ESPECIAL8M MulheresnspiradorasJAEL PIFANOPor trás do nome Jael Pifano há muito mais do que uma mulher, cabeleireira, empresária emãe. Jael Pifano empresta seu nome a uma equipe formada por 42 mulheres e um homemem um dos mais movimentados salões de Juiz de Fora. Por mês, as mãos da equipe de Jaelcuidam dos cabelos e da beleza de cerca de duas mil mulheres. Filha de imigrantes italianos,a juiz-forana começou a carreira com apenas 14 anos, trabalhando na limpeza de um salãoda cidade. Sempre com vontade de aprender, aos 23 montou seu primeiro estabelecimentocom apenas duas cadeiras e um espelho. Hoje, possui um verdadeiro complexo de belezaque é referência em Juiz de Fora e região. Ao olhar para trás, Jael se sente realizada docaminho que trilhou, principalmente por construir uma empresa do jeito que sempre quis.Os planos para o futuro envolvem seguir repetindo a fórmula que a levou até ali: criaroportunidades para mulheres que desejam se encontrar nesta profissão que tem o objetivode levar mais beleza para o mundo.42• 6 | março | 2022
Do trabalho pelasobrevivênciaao sucessoMariana Floriano*Ao virar a esquina da Rua Oscar Vidal, noCentro de Juiz de Fora, e descer até o número150, a paisagem fria do asfalto dá lugar a tonsdourados e luzes brilhantes do salão de JaelPifano. “Pode subir, a Jael está esperando porvocê no andar de cima”, diz uma das moçasno hall de entrada. Uma escada caracol nosleva até o segundo piso. Lá, mais secretárias:“a Jael está na sala de tintura, pode subir asescadas”. Mais um lance e o olhar admiradoentre salas para lavagem de cabelo, para corte,tintura, maquiagem, conversas animadas emulheres com brilho nos olhos e papel na cabeça.Já no terceiro andar está Jael. A mulher quedá nome à equipe de mais de 40 funcionáriasconversa, se movimenta com rapidez, e fica pordentro de tudo o que acontece nas inúmeras salas.“Nunca cheguei a contar quantas são, dá atéum desespero”, afirma rindo. Para conversar, vamosaté o espaço reservado para arrumação de noivas, onde,segundo ela, “é mais calmo”. De fato, fica difícil definir se oritmo agitado do salão toma conta de Jael ou se ela contagiao ambiente, já que na opinião de suas filhas, “ela é a alma dolugar”.Quem hoje entra na empresa construída por Jael Pifano nãoimagina que há 40 anos tudo o que possuía eram duas cadeirase um espelho. “Tenho 59 anos de idade e 45 de profissão”,diz ao contar a história de quando tudo começou. A primeirafunção de Jael dentro de um salão de beleza foi na limpeza,varria os cabelos que caíam no chão, mas sempre com olhos eouvidos atentos a tudo o que acontecia em cima das cadeiras.“Sou filha de imigrantes italianos, meus pais eram muitopobres. Minha mãe, que não sabia ler nem escrever, lavavamais de 30 trouxas de roupa por dia e, nos fins de semana, faziacomida para vender no bairro.” Foi observando a condiçãohumilde da família que Jael, com apenas 14 anos, se dispôs aajudar. Nenhum parente era cabeleireiro, e o sonho de ter umsalão próprio nunca tinha passado pela sua cabeça. “O meusonho mesmo, desde pequena, era ser química.”Sem ter como bancar os estudos, Jael agarrou a primeiraoportunidade que surgiu. “Uma vizinha trabalhava no Ediza,que já foi um dos maiores salões de Juiz de Fora, e ela me disseque estavam precisando de alguém para limpeza. Na mesmahora eu aceitei.” Dez anos mais tarde, ela viria a montarseu primeiro salão.“Eu não tenho vergonha de falar, no meu primeiro salão,só tinha um lavatório, duas cadeiras e um espelho. Já almoceimuitas vezes no banheiro, porque não tinha outro lugar paraalmoçar.” Os primeiros anos da profissão foram de muita luta,trabalhava de segunda a sexta e, nos fins de semana, cortava ocabelo de todos os moradores do Bairro Borboleta, onde nasceu.