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Compreendendo, por meio do relato de mães, o ... - Centro Reichiano

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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULOJOSÉ HENRIQUE VOLPICOMPREENDENDO, POR MEIO DO RELATO DE MÃES,O ESTRESSE SOFRIDO DURANTE A GESTAÇÃO EPRIMEIROS ANOS DE VIDA DA CRIANÇA COM CÂNCERSão Bernar<strong>do</strong> <strong>do</strong> Campo2002


JOSÉ HENRIQUE VOLPICOMPREENDENDO, POR MEIO DO RELATO DE MÃES,O ESTRESSE SOFRIDO DURANTE A GESTAÇÃO EPRIMEIROS ANOS DE VIDA DA CRIANÇA COM CÂNCERDissertação apresentada ao Programa<strong>de</strong> Pós Graduação em Psicologia daSaú<strong>de</strong> da Universida<strong>de</strong> Metodista <strong>de</strong>São Paulo - UMESP, como requisitoparcial para obtenção <strong>do</strong> título <strong>de</strong>Mestre em Psicologia da Saú<strong>de</strong>Orienta<strong>do</strong>ra: Prof a . Dr a . Camila Bernar<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Souza.São Bernar<strong>do</strong> <strong>do</strong> Campo2002


FICHA CATALOGRÁFICAVolpi, José Henrique<strong>Compreen<strong>de</strong>n<strong>do</strong></strong>, <strong>por</strong> <strong>meio</strong> <strong>do</strong> <strong>relato</strong> <strong>de</strong> mães, o estresse sofri<strong>do</strong>durante a gestação e primeiros anos <strong>de</strong> vida da criança com câncer /José Henrique Volpi ; orientação <strong>de</strong> Camila Bernar<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Souza.São Bernar<strong>do</strong> <strong>do</strong> Campo : UMESP, 2002.170 p.Dissertação (Mestra<strong>do</strong>) – Universida<strong>de</strong> Metodista <strong>de</strong> São Paulo,Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Psicologia e Fonoaudiologia, Curso <strong>de</strong> Pós-Graduação em Psicologia da Saú<strong>de</strong>.1. Estresse 2. Gravi<strong>de</strong>z – Estresse 3. Psicologia infantil 4.Neoplasias – Crianças 5. Reich, Wihelm, 1897-1957 – Crítica einterpretação I. Souza, Camila Bernar<strong>de</strong>s <strong>de</strong> II. Título.CDD 155.9042


JOSÉ HENRIQUE VOLPICOMPREENDENDO, POR MEIO DO RELATO DE MÃES,O ESTRESSE SOFRIDO DURANTE A GESTAÇÃO EPRIMEIROS ANOS DE VIDA DA CRIANÇA COM CÂNCERBanca Examina<strong>do</strong>raPresi<strong>de</strong>nte: _____________________________1 o Titular: _____________________________2 o Titular: _____________________________UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULOSão Bernar<strong>do</strong> <strong>do</strong> Campo2002


AGRADECIMENTOSAgra<strong>de</strong>ço a Deus <strong>por</strong> ter esta<strong>do</strong> comigo e me protegi<strong>do</strong> durante as idas e vindassemanalmente no trajeto Curitiba – São Paulo.Agra<strong>de</strong>ço a minha esposa Sandra Volpi, <strong>por</strong> ter me apoia<strong>do</strong>, incentiva<strong>do</strong> e terti<strong>do</strong> paciência nos momentos em que eu precisei me ausentar para estudar e escreveresse trabalho.Agra<strong>de</strong>ço aos professores da Metodista pelo conhecimento que pu<strong>de</strong> obterdurante o curso.Agra<strong>de</strong>ço, a Prof. Dra Marilia Vizzotto pela paciência e ajuda prestada narevisão e correção <strong>de</strong> alguns tópicos <strong>de</strong>sse trabalho.Agra<strong>de</strong>ço a Prof. Dra. Camila Bernar<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Souza, <strong>por</strong> ter permiti<strong>do</strong> que essetrabalho pu<strong>de</strong>sse ser fundamenta<strong>do</strong> teoricamente na abordagem reichiana.


SUMÁRIORESUMO ......................................................................................................................vABSTRACT ................................................................................................................... vi1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 012. CÂNCER .................................................................................................................. 063. ESTRESSE ................................................................................................................ 143.1. Estresse durante a gestação .................................................................................. 203.1.1. O terreno biológico .................................................................................... 253.2. Estresse durante os primeiros anos <strong>de</strong> vida ................................................... 323.3. Estresse, imunologia e câncer ....................................................................... 36OBJETIVOS .................................................................................................................. 474. MÉTODO.................................................................................................................. 484.1. Sujeitos ................................................................................................................. 494.2. Instrumento .......................................................................................................... 514.3. Ambiente .............................................................................................................. 524.4. Procedimento ....................................................................................................... 524.5. Contato com a Casa <strong>de</strong> Apoio .............................................................................. 555. RESULTADOS........................................................................................................... 595.1. Estressores durante a gestação ............................................................................. 595.2. Estressores durante a infância .............................................................................. 736. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 817. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 87ANEXOS ...................................................................................................................... 95


Anexo A – Mo<strong>de</strong>lo da autorização das mães....................................................... 96Anexo B – Mo<strong>de</strong>lo <strong>do</strong> roteiro da entrevista ........................................................ 97Anexo C – Entrevistas ........................................................................................ 100


VOLPI, J. H. Un<strong>de</strong>rstanding, by means of the mothers' re<strong>por</strong>t, the stress sufferedduring the pregnancy and first years of the child's life with cancer. Dissertation forMaster’s <strong>de</strong>gree, São Bernar<strong>do</strong> <strong>do</strong> Campo, Instituto Metodista <strong>de</strong> Ensino Superior,2002, 170 pp.ABSTRACTWhen the conversation revolves around cancer the topic on <strong>de</strong>bate is a diseasewith more than 100 different forms, with all of the tissues of the human body beingsusceptible to originating cancerous cells.However, for the disease to manifest, some factors have necessarily to happen,acting out as promoting agents.Studies show that it is very unlikely that the presence of only one of these factorscould lead to the manifestation of the disease.This project had as its objective the investigation, through the testimony of themothers of children with neoplasia, of the stress un<strong>de</strong>rgone by the child during themother’s pregnancy (primary stress) and early childhood years (secondary stress),pointing it out as one of the possible factors responsible for the manifestation of thistype of childhood cancer.As an attempt to conciliate theory and practice, we have interviewed 10 mothersof children with cancer, trying to i<strong>de</strong>ntify in their re<strong>por</strong>ts situations, which wereparticularly stressful for the children during the pregnancy and during their early years,prior to the manifestation of the illness.We used, as method, the analysis of the content of the interviews and asinstrument the gui<strong>de</strong>d and semi-structured interview, which fully met the goals of thestudy, basing our analysis on the reichian approach.We conclu<strong>de</strong> that more study and research for prevention is nee<strong>de</strong>d, mainly withregnant women and pregnant “couples” as an attempt to avoid unpleasant episo<strong>de</strong>s bothof physical nature, such as cancer, but also of emotional nature.


sim, a manifestação <strong>do</strong> câncer. No entanto, a aceitação <strong>do</strong>s aspectos emocionais quepo<strong>de</strong>m contribuir para a manifestação da <strong>do</strong>ença, atuan<strong>do</strong> como agentes promotorese/ou <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>a<strong>do</strong>res, ainda é restrita, e na maioria das vezes, ainda <strong>de</strong>spreza<strong>do</strong>s pelosmo<strong>de</strong>los investigativos-etiológicos clássicos (Simonton & Creighton, 1987).Comentam Simonton & Creighton (1987):Apesar <strong>de</strong> ser <strong>do</strong> conhecimento geral que existem fatorespsicossomáticos na pressão alta, nos ataques cardíacos, nas <strong>do</strong>res <strong>de</strong>cabeça e em certos distúrbios da pele, a conexão psicossomática como câncer não é aceita, em geral, não obstante a idéia <strong>de</strong> que aexistência <strong>de</strong> tal conexão não seja nova nem revolucionária (pág. 35).Para muitos pesquisa<strong>do</strong>res, <strong>de</strong>ntre eles Relier (1998), Vasconcellos (2000) eSimmons (2000), mesmo quan<strong>do</strong> as evidências mostram os fatos, como no caso <strong>de</strong>alguns fatores psicológicos que contribuem para a manifestação <strong>do</strong> câncer, esses nãosão aceitos como científicos, e sim, ti<strong>do</strong>s como especulativos, esquecen<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> que ocâncer po<strong>de</strong> ter uma etiologia multifatorial. “Temos, <strong>por</strong>tanto, <strong>de</strong>ntro da área da saú<strong>de</strong>,conceitos contrários <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, <strong>do</strong>ença e <strong>de</strong> tratamento que se posicionamdiametralmente opostos e assumem naturezas <strong>de</strong>scartianamente para<strong>do</strong>xais”(Vasconcellos, 2000, pág. 39).Ainda com respeito aos fatores psicológicos que contribuem para a manifestação<strong>do</strong> câncer, mesmo sen<strong>do</strong> o luto, a <strong>de</strong>pressão e o estresse, consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s agentespromotores e/ou <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>a<strong>do</strong>res da <strong>do</strong>ença, os pesquisa<strong>do</strong>res não <strong>de</strong>scartam aspossibilida<strong>de</strong>s genéticas, hereditárias, viróticas, ambientais ou outros fatores que até opresente momento nos são <strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong>s. No entanto, concordam os autores que paraque ocorra a manifestação <strong>do</strong> câncer, além <strong>de</strong> uma predisposição <strong>do</strong> organismo, é


necessária uma permissivida<strong>de</strong> oferecida pelo sistema imunológico que po<strong>de</strong> estarrebaixa<strong>do</strong> <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a influências psicológicas.Segun<strong>do</strong> Amkraut & Solomon (1975), pesquisas <strong>por</strong> eles <strong>de</strong>senvolvidasrevelaram que apenas a presença <strong>de</strong> um agente infeccioso no trato respiratório, nãobasta para uma proliferação e comprometimentos físicos. Portanto, faz-se necessário amodificação das condições da mucosa e da flora <strong>do</strong> trato respiratório, o que po<strong>de</strong>,segun<strong>do</strong> os autores, ser seguramente ocasionada <strong>por</strong> um estresse, seja ele <strong>de</strong> qualnatureza for, permitin<strong>do</strong> com isso a multiplicação e passagem <strong>de</strong> microorganismos,causan<strong>do</strong> danos ao organismo, que muitas vezes são até mesmo irreparáveis. Portanto,com relação ao câncer po<strong>de</strong>mos pensar: Será que apenas o fato <strong>de</strong> termos presente noorganismo uma célula <strong>do</strong> câncer é suficiente para a manifestação e proliferação da<strong>do</strong>ença, ou é necessário, além disso, um outro fator <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ante da <strong>do</strong>ença, seja elefísico, químico ou emocional? Na tentativa <strong>de</strong> uma resposta é que inúmeras pesquisasestão sen<strong>do</strong> direcionadas para a <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong>sses fatores, sejam eles biológicos e/oupsicológicos, que po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>terminantes, ou não, ao aparecimento e/ou à progressão<strong>do</strong> câncer (Amkraut & Solomon, 1975; Forsen, 1990; Baltrusch, Stangel & Titze, 1991;Navarro, 1991; Guo, 1992; Cooper & Faragher, 1993; Barraclough, 1999; Levenson &Bemis, 2000).De acor<strong>do</strong> com Navarro (1995) e Relier (1998), ambos médicos, <strong>de</strong> origemitaliana e segui<strong>do</strong>res da escola reichiana, o estresse, quan<strong>do</strong> forte e intenso, po<strong>de</strong> agirsobre um embrião ou feto, mesmo <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> útero materno, atuan<strong>do</strong> sobre as células<strong>de</strong>sse bebê, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> registros negativos. Esses registros po<strong>de</strong>rão permanecer latentes enunca virem a <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar <strong>do</strong>ença alguma, ou então, em <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> momento da vida<strong>de</strong>ssa criança, seja na infância, a<strong>do</strong>lescência, ida<strong>de</strong> adulta ou até mesmo na velhice, umnovo estresse po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar os registros forma<strong>do</strong>s pelo estresse primário, e comisso, ganhar forças para que ocorra uma intensa supressão <strong>do</strong> sistema imunológico e


permita o aparecimento <strong>de</strong> diversas <strong>do</strong>enças, inclusive o câncer. Portanto, segun<strong>do</strong> osautores, é possível que durante a gestação, o bebê também venha a se estressar com ascrises sofridas pela mãe, o que oferece uma supressão <strong>do</strong> sistema imunológico, e umamaior permissivida<strong>de</strong> ao organismo para que manifeste as <strong>do</strong>enças. (Navarro, 1995;Relier, 1998).De acor<strong>do</strong> com Reich (1950), a gravi<strong>de</strong>z po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada uma situaçãotransitória que faz parte <strong>do</strong> processo normal <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. A complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong>fatores que envolvem a espera <strong>de</strong> um bebê po<strong>de</strong> exigir <strong>do</strong> casal uma reestruturação ereajustamento em várias dimensões. Mal<strong>do</strong>na<strong>do</strong> (1986) também compartilha <strong>de</strong>ssaopinião, e complementa dizen<strong>do</strong> que a expectativa da chegada <strong>de</strong> um filho, somada àaquisição <strong>de</strong> um novo papel, po<strong>de</strong> propiciar tanto um amadurecimento eaprofundamento na relação, como gerar crises e até mesmo romper com essa estrutura,quan<strong>do</strong> for frágil e <strong>de</strong>sequilibrada, motivo <strong>de</strong> muito estresse tanto para o casal, comopara os filhos e <strong>de</strong>mais familiares.Toman<strong>do</strong> <strong>por</strong> base a compreensão da atuação <strong>do</strong> sistema nervoso, hormonal,imunológico e <strong>do</strong>s fatores psíquicos liga<strong>do</strong>s a cada um <strong>de</strong>sses sistemas, acredita Relier(1998) que um estresse materno po<strong>de</strong> perturbar o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> bebê ainda noútero e, muitas vezes, na ausência da adaptação, é capaz <strong>de</strong> provocar conseqüênciasnocivas e patológicas. Para uma melhor compreensão <strong>de</strong>ssa atuação, encontramos emVerny & Kelly (1993) a menção <strong>de</strong> três canais <strong>de</strong> comunicação existentes entre a mãe eo bebê durante a gestação. Dizem os autores que o primeiro canal é o da comunicaçãofisiológica que se dá pela passagem <strong>do</strong> alimento através <strong>do</strong> cordão umbilical. Osegun<strong>do</strong>, é a comunicação com<strong>por</strong>tamental on<strong>de</strong> o feto po<strong>de</strong> manifestar, através <strong>de</strong>movimentos, seu <strong>de</strong>sconforto, me<strong>do</strong> e ansieda<strong>de</strong>. O terceiro canal é o da simpatia, <strong>do</strong>sentimento <strong>de</strong> aceitação e diz respeito à sensação física e emocional que sente o bebêdurante a gestação. Portanto, ainda <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com Verny e Kelly (1993), tanto o


estresse quanto a ansieda<strong>de</strong>, constituem uma forma <strong>de</strong> comunicação fisiológica da mãeà criança, apenas sen<strong>do</strong> nocivos ao bebê se ambos forem intensos e contínuos, <strong>por</strong><strong>de</strong>scarregarem uma gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hormônios que po<strong>de</strong>rão interferir no<strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> bebê ainda mesmo que no útero. Por outro la<strong>do</strong>, isso não significaque um estresse materno, mesmo grave, prejudique automaticamente a criança.Desenvolven<strong>do</strong> minhas ativida<strong>de</strong>s como psicólogo clínico, fazen<strong>do</strong> uso daabordagem cor<strong>por</strong>al reichiana, constantemente me <strong>de</strong>paro com pacientes <strong>por</strong>ta<strong>do</strong>res <strong>de</strong>câncer. A gran<strong>de</strong> maioria <strong>de</strong>sses pacientes busca a psicoterapia como forma <strong>de</strong> apoiopara enfrentar a <strong>do</strong>ença; outros acreditam que suas emoções levaram ao<strong>de</strong>senvolvimento da <strong>do</strong>ença, e <strong>por</strong> <strong>meio</strong> da psicoterapia anseiam compreen<strong>de</strong>r aspossíveis causas, no intuito <strong>de</strong> eliminá-las. Foi então que, com o objetivo <strong>de</strong> conhecermelhor os fatores estressantes que estiveram presentes durante a gestação e primeirosanos <strong>de</strong> vida da criança, antes mesmo da manifestação da <strong>do</strong>ença, <strong>de</strong>cidi pesquisar eescrever a respeito <strong>de</strong>sse tema.


2. CÂNCERO corpo humano é totalmente forma<strong>do</strong> <strong>por</strong> células, que variam seu formato <strong>de</strong>acor<strong>do</strong> com a localização on<strong>de</strong> se encontram. Temos, <strong>por</strong>tanto, as células hepáticas,gordurosas, sangüíneas, nervosas, musculares, e muitas outras que, apesar <strong>de</strong> nomes eformatos diferentes, apresentam três estruturas básicas em comum: membrana,citoplasma e núcleo.É no interior <strong>do</strong> núcleo <strong>de</strong> uma célula que encontramos os cromossomas, que <strong>por</strong>sua vez são compostos <strong>de</strong> genes que armazenam toda a informação genética numa“memória química” <strong>de</strong>nominada áci<strong>do</strong> <strong>de</strong>soxirribonucleico (DNA). É <strong>por</strong> <strong>meio</strong> <strong>do</strong> DNAque os cromossomas transmitem as informações para o perfeito funcionamento dacélula. Mas, <strong>por</strong> razões ainda pouco conhecidas, uma célula normal po<strong>de</strong> sofreralterações no DNA <strong>do</strong>s genes, ocasionan<strong>do</strong> mutações genéticas. Em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssasalterações, as células passam a receber instruções truncadas para as suas ativida<strong>de</strong>s, einclusive, po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar um crescimento <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>na<strong>do</strong> e o aparecimento <strong>de</strong> massascelulares <strong>de</strong>nominadas neoplasias malignas ou câncer (Gyton, 1986).Câncer é o nome da<strong>do</strong> há mais <strong>de</strong> 100 tipos <strong>de</strong> <strong>do</strong>enças que têm em comum ocrescimento <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>na<strong>do</strong> <strong>de</strong> células que inva<strong>de</strong>m teci<strong>do</strong>s e órgãos, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> se espalharpara diversas regiões <strong>do</strong> corpo e formar novos tumores, processo esse <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong>metástase (INCA, 2001). Embora, freqüentemente, o câncer manifeste-se quase semprepela formação <strong>de</strong> um tumor, este é o resulta<strong>do</strong> final <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> mudanças quepossivelmente <strong>de</strong>moraram anos para ocorrer.


O câncer tem si<strong>do</strong> estuda<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os tempos mais remotos, e não afeta apenas aespécie humana, mas po<strong>de</strong> atingir praticamente to<strong>do</strong>s os organismos multicelulares,vegetais ou animais (Franks & Teich, 1990).2.1. O câncer infantilCom relação ao câncer infantil, esse também correspon<strong>de</strong> a um grupo <strong>de</strong> várias<strong>do</strong>enças que têm em comum a proliferação <strong>de</strong>scontrolada <strong>de</strong> células anormais e quepo<strong>de</strong> ocorrer em qualquer local <strong>do</strong> organismo. No entanto, as neoplasias mais freqüentesna infância são as leucemias, os tumores <strong>do</strong> sistema nervoso central e os tumores <strong>do</strong>sistema linfático. Esses tipos <strong>de</strong> neoplasias são segui<strong>do</strong>s pelo neuroblastoma (tumor <strong>de</strong>gânglios simpáticos), tumor <strong>de</strong> Wilms (tumor renal), retinoblastoma (tumor da retina <strong>do</strong>olho), tumor germinativo (tumor das células que vão dar origem às gônadas),osteossarcoma (tumor ósseo), e em menor escala, pelos sarcomas (tumores <strong>de</strong> partesmoles) (INCA, 2001).O câncer po<strong>de</strong> surgir já no nascimento, ou se manifestar em qualquer outraida<strong>de</strong>. Abaixo <strong>do</strong>s 12 anos, ocorrem mais comumente as leucemias, os tumores <strong>do</strong>sistema nervoso central e os neuroblastomas. Acima <strong>de</strong>sta ida<strong>de</strong>, aparecem mais ostumores ósseos e os linfomas.Apesar das causas da neoplasia infantil continuarem sen<strong>do</strong> um mistério, osíndices <strong>de</strong> cura em crianças é muito significativo, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> alcançar 90% nos tumoresoculares, 80% nos tumores renais e alguns linfomas e 70% nas leucemias linfói<strong>de</strong>s(American Cancer Society, 2001). Assim como o índice <strong>de</strong> cura <strong>do</strong> câncer infantil vemaumentan<strong>do</strong>, também aumenta a incidência <strong>de</strong>ssa enfermida<strong>de</strong> em crianças com menos<strong>de</strong> 15 anos (INCA, 2001).


Da mesma forma que encontramos diversos tipos <strong>de</strong> cânceres, diversos são osfatores que propiciam a manifestação da <strong>do</strong>ença. De acor<strong>do</strong> com o INCA (2001), essesfatores po<strong>de</strong>m ser internos ou externos, estan<strong>do</strong> ambos inter-relaciona<strong>do</strong>s. Os fatoresexternos dizem respeito ao <strong>meio</strong> ambiente, aos hábitos e costumes próprios <strong>de</strong> umambiente social e cultural. Já, os fatores internos, são na maioria das vezesgeneticamente pré-<strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s e estão liga<strong>do</strong>s à capacida<strong>de</strong> imunológica <strong>do</strong>organismo. Esses fatores causais po<strong>de</strong>m interagir <strong>de</strong> várias formas, transforman<strong>do</strong>células normais em células malignas.Em muitas situações, o surgimento <strong>do</strong> câncer no adulto está associa<strong>do</strong>claramente aos fatores ambientais como, <strong>por</strong> exemplo, fumo e câncer <strong>de</strong> pulmão, raiossolares e câncer <strong>de</strong> pele. Já, no câncer infantil, essa associação não é observadaclaramente. (Smith, 1998). De to<strong>do</strong>s os casos <strong>de</strong> cânceres, 80% a 90% estão associa<strong>do</strong>sa fatores ambientais. Alguns <strong>de</strong>sses fatores são bem conheci<strong>do</strong>s tais como o sol e ocâncer <strong>de</strong> pele. Fora isso, muitos outros fatores estão em estu<strong>do</strong>s, como é o caso <strong>de</strong>alguns componentes <strong>do</strong>s alimentos que ingerimos, e outros, ainda são completamente<strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong>s. Sabe-se apenas que qualquer que seja esse fator irá alterar a estruturagenética (DNA) das células, e que o surgimento <strong>do</strong> câncer <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da intensida<strong>de</strong> eduração da exposição das células aos agentes causa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> câncer. Sen<strong>do</strong> assim,po<strong>de</strong>mos tomar como exemplo, o câncer <strong>de</strong> pulmão, cujo risco <strong>de</strong> uma pessoa<strong>de</strong>senvolvê-lo po<strong>de</strong> ser diretamente pro<strong>por</strong>cional ao número <strong>de</strong> cigarros fuma<strong>do</strong>s <strong>por</strong>dia e ao número <strong>de</strong> anos que vem fuman<strong>do</strong>, e o câncer <strong>de</strong> pele que está diretamenteliga<strong>do</strong> ao tempo <strong>de</strong> exposição <strong>de</strong> uma pessoa aos raios nocivos <strong>do</strong> sol (INCA, 2001).


