Cisto ósseo aneurismático na falange proximal da mão - SPR
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<strong>Cisto</strong> <strong>ósseo</strong> <strong>aneurismático</strong> <strong>na</strong> <strong>falange</strong> <strong>proximal</strong> <strong>da</strong> <strong>mão</strong> / Santos FGPL et al.<br />
<strong>Cisto</strong> <strong>ósseo</strong> <strong>aneurismático</strong> <strong>na</strong> <strong>falange</strong><br />
<strong>proximal</strong> <strong>da</strong> <strong>mão</strong>: relato de caso e revisão<br />
<strong>da</strong> literatura<br />
Frederico Guilherme de Paula Lopes Santos 1 , Fábio Massaaki Suguita 1 , Denise Tokechi Amaral 2 ,<br />
Gustavo Mantovani Ruggiero 3<br />
Descritores:<br />
<strong>Cisto</strong> <strong>ósseo</strong> <strong>aneurismático</strong>; Falange <strong>proximal</strong>;<br />
Tomografia computadoriza<strong>da</strong>; Ressonância<br />
magnética.<br />
Recebido para publicação em 16/1/2008. Aceito,<br />
após revisão, em 14/7/2008.<br />
Trabalho realizado <strong>na</strong> Medimagem – Hospital Beneficência<br />
Portuguesa de São Paulo, São Paulo,<br />
SP.<br />
1<br />
Médicos Residentes <strong>da</strong> Medimagem – Hospital<br />
Beneficência Portuguesa de São Paulo.<br />
2<br />
Doutora em Radiologia pela Universi<strong>da</strong>de Federal<br />
de São Paulo/Escola Paulista de Medici<strong>na</strong> (Unifesp/EPM),<br />
Radiologista <strong>da</strong> Medimagem – Hospital<br />
Beneficência Portuguesa de São Paulo.<br />
3<br />
Ortopedista do Hospital Beneficência Portuguesa<br />
de São Paulo.<br />
Correspondência: Dr. Frederico Guilherme de Paula<br />
Lopes Santos. Rua dos Ingleses, 586/102, Morro<br />
dos Ingleses. São Paulo, SP, 01329-000. E-mail:<br />
fgpls@yahoo.com.br<br />
Relato de Caso<br />
Resumo<br />
O cisto <strong>ósseo</strong> <strong>aneurismático</strong> é uma lesão benig<strong>na</strong> bastante comum caracteriza<strong>da</strong> por ser expansiva,<br />
radioluzente, multilocula<strong>da</strong> e excêntrica, podendo acometer qualquer osso. O presente artigo<br />
relata o caso de uma criança com dor e aumento do volume no quarto dedo <strong>da</strong> <strong>mão</strong> direita há três<br />
sema<strong>na</strong>s, decorrente de um cisto <strong>ósseo</strong> <strong>aneurismático</strong>. Os autores destacam as características<br />
de imagens <strong>na</strong> radiografia, tomografia computadoriza<strong>da</strong> e ressonância magnética, com posterior<br />
correlação cirúrgica.<br />
O cisto <strong>ósseo</strong> <strong>aneurismático</strong> é uma lesão benig<strong>na</strong> não-neoplásica de relativa freqüência,<br />
descrita por Jaffe e Lichtenstein em 1942 [1] . Segundo a Organização Mundial<br />
<strong>da</strong> Saúde, representa lesão com espaços císticos de tamanhos diferentes, repletos<br />
de sangue, separados por septos fibrosos que contêm trabéculas ósseas ou osteóides<br />
e células gigantes osteoblásticas [2] .<br />
A maioria dos cistos <strong>ósseo</strong>s <strong>aneurismático</strong>s (mais de 80%) ocorre entre a primeira<br />
e segun<strong>da</strong> déca<strong>da</strong>s de vi<strong>da</strong> [2] . Acomete ambos os sexos em proporção aproxima<strong>da</strong><br />
de 1:1, com predomínio nos indivíduos de cor branca [1] . Embora qualquer osso possa<br />
ser comprometido, cerca de 70% dos casos ocorrem <strong>na</strong> região metadiafisária dos<br />
