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BP 783 - FEVEREIRO 2020

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Brasil<br />

Fevereiro de <strong>2020</strong> Presbiteriano<br />

13<br />

HISTORICIDADE DO MESSIAS<br />

GENEALOGIAS – quem precisa delas?<br />

G<br />

Ricardo Toniolo<br />

enealogias sempre<br />

intrigam o leitor. Qual<br />

seria a finalidade delas?<br />

Elas estão ali com nobre<br />

propósito.<br />

Desde o início da Bíblia<br />

encontramos genealogias.<br />

A primeira delas (Gn 4.17–<br />

5.32) ajuda a entendermos<br />

a separação entre a descendência<br />

da serpente e a<br />

da mulher (Gn 3.15). Das<br />

duas, a de Sete, chamada<br />

“de Adão”, é que dará continuidade<br />

à raça humana.<br />

Ela para em Noé e seus<br />

filhos, dá espaço para a narrativa<br />

do dilúvio e continua<br />

em Gênesis 10 mostrando<br />

um pouco da descendência<br />

de Jafé, Cam e Sem. Uma<br />

pausa nas genealogias dá<br />

espaço à narrativa da torre<br />

de Babel e a genealogia de<br />

Sem, ancestral dos semitas,<br />

é retomada até chegar em<br />

Abraão (Gn 11.10-32).<br />

Após Adão, as genealogias<br />

pausam em Noé<br />

e depois em Abraão, com<br />

os quais Deus estabeleceu<br />

alianças: a aliança da preservação,<br />

e a aliança da<br />

promessa, respectivamente.<br />

Elas fazem parte do<br />

plano da redenção. Encontram-se<br />

dentro da história<br />

da humanidade e, progressivamente,<br />

novos aspectos<br />

da redenção vão sendo<br />

revelados de forma mais<br />

detalhada em cada aliança.<br />

A narrativa segue dando<br />

os principais pontos da<br />

história de Abraão, Isaque<br />

e Jacó. Uma relação dos<br />

filhos de Jacó encontra-se<br />

em Gênesis 35.23-26. No<br />

capítulo 38 há uma narrativa<br />

que indica a origem de<br />

Perez, filho de Judá. Em<br />

Rute 4.18 são mencionadas<br />

as gerações de Perez<br />

até chegar a Davi. Esse é<br />

outro patriarca com o qual<br />

uma importante aliança foi<br />

estabelecida: a aliança do<br />

Reino.<br />

Crônicas possui a maior<br />

genealogia da Bíblia.<br />

Reúne todas as anteriores<br />

e as atualiza para os dias<br />

posteriores ao cativeiro<br />

babilônico, demonstrando<br />

que tanto a linhagem<br />

real quanto a sacerdotal<br />

estavam preservadas.<br />

Isso traz pelo menos duas<br />

mensagens importantes<br />

para os israelitas pós-exílicos<br />

(época da produção<br />

do livro). A primeira é a<br />

importância do sacerdócio<br />

e dos levitas. No enredo do<br />

livro tudo se volta para o<br />

templo e o que é realizado<br />

ali, todos os reis são avaliados<br />

como tendo feito o<br />

que era bom ou mau aos<br />

olhos de Deus. A genealogia<br />

foi elaborada de forma<br />

que a tribo de Levi ficasse<br />

no centro e refletisse a centralidade<br />

do tema do templo,<br />

sacerdócio e ministério<br />

levítico: A) O mundo<br />

antes de Israel (1.1-53); B)<br />

Os filhos de Israel (2.1-<br />

2); C) Judá – A tribo do<br />

rei Davi (2.3–4.23); D) As<br />

tribos de Israel em vitória<br />

e em derrota (4.24–5.26);<br />

E) Os descendentes de<br />

Levi (6:1–47); F) A equipe<br />

do culto em suas tarefas<br />

(6.48-49); F1) Os líderes<br />

cúlticos (6.50-53); E1) Os<br />

descendentes de Levi em<br />

sua terra (6:54–81); D1) As<br />

tribos de Israel em derrota<br />

e restauração (7.1-40); C1)<br />

Benjamim – a tribo do rei<br />

Saul (8.1-40); B1) “Todo<br />

Israel” contado (9.1a);<br />

A1) Israel restabelecido<br />

(9.1b-34).<br />

A segunda mensagem<br />

essencial é a demonstração<br />

de que a esperança messiânica<br />

estava viva. Zorobabel<br />

é descendente de Judá<br />

e ancestral do Cristo. No<br />

cânon judaico Crônicas é o<br />

último livro. Assim, o AT<br />

termina com um livro que<br />

começa com a genealogia<br />

que reaviva a esperança<br />

messiânica, e o NT começa<br />

com uma genealogia que<br />

vai até o Cristo (Mt 1.1-<br />

16). Essa destaca Abraão e<br />

Davi, com quem Deus firmou<br />

alianças que revelam<br />

progressivamente o plano<br />

da redenção e cujo cumprimento<br />

em Jesus será<br />

demonstrado no enredo<br />

do Evangelho de Mateus,<br />

especialmente em sua conclusão<br />

como aquele que<br />

recebe toda autoridade e<br />

abençoa as nações com a<br />

sua salvação (Mt 28.18-<br />

20). Outra genealogia do<br />

NT é a de Lucas (3.23-38)<br />

que retrocede até Adão e<br />

encontra-se imediatamente<br />

antes da vitória de Cristo<br />

sobre a tentação em contraste<br />

com a derrota do<br />

patriarca da humanidade<br />

– enfim, a semente da<br />

mulher que pisaria a cabeça<br />

da serpente. O elo entre<br />

as primeiras genealogias<br />

do AT e a genealogia do<br />

Salvador é a que se encontra<br />

em Crônicas.<br />

Com essas considerações,<br />

concluímos que as<br />

genealogias dão suporte<br />

para a historicidade do<br />

Messias, sua perfeita natureza<br />

humana, sua legitimidade<br />

como rei e sua obra<br />

de redenção. Elas demonstram<br />

que Deus se revelou<br />

na História estabelecendo<br />

alianças que encontrariam<br />

seu cumprimento no<br />

Messias. É, portanto, um<br />

suporte para a teologia,<br />

para a escrita dos livros do<br />

NT e para a importância do<br />

que Cristo fez na cruz.<br />

Genealogias não são a<br />

parte agradável da leitura<br />

da Escritura, mas não<br />

podem ser desprezadas<br />

pelo leitor que pretende<br />

compreender a história<br />

da redenção. Mais do que<br />

isso, ao compreender as<br />

genealogias, o leitor terá<br />

maior clareza dos discursos<br />

teológicos das narrativas.<br />

Se lemos de Paulo<br />

que “toda Escritura é inspirada<br />

por Deus e útil [...]”<br />

(2Tm 3.16) e nisto cremos,<br />

é preciso considerar que<br />

não encontramos na Bíblia<br />

exceções. O que é dito nas<br />

palavras deste pequeno<br />

artigo não é tudo, obviamente,<br />

mas se propõe a<br />

incentivar o leitor da Bíblia<br />

a procurar entender por que<br />

as genealogias existem e se<br />

encontrarem onde estão.<br />

O Rev. Ricardo César Toniolo é<br />

pastor da IP Botucatu e professor de<br />

teologia.

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