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Prezado professor,

Nosso sentimento é de alegria e exultação no Senhor por oferecer-lhe

a Revista de nº 48 da Série Lições da Palavra de Deus, cujo tema é:

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica.

Embora estejamos vivendo em um mundo de tantas descobertas, e

tão evoluído do ponto de vista dos avanços da tecnologia, o homem

ainda traz consigo as marcas daquele ato colossal que o distanciou do

projeto original idealizado por seu Criador. Desde a Queda, os filhos

de Adão tornaram-se implacavelmente egoístas, agressivos, violentos,

inseguros, invejosos, ciumentos e, não raro, tristes, infelizes e

deprimidos.

Esta revista traz um conjunto de 13 vícios e males que atormentam

a vida do homem e de seus pares. Por intermédio destas lições, você

entenderá a origem, as manifestações e os traços característicos de

males comuns a todos, porém, nem sempre admitidos por quem os

manifesta. Você aprenderá também sobre como identificar e superar

estes distúrbios, que trazem tantas dores e prejuízos à pessoa individualmente

e, em geral, aos seus relacionamentos.

Que o Senhor nos abençoe.

Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas em

mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei na salvação da sua

presença.

Salmo 42.5

Elba Alencar

Diretora Executiva da Central Gospel


Pr. Gilmar Chaves

Pastor, educador, psicanalista e

conferencista;

Bacharel em Teologia — IBAD,

Pindamonhangaba, SP;

Licenciatura Plena em Pedagogia

com Habilitação para Supervisão

e Administração Escolar —

Universidade Católica de Mato

Grosso;

Pós-graduado em Metodologia

do Ensino Superior — Faculdade

Salesiana de Ensino Superior,

Lorena, SP;

Pós-graduado em Docência do

Ensino Superior — Universidade

Gama Filho, Rio de Janeiro, RJ;

Mestre em Teologia —

Universidade da Flórida, USA;

Superintendente da Escola

Dominical da Assembleia de Deus

em Jacarepaguá.

Presidente

Silas Malafaia

Vice-presidente

Silas Malafaia Filho

Diretora Executiva

Elba Alencar

Gerente Financeiro

Talita Malafaia Silveira

Gerente Editorial

Gilmar Vieira Chaves

Marketing

Flávia Andrade, Renata Gonçalves, Liérgina

Martins, Raquel Frazão, Fernando Lima e

Pamella Caputi

Capa, projeto gráfico e diagramação

Eduardo Souza

DEPARTAMENTO EDUCACIONAL

Coordenadora das revistas infantis

Albertina Lima Malafaia

Coordenadora das revistas de

adolescentes, jovens e adultos

Jane Castelo Branco

Copidesque

Jane Castelo Branco

Fotos

Shutterstock

4º Trimestre/2016

LOJAS NO RIO DE JANEIRO

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Penha – (21) 3888-4511 e (21) 2671-4290

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13

A Ditadura do Orgulho 4

Ira, Combustível para Mágoas e Ódios 11

Estresse, um Portal para a Morte 18

Depressão, Melancolia da Alma 25

Angústia, o Gemido Silente 32

Autoestima, um Ajuste no Foco 39

Ansiedade, Tolice dos Homens 47

Culpa, a Prisão da Mente 54

Luxúria, o Desejo Proibido 61

Cobiça, o Número Um dos Pecados 68

Medo, a Moenda do Maligno 75

Ciúme, o Cabo da Tormenta 82

Inveja, a Senda da Autodestruição 89


Lição 1

Aula dada em

DIA MÊS ANO

A Ditadura do Orgulho

TEXTO BÍBLICO BÁSICO

2 Crônicas 26.3,4,16-21

3 - Era Uzias da idade de dezesseis anos quando começou a reinar e cinquenta

e cinco anos reinou em Jerusalém (...).

4 - E fez o que era reto aos olhos do Senhor, conforme tudo o que fizera

Amazias, seu pai.

16 - Mas, havendo-se já fortificado, exaltou-se o seu coração até se corromper;

e transgrediu contra o Senhor, seu Deus, porque entrou no templo

do Senhor para queimar incenso no altar do incenso.

17 - Porém o sacerdote Azarias entrou após ele, e, com ele, oitenta sacerdotes

do Senhor, varões valentes.

18 - E resistiram ao rei Uzias e lhe disseram: A ti, Uzias, não compete queimar

incenso perante o Senhor, mas aos sacerdotes, filhos de Arão, que

são consagrados para queimar incenso; sai do santuário, porque transgrediste;

e não será isso para honra tua da parte do Senhor Deus.

19 - Então, Uzias se indignou e tinha o incensário na sua mão para queimar

incenso; indignando-se ele, pois, contra os sacerdotes, a lepra lhe saiu à

testa perante os sacerdotes, na Casa do Senhor, junto ao altar do incenso.

20 - Então, o sumo sacerdote Azarias olhou para ele, como também todos os

sacerdotes, e eis que já estava leproso na sua testa (...).

21 - Assim ficou leproso o rei Uzias até ao dia da sua morte; e morou, por ser

leproso, numa casa separada, porque foi excluído da Casa do Senhor; e

Jotão, seu filho, tinha a seu cargo a casa do rei, julgando o povo da terra.

4 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


TEXTO ÁUREO

Que tens tu que não

tenhas recebido? E, se

o recebeste, por que te

glorias como se não o

houveras recebido?

1 Coríntios 4.7b

SUBSÍDIOS PARA

O ESTUDO DIÁRIO

2ª feira – Provérbios 11.2; 29.23

A soberba precede a ruína

3ª feira – Tiago 4.1-6

Deus resiste aos soberbos

4ª feira – Mateus 23.8-12

O que se exaltar será humilhado

5ª feira – Romanos 12.9-16

Não sejais sábios em vós mesmos

6ª feira – 2 Coríntios 10.13-18

Não nos gloriaremos fora de medida

Sábado – Gálatas 6.1-5

Prove cada um a sua própria obra

OBJETIVOS

Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá ser capaz de:

discernir os dois sentidos da palavra orgulho (positivo e

negativo);

saber que a Bíblia trata o orgulho como um pecado abominável;

identificar os sintomas do orgulho;

conhecer as consequências do orgulho na vida do rei Uzias.

ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS

Prezado professor,

O aconselhamento preventivo e o aconselhamento terapêutico

são diametralmente diferentes. No primeiro, o objetivo é

prevenir para que as feridas e os traumas não se estabeleçam.

No segundo, o objetivo é tratar os problemas que já aconteceram,

os males que deviam ser evitados, mas já se instalaram.

O aconselhamento preventivo deve preceder o terapêutico,

ser uma constante na igreja e fazer parte de uma estratégia

elaborada por ela, objetivando um crescimento contínuo tanto

em quantidade numérica como em qualidade de vida cristã

em seus vários aspectos.

Por isso, é interessante que todo educador cristão conheça

os principais sistemas de psicologia e também a postura de

pastores e teólogos, a fim de conduzir o estudo dessa revista

da melhor maneira possível.

Boa aula!

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

5


COMENTÁRIO

Palavra introdutória

Uzias é um dos reis mais emblemáticos da história da monarquia

judaica. Sua trajetória monárquica iniciou-se quando

ele tinha 16 anos de idade, e seu tempo de reinado colocou-o

entre os mais longevos de Judá — 52 anos (792—740 a.C.)

—, superando, inclusive, os governos de Davi e Salomão. Sua

história combina momentos de grandes conquistas e notabilidade;

no entanto, ao mesmo tempo, é um dos relatos mais

tristes da Bíblia Sagrada.

Assim como subiu de forma meteórica e alcançou grande

sucesso por seus feitos, Uzias caiu de forma trágica por conta

do orgulho que permitiu abrigar em seu coração (Pv 16.18).

1. OS DOIS SENTIDOS DA PALAVRA ORGULHO

O orgulho faz parte da vida do ser humano quase que

de forma inseparável. Embora, em princípio, cause surpresa

a muitos, o termo pode ser aplicado em dois sentidos diametralmente

opostos. Vejamos a seguir.

1.1. Considerado positivamente

Todo ser humano em algum momento de sua vida sente-se

orgulhoso — de si mesmo ou de alguém com quem tem laços

de afeição e estima — por certos feitos ou por determinados

objetivos alcançados. Este é um tipo de orgulho benéfico, seja

no âmbito profissional, social e até nas ocupações eclesiais. Visto

dentro desse ângulo positivo, ele tem a conotação de senso

de dignidade, autovaloração e autorrespeito.

1.2. Considerado negativamente

Este é o sentido em que o termo é aplicado nas Escrituras

Sagradas. O orgulho faz com que o indivíduo sinta excessivo

amor por si próprio, um senso desarrazoado de superioridade

no que se refere ao talento individual, beleza, riqueza ou qualquer

outra virtude que possua ou julgue possuir.

O orgulhoso, erroneamente, sente-se superior aos outros,

em algum sentido, e os trata de maneira desdenhosa, arrogante

e presunçosa. Porém, a Bíblia exorta-nos à convivência

humilde e à valorização do próximo (Fp 2.3).

2. A BÍBLIA TRATA O ORGULHO COMO UM

PECADO ABOMINÁVEL

O primeiro pecado na esfera humana atende pelo nome

de orgulho. Este sentimento expressa o que há de pior e mais

6 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


perverso no coração do homem. Seu efeito destrutivo assemelha-se

ao de uma bomba, que devasta e destrói de maneira

impiedosa. Ele é a matriz de uma série de outros males e

origina-se no próprio diabo, o deus deste século (2 Co 4.4),

que o dissemina no mundo como parte dos seus propósitos

malignos de roubar, matar e destruir o ser feito à imagem e

semelhança do seu Criador (Jo 10.10; Gn 1.26,27).

2.1. Foi o elemento principal na queda de Lúcifer na

esfera angelical

Não satisfeito com sua elevada

condição diante dos seres criados,

Lúcifer assentou em seu coração

que subiria ao céu, acima das estrelas

de Deus, e estabeleceria ali

o seu próprio trono. Seu alvo era

tornar-se semelhante ao Altíssimo

(Is 14.12-14). Porém, Deus o lançou

do alto da sua presunção de

honra e poder, precipitando-o em

um abismo de vergonha e derrota

(Is 14.15-19).

Foi pelo orgulho que

o demônio tornou-se

o demônio. O orgulho

conduz a todos os

outros pecados: é o mais

completo estado de alma

anti-Deus (C. S. Lewis).

2.2. Foi o fator predominante na queda de Adão e Eva

O diabo insinuou que Adão e Eva teriam os seus olhos

abertos e se tornariam tão conhecedores do bem e do mal

quanto Deus, caso comessem do fruto proibido (Gn 3.1-5).

Estes argumentos desencadearam neles o orgulho de serem,

de alguma forma, iguais ao Criador. Tendo comido do fruto

proibido, contraditoriamente, viram-se nus e resolveram fugir

da presença de Deus, como se isto possível fosse (Gn 3.6-11).

2.3. Leva ao desejo de tomar para si a glória que é

exclusiva de Deus

Todo homem, independente da sua condição social, em algum

tempo de sua vida, pode ser dominado pela desgraça do

orgulho, como aconteceu com o rei Nabucodonosor (Dn 4.29-

32). Todavia, aqueles que possuem (ou acham que possuem)

riquezas, inteligência, beleza ou cargos de elevada importância

são mais propensos à queda, pelo desejo de usurparem a

posição que Deus reserva a Si somente (Is 42.8).

2.4. Está em rota de colisão com o caráter de Deus

O orgulho é um dos principais traços de Satanás, o inimigo

de nossas almas. João, o discípulo amado, denomina concupiscência

dos olhos o encantamento pessoal pelos tesouros deste

mundo, a ávida busca pelos aplausos, honra e glória dos ho-

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

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mens (1 Jo 2.16). Herodes, quando aplaudido e chamado de voz

de Deus e não de homens, exaltou-se, não deu glória a Deus,

consequentemente, expirou comido por vermes (At 12.21-23).

2.5. Deve ser combatido pelos salvos

O coração humilde é o contraponto do orgulho. No Salmo

131.1-3, Davi revela um dado importante do seu caráter, pois,

mesmo tendo se tornado rei de todo Israel, nunca desejou de

forma obstinada as posições de destaque (Sl 131.1).

2.6. O orgulhoso será punido e humilhado

Aquele que possui olhos altivos e trata o próximo com

indiferença e escárnio será severamente punido (Sl 18.27;

Sf 2.10,11; Is 2.12; Ml 4.1).

O Mestre dos mestres afiançou que o orgulhoso deve arrepender-se

e mudar. Caso isto não ocorra, ele será, mais cedo ou

mais tarde, humilhado diante dos olhos do mundo (Mt 23.12).

3. SINTOMAS DO ORGULHO

As doenças físicas, de modo geral, podem ser identificadas

por meio das suas manifestações (visíveis ou não).

Assim também ocorre no plano emocional e espiritual. O pecado

do orgulho também pode ser corroborado por suas características.

Vejamos a seguir alguns sinais que identificam

uma pessoa orgulhosa.

3.1. Possui um exagerado senso de superioridade

O orgulhoso não se contenta em ser igual ao seu semelhante,

ao contrário, ele precisa sentir-se melhor e maior. Sua

visão de si é superestimada, ele acha que é mais importante

do que os outros. Porém, a Bíblia ratifica que Deus possui um

caráter constante e que, em hipótese alguma, faz acepção de

pessoas (At 10.34, Rm 2.11).

3.2. Pensa que está sempre com razão e os outros errados

A pessoa orgulhosa tem grande dificuldade em aceitar que

está equivocada, porque simplesmente não é capaz de admitir

seus erros (Mt 7.3). Ela é assim no trabalho, em casa, na escola

ou na igreja. Ela fala como se fosse dona absoluta da verdade

em todas as questões. Por conta deste tipo de conduta, não

consegue desenvolver relacionamentos bons e duradouros.

3.3. Não tolera receber críticas

Por ter um conceito muito elevado de si mesma, a pessoa

orgulhosa não consegue receber com naturalidade as críticas;

quando as recebe, tende a reagir agressivamente, como

foi o caso do rei Uzias (2 Cr 26.19).

8 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


Os orgulhosos não conseguem compreender que as opiniões

diferentes ao seu respeito podem, no fim das contas,

ajudá-los a melhorar. Por sentirem-se acima da média, nunca

pedem desculpas e comumente apresentam justificativas

para seus atos, responsabilizando os outros por seus erros e

insucessos (Gn 3.9-13).

3.4. É resistente às mudanças necessárias

Pelo fato de sentir-se autossuficiente (e quase perfeita),

tal pessoa tende a ser resistente às mudanças. Há uma lógica

perversa nesse tipo de comportamento; entretanto, compreensível,

uma vez que os orgulhosos consideram-se superiores

aos demais — se alguma mudança for necessária, que ocorra

em relação aos outros, pois, sendo inferiores, são os que precisam

mudar de direção.

3.5. Incomoda-se com o sucesso dos outros

O orgulhoso sente-se confrontado e profundamente desconfortável

diante das boas notícias de conquista do seu semelhante

(especialmente se for de alguém próximo).

Tal pessoa, ao invés de alegrar-se na alegria do outro (Rm

12.15a), entristece-se, permitindo que sentimentos mesquinhos

tomem conta do seu coração. Pensar em alguém que seja

melhor do que ela em alguma coisa é algo inadmissível.

3.6. Costuma ser preconceituosa

O orgulhoso nada de braçadas no preconceito. Seu sentimento

de superioridade faz com que promova distinção entre

os demais, seja em relação à raça, etnia, intelectualidade, condição

social, religiosa ou financeira.

O orgulho é o embrião do preconceito. Esse sentimento

deletério, que teima em ocupar mentes e corações, é fruto da

pequenez espiritual e da ignorância sobre si, sobre o próximo,

sobre o caráter de Deus e sobre Seus planos para com a

humanidade.

4. CONSEQUÊNCIAS DO

ORGULHO NA VIDA DO

REI UZIAS

Quando o homem age movido

pelo orgulho, ele iguala-se a

Lúcifer e a Adão. Suas escolhas

tornam-se apenas reedições do

pecado perpetrado nas regiões celestiais

e no Éden. Uzias, a despeito

de suas monumentais conquis-

O demônio ri. Ele não tem

problema algum em ver

alguém se tornar moralmente

puro, corajoso e disciplinado,

contanto que consiga

estabelecer nele a ditadura

do orgulho (C. S. Lewis).

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

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tas, ao exaltar-se em seu coração, experimentou o infortúnio,

a dor e a decadência. Vejamos algumas consequências do orgulho

na biografia deste grande monarca (2 Cr 26.3-5,16-21):

corrupção — a palavra vem do latim (corruptus) e significa

quebrado em pedaços. Tem o sentido de apodrecido. Os atos

de Uzias, baseados em seu orgulho, levaram-no à destruição

total (2 Cr 26.16);

desonra — todo aquele que estabelecer conexão com o orgulho

e fizer dele plataforma para sua vida experimentará,

como Uzias, o abismo da vergonha e da desonra (2 Cr 16.18);

enfermidade e humilhação — o orgulho fez adoecer praticamente

todas as dimensões do seu ser, ou seja, corpo,

alma e espírito. Dominado pelo pecado do orgulho, o rei foi

severamente punido pelo Senhor e seu corpo ficou tomado

pela lepra até sua morte. Sua saúde escapou-lhe, devido à

soberba do seu coração (2 Cr 26.19);

isolamento do convívio social — o orgulhoso será sempre

alguém solitário, uma vez que as pessoas não desejam conviver

com esse tipo de personalidade. Dominado pela enfermidade,

resultante do seu pecado, o rei foi submetido a um

processo de exclusão social severo e cruel (2 Cr 26.20);

exclusão da casa do Senhor — Deus resiste ao orgulhoso e

impede-o da grandiosidade da Sua presença (Tg 4.6). Além

de excluído do convívio da família e de seus consortes, o

rei sofreu a pior separação de todas: ele foi banido da casa

do Senhor (2 Cr 26.21).

CONCLUSÃO

Jesus disse que os humildes são bem-aventurados (Mt 5.3).

Significa dizer que, no contraponto de uma vida caracterizada

pelo orgulho, há um estilo de vida alicerçado na humildade que

conduz à suprema alegria de um viver feliz, sereno e seguro.

Como disse o escritor e teólogo Matthew Henry, a humildade

é uma disposição graciosa da alma por meio da qual somos

esvaziados de nós mesmos, a fim de sermos cheios do Senhor

Jesus Cristo. Ser humilde é ser despretensioso aos próprios

olhos; é reconhecer que Deus é grande, e todo homem insignificante;

é entender que Ele é santo, e todo homem pecador.

ATIVIDADE PARA FIXAÇÃO

1. De acordo com a lição de hoje, cite ao menos dois sinais

que identificam uma pessoa orgulhosa.

R.: Possui um exagerado senso de superioridade; pensa que

está sempre com razão e os outros errados, dentre outros.

10 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


Lição 2

Aula dada em

DIA MÊS ANO

Ira, Combustível para

Mágoas e Ódios

TEXTO BÍBLICO BÁSICO

Efésios 4.17,18,20-24,26,27,29,31,32

17 - E digo isto e testifico no Senhor, para que não andeis mais como andam

também os outros gentios, na vaidade do seu sentido,

18 - entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus, pela ignorância

que há neles, pela dureza do seu coração.

20 - Mas vós não aprendestes assim a Cristo,

21 - se é que o tendes ouvido e nele fostes ensinados, como está a verdade

em Jesus,

22 - que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se

corrompe pelas concupiscências do engano,

23 - e vos renoveis no espírito do vosso sentido,

24 - e vos revistais do novo homem, que, segundo Deus, é criado em verdadeira

justiça e santidade.

26 - Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira.

27 - Não deis lugar ao diabo.

29 - Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa

para promover a edificação, para que dê graça aos que a ouvem.

31 - Toda amargura, e ira, e cólera, e gritaria, e blasfêmias, e toda malícia

seja tirada de entre vós.

32 - Antes, sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos

uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo.

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

11


TEXTO ÁUREO

Sabeis isto, meus amados

irmãos; mas todo o homem

seja pronto para ouvir,

tardio para falar, tardio

para se irar.

Tiago 1.19

SUBSÍDIOS PARA

O ESTUDO DIÁRIO

2ª feira – Salmo 37.1-9

Deixa a ira e abandona o furor

3ª feira – Provérbios 15.1,8

O homem iracundo suscita contendas

4ª feira – Provérbios 22.24,25

Não acompanhes o iracundo

5ª feira – Provérbios 29.8,11,22

Um tolo expande toda a sua ira

6ª feira – Colossenses 3.1-8

Despojai-vos também da ira

Sábado – Tiago 1.19,20

Todo o homem seja tardio para se irar

OBJETIVOS

Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá ser capaz de:

fazer distinção entre os termos raiva, ira e ódio;

saber o que as Escrituras falam a respeito da ira;

refletir sobre os imperativos paulinos relativos ao modo

como o cristão deve responder à ira: irai-vos e não pequeis;

não se ponha o sol sobre a vossa ira; não te deixes vencer

do mal, mas vence o mal com o bem.

ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS

Prezado professor,

Muitos acreditam que a honra de um homem está na capacidade

de ele responder à altura a ofensa sofrida; está na

habilidade de ele não levar desaforo para casa ou, ainda, está

em seu espírito belicoso. Mas, quando foi que alguém, de fato,

conseguiu resolver os problemas da vida alimentando iras?

Quando foi que a ira ofereceu uma luz no fim do túnel para os

conflitos humanos?

Afinal, que emoção é esta? Em que momento a ira deixa

de ser virtude e passa a ser pecado? Como vencê-la em nós?

Quais valores associam-se direta e indiretamente a essa emoção?

No decorrer desta lição, veremos que muito mais coragem

é necessária para resistir ao homem perverso, para andar infinitas

milhas de compaixão, para caminhar em silêncio sob o

som de vozes maledicentes e para perdoar setenta vezes sete.

Deus lhe abençoe na condução do tema.

Boa aula!

12 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


COMENTÁRIO

Palavra introdutória

Nem sempre a ira deve ser considerada como algo pecaminoso,

uma vez que Jesus a manifestou quando expulsou os

vendilhões do templo (Mt 21.12,13), e o apóstolo Paulo declarou:

Irai-vos, mas não pequeis (Ef 4.26).

Vista de maneira positiva, a ira pode ser um recurso da

psiquê humana para sinalizar quando algo está errado e os

limites da bondade, da justiça e do bom-senso estão sendo

violados. No entanto, essa emoção, se não controlada, pode

tornar-se destrutiva, trazendo grandes prejuízos para o indivíduo.

É o que veremos a seguir.

1. RAIVA, IRA E ÓDIO: DEFINIÇÃO DE TERMOS

Raiva, ira e ódio são termos frequentemente usados

como sinônimos; deste modo, faz-se necessária uma adequada

conceituação, a fim de entendermos o que de fato a ira é.

Vejamos a seguir.

1.1. Raiva

Trata-se de uma emoção primitiva e pouco elaborada. Uma

criança que se vê privada de alimento, por exemplo, pode

encolerizar-se — e isso é natural. Ao chorar de raiva, a criança

espera chamar a atenção de alguém que lhe possa suprir a falta;

nesse caso, a emoção funcionaria como um fator protetivo.

Sozinha, a raiva não tem o poder de atingir outras pessoas,

mas é uma porta que se abre à evolução de outras emoções

(mais nocivas). Em essência, a raiva é tão inocente quanto um

animal selvagem; contudo, se não contida, poderá causar danos.

1.2. Ira

A ira solicita de suas vítimas uma reação imediata (e quase

sempre desmedida) contra aquilo que representa uma ameaça

(real ou imaginária) à sua integridade (física e/ou emocional).

É o popularmente conhecido bateu-levou — uma pessoa que

ouve impropérios, por exemplo, se tomada pela ira, tenderá a

devolver a afronta com a mesma intensidade, na tentativa de

minimizar a dor sentida (nesse caso, dor psicológica).

A ira, apesar de intensa e perigosa, de modo geral, tem

curta duração; e, assim como a raiva, se não for expurgada

ou controlada, poderá causar severos danos (físicos e emocionais)

ao indivíduo.

1.3. Ódio

O ódio, diferente da raiva e da ira, não é passageiro; ele é

alimentado pelo tempo, pelas noites de ira que se sobrepõem

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

13


— uma à outra — durante a vida (Ef 4.26) — como veremos

adiante. O ódio é pernicioso por não reconhecer limites e por

eliminar a capacidade de suas vítimas analisarem o contexto

de forma isenta e prática.

2. O QUE AS ESCRITURAS FALAM A

RESPEITO DA IRA

As Escrituras dão-nos ciência de que há dois tipos de

ira: uma que se deriva do caráter humano pecaminoso (Ef

4.31; Cl 3.8) e outra que advém na natureza santa do Criador

(Mt 3.7; Rm 1.18; 9.22).

No Novo Testamento, duas palavras gregas são usadas

para designar ira: orgē e thymos. Vejamos:

orgē — indica uma disposição mental vinculada ao desejo

de vingança futura; muitas vezes, designa indignação. O

vocábulo aparece no texto bíblico tanto para descrever a ira

do homem (Ef 4.31; Cl 3.8) como a ira de Deus (Mt 3.7; Rm

1.18; 9.22);

thymos — indica uma explosão repentina de cólera ou

furor, decorrente de indignação interior, que cessa rapidamente.

É característico, portanto, daquilo (ou daquele)

que logo se inflama, mas que se apaga no instante (Ap

14.10,19; 15.1,7; 16.1,19; 19.15).