ossos longos e elementos posteriores <strong>da</strong> colu<strong>na</strong> vertebral [1,3] .<br />
Os autores descrevem um caso de uma criança com cisto <strong>ósseo</strong> <strong>aneurismático</strong><br />
<strong>na</strong> <strong>falange</strong> <strong>proximal</strong> <strong>da</strong> <strong>mão</strong>, destacando os aspectos de imagem e correlação cirúrgica.<br />
RELATO DO CASO<br />
Paciente com nove anos de i<strong>da</strong>de, sexo masculino, branco, <strong>na</strong>tural e procedente<br />
de São Paulo, SP. Foi atendido pelo Serviço de Ortopedia do Hospital Beneficência<br />
Portuguesa de São Paulo, por apresentar dor intensa e aumento de volume do quarto<br />
dedo <strong>da</strong> <strong>mão</strong> direita, com início há 20 dias. Negava traumas. Ao exame físico havia<br />
uma formação expansiva do quarto dedo direito, sem lesões cutâneas ou si<strong>na</strong>is inflamatórios<br />
(Fig. 1).<br />
O paciente foi inter<strong>na</strong>do para realização de exames complementares e definição<br />
terapêutica. Os seguintes achados foram observados:<br />
Radiografia – Lesão osteolítica insuflativa comprometendo to<strong>da</strong> a <strong>falange</strong> <strong>proximal</strong>,<br />
com relativa preservação <strong>da</strong>s epífises. Havia extensa ruptura <strong>da</strong> cortical e<br />
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Santos FGPL et al. / <strong>Cisto</strong> <strong>ósseo</strong> <strong>aneurismático</strong> <strong>na</strong> <strong>falange</strong> <strong>proximal</strong> <strong>da</strong> <strong>mão</strong><br />
reação periosteal em casca (Fig. 2). Apresentava contornos<br />
regulares bem definidos e sem calcificação de matriz<br />
tumoral.<br />
Tomografia computadoriza<strong>da</strong> (TC) e ressonância<br />
magnética (RM) <strong>da</strong> <strong>mão</strong> direita – O exame de TC foi<br />
realizado em equipamento multislice (16 fileiras de detectores),<br />
possibilitando reformações nos planos coro<strong>na</strong>l<br />
e sagital (Fig. 3) e reconstruções tridimensio<strong>na</strong>is<br />
(Figs. 4 e 5).<br />
Nos exames de RM foram realiza<strong>da</strong>s seqüências fast<br />
spin echo (FSE) com cortes multipla<strong>na</strong>res de 2 e 3 mm<br />
de espessura (Figs. 6 e 7). Observou-se formação expansiva,<br />
de aspecto insuflativo, comprometendo praticamente<br />
to<strong>da</strong> a <strong>falange</strong> <strong>proximal</strong> do quarto dedo direito,<br />
preservando as epífises. Havia loculações inter<strong>na</strong>s, níveis<br />
líquido-líquido (Fig. 6), com 2,5 × 1,2 × 1,3 cm. A<br />
formação observa<strong>da</strong> apresentava si<strong>na</strong>l intermediário em<br />
T1, hipersi<strong>na</strong>l em T2 e realce periférico pós-contraste<br />
(Fig. 7), extensa erosão <strong>da</strong> cortical óssea, sem comprometimento<br />
articular.<br />
Fig. 1 – Aumento de volume <strong>na</strong> altura <strong>da</strong> <strong>falange</strong> <strong>proximal</strong> do quarto<br />
dedo, sem si<strong>na</strong>is flogísticos.<br />
A B<br />
Fig. 2 – Radiografia do quarto dedo, incidências frente (A) e oblíqua<br />
(B). Lesão osteolítica insuflativa comprometendo to<strong>da</strong> a <strong>falange</strong> <strong>proximal</strong>,<br />
com relativa preservação <strong>da</strong>s epífises, extensa ruptura cortical<br />
e reação periosteal em casca.<br />
72<br />
