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Dicionário Sefaradi de Sobrenomes - Arquivo Histórico Judaico ...

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Minhas Memórias <strong>de</strong> um Mundo Perdido<br />

Daniel Henriques da Silva<br />

Meu avô paterno, Arnaldo Estrela Henriques da<br />

Silva (veja a Genealogia da família Estrela, no nº<br />

anterior <strong>de</strong> Gerações/Brasil )<br />

Não me lembro bem <strong>de</strong> quem <strong>de</strong>u a notícia. Jantávamos, nesse<br />

dia, nove <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> mil novecentos e cinquenta e quatro, em casa<br />

<strong>de</strong> uns vizinhos nossos amigos. A avó Francelina tinha ficado em<br />

Lisboa para tomar conta <strong>de</strong> nós e do meu pai. Minha mãe fora para a<br />

quinta tratar do avô que se encontrava bastante doente. Ao longo da<br />

vida fizera várias operações e sofria <strong>de</strong> algumas mazelas comuns a<br />

quase todos os membros do nosso clã. Hipertensão arterial, cardiopatia<br />

e diabetes não seriam, <strong>de</strong>certo, estranhas a tanta consanguinida<strong>de</strong> junta.<br />

Por fim, sobreveio-lhe uma trombose, mo<strong>de</strong>rnamente chamada<br />

aci<strong>de</strong>nte vascular cerebral, que o <strong>de</strong>ixou paralisado <strong>de</strong> um braço e <strong>de</strong><br />

uma perna. Se até àquele momento se passeava pela quinta, silencioso<br />

como uma raposa, na bisbilhotice própria <strong>de</strong> quem zela por aquilo que<br />

é seu, passou a fazê-lo como um faraó egípcio, sentado num confortável<br />

ca<strong>de</strong>irão almofadado e levado em ombros por dois robustos trabalhadores<br />

rurais. Escolhia ele os locais da fiscalização, pousavam-no <strong>de</strong><br />

mansinho junto à sombra <strong>de</strong> uma figueira e, mesmo <strong>de</strong> boca torcida<br />

pela fatalida<strong>de</strong>, ditava as suas or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> quem é dono e senhor e não<br />

admite réplica. Apontando o que queria, com a enorme bengala que<br />

20 • GERAÇÕES / BRASIL, Fevereiro 2004, vol. 12<br />

Maria David Eloy<br />

António Henriques da Silva Brites Joaquina Nunes <strong>de</strong> Souza<br />

Felismina Raquel Henriques da Silva<br />

António Estrela Henriques da Silva<br />

C. C.<br />

Guilhermina Amélia Nunes <strong>de</strong> Souza<br />

Miguel António Nunes <strong>de</strong> Souza<br />

C. C.<br />

Ana Emília Pereira da Silva<br />

Laura Glória Estrela 1 Arnaldo Estrela Henriques da Silva<br />

Maria Amélia Henriques da Silva<br />

C. C.<br />

David Francisco Eloy<br />

Henriqueta David Eloy<br />

Dr. António Arnaldo David Estrela<br />

Artur Elias da Costa 2<br />

C. C.<br />

Leonor Salaviza<br />

Maria Raquel Henriques da Silva<br />

C. C.<br />

Francisco da Costa Elias<br />

Carlos Elias da Costa<br />

C. C.<br />

Ilídio Elias da Costa<br />

C. C.<br />

Maria José Henriques da Silva Pessoa<br />

Carlos Elias da Costa<br />

C. C.<br />

Maria Manuela Annes Caro <strong>de</strong> Souza e Melo<br />

Dr. Carlos Manuel <strong>de</strong> Melo Elias da Costa 3<br />

C. C.<br />

Helena Maria Valadares Moreira<br />

1. Frequentou a Sinagoga da Covilhã, Obra <strong>de</strong> Resgate (Capitão. Barros Basto)<br />

2. Capitão do Exército Português. Autor do livro etnográfico “A Covilhã no trabalho”. V. o seu perfil em Gerações/Brasil nº 5, p. 16.<br />

3. Médico. Um dos doze membros do Conselho Executivo que preparou o evento “quinto centenário da expulsão dos ju<strong>de</strong>us <strong>de</strong> Portugal”.<br />

Uma filha vive em Israel.<br />

sempre o acompanhava, assegurava-se que tudo continuava a funcionar<br />

<strong>de</strong> acordo com a sua vonta<strong>de</strong>. Por outro lado, a presença da nora junto<br />

<strong>de</strong>le, único membro da família disponível e por esta altura já muito<br />

amada, representava um conforto suplementar a tanta mordomia.<br />

Mas regressando às lembranças <strong>de</strong>ssa noite, o casal <strong>de</strong> amigos<br />

queria ser gentil para connosco. O convite para jantar era, <strong>de</strong> certa forma,<br />

uma maneira <strong>de</strong> nos distrair pela ausência da mãe. O telefone tocara,<br />

alguém se abeirou do meu pai, segredando qualquer coisa. Fizera-se um<br />

gran<strong>de</strong> e incomodativo silêncio à mesa, troca <strong>de</strong> olhares codificados na<br />

nossa direcção. Ele levantou-se e arrastou-nos consigo para casa,<br />

imediatamente. As sobremesas, intocáveis, ficaram nos pratos. Nada<br />

percebemos do que se estava a passar. Apenas me lembro que naquela<br />

manhã também tinha nevado, o que vinha acontecendo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> alguns dias<br />

atrás. Tínhamos corrido para a janela da cozinha para se ver melhor<br />

aquela poalha branca a <strong>de</strong>positar-se, levemente, farrapo a farrapo, nas<br />

bordas dos muros dos quintais vizinhos, nos parapeitos das janelas.<br />

Espectáculo inusitado para uma cida<strong>de</strong> como Lisboa, no cantinho mais<br />

setentrional da Europa, jardim ver<strong>de</strong> á beira mar plantado. Do alto do<br />

nosso terceiro andar, a visão tinha magia pelo inesperado. Ao longe, as<br />

árvores do Jardim do Torel pareciam <strong>de</strong>dos erguidos ao céu, vestidos <strong>de</strong><br />

luvas brancas e <strong>de</strong> canhão alto. Muito recentemente, e como consequência<br />

das minhas <strong>de</strong>ambulações pela Hemeroteca, recolhi esta notícia<br />

do jornal “Diário <strong>de</strong> Lisboa”, da manhã do dia 3 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 1954:

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