FOLHA SERTANEJA / CADERNO DOMINGO - III° EDIÇÃO
O JORNAL DA REGIÃO DO SÃO FRANCISCO Criado em 18/02/2004 | Fundador: Antônio Galdino | Caderno Cultural Online | DOMINGO | 20/02/2022
O JORNAL DA REGIÃO DO SÃO FRANCISCO
Criado em 18/02/2004 | Fundador: Antônio Galdino | Caderno Cultural Online | DOMINGO | 20/02/2022
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CADERNO CULTURAL
O JORNAL DA REGIÃO DO SÃO FRANCISCO
Criado em 18/02/2004 | Fundador: Antônio Galdino | Caderno Cultural Online Nº 03 | DOMINGO | 20/02/2022
DOMINGO
Até aqui nos ajudou o Senhor.
I Sm 7.12
A alegria e a poesia
das coisas do meu Sertão
Chegamos ao Nº 03 do nosso Caderno Cultural e justo
quando ou, justamente quando o jornal Folha Sertaneja
completou 18 anos de vida (no dia 18/02), resolvemos
exaltar as coisas do Sertão.
Para isso, contamos com a sensibilidade de muitos que
conseguem encontrar as belezas da floração do mandacaru,
o canto mavioso do bem-te-vi e de milhares de outros
pássaros que, como uma grande orquestra ou em cantos
solos embalam a caminhada dos sertanejos no trabalho
duro da roça.
Recebemos, pelas redes sociais, os questionamentos de
Alyce Raiane Jales de Lira, poetisa e estudante do IFPB, Campus
Catolé do Rocha, na Paraíba... Qual o valor do Sertão?
E temos ainda Ana Guiomar/RR, Marcos Antônio e Jovelina
Ramalho falando do Sertão. Edson Mendes nos traz uma
reflexão de peso, já aplaudida Brasil afora e até em Portugal.
Neste Caderno Cultural da Folha Sertaneja aniversariante,
nos permitimos fazer uma viagem para conhecer a beleza
das formações de arenito no Raso da Catarina, apresentada
pelo professor e escritor Roberto Ricardo.
Apresentamos o livro Saudade que gosto de ter da
poetisa Maria Soleni que também faz uma viagem intensa
pelo sertão onde reencontramos os vaqueiros, a boleira, o
rezador excêntrico, os contadores de história, a torradeira
de café, a lavadeira do riacho doce, o tocador de sanfona
e muito mais gente que fazem com que a vida sofrida do
sertão, de uma cultura tão rica, ser mais leve.
Lembro aos fazedores de cultura que este Caderno
Cultural semanal do jornal Folha Sertaneja está aberto para
todos os tons e cores culturais.
ADQUIRA
O SEU!
2
OS IMBECIS PALRADORES
Antigamente os melros cantavam, os corvos grasnavam,
os imbecis calavam. Nesse tempo de fábula, na savana e
nas aldeias nossa luta era só pelo dia seguinte. Evoluímos
e houve um tempo em que a caça foram as bruxas, e já era
possível ouvir o palrar dos sabidos que, ignorando certas
circunstâncias do mundo natural, pugnavam por livrá-lo
do mal e da maldade.
Evoluímos, e nas tabernas nos vimos a chilrear e cantar.
Com mais um pouco, a ciência permitiu que nossas vozes
se ampliassem – mas ainda restritos em “um bar, e depois
de uma taça de vinho”. Depois, inventamos a imprensa,
o jornal, o telégrafo, o rádio, o telefone, a televisão, as
revistas, o computador, a internet e por fim as redes
sociais. E aí já não ouvimos os melros, nem os corvos, nem
os pardais, nem os rouxinóis, sequer os imbecis.
Stravinsky dividiu a oitava em 12 meios-tons, criando
a dodecafonia; nós fomos adiante: instalamos a algaravia,
um sistema perfeito em que todos falam e ninguém
escuta. Falar sem ouvir, uma prova de ignorância, é o que
nos faz todos imbecis, pois torna impossível o diálogo, e
sem diálogo não há consideração, sem consideração não
há ética, sem ética não há empatia, consenso, dignidade,
humanidade. É uma condição determinante - mas é
também, justamente, a condição que nos salva porque,
sendo transitória, pode ser suprida e revertida.
Nós, os néscios, grosseiros e estúpidos, produtores
e reprodutores, trocamos o argumento pelo dogma,
a persuasão pela agressão, os bons modos pelos maus
modos, e não defendemos princípios, mas paixões.
Todavia, podemos mudar – e isso será, sempre, uma prova
de inteligência: é possível ter ideias opostas e defendê-las
com elegância. É possível acreditar que delas, opostas ou
supostas, justapostas, possa surgir uma outra, nascida da
luz ou do consenso.
Edson Mendes
Mas, dirá alguém, como discutir, se discutir com um
tolo é uma tolice? Como tolerar os intolerantes? Calando?
Calando-os? A tolerância é uma virtude, mas eles são muitos,
e se a cada dia são mais, menor nos parece a cada dia o
quintal da paciência onde florescem as virtudes. Convém,
contudo, a esse respeito, lembrar que, se somos todos
árvores e ervas e arbustos e herbívoros, quem nos garante
que está certo nesse incerto viver que nos conduz?
Na floresta enorme deste enorme paraíso, nós todos
nascemos ignorantes, mas ninguém nasceu já imbecil.
Nenhum de nós o admite – exceto aquele que, sabendo
que não nasceu sabendo, para um pouco pra pensar,
e pensa um pouco antes de afirmar e negar e acusar e
sofismar e legislar e gritar e palrar. E agir.
Advirto aos que me acompanham por generosidade,
curiosidade, ou mesmo malícia, que o termo aqui usado
não é adjetivo, mas substantivo, e é nesta condição que
me ponho, démodé, entre os animais da floresta, bois
e beócios, a levantar poeira e costurar, sísifo, remendos
utópicos com as linhas do horizonte. Sigo a cena e o
rebanho aqui dos galhos genealógicos, a refletir sobre as
ilusões do mundo e a sensatez dos insensatos.
Bois e beócios, papagaios e piratas, bestas e
quadrúpedes, somos muitos. Nossa sorte, ou melhor
dizendo nosso azar (?!), caros leitores, solidários e
solitários aqui comigo empoleirados, é que esses muitos,
mesmo sendo tantos, não sabem voar, como disse uma
vez Ednardo... Mesmo assim, mas confiante no poder da
aprendizagem, aceitarei, de bom grado, se lhes parecer
pertinente, a gentileza de ser ouvido, como também a
pecha de balda – uma carta sem valor, que serve apenas
para descarte. Ou, apenas e ainda, um novo velho parceiro
em seu longevo Clube dos Imbecis Palradores.
11/02/2022
EDITAL - Usucapião Extrajudicial – Terceiros, art.16 do Prov. CNJ n. 65/17 -
Interessado(s): MARCOS AURÉLIO MARINHO RIBEIRO, EUCLIDES RIBEIRO
JÚNIOR E ANA RITA MARINHO RIBEIRO CARVALHO
EDITAL DE NOTIFICAÇÃO - USUCAPIÃO EXTRAJUDICIAL Maria Leny Batista
Almeida, Oficiala do Registro de Imóveis da Comarca de Paulo Afonso-BA, na forma da
lei, Faz saber a tantos quantos este edital virem ou dele conhecimento tiverem, que foi
protocolado nesta Serventia em 04/01/2022 o requerimento pelo qual MARCOS
AURÉLIO MARINHO RIBEIRO, brasileiro, capaz, Engenheiro Eletricista, natural de
Paulo Afonso-BA , nascido aos 16/02/1972, filho de Euclides Ribeiro e Estelita Marinho
Ribeiro, portador da Cédula de Identidade nº 04.351.536-33 SSP/BA, inscrito no CPF nº
535.822.335-53, casado com Ana Patrícia de Alcântara e Silva Ribeiro, Rg 1.000.061
SDES/AL, inscrito no CPF n° 627.590.005-91, conforme Certidão de Casamento lavrada
no Registro Civil das Pessoas Naturais da Comarca de Paulo Afonso/BA , sob matrícula
nº 138016 01 55 1998 3 00008 043 0004285 79 de 18/06/1998, residente e domiciliado
na Avenida da Maçonaria, 45 Bairro Perpétuo do Socorro, CEP: 48.603-241, Paulo
Afonso/BA, endereço eletrônico não informado, solicita o reconhecimento do direito de
propriedade através da Usucapião extrajudicial, nos termos do art. 216-A, da Lei n.