2.2. O câncer como mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>do</strong>ença integralO câncer é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> uma <strong>do</strong>ença multifatorial. Isso significa que tanto <strong>do</strong>ponto <strong>de</strong> vista biológico, quanto <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista emocional, temos diversos fatoresque po<strong>de</strong>m originar e/ou <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar a manifestação da <strong>do</strong>ença. Portanto, torna-sedifícil querer reduzir a história <strong>de</strong> um tumor a apenas um fator promotor e/ou<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ante, pois, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com Moreira & Filho (1992), no caso <strong>do</strong> câncer,<strong>de</strong>vemos levar em consi<strong>de</strong>ração os seguintes fatos:Ser uma <strong>do</strong>ença geneticamente <strong>de</strong>terminada e programada; incluir uma falha<strong>do</strong> sistema imunológico em algum momento <strong>de</strong> sua programação; sersusceptível a várias influências ambientais, tais como a ação <strong>do</strong>s raiosultravioleta no câncer da pele; ser susceptível à ação <strong>de</strong> várias substânciastóxicas presentes artificialmente no habitat humano, como a nicotina no caso<strong>do</strong> câncer <strong>de</strong> pulmão; <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r da influência <strong>de</strong> fatores alimentares, tal comoé o caso <strong>de</strong> dietas excessivamente ricas em gordura, que po<strong>de</strong>m favorecer oaparecimento ou a evolução <strong>de</strong> várias neoplasias; ser <strong>de</strong>corrente da ação <strong>de</strong>múltiplos agentes virais, os oncovírus, que explicam a etiologia <strong>de</strong> muitostipos <strong>de</strong> câncer; ser susceptível à influência <strong>de</strong> fenômenos <strong>de</strong> estresse e afatores psicológicos vários... (p. 135).Quanto aos aspectos emocionais que contribuem para a manifestação <strong>do</strong> câncer,<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Galeno, talvez tenha si<strong>do</strong> Amussart, cita<strong>do</strong> <strong>por</strong> Moreira & Filho (1992), oprimeiro buscar essa relação, ten<strong>do</strong> escrito que “a influência <strong>do</strong> luto parece ser a causamais comum <strong>de</strong> câncer” (p. 133). A partir <strong>de</strong>sse comentário é que muitos pesquisa<strong>do</strong>respassaram também a investigar os fatores emocionais como o luto, <strong>de</strong>pressão e o stresse,apontan<strong>do</strong>-os como possíveis fatores que contribuem para a manifestação <strong>do</strong> câncer.Tal qual muitos outros cientistas, ainda na década <strong>de</strong> 30, o médico austríacoWilhelm Reich (1936, 1948), que durante muitos anos foi aluno e segui<strong>do</strong>r <strong>de</strong> Freud,também se aventurou a pesquisar e dar uma explicação para o câncer, primeiro,biológica, e <strong>de</strong>pois, psicológica. Reich adquiriu diversos tipos <strong>de</strong> microscópios emontou seu próprio laboratório, on<strong>de</strong> passou a <strong>de</strong>senvolver pesquisas relacionadas aessa <strong>do</strong>ença.


De acor<strong>do</strong> com a hipótese <strong>de</strong> Reich, ainda na década <strong>de</strong> 30, o câncer po<strong>de</strong>riaestar relaciona<strong>do</strong> a um processo <strong>de</strong> asfixia da célula, resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> um bloqueiorespiratório <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a uma contração <strong>do</strong> organismo como um to<strong>do</strong>, <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> umconflito emocional. Na seqüência, Reich (1948) também relacionou o câncer com osbloqueios sexuais, e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u arduamente a posição <strong>de</strong> prevenir essa <strong>do</strong>ença com vistaaos aspectos físicos, emocionais e energéticos.A explicação <strong>de</strong> Reich (1948) para a asfixia celular pré-cancerosa era ilustradada seguinte forma: Por um la<strong>do</strong>, temos um grupo <strong>de</strong> pessoas que trabalha em conjuntoem condições favoráveis, com espaço suficiente, sem me<strong>do</strong> e funcionan<strong>do</strong> plenamenteem to<strong>do</strong>s os senti<strong>do</strong>s; Por outro la<strong>do</strong>, imagina-se que esse mesmo grupo seja coloca<strong>do</strong>em um espaço comprimi<strong>do</strong>. Segun<strong>do</strong> Reich (1948), imediatamente, surge o pânico, quenada mais é <strong>do</strong> que “uma rebeldia <strong>de</strong> impulsos vitais contra o perigo que ameaça aexistência. A paz e a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>saparecem e se impõe as relações selvagens e a<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m” (p. 15). Segun<strong>do</strong> a explicação <strong>de</strong> Reich (1948), a célula entra num esta<strong>do</strong> <strong>de</strong>me<strong>do</strong>, e conseqüentemente provoca uma contração no organismo to<strong>do</strong> e, além disso,não apenas coloca um “fim no funcionamento que antes era or<strong>de</strong>na<strong>do</strong>, como tambémcria um novo tipo <strong>de</strong> funcionamento: o pânico, que é mortal”. (p. 15). A essa contração<strong>do</strong> organismo, causada <strong>por</strong> situações emocionais, como <strong>por</strong> exemplo, o me<strong>do</strong>, Reich(1948) <strong>de</strong>nominou <strong>de</strong> couraça.Para Reich (1948), a contração crônica <strong>do</strong> organismo (couraça) impe<strong>de</strong> arespiração normal <strong>do</strong> plasma celular e dificulta a carga e <strong>de</strong>scarga da energia que ele<strong>de</strong>nominou “orgonio”, uma energia presente <strong>de</strong>ntro e fora <strong>do</strong> organismo e que o fazfuncionar. Com isso, os processos químicos <strong>do</strong> metabolismo se transformam e amusculatura cor<strong>por</strong>al reage contrain<strong>do</strong>-se <strong>por</strong> inteiro, numa atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>fensiva, forman<strong>do</strong>assim a couraça. Portanto, são as contrações locais e os transtornos <strong>de</strong> carga <strong>de</strong> energia


nos teci<strong>do</strong>s que estimulam os registros já presentes na célula, provocan<strong>do</strong>-as epermitin<strong>do</strong> a manifestação da <strong>do</strong>ença.Ainda segun<strong>do</strong> a visão <strong>de</strong> Reich (1948), os tumores se <strong>de</strong>senvolvem em órgãosespásticos e mal carrega<strong>do</strong>s energeticamente, ou seja, naqueles órgãos em que oprocesso <strong>de</strong> asfixia e, conseqüentemente <strong>de</strong> couraça, se faz presente. Sen<strong>do</strong> assim,Reich (1936, 1948) sustenta a tese <strong>de</strong> que um organismo saudável é aquele que respiralivremente, sem me<strong>do</strong>, sem tensões e sem couraças apresentan<strong>do</strong> uma boa qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>energia que circula livremente, levan<strong>do</strong> energia para todas as células <strong>do</strong> corpo.Mesmo nessa época, Reich (1948) também dava im<strong>por</strong>tância às possibilida<strong>de</strong>shereditárias que podiam estar envolvidas na origem e progressão <strong>do</strong> câncer, afirman<strong>do</strong>que “algo”, com<strong>por</strong>tan<strong>do</strong>-se como um parasita infeccioso, po<strong>de</strong>ria estar presente noorganismo antes mesmo <strong>do</strong> aparecimento das células cancerosas.Reich (1948) também hipotetizou que a manifestação <strong>do</strong> câncer podia estarrelacionada a uma perda, <strong>por</strong> morte ou separação, <strong>de</strong> uma pessoa querida, e que, noperío<strong>do</strong> <strong>de</strong> aproximadamente um ano, ocorria a manifestação da <strong>do</strong>ença. Isso <strong>por</strong>que oorganismo se encolhia <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> lidar com o sofrimento, diminuía arespiração das células, se encouraçava e com isso, a <strong>do</strong>ença tinha uma gran<strong>de</strong>possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se manifestar.Cabe lembrar que, as hipóteses <strong>de</strong> Reich foram formuladas na década <strong>de</strong> 30,quan<strong>do</strong> ainda as pesquisas sobre o câncer eram precárias. No entanto, algumas <strong>de</strong>las,como <strong>por</strong> exemplo <strong>de</strong> que a manifestação <strong>do</strong> câncer estaria ligada a uma perda <strong>de</strong> umapessoa querida, também é <strong>de</strong>fendida <strong>por</strong> inúmeros cientistas, na atualida<strong>de</strong>. Po<strong>de</strong>mostomar como exemplo, os trabalhos <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s <strong>por</strong> Reed & Jacobsen (1988) queconsi<strong>de</strong>ram que os esta<strong>do</strong>s psicológicos alteram as células normais, transforman<strong>do</strong>-asem malignas. Afirmam os autores que leva em média cinco anos para que uma


neoplasia inicial se manifeste, mas que geralmente, foi o estresse <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> umaperda significativa, sofri<strong>do</strong> pelo paciente no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> um ou <strong>do</strong>is anos atrás, oresponsável pelo início da <strong>do</strong>ença.Nos tempos atuais, para explicar a origem e progressão <strong>do</strong> câncer, Franks (2000)faz menção a um "agente inicia<strong>do</strong>r", que causa o câncer, e um "agente promotor", quepro<strong>por</strong>ciona a manifestação da <strong>do</strong>ença. Um agente inicia<strong>do</strong>r não leva <strong>de</strong> imediato aoaparecimento <strong>do</strong> tumor, da mesma forma que um agente promotor não causa <strong>por</strong> si só oaparecimento <strong>do</strong> câncer. Como agentes inicia<strong>do</strong>res, Franks cita os carcinógenosquímicos, vírus, radiações, luz ultra-violeta, erros <strong>de</strong> replicação <strong>do</strong> DNA e tambémmenciona a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> existirem outros fatores que ainda são <strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong>s;como agentes promotores, sugere os hormônios <strong>do</strong> crescimento, inflamações e algunspromotores específicos. Dessa forma, uma vez que a mudança na célula teve lugar, estamesma célula po<strong>de</strong> permanecer latente <strong>por</strong> um longo perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> tempo até que sobre elaatuem os agentes promotores, levan<strong>do</strong> à manifestação <strong>do</strong> câncer. “Isto explica <strong>por</strong>quetumores pré-neoplásicos ou mesmo, aparentemente, totalmente transforma<strong>do</strong>s po<strong>de</strong>mser encontra<strong>do</strong>s, mas não parecem estar crescen<strong>do</strong> e, algumas vezes, até mesmoregri<strong>de</strong>m” (Franks, 2000, pág. 7).


3. ESTRESSEQuan<strong>do</strong> se fala em estresse, a imagem que geralmente conseguimos formar, é <strong>de</strong>um alto executivo viajan<strong>do</strong> em seu jatinho particular, percorren<strong>do</strong> diversos lugares emapenas um dia, a fim <strong>de</strong> cumprir com os compromissos profissionais. No entanto, não éapenas o alto executivo que passa <strong>por</strong> situações estressantes. O estresse não escolheclasse social, ida<strong>de</strong>, raça ou cor, nem tampouco diz respeito apenas às questõesnegativas. Situações positivas também po<strong>de</strong>m ser muito estressantes. (Simmons, 2000).A concepção <strong>de</strong> estresse, compartilhada entre diferentes autores com umaconcordância unânime, refere-se a uma resposta biológica frente a uma nova ou difícilsituação; uma perturbação <strong>do</strong> equilíbrio interno <strong>do</strong> organismo, causada <strong>por</strong> um agenteou estímulo estressor. Enten<strong>de</strong>-se <strong>por</strong> estressor qualquer estímulo capaz <strong>de</strong> provocar noorganismo o aparecimento <strong>de</strong> um conjunto complexo <strong>de</strong> respostas orgânicas, mentais,psicológicas e/ou com<strong>por</strong>tamentais (Selye, 1974).Hans Selye (1974) foi quem pela primeira vez estu<strong>do</strong>u profundamente oestresse, termo esse que é utiliza<strong>do</strong> em três condições: como situação, como reaçãoaguda ou como reação a longo prazo. To<strong>do</strong>s os estímulos <strong>do</strong> <strong>meio</strong> ambiente quan<strong>do</strong>a<strong>do</strong>tam características adversas e/ou punitivas po<strong>de</strong>m ser estressantes. No entanto, paraque esses estímulos se tornem estressantes, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da intensida<strong>de</strong>, da frequência e daqualida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s mesmos. Ainda segun<strong>do</strong> Selye, o estímulo estressor po<strong>de</strong> provocar umareação orgânica basicamente em três níveis distintos:a) Motor: gera tensão ao longo <strong>do</strong>s músculos estria<strong>do</strong>s <strong>do</strong> corpo;


) Vegetativo: excita o sistema neurovegetativo, com pre<strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> sistemanervoso simpático que ocasiona a liberação <strong>de</strong> catecolaminas. Como catecolaminaspo<strong>de</strong>mos citar a adrenalina, noradrenalina, serotonina, oxitocina, epinefrina e <strong>do</strong>pamina;c) Subjetivo-cognoscitivo: altera a memória e a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> concentração.Na presença <strong>de</strong> um estímulo estressor, uma série <strong>de</strong> alterações passam a ocorrerno organismo, mas o estresse não implica, obrigatoriamente, numa alteração patológicae <strong>do</strong>entia (Selye, 1974). Apesar <strong>de</strong> sua concepção ser um fenômeno negativo, “em umacerta medida, o estresse é necessário à vida para a manutenção e aperfeiçoamento dacapacida<strong>de</strong> funcional, autoproteção e conhecimento <strong>do</strong>s próprios limites” (Samulski,Chagas & Nitsch, 1996, pág. 11).O estresse po<strong>de</strong> também fazer com que a pessoa fique mais atenta e sensível asituações <strong>de</strong> perigo ou <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>. Porém, se o estresse for excessivo, produzirámodificações na estrutura e na composição química <strong>do</strong> corpo, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> atingir níveis<strong>de</strong>generativos (Cabral, et al 1997).Selye (1974) <strong>de</strong>monstrou que o organismo participa como um to<strong>do</strong> quan<strong>do</strong>exposto a um esforço <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>a<strong>do</strong> <strong>por</strong> um estímulo percebi<strong>do</strong> como ameaça<strong>do</strong>r dahomeostase, seja ele físico, químico, biológico ou psicossocial. Dessa forma, oorganismo passa a <strong>de</strong>senvolver uma série <strong>de</strong> alterações <strong>de</strong>nominadas, em seu conjunto,<strong>de</strong> Síndrome Geral <strong>de</strong> Adaptação (SAG), que consiste em três etapas:1) Reação <strong>de</strong> Alarme: o organismo entra em prontidão e permanece em esta<strong>do</strong> <strong>de</strong>alerta. Ocorre a participação <strong>do</strong> sistema neurovegetativo e um pre<strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> sistemanervoso simpático. Nesse caso, o hipotálamo, localiza<strong>do</strong> no sistema nervoso central,promove a liberação <strong>do</strong> "corticotrophin releasing hormone" (CRH), que estimula ahipófise anterior a liberar para a corrente sangüínea um outro hormônio chama<strong>do</strong>


adrenocórticotrófico (ACTH), além <strong>de</strong> outros neuro-hormônios e peptí<strong>de</strong>os cerebrais,como <strong>por</strong> exemplo, as beta-en<strong>do</strong>rfinas, hormônio tireoestimulante (TSH) e prolactina.Quan<strong>do</strong> o ACTH estimula o córtex das glândulas supra-renais, ocorre a liberação <strong>de</strong>corticoesterói<strong>de</strong>s e catecolaminas que são elementos fundamentais da resposta aoestresse, estabelecen<strong>do</strong> um mecanismo <strong>de</strong> feedback atuan<strong>do</strong> sobre o eixo hipotalâmicohipofisário,que irá alterar o mecanismo fisiológico <strong>do</strong> organismo (Gyton, 1986).Quan<strong>do</strong> os agentes estressores <strong>de</strong>saparecem, as alterações cor<strong>por</strong>ais <strong>de</strong>vem regredir;caso contrário, o organismo será obriga<strong>do</strong> a manter seu esforço <strong>de</strong> adaptação e entrar nasegunda fase;2) Fase <strong>de</strong> Resistência: ocorre um acúmulo da tensão e o organismo começa a adaptarseu metabolismo para su<strong>por</strong>tar os estímulos causa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> estresse. Há um aumento novolume da glândula supra-renal, uma atrofia <strong>do</strong> baço e das estruturas linfáticas e umaumento <strong>do</strong>s glóbulos brancos <strong>do</strong> sangue, conheci<strong>do</strong> <strong>por</strong> leucocitose. A permanência <strong>do</strong>estresse leva a pessoa para a terceira fase;3) Fase <strong>de</strong> Exaustão: esta fase ocorre apenas em situações graves e persistentes.Há um esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> esgotamento <strong>do</strong> organismo, diminuição das <strong>de</strong>fesas imunitárias e umaacentuada queda da capacida<strong>de</strong> adaptativa <strong>do</strong> indivíduo, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> até mesmo levá-lo àmorte.Segun<strong>do</strong> a concepção <strong>de</strong> Selye (1974), o estresse nada mais é <strong>do</strong> que um esta<strong>do</strong><strong>de</strong> tensão <strong>do</strong> organismo, que se vê obriga<strong>do</strong> a se mobilizar <strong>por</strong> inteiro para enfrentaressa nova situação. Complementan<strong>do</strong> essa idéia, Silva, Martinez & Almeida (1994)afirmam que esta <strong>de</strong>veria ser uma situação transitória, como acontece com os animais,caso o homem não tivesse <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> certas peculiarida<strong>de</strong>s psicológicas que o <strong>de</strong>ixa<strong>de</strong>sprepara<strong>do</strong> para enfrentar <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s estímulos.


A visão <strong>do</strong> médico americano Alexan<strong>de</strong>r Lowen (1985), segui<strong>do</strong>r <strong>de</strong> Reichdurante muitos anos, e cria<strong>do</strong>r da chamada Análise Bioenergética, é que to<strong>do</strong> estresseproduz um esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> tensão no corpo, que <strong>de</strong>saparece assim que a pressão é aliviada.Por outro la<strong>do</strong>, diz Lowen (1985) que a tensão po<strong>de</strong> se tornar crônica e <strong>de</strong>ssa formapersistir mesmo após a remoção da pressão, assumin<strong>do</strong> um endurecimento muscular,uma couraça, termo esse cunha<strong>do</strong> <strong>por</strong> Reich nos anos 30. Portanto, Lowen (1985)afirma que: “Estas tensões musculares crônicas perturbam a saú<strong>de</strong> emocional através <strong>do</strong><strong>de</strong>créscimo <strong>de</strong> energia <strong>do</strong> indivíduo, restringin<strong>do</strong> sua motilida<strong>de</strong> (ação espontânea enatural e movimento da musculatura), limitan<strong>do</strong> sua auto-expressão” (pág. 13).De acor<strong>do</strong> com Cabral et al (1997), o estresse po<strong>de</strong> ser físico, emocional oumisto, sen<strong>do</strong> este último o mais comum. O estresse físico está associa<strong>do</strong> a eventos comocirurgias, traumatismos, hemorragias e lesões em geral; o estresse emocional está liga<strong>do</strong>a acontecimentos que afetam o indivíduo psiquicamente, sem que haja relação primáriacom lesões orgânicas; o estresse misto resulta <strong>de</strong> uma lesão física acompanhada <strong>de</strong>comprometimentos psíquicos ou vice-versa.Enquanto algumas pessoas são capazes <strong>de</strong> superar estresses significativos comoa perda <strong>de</strong> um ente queri<strong>do</strong>, <strong>de</strong>semprego, dificulda<strong>de</strong>s nos relacionamentos conjugais,familiares, financeiras ou sociais, outras reagem com uma ativação fisiológica maior aosacontecimentos estressantes e po<strong>de</strong>m dar início a transtornos psicológicos, psiquiátricosou até mesmo ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> <strong>do</strong>enças. Com isso, o estresse produz um esta<strong>do</strong>psicológico <strong>de</strong>sagradável que po<strong>de</strong> ser caracteriza<strong>do</strong> <strong>por</strong> irritabilida<strong>de</strong>, nervosismo,distúrbio <strong>de</strong> sono, <strong>do</strong> apetite e dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> concentração.De acor<strong>do</strong> com Samulski, Chagas & Nitch (1996), a ansieda<strong>de</strong> também po<strong>de</strong>estar presente no estresse e é uma atitu<strong>de</strong> fisiológica normal, responsável pela adaptação<strong>do</strong> organismo às situações <strong>de</strong> perigo. Aparece como um sentimento <strong>de</strong> apreensão, uma


sensação <strong>de</strong> que algo está para acontecer, e representa um esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> alerta e agitaçãoconstante. No entanto, ansieda<strong>de</strong> não é o mesmo que estresse, mas po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>radaum <strong>do</strong>s componentes psíquicos que, juntamente com o me<strong>do</strong>, pânico, apreensão,angústia, <strong>de</strong>sespero, ou outra emoção qualquer, provoca alterações fisiológicas noorganismo, estressan<strong>do</strong>-o tanto <strong>de</strong> forma física, quanto emocional.Na prática, essa situação po<strong>de</strong> ser vista <strong>por</strong> <strong>meio</strong> <strong>de</strong> experimentos laboratoriaisfeitos com animais e observações <strong>de</strong> seres humanos que revelam que pessoas que vivemum significativo espaço <strong>de</strong> tempo durante um esta<strong>do</strong> patológico <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>mvir a <strong>de</strong>senvolver um estresse (Cabral, et al 1997).Sen<strong>do</strong> assim,Partin<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma observação que tem o aspecto tem<strong>por</strong>al comoreferência, o estresse po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> tanto um agente precursor,como também uma reação secundária. Exemplifican<strong>do</strong> esta situação sediz que: se o sentimento <strong>de</strong> frustração aparece como <strong>de</strong>terminante <strong>do</strong>estresse em um momento, em outra situação ela é observada comoconseqüência <strong>do</strong> mesmo. Com outras palavras, estresse configura-secomo uma forma especial <strong>de</strong> ativação, a qual <strong>por</strong> sua vez po<strong>de</strong>aparecer como uma possível reação <strong>do</strong> estresse, ou seja, o estresse agecomo propulsor da ansieda<strong>de</strong> e a mesma po<strong>de</strong> ser compreendida comouma emoção <strong>do</strong> estresse (Samulski, Chagas & Nitch, 1996, pág.23-24).Levan<strong>do</strong> em conta que cada pessoa reage <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada maneira perante umestímulo qualquer, Samulski, Chagas & Nitch (1996) questionam sobre quais critérios<strong>de</strong>finiriam os estímulos percebi<strong>do</strong>s como estressores e afirmam que:A princípio to<strong>do</strong> e qualquer estímulo po<strong>de</strong> tornar-se um estressor,<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma perspectiva subjetiva. Com isto, parece um pouco semsenti<strong>do</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma concepção psicológica, criar catálogos <strong>de</strong>estressores, pois cada situação <strong>de</strong>verá ser orientada a categoriassubjetivas <strong>de</strong> avaliação (Samulski, Chagas & Nitch, 1996, pág.29).É sabi<strong>do</strong> que todas as pessoas passam <strong>por</strong> eventos estressantes na vida, queabrangem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> componentes emocionais, como o me<strong>do</strong> e a ansieda<strong>de</strong>, até