“Já trabalhei muito de graça, mas era importante para queeu aprendesse.”Jael sabe fazer de tudo. “Sempre fui assim. A primeira vezque fiz maquiagem foi quando a maquiadora do salão passoumal, não pode ir e tinham várias clientes marcadas para umcasamento. Minha chefe à época, que sempre me percebeuobservando o trabalho da maquiadora, perguntou se eu sabiafazer maquiagem. Eu não sabia, mas disse “sei”. A partir daí,eu virei maquiadora.”Coragem, vontade de aprender e muita determinação foramos componentes que, segundo Jael, deram vida ao seu salão.Do pequeno cômodo na galeria Constança Valadares, ela teveque se mudar para outro prédio na Rua Halfeld. “A sala não mecomportava mais, depois de um tempo, a mulherada ficava depapel nos cabelos pelos corredores da galeria.”Na Rua Halfeld, ela alugou duas salas no Edifício do BancoMineiro da Produção, lá ficou por seis anos, mas logo surgiu anecessidade de expandir. “A primeira vez que vim visitar esseapartamento aqui na Oscar Vidal, eu não queria pegar de jeitonenhum. Falei com a proprietária que ela estava louca, aqui eragrande demais para mim. Hoje já estou com quatro.”Se quisesse, afirma Jael, poderia ser ainda maior, mas afirmaestar satisfeita com a empresa que construiu. “Me sinto realizadaporque fiz uma empresa da forma como eu queria, umaempresa humana.” O salão, antes da pandemia, recebia cerca deduas mil clientes por mês e, nos últimos tempos, tem retornadoao ritmo intenso de trabalho. “Nós tivemos que reduzir a equipedurante a pandemia por conta de espaço. Para obedecer as normasde distanciamento, não pude ficar com a capacidade máximade funcionários que eu tenho.”Atualmente, o salão de Jael conta com 42 funcionárias, entrecabeleireiras, manicures, esteticistas e outros profissionais.E há ainda um homem na equipe, o primeiro depois demuitos anos. Gerar empregos e dar oportunidade de crescimentoé uma das coisas que mais motiva a empresária. “Seeu pudesse, contratava muito mais. Assim como eu comeceimuito nova, vejo meninas seguindo os mesmos passos, commuita garra, se aperfeiçoando e traçando um rumo na vida.”Para ela, o diferencial do salão passa também pela qualidadedas funcionárias. “Para trabalhar comigo precisa ser umapessoa boa, não digo nem profissional bom, porque profissionala gente molda, mas caráter, não.”Se eu pudesse, contratava muito mais. Assimcomo eu comecei muito nova, vejo meninasseguindo os mesmos passos, com muita garra,se aperfeiçoando e traçando um rumo na vidaAspiração de ensinar jovensmeninas e adolescentesO sonho para o futuro é poder retribuir um pouco de suasorte às próximas gerações. Jael planeja fundar uma escolatécnica para jovens meninas e adolescentes, com o objetivode ensinar um ofício e consequentemente as tirar das ruas.“Gostaria de dar a oportunidade para se descobrirem emum tipo de profissão. Se você encontra uma direção com 14,15 anos, a chance de ter um futuro melhor aumenta demais.Eu ficaria muito realizada em saber que fui parte disso.”Mas no momento, os planos ainda são apenas planos, asprioridades de Jael são outras, como cuidar da mãe de 93anos. “Minha mãe é minha maior inspiração. Fui criada poruma mulher à frente do seu tempo, não tinha como eu serdiferente. Mesmo sem ter dinheiro ou educação, ela nuncaabaixou a cabeça, pelo contrário. Sempre batalhou demaispara conseguir o que é dela.”Quando questionada sobre o que gosta de fazer quandonão está trabalhando, Jael logo responde “viajar”. Mas aténisso sua profissão ganha espaço. “Adoro viajar, conhecernovas culturas, já fiz curso em oito países na área de coloração.Sempre que dá, tento unir essas duas paixões, viajare aprender.” Outra paixão recém descoberta é seu sítio,“nunca gostei de roça, mas agora tenho um sítio ondegosto de ir para cuidar das minhas plantas. Eu tambémfaço crochê, tenho meus grupos de estudo, de religião.Minha vida é bem movimentada, mas eu gosto assim”,afirma, rindo.*Sob supervisão da editora Luciane Faquini6 | março | 2022• 43