6.015/1973, autuado sob Protocolo nº 63188 em 04/01/2022 do imóvel denominado Sítio
Nova Alvorada, Estrada dos Paios – Margens da Bacia de PA-IV , Município de Paulo
Afonso , Estado da Bahia , com uma área total de 35.847,73 m² (trinta e cinco mil
oitocentos e quarenta e sete metros e setenta e três centímetros quadrados), com NIRF
4.383.720-4 e cadastrado no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária –
INCRA com CERTIFICADO DE CADASTRO DE IMÓVEL RURAL – CCIR
317.047.021.989-4 em nome dos requerentes , SENDO URBANO desde o ano de 2019,
através da LEI MUNICIPAL 1.431 DE 01/10/2019. Tudo conforme mapa e memorial
descritivo elaborados pela Arquiteta e Urbanista ANA PATRÍCIA DE ALCÂNTARA E
SILVA RIBEIRO e Anotação de Responsabilidade Técnica nº SI 10117630I00, inscrita
no CAU-BA nº 000A245410. Assim sendo, ficam intimados terceiros eventualmente
interessados e titulares de direitos reais e de outros direitos em relação ao pedido,
apresentando impugnação escrita perante a Oficiala de Registro de Imóveis, com as
razões de sua discordância em 15 (quinze) dias corridos a contar da publicação deste,
ciente de que, caso não contestado presumir-se-ão aceitos como verdadeiros os fatos
alegados pelo Requerente, sendo reconhecida a usucapião extrajudicial, com o
competente registro conforme determina a Lei. Paulo Afonso/BA, 21 de fevereiro de
2022. A Oficiala, Maria Leny Batista Almeida.
Candeeiros e lampiões
Maria Soleni Silva Oliveira
Declina a tarde por demais comprida.
Amorna o sol remansado.
Por trás dos montes.
Lampejo arqueado a se deitar no chão empoeirado.
Vasto e aquecido. Resfolega
E o entardecer vem carregando em seu hálito morno.
Cálido sereno. Embriagado.
A se derramar por cima do cio da terra, fértil.
Assedilhado. Desfalece.
Ante a sabedoria do universo a se contentar, sorrir.
Feito coração de menino.
E as flores afadigadas, adormecidas beiram as estradas.
Aldravadas. Descoram.
Balizam na dança dos ventos insetos ensarilhados.
Nuvens breves. Costumeiras.
Despertam vagalumes, olhos das matas.
Acendendo e apagando. Insistentes.
Repousam grandes pés de árvores das bruscas ventanias.
Aquietam-se serenas
Descem em calmaria as derradeiras e mansas cintilações.
A passear pelos quintais escurecidos na hora da Ave-Maria.
E por esses instantes cai um manto escuro.
Despe o infinito. Cobre os céus. Em absoluto.
Chega à noite, entremeada as rústicas chamas dos candeeiros.
E vaidosos lampiões. Entre vidas. Às escuras.
Iluminando a lenta escuridão que avança sorrateira.
Pelos cantos das cozinhas.
Misturadas ao cheiro forte de café adocicado.
E as casas recolhidas de humildes ruas escuras.
Descalças, dividem becos e ruelas. Irrefutáveis.
Abraçam silêncios calados e profundos.
Deslembrados. Insistem.
Moradas afastadas, separadas. Acendem braseiros.
Aclarando terreiros. Distraídos.
E o povo que vai e vem. Encurtam passos.
Embaraçados às sombras. Desconhecidas.
Passam de longe.
Aclara entreabertas portas e janelas à luz das excêntricas
lamparinas.
Os candeeiros. Luzeiros de latas. Chapas de alumínio.
Folhas de flandres. Arredondados. Cones.
De chamas embebidas em pavios de algodão.
A clarear cantos. Rostos. Corpos. Nomes. Afeitos.
Acolhidos entre humildes espaços cativos e singelos.
Acomodados. Mimos.
Bem mais adiante, se vê elegantes lampiões.
De mangas de vidros decorados. A ferro de metal.
De barbante condutor, regulador de chamas.
Presos as paredes ornamentadas.
Esfumaçam. Alinhados.
Evidenciando a noite e seus mundos de mistérios.
Encantados e divididos. Inquietos.
Atados às estórias da carochinha de vós cachimbeiras.
Acercada de dengos.
E encantos.
A espera de sossegadas madrugadas.