A B<br />
Fig. 3 – TC com reconstrução nos planos coro<strong>na</strong>l (A) e sagital (B).<br />
Lesão osteolítica comprometendo praticamente to<strong>da</strong> a <strong>falange</strong> <strong>proximal</strong>,<br />
com ruptura <strong>da</strong> cortical, aumento volumétrico e reação periosteal<br />
em casca, sem calcificação de matriz tumoral.<br />
Fig. 4 – TC em equipamento multislice. Reconstrução tridimensio<strong>na</strong>l<br />
<strong>da</strong> superfície <strong>da</strong> <strong>mão</strong> evidencia o aumento volumétrico do quarto<br />
dedo, <strong>na</strong> altura <strong>da</strong> <strong>falange</strong> <strong>proximal</strong>.<br />
A B<br />
Fig. 5 – TC com reconstrução tridimensio<strong>na</strong>l <strong>na</strong>s incidências sagital<br />
(A) e coro<strong>na</strong>l (B). Extensa lesão lítica, com ruptura <strong>da</strong> cortical e tênues<br />
calcificações periféricas.<br />
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Fig. 6 – RM no plano sagital FSE T2 com saturação de gordura. Formação<br />
expansiva <strong>na</strong> <strong>falange</strong> <strong>proximal</strong>, com nível líquido-líquido (seta<br />
preta), preservando as epífises (setas brancas).<br />
A<br />
B<br />
C<br />
<br />
Fig. 7 – RM no plano axial. Formação expansiva <strong>na</strong> <strong>falange</strong> <strong>proximal</strong><br />
com si<strong>na</strong>l intermediário em T1 (A), hipersi<strong>na</strong>l em T2 com saturação<br />
de gordura (B) e realce periférico <strong>na</strong> fase pós-contraste T1 com saturação<br />
de gordura (C). A lesão apresenta aspecto multiloculado, com<br />
nível líquido-líquido (setas).<br />
Conduta – Ressecção completa <strong>da</strong> lesão expansiva,<br />
com preservação <strong>da</strong>s epífises, e osteossíntese com fragmento<br />
<strong>ósseo</strong> do ilíaco (Figs. 8 a 11). Foi realiza<strong>da</strong> radiografia<br />
no sétimo dia pós-operatório (Fig. 12).<br />
Exame a<strong>na</strong>tomopatológico<br />
Macroscopia – Segmento <strong>ósseo</strong> de aspecto tubular,<br />
com dimensões de 1,7 × 1,5 cm. Aos cortes apresentava<br />
cisto com 1,3 cm de diâmetro, delimitado por faixa de<br />
<br />
<br />
<br />
<strong>Cisto</strong> <strong>ósseo</strong> <strong>aneurismático</strong> <strong>na</strong> <strong>falange</strong> <strong>proximal</strong> <strong>da</strong> <strong>mão</strong> / Santos FGPL et al.<br />
Fig. 8 – Aspecto cirúrgico <strong>da</strong> formação expansiva circunscrita <strong>da</strong> <strong>falange</strong><br />
<strong>proximal</strong>, com coloração vinhosa e tênues calcificações periféricas.<br />
Fig. 9 – Ressecção <strong>da</strong> formação expansiva, com nítido plano de clivagem<br />
com a epífise <strong>proximal</strong>.<br />
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Santos FGPL et al. / <strong>Cisto</strong> <strong>ósseo</strong> <strong>aneurismático</strong> <strong>na</strong> <strong>falange</strong> <strong>proximal</strong> <strong>da</strong> <strong>mão</strong><br />
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<br />
Fig. 10 – Loculações inter<strong>na</strong>s <strong>na</strong> formação expansiva.<br />
A B<br />
Fig. 11 – Ressecção completa (A) <strong>da</strong> formação expansiva, com preservação<br />
<strong>da</strong>s epífises (setas brancas). Aspecto pós-enxertia (B) de fragmento<br />
<strong>ósseo</strong> do ilíaco (seta preta).<br />
