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walves,+Hypnos27_artigo6

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MacIntyre, então, traz à tona para a discussão da phrónesis um dado

que é muitas vezes desconsiderado em sua importância no operar da ação

moral: o noûs.

Aristóteles chamava o método de ir de um grupo de particulares a um

universal, ao conceito da forma que esses particulares, em graus diferentes,

exemplificam, de epagogé. (…) É o método científico através do

qual as exemplificações particulares, impuras ou distorcidas de uma única

forma podem ser compreendidas em termos daquela forma – assim como

exemplos impuros de carbono podem ser compreendidos pelos químicos

como exemplificando a estrutura atômica singular que torna cada um deles

um exemplo de “carbono” –, de modo que o conceito daquela estrutura

ofereça – dentro da teoria atômica e molecular – a arché tanto para sua

classificação como para sua explicação. Aristóteles chama de noûs o modo

de apreensão no qual a mente capta tal arché 18 .

Mas o noûs apreende as archái, os primeiros conceitos e princípios,

também através do confronto dialético.

Quando alguém propõe que a arché de alguma ciência particular ou de

algum tipo particular de atividade é tal, ou quando há debate envolvendo

várias propostas conflitantes desse tipo é através de um outro tipo de argumentação

dialética que se chegará a uma conclusão quanto a qual é a

arché (…). E aí novamente é o noûs que atinge a conclusão. Noûs, isto é,

o exercício de uma capacidade de compreender o que é a conclusão de

um modo não-demonstrativo de argumentação e pesquisa 19 .

Assim, é o noûs que fornece as premissas, as archái para o argumento

e o agir. Segundo MacIntyre,

essas archái, se formuladas corretamente, nos fornecerão os primeiros

princípios para a explicação de como e porque os projetos e atividades

humanas são melhores ou piores para alcançar os bens que lhes oferecem

seu télos, e só serão capazes de fazê-lo com precisão através da formulação

de uma compreensão desses bens e de seu lugar ou de sua relação com

o bom e o melhor 20 .

Nesse sentido, as archái fornecerão o télos para as ações dos seres

humanos, a visão dos fins das ações, ou seja, a premissa maior última do

raciocínio prático: “Inferências dedutivas sobre o que deve ser feito têm como

265

Helder Buenos Aires de Carvalho

18

A. Justiça de Quem? Qual racionalidade? Trad. Marcelo Pimenta. São Paulo, Loyola,

p. 104-105. MacINTYRE, A. 1991. Op. cit., p.104.

19

Ibid., p. 104-105.

20

Ibid., p.106.

HYPNOS, São Paulo, número 27, 2º semestre 2011, p. 260-283

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