(Texto do livro Saudade que gosto de ter)
Diretor: Antônio Galdino | Colaboradores desta edição: Edson Mendes, Maria
Soleni Silva Oliveira, Alyce Raiane Jales de Lira, Ana Guiomar/RR, Jovelina Ramalho,
Marcos Antônio Lima | Diagramação: Admilson Gomes e Darlan Soares
3
O VALOR DO SERTÃO
Alyce Raiane Jales de Lira
Uma vez estava recitando
Uma poesia que fiz
Falava um pouco da vida
E do que o valor diz
Falava então sobre o preço
De um amor, de um adereço.
Quanto custa ser feliz?
Eu dizia quanto custa
Qual o preço de uma paixão
Quanto custa um abraço
Ou um aperto de mão
Foi quando alguém levantou
Disse: “se tudo tem seu valor
Qual o valor do Sertão?”
E foi quando eu percebi
Enquanto no sertão pensava
Vi que não havia resposta
Para aquilo que eu perguntava
Percebi que como a paixão
O preço do nosso sertão
Vi que homem nenhum pagava
Pois afinal quanto vale
O gosto de uma rapadura
Quanto custam meus amigos
Uma seriguela madura
Quanto custa afinal
Uma manga verde com sal
E uma coalhada da pura
E quanto custa um copo
De água fria de pote
Quanto custa a zuada
Dos grilos dando pinote
Me responda com apreço
Me fale qual é o preço
De um cheirinho no cangote
Me fala então quanto vale
Um bodegueiro surtido
Uma brejeira namorando
Com um bruguelo desnutrido
Quanto vale um cuscuz
Uma matuta dando à luz
E um terreiro bem varrido
Quanto custa um caminhão
Cheio de vereador
Quanto custa o homem rico
Ser chamado de doutor
Quanto vale ser matuto
Quanto vale o tributo
De um vaqueiro aboiador
Quanto custa uma maxixada
Feita em lenha de angico
Quanto custa embaixo da rede
A Velha Guarda o penico
E quando você apronta
Me fale quanto é a conta
De uns tapas no pé do ouvido
Pois afinal quanto vale
Chamar mamãe de mainha
Chamar Francisco de Chico
E Josefa de Zefinha
Faça no Sertão a ronda
E não tem homem que responda
Esta pergunta minha
Pois procure quanto custa
Brincar de bila e pião
Um cantador de viola
Cantando rima e canção
Pois nem balança de dois pratos
Com um peso de cada lado
Pesa o valor do Sertão.
(Sobre a autora:
Alyce Raiane Jales de Lira é
poetisa e estudante do IFPB,
Campus Catolé do Rocha)
Poema publicado na I Coletânea
de Poesia, Cordel, Contos e
Crônicas do IFPB
Homenagem a Bebé de Natércio
Organização Daniel Andrade,
George Glauber, Verônica Rufino
O Sertão
do São Francisco
Ana Guiomar/RR
O povo que nasce aqui não sabe o que é sonho ou desejo,
Respira um ar sempre seco, pisa em terra adormecida.
E mesmo com pouca água e quase nenhuma comida,
Se sente forte, um gigante, homem rude, sertanejo.
Ao norte, o São Francisco, ao sul, o Vaza-barris.
Duas vertentes, dois rios, duas veredas e caminhos
Como dois meridianos, dois olhos de uma menina.
E ao centro, as terras calcinadas do Raso da Catarina.
Todos falam do Sertão, terra de gente aguerrida.
Desse povo, desse chão, dessa paisagem, desse clima,
Dos escritos em cordel, todos com métrica e rima
Falando do camponês e suas histórias sofridas.
Muita gente anda dizendo que o sertanejo é um forte.
Que aprendeu aceitar a sede, a fome e a morte.
Mas para se ser sertanejo tem que nascer nesse norte
E pertencer a essa casta, sem pão, sem medo e sem sorte
Amor e Cangaço
Parece um quadro pintado
De um famoso pintor
Lampião de uniforme
Penteado e perfumado
Com um peitilho de cor
Levou Maria Bonita
E a vida se transformou
Jovelina Ramalho
Dizem que nas noites do sertão
Correm fogo corredor
Por isso cheguei bem pertinho
E pude o mistério observar
E vi Maria Bonita
Com Virgulino a se abraçar
Viraram faíscas de luz
Para o sertão iluminar
Sertão Valente
Marcos Antônio Lima
Terra tórrida, lugar de gente valente
De serra, caatinga, tabuleiro e tacho
De um povo que não larga o seu oxente
Nem o homem perde sua fama de macho.
