O que é o Espiritismo - Allan Kardec
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ALLAN KARDEC
Em resumo, a Igreja, repelindo sistematicamente os
espíritas que a buscavam, forçou-os a retroceder; pela natureza
e violência dos seus ataques ela ampliou a discussão e
conduziu-a para um terreno novo. O Espiritismo era apenas
uma simples doutrina filosófica; foi a Igreja quem lhe deu
maiores proporções, apresentando-o como inimigo formidável;
foi ela, enfim, quem o proclamou nova religião. Foi um passo
errado, mas a paixão não raciocina melhor.
Um livre pensador. — Há pouco proclamastes a
liberdade de pensamento e de consciência, e declarastes que
toda crença sincera é respeitável. O materialismo é uma crença
como outra qualquer; por que negar-lhe a liberdade que
concedeis a todas as outras?
A. K. — Cada um é, certamente, livre de crer no que
quiser ou de não crer em coisa alguma; e não toleraríamos
mais uma perseguição contra aquele que acredita no nada
depois da morte, assim como na promovida contra um
cismático de qualquer religião.
Combatendo o materialismo, não atacamos os
indivíduos, mas sim uma doutrina que, se é inofensiva para a
sociedade, quando se encerra no foro íntimo da consciência
de pessoas esclarecidas, é uma chaga social, se vier a
generalizar-se.
A crença de tudo acabar para o homem depois da
morte, que toda solidariedade cessa com a extinção da vida
corporal, leva-o a considerar como um disparate o sacrifício do
seu bem-estar presente, em proveito de outrem; donde a
máxima: “Cada um por si durante a vida terrena, porque com
ela tudo se acaba.”
A caridade, a fraternidade, a moral, em suma, ficam
sem base alguma, sem nenhuma razão de ser. Para que nos
molestarmos, nos constrangermos e nos sujeitarmos a
privações hoje, quando amanhã, talvez, já nada sejamos?
A negação do futuro, a simples dúvida sobre outra
vida, são os maiores estimulantes do egoísmo, origem da