Fig. 12 – Controle radiográfico<br />
pós-cirúrgico notando-se<br />
enxerto <strong>ósseo</strong> e<br />
osteossíntese com fio de<br />
Kirschner.<br />
tecido <strong>ósseo</strong> e mole. A cavi<strong>da</strong>de estava ocupa<strong>da</strong> por tecido<br />
acastanhado com áreas hemorrágicas.<br />
Microscopia – Os preparados corados pela hematoxili<strong>na</strong>-eosi<strong>na</strong><br />
mostravam processo intra-<strong>ósseo</strong> caracterizado<br />
por diversas lacu<strong>na</strong>s sanguíneas irregulares no<br />
tamanho e <strong>na</strong> forma, delimita<strong>da</strong>s por septos de tecido<br />
conjuntivo, ao longo dos quais se observavam traves osteóides<br />
e grupos de células gigantes multinuclea<strong>da</strong>s e<br />
irregularmente dispostas. Em certas áreas havia predomínio<br />
de hemorragia e, em outras, proliferação fibrosa<br />
com vasos sanguíneos dilatados e congestos (Figs.13 e<br />
14). Não havia indícios de neoplasia.<br />
Diagnóstico fi<strong>na</strong>l: <strong>Cisto</strong> <strong>ósseo</strong> <strong>aneurismático</strong>.<br />
DISCUSSÃO<br />
O termo “cisto <strong>ósseo</strong>” desig<strong>na</strong> a aparência radioluzente<br />
ao exame radiográfico, e “<strong>aneurismático</strong>” descreve<br />
Fig. 13 – Corte transversal <strong>da</strong> parede do cisto corado pela hematoxili<strong>na</strong>-eosi<strong>na</strong>.<br />
A seta indica os tecidos moles que circun<strong>da</strong>m o cisto. Matriz<br />
óssea descalcifica<strong>da</strong> (asterisco) e o periósteo (triângulo).<br />
Fig. 14 – Detalhe <strong>da</strong> parede cística. Células gigantes multinuclea<strong>da</strong>s<br />
(seta branca), áreas de hemorragia recente (seta preta), matriz óssea<br />
descalcifica<strong>da</strong> (asterisco) e periósteo (triângulo).<br />
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A B<br />
o seu comportamento expansivo, determi<strong>na</strong>ndo reabsorção<br />
do osso esponjoso e a expansão <strong>da</strong> cortical óssea<br />
[4] . Contudo, não se trata de um cisto ver<strong>da</strong>deiro,<br />
tendo em vista a ausência de revestimento epitelial [5] .<br />
O cisto <strong>ósseo</strong> <strong>aneurismático</strong> é primário <strong>na</strong> maioria<br />
<strong>da</strong>s vezes, podendo ser secundário a uma lesão óssea<br />
primária. A etiologia e a patogênese são desconheci<strong>da</strong>s.<br />
É feita distinção entre os cistos <strong>ósseo</strong>s <strong>aneurismático</strong>s<br />
primários (mais freqüentes) e os secundários, sendo que<br />
os últimos origi<strong>na</strong>m-se de tumores <strong>ósseo</strong>s benignos ou<br />
malignos, ou após traumatismos [2] .<br />
Os achados clínicos são inespecíficos e consistem em<br />
edema e dor óssea [2] . A lesão pode crescer rapi<strong>da</strong>mente,<br />
simulando tumor maligno. Seu comportamento biológico<br />
é variável, mas com freqüência apresenta crescimento<br />
rápido, com agressivi<strong>da</strong>de local, fazendo muitas<br />
vezes diagnósticos com o tumor de células gigantes e até<br />
mesmo com o osteossarcoma telangiectásico [6] , dentre<br />
outros.<br />
Principais achados dos exames de imagem<br />
Radiografia – Caracteriza-se por lesão lítica, insuflativa,<br />
com septações inter<strong>na</strong>s e erosão cortical, <strong>na</strong><br />
maioria dos casos. Apresenta localização excêntrica e<br />