2.1. A ira de Deus

Críticos do cristianismo costumam dizer que a ira de Deus

é uma contradição. Perguntam-nos eles com desdém: como

um Deus de amor pode ferir a terra com a vara de Sua boca

(Is 11.4)?

Paulo, ao escrever aos Romanos, afirmou que a ira de Deus

manifesta-se sobre toda a impiedade e injustiça praticada pelos

homens (Rm 1.18); aos efésios, ele disse que a ira de Deus

é derramada sobre todos aqueles

que vivem na desobediência (Ef

Ao expulsar os vendilhões

do templo (Mt 21.12,13),

Jesus expressou Sua

absoluta indignação contra

a impiedade e injustiça

cometidas pelos homens.

O ato de Jesus revelou, de

forma clara e inequívoca, o

coração do Pai, que dá ao mal

a resposta adequada.

5.6); aos colossenses, ele declarou

que o Senhor derrama Sua ira sobre

aqueles que cometem pecado

(Cl 3.6).

O mal e a injustiça não existem

em si mesmos; existem homens

perversos e homens injustos, ou

seja, pessoas que se dispõem a seguir

na contramão dos desígnios

divinos. Se pudéssemos resumir o

pensamento paulino, dentro desse

contexto, este seria: (1) Deus é o

único Ser capaz de responder ide-

14 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


almente à injustiça e ao mal praticado pelos homens; e (2) o

alvo da Sua ira é o ato perverso, não aquele que o pratica.

3. A NINGUÉM TORNEIS

MAL POR MAL

Paulo, em Efésios 4.26, autoriza

seus leitores a irarem-se. Disse

ele: Irai-vos. Porém, no mesmo

versículo, sem qualquer interlúdio,

ele completa sua instrução: e não

pequeis; não se ponha o sol sobre

a vossa ira.

Embora pareça humanamente

impossível realizar tal tarefa, em

Romanos 12.21, o apóstolo ensina

a como colocá-la em prática: não te

deixes vencer do mal, mas vence o

mal com o bem.

Analisemos os imperativos paulinos

mais detidamente nos tópicos

seguintes.

A ira divina resulta em algo

bom — a paz (Is 11.6-9).

Quando o ser humano se

vinga, sua ira costuma gerar

mais violência, sofrimento e

amargura. Os juízos de Deus,

contudo, promovem a paz na

terra, porque contêm a justiça

verdadeira e eliminam os que

estão do lado da injustiça e da

perversidade (RADMACHER;

ALLEN; HOUSE. Central Gospel,

2010a, p. 1042).

3.1. Irai-vos

João Crisóstomo (347—407), arcebispo de Constantinopla,

reconhecido por sua habilidade oratória, disse certa vez:

Quem quer que fique irado por uma razão justa não é culpado.

Porque, se faltasse a ira, a ciência de Deus não teria andamento,

os julgamentos não seriam acertados, e os crimes não

seriam reprimidos.

Quando somos afetados pela injustiça, perdemos a capacidade

de racionalização e iramo-nos. A ira é uma emoção, e

nenhuma culpa pode ser imputada ao ser que, limitado pela

condição humana, emociona-se. Significa dizer que a ira, em

si, não é pecado.

Neste ponto, bem caberia um questionamento: por que,

então, não devemos responder com atos de ira, quando somos

nós os injustiçados e feridos? Vejamos a seguir.

3.2. Mas não pequeis

A ira, energia que o Criador concede-nos para respondermos

de modo adequado à injustiça, muitas vezes, empurra-

-nos ao justiçamento, ou seja, à fabricação de um tipo de

compensação que se adeque aos nossos critérios, valores e

razões. Quando isso acontece, cometemos pecado.

A única ocasião em que um ato indignado de ira é justificado

dá-se quando esse é praticado em defesa de uma vítima

da injustiça (que não nós). Nenhum ato violento de ira, que

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

15


objetive anular os efeitos de uma injustiça cometida contra

nós, pessoalmente, é legitimado pelo Evangelho. Ao contrário,

como cristãos, somos instados

a oferecer a outra face aos nossos

ofensores e a caminhar com eles a

Quando somos vítimas

da injustiça, tendemos

a responder de forma

exagerada a tal estímulo; e

isso acontece por causa do

orgulho. Nesse ponto, a ira

torna-se um pecado, pois

se impõe como afirmação

absoluta do ego. É fato: a

ira não controlada revela as

entranhas do ego que não

admite ser contrariado.

segunda milha (Mt 5.39,40); além

disso, somos orientados a responder

ao mal com o bem (Rm 12.21)

e a deixar a vingança aos cuidados

do Senhor (Rm 12.19) — como disse

Tiago, a ira do homem não opera a

justiça de Deus (Tg 1.19,20).

3.2.1. Assumir a ira é, antes de

tudo, reconhecer que ela habita

nossa mente

A ira é deflagrada toda vez que

alguém ou algo ameace nosso bem-

-estar (de forma real ou imaginária);

por isso, bem faríamos se, antes de

transformarmos a emoção (ira) em

ato, respondêssemo-nos sinceramente: as palavras e atitudes

alheias atingem quais áreas do nosso ser? O que, no outro,

desperta, em nós, a sensação de suscetibilidade? Se nos iramos

com nosso semelhante, a ira é nossa, nosso é o problema

e em nós está a solução.

3.3. Não se ponha o sol sobre a vossa ira

Quando Paulo disse: não se ponha o sol sobre a vossa ira

(Ef 4.26b), em outras palavras, ele instruía seus leitores a não

irem para a cama com o suposto direito de ficarem aborreci-

Assim como a vida procede

do amor, a morte procede do

ódio (da ira que se acumula

noite após noite). Deste

modo, é possível afirmar que

quem dorme com a ira, em

certo sentido, casa-se com

morte, pois faz fenecer os

bons pensamentos, os bons

sentimentos e as

boas intenções.

dos, a não dormirem com qualquer

tipo de razão suicida. O apóstolo sabia

que, se assim agissem, eles abririam

espaço para a ação do diabo

— é importante destacar que o vocábulo

grego diabolo (dia = separado

+ bolo = jogar) designa o ser que

joga separado, fragmenta e desune.

E é exatamente nos vãos, brechas

e lacunas que o inimigo de nossas

almas finca suas raízes, fazendo-as

florescer em nosso inconsciente.

Por esse motivo, o apóstolo fez

tal exortação. Dormir com a ira

equipara-se a aninhar ovos de serpente

na alma. E quem insiste em

16 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


fazê-lo não sai incólume, pois, quase sempre, torna-se um ser

desconfiado, mal-humorado e paranoico.

3.4. Vence o mal com o bem; vence o mal com o amor

Costumamos ser passivos com a injustiça cometida contra

o próximo anônimo, mas tendemos a reagir com violência

contra qualquer palavra ou prática contrária às nossas expectativas.

Mais uma vez, Paulo, corroborando a mensagem de

Jesus, apresenta-nos a solução: o amor, pois este não se ira

facilmente (1 Co 13.5 – NVI).

3.4.1. Todo aquele que enfrenta e vence a ira pode seguir

livre em seu caminho

Muitos cristãos interpretam o mandamento do amor como

um peso — isso porque o enxergam sob a lente da moralidade.

Talvez seja este o grande engano de Satanás, pois amar

nossos inimigos não é um dogma, mas o único caminho possível

para a verdadeira liberdade — ninguém pode manter

cativo aquele que a ninguém odeia.

CONCLUSÃO

Há pessoas que abrigam iras por anos a fio, sem assumi-las

como realidade; e essas iras revelam-se no cotidiano por meio

de amarguras intensas, agressividades desmedidas e angústias

paralisantes.

Não nos iludamos, irmãos, a ira despersonaliza o irado, fomenta

inimizades, e inviabiliza os relacionamentos, porque nenhuma

relação humana subsiste à impossibilidade do perdão.

Interrompamos os ciclos de ira hoje mesmo. Humildemente

percebamos que só seremos verdadeiros filhos de Deus no dia

em que conseguirmos amar nossos inimigos de todo coração e

quando, com sinceridade, pudermos orar por eles (Mt 5.44,45).

O mundo carece de cristãos fiéis, capazes de retribuir o

mal com o bem, de não tomar em suas mãos as injustiças

cometidas contra eles e de exercitar, dia a dia, a mansidão.

ATIVIDADE PARA FIXAÇÃO

1. No Novo Testamento, duas palavras gregas são usadas

para designar ira. Quais são elas e o que cada uma indica?

R.: (1) Orgē indica uma disposição mental vinculada ao desejo

de vingança futura; muitas vezes, designa indignação. (2)

Thymos indica uma explosão repentina de cólera ou furor,

decorrente de indignação interior, que cessa rapidamente.

É característico, portanto, daquilo (ou daquele) que logo se

inflama, mas que se apaga no instante.

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

17


Lição 3

Aula dada em

DIA MÊS ANO

Estresse,

um Portal para a Morte

TEXTO BÍBLICO BÁSICO

Gênesis 3.9-19

9 - E chamou o Senhor Deus a Adão e disse-lhe: Onde estás?

10 - E ele disse: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e

escondi-me.

11 - E Deus disse: Quem te mostrou que estavas nu? Comeste tu da árvore

de que te ordenei que não comesses?

12 - Então, disse Adão: A mulher que me deste por companheira, ela me deu

da árvore, e comi.

13 - E disse o Senhor Deus à mulher: Por que fizeste isso? E disse a mulher:

A serpente me enganou, e eu comi.

14 - Então, o Senhor Deus disse à serpente: Porquanto fizeste isso, maldita

serás mais que toda besta e mais que todos os animais do campo; sobre

o teu ventre andarás e pó comerás todos os dias da tua vida.

15 - E porei inimizade entre ti e a mulher e entre a tua semente e a sua semente;

esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.

16 - E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a tua dor e a tua conceição;

com dor terás filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te

dominará.

17 - E a Adão disse: Porquanto deste ouvidos à voz de tua mulher e comeste

da árvore de que te ordenei, dizendo: Não comerás dela, maldita é a

terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida.

18 - Espinhos e cardos também te produzirá; e comerás a erva do campo.

19 - No suor do teu rosto, comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque

dela foste tomado, porquanto és pó e em pó te tornarás.

18 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


TEXTO ÁUREO

Por isso, não

desfalecemos; mas, ainda

que o nosso homem

exterior se corrompa,

o interior, contudo, se

renova de dia em dia.

2 Coríntios 4.16

SUBSÍDIOS PARA

O ESTUDO DIÁRIO

2ª feira – Romanos 8.26-28

Todas as coisas contribuem para o bem

3ª feira – Salmo 131

Fiz calar e sossegar a minha alma

4ª feira – Salmo 23

O Senhor é meu pastor, nada me faltará

5ª feira – Romanos 5.3-5

A tribulação produz a paciência

6ª feira – Salmo 119.10-16

De todo o meu coração te busquei

Sábado – Provérbios 4.7,8; 27.19; 23.7

Adquire, pois, a sabedoria

OBJETIVOS

Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá ser capaz de:

conhecer as reações mais comuns observadas diante de

um agente estressor e as classificações de estresse;

identificar as circunstâncias que conduzem a quadros de

estresse;

adotar medidas preventivas contra o estresse.

ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS

Nós, cristãos, assim como todos os demais seres humanos,

sofremos a ação de agentes estressores. Segundo dados da

OMS (Organização Mundial de Saúde), o estresse atinge nove

em cada dez habitantes do planeta.

O termo estresse, tomado emprestado da Engenharia, indica

o máximo de pressão que determinado organismo ou elemento

pode sofrer, sem perder a sua forma original, ou seja,

sem se deformar. O estresse, na área da psiquê humana, designa

um estado de desequilíbrio em que o indivíduo atinge o

limite de suportabilidade das emoções.

As pressões externas exigem de nós respostas apropriadas,

e, à medida que as tensões se intensificam, perdemos a

capacidade de responder adequadamente a cada uma delas

— entramos em déficit (emocional, mental, físico, espiritual) e

ficamos deformados, isto é, estressados.

Sugerimos, professor, que no início da aula seja dada oportunidade

aos alunos para falarem de suas experiências pessoais

de estresse, a fim de que eles consigam internalizar o

conteúdo da lição.

Boa aula!

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

19


COMENTÁRIO

Palavra introdutória

A experiência da Queda repercutiu na raça humana de forma

trágica. Expulso do Jardim, longe de Deus, o homem ficou

sem parâmetros de norteamento; e, desde então, ele não consegue

viver em harmonia com a Natureza, com o próximo ou

consigo mesmo. Suas relações desordenaram-se em todos os

sentidos, e os conflitos passaram a fazer parte do seu cotidiano.

Além disso, o ser criado à imagem e semelhança de Deus

foi tomado pelo desejo insaciável de obter coisas, o que o fez

ficar sobrecarregado por múltiplos afazeres — e foi exatamente

assim que o estresse tornou-se uma de suas marcas

identitárias.

1. O QUE É ESTRESSE?

Estresse emocional é a resposta que o corpo humano dá

a determinada circunstância que desafia ou ultrapassa sua capacidade

de adaptação. Esta emoção, cuja origem tem causas

diversas, pode ser caracterizada

por sensações de medo, desconforto,

preocupação, irritação, frustração,

indignação ou nervosismo.

As reações mais comuns observadas

diante de um agente estressor

são as que seguem:

reações mentais — esquecimento, incapacidade de concentração,

falta de clareza nas tomadas de decisões, lentidão

do pensamento, preocupação excessiva, pessimismo e

ansiedade;

reações psicológicas — tristeza profunda, depressão, solidão,

isolamento, cansaço, irritação, agitação e mau humor;

reações físicas — o estresse exerce influência direta sobre

o corpo humano, podendo causar as chamadas doenças

psicossomáticas, que se manifestam como queda de cabelo,

aumento do peso, perda do desejo sexual, problemas

de estômago (como gastrites e úlceras), dores nas costas e

envelhecimento precoce.

A ansiedade e o estresse

são portais para a morte.

2. CLASSIFICAÇÕES DO ESTRESSE

A primeira experiência humana de estresse aconteceu

ainda no Éden: depois de ter comido do fruto proibido, Adão foi

tomado pelo medo, pela vergonha e pela angústia. A resposta

que ele deu à pergunta que o Criador lhe fez — onde estás

— revelou que ele estava cônscio de ter experimentado, pela

primeira vez, o gosto amargo do estresse: Ouvi a tua voz soar

no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me (Gn 3.9,10).

20 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


Na pós-modernidade, a correria, os

constantes desafios, as pressões, os

conflitos familiares, o trabalho excessivo,

os relacionamentos desgastantes

e as incertezas quanto ao amanhã contribuem,

de forma significativa, para

uma vida dominada pelo estresse.

Os tipos de estresse dependem da

intensidade e do tempo necessário

para que os processos de solução e

adaptação ocorram. Vejamos as principais

subdivisões de agentes estressores

nos subtópicos seguintes.

Nos dias em que somos

tomados pelo estresse,

podemos experimentar

a paz que vem de Deus;

basta mantermos nossos

pensamentos fixos Nele.

O profeta Isaías disse:

Tu conservarás em paz

aquele cuja mente está

firme em ti (Is 26.3).

2.1. Estressores circunstanciais

críticos

São os acontecimentos que envolvem um relativo grau

de ansiedade, tais como: a expectativa do casamento e suas

demandas, o nascimento de um filho, acidentes, perda da

libido, morte de um ente querido, dentre outros.

2.2. Estressores do cotidiano

São os acontecimentos que envolvem eventos rotineiros,

os quais exercem forte pressão sobre as emoções e interferem

no bem-estar do indivíduo, fazendo com que ele se sinta

ameaçado, frustrado ou vitimizado. Por exemplo: aumento de

peso, insatisfação com a aparência, problemas de saúde com

parentes próximos, afazeres domésticos, inflação, corrupção,

perda do emprego e dificuldades financeiras.

2.3. Estressores de longa duração

São as situações que se estendem por períodos demasiadamente

longos e trazem consigo as experiências de sobrecarga

emocional. Como exemplos, citamos: excesso de trabalho,

desemprego prolongado, divórcio, viuvez, falência,

sedentarismo e tarefas diárias rotineiras.

3. CIRCUNSTÂNCIAS QUE CONDUZEM

AO ESTRESSE

Ninguém se torna estressado acidentalmente. Há situações

facilitadoras de quadros estressantes. Vejamos.

3.1. A falta de prioridades e a falta de planejamento

no uso do tempo

A falta de prioridades (ou a falha na delimitação destas)

abre uma grande porta para a tensão, o nervosismo, a irri-

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

21


tação e o estresse. Deste modo, é imperativo estabelecê-las

e encaixá-las no tempo de que dispomos. O tempo, por sua

vez, deve ser interpretado como um bem que precisa ser

utilizado prudentemente, uma vez que os dias vividos não

voltam mais.

3.2. A falta e o excesso de trabalho

Assim como o desemprego pode gerar conflitos, o excesso

de trabalho também pode causar desequilíbrio e levar

ao estresse. Quando enfrentamos situações dessa natureza,

bem faríamos se adotássemos a

Jesus falou sobre a importância

do planejamento (Lc 14.28,29).

As palavras do Mestre

ressaltam que o sucesso na

vida de qualquer pessoa muito

depende do modo como ela

vai organizar-se frente aos

desafios do cotidiano, de suas

metas e alvos estabelecidos e

planejados (MALAFAIA, Silas.

Central Gospel, 2013, p.162).

postura do apóstolo Paulo que se

gloriou na tribulação, pois sabia

que a tribulação produz paciência;

e a paciência, a experiência;

e a experiência, a esperança. E a

esperança não traz confusão (Rm

5.3-5).

Lembremo-nos de que o momento

de crise permite-nos um

relacionamento mais profundo

com Deus; além disso, possibilita-nos

vivenciar a realidade de

Suas promessas e ampliar a visão

em relação ao mundo espiritual.

3.3. A alimentação pobre em nutrientes

Sem uma alimentação adequada, o organismo não terá

energia suficiente para o enfrentamento dos desafios. Assim,

alimentar-se bem e ter uma relação equilibrada com os medicamentos

é algo de grande importância na prevenção do

estresse.

3.4. A dificuldade no relacionamento interpessoal

As relações familiares agastadas funcionam como uma

mola propulsora de tensão e insegurança (fontes canalizadoras

de estresse). Assim também, os relacionamentos difíceis

no trabalho, na escola ou em qualquer outro espaço, não

raramente, conduzem ao estresse. Para que a pessoa tenha

bons relacionamentos, será necessário que ela resolva seus

recalques e traumas, resultantes da sua experiência de vida.

3.5. Vida espiritual fragmentada ou em rota de colisão

com a vontade de Deus

A falta de comunhão com o Altíssimo, a prática consciente

do pecado ou a falta de arrependimento e confissão são estressores

que enfraquecem toda estrutura psíquica do indiví-

22 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


duo, impedindo-o de viver em serenidade, calma e confiança

na providência e no cuidado do Pai celeste (Sl 119.10-16).

4. MEDIDAS PREVENTIVAS CONTRA O ESTRESSE

Há situações — tais como, fazer ou receber ligações fora

de hora, enfrentar o trânsito caótico das grandes cidades ou

administrar prazos de trabalho (muitas vezes inconciliáveis)

— que alteram o equilíbrio do indivíduo e podem descarregar

neurotransmissores predisponentes à agitação.

Essas causas precisam ser identificadas e combatidas oportunamente;

contudo a prevenção é sempre o melhor caminho

a ser tomado em qualquer circunstância. Assim, algumas precauções

devem ser adotadas contra o esgotamento. Vejamos

a seguir.

4.1. Aprenda a conhecer-se

Como saber quem realmente somos? Por que fazemos o

que fazemos? Por que somos como somos? A sabedoria bíblica

considera que o conhecer a si mesmo

é um dos objetivos mais nobres

e dignos a serem perseguidos. O Sábio,

em seus dias, anunciou alguns

provérbios e anexins que revelam a

importância do autoconhecimento

(Pv 16.32; 27.19; 23.7; Ec 9.13-18).

O conhecimento de si próprio é

uma medida indispensável para evitar

ou amenizar os quadros de tensão.

Ter a consciência de que determinado

fato tira-nos o equilíbrio já é

um bom começo para a superação.

Senhor, dai-me força para

mudar o que pode ser

mudado, resignação para

aceitar o que não pode ser

mudado e sabedoria para

distinguir uma coisa da outra

(Francisco de Assis).

4.2. Procure remover as causas possíveis de serem

removidas

Há situações que podem ser resolvidas no imediato; no entanto,

existem aquelas que só podem ser definidas no médio

ou longo prazo e aquelas que, simplesmente, não serão solucionadas.

As que não podem ser removidas talvez possam

ser minimizadas; se não puderem, resta apenas aprender a

conviver com elas da maneira menos desgastante possível.

Vejamos alguns conselhos práticos que poderão ser úteis no

enfrentamento do estresse, deflagrado por causas diversas.

4.2.1. Evite o sedentarismo

Entende-se por sedentário o indivíduo que não pratica atividades

físicas regulares. Infelizmente, o sedentarismo, em

quase todo mundo, é um grave problema de saúde pública.

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

23


O exercício físico em níveis moderados pode melhorar em

muito a saúde e a sensação de bem-estar. Essa prática reduz

o risco de morte prematura e o risco de morte por doenças

cardiovasculares; além disso, diminui a possibilidade de o indivíduo

desenvolver diabetes e hipertensão, evita vários tipos de

cânceres e ajuda no controle do peso e dos sentimentos de estresse,

ansiedade e depressão.

4.2.2. Organize-se, planeje o seu tempo

Gastar tempo em planejamento é um investimento seguro

na qualidade de vida. Descansar, tirar férias, desfrutar momentos

de lazer com a família pode ser um grande antídoto

contra os estressores da existência.

4.2.3. Não negligencie suas emoções

O fator emocional é de grande importância para o homem,

pois afeta todo o seu ser. Os melhores investimentos na área

emocional são aqueles que contribuem para o desenvolvimento

de atitudes de otimismo, confiança e alegria.

4.3. Cuide de sua vida espiritual

Está cientificamente comprovado que as pessoas que têm

fé e cultivam a vida espiritual (por meio da oração e do estudo

bíblico) estão muito mais protegidas de doenças oportunistas,

mormente, das de cunho emocional.

Dar prioridade ao Reino de Deus, manter uma rotina de

meditação na Palavra e ter comunhão com o Senhor, conforme

ensinou o Mestre dos mestres (Mt 6.25-34), é um grande

antídoto contra as perturbações do espírito e traz a paz que

excede todo entendimento (Fp 4.7).

CONCLUSÃO

O estresse é o somatório de repostas físicas, emocionais e

mentais, causadas por determinados estímulos externos. Na

medida certa, ele é um adjuvante necessário à superação de

certas exigências do meio. No entanto, na medida errada, ele

traz severos danos à saúde emocional, mental e física do ser

humano. Suas repercussões destrutivas far-se-ão sentir em

algum tempo da vida.

O melhor e mais recomendável é seguir sempre o exemplo

de Cristo e realmente descansar em Suas promessas.

ATIVIDADE PARA FIXAÇÃO

1. De acordo com a lição de hoje, responda: quais são as reações

mais comuns observadas diante de um agente estressor?

R.: Reações mentais; reações psicológicas e reações físicas.

24 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


Lição 4

Aula dada em

DIA MÊS ANO

Depressão,

Melancolia da Alma

TEXTO BÍBLICO BÁSICO

Salmo 42.1-11

1 - Como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a minha

alma por ti, ó Deus!

2 - A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e me

apresentarei ante a face de Deus?

3 - As minhas lágrimas servem-me de mantimento de dia e de noite, porquanto

me dizem constantemente: Onde está o teu Deus?

4 - Quando me lembro disto, dentro de mim derramo a minha alma (...).

5 - Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas em mim?

Espera em Deus, pois ainda o louvarei na salvação da sua presença.

6 - Ó meu Deus, dentro de mim a minha alma está abatida (...).

7 - Um abismo chama outro abismo, ao ruído das tuas catadupas; todas as

tuas ondas e vagas têm passado sobre mim.

8 - Contudo, o Senhor mandará de dia a sua misericórdia, e de noite a sua

canção estará comigo: a oração ao Deus da minha vida.

9 - Direi a Deus, a minha Rocha: Por que te esqueceste de mim? Por que

ando angustiado por causa da opressão do inimigo?

10 - Como com ferida mortal em meus ossos, me afrontam os meus adversários,

quando todo o dia me dizem: Onde está o teu Deus?

11 - Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de

mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei. Ele é a salvação da minha

face e o meu Deus.

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

25


TEXTO ÁUREO

Aquele que habita no

esconderijo do Altíssimo,

à sombra do Onipotente

descansará.

Salmo 91.1

OBJETIVOS

SUBSÍDIOS PARA

O ESTUDO DIÁRIO

2ª feira – Jó 3.11,13,20,21-26; 9.21

Desprezo a minha vida

3ª feira – Números 11.10-15

Mata-me, eu lhe peço

4ª feira – Salmo 88.1-5

A minha alma está cheia de angústias

5ª feira – 1 Reis 19.1-4; Jonas 4.1-3

Toma agora a minha vida

6ª feira – Jeremias 20.14-18

Por que não me matou desde a madre?

Sábado – Mateus 26.37,38

A minha alma está cheia de tristeza

Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá ser capaz de:

conhecer os sintomas e os tipos mais comuns de depressão;

compreender que a depressão é uma doença multifatorial

e, a partir desse entendimento, conhecer suas possíveis

causas;

identificar o modo adequado de lidar com a depressão.

ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS

Prezado professor,

Por que, no mundo de hoje, com tanta tecnologia e avanços

científicos, uma doença como a depressão vem ganhando

espaço a ponto de ultrapassar as estatísticas do câncer e

doenças cardiovasculares? Por que já se fala em depressão

global? Por que em nações com as maiores rendas per capita

e os maiores índices de desenvolvimento humano, como a Noruega,

a Dinamarca e a Suécia, há as mais altas incidências de

suicídio? Por que pessoas que têm suas necessidades fisiológicas

e psicológicas supridas costumam ser tão infelizes?

Porque, embora os cientistas do comportamento humano

não queiram dar o braço a torcer, o homem não é só matéria

e mente. É um ser espiritual e tem necessidades espirituais,

as quais não podem ser supridas por bens materiais. Só Deus

pode preencher o vazio que sentimos pela perda da comunhão

como Ele após a Queda (MALAFAIA, Silas. Central Gospel,

2013, p. 353).

Boa aula!

26 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


COMENTÁRIO

Palavra introdutória

O Salmo 42 apresenta o lamento de alguém que, por algum

motivo, distanciou-se da companhia amorosa do Altíssimo. A

leitura atenta do texto faz-nos concluir que esse afastamento

do Senhor levou o salmista ao extremo da tristeza, a ponto de

ele fazer de suas lágrimas seu alimento diário.

Sem uma explicação clara para sua tristeza, o autor desses

versos é mergulhado em um quadro claro de profunda

depressão.

1. DEPRESSÃO, MELANCOLIA DA ALMA

O número de pessoas que

sofre de depressão nos dias atuais

é alarmante. Estatísticas revelam Depressão é uma doença

que 20% da população mundial, psicossomática, que atinge

não importando os aspectos de ordem

econômica, social ou cultural,

a mente, a alma, o coração,

sofrem com os sintomas dos males

e, depois, fere o corpo.

depressivos.

É tristeza da alma. É

De acordo com a Organização abatimento profundo.

Mundial da Saúde (OMS), esse número

aumentará 1% ao ano, em

média, e a previsão é que em muito

pouco tempo a depressão torne-se o principal problema de

saúde do ser humano em qualquer parte do globo terrestre.

Pode-se definir a depressão como melancolia da alma ou

tristeza da alma. Os portadores desse mal, assim como o autor

do Salmo 42, são tomados por profunda consternação,

abatimento e por um verdadeiro desencantamento pela vida,

que os levam à perda do valor próprio, ao desânimo e à desesperança.

1.1. Sintomas da depressão

Em geral, os quadros depressivos podem ser detectados

pelos sinais que a pessoa manifesta em seus relacionamentos

cotidianos. Dependendo de cada situação, esses sinais podem

apresentar-se como: estado de melancolia e tristeza profunda;

visão negativa e fatalista da vida; desejo de morte; perda

da esperança; baixa autoestima; insegurança; desconfiança

em relação às outras pessoas; fortes traços de ansiedade;

apatia; aflição; isolamento; solidão; desencantamento; desistência

e perda do controle emocional (caracterizada por intensos

sintomas físicos e por reações intercaladas de alegria

e choro compulsivo).

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

27


1.2. Tipos de depressão

Há dois tipos mais conhecidos de depressão:

reativa (psicológica) — sendo psicológica, a abordagem

deve ser terapêutica. Neste caso, a ajuda de psicólogos,

psicanalistas e conselheiros é de grande utilidade;

estrutural ou orgânica (endógena) — sendo estrutural e

orgânica, a abordagem deve ser feita por meio de medicamentos.

Neste caso, a pessoa depressiva deve ser

encaminhada aos médicos da área da Psiquiatria ou da

Neurologia. Entretanto, a ação medicamentosa deve ser

combinada com o trabalho terapêutico, que é essencial à

cura definitiva.

2. CAUSAS DA DEPRESSÃO

Sabe-se, atualmente, que a depressão é uma doença

multifatorial, isto é, há várias causas envolvidas em seu surgimento.

Vejamos algumas delas nos subtópicos seguintes.

2.1. Transtornos e desequilíbrios na produção de

neurotransmissores

A serotonina, a dopamina e a noradrenalina são neurotransmissores

responsáveis pelas sensações de bem-estar. A

serotonina é uma substância sedativa e calmante, conhecida

como elemento mágico, que melhora o estado de humor —

principalmente de pessoas com tendência à melancolia e tristeza

—; além disso, age de forma polivalente regulando o trânsito

intestinal, controlando a ansiedade e o ritmo do sono. A

dopamina e a noradrenalina, por sua vez, proporcionam energia

e disposição ao corpo para a execução das tarefas diárias.

Emoções que fazem parte da nossa vida, como insegurança,

medo e ansiedade, afetam a produção desses neurotransmissores

e conduzem, sutilmente, ao desequilíbrio bioquímico

do sistema nervoso central, criando, assim, o cenário perfeito

para a instalação dos casos de transtornos da personalidade.

2.2. Causas diversas

De cunho psicológico — O medo infundado, a ansiedade

exagerada e a insegurança causam o adoecimento das

emoções, o que pode deflagrar

quadros depressivos.

Lançando sobre Ele toda a

vossa ansiedade, porque

ele tem cuidado de vós

(1 Pe 4.7).

De fundo mental — A falta de

organização e controle mental

do indivíduo pode conduzi-lo às

emoções destrutivas, afetando

assim a sua vida como um todo,

inclusive trazendo sérios riscos a

sua saúde física e emocional.

28 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


Relacionadas às circunstâncias de vida — Como exemplos,

citamos: a falta de uma boa alimentação; o sedentarismo; os

relacionamentos desgastados ou rompidos; a perda da autoestima;

o divórcio; a morte de um ente querido; as insatisfações

e as perdas gerais da vida

(Sl 62.8).

Existenciais — Sentimentos causados

pela impotência diante de

uma situação ou diante de algo

muito desagradável. A falta de

sentido para a vida, a falta de direção,

o senso de vazio existencial.

Espirituais — A queda no Éden

não afetou apenas o primeiro casal

(Gn 3.9-18). Todo homem traz

consigo a semente do mal, plantada

no jardim de Deus. Há também os pecados cometidos

pela pessoa, que levam à tristeza e à depressão. Vale ressaltar

que o acolhimento de mágoas no coração, a raiz de amargura,

a falta de perdão e a ênfase nos frutos da carne podem

ser o passaporte para os quadros profundos de tristeza, desânimo

e abatimento (Hb 12.14,15; Gl 5.16-21).

Quanto ao mais, irmãos,

tudo que é verdadeiro, tudo

que é honesto, tudo que é

justo, tudo que é puro, tudo

que é amável, tudo que é

de boa fama, se há alguma

virtude, e se há algum

louvor, nisso pensai (Fp 4.8).

2.3. Casos de depressão na vida de grandes

personagens bíblicos

Qualquer pessoa está sujeita a enfrentar a depressão em

algum momento da vida. Mesmo pessoas boas podem sucumbir

diante do poder da tristeza e da fraqueza da fé.

Alguns grandes homens de Deus, apresentados nas Escrituras

Sagradas, tiveram de lidar com esse sentimento que

tantos prejuízos traz à saúde e à vida das pessoas como um

todo. Entre eles destacam-se:

Jó — Vitimado por uma dor que estava além de suas possibilidades

humanas, Jó viu a morte como um tesouro e a

única esperança para obter alívio para as suas emoções

em tormento (Jó 3.11,13,20,21-26; 9.21).

Moisés — Entre outros relatos contidos no Pentateuco, destacamos

o de Números 11.10-15. Sentindo-se esmagado

pelo peso da condução de Israel à Terra Prometida, Moisés,

após questionar ao Senhor, sentiu-se profundamente

triste e instou com Jeová que lhe tirasse a vida, pois não

queria ser testemunha ocular de sua própria miséria.

Josué — O filho de Num ficou profundamente deprimido

em decorrência da morte de Moisés e das implicações

deste fato: ele teria sobre os seus ombros a responsabilidade

de conduzir o povo à Terra Prometida (Js 1.1-9).

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

29


Davi — No Salmo 88.3, o filho de Jessé revelou todo o sofrimento

pessoal de uma alma em profundo estado de angústia.

Elias — Após grande demonstração de fé na vitória sobre

os profetas de Baal (1 Rs 18), Elias sentiu-se totalmente

esgotado pelas ameaças e perseguições de Jezabel, incitada

contra ele por seu marido, o rei Acabe (1 Rs 19.1-4). Em

total demonstração de desânimo, o profeta pediu a Deus a

sua própria morte (v. 4).

Jeremias — O profeta das lágrimas, perseguido e torturado

pelos representantes da religião e pelas autoridades

políticas de Judá, manifestou todo o seu tormento quando

marcou o dia do seu nascimento como um dia infame e

maldito (Jr 20.14-18).

Jonas — O profeta desobediente e fugidiço, irado com o arrependimento

dos ninivitas, pediu ao Senhor para tirar-lhe

a vida, pois não conseguia conceber o fato de que houvesse

em Deus graça suficiente para alcançar tanto os seus

conterrâneos quanto os gentios (Jn 4.1-3).

Paulo — O apóstolo abortivo, sem que saibamos exatamente

o que lhe causou tamanho abalo (seja algum tumulto,

cilada armada por algum inimigo ou mesmo uma enfermidade

mortal), revelou aos irmãos da igreja em Corinto

que sofrera tribulações acima das suas forças a ponto de

desesperar-se da própria existência (2 Co 1.8,9).

Jesus — No Jardim das Oliveiras, o nosso Mestre, acompanhado

de Pedro e dos dois filhos de Zebedeu, sentiu-se triste e

angustiou-se até a morte. Sua alma foi tomada de agonia e

dor no mais elevado grau. Este acontecimento corrobora a

humanidade de Cristo e o fato de que ninguém está isento de

sofrer as aflições deletérias da depressão (Mt 26.36-38).

3. COMO LIDAR COM A DEPRESSÃO?

Em primeiro lugar, é preciso reportar-se à origem do

mal, uma vez que de nada adiantará o alívio dos sintomas sem

a devida interação com suas respectivas causas.

Uma pessoa deprimida é alguém doente que precisa ser

acolhida. Uma excelente forma de ajuda pode ser o encaminhamento

dela para um especialista, que está preparado para

esse tipo de situação. O trabalho terapêutico a auxiliará na

compreensão da origem do seu distúrbio.

A abordagem bíblica, que penetre a esfera emocional e espiritual

do indivíduo, também é muito importante no diagnóstico

e na cura deste mal. A combinação de psicoterapias, psicofármacos

(quando indicados por um especialista), reeducação

alimentar, prática de atividades físicas e abordagens bíblico-

-pastorais podem trazer grandes benefícios ao indivíduo.

30 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


Além do que foi exposto anteriormente, seguem algumas

ações eficazes no combate à depressão:

3.1. Valorização da qualidade de vida

Desenvolver a confiança, a alegria e uma perspectiva otimista

sobre a própria existência fortalece significativamente

a estrutura emocional da pessoa e torna o seu sistema imunológico

mais resistente.

Além disso, é de grande importância uma mudança radical

nos hábitos diários no que tange à prática de atividades

físicas e de recreação, bem como o uso de alimentação rica e

balanceada. Neste caso, uma visita ao nutricionista pode ser

de grande valia.

3.2. Avançar para além dos limites do diagnóstico

Significa vencer o ciclo de estabilidade–recaída; não desanimar;

conhecer pessoas que superaram casos graves de

depressão; trocar informações sobre novas pesquisas e buscar

ferramentas para despertar o entusiasmo e a vontade de

viver bem.

3.3. Desenvolver a disciplina da consagração pessoal

ao Senhor

A comunhão com Deus (por meio da oração e do estudo de

Sua Palavra) é uma das armas mais eficazes na desconstrução

de sentimentos destrutivos que podem encastelar-se na

alma humana (Ef 6.12,13).

No Salmo 62.5,6, percebemos que Davi trilhou seu próprio

caminho de libertação; ele compreendia que o homem cheio

do Espírito de Deus, mesmo não estando imune aos males da

alma, sempre estaria protegido.

CONCLUSÃO

O cristão corre os mesmos riscos de qualquer outro ser humano;

no entanto, aquele que deposita em Deus o seu destino

terá a fé necessária para viver de maneira confiante. Mesmo

diante das inúmeras ameaças, resultantes do simples fato de

existir, o filho de Deus permanecerá inabalavelmente firme e

confiante (Sl 62.7,8).

ATIVIDADE PARA FIXAÇÃO

1. De acordo com a lição de hoje, quais são os tipos de depressão

mais conhecidos?

R.: Depressão reativa (psicológica) e depressão estrutural ou

orgânica (endógena).

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

31


Lição 5

Aula dada em

DIA MÊS ANO

Angústia,

o Gemido Silente

TEXTO BÍBLICO BÁSICO

Salmo 107.1-15

1 - Louvai ao Senhor, porque ele é bom, porque a sua benignidade é para

sempre.

2 - Digam-no os remidos do Senhor, os que remiu da mão do inimigo

3 - e os que congregou das terras do Oriente e do Ocidente, do Norte e

do Sul.

4 - Andaram desgarrados pelo deserto, por caminhos solitários; não acharam

cidade que habitassem.

5 - Famintos e sedentos, a sua alma neles desfalecia.

6 - E clamaram ao Senhor na sua angústia, e ele os livrou das suas necessidades.

7 - E os levou por caminho direito, para irem à cidade que deviam habitar.

8 - Louvem ao Senhor pela sua bondade e pelas suas maravilhas para com

os filhos dos homens!

9 - Pois fartou a alma sedenta e encheu de bens a alma faminta,

10 - tal como a que se assenta nas trevas e sombra da morte, presa em aflição

e em ferro.

11 - Como se rebelaram contra as palavras de Deus e desprezaram o conselho

do Altíssimo,

12 - eis que lhes abateu o coração com trabalho; tropeçaram, e não houve

quem os ajudasse.

13 - Então, clamaram ao Senhor na sua angústia, e ele os livrou das suas

necessidades.

14 - Tirou-os das trevas e sombra da morte e quebrou as suas prisões.

15 - Louvem ao Senhor pela sua bondade e pelas suas maravilhas para com

os filhos dos homens!

32 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


TEXTO ÁUREO

Muitas são as aflições do

justo, mas o Senhor o livra

de todas.

Salmo 34.19

SUBSÍDIOS PARA

O ESTUDO DIÁRIO

2ª feira – Salmo 138

No meio da angústia, tu me revivificarás

3ª feira – Salmo 118.1-5

Deus ouve-nos no dia da angústia

4ª feira – Salmo 4

Na angústia me deste largueza

5ª feira – Romanos 8.22-35

Quem nos separará do amor de Cristo?

6ª feira – João 16.19-33

Tende bom ânimo; eu venci o mundo

Sábado – Tiago 5.7-13

Está alguém entre vós aflito? Ore.

OBJETIVOS

Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá ser capaz de:

reconhecer que a angústia é uma decorrência natural do

ato de existir;

identificar as principais causas da angústia;

entender como alguns personagens bíblicos enfrentaram

a tempestade da aflição;

saber o que é necessário fazer para atravessar a dor da

angústia.

ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS

Prezado professor,

Paulo, ao escrever aos romanos, em outras palavras, disse

que, desde a Queda, existir é experimentar um permanente

estado de angústia — gememos em nós mesmos (Rm 8.23).

Portanto, a realidade da angústia não nos deve impressionar,

tampouco deve aprisionar nossa consciência, pois não há

meios de extinguir tal emoção. O que podemos (e devemos)

fazer é, sem neurotizações, identificar sua origem: são orgânicas,

psíquicas ou espirituais? Quando pudermos chamá-las

pelo nome, estaremos aptos a vivê-las sem somatizações.

É importante, também, entender que não se deve subtrair

o caráter necessário da angústia, pois ela nos convida a sondar

nosso mundo interior.

O que a nós, cristãos, importa é saber que, no dia da angústia,

o Senhor nos livrará (Sl 81.7a; 50.15), basta colocar as

saudades e os gemidos inominados que nos afligem diante do

Senhor, para que Ele faça cumprir a Sua vontade em nós (Lc

22.42-44).

Boa aula!

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

33


COMENTÁRIO

Palavra introdutória

O texto do Salmo 107 expressa a bondade de Deus em

relação às mais diversas situações em que os remidos podem

encontrar-se. A bondade e a misericórdia do Altíssimo

podem alcançar o homem esteja ele onde estiver: nos cárceres

da vida, no leito de enfermidade ou em qualquer outra

circunstância que o faça sentir-se oprimido, profundamente

inquieto ou em agonia.

Esses termos (opressão, inquietude e agonia), inclusive, definem

bem os sentimentos de angústia encastelados na mente

do escritor desse cântico, que descreve a situação de apertura

na qual o povo de Israel, não raramente, estava inserido.

1. CRISE, UM AGENTE PROPULSOR DE

ANGÚSTIAS

A vida humana pode ser caracterizada pelos estágios

de crise que o indivíduo precisa atravessar. Vejamos.

Crise de desenvolvimento — ocorre em tempos previstos, à

medida que a pessoa passa pelas etapas da vida, a saber: da

infância (em suas várias divisões) à adolescência; da adolescência

à maturidade e desta ao envelhecimento e à morte.

Como podemos resolver esse tipo de crise? Ajustando-nos

aos novos momentos e resolvendo as situações das fases anteriores

para que estas não sejam projetadas nas seguintes.

Crises acidentais ou situacionais — são as que acontecem

repentinamente; por isso, golpeiam com maior intensidade.

Podem ser deflagradas pela fragmentação da família,

pelo divórcio, pela perda de um ente querido, de um cônjuge

ou de um filho. Podem ainda ser causadas pela perda do

emprego ou, em alguns casos, pela falência.

Crises existenciais — são os conflitos filosóficos, que impulsionam

o homem à busca de sua própria identidade. Podem

ser observadas nas perguntas: Quem sou? Que estou

fazendo aqui? Para onde irei?

1.1. Definição do termo angústia

O sentimento de angústia é inerente ao ser humano. Não

importando as condicionantes de ordem psicossocial — ou

seja, se é rico ou pobre, homem ou mulher, letrado ou iletrado,

negro ou branco, jovem ou idoso —, as aflições fazem parte da

condição humana de maneira inseparável.

Nenhum ser racional está isento de sentir-se angustiado,

simplesmente porque ninguém está isento de enfrentar esses

tipos de crises, e porque a vida humana transcorre em um

meio comprometido com o mal, resultante da Queda, que se

materializa nas mais variadas formas de pecado (Gl 5.19-21).

34 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


Sentir-se angustiado, portanto, é sinônimo de inquietude,

apertura, agonia, martírio, tortura ou profunda opressão no

coração; e tudo isso resulta do fato de se estar vivo.

1.2. Causas da angústia

1.2.1. Psicológicas

Em alguns casos, a angústia pode estar ligada a questões

familiares, oriundas de complexos e traumas vividos nos ambientes

familiares, nos quais a percepção que a pessoa tem

dos fatos está distorcida.

1.2.2. Circunstanciais ou objetivas

O sentimento de angústia também pode decorrer de

situações reais de perigo ou opressão pelas quais todos

passam. Os profetas e os apóstolos foram pessoas muito

experientes na arte de enfrentar adversidades e inúmeras

perseguições.

1.2.3. Subjetivas

Às vezes, o sentimento de aflição pode ser uma consequência

da prática de pecados pessoais. O salmista falou sobre os

que se rebelaram contra a Palavra de Deus e desprezaram

o conselho do Altíssimo. Ele disse que, por causa de seus

caminhos de transgressão e por causa das suas iniquidades,

eles são afligidos. Seus corações ficaram abatidos, tropeçaram

sem que ninguém os pudesse ajudar (Sl 107.11,12,17).

Neste caso, o errante sente-se esmagado pela consciência

de ter violado a lei de Deus e pelo fato de sua comunhão com

o Senhor ter sido interrompida. Esse tipo de sentimento só

pode ser resolvido pelo arrependimento, confissão e abandono

da prática do mal (1 Jo 1.8,9).

2. PERSONALIDADES BÍBLICAS E A ANGÚSTIA

Como expresso anteriormente, o sentimento de angústia

a ninguém excetua. Mesmo as pessoas mais piedosas e

consagradas a Deus enfrentaram a tempestade da aflição em

vários momentos da vida, e das mais diferentes formas.

2.1. A experiência de José

O que dizer de José, que foi vendido por seus próprios irmãos?

O filho de Jacó enfrentou a angústia e o sofrimento

diante de um cenário hostil e totalmente desconhecido (Gn

37.27,28). Porém, o Senhor deu-lhe uma grande vitória mudando

o seu futuro: de escravo vendido a governador do Egito.

2.2. A experiência do salmista

O escritor do Salmo 107 tinha em mente a misericórdia

de Deus, que se aplica ao homem que vivencia o estado de

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

35


Jó disse: Por isso não

reprimirei a minha boca,

falarei na angústia do meu

espírito, queixar-me-ei na

amargura da minha alma

(Jó 7.11). Entretanto, Deus

concedeu-lhe convicção

na medida certa para que

exclamasse: Porque eu sei

que o meu redentor vive,

e que por fim se levantará

sobre a terra

(Jó 19.25).

angústia. Ele entendia que, mesmo

diante de muitos perigos, encarcerado

ou navegando nas águas da

solidão e da dor, o Eterno poderia

livrá-lo. Se ele clamasse, o Altíssimo

o livraria; só o Senhor poderia levá-

-lo ao caminho direito (Sl 107.7,9).

2.3. A experiência de Paulo

O apóstolo aos gentios passou

por muitas tribulações. Suas experiências

com a dor e as angústias cotidianas

foram o preparo necessário

para ele dizer o que está registrado

em Romanos 12.12: alegrai-vos na

esperança, sede pacientes na tribulação,

perseverai na oração.

Em 2 Coríntios 4.8,9, Paulo diz que em tudo somos atribulados,

mas não angustiados. O verbo grego utilizado para angustiados,

nesse verso, é stenochoreo, que significa afligir,

oprimir, restringir, pressionar, esmagar. A ideia que ele passa

aqui é a de alguém que está em uma situação de severo

aperto, de onde não há como escapar — como um animal

caçado. Porém, em uma série de quatro contrastes, ele declara

as grandes vitórias que obteve em Cristo: Em tudo

somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas

não desanimados; perseguidos, mas não desamparados;

abatidos, mas não destruídos.

O fato de Paulo ter passado

por tantas privações e lutas

cooperou para que a vida

eterna fosse experimentada

por aqueles a quem ele

pregava o evangelho. Da

mesma forma que a morte de

Cristo foi apenas um precursor

de Sua ressurreição para a

vida eterna (RADMACHER;

ALLEN; HOUSE. Central

Gospel, 2010b, p.460).

Em 2 Coríntios 12.7-10, angustiado

por um espinho na carne, o

apóstolo abortivo suplicou a Deus

por três vezes que o livrasse daquele

incômodo; no entanto, contrariamente,

o Senhor respondeu: a

minha graça te basta, pois, o meu

poder aperfeiçoa-se na fraqueza.

Diante desta resposta, resignado

e obediente, ele deixou-nos uma

pérola de grande valor, ao afirmar:

Pelo que sinto prazer nas fraquezas,

nas injúrias, nas necessidades,

nas perseguições, nas angústias,

por amor de Cristo. Porque, quando

sou fraco, então, sou forte.

36 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


2.4. A vida do Senhor Jesus Cristo

Nem mesmo Jesus, o Senhor da vida, ficou isento de sentir-

-se angustiado. Em Lucas 22.39-46, no jardim do Getsêmani,

lemos que o Mestre levou consigo os Seus discípulos. Quando

chegou àquele lugar, convocou-os à oração e, pondo-se de joelhos,

orou a respeito da Sua morte.

A angústia de Jesus era tamanha, que Seu suor transformou-se

em grandes gotas de sangue que corriam até o chão

(Lc 22.44). Este fato revelou a humanidade de Cristo, Deus e

homem simultaneamente na mesma pessoa, e a intensa dor

de Sua alma.

3. COMO VENCER EM TEMPOS DE ANGÚSTIA

Como expresso até aqui, a angústia

é um sentimento que acompanha

o homem em todos os momentos

de sua vida, ou seja, desde o seu nascimento

até a morte. Ela é inescapável

ao ente humano. Toda tentativa de

ignorá-la resultará em total desperdício

de energia e ilusão. Entretanto, com

procedimentos corretos, é possível minimizá-la

e até derrotá-la em situações

pontuais da existência.

No texto-base desta lição (Sl 107),

o salmista diz que, para vencer a dor

da angústia, será preciso:

Em alguns momentos, Deus

não elimina nossas aflições

enquanto oramos, mas

fortalece-nos diante delas

para que as superemos.

Jesus disse aos Seus

discípulos: no mundo tereis

aflições, mas tende bom

ânimo; eu venci

o mundo (Jo 16.33).

3.1. Redescobrir e celebrar a benignidade de Deus

(Sl 107.1-3)

O principal objetivo desses versos é revelar que a bondade

de Deus impulsiona-nos à recuperação; além disso, conduz ao

triunfo todos aqueles que, diante das adversidades orquestradas

pelo inimigo, clamam pela intervenção divina.

3.2. Reafirmar que Deus atende às necessidades dos

que peregrinam pelos desertos (Sl 107.4-9)

Esse conjunto de versos fala especificamente sobre as experiências

históricas da nação de Israel no deserto do Sinai.

Contudo, pode falar também aos que sofrem no deserto da

aflição e que, por isso, encontram-se dispersos ou longe da

misericórdia de Jeová.

