ESP_SUP_2033
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VI | 20 março 2020<br />
<strong>ESP</strong>ECIAL FUSÕES & AQUISIÇÕES<br />
INVESTIDORES ADIAM DECISÕES<br />
A pandemia de Covid-19 alterou a rotina das empresas e poderá também ter influência no mercado transacional português. Por<br />
um lado, as decisões de compra e venda poderão ter de esperar, mas, por outro, antevê-se movimentações no setor farmacêutico.<br />
1 COMO É QUE ESTA<br />
PANDEMIA PODE TER<br />
INFLUÊNCIA NO MERCADO<br />
TRANSACIONAL<br />
PORTUGUÊS?<br />
AS PERSPETIVAS<br />
DE CRESCIMENTO,<br />
APRESENTADAS<br />
PELA GENERALIDADE<br />
DOS ‘PLAYERS’ NO INÍCIO<br />
DO ANO, MANTÊM-SE?<br />
2 EM QUE MEDIDA O<br />
CORTE EXTRAORDINÁRIO<br />
NAS TAXAS DE JURO POR<br />
PARTE DE VÁRIOS BANCOS<br />
CENTRAIS TERÁ INFLUÊNCIA<br />
NAS FUSÕES E AQUISIÇÕES<br />
DE EMPRESAS<br />
EM PORTUGAL?<br />
JOÃO SOUSA LEAL<br />
Partner<br />
da KPMG<br />
1 Ainda é cedo para se perceber o<br />
real impacto da pandemia da Covid-<br />
-19 na economia e em particular no<br />
mercado de transações. O que<br />
temos verificado nas últimas duas<br />
semanas, é um impacto muito<br />
negativo nos mercados bolsistas e<br />
uma elevada volatilidade nos<br />
mercados de dívida. Este fenómeno<br />
tem levado a um adiamento das<br />
decisões de investimento e<br />
desinvestimento. Há um sentimento<br />
no mercado de transações de<br />
esperar para ver. Os compradores<br />
têm receio de tomar decisões de<br />
investimento precipitadas que<br />
poderão, num cenário de recessão<br />
mais prolongado, destruir valor. Os<br />
vendedores também entendem que<br />
esta conjuntura poderá reduzir<br />
substancialmente o valor de venda<br />
dos seus ativos, logo, preferem<br />
desacelerar o processo de<br />
desinvestimento.<br />
2 O mais provável é que não tenha<br />
qualquer impacto. Num cenário de<br />
recessão mais duradouro e vindo de<br />
um nível de taxas de juro<br />
extremamente baixo, é provável que<br />
as economias necessitem de outros<br />
estímulos para recuperar e voltar a<br />
crescer. Caso a recessão seja de<br />
curta duração, este corte poderá<br />
estimular a economia e o mercado<br />
de transações no segundo semestre<br />
do ano. O impacto no mercado<br />
português será sempre relativamente<br />
reduzido.<br />
PAULO GARRETT<br />
Managing partner<br />
da Globalwe<br />
1 Parece começar a haver um<br />
consenso generalizado que o ‘crash’<br />
do mercado acionista irá colocaria o<br />
mercado de fusões e aquisições em<br />
espera. Esta é, pois, uma evolução<br />
do problema desde que este se<br />
tornou mais internacional, e<br />
materialmente agravado devido à<br />
recente desaceleração nos mercados<br />
comerciais e de capitais globais.<br />
O ritmo das transações,<br />
especialmente as em fases mais<br />
iniciais, tem sido agravado (e<br />
nalguns casos levando mesmo ao<br />
seu cancelamento) pelas cada vez<br />
maiores restrições de viagem e<br />
medidas de quarentena impostas<br />
pelos países atingidos pelo surto.<br />
Com muitos escritórios e negócios a<br />
permanecerem na sua totalidade ou<br />
em grande parte fechados ou<br />
limitados em operação, as reuniões<br />
presenciais e as visitas tornaram-se<br />
desafiadoras ou impossíveis,<br />
especialmente nas áreas mais<br />
afetadas pela pandemia. Desta<br />
forma, as partes da transação irão<br />
precisar de ajustar as suas<br />
expectativas e os cronogramas<br />
estabelecidos inicialmente. De<br />
qualquer forma o mais certo parece<br />
ser as empresas fazerem um<br />
compasso de espera, seja no ‘buy<br />
side’ ou no ‘sell side’, até que haja<br />
mais certeza e visibilidade no<br />
mercado, não sendo possível ainda<br />
antever qual a duração desta espera.<br />
Numa visão otimista poderemos<br />
estar a falar de apenas duas ou três<br />
semanas, mas poderemos também<br />
falar em cenários mais longos de<br />
vários meses caso se confirme por<br />
exemplo um cenário de forte<br />
recessão económica e não haja uma<br />
rápida recuperação do mercado<br />
acionista.<br />
2 Embora seja ainda cedo para se<br />
conseguir tirar conclusões finais, mas<br />
o corte extraordinário nas taxas de<br />
juro irá ter por certo uma influência<br />
positiva no mercado das fusões e<br />
aquisições e um contraponto ao que<br />
foi indicado acima, já que<br />
tradicionalmente cenários de baixas<br />
taxas de juro são favoráveis ao<br />
dinamismo desde mercado e<br />
Portugal por certo não escapará a<br />
esta dinâmica.<br />
FRANCISCO XAVIER DE ALMEIDA<br />
Sócio da CMS Rui<br />
Pena & Arnaut<br />
1 Cremos que as perspetivas de<br />
crescimento apresentadas não se<br />
vão manter mas é difícil nesta fase,<br />
ainda de grande incerteza, fazer<br />