Foi aqui nesse pedacinho do sertão
Onde brotaram homens com nervos de aço
Chapéu meia-lua com o signo de Salomão
E fuzis que cuspiam fogo na trilha do cangaço.
No Sertão, Lampião causava grande fuzuê,
Não havia valente sem o coração na mão
Nem cabra-da-peste que não fugisse pra não morrer.
Nas guarras de Lampião, Corrisco, e Zabelê
Sendo o Virgulino, mais feroz que o cão
Pois, até satanás dizem que ele botou pra correr.
4
Unidade de Conservação e Reserva
Ecológica do Raso da Catarina
Esta é uma das áreas mais secas do Brasil, localizada
em pleno Nordeste da Bahia, na micro-região conhecida
pelo nome de Sertão de Paulo Afonso. Ocupa um total de 8
municípios, 7 dos onze que formam a microrregião do Sertão
de Paulo Afonso (Jeremoabo, Glória, Macururé, Rodelas,
Chorrochó Santa Brígida, e Paulo Afonso) e mais o município
de Canudos, pertencente à micro-região conhecida pelo
nome de Sertão de Canudos. Suas terras ficam assentadas
sobre um platô (1) e vão desde a área do Submédio São
Francisco, em terras próximas à barragem da usina de
Itaparica entre Bahia e Pernambuco, que corresponde à sua
margem direita em terras do estado baiano até o rio Vasa-
Barris, que corresponde a área meridional desta reserva.
Se considerarmos as características climáticas, botânicas
e pedológicas, o RASO é a porta de entrada do Sertão de
Paulo Afonso e o espelho da sua paisagem. Juntamente
com a Depressão de Patos na Paraíba, a área mais seca do
semiárido nordestino, permanecendo ainda em um estágio
primitivo, entre outras razões, por não apresentar cursos
d’água considerados perenes, em uma área dominada por
um clima semidesértico e de precipitações esporádicas.
Do ponto de vista orográfico, as terras desta Reserva
Natural foram formadas muito antes do Mesozóico,
tendo enfrentado o deslocamento da crosta através dos
dobramentos e dos falhamentos. Isto, antes de dar origem
a uma extensa chapada, castigada por dias muito quentes e
noites muito frias, onde só os animais silvestres conseguem
sobreviver. As maiorias desses animais apresentam hábitos
noturnos, também motivados pelo desgastaste calor
diurno, sendo, pois, muito difícil vê-los durante os horários
de domínio da luz solar, visto que permanecem entocados,
entre outras coisas, para se protegerem das intempéries do
clima.
A paisagem da Reserva Ecológica do Raso da Catarina
está inserida no bioma Caatinga e apresenta um formato
poligonal, onde domina uma área de 99.772 hectares com
135,279 km ou 135.279 metros de perímetro. Foi criada
como Reserva com o objetivo de abrigar dentro do estado
baiano, uma Estação Ecológica, em face da sua relevância
em termos de bio-diversidade. Foi também levado em
consideração seu estado de conservação e sua privilegiada
posição geográfica. De acordo com dados retirados de um
documento elaborado em março de 2001, pela bióloga
Maria Angélica Garcia, do Ministério do Meio Ambiente em
Brasília, denominado de Plano de Manejo, apesar do RASO
ocupar muitos municípios, a Reserva Ecológica Raso da
Catarina propriamente dita localiza-se em apenas 4 deles:
Jeremoabo, Paulo Afonso, Glória e Rodelas.
Há duas versões como parte do folclore regional para
justificar o nome de Raso da Catarina:
A primeira: este nome se deve a uma índia, por nome
“Catarina”, pertencente a uma tribo indígena que vivia na
área do RASO. “Conta-se que certo dia, esta índia saiu para
catar lenha e que muito tempo depois encontraram apenas
seus restos mortais. Em sua homenagem, seu povo passou
a chamar a região de: Raso da Catarina”.
A segunda: um grande proprietário de terras, em Belo
Monte de Canudos, coronel Ângelo Reis, teria denominado
essa reserva de Catarina, depois da morte de sua esposa
que possuía o mesmo nome.
