o Palácio<br />
do Planalto em Brasília e no Pavilhão Japonês no Parque<br />
do Ibirapuera em São Paulo. Esses Nishikigois foram trazidos<br />
diretamente do Japão e presenteados às autoridades<br />
brasileiras, sendo soltos nos lagos em cerimônias especiais,<br />
como símbolo de amizade e intercâmbio entre o Japão e o<br />
<strong>Brasil</strong>.<br />
Um pouquinho de história... As carpas tem sua<br />
origem reconhecida na Pérsia chegando ao Japão através<br />
da China. No ano de 538 a.C., por ocasião do nascimento<br />
do primeiro filho de Confúcio, o Rei Shoko do Ro presenteou<br />
o sábio com uma carpa que recebeu o nome de “Koi”,<br />
pelo qual passaram a ser conhecidas. O Nishikigoi passou<br />
a ser conhecido no <strong>Brasil</strong> através da dedicação de Saburo<br />
Furukubo, que por volta de 1960, com a orientação de Takahiro<br />
Yabe, começou sua criação em Atibaia, SP.<br />
Em 20 de julho de 1975 foi realizada a 1 a Exposição<br />
de Nishikigoi no <strong>Brasil</strong>. O julgamento dos nishikigois é feito<br />
separadamente por tamanho e variedade de cores. São selecionados<br />
os três primeiros lugares de cada classe, procedendo-se<br />
a seleção dos Campeões e Vice-Campeões de cada BU<br />
(divisão por tamanho), do Campeão Juvenil, o melhor até 45<br />
BU e do Campeão Geral. A divisão por tamanho (BU) pode<br />
ser vista na tabela 1.<br />
Várias empresas prestigiaram o evento este ano, ex-<br />
Tabela 1. Divisão por tamanho (BU) utilizada para o julgamento dos nishikigois.<br />
BU<br />
Comprimento (cm)<br />
15 Até 15<br />
20 15,1 a 20<br />
25 20,1 a 25<br />
30 25,1 a 30<br />
35 30,1 a 35<br />
40 35,1 a 40<br />
45 40,1 a 45<br />
55 45,1 a 55<br />
65 55,1 a 65<br />
75 65,1 a 75<br />
Jumbo<br />
superior a 75 cm<br />
72<br />
COLUNA<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
© Eduardo Sanches<br />
Figura 1. Da esquerda para a direita, Mario Porto, Eduardo Sanches, Silvio Romero<br />
e André Camargo.<br />
pondo seus produtos e serviços, o que tornou a exposição<br />
um evento bem interessante para se atualizar em relação<br />
às novidades do setor. Afinal, a aquicultura ornamental<br />
movimenta um importante nicho de mercado. Impressionante<br />
a diversidade de rações para Nishikigoi com os<br />
fabricantes apresentando produtos<br />
que fariam inveja até ao mais<br />
exigente criador de tilápias ou<br />
pintados.<br />
As diferentes variedades<br />
de Nishikigois, expostas em tanques<br />
circulares com água límpida,<br />
exibiam suas cores e estampas,<br />
chamando a atenção desde<br />
os especialistas até das crianças<br />
que se maravilhavam com os<br />
peixes. Um capítulo à parte foi<br />
a cerimônia de premiação. Um<br />
merecido reconhecimento aos<br />
que se empenham em criar e<br />
manter exemplares de ímpar<br />
beleza. A precisão nas cores,<br />
estampas, e a harmonia na distribuição<br />
do colorido ao longo<br />
do corpo dos exemplares me<br />
fizeram refletir sobre o quanto<br />
da precisão compõe este ramo<br />
da aquicultura.<br />
alegria ver o sucesso dos mesmos. Um destaque para o<br />
criador do Rio de Janeiro, Mario Porto, companheiro de<br />
aquicultura que eu não via há mais de dez anos e fiquei<br />
emocionado quando um dos seus peixes foi premiado. E<br />
por sinal, o André Camargo também teve alguns de seus<br />
peixes premiados. O evento ainda teve uma apresentação<br />
de Taikô (apresentação conjunta de diferentes tambores)<br />
que chamou a atenção da plateia pelo ritmo e habilidade<br />
dos artistas. E quem acha que um evento deste não tem<br />
muito público, está muito enganado. Pelas fotos dá para<br />
ver que este evento reúne produção, entretenimento e<br />
lazer, trazendo um público bem diversificado.<br />
Finalizando, foi um excelente programa que<br />
nos proporcionou muito conhecimento e reflexão. Não<br />
podemos restringir o conceito de aquicultura de precisão<br />
apenas a equipamentos e tecnologias. Tem muita precisão<br />
nos organismos produzidos pela aquicultura no <strong>Brasil</strong>.<br />
Até a próxima coluna.<br />
Pudemos também encontrar<br />
velhos amigos e com<br />
Figura 2. Nishikigois premiados.<br />
© Eduardo Sanches<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
73
Aquicultura<br />
Latino-americana<br />
Situação atual e desenvolvimento<br />
tecnológico da piscicultura<br />
Amazônica Peruana<br />
Guillermo Alvarez¹,², Leonidas Mulluhara¹, Juan Ramón Esquivel Garciac³ e Rodolfo<br />
Petersen<br />
¹ Bioaqual S.A.C. Lima – Perú. galvarez@bioaqual.com, www.bioaqual.com<br />
² Laboratorio de Biología Acuática y Acuicultura – Facultad de CC. BB. UNMSM<br />
³ Piscicultura Panamá (Paulo Lopes, SC, <strong>Brasil</strong>)<br />
Dr. Rodolfo Luís Petersen<br />
Universidade Federal do Paraná<br />
(UFPR), Pontal, PR.<br />
rodolfopetersen@hotmail.com<br />
Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/colunas<br />
O<br />
crescimento da aquicultura no Peru tem sido constante<br />
e significativo nos últimos 15 anos. Conforme dados<br />
oficiais, passou de 7.539 toneladas produzidas no ano<br />
de 2001 para 98.691 toneladas em 2016. Deste total, 70 a 80%<br />
correspondiam a produção de recursos marinhos. Entretanto,<br />
nos últimos três anos houve um equilíbrio na produção<br />
em relação aos recursos continentais, chegando a 50% cada,<br />
aproximadamente, sem considerar os volumes de produção<br />
informal que não são registrados oficialmente e podem atingir<br />
de 15 a 20% da produção atual.<br />
As espécies marinhas produzidas pela aquicultura<br />
são principalmente o camarão branco do Pacífico (Litopenaeus<br />
vannamei) e a “concha de abanico” (Argopecten purpuratus).<br />
Já a produção continental é liderada pela Truta (Oncorhynchus<br />
mikiss), representando aproximadamente 90%.<br />
As espécies de peixes nativos amazônicos ainda<br />
não têm uma presença significativa no cenário de produção<br />
aquícola nacional peruana. No ano de 2016, a produção foi<br />
liderada pela Tambaqui (Colossoma macropomum), com<br />
1.863t e pelo Pacu (Piaractus brachypomus), com 1.390t<br />
produzidas, seguido de “Boquichico” (Prochilodus nigricans).<br />
Por outro lado, destaca-se que nos últimos anos têm<br />
surgido espécies com um potencial de crescimento aquícola<br />
ainda maior. Atualmente, a demanda destas espécies é coberta<br />
principalmente pela pesca, destacando-se a “Doncella”<br />
(Pseudoplatystoma fasciatum), 719t em 2015, “Sábalo” (Brycon<br />
cephalus), 1.775t em 2015, “Zungaro” (Zungaro zungaro),<br />
2.164t em 2015 e o Pirarucu (Arapaima gigas) com 1.091<br />
toneladas em 2015 pela pesca e 142t produzidas pela aquicultura.<br />
Tabela 1. Produção de espécies nativas amazônicas pela aquicultura peruana<br />
(PRODUCE, 2016).<br />
De forma geral, podemos assegurar que a região<br />
amazônica peruana destaca-se pela existência de diversas espécies<br />
nativas com potencial produtivo, uma alta demanda de<br />
pescado a nível local, existência de terrenos adequados para<br />
o cultivo, clima estável e disponibilidade de água. Contudo,<br />
estas vantagens não estão sendo exploradas na sua totalidade.<br />
O desenvolvimento aquícola das regiões amazônicas<br />
tem sido guiado pela intervenção do estado através de pesquisas<br />
e processos de experimentação realizados pelo IIAP, FON-<br />
DEPES e o IVITA. O avanço alcançado pelas instituições tem<br />
sido significativo na reprodução e cultivo de Tambaqui, Pacu<br />
e “Boquichico”. Nos últimos anos houve uma intensificação<br />
da utilização destas espécies já que a produção de alevinos<br />
está sendo realizada pelos próprios produtores. Esta ação vem<br />
refletindo no aumento dos níveis de produção, porém é importante<br />
destacar que a oferta de alevinos ainda é insuficiente.<br />
Resultados importantes com pesquisas sobre cultivo<br />
e reprodução estão sendo alcançados com os peixes nativos,<br />
como o Pirarucu, “Zungaro” e “Doncella”. Para esta última<br />
espécie tem se obtido a tecnologia de produção de alevinos<br />
em condições controladas através do esforço em conjunto das<br />
empresas BIOAQUAL e PISCICULTURA PANAMÁ (<strong>Brasil</strong>),<br />
em colaboração com UNMSM e a UNISUL, com financiamento<br />
compartilhado da INNOVATE.<br />
Mesmo com o cenário promissor apresentado pela<br />
piscicultura na Amazônia peruana, ainda há várias espécies<br />
de maior demanda e com potencial que se encontram em um<br />
estado de pesquisa básica. A tecnologia de produção massiva<br />
de alevinos continua sendo uma limitante. Outros aspectos<br />
também requerem atenção para serem superados, necessitando<br />
de maiores estudos. Entre eles podemos destacar a<br />
melhoria das técnicas utilizadas nos processos de produção,<br />
uma vez que na maioria dos municípios ainda se praticam<br />
processos artesanais. A maior parte da ração fornecida e utilizada<br />
comercialmente está sendo formulada principalmente<br />
para Gamitana. Para as espécies potenciais e emergentes o<br />
que se têm são apenas dietas experimentais.<br />
A piscicultura de espécies nativas amazônicas constitui<br />
uma grande alternativa afim de diminuir a pressão extrativa,<br />
contribuir com a geração de empregos de forma direta<br />
e indireta e para o desenvolvimento de processos produtivos<br />
sustentáveis sem afetar a biodiversidade nacional. Assim, se<br />
destaca como uma excelente oportunidade econômica para a<br />
iniciativa privada peruana.<br />
74<br />
COLUNA<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
Piscicultura Marinha<br />
A importância do zooplâncton na<br />
larvicultura de peixes marinhos<br />
Dr. Ricardo Vieira Rodrigues<br />
Estação Marinha de Aquicultura (EMA)<br />
Universidade Federal do Rio Grande (FURG)<br />
vr.ricardo@gmail.com<br />
A<br />
larvicultura de peixes marinhos é um dos principais<br />
gargalos para a produção em larga escala de juvenis,<br />
e isso é devido ao diminuto tamanho das larvas. A<br />
grande maioria das espécies de peixes marinhos produzidas<br />
são desovantes pelágicos e as larvas são altriciais com<br />
tamanho geralmente inferior a 2mm. O primeiro alimento<br />
dessas larvas é o vitelo e posteriormente passa ao alimento<br />
exógeno após a abertura da boca, que é o zooplâncton.<br />
Dessa forma, a disponibilidade e a qualidade nutricional do<br />
zooplâncton é essencial para o sucesso da larvicultura.<br />
Existem basicamente dois grupos de zooplâncton<br />
que são amplamente utilizados para larvicultura de peixes<br />
marinhos, os rotíferos e as artêmias. O rotífero é o primeiro<br />
alimento vivo empregado na alimentação de larvas e a espécie<br />
mais utilizada é Brachionus plicatilis. Após um período<br />