componentes ambientais, biológicos e físicos como é o caso <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong>s excessivos,poluição, sobrecarga <strong>de</strong> trabalho e muitos outros. No entanto, cada pessoa respon<strong>de</strong> <strong>de</strong><strong>de</strong>terminada maneira. Algumas são mais sensíveis, ao passo que outras são maisresistentes. Entretanto, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da sensibilida<strong>de</strong> e da resistência, alteraçõesfisiológicas po<strong>de</strong>rão ocorrer, fazen<strong>do</strong> com que o organismo mais sensível ao estresseresponda <strong>de</strong> forma crucial ao complexo interjogo existente entre o <strong>meio</strong> interno e oambiente.3.1. ESTRESSE DURANTE A GESTAÇÃOPara Moore & Persaud (1995), é a partir da fecundação que encontramos o inícioda formação da vida, quan<strong>do</strong> ocorre a fusão <strong>do</strong>s gametas masculino e feminino e dabagagem genética <strong>do</strong> pai e da mãe.Os avanços científicos <strong>de</strong>monstram que, quan<strong>do</strong> os espermatozói<strong>de</strong>s são<strong>de</strong>posita<strong>do</strong>s na vagina, o seu trans<strong>por</strong>te para a tuba uterina, local on<strong>de</strong> ocorre afecundação, é tão rápi<strong>do</strong>, que o primeiro espermatozói<strong>de</strong> chega em 30 minutos após aejaculação (Van<strong>de</strong>r, Shermann & Luciano, 1981). No entanto, os espermatozói<strong>de</strong>s são<strong>de</strong>ti<strong>do</strong>s pelo sistema imunológico feminino <strong>por</strong> serem consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s agentes estranhos aoorganismo materno e que precisam ser combati<strong>do</strong>s, mas a capacida<strong>de</strong> imunológica <strong>do</strong>sespermatozói<strong>de</strong>s faz com que consigam sobreviver a esse po<strong>de</strong>roso ataque e seaproximem <strong>do</strong> óvulo para a fecundação.Aproximadamente 20 horas após a fusão <strong>do</strong>s núcleos <strong>do</strong> óvulo e <strong>do</strong>espermatozói<strong>de</strong>, ocorre a primeira divisão <strong>do</strong> zigoto em células-filhas chamadasblastômeros. Quan<strong>do</strong> o zigoto alcançar 12 ou mais blastômeros será chama<strong>do</strong> <strong>de</strong>mórula, que após ter passa<strong>do</strong> da tuba uterina em direção ao útero, converter-se-á em


lastócito. Por volta <strong>do</strong> sexto dia após a fecundação, o blastócito encontra-se no útero,on<strong>de</strong> suas células trofoblásticas irão secretar substâncias para corroer as pare<strong>de</strong>s <strong>do</strong>útero e permitir a nidação, dan<strong>do</strong> início à formação da placenta e ao processo dagestação (Moore & Persaud, 1995).A placenta é um órgão provisório que inicia sua formação com a implantação<strong>do</strong> zigoto nas pare<strong>de</strong>s uterinas. É através <strong>de</strong>la que o bebê em formação irá receber oalimento e o oxigênio provin<strong>do</strong>s da mãe. Além <strong>de</strong> protegê-lo, a placenta produzhormônios durante to<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong> da gestação, os quais são fundamentais para amanutenção da gravi<strong>de</strong>z (Moore & Persaud, 1995).Durante muito tempo acreditava-se que o feto vivia num mun<strong>do</strong> isola<strong>do</strong>,impenetrável e inacessível ao ambiente fora <strong>do</strong> útero da mãe. Consi<strong>de</strong>rava-se o úterocomo um lugar absolutamente silencioso e que o feto vivia num esta<strong>do</strong> nirvânico <strong>de</strong>plena satisfação e felicida<strong>de</strong>, protegi<strong>do</strong> pelas espessas camadas ab<strong>do</strong>minais.Apesar <strong>de</strong> cientistas ainda continuarem afirman<strong>do</strong> que o funcionamento <strong>do</strong>mecanismo mental <strong>do</strong> indivíduo têm seu início apenas após o nascimento e continuaremacreditan<strong>do</strong> que o feto somente po<strong>de</strong> ser alcança<strong>do</strong> <strong>por</strong> estimulações tácteis, pesquisasrecentes <strong>de</strong>monstram que to<strong>do</strong>s os senti<strong>do</strong>s humanos encontram-se operan<strong>do</strong> pelomenos a partir <strong>de</strong> um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> momento <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> trimestre da gestação,respon<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>por</strong>tanto aos estímulos tácteis, <strong>de</strong> pressão, cinestésicos, térmicos,vestibulares, gustativos e <strong>do</strong>lorosos.Já nos anos 40, Reich (1948) dizia que somos to<strong>do</strong>s constituí<strong>do</strong>s <strong>de</strong> energia e,<strong>por</strong>tanto, <strong>de</strong>vemos ter um organismo pulsante bioenergéticamente para que não nosencolhamos e, conseqüentemente, possamos nos prevenir das <strong>do</strong>enças. E complementaessa idéia afirman<strong>do</strong>:


A pulsação bioenergética é uma função que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>por</strong> completo <strong>do</strong>sestímulos <strong>do</strong> <strong>meio</strong> e <strong>do</strong>s contatos com este. As estruturascaracterológicas <strong>do</strong>s educa<strong>do</strong>res constituem uma peça chave <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong><strong>meio</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o instante <strong>do</strong> nascimento. O organismo da mãe cumpre afunção <strong>do</strong> <strong>meio</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o momento em que se forma o embrião, até omomento em que se concretiza o nascimento (Reich, 1948, pág. 360).Na seqüência <strong>de</strong>sse pensamento, Reich (1948) complementa dizen<strong>do</strong>:É lógico su<strong>por</strong> que um útero que se contrai livremente representa um<strong>meio</strong> muito mais favorável para o embrião que um útero espástico eanorgonótico. Em um útero orgonoticamente vigoroso, a circulação <strong>de</strong>sangue e <strong>do</strong>s líqui<strong>do</strong>s <strong>do</strong> corpo é mais completa e, <strong>por</strong> conseqüência, ometabolismo energético é mais eficiente. Mas, a<strong>de</strong>mais, a capacida<strong>de</strong><strong>de</strong> carga <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> materno transmite-se ao embrião, o qual, narealida<strong>de</strong> é uma parte funcional da mucosa uterina (pág. 360).Sabe-se hoje que fumo, álcool, drogas e qualquer outro tipo <strong>de</strong> substânciainjetada ou ingerida pela mãe atingem o feto. O mesmo se po<strong>de</strong> dizer da emoção e <strong>do</strong>estresse, que fazem com que a mãe <strong>de</strong>scarregue em seu corpo hormônios que irãoatravessar a placenta e alterar o ambiente em que o bebê está sen<strong>do</strong> forma<strong>do</strong> e provocarvários problemas, tanto físicos, quanto psicológicos, uma posição arduamente <strong>de</strong>fendidapelos segui<strong>do</strong>res <strong>de</strong> Reich, como Navarro (1995, 1996) e Rellier (1998), e outros quecompartilham <strong>de</strong>sse mesmo pensamento (Papalia & Olds, 2000). Esses hormônios sãochama<strong>do</strong>s <strong>de</strong> catecolaminas, e quan<strong>do</strong> secreta<strong>do</strong>s em níveis aumenta<strong>do</strong>s pelo organismoda mãe quan<strong>do</strong> num esta<strong>do</strong> emocional <strong>de</strong> tensão, atravessam a membrana placentária eprovocam no embrião ou no feto, uma agitação motora que po<strong>de</strong> ser entendida como um<strong>de</strong>sconforto <strong>de</strong>corrente da <strong>de</strong>scarga hormonal da mãe que atinge-o diretamente (Gyton,1986).Apesar <strong>do</strong>s primórdios da hipófise e da glândula tireói<strong>de</strong> já po<strong>de</strong>rem seri<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s em embriões com três semanas <strong>de</strong> gestação e as glândulas supra-renais apartir da quinta semana, alcançan<strong>do</strong> um tamanho consi<strong>de</strong>rável ao final <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> mês<strong>de</strong> gestação, as secreções hipofisárias produzidas no feto somente exercem controlesobre o córtex da supra-renal a partir <strong>do</strong> quarto ou quinto mês <strong>de</strong> gestação. Portanto, a


passagem se dá diretamente da mãe para o bebê, através <strong>do</strong> cordão umbilical. (Windle,1974; Moore & Persaud, 1995).De acor<strong>do</strong> com Verny & Kelly (1993), uma excessiva secreção neuro-hormonalna mãe, provinda <strong>de</strong> um esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong>, me<strong>do</strong>, irritabilida<strong>de</strong>, nervosismo,insegurança, ou outro fator qualquer, po<strong>de</strong>rá criar uma sobrecarga no sistemaneurovegetativo da criança e ocasionar inúmeras dificulda<strong>de</strong>s após o nascimento. Dizemos autores que o feto tentará compreen<strong>de</strong>r o significa<strong>do</strong> <strong>de</strong>ssas alterações fisiológicasfazen<strong>do</strong> com que, o que a princípio era apenas uma impressão confusa e <strong>de</strong>sagradável,crie uma reserva <strong>de</strong> lembranças, às quais o bebê po<strong>de</strong>rá recorrer mais tar<strong>de</strong>. A esserespeito, diz Boa<strong>de</strong>lla (1992): “Sensações <strong>de</strong> tensão e <strong>de</strong>sconforto da mãe po<strong>de</strong>m sercomunicadas para o feto, assim como sentimento <strong>de</strong> rejeição, culpa ou hostilida<strong>de</strong> emrelação ao bebê que está se <strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong>” (pág. 39).Outros autores também supõem que todas as experiências biológicas pelas quaispassa o bebê <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a pré-concepção até o nascimento po<strong>de</strong>m ficar registradas numamemória celular, <strong>de</strong> forma que tu<strong>do</strong> o que acontecer durante a gestação, po<strong>de</strong>rá ter umaim<strong>por</strong>tância fundamental na formação e na estruturação da personalida<strong>de</strong>, da libi<strong>do</strong> e<strong>do</strong>s impulsos (Boa<strong>de</strong>lla, 1992; Verny & Kelly, 1993; Navarro, 1995; Relier, 1998).Recentes pesquisas sobre a sensorialida<strong>de</strong> fetal <strong>de</strong>monstram que o feto percebenumerosas sensações, que são essenciais para seu crescimento e <strong>de</strong>senvolvimentoharmonioso. Utilizan<strong>do</strong>-se <strong>do</strong> ultra-som, Piontelli (1995) observou o com<strong>por</strong>tamento <strong>de</strong>várias crianças <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os estágios mais precoces no ventre, passan<strong>do</strong> pelo nascimento atéa infância.Afirmou a pesquisa<strong>do</strong>ra:Existe uma notável consistência no com<strong>por</strong>tamento antes e <strong>de</strong>pois <strong>do</strong>nascimento, e que muitas crianças pequenas apresentam sinais, <strong>de</strong>pois


<strong>do</strong> nascimento, <strong>de</strong> terem si<strong>do</strong> influenciadas <strong>por</strong> experiências quetiveram antes <strong>de</strong> nascer (Piontelli, 1995, pág. 36).Percebeu Piontelli (1995) que os primeiros movimentos fetais aparecem <strong>por</strong>volta da décima sexta semana <strong>de</strong> gestação e que <strong>de</strong>monstram um sinal <strong>de</strong> bem-estar <strong>do</strong>feto, enquanto o <strong>de</strong>saparecimento ou diminuição <strong>de</strong>sses movimentos, é um sinal <strong>de</strong>alarme, <strong>de</strong> que algo não está bem com o bebê. A pesquisa<strong>do</strong>ra também verificou que o<strong>meio</strong> ambiente <strong>do</strong> feto é rico em estimulação acústica provinda <strong>do</strong> interior <strong>do</strong> corpo damãe, o que se dá através <strong>do</strong>s movimentos gastrintestinais, cardiovasculares, <strong>do</strong> comer,beber, respirar, da voz da mãe e <strong>do</strong>s ruí<strong>do</strong>s ambientais atenua<strong>do</strong>s. Da mesma forma,estímulos visuais, po<strong>de</strong>m alcançar o feto no ventre materno que, após a vigésimasemana <strong>de</strong> gestação, po<strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r à presença <strong>de</strong> uma forte luz quan<strong>do</strong> aplicada aobaixo ventre da mãe.Concluiu Piontelli (1995) que “há uma ligação sutíl <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong>com<strong>por</strong>tamental e psicológica se esten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>do</strong> feto ao bebê e <strong>do</strong> bebê à criança” (pág.235). Compartilhan<strong>do</strong> <strong>de</strong>ssa idéia, Relier (1998) sugere a possibilida<strong>de</strong> da existência <strong>de</strong>uma ligação entre mãe e bebê e vice-versa, <strong>de</strong>terminante antes mesmo <strong>do</strong> nascimento, eque não é apenas uma união biológica, mas acompanhada <strong>de</strong> afeto, amor, e talvez, <strong>de</strong>angústia. O feto é estimula<strong>do</strong> <strong>por</strong> sensações <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os tipos e é capaz <strong>de</strong> ver, sentir eperceber, ainda que certamente, não da mesma forma que uma criança ou adulto. Sen<strong>do</strong>assim, em se tratan<strong>do</strong> <strong>de</strong> eventos estressantes, Verny & Kelly (1993) dizem que“gran<strong>de</strong>s catástrofes, como a perda da casa ou a morte <strong>de</strong> um ser queri<strong>do</strong>, po<strong>de</strong>mesgotar as reservas emocionais <strong>de</strong> uma mulher grávida a ponto <strong>de</strong> torná-la incapaz <strong>de</strong> secomunicar afetivamente com o filho que carrega” (pág. 71).3.1.1. O TERRENO BIOLÓGICO


É também durante a gestação que tem início a formação da estrutura biológica eda estrutura caracterológica <strong>de</strong> cada pessoa. A estrutura biológica forma-se durante operío<strong>do</strong> embrionário-fetal e <strong>de</strong>la faz parte o patrimônio energético e o terreno biológico.O patrimônio energético é forma<strong>do</strong> pelas energias autógena e trofo-umbilical. Enten<strong>de</strong>se<strong>por</strong> energia autógena a energia gerada pela própria célula e trofo-umbilical a energiaque é transmitida da mãe para a criança através da placenta e <strong>do</strong> cordão umbilical.Dessa forma, po<strong>de</strong>mos encontrar indivíduos com baixa carga energética(hipoorgonóticos), com boa quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia (normoorgonóticos) e indivíduoscom excessiva carga energética (hiperorgonóticos), o que caracteriza o patrimônioenergético <strong>de</strong> cada pessoa. Essa era a visão <strong>de</strong> Reich (1948), ainda que nos anos 40, ecompartilhada até os dias atuais <strong>por</strong> seus segui<strong>do</strong>res (Boa<strong>de</strong>lla, 1992; Navarro (1995,1996).Portanto, Reich (1948) acreditava que:Se a origem da biopatia <strong>de</strong> encolhimento remonta ao <strong>de</strong>senvolvimento<strong>do</strong> embrião, o passo seguinte consistirá em investigar a influência <strong>do</strong>sangue materno sobre o embirão, isto é, o efeito da orgonida<strong>de</strong> <strong>do</strong>organismo materno – sobretu<strong>do</strong> <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> bioenergético <strong>do</strong>s órgãosgenitais – sobre o embrião (Reich, 1948, pág. 360).E também foi partin<strong>do</strong> <strong>de</strong>sses conhecimentos reichianos, que o hidrologistafrancês J. C. Vincent (2001), procurou dar a sua contribuição e <strong>de</strong>senvolver seus estu<strong>do</strong>sem direção aos terrenos biológicos <strong>do</strong> organismo humano, que servem para <strong>de</strong>terminaro equilíbrio bioquímico e biofísico <strong>do</strong> organismo.Segun<strong>do</strong> Vincent (2001), cada organismo humano possui um terreno biológicoespecífico que <strong>de</strong>termina o tipo <strong>de</strong> <strong>do</strong>ença que po<strong>de</strong> manifestar. Afirma o pesquisa<strong>do</strong>rque existem quatro diferentes tipos <strong>de</strong> terrenos a saber: a) alcalino oxida<strong>do</strong>; b) áci<strong>do</strong>oxida<strong>do</strong>; c) alcalino reduzi<strong>do</strong> e d) áci<strong>do</strong> reduzi<strong>do</strong>. Portanto, cada <strong>do</strong>ença possui um tipo


<strong>de</strong> terreno que lhe permite se manifestar. Dessa forma, para que um vírus, fungo oubactéria possa se manifestar é necessário um terreno biológico propício. Caso contrário,nenhuma manifestação <strong>de</strong>ssa categoria irá ocorrer, o que explica atualmente aimunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguns organismos para <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s tipos <strong>de</strong> <strong>do</strong>enças.O terreno biológico <strong>de</strong> uma pessoa possui uma estreita relação funcional com osflui<strong>do</strong>s, teci<strong>do</strong>s e órgãos cor<strong>por</strong>ais, envolven<strong>do</strong>-os num processo <strong>de</strong> armazenamento eequilíbrio celular. Fazen<strong>do</strong> uso <strong>de</strong> um equipamento chama<strong>do</strong> <strong>de</strong> BTA S-2000(Biological Terrain Assessment) e <strong>de</strong> um programa <strong>de</strong> computa<strong>do</strong>r específico para fazera leitura <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s, Vincent (2001) pô<strong>de</strong> analisar a capacida<strong>de</strong> da pessoa manter suahomeostase extracelular e verificar quais trocas morfológicas ocorrem no sangue, naurina e na saliva como resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> um particular terreno biológico. A análise <strong>de</strong>ssesflui<strong>do</strong>s cor<strong>por</strong>ais objetiva obter os parâmetros <strong>de</strong> pH (áci<strong>do</strong> ou alcalino), o esta<strong>do</strong> <strong>de</strong>oxidação ou redução <strong>de</strong> um pH e a resistivida<strong>de</strong> elétrica presente nestes elementos, oque po<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar a predisposição <strong>do</strong> indivíduo a <strong>de</strong>terminadas <strong>do</strong>enças, inclusive aocâncer, conforme seja seu terreno biológico (Vincent, 2001).Compreen<strong>de</strong>r um terreno biológico é como observar um agricultor efetuar umplantio. Não basta apenas semear e esperar o tempo necessário para o crescimento e acolheita. É um processo que envolve um enorme conhecimento da química <strong>do</strong> solo, danatureza da semente, <strong>do</strong> controle <strong>de</strong> nutrientes, <strong>de</strong> fertilizantes e da a<strong>de</strong>quadaquantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água e sol para que a colheita tenha sucesso. Sen<strong>do</strong> assim, quan<strong>do</strong> o soloé rico em nutrientes e minerais, o agricultor terá a certeza <strong>de</strong> que a semente plantada irágerminar e crescer com força e vitalida<strong>de</strong>. Quan<strong>do</strong> necessário, irá adubar o solo e tomarmedidas cabíveis para o combate <strong>de</strong> microorganismos e insetos invasores que possam<strong>de</strong>struir a planta.


Da mesma forma que a plantação, o corpo será forte e saudável quan<strong>do</strong> aquímica <strong>do</strong> organismo <strong>de</strong> uma pessoa estiver em equilíbrio e for mantida com umaalimentação saudável, vitaminas e suplementos minerais, exercícios a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s e<strong>de</strong>scanso. Por outro la<strong>do</strong>, caso o corpo esteja carente <strong>de</strong>sses elementos, carrega<strong>do</strong> <strong>de</strong>química ou exposto a exercícios agressivos ou estresse excessivo, será incapaz <strong>de</strong>manter um forte sistema imunológico e estará mais susceptível a <strong>do</strong>enças. Esses fatores,quan<strong>do</strong> em excesso, alteram a bioquímica <strong>do</strong> organismo humano permitin<strong>do</strong> um<strong>de</strong>créscimo da saú<strong>de</strong> e da vitalida<strong>de</strong> cor<strong>por</strong>al (Greenberg, 2001).Portanto, eventos estressantes como, <strong>por</strong> exemplo, o me<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> senti<strong>do</strong> pelamulher grávida, po<strong>de</strong> alterar o equilíbrio fisiológico da mãe, e conseqüentemente, oequilíbrio fisiológico <strong>do</strong> bebê. Essa alteração também po<strong>de</strong> ser acionada <strong>por</strong> outrasemoções, que se forem intensas e duráveis terão o mesmo efeito (Verny & Kelly, 1993).Holmes & Rahe apud Lipp (1990, pág. 34), entrevistaram 5000 pacientesadultos hospitalares e <strong>de</strong>scobriram que quanto mais estressantes forem as mudanças queocorrem na vida <strong>de</strong> uma pessoa, maior será a probabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> aparecimento <strong>de</strong> <strong>do</strong>ençanos próximos <strong>do</strong>is anos. Os autores classificaram o grau <strong>de</strong> estresse <strong>de</strong> eventos <strong>de</strong> vidaque haviam precedi<strong>do</strong> as enfermida<strong>de</strong>s e chegaram aos seguintes resulta<strong>do</strong>s:Tabela 1: Eventos <strong>de</strong> vida consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s estressores, segun<strong>do</strong> Holmes-RaheEventos estressoresValor médioMorte <strong>do</strong> cônjuge 100Divórcio 73Separação 65Prisão 63Morte <strong>de</strong> parente próximo 63Doença pessoal 53


Casamento 50Perda <strong>de</strong> emprego 47Aposenta<strong>do</strong>ria 45Doença na família 44Gravi<strong>de</strong>z 40Problemas sexuais 39Novo emprego ou mudanças no trabalho 39Alterações financeiras 38Morte <strong>de</strong> um amigo próximo 37Troca <strong>de</strong> profissão 36Discussão com o cônjuge 35Obtenção <strong>de</strong> financiamento 31Hipoteca ou empréstimo 30Promoção ou rebaixamento no trabalho 29Saída <strong>de</strong> um filho <strong>de</strong> casa 29Problemas com parentes <strong>do</strong> cônjuge 29Im<strong>por</strong>tante empreendimento 28O cônjuge começa a trabalhar ou aban<strong>do</strong>na oempregoEntrar ou sair da escola 26Mudanças nas condições <strong>de</strong> vida 24Problemas com chefia 23Mudanças nas condições ou horário <strong>de</strong> trabalho 20Mudança <strong>de</strong> casa 20Mudança <strong>de</strong> escola 20Começar a praticar es<strong>por</strong>te ou ativida<strong>de</strong> recreativa 19Nova ativida<strong>de</strong> social ou religiosa 18Obtenção <strong>de</strong> pequeno financiamento 17Alteração no padrão <strong>de</strong> sono 16Mudança na freqüência <strong>de</strong> reuniões familiares 15Novos hábitos alimentares 15Férias 13Comemoração <strong>do</strong> Natal no estilo tradicional 12Pequeno envolvimento com a lei 11Fonte: LIPP, M. E. N. (1990). Como enfrentar o stress. São Paulo: Ícone, pág. 34.26


Em se tratan<strong>do</strong> <strong>do</strong> bem-estar da mãe, e conseqüentemente <strong>do</strong> bebê, também “asatitu<strong>de</strong>s <strong>do</strong> mari<strong>do</strong> em relação à mulher grávida contribuem imensamente para suaaceitação ou rejeição da gravi<strong>de</strong>z, para a maneira como vai vivenciar uma série <strong>de</strong>outras modificações como, <strong>por</strong> exemplo, as alterações <strong>do</strong> esquema cor<strong>por</strong>al”(Mal<strong>do</strong>na<strong>do</strong>, 1986, pág. 25). Por isso é que o bem-estar da mãe é essencial para que obebê cresça num útero acolhe<strong>do</strong>r e pulsante, visto que um estresse que perturba oambiente da criança em <strong>de</strong>senvolvimento no útero po<strong>de</strong> ter conseqüências nocivas epatológicas (Relier, 1998).Dessa forma, a mãe angustiada e estressada, que leva uma vida agitada e éincapaz <strong>de</strong> controlar seu esta<strong>do</strong> emocional, tem gran<strong>de</strong>s possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> oferecer a seufilho um ambiente no qual po<strong>de</strong>rá apresentar sérias dificulda<strong>de</strong>s para se <strong>de</strong>senvolverharmoniosamente e crescer <strong>de</strong> forma saudável tanto física quanto psicologicamente.Esse tipo <strong>de</strong> mãe, muitas vezes <strong>de</strong>scarrega em seu corpo as catecolaminas, queatravessam a placenta e po<strong>de</strong>m atingir e comprometer a criança, tornan<strong>do</strong>-a muitasvezes agitada no ventre materno (Relier, 1998).Essa também era a opinião <strong>de</strong> Reich (1948), quan<strong>do</strong> dizia que o cuida<strong>do</strong> da mãecom o filho, no que diz respeito ao contato físico e psíquico, <strong>de</strong>ve ocorrer não apenasquan<strong>do</strong> a criança nasce, mas muito antes disso, ou seja, já durante a gestação. ParaReich (1948) quan<strong>do</strong> esse contato não acontece, uma série <strong>de</strong> disfunções energéticaspo<strong>de</strong> ocorrer, o que dá margem a uma posterior <strong>de</strong>sestrutura <strong>de</strong> caráter e energética,sen<strong>do</strong> essa a base para a manifestação <strong>de</strong> uma biopatia <strong>de</strong> encolhimento, econseqüentemente das <strong>do</strong>enças, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as mais simples, até as mais graves. Reich(1948), então, procura explicar a contração <strong>do</strong> organismo humano a partir <strong>do</strong> me<strong>do</strong>, umme<strong>do</strong> cor<strong>por</strong>al, senti<strong>do</strong> pelo corpo to<strong>do</strong>, contrain<strong>do</strong>-se como <strong>de</strong>fesa.


