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Guabiroba em mim [e-book]

O e-book "Guabiroba em mim: cartografias de uma artista caminhante" Vol.1 é um recorte da pesquisa intitulada " Cartografias artística de uma caminhante: a Guabiroba cabe em mim, na cidade e na arte contemporânea" desenvolvida entre setembro de 2017 a março de 2020, sob orientação da Profa. Dra. Eduarda Azevedo Gonçalves, no Programa de Pós graduação - Mestrado em Artes Visuais ( PPGAVI), na linha de de pesquisa em Processos de Criação e Poéticas do Cotidiano, área de concentração Arte Contemporânea, sob orientação e com apoio financeiro e concessão de bolsa durante 09 meses da FAPERGS.

O e-book "Guabiroba em mim: cartografias de uma artista caminhante" Vol.1 é um recorte da pesquisa intitulada " Cartografias artística de uma caminhante: a Guabiroba cabe em mim, na cidade e na arte contemporânea" desenvolvida entre setembro de 2017 a março de 2020, sob orientação da Profa. Dra. Eduarda Azevedo Gonçalves, no Programa de Pós graduação - Mestrado em Artes Visuais ( PPGAVI), na linha de de pesquisa em Processos de Criação e Poéticas do Cotidiano, área de concentração Arte Contemporânea, sob orientação e com apoio financeiro e concessão de bolsa durante 09 meses da FAPERGS.

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Guabiroba em mim:

cartogra as de uma artista caminhante vol.1

Adriane Rodrigues Corrêa


Guabiroba em mim:

cartograas de uma artista caminhante vol.1

Adriane Rodrigues Corrêa


2020, Editora Nômade,

Pelotas.

Editora Tatiana dos Santos Duarte

Produção Gráca Thiago Heinemann Rodeghiero

Revisão Adriane Rodrigues Corrêa

Fotograas Daniel Moura

Corrêa, Adriane Rodrigues.

Guabiroba em mim: cartografias de uma artista

caminhante / Adriane Rodrigues Corrêa. - Pelotas: Editora

Nômade, 2020.

56 p.

ISBN: 978-65-992408-3-6

1. Fotografia 2. Arte Contemporânea

CDU 700

Todos os direitos desta edição reservados à

Editora Nômade

Rua Uruguay, 995 96010-630

Pelotas RS Brasil

Tel.: 53 991411248

editoranomade@gmail.com



Prefácio de Marlise Buchweitz ...6

Mapa Mão...11

Mapa Linha...16

Mapa Quadras...25

Mapa Mesa...37


O que se trilha constitui o caminho

Marlise Buchweitz*

aminhar, andar no mapa e nas ruas, transpor o caminho

Cpara um mapa, delinear traçados que acompanham o

formato das ruas e das quadras, preencher o papel em

branco com linhas que indicam percursos: eis o que se vê, se lê e se

acompanha nas páginas a seguir. “A Guabiroba em mim: cartogra as

de uma artista caminhante” é resultado de um processo, de um

movimento realizado por Adriane Rodrigues Corrêa, pelo Bairro

Guabiroba, em Pelotas/RS, durante o tempo do mestrado, pelo

Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais, da Universidade

Federal de Pelotas/UFPel.

A criação artística de Adriane resulta da ação de circular pelas

ruas do Guabiroba, juntando a técnica com a sensibilidade, a

observação perscrutadora do olho que sabe o que busca com a

percepção sentimental, e unindo o saber cientí co apreendido com a

memória afetiva muito cara ao sujeito que constitui conhecimento, mas

que também está muito ligado a uma sensibilidade pessoal e íntima. Ir

e voltar, andar e ver, acompanhar e sentir os movimentos do corpo que

perambula pela cidade se conecta com a pesquisa e as leituras que

*professora; escritora; revisora; Doutora na área

Interdisciplinar, pelo Programa de Pós-graduação em

Memória Social e Patrimônio Cultural (UFPel); Mestre em

Letras/Estudos Literários (UFRGS); Especialista em

Letras/Literatura Comparada (UFPel); graduada em

Letras / Inglês e Literaturas (UFPel)


aprimoram e lapidam os sentidos da busca singular por mostrar e se

mostrar na deambulação da estética e da composição do lugar.