de coalimentação de alguns dias com os rotíferos, a Artemia<br />
sp. é o segundo zooplâncton oferecido antes das larvas<br />
receberem alimento inerte. As artêmias são geralmente<br />
comercializadas na forma de cistos e os náuplios recém<br />
eclodidos possuem aproximadamente (450µm).<br />
A simplicidade na produção de rotíferos e a fácil<br />
aquisição e eclosão dos cistos de artêmia possibilitam a ampla<br />
utilização desses dois grupos de zooplâncton para aquicultura<br />
intensiva. Contudo, uma característica inerente aos<br />
dois grupos é que nutricionalmente ambos não são os mais<br />
adequados para alimentação de larvas de peixes marinhos,<br />
pois são deficientes em ácidos graxos altamente insaturados<br />
(AGAI) e alguns minerais e vitaminas. Para minimizar<br />
os problemas nutricionais desses grupos de zooplâncton<br />
a bioencapsulação ou enriquecimento são essenciais para<br />
a nutrição das larvas de peixes marinhos, aumentando o<br />
manejo e o custo de produção final com o zooplâncton.<br />
Dessa forma, a busca por novos grupos de<br />
zooplâncton que<br />
© Ricardo Vieira Rodrigues<br />
possam ser produzidos<br />
de forma massiva<br />
a um custo adequado<br />
são recorrentes<br />
a décadas. Nesse<br />
Figura 1. Fêmea ovada de rotífero Brachionus plicatis.<br />
sentido, principalmente<br />
a produção<br />
de copépodes vêm<br />
sendo avaliada. Os<br />
copépodes são ricos<br />
em AGAI, os<br />
náuplios possuem<br />
© Ricardo Vieira Rodrigues<br />
Figura 2. Náuplio de artêmia.<br />
um diminuto tamanho (~100µm) e demonstram excelentes<br />
resultados quando empregados na alimentação de larvas de<br />
peixes marinhos. Então, porque os copépodes não são utilizados<br />
de forma massiva?<br />
De forma geral, os copépodes possuem três fases de<br />
desenvolvimento, os náuplios (6 estágios), os copepoditos<br />
(6 estágios) e os adultos. Essas várias fases de desenvolvimento<br />
implicam em organismos de diferentes tamanhos<br />
que precisam ser separados para serem ofertados as larvas,<br />
pois uma larva no início de sua alimentação irá predar apenas<br />
os náuplios. Os copépodes precisam ser alimentados<br />
com mais de uma espécie de fitoplâncton para sua produção<br />
adequada, o que aumenta os custos e o manejo de<br />
sua produção. E o principal problema é uma inconstância<br />
na sua produção.<br />
Concluindo, o zooplâncton é essencial para a<br />
alimentação de larvas de peixes marinhos. Os rotíferos e as<br />
artêmias são amplamente utilizados e é possível produzir<br />
juvenis graças a esses grupos que são mundialmente empregados.<br />
Os copépodes são uma alternativa de elevada<br />
qualidade nutricional e os seus náuplios possuem um tamanho<br />
pequeno, podendo ser empregados para larvas de<br />
diminuto tamanho. Os copépodes vêm ganhando espaço,<br />
principalmente para larvicultura de peixes marinhos ornamentais.<br />
A Acartia tonsa e Tisbe sp. são espécies estudas<br />
no <strong>Brasil</strong> e que podem surpreender no futuro. Vamos<br />
aguardar!!<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
COLUNA<br />
75
Recirculating <strong>Aquaculture</strong> Systems<br />
INTRODUÇÃO A<br />
DESINFECÇÃO POR UV-C<br />
Dr. Marcelo Shei<br />
Altamar Equipamentos e Sistemas Aquáticos<br />
shei@altamar.com.br<br />
www.altamar.com.br<br />
O QUE É DESINFECÇÃO?<br />
Desinfecção pode ser descrita como a redução<br />
de microrganismos como bactérias, vírus,<br />
fungos e parasitas a uma determinada concentração.<br />
É bastante comum encontrar indicações<br />
para esterilização, que consiste na eliminação de<br />
todos os microrganismos da água. Em aquicultura,<br />
a meta é conseguir reduzir o risco da transferência<br />
de uma doença infecciosa através da água, para um<br />
nível aceitável, ou seja, a desinfecção.<br />
Outro ponto a ser considerado é o nível<br />
de inativação ou remoção desses microrganismos.<br />
Normalmente, trabalha-se com uma expectativa<br />
de redução entre 99 e 99,99% do total de microrganismos.<br />
Esse termo não indica a quantidade<br />
de organismos restantes, mas sim a quantidade<br />
reduzida da concentração inicial.<br />
LUZ UV-C<br />
A luz ultravioleta é uma radiação eletromagnética<br />
com um comprimento de onda de 1-400<br />
nanômetros. A habilidade da luz UV de inativar e<br />
destruir microrganismos varia com o comprimento<br />
de onda e com o microrganismo a ser inativado.<br />
O comprimento de onda mais eficiente para desinfecção<br />
está entre 250 -270 nm, localizado na banda<br />
C. A Luz UV irá danificar o material genético<br />
(DNA e ou RNA) dos microrganismos através da<br />
destruição das cadeias, que resultará em inativação<br />
e morte dos organismos.<br />
A dose de radiação é dada em μWs/cm²<br />
(microwatt por segundo por centímetro quadrado),<br />
que é a intensidade de radiação por unidade de<br />
área. É possível encontrar a dose requerida para a<br />
inativação de diversos organismos que afeta a produção<br />
de pescado. De forma geral, vírus e bactérias<br />
necessitam de doses entre 2.000 e 10.000 μWs/<br />
cm² para inativar 90% dos organismos; fungos demandam<br />
doses entre 10.000 a 100.000 e parasitas<br />
pequenos, doses de 50.000 a 200.000 μWs/cm².<br />
Muitas instalações possuem equipamentos<br />
de desinfecção por UV-C, mas continuam apresentando<br />
queixas antigas, relacionadas a baixa<br />
eficiência e ocorrência de patógenos facilmente<br />
tratáveis. Normalmente esses problemas ocorrem<br />
por uma má seleção do equipamento. A grande<br />
maioria dos equipamentos disponíveis no <strong>Brasil</strong> não<br />
descreve a capacidade dos seus equipamentos pela<br />
dose, o que deveria ser obrigatório. Normalmente<br />
são apresentados diferentes potências de lâmpadas<br />
“x” por uma determinada vazão de água, ou pior<br />
ainda, por um volume, sem qualquer menção a dose<br />
aplicada. Com isso, muitos sistemas operam com<br />
doses desconhecidas e abaixo do necessário para a<br />
inativação do microrganismo alvo.<br />
O uso combinado de um bom filtro mecânico<br />
para a remoção de sólidos e matéria orgânica, irá<br />
deixar a água com maior transmitância e uma carga<br />
bacteriana mais baixa, otimizando o uso do sistema<br />
de desinfecção UV-C.<br />
A Altamar possui uma linha exclusiva de<br />
equipamentos de desinfeção UV-C para aquicultura<br />
que podem ser facilmente dimensionados para<br />
atender diversas vazões em diferentes exigências de<br />
doses, podendo ser utilizados de forma segura em<br />
sistemas de abastecimento ou recirculação de água.<br />
© Altamar<br />
76<br />
COLUNA<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
SANIDADE<br />
Critérios para seleção de<br />
fornecedores de alevinos<br />
Dr. Santiago Benites de<br />
Pádua<br />
AQUIVET Saúde Aquática,<br />
São José do Rio Preto, SP.<br />
A principal forma<br />
de disseminação<br />
e dispersão de<br />
doenças entre<br />
diferentes pisciculturas<br />
é a partir<br />
da introdução de<br />
animais portadores de patógenos diversos. A ocorrência<br />
de perdas relacionadas à mortalidade, ou diminuição do<br />
desempenho produtivo decorrentes de infecções crônicas<br />
estabelecidas desde as fases iniciais de criação, certamente<br />
dependerá dos fatores de riscos e desafios durante<br />
o ciclo de crescimento e engorda. Contudo, a estocagem<br />
de animais livres de doenças torna-se um pré-requisito<br />
muito importante para obtermos um ciclo de resultados<br />
produtivos, rentáveis e com mínimo impacto sobre o<br />
ambiente a partir de intervenções medicamentosas.<br />
No entanto, a seleção de fornecedores de formas<br />
jovens muitas vezes é realizada sem a utilização de<br />
critérios técnicos. Para tanto, torna-se necessário uma<br />
Coleta de ovos vs<br />
01<br />
coleta de nuvens:<br />
Entre os fornecedores de<br />
formas jovens, especialmente<br />
no caso da tilapicultura, podem<br />
utilizar a coleta de nuvens de larvas nos<br />
viveiros das matrizes (que por sua vez ficam<br />
soltas), ou então realizar a coleta de ovos na<br />
boca das matrizes (geralmente mantidas em<br />
hapas). Mas existe diferença sobre a sanidade<br />
dos alevinos de acordo com o modelo<br />
utilizado? Sim, e grande. As matrizes e reprodutores<br />
tornam-se as principais fontes de<br />
contaminação para a prole, portanto, quanto<br />
maior o tempo de contato entre estes, maior<br />
será a exposição à patógenos de importância<br />
para a piscicultura. Optar por fornecedores<br />
que realizam coleta e incubação de ovos é<br />
um ponto importante que proporciona maior<br />
controle sanitário desde a etapa de larvicultura,<br />
bem como reflete sobre a taxa de masculinização,<br />
uma vez que se sabe o dia de<br />
eclosão, e a oferta da dieta com hormônio é<br />
realizada no período certo, o que já não pode<br />
ser garantido para quem realiza coleta de<br />
nuvens, mesmo utilizando a classificação de<br />
larvas.<br />
02<br />
Outros fatores são importantes na seleção de fornecedores<br />
de alevinos, no entanto, os critérios aqui apresentados<br />
são princípios básicos, que trazem ganhos para<br />
avaliação entre diferentes modelos utilizados na produção<br />
de alevinos para estabelecer uma relação de confiança<br />
focada em seguridade entre fornecedor e comprador,<br />
com ganho real para o setor. Entre os pontos que<br />
devemos avaliar, listo os seguintes:<br />
Desinfecção de ovos:<br />
Sabendo que matrizes<br />
e reprodutores são capazes<br />
de transmitir patógenos para<br />
a prole, torna-se fundamental a utilização<br />
de uma barreira sanitária nesta etapa,<br />
com o objetivo de impedir a circulação de<br />
doenças para a próxima fase de criação,<br />
que é a larvicultura. Como o ovo possui<br />
uma membrana externa de proteção,<br />
denominado de córion, que tolera uma<br />
série de produtos desinfetantes (ex.:<br />
Cloramina-T) e permite a eliminação da<br />
contaminação superficial decorrente do<br />
contato direto com matrizes e reprodutores.<br />
Portanto, o uso de técnicas de<br />
desinfecção de ovos permite um controle<br />
sanitário superior quando comparado com<br />
àqueles que não a realizam, impactando<br />
desde a taxa de eclosão dos ovos, bem<br />
como na sobrevivência durante a etapa<br />
de masculinização, com a eliminação de<br />
parasitos tais como vermes monogenéticos,<br />
Trichodina, entre outros.<br />
03<br />
© Santiago de Pádua<br />
All in/all out:<br />
O termo All in/all<br />
out se refere ao vazio<br />
sanitário que deve ser<br />
realizado entre cada etapa de criação,<br />
inclusive no sistema de incubação de<br />
ovos, larvicultura, masculinização, bem<br />
como durante as fases de crescimento<br />