Portanto, uma gravi<strong>de</strong>z in<strong>de</strong>sejada, momentos <strong>de</strong> um estresse agu<strong>do</strong> ou qualqueroutra situação <strong>de</strong> perturbação emocional que <strong>de</strong>scarregue substâncias neuro-hormonaisno organismo da mãe, po<strong>de</strong>rá atingir o bebê em formação e causar nele uma sensação <strong>de</strong>pânico, angústia profunda, ou até mesmo um me<strong>do</strong> <strong>de</strong> aniquilamento, um me<strong>do</strong> <strong>de</strong>morte. Esse me<strong>do</strong> po<strong>de</strong> ser capaz <strong>de</strong> gerar um estresse senti<strong>do</strong> pela célula e fazer comque ocorra um registro <strong>de</strong>ssa sensação em sua memória e altere <strong>de</strong> imediato ouposteriormente seu DNA, o que talvez seja a base <strong>de</strong> todas as patologias futuras(Navarro, 1995).Slee, Murray-Harvey & Ward (1996), conduziram uma pesquisa que apontoucomo eventos estressantes para o adulto, as seguintes categorias, classificadas <strong>por</strong> grau<strong>de</strong> comprometimento, in<strong>do</strong> <strong>do</strong> mais para o menos compromete<strong>do</strong>r:Tabela 2: Eventos estressantes para o adulto, segun<strong>do</strong> Slee, Murray-Harvey &WardEventos estressantes para o adultoDivórcioConflitos conjugaisSeqüestro <strong>de</strong> um membro da famíliaHospitalização <strong>de</strong> um membro da famíliaDoença séria na famíliaProblemas disciplinares <strong>do</strong>s filhosProblemas financeirosSeparação <strong>de</strong> um membro da famíliaAssalto em casa ou <strong>de</strong>sempregoAusência <strong>do</strong>(a) companheiro(a)Mudança <strong>de</strong> empregoGrau <strong>de</strong>comprometimento1 o lugar2 o lugar3 o lugar4 o lugar5 o lugar6 o lugar7 o lugar8 o lugar9 o lugar10 o lugar11 o lugarOutra pesquisa conduzida pela Working Women Education Fund (1981),apontou como fontes <strong>de</strong> estresse ocupacional em mulheres as seguintes categorias:


Tabela 3: Estresse ocupacional em mulheres, segun<strong>do</strong> a Working Women EducationFundEstresse ocupacional em mulheresFalta <strong>de</strong> promoções ou aumento salarialBaixo salárioTrabalho repetitivo e monótonoNão-participação na tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisõesCarga <strong>de</strong> trabalho pesada ou horas extras excessivasProblemas com a chefiaDescrições <strong>de</strong> cargos in<strong>de</strong>finidasChefia inflexível ou inacessívelIncapacida<strong>de</strong> ou relutância em expressar frustração ou raivaExigência <strong>de</strong> cumprimento <strong>de</strong> quotas <strong>de</strong> produçãoDificulda<strong>de</strong> para conciliar família e trabalhoFolgas ina<strong>de</strong>quadasAssédio sexualEssas são situações que, <strong>de</strong> forma direta ou indireta, mesmo que aparentementepareçam não ter estressa<strong>do</strong> a mãe, po<strong>de</strong>m estressar o bebê (Papalia & Olds, 2000).Segun<strong>do</strong> Klaus & Klaus (2001) uma pesquisa feita com mulheres grávidasrevelou que o feto <strong>de</strong> uma mãe tranquila é tranqüilo também. No entanto, dizem osautores que:Em contraste, os fetos <strong>de</strong> mulheres com estresse crônico têmbatimentos cardíacos rápi<strong>do</strong>s e são muito ativos. As mulheres expostasa níveis muito eleva<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> correm um risco maior <strong>de</strong> partosprematuros, além <strong>do</strong>s efeitos <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> sobre o feto (...) Através <strong>de</strong> umprocesso complica<strong>do</strong>, o feto po<strong>de</strong> ser afeta<strong>do</strong> <strong>por</strong> mudançasbioquímicas causadas pelas experiências emocionais da mãe (pág.18).


3.2. ESTRESSE DURANTE OS PRIMEIROS ANOS DE VID AAlgumas experiências <strong>do</strong> parto também po<strong>de</strong>m ser muito estressantes para obebê e terem conseqüências futuras. Dessa forma, diz um <strong>do</strong>s segui<strong>do</strong>res <strong>de</strong> Reich: “onascimento é um drama que po<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar algumas das mais profundascaracterísticas da nossa personalida<strong>de</strong>. Se o parto irá ou não se tornar um trauma, vai<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r muito das condições <strong>do</strong> momento e da atitu<strong>de</strong> <strong>do</strong>s participantes” (Boa<strong>de</strong>lla,1992, pág. 43).Caso as condições <strong>do</strong> parto sejam boas, isto é, sem violência, a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>se ter uma criança sem estresse e com menos conflitos físicos e/ou emocionais futurosserá bem maior. Por outro la<strong>do</strong>, se as condições <strong>do</strong> parto e cuida<strong>do</strong>s com o bebê nasprimeiras horas <strong>de</strong> vida forem sufocantes, traumatizantes, estressantes <strong>de</strong> alguma forma,po<strong>de</strong>remos nos <strong>de</strong>parar com uma contração <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o organismo <strong>do</strong> bebê, como respostaao estresse e à ansieda<strong>de</strong>, e com isso, talvez, com o aparecimento <strong>de</strong> futuroscomprometimentos tanto físicos quanto emocionais (Reich, 1950; Navarro, 1991;Boa<strong>de</strong>lla, 1992).Nos primeiros anos <strong>de</strong> vida, a criança é incapaz <strong>de</strong> se alimentar sozinha, <strong>de</strong> se<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r <strong>do</strong>s perigos e <strong>de</strong> perceber claramente o mun<strong>do</strong> exterior à sua volta. Se não forcuidada e amparada, po<strong>de</strong>rá morrer. Por outro la<strong>do</strong>, possui uma capacida<strong>de</strong>surpreen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> se ajustar aos mais diferentes contextos sociais e culturais, e suaspossibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem se <strong>de</strong>senvolvem continuamente. Entretanto, para que acriança possa se <strong>de</strong>senvolver e apren<strong>de</strong>r tu<strong>do</strong> o que sua potencialida<strong>de</strong> lhe permite, énecessário um <strong>meio</strong> ambiente favorável que a estimule a<strong>de</strong>quadamente. Segun<strong>do</strong> Reich(1948) “o recém-nasci<strong>do</strong> é um ser cheio <strong>de</strong> vida e necessita vida ao seu re<strong>do</strong>r” (pág.356). Portanto, a maioria <strong>do</strong>s seus com<strong>por</strong>tamentos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> essencialmente <strong>de</strong>


aprendizagem, mas tu<strong>do</strong> o que é excessivo, po<strong>de</strong> ser estressante para a criança(McCloskey & Waalker, 2000).O estresse infantil assemelha-se muito ao estresse <strong>do</strong> adulto, e quan<strong>do</strong> emexcesso, po<strong>de</strong> gerar sérias consequências. Da mesma forma que eventos irritantes eamedronta<strong>do</strong>res, situações excitantes e felizes também exigem adaptação <strong>por</strong> parte dacriança e provoca mudanças psicológicas, físicas e químicas em seu organismo (Lipp &Romano, 1987).As crianças estão cada vez mais sen<strong>do</strong> solicitadas a satisfazerem as necessida<strong>de</strong>spessoais <strong>do</strong>s adultos, principalmente as necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s pais. São constantementeexpostas a problemas típicos <strong>de</strong> pessoas adultas e na maioria das vezes, vivem sobconstante pressão psicológica. Apesar <strong>de</strong> situações estressantes fazerem parte dainfância, a maioria das crianças apren<strong>de</strong> a enfrentá-las. Porém, se algumas <strong>de</strong>ssassituações estressantes não forem bem administradas, po<strong>de</strong>rão gerar na criança sensívelsérios problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> física e/ou emocional (Arneil, 1999; Papalia & Olds, 2000).Algumas situações que, normalmente não seriam estressantes para o adulto,como, <strong>por</strong> exemplo, ser atacada <strong>por</strong> um cachorro, po<strong>de</strong>m ser fonte <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> estressepara as crianças. Isso po<strong>de</strong> vir a gerar traumas significativos e, inclusive, pro<strong>por</strong>cionar amanifestação <strong>de</strong> <strong>do</strong>enças (Rossman; Bingham & Em<strong>de</strong>, 1997). É pensan<strong>do</strong> nessapossibilida<strong>de</strong> traumática, que Navarro (1991), diz que a criança não <strong>de</strong>ve ser separadada mãe, principalmente nos primeiros <strong>de</strong>z dias <strong>de</strong> vida. Da mesma forma, durante oprimeiro ano <strong>de</strong> vida toda e qualquer separação <strong>de</strong>ve ser gradativa para que a criançanão se sinta aban<strong>do</strong>nada e conseqüentemente estressada.De acor<strong>do</strong> com Bassuk & Rubin (1987), a mudança <strong>de</strong> residência ou <strong>de</strong> escolapo<strong>de</strong> ser um evento muito estressante para a criança. Afirmam os autores que essas


mudanças muitas vezes po<strong>de</strong>m ser difíceis para a criança <strong>por</strong>que ela tem a sensação queesta per<strong>de</strong>n<strong>do</strong> os amigos e/ou algum tipo <strong>de</strong> controle sobre suas vidas.Slee, Murray-Harvey & Ward (1996) pesquisaram 111 famílias cujos filhostinham ida<strong>de</strong> média <strong>de</strong> 5 anos e estavam na pré-escola. A pesquisa revelou que sãoeventos estressantes para a criança as seguintes categorias:Tabela 4: Eventos estressantes para as crianças, segun<strong>do</strong> Slee, Murray-Harvey & WardEventos estressantes para as criançasHospitalização <strong>do</strong>s paisSeparação <strong>do</strong>s paisExigências disciplinaresHospitalização da criançaSeqüestro <strong>de</strong> membro da famíliaMudança <strong>de</strong> residênciaAusência <strong>do</strong>s pais – sentimento <strong>de</strong> aban<strong>do</strong>noMorte <strong>de</strong> membro da famíliaPresenciar dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> relacionamento <strong>do</strong>s paisNascimento <strong>de</strong> um novo irmãoMudança <strong>de</strong> emprego <strong>do</strong>s paisO excesso <strong>de</strong> trabalho da mãe, e as conseqüências que isso causa nela, também éaponta<strong>do</strong> como um <strong>do</strong>s fatores estressantes para a criança. A mãe que trabalha muito emcasa ou fora <strong>de</strong> casa e que não consegue administrar <strong>de</strong> forma tranqüila sua vida agitada,se estressa facilmente, torna-se uma pessoa irritada e agressiva e até mesmo se esquece<strong>de</strong> dar atenção ou perceber quais estão sen<strong>do</strong> as necessida<strong>de</strong>s da criança naquelemomento <strong>de</strong> vida. São mães que emocionalmente aban<strong>do</strong>nam seus filhos, isolan<strong>do</strong>-senum mun<strong>do</strong> difícil <strong>de</strong> ser penetra<strong>do</strong> pela criança. A criança se sente rejeitada e como seestivesse invadin<strong>do</strong> um espaço <strong>do</strong> qual não está incluída (Galambos, et al 1995).Segun<strong>do</strong> Papalia & Olds (2000), tanto o nascimento <strong>de</strong> um novo irmão, quanto a


dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> relacionamento entre irmãos, também são situações estressantes para acriança.Enfim, para que um estímulo possa provocar estresse é necessário que oorganismo seja sensível a esse estímulo (Gyton, 1986). Entretanto, não po<strong>de</strong>mosesquecer <strong>de</strong> que é a personalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada pessoa quem atribui valores e significa<strong>do</strong>saos acontecimentos, toman<strong>do</strong>-os ou não <strong>por</strong> estressantes, temerosos, angustiantes eassim <strong>por</strong> diante (Reich, 1933; Navarro, 1995).Já no segun<strong>do</strong> século <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Cristo, Galeno havia observa<strong>do</strong> asusceptibilida<strong>de</strong> que algumas mulheres apresentavam para <strong>de</strong>senvolver um câncer,toman<strong>do</strong> <strong>por</strong> base o temperamento particular <strong>de</strong> cada uma (Moreira & Mello Filho,1992). Para Reich (1933), é a estrutura <strong>de</strong> caráter individual, somada à couraçacaracterológica e muscular que faz com que uma pessoa tenha ações e reaçõesdiferenciadas. Dessa forma po<strong>de</strong>mos dizer que em alguns casos o estresse po<strong>de</strong>constituir o fator patogênico mais im<strong>por</strong>tante da <strong>do</strong>ença, mas em outros, representaapenas uma pequena ou nenhuma significância.3.3. ESTRESSE, IMUNOLOGIA E CÂNCERDe acor<strong>do</strong> com Reich (1948), toda e qualquer experiência <strong>de</strong> prazer pro<strong>por</strong>cionaum relaxamento no organismo como um to<strong>do</strong>, ao passo que toda e qualquer experiência<strong>de</strong> <strong>de</strong>sprazer ou angústia, provoca, <strong>por</strong> sua vez, uma contração, um encolhimento. E é apartir <strong>de</strong>ssa tese que Reich (1942; 1948) hipotetiza que, uma vez que o organismo secontrai, diversas disfunções po<strong>de</strong>m ocorrer, in<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> uma simples angina pectoris atéà formação <strong>de</strong> um câncer.


Utilizan<strong>do</strong>-se <strong>do</strong> termo “biopatia <strong>de</strong> encolhimento” para referir-se a todas asenfermida<strong>de</strong>s causadas <strong>por</strong> uma disfunção básica no sistema neurovegetativo, Reich(1948) diz que na presença <strong>de</strong> um encolhimento biopático <strong>do</strong> organismo, não se sabe aocerto quais fatores <strong>de</strong>terminam a direção na qual uma biopatia irá se <strong>de</strong>senvolver; seesta será <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m psíquica ou somática. Porém, afirma que existe um <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong>rcomum para todas essas enfermida<strong>de</strong>s: um distúrbio na função natural da pulsação total<strong>do</strong> organismo.Para Reich (1948), o tumor <strong>do</strong> câncer é apenas um sintoma visível daenfermida<strong>de</strong>, mas não constitui a <strong>do</strong>ença em si. É uma das manifestações <strong>de</strong> uma graveperturbação <strong>do</strong> equilíbrio energético <strong>do</strong> organismo, resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma rebelião <strong>do</strong>snúcleos celulares contra os processos <strong>de</strong> asfixia e encolhimento <strong>do</strong> plasma que irá darlugar ao “selvagem” crescimento das células cancerígenas. Portanto, uma pobre cargaenergética <strong>do</strong> organismo, somada a uma contração <strong>do</strong>s órgãos e da musculatura, e a umarespiração celular insuficiente, enfraquece o sistema biológico e imunitário <strong>do</strong>organismo tornan<strong>do</strong>-o vulnerável à produção e/ou manifestação <strong>do</strong> câncer. Pelo quepo<strong>de</strong>mos perceber, a tese <strong>de</strong> Reich (1948) já era a <strong>de</strong> vários fatores operan<strong>do</strong> emconjunto para que pu<strong>de</strong>sse ocorrer a manifestação da <strong>do</strong>ença.Atualmente, os estu<strong>do</strong>s sobre câncer, não buscam <strong>por</strong> uma única etiologia ouagente promotor da <strong>do</strong>ença, mas sim, pelo interjogo <strong>de</strong> vários fatores como ospsicológicos, os sociais, os genéticos, e principalmente, os imunológicos. Portanto, nãopo<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> mencionar o sistema imunológico visto sua participação no processo<strong>de</strong> promoção e/ou manifestação <strong>do</strong> câncer estar se tornan<strong>do</strong> inquestionável a cada dia.Apesar <strong>de</strong> <strong>relato</strong>s <strong>de</strong> inúmeras pesquisas que associam câncer e <strong>de</strong>pressão,câncer e luto, câncer e estresse, câncer e outros eventos emocionais, tais associaçõesainda tem si<strong>do</strong> <strong>de</strong>sprezadas <strong>por</strong> muitos mo<strong>de</strong>los investigativos-etiológicos clássicos.


Não faz muito tempo que os cientistas <strong>de</strong>scobriram que as células <strong>do</strong> sistema imune,além da função <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong> organismo, também são <strong>do</strong>tadas <strong>de</strong> uma memória. Comisso, nos últimos anos, uma série <strong>de</strong> pesquisas vem sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvida a respeito <strong>de</strong>como as células, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as mais primitivas até as mais evoluídas, são capazes <strong>de</strong> elaborarrespostas complexas <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa, quan<strong>do</strong> <strong>de</strong>safiadas <strong>por</strong> diversos tipos <strong>de</strong> estresse (Meyer& Silva, 1999).Linn et al (1984) estudan<strong>do</strong> a resposta imune <strong>do</strong> organismo, pu<strong>de</strong>ram relacionaras <strong>do</strong>enças bacterianas, alérgicas, auto-imunes, câncer e disfunções <strong>do</strong> sistema imuneinduzidas pelo estresse e mediadas pelo sistema endócrino, trabalho esse quepossibilitou o uso da expressão Psicoimunologia ou Psiconeuroimunologia, <strong>de</strong>signan<strong>do</strong>um novo campo <strong>de</strong> conhecimento. Des<strong>de</strong> então, novas revisões sobre o tema têm si<strong>do</strong>feitas com gran<strong>de</strong> empenho.Quan<strong>do</strong> se fala em distúrbios no funcionamento <strong>do</strong> sistema imune, a associaçãocomumente feita diz respeito às dificulda<strong>de</strong>s <strong>do</strong> organismo em lidar com infecções. Achamada “teoria da re<strong>de</strong>”, formulada <strong>por</strong> Jerne (1974), que lhe consagrou o prêmioNobel, pro<strong>por</strong>cionou a compreensão <strong>do</strong> sistema imune como sen<strong>do</strong> um media<strong>do</strong>r entreas relações internas <strong>do</strong> indivíduo e seu <strong>meio</strong> externo, como um sistema auto-regulável eoperan<strong>do</strong> numa íntima associação com os sistemas nervoso e endócrino.O sistema imune é conheci<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> seus órgãos e células. Oslinfócitos são as células mais im<strong>por</strong>tantes, pois têm a função <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong> organismo.São classifica<strong>do</strong>s em <strong>do</strong>is tipos: T ou timo<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, cuja maturação ocorre naglândula timo, localizada no externo, e os linfócitos B, cuja inicial provém da palavrainglesa bone marrow (medula óssea), local on<strong>de</strong> são caracteriza<strong>do</strong>s funcionalmente.Nos órgãos linfói<strong>de</strong>s periféricos, representa<strong>do</strong>s pelo baço, gânglios linfáticos e <strong>por</strong>


estruturas linfói<strong>de</strong>s espalhadas pelo organismo, encontramos a produção <strong>de</strong> anticorpos(imunoglobulinas), que interagem com antígenos no sangue.Seja o estresse físico, psicológico ou social, este é visto como um “conjunto <strong>de</strong>reações e estímulos que causam distúrbios no equilíbrio <strong>do</strong> organismo, freqüentementecom efeitos danosos” (Moreira & Mello Filho, 1992, pág. 121). Após a fase <strong>de</strong>esgotamento, <strong>de</strong>finida <strong>por</strong> Selye, surgem as <strong>do</strong>enças, também chamadas <strong>do</strong>enças <strong>de</strong>adaptação, como ulcera péptica, hipertensão arterial, artrites e lesões miocárdicas. ParaMoreira & Mello Filho (1992), a resposta ao estresse se dá através da ação integrada <strong>do</strong>sistema nervoso, hormonal e imune e, “quan<strong>do</strong> a reação <strong>de</strong> adaptação ao estresse não éa<strong>de</strong>quada ou suficiente, aparece a <strong>do</strong>ença, mediada <strong>por</strong> alterações no funcionamentodaqueles sistemas” (pág. 122).Imunida<strong>de</strong> é a capacida<strong>de</strong> que o corpo humano possui <strong>de</strong> se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r e resistir aquase to<strong>do</strong>s os tipos <strong>de</strong> agentes patogênicos que ten<strong>de</strong>m a lesar teci<strong>do</strong>s e órgãos. Essa<strong>de</strong>fesa <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma ação coor<strong>de</strong>nada entre substâncias e células, que em conjuntocompõe o chama<strong>do</strong> sistema imunológico. Este, <strong>por</strong> sua vez, é capaz <strong>de</strong> reconhecerestruturas aberrantes que possam surgir no <strong>de</strong>correr da vida, como <strong>por</strong> exemplo, ascélulas neoplásicas (Gyton, 1986). Portanto, quan<strong>do</strong> o organismo não possui um bomfuncionamento <strong>do</strong> sistema imunológico, po<strong>de</strong>rá sucumbir a diversas <strong>do</strong>enças, quepo<strong>de</strong>m ir <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as mais simples, até as mais complicadas, como, <strong>por</strong> exemplo, aformação <strong>de</strong> um câncer (Navarro, 1991).Segun<strong>do</strong> Furian & Pohlmann (1998), durante o processo da divisão celular, amolécula <strong>de</strong> DNA que se encontra presente no núcleo da célula, se <strong>de</strong>smembra em <strong>do</strong>isfilamentos que irão agir como um mol<strong>de</strong> para que novas cópias <strong>do</strong> filamento sejamconstruídas. Apesar <strong>de</strong>ssa replicação ser altamente precisa, eventualmente, umnucleotí<strong>de</strong>o incorreto po<strong>de</strong> ser inseri<strong>do</strong> em um <strong>do</strong>s novos filamentos. No entanto, o


próprio núcleo da célula possui um mecanismo <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa contra erros genéticos, através<strong>de</strong> sistemas enzimáticos repara<strong>do</strong>res <strong>do</strong> DNA. Caso não seja possível reparar o DNAdanifica<strong>do</strong>, através da ativação <strong>de</strong> seu mecanismo <strong>de</strong> morte celular programada,chamada <strong>de</strong> apoptose, a célula se auto<strong>de</strong>stroi. Quan<strong>do</strong> a célula transformada escapa <strong>do</strong>controle <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> intracelular e da apoptose, na maioria das vezes gera um pequenotumor evolutivo que imediatamente é reconheci<strong>do</strong> como estranho ao organismo e<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia uma resposta imunológica especifica.O sistema imunológico, além <strong>de</strong> possuir a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>struir germes nocivosao organismo humano, também é capaz <strong>de</strong> reconhecer estruturas estranhas aberrantesque possam surgir no <strong>de</strong>correr da vida. No caso específico <strong>de</strong> tumores, os linfócitos T,que são responsáveis pela vigilância, reconhecem as células neoplásicas eimediatamente tentam eliminá-las, ao mesmo tempo em que geram linfócitos T <strong>de</strong>memória, capazes <strong>de</strong> reconhecer o mesmo antígeno <strong>por</strong> ocasião <strong>de</strong> um novo encontro.Acredita-se que a maioria <strong>do</strong>s tumores são <strong>de</strong>struí<strong>do</strong>s pelo sistema imunológicona fase inicial <strong>de</strong> forma que não se sabe qual seria a real incidência <strong>do</strong> câncer se nãoexistisse o sistema imune. "Entretanto, segun<strong>do</strong> essa teoria, os tumores <strong>de</strong>veriam sermuito mais freqüentes em indivíduos imunossuprimi<strong>do</strong>s, fato que é observa<strong>do</strong> apenasparcialmente” (Furian & Pohlmann, 1998, pág. 485).De acor<strong>do</strong> com Navarro (1991), no câncer há um colapso da imunida<strong>de</strong> eresistência <strong>do</strong> organismo. O fato <strong>do</strong>s tumores crescerem ou não, está relaciona<strong>do</strong> com aeficiência <strong>do</strong>s processos <strong>de</strong> imunida<strong>de</strong>. Assim, se o sistema imunológico estiver"<strong>de</strong>sequilibra<strong>do</strong>", a probabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da <strong>do</strong>ença aumentará. Como osistema imunológico é também controla<strong>do</strong> pelo sistema límbico, po<strong>de</strong>mos acreditar queo paciente com câncer apresenta to<strong>do</strong> um conjunto <strong>de</strong> elementos sócio-psicossomáticos.Já dizia Reich (1942): “... uma experiência psíquica po<strong>de</strong> provocar uma resposta


somática que produz uma mudança permanente em um órgão”, (pág. 63) um fenômenoque mais tar<strong>de</strong>, ele chamou <strong>de</strong> ancoragem somática <strong>de</strong> uma experiência psíquica, ouseja, couraça muscular.Pesquisa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Johns Hopkins Hospital (2000) <strong>de</strong>monstraram que o estressecausa<strong>do</strong> <strong>por</strong> cirurgia suprime o sistema imunológico, resultan<strong>do</strong> num aumentosignificativo <strong>do</strong> tumor <strong>do</strong> câncer e até mesmo propician<strong>do</strong> a manifestação <strong>de</strong> outrostumores. Outros experimentos <strong>de</strong>monstraram que algumas linhagens <strong>de</strong> camun<strong>do</strong>ngos,geneticamente homogêneas, eram particularmente suscetíveis à indução <strong>do</strong> câncer <strong>por</strong><strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s vírus ou substâncias químicas, ao passo que algumas espécies eram maissuscetíveis a <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s agentes químicos, e outras, a nenhum <strong>de</strong>sses agentescarcinógenos. Dessa forma, o risco <strong>de</strong> uma pessoa <strong>de</strong>senvolver câncer <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>do</strong>balanço entre vários fatores como, <strong>por</strong> exemplo, a resistência genética herdada, ouentão, a capacida<strong>de</strong> imunológica <strong>do</strong> organismo (Franks,1990).Segun<strong>do</strong> Barros (1999),O stress nunca é uma condição necessária ou suficiente para qualquer<strong>do</strong>ença específica, ou para a <strong>do</strong>ença em geral. Consi<strong>de</strong>ra-se queexistem provavelmente diferenças individuais muito im<strong>por</strong>tantes nareactivida<strong>de</strong> psicobiológica ao stress, tais como as respostascardiovasculares ou <strong>do</strong> sistema imunitário, ou o estilocom<strong>por</strong>tamental, que explicam a influência diferenciada <strong>do</strong> stress nosvários sujeitos (pág. 55).E<strong>de</strong>lman (2000), conduziu uma pesquisa com estudantes, e verificou que elesapresentavam uma diminuição da resistência imunológica em época <strong>de</strong> provas.Entretanto, percebeu também que alguns <strong>de</strong>sses estudantes, mesmo sob estresse, nãoapresentavam alteração alguma em seu sistema imunológico. Mesmo assim, afirmou oautor que níveis eleva<strong>do</strong>s <strong>de</strong> estresse emocional em pessoas sensíveis, po<strong>de</strong> suprimir osistema imunológico o<strong>por</strong>tunizan<strong>do</strong> o aparecimento <strong>de</strong> <strong>do</strong>enças, inclusive o câncer.


Para Dethlefsen & Dahlke (2000), o indivíduo goza <strong>de</strong> plena saú<strong>de</strong> quan<strong>do</strong> ofuncionamento psíquico e somático encontra-se em harmonia. Ao contrário, quan<strong>do</strong>ocorre uma perda significativa <strong>de</strong>ssa harmonia, o organismo entra num esta<strong>do</strong> <strong>de</strong><strong>de</strong>sequilíbrio, manifesta<strong>do</strong> no corpo através <strong>do</strong>s sintomas. Segun<strong>do</strong> Cabral et al (1997),o estresse emocional realimenta o <strong>de</strong>sequilíbrio emocional, que po<strong>de</strong> vir a aumentar aprodução <strong>de</strong> células anormais no momento em que o corpo encontra-se menoscapacita<strong>do</strong> a <strong>de</strong>struí-las.To<strong>do</strong> o tipo <strong>de</strong> estresse psicológico dispara um conjunto <strong>de</strong> reações fisiológicasque suprimem as <strong>de</strong>fesas imunitárias <strong>do</strong> organismo, tornan<strong>do</strong>-o vulnerável e suscetível àprodução <strong>de</strong> células anormais que contribuem para a manifestação <strong>do</strong> câncer. Com isso,uma série <strong>de</strong> pesquisas vem sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvida nos últimos anos, a respeito <strong>de</strong> como ascélulas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as mais primitivas até as mais evoluídas, são capazes <strong>de</strong> elaborarrespostas complexas <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa, quan<strong>do</strong> <strong>de</strong>safiadas <strong>por</strong> diversos tipos <strong>de</strong> estresse(Simonton & Creighton, 1987; Forsen, 1990; Baltrusch, Stangel & Titze, 1991; Guo,1992; Cooper & Faragher, 1993).Apesar <strong>do</strong>s inúmeros tipos <strong>de</strong> tratamentos ofereci<strong>do</strong>s nos últimos tempos para ocâncer, os fatores que dão origem a essa <strong>do</strong>ença, ainda continua sen<strong>do</strong> objeto <strong>de</strong>pesquisas. Inúmeros estu<strong>do</strong>s estão atualmente revelan<strong>do</strong> a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> umcomprometimento primário (in útero) e <strong>de</strong> um comprometimento secundário (pós-natal)para que ocorra a manifestação <strong>do</strong> câncer (Franks & Teich, 1990; Navarro, 1991;Graves, 1998). É o que <strong>de</strong>monstrou uma pesquisa conduzida <strong>por</strong> Graves (1998), querevelou que em alguns casos as alterações genéticas já se fazem presentes mesmo antes<strong>do</strong> nascimento da criança. No entanto, é necessário um evento secundário traumáticopós-natal para completar o dano genético e ocorrer a manifestação <strong>do</strong> câncer tanto emcrianças quanto em pessoas mais velhas, cujas células já estavam “afetadas” <strong>por</strong> lesõesgenéticas ocorridas no útero.


De acor<strong>do</strong> com Navarro (1991):fala-se <strong>de</strong> terreno hereditário predisposto a fatores ambientais <strong>de</strong>natureza química, viral, alimentar, hormonal, parasitária, física <strong>do</strong> tipoirritativo mecânico ou radiante, da senilida<strong>de</strong> <strong>por</strong> causa da altaincidência com o avanço da ida<strong>de</strong>. Estes fatores liberariam o po<strong>de</strong>rcancerígeno que algumas células possuem em esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> latência (pág.34).Com base nas teorias psicanalíticas, Chiozza (1987) apresenta sua visão,supon<strong>do</strong> a existência <strong>de</strong> algumas condições necessárias para a<strong>do</strong>ecer <strong>de</strong> câncer. Apesar<strong>de</strong> serem hipóteses <strong>de</strong> difícil comprovação, a primeira <strong>de</strong>las consiste em uma fixação aum perío<strong>do</strong> pré-natal da evolução libidinosa, que correspon<strong>de</strong> ao <strong>de</strong>senvolvimentoembrionário. Diz o autor que to<strong>do</strong>s os seres humanos experimentam fixações quepermanecem como <strong>de</strong>sejos inconscientes, insatisfeitos e reprimi<strong>do</strong>s, e que configuramdisposições latentes. Como segunda condição, Chiozza cita o fracasso libidinal que nãofoi alcança<strong>do</strong> pela pessoa durante as últimas fases da evolução da libi<strong>do</strong>. A terceiracondição consiste na impossibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> indivíduo <strong>de</strong>scarregar a excitação gerada nafixação embrionária.Alguns autores sugerem a existência <strong>de</strong> uma relação entre a vulnerabilida<strong>de</strong>hereditária e os fatores pessoais, familiares, sociais, econômicos e profissionais, queoriginam o estresse e seu conseqüente <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amento <strong>de</strong> <strong>do</strong>enças, que vai <strong>de</strong> umasimples azia à queda imunológica, que po<strong>de</strong> predis<strong>por</strong> infecções e até mesmo neoplasias(Linn, 1984; Furian & Pohlmann, 1998; Leiphart, 1998; Bernik, 2000).Greene Jr & Miller (1958) estudaram diversos casos <strong>de</strong> linfomas e leucemia epu<strong>de</strong>ram observar que a <strong>do</strong>ença surgia após situações traumáticas como a perda ouseparação <strong>de</strong> uma pessoa próxima, o que provocava na criança sentimentos <strong>de</strong> tristeza,<strong>de</strong>sesperança e <strong>de</strong>sespero, esgotan<strong>do</strong> seus recursos psicológicos para lidar com asituação. LeShan (1966) também encontrou em seus pacientes entrevista<strong>do</strong>s ou


acompanha<strong>do</strong>s psicoterapeuticamente, uma perda <strong>de</strong> relação significativa, dificulda<strong>de</strong>para expressarem seus sentimentos mais hostis, sentimentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>samparo,<strong>de</strong>sesperança, tristeza e solidão, que se manifestaram antes <strong>do</strong> aparecimento da <strong>do</strong>ença.Simonton & Creighton (1987), partem da premissa <strong>de</strong> que o câncer é uma<strong>do</strong>ença que diz respeito à pessoa como um to<strong>do</strong>, incluin<strong>do</strong> o corpo e a mente, e nãosimplesmente um fato isola<strong>do</strong>, idéia que ainda persiste em alguns <strong>meio</strong>s científicos.Afirmam os autores:Acreditamos que os esta<strong>do</strong>s emocional e mental têm uma funçãoim<strong>por</strong>tante tanto no que diz respeito à susceptibilida<strong>de</strong> à <strong>do</strong>ença,incluin<strong>do</strong> o câncer, como na recuperação <strong>de</strong> qualquer <strong>do</strong>ença.Acreditamos também que o câncer surge como uma indicação <strong>de</strong>problemas existentes em outras áreas da vida da pessoa, agrava<strong>do</strong>s oucompostos <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> estresses que surgem <strong>de</strong> 6 a 18 meses antes<strong>do</strong> aparecimento <strong>do</strong> câncer. O paciente canceroso, <strong>de</strong> maneira típica,reagiu a esses problemas e estresses com um sentimento <strong>de</strong> profundafalta <strong>de</strong> esperança e <strong>de</strong> <strong>de</strong>sistência (Simonton & Creighton, 1987,pág. 21).Complementan<strong>do</strong> essa afirmação, Simonton & Creighton (1987) ainda são daopinião que o esta<strong>do</strong> emocional “dispara um conjunto <strong>de</strong> reações fisiológicas quesuprimem as <strong>de</strong>fesas naturais <strong>do</strong> corpo, tornan<strong>do</strong>-o suscetível à produção <strong>de</strong> célulasanormais” (pág. 21).Segun<strong>do</strong> Gyton (1986), “acredita-se que to<strong>do</strong>s nós produzimos célulaspotencialmente cancerosas <strong>de</strong> maneira contínua, mas nossos sistemas imunes atuamcomo um gari, que arranca estas células anormais como se fossem grama antes que elaspossam se estabelecer” (pág. 33).Navarro (1991) sugere que tumores benignos po<strong>de</strong>m estar presentes noorganismo antes mesmo <strong>do</strong> nascimento. Do ponto <strong>de</strong> vista energético, significa quedurante a vida intra-uterina a pessoa apresentou uma boa reação ao estresse emocional.


Mas esses tumores po<strong>de</strong>m também se transformar em tumores malignos <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> acondições <strong>de</strong> imuno<strong>de</strong>pressão causadas <strong>por</strong> estresse existencial profun<strong>do</strong> e/ouprolonga<strong>do</strong>. Sen<strong>do</strong> assim, um tumor se <strong>de</strong>senvolve quan<strong>do</strong> há um rompimento noequilíbrio entre os mecanismos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong> organismo e as forças que provocam aanarquia celular.Embora estu<strong>do</strong>s indiquem que o câncer possa estar associa<strong>do</strong> a processos<strong>de</strong>pressivos e eventos estressantes, o National Cancer Institute (2001) diz que asevidências ainda são insuficientes para que se possa afirmar a relação direta entre asmudanças <strong>do</strong> sistema imune e o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> câncer.Em se tratan<strong>do</strong> <strong>do</strong> estresse infantil, pesquisas revelam que duas crianças <strong>do</strong>mesmo sexo e ida<strong>de</strong>, quan<strong>do</strong> expostas à mesma situação estressante não sucumbem <strong>por</strong>igual. Enquanto uma po<strong>de</strong> ficar extremamente <strong>do</strong>ente, a outra permanece física eemocionalmente saudável. São as chamadas crianças resilientes, “que não são afetadas<strong>por</strong> circunstâncias que, na maioria das crianças, teriam um impacto altamente negativoem seu <strong>de</strong>senvolvimento” (Papalia & Olds, 2000, pág. 583). Portanto, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>do</strong>sfatores que causam ou pro<strong>por</strong>cionam a manifestação <strong>do</strong> câncer serem físicos, químicos,genéticos ou emocionais, cientistas ainda buscam respostas para questões como: Por queuma pessoa que fuma durante muitos anos não <strong>de</strong>senvolve câncer? Por que pessoas quepassam <strong>por</strong> situações estressantes e traumáticas na vida não manifestam essa <strong>do</strong>ença?E para finalizar, concordamos com Reich (1948) quan<strong>do</strong> diz: “O perío<strong>do</strong> que vai<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a formação <strong>do</strong> embrião até o nascimento e <strong>de</strong>ste até o final <strong>do</strong> primeiro ano <strong>de</strong> vida,aproximadamente, é para a biofísica orgonótica o perío<strong>do</strong> crítico na construção <strong>do</strong> sistemaorgonótico <strong>de</strong> funcionamento” (pág. 362).


OBJETIVOSDe maneira geral, o objetivo <strong>de</strong> nosso trabalho é compreen<strong>de</strong>r, <strong>por</strong> <strong>meio</strong> daanálise <strong>do</strong> discurso das mães, os estresses, antes da manifestação <strong>do</strong> câncer, sofri<strong>do</strong>spela criança durante a gestação e seus primeiros anos <strong>de</strong> vida.Mais especificamente procuramos i<strong>de</strong>ntificar no discurso das mães:a) I<strong>de</strong>ntificar os eventos <strong>de</strong> vida e fatores estressores para as mães <strong>de</strong>crianças com neoplasia maligna, durante sua gravi<strong>de</strong>z;anos <strong>de</strong> vida.b) I<strong>de</strong>ntificar os fatores estressores para a criança durante seus primeiros


4. METODOOptamos pela realização <strong>de</strong> um trabalho <strong>de</strong> pesquisa qualitativa, “que busca acompreensão particular daquilo que estuda” (Martins & Bicu<strong>do</strong>, 1994, p. 23). Comométo<strong>do</strong> utilizamos a análise <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong>, que é um conjunto <strong>de</strong> instrumentosmeto<strong>do</strong>lógicos que se aplicam a discursos extremamente diversifica<strong>do</strong>s, ”umahermenêutica controlada, baseada na <strong>de</strong>dução: a inferência” (Bardin, 1977, p. 9).A hermenêutica, a arte <strong>de</strong> interpretar os textos sagra<strong>do</strong>s ou misteriosos é umaprática muito antiga, on<strong>de</strong> os cientistas sempre acreditaram que “<strong>por</strong> <strong>de</strong>trás <strong>de</strong> umdiscurso aparente geralmente simbólico ou polissêmico escon<strong>de</strong>-se um senti<strong>do</strong> queconvém <strong>de</strong>svendar” (Bardin, 1977, p. 14). No entanto, a análise <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong>, que tevecomo berço os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, surgiu apenas no século XX.Nos anos 50 houve um intensivo <strong>de</strong>bate entre os <strong>de</strong>fensores da análise <strong>de</strong>conteú<strong>do</strong>. Enquanto uns <strong>de</strong>fendiam a análise segun<strong>do</strong> o caráter quantitativo, outros<strong>de</strong>fendiam a valida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma análise qualitativa, até <strong>de</strong>cidirem que ambas possuíam oseu valor científico, <strong>por</strong>ém pertenciam a campos <strong>de</strong> ação que eram totalmentediferentes. Enquanto a primeira obtém da<strong>do</strong>s <strong>de</strong>scritivos <strong>por</strong> <strong>meio</strong>s estatísticos, asegunda correspon<strong>de</strong> a um procedimento mais intuitivo, mais maleável e mais adaptávela índices não previstos ou à evolução das hipóteses. Portanto, a análise qualitativa“permite sugerir possíveis relações entre um índice da mensagem e uma ou váriasvariáveis <strong>do</strong> locutor (ou da situação <strong>de</strong> comunicação)” (Bardin, 1977, p. 115).


A análise <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong> oscila entre os pólos <strong>do</strong> rigor da objetivida<strong>de</strong> e dafecundida<strong>de</strong> da subjetivida<strong>de</strong>, ao mesmo tempo que “absolve e cauciona o investiga<strong>do</strong>r<strong>por</strong> esta atração pelo escondi<strong>do</strong>, o latente, o não aparente, o potencial <strong>de</strong> inédito (o nãodito), reti<strong>do</strong> <strong>por</strong> qualquer mensagem” (Bardin, 1977, p. 9). Dessa forma, é im<strong>por</strong>tanteconsi<strong>de</strong>rar que a análise <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong> começa on<strong>de</strong> os mo<strong>do</strong>s tradicionais <strong>de</strong>investigação acabam (Reto & Pinheiro in Bardin, 1977, p. 13).A análise <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong> é útil para se compreen<strong>de</strong>r a comunicação <strong>de</strong> um discursoalém <strong>do</strong>s seus significa<strong>do</strong>s imediatos. É um conjunto <strong>de</strong> técnicas que analisa acomunicação, e “que oferece uma avaliação e uma análise que terão a virtu<strong>de</strong> daobjetivida<strong>de</strong> e revelarão também os aspectos <strong>do</strong> material que po<strong>de</strong>riam ter escapa<strong>do</strong> aoexame minucioso <strong>do</strong> clínico” (Bardin, 1977, p. 18). Por fim, a análise <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong> é umrecurso que tem <strong>por</strong> objetivo tirar parti<strong>do</strong> <strong>de</strong> um material dito “qualitativo” (Bardin,1977).Este trabalho tem um fim <strong>de</strong> compreensão, e não ser um catálogo <strong>de</strong> fatosestabeleci<strong>do</strong>s. Consi<strong>de</strong>ramos empíricas algumas das teses e hipóteses aqui mencionadas,mas não preten<strong>de</strong>mos fazer afirmações acerca <strong>de</strong> certezas absolutas. A teoria aqui<strong>de</strong>scrita está baseada em diversas escolas <strong>de</strong> pensamento no âmbito da Psicologia que sepronunciaram a respeito <strong>do</strong> assunto, mas o a<strong>por</strong>te teórico pre<strong>do</strong>minante utiliza<strong>do</strong> é o dasescolas reichianas.4.1. SUJEITOSOs sujeitos <strong>de</strong>sta investigação foram 10 mães <strong>de</strong> crianças <strong>por</strong>ta<strong>do</strong>ras <strong>de</strong>neoplasia malígna, <strong>de</strong> condição sócio-econômica-cultural menos favorecida, hospedadasna Casa <strong>de</strong> Apoio à Criança com Neoplasia, localizada na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Curitiba/Pr durante


o mês <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2001 e outubro <strong>de</strong> 2001. A Casa <strong>de</strong> Apoio é uma instituição nãogovernamental,que abriga acompanhantes <strong>de</strong> crianças com câncer, geralmente mães,que procuram o Hospital <strong>de</strong> Clínicas para tratamento <strong>de</strong> seus filhos. Essas mães, cujasituação financeira é precária, ficam hospedadas na Casa <strong>de</strong> Apoio durante to<strong>do</strong> operío<strong>do</strong> <strong>do</strong> tratamento da criança. A escolha <strong>de</strong>sta amostra foi <strong>por</strong> conveniência, ou seja,todas as mães que estavam hospedadas na Casa <strong>de</strong> Apoio durante o perío<strong>do</strong> daentrevista, foram convidadas a participar da pesquisa. Não houve nenhum critério <strong>de</strong>seleção das mães para as entrevistas.A primeira etapa das entrevistas foi realizada no mês <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2001,quan<strong>do</strong> todas as mães que estavam hospedadas na Casa <strong>de</strong> Apoio foram convidadas acolaborar com a pesquisa. Ao to<strong>do</strong>, participaram <strong>de</strong>ssa primeira etapa 5 mães, cujaida<strong>de</strong> era <strong>de</strong> 28, 42, 26, 36 e 31 anos, respectivamente, e o tipo <strong>de</strong> câncer <strong>de</strong> seus filhosera leucemia (4 crianças) e retinoblastoma (1 criança).Já, a segunda etapa <strong>de</strong>sse trabalho foi realizada no mês <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2001,quan<strong>do</strong> novamente todas as mães que estavam hospedadas na Casa <strong>de</strong> Apoio e que nãohaviam si<strong>do</strong> entrevistadas anteriormente, foram convidadas a colaborar com a pesquisa.Ao to<strong>do</strong>, participaram <strong>de</strong>ssa segunda etapa outras 5 mães, cuja ida<strong>de</strong> era <strong>de</strong> 24, 54, 30,44 e 26 anos, respectivamente, e o tipo <strong>de</strong> câncer <strong>de</strong> seus filhos era leucemia (4crianças) e tumor <strong>de</strong> Wilms (1 criança).Da primeira vez, 8 mães <strong>de</strong> crianças com neoplasia estavam hospedadas na casa.Da segunda vez, 11 mães estavam hospedadas na Casa. Das duas vezes em que foramconvidadas, todas as mães se prontificaram a colaborar com a pesquisa. No entanto,como nosso objetivo era obter uma amostra <strong>de</strong> 10 mães, as <strong>de</strong>mais não foramentrevistadas.