bem delimita<strong>da</strong> por uma fi<strong>na</strong> margem esclerótica [1] .<br />
Tomografia computadoriza<strong>da</strong> – Os cistos <strong>ósseo</strong>s<br />
<strong>aneurismático</strong>s constituem lesões osteolíticas, bem delimita<strong>da</strong>s<br />
e multilocula<strong>da</strong>s. O estudo tomográfico oferece<br />
detalhamento <strong>da</strong> arquitetura óssea e permite correlação<br />
a<strong>na</strong>tômica [7] . É possível, por meio deste método,<br />
demonstrar extensão intra-óssea ou extra-óssea <strong>da</strong> lesão<br />
e determi<strong>na</strong>r a <strong>na</strong>tureza <strong>da</strong> matriz tumoral, especialmente<br />
quando os tumores são de difícil localização [8] . A<br />
<strong>Cisto</strong> <strong>ósseo</strong> <strong>aneurismático</strong> <strong>na</strong> <strong>falange</strong> <strong>proximal</strong> <strong>da</strong> <strong>mão</strong> / Santos FGPL et al.<br />
<br />
Correlação radiologia/patologia. Loculações inter<strong>na</strong>s <strong>na</strong> formação expansiva (A), também observa<strong>da</strong>s no plano axial <strong>da</strong> RM (B) <strong>na</strong> fase póscontraste<br />
(setas).<br />
neocortical óssea pode se apresentar como uma fi<strong>na</strong><br />
margem esclerótica radiograficamente invisível. A TC<br />
demonstra níveis líquido-líquido nos cistos multiloculados,<br />
em razão <strong>da</strong>s densi<strong>da</strong>des intracísticas diferentes.<br />
Níveis líquidos representam a sedimentação <strong>da</strong>s hemácias<br />
e soro dentro <strong>da</strong> cavi<strong>da</strong>de cística [3] .<br />
Ressonância magnética – A RM permite maior detalhamento<br />
<strong>da</strong>s características do cisto, as quais incluem:<br />
septações inter<strong>na</strong>s, níveis líquido-líquido, hemorragia em<br />
vários estágios e halo hipointenso circular delimitando<br />
a lesão (relacio<strong>na</strong>do à cápsula fibrosa) [7] . Na fase póscontraste<br />
apresenta intenso realce periférico [2] . Componentes<br />
sólidos intralesio<strong>na</strong>is têm realce difuso homogêneo<br />
<strong>na</strong> fase pós-contraste [2] , o que indica hipervascularização<br />
[7] .<br />
Em relação à TC, a RM demonstra múltiplos níveis<br />
líquidos, <strong>na</strong>s seqüências spin eco pondera<strong>da</strong>s em T2,<br />
com numerosas cavi<strong>da</strong>des císticas bem defini<strong>da</strong>s. O conteúdo<br />
dessas cavi<strong>da</strong>des mostra amplo espectro de intensi<strong>da</strong>de<br />
de si<strong>na</strong>l <strong>na</strong>s imagens pondera<strong>da</strong>s em T1 e T2,<br />
indicando parâmetros diferentes de relaxamento de<br />
seus conteúdos. Esta diferença provavelmente reflete<br />
hemorragias intracísticas em diferentes estágios. Hemorragia<br />
agu<strong>da</strong> apresenta baixo si<strong>na</strong>l <strong>na</strong> seqüência T1.<br />
Com a oxi<strong>da</strong>ção do ferro formando a metemoglobi<strong>na</strong>,<br />
há aumento <strong>da</strong> intensi<strong>da</strong>de do si<strong>na</strong>l <strong>na</strong>s imagens pondera<strong>da</strong>s<br />
em T1, persistindo o hipersi<strong>na</strong>l em T2. Nas<br />
áreas com hemossideri<strong>na</strong>, o si<strong>na</strong>l é baixo em to<strong>da</strong>s as<br />
seqüências, principalmente <strong>na</strong> gradiente eco [9] .<br />
Tomografia computadoriza<strong>da</strong> com múltiplos detectores<br />
(TC multislice) – Embora a TC continue a desenvolver<br />
importante papel <strong>na</strong> avaliação <strong>da</strong>s alterações<br />
ósseas, calcificações e componentes gordurosos, a RM<br />
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Santos FGPL et al. / <strong>Cisto</strong> <strong>ósseo</strong> <strong>aneurismático</strong> <strong>na</strong> <strong>falange</strong> <strong>proximal</strong> <strong>da</strong> <strong>mão</strong><br />
tornou-se o método de escolha para análise dos tumores<br />
músculo-esqueléticos, em virtude <strong>da</strong> eleva<strong>da</strong> resolução<br />
de contraste e obtenção de imagens multipla<strong>na</strong>res.<br />
Não obstante, com o advento <strong>da</strong> TC multislice, tornou-se<br />
possível a obtenção de mais <strong>da</strong>dos volumétricos<br />
e a realização de reconstruções tridimensio<strong>na</strong>is (3D) [10] .<br />
A TC multislice demonstrou melhores resultados do<br />
que a RM <strong>na</strong> identificação de envolvimento cortical/<br />
medular. Também é superior <strong>na</strong> detecção de calcificações/ossificações,<br />
embora não represente impacto significativo<br />
[10] .<br />
A aquisição de imagens é rápi<strong>da</strong> e permite a visualização<br />
de vasos, tumores, ossos e outras estruturas em<br />
um único scan de forma simultânea. As imagens em 3D<br />
são bastante úteis para o ortopedista <strong>na</strong>s simulações préoperatórias,<br />
principalmente por avaliar o comprometimento<br />
<strong>da</strong> cortical e medular óssea [10] .<br />
As desvantagens <strong>da</strong> TC multislice em relação à RM<br />
são: administração de contraste io<strong>da</strong>do, em razão do<br />
relativo alto risco se comparado ao gadolínio utilizado<br />
<strong>na</strong> RM; aumento <strong>da</strong> exposição à radiação para obtenção<br />
de imagens em alta resolução necessárias para realizar<br />
reconstruções 3D; e menor acurácia <strong>na</strong> avaliação<br />
<strong>da</strong>s lesões de partes moles [10] .<br />
Apesar <strong>da</strong>s vantagens <strong>da</strong> TC multislice no estudo <strong>da</strong>s<br />
lesões ósseas, o algoritmo ideal para avaliação de um<br />
paciente com cisto <strong>ósseo</strong> <strong>aneurismático</strong> deve ter início<br />
com o estudo radiográfico <strong>da</strong> lesão, seguido de RM para<br />
a caracterização tecidual <strong>da</strong> lesão.<br />
Exame a<strong>na</strong>tomopatológico<br />
O exame histológico meticuloso do material curetado<br />
ressecado é de grande importância para detectar<br />
pequenos tumores associados (por exemplo, osteossarcomas,<br />
osteoblastomas, condroblastomas) [2,6] .<br />
Principais diagnósticos diferenciais<br />
<strong>Cisto</strong> simples – Caracteriza-se por ser, em geral, lesão<br />
radioluzente, de localização central, circunscrita,<br />
pouco expansiva e com margens escleróticas. A reação<br />
periosteal está ausente, exceto nos casos de fraturas. Por<br />
outro lado, o cisto <strong>ósseo</strong> <strong>aneurismático</strong> constitui lesão<br />
excêntrica, expansiva e com algum grau de reação periosteal<br />
[11] .<br />
Tumor de células gigantes – Representa uma lesão<br />
benig<strong>na</strong>, porém com agressivi<strong>da</strong>de radiológica, puramente<br />
osteolítica, podendo ser bem delimita<strong>da</strong> ou não.<br />
Margens escleróticas e reação periosteal estão ausentes<br />
[11] .<br />
Fibroma condromixóide – Pode ser indistinguível<br />
do cisto <strong>ósseo</strong> <strong>aneurismático</strong>. Ambas as lesões são expan-<br />
76<br />
sivas, excêntricas e que acometem a metáfise, exibindo<br />
halo esclerótico reativo e reação periosteal sóli<strong>da</strong>. A TC<br />
e a RM são úteis <strong>na</strong> distinção, pois a presença de níveis<br />
líquido-líquido sugere cisto <strong>ósseo</strong> <strong>aneurismático</strong>, enquanto<br />
o fibroma condromixóide é lesão sóli<strong>da</strong> [11] .<br />
Fibroma não-ossificante – Lesão radioluzente confi<strong>na</strong><strong>da</strong><br />
à cortical dos ossos longos próxima à placa de<br />
crescimento. É demarca<strong>da</strong> por fino halo de esclerose.<br />
Na maioria dos casos desaparece espontaneamente. Algumas<br />
vezes continua a crescer, atingindo a medular<br />
óssea, recebendo a denomi<strong>na</strong>ção de fibroma não-ossificante.<br />
À medi<strong>da</strong> que a lesão cresce, passa a ter localização<br />
excêntrica e mostrar bor<strong>da</strong>s escleróticas irregulares<br />
[11] .<br />
Encondroma – Lesão lítica, expansiva, central, geralmente<br />
ocorre <strong>na</strong> metáfise <strong>da</strong>s <strong>falange</strong>s <strong>da</strong> <strong>mão</strong> e possui<br />
matriz com calcificações puntiformes. Ruptura cortical,<br />
reação periosteal e massa em partes moles são si<strong>na</strong>is<br />
radiográficos de transformação malig<strong>na</strong> (condrossarcoma)<br />
[12] .<br />
O tratamento de eleição é o cirúrgico. O tipo de<br />
cirurgia dependerá <strong>da</strong> localização e extensão do comprometimento<br />
<strong>ósseo</strong>. Quando ocorre completa extirpação<br />
do cisto, a cura será definitiva. Nos casos tratados<br />
com curetagem, ain<strong>da</strong> que bem feitas, poderão ocorrer<br />
recidivas que, segundo alguns autores, chegam a até<br />
30% dos casos [1] .<br />
Agradecimento<br />
Ao Dr. Ricardo A. de Souza e Souza, patologista do<br />
Centro Integrado de Patologia (CIP) do Hospital Beneficência<br />
Portuguesa de São Paulo, pela importante<br />
colaboração através <strong>da</strong> disponibilização <strong>da</strong>s imagens de<br />
microscopia bastante ilustrativas.<br />
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<strong>Cisto</strong> <strong>ósseo</strong> <strong>aneurismático</strong> <strong>na</strong> <strong>falange</strong> <strong>proximal</strong> <strong>da</strong> <strong>mão</strong> / Santos FGPL et al.<br />
Abstract. Aneurysmal bone cyst in the <strong>proximal</strong> phalange: case report<br />
and review of the literature.<br />
Aneurysmal bone cyst is a common benign lesion characterized<br />
by its insuflative, radiolucent, excentric and multiloculated pattern.<br />
It also can occur in any kind of bone. The present article report a<br />
case of a child with pain and swelling in the fourth right finger for<br />
three weeks caused by an aneurysmal bone cyst. The authors highlight<br />
the characteristics of images in radiography, computed tomography<br />
and magnetic reso<strong>na</strong>nce imaging, with subsequent surgical<br />
correlation.<br />
Keywords: Aneurysmal bone cyst; Proximal phalange; Computed tomography;<br />
Magnetic reso<strong>na</strong>nce imaging.<br />
Rev Imagem 2008;30(2):71–77 77