e engorda quando realizadas em viveiros<br />
escavados. Aliado ao vazio sanitário,<br />
torna-se fundamental realizar a limpeza<br />
e desinfecção das estruturas utilizadas,<br />
de forma a garantir a inocuidade do<br />
ambiente de criação para o próximo lote<br />
de ovos ou larvas que forem estocados.<br />
Caso seja implementado o vazio sanitário<br />
sem a realização dos procedimentos<br />
de limpeza e desinfecção das estruturas,<br />
sua funcionalidade deixa de existir. Para<br />
as etapas de crescimento e engorda<br />
realizadas nos tanques-rede instalados<br />
em reservatórios, esta prática atualmente<br />
não se aplica; sendo então utilizada<br />
a setorização das diferentes fases de<br />
criação.<br />
toda a cadeia de criação. Em adição, o uso destas técnicas<br />
contribui fortemente na minimização da dispersão de<br />
doenças entre diferentes fazendas de criação.<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
COLUNA<br />
77
TECNOLOGIA DO<br />
PESCADO<br />
INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS:<br />
PODE UM ROBÔ<br />
PROCESSAR CARANGUEJOS?<br />
Prof. Dr. Alex Augusto Gonçalves<br />
Chefe do Laboratório de Tecnologia e Controle de Qualidade do<br />
Pescado (LAPESC)<br />
Universidade Federal Rural do Semi Árido (UFERSA)<br />
Mossoró, RN, <strong>Brasil</strong><br />
alaugo@gmail.com<br />
A capacidade tecnológica é a capacidade de absorção,<br />
domínio, adaptação, melhoramento de uma tecnologia<br />
ou de inovação por parte de uma organização. A<br />
partir do conhecimento do ambiente tecnológico (principais<br />
características da indústria) e da capacidade tecnológica<br />
(conhecimentos e habilidades), a empresa pode<br />
preparar-se para um tipo de estratégia tecnológica, ou<br />
seja, o enfoque que a empresa adota para o desenvolvimento<br />
e uso da tecnologia, constituindo um ingrediente<br />
essencial de sua estratégia competitiva.<br />
Nesse sentido, muitas indústrias estão se<br />
adaptando e seguindo esse caminho, principalmente na<br />
adoção de inovações em suas plantas de processamento,<br />
como é o caso de alguns centros de pesquisas e indústrias<br />
canadenses que processam caranguejo.<br />
A extração de carne do caranguejo é feita<br />
manualmente nas plantas processadoras de Newfoundland<br />
and Labrador (Canadá), mas o trabalho tornou-se<br />
muito caro, resultando na exportação do caranguejo<br />
inteiro para ser processado em outros países, onde a<br />
mão de obra é consideravelmente mais barata. Trazer<br />
essa etapa de volta às plantas processadoras canadenses<br />
permitiria aos operadores ganhar maior remuneração e<br />
agregar valor ao caranguejo.<br />
Após 7 anos do conceito<br />
inicial, um novo processador<br />
está pronto para sanar<br />
a demanda de Newfoundland<br />
and Labrador, de acordo<br />
com seus criadores, do Canadian<br />
Centre for Fisheries<br />
Innovation - Fisheries and<br />
Marine Institute of Memorial<br />
University of Newfoundland<br />
(Canadá). Segundo o Dr. Bob<br />
Verge, esse equipamento de<br />
processamento robótico do<br />
caranguejo poderá ter implicações<br />
significativas para as<br />
78<br />
COLUNA<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
indústrias em Newfoundland and Labrador, uma vez<br />
que este robô pode processar um caranguejo em segundos.<br />
Com apenas um toque sobre uma tela digital, corpos<br />
de caranguejo são transportados ao longo de uma<br />
esteira até um o local onde braços robóticos começam a<br />
cortar e dividir o caranguejo da forma desejada. Além<br />
disso, espera-se que o novo equipamento também resolva<br />
um problema socioeconômico, uma vez que a população<br />
da Newfoundland and Labrador está envelhecendo<br />
e diminuindo.<br />
Durante o desenvolvimento do protótipo do<br />
equipamento, foi observada a necessidade de transferir a<br />
prática manual de processamento para os braços robóticos.<br />
Muitos componentes tiveram de ser adaptados e então<br />
a resolução de todos os problemas, desde a vibração<br />
indesejada para os controles digitais até o produto desejado.<br />
Suas funções são simples: cortar o caranguejo ao<br />
meio, ou retirar suas pernas - mas seu impacto pode ser<br />
enorme.<br />
Por final, respondendo à pergunta inicial<br />
“PODE UM ROBÔ PROCESSAR CARANGUEJOS?” A<br />
resposta é SIM. Percebe-se claramente que a iniciativa<br />
privada associada à iniciativa institucional de uma universidade<br />
de excelência (Canadian Centre for Fisheries<br />
Innovation - Fisheries<br />
© CBC News and Marine Institute of<br />
Memorial University of<br />
Newfoundland (Canadá)<br />
e o conhecimento do ambiente<br />
tecnológico (principais<br />
características da<br />
indústria) e da capacidade<br />
tecnológica (conhecimentos<br />
e habilidades),<br />
qualquer empresa pode<br />
preparar-se e implementar<br />
inovações tecnológicas e<br />
emergentes.<br />
Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/colunas
RANICULTURA<br />
D<br />
INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NA<br />
CADEIA RANÍCOLA – PARTE II:<br />
ando continuidade ao tema “Inovações Tecnológicas<br />
na Cadeia Ranícola”, apresentamos aquelas<br />
que trouxeram algum benefício ao processo produtivo<br />
das larvas da rã, vulgarmente conhecidas como girinos.<br />
A vida desses animais se inicia logo após o processo<br />
reprodutivo, quando os ovos são transferidos para o<br />
Setor de Girinagem, mais especificamente para a área<br />
de embrionagem.<br />
Existem algumas variações na embrionagem,<br />
alguns produtores transferem a desova coletada<br />
na reprodução para as incubadoras, estruturas<br />
caracterizadas por uma armação de madeira ou de<br />
PVC, em formato circular ou retangular, com uma tela<br />
no interior (Figura 1a). Seu objetivo principal é o de<br />
manter a desova o mais próximo da superfície possível,<br />
onde os níveis de oxigênio dissolvido são os maiores.<br />
Há também aqueles que mantém as desovas em bandejas<br />
plásticas (Figura 1b), onde podem fazer uma estimativa<br />
da quantidade de ovos produzidos, bem como<br />
das taxas de fecundação e de eclosão.<br />
Após a absorção do vitelo os girinos iniciam<br />
sua busca por alimento exógeno e é aí que entram na<br />
fase de crescimento e desenvolvimento. As inovações<br />
para essa fase estão ligadas ao tipo de tanque e a alimentação<br />
diversificada, cada vez mais empregada. Os<br />
tanques de criação usados possuem algumas variações<br />
e, hoje, se combina um período inicial de manejo em tanques<br />
artificiais (cimentados, de fibra, lona plástica), por 15<br />
a 20 dias, onde o animal começa a ser acostumado a ingerir<br />
a ração em pó, à posterior transferência para tanques de<br />
terra, que possuem maior diversidade alimentar, representada<br />
pela presença de maior quantidade e variedade de<br />
plâncton, perifiton e musgo, combinadas com a introdução<br />
de legumes e frutas, como a abóbora, pois recentemente se<br />
descobriu que digerem e aproveitam melhor os carboidratos<br />
do que proteínas e lipídeos na alimentação.<br />
Com o passar do tempo as pernas começam a aparecer<br />
e a cauda inicia seu processo de desintegração, servindo<br />
de alimento final (proteico) para os animais. Chamamos<br />
esse período de metamorfose final e existem duas variantes<br />
para a coleta dos girinos nos tanques: a primeira é<br />
denominada de “seleção natural”, que se configura como<br />
um pequeno tanque contíguo ao tanque maior (Figura 2a),<br />
onde, por meio de uma rampa, os animais se auto selecionam<br />
e se separam dos demais; e a segunda é a caixa coletora<br />
(Figura 2b), representada por uma caixa flutuante que<br />
confere apoio e ambiente menos luminoso, normalmente<br />
procurados pelos girinos em clímax metamórfico.<br />
INOVAÇÕES EM INSTALAÇÕES E MANEJO NA LARVICULTURA<br />
Dr. Andre Muniz Afonso<br />
Universidade Federal do Paraná (UFPR), Palotina, PR.<br />
andremunizafonso@gmail.com<br />
A<br />
Quando comparamos a fase larval com as demais<br />
da rã-touro, fica nítido que, suas “inovações” são relativamente<br />
mais simples que aquelas encontradas para as demais<br />
fases e isso se deve ao fato de que essa fase foi a menos<br />
pesquisada de todas.<br />
Certamente ainda há uma longa estrada para que<br />
se chegue ao ideal em termos de criação de girinos. O pacote<br />
tecnológico atual é bom, mas precisa ser muito aprimorado,<br />
pois a chave para a viabilidade econômica tem<br />
nesse momento da vida do animal um ponto estratégico.<br />
Se existem girinos em bom número e de boa qualidade, a<br />
engorda será muito facilitada. O contrário também é verdadeiro<br />
e, pelas nossas andanças em diversos ranários aqui<br />
e fora do país, infelizmente ainda encontramos esse quadro<br />
desfavorável.<br />
Termino, portanto, com uma mensagem provocativa:<br />
Você, técnico, produtor ou pesquisador, já desenvolveu<br />
alguma melhoria específica para a girinagem? No caso da<br />
resposta ser negativa lhe faço outra pergunta: Está esperando<br />
o quê?<br />
SAUDAÇÕES RANÍCOLAS!<br />
© Andre Muniz Afonso<br />
Figura 1. a) Tanque de embrionagem com incubadora circular; b) Bandejas<br />
plásticas usadas na embrionagem da rã-touro.<br />
A<br />
© Andre Muniz Afonso<br />
B<br />
B<br />
Figura 2. a)Tanque de girinagem com estrutura de seleção natural lateral;<br />
b) Caixa coletora de girinos em clímax metamórfico.<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
COLUNA<br />
79
DEFENDEU!<br />
Novidades em teses e dissertações<br />
Em algum lugar do <strong>Brasil</strong>, um acadêmico de pós-graduação<br />
contribui com novas informações para nossa aquicultura.<br />
Acadêmico: Lucas de Oliveira Soares Rebouças.<br />
Orientador:Dr. Alex Augusto Gonçalves, Pesquisador<br />
e Chefe do Laboratório de Tecnologia e Controle de<br />
Qualidade do Pescado (LAPESC).<br />
Programa: Pós-graduação em Produção Animal (PPGPA),<br />
Centro de Ciências Agrárias (CCA), Universidade Federal<br />
Rural do Semi Árido (UFERSA).<br />
Título da dissertação: “Quantificação do percentual<br />
de glaciamento no camarão branco do Pacífico<br />
(Litopenaeus vannamei) congelado – Uma nova<br />
metodologia”.<br />
Figura 1. A) Ultrafreezer com temperatura ajustada para -30°C; B) Camarões dispostos<br />
individualmente em bandeja para congelamento; C) Pesagem do camarão<br />
congelado em amostras de 100g; D) Imersão do camarão congelado em água gelada<br />
(0±1°C); E) Amostra de camarão glaciado embalada a vácuo.<br />
Devido à alta perecibilidade do pescado, uma das<br />
principais preocupações da indústria é aperfeiçoar as tecnologias<br />
de conservação, alcançando um produto final de boa<br />