Roberto Ricardo do Amaral Reis
Membro fundador da ALPA - Cadeira Nº 07
Texto extraído do livro Paulo Afonso e o Sertão Baiano: Sua Geografia
e Seu Povo, do Professor Roberto Ricardo do Amaral Reis, publicado pela
Editora Fonte Viva, de Paulo Afonso no ano de 2004
Nota do editor:
Para conhecer o Raso da Catarina procure informarse
com o Serviço de Atendimento ao Turista através do
telefone (75) 3281-1634, ou com a Associação de Guias
de Turismo de Paulo Afonso – AGTURB - pelo telefone (75)
99968-0274, do presidente desta associação, Jorge Robson
que orientará sobre providências especiais necessárias
para esse passeio como veículos com tração para vencer
os terrenos arenosos, muita água/líquido e roupas leves,
dentre outras.
(No Caderno Cultural 04, de 27 de fevereiro, a Serra
do Umbuzeiro e a Casa de Maria Bonita – um roteiro
do Cangaço)
O livro Saudade que gosto de ter de
Maria Soleni é uma riqueza com poemas
sobre paisagens sertanejas e agrestinas
A autora
Maria Soleni
– Maria Soleni Silva Oliveira é pernambucana de
Vertentes mas, como muitos nordestinos, veio cedo para
Paulo Afonso onde seu pai chegou para trabalhar nas obras
da Hidrelétrica do São Francisco. Morou nas casas Tipo “O”,
da Chesf e guarda bem as memórias desse tempo.
É Bacharel e especialista em Filosofia pela Universidade
Federal de Pernambuco. Especialista em Planejamento
Educacional pela Universidade Salgado de Oliveira –
Universo – do Rio de Janeiro.
Começou sua vida de trabalho escolar em Paulo Afonso,
no Colégio Sete de Setembro.
Depois, concursada pelo Estado da Bahia, atuou em
escolas da rede estadual de ensino em Paulo Afonso. Foi
Coordenadora de Educação de Jovens e Adultos e atuou
na Comissão Permanente de Avaliação no Centro Integrado
de Educação de Paulo Afonso – CIEPA, onde também foi
professora, assim como foi professora do Colégio Estadual
Quitéria Maria de Jesus, no BTN e deu aulas na UNEB de
Alagoinhas/BA. No Colégio Estadual Carlina Barbosa de
Deus foi vice-diretora.
Aposentada destas atividades nas escolas do Estado
da Bahia, tem se dedicado a produzir poesias onde exalta
os traços e valores do Nordeste, pois se declara uma
pesquisadora e admiradora da cultura sertaneja e agrestina,
onde viveram/vivem muitos dos seus familiares.
O livro – Saudade
que gosto de ter
Esse seu amor às coisas
nordestinas, a riqueza das
imagens e paisagens sertanejas
e agrestinas despertaram em
Soleni a poetisa que estava
adormecida dentro dela e o
resultado desse despertamento
foi a criação de dezenas de
textos poéticos, da melhor
qualidade, exaltando esses
traços e valores nordestinos.
Reunidos em um livro a
que chamou de Saudade que
gosto de ter, os poemas de
Soleni, que ela dividiu em três
grandes capítulos – Caminhos,
Reminiscências e Retrato de
Parede – retratam essas paisagens sertanejas com muito
vigor e nos remetem a esses lugares imediatamente.
Quase sentimos o cheiro da terra molhada pela chuva
benfazeja sempre esperada no sertão, tanto que, para
agradecer essa bênção, são feitas novenas e rituais de
gratidão a Deus e aos santos de devoção das famílias.
Não bastasse a palavra suave que fala dos dezembros,
das cancelas, das carroças de boi, das casas, dos becos e
das bodegas das esquinas das ruas, a autora ainda incluiu
ilustrações que reforçam a narrativa poética.
E há também o encontro ou reencontro com muitos
personagens como os vaqueiros, a boleira, o rezador
excêntrico, os contadores de história, a torradeira de café,
a lavadeira do riacho doce, o tocador de sanfona e muito
mais gente que fazem com que a vida sofrida do sertão, de
uma cultura tão rica, ser mais leve.
Este livro é mais uma produção da Editora Oxente, de
Rubinho Lima, também membro da ALPA.
(Antônio Galdino da Silva
Vice-presidente da ALPA
Diretor/Editor do jornal Folha Sertaneja