REVISTA_OPINIÃO_LEGAL-01-WEB
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Cristina Toledo de
Carvalho
Historiadora, mestre e
doutoranda em História
Social, atua em pesquisa
histórica na Fundação
Pró-Memória
15
História
São Caetano do Sul e a construção de suas memórias ao
longo do século 20
ão Caetano do Sul, município integrante do chamado
SGrande ABC paulista, desperta atenção pelas estatísticas
que denotam o bom nível de qualidade de vida de sua
população. Desde 1991, a cidade vem apresentando
crescimento em seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH),
segundo dados divulgados pelo Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento (PNUD). Município autônomo desde
1948 (por ocasião da emancipação político-administrativa obtida
frente à urbe de Santo André, à qual estava subordinado desde
1939) e com uma dinâmica econômica articulada ao processo de
desenvolvimento da região, revelando percentuais crescentes de
industrialização a partir da primeira metade do século passado,
São Caetano, no nal da década de 1980, já ocupava lugar de
destaque em relação aos demais núcleos citadinos do ABC.
Em vista disso, ganhou força uma gama de enunciados
imagéticos e discursivos que contribuiu para a difusão de
representações enaltecedoras do poderio econômico da
localidade. Assim, expressões como “cidade mais desenvolvida
do país” e “cidade de primeiro mundo” emergiram para
representar o processo vitorioso de constituição de São Caetano
do Sul. Em estreito diálogo com o referido processo, a imagem
de uma cidade grandiosa e pujante foi construída ao longo do
século 20, projetando perspectivas de passado e futuro e
salientando o sucesso do município, sob a tutela de uma
memória triunfalista.
Centrada na gura dos imigrantes italianos e produzida em 1927,
ano do cinquentenário de sua chegada ao então Núcleo Colonial
de São Caetano (formado nas terras da antiga fazenda de mesmo
nome, que pertencera à comunidade beneditina de São Paulo),
tal memória dominou as representações sobre o passado da
localidade até meados da década de 1950. Nesse período, outras
interpretações começaram a surgir como contraponto aos
discursos atinentes àquela memória triunfalista, criando
condição para o desenvolvimento de uma historiogra a local,
que fora inaugurada, em 1957, pela obra São Caetano do Sul em
IV Séculos de História, de José de Souza Martins, intelectual que
se consagraria, posteriormente, na cena acadêmica nacional e
internacional.
No decorrer desse percurso de produção de memórias, alguns
marcos, em consonância com projetos políticos hegemônicos
em cada conjuntura histórica da cidade, foram eleitos, entre
datas, narrativas, práticas e lugares, forjando o que se pode
chamar de identidade sul-são-caetanense.