qualidade. Dentre os vários métodos utilizados destaca-se o<br />
glaciamento após o congelamento, que proporciona maior<br />
estabilidade e vida de prateleira ao produto. Em contrapartida<br />
alguns abusos têm sido relatados no tocante ao excesso<br />
de água nos produtos glaciados, caracterizando-se como<br />
fraude econômica. As metodologias existentes que quantificam<br />
o percentual glaciamento no pescado não descrevem<br />
os procedimentos em detalhes, podendo induzir ao erro na<br />
quantificação, muitas vezes evitáveis.<br />
Alguns autores vêm relatando algumas dificuldades<br />
e pontos críticos encontrados na aplicação das metodologias<br />
para a quantificação do percentual de glaciamento.<br />
Diante do exposto, estudos sobre a padronização<br />
dos métodos existentes e sua validação, serão de extrema<br />
importância para que possam servir efetivamente como<br />
ferramenta para os órgãos responsáveis por inspecionar os<br />
produtos.<br />
Objetivo: Nesse contexto, o objetivo do presente estudo<br />
foi avaliar a eficiência dos métodos oficiais para quantificação do percentual de glaciamento em amostras de camarão<br />
branco do Pacífico (Litopenaeus vannamei) congelado.<br />
80<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
Materiais e métodos:<br />
As amostras de camarão (L. vannamei)<br />
foram obtidas de fazendas localizadas nas<br />
proximidades da cidade de Mossoró, acondicionadas<br />
em caixas isotérmicas com gelo<br />
em escamas (1:1), e transportadas ao Laboratório<br />
de Tecnologia e Controle de Qualidade<br />
do Pescado (LAPESC/UFERSA).<br />
No laboratório os camarões foram lavados,<br />
pesados, conferiu-se a gramatura (peças/<br />
kg), descascados manualmente, divididos<br />
em porções (100g), congelados individualmente<br />
em ultrafreezer a -30°C por 24 horas,<br />
embalados em sacos de polietileno e armazenados<br />
em ultrafreezer (-30ºC). Posteriormente<br />
os camarões receberam cinco percentuais<br />
de glaciamento (15, 30, 40, 50 e 60%).<br />
O percentual de glaciamento foi quantificado<br />
com base nas metodologias do INMETRO,<br />
MAPA, CODEX, AOAC/NIST e através da<br />
nova proposta sugerida no trabalho.<br />
Resultados e discussão:<br />
As metodologias oficiais utilizadas<br />
para quantificação do percentual de glaciamento<br />
em pescado tiveram relação proporcionalmente<br />
inversa ao percentual de glaciamento<br />
presente nas amostras, ou seja, a eficácia<br />
das metodologias é reduzida com o aumento<br />
do percentual de glaciamento do produto. A<br />
subjetividade dos métodos (i. e., temperatura<br />
da água “fria” e “ambiente”; sentir a retirada<br />
total do gelo “pelo tato”) acarretou grande<br />
variabilidade de resultados em amostras idênticas,<br />
não oferecendo precisão na quantificação.<br />
Deve-se ser considerada a adoção de<br />
medidas que possam minimizar essa variação,<br />
como, utilização e calibração de balanças<br />
com quatro casas decimais, treinamento dos<br />
avaliadores e monitoramento constante da<br />
temperatura do banho de imersão.<br />
Os resultados da metodologia proposta<br />
se aproximaram mais aos valores do percentual<br />
de glaciamento das amostras de camarão<br />
congelado, confirmando que a metodologia<br />
pode ser uma alternativa a ser utilizada pelos<br />
órgãos fiscalizadores, após estudo colaborativo<br />
de validação da metodologia.<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
81
AquaOnline <strong>Brasil</strong><br />
Foi realizado entre os dias 11 e 16 de setembro<br />
de 2017 o I Congresso <strong>Brasil</strong>eiro Online de Aquicultura, o<br />
AquaOnline <strong>Brasil</strong>. Um evento inédito para o setor em âmbito<br />
nacional e também desafiador a toda equipe da <strong>Aquaculture</strong><br />
<strong>Brasil</strong>, organizadora do congresso.<br />
Já imaginou reunir em um mesmo evento o diretor<br />
geral da Embrapa Pesca e Aquicultura, o presidente da Peixe<br />
BR, a presidente da WAS, o diretor da Rede Canadense de<br />
Aquicultura Multitrófica e a chefe do departamento de Nutrição<br />
de Organismos Aquáticos da Universidade Autônoma da Baja<br />
Califórnia, no México?<br />
E se além desses, tivessem outros palestrantes, tão<br />
competentes e importantes quanto? Sim, o AquaOnline proporcionou<br />
isso tudo! Com inscrições gratuitas, milhares de<br />
pessoas puderam acompanhar esses cinco dias de palestras,<br />
mais o dia bônus, com três minicursos. Este último, disponível<br />
apenas para congressistas VIP.<br />
Evento técnico-científico de forma online é uma<br />
grande tendência mundial e encaixou-se muito bem em um<br />
país com tamanha extensão territorial, como o <strong>Brasil</strong>. No dia<br />
e horário marcado, com apenas um clique, os congressistas<br />
inscritos eram direcionados a uma página para visualização<br />
das palestras gravadas.<br />
Para aqueles que perderam ou desejam rever, o plano<br />
VIP ainda está disponível e você pode assistir com calma<br />
qualquer uma das palestras ou minicursos, quando desejar.<br />
Confira abaixo os benefícios de ser um congressista VIP.<br />
Beneficios:<br />
i<br />
Certificado Digital de participação no evento;<br />
Mais de 30 palestras para ver e rever a hora que<br />
desejar*;<br />
Assinatura por um ano da revista <strong>Aquaculture</strong> <strong>Brasil</strong>**;<br />
3 minicursos de 4 horas/cada: Nutrição, Aquaponia<br />
e Policultivo.<br />
*Por um período de 180 dias a partir da data de compra.<br />
**Aos que já são assinantes, o período será renovado.<br />
Plano VIP<br />
R$ 159,90<br />
82<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
Nome Palestra Hora Foto<br />
Dia 3 Dia 2 Dia 1<br />
Nome Palestra Hora Foto<br />
Dra. Maria Célia A inserção Dia da 1<br />
9:00 1<br />
Portella<br />
Aquicultura <strong>Brasil</strong>eira no<br />
Nome Contexto Palestra Mundial: os Hora Foto<br />
exemplos da WAS e<br />
Dra. Maria Célia<br />
rede<br />
A inserção<br />
LARVAplus.<br />
da<br />
9:00 1<br />
Dr.<br />
Portella<br />
Luciano Caetano Automação<br />
Aquicultura <strong>Brasil</strong>eira<br />
na<br />
no<br />
11:00<br />
Contexto Mundial: os<br />
2<br />
de Oliveira<br />
Aquicultura: perspectivas<br />
exemplos da WAS e<br />
atuais e futuras.<br />
rede LARVAplus.<br />
André<br />
Dr. Luciano<br />
Camargo<br />
Caetano<br />
A<br />
Automação<br />
história da<br />
na<br />
Escama<br />
11:00<br />
13:00<br />
2<br />
3<br />
de Oliveira<br />
Forte<br />
Aquicultura:<br />
– 18<br />
perspectivas<br />
anos de<br />
luta.<br />
atuais e futuras.<br />
Dr.Wilson<br />
André Camargo<br />
Wasielesky Cultivo<br />
A história<br />
de<br />
da<br />
camarões<br />
Escama<br />
em<br />
13:00<br />
15:00<br />
34<br />
sistema Forte – 18 bioflocos anos no de<br />
<strong>Brasil</strong>: luta. Histórico, a<br />
Dr.Wilson Wasielesky Pesquisa; Cultivo de a camarões Indústria em e 15:00 4<br />
Perspectivas sistema bioflocos Futuras. no<br />
Dr. Artur Nishioka Lipídios <strong>Brasil</strong>: Histórico, alternativos a na 17:00 5<br />
Rombenso<br />
nutrição Pesquisa; de a peixes Indústria e<br />
marinhos. Perspectivas Futuras.<br />
MSc. Dr. Artur Ivã Guidini Nishioka Lopes A Lipídios compostagem alternativos orgânica na 17:00 19:00 56<br />
Rombenso<br />
como nutrição solução de peixes para o<br />
descarte marinhos. de resíduos na<br />
MSc. Ivã Guidini Lopes aquicultura. A compostagem orgânica 19:00 6<br />
como solução para o<br />
descarte de resíduos na<br />
aquicultura. Dia 2<br />
Nome Palestra<br />
Dia 2<br />
Hora Foto<br />
Francisco das Chagas Tanques-rede de 9:00 7<br />
Medeiros Nome grande volume: Palestra futuro<br />
ou realidade?<br />
Hora Foto<br />
Dr. Francisco Leopoldo das Barreto Chagas “Aquicultura Tanques-rede ornamental: de 11:00 9:00 78<br />
Medeiros<br />
do grande tanque volume: ao aquário”. futuro<br />
Dr. José Zertuche- Pond ou realidade? Cultivation of ulva 13:00 9<br />
González Dr. Leopoldo Barreto spp “Aquicultura in Baja ornamental: California, 11:00 8<br />
Mexico. do tanque ao aquário”.<br />
MSc. Dr. José Penélope Zertuche- Bastos Cultivo Pond Cultivation de polvo: of um ulva 13:00 15:00 910<br />
González<br />
novo spp in desafio Baja California, para a<br />
aquicultura. Mexico.<br />
Léo MSc. de Penélope Oliveira Bastos Qualificação Cultivo de polvo: de kits um e 15:00 17:00 10 11<br />
equipamentos novo desafio para para a<br />
análise aquicultura. de água e<br />
Léo de Oliveira aquicultura Qualificação de de precisão. kits e 17:00 11<br />
Dr. Ricardo Vieira Larvicultura equipamentos de para peixes 19:00 12<br />
Rodrigues<br />
marinhos: análise de revisão água e do<br />
conhecimento<br />
aquicultura de<br />
atual<br />
precisão.<br />
e<br />
Dr. Ricardo Vieira perspectivas Larvicultura de futuras. peixes 19:00 12<br />
Rodrigues<br />
marinhos: Dia revisão 3 do<br />
conhecimento atual e<br />
Nome<br />
perspectivas futuras.<br />
Palestra Hora Foto<br />
Dr. Luis Conceição SPAROS Lda, pesquisa<br />
na interface entre<br />
universidade e a<br />
indústria.<br />
Dr. Andre Muniz Como viabilizar a<br />
Afonso<br />
Ranicultura?<br />
Dr a . Katt Regina Lapa Tecnologias avançadas<br />
para produção aquícola<br />
com uso de sistemas<br />
de recirculação de água<br />
no <strong>Brasil</strong>: uma<br />
perspectiva sobre a<br />
sustentabilidade<br />
ambiental.<br />
Dr. Fábio Sussel Lambari para petiscos:<br />
desafio de transformar<br />
MSc. Bruno Ricardo<br />
Scopel<br />
Jenner Tavares Bezerra<br />
de Menezes<br />
demanda em mercado.<br />
Empreendedorismo,<br />
inovação e<br />
oportunidades na<br />
aquicultura.<br />
Aspectos eficientes para<br />
a produção de peixes<br />
nativos.<br />
9:00 13<br />
11:00 14<br />
13:00 15<br />
15:00 16<br />
17:00 17<br />
19:00 18<br />
Nome<br />
pROGRAMAÇÃO<br />
Roberto Bianchini Derner<br />
Microalgas: Aplicações Biotecnoló<br />
Dr. Darci Carlos Fornari<br />
Dia<br />
Produção<br />
4<br />
de Pintado Amazônico.<br />
Dr. Maria<br />
Nome<br />
Teresa Viana<br />
Palestra<br />
¿Qué<br />
Hora<br />
comen los peces?<br />
Dr. Gabriela Tomas Jerônimo<br />
Medidas profiláticas para enfermid<br />
parasitárias de peixes nativos cu<br />
Dr. Carlos Jorge Magno Chávez Campos Rigaíl O papel da Embrapa no Criterio 9:00 biológico en la interpretac<br />
da Rocha<br />
desenvolvimento de parâmetros químicos, como indica<br />
pesquisas aplicadas na Calidad de Agua”.<br />
Dr. Wagner C. Valenti aquicultura e pesca Freshwather prawn farming in int<br />
brasileira.<br />
systems.<br />
Dr. Maurício Thierry G. B.R.Chopin C. Bioflocos e Aquaponia: Integrated 11:00 Multi-Trophic Aquacultu<br />
Emerenciano<br />
rumo a uma maior<br />
sustentabilidade na<br />
aquicultura brasileira?<br />
