Economistas Abril-Junho
Economistas analisam cenários diante da pandemia de Covid-19
Economistas analisam cenários diante da pandemia de Covid-19
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Em março de 2020, cerca de 26,5 milhões de
estadunidenses precisaram recorrer ao seguro
desemprego. Estimativas para economia
brasileira variam entre uma queda de 3,5% a
12% do PIB.
O mundo está diante de uma combinação
ímpar de fatores: a maior pandemia mundial
desde a gripe espanhola (considerando
principalmente a velocidade e facilidade
propagação); a maior crise econômica desde
1929; e a maior queda do preço do petróleo
desde que existe a OPEP. Este quadro assustador
encontra a economia brasileira ainda patinando
para sair da maior depressão de sua história
e com limitadores tanto do lado da demanda
quanto da oferta para um ensaio de retomada.
O Estado brasileiro, ainda que
momentaneamente liberado das regras fiscais
autoimpostas, tem sido tímido no estímulo à
demanda agregada. As famílias, que já estavam
bastante endividadas, estão perdendo renda (e
empregos) e as soluções apresentadas até aqui
limitam-se a um auxílio que não repõe toda a
perda perdida e medidas de crédito que, por
sua natureza, comprometem a renda disponível
futura. O endividamento insustentável também
é um problema para as empresas para quem
a ajuda estatal ainda se resume ao crédito
emergencial, sem que o Estado assuma suas
folhas de pagamento (como em outros países)
e custos fixos de forma a evitar que precisem
demitir seus funcionários e/ou decretar suas
falências financeiras durante o período em que
suas receitas estiverem colapsadas. Sem Gastos
do Governo, sem consumo e sem investimento,
restariam as exportações para salvar o PIB,
mas o cenário internacional é de colapso da
demanda agregada e de recrudescimento dos
protecionismos.
Sem demanda agregada e com a
capacidade de oferta comprometida pela
quebra de diversas empresas afetadas
pelas necessárias políticas de isolamento/
distanciamento social, resta pouco ou nenhum
caminho a não ser uma intervenção estatal
dirigida. E provavelmente o capital irá se dobrar.
Está muito assustado! Mas não se iludam, alguns
“proeminentes e autointitulados ‘especialistas
econômicos’ estreitamente ligados à banca e à
indústria” 5 já anunciam a necessidade um novo
ajuste fiscal tão logo resolvida a pandemia.
Resolvida a ameaça existencial, o capital largará
a boia Keynesiana quando a depressão e o
desemprego ainda serão um problema ainda
maior do que quando a pandemia da Covid-19
começou.
Aqui voltamos a Polanyi 6 . Ainda que
circunscritas a um período histórico bem
específico, suas ideias parecem se encaixar
com alguns poucos ajustes ao cenário atual.
Da conspiração coletivista aos motivos que
pavimentaram a ascensão do fascismo, o
livro de Polanyi precisa ser resgatado. Se o
momento atual não possui o padrão ouro que
quando se dissolveu “a própria civilização
foi engolfada” (Polanyi, 2000, p. 256-257), a
mesma incompatibilidade entre o capitalismo e
a democracia está presente. Polanyi (2000, p.
264) foi categórico ao afirmar que “não houve
um único militante liberal que deixasse de
expressar a sua convicção de que a democracia
popular era um perigo para o capitalismo”. Isso
fica claro quando ele coloca:
A separação de poderes (...) era usada
“O Estado brasileiro, ainda que
momentaneamente liberado das regras
fiscais autoimpostas, tem sido tímido no
estímulo à demanda agregada. ”
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| REVISTA ECONOMISTAS | ABRIL A JUNHO DE 2020