Sérgio Britto já compunha que “é caminhando que se faz o

caminho” e, dito de outra forma aqui, o caminho que se esboça nas

imagens e nos mapas constituídos por Adriane indica o tanto que

trilhou, por onde andou ou onde esteve. A materialização destes

deslocamentos em registros só existe a partir da profundidade da

relação que a artista cria com aquilo que seu olho vê e seu corpo sente.

Nas páginas em branco, concretizam-se trajetos que uem com o sentir:

imaginados, tracejados e percorridos.

No instante em que se debruça sobre a cartogra a sentida,

elaborada, criada a partir da conexão mais sutil e do vivido, em

integração com a arte e com a emoção, Adriane compõe desenhos que

se fazem enquanto se imagina e se coloca na paisagem de seu bairro.

Enquanto o corpo se encontra no trajeto, no mapa a acompanhar, a

percepção captura o signi cado e a arte o transforma em caminho

descrito, movimento que esquematiza a cartogra a emocional de

Giulliana Bruno. No mesmo sentido, Madeleine de Scudéry é quem

intui e mostra a construção de um mapa que segue uma narrativa

afetiva a partir da paisagem pela qual a personagem de seu romance se

desloca. Portanto, é pela emoção de Adriane que se materializa o

registro cartográ co visível e possível de observação, e que ela se narra

e relata o panorama em que se transcende e se entende.

O mapa se molda, se faz e se constrói conforme a intuição e a

afeição conduzem os passos desta artista caminhante que se propõe a

sentir, a experienciar e a concretizar o caminho. A circulação de um

espaço a outro e entre espaços permite que Adriane vá traçando linhas

que ligam estes pontos, con gurando o que Rebeca Solnit chama de

história do caminhar, um movimento permeado por um desejo de ser

uma mulher a fazê-lo sozinha, frequentando o espaço público como

uma experiência individual, única.

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Juntamente com a ideia da cartogra a emocional, pode-se atentar

para o que Paola Jacques denomina como corpogra a urbana, o

conjunto de descrições ou esboços do lugar feito pelo corpo e no corpo.

O corpo é quem circula pelo espaço, que se coloca nos lugares

públicos, deixando-se ver e se mostrando dentro da cidade, pela

cidade, delineando o mapa que lhe é tão íntimo, tão caro, tão particular.

Também o corpo é que sente os passeios, as passagens, as rotas e as

implicações que o fato de se mover traz, ele é quem carrega em si os

percursos realizados; este mesmo corpo é responsável, ainda, por

consolidar as ruas e os bairros no mapa.

Myriam Lins de Barros destaca a importância da cidade para os

sujeitos a ponto de se recortá-la em pedaços, os quais, associados a

vivências pessoais e a memórias afetivas, constituem para estes

sujeitos a cidade toda. Remete-se a esta ideia ao comparar o pedaço da

cidade de Pelotas para Adriane – seu bairro Gabiroba – como o lugar

que a acolhe, que a forma e a transforma enquanto mulher urbana que

vive da cidade na arte e habita a cidade ao mesmo tempo. Permitir-se

concretizar este movimento, através do traço, do mapa, da cartogra a,

compreende uma valorização de seu pedaço de cidade, tão caro à

pessoa que vive nele, mas também à artista visual, cujo olhar

transcende o que está ordenado à frente de seus olhos, visto que é

atribuído de sentido, torna-se fragmento de memória e compõe o

universo espacial pelo qual sua autora transita.

Para Michel de Certeau, a prática de espaço, as maneiras de

caminhar e a experimentação permitem reapropriação, sendo o sujeito

determinado pela relação social. De modo similar, pode-se falar aqui

de uma relação social de Adriane com o espaço no qual vive, saindo de

seu mundo privado e vivendo o urbano e as relações que este local lhe

permite, experimentando-o e sentindo-o, reapropriando-se dele

através do sensível.

As próximas páginas, portanto, caro leitor e espectador, destacam

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uma espécie de jogo urbano, mas um jogo sem regras já que é movido

pelo instinto e pela emoção de uma artista que se movimenta no projeto

urbano e se transpõe para o espaço da cidade. Nas linhas, nas curvas,

nos trajetos de uma andarilha, de uma artista, de uma mulher sensível,

de uma cidadã pelotense e de uma pessoa que se pensa e se re ete

através do traço, da arte, da imagem, têm-se a sutileza, a sensibilidade,

a memória e a vida cotidiana se revelando através de uma estética

peculiar, simples, individual, desnudando um jeito de ser e de viver

dentro de uma paisagem cujas fronteiras são escolhidas pelo próprio

sujeito.

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Mapa Mão

a rua na mão

No conviene esperar cada cosa a su tiempo

Viendo el amanecer nos vamos muriendo

(Ana Prada, 2006)

Cartas geográ cas se colocam à altura da mão ao simples desejo

de se fazer este gesto e de buscá-las. Prontos, organizados,

delineados, os mapas se encontram ao dispor de quem anda,

caminha, perambula pelas ruas. Para o espaço urbano já traçado e

con gurado nos mapas, tem-se a possibilidade de carregá-los na

mão, levá-los consigo e seguir as orientações dadas. Assim, a rua

na mão simboliza um movimento de pegar o mapa e sair a andar: a

rua está na palma da mão desta artista que, num primeiro

momento, não se desvia do que tantos outros antes dela já viram,

viveram, sentiram e percorreram.


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Mapa Linha

a rua na linha

E recomece a andar, Não pense

Que a cabeça aguenta Se você parar

(Raul Seixas, 1975)

Depois do primeiro impulso e sentimento de andar por lugares que

outros já trilharam, tem-se a re exão deste movimento e a

materialização do percurso através do traçado, da conexão que a

concretização de linhas permite, feito pela mão que se esboça e

desenha sobre o papel em branco. Assim, a rua na linha é o

processo inverso do mapa mão: os trajetos caminhados e que

foram se delineando através de linhas que ligam dois pontos

de ne o mapa aqui, não sem intencionalidade ou intimidade, mas

seguindo a fruição de uma percepção individual e concreta.


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Mapa Quadras

a rua nas quadras

Para pisar no coração de uma mulher

Pés descalços sem pele Um passo que a revele

(Chico César, 1995)

Num primeiro momento, as linhas eram apenas traçados. Só o

tempo e o olhar aperfeiçoado permitiram que, dos riscos

tracejados, a partir dos percursos imaginados por Adriane, fossem

se formando quadras. Sim, um mapa não se pode constituir de

ruas, apenas. Qual o sentido de viver em deslocamentos retilíneos,

lineares, xos e previsíveis? Há que se ir mais longe, sentir mais,

vivenciar o todo, compreender o espaço em volta e entender que

estar nele é experienciar as relações sociais que se estabelecem e

que permitem que cada sujeito se transforme enquanto também

interfere no bairro que o habita e no qual vive. Assim, o mapa

quadras expressa a corpogra a urbana e cartogra a emocional da

artista caminhante que se envolve na e pela paisagem de seu

pedaço de cidade, seu bairro Guabiroba, o lugar que conecta suas

memórias afetivas.


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Mapa Mesa

a rua na mesa

Sinto hoje em Satolep o que há muito não sentia.

O limiar da verdade roçando na face nua.

(Vitor Ramil, 1984)

A rua na mesa representa tudo o que foi vivido, ressigni cado

através do sentimento, revelado e, en m, posto sobre a mesa.

Depois de imaginado, desenhado, confrontado e delineado, o

objeto pronto está nalizado e se desloca das mãos de sua

andarilha para o público. A mesa recebe os mapas, os caminhos, e

os acolhe e dispõe para quem quiser vê-los. Assim, a mesa está a

postos a quem se sentir convidado e acolhido, a quem quiser

entrar no mapa e percorrê-lo, juntamente com Adriane ou por si

só, à maneira que sentir ou como melhor lhe convier.


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Adriane Rodrigues Corrêa é artista visual,

mestre em Artes Visuais na Linha de

pesquisa “Processos de Criação e Práticas

do Cotidiano” pela Universidade Federal de

Pelotas (UFPel) e professora de artes

visuais da rede federal de ensino.

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O e-book "Guabiroba em mim: cartogra as de

uma artista caminhante" Vol.1 é um recorte da

pesquisa intitulada "Cartogra as artística de uma

caminhante: a Guabiroba cabe em mim, na cidade

e na arte contemporânea" desenvolvida entre

setembro de 2017 a março de 2020, sob orientação

da Profa. Dra. Eduarda Azevedo Gonçalves, no

Programa de Pós graduação - Mestrado em Artes

Visuais ( PPGAVI), na linha de pesquisa em

Processos de Criação e Poéticas do Cotidiano, área

de concentração Arte Contemporânea, sob

orientação e com apoio nanceiro e concessão de

bolsa durante 09 meses da FAPERGS.


setembro de 2020 | Fonte Bodoni


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