Dia 6<br />
Dr. Eduardo Antônio Otimização dos<br />
13:00<br />
Sanches<br />
reprodutores: como<br />
MINICURSOS:<br />
melhorar as taxas de<br />
fertilização em peixes<br />
1. AQUAPONIA – Do hobby ao negócio. Ministrado pelo Prof. Dr. Maurí<br />
nativos?<br />
Dra. Janine Bezerra de Mercados e<br />
15:00<br />
2. NUTRIÇÃO – De olho na qualidade das rações. Ministrado pelo Prof.<br />
Menezes<br />
internacionalização do<br />
peixe nativo da Amazônia.<br />
3. POLICULTIVO – Aumentando os lucros e reduzindo os riscos. Ministra<br />
Vinícius Marcus Ramos Apresentando uma Fazenda 17:00<br />
Marinha de Ostras.<br />
Dr. Rodolfo Luís Petersen Qualidade das pós-larvas na 19:00<br />
carcinicultura marinha.<br />
Nome Palestra Dia 5 Hora Foto<br />
Dia 5<br />
Palestra<br />
Dr. Roberto Bianchini Nome Microalgas:<br />
9:00 Palestra 25<br />
Hora<br />
Roberto Derner Bianchini Derner Aplicações Microalgas: Aplicações Biotecnológicas. 9:00<br />
Biotecnológicas.<br />
Dr. Darci Carlos Fornari Produção de Pintado Amazônico. 11:00<br />
Dra. Dr. Maria Darci Teresa Carlos Viana Produção de ¿Qué Pintado comen los 11:00 peces? 26<br />
13:00<br />
Fornari<br />
Amazônico.<br />
Dra. Gabriela Tomas Jerônimo<br />
Medidas profiláticas para enfermidades 15:00<br />
Dr a.Maria Teresa ¿Qué comen los<br />
parasitárias de peixes 13:00 nativos cultivados. 27<br />
Dr. Viana<br />
peces?<br />
Jorge Chávez Rigaíl<br />
Criterio biológico en la interpretación de 17:00<br />
Dr a. Gabriela Tomas Medidas profiláticas los parâmetros químicos, 15:00 como 28<br />
Jerônimo<br />
para enfermidades indicadores de “Calidad de Agua”.<br />
Dr. Wagner C. Valenti parasitárias Freshwather de peixes prawn farming in integrated 19:00<br />
nativos cultivados. systems.<br />
Dr. Dr. Thierry Jorge B.R.Chopin Chávez Criterio biológico Integrated en Multi-Trophic 17:00 <strong>Aquaculture</strong> 29<br />
21:00<br />
Rigaíl<br />
la interpretación (IMTA). de<br />
los parâmetros<br />
químicos, como<br />
indicadores de “ Dia 6<br />
Calidad de Agua”.<br />
MINICURSOS:<br />
Dr. Wagner C. Freshwather prawn 19:00 30<br />
1. Valenti AQUAPONIA – Do hobby ao farming negócio. in Ministrado integrated pelo Prof. Dr. Maurício Emerenciano.<br />
systems.<br />
2. Dr. NUTRIÇÃO Thierry – De olho na qualidade Integrated das Multi- rações. Ministrado 21:00 pelo Prof. Dr. 31 Artur Rombenso.<br />
B.R.Chopin Trophic <strong>Aquaculture</strong><br />
3. POLICULTIVO – Aumentando os lucros e reduzindo os riscos. Ministrado pelo Prof. Dr. Giovan<br />
(IMTA).<br />
MINICURSOS:<br />
1. AQUAPONIA – Do hobby ao negócio. Ministrado<br />
pelo Prof. Dr. Maurício Emerenciano.<br />
2. NUTRIÇÃO – De olho na qualidade das rações.<br />
Ministrado pelo Prof. Dr. Artur Rombenso.<br />
3. POLICULTIVO – Aumentando os lucros e reduzindo<br />
os riscos. Ministrado pelo Prof. Dr. Giovanni Lemos<br />
de Mello.<br />
Dia 4<br />
Dia 5<br />
Dia 6<br />
AQUACULTURE Dia 4 BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
83
ENTREVISTA<br />
84<br />
© Marcelo Toledo<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
MARCELO<br />
TOLEDO<br />
Conversamos com um dos gigantes da aquicultura nacional!<br />
O Biólogo Marcelo Toledo, Diretor de Produtos da NUTRECO no <strong>Brasil</strong> e agora<br />
vice-presidente da Associação <strong>Brasil</strong>eira de Piscicultura, PeixeBR, concedeu uma entrevista<br />
exclusiva para 7ª edição da <strong>Revista</strong> <strong>Aquaculture</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />
Especialista em nutrição, “Marcelão” falou de sua carreira, do status da nutrição aquícola<br />
brasileira e internacional, dos desafios do setor que trabalha há 27 anos e fez projeções<br />
para o futuro da produção de peixes e camarões no <strong>Brasil</strong>.<br />
AQUACULTURE BRASIL: Marcelo, conte-nos um<br />
pouco da sua carreira (graduação e atuação profissional)<br />
e como a aquicultura entrou na sua vida.<br />
Marcelo Toledo: Sou biólogo, formado pela UNESP de<br />
Rio Claro, e minha carreira na aquicultura começou ainda<br />
na graduação, quando estudava a reprodução de peixes.<br />
Já no 3º ano de faculdade fiz um estágio na companhia de<br />
energias de São Paulo, acompanhando o repovoamento<br />
de rios a partir da reprodução de pacu, curimba, entre<br />
outros peixes nativos, todos por indução hormonal via<br />
extrato de hipófise. Ainda na graduação estudei a dinâmica<br />
populacional de uma espécie de bagre existente no rio<br />
Tietê, o Pimelodus maculatus, vulgo mandi. Concluí a<br />
graduação em 1989 e imediatamente comecei a trabalhar<br />
com um amigo em uma empresa de consultoria. Foi na<br />
época em que os pesque-pagues estavam começando a<br />
surgir. Fiquei três anos realizando trabalhos à campo,<br />
incluindo toda a parte de construção de viveiros, ocupação<br />
dos extratos com diferentes espécies, etc. Após<br />
este período, prestei a prova de mestrado em aquicultura,<br />
na primeira turma do CAUNESP, onde entravam<br />
apenas nove candidatos. Fiquei na décima colocação,<br />
mas por sorte uma pessoa desistiu e acabei ingressando,<br />
em 1991. No CAUNESP iniciei minha experiência com<br />
a orientação do prof. Newton Castagnolli, e também<br />
comecei a acompanhar alguns colegas no laboratório<br />
de nutrição. Acabei me apaixonando por essa área e fazendo<br />
minha dissertação de mestrado nela, avaliando a<br />
soja integral na nutrição de tambaqui, sob a orientação<br />
do Prof. Dalton Carneiro. Defendi o mestrado em 1993<br />
e logo já estava<br />
empregado em Você pode conhecer<br />
uma cooperativa<br />
as exigências do<br />
agrícola da região<br />
de Ribeirão Preto.<br />
animal, mas a entrega<br />
Permaneci seis anos<br />
desse nível de<br />
nesta cooperativa, aminoácido exigido<br />
trabalhando principalmente<br />
com ex-<br />
digestibilidade das<br />
e o conhecimento da<br />
tensão. Juntamente matérias-primas em<br />
com o pessoal da função de cada fornecedor,<br />
esse sim é o grande<br />
American Soybean<br />
Association, realizamos<br />
os primeiros as empresas.<br />
diferencial entre<br />
experimentos com<br />
tanques-rede de 1m³, visando demonstrar que existia<br />
viabilidade nesta ideia. Esta foi uma iniciativa da empresa<br />
Guabi, junto ao Silvio Romero, que na época trabalhava<br />
na empresa. Nestes seis anos também fizemos<br />
alguns testes com o cultivo do pacu em tanques-rede<br />
de grande volume. Depois desse período, tive a oportunidade<br />
de trabalhar em uma das primeiras empresas a<br />
desenvolver tanques-rede para piscicultura de água doce<br />
do país. Fiquei nesta empresa 2,5 anos, mas como o trabalho<br />
era um pouco estressante fui parar no hospital!<br />
A partir disto resolvi que iria mudar de vida e entrei no<br />
doutorado, trabalhando com nutrição de tilápia. Após a<br />
defesa de minha tese, em meados de 2003, fui contratado<br />
pela Poli-Nutri, lançando toda a linha “Aqua” da empresa,<br />
que ainda não atuava no setor aquícola. Trabalhei<br />
na Poli-Nutri durante seis anos. Finalmente, aproveitan-<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
85
ENTREVISTA<br />
Nova diretoria da Peixe BR (2017-2019)<br />
do uma grande oportunidade, justamente quando a Nutreco comprou a Fri-Ribe, surgiu uma vaga a acabei vindo<br />
trabalhar na empresa. Fui contratado em 1º de novembro de 2009. Daí em diante estou há praticamente 7 anos nessa<br />
migração das empresas que a Nutreco tem realizado no <strong>Brasil</strong>. Atualmente sou Diretor de Produtos da Nutreco no<br />
País.<br />
AQUACULTURE BRASIL: Você tem uma longa trajetória e experiência na parte de nutrição animal, que é sem<br />
dúvida, um dos pilares mais importantes da aquicultura. Houve uma evolução das rações aquícolas nos últimos<br />
anos?<br />
Marcelo Toledo: Com certeza houve uma transferência interessante do conhecimento e da tecnologia para as indústrias<br />
de ração, a partir do investimento que as fábricas fizeram na contratação de pessoas especializadas na área,<br />
com mestrado e doutorado. Vejo que a pesquisa brasileira contribuiu bastante no que tange a tilápia e aos peixes<br />
redondos como tambaqui, pacu e seus híbridos. Estes trabalhos, em especial acerca das exigências nutricionais<br />
básicas como proteína, energia, relação proteína:energia e energia digestível, promoveram um avanço considerável<br />
para a aquicultura brasileira e estas pesquisas/tecnologias estão disponíveis para as indústrias. Contudo, vejo que<br />
há muita diferença entre as empresas com relação ao fornecimento de matéria prima e o entendimento das qualidades<br />
nutricionais de cada matéria prima. Você pode conhecer as exigências do animal, mas a entrega desse nível<br />
de aminoácido exigido e o conhecimento da digestibilidade das matérias primas em função de cada fornecedor, esse<br />
sim é o grande diferencial entre as empresas. Existem empresas que conhecem estas exigências, por outro lado, tem<br />
aquelas que mudam de fornecedor de matéria prima acreditando que a qualidade nutricional será a mesma. E isso<br />
nem sempre é verdade! Em resumo, houve sim uma evolução. Entretanto, não é o fato de que as empresas estejam<br />
empregando conceitos errados, o que existe é um nível tecnológico diferente entre as empresas de nutrição.<br />
AQUACULTURE BRASIL: Perto de completar um ano da entrada definitiva da Skretting no <strong>Brasil</strong> (lançada na<br />
Fenacam 2016), qual a sua perspectiva sobre o setor da carcinicultura no <strong>Brasil</strong>, enquanto Diretor de Produtos<br />
da Nutreco?<br />
Marcelo Toledo: Hoje, falando especificamente da carcinicultura brasileira, se utiliza muito pouca ração devido às<br />
baixas densidades, com uma conversão alimentar média de 0,8 e 0,9:1. Desta forma, o que se comercializa de ração<br />
no país para a produção de camarão é pouco, comparado ao que foi vendido num passo recente. Com a entrada da<br />
marca Skretting, a partir da tecnologia e do diferencial nutricional, com produtos extrusados e micro-péletes para<br />
a alimentação de camarões, nossa evolução dentro desse mercado foi muito significativa. Hoje temos um marketing<br />
8% acima do que tínhamos antes da mancha branca, frente a outros concorrentes. Nós ganhamos espaço e o<br />
consumidor hoje reconhece esta posição. Acredito que a recuperação da carcinicultura está mais rápida do que eu<br />
inicialmente tinha estimado. Fiz uma avaliação acreditando que nós iríamos atingir os volumes de produção de<br />
camarão em torno de 60 mil toneladas (que foram fechadas em 2015, antes da mancha branca atingir o Estado do<br />
Ceará) no ano de 2022. Mas vejo um alento e creio que iremos adiantar isso até 2019/2020.<br />