3.3. Estar ciente de que Deus socorre quem está no

exílio ou em prisões (Sl 107.10-16)

Aquele que tem experiência pessoal com Deus sabe clamar

a Ele nos momentos aflitivos, mesmo quando esses momentos

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

37


são consequências de suas próprias fraquezas, limitações e

erros. A misericórdia de Deus demonstra-se em Seus atos de

salvação, graça e livramento.

3.4. Declarar que Deus salva até mesmo o insensato

(Sl 107.17-22)

Aqueles que, por decisão pessoal, tomaram caminhos que

os distanciaram da verdade, quando clamarem de todo coração,

serão salvos.

3.5. Reconhecer que Deus livra os que são

surpreendidos por tempestades (Sl 107.23-32)

Aqueles que estão vivendo nos oceanos da angústia enfrentarão

a força monumental de suas ondas que, muitas vezes,

fogem ao controle. No entanto, se não podem fazer muita

coisa, podem declarar que Deus salva; além disso, podem clamar

pela ajuda do Senhor do céu, da terra e dos mares.

3.6. Crer que há provisões de Deus para os que se

encontram em terra seca (Sl 107.33-38)

A falta de vida nas terras secas da angústia pode ter o seu

fim na fé em Deus, que converte os desertos em lagos e a

terra seca em nascentes, e ali faz habitar os famintos. Quando

o Seu povo clama por ajuda, o Senhor o livra e restitui a

fertilidade da sua alma.

CONCLUSÃO

No mundo atual, os remidos vivem sob as mesmas ameaças,

os mesmos desafios e os mesmos perigos que os demais

homens. É possível que muitos passem por perseguições, tribulações

e adversidades que excedem ao seu potencial de

condução e administração. E isso tudo pode desencadear estados

aflitivos.

Atendamos, pois, ao convite de Jesus: Vinde a mim, todos

que estais cansados e oprimidos, e eu os aliviarei. Tomai sobre

vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde

de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma

(Mt 11.28,29).

ATIVIDADE PARA FIXAÇÃO

1. A vida humana pode ser caracterizada pelos estágios de

crise que o indivíduo precisa atravessar. Quais são as principais

crises vivenciadas pelos homens, de acordo com a

lição de hoje?

R.: Crise de desenvolvimento; crises acidentais ou situacionais

e crises existenciais.

38 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


Lição 6

Aula dada em

Autoestima,

DIA MÊS ANO

TEXTO BÍBLICO BÁSICO

um Ajuste no Foco

Juízes 6.11-16

11 - Então, o Anjo do Senhor veio e assentou-se debaixo do carvalho que

está em Ofra, que pertencia a Joás, abiezrita; e Gideão, seu filho, estava

malhando o trigo no lagar, para o salvar dos midianitas.

12 - Então, o Anjo do Senhor lhe apareceu e lhe disse: O Senhor é contigo,

varão valoroso.

13 - Mas Gideão lhe respondeu: Ai, senhor meu, se o Senhor é conosco, por

que tudo isto nos sobreveio? E que é feito de todas as suas maravilhas

que nossos pais nos contaram, dizendo: Não nos fez o Senhor subir do

Egito? Porém, agora, o Senhor nos desamparou e nos deu na mão dos

midianitas.

14 - Então, o Senhor olhou para ele e disse: Vai nesta tua força e livrarás a

Israel da mão dos midianitas; porventura, não te enviei eu?

15 - E ele lhe disse: Ai, Senhor meu, com que livrarei a Israel? Eis que a minha

família é a mais pobre em Manassés, e eu, o menor na casa de meu pai.

16 - E o Senhor lhe disse: Porquanto eu hei de ser contigo, tu ferirás os midianitas

como se fossem um só homem.

Juízes 13.4,5

4 - Agora, pois, guarda-te de que bebas vinho ou bebida forte, nem comas

coisa imunda.

5 - Porque eis que tu conceberás e terás um filho sobre cuja cabeça não

passará navalha; porquanto o menino será nazireu de Deus desde o ventre

e ele começará a livrar a Israel da mão dos filisteus.

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

39


TEXTO ÁUREO

Ninguém tenha de si

mesmo um conceito mais

elevado do que deve

ter; mas, pelo contrário,

tenha um conceito

equilibrado (...).

Romanos 12.3a (NVI)

SUBSÍDIOS PARA

O ESTUDO DIÁRIO

2ª feira – Gênesis 3.1-13

A gênese do “eu”

3ª feira – Ezequiel 28.1-19

Lamentação sobre o rei de Tiro

4ª feira – Mateus 16.24-28

Renuncie-se a si mesmo

5ª feira – 1 Samuel 16.6-13

O Senhor não vê como vê o homem

6ª feira – 1 Coríntios 4.1-7

Que tens tu que não tenhas recebido?

Sábado – Marcos 12.28-31

O primeiro de todos os mandamentos

OBJETIVOS

Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá ser capaz de:

saber em que consiste o movimento da autoestima e o que

dizem seus críticos hoje;

entender de que forma o movimento da autoestima influenciou

a teologia cristã;

responder, a partir da experiência de dois juízes bíblicos, à

seguinte questão: qual o posicionamento cristão adequado,

subjugar o ego ou fortalecê-lo?

ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS

Prezado professor,

Sugerimos que, no início da lição, sejam definidos os termos

autoimagem, autoconceito e autoestima, pois os citaremos

várias vezes no decorrer da lição. Se possível, escreva-os

em um quadro, a fim de que a turma recorra a eles, sempre

que necessário.

1. Secularmente, compreende-se que a base da estruturação

psíquica de qualquer indivíduo seja a autoimagem, que se

forma a partir das interações afetivas. Esse processo tem

início quando o bebê entende que possui um corpo desvinculado

do de sua genitora.

2. Da autoimagem nasce o autoconceito. Significa dizer que,

quanto mais saudável for a relação da criança com sua mãe

— ou desta com seu cuidador —, mais positivo será o julgamento

que ela fará de si mesma.

3. A autoestima está diretamente relacionada ao modo como

o indivíduo concebeu sua imagem e (a partir dessa ima-

40 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


gem) qual conceito formou de si. Em outras palavras: para

ser satisfatória, a autoestima dependeria da qualidade de

ambos (autoimagem e autoconceito). Por isso, diz-se que a

autoestima pode ser tanto alta quanto baixa, tanto positiva

quanto negativa.

Boa aula!

COMENTÁRIO

Palavra introdutória

O fato de sermos quem somos faz-nos plenos e felizes? Já

desejamos ser diferentes do que somos hoje — ou até mesmo,

se possível fosse, acordar sendo outra pessoa? As respostas a

essas perguntas talvez possam revelar o modo como temos

nos relacionado com Deus e com o nosso próximo.

Autoestima, autoimagem e autoconceito são termos comumente

utilizados nos centros de saúde da psiquê para fazer

referência à avaliação que o indivíduo faz (e mantém) de si.

Vale destacar que, em maior ou menor intensidade, o senso

de valorização pessoal determinará o estilo de vida de todo

ser humano, como já advertia o Sábio: Porque, como [o homem]

imaginou no seu coração, assim é ele (Pv 23.7 – ACF).

1. O CONCEITO BÍBLICO DE AUTOIMAGEM

Josh McDowell, escritor e apologista cristão, disse que

ver a nós mesmos como Deus nos vê, nem mais nem menos, é

a base para a edificação de uma autoimagem saudável.

Em outras palavras, significa dizer que só seremos psiquicamente

saudáveis no dia em que pudermos nos enxergar sob

a ótica divina, ou seja, no dia em que entendermos o que de

fato a Palavra diz a nosso respeito.

1.1. Lúcifer e o desejo de autossuficiência

Em Ezequiel 28.1-19, encontramos uma profecia contra

Tiro, o rei que acreditava ser um deus (Ez 28.2). Sua ruína

é descrita em termos que remontam a queda de Satanás (1

Tm 3.6).

O que nos chama a atenção nesse texto é o que se diz a

respeito de Lúcifer. O anjo de luz corrompeu sua sabedoria

por causa do seu resplendor; por isso, Deus o atirou à terra

(Ez 28.17). E o que fez Lúcifer na terra? Encheu o coração humano

com aquilo que havia em seu próprio coração: o desejo

de ser Deus, o desejo de ser autossuficiente.

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

41


1.2. A gênese do “eu”

O primeiro casal tinha consciência de Deus e da Criação,

mas não de que ambos eram seres independentes. A primeira

fala registrada de Adão, inclusive, parece evidenciar que ele

não se via como um ser distinto de Eva: Esta é agora osso dos

meus ossos e carne da minha carne (Gn 2.23).

Antes da Queda, o self (si mesmo)

não era um inimigo a ser vencido.

Porém, quando Adão e Eva

comeram do fruto proibido, rompendo

assim, voluntariamente, o

elo que os unia ao Criador, o ego

pecaminoso nasceu: homem e mulher

perceberam-se nus (conceberam

uma autoimagem individual;

conf. Gn 3.7) e sentiram a necessidade

de justificar-se (Gn 3.12,13).

Naquele instante, a fala de Adão

modificou-se radicalmente: o osso

de seus ossos passou a ser (distintamente)

a mulher que Deus lhe dera

por companheira (Gn 3.12); e Eva

transferiu a responsabilidade de seu

ato para a serpente (Gn 3.13).

Ao contrário do que se costuma supor, a árvore do conhecimento

do bem e do mal (uma representação do livre-arbítrio

humano) não está plantada apenas nas páginas do Gênesis,

ela está fincada na consciência de todos os descendentes de

Adão, e seus frutos continuam à mostra, prontos a serem tomados

(ou não).

Assim como no jardim de Deus a serpente induziu Eva à

desobediência, hoje, a todo instante, Satanás incita-nos a fazer

o mesmo, com o agravante de que nosso ego pecaminoso

— a herança edênica de toda humanidade — induz-nos mais

fortemente às mesmas sugestões do Maligno. Assim, através

das eras, do berço ao túmulo, continuamos procurando meios

de ajustar nossa autoimagem.

A santidade do Altíssimo é,

por assim dizer, a síntese

de todos os Seus atributos.

Foi a natureza imaculada do

Criador que levou Adão a se

esconder, pois ele — como

se estivesse diante de um

espelho — viu-se despido, ou

seja, desprovido da santidade

que o unia ao Divino.

2. CONTRAPONTO ENTRE A PROPOSTA

SECULAR E A MENSAGEM CRISTÃ

Nos dias atuais, nessa tentativa de ajuste da autoimagem,

profissionais da área da psiquê humana têm posto o foco

no que costumam chamar de fortalecimento do ego. E, com

muita frequência, deparamo-nos com pacientes e terapeutas

perdidos em muitas teorias e conceitos antibíblicos.

Mas, afinal, como surgiu a ideia de que precisamos fortalecer

o ego? Até onde essa proposta é positiva? Vejamos a seguir.

42 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


2.1. O movimento da autoestima

Alguns estudiosos — como William James [(1842—1910),

um dos fundadores da psicologia moderna] e Carl Rogers

[(1902—1987), psicólogo estadunidense], dentre outros — desenvolveram

teorias da personalidade na tentativa de mapear

os traços que definem o ente humano. Seus seguidores, a

partir das vastas pesquisas realizadas por tais teóricos, popularizaram

o que se convencionou chamar de movimento da

autoestima.

Esse movimento — iniciado na década de 1970 — apregoa

que a autoestima é uma necessidade humana e que, por

ser assim, se não for atendida convenientemente, poderá deflagrar

transtornos depressivos, ansiedade e dificuldades de

relacionamento. Esta foi uma defesa radical para a época, pois

educadores e pais, até então, não se preocupavam em estimular

a autoestima das crianças, por temerem mimá-las.

2.2. A influência do movimento da autoestima na

teologia cristã

Os cristãos, de modo geral, consideravam a sobrevalorização

pessoal uma atitude pecaminosa — desenvolver teorias

capazes de atender às demandas do ego parecia uma ideia absurda

há décadas atrás. Contudo, se existe, hoje, algo que o

mundo e a Igreja partilham é a defesa da autoestima. Apesar

de muitos cristãos discordarem de algumas prerrogativas

dessa ideia — como a autoaceitação incondicional e o culto ao

eu, por exemplo —, outros irmãos têm unido esforços no sentido

de combater aquilo que consideram um inimigo comum:

a baixa autoestima, que se manifesta de diversas formas

(exemplos: depressão, ansiedade, inveja, medo, comodismo,

perfeccionismo, sentimento de inferioridade, insegurança,

murmuração etc.).

2.3. O que dizem os críticos do movimento da

autoestima hoje?

Estimular a autoestima faria com que esses sintomas deixassem

de existir? Roy Baumeister, professor de psicologia

da Universidade Estadual de Flórida, um dos maiores críticos

do movimento da autoestima, revisou extensivamente pesquisas

que associavam elevada autoestima a bom desempenho.

Ele descobriu que o sucesso (pessoal, escolar ou profissional)

eleva a autoestima, mas a autoestima elevada não necessariamente

conduz ao sucesso — a autoestima mostrou-se mais

uma consequência do que uma causa, disse o pesquisador.

Baumeister acrescenta: o autocontrole é infinitamente mais

importante que a autoestima (tanto para o indivíduo quanto

para a sociedade), pois é um processo, um tipo de ação e um

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

43


traço de personalidade. E força de vontade é um dos ingredientes

que nos ajudam a ter autocontrole. É a energia que

usamos para mudar a nós mesmos, o nosso comportamento,

e tomar decisões acertadas.

Essa teoria aproxima-se do ensinamento bíblico (1 Co

9.25,27; Gl 5.23).

2.4. Subjugar o ego ou fortalecê-lo? Qual o

posicionamento cristão adequado?

A busca de autorrealização não é citada como virtude em

qualquer texto bíblico; apesar disso, um grande número de

cristãos tem replicado tal discurso. Hoje, se alguém se levantar

contra o movimento da autoestima nas comunidades

eclesiásticas, possivelmente será acusado de promover uma

teologia precária. Precisamos nos lembrar, no entanto, de que

Jesus convocou Seus discípulos ao amor que doa de si, não ao

amor que satisfaz a si (Mt 16.24; Mc 8.34; Lc 9.23).

Se analisarmos detidamente

os evangelhos, veremos que não

Enquanto a psicologia

humanista afirma que para

amarmos o outro é preciso,

antes, ter amor-próprio,

a Bíblia aponta-nos outro

entendimento: antes de

amarmos o próximo, devemos,

primeiro, amar a Deus

(Mt 22.37; Mc 12.28b-30;

Lc 10.27a), que nos revela

quem de fato somos.

há qualquer mandamento relacionado

ao amor-próprio; o que há

é uma afirmação de Jesus de que

devemos amar ao próximo como a

nós mesmos. Daí, concluímos que

já estamos ocupados com nossos

próprios desejos, interesses e necessidades,

e, por ser assim, devemos

devotar ao próximo o mesmo

cuidado e a mesma atenção que

devotamos a nós, com igual inteireza

e intensidade (Mt 19.19;

22.39; Mc 12.31; Lc 10.27b).

3. A VERTENTE BÍBLICA: NEM MAIS,

NEM MENOS

O texto bíblico diz que o homem é a coroa da Criação

(Gn 1), feito à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.26,27),

pouco menor do que os anjos (Sl 8.5); além disso, revela que

a todo aquele que o recebe e crê em Seu nome é concedido o

direito de tornar-se Seu filho (Jo 1.12,13). Contudo, ao mesmo

tempo, a Escritura diz que não há sequer um justo (Rm 3.10);

que todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças,

como trapo da imundícia (Is 64.6) e que em nossa carne

não habita bem algum (Rm 7.18).

44 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


O pensamento do teólogo e pastor

presbiteriano Francis Schaeffer

resume adequadamente a condição

humana: o homem é pecador e maravilhoso.

Reflitamos, pois: para onde

devemos olhar, a fim de

encontrarmos o ponto focal

de nossa autoimagem?

A resposta é simples: para

Aquele que sabe quem

somos e que, ainda assim,

entregou-se em nosso

lugar para que vivêssemos

eternamente: Jesus.

3.1. Personagens bíblicos que

tinham autoconceitos

distorcidos

Muitos cristãos têm de si conceitos

completamente distorcidos: uns se

acham menores, inferiores e incapazes;

outros se consideram o máximo,

superiores e dignos. Não diferente do

que acontecia nos tempos bíblicos.

Vejamos, nos subtópicos seguintes,

exemplos de dois juízes que desenvolveram autoconceitos não

condizentes com os conceitos que Deus tinha a respeito deles.

3.1.1. Gideão

O Livro dos Juízes narra episódios de apostasia, nos quais

os filhos de Abraão, por diversas vezes, abandonaram o Senhor;

como resultado natural de seus atos, Israel tornou-se

escravo de diferentes nações. No entanto, Deus sempre levantou

juízes (libertadores) para livrar Seu povo das mãos inimigas

(Jz 2.16,18).

O cenário em que Gideão estava inserido não era dos mais

auspiciosos: todas as vezes que Israel semeava, os midianitas

invadiam a terra para destruir as plantações e dizimar os rebanhos

(Jz 6.3). Gideão foi interpelado pelo Anjo do Senhor em

um dia como esse (Jz 6.11-16).

Deus disse que o homem mais fraco, da família mais pobre

da tribo de Manassés, seria capaz de vencer não só os midianitas,

mas seu principal inimigo: seus medos cristalizados por

uma autoimagem corrompida.

Gideão vivia sob o chicote de um carrasco interior de negatividade,

pois ainda não havia entendido que Deus não vê

como veem os homens (1 Sm 16.7), nem que Ele escolhe os

fracos deste mundo para envergonhar os fortes (1 Co 1.27).

Porque Gideão corrigiu a visão que tinha de si mesmo, o Senhor

permitiu que ele fosse vitorioso (Jz 7.1—8.28).

3.1.2. Sansão

O mais conhecido juiz hebreu cresceu sabendo que fora

separado por Deus, desde o ventre de sua mãe, para realizar

uma obra específica: libertar Israel da opressão filisteia (Jz

13.1-5). No entanto, as escolhas que Sansão fez a partir da

consciência desse fato revelam um homem que tinha de si um

conceito deturpado.

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

45


O filho de Manoá, possivelmente, acreditava que Deus não

afastaria Seu Espírito dele (Jz 16.20); assim, fez o que parecia

bom aos seus próprios olhos, ou seja, violou, a seu bel-prazer,

as três condições previstas no concerto divino: tocou um leão

morto (Jz 14.8,9); participou de um banquete [hb. mishteh —

comumente eram servidas bebidas

fermentadas nesses eventos

Desde o Éden, o homem

tende a desenvolver uma

visão distorcida de si

mesmo: não são os outros os

responsáveis por aquilo que

nos tornamos, mas sim os

pensamentos que nutrimos

(Pv 23.7) e as escolhas que

fazemos (Gl 6.7). Diante dessa

realidade, bem faríamos se

sinceramente respondêssemos

à seguinte pergunta: que fonte

alimenta nosso autoconceito

e as projeções de nossa

autoimagem?

(Jz 13.4; 14.10)]; e teve a cabeça

raspada (Jz 13.5; 16.19). Não há,

no relato bíblico, qualquer indicação

de que Sansão tenha desejado

saber qual era a vontade de Deus

em dada situação, ou qual era o

desejo de seus pais nas escolhas

que fazia, ou qual era a intenção

de seus amigos nos eventos que

os envolvia. Sansão julgava-se autossuficiente;

e isto o levou à ruína

(Jz 16.1-21).

O filho de Manoá só obteve vitória

no dia em que, sem os olhos

físicos (Jz 16.21), enxergou-se do

modo como Deus o via: colhemos

o que plantamos (Gl 6.7); Ele faz

cumprir os Seus desígnios (Pv

19.21) e lembra-se de todos os

que o buscam (Jz 16.28).

CONCLUSÃO

A libertação do sentimento de inferioridade e/ou de superioridade

passa, invariavelmente, pelo relacionamento com

Aquele que nos criou. A superação de nossos traumas acontecerá

no dia em que compreendermos quem de fato Deus é

e quem realmente somos, Nele — e este é um processo que

se dá no conhecimento de Sua Palavra e no relacionamento

pessoal com Cristo.

O Senhor quer pintar um quadro realista de Sua percepção

de nós, e este quadro nos desafiará, ternamente, a mudar

nossos pensamentos e ações, a fim de que cheguemos à

maturidade, atingindo a medida da plenitude de Cristo (Ef

4.13 – NVI).

ATIVIDADE PARA FIXAÇÃO

1. O que apregoa o movimento da autoestima?

R.: Afirma que a autoestima é uma necessidade humana e

que, por ser assim, se não for atendida convenientemente,

poderá deflagrar transtornos depressivos, ansiedade e dificuldades

de relacionamento.

46 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


Lição 7

Aula dada em

DIA MÊS ANO

Ansiedade,

Tolice dos Homens

TEXTO BÍBLICO BÁSICO

Salmo 127.1,2

1 - Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que edificam; se o

Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela.

2 - Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão de

dores, pois assim dá ele aos seus amados o sono.

Mateus 6.31-34

31 - Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos ou que beberemos

ou com que nos vestiremos?

32 - (Porque todas essas coisas os gentios procuram.) Decerto, vosso Pai

celestial bem sabe que necessitais de todas essas coisas;

33 - Mas buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas

vos serão acrescentadas.

34 - Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã

cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.

Filipenses 4.6-8

6 - Não estejais inquietos por coisa alguma; antes, as vossas petições sejam

em tudo conhecidas diante de Deus, pela oração e súplicas, com ação de

graças.

7 - E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos

corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus.

8 - Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto,

tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é

de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai.

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

47


TEXTO ÁUREO

Lançando sobre ele toda a

vossa ansiedade, porque

ele tem cuidado de vós.

1 Pedro 5.7

SUBSÍDIOS PARA

O ESTUDO DIÁRIO

2ª feira – Gênesis 2.17; 3.10

Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi

3ª feira – Gênesis 16.1-15

A ansiedade de Abrão e Sarai

4ª feira – Tiago 4.13-16

Não sabeis o que acontecerá amanhã

5ª feira – Eclesiastes 1.2; 11.10

É tudo vaidade

6ª feira – Lamentações 3.19-23

Os pensamentos e a esperança

Sábado – Salmo 34.5; 40.2

Esperei com paciência no Senhor

OBJETIVOS

Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá ser capaz de:

entender, à luz das Escrituras, a origem da ansiedade humana;

compreender, a partir das palavras de Jesus, que cultivar

ansiedades constitui-se na grande tolice dos homens;

saber como Paulo conseguiu vencer a ansiedade, mesmo

sabendo que poderia morrer a qualquer instante.

ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS

Prezado professor,

Anxietas, em latim, corresponde ao vocábulo ansiedade,

que tem o sentido de perturbação, sufocação, aperto e/ou tormenta,

designando um estado de apreensão, desencadeado

pela antecipação de algo penoso ou ameaçador. Deste modo,

é possível afirmar: trata-se de uma emoção democrática —

pois alcança qualquer pessoa, independente de condição social,

sexo, idade ou filiação religiosa —, que milita, invariavelmente,

contra a alegria, a segurança e a serenidade.

Nesta lição, analisaremos as palavras de Jesus e de Paulo

relacionadas ao tema ansiedade. Delas extrairemos conselhos

práticos, que, se aplicados à vida, far-nos-ão usufruir a paz

que excede todo o entendimento (Fp 4.7).

Deus lhe abençoe na condução do tema.

Boa aula!

48 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


COMENTÁRIO

Palavra introdutória

Para muitos, nos dias atuais, não é possível obter sucesso

pessoal e/ou profissional sem competição, estresse, preocupação

ou permanente vigilância, ou seja, para estes, é impossível

não viver em permanente estado de ansiedade. Ironicamente,

quando tais pessoas são questionadas sobre seus

sonhos de consumo para o futuro, estes quase sempre se resumem

em um só: viver de forma pacífica, em comunhão com

o Criador, junto aos filhos e netos, admirando a Natureza (e

com ela interagindo).

Muitos dos que veem nos imperativos de Jesus uma utopia

poética (Mt 6.25-33) relatam, via de regra, intensa frustração

e profundo arrependimento ao chegarem ao fim da vida, pois

— após terem acumulado aquilo que julgavam ser razoável

para uma velhice tranquila — percebem que seus corpos já

somatizaram tantas angústias, que não haverá tempo e saúde

suficientes para fazerem aquilo que poderiam ter feito na

ocasião oportuna.

Mas, afinal, qual a origem da ansiedade humana? O que

as Escrituras dizem a respeito do tema? É o que veremos a

seguir.

1. A CAUSA PRIMEIRA DA ANSIEDADE:

O PECADO PERVERTEU NOSSO OLHAR

No dia em que o homem decidiu desobedecer ao Criador,

seduzido pela possibilidade de conhecer o bem e o mal,

ele passou a viver em constante vertigem de queda, pois se

instaurou em sua mente a necessidade de antever o desconhecido

e de gerir a própria história — homem e mulher fizeram

para si aventais com folhas de figueira e esconderam-se

entre as árvores de jardim (Gn 3.7,8),

pois não sabiam exatamente o que,

doravante, teriam de enfrentar.

Nesse dia, nasceu a ansiedade,

que, em si, não é pecado, mas uma

demonstração de falta de confiança

nos cuidados do Pai, um sentimento

de apreensão frente ao absolutamente

desconhecido.

1.1. A ansiedade de Sara

Deus prometera a Abrão dar-lhe

um herdeiro (Isaque), a partir de

quem nos seria trazido o Salvador

(Gn 15.3,4; Mt 1.1). Como os anos

A ansiedade, biblicamente

falando, consiste no fato de

o homem enxergar a vida

fora dos cuidados divinos.

