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MacIntyre, então, traz à tona para a discussão da phrónesis um dado
que é muitas vezes desconsiderado em sua importância no operar da ação
moral: o noûs.
Aristóteles chamava o método de ir de um grupo de particulares a um
universal, ao conceito da forma que esses particulares, em graus diferentes,
exemplificam, de epagogé. (…) É o método científico através do
qual as exemplificações particulares, impuras ou distorcidas de uma única
forma podem ser compreendidas em termos daquela forma – assim como
exemplos impuros de carbono podem ser compreendidos pelos químicos
como exemplificando a estrutura atômica singular que torna cada um deles
um exemplo de “carbono” –, de modo que o conceito daquela estrutura
ofereça – dentro da teoria atômica e molecular – a arché tanto para sua
classificação como para sua explicação. Aristóteles chama de noûs o modo
de apreensão no qual a mente capta tal arché 18 .
Mas o noûs apreende as archái, os primeiros conceitos e princípios,
também através do confronto dialético.
Quando alguém propõe que a arché de alguma ciência particular ou de
algum tipo particular de atividade é tal, ou quando há debate envolvendo
várias propostas conflitantes desse tipo é através de um outro tipo de argumentação
dialética que se chegará a uma conclusão quanto a qual é a
arché (…). E aí novamente é o noûs que atinge a conclusão. Noûs, isto é,
o exercício de uma capacidade de compreender o que é a conclusão de
um modo não-demonstrativo de argumentação e pesquisa 19 .
Assim, é o noûs que fornece as premissas, as archái para o argumento
e o agir. Segundo MacIntyre,
essas archái, se formuladas corretamente, nos fornecerão os primeiros
princípios para a explicação de como e porque os projetos e atividades
humanas são melhores ou piores para alcançar os bens que lhes oferecem
seu télos, e só serão capazes de fazê-lo com precisão através da formulação
de uma compreensão desses bens e de seu lugar ou de sua relação com
o bom e o melhor 20 .
Nesse sentido, as archái fornecerão o télos para as ações dos seres
humanos, a visão dos fins das ações, ou seja, a premissa maior última do
raciocínio prático: “Inferências dedutivas sobre o que deve ser feito têm como
265
Helder Buenos Aires de Carvalho
18
A. Justiça de Quem? Qual racionalidade? Trad. Marcelo Pimenta. São Paulo, Loyola,
p. 104-105. MacINTYRE, A. 1991. Op. cit., p.104.
19
Ibid., p. 104-105.
20
Ibid., p.106.
HYPNOS, São Paulo, número 27, 2º semestre 2011, p. 260-283