AQUACULTURE BRASIL: Já se pensa em uma ração diferenciada para o sistema de bioflocos?<br />
Marcelo Toledo: O fato de termos uma ração de menor nível proteico para o sistema de bioflocos, ainda é um fato<br />
controverso. Acredito que podemos investir em produtos que coloquem o sistema de bioflocos em uma situação<br />
mais estável, até porque o que acontece hoje não é exatamente “bioflocos”, e sim um sistema “mixotrófico”. Uma vez<br />
que o bioflocos é ainda instável para manter-se em uma condição operacional de campo. Por isso ainda continuamos<br />
com a ideia de manter o padrão das rações, empregando os melhores nutrientes nas dietas para estes animais.<br />
86<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
O ideal é focar<br />
em alguns<br />
mercados do mundo,<br />
especificamente até<br />
aonde consigamos<br />
atender de forma<br />
permanente, e aí a<br />
medida que a demanda<br />
for crescendo<br />
aumentamos a<br />
produção.<br />
AQUACULTURE BRASIL: Seria um diferencial da Skretting o fato de ser uma empresa<br />
multinacional, com centros de pesquisa focados em aquicultura e espalhados<br />
por diversos países?<br />
Marcelo Toledo: A Skretting tem dois centros de pesquisa, um focado em peixes<br />
de clima frio, localizado na Noruega, trabalhando basicamente com salmonídeos; e<br />
outro mais recente, exclusivamente para peixes e camarões tropicais, que se encontra<br />
na China. Temos uma estação de pesquisa em carcinicultura junto à nossa unidade<br />
operacional do Equador, e temos uma associação muito importante com dois centros<br />
de pesquisa na Espanha e na Itália, focados em peixes tropicais marinhos do Mediterrâneo.<br />
Hoje também temos um centro de pesquisa trabalhando com rações para<br />
atum, na Austrália. O que posso dizer com relação à tilápia, carro chefe da piscicultura<br />
brasileira, é que o centro de pesquisa da Skretting revisou todas as exigências básicas<br />
desta espécie, ou seja, tudo o que existia na literatura, a Skretting repetiu de forma experimental,<br />
porque notamos que existe uma grande variedade de resultados ligados ao delineamento experimental<br />
de cada trabalho. Como a Skretting possui um padrão a seguir, achou-se que seria interessante confirmar todos estes<br />
experimentos, gerando nossa própria base de dados a respeito das exigências nutricionais das tilápias. Hoje podemos<br />
dizer que temos à disposição uma formulação própria, tendo em vista que estudamos do alevino até a engorda<br />
final. Nos últimos cinco anos já temos inclusive colhido os frutos deste trabalho.<br />
AQUACULTURE BRASIL: A Nutreco é uma empresa multinacional que já atuava no <strong>Brasil</strong>, contudo não ainda<br />
na linha “Aqua”. O que voltou os olhos dessa multinacional para desenvolver a linha “Aqua” brasileira?<br />
Marcelo Toledo: A Nutreco é composta de duas marcas no mundo, Trouw Nutrition, que é ligada a linha “Agri” e a<br />
Skretting, voltada ao meio “Aqua”. Na realidade a Skretting está ampliando o seu mercado, buscando outras espécies<br />
que não sejam apenas salmonídeos. Como estratégia de negócios, há cinco anos a empresa começou a trabalhar<br />
dentro de um conceito de diversificação de espécies na aquicultura mundial. Com isso, ocorreu uma migração para<br />
peixes marinhos mediterrâneos, carcinicultura e, mais recentemente (há apenas três anos), vem trabalhando fortemente<br />
com a tilápia. A Skretting está fazendo essa migração, buscando a diversificação de espécies, uma vez que o<br />
salmão também está sofrendo diversas pressões no mundo e as grandes produtoras, como Marine Harvest e outras<br />
empresas, passaram a produzir sua própria ração. Essa estratégia de expansão tem se mostrado bastante efetiva, sendo<br />
que o melhor resultado hoje da Skretting é no Equador, com ração para a carcinicultura marinha, que deve fechar<br />
esse ano com a venda de 300 mil toneladas. Mas no <strong>Brasil</strong> estamos com certeza bastante otimistas.<br />
AQUACULTURE BRASIL: O estrago causado pelo vírus “Tilapia Lake Vírus” ou TiLV, tem deixado centenas de<br />
tilapicultores preocupados. Enquanto vice-presidente da Peixe BR, já há alguma medida por parte da entidade<br />
sobre como lidar e prevenir a entrada deste vírus no país?<br />
Marcelo Toledo: Com certeza. Vai haver inclusive um evento em Brasília, da Peixe BR junto com o MAPA, onde<br />
estamos buscando empresas que têm mais contato com a área de saúde animal para estar presentes nesta reunião. A<br />
finalidade é discutir junto ao Ministério medidas de avaliação sanitária e possibilidade de importação de reprodutores,<br />
etc. Sabemos que a genética é uma situação importantíssima, que traz um benefício para a produção, talvez<br />
muito mais rápido do que uma grande descoberta atual na nutrição, por isso não se pode impedir esta situação. Por<br />
outro lado, temos que estar muito conscientes dos riscos das importações, e de como podemos minimizar qualquer<br />
possibilidade da entrada deste vírus, que ainda não apresenta uma forma de controle.<br />
AQUACULTURE BRASIL: Um dos gargalos para o desenvolvimento da piscicultura marinha no <strong>Brasil</strong> reside<br />
nas fases iniciais de produção, como a larvicultura e o alimento vivo. A Skretting tem novidades em termos de<br />
rações micro-extrusadas para estas fases iniciais?<br />
Marcelo Toledo: Sim, temos um produto que é utilizado largamente nas fases iniciais de peixes marinhos, que se<br />
chama “Gemma Wean”. Esse produto começa com 0,1 mm, indo até 0,8 mm, onde temos uma mudança de nomenclatura,<br />
passando a se chamar de “Gemma Diamond”, a ser fornecido na fase seguinte ao desmame. A ideia é de se<br />
ter somente um alimento, com diferentes granulometrias para todas as fases, e que atenda todas as exigências nutricionais<br />
dos peixes marinhos. Hoje no <strong>Brasil</strong> já temos esse produto em estoque, realizamos algumas experiências<br />
com peixes marinhos e também temos testado em tilápias e carnívoros de água doce, substituindo a artêmia. São<br />
produtos “top” de linha, produzidos em uma unidade na França e entregues em todo o mundo. Desta forma, ainda<br />
não é um produto barato. Ele passa por um alto padrão de produção, todos são micro-extrusados a frio, garantindo<br />
a qualidade, sem desnaturar as proteínas de origem marinha e com alto nível proteico (54%). Estamos com a solução<br />
e com o protocolo de manejo para diferentes espécies. Agora é uma questão de poder estar próximo ao mercado, e o<br />
setor realmente se interessar e buscar esse produto diferenciado.<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
87
ENTREVISTA<br />
AQUACULTURE BRASIL: E para a engorda, existem soluções em termos de rações para peixes marinhos que<br />
poderiam contribuir com o desenvolvimento da piscicultura marinha brasileira?<br />
Marcelo Toledo: Nós por exemplo, conhecemos muito bem a necessidade do bijupirá que é cultivado no <strong>Brasil</strong>. Já<br />
produzimos em outras unidades operacionais ao redor do mundo rações para bijupirá, como no Vietnã, China e<br />
também no Chile, buscando exportar para alguns países da América Central. Deve-se ter cautela para investir nesse<br />
segmento, fazendo a coisa de forma correta. Este peixe exige pelo menos um nível em torno de 15% de gordura nas<br />
rações. E nossas empresas no <strong>Brasil</strong> não têm o equipamento necessário e adequado para poder trabalhar com esse<br />
nível de gordura nos produtos. O investimento não é pequeno, pelo contrário, é bem considerável. Hoje o mercado<br />
para esses peixes é um mercado em desenvolvimento, por isso depende muito do foco de cada empresa. Nós, por<br />
exemplo, estamos tentando buscar o mercado de valor agregado um pouco diferenciado, que é uma oportunidade.<br />
Hoje temos equipamentos que infelizmente estão na região Nordeste, longe da produção atual de bijupirás no <strong>Brasil</strong><br />
que é SP e RJ, mas que pode fazer esse tipo de produto. Dessa forma, estamos procurando nos alinhar para entregar<br />
um produto em padrão internacional, para a produção de bijupirá e outros peixes marinhos no <strong>Brasil</strong>, apesar de o<br />
volume ser ainda muito pequeno.<br />
AQUACULTURE BRASIL: Falando em novas oportunidades, quais peixes você apostaria, além da tilápia e dos<br />
redondos, em termos de contribuição para a produção brasileira nos próximos anos?<br />
Marcelo Toledo: Sem entrar no mérito se híbrido é permitido ou não, acredito que o pintado da Amazônia tem<br />
grande potencial. É possível produzir em tanque-rede, com uma qualidade de carne e rendimento de carcaça superior<br />
à tilápia. Não diria que em qualidade é superior, são diferentes, mas que possui um padrão diferente que com<br />
certeza deve encontrar o paladar do consumidor. Dentre as espécies brasileiras que são factíveis de trabalho na aquicultura,<br />
acredito que ainda não conhecemos 10% do total. Isto também é um ponto bastante importante. A pesquisa<br />
brasileira parece estar desfocada quanto a essas oportunidades. Não estamos pesquisando o que é necessário para<br />
que tenhamos opções de produção. No Vietnã por exemplo, ou sudeste Asiático como um todo, há uma variedade<br />
enorme de espécies e o produtor “navega” dentro desta diversidade, buscando a melhor oportunidade de lucro para<br />
ele. No <strong>Brasil</strong> estamos bastante limitados a algumas espécies.<br />
AQUACULTURE BRASIL: Voltando à nutrição, para finalizar, as rações para a aquicultura experimentaram<br />
importantes mudanças de paradigmas, que foram verdadeiros divisores de água, como no caso do surgimento<br />
das rações extrusadas, posteriormente das rações específicas para determinada espécie ou clima, rações para<br />
períodos de doenças, rações com probióticos ou imuno-estimulantes, etc. O que vamos ver no futuro na formulação<br />
e no conceito das dietas para peixes e camarões? Até onde a nutrição poderá avançar?<br />
Marcelo Toledo: Esses pontos que você citou ainda temos que trabalhar e muito, como por exemplo, as rações para<br />
situações de alta temperatura ou rações para baixo nível de oxigênio dissolvido. Rações para períodos de doenças<br />
também muito pouco se sabe, o conhecimento ainda é muito superficial sobre a ação de ácidos orgânicos e óleos<br />
essenciais. É um universo novo que está se abrindo agora. No que tange a probióticos, suínos e aves estão com um<br />
caminho já bem consolidado, enquanto na aquicultura estamos ainda começando. Olhando para o futuro, na questão<br />
da genética teremos que estudar as exigências das linhagens, porque as linhagens possuem exigências nutricionais<br />
diferentes. E com a possibilidade da nutrigenômica, que é um campo da ciência bastante interessante, onde é possível<br />