previsões. Em 2019, o investimento<br />
no setor imobiliário pode explicar-se<br />
devido à estabilização da economia<br />
mundial e descida de taxas de juro o<br />
que incentiva os consumidores a<br />
comprar casa aumentando a procura<br />
no setor. Quanto ao setor<br />
tecnológico, esta é uma tendência<br />
que se tem verificando nos últimos<br />
anos e que é expetável que se<br />
mantenha em virtude do que alguns<br />
já apelidaram de quarta revolução<br />
industrial.<br />
2 Essa decisão poderá incentivar o<br />
investimento e contrariar, em certa<br />
medida, os efeitos da situação de<br />
pandemia que vivemos que ainda<br />
são desconhecidos. Assim,<br />
esperamos assistir a uma<br />
recuperação económica a partir do<br />
final do primeiro semestre de 2020.<br />
MARIA JOÃO MATA<br />
Sócia da Miranda<br />
& Associados<br />
CATARINA SANTINHA<br />
Associada da Miranda<br />
& Associados<br />
1 A pandemia que atravessamos<br />
começa a trazer-nos, naturalmente,<br />
uma nuvem de incertezas sobre a<br />
evolução do mercado transacional no<br />
ano de 2020. Se, no início do ano,<br />
sabíamos, por um lado, que<br />
poderíamos ser confrontados com um<br />
relativo abrandamento do investimento<br />
estratégico americano em Portugal<br />
(devido às eleições americanas e à<br />
guerra comercial entre a China e os<br />
EUA), bem como com as incertezas<br />
decorrentes da forma de<br />
concretização do Brexit, contávamos,<br />
por outro lado, com a manutenção de<br />
um cenário de relativa estabilidade (e<br />
até, em alguns casos, de crescimento<br />
moderado) de algumas das principais<br />
economias europeias, com exceção<br />
da economia alemã, que vinha já<br />
dando sinais de claro abrandamento.<br />
Ora, atenta a reduzida dimensão do<br />
nosso mercado, somos cronicamente<br />
contagiados pelo que se passa lá fora,<br />
representando as aquisições ‘inbound’<br />
uma parte muito significativa dos<br />
‘deals’ de M&A em Portugal.<br />
Antevemos que a vontade e<br />
capacidade de os ‘players’<br />
concretizarem as transações já em<br />
curso e de procurarem novas<br />
oportunidades de negócio dependerá<br />
de um conjunto de fatores muito<br />
diverso. Será inevitável haver lugar a<br />
um ajustamento e a uma reavaliação<br />
constante das perspetivas definidas no<br />
início do ano, mas sempre numa<br />
lógica de moderação e de reavaliação<br />
diária, porque não nos parece razoável<br />
anteciparmos, nesta fase tão precoce,<br />
um cenário de crise sistémica com<br />
base numa conjuntura que, por agora,<br />
ainda é excecional e relativamente à<br />
qual nenhum de nós sabe ainda<br />
quanto tempo vai durar.<br />
2 Juros mais baixos significam dinheiro<br />
mais barato, custos menores com os<br />
serviços de dívida, menor rendibilidade<br />
dos investimentos em produtos<br />
financeiros e maior rentabilidade dos<br />
ativos das empresas – e, portanto,<br />
regra geral, maior capacidade e<br />
interesse das empresas em investir em<br />
ativos core. Esta relação entre descida<br />
das taxas de juro e o aumento do<br />
número de operações de M&A está<br />
amplamente estudada mas,<br />
tendencialmente, esses estudos não<br />
consideram a existência de outras<br />
variáveis, como a existência de fatores<br />
extrínsecos que possam influenciar,<br />
por si só, a capacidade de os<br />
compradores assumirem o risco de<br />
avançar com novas transações. Se os<br />
efeitos económicos da pandemia<br />
forem, como apontam os analistas, de<br />
curta duração, e afetarem mais<br />
severamente PME, que deixarão de ter<br />
liquidez para fazer face às suas<br />
obrigações correntes, esta realidade,<br />
conjugada com a redução<br />
extraordinária das taxas de juro por<br />
parte dos bancos centrais, poderá<br />
promover um aumento do número de<br />
concentrações económicas, por via da<br />
aquisição de empresas mais pequenas<br />
por parte de ‘players’ com maior<br />
relevância nos respetivos sectores de<br />
atividade. Por outro lado, é possível<br />
favoreça também o aumento, no<br />
segundo semestre do ano, de novas<br />
transações nos sectores económicos<br />
que verão a sua atividade aumentar<br />
em virtude da pandemia que<br />
atravessamos.<br />
MIGUEL FARINHA<br />
Head of Transaction Advisory<br />
Services da EY<br />
1 O atual cenário de pandemia terá<br />
uma imediata influência negativa no<br />
mercado, com várias operações a<br />
serem suspensas ou mesmo<br />
canceladas, face à incerteza reinante<br />
no mercado e à dificuldade em estimar<br />
o impacto da mesma na valorização<br />
das operações. Na sequência de uma<br />
primeira vaga de suspensão de<br />
operações, teremos um período de<br />
tempo, que é muito difícil de estimar<br />
neste momento, no qual não existirão