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CARTA ABERTA: A CIÊNCIA, A CRISE DE IDENTIDADE E O FUTURO PROFISSIONAL

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Adicionar novos tratamentos faz parte da evolução de uma profissão,

desde que esses tratamentos respeitem a ética e tenham sido testados rigorosamente

por métodos científicos adequados. Justificar a inserção de tratamentos por qualquer

outro argumento, é colocar a profissão (como no caso de falta de argumentos na

defesa durante um processo jurídico) e a população em risco. Não é a quantidade de

condutas que um profissional de saúde pode realizar, mas sim, a base científica

existente nos tratamentos propostos que contribui para a sua identidade profissional e

para a melhor percepção dos demais membros da área da saúde. Especificamente, a

minha área de formação está no meio de uma “crise de identidade”. As

especificidades da profissão não são duplicadas por nenhuma outra da área da saúde.

Portanto, como médicos, professores e alunos, percebemos que nós, como

profissionais, somos importantes e que os anos da profissão permitiram um avanço de

conhecimento do qual podemos nos orgulhar. Sendo assim, vejo que esse seria o

momento de investirmos em criar uma base científica sólida na prática clínica das

competências e habilidades já descritas para a profissão ao invés de buscar incluir

qualquer outro procedimento ainda não testado. Isso sim é necessário para melhorar a

qualidade do serviço prestado a população, uma vez que um estudo realizado aqui no

Brasil por um grupo de São Paulo mostrou que a maioria dos profissionais não baseou

a escolha da sua intervenção em pesquisas científicas quando expostos a diferentes

casos clínicos. Essa crise de identidade me lembra uma cena do filme Spies Like Us

(https://www.youtube.com/watch?v=hoe24aSvLtw) em que não parece haver

distinção entre os Doctors gerando uma grande confusão na identidade dos

personagens.

Por fim, o conhecimento superficial e essa carência sobre as bases do

raciocínio científico ainda podem comprometer o futuro de uma profissão. Vivemos

um mundo de confrontos e debates incendiados entre fatos científicos e opiniões

repletas de conflitos de interesse. Essas opiniões, dizem se basear em teorias, mas

quando usada em um contexto não científico, a palavra "teoria" implica que algo não

está comprovado e repousa sobre uma base de suposições, intuição, especulação ou,

palpites. Ironicamente, atualmente, o mesmo conhecimento científico que permitiu

viver vidas longas, saudáveis e prósperas parece não ser considerado. Em prol de uma

profissão com identidade fortalecida, precisamos de líderes que naveguem mais com a

bússola do conhecimento científico do que com o mapa das opiniões.

Felipe Reis, PhD.

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