colocar a nutrição específica para a característica genética, acredito ser um caminho de pesquisa a ser trilhado.<br />
AQUACULTURE BRASIL: Por fim...<br />
Marcelo Toledo: De modo geral tenho bastante confiança na aquicultura brasileira. A mesma sofreu um salto importantíssimo<br />
nos últimos 10 anos. Estou há 27 anos nesse ramo e ainda não caminhamos nada do potencial que o<br />
país possui. Tenho muita preocupação com relação às nossas restrições da legislação ambiental para a produção de<br />
peixes e camarões. Sofremos um desconhecimento por parte das nossas autoridades ambientais, por acharem que a<br />
aquicultura é uma atividade de extremo impacto. Quando na realidade a aquicultura é um segmento que respeita o<br />
ambiente de forma mandatória, porque se não houver um bom ambiente não é possível produzir. Em comparação<br />
com as demais atividades zootécnicas, posso dizer que esta é a mais eficiente em termos de conversão de proteína.<br />
Particularmente, precisamos conhecer melhor o que é aquicultura, olhar como o mundo produz. O maior produtor<br />
de salmão por exemplo, é a Noruega, com a legislação ambiental mais rígida de todo o mundo...<br />
88<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
NOVOS LIVROS<br />
Alevinagem, Recria e<br />
Engorda de Pirarucu<br />
Editores: Adriana Ferreira Lima, Ana Paula Oeda Rodrigues, Leandro Kanamaru<br />
Franco de Lima, Patrícia Oliveira Maciel, Fabrício Pereira Rezende, Luiz Eduardo Lima<br />
de Freitas, Marcos Tavares-Dias, M. e Tácito Araújo Bezerra.<br />
Editora: Embrapa, Brasília/DF Idioma: Português - 152 páginas<br />
Lançamento: Agosto de 2017<br />
Lançado pela Embrapa Pesca e Aquicultura (TO), o livro aborda todas as fases de<br />
produção do pirarucu, espécie de grande potencial para a aquicultura nacional, uma vez<br />
que pode atingir até 10 kg em apenas um ano de cultivo. Em seu conteúdo aborda-se todas as fases de produção, incluindo a captura de<br />
ovos, preparação de viveiros, qualidade de água, treinamento alimentar, engorda, despesca e por fim, processamento e comercialização.<br />
Segundo a pesquisadora da Embrapa Adriana Ferreira Lima, uma das autoras do livro, a obra vem atender à demanda por material<br />
didático sobre o assunto e suprir uma carência de informações sobre cultivo da espécie.<br />
Design and Operation of Super-Intensive Biofloc-Dominated<br />
Systems for the Production of<br />
Pacific White Shrimp<br />
Editores: Tzachi M. Samocha, David I. Prangnell, Terrill R. Hanson, Granvil D. Treece, Timothy<br />
C. Morris, Leandro F. Castro e Nick Staresinic<br />
Editora: World <strong>Aquaculture</strong> Society Idioma: Inglês - 368 páginas<br />
Lançamento: 2017<br />
No <strong>Brasil</strong>, o sistema de bioflocos acabou se tornando uma verdadeira “febre” entre produtores,<br />
estudantes e entusiastas na área de aquicultura. Isso porque é um sistema que utiliza pouca ou<br />
nenhuma renovação de água, promovendo o uso eficiente do recurso hídrico, diminuindo os riscos<br />
de doenças, além de os flocos presentes no sistema servirem como fonte suplementar de alimento aos camarões que estão sendo cultivados.<br />
Sendo assim, para quem está começando seus projetos seja em escala experimental ou comercial, esse guia é sem dúvida, um<br />
grande aliado, englobando desde qualidade de água a análise econômica. Segundo os editores, o objetivo deste manual é exatamente o<br />
de disseminar este tipo de sistema, tido como mais ecológico e sustentável da aquicultura.<br />
Biology and Culture of<br />
Portunid Crabs of World Seas<br />
Autor: Ramasamy Santhanam<br />
Editora: CRC Press Idioma: Inglês - 395 páginas<br />
Lançamento: Outubro de 2017<br />
Este livro fornece uma abundante e valiosa contribuição, de forma inédita, sobre a diversidade,<br />
biologia, ecologia e cultivo dos caranguejos portunídeos. Embora muitas espécies de caranguejos<br />
desta família sejam comestíveis e comercialmente importantes, somente algumas espécies dos<br />
gêneros Scylla e Portunus são amplamente cultivadas. Isto ocorre em grande parte devido à falta de<br />
informações sobre a biologia dos caranguejos portunídeos.<br />
DIVULGUE AQUI O SEU LANÇAMENTO EDITORIAL!<br />
redacao@aquaculturebrasil.com<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
89
Eles fazem<br />
a diferença!<br />
A<br />
seção “Eles fazem a diferença” da 7ª edição da <strong>Revista</strong> <strong>Aquaculture</strong><br />
<strong>Brasil</strong> homenageia um ícone da aquicultura brasileira.<br />
Afinal, quem não conhece o Prof. Dr. Wilson Francisco Britto Wasielesky<br />
Júnior? Também chamado somente de Wilson Wasielesky, ou<br />
ainda “Mano” da FURG, para os mais íntimos. Gaúcho nato, nascido<br />
em Pelotas, Wilson é autor de mais de 100 trabalhos científicos<br />
em periódicos indexados e atualmente é pesquisador e professor<br />
titular do Instituto de Oceanografia da Universidade Federal do<br />
Rio Grande. Filho de Wilson Francisco Britto Wasielesky (médico)<br />
e Carmen Miguens Wasielesky (professora e diretora de escola).<br />
Pai da Ana e da Gabriela. Esposo da Mariusa. Wilson é com<br />
certeza um orgulho para a família e um pesquisador reconhecido,<br />
não somente no <strong>Brasil</strong>, mas com certeza em vários outros países.<br />
Mas se você acha que o Mano já nasceu trabalhando<br />
com aquicultura...<br />
Quem olha seu curriculum e envolvimento com a aquicultura até pensa que<br />
sim. Que essa foi uma atividade que Wilson sonhou desde a infância. Contudo, poucos<br />
sabem que sua formação inicial é em Engenharia civil (1981-1984), pela Universidade<br />
Católica de Pelotas. Mais difícil ainda é imaginar que ele também já foi da Escola<br />
de Aviação Civil do Aero Clube de Pelotas. Mas não eram por esses caminhos que<br />
Wilson desejava “voar”. E foi na Fundação Universidade do Rio Grande (FURG), com<br />
o curso de Oceanologia (1987-1991), que de fato começou a “voar”, porém dessa vez,<br />
como pesquisador.<br />
Em 1989 começou os primeiros trabalhos como bolsista na recém inaugurada<br />
Estação Marinha de Aquacultura (EMA), sob orientação do professor Marcos Alberto<br />
Marchiori.<br />
“Além das atividades de rotina da EMA, passei a trabalhar em<br />
pesquisa com o então mestrando Antônio Ostrensky. Realizamos vários<br />
experimentos sobre a toxicidade de nitrogenados no processo produtivo<br />
do camarão rosa Farfantepenaeus paulensis. Os trabalhos renderam<br />
quatro publicações em periódicos. Pessoalmente, considero que<br />
esta foi a primeira fase de pesquisa científica que participei, ou seja,<br />
minha iniciação científica”.<br />
“No dia a dia, dentro da sala de aula, nos laboratórios e nas<br />
saídas de campo, obtinha respostas e explicações a muitas questões<br />
antigas. Foi muito fácil cursar Oceanologia!!!”<br />
90<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
Uma “cria” da FURG e um dos criadores<br />
do PPGAq<br />
Após a graduação, Wilson continuou<br />
seus trabalhos na FURG através do mestrado em<br />
Oceanografia Biológica (1992-1994). Sob a orientação<br />
do Prof. Dr. Adalto Bianchini, desenvolveu trabalhos<br />
com linguado, sendo capturados cerca de 2000 juvenis<br />
para realização das pesquisas. O resultado? Seis<br />
capítulos da dissertação, gerando 5 artigos científicos<br />
em revistas indexadas!<br />
Ainda, nesse período, mais 5 trabalhos foram<br />
realizados com peixes marinhos (tainhas e papa-terra),<br />
com a participação dos então estagiários/bolsistas<br />
Luis Poersch e Kleber Miranda, totalizando 10 artigos.<br />
Em 1996 iniciou o doutorado, também na<br />
FURG, porém agora trabalhando com o cultivo do<br />
camarão rosa Farfantepenaeus paulensis, no estuário da Lagoa dos Patos. A partir daí a carcinicultura foi o foco<br />
dos trabalhos e pesquisas que viriam a seguir. Com 10 capítulos, a tese gerou 7 publicações e pelo menos 10<br />
capítulos de livro.<br />
Wilson já fazia parte do quadro de professores da FURG desde 1994, quando foi aprovado em um<br />
concurso público para Professor Assistente I. Sempre ativo e percebendo a necessidade de uma pós-graduação<br />
focada em aquicultura, iniciou, juntamente com demais professores, a estruturação do Programa de Pós<br />
Graduação em Aquicultura do Instituto de Oceanografia da FURG, a partir dos anos 2000. “No final de 2001<br />
realizamos a primeira seleção para o mestrado, com ingresso dos alunos em março de 2002. Já em 2007 foi<br />
aprovado o curso de doutorado, hoje nota 5 da CAPES”.<br />
E o sistema de bioflocos?<br />
Um dos pioneiros desse sistema no <strong>Brasil</strong>, Wilson foi buscar conhecimento nos Estados Unidos.<br />
“No ano de 2004, iniciei um pós-doutorado no Waddell Mariculture Center, nos Estados Unidos da América.<br />
Esse centro já contava com uma equipe de tradição como o Dr. Al Stokes, engajados com pesquisa e desenvolvimento<br />
de cultivo de camarões em sistema superintensivos com bioflocos. Além disso, os estudos com<br />
sistema BFT eram realizados somente nos Estados Unidos, portanto o domínio da metodologia do sistema foi<br />
de grande importância para poder trazer esta tecnologia para o <strong>Brasil</strong>”.<br />
Um dos trabalhos realizados no pós-doutorado, intitulado “Effect of natural production in a zero<br />
exchange suspended microbial floc based super-intensive culture system for white shrimp Litopenaeus vannamei”<br />
lhe rendeu mais de 200 citações.<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
91
Trabalhos de extensão: duas fases<br />
No total foram ministrados 27 cursos de extensão com objetivo principal de repassar as tecnologias geradas<br />
no Laboratório de Carcinicultura para a comunidade de pescadores artesanais, produtores, técnicos da indústria,<br />
extensionistas e alunos de graduação. Os trabalhos podem ser divididos em duas fases:<br />
Primeira fase (até 2007): Repasse de tecnologias<br />
sobre os cultivos de camarões em estruturas<br />
alternativas e sistemas convencionais de<br />
cultivo semi-intensivo. Foram ministrados cursos<br />
e montadas estruturas demonstrativas sobre o<br />
cultivo em cercados em diferentes locais do estuário<br />
da Lagoa dos Patos - RS, Tramandaí - RS,<br />
Imaruí - SC, Lagoa do Camacho - SC e La Paloma<br />
no Uruguai.<br />
Segunda Fase: (a partir de 2008): Repasse da<br />
tecnologia gerada sobre sistema de Bioflocos,<br />
através de cursos de curta duração em diferentes<br />
eventos nacionais e internacionais, e também na<br />
Estação Marinha de Aquicultura da FURG. Só na<br />
EMA já foram realizados 12 cursos para produtores<br />
de camarões, com a participação de cerca<br />
de 400 pessoas, onde 2/3 dos participantes são<br />
produtores ou pessoas que trabalham no setor<br />
produtivo e desejam se aperfeiçoar nesta nova<br />
tecnologia, principalmente por se tratar de cultivos<br />
mais biosseguros, ecologicamente corretos e<br />
de alta produtividade.<br />
Nos últimos três anos, em função do crescente interesse pelo uso do sistema BFT nas fazendas brasileiras<br />
de cultivo de camarões, o grupo de Carcinicultura da FURG vem realizando visitas técnicas a diferentes fazendas<br />
localizadas na região Nordeste, principalmente no Ceará, Rio Grande do Norte e Bahia. As visitas têm sido realizadas<br />
na busca de soluções para conversão de sistemas convencionais para sistema BFT, aplicação de sistema BFT na<br />
fase de berçários e aumento de biossegurança.<br />
92<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
Projetos de pesquisa<br />
“Desde 1994 até o presente momento fui responsável e/ou participei<br />
de aproximadamente 40 projetos de Pesquisa, Extensão e<br />
de Desenvolvimento Tecnológico. Nesse período foram concluídas<br />
mais de 100 orientações e coorientações em nível de graduação,<br />
mestrado, doutorado e supervisão de pós-doutorado. As<br />
publicações estão relacionadas principalmente a (1) toxicidade de<br />
produtos nitrogenados com camarões e peixes, (2) maturação de<br />
camarões, (3) cultivos de camarões em estruturas alternativas (gaiolas<br />
e cercados) e mais recentemente sobre (4) cultivo de camarões<br />
em sistema de Bioflocos (BFT)”.<br />
Estruturação da Estação Marinha de Aquicultura (EMA)<br />
“Durante os anos 90 foram realizadas uma serie de melhorias na Estação Marinha de Aquacultura como forma<br />
de aperfeiçoar as estruturas para as atividades de maturação, desova e larvicultura do camarão rosa Farfantepenaeus<br />
paulensis.<br />
Entre 2000 e 2006 foram estruturados 10 viveiros da EMA, incluindo revestimento com geomembrana. Esse<br />
conjunto de viveiros revestidos na EMA é provavelmente a única estrutura de pesquisa deste porte no país.<br />
Em 2006, com recursos do MPA, CNPq, Fapergs, CAPES etc, e com o apoio da empresa SulQuímica S.A., foi<br />
construída uma unidade piloto com raceways cobertos por uma estufa, viabilizando a realização de pesquisas<br />
com sistema superintensivo de produção de camarões em bioflocos. Nesta unidade foram realizados os primeiros<br />
experimentos neste modelo de cultivo no <strong>Brasil</strong> em escala piloto.<br />
Com apoio da FINEP e MPA, em 2014 estruturamos uma estufa para a produção de camarões em sistema superintensivo,<br />
utilizando a tecnologia de bioflocos, na qual foi aplicado todo o conhecimento gerado na EMA,<br />
viabilizando a produção em escala comercial. Esta unidade serve como unidade demonstrativa para os cursos<br />
de extensão e para a formação de alunos nos diferentes níveis”.<br />
Perspectivas Futuras<br />
Estrutura: “O setor de cultivo de camarões do Instituto de Oceanografia, da FURG teve um crescimento muito<br />
grande nos últimos anos. Portanto, o desafio é aperfeiçoar o que temos e tornar os laboratórios melhor equipados<br />
e conseguir mantê-los”.<br />
Repasse de Tecnologia: “Também é um dos objetivos futuros, intensificar o repasse das tecnologias geradas.<br />
Apesar de minhas atividades já serem realizadas atualmente com este objetivo, estima-se que é possível aperfeiçoar”.<br />
Publicações: “Em função de muitas tecnologias geradas nos últimos anos, a ideia é manter um bom nível de<br />
publicação de artigos científicos e de popularização da ciência, mas o objetivo é investir nos livros técnicos.<br />
Um primeiro livro intitulado “Cultivo de camarão rosa em gaiolas e cercados no estuário da Lagoa dos Patos”,<br />
editado em parceria com o Dr. Luis Poersch, está na fase de impressão. No momento existem mais dois livros<br />
em fase de redação. O primeiro tem como foco o ensino de Aquicultura geral para alunos na fase de graduação.<br />
O segundo tem como objetivo reunir o conhecimento atual sobre cultivo de camarões sistema BFT, utilizando<br />
o material gerado por professores e alunos do Projeto Camarão”.<br />
Pós-Doutorado: “Há um planejamento pessoal de realizar outro período pós doutoral com objetivo de iniciar<br />
uma nova linha de pesquisa para se obter um novo pacote tecnológico com outra espécie de crustáceo. Existe<br />
uma serie de possibilidades, mas a definição será nos próximos anos, pois temos que ver claramente com qual<br />
espécie trabalhar, aonde e com quem seria interessante trabalhar, além da factibilidade interna (na FURG),<br />
financiamento (CNPq, CAPES) da proposta e aceite no exterior.”<br />
Uma última palavra:<br />
Somente posso dizer uma coisa:<br />
Muito obrigado a tudo e a todos!!!<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
93
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
95
Robalo-flecha<br />
camurim<br />
common snook<br />
Centropomus undecimalis<br />
A espécie escolhida para a 7ª edição,<br />
comemorativa de 1 ano da <strong>Revista</strong> <strong>Aquaculture</strong><br />
<strong>Brasil</strong>, apresenta grande potencial para a piscicultura<br />
marinha brasileira. Tema da tese de doutorado<br />
do Editor da <strong>Revista</strong> <strong>Aquaculture</strong> <strong>Brasil</strong> (mas não é<br />
por isto que acreditamos na espécie, ok?), chegou a<br />
vez de um peixe marinho estrear na Seção “Espécies<br />
Aquícolas”.<br />
Maior representante da família Centropomidae,<br />
podendo alcançar 24 kg, o robalo-flecha é<br />
Reprodução e produção de juvenis<br />
encontrado desde a Carolina do Sul, nos EUA até a<br />
região Sul do <strong>Brasil</strong>.<br />
Peixe branco, preferido dos restaurantes<br />
de comida oriental e dos consumidores em geral,<br />
lamentavelmente sua captura é muito escassa no<br />
País, tendo em vista que não é um peixe que forma<br />
grandes cardumes ou possui considerável biomassa<br />
em ambiente natural.<br />
A solução é cultivar!<br />
A reprodução é realizada somente via indução hormonal. No <strong>Brasil</strong>, entre 2005 e 2009 foram obtidas as<br />
primeiras desovas da espécie em laboratório (UFSC e Laboratório Estaleirinho) a partir de reprodutores selvagens<br />
capturados já maduros. Em 2012, pela primeira vez na América Latina, obteve-se sucesso na indução e desova de<br />
reprodutores de C. undecimalis mantidos em laboratório, no Laboratório de Piscicultura Marinha da UFSC, através<br />
dos esforços do Prof. Dr. Vinícius Ronzani Cerqueira e equipe.<br />
SISTEMAS DE PRODUÇÃO<br />
O robalo-flecha pode ser produzido<br />
em viveiros de terra, tanques-rede<br />
ou sistemas de recirculação<br />
de água, tanto em água<br />
doce, quanto salobra ou salgada,<br />
pelo fato da espécie ser eurihalina.<br />
No <strong>Brasil</strong>, somente pequenas<br />
tentativas isoladas e em pequena<br />
escala foram conduzidas até o<br />
momento.<br />
© Giovanni Lemos de Mello<br />
© Andre Muniz Afonso<br />
96<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
Nutrição e alimentação<br />
Espécie carnívora, sua exigência nutricional<br />
ainda não está estabelecida. A exigência<br />
proteica é, provavelmente, acima de 45-50%,<br />
devendo-se utilizar a farinha de peixe como<br />
fonte proteica principal. No <strong>Brasil</strong>, utiliza-se<br />
rações que são produzidas para bijupirá ou<br />
carnívoros de água doce.<br />
Preço de mercado<br />
Este é um dos motivos que chamam a atenção da espécie:<br />
ela é uma das mais valorizadas no <strong>Brasil</strong>. Sua cotação atual<br />
na CEAGESP é de R$ 38,00 o quilo (valor médio para o peixe inteiro).<br />
No caso das fazendas, sugere-se que elas consigam comercializar,<br />
por exemplo, para restaurantes de comida oriental, por<br />
cerca de R$ 25,00 a R$ 30,00 o quilo. Estudos preliminares conduzidos<br />
pela UDESC em parceria com o “Umi Cozinha Oriental”,<br />
apontaram que um robalo-flecha de 500 g atende perfeitamente<br />
às exigências de pratos como sashimi, niguiri, entre outros.<br />
Tempo de cultivo<br />
Em temperaturas altas<br />
(28-30 o C), o robalo-flecha pode<br />
atingir 1 (um) quilo em cerca<br />
de dois anos. A maior dificuldade<br />
é atingir as primeiras 50<br />
gramas. Num estudo conduzido<br />
na Universidade do Estado<br />
de Santa Catarina (UDESC), o<br />
peixe partiu de 350 para 500<br />
gramas em apenas 41 dias. Na<br />
Figura 1, pode-se observar o<br />
crescimento da espécie após<br />
24 meses de engorda, em tanques-rede,<br />
no México.<br />
Figura 1. Curva de crescimento do robalo-flecha, C. undecimalis,<br />
cultivado durante dois anos em tanques-rede no México<br />
(Oviedo-Pérez, 2013).<br />
ENTRAVES<br />
CARACTERÍSTICAS POSITIVAS<br />
A principal é cultural. Para uma aquicultura<br />
nacional acostumada a produzir- camarões<br />
marinhos em 3 meses ou tilápia em 5-6 meses,<br />
“demorar” dois anos para engordar uma espécie<br />
não anima os produtores;<br />
Não existem reprodutores domesticados;<br />
A produção de juvenis é escassa;<br />
Não existe ração comercial para a espécie;<br />
Faltam diversas informações sobre os sistemas<br />
de cultivo.<br />
Preço de mercado;<br />
Rendimento de filé (40-43%);<br />
Carne branca, sem espinhos, com ótima aceitação<br />
de mercado;<br />
Rústico, apresenta altas taxas de sobrevivência na<br />
criação.<br />
Fonte: Giovanni Lemos de Mello<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017<br />
97
DESPESCOU!<br />
Por que não a última página de conteúdo da nossa revista também<br />
apresentar alguma novidade ou inovação?<br />
Pensando nisso, inauguramos a partir desta edição a Seção “Despescou!”.<br />
Na 7ª edição, trazemos os resultados da despesca de um berçário intensivo com camarões marinhos<br />
(Litopenaeus vannamei) da Fazenda Tabatinga, localizada no município de Goiana (PE), de propriedade do<br />
Eng. Civil Cláudio Moreira da Cunha Rabelo.<br />
Área (m³) 640<br />
Data de povoamento 31/mai/17<br />
Número de pós-larvas 990.000<br />
Densidade inicial (pl´s/m³) 1.546,9<br />
Peso inicial (mg) 40<br />
Biomassa inicial (kg) 39.600<br />
Data de despesca 10/jul/17<br />
Dias de cultivo 40<br />
Peso final (mg) 880<br />
Biomassa final (kg) 909<br />
Produtividade (kg/m³) 1,42<br />
Sobrevivência (%) 100,00<br />
Total de ração (kg)<br />
Conversão alimentar<br />
1.556<br />
98<br />
1,71:1<br />
AQUACULTURE BRASIL - JULHO/AGOSTO 2017
Nós alimentamos milhões.<br />
As pessoas estão comendo cada vez mais peixes e camarões. Grande parte<br />
dos produtores tem prosperado utilizando alimentos Skretting. Somos líderes<br />
mundiais em soluções nutricionais inovadoras e sustentáveis para peixes e<br />
camarões cultivados. Produzimos alimentos nos cinco continentes. Gostaríamos<br />
de agradecer aos nossos clientes que contribuem para alimentar milhões e a todos<br />
os consumidores de peixes e camarões. Conheça mais em:<br />
www.skretting.com/pt-br/