4.2. INSTRUMENTOComo instrumento <strong>de</strong> pesquisa para a coleta <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s, optamos pela utilizaçãoda entrevista semi-estruturada, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> às vantagens que esta oferece.Segun<strong>do</strong> Kelinger (1979):Algumas vezes a entrevista é o único <strong>meio</strong> <strong>de</strong> se obter a informaçãonecessária para uma pesquisa. E tem certas vantagens que outrosméto<strong>do</strong>s não têm. O entrevista<strong>do</strong>r po<strong>de</strong>, <strong>por</strong> exemplo, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> fazeruma pergunta geral, sondar as razões das respostas dadas. Uma dasgran<strong>de</strong>s vantagens da entrevista é, então, sua profundida<strong>de</strong>. Ospesquisa<strong>do</strong>res po<strong>de</strong>m ir mais abaixo da superfície das respostas,<strong>de</strong>terminan<strong>do</strong> razões, motivos e atitu<strong>de</strong>s (p. 350).A entrevista é um instrumento <strong>de</strong> pesquisa muito difundi<strong>do</strong> e utiliza<strong>do</strong> comotécnica <strong>de</strong> investigação científica em psicologia. “Como técnica tem seus própriosprocedimentos ou regras empíricas com os quais não só se amplia e verifica comotambém, ao mesmo tempo, se aplica o conhecimento científico” (Bleger, 1989, p. 9).Des<strong>de</strong> os tempos mais antigos, a entrevista tem ocupa<strong>do</strong> uma posição <strong>de</strong><strong>de</strong>staque como instrumento <strong>de</strong> trabalho <strong>do</strong> psicólogo, e continua sen<strong>do</strong> a ferramentaprincipal para a análise <strong>de</strong> cada caso (D’Oliveira, 1984).5.3. AMBIENTEAs entrevistas foram realizadas na Casa <strong>de</strong> Apoio à Criança com Neoplasia,localizada na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Curitiba/PR, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1983 abriga crianças e seusacompanhantes vin<strong>do</strong>s <strong>de</strong> diversos esta<strong>do</strong>s brasileiros, com condição sócio-econômicaculturalmenos favorecida. A Casa <strong>de</strong> Apoio à Criança com Neoplasia é uma


Organização Não-Governamental – ONG, que se mantém <strong>por</strong> <strong>meio</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>nativos ecampanhas contra o câncer.A situação financeira da família é avaliada pela Assistente Social, noambulatório <strong>de</strong> hematologia <strong>do</strong> Hospital <strong>de</strong> Clínicas <strong>de</strong> Curitiba, que em seguidaencaminha a criança e seu acompanhante para a Casa <strong>de</strong> Apoio, on<strong>de</strong> ela irá permanecero tempo necessário para o tratamento.As entrevistas foram realizadas no refeitório, visto que a sala <strong>de</strong>stinada aoserviço <strong>de</strong> Psicologia estar sen<strong>do</strong> ocupada. O refeitório era amplo, areja<strong>do</strong>, silencioso ebem ilumina<strong>do</strong>, o que permitiu que as entrevistas transcorressem sem interferências ouinterrupções. Ao to<strong>do</strong>, foram cinco visitas à Casa, sen<strong>do</strong> que a primeira foi paraconhecer o local e as outras quatro para a realização das entrevistas. O horário darealização das entrevistas foi logo após o almoço, quan<strong>do</strong> o refeitório permanecia vazio.4.4. PROCEDIMENTOOs da<strong>do</strong>s <strong>de</strong>ssa investigação foram obti<strong>do</strong>s em duas etapas, em sessões <strong>de</strong>entrevistas individuais com as mães <strong>de</strong> crianças com câncer. Durante a realização daprimeira etapa, efetuamos 5 entrevistas a fim <strong>de</strong> testarmos a a<strong>de</strong>quação <strong>do</strong> instrumentoaos propósitos <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>. Como o roteiro da entrevista e o procedimento meto<strong>do</strong>lógicorevelaram-se a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s aos objetivos <strong>de</strong>ssa pesquisa, nenhum da<strong>do</strong> foi altera<strong>do</strong> para as<strong>de</strong>mais entrevistas. Na segunda etapa efetuamos outras 5 entrevistas.Em ambas as etapas as entrevistas foram gravadas, transcritas e logo em seguida,as fitas foram <strong>de</strong>sgravadas, conforme contrato estabeleci<strong>do</strong> anteriormente com a mãe.Cada entrevista teve a duração <strong>de</strong> aproximadamente quarenta e cinco minutos.


Primeiramente anotamos alguns da<strong>do</strong>s pessoais da criança e <strong>do</strong>s pais, e emseguida passamos para os <strong>de</strong>mais conteú<strong>do</strong>s, conforme segue:1) Conforme eu for lhe perguntan<strong>do</strong>, gostaria que você me dissesse tu<strong>do</strong> o quepu<strong>de</strong>r se lembrar a respeito da gestação <strong>de</strong> seu filho <strong>por</strong>ta<strong>do</strong>r <strong>de</strong> neoplasia.a) Como você estava se sentin<strong>do</strong> fisicamente e emocionalmente, antes <strong>de</strong> engravidar?b) A gestação foi programada e aceita pelo casal?c) Como estava a situação financeira e profissional durante o perío<strong>do</strong> da gestação <strong>do</strong>bebê? Havia alguma preocupação?d) Como estava o relacionamento <strong>do</strong> casal durante a gravi<strong>de</strong>z?e) Houve algum problema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> com você ou com o bebê durante a gestação?f) Como estava seu esta<strong>do</strong> emocional durante a gestação?g) Algum me<strong>do</strong>, insegurança, conflito, ou algo pareci<strong>do</strong>?h) Houve alguma ameaça <strong>de</strong> aborto durante a gestação?i) Houve alguma mudança <strong>de</strong> casa durante a gestação?j) Houve alguma perda significativa <strong>de</strong> pessoa querida ou animal durante esse perío<strong>do</strong><strong>de</strong> gestação?k) Sofreu algum tipo <strong>de</strong> estresse durante a gestação que pô<strong>de</strong> também ter si<strong>do</strong> senti<strong>do</strong>pelo seu filho?


2) Conforme eu for lhe perguntan<strong>do</strong>, gostaria que você me dissesse tu<strong>do</strong> o quepu<strong>de</strong>r se lembrar a respeito <strong>do</strong> parto e primeiros dias <strong>de</strong> vida <strong>do</strong> bebê:a) Quanto tempo após o rompimento da bolsa o bebê nasceu?b) Que tipo <strong>de</strong> parto teve e on<strong>de</strong> foi?c) Quanto tempo durou? Houve alguma complicação?d) O bebê ficou com você o tempo to<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o momento que nasceu?e) Como você se sentiu durante o parto e nos primeiros dias após o parto?f) Como era a saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu bebê nos primeiros dias <strong>de</strong> vida?g) Sabe se seu filho sofreu algum tipo <strong>de</strong> estresse durante o parto ou nos primeiros dias<strong>de</strong> vida?3) Conforme eu for lhe perguntan<strong>do</strong>, gostaria que você me dissesse tu<strong>do</strong> o quepu<strong>de</strong>r se lembrar a respeito <strong>do</strong>s primeiros anos <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> seu filho:a) Foi amamenta<strong>do</strong> no peito? Por quanto tempo? Como foi o <strong>de</strong>smame?b) Como era a saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu filho nos primeiros anos <strong>de</strong> vida, antes <strong>do</strong> aparecimento da<strong>do</strong>ença?c) Houve alguma situação que possa ser consi<strong>de</strong>rada estressante para seu filho antes <strong>do</strong>aparecimento da <strong>do</strong>ença, como, <strong>por</strong> exemplo, per<strong>de</strong>r alguém da família ou animal <strong>de</strong>estimação, mudança <strong>de</strong> casa ou escola, brigas, ou algo pareci<strong>do</strong>?


Quan<strong>do</strong> necessário, as entrevistas eram acompanhadas <strong>de</strong> perguntascomplementares, <strong>de</strong> compreensão ou <strong>de</strong> conferência <strong>de</strong> entendimento, quan<strong>do</strong> a mãeentrevistada <strong>de</strong>monstrava dúvidas acerca das informações prestadas, ou, então, aretomada da pergunta feita com vistas a estimular a mãe a continuar dan<strong>do</strong> informaçõesquan<strong>do</strong> parecia, ao entrevista<strong>do</strong>r, que ela já havia esgota<strong>do</strong> o assunto.4.5. CONTATO COM A CASA DE APOIOPor se tratar <strong>de</strong> um local <strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> mães <strong>de</strong> crianças <strong>por</strong>ta<strong>do</strong>ras <strong>de</strong>câncer, optamos em realizar as entrevistas na Casa <strong>de</strong> Apoio à Criança com Neoplasia,localizada na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Curitiba/PR. O primeiro contato com a Casa se <strong>de</strong>u <strong>por</strong> telefone,ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> atendi<strong>do</strong> pela auxiliar <strong>de</strong> relações públicas da Casa, a quem pu<strong>de</strong>mos ex<strong>por</strong>nossos interesses e objetivos. Imediatamente fomos convida<strong>do</strong>s a conhecer o local echegan<strong>do</strong> lá, fomos apresenta<strong>do</strong>s a alguns profissionais e mães que estavam hospedadasna Casa naquele dia.Já nesse primeiro contato tivemos a o<strong>por</strong>tunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conversar com algumasmães e saber um pouco sobre suas histórias e a relação <strong>de</strong>stas com a <strong>do</strong>ença <strong>de</strong> seusfilhos. Ficamos muito comovi<strong>do</strong>s com o que as mães disseram a respeito dasdificulda<strong>de</strong>s financeiras e emocionais que tiveram que enfrentar, e algumas aindaenfrentam, antes mesmo da <strong>de</strong>scoberta da <strong>do</strong>ença <strong>do</strong> filho, situação que parece teragrava<strong>do</strong> mais ainda no <strong>de</strong>correr <strong>do</strong> tratamento da criança, o que é natural <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> àdistância da família, gastos com trans<strong>por</strong>te, roupa alimento, além <strong>de</strong> muitos outros.Essas informações foram im<strong>por</strong>tantes para a formulação das perguntas das entrevistas,conforme apresentadas nesse trabalho, que tiveram início a partir da segunda visita àCasa <strong>de</strong> Apoio.


Após a primeira visita <strong>de</strong> observação à Casa <strong>de</strong> Apoio à Criança com Neoplasia,procuramos padronizar um roteiro <strong>de</strong> entrevistas. Quan<strong>do</strong> retornamos à Casa para darinício às entrevistas, em fevereiro <strong>de</strong> 2001, novamente fui recepciona<strong>do</strong> pela auxiliar <strong>de</strong>relações públicas da Casa, que me acompanhou até a sala <strong>de</strong> TV, on<strong>de</strong> as mães estavamreunidas. Naquele dia, apenas 8 mães estavam hospedadas na Casa <strong>de</strong> Apoio. Eu disseàs mães que estava realizan<strong>do</strong> um trabalho sobre estresse para a Universida<strong>de</strong> e quegostaria <strong>de</strong> entrevistá-las a fim <strong>de</strong> obter maiores informações a respeito <strong>do</strong> assunto.Procuramos não entrar em <strong>de</strong>talhes sobre o objetivo da pesquisa, levan<strong>do</strong> em conta aorientação <strong>de</strong> D’Oliveira (1984) quan<strong>do</strong> diz que “às vezes a comunicação <strong>do</strong>spropósitos da pesquisa po<strong>de</strong>rá alterar a natureza das respostas que os sujeitos dariam,alteran<strong>do</strong>, conseqüentemente, sua espontaneida<strong>de</strong>” (p. 34). Comunicamos que asentrevistas seriam gravadas e os da<strong>do</strong>s posteriormente publica<strong>do</strong>s, mas asseguramostambém a respeito <strong>do</strong> sigilo, on<strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os nomes apareceriam apenas pelas iniciais.Perguntamos, então, quem estaria disponível a ser entrevistada, e para nossa surpresa,todas as 8 mães se dispuseram a colaborar com o trabalho. No entanto, como nossoobjetivo nesse primeiro momento era entrevistar apenas 5 mães, as <strong>de</strong>mais foramdispensadas.A segunda etapa das entrevistas foram conduzidas no mês <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2001,quan<strong>do</strong> novamente buscávamos mais 5 mães dispostas a colaborar com o trabalho, nointuito <strong>de</strong> completarmos ao to<strong>do</strong> 10 entrevistas, uma amostragem que julgamossuficiente para o propósito <strong>de</strong>sse trabalho. Nessa época, 11 mães estavam hospedadas naCasa <strong>de</strong> Apoio. Como da vez anterior, dissemos às mães que estávamos realizan<strong>do</strong> umtrabalho sobre estresse para a Universida<strong>de</strong> e que gostaríamos <strong>de</strong> entrevistar 5 <strong>de</strong>las afim <strong>de</strong> obter maiores informações a respeito <strong>do</strong> assunto e completar o número <strong>de</strong>entrevistas que julgávamos necessário para a conclusão <strong>do</strong> trabalho. Novamenteprocuramos não entrar em <strong>de</strong>talhes sobre o objetivo da pesquisa.


No momento em que a mãe se apresentava para a entrevista, agra<strong>de</strong>cíamos pelasua participação e novamente lhe dizíamos que as entrevistas seriam gravadas parafacilitar a transcrição <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s, mas que em seguida as fitas seriam <strong>de</strong>sgravadas.Assegurávamos novamente que as informações eram sigilosas, mas que seriampublicadas posteriormente, sem que qualquer nome fosse menciona<strong>do</strong>, a não ser pelaprimeira inicial. Para tanto, necessitávamos da aprovação e autorização <strong>por</strong> escrito <strong>de</strong>cada uma <strong>de</strong>las (Anexo A).Antes <strong>de</strong> darmos inicio à entrevista seguin<strong>do</strong> o roteiro pré-estabeleci<strong>do</strong>,buscamos obter algumas informações sobre os da<strong>do</strong>s pessoais da mãe, <strong>do</strong> pai e dacriança. Também falamos um pouco sobre outros assuntos, como forma <strong>de</strong>“aquecimento” para ambos, entrevista<strong>do</strong>r e mãe a ser entrevistada, na tentativa <strong>de</strong>propiciar um clima relaxa<strong>do</strong> e o mais agradável possível. Quan<strong>do</strong> percebíamos que amãe já estava mais relaxada, perguntávamos a ela se po<strong>de</strong>ríamos dar início à entrevista,ligan<strong>do</strong>, <strong>por</strong>tanto, o grava<strong>do</strong>r.Após a realização das entrevistas, as gravações foram ouvidas cuida<strong>do</strong>samente etranscritas para o papel. Finalizada a transcrição, ouviu-se novamente a fita gravada,comparan<strong>do</strong> a leitura <strong>do</strong> texto, verifican<strong>do</strong> possíveis omissões e corrigin<strong>do</strong> a pontuação.Não haven<strong>do</strong> dúvidas quanto à transcrição, a fita foi <strong>de</strong>sgravada, conforme contratofeito com a mãe no início da entrevista.As entrevistas foram analisadas seguin<strong>do</strong> o méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> análise qualitativa<strong>de</strong>scrita <strong>por</strong> Bardin (1977). Primeiramente, iniciamos com a leitura das entrevistas,atentos para <strong>de</strong>stacarmos pontos im<strong>por</strong>tantes relaciona<strong>do</strong>s aos possíveis fatoresestressantes para a mãe, e conseqüentemente, para o bebê em formação. Em seguidabuscamos <strong>de</strong>stacar os mesmos pontos im<strong>por</strong>tantes, relaciona<strong>do</strong>s agora aos possíveis


fatores estressantes para a criança durante seus primeiros anos <strong>de</strong> vida, antes <strong>do</strong>aparecimento da <strong>do</strong>ença.De posse <strong>de</strong>ssas informações, efetuamos o levantamento em categorias <strong>de</strong>estressores, comparan<strong>do</strong>-os em seguida com todas as entrevistas realizadas, no intuito<strong>de</strong> verificar pontos em comum, os quais foram relaciona<strong>do</strong>s à teoria apresentada nessetrabalho.


5. RESULTADOSForam entrevistadas 10 mães <strong>de</strong> crianças <strong>por</strong>ta<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> câncer infantil. A leituraintensiva das entrevistas, conforme passo a apresentar, possibilitou agrupar os eventosestressores i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s nos conteú<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s discursos individuais das mães, emcategorias e sub-categorias <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com os significa<strong>do</strong>s neles expressos, permitin<strong>do</strong> acompreensão <strong>do</strong>s possíveis fatores estressantes para a mãe, e conseqüentemente para obebê durante a gestação. As mesmas entrevistas também permitiram a i<strong>de</strong>ntificação <strong>do</strong>spossíveis fatores estressantes para a criança em seus primeiros anos <strong>de</strong> vida, antes damanifestação <strong>do</strong> câncer.5.1. ESTRESSORES DURANTE A GESTAÇÃOa) Gravi<strong>de</strong>z in<strong>de</strong>sejada? “Não foi nem programada, nem aceita no começo. Eu já tinha um filho e nãoqueria engravidar tão ce<strong>do</strong> novamente. Fiquei muito assustada quan<strong>do</strong> soube queestava grávida. (...) foi assim até o quinto mês, mas <strong>de</strong>pois, fazê o quê... a gentetem que aceitar” (E2).? “Não foi aceita não. Eu fiquei muito assustada... (...) <strong>de</strong>pois me acostumeiquan<strong>do</strong> a barriga começou a crescer” (E3).? “Não foi nem programada. Aconteceu... nem queria... Não é dizer uma coisa quea gente queria, assim...” (E7).


A não aceitação da gravi<strong>de</strong>z, enfrentada pela mãe durante a gestação, po<strong>de</strong> serconsi<strong>de</strong>rada, em alguns casos, um evento estressor para ela, e conseqüentemente para obebê em formação. Sen<strong>do</strong> assim, corroboran<strong>do</strong> o discurso das mães com o referencialteórico, pu<strong>de</strong>mos encontrar em Mal<strong>do</strong>na<strong>do</strong> (1986), que não é nenhuma novida<strong>de</strong> que agravi<strong>de</strong>z <strong>por</strong> si só já é um evento estressante para a mãe e que, muitas vezes, tambémacaba sen<strong>do</strong> estressante para o bebê em formação. No entanto, tu<strong>do</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da formacomo a mãe encara essa nova situação.Já dizia Reich (1950), que uma gravi<strong>de</strong>z in<strong>de</strong>sejada po<strong>de</strong> gerar distúrbios naqualida<strong>de</strong> energética <strong>do</strong> útero e comprometer o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> bebê em formação.É o que também encontramos no discurso <strong>de</strong> Relier (1998) quan<strong>do</strong> diz que essasituação, às vezes, po<strong>de</strong> ser tão estressante que acaba <strong>de</strong>scarregan<strong>do</strong> no organismomaterno as catecolaminas, que po<strong>de</strong>m comprometer a saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> bebê e até mesmoprovocar um abor<strong>do</strong> espontâneo.Ainda com relação a esse evento estressor, encontramos autores reichianos comoBoa<strong>de</strong>lla (1992), Navarro (1995) e Relier (1998), que sustentam a tese <strong>de</strong> que umagravi<strong>de</strong>z in<strong>de</strong>sejada po<strong>de</strong> gerar um estresse para o bebê em formação, <strong>por</strong> <strong>de</strong>scarregaruma série <strong>de</strong> hormônios adrenérgicos que são prejudiciais para o bebê, e que toda equalquer gravi<strong>de</strong>z in<strong>de</strong>sejada, além <strong>de</strong> provocar um estresse no bebê, forma registros namemória celular, que po<strong>de</strong>m provocar mais tar<strong>de</strong> sérios distúrbios que po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>or<strong>de</strong>m física e/ou emocional, contribuin<strong>do</strong> <strong>de</strong>ssa forma para a manifestação das<strong>do</strong>enças.Portanto, po<strong>de</strong>mos pensar que o fato <strong>de</strong>ssas mães não terem aceito a gravi<strong>de</strong>zdurante os primeiros meses, po<strong>de</strong> ter si<strong>do</strong> um fator estressante para o bebê em formação.


) Problemas financeiros? “A gente tava passan<strong>do</strong> <strong>por</strong> uma situação difícil” (E2).? “...nóis não tinha dinheiro pra pagar aluguel. Muitas vezes não tinha nem o quecomer mais a gente se virava como dava. Meu mari<strong>do</strong> e eu trabalhava na roça ecomia o que podia comprar. (...) Eu só ficava muito nervosa pela falta <strong>de</strong>dinheiro. Nóis era muito pobre mesmo e não podia fazer muita coisa. Então, euchorava muito <strong>por</strong> isso” (E5).? “Tava difícil <strong>por</strong>que eu tinha que trabaiá. Na época, o meu mari<strong>do</strong> bebia, tu<strong>do</strong>.Já tinha os outros tu<strong>do</strong> gran<strong>de</strong>” (E7).? “Tava complicada financeira. Meu mari<strong>do</strong> tava <strong>de</strong>semprega<strong>do</strong>... A gente ficavapreocupa<strong>do</strong> e eu ficava muito nervosa <strong>por</strong>que não sabia o que pudia acontecer”(E8).? “Eu tinha que trabalhar muito. Eu trabalhei a vida toda como <strong>do</strong>méstica até o diaque ganhava os filhos. Nunca medi esforço pra isso” (E9).? “...nós juntou o dinheiro pra ter o bebê e meu cunha<strong>do</strong> tava passan<strong>do</strong> <strong>por</strong>dificulda<strong>de</strong> financeira e pediu empresta<strong>do</strong> e aí nóis empresto, só que daí nósficamos sem o dinheiro. Aí eu fiquei muito preocupada e nervosa com isso<strong>por</strong>que tinha guarda<strong>do</strong> o dinheiro pro parto e não tinha mais e meu cunha<strong>do</strong> nãotinha dinheiro pra pagar a gente. Eu fiquei muito preocupada. Aí chegava ummês que tinha que pagar 250 real pra ver o sexo <strong>do</strong> nenê e eu não tinha dinheiropra isso. Isso <strong>de</strong>ixou a gente muito estressada” (E10).


Uma outra categoria <strong>de</strong> eventos estressores i<strong>de</strong>ntificada no discurso das mães<strong>de</strong>ssas crianças <strong>por</strong>ta<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> câncer infantil, diz respeito aos problemas financeiros.Apesar <strong>de</strong>ssa situação ser comum e encontrada na maioria <strong>do</strong>s lares, em alguns casos,po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada um evento estressor para a mãe, e conseqüentemente para o bebêem formação. De acor<strong>do</strong> com Reich (1950), qualquer fator externo que não seja <strong>do</strong>agra<strong>do</strong> da mulher grávida, po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixa-la num esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> extrema ansieda<strong>de</strong><strong>de</strong>scarregan<strong>do</strong> em seu corpo uma série <strong>de</strong> hormônios que atravessam a placenta ecomprometem o esta<strong>do</strong> físico, energético e emocional <strong>do</strong> bebê em formação. Essamesma opinião é compartilhada <strong>por</strong> outros autores como Slee, Murray-Harvey e Ward(1996) e Holmes e Rahe apud Papalia e Olds, (2000), quan<strong>do</strong> dizem que essa categoria<strong>de</strong> estressor po<strong>de</strong> causar sérios problemas <strong>por</strong> convocar a Síndrome Geral <strong>de</strong> Adaptaçãoe conduzir o indivíduo a um esgotamento. Dessa forma, uma série <strong>de</strong> hormônios são<strong>de</strong>scarrega<strong>do</strong>s na corrente sangüínea da mãe, passan<strong>do</strong> imediatamente ao bebê que estásen<strong>do</strong> forma<strong>do</strong>, interferin<strong>do</strong> em seu <strong>de</strong>senvolvimento físico e emocional, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong>registros latentes que mais tar<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rão dar origem a novas <strong>do</strong>enças.Em relação a essa categoria <strong>de</strong> evento estressor, Navarro (1996) também brindanoscom seus comentários dizen<strong>do</strong> que toda e qualquer preocupação é motivo <strong>de</strong> fortesestresses para a mãe grávida, que <strong>por</strong> sua vez, provocam uma <strong>de</strong>scarga hormonal em seuorganismo, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> vir a comprometer o bebê em formação.c) Conflitos conjugais? “Ele bebia muito, sabe. (...) ele chegava em casa bêba<strong>do</strong>. (...) Nóis brigava muito<strong>por</strong> causa disso. (...) Eu chorava muito, xingava, tocava ele pra fora <strong>de</strong> casa maisnão adiantava nada. Ele melhorava <strong>do</strong>is dias, mais <strong>de</strong>pois, continuava beben<strong>do</strong>”(E1).


? “A gente continuava brigan<strong>do</strong> muito, ainda mais <strong>por</strong>que ele começou a bebermais ainda” (E3).? “Era <strong>meio</strong> complica<strong>do</strong>. Tinha um pouco assim... como se diz... às vezes a gentesente um cheiro ruim... eu abusei... tinha um pouco assim... sei lá... eu nãogostava... é como se eu não gostasse mais <strong>de</strong>le... É, não gostava <strong>do</strong> cheiro <strong>de</strong>le(E6).? “Ah, a gente tava ten<strong>do</strong> muita briga <strong>por</strong>que meu mari<strong>do</strong> num trabaiava e bebiamuito, o dia inteiro... A gente só brigava <strong>por</strong> causa da bebida e <strong>de</strong>le não trabaiá...A gente discutia muito e ele dizia que o filho não era <strong>de</strong>le. Ele sempre bebia,mas nunca foi como essa vez que ele bebia mais ainda. Essa foi mais pesada.”(E7).? “Então, essa situação financeira acabou atrapalhan<strong>do</strong> muito. A gente ficavadiscutin<strong>do</strong> o tempo to<strong>do</strong> e ele ficava nervoso também. Eu era calma, mas fiqueinervosa nessa época” (E8).? “Era bom não. Tu<strong>do</strong> era difícil. Ele ganhava muito pouco e eu tinha quetrabalhar muito... a gente quan<strong>do</strong> falava era só pra discutir e brigar” (E9).? “... no começo ele não tava aceitan<strong>do</strong> assim a gravi<strong>de</strong>z... eu ficava muito nervosacom isso <strong>por</strong>que já fazia três anos que a gente tinha casa<strong>do</strong> e não adiantava ficaresperan<strong>do</strong> mais. A vó <strong>de</strong>la também queria <strong>por</strong>que ela era <strong>do</strong>ente e queria ter aprimeira neta” (E10).Os conflitos conjugais, i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong> no discurso das mães entrevistadas,enfrenta<strong>do</strong>s durante o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> gestação, também po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s, em algunscasos, um evento estressor para a mãe e para o bebê em formação. Toman<strong>do</strong> <strong>por</strong> base os


comentários <strong>de</strong> Reich (1950), os conflitos surgem quan<strong>do</strong> somos incapazes <strong>de</strong>encontramos uma alternativa ou solução para resolvê-los. Sen<strong>do</strong> assim, nosso cor<strong>por</strong>espon<strong>de</strong> com uma contração simpaticotônica <strong>de</strong>scarregan<strong>do</strong> hormônios que alteramnosso equilíbrio fisiológico e energético, e conseqüentemente, alteram nosso esta<strong>do</strong>emocional. No caso da mãe grávida, essa mesma situação, <strong>por</strong> <strong>meio</strong> da mãe, passa parao bebê ainda no útero. Slee, Murray-Harvey & Ward (1996), também concordam queto<strong>do</strong> e qualquer tipo <strong>de</strong> conflito, po<strong>de</strong> ser um fator estressante para o casal, econseqüentemente para os filhos. A mesma opinião é compartilhada <strong>por</strong> Verny & Kelly(1993), que acrescentam que as brigas entre o casal, quan<strong>do</strong> sentida pela mulhergrávida, po<strong>de</strong> alterar o equilíbrio fisiológico da mãe, e conseqüentemente, o equilíbriofisiológico <strong>do</strong> bebê. Logicamente, tu<strong>do</strong> vai <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r da forma com que a mãe enfrentaessa situação que po<strong>de</strong> ser estressante ou não.d) Ausência <strong>do</strong> companheiro? “... ele foi pra cida<strong>de</strong> <strong>do</strong> pai buscar outro emprego e voltava só no fim <strong>de</strong>semana. Eu ficava sozinha e chorava o dia to<strong>do</strong>. (...) Eu queria ir embora comele, mas ele não queria. Vinha to<strong>do</strong> o fim <strong>de</strong> semana mais era muito pouco. Eutava assustada” (E2).? “...sentia a falta <strong>de</strong> meu mari<strong>do</strong>. (...) Meu mari<strong>do</strong> viajava muito e eu sentia afalta <strong>de</strong>le (...) Isso era motivo <strong>de</strong> apenas algumas discussões e tristezas...” (E4).? “Acho que a presença <strong>de</strong>les é que já me aborrecia. Acho que eu gostava <strong>de</strong>les,mas queria ver eles longe <strong>por</strong>que no fun<strong>do</strong> no fun<strong>do</strong> meu mari<strong>do</strong> ficava o tempoto<strong>do</strong> com eles e me <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> la<strong>do</strong>. Eu e o bebê” (E6).


? “Acho que o pai que não queria aceitar ela e a criança sente isso na barriga. Eume senti rejeitada <strong>por</strong> ele” (E10).A ausência <strong>do</strong> companheiro, percebida pela mãe durante o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> gestação,foi uma outra categoria <strong>de</strong> evento tomada como estressor para a mãe, econseqüentemente para o bebê em formação. Segun<strong>do</strong> Reich (1950) a presença <strong>do</strong>mari<strong>do</strong> é <strong>de</strong> fundamental im<strong>por</strong>tância para que a mãe se sinta acolhida e amparada,principalmente no momento em que ela está geran<strong>do</strong> um filho. É, <strong>por</strong>tanto, nessemomento que o pai faz a função <strong>de</strong> útero para a mãe, colocan<strong>do</strong>-a numa situação <strong>de</strong>acolhimento, proteção e amparo, fazen<strong>do</strong> com que essa mesma situação seja sentidapelo bebê <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> útero. Ainda <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com Reich (1950), quan<strong>do</strong> isso nãoacontece, a mãe po<strong>de</strong> se sentir rejeitada e <strong>de</strong>ssa forma, consciente ouinconscientemente, rejeitar também o seu bebê. Encontramos em Mal<strong>do</strong>na<strong>do</strong> (1986), amesma opinião quan<strong>do</strong> diz que a presença <strong>do</strong> companheiro durante a gestação é <strong>de</strong>fundamental im<strong>por</strong>tância para que a mãe se sinta segura e acolhida, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong>pro<strong>por</strong>cionar o mesmo sentimento ao bebê que está sen<strong>do</strong> forma<strong>do</strong> em seu ventre.Ainda em se tratan<strong>do</strong> <strong>do</strong> tema ausência <strong>do</strong> companheiro durante a gestação,segun<strong>do</strong> Navarro (1996) e Relier (1998), algumas mães quan<strong>do</strong> se sentem aban<strong>do</strong>nadaspelo companheiro, entram num esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> estrema <strong>de</strong>pressão e angústia, o que po<strong>de</strong>suprimir seu sistema imunológico e provocar uma <strong>de</strong>scarga hormonal em seuorganismo, impedin<strong>do</strong> <strong>de</strong>ssa forma a livre circulação <strong>de</strong> sua energia, econseqüentemente, da energia <strong>de</strong> seu bebê, forman<strong>do</strong> assim um registro <strong>de</strong>ssa sensaçãoque po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> me<strong>do</strong> da morte, que ficará marca<strong>do</strong> nas células <strong>do</strong> bebê que ainda estáem formação.


Verny & Kelly (1993), sustentam a tese <strong>de</strong> que um homem carinhoso e sensíveltraz à mulher grávida um apoio afetivo continuo durante esses meses essenciais.Portanto, “a qualida<strong>de</strong> da relação entre a mãe e seu mari<strong>do</strong> ou companheiro, o fato <strong>de</strong> sesentir feliz e segura ou ao contrário ignorada e ameaçada, tem conseqüências <strong>de</strong>cisivassobre sua criança antes <strong>do</strong> nascimento”. (p. 39)Dessa forma, com base nos discursos das mães e nas teorias acimaexpostas, po<strong>de</strong>mos tomar a ausência <strong>do</strong> companheiro como um evento estressor tantopara a mãe, quanto para o bebê em formação.e) Ansieda<strong>de</strong>? “...eu era muito nervosa...” (E1)? “ Durante a gestação inteirinha eu fui muito nervosa e agitada” (E5).? “... tive alguns aborrecimentos <strong>por</strong>que moravam <strong>do</strong>is cunha<strong>do</strong>s comigo naépoca em que eu engravi<strong>de</strong>i... eu tinha muito enjôo. Então eu ficava muitoaborrecida com eles e acho que isso piorava meu enjôo quan<strong>do</strong> eles chegavamem casa... eu sentia raiva das pessoas sem elas me fazerem nada. Eu era nervosasozinha, ninguém falava nada comigo” (E6).? “Eu era muito nervosa” (E7).? “Meu mari<strong>do</strong> tava <strong>de</strong>semprega<strong>do</strong>... fiquei nervosa nessa época” (E8).? “Eu era muito nervosa. Era <strong>por</strong> causa da infecção e <strong>do</strong> meu mari<strong>do</strong> não meajudar e eu ter que trabalhar muito” (E9).


? “Sempre tive uma saú<strong>de</strong> boa mais era nervosa. Durante a gestação inteirinha eufui muito nervosa e agitada... Tava duro <strong>por</strong>que eu morava perto da sogra etinha que ajudar ela a limpar a casa, tinha vaca <strong>de</strong> leite e tinha que ajudar ela atirar leite. Tinha a cunhada que eu não gostava muito e eu ficava muito nervosa.Isso era complica<strong>do</strong>mesmo” (E10).A ansieda<strong>de</strong> enfrentada pela mãe durante o perío<strong>do</strong> da gestação, po<strong>de</strong> serconsi<strong>de</strong>rada, em alguns casos, um evento estressor. De acor<strong>do</strong> com Reich (1950), aansieda<strong>de</strong> durante a gestação é um evento natural. O problema é quan<strong>do</strong> a mãe entranum esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> me<strong>do</strong> e com isso contrai seu corpo to<strong>do</strong> <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> que o sistema nervososimpático tome conta <strong>de</strong> seu movimento energético, bloquean<strong>do</strong> seu diafragma, o queaumenta mais ainda a ansieda<strong>de</strong> e, posteriormente, contrain<strong>do</strong> sua pelve, o que dificultao parto e traz sérios comprometimentos ao bebê. Relier (1998) acredita que uma mãenervosa, ansiosa e estressada, que leva uma vida agitada e é incapaz <strong>de</strong> controlar seuesta<strong>do</strong> emocional, tem gran<strong>de</strong>s possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> oferecer a seu filho um ambiente noqual po<strong>de</strong>rá apresentar sérias dificulda<strong>de</strong>s para se <strong>de</strong>senvolver harmoniosamente noútero e crescer <strong>de</strong> forma saudável tanto física quanto psicologicamente, <strong>por</strong> ser esta umasituação extremamente estressante tanto para ela, quanto para o feto em formação oupara a criança em seu <strong>de</strong>senvolvimento.Ainda <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com Relier (1998), esse tipo <strong>de</strong> mãe ansiosa, irritada e raivosa,muitas vezes <strong>de</strong>scarrega em seu corpo uma série <strong>de</strong> hormônios como, <strong>por</strong> exemplo, aadrenalina, que atravessam a placenta e po<strong>de</strong>m atingir e comprometer a criança,tornan<strong>do</strong>-a muitas vezes agitada no ventre materno. Além disso, essa agitação po<strong>de</strong><strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar uma série <strong>de</strong> <strong>do</strong>enças que até então permaneceram latentes no organismoda criança.


f) Me<strong>do</strong>s? “Eu tinha me<strong>do</strong> <strong>de</strong> ficar sozinha e não dar conta <strong>de</strong> sustentar meu filho. (...) Eutinha me<strong>do</strong> <strong>de</strong>le” (E1).? “Fiquei muito assustada quan<strong>do</strong> soube que estava grávida. (...)Eu tinha me<strong>do</strong> <strong>de</strong>tu<strong>do</strong>. Tinha me<strong>do</strong> <strong>de</strong> acordar, <strong>de</strong> ficar em casa, <strong>de</strong> cuidar <strong>do</strong> menor, <strong>do</strong> parto...(pausa)... sei lá... tu<strong>do</strong> dava me<strong>do</strong>” (E2).? “Eu fiquei muito assustada <strong>por</strong>que eu tinha perdi<strong>do</strong> o bebê recentemente e tavacom me<strong>do</strong> <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r este novamente. (...) Me<strong>do</strong> <strong>de</strong>le me <strong>de</strong>ixar ou <strong>de</strong> eu e obebê morrer” (E3).? “Bem, aconteceu algo que eu não esperava. (...) Só sei que nunca passei umme<strong>do</strong> tão gran<strong>de</strong> assim” (E4).? “...eu tinha me<strong>do</strong> <strong>de</strong> morrer <strong>de</strong> fome. (...) De morrer <strong>de</strong> fome e não ter on<strong>de</strong>morar” (E5).? “... só que eu tinha me<strong>do</strong> que ele encasquetasse que o filho não era mesmo <strong>de</strong>le eaí aprontasse alguma coisa comigo e até querer me matar” (E7).? “ Me<strong>do</strong> <strong>de</strong>le não conseguir emprego” (E8).? “peguei uma infecção e <strong>de</strong>pois disso diz os médicos que minha barriga ficoumuito inchada e eu não pu<strong>de</strong> fazer laqueadura... foi um martírio <strong>por</strong>que nuncasarava e eu fiquei com me<strong>do</strong> <strong>do</strong> nenê ter infecção também” (E9).


O me<strong>do</strong> também foi uma categoria tomada como evento estressor para a mãe e,conseqüentemente para o bebê durante a gestação. Para Reich (1948), o me<strong>do</strong> é a base<strong>de</strong> todas as biopatias. Portanto, uma mãe grávida, quan<strong>do</strong> passa <strong>por</strong> situações on<strong>de</strong> ome<strong>do</strong> persiste, po<strong>de</strong> entrar numa esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> contração, alteran<strong>do</strong> o equilíbrio energético ehormonal <strong>de</strong> seu organismo e <strong>por</strong> sua vez, comprometen<strong>do</strong> também o equilíbrioenergético e hormonal <strong>do</strong> seu filho em formação.Navarro (1995), compartilha com as idéias reichianas afirman<strong>do</strong> que o me<strong>do</strong> damãe durante a gestação po<strong>de</strong> ser capaz <strong>de</strong> gerar um estresse senti<strong>do</strong> pelas células <strong>do</strong>bebê em formação e fazer com que ocorra um registro <strong>de</strong>ssa sensação em sua memória ealtere <strong>de</strong> imediato ou posteriormente seu DNA, o que talvez seja a base <strong>de</strong> todas aspatologias futuras. Essa teoria parece ser compartilhada <strong>por</strong> Verny & Kelly (1993), quetambém consi<strong>de</strong>ram o me<strong>do</strong> como um elemento estressor quan<strong>do</strong> senti<strong>do</strong> pela mulhergrávida, alegan<strong>do</strong> que este po<strong>de</strong> ocasionar uma sobrecarga no sistema neurovegetativoda mãe, alteran<strong>do</strong> o equilíbrio fisiológico tanto da mãe, quanto <strong>do</strong> bebê.g) Depressão? “Acho que era <strong>de</strong>primida também <strong>por</strong>que eu queria sair <strong>do</strong> casamento mais nãosabia como. Me dava sempre uma coisa no peito” (E1).? “Eu tava muito <strong>de</strong>primida” (E2).? “Eu me sentia angustiada e <strong>de</strong>primida” (E3).? “Eu estava um pouco <strong>de</strong>primida. Minha família é meia assim, <strong>de</strong>ssa coisa <strong>de</strong><strong>de</strong>pressão. Meu irmão chegou até a variar <strong>por</strong> causa da <strong>de</strong>pressão” (E10).


A <strong>de</strong>pressão, i<strong>de</strong>ntificada no discurso das mães entrevistadas, também po<strong>de</strong> serconsi<strong>de</strong>rada, em alguns casos, um evento estressor para ela, e conseqüentemente para obebê em formação. De acor<strong>do</strong> com Reich (1950), uma mãe <strong>de</strong>primida é incapaz <strong>de</strong>passar uma boa energia para seu filho que ainda se encontra no útero e, provavelmente,também será incapaz <strong>de</strong> passar essa mesma energia boa para a criança quan<strong>do</strong> nasce ouestá em seus primeiros anos <strong>de</strong> vida, ida<strong>de</strong> em que ela mais precisa da mãe.Navarro (1995) e Relier (1998), que também compartilham <strong>de</strong>ssa opiniãoreichiana, consi<strong>de</strong>ram a <strong>de</strong>pressão um evento estressor <strong>por</strong>que faz com que a mãe nessasituação <strong>de</strong>scarregue em seu corpo uma série <strong>de</strong> hormônios que po<strong>de</strong>m levá-la a umestresse e da mesma forma, estressar o bebê em formação.h) Agitação no útero? “...sempre foi agita<strong>do</strong> na barriga, dava chutes e se mexia muito” (E1).? “... o J. se agitava na barriga e não parava <strong>de</strong> mexer. Com sete meses <strong>de</strong> gravi<strong>de</strong>zparecia que ele ia até nascer <strong>de</strong> tanto que mexia. Eu tinha até cólica, mas omédico disse que não era nada. (...) pensei que ele ia nascer antes <strong>do</strong> tempo <strong>de</strong>tanto que se mexia” (E2).? “Ele se mexia muito quan<strong>do</strong> eu ficava nervosa. Dava pra saber direitinho quan<strong>do</strong>eu tava muito nervosa <strong>por</strong>que ele chutava muito” (E5).O com<strong>por</strong>tamento agita<strong>do</strong> <strong>do</strong> feto no útero materno, também foi uma categoria<strong>de</strong> evento levantada no discurso das mães entrevistadas, e que, em alguns casos, po<strong>de</strong>um evento estressor para ela, e conseqüentemente para o bebê em formação.


Reich (1950) já acreditava que o bebê no útero sente tu<strong>do</strong> aquilo que é senti<strong>do</strong>pela mãe e respon<strong>de</strong> com movimentos. Segun<strong>do</strong> Reich, quanto mais movimentos o bebêfaz no útero materno, mais <strong>de</strong>monstra o seu <strong>de</strong>sconforto, resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>scargaadrenalina na corrente sanguínea da mãe, e sentida pelo bebê como uma ameaça.Alguns autores como Navarro (1995), Relier (1998) e Barraclough (1999),afirmam que o com<strong>por</strong>tamento agita<strong>do</strong> <strong>do</strong> feto no ventre materno po<strong>de</strong> ser entendi<strong>do</strong>como reação <strong>de</strong> um possível estresse sofri<strong>do</strong> <strong>por</strong> ele durante a gestação. Segun<strong>do</strong> Klaus& Klaus (2001) uma pesquisa feita com mulheres grávidas revelou que o feto <strong>de</strong> umamãe tranqüila é sempre tranqüilo também. No entanto, dizem os autores que:Em contraste, os fetos <strong>de</strong> mulheres com estresse crônico têmbatimentos cardíacos rápi<strong>do</strong>s e são muito ativos. As mulheresexpostas a níveis muito eleva<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ruí<strong>do</strong> correm um risco maior <strong>de</strong>partos prematuros, além <strong>do</strong>s efeitos <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> sobre o feto (...) Através<strong>de</strong> um processo complica<strong>do</strong>, o feto po<strong>de</strong> ser afeta<strong>do</strong> <strong>por</strong> mudançasbioquímicas causadas pelas experiências emocionais da mãe (p. 18).Para Relier (1998), uma mãe nervosa, angustiada e estressada, que leva uma vidaagitada e é incapaz <strong>de</strong> controlar seu esta<strong>do</strong> emocional, muitas vezes <strong>de</strong>scarrega em seucorpo uma série <strong>de</strong> hormônios que atravessam a placenta e po<strong>de</strong>m atingir ecomprometer a criança, tornan<strong>do</strong>-a muitas vezes agitada no ventre materno.6.2. ESTRESSORES DURANTE A INFÂNCIAApesar <strong>de</strong> situações estressantes fazerem parte da infância, a maioria dascrianças apren<strong>de</strong> a enfrentá-las. Porém, se algumas <strong>de</strong>ssas situações estressantes nãoforem bem administradas, po<strong>de</strong>m gerar na criança sensível sérios problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>física e/ou emocional. (Arneil, 1999; Papalia & Olds, 2000).


De acor<strong>do</strong> com Lipp & Romano (1987), o estresse infantil assemelha-se muitoao estresse <strong>do</strong> adulto, e quan<strong>do</strong> em excesso, po<strong>de</strong> gerar sérias conseqüências. Da mesmaforma que eventos irritantes e amedronta<strong>do</strong>res, situações excitantes e felizes tambémexigem adaptação <strong>por</strong> parte da criança e provoca mudanças psicológicas, físicas equímicas em seu organismo.Com relação aos possíveis fatores estressantes para a criança durante seusprimeiros anos <strong>de</strong> vida, antes mesmo <strong>do</strong> aparecimento da <strong>do</strong>ença, pu<strong>de</strong>mos levantar, <strong>por</strong><strong>meio</strong> <strong>do</strong> discurso das mães, algumas categorias que são apresentadas a seguir:a) Sentimento <strong>de</strong> aban<strong>do</strong>no? “Meu mari<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> chegava bêba<strong>do</strong> em casa, sempre dizia pro M. que iaembora <strong>de</strong> casa e <strong>de</strong>ixar ele comigo. Ele chorava muito e dizia pro pai que nãoqueria que ele fosse embora” (E1).? “Acho que se sentiu aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>. (...) Ele não gostava muito que eu saísse pratrabalhar. No começo ele chorou muito. Acho que foi quase um mês assim. Eusaía e ele ficava choran<strong>do</strong> no <strong>por</strong>tão. Chorava tanto que até <strong>do</strong>rmia lá. Aempregada nem podia chegar perto <strong>de</strong>le” (E2).? “Depois que eu bebia tu<strong>do</strong>, eu me jogava no sofá e ficava choran<strong>do</strong>. As criançassentiam isso tu<strong>do</strong> <strong>por</strong>que a gente até esquece <strong>de</strong>las. A mais velha falava que nãogostava <strong>de</strong> ver aquilo, mas a N. só chorava. Acho que ela pensava que eu iamorrer ou... sei lá. A mais velha punha pra fora, mas a mais nova <strong>de</strong>via guardartu<strong>do</strong> <strong>por</strong>que não sabia falar direito. Só resmungava. Além disso, como a gentetava precisan<strong>do</strong> <strong>de</strong> dinheiro, eu arrumei um emprego <strong>de</strong> secretária numconsultório <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntista e <strong>de</strong>ixei as meninas sozinhas em casa. Elas ficavam


incan<strong>do</strong> e a vizinha dava uma olhadinha pra eu trabalhar mas voltava semprena hora <strong>do</strong> almoço e quan<strong>do</strong> eu saia <strong>de</strong> novo a mais nova só chorava e dizia pramãe não ir embora. (...) Acho que a N. sentia que eu ia embora quan<strong>do</strong> eu bebiaou então quan<strong>do</strong> eu saia pra trabalhar. Ela chorava muito e até perdia o fôlego.Acho que isso foi estressante pra ela. (...) não <strong>de</strong>i muita bola pra ela. Só fuimesmo cuidar <strong>de</strong>la quan<strong>do</strong> ela teve leucemia” (E3).? “...quan<strong>do</strong> ela tinha um aninho a tia e os priminhos foram embora <strong>de</strong> casa. Acasa ficou num silêncio só. Eu senti muita falta disso e acho que ela tambémsentiu muito e <strong>de</strong>pois disso ela começou a ficar acuada no quarto, não tinha maisvonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> brincar, começou a ter <strong>do</strong>res <strong>de</strong> barriga, <strong>do</strong>res <strong>de</strong> cabeça, até que eu alevei no neurologista e ele encaminhou para um oncologista e assim foi, até oresulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> diagnóstico” (E4).? “Eu saí <strong>do</strong> hospital e já fui trabaiá <strong>por</strong>que tinha que sustentar a família” (E7).? “Acho que ela sofreu muito <strong>por</strong>que eu não pu<strong>de</strong> dar muita atenção pra ela. Etambém, os meus partos foram muito rápi<strong>do</strong>s. Só o <strong>de</strong>la que não... Ela nasceucom uma feri<strong>de</strong>ira no corpo... ela foi pra encuba<strong>do</strong>ra e ficou lá 5 dias... eu aindatinha que trabalhar e ela ficava com os irmãos que não cuidavam muito bem. Omeu mari<strong>do</strong> nem dava bola pra ela e ela ficava jogada na cama choran<strong>do</strong> otempo to<strong>do</strong>. Então eu acho que se isso causa estresse, po<strong>de</strong> ter si<strong>do</strong> issotambém.” (E9).A análise <strong>do</strong> discurso das mães revelou que o sentimento <strong>de</strong> aban<strong>do</strong>no parece tersi<strong>do</strong> um evento estressante para a criança, antes da manifestação da <strong>do</strong>ença. Essasituação po<strong>de</strong> ser corroborada com a tese <strong>de</strong> Reich (1950) que diz que a criança,


principalmente nos primeiros seis meses <strong>de</strong> vida, jamais po<strong>de</strong> ser separada <strong>de</strong> sua mãe<strong>por</strong> muito tempo, nem <strong>por</strong> uma distância que vá além <strong>do</strong>s 4 metros. Isso <strong>por</strong>que existeum campo energético que circunda a relação mãe-filho e que po<strong>de</strong> ser rompi<strong>do</strong> com oafastamento brusco, o que po<strong>de</strong> não ser senti<strong>do</strong> pela mãe, mas com certeza, é senti<strong>do</strong>pelo bebê como um aban<strong>do</strong>no. Isso significa que toda e qualquer separação <strong>do</strong> bebênesse perío<strong>do</strong>, <strong>de</strong>ve ser gradativa. A mesma opinião é compartilhada <strong>por</strong> Navarro(1991), que complementa dizen<strong>do</strong> que nos primeiros 10 dias <strong>de</strong> vida, a criança aindanão tem uma produção <strong>de</strong> lágrimas o suficiente para lubrificar a córnea e que quan<strong>do</strong> seestressa pela ausência da mãe ou outro fator qualquer, chora muito, mas seus olhosficam resseca<strong>do</strong>s, uma situação que po<strong>de</strong> gerar mais tar<strong>de</strong> o chama<strong>do</strong> astigmatismo, umerro <strong>de</strong> refração da visão.Outros autores como Slee, Murray-Harvey & Ward (1996), também concordamque a ausência <strong>do</strong>s pais provoca um sentimento <strong>de</strong> aban<strong>do</strong>no que po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>um evento muito estressante para a criança.Portanto, toman<strong>do</strong> <strong>por</strong> base a análise <strong>do</strong> discurso das mães entrevistas, po<strong>de</strong>mos verificar que o sentimento <strong>de</strong> aban<strong>do</strong>nopo<strong>de</strong> ter si<strong>do</strong> um fator estressante para os filhos das mães entrevistadas.b) Perdas? “...quan<strong>do</strong> a vó morreu. Ele gostava muito <strong>de</strong>la. Ela era mais mãe <strong>de</strong>le <strong>do</strong> queeu. Eu tinha que trabaiá e ele ficava com ela o dia inteiro. Quan<strong>do</strong> ela morreu eleficava só choran<strong>do</strong> e dizen<strong>do</strong> que queria morrer também pra po<strong>de</strong> ir com ela. Eunão sabia o que fazer e ficava mais nervosa ainda. Depois disso ele fico<strong>de</strong>primi<strong>do</strong>, mais tão <strong>de</strong>primi<strong>do</strong> que nóis até levô ele no médico pra ve o quepodia faze. Foi o médico que falo que ele tava <strong>de</strong>primi<strong>do</strong> e <strong>de</strong>u um remédio mais


não adianto nada. Ele continuo assim até que no ano seguinte ele teve um tumorno pescoço que viro a leucemia” (E5).? “Ah, ela per<strong>de</strong>u <strong>do</strong>is tios que eu acho que ela sentiu muito. A minha cunhadaque faleceu, ela sentiu mais <strong>por</strong>que ela gostava muito da tia. Ela ficou muitoabatida <strong>por</strong>que ela ficava muito tempo com a tia. O tio também, mas ela nãosentiu tanto quanto sentiu da tia. Ela ficava assim... abatida, né, não comiadireito, não queria conversar e só queria ficar no canto brincan<strong>do</strong> sozinha.Depois foi passan<strong>do</strong>. Aí, quan<strong>do</strong> ela caiu da bicicleta e bateu o rim, a <strong>do</strong>ença jáapareceu” (E8).As perdas sofridas pela criança, também são consi<strong>de</strong>radas eventos estressorespara a criança em seus primeiros anos <strong>de</strong> vida. Essa é uma situação <strong>de</strong>fendida <strong>por</strong> Slee,Murray-Harvey & Ward (1996), que conduziram uma pesquisa com crianças, querevelou que a morte <strong>de</strong> um membro queri<strong>do</strong> da família po<strong>de</strong> ser um evento muitoestressante para a criança, e <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar sérios problemas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m física e/ouemocional.Essa opinião também é <strong>de</strong>fendida <strong>por</strong> Navarro (1996) quan<strong>do</strong> afirma quegeralmente, no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> seis meses a um ano após a perda <strong>de</strong> um ente queri<strong>do</strong>, umapessoa po<strong>de</strong> manifestar uma <strong>do</strong>ença qualquer, inclusive o câncer, <strong>por</strong> não conseguirlidar com a ausência.c) Dificulda<strong>de</strong> no relacionamento <strong>do</strong>s pais? “...o pai continuava brigan<strong>do</strong> e dizen<strong>do</strong> que ia embora <strong>de</strong> casa...” (E1).


? “Ela também via as brigas que eu tinha com o pai <strong>por</strong>que ele não dava ten<strong>do</strong>dinheiro pra sustentar a casa. A situação financeira tava cada vez pior e agora,nem se fale, a gente não tem dinheiro nem pro tratamento da N. Acho que a<strong>do</strong>ença <strong>de</strong>la veio quan<strong>do</strong> ela viu que a gente tava pra se separar e ela sabia que iaper<strong>de</strong>r os pais. Ela resmungava muito e ficava dura quan<strong>do</strong> chorava. Acho queessa situação era estressante pra ela (pausa) Se era pra mim, <strong>por</strong>que não po<strong>de</strong>riaser muito mais pra ela?” (E3).? “...quem cuidava da A. L. era a tia. Só que um dia meu mari<strong>do</strong> e ela brigaram eele tocou ela <strong>de</strong> casa. Foi muito difícil pra to<strong>do</strong>s nós mas acho que a A. L. foiquem mais sentiu. Ela presenciou a briga. Deu pra perceber claramente que elatinha senti<strong>do</strong> muito a falta da tia <strong>por</strong>que em seguida ela começou a ficar quieta.Ela era uma criança sorri<strong>de</strong>nte, falava <strong>de</strong> tu<strong>do</strong>, comia <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> e se dava bem comto<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Depois disso, não queria mais conversar, só queria ficar no colo,chorava o tempo to<strong>do</strong>, não ia no colo <strong>de</strong> mais ninguém. E isso durou uns seismeses” (E4).Na maioria <strong>do</strong>s lares encontramos discórdias entre os pais e uma série <strong>de</strong> outrassituações que po<strong>de</strong>m ser motivos <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s no relacionamento <strong>do</strong> casal. Noentanto, segun<strong>do</strong> Reich (1950) a criança <strong>de</strong>ve ser preservada das brigas <strong>do</strong>s adultos<strong>por</strong>que na maioria das vezes, não é capaz <strong>de</strong> su<strong>por</strong>tar as agressões, nem <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>ro que está acontecen<strong>do</strong>, sentin<strong>do</strong>-se obrigada a tomar parti<strong>do</strong> e escolher <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o paiou a mãe, motivo <strong>de</strong> muita ansieda<strong>de</strong>, me<strong>do</strong> e angústia, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>an<strong>do</strong> <strong>de</strong>ssa forma umasérie <strong>de</strong> <strong>do</strong>enças físicas e/ou emocionais. Slee, Murray-Harvey & Ward (1996),compartilham <strong>de</strong>ssa opinião, apontan<strong>do</strong> em uma pesquisa conduzida que quan<strong>do</strong> a


criança presencia com uma certa freqüência brigas entre os pais, po<strong>de</strong> se estressar comfacilida<strong>de</strong>.d) Nascimento <strong>de</strong> um novo irmão? “...nos últimos dias da gestação ele olhava pra minha barriga e dizia que nãoqueria um irmãozinho. Aí o pai falava pra ele que ia pegar o irmãozinho e iaembora com ele e o M. ia ficar com a mãe” (E1).Já dizia Reich (1950) que o nascimento <strong>de</strong> um novo irmão <strong>de</strong>ve sercompartilha<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início com a criança para que ela tenha tempo <strong>de</strong> ir sepreparan<strong>do</strong> para receber e dividir com o novo irmãozinho seu espaço físico e emocional.Tanto Slee, Murray-Harvey e Ward, (1996) quanto Papalia e Olds (2000), tambémmencionam que o nascimento <strong>de</strong> um novo irmão po<strong>de</strong> ser muito estressante para acriança, principalmente quan<strong>do</strong> ela não é preparada para dividir com o novo irmão seuespaço físico e afetivo que conquistou junto aos pais. Portanto, quan<strong>do</strong> a criança não épreparada a<strong>de</strong>quadamente, a tendência é que se sinta rejeitada e estressada.e) Dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> relacionamento entre irmãos? “O irmão mais velho brigava muito com ele. Eles nunca se <strong>de</strong>ram bem. Des<strong>de</strong>que eu tava grávida <strong>do</strong> J. o irmão batia na minha barriga dizen<strong>do</strong> que era pra daro nenem. Quan<strong>do</strong> o J. nasceu, eu tinha que ficar em cima <strong>do</strong> mais velho <strong>por</strong>queele queria afogar o J. Eu não podia virar as costas que o P. (irmão mais velho) jábatia no J. Piorou quan<strong>do</strong> eu comecei a trabalhar e acho que foi justo aí que o J.


ficou <strong>do</strong>ente. (...) Acho que essa coisa <strong>de</strong> estresse que eu nunca acreditei quepodia fazer algo, fez com meu filho. Eu sei que ele sentiu o que eu senti. Sentiuo me<strong>do</strong> que eu senti na gravi<strong>de</strong>z e <strong>de</strong>pois com as brigas <strong>do</strong> irmão, e como eramuito pequeno, não tinha como se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r e ficou <strong>do</strong>ente” (E2).A dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> relacionamento entre irmãos também é apontada como umevento estressante para a criança em seus primeiros anos <strong>de</strong> vida. Segun<strong>do</strong> Papalia eOlds (2000) essa é uma situação que geralmente acontece entre irmãos mais velhos quebrigam com os mais novos, que <strong>por</strong> sua vez, não sabem se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r e se estressam comfacilida<strong>de</strong>, motivo <strong>do</strong> aparecimento <strong>de</strong> diversas <strong>do</strong>enças.


6. CONSIDERAÇÕES FINAISConstantemente o ser humano tem que se adaptar a situações como perdas,aban<strong>do</strong>nos, agressões, me<strong>do</strong>s, frustrações e vários outros fatores consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>sestressores, que são capazes <strong>de</strong> convocar a Síndrome Geral <strong>de</strong> Adaptação (SAG).Portanto, as reações <strong>de</strong> estresse resultam <strong>do</strong> esforço que a pessoa tem que fazer para seadaptar a essas novas situações e da intensida<strong>de</strong> e freqüência <strong>do</strong> estimulo estressor, quequan<strong>do</strong> persiste <strong>por</strong> muito tempo, po<strong>de</strong> levar o indivíduo ao esgotamento e dar origem àmanifestação <strong>de</strong> diversas <strong>do</strong>enças.Com base nos objetivos propostos neste estu<strong>do</strong> pu<strong>de</strong>mos i<strong>de</strong>ntificar algumassituações enfrentadas pela mãe durante a gestação, que po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>radas, emalguns casos, um evento estressor para ela, e conseqüentemente para o bebê durante agestação:a) Gravi<strong>de</strong>z in<strong>de</strong>sejada: faz com que a mãe contraia seu útero, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong>-o poucoreceptivo e caloroso para receber o novo bebê, motivo <strong>de</strong> muitos abortos espontâneos(boa<strong>de</strong>lla, 1992; Navarro, 1995; Relier, 1998)b) Problemas financeiros: faz com que uma série <strong>de</strong> hormônios, chama<strong>do</strong>scatecolaminas, sejam <strong>de</strong>scarrega<strong>do</strong>s na corrente sangüínea da mãe, passan<strong>do</strong>diretamente pelo cordão umbilical e atingin<strong>do</strong> o bebê em formação, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong>-o num


esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> agitação motora e, conseqüentemente, um <strong>de</strong>sconforto. Se esse <strong>de</strong>sconformefor prolonga<strong>do</strong>, teremos uma situação <strong>de</strong> estresse (Gyton, 1986, Graves, 1998; Lipp,1990, Papalia & Olds, 2000)c) Conflitos conjugais: A dificulda<strong>de</strong> da mãe em lidar com situações conflituosas,como, <strong>por</strong> exemplo, os conflitos conjugais, faz com que ocorra uma alteraçãofisiológica em seu organismo, <strong>de</strong>corrente da ativação hipotalâmica-hipofisária-adrenal,<strong>de</strong>scarregan<strong>do</strong> na corrente sangüínea hormônios que irão atingir o bebê em formação,po<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-o levá-lo a uma situação <strong>de</strong> estresse. (Gyton, 1986, Lipp & Romano, 1987;Navarro, 1995, Meyer & Silva, 1999).d) Ausência <strong>do</strong> companheiro: Muitas mães sentem-se aban<strong>do</strong>nadas ou rejeitadas com aausência <strong>do</strong> companheiro e po<strong>de</strong>m entrar num esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong> muito gran<strong>de</strong>,convocan<strong>do</strong> a chamada síndrome geral <strong>de</strong> adaptação, uma resposta hormonal que ocorrefrente à impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> saber lidar com essa situação. Nesse caso, novamente irãoocorrer as <strong>de</strong>scargas hormonais que <strong>por</strong> sua vez, afetam o bebê em formação. (Selye,1974; Relier, 1998).e) Ansieda<strong>de</strong>: a ansieda<strong>de</strong> foi tomada como fator estressante durante a gestação <strong>por</strong>também convocar a chamada síndrome geral <strong>de</strong> adaptação e <strong>de</strong>scarregar ascatecolaminas na corrente sangüínea, que <strong>por</strong> sua vez, atingem o bebê em formação,<strong>de</strong>ixan<strong>do</strong>-o num esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> agitação e, talvez <strong>de</strong> muita ansieda<strong>de</strong>, uma situaçãoestressante (Piontelli, 1995; Slee, Murray-Harvey & Ward, 1996; Relier, 1998)


f) Me<strong>do</strong>s: Já dizia Reich (1950) que o me<strong>do</strong> é a causa <strong>de</strong> inúmeras biopatias <strong>por</strong> <strong>de</strong>ixaro organismo num esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> contração que impe<strong>de</strong> que a energia biológica flua peloplasma sangüíneo com liberda<strong>de</strong>. Dessa forma, o me<strong>do</strong> provoca uma <strong>de</strong>scargaadrenérgia que, além <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar o organismo num esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> contração, aumenta umasérie <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s fisiológicas <strong>do</strong> organismo como, <strong>por</strong> exemplo, os batimentoscardíacos, chegan<strong>do</strong> até o bebê em formação <strong>por</strong> <strong>meio</strong> <strong>do</strong> cordão umbilical, aumentan<strong>do</strong><strong>por</strong> conseqüência as ativida<strong>de</strong>s fisiológicas <strong>do</strong> mesmo, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-o levar a um esta<strong>do</strong> <strong>de</strong>esgotamento e estresse. (Gyton, 1986; Navarro, 1995; Papalia & Olds, 2000).g) Depressão: é consi<strong>de</strong>rada um elemento estressor <strong>por</strong>que faz com que muitas vezes amãe não faça contato energético com seu bebê, como <strong>de</strong>veria acontecer durante to<strong>do</strong> operío<strong>do</strong> da gestação. Nesse caso, as en<strong>do</strong>rfinas são liberadas para a corrente sangüínea,<strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> o bebê em um esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> agitação <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> útero, o que po<strong>de</strong> ser, para ele,muito estressante. (Piontelli, 1995; Relier; 1998; Papalia & Olds, 2000)h) Agitação no útero: O fato <strong>do</strong> bebê durante a gestação estar muito agita<strong>do</strong>, po<strong>de</strong> serconsi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> uma situação <strong>de</strong> estresse <strong>por</strong>que po<strong>de</strong> representar um <strong>de</strong>sconforto<strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>scarga hormonal na corrente sangüínea da mãe proveniente <strong>de</strong>várias situações como, <strong>por</strong> exemplo, dificulda<strong>de</strong>s em lidar com situações emocionaisdiversas. (Piontelli, 1995; Papalia & Olds, 2000).Também pu<strong>de</strong>mos i<strong>de</strong>ntificar, <strong>por</strong> <strong>meio</strong> <strong>do</strong> rela<strong>do</strong> das mães, algumas situaçõesenfrentadas pela criança em seus primeiros anos <strong>de</strong> vida, antes da manifestação <strong>do</strong>câncer, que po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>radas, em alguns casos, um evento estressor:


a) Sentimento <strong>de</strong> aban<strong>do</strong>no: a criança <strong>de</strong>ve ser preparada para ficar sozinha ou nacompania <strong>de</strong> estranhos. Quan<strong>do</strong> isso não acontece, ela sente-se aban<strong>do</strong>nada pelos pais,principalmente <strong>por</strong> aquele em que é mais apegada. Essa situação faz com que a criançaentre num esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> agitação motora e <strong>de</strong>scarregue em sua corrente sangüínea ascatecolaminas, que convocam a síndrome geral <strong>de</strong> adaptação e são elementosestressores (LêShan, 1966; Lipp & Romano, 1987; Leiphart, 1998)b) Perdas: per<strong>de</strong>r um animal <strong>de</strong> estimação, uma pessoa querida, a escola, o lar, sãosituações que po<strong>de</strong>m gerar muito estresse para a criança <strong>por</strong>que ela acredita que umaparte <strong>de</strong>la foi junto com a pessoa, animal ou situação que per<strong>de</strong>u e que jamais irárecuperar ou preencher com outra pessoa, animal ou situação. Nesse caso, novamente asíndrome geral <strong>de</strong> adaptação é convocada, liberan<strong>do</strong> as catecolaminas na correntesangüínea da criança, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong>-o em um esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> esgotamento físico, econseqüentemente, <strong>de</strong> estresse (Piontelli, 1995; Salmuski, Chagas & Nitsch, 1996;Papalia & Oids, 2000).c) Dificulda<strong>de</strong> no relacionamento <strong>do</strong>s pais: presenciar brigas entre os pais, po<strong>de</strong> fazercom que a criança sinta me<strong>do</strong> <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r um <strong>de</strong>les ou ambos, o que faz com que uma<strong>de</strong>scarga <strong>de</strong> catecolaminas aumente seu metabolismo basal e <strong>de</strong>ixe a criança num esta<strong>do</strong><strong>de</strong> esgotamento e estresse (Relier, 1998; Papalia & Olds, 2000)


d) Nascimento <strong>de</strong> um novo irmão: não são todas as crianças que conseguem lidar como nascimento <strong>de</strong> um novo irmão. Muitas <strong>de</strong>las sentem-se rejeitadas e acham que os paisagora não mais irão lhe dar atenção <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao nascimento <strong>do</strong> novo irmãozinho. Nessecaso, a criança po<strong>de</strong> se sentir <strong>de</strong>primida, angustiada, ansiosa, mas in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> qualsentimento ela terá, é uma situação que po<strong>de</strong> convocar a síndrome geral <strong>de</strong> adaptação eleva-la a uma situação <strong>de</strong> estresse (Lipp & Romano, 1987); Piontelli, 1995; Papalia &Olds, 2000).e) Dificulda<strong>de</strong> no relacionamento entre irmãos: muitas vezes, o irmão mais velhopercebe o irmão mais novo como rival, que só ele é quem recebe a atenção <strong>do</strong>s pais,brinque<strong>do</strong>s, etc. Isso faz com que entre num esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> competição e ameaças ao irmãomais novo, fazen<strong>do</strong> com que o menor sinta-se amedronta<strong>do</strong> e permaneça cala<strong>do</strong> paranão apanhar mais ainda, situação essa gera<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> estresse <strong>por</strong> também convocar asíndrome geral <strong>de</strong> adaptação (Papalia & Olds, 2000).Nessa dissertação, tivemos como objetivo levantar <strong>por</strong> <strong>meio</strong> <strong>do</strong> <strong>relato</strong> das mães,as situações que foram estressantes para o bebê durante a gestação e para a criança emseus primeiros anos <strong>de</strong> vida, antes da manifestação <strong>do</strong> câncer.Portanto, corroboran<strong>do</strong> a teoria apresentada nesse trabalho com as entrevistas,pu<strong>de</strong>mos levantar algumas categorias <strong>de</strong> elementos que os autores aqui apresenta<strong>do</strong>sjulgam ser fatores estressores para o bebê durante a gestação e para a criança em seusprimeiros anos <strong>de</strong> vida. Não incluímos nenhum fator que possa ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> novo.Apenas pu<strong>de</strong>mos perceber que os fatores menciona<strong>do</strong>s pelos autores cita<strong>do</strong>s nessetrabalho, também apareceram nas entrevistas que realizamos com as mães.


Segun<strong>do</strong> a American Cancer Society (2000), atualmente não se conhecenenhuma forma <strong>de</strong> prevenir a maioria <strong>do</strong>s casos <strong>de</strong> câncer infantil e enquanto isso, aênfase é dada ao diagnóstico precoce.Portanto, diante <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s nesse trabalho, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> oscomprometimentos que o estresse po<strong>de</strong> causar em uma criança, gostaríamos <strong>de</strong> salientara im<strong>por</strong>tância <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> trabalhos preventivos com mães ou “casaisgrávi<strong>do</strong>s”, evitan<strong>do</strong> <strong>de</strong>ssa forma transtornos tanto <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m física, quanto <strong>de</strong> or<strong>de</strong>memocional.Como nem tu<strong>do</strong> na vida é <strong>de</strong>finitivo, gostaríamos <strong>de</strong> finalizar com a frase <strong>de</strong>Verny & Kelly (1993) quan<strong>do</strong> dizem:“é im<strong>por</strong>tante lembrar que uma relação mãe-criança, forte e afetivamente rica,po<strong>de</strong> proteger o feto contra agressões, mesmo as mais traumatizantes”. (p. 40).


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ANEXOSANEXO A - Mo<strong>de</strong>lo da autorização das mãesANEXO B - Mo<strong>de</strong>lo <strong>do</strong> roteiro da entrevistaANEXO C – Entrevistas

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