CARTA ABERTA: A CIÊNCIA, A CRISE DE IDENTIDADE E O FUTURO PROFISSIONAL
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Por mais que a produção do conhecimento científico e o acesso a
informação tenham aumentado, isso não foi suficiente para diminuir a lacuna entre
ciência e clínica. Na sua grande maioria, as habilidades para se analisar criticamente,
compreender os resultados da pesquisa e aplica-los na prática clínica não são
desenvolvidos durante o processo de formação profissional. Essas habilidades básicas
para o desenvolvimento do pensamento crítico, incluindo conhecimentos básicos de
probabilidade e estatística, são ensinadas de maneira insuficiente durante a formação.
Essa falha no processo de formação, além de cegar os alunos para a verdade, impacta
negativamente na sua capacidade de responder adequadamente a críticas pertinentes
ao seu campo de atuação. Consequentemente, abre-se espaço para propostas de
tratamento sem fundamentos científico e, muitas vezes, sem qualquer explicação na
biologia/fisiologia. Por exemplo, para justificar tais tratamentos infundados, os
interessados em promover esses tratamentos podem, quando conveniente, substituir os
ensaios clínicos aleatorizados robustos (vistos como "padrão-ouro") que mostram
resultados contrários as suas propostas de tratamento, por outras formas de
“evidência” mais compatíveis que foram desenvolvidas em outras partes do mundo e,
que de maneira surpreendente, nós brasileiros nunca tivemos conhecimento ou
substituí-los por estudos pequenos, estudos com baixa qualidade metodológica,
estudos observacionais ou mesmo relatos de um único caso.
Em todas as áreas da saúde a população tem o direito de esperar que
certos preceitos éticos básicos sejam satisfeitos incluindo: (1) Competência – os
profissionais de saúde devem ser suficientemente qualificados e conhecedores, para
que sua prática clínica seja eficaz e atualizada; (2) Evidência – os tratamentos e
procedimentos de diagnóstico oferecidos devem basear-se em conhecimentos obtidos
por meio de pesquisas robustas; (3) Autonomia – a população deve ser apresentada a
todas as opções de tratamento fundamentadas na ciência e ter a liberdade de escolha,
conhecendo como o tratamento funciona, seus riscos e benefícios; (4) Honestidade –
os profissionais devem se comportar com sinceridade; isso inclui profissionais, órgãos
profissionais, clínicas e hospitais; (5) Ausência de exploração – a população deve ter
certeza que está recebendo tratamentos com base nas melhores evidências disponíveis
e de que não será explorada. Somente assim, e não somando novas intervenções ao
grupo de habilidades e competências profissional, que poderemos servir melhor a
saúde da população.