A certeza da provisão de

alimentos e de vestidura

cotidiana (como acontece

com pássaros e lírios) deixou

de ser natural para o homem

em relação ao seu Criador.

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

49


passavam e Sarai não engravidava,

Depois de três mil anos, todas

ela sugeriu que o patriarca tomasse

Agar, sua serva egípcia, por mulher

(Gn 16.1,2), a fim de que ela (a

as nações árabes ainda se

sentem filhos do rejeitado

serva) lhe gerasse um filho. Abrão

Ismael (Gn 21.14). Hoje, concordou com a sugestão e, pouco

sabe-se que árabes tempo depois, a escrava deu à luz

(descendentes de Ismael) Ismael (Gn 16.15).

e judeus (descendentes O olhar de Abrão e Sarai estava

de Isaque) têm um corrompido pelo pecado original, ou

relacionamento marcado por seja, ambos acreditavam que a eles

tensões e conflitos cabia a condução da própria história.

Deste modo, eles anteciparam-

(Sl 83.1-7); e a humanidade

come o fruto da ansiedade

-se ao cumprimento da promessa

divina e fizeram o que lhes parecia

de Abraão e Sara.

correto.

Pelo fato de não ter aguardado

a atuação do Altíssimo, o patriarca

precisou viver longe de seu filho, fazendo morrer as muitas

expectativas que alimentara em relação a ele (Gn 21.11-14),

pois, quando Isaque nasceu, conforme Deus prometera ao casal,

Sara pediu a Abraão que se livrasse de Agar e Ismael (Gn

21.1-10).

2. ANSIEDADE: A GRANDE TOLICE HUMANA

Jesus disse que, neste mundo, teríamos aflições (Jo

16.33a) e que cada dia traria consigo o seu próprio mal (Mt

6.34); não há como evitá-los. Contudo, Ele também disse que

deveríamos ter bom ânimo (Jo 16.33b), pois conosco Ele estaria

até o fim dos tempos (Mt 28.20); então, o que temer?

Se deixarmos as palavras do Mestre criar vida em nós,

chegaremos à conclusão simples de que cultivar ansiedades é

a grande tolice dos homens. Vejamos o porquê nos subtópicos

seguintes.

2.1. Mente alguma é capaz de sondar os

planos divinos

Uma única pergunta é capaz de colocar em xeque qualquer

pretensão humana em relação ao futuro: quem pode dizer,

com certeza, o que o amanhã trará (Tg 4.13,16)? Nem

as previsões do mercado financeiro ou da meteorologia; nem

as muitas planificações orçamentárias ou de processos produtivos;

nem a física quântica ou a filosofia são capazes de

antever, conter ou suspender o que Deus tem preparado para

os dias da humanidade (1 Co 2.9). Não significa afirmar que

50 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


devemos viver de modo displicente, sem qualquer planejamento,

pois o texto bíblico também nos exorta à prudência

(Pv 13.4); devemos, sim, estar cônscios de que nossa única e

melhor saída é manter os olhos fitos naquele que, no devido

tempo, nos dá o alimento (Sl 145.15).

2.2. Diante de inimigos, reais ou imaginários, ao invés

de fortes, a ansiedade torna-nos frágeis

Quantas pessoas têm-se permitido viver processos neuróticos,

deflagrados por complôs conspiratórios (reais ou imaginários)

durante toda uma existência? Alimentar ansiedades

com vistas a extinguir agentes persecutórios é tolice, pois

ninguém consegue, sem prejuízo à saúde física e/ou emocional,

manter vigilância constante em relação aos inimigos declarados

ou anônimos. A pré-ocupação recruta nossas energias,

desgastando-as, sem possibilidade de reposição.

Pedro, que aprendeu a descansar (depois de muitas dúvidas),

incita-nos a lançar sobre o Senhor toda nossa ansiedade,

porque Ele tem cuidado de nós (1 Pe 5.7).

3. PAULO REINTERPRETA A ANSIEDADE

DENTRO DE UMA PRISÃO FRIA

Talvez seja difícil encontrar no texto bíblico alguém que

fale tão profundamente sobre ansiedade quanto Paulo. Quando

escreveu aos filipenses, ele estava preso, aguardando julgamento

(Fp 1.7). Lembremo-nos de que a igreja de Filipos foi

fundada quando o apóstolo seguiu para a Europa, depois de

obedecer à visão de deixar a Ásia Menor (At 16.9-12). Possivelmente

Paulo escreveu uma carta aos seus amigos filipenses,

porque sabia que seria difícil para alguns cristãos continuarem

acreditando que Deus ainda operava em sua vida, estando ele

em uma prisão. O homem para quem o morrer era lucro (Fp

1.21) poderia ser decapitado a qualquer momento, mas isto

não o impediu de dizer: não andem ansiosos por coisa alguma

(Fp 4.6a – NVI).

Uma pergunta emerge deste cenário de angústias: como

Paulo conseguiu vencer a ansiedade, sabendo que poderia

morrer a qualquer instante, ou ainda, sabendo que a razão

de sua existência, Cristo (Fp 1.21), poderia não anular uma

possível sentença de morte? Vejamos a seguir.

3.1. Paulo entendia o poder da oração simples

Logo após instruir os filipenses a não andarem ansiosos, o

apóstolo exortou-os: as vossas petições sejam em tudo conhecidas

diante de Deus (Fp 4.6b). A expressão em tudo, nesse

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

51


verso, inclui todas as situações possíveis em uma existência:

de encontrar um objeto perdido a ser curado de uma doença

terminal, por exemplo. O apóstolo precisava que seus amigos

filipenses entendessem que, se a

Paulo pessoalmente

compreendia que quando

colocamos nossa ansiedade

diante de Deus, em fé,

Ele a converte na guardiã

de nossos sentimentos e

emoções, ou seja, na paz que

excede todo entendimento.

causa da oração é simples [a ansiedade

(Fp 4.6)], a resposta de Deus

também é [a paz (Fp 4.7)].

3.1.1. O entendimento de Paulo

O apóstolo colocou sua vontade

diante de Deus, mas ele estava

ciente de que o Senhor não atende

todos os nossos pedidos exatamente

do modo como os fazemos — ele

tinha a mesma certeza de Davi: o

Altíssimo não prometeu nos livrar do vale da sombra da morte,

mas asseverou que nos faria atravessá-lo em segurança (Sl

23.4). Sua consciência estava pacificada pela certeza de que

a oração não necessariamente muda a realidade pela qual se

ora, mas pode transformar aquele que se dirige a Deus em

intercessões e súplicas.

3.2. Paulo sabia em que pensar

Jeremias disse que queria trazer à memória o que lhe pudesse

dar esperança (Lm 3.21 – ARA); Paulo, em Filipenses

4.8, ampliou as palavras do profeta, ao falar sobre o que deve

ocupar nossa mente.

Sim, os pensamentos que alimentamos têm o poder de alterar

o curso de nossos sentimentos. Enquanto olhamos somente

para os nossos problemas, mais convencidos ficamos

de nosso isolamento, desespero e nossa incapacidade de solucioná-los.

Entretanto, quando olhamos para o Senhor, somos

capazes de superar as adversidades, em vez de sofrer com

elas (RADMACHER; ALLEN; HOUSE. Central Gospel, 2010a, p.

1204). Como nos instruiu Jesus, lembremo-nos dos pássaros

e lírios; se Deus os alimenta e os veste, de nós Ele também

cuidará (Mt 6.26-30).

3.3. Paulo reduziu suas expectativas

Se pudéssemos listar o que de fato é essencial à vida,

talvez chegássemos à conclusão de que boa parte de nossas

aspirações e vontades não passam de vaidade (Ec 1.2).

Paulo sabia disso e, no cárcere, expôs uma das mais belas

certezas que nutria: o meu Deus, segundo as suas riquezas,

suprirá todas as vossas necessidades (Fp 4.19). Observe que

52 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


o apóstolo não disse que todos

os nossos desejos seriam atendidos,

mas, sim, todas as nossas

necessidades. Paulo, em outras

palavras, disse aos irmãos filipenses

que não há razão para as

muitas preocupações, pois mais

importante que acumular excessos

é ser abastecido com o indispensável

por Aquele que é fiel (2

Tm 2.13; 1 Co 1.9).

CONCLUSÃO

Desde que o homem decidiu

desobedecer ao seu Criador, ele

vive a certeza do “não saber”; o

que, em si, configura-se num trágico

paradoxo, pois a serpente

havia dito a Eva, no Éden, que no

Quantas pessoas deixam-se

escravizar pelos desejos que

nutrem no transcurso de toda

uma existência? E, por conta

disso, alimentam a alma com

ansiedades, somatizando

angústias cotidianas. As

palavras do apóstolo aos

filipenses corroboram as

instruções do Sábio: Afaste do

coração a ansiedade e acabe

com o sofrimento do seu

corpo, pois a juventude e

o vigor são passageiros

(Ec 11.10 – NVI).

dia em que comessem do fruto proibido, homem e mulher

saberiam o bem e o mal (Gn 3.5) — apesar de saberem fazer

distinção entre um e outro (Gn 3.22); eles não sabem responder

adequadamente a um e a outro (Rm 7.19).

Adão não sabia o que lhe aconteceria depois de descobrir-

-se nu (Gn 3.9,10); Abraão e Sara não sabiam quando e como

a promessa de um herdeiro se cumpriria (Gn 16.1,2; 21.1). O

silêncio de Deus, muitas vezes, amedronta-nos e faz-nos agir

de forma absolutamente contrária à Sua vontade; portanto,

enquanto o Senhor não revela o modo como agirá em nossa

história, não andemos ansiosos.

Façamos como Davi que descansou (Sl 37.7) e pacientemente

esperou por Ele (Sl 40.2), pois compreendia que, apenas

enquanto mantivermos nosso olhar fixo Nele, não seremos

confundidos pela insegurança da ansiedade (Sl 34.5).

ATIVIDADE PARA FIXAÇÃO

1. Considerando o que foi exposto na lição de hoje, responda:

como Paulo conseguiu vencer a ansiedade, mesmo sabendo

que poderia morrer a qualquer instante?

R.: Paulo reduziu suas expectativas; (2) Paulo entendia o poder

da oração simples e (3) Paulo sabia em que pensar.

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

53


Lição 8

Aula dada em

DIA MÊS ANO

Culpa,

a Prisão da Mente

TEXTO BÍBLICO BÁSICO

Salmo 32.1-6

1 - Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada, e cujo pecado é

coberto.

2 - Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa maldade, e em

cujo espírito não há engano.

3 - Enquanto eu me calei, envelheceram os meus ossos pelo meu bramido

em todo o dia.

4 - Porque de dia e de noite a tua mão pesava sobre mim; o meu humor se

tornou em sequidão de estio. (Selá)

5 - Confessei-te o meu pecado e a minha maldade não encobri; dizia eu:

Confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a maldade

do meu pecado. (Selá)

6 - Pelo que todo aquele que é santo orará a ti, a tempo de te poder achar;

até no transbordar de muitas águas, estas a ele não chegarão.

1 João 1.8-10

8 - Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e

não há verdade em nós.

9 - Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar

os pecados e nos purificar de toda injustiça.

10 - Se dissermos que não pecamos, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra

não está em nós.

Mateus 11.28,29

28 - Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.

29 - Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde

de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma.

54 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


TEXTO ÁUREO

Porque a tristeza

segundo Deus opera

arrependimento para a

salvação, da qual ninguém

se arrepende; mas a

tristeza do mundo opera a

morte.

2 Coríntios 7.10

SUBSÍDIOS PARA

O ESTUDO DIÁRIO

2ª feira – Salmo 51.1-5

O meu pecado está sempre diante de mim

3ª feira – João 16.1-8

Convencidos do pecado, da justiça e do juízo

4ª feira – Mateus 27.1-5

Judas retirou-se e foi-se enforcar

5ª feira – Lucas 22.33,57,58,60-62

Pedro chorou amargamente

6ª feira – Atos 3.10-19

Arrependimento e perdão de pecados

Sábado – João 20.19-23

Perdoar para ser perdoado

OBJETIVOS

Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá ser capaz de:

conhecer os principais tipos e causas da culpa;

compreender as consequências mais comuns do sentimento

de culpa;

saber o que o texto bíblico diz a respeito desta emoção.

ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS

Professor,

Por que sofrem os homens? Existe algum propósito benéfico

no sofrimento? É possível minimizar ou extinguir a dor

humana? Perguntas como essas fazem parte dos círculos de

discussões teológicas e filosóficas há séculos.

As respostas a essas perguntas não são menos complexas,

pois, diferente dos demais seres criados que sofrem apenas

dores físicas, padecemos aflições mentais: preocupamo-nos

com o futuro; torturamo-nos pelo passado e angustiamo-nos

com o presente.

Não fosse o bastante, muitas vezes o sofrimento não é causado

por outrem, mas pelos apelos de nossa própria consciência:

padecemos por conta daquilo que fizemos ou deixamos

de fazer. Se conversarmos com pessoas solitárias, deprimidas,

doentes terminais ou dependentes químicos, por exemplo,

descobriremos que, não raramente, a culpa está por trás de

suas dores. Deste tema nos ocuparemos nesta lição.

Boa aula!

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

55


COMENTÁRIO

Palavra introdutória

Culpas explícitas, reservadas ou silenciosas são emoções

que se alimentam da energia psíquica do indivíduo, mantendo

a constância de seu sofrimento, fazendo-o sentir-se merecedor

de algum tipo de punição. Em maior ou menor intensidade,

todo sentimento de culpa pode ser pernicioso para aquele que

o nutre, podendo desencadear severas patologias psicofísicas.

A Psicologia e a Teologia entendem que a culpa é o terreno

sobre o qual ambas as áreas transitam, visto ser ela (a

culpa) uma das maiores responsáveis pelo sofrimento humano.

Desta realidade, surgem algumas perguntas: o sofrimento

advindo da culpa serviria a algum propósito construtivo? Se

sim, qual? Se não, o que fazer para canalizá-lo a um fim útil?

1. TIPOS DE CULPA

De acordo com o psicólogo e escritor cristão Gary

Collins, os diversos tipos de culpa podem ser agrupados em

duas categorias principais: objetiva e subjetiva. Vejamos.

1.1. Culpa objetiva

Ocorre quando há quebra de uma norma e o infrator é culpado,

independente de ele reconhecer sua falta ou não. A culpa

objetiva subdivide-se basicamente em quatro tipos:

legal — diz respeito à violação das leis de uma sociedade.

Neste caso, independente de o infrator ser apanhado ou

de arrepender-se de seu ato, atribui-se culpa a ele. Exemplos:

infração do código de trânsito ou furto de objetos alheios;

teológica — está relacionada à desobediência às leis de

Deus, descritas em Sua Palavra: somos pecadores, independente

de aceitarmos ou não este fato (Rm 3.23);

pessoal — não se trata de quebra de um código legal ou de

violação a uma lei divina; neste caso, a pessoa transgride

os seus próprios padrões. Exemplo: um pai pode sentir-

-se culpado quando assume o compromisso de estar em uma

apresentação na escola de seu filho e, por razões profissionais,

não consegue comparecer;

social — não há infração de um código legal, nem violação

de uma lei pessoal. Trata-se da quebra de códigos estabelecidos

por um grupo social (igreja, trabalho, vizinhança

etc.). Neste caso, pode ou não haver sentimento de culpa em

relação ao ato. Exemplo: portar-se de forma grosseira diante de

seus pares ou espalhar boatos e mexericos.

1.2. Culpa subjetiva

Refere-se aos sentimentos de autocondenação, pesar, vergonha

e remorso, decorrentes de nossas ações e/ou intenções.

56 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


Os sentimentos de culpa subjetiva podem ser:

apropriados — aparecem quando transgredimos leis ou

códigos sociais, desobedecemos à Palavra de Deus ou infringimos

as razões de nossa própria consciência. Nesses

casos, o remorso, a vergonha ou o pesar são proporcionais à

gravidade de nossas ações;

inapropriados — não são proporcionais à gravidade de

nossos atos. Exemplo: há pessoas que matam e não se sentem

culpadas, ao mesmo tempo em que outras se sentem

paralisadas pela culpa de terem pensado mal de alguém.

Nesta categoria, enquadram-se os complexos de culpa, condição

em que o indivíduo nutre culpas infundadas (muitas

vezes promovidas por materiais inconscientes recalcados),

as quais se traduzem em mágoas profundas, depressões e

vazios existenciais.

2. CAUSAS DA CULPA

Muito raramente alguém procura ajuda terapêutica ou

aconselhamento pastoral por conta de uma culpa objetiva.

O que costumamos encontrar são pessoas atormentadas por

sentimentos de culpa subjetivos. Mas, afinal, por que as pessoas

sentem-se culpadas? Vejamos algumas razões a seguir.

2.1. Vivências anteriores e expectativas fantasiosas

De modo geral, tanto os padrões de certo-errado quanto os

sistemas de castigo e recompensa começam a ser transmitidos

na primeira infância. Em algumas famílias esses modelos

são tão rígidos, que a criança, em não conseguindo alcançar

as expectativas de seus pais (ou responsáveis), aprende a

culpar-se por seus insucessos — e esse padrão de comportamento

tende a estender-se pela vida adulta.

2.2. Sugestão social

Para o médico e escritor cristão Paul Tournier, estamos

imersos em uma atmosfera insalubre, na qual somos continuamente

influenciados pelas críticas mútuas, e estas nos aprisionam:

somos censurados, sentimo-nos culpados; e, assim,

em um implacável círculo vicioso, censuramos para sentirmo-

-nos menos culpados.

2.3. Atuação do Espírito Santo

Antes da Queda, o homem não experimentava o sentimento

de culpa; porém, no dia em que comeu do fruto proibido,

instaurou-se nele a consciência de que havia praticado

algo que se opunha ao bem, algo que o fez sentir-se devedor.

Precisamos da culpa, pois ela expõe a verdade que gostaría-

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

57


C. S. Lewis afirmou: nenhum

homem sabe o quanto é mau

até que tenha tentado de

toda maneira ser bom. Da

mesma forma, talvez nunca

saibamos o quanto precisamos

de liberdade até tentarmos

desfazer-nos de nosso fardo de

pecados (RADMACHER; ALLEN;

HOUSE. Central Gospel,

2010b, p. 724).

mos de ocultar: todos nós pecamos

(Rm 3.23). João diz isso da seguinte

forma: se dissermos que não temos

pecado, enganamo-nos a nós mesmos,

e não há verdade em nós (1 Jo

1.8) (RADMACHER; ALLEN; HOUSE.

Central Gospel, 2010b, p. 724).

Significa dizer que, para nós,

cristãos, a conscientização de culpa

pode advir da ação do Espírito

Santo, que convence o mundo do

pecado, e da justiça, e do juízo (Jo

16.8), exigindo de cada um de nós

arrependimento, que leva à salvação

(2 Co 7.9).

3. CONSEQUÊNCIAS DA CULPA

Como vimos no tópico anterior, as pessoas não procuram

ajuda terapêutica por conta de culpas objetivas, mas

porque: (1) desenvolvem mecanismos de defesa (modos de

pensar, que tendem a distorcer a realidade); ou (2) em se

sentindo inferiores, passam a reagir de modo autocondenatório.

Vejamos a seguir.

3.1. Adoção de mecanismos de defesa

Com vistas a reduzir a ansiedade, a frustração e o estresse,

decorrentes dos sentimentos de culpa, muitas pessoas desenvolvem

mecanismos de defesa mentais. Geralmente quem

se utiliza de tais recursos não tem consciência do fato. Dentre

os vários mecanismos de defesa observados, destacamos:

fantasia — espécie de teatro mental em que o indivíduo cria

uma situação (total ou parcialmente) distinta da realidade;

negação — neste, a dor (ou o fato gerador desta) não é

admitida;

regressão — neste, há um retorno a fases anteriores do desenvolvimento,

onde o indivíduo não tinha sobre si o fardo

pesado da culpa.

3.2. Atitudes autocondenatórias

Pessoas que nutrem culpas subjetivas geralmente desenvolvem

ansiedade, baixa autoestima e sentimentos de inadequação;

além disso, tendem a ser pessimistas e inseguras —

todos esses sintomas são formas de autocondenação.

Pesquisas revelam que os efeitos da culpa acumulam-se

no corpo e, se não aliviados ou extintos, podem colapsar o organismo

— alguns psiquiatras acreditam que esta é, também,

uma forma inconsciente de autopunição.

58 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


4. O QUE O TEXTO BÍBLICO DIZ A RESPEITO

DA CULPA?

De modo geral, quando se

fala em culpa, evocam-se os aspectos

subjetivos desta emoção. Os

autores sagrados, no entanto, parecem

fazer pouca (ou nenhuma)

distinção entre culpa e pecado.

Assim sendo, até que ponto

é salutar a provocação de sentimentos

de culpa em outrem, mesmo

que a intenção seja estimular

o crescimento cristão, evitar o orgulho

ou minimizar a recorrência

de pecados?

É possível ajudar as pessoas a

lidarem com o pecado, sem produzir nelas sentimentos danosos

de culpa? Vejamos a seguir.

4.1. A tristeza que produz arrependimento

para salvação

Paulo, ao escrever aos Coríntios, fez distinção entre a tristeza

do mundo e a tristeza segundo Deus: a primeira parece

equivaler ao remorso (e pode levar à depressão e a sentimentos

destrutivos); a segunda opera arrependimento para a salvação

(2 Co 7.8-10), ou seja, produz uma mudança positiva.

4.1.1. Remorso

Remorso não é sinônimo de arrependimento;

ao contrário, esta

emoção frequentemente associa-

-se à justiça própria e à moral religiosa,

operando tristeza segundo

o mundo, a qual conduz à morte (2

Co 7.9b).

Remorso é a dor psicológica que

se ancora na fantasia da autojustificação.

Judas Iscariotes, depois de

trair Jesus (Mt 27.3 – NVI), tomado

por esta emoção, definiu que para

ele só havia uma saída: a autocondenação,

que culminou em suicídio

(Mt 27.5).

No texto bíblico, os vocábulos

gregos traduzidos por culpa ou

culpado [aition (Lc 23.4,14,22);

enochos (Tg 2.10; 1 Co 11.27)]

estão relacionados à culpa

teológica, isto é, uma pessoa

é considerada culpada quando

viola a lei divina.

O remorso trabalha em favor

da fixação nas neuroses

traumáticas, não libertando

o indivíduo para a vida,

mas prendendo-o a dois

pensamentos cíclicos e

irrespondíveis: o “e se”

e o “como eu pude”.

4.1.2. Arrependimento

Pedro disse que estava pronto a ir com Cristo para a

prisão ou para a morte (Lc 22.33); porém, quando Jesus

foi preso, o pescador de Betsaida negou-o veementemen-

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

59


te ao ser reconhecido como um de Seus discípulos (Lc

22.57,58,60).

Entretanto, ao contrário de Judas, Pedro experimentou

o genuíno arrependimento (gr. metanoeō = mudança de

pensamento) (Mt 26.75; Mc 14.72; Lc 22.52), que traz consigo

a certeza do perdão divino. Assim, possuído pela fé que

pacifica o coração quebrantado e pela certeza de que Deus

é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar

de toda injustiça (1 Jo 1.9), ele permaneceu junto dos demais

discípulos, sem saber ao certo o que lhe aconteceria a partir

de então (Mc 16.7; Lc 24.9,12).

4.2. O perdão divino

O perdão divino é um dos temas centrais da Escritura:

o Filho de Deus adentrou o tempo e o espaço para que o

homem, morto em seus delitos e pecados (Ef 2.1), pudesse

restabelecer a comunhão com o Criador. Todavia, o texto

bíblico indica que pelo menos duas condições precisam ser

satisfeitas a fim de que o perdão de Deus nos alcance: arrependimento

(At 3.19) e disposição para perdoar aquele que

nos tem ofendido (Jo 20.23; Lc 6.37).

CONCLUSÃO

Lembremo-nos irmãos: o sangue de Cristo tem poder

para libertar a nossa alma da opressão da culpa. Quando

admitimos nossa condição de pecadores, indignos da graça

divina, e confessamos nossos pecados ao Senhor, podemos

recomeçar do zero.

ATIVIDADE PARA FIXAÇÃO

1. De acordo com a lição de hoje, cite algumas razões pelas

quais as pessoas sentem-se culpadas:

R.: Vivências anteriores e expectativas fantasiosas; sugestão

social e atuação do Espírito Santo.

GLOSSÁRIO

Mecanismos de defesa — Podem ser definidos como processos

psíquicos, cuja finalidade consiste em afastar um

evento gerador de angústia da percepção consciente. O

ego, como sede da angústia, é mobilizado diante de um

sinal de perigo e desencadeia uma série de mecanismos

repressores que impedirão a vivência de fatos dolorosos,

os quais o organismo não está pronto para suportar. Todos

os mecanismos de defesa possuem duas características comuns:

(1) negar, falsificar ou distorcer a realidade; e (2)

operar inconscientemente, sem que a pessoa se dê conta.

60 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


Lição 9

Aula dada em

DIA MÊS ANO

Luxúria,

o Desejo Proibido

TEXTO BÍBLICO BÁSICO

1 Tessalonicenses 4.4,5

4 - Cada um de vós saiba possuir o seu vaso em santificação e honra,

5 - não na paixão de concupiscência, como os gentios, que não conhecem a

Deus.

Marcos 7.16-23

16 - Se alguém tem ouvidos para ouvir, que ouça.

17 - Depois, quando deixou a multidão e entrou em casa, os seus discípulos

o interrogavam acerca desta parábola.

18 - E ele disse-lhes: Assim também vós estais sem entendimento? Não compreendeis

que tudo o que de fora entra no homem não o pode contaminar,

19 - porque não entra no seu coração, mas no ventre e é lançado fora, ficando

puras todas as comidas?

20 - E dizia: O que sai do homem, isso é que contamina o homem.

21 - Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos,

os adultérios, as prostituições, os homicídios,

22 - os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a dissolução, a inveja, a

blasfêmia, a soberba, a loucura.

23 - Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem.

Mateus 26.41

41 - Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o espírito

está pronto, mas a carne é fraca.

Tiago 4.7

7 - Sujeitai-vos, pois, a Deus; resisti ao diabo, e ele fugirá de vós.

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

61


TEXTO ÁUREO

Porque tudo o que

há no mundo, a

concupiscência da carne,

a concupiscência dos

olhos e a soberba da

vida, não é do Pai, mas

do mundo.

1 João 2.16

OBJETIVOS

SUBSÍDIOS PARA

O ESTUDO DIÁRIO

2ª feira – Salmo 101.1-3

Andarei com um coração sincero

3ª feira – 1 Coríntios 6.12-18

Fugi da prostituição

4ª feira – Jeremias 13.23-27

Não te purificarás?

5ª feira – Tiago 4.7-10

Sujeitai-vos a Deus; resisti ao diabo

6ª feira – Colossenses 3.1-5

Mortificai, pois, os vossos membros

Sábado – Romanos 12.9-21

Vence o mal com o bem

Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá ser capaz de:

saber que a luxúria desvirtua as funções e os limites estabelecidos

por Deus para a prática sexual;

conhecer os depoimentos de alguns personagens icônicos

do Novo Testamento relacionados à luxúria;

conhecer os meios de vencer a luxúria.

ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS

Prezado professor,

A lista dos sete pecados capitais — do modo como a conhecemos

hoje (gula, avareza, luxúria, ira, inveja, preguiça e

orgulho) — não consta no texto sagrado. Essa convenção remete

ao século quarto, quando o papa Gregório relacionou os

principais campos de batalha na interioridade humana.

Nesta lição, discorreremos sobre a luxúria, um dos pecados

mais prevalentes na sociedade contemporânea.

É importante considerar, no decorrer do estudo, que é impossível

viver neste mundo sem pensar em sexo, porque esta

é uma prerrogativa essencial à sobrevivência das espécies.

Deste modo, acima de qualquer tentativa de doutrinamento

eclesiástico, é preciso levar os alunos a refletirem sobre a

necessidade de vivermos de forma digna, refletindo e espelhando

o padrão mais excelente de relacionamento humano.

O mundo precisa olhar para os discípulos de Jesus e aprender

o que é amar de verdade, a construir relacionamentos sólidos

e a desfrutar da sexualidade de forma qualitativa, sob as bênçãos

do Eterno.

Boa aula!

62 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


COMENTÁRIO

Palavra introdutória

Dentro da Caixa de Pandora das paixões humanas, há uma

que, por sua estreita relação com a natureza caída do homem,

é mais difícil de ser controlada ou vencida. Esta paixão

é denominada luxúria.

1. DEFINIÇÃO DO TERMO

Luxúria é um substantivo feminino, originado do latim

luxuriae, que tem por sinônimos os vocábulos concupiscência,

lascívia, libertinagem, libidinagem e sensualidade.

Caracterizada pela satisfação desregrada dos desejos sexuais,

a luxúria é vista nas Escrituras Sagradas como um pecado,

porque desvirtua as funções e os limites estabelecidos

por Deus para a prática sexual.

1.1. Suas consequências imediatas podem ser trágicas

A luxúria é vista como um dos sete pecados capitais. A

Bíblia descreve-a como algo tão forte, que serve como matriz

para que outros desvios morais ocupem espaço na alma

humana, trazendo consequências desastrosas e, às vezes,

letais, como: prostituição, pornografia, gravidez indesejada,

estímulo ao aborto, doenças sexualmente transmissíveis, estupro,

pedofilia e abusos sexuais em suas múltiplas manifestações

e formas (masoquismo, sadismo, zoofilia, necrofilia,

gerontofilia etc.).

1.2. É um inimigo muito perigoso

No Salmo 81.12,13, o Senhor, cansado de ser rejeitado por

Seu povo, entrega os israelitas aos desejos do seu coração,

para andarem segundo os seus próprios conselhos.

Deus removeu deles a Sua graça (que os restringia), e eles

foram entregues à luxúria, o mais malévolo opressor — cair

em suas garras representava algo pior do que cair nas mãos

dos piores inimigos da nação.

1.3. É um pecado que mata

O pecado é algo individual; deste

modo, não deve ser atribuído a

Deus, ao próximo ou ao diabo, pois

sua mola propulsora reside nas decisões

de cada um. Sua chama reside

no interior do homem, e este,

de acordo com seu próprio arbítrio,

pode transformá-la em ato deliberado

que, uma vez concebido, leva à

Uma vida que se deixa

dominar pela luxúria deixa

atrás de si um rastro de

destruição total. Ela infecta

a mente, corrompendo os

relacionamentos mais

íntimos e preciosos.

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

63


morte espiritual (Tg 1.14,15). Significa dizer que a prática

da luxúria aliena o homem de Deus, estado que somente

pode ser revertido por meio do arrependimento, confissão

e mudança de atitude.

2. DEPOIMENTOS DE ÍCONES DO NOVO

TESTAMENTO

2.1. O evangelista João

Em 1 João 2.15-17, o discípulo amado revela que o amor

aos prazeres mundanos afasta-nos da presença do Pai e do

Seu amor. Nesse texto, João não faz referência ao mundo físico,

que é bom e deve ser admirado como algo que reflete

a grandeza do Criador, mas mostra que a dedicação a Deus

exige um compromisso de exclusividade. As ofertas do mundo

são passageiras e efêmeras, porém aquele que faz a vontade

de Deus permanece para sempre.

2.2. O intrépido Pedro

Em 1 Pedro 5.8, o pescador de Betsaida, irmão de André, deixou-nos

uma revelação muito clara sobre as operações do Maligno.

Pedro apresenta-o como alguém que pleiteia insistentemente

contra a alma do homem; como um leão sanguinário

e feroz. Satanás está sempre em derredor com o objetivo de

devorar e conduzir para a ruína eterna aqueles a quem conseguir

enredar. Não raro, ele alcança seus objetivos malignos

convencendo o homem a ceder aos apelos do sexo moralmente

descompromissado e sem limites.

2.3. Paulo, o apóstolo aos gentios

Por reiteradas vezes, Paulo fez advertências contra as inclinações

da natureza humana. Em Colossenses 3.5,10,11,

ele lista os pecados que atraem a ira de Deus sobre a pessoa.

Boa parte deles tem conotação sexual.

Os filhos de Deus, crucificados simbolicamente com Cristo,

pela obediência, sepultaram o velho homem com as suas

práticas ilícitas. No verso 10, ele declara: e vos vestistes do

novo, que se renova para o conhecimento, segundo a imagem

daquele que o criou.

2.4. Jesus, o Mestre dos mestres

Jesus não se manifestou apenas contra a prática da prostituição,

fornicação ou adultério. Ele disse que o pecado acontece

antes: no pensamento e nas intenções (Mt 5.28-30; Mc

7.21-23). Onde houver espaço na mente para a luxúria, ali haverá

também a culpa pelo pecado.

64 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


O Mestre pontuou, de maneira

dramática, que é melhor perder

uma parte do corpo, como os olhos

ou as mãos, do que todo o corpo

ser lançado no fogo do inferno (Mt

5.28-30). E, no Evangelho de Marcos

(7.21-23), Ele identificou que é

do interior do coração dos homens

que sai toda sorte de maus pensamentos,

adultérios e prostituição.

Tomás de Aquino comparou a

luxúria a um leão que, vendo

sua presa, em nada mais

pensa, senão na carne que

está para devorar. O que será

um grande prazer para o leão,

mas uma trágica notícia para

sua vítima.

3. AFORISMOS BÍBLICOS

A prática da luxúria aparece várias vezes nas Escrituras

e, em todas as ocorrências, há uma severa advertência

contra quem a ela dá abrigo. Vejamos algumas afirmações bíblicas

sobre o assunto.

3.1. Está sempre em oposição à vontade de Deus

A vontade do Senhor é que os Seus filhos vivam em santificação

e abstenham-se da prostituição (1 Ts 4.3) — apesar

de Paulo citar em particular a prostituição, todos os pecados

de natureza sexual estão inclusos nesse verso. A luxúria, sem

sombra de dúvidas, coloca o homem em rota de colisão

com a vontade de Deus e o afasta de Sua sublime presença

(1 Pe 4.2).

3.2. Fomenta a guerra entre a carne e o Espírito

Os desejos da carne lutam vigorosamente contra os movimentos

do Espírito (Gl 5.16,17; Rm 7.15). Há uma forte resistência

maligna contra tudo que milite em favor da santificação.

Por conta dessa luta, o homem não consegue levar a efeito

todo o seu potencial (Gl 5.22).

3.3. Possui um grande poder de destruição

Pedro pede com instância que seus leitores abstenham-se

das concupiscências carnais (1 Pe 2.11,12). E salienta: tendo

o vosso viver honesto entre os gentios, para que, naquilo

em que falam mal de vós, como de malfeitores, glorifiquem

a Deus no Dia da visitação, pelas boas obras que em vós observem.

Uma conduta limpa e justa não apenas os protegeria

da língua afiada dos caluniadores e mexeriqueiros, mas

também os protegeria da destruição eterna.

4. COMO VENCER A LUXÚRIA

Quando alijados da presença de Deus, os homens tornam-se

escravos da carne e dos seus apetites mais mesquinhos

e perversos. A mente carnal faz do homem um perfeito

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

65


refém de seus apetites e vícios.

Diante dos fortes apelos sexuais,

A luxúria é um desejo

só a graça de Deus e as operações

desordenado que faz do ser do Espírito Santo poderão livrá-lo

criado à imagem e semelhança dos sofrimentos, dos escândalos e

de Deus alguém algemado a da vergonha.

um hábito maldito.

Diante deste cenário, o que cada

um de nós pode fazer para colocar

sua vida em um ancoradouro seguro?

Como é possível derrotar o poder

da luxúria num mundo em que ela exerce tanto fascínio? Como

resistir ao diabo e manter-se no caminho da pureza e da santidade?

4.1. Entender a devida honra dada ao corpo nas

Escrituras

A Igreja primitiva tinha grande dificuldade em manter a pureza

sexual (1 Co 5.1). Por isso, Paulo exortou os coríntios a não

participarem de nenhuma prática sexual fora dos limites do

casamento. De acordo com o apóstolo, o corpo humano é o

templo do Espírito Santo e, como tal, deve ser mantido em

santidade (1 Co 6.18-20; 1 Ts 4.3-5).

Radmacher, Allen e House, editores do Novo Comentário

Bíblico do Novo Testamento, oportunamente pontuaram que

os cristãos devem ter um desejo pessoal pela pureza sexual

maior que o desejo que o mundo tem por experiências sexuais.

Devemos honrar o nosso corpo como algo criado por Deus

e santificá-lo de acordo com sua finalidade santa.

4.2. Investir no desenvolvimento do caráter cristão

Conforme Jesus disse, o que contamina o homem é o que

sai do seu coração corrompido, ou seja, do seu caráter deformado

(Mc 7.16-23).

Nossos pensamentos, desejos e afeições espúrias são a

fonte de nossa contaminação. Uma fonte pura oferecerá água

pura, assim como de um coração impuro jorrará paixões, raciocínios

e desejos corrompidos e perversos. O maior investimento

que alguém pode realizar em vida é agregar valor à

sua própria essência.

4.3. Viver em estado permanente de oração e

vigilância

No Getsêmani, os discípulos do Mestre não conseguiram

permanecer acordados e em oração. O Mestre sabia da vinda

de uma grande provação a Ele e a Seus seguidores; por isso,

disse: Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade,

o espírito está pronto, mas a carne é fraca (Mt 26.41).

66 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


A palavra carne, nesse verso, indica a fragilidade da natureza

humana. Sendo ela fraca, todos os discípulos de Jesus

precisam recorrer ao poder humano da vigilância e ao poder

sobrenatural da oração para resistir às astutas ciladas do inimigo

(Ef 6.11,12).

4.4. Inclinar o coração à fé para resistir

Deus deu ao homem o poder de decidir entre um caminho

e outro. Ele pode seguir ou não os preceitos bíblicos, assim

como pode ter fé para manter-se puro em seu caminho. O

mal só pode assumir o controle com sua anuência e comissão.

A luxúria pode exercer o seu forte poder de sedução, porém,

ao homem cabe a resistência aos seus atrativos, pela fé

que uma vez foi dada aos santos. Como disse Tiago, o irmão

do Senhor: Sujeitai-vos a Deus; resisti ao diabo, e ele fugirá de

vós (Tg 4.7).

CONCLUSÃO

Nos capítulos 11 e 12 do segundo Livro de Samuel, temos

um dos exemplos mais clássicos do poder destrutivo da luxúria.

Davi, o grande rei de Israel, do seu terraço, viu a beleza

de Bate-Seba e, desejando-a ardentemente, tomou-a para si.

Bate-Seba ficou grávida, e Davi planejou a morte do seu marido.

Por intermédio do profeta Natã, Deus revelou o seu duplo

pecado: ele tornara-se adúltero e assassino.

A partir de então, Davi nunca mais foi o mesmo homem: a

paz foi embora da sua família, trazendo-lhes a dor e o infortúnio.

Como monarca, ele enfrentou muitas lutas internas e traições,

inclusive a de seu filho, Absalão, assassino de seu irmão

e usurpador do trono do próprio pai.

Coloquemos em prática as exortações do apóstolo Paulo:

irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder.

Revesti-vos de toda armadura de Deus, para que possais

estar firmes contra as astutas ciladas do diabo (Ef 6.10,11).

ATIVIDADE PARA FIXAÇÃO

1. De acordo com o que foi exposto nesta lição, o que devemos

fazer para vencer a luxúria?

R.: Entender a devida honra dada ao corpo nas Escrituras; investir

no desenvolvimento do caráter cristão; viver em estado

permanente de oração e vigilância e inclinar o coração

à fé para resistir.

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

67


Lição 10

Aula dada em

DIA MÊS ANO

Cobiça, o Número Um

dos Pecados

TEXTO BÍBLICO BÁSICO

Atos 20.29-35

29 - Porque eu sei isto: que, depois da minha partida, entrarão no meio de

vós lobos cruéis, que não perdoarão o rebanho.

30 - E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens que falarão coisas

perversas, para atraírem os discípulos após si.

31 - Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, durante três anos, não cessei,

noite e dia, de admoestar, com lágrimas, a cada um de vós.

32 - Agora, pois, irmãos, encomendo-vos a Deus e à palavra da sua graça; a

ele, que é poderoso para vos edificar e dar herança entre todos os santificados.

33 - De ninguém cobicei a prata, nem o ouro, nem a veste.

34 - Vós mesmos sabeis que, para o que me era necessário, a mim e aos que

estão comigo, estas mãos me serviram.

35 - Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é necessário auxiliar

os enfermos e recordar as palavras do Senhor Jesus, que disse: Mais

bem-aventurada coisa é dar do que receber.

Tiago 4.1,2

1 - Donde vêm as guerras e pelejas entre vós? Porventura, não vêm disto, a

saber, dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam?

2 - Cobiçais e nada tendes; sois invejosos e cobiçosos e não podeis alcançar;

combateis e guerreais e nada tendes, porque não pedis.

68 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


TEXTO ÁUREO

Não cobiçarás a mulher

do teu próximo; e não

desejarás a casa do

teu próximo, nem o

seu campo, nem o seu

servo, nem a sua serva,

nem o seu boi, nem o

seu jumento, nem coisa

alguma do teu próximo.

Deuteronômio 5.21

SUBSÍDIOS PARA

O ESTUDO DIÁRIO

2ª feira – Êxodo 20.1-17

Não cobiçarás

3ª feira – Romanos 13.8-10

Quem ama aos outros cumpriu a Lei

4ª feira – 1 Coríntios 10.1-6

Não cobicemos as coisas más

5ª feira – 1 Timóteo 6.3-10

Nessa cobiça alguns se desviaram da fé

6ª feira – Mateus 5.27-30

A cobiça nasce no coração

Sábado – Josué 7

Vi os despojos, cobicei-os e tomei-os

OBJETIVOS

Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá ser capaz de:

conhecer algumas questões pontuais relacionadas à cobiça

a partir dos relatos bíblicos;

saber que esta emoção traz dores e sofrimentos indescritíveis

ao homem;

estar cônscio de que é possível vencer a cobiça, por meio

da vigilância, da gratidão, da confiança em Deus e do apego

à Sua Palavra.

ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS

Professor,

Nesta lição, procure manter o foco nas palavras de Jesus,

que, antes de propor a parábola do rico insensato, disse que

deveríamos ter cautela e guardar-nos da avareza (cobiça excessiva

e sórdida por qualquer coisa), porque a vida de qualquer

um não consiste na abundância do que possui (Lc 12.15).

A vida humana transcende àquilo que é aparente. Como

oportunamente pontuaram os editores do Novo Comentário

Bíblico do Novo Testamento, infelizmente, muitas pessoas

desconsideram o fato de que a Criação não é um objeto para

servir ao homem ou para ser possuído por ele. A vida é estabelecida

pelos relacionamentos que alguém desenvolve, enquanto

a Criação tem por finalidade a melhora dessas relações. As

coisas não fazem a vida, mas sim Deus e as pessoas. Apenas

as pessoas se perpetuarão. Desta forma, o investimento deve

ser feito naquilo que se eternizará (2 Pe 3.10-12).

Boa aula!

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

69


COMENTÁRIO

Palavra introdutória

A baía de Guantánamo é uma base naval norte-americana, no

território de Cuba, a 645Km de Miami, destinada a receber suspeitos

de terrorismo, depois dos ataques de 11 de setembro de

2011 aos Estados Unidos da América. Os presos podem ficar lá

perpetuamente, sem direito a julgamento, e podem ser submetidos

à tortura e a toda espécie de violação aos direitos humanos.

A cobiça, em muitos aspectos, assemelha-se aos mais bárbaros

sistemas penitenciários do mundo: ela aprisiona a alma

e submente o ente humano às paixões mais mesquinhas, degradantes

e cruéis.

1. ETIMOLOGIA E CONCEITUAÇÃO DO TERMO

Nos originais do Antigo Testamento e do Novo Testamento,

vários vocábulos constituem-se em um auxílio muito

eficaz na compreensão da palavra cobiça, a saber:

avvah — este vocábulo da língua hebraica significa desejo

por si mesmo. Ele descreve o sentimento em que a pessoa

volta-se de maneira egoísta para dentro de si e de seus

apetites, sem importar-se com qualquer outra pessoa ou

regra moral (Dt 5.21; Pv 21.26; 23.3);

chamad — este verbo hebraico, que significa desejar, designa

alguém que, tomado por um desejo contumaz, sai em

busca de algo (Êx 20.17; Js 7.21; Jó 20.20; Mq 2.2; Is 1.29);

batsa — esta palavra aparece oito vezes no Antigo Testamento

e tem o sentido de ganhar, adquirir de forma injusta

ou ilegalmente, impulsionado pela cobiça (Hc 2.9; Pv

1.19; 15.27);

epithuméo — esta é uma palavra grega com mais de uma

dezena de aparições nos livros do Novo Testamento, que

significa fixar a mente sobre. Dá a ideia de desejo descontrolado

em buscar um objetivo ou meta (Mt 5.28; Lc 15.16;

16.21; At 20.33; Rm 13.9; 1 Co 10.6; Gl 5.17; Tg 4.2; Ap 9.6);

pleoneksía — este é um substantivo grego que aparece por

uma dezena de vezes nas páginas do Novo Testamento. Dá

a ideia de um ciclo interminável de busca por mais e mais,

sem a completa satisfação (Mc 7.22 – NVI; Ef 5.3 – NVI; 2

Pe 2.3 – NVI).

2. AFORISMO ESCRITURÍSTICO

A cobiça desconhece limites. Os que por ela são dominados

expressam grande anseio por obter riquezas, prestígio,

honras e glórias. Quanto mais o indivíduo amealha para si,

mais ele deseja, sem necessariamente importar-se com os

meios necessários à sua obtenção, e sem jamais contentar-se

com o que possui.

70 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


Vejamos algumas questões pontuais

relacionadas à cobiça, a partir

dos relatos bíblicos.

2.1. Não está condicionada

à idade

Pessoas de todas as idades podem

deixar-se dominar por este sentimento deletério. Alguns

estudiosos afirmam que esta emoção tende a ser intensificada

com o passar dos anos, caso não haja arrependimento e

mudança de comportamento por parte do cobiçante. Assim,

pode tornar-se a raiz de muitos males.

2.2. É um pecado abominável

A cobiça desagrada o Criador porque representa uma espécie

de culto ao eu. O indivíduo cobiçoso não tem qualquer

preocupação com o próximo ou com as questões relativas à

eternidade. Seu foco está na obtenção infinda de bens físicos

e/ou abstratos nesta vida (Êx 20.17; Sl 10.3; Mc 7.21,21 –

NVI; 1 Jo 2.16,17 – NVI).

2.3. É inconsequente

O princípio lesivo da cobiça pode deflagrar as piores desgraças

na vida humana. A ela devem-se os adultérios, as guerras,

os desentendimentos (inclusive no seio da família e nos

círculos mais estreitos de amigos), os roubos, as fraudes, a

exploração do homem pelo homem, a luta pelo poder e toda

espécie de corrupção (1 Tm 6.6-10; Tg 4.1-4).

2.4. Alija o homem da presença de Deus

Acossados pela cobiça, os

homens correm como lebres

perseguidas pelo caçador.

É uma obstinação, um desejo intenso de conseguir algo, sem

dar qualquer importância aos planos ou à vontade do Todo-poderoso.

Paulo incluiu a cobiça entre os desvios morais que

expulsam o Altíssimo da vida do homem, impedindo-o de alcançar

os tesouros do Reino de Deus (Ef 5.5,6).

3. RELATOS DE COBIÇA NO CÂNON SAGRADO

O desejo desenfreado por possuir passou a integrar a

natureza humana ainda nos primórdios da História; o primeiro

casal, movido pelo desejo de transcendência e livre-arbítrio,

decidiu trilhar um caminho oposto ao do orientado por seu

Criador.

Ceder aos caprichos da cobiça sempre traz dores e sofrimentos

indescritíveis. As páginas das Escrituras Sagradas estão

repletas de exemplos que ilustram esta afirmativa. Vejamos alguns

a seguir.

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

71


Não há quem seja mais

desprezível do que aquele

que cobiça, pois até

a sua alma vende.

O dinheiro, inanimado, produto

das exigências mercantis, em

si, nunca será o problema;

todavia se este vier a possuir

aquele que julga possuí-lo, aí,

sim, instaurar-se-á o domínio

de Mamom (2 Pe 2.19);

nesse sentido, o mal reside

na relação que se estabelece

com o objeto de troca;

essa conexão, sim, poderá

arrebatar-nos a alma

(GOMES, Geziel. Central

Gospel, 2014, p.78).

3.1. Acã, filho de Carmi

Este personagem ficou marcado

na historiografia bíblica por sua cobiça

e consequente desobediência à

ordem divina em relação aos despojos

da cidade de Jericó: nada deveria

ser tomado de entre o espólio, pois

tudo estava amaldiçoado (Js 6.17,18; 7.1). A ordem era muito

clara. Quanto ao ouro e a prata, seriam consagrados ao tesouro

do Senhor (Js 6.19).

A corrupção de Acã foi descoberta depois de Israel sofrer

uma fragorosa derrota diante do exército inimigo (Js 3.7-5).

Sortes foram lançadas, e estas recaíram sobre Acã e sua casa.

O povo foi conclamado à santificação e Josué disse que aqueles

com quem os objetos fossem encontrados seriam lançados

ao fogo e, com eles, tudo que possuíssem. Assim, Acã e sua

família sofreram consequências duríssimas por sua cobiça (Js

7.10-21).

3.2. Geazi

O discípulo de Eliseu ficou leproso pelo restante de sua vida

porque, acometido por forte cobiça, correu atrás do general

siro, Naamã — que fora curado de lepra por intermédio de Eliseu

—, para tomar os presentes que o profeta rejeitara (2 Rs 5).

O pesado veredito de Eliseu contra Geazi foi: a lepra de Naamã

se apegará a ti e à tua semente para sempre (2 Rs 5.27a).

Geazi, então, saiu da presença do

profeta branco como a neve.

3.3. Judas Iscariotes

Em busca de amenizar a culpa

de Judas, intérpretes veem em

seu ato de traição uma tentativa

de predispor o Senhor Jesus a usar

Seus poderes sobrenaturais contra

o domínio de Roma na Judeia,

uma vez que Judas, supostamente,

pertencia ao grupo dos sicários,

caracterizado pelo nacionalismo.

Entretanto, não é possível encontrar

base para este argumento

nos Evangelhos. Ao contrário,

a narrativa de Mateus 26.14-16

destaca que Judas entregou o Sal-

72 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


vador por cobiça. Ele desejou o que os representantes da

religião oficial de Israel poderiam dar-lhe. Foi o amor ao dinheiro

o responsável por fazer de Judas o maior traidor

da história.

3.4. Os fariseus

Certos líderes religiosos condicionam seus conceitos de

pecado àquilo que serve aos seus propósitos. Assim eram os

fariseus. Dominados pela cobiça, eles estavam prontos a cometer

as maiores atrocidades. Jesus combateu-os de forma

veemente nos Evangelhos sinóticos, em especial no capítulo

23 de Mateus. No verso 16, Ele disse: Ai de vós, condutores

cegos! Pois que dizeis: Qualquer que jurar pelo templo, isso

nada é; mas o que jurar pelo ouro do templo, esse é devedor.

Insensatos e cegos! Pois, qual é maior: a oferta ou o altar, que

santifica a oferta? O problema dos fariseus é que eles preferiam

o ouro ao templo, a oferta ao altar, porque eram bens dos

quais desejavam apropriar-se.

4. COMO VENCER A COBIÇA

A cobiça procede do inferno e atende aos interesses

mais elevados do príncipe das trevas, cujo objetivo principal é

roubar, matar e destruir (Jo 10.10). Ela é o primeiro de todos os

pecados. A vontade de Deus é que Seus filhos vençam-na. Para

serem vitoriosos nesta luta, os remidos precisam lançar mão

— dentre outras — das ferramentas listadas nos subtópicos

seguintes.

4.1. Vigilância

Em Atos 20.29-31, Paulo alertou os anciãos de Éfeso quanto

aos líderes que — como lobos cruéis — não poupariam o rebanho

e atrairiam os discípulos para si com palavras perversas.

A recomendação do apóstolo foi que vigiassem (v. 31). Eles

deveriam tomar todo o cuidado para edificar a Igreja sobre o

fundamento que ele diligentemente

estabelecera.

Jesus, antes de propor a parábola

do rico insensato, disse que

deveríamos ter cautela e guardar-

-nos da avareza (cobiça excessiva

e sórdida por qualquer coisa), porque

a vida de qualquer um não consiste

na abundância do que possui

(Lc 12.15).

Paulo fundava e edificava as

igrejas, com base nos ensinamentos

Se o telhado for mal construído

ou estiver em mau estado, a

chuva entrará na casa; assim,

a cobiça entrará com facilidade

na mente, se ela for mal

treinada ou se estiver

fora de controle.

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

73


de Cristo. Um dos princípios estabelecidos pelo Mestre — e que

ele fez questão de repassar — foi: o cristão deve estar contente

com o que tem, e não deve condicionar a sua felicidade à

quantidade de bens materiais que possui (1 Tm 6.8; Lc 12.15).

4.2. Gratidão

Uma pessoa grata considera que o que ela tem, em Deus,

é muito maior do que o que ainda não possui. Ela sente-se

feliz por suas conquistas, pois entende que o mais importante

não são as coisas que granjeia, mas o modo como administra

e usufrui de tais posses. Ela é grata a Deus por sua família,

seu emprego, sua saúde, e pelo dom da vida, com o qual foi

graciosamente presenteada.

4.3. Confiança em Deus e apego à Sua Palavra

Paulo desafiou os anciãos de Éfeso a considerarem seus esforços

sobre-humanos para pregar-lhes a Palavra e, assim, não

inverterem os seus valores (At 20.31,32). Eles deveriam olhar

para Deus com os olhos da confiança e da fé.

O estudo sistemático das Escrituras é uma grande proteção

contra os sentimentos mesquinhos que teimam em ingressar livremente

no coração do homem. O apóstolo, ciente deste fato,

também os recomendou à Palavra da Graça, porque somente

ela seria suficiente para — pela operação do Espírito Santo

nela e por meio dela — mantê-los firmes (At 20.32).

CONCLUSÃO

Há pessoas que evitam os pecados capazes de comprometer

suas reputações diante dos homens, mas consentem em um

procedimento diário de impiedade. Jesus disse que os fariseus

e escribas limpavam o exterior do copo e do prato, mas seu

interior permanecia cheio de ganância e cobiça (Mt 23.25,26

— NVI). Os fariseus eram vistos como pessoas aparentemente

normais; no entanto, seus corações eram um recôndito de

toda sorte de extorsão e excessos. Segundo o Mestre dos mestres,

limpar o exterior e manter sujo o interior não passa de

mera tolice.

Que Deus, em Seu infinito poder e sabedoria, ajude-nos a

viver uma vida pura e livre da cobiça, o terrível pecado que

assola a alma e a conduz pelas sendas do infortúnio e da aflição

(Fl 4.19).

ATIVIDADE PARA FIXAÇÃO

1. De acordo com o que foi exposto nesta lição, responda: o

que o homem deve fazer para vencer a cobiça?

R.: Manter a vigilância; ser grato; confiar em Deus e apegar-se

à Sua Palavra.

74 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


Lição 11

Aula dada em

DIA MÊS ANO

TEXTO BÍBLICO BÁSICO

Medo,

a Moenda do Maligno

Salmo 55.1-7,22

1 - Inclina, ó Deus, os teus ouvidos à minha oração e não te escondas da

minha súplica.

2 - Atende-me e ouve-me; lamento-me e rujo,

3 - por causa do clamor do inimigo e da opressão do ímpio; pois lançam

sobre mim iniquidade e com furor me aborrecem.

4 - O meu coração está dorido dentro de mim, e terrores de morte sobre

mim caíram.

5 - Temor e tremor me sobrevêm; e o horror me cobriu.

6 - Pelo que disse: Ah! Quem me dera asas como de pomba! Voaria e estaria

em descanso.

7 - Eis que fugiria para longe e pernoitaria no deserto.

22 - Lança o teu cuidado sobre o Senhor, e ele te susterá; nunca permitirá

que o justo seja abalado.

Salmo 56.3,4,10-13

3 - No dia em que eu temer, hei de confiar em ti.

4 - Em Deus louvarei a sua palavra; em Deus pus a minha confiança e não

temerei; que me pode fazer a carne?

10 - Em Deus louvarei a sua palavra; no Senhor louvarei a sua palavra.

11 - Em Deus tenho posto a minha confiança; não temerei o que me possa

fazer o homem.

12 - Os teus votos estão sobre mim, ó Deus; eu te renderei ações de graças;

13 - pois tu livraste a minha alma da morte, como também os meus pés de

tropeçarem, para que eu ande diante de Deus na luz dos viventes.

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

75


TEXTO ÁUREO

(...) Ele participou das

mesmas coisas, para que,

pela morte, aniquilasse

o que tinha o império da

morte, isto é, o diabo,

e livrasse todos os que,

com medo da morte,

estavam por toda a vida

sujeitos à servidão.

Hebreus 2.14b,15

SUBSÍDIOS PARA

O ESTUDO DIÁRIO

2ª feira – 2 Timóteo 1.3-7

Deus não nos deu o espírito de temor

3ª feira – Isaías 41.1-10

Não temas, porque eu sou contigo

4ª feira – Salmo 86.6-11

Que eu tema apenas o Teu nome

5ª feira – Mateus 8.23-27

Por que temeis, homens de pequena fé?

6ª feira – Atos 23.12-33

Conspiração contra Paulo

Sábado – 1 Samuel 17.4-11,23-25

O marketing do medo

OBJETIVOS

Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá ser capaz de:

compreender que o medo e a ansiedade são duas faces

de uma mesma moeda;

entender que o alicerce de todos os medos humanos está

na consciência do fato de que todos, invariavelmente, um

dia, morreremos;

saber que a certeza de vida eterna não rejeita a prudência

e que devemos estar atentos ao poder paralisante do

marketing do medo.

ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS

Prezado professor,

O medo caracteriza o ente humano. Na Escritura, fala-se de

pavor de coisas aparentemente insignificantes (Lv 26.36); temor

dos povos (Dt 2.25); medo de Deus (1 Cr 13.12); terror da

noite (Sl 91.5); medo do desconhecido (Ez 1.18); medo do futuro

(Lc 21.26); medo de pessoas (Jo 19.38) e de muitos outros

temores. Talvez por isto um dos imperativos mais repetidos no

texto bíblico seja: não temas (Dt 1.29; Js 1.9; Jr 1.8; 42.11; Lm

3.57; Zc 8.15; Mt 17.7; 14.27; 28.5; Mc 5.36; Lc 12.32).

Mas, afinal, por que sentimos medo? Até que ponto esta

emoção é positiva? Como saber se os temores que sentimos

já cruzaram as fronteiras daquilo que é considerado salutar

para a mente e o corpo? Como vencer o medo em nós? É o que

veremos nesta lição.

Boa aula!

76 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


COMENTÁRIO

Palavra introdutória

De acordo com o Novo Dicionário Aurélio, o vocábulo medo

designa um sentimento de grande inquietação ante a noção

de um perigo real ou imaginário.

Para além das acepções linguísticas,

o medo é, antes de tudo, uma

sensação, diante da qual o organismo

coloca-se em estado de alerta

para enfrentar aquilo que acredita

ser uma ameaça.

Deste modo, pode-se afirmar

que o medo é uma emoção essencial

à sobrevivência do homem (e

de animais superiores). O indivíduo

destituído de qualquer temor

expõe-se a riscos, que podem ser

fatais.

O medo é um estado de

progressiva insegurança e

angústia, de impotência e

invalidez crescentes, ante a

impressão iminente de que

sucederá algo que queríamos

evitar e que progressivamente

nos consideramos menos

capazes de fazer (Paulo

Dalgalarrondo, psiquiatra).

1. MEDO E ANSIEDADE:

DUAS FACES DE UMA MESMA MOEDA

São muitos e variados os tipos de medo: há os declarados

e os ocultos, os naturais e os sobrenaturais (crendices), os comuns

e os inusitados. São tantos, que a tentativa de elencá-los

beira as raias do impossível.

O medo pode ser tanto objetivo (medo de altura ou de animais,

por exemplo) quanto subjetivo (medo de não ser aceito

por outras pessoas, por exemplo). Há de se destacar, no entanto,

que, antes da sensação de medo, o indivíduo é tomado

pela ansiedade, ou por um sentimento de apreensão diante

do absolutamente desconhecido — Adão foi tomado pela ansiedade

quando ouviu os passos do Senhor (Gn 3.8), e, então,

temeu (Gn 3.10).

1.1. Sinais e sintomas

Em termos bioquímicos, entende-se por medo a sensação

desencadeada pela liberação de hormônios, tais como a adrenalina,

cuja função é preparar o indivíduo para uma reação

rápida de fuga ou luta. Dentre as reações fisiológicas deflagradas

pelo medo, citamos: empalidecimento da pele; contração

muscular involuntária; aceleração dos batimentos cardíacos

e ressecamento labial.

Quando o indivíduo é exposto a ansiedades intensas por

longos períodos, seu organismo tende a desenvolver um estado

de hipervigilância (mesmo que involuntariamente) em

relação àquilo que considera uma ameaça. Esse fenômeno, se

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

77


não interrompido, poderá desencadear perturbações emocionais

severas, com implicações profundas.

1.2. Medos patológicos (fobias)

Algumas vezes, o organismo responde de forma exagerada

ao medo. Quando isso acontece, o estado benéfico de alerta,

que cumpre a função de proteger a vida, transforma-se em

uma condição patológica, e o medo, então, transforma-se em

fobia.

Nas fobias, há uma antecipação dos processos cognitivos e

emocionais; assim, a relação que o indivíduo estabelece com

o mundo a sua volta fica comprometida. Nesses casos, o medo

é um fator limitante, pois não prepara a pessoa para fugir ou

lutar, mas paralisa-a, a fim de impedi-la de entrar em contato

com a fonte de sua tensão. Exemplos: glossofobia (medo de

falar em público); acrofobia (medo de altura); hemofobia (medo

de sangue); insetofobia (medo de insetos); nictofobia (horror à

escuridão); claustrofobia (medo de lugares fechados), dentre

outros.

De acordo com o psiquiatra Paulo Dalgalarrondo, pessoas

acometidas por este mal vivenciam, além da vergonha e da

angústia, diversas reações físicas, causadas pela exposição ao

objeto fobígeno.

1.3. Doenças caracterizadas pelo medo

De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de

Transtornos Mentais, quarta edição (DSM-IV), há uma série

de doenças caracterizadas pelo medo desmedido, tais como:

transtorno de estresse pós-traumático — ocorre quando o

indivíduo testemunha ou é vítima de atos violentos ou de

situações traumáticas, que representem ameaça à sua vida

ou à vida de terceiros;

anorexia, bulimia e vigorexia, dentre outros — transtornos

em que o medo está ligado às alterações no corpo;

síndrome do pânico — caracterizada por crises recorrentes

(e absolutamente imprevisíveis) de agonia ou desespero.

Vários princípios comportamentais estão envolvidos nessa

condição;

agorafobia — medo incontrolável de perder o controle físico

ou emocional em locais onde não seja possível obter

ajuda facilmente, ou onde a ajuda seja inapropriada.

2. O MEDO NO TEXTO BÍBLICO

Biblicamente falando, em que se ancoram os medos humanos?

Mais uma vez, a resposta está no Éden. O Criador disse

a Adão que, caso comesse da árvore da ciência do bem e do

mal, ele certamente morreria (Gn 2.17) — Eva também estava

78 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


ciente dessa advertência (Gn 3.3). Deste modo, no dia em que

tomaram do fruto proibido, eles temeram a ação divina (Gn

3.10): o que viria a ser a morte, esse evento completamente

incógnito? Adão e Eva sabiam o que era viver, morrer, não.

Diante dessa realidade, é possível afirmar que o alicerce

de todos os medos humanos está na consciência do fato de

que todos, invariavelmente, um dia, morreremos.

2.1. O medo essencial de todos os homens no

decorrer das eras

Quando a expectativa de vida não passava de 30 anos,

talvez pudéssemos supor que seria mais fácil aceitar a morte

como um fato natural; contudo, no transcurso da História,

esse padrão de comportamento jamais se observou. A raça

humana interpreta a morte como o

elemento que se opõe à vida, desde

os tempos mais remotos.

Nos dias atuais, assim como no

passado, a contagem regressiva,

que se inicia no dia em que adentramos

este mundo, apavora todos

aqueles que ainda não compreenderam

o plano salvífico (Jo 3.16); aqueles

que ainda não entenderam que

Cristo tornou inoperante a morte e

trouxe à luz a vida e a imortalidade

por meio do evangelho (2 Tm 1.10).

É fato: ninguém viverá

pacificado enquanto não

resolver em si a fobia da

morte, o elemento essencial

que deflagra na raça humana

todos os outros tipos

de medo.

2.2. O homem diante da certeza da morte

Parece haver na raça humana um grito desesperado de

perda, que a faz existir sob o chicote do “eu tenho que”. Muitas

vezes essa angústia aparece na hiperatividade infantil;

outras tantas, nos perigos aos quais adolescentes e jovens

submetem-se cotidianamente, na tentativa de se autoafirmarem

como os únicos seres capazes de desafiar o fim. Na idade

adulta, essa aflição aparece travestida de responsabilidades

neuróticas: é preciso casar, ter filhos, ganhar dinheiro, adquirir

confortos, construir uma reputação etc. Quando se chega

à maturidade, o relógio da vida, em uma toada de agonia

crescente, faz muitos repensarem os caminhos escolhidos.

Nesta fase, aparece o que se convencionou chamar de crise

da meia-idade; momento em que o indivíduo racionaliza: Que

fiz da minha vida até aqui? Dos objetivos e metas que tracei,

quais foram alcançados? Como só tenho uma vida, que em

breve acabará, “tenho que” completar o que não fiz ou mudar

a rota, antes que seja tarde.

Praticamente tudo o que o homem faz nesta vida advém

da consciência que ele tem da realidade da morte; suas atitu-

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

79


O medo de não ser aceito

em determinado grupo social

revela o medo essencial de

todo ser humano: sozinho,

o indivíduo tem menos

chances de sobreviver.

des são folhas de figueira, cosidas e

usadas, na tentativa de esconder (de

si e do Criador) o seu medo capital:

a morte (Gn 3.7,10).

3. COMO LIDAR COM O

MEDO?

Diante do que foi exposto até

aqui, bem faríamos se sinceramente

respondêssemos às seguintes questões:

que emoção os assaltos, os estupros, os homicídios, os

cânceres, as guerras e os homens violentos suscitam em nós?

O que nos assusta? O que, de fato, nos apavora?

Depois de nos conscientizarmos de que o medo da morte

rege todos os demais temores, é preciso considerar alguns

pontos importantes. Vejamos a seguir.

3.1. A certeza de vida eterna não rejeita a prudência

Muitos cristãos sinceros, sabendo da necessidade de depositarem

sua esperança em Deus e da importância de não se

deixarem dominar por coisas ou pessoas, têm sido extremistas

na defesa desse ideal. Fé, no entanto, não é sinônimo de imprudência.

Não podemos nos recusar à precaução, à segurança ou

aos cuidados com a saúde. Vejamos alguns exemplos bíblicos.

Neemias atuava como governador em Jerusalém (Ne 5.14).

Ele era um homem de fé, que orava incessantemente e

confiava na ação divina (Ne 1.4). Certa vez, enquanto seus

inimigos preparavam-se para atacar a cidade, ele e o povo

colocaram uma guarda contra eles, de dia e de noite (Ne

4.9). Com Neemias aprendemos que devemos pedir a proteção

de Deus e, ao mesmo tempo, fazer o que a nós compete:

trancar portas e janelas.

Paulo pediu a ajuda de seu sobrinho e de um comandante

romano, quando descobriu que mais de quarenta judeus

tramavam uma conspiração para matá-lo. O comandante

ordenou que um destacamento de duzentos soldados,

setenta cavaleiros e duzentos lanceiros levassem o apóstolo

em segurança até o governador Félix (At 23.12-33).

Com Paulo aprendemos que devemos expor nossos medos

àqueles que podem nos ajudar a vencê-los.

3.2. Fique atento ao poder paralisante do

marketing do medo

Em nenhum tempo da história humana existiram tantas notícias

de desastres, guerras e violências de toda ordem — isso,

em parte, deve-se à comunicação facilitada na pós-moderni-

80 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


dade — antes do advento da imprensa e, nos últimos anos,

da internet, a maldade do homem dizimava povos inteiros e

sequer tínhamos conhecimento do fato.

Precisamos estar atentos: o grande capital alimenta-se de

todos os medos humanos. Nos dias atuais, percebe-se com

maior intensidade uma exploração do marketing do medo —

os grandes bancos e as seguradoras, por exemplo, vendem

proteção; a moda, aceitação; a indústria farmacêutica, saúde

e as mídias sociais, inclusão.

Quando nos virmos paralisados perante a imposição do

medo, lembremo-nos de Davi. Israelitas e filisteus sabiam da

má fama de Golias, e, devido a isto, ficaram atônitos e apavorados

(1 Sm 17.4-11,23-25). O homem segundo o coração de

Deus, no entanto, sabia que Aquele que o livrara das garras

do leão e das garras do urso também o livraria das mãos do

gigante filisteu (1 Sm 17.37).

O marketing do medo não deve roubar de nós a certeza de

quem dirige nossos passos.

CONCLUSÃO

O autor da Carta aos Hebreus disse que Jesus veio a este

mundo para aniquilar aquele que tinha o império da morte,

isto é, o diabo (Hb 2.14) e para libertar aqueles que durante

toda a vida estiveram escravizados pelo medo da morte (Hb

2.15 – NVI).

Só há um Senhor sobre a vida e a morte: Jesus — Ele é a

própria Vida (Jo 14.6) e Ele venceu a Morte (Ap 3.18). Satanás,

entretanto, opera neste mundo através da fobia que a interrupção

da existência na terra produz nos homens. O Livro de

Jó faz-nos saber que o Maligno jamais teve o poder de decidir

quem viverá ou morrerá (Jó 1.12), mas ele usa o medo da morte,

todos os dias, para manter os filhos de Adão escravizados.

O autor aos Hebreus anunciou que Jesus veio para desapossar

o diabo desse poder (Hb 2.14,15). O Filho de Deus

veio para livrar-nos da angústia da morte e dar-nos a alegria

da eternidade.

ATIVIDADE PARA FIXAÇÃO

1. De acordo com o que foi exposto nesta lição, há uma série

de doenças caracterizadas pelo medo desmedido. Cite ao

menos um exemplo.

R.: O aluno poderá citar: transtorno de estresse pós-traumático;

anorexia; bulimia; vigorexia; síndrome do pânico e

agorafobia.

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

81


Lição 12

Aula dada em

DIA MÊS ANO

Ciúme,

o Cabo da Tormenta

TEXTO BÍBLICO BÁSICO

Números 5.11-15,29-31

11 - Falou mais o Senhor a Moisés, dizendo:

12 - Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: Quando a mulher de alguém se

desviar e prevaricar contra ele,

13 - de maneira que algum homem se houver deitado com ela, e for oculto

aos olhos de seu marido, e ela o tiver ocultado, havendo-se ela contaminado,

e contra ela não houver testemunha, e no feito não for apanhada,

14 - e o espírito de ciúmes vier sobre ele, e de sua mulher tiver ciúmes, por

ela se haver contaminado, ou sobre ele vier o espírito de ciúmes, e de

sua mulher tiver ciúmes, não se havendo ela contaminado,

15 - então, aquele varão trará a sua mulher perante o sacerdote e juntamente

trará a sua oferta por ela: uma décima de efa de farinha de cevada,

sobre a qual não deitará azeite, nem sobre ela porá incenso, porquanto

é oferta de manjares de ciúmes, oferta memorativa, que traz a iniquidade

em memória.

29 - Esta é a lei dos ciúmes, quando a mulher, em poder de seu marido, se

desviar e for contaminada;

30 - ou quando sobre o homem vier o espírito de ciúmes, e tiver ciúmes de

sua mulher, apresente a mulher perante o Senhor, e o sacerdote nela

execute toda esta lei.

31 - E o homem será livre da iniquidade, porém a mulher levará a sua

iniquidade.

82 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


TEXTO ÁUREO

Ou cuidais vós que em vão

diz a Escritura: O Espírito

que em nós habita tem

ciúmes?

Tiago 4.5

SUBSÍDIOS PARA

O ESTUDO DIÁRIO

2ª feira – Provérbios 6.32-34

Furioso é o ciúme do marido

3ª feira – Ezequiel 8.3,5; 16.38,42

A imagem que provoca o ciúme de Deus

4ª feira – Efésios 1.1-6

Criados para o louvor da Sua graça

5ª feira – 1 Coríntios 13.4-8

O amor não arde em ciúmes

6ª feira – Romanos 10.17-21

Eu vos meterei em ciúmes

Sábado – Romanos 12.1-3

Transformai-vos pela renovação da mente

OBJETIVOS

Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá ser capaz de:

compreender o significado do termo ciúme, distinguindo-

-o de inveja;

saber que, no texto bíblico, as expressões hebraicas e gregas

traduzidas por ciúme possuem diversos significados;

conhecer os principais tipos e as possíveis causas do ciúme

patológico;

entender que é possível lidar com o ciúme.

ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS

Prezado professor,

Como não raramente encontramos pessoas que têm dificuldade

em fazer distinção entre ciúme e inveja, sugerimos

que, no início da aula, sejam feitas as devidas conceituações.

Embora sejam termos análogos e intercambiáveis, estamos

diante de dois fenômenos distintos:

ciúme — surge diante da falta de exclusividade ou de cuidados

da pessoa amada ou diante da percepção de que o relacionamento

está ameaçado pela interferência de um rival;

inveja — é a resposta negativa ao sucesso, atributos e aptidões

de outrem. Esta emoção suscita no invejoso o desejo

de possuir as mesmas qualidades do invejado ou o desejo

de fazer com que o invejado seja subtraído daquilo que ele

(o invejoso) não possui.

A condessa Marie de Beausacq Diane (1829—1899) disse

que o ciúme é o germe do ódio no amor; mata-o às vezes, fere-

-o sempre. Quanto de verdade há nesta afirmação? Até que

ponto esta emoção é natural? Em que momento ela apresenta

traços patológicos? Como vencê-la em nós?

É o que veremos nesta lição.

Boa aula!

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

83


COMENTÁRIO

Palavra introdutória

Ciúme dos pais, dos filhos, dos irmãos, dos amigos, do cônjuge,

de um objeto ou animal. Quem nunca sentiu? Eis um

tema que, de modo geral, suscita grande discussão: alguns

acreditam que o ciúme é o termômetro do amor, pois, segundo

estes, quem ama cuida; outros, entretanto, no extremo

oposto do debate, creem que essa emoção anda na contramão

do verdadeiro amor.

Nesta lição, à luz das Escrituras, considerando a opinião

de profissionais da área da psiquê humana, procuraremos

responder às seguintes questões: o que é ciúme? É normal

senti-lo? Se sim, até que ponto?

1. DEFINIÇÃO DO TERMO

O ciúme pode ser definido como um complexo de pensamentos,

sentimentos e ações que costumam manifestar-se

em associação a várias outras emoções — que podem ou não

estar agrupadas umas às outras —, tais como: inveja, autocomiseração,

culpa, baixa autoestima, raiva, tristeza, medo e/ou

ansiedade.

Essa manifestação geralmente acontece quando alguém

julga que seu relacionamento está sob ameaça. Alguns teóricos

defendem a ideia de que o ciúme nada mais é que um

mecanismo de defesa, cujo objetivo principal é proteger o relacionamento

e evitar a traição.

1.1. O ciúme no texto bíblico

No texto bíblico, os termos e expressões hebraicos [(qin’āṯî;

conf. Nm 25.11; Ez 8.5; 16.38,42; Sl 119.139); (qin’āh; conf.

Nm 5.14,30; Pv 6.34; 14.30; 27.4; Ct 8.6; Is 42.13; Zc 1.14;

8.2); (qənā’ōṯ; Nm 5.15,18); (ham maq neh; conf. Ez 8.3)] e

gregos [(phthonos; conf. Tg 4.5); (parazéloó; conf. Rm 10.19);

(zēlō; conf. 2 Co 11.2)] traduzidos por ciúme possuem diversos

significados, com conotações negativas e positivas, dependendo

do modo como foram utilizados.

Dentre os significados possíveis, citamos: não tolerar rivalidade;

zelo; exigência de devoção exclusiva; ciúme e inveja.

1.2. A lei do ciúme

Em Números 5.11-31, encontramos as instruções dadas por

Deus a Moisés, relacionadas ao modo como deveriam ser tratados

os casos de suspeita de infidelidade no acampamento.

Para o mundo ocidental, o julgamento sobre a esposa infiel é

excepcionalmente severo; entretanto, é preciso considerar que,

84 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


no mundo antigo, a mulher era considerada propriedade do marido.

De certo modo, a lei do ciúme protegia a mulher, pois o

divórcio poderia ser requerido simplesmente pela mera suspeita

de infidelidade da esposa. Sem os limites impostos por

regras como esta, havia a possibilidade de a mulher até mesmo

ser executada pelo marido ciumento, apenas por causa da

desconfiança de uma traição (RADMACHER; ALLEN; HOU-

SE. Central Gospel, 2010a, p. 271).

1.3. O ciúme de Deus

O Eterno é o único capaz de sentir ciúme da forma adequada,

pois Ele tem a intenção de manter Seu povo livre da

corrupção moral e espiritual. Ezequiel fala da imagem, que

provoca o ciúme de Deus (Ez 8.3); Tiago afirma que o Espírito

que em nós habita tem ciúmes (Tg 4.5).

O ciúme de Deus manifesta-se contra tudo aquilo que tenta

fazer morada no templo do Espírito (1 Co 3.16): somos Sua

casa; Ele nos escolheu para o louvor da Sua glória (Ef 1.4-6),

e Ele não a divide com ninguém (Is 42.8). Tudo o que milita

contra o Evangelho, em nós, provoca o ciúme de Deus.

2. TIPOS DE CIÚME

De modo geral, estudiosos da psiquê humana concordam

que, por ser uma manifestação universal, o ciúme seria

uma condição natural — todas (ou quase todas) as pessoas

já teriam sofrido deste mal, já teriam sido alvo dessa emoção

ou já teriam servido de pivô na evocação de tal sentimento.

Apesar de ser natural, caso esta se prolongue no tempo

ou aumente de intensidade, pode indicar que as fronteiras

da normalidade foram ultrapassadas. Neste tópico, analisaremos

os tipos mais comuns de ciúme observados.

2.1. Normal

O ciúme é considerado normal quando se baseia em fatos,

ou seja, quando a pessoa amada dá motivos para o parceiro

ser tomado por tal emoção. Uma de suas características elementares

é a transitoriedade — aparece e extingue-se sem

maiores intercorrências — e seu principal objetivo é a preservação

do relacionamento. Segundo Freud, o ciúme normal é

uma situação emocional que pode ser igualada ao luto, onde

é caracterizado por uma aflição causada pelo pensamento de

perder o elemento amado.

2.2. Neurótico

O ciumento neurótico entende os exageros da emoção que

alimenta, porém não consegue dominá-la. Nesse caso, ele

precisa assegurar-se compulsivamente de que não está sendo

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

85


traído, mesmo que não haja qualquer evidência ou qualquer

motivo para desconfiança. Dentro dessa categoria, enquadra-

-se o ciúme projetivo, no qual o ciumento acusa o parceiro de

fazer aquilo que ele (o ciumento) faria.

O ciúme neurótico é prejudicial, pois mantém aquele que

o nutre em um permanente estado de angústia, tensão, instabilidade,

insegurança e fragilidade — o que o faz sentir-se

constantemente culpado.

Quando se fala em ciúme neurótico, a linha divisória entre

fantasias e certezas costuma ser bastante imprecisa. Muitas

vezes, o ciumento hipervaloriza situações, transformando-as

em verdadeiros delírios. Quando isso acontece, na tentativa

de comprovar ou extirpar a fixação da ideia, o ciumento é levado

à checagem compulsória de suas dúvidas, que, grande

parte das vezes, não ameniza o mal-estar da dúvida.

2.3. Paranoico (ou delirante)

Tanto o ciúme neurótico

quanto o paranoico são

considerados patológicos

e ambos são igualmente

prejudiciais para o

relacionamento conjugal.

O ciúme paranoico é considerado

o mais grave de todos, pois atinge

níveis insuportáveis de tensão

interna, fazendo com que o indivíduo

ciumento fantasie uma possível

traição. Quando isso acontece, ele

pode, inclusive, cometer insanidades

contra seu parceiro (como homicídio

e ataques à sua integridade

física).

3. CAUSAS DO CIÚME PATOLÓGICO

O sociólogo e filósofo francês Roland Barthes, em seu

livro intitulado Fragmentos de um Discurso Amoroso, escreveu:

Como ciumento, sofro quatro vezes: porque sou ciumento,

porque me reprovo de sê-lo, porque temo que meu ciúme

machuque o outro, porque me deixo dominar por uma banalidade.

Sofro por ser excluído, por ser agressivo, por ser louco

e por ser comum.

Os agentes propulsores do ciúme são diversos, mas, de

modo geral, estão associados às motivações particulares da

pessoa ciumenta. Vejamos duas causas comuns.

3.1. Vivências traumáticas da primeira infância

De acordo com especialistas, quando excessiva e irracional,

essa emoção pode ter sua origem marcada nas vivências

traumáticas da primeira infância — o estado que caracteriza

essa fase do desenvolvimento humano (primeira infância) é a

dependência (do bebê à mãe e da mãe ao bebê). Como não é

possível à criança garantir a presença contínua de sua geni-

86 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


tora ao seu lado, dependendo da severidade dessa vivência,

sintomas de ansiedade, perda ou abandono poderão ser intensificados

e projetados nos diversos tipos de relacionamento

que o indivíduo estabelece no decorrer da vida.

3.2. Condições tóxicas

As causas do ciúme patológico também podem estar associadas

a condições tóxicas. Pessoas sob os efeitos de substâncias

psicoativas (como álcool ou drogas, por exemplo) podem apresentar

episódios de delírio e fantasiar situações inexistentes.

4. COMO LIDAR COM O CIÚME?

Muitas pessoas acreditam que

ciúme é prova de amor; porém, precisamos

considerar as palavras de

Paulo, que diz: o amor não arde em

ciúmes (1 Co 13.4a – ARA).

O apóstolo sabia que aquele que

ama com o amor de Deus não tem

uma visão distorcida do zelo. O amor

divino não é autocentrado, não

teme perder a exclusividade sobre

a pessoa amada, tampouco se apavora

com a ideia de ser excluído de

qualquer relação.

Neste tópico, vejamos como lidar

com o ciúme.

Se analisarmos mais

detalhadamente o ciúme,

podemos perceber, logo de

início, que não se trata de um

sentimento voltado para o

outro, mas sim voltado para

si mesmo, para quem o sente

(Eduardo Ferreira Santos.

Psiquiatra, psicoterapeuta e

mestre em Psicologia Clínica).

4.1. Ajuste sua autoimagem em Deus

Por mais paradoxal que possa parecer, de acordo com o

criminalista e professor de Direito Penal Roque de Brito Alves,

o ciúme é tanto uma manifestação de profundo complexo de

inferioridade quanto de um excessivo sentimento de amor-

-próprio. Segundo Alves, o ciumento não se sente apenas incapaz

de manter o amor e o domínio sobre a pessoa amada, de

vencer ou de afastar qualquer possível rival, sobretudo, sente-

-se ferido ou humilhado em seu amor-próprio.

É fato: precisamos ajustar, em Deus, as projeções de nossa

autoimagem (como vimos na Lição 6): nossos complexos de

inferioridade e nossos excessos de amor-próprio precisam ser

subjugados ao olhar Daquele que é capaz de dizer quem, de

fato, somos (Rm 12.3).

4.2. Avalie a intensidade

Para determinar se o ciúme rompeu as barreiras da normalidade,

basta avaliar a intensidade e a duração da raiva direcionada

àquilo ou àquele que evocou esta emoção em nós.

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

87


O ciúme patológico costuma

trazer sofrimento aos

envolvidos. Deste modo,

quando isso acontecer,

possivelmente será necessária

a intervenção psicoterapêutica,

pois, nesses casos, episódios

de delírio mórbido costumam

estar presentes.

É possível afirmar que um traço

crítico do ciúme patológico é o seu

sentido de ampliação: o que antes

se restringia ao temor da traição

passa a pervagar, traiçoeiramente,

outras áreas da personalidade

humana. Por exemplo: o ciumento

pode começar a incomodar-se

com o sucesso profissional de seu

parceiro e tentar minar suas conquistas

pessoais, a fim de torná-lo

cada vez mais dependente dele —

nesse ponto, o ciúme alia-se a outra

emoção negativa: a inveja.

CONCLUSÃO

Ao contrário do que muitos pensam, ciúme não é sinal de

amor, mas de narcisismo. Quem alimenta esta emoção revela,

na realidade, medo de perder o monopólio de outrem.

A maneira mais eficaz de prevenirmos (e combatermos) o

ciúme é por meio do reconhecimento do fato de que somos

seres únicos, igualmente amados por Deus. Quando somos

tomados por essa consciência, transcendemos ao temor de

sermos substituídos por quaisquer rivais.

Quando entendemos que Deus nos ama do jeito que somos,

a comparação, a competição e o medo de sermos substituídos

diminuem e, assim, ficamos menos vulneráveis a esta emoção.

ATIVIDADE PARA FIXAÇÃO

1. De acordo com a lição de hoje, quais são os tipos de ciúme

observados?

R.: Normal; neurótico e paranoico (ou delirante).

GLOSSÁRIO

Narcisismo — Designa o estado do narcisista, ou seja, da pessoa

que exagera sua importância e espera ser reconhecida à altura.

O narcisista vive fantasias de sucesso, poder e inteligência, sem

limites.

88 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


Lição 13

Aula dada em

DIA MÊS ANO

Inveja, a Senda

da Autodestruição

TEXTO BÍBLICO BÁSICO

Salmo 73.1-10,12-14,16-18,24

1 - Verdadeiramente, bom é Deus para com Israel, para com os limpos de

coração.

2 - Quanto a mim, os meus pés quase que se desviaram; pouco faltou para

que escorregassem os meus passos.

3 - Pois eu tinha inveja dos soberbos, ao ver a prosperidade dos ímpios.

4 - Porque não há apertos na sua morte, mas firme está a sua força.

5 - Não se acham em trabalhos como outra gente, nem são afligidos como

outros homens.

6 - Pelo que a soberba os cerca como um colar; vestem-se de violência como

de um adorno.

7 - Os olhos deles estão inchados de gordura; superabundam as imaginações

do seu coração.

8 - São corrompidos e tratam maliciosamente de opressão; falam arrogantemente.

9 - Erguem a sua boca contra os céus, e a sua língua percorre a terra.

10 - Pelo que o seu povo volta aqui, e águas de copo cheio se lhes espremem.

12 - Eis que estes são ímpios; e, todavia, estão sempre em segurança, e se

lhes aumentam as riquezas.

13 - Na verdade que em vão tenho purificado o meu coração e lavado as

minhas mãos na inocência.

14 - Pois todo o dia tenho sido afligido e castigado cada manhã.

16 - Quando pensava em compreender isto, fiquei sobremodo perturbado;

17 - até que entrei no santuário de Deus; então, entendi eu o fim deles.

18 - Certamente, tu os puseste em lugares escorregadios; tu os lanças em

destruição.

24 - Guiar-me-ás com o teu conselho e, depois, me receberás em glória.

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

89


TEXTO ÁUREO

O coração com saúde

é a vida da carne, mas

a inveja é a podridão

dos ossos. (...) Cruel é

o furor e a impetuosa

ira, mas quem parará

perante

a inveja?

Provérbios 14.30; 27.4

OBJETIVOS

SUBSÍDIOS PARA

O ESTUDO DIÁRIO

2ª feira – Gênesis 4.1-11

A inveja de Caim

3ª feira – Gênesis 29.31—30.1

A inveja de Raquel

4ª feira – Gênesis 37.1-28

A inveja dos irmãos de José

5ª feira – 1 Samuel 18.1-11

A inveja de Saul

6ª feira – Números 12.1-10

A inveja de Miriã

Sábado – 1 Tessalonicenses 5.12-22

Em tudo dai graças

Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá ser capaz de:

compreender o significado e as causas da inveja;

conhecer algumas consequências desta emoção, referida

pelo Sábio como a podridão dos ossos;

saber que a gratidão é o meio mais eficaz de vencê-la.

ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS

Prezado professor,

O primeiro tema abordado nesta revista foi orgulho, a emoção

que nos faz olhar para o outro de cima para baixo; nesta

última lição, discorreremos sobre a inveja, a emoção que nos

faz olhar para o outro de baixo para cima.

No decorrer da aula, tenha em mente os seguintes pontos:

algumas pessoas, emocionalmente frágeis, experimentam

a inveja de forma quase patológica, enquanto outras passam

quase toda a vida sem senti-la;

é mais fácil encontrar quem diga sentir-se inferior a alguém

do que encontrar quem afirme sentir inveja de outra pessoa.

Isso porque o sentimento de inferioridade é passivo

— teoricamente, quem se sente inferior não pretende tirar

nada de ninguém —, enquanto que a inveja é ativa, ou seja,

quem a sente fará o possível para limar o invejado (declarada

ou veladamente).

Se possível, antes de dar início à aula, retome as principais

abordagens das lições anteriores, a fim de verificar o aprendizado

dos alunos.

Boa aula!

90 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


COMENTÁRIO

Palavra introdutória

Especialistas afirmam que ninguém está imune à emoção

menos nobre evocada pelo homem: a inveja. Mas, por que nem

sempre é fácil conviver com o sucesso alheio? O que motiva a

inveja? Quais as suas consequências? Como vencê-la em nós?

Estas e outras perguntas serão respondidas no decorrer

desta lição, considerando as opiniões de profissionais da psiquê

humana e, sobretudo, as orientações bíblicas relativas

ao tema.

1. INVEJA, A PODRIDÃO DOS OSSOS

O verbo invejar [(hb. qin-’aṯ-; conf. Ec 4.4) e (gr. phthonon;

conf. Mc 15.10)], no latim, é composto por duas partículas (in

+ videre = invidere), que, juntas, remetem à ideia de projetar

sobre outrem um olhar maldoso.

Trata-se de um sentimento de desprazer e de pesar motivado

pelo êxito de outrem, que pode vir acompanhado de

ciúme, indignação, ódio ou desdém e de murmuração ou maledicência

(Pv 14.30).

Quando um indivíduo hipervaloriza o outro e subvaloriza a si

mesmo, pode ser tentado a promover um esvaziamento desse

outro — denegrindo sua imagem e diminuindo-o aos seus próprios

olhos (e/ou aos olhos dos demais) —, a fim de que ambos

fiquem do mesmo tamanho.

Alguns estudos revelam que

esta emoção é mais comumente

observada entre os pares, ou seja,

irmãos invejam irmãos; mães invejam

mães; amigos invejam amigos;

cunhados invejam cunhados

e profissionais invejam profissionais.

Muito dificilmente um artista

plástico invejará um astrofísico ou

um adulto invejará uma criança. E

isto acontece basicamente por dois

motivos: (1) a proximidade facilita

as comparações, tornando-as mais

frequentes; (2) os pares partilham

cosmovisões; assim, as diferenças podem representar uma

ameaça para os que se sentem em débito diante de determinada

situação.

1.1. Causas não estruturais

Para a Psicologia, a inveja

consiste no deslocamento

da energia do potencial de

determinado indivíduo para a

exacerbada preocupação com

a satisfação e prazer de outra

pessoa, geralmente íntima

do sujeito em questão.

Estudiosos da psiquê humana garantem: a inveja dói e dá

prazer. Dói porque é acompanhada da sensação de injustiça,

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

91


e dá prazer porque o invejoso sente-se recompensado quando

presencia a derrota do invejado.

Pelo fato de a inveja ser uma emoção primitiva e pouco elaborada,

quando somos acometidos por ela, inconscientemente

comparamos situações, dentre as quais saímos perdendo.

É importante considerar o fato de que a inveja é um sintoma,

cujas raízes são nutridas por outros males que afligem

a alma, dentre os quais destacamos a baixa autoestima e o

narcisismo.

1.2. Causas estruturais

Neurocientistas afirmam que indivíduos com graves falhas

ou lesões nos lobos frontais do cérebro — regiões responsáveis

por discernir regras e por codificar os limites de respeito

ao próximo — são os mais propensos ao sentimento de inveja.

Em alguns casos, o quadro pode evoluir para a depressão clínica

ou para a sociopatia (neste último, o invejoso não apenas

quer o que é do outro, mas deseja ser exatamente o que o outro

é, podendo, inclusive, envidar ações concretas no sentido de

prejudicar o invejado).

É preciso estabelecer a

diferença entre ambição

legítima e ambição ilegítima

(ganância): enquanto a

ambição legítima deseja

mais para repartir,

a ilegítima deseja mais

para si, exclusivamente.

1.3. Diferença entre inveja e

ambição legítima

O indivíduo tomado pela inveja

não deseja apenas ter o que a outra

pessoa tem ou ser o que a outra

pessoa é; ele quer mais; ele espera

que o invejado não tenha o que tem

e não seja o que é.

A ambição legítima, em contrapartida,

é movida pelo olhar da admiração,

que enxerga no outro uma

fonte de inspiração. Que mal haveria

em querermos ser mais generosos?

Em desejarmos ter mais discernimento? Em almejarmos obter

mais conhecimento? Em ansiarmos ser mais parecidos com Jesus?

2. A INVEJA NO TEXTO BÍBLICO

As ações de todo cristão precisam ser balizadas pela

maior de todas as virtudes, o amor (Jo 13.35); e desejar o

fracasso ou a desgraça de outrem é um ato de desamor.

Deste modo, é possível afirmar que a inveja é um pecado

essencial, porque nos desassemelha de Deus, afasta-nos do

coração do Pai e separa-nos do nosso próximo.

92 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


2.1. Personagens bíblicos e a inveja

É possível afirmar que a inveja não apela para os nossos

pontos fracos, mas, sim, para os fortes. Quando analisamos detidamente

a Escritura, somos tomados pela compreensão de

que alguns personagens bíblicos julgaram que poderiam ter

(ou ser) aquilo que, em tese, estava ao alcance de suas mãos,

mas, como não foram eles os escolhidos por Deus para determinado

fim, invejaram seus pares.

O primeiro fratricídio de que se tem notícia na História foi

motivado pela inveja (Gn 4.1-11). Em vez de olhar para Abel

como fonte de inspiração, Caim tirou-lhe a vida, como se este

ato pudesse anular o fato de Deus ter atentado para a oferta

de seu irmão e ter rejeitado a dele.

Deparamo-nos também com Raquel (até então estéril), que

invejou sua irmã, Leia, por ela ter dado filhos a seu marido,

Jacó (Gn 30.1). Lemos ainda a história de José (Gn 37.1-28),

que foi vendido como escravo por seus invejosos irmãos (Gn

3.11), porque Jacó amava-o mais do que a todos os seus filhos

(Gn 37.3). E, como último exemplo, citamos Saul, um monarca

entronizado que, por inveja, tentou matar um menino que tinha

um coração de rei (1 Sm 18.1-11).

2.2. O lastro da inveja

Tomás de Aquino disse que a inveja caracteriza-se por uma

tristeza do bem alheio enquanto se considera como mal próprio,

porque diminui a própria glória ou excelência. É inevitável,

a inveja traz consigo duras consequências. Vejamos alguns

exemplos nos subtópicos seguintes.

2.2.1. A inveja faz-nos viver à sombra da existência

Há grande tristeza na inveja; ela sombreja os horizontes

e impede-nos de enxergar o bem que, cotidianamente, recebemos

das mãos de Deus. Quando tomados por essa emoção,

lamentamos a falta, em vez de celebrar as inúmeras dádivas

imerecidas; somos consumidos pela admiração do outro e deixamos

de enxergar nesse outro uma fonte de divina inspiração.

2.2.2. A inveja retira de nós a capacidade de admirar o belo

Na tentativa de subtrair do invejado seus atributos e qualidades,

o invejoso vai perdendo a capacidade de apreciar a

beleza, a bondade, a dignidade e a honradez. Pouco a pouco,

os que se deixam dominar por esta emoção tornam-se especialistas

na arte de depreciar.

2.2.3. A inveja ignora o fato de que Deus tem os Seus

próprios mistérios

Os que são acometidos pela inveja acreditam que são capazes

de descobrir o segredo de Deus — ou o truque da vida —

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

93


O indivíduo que se deixa

dominar pela inveja não

consegue conviver com

aquele que tem mais ou

com aquele que é mais do

que ele. E, por ser assim,

prefere levar o invejado

ao deserto, e morrer na

sequidão, a libertá-lo

para a felicidade.

para terem o que não têm ou para

serem o que não são; basta, para

isto, esforçarem-se o suficiente.

Tolo engano.

Cada ser humano que o Criador

chama à existência traz consigo um

Seu mistério: somos o que somos

e temos o que temos pela permissão

divina: Jó era o homem mais

rico do Oriente (Jó 1.3,8); o Filho

do Homem, no entanto, não tinha

onde reclinar a cabeça (Mt 8.20).

O maior dos reis de Israel tinha boa

aparência (1 Sm 17.42 – ARA); o Rei

dos reis, todavia, não tinha parecer

nem formosura (Is 53.2). Não há ra-

zão para lutarmos contra os desígnios do Eterno; afinal, quem

compreendeu os Seus intentos? Quem foi o Seu conselheiro

(Rm 11.34)?

2.2.4. A inveja distorce o real sentido do sucesso

No Salmo 73, lemos a história de um justo que quase se

desviou porque invejou o soberbo e a prosperidade do ímpio (v.

2,3). O salmista, em outras palavras, disse: eu sou justo, temo a

Deus e obedeço a Ele, mas estou sofrendo. O ímpio escarnece

e zomba, mas não sofre aflições e suas riquezas aumentam dia

a dia (Sl 73.3-14).

No início deste Salmo, Asafe revela-nos que os seus olhos

haviam sido confundidos pela inveja (Sl 73.3); ele já não conseguia

compreender o real sentido da palavra sucesso. No

meio do cântico, entretanto, ele entende que não há motivo

para desejar trilhar os terrenos escorregadios dos ímpios,

pois o Senhor os faria cair em ruína (Sl 73.18).

Asafe completa o Salmo cônscio de que o verdadeiro sucesso

consiste em descansar na certeza de que Deus é a força do

nosso coração e a nossa herança para sempre (Sl 73.26).

2.2.5. A inveja reduz-nos ao cinismo

Sejamos honestos diante de Deus: quantas vezes já não

nos alegramos, intimamente, com os insucessos daqueles a

quem invejamos? Há certa felicidade, inconfessável, na desgraça

daqueles a quem julgamos melhores ou superiores a

nós. A inveja mediocriza, pois ela não aceita o fato de que

Deus também vive no outro.

2.2.6. A inveja faz de nós homicidas potenciais

Se a inveja não nos faz desferir golpes mortais contra

nosso irmão (Gn 4.8), não nos faz jogar alguém que

tem o nosso sangue em um poço (Gn 37.24), nem nos faz

94 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


atirar lanças contra aqueles que são mais hábeis que nós (1

Sm 18.10,11), ela (a inveja) pode fazer-nos matar aqueles a

quem invejamos com calúnias, difamações e depreciações.

Quando a inveja se apodera de nós, nossas palavras podem

transformar-se em flechas mortais (Jr 9.8a; Sl 64.3).

2.3. Como lidar com a inveja

A inveja revela-se no desejo não declarado que o invejoso

tem de querer ensinar Deus a ser Deus. Muitos pensam (mas

não revelam) que o onisciente Senhor equivocou-se em dar a

alguém algo que não deu a eles. Os que se deixam levar por

essa emoção, inconscientemente, acreditam que ter o que o

outro tem ou ser o outro é, torná-los-á pessoas melhores.

Todos esses pensamentos e ações fazem escoar a energia

de vida, porque os esforços que deveriam ser empreendidos

na construção dos sonhos são destinados à desconstrução

de alguém. Apesar de não existirem meios capazes de fazer

o homem não sentir inveja — afinal, somos todos filhos de

Adão, ávidos por satisfazer a vontade da nossa carne (Ef 2.3)

—, existe um meio eficaz de fazer com que esta emoção não

se apodere de nossos pensamentos e intenções: gratidão a

Deus pelo que se tem e é (1 Ts 5.18).

Saber quem se é, em Deus, e ser grato por isso é a chave para

afastar a inveja da alma.

CONCLUSÃO

O ser humano está sujeito a todo tipo de emoção negativa

(Rm 3.23), e a inveja é uma delas. Contudo, nós, cristãos, por

intermédio do Espírito Santo, podemos identificá-las (Jo 16.8)

e vencê-las (Jo 16.33).

Quando nos dispusermos a conhecer a verdade, ou seja,

a identificar tais emoções em nós, libertaremos nosso ser de

todas as cadeias emocionais que insistem em nos prender (Jo

8.32).

ATIVIDADE PARA FIXAÇÃO

1. Considerando o conteúdo desta lição, cite algumas consequências

da inveja.

R.: A inveja faz-nos viver à sombra da existência; retira de nós

a capacidade de admirar o belo; ignora o fato de que Deus

tem os Seus próprios mistérios; distorce o real sentido do

sucesso; reduz-nos ao cinismo e faz de nós homicidas potenciais.

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica

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