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ESTUDOS DA LITERATURA ANGLÓFONA

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<strong>ESTUDOS</strong><strong>DA</strong> <strong>LITERATURA</strong><strong>ANGLÓFONA</strong>1ª Edição - 2007


SUMÁRIOO CONTO E O ROMANCE ________________________________________ 7O CONTO __________________________________________________________ 7A TRADIÇÃO ORAL E A <strong>LITERATURA</strong> ANGLO-SAXÔNICA ____________________________ 7PERÍODO MEDIEVAL E CONTOS ARTURIANOS ____________________________________12CHAUCER E O DESENVOLVIMENTO DOS CONTOS _________________________________ 15O CONTO MODERNO _______________________________________________________18ATIVI<strong>DA</strong>DE COMPLEMENTAR _________________________________________________30O ROMANCE _______________________________________________________31O NASCIMENTO DO ROMANCE _______________________________________________31A TEORIA DOS ARQUÉTIPOS DE NORTHROP FRYE _________________________________ 36DESENVOLVIMENTO DO ROMANCE INGLÊS _____________________________________38O ROMANCE NORTE AMERICANO _____________________________________________45ATIVI<strong>DA</strong>DE COMPLEMENTAR _________________________________________________51A POESIA E O TEATRO __________________________________________53A POESIA __________________________________________________________53A POESIA INGLESA: DE SHAKESPEARE AO ROMANTISMO ___________________________ 53A POESIA NORTE AMERICANA ________________________________________________67A POESIA BEAT ____________________________________________________________74TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS _____________________________________________76ATIVI<strong>DA</strong>DE COMPLEMENTAR _________________________________________________77


SUMÁRIOO TEATRO _________________________________________________________79SHAKESPEARE _____________________________________________________________79OSCAR WILDE & BERNARD SHAW _____________________________________________86O TEATRO NORTE AMERICANO _______________________________________________92O TEATRO DO ABSURDO ____________________________________________________94ATIVI<strong>DA</strong>DE COMPLEMENTAR _________________________________________________99GLOSSÁRIO ____________________________________________________________ 101REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _________________________________________ 102REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS ____________________________________________ 105REFERÊNCIAS FILMOGRÁFICAS __________________________________________ 106


Apresentação da DisciplinaPrezados alunos,Bem vindos à nossa nova etapa, desta feita, o estudo das literaturas deexpressão inglesa!A nossa disciplina, Literatura em Língua Inglesa, irá tratar de um assuntonovo para muitos de vocês, que é produção literária dos países anglófonos.A língua inglesa é, atualmente, a língua materna ou oficial em aproximadamentesessenta países, distribuídos por todos os continentes do nossoplaneta. Entretanto, nossos estudos estarão focalizados principalmente emtextos de autores provenientes do Reino Unido da Grã Bretanha e EstadosUnidos da América, pelo fato de se tratarem de bibliografia mais facilmenteencontrada em nosso país.Iniciaremos o módulo abordando o conto como forma literária, desde osseus primórdios até as tendências da contemporaneidade. Em seguida, aindano mesmo bloco temático, trataremos do romance como forma literáriamoderna, suas características, e seu desenvolvimento.No segundo bloco temático estudaremos a poesia inglesa e norte americana,bem como as vertentes literárias que influenciaram as diversas geraçõesde poetas anglófonos. E, last but not least, o teatro será o nosso últimotema, cuja abordagem tratará das características do teatro de Shakespeareaté o Teatro do Absurdo.Parafraseando Drummond que dizia que amar se aprende amando, chamoatenção para o fato que literatura se aprende lendo. Portanto, apesar dereconhecermos as dificuldades existentes na obtenção do material de leitura,é imprescindível que o aluno, na medida do possível, procure seguir asnossas recomendações de bibliografia e filmografia ao final de cada tema.Agora, mãos à obra!Profa. Mestre Sonia Maria Davico Simon


O CONTO E O ROMANCEO CONTOA TRADIÇÃO ORAL E A <strong>LITERATURA</strong> ANGLO-SAXÔNICAPodemos imaginar, desde os temposmais remotos, seres humanos reunidos ao fimdo dia para uma refeição comunal ao redor dofogo, compartilhando as experiências vivenciadasnas atividades diárias em expediçõesde caça, coleta de alimentos, encontros fortuitoscom outros grupos de humanos e animaisselvagens. Essas experiências, narradasao redor da fogueira e ouvidas pelos demaismembros do grupo, deram origem às primeirasnarrativas.Esses relatos, modificados através dostempos nas sucessivas repetições e transmissões orais, passaram a incorporar explicações sobreelementos e fenômenos da natureza até então desconhecidos pelos homens tais como a origemdo mundo, dos astros, fenômenos da natureza, animais, plantas, a morte, etc. Através da observaçãoa humanidade imaginou histórias para explicar não somente a origem das coisas comotambém a sua utilização, o que pode ser apreciado nos relatos que sobreviveram às sociedadesprimitivas, agrárias.Essas narrativas se configuraram como míticas ou mitológicas e podem ser identificadasnos relatos bíblicos do Velho Testamento, como, por exemplo, o Livro do Gênesis. Outrashistórias, como a Odisséia, também se configuram como relatos míticos e narram a história deum povo, ou civilização. Tais relatos constituem-se de longos poemas que contam, geralmente,as aventuras de um personagem principal, um herói, representante das aspirações de uma naçãoou etnia, que, em superando obstáculos, consegue galgar uma posição de líder na comunidaderepresentando assim os valores de uma nação.Pensadas deste modo, estas narrativas trazem contribuições profícuas para o entendimentoda identidade nacional (leia-se cultural) de um povo. Ressalvamos que há áreas da ciência, maispositivistas, que divergem sobre a viabilidade de recorrer à literatura como fonte para entendera história. Entretanto, podemos questionar até que ponto o olhar pretensamente distanciado dohistoriador atinge a objetividade desejada, escapando à subjetividade inerente a qualquer ponto devista. Devemos pensar, ainda, que tipo de registro poderia ser mais elucidativo sobre a Guerra deTróia do que a Ilíada, ou, ainda, quem poderia trazer maiores revelações sobre a visão de mundoda Alta Idade Média da Inglaterra, além de Chaucer em The Canterbury Tales, ou poderíamosOrganização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 7


CURIOSI<strong>DA</strong>DEOs indícios de interferências textuais de origem cristã no poema Beowulf podemser explicados devido ao fato de a literalidade ter sido privilégio dos monges, responsáveispela maior parte da transcrição de documentos e textos literários na época. Um dado quecorrobora com esta interferência é o fato de ao monstro Grendel ser atribuída a descendênciada raça de Caim, personagem bíblico cuja história é marcada pela vilania e traição.O documento com a transcrição do poema Beowulf existente no Museu Britânico datado século XII, embora haja suspeitas que a sua composição remonte a trezentos ou até mesmoquatrocentos anos antes.A história acontece durante o reino de Hrothgar da Dinamarca, cenário constantementeameaçado por monstros de diversas origens e que são mortos em batalhas heroicamente vencidaspor Beowulf. Entretanto, ao final do relato, o herói é atacado por um dragão que lhe fere mortalmente;Beowulf, então, recebe exéquias 1 pagãs e o épico tem o seu final. A saga é escrita em OldEnglish (inglês arcaico, contendo influências decorrentes das inumeráveis invasões dos povosanglo-saxões).Trecho de Beowulf:We have learned of Eormanric’swolfi sh disposition; he held a wide dominionin the realm of the Goths. That was a cruel king.Many a man sat bound in sorrows,anticipating woe, often wishingthat his kingdom were overcome.Beowulf e os demais poemas épicos datados do período Anglo-Saxão eram recitados por umscop: bardo itinerante que se deslocava pelos reinos – às vezes a serviço de um único monarca– relatando fatos, acontecimentos e histórias.Widsith e Outros TextosO poema Widsith, por exemplo, um dos mais antigos manuscritos do período, narra asviagens de um scop chamada Widsith (que significa “far journey”) por diversos reinos do mundogermânico. O épico, possivelmente autobiográfico, encontra-se no Book of Exeter, coleção queabriga outros textos, doado à Catedral de Exeter. Outros textos do período chamado Old EnglishLiterature são The Battle of Maldon (escrito cerca do ano 1000), poema que trata da luta entre umnobre senhor de Essex e uma invasão viking, e inúmeras transcrições de histórias bíblicas como1 Exéquias são cerimônias fúnebres.Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 9


Judith, Gênesis, Exodus, Daniel, reunidos em quatro manuscritos: MS Cotton Vitellius, que fazparte do acervo do Museu Britânico; The Junius Manuscript que se encontra na biblioteca Bodleianem Oxford; The Book of Exeter que está na Catedral de Exeter; e o Vercelli Book que se encontrana biblioteca da Catedral de Vercelli, sul da Itália.EpopéiaSAIBA MAISSalientamos que embora os textos mencionados tenham sido escritos em versos, estesse inserem na categoria contos por serem narrativas épicas. Tal inserção justifica-se porconsistir a epopéia em uma narrativa de feitos grandiosos, o que a aproxima da prosa.Não devemos esquecer que o gênero romance é um desdobramento da epopéia. Em Ateoria do romance, Georg Lukács 2 , situa a epopéia em um período anterior à modernidade, maisespecificamente, na cultura helênica, período propício para o desenvolvimento deste tipo de narrativa,por ser marcado pelo sentimento de familiaridade entre o sujeito e o mundo, sendo estecaracterizado pela homogeneidade, a unidade. Com a modernidade, ou seja, com o começo doNovo Mundo, no entanto, há uma quebra desta unidade e, assim, o homem se sente desenraizadoe ao sentimento de pertença diante do mundo sobrepõe-se uma sensação de desamparo,uma forte desorientação. Assim, enquanto o Helenismo é “um mundo homogêneo, e tampoucoa separação entre homem e mundo, entre eu e tu é capaz de perturbar sua homogeneidade.” (p.29), na era moderna predomina o que Lukács chama de “desabrigo transcendental”.PARA LEMBRARTrouxemos à baila as considerações feitas sobre a epopéia e o romancenão só para justificar a inserção de textos como Beowulf neste módulosobre contos, mas, sobretudo, para mostrar que a literatura expressa questõesde cunho histórico e de identidade não apenas através do conteúdodas histórias narradas, mas até mesmo em sua forma. Afinal, como postulaLukács, a forma da epopéia seria apenas possível em uma era fechada, emque predominava a unidade tão marcadamente representada nas longas estrofesde histórias de bravos heróis.Crônica anglo-saxãEsta obra é considerada a primeira produção escrita dos germânicos e, por ser compostapor relatos, é definida por alguns autores como um jornal. A Crônica anglo-saxã é constituída poranotações em inglês arcaico e inglês médio sobre importantes acontecimentos do período do2 LUKÁCS, Georg. “Culturas Fechadas”. In: id. A Teoria do Romance. São Paulo: Duas Cidades, 2000, p. 25-36.10FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


século IX a 1154, listados conforme a data em que ocorreram, como o trecho destacado ilustra:A.D. 752. This year, the twelfth of his reign, Cuthred, king ofthe West-Saxons, fought at Burford (27) with Ethelbald, king ofthe Mercians, and put him to fl ight.A.D. 753. This year Cuthred, king of the West-Saxons, foughtagainst the Welsh.Crônica e cronicõesSAIBA MAISNa acepção moderna, o termo “crônica” se refere a um texto que relata umacontecimento prosaico que é narrado com um olhar subjetivo – o que já lhe tirariaa objetividade que é pretensamente buscada pela reportagem – ora revelando o seuautor como um contador de histórias, ora estimulando nele algo de poético pelo tratamentoincomum que atribui às histórias. Em virtude de uma definição imprecisado que seja a crônica, este tipo de texto, geralmente escrito para jornais ou revistas,é considerado “híbrido”, conforme Massaud Moisés, podendo ser tanto narrado emforma de alegoria, quanto de resenha, confissão, monólogo, entre outras.Notamos que a definição de crônica supracitada não se aplica à Crônica anglo saxã, já queesta consiste em relatos breves de acontecimentos do período em que foi escrita. Esta obra se insere,na verdade, nos textos qualificados por Massaud Moisés como “cronicões”, termo que, emportuguês e espanhol é utilizado para se referir a “simples e impessoais notações de efemérides” 3 ,em contraste às crônicas, propriamente ditas, que são “obras que narravam os acontecimentoscom abundância de pormenores e algo de exegese, ou situavam-se numa perspectiva individualda história” 4 . Em inglês, entretanto, não há diferença de termos entre crônica e cronicões,reunidas sob uma única palavra, chronicle. Ainda no tocante ao termo utilizado para se referir àscrônicas, salientamos que, na acepção moderna, em inglês, estas podem ser chamadas commentary,literary column, sketch, light essay, human interest story, town gossip, entre outros.Livro do Juízo FinalNa linhagem de textos documentais, é válido mencionarmos uma outra obra, o Livro do JuízoFinal, cuja história está atrelada à conquista de território inglês e consolidação do Feudalismopelo normando, William I (ou Guilherme), o Conquistador. Este livro foi escrito para inventariaras terras que seriam doadas em lotes a senhores que ajudariam William a manter o controle econsolidar a conquista do território.3 MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. São Paulo: Cultrix, 1999, p. 132.4 Op. cit., p. 132.Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 11


O que é literatura?PARA REFLETIRA qualificação de textos como o Livro do Juízo Final e Crônica anglosaxãcomo literatura leva-nos a ponderar sobre o que pode ser consideradotexto literário e não literário, uma vez que o conceito de literatura,no senso comum, sempre esteve atrelado à noção de ficção.Conforme Antoine Compagnon, o termo literatura começou a ser utilizado, tal como outilizamos na contemporaneidade, a partir do século XIX. Antes deste período, esta palavradesignava “as inscrições, a escritura, a erudição, ou o conhecimento das letras” 5 , designação quecontempla os textos supracitados, Livro do Juízo Final e Crônica anglo-saxã, justificando a suainserção, naquela época, entre textos literários.PERÍODO MEDIEVAL E CONTOS ARTURIANOSRei Arthur e os Cavaleiros da Távola RedondaNo que pese os primeiros registros da literatura inglesa se encontrarem sob a forma depoemas épicos, a prosa estava presente notadamente nas transcrições das histórias bíblicas e hagiografias,que consistem em biografias e histórias de feitos de um indivíduo que seja consideradosanto, abade, mártir, pregador, rei, bispo, virgem, entre outros. O conto como forma literária vaise estabelecer definitivamente no período chamado de Middle English (Inglês Médio), após aconquista Normanda, em 1066.A partir da conquista da Inglaterra em 1066 por William I, O Conquistador, a língua faladapelas camadas privilegiadas da sociedade e da corte inglesa era o normando, francês padrão daépoca. Os nobres normandos que faziam parte da corte na Inglaterra, não raro, possuíam vastasextensões de terra do outro lado do canal da Mancha, o que propiciava uma influência francesabastante acentuada pelo constante trânsito entre ambas as localidades. No século XII, durante oreinado de Henrique II, têm-se notícias da chegada de trovadores vindos do continente, provavelmentetrazidos por sua esposa, Eleanor de Aquitânia.5 COMPAGNON, Antoine. A literatura. In: _____. O demônio da teoria: literatura e senso comum. Tradução Cleonice Paes Barreto Mourão. Belo Horizonte:UFMG, 1999, p. 30.12FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


CURIOSI<strong>DA</strong>DEA temática explorada pelos trovadores abrangia histórias do imaginário celta, pagão,tais como as lendas do Rei Artur e as aventuras dos seus fiéis escudeiros, tambémconhecidos como cavaleiros da Távola Redonda. Muitas das lendas e personagens sãooriundos da tradição oral celta como Mordred, Merlin, Guinevere, Tristão, Gawain, eLear (posteriormente caracterizado como protagonista na tragédia de Shakespeare, ReiLear). Esses personagens já haviam sido mencionados no relato do escritor inglês Georgede Monmouth, numa tentativa de escrever a história da Inglaterra.Tornadas populares, essas histórias inauguraram um novo modelo de narrativa, cuja ênfasefoi deslocada dos feitos heróicos até então abordados, para novos ideais de sentimento e comportamento,denominado de amor cortês.O Amor CortêsO “amor cortês” ou fin amors marcou um período na idademédia que destacou a mulher numa civilização predominantementemasculina. A época medieval se caracterizou pela instabilidade políticacausada pelas constantes lutas e guerras travadas entre os senhores depequenos reinos semi-independentes e que deviam obediência a umrei que lhes era superior. Por outro lado, as Cruzadas exigiam a adesãodesses pequenos senhores de terra que, como prova de fé, abandonavamsuas propriedades e famílias para lutar a serviço do cristianismoem terras longínquas. Com o afastamento dos senhores, os pequenosfeudos passaram a ser governados por suas esposas, alçando a mulhera um novo status, a de governante, senhora de terras. Ao mesmo tempo,a propagação do culto à Virgem Maria, promovida pela Igreja Católica,elevou a mulher a uma posição privilegiada, associada à imagemO Amor Cortês da Virgem Mãe. Anteriormente situada numa situação de submissão,a dama medieval adquiriu poderes de governante, liderando a corte que privilegiou uma novaforma artística.O período do fin amors se distinguiu pelo surgimento de uma nova forma literária, o trovadorismo;entretenimento palaciano que consistia na diversão da corte por trovadores, ou bardos,que, acompanhados por um instrumento musical, relatavam as aventuras de cavaleiros quecompunham o acervo de histórias da tradição oral celta. Essas histórias se encontravam sob aforma de versos e entretinham as damas e suas cortes nos longos períodos em que os senhoresestavam guerreando. Os trovadores enalteciam a figura feminina representada pela protagonistada história e cantavam o amor entre os sexos como um sentimento elevado.Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 13


PARA LEMBRARNa idade média, o casamento se resumia a uma associaçãopor interesses políticos e/ou pecuniários, em que os sentimentosafetivos não eram levados em consideração. O adultério, senão fora prática comum, também não era de todo extraordinário.É nesse contexto que florescem o amor cortês e os romancesde cavalaria.TrovadoresOs “romances” de cavalaria tinham como tema aventuras de cavaleiros que se dispunham aenfrentar toda a sorte de obstáculos a fim de conquistar o coração de uma dama, sem, contudo,se abster da preservação de valores éticos e morais e lealdade ao seu rei ou senhor.CURIOSI<strong>DA</strong>DEPor se tratarem de histórias oriundas da tradição pagã, era costumeiro que o amorcarnal fi z esse parte dos antigos enredos, entretanto, devido à influência do cristianismo,no período medieval o resquício de paganismo foi atenuado e deu lugar ao que convencionamoschamar de amor platônico, ou o amor que não se realiza fisicamente.O fato de as damas dos feudos serem cortejadas pelos trovadores também influiu para oapagamento do traço pagão do erotismo, uma vez que o amor cortês se tratava de um sentimentoenvolvendo pessoas de classes sociais distintas. As senhoras dos feudos eram casadas e encontravam-seem uma posição socialmente superior à dos amados, os poetas, que, colocando-sena condição de vassalos, contentavam-se como servos de sua dama, a serviço do amor, o amorimpossível.Essas histórias, ainda transmitidas sob a forma de versos pelos trovadores ou ministreisforam, posteriormente, transcritas e se tornaram populares sob a forma de uma coletânea quese convencionou chamar de “Histórias do Ciclo Arturiano” por terem como protagonistas oscavaleiros do rei Arthur. Histórias como “Excalibur” ou “A Busca do Santo Graal” fazem partedesta coleção que conta ainda com personagens conhecidos como Lancelot, Sir Gawain, a RainhaGuenevere, o Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda, entre outros. Esses relatos transformarama noção de amor na literatura ocidental e tornaram-se matrizes para outras tantas lendasde amor impossível, como, por exemplo, Tristão e Isolda, fonte de inspiração para a ópera domesmo nome composta por Richard Wagner à época do romantismo.14FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


CHAUCER E O DESENVOLVIMENTO DOS CONTOSThe Canterbury TalesChaucerÉ no período chamado de Middle English que vai despontar um dos maiores escritores dalíngua inglesa, Geoffrey Chaucer. Neste período, a Inglaterra encontrava-se ainda sob a influenciada língua francesa, ou melhor, o normando, francês padrão que predominou na Inglaterra duranteaproximadamente os dois séculos de ocupação normanda. De fato, o francês tornou-se oidioma da corte e das classes abastadas da Inglaterra, enquanto que o latim se estabeleceu como alíngua oficial para escritos documentais e religiosos, promovendo grandes mudanças lingüísticasno inglês moderno.Chaucer se destacou como um artesão da palavra, e aproveitou seus conhecimentos lingüísticos,especialmente o francês, além do italiano e do latim para enriquecer o léxico inglês atravésdo acréscimo de novos vocábulos oriundos dos idiomas que tinha domínio. Sua contribuiçãoestende-se ainda à inserção de uma perspectiva individual, a do contador de histórias, a partir daqual é possível depreender uma filosofia de vida, embutida nas narrativas.PARA LEMBRAREm virtude da presença da perspectiva individual, dos contos reunidosem The Canterbury Tales depreendem-se não só imagens que representama Alta Idade Média, mas, sobretudo, uma visão de mundo. Aspersonagens, através das histórias que contam, revelam o modo de pensare a cultura da época. A perspectiva individual, o forte traço históricoe a linguagem coloquial configuram The Canterbury Tales como umaliteratura que se aproxima muito da literatura moderna.“Contos de Cantuária”, ou The Canterbury Tales (1386), é, possivelmente, a mais conhecidaobra de Geoffrey Chaucer. Reunidos sob a forma de contos (não obstante a sua estrutura emversos, com cerca de 1 700 linhas), esses relatos elaborados artisticamente preservam o tom datradição oral. As narrativas revolvem em torno de um grupo de peregrinos que, agrupados emOrganização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 15


uma estalagem chamada de Tabard Inn, se dirige à cidade de Cantuária, próxima ao santuário deS. Thomas Beckett.Os relatos apresentados pelas diversas categorias profissionais da época, tais como marinheiro,comerciante, abadessa, frade, entre outros, se constituem em uma crônica social cujatônica é a ironia. Os Contos de Cantuária conservam o recurso das estórias de moldura, ou seja,todas as histórias encontram-se unidas pelo fato de serem contadas por um narrador para umaplatéia, simulando uma situação semelhante à da tradição oral. Por este motivo, estas histórias emversos primorosos foram qualificadas como contos.Mother GooseTambém portador da característica da oralidade, embora datado de um período posterior(XVII-XVIII), é o “Livro da Mamãe Ganso”, ou Mother Goose. Trata-se de um clássico da literaturainfantil em países de língua inglesa, notadamente Inglaterra e Estados Unidos. O livro constitui-seem uma coletânea de histórias transcritas da oralidade, muitas das quais fazem parte dolivro Histoire ou Contes du Temps Passé escritas na França por Charles Perrault no século XVII e quese tornaram populares até a época atual. O Livro da Mamãe Ganso inclui cantigas e quadrinhasinfantis conhecidas como nursery rhymes.O NarradorAté então, os contos se atinham a narrativas de determinados fatos do cotidiano e a transmissãode valores ou de experiências vividas, ou ainda, das fábulas contidas nos denominadoscontos maravilhosos, de forma a se aproximar das narrativas da oralidade. Walter Benjamin, em“O Narrador: Considerações sobre a obra de Nicolai Leskov” 6 , enfatiza a importância da trocade experiências nas narrativas de tradição oral, nas quais a palavra do narrador aglutinava e transmitiavalores sociais e morais aos ouvintes. No tocante à transmissão de conhecimento, Benjaminidentifica duas categorias de narradores, a saber, o “marinheiro comerciante”, configuração donarrador “como alguém que vem de longe” 7 , detendo, portanto, um saber especial, e o “camponêssedentário”, que possui um saber adquirido ao longo do tempo, tendo, desse modo, umvasto conhecimento das histórias de seu povo. Ao narrar a experiência – sua ou alheia – a figurado narrador se confundia com o próprio discurso. A riqueza em sabedoria manifestada nessasnarrativas foi se esboroando ao longo do tempo, em especial a partir da guerra mundial, quandoo indivíduo passou a se distanciar de valores coletivos, e começou a buscar respostas particulares,isoladas.De um plano de saber coletivo, transmitido pelo contador de histórias tradicional, surgiu,então, a figura do narrador moderno, que perdeu a capacidade de transmitir um saber coletivo,redimensionando esse plano para uma perspectiva cada vez mais individual, a ponto de submergirem um psicologismo, característico em autores como Edgar Poe, considerado como inauguradordo conto moderno. Na pós-modernidade, conforme Silviano Santiago, em “O narradorpós-moderno”, surge uma outra categoria de narrador, que dá título ao seu texto. Na categoria6 BENJAMIN, Walter. O Narrador:Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In Arte Política. Ensaios sobre literatura e história da cultura. SãoPaulo: Ed. Brasiliense, 1987.7 Op. cit., p. 198.16FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


de narrador pós-moderno, o narrador é “aquele que quer extrair a si da ação narrada, em atitudesemelhante à de um repórter ou de um espectador” 8 . Esquivando-se da história narrada e config urando-se como um “ficcionista puro”, uma vez que trabalha no sentido de tornar verossímiluma história que não é sua, mas de outrem. Silviano Santiago ressalva, no entanto, que nenhumaescrita é inocente e, assim, na tentativa de distanciar-se da história narrada, não raro o narrador,ao fazer falar o outro, fala sobre si indiretamente.Saiba mais!Após estas breves considerações sobre o narrador tradicional, modernoe pós-moderno, é válido fazer algumas observações sobre o sentido da palavra“conto” e o sentido que este gênero textual assume. O conto, vocábulo advindodo verbo contar, tem suas raízes no latim, computare; entretanto, o seu significadonão implica, para nós, em apenas relatar ou contar outra vez algo que já aconteceu.O conto é, sobretudo, um ato de criação, invenção; não tem compromisso com averacidade já que é uma representação.Como forma narrativa, o conto tem como característica a condensação de tempo, espaço econflito, bem como o número reduzido de personagens, e pode ser, segundo Cortázar, o relatode um acontecimento verdadeiro ou falso, ou ainda uma fábula que se conta às crianças. De fato,o conto é uma forma de narrativa que envolve um acontecimento de interesse humano: sobrenós, para nós, em relação a nós (GOTLIEB, p.11). Podemos afirmar que a construção dessasnarrativas acontece de diversas maneiras, e que a sempre presente “voz” do contador de históriasnão se perdeu quando da sua transposição da oralidade para a escrita, cuja “voz” passou ase apresentar no modo de contar a história e/ou nos detalhes da história, ou ainda, em ambos.Entretanto, não queremos dizer com isto que todo contador de histórias seja necessariamente umcontista, mas que as elaborações de gestual e de voz, anteriormente utilizados pelo contador dehistórias da tradição oral, foram substituídas, com o advento da escrita, para o objeto estético, opróprio texto. Os recursos criativos utilizados pelo autor resultam em um estilo próprio de narrar,de enunciar detalhes, bem como criam a figura do narrador que é, também, um artifício poderosonos contos.CURIOSI<strong>DA</strong>DEA mudança do conto ao longo dos séculos deveu-se principalmente à técnicacom relação à maneira de narrar, embora a sua estrutura tenha sido mantida. Nomodelo tradicional, o conflito se desenvolve numa seqüência até o desfecho, enquantoque na narrativa moderna o modelo é fragmentado (GOTLIB,2004, p.29).Dentre os autores modernos que se destacaram pela utilização de recursos que simulamuma situação de oralidade, citamos o inglês, Rudyard Kipling, em The Elephant’s Child. A tradiçãooral encontra-se manifesta no conto (vide site recomendado) através da escolha do tema - nesteconto de Kipling, a temática diz respeito ao folclore da Índia - transmite uma moral, e a narrati-8 SANTIAGO, Silviano. O narrador pós-moderno. In: ______. Nas malhas da letra. Rio de Janeiro: Rocco, 2002, p. 45.Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 17


va segue o modelo tradicional em que os acontecimentos ocorrem numa seqüência, com início(apresentação), meio (conflito) e fim (desfecho). Apesar da presente apreciação por autores eleitores de contos que seguem o modelo tradicional de narrativa, é notória a transformação destaforma literária, ao longo do tempo, de um relato fundamentalmente moralizante para uma narrativaelaborada, cujo enredo contempla o psicológico ou o fantástico.O CONTO MODERNOA Teoria do ContoA idade contemporânea problematiza o conto como gênero literário e divide os críticosentre aqueles que admitem e os que não admitem uma teoria do conto. Vários estudiosos têm sededicado a definir, estabelecer regras, e esclarecer as múltiplas tendências dos contos. Citamos, atítulo de ilustração, algumas afirmativas de alguns autores a esse respeito 9 :- o escritor brasileiro Mário de Andrade dizia que sempre será conto aquilo que seu autorbatizou com o nome de conto;- Machado de Assis expressou a dificuldade em se estabelecer a definição do conto quando,em 1873, disse: É gênero difícil, a despeito de sua aparente facilidade... e creio que essa mesma aparêncialhe faz mal, afastando-se dele os escritores e não lhe dando, penso eu, o público toda a atenção de que ele é muitasvezes credor;- Julio Cortazar afirma que se não tivermos uma idéia viva do que é o conto, teremos perdido tempo,porque um conto, em última análise, se move nesse plano do homem onde a vida e a expressão escrita dessa vidatravam uma batalha fraternal, se me for permitido o termo; e o resultado dessa batalha é o próprio conto, uma sínteseviva ao mesmo tempo que uma vida sintetizada, algo assim como um tremor de água dentro de um cristal, umafugacidade numa permanência. Só com imagens se pode transmitir essa alquimia secreta que explica a profundaressonância que um grande conto tem em nós, e que explica também por que há tão poucos contos verdadeiramentegrandes.O Decálogo do Perfeito ContistaEm 1927, o autor uruguaio Horácio Quiroga escreveu o Decálogo do perfeito contista,numa tentativa de estabelecer normas, ou “mandamentos”, para a escrita do conto. São eles:I. Crê num mestre _ Poe, Maupassant, Kipling, Tchekov _ como na própria divindade.II. Crê que tua arte é um cume inacessível. Não sonhes dominá-la. Quando puderes fazê-lo, conseguirássem que tu mesmo o saibas.III. Resiste quanto possível à imitação, mas imita se o impulso for muito forte. Mais do que qualquer9 Apud GOTLIEB, Nádia B. Teoria do Conto. Série Princípios. São Paulo: Ática, 2004. p. 9 e 10.18FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


coisa, o desenvolvimento da personalidade é uma longa paciência.IV. Nutre uma fé cega não na tua capacidade para o triunfo, mas no ardor com que o desejas. Ama tuaarte como amas tua amada, dando-lhe todo o coração.V. Não começa a escrever sem saber, desde a primeira palavra, aonde vais. Num conto bem-feito, as trêsprimeiras linhas têm quase a mesma importância das três últimas.VI. Se queres expressar com exatidão essa circunstância _ “Desde o rio soprava um vento frio”_ não há nalíngua dos homens mais palavras do que estas para expressa-la. Uma vez senhor de tuas palavras, não te preocupesem avaliar se são consoantes ou dissonantes.VII. Não adjetives sem necessidade, pois serão inúteis as rendas coloridas que venhas pendurar num substantivodébil. Se dizes o que é preciso, o substantivo, sozinho, terá uma cor incomparável. Mas é preciso acha-lo.VIII. Toma teus personagens pela mão e leva-os fi rmemente até o fi nal, sem atentar senão para o caminhoque traçaste. Não te distraias vendo o que eles não podem ver ou o que não lhes importa. Não abuses do leitor. Umconto é uma novela depurada de excessos. Considera isso uma verdade absoluta, ainda que não o seja.IX. Não escrevas sob o império da emoção. Deixa-a morrer, depois a revive. Se és capaz de revivê-la talcomo a viveste, chegaste, na arte, à metade do caminho.X. Ao escrever, não penses em teus amigos, nem na impressão que tua história causará. Conta, como seteu relato não tivesse interesse senão para o pequeno mundo de teus personagens e como se tu fosses um deles, poissomente assim obtém-se a vida num conto.A maior parte dos ensaios que têm como objetivo a definição do conto se fundamentam nanoção de brevidade desta forma narrativa. Todavia o conto parece resistir às restrições impostaspelas categorizações.O conto é uma narrativa fi ccional, de reduzidos limites em relação ao romance e à novela, umas vezes de teoranedótico (Maupassant), outras vezes de teor espectral (Poe), ora intimista e nutrido de silêncios (Tchekhov), orade narração objetiva e perversa (Faulkner), e não raro de conteúdo impressionista à maneira de Proust, ou com aaura poemática de Katharine Mansfi eld. Pode ter meia página ou 30 mil palavras, como em Henry James. 10A Questão da BrevidadeA afirmação de Hélio Pólvora incide sobre a questão da brevidade que insiste em caracterizaros contos. Entretanto, é sabido que este não é o único critério para a classificação de umanarrativa literária com conto. Henry James (1843-916) escreveu contos longos, acima de vintemil palavras e que ele próprio chamava de the beautiful and best nouvelle. Sabemos da existência decontos de 50 páginas como, por exemplo, As Neves de Kilimanjaro do autor americano ErnestHemingway ou de apenas um parágrafo, como o da escritora indiana Suniti Namjoshi:Case History by Suniti Namjoshi 11After the event Little R. traumatized. Wolf not slain. Forester is wolf. How else was he there exactly ontime? Explains this to mother. Mother not happy. Thinks that the forester is extremely nice. Grandmother dead.10 PÓLVORA, Hélio. Itinerários do Conto.Interfaces críticas e teóricas da moderna short story.Ilhéus: Editus, 2002. p. 15,16.11 NAMJOSHI, Suniti(1944 - ). In Feminist Fables, 1981. Escritora indiana, é professora do Depto. De Inglês na Universidade de Toronto.Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 19


Wolf not dead. Wolf marries mother. R. not happy. R. is a kid. Mother thinks wolf is extremely nice. Please tosee shrink. Shrink will make it clear that wolves on the whole are extremely nice. R. gets it straight. Okay to bewolf. Mama is a wolf. She is a wolf. Shrink is a wolf. Mama and shrink, and forester also, extremely uptight. 12O autor chama a atenção para o fato de que mais importante que a extensão será o insight, aquelemergulho existencial. 13 A história acima é uma releitura, irônica, do tradicional conto “ChapeuzinhoVermelho”, em que a personagem principal, Chapeuzinho Vermelho, é, também, a narradoraque questiona o comportamento da mãe. A narrativa é breve, fragmentada, cifrada, e deixa queo leitor manifeste um julgamento moral através do diálogo estabelecido entre o texto novo e ahistória tradicional, de conhecimento prévio do leitor.O LeitorSegundo Harold Bloom 14 , os contos favorecem uma postura ativa do leitor, que é levadoa trazer as respostas e explicações que o autor evita; they compel the reader to be active and to discernexplanations that the writer avoids 15 . Diferentemente dos romances, o leitor participa nos contos, inferindosobre o que não está explicito, valendo-se, para tanto, das pistas oferecidas pelos escritores.A maior parte dos contistas evita um julgamento moral deixando que os leitores decidam sobrea sua relevância ou não.CURIOSI<strong>DA</strong>DEUma vez perguntaram ao escritor americano, Edgar Allan Poe“como se ler um conto?” e ele respondeu: “em uma sentada...” Poderíamosinterpretar a resposta, como mais uma reiteração da obrigatoriedadeda brevidade do conto. Entretanto, o que Poe se referia era acapacidade da obra literária em “seqüestrar” o leitor de forma a nãoquerer parar de ler a história até o seu desfecho, em uma só “sentada”.A qualidade do conto está diretamente relacionada à sua capacidade de provocar no leitorum arrebatamento que não o faça abandonar a leitura até chegar ao seu final. Pressupõe-se, portanto,uma relação entre a tensão e a extensão do conto, uma vez que, o autor necessita não cansaro leitor com uma leitura longa e, ao mesmo tempo, mantê-lo interessado no texto. É, portanto,no efeito (singular) que o conto causa ao leitor que Poe vai estabelecer a diferença entre romancee conto, afirmando que no conto breve, o autor é capaz de realizar a plenitude de sua intenção, seja ela qualfor. Durante a hora da leitura atenta, a alma do leitor está sob o controle do escritor. Não há nenhuma infl uênciaexterna ou extrínseca que resulte de cansaço ou interrupção 16 . De acordo com Poe, o conto é o resultadode um trabalho consciente do autor, e do seu controle sobre o material que pretende narrar, ten-12 NAMJOSHI, Suniti. Case History - Three Feminist Fables. In Wayward Girls & Wicked Women.CARTER, Angela, editor. New York: Penguin Books,1986. p. 8513 PÓLVORA, Hélio.Op.cit. loc. cit.14 BLOOM, Harold. How to read and why. New York: Touchstone, 2000.p.31.15 SIMON, Sonia. Tradução livre. “eles (os contos) compelem o leitor a se tornar ativo e buscar explicações evitadas pelos escritores.” BLOOM, Harold.Op.cit. Loc. cit.16 POE, Edgar A. Apud GOTLIEB, Nádia B. Op. Cit. p. 34.20FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


do sido concebido desde o início com o intuito de causar um efeito singular.Segundo Nádia Gotlib, trata-se de conseguir, com o mínimo de meios, o máximo de efeitos 17 .Edgar Allan PoeEdgar Allan Poe (1809-1849) é considerado um mestre desta forma narrativa e escreveucontos portadores de um forte conteúdo simbólico. Sua obra influenciou escritores do séculoXX, na Europa e nos Estados Unidos, que iniciaram o movimento conhecido como modernismo.Os contos de Poe possibilitam uma investigação psicológica dos seus personagens. Apsicologia e o simbolismo são traços que renderam a Poe o título de “pai do conto moderno”.Seus contos narram histórias de horror, morte, vingança, ruína, em cenários variados; as históriasdizem respeito a conflitos psicológicos e os seus personagens geralmente se encontram em estágiosmentais limítrofes da loucura.Saiba mais!Edgar Allan Poe é considerado o pioneiro das histórias de detetive e de terror,seus contos remetem o leitor a uma atmosfera de terror e medo e tornaram-sereferências neste tipo literatura.Tomemos como exemplo o início do conto The Black Cat datado de 1843, em que o narradordiz:The black catFOR the most wild, yet most homely narrative which I am about to pen, I neitherexpect nor solicit belief. Mad indeed would I be to expect it, in a case where my very sensesreject their own evidence. Yet, mad am I not --and very surely do I not dream. But to-morrowI die, and to-day I would unburthen my soul. (…) In their consequences, these events haveterrifi ed --have tortured --have destroyed me. Yet I will not attempt to expound them. To me,they have presented little but Horror --to many they will seem less terrible than baroques.Desde o primeiro parágrafo, o leitor é introduzido em uma atmosfera de morte: to-morrow Idie... e loucura: Mad indeed would I be to expect it… Os temas de morte e loucura, recorrentesnos contos e poemas de Edgar Allan Poe, fi z eram parte também de sua vida pessoal, marcada porperdas familiares e abuso de substâncias tóxicas como o álcool e que resultaram no seu trágicodesaparecimento precoce.17 GOTLIB, Nádia Batella. Teoria do Conto. Série Princípios. São Paulo: Ática, 2004, p. 35Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 21


PARA REFLETIRA presença deste traço biográfico na obra de Poe reverbera para a discussão sempre presentenos estudos literários sobre a pertinência de estudar a biografia do autor para entender a suaobra. De um lado temos o historicismo, que realiza um estudo do pano de fundo da obra (contextohistórico e biografia do autor), de outro lado, temos os estudos de base estruturalista, quedefendem uma outra leitura, privilegiando a análise do texto em sua imanência, ou seja, em suaestrutura, desconsiderando qualquer coisa que não seja a linguagem. Antoine Compagnon postulaa conjugação destas duas vertentes, pois, conforme este “demônio da teoria”, ainda uma vez, trata-sede sair desta falsa alternativa: o texto ou o autor. Por conseguinte, nenhum método exclusivo é sufi ciente 18 .Poe foi o pioneiro na escrita de histórias de crime em que o detetive utiliza o raciocínio paraa elucidação dos assassinatos, diferentemente das histórias tradicionais em que os investigadoresse limitam a seguir as pistas deixadas pelos criminosos sem, contudo, se deter, por exemplo, naanálise dos dados e do estudo da patologia do criminoso. Este procedimento cria um envolvimentolúdico com o leitor que “participa” na decifração de códigos que levarão à descoberta doautor do crime. Em “Os assassinatos da Rua Morgue”, conto inaugural deste gênero narrativo, opersonagem principal é um detetive, Monsieur Dupin, cuja perspicácia na investigação dos crimeso consagrou na tradição posteriormente seguida por outros escritores de língua inglesa como, ArthurConan Doyle, criador de Sherlock Holmes, e Agatha Christie, criadora do Monsieur Poirote Miss Marple.Edgar A. Poe dividiu seus contos em duas categorias: Arabesque e Grotesque. DenominouArabesque a narrativa predominantemente em prosa, em que o estado psicológico dos personagensencontra-se no limite da sanidade, ou em situação física e/ou mental de agonia a ponto deestarem sempre prontas a se entregarem à morte de forma prazerosa. A categoria descrita comoGrotesque se refere à prosa que remete a um poema. A morte está sempre presente na obra de Poee as heroínas de seus contos e poesias são mulheres que já faleceram ou que encontram a mortedurante a narrativa.Poe também se destacou como poeta e ensaísta; o seu poema The Raven (O Corvo) e o ensaioThe Philosophy of Composition são obras referenciais em suas respectivas áreas. Em The Philosophyof Composition, Poe retoma algumas observações sobre o conto e defende o seu ponto de vistaacerca da totalidade de efeito ou unidade de impressão que se consegue ao ler o texto de uma só vez 19 .18 COMPAGNON, Antoine. O Autor. In: ______. O demônio da teoria: literatura e senso comum. Tradução Cleonice Paes Barreto Mourão. Belo Horizonte:UFMG, 1999, p. 96.19 GOTLIB, N. Op. Cit. p. 35.The Raven22FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


Saiba mais!Para Poe, o processo de criação literária é consciente e intencional. Ele trabalhacom o intuito de causar um efeito no leitor, e todas as suas escolhas são feitas como objetivo de conseguir esse efeito. Nesse sentido ele não compartilha da crença nainspiração, mas defende que o escritor parte de uma proposta de construção de umconto, baseado em um acontecimento que cause este efeito, predeterminado e singular,sobre o leitor.Cortazar resume o conceito de conto em Poe dizendo que um conto é uma verdadeira máquinaliterária de criar interesse e amplia esta noção identificando o acontecimento como fundamental paradespertar e manter o interesse do leitor.FlâmeurAs contribuições de Poe estendem-se, ainda, à configuração do fl âneur, que influenciou autorescomo Baudelaire. Segundo Walter Benjamin, o fl âneur é o sujeito que se entrega à multidão dosgrandes centros urbanos, contemplando a transitoriedade da vida na cidade. Um conto exemplarque traz a figura do fl âneur e ilustra este elogio às multidões é O homem da multidão. Este conto traza história de uma personagem, o narrador, que, encontrando-se no Café D., observa a multidão.Atendo-se, inicialmente à visão da grande massa indistinta que caracteriza o cenário observado,o narrador, progressivamente, é levado a particularizar os grupos de transeuntes que passam emsua frente. Cada grupo, contudo, não escapa à massificação imposta pelos grandes centros e logoa personagem passa a qualificar os transeuntes em tipos, quais sejam, “the tribe of clerks” (“a castados empregados”), “the upper clerks of staunch fi r ms” (“a dos empregados de maior categoriade antigas firmas sólidas”), “the race of swell pick-pockets” (“ a raça dos batedores de carteirasfantasiados de peraltas”), entre outros. As pessoas eram, assim, qualificadas conforme o seu tipo,como ilustra o trecho abaixo sobre a caracterização dos jogadores (gamblers):The gamblers, of whom I described not a few, were still more easily recognizable. They wore every variety ofdress, from that of the desperate thimble-rig bully, with velvet waistcoat, fancy neckerchief, gilt chains, and fi ligreedbuttons, to that of the scrupulously inornate clergyman than which nothing could be less liable to suspicion. Stillall were distinguished by a certain sodden swarthiness of complexion, a fi lmy dimness of eye, and pallor and compressionof lip. There were two other traits, moreover, by which I could always detect them; -- a guarded lownessOrganização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 23


of tone in conversation, and a more than ordinary extension of the thumb in a direction at right angles with thefi ngers. -- Very often, in company with these sharpers, I observed an order of men somewhat different in habits,but still birds of a kindred feather. They may be defi ned as the gentlemen who live by their wits. They seem toprey upon the public in two battalions -- that of the dandies and that of the military men. Of the fi rst grade theleading features are long locks and smiles; of the second frogged coats and frowns 20 .Divertindo-se ao reconhecer cada tipo que por ele transita, repentinamente, o seu olharpassa para um plano mais individual. É o momento em que narrador se depara com um sujeitoque escapa a qualquer classificação. Este homem é um decrepit old man, some sixty-fi ve or seventy yearsof age (“um velho decrépito, de uns sessenta e cinco ou setenta anos de idade 21 ”). Em meio àquelamultidão, a aparência estranha daquele homem lhe chama a atenção a ponto de sair em meio amultidão perseguindo-o. Nesta trajetória, tem a impressão de estar acompanhando em vão aquelevelho que, concluindo ser “o tipo e o gênio do crime profundo”, desiste de persegui-lo, poiscomo já traduzira um certo livro alemão, citado no começo da história, talvez ele seja um casoque não deve ser lido.Para refletirÉ interessante ponderarmos que apesar de haver uma ênfase sobreo caráter fantástico das Histórias extraordinárias de Poe, elas nãodeixam de registrar marcas do contexto histórico e social no qual oescritor viveu. A configuração de um cenário tal como o descrito noconto, a caracterização das personagens e a apresentação de tipos sociaisda cidade moderna oferecem uma visão em nada superficial doque seria a sociedade da época.Além de Poe, a literatura anglófona conta com uma gama de escritores que se destacaramna escolha do conto como forma literária: Henry James, James Joyce, D.H. Lawrence, ErnestHemingway, Eudora Welty, Flannery O’Connor, Virginia Woolf, Katherine Mansfield, WilliamFaulkner, Scott Fitzgerald, e muitos outros.Enquanto Poe considerava fundamental o efeito causado pelo conto, outros estudiosos odefinem como a representação de um momento especial ou de crise. Discute-se, porém, se o momentoespecial seria o da leitura, o do acontecimento, ou ainda aquele vivido pelo narrador. Aindahá críticos que consideram que o conto representa justamente a falta de crise. De acordo comGotlib, o importante é que o conto representa, de forma especial, algo que faz parte da vida.James Joyce & EpifaniaDentre os autores que se distinguiram por retratarem “momentos especiais” James Joyceocupa um lugar de destaque pela sua concepção de epifania.20 POE, Edgar Allan. The man of the crowd. Disponível: http://etext.virginia.edu/etcbin/toccer-new2?id=PoeCrow.sgm&images=images/modeng&data=/texts/english/modeng/parsed&tag=public&part=1&division=div1. Acesso: 31 jan. 0721 POE, Edgar Allan. O homem da multidão. In: ______. Ficção completa, poesia e ensaios. Tradução de Oscar Mendes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,1986, p. 38-45.24FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


James Joyce (1882-1941) foi um escritor irlandês, mais notoriamente conhecido pelos seusromances Ulysses e Finnegan’s Wake, marcados por uma estratégia narrativa chamada fluxo de consciênciaou monólogo interior, que consiste na narração de uma história marcada por raras ações econstantes reflexões e rememorações. Uma outra narrativa bastante significativa, mas que escapaum pouco à proposta dos romances supracitados, é a sua coletânea de contos, The Dubliners (OsDublinenses), escrita em 1914.Em Contos Dublinenses, que protagoniza a cidade de Dublin, as narrativas se iniciam comuma descrição minuciosa dos locais onde se passa a história, como na seguinte passagem:North Richmond Street, being blind, was a quiet street except at the hour when the Christian Brothers’School set the boys free. An uninhabited house of two stores stood at the blind end, detached from its neighbours ina square ground. The other houses of the street, conscious of decent lives within them, gazed at one another withbrown imperturbable faces.É composto um retrato da cidade de Dublin, do seu povo e clima, a partir da visão e experiênciado autor. As histórias são perpassadas por um olhar sobre a infância, a adolescência, amaturidade e a vida pública.Todavia, não obstante ser um cronista de sua própria cidade, a mais importante característicade Joyce reside na utilização do recurso da epifania em seus contos e romances. Conformeconcebida por Joyce, a epifania é identifi cada como uma espécie ou grau de apreensão do objeto que poderiaser identifi cada com o objetivo do conto, enquanto uma forma de representação da realidade 22 .A palavra vem do grego epipháneia, significando manifestação ou aparecimento. A IgrejaCatólica utiliza o vocábulo epifania no sentido de revelação, quando da passagem da primeiramanifestação de Jesus Cristo ao gentios, durante a visita dos Reis Magos: Em geral, uma súbita manifestaçãoou percepção da natureza essencial ou signifi cado de alguma coisa. (Webster, 1971, p. 279).Segundo o próprio Joyce,“por epifania, referia-se a uma súbita manifestação espiritual, seja na vulgaridade do discurso ou do gesto,seja numa fase memorável do próprio espírito” 23 .De acordo com Hélio Pólvora, o conto Araby (vide indicação de leitura e site), contém oinstante mais epifânico da coletânea The Dubliners. O enredo focaliza a paixão adolescente em queo objeto da afeição, uma moça, não pode ir a um bazar que se chama Araby e o apaixonado, umrapaz, lhe promete ir e trazer-lhe um presente. Neste momento, ocorre a epifania:She held one of the spikes, bowing her head towards me. The light from the lamp opposite our door caughtthe white curve of her neck, lit up her hair that rested there and, falling, lit up the hand upon the railing. It fellover one side of her dress and caught the white border of a petticoat, just visible as she stood at ease.O instante em que ocorre a epifania é o momento de revelação – objetivo do conto. EmAraby a revelação é o momento em que o adolescente percebe o objeto da sua paixão, uma mulher,tornando-se, por sua vez, um homem. É o instante fugaz da sua transformação em adulto,modificando irreversivelmente a sua condição como ser humano. A epifania é um momento22 GOTLIB, N. Op. Cit. p. 51.23 JOYCE, James, apud PÓLVORA, Hélio. Op. cit. p.68.Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 25


especial pela significação que traz. Joyce “desvela” algo através da linguagem: um instante querevela o objeto ao sujeito....o trivial em Joyce, quando tem de fato alguma signifi cação, se ilumina, passa a emitir luz própria; derepente, uma frase ou um trecho de prosa entra a arder como se fosse um facho 24 .Isto equivale a dizer que a linguagem, em Joyce, consegue transformar o prosaico em umatransfiguração da realidade, inaugurando uma das matrizes da prosa moderna.Na idade moderna, outros autores de língua inglesa se destacaram como contistas, notadamenteKatharine Mansfield (Nova Zelândia), Angela Carter, Margaret Atwood (Canadá), VirginiaWoolf entre tantos outros.Virginia WoolfVirginia Woolf valeu-se proficuamente da estratégia narrativa de fluxo de consciência emseus contos. Neles a ação apresenta-se apenas como uma espécie de pano de fundo de reflexõese memórias que preenchem os seus contos, marcados pela ausência de uma seqüência temporal,ou seja, da linearidade e apresentados como se realmente seguissem o fluxo do pensamento desuas personagens. Além disso, é válido destacar o nível de poeticidade de sua narrativa que, aliadaà ausência de ação, já referida, qualificam-na como uma prosa poética.Para refletirEm virtude do caráter estático de sua narrativa, a literatura deVirginia Woolf pode, por vezes, ser considerada alheia à realidade. Noentanto, em uma leitura mais arguta de sua obra, notamos um olharque escapa ao realismo, mas que apresenta uma capacidade de penetrarno indizível, no mistério do ser humano, e captar uma visão do realque jamais seria possível através de uma narrativa que se pretendessemais “fidedigna” à realidade.O processo empreendido por esta autora é, conforme termo utilizado por Victor Chklovski25 , em “A arte como procedimento”, o de desautomatizar a percepção, que é assim tornadaautomática em virtude do ritmo acelerado da vida que faz com que cada ação passe despercebida.A arte como procedimento é, então, claramente evidenciada em Kew Gardens, conto no qual o narrador,minuciosa e poeticamente narra um dia de julho em Kew Gardens. O narrador faz incursõesminimalistas na paisagem, depreendendo cores, ruídos, sensações, que consistem no verdadeirotema do conto, como ilustra o primeiro parágrafo do conto.From the oval–shaped fl ower–bed there rose perhaps a hundred stalks spreading into heart–shaped or tongue–shapedleaves half way up and unfurling at the tip red or blue or yellow petals marked with spots of colourraised upon the surface; and from the red, blue or yellow gloom of the throat emerged a straight bar, rough with24 PÓLVORA, Hélio. Op. cit.p.63.25 CHKLOVSKI, Victor. “A arte como procedimento”. Tradução Ana Maria Ribeiro Filipouski et al. In: TOLEDO, Dionísio (org). Teoria da Literatura:Formalistas russos. 2ª reimpressão da 1.ed. Porto Alegre: Globo, 1973, p. 39-56.26FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


gold dust and slightly clubbed at the end. The petals were voluminous enough to be stirred by the summer breeze,and when they moved, the red, blue and yellow lights passed one over the other, staining an inch of the brown earthbeneath with a spot of the most intricate colour. The light fell either upon the smooth, grey back of a pebble, or,the shell of a snail with its brown, circular veins, or falling into a raindrop, it expanded with such intensity of red,blue and yellow the thin walls of water that one expected them to burst and disappear. Instead, the drop was leftin a second silver grey once more, and the light now settled upon the fl esh of a leaf, revealing the branching threadof fi bre beneath the surface, and again it moved on and spread its illumination in the vast green spaces beneath thedome of the heart–shaped and tongue–shaped leaves. Then the breeze stirred rather more briskly overhead and thecolour was fl ashed into the air above, into the eyes of the men and women who walk in Kew Gardens in July.A ação cede o seu lugar para o desenho de um quadro em que transitam pessoas, conformea seguinte passagem:soon diminished in size among the trees and looked half transparent as the sunlight and shade swam overtheir backs in large trembling irregular patches 26 .A tradução desta passagem para o português é:logo diminuíam de tamanho entre as árvores, dando a impressão de serem semitransparentes à medida quea luz e sombras boiavam nas suas costas em manchas trêmulas, grandes e irregulares 27 .Ao transubstanciar a passagem de um grupo de pessoas em uma imagem semitransparentee subjetivar a paisagem, o narrador redimensiona o olhar do seu leitor de uma visão meramentesuperficial da realidade para um olhar sensível às sutilezas do mundo e capaz de desacelerar oprocesso de banalização da vida.Devemos ressaltar que, inserida em um contexto entre a era vitoriana e o início da era modernana Inglaterra, a produção ficcional de Virginia Woolf não raro traz à baila as contradiçõesde uma época marcada pelo conservadorismo e a predominância de ditames patriarcais, assimcomo pela euforia trazida pelo processo de modernização. O seu projeto estético, neste sentido, étambém ético, pois ela problematiza, através da escolha por uma composição mais poética e livreda linearidade, a predominância de um padrão que rime com opressão.Virginia Woolf e Katherine MansfieldUma outra contista muito significativa nas letras inglesas, é a neozelandesa Katherine Mansfie ld. As narrativas desta autora, ao lado das de Virginia Woolf, fi g uram como inquietantes críticasao moralismo de herança vitoriana e à posição social da mulher, o que leva a sua escrita a serqualificada por vezes como feminista. São apontadas, ainda, outras aproximações entre Mansfielde Woolf no que tange ao projeto literário. Na literatura destas autoras, verifica-se, por exemplo,uma ênfase sobre as reflexões, em detrimento da ação. Mas, no que concerne à configuração daspersonagens, podem ser identificados alguns distanciamentos, já que as personagens de Mansfie ld são construídas com um traço de humor e ironia, enquanto as de Woolf carregam uma certa26 WOOLF, Virginia. Kew Gardens. In: ______. A haunted house. Disponível: http://etext.library.adelaide.edu.au/w/woolf/virginia/w91h/chap6.html.Acesso: 31 jan. 2007.27 WOOLF, Virginia. Kew Gardens. In: ______. Contos completos. Tradução Leonardo Fróes. 2. ed. São Paulo: Cosac Naify, 2005, p. 117.Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 27


elegância e sutileza. Observamos, no que tange à configuração do cenário, no entanto, uma claraaproximação, basta comparar o trecho de Kew Gardens, de Virginia Woolf, acima destacado, ao deThe garden party, de Katherine Mansfield.Windless, warm, the sky without a cloud. Only the blue was veiled with a haze of light gold, as it is sometimesin early summer. The gardener had been up since dawn, mowing the lawns and sweeping them, until thegrass and the dark fl at rosettes where the daisy plants had been seemed to shine. As for the roses, you could nothelp feeling they understood that roses are the only fl owers that impress people at garden-parties; the only fl owersthat everybody is certain of knowing. Hundreds, yes, literally hundreds, had come out in a single night; the greenbushes bowed down as though they had been visited by archangels 28 .Apesar do minimalismo em Mansfield não ser tão exacerbado quanto no texto de Virginia,o jardim descrito pela narradora de Katherine Mansfield é poeticamente singularizado em seuconto, que narra, assim como em um romance de Virginia Woolf, Mrs. Dalloway, os preparativospara uma festa.Angela CarterIniciamos este módulo falando sobre a tradição oral nos primórdios da configuração da literaturaem língua inglesa. É muito comum associarmos a literatura de base oral ao período anteriorao despontar da modernidade. Esta associação é justificada pelas razões já aqui mencionadas aotratar das oposições apontadas por Walter Benjamin entre o narrador tradicional e o moderno. Adespeito deste binarismo, devemos considerar que a oposição entre o oral e o escrito nem semprese sustenta, principalmente se observarmos que muitos textos da tradição oral apenas chegaramaté nossos dias porque foram escritos e, além disso, há traços da oralidade no texto escrito evice versa. No tocante às interseções entre o oral e o escrito, é válido mencionar a autora AngelaCarter que, em plena pós-modernidade, fez uma releitura de contos da tradição oral, que foramreunidos em seu livro O quarto do Barba-azul.O quarto do Barba-azul é composto por dez contos que narram em forma de pastiche históriasinfantis, em sua maioria contos de fadas. Tomemos como exemplo o conto “O lobisomem”,no qual a autora faz uma releitura do conto de fadas Chapeuzinho vermelho, tornado clássico porCharles Perrault. Neste conto, o narrador começa a história configurando um cenário frio, em quepredominam as superstições. Um mundo cheio de bruxas, diabos, fi g uras lendárias que permeiamos pensamentos de “Vidas pobres, breves, árduas ” 29 . Situando o imaginário da época, a narradoraentão conta a ida de uma menina que, atendendo ao pedido da mãe, vai visitar a sua avó.Vá visitar a sua vovozinha, que tem estado doente. Leve-lhe bolos de aveia que fi z no fogão de pedra e umamalguinha com manteiga 30 .[...]Não saia do caminho, por causa dos ursos, do javali, dos lobos esfaimados. Olhe, leve o facão do seu pai;você sabe usá-lo.A menina obedece, não deixando de levar o facão mencionado pela mãe. No caminho,28 MANSFIELD, Katherine. The garden party. In: ______. The garden party. Disponível: http://digital.library.upenn.edu/women/mansfield/garden/party.html. Acesso: 31 jan. 07.29 CARTER, Angela. O lobisomem. In: ______. O quarto do Barba-azul. Tradução Carlos Nougué. Rio de Janeiro: Rocco, 1999, p. 193.30 Op. cit., p. 194.28FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


depara-se com um lobo e, prontamente, o fere com o facão amputando-lhe a mão. Ela enrola amão amputada e a leva dentro da cesta à casa da avó. Lá chegando depara-se com a avó muitoenferma. Abre a cesta e vê que a pata que havia guardado transformara-se em uma mão, a mãoque faltava à sua avó. A menina puxou o lençol da avó e esta lutou contra a menina, que gritou tãoalto a ponto de os vizinhos ouvirem e aparecerem para ajudá-la. A avó era, na verdade, a bruxa.É interessante observarmos nesta história que esta releitura é enriquecida por questões decunho cultural identificadas quando o narrador faz a caracterização do cenário e não se eximede falar sobre as crenças da época que justificam os acontecimentos fantásticos que ocorrem nanarrativa. Por este conto de Carter, notamos, portanto, que a atmosfera tosca e a vida da floresta,com todas as feras que nela vivem, são um ambiente propício para engendrar lendas e mitos queexplicam aquilo que o povo, sem estas narrativas, não conseguiria explicar.Em linhas anteriores, afirmamos que no livro enfocado, Angela Carter narra em forma depastiche. Para entender este termo pós-moderno, precisamos, na esteira de Silviano Santiago 31 ,estabelecer a diferença entre paródia e pastiche. Segundo Santiago, a paródia consiste em umaruptura frente ao passado, que não raro é marcada pelo escárnio e ironia, predominante na modernidade.O pastiche, por sua vez, “aceita o passado como tal, e a obra de arte nada mais é doque um suplemento ” 32 . Desse modo, a distinção entre estas duas instâncias se estabelece paraSilviano a partir da relação que elas têm com o passado. Conforme o autor, “o pastiche endossao passado, ao contrário da paródia, que sempre ridiculariza o passado ” 33 .A presença de um elemento como a ironia, conforme Silviano Santiago, poderia nos levar aconsiderar os contos de Angela Carter como paródia, por serem eles marcados por esse elemento.No entanto, as aproximações ao pastiche se justificam pelo fato de as narrativas de Carter nãorepresentarem uma ruptura com o passado. O que Angela Carter propõe é uma “outra” leitura,que suplemente o que já foi escrito e não que rechace a tradição.Podemos concluir considerando que o compromisso do conto é com a “história”, seu focooriginal. E a economia que permeia a construção do conto é que possibilita o surgimento dagenialidade de grandes autores na manipulação da tensão de uma narrativa que ao seqüestrar aatenção do leitor faça-o lê-lo de uma “só sentada”.31 SANTIAGO, Silviano. A permanência do discurso da tradição no modernismo. In: ______. Nas malhas da letra. Rio de Janeiro: Rocco, 2002, p.108-144.32 Op. cit., p. 134.33 Idem, ibidem.Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 29


Atividade Complementar1. Dentre os textos que lhe são conhecidos na literatura ocidental qual a narrativa que vocêidentificaria como texto(s) fundador(es) de uma nação?2. De acordo com o conceito de amor cortês, qual história você conhece em que se podeidentificar essa noção de amor?3. Que histórias de amor impossível você conhece? Por que o amor se torna impossívelnessas histórias?4.Que narrativa(s) você conhece que se baseia no folclore?5. Leia o conto The Black Cat, de Edgar Allan Poe, no site abaixo recomendado e descrevaa sensação produzida pelo conto.30FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


Sites indicadosEdgar A. Poe:http://bau2.uibk.ac.at/sg/poe/works/blackcat.htmlJames Joyce:http://www.bibliomania.com/0/0/29/63/frameset.htmlRudyard Kipling:http://www.classicshorts.com/bib.html#tecFilmes indicadosBeowulfA Lenda de GrendelUm Leão no InvernoTristão e IsoldaLancelotOs Mortos (The Dead)O ROMANCEO NASCIMENTO DO ROMANCEDe acordo com Ian Watt (1990) 34 , o surgimento do romance ocorre no século XVIII,período que marca a ascensão e consolidação da burguesia. Para empreender a análise sobre osurgimento do romance, em sua relação com o contexto histórico mencionado, Watt se debruçasobre três representativos escritores, quais sejam, Defoe, Richardson e Fielding do século. Estesescritores foram escolhidos para desenvolver a sua teoria sobre o romance porque, segundo Watt,eles forjaram uma nova configuração literária que foge aos modelos da ficção da Grécia, da IdadeMédia e do romance francês do século XVII, voltando-se para a experiência do indivíduo em suasolidão, privilegiando uma escrita que fosse fiel ao “real”.34 WATT, Ian. Realism and the novel form. In: id. The rise of the novel: studies in Defoe, Richardson and Fielding. U.S.A.: Penguin Books, 1983.Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 31


O empenho em configurar uma narrativa “real” advém da leitura que fez sobre o Discursosobre o método e Meditações, de Descartes. Na leitura desta obra, Watt sustenta a noção de que a “buscada verdade” passou a ser uma “questão inteiramente individual”, deixando de ser uma busca dacoletividade.Defoe, Richardson & FieldingO romance se configura como uma forma literária nova, diferente das produzidas nos séculosanteriores, e que teve início na Inglaterra, no começo do século XVIII com Daniel Defoe,Samuel Richardson e Henry Fielding. Embora Richardson e Fielding considerassem suas obrascomo pioneiras por terem rompido com o antigo modelo ficcional, o termo “romance” só seconsagrou no final do século XVIII e esses autores sequer o utilizaram para designar a nova criaçãoliterária.De fato, os autores mencionados não constituem uma “escola literária”, e suas obras apresentamdiferenças que demonstram a inexistência de influências recíprocas. Entretanto, o fato deque esses três primeiros romancistas ingleses tivessem surgido na mesma geração leva-nos a crerque as condições históricas da época contribuíram para favorecer o aparecimento do romancecomo tal.Realismo e o RomanceOs historiadores afirmam que a diferença essencial entre as formas literárias anteriores eo romance é o “realismo”. A palavra “realismo” foi utilizada na pintura de Rembrandt como otermo oposto ao “ideal poético” da pintura neoclássica; posteriormente, o termo passou a serutilizado na literatura. A palavra como antônima de idealismo tem origem na retratação da vidavulgar, ou seja, nas imperfeições do comportamento humano e seus deslizes por motivos econômicosou carnais. Ian Watt considera que a superficialidade dessa consideração subestima umaquestão fundamental que é o fato que o romance procura retratar todo o tipo de experiência humana 35 enão apenas os aspectos vulgares; além do mais, Watt argumenta que a maneira como a experiênciahumana encontra-se representada é mais relevante do que a espécie de vida apresentada. Estaposição está mais próxima dos realistas franceses, que, por sua vez, consideram que o romance,mais do que qualquer outra forma literária, fez emergir a questão da imitação e correspondênciaentre a vida real e literatura.Assim, o romance é o veículo literário lógico de uma cultura que, nos últimos séculos, conferiu um valor semprecedentes à originalidade, à novidade 36 .IndividualismoA busca da verdade como um questionamento individual se reflete nessa “nova” forma literáriachamada romance, desafiando, portanto, a pratica tradicional que se baseava na História ouna fábula (WATT, 1990, p.15). Entretanto, se levarmos em consideração o fato que o romancistaprecisa imprimir fidelidade à experiência humana através de seus relatos, torna-se difícil identificara novidade e originalidade nos romances, desafio que exigirá habilidade do escritor no manejodas convenções formais.35 WATT, Ian. A Ascensão do Romance. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. p. 13.36 WATT, Ian. Op. Cit. p. 15.32FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


Considerando que Defoe e Richardson foram os primeiros grandes escritores ingleses quenão basearam seus enredos na mitologia, História ou outra fonte literária do passado, Watt estabeleceas características que diferenciam as formas literárias anteriores e o romance.Daniel Defoe se distingue pela narrativa fluida, espontânea, mesclada com a memória autobiográfica.A publicação de Robinson Crusoe em 1719, seguido da continuação da história destapersonagem em 1720, inaugura uma nova forma literária que engloba outras formas narrativascomo o diário, e memórias autobiográficas, se constituindo como marco do nascimento do romancemoderno. A história é o relato das aventuras de uma personagem de nome RobinsonCrusoe, desde a sua partida da Inglaterra até o seu retorno, após passar 24 anos como náufragonuma ilha deserta.Robinson CrusoeAmbienteSegundo Watt, dentre os aspectos que distinguem o romance estão a caracterização do ambientee a sua detalhada apresentação. No romance, os espaços físicos são apresentados com umadescrição pormenorizada, bem como os ambientes em que ocorrem as cenas do enredo. Veja noseguinte exemplo:There was a hill not above a mile from me, which rose up very steep and high, and which seemed to over-topsome other hills, which lay as in a ridge from it northward;(…)… I found a little plain on the side of a rising hill, whose front towards this little plain was steep as ahouse-side, so that nothing could come down upon me from the top; on the side of this rock there was a hollow placeworn a little way in like the entrance or door of a cave, but there was not really any cave or way into the rock atall 37 .A ilha em que Robinson Crusoe se refugia após o naufrágio é descrita detalhadamente emtodos os aspectos físicos e geográficos, e, de fato, a personagem realiza um inventário de tudo queconsegue retirar do navio naufragado para a constituição de seu novo lar. Assim também ocorrecom os ambientes onde Pamela, personagem principal do romance homônimo de Richardson,37 DEFOE, Daniel. The Life and Adventures of Robinson Crusoe. London: Penguin Books, 1983. p. 71 & 77.Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 33


circula.PersonagensOutro aspecto ressaltado por Watt é o fato de que, no gênero romance, as personagens sãoparticularizadas, ou seja, são construídas de forma a se constituírem como indivíduos com identidadeprópria, portando nome e sobrenome: Os nomes próprios têm exatamente a mesma função na vidasocial: são expressão verbal da identidade particular de cada indivíduo 38 .I was born in the year 1632, in the city of York, of a good family, tho’ not of that country, my fatherbeing a foreigner of Bremen, who settled fi rst at Hull. He got a good state by merchandise, and leaving off histrade lived afterward at York, from whence he had married my married my mother, whose relations were namedRobinson, a very good family in that country, and from whom I was called Robinson Kreutznaer; but by the usualcorruption of words in England, we are now called, nay, we call ourselves and write our name, Crusoe, and so mycompanions always call me 39 .Defoe, por exemplo, evita nomes extravagantes e tradicionais, utilizando nomes própriosmais próximos à sua realidade. Richardson seguiu esta tendência e foi além, dando nome e sobrenomeaté mesmo às personagens secundárias. Quanto a Fielding, há evidências que haja retiradoos nomes de seus personagens de uma lista de assinantes da edição de 1724 da History of his owntime de Gilbert Burnet. Esta prática consolidou esse costume como tradição do gênero, tornando-seuma ferramenta que ajuda a manter a crença do leitor na veracidade da “existência” dapersonagem.O TempoO tempo é outro aspecto fundamental do romance, em que os personagens existem comoindivíduos em um determinado espaço e em um determinado tempo. Segundo Watt, as personagensdo romance só podem ser individualizadas se estão situadas num contexto com tempo e localparticularizados. Essa dimensão tornou-se crucial a partir do Renascimento e que o romancepassou a refletir de modo particular.E.M. Forster considera o retrato da “vida através do tempo” como a função distintiva queo romance acrescentou à preocupação mais antiga da literatura pelo retrato da “vida através dosvalores”. Northrop Frye vê “a aliança entre tempo e homem ocidental” como a característicadefinidora do romance comparado a outros gêneros 40 .Diferentemente da tragédia em que a ação ocorre em 24h, ou do conto cujo foco está direcionadopara um momento específico, o romance pode abranger toda a vida de uma personagemou mesmo de gerações. Em Crusoe, por exemplo, a narrativa perpassa um grande período detempo da vida da personagem que, só como náufrago passa 24 anos na ilha! De fato, a históriainicia antes do naufrágio e termina depois do seu retorno à Inglaterra. Crusoe mantém um diário,em que anota as suas atividades contendo datas especificas.38 WATT, Ian. Op. Cit. p. 19.39 DEFOE, Daniel.Op. cit. p.31.40 WATT, Ian. Op. cit. p. 2234FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


The Journal 41September 30, 1659. I, poor miserable Robinson Crusoe, being shipwrecked, during a dreadful storm, inthe offi ng, came on shore on this dismal unfortunate island, which I called the Island of Despair, all the rest ofthe ship’s company being drowned, and my self almost dead.(…)October 1. In the morning I saw…(…)stthFrom the 1 of October to the 24 . All these days entirely spent in many several voyages to get all I couldout of the ship, which I brought on shore, every tide of fl ood, upon rafts.Richardson, por sua vez, utilizando a forma epistolar para acentuar o cunho de veracidadeda narrativa, detalha os sobrescritos das cartas com dia da semana e até a hora do dia. Fielding,em Tom Jones, detalha cronologicamente as viagens entre West Country e Londres das personagens,informando até mesmo as fases da Lua, além de relatar acontecimentos históricos do anoem que transcorre a ação. A narrativa no romance também permite uma alternância de relatosentre fatos passados e o tempo presente (da ação no romance), como por exemplo, a técnica defl a shback. Portanto, com relação ao enredo, o romance estabelece uma relação entre ações passadase a presente, em que as experiências passadas se constituem como causa da ação presente,diferentemente das formas literárias anteriores.A fi delidade do romance à experiência cotidiana depende diretamente de seu emprego de uma escala temporalmuito mais minuciosa do que aquela utilizada pela narrativa anterior 42 .De fato, o romance se detém no detalhamento do cotidiano da vida de suas personagens aolongo do tempo, como pode ser observado na pormenorização do dia-a-dia de Crusoe na ilha.Having now fi xed my habitation, I found it absolutely necessary to provide a place to make a fi re in, andfewel to burn; and what I did for that, as also how I enlargened my cave, and what conveniences I made, I shall givea full account of my self, and of my thoughts about living, which it may well be supposed were not a few 43 .Um exemplo flagrante da representação do cotidiano das personagens é identificado noromance de fluxo de consciência, em que a narrativa pretende corresponder diretamente do fluxode pensamento da mente da personagem, sem interferência e sem aparente controle externo.Podemos, portanto, afirmar que o principal objetivo do romancista é a elaboração de um relatoautêntico das verdadeiras experiências individuais, e resumir os seus principais aspectos como:Pensado deste modo, o rompimento com a narrativa tradicional e a máxima aproximaçãoda realidade resultaram no estabelecimento de alguns aspectos que, conforme Watt, caracterizamo romance realista. Estes aspectos consistem nos seguintes fatos:- o desvio do olhar para o indivíduo isolado até este ficasse tão próximo a ponto de captarlheos seus pensamentos;41 DEFOE, Daniel. Op. cit. p. 8742 WATT, Ian Op. cit. p. 2343 DEFOE, Daniel. Op. cit. p.80.Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 35


- a substituição de personagens-tipo por sujeitos e situações comuns, tornando a personagemparticular;- a atribuição de nomes às personagens que revelariam algo de significativo sobre suapersonalidade;- a apresentação das experiências vividas como uma causa para as experiências dopresente;- a definição e descrição minuciosa do espaço e do tempo para que eles fossem caracterizadoscomo um “ambiente físico real”;- a presença da linearidade e na constituição de uma “prosa clara e fácil” para apresentar,ao invés de representar, o real.Watt argumenta que a premissa implícita no gênero romance é ser um relato completo e autêntico daexperiência humana, tendo, portanto, a obrigação de fornecer ao leitor detalhes da história como a individualidadedos agentes envolvidos, os particulares das épocas e locais de suas ações _ detalhes que são apresentados através doemprego da linguagem muito mais referencial do que é comum em outras formas literárias 44 .De fato, o romance é uma forma híbrida, que engloba os diversos gêneros como o épico, olírico e até o drama, e comporta outros tipos de relato tais como o diário e cartas, etc.A TEORIA DOS ARQUÉTIPOS DE NORTHROP FRYEA psicóloga e crítica literária inglesa, Maud Bodkin, afirma que existe um padrão de arquétiposque transparece na poética que trata de temas antigos e sugere que esses padrões seriam, possivelmente,adquiridos através da cultura, ou seja, que tais padrões são ensinados e apreendidospor gerações sucessivas (BODKIN, 1934), divergindo de Carl Jung que afirmava a transmissãode padrões através de uma “impressão” na mente que se repetia nas gerações.Por sua vez, o estudioso e crítico literário, Northrop Frye, vai além e considera que a literaturaé um sistema sofisticado de um grupo de fórmulas básicas oriundas de culturas primitivas(LAPIDES, BURROWS & SHAWCROSS, 1973). Frye, a partir de um estudo baseado nos padrõesmíticos, identifica quatro fases correspondentes às quatro estações do ano e que representamos enredos recorrentes na literatura.Padrões MíticosOs padrões míticos estudados por Frye são os mitos das Estações e do Herói (tambémchamado do mito da Jornada). O mito das Estações representa o ciclo da vida humana, em queas estações correspondem às etapas da existência; desta forma, a Primavera representa o nascimentodo indivíduo até o desabrochar da juventude; o Verão corresponde ao desenvolvimento,ou a plenitude do indivíduo; o Outono, a maturidade; e, finalmente, o Inverno representa a suamorte, o final da existência. Entretanto, o ciclo se repete ad continuum de forma que o rebrotar das44 WATT, Ian. Op. cit. p. 31.36FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


plantas na Primavera representa, metaforicamente, a renovação da vida.O segundo padrão, o do Herói, categoriza os protagonistasdos relatos nas sociedades primitivas através das qualidades a elesatribuídas. As características apontadas por Frye são as seguintes:- os heróis nascem em circunstâncias misteriosas ou extraordinárias,como, por exemplo, a concepção de Jesus pela VirgemMaria;- o herói é filho de um grande homem ou deus, como Prometeuou Jesus;- é predestinado; possui uma existência especial distinguidapor uma missão;- enquanto jovem, o herói passa por experiência de exílio oué exposto a um risco de vida como Moisés, Hamlet, ou Branca de Neve;- supera obstáculos a fim de se tornar um herói, como Hércules;- defende a sua nação, ou comunidade, de algum malefício, como Beowulf;Rei Arthur- sua morte é, geralmente, misteriosa e/ou ambígua, como a morte do Rei Artur.Esses padrões, ou monomitos, têm em comum o fato de serem cíclicos, e são ferramentasúteis no estudo da linguagem dos símbolos, ou de uma análise simbólica.Modelos FiccionaisA partir desse estudo, Northrop Frye desenvolveu uma classificação dos modelos ficcionais.Esses modelos se relacionam às qualidades e à atuação nos enredos dos protagonistas denarrativas. São cinco categorias ou modelos ficcionais denominados de “modo imitativo”, oumimetic modes:1. O modo imitativo elevado (superior in kind to other men and environment ) - diz respeito aoherói superior aos outros homens; é considerado uma divindade e sua história se configura comouma mitologia.2. O modo imitativo alto (superior in degree to to other men and environment)– o herói é superioraos demais homens e é o típico herói dos romances de cavalaria, cujos feitos são extraordinários,entretanto são seres mortais. Movimentam-se numa dimensão em que as leis da natureza se encontramem suspensão e seu mundo é habitado por animais falantes, bruxas, ogres; são dotadosde grande coragem e não raro possuem armas especiais. É o mundo dos contos maravilhosos, edas lendas.3. O modo imitativo superior (high mimetic mode; superior in degree to other men but not to the environment)–é o líder; Possui autoridade e liderança; é o herói dos épicos e da tragédia.4. O modo imitativo baixo (low mimetic mode; he is not superior; he is one of us) – é o homemcomum, e geralmente é o herói de comédias e da ficção realista.Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 37


5. O modo irônico (ironic mode) – é o herói inferior com relação ao poder e inteligência,como, por exemplo, o protagonista de “O Homem do Subterrâneo” de Dostoevsky.Segundo Frye, o desenvolvimento das narrativas literárias pode ser estudado de acordo coma sua origem, e postula duas fontes de narrativas. A forma secular consolidada pelos romancesde cavalaria, e a narrativa religiosa que engloba as histórias bíblicas e vida dos santos. As trêsprimeiras categorias de heróis mencionadas predominam na literatura até que o surgimento deuma nova classe social na Inglaterra, a classe média, favorecesse o desenvolvimento dessa novaforma literária a partir de Defoe, o romance. A partir do romance, predominará o protagonistaque corresponde ao herói low mimetic mode, ou seja, o homem comum. Esse modelo permaneceráaté o final do século XIX.DESENVOLVIMENTO DO ROMANCE INGLÊSO GóticoO GóticoDurante o período romântico surge a ficção gótica, baseada na noção de horror e prazer deEdward Burke em seu ensaio A Philosophical Enquiry into the Origin of Our Ideas of the Sublime andBeautiful (1757). Segundo Burke, “dor e terror são capazes de propiciar deleite”. A consciênciado sublime proporciona a mais forte emoção que a mente seria capaz de sentir, e pode advir dacontemplação da natureza selvagem e cenários montanhosos, ou do estudo de arquitetura, notadamentea apreciação das construções das catedrais medievais e as ruínas dos castelos. De fato,essa noção vai permear o romantismo inglês. Burke cita, entre as narrativas literárias capazes deprovocar a sensação de “prazer no horror”, Paradise Lost de John Milton, e as tragédias de Shakespeare.A ficção gótica se configura como uma reação ao conforto e segurança promovidos peloprogresso comercial e estabilidade política, e, sobretudo, à regra da razão. Os traços do góticovão permanecer na literatura inglesa e são visíveis desde a literatura das irmãs Brontë até os diasde hoje, inclusive na música e no cinema.38FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


Jane AustenJane Austen (1775-1817) foi a primeira romancista (mulher) importante e sua produçãoliterária dispensa classificação. Seus romances representam o cotidiano feminino da sua época.Sua literatura sugere pouco ou nenhum engajamento político nem qualquer envolvimento emeventos políticos nacionais ou internacionais, a despeito de ter vivido uma época de efetivo riscode uma invasão militar por parte da França, já que se tratava do período das Campanhas Napoleônicas.Conforme Anthony Burgess 45 , sua intenção sempre esteve voltada para as “pessoas”e não para as “idéias”. Por isso em sua literatura as personagens são descritas da forma mais realpossível, com todas as suas falhas e qualidades.Além disso, salientamos a apresentação de traços que retratam a sociedade em seu tempo,sem que, contudo, a sua narrativa seja datada. Seus textos apresentam um retrato da classe médiaalta britânica e de uma sociedade que se define em termos de posse de terra, dinheiro e posiçãosocial. Sua mensagem moral insiste na boa conduta, boas maneiras, razão e a admiração pela instituiçãodo matrimônio. Apesar de não desdenhar o amor, seus romances demonstram o equilíbrioentre a maturidade e impulsividade. Dentre os seus livros, destacam-se Emma, Razão e Sensibilidade,Orgulho e Preconceito, todos já transpostos para a linguagem cinematográfica.As irmãs BrontëAs irmãs Brontë, Charlotte (1816-55), Emily (1818-48) e Anne (1820-49) viveram no períodoconhecido como “Alta Literatura Victoriana”. Reclusas em uma pequena paróquia emYorkshire, norte da Inglaterra, mantiveram-se distantes porém bem informadas a respeito do queocorria no mundo. Infl u enciadas pela literatura gótica, escreveram romances e poemas. CharlotteBrontë escreveu Jane Eyre e Shirley; Emily Brontë publicou O Morro dos Ventos Uivantes; e AnneBrontë é autora de Agnes Grey. Curiosamente, as irmãs Brontë têm uma obra bastante reduzida, e,de fato, Emily Brontë publicou unicamente O Morro dos Ventos Uivantes (Wuthering Heights).O cenário de seus romances denota uma acentuada influência gótica, facilmente identificadana sombria casa nos morros uivantes, do romance Wuthering Heights. No que pese a configuraçãodas suas personagens, as heroínas das irmãs Brontë enfatizam a importância da independênciafi n anceira e intelectual da mulher.No tocante a Wuthering Heights, um romance escrito com um espírito romântico, o seu enredoconsiste na história da paixão avassaladora e trágica de Heathcliff e Catherine. Heathclifffoi encontrado pelo pai de Catherine e se tornou um criado da família. O afeto precocementesentido por ela desencadeou um amor que mescla a veneração à paixão carnal. Em virtude deconvenções sociais, Catherine decide casar-se com Edgar Linton, o que desaponta Heathcliffprofundamente, levando-o a deixar a casa de sua amada e voltar anos depois para se vingar. Emmeio ao seu plano de vingança, Catherine morre, voltando ocasionalmente em espírito para revero seu Heathcliff.Quanto ao título do romance, o fato de o vento “uivar” devido à geografia do lugar jáanuncia um cenário sobrenatural de mistério e apreensão. Wuthering Heights exemplifica a revitalizaçãodo romance gótico na literatura vitoriana.45 BURGESS, Anthony. A chegada da época moderna. In: ______. A literatura inglesa. Tradução Duda Machado. 2. ed. São Paulo: Ática, 2004, p. 209.Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 39


A passagem a seguir pertence ao capítulo 9 e é uma das cenas mais marcantes do romancede Emily Brontë. O amor de Catherine por Heathcliff, expressado nessa passagem, transcende asconvenções sociais, alcançando um status quase religioso. No entanto, Catherine escolhe seguir opapel social esperado dela e se casa com Edgar Linton, traindo Heathcliff e, conseqüentemente,o seu amor por ele.O Morro dos Ventos UivantesI cannot express it; but surely you and everybody have a notion that there is or should be an existence ofyours beyond you. What were the use of my creation, if I were entirely contained here? My great miseries in thisworld have been Heathcliff’s miseries, and I watched and felt each from the beginning: my great thought in living ishimself. If all else perished, and he remained, I should still continue to be; and if all else remained, and he wereannihilated, the universe would turn to a might stranger: I should not seem a part of it. My love for Linton islike a foliage in the woods: time will change it, I’m well aware, as winter changes the trees. My love for Heathcliffresembles the eternal rocks beneath: a source of little visible delight, but necessary. Nelly, I am Heathcliff! He’salways, always in my mind: not as a pleasure, any more than I am always a pleasure to myself, but as my ownbeing.Ressaltamos que o tema do amor de Catherine e Heathcliff inspirou produções fílmicas,músicas e, mais recentemente, uma releitura feita por uma autora caribenha, Maryse Condé, sobo título de Corações migrantes (1995).Charles DickensCharles Dickens (1812-1870) é considerado um dos autores mais lidos da era vitoriana. Elefi c ou conhecido pela configuração de personagens cômicos, caricaturados e grotescos, traçosque encontraram algumas aclamações da crítica, mas que também levaram escritores e críticos, aexemplo de Virginia Woolf, a considerarem a sua produção literária “menor”.Alguns de seus livros mais conhecidos são Oliver Twist, através do qual postula que a sociedadepode causar sofrimento às crianças; David Copperfi eld, considerado um romance autobiográfic o; e Great Expectations, que conta a história do órfão Pip, desde a sua infância até a maturidade,num estilo autobiográfico, por meio do qual o próprio Charles Dickens traz relatos que remetemà sua própria vida.40FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


O plurilingüismoEm seu livro Questões de estética e de literatura, Mikhail Bakhtin, formulou a teoria do plurilingüismono romance a partir de um estudo sobre o romance humorístico inglês, a partir de autorescomo Fielding, Smollet, Sterne, Thackeray e Charles Dickens. Segundo o autor, No romance humorísticoinglês, encontramos uma evocação humorístico-paródica de quase todas as camadas da linguagem literáriaescrita e falada de seu tempo 46 . Deste modo, o plurilingüismo consiste na inserção de diversos tiposde linguagem, que oscilam desde uma norma padrão (formal) a uma norma utilizada no cotidiano,a linguagem utilizada por diferentes camadas sociais ou mesmo por distintas profissões. Parasustentar a sua teoria sobre o plurilingüismo, Bakhtin toma como exemplo trechos do romancede Charles Dickens, Little Dorrit, no qual é possível observar o jogo de linguagem em que o narradornão raro cede a sua voz para que diversas vozes que perpassam o ambiente adentrem a suanarrativa.Da era vitoriana à era modernaConforme Anthony Burgess 47 , o fim da era vitoriana, marcada pelo “otimismo”, “dúvida”e “culpa”, ocorrera mesmo antes do término do reinado da rainha Vitória em 1901. Com ovazio deixado pelos paradigmas vitorianos, e pela perda da crença na religião, a literatura escritano período de 1880 a 1914 caracterizou-se por uma busca por algo em que se pudesse acreditar.Foram forjados, assim, diversos substitutos que preenchessem este vazio. Dois deles foram a artee o imperialismo.A ênfase sobre a arte foi manifestada na literatura produzida por autores como Walter Pater(1839-1894), que defendia o lema da “Arte pela arte”, tal como demonstra em textos comoMarius, o epicurista e Estudos sobre a história do renascimento. Pater defendia, ainda, o hedonismo, ou seja,o culto à beleza.Ao mencionado hedonismo também esteve voltado Oscar Wilde (1856-1900), autor de textoscomo De profundis, A balada do cárcere de Reading e O retrato de Dorian Gray. Identificam-se nesteromance alguns traços que remontam ao sentimento de culpa vitoriano. O enredo consiste nahistória de uma personagem, Dorian Gray, um homem jovem e belo que demonstra o desejode permanecer sempre assim. Tendo o seu pedido atendido, um retrato passa então a registraros feitos e o envelhecimento da personagem. Arrependido, Dorian decide destruir o seu retratopara tentar compensar pelos seus atos vis. No momento em que ele o destrói, é ele mesmo quemmorre.No tocante ao imperialismo, destaca-se a produção ficcional de Rudyard Kipling (1865-1936). Autor de poemas, Kipling ficou conhecido também pelo seu romance Kim, que conta ahistória de um filho órfão de um soldado do regime irlandês. A história é ambientada numa colôniabritânica, a Índia, e, tão profícua quanto a intrigante história são as considerações sobre avida na Índia, a religião e seus problemas sociais.46 BAKHTIN, Mikhail. O plurilingüismo no romance. In: ______. Questões de literatura e de estética: a teoria do romance. Tradução Aurora FornoniBernardini et al. São Paulo: Hucitec, 2002, p. 107.47 BURGESS, Anthony. A chegada da época moderna. In: ______. A literatura inglesa. Tradução Duda Machado. 2. ed. São Paulo: Ática, 2004, p.244-252.Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 41


O Grupo de BloomsburyO Grupo de Bloomsbury era formado por escritores e artistas, originalmente amigos quese reuniam na casa dos filhos de Leslie Stephen em Bloomsbury. Não era um grupo formalmenteorganizado até 1920 quando as filhas de Stephen, Virginia e Vanessa, casadas com Leonard Woolfe Clive Bell, respectivamente, juntamente com E. M. Forster, John Maynard Keyes, Roger Frye outros, formaram o “Memoir Club”. Esse grupo de amigos escritores se reunia com o intuitode discutir acerca de literatura e artes de modo geral, e desdenhavam dos modos tradicionais desentir, pensar e da moral convencional.Virginia WoolfVirginia Woolf (1882-1941) em seu ensaio “Ficção Moderna” (Modern Fiction) discute erevisa os modelos tradicionais de representação. Virginia Woolf postula a que a tarefa do escritordo futuro é dar a impressão do “halo luminoso” da vida _ “esse espírito variado, desconhecidoe não circunscrito” _ com o mínimo do que se constitui como externo e alheio. A cada dia, amente recebe uma grande quantidade de impressões (input) – triviais, fantásticas, evanescentes, ougravadas para sempre; o romancista, no intuito de trabalhar com esse fluxo incessante de “átomosinumeráveis”, é forçado a reconhecer que, se baseasse o seu trabalho em seus próprios sentimentosao invés da convenção, não haveria enredo, nem comédia, nem tragédia, nem interesseafetivo nem catástrofe no “estilo aceito da palavra”. Virginia Woolf sugere novos caminhos parase escrever romances, propondo um novo modelo estético que escapa às configurações tradicionaisde narrativa, a exemplo da linearidade.Woolf diferencia o seu trabalho de contemporâneos como D.H. Lawrence e James Joyce,escritores aos quais reputa uma preocupação pela “fabricação de coisas”, e por aceitarem os limitesdo convencional nos enredos e utilização da seqüência temporal nos seus textos.Fluxo de ConsciênciaO caráter experimental da representação da consciência manifestada na prosa de VirginaWoolf pode ser observado nos romances Mrs. Dalloway (1925), To the Lighthouse (1927) e TheWaves (1931). A prosa é marcada pela fragmentação, descontinuidade, e desintegração, aspectosque, conforme Erich Auerbach, denotam uma escolha dos escritores modernos e, destaquemosaqui Virginia Woolf, que “receiam impor à vida, ao seu tema, uma ordem que ela própria nãooferece” 48 . Seu objetivo é representar a natureza das sensações fugazes, ou das atividades mentaisconscientes ou inconscientes, e relacioná-las externamente a um ritmo de consciência de padrãouniversal. As reações momentâneas, emoções passageiras, estímulos efêmeros, sugestões aleatóriase pensamentos dissociados são moldados numa relação estilística coerente e bem estruturada.Esse estilo, Fluxo de Consciência ou Stream of Consciousness, foi assim denominado por WilliamJames em 1890 referindo-se ao trabalho de Virginia Woolf. Abaixo, um recorte de um texto deVirginia Woolf retirado do romance Mrs. Dalloway:48 AUERBACH, Erich. A meia marrom. In: ______. Mimesis: A representação da realidade na literatura ocidental. São Paulo: Editora Perspectiva, 2001,p. 471-498.42FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


[…] held, foolish as the idea was, something of her own in it, this countrysky, this sky above Westminster. She parted the curtains; she looked. Oh, buthow surprising!-in the room opposite the old lady stared straight at her! She wasgoing to bed. And the sky. It will be a solemn sky, she had thought, it will be adusky sky, turning away its cheek in beauty. But there it was-ashen pale, racedover quickly by tapering vast clouds. It was new to her. The wind must have risen.She was going to bed in the room opposite. It was fascinating to watch her,that old lady, crossing the room, coming to the window. Could she see her? It wasfascinating, with people still laughing and shouting in the drawing room, to watchthat old woman, quite quietly, going to bed. She pulled the blind now. The clockbegan striking 49 .Mrs. DallowayO enredo do romance supracitado pode ser resumido em uma simples frase nominal: umdia na vida de uma mulher. O romance tem, em seu plano de ação, os pequenos acontecimentosque consistem nos preparativos para uma recepção que será oferecida por Mrs. Richard Dalloway.Entretanto, o que há de mais substancial, que se sobrepõe aos acontecimentos narrados (a ida àfl o ricultura, o convite feito a Richard, o encontro com Whitbread, a costura do vestido, o suicídiode Septimus Warren Smith entre outros), são as reflexões que acompanham estes atos e as rememoraçõesacionadas desde a primeira cena, quando Mrs. Dalloway vai à floricultura.É, ainda, a partir deste dia na vida de uma mulher da alta sociedade a promover uma festa,que a autora discute a permanência de um conservadorismo vitoriano, presente nas escolhas deClarissa por um pretendente que lhe garantisse status; as instituições monumentais como a religião,representada na figura ressentida de Miss Kilman, e as figuras da autoridade, simbolizadaspelos médicos como o Sir William Bradshaw; as devastações causadas pela guerra, discutidas apartir da inércia e profunda introspecção de Septimus, um ex-combatente de guerra que voltaincapaz de restabelecer a sua comunicação com o mundo. Todas estas imagens esboçam um quadroda Inglaterra pós-guerra, em cujo ar ainda pairava o tom gris resultante das ruínas deixadaspela guerra.As horasEscrito pelo escritor norte-americano Michael Cunningham, o romance As horas 50 conta ahistória de três mulheres, contada ao longo de um dia, que compartilham, cada uma a sua época,de angústias e têm em comum uma relação direta ou indireta com um romance, qual seja, Mrs.Dalloway. Uma das personagens consiste em uma construção ficcional da própria autora de Mrs.Dalloway, Virginia Woolf, que está escrevendo o romance mencionado. As outras duas protagonistassão uma leitora, que encontra na leitura de Mrs. Dalloway a tradução para os seus dramassubjetivos, e uma mulher, que, assim como a Clarissa Dalloway, protagonista do romance deVirginia Woolf, está a preparar uma recepção para o seu amigo escritor, que sofre de uma gravedoença.49 WOOLF, Virginia. Mrs Dalloway. London: Penguin Books, 1996.50 CUNNINGHAM, Michael. As horas. Tradução B. Vieira. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 43


É válido comentar a pesquisa empreendida pelo autor de As horas sobre traços biográficosde Virginia Woolf. Embora reconheçamos que o que ele apresenta em seu texto é uma personagem,que não deve, portanto, ser considerada um retrato da escritora, há aspectos biográficos quedenotam uma preocupação de Cunningham em compor, na configuração da personagem, traçosque a aproximem da Virginia que sofria crises nervosas, vivenciava de forma angustiada, por vezes,a escrita de seus textos, tinha uma relação conflituosa com seus empregados, entre outros.Estes dados podem ser encontrados em textos biográficos de Woolf, escritos por ela mesma emseus diários, ou ainda em textos como As mulheres de Virginia Woolf, de Vanessa Curtis 51 .O livro de Michael Cunningham foi adaptado para o cinema em filme de título análogo pelodiretor Stephen Daldry, no qual Nicole Kidman fez o papel de Virginia Woolf, cuja interpretaçãolhe rendeu o Oscar de melhor atriz em 2003.D. H. LawrenceO Fluxo de Consciência influenciou os contemporâneos de Virginia Woolf, exceto D.H.Lawrence, autor de romances clássicos como O Amante de Lady Chatterley, Mulheres Apaixonadas- ambos transpostos para o cinema - Filhos e Amantes, entre outros. Lawrence não fez parte doGrupo de Bloomsbury nem tampouco utilizou a técnica de Fluxo de Consciência na sua literatura,distinguindo-se por temas que tratam da relação entre homens e mulheres. Seu mais notórioromance, O Amante de Lady Chatterley foi proibido na Inglaterra e teve suas edições confiscadaspor imoralidade e obscenidade até 1960 quando, após julgamento, pôde ser re-editado pela Penguin.Esse episódio representou o fim da censura oficial e da hipocrisia gerada pelo excesso depudor, grifando o início da era chamada New Morality que caracterizou as décadas de 1960 e 1970na Grã Bretanha.Pós Guerra e Pós ModernismoO cenário de um país em ruínas fez parte integral da literatura produzida na Inglaterra dopós-guerra, e entre os autores que utilizaram essa atmosfera como cenário destaca-se GrahamGreene, autor de Fim de Caso, ou The End of the Affair (1951). O ambiente precário reflete-senas personalidades dos protagonistas, que representam indivíduos desgastados pela tragédia daguerra.A era da New Morality refletiu o novo momento histórico e social do pós-guerra, e influ enciado pelos novos padrões de conduta sexual e do crescente movimento feminista desafiouos tradicionais conceitos sobre gênero, sexualidade, e a instituição do matrimônio. A “novaonda” feminista foi estimulada pela publicação do ensaio de Germaine Greer, The Female Eunuch(1970).Dessa fase, citamos Jean Rhys autora de Wide Sargasso Sea (1966) que refaz o relato de Mr.Rochester, protagonista do romance Jane Eyre de Charlotte Brontë, do seu relacionamento coma sua primeira esposa, Bertha; e Angela Carter,que se distingue pela proposta de múltiplas possibilidadesde mudança no relacionamento heterossexual; vide seus romances The Passion of NewEve (1977), Fireworks (1974), Wise Children (1991), entre outros.51 CURTIS, Vanessa. As mulheres de Virginia Woolf. Tradução Tuca Magalhães. São Paulo: A Girafa Editora, 2005.44FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


O ROMANCE NORTE AMERICANOPuritanismoConsidera-se James Fennimore Cooper (1789-1851) como o primeiro grande romancistaamericano. O autor de O Último dos Moicanos distinguiu-se pela abordagem da temática indígena,e o emprego da narrativa nos moldes ingleses. Seus romances se caracterizam pela ação, envolvendosituações de fuga e escape, captura e resgate, através de cenários que descrevem a naturezaainda intocada dos Estados Unidos da época. As personagens são representadas de forma dicotômica:índios bons e maus versus homens brancos bons e maus. James F. Cooper escreveu trintae dois romances.Entretanto, foi Nathaniel Hawthorne (1804-64) que alcançou maior notoriedade como romancista,tendo influenciado vários escritores de gerações posteriores. Foi contemporâneo deEdgar Allan Poe, no período de amadurecimento literário americano chamado Renascimento.Seus romances ocorrem durante o auge do Puritanismo americano, tendo como cenário a NovaInglaterra. Hawthorne limitou seus temas a situações que lidam com problemas de ordem moralcujas resoluções são intencionalmente ambíguas, com ampla utilização de símbolos e alegorias.O seu mais conhecido romance é A Letra Escarlate, publicado em 1850, e que teve o seu enredotransformado em filme, e conta uma história baseada em fatos reais, acontecida na Nova Inglaterradurante o período conhecido como de “caça às bruxas”. O romance entre uma mulhercasada e um pastor da igreja traz à tona o mito bíblico de Eva, ou seja, a noção da mulher comotransgressora, o que acarreta à protagonista a acusação e posterior julgamento de praticas defeitiçaria.A Letra EscarlateO Puritanismo surgiu na Inglaterra aproximadamente nos meados de 1500, e tinha comoobjetivo “purificar” da Igreja da superstição, adoração de imagens de santos, adornos excessivos,etc. Os Puritanos objetivavam uma sociedade mais simples, sóbria, e religiosa, baseada na teologiade João Calvino, o Calvinismo; acreditavam na educação como uma obrigação religiosa e fundaramescolas, universidades e gráficas que imprimiam livros religiosos. Os primeiros colonizadoresamericanos, cerca de 20.000 pessoas, eram Puritanos e partiram para a América com o intuito deconstruir uma nação segundo os preceitos Puritanos, acreditando-se como povo escolhido porOrganização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 45


Deus.Um ano após a publicação, surge mais um romance clássico norte americano, tambémtransformado em filme, Moby Dick (1951), de autoria de Herman Melville (1819-91), cujo estilonarrativo é rebuscado, simbólico, e pleno de alusões à história, teologia, filosofia, ciência e outrasobras literárias. Dentre os vários temas abordados por Melville, destacam-se a democracia comobase de governo, a nobreza do trabalho e do homem comum, a impossibilidade do retorno doser humano a uma condição de inocência.O Realismo Literário AmericanoCom o final da Guerra de Secessão, surge no sul dos Estados Unidos, em torno de 1820,um gênero literário conhecido como “Humor da Fronteira”, que influenciou escritores comoMark Twain e William Faulkner. Este gênero se caracteriza pelo humor regional expresso pelocoloquialismo e jargão, típicos das regiões da Geórgia, Mississipi, Alabama, Louisiana, e partesdo Texas e Arkansas.Abaixo, um trecho de The Adventures of Huckleberry Finn de autoria de Mark Twain em quese pode observar o linguajar e expressões sulistas:The Adventures of Huckleberry FinnHer sister, Miss Watson, a tolerable slim old maid, with goggles on, hadjust come to live with her, and took a set at me now with a spellingbook.She worked me middling hard for about an hour, and then the widowmade her ease up. I couldn’t stood it much longer. Then for an hour itwas deadly dull, and I was fi dgety. Miss Watson would say, “Don’t putyour feet up there, Huckleberry;” and “Don’t scrunch up like that,Huckleberry--set up straight;” and pretty soon she would say, “Don’t gapand stretch like that, Huckleberry--why don’t you try to behave?” Thenshe told me all about the bad place, and I said I wished I was there.She got mad then, but I didn’t mean no harm. All I wanted was to gosomewheres; all I wanted was a change, I warn’t particular. She said itwas wicked to say what I said; said she wouldn’t say it for the whole46FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


world; she was going to live so as to go to the good place. Well, Icouldn’t see no advantage in going where she was going, so I made up mymind I wouldn’t try for it. But I never said so, because it would onlymake trouble, and wouldn’t do no good 52 .A expansão das ferrovias nas últimas décadas do século XIX contribuiu para despertar uminteresse em zonas pouco conhecidas da nação americana, estimulando a adoção de uma escritaque representasse a fala e descrevesse esses espaços ainda pouco conhecidos. Essas narrativasreproduzem os dialetos regionais falados pelo homem do povo, suas atividades, e, sobretudo,descrevem os cenários onde ocorrem as ações, dentro de um tempo real.O realismo literário americano abarca o período de 1865 até aproximadamente 1900 e, deixandoo sentimentalismo e a idealização da vida característica do período romântico, emerge como desejo sincero de representar a vida na ficção. No realismo americano, as personagens são otimistase pragmáticas e resolvem seus problemas sem intervenções improváveis ou coincidências.Dentre os autores que se destacaram neste período, temos, além s dos já citados, Henry James, “opai do romance psicológico”, e autor de Portrait of a Lady (1881).NaturalismoO Naturalismo foi uma das vertentes do realismo norte americano, e compartilha algumasde suas características, como, por exemplo, o fato de situar eventos no tempo da escritura. Oobjetivo é reproduzir falas, modos, e cenários reais, além de motivações psicológicas plausíveis.Entretanto, diferentemente do realismo, os naturalismo está ciente da sua fundamentação filosófica,baseada na ciência de modo geral e no Darwinismo em particular. Embora considere oser humano como um animal altamente desenvolvido, situado entre os anjos e os primatas, onaturalismo reconhece as limitações genéticas, aceita o determinismo e elimina o problema éticodo romance realista, uma vez que, já que sua existência é determinada, o seu comportamento nãopode ser julgado como bom ou mau, certo ou errado.Seguindo-se a este período posterior, o intervalo entre 1900 até 1920 foi uma época profícuaem mudanças sociais e econômicas, em que muitos autores precisaram sobreviver às custasde outras atividades além da escrita, o que ocasionou um sentido de autenticidade entre outrascoisas. Deste período destacamos as romancistas Willa Carter e Edith Wharton.ModernismoApós a Primeira Grande Guerra, o ambiente nos Estados Unidos era resistente a novos ideaissociais e artísticos, o que fez com que um grande contingente de artistas americanos imigrassepara a Europa. Lá, encontraram a liberdade para exercer a crítica social e tiveram a oportunidadede entrar em contacto com novas técnicas e padrões estéticos, e artistas tais como os poetassimbolistas W. B. Yeats e Ezra Pound, romancistas como James Joyce e Gertrude Stein, e tantosoutros em diferentes campos das artes.52 TWAIN, Mark. The Adventures of Huckleberry Finn. Capítulo I. http://www.mtwain.com/Adventures_Of_Huckleberry_Finn/1.htmlOrganização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 47


O movimento artístico internacional que predominou desde então e se estendeu até aproximadamentea década de 1950 foi o Modernismo, caracterizado pela rejeição à tradição e poruma atitude hostil com relação ao passado. Dentre os aspectos relacionados ao Modernismo,destacamos, além do mito como princípio estrutural de narrativas como Ulysses de James Joyce eThe Waste Land de T.S. Eliot, o “experimentalismo”, corrente que detinha o interesse na expressãodo irracional e do inconsciente em diversas áreas da arte, principalmente na literatura de Steine Joyce, e que deu origem à técnica de “fluxo de consciência” como uma representação diretada personagem. Escritores como Virginia Woolf e Joseph Conrad participaram do movimentoalém dos autores anteriormente mencionados.Dentre os autores que viveram na Europa neste período, F. Scott Fitzgerald e Ernest Hemingwayse distinguiram por romances como The Great Gatsby e Tender is the Night, e For Whom theBells Toll e The Sun also Rises, respectivamente.F. Scott FitzgeraldFilmado na década de 1970, The Great Gatsby, romance de autoria de F. Scott Fitzgerald, temcomo tema a vida inconseqüente dos ricos e o seu desprezo pelas classes menos privilegiadas. Apersonagem principal, Jay Gatsby é um self made man, um homem que construiu a sua própria fortuna,mas que não é aceito nos círculos sociais da elite por ter nascido pobre. Ele se apaixona porDaisy, esposa de Tom, ambos ricos de nascença e pertencentes à alta roda do leste americano.The Great GatsbyThey were careless people, Tom and Daisy- they smashed up things and creatures and then retreated backinto their money or their vast carelessness or whatever it was that kept them together, and let other people clean upthe mess they had made 53 .Ernest HemingwayErnest Hemingway tem como temática a morte. Em For Whom the Bells Toll, romancecujo título se refere ao poema Meditation XVII, parte de Devotions Upon Emergent Occasions,poesia metafísica datada de 1624 e escrita pelo poeta John Donne, que diz:No man is an island, entire of itself; every man is a piece of the continent, a part of the main. If a clod be53 FITZGERALD, F. Scott. The Great Gatsby. http://www.litfix.co.uk/fitzgerald/onlinetexts/gatsby/index.htm48FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


washed away by the sea, Europe is the less, as well as if promontory were, as well as if a manor of thy friend’s orof thine own were. Any man’s death diminishes me, because I am involved in mankind; and therefore never sendto know for whom the bell tolls; it tolls for thee 54 .John SteinbeckJohn Steinbeck, premio Nobel de Literatura de 1962, alcançou um grande sucesso na décadade 1930, durante o período da Grande Depressão americana. Steinbeck escreveu sobre indivíduosque, por motivos econômicos, são empurrados para uma vida à margem da sociedade: bóiasfrias, vagabundos, mendigos, sem teto. Seus temas abordam o preconceito, tradição, costumes,atitudes baseadas em privilégios e injustiça, fome, num ambiente motivado pela economia demercado. Seu romance mais conhecido é Grapes of Wrath (1939), traduzido como Vinhas da Ira.In order to do the work in the cotton fi eld, cotton sacks are required and workers that do not have these haveto buy them from the landowner on credit. Many of the workers are unable to do enough work to pay for theirsacks. Also, the workers suspect that the weighing machines are rigged.(…)Grapes of WrathTom has been pondering about what Jim Casy told him before he died - that every man’s soul is part ofthe greater soul. Tom sees his vocation is to unify his soul with the greater soul by working to organize people in afi ght against oppression.Ma warns Tom that Casy died for his efforts and Tom promises that he will watch out for himself.Diversidade Cultural na Literatura AmericanaDurante a década de 1940, a crítica especializada passou a enfatizar os aspectos da escrita einsistia para que o artista se situasse fora da cena política e social. Esse posicionamento foi alvode longa controvérsia nos anos de 1960 e 1970 e perdura até o presente. A década de 70 se configuroucomo o período da transgressão, e a emergência de vários movimentos sociais que influenciarama literatura como o Feminismo, os movimentos Gay, Afro, Indígena, e a critica marxista,como pode ser observado na literatura produzida por escritores como Alan Ginsberg, AdrienneRich, James Baldwin, Alice Walker, entre outros. Entretanto, a maioria dos escritores ainda seguea tradição legada por Emerson e Whitman, e recorre aos tradicionais temas americanos de mobilidadesocial, caldeirão cultural, e de nação livre e “iluminada”.54 DONNE, John. Apud http://en.wikipedia.org/wiki/For_Whom_the_Bell_TollsOrganização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 49


Alice WalkerEntre esses autores, Alice Walker, escritora feminista afro-americana se destacou pelo seuromance A Cor Púrpura (1982), ganhador do prêmio Pulitzer em 1983. O romance tem comotema religião, sexualidade, família e violência em uma comunidade negra no sul dos Estados Unidos,em que as mulheres são as protagonistas. A linguagem reproduz a fala desse grupo étnico.A Cor PúrpuraWell how you spect to make her mind? Wives is like children. You have to let ‘em know who got the upperhand. Nothing can do that better than a good sound beating 55 .Movimento BeatO movimento “beat”, característico do final da década de 1950 e que se estendeu pelos anos60, produziu uma das mais conhecidas obras da contra cultura, On the Road, escrito por Jack Kerouac.O romance trata das viagens de dois amigos, Sal e Dean, através dos Estados Unidos. Osdois se envolvem com drogas, marginais, mulheres, e homossexuais, e alguns dos acontecimentossão de ordem biográfica. O assunto do livro serviu como tema para as gerações posteriores, emdiversos setores artísticos, que relatam histórias semelhantes como, por exemplo, o filme de PeterFonda e Dennis Hopper, Sem Destino.We were suddenly on Madison Street among hordes of hobos, some of them sprawled out on the street withtheir feet on the curb, hundreds of others milling in the doorways of saloons and alleys. “Wup! wup! look sharpfor old Dean Moriarty there, he may be in Chicago by accident this year.” We let out the hobos on this street andproceeded to downtown Chicago.(…)...we headed straight for North Clark Street, after a spin in the Loop, to see the hootchy-kootchy jointsand hear the bop. And what a night it was. “Oh, man,” said Dean to me as we stood in front of a bar, “dig thestreet of life, the Chinamen that cut by in Chicago. What a weird town--wow, and that woman in that windowup there, just looking down with her big breasts hanging from her nightgown, big wide eyes. Whee. Sal, we gottago and never stop going till we get there” 56 .55 WALKER, Alice. The Color Purple. http://www.bookrags.com/The_Color_Purple56 KEROUAC, Jack. On the Road. http://www.bookrags.com/notes/otr/SUM.html50FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


Atividade Complementar1. Quais as características que diferenciam o romance das outras formas literárias?2. De que forma Daniel Defoe, Samuel Richardson e Henry Fielding individualiza seusprotagonistas?3.Explique os modelos ficcionais segundo a teoria de Northrop Frye.4.Que autor(a) se destacou pela técnica de “Fluxo de Consciência”?5. Qual o romance americano que se tornou emblemático na literatura beat?Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 51


Sites indicadosF. S. Fitzgerald:http://www.litfix.co.uk/fitzgerald/onlinetexts/gatsby/index.htmJ. Kerouac:http://www.bookrags.com/notes/otr/SUM.htmlMark Twain:http://www.mtwain.com/Adventures_Of_Huckleberry_Finn/1.htmlAlice Walker:http://www.bookrags.com/The_Color_PurpleFilmes indicadosA cor púrpuraA letra escarlateAs aventuras de Tom SawyerAs HorasEmmaMoll FlandersMrs. DallowayMulheres ApaixonadasO Amante de Lady ChatterleyOrgulho e PreconceitoO ultimo dos MoicanosRazão e SensibildadeThe Great Gatsby;Tom Jones52FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


A POESIA E O TEATROA POESIAA POESIA INGLESA: DE SHAKESPEARE AOROMANTISMOIntroduçãoA poesia não é uma liberação da emoção, mas uma fuga da emoção; não é a expressão da personalidade,mas uma fuga da personalidade. Naturalmente, porém, apenas aqueles que têm personalidade e emoções sabe o quesignifi ca querer escapar dessas coisas. T.S.EliotComo mencionado no Bloco 1, Tema 1, os primeiros manuscritos encontrados em línguainglesa, ou Old English , encontram-se sob a forma de versos. No que pese a transcrição dessaliteratura datar de em torno do século XI, o seu conteúdo remete a um período anterior, o que,possivelmente, explicaria a forma em versos: nas culturas iletradas, o verso se constitui na formamais apropriada à memorização, sendo este o meio de propagação e preservação. Sabemos tambémque os primeiros escritos literários em língua inglesa, ou Old English, são sagas em versos,como Beowulf, e contam a história de um povo.No século XII, Eleanor de Aquitânia, a esposa francesa do rei Henry II, trouxe os trovadorese a poesia provençal para a Inglaterra, inaugurando assim um novo padrão de comportamentona corte e em modelo literário. As histórias abordadas pela poesia trovadoresca tinham comoenredo a impossibilidade amorosa, na qual o amado se declarava vassalo da sua dama e do seuamor. A temática dessas histórias, bem como a forma em que eram escritas e declamadas, são deorigem bretã, ou celta, e predominavam nas narrativas do ciclo arturiano, populares na época.LaisMarie de France e Chrétien des Troyes, poetas franceses, se destacaram na época, contribuindopara a popularidade desse tema e desse modelo literário na Inglaterra. Esta forma bretã,ou celta, é conhecida como lais (em celta loid) e floresceu no período entre os séculos XII e XIV,tendo, possivelmente, sofrido alguma influência latina. Neste período encontramos dois tipos delais:- o primeiro, não tinha como objeto, necessariamente, um tema arturiano e se tratava de umpoema bastante extenso, com versos que variavam em número de 60 a 300, métrica curta (heptassílabos),e geralmente distribuídos em doze grandes estrofes;- o segundo tipo, também conhecido como Arthurian lais, se atinham a histórias do cicloOrganização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 53


arturiano, ou bretão, sendo considerados como novelas, embora ainda estivessem escritos emversos.A forma aperfeiçoada por Marie de France veio a se tornar modelar para escritores posteriorescomo Chaucer (em Franklin’s Tales) e Gower (Tale of Rosiphilee), enquanto que a forma“romanceada” das histórias de Chrétien des Troyes influenciaram os escritores do período conhecidocomo Middle English, como, por exemplo, o autor anônimo de Sir Gawain e o CavaleiroVerde (Sir Gawain and the Green Knight).Ambas as formas, no entanto, se encontravam associadas a uma melodia, e eram recitadascom o acompanhamento de uma harpa ou viola. A partir do século XVI, a palavra lai torna-sesinônimo de canção, e, no século XIX, passou a designar as baladas de origem históricas, mesmoquando não eram acompanhadas por música como The Lay of the Last Minstrel (1808) de autoriade Walter Scott, ou Lays of Ancient Rome (1842) de Macaulay.Alegoria & Roman de la RoseNo século XIII, a temática poética torna-se onírica e alegórica,influenciada pela popularidade do poema Roman de la Rose,de Guillaume de Lorris (1237). A questão central deste poemareside em um sonho de conquista da mulher amada, representadapor uma rosa, e por quem o homem deve superar diversosobstáculos, a fim de conquistar a amada. Este poema influencioua maioria dos escritores por todo o século XIV, cuja utilizaçãoda alegoria e do sonho pode ser encontrada tanto na revelaçãoreligiosa de Pearl, poema anônimo cuja autoria é atribuída ao escritorde Sir Gawain, como no poema Book of Duchess de GeoffreyChaucer. The Book of the Duchess é um poema-narrativa na tradiçãosonho-alegoria, escrito por volta de 1369, por ocasião da mortede Blanche, Duquesa de Lancaster, e constitui-se de uma associaçãode uma elegia e um encômio:Roman de La RoseFor holly al the story of TroyeWas in the glasynge ywroght thus,Of Ector and of kyng Priamu,Of Achilles and Lamedon,And eke of Medea and of Jason,Of Paris, Eleyne, and of Lavyne.And alle the walles with colours fi neWere peynted, both text and glose,Of al the Romaunce of the Rose.The Canterbury Tales54FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


The Canterbury Tales, ou Contos de Cantuária, também de autoria de Geoffrey Chaucer,mencionado no Tema 1 do Bloco 1, é composto de contos narrados por pessoas das mais diversasocupações reunidas em uma estalagem. As profissões dos personagens não incluem nenhumaposição extrema, seja acima de um Cavaleiro da corte, seja abaixo de um lavrador. As históriasnarradas por Chaucer têm um cunho irônico, como pode ser observado em Prioress, que descreveuma freira, cujo real interesse na vida era ter um comportamento mundano.Ther was als a Nonne, a Prioresse,That of her smylyng was ful simple and coy;Hire gretteste ooth was but by Seinte Loy;And she was cleped madame Eglentyne.Ful weel she soong the service dyvyne,Entuned in hir nose ful seemly,And Frenssh she spak ful faire and fetisly,After the scole of Stratford ate Bowe,For Frenssh of Parys was to hire unknowe.At mete wel ytaught was she with alle;She leet no morsel from hir lippes falle,Ne wette hir fyngres in hir sauce depe;Wel koude she carie a morsel and wel kepeThat no drope ne fi lle upon hir brest.In curteisie was set ful muchel hir lest.Hir over-lippe wiped she so cleneThat in hir coppe ther was no ferthyng seneOf grece, when she drunken hadde hir draughte.Ful seemly after hir mete she raughte…A época de Chaucer foi um período conturbado pelos conflitos entre patrões e empregados.A peste negra havia dizimado as populações camponesas e os barões da terra passaram acontratar empregados para fazer o serviço no campo. Com a nova modalidade de trabalho surgiua necessidade de se estabelecer medidas que regulamentassem as condições de trabalho e pagamentode salários aos trabalhadores do campo, o Estatuto dos Trabalhadores. A obra de Chauceroferece um comentário, às vezes irônico e velado, desta época.Chaucer foi considerado um artesão da palavra, responsável pela criação de novas palavrase pela introdução de novos vocábulos oriundos de outros idiomas; Sir Brian Tuke, responsávelpelo prefácio de Contos de Cantuária escreveu sobre Chaucer: suche frutefulnesse in wordes… so sweteand pleasaunt sentences… suche sensyble and open style lacking neither maieste ne mediocrite (moderation).Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 55


Os sonetos de ShakespeareSoneto ShakespeareAlém de dramaturgo, Shakespeare também foi um grande poeta, tendo escrito uma coletâneade 154 sonetos além de dois poemas narrativos, Vênus e Adônis e O rapto de Lucrécia. Taissonetos, possivelmente colocados na ordem pelo próprio Shakespeare, são considerados porcríticos como Harold Bloom como “autobiográficos e universais, pessoais e impessoais, irônicose apaixonados, bissexual e heterossexual”, demonstrando a ambigüidade do ser humano. Taissonetos se situam entre três categorias distintas: os primeiros cento e vinte e seis sonetos foramendereçados a um jovem, presumivelmente ao Earl de Southampton, seu mecenas, e segundo alguns,amante; os vinte e seis sonetos seguintes referem-se a uma Dark Lady; e os dois últimosfalam de Cupido; dentre essas categorias, outros subgrupos podem ser detectados. Entretanto, ostemas do tempo e da morte sombreiam os primeiros cento e vinte e seis poemas, em que o poetarelaciona a contagem arbitrária do tempo pelo individuo e o seu relógio biológico e afirma que areprodução é a sua única defesa contra a morte.When I have seen by Time’s fell hand defacedThe rich proud cost of outworn buried age,When sometime lofty towers I see down-razed,And brass eternal slave to mortal rage;When I have seen the hungry ocean gainAdvantage on the kingdom of the shore,And the fi rm soil win of the wat’ry main,Increasing store with loss and loss with store;When I have seen such interchange of state,Or state itself confounded to decay,Ruin hath taught me thus to ruminate _That Time will come and take my love away.56FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


This thought is as a death, which cannot chooseBut weep to have that which it fears to lose.Seus sonetos trouxeram uma nova energia à poesia com relação à métrica e a utilização deuma estrutura de catorze linhas, e na exploração uma gama de emoções, linguagem, e, sobretudo,apontando para a responsabilidade do individuo diante os seus erros, não mais culpando osastros e os deuses.Salientamos, ainda, que a musicalidade dos versos de Shakespeare era bastante propícia auma época em que as pessoas valorizavam as palavras e as melodias. Valorização que reforçou odesenvolvimento do idioma inglês que deixava progressivamente de se restringir a uma língua decamponeses para se tornar a língua de uma expressiva literatura.John Donne & John MiltonSegundo Samuel Taylor Coleridge,If you would teach a scholar in the highest form how to read, take Donne… When he has learnt to readDonne, with all the force and meaning which are involved in the words, then send him to Milton, and he will stalkon like a master enjoying his walk.John Donne (1573-1631), diácono da Catedral de St. Paul e um grande pregador, tornou-se,juntamente com John Milton, um dos autores mais reverenciados da poesia inglesa durante o períododa Restauração (1620-1690). Além de sermões e ensaios, John Donne tornou-se conhecidopor suas poesias, devotas e eróticas, como, por exemplo, Elegy XIX To His Mistress Going ToBed em que compara a amada à recém-descoberta América.Elegy XIX To His Mistress Going To Bed – John DonneCome, madam, come, all rest my powers defyUntil I labor, I in labor lie.(…)Now off with those shoes, and then safely treadIn this love’s hallowed temple, this soft bed.In such white robes, heaven’s angels used to beReceived by men; thou, Angel, bring’st with thee(…)License my roving hands , and let them goBefore, behind, between, above, below.O my America ! my new-found-land,Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 57


My kingdom, safeliest when with one man manned,My mine of precious stones, my empery,How blest am I in this discovering thee!(…)Then, since that I may know,As liberally as to a midwife, showThyself: cast all, yea, this white linen hence,Here is no penance, much less innocence.To teach thee, I am naked fi rst; why than,What needst thou have more covering than a man.O texto contém referências bíblicas como a presença de anjos vestidos em branco, e mitológicatal como a história de Atalanta. A escolha de determinados vocábulos e expressões indiciama ambigüidade da linguagem utilizada, como por exemplo, no verso final, a palavra coveringque tanto pode significar cobertura ou vestimenta, como também a posição de súcuba da mulherdurante o ato sexual.John Milton (1608-1674) produziu vários panfletos defendendo suas idéias políticas e religiosase em 1667 escreveu um dos mais conhecidos poemas da língua inglesa, Paradise Lost,influenciando poetas de gerações posteriores. Seu tema é A Queda, episódio bíblico que narra opecado original. O poema lida com as conseqüências morais da desobediência, ou a incapacidadedo individuo de viver de acordo com as leis divinas. Destacamos um pequeno trecho do poema:Paradise LostParadise Lost IX, The Fall from Adam and Eve by John Milton[ Satan urg’d]: If they all things, who encl’dKnowledge of Good and Evil in this Tree,That whoso eats thereof, forthwith attainsWisdom without their leave? And wherein lies58FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


Th’offense, that Man should thus attain to know?What can your knowledge hurt him, or this TreeImpart against his will if all be his?Or is it envie, and can envie dwellIn heav’nly brests? These, these and many moreCauses import your need of this fair Fruit.Goddess humane, reach then, and freely taste.Considerando-se a teoria de arquétipos, ou de padrões temáticos da literatura, podemosdizer que A Queda focaliza o trânsito de um individuo de um estado de pureza para um estadode conhecimento ou vivência, em que, através da(s) experiência(s) vivida(s), o sujeito descobre anão existência do mundo ideal, ou edênico, caracterizando desta forma a perda da inocência.A época da Razão x RomantismoO ClassicismoO século XVIII ficou conhecido como a Era da Razão. De forma panorâmica, podemosdizer que este período foi caracterizado pelo desenvolvimento do comércio, a consolidação doimpério, o entrecruzamento entre a classe média e a aristocracia através de casamentos, entreoutros aspectos que tornavam possível a instituição de um “governo da razão”.No âmbito das artes, predominava o Classicismo, cujas características – o predomínio darazão sobre as emoções, o culto à forma e a supervalorização das convenções sociais – encontramressonâncias em um período histórico marcado pela crença no progresso e pela luta por ascensãosocial. Um poeta significativo desta época é Alexander Pope (1688-1744). Por um estudode sua biografia é possível entender algumas dicotomias de uma Inglaterra rigidamente divididapelo catolicismo e protestantismo. Desse modo, Pope que teve uma formação católica e era filhode pai burguês e que, portanto, gozava dos recursos necessários para investir em sua formação,sofria por não poder freqüentar a escola pública e a universidade, que estavam sob o controle daInglaterra protestante, na época, extremamente anti-católica.Apesar de algumas condições adversas que encontrou e do seuaspecto “feio”, Pope aceitava a vida tal como esta se apresentava ea forma que encontrava para esta aceitação era satirizar e, com isso,expurgar o seu mal-estar. Sua obra oscila entre filosófica, satírica ecrítica. Quanto à forma, havia em Pope uma preocupação excessiva,a ponto de atribuir-lhe uma importância muito maior do que aquelaconcedida aos seus temas. Ele primava pela perfeição dos versos efrases bem elaboradas. Apreciemos um trecho do poema The Rape ofthe Lock 57 para verificarmos quão harmônicos são as rimas dos versosde Pope.The Rape of the Lock57 POPE, Alexander. The rape of the lock. Disponível: http://www-unix.oit.umass.edu/~sconstan/poem1c1.html. Acesso: 31 jan. 07.Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 59


What dire Offence from am’rous Causes springs,What mighty Contests rise from trivial Things,I sing-This verse to Caryl, Muse! is due;This, ev’n Belinda may vouchsafe to view:Slight is the Subject, but not so the Praise,If She inspire, and He approve, my Lays.Pope influenciou outros poetas em sua época, dentre estes, Oliver Goldsmith (1730-1774),George Crabbe (1754-1832) e Samuel Johnson (1790-1784).O RomantismoDe encontro aos ditames do classicismo, o Romantismo eclodiu a partir da Revolução Francesa,através da qual protestou-se contra o predomínio de um modo de vida elitista e uma artepresa a normas estanques. Assim, ao contrário do clássico, o romântico privilegia a emoção emdetrimento da razão e sobrepõe às preocupações com as regras sociais, a sua individualidade.William Blake: um precursor do RomantismoWilliam Blake (1757-1827) é considerado um dos maiores poetas das letras inglesas. Um deseus textos mais famosos é Canções da inocência (Songs of Innocence) ao lado do seu poema (The Tyger).Apreciemos um trecho deste poema:Tyger! Tyger! Burning bright,In the forests of the night,What immortal hand or eyeCould frame thy fearful symmetry? 58Blake foi ainda autor de poemas épicos como Jerusalem e Milton, cujo entendimento é difícilsem o domínio do significado de alguns símbolos que os compõem. Além disso, compôs poemasbreves, que possuem um caráter individual. Alguns desses poemas expressam uma atitude contrá-58 http://www.cs.rice.edu/~ssiyer/minstrels/poems/66.html60FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


ia às repressões advindas de instituições monumentais como a lei, a religião e a ciência.Poetas românticosO processo de consolidação do Romantismo na Inglaterra contou com a contribuição dealguns importantes poetas, frutos de um sentimento revolucionário que pairava, inspirado naRevolução Francesa, como aqui já foi dito, e na filosofia de pensadores como Locke, Rousseau eHume. Entre os poetas românticos mais representativos, podem ser citados Wordsworth, Coleridge,Keats, Shelley e Byron.Wordsworth e ColeridgeWilliam Wordsworth (1770-1850) é considerado um dos fundadores do Romantismo naInglaterra ao lado de Samuel Taylor Coleridge (1772-1834), com quem publicou as Baladas Líricas.As Lyrical Ballads consistem em uma coletânea de poemas dos dois autores mencionados, publicadaem 1798 com a intenção de escrever um novo tipo de poesia. Entre os poemas que compõemesta obra, destacam-se Rime of the Ancient Mariner, de Coleridge, e Tintern Abbey, de Wordsworth.Apreciemos algumas estrofes de cada um desses poemas para podermos ilustrar as consideraçõesque serão feitas sobre o projeto destes poetas.The TygerRime of the Ancient MarinerPART IAn ancient Mariner meeteth three Gallants bidden to a wedding-feast, and detaineth one.It is an ancient Mariner,And he stoppeth one of three.`By thy long beard and glittering eye,Now wherefore stopp’st thou me ?The Bridegroom’s doors are opened wide,And I am next of kin ;The guests are met, the feast is set :May’st hear the merry din.’Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 61


He holds him with his skinny hand,`There was a ship,’ quoth he.`Hold off ! unhand me, grey-beard loon !’Eftsoons his hand dropt he 59 .Tintern AbbeyFive years have past; fi ve summers, with the lengthOf fi ve long winters! and again I hearThese waters, rolling from their mountain-springsWith a soft inland murmur. -- Once againDo I behold these steep and lofty cliffs,That on a wild secluded scene impressThoughts of more deep seclusion; and connectThe landscape with the quiet of the sky.The day is come when I again reposeHere, under this dark sycamore, and viewThese plots of cottage-ground, these orchard-tufts,Which at this season, with their unripe fruits,Are clad in one green hue, and lose themselves‘Mid groves and copses. Once again I seeThese hedge-rows, hardly hedge-rows, little linesOf sportive wood run wild: these pastoral farms,Green to the very door; and wreaths of smokeSent up, in silence, from among the trees!With some uncertain notice, as might seemOf vagrant dwellers in the houseless woods,Or of some Hermit’s cave, where by his fi reThe Hermit sits alone 60 .Na segunda e terceira edições de Lyrical Ballads, Wordsworth fez significativas consideraçõessobre a proposta estética desta obra. Segundo estes prefácios, a linguagem poética deveria escapara uma dicção artificial e ser pautada na linguagem de pessoas comuns, que eram admiradas porele por estarem mais próximas da natureza que ele tanto venerava. Advogava também contra oracionalismo e em favor da imaginação, privilegiando sentimentos humanos e o mito. Vale a pena59 http://etext.virginia.edu/stc/Coleridge/poems/Rime_Ancient_Mariner.html60 http://www.blupete.com/Literature/Poetry/WordsworthTinternAbbey.htm. Acesso: 01 fev. 07.62FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


ler o trecho abaixo destacado de Lyrical Ballads que sumariza as principais propostas deste poeta:The principal object, then, which I proposed to myself in these Poems was to choose incidents and situationsfrom common life, and to relate or describe them, throughout, as far as was possible, in a selection of languagereally used by men; and, at the same time, to throw over them a certain colouring of imagination, whereby ordinarythings should be presented to the mind in an unusual way; and, further, and above all, to make these incidentsand situations interesting by tracing in them, truly though not ostentatiously, the primary laws of our nature:chiefl y, as far as regards the manner in which we associate ideas in a state of excitement. Low and rustic life wasgenerally chosen, because in that condition, the essential passions of the heart fi nd a better soil in which they canattain their maturity, are less under restraint, and speak a plainer and more emphatic language; because in thatcondition of life our elementary feelings co-exist in a state of greater simplicity, and, consequently, may be moreaccurately contemplated, and more forcibly communicated; because the manners of rural life germinate from thoseelementary feelings; and, from the necessary character of rural occupations, are more easily comprehended, and aremore durable; and lastly, because in that condition the passions of men are incorporated with the beautiful andpermanent forms of nature. The language, too, of these men is adopted (purifi ed indeed from what appear to be itsreal defects, from all lasting and rational causes of dislike or disgust) because such men hourly communicate withthe best objects from which the best part of language is originally derived; and because, from their rank in societyand the sameness and narrow circle of their intercourse, being less under the infl uence of social vanity they conveytheir feelings and notions in simple and unelaborated expressions. Accordingly, such a language, arising out ofrepeated experience and regular feelings, is a more permanent, and a far more philosophical language, than thatwhich is frequently substituted for it by Poets, who think that they are conferring honour upon themselves and theirart, in proportion as they separate themselves from the sympathies of men, and indulge in arbitrary and capricioushabits of expression, in order to furnish food for fi ckle tastes, and fi ckle appetites, of their own creation 61 .No trecho acima citado, podemos salientar alguns conceitos-chave empregados por Wordsworthpara tratar de sua proposta. Estes conceitos são a demonstração de uma linguagem queera realmente usada pelo homem comum, um tom advindo da mais pura imaginação a partir daqual se configuram imagens incomuns, busca pela expressão de uma vida simples na qual as verdadeiraspaixões humanas podem aflorar.De acordo com Wordsworth, a poesia deveria revelar não apenas verdades filosóficas, masoutras verdades, pois a partir da poesia, o poeta instaura e legitima a sua verdade. Produzir poesiadeixou de ser, para este poeta, não um hobby, como o era para alguns poetas do século XVIII,mas, conforme Anthony Burgess, uma “vocação” 62 . Pensando deste modo, Wordsworth não sededicou a nenhuma outra atividade, a não ser a de poeta.Um dos principais lemas de Wordsworth que coincide com suas convicções sobre a “vocação”é a intuição, um certo misticismo apoiado em uma forte crença na natureza. Para este poeta,a natureza é a fonte a partir da qual o homem pode estabelecer o seu encontro com Deus. Partindodestes princípios, ele foi considerado um panteísta, ou seja, para ele Deus não estava acimados homens, mas, sim, presente na natureza.Em virtude das considerações tecidas sobre o projeto estético e ético de Wordsworth, eleé, por vezes, considerado um poeta egocêntrico, que direcionou grande atenção para si mesmo esuas próprias experiências. Esta premissa, no entanto, se enfraquece, quando passamos a conhe-61 http://www.english.upenn.edu/~jenglish/Courses/Spring2001/040/preface1802.html. Acesso: 01 fev. 07.62 BURGESS, Anthony. Os românticos. In: ______. A literatura inglesa. Tradução Duda Machado. 2. ed. São Paulo: Ática, 2004, p. 198.Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 63


cer que ele defendia uma reforma social, bem como os direitos humanos, que preservam o direitoà liberdade e expressão individual. Além disso, o eu-lírico de seus poemas não raro exprime osimpactos diante das mudanças sociais de sua época, em que se verifica um constante desenvolvimentodas classes altas acompanhado pelo progressivo crescimento da pobreza. Afinal, a suaexcessiva atenção à natureza pode ser interpretada como uma crítica implícita à sociedade “corrompida”.Não devemos desconsiderar, ainda, que Wordsworth viveu em uma época marcadapela Revolução Francesa, de cujos ideais este poeta compartilhou.Predomina na proposta de Samuel Taylor Coleridge um tom sobrenatural que se distanciadaquele impresso nos poemas de Wordsworth. Enquanto este pretendia que sua poesia estivessefi r mada no solo dos humildes, em meio a natureza, Coleridge explorava o sobrenatural e o justificavaatravés de uma “fé poética ”. Ele designou por “fé poética” 63 a voluntária suspensão dadescrença por um momento.ByronShelley, Keats e ByronLord Byron (1788-1824) é um poeta que se tornou uma figura lendária na Europa. A biografia de Byron encerra um lado heróico do poeta que morreu lutando pela independência gregae, por outro lado, escândalos que lhe custaram o exílio da Inglaterra. Este episódio somou-lhe umtom satírico, a partir do qual passou a questionar regras sociais e leis de seu país. A sátira compõea tônica das críticas sociais impressas em seu longo poema Don Juan, baseado na lenda de DonJuan. Num outro poema, transcrito em seguida e que foi traduzido por Castro Alves, é possívelperceber o tom satírico de Byron. Neste poema, o eu lírico propõe que o seu crânio seja usadocomo uma taça, na qual as pessoas possam beber o vinho e a vida, livrando-o de ser comido pelosvermes:Uma taça feita de um crânio humanoNão recues! De mim não foi-se o espírito...Em mim verás - pobre caveira fria -Único crânio que, ao invés dos vivos,Só derrama alegria.Vivi! amei! bebi qual tu: Na morte63 BURGESS, Anthony. Op. cit., p. 200.64FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


Arrancaram da terra os ossos meus.Não me insultes! empina-me!... que a larvaTem beijos mais sombrios do que os teus.Mais vale guardar o sumo da parreiraDo que ao verme do chão ser pasto vil;- Taça - levar dos Deuses a bebida,Que o pasto do réptil.Que este vaso, onde o espírito brilhava,Vá nos outros o espírito acender.Ai! Quando um crânio já não tem mais cérebro...Podeis de vinho o encher!Bebe, enquanto inda é tempo! Uma outra raça,Quando tu e os teus fordes nos fossos,Pode do abraço te livrar da terra,E ébria folgando profanar teus ossos.E por que não? Se no correr da vidaTanto mal, tanta dor ai repousa?É bom fugindo à podridão do ladoServir na morte enfi m p’ra alguma coisa!...Lord Byron(Tradução de Castro Alves)ShelleyShelley revelou, desde muito cedo, o seu espírito revolucionário. Este caráter foi expresso,em especial, em seus poemas mais longos, a exemplo de Prometeu acorrentado, A revolta do Islã eHélade, que tematizam a revolta e uma humanidade que sofre por se sentir oprimida. Além destetema, Shelley fala em seus poemas sobre a Beleza e o Amor.Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 65


KeatsA poesia de John Keats (1795-1821) apresenta um tom sensual e revela o seu paganismo,alimentado por uma forte crença nos deuses da Grécia Antiga. Seus principais são, conformeAnthony Burgess, “a beleza na arte e na natureza; o desejo de morte; amores felizes e infelizes; oencanto do passado clássico” 64 . Seus poemas não raro revelam um forte sofrimento que advémtanto da certeza de que a beleza não é eterna, quanto das incertezas e indefinições suscitadas peloamor. Identifica-se nele, ainda, uma forte melancolia, tal como a expressa em When I have fears thatI may cease to be. Assim como pela sua poesia Keats melhor pôde traduzir a sua melancolia, apenasatravés da leitura do poema pode é possível apreendê-la.When I have fears that I may cease to beWhen I have fears that I may cease to beBefore my pen has glean’d my teeming brain,Before high-piled books in charact’ryHold like rich garners the full ripen’d grain;When I behold upon the night’s starr’d faceHuge cloudy symbols of a high romance,And think that I may never live to traceTheir shadows with the magic hand of chance;And when I feel, fair creature of an hour,That I shall never look upon thee more,Never have relish in the faery powerOf unrefl ecting love; — then on the shoreOf the wide world I stand alone, and thinkTill love and fame to nothingness do sink 65 .Alguns outros representativos poemas são Ode a um rouxinol, Ode à melancolia e Ode auma urna grega.64 Op. cit., p. 204.65 http://etext.library.adelaide.edu.au/k/keats/john/poems/when-i-have-fears.html66FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


A POESIA NORTE AMERICANANo período que se estende desde 1640 até 1700, aproximadamente, surge a poesia norteamericana, caracterizada pelos ideais Puritanos. Trata-se de uma poesia que tem por objetivo adivulgação dos princípios do calvinismo, em que abundam clichês bíblicos e clássicos, seguindo omodelo literário inglês. Dentre eles mencionamos o The Bay Psalm Book (1640), The Day of Doome In Reference to Her Children, de Anne Bradstreet (1612-1672), uma afirmação das benesses damaternidade e do casamento.RomantismoRomantismoÉ a partir de do Romantismo (1820-1865) que a poesia americana desponta como singular,embora ainda fortemente influenciada pelos poetas românticos ingleses, particularmenteColeridge e Wordsworth. No interstício entre a poesia puritana e o surgimento do romantismoamericano destaca-se Phillis Wheatley (1753-1784), a primeira escritora afro-americana, que, influ enciada por Milton e Pope, utiliza versos brancos e que tem como temas poéticos a salvação,a liberdade política na nova nação, e o orgulho afro-americano.O primeiro americano considerado como um grande poeta pela crítica foi William CullenBryant (1798-1878), autor de poemas como Thanatopsis,(1814), ou uma visão da morte, cujaadoção de versos brancos e cuidadosamente rimados deve-se a influência dos chamados poetasbritânicos do Graveyard School .Os temas privilegiados pelo Romantismo norte americano foram:1. A intuição é mais confiável que a razão;2. expressar profundamente as experiências vividas é mais valoroso que a elaboração deprincípios universais;3. o individuo está situado no centro do universo e Deus se encontra no centro doindivíduo;4. a natureza é uma gama de símbolos físicos dos quais o conhecimento do sobrenaturalpode ser intuído;5. podemos desejar o Ideal, mudando o que é pelo o que devia ser.Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 67


Ralph Waldo Emerson (1803-82) foi o mais importante interlocutor desses preceitos, paraquem o poema deveria apresentar imagens concretas, representando símbolos. Seu livro, Nature,publicado em 1836 é uma afirmação dos fundamentos do transcendentalismo e propunha anoção que as coisas seriam uma miniatura do universo, e a crença na força da intuição de cadaindividuo.TranscendentalismoComo um sistema organizado de idéias, o transcendentalismo objetivava criar uma literaturaexclusivamente americana, libertando-se da influência européia, notadamente a inglesa. Lideradopor escritores da Nova Inglaterra, muitos dos seus seguidores se encontravam envolvidos emreformas sociais, particularmente aqueles que diziam respeito ao movimento abolicionista e emprol dos direitos das mulheres (o termo “feminismo” só foi cunhado décadas depois, na França).Esses autores se encontravam envolvidos em tais movimentos pelo fato de acreditarem que todoser humano tem direito a buscar a liberdade, conhecimento e a verdade. Segundo Ralph WaldoEmerson,We will walk on our own feet; we will work with our own hands; we will speak our own minds...A nationof men will for the fi rst time exist, because each believes himself inspired by the Divine Soul which also inspiresall men.O movimento obteve um grande alcance tendo influenciado diversos poetas como WaltWhitman (1819-92), dentre outros.Edgar Allan Poe e O CorvoEdgar Allan PoeEmbora não esteja especificamente incluído neste grupo, Edgar Allan Poe (1809-49) foi umescritor que se destacou por suas obras em prosa e verso, e vem suscitando, através dos séculos,emoções relacionadas ao terror, ao maravilhoso, e ao espantoso. Seu poema mais conhecido, OCorvo (The Raven), conta a história de um homem que, certa feita, tarde da noite, recebeu a visitamisteriosa de um pássaro que dizia: Nevermore! (nunca mais!) e que o remetia ao sentimento de68FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


perda deixado pela morte da bela amada. Este poema foi traduzido para o português por Machadode Assis e Fernando Pessoa, além de outros autores, e tem sido uma referência intertextual dediversos escritos, como em Love Minus Zero-No Limit, composição de Bob Dylan na década de1960 66 .Tendo influenciado sobremaneira os modernistas, Edgar Allan Poe foi também ensaísta deprestígio.A respeito de O Corvo, Poe escreveu o texto The Philosophy of Composition, no qual relata,minuciosamente, como num “problema matemático”, os procedimentos utilizados para a escritadeste poema, os quais acredita poder reconstituir. Desse modo, Poe comenta a preocupação queantecipou a composição do poema sobre a sua extensão, que deveria manter uma certa “unicidadede impressão”, ou seja, o seu “efeito”, e, portanto, teria cerca de cem linhas, que consistiram,de fato em cento e oito linhas. Em seguida, fala sobre a configuração do espaço, que serialimitado a um único e pequeno cenário para garantir o efeito, o que realmente acabou sendo umquarto. Seguiu-se, então, a escolha da impressão, que, conforme a sua intenção, deveria ser universal.Assim, escolheu um tema unânime entre os poetas, ou seja, a Beleza. O próximo passoseria a atribuição de um “tom” à sua composição, que teria que ser elevado. Foi assim pensandoque se decidiu pela melancolia e, a partir dela, extraiu a imagem da mais expressiva melancolia,qual seja, a morte. Reunidos temas e tom, Poe forjou, então, o motivo: a melancolia sentida pelamorte de uma bela mulher, não esquecendo de mencionar a escolha criteriosa de uma palavra quedenotasse um som fúnebre “nevermore” (nunca mais), que rima com o nome da amada Lenore,a ser pronunciada por um corvo.Após esta bela descrição do procedimento utilizado para escrever O Corvo, é válido, senãoinevitável, lermos algumas estrofes deste poema.The RavenOnce upon a midnight dreary, while I pondered, weak and weary,Over many a quaint and curious volume of forgotten lore —While I nodded, nearly napping, suddenly there came a tapping,As of some one gently rapping, rapping at my chamber door.“ ’Tis some visiter,” I muttered, “tapping at my chamber door —Only this and nothing more.”[…]Presently my soul grew stronger; hesitating then no longer,“Sir,” said I, “or Madam, truly your forgiveness I implore ;But the fact is I was napping, and so gently you came rapping,And so faintly you came tapping, tapping at my chamber door,That I scarce was sure I heard you” — here I opened wide the door ; ——Darkness there and nothing more.66 …My love, she’s like some raven, at my window with a broken wing. DYLAN, Bob. Love Minus Zero-No Limit 1965.Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 69


Deep into that darkness peering, long I stood there wondering, fearing,Doubting, dreaming dreams no mortals ever dared to dream before;But the silence was unbroken, and the stillness gave no token,And the only word there spoken was the whispered word, “Lenore ?”This I whispered, and an echo murmured back the word, “Lenore !” —Merely this and nothing more.[…]Then this ebony bird beguiling my sad fancy into smiling,By the grave and stern decorum of the countenance it wore,“Though thy crest be shorn and shaven, thou,” I said, “art sure no craven,Ghastly grim and ancient Raven wandering from the Nightly shore —Tell me what thy lordly name is on the Night’s Plutonian shore !”Quoth the Raven “Nevermore.”[…]“Prophet!” said I, “thing of evil! — prophet still, if bird or devil! —Whether Tempter sent, or whether tempest tossed thee here ashore,Desolate yet all undaunted, on this desert land enchanted —On this home by Horror haunted — tell me truly, I implore —Is there — is there balm in Gilead ? — tell me — tell me, I implore !”Quoth the Raven, “Nevermore.”[…]And the Raven, never fl itting, still is sitting, still is sittingOn the pallid bust of Pallas just above my chamber door;And his eyes have all the seeming of a demon’s that is dreaming,And the lamp-light o’er him streaming throws his shadow on the fl oor;And my soul from out that shadow that lies fl oating on the fl oorShall be lifted — nevermore! 67Em seu texto The Poetic Principle, procura estabelecer o valor de um poema. Neste ensaio,Poe declara que o valor do poema se encontra no poder de enlevar o leitor, não podendo, portanto,se tratar de um poema longo, o que promoveria enfado. Ressalva, porém, poemas longoscomo Paradise Lost de Milton e a Ilíada, entre outros, declarando que se tratam de composiçõesenglobando poemas menores e, ao mesmo tempo, alertando para a tendência epigramática de umpoema muito curto. Poe reconhece que, embora o sentimento poético esteja presente na pintura,escultura, arquitetura, dança, é, contudo, na música que este se desenvolve mais especificamente,67 POE, Edgar Allan. The Raven. Disponível: http://www.eapoe.org/works/POEMS/ravenw.htm. Acesso: 01 fev. 07.70FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


pela sua afinidade com a poesia através do ritmo, métrica e rima. Segundo Poe, é através da Músicaque a alma alcança o objetivo inspirado pelo sentimento poético: a criação da Beleza Supra(Supernal Beauty).It is in Music perhaps that the soul most nearly attains the great end for which, when inspired by the PoeticSentiment, it struggles — the creation of supernal Beauty. It may be, indeed, that here this sublime end is, nowand then, attained in fact. We are often made to feel, with a shivering delight, that from an earthly harp are strickennotes which cannot have been unfamiliar to the angels. And thus there can be little doubt that in the union ofPoetry with Music in its popular sense, we shall fi nd the widest fi eld for the Poetic development 68 .A Nova Poesia AmericanaA poesia americana emerge dissociada da influência inglesa através das obras de poetascomo Walt Whitman (1819-92) e Emily Dickinson (1830-86). Ambos os autores são representantesda recém-surgida poesia americana, que se caracteriza pela métrica livre e a expressãoemocional de Walt Whitman, e a ironia e aforismo de Emily Dickinson, fatores que, por sua vez,irão marcar a poesia americana do século XX.Emily Dickinson foi uma profunda observadora da natureza, objeto de sua temática; curiosamente,seus poemas não tinham título, e foram, em sua maioria, publicados após a sua morte.There’s a certain Slant of lightThere’s a certain Slant of light,Winter Afternoons –That oppresses, like the HeftOf Cathedral Tunes –(…)When it comes, the Landscape listens –Shadows – hold their breath –When it goes, ‘tis like the DistanceOn the look of Death – 69Walt Whitman foi, provavelmente, o autor que mais exerceu a sua influência nos poetasdas gerações posteriores, e sua obra foi considerada como audaciosa. Whitman abandonou asestruturas métricas herdadas da poesia européia e privilegiou o estilo livre de versos, irregular,entretanto, ritmado. Seu posicionamento filosófico era o de que os Estados Unidos da América“estava predestinado a reinventar o mundo como emancipador e liberador do espírito humano”;e afirmou: Rhymes and rhymers pass away _ ... America justifi es itself, give it time...O seu mais conhecido poema, Leaves of Grass foi editado em 1855, separados em 52 seções,uma para cada semana do ano; eis um recorte de Beginners, seção do poema mencionado:68 POE, Edgar A. The Poetic Principle. http://knowingpoe.thinkport.org/default_flash.asp Acesso: 16 mar 06, p. 8.69 DICKINSON, Emily. http://www.bartleby.com/113/Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 71


HOW they are provided for upon the earth, (appearing at intervals;)How dear and dreadful they are to the earth;How they inure to themselves as much as to any—What a paradox appears their age;How people respond to them, yet know them not;How there is something relentless in their fate, all times;How all times mischoose the objects of their adulation and reward,And how the same inexorable price must still be paid for the same great purchase. 70Este modelo, associado à influência da poesia francesa do século XIX, deu origem ao modernismoamericano no século XX, movimento liderado por Ezra Pound (1885-1972) e T.S. Eliot(1888-1965), tendo como adeptos escritores como Gertrude Stein (1874-1946), e E.E. Cummings(1894-1962) entre outros. O modernismo é um termo utilizado para designar um movimentointernacional que dominou as artes até aproximadamente 1950, e que tem como característicaprincipal a rejeição da tradição e uma atitude hostil com relação ao passado. Este movimento,nos Estados Unidos, deu origem a duas vertentes: o “objetivismo” e o “imagismo”. Na décadade 1930, os poetas modernistas como Louis Zukofsky, Kenneth Rexroth, e outros, adotaram otermo objectivist para designar um grupo de escritores, muitos dos quais oriundos de comunidadesurbanas de novos imigrantes, que, com o acréscimo de novas expressões e vocábulos contribuíramsignificativamente para o enriquecimento da linguagem poética utilizada pelo grupo. A outravertente do modernismo era o Imagism, que, baseado nas técnicas da poesia chinesa clássica ejaponesa, enfatizava a clareza de expressão através da utilização de uma imagem visual precisa,muitas vezes ignorando a rima e a métrica a fim de, segundo Pound, de “compor numa seqüênciade frases musicais, ao invés de uma seqüência métrica”. 71 Citamos, como exemplo, o poema In astation of the Metro de Ezra Pound:The apparition of these faces in the crowd;Petals on a wet, black bough.T.S.Eliot (1888-1965) foi um dos expoentes do modernismo, como poeta e ensaísta. Oseu ensaio Tradição e Talento Individual esboça a base do conceito de distanciamento que a críticaliterária deve ter em relação a figura do autor como sujeito. Eliot escrevia versos diretos e objetivose, em 1922, publica o seu mais conhecido poema, The Waste Land. O poema encontra-sedividido em cinco partes, repletas de alusões, promovendo um efeito de ampla significação coma utilização de poucas palavras. Citamos, abaixo, um pequeno trecho da primeira parte do poemamencionado:I. The Burial of the DeadApril is the cruellest month, breedingLilacs out of the dead land, mixingMemory and desire, stirringDull roots with spring rain.70 WHITMAN, Walt. Beginners In: Leaves of Grass. : http://www.americanpoems.com/poets/waltwhitman/1330571 SIMON, Sonia. Tradução livre. POUND, Ezra: Compose in the sequence of the musical phrase, not in the sequence of the metronome.72FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


Winter kept us warm, coveringEarth in forgetful snow, feedingA little life with dried tubers.Summer surprised us, coming over the StarnbergerseeWith a shower of rain; we stopped in the colonnade,And went on in sunlight, into the Hofgarten,And drank coffee, and talked for an hour.Bin gar kine Russin, stamm’ aus Litauen, echt deutsch.And when we were children, staying at the archduke’s,My cousin’s, he took me out on a sled,And I was frightened. He said, Marie,Marie, hold on tight. And down we went.In the mountains, there you feel free.I read, much of the night, and go south in the winter.Nos primeiros anos da década de 1920 surgiu o New Criticism, conceito criado por poetasnão alinhados a corrente modernista como Robert Penn Warren(1905-1989), Allen Tate(1899-1979), e Archibald MacLeish(1892-1982). O New Criticism tornou-se a vertente dominante dacritica literária americana e britânica até os anos 60, tendo como características o experimentode técnicas modernistas combinadas ao modo tradicional de escrita, e, principalmente, a rejeiçãoda crítica literária baseada em fontes extra-textuais, especialmente as biográficas, advogando oestudo dos textos e o close-reading (leitura imanente).Portanto, em o New Criticism, o desejo ou intenção do autor não deve ser tomado como padrãopara o julgamento de uma obra literária; o poema não “pertence” ao autor, ao invés disso, otexto torna-se independente do seu autor desde o seu nascimento, ganhando “vida própria”, semque o autor tenha controle ou poder sobre ele. A análise de um determinado texto deve se ater aspalavras do próprio texto e as informações provenientes de outras fontes devem ser descartadascomo irrelevantes, pois desviam o foco do texto em si. Os conceitos chave são a ambigüidade,fundamental porque aponta para a multiplicidade de significados presentes no texto, e a faláciaintencional (The intentional fallacy), ou a negação da suposta intenção do autor, e sua importância,ponto que se tornou crítico para as futuras gerações dos adeptos do New Criticism.Após as grandes guerras mundiais, a poesia americana tende a brotar da experiência real,concreta, retomando a forma tradicional como em Elizabeth Bishop (1911-1979) e TheodoreRoethke (1908-1963). Outros movimentos surgem como o Confessional Movement, em que abordamtemas íntimos do próprio poeta como doenças, sexualidade, problemas particulares, ou seja,experiências de vida escritas conscientemente e cuidadosamente trabalhadas. Este movimentoinfluenciou artistas como Sylvia Plath (1932-1963), Anne Sexton (1928-1974), entre outros. AllenGinsberg explicou a sua interpretação da Poesia Confessional em um verso do seu poema Howl,que diz,[to] stand before you speechless and intelligent and shaking with shame, rejected yet confessing out the soulOrganização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 73


to conform to the rhythm of thought in his naked and endless head.Nas poesias confessionais embora o “eu” seja autobiográfico, não se pode esquecer que afi c ção, ou fantasia, faz parte da tessitura do poema; na poesia confessional não é apenas o temaem si que a caracteriza, mas, principalmente, como este é explorado. Sylvia Plath, pós-modernistaque sofreu influência da poesia confessional, expressa as emoções em seus poemas de modo ambíguoe ambivalente, como podemos verificar nas primeiras estrofes do poema Daddy, em que aautora fala de seu próprio pai, alemão, morto quando ela ainda era criança.Daddy by Sylvia PlathYou do not do, you do not doAny more, black shoeIn which I have lived like a footFor thirty years, poor and white,Barely daring to breathe or Achoo.Daddy, I have had to kill youYou died before I had time ______Marble-heavy, a bag full of God,Ghastly statue with one grey toeBig as a Frisco seal(…)A POESIA BEATÉ no período pós-guerra que surgem os movimentos Beat e Black Mountain que incluiramfi g uras renomadas como Allen Ginsberg(1926-1997), Charles Olson(1910-1970), entre outros; apoesia beat se caracterizou pela utilização de uma linguagem ainda mais simplificada e objetiva,e refletia a sociedade mais “aberta” e complacente dos anos 1950s e 60s; os poetas do BlackMountain seguiam os preceitos anunciados por Olson em Projective Verse, cujo modelo de escritaprescrevia percepções justapostas em uma linguagem experimental - são considerados os herdeirosdos objetivistas. Representantes de ambas as vertentes estiveram envolvidos no San FranciscoRenaissance, um caldeirão de atividades artísticas experimentais e que contou com a participaçãode Charles Bukowski (1920-1994). Destacamos, desta época, os primeiros versos da primeiraparte do poema Howl de Allen Ginsberg,74FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


HOWLFor Carl SolomonI saw the best minds of my generation destroyed bymadness, starving hysterical naked,dragging themselves through the negro streets at dawnlooking for an angry fi x,angelheaded hipsters burning for the ancient heavenlyconnection to the starry dynamo in the machineryof night,who poverty and tatters and hollow-eyed and high satup smoking in the supernatural darkness ofcold-water fl ats fl oating across the tops of citiescontemplating jazz,(…)who wandered around and around at midnight in therailroad yard wondering where to go, and went,leaving no broken hearts,who lounged hungry and lonesome through Houstonseeking jazz or sex or soup, and followed thebrilliant Spaniard to converse about Americaand Eternity, a hopeless task, and so took shipto Africa,(…)who let themselves be fucked in the ass by saintlymotorcyclists, and screamed with joy,who blew and were blown by those human seraphim,the sailors, caresses of Atlantic and Caribbeanlove,(…)O poema é longo, e se divide em três partes: a mais conhecida, a primeira parte, é dedicadaà cenas e situações que se reportam à vida pessoal do poeta, incluíndo personagens pertencentesao ambiente artístico e político freqüentado por Ginsberg, além de pacientes de instituições psiquiátricase dependentes químicos conhecidos pelo artista nos idos de 40s e no inicio dos anos50. A segunda parte, denominada Moloch, foi escrita sob o efeito de uma substância alucinógena,Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 75


o peyote, que suscitou em Ginsberg a visão de uma fachada monstruosa de um hotel. Essa alucinaçãofoi nomeada pelo poeta como Moloch, personagem bíblico do livro de Leviticus em honrade quem os caananitas sacrificavam crianças; Moloch também é um personagem demoníaco dofi lme Metropole de Fritz Lang, e que Ginsberg reconhecia como influencia em Howl. A terceiraparte é diretamente dirigida a Carl Solomon, individuo a quem o poema é dedicado, internado nomesmo hospital psiquiátrico onde se encontrava a mãe do autor.O movimento beat influenciou toda a cultura produzida nas décadas seguintes, como é possívelverificar nas músicas compostas por Bob Dylan dos anos 60, como It’s Alright, Ma, Blowin’in the Wind, Times are changing; e no cinema, como em Sem Destino (Easy Rider) dirigido por DennisHopper.TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEASUm grande número de tendências tem surgido na poesia americana das últimas décadas,muitas delas emergentes de movimentos anteriores. Na década de 1970 houve uma retomada deinteresse pelo surrealismo; dos movimentos beat e hippie surgiu a poesia performática, movimentoque abraça o multiculturalismo; a poesia L=A=N=G=U=A=G=E , o mais controverso de todosos movimentos, que tem como elemento central a linguagem questionando o seu referenciale a dominância da sentença como a unidade básica da sintaxe, em detrimento do sentido e contexto- nesta vertente encontra-se um grande número de poetas do sexo feminino e afro-americanos.Os Novos Formalistas, grupo de poetas associados que propõe um retorno à métrica erima tradicionais surge na década de 1980; em Chicago, o slam poetry, formatação de espetáculoscompetitivos de poesia performática que enfatiza uma poética de fácil entendimento baseada nalinguagem falada, abordando tópicos polêmicos e atuais.Dos autores ingleses contemporâneos destacamos Philip Larkin (1922-85) e Simon Armitage(1963- ) cuja linguagem coloquial é característica da poesia mainstream.This Be the Verse by P. Larkin, 1990.They fuck you up, your mum and dad.They may not mean to, but they do.They fi ll you with the faults they hadAnd add some extra, just for you.But they were fucked up in their turnBy fools in old-style hats and coats.Who half the time were soppy-sternAnd half at one another’s throats.Por outro lado, influenciada pelos movimentos americanos modernista e beat, o surgimento76FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


de focos de produção poética alternativa ou non-mainstream em algumas cidades da Inglaterradurante as décadas de 60 e 70 ocasionou o que Eric Mottram, crítico inglês, denominou de BritishPoetry Revival. Esses autores publicam de forma alternativa, não estão inseridos nas resenhasliterárias tradicionais. Citamos trechos do poema Place, Book 1 de Allen Fisher(1944 - ), em quese pode notar as diferenças em composição no que se refere a rima, construção das estrofes e asidéias fragmentadas.the earth spins too slow for usthe day’s come-and-go directs our tirednessthis is new to usThis placeit wasn’t yesterdaybut soon we will recall why the land governed usPoetry, at the best, does us a kind of violence that prose fi ction rarely attempts or accomplishes. The Romanticsunderstood this as the proper work of poetry: to startle us out of our sleep-of-death into a more capacious senseof life. There is no better motive for reading and rereading the best of our poetry.(BLOOM, 2000, p.142)Atividade Complementar1. Qual o modelo de origem celta que floresceu entre os séculos XII e XIV na Inglaterra?2. Qual era a proposta de Wordsworth expressa em seus prefácios de Lyrical Ballads?Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 77


3. Quais os temas abordados pelo Romantismo norte americano?4.Qual a principal característica do New Criticism?5.Quais as principais vertentes literárias do modernismo norte americano?Sites indicadosEmily Dickinson:http://www.bartleby.com/113/Walt Whitman:http://www.americanpoems.com/poets/waltwhitman/13305Edgar A. Poe: The Poetic Principle.http://knowingpoe.thinkport.org/default_flash.aspTranscendentalismo:http://www.transcendentalists.com/what.htmWilliam Blake:http://www.cs.rice.edu/~ssiyer/minstrels/poems/66.html78FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


Filmes indicados- No Direction Home (documentário sobre Bob Dylan com depoimentosde Allen Ginsberg). Direção: Martin Scorcese.- Sem Destino (Easy Rider). Direção & Produção: Peter Fonda &Dennis Hopper.- Sociedade dos Poetas Mortos.O TEATROSHAKESPEAREO teatro antes de ShakespeareEntre os séculos X e XI, o teatro começou a ser desenvolvido na Inglaterra. As primeiraspeças traziam temas religiosos, compondo o chamado teatro litúrgico. Neste teatro há dois tiposde peças, quais sejam, os Ciclos misteriosos (Mystery Cycles), que contavam histórias bíblicas, e asPeças de milagres (Miracle plays), que falavam sobre a vida de santos.Estas peças, escritas conforme a língua falada, eram encenadas com o objetivo de doutrinara população, que geralmente não conseguia entender os ensinamentos transmitidos pela Bíblia oumesmo pelas missas, já que eram escritas e proferidas, respectivamente, em latim. O objetivo daencenação destas peças era transmitir ensinamentos religiosos conforme a Bíblia e o Catolicismo,religião que ainda predominava nesta época.A partir do reinado de Henry VIII, estas peças foram banidas, pois começa o processo deinstauração do Protestantismo. O rompimento com a Igreja Católica ocorreu quando este rei teveo seu pedido de separação de Katharine of Aragon negado pelo Papa, levando-o a voltar-se paraa fixação da Igreja Anglicana.Salientamos que a preocupação do rei Henry VIII em banir as peças teatrais religiosas denotao poder que o teatro exercia para fortalecer os ideais da Igreja Católica. Este fato demonstraque a literatura sempre é perpassada por questões ideológicas que exercem influência sobre aspessoas, podendo ser usadas, muitas vezes, como forma de dominação, ou, como mostraram osromânticos, enquanto instrumento de revolta contra uma ordem vigente.A Reforma e o TeatroA expansão da Igreja Protestante, no século XVI, como uma reação aos dogmas da IgrejaOrganização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 79


Católica, ficou conhecida como Reforma (Reformation). Podemos afirmar que esta “reforma” estendeu-setambém à forma de produzir teatro e à sua finalidade. Pois, para o rei Henry VIII, aspeças apresentavam-se como uma boa estratégia para divertir e impressionar a corte e reis visitantes.Assim, o teatro que antes era voltado para o doutrinamento religioso passou a se destinarà diversão e foi denominado Secular Drama.Formaram-se, nesta era, companhias de atores, como The Admiral’s Man e The LordChamberlain’s Man, mantidas por nobres, sob o incentivo da filha de Henry VIII, Elizabeth I. Aencenação das peças era inicialmente feita em estalagens fechadas, mas logo teatros começarama ser erguidos em Londres, a exemplo de The Theater, em 1576. A estrutura dos teatros tinhaum modelo circular e era em sua maior parte descoberta. Foi neste contexto que surgiu um dosmaiores dramaturgos do mundo e, certamente, um dos mais conhecidos no universo das literaturasanglófonas, William Shakespeare.A era Elizabetana (1485-1625)A chamada Era Elizabetana abrange o período de 1485 a 1625, quando a Inglaterra e a Irlandaestiveram sob a predominância da Dinastia de Tudor, iniciada com o rei Henry VII (1485-1509), sucedido por Henry VIII (1509-1547) e seus filhos Edward VI (1547-1553), Mary (1553-1558) e Elizabeth I (1558-1603). Apesar de ser assim denominado, o reinado da Rainha Elizabethocorreu apenas entre 1558 e 1603. Ressaltamos que este período ficou conhecido como EraElizabetana por ter sido o reinado da Rainha Elizabeth o mais longo, mas, sobretudo, por tersido caracterizado como uma fase de mudanças políticas, religiosas – foi nesta época que houvea consolidação do Protestantismo –, econômicas e culturais. Além disso, devemos considerar opulso firme da rainha que enfrentou com bravura diversos perigos que ameaçavam a Inglaterra,a exemplo da batalha bem sucedida travada com Felipe II, o rei da Espanha, que era ressentidopelas conquistas marítimas inglesas e, como rei de um país católico, pela expansão do Protestantismo.Há uma célebre frase proferida pela Rainha diante da Armada da Espanha, que revela umforte sentimento de patriotismo que perpassou a sua era:I know I have the body of a weak and feeble woman, but I have the heart and stomach of a King, andof a King of England, too, and think foul scorn that Parma or Spain or any Prince of Europe should dare toinvade the borders of my realm.As mencionadas conquistas marítimas levaram este período a ser também chamado de aEra do mar (Age of the Sea), em virtude da expansão no Velho e Novo Mundo. Em virtude dasconquistas, a Inglaterra passou de uma nação de economia de base agrária para uma grande naçãocomercial. A classe média, que começou a despontar na época de Chaucer, tornou-se rica epassou a disputar, ao invés de riquezas territoriais, uma posição política.O RenascimentoO período de ascensão da burguesia, o patriotismo e uma outra alternativa de religião levarama sociedade elizabetana à concepção de que o homem devia ser o centro de tudo. Um idealque encontra ressonâncias no Renascimento (Renaissance), que consistiu, como o próprio nomeindica, na revisitação, ou seja, no renascimento da cultura grega e romana.80FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


William Shakespeare (1564-1616)William ShakespeareEle não era de uma época, mas de todos os tempos.Ben Jonson.William Shakespeare (1564-1616) é considerado o supremo dramaturgo de todos os tempos,tendo sido também poeta. As principais obras de Shakespeare e o respectivo ano estimadode produção se encontram no quadro abaixo:TítuloAnoPéricles, príncipe de Tiro 1590Henrique VI (1, 2, e 3ª partes) 1590-1A comédia dos erros 1592Trabalhos de amor perdidos 1592O rei Ricardo II 1593A tragédia do rei Ricardo III 1593A Megera Domada 1596A tragédia de Romeu e Julieta 1596O Mercador de Veneza 1597O Rei Henrique IV (1 e 2ª parte) 1597-8A vida e a morte do rei João 1598A vida do rei Henrique V 1599Muito ruído por nada 1600Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 81


Hamlet, príncipe da Dinamarca 1600As alegres comadres de Windsor 1601Troilo e Créssida 1602O Rei Henrique VIII 1603Medida por medida 1603Otelo, o mouro de Veneza 1604O Rei Lear 1605A Tragédia de Macbeth 1606Júlio César 1607Antônio e Cleópatra 1608Coriolano 1610Timão de Atenas 1610A Tempestade 1612Suas peças foram categorizadas por conteúdo: história, tragédia e comédia. As peças históricascontemplam períodos importantes da História da Inglaterra como O rei Ricardo II e O reiHenrique IV; outras têm como tema histórias clássicas como Troilo e Créssida e Antonio e Cleópatra.Dentre as tragédias destacamos Otelo, Hamlet, Rei Lear, Romeu e Julieta entre outras, e entre as comédias,A Megera Domada, A Comédia dos Erros, etc.Os hábitos das personagens e locais da ação dão indicações a respeito do gênero dramático;assim é que as histórias e as tragédias acontecem nos campos de batalha, castelos, e aposentosreais, enquanto que nas comédias presenciamos os jogos de palavra (trocadilhos) e a comicidadeexagerada.A obra de Shakespeare tem como característica a representação da complexidade do serhumano em diversas situações, o que, possivelmente, explica a capacidade de diálogo com asdiferentes gerações, ou a sua eterna contemporaneidade. Segundo Northrop Frye, as peças deShakespeare não devem ser analisadas unicamente sob o ponto de vista histórico sob o risco de seignorar a contemporaneidade dos personagens e das situações; por outro lado, não se consideraro aspecto histórico seria deixar de observar a complexidade da realidade social e histórica quedeu origem a um texto de valor universal. Isto equivale a dizer que não podemos deixar de terem mente o período histórico em que viveu Shakespeare, mas é preciso observar a apresentaçãode questões universais e sentimentos humanos, como o ciúme, a inveja, o ódio, a ambição, quetornaram o seu teatro universal. Algumas de suas personagens podem ser consideradas verdadeirasmetáforas dos sentimentos mencionados, a exemplo do ciúme que, na literatura, não raro éassociado a Otelo, como atesta o texto de Machado de Assis, Dom Casmurro. Do mesmo modo, osquestionamentos que levam o homem a dúvidas existenciais são comumente remetidos à célebrefrase do príncipe Hamlet: “Ser ou não ser, eis a questão.” No que pese as questões históricas, éválido mencionarmos que peças como O rei Ricardo II, Henrique IV, entre outras, não falam sobreestes reis, mas, também, trazem informações sobre a sua época, como demonstra o trecho abaixo82FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


destacado, da peça Henry V, na qual o dramaturgo faz menção à expansão marítima na Inglaterra,já abordada por nós.Thus with imagined wing our swift scene fl iesIn motion of no less celerityThan that of thought. Suppose that you have seenThe well-appointed king at Hampton pierEmbark his royalty; and his brave fl eetWith silken streamers the young Phoebus fanning:Play with your fancies, and in them beholdUpon the hempen tackle ship-boys climbing;Hear the shrill whistle which doth order giveTo sounds confused; behold the threaden sails,Borne with the invisible and creeping wind,Draw the huge bottoms through the furrow’d sea,Breasting the lofty surge: O, do but thinkYou stand upon the ravage and beholdA city on the inconstant billows dancing;For so appears this fl eet majestical,Holding due course to Harfl eur. Follow, follow:Grapple your minds to sternage of this navy,And leave your England, as dead midnight still,Guarded with grandsires, babies and old women,Either past or not arrived to pith and puissance; 72Shakespeare e o TeatroDe acordo com Frye, no capítulo introdutório do livro Sobre Shakespeare, é preciso deixarclaro que Shakespeare não usou o teatro para nada: compreendeu suas condições como eram e as aceitou totalmente73 , e afirma que não existe nada que o dramaturgo “queira dizer” em suas peças, a não serpromover diversão para a platéia que freqüentava os teatros da época. Não obstante a suposiçãoque as peças tenham sido escritas para uma classe razoavelmente instruída e que financiava o teatro,a platéia, de fato, se constituía de um público misto, em que não faltavam os groundlings, oupessoas possivelmente analfabetas que pagavam um penny 74 para assistir a peça de pé em frente aopalco; para estes, possivelmente, parte da linguagem utilizada lhes parecia inócua. Sabe-se tambémque algumas peças eram representadas para um público restrito, em solenidades palacianas72 SHAKESPEARE, William. Henry V. Disponível: http://www-tech.mit.edu/Shakespeare/henryv/henryv.3.0.html. Acesso: 02 fev. 07.73 FRYE, Northrop. Sobre Shakespeare. São Paulo: Edusp, 1999. p. 14.74 Moeda de valor mínimo na época.Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 83


e/ou em teatros mais íntimos como o Blackfriars Theatre.Shakespeare era um homem de teatro: ator, dramaturgo, e empresário do ramo teatral,participou da inauguração dos teatros The Globe e Blackfriars Theatre. De fato, as primeiras tragédiasshakespeareanas foram encenadas no The Globe, teatro que foi construído pela companhiaChamberlain’s Men da qual Shakespeare era sócio minoritário. Em 1593 uma epidemia assolou acidade de Londres e fez com que os teatros fossem fechados a fim de evitar o seu alastramento.Entretanto, em 1594, os teatros foram reabertos e as peças de Shakespeare continuaram a serencenadas e a atrair o público.O TeatroThe Globe TheatreO Globe, localizado no distrito de Southwark, nos arredores de Londres, comportava entredois a três mil espectadores e os espetáculos aconteciam durante o dia, uma vez que os recursosde iluminação eram inexistentes no período, bem os de acústica, o que fazia com que os atorestivessem que literalmente gritar suas falas e exagerar no gestual a fim de que a platéia pudesseescutá-los e entendê-los. Não usavam cenários como pano de fundo, embora os figurinos fossemcaprichados; além disso, as mudanças de cena eram indicadas de forma implícita atravésdos diálogos e narrativas. O efeito “operístico” se fazia presente através da música que incluíatoques de trombetas nas indicações de cena e canções de fundo, embora o espetáculo dependesseprincipalmente da palavra. Os preços dos ingressos variavam conforme o local e os menos privilegiadospagavam ingressos de one-penny (um centavo) e/ou two-penny (dois centavos), emborafossem os espectadores de melhor posição social que efetivamente mantivessem o teatro e seusprodutores/escritores.O Globe sobreviveu a um incêndio em 1613, e foi reconstruído no ano seguinte; foi fechadoem 1642 pelo regime puritano e, finalmente, foi destruído dois anos depois para a construçãode casas populares em seu terreno. Posteriormente, em 1660, outros teatros foram abertos e asencenações das peças de Shakespeare tiveram suas montagens quebradas e os finais alterados; háaproximadamente um século teve início um processo de reconstrução das tradições e montagensteatrais da obra de Shakespeare. Algumas peças foram publicadas durante a vida de Shakespeare84FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


no formato in-quarto. 75As personagens de Shakespeare fazem parte do universo humano: reis, rainhas, príncipes,ministros, bufões, mulheres do povo, soldados, comerciantes, retratados nas mais variadas situaçõesexistenciais e em diversos lugares do mundo como na Dinamarca, na Itália, e em tantosoutros lugares. Muitos deles se tornaram imortais como Romeu, Julieta, Otelo, Hamlet, Lear eLady Macbeth, por terem sido singularizados e apresentados em uma perspectiva multidimensional.Ao mesmo tempo, os enredos de suas peças contemplam as diversas nuanças da vida: dor,riso, alegria, tristeza.A TragédiaHamletA Tragédia em Shakespeare retém as características da concepção grega no que tange a“imitação de ações sérias praticadas por indivíduos de uma classe elevada” 76 ; além disso, o indivíduo,não contando com o auxílio de deuses nem de forças sobrenaturais para superar dificuldades,está diante de uma situação sobre a qual não tem domínio. Entretanto, a inclusão de bufões ede personagens de outras classes sociais aponta para algum tipo de subversão nas peças clássicas.As peças encontram-se escritas em versos e contêm dois níveis de significação: uma evidente euma subjacente, denominadas como “nível explícito” e “nível implícito” e que se apresentamatravés de metáforas e imagens utilizadas, ou ainda, por acontecimentos ou discursos.No que pese o fato de cada tragédia se reportar a um sentimento específico: em Hamlet,a vingança; em Rei Lear, a ingratidão; em Otelo, o ciúme; em Ricardo III, a vilania; e em Romeu eJulieta, o amor; nunca há alguma coisa externa às suas peças que ele queira “dizer” ou sobre a qual queirafalar dentro das peças. 77 O interesse de Shakespeare era divertir a sua platéia, e de fato, não temosregistro sobre as suas posições políticas ou religiosas – nem se as tinha, embora saibamos, de fato,da existência de uma censura vigilante na época e que impediria qualquer referência à políticadaquele período.75 As peças eram publicadas em dois formatos: in-quarto quando as folhas dos textos eram dobradas em quatro; folio quando as folhas eram dobradas emduas; ambas as formas eram vendidas por aproximadamente meio xelim.76 SIMON, Sonia. In: Introdução aos Estudos Literários. FTC EAD. 2005, p. 25.77 FRYE, Northrop. Op. cit. Loc. Cit.Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 85


A ComédiaAs comédias em ShakespeareAs comédias inglesas têm raízes nos festivais populares que obedeciam a um calendário agrícolae festejavam a fertilidade promovendo ritos comunais que remetiam aos antigos costumespagãos. Tais atividades eram caracterizadas por dança e música, e sub-repticiamente parodiavamas autoridades; essas práticas desenvolveram-se e tornaram-se enredos de comédias clássicas.Nas comédias de Shakespeare, os enredos contemplam atividades amorosas, atividades decorte entre homens e mulheres e negam a idéia de morte; a mágica muitas vezes se encontrapresente nessas peças, e ajudam a recriar a realidade como a personagem de Oberon em Sonhos deUma Noite de Verão. Suas comédias são anárquicas e zombam da hierarquia, colocando mulherese servos em posições de comando, transgredindo os códigos sociais da época. As personagensda comédia não sucumbem à morte ou à desgraça, e mobilizam-se em direção ao casamento eprocriação, triunfando sobre o trágico.Entre outros dramaturgos da época, destacamos Ben Jonson (1572-1637), ChristopherMarlowe (1564-1593) e John Fletcher (1579-1625).OSCAR WILDE & BERNARD SHAWO teatro do século XVIIO grupo radical religioso no Parlamento que costumava se opor ao rei da Inglaterra, JamesI, eram os puritanos. Seguidores das idéias de João Calvino, eles queriam “purificar” a Igreja Anglicanados fortes elementos católicos presentes em sua estrutura. James, por sua vez, dedicou seureinado a fazer com que os puritanos se convertessem ao anglicanismo. Em 1620, a perseguiçãode James I aos puritanos levou um grupo deles a embarcar no navio Mayflower e partir para aAmérica. Nos próximos vinte anos, mais de vinte mil puritanos partiram para o Novo Mundo.James I morreu em 1625, passando a coroa para o seu filho Carlos I e com ele a relação dorei com o Parlamento desandou de vez. Carlos I continuou a perseguição religiosa iniciada porseu pai e invocava o seu “direito divino” para justificar as suas ações arbitrárias. Em 1642, o Parlamentodecidiu recusar a liberação de fundos para o rei. Em represália, Carlos I mandou prendercinco parlamentares e uma Guerra Civil foi declarada, dividindo a Inglaterra entre as tropas reais,os cavaliers, e as do Parlamento, os roundheads (assim chamados porque usavam cabelos bem curtos,representando a austeridade e resolução puritana). O rei foi morto e Oliver Cromwell, militarpuritano responsável pela vitória do Parlamento, fechou a Igreja Anglicana e assumiu a responsabilidadede liderar a nação, iniciando uma verdadeira ditadura religiosa. Cromwell dissolveu oParlamento e passou a ser o “lorde protetor” da República, que durou onze anos, de 1649 a 1660,quando a Monarquia foi restaurada.Durante o governo de Cromwell, a Inglaterra prosperou economicamente, mas no planosocial foi um pesadelo para o povo. Seguindo o mesmo estlo de Calvino em Genebra, Cromwell86FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


fechou teatros, casas de jogos e outros locais que desviassem a atenção do povo da Igreja. Alémdisso, sancionou diversas leis para assegurar a austeridade da sociedade. Nesse sentido, xingamentoseram punidos com multas; esportes, roupas ornamentadas, festividades natalinas eramproibidos. Durante o seu governo, muitos cavaliers emigraram para o Novo Mundo, assim comohaviam feito os puritanos trinta anos antes.Com a morte de Cromwell em 1658, o exército e o povo já estavam cansados de viver sobo puritanismo e convidaram o filho de Charles I para assumir a coroa. Depois desse episódio,a Inglaterra nunca mais voltou a ser uma República. Restauração é o nome que se dá à volta damonarquia na Inglaterra.Nos anos da década de 1660, período em que ocorreu a Restauração da monarquia inglesacom Carlos II, a literatura inglesa, que outrora se voltava para o coração, teve que se voltar paraa razão, como meio de distanciar o povo do desequilíbrio suscitado por convicções intensas, queinspiraram a Guerra Civil, resultante do conflito entre um segmento da população que constituiuriqueza através da terra, era conservador e apoiava o rei, e um outro segmento formado pela burguesiaávida por participar da vida política do país.Os anos da Restauração foram marcados por três grandes acontecimentos: a formação dedois partidos políticos da Inglaterra: os Tories e os Whigs, a grande peste e o grande incêndio deLondres.Algumas conseqüências da Restauração sobre o teatroEm 1642, os puritanos fecharam os teatros e, assim, uma forte tradição que vinha se consolidandoteve que ser esquecida. Algumas modificações ocorreram, distanciando o teatro do períododa Restauração daquele produzido na era elizabetana. Entre estas, mencionamos a estruturados teatros, que se tornaram maiores, e o afastamento da platéia. Dois outros aspectos importantesforam o investimento, por parte dos diretores, para causar efeitos mais elaborados no palco, ea encenação de mulheres, pois no teatro elizabetano havia apenas espaço para os homens.Entre os dramaturgos mais importantes deste período, destacam-se John Vanbrigh (1664-1726), William Congreve (1670-1729), Oliver Goldsmith (1730-1774), Richard Brinsley Sheridan(1751-1816) e Henry Fielding (1707-1754).No período da Restauração até a Regulamentação do Teatro (1843), era permitido o funcionamentode apenas três teatros, quais sejam, Drury Lane, o Convent Garden e o Haymarket.A permissão a apenas estes poucos teatros fez com que as representações neles encenadas nãopassassem muitas vezes de um drama inexpressivo, já que as salas cheias não permitiam que asvozes dos atores fossem ouvidas e muitas vezes era impossível até mesmo ver os atores. Por estemotivo, muitos teatros não-autorizados passaram a funcionar em Londres e os dramas mais encenadoseram os chamados melodramas, que se caracterizam pelo senso de desmedida (exagero)e pelo “humor baixo”.Oscar WildeDurante o período do renascimento do drama inglês, uma figura importante surge, OscarWilde (1854-1900), um autor irlandês que escreveu prosa, verso e peças teatrais, e foi, sobretudo,Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 87


um crítico contumaz dos costumes da sua época. A relação intrínseca entre sua vida e obra revelauma aguda e divertida consciência de seu papel em ambas. A subversão, presente nos aforismose no humor irônico e paradoxal de suas peças, vai além da simples rejeição aos valores de suaépoca sobre a vida e a arte em nome da estética, mas, sobretudo, provocam, de forma desafiadora,uma resposta a tudo que é diferente. Wilde questionou as instituições, a moral, e os clichêssociais, divertindo-se com sua atitude iconoclasta. São traços do teatro de Wilde a espirituosidade,o simbolismo e a fantasia.Escreveu os diálogos inspirados em Platão como The Decay of the Lying (1889), The Critic asArtist (1890); o ensaio The Soul of Man under Socialism (1891); e o seu mais conhecido romance ThePicture of Dorian Grey (1890); além disso, se destacou como dramaturgo pelas peças Vera: or theNihilist (1888), The Duchess of Parma (1883), A Florentine Tragedy (iniciada em 1894 e finalizada em1897), e a sua mais controvertida peça, Salomé (1894). Inspirada pela história bíblica, no poemaHerodiade, do poeta simbolista Mallarmé e pelo texto de Flaubert, Herodias, esta peça foi escritaem francês, e posteriormente traduzida para o inglês por Lord Alfred Douglas, amante de OscarWilde. A peça teve a sua encenação proibida na Inglaterra por seu conteúdo considerado imoral,abrangendo justