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e<strong>Toda</strong>
O D e u s<br />
<strong>de</strong> <strong>Toda</strong><br />
P ro v is ã o<br />
Esperança e sabedoria divina para<br />
a Igreja em meio às crises<br />
Elienai Cabral<br />
Ia Edição<br />
CBO<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
2016
Todos os direitos reservados. Copyright © 2016 para a língua portuguesa da Casa<br />
Publicadora das Assembleias <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Aprovado pelo Conselho <strong>de</strong> Doutrina.<br />
Preparação dos originais: Daniele Pereira<br />
Capa e projeto gráfico: Wagner <strong>de</strong> Almeida<br />
Editoração: Leonardo Engel<br />
CDD: 220 - Comentário Bíblico<br />
ISBN: 978-85-263-1390-3<br />
As citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida Revista e Corrigida, edição<br />
<strong>de</strong> 1995, da Socieda<strong>de</strong> Bíblica do Brasil, salvo indicação em contrário.<br />
Para maiores informações sobre livros, revistas, periódicos e os últimos lançamentos<br />
da CPAD, visite nosso site: http://www.cpad.com.br.<br />
SAC — Serviço <strong>de</strong> Atendimento ao Cliente: 0800-021-7373<br />
Casa Publicadora das Assembleias <strong>de</strong> <strong>Deus</strong><br />
Av. Brasil, 34.401, Bangu, Rio <strong>de</strong> Janeiro - RJ<br />
CEP 21.852-002<br />
Ia edição: Agosto/2016<br />
Tiragem: 45.000
SUMÁRIO<br />
Introdução.......................................................................................................4<br />
I . 0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> toda Provisão......................................................................... 6<br />
2. A Provisão <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> em um Mundo em Crise..........................................22<br />
3. Abraão — Desafios <strong>de</strong> um Homem Temente a <strong>Deus</strong>.............................32<br />
4. A Provisão <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> no Monte do Sacrifício............................................44<br />
5. Abraão, Ló e as Campinas do Jordão......................................................52<br />
6. Isaque, não Desça ao Egito......................................................................64<br />
7. José, Sabedoria em Terra Estranha..........................................................75<br />
8. Rute: <strong>Deus</strong> Honra o Trabalho pela Família..............................................90<br />
9. Eliseu: Milagres em Tempos <strong>de</strong> Escassez............................................. 103<br />
10. Josafá e a Adoração a <strong>Deus</strong> em meio ao Caos...................................113<br />
I I . Ester e o Livramento <strong>de</strong> uma Nação.................................................... 122<br />
12. Salomão: Sabedoria em Tempo <strong>de</strong> Crise.........................................136<br />
13. Paulo: Tudo Posso naquEle que me Fortalece. .149
INTRODUÇÃO<br />
A Bíblia narra histórias <strong>de</strong> homens e mulheres cujos testemunhos<br />
<strong>de</strong>monstram o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> para levá-los à realização <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s feitos.<br />
A relação entre <strong>Deus</strong> e os homens sempre foi marcada por experiências,<br />
em que a fé no impossível torna-se a força para a realização da obra <strong>de</strong><br />
<strong>Deus</strong> na terra. Este livro traz a história <strong>de</strong> alguns personagens reais que<br />
experimentaram o po<strong>de</strong>r da provisão divina. São homens e mulheres,<br />
pessoas humanamente falíveis, que em algumas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ram<br />
do po<strong>de</strong>r sobrenatural <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Encontramos o <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> toda provisão<br />
operando milagres na vida <strong>de</strong> pessoas comuns que se dispuseram a crer<br />
que não há nada impossível para Ele.<br />
Começo este livro com o testemunho pessoal das operações <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>,<br />
ensinando, apesar das nossas limitações, a confiar no inexaurível po<strong>de</strong>r<br />
<strong>de</strong> <strong>Deus</strong> para mudar situações impossíveis aos homens comuns.<br />
Em 1957, minha família experimentou uma crise que marcou a<br />
vida <strong>de</strong> meus pais, a minha e <strong>de</strong> meus irmãos. Meu pai, pastor Osmar<br />
Cabral, foi acometido por um câncer, consequência <strong>de</strong> sua vida pastoral<br />
num campo <strong>de</strong> trabalho difícil, numa região rural montanhosa,<br />
tendo como ponto central das ativida<strong>de</strong>s pastorais a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Rio do<br />
Sul, Santa Catarina.<br />
Seus transportes eram bicicleta, carroça, motocicleta, caminhonetes<br />
para estradas <strong>de</strong> terra e, principalmente, andando a pé, para aten<strong>de</strong>r<br />
as pequenas congregações. Dificulda<strong>de</strong>s climáticas contribuíam para<br />
o <strong>de</strong>sgaste físico, mas o evangelista e pastor era um homem <strong>de</strong>dicado à<br />
obra <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> e fazia com alegria. Então começaram a surgir problemas<br />
físicos que levaram o pastor Osmar Cabral a um tratamento intensivo<br />
e doloroso. Fez uma cirurgia no Hospital <strong>de</strong> Rio do Sul, mas a doença<br />
não foi extirpada. Desenganado pelos médicos, pediu licença à igreja<br />
que pastoreava e <strong>de</strong>cidiu buscar outro tratamento. Tomou a família e<br />
mudou-se para São José dos Pinhais, cida<strong>de</strong> próxima <strong>de</strong> Curitiba, PR.<br />
Chegando a essa cida<strong>de</strong>, sem recursos financeiros para manter a família<br />
e para fazer o tratamento, fomos agraciados por um medico especialista<br />
cujo nome era Itamar Pucci. Esse homem foi usado por <strong>Deus</strong> para fazer<br />
outra cirurgia a fim <strong>de</strong> neutralizar o foco daquele câncer. Entretanto,<br />
<strong>Deus</strong> não se esqueceu <strong>de</strong> meu pai e, <strong>de</strong> um modo especial, tratou <strong>de</strong><br />
sua alma amargurada pela doença, provendo suas necessida<strong>de</strong>s. Foi
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
necessário muito tempo e cuidados médicos para a sua recuperação.<br />
À época, a comunicação era difícil. Os recursos financeiros das igrejas<br />
eram poucos e, por mais <strong>de</strong> um ano não recebemos sequer um centavo.<br />
Estávamos a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> favor <strong>de</strong> meus avós, que tinham poucos recursos,<br />
mas ce<strong>de</strong>ram a casa on<strong>de</strong> moravam para que ficássemos durante<br />
o tratamento <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do meu pai.<br />
Sem escola para os filhos, sem sustento material, passamos a viver<br />
<strong>de</strong> milagres. Eu, 12 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>scobri que podia pegar serragem<br />
das ma<strong>de</strong>ireiras e ven<strong>de</strong>r nas casas que tinham fogo a lenha. Colocava<br />
essa serragem <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira em sacos e num carrinho <strong>de</strong> mão, saía pelas<br />
ruas a ven<strong>de</strong>r a serragem nas casas da cida<strong>de</strong>. Com o pouco dinheiro<br />
que angariava num dia, comprávamos a cada dia, pães, margarina, um<br />
pouco <strong>de</strong> café. Mas tivemos dias em que nada havia para comer. Meu<br />
pai acamado; minha mãe a chorar; eu e meus irmãos menores sem saber<br />
o que fazer. Mas o <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> toda provisão começou a operar milagres.<br />
De vez em quando, encontrávamos um envelope sem remetente com<br />
dinheiro colocado por baixo da porta da frente <strong>de</strong> nossa casa. Certo<br />
dia, meu pai <strong>de</strong>sesperou-se com a situação e começou a chorar e dizer a<br />
<strong>Deus</strong>: “Por que, Senhor, tenho que ver minha família passar necessida<strong>de</strong>s?”<br />
Meu pai estava a viver um momento <strong>de</strong> crise existencial! Desejou<br />
morrer por algumas vezes, mas o <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> toda provisão nunca <strong>de</strong>ixou<br />
<strong>de</strong> olhar para nós. Por algumas semanas seguidas, o milagre acontecia<br />
quando um servo <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, tocado pelo Espírito Santo, colocava o<br />
envelope anónimo <strong>de</strong>baixo da porta, sempre com uma mensagem <strong>de</strong><br />
conforto. Alguns anos <strong>de</strong>pois, <strong>de</strong>scobrimos a pessoa que nos abençoava<br />
a cada semana. Não <strong>de</strong>morou muito, meu pai recuperou sua saú<strong>de</strong> e<br />
ainda pastoreou por muitos anos.<br />
Não há crise em que <strong>Deus</strong> não possa interferir e mudar a situação!<br />
Ele é o <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> toda provisão.<br />
5
Capítulo 1<br />
0 DEUS DE TODA PROVISÃO<br />
Ora, sem fé é impossível agradar-lhe, porque é necessário<br />
que aquele que se aproxima <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> creia que ele existe e que<br />
égalardoador dos que o buscam.<br />
— Hebreus 11.6<br />
O melhor modo <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> é conhecê-lo pela<br />
sua natureza, quando se discute, não o que <strong>Deus</strong> po<strong>de</strong> ser, mas sim o<br />
que Ele é. A mente humana enten<strong>de</strong> e <strong>de</strong>fine o que po<strong>de</strong> ser avaliado<br />
pelas limitações do pensamento humano. Então, é evi<strong>de</strong>nte que a mente<br />
humana e finita nunca po<strong>de</strong>rá conceber <strong>de</strong> forma a<strong>de</strong>quada a <strong>Deus</strong> e à<br />
natureza da sua existência. N o Novo Testamento, <strong>de</strong>clara-se e fala-se<br />
<strong>de</strong> <strong>Deus</strong> como “aquele que tem, ele só, a imortalida<strong>de</strong> e habita na luz<br />
inacessível; a quem nenhum dos homens viu nem po<strong>de</strong> ver; ao qual seja<br />
a honra e po<strong>de</strong>r sempiterno. Amém!” (1 Tm 6.16).<br />
No Catecismo <strong>de</strong> Westminster, a <strong>de</strong>finição do texto apresenta a <strong>Deus</strong><br />
como “um Espírito infinito, eternal, imutável em seu ser, po<strong>de</strong>r, santida<strong>de</strong>,<br />
justiça, bonda<strong>de</strong> e verda<strong>de</strong>”. A natureza <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> tem sido revelada <strong>de</strong> maneira<br />
progressiva e, um dos modos <strong>de</strong>ssa revelação é através <strong>de</strong> títulos e nomes<br />
divinos. Os nomes <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> nas Escrituras revelam e <strong>de</strong>screvem o seu caráter.<br />
Além da revelação <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> pelos seus nomes e títulos, <strong>Deus</strong> se revela através<br />
<strong>de</strong> atributos que lhe são próprios, isto é, qualida<strong>de</strong>s que pertencem apenas<br />
ao <strong>Deus</strong> Trino, como eternida<strong>de</strong>, imutabilida<strong>de</strong>, onipotência, onisciência,<br />
onipresença. Existem outros atributos divinos que são comunicáveis, ou<br />
seja, Ele compartilha com suas criaturas racionais, anjos e homens.
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
Neste capítulo queremos <strong>de</strong>stacar que <strong>Deus</strong> é o Soberano absoluto<br />
que age livremente na história conforme está revelado no Antigo e<br />
no Novo Testamento. Um dos atributos divinos é a <strong>de</strong>monstração da<br />
soberania <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> operando em um mundo que está em crise.<br />
Nos vários capítulos a seguir, <strong>de</strong>stacaremos alguns homens e mulheres<br />
que enfrentaram crises físicas, materiais, morais e espirituais, os quais<br />
foram alcançados pela providência divina, interferindo em situações e<br />
transformando-as em vitórias espirituais. A palavra crise será tratada<br />
em experiências vividas por pessoas que a superaram com a ajuda do<br />
<strong>Deus</strong> da provisão. Portanto, a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong>ssa palavra começa pelo seu<br />
significado original do latim krisis, que po<strong>de</strong> significar “o agravamento<br />
<strong>de</strong> uma doença grave emocional ou mental; figurativamente, po<strong>de</strong> ser a<br />
manifestação repentina <strong>de</strong> um sentimento <strong>de</strong>sagradável, ou po<strong>de</strong> atribuir-se<br />
a um estado <strong>de</strong> incerteza, vacilação, <strong>de</strong>clínio moral e espiritual”.<br />
O mundo está em crise, e para essa situação há um <strong>Deus</strong> que age<br />
po<strong>de</strong>rosamente para <strong>de</strong>tê-la ou para amenizá-la, mediante sua infinita<br />
justiça e misericórdia. Entretanto, para que entendamos os resultados<br />
da intervenção divina, precisamos i<strong>de</strong>ntificar o <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> toda provisão.<br />
Precisamos, <strong>de</strong> fato, saber quem é Ele e como age no nosso mundo.<br />
QUEM É ESSE DEUS<br />
Se quisermos conhecer a <strong>Deus</strong>, antes <strong>de</strong> tudo, Ele se revela a nós. O<br />
apóstolo Paulo <strong>de</strong>clara que para conhecer a <strong>Deus</strong> não temos que fazer<br />
qualquer coisa excepcional, porque Ele mesmo se manifesta a nós. O<br />
texto <strong>de</strong> Romanos 1.19 diz que “porquanto o que <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> se po<strong>de</strong> conhecer<br />
neles se manifesta, porque <strong>Deus</strong> lho manifestou”. Subten<strong>de</strong>-se,<br />
então, que <strong>Deus</strong> se faz conhecer pela <strong>de</strong>monstração dos seus atributos<br />
na natureza humana mediante a capacida<strong>de</strong> racional e pela lei moral<br />
que rege a vida do homem (Rm 1.20,21,28,32). Portanto, Ele se torna<br />
conhecido pela qualida<strong>de</strong> própria a qual <strong>de</strong>nominamos cognoscibilida<strong>de</strong>.<br />
Ele É o <strong>Deus</strong> Cognoscível<br />
Em síntese, <strong>Deus</strong> se revela, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
precisar se revelar. Ele se revela para cumprir o <strong>de</strong>sígnio da criação do<br />
homem numa relação pessoal. Dos atributos naturais, <strong>Deus</strong> é aquEle<br />
7
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
que “ [não] é servido por mãos <strong>de</strong> homens, como que necessitando <strong>de</strong><br />
alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, a respiração e<br />
todas as coisas” (At 17.25). Ele existe por si mesmo e não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
fonte alguma para existir. A palavra cognoscível significa “aquilo ou<br />
aquele que po<strong>de</strong> ser conhecido”. Po<strong>de</strong>mos conhecê-lo como aquEle que<br />
é Espírito e Pessoa, e nos trata como pessoas. No seu livro dos Atos dos<br />
Apóstolos, Lucas registra as palavras da mensagem <strong>de</strong> Paulo em Atenas,<br />
perante os sábios e filósofos do Areópago, quando disse:<br />
Nem tampouco é servido por mãos <strong>de</strong> homens, como que necessitando<br />
<strong>de</strong> alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida,<br />
a respiração e todas as coisas; e <strong>de</strong> um só fez toda a geração dos<br />
homens p ara habitar sobre a face <strong>de</strong> toda a terra, <strong>de</strong>terminando<br />
os tempos j á dantes or<strong>de</strong>nados e os limites da sua habitação, para<br />
que buscassem ao Senhor, se, porventura, tateando, o pu<strong>de</strong>ssem<br />
achar, ainda que não está longe <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong> nós. (At 17.25-27)<br />
Quando Ele se revela aos homens, o faz mediante a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong><br />
nomes e títulos que o <strong>de</strong>monstram como Ser Pessoal. Visto que nunca<br />
foi visto por ninguém (Jo 1.18), Ele é o <strong>Deus</strong> que se oculta, conforme<br />
está escrito em Isaías 45.15, que diz: “Verda<strong>de</strong>iramente, tu és o <strong>Deus</strong><br />
que te ocultas, o <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> Israel, o Salvador”. O que é que <strong>Deus</strong> oculta<br />
<strong>de</strong> nós? Ele é um <strong>Deus</strong> misterioso, e as circunstâncias do momento que<br />
Isaías, o profeta, e o próprio povo <strong>de</strong> Israel estavam vivendo escondiam<br />
os propósitos divinos para com seu povo. Ele só revelaria posteriormente,<br />
para que Israel apren<strong>de</strong>sse a reconhecer a soberania <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Em<br />
outras circunstâncias, Ele é, também, o <strong>Deus</strong> que se revela e se torna<br />
cognoscível quando quer. Agar, a serva <strong>de</strong> Sara, quando <strong>de</strong>spedida da<br />
casa <strong>de</strong> sua senhora, tomou o caminho do <strong>de</strong>serto <strong>de</strong> Berseba e, nesse<br />
<strong>de</strong>serto, em sua necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água, <strong>Deus</strong> lhe abriu uma fonte para<br />
saciar a sua se<strong>de</strong> e a <strong>de</strong> Ismael. Mediante o milagre, Agar <strong>de</strong>clarou: “Tu<br />
és o <strong>Deus</strong> que vê” (Gn 16.13, ARA). Ele quer que o conheçamos, não<br />
meramente por uma aparição materializada, mas como o <strong>Deus</strong> que é<br />
Espírito e Verda<strong>de</strong>. Portanto, <strong>Deus</strong> não mudou seus propósitos para<br />
conosco e, quando necessário, Ele se manifesta a nós <strong>de</strong> modo maravilhoso.<br />
Nas várias experiências <strong>de</strong> homens e mulheres mencionadas na<br />
Bíblia, o testemunho acerca das manifestações <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> é incontestável.<br />
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0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
Ele É o <strong>Deus</strong> que se Revela por vários Modos<br />
Quem é <strong>Deus</strong>? Como ele se i<strong>de</strong>ntifica em sua revelação? O que as<br />
Escrituras <strong>de</strong>claram acerca dEle? Três coisas revelam <strong>Deus</strong> como um<br />
<strong>Deus</strong> Vivo, como Ser Pessoal e como Espírito.<br />
O primeiro elemento que i<strong>de</strong>ntifica <strong>Deus</strong> é o fato <strong>de</strong> que Ele é um <strong>Deus</strong><br />
Vivo. Vários textos bíblicos <strong>de</strong>claram essa verda<strong>de</strong>. Depois que <strong>Deus</strong><br />
escreveu as suas leis em tábuas <strong>de</strong> pedras, do alto do monte e do meio<br />
do fogo, Ele falou com Israel. Moisés falou ao povo <strong>de</strong> Israel que o<br />
<strong>Deus</strong> Vivente falou do meio do fogo (Dt 5.22-27). O testemunho da<br />
história do povo <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> está registrado que <strong>Deus</strong> se revelou ao povo,<br />
aos profetas e lí<strong>de</strong>res do povo <strong>de</strong> Israel como o <strong>Deus</strong> Eterno, Invisível,<br />
Po<strong>de</strong>roso e Vivo utilizando situações, circunstâncias históricas e <strong>de</strong>monstrações<br />
pessoais por meio <strong>de</strong> títulos, nomes que o i<strong>de</strong>ntificavam<br />
como Alguém que é Pessoa e Espírito. Quando o Espírito Santo revelou<br />
a Pedro quem era Jesus, Pedro confessou e disse: “Tu és o Cristo, o<br />
Filho do <strong>Deus</strong> Vivo” (Mt 16.16). O monte Sião, on<strong>de</strong> está Jerusalém, é<br />
chamado “a cida<strong>de</strong> do <strong>Deus</strong> Vivo” (Hb 12.22). O <strong>Deus</strong> vivo é aquEle<br />
que se opõe a toda idolatria, por isso, qualquer imagem esculpida é<br />
abominação para <strong>Deus</strong>. Cultuar um ídolo significa cultuar um objeto<br />
morto, mas Ele é o <strong>Deus</strong> verda<strong>de</strong>iro e Vivo, e Jeremias <strong>de</strong>clarou que “o<br />
Senhor é o <strong>Deus</strong> verda<strong>de</strong>iro; ele é o <strong>Deus</strong> vivo; o rei eterno” (Jr 10.10,<br />
NVI). Se Ele é o <strong>Deus</strong> vivo, significa que possui vida em si mesmo, e<br />
sua vida não veio <strong>de</strong> outra fonte. Como o <strong>Deus</strong> Vivo, Ele se manifesta<br />
a nós como um rio <strong>de</strong> águas vivas que a todos produz força, energia,<br />
refrigério, purificação. Com o ser pessoal, <strong>Deus</strong> se manifesta contra<br />
toda i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> panteísmo que o torna algo impessoal.<br />
Ele É <strong>Deus</strong> Pessoal<br />
Ao <strong>de</strong>finir personalida<strong>de</strong>, sabemos que a mesma é a soma <strong>de</strong> suas<br />
proprieda<strong>de</strong>s e qualida<strong>de</strong>s que caracterizam a existência pessoal <strong>de</strong> alguém.<br />
Quando atribuímos personalida<strong>de</strong> a <strong>Deus</strong>, estamos falando <strong>de</strong> algo que<br />
é intrínseco à sua natureza como onipotente e onisciente. Nada po<strong>de</strong> ser<br />
comparado à personalida<strong>de</strong> dos anjos e dos homens que são limitados.<br />
Os textos bíblicos que atribuem à pessoa <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> qualida<strong>de</strong>s que nós,<br />
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0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
seres humanos temos, revelam apenas que <strong>Deus</strong> existe por si mesmo,<br />
sem <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> outro ser. Acima <strong>de</strong> tudo, revelam a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
conhecimento <strong>de</strong>sse <strong>Deus</strong>. Portanto, Ele se revela como Pessoa, e essa<br />
qualida<strong>de</strong> faz parte da essência do seu Ser. Ele não foi criado por nada<br />
e ninguém. Sempre existiu como o <strong>Deus</strong> Eterno, Pessoal, que se faz<br />
conhecido no seu relacionamento com o homem mediante seus nomes<br />
e títulos. Como Ser Pessoal, <strong>Deus</strong> se manifesta contra toda i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />
panteísmo que o torna algo impessoal. Ele se faz conhecer por nomes<br />
pessoais, porque <strong>Deus</strong> mantém relações pessoais com a criatura humana.<br />
Existem alguns antropomorfismos que ocorrem nas Escrituras em<br />
que Ele toma forma humana para se revelar aos homens. Ele ri, chora,<br />
pensa e <strong>de</strong>seja como os homens. Isso não quer dizer que <strong>Deus</strong> tenha<br />
caraterísticas físicas, mas significa que, mesmo sendo Espírito, Ele não<br />
é algo amorfo. O antropomorfismo revela a existência singular <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>.<br />
O modo <strong>de</strong> Ele se manifestar com traços físicos, algumas vezes, <strong>de</strong>vemos<br />
enten<strong>de</strong>r como expressões vivas pelas quais <strong>Deus</strong> se revela como Ser<br />
Pessoal. Entretanto, um dos modos pelo qual <strong>Deus</strong> revela sua natureza<br />
é por meio <strong>de</strong> nomes e títulos. Esses nomes e títulos comunicam em<br />
graus variados o conhecimento da natureza divina e revelam os mistérios<br />
inescrutáveis que envolvem a sua existência eterna.<br />
NOMES E TÍTULOS PELOS QUAIS DEUS SE FAZ CONHECIDO<br />
Uma das i<strong>de</strong>ntificações mais extraordinárias da Bíblia acerca do<br />
nome <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, o Adonai <strong>de</strong> Israel, é quando Ele fala com Moisés no<br />
alto do monte Horebe. Moisés, então pergunta a <strong>Deus</strong>: “Qual é o<br />
seu nome? Que lhes direi? E disse <strong>Deus</strong> a Moisés: EU SO U O Q U E<br />
SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos <strong>de</strong> Israel: EU SO U me enviou<br />
a vós” (Êx 3.13,14). A i<strong>de</strong>ntificação neutra que <strong>Deus</strong> fez a Moisés do<br />
seu nome não anula a sua realida<strong>de</strong>, mas revela o que Ele faz e po<strong>de</strong><br />
fazer pelo seu povo. O nome <strong>de</strong> uma pessoa diz quem ela é; revela seu<br />
caráter, seu jeito <strong>de</strong> ser, sua etnia, raça, cor e estética. Por isso, em relação<br />
à Divinda<strong>de</strong>, a palavra “<strong>de</strong>us” é neutra, porque, na linguagem do<br />
Antigo Testamento, o <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> Israel se revela como Alguém Pessoal,<br />
mas se i<strong>de</strong>ntifica por características <strong>de</strong> suas obras. <strong>Deus</strong>, o nosso <strong>Deus</strong>,<br />
não é uma coisa inerte; não é mera figura <strong>de</strong> retórica; não é um po<strong>de</strong>r,<br />
10
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
um fogo, um símbolo. Ele é o Criador do universo, e os vários nomes<br />
e títulos atribuídos a Ele revelam a sua realida<strong>de</strong>.<br />
A Importância dos seus Nomes e Títulos<br />
É importante enten<strong>de</strong>r que nada po<strong>de</strong> revelar a <strong>Deus</strong>, senão o fato<br />
<strong>de</strong> que Ele só po<strong>de</strong> ser conhecido por meio da revelação que Ele faz <strong>de</strong><br />
si mesmo. Nas Escrituras, o nome <strong>de</strong> uma pessoa expressa a natureza<br />
do seu portador. No mundo das criaturas humanas, os pais escolhem<br />
os nomes para seus filhos, e, geralmente, são nomes que expressam a<br />
cultura dos pais. Notamos que os nomes dados aos filhos <strong>de</strong> pais israelitas<br />
eram nomes que expressavam a crença em <strong>Deus</strong> e às ativida<strong>de</strong>s<br />
culturais influentes da época. Em relação a <strong>Deus</strong>, o nome atribuído a<br />
Ele tinha por objetivo distingui-lo dos <strong>de</strong>mais <strong>de</strong>uses. A varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
nomes e títulos para i<strong>de</strong>ntificar a <strong>Deus</strong> não o torna um <strong>Deus</strong> plural.<br />
Pelo contrário, seus muitos nomes atribuídos referem-se às ativida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> <strong>Deus</strong> no mundo dos homens. Uma vez que Ele não se apresenta<br />
por um nome específico, os vários nomes atribuídos a Ele são modos<br />
distintos <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificá-lo com as suas obras feitas. O Manual da Igreja<br />
do Nazareno expressa sua crença assim: “Cremos em um só <strong>Deus</strong> eternamente<br />
existente e infinito, Soberano do universo. Que Ele só é <strong>Deus</strong>,<br />
Criador e Administrador santo em natureza, atributos e propósitos.<br />
Que Ele, como <strong>Deus</strong>, é trino em seu ser essencial, revelado como Pai,<br />
Filho e Espírito Santo”.<br />
I<strong>de</strong>ntificando os vários Nomes e Títulos <strong>de</strong> <strong>Deus</strong><br />
Quem É, portanto, o <strong>Deus</strong> da Bíblia? Po<strong>de</strong>mos iniciar o entendimento<br />
sobre o <strong>Deus</strong> da Bíblia por alguns nomes especiais que <strong>de</strong>screvem o seu<br />
caráter e que estão inseridos na história do povo <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>.<br />
Elohim . O principal nome na vida religiosa <strong>de</strong> Israel. Na escritura<br />
<strong>de</strong> Génesis 1.1 e <strong>de</strong> Salmos 68.1, aparece Elohim com o sentido especial<br />
<strong>de</strong> Todo-Po<strong>de</strong>roso, em cujo nome consiste a plenitu<strong>de</strong> da <strong>de</strong>ida<strong>de</strong>, o<br />
qual, por ter um sentido plural, revela a pluralida<strong>de</strong> divina composta<br />
no único <strong>Deus</strong> verda<strong>de</strong>iro. É um nome que aparece por mais <strong>de</strong> três<br />
11
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
mil vezes no Antigo Testamento. É, <strong>de</strong> fato, o nome proeminente <strong>de</strong><br />
<strong>Deus</strong>, pelo qual Ele se revelou a si mesmo. Num sentido gramatical,<br />
Elohim é um termo genérico e plural que é similar a Eloah. Eloah é um<br />
nome utilizado para significar <strong>de</strong>uses ou <strong>de</strong>usas das nações vizinhas<br />
a Israel. O sentido que Israel dava a esse nome, Eloah, era <strong>de</strong> que o<br />
<strong>Deus</strong> <strong>de</strong> Israel era o Único <strong>Deus</strong> verda<strong>de</strong>iro e representava a soma e a<br />
totalida<strong>de</strong> da divinda<strong>de</strong> inerente a Ele. É um nome que expressa a plenitu<strong>de</strong><br />
e a glória dos po<strong>de</strong>res divinos, mas revela, também, a existência<br />
da trinda<strong>de</strong> divina, como o único <strong>Deus</strong> em três Pessoas distintas. Na<br />
escritura <strong>de</strong> Génesis 1.26, ao criar o homem, <strong>Deus</strong> disse: Façamos o<br />
homem”. A forma verbal “façamos” e o pronome “nossa” aparecem no<br />
plural, como está escrito: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme<br />
a nossa semelhança”. Portanto, Elohim criou o ser humano. O seu<br />
nome Elohim é <strong>de</strong>rivado do prefixo “El”. Desse prefixo, “EI”, po<strong>de</strong>mos<br />
formar vários títulos atribuídos aos po<strong>de</strong>res do <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> toda provisão,<br />
os quais trataremos neste capítulo.<br />
Os escritores dos livros da Bíblia tinham a noção exata da existência <strong>de</strong><br />
<strong>Deus</strong> e evitavam citar o nome <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Por isso, o tetragrama YHW H so<br />
tinha letras consoantes para escon<strong>de</strong>r o verda<strong>de</strong>iro nome <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Israel<br />
foi orientado sempre a falar do <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> Israel como Adonai.<br />
A don ai. O nome mais utilizado na Bíblia Hebraica é Adonai. Um<br />
nome que revela o senhorio <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> e tem um sentido <strong>de</strong> soberania.<br />
Na Bíblia Hebraica, em seu glossário <strong>de</strong> palavras explicadas, o termo<br />
Adonai literalmente significa “meu Senhor” e <strong>de</strong>signa <strong>Deus</strong> na linguagem<br />
hebraica. Adonai representa o tetragrama YH W H (Yahweh), que é o<br />
nome hebraico <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Esse nome é o mais significativo para Israel,<br />
transliterado e pronunciado como Javeh ou Jeová na forma portuguesa.<br />
N a época do pós-exílio <strong>de</strong> Israel em outras terras, os ju<strong>de</strong>us evitavam<br />
pronunciar o nome literal <strong>de</strong> Yahweh por enten<strong>de</strong>r que era um nome<br />
sagrado para ser temido por todos. Posteriormente, foram encontradas<br />
transliterações para o grego na literatura cristã. Portanto, esse nome é<br />
exatamente o único nome pessoal <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, porque pertence só a Ele.<br />
Quando Ele se revelou a Moisés no Monte Horebe (Êx 3.14), Ele se<br />
i<strong>de</strong>ntificou como “EU SO U O Q U E SO U ”. Essa frase no hebraico é<br />
“ehyeh Asher Ehyeh”, traduzido por “Eu sou / serei o que Sou / serei”.<br />
Quando Moisés perguntou a <strong>Deus</strong> em nome <strong>de</strong> quem ele falaria ao<br />
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0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
povo, o Senhor lhe disse: “Assim dirás aos filhos <strong>de</strong> Israel: EU SO U me<br />
enviou a vós” (Ex 3.14). Desse modo o Senhor revelou a Moisés o sentido<br />
mais íntimo do seu nome. Essa i<strong>de</strong>ntificação divina tem a ver com o<br />
temor e a reverência dos ju<strong>de</strong>us em usar o nome <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> em vão. Por<br />
isso, eles adotaram o nome genérico “EI” e acrescentavam nomes que<br />
i<strong>de</strong>ntificassem o <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> Israel — aquEle que é po<strong>de</strong>roso (Gn 33.20).<br />
Os Nomes Compostos com EI<br />
Os ju<strong>de</strong>us criaram e formaram nomes compostos com o prefixo EI<br />
que expressam as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> nas várias situações históricas,<br />
enfatizam a natureza <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> e o seu relacionamento com o seu povo.<br />
São nomes que revelam não apenas o Ser da Divinda<strong>de</strong>, mas as suas<br />
obras, o seu caráter, o seu agir no universo criado por Ele.<br />
E IS h a d d a i (Gn 17.1) revela um <strong>Deus</strong> Todo-Po<strong>de</strong>roso, onipotente,<br />
que tem a capacida<strong>de</strong> em abençoar ou castigar conforme a situação<br />
requer (Gn 48.3,4; 49.24). Shaddai é um nome que <strong>de</strong>riva <strong>de</strong> shadu e<br />
significa “montanha”.<br />
E l E lyon , ' “<strong>Deus</strong> Altíssimo”. Esse nome é uma <strong>de</strong>signação para<br />
Adonai em Números 24.16. No último cântico <strong>de</strong> Moisés antes <strong>de</strong> sua<br />
morte, ele se refere a <strong>Deus</strong>, “o Altíssimo” (Dt 32.8). Esse nome fala da<br />
sua natureza exaltada acima <strong>de</strong> tudo e <strong>de</strong> todos.<br />
E l O lam , “<strong>Deus</strong>, o Eterno” ou “o <strong>Deus</strong> da eternida<strong>de</strong>”. Esse nome<br />
foi <strong>de</strong>clarado por Abraão, que o invocou em Berseba como “o <strong>Deus</strong><br />
Eterno (Gn 21.33; SI 90.2). E l Olam aparece <strong>de</strong> forma figurada como<br />
“Attiq Yomin”, isto é, “o ancião <strong>de</strong> dias” das revelações <strong>de</strong> Daniel, o<br />
qual aparece como aquEle que julga e domina sobre todos os impérios<br />
do mundo ( Dn 7.9,13,22).<br />
Outras Composições com Yahweh (Jeová)<br />
Outros títulos formam a combinação com Yahweh, i<strong>de</strong>ntificado<br />
em nossa língua como Jeová. Quando <strong>Deus</strong> se manifestou a Moisés<br />
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0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
como o “Eu sou o que sou” (Êx 3.14), logo em seguida i<strong>de</strong>ntificou-se a<br />
Moisés como o <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> Abraão, Isaque e Jacó, e que seria conhecido<br />
como YH W H , isto é, uma expressão hebraica <strong>de</strong> quatro consoantes<br />
para escon<strong>de</strong>r o seu verda<strong>de</strong>iro nome. Esse nome, YH W H , não podia<br />
ser citado levianamente. Por isso, os ju<strong>de</strong>us, com temor e tremor,<br />
passaram a substituir esse tetragrama por uma forma transliterada<br />
para o português por Yahweh, o mesmo que “Jeová”. O sentido real e<br />
gramatical <strong>de</strong> Jeová é “aquele que continuamente causa a existência <strong>de</strong><br />
todas as coisas”. O texto do profeta Miqueias 4.5 fortalece essa i<strong>de</strong>ia<br />
quando diz: “Porque todos os povos andarão, cada um em nome do<br />
seu <strong>de</strong>us; mas nós andaremos no nome do Senhor [YaHWeH], nosso<br />
<strong>Deus</strong>, eternamente e para sempre”.<br />
Jeová-Jireh, “O Senhor proverá” (Gn 22.13,14). Nesse nome, Jeová<br />
se manifestou a Abraão como aquEle que provê todas as necessida<strong>de</strong>s<br />
dos seus servos. Isso aconteceu quando Abraão estava preparando-se para<br />
oferecer seu filho Isaque em sacrifício sobre um altar <strong>de</strong> pedras, conforme<br />
o pedido <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. <strong>Deus</strong> o provou e viu sua fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> e obediência;<br />
então, interferiu naquele sacrifício impedindo que Abraão matasse seu<br />
filho, propiciando-lhe um cor<strong>de</strong>iro para ser sacrificado. Um tipo perfeito<br />
do sacrifício <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> seu Filho amado Jesus pelos pecados do mundo.<br />
Ele foi o cor<strong>de</strong>iro mudo levado ao matadouro (Is 53.7; 1 Pe 2.24,25).<br />
Jeo v á-N issi, “O Senhor é nossa ban<strong>de</strong>ira” (Êx 17.15). Foi o nome<br />
que Moisés <strong>de</strong>u ao altar <strong>de</strong> pedras para comemorar a vitória <strong>de</strong> Israel<br />
sobre os amalequitas. Nas nossas batalhas espirituais contra as potesta<strong>de</strong>s<br />
do Diabo, o Senhor é a nossa ban<strong>de</strong>ira que faz fronteira com o terreno<br />
inimigo (E f 6.10-17).<br />
Jeová-R oph ek a ou R aph ah , “O Senhor que cura” ou “que sara”<br />
(Êx 15.26). A cura divina está diretamente ligada a esse nome, e Jesus<br />
foi a manifestação encarnada <strong>de</strong> “Jeová-Raphah no Novo Testamento<br />
(Is 53.4,5).<br />
Jeová-Sh alom , “O Senhor é nossa paz” (Jz 6.24). Quando vivia sob<br />
a li<strong>de</strong>rança dos juízes, o povo <strong>de</strong> Israel enfrentou tempos turbulentos<br />
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0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
<strong>de</strong> opressão e pobreza provocada pelos povos vizinhos. Mas <strong>Deus</strong> não<br />
havia abandonado o seu povo: Ele levantou alguns homens e mulheres<br />
especiais, entre os quais, Gi<strong>de</strong>ão, para o qual apareceu numa teofania<br />
especial como “o Anjo do Senhor”. Gi<strong>de</strong>ão ficou tão maravilhado com<br />
a presença do Senhor que lhe fez um altar e o Senhor se i<strong>de</strong>ntificou a<br />
ele como “o Senhor É Paz” (Jz 6.24), isto é, “Jeova-Shalom”.<br />
Jeo v á-Sab ao th , “O Senhor dos Exércitos” (1 Sm 1.3). Os teólogos<br />
<strong>de</strong>claram que Jeová-Sabaoth é o título celestial <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, e esse título<br />
aparece pela primeira vez em 1 Samuel 1.3, quando Ana e seu marido<br />
foram ao templo <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> para adorar e sacrificar ao Senhor dos Exércitos.<br />
Posteriormente, esse título <strong>de</strong> “Senhor dos Exércitos” foi usado<br />
por Davi, ainda jovem, quando foi enfrentar o gigante Golias. Davi<br />
respon<strong>de</strong>u ao <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> Golias, dizendo: “Tu vens a mim com espada,<br />
e com lança, e com escudo; porém eu vou a ti em nome do Senhor dos<br />
Exércitos, o <strong>Deus</strong> dos exércitos <strong>de</strong> Israel, a quem tens afrontado” (1 Sm<br />
17.45). É o Senhor po<strong>de</strong>roso na guerra (SI 24.8,10), e fala, também, dos<br />
seus anjos como um exército celestial que opera em <strong>de</strong>fesa do Reino <strong>de</strong><br />
<strong>Deus</strong> (SI 89.5-8; 148.2).<br />
Jeová-Sham m ah, “O Senhor está presente” — O <strong>Deus</strong> Onipresente<br />
(Ez 48.35). Dos atributos pertinentes somente a <strong>Deus</strong>, a onipresença<br />
indica que Ele está presente em todo o universo e para todas as pessoas.<br />
Não po<strong>de</strong>mos imaginar <strong>Deus</strong> espacialmente disperso pelo universo,<br />
porque Ele está por completo em toda parte. Ele está total e igualmente<br />
presente em todos os lugares. O apóstolo Paulo, em uma das suas pregações<br />
inspiradas em Atenas, disse: “Porque nele vivemos, e nos movemos,<br />
e existimos” (At 17.28). A escritura <strong>de</strong> Salmos 139.7-12 <strong>de</strong>monstra <strong>de</strong><br />
modo vivo a onipresença <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> na vida humana.<br />
Jeová-M eqad<strong>de</strong>sh, “O Senhor que santifica” (Êx 31.13). A santida<strong>de</strong><br />
é o caráter e a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> revelada pelo seu nome. <strong>Deus</strong> se revela<br />
a nós, dizendo: “Porque eu sou o Senhor, vosso <strong>Deus</strong>; portanto, vós<br />
vos santificareis e sereis santos, porque eu sou santo” (Lv 11.44). <strong>Deus</strong><br />
se revela como Santo , no hebraico q a’dosh, e esse título significa a<br />
separação <strong>de</strong> tudo o que for corriqueiro ou profano. A expressão “Santo<br />
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0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
<strong>de</strong> Israel” aparece no hebraico como qadosh Yisrael. Joáo viu na revelação<br />
do Apocalipse os quatro seres viventes que “não <strong>de</strong>scansam nem<br />
<strong>de</strong> dia nem <strong>de</strong> noite, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor <strong>Deus</strong>,<br />
o Todo-po<strong>de</strong>roso, que era, e que é, e que há <strong>de</strong> vir” (Ap 4.8). O seu<br />
Espírito santifica a Igreja e a separa para o Senhor Jesus.<br />
Jeová-R oi, “Tu és <strong>Deus</strong> da vista” (Gn 16.13) ou “Tu és <strong>Deus</strong> que Vê”<br />
(ARA). Quando Agar foge <strong>de</strong> sua senhora Sara e vai para o <strong>de</strong>serto, o<br />
Anjo do Senhor a encontrou e aconselhou-a a voltar para a sua senhora,<br />
fazendo promessa quanto ao futuro do menino que ainda estava em<br />
seu ventre. Ela ficou tão emocionada com a visão do Anjo <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> que<br />
se referiu a <strong>Deus</strong> como “E l Roi”, o <strong>Deus</strong> da visão”. Ao poço <strong>de</strong> água<br />
naquele <strong>de</strong>serto ela <strong>de</strong>nominou “Beér-Lachai-Ro’í”, que significa “poço<br />
daquele que vive e vê”.<br />
Jeov á-R aah , “O Senhor é o meu pastor” (SI 23.1). A forma como<br />
o nome aparece no original hebraico é “Yaweh-Raah”, cujo sentido é<br />
“Javeh ou Jeová-Pastor”. Davi, o inspirado poeta <strong>de</strong> Israel, produziu uma<br />
das mais belas poesias, transformando-a em um maravilhoso cântico <strong>de</strong><br />
confiança em <strong>Deus</strong>. Esse nome envolve todos os aspectos do pastoreio <strong>de</strong><br />
ovelhas e cabras no Oriente Médio, aplicados à i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> guiar, alimentar,<br />
cuidar, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r, curar, corrigir. No Antigo Testamento, vários textos<br />
bíblicos apresentam a figura do Senhor como Pastor (cf. Gn 49.24). Na<br />
nova aliança, Jesus se tornou o nosso “Bom Pastor” como aquEle que<br />
dá a sua vida pelas suas ovelhas (Jo.10.11).<br />
Seus Nomes e Títulos Revelam sua Personalida<strong>de</strong><br />
Os nomes <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> apresentam na Bíblia Sagrada a revelação <strong>de</strong><br />
quem é <strong>Deus</strong> e do seu caráter. Precisamos enten<strong>de</strong>r que esses nomes e<br />
títulos atribuídos a <strong>Deus</strong> não são meras figuras <strong>de</strong> retórica, usadas para<br />
figuras mitológicas. Seus nomes e títulos são atribuídos à Pessoa Divina<br />
e trazem <strong>de</strong>scrições que Ele mesmo faz <strong>de</strong> si próprio. A varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
nomes e títulos não significa uma pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>uses, mas revela o<br />
modo como Ele se manifesta às suas criaturas e como age nessa relação.<br />
O que apren<strong>de</strong>mos com esses títulos e nomes é que <strong>Deus</strong> atua na sua<br />
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0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
perfeita plenitu<strong>de</strong> e manifesta a sua personalida<strong>de</strong>. Sua personalida<strong>de</strong><br />
é i<strong>de</strong>ntificada pelas características e proprieda<strong>de</strong>s que lhe são manifestadas<br />
em situações como: tristeza (Gn 6.6); indignação (1 Rs 11.9);<br />
zelo (Dt 6.15); amor (Ap 3.9). Na sua relação com o universo e com<br />
os homens, Ele se manifesta como o Criador <strong>de</strong> tudo (Gn 1.1), como<br />
preservador <strong>de</strong> tudo (Hb 1.3), como Benfeitor <strong>de</strong> todas as vidas (Mt<br />
10.29,30), como Dominador e Senhor nas ativida<strong>de</strong>s humanas (Rm<br />
8.28) e como Pai espiritual <strong>de</strong> todos aqueles que receberam a Cristo<br />
como Salvador e Senhor (G1 3.26).<br />
CARATERÍSTICAS DA CRISE DOS TEMPOS ATUAIS<br />
Para os tempos atuais, quando estamos envoltos em crises e conflitos<br />
sociais, materiais e espirituais, o <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> toda provisão po<strong>de</strong>ria interferir<br />
na história? Ora, se reconhecemos a existência <strong>de</strong>ssas crises, por que<br />
não i<strong>de</strong>ntificá-las para sabermos como agir e reagir em relação a elas?<br />
Teria a Bíblia a resposta para esses tempos difíceis?<br />
A I<strong>de</strong>ntificação Bíblica <strong>de</strong>ssa Crise<br />
O Senhor sempre está além do tempo que vivemos e só Ele sabe<br />
todas as coisas no presente e no futuro. Uma palavra apostólica e exortativa<br />
do apostolo Paulo para a igreja em Éfeso e, especialmente, para<br />
o jovem pastor Timóteo, traz à tona uma visão futura do mundo em<br />
que vivemos hoje, mas que já era sentida naqueles dias. Ele escreveu na<br />
sua segunda carta a Timoteo, apresentando-lhe uma profética realida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ssa crise moral e espiritual com estas palavras:<br />
Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos;<br />
porque haverá homens amantes <strong>de</strong> si mesmos, avarentos, presunçosos,<br />
soberbos, blasfemos, <strong>de</strong>sobedientes a pais e mães, ingratos, profanos,<br />
sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes,<br />
cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos,<br />
mais amigos dos <strong>de</strong>leites do que amigos <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, tendo aparência <strong>de</strong><br />
pieda<strong>de</strong>, mas negando a eficácia <strong>de</strong>la. Destes afasta-te. (2 Tm 3.1-5).
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
Nos dias primitivos da Igreja <strong>de</strong>pois do Pentecostes, no primeiro<br />
século da Era Cristã, a invasão <strong>de</strong> falsas doutrinas no seio das igrejas<br />
fundadas pelos apóstolos fez com que se produzisse uma crise <strong>de</strong> fé.<br />
Alguns comportamentos no seio da Igreja, tomando por exemplo a<br />
igreja em Éfeso, fingiam um cristianismo que não era aquele ensinado<br />
por Paulo. Por esse modo, fingiam ter uma fé cristã, mas viviam <strong>de</strong><br />
forma oposta ao evangelho, aparentando compromisso com a igreja,<br />
mas faziam da “fé fingida” instrumento para acobertar práticas que<br />
contradiziam a genuína fé cristã. De igual modo, percebemos que nos<br />
tempos atuais po<strong>de</strong>mos i<strong>de</strong>ntificar os mesmos elementos daquela época<br />
manifestados na vida da socieda<strong>de</strong> e que ameaçam a fé cristã.<br />
0 Antropocentrismo<br />
O antropocentrismo é ponto <strong>de</strong> partida para percebermos alguns<br />
sinais típicos que representam esse tempo do pós-mo<strong>de</strong>rnismo. Trata-se<br />
<strong>de</strong> uma filosofia que concentra tudo no homem. E uma filosofia que<br />
está viva e atuante, e <strong>de</strong>clara que “o homem é a medida <strong>de</strong> todas as<br />
coisas”. Essa filosofia humanista pressupõe o predomínio do homem<br />
sobre todas as coisas e o coloca no centro do universo. Tal presunção<br />
se constitui num flagrante contraste com a <strong>de</strong>claração bíblica <strong>de</strong> que<br />
todas as coisas foram criadas por <strong>Deus</strong>. E uma tentativa <strong>de</strong> roubar o<br />
lugar <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> no universo, no qual é o Criador e Senhor <strong>de</strong> todas as<br />
coisas (SI 73.25; 1 Co 10.31; 1 Pe 4.11).<br />
Paulo falou da invasão <strong>de</strong> vãs filosofias ativadas pelo Diabo para afastar<br />
o homem da comunhão e da <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> na sua vida. E uma<br />
filosofia que estimula o amor próprio in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, e Paulo escreveu<br />
a Timóteo acerca das pessoas que seriam “amantes <strong>de</strong> si mesmos” (2<br />
Tm 3.2), reproduzindo, sem dúvida, o retrato <strong>de</strong>sse humanismo sem<br />
<strong>Deus</strong>. Essa expressão se ajusta perfeitamente ao espírito <strong>de</strong>ste tempo<br />
pós-mo<strong>de</strong>rno, quando as pessoas agem com egoísmo exacerbado a ponto<br />
<strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>rarem pequenos <strong>de</strong>uses para impor a própria vonta<strong>de</strong> na<br />
realização das coisas humanas. E uma atitu<strong>de</strong> à semelhança <strong>de</strong> Satanás<br />
(Is 14.12-15), em que tentam usurpar para si o direito <strong>de</strong> soberania que<br />
pertence, única e exclusivamente a <strong>Deus</strong>, o Todo-Po<strong>de</strong>roso.<br />
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0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
O Individualismo É outra Característica do Egocentrismo<br />
Essa filosofia privilegia o egocentrismo, que faz do ser humano<br />
um refém <strong>de</strong> si mesmo, porque torna a sua individualida<strong>de</strong> um modo<br />
isolado <strong>de</strong> vida. A luz da Bíblia, sabemos que todo ser humano tem sua<br />
individualida<strong>de</strong> sem isolar ninguém da vida em comunida<strong>de</strong>. Antes <strong>de</strong><br />
tudo, é importante enfatizar que o homem foi criado, não para viver<br />
isoladamente, mas como ser social. A vida em comum com outras pessoas<br />
envolve interesses coletivos e que estabelece prestação <strong>de</strong> contas a<br />
<strong>Deus</strong>, bem a toda socieda<strong>de</strong>, das ações cotidianas. Em relação a <strong>Deus</strong>,<br />
todos nós iremos comparecer diante dEle para prestar conta dos nossos<br />
atos (1 Co 10.24; Fp 2.4; Rm 14.12).<br />
Há uma diferença entre a individualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada pessoa quando<br />
o ego tem a sua função positiva e equilibrada e o egoísmo que torna o<br />
“eu” o senhor <strong>de</strong> tudo na vida, ou seja, o centro, o fim <strong>de</strong> tudo, o topo<br />
<strong>de</strong> todas as coisas. Porém, quem conhece a Cristo e foi salvo por Ele<br />
submete o seu “eu” a Ele e diz como o apóstolo Paulo: “E vivo, não<br />
mais eu, mas Cristo vive em mim” (G1 2.20).<br />
0 Hedonismo É outro Braço do Egocentrismo<br />
È uma filosofia que se constitui numa doutrina, a doutrina do prazer,<br />
e faz do prazer individual e imediato o bem supremo da vida humana.<br />
Ê a supervalorização dos bens materiais e físicos que promovem o consumismo;<br />
a coisa mais importante da vida se torna o ter, comer, beber e<br />
folgar. Jesus, em sua vida terrena, via esse mal hedonista numa <strong>de</strong> suas<br />
parábolas proferidas no Sermão do Monte, acerca do rico insensato (Lc<br />
12.13-21). O vírus que Jesus <strong>de</strong>tectou naquele homem rico foi a avareza.<br />
Ele exortou então: “Acautelai-vos e guardai-vos da avareza, porque a vida<br />
<strong>de</strong> qualquer não consiste na abundância do que possui” (Lc 12.15). Mais<br />
à frente, Jesus, ilustrou as palavras <strong>de</strong>sse homem, quando falou: “e direi<br />
à minha alma: alma, tens em <strong>de</strong>pósito muitos bens, para muitos anos;<br />
<strong>de</strong>scansa, come, bebe e folga” (Lc 12.19). Era um homem avarento e um<br />
hedonista que só pensava em si mesmo. O prazer do crente é alimentado<br />
pelo fruto do Espírito; por isso, ele não pensa só em si, e a sua alegria<br />
preenche qualquer necessida<strong>de</strong> do seu eu que vive para Cristo.<br />
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0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
O Relativismo É uma Caraterística dos Tempos Pós-Mo<strong>de</strong>rnos<br />
Segundo a i<strong>de</strong>ia humanista, na falta <strong>de</strong> um padrão universal que<br />
organize a vida das pessoas e lhes dê a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> respeitar os valores<br />
absolutos morais, não haverá uniformida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensamento nem <strong>de</strong> ética.<br />
Entretanto, como cristãos, enten<strong>de</strong>mos que a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m moral e social<br />
no mundo contemporâneo é fruto da queda do homem ao pecado. A<br />
Bíblia é categórica quando diz: “[...] por um homem entrou o pecado no<br />
mundo, e pelo pecado, a morte” (Rm 5.12). Afinal, quando a socieda<strong>de</strong><br />
não consegue distinguir o certo e o errado, a tendência é relativizar<br />
todas as coisas. Na história <strong>de</strong> Israel, no tempo dos juízes, o povo <strong>de</strong><br />
<strong>Deus</strong> começou a confundir o seu <strong>Deus</strong>-Yahweh com os pequenos <strong>de</strong>uses<br />
chamados baalins e Astarote, figuras mitológicas dos povos pagãos<br />
(Jz 2.11; 3.7; 4.1). A falta <strong>de</strong> temor a <strong>Deus</strong> faz com que as pessoas da<br />
socieda<strong>de</strong> atual se tornem egoístas e incrédulas, a ponto <strong>de</strong> negarem os<br />
valores absolutos e passarem a relativizar todas as coisas da vida cotidiana.<br />
Mais triste ainda é perceber que no meio do povo <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> essa<br />
filosofia maldita está tendo espaço, para escon<strong>de</strong>r pecados cometidos<br />
e amenizar a consciência sobre comportamentos sociais negativos que<br />
ferem a Palavra <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>.<br />
A igreja <strong>de</strong> Cristo precisa restaurar seus valores, voltando-se para os<br />
princípios que regem o nosso comportamento, os quais são princípios<br />
perenes. Não são valores temporais que mudam com o tempo. A i<strong>de</strong>ia<br />
do relativismo anula completamente o lugar dos valores absolutos,<br />
píincipalmente os valores <strong>de</strong>monstrados e ensinados pela Palavra <strong>de</strong><br />
<strong>Deus</strong>. Dessa forma, os a<strong>de</strong>ptos <strong>de</strong>ssa filosofia vivem ao sabor <strong>de</strong> suas<br />
concupiscências (1 Jo 2.6).<br />
A RESPOSTA DO DEUS DE TODA PROVISÃO<br />
O evento que marcou a manifestação da provisão divina, especialmente<br />
<strong>de</strong>monstrado na Bíblia Sagrada, foi, sem dúvida, quando <strong>Deus</strong><br />
pediu a Abraão o seu filho, o filho da promessa, Isaque, em holocausto<br />
num dos montes <strong>de</strong> Moriá. Nos nomes <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> apresentados aparece<br />
Jeová-Jireh, que significa “O Senhor proverá” (Gn 22.2-8). Foi, indiscutivelmente,<br />
a maior crise vivida por Abraão até então. Foi uma crise<br />
20
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
<strong>de</strong> dúvida sobre tudo o que havia acontecido na sua vida até aquele<br />
momento. Uma angústia tomou conta do coração do velho Abraão.<br />
Racionalmente, Abraão não podia aceitar aquele pedido <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, porque<br />
sabia esse <strong>Deus</strong> jamais pediu algum sacrifício humano. Sacrifico humano<br />
era coisa <strong>de</strong> pagãos, e o seu <strong>Deus</strong> não faria nunca algo semelhante. Por<br />
outro lado, Abraão sabia que <strong>Deus</strong> o estava provando ao extremo para<br />
conhecer a sua fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> e amor ao Senhor, mais que ao próprio filho.<br />
<strong>Deus</strong> queria saber se Isaque era mais importante que o próprio <strong>Deus</strong>.<br />
Quantas vezes entramos em crise quando somos <strong>de</strong>safiados por <strong>Deus</strong><br />
acerca das coisas <strong>de</strong>sta vida das quais precisamos abrir mão — família,<br />
profissão, faculda<strong>de</strong>, negócios? Quando passamos por crises <strong>de</strong> doenças,<br />
dificulda<strong>de</strong>s financeiras, <strong>de</strong>sapontamentos com pessoas, não po<strong>de</strong>mos<br />
nos esquecer <strong>de</strong> que <strong>Deus</strong> é <strong>Deus</strong> acima das possessões da nossa vida.<br />
Quem é o Isaque <strong>de</strong> nossa vida que disputa com <strong>Deus</strong> o primeiro lugar?<br />
<strong>Deus</strong> conduziu Abraão ao máximo <strong>de</strong> sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suportar aquela<br />
prova, mas o patriarca passou na prova e foi abençoado por isso. O<br />
<strong>Deus</strong> <strong>de</strong> toda provisão não apenas lhe <strong>de</strong>u um cor<strong>de</strong>iro para sacrificar<br />
em holocausto, mas tornou a sua fé um exemplo.<br />
Descobrimos que os vários nomes e títulos atribuídos a <strong>Deus</strong> <strong>de</strong>monstram<br />
os vários modos <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> agir em nosso favor provendo a<br />
nossa completa provisão. Essa doutrina tem sua base na doutrina da<br />
providência <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, que nos mostra que Ele é soberano e que está<br />
no controle <strong>de</strong> todas as coisas. Os problemas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m física, os <strong>de</strong><br />
or<strong>de</strong>m material e, também, os problemas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m moral e espiritual<br />
estão no controle dEle. <strong>Deus</strong> provi<strong>de</strong>ncia os recursos <strong>de</strong> soluções e os<br />
torna provisões. Ele não se compraz no sofrimento <strong>de</strong> ninguém, mas<br />
permite, às vezes, que o sofrimento se transforme em bênçãos para a<br />
nossa vida. O Salmo 23 apresenta <strong>Deus</strong> como Jeová-Roi, “o Senhor é<br />
o meu pastor , como aquele que provê todas as nossas necessida<strong>de</strong>s. Ele<br />
é aquEle que satisfaz plenamente.<br />
Quando conhecemos a <strong>Deus</strong>, Ele se revela a nós na dimensão<br />
da nossa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aceitá-lo como aquEle<br />
cujo po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> sustentação é exaurível.<br />
21
Capítulo 2<br />
A PROVISÃO DE DEUS<br />
EM UM MUNDO EM CRISE<br />
E o mundo passa, e a sua concupiscência;<br />
mas aquele que fa z a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> permanece p ara sempre.<br />
- 1 João 2.17<br />
Quero começar este capítulo com o Salmo 46, inspirado por um dos<br />
filhos <strong>de</strong> Corá, que retrata o socorro nas crises existenciais quando somos<br />
ameaçados por perigos que não po<strong>de</strong>mos evitar.<br />
<strong>Deus</strong> é o nosso refugio e fortaleza, socorro bem presente na angústia.<br />
Pelo que não temeremos, ainda que a terra se mu<strong>de</strong>, e ainda que os<br />
montes se transportem p ara o meio dos mares. A inda que as águas<br />
rujam e se perturbem, ainda que os montes se abalem pela sua braveza.<br />
H á um rio cujas correntes alegram a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, o santuário das<br />
moradas do Altíssimo. <strong>Deus</strong> está no meio <strong>de</strong>la; não será abalada;<br />
<strong>Deus</strong> a ajudará ao romper da manhã. As nações se embraveceram;<br />
os reinos se moveram; ele levantou a sua voz e a terra se <strong>de</strong>rreteu. O<br />
Senhor dos Exércitos está conosco; o <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> Jacó é o nosso refugio.<br />
Vin<strong>de</strong>, contemplai as obras do Senhor; que <strong>de</strong>solações tem feito na<br />
terra! Ele fa z cessar as guerras até ao fim da terra; quebra o arco e<br />
corta a lança; queima os carros no fogo. Aquietai-vos e sabei que eu<br />
sou <strong>Deus</strong>; serei exaltado entre as nações; serei exaltado sobre a terra.<br />
O Senhor dos Exércitos está conosco; o <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> Jacó é o nosso refúgio.
A Provisão <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> em um Mundo <strong>de</strong> Crise<br />
Para tempos <strong>de</strong> crises inevitáveis, esse salmo é bálsamo para quem<br />
enfrenta dificulda<strong>de</strong>s nos campos físico, económico, social, moral e<br />
espiritual. A Palavra <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> dá certeza <strong>de</strong> socorro bem presente, forta-<br />
Uza íntima para enfrentar os perigos, refugio nas tempesta<strong>de</strong>s da vida.<br />
Algumas crises foram motivadas pelo choque do futuro para o qual<br />
as pessoas não estão preparadas. Essas crises também são provocadas<br />
pelo excesso <strong>de</strong> mudanças em um período muito curto, não dando<br />
tempo <strong>de</strong> adaptação a tudo isso. A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptação a essa<br />
realida<strong>de</strong> vem produzindo estresse emocional, e a ciência no campo da<br />
psicologia e da psiquiatria não consegue atenuar plenamente esse estado<br />
<strong>de</strong> espírito dos tempos mo<strong>de</strong>rnos.<br />
Estamos no terceiro milénio, e nos dois milénios que se passaram<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> os tempos do primeiro séculos da Era Cristã, todos aqueles sinais<br />
escatologicos apresentados por Jesus e pelos seus apóstolos vêm sendo<br />
cumpridos. O apóstolo João, já no final do primeiro século da Era Cristã<br />
mostrou o mundo atual com os sinais <strong>de</strong> um sistema satânico que se<br />
manifestam na vida da humanida<strong>de</strong>. O estigma do mundo percebido<br />
por João é percebido nesses tempos pós-mo<strong>de</strong>rnos. Estamos vivendo<br />
na atualida<strong>de</strong> com a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudanças culturais e sociais que<br />
ameaçam a nossa fe e os princípios e valores que sempre nortearam a<br />
Igreja <strong>de</strong> Cristo na terra. Entretanto, para esses tempos, o <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> toda<br />
provisão não abandonou sua Igreja.<br />
0 MUNDO ATUAL, UM SISTEMA GLOBALIZADO<br />
0 Mundo na Esfera Espiritual — um Sistema Espiritual<br />
<strong>de</strong> Domínio Satânico<br />
João, o apóstolo, <strong>de</strong>clarou em sua epístola universal às igrejas: “sabemos<br />
que somos <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> e que todo o mundo está no maligno” (1<br />
Jo 5.19). Sabemos que esse sistema satanico age invisivelmente sobre a<br />
humanida<strong>de</strong> na terra. Por isso, no contexto espiritual, o mundo é mais<br />
que um globo geofísico. É um sistema invisível que procura dominar<br />
a vida humana infiltrando-se em todas as camadas sociais, políticas e<br />
religiosas, influenciando suas <strong>de</strong>cisões. É um sistema que inva<strong>de</strong> nossos<br />
lares; que afeta e corrompe a mente <strong>de</strong> nossos filhos por meio da mídia<br />
falada, televisiva e por meio da informática. Ora, se o mundo dos<br />
23
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
homens está sob a égi<strong>de</strong> <strong>de</strong> Satanás, sabemos que esse sistema satânico<br />
tenta usurpar <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> a sua soberania infiltrando-se na vida da humanida<strong>de</strong>,<br />
oferecendo-lhe um estilo <strong>de</strong> vida que a torna in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e<br />
rebel<strong>de</strong> contra o Criador.<br />
0 Mundo Hoje — a Influência <strong>de</strong> um Sistema Globalizado<br />
Nas raízes do pós-mo<strong>de</strong>rnismo brotam as coisas que pressionam a<br />
vida atual e provocam a incredulida<strong>de</strong> e a rebeldia humana que rejeita<br />
a <strong>Deus</strong> e absorve o materialismo humanista. A globalização, uma i<strong>de</strong>ia<br />
inteligente <strong>de</strong>sses tempos, é um modo <strong>de</strong> preparar o mundo para o advento<br />
do Anticristo. Não é um termo isolado e técnico dos cientistas políticos.<br />
Tem na sua estrutura um plano diabólico que escon<strong>de</strong> as verda<strong>de</strong>iras<br />
razões satânicas sob o manto colorido da união das nações, do ecumenismo<br />
religioso, da liberda<strong>de</strong> individual das pessoas. É um sistema que<br />
se <strong>de</strong>staca pela diversida<strong>de</strong> e a multiplicida<strong>de</strong>. É um sistema que busca o<br />
prazer fisico em <strong>de</strong>trimento da racionalida<strong>de</strong>. Globalização e a palavra<br />
mo<strong>de</strong>rna que representa o processo <strong>de</strong> integração económica, social,<br />
cultural e política que visa ao intercâmbio <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias entre as culturas das<br />
nações, tendo como limitação apenas a barreira linguística. Utiliza-se<br />
da mídia e das facilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comunicação tecnológica que influenciam<br />
o modo <strong>de</strong> pensar em todos os campos da vida da socieda<strong>de</strong> em cada<br />
nação do planeta. A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> globalização e a igualda<strong>de</strong> num plano<br />
que concorda com a “Nova Or<strong>de</strong>m Mundial e que prega a integração<br />
entre todos os povos. Houve a tentativa <strong>de</strong> criar uma língua universal,<br />
chamada “Esperanto”, que não conseguiu muito sucesso. A i<strong>de</strong>ia da<br />
Nova Or<strong>de</strong>m Mundial objetiva estabelecer princípios <strong>de</strong> relações entre<br />
os povos que afetem o comportamento social e que tenham na mídia<br />
televisiva e na impressa o modo <strong>de</strong> influenciar a economia mundial, a<br />
educação e até a religiosida<strong>de</strong> dos povos.<br />
A Globalização — um Sistema Preparado para o Cenário<br />
Futuro do Anticristo<br />
O mundo todo está sendo um palco armado para o advento do<br />
Anticristo, segundo a profecia bíblica, em breve futuro, antes que a<br />
24
A Provisão <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> em um Mundo <strong>de</strong> Crise<br />
igreja <strong>de</strong> Cristo seja arrebatada <strong>de</strong>ste mundo. Sob a influência <strong>de</strong> Satanás,<br />
o Anticristo será o personagem que aparecerá no cenário político<br />
mundial num período especial i<strong>de</strong>ntificado pela profecia <strong>de</strong> Daniel<br />
como a “Gran<strong>de</strong> Tribulação”, especialmente para Israel (Dn 9.24-27).<br />
Nesse período, ele surgirá no cenário mundial e globalizado como<br />
um personagem literal, mas que é i<strong>de</strong>ntificado nas profecias bíblicas<br />
numa linguagem figurada como o chifre pequeno” do animal terrível<br />
e espantoso (Dn 7.7,8). Será i<strong>de</strong>ntificado, também, como “o príncipe<br />
que há <strong>de</strong> vir (Dn 9.26); “o rei que fará conforme sua vonta<strong>de</strong>” (Dn<br />
11.36); “o homem do pecado”, o “filho da perdição”, “o iníquo” (2 Ts<br />
2.3,8); o “anticristo” (1 Jo 2.18).<br />
Para os que interpretam a Bíblia alegoricamente, esse personagem<br />
não passa <strong>de</strong> uma figura <strong>de</strong> retórica. Para a igreja <strong>de</strong> Cristo, que crê na<br />
literalida<strong>de</strong> da revelação bíblica acerca <strong>de</strong>sse personagem, o Anticristo<br />
será o mais notável lí<strong>de</strong>r político, capaz <strong>de</strong> convencer, conten<strong>de</strong>r e com<br />
um carisma fenomenal. Ele ainda não esta entre nós, mas o seu espírito<br />
opera no mundo atual, e a i<strong>de</strong>ia da globalização, ou seja, a “al<strong>de</strong>ia global”<br />
ou a nova or<strong>de</strong>m Mundial”, está sendo preparada.<br />
DOIS TEMPOS DISTINTOS DE MUDANÇAS NA SOCIEDADE<br />
Ao longo da sua história, a humanida<strong>de</strong> experimentou diferentes<br />
mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> transformações que foram passando <strong>de</strong> uma época para<br />
outra, com sinais <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico, científico e social.<br />
Nesses períodos distintos, várias crises <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m social, com os<br />
sistemas <strong>de</strong> governos e políticas diversificados, tragédia e <strong>de</strong>struição<br />
foram experimentadas.<br />
A Crise da Era Mo<strong>de</strong>rna<br />
Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> é uma palavra com sentido filosófico e enten<strong>de</strong>-se<br />
como um sistema oriundo das forças <strong>de</strong> mudanças que ocorrem durante<br />
sua movimentação na vida da humanida<strong>de</strong>. É um sistema centrado na<br />
premissa <strong>de</strong> que “toda causa <strong>de</strong> cima para baixo”, principalmente aquela<br />
que reconhece a soberania <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> e o Causador <strong>de</strong> toda a criação do<br />
universo e tudo que representar o sobrenatural <strong>de</strong>ve ser substituído por<br />
25
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
“causas <strong>de</strong> baixo para cima”. É, na verda<strong>de</strong>, uma inversão <strong>de</strong> valores e<br />
<strong>de</strong> objetivos em que o sobrenatural é rejeitado e o natural ganha espaço<br />
na vida das pessoas. Em síntese, é uma <strong>de</strong>clarada rejeição <strong>de</strong> <strong>Deus</strong><br />
pelo homem mo<strong>de</strong>rno. Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, escreveu<br />
o seguinte: “Pois mudaram a verda<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> em mentira e honraram<br />
e serviram mais a criatura do que o Criador” (Rm 1.25). O mesmo<br />
autor, escrevendo a Timóteo, disse:<br />
M anda aos ricos <strong>de</strong>ste mundo que não sejam altivos, nem ponham<br />
a esperança na incerteza das riquezas, mas em <strong>Deus</strong>, que<br />
abundantemente nos dá todas as coisas p ara <strong>de</strong>las gozarmos; que<br />
façam o bem, enriqueçam em boas obras, repartam <strong>de</strong> boa mente<br />
e sejam comunicáveis; que entesourem p ara si mesmos um bom<br />
fundam ento p ara o fu tu ro, p a ra que possam alcançar a vida<br />
eterna. (1 Tm 6.17-19).<br />
O mo<strong>de</strong>rnismo <strong>de</strong>senvolveu conceitos humanistas e materialistas, <strong>de</strong><br />
modo que a sua fé é <strong>de</strong>sviada para um falso sentido <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>, para<br />
a ciência e para o progresso humano. A Era mo<strong>de</strong>rna foi marcada pelo<br />
avanço do conhecimento humano, pelo advento da industrialização, pela<br />
predominância da luta i<strong>de</strong>ológica e, especialmente, pela expansão da fé<br />
cristã, como também, pela proliferação das seitas e das religiões orientais.<br />
As Crises dos Tempos Pós-Mo<strong>de</strong>rnos<br />
Os sociólogos estudam a socieda<strong>de</strong> através da história e colocam os<br />
tempos atuais como um período que <strong>de</strong>nominam pos-mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> .<br />
Esse período possui características que se manifestam na vida cotidiana<br />
das pessoas e são inevitáveis. São características que <strong>de</strong>safiam a fé cristã.<br />
Tem sido um tempo marcado não só pelo progresso científico e económico,<br />
mas por conflitos e contradição oriundos da Era Mo<strong>de</strong>rna. Um<br />
dos elementos corrosivos e <strong>de</strong>strutivos sob a égi<strong>de</strong> do pós-mo<strong>de</strong>rnismo e<br />
a valorização do efémero, da <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>, o avanço do individualismo.<br />
A mídia hoje tem um po<strong>de</strong>r quase sufocante sobre nossas famílias,<br />
manipulando <strong>de</strong>sejos, incentivando atitu<strong>de</strong>s animalescas, promovendo<br />
a sedução por coisas impróprias.<br />
26
A Provisão <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> em um Mundo <strong>de</strong> Crise<br />
Um dos aspectos que chamam a atenção na diferença do mo<strong>de</strong>rnismo<br />
para o pos-mo<strong>de</strong>rnismo é que esse tempo que vivemos não possui um<br />
estilo uniforme e coerente em várias áreas como a filosofia, a religião,<br />
a moralida<strong>de</strong>, as artes, a economia. Tudo sofreu mudanças radicais,<br />
prevalecendo a diversida<strong>de</strong>. Apregoa-se hoje a morte dos i<strong>de</strong>ais, em<br />
que o disfarce parece um elemento <strong>de</strong> sobrevivência das pessoas. Se<br />
em tempos passados a verda<strong>de</strong> era concebida como algo absoluto para<br />
ser absorvido pelas pessoas, hoje se ensina “que há muitas verda<strong>de</strong>s e<br />
cada qual fica com a que mais lhe satisfaz”. Essa filosofia ensina que as<br />
verda<strong>de</strong>s são particulares e relativas, e cada povo tem a sua forma <strong>de</strong><br />
acatá-las e expressá-las, contradizendo, assim, abertamente, a verda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. A Bíblia diz o seguinte: “Porque do céu se manifesta a ira <strong>de</strong><br />
<strong>Deus</strong> sobre toda impieda<strong>de</strong> e injustiça dos homens que <strong>de</strong>têm a verda<strong>de</strong><br />
em injustiça” (Rm 1.18). Em seguida, o apóstolo Paulo disse no versículo<br />
21: porquanto, tendo conhecido a <strong>Deus</strong>, não o glorificaram como <strong>Deus</strong>,<br />
nem lhe <strong>de</strong>ram graças; antes, em seus discursos se <strong>de</strong>svaneceram, e o<br />
seu coração insensato se obscureceu”. Por outro lado, supervalorizam<br />
o sentimento em <strong>de</strong>trimento da razão. O escritor M ilan Kun<strong>de</strong>ra,<br />
<strong>de</strong>fensor <strong>de</strong>ssa filosofia, fez um trocadilho da expressão “Penso, logo<br />
existo por “Sinto, logo existo”.<br />
Esse período é o nosso tempo atual, e é nesse contexto que estamos<br />
vivendo. As gerações dos últimos 50 anos estão experimentando o progresso<br />
científico e tecnológico, mas também as crises provocadas pela<br />
Era Mo<strong>de</strong>rna. O apóstolo Paulo, pelo Espírito Santo, profeticamente<br />
apontou para esse tempo, como os problemas dos “últimos dias”, quando<br />
disse: Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos<br />
trabalhosos” (2 Tm 3.1).<br />
CARATERÍSTICAS DESSE MUNDO SATÂNICO<br />
Jesus orou ao Pai pelos seus discípulos e disse: “Eles estão no mundo,<br />
mas não são do mundo”. Essa distinção dá a Igreja a sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />
e nos conscientiza <strong>de</strong> que, a <strong>de</strong>speito, <strong>de</strong> estarmos nesse mundo sob a<br />
égi<strong>de</strong> <strong>de</strong> Satanás, nós, cristãos, precisamos tomar conhecimento para<br />
refutarmos todos os ataques <strong>de</strong> Satanás.<br />
27
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
Uma Socieda<strong>de</strong> Centrada no Homem<br />
Essa i<strong>de</strong>ia é i<strong>de</strong>ntificada no mundo da filosofia como antropocentrismo.<br />
O prefixo <strong>de</strong>ssa palavra é antropos, que se refere ao homem como o<br />
centro <strong>de</strong> tudo, concordando com a i<strong>de</strong>ia humanista, <strong>de</strong> um escritor ateu<br />
e humanista, que <strong>de</strong>clarou que o homem e a medida <strong>de</strong> todas as coisas .<br />
Essa i<strong>de</strong>ia faz do homem o centro do universo, e tenta roubar <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>,<br />
Criador, o cetro <strong>de</strong> soberania sobre todo o universo. A Bíblia <strong>de</strong>clara que<br />
<strong>Deus</strong>, o Pai, tornou seu Filho Jesus a razão e o centro <strong>de</strong> toda a criação.<br />
Paulo escreveu aos Colossenses que Ele e antes <strong>de</strong> todas as coisas, e todas<br />
as coisas subsistem por Ele” (Cl 1.17). Paulo i<strong>de</strong>ntificou pelo Espírito,<br />
com um vislumbre futuro, o tipo <strong>de</strong> gente que se coaduna com o espírito<br />
<strong>de</strong>ssa i<strong>de</strong>ia humanista quando fala dos amantes <strong>de</strong> si mesmos (2 Tm<br />
3.2). Esse espírito humanista tem <strong>de</strong> ser repudiado na vida da igreja, da<br />
li<strong>de</strong>rança e dos membros das igrejas.<br />
Uma Socieda<strong>de</strong> sob a Influência do Relativismo<br />
O relativismo age sob a óptica dos valores relativos negando os absolutos,<br />
especialmente os princípios e ensinos imutáveis da Palavra <strong>de</strong><br />
<strong>Deus</strong>. O certo e o errado se confun<strong>de</strong>m on<strong>de</strong> tudo é relativo. Algumas<br />
experiências bíblicas nos dão testemunho <strong>de</strong>sse perigo (Gn 19.1-11; Jz<br />
2.11; 3.7; 4.1; 10.6). É a negação <strong>de</strong> qualquer lei superior para orientar<br />
a vida das pessoas. Esse espírito relativista tem produzido danos à vida<br />
ética dos cristãos em nosso tempo.<br />
Uma Socieda<strong>de</strong> Dominada pela Secularização da Vida<br />
Existe uma <strong>de</strong>claração bíblica do apostolo Paulo acerca <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sertor<br />
da igreja, o qual <strong>de</strong>sistiu da fé cristã por enten<strong>de</strong>r que o mundo lhe oferecia<br />
mais. Sobre esse <strong>de</strong>sertor, Paulo disse que [amou] o presente século (2<br />
Tm 4.10). Uma das crises enfrentadas pela Igreja é a secularização dos<br />
ensinos bíblicos para acomodar os cristãos a um padrão <strong>de</strong> vida mundano,<br />
que perverte os nossos valores espirituais. A influência do mundanismo<br />
se manifesta em forma <strong>de</strong> apelo, fascínio, mistura, prazer e imitação que<br />
resultam em perda dos valores e virtu<strong>de</strong>s cristãs.<br />
28
A Provisão <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> em um Mundo <strong>de</strong> Crise<br />
Quando o apóstolo Joáo exorta, dizendo “Não ameis o mundo, nem<br />
o que no mundo há” (1 Jo 2.15), não se referia, <strong>de</strong> fato, ao mundo físico,<br />
mas ao mundo espiritual sob o domínio <strong>de</strong> Satanás. Não se trata, também,<br />
do mundo da humanida<strong>de</strong>, que é um sistema <strong>de</strong> vida organizado em<br />
reinos, países, estados, cida<strong>de</strong>s, vilas e al<strong>de</strong>ias, e, até mesmo, nos lugares<br />
mais escondidos da terra. Naturalmente, aspectos como cultura, educação,<br />
comunicação e religiosida<strong>de</strong> fazem parte da vida da humanida<strong>de</strong><br />
neste mundo físico. Entretanto, o acesso das pessoas a esses valores são<br />
<strong>de</strong>turpados pelo Diabo, que procura <strong>de</strong>sintegrar a humanida<strong>de</strong>, moral<br />
e espiritualmente. Ele procura influenciar pessoas, governos, artistas,<br />
intelectuais e até religiosos para lançá-los contra o Criador.<br />
Que É Secularismo?<br />
A palavra século aparece na língua grega como “aion e diz respeito<br />
não apenas ao período <strong>de</strong> tempo <strong>de</strong> cem anos”, mas tem um sentido<br />
figurativo <strong>de</strong> “pensamento que predomina em uma geração”. O secularismo<br />
é uma força intelectual e espiritual que torce as verda<strong>de</strong>s bíblicas<br />
para corromper a Igreja e <strong>de</strong>sviá-la da fé cristã. Com facilida<strong>de</strong>, procura<br />
corromper os bons costumes na família, na escola e na vida espiritual.<br />
O secularismo valoriza a forma em <strong>de</strong>trimento do conteúdo, e, por essa<br />
razão, nossa liturgia tem sido aviltada com alegações culturais, on<strong>de</strong> tudo<br />
acontece: danças folclóricas, roda <strong>de</strong> capoeira e outras coisas incentivadas<br />
por lí<strong>de</strong>res que per<strong>de</strong>ram o compromisso com o evangelho.<br />
Características do “Século Presente”<br />
O apóstolo Paulo <strong>de</strong>screveu as características das pessoas <strong>de</strong>sses<br />
“dias trabalhosos” quando disse:<br />
[...] nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos;porque haverá<br />
homens amantes <strong>de</strong> si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos,<br />
blasfemos, <strong>de</strong>sobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto<br />
natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor<br />
para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos<br />
<strong>de</strong>leites do que amigos <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, tendo aparência <strong>de</strong> pieda<strong>de</strong>, mas<br />
negando a eficácia <strong>de</strong>la. Destes afasta-te. (2 Tm 3.1-15)<br />
29
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
Essas características tão claras e objetivas fazem parte da presente era.<br />
As i<strong>de</strong>ias satânicas <strong>de</strong> moralida<strong>de</strong>, das filosofias, das artes, dos sistemas<br />
políticos e económicos, da comunicação <strong>de</strong> massa foram afetadas <strong>de</strong> tal<br />
modo que a graça <strong>de</strong>sse século prefere o profano ao sagrado e se opõe a<br />
tudo que diz respeito a <strong>Deus</strong>.<br />
0 Multiculturalismo Secular<br />
O cristão mo<strong>de</strong>rno se <strong>de</strong>para com esse elemento próprio do fenômeno<br />
mundial da globalização. Já tratamos <strong>de</strong> algumas características atuais<br />
como antropocentrismo, hedonismo, relativismo e, por último, secularismo.<br />
O multiculturalismo tem no seu prefixo “multi” o sentido da diversida<strong>de</strong><br />
existente <strong>de</strong> culturas <strong>de</strong>senvolvidas ao longo da história e que, nos tempos<br />
atuais, representa uma filosofia que procura camuflar a verda<strong>de</strong> com a<br />
mentira, o paganismo ímpio e hostil a <strong>Deus</strong>, a negação dos valores divinos<br />
e a pregação maldita da verda<strong>de</strong> relativa. A influência <strong>de</strong>ssa filosofia faz<br />
com que muitos cristãos mo<strong>de</strong>rnos vejam a Bíblia como uma literatura<br />
alegórica, antiga e fora <strong>de</strong> tempo, que precisa ser adaptada e modificada<br />
conforme as chamadas “propostas <strong>de</strong> cristianismo” que algumas igrejas<br />
tem se proposto comparar e adaptar ao tempo atual. Refutamos com todas<br />
as nossas forças esse modo <strong>de</strong> pensar, esse multiculturalismo satamco<br />
que contradiz abertamente a verda<strong>de</strong> insofismável da Palavra <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>.<br />
Precisamos colocar as armas espirituais para enfrentar esses inimigos.<br />
Paulo falou <strong>de</strong>ssas armas, que não são carnais, mas são po<strong>de</strong>rosas, como<br />
disse aos coríntios: “Porque as armas da nossa milícia não são carnais e<br />
sim po<strong>de</strong>rosas em <strong>Deus</strong>, para <strong>de</strong>struir fortalezas; anulando nós, sofismas<br />
e toda altivez que se levante contra o conhecimento <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, e levando<br />
cativo todo pensamento à obediência <strong>de</strong> Cristo (2 Co 10.4,5).<br />
0 Papel da Igreja em Relação ao Secularismo<br />
A Igreja <strong>de</strong> Cristo é a única entida<strong>de</strong> capaz <strong>de</strong> fazer frente a esse sistema<br />
sem estar atrelada ao arcaico, ao legalismo histórico. A Timóteo, Paulo<br />
alertou quanto a “falatórios profanos” que estariam se <strong>de</strong>senvolvendo<br />
na atualida<strong>de</strong> (2 Tm 2.16). Essa expressão indica que esses “falatórios<br />
profanos” po<strong>de</strong>m significar a perversão dos ensinos bíblicos, quando se<br />
30
A Provisão <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> em um Mundo <strong>de</strong> Crise<br />
abandona a santida<strong>de</strong> e se a<strong>de</strong>re a padrões libertinos que contrariam a<br />
vida cristã bíblica. A a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> falsas doutrinas, especialmente aquelas<br />
advindas em nome <strong>de</strong> pretensas revelações por meio <strong>de</strong> sonhos e visões<br />
que não possuem respaldo bíblico, são as novas teologias, porque lhes<br />
parece que a teologia existente, sagrada e ortodoxa precisa ser rememorada.<br />
O secularismo faz com que a igreja perca sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cristã. É a<br />
teologia “do parece, mas não é”, “do faz <strong>de</strong> conta que é”. É a valorização<br />
da forma em vez do conteúdo. Em nome da cultura eclesiástica, promovem-se<br />
ativida<strong>de</strong>s que imitam o mundo, que <strong>de</strong>spersonalizam o culto<br />
genuíno, com folclore , danças” e coreografias que não glorificam a<br />
<strong>Deus</strong>, mas o fazem em nome <strong>de</strong> Jesus. Muitos dos nossos cânticos parecem<br />
mantras utilizados nos cultos pagãos. O secularismo entrou na<br />
igreja e está matando a nossa liturgia. O espaço para a Palavra <strong>de</strong> <strong>Deus</strong><br />
tem se tornado cada vez menor. Preocupa-se, hoje, com a aparência, e<br />
não com o conteúdo do culto a <strong>Deus</strong>, quando se percebe o culto à personalida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> cantores e pregadores, e Jesus é <strong>de</strong>ixado <strong>de</strong> lado. Canta-se<br />
sobre a glória <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, mas se glorifica mais o homem que a <strong>Deus</strong>. O<br />
mo<strong>de</strong>rnismo eclesiástico revela a conformação da igreja com o sistema<br />
mundano. Tudo isso produz esfriamento espiritual. Precisamos orar<br />
com o profeta Habacuque: “[...] aviva, ó Senhor, a tua obra” (Hc 3.2).<br />
CONCLUSÃO<br />
Teria <strong>Deus</strong> enfraquecido? Ou teria a igreja se <strong>de</strong>ixado engodar pelo<br />
encanto do sistema mundano? Precisamos vencer todas e quaisquer<br />
crises <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m moral, social e espiritual. Temos a nosso favor o <strong>Deus</strong><br />
<strong>de</strong> toda provisão. Precisamos priorizar e manter sempre o fundamento<br />
do evangelho que recebemos. A li<strong>de</strong>rança da igreja precisa se comprometer<br />
em reverter essa situação produzindo, nos membros das igrejas,<br />
convicções sólidas na Palavra <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Precisamos nos conscientizar<br />
<strong>de</strong> que não somos <strong>de</strong>ste mundo (Jo 17.16).<br />
P ara um mundo em crise, nenhuma outra instituição<br />
será capaz <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r aos anseios da humanida<strong>de</strong><br />
senão a Igreja <strong>de</strong> Cristo.<br />
31
Capítulo 3<br />
ABRAÃO — DESAFIOS DE<br />
UM HOMEM TEMENTE A DEUS<br />
Na cronologia histórica do Génesis, nos capítulos 1 ao 11, temos o<br />
relato da criação da terra e a criação do homem, obra-prima <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Esses<br />
onze capítulos são absolutamente vitais para enten<strong>de</strong>r o restante da Bíblia.<br />
Da criação ao Dilúvio, as datas aproximadas envolvem os anos 3975-2319<br />
a.C., e do Dilúvio até a Era Patriarcal temos os anos 2319-1967 a.C. Na<br />
cronologia bíblica, quando <strong>Deus</strong> chamou a Abraão, em Ur dos Cal<strong>de</strong>us,<br />
o patriarca tinha 75 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> no ano aproximado <strong>de</strong> 1892 a.C.<br />
No contexto dos primeiros onze capítulos, quatro homens importantes<br />
se <strong>de</strong>stacam na história da humanida<strong>de</strong>, que são: Adão, Sete, Enoque e Noé.<br />
Nesses mesmos capítulos, <strong>de</strong>stacam-se, especialmente, quatro importantes<br />
eventos, que são: a criação, a queda do homem pelo pecado, o Dilúvio e a<br />
torre <strong>de</strong> Babel. Os primeiros acontecimentos da história da humanida<strong>de</strong><br />
encontram-se no contexto <strong>de</strong>sses capítulos. Na etapa histórica da obra da<br />
criação, <strong>Deus</strong> trata com toda a terra, com o mundo dos homens como um todo.<br />
A partir do capítulo 12, inicia-se a era patriarcal, e nessa etapa aparecem<br />
os patriarcas Abraão, Isaque, Jacó e José. Nesses próximos capítulos (12<br />
a 50), <strong>de</strong>pois da confusão <strong>de</strong> línguas em Babel (Gn 11), espalharam-se as<br />
gentes por toda parte e as características raciais se tornaram distintas por<br />
toda a terra. As organizações tribais, as línguas e as etnias acabaram por<br />
formar as nações espalhadas no mundo inteiro. Organizaram-se, também,<br />
sistemas <strong>de</strong> governo <strong>de</strong> povos, <strong>de</strong> famílias e tribos, e iniciou-se a era patriarcal,<br />
em que o pai <strong>de</strong> família se constituía em chefe, príncipe <strong>de</strong> tribos e
Abraão - Desafios <strong>de</strong> um Homem Temente a <strong>Deus</strong><br />
famílias. Surgiram alguns personagens históricos, ancestrais <strong>de</strong> Abraáo<br />
que <strong>de</strong>ixaram a marca <strong>de</strong> suas vidas na história, mas foi Abraão que<br />
<strong>Deus</strong> escolheu para estabelecer um novo pacto que alcançasse todas<br />
as nações do mundo.<br />
Abraão é advindo <strong>de</strong> uma família pagã ainda na Mesopotâmia, uma<br />
região que é ocupada, hoje, pela Turquia e pelo Iraque. A Mesopotâmia<br />
dos tempos abraâmicos era uma terra fértil, margeada por dois importantes<br />
rios — o Tigre e o Eufrates. Foi nessa terra que <strong>Deus</strong>, por sua<br />
onisciência e providência, escolheu Abraão como o ponto <strong>de</strong> partida<br />
para formação <strong>de</strong> um povo especial que o servisse e o representasse na<br />
terra. <strong>Deus</strong>, Yahweh Adonai, em meio à humanida<strong>de</strong> corrompida pelo<br />
pecado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Adão, escolhe Abraão e percebe nele qualida<strong>de</strong>s com as<br />
quais po<strong>de</strong>ria resgatar sua soberania no mundo <strong>de</strong> então.<br />
Abraão, além <strong>de</strong> inteligente e perspicaz, era homem <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong><br />
espiritual, propiciando-lhe o encontro com o <strong>Deus</strong> eterno, invisível<br />
e po<strong>de</strong>roso, rejeitou a todos os <strong>de</strong>uses <strong>de</strong> sua família, creu nEle “e isso lhe<br />
foi imputado como justiça” diante <strong>de</strong>sse <strong>Deus</strong> (Rm 4.3). Abraão <strong>de</strong>scobriu<br />
pela fé que era possível falar com esse <strong>Deus</strong> e o Senhor podia contar com<br />
Ele. A partir <strong>de</strong> então, <strong>de</strong>senvolveu-se uma relação com um <strong>Deus</strong> Vivo e<br />
Pessoal, com o qual ele podia se comunicar.<br />
DESAFIOS DO CHAMADO DE DEUS<br />
Um Projeto da Presciência Divina<br />
A presciência é um dos atributos divinos que é pertinente só ao <strong>Deus</strong><br />
trino. Por esse atributo, Ele sabe todas as coisas e nada do universo<br />
criado fica fora do seu conhecimento. E inerente à natureza divina<br />
a presciência. Nesse sentido, existem outros atributos da divinda<strong>de</strong><br />
que são relativos, são comunicáveis às suas criaturas racionais, anjos e<br />
homens. Um <strong>de</strong>sses atributos comunicáveis é a sua providência. Em<br />
sua providência, <strong>Deus</strong> preserva e governa tudo no universo. A Bíblia<br />
diz que Ele sustenta “todas as coisas pela palavra do seu po<strong>de</strong>r” (Hb<br />
1.3). Em sua providência, Ele planeja, cuida e executa seu plano com o<br />
homem <strong>de</strong> modo individual. Por sua presciência, <strong>Deus</strong> conhece todas<br />
as coisas, não só do passado e presente, mas também do futuro. Em<br />
sua providência presciente, o <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> toda provisão tinha um projeto<br />
3 3
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
<strong>de</strong> resgate da sua comunhão com a humanida<strong>de</strong> perdida pelo pecado.<br />
Existem fatos na história da humanida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>safiam a curiosida<strong>de</strong><br />
humana. São fatos que extrapolam o conhecimento humano porque<br />
eles advêm dos projetos <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. São fatos espirituais relacionados com<br />
os mistérios da divinda<strong>de</strong>, e não é possível entendê-los por meios naturais.<br />
Para nós, suas criaturas, os eventos do mundo nos surpreen<strong>de</strong>m,<br />
mas para <strong>Deus</strong>, nada do que acontece é surpresa. Todos os eventos da<br />
criação, da natureza, físico e da nossa vida são conhecidos <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>.<br />
Em meio a tantos personagens interessantes da história, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Adão, foi<br />
exatamente Abraão quem <strong>Deus</strong> escolheu para tecer uma nova história.<br />
Abraão, portanto, faz parte <strong>de</strong> um projeto divino engenhado em sua<br />
presciência como um homem escolhido para ser aquele que entraria na<br />
história da salvação da humanida<strong>de</strong>. Nada se sabe do período da vida <strong>de</strong><br />
Abraão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o seu nascimento (em torno do ano 2166 a.C.) até quando<br />
foi chamado por <strong>Deus</strong> para ser objeto <strong>de</strong> uma missão <strong>de</strong> resgate da<br />
comunhão com <strong>Deus</strong> e fazer a sua vonta<strong>de</strong>. Na providência divina, <strong>de</strong><br />
Abraão sairia a semente que formaria uma família especial, que se tornaria,<br />
<strong>de</strong>pois, um povo, uma raça, uma etnia especial. Dessa etnia especial, no<br />
tempo <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, sairia o Salvador do mundo, Jesus Cristo (Mt 1.1,2,17).<br />
0 Desafio <strong>de</strong> um Projeto Especial<br />
Existe uma linha <strong>de</strong> pensamento que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que <strong>Deus</strong>,<br />
em sua soberania, escolhe a quem quer para satisfazer sua vonta<strong>de</strong>, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente<br />
<strong>de</strong> a pessoa aceitar ou não. E uma i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong>terminista,<br />
que não aceita o “livre-arbítrio” e, por isso, ensina que o homem não<br />
possui a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolher o que quer por causa da <strong>de</strong>pravação do<br />
pecado na essência da sua natureza afetada pelo pecado.<br />
Respeitamos os pontos <strong>de</strong> vista contrários ao que cremos, mas <strong>Deus</strong><br />
escolheu Abraão para a execução do seu projeto, e esse mesmo homem,<br />
ainda que crendo em <strong>Deus</strong>, teve momentos <strong>de</strong> in<strong>de</strong>cisão. O Senhor<br />
usou <strong>de</strong> todos os meios possíveis para convencer a Abraão <strong>de</strong> que ele<br />
era alguém especial no plano divino e, por isso, seria assistido o tempo<br />
todo <strong>de</strong> sua vida pelo “<strong>Deus</strong> <strong>de</strong> toda provisão”.<br />
Abraão foi <strong>de</strong>safiado a obe<strong>de</strong>cer a um projeto especial para a sua<br />
vida, e <strong>Deus</strong> garante o sucesso <strong>de</strong>sse projeto com um pacto que con<br />
34
Abraão - Desafios <strong>de</strong> um Homem Temente a <strong>Deus</strong><br />
tinha promessas e compromissos (Gn 12.1-3). Esse pacto entre <strong>Deus</strong><br />
e Abraáo náo podia sofrer interferência <strong>de</strong> sentimentos <strong>de</strong> qualquer<br />
espécie. Abraão <strong>de</strong>veria apenas acreditar no plano divino e obe<strong>de</strong>cer<br />
com a garantia <strong>de</strong> que nada lhe faltaria em sua jornada <strong>de</strong> fé. Esse pacto<br />
continha exigências especiais feitas a Abraáo. Essas exigências continham<br />
a essência do plano divino, as quais <strong>de</strong>veriam ser obe<strong>de</strong>cidas a fim <strong>de</strong><br />
que Abraão não viesse sofrer qualquer restrição. Abraão creu e aceitou<br />
pela fé o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> seu chamado, e saiu daquela terra para uma terra<br />
que não conhecia. O autor da Carta aos Hebreus, inspirado, escreveu:<br />
“Pela fé, Abraáo, sendo chamado, obe<strong>de</strong>ceu, indo para um lugar que<br />
havia <strong>de</strong> receber por herança; e saiu, sem saber para on<strong>de</strong> ia” (Hb 11.8).<br />
Abraão tomou posse da palavra <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> e partiu para a ação.<br />
0 Desafio da Obediência Total ao Projeto Divino<br />
Fé e obediência são os elementos mais fortes <strong>de</strong> uma relação com<br />
<strong>Deus</strong>. De início, Abraão obe<strong>de</strong>ceu, e a Bíblia confirma quando diz: “Pela<br />
fé, Abraão obe<strong>de</strong>ceu [...]” (Hb 11.8). No relato histórico <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>safio em<br />
Génesis 12, os três primeiros versículos resumem as bênçãos e maldições<br />
no pacto feito entre <strong>Deus</strong> e Abraão. Era um contrato sob o compromisso<br />
<strong>de</strong> ambas as partes. Não se tratava <strong>de</strong> uma mera aliança entre duas pessoas.<br />
Tratava-se <strong>de</strong> algo que firmaria que requeria a obediência total <strong>de</strong> Abraão.<br />
A provisão divina seria constante e marcada pelas promessas <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. A<br />
obediência <strong>de</strong> Abraão ao trato firmado produziria todas as provisões divinas,<br />
em termos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong> prosperida<strong>de</strong> material, <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>vocional ao longo<br />
da sua história e <strong>de</strong> toda a sua <strong>de</strong>scendência.<br />
Notemos que Abraão, mesmo po<strong>de</strong>ndo discutir o projeto <strong>de</strong> <strong>Deus</strong><br />
para a sua vida, não o fez, porque enten<strong>de</strong>u que o projeto <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> era<br />
muito superior ao que ele mesmo pu<strong>de</strong>sse empreen<strong>de</strong>r. Por isso, <strong>de</strong>ixou<br />
o lugar seguro on<strong>de</strong> vivia para empenhar-se numa peregrinação sem<br />
<strong>de</strong>stino certo. <strong>Deus</strong> escolheu Abraão porque ele reunia as condições<br />
necessárias para a consecução do seu plano. Não é diferente o modo <strong>de</strong><br />
<strong>Deus</strong> agir em nossos tempos. Ele chama e seleciona aqueles que po<strong>de</strong>m<br />
cumprir seus <strong>de</strong>sígnios e projetos.<br />
Em vez <strong>de</strong> discutir a proposta divina, Abraão partiu para um lugar<br />
<strong>de</strong>sconhecido pela fé. Qualquer um <strong>de</strong> nós prefere conhecer os <strong>de</strong>talhes<br />
35
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
<strong>de</strong> um projeto antes <strong>de</strong> aceitá-lo. Preferimos visualizar o futuro <strong>de</strong>sses<br />
projetos, mas Abraão foi chamado e <strong>de</strong>safiado para um projeto imprevisível.<br />
A imprevisibilida<strong>de</strong> daquele caminho proposto por <strong>Deus</strong> a Abraão<br />
<strong>de</strong>safia o conceito da fé previsível, papável e visível. Quem obe<strong>de</strong>ce ao<br />
chamado <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> anda por fé, e não por vista. O modo ilógico <strong>de</strong> <strong>Deus</strong><br />
agir começa com uma interrupção no nosso cotidiano humano. Interfere<br />
no quadro da nossa comodida<strong>de</strong> existencial e nos remete a um projeto<br />
inusitado, a um projeto que só <strong>Deus</strong> sabe.<br />
O motivador <strong>de</strong> crises emocionais <strong>de</strong> muitos lí<strong>de</strong>res cristãos é a reação<br />
ao <strong>de</strong>safio da obediência. Estamos sempre prontos para obe<strong>de</strong>cer a <strong>Deus</strong><br />
quando seus planos coinci<strong>de</strong>m com os nossos, ou quando satisfazem<br />
nossas ambições pessoais. A experiência do profeta Jonas nos faz ver<br />
a dificulda<strong>de</strong> do profeta em obe<strong>de</strong>cer a <strong>Deus</strong>, porque lhe fora pedido<br />
para cumprir uma missão num lugar on<strong>de</strong> Jonas não conseguia ver<br />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sucesso (Jn 1.1-3). A obediência <strong>de</strong> Abraão ao trato<br />
firmado com <strong>Deus</strong> produziria todas as provisões divinas, em termos <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong>, prosperida<strong>de</strong> material e vida <strong>de</strong>vocional abundante.<br />
A PROVISÃO DE DEUS EM CIRCUNSTÂNCIAS IMPREVISÍVEIS<br />
A <strong>de</strong>sobediência sempre produz fruto amargo, e Abraão, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />
ouviu a voz <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> e os requisitos que <strong>de</strong>veriam ser obe<strong>de</strong>cidos, não<br />
teve forças para obe<strong>de</strong>cer 100% ao que <strong>Deus</strong> lhe dissera. Deixou-se<br />
influenciar por um sentimentalismo familiar, levando consigo em sua<br />
peregrinação inicial a casa <strong>de</strong> seu pai e o sobrinho Ló e sua família. Na<br />
caminhada, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Ur dos Cal<strong>de</strong>us, quando saiu, seus parentes só lhe<br />
trouxeram aborrecimentos e entraves à sua peregrinação. Mesmo assim,<br />
<strong>Deus</strong> não <strong>de</strong>sistiu <strong>de</strong> Abraão, porque conhecia o coração <strong>de</strong>le. Não somos<br />
perfeitos, por mais que queiramos fazer as coisas corretamente, <strong>de</strong> vez<br />
em quando, sofremos interferências que prejudicam o nosso caminhar.<br />
Abraão Enfrenta o Problema da Interferência Familiar<br />
A única pessoa que <strong>Deus</strong> havia permitido a Abraão levar consigo era<br />
a sua esposa, Sara. Os <strong>de</strong>mais <strong>de</strong>veriam ficar on<strong>de</strong> estavam e viviam.<br />
Na verda<strong>de</strong>, o primeiro chamado <strong>de</strong> Abraão aconteceu em Ur dos Cal<br />
36
Abraão - Desafios <strong>de</strong> um Homem Temente a <strong>Deus</strong><br />
<strong>de</strong>us (At 7.2-4). Porém, houve um segundo chamado que era como um<br />
lembrete à mente <strong>de</strong> Abraáo em Harã, uma pequena cida<strong>de</strong> da Síria.<br />
Em Hará o velho Abraáo <strong>de</strong>sperdiçou gran<strong>de</strong> tempo do projeto divino<br />
porque continuava preso aos seus familiares. Abraão não conseguia se<br />
<strong>de</strong>svencilhar <strong>de</strong>sses parentes e, então, acomodou-se por algum tempo<br />
até que <strong>Deus</strong> o <strong>de</strong>safia segunda vez e ele toma o caminho <strong>de</strong> Canaã.<br />
Certa feita, em 1968, em minha experiência pessoal como pastor,<br />
ainda bem jovem e cheio <strong>de</strong> sonhos, passei por uma crise forte. Eu<br />
tinha a convicção da direção <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> em minha vida, mas não estava<br />
sabendo discerni-la. Em meio àquela crise, algumas pessoas interpretaram<br />
mal as minhas dificulda<strong>de</strong>s daquele momento e me aconselharam<br />
a <strong>de</strong>sistir do ministério, chegando a arrumar emprego na cida<strong>de</strong>.<br />
Mas a experiência que tive com <strong>Deus</strong> em minha chamada me fizeram<br />
compartilhar apenas com a esposa, que sabiamente me aconselhou a<br />
não ouvir outras pessoas, mas obe<strong>de</strong>cer ao plano <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, porque Ele<br />
cuidaria <strong>de</strong> nós. Interferências sempre são perigosas quando temos um<br />
plano <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> em nossas vidas.<br />
Entretanto, Abraão sai <strong>de</strong> sua terra, em Ur dos Cal<strong>de</strong>us, e vai para<br />
1lará, levando consigo parentes que não serviam o seu <strong>Deus</strong> e nem podiam<br />
enten<strong>de</strong>r sua audácia. Seus familiares sabiam que Abraão era ousado,<br />
inteligente e capaz <strong>de</strong> superar dificulda<strong>de</strong>s, e que superaria quaisquer<br />
problemas ao longo <strong>de</strong> sua caminhada. Talvez, por algum momento<br />
dc fraqueza, Abraão permitiu interferências materiais e sociais que o<br />
impediram <strong>de</strong> obe<strong>de</strong>cer <strong>de</strong> forma livre e integralmente. Ele não teve<br />
lórça moral suficiente para <strong>de</strong>simpedir-se <strong>de</strong>sses sentimentos familiares.<br />
Quando <strong>Deus</strong> o chamou, ele <strong>de</strong>veria ter saído apenas com sua mulher,<br />
Sara, mas acabou levando o pai, o sobrinho Ló e outros familiares.<br />
Apesar <strong>de</strong> sua “meia-obediência”, <strong>Deus</strong> não <strong>de</strong>sistiu <strong>de</strong> Abraão, mas<br />
<strong>de</strong>u-lhe toda a provisão necessária para a economia pessoal e familiar.<br />
Abraão enten<strong>de</strong>u que o seu lugar não era aquele e <strong>de</strong>veria ir mais além,<br />
à terra <strong>de</strong> Canaã (Gn 12.6).<br />
Abraão Confia no Plano Divino e Entra na Terra <strong>de</strong> Canaã<br />
A <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> todos os obstáculos que aconteceram <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que saiu<br />
dc Ur dos Cal<strong>de</strong>us indo para Harã, Abraão cria no plano <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>.<br />
37
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
Ficando em Harã por algum tempo, os planos iniciais para a terra <strong>de</strong><br />
Canaã foram atropelados por seus familiares. De Ur para Harã vieram<br />
seu pai Tera, seu irmão Naor e o sobrinho Ló.<br />
Depois da morte <strong>de</strong> seu pai Tera em Harã (Gn 11.31,32), Abraão<br />
ouve a voz <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> e, sem tosquenejar, sai <strong>de</strong> Harã e toma o caminho <strong>de</strong><br />
Canaã, passando a habitar em Siquém, uma cida<strong>de</strong> na terra <strong>de</strong> Canaã.<br />
Ao chegar a Siquém, mais uma vez Abraão ergue um altar ao Senhor.<br />
Ele procurava em todo o tempo manter a comunhão e a direção com<br />
Yahweh, o seu <strong>Deus</strong>. Porém, Abraão continuava preso a seus familiares.<br />
Seu sobrinho Ló ainda o acompanhava, e ele não conseguiu ficar só.<br />
A <strong>de</strong>speito <strong>de</strong>ssas amarras familiares, <strong>Deus</strong> não havia <strong>de</strong>sistido <strong>de</strong>le e,<br />
mais uma vez, reafirma suas promessas e lhe mostra toda a terra dos<br />
cananeus como a terra prometida para ele e seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes (Gn 12.6).<br />
Nessa terra “<strong>de</strong> leite e mel” não faltou oposição. A região tinha pequenas<br />
al<strong>de</strong>ias e vilas, e o seu povo vivia uma vida <strong>de</strong> escassez. Além do<br />
povo cananeu, o seu sobrinho Ló estava lá crescendo em gado e riquezas<br />
numa terra que estava <strong>de</strong>stinada apenas para Abraão. Entretanto, a generosida<strong>de</strong><br />
e a paciência <strong>de</strong> Abraão, <strong>de</strong>monstrando não ser um homem<br />
ganancioso, permitiam que Ló continuasse a interferir no plano <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>.<br />
O <strong>Deus</strong> que se revelou a Abraão não per<strong>de</strong>u o foco nele porque<br />
era o homem especial que havia sido escolhido pelo Senhor para esse<br />
projeto. Nessa cida<strong>de</strong>, em Siquém, <strong>Deus</strong> lhe aparece numa teofania<br />
especial e reafirma suas promessas para lhe dar forças para prosseguir,<br />
e Abraão, mais uma vez, sai <strong>de</strong> Siquém e vai para Betei (Gn 12.7). Feliz<br />
porque <strong>Deus</strong> não havia <strong>de</strong>sistido <strong>de</strong>le e não levou em conta sua falta <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>cisão em relação ao seu sobrinho Ló, Abraão novamente edifica um<br />
altar ao Senhor como gratidão pelo seu cuidado para com ele. Abraão<br />
foi assistido pelo <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> toda provisão em sua peregrinação.<br />
Abraão Enfrenta o Problema da Escassez em Canaã<br />
Abraão, ainda homem <strong>de</strong> fé tinha seus momentos <strong>de</strong> fraqueza<br />
diante <strong>de</strong> algumas dificulda<strong>de</strong>s. Experimentou o po<strong>de</strong>r da oposição<br />
dos cananeus, mesmo fazendo diferença naquela terra em que prosperava.<br />
Os cananeus se encheram <strong>de</strong> inveja, e passaram a fazer oposição<br />
à presença <strong>de</strong> Abraão e sua gente. Abraão se <strong>de</strong>ixou dominar por um<br />
38
Abraão - Desafios <strong>de</strong> um Homem Temente a <strong>Deus</strong><br />
pessimismo naquela terra da promessa e, percebendo a escassez <strong>de</strong><br />
grama e <strong>de</strong> grãos, <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> olhar para o Senhor. Sua visão vertical<br />
estava agora voltada para a terra horizontalmente, em vez <strong>de</strong> confiar<br />
nas promessas <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Os cananeus perceberam a prosperida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Abraão, e este se tornou então alvo da inveja dos cananeus. Eles não<br />
conseguiam enten<strong>de</strong>r o que fazia Abraão um homem rico, a <strong>de</strong>speito <strong>de</strong><br />
toda a escassez daquela terra. Abraão <strong>de</strong>veria continuar confiante nas<br />
promessas <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, mas tirou sua visão <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> e passou a consi<strong>de</strong>rar<br />
a escassez da terra, que por questões climáticas havia se tornado seca e<br />
a fome era sentida naquele lugar.<br />
Abraão se <strong>de</strong>ixou intimidar pela situação e não buscou <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> a<br />
resposta como aquEle que lhe daria todas as coisas como “o <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> toda<br />
provisão”. Seu coração se encheu <strong>de</strong> paixão material pela fartura do Egito.<br />
A Tentação da Fartura do Egito<br />
Abraão <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> olhar para o Senhor e sua visão foi mais longe. A<br />
“terra <strong>de</strong> leite e mel” on<strong>de</strong> vivia ficou empobrecida e sem condições <strong>de</strong><br />
produzir alimento e água para o gado e para as famílias do lugar on<strong>de</strong><br />
estava habitando. Ele ouve notícias do Egito que encheram o seu coração<br />
<strong>de</strong> ambição e, então, sem consultar a <strong>Deus</strong>, Abraão <strong>de</strong>cidiu mudar-se<br />
para o Egito. N a verda<strong>de</strong>, ele fraquejou em sua fé e tomou uma <strong>de</strong>cisão<br />
própria sem consultar o Senhor. A fartura do mundo é ilusória porque<br />
rouba a espiritualida<strong>de</strong> e produz um falso sentimento <strong>de</strong> satisfação.<br />
Quando Abraão <strong>de</strong>sceu ao Egito, saiu da direção divina, tomando seu<br />
próprio caminho. No Egito, por pouco não per<strong>de</strong> sua mulher. No Egito,<br />
foi instado por seu medo dos egípcios a mentir, enganar e quase foi morto.<br />
Mas <strong>Deus</strong> não <strong>de</strong>sistiu <strong>de</strong> seu plano para com Abraão e Sara, que<br />
tiveram que apren<strong>de</strong>r o risco <strong>de</strong> não obe<strong>de</strong>cer à vonta<strong>de</strong> soberana <strong>de</strong><br />
<strong>Deus</strong> em suas vidas (Gn 12.11-13).<br />
0 RISCO DE AGIR POR CONTA PRÓPRIA<br />
Provações Inevitáveis<br />
Estranhamente, o homem <strong>de</strong> fé que tinha ousadia em algumas<br />
<strong>de</strong>cisões confiado no cuidado <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> se torna um fraco influenciado<br />
39
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
por circunstâncias exteriores. Ele pensa na “fome da terra” ainda que<br />
não tenha atingido a si e a sua família, mas <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> olhar verticalmente<br />
para o Senhor, passando a olhar horizontalmente para a terra do Egito.<br />
Seu coração foi dominado por uma ambição maior na terra produtiva<br />
do Egito. Então, resolveu fazer seu próprio caminho com atitu<strong>de</strong> egocêntrica,<br />
enten<strong>de</strong>ndo que alcançaria sucesso no outro lado, o Egito,<br />
sem <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> ninguém.<br />
Quando escolhemos trilhar o próprio caminho para solução <strong>de</strong> nossos<br />
problemas, tornamo-nos vulneráveis a situações difíceis. A terra on<strong>de</strong><br />
Abraão escolhera para habitar era inóspita e havia enorme escassez em<br />
Canaá. O texto <strong>de</strong>clara que “havia fome naquela terra”. Abraão estava<br />
naquela terra porque <strong>Deus</strong> lhe garantia que seria abençoado, mas ele<br />
não teve paciência em esperar que o <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> toda provisão operasse<br />
o milagre. De repente, dominado por um sentimento <strong>de</strong> pessimismo,<br />
Abraão enten<strong>de</strong> que <strong>de</strong>veria tomar uma atitu<strong>de</strong> e, por isso, “<strong>de</strong>sceu ao<br />
Egito”. Esse estado <strong>de</strong> coisas o fizeram agir precipitadamente e, então,<br />
<strong>de</strong>cidiu fazer o seu próprio caminho, sem <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>.<br />
Salomão, rei <strong>de</strong> Israel, disse certa feita: “Há caminho que ao homem parece<br />
direito, mas o fim <strong>de</strong>le são os caminhos da morte” (Pv 14.12). <strong>Deus</strong> não nos<br />
trata como marionetes, mas espera que entendamos que os seus caminhos<br />
são melhores e conduzem às bênçãos plenas, materiais, físicas e espirituais.<br />
E sempre perigoso sair da direção divina e tomar o próprio caminho.<br />
As Ameaças da Vida no Egito sem a Direção <strong>de</strong> <strong>Deus</strong><br />
O ímpeto heroico <strong>de</strong> superação em Abraão era forte. Ele já havia<br />
se acostumado a ter vitórias em suas dificulda<strong>de</strong>s. Por um momento,<br />
Abraão esqueceu-se <strong>de</strong> que tudo quanto havia alcançado teve o toque<br />
do <strong>de</strong>do <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> na sua vida. Então, ele sai da direção divina e faz o<br />
seu próprio caminho. Naturalmente, ele se tornaria responsável pelas<br />
consequências <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>cisões. Mesmo tendo agido <strong>de</strong> forma in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte,<br />
Abraão não parou, em nenhum momento, para avaliar a atitu<strong>de</strong><br />
que estava tomando diante <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Pelo contrário, seguiu o próprio<br />
caminho que fez até o Egito.<br />
Ao <strong>de</strong>scer ao Egito, atraído por uma civilização adiantada em relação<br />
aos lugares on<strong>de</strong> estivera, Abraão imaginou, inicialmente, que po<strong>de</strong>ria<br />
40
Abraão - Desafios <strong>de</strong> um Homem Temente a <strong>Deus</strong><br />
“tocar a vida” por conta própria. Naquele lugar fora da vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>,<br />
ele náo levantou um altar ao Senhor. Abraão assumiu a direção <strong>de</strong> sua<br />
vida e começou a elaborar um modo <strong>de</strong> sobreviver naquele lugar sem<br />
correr riscos <strong>de</strong> vida. Passou a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> si mesmo para a tomada<br />
<strong>de</strong> qualquer <strong>de</strong>cisão para estabelecer sua fazenda nas terras egípcias.<br />
Agindo por conta do seu ego carnal, Abraão teceu planos para obter<br />
sucesso fácil naquela terra estrangeira. Então, a força da carne o fez<br />
engenhar artifícios <strong>de</strong> mentira, <strong>de</strong> dissimulação e duplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> caráter<br />
para não sofrer qualquer impedimento da parte dos egípcios. Totalmente<br />
fora da vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, ele passou a usar dos artifícios que o levariam<br />
a mentir, dissimular para passar no meio dos egípcios sem ser notado.<br />
Começou sua jornada mentirosa e dissimulada ao mentir sobre Sara,<br />
sua mulher, com medo <strong>de</strong> ser morto por causa <strong>de</strong>la, porque era muito<br />
bonita (Gn 12.13). Traçou um plano <strong>de</strong> dissimulação para sua mulher<br />
fingir que era sua irmã, e não sua esposa (Gn 12.13).<br />
Ele estava completamente distante da vonta<strong>de</strong> soberana <strong>de</strong> <strong>Deus</strong><br />
c, por isso, tomou <strong>de</strong>cisões que expuseram sua mulher a fazer o que<br />
não queria fazer, indo para o palácio <strong>de</strong> Faraó. Abraão abandonou o<br />
caminho da fé para viver sob seus próprios méritos. Ambos, Abraão<br />
e Sara, sabiam que estavam fora do plano <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> e que a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong><br />
sair <strong>de</strong> Canaá e vir para o Egito era uma <strong>de</strong>cisão rebel<strong>de</strong>, auto<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />
e egoísta. Certamente os dois, Abraão e Sara, sabiam do erro<br />
que cometeram neutralizando a voz <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> em suas vidas. Era como<br />
se estivessem dizendo a <strong>Deus</strong> que não se preocupasse com eles, pois<br />
sabiam cuidar <strong>de</strong> si mesmos. Ainda assim, <strong>Deus</strong> não <strong>de</strong>sistiu <strong>de</strong>les. O<br />
seu plano original estava <strong>de</strong> pé para os dois.<br />
0 Caminho Fora da Vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Deus</strong><br />
Nos versículos 11 a 13, temos o retrato <strong>de</strong> um homem e uma mulher<br />
que sufocam a força da fé pela qual venceram obstáculos e ambos<br />
fazem uma dissimulação para enganar os egípcios. Era um modo <strong>de</strong><br />
tentar “tapar o sol com uma peneira”. Abraão propõe a Sara fingir ser<br />
sua irmã, e negar que era sua esposa. Essa dissimulação foi um ato <strong>de</strong><br />
covardia <strong>de</strong> Abraão para com sua esposa. Ela era uma mulher muito<br />
bonita, e quando os egípcios a vissem, matariam a Abraão se <strong>de</strong>scobris<br />
41
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
sem que era sua esposa. Ambos tiveram atitu<strong>de</strong>s enganosas, por isso<br />
usaram <strong>de</strong> disfarce e fingimento para continuarem naquela terra. Ele<br />
expôs sua mulher ao ridículo, à vergonha e correu o risco <strong>de</strong> perdê-la,<br />
caso o Faraó gostasse <strong>de</strong>la.<br />
O caminho fora da vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> induz aos caminhos tortuosos e<br />
pecaminosos. Tiago, apóstolo <strong>de</strong> Jesus Cristo, escreveu: “Mas cada um<br />
é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência.<br />
Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o<br />
pecado, sendo consumado, gera a morte” (Tg 1.14,15). N o versículo<br />
13, Abraão teve uma atitu<strong>de</strong> que revelou a sua fraqueza dominada pelo<br />
“espírito do erro” quando induz sua mulher, Sara, a agir com duplicida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> caráter, levando-a a dissimular, mentir e agir com duas atitu<strong>de</strong>s.<br />
Ele e sua mulher, conscientes do pecado da mentira e da dissimulação,<br />
ficaram expostos aos mais absurdos pecados. Os dois teriam que fingir<br />
para sobreviver. A duplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> caráter é algo que aborrece a <strong>Deus</strong>.<br />
Os dois imaginaram que nada mais po<strong>de</strong>riam fazer para voltar atrás e<br />
que certamente <strong>Deus</strong> não os perdoaria, e eles teriam que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />
seus próprios esforços. O autor do Salmo 119 diz do seu sentimento <strong>de</strong><br />
temor a <strong>Deus</strong>: “Aborreço a duplicida<strong>de</strong>, mas amo a tua lei” (SI 119.113).<br />
Fora da direção <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, Abraão e Sara passaram a agir com total duplicida<strong>de</strong><br />
para proteger suas vidas e seus interesses materiais; por isso,<br />
o uso <strong>de</strong> má fé para obter algum tipo <strong>de</strong> lucro é rejeitado pela Palavra<br />
<strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Tiago, em sua epístola no Novo Testamento, escreveu que “o<br />
homem <strong>de</strong> coração dobre é inconstante em todos os seus caminhos” (Tg<br />
1.8). <strong>Deus</strong> sabia e conhecia a Abraão e sabia que era homem íntegro,<br />
mas, por medo, passou a agir <strong>de</strong> forma errada. Passou por todos os riscos<br />
possíveis ante o Faraó e o povo do Egito, e po<strong>de</strong>ria ter sido morto.<br />
Por causa <strong>de</strong> sua mentira, po<strong>de</strong>ria ter perdido sua mulher para Faraó e<br />
ainda po<strong>de</strong>ria ser morto. Diz o sábio Salomão nos seus provérbios que<br />
“suave é ao homem o pão da mentira, mas, <strong>de</strong>pois, a sua boca se encherá<br />
<strong>de</strong> pedrinhas <strong>de</strong> areia” (Pv 20.17). Entretanto, não aconteceu o pior,<br />
porque Faraó foi mais justo do Abraão, <strong>de</strong>volvendo Sara e or<strong>de</strong>nando a<br />
sua saída do Egito. Mas os juízos <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> são perfeitos, e Ele interferiu<br />
naquela situação para que Abraão fosse salvo da morte.<br />
42
Abraão - Desafios <strong>de</strong> um Homem Temente a <strong>Deus</strong><br />
A Interferência do <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão na Vida <strong>de</strong> Abraão<br />
Fora do Egito, Abraão e Sara tiveram que amargar a vergonha do seu<br />
pecado <strong>de</strong> mentira e fingimento naquela terra. Sua consciência amordaçada<br />
enquanto fazia coisas erradas foi liberada para que Abraão tivesse uma<br />
atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> arrependimento a fim <strong>de</strong> alcançar a misericórdia <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>.<br />
O relato bíblico diz que, envergonhado Abraão e todo o seu povo<br />
saiu com ele para fora do Egito. Génesis 13.1 diz que: “Subiu, pois,<br />
Abrão do Egito para a banda do sul”. Abraão apren<strong>de</strong>u a lição e voltou<br />
ao lugar anterior em Betei, na terra <strong>de</strong> Canaã, e foi ao lugar do altar que<br />
outrora tinha levantado e “invocou ali o nome do Senhor” (Gn 13.4).<br />
Apesar dos erros do casal, <strong>Deus</strong> não os julgou pelos critérios dos<br />
homens. Ele fez valer sua justiça para preservar seu plano na vida <strong>de</strong><br />
Abraão e lhe ensinou, por intermédio <strong>de</strong> Faraó, que o seu senso <strong>de</strong><br />
justiça era mais correto do que o <strong>de</strong> Abraão e, por isso, liberou Sara,<br />
sem tocá-la, e entregou-a ao marido, on<strong>de</strong>ando-lhe que saísse da terra<br />
do Egito. Na verda<strong>de</strong>, houve interferência divina, e Abraão e Sara tiveram<br />
que amargar a vergonha do seu pecado <strong>de</strong> mentira e fingimento<br />
naquela terra.<br />
CONCLUSÃO<br />
A <strong>de</strong>speito dos momentos <strong>de</strong> fraqueza <strong>de</strong> Abraão, sua fé foi o elemento<br />
espiritual que o capacitou a agir e reagir para superar as dificulda<strong>de</strong>s.<br />
Ele já tinha vencido gran<strong>de</strong>s reveses e, agora, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> haver chegado à<br />
Terra Prometida, não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar-se ofuscar pelo <strong>de</strong>sânimo. O caos<br />
da fome experimentado na terra <strong>de</strong> Canaã e as <strong>de</strong>cisões precipitadas<br />
pelas quais pagou um preço caro <strong>de</strong> perdas o ensinaram a reconhecer<br />
que o seu <strong>Deus</strong> não era como os <strong>de</strong>uses mortos e neutros daquela terra.<br />
O seu <strong>Deus</strong> era o <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> toda provisão.<br />
O caminho da vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> é sempre cheio <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios<br />
que nos ensinam a lidar com as circunstâncias adversas.<br />
43
Capítulo 4<br />
A PROVISÃO DE DEUS<br />
NO MONTE DO SACRIFÍCIO<br />
E em tua semente serão benditas todas as nações da terra,<br />
porquanto obe<strong>de</strong>ceste à minha voz.<br />
— Génesis 22.18<br />
Até o capítulo 16, o velho patriarca tinha o nome Abráo e sua mulher<br />
era Sarai. Posteriormente, no capítulo 17, Yahweh muda o nome do casal,<br />
e Abráo passou a ser Abraão, que significa “pai <strong>de</strong> uma multidão”, e Sarai<br />
(princesa) passou a ser Sara, que significa “mãe das nações” (Gn 17.5,15,16).<br />
Abraão havia experimentado a intervenção <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> em várias situações,<br />
com gran<strong>de</strong>s vitórias e conquistas. Ainda no capítulo 17, Abraão e Sara,<br />
além da mudança <strong>de</strong> seus nomes, recebem do Senhor a promessa <strong>de</strong> um<br />
filho, o qual seria a semente <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> multidão que formaria um<br />
povo especial que representaria os interesses <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> na face da terra.<br />
Apesar do conflito por causa do filho da escrava Agar, o filho que seria<br />
gerado no ventre <strong>de</strong> Sara seria um milagre, uma vez que ambos não tinham<br />
mais ida<strong>de</strong> para a procriação. O tempo passou e quinze <strong>de</strong>pois nasceu<br />
Isaque, o filho da promessa, o qual foi muito amado por Abraão e Sara.<br />
Ao chegar ao capítulo 22, Abraão experimenta a maior prova <strong>de</strong><br />
toda a sua vida, quando <strong>Deus</strong> lhe pe<strong>de</strong> o objeto maior do seu amor, o<br />
filho Isaque, em sacrifício. A obediência à or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> parecia que<br />
iria inviabilizar a concretização da promessa <strong>de</strong> fazer da sua semente um<br />
gran<strong>de</strong> povo. A história <strong>de</strong>sse capítulo representa o ponto clímax da vida
A Provisão <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> no Monte do Sacrifício<br />
religiosa <strong>de</strong> Israel. Para alguns críticos da Bíblia, essa história significa<br />
apenas uma alegoria e, por isso, negam o sentido literal do texto.<br />
Entretanto, por mais irracional que pareça o episódio, essa história<br />
é verda<strong>de</strong>ira e os fatos da mesma <strong>de</strong>monstram o teste mais forte que<br />
um homem po<strong>de</strong>ria enfrentar. Abraão foi submetido por <strong>Deus</strong> a uma<br />
experiência que provaria a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua fé e confiança no po<strong>de</strong>r<br />
sustentador <strong>de</strong> Jeová-Jireh, o <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> Israel. Foi or<strong>de</strong>nado que fosse a<br />
um monte, chamado Moriá, e naquele monte sacrificaria o seu filho, o<br />
filho da promessa. Pela fé, Abraão obe<strong>de</strong>ceu à or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> e tomou<br />
o caminho do sacrifício com seu filho Isaque.<br />
O apóstolo Paulo <strong>de</strong>clarou que “a fé opera por amor” (G1 5.6) e esta<br />
verda<strong>de</strong> mostra que Abraão amava a <strong>Deus</strong> mais do que a qualquer outra<br />
coisa em sua vida. Quando <strong>Deus</strong> o prova pedindo-lhe o “filho do seu<br />
amor”, Abraão, com o coração estremecido pelo pedido <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, não<br />
titubeia em oferecer seu filho Isaque em sacrifício, porque cria que <strong>Deus</strong><br />
era po<strong>de</strong>roso até para dos mortos o ressuscitar (Hb 11.18).<br />
0 GRANDE DESAFIO DA FÉ<br />
Abraão É Submetido a uma Prova humanamente Impossível<br />
No caminho da fé trilhado por Abraão, havia uma estreita comunhão<br />
com <strong>Deus</strong>. Ele cria piamente em tudo quanto <strong>Deus</strong> lhe dizia e prometia.<br />
Não duvidava nunca da fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, por isso, a obediência era<br />
um elemento que entrelaçado com a fé se constitui num exemplo para<br />
a vida cristã (Rm 1.5; At 5.32). A prova era difícil porque o que <strong>Deus</strong><br />
lhe pedia não fazia parte das ações divinas, uma vez que <strong>Deus</strong> jamais<br />
requeria sacrifício humano para agradá-lo. <strong>Toda</strong>via, era uma prova para<br />
ver se Abraão estaria disposto a obe<strong>de</strong>cer.<br />
Abraão é chamado “pai da fé” no Antigo Testamento porque foi um<br />
dos exemplos maiores <strong>de</strong> fé na história bíblica. Mesmo tendo falhado<br />
algumas vezes em <strong>de</strong>cisões precipitadas ao longo do caminho proposto<br />
pelo Senhor, <strong>Deus</strong> conhecia o seu coração. Humanamente, a prova<br />
parecia um paradoxo com a imagem <strong>de</strong> um <strong>Deus</strong> amoroso, justo e<br />
que jamais aceitaria um sacrifício humano para agradá-lo. Parece um<br />
contrassenso, mas <strong>Deus</strong> pediu a Abraão algo humanamente impossível,<br />
uma vez que a prática <strong>de</strong> sacrifícios humanos era realizada nas religiões<br />
4 5
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
pagãs. Mas o <strong>de</strong>safio foi feito, e Abraão teria que provar sua lealda<strong>de</strong><br />
agora. Em outras ocasiões, Abraão falhou como homem e chegou a<br />
<strong>de</strong>sobe<strong>de</strong>cer a <strong>Deus</strong>, mas não seria pelos <strong>de</strong>slizes passados que <strong>Deus</strong> o<br />
julgaria nem pelos <strong>de</strong>slizes momentâneos, senão já teria <strong>de</strong>sistido <strong>de</strong>le.<br />
Entretanto, <strong>Deus</strong> via em Abraão qualida<strong>de</strong>s maiores que suas fraquezas.<br />
Ele precisava ser provado nos seus altos e baixos da vida para<br />
apren<strong>de</strong>r a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Abraão <strong>de</strong>senvolveu uma intimida<strong>de</strong> com<br />
<strong>Deus</strong> que o tornou mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> ação e reação diante dos <strong>de</strong>safios invisíveis<br />
e imprevisíveis em sua vida. N o capítulo 21 <strong>de</strong> Génesis, Abraão já<br />
havia experimentado alguns momentos <strong>de</strong> frustração e amargura que<br />
o fizeram avaliar melhor suas <strong>de</strong>cisões para com <strong>Deus</strong>.<br />
<strong>Deus</strong> o Prova no Limite da Capacida<strong>de</strong> que Abraão<br />
Tinha para Suportar<br />
A Bíblia nos mostra na história <strong>de</strong> vários homens e mulheres que <strong>Deus</strong><br />
conhece a cada um <strong>de</strong> nós individualmente. Abraão experimentou uma<br />
das provas mais fortes <strong>de</strong> toda a sua vida. Essa prova se constituiu numa<br />
crise sem prece<strong>de</strong>ntes porque requeria atitu<strong>de</strong>s contra as suas dúvidas, sua<br />
história <strong>de</strong> vida, a reação <strong>de</strong> Sara, sua mulher, ante o pedido <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>,<br />
o medo <strong>de</strong> se sentir enganado por acreditar na voz invisível <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>.<br />
Indiscutivelmente, Abraão foi levado a sentir o coração em ritmo mais<br />
forte do que tenha experimentado em outras situações. Talvez uma das<br />
crises maiores foi a <strong>de</strong> imaginar que <strong>Deus</strong> não estava agindo consigo<br />
<strong>de</strong> modo racional. Por que fazer um pedido humanamente impossível?<br />
Até on<strong>de</strong> e como suportaria enfrentar essa prova? <strong>Toda</strong>s as reações eram<br />
entendidas por <strong>Deus</strong> e Ele não o julgaria mal por algumas atitu<strong>de</strong>s<br />
zangadas. Abraão foi levado ao limite <strong>de</strong> sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r<br />
aquela situação, mas preferiu crer no po<strong>de</strong>r onipotente <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, que<br />
seria capaz <strong>de</strong> não <strong>de</strong>cepcioná-lo. Pelo contrário, Abraão sabia que,<br />
mesmo não enten<strong>de</strong>ndo <strong>Deus</strong> naquela situação, <strong>de</strong>veria obe<strong>de</strong>cer-lhe.<br />
Há uma palavra do apóstolo Paulo aos coríntios que revela como <strong>Deus</strong><br />
nos trata nessas situações com as quais não sabemos como lidar: “Não<br />
veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é <strong>Deus</strong>, que vos não<br />
<strong>de</strong>ixará tentar acima do que po<strong>de</strong>is; antes, com a tentação dará também<br />
o escape, para que a possais suportar” (1 Co 10.13). Abraão chegou ao<br />
4 6
A Provisão <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> no Monte do Sacrifício<br />
máximo da sua capacida<strong>de</strong> emocional e intelectual para aceitar o <strong>de</strong>safio<br />
que <strong>Deus</strong> lhe fizera. Humanamente, o pedido <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> pareceu-lhe<br />
ilógico, impróprio, irracional e impossível <strong>de</strong> ser aceito. <strong>Deus</strong> havia lhe<br />
pedido em holocausto o seu filho, “o filho da promessa”, o único <strong>de</strong> Sara.<br />
Parecia que <strong>Deus</strong> estivesse pedindo <strong>de</strong>volução <strong>de</strong> algo que lhe <strong>de</strong>ra. De<br />
fato, era uma prova que levou Abraão ao limite <strong>de</strong> sua resistência para<br />
que apren<strong>de</strong>sse a confiar no inexaurível po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> sustentação <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>.<br />
Quantas vezes dizemos para <strong>Deus</strong> em nossas provas: “Não posso mais”,<br />
“Não aguento mais” ou “Vou <strong>de</strong>sistir”. Então <strong>Deus</strong> entra em ação e<br />
suaviza o nosso sacrifício. Ele não <strong>de</strong>ixa que nossas resistências estourem<br />
sem que saibamos que Ele nos prova para que o conheçamos melhor.<br />
0 AUGE DA PROVA<br />
Três Elementos da Prova: Amor, Obediência e Fé<br />
Para enten<strong>de</strong>rmos as priorida<strong>de</strong>s que <strong>de</strong>vem nortear a nossa vida,<br />
<strong>de</strong>vemos, <strong>de</strong> fato, saber o que é importante na nossa vida pessoal. O<br />
que consi<strong>de</strong>ramos priorida<strong>de</strong> máxima em nossa vida? Era o que <strong>Deus</strong><br />
queria saber <strong>de</strong> Abraão, se ele o amava mais que a qualquer outra coisa.<br />
Ele o amava mais que ao filho Isaque? <strong>Deus</strong> não estava querendo exigir<br />
<strong>de</strong> Abraão além do suportável. <strong>Deus</strong> queria, <strong>de</strong> fato, que Abraão não se<br />
esquecesse <strong>de</strong> que ele fazia parte <strong>de</strong> um projeto divino e que seria assistido<br />
o tempo todo. Para que Abraão enten<strong>de</strong>sse bem essa relação com <strong>Deus</strong>,<br />
precisaria passar pela prova <strong>de</strong>sses três elementos importantes: amor,<br />
obediência e fé. Esses três elementos continham a essência da prova.<br />
O primeiro elemento era o seu am or p ara com <strong>Deus</strong>. <strong>Deus</strong> queria<br />
provar se havia ainda alguma coisa mais forte no coração <strong>de</strong> Abraão,<br />
algum sentimento que fosse capaz <strong>de</strong> superar o amor a <strong>Deus</strong>. Ora,<br />
Abraão amava o filho Isaque como se não houvesse nada mais forte,<br />
mas <strong>Deus</strong> queria que Abraão o amasse pelo fato <strong>de</strong> que todas as bênçãos<br />
sobre sua vida advinham dEle. Ao pedir Isaque em sacrifício, <strong>Deus</strong> o<br />
estava provando no máximo <strong>de</strong> seus sentimentos.<br />
O segundo elemento era a obediência, e a Bíblia diz que, <strong>de</strong>pois que<br />
<strong>Deus</strong> pediu-lhe o filho em sacrifício, Abraão “levantou-se, e foi ao lugar<br />
que <strong>Deus</strong> lhe dissera” (Gn 22.3). Ele passou nessa prova, porque não<br />
discutiu com <strong>Deus</strong> seu pedido, mas dispôs-se a obe<strong>de</strong>cer-lhe sem reservas.<br />
47
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
O terceiro elemento <strong>de</strong>ssa prova era a fé. Se antes, em algumas<br />
circunstâncias, Abraão chegou a vacilar na sua fé, agora, amadurecido<br />
pela sua experiência com <strong>Deus</strong>, foi suficiente para passar não teste<br />
divino. Abraão enten<strong>de</strong>u pela fé que <strong>Deus</strong> sabia mais do que ele e seria<br />
capaz <strong>de</strong> operar um milagre. O autor da Carta aos Hebreus <strong>de</strong>finiu a<br />
fé como “o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das<br />
coisas que se não veem” (Hb 11.1). Ora, sabem que a fé é um elemento<br />
ativo da vida emocional e espiritual que ajuda a vida psicológica do ser<br />
humano, ou então a sua negação, que produz ru<strong>de</strong>z e incredulida<strong>de</strong>. A<br />
fé é um elemento <strong>de</strong> nossa natureza moral e espiritual que se expressa<br />
<strong>de</strong> acordo com o direcionamento que damos a ela, a <strong>Deus</strong> ou ao Diabo,<br />
às paixões da carne ou ao Espírito Santo. Abraão apren<strong>de</strong>u a conhecer a<br />
<strong>Deus</strong> e manter comunhão com Ele. Na experiência específica <strong>de</strong> Abraão,<br />
os três elementos vitais da sua relação com <strong>Deus</strong> seriam indispensáveis<br />
para que Abraão apren<strong>de</strong>sse a reconhecer que <strong>Deus</strong> queria o melhor <strong>de</strong><br />
sua vida para que o projeto inicial pu<strong>de</strong>sse ser concretizado.<br />
0 Clímax da Prova<br />
Qual é a prova máxima <strong>de</strong> nossa fé hoje? Nessa história, a prova<br />
máxima para Abraão foi a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> confrontar o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> e<br />
colocá-lo acima dos nossos interesses pessoais. Abraão teve que superar<br />
os seus próprios limites e acreditar que o plano <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> é sempre melhor<br />
que o nosso. A obediência ao plano divino requeria sua prontidão<br />
para obter a bênção maior. Abraão não discutiu o plano com <strong>Deus</strong><br />
nem contra-argumentou, nem questionou com <strong>Deus</strong>. Ele apenas creu<br />
e obe<strong>de</strong>ceu.<br />
Abraão tomou a <strong>de</strong>cisão e partiu para a viagem a um dos montes<br />
<strong>de</strong> Moriá a fim <strong>de</strong> cumprir o pedido <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Depois <strong>de</strong> três dias <strong>de</strong><br />
viagem, Abraão, Isaque e os moços que estavam com eles chegaram ao<br />
monte Moriá. Os dois moços que o acompanhavam ficaram ao pé do<br />
monte, e Abraão e o filho Isaque tomaram a lenha e o cutelo e subiram<br />
ao monte do sacrifício (Gn 22.4-6). N o caminho da subida, o pai e<br />
o filho conversam. Isaque não sabia como seria feito esse sacrifício,<br />
uma vez que eles não tinham consigo um animal (um cor<strong>de</strong>iro) para o<br />
holocausto. O filho pergunta ao pai: “[...] on<strong>de</strong> está o cor<strong>de</strong>iro para o<br />
48
A Provisão <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> no Monte do Sacrifício<br />
holocausto?” (Gn 22.7). O velho Abraão, <strong>de</strong> forma incisiva e confiante<br />
no <strong>Deus</strong> da Provisão, apenas lhe diz: “<strong>Deus</strong> proverá para si o cor<strong>de</strong>iro”<br />
(Gn 22.8). A confiança <strong>de</strong> Abraão <strong>de</strong> que <strong>Deus</strong> faria alguma coisa<br />
que ele mesmo não po<strong>de</strong>ria imaginar <strong>de</strong>u-lhe forças para continuar a<br />
subida até o alto do monte. E natural que tenhamos dificulda<strong>de</strong>s para<br />
enten<strong>de</strong>r as coisas espirituais, mas o Senhor conhece a nossa estrutura<br />
e sabe “que somos pó” (SI 103.14). Mas Ele nos fortalece interiormente<br />
para que não duvi<strong>de</strong>mos <strong>de</strong> seu caráter.<br />
0 Momento Decisivo da Prova<br />
A crise maior vivida por Abraão era aquele momento crucial <strong>de</strong> falar<br />
ao filho que ele era o sacrifício que <strong>Deus</strong> havia pedido e que precisava<br />
ser realizado. A história não diz o que aconteceu naquele momento.<br />
Entretanto, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>duzir que Isaque confiava no caráter do seu<br />
pai, Abraão, e sabia que o seu <strong>Deus</strong> faria alguma coisa que impedisse<br />
aquele sacrifício. Havia uma predisposição para obe<strong>de</strong>cer a <strong>Deus</strong> que<br />
o guiara até aquele momento <strong>de</strong> sua vida. Sua mulher ainda não sabia<br />
do que Abraão faria naquele monte do sacrifício nem imaginava que a<br />
vítima do sacrifício seria seu filho Isaque. Certamente Abraão entrou<br />
numa crise do ser e do fazer. A sua fé exemplar parecia agora per<strong>de</strong>r<br />
a sua singularida<strong>de</strong> e tudo parecia entrar em colapso. Abraão sempre<br />
esteve pronto a respon<strong>de</strong>r a <strong>Deus</strong>: “Eis-me aqui”, mas agora tinha<br />
vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> dizer: “Não, Senhor”. Mas aquietou-se e arriscou-se a fazer<br />
o que <strong>Deus</strong> lhe havia pedido.<br />
O caminho da obediência é sempre mais difícil, mas não impossível,<br />
porque <strong>Deus</strong> age no momento certo. Tanto o pai quanto o filho<br />
chegaram ao ponto máximo <strong>de</strong> sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fé e emoção para<br />
submeter-se a essa prova. Mas Abraão sabia que <strong>Deus</strong> não é homem para<br />
minta (Nm 23.19); por isso, ele arriscou no futuro e vislumbrou em sua<br />
mente a certeza <strong>de</strong> que aquele que tira a vida também a dá (1 Sm 2.6).<br />
Abraão convenceu seu filho a aceitar o <strong>de</strong>safio e, como fazia com<br />
o cor<strong>de</strong>iro para o sacrifício, o amarrou e o colocou sobre a lenha em<br />
cima do altar <strong>de</strong> pedras que levantou. Preparou-se para o momento<br />
mais crucial <strong>de</strong> sua vida, já tendo Isaque amarrado como um cor<strong>de</strong>iro<br />
sobre o altar, e levantou o cutelo para imolá-lo. Nesse momento, o anjo<br />
49
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
do Senhor, que via tudo quanto Abraão havia feito até aquele instante,<br />
bradou forte e <strong>de</strong>clarou: “Abraão, Abraão! E ele disse: Eis-me aqui. Então,<br />
disse: Não estendas a tua mão sobre o moço e não lhe faças nada;<br />
porquanto agora sei que temes a <strong>Deus</strong> e não me negaste o teu filho, o<br />
teu único” (Gn 22.11,12). Bem perto <strong>de</strong>les, o anjo trouxe um cor<strong>de</strong>iro,<br />
e Abraão e Isaque passaram no teste <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> e fortaleceram ainda mais<br />
a sua fé. Sem dúvida, Abraão chegou ao ápice <strong>de</strong> sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fé<br />
e emoção. A Bíblia <strong>de</strong>clara que “<strong>Deus</strong> escolheu as coisas loucas <strong>de</strong>ste<br />
mundo para confundir as sábias; e <strong>Deus</strong> escolheu as coisas fracas <strong>de</strong>ste<br />
mundo para confundir as fortes. E <strong>Deus</strong> escolheu as coisas vis <strong>de</strong>ste<br />
mundo, e as <strong>de</strong>sprezíveis, e as que não são para aniquilar as que são;<br />
para que nenhuma carne se glorie perante ele” (1 Co 1.27-29).<br />
0 Monte Moriá, um Tipo do Monte Calvário<br />
Três elementos <strong>de</strong>ssa história <strong>de</strong> Abraão se constituem tipos da<br />
história da nossa salvação: o monte, o cor<strong>de</strong>iro substituto e o altar.<br />
O texto <strong>de</strong> Génesis diz que Abraão viu ao longe o lugar do sacrifício<br />
e, por três dias, caminhou até aquele monte. Tal fato lembra-nos que<br />
<strong>Deus</strong>, o Pai celestial, permitiu que seu Filho unigénito fosse sacrificado<br />
como o Cor<strong>de</strong>iro substituto em lugar do mundo pecador e, por<br />
três dias, permanecesse sepultado no seio da terra, para <strong>de</strong>pois ser<br />
ressuscitado ao terceiro dia.<br />
A intervenção divina no monte M oriá (Gn 22.11,12) lembra o<br />
momento exato quando Abraão ia imolar seu filho. <strong>Deus</strong> interveio<br />
e proveu um cor<strong>de</strong>iro substituto para o sacrifício. Um dia, no monte<br />
Caveira, <strong>de</strong>nominado Calvário, o sacrifício não foi substituído, e Jesus<br />
foi sacrificado pelos nossos pecados. N a verda<strong>de</strong>, Abraão viu, pela revelação<br />
da fé, o Cor<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> que tira o pecado do mundo. Jesus<br />
<strong>de</strong>clarou: “Abraão, vosso pai, exultou por ver o meu dia” (Jo 8.56). Que<br />
dia era esse? O dia em que Jesus se entregou como sacrifício vivo, como<br />
Cor<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> (E f 1.7; Cl 1.14). O monte foi o Calvário; o altar foi<br />
a cruz <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira; e o cor<strong>de</strong>iro foi Jesus, o Filho unigénito <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>.<br />
Abraão tipifica <strong>Deus</strong>, o Pai, que ofereceu o filho amado em resgate dos<br />
pecadores. João lembra as palavras <strong>de</strong> Jesus em vida terrena quando<br />
disse: “Porque <strong>Deus</strong> amou o mundo <strong>de</strong> tal maneira que <strong>de</strong>u o seu Filho<br />
50
A Provisão <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> no Monte do Sacrifício<br />
unigénito, para que todo aquele que nele crê náo pereça, mas tenha a<br />
vida eterna (Jo 3.16). O apóstolo Paulo reforça essa verda<strong>de</strong> quando<br />
escreveu aos romanos: Mas <strong>Deus</strong> prova o seu amor para conosco em<br />
que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8). A<br />
crise maior dos pecadores era o pecado, mas Jesus tomou o lugar dos<br />
pecadores e <strong>de</strong>u a sua vida por eles, <strong>de</strong>sfazendo toda a crise <strong>de</strong> con<strong>de</strong>nação<br />
do pecado. Diz ainda Paulo aos romanos: “Sendo, pois, justificados<br />
pela fé, temos paz com <strong>Deus</strong> por nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5.1).<br />
CONCLUSÃO<br />
Apren<strong>de</strong>mos com Abraão que <strong>Deus</strong> provê todas as nossas necessida<strong>de</strong>s,<br />
em qualquer lugar em que estejamos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que haja em nós a<br />
disposição <strong>de</strong> reconhecer sua soberania e suprema vonta<strong>de</strong>. Apren<strong>de</strong>mos<br />
com Abraão que é perfeitamente possível viver uma vida em consonância<br />
com as exigências divinas.<br />
A sublimida<strong>de</strong> da fé manifesta-se na obediência.<br />
51
Capítulo 5<br />
ABRAÃO, LÓ<br />
E AS CAMPINAS DO JORDÃO<br />
Amando ao Senhor, teu <strong>Deus</strong>, dando ouvidos à sua voz<br />
e te achegando a ele; pois ele é a tua vida e a longura dos teus dias;<br />
p ara que fiques na terra que o Senhor jurou a teus pais,<br />
a Abraão, a Isaque e a Jacó, que lhes havia <strong>de</strong> dar.<br />
- Deuteronômio 30.20<br />
O caminho que Abrão teria que percorrer traçado por <strong>Deus</strong> não era<br />
um caminho sem as dificulda<strong>de</strong>s próprias que surgem na caminhada.<br />
Mas seria um caminho sob a égi<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, e Abrão não teria o que<br />
temer, porque <strong>Deus</strong> cuidaria <strong>de</strong>le e tudo quanto possuía. Entretanto,<br />
Abrão se <strong>de</strong>ixou dominar pelo sentimentalismo familiar e permitiu que<br />
seus parentes interferissem na sua caminhada traçada por <strong>Deus</strong> para a<br />
“Terra Prometida”.<br />
Quando <strong>Deus</strong> o chamou, fez-lhe um <strong>de</strong>safio em que a obediência seria<br />
o ponto-chave do sucesso do projeto <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> na sua vida. Esse projeto<br />
revelado a Abrão acerca da Terra Prometida não incluía seus parentes, mas<br />
Abrão não conseguiu dizer não para os seus familiares, e estes criaram<br />
várias dificulda<strong>de</strong>s ao longo da sua peregrinação <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que saiu <strong>de</strong> Ur dos<br />
Cal<strong>de</strong>us (Gn 12.1). Havia um sobrinho chamado Ló que tinha família<br />
formada e estava instalado naquela terra. Ele era ambicioso e sonhador,<br />
por isso, sem que Abrão pu<strong>de</strong>sse explicar que o plano não o incluía, Ló<br />
juntou seus pertences, levando mulher, filhos, servos e servas, seu gado e
Abraão, Ló e as Campinas do Jordão<br />
tudo quanto po<strong>de</strong>ria carregar em seus animais seguindo a mesma rota<br />
do caminho <strong>de</strong> Abrão. N a realida<strong>de</strong>, o plano original <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> para<br />
Abrão foi interceptado por aqueles parentes que lhe trouxeram muitos<br />
problemas. Essa interferência foi mantida por muitos anos, mas <strong>Deus</strong>,<br />
paciente e amoroso, soube esperar o momento certo para agir e liberar<br />
Abrão e Sarai daquelas amarras familiares.<br />
No capítulo 13, Abrão ainda era i<strong>de</strong>ntificado pelo nome <strong>de</strong> família,<br />
Abrão”, bem como sua esposa, “Sarai”. Depois alguns anos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />
saiu <strong>de</strong> Harã, já com 99 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, <strong>Deus</strong> promove um encontro<br />
pessoal com Abrão, lhe faz promessas e muda o seu nome <strong>de</strong> Abrão<br />
para “Abraão”, com o significado <strong>de</strong> “pai <strong>de</strong> uma multidão <strong>de</strong> nações”.<br />
Também trocou o nome <strong>de</strong> Sarai para “Sara”, cujo significado é “mãe<br />
<strong>de</strong> nações”, e lhe promete um filho em sua velhice (Gn 17.1,4,5,15). Da<br />
semente <strong>de</strong> Abrão formaram-se muitas nações.<br />
Entretanto, essa história vem <strong>de</strong>monstrar ao povo <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> hoje,<br />
a Igreja, que as interferências humanas e materiais po<strong>de</strong>m prejudicar<br />
os projetos <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> para a nossa vida. Abrão <strong>de</strong>veria, tão somente,<br />
obe<strong>de</strong>cer e fazer a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> e, então, todas as coisas fariam seu<br />
curso normal porque <strong>Deus</strong> garante o que diz. Embora <strong>Deus</strong> <strong>de</strong>termine<br />
todas as coisas, Ele o faz respeitando a vonta<strong>de</strong> do homem, seu livre-arbítrio.<br />
Por isso, cada um <strong>de</strong> nós é responsabilizado pelas <strong>de</strong>cisões que<br />
tomamos. <strong>Deus</strong> tem sua vonta<strong>de</strong> soberana e po<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar o que<br />
quiser, mas, ao mesmo tempo, Ele faz valer suas misericórdias quando<br />
não correspon<strong>de</strong>mos plenamente o que Ele nos or<strong>de</strong>na fazer. Por isso,<br />
<strong>Deus</strong> não <strong>de</strong>sistiu <strong>de</strong> Abrão porque sabia que ele o amava e queria fazer<br />
a sua vonta<strong>de</strong>. <strong>Deus</strong> sabia também que Abrão, como homem, tinha as<br />
limitações próprias que po<strong>de</strong>riam criar algumas dificulda<strong>de</strong>s.<br />
0 CUIDADO COM NOSSAS ESCOLHAS<br />
Interferência <strong>de</strong> Provações Imprevisíveis<br />
Nossas escolhas po<strong>de</strong>m influenciar nossas <strong>de</strong>cisões para bem e para<br />
o mal. Muito das nossas escolhas tem a ver com a questão da vonta<strong>de</strong>,<br />
a nossa vonta<strong>de</strong> e o confronto com a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Todos queremos<br />
fazer a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, mas sabemos que fazer a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>,<br />
quase sem exceção, envolve riscos, ajustes, <strong>de</strong>cepçóes, sucessos e <strong>de</strong>r<br />
53
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
rotas e, também, mudanças. Normalmente amamos tudo aquilo que<br />
for familiar e conhecido por nós; gostamos em especial das coisas que<br />
po<strong>de</strong>mos controlar. Nossas escolhas pessoais envolvem esses elementos.<br />
Em relação a <strong>Deus</strong>, queremos entregar a Ele nossos <strong>de</strong>sejos e alinhá-los<br />
com o seu querer. Porém, quando temos <strong>de</strong> escolher um caminho <strong>de</strong><br />
renúncia que Ele nos mostra para percorrer, temos dificulda<strong>de</strong>s com a<br />
aceitação <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>safio. Abrão, mesmo percebendo a dureza do caminho<br />
que lhe mostrara, creu em <strong>Deus</strong>, mas, como homem, cometeu alguns<br />
<strong>de</strong>slizes que resultaram em consequências ruins.<br />
Há momentos na vida <strong>de</strong> um servo <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> que se tornam difíceis,<br />
principalmente quando se precisa tomar <strong>de</strong>cisões. A fé nas promessas<br />
<strong>de</strong> <strong>Deus</strong> era o estímulo maior para a peregrinação <strong>de</strong> Abrão à Terra<br />
Prometida. Entretanto, ele teria que se manter fiel ao plano original <strong>de</strong><br />
<strong>Deus</strong> e saber que as provações seriam inevitáveis.<br />
Ao <strong>de</strong>parar-se com “a fome na terra”, <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> buscar <strong>de</strong> <strong>Deus</strong><br />
a direção para a sua vida e tomou a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> ir para o Egito, terra<br />
que tinha pastagens para o seu gado e muita riqueza. Ele baixou seus<br />
olhos para as coisas da terra e, então, fraquejou na fé quando, mesmo<br />
com o empobrecimento da terra on<strong>de</strong> estava vivendo, não lhe faltava<br />
nada. Ele mudou a visão da Terra Prometida por uma visão limitada<br />
e materialista. Foi dominado por um sentimento <strong>de</strong> ambição material<br />
ao ouvir da prosperida<strong>de</strong> da terra do Egito. Decidiu então sair <strong>de</strong> terra<br />
<strong>de</strong> Canaã e tomar o caminho do Egito sem consultar a <strong>Deus</strong>. Abrão<br />
permitiu que a força da carne o dominasse e seu coração se enchesse<br />
<strong>de</strong> ambição. Dominado por essa força carnal, ele <strong>de</strong>cidiu quebrar seus<br />
princípios éticos e morais e, para sobreviver sem ser incomodado, mentiu<br />
e usou <strong>de</strong> engano (Gn 12.11). No Egito, Abrão não levantou um altar<br />
ao Senhor como sempre fez <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que havia saído <strong>de</strong> Harã. Por pouco<br />
não per<strong>de</strong> tudo, inclusive com a ameaça <strong>de</strong> morte.<br />
O caminho fora da vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> induz aos caminhos tortuosos<br />
e pecaminosos. Sem dúvida, Abrão entristeceu a <strong>Deus</strong> e não o consultou<br />
sobre qualquer <strong>de</strong>cisão que tomou naquela terra. Mesmo assim,<br />
<strong>Deus</strong>, que o amava, não <strong>de</strong>sistiu <strong>de</strong> <strong>de</strong>le. Pelo po<strong>de</strong>r soberano divino,<br />
o Senhor interferiu naquele momento histórico em que Abrão e Sarai<br />
corriam o risco <strong>de</strong> serem mortos por terem enganado o próprio rei do<br />
Egito. O Senhor enterneceu o coração <strong>de</strong> Faraó para que o casal não<br />
fosse punido no Egito. O cuidado <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> ainda estava com o casal<br />
54
Abraão, Ló e as Campinas do Jordão<br />
quando Abrão enten<strong>de</strong>u que precisava começar tudo <strong>de</strong> novo e pedir<br />
o perdão <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> pelo seu <strong>de</strong>scaminho.<br />
Abrão, então, <strong>de</strong>ixou o Egito e voltou para Betei, e naquele lugar<br />
on<strong>de</strong> <strong>Deus</strong> o abençoara tão abundantemente, ele lembrou-se do Senhor<br />
e, mais uma vez, levantou um altar <strong>de</strong> pedras ao Senhor” (Gn 12.4).<br />
Quando havia saído <strong>de</strong> Betei e tomou o caminho do Egito, Abrão não<br />
ofereceu culto algum a <strong>Deus</strong>. Apesar <strong>de</strong>ssa fraqueza <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>, <strong>Deus</strong><br />
não o abandonou e manteve seu propósito com ele. Porém, Abrão ainda<br />
enfrentou algumas dificulda<strong>de</strong>s.<br />
Interferência no Plano <strong>de</strong> <strong>Deus</strong><br />
Depois que Abrão <strong>de</strong>cidiu voltar, também Ló o acompanhou <strong>de</strong> volta<br />
a Canaã. Ambos progrediram e aumentaram seus gados e riquezas, mas<br />
começou a haver conflito entre os pastores <strong>de</strong> ambos porque o espaço<br />
geográfico ficou pequeno para eles. Abrão, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que voltara do Egito,<br />
mais que nunca, enten<strong>de</strong>u que Ló não fazia parte do plano <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> e<br />
ainda estava provocando problemas.<br />
A lição difícil que se apren<strong>de</strong> nessa história é que o fruto da <strong>de</strong>sobediência<br />
é sempre amargo. Abrão estava vivendo essa experiência por<br />
ter se <strong>de</strong>ixado dominar por situações que po<strong>de</strong>ria ter evitado quando<br />
se dispôs sair da sua terra em Ur dos Cal<strong>de</strong>us. A interferência <strong>de</strong> Ló<br />
começou a provocar problemas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m social <strong>de</strong>ntro da família. O<br />
tempo todo o seu sobrinho Ló havia saído com tudo o que possuía, gados<br />
e pessoas para servi-lo e, on<strong>de</strong> chegavam, os seus pastores procuravam<br />
as melhores pastagens em prejuízo do gado <strong>de</strong> Abrão. Começou a haver<br />
choque <strong>de</strong> interesses, e Ló não teve o menor respeito por seu tio Abrão<br />
quando seus pastores começaram a conten<strong>de</strong>r com os pastores os <strong>de</strong>le.<br />
Ao <strong>de</strong>parar-se com o problema, Abrão enten<strong>de</strong>u a gravida<strong>de</strong> do<br />
conflito e enten<strong>de</strong>u que era a hora <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir a situação. Então, procurou<br />
fazer isso da melhor forma possível, confiando na provisão e promessa<br />
<strong>de</strong> <strong>Deus</strong> que lhe daria sabedoria para solucionar esse conflito. Essa<br />
interferência não invalidou a promessa <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> para Abrão, mas ele<br />
enten<strong>de</strong>u que, se não podia voltar ao início <strong>de</strong> tudo, pelo menos podia<br />
amenizar o problema confiando que <strong>Deus</strong> o perdoaria. É sempre perigoso<br />
quando permitimos interferências no plano <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> para a nossa vida.<br />
55
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
Interferência <strong>de</strong> Sentimentalismos<br />
Quando alguém toma consciência do plano <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>svencilhar-se<br />
<strong>de</strong> qualquer coisa relacionada à sua vida pessoal que possa vir<br />
a ser um obstáculo ao plano divino. No caso <strong>de</strong> Abráo foi o sentimento<br />
familiar que bloqueou sua <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> apenas obe<strong>de</strong>cer a <strong>Deus</strong> e sair<br />
do meio <strong>de</strong> seus parentes indo para a terra que o Senhor lhe havia<br />
prometido. Ao estabelecer esse requisito a Abráo, ele <strong>de</strong>veria ter saído<br />
imediatamente daquela terra.<br />
O <strong>de</strong>safio e a promessa envolviam a conquista <strong>de</strong> uma terra <strong>de</strong><br />
leite e mel (Gn 12.1), mas ele ficou empolgado e revelou o projeto <strong>de</strong><br />
<strong>Deus</strong> à família. A revelação do projeto fez pulsar a ambição <strong>de</strong> toda a<br />
familia, a partir do próprio pai Tera, além <strong>de</strong> Ló, sobrinho <strong>de</strong> Abrão,<br />
filho <strong>de</strong> seu irmão Naor. Então Abraão, pressionado por seus parentes<br />
e, principalmente, pelo pai Tera, não conseguiu sair so com sua esposa.<br />
Ele não conseguiu <strong>de</strong>svencilhar-se <strong>de</strong> seus parentes. Sentimentos familiares<br />
interferiram no plano original e ele não conseguiu dizer para a<br />
família que não estavam incluídos. Quando permitimos que os nossos<br />
sentimentos pessoais interfiram no plano <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> para a nossa vida,<br />
não conseguimos evitar as consequências <strong>de</strong>ssa atitu<strong>de</strong>.<br />
Interferência no Espaço e Geográfico que Era Destinado para Abrão<br />
A vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> para Abrão era uma vonta<strong>de</strong> específica que<br />
<strong>de</strong>veria, tão somente, ser obe<strong>de</strong>cida sem permitir que interferências a<br />
impedissem <strong>de</strong> ser concretizada. Entretanto, as interferências no plano<br />
original <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> para Abrão foram várias, a começar pelos parentes;<br />
<strong>de</strong>pois, pelo espaço físico que <strong>de</strong>veria pertencer apenas a Abrão e sua<br />
mulher. Mas o texto <strong>de</strong> Génesis 13.6 diz literalmente que: “E não tinha<br />
capacida<strong>de</strong> a terra para po<strong>de</strong>rem habitar juntos , entáo, começaram a<br />
surgir os conflitos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse espaço.<br />
Há uma lei na ciência da física que diz que dois corpos não po<strong>de</strong>m<br />
ocupar o mesmo espaço. Metaforicamente enten<strong>de</strong>mos que <strong>Deus</strong> havia<br />
estabelecido um espaço <strong>de</strong>ntro do seu plano para Abrão e, portanto,<br />
aqueles familiares no contexto do plano original <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> eram exce<strong>de</strong>ntes<br />
e não faziam parte do plano divino. N a realida<strong>de</strong>, toda essa situação<br />
56
Abraão, Ló e as Campinas do Jordão<br />
tornou-se uma intromissão no plano <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, e Abrão se viu obrigado<br />
a aceitar, trazendo-lhe péssimos resultados. Não se tratava apenas <strong>de</strong><br />
um espaço físico comprimido entre Abrão e Ló, mas significava uma<br />
intromissão no espaço que <strong>Deus</strong> havia <strong>de</strong>stinado apenas para Abrão e<br />
sua esposa Sarai.<br />
Em nossos tempos, no meio cristão, especialmente no seio da igreja,<br />
<strong>de</strong>senvolvem-se <strong>de</strong>sacordos e contendas por causa <strong>de</strong> campo <strong>de</strong> trabalho<br />
eclesiástico. Se não houver uma solução cristã capaz <strong>de</strong> neutralizar a<br />
contenda, parte-se para a separação <strong>de</strong> interesses.<br />
Conflitos Mo<strong>de</strong>rnos nos Espaços Eclesiásticos<br />
Lamentavelmente, existem interferências e invasões <strong>de</strong> igrejas em<br />
campos alheios em que a ética parece ter sido aposentada na cabeça <strong>de</strong><br />
algumas li<strong>de</strong>ranças, que justificam suas atitu<strong>de</strong>s em nome do crescimento<br />
da igreja. Não respeitam limites nem agem com bom senso, sem levar<br />
em conta pelo menos um limite geográfico que respeite o campo <strong>de</strong><br />
trabalho do outro. Essas interferências não têm respaldo bíblico nem<br />
apoio do Espírito Santo, porque tais atitu<strong>de</strong>s promovem conflitos que<br />
não glorificam a <strong>Deus</strong>.<br />
RUPTURAS GERADAS POR ESCOLHAS MAL FEITAS<br />
Em meu livro Abraão, a Experiência <strong>de</strong> nosso P ai na Fé (CPAD),<br />
apresentei como resultado negativo do conflito entre Abrão e Ló algumas<br />
rupturas que culminaram com a quebra <strong>de</strong> relações familiares e a<br />
separação inevitável entre ambos. Além das interferências circunstanciais<br />
a que havia se submetido, as rupturas provocadas pela contenda<br />
com Ló fizeram com que Abrão, mais uma vez, levantasse um altar e<br />
ali invocasse o nome do Senhor a fim <strong>de</strong> obter <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> a graça para<br />
saber administrar aquela situação entre ele e Ló. Abrão não queria<br />
cometer nenhuma injustiça, mas sabia que, inevitavelmente, a <strong>de</strong>cisão<br />
que tomaria traria pesar e separação entre ambos. Ao oferecer sacrifício<br />
ao Senhor, Abrão foi fortalecido em sua fé (Gn 12.8). Anteriormente,<br />
Abrão já havia experimentado o dissabor da sua estada no Egito, mas<br />
agora, o Senhor <strong>de</strong>sperta a sua mente para o reinicio <strong>de</strong> sua caminhada<br />
57
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
<strong>de</strong> fé para a conquista final do plano original. Entretanto, esse reinicio<br />
seria palmilhado por algumas rupturas produzidas por aquela contenda.<br />
Destacamos, pelo menos, três rupturas.<br />
A Primeira Ruptura Foi Social<br />
Não foi fácil para Abráo <strong>de</strong>cidir a separação, porque ele tinha um<br />
coração generoso a <strong>de</strong>speito da atitu<strong>de</strong> egoísta <strong>de</strong> Ló, sua família e seus<br />
pastores. Mas ele precisou <strong>de</strong>cidir, mesmo sabendo do que iria incidir<br />
como resultado daquela <strong>de</strong>cisão. É natural que, quando tomamos uma<br />
<strong>de</strong>cisão que atinge o nosso emocional, nos assaltem duvidas e hesitações<br />
que po<strong>de</strong>riam imobilizá-lo. Eram dúvidas que respondiam a temores<br />
íntimos e que po<strong>de</strong>riam impedi-lo <strong>de</strong> agir com convicção. São os medos<br />
interiores que embargam nossas ações e po<strong>de</strong>m prejudicar o nosso<br />
futuro. M as Abrão foi capaz <strong>de</strong> superar esses medos, e mesmo com<br />
o coração partido, ele precisou escolher a separação do seu sobrinho.<br />
A separação entre ambos foi, na verda<strong>de</strong>, produzida pela contenda<br />
entre os seus pastores, <strong>de</strong> Ló e <strong>de</strong> Abrão, por causa das pastagens e<br />
água que não eram suficientes para os dois. Abraão tinha consciência<br />
<strong>de</strong> que seu erro iniciou quando saiu <strong>de</strong> Harã para ir a terra que <strong>Deus</strong><br />
havia lhe prometido. Ló começou a agir <strong>de</strong> forma egoísta a ponto <strong>de</strong><br />
per<strong>de</strong>r o respeito ao seu tio Abráo. Aceitou os argumentos <strong>de</strong> seus pastores<br />
<strong>de</strong> ovelhas e cabras e permitiu que a contenda agisse como um<br />
vírus que contagiou a relação com os pastores <strong>de</strong> Abrão. Brigaram por<br />
causa dos poços abertos sob a sua tutela e queriam se apossar <strong>de</strong>sses<br />
poços. Abraão enten<strong>de</strong>u que seria impossível viver pacificamente com<br />
seu sobrinho quando os interesses estavam acima do respeito familiar<br />
e do temor a <strong>Deus</strong>.<br />
A Segunda Ruptura da Concessão<br />
Para evitar maiores confusões, Abrão estava consciente <strong>de</strong> que o que<br />
estava acontecendo era o fruto <strong>de</strong> sua falha em ter permitido que Lo o<br />
acompanhasse. Mas, acima <strong>de</strong> tudo, Abráo estava <strong>de</strong>baixo da bênção<br />
<strong>de</strong> <strong>Deus</strong> e estava disposto a pagar o preço pelo erro passado. Quando<br />
ofereceu sacrifício ao Senhor em Betei, Abrão estava em paz consigo<br />
58
Abraão, Ló e as Campinas do Jordão<br />
mesmo porque naquele monte ele havia renovado seu pacto com <strong>Deus</strong><br />
(Gn 13.4). A partir <strong>de</strong> então, ele estava pronto para assumir as responsabilida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> seus atos e <strong>de</strong>cidir sobre coisas que não mais restringiriam<br />
sua obediência completa ao plano original feito por <strong>Deus</strong>.<br />
Abraão sabia que sua <strong>de</strong>cisão implicaria na concessão <strong>de</strong> coisas, mesmo<br />
com perdas, para que o plano divino não fosse obstruído por qualquer<br />
outra circunstância. Para que não houvesse mais constrangimento entre<br />
ambos, eles <strong>de</strong>veriam separar-se geograficamente (Gn 13.8,9). Partiu<br />
<strong>de</strong> Abrão a oportunida<strong>de</strong> oferecida <strong>de</strong> escolha. Em sua <strong>de</strong>cisão, Abrão<br />
preferiu fazer concessões que propiciassem a paz entre ambos, mesmo<br />
que se separados geograficamente.<br />
A Terceira Ruptura Foi a Cobiça <strong>de</strong> Ló<br />
Com essa concessão do velho Abrão para o seu sobrinho Ló, percebe-<br />
-se que a cobiça <strong>de</strong> Ló foi um dos motivos da contenda entre ambos. À<br />
sombra da prosperida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Abrão, o seu sobrinho Ló ia tirando proveito<br />
com o aumento <strong>de</strong> sua fazenda e <strong>de</strong> sua riqueza, mas Ló não tinha visão<br />
espiritual do projeto <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> que só Abrão sabia e conhecia. Não foi leal<br />
com seu tio quando não pu<strong>de</strong>ram mais conviver na mesma terra. Por<br />
isso, com a opção da escolha concedida por Abrão, Ló expôs sua ambição<br />
carnal e material, e não teve a menor consi<strong>de</strong>ração pelo seu tio Abrão.<br />
A palavra “cobiça” po<strong>de</strong> ser i<strong>de</strong>ntificada na Bíblia como “avareza,<br />
avi<strong>de</strong>z, ganância”. Na verda<strong>de</strong>, a cobiça que dominou a mente e o coração<br />
<strong>de</strong> Ló era tão forte que ele não teve escrúpulos em tirar proveito<br />
do seu tio Abrão. Mas o velho Abrão temia ao Senhor, e sabia que <strong>Deus</strong><br />
cuidaria <strong>de</strong>le e o abençoaria on<strong>de</strong> ele colocasse os pés. Essa ruptura da<br />
cobiça aconteceu nas relações familiares e entre seus pastores, porque<br />
ela sempre produz contenda e infecciona todo um ambiente <strong>de</strong> paz (Pv<br />
17.14; Fp 2.3,4). A cobiça <strong>de</strong> Ló o tornou ardiloso e insensível; por isso,<br />
seu coração endureceu e a contenda provocada trouxe muitos espinhos<br />
que feriram as relações <strong>de</strong> convivência entre as famílias.<br />
Um dos mandamentos <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> para o povo <strong>de</strong> Israel, alguns séculos<br />
<strong>de</strong>pois, <strong>de</strong>stacava a cobiça como algo que <strong>de</strong>veria ser punido no meio<br />
do povo. Era o décimo mandamento que con<strong>de</strong>nava e proibia a cobiça<br />
<strong>de</strong> tudo quanto é coisa que envolvesse a casa do vizinho, sua esposa,<br />
59
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
servos, gado ou qualquer outra coisa alheia (Êx 20.17). Existe uma história<br />
no Antigo Testamento acerca do rei Acabe que, cobiçando a vinha<br />
<strong>de</strong> Nabote, não teve qualquer escrúpulo juntamente com sua diabólica<br />
mulher Jezabel em mandar matá-lo para possuir a vinha <strong>de</strong> Nabote,<br />
que era uma herança <strong>de</strong> seus pais (1 Rs 21.1-16). No Novo Testamento,<br />
a cobiça é con<strong>de</strong>nada como uma forma <strong>de</strong> idolatria (Cl 3.5, N TLH ).<br />
N a Carta aos Romanos 7.7, Paulo fala da cobiça como uma força da<br />
carne que precisa ser bloqueada para obter uma vida cristã vitoriosa.<br />
Jesus con<strong>de</strong>nou a cobiça, quando fala <strong>de</strong> “avareza” em um dos seus<br />
discursos: “Porque do interior do coração dos homens saem os maus<br />
pensamentos, os adultérios, as prostituições, os homicídios, os furtos,<br />
a avareza, as malda<strong>de</strong>s, o engano, a dissolução, a inveja, a blasfêmia, a<br />
soberba, a loucura. Todos estes males proce<strong>de</strong>m <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro e contaminam<br />
o homem” (Mc 7.21-23). Em 1 Timóteo 6.10, o apóstolo Paulo<br />
<strong>de</strong>clara que “o amor do dinheiro é a raiz <strong>de</strong> toda espécie <strong>de</strong> males”. Foi<br />
o caso <strong>de</strong> Ananias e Safira, que mentiram por causa da cobiça e avareza<br />
<strong>de</strong> seus corações (At 5.1-11). N o caso <strong>de</strong> Ló, sua cobiça o fez per<strong>de</strong>r o<br />
bom senso e o respeito pelo seu tio.<br />
DUAS ESCOLHAS<br />
Abrão chegou a um ponto no qual não podia mais voltar atras; tinha<br />
que escolher uma <strong>de</strong>cisão que pu<strong>de</strong>sse resolver o problema do conflito<br />
entre ele e Ló. N a história da Literatura sul-americana, no Chile, o<br />
poeta Pablo Neruda <strong>de</strong>clarou certa ocasião: “Você é livre para fazer<br />
suas escolhas, mas é prisioneiro das consequências”. Ele disse, ainda:<br />
“Escrevo isso porque acredito mesmo que po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>cidir sobre aquilo<br />
que é melhor para nós”. Uma vez que as nossas escolhas <strong>de</strong>finem as<br />
consequências que teremos que viver mais a frente.<br />
A Escolha <strong>de</strong> Ló<br />
Saber fazer as escolhas é sinal <strong>de</strong> sabedoria. Por outro lado, <strong>de</strong>vemos<br />
enten<strong>de</strong>r que tudo o que escolhemos fazer gera consequências para nós<br />
e atinge as pessoas do nosso convívio. Até que ponto a nossa escolha<br />
60
Abraão, Ló e as Campinas do Jordão<br />
afetara as pessoas ao nosso redor. Parece-nos que Ló, dominado pela<br />
avareza em seu coração, não percebeu o mal que estava fazendo para si<br />
mesmo e acabaria atingindo as pessoas do seu convívio.<br />
O texto diz que levantou Lo os seus olhos e viu toda a campina do<br />
Jordão”. Pela ética familiar, o direito <strong>de</strong> escolha era <strong>de</strong> Abrão, mas Abrão<br />
preferiu oferecer a Lo a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolher. Abrão subiu a um<br />
lugar alto e mostrou a Ló os dois lados das terra à vista, do lado oriental<br />
e do lado oci<strong>de</strong>ntal (Gn 13.10,11). A visão egoísta e materialista, sem<br />
pestanejar, focalizou as melhores terras do lado Oriente, on<strong>de</strong> estavam<br />
as campinas do Jordão, próximas das cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Sodoma e Gomorra.<br />
Havia gran<strong>de</strong>s e vastos campos para o seu gado e para o plantio. Abrão<br />
não duvidou da promessa <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> e olhou o outro lado on<strong>de</strong> havia<br />
enormes montanhas e que não inspiravam qualquer sonho para a terra<br />
<strong>de</strong> Canaã e habitou ali (Gn 13.12).<br />
Ter atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> respeito, compreensão, contribuição, cooperação,<br />
amiza<strong>de</strong>, amor, tolerância e gratidão são elementos positivos que encurtam<br />
o caminho <strong>de</strong> quem faz a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. A escolha egoísta<br />
<strong>de</strong> Ló, não muito <strong>de</strong>pois daquela <strong>de</strong>cisão, com poucos anos naquela<br />
terra que havia escolhido em prejuízo <strong>de</strong> seu tio Abrão, converteu-se<br />
em morte e <strong>de</strong>struição para as cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Sodom a e Gomorra. Ao<br />
escolher o que entendia ser a melhor parte, nas campinas do Jordão,<br />
não podia imaginar o <strong>de</strong>do <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> naquele lugar on<strong>de</strong> per<strong>de</strong>u tudo<br />
o que tinha, inclusive a família. Diz a Bíblia que Ló armou as suas<br />
tendas até Sodoma e passou a habitar naquela cida<strong>de</strong> (Gn 13.12). As<br />
consequências inevitáveis aconteceram e, mesmo que Ló procurasse ter<br />
uma vida <strong>de</strong> retidão on<strong>de</strong> vivia, não conseguiu dominar o ímpeto <strong>de</strong> sua<br />
família, per<strong>de</strong>ndo a autorida<strong>de</strong> sobre sua mulher e suas filhas, as quais<br />
se corromperam com o estilo <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>pravado daquela cida<strong>de</strong> (Gn<br />
19.14,16,17). Lo escolheu segundo o espírito do mundo representado<br />
por Sodoma e Gomorra.<br />
A Escolha <strong>de</strong> Fé <strong>de</strong> Abrão<br />
Abrão, um homem <strong>de</strong> fé, confiou na provisão <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> e, por isso<br />
armou as suas tendas, e veio, e habitou nos carvalhais <strong>de</strong> Alanre, que<br />
estão junto a Hebrom; e edificou ali um altar ao Senhor”. Nos lugares<br />
61
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
que lhe restaram na terra <strong>de</strong> Canaã, não havia campinas ver<strong>de</strong>jantes<br />
nem terra fértil para o plantio. As fontes <strong>de</strong> água eram poucas, porque<br />
era uma região pedregosa e montanhosa, mas Abrão sabia que, aquilo<br />
que parecia ser o pior, era, <strong>de</strong> fato, o melhor, porque, ao <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />
<strong>Deus</strong>, o aparente prejuízo foi transformado em lucro.<br />
No Egito, Abrão teve que viver por “vista”, e não “por fé”. Por isso, sua<br />
visão apenas horizontal para a prosperida<strong>de</strong> das terras egípcias roubou a<br />
sua visão vertical para <strong>Deus</strong>. No Egito, ele enfrentou dissabores morais<br />
e espirituais que marcaram a sua vida. Ló, enquanto estava à sombra <strong>de</strong><br />
seu tio Abrão, tinha a bênção <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, mas buscou liberda<strong>de</strong> para reger<br />
sua própria vida, a prosperida<strong>de</strong> conquistada não durou muito tempo.<br />
Naquelas belas campinas do Jordão, Ló per<strong>de</strong>u sua família, seus bens e<br />
até a honra, mas Abrão recebeu a promessa <strong>de</strong> uma família que encheria<br />
a terra. Quando <strong>Deus</strong> é o primeiro em nossa vida, não importa quem é<br />
o segundo ou o último. O que parecia perda com a escolha gananciosa<br />
<strong>de</strong> Ló, na verda<strong>de</strong>, converteu-se em lucro para o patriarca.<br />
CONCLUSÃO<br />
Jesus, em um dos seus discursos, fez uma séria advertência aos seus<br />
discípulos, lembrando a triste e <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte história <strong>de</strong> Ló e sua família<br />
em meio a uma geração corrompida, como foi a <strong>de</strong> Sodoma e Gomorra.<br />
Com poucas palavras, apenas disse: “Lembrai-vos da mulher <strong>de</strong><br />
Ló” ( Lc 17.32). Em nossos dias, muitos cristãos se <strong>de</strong>ixam levar pela<br />
avareza e tornam seus corações ambiciosos, porque se <strong>de</strong>ixam dominar<br />
pelo espírito do mundo mo<strong>de</strong>rno, mas Jesus adverte-nos, dizendo: “E<br />
olhai por vós, para que não aconteça que o vosso coração se carregue<br />
<strong>de</strong> glutonaria, <strong>de</strong> embriaguez, e dos cuidados da vida, e venha sobre<br />
vós <strong>de</strong> improviso aquele dia” (Lc 21.34).<br />
Abraão creu no invisível e foi abençoado pelo Senhor. A terra que<br />
ele teve que escolher era inóspita e pedregosa, e não parecia produzir<br />
riqueza alguma, mas Abrão apren<strong>de</strong>u a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, que o fez<br />
prosperar e crescer. Nessa história, a <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> algumas situações <strong>de</strong><br />
fraqueza a que se ren<strong>de</strong>u Abrão, em nenhum momento <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> temer<br />
ao Senhor. Se, por um pouco, oscilou na fé e se <strong>de</strong>scuidou da relação<br />
com <strong>Deus</strong>, seu caráter passou por uma drenagem e limpeza para que ele<br />
62
Abraão, Ló e as Campinas do Jordão<br />
apren<strong>de</strong>sse a não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> ações temperamentais. A partir <strong>de</strong> então,<br />
ele pô<strong>de</strong> iniciar a retomada do caminho da fé. As <strong>de</strong>cisões erradas <strong>de</strong><br />
outrora seriam apenas lembranças <strong>de</strong> algo que ele não cometeria mais.<br />
Seu caminho estava agora livre para alcançar a vitória do Senhor.<br />
<strong>Deus</strong> <strong>de</strong>u o livre-arbítrio ao homem p ara que,<br />
com inteligência e temor em seu coração,<br />
saiba escolher e <strong>de</strong>cidir sobre sua vida.<br />
63
Capítulo 6<br />
ISAQUE, NAO DESÇA AO EGITO<br />
M as os mansos herdarão a terra e se <strong>de</strong>leitarão na abundância <strong>de</strong> paz.<br />
- Salmos 37.11<br />
A história <strong>de</strong> Isaque é uma das mais belas do Génesis. Ele é o segundo<br />
patriarca na escala dos pais da naçáo israelita. Logo a seguir, aprece<br />
seu filho Jacó, que se tornou o terceiro patriarca <strong>de</strong> Israel. Quando um<br />
israelita ora a Yahweh, refere-se sempre aos três patriarcas. Portanto, esse<br />
capítulo trata <strong>de</strong> uma experiência específica quando Isaque enfrentou as<br />
primeiras dificulda<strong>de</strong>s em sua vida. Foram algumas crises com as quais<br />
ele teve que se <strong>de</strong>parar e que exigiram <strong>de</strong>le atitu<strong>de</strong>s inteligentes e, acima<br />
<strong>de</strong> tudo, <strong>de</strong> confiança no <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> seu pai.<br />
Percebe-se que o capítulo 26 <strong>de</strong> Génesis parece repetir a mesma experiência<br />
<strong>de</strong> Abraão quando enfrenta a fome em Canaã. Isaque resolve<br />
sair <strong>de</strong> Canaã, que passava mais uma vez pela adversida<strong>de</strong> da escassez <strong>de</strong><br />
grãos na terra. Isaque saiu rumo ao Egito, mas parou na terra <strong>de</strong> Gerar,<br />
lugar dos filisteus. Nessa terra dos filisteus, Isaque prosperou muito e<br />
adquiriu muita riqueza (Gn 26.12). Antes <strong>de</strong> continuar sua caminhada<br />
para o Egito, o Senhor apareceu-lhe e disse: “Não <strong>de</strong>sças ao Egito” (Gn<br />
26.2). O Senhor o prevenira acerca dos perigos do Egito e prometeu<br />
abençoá-lo on<strong>de</strong> estivesse, mas não no Egito.<br />
A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> ir para o Egito lembrava experiências ruins. Isaque estava<br />
sendo lembrado pelo Senhor <strong>de</strong> que não seria bom que ele fosse ao Egito,<br />
uma vez que seu pai, Abraão, havia passado por experiências ruins naquele<br />
lugar, com consequências amargas que lembravam mentira, engodo e
Isaque, não Desça ao Egito<br />
humilhação por estar fora da vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Foi no Egito que Abraão<br />
foi sem ter consultado ao Senhor. Lá, sabendo-se fora do plano <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>,<br />
Abraão não construiu um altar ao Senhor porque sabia que <strong>Deus</strong> não<br />
aceitaria seu sacrifício. Depois <strong>de</strong> muitos anos, <strong>Deus</strong> falou com seu filho<br />
Isaque, que já tinha dois filhos, Esaú e Jacó, que não <strong>de</strong>scesse ao Egito.<br />
<strong>Deus</strong> sabia por sua presciência, que Isaque po<strong>de</strong>ria ser vencido pelas<br />
tentações da terra e não teria firmeza suficiente para evitar as ameaças<br />
do povo daquela terra.<br />
Entretanto, po<strong>de</strong>mos perceber que os valores morais e espirituais<br />
estariam na vida <strong>de</strong> Isaque, mesmo que, em algumas vezes ele se <strong>de</strong>ixasse<br />
vencer em algumas circunstâncias.<br />
ISAQUE, UM HOMEM DE CARÁTER ILIBADO<br />
Antes <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar os aspectos históricos que envolveram sua mudança<br />
<strong>de</strong> Canaã para Gerar, o homem Isaque faz uma <strong>de</strong>monstração<br />
das qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> seu caráter quando teve <strong>de</strong> enfrentar e passar por<br />
algumas crises. O exemplo maior <strong>de</strong> Isaque foi, sem dúvida, o <strong>de</strong> seu<br />
pai Abraão, que, acima <strong>de</strong> tudo, tinha um elevado conceito moral entre<br />
todos os povos por on<strong>de</strong> habitou. Foi um homem temente a <strong>Deus</strong>, a<br />
<strong>de</strong>speito <strong>de</strong> alguns momentos <strong>de</strong> fraqueza, mas não se <strong>de</strong>ixou levar por<br />
costumes que pu<strong>de</strong>ssem servir <strong>de</strong> mau testemunho para seu filho Isaque.<br />
O autor da Carta aos Hebreus diz que “pela fé, [Abraão] habitou na<br />
terra da promessa, como em terra alheia, morando em cabanas com<br />
Isaque e Jacó, her<strong>de</strong>iros com ele da mesma promessa” (Hb 11.9). Isaque<br />
assimilou muito bem as características <strong>de</strong> caráter <strong>de</strong> seu pai e, por isso,<br />
tornou-se um homem especial no projeto <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>.<br />
Um Homem sob a Bênção <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> Espírito Despojado<br />
No texto <strong>de</strong> Génesis 26.1-5, à semelhança <strong>de</strong> Abraão, <strong>Deus</strong> aparece<br />
a Isaque e fala com ele, <strong>de</strong>monstrando a Isaque a mesma disposição para<br />
ajudar e orientar sua vida ao longo dos anos. Era a providência divina<br />
<strong>de</strong>monstrada em algumas circunstâncias adversas pelas quais Isaque<br />
passaria. Ao lado dos pais, Abraão e Sara, Isaque apren<strong>de</strong>u a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r<br />
<strong>de</strong> <strong>Deus</strong> e a manter-se fiel às promessas da terra <strong>de</strong> Canaã. Mas, como<br />
6 5
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
aconteceu anteriormente com Abraáo, Isaque enfrentou o problema<br />
da escassez <strong>de</strong> alimentos na terra, mesmo que “a fome na terra” não<br />
tenha afetado diretamente a ele e sua fazenda. Mudou-se para Gerar,<br />
na terra dos filisteus e teve <strong>de</strong> enfrentar obstáculos daquele povo em<br />
tudo quanto fazia, por causa da inveja da sua prosperida<strong>de</strong>. <strong>Deus</strong> o<br />
abençoou copiosamente, tanto em Canaã como em Gerar. Nessa terra,<br />
Isaque viu crescer sua fazenda e isso provocou inveja e ciúme da parte<br />
dos filisteus, que começaram a criar dificulda<strong>de</strong>s para ele e sua gente.<br />
Um Homem <strong>de</strong> Espírito Despojado<br />
A herança maior que Isaque recebeu <strong>de</strong> seu pai foi o exemplo <strong>de</strong><br />
seu caráter. As riquezas materiais acumuladas eram apenas o fruto do<br />
trabalho. Em Gerar, na terra dos filisteus, Isaque continuou sendo<br />
abençoado por <strong>Deus</strong>, e toda a terra plantada e os pastos rejuvenesciam<br />
milagrosamente, mas Isaque foi uma pessoa <strong>de</strong> “espírito <strong>de</strong>spojado”.<br />
A <strong>de</strong>speito da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> administrar os bens que possuía, Isaque<br />
não colocava seu coração nas coisas materiais, porque sabia que <strong>Deus</strong><br />
era a sua segurança. Acima <strong>de</strong> tudo, seu <strong>de</strong>spojamento indicava que<br />
ele temia a <strong>Deus</strong> e <strong>de</strong>pendia dEle para viver feliz. Era um homem que<br />
correspondia ao que Jesus falou no seu sermão do Monte, quando disse:<br />
“Bem-aventurados os pobres <strong>de</strong> espírito” (Mt 5.3). Olhando com<br />
olhos positivos, enten<strong>de</strong>mos que “um pobre <strong>de</strong> espírito” é alguém que<br />
sabe que não é nada e que <strong>Deus</strong> é tudo na sua vida. É alguém que se<br />
reconhece <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> para as realizações da sua vida pessoal.<br />
Não se trata <strong>de</strong> alguém nulo, incapaz, mas sim <strong>de</strong> alguém que rejeita a<br />
postura <strong>de</strong> autossuficiência e está disposta a abrir mão <strong>de</strong> si mesmo para<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> e da sua provisão. Isaque tinha essa qualida<strong>de</strong> e, por<br />
isso, quando se tornou rico, reconhecia que <strong>Deus</strong> era a razão <strong>de</strong> tudo.<br />
Um Homem <strong>de</strong> Espírito Manso<br />
A palavra manso no grego neo-testamentário é “praos”, que se refere<br />
à atitu<strong>de</strong> interior <strong>de</strong> uma pessoa no modo <strong>de</strong> agir e reagir às situações.<br />
No sentido figurado, praos po<strong>de</strong> significar gentileza, humilda<strong>de</strong>, cortesia.<br />
Há um substantivo <strong>de</strong> prazos que é praotês, cujo significado é “a força<br />
66
Isaque, não Desça ao Egito<br />
interior que põe sob controle o nosso dia a dia. Portanto, ter “espírito<br />
manso” é ter a serenida<strong>de</strong> para agir com firmeza sem se <strong>de</strong>ixar arrebatar<br />
pela ira provocada por alguma situação ruim. Isaque é um exemplo <strong>de</strong><br />
mansidão que sabia agir e reagir ante alguns obstáculos. No registro<br />
histórico <strong>de</strong> Génesis 26, encontramos os filisteus criando dificulda<strong>de</strong>s<br />
para a continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Isaque naquela terra. Ao reabrir alguns poços,<br />
os quais foram abertos por seu pai, Abraão, em tempos atrás, os filisteus<br />
iam aos mesmos poços e os entulhavam para que Isaque e seus pastores<br />
não tivessem água para o seu gado. Em vez <strong>de</strong> agir com atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> represália<br />
aos filisteus, Isaque preferiu agir com atitu<strong>de</strong> mansa, abrindo<br />
outros poços em outros lugares para evitar conflitos.<br />
Seu espírito manso era uma qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> equilíbrio que o fazia forte,<br />
não um fraco, ou medroso <strong>de</strong> reagir. Na verda<strong>de</strong>, a mansidão é uma força<br />
sob controle em que a pessoa não se exaspera facilmente, mas é capaz<br />
<strong>de</strong> dialogar e procurar produzir a paz. Mansidão é uma qualida<strong>de</strong> do<br />
fruto do Espírito” (G1 5.22,23) que <strong>de</strong>ve ser cultivada por aqueles que<br />
temem a <strong>Deus</strong>. A prosperida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Isaque foi uma realida<strong>de</strong> em função<br />
<strong>de</strong>ssas qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> espírito que ele possuía. Ter o espírito manso (1 Co<br />
4.21) é ter a firmeza <strong>de</strong> não se intimidar diante das ameaças, mas agir<br />
com serenida<strong>de</strong> para evitar confrontos que produzem mal estar a todos.<br />
0 DRAMA QUE SE REPETE<br />
Parece coincidência <strong>de</strong> fatos, mas as mesmas situações se repetiram,<br />
as mesmas experiências vividas por Abraão passaram a ser vividas por<br />
Isaque naquela terra. Visto que <strong>Deus</strong> estava no controle <strong>de</strong> todas as<br />
coisas na vida <strong>de</strong> ambos, enten<strong>de</strong>mos o cuidado <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> para com eles<br />
a fim <strong>de</strong> preservar o seu projeto da “Terra Prometida”.<br />
Não Há nenhum Determinismo na Experiência <strong>de</strong> Isaque<br />
Tanto Abraão quando Isaque, ao saírem da terra <strong>de</strong> Canaã em busca<br />
<strong>de</strong> mais prosperida<strong>de</strong> material em terras estrangeiras, sofreram com<br />
os vizinhos pagãos as relações que agiam com eles com <strong>de</strong>sconfiança,<br />
inveja e porfia. Aqueles povos não tinham dificulda<strong>de</strong>s em aceitar a<br />
prosperida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ambos. Agora, Isaque repete a mesma história e <strong>de</strong>seja<br />
67
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
ir para o Egito, <strong>de</strong>ixando Canaã, o lugar da promessa. Isaque estava em<br />
Canaá e, como nos dias <strong>de</strong> Abraão, seu pai, a terra <strong>de</strong> Canaã passou a<br />
ter escassez <strong>de</strong> víveres, não só para os moradores da terra, bem como<br />
para os animais <strong>de</strong> criação. Por algum momento <strong>de</strong> fraqueza espiritual,<br />
Isaque <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> buscar ao Senhor para receber a orientação <strong>de</strong> como<br />
<strong>de</strong>veria fazer para não ser atingido pela fome da terra. Não há nenhum<br />
<strong>de</strong>terminismo quanto aos fatos acontecidos.<br />
Defrontando-se com a Fome da Terra <strong>de</strong> Canaã<br />
Essa situação <strong>de</strong> escassez <strong>de</strong> alimentos na terra <strong>de</strong> Canaã fomentou<br />
na mente <strong>de</strong> Isaque o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> repetir o que seu pai havia feito muitos<br />
anos antes: ir para o Egito. Quantas vezes somos influenciados por<br />
circunstâncias que nos levam a tomar <strong>de</strong>cisões precipitadas? O Senhor<br />
exortou a Isaque que não viajasse para o Egito. Na presciência divina, o<br />
Egito seria uma interferência no plano <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> para a vida <strong>de</strong> Isaque.<br />
Quando <strong>de</strong>ixamos <strong>de</strong> buscar a <strong>Deus</strong> para direção <strong>de</strong> nossa vida, tornamo-nos<br />
reféns <strong>de</strong> preocupações que fazem o coração pulsar mais forte e<br />
as nossas emoções ficam à mercê <strong>de</strong>ssas preocupações. Quando Isaque<br />
permitiu que sua mente e coração fossem atormentados por pensamentos<br />
fora da vonta<strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> ir para o Egito parecia ser a melhor opção<br />
naquele momento. Mas <strong>Deus</strong> or<strong>de</strong>na que não fosse ao Egito, porque<br />
esse lugar é símbolo do mundo que se opõe a <strong>Deus</strong>. O Egito é tipo da<br />
oposição que ameaça a fé cristã.<br />
Nessa ocasião, Isaque já tinha 75 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e, a <strong>de</strong>speito da prosperida<strong>de</strong><br />
que teve no Egito, sentiu que “a fome na terra” prejudicaria seu<br />
avanço na terra. A escassez da terra o levou à cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Gerar, cida<strong>de</strong><br />
dos filisteus, e, chegando lá, buscou ajuda do rei filisteu, Abimeleque.<br />
O lugar <strong>de</strong> habitação <strong>de</strong> Isaque e Rebeca é i<strong>de</strong>ntificado na Bíblia como<br />
“Beer-Laai-Roi” (Gn 25.11). Ao <strong>de</strong>cidir sair daquele lugar, viajaram cerca<br />
<strong>de</strong> 110 quilómetros até chegar a Gerar. A rota para o Egito incluía a<br />
cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Gerar, pois o caminho seria menor até o Egito, como <strong>de</strong>sejou<br />
Isaque. Ao parar em Gerar, Isaque continuou a prosperar, porque o Senhor<br />
promete-lhe abençoar e prosperar sua fazenda. Entretanto, Isaque não<br />
parecia plenamente feliz naquele lugar. A prosperida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Isaque causou<br />
admiração, mas ao mesmo tempo, inveja dos habitantes daquela terra.<br />
68
Isaque, não Desça ao Egito<br />
Daí iniciou-se a perseguição e a provocação para que Isaque reagisse <strong>de</strong> tal<br />
modo que lhes <strong>de</strong>sse oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o expulsarem. O <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ir para<br />
o Egito foi aguçado pelas notícias da riqueza daquela terra. Na verda<strong>de</strong>,<br />
por um lapso <strong>de</strong> tempo, Isaque <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> confiar na direção divina e<br />
resolveu agir por conta própria. Estava inseguro, e sua insegurança não<br />
se justificava porque <strong>Deus</strong> o havia abençoado copiosamente em todo<br />
o seu caminho. Quando nos <strong>de</strong>paramos com situações <strong>de</strong> insegurança<br />
em termos <strong>de</strong> subsistência material, <strong>de</strong>vemos sempre buscar <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> o<br />
conhecimento da sua vonta<strong>de</strong> (Gn 12.2,3; 13.16; 15.5; 17.3-8; 22.15-18).<br />
<strong>Deus</strong> abençoou Isaque por amor a Abraão (Gn 26.5,24).<br />
Uma Experiência Pessoal<br />
Certa feita, nos anos <strong>de</strong> 1945 e 1946, meu pai, Osmar Cabral, era<br />
obreiro na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mafra, SC. Era o final da Segunda Guerra Mundial<br />
e a escassez tomou conta do mundo inteiro. A igreja era pequena e não<br />
tinha recursos para sustentá-lo, ainda que não faltasse nada em casa.<br />
Meu pai <strong>de</strong>sejou <strong>de</strong>ixar a obra do ministério e conseguir algum emprego.<br />
Minha mãe foi forte o suficiente para dizer-lhe que <strong>Deus</strong> cuidaria <strong>de</strong>les,<br />
por isso não po<strong>de</strong>ria abandonar o ministério. Quantas vezes somos tentados<br />
a <strong>de</strong>sistir da obra <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> quando circunstâncias adversas surgem!<br />
Com Isaque, mesmo havendo fome na terra, a sua fazenda não <strong>de</strong>ixou<br />
<strong>de</strong> crescer e aumentar. Seu maior problema foi permitir que a ambição<br />
material roubasse a direção <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> sua vida.<br />
A Tentação <strong>de</strong> Mentir<br />
Mentira, do tipo que Isaque fez, po<strong>de</strong> ser uma <strong>de</strong>claração ou informação<br />
<strong>de</strong>liberadamente transmitida como se fosse verda<strong>de</strong>. Em nenhuma<br />
circunstância tem lugar a mentira na vida do cristão. No episódio da<br />
ação <strong>de</strong> Isaque, não foi diferente a sua mentira da que seu pai Abraão<br />
fez no Egito. Agora Isaque, em Gerar, com medo <strong>de</strong> os filisteus tomarem<br />
a sua mulher e o matarem, usa a mentira para po<strong>de</strong>r alcançar seus<br />
objetivos na terra. Rebeca era muito bonita, e temendo perdê-la ou ser<br />
morto por causa <strong>de</strong>la, combinou com ela para que se i<strong>de</strong>ntificasse como<br />
sendo sua irmã (Gn 26.7). O rei Abimeleque, antes <strong>de</strong> pensar em levar<br />
69
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
Rebeca para o seu palácio, da sua casa “olhou por uma janela e viu, e eis<br />
que Isaque estava brincando com Rebeca, sua mulher” (Gn 26.8). O rei<br />
procurou Isaque e falou da sua <strong>de</strong>cepção com a mentira <strong>de</strong>le. Mesmo<br />
assim, Abimeleque <strong>de</strong>u uma or<strong>de</strong>m a todo o povo <strong>de</strong> Gerar que não<br />
tocasse naquela mulher. Isaque, certamente envergonhado diante do<br />
rei Abimeleque, teve que confessar seu erro. Isaque agiu <strong>de</strong>sse modo<br />
porque não queria correr o risco <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r suas vantagens materiais.<br />
N a história <strong>de</strong> seus pais, Sarai e Abrão, havia ocorrido o mesmo<br />
problema, diferenciado apenas pelo fato <strong>de</strong> que, o rei do Egito, imaginando<br />
que Sarai era irmã <strong>de</strong> Abrão, por causa da sua beleza, a pediu<br />
para ser uma <strong>de</strong> suas concubinas. Quando Faraó <strong>de</strong>scobriu a mentira<br />
<strong>de</strong> Abrão, mesmo sem ter tocado nela, o rei foi atingido com pragas no<br />
seu palácio. Faraó <strong>de</strong>volveu Sarai a Abrão e or<strong>de</strong>nou que fosse embora<br />
do Egito. Em relação a Rebeca, ela não chegou ser <strong>de</strong>sejada por nenhum<br />
filisteu, mas quando Abimeleque <strong>de</strong>scobriu a mentira <strong>de</strong> Isaque, reprovou<br />
a sua atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> querer enganar. A mentira é sempre perniciosa numa<br />
convivência social. Para o crente em Cristo, nada justifica usar da mentira<br />
para tirar proveito <strong>de</strong> alguma coisa. O apóstolo Paulo exortou aos<br />
Efésios, dizendo: “Pelo que <strong>de</strong>ixai a mentira e falai a verda<strong>de</strong> cada um<br />
com o seu próximo; porque somos membros uns dos outros” (Ef 4.25).<br />
A SIMBOLOGIA DOS POÇOS ENTULHADOS<br />
A Inveja dos Filisteus<br />
Ao longo da história dos ju<strong>de</strong>us, os filisteus sempre foram inimigos<br />
<strong>de</strong> Israel. Sempre procuraram apossar-se das terras <strong>de</strong> Israel e <strong>de</strong>sfazer<br />
seu trabalho. N a história <strong>de</strong> Abraão e Isaque, os filisteus tornaram-se<br />
inimigos por causa da prosperida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ambos. No capítulo 26 <strong>de</strong> Génesis,<br />
a história se repete quando Isaque foi para a terra dos filisteus em<br />
Gerar. Prosperou tanto que o próprio rei dos filisteus reconheceu que<br />
Isaque era mais rico que ele. Os servos do rei rangiam os <strong>de</strong>ntes contra<br />
todo o povo <strong>de</strong> Isaque porque em tudo ele era próspero e estava sob a<br />
guarda da bênção <strong>de</strong> Jeová (Gn 26.22).<br />
O Dicionário Bíblico Wycliffe diz que “a inveja é um princípio ativo<br />
<strong>de</strong> hostilida<strong>de</strong> dirigido maliciosamente a um aspecto <strong>de</strong> superiorida<strong>de</strong>,<br />
real ou suposta, <strong>de</strong> outra pessoa”. O Dicionário Internacional <strong>de</strong> Teologia<br />
70
Isaque, não Desça ao Egito<br />
do Novo Testamento <strong>de</strong>fine a “inveja como algo que faz com que alguém<br />
tenha ressentimento contra outra pessoa por ter algo que ele mesmo<br />
<strong>de</strong>seja, sem, porém, possuí-lo”. N o grego, a palavra phtonos dá a i<strong>de</strong>ia<br />
<strong>de</strong> zelos ou ciúmes. Essa palavra, phtonos, não aparece na literatura canónica<br />
da LXX. No grego do Novo Testamento, aparece phthoneô, na<br />
escritura <strong>de</strong> Gálatas 5.26 (ARA), quando Paulo diz: “tendo inveja uns<br />
dos outros” como uma atitu<strong>de</strong> que faz contraste com o “viver no Espírito”.<br />
Marcos falou da inveja dos que entregaram Jesus a Pôncio Pilatos<br />
(Mc 15.10). Em toda a Bíblia, existem muitos textos que con<strong>de</strong>nam<br />
a inveja como algo que é repudiado por <strong>Deus</strong>. A inveja ao sucesso <strong>de</strong><br />
prosperida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Isaque foi a razão que levou os filisteus a entulharem<br />
os poços <strong>de</strong> água para que os pastores <strong>de</strong> Isaque não tivessem água<br />
para dar ao gado. Isaque, com espírito pacífico, evitou brigar com os<br />
filisteus, e sempre abria poços em outro lugar, numa <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong><br />
bom senso e mansidão, com o fim <strong>de</strong> obter uma convivência pacífica.<br />
Quem Eram os Filisteus?<br />
N a verda<strong>de</strong>, o povo filisteu é um povo que <strong>de</strong>sapareceu na história<br />
mundial dos povos. Eles são fartamente citados no Antigo Testamento<br />
e estiveram em passagens importantes da história <strong>de</strong> Israel. Essas<br />
passagens bíblicas revelam as constantes guerras com os hebreus, e são<br />
histórias com personagens como Abraão, Isaque, Sansão e Davi. Por<br />
volta do século 7 a.C., esse povo misturou-se a outros povos e praticamente<br />
<strong>de</strong>sapareceu. Os pesquisadores <strong>de</strong>scobriram e enten<strong>de</strong>ram que<br />
os filisteus faziam parte dos “povos do mar”. Eles haviam se fixado,<br />
sobretudo, ao longo da costa do M ar Mediterrâneo. Eles aparecem<br />
no sudoeste, especialmente na Costa do Neguebe e Sefalá (Vale <strong>de</strong><br />
Sarom), on<strong>de</strong> fundaram cida<strong>de</strong>s como Gaza, Asdo<strong>de</strong>, Asquelom, Gate<br />
c Ecrom (Js 13.3). Havia templos <strong>de</strong>les a Dagom (1 Sm 31.10; 1 Cr<br />
10.10); templos e altares para Baal e Astarote (1 Sm 31.10; 2 Rs 1.1,16).<br />
() espaço ocupado por eles era chamado <strong>de</strong> Filístia, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> <strong>de</strong>riva o<br />
nome Palestina, que vai do sul do monte Carmelo até o sul da Palestina<br />
na direção do Egito. Ao longo da história <strong>de</strong>sse povo, eles aparecem em<br />
várias circunstâncias <strong>de</strong> conflito com os hebreus. Quem não se lembra<br />
da história <strong>de</strong> Davi e Golias, o gigante filisteu?<br />
71
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
Na essência histórica, os filisteus sempre revelaram posturas incertas<br />
<strong>de</strong> quem náo inspira confiança, que é variante, inconstante, vacilante.<br />
Portanto, o espírito dos filisteus é um sinal negativo que aborda a vida<br />
<strong>de</strong> muitos cristáos hoje que não sabem o que querem e que vivem sempre<br />
mudando <strong>de</strong> igreja. Segundo a história, os filisteus eram obstinados e<br />
duros <strong>de</strong> coração (SI 95.8; Pv 28.14; E f 4.19; 1 Tm 4.2). A lição negativa<br />
dos filisteus é a atitu<strong>de</strong> egoísta para satisfazer apenas os seus interesses<br />
fisico e materiais. Por isso, eles entulhavam os poços abertos, tanto por<br />
Abraão como por Isaque, mais tar<strong>de</strong>.<br />
A Simbologia dos Poços Entulhados<br />
<strong>Deus</strong> tem dado ao seu povo poços <strong>de</strong> água viva que rejuvenescem,<br />
fertilizam, saciam a se<strong>de</strong>, como Jesus falou a mulher samaritana: “[...]<br />
porque a água que eu lhe <strong>de</strong>r se fará nele uma fonte <strong>de</strong> água viva” (Jo<br />
4.14). N a vida cristã, o Espírito nos leva a cavar poços <strong>de</strong> água que<br />
possam, não apenas saciar a nossa se<strong>de</strong>, mas que fertilizam a terra para<br />
a semeadura. Precisamos ter o cuidado para que os “filisteus mo<strong>de</strong>rnos”<br />
do mundo não entrem na igreja para entulhar os poços abertos pelo<br />
Espírito Santo. As águas cristalinas do Espírito precisam continuar a<br />
jorrar na vida da igreja e dos crentes em particular.<br />
A PROVISÃO DE DEUS NA TERRA DOS FILISTEUS<br />
Isaque prosperou naquela terra e diz a Bíblia que ele “semeou [...]<br />
naquela mesma terra e colheu, naquele mesmo ano, cem medidas, porque<br />
o Senhor o abençoava” (Gn 26.12). A inveja dos filisteus surgiu em<br />
função da gran<strong>de</strong> possessão <strong>de</strong> terras, ovelhas, vacas e gente <strong>de</strong> serviço.<br />
Por isso, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> várias intromissões e entulhos nos poços abertos por<br />
ele e seus servos, Isaque, pacificamente, foi para mais longe daquele lugar.<br />
Os Obstáculos Levantados pelos Filisteus Foram Desfeitos<br />
Enquanto ainda estava nas terras <strong>de</strong> Gerar, não faltaram obstáculos<br />
à sua permanência naquele lugar. Então Abimeleque, reconhecendo que<br />
72
Isaque, não Desça ao Egito<br />
o <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> Isaque era po<strong>de</strong>roso e o abençoava, propôs um concerto com<br />
Isaque, mas que o mesmo saísse daquelas terras. Os trabalhadores <strong>de</strong><br />
Isaque foram à frente para a terra que Isaque os or<strong>de</strong>nara que fossem e<br />
lá cavaram um poço, e acharam água em abundância. Isaque saiu das<br />
terras <strong>de</strong> Gerar naquele mesmo dia e foi-se para um lugar chamado<br />
Berseba (Gn 26.32,33).<br />
<strong>Deus</strong> nunca Abandona os seus Servos<br />
Isaque foi um homem abençoado porque era homem <strong>de</strong> paz; por<br />
isso, a bênção divina esteve com ele o tempo todo. Isaque enfrentou a<br />
oposição dos filisteus com atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> paciência e mansidão, que eram<br />
qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> seu caráter (Gn 26.17). Essas atitu<strong>de</strong>s para com os seus<br />
opositores amenizaram seus ódios e rancores porque Isaque soube ser<br />
manso em momentos <strong>de</strong> rispi<strong>de</strong>z.<br />
Isaque Semeou muita Semente<br />
Sob a bênção <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, Isaque prosperou em tudo que fazia e investia<br />
das suas forças. Além das pastagens bem tratadas por causa das águas<br />
dos seus poços que brotavam abundantemente, Isaque investiu em<br />
plantações com sementes que encheram aquelas terras antes rústicas.<br />
Essa prosperida<strong>de</strong> era o fruto da fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> à sua promessa<br />
feita a Abraão e ao próprio Isaque. A fome da terra <strong>de</strong> Canaã o levou<br />
a Gerar, lugar antes habitado por seu pai. Depois, ao voltar ao mesmo<br />
lugar, <strong>Deus</strong> o abençoou porque apren<strong>de</strong>u a confiar em nEle para sua<br />
provisão em vez <strong>de</strong> confiar com a boa terra do Egito. Sua prosperida<strong>de</strong><br />
se tornou alvo da inveja dos filisteus, que pediram a Isaque que <strong>de</strong>ixasse<br />
aquela terra e voltasse ao seu lugar <strong>de</strong> origem em Canaã.<br />
Abrindo Poços Abundantes Espirituais<br />
Os poços que cavamos po<strong>de</strong>m simbolizar as conquistas espirituais<br />
que fazemos, mas que são alvo <strong>de</strong> inveja, porfia <strong>de</strong> nossos inimigos espirituais.<br />
Isaque dá uma lição <strong>de</strong> paciência e mansidão em não revidar<br />
73
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
os ataques, mas não <strong>de</strong>sistir <strong>de</strong> lutar pelos i<strong>de</strong>ais sonhados. Às vezes,<br />
nossos inimigos procuram entulhar nossos poços com as pedras da<br />
censura, da calúnia e da mentira para que <strong>de</strong>sistamos <strong>de</strong> lutar.<br />
CONCLUSÃO<br />
<strong>Deus</strong> cumpre a sua palavra e não leva em conta nossos erros <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>cisões fora da orientação dEle. O Senhor suporta nossas fraquezas<br />
por causa do projeto maior. Isaque falhou algumas vezes, mas <strong>de</strong>ixou<br />
um gran<strong>de</strong> exemplo <strong>de</strong> homem humil<strong>de</strong>, gentil e cortês, não só para<br />
com os amigos, mas também com os seus inimigos. Não ter ido para o<br />
Egito foi um ato <strong>de</strong> obediência e reconhecimento da soberania divina<br />
para cuidar <strong>de</strong>le, <strong>de</strong> sua família e <strong>de</strong> toda a sua fazenda.<br />
O Egito é símbolo do mundo, que atrai os incautos<br />
p ara afastá-los <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>.<br />
74
Capítulo 7<br />
JOSÉ, SABEDORIA EM<br />
TERRA ESTRANHA<br />
José é um ramo frutífero, ramo frutífero junto à fonte;<br />
seus ramos correm sobre o muro.<br />
—Génesis 49.22<br />
Nos <strong>de</strong>sígnios <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, a história <strong>de</strong> José ganha um sentido especial.<br />
Naturalmente, não cremos que essa história tenha algum caráter <strong>de</strong>terminista,<br />
mas cremos que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o seu nascimento (Gn 30.22-24) o <strong>de</strong>do<br />
<strong>de</strong> <strong>Deus</strong> orientou os seus caminhos para que se cumprissem no tempo<br />
próprio esses <strong>de</strong>sígnios. Portanto, a história <strong>de</strong> José é uma das mais belas<br />
histórias registradas na Bíblia Sagrada. É uma história salpicada pelo amor<br />
<strong>de</strong> um pai ancião, a rejeição <strong>de</strong> seus irmãos invejosos e a beleza dos seus<br />
sonhos que revelavam o futuro <strong>de</strong> sua família. Do capítulo 30, quando se<br />
inicia a sua história, não há informações sobre o <strong>de</strong>senvolvimento físico<br />
c mental <strong>de</strong> José até chegar aos 17 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. A partir do capítulo 37<br />
até o capítulo 50, a história ganha em 13 capítulos um espaço especial<br />
no livro <strong>de</strong> Génesis nos quais se revelam os <strong>de</strong>sígnios <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> na sua<br />
vida e na vida <strong>de</strong> sua família, a qual se proliferou e se tornou um gran<strong>de</strong><br />
povo. Alguns fatos, alguns bons e outros ruins, contribuíram para que<br />
os <strong>de</strong>sígnios divinos se concretizassem na vida <strong>de</strong> José, o qual se tornou<br />
um instrumento <strong>de</strong> bênção para toda a sua família.<br />
Nessa história, somos atraídos pela sabedoria <strong>de</strong> José extremamenle<br />
útil nas várias circunstâncias <strong>de</strong> sua vida. José experimentou <strong>de</strong>s<strong>de</strong>
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
jovem adolescente a inveja dos seus irmãos porque gozava <strong>de</strong> regalias<br />
que os <strong>de</strong>mais filhos não tinham. Era um modo errado <strong>de</strong> tratamento<br />
<strong>de</strong> Jacó, o pai, com os <strong>de</strong>mais filhos. Por causa <strong>de</strong>ssas regalias <strong>de</strong> José,<br />
seus irmãos o odiaram e o quiseram distante <strong>de</strong>les. Por isso, eles o<br />
pren<strong>de</strong>ram e o jogaram num poço, mas passando um grupo ismaelita<br />
que negociava escravos, ven<strong>de</strong>ram o irmão, que foi conduzido como<br />
escravo e levado para o Egito. Naquela terra, vendido como escravo a<br />
um senhor egípcio, não per<strong>de</strong>u sua fé em <strong>Deus</strong>. N a casa <strong>de</strong> Potifar, o<br />
seu senhor, José fez prosperar os negócios <strong>de</strong>sse homem, mas foi alvo<br />
da sensualida<strong>de</strong> sua mulher, que o tentou para um caso sexual. Não<br />
aceitando a oferta sensual da mulher <strong>de</strong> Potifar, foi injustamente acusado<br />
<strong>de</strong> assédio sexual e levado à prisão. N a prisão, sua fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> ao <strong>Deus</strong><br />
do seu pai o fez um lí<strong>de</strong>r capaz <strong>de</strong> interpretar sonhos dos outros presos.<br />
Não <strong>de</strong>morou muito para que fosse <strong>de</strong>scoberto como alguém especial<br />
para interpretar os sonhos <strong>de</strong> Faraó, vindo a conquistar sua confiança.<br />
Faraó, rei do Egito, ficou tão impressionado com José que o fez o<br />
gran<strong>de</strong> e mais inteligente governador do Egito. José <strong>de</strong>ixou uma lição<br />
<strong>de</strong> sabedoria ao saber conduzir-se nas mais difíceis situações amparado<br />
pela providência <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, mas, acima <strong>de</strong> tudo, <strong>de</strong> fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> a <strong>Deus</strong>.<br />
Nessa história, trataremos especialmente <strong>de</strong> aspectos da sua fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong><br />
a <strong>Deus</strong> em meio às crises por que passou.<br />
ASPECTOS DA VIDA DE JOSÉ<br />
Antes do nascimento <strong>de</strong> José, seus pais experimentaram algumas crises<br />
que eclodiram trazendo dissabores e tristezas para Jacó. A <strong>de</strong>speito <strong>de</strong><br />
Jacó fazer parte do projeto <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, sua vida familiar, ainda que próspera,<br />
não foi das mais felizes, porque ele não soube administrar os assuntos<br />
familiares com sabedoria. Do capítulo 30 até o 37, alguns fatos foram<br />
marcantes para o velho Jacó com a perda <strong>de</strong> três pessoas importantes<br />
em sua vida: Débora, a ama <strong>de</strong> Rebeca (35.8); sua amada esposa Raquel,<br />
no parto <strong>de</strong> Benjamim (35.16-20), e seu pai Isaque, que morreu com<br />
180 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e foi sepultado por seus filhos Esaú e Jacó junto à<br />
sepultura <strong>de</strong> Abraão na cova <strong>de</strong> Macpela (35.27-29). José acompanhou<br />
o nascimento <strong>de</strong> seu irmão Benjamim e teve uma vida <strong>de</strong> adolescente<br />
até aos 17 anos cheia <strong>de</strong> sonhos e ambições como é típico <strong>de</strong>ssa ida<strong>de</strong>.<br />
76
José, Sabedoria em Terra Estranha<br />
Quem Era José<br />
José náo foi um personagem comum da história bíblica. Sua vida é<br />
o testemunho vibrante <strong>de</strong> um homem <strong>de</strong> enorme integrida<strong>de</strong> que foi<br />
capaz <strong>de</strong> superar as maiores adversida<strong>de</strong>s ao longo <strong>de</strong> sua vida dando<br />
exemplo <strong>de</strong> amor, inteligência e perdão. Sua história é uma inspiração,<br />
e não po<strong>de</strong> nunca ser esquecida. Ora, enten<strong>de</strong>mos que a Bíblia é a<br />
revelação <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> e sua vonta<strong>de</strong> para a vida humana e, como disse o<br />
apóstolo Paulo aos Romanos 15.4: “Porque tudo que dantes foi escrito<br />
para nosso ensino foi escrito, para que, pela paciência e consolação das<br />
Escrituras, tenhamos esperança”. A palavra dantes abrange todas as<br />
verda<strong>de</strong>s inseridas nas histórias bíblicas. São verda<strong>de</strong>s que ensinam no<br />
presente e são uma esperança para o futuro. Por isso, a vida <strong>de</strong> José é<br />
uma gran<strong>de</strong> inspiração <strong>de</strong> fé e esperança.<br />
Portanto, do seu nascimento até aos 17 anos (Gn 30.24— 37.2), a<br />
sua família era constituída pelos filhos <strong>de</strong> Lia (ou Leia), pelos filhos das<br />
concubinas Zilpa e Bila, e, por último, por seu irmão Benjamim, filho<br />
<strong>de</strong> Raquel (Gn 30.22-24; 35.16-18). A partir dos 17 anos até os 30 anos,<br />
iniciou-se um segundo ciclo da sua vida (Gn 37.2-41.46).<br />
José, Objeto <strong>de</strong> uma Crise <strong>de</strong> Família<br />
Nesse segundo período <strong>de</strong> sua vida, o <strong>de</strong>scontrole familiar por parte<br />
<strong>de</strong> Jacó privilegiou uns em <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> outros. Jacó não percebeu<br />
que sua atitu<strong>de</strong> para com os filhos <strong>de</strong>u início a um antagonismo dos<br />
irmãos <strong>de</strong> José por causa dos seus privilégios para com o pai. O fruto<br />
<strong>de</strong>sse antagonismo familiar para com José resultou em inveja, escravidão,<br />
prisão injusta e humilhação que estiveram presentes na sua vida.<br />
A partir dos 30 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> até a sua morte (Gn 41.46-50.26), em<br />
especial os oito últimos anos, foram marcados pelo cuidado <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> à<br />
sua vida e houve muita prosperida<strong>de</strong> no sentido material, político, social<br />
c espiritual. Foi a recompensa pela sua fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> a <strong>Deus</strong> e a capacida<strong>de</strong><br />
tle administrar sua vida <strong>de</strong> modo inteligente, que fosse bom para si mesmo<br />
e para a glória <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Foi nesse período que José <strong>de</strong>ixou a maior<br />
lição <strong>de</strong> perdão aos seus irmãos, superando todos os ressentimentos e<br />
vivendo uma vida <strong>de</strong> paz e harmonia entre todos. Nesse tempo, o Senhor<br />
77
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
permitiu que visse o rosto <strong>de</strong> seu pai e ainda trouxesse toda a família<br />
para o Egito, perdoando-os, abençoando-os e protegendo-os. Fazendo<br />
um retrocesso para enten<strong>de</strong>r melhor a história <strong>de</strong> um vencedor <strong>de</strong> crises,<br />
vamos consi<strong>de</strong>rar alguns elementos vitais <strong>de</strong>ssa historia.<br />
José, uma Bênção Transformada em Crise<br />
É interessante perceber na Bíblia que as pessoas que <strong>Deus</strong> escolheu<br />
para manifestar a sua glória e fazer <strong>de</strong>las o direcionamento <strong>de</strong> sua<br />
vonta<strong>de</strong> nunca foram perfeitas. Pelo contrário, sempre foram pessoas<br />
normais, com valores e <strong>de</strong>feitos, mas que, <strong>de</strong> algum modo, <strong>Deus</strong> viu<br />
nelas a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reconhecerem a sua soberania. Foi o caso do pai<br />
<strong>de</strong> José, o velho Jacó. Em termos <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> familiar, Jacó náo soube<br />
administrar muito bem a seus filhos e a sua casa. Porém, há algo especial<br />
que Jacó passou para seus filhos: o seu temor a <strong>Deus</strong>.<br />
Quando nasceu José, foi consi<strong>de</strong>rado como “o filho da sua velhice”,<br />
o primeiro <strong>de</strong> Raquel. Sua paixão por Raquel o fez trabalhar 14 anos<br />
para que ela fosse liberada e concedida em casamento com ele. Depois<br />
dos primeiros anos trabalhados por Raquel, o velho Labão, seu sogro,<br />
o enganou e lhe <strong>de</strong>u Leia (Lia), a irmã <strong>de</strong> Raquel, e com Lia (Leia) teve<br />
sete filhos. Mas sua paixão por Raquel o fez trabalhar outros sete anos<br />
na fazenda <strong>de</strong> seu sogro Labão, para ter a mão <strong>de</strong> Raquel em casamento.<br />
Casando-se com Raquel, ficou <strong>de</strong>cepcionado porque ela era estéril e<br />
não pô<strong>de</strong> lhe dar filhos imediatamente, mas ele não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> amá-la.<br />
A esterilida<strong>de</strong> era o maior estigma para a mulher naquela antiga cultura<br />
e, por isso, Raquel sentia-se humilhada, porque não ter filhos se constituía<br />
uma <strong>de</strong>sgraça para ela e seu marido. Mas o Senhor interferiu no<br />
útero <strong>de</strong> Raquel e a capacitou para engravidar <strong>de</strong> José, para sua alegria<br />
e <strong>de</strong> Jacó. Portanto, a alegria <strong>de</strong>sse filho <strong>de</strong> Raquel fez com que Jacó<br />
o amasse tanto que acabou criando uma situação incómoda <strong>de</strong>ntro<br />
da família. Sua <strong>de</strong>dicação a José o tornou rejeitado pelos irmãos. Para<br />
aumentar ainda mais o ódio <strong>de</strong> seus filhos, o velho Jacó privilegiou José<br />
dando-lhe uma túnica <strong>de</strong> várias cores, enquanto os <strong>de</strong>mais continuavam<br />
com suas roupas <strong>de</strong> linho branco áspero. Essa atitu<strong>de</strong> negativa <strong>de</strong> Jacó<br />
provocou não somente inveja e ciúme dos irmãos <strong>de</strong> José, mas o <strong>de</strong>sejo<br />
<strong>de</strong> se livrarem <strong>de</strong>le.<br />
78
José, Sabedoria em Terra Estranha<br />
Dentro <strong>de</strong> uma família, todos <strong>de</strong>vem ser amados por igual, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente<br />
das diferenças <strong>de</strong> temperamento que cada filho tenha.<br />
Jacó foi um mau exemplo <strong>de</strong> paternida<strong>de</strong>, porque não soube administrar<br />
com sabedoria os sentimentos <strong>de</strong> sua família.<br />
José, o Alvo <strong>de</strong> uma Crise <strong>de</strong> Relações entre seus Irmãos<br />
Duas razões principais po<strong>de</strong>m ser percebidas no comportamento<br />
dos irmãos <strong>de</strong> José. O ódio cresceu em seus corações como uma planta<br />
venenosa porque eles não conseguiam admitir o tratamento que seu pai<br />
dava a José em <strong>de</strong>trimento dos <strong>de</strong>mais irmãos.<br />
Uma das razões do ódio <strong>de</strong> seus irmãos restava da <strong>de</strong>núncia que José<br />
fazia ao pai das más ações cometidas por seus irmãos quando estavam<br />
longe da vista do pai. Seus irmãos o viam como um traidor <strong>de</strong>les porque<br />
era o favorito <strong>de</strong> seu pai e porque a esposa favorita <strong>de</strong> seu pai era<br />
Raquel, sua mãe (Gn 37.3). E difícil enten<strong>de</strong>r por que uma família com<br />
vários conflitos e com pessoas cheias <strong>de</strong> ódio, inveja, falsida<strong>de</strong> e mau<br />
comportamento estaria nos <strong>de</strong>sígnios <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> para a formação <strong>de</strong> um<br />
gran<strong>de</strong> povo. Mas <strong>Deus</strong> não pensa como nós e nem julga pelos mesmos<br />
critérios que nós humanos julgamos. A justiça <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> é perfeita e seus<br />
<strong>de</strong>sígnios estão acima da nossa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> julgar.<br />
A outra razão <strong>de</strong>sse conflito familiar contra José estava no fato <strong>de</strong><br />
ele ser um sonhador que sempre <strong>de</strong>spontava como lí<strong>de</strong>r. Quando José<br />
aparecia, <strong>de</strong> repente, para ver como estavam os seus irmãos, eles diziam<br />
uns para os outros: “Lá vem o sonhador!” (Gn 37.19, ARA). N o seu último<br />
sonho, ao contar para seus irmãos, o enredo do sonho irritou tanto<br />
a eles que resolveram entre si dar cabo da vida <strong>de</strong> José. Mas, ouvindo<br />
um dos irmãos mais velhos, <strong>de</strong>cidiram não matá-lo, mas vendê-lo para<br />
mercadores <strong>de</strong> escravos. José contou o sonho aos irmãos, quem sabe por<br />
uma inocência <strong>de</strong> malícia, mas o sonho provocou ainda mais o ódio<br />
<strong>de</strong>les, porque entendiam que José se colocava sempre superior a eles (Gn<br />
37.5-8). Quando José lhes contou o sonho dos feixes <strong>de</strong> grãos que, atados,<br />
estavam em torno do seu feixe, que era o principal, e se inclinavam perante<br />
ele, essa história foi o suficiente para que o odiassem ainda mais (v. 8).<br />
Certamente, nem eles, nem José, podiam imaginar que se tratava<br />
<strong>de</strong> uma visão futura que aconteceria <strong>de</strong>ntro dos <strong>de</strong>sígnios divinos,<br />
79
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
mas não sabiam como interpretar (Gn 42.6; 46.29,30). Sem po<strong>de</strong>rem<br />
enten<strong>de</strong>r o futuro que lhes reservava, ao ouvirem o sonho <strong>de</strong> José, preferiam<br />
consi<strong>de</strong>rar que se tratava <strong>de</strong> uma ambição e presunção daquele<br />
adolescente. N a verda<strong>de</strong>, nos <strong>de</strong>sígnios <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, era uma antevisão<br />
do tempo em que ele estaria no Egito como governador e que seu pai<br />
e seus irmãos teriam que se inclinar perante ele, o feixe maior (Gn<br />
45.1-8) Nem o seu velho pai aceitou bem o sonho <strong>de</strong> José, pois o via<br />
como presunção da parte <strong>de</strong>le. Por causa <strong>de</strong>ssa situação, José foi odiado<br />
e maltratado por seus irmãos, premeditando até mesmo matá-lo para<br />
se verem livres <strong>de</strong>le (Gn 37.17-20).<br />
JOSÉ SUPERA A CRISE DE HUMILHAÇÃO<br />
A Humilhação da Rejeição <strong>de</strong> seus Irmãos<br />
Rúben, o filho primogénito <strong>de</strong> Jacó, não <strong>de</strong>ixou que seus irmãos<br />
cometessem um assassinato com seu próprio irmão (Gn 37.21,22).<br />
Mesmo sabendo que o plano irrefletido <strong>de</strong> seus irmãos traria maldição<br />
sobre suas vidas, Rúben sugeriu que jogassem José numa cisterna velha<br />
sem água (Gn 37.24). Antes <strong>de</strong> o lançarem na cisterna, tiraram sua<br />
túnica <strong>de</strong> cores e a encharcaram <strong>de</strong> sangue <strong>de</strong> um cabrito morto para<br />
levarem ao pai a túnica rasgada e tingida <strong>de</strong> sangue e, assim, passarem<br />
a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que José tivesse sido atacado por algum animal violento (Gn<br />
37.31). Cheios <strong>de</strong> ódio contra José, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> o terem lançado numa<br />
cisterna, viram uma caravana <strong>de</strong> ismaelitas <strong>de</strong> caminho para o Egito e<br />
o ven<strong>de</strong>ram para essa gente (Gn 37.28).<br />
A Humilhação da sua Venda aos Ismaelitas<br />
Os ismaelitas eram um povo <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Ismael, filho <strong>de</strong> Abraão<br />
e Agar, a escrava egípcia que servia a Sara, sua esposa do patriarca. Naturalmente,<br />
tanto Ismael quanto Isaque eram velhos e formaram suas<br />
famílias. Ismael cresceu e se <strong>de</strong>senvolveu no <strong>de</strong>serto, e Isaque, na terra <strong>de</strong><br />
Canaã. Muitos anos se passaram e os seus filhos, sem perceberem suas<br />
origens abraâmicas, se encontram. Os ismaelitas que passavam por aquela<br />
região em que se encontravam os filhos <strong>de</strong> Jacó eram mercadores, tanto<br />
<strong>de</strong> joias quanto <strong>de</strong> escravos. Segundo a história bíblica, semelhante às<br />
80
José, Sabedoria em Terra Estranha<br />
12 tribos <strong>de</strong> Israel, também havia uma promessa <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> sobre os filhos<br />
<strong>de</strong> Ismael, que formariam doze tribos com a sua gente (Gn 17.20; 25.12-<br />
16). Portanto, os ismaelitas, além <strong>de</strong> meio-irmáos dos filhos <strong>de</strong> Abraão,<br />
eram tribos que viviam no <strong>de</strong>serto e que negociavam com outros povos.<br />
Nesse encontro casual, os filhos <strong>de</strong> Jacó não per<strong>de</strong>ram a oportunida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> negociar com aqueles mercadores a venda <strong>de</strong> seu irmão José. Eles o<br />
ven<strong>de</strong>ram como escravo aos ismaelitas, que lhes <strong>de</strong>ram 20 moedas <strong>de</strong><br />
prata (Gn 37.28).<br />
A Humilhação da Mentira da Túnica Tingida <strong>de</strong> Sangue<br />
A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> encharcarem a “túnica <strong>de</strong> cores” que José vestia para<br />
enganar o velho pai Jacó é típica <strong>de</strong> açóes mo<strong>de</strong>rnas <strong>de</strong> li<strong>de</strong>ranças, não<br />
só no mundo dos homens, na vida política, mas até mesmo no seio da<br />
igreja. São ações mentirosas e falsas para escon<strong>de</strong>r a verda<strong>de</strong>. Que <strong>Deus</strong><br />
nos guar<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas açóes falsas!<br />
N a história dos irmãos <strong>de</strong> José, a tentativa era <strong>de</strong> amenizar suas<br />
consciências e enganar a Jacó, o pai. Imaginaram ter se livrado <strong>de</strong><br />
José sem o terem matado, e que essa ação os livraria <strong>de</strong> uma culpa <strong>de</strong><br />
assassinato e amenizaria a culpa por terem vendido o próprio irmão.<br />
Ao apresentarem a túnica <strong>de</strong> cores cheia <strong>de</strong> sangue <strong>de</strong> cabrito com o<br />
intuito <strong>de</strong> enganar a seu pai Jacó, fizeram-no chorar por muitos dias<br />
<strong>de</strong> tristeza, pois imaginava ter perdido seu filho José para sempre. O<br />
velho Jacó não sabia das peripécias enganosas <strong>de</strong> seus filhos. O ciúme<br />
e a inveja <strong>de</strong> irmãos <strong>de</strong> José foram <strong>de</strong> uma cruelda<strong>de</strong> sem prece<strong>de</strong>ntes,<br />
que encheram o coração do velho pai com gran<strong>de</strong> tristeza (Gn 37.31-<br />
35). Esse estado <strong>de</strong> coisas ruins foi experimentado por Jacó por causa<br />
<strong>de</strong> má administração familiar. Lamentavelmente, isso não teria acontecido<br />
se Jacó tivesse sido mais justo com os seus irmãos na formação<br />
do caráter <strong>de</strong>les. <strong>Toda</strong> esta situação foi fruto da passivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jacó no<br />
trato com seus filhos.<br />
JOSÉ SUPERA A CRISE DE SUA ESCRAVATURA NO EGITO<br />
Tão logo chegaram ao Egito, os ismaelitas conduziram José ao mercado<br />
<strong>de</strong> escravos. Seu corpo jovem, forte e bonito chamou a atenção <strong>de</strong><br />
81
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
compradores. Não <strong>de</strong>morou a aparecer compradores. Surgiu um homem,<br />
eunuco <strong>de</strong> Faraó, capitão da guarda do Palácio <strong>de</strong> Faraó, e o comprou<br />
para servir na sua própria casa. A partir <strong>de</strong> então a história da vida <strong>de</strong><br />
José ganha um sentido especial na presciência divina.<br />
José Supera as Adversida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sua Humilhação<br />
O que é uma adversida<strong>de</strong>? Significa “contrarieda<strong>de</strong>, revés, infortúnio,<br />
aborrecimento, crise”. José experimentou vários reveses que o<br />
fizeram sofrer, mas ele foi capaz <strong>de</strong> não per<strong>de</strong>r o “bom senso” nem se<br />
<strong>de</strong>ixou dominar por sentimentos <strong>de</strong> mágoa e ressentimento. Da terra<br />
<strong>de</strong> Canaã, José foi comprado pelos mercadores ismaelitas e levado ao<br />
Egito. No Egito, José foi conduzido ao mercado <strong>de</strong> escravos e, mais<br />
uma vez, foi vendido para um oficial da corte real <strong>de</strong> Faraó. O oficial,<br />
que se chamava Potifar, levou José para a sua casa. Ao perceber que o<br />
jovem escravo tinha características diferentes e superiores aos <strong>de</strong>mais<br />
escravos, Potifar o colocou como mordomo sobre toda a sua casa, bem<br />
como sobre seus negócios. Mesmo sendo escravo, José era privilegiado<br />
pela sua inteligência e caráter, e continuou a acreditar nos seus sonhos,<br />
ainda que em circunstâncias que pareciam contradizê-los.<br />
José, Elevando <strong>de</strong> Simples Escravo à Função <strong>de</strong> Mordomo<br />
Potifar percebeu que José era um serviçal diferente. Tinha i<strong>de</strong>ias e<br />
contribuía com seu senhor para fazer prosperar a sua fazenda. Porfiar<br />
percebeu, também, que José era um jovem com qualida<strong>de</strong>s morais<br />
invejáveis. Por isso, não teve dúvidas em elevá-lo <strong>de</strong> simples escravo à<br />
função <strong>de</strong> mordomo, gerindo sobre todos os negócios da sua casa. <strong>Deus</strong><br />
o honrou porque manteve sua fé no <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> seu pai. Os negócios geridos<br />
por José na casa <strong>de</strong> Potifar prosperaram gran<strong>de</strong>mente, e <strong>Deus</strong> era com ele.<br />
Ele po<strong>de</strong>ria, quem sabe, ter vivido uma crise <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e ser<br />
um homem triste e sem esperança, mas foi capaz <strong>de</strong> romper com essa<br />
adversida<strong>de</strong> mantendo-se fiel a <strong>Deus</strong>. José foi um exemplo <strong>de</strong> superação<br />
nas crises porque não per<strong>de</strong>u o foco <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> na sua vida. Uma importante<br />
lição que apren<strong>de</strong>mos com essa situação vivida por José é que se<br />
antes ele podia exibir uma túnica <strong>de</strong> cores que lhe dava a imagem <strong>de</strong><br />
82
José, Sabedoria em Terra Estranha<br />
superiorida<strong>de</strong>, no Egito, nos seus primeiros anos, “a arrogância <strong>de</strong>via<br />
ce<strong>de</strong>r ao caráter, a autoconfiança à <strong>de</strong>pendência e confiança em <strong>Deus</strong><br />
apenas , escreveu Lloyd John Ogilvie. A mão <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> estava com ele<br />
em tudo que fazia. Os seus sonhos seriam concretizados no tempo <strong>de</strong><br />
<strong>Deus</strong>, mas convinha que ele enfrentasse todas aquelas adversida<strong>de</strong>s<br />
para reconhecer a soberania divina. Em seu serviço a Potifar, em sua<br />
fazenda, Jose manteve sua fé em <strong>Deus</strong>, e os traços <strong>de</strong> seu caráter se<br />
manifestaram em sua lealda<strong>de</strong> ao seu senhor e fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> ao seu <strong>Deus</strong>.<br />
José Resistiu à Tentação Sexual da Mulher <strong>de</strong> Potifar<br />
José estava sob a guarda <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Os planos divinos não foram<br />
<strong>de</strong>sfeitos na vida <strong>de</strong> José por causa daquela circunstância <strong>de</strong> sua escravatura.<br />
Pelo contrário, José sabia que os sonhos eram <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> e não<br />
seriam frustrados. O Diabo é o inimigo dos servos <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> e procura<br />
sempre criar embaraços para a efetivação da vonta<strong>de</strong> divina. Tribulações<br />
provocadas e tentações que po<strong>de</strong>riam obstruir o plano <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> surgem,<br />
e não foi diferente na vida <strong>de</strong> José.<br />
O registro da história nesse episódio diz que “José era formoso <strong>de</strong><br />
aparência e formoso à vista” (Gn 39.6). Fisicamente, era um jovem<br />
bonito, com porte atlético que chamava a atenção. A mulher <strong>de</strong> Potifar<br />
não tinha escrúpulos nem <strong>de</strong>cência moral. Por isso, atraída pela beleza<br />
física <strong>de</strong> José, procurou seduzi-lo para um caso extraconjugal. Queria<br />
levá-lo para a cama <strong>de</strong> qualquer maneira. Ela tramou situações pelas<br />
quais pu<strong>de</strong>sse atrair o jovem mordomo. Mas José, fiel a seus princípios <strong>de</strong><br />
temor a <strong>Deus</strong> e <strong>de</strong> respeito próprio e pelo seu senhor, rejeitou a proposta<br />
<strong>de</strong>ssa mulher. Ela armou ciladas para levar José para sua a cama, usando<br />
<strong>de</strong> artifícios ate pegá-lo a força e segurando pela roupa <strong>de</strong> José, mas ele<br />
foi forte o suficiente para escapar das suas mãos a ponto <strong>de</strong> ficar com<br />
parte das vestes rasgadas (Gn 39.12). Antes do ataque <strong>de</strong>ssa mulher, José<br />
argumentou com ela que não podia praticar tal ato <strong>de</strong> traição ao seu<br />
senhor, que confiava nele. Ela se fez <strong>de</strong> vítima e acusou José <strong>de</strong> tentativa<br />
<strong>de</strong> sedução e estupro (Gn 39.14-18). Potifar ouviu a acusação mentirosa<br />
<strong>de</strong> sua mulher contra José e o mandou para a prisão, on<strong>de</strong> estavam os<br />
presos da casa real <strong>de</strong> Faraó. Ele venceu a tentação, mas teve que, mais<br />
uma vez, sofrer humilhação, indo para a prisão.
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
Temos dificulda<strong>de</strong>s em enten<strong>de</strong>r os propósitos divinos quando <strong>Deus</strong><br />
permite que passemos por situações embaraçosas para po<strong>de</strong>rmos chegar<br />
ao que Ele quer. Mesmo que mantenhamos conduta respeitável e sejamos<br />
fiéis aos princípios cristãos da Palavra <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, Ele espera que sejamos<br />
amadurecidos e moldados no crisol da experiência para chegarmos ao<br />
ponto i<strong>de</strong>al da vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Talvez José tivesse dificulda<strong>de</strong>s para<br />
enten<strong>de</strong>r por que tinha <strong>de</strong> sofrer aquelas humilhações mesmo sendo fiel<br />
a <strong>Deus</strong>. Mas ele não se <strong>de</strong>ixou vencer por essas circunstâncias, porque,<br />
no fundo do seu coração, sabia que havia algo maior para a sua vida.<br />
JOSÉ SOUBE SE CONDUZIR COM SABEDORIA DENTRO DA PRISÃO<br />
José Foi Abençoado por <strong>Deus</strong> <strong>de</strong>ntro da Prisão<br />
A tendência natural <strong>de</strong> todos nós quando sofremos injustiças é a perda<br />
do bom senso e o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> vingança em algumas circunstâncias. José,<br />
pelo contrário, não per<strong>de</strong>u o bom senso quando injustamente foi para<br />
a prisão, porque tinha a consciência limpa e não havia perdido a fé em<br />
<strong>Deus</strong> que o ajudaria mais uma vez. Em vez <strong>de</strong> ficar na passivida<strong>de</strong>, ele<br />
procurou reagir com atitu<strong>de</strong> disciplinada <strong>de</strong> não se <strong>de</strong>ixar dominar pela<br />
ira, pelo rancor, po<strong>de</strong>ndo alimentar i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> vingança. José procurou agir<br />
com coerência, tomando o controle da situação em que estava. Era um<br />
preso igual aos outros, mas que podia fazer diferença caso se mantivesse<br />
equilibrado e confiante em <strong>Deus</strong>. Na verda<strong>de</strong>, ele se tornou uma vítima<br />
da injustiça, porque o seu senhor nem quis ouvir a verda<strong>de</strong>ira história que<br />
envolveu a mulher <strong>de</strong> Potifar. Por algum tempo, mesmo tendo conquistado<br />
a confiança do oficial responsável pelos presos, ele estava preso e esquecido.<br />
No mundo em que vivemos, existem tantas histórias <strong>de</strong> injustiças<br />
<strong>de</strong> pessoas punidas por algo que não praticaram. No Novo Testamento,<br />
o apóstolo Pedro parecia estar se referindo a esse tipo <strong>de</strong> injustiça<br />
quando escreveu: “Porque é coisa agradável que alguém, por causa da<br />
consciência para com <strong>Deus</strong>, sofra agravos, pa<strong>de</strong>cendo injustamente.<br />
Porque que glória será essa, se, pecando, sois esbofeteados e sofreis?<br />
Mas, se fazendo o bem, sois afligidos e o sofreis, isso é agradável a<br />
<strong>Deus</strong>” (1 Pd 2.19,20). Esta escritura revela a todos nós que <strong>Deus</strong> age,<br />
também, através das circunstâncias adversas para que o conheçamos<br />
e nos inteiramos <strong>de</strong> seu projeto para nós.<br />
84
José, Sabedoria em Terra Estranha<br />
José sabia que havia um propósito m aior para a sua vida. Ele<br />
sabia como <strong>Deus</strong> trabalha para um propósito, mesmo que náo o<br />
compreendamos inicialmente. <strong>Deus</strong> disse ao profeta Isaías: “Porque<br />
os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos<br />
caminhos, os meus caminhos, diz o Senhor” (Is 55.8). Portanto, para<br />
José, os sonhos que tivera quando ainda estava na casa <strong>de</strong> seu pai náo<br />
eram meras figuras sem sentido, mas continham a revelação <strong>de</strong> que<br />
<strong>Deus</strong> faria com ele algo muito superior a qualquer circunstância adversa.<br />
Eram os sonhos que tivera ainda na casa do pai em Canaã. Ele<br />
sabia que, <strong>de</strong> algum modo, <strong>Deus</strong> cuidaria <strong>de</strong>le naquela adversida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ntro da prisão (Rm 2.4; SI 36.7; 119.76). Talvez ele pu<strong>de</strong>sse <strong>de</strong>clarar<br />
como Davi no Salmo 124.2-4: “Se não fo ra o Senhor, que esteve ao<br />
nosso lado, quando os homens se levantaram contra nós, eles, então, nos<br />
teriam engolido vivos, quando a sua ira se acen<strong>de</strong>u contra nós; então, as<br />
águas teriam transbordado sobre nós, e a corrente teria passado sobre a<br />
nossa alm a; então, as águas altivas teriam passado sobre a nossa alm a”.<br />
Lá <strong>de</strong>ntro da prisão, José, inteligentemente alcançou graça e simpatia<br />
com o carcereiro-mor, que viu nele qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um homem reto,<br />
ético e autêntico, e não um bandido.<br />
José Alcançou Graça perante o Capitão da Guarda<br />
<strong>de</strong>ntro da Prisão<br />
Naquela prisão, José foi sustentado pela benignida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Ele<br />
po<strong>de</strong>ria ter sido afetado psicologicamente com a lembrança ruim <strong>de</strong><br />
algumas experiências que teve quando foi tratado <strong>de</strong> modo injusto por<br />
seus irmãos. Lembrança da intenção dos seus irmãos <strong>de</strong> querer matá-lo<br />
e, não po<strong>de</strong>ndo concretizar o plano <strong>de</strong> assassinato, o ven<strong>de</strong>ram como<br />
escravo. Ele po<strong>de</strong>ria, no interior daquela prisão, sentir-se só, abandonado,<br />
esquecido <strong>de</strong> todos. Mas, pelo contrário, José não se <strong>de</strong>ixou vencer pelo<br />
negativismo; ele foi capaz <strong>de</strong> manter seu espírito pronto para superar<br />
mais uma vez aquela situação. Logo, o capitão da guarda da prisão agraciou-se<br />
tanto <strong>de</strong> José que o fez lí<strong>de</strong>r <strong>de</strong>ntro da prisão. Estavam presos<br />
naquela prisão dois funcionários especiais da cozinha da casa <strong>de</strong> Faraó,<br />
o copeiro-mor e o pa<strong>de</strong>iro-mor, com os quais o rei havia se aborrecido e<br />
mandou prendê-los. José fez amiza<strong>de</strong> com os dois presos da casa do rei<br />
85
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
e ganhou a confiança <strong>de</strong>les. Pela providência divina, aqueles dois presos<br />
da casa do rei tiveram sonhos e contaram a José, que os interpretou (Gn<br />
40.5-13). Inteligentemente, José interpreta o sonho do copeiro-mor,<br />
afirmando-lhe que seria restaurado à sua posição para com o Faraó.<br />
Então, José pediu a esse copeiro-mor que, quando estivesse servindo ao<br />
rei o seu vinho, lembrasse <strong>de</strong>le perante o rei. Posteriormente, a interpretação<br />
se confirmou com o <strong>de</strong>stino dos dois presos. O pa<strong>de</strong>iro-mor foi<br />
enforcado, mas o copeiro-mor foi restaurado à sua posição. Contudo,<br />
diz o texto que “o copeiro-mor [...] não se lembrou <strong>de</strong> José; antes, se<br />
esqueceu <strong>de</strong>le” (Gn 40.23). Por algum tempo, José continuou preso,<br />
esperando apenas em <strong>Deus</strong> a interferência no momento certo. Dois anos<br />
se passaram <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o copeiro do rei voltou ao seu serviço, até que<br />
o Faraó teve um sonho, e o copeiro lembrou-se <strong>de</strong> José (Gn 41.12-14).<br />
JOSÉ REVELA SABEDORIA E HUMILDADE DIANTE DE FARAÓ<br />
Por algum modo especial, a mão <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> estava sobre José. Ficou dois<br />
anos esquecido no seu cubículo <strong>de</strong>ntro da prisão, tendo oportunida<strong>de</strong> para<br />
pensar, refletir e comungar com <strong>Deus</strong> sobre todas as coisas na sua vida<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que saiu <strong>de</strong> casa aos 17 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Sua experiência com <strong>Deus</strong> lhe<br />
propiciou a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adquirir conhecimento e aguçar sua inteligência<br />
para usá-la no momento certo. Depois <strong>de</strong> dois anos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o copeiro<br />
do rei fora liberto e voltara à sua posição anterior, não havia se lembrado<br />
ainda <strong>de</strong> José. Então, Faraó teve sonhos que lhe tiraram o sono da noite.<br />
Querendo a interpretação dos sonhos e não a tendo pelos seus adivinhos<br />
e astrólogos, surge o copeiro, que, ao servir o vinho ao rei, lembrou-se <strong>de</strong><br />
José. A partir <strong>de</strong> então, uma nova jornada na vida <strong>de</strong> José se inicia.<br />
José Foi Lembrado perante Faraó<br />
José tinha o coração íntegro. Embora as nuances daquele momento<br />
que vivia na prisão pareciam <strong>de</strong>smoronar sobre sua vida, mas ele não<br />
per<strong>de</strong>u a esperança. A providência divina, que age no momento certo,<br />
propiciou-lhe a oportunida<strong>de</strong> da mudança <strong>de</strong> situação. <strong>Deus</strong> conce<strong>de</strong>u<br />
dois sonhos tão contun<strong>de</strong>ntes e significativos que <strong>de</strong>sestabilizaram<br />
completamente o Rei.<br />
86
José, Sabedoria em Terra Estranha<br />
Pela cultura egípcia, os sonhos eram supervalorizados e interpretados<br />
como presságios bons ou ruins às pessoas que tinham esses sonhos. Náo<br />
conseguindo enten<strong>de</strong>r o que os seus sonhos representavam, Faraó ficou<br />
com o espírito angustiado em busca do entendimento <strong>de</strong>sses sonhos.<br />
Convocou seus magos, adivinhos e astrólogos para que os interpretassem,<br />
mas nenhum <strong>de</strong>les conseguiu convencer o rei acerca do significado<br />
daqueles sonhos. Esses astrólogos e adivinhos viviam à mercê do palácio<br />
e, naquele momento, náo conseguiam dar nenhuma interpretação que<br />
convencesse o rei das suas pretensas interpretações (Gn 41.8). Então,<br />
quando o copeiro do rei lhe servia o vinho, vendo a perturbação do seu<br />
coração, já havia se passado dois anos, quando se lembrou <strong>de</strong> José. Então<br />
o copeiro falou ao rei sobre o que acontecera com ele e o pa<strong>de</strong>iro-mor,<br />
tendo-se cumprido fielmente a sua interpretação. O rei ficou pasmado<br />
com a exatidão do cumprimento dos sonhos do pa<strong>de</strong>iro e do copeiro,<br />
e or<strong>de</strong>nou que trouxessem José à sua presença. O que podia parecer esquecimento<br />
e atraso no plano divino era, <strong>de</strong> fato, o momento exato da<br />
interferência divina para que José saísse do seu sofrimento. Os homens<br />
po<strong>de</strong>m esquecer facilmente, mas <strong>Deus</strong> não nos esquece. Tudo quanto José<br />
havia passado era, na verda<strong>de</strong>, uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser preparado para<br />
a gran<strong>de</strong>za. De experiências sombrias em gran<strong>de</strong> parte da sua vida, José<br />
agora experimenta a mão <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> o conduzindo para um lugar ao sol.<br />
José Foi Conduzido à Presença <strong>de</strong> Faraó<br />
Ninguém podia ir à presença do rei como um escravo, mal vestido e<br />
com imagem <strong>de</strong> maltrapilho (Gn 41.14). Ele foi preparado para entrar na<br />
presença do rei e, quando entra na sala do rei, mesmo estando com vestidos<br />
novos e nobres, José não entrou na sala do trono com arrogância, mas<br />
com humilda<strong>de</strong> e temor a <strong>Deus</strong>. Ele sabia que fora <strong>Deus</strong> quem o fizera<br />
chegar à sala do trono. O rei disse da informação que teve a seu respeito<br />
como alguém que sabia interpretar sonhos. José, <strong>de</strong> imediato, respon<strong>de</strong>u<br />
ao rei: “Isso não está em mim; <strong>Deus</strong> dará resposta <strong>de</strong> paz a Faraó” (Gn<br />
41.16). O rei contou o sonho para José ouvir. Depois <strong>de</strong> atentamente<br />
ter ouvido o rei, José mais uma vez falou: “Esta é a palavra que tenho<br />
dito a Faraó; o que <strong>Deus</strong> há <strong>de</strong> fazer, mostrou-o a Faraó” (Gn 41.28).<br />
87
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
Esse episódio nos leva a refletir que o sofrimento, quando tratado<br />
<strong>de</strong> modo equilibrado, po<strong>de</strong> moldar uma vida e levá-la à gran<strong>de</strong>za.<br />
Sem dúvida, as lutas e cicatrizes da vida formam o fundamento para<br />
conquistas maiores quando sabemos administrar essas adversida<strong>de</strong>s.<br />
Temos dificulda<strong>de</strong>s em admitir que os sofrimentos po<strong>de</strong>m nos ensinar<br />
a lidar com circunstâncias adversas. Cada episódio na vida <strong>de</strong> José,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua saída da casa <strong>de</strong> seu pai, está <strong>de</strong>ntro dos <strong>de</strong>sígnios <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>.<br />
Agora, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tantas humilhações, José é abençoado pelo Senhor<br />
caindo na graça <strong>de</strong> Faraó.<br />
José Ouviu e Interpretou os Sonhos <strong>de</strong> Faraó<br />
Sem dúvida, o ponto crítico <strong>de</strong>sse encontro <strong>de</strong> José com Faraó foi o<br />
seu sonho. José náo podia imaginar que nesse dia, como qualquer outro<br />
dia na cela da sua prisão, repentinamente ele foi levado perante o rei.<br />
Foi o começo <strong>de</strong> algo maravilhoso preparado por <strong>Deus</strong> para a vida <strong>de</strong><br />
José. Aquele dia especial foi precedido por um sonho perturbador que<br />
o rei tivera, mas <strong>Deus</strong> o conduziu àquele momento especial.<br />
O rei contou os sonhos a José, e o Espírito <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> abriu o seu entendimento<br />
para dar a interpretação. José <strong>de</strong>clara ao Faraó que o <strong>Deus</strong><br />
<strong>de</strong> seus pais, o seu <strong>Deus</strong>, daria a resposta <strong>de</strong> paz ao coração do rei (Gn<br />
41.16). Com graça e revelação, a mente <strong>de</strong> José foi iluminada pelo Espírito<br />
Santo, e ele interpretou os sonhos afirmando que os dois sonhos<br />
se resumiam num só, pois <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> pouco tempo o Egito passaria<br />
por uma gran<strong>de</strong> escassez <strong>de</strong> alimentos. Para evitar a crise, o rei <strong>de</strong>veria<br />
prover os reservatórios e celeiros <strong>de</strong> alimentos para os tempos difíceis.<br />
José achou graça diante <strong>de</strong> Faraó, que ficou impressionado com a sua<br />
habilida<strong>de</strong> e facilida<strong>de</strong> argumentativa sob a égi<strong>de</strong> do Espírito Santo, a<br />
ponto <strong>de</strong> falar com tanta clareza acerca dos sonhos. A graça <strong>de</strong> <strong>Deus</strong><br />
foi uma <strong>de</strong>monstração da soberania divina sobre sua vida. O Faraó,<br />
imediatamente, enten<strong>de</strong>u que José tinha inteligência e habilida<strong>de</strong> administrativa<br />
para ser o seu governador sobre todo o Egito, estando abaixo<br />
apenas do próprio Faraó (Gn 41.33-57).<br />
88
José, Sabedoria em Terra Estranha<br />
CONCLUSÃO<br />
José foi exaltado em todo o Egito e ninguém era maior que ele.<br />
Como governador, José soube ser leal ao Faraó e administrar todo o<br />
Egito com muita luci<strong>de</strong>z e graça diante <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Por isso, José é um<br />
testemunho <strong>de</strong> que <strong>Deus</strong> nunca nos esquece. <strong>Toda</strong>s as dificulda<strong>de</strong>s<br />
pelas quais passamos na vida, especialmente quando estamos <strong>de</strong>ntro<br />
<strong>de</strong> um plano divino, sáo modos distintos <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>rmos a lidar com<br />
as várias situações. Antecipadamente, <strong>Deus</strong> preparou o espírito <strong>de</strong> José<br />
para as crises que enfrentaria quando lhe falou por meio <strong>de</strong> sonhos. José<br />
não se esqueceu <strong>de</strong> que <strong>Deus</strong> estava com ele, não só nas humilhações,<br />
mas também quando exaltado diante dos homens para que a glória <strong>de</strong><br />
<strong>Deus</strong> fosse lembrada.<br />
As crises existenciais são superadas por uma fé genuína em <strong>Deus</strong>.<br />
89
Capítulo 8<br />
RUTE: DEUS HONRA<br />
O TRABALHO PELA FAMÍLIA<br />
M ulher virtuosa, quem a achard?<br />
O seu valor muito exce<strong>de</strong> o <strong>de</strong> rubins.<br />
—Provérbios 31.10<br />
O livro <strong>de</strong> Rute se torna especial <strong>de</strong>ntro do período em que Israel náo<br />
tinha rei e a li<strong>de</strong>rança do povo estava a cargo <strong>de</strong> juízes, que orientavam o<br />
povo acerca da terra, da espiritualida<strong>de</strong> e da família israelita. Uma história<br />
que teve o seu ponto <strong>de</strong> partida ainda em terra estrangeira. Houve bons<br />
juízes, mas houve péssimos juízes que provocaram divisões, cruelda<strong>de</strong>,<br />
apostasia, guerra civil e vexame nacional perante as outras nações. Na<br />
verda<strong>de</strong>, a história <strong>de</strong> Rute começou em terra estrangeira, na terra <strong>de</strong><br />
Moabe, on<strong>de</strong> ela, uma moabita, se casa com um efratita <strong>de</strong> Belém, na<br />
Ju<strong>de</strong>ia. Por algo misterioso da parte <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, havia um <strong>de</strong>sígnio especial<br />
para a vida <strong>de</strong> Rute, que ela mesma náo conhecia e nem podia imaginar.<br />
O seu “<strong>de</strong>us”, antes, era um “<strong>de</strong>us moabita”; <strong>de</strong>pois, ela conhece o <strong>Deus</strong> <strong>de</strong><br />
Noemi e do seu marido, e se torna uma serva <strong>de</strong> Jeová, o <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> Israel.<br />
Rute ganha notabilida<strong>de</strong> por ter um caráter exemplar, uma generosida<strong>de</strong><br />
e uma fé no futuro que a sua sogra Noemi não tinha. Segundo a história<br />
<strong>de</strong> Israel, ela notabilizou-se especialmente por ter sido mãe dos melhores<br />
reis <strong>de</strong> Israel. Rute era uma estrangeira moabita que entrou na vida <strong>de</strong><br />
Israel por seu casamento com um ju<strong>de</strong>u vindo <strong>de</strong> Belém para Moabe por<br />
causa da escassez daquela terra. Dois anos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> casada com Malon,
Rute: <strong>Deus</strong> Honra o Trabalho pela Família<br />
morreram o seu sogro Elimeleque, o seu marido e o marido <strong>de</strong> Orfa,<br />
casada com Quiliom. Os três homens daquela família morrem e <strong>de</strong>ixam<br />
viúvas, Noemi, Rute e Orfa.<br />
A partir <strong>de</strong> então, inicia-se uma das mais belas histórias bíblicas em<br />
que exalta o amor e a virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma mulher moabita chamada Rute. É<br />
a história <strong>de</strong> um drama familiar <strong>de</strong> luto, subsistência e <strong>de</strong>sesperança. É<br />
a história <strong>de</strong> uma crise generalizada <strong>de</strong> pobreza, doença, viuvez e morte.<br />
Nesse drama se <strong>de</strong>staca a tenacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Rute, que foi capaz <strong>de</strong> superar<br />
as dificulda<strong>de</strong>s com atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fé, inteligência, lealda<strong>de</strong>, persistência<br />
e esperança. E uma história que exemplifica o trabalho como o modo<br />
<strong>de</strong> suprir as necessida<strong>de</strong>s primárias, mas, acima <strong>de</strong> tudo, confiando no<br />
<strong>Deus</strong> <strong>de</strong> toda provisão.<br />
A CRISE ECONÓMICA NA TERRA DA JUDEIA<br />
A Escassez que Provocou Fome na “Casa do Pão”<br />
“Casa do pão” é o significado do nome “Belém Efrata”, mas toda<br />
a região <strong>de</strong> Canaã estava afetada pela escassez <strong>de</strong> grãos, especialmente<br />
trigo e cevada. A escassez da terra, ressecada, sem chuva, não conseguia<br />
dar frutos e sementes, e o povo começou a passar necessida<strong>de</strong>s. O texto<br />
<strong>de</strong> Rute 1.1 diz literalmente: “houve uma fome na terra”, isto é, toda a<br />
terra da Ju<strong>de</strong>ia estava escassa. Faltava-lhes não só os alimentos básicos<br />
<strong>de</strong> subsistência das famílias que viviam na região, mas a terra estava<br />
<strong>de</strong>solada. <strong>Toda</strong> essa situação resultava da má li<strong>de</strong>rança dos últimos juízes<br />
<strong>de</strong> Israel, que abandonaram o Senhor e tornaram-se egoístas e idólatras.<br />
Esses fatos aconteceram entre 1268 a 1251 a.C., aproximadamente.<br />
Belém, a “casa <strong>de</strong> pão”, estava vazia, sem o pão que representava o<br />
sustento físico e material do povo. A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser um celeiro<br />
<strong>de</strong> grãos para ser um lugar <strong>de</strong> escassez e fome. Havia carestia e seca por<br />
toda a parte na terra <strong>de</strong> Canaã. Mediante a displicência dos lí<strong>de</strong>res e do<br />
povo <strong>de</strong> Israel para com <strong>Deus</strong>, subenten<strong>de</strong>-se que a fome era a disciplina<br />
<strong>de</strong> <strong>Deus</strong> ao seu povo por tê-lo abandonado e trocado por outras crenças<br />
pagãs (Lv 26.18-20; D t 15,23,24). Naquele tempo, Israel afastou-se da<br />
comunhão com <strong>Deus</strong> e chegou a a<strong>de</strong>rir aos ídolos pagãos. Nem todos<br />
agiam do mesmo modo, mas a disciplina era para todos.<br />
91
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
A Crise <strong>de</strong> uma Família<br />
Naturalmente, todas as famílias daquela terra foram afetadas e<br />
não foi diferente com a família <strong>de</strong> Elimeleque, sua esposa Noemi e<br />
seus filhos Malom e Quiliom. Elimeleque, certamente pai responsável<br />
pelo sustento da família, tomou uma <strong>de</strong>cisão e a sua atitu<strong>de</strong> foi a <strong>de</strong><br />
mudar-se daquela região e procurar um lugar on<strong>de</strong> pu<strong>de</strong>sse sustentar<br />
a família. A crise económica era um fato consumado e atingia a todos.<br />
Elimeleque agiu rápido e resolveu buscar solução para a subsistência da<br />
família em outro lugar. Em vez <strong>de</strong> ficarem parados, <strong>de</strong>cidiram ir para<br />
a terra <strong>de</strong> Moabe, seguindo o caminho que lhes parecia mais racional,<br />
as terra planas daquele lugar estrangeiro.<br />
Como qualquer outro homem <strong>de</strong> Israel, Elimeleque conhecia ao Senhor,<br />
mas não buscou sua orientação para a <strong>de</strong>cisão que tomou. Preferiu<br />
agir por conta própria, sem qualquer orientação da vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> para<br />
a sua vida. De fato, achou que não precisava <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> naquela <strong>de</strong>cisão,<br />
e tal atitu<strong>de</strong> é sempre uma ameaça a uma vida <strong>de</strong> fé. Ao chegarem aos<br />
campos <strong>de</strong> Moabe, Elimeleque enten<strong>de</strong>u que estaria livre para resolver<br />
seus problemas sem precisar recorrer a <strong>Deus</strong>, mas a experiência não foi<br />
fácil. Em vez <strong>de</strong> encontrar pão, encontrou enfermida<strong>de</strong>s e privações.<br />
Depararam-se com a morte e não conseguiram escapar <strong>de</strong> outras crises.<br />
Enfermida<strong>de</strong>, morte e viuvez envolveram a vida <strong>de</strong>ssa família, e só restaram<br />
Noemi, a mãe, e seus dois filhos, Malom e Quiliom. Essa crise<br />
produziu na alma <strong>de</strong> Noemi uma amargura enorme. Não <strong>de</strong>morou muito<br />
tempo, seu marido falece e ela nada po<strong>de</strong> fazer. Os dois filhos, Malom e<br />
Quiliom, se enamoraram <strong>de</strong> duas jovens moabitas e casaram com elas,<br />
brilhando uma nova esperança no coração <strong>de</strong> Noemi. De repente, os<br />
dois filhos são acometidos por enfermida<strong>de</strong>s e ambos morrem. Não se<br />
sabe do espaço <strong>de</strong> tempo entre uma morte e outra, mas <strong>de</strong>ixaram suas<br />
esposas na viuvez. Agora eram três viúvas que, no contexto da época,<br />
teriam enormes dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sobrevivência.<br />
A lição que apren<strong>de</strong>rmos nessa história é que, quando vivemos<br />
pelas aparências e não por fé, po<strong>de</strong>mos sofrer consequências graves.<br />
Revoltamo-nos com <strong>Deus</strong> e o culpamos pelos nossos próprios pecados.<br />
92
Rute: <strong>Deus</strong> Honra o Trabalho pela Família<br />
SUPERANDO AS CRISES EXISTENCIAIS<br />
O que São Crises Existenciais?<br />
Para enten<strong>de</strong>r o que se passou com Noemi e Rute, é preciso enten<strong>de</strong>r o<br />
significado <strong>de</strong> experimentar uma crise existencial. Segundo especialistas,<br />
“crise existencial é um momento no qual um indivíduo questiona os<br />
próprios fundamentos <strong>de</strong> sua vida: se esta vida possui algum sentido,<br />
propósito ou valor”. Outra <strong>de</strong>finição diz que “crise existencial é um<br />
estado emocional em que o ser humano vê a própria vida sem sentido<br />
ou significado”. Foi essa a experiência vivida por Noemi, que, tendo<br />
perdido o marido e seus dois filhos, em sua viuvez náo via outra coisa<br />
senão a mão pesada <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> contra ela. Rute foi mais forte, mas viveu<br />
um momento <strong>de</strong> amargura e dúvida a rondar sua cabeça sem ver alguma<br />
luz no final do túnel. Contudo, Rute foi capaz <strong>de</strong> não se <strong>de</strong>ixar dominar<br />
por sentimentos negativos e ainda amenizou a amargura <strong>de</strong> sua sogra,<br />
ficando com ela e lhe dando toda a atenção e carinho.<br />
A Crise Doentia <strong>de</strong> Noemi<br />
Noemi chegou a um ponto <strong>de</strong> sua vida pessoal em que não via nenhuma<br />
saída racional para solucionar seu dilema. Ela estava vivendo a<br />
falta <strong>de</strong> perspectiva do que fazer para mudar aquela situação. Parecia<br />
ter chegado a um “beco sem saída” para sua vida física, emocional e<br />
até mesmo espiritual, porque havia perdido a esperança. Nossa visão da<br />
vida quando nos <strong>de</strong>paramos com crises se torna embaçada e limitada.<br />
Mas po<strong>de</strong>mos superar essas crises com uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> fé no <strong>Deus</strong> <strong>de</strong><br />
toda provisão e <strong>de</strong>clarar como o apóstolo Paulo, ao dizer aos romanos<br />
perseguidos em Roma: “Que diremos, pois, a estas coisas? Se <strong>Deus</strong> é<br />
por nós, quem será contra nós?” (Rm 8.31).<br />
A Crise Momentânea <strong>de</strong> Rute<br />
Vivendo o drama da solidão e da falta <strong>de</strong> recursos para subsistir,<br />
Rute teve uma crise mais leve que sua sogra Noemi. Ora, Noemi fora<br />
dominada por um sentimento <strong>de</strong> solidão. Rute chegou a ter momentos<br />
<strong>de</strong> esmorecimento ante o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> ter que arranjar alguma coisa para<br />
93
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
a subsistência <strong>de</strong>las duas. Noemi via a <strong>Deus</strong> como aquEle que a abandonou.<br />
Disse ela às duas noras viúvas: “[...] porquanto a mão do Senhor<br />
se <strong>de</strong>scarregou contra mim” (Rt 1.13). Seus sentimentos tornaram-se<br />
amargos e não esperava mais nada, senão a morte. Porém, sua nora Rute<br />
foi capaz <strong>de</strong> superar as crises <strong>de</strong> sua casa e da sua sogra com uma visão<br />
<strong>de</strong> esperança, paciência e tenacida<strong>de</strong> para superar todas as dificulda<strong>de</strong>s<br />
que viviam (Rt 1.16). Rute <strong>de</strong>monstrou possuir um caráter mo<strong>de</strong>lar,<br />
pois, sendo uma estrangeira e tendo uma formação pagã, ela foi sábia<br />
o suficiente para que a sua crise fosse passageira.<br />
Noemi Deci<strong>de</strong> Voltar à sua Terra<br />
Noemi teve boas notícias da sua terra. Ouviu que o Senhor havia<br />
<strong>de</strong>rramado <strong>de</strong> suas misericórdias para com o seu povo e que a terra<br />
recebeu chuvas, e o plantio <strong>de</strong> sementes <strong>de</strong> trigo e cevada frutificou,<br />
dando outra vez pão ao seu povo (Rt 1.6). Ora, Noemi, viúva, não<br />
estava só, porque suas noras moabitas, Orfa e Rute, também viuvas,<br />
ainda estavam com ela.<br />
Noemi resolve voltar à sua terra na Ju<strong>de</strong>ia, pois a notícia <strong>de</strong> que a<br />
sua terra estava outra vez produzindo grãos em abundância encheu <strong>de</strong><br />
esperança a Noemi. Até então, foram <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong> luta e escassez na<br />
terra <strong>de</strong> Moabe. Tudo o que lhe restara era tomar o caminho <strong>de</strong> volta<br />
à sua terra na Ju<strong>de</strong>ia.<br />
Noemi estava envelhecida; por isso, resolveu liberar suas noras Orfa<br />
e Rute para que voltassem às suas famílias <strong>de</strong> origem em Moabe (Rt<br />
1.8). Orfa aceitou a liberação <strong>de</strong> sua sogra Noemi e voltou para sua família,<br />
mas Rute resolveu ficar com sua sogra (Rt 1.14-17). Noemi, não<br />
enten<strong>de</strong>ndo as razões do seu sofrimento até então, acreditava que <strong>Deus</strong><br />
a estivesse castigando com todas as suas agruras vividas, mas não podia<br />
imaginar o plano presciente <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> em todas aquelas circunstâncias.<br />
Apren<strong>de</strong>mos com o apóstolo Paulo que “todas as coisas cooperam para<br />
o bem daqueles que amam a <strong>Deus</strong>, daqueles que são chamados segundo<br />
o seu propósito” (Rm 8.28, ARA).<br />
Roger C . Palms, um associado das cruzadas <strong>de</strong> Billy Graham,<br />
contou a experiência <strong>de</strong> “um homem que foi forçado a aposentar-se<br />
antes do tempo, <strong>de</strong>vido a problemas cardíacos; porém, tinha absoluta<br />
94
Rute: <strong>Deus</strong> Honra o Trabalho pela Família<br />
consciência <strong>de</strong> que <strong>Deus</strong> sabia exatamente o que estava acontecendo e<br />
ainda tinha suas mãos divinas sobre ele. Enten<strong>de</strong>u que <strong>Deus</strong> o estava<br />
libertando <strong>de</strong> compromissos a fim <strong>de</strong> trabalhar com enfermos hospitalizados<br />
e com pessoas idosas. Foi o início <strong>de</strong> um ministério inteiramente<br />
novo, e ele se sente muito feliz”. Noemi não podia enten<strong>de</strong>r o que <strong>Deus</strong><br />
estava reservando para a sua vida dali para a frente, porque <strong>Deus</strong> não<br />
nos abandona em circunstâncias adversas. Nem ela nem Rute podiam<br />
perscrutar o futuro reservado por <strong>Deus</strong> para suas vidas.<br />
Rute Renuncia aos <strong>Deus</strong>es dos Moabitas<br />
e se Converte ao <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> Israel<br />
Foi uma reviravolta na vida <strong>de</strong> Rute. O seu amor por Noemi a fez<br />
conhecer o <strong>Deus</strong> verda<strong>de</strong>iro, po<strong>de</strong>roso e invisível a quem Noemi servia.<br />
Ela não podia imaginar que seria mãe dos melhores reis <strong>de</strong> Israel, <strong>de</strong>stacando-se<br />
Davi, na mesma linhagem que revelou Jesus, filho <strong>de</strong> Davi. Seu<br />
amor pela sogra e sua <strong>de</strong>dicação a ela tinham a ver com o conhecimento<br />
que tivera do caráter <strong>de</strong> Noemi, a <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> todo o sofrimento que<br />
havia passado; ela fez parte da família. Quando Noemi a liberou para<br />
voltar ao seio <strong>de</strong> sua família, Rute <strong>de</strong>clarou <strong>de</strong> coração aberto a ela: “o<br />
teu povo é o meu povo, o teu <strong>Deus</strong> é o meu <strong>Deus</strong>” (Rt 1.16). Rute teve<br />
um gesto <strong>de</strong> amor exemplar para com Noemi. Sua convivência com<br />
Noemi a levou a conhecer o <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> Noemi. Rute <strong>de</strong>scobriu que o <strong>Deus</strong><br />
<strong>de</strong> sua sogra era um <strong>Deus</strong> Vivo, que é Espírito e Verda<strong>de</strong>, e que supre<br />
as necessida<strong>de</strong>s dos seus servos. Rute se apegou à sua sogra não só pelos<br />
laços familiares, mas também pela fé no <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> Noemi.<br />
FÉ E TRABALHO NUMA NOVA PERSPECTIVA DE VIDA<br />
Noemi <strong>de</strong>cidiu retornar à Palestina, a Belém, levando consigo Rute.<br />
As duas empreen<strong>de</strong>ram uma viagem difícil para aquele tempo que distava<br />
do lugar on<strong>de</strong> habitavam uns 160 quilómetros. Tiveram que atravessar<br />
montanhas íngremes e <strong>de</strong> difícil acesso. Viajaram, não se sabe por quais<br />
meios <strong>de</strong> transporte, e suportaram as intempéries climáticas seguindo<br />
em frente. Mesmo com as dificulda<strong>de</strong>s da viagem, Noemi e Rute não<br />
<strong>de</strong>sanimaram até chegar a Belém Efrata (Rt 1.19).<br />
95
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
A Bíblia diz que “o justo viverá da fé” (Rm 1.17; Hc 2.4) para que<br />
aprendamos a confiar inteiramente em <strong>Deus</strong>. Quando Noemi e Rute<br />
empreen<strong>de</strong>ram a viagem para a Ju<strong>de</strong>ia, havia uma nova esperança em<br />
seus corações. Era uma esperança <strong>de</strong> restauração <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> fé. Rute<br />
se tornara uma mulher <strong>de</strong> fé e disposta a superar a crise <strong>de</strong> subsistência<br />
com confiança em <strong>Deus</strong>.<br />
Noemi e Rute Chegam à Terra do Pão<br />
Quando Noemi e Rute chegaram a Belém, era o começo da colheita<br />
da cevada e do trigo, e Noemi pô<strong>de</strong> constatar que o Senhor havia<br />
visitado o seu povo, dando-lhe páo em abundância. Enten<strong>de</strong>ram as<br />
duas mulheres que não passariam mais fome, mas que, <strong>de</strong> algum modo<br />
especial, elas estariam provisionadas <strong>de</strong> trigo e cevada.<br />
Entretanto, a chegada das duas mulheres viúvas alvoroçou a cida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Belém, e os antigos conhecidos <strong>de</strong> Noemi queriam saber o que havia<br />
acontecido com sua família. Noemi ainda era uma mulher amarga<br />
com as duras experiências passadas em Moabe e preferia ser chamada<br />
“Mara”, cujo significado no hebraico é “amarga” (cf. Ex 15.23). Noemi<br />
sabia que a sua volta como mulher pobre, sem marido, era o fruto do<br />
pecado <strong>de</strong> tomar <strong>de</strong>cisões precipitadas sem consultar a <strong>Deus</strong>. Além <strong>de</strong><br />
ter permitido seus filhos se casarem com mulheres pagãs. Ela tinha<br />
consciência do seu pecado, mas nunca foi capaz <strong>de</strong> reconhecer isso e<br />
confessá-lo a <strong>Deus</strong>.<br />
Noem i sabia apenas reclamar, consi<strong>de</strong>rando-se vítima daquela<br />
situação; por isso, achava-se ser uma pessoa <strong>de</strong> vida amarga que havia<br />
saído com recursos financeiros, mas volta completamente pobre. Sua<br />
queixa se resumia a <strong>de</strong>clarar que o Todo-Po<strong>de</strong>roso, o “El-Elyon”, o “EI<br />
-Shaddai”, o <strong>Deus</strong> Onipotente, parecia tê-la abandonado. Entretanto,<br />
o <strong>Deus</strong> El-Elyon não é vingativo nem se compraz no sofrimento do seu<br />
povo. Acima <strong>de</strong> tudo e apesar <strong>de</strong> tudo, Ele estava no comando da vida<br />
<strong>de</strong> Noemi para um propósito maior do que ela jamais podia imaginar.<br />
Sua humilhação e tristeza foram transformadas em alegria e recuperação<br />
das perdas até então.<br />
96
Rute: <strong>Deus</strong> Honra o Trabalho pela Família<br />
Rute Ajuda Noemi a Recuperar sua Autoestima<br />
A gran<strong>de</strong> bênção na vida <strong>de</strong> Noemi foi ter Rute consigo nessa trajetória<br />
da vida. Quando elas chegaram a Belém, toda a cida<strong>de</strong> se comoveu<br />
por elas por causa da sua pobreza. Noemi ainda estava cabisbaixa e<br />
com sinais <strong>de</strong> amargura, culpando a <strong>Deus</strong> pelo seu estado <strong>de</strong> pobreza<br />
(Rt 1.20), ainda que soubesse que estava colhendo o fruto <strong>de</strong> seus erros<br />
juntamente com seu marido quando foram para Moabe (Rt 1.21).<br />
Porém, <strong>Deus</strong> permitiu que a estrangeira convertida ao <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> Israel<br />
se tornasse a o canal da bênção <strong>de</strong> recuperação para Noemi. Rute <strong>de</strong>u<br />
uma <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> carinho e amor por Noemi que a fez enten<strong>de</strong>r que<br />
ainda havia esperança. Elas haviam chegado no “principio da sega das<br />
cevadas” (Rt 1.22), ou seja, quando a colheita <strong>de</strong> cevada estava começando.<br />
Em Moabe a situação era precária; mas agora, em Belém, havia esperança<br />
<strong>de</strong> “não faltar nada” para ambas. Rute usou sua perspicácia para<br />
suprir a necessida<strong>de</strong> da casa sem precisar roubar ou matar. Ela apenas<br />
agiu com ética e respeito, e fez Noemi enten<strong>de</strong>r que <strong>Deus</strong> cuidaria <strong>de</strong>las<br />
e não faltaria nada. Sua atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> ânimo contribuiu para que Noemi<br />
levantasse a cabeça e melhorasse sua autoestima.<br />
Rute Trabalha com Afinco Apanhando Espigas<br />
Não há dúvidas <strong>de</strong> que a providência divina daria às duas mulheres<br />
a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> restaurar a situação precária com que chegaram à<br />
cida<strong>de</strong>. Noemi e Rute não sabiam que faziam parte <strong>de</strong> um projeto divino,<br />
com o qual se cumpririam as promessas <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> feitas a Abraão (Gn<br />
12.1-3). Com a experiência <strong>de</strong>ssas mulheres apren<strong>de</strong>mos que, se quisermos<br />
que <strong>Deus</strong> trabalhe em nossa vida e participe <strong>de</strong> todas as nuances<br />
imprevisíveis da nossa trajetória, precisamos cumprir os requisitos que<br />
viabilizam os seus propósitos.<br />
Rute apren<strong>de</strong>u que a relação com <strong>Deus</strong> envolve fé, e a fé sem obras<br />
é morta (Tg 2.20). Ela acreditava que <strong>Deus</strong> a amava porque o recebeu<br />
como <strong>Deus</strong> e Senhor <strong>de</strong> sua vida, então supriria suas necessida<strong>de</strong>s.<br />
Sendo estrangeira, ela estava numa posição bastante vulnerável. Por<br />
isso, precisava agir com cautela quando resolveu ir para um campo <strong>de</strong><br />
cevada que pertencia a um parente <strong>de</strong> Elimeleque. Ela tinha que agir<br />
97
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
reconhecendo-se pobre, e, por isso, podia ajuntar espigas que os segadores<br />
<strong>de</strong>ixavam para trás na sua colheita. Era uma prática permitida e<br />
concedida aos pobres pela lei mosaica (Dt 24.19-21).<br />
Nosso país vive um momento <strong>de</strong> crise económica, e a falta <strong>de</strong> trabalho,<br />
ou seja, emprego, é uma realida<strong>de</strong> vivida pelo povo. Mas as pessoas<br />
que querem trabalhar buscam, <strong>de</strong> algum modo, algum trabalho que<br />
lhes dê condições <strong>de</strong> sobrevivência.<br />
Rute náo cruzou os braços esperando que os alimentos lhe viessem<br />
às máos. Ela, com fé e disposição para trabalhar, saía cedo <strong>de</strong> casa e<br />
passava o dia inteiro juntando espigas até juntar um tanto suficiente que<br />
pu<strong>de</strong>sse levar para casa. Sua diligência no trabalho e sua perseverança<br />
em ajuntar espigas e grãos chamou a atenção <strong>de</strong> Boaz, o dono daquele<br />
campo. Boaz ficou admirado com simpatia e a disposição daquela jovem<br />
que não media esforços para conseguir grãos para ela e sua sogra Noemi.<br />
O trabalho dignifica o trabalhador, e Rute <strong>de</strong>monstrou sua lealda<strong>de</strong> e<br />
beneficência para com sua sogra.<br />
Rute É Honrada pelo Trabalho no Campo <strong>de</strong> Boaz<br />
Ainda que viúva, Rute era uma mulher livre e <strong>de</strong>simpedida. Ela podia<br />
casar-se outra vez. Numa manhã, quando foi ao campo para juntar<br />
espigas <strong>de</strong>pois que os colheiteiros tivessem colhido o principal da colheita<br />
daquele campo, Rute, confiante e disposta para um dia <strong>de</strong> trabalho, não<br />
podia imaginar que encontraria o dono do campo, que se chamava Boaz.<br />
Ele ficou admirado por essa mulher e até certo ponto enamorou-se <strong>de</strong>la,<br />
mesmo não tendo dito qualquer palavra. Era um homem respeitável, e<br />
ela tinha atitu<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>sta, mas achou graça perante ele Rt 2.2,10,13).<br />
Boaz era um homem bom e temente a <strong>Deus</strong>. Procurava ser justo<br />
com seus empregados (Rt 2.4). Ao perceber o esforço daquela mulher,<br />
Boaz perguntou aos seus trabalhadores quem era ela. Ao ter informações<br />
acerca <strong>de</strong> Rute, discretamente Boaz procurou ajudá-la, or<strong>de</strong>nando aos<br />
seus homens que fossem amáveis com e não a aborrecessem, porque se<br />
tratava <strong>de</strong> alguém especial.<br />
Rute se dispôs a trabalhar pelo seu sustento e da sua sogra Noemi<br />
(Rt 2.7), e foi convidada por Boaz a que colhesse o seu trigo e cevada<br />
seguindo os homens e outras mulheres que trabalhavam para ele, mas<br />
98
Rute: <strong>Deus</strong> Honra o Trabalho pela Família<br />
colhesse apenas do seu campo, não fosse a outro. Foi um convite a<br />
que <strong>de</strong>scansasse na casa <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso dos seus trabalhadores. Ela foi<br />
abençoada por ser uma mulher <strong>de</strong> iniciativa e persistência, porque<br />
acreditava na força do trabalho para conseguir o que buscava. Ela náo<br />
teve medo <strong>de</strong> correr riscos (Rt 2.2), mas foi <strong>de</strong>terminada e disposta para<br />
alcançar o sucesso <strong>de</strong>sejado. Por isso, Boaz, ao <strong>de</strong>scobrir essa estrangeira<br />
simpática e generosa, e tendo conhecimento da generosida<strong>de</strong> <strong>de</strong>la para<br />
com Noemi, ofereceu seu campo, sua proteção e se tornou o provedor<br />
<strong>de</strong> Noemi e Rute.<br />
Nos <strong>de</strong>sígnios divinos, não foi por acaso que Rute entrou no campo<br />
que pertencia a Boaz. Havia um direcionamento <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> na sua vida<br />
porque ela apren<strong>de</strong>ra a confiar no <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> Israel e já conhecia a história<br />
<strong>de</strong> um passado <strong>de</strong> escassez, mas que tinha naquele momento <strong>de</strong> sua<br />
vida a volta da bênção da prosperida<strong>de</strong> a Israel.<br />
RUTE ENCONTRA 0 REMIDOR DA FAMÍLIA<br />
Rute Descobre o seu Remidor<br />
A <strong>de</strong>scoberta do remidor da herança familiar <strong>de</strong> Noem i é uma<br />
<strong>de</strong>monstração da graça <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, especialmente, para Rute. Ela, como<br />
mulher estrangeira, pobre e viúva, não tinha condições <strong>de</strong> reivindicar<br />
qualquer tipo <strong>de</strong> direito a quem quer que fosse, porque sua posição era<br />
inferior na socieda<strong>de</strong> da época. Mas Rute, antes <strong>de</strong> tudo, alcançou graça<br />
para com Boaz, porque era homem justo e bom para com as pessoas<br />
em torno <strong>de</strong> si. Procurava ajudar a todos. Era um homem diferente. Na<br />
t ipologia bíblica, Boaz é apresentado como um tipo <strong>de</strong> Cristo na sua<br />
relação com a Igreja, um tipo <strong>de</strong> Rute. Ela era uma estrangeira, pobre<br />
e carente até encontrar Boaz, que se tornou o seu remidor, assim como<br />
Cristo é o nosso Re<strong>de</strong>ntor que, sendo rico, se fez pobre para nos fazer<br />
ricos e her<strong>de</strong>iros das suas riquezas (2 Co 8.9).<br />
Quando Rute se dispôs a apanhar restos das espigas <strong>de</strong>ixadas pelos<br />
empregados <strong>de</strong> Boaz, <strong>de</strong>scobre que Boaz era parente <strong>de</strong> Elimeleque e,<br />
por lei, ele podia redimir essa herança para que a mesma ficasse <strong>de</strong>ntro<br />
da família e a viúva não ficasse <strong>de</strong>samparada. Rute gozou da confiança<br />
<strong>de</strong> Boaz e comeu até fartar-se <strong>de</strong> sua mesa, mas não se esqueceu <strong>de</strong><br />
Noemi. Ao voltar para casa, trouxe consigo muito mais do que havia<br />
99
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
colhido, porque Boaz lhe conce<strong>de</strong>u algumas medidas a mais. Noemi<br />
ficou feliz, mas perguntou-lhe on<strong>de</strong> havia colhido tanto. Rute contou-<br />
-Ihe tudo quanto havia acontecido e a benevolência <strong>de</strong> Boaz, senhor<br />
daquele campo. Ela havia se comportado com prudência e <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za<br />
sem que nada a <strong>de</strong>sabonasse moralmente.<br />
Boaz se Dispõe Remir a Rute, a Moabita<br />
Havia alguns entraves para que Boaz pu<strong>de</strong>sse remir aquela herança à<br />
sua origem porque a mesma estava nas mãos <strong>de</strong> outra pessoa. Seguindo<br />
os costumes do povo na tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões que requeriam consenso,<br />
Boaz foi para a porta da cida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> se reuniam os anciãos do povo<br />
na forma <strong>de</strong> um júri, os quais julgavam as causas do povo. O remidor<br />
por direito era outro homem, porque aquela parte da terra que pertencia<br />
a Elimeleque havia sido vendida e não pertencia a Boaz. No entanto,<br />
interessado em Rute, Boaz se dispôs a casar-se com ela para adquirir<br />
o direito <strong>de</strong> remissão daquela parte da herança. Visto que Rute era<br />
viúva do filho <strong>de</strong> Elimeleque, Boaz explicou aos anciãos da cida<strong>de</strong> e os<br />
convenceu <strong>de</strong>sse direito, solicitando que o antigo dono ven<strong>de</strong>sse aquela<br />
terra a Boaz. Mais que isso, Boaz redime à Rute a herança, pagando o<br />
preço daquela terra e o direito <strong>de</strong> resgate da viúva. Boaz se casa com<br />
Rute, e o antigo remidor enten<strong>de</strong>u que a re<strong>de</strong>nção do campo e o direito<br />
<strong>de</strong> viúva do filho falecido <strong>de</strong> Noemi era conquistado por Boaz.<br />
Rute Deseja Ser Remida por Boaz<br />
No livro <strong>de</strong> Levítico, foi estabelecida por Moisés a lei do parente resgatador<br />
(Lv 25.23-34) e em Deuteronômio 25.5-10 foi estabelecida a lei<br />
sobre o casamento <strong>de</strong> levirato. Segundo a Escritura relata, o objetivo <strong>de</strong>ssas<br />
leis era o <strong>de</strong> preservar o nome e proteger a proprieda<strong>de</strong> familiar. Para não<br />
haver exploração das terras, especialmente pelos ricos, que po<strong>de</strong>riam se<br />
aproveitar dos pobres e das viúvas, essas leis foram estabelecidas. Eram<br />
leis que garantiam o nome da família do homem que morreu <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />
sua morte. Por isso, a proprieda<strong>de</strong> não seria vendida para pessoas que<br />
não fizessem parte da família. Lamentavelmente, Israel, algumas vezes<br />
esqueceu-se <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> e <strong>de</strong> suas leis, <strong>de</strong>srespeitando essas leis e buscan<br />
100
Rute: <strong>Deus</strong> Honra o Trabalho pela Família<br />
do apenas o interesse próprio. Muitos do povo não respeitavam mais<br />
qualquer direito adquirido (1 Rs 21; Is 5.8-10; Hc 2.9-12; 2 Cr 36.21).<br />
Quando Noemi ouviu os fatos sobre o interesse <strong>de</strong> Boaz por Rute<br />
e que a tratou com tanta bonda<strong>de</strong>, apelou, então, para uma tradição<br />
sobre costume do “parente remidor”. Seria um modo <strong>de</strong> Boaz remir a<br />
ambas da pobreza (Rt 3.1-18). Noemi instruiu Rute para que se preparasse<br />
com vestes e perfumes e, discretamente, sem que Boaz soubesse,<br />
fosse <strong>de</strong>itar-se aos pés <strong>de</strong>le sem que percebesse a sua presença. Cerca <strong>de</strong><br />
meia-noite, Boaz estremeceu em sua cama quando viu que Rute estava<br />
<strong>de</strong>itada aos seus pés (Rt 3.8,9). Não se constitui nenhum ato <strong>de</strong>lituoso<br />
nem sensual, porque ela estava protegida pelas leis que regiam o costume<br />
que envolvia o papel do remidor para com aquela mulher que estava<br />
viúva, e o seu marido era parente <strong>de</strong> Boaz. Pedir que ele esten<strong>de</strong>sse uma<br />
aba <strong>de</strong> sua coberta sobre ela significava que ele a estaria protegendo.<br />
Entretanto, ele teria que negociar com o outro homem que era o<br />
dono daquela parte da terra que pertencera a Elimeleque e seus filhos.<br />
Depois <strong>de</strong> buscar conselho com os anciãos da cida<strong>de</strong>, Boaz negociou<br />
com o homem, comprando aquela terra, pagando o preço justo conforme<br />
prescreviam as leis que regiam sobre o resgate <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>s.<br />
N o capítulo 4 do livro, Boaz se casa com Rute, tornando-se o seu<br />
remidor e ainda mantendo sob proteção a Noemi. Legitimamente, Boaz<br />
e Rute se casaram sob as bênçãos <strong>de</strong> toda a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Belém. No<br />
<strong>de</strong>vido tempo, <strong>Deus</strong> <strong>de</strong>u a Boaz e Rute um filho, a quem <strong>de</strong>ram o nome<br />
Obe<strong>de</strong>, e este gerou a Davi, o gran<strong>de</strong> rei <strong>de</strong> Israel.<br />
Rute, a moabita, entra na genealogia <strong>de</strong> Jesus. Ora, <strong>de</strong> uma mulher<br />
moabita, convertida ao <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> Israel, veio a se tornar bisavó <strong>de</strong> Davi.<br />
Quando Jesus foi manifestado na terra, tornou-se conhecido como o<br />
“filho <strong>de</strong> Davi” (Mt 1.3-6), formando os elos da linhagem do Messias<br />
<strong>de</strong>sejado por todos os ju<strong>de</strong>us até o dia <strong>de</strong> hoje.<br />
CONCLUSÃO<br />
Essa mulher gentia obteve fé suficiente para servir <strong>de</strong> exemplo aos<br />
que aspiram a um emprego nesses tempos difíceis. Rute teve perdas<br />
enormes: o sogro, o cunhado e o marido. Além <strong>de</strong>ssas perdas, sua sogra<br />
Noemi tornou-se uma mulher amargurada, mas ela soube superar<br />
101
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
essas perdas sem per<strong>de</strong>r a esperança <strong>de</strong> que sua felicida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>ria se<br />
construída sobre valores maiores do que riqueza material. Rute náo se<br />
<strong>de</strong>ixou seduzir pelo fascínio <strong>de</strong> ser mulher bonita e conquistar marido<br />
rico, mas firmou sua mente na busca <strong>de</strong> um trabalho honesto que lhe<br />
<strong>de</strong>sse tranquilida<strong>de</strong>. <strong>Deus</strong> honrou seu trabalho, do qual sustentou a si<br />
mesma e a casa <strong>de</strong> sua sogra Noemi.<br />
A história <strong>de</strong> Rute é uma historia que referenda o trabalho,<br />
a f é e a persistência como elementos<br />
<strong>de</strong> realização pessoal e vitória espiritual.<br />
102
Capítulo 9<br />
ELISEU: MILAGRES EM<br />
TEMPOS DE ESCASSEZ<br />
[O Senhor] fa z justiça ao órfão e à viúva e am a o estrangeiro,<br />
dando-lhe pão e veste.<br />
— Deuteronômio 10.18<br />
A importância do profeta Eliseu começa pelo significado do seu nome<br />
na língua hebraica — “elisha”, que significa “<strong>Deus</strong> é salvação” — e no<br />
grego do Novo Testamento é “elissaios” (Lc 4.27). A vida <strong>de</strong> Eliseu indica<br />
que tinha uma família abastada, porque arava uma terra que tinha vários<br />
empregados. Era um homem ru<strong>de</strong>, sem formação acadêmica alguma, que<br />
tinha calos nas mãos pelo serviço que exigia força e saú<strong>de</strong> para ser feito.<br />
Seu tempo <strong>de</strong> vida passou por, pelo menos, quatro reis <strong>de</strong> Israel — Jorão,<br />
Jeú, Jeoacaz e Jeoás nos capítulos 5 a 13 <strong>de</strong> 2 Reis — além <strong>de</strong> outros reis,<br />
inclusive estrangeiros, como o rei da Síria, Ben-Hada<strong>de</strong>, Hazael e até o<br />
rei <strong>de</strong> Judá, Josafá (2 Rs 3.11-19). Eliseu era um homem sem discriminação,<br />
que ia à casa <strong>de</strong> uma pobre viúva e até aos palácios dos reis. Quando<br />
foi <strong>de</strong>safiado a seguir o profeta Elias, Eliseu não titubeou na <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong><br />
segui-lo. Desvencilhou-se <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s rurais e passou a seguir a<br />
Elias, <strong>de</strong> quem se tornou o auxiliar imediato.<br />
Acompanhando Elias até o seu arrebatamento por cima <strong>de</strong> sua cabeça,<br />
Eliseu não se <strong>de</strong>scuidou e assistiu à maravilha <strong>de</strong> ver um carro <strong>de</strong> fogo<br />
que, mais rápido que a força do vento, passou entre os dois e os separou<br />
um do outro, levando Elias para o alto. Uma intervenção do sobrenatu
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
ral sobre o natural que só <strong>Deus</strong> po<strong>de</strong> fazer. Os racionalistas rejeitam a<br />
literalida<strong>de</strong> da história, mas nós cremos no po<strong>de</strong>r sobrenatural que o<br />
Senhor manifesta quando quer.<br />
A partir <strong>de</strong> então, a história <strong>de</strong> Eliseu toma um rumo diferente. Ao<br />
tocar a capa <strong>de</strong> Elias nas águas do Jordão e elas se abrirem fazendo um<br />
caminho para que ele passasse para o outro lado, Eliseu não teve mais<br />
dúvida. Estava investido <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> espiritual, e a partir daquele<br />
momento iniciava seu ministério, que se tornou ousado e com operação<br />
<strong>de</strong> milagres (2 Rs 2.1,11-14). Ele vira o que <strong>Deus</strong> havia feito por meio<br />
<strong>de</strong> Elias e, agora, investido do mesmo po<strong>de</strong>r e autorida<strong>de</strong>, os milagres<br />
começaram a acontecer. Eliseu se tornou o canal <strong>de</strong> milagres operados<br />
em várias ocasiões diferentes. A começar pela casa <strong>de</strong> uma viúva e dois<br />
filhos. Era a viúva <strong>de</strong> um profeta, a qual, sem condições <strong>de</strong> pagar uma<br />
dívida <strong>de</strong>ixada pelo marido, corria o risco <strong>de</strong> ter que entregar os seus<br />
dois filhos para um tempo <strong>de</strong> serviço escravo po<strong>de</strong>r pagar a dívida.<br />
Essa narrativa bíblica <strong>de</strong>screve o modo <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> agir por meio do<br />
seu servo Eliseu, multiplicando o azeite <strong>de</strong> um vasilhame <strong>de</strong> barro que<br />
havia na casa da viúva. A bonda<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> foi <strong>de</strong>monstrada na vida<br />
daquela família que acreditou na orientação do profeta e foi agraciada<br />
com o milagre da multiplicação do azeite.<br />
AS PRIMEIRAS PROEZAS DO MINISTÉRIO DE ELISEU<br />
Des<strong>de</strong> a travessia do rio Jordão mediante a visão gloriosa e literal<br />
da elevação <strong>de</strong> Elias em carro <strong>de</strong> fogo (2 Rs 2.12-14), Eliseu estava<br />
consciente <strong>de</strong> que o ministério profético estava sobre os seus ombros.<br />
Os sinais que caracterizaram a vida do profeta Elias se manifestaram<br />
sobre a vida <strong>de</strong> Eliseu.<br />
Eliseu se Depara com uma Crise <strong>de</strong> Águas Contaminadas em Jericó<br />
A água é vital para uma cida<strong>de</strong>, e Jericó estava vivendo o drama da<br />
água contaminada em seus mananciais. Não é <strong>de</strong> estranhar que as águas<br />
<strong>de</strong> Jericó fossem ruins, pois essa cida<strong>de</strong> era uma cida<strong>de</strong> amaldiçoada; por<br />
isso, o seu solo era improdutivo (Js 6.26). Porém, o servo <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> estava<br />
lá e mais cinquenta moços da escola <strong>de</strong> profetas que haviam assistido<br />
104
Eliseu: Milagres em Tempo <strong>de</strong> Escassez<br />
ao arrebatamento <strong>de</strong> Elias, que náo acreditavam que Elias tivesse, <strong>de</strong><br />
fato, subido ao céu num re<strong>de</strong>moinho, mas que po<strong>de</strong>ria estar em algum<br />
monte. Por três dias o procuraram e não o encontraram. Ao voltar para<br />
Eliseu, reconheceram que ele agora era o seu novo lí<strong>de</strong>r, e <strong>de</strong>veriam<br />
respeitá-lo e obe<strong>de</strong>cer-lhe. Em Jericó, ao voltar, <strong>de</strong>pararam-se com o<br />
problema das águas contaminadas em seus veios. Não só os filhos dos<br />
profetas, mas os chefes <strong>de</strong> famílias da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jericó também reconheceram<br />
que Eliseu tinha algo mais que po<strong>de</strong>ria resolver o problema<br />
da água e foram até ele. Eliseu não discutiu com eles, mas exerceu sua<br />
fé no sobrenatural usando meios naturais para <strong>de</strong>monstrar o po<strong>de</strong>r<br />
<strong>de</strong> <strong>Deus</strong> (2 Rs 2.20). Ao pedir que trouxessem sal num prato, não dá<br />
direito a ninguém <strong>de</strong> querer imitar milagres passados e dogmatizá-los<br />
como modo <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> operar hoje.<br />
Grupos neopentecostais, que gostam <strong>de</strong> explorar essas coisas, procuram<br />
ensinar a prática <strong>de</strong> colocar sal em casas, terrenos e outras coisas, como<br />
se <strong>Deus</strong> se limitasse a operar sempre do mesmo modo. Refutamos essas<br />
práticas utilizadas por lí<strong>de</strong>res cristãos que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> manipulações<br />
para fazer acontecer alguma coisa. O <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> milagres sempre operará<br />
como quiser porque Ele não fica circunscrito a experiências passadas.<br />
O saneamento das águas más aconteceu com o sal colocado nas<br />
águas, mas a cura daquelas águas não era por causa do sal, mas sim<br />
pelo po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Em outra ocasião, quando Israel peregrinava no<br />
<strong>de</strong>serto sob a li<strong>de</strong>rança <strong>de</strong> Moisés, o povo encontrou água, mas aquela<br />
água era amarga, e o povo começou a murmurar contra Moisés, dizendo<br />
que ele havia trazido o povo para morrer <strong>de</strong> se<strong>de</strong> e <strong>de</strong> fome no <strong>de</strong>serto<br />
(Êx 15.22-26). Moisés chamou aquela lagoa <strong>de</strong> “Mara”, que significa<br />
“amarga”. <strong>Deus</strong> orientou Moisés a tomar um pedaço <strong>de</strong> uma árvore<br />
do <strong>de</strong>serto e lançá-lo naquelas águas; assim elas seriam saradas e transformadas<br />
em água potável (Êx 15.23-27). Naquele lugar, o Senhor se<br />
manifestou a Israel como Yahweh Ropheka, ou <strong>de</strong> forma aportuguesada<br />
como Jeová-Raphah, que significa “O Senhor que cura”.<br />
Uma Intervenção Divina numa Circunstância Difícil<br />
Três reis que não serviam ao Senhor <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> Israel — Jorão, rei<br />
<strong>de</strong> Israel (2 Rs 3.1), Josafá, rei <strong>de</strong> Judá (2 Rs 3.7) e o rei <strong>de</strong> Edom (2<br />
105
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
Rs 3.9) — se uniram para enfrentar os exércitos <strong>de</strong> Moabe, que eram<br />
muito fortes. Na realida<strong>de</strong>, os três reis, mesmo não sendo tementes a<br />
<strong>Deus</strong>, reconheciam que em Israel havia um homem <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> que tinha<br />
a resposta que eles precisavam ouvir. Joráo era o filho mais novo <strong>de</strong><br />
Acabe, um rei que fora inimigo do profeta Elias e não merecia qualquer<br />
cooperação da parte do homem <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, Eliseu. Josafá foi um rei<br />
profano, e o rei <strong>de</strong> Edom era pagão. Porém, Josafá sabia que <strong>Deus</strong> agia<br />
<strong>de</strong> modo especial por meio <strong>de</strong> um homem especial, o profeta Eliseu (2<br />
Rs 3.11). Aqueles três reis haviam marchado para ir ao encontro dos<br />
exércitos <strong>de</strong> Moabe, sabendo que aqueles exércitos eram muito mais<br />
po<strong>de</strong>rosos que eles.<br />
Pergunta-se então: Por que <strong>Deus</strong> resolveu intervir naquela guerra?<br />
Em primeiro lugar, para preservar o seu nome perante as nações e para<br />
<strong>de</strong>monstrar àqueles reis que a causa maior e mais importante daquela<br />
intervenção era Eliseu. Eliseu era o homem que representava os interesses<br />
divinos naquelas terras. Por isso, Eliseu tinha a palavra que eles<br />
precisavam ouvir. Esses exércitos se encontraram no <strong>de</strong>serto <strong>de</strong> Edom<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> sete dias <strong>de</strong> calor, sequidão e falta <strong>de</strong> água. Eliseu, confiante<br />
na providência divina, <strong>de</strong>u or<strong>de</strong>m para que eles cavassem muitas covas,<br />
porque viria uma gran<strong>de</strong> chuva e encheria aquelas covas e supriria a<br />
necessida<strong>de</strong> dos soldados (2 Rs 3.16,17). Aqueles reis não duvidaram da<br />
palavra <strong>de</strong> Eliseu, e puseram seus homens para cavar covas nas terras<br />
<strong>de</strong>sérticas e vermelhas <strong>de</strong> Edom. Vieram as chuvas e encheram aquelas<br />
covas. A cor da água ficou avermelhada e, quando os moabitas se preparavam<br />
para marchar com aqueles reis, foram confundidos porque a<br />
chuva caiu apenas nas terras on<strong>de</strong> estavam os três e a força do sol com<br />
seu brilho virou um espelho avermelhado que fez com que os moabitas,<br />
vendo a cor <strong>de</strong> sangue naquele <strong>de</strong>serto, enten<strong>de</strong>ssem que podia ser o<br />
sangue dos exércitos mortos. Os moabitas levantaram-se para invadir as<br />
cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Israel, mas foram surpreendidos com a reação dos exércitos<br />
dos três reis e foram <strong>de</strong>struídos, porque <strong>Deus</strong> assim o permitiu. Não<br />
importa como acontece nas intervenções divinas. O que vale é saber<br />
que <strong>Deus</strong> é po<strong>de</strong>roso para mudar situações.<br />
Na caminhada ministerial <strong>de</strong> Eliseu, muitas proezas e milagres<br />
aconteceram porque o Senhor era com Ele.<br />
106
Eliseu: Milagres em Tempo <strong>de</strong> Escassez<br />
UMA FAMÍLIA PIEDOSA EM DIFICULDADES<br />
A Crise Económica <strong>de</strong> uma Família<br />
Esta história vem logo após um inci<strong>de</strong>nte internacional que provocou<br />
uma guerra <strong>de</strong> três reis contra o rei <strong>de</strong> Moabe. Nesse inci<strong>de</strong>nte, <strong>Deus</strong><br />
usou Eliseu para <strong>de</strong>monstrar a intervenção divina numa circunstância<br />
que nenhum homem comum po<strong>de</strong>ria resolver. Enten<strong>de</strong>-se que por amor<br />
à casa <strong>de</strong> Davi, <strong>Deus</strong> <strong>de</strong>u vitória aos três reis.<br />
No capítulo 4, Eliseu se volta às famílias dos profetas quando se<br />
<strong>de</strong>para com a situação alarmante <strong>de</strong> uma viúva e seus dois filhos que<br />
estavam vivendo um estado caótico <strong>de</strong> gêneros <strong>de</strong> primeira necessida<strong>de</strong> e<br />
uma dívida impagável. A narrativa não i<strong>de</strong>ntifica o nome <strong>de</strong>ssa mulher,<br />
que era esposa <strong>de</strong> um profeta que havia falecido e <strong>de</strong>ixado uma dívida.<br />
A situação daquela família era <strong>de</strong> completa penúria, pois além da perda<br />
do marido, estavam vivendo uma crise económica, em que faltavam alimentos<br />
básicos e não tinham nenhum recurso financeiro. A viúva corria<br />
o risco <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r seus dois filhos para os credores. Seus filhos po<strong>de</strong>riam<br />
ser vendidos como escravos para saldar a dívida. O texto indica que o<br />
marido <strong>de</strong>ssa mulher po<strong>de</strong>ria ter sido um servidor do profeta Eliseu.<br />
A situação era gravíssima, pois não havia nem dinheiro nem qualquer<br />
tipo <strong>de</strong> alimentos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> casa. Era pobreza total, e isso significava<br />
privação das necessida<strong>de</strong>s básicas da vida. A Bíblia nos dá a garantia<br />
<strong>de</strong> que “<strong>Deus</strong> faz justiça ao órfão e à viúva” (Dt 10.18; SI 68.5; 146.9).<br />
Vivemos em tempos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>s económicas, quando muitas<br />
famílias estão em total pobreza material. Famílias inteiras que vivem nas<br />
favelas das gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s comem restos <strong>de</strong> comida encontrados nos lixões<br />
das cida<strong>de</strong>s. Sem alimentação, nem educação, nem segurança, a pobreza<br />
gera <strong>de</strong>sespero e violência, e os governos tentam fazer alguma coisa, mas<br />
muito pouco é feito para mudar esse estado caótico <strong>de</strong> pobreza. Nesse meio<br />
se encontram muitos cristãos fiéis a <strong>Deus</strong> que vivem <strong>de</strong> migalhas e muito<br />
pouco que as igrejas fazem por eles. Muitas igrejas ficaram ricas e usam os<br />
seus recursos para quaisquer projetos <strong>de</strong> construções e outras coisas mais,<br />
porém muito pouco é investido na obra social para amenizar a pobreza dos<br />
nossos próprios irmãos na fé.<br />
107
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
A Situação daquela Viúva e seus Dois Filhos<br />
Naquele tempo, o povo rural enfrentava muitas dificulda<strong>de</strong>s para fazer<br />
as culturas locais produzirem; por isso, a pobreza era gran<strong>de</strong> e a maioria<br />
dos colonos estava endividada. Uma vez que as colheitas não eram boas, os<br />
colonos rurais se viam obrigados a ven<strong>de</strong>r suas terras e outros bens materiais,<br />
e até a própria família, para saldar suas dívidas. Uma vez vendidos os filhos<br />
<strong>de</strong>ssa viúva, as leis que regiam esses negócios exigiam seis anos <strong>de</strong> serviços<br />
para saírem da escravatura. A situação daquela viúva era triste, porque ela<br />
não tinha outra saída para a solução do problema senão pagar a dívida com<br />
o trabalho servil <strong>de</strong> escravo dos seus filhos. Naquela época, as mulheres<br />
eram privadas <strong>de</strong> direitos e, principalmente, as viúvas. A viúva po<strong>de</strong>ria<br />
encontrar algum parente que se tornasse o seu remidor e se casasse com ela.<br />
No caso daquela viúva com dois filhos, não houve ninguém que a remisse.<br />
Pelo contrário, a dívida contraída por seu marido <strong>de</strong>veria ser paga com a<br />
entrega <strong>de</strong> seus dois filhos ao credor (Êx 21.1-11; Lv 25.29-31; Dt 15.1-11).<br />
Nesse contexto inevitável, essa pobre viúva precisaria <strong>de</strong> uma intervenção<br />
<strong>de</strong> <strong>Deus</strong> para mudar aquele estado <strong>de</strong> <strong>de</strong>sespero. Ela lembrou-se do homem<br />
<strong>de</strong> <strong>Deus</strong> que a conhecia e sabia da situação que estava vivendo. O texto diz<br />
que ela clamou ao profeta e mostrou a sua situação. Ela sabia que Jeová é<br />
aquele que “faz justiça ao órfão e à viúva” (Dt 10.18).<br />
0 ATO BENIGNO DE ELISEU QUE OPEROU UM MILAGRE<br />
Eliseu Cria em El-Shaddai, o Todo-Po<strong>de</strong>roso<br />
Eliseu ouviu os reclamos daquela viúva e, naturalmente, como homem<br />
comum, ele se sente incapaz <strong>de</strong> resolver o problema. Porém, ele sabia muito<br />
mais que o seu <strong>Deus</strong>, o El-Shaddai, era aquEle que podia operar o milagre<br />
na casa daquela mulher. Ele sabia que o El-Shaddai havia se manifestado<br />
muitas vezes em variadas situações na história <strong>de</strong> homens e mulheres da<br />
Bíblia, e que só Ele po<strong>de</strong>ria operar o milagre na vida daquela família.<br />
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> Milagres Operou <strong>de</strong> Modo Especial na Casa daquela Viúva<br />
Quando Eliseu pergunta àquela viúva “Que te hei <strong>de</strong> fazer?”, estava<br />
confrontando os limites <strong>de</strong> sua pessoa como homem, que estava<br />
108
Eliseu: Milagres em Tempo <strong>de</strong> Escassez<br />
pronto para ajudar, <strong>de</strong>ntro dos limites <strong>de</strong>sse seu espírito humanitário.<br />
Eliseu não agia com atitu<strong>de</strong> presunçosa só por causa dos milagres que<br />
já haviam sido operados por seu intermédio. Ele tinha consciência <strong>de</strong><br />
suas limitações, e não ostentava atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> senhorio sobre as operações<br />
<strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Mas, confiante no po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> e certo <strong>de</strong> que é <strong>Deus</strong> que<br />
“faz justiça ao órfão e à viúva”, lhe daria uma solução que resultasse na<br />
glória <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. N a segunda pergunta do profeta à viúva, “Que é que<br />
tens em casa?”, ele vislumbrou em sua mente a operação <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>.<br />
“Que é que tens em casa”? (2 Rs 4.2) é uma pergunta que, colocada<br />
no contexto das famílias na socieda<strong>de</strong> atual, se choca com a realida<strong>de</strong> da<br />
pobreza, da mendicância nas cida<strong>de</strong>s, da busca <strong>de</strong> alimentos nos lixões<br />
das gran<strong>de</strong>s metrópoles, dos maus serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. A igreja <strong>de</strong> Cristo na<br />
terra não po<strong>de</strong> fugir ao seu papel social, e sim seguir o exemplo da igreja<br />
que saiu do Pentecostes (At 4.32-35). Em vez <strong>de</strong> querermos espiritualizar<br />
todas as suas ações, a igreja <strong>de</strong>veria investir em exercer justiça social.<br />
Não adotamos a teologia da libertação dos teólogos mo<strong>de</strong>rnos, nem<br />
<strong>de</strong>vemos cruzar os braços sem alguma ação em favor dos necessitados.<br />
Essa pergunta <strong>de</strong>veria ser feita pelos a<strong>de</strong>ptos da teologia da prosperida<strong>de</strong>,<br />
que confun<strong>de</strong>m o “ser com o ter” e ensinam que os pobres são pobres<br />
porque não conseguem a bênção da prosperida<strong>de</strong>. Existe uma teologia<br />
chamada “teologia da pobreza” que ensina e <strong>de</strong>clara que pobreza material<br />
é garantia <strong>de</strong> espiritualida<strong>de</strong>, usando como texto para essa i<strong>de</strong>ia equivocada<br />
uma interpretação da expressão “pobres <strong>de</strong> espírito” como pobreza<br />
material. N a história <strong>de</strong>ste capítulo, Eliseu era o homem <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, que<br />
confiava em Jeová-Jireh e sabia que <strong>Deus</strong> podia mudar aquele estado <strong>de</strong><br />
penúria daquela viúva e seus filhos. Por isso, perguntou-lhe: “Que é que<br />
tens em casa”? (2 Rs 4.2). A resposta da viúva foi clara e precisa: “Tua<br />
serva não tem nada em casa, senão uma botija <strong>de</strong> azeite”.<br />
<strong>Deus</strong> Começa o Milagre a partir do que Temos<br />
“Tua serva não tem nada, senão uma botija <strong>de</strong> azeite. ” A lição maior que<br />
apren<strong>de</strong>mos com essa <strong>de</strong>claração da viúva é que, a partir do nada, ou do<br />
pouco que temos, <strong>Deus</strong> age e opera milagres. Na Bíblia temos histórias<br />
lindas dos milagres <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> em prover a necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> seus servos. O<br />
que é que temos em mãos para começar a ver a operação <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>? Moisés<br />
109
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
tinha em mãos “uma vara”, e com essa vara <strong>Deus</strong> operou gran<strong>de</strong>s maravilhas;<br />
Davi tinha uma funda, e com uma pedrinha matou o gigante<br />
Golias (1 Sm 17.23-25,40,49); Pedro e seus companheiros <strong>de</strong> pesca tinham<br />
uma re<strong>de</strong> e viram o milagre da pesca abundante <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma noite sem<br />
pegar nada (Lc 5.1-7); Dorcas tinha uma agulha <strong>de</strong> costura (At 9.36-40).<br />
O que temos em mãos, ou em casa, para crer no <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> milagres?<br />
Em 1954, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Chapecó, SC, meu pai, pastor Osmar Cabral,<br />
atendia a nova igreja na cida<strong>de</strong> e as dificulda<strong>de</strong>s financeiras eram enormes.<br />
Certo dia, faltou <strong>de</strong> tudo em nossa casa. O comércio não vendia nada<br />
fiado para qualquer crente e meu pai saiu à procura <strong>de</strong> alguma coisa<br />
para trazer para casa numa outra cida<strong>de</strong> próxima. Minha mãe reuniu-se<br />
comigo e minha irmã, que tínhamos apenas 9 e 7 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, para<br />
orar a <strong>Deus</strong> que enviasse comida para a nossa casa. A noite, já muito<br />
tar<strong>de</strong>, alguém bateu à porta <strong>de</strong> nossa casa <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e perguntou pelo<br />
meu pai, que ainda não havia retornado. Essa pessoa se i<strong>de</strong>ntificou e<br />
disse que <strong>Deus</strong> o enviara para trazer comida. Minha mãe o recebeu, e<br />
o homem trouxe para <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> casa muito feijão, arroz, carne seca e<br />
outros alimentos. O <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> milagres tocou no coração <strong>de</strong>sse irmão<br />
que não nos conhecia, vindo <strong>de</strong> outra cida<strong>de</strong>, para encher a nossa casa<br />
<strong>de</strong> alimentos. E a partir <strong>de</strong> “uma botija <strong>de</strong> azeite” que <strong>Deus</strong> torna tudo<br />
abundante, porque Ele é o “<strong>Deus</strong> <strong>de</strong> toda provisão”.<br />
A PROVISÃO NA MEDIDA CERTA<br />
Eliseu trouxe tranquilida<strong>de</strong> e fé para aquela pobre viúva, tornando-a<br />
capaz <strong>de</strong> suprir as necessida<strong>de</strong>s básicas <strong>de</strong> sua casa e com condição <strong>de</strong> pagar<br />
sua dívida com os credores. Ele a orientou como <strong>de</strong>veria fazer, porque o<br />
abastecimento da sua casa não seria momentâneo, mas serviria para ter<br />
em estoque muito azeite, que po<strong>de</strong>ria ser vendido, e com o dinheiro ela<br />
sustentaria a sua casa e seus dois filhos continuariam com ela.<br />
Provisão Abundante sem Desperdício<br />
O que a viúva tinha em casa senão uma “botija <strong>de</strong> azeite”? Foi um<br />
bom começo o “ter uma botija <strong>de</strong> azeite”, mas se ela não tivesse nada,<br />
o Senhor operaria do mesmo modo.<br />
110
Eliseu: Milagres em Tempo <strong>de</strong> Escassez<br />
O profeta orientou a viúva e seus filhos que pedissem emprestados<br />
muitos vasilhames próprios (vasos <strong>de</strong> barro), tanto quanto pu<strong>de</strong>ssem<br />
tomar emprestados. Sem que os vizinhos e amigos soubessem, seus filhos<br />
trouxeram muitos vasilhames para <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> casa. Tudo quanto aquela<br />
viúva tinha em casa era “uma pequena botija <strong>de</strong> azeite”. Fecharam a<br />
porta da casa e obe<strong>de</strong>ceram à orientação do profeta <strong>de</strong> “tomar a botija<br />
<strong>de</strong> azeite” e começar a <strong>de</strong>rramar em cada vasilhame o restinho do azeite<br />
que havia na botija. Então o milagre começou a acontecer, porque o<br />
azeite não terminava e quanto mais eles enchiam os vasos, mas o azeite<br />
se multiplicava até o último vaso, quando o azeite parou <strong>de</strong> <strong>de</strong>rramar.<br />
O azeite continuou a fluir enquanto havia vasos para recebê-los. Não<br />
houve <strong>de</strong>sperdício. Tanto quanto havia em capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> receber azeite<br />
foi o que <strong>Deus</strong> fez fluir para resolver o problema da viúva e seus filhos.<br />
A lição que apren<strong>de</strong>rmos é que, do pouco que temos, po<strong>de</strong>mos exercer<br />
nossa fé para obtermos a bênção <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> em todos os aspectos <strong>de</strong><br />
nossa vida material, emocional e espiritual. O apóstolo Paulo disse aos<br />
romanos que <strong>Deus</strong> dá da sua graça na medida da nossa fé, ou “conforme<br />
a medida da fé que <strong>Deus</strong> repartiu a cada um” (Rm 12.3). <strong>Deus</strong> nos dá<br />
tanto quanto precisamos e dá abundantemente. Nunca Ele dá <strong>de</strong>mais<br />
ou <strong>de</strong> menos, mas sempre na medida da nossa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gerirmos<br />
aquilo que Ele nos dá.<br />
A Obediência à Orientação do Profeta Foi Fundamental<br />
para Perceber a Bênção<br />
Aquela mulher podia discutir com o profeta o seu modo <strong>de</strong> resolver o<br />
problema, mas ela sabia que o homem <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> tinha a resposta divina para<br />
a sua vida. Tudo o que ela precisava lazer era aceitar a orientação do profeta<br />
e colocar sua fé em ação. Para não haver interferência no milagre, a viúva<br />
e seus filhos <strong>de</strong>veriam “tomar vasos emprestados”, ou seja, vasilhames <strong>de</strong><br />
cerâmica, tantos quantos pu<strong>de</strong>ssem conseguir, e trazê-los para <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> casa.<br />
A viúva só tinha uma botija, um pequeno vasilhame; por isso, precisaria <strong>de</strong><br />
muitos vasilhames. Ela sabia que <strong>de</strong>veria obe<strong>de</strong>cer à orientação do seu lí<strong>de</strong>r<br />
espiritual como aquele que cumpre o papel <strong>de</strong> representar os interesses <strong>de</strong><br />
<strong>Deus</strong> na terra. Para não haver a interrupção dos credores à sua porta, nem<br />
o <strong>de</strong> sentir-se orgulhosa pelo suprimento miraculoso, ela <strong>de</strong>veria fechar a<br />
111
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
porta atrás <strong>de</strong> si na sua casa. Ela fez tudo conforme a orientação do servo <strong>de</strong><br />
<strong>Deus</strong> para que o milagre acontecesse. O princípio da autorida<strong>de</strong> espiritual é<br />
o mesmo para os nossos dias. Um pastor <strong>de</strong>ve ser respeitado como homem<br />
<strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, e esse respeito se conquista com o exemplo <strong>de</strong> vida piedosa.<br />
0 Azeite Flui enquanto Houver Vasos Disponíveis<br />
Houve um outro tempo na vida <strong>de</strong> Israel em que havia uma crise <strong>de</strong><br />
fé e <strong>de</strong> espiritualida<strong>de</strong> nos dias do profeta Zacarias (519-520 a.C.). Esse<br />
profeta tem uma visão maravilhosa do modo como <strong>Deus</strong> supriria o seu<br />
povo nas suas necessida<strong>de</strong>s. Entre outras coisas da visão, Zacarias viu<br />
um can<strong>de</strong>labro todo <strong>de</strong> ouro com as suas sete lâmpadas e um vaso por<br />
cima das lâmpadas que supria com azeite. Esse gran<strong>de</strong> castiçal <strong>de</strong> ouro<br />
que representava o povo <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> (Zc 4.2). Para um castiçal que estava<br />
sem azeite, não havia nenhum recurso humano que pu<strong>de</strong>sse suprir esse<br />
castiçal, mas aquele vaso estava cheio <strong>de</strong> azeite para as lâmpadas.<br />
Fazendo uma comparação com a história vivida pela viúva e seus<br />
dois filhos, o azeite que se multiplicava era a provisão <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> para<br />
suprir as necessida<strong>de</strong>s daquela família. Na Igreja, é preciso um novo<br />
azeite que traga avivamento e renovação espiritual.<br />
O azeite torna-se uma tipologia da provisão <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> na vida dos<br />
que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m dEle para as suas necessida<strong>de</strong>s. Os filhos da viúva<br />
conseguiram muitos vasos e os trouxeram para <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> casa, mesmo<br />
sem saberem o que ia acontecer. Eles creram na operação divina para<br />
realizar o milagre. Matthew Henry comentou que “nós nunca estamos<br />
em dificulda<strong>de</strong>s em <strong>Deus</strong>, em seu po<strong>de</strong>r e generosida<strong>de</strong>, e nas riquezas<br />
da sua graça. <strong>Toda</strong> a nossa dificulda<strong>de</strong> está em nós mesmos. E a nossa<br />
fé que falha, não a sua promessa. Ele dá mais do que pedimos: houvesse<br />
mais vasos, haveria mais em <strong>Deus</strong> para enchê-los, o suficiente para<br />
todos, o suficiente para cada um”.<br />
Muitas igrejas cristãs estão vivendo o drama da viúva com a <strong>de</strong>spensa<br />
vazia. Vivem das experiências passadas porque não há mais vasos<br />
disponíveis para que o Senhor faça fluir o azeite. Os vasos po<strong>de</strong>m representar<br />
aquelas pessoas que trazemos para “<strong>de</strong>ntro da casa”, ou seja,<br />
que se convertem e as trazemos para o convívio da igreja.<br />
A medida da fé é a medida das bênçãos.<br />
112
Capítulo 10<br />
JOSAFÁ E A ADORAÇÃO A DEUS<br />
EM MEIO AO CAOS<br />
Buscai ao Senhor enquanto se po<strong>de</strong> achar,<br />
invocai-o enquanto está perto.<br />
—Isaías 55.6<br />
Josafá foi o quarto rei <strong>de</strong> Judá <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Asa, seu pai, o qual reinou por<br />
quarenta e um anos tendo iniciado seu reinado em 911 a.C. Foi um rei<br />
exemplar e, nos primeiros <strong>de</strong>z anos, Asa fez prosperar o reino expandindo<br />
seu domínio. Edificou cida<strong>de</strong>s e as fortificou com muralhas, torres e portas<br />
pesadas (2 Cr 14.6,7), <strong>de</strong> tal modo que não era fácil a entrada <strong>de</strong> gente<br />
estranha ao reino. Depois <strong>de</strong> alguns anos <strong>de</strong> paz, Asa <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> buscar<br />
a <strong>Deus</strong> e tomou <strong>de</strong>cisões que trouxeram guerra e problemas políticos<br />
para o seu reino. Dois anos antes <strong>de</strong> sua morte, Asa ficou doente nos pés,<br />
vindo a falecer. Foi sucedido no trono por seu filho Josafá, em 873 a.C.<br />
A história <strong>de</strong> Josafá ganha importância pelo cuidado inicial que ele teve<br />
em dar continuida<strong>de</strong> a algumas obras iniciadas por seu pai. Josafá foi um<br />
rei enérgico e muito hábil em seus dias. Sua aprendizagem inicial foi como<br />
corregente por três anos junto ao seu pai. Josafá procurou <strong>de</strong>senvolver uma<br />
relação <strong>de</strong> paz com Israel, uma vez que eram irmãos. Porém, essa aliança feita<br />
com reis <strong>de</strong> Israel lhe trouxe problemas no seu reino. Sua história nos traz<br />
lições preciosas que nos mostram uma li<strong>de</strong>rança espiritual, sujeita a falhas<br />
como qualquer outra li<strong>de</strong>rança, mas alicerçada em princípios <strong>de</strong> temor a <strong>Deus</strong>.<br />
As lições <strong>de</strong>ssa li<strong>de</strong>rança são úteis para a igreja <strong>de</strong> Cristo nos tempos atuais,
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
quando lutamos contra potesta<strong>de</strong>s espirituais que procuram <strong>de</strong>sestabilizar<br />
a igreja na sua relação com o Senhor. Por outro lado, apren<strong>de</strong>mos com<br />
Josafá, princípios com os quais po<strong>de</strong>mos fazer a igreja crescer.<br />
OS ANTECEDENTES DO REINO DE JOSAFÁ<br />
A Divisão do Reino <strong>de</strong> Israel<br />
É sempre difícil enten<strong>de</strong>r por que <strong>Deus</strong> permitiu essa divisão do seu<br />
povo em dois reinos, o <strong>de</strong> Israel e o <strong>de</strong> Judá. Mas os livros dos reis e<br />
das crónicas do Antigo Testamento entraram no cânon das Escrituras,<br />
porque <strong>Deus</strong> não vê no sentido horizontal, mas no sentido vertical, <strong>de</strong><br />
cima para baixo. Ele conhece todas as coisas e seu cetro <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r sobre o<br />
seu povo está em suas mãos. Quando lemos sobre os dois reinos, Israel e<br />
Judá, enten<strong>de</strong>mos o paralelo histórico que existe entre os fatos registrados<br />
nos livros dos reis e nos livros das crónicas. Todos os fatos registrados<br />
nesses livros apresentam a história das divisões entre os povos do norte e<br />
do sul do povo <strong>de</strong> Israel, i<strong>de</strong>ntificados como “o Reino do Norte, Israel”<br />
e o “Reino do Sul, Judá”. O Reino do Norte ficou com <strong>de</strong>z tribos, e o<br />
Reino do Sul com duas tribos. Essa divisão do povo <strong>de</strong> Israel aconteceu<br />
nos dias <strong>de</strong> Roboão (924 -908 a.C.), filho <strong>de</strong> Salomão que <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong><br />
buscar a <strong>Deus</strong> e seguiu os passos <strong>de</strong> seu pai quando se envolveu com<br />
a idolatria pagã. Ele se casou com Naamá, mulher amonita, que fora<br />
uma das muitas mulheres <strong>de</strong> Salomão, e esta muito o influenciou em<br />
<strong>de</strong>cisões importantes do reino. O reino enfraqueceu economicamente,<br />
e muito mais espiritualmente. Com o enfraquecimento económico do<br />
reino, Roboão resolveu aumentar a carga tributária que já era pesada<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> os tempos <strong>de</strong> Salomão sobre o povo. Por causa <strong>de</strong>ssa carga tributária,<br />
Roboão não se dispôs a aliviar os impostos sobre o povo. Pelo<br />
contrário, endureceu ainda mais sem usar <strong>de</strong> bom senso e respeito pelo<br />
povo. As tribos que viviam no norte <strong>de</strong> Israel romperam com as tribos<br />
do sul (2 Cr 10.1-15), e assim aconteceu a separação do norte e do sul.<br />
Os Dois Reinos e seus Reis, Jeroboão e Roboão<br />
As <strong>de</strong>z tribos formaram outro reino, sobre o qual reinou Jeroboão,<br />
e o chamaram Israel; as duas tribos, Judá e Benjamim, com a capital<br />
114
Josafá e a Adoração a <strong>Deus</strong> em meio ao Caos<br />
Jerusalém, formaram o Reino <strong>de</strong> Judá, e Roboão foi o seu rei. Jeroboáo,<br />
fazendo-se rei do Norte (Israel), foi um mau rei voltado para a idolatria.<br />
Ele <strong>de</strong>safiou a religiosida<strong>de</strong> do seu povo e construiu um santuário para<br />
um Bezerro <strong>de</strong> Ouro, abrindo espaço para dois centros <strong>de</strong> adoração entre<br />
as tribos do norte. Por outro lado, assumiu o reino <strong>de</strong> Judá o jovem<br />
Roboão, que foi um mau rei (2 Cr 12.14,15). Seu fracasso começou,<br />
sem dúvida, quando seguiu o mau exemplo <strong>de</strong> seu pai, Salomão, tendo<br />
uma vida polígama com muitas mulheres e concubinas. Asa era neto<br />
<strong>de</strong> Roboão e Maaca, e, quando feito rei, restaurou o culto a <strong>Deus</strong> e<br />
fez um excelente governo em Judá nos anos (905-865 a.C.). Seu filho<br />
Josafá, foi corregente com o pai, e <strong>de</strong>pois da morte <strong>de</strong> Asa, reinou sobre<br />
o reino <strong>de</strong> Judá.<br />
0 REINO DE JOSAFÁ<br />
Quem Era Josafá<br />
Josafá foi o quarto rei <strong>de</strong> Judá (870- 848 a.C.) e adquiriu experiência<br />
no reino sendo corregente com seu pai, Asa, por aproximadamente três<br />
anos (1 Rs 22.41-50). Josafá, tendo o pai como referencial <strong>de</strong> governo<br />
e espiritualida<strong>de</strong>, exerceu um governo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> prosperida<strong>de</strong>. Diz<br />
o texto que ele “andou nos primeiros caminhos <strong>de</strong> Davi, seu pai” (2<br />
Cr 17.3). Sua mãe chamava-se Azuba e não parece que tenha exercido<br />
qualquer influência sobre ele. Enquanto o outro reino, o reino <strong>de</strong> Israel,<br />
permitiu que a idolatria dos dias <strong>de</strong> Acabe e Jezabel dominasse o reino,<br />
o rei <strong>de</strong> Judá, Josafá, ao contrário, <strong>de</strong>sfez e mandou quebrar os altares<br />
construídos nos montes aos <strong>de</strong>uses pagãos. Ele enten<strong>de</strong>u <strong>de</strong> início que<br />
o seu reino prosperaria se voltasse a servir a <strong>Deus</strong>. Então ele enviou<br />
seus príncipes por todas as terras do reino <strong>de</strong> Judá para ensinarem ao<br />
povo acerca do <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> Israel mediante a obediência e o respeito à Lei<br />
e aos mandamentos do Senhor. Para tirar o povo da crise económica e<br />
espiritual, Josafá cria fortemente que só haveria uma reforma verda<strong>de</strong>ira<br />
e segura se o povo voltasse a reconhecer a soberania <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Seus<br />
príncipes, sacerdotes e levitas se <strong>de</strong>dicaram a visitar todos os lugares<br />
do reino ensinando a Palavra <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>.<br />
115
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
Prosperida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Josafá no Reino <strong>de</strong> Judá<br />
N o terceiro ano <strong>de</strong> seu reinado, Josafá estabeleceu um sistema para<br />
administrar a justiça em todos os lugares <strong>de</strong> Judá. Para tal empreendimento,<br />
visando estabelecer or<strong>de</strong>m no reino, ele nomeou juízes capazes<br />
para julgar as causas do povo em todo o reino. Eram pessoas <strong>de</strong> confiança<br />
do rei, as quais <strong>de</strong>veriam administrar a justiça sem temor, sem<br />
favores nem suborno.<br />
Josafá levou o avivamento ao coração do povo por meio do ensino<br />
do “livro da Lei”. Principalmente, os levitas e sacerdotes <strong>de</strong> Jerusalém<br />
<strong>de</strong>veriam cumprir essa missão. De cida<strong>de</strong> em cida<strong>de</strong>, aos sábados, especialmente,<br />
eles reuniam o povo nas praças. Como não havia sinagogas<br />
nem templos fora <strong>de</strong> Jerusalém, esses comissionados do rei iam às praças<br />
e ensinavam ao povo acerca dos seus <strong>de</strong>veres para com <strong>Deus</strong>, com o<br />
próximo e com o reino, com a garantia da bênção <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Essa ação<br />
promoveu um gran<strong>de</strong> avivamento espiritual no coração do povo. <strong>Deus</strong><br />
honrou a Josafá, e um gran<strong>de</strong> exército — com aproximadamente 700<br />
mil homens valentes — estava à disposição para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a sua terra<br />
e o reino. Temos a tendência <strong>de</strong> diminuir nossa <strong>de</strong>voção ao Senhor<br />
quando gozamos <strong>de</strong> prosperida<strong>de</strong>, quando não falta dinheiro no bolso,<br />
quando temos saú<strong>de</strong> abundante, quando tudo está aparentemente em<br />
paz. Muitos lí<strong>de</strong>res em seus sucessos se esquecem <strong>de</strong> buscar ao Senhor e<br />
passam a agir por conta própria, sem consultar nem <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>.<br />
Josafá começou a agir com atitu<strong>de</strong> in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e começou a errar.<br />
AMEAÇAS ENFRENTADAS POR JOSAFÁ<br />
A Perigosa Aliança Feita com Acabe<br />
Ainda nos dias <strong>de</strong> Acabe, rei <strong>de</strong> Israel — um rei que trouxe <strong>de</strong>sgraça<br />
para o povo <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> porque não temia ao Senhor — , o rei Josafá,<br />
<strong>de</strong>sejando que houvesse paz entre os dois reinos, faz uma aliança com<br />
a casa <strong>de</strong> Acabe. Josafá e Acabe negociam o casamento <strong>de</strong> Jorão, filho<br />
<strong>de</strong> Josafá, com a filha <strong>de</strong> Acabe e Jezabel, chamada Atalia. Jezabel<br />
tinha uma forte influência sobre seu marido, Acabe, e, naturalmente,<br />
sobre seus filhos. Não foi diferente com Atalia, que preferia os <strong>de</strong>uses<br />
fenícios ao <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> Israel. Nessa aliança, Acabe e Josafá entraram em<br />
116
Josafá e a Adoração a <strong>Deus</strong> em meio ao Caos<br />
guerra contra os tiros a fim <strong>de</strong> tomar a Ramote-Gilea<strong>de</strong>. Acabe tramou<br />
um plano pernicioso para que Josafá fosse morto e ele levasse a fama<br />
da guerra. Nesse tempo, enquanto estão na guerra, Atalia, mulher <strong>de</strong><br />
Jorão, toma posse do trono <strong>de</strong> Judá, levando Israel à apostasia por seis<br />
anos. Quando Josafá volta ao seu lugar no reino <strong>de</strong> Judá, enten<strong>de</strong>u o<br />
perigo do jugo <strong>de</strong>sigual com os incrédulos.<br />
Josafá <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> buscar ao Senhor e passou a agir por si mesmo,<br />
confiado apenas na sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> governante. Por outros interesses,<br />
fez aliança com Acabe, que era um rei perverso e sem o menor temor<br />
<strong>de</strong> <strong>Deus</strong> no seu coração. Essa aliança não agradou ao Senhor porque<br />
punha o seu povo em perigo. Essa aliança foi selada com o casamento<br />
com a filha <strong>de</strong> Acabe, um parentesco que lhe traria <strong>de</strong>rrota moral,<br />
física e espiritual.<br />
Repreensão <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> por meio do Profeta Jeú<br />
Josafá, sem consultar a <strong>Deus</strong>, fez uma aliança com Acabe, rei <strong>de</strong><br />
Israel. Foi uma aliança militar que produziu uma <strong>de</strong>rrota para ambos<br />
os reinos. <strong>Deus</strong> levantou ao profeta Jeú, que con<strong>de</strong>nou a aliança com<br />
Acabe, um rei inimigo <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> e do povo <strong>de</strong> Israel. Mas <strong>Deus</strong> conhecia<br />
o coração <strong>de</strong> Josafá e sabia que havia temor, a <strong>de</strong>speito da atitu<strong>de</strong><br />
precipitada que havia tomado na aliança que fez com Acabe. Por isso,<br />
a ira <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> foi <strong>de</strong>sviada <strong>de</strong> Josafá, porque este havia resgatado o<br />
verda<strong>de</strong>iro culto a Jeová. Josafá resgatou a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> justiça na terra <strong>de</strong><br />
Judá, e um novo sentimento <strong>de</strong> segurança nas famílias, <strong>de</strong> justiça, <strong>de</strong><br />
prosperida<strong>de</strong> material e espiritual passou a dominar o coração do povo.<br />
Depois da repreensão, Josafá humilha-se perante o Senhor e, além das<br />
reformas estruturais no governo das cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Judá, restabelece o lugar<br />
<strong>de</strong> <strong>Deus</strong> na vida do povo.<br />
Josafá Enfrenta Ameaças contra o seu Reino<br />
Em meio às mudanças positivas que Josafá realizou em seu reino,<br />
surge uma crise política externa provocada pelos moabitas, que <strong>de</strong>clararam<br />
guerra contra Judá. A informação chegou a Jerusalém <strong>de</strong> que um<br />
forte exército estava marchando para a cida<strong>de</strong> santa. Foi uma terrível<br />
117
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
notícia, e, então, Josafá convoca o povo para um jejum nacional com<br />
oração a <strong>Deus</strong> para o Senhor interferisse naquele ataque <strong>de</strong> Moabe.<br />
Um pouco antes <strong>de</strong>sse ataque dos moabitas contra Judá, conforme<br />
está <strong>de</strong>scrito no capítulo 18, Acabe e Josafá firmam uma aliança contra<br />
os moabitas e amonitas. Eles partiram para a guerra contra esses povos,<br />
e a batalha foi trágica em Ramote-Gilea<strong>de</strong> da Síria. Nessa batalha,<br />
Acabe foi ferido (2 Cr 18.33,34). Acabe tramou uma situação em que<br />
Josafá viesse a ser morto, mas os amonitas e moabitas viram que Josafá<br />
não era Acabe, por isso, não o mataram (1 Rs 22.1-38; 2 Cr 18.28-32).<br />
Sem dúvida, o Senhor o protegeu. Por essa razão, Josafá foi repreendido<br />
pelo profeta Jeú, principalmente pelo fato <strong>de</strong> ter-se aliado com Acabe<br />
(2 Cr 19.1,2).<br />
Visto que estava seguro <strong>de</strong> que suas fronteiras eram bem protegidas<br />
e não corriam o risco <strong>de</strong> serem ultrapassadas, Josafá se <strong>de</strong>scuidou. Os<br />
amonitas, os edomitas e os moabitas uniram forças para invadir Judá<br />
cruzando o M ar Morto em direção a En-Gedi com muitos soldados,<br />
cavalos e armas <strong>de</strong> guerra. Então, Josafá, consciente do erro que havia<br />
cometido na sua aliança com Acabe, enten<strong>de</strong>u que Jeová, o Senhor<br />
Todo-Po<strong>de</strong>roso, o <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> seu povo, po<strong>de</strong>ria salvá-lo, bem como ao<br />
povo <strong>de</strong> Judá, <strong>de</strong> serem <strong>de</strong>struídos pelo inimigo.<br />
ATITUDES VITORIOSAS PARA ENFRENTAR AS AMEAÇAS<br />
Josafá precisou agir rápido, com atitu<strong>de</strong>s que fossem capazes <strong>de</strong> mudar<br />
o estado <strong>de</strong> espírito do povo, que estava assustado com a aproximação<br />
<strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> exército formado com aliados inimigos do reino <strong>de</strong> Judá.<br />
Essas atitu<strong>de</strong>s requeriam a união <strong>de</strong> todo povo, e todas as famílias<br />
respon<strong>de</strong>ram positivamente ao apelo do rei.<br />
Josafá Propõe ao Povo Invocar o Nome do Senhor<br />
Josafá, mediante a ameaça dos moabitas, convocou o povo em<br />
jejum e oração juntamente com ele. N a sua oração, Josafá reconhece<br />
a soberania <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> sobre todas as coisas e como sendo o único que<br />
po<strong>de</strong>ria intervir naquela situação (2 Cr 20.6-12). Jejum e oração são<br />
dois ingredientes eficazes para solucionar o problema. Todo o povo <strong>de</strong><br />
118
Josafá e a Adoração a <strong>Deus</strong> em meio ao Caos<br />
Judá sabia e, reunido numa <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> fé e confiança em <strong>Deus</strong>,<br />
aceitou o pedido do rei Josafá <strong>de</strong> clamar pelo Senhor em seu socorro.<br />
Era uma nação inteira buscando a <strong>Deus</strong>. Nossa nação brasileira está<br />
vivendo uma <strong>de</strong> suas maiores crises, que abrange a todos económica e<br />
moralmente, porque a mentira, o engano e a incredulida<strong>de</strong> campeiam<br />
as mentes. É tempo <strong>de</strong> as igrejas se unirem para orar e jejuar pedindo<br />
a intervenção divina. A prática do jejum e da oração quase não mais<br />
existe, e os cristãos estão à mercê <strong>de</strong>ssa tragédia moral e espiritual na<br />
nossa nação. Nenhum cristão verda<strong>de</strong>iro duvida do po<strong>de</strong>r da oração.<br />
Aquela atitu<strong>de</strong> do rei Josafá significa um ato <strong>de</strong> humilhação nacional<br />
em total <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Era a admissão <strong>de</strong> culpa e a intenção <strong>de</strong><br />
alcançar a misericórdia e o socorro divino para aquela situação inevitável.<br />
O povo aten<strong>de</strong>u ao apelo do rei Josafá, começando ali um gran<strong>de</strong><br />
avivamento espiritual na vida <strong>de</strong> todos. Não há crise que não possa ser<br />
vencida quando confiamos no Senhor. Davi, em um dos seus cânticos<br />
disse: “Uns confiam em carros, e outros, em cavalos, mas nós faremos<br />
menção do nome do Senhor, nosso <strong>Deus</strong>” (SI 20.7).<br />
Nos gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>safios da igreja atual, quando ameaçada por circunstâncias<br />
materiais, morais e espirituais, as soluções espirituais têm sido<br />
menosprezadas por soluções meramente humanas. E tempo <strong>de</strong> restaurar<br />
a invocação ao nome do Senhor! Jejum e oração são práticas raras nos<br />
tempos mo<strong>de</strong>rnos, mas sempre estiveram na experiência dos gran<strong>de</strong>s<br />
servos <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> (2 Co 6.5). Jesus <strong>de</strong>clarou que aquela casta <strong>de</strong> <strong>de</strong>mónios<br />
que dominava um pobre homem só seria expelida “pela oração e pelo<br />
jejum” (Mt 17.21).<br />
<strong>Deus</strong> Fez o Povo Ouvir a Voz Profética <strong>de</strong> Jaaziel<br />
Mesmo em meio à crise, <strong>Deus</strong> sempre tem alguém que ouve a sua<br />
voz e se torna voz profética para o seu povo. Foi o que <strong>Deus</strong> fez em<br />
Judá. No meio do povo <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> sempre haverá espaço para ouvir a palavra<br />
do Senhor por meio <strong>de</strong> seus profetas. O Senhor não falava só nos<br />
tempos históricos, mas ainda fala pelo “dom da profecia” na sua igreja,<br />
porque cremos na atualida<strong>de</strong> dos dons espirituais. <strong>Deus</strong> levantou Jaaziel,<br />
que profetizou para o povo e levantou o ânimo <strong>de</strong> todos. Na palavra<br />
profética, <strong>Deus</strong> disse que o seu povo não entraria em guerra, com estas<br />
119
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
palavras: “Nesta peleja, não tereis <strong>de</strong> pelejar; parai, estai em pé e ve<strong>de</strong><br />
a salvação do Senhor para convosco, ó Judá e Jerusalém; não temais,<br />
nem vos assusteis; amanhã, saí-lhes ao encontro, porque o Senhor será<br />
convosco” (2 Cr 20.17). N a peleja contra o inimigo <strong>de</strong> nossas almas<br />
precisamos confiar no Senhor. Temos dois modos <strong>de</strong> ouvirmos a voz<br />
profética em nossos dias. Aquele que profetiza mediante a inspiração<br />
da palavra pregada e ensinada, bem como mediante o dom do Espírito,<br />
quando o profeta ouve <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> e transmite à igreja a mensagem divina<br />
(Ef 4.11; 1 Co 12.10). Precisamos <strong>de</strong> um avivamento capaz <strong>de</strong> reativar<br />
os dons espirituais na igreja.<br />
0 Povo Foi Estimulado a Louvar e Adorar ao Senhor<br />
O rei Josafá não teve dúvida da voz profética <strong>de</strong> Jaaziel (2 Cr 20.15).<br />
Des<strong>de</strong> o rei até ao mais simples súdito do reino, todos aceitaram a<br />
mensagem <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> e começaram a adorar e a louvar ao Senhor (2 Cr<br />
20.18,19). Os levitas, não só os que serviam nos sacrifícios, mas aqueles<br />
que tinham a missão da adoração e do louvor, começaram a louvar ao<br />
Senhor pela sua majesta<strong>de</strong> santa, pela sua benignida<strong>de</strong> eterna. Houve<br />
gran<strong>de</strong> júbilo e a certeza da vitória que o Senhor daria ao seu povo. O<br />
louvor, quando ministrado <strong>de</strong> forma a reconhecer a soberania divina,<br />
tem o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> abrir portas na presença <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Quando o povo começou<br />
a adorar a <strong>Deus</strong>, Josafá acalmou seu coração porque enten<strong>de</strong>u<br />
que o Senhor cumpriria a sua palavra e nenhuma família se per<strong>de</strong>ria.<br />
Quando os exércitos inimigos se aproximaram <strong>de</strong> Jerusalém e ouviram<br />
o som dos louvores, diz a bíblia que começaram a cair em emboscadas e<br />
se <strong>de</strong>struírem uns aos outros, sem que ninguém do povo ju<strong>de</strong>u precisasse<br />
fazer qualquer coisa. Os exércitos inimigos foram <strong>de</strong>sbaratados porque<br />
<strong>Deus</strong> os confundiu (2 Cr 20.24).<br />
Josafá e todo o povo <strong>de</strong> Israel <strong>de</strong>scobriram que as nossas batalhas<br />
sem o Senhor na direção significam tragédia. Quando reconheceram a<br />
soberania <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> para fazer o impossível, não tiveram mais dúvidas:<br />
só o Senhor é capaz <strong>de</strong> nos dar vitória para fazer valer sua palavra sobre<br />
nós. O povo <strong>de</strong> Judá e o seu rei apren<strong>de</strong>ram a colocar <strong>Deus</strong> no seu<br />
verda<strong>de</strong>iro lugar como Senhor e Rei soberano, e o fizeram mediante<br />
o louvor e a adoração. <strong>Deus</strong> impediu que os inimigos entrassem em
Josafá e a Adoração a <strong>Deus</strong> em meio ao Caos<br />
Jerusalém confundindo-os e, por isso, o povo <strong>de</strong> Judá <strong>de</strong>monstrou<br />
gratidão a <strong>Deus</strong> pela vitória que o Senhor lhes conce<strong>de</strong>u.<br />
CONCLUSÃO<br />
A história <strong>de</strong> Josafá é uma história <strong>de</strong> proezas políticas, económicas<br />
e espirituais porque tinha como referencial o seu pai Asa. Como<br />
homem, teve suas falhas, mas seu coração ainda estava com o temor a<br />
<strong>Deus</strong>. Soube pedir perdão ao Senhor e arrepen<strong>de</strong>r-se quando errava, e<br />
<strong>Deus</strong> se agrada <strong>de</strong> um coração contrito. Os fatos da história <strong>de</strong> Josafá<br />
se constituem mo<strong>de</strong>lo para quem quer superar crises. Ele buscou ao<br />
Senhor e reconheceu a soberania divina para solução <strong>de</strong> seus problemas,<br />
louvando e adorando ao Senhor.<br />
A oração e o louvor a <strong>Deus</strong> constituem a arm a secreta<br />
do crente na luta contra o Inimigo.<br />
121
Capítulo 11<br />
ESTER E O LIVRAMENTO<br />
DE UMA NAÇÃO<br />
[...] e quem sabe se para tal tempo como este chegaste a este reino?<br />
- Ester 4.14<br />
Dos livros da Bíblia, Ester e Cantares são dois livros que se distinguem<br />
por evitar usar o nome <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, não ensinar a Lei <strong>de</strong> Moisés, nem<br />
<strong>de</strong>stacar a religiosida<strong>de</strong> israelita. Mas a razão principal que fez com que<br />
o livro <strong>de</strong> Ester fosse reconhecido no Cânon das Escrituras foi o fato <strong>de</strong><br />
revelar o cuidado divino com o povo <strong>de</strong> Israel em meio à hostilida<strong>de</strong>,<br />
estando exilado <strong>de</strong> sua terra. Matthew Henry escreveu acerca <strong>de</strong>sse livro<br />
que “se o nome <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> não aparece no livro, o <strong>de</strong>do <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> estava lá”,<br />
<strong>de</strong> modo invisível, orientando a vida do povo <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>.<br />
É uma história em que se percebe a presença <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> modo inescrutável<br />
e invisível nos seus elementos circunstanciais, <strong>de</strong>stacando, em<br />
especial, dois personagens importantes, Mardoqueu e Ester. Temos uma<br />
história <strong>de</strong>lineada pela providência divina. Não há <strong>de</strong>terminismo nos<br />
ingredientes da história, mas percebe-se a soberania <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> fazendo valer<br />
seus <strong>de</strong>sígnios. Todos os fatos que envolvem pactos e alianças <strong>de</strong> <strong>Deus</strong><br />
com o seu povo são cumpridos com aqueles que o servem.<br />
Nessa história, po<strong>de</strong>mos observar as operações invisíveis <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> <strong>de</strong>lineando<br />
todos os fatos que envolvem o povo <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> em terra estranha,<br />
sofrendo toda sorte <strong>de</strong> perseguição e rejeição no lugar em que habitavam<br />
e os personagens da história. Além <strong>de</strong> Mardoqueu (ou Mor<strong>de</strong>cai) e Ester,
Ester e o Livramento <strong>de</strong> uma Nação<br />
outros três personagens fazem parte <strong>de</strong> todo o enredo da história, que<br />
sá°: o rei Assuero (ou Xerxes I), a rainha Vasti e Hamá, o oficial da<br />
corte do reino <strong>de</strong> Assuero (Et 1.1,9; 2.5,6; 3.1).<br />
Des<strong>de</strong> a divisão <strong>de</strong> Israel em dois reinos — o <strong>de</strong> Israel, chamado<br />
Reino do Norte, e o <strong>de</strong> Juda, chamado Reino do Sul — , os seus reis,<br />
com pouca exceção, não foram fieis a <strong>Deus</strong> e, por isso, tiveram que arcar<br />
com as consequências graves e trágicas na vida do povo <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Os<br />
exércitos da Assíria entraram em suas terras, subjugando os dois reinos<br />
ao domínio persa. Os ju<strong>de</strong>us exilados tornaram-se subservientes dos<br />
persas. Em 485 a.C., o Império Medo-Persa era forte e, nesse período,<br />
os exilados ju<strong>de</strong>us serviam aos interesses persas com trabalho forçado,<br />
escravidão e muito sofrimento das famílias. Nesse tempo do domínio<br />
<strong>de</strong> Assuero (Xerxes I) entra a história <strong>de</strong> Ester como uma prova <strong>de</strong> que<br />
<strong>Deus</strong> não havia se esquecido do seu povo. Ora, o povo <strong>de</strong> Israel tinha<br />
consciência <strong>de</strong> sua eleição para representar os interesses <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> entre as<br />
nações e que aquela situação momentânea era consequência dos pecados<br />
<strong>de</strong> seus li<strong>de</strong>res. Por isso, estavam exilados e longe da sua terra.<br />
Ao longo da história, o povo <strong>de</strong> Israel tem sofrido com a tentativa <strong>de</strong><br />
exterminação, porque Satanas o<strong>de</strong>ia esse povo e quer <strong>de</strong>struí-lo. Então,<br />
por <strong>de</strong>sígnio <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, entra no cenário <strong>de</strong>ssa circunstância uma jovem<br />
temente a <strong>Deus</strong> que se torna o elemento-chave da libertação do seu povo<br />
no reino da Pérsia. A jovem Hadassa, criada por seu tio Mardoqueu,<br />
também chamada Ester, entra na cena que <strong>Deus</strong> armou para que seus<br />
<strong>de</strong>sígnios fossem concretizados. Ester, entre as moças do palácio, alcançou<br />
graça perante o rei e foi constituída rainha da Pérsia, no lugar <strong>de</strong> Vasti.<br />
Não imaginava ela que seu papel <strong>de</strong>ntro do palácio real <strong>de</strong> Assuero seria<br />
o salvar todo o seu povo do extermínio tramado por Hamã e conquistar<br />
espaço <strong>de</strong>ntro do império para se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r e servir ao seu <strong>Deus</strong>.<br />
A PROVIDÊNCIA INVISÍVEL DE DEUS<br />
Existe uma palavra profética <strong>de</strong> Mardoqueu para Ester que revela a<br />
providência divina no cenário daquela história que se iniciava com uma<br />
simples jovem do povo ju<strong>de</strong>u. A palavra aconteceu quando uma trama<br />
contra o povo <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> foi armada por Hamã, oficial da corte do rei<br />
Assuero. Mardoqueu, tendo notícias da trama, preparou Ester para ser<br />
123
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
o elo <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> para salvação do seu povo, e disse-lhe: Não imagines,<br />
em teu ânimo, que escaparás na casa do rei, mais do que todos os outros<br />
ju<strong>de</strong>us. Porque, se <strong>de</strong> todo te calares neste tempo, socorro e livramento<br />
doutra parte virá para os ju<strong>de</strong>us, mas tu e a casa <strong>de</strong> teu pai perecereis;<br />
e quem sabe se para tal tempo como este chegaste a este reino?” (Et<br />
4.14). Indiscutivelmente, o <strong>de</strong>do <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> <strong>de</strong>lineia a história do seu povo.<br />
Como Ver o Dedo <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> como Providência nessa História?<br />
A expressão “<strong>de</strong>do <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>” encontrada na Bíblia em algumas<br />
circunstâncias especiais é uma metáfora antropomórfica que atribui<br />
a <strong>Deus</strong> coisas, figuras e órgãos humanos, como coração, mãos, pés,<br />
olhos, ouvidos, que representem açóes <strong>de</strong> Dêus. <strong>Deus</strong> é Espírito, e<br />
qualquer figura humana em relação a <strong>Deus</strong> tem sentido <strong>de</strong> revelação<br />
<strong>de</strong> um <strong>Deus</strong> que é Pessoa e fala conosco. Em relação à história do<br />
livro <strong>de</strong> Ester, o <strong>de</strong>do <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> é uma figura invisível da providência<br />
divina. A palavra “providência” vem do latim provi<strong>de</strong>ntia, e o prefixo<br />
“pro” significa “antes” ou “antecipadamente”, mas o sufixo da palavra,<br />
vi<strong>de</strong>ntia, <strong>de</strong>riva <strong>de</strong> vi<strong>de</strong>re, que significa ver . Quando nos referimos<br />
a <strong>Deus</strong>, sua providência diz respeito ao que Ele faz e vê antecipadamente.<br />
É o que <strong>Deus</strong> vê, e Ele vê todos os inci<strong>de</strong>ntes da vida antes que<br />
ocorram, algo que humanamente não po<strong>de</strong>mos fazer (SI 139.1-14).<br />
Nesse sentido, constatamos que os inci<strong>de</strong>ntes históricos naqueles<br />
dias <strong>de</strong>ntro do Império Persa foram <strong>de</strong>lineados e orientados pelo <strong>de</strong>do<br />
<strong>de</strong> <strong>Deus</strong> dirigindo cada circunstância. Por esse modo invisível e provi<strong>de</strong>ncial,<br />
o Senhor colocou a jovem Ester <strong>de</strong>ntro do palácio <strong>de</strong> Assuero<br />
para que o seu povo fosse salvo da <strong>de</strong>struição. Comprova-se esse fato<br />
pelo que <strong>Deus</strong> disse a Isaías, o profeta: “[...] os meus pensamentos [são]<br />
mais altos do que os vossos pensamentos” (Is 55.9).<br />
A Festa <strong>de</strong> 180 Dias <strong>de</strong> Assuero<br />
O domínio do Império Persa sob o reinado <strong>de</strong> Assuero continha 127<br />
províncias. O território persa se estendia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o vale do Indo, no noroeste<br />
da índia, o norte da África, incluindo Egito, Líbia e Cus (hoje, Sudão).<br />
Porém, as guerras com a Grécia trouxeram <strong>de</strong>sgaste físico, emocional<br />
124
Ester e o Livramento <strong>de</strong> uma Nação<br />
e económico para o império. Em vez <strong>de</strong> novos tributos e a ampliação<br />
comercial com outros países, essas guerras se tornaram pesadas para a<br />
economia do império. Esse tempo datava o tempo do governo <strong>de</strong> Xerxes<br />
I (Assuero) no Império Persa, nos anos 486 a 465 a.C. Seu pai foi Dario,<br />
o Gran<strong>de</strong>, e sua máe chamava-se Atosa, filha <strong>de</strong> Ciro. Assuero herdou<br />
um enorme império, mas não conseguiu esten<strong>de</strong>r suas fronteiras como<br />
objeto da vaida<strong>de</strong> dos reis daquela época.<br />
Assuero resolveu reunir aos príncipes, sátrapas e nobres da Pérsia<br />
para um tipo <strong>de</strong> convenção <strong>de</strong> 180 dias (seis meses) na capital <strong>de</strong> Susã<br />
(Et 1.3,4). Essa reunião ocorreu em 483 a.C., que tinha como estratégia<br />
o planejamento <strong>de</strong> guerras para conquista <strong>de</strong> outras nações. Confiado<br />
em suas forças militares, Assuero entendia que sairia vitorioso. Dentro<br />
<strong>de</strong>sse período, Assuero mandou preparar uma festa especial, com uma<br />
celebração esplêndida (Et 1.6,7).<br />
Na mente <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, a festa promovida por Assuero já estava nos seus<br />
<strong>de</strong>sígnios e nada po<strong>de</strong>ria impedir a sua concretização. O rei Assuero<br />
era vaidoso, e querendo ostentar sua glória, po<strong>de</strong>r e riqueza a todos os<br />
súditos do império, or<strong>de</strong>nou que se fizesse uma festa com muita comida e<br />
bebida, além das danças e orgias que se permitiam nos salões do palácio<br />
<strong>de</strong> Susã. As 127 províncias tributárias ao seu reino estavam representadas<br />
nessa festa. Assuero exibia seu ouro, prata e pedras preciosas nas joias<br />
do palácio, nas pratarias e <strong>de</strong>corações internas do palácio.<br />
A Exibição Imperial que Provocou a Saída<br />
da Rainha Vasti do Palácio<br />
Por mais que não entendamos os <strong>de</strong>sígnios <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> em algumas<br />
circunstancias, temos que reconhecer que a mão invisível do <strong>Deus</strong><br />
onisciente estava operando <strong>de</strong> modo oculto aos olhos humanos. Aquela<br />
festa havia chegado a um ponto <strong>de</strong> total extravagância em comidas<br />
e bebidas, <strong>de</strong>ixando todos aqueles homens da corte completamente<br />
irracionais. Nesse contexto <strong>de</strong> exibicionismo e ostentação <strong>de</strong> Assuero,<br />
em que o vinho fez com que o rei ultrapassasse os limites <strong>de</strong> domínio<br />
racional daquela festa, pelo ímpeto da vaida<strong>de</strong> e do exagero do vinho,<br />
o rei or<strong>de</strong>nou que se chamasse Vasti, a rainha, para apresentá-la aos<br />
seus convidados, como se fosse uma peça <strong>de</strong> <strong>de</strong>coração. A rainha Vasti,<br />
125
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
contrariando a or<strong>de</strong>m do rei, recusou-se a comparecer diante <strong>de</strong>le e da<br />
corte, o que representou humilhação para o rei. Por isso, a punição foi<br />
severa para Vasti, que era uma mulher <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong> forte e que não<br />
aceitava ser exposta ao ridículo pelo seu próprio marido.<br />
A Deposição da Rainha Vasti<br />
Mediante a recusa <strong>de</strong> Vasti em comparecer ante os convidados <strong>de</strong><br />
Assuero para exibi-la como se fosse uma peça <strong>de</strong> <strong>de</strong>coração, o rei ficou<br />
furioso com a recusa. Sentindo humilhado e não querendo per<strong>de</strong>r a<br />
autorida<strong>de</strong> real, Assuero a <strong>de</strong>pos <strong>de</strong> sua realeza. Ele não aceitava a<br />
<strong>de</strong>sobediência <strong>de</strong> sua mulher e, por medo <strong>de</strong> abrir outro prece<strong>de</strong>nte,<br />
Assuero teve uma atitu<strong>de</strong> irracional e violenta, típico <strong>de</strong> sua personalida<strong>de</strong><br />
arrogante. Como soberano do império, Assuero era exaltado e<br />
orgulhoso, e sua autorida<strong>de</strong> seria questionada naquela festa se alguém<br />
lhe <strong>de</strong>sobe<strong>de</strong>cesse.<br />
Ao <strong>de</strong>por Vasti do palácio, queria que ficasse bem claro a todos<br />
os palacianos que nada, ninguém, nem a rainha, podia recusar uma<br />
or<strong>de</strong>m real sem sofrer as consequências. Portanto, a recusa da rainha<br />
Vasti em comparecer vestida com sua realeza para ser exibida perante a<br />
corte custou a sua <strong>de</strong>stituição. Era o terceiro ano do reinado <strong>de</strong> Assuero<br />
quando aconteceu a festa. Os seus convidados <strong>de</strong> todas as províncias<br />
tributárias do império assistiram à humilhação <strong>de</strong> Assuero, mas viram<br />
com seus olhos o po<strong>de</strong>r que tinha para fazer valer suas or<strong>de</strong>ns. Esses<br />
fatos contribuíram para que o proposito <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> fosse realizado na vida<br />
do seu povo cativo naquela terra.<br />
SOB 0 DESÍGNIO DE DEUS,<br />
ESTER ENTRA NO PALÁCIO DE ASSUERO<br />
Segundo o historiador ju<strong>de</strong>u Josefo, do primeiro século da Era Cristã,<br />
<strong>de</strong>pois que os servos mais leais ao rei sugeriram que ele escolhesse uma<br />
das moças do seu harém no palácio para ocupar o lugar <strong>de</strong> Vasti, foram<br />
selecionadas 400 moças virgens como candidatas ao trono <strong>de</strong> rainha<br />
junto a Assuero. Depois <strong>de</strong> todos os preparativos necessários, em termos<br />
<strong>de</strong> estética e beleza, as moças seriam apresentadas individualmente<br />
126
Ester e o Livramento <strong>de</strong> uma Nação<br />
perante Assuero. <strong>Toda</strong>s as que estavam no palácio e faziam parte do<br />
harem do rei teriam a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conquistar seu coração, e uma<br />
<strong>de</strong>las seria elevada a posição <strong>de</strong> rainha (Et 2.14). Foi assim que <strong>Deus</strong><br />
preparou Ester para ser a moça que conquistaria o coração do rei e seria<br />
elevada à posição <strong>de</strong> rainha.<br />
Ester Foi Designada por <strong>Deus</strong> para o Lugar <strong>de</strong> Vasti<br />
Entre a <strong>de</strong>posição <strong>de</strong> Vasti e a chegada <strong>de</strong> Ester ao palácio, passaram-<br />
-se quatro anos aproximadamente. Logo <strong>de</strong>pois daquela festa, Assuero<br />
empreen<strong>de</strong>u uma guerra contra a Grécia e todos os planos elaborados<br />
não <strong>de</strong>ram certo. Dois anos <strong>de</strong>pois ele volta a Susã, completamente<br />
<strong>de</strong>cepcionado porque a guerra não foi vencedora. Ao voltar para o<br />
palácio, Assuero estava só e o trono <strong>de</strong> rainha ao seu lado estava vazio.<br />
Passado algum tempo <strong>de</strong>pois daquele banquete e <strong>de</strong>pois da volta da<br />
guerra frustrada contra a Grécia, alguns servos <strong>de</strong> Assuero que o serviam<br />
junto ao trono sugeriram que se buscassem moças virgens e formosas<br />
à vista, que reunissem qualida<strong>de</strong>s que conquistassem o coração do rei<br />
e, quem sabe, fosse escolhida pelo rei uma <strong>de</strong>las para assumir o trono<br />
<strong>de</strong> rainha. Comissários em todas as províncias trouxeram muitas<br />
moças bonitas e virgens para o palácio <strong>de</strong> Susã para que ficassem sob<br />
os cuidados do seu eunuco Hegai, que era guarda das mulheres. Entre<br />
todas as moças levadas para o palacio, foi levada a jovem judia Ester,<br />
que ganhou a simpatia do eunuco do rei (Et 2.9). Não há dúvidas <strong>de</strong><br />
que Ester fazia parte do <strong>de</strong>sígnio <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> para ajudar o seu povo, mas<br />
nem ela podia imaginar isso.<br />
Dois Personagens no Projeto <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>: Mardoqueu e Ester<br />
Nessa história, po<strong>de</strong>mos perceber como <strong>Deus</strong> age e direciona todas as<br />
coisas para que a sua soberana vonta<strong>de</strong> se concretize. Dos dois personagens,<br />
Mardoqueu era um ju<strong>de</strong>u exilado que estava com outros <strong>de</strong>portados <strong>de</strong><br />
Jerusalem para a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Susã, a capital persa. Mardoqueu não estava<br />
só, mas trazia além <strong>de</strong> sua família a Hadassa (Ester), <strong>de</strong> quem era tio e,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> pequena, com a morte <strong>de</strong> seus pais, adotou-a e cuidou <strong>de</strong>la como<br />
se fosse sua filha. No livro com seu próprio nome, Ester é a personagem<br />
127
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
principal da história. De algum modo especial, o <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> Israel direcionou<br />
sua vida para que ela se tornasse a gran<strong>de</strong> libertadora do seu povo. Como<br />
era jovem e inexperiente, seu tio Mardoqueu foi o orientador pessoal <strong>de</strong><br />
Ester naqueles episódios que a levaram ao palácio <strong>de</strong> Assuero. Portanto,<br />
Mardoqueu era um homem temente a <strong>Deus</strong> e estava entre os cativos<br />
ju<strong>de</strong>us que serviam aos interesses do império em Susã.<br />
Quem era Mardoqueu?<br />
Sem dúvida, era um homem <strong>de</strong> fé e <strong>de</strong> profunda pieda<strong>de</strong> espiritual.<br />
Era um sonhador que sonhava com a libertação da sua gente. Ele cria<br />
que <strong>Deus</strong> faria algo que fosse capaz <strong>de</strong> romper com os obstáculos que<br />
impediam essa libertação. Ele sabia, acima <strong>de</strong> tudo, que quaisquer<br />
tentativas meramente humanas seriam impossíveis. Ele sabia, também,<br />
que a escravatura <strong>de</strong> seu povo seria <strong>de</strong>sfeita mediante a interferência <strong>de</strong><br />
<strong>Deus</strong>. Mardoqueu era um homem que não recuava em seus propósitos<br />
ainda que lhe custasse a vida (Et 4.1,2). Ele tinha certa liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
movimentos porque, mesmo sendo um escravo ju<strong>de</strong>u, ele podia estar<br />
nas cercanias do palácio <strong>de</strong> Assuero.<br />
Mardoqueu Frustra um Plano <strong>de</strong> assassinato <strong>de</strong> Assuero<br />
Não muito <strong>de</strong>pois da coroação <strong>de</strong> Ester como rainha do império,<br />
Mardoqueu estava junto à porta <strong>de</strong> entrada do palácio <strong>de</strong> Assuero<br />
quando ouviu a conversa <strong>de</strong> dois eunucos do rei, os quais, revoltados<br />
com a <strong>de</strong>posição <strong>de</strong> Vasti, tramavam o assassinato do rei. Esses dois<br />
eunucos eram oficiais que serviam na guarda da porta <strong>de</strong> acesso para o<br />
rei (Et 2.21). Seus nomes eram Bigtã e Teres. Eles conspiravam contra<br />
a vida do rei. Mardoqueu, ao ouvir a trama, resolve frustrar o plano<br />
sinistro contra a vida <strong>de</strong> Assuero e falou com Ester, pedindo-lhe que<br />
fizesse o rei saber da trama em nome <strong>de</strong>le, <strong>de</strong> Mardoqueu (Et 2.22).<br />
Visto que esses oficiais tinham acesso aos aposentos íntimos <strong>de</strong> Assuero,<br />
Mardoqueu não per<strong>de</strong>u tempo em informar Ester da trama. Ela, então,<br />
sem per<strong>de</strong>r tempo, informou ao rei a trama <strong>de</strong> assassinato contra a sua<br />
vida. Quando alguém do seu reino <strong>de</strong>monstrava alguma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
128
Ester e o Livramento <strong>de</strong> uma Nação<br />
lealda<strong>de</strong>, o rei gostava <strong>de</strong> honrar essa pessoa. Ester contou ao rei que a<br />
informação vinha <strong>de</strong> Mardoqueu. Essa atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> lealda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mardoqueu<br />
lhe <strong>de</strong>u condições <strong>de</strong> ser alguém mais presente no palácio e no acesso<br />
a sua sobrinha Ester. Tão logo o rei tomou ciência da trama, or<strong>de</strong>nou<br />
o enforcamento <strong>de</strong> Bigtã e Teres (Et 2.23). Cresceu ainda mais o amor<br />
do rei por Ester, contribuindo para que, a seu tempo, o propósito divino<br />
fosse concretizado na vida do povo <strong>de</strong> Israel.<br />
Ester, uma jovem graciosa que correspon<strong>de</strong>u<br />
à expectativa <strong>de</strong> <strong>Deus</strong><br />
Seu nome hebreu era Hadassa, que passou a ser chamada Ester, um<br />
nome que provinha <strong>de</strong> uma palavra persa que significa “estrela” e <strong>de</strong>rivava<br />
do nome <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>usa babilónica (Isthar), que significava “<strong>de</strong>usa do<br />
amor”. Naturalmente, esse nome não teve qualquer influência em sua<br />
vida <strong>de</strong> comunhão com o <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> Israel. No seu livro bíblico, Ester é<br />
a personagem principal da história que fala <strong>de</strong> uma jovem cujos valores<br />
morais e espirituais serviram para torná-la um instrumento <strong>de</strong> justiça <strong>de</strong><br />
<strong>Deus</strong> para salvar a sua gente. Quando levada para o palácio <strong>de</strong> Susã, ela<br />
era uma jovem entre tantas outras jovens bonitas e prendadas. Entretanto,<br />
o seu tio Mardoqueu tinha uma visão mais ampla acerca do futuro <strong>de</strong><br />
Ester e, por isso, disse-lhe: “[...] quem sabe se para tal tempo como este<br />
chegaste a este reino?” (Et 4.14).<br />
Ester, entre tantas lindas jovens, foi a escolhida para o lugar <strong>de</strong> Vasti<br />
Nesse ponto estamos fazendo uma pequena digressão histórica que<br />
nos leva ao primeiro estágio <strong>de</strong> Ester antes <strong>de</strong> se tornar a escolhida <strong>de</strong><br />
Assuero. Depois da <strong>de</strong>posição <strong>de</strong> Vasti como rainha, as moças escolhidas<br />
<strong>de</strong> todas as províncias foram levadas para a casa das mulheres do palácio<br />
e, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> apresentadas, uma <strong>de</strong>las seria escolhida para ser a rainha.<br />
Quando veio a vez <strong>de</strong> Ester, sua presença superou a todas as moças que<br />
até então haviam sido apresentadas. Ester achou graça diante do rei,<br />
e ele baixou o cetro sobre ela e colocou a coroa <strong>de</strong> rainha sobre a sua<br />
cabeça. Mardoqueu, que havia orientado o comportamento <strong>de</strong> Ester<br />
para várias situações, estava assentado “à porta do rei” (Et 2.19) e teve<br />
129
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
o coração emocionado por ver o <strong>de</strong>sígnio <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> sendo cumprido na<br />
vida <strong>de</strong> sua sobrinha. Um gran<strong>de</strong> banquete foi preparado com a coroação<br />
<strong>de</strong> Ester, e o rei <strong>de</strong>u-lhe presentes. Essa escolha estava nos <strong>de</strong>sígnios<br />
divinos para que ela, sendo rainha naquele império, tivesse influência<br />
suficiente para conce<strong>de</strong>r uma gran<strong>de</strong> libertação ao seu povo, o povo <strong>de</strong><br />
<strong>Deus</strong>, e os <strong>de</strong>sígnios malignos <strong>de</strong> seus inimigos, especialmente, Hamã,<br />
que odiava Ester e Mardoqueu, queria <strong>de</strong>struí-los <strong>de</strong>ntro do reino.<br />
UMA TRAMA DE DESTRUIÇÃO CONTRA 0 POVO DE DEUS<br />
A Trama <strong>de</strong> Hamã, o Agagita<br />
Hamã foi um homem <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Agague, um rei amalequita<br />
(1 Sm 15.8,33). Servindo no palácio <strong>de</strong> Susã ao rei Assuero, Hamã foi<br />
elevado à posição <strong>de</strong> primeiro ministro do reino, dando-lhe condições<br />
superiores entre todos os príncipes da corte persa, tornando-se o segundo<br />
homem mais importante do reino <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Assuero.<br />
Sem dúvida alguma, o inimigo maior do povo <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> é o Diabo,<br />
que influenciava pessoas para odiarem o povo ju<strong>de</strong>u naqueles dias.<br />
Hamã se tornou um instrumento diabólico para perseguir e <strong>de</strong>sejar a<br />
<strong>de</strong>struição do povo ju<strong>de</strong>u. Sua <strong>de</strong>scendência agagita o lembrava <strong>de</strong> uma<br />
história <strong>de</strong> <strong>de</strong>rrota dos amalequitas, que eram <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> Agague<br />
e foram <strong>de</strong>rrotados pelo rei Saul no passado, e tinha o estigma do ódio<br />
contra os ju<strong>de</strong>us. Era um povo com uma história <strong>de</strong> pilhagem e roubo<br />
que assaltava os que viajavam no <strong>de</strong>serto, especialmente, Israel. Por isso,<br />
esse povo foi amaldiçoado por <strong>Deus</strong> (Dt 25.17-19).<br />
Hamã era um agagita que odiava os ju<strong>de</strong>us, especialmente Mardoqueu,<br />
um ju<strong>de</strong>u que exercia li<strong>de</strong>rança no meio do seu povo. Visto que Hamã<br />
tinha po<strong>de</strong>res políticos advindos do seu “status” <strong>de</strong> primeiro oficial do<br />
reino persa, por sua arrogância, ambição e astúcia resolveu <strong>de</strong>struir o<br />
povo ju<strong>de</strong>u, principalmente, Mardoqueu. Como Mardoqueu não se<br />
inclinava perante ele quando passava entre o povo, o seu ódio cresceu<br />
e, para tanto, tramou diabolicamente a <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> todos os ju<strong>de</strong>us<br />
que viviam no império. Pelo fato do enforcamento <strong>de</strong> dois oficiais que<br />
haviam tramado o assassinato do rei, por informação <strong>de</strong> Mardoqueu,<br />
a cruelda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Hamã agitou sua adrenalina, e então, cheio <strong>de</strong> empáfia<br />
e espírito vingativo, ele sugeriu ao rei a <strong>de</strong>struição do povo ju<strong>de</strong>u.<br />
130
Ester e o Livramento <strong>de</strong> uma Nação<br />
A postura <strong>de</strong> Mardoqueu em não se inclinar perante ele quando<br />
passava causou tanta fúria em Hamã que este ficou obcecado com a<br />
i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição total do povo ju<strong>de</strong>u <strong>de</strong>ntro do império. Para esse<br />
intento, Hamã persuadiu Assuero a fazer um <strong>de</strong>creto contra os ju<strong>de</strong>us.<br />
Seu plano continha mentiras e calúnias contra o povo ju<strong>de</strong>u <strong>de</strong> que<br />
queriam a morte do rei e por isso <strong>de</strong>viam ser <strong>de</strong>struídos totalmente. O<br />
rei a<strong>de</strong>riu ao plano <strong>de</strong> assassinato <strong>de</strong> Hamã, que or<strong>de</strong>nou o massacre<br />
do povo, sem <strong>de</strong>ixar escapar mulheres e crianças, além <strong>de</strong> saquear os<br />
bens do povo (Et 3.13-15). Foi marcado um dia especial para <strong>de</strong>struição<br />
do povo ju<strong>de</strong>u e, quando esse povo teve notícias <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>creto, houve<br />
gran<strong>de</strong> tristeza e lamento do povo ju<strong>de</strong>u. Mardoqueu, percebendo que<br />
a tragédia viria e seu povo seria <strong>de</strong>struído, vestiu-se <strong>de</strong> saco <strong>de</strong> cilício e<br />
foi para a porta do palácio <strong>de</strong> Assuero (Et 4.1-6).<br />
Ester Toma Conhecimento da Trama<br />
Mardoqueu fez mais que se postar à porta do palácio, vestido <strong>de</strong><br />
tecido <strong>de</strong> cilício e com cinza sobre a cabeça. Ele se lembrou <strong>de</strong> que sua<br />
sobrinha estava no palácio e era a rainha. Ela estava lá para esse momento<br />
especial em que <strong>Deus</strong> a usaria para salvar sua gente. Ester teve<br />
conhecimento do lamento <strong>de</strong> seu tio Mardoqueu e <strong>de</strong> todo o seu povo.<br />
Sua alma se condoeu mediante a ameaça do maior inimigo <strong>de</strong>la e do<br />
povo ju<strong>de</strong>u. Mardoqueu pediu que Ester entrasse à presença do rei e<br />
falasse do intento cruel <strong>de</strong> Hamã, mas ela não podia entrar à presença<br />
do rei sem ser convidada. Mardoqueu, então, cheio <strong>de</strong> fé na intervenção<br />
divina, convenceu Ester a que fizesse a sua parte naquele momento e<br />
que confiasse na direção <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Ela foi convencida <strong>de</strong> que era o meio<br />
pelo qual <strong>Deus</strong> haveria <strong>de</strong> agir, e Mardoqueu disse-lhe: “[...] quem sabe<br />
se para tal tempo com este chegaste a este reino?” (Et 4.14). Ela sabia<br />
que não po<strong>de</strong>ria quebrar as regras do palácio, mesmo sendo a rainha.<br />
Por isso, arriscou-se, com graça e prudência, para entrar à presença <strong>de</strong><br />
Assuero. Pelas palavras <strong>de</strong> seu tio Mardoqueu, ela ficou convencida <strong>de</strong><br />
que <strong>Deus</strong> abriria as portas para ter acesso ao trono <strong>de</strong> Assuero e que,<br />
<strong>de</strong> algum modo, po<strong>de</strong>ria salvar o seu povo da <strong>de</strong>struição e morte (Et<br />
4.13,14). Ester avaliou bem toda a fala <strong>de</strong> Mardoqueu e preferiu correr<br />
o risco <strong>de</strong> entrar na presença do rei sem ser convidada. Entretanto,<br />
131
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
como mulher temente a <strong>Deus</strong>, pediu a Mardoqueu que reunisse todos<br />
os ju<strong>de</strong>us para que jejuassem por ela, sem comer nem beber, até que<br />
pu<strong>de</strong>sse tomar a iniciativa e entrar na presença do rei.<br />
Ester Usa <strong>de</strong> Estratégia Inteligente para Ter Acesso ao Rei<br />
Sem precipitação e com prudência, Ester preparou-se para aquele<br />
momento, vestindo-se com vestidos reais e perfumando-se para o<br />
encontro. Inicialmente, Ester foi para o pátio interior da casa do rei<br />
<strong>de</strong> modo estratégico. Assuero, ao vê-la com toda a beleza que possuía,<br />
ficou <strong>de</strong>slumbrado pela sua rainha e apontou seu cetro <strong>de</strong> ouro para ela.<br />
Ester chegou à sala do trono, inclinou-se perante o rei e tocou na ponta<br />
do cetro com a mão. Ela estava confiada nos <strong>de</strong>sígnios <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> para<br />
aquele momento e, inteligentemente, mostrou sua beleza e também seu<br />
respeito pelas leis do palácio. Foi <strong>de</strong>licada com o rei, que, maravilhado<br />
mais uma vez pela beleza <strong>de</strong> sua rainha, recebeu-a no seu trono. O rei,<br />
<strong>de</strong>slumbrado pela simpatia e beleza da rainha Ester, abriu seu coração<br />
e perguntou-lhe: “Que é o que tens, rainha Ester, ou qual é a tua petição?”<br />
(Et 5.3). Ester o convida para um banquete e pe<strong>de</strong> que Hamã<br />
esteja presente também. Assim, ambos foram ao banquete preparado<br />
por Ester (Et 5.8). Visto que Hamã mantinha o seu intento <strong>de</strong> <strong>de</strong>struir<br />
e matar Mardoqueu e todo o seu povo, após o banquete, sua mulher<br />
sugeriu que ele fizesse uma forca para enforcar Mardoqueu acusado<br />
<strong>de</strong> inimigo do rei e do império. Hamã mandou preparar a forca para<br />
Mardoqueu e foi para a festa <strong>de</strong> Ester (Et 5.14; 6.4).<br />
Assuero Descobre Mentiras <strong>de</strong> Hamã<br />
Quando Hamã saiu do banquete que Ester oferecera a ele e ao rei,<br />
estava certo <strong>de</strong> que <strong>de</strong>veria fazer alguma coisa que agradasse ao rei. Falou<br />
da sua alegria em ter estado no banquete <strong>de</strong> Ester, mas não aceitava o<br />
fato <strong>de</strong> Mardoqueu, à porta do palácio não o respeitava nem se inclinava<br />
perante ele. Por isso, ao contar da sua raiva contra Mardoqueu,<br />
sua mulher <strong>de</strong>u a sugestão <strong>de</strong> fazer uma forca para ele e, assim, estaria<br />
livre daquele homem; certamente isso agradaria ao rei.<br />
Hamã tomara para si o mérito da <strong>de</strong>scoberta dos homens que tramavam<br />
o assassinato do rei, mas o mérito era <strong>de</strong> Mardoqueu, que informou<br />
132
Ester e o Livramento <strong>de</strong> uma Nação<br />
a rainha Ester para ela informasse ao rei em seu nome. Naquela noite,<br />
o rei não conseguiu dormir, porque o Espírito <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> tocou em sua<br />
consciência e, por essa razão, o rei pediu para ver os livros das crónicas que<br />
traziam relatos dos fatos <strong>de</strong> cada dia no império. Nessa leitura feita diante<br />
do rei, <strong>de</strong>scobriu-se que foi Mardoqueu quem, <strong>de</strong> fato, salvou o rei da<br />
trama do assassinato que intentaram os dois eunucos, oficiais do palácio.<br />
Hamã queria a <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> Mardoqueu e do povo ju<strong>de</strong>u, inclusive<br />
da própria rainha, que era <strong>de</strong> origem judia. Mas Ester informou ao rei<br />
que havia um plano para matá-la, bem como ao povo ju<strong>de</strong>u, e esse plano<br />
havia sido tramado por Hamã, o que enfureceu o rei.<br />
A CORAGEM DE ESTER PARA SALVAR 0 SEU POVO<br />
Ester Desmascara Hamã diante do Rei<br />
Segundo o relato, durante toda a noite, Hamã mandou preparar a<br />
forca que seria colocada no lugar mais alto possível para que todos vissem<br />
aquele que seria enforcado — conforme o seu intento, Mardoqueu.<br />
Estava tão certo <strong>de</strong> que isso agradaria o rei que foi ao banquete cheio<br />
<strong>de</strong> empáfia e confiante <strong>de</strong> que seria, mais uma vez, honrado pelo rei.<br />
No primeiro banquete <strong>de</strong> Ester, ela não revelou nada especificamente.<br />
Decerto, o <strong>de</strong>do <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> na direção da sua vida não permitiu<br />
que houvesse qualquer precipitação. Então, Ester convida o rei e Hamã<br />
para outro banquete. A rainha Ester, mais confiante e <strong>de</strong>cisiva do que<br />
<strong>de</strong>veria fazer, usou <strong>de</strong> sua habilida<strong>de</strong> social e política e da apreciação<br />
amorosa <strong>de</strong> Assuero por ela, esperou o momento certo para falar ao rei<br />
sobre a trama <strong>de</strong> morte e <strong>de</strong>struição engenhada por Hamã. O rei já sabia<br />
da mentira <strong>de</strong> Hamã quando ouviu o registro feito nas crónicas do<br />
império <strong>de</strong> que foi Mardoqueu, não Hamã, quem impediu o plano <strong>de</strong><br />
morte contra o rei. Soube que foi Mardoqueu que impediu que a trama<br />
se efetivasse ao informar à rainha, cinco anos atrás. Agora, o rei queria<br />
honrar o homem que o livrara da morte por traição naquele tempo. Até<br />
então, o nome <strong>de</strong> Mardoqueu não havia sido revelado naquele banquete.<br />
Quando o rei perguntou o que <strong>de</strong>veria ser feito para honrar o homem<br />
que o havia salvo da morte, o próprio Hamã, pensando ser ele mesmo<br />
a quem o rei honraria com homenagens especiais, sugeriu o tipo <strong>de</strong><br />
homenagem que <strong>de</strong>veria receber. A sugestão <strong>de</strong> Hamã era que o homem<br />
133
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
que receberia a homenagem seria conduzido em um cavalo da cavalariça<br />
do próprio rei e fosse vestido com roupas <strong>de</strong> gala e com o anel do rei.<br />
Arrogante, Hamã imaginou que esse homem seria ele mesmo. Assuero,<br />
então, <strong>de</strong> forma objetiva e <strong>de</strong>terminada, or<strong>de</strong>nou a Hamã que honrasse<br />
um homem especial, maltratado por ele, que <strong>de</strong>veria receber as honras<br />
sugeridas por ele. Esse homem era o ju<strong>de</strong>u Mardoqueu, que <strong>de</strong>veria ser<br />
conduzido pelas ruas da capital, montado em um cavalo do rei, vestido<br />
com roupas palacianas e com o anel do rei. A mais alta honraria que um<br />
súdito po<strong>de</strong>ria receber. Por outro lado, apren<strong>de</strong>mos o que acontece com<br />
os arrogantes: Ele abate o soberbo e exalta o humil<strong>de</strong> (Ez 21.26; Tg 4.6).<br />
Mardoqueu e todo o Povo Ju<strong>de</strong>u —<br />
Salvos Graças ao Papel Persuasivo <strong>de</strong> Ester<br />
Nos dois banquetes oferecidos por Ester, o rei estava tão feliz com<br />
sua rainha que estava disposto a conce<strong>de</strong>r o que ela quisesse, quem sabe<br />
mais joias, outro palácio, ouro, prata e coisas semelhantes (Et 5.3). O rei<br />
estava disposto a dar-lhe até meta<strong>de</strong> do seu reino, mas não era isso que<br />
Ester queria da parte do rei. No primeiro banquete, ela pediu apenas<br />
que o rei e Hamã aceitassem o convite para um segundo banquete, em<br />
que ela revelaria ao rei o que <strong>de</strong>sejava. No segundo banquete, com a<br />
presença do rei, <strong>de</strong> Hamã e <strong>de</strong> todos os <strong>de</strong>mais convidados, a rainha<br />
Ester revela o seu pedido ao rei (Et 7.3,4). Com lágrimas nos olhos e<br />
com angústia em sua alma, ela revela o plano assassino <strong>de</strong> Hamã contra<br />
ela mesma, contra Mardoqueu e contra todo o seu povo no império. Foi<br />
um momento <strong>de</strong> consternação, mas <strong>de</strong> coragem, em que ela apontou<br />
o <strong>de</strong>do para Hamã como aquele que <strong>de</strong>sejava a morte <strong>de</strong>la e <strong>de</strong> todo o<br />
seu povo. Então pediu que fosse revogada a lei contra os ju<strong>de</strong>us. O rei<br />
se enfureceu contra Hamã e, saindo para fora no pátio do palácio, o<br />
rei externava a sua raiva contra aquela situação em que a própria rainha<br />
estava ameaçada <strong>de</strong> morte mediante o intento <strong>de</strong> Hamã. Mesmo que a lei<br />
não pu<strong>de</strong>sse ser revogada, também não seria executada. Posteriormente,<br />
o rei <strong>de</strong>u um <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> proteção aos ju<strong>de</strong>us (Et 8.8-12).<br />
A forca preparada para <strong>de</strong>sonrar Mardoqueu e expor seu corpo publicamente<br />
foi utilizada para enforcar a Hamã (Et 7.9,10). Mardoqueu<br />
assumiu o lugar <strong>de</strong> Hamã, e o rei sabia que ele não o trairia.<br />
134
Ester e o Livramento <strong>de</strong> uma Nação<br />
Mardoqueu Estabelece a Festa do Purim<br />
<strong>Deus</strong> salvou o seu povo, mesmo estando ainda exilado em outra<br />
terra, usando uma mulher especial que se colocou em suas mãos para<br />
ser instrumento <strong>de</strong> salvação para o seu povo. A palavra Purim é <strong>de</strong>rivada<br />
da palavra hebraica para “sortes”. Quando Hamã tramou a <strong>de</strong>struição<br />
do povo ju<strong>de</strong>u, foi procurar astrólogos para lançarem sortes com o fim<br />
<strong>de</strong> ter certeza <strong>de</strong> que a trama seria efetivada. Em função da gran<strong>de</strong><br />
libertação do povo ju<strong>de</strong>u nas terras persas, Mardoqueu enten<strong>de</strong>u que<br />
aquela data <strong>de</strong>veria ser celebrada por todos os ju<strong>de</strong>us, convertendo-se<br />
numa celebração tradicional para todos os tempos da vida do povo ju<strong>de</strong>u.<br />
On<strong>de</strong> Está o <strong>Deus</strong> do Livro <strong>de</strong> Ester?<br />
Em todo o livro, não aparece o nome <strong>de</strong> Jeová, mas Ele estava presente<br />
na condução daquela história do povo <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> em atos e manifestações<br />
<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. A sobrevivência dos ju<strong>de</strong>us ao longo da história da humanida<strong>de</strong><br />
revela a mão provi<strong>de</strong>ncial do Todo-Po<strong>de</strong>roso em cada evento<br />
e em cada <strong>de</strong>talhe ao proteger e preservar seu povo. Sua providência é<br />
visível em todos os fatos que envolveram personagens como Mardoqueu<br />
e Ester. O po<strong>de</strong>r invisível <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> é obvio, or<strong>de</strong>nando soberanamente<br />
cada <strong>de</strong>talhe da vida daqueles exilados para preservá-los e ensiná-los a<br />
reconhecer que Ele cumpre a sua palavra em quaisquer circunstâncias.<br />
A lição que apren<strong>de</strong>mos com Ester é que a sua história emergiu<br />
da tragédia, das perplexida<strong>de</strong>s incontáveis e das intervenções divinas<br />
para fazer valer as suas promessas. O povo ju<strong>de</strong>u foi salvo, estando em<br />
terra estranha e pagando caro pelos erros <strong>de</strong> seus lí<strong>de</strong>res no passado,<br />
mas <strong>Deus</strong> não o abandonou. Ele cumpre o que diz e promete. <strong>Deus</strong><br />
cuida do seu povo.<br />
N a providência divina, os <strong>de</strong>sígnios <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> são efetivados<br />
p ara que suas promessas e alianças se cumpram cabalmente.<br />
135
Capítulo 12<br />
SALOMÃO: SABEDORIA<br />
EM TEMPO DE CRISE<br />
O temor do Senhor é o princípio da sabedoria;<br />
bom entendimento têm todos os que lhe obe<strong>de</strong>cem;<br />
o seu louvor permanece p ara sempre.<br />
—Salmos 111.10<br />
A história <strong>de</strong> Salomão começa com uma crise <strong>de</strong> sucessão no trono <strong>de</strong><br />
Israel. Davi, obteve gran<strong>de</strong>s sucessos como guerreiro <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s batalhas e<br />
<strong>de</strong> ter expandido as fronteiras da nação israelita. Ao longo do seu reinado,<br />
Davi acumulou muitas riquezas, visando ao sonho maior <strong>de</strong> sua vida que<br />
era a construção do Templo em Jerusalém, mas não soube administrar<br />
bem sua família. Ao chegar à velhice, o reino estava sem o governo pessoal,<br />
motivando a luta pelo trono. Já havia perdido alguns filhos, e entre<br />
os que restaram estava Adonias, que era o quarto mais velho dos filhos<br />
vivos (2 Sm 3.2,3). Ao inteirar-se <strong>de</strong> que Salomão era o preferido <strong>de</strong> Davi<br />
para assumir o trono, Adonias não acatou a <strong>de</strong>cisão do pai sobre Salomão.<br />
A diferença entre Adonias e Salomão era o fato <strong>de</strong> que Adonias era<br />
vaidoso, ambicioso e gostava <strong>de</strong> ostentar pompa, sempre acompanhado<br />
<strong>de</strong> uma escolta <strong>de</strong> soldados do exército israelita montados em cavalos<br />
pomposos. Não tinha sensibilida<strong>de</strong> espiritual, por isso, resolveu aproveitar-se<br />
da enfermida<strong>de</strong> do seu pai para apo<strong>de</strong>rar-se do trono. Pior ainda<br />
foi a atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> um dos mais fiéis aliados <strong>de</strong> Davi, o comandante Joabe,<br />
que juntamente com Abiatar, que era um dos principais sacerdotes no
Salomão: Sabedoria em Tempo <strong>de</strong> Crise<br />
reino, com medo <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r sua posição <strong>de</strong> comando, apoiou Adonias<br />
na sua intenção. Os dois, Joabe e Abiatar, que tiveram uma vida <strong>de</strong><br />
lealda<strong>de</strong> para com o rei Davi, <strong>de</strong>ixaram-se persuadir <strong>de</strong> que Adonias<br />
assumiria o trono e eles estariam bem. Traíram a confiança do velho<br />
rei. Davi, então, tomou uma atitu<strong>de</strong> e empossou Salomão no seu trono<br />
na presença <strong>de</strong> todo o povo e dos homens leais da corte do reino. Davi<br />
reinou sobre Israel por quarenta anos (1025-985 a.C.). O sonho maior<br />
da sua vida <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que assumiu o trono <strong>de</strong> Israel era <strong>de</strong> estabelecer um<br />
lugar fixo para adorar a <strong>Deus</strong> e construir uma casa <strong>de</strong> adoração, um<br />
gran<strong>de</strong> Templo. Ao chegar aos 70 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, Davi ficou enfermo.<br />
Essa situação criou algumas dificulda<strong>de</strong>s no seu reino, com familiares<br />
e com homens da corte. Em meio ao estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> frágil, Davi foi<br />
informado <strong>de</strong> acontecimentos <strong>de</strong>sagradáveis que estavam produzindo<br />
um estado <strong>de</strong> insegurança no trono <strong>de</strong> Israel. Então ele enten<strong>de</strong>u que<br />
estava chegando a hora da sucessão, e resolveu indicar o seu sucessor.<br />
Contrariando a prática comum da sucessão pelos mais velhos nos<br />
reinos do mundo, nenhuma lei impedia que Davi fizesse diferente.<br />
Des<strong>de</strong> Absalão, por não ter a atenção do pai, e <strong>de</strong>pois Adonias, ambos<br />
tiveram problemas <strong>de</strong> relacionamento com o pai e criaram situações<br />
<strong>de</strong> conflito achando-se aptos para assumir o trono, mas <strong>Deus</strong> mostrou<br />
a Davi que ele tinha que tomar uma atitu<strong>de</strong> firme para preservar o<br />
seu trono até a sucessão daquele que <strong>Deus</strong> o havia <strong>de</strong>clarado para<br />
sucedê-lo. O profeta Natã, que foi orientador espiritual do reino <strong>de</strong><br />
Davi, procurou a Bate-Seba orientando-a para que lembrasse a Davi,<br />
seu marido, que o homem para sucedê-lo era o seu filho Salomão, e<br />
assim o fez (1 Rs 1.11-18).<br />
SALOMÃO É EMPOSSADO REI EM MEIO A CRISES<br />
O personagem <strong>de</strong>ssa história é Salomão. Por isso, é ele que <strong>de</strong>stacamos<br />
neste capítulo. A atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> Salomão, nessa primeira fase <strong>de</strong> sua vida,<br />
agradava ao Senhor, porque parecia ser a pessoa certa para administrar<br />
a crise do reino <strong>de</strong> modo temente a <strong>Deus</strong>. Era uma crise que atingia não<br />
só a corte do reino, mas todo o povo estava afetado pela insegurança<br />
daquele momento. Em quem confiar? Como fazer para administrar<br />
aquela situação para promover a paz no coração do rei e do povo? No<br />
137
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
caso <strong>de</strong> Adonias, sua mente estava voltada para si mesmo e como tirar<br />
proveito daquela situaçáo para promover-se com traição e egoísmo.<br />
Mas <strong>Deus</strong>, o Senhor <strong>de</strong> Israel, estava com o cetro <strong>de</strong> governo na mão.<br />
Davi, seu servo, apesar dos erros cometidos, era alguém segundo o seu<br />
coração; por isso, <strong>Deus</strong> não permitiria que houvesse divisão no reino.<br />
Davi sabia que seu sucessor seria alguém capaz <strong>de</strong> manter o reino e<br />
glorificar o nome <strong>de</strong> Jeová.<br />
0 Declínio do Reinado <strong>de</strong> Davi<br />
A primeira gran<strong>de</strong> crise enfrentada por Salomão foi o <strong>de</strong>clínio da<br />
saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Davi e tornar-se incapaz <strong>de</strong> resolver os problemas internos do<br />
reino naqueles dias. Davi parecia ter perdido o vigor para continuar<br />
a reinar sobre Israel. Um pouco antes <strong>de</strong> Salomão assumir o trono <strong>de</strong><br />
Israel, o reino parecia dividido quanto ao sucessor para o trono porque<br />
o rei Davi estava fragilizado por lutas internas no reino. O velho rei<br />
ficou fragilizado pela enfermida<strong>de</strong> e pela vulnerabilida<strong>de</strong> do seu reino,<br />
caindo em situação insustentável na corte e com seus próprios filhos.<br />
A Trama <strong>de</strong> Adonias, Joabe e Abiatar contra Davi e Salomão<br />
Adonias era, naquele contexto, o filho mais velho da casa <strong>de</strong> Davi<br />
e, aproveitando-se da enfermida<strong>de</strong> do pai, começou a tramar a sucessão<br />
sem consultar o pai, atraindo pessoas da corte para apoiá-lo.<br />
Se trouxermos essa experiência do reino <strong>de</strong> Israel e a situação do rei<br />
Davi, enfermo e enfraquecido no seu reino, para o contexto da igreja<br />
<strong>de</strong> Cristo hoje, ficaremos assustados com o que acontece. Lí<strong>de</strong>res que<br />
envelhecem e per<strong>de</strong>m a força <strong>de</strong> governo na igreja acabam criando<br />
situações <strong>de</strong> conflito para a sucessão pastoral. Nossos lí<strong>de</strong>res, às vezes,<br />
per<strong>de</strong>m a noção do seu papel na igreja, e pessoas com intenção egoísticas<br />
formam grupos que traem a confiança pastoral gerando mal-estar no<br />
seio da igreja. Que o Senhor nos guar<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas atitu<strong>de</strong>s e que nossos<br />
lí<strong>de</strong>res saibam o tempo <strong>de</strong> passar o bastão para outro pastor.<br />
No <strong>de</strong>clínio momentâneo da realeza, o rei se tornou alvo <strong>de</strong> traição,<br />
mentira e ambição. Adonias sentia-se com direito ao trono e enten<strong>de</strong>u<br />
que o mesmo pertencia a ele por direito. Uma vez que seu pai, o rei<br />
138
Salomão: Sabedoria em Tempo <strong>de</strong> Crise<br />
Davi, estava enfermo e sem condições <strong>de</strong> tomar <strong>de</strong>cisões sobre o reino,<br />
Adonias achava que <strong>de</strong>veria assumir <strong>de</strong> imediato. O problema não era,<br />
apenas, a sucessão, mas o oportunismo <strong>de</strong> um momento frágil do governo<br />
do seu pai, em que Adonias imaginava que o gran<strong>de</strong> guerreiro não<br />
estivesse lúcido o suficiente para <strong>de</strong>cidir a sucessão. Ele, então, tomaria<br />
a iniciativa, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do conhecimento do pai, e assumiria o<br />
trono. Era, na verda<strong>de</strong>, a tentativa <strong>de</strong> um golpe político que ele armou,<br />
procurando conquistar a confiança <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>res do povo, para assumir o<br />
trono. Na mente <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, o seu <strong>de</strong>sígnio estava estabelecido, e nada<br />
mudaria o plano para o futuro <strong>de</strong> Israel. Mesmo que não entendamos,<br />
às vezes, a lógica divina nessas situações, <strong>de</strong>vemos saber e reconhecer<br />
que <strong>Deus</strong> é perfeito em seus pensamentos e o que pensa está acima dos<br />
nossos pensamentos e julgamentos.<br />
Davi Enten<strong>de</strong>u a Vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> para a Sucessão do seu Trono<br />
Ao ser alertado sobre a trama que estava sendo feita por Adonias, o rei<br />
Davi levantou-se do leito <strong>de</strong> enfermida<strong>de</strong> e começou a agir. Bom é quando<br />
um servo <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> na li<strong>de</strong>rança se conscientiza do tempo do seu trabalho.<br />
Lamentavelmente, muitos lí<strong>de</strong>res se assenhoram do po<strong>de</strong>r e per<strong>de</strong>m a<br />
noção do tempo <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> em suas vidas e ministérios. De pé e disposto a<br />
fazer o que não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar para <strong>de</strong>pois, Davi chegou à compreensão<br />
<strong>de</strong> que o seu tempo havia chegado ao fim e que era o momento <strong>de</strong> outro<br />
lí<strong>de</strong>r assumir o trono. Davi, certamente, teve tempo para refletir sobre<br />
tudo o que estava acontecendo e, por isso, tão logo teve conhecimento dos<br />
problemas que estavam acontecendo, tomou a iniciativa para entronizar<br />
seu filho Salomão no trono <strong>de</strong> Israel. Davi estava consciente <strong>de</strong> que não<br />
construiria o Templo, mas o seu filho haveria <strong>de</strong> construí-lo. Durante<br />
anos Davi fez tudo quanto pô<strong>de</strong> para realizar o sonho maior do seu reino,<br />
e juntou muito material <strong>de</strong> construção para a realização do sonho (1 Cr<br />
22.1-5). Davi sabia que <strong>Deus</strong> não permitiu que Ele realizasse a obra da<br />
construção do Templo em Jerusalém porque durante toda a sua vida ele<br />
fora um homem <strong>de</strong> guerra (1 Cr 22.8), mas <strong>Deus</strong> lhe garantiu que o seu<br />
filho Salomão haveria <strong>de</strong> construir o gran<strong>de</strong> Templo.<br />
Salomão tinha uma índole diferente e não seria homem <strong>de</strong> guerra,<br />
mas seria um homem pacífico, inteligente e conciliador, sendo fiel aos<br />
139
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
conselhos do pai e com a consciência <strong>de</strong> ser o homem <strong>de</strong>signado por<br />
<strong>Deus</strong> para construir o gran<strong>de</strong> Templo (1 Cr 22.9,10).<br />
Salomão Foi Conduzido ao Trono <strong>de</strong> Israel<br />
O rei Davi, confiante na direção <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, não titubeou na ação <strong>de</strong><br />
conduzir Salomão a assentar-se no trono <strong>de</strong> Israel e proclamá-lo rei <strong>de</strong><br />
Israel. Diz o relato histórico <strong>de</strong>ssa posse que “Salomão se assentou no<br />
trono <strong>de</strong> Davi, seu pai, e o seu reino se fortificou sobremaneira” (1 Rs<br />
2.12). Davi ainda estava vivo quando <strong>de</strong>u posse ao trono para Salomão,<br />
mas Adonias, ainda insatisfeito, esqueceu-se da salvação que recebera<br />
um pouco antes, e tramou algumas situações para tomar o trono <strong>de</strong><br />
Salomão, porque se achava com direito ao trono e sentia-se traído por<br />
seu pai. Então ele aliciou pessoas em todo o reino para o seguirem e<br />
fazerem frente a Davi e Salomão. Adonias tramou algumas situações para<br />
ganhar o coração e o apoio do povo, aproveitando-se da fragilida<strong>de</strong> do<br />
pai doente. Com astúcia, Adonias conseguiu o apoio <strong>de</strong> Joabe, o gran<strong>de</strong><br />
general dos exércitos <strong>de</strong> Israel, e <strong>de</strong> Abiatar, que era o sumo sacerdote,<br />
bem como <strong>de</strong> Simei, os quais se uniram em apoio à conspiração <strong>de</strong><br />
Adonias. Em sua cruzada contra Davi e Salomão, Adonias organizou<br />
uma gran<strong>de</strong> festa, típica para uma coroação, e fez um gran<strong>de</strong> banquete<br />
fora dos muros da cida<strong>de</strong> para não chamar a atenção. M as a tentativa<br />
<strong>de</strong> golpe <strong>de</strong> Adonias foi fracassada e os seus seguidores espalharam-se.<br />
Adonias teve que reconhecer que Salomão era o rei e ele <strong>de</strong>veria submeter-se<br />
ao seu reinado. Com medo <strong>de</strong> ser morto, Adonias, para salvar-se,<br />
segurou-se nas pontas do altar da Arca do Concerto (1 Rs 1.49-53).<br />
Salomão, que não era sanguinário, or<strong>de</strong>nou que tirassem a Adonias do<br />
lugar on<strong>de</strong> estava o altar e or<strong>de</strong>nou que não tocassem em nenhum fim<br />
<strong>de</strong> cabelo <strong>de</strong> seu irmão.<br />
Adonias Agarrou-se às Pontas do Altar para não Ser Morto<br />
Q uando Salom ão assum iu o trono, seu pai ainda estava vivo.<br />
Adonias, sentindo-se rejeitado e sem enten<strong>de</strong>r a direção <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>,<br />
continuou a conspirar contra Salomão. Por causa da sua traição, ele<br />
po<strong>de</strong>ria ser morto. M as, apavorado com a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> morrer,<br />
140
Salomão: Sabedoria em Tempo <strong>de</strong> Crise<br />
correu para o Santuário e, chegando lá, “agarrou-se às pontas do altar”,<br />
lugar dos sacrifícios a <strong>Deus</strong>. Era um lugar em que ninguém ousaria<br />
cometer uma violência. Por isso, Adonias “pegou das pontas do altar”.<br />
Mas que altar era esse? No Tabernáculo <strong>de</strong> Israel, havia dois altares<br />
apenas. O primeiro ficava no pátio do Tabernáculo, entre a porta <strong>de</strong><br />
entrada e a porta do Tabernáculo. O primeiro era o altar <strong>de</strong> sacrifícios<br />
e o segundo era o altar <strong>de</strong> incenso, que ficava no Lugar Santo, espaço<br />
para o can<strong>de</strong>labro (can<strong>de</strong>eiro, castiçal) e a mesa dos pães da proposição.<br />
O altar, que tinha quatro pontas (ou chifres) e era feito com ma<strong>de</strong>ira<br />
<strong>de</strong> cetim e coberto com cobre, ficava no pátio on<strong>de</strong> eram feitos os<br />
sacrifícios. Foi nas pontas <strong>de</strong>sse altar que Adonias, no <strong>de</strong>sespero para<br />
não morrer, agarrou-se. A simbologia <strong>de</strong>sse altar é a misericórdia e a<br />
justiça <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. O texto da Bíblia na versão Almeida Revista e Corrigida<br />
diz que Adonias foi “e pegou das pontas do altar” (1 Rs 1.50) e<br />
assim sua vida foi salva da morte. Adonias tornou-se reinci<strong>de</strong>nte na sua<br />
ambição pelo trono, mesmo tendo sido liberto da morte ao “agarrar-se<br />
nas pontas do altar”. Logo em seguida, continuou conspirando contra<br />
Salomão e acabou sendo morto (1 Rs 2.25) e não escapou da traição<br />
que fizera Joabe (1 Rs 2.31).<br />
SALOMÃO SUBMETE-SE A DEUS PARA REINAR<br />
Dos quatro filhos que Davi teve em Jerusalém, Salomão foi o quarto<br />
filho. Do primeiro filho <strong>de</strong> Bate-Seba, o rei pagou um preço caríssimo<br />
pelo seu pecado, mas <strong>Deus</strong> o perdoou, mesmo que aquele filho não tenha<br />
sobrevivido. Quando nasceu esse segundo filho <strong>de</strong> Bate-Seba, Davi<br />
o chamou Salomão, e diz o texto que “O Senhor o amou” (2 Sm 5.14).<br />
Porém, Natã, o profeta, o chamou Jedidias, cujo significado era “amado do<br />
Senhor”. Prevaleceu o nome que Davi lhe <strong>de</strong>ra: Salomão (2 Sm 12.24,25).<br />
Nos <strong>de</strong>sígnios divinos, Salomão se tornou o homem que <strong>Deus</strong> elegeu<br />
para ser o futuro rei no lugar <strong>de</strong> Davi, seu pai. Quando Salomão<br />
foi empossado no trono, o reino era gran<strong>de</strong> e forte, porque Davi fez<br />
prosperar o reino, ainda que o estilo <strong>de</strong> governo tenha sido um tanto<br />
doméstico, porque ele manteve o mo<strong>de</strong>lo patriarcal da vida do povo.<br />
Porém, quando Salomão assumiu o reino, estabeleceu um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />
estado, que passou a ser respeitado pelas nações ao seu redor.<br />
141
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
Ao assumir o reino, Salomão teve a humilda<strong>de</strong> <strong>de</strong> respeitar a li<strong>de</strong>rança<br />
<strong>de</strong> Davi, ouvindo-lhe sobre o modo <strong>de</strong> administrar a nação e manter-se<br />
fiel ao Senhor <strong>de</strong> Israel.<br />
Salomão Recebe Conselhos <strong>de</strong> seu Pai<br />
Antes <strong>de</strong> sua morte, o velho rei Davi convocou seu filho Salomão<br />
para aconselhá-lo e orientá-lo sobre o reino. Não queria que seu filho<br />
cometesse os mesmos erros cometidos durante seu reinado. Apesar<br />
<strong>de</strong> algumas fraquezas , Davi não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser “o homem segundo<br />
o coração <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>”. Ele estava seguro da vonta<strong>de</strong> soberana <strong>de</strong> <strong>Deus</strong><br />
naquela transição e sucessão para seu filho Salomão. Por isso, seus<br />
últimos conselhos foram fortes, quando instou com Salomão para que<br />
fosse fiel e obediente a <strong>Deus</strong> para dirigir os <strong>de</strong>stinos do seu reinado<br />
com prudência e sabedoria. Logo a seguir, Davi morre <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 40<br />
anos <strong>de</strong> um reinado <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s conquistas para Israel, e Salomão dá<br />
continuida<strong>de</strong> a um reinado <strong>de</strong> prosperida<strong>de</strong> e bênçãos <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>.<br />
Salomão Apren<strong>de</strong>u a Amar a <strong>Deus</strong> e Depen<strong>de</strong>r dEle<br />
Depois do sepultamento do pai, Salomão buscou ao Senhor para<br />
reinar em Israel. O texto bíblico diz que Salomão amava a <strong>Deus</strong> e, por<br />
isso, consciente <strong>de</strong> sua inexperiência, foi a um dos montes altos chamado<br />
Gibeão, on<strong>de</strong> ficava, também, a Arca da Aliança, para oferecer<br />
holocaustos a <strong>Deus</strong> e receber dEle a sabedoria <strong>de</strong> que precisava (1 Rs<br />
3.4). Foi no monte Gibeão, numa das noites <strong>de</strong> preocupação com o<br />
reino e como administrá-lo, que <strong>Deus</strong> falou com Salomão em sonhos.<br />
Foi um verda<strong>de</strong>iro encontro com <strong>Deus</strong>. Nesse sonho, Salomão ouviu<br />
tudo o que precisava saber, porque o sonho foi um modo especial <strong>de</strong><br />
<strong>Deus</strong> falar ele e o novo rei abriu o coração para <strong>Deus</strong> em oração. Em<br />
sua oração, Salomão pediu a <strong>Deus</strong> sabedoria para po<strong>de</strong>r reinar sobre<br />
o povo <strong>de</strong> Israel. Essa atitu<strong>de</strong> humil<strong>de</strong> <strong>de</strong> Salomão agradou a <strong>Deus</strong>,<br />
que se dispôs a fazer muito mais do que o rei estava pedindo. <strong>Deus</strong><br />
lhe disse: “Pe<strong>de</strong> o que quiseres que te dê” (1 Rs 3.5). O jovem rei,<br />
obediente aos conselhos do pai, enten<strong>de</strong>u que não conseguiria reinar<br />
com segurança sem obter sabedoria para saber reinar.<br />
142
Salomão: Sabedoria em Tempo <strong>de</strong> Crise<br />
Salomão Teve o Cuidado Inicial <strong>de</strong> Honrar o Desejo do Rei Davi<br />
O seu pedido por sabedoria para saber reinar sobre o povo <strong>de</strong> Israel<br />
agradou a <strong>Deus</strong>, e Salomão partiu não somente para administrar<br />
os assuntos da corte, mas para realizar o sonho <strong>de</strong> seu pai. Uma das<br />
primeiras ações <strong>de</strong> Salomão foi a <strong>de</strong> absorver o sonho <strong>de</strong> Davi, seu pai,<br />
que era a construção do gran<strong>de</strong> Templo em Jerusalém (1 Rs 3.2-4).<br />
O <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> Davi era juntar o povo <strong>de</strong> Israel num só lugar para<br />
adorar a <strong>Deus</strong>. Davi não somente juntou os materiais <strong>de</strong> construção<br />
do gran<strong>de</strong> Templo <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, mas visualizou o futuro planejando toda<br />
a liturgia que seria realizada no gran<strong>de</strong> Templo. Essa liturgia envolvia<br />
o trabalho sacerdotal, o serviço diário dos levitas, as bandas e corais <strong>de</strong><br />
música e cada coisa própria do Tabernáculo. Portanto, toda a liturgia<br />
da vida religiosa <strong>de</strong> Israel foi organizada e os planos foram entregues a<br />
Salomão. A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> congregar o povo num só lugar e a dificulda<strong>de</strong><br />
do povo e do próprio rei para subir para os montes, especialmente<br />
em Gibeão, para sacrificar ao Senhor (1 Rs 3.3,4) fez com que Salomão<br />
partisse para a ação. Essa dificulda<strong>de</strong> vinha <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os tempos anárquicos<br />
dos juízes. Por isso, construir uma casa para <strong>Deus</strong> em lugar fixo era<br />
uma necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todo o povo, além <strong>de</strong> manter a união das famílias e<br />
fortalecer o reino <strong>de</strong> Israel. Esse sonho planejado por Davi foi confiado<br />
a Salomão para a sua realização.<br />
Salomão Foi Humil<strong>de</strong> ao Pedir a <strong>Deus</strong> Sabedoria para Saber Governar<br />
Todo e qualquer lí<strong>de</strong>r da obra <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> precisa sempre reconhecer<br />
que os assuntos cotidianos da vida do povo <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> precisam ser tratados<br />
com graça e sabedoria. Ao assumir o trono <strong>de</strong> Davi, o jovem rei<br />
Salomão sentiu o peso da responsabilida<strong>de</strong> e, por isso, ao orar a <strong>Deus</strong>,<br />
não pediu riquezas materiais, ou qualquer outra coisa que lhe trouxesse<br />
apenas vantagens pessoais. Ele foi humil<strong>de</strong> diante <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> e “se consi<strong>de</strong>rou<br />
menino” para tão gran<strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>. Ele pediu sabedoria<br />
para saber discernir as várias situações sociais, políticas e espirituais que<br />
estariam presentes no seu reino. Ele tinha um espírito reto e, por isso,<br />
queria agir com justiça em todas as causas. Em vez da espada, o diálogo<br />
e o bom senso. Essa atitu<strong>de</strong> sincera agradou a <strong>Deus</strong>, confirmada pelo<br />
143
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
texto bíblico que diz: “E esta palavra pareceu boa aos olhos do Senhor,<br />
que Salomáo pedisse esta coisa” (1 Rs 3.10). Apren<strong>de</strong>mos que é bom<br />
obter sabedoria e ciência, mas todo conhecimento que pu<strong>de</strong>rmos obter<br />
no mundo dos homens não é superior à “sabedoria do alto”, porque a<br />
sabedoria do alto implica um fluir do Espírito na mente daquele que a<br />
usa para glória <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>.<br />
SALOMÃO DEMONSTRA SUA SABEDORIA PARA<br />
EDIFICAR 0 TEMPLO<br />
Israel era, até então, uma nação isolada que pouco se comunicava<br />
com as nações próximas. A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> ser um povo exclusivo <strong>de</strong> <strong>Deus</strong><br />
também <strong>de</strong>senvolveu uma cultura <strong>de</strong> exclusivismo, para não correr<br />
o risco <strong>de</strong> influências pagãs no seio do povo <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. M as Salomão,<br />
diferentemente do seu pai, enten<strong>de</strong>u que Israel po<strong>de</strong>ria ser uma nação<br />
lí<strong>de</strong>r no Médio Oriente, mantendo uma relação amistosa <strong>de</strong> política<br />
e comércio com as mesmas. Naturalmente, ele, com inteligência, fortaleceu<br />
seus exércitos e fez das cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Israel verda<strong>de</strong>iras fortalezas.<br />
<strong>Toda</strong>s as rotas <strong>de</strong> comércio eram bem protegidas e as fronteiras muito<br />
bem guarnecidas pelos seus exércitos.<br />
Salomão Usa sua Sabedoria no Trato com as Nações Adjacentes<br />
Em vez <strong>de</strong> fazer guerras com as nações adjacentes a Israel para<br />
conquistar espaço e riqueza como fazia seu pai Davi, Salomão usou <strong>de</strong><br />
sua sabedoria para abrir o espaço ao diálogo com as nações vizinhas.<br />
Como ele precisava <strong>de</strong> materiais para construir o gran<strong>de</strong> Templo <strong>de</strong><br />
Jeová, fez acordos políticos <strong>de</strong> comércio com vários reis das nações adjacentes<br />
a Israel. Fez isso com o rei Flirão, na Fenícia, para obter <strong>de</strong>les a<br />
cooperação <strong>de</strong> matéria-prima, como cedro e pedra especial. A proposta<br />
<strong>de</strong> cooperação entre Salomão e Hirão teria a reciprocida<strong>de</strong> comercial.<br />
O cedro do Líbano era ma<strong>de</strong>ira cobiçada pelos reis <strong>de</strong> todas as nações,<br />
e Salomão conseguiu convencer essas nações e seus reis a manter uma<br />
relação <strong>de</strong> paz entre os reinos. Salomão negociou com Hirão uma forma<br />
<strong>de</strong> pagamento justo. As ma<strong>de</strong>iras <strong>de</strong>sejadas eram cedro e faia, ou seja,<br />
144
Salomão: Sabedoria em Tempo <strong>de</strong> Crise<br />
provavelmente significa cipreste (1 Rs 5.6,8)- Os dois reis, Salomão e<br />
Hirão, puseram trabalhadores profissionais em corte <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e <strong>de</strong><br />
pedras para os trabalhos artísticos. Essa relação foi positiva para ambos<br />
e <strong>de</strong>monstra o <strong>de</strong>do <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> orientando a preparação para a gran<strong>de</strong><br />
construção. Precisamos, em nossos tempos mo<strong>de</strong>rnos, <strong>de</strong> homens<br />
tementes a <strong>Deus</strong> que saibam <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r os interesses do Senhor na vida<br />
política, na igreja.<br />
0 Legado Material <strong>de</strong> Davi para a Construção do Templo<br />
Durante muitos anos, o rei Davi teve o cuidado <strong>de</strong> acumular muitas<br />
riquezas com o objetivo <strong>de</strong> construir o gran<strong>de</strong> Templo. Nas suas guerras,<br />
Davi, pelos direitos internacionais, tomava os <strong>de</strong>spojos das guerras em<br />
ouro, prata, cobre, bronze e pedras preciosas e os trazia para Jerusalém<br />
(1 Cr 22.14). Essa riqueza acumulada por Davi chegou a totalizar 3.400<br />
toneladas <strong>de</strong> ouro, 34.000 toneladas <strong>de</strong> prata e uma gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> bronze, ferro, ma<strong>de</strong>ira e pedras. Juntou muitas pedras preciosas.<br />
Antes <strong>de</strong> morrer, ao passar o trono para Salomão, Davi entregou<br />
toda essa riqueza acumulada <strong>de</strong> forma pública a Salomão. Davi fez mais,<br />
acrescentou seu tesouro pessoal aos materiais acumulados e estimulou os<br />
lí<strong>de</strong>res <strong>de</strong> Israel a contribuírem para o mesmo propósito (1 Cr 29.1-10).<br />
Salomão Construiu o Templo <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> em Jerusalém<br />
Com as plantas arquitetônicas do Templo entregues por Davi a<br />
Salomão, do modo como o Senhor lhe <strong>de</strong>ra (1 Cr 28), Salomão partiu<br />
para a ação. Fez a requisição <strong>de</strong> trabalhadores para a obra da construção<br />
e todo o Israel se dispôs a fazer o melhor, porque estava feliz com o<br />
reino <strong>de</strong> Salomão. O que é mais importante acerca <strong>de</strong> um Templo para<br />
servir a <strong>Deus</strong> é o encontro do povo num lugar fixo para adorá-lo e ter<br />
a certeza <strong>de</strong> que Ele estará presente. Salomão escolheu um lugar que<br />
ficava localizado no monte Moriá, que era um lugar on<strong>de</strong> Davi havia<br />
erigido um altar ao Senhor para que cessassem as pragas sobre a terra<br />
(2 Sm 24.16-25; 1 Cr 21.15-25). Esse lugar no monte Moriá é, possivelmente,<br />
o mesmo lugar on<strong>de</strong> Abraão tinha oferecido seu filho Isaque<br />
em sacrifício (2 Cr 3.1; Gn 22.2). Durante sete anos, com os materiais<br />
145
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
existentes, Salomão construiu o Templo. O projeto arquitetônico do<br />
santuário obe<strong>de</strong>ceu ao princípio e mo<strong>de</strong>lo que <strong>Deus</strong> <strong>de</strong>ra a Moisés para<br />
o Tabernáculo. A partir da existência do Templo, o centro da adoração<br />
ao Senhor seria fixado em Jerusalém e todas as 12 tribos <strong>de</strong> Israel viriam<br />
a Jerusalém para adorar ao Senhor e oferecer seus sacrifícios.<br />
0 Po<strong>de</strong>r da Presença da Arca do Concerto na Vida <strong>de</strong> Israel<br />
Salomão sabia, por experiência, que a coisa mais importante no<br />
Templo seria a presença da Arca da Aliança, aquela Arca feita no tempo<br />
<strong>de</strong> Moisés, que estava no monte Gibão e <strong>de</strong>veria ser trazida para<br />
Jerusalém e ser colocada no Santuário construído, o Lugar Santíssimo.<br />
Salomão sabia que a presença da Arca produzia gran<strong>de</strong> gozo no coração<br />
do povo. Era o símbolo seguro da presença <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. A ausência da Arca<br />
significaria <strong>de</strong>rrota espiritual e a não presença <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> no meio do povo.<br />
Em experiência ruim no passado, os filisteus levaram a Arca do Senhor<br />
para o templo <strong>de</strong> Dagon (1 Sm 4.17). A mulher <strong>de</strong> Fineias, sacerdote<br />
em Israel e filho <strong>de</strong> Eli, estava grávida <strong>de</strong> um filho e ao ter noticias da<br />
morte <strong>de</strong> seu marido e <strong>de</strong> terem os filisteus levado a Arca para Asdo<strong>de</strong>,<br />
cida<strong>de</strong> dos filisteus, a mulher <strong>de</strong> Finéias encurvou-se e <strong>de</strong>u a luz o filho,<br />
o qual chamou-lhe: ICABO, que significa em hebraico: “Foi-se a glória<br />
<strong>de</strong> <strong>Deus</strong>” (1 Sm 4.19-22). Isto aconteceu, aproximadamente, em 1094<br />
a.C. Entretanto, em 982 a.C., mais <strong>de</strong> cem anos <strong>de</strong>pois, a situação é<br />
outra. A Arca da Aliança havia voltado para o povo <strong>de</strong> Israel e, com o<br />
lugar fixo em Jerusalém, não ficaria mais em lugares provisórios, como<br />
em Tabernáculos, mas ficaria no templo construído ao Senhor em Jerusalém,<br />
trazendo muita alegria para todos. N a igreja não precisamos <strong>de</strong><br />
uma Arca, nem <strong>de</strong> qualquer objeto material para sinalizar a presença <strong>de</strong><br />
<strong>Deus</strong>. O Espirito Santo preenche plenamente com sua presença na igreja.<br />
0 Gran<strong>de</strong> Templo É Inaugurado com a Presença da Glória <strong>de</strong> <strong>Deus</strong><br />
Salomão convocou todos os chefes das tribos <strong>de</strong> Israel e todos os<br />
homens e mulheres da corte para o ato inaugural do gran<strong>de</strong> Templo.<br />
Todos os utensílios da Casa do Senhor foram trazidos para os <strong>de</strong>vidos<br />
locais no Templo, inclusive a Arca da Aliança. Depois <strong>de</strong> colocada no<br />
146
Salomão: Sabedoria em Tempo <strong>de</strong> Crise<br />
Lugar Santíssimo, os sacerdotes ofereciam no altar <strong>de</strong> sacrifícios no pátio<br />
do Templo cor<strong>de</strong>iros e bezerros como oferta <strong>de</strong> holocausto a <strong>Deus</strong> em<br />
gratidão à gran<strong>de</strong> bênção do Templo.<br />
O Templo não seria apenas um gran<strong>de</strong> edifício, mas seria a Casa <strong>de</strong><br />
<strong>Deus</strong>, on<strong>de</strong> a sua presença seria marcada pela simbologia da Arca da<br />
Aliança. Ao ministrarem diante da Arca da Aliança, a glória <strong>de</strong> <strong>Deus</strong><br />
<strong>de</strong>sceu sobre aquele lugar na forma <strong>de</strong> uma nuvem especial que fez todos<br />
tremerem mediante a presença inequívoca <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Antes, um pouco,<br />
da manifestação gloriosa <strong>de</strong> Jeová sobre aquele lugar, Salomão trouxe<br />
à lembrança toda a história do sonho <strong>de</strong> seu pai, o rei Davi. O Senhor<br />
confirmou sua presença com a glória da nuvem que encheu toda a Casa<br />
do Senhor (1 Rs 8.10) e os sacerdotes não podiam manter-se em pé<br />
para ministrar por causa da glória <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> naquele lugar (1 Rs 8.20).<br />
Salomão orou a <strong>Deus</strong> diante do altar do Senhor e interce<strong>de</strong>u pelo povo<br />
e pela paz e justiça. Depois abençoou o povo, que ofereceu sacrifícios<br />
perante a face do Senhor (1 Rs 8.62-64).<br />
SALOMÃO, VENCIDO PELA ARROGÂNCIA<br />
Salomão começou com humilda<strong>de</strong> e <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, mas o<br />
sucesso <strong>de</strong> seu reino e a admiração dos reinos adjacentes o fez per<strong>de</strong>r<br />
a visão <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> e a auto<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> sua inteligência. O cuidado que<br />
<strong>de</strong>veria ter em não fazer alianças que trouxessem maus costumes e<br />
idolatria para o meio do povo foi abandonado por Salomão. Para obter<br />
lucro com as outras nações, ele começou a fazer alianças e trazer para o<br />
seu harém muitas mulheres estrangeiras. No capítulo 9 (1 Reis), <strong>Deus</strong><br />
fez várias advertências quanto à obediência à sua Palavra, tanto para<br />
o povo quanto para o rei. Salomão se <strong>de</strong>ixou influenciar por pessoas<br />
nas alianças políticas que fez com várias nações. Para tanto, fez do<br />
casamento com mulheres <strong>de</strong>sses reinos a ferramenta diplomática para<br />
obter concessões. Naquele tempo, os povos <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s-estado, tribos<br />
ou nações faziam alianças e selavam essas alianças políticas dando em<br />
casamento uma filha, ou um filho para efetivarem alguma aliança.<br />
Salomão per<strong>de</strong>u o senso <strong>de</strong> servo <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> para os interesses do seu povo<br />
e teve muitos casamentos (1 Rs 11.2). Esses casamentos mistos trouxeram<br />
para <strong>de</strong>ntro do palácio <strong>de</strong> Salomão muitos costumes estranhos<br />
147
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
aos princípios morais e éticos do povo <strong>de</strong> Israel, além <strong>de</strong> induzirem<br />
Salomáo à idolatria e à libertinagem.<br />
Dominado pelo espírito sensual, as muitas esposas e concubinas em<br />
seu harém perverteram o seu coração, e Salomáo passou a fazer tudo o que<br />
elas <strong>de</strong>sejavam. Porém, o pior <strong>de</strong> tudo isso foi a perversão do seu coração<br />
para outros <strong>de</strong>uses, que o levaram a oferecer sacrifícios e cultos a <strong>de</strong>uses<br />
como Moloque, Milcom e Astarote, permitindo que se fizessem altares a<br />
esses <strong>de</strong>uses (1 Rs 11.5-7). Quando o homem per<strong>de</strong> o domínio do Espírito<br />
na sua vida, torna-se presa fácil do pecado. A apostasia <strong>de</strong> Salomão o<br />
fez se esquecer da fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu pai ao <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> Israel. Mesmo tendo<br />
conhecido a misericórdia divina para com a sua vida e ter sido abençoado<br />
em seu reino, Salomão per<strong>de</strong>u-se ao final <strong>de</strong> sua vida. Ele não soube se<br />
manter fiel ao Senhor. Mas a ira <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> contra Salomão foi o seu esquecimento<br />
das vezes que em que se revelara a ele <strong>de</strong> modo especial. Por<br />
causa do seu pecado <strong>de</strong> abandono ao Senhor, seu reino, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 40 anos,<br />
começaria a ruir. Seus filhos o suce<strong>de</strong>ram e não foram melhores que ele.<br />
Os adversários perceberam o enfraquecimento do reino <strong>de</strong> Salomáo, e não<br />
<strong>de</strong>morou muito tempo para que invadissem a terra <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> e fizessem <strong>de</strong><br />
Israel escravo <strong>de</strong> outros reis. Logo <strong>de</strong>pois da morte <strong>de</strong> Salomão, o reino foi<br />
invadido e saqueado <strong>de</strong> suas riquezas. Em 1 Reis 11.41-43 temos o relato<br />
da morte <strong>de</strong> Salomáo, que acabou vencido por sua displicência espiritual.<br />
CONCLUSÃO<br />
A lição maior que apren<strong>de</strong>mos com Salomão é o fato <strong>de</strong> que não basta<br />
começarmos bem, mas precisamos terminar bem. Salomão ignorou as<br />
advertências <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> e não soube guardar a palavra <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> em seu<br />
coração, antes se <strong>de</strong>ixou perverter por uma vida libertina. As consequências<br />
seriam inevitáveis. Salomão não soube, ao final <strong>de</strong> sua vida,<br />
manter sua fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> aos ditames <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Por isso, para que a glória<br />
<strong>de</strong> <strong>Deus</strong> seja mantida na nossa vida, <strong>de</strong>vemos correspon<strong>de</strong>r à expectativa<br />
divina, sendo fiéis ao Senhor. A superação <strong>de</strong> crises morais e espirituais<br />
é efetivada quando mantemos nossa adoração e fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> ao Senhor.<br />
O sábio não é aquele que sabe mais do que os outros;<br />
é aquele que <strong>de</strong>scobre em <strong>Deus</strong> a fonte da sabedoria.<br />
148
Capítulo 13<br />
PAULO: TUDO POSSO<br />
NAQUELE QUE ME FORTALECE<br />
Posso todas as coisas naquele que me fortalece.<br />
—Filipenses 4.13<br />
Quando Paulo escreveu aos filipenses, estava <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma prisão em<br />
Roma. N a realida<strong>de</strong>, Filipos foi a cida<strong>de</strong> na qual ele formou a primeira<br />
congregação <strong>de</strong> cristãos na Europa (At 16.11; Fp 4.15). Foi uma igreja<br />
formada, na sua maioria, por gentios e com alguns ju<strong>de</strong>us. Ao escrever<br />
essa carta, ele estava num local que tinha a guarda pretoriana que cuidava<br />
<strong>de</strong>le. Com algum tempo, ganhou o respeito dos pretorianos e podia<br />
comunicar-se com eles. Como prisioneiro em Roma, ele aguardava o<br />
tempo em que seria convocado pelo imperador para <strong>de</strong>por sobre suas<br />
ativida<strong>de</strong>s. Foi sua apelação que o levou para Roma. Porém, foi uma<br />
prisão prolongada <strong>de</strong> dois anos que o impedia <strong>de</strong> viajar e manter contato<br />
com as igrejas fundadas por ele.<br />
Entretanto, mesmo estando preso, física e geograficamente, o seu<br />
espírito não estava preso. Pelo contrário, parecia estar presente em cada<br />
uma das igrejas fundadas por ele. Sua mente ativada pelo Espírito Santo o<br />
fazia superar as tristezas da prisão on<strong>de</strong> estava. Quatro das suas epístolas<br />
— Filemom, Colossenses, Efésios e Filipenses — foram escritas na prisão.<br />
Na Carta aos Filipenses, Paulo não per<strong>de</strong> a postura <strong>de</strong> vitorioso, a <strong>de</strong>speito<br />
dos sofrimentos por que passava. Essas cartas foram escritas no período dos<br />
anos 62 e 63 d.C. O conteúdo <strong>de</strong>ssa carta aos filipenses era o <strong>de</strong> exortação
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
e gratidão àqueles pelo amor <strong>de</strong>monstrado para com ele no tempo <strong>de</strong> sua<br />
prisão. Especialmente no capítulo 4, o apóstolo Paulo <strong>de</strong>staca o espírito<br />
solidário nas suas necessida<strong>de</strong>s.<br />
Paulo nos dá uma lição <strong>de</strong> como é possível superar as dificulda<strong>de</strong>s, tanto<br />
materiais como as espirituais. Percebe-se que Paulo pressentia o fim do seu<br />
tempo <strong>de</strong> vida, mas ele não tem nenhuma atitu<strong>de</strong> negativa ou pessimista.<br />
Pelo contrário, ele faz afirmações escatológicas e <strong>de</strong>monstra sua disposição<br />
para morrer por Cristo. Mesmo com o pressentimento <strong>de</strong> que podia ser<br />
mais um mártir do cristianismo, ele não se <strong>de</strong>ixava vencer pela solidão,<br />
mas fazia questão <strong>de</strong> afirmar sua alegria pela presença <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> na sua vida.<br />
PAULO, PRISIONEIRO EM ROMA<br />
<strong>Toda</strong> essa história começou em Jerusalém quando a notícia da<br />
chegada <strong>de</strong> Paulo alvoroçou ju<strong>de</strong>us que viviam na Ásia e que o viam<br />
como um antiju<strong>de</strong>u que pregava uma doutrina que se confrontava com<br />
a doutrina judaica (At 21.17). Em Jerusalém, o apóstolo Paulo, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />
ter se encontrado com Tiago, não per<strong>de</strong> tempo e vai para o Templo. No<br />
Templo, ele foi reconhecido e acusado <strong>de</strong> provocador <strong>de</strong> discussões com<br />
a nova doutrina que pregava. O sumo sacerdote Ananias or<strong>de</strong>nou que<br />
o açoitassem e o pren<strong>de</strong>ssem, e o levaram para a fortaleza para não ser<br />
morto pelos opositores (At 21.37). Porém, Paulo pediu ao comandante<br />
que o tinha em guarda e solicitou dizer uma palavra à multidão agitada<br />
contra si. O comandante permitiu e Paulo fez a sua <strong>de</strong>fesa, i<strong>de</strong>ntificando-se<br />
como cidadão romano, mesmo sendo ju<strong>de</strong>u. Foi conduzido ao<br />
Sinédrio que reuniu os sacerdotes para ouvi-lo e julgá-lo das acusações<br />
dos ju<strong>de</strong>us (At 23.1-10). A celeuma aumentou entre os ju<strong>de</strong>us, e Paulo<br />
esteve diante <strong>de</strong> Hero<strong>de</strong>s, rei dos ju<strong>de</strong>us; <strong>de</strong>pois foi levado perante Félix<br />
e o rei Agripa. Festo o interrogou e ficou pasmado com a argúcia <strong>de</strong><br />
palavras <strong>de</strong> Paulo, mas este apelou para César e, por isso, mais tar<strong>de</strong>,<br />
perante Festo, que era o governador da província, e a Agripa, o rei.<br />
PAULO, UM HOMEM LIVRE, MESMO ESTANDO EM PRISÃO<br />
Matthew Henry, em sua Bíblia <strong>de</strong> Estudo, comentou no texto <strong>de</strong> 2<br />
Coríntios 11.23, que diz: “São ministros <strong>de</strong> Cristo? (Falo como fora <strong>de</strong><br />
150
Paulo: Tudo Posso naquEle que me Fortalece<br />
mim.) Eu ainda mais: em trabalhos, muito mais; em açoites, mais do<br />
que eles; em prisões, muito mais; em perigo <strong>de</strong> morte, muitas vezes”. O<br />
comentário diz: “Paulo era mais do que um simples ministro <strong>de</strong> Cristo.<br />
<strong>Deus</strong> o havia contado como fiel e o colocado no ministério”. Diz mais:<br />
“Algemas lhe eram familiares; nunca um notório malfeitor esteve tantas<br />
vezes nas mãos da justiça. A ca<strong>de</strong>ia, o poste <strong>de</strong> açoites e todos os outros<br />
castigos daqueles que são contados entre os piores <strong>de</strong>ntre os homens eram<br />
as coisas com as quais ele estava acostumado”. Paulo <strong>de</strong>senvolveu um<br />
sentimento <strong>de</strong> que, mesmo estando preso, seu espírito continuava livre<br />
para ministrar por meio da palavra escrita o evangelho <strong>de</strong> Cristo.<br />
Paulo era homem como qualquer um <strong>de</strong> nós, que tinha uma personalida<strong>de</strong><br />
forte e <strong>de</strong>monstrava as suas convicções no Cristo Salvador<br />
como objeto principal <strong>de</strong> seu ministério. Com esse objetivo, Paulo <strong>de</strong>monstrava<br />
sua total confiança e esperança para fazer a obra <strong>de</strong> Cristo,<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente das perseguições e prisões. Porém, como homem,<br />
feito <strong>de</strong> carne e osso, Paulo tinha os seus medos e frustrações. A morte<br />
não o assustava, mas ele tinha em sua mente a consciência <strong>de</strong> que, com<br />
a ameaça <strong>de</strong> morte, ele estava pronto para morrer ou viver, porque a<br />
sua esperança na glória eterna era mais forte. Por outro lado, sua fé no<br />
Senhor Jesus era tão forte que o cativeiro vivido por ele não o impe<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> confortar e exortar a igreja em Filipos. Ainda que preso fisicamente,<br />
o seu espírito estava livre. N a Carta aos Efésios, Paulo se apresenta como<br />
“embaixador em ca<strong>de</strong>ias” (E f 6.20). Em síntese, sua mensagem não<br />
estava presa, porque, mesmo estando preso num cubículo em Roma,<br />
sua missão <strong>de</strong> embaixador <strong>de</strong> Cristo era realizada. Ele sabia que o evangelho<br />
<strong>de</strong> Cristo não podia ficar restrito aos ju<strong>de</strong>us. Por isso, o seu afã<br />
missionário o levou à Ásia Menor, à Macedônia, à Europa e a todas as<br />
ilhas daqueles mares, principalmente, os mares Egeu e Mediterrâneo.<br />
Conheci um servo <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Vitória, ES, que estava<br />
preso a um leito <strong>de</strong> dor e sofrimento. Mas ninguém saía do seu quartinho<br />
humil<strong>de</strong> <strong>de</strong> enfermida<strong>de</strong> sem receber uma mensagem profética.<br />
Destemor e Ousadia <strong>de</strong> um Preso em Ca<strong>de</strong>ias<br />
O apóstolo Paulo, pela providência <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, ao chegar a Roma foi<br />
tratado com benevolência, provavelmente, pela intervenção do centu-<br />
151
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
rião, que era o comandante chefe da guarda pretoriana e que passou<br />
a admirá-lo. Em Roma, foi-lhe permitido alugar uma casa pequena<br />
próxima da Guarda Pretoriana, e ele pô<strong>de</strong> viver um pouco mais à vonta<strong>de</strong>,<br />
ainda que tivesse que manter seu punho ligado por uma algema<br />
a um legionário.<br />
Entretanto, mesmo estando algemado e náo po<strong>de</strong>ndo locomover-se<br />
livremente, restrito à noite no cubículo <strong>de</strong> sua prisáo, Paulo tinha seu<br />
espírito livre. Estava preso fisicamente, mas livre espiritualmente.<br />
Ao ter notícias das igrejas que ele plantou, não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> se preocupar<br />
com o estado espiritual <strong>de</strong>ssas igrejas, particularmente, Efeso e Filipos.<br />
Mesmo tendo que ditar suas cartas e epístolas <strong>de</strong> forma audível para um<br />
amanuense diante do soldado que o vigiava, Paulo era ousado com o seu<br />
zelo pela vida espiritual daquelas igrejas. Ele se consi<strong>de</strong>rava “embaixador”<br />
<strong>de</strong>ntro da prisão e não <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> transmitir a Palavra <strong>de</strong> Cristo.<br />
Ele pediu oração à igreja em Efeso por si, mas reafirmava sua liberda<strong>de</strong><br />
para falar a palavra do evangelho. Por isso, mesmo estando preso física<br />
e geograficamente, dizia ter a “boca livre” para falar <strong>de</strong> Cristo (Ef 6.20).<br />
Meu pai, pastor Osmar Cabral, em 1954, um dos pioneiros da obra<br />
pentecostal no Estado <strong>de</strong> Santa Catarina, foi enviado para pastorear<br />
uma recém-formada congregação em Chapecó, SC. Ele foi preso e levou<br />
chibatadas dos policiais da cida<strong>de</strong>, por or<strong>de</strong>m do <strong>de</strong>legado que odiava<br />
os evangélicos, apenas porque era pregador do evangelho. A igreja, com<br />
poucos crentes novos convertidos, pôs-se a orar para que o Senhor o<br />
tirasse da prisão. Dentro da prisão, quando inquirido sobre o que fazia,<br />
meu pai apenas disse ao <strong>de</strong>legado que pregava o evangelho <strong>de</strong> Cristo.<br />
Logo <strong>de</strong>pois foi solto. Os verda<strong>de</strong>iros crentes em Cristo não se intimidam<br />
com as perseguições nem com as ameaças <strong>de</strong> morte.<br />
Alegria pela Fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> dos Filipenses<br />
Paulo escreveu aos filipenses: “Como tenho por justo sentir isto <strong>de</strong><br />
vós todos, porque vos retenho em meu coração, pois todos vós fostes<br />
participantes da minha graça, tanto nas minhas prisões como na minha<br />
<strong>de</strong>fesa e confirmação do evangelho” (Fp 1.7). Paulo agia com gran<strong>de</strong><br />
amor e <strong>de</strong>monstrava isso aos filipenses. Um lí<strong>de</strong>r verda<strong>de</strong>iro, chamado por<br />
<strong>Deus</strong> para pastorear, é aquele que sabe amar e sabe <strong>de</strong>monstrar gratidão.<br />
152
Paulo: Tudo Posso naquEle que me Fortalece<br />
Depois <strong>de</strong> expressar sua alegria pelos cristãos em Filipos, Paulo<br />
<strong>de</strong>clarou àqueles irmãos que se lembrava <strong>de</strong>les sempre em oração, valorizando<br />
a história da formação daquela igreja. Ele <strong>de</strong>monstra sua alegria<br />
pelo testemunho da fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> dos filipenses que não temiam <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<br />
e confirmar todos os que receberam a Cristo por Senhor e Salvador.<br />
Mesmo estando prisioneiro, não se <strong>de</strong>ixou amargurar por nada. Antes,<br />
ele regozijava diante <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> porque os filipenses participavam da sua<br />
vida <strong>de</strong> modo especial, sofrendo com ele. Por isso, tinha-os com gran<strong>de</strong><br />
afeição no seu coração.<br />
Nos tempos mo<strong>de</strong>rnos, nos <strong>de</strong>paramos com pretensas teologias, que<br />
são distorcidas da autêntica e genuína teologia neotestamentária. Essas<br />
novas “teologias” não admitem a realida<strong>de</strong> do sofrimento na experiência<br />
cristã, nem a fome, nem a nu<strong>de</strong>z que os nossos pioneiros enfrentaram.<br />
Entretanto, Paulo tinha em seu corpo as marcas dos açoites que <strong>de</strong>ixaram<br />
vergas em seus lombos; tinha as marcas das correntes que feriram<br />
seus tornozelos e braços nas prisões. Paulo passou por naufrágios,<br />
apedrejamentos e ficou enfermo algumas vezes em suas constantes<br />
viagens missionárias. Tudo isso e muito mais não roubaram a alegria<br />
do Espírito no coração <strong>de</strong> Paulo.<br />
A Alegria que Supera a Adversida<strong>de</strong><br />
A escritura do texto <strong>de</strong> Filipenses 1.12-26 nos mostra que Paulo<br />
coloca a sua missão <strong>de</strong> pregador do evangelho acima <strong>de</strong> qualquer coisa<br />
no mundo. A paixão que o consumia era a pregação do evangelho <strong>de</strong><br />
Cristo e, por essa paixão, ele estava disposto a enfrentar qualquer adversida<strong>de</strong>.<br />
Note isto: ele estava preso em Roma, mas as suas ca<strong>de</strong>ias não o<br />
impediam <strong>de</strong> proclamar o evangelho e <strong>de</strong> se preocupar com as igrejas.<br />
Paulo entendia que nada podia diminuir a fé recebida e que tudo quanto<br />
havia enfrentado em suas viagens missionárias não o impediriam <strong>de</strong><br />
anunciar a Cristo. Nada seria um entrave para o progresso da igreja <strong>de</strong><br />
Cristo na terra. Para ele, o evangelho que pregava era mais po<strong>de</strong>roso<br />
do que ca<strong>de</strong>ias e grilhões, e nenhuma circunstância <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m política,<br />
material, física ou espiritual impediria o testemunho do evangelho. O<br />
testemunho das suas prisões produzia um sentimento <strong>de</strong> vitória nos<br />
cristãos da época, porque nada podia <strong>de</strong>ter o po<strong>de</strong>r do evangelho. Por<br />
153
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
isso, Paulo rejeitava a autopieda<strong>de</strong>. Náo queria que ninguém ficasse com<br />
pena <strong>de</strong>le e per<strong>de</strong>sse o ardor, o foco maior da pessoa <strong>de</strong> Jesus Cristo.<br />
PAULO, SUA ABNEGAÇÃO ANTE 0 SOFRIMENTO<br />
Sua Disposição em Sofrer pelos Cristãos <strong>de</strong> Filipos<br />
“E, ainda que seja oferecido por libação sobre o sacrifício e serviço<br />
da vossa fé, folgo e me regozijo com todos vós” (Fp 2.17). Essa <strong>de</strong>claração<br />
abnegada <strong>de</strong> Paulo <strong>de</strong>veria servir para <strong>de</strong>spertar as consciências da<br />
importância do espírito sacrifical no exercício do ministério cristão. É<br />
lamentável que o mercenarismo, a boa vida e o profissionalismo estejam<br />
tão fortes na vida da igreja mo<strong>de</strong>rna.<br />
Com a <strong>de</strong>claração feita por Paulo da sua abnegação e disposição para<br />
sofrer pela obra <strong>de</strong> Cristo, po<strong>de</strong>mos enten<strong>de</strong>r a figura da “libação sobre<br />
o sacrifício” que estava disposto a fazer. Ele usou a figura dos sacrifícios<br />
no Antigo Testamento, especialmente, as ofertas <strong>de</strong> animais, como: um<br />
cor<strong>de</strong>iro, um carneiro ou um novilho. A libação acompanhava o holocausto<br />
e a oferta pacífica (Nm 15.1-10). Nessa libação, era usado vinho,<br />
ou mesmo “o sangue da vítima”, que era <strong>de</strong>rramado no santuário. Na<br />
verda<strong>de</strong>, Paulo fez uma metáfora do significado <strong>de</strong>sse rito durante os<br />
sacrifícios em Israel para falar que ele mesmo estava disposto a oferecer<br />
sua vida, seu sangue, como oferta perante o Senhor pelo sacrifício e<br />
serviço da fé feito pelos filipenses. A obra do evangelho realizada pelos<br />
nossos pioneiros requerida <strong>de</strong>les esse espírito sacrifical, e muitos <strong>de</strong>les<br />
<strong>de</strong>ram suas vidas pelo Senhor. O serviço do evangelho tem sido mercantilizado<br />
e pouca gente está disposta a dar a sua vida pelo Senhor.<br />
Paulo Lembra o Esforço <strong>de</strong> um Obreiro Fiel Chamado Epafrodito<br />
Indiscutivelmente, Epafrodito foi um cristão exemplar. Era leal<br />
com Paulo e com os irmãos da igreja. Paulo o tratou como “um companheiro<br />
<strong>de</strong> milícia” que não restringia-se em servir a igreja <strong>de</strong> Cristo.<br />
Paulo lembra esse servo fiel aos filipenses (Fp 2.25), e carinhosamente<br />
o chama “Epafrodito, meu irmão”, porque era como se tivesse o seu<br />
próprio sangue nas veias. A fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> a <strong>Deus</strong> e a sua lealda<strong>de</strong> ao amigo<br />
154
Paulo: Tudo Posso naquEle que me Fortalece<br />
Paulo o tornaram um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> crente e <strong>de</strong> servidor na obra <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>.<br />
Estava sempre pronto a servir, mesmo correndo riscos <strong>de</strong> vida (Fp<br />
2.30). Ele foi portador <strong>de</strong> uma oferta da igreja <strong>de</strong> Filipos para ajudar<br />
as <strong>de</strong>spesas pessoais do velho apóstolo. Foi, também, portador <strong>de</strong> uma<br />
carta <strong>de</strong> Paulo à igreja <strong>de</strong> Filipos quando voltou <strong>de</strong> Roma para Filipos.<br />
Paulo dizia-se confortado por esse servo <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> quando passava por<br />
alguma <strong>de</strong>pressão e tristeza em momentos <strong>de</strong> solidão. Quando chegou<br />
a Roma, Epafrodito estava enfermo, mas não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> cumprir seu<br />
compromisso <strong>de</strong> levar a oferta da igreja para Paulo e <strong>de</strong> confortá-lo com<br />
as notícias dos irmãos filipenses. Ainda hoje <strong>Deus</strong> levanta gente do tipo<br />
Epafrodito para ajudar os seus lí<strong>de</strong>res na igreja.<br />
Paulo Faz Advertências contra um Grupo Judaizante no Seio da Igreja<br />
A semelhança dos tempos atuais, quando a igreja é invadida por heresias,<br />
naqueles dias do primeiro século da Era Cristã, as igrejas estavam sendo<br />
invadidas por falsos pregadores com a introdução <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias gnosticistas.<br />
Estava havendo, também, o ataque intelectual <strong>de</strong> ju<strong>de</strong>us que se diziam<br />
convertidos a Cristo, mas não se <strong>de</strong>svencilhavam <strong>de</strong> crenças adotadas<br />
por um judaísmo gnosticista que negava o evangelho que Paulo pregava.<br />
Eram falsos mestres que se apresentavam como apóstolos, mas torciam a<br />
mensagem apostólica. Alguns <strong>de</strong>sses judaizantes queriam impor costumes<br />
e ritos ju<strong>de</strong>us para os cristãos como a circuncisão, a guarda do sábado, a<br />
dieta <strong>de</strong> alguns alimentos como forma <strong>de</strong> receberem a salvação plena em<br />
Cristo. Ainda em nossos tempos, nos <strong>de</strong>paramos no meio cristão com<br />
pastores que se dizem evangélicos fazendo cultos com ritos e costumes<br />
judaicos, como se a igreja fosse alguma sinagoga. A liturgia da igreja tem<br />
sua base na morte vicária <strong>de</strong> Cristo e na sua ressurreição. Por isso, nossa<br />
adoração difere da adoração dos ju<strong>de</strong>us. O sistema judaico tem a sua<br />
importância histórica e escatológica, mas a igreja é a reunião <strong>de</strong> ju<strong>de</strong>us e<br />
gentios formando um só povo (1 Pe 2.6-10) para servir ao Senhor Jesus.<br />
PAULO ENSINA A VIVER COM EQUILÍBRIO<br />
Ser cristão não significa viver numa corda bamba ou ter que ser<br />
equilibrista. Ser cristão implica agir com atitu<strong>de</strong> firme e convicta<br />
155
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
acerca da sua fé. Deve saber o que crê sem se <strong>de</strong>ixar influenciar pelas<br />
novida<strong>de</strong>s que não possuem respaldo bíblico. No capítulo 4 da Carta<br />
aos Filipenses, o apóstolo Paulo faz várias exortações à igreja <strong>de</strong> Filipos<br />
acerca <strong>de</strong> algumas distorções doutrinárias que estavam comprometendo<br />
a doutrina cristã e afetando a vida cotidiana da igreja, além <strong>de</strong> produzir<br />
dissensões e <strong>de</strong>sarmonia entre os irmãos. Eram problemas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m<br />
social e também doutrinária.<br />
Paulo Exorta à Firmeza Espiritual<br />
Paulo escreveu à igreja: “Portanto, meus amados e mui queridos irmãos,<br />
minha alegria e coroa, estai assim firmes no Senhor, amados” (Fp 4.1).<br />
Quando Paulo começa com a palavra “portanto”, ele a dizia <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter<br />
exortado acerca dos “inimigos da cruz <strong>de</strong> Cristo” (Fp 3.18). Quem eram eles?<br />
Referia-se aos falsos obreiros que se introduziam no seio da igreja torcendo<br />
a doutrina cristã ensinada por Paulo e que promoviam dissensões entre os<br />
irmãos. Esses “inimigos da cruz <strong>de</strong> Cristo” <strong>de</strong>veriam ser <strong>de</strong>sarticulados e<br />
expostos como falsos obreiros. Ora, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>ssas exortações, Paulo, mais<br />
uma vez, exorta os filipenses, porém <strong>de</strong> forma apelativa, quando diz: “estai<br />
assim firmes no Senhor”. Era, <strong>de</strong> fato, uma necessida<strong>de</strong> imperiosa na vida<br />
dos crentes a firmeza espiritual. Essas distorções vinham, especialmente, <strong>de</strong><br />
um grupo judaizante que apresentava falsos mestres que negavam valores<br />
doutrinários da doutrina <strong>de</strong> Cristo e influenciavam os cristãos quanto à sua<br />
fé. A igreja não podia ce<strong>de</strong>r aos falsos mestres que provocavam <strong>de</strong>savenças<br />
internas e dúvidas na mente dos crentes. A igreja <strong>de</strong>ve permanecer firme no<br />
Senhor, porque as coisas <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> são mais preciosas que as coisas terrenas.<br />
As convicções da obra re<strong>de</strong>ntora por meio da cruz <strong>de</strong> Cristo <strong>de</strong>veriam ser<br />
mais fortes que os conceitos <strong>de</strong>sse grupo que se constitui, inegavelmente,<br />
em inimigos da cruz <strong>de</strong> Cristo. Mas Paulo exorta à firmeza na fé que produz<br />
a alegria, diferente da alegria do mundo, porque a alegria do Senhor<br />
produz força para a superação <strong>de</strong> todos os problemas e crises.<br />
Paulo Adverte os Filipenses contra a Desarmonia entre si<br />
N a história da igreja ao longo do tempo, as mulheres sempre estiveram<br />
presentes em maioria. Naturalmente, naqueles primeiros tempos<br />
156
Paulo: Tudo Posso naquEle que me Fortalece<br />
da igreja, a sensibilida<strong>de</strong> das mulheres as atraiu para a mensagem<br />
cristã. N a igreja em Filipos, Paulo teve notícias <strong>de</strong> que estava havendo<br />
um conflito <strong>de</strong> opiniões e sentimentos diferentes entre duas mulheres<br />
especiais, Evódia e Síntique. Essas duas mulheres muito fizeram pela<br />
igreja nos seus primórdios, porém, naqueles dias, estava havendo esse<br />
conflito produzindo <strong>de</strong>sarmonia na li<strong>de</strong>rança da igreja. Tudo indica<br />
que essas mulheres exerciam certa li<strong>de</strong>rança muito útil na igreja, mas<br />
que, ao entrar em conflito <strong>de</strong> opiniões, provocaram um mal-estar geral<br />
na igreja. Evódia e Síntique discutiam constantemente acerca <strong>de</strong> coisas<br />
da vida eclesiástica e não conseguiam ter um mesmo parecer. Em outra<br />
ocasião, o apóstolo Paulo disse à igreja em Corinto: “que digais todos<br />
uma mesma coisa e que não haja entre vós dissensões; antes, sejais<br />
unidos, em um mesmo sentido e em um mesmo parecer” (1 Co 1.10).<br />
Sem dúvida, <strong>de</strong>ixaram a direção do Espírito em suas vidas e permitiram<br />
que a força da carne predominasse suas mentes, e, com isso, a igreja<br />
estava dividida. Paulo roga às duas mulheres que mudassem <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>,<br />
pois elas estavam promovendo a divisão e quebrando a autorida<strong>de</strong><br />
apostólica. As crises provocadas por conflitos no seio da igreja <strong>de</strong>vem<br />
exigir do pastor a habilida<strong>de</strong> pastoral que Paulo teve, mesmo estando<br />
distante daquela cida<strong>de</strong>. Paulo, então, exorta com ternura e atribui sua<br />
exortação ao Senhor da Igreja, Cristo Jesus.<br />
Paulo Lembra Clemente, um Fiel Servidor<br />
No contexto <strong>de</strong> exortações feitas às duas mulheres e à igreja em Filipos<br />
no capítulo 4, Paulo lembra um homem especial chamado Clemente,<br />
pessoa que se <strong>de</strong>stacava pela <strong>de</strong>dicação à obra do evangelho na cida<strong>de</strong><br />
(Fp 4.3). N a história da igreja surgiram alguns Clementes e se atribui<br />
ao Clemente <strong>de</strong> Filipos a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser um dos eminentes “pais da<br />
igreja”. Entretanto, não se po<strong>de</strong> provar que seja ele o eminente Clemente<br />
da história dos pais da igreja. O que importa é que Paulo cita o seu nome<br />
como alguém comprometido com o evangelho e com a preservação da<br />
unida<strong>de</strong> da igreja on<strong>de</strong> servia como obreiro zeloso e <strong>de</strong>dicado.<br />
157
0 <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> <strong>Toda</strong> Provisão<br />
O Controle da Mente para a Superação <strong>de</strong> Crises<br />
O apóstolo Paulo apren<strong>de</strong>u em toda a história da sua vida que a<br />
superação <strong>de</strong> crises em quaisquer campos da vida pessoal precisa da<br />
ajuda do Espírito para controlar a mente. Nesse sentido, ele <strong>de</strong>stacou<br />
algumas verda<strong>de</strong>s que <strong>de</strong>vem permear a nossa mente. Há um trabalho<br />
duplo: do Espírito Santo e do próprio crente. Para esse trabalho, ele<br />
escreveu: “Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verda<strong>de</strong>iro, tudo o que<br />
é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável,<br />
tudo o que é <strong>de</strong> boa fama, se há alguma virtu<strong>de</strong>, e se há algum louvor,<br />
nisso pensai” (Fp 4.8). Nessa escritura paulina, não há nenhuma i<strong>de</strong>ia<br />
sobre “o po<strong>de</strong>r da mente”, mas ele mostra que o que prevalece é a mente<br />
<strong>de</strong> Cristo. Paulo escreveu aos corintos e disse-lhes: “[...] Mas nós temos<br />
a mente <strong>de</strong> Cristo” (1 Co 2.16). E preciso esvaziar a mente <strong>de</strong> coisas<br />
fúteis e enchê-la com pensamentos que se harmonizem com o evangelho.<br />
Paulo Mostra o Segredo da Vitória sobre as Crises<br />
O apóstolo Paulo, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> oferecer à igreja um chá amargo,<br />
oferece, logo <strong>de</strong>pois, algo mais doce para aliviar a pressão provocada<br />
por algumas crises internas. No texto <strong>de</strong> Filipenses 4.10-13, Paulo<br />
não lhes passa uma reprimenda, mas recomenda “mo<strong>de</strong>ração” como<br />
atitu<strong>de</strong> capaz <strong>de</strong> evitar dissensões e porfias como estava acontecendo<br />
com Evódia e Síntique (Fp 4.2,3). A mo<strong>de</strong>ração é uma qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
equilíbrio que <strong>de</strong>sfaz o tumulto, a murmuração. Paulo queria a concórdia<br />
e a união <strong>de</strong> todos os cristãos <strong>de</strong> Filipos. Ora, além do conflito<br />
interno em termos <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança provocado por Evódia e Síntique, ainda<br />
enfrentavam o ataque contra a doutrina recebida no início da fé. Paulo<br />
sabia que algumas coisas negativas como exasperação ante os problemas<br />
sociais e a ansieda<strong>de</strong> não são atitu<strong>de</strong>s próprias <strong>de</strong> pessoas que vivem<br />
em Cristo Jesus. Por isso, ele disse: “Não estejais inquietos por coisa<br />
alguma; antes, as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante <strong>de</strong><br />
<strong>Deus</strong>, pela oração e suplicas, com ação <strong>de</strong> graças” (Fp 4.6). Portanto,<br />
o equilíbrio mental e espiritual para pensar e agir na vida cristã requer<br />
concentração no exemplo <strong>de</strong> Cristo Jesus. Coração e mente precisam<br />
estar conectados em Cristo Jesus.<br />
158
Paulo: Tudo Posso naquEle que me Fortalece<br />
Em toda Crise É o Senhor quem nos Socorre<br />
E interessante perceber que, em nenhuma outra carta, Paulo permite<br />
um olhar sobre a sua personalida<strong>de</strong>, seus sentimentos. Ele expressa suas<br />
convicções, sua esperança e confiança, mas revela, também, seus medos<br />
e frustrações. Ao mesmo tempo em que <strong>de</strong>clara que já apren<strong>de</strong>ra a contentar-se<br />
sob quaisquer circunstâncias, na abundância e nas necessida<strong>de</strong>s,<br />
na fome e na fartura, tendo tudo e não tendo nada, ele sentia-se capaz<br />
<strong>de</strong> superar essas dificulda<strong>de</strong>s porque Cristo o fortalecia. Aos corintos,<br />
Paulo também falou do seu aprendizado na obra do ministério, e diz:<br />
“Até esta presente hora, sofremos fome e se<strong>de</strong>, e estamos nus, e recebemos<br />
bofetadas, e não temos pousada certa, e nos afadigamos, trabalhando com<br />
nossas próprias mãos; somos injuriados e bendizemos; somos perseguidos<br />
e sofremos; somos blasfemados e rogamos; até ao presente, temos chegado<br />
a ser como o lixo <strong>de</strong>ste mundo e como escória <strong>de</strong> todos” (1 Co 4.11-13).<br />
Quando Paulo diz que “tudo posso naquele que me fortalece” (Fp<br />
4.13, ARA), estava, <strong>de</strong> fato, expondo seu sentimento <strong>de</strong> que po<strong>de</strong>ria ser<br />
sacrificado em um tipo <strong>de</strong> morte provocada por sua prisão, mas entendia<br />
que tudo isso contribuía para a proclamação do evangelho. Por algum<br />
instante, ele vê na possibilida<strong>de</strong> da sua morte o futuro que lhe reserva<br />
<strong>de</strong> esperança e confiança no Cristo que lhe garante a vida eterna. Mas,<br />
entre morrer e viver, Paulo escolhe a vida para po<strong>de</strong>r continuar a pregar<br />
o evangelho. Essa possibilida<strong>de</strong> produzia em seu coração a alegria<br />
produzida pelo Espírito Santo, que o tornava capaz <strong>de</strong> superar toda e<br />
qualquer crise. Estando na penúria, ele não se sentia pobre, e estando com<br />
abundância, ele usa o que <strong>Deus</strong> lhe <strong>de</strong>u para fazer a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>.<br />
Enfim, apren<strong>de</strong>mos com Paulo que o contentamento (Fp 4.11) da sua<br />
alma era gerado pela suficiência <strong>de</strong> Cristo em todas as circunstâncias.<br />
Apren<strong>de</strong>r a viver contente implica uma disposição para aceitar que <strong>Deus</strong><br />
cuida <strong>de</strong> nós em meio às situações mais angustiantes. Apren<strong>de</strong>mos,<br />
também, que <strong>de</strong>vemos submeter nossa mente a Cristo e ter nossos<br />
pensamentos controlados pelo Espírito Santo. Nunca seremos autossuficientes,<br />
mas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>remos dEle sempre.<br />
N a vida cristã, o contentamento gerado pelo Espírito Santo<br />
torna o crente capaz <strong>de</strong> superar quaisquer crises.<br />
159
0 <strong>Deus</strong><br />
Provisão<br />
Não há crise em que <strong>Deus</strong> não possa interferir<br />
e mudar a situação! Ele é o <strong>Deus</strong> <strong>de</strong> toda provisão.<br />
A Bíblia narra histórias <strong>de</strong> homens e mulheres que enfrentaram<br />
crises físicas, materiais, morais e espirituais, porém foram<br />
alcançados pela providência divina, que interferiu nessas situações<br />
e as transformou em vitórias espirituais.<br />
Ao longo dos 13 capítulos <strong>de</strong>ste livro, o pastor Elienai Cabral aborda<br />
alguns <strong>de</strong>sses relatos e traz um estudo completo que tem como<br />
objetivo levar o leitor a um novo nível <strong>de</strong> fé e lhe dar a certeza<br />
<strong>de</strong> que, mesmo em um mundo em crise, há um <strong>Deus</strong> que age<br />
po<strong>de</strong>rosamente. Mas precisamos, <strong>de</strong> fato, saber quem Ele é e como<br />
age em nosso mundo.<br />
ELIENAI CABRAL é pastor, escritor, conferencista e<br />
articulista. Atualmente é lí<strong>de</strong>r da Assembleia <strong>de</strong> <strong>Deus</strong><br />
em Sobradinho-DF e presi<strong>de</strong>nte da Convenção das<br />
Assembleias <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> do Distrito Fe<strong>de</strong>ral (CEADDIF). É<br />
também autor <strong>de</strong> vários livros publicados pela CPAD, entre<br />
eles, Integrida<strong>de</strong> Moral e Espiritual, Filipenses, A Defesa do<br />
Apostolado <strong>de</strong> Paulo, Romanos e O Pregador Eficaz.<br />
ISBN 978-85-263-1390-3<br />
9 788526 313903