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Dicionário Sefaradi de Sobrenomes - Arquivo Histórico Judaico ...

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comando da SS florentina, cujo apelido era Vila Triste, on<strong>de</strong> eram<br />

enviados os prisioneiros ju<strong>de</strong>us <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> serem capturados na cida<strong>de</strong>.<br />

Com muita coragem, apesar <strong>de</strong> casada com um católico, ela era<br />

judia3 . Marcella dirigiu-se para este local e na secretaria do <strong>de</strong>partamento<br />

policial falou a um funcionário:<br />

Meu nome é Marcella Campagnano<br />

Fici, sou judia, casada com um católico,<br />

acho que <strong>de</strong>vem ter prendido meu irmão,<br />

Aldo Campagnano e gostaria saber on<strong>de</strong><br />

e como fazer para encontrá-lo.<br />

Um dos oficiais, controlando a lista<br />

do dia, respon<strong>de</strong>u:<br />

Sim é verda<strong>de</strong>... a senhora tem muita<br />

coragem sabe?... ele se encontra no<br />

cárcere das Murate ...-<br />

Marcella, sem agra<strong>de</strong>cer ou <strong>de</strong>spedir-se,<br />

saiu correndo em direção do cárcere,<br />

que se encontrava bem longe do lugar<br />

on<strong>de</strong> estava. Conseguiu entrar e finalmente<br />

o viu... viu Aldo e muitos outros,<br />

entre os quais um amigo <strong>de</strong> família,<br />

o advogado Te<strong>de</strong>schi.<br />

Aldo ficou surpreso em vê-la e<br />

caindo em lagrimas lhe disse:<br />

— Foi aquele covar<strong>de</strong> do Novelli...<br />

amigo... que levou a Gestapo ao encontro<br />

que havia marcado comigo com a<br />

<strong>de</strong>sculpa <strong>de</strong> <strong>de</strong>volver o dinheiro que me<br />

<strong>de</strong>via.... — Vamos tomar um cafezinho<br />

junto, tinha-me dito...na Praça Vittorio<br />

Emanuele ... e eu que o conhecia há<br />

tempos, acreditei nele. Quando cheguei,<br />

ele veio ao meu encontro... e <strong>de</strong>pois veio<br />

também um carro da SS italiana. Jogaram-me<br />

no carro, e enquanto perguntava<br />

porque.. porque... tiraram meu relógio e<br />

carteira... Depois vamos <strong>de</strong>volver tudo...<br />

tranqüilo, fique tranqüilo... falaram-me. Um das SS acrescentou....<br />

você possui uma loja <strong>de</strong> alfaiate, não é verda<strong>de</strong>? Deve ter também<br />

tecidos, maquinas... fala on<strong>de</strong> estão e nos te <strong>de</strong>ixaremos ir embora<br />

livre... On<strong>de</strong> esta tudo?<br />

Aldo tinha escondido suas coisas no apartamento da Sra.<br />

Gemma, católica, mãe <strong>de</strong> um cunhado, marido da outra irmã Clara<br />

Campagnano Osella. Teve que dar o en<strong>de</strong>reço e quando chegaram<br />

no local ele falou no interfone com esta senhora dizendo que precisava<br />

da mercadoria, que tinha achado um comprador e subiu rapidamente<br />

no apartamento para pegar tudo o que tinha.<br />

Aldo continuou contando para a irmã:<br />

— Depois que peguei tudo me falaram: vai Campagnano... vai...<br />

está livre... e eu, tremendo, comecei a caminhar... mas logo <strong>de</strong>pois<br />

Mexico colocaram uma arma nas costas.... <strong>de</strong>ram-me uns pontapés e<br />

disseram... você acreditou mesmo que teríamos te <strong>de</strong>ixado livre seu<br />

idiota?.... fizeram-me novamente entrar no carro e me levaram primeiro<br />

para Vila Triste e <strong>de</strong>pois para cá...<br />

Aldo chorando como uma criança, pediu para irmã que o ajudasse...<br />

que o fizesse sair da prisão... Marcella procurou acalmá-lo e<br />

prometeu fazer o possível, prometeu também que um dia <strong>de</strong>pois voltaria,<br />

trazendo roupa para trocar... comida... pois até aquele momento,<br />

ele não tinha comido nada...<br />

Marcella, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter prometido para o irmão que voltaria o dia<br />

seguinte, <strong>de</strong>sesperada, voltou para casa e contou para as duas irmãs,<br />

Clara e Bruna Campagnano Bigazzi (minha mãe). As três pensaram que<br />

Irma e Ermanno, pais <strong>de</strong> Aldo<br />

com algum dinheiro po<strong>de</strong>riam até subornar os guardas para <strong>de</strong>ixar Aldo<br />

fugir.. Um dia <strong>de</strong>pois Marcella voltou a prisão, com as coisas que o<br />

irmão tinha pedido, e também um pouco <strong>de</strong> dinheiro para o guarda...mas<br />

quando chegou não achou mais ninguém... todos tinham sido levados<br />

para a estação ferroviária do Campo <strong>de</strong><br />

Marte para serem <strong>de</strong>portados.<br />

Marcella, arrasada voltou para<br />

casa... já era a hora do almoço quando<br />

alguém tocou a campainha e qual foi a<br />

sua surpresa quando viu que em sua<br />

frente achava-se um guarda-linha da<br />

estação... este, em silencio, entregou para<br />

ela um bilhete <strong>de</strong> Aldo, que já se encontrava<br />

no “carro bestiame” (vagão<br />

para animais), junto com os outros prisioneiros.<br />

No pequeno bilhete estava escrito:<br />

“Querida Marcella, vá na casa <strong>de</strong><br />

dona Maria Birin<strong>de</strong>lli, pegue minha<br />

mala... coloque nela sapatos, um pouco<br />

<strong>de</strong> roupa, cigarros, alguma coisa para<br />

comer... lembre a Luigi (o filho <strong>de</strong> Marcella)<br />

<strong>de</strong> ir a Via <strong>de</strong>l Campanile, na tinturaria,<br />

buscar minhas camisas, roupas....<br />

Estou na estação do Campo di<br />

Marte, partiremos a tar<strong>de</strong>, estou num<br />

vagão para animais.... pergunte para o<br />

guarda-linhas... falea com Bruno (o<br />

marido <strong>de</strong> Marcella) para vir com você<br />

é mais seguro... Traga também uma<br />

garrafa <strong>de</strong> água com um copo..... estou<br />

passando momentos in<strong>de</strong>scritíveis...<br />

paciência... a culpa é minha... vi bacio<br />

e vi saluto tutti... para você um<br />

particular abraço... você foi a irmã que<br />

mais Mexico quis bem, lembranças a<br />

toda a família... aos amigos...<br />

lembranças à família Brin<strong>de</strong>lli ”. Em<br />

um canto do bilhete um pedido: “o advogado Te<strong>de</strong>schi pe<strong>de</strong> para<br />

telefonar na farmácia... diga que parece que vamos a Carpi.....”.<br />

Imediatamente Marcella recolheu tudo o que foi possível, comida,<br />

cobertores, a mala que já estava pronta e, junto com o marido e a<br />

irmã Bruna, dirigiram-se para a estação ferroviária do Campo <strong>de</strong><br />

Marte. Ao chegar, o espetáculo que se abriu a seus olhos foi terrível:<br />

Os vagões do trem, que eram usados normalmente para<br />

transportar animais, estavam cheios <strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong> todas as ida<strong>de</strong>s. Os<br />

vagões estavam fechados e das fendas muitas mãos procuravam<br />

chamar a atenção <strong>de</strong> qualquer um que passasse.... As duas irmãs<br />

ficaram imóveis .... <strong>de</strong>pois escutaram gritos <strong>de</strong> pessoas que as chamavam<br />

que <strong>de</strong>viam conhecê-las, pedindo para avisar os parentes que<br />

estavam sendo levadas embora... alguns dos prisioneiros jogaram as<br />

“tessere per il pane” 4 .... que po<strong>de</strong>riam servir pela família <strong>de</strong> quem foi<br />

preso sozinho... Entre as várias vozes distinguiram a do irmão... foi<br />

questão <strong>de</strong> minutos, <strong>de</strong>pois... O trem iniciou sua viagem.... e os três<br />

tiveram que ir embora, junto com as coisas que tinham levado.<br />

O trem foi para Fossoli (Carpi, Mo<strong>de</strong>na), on<strong>de</strong> havia um campo<br />

que servia para recolher os <strong>de</strong>portados antes da viagem final para os<br />

Lager nazistas. Aldo conseguiu enviar uma carta para irmã, pedindo<br />

<strong>de</strong>sta vez que o cunhado Bruno levasse seus pertences e tudo o que<br />

fosse possível trazer com ele... mas também ele não teve sorte,<br />

chegando a Fossoli, o trem já tinha seguido para seu <strong>de</strong>stino. Bruno<br />

passou a noite em numa pequena pensão on<strong>de</strong>, ao levantar o dia <strong>de</strong>pois,<br />

se <strong>de</strong>u conta que tinham roubado também as malas <strong>de</strong>stinadas ao<br />

cunhado.<br />

9 • GERAÇÕES / BRASIL, Fevereiro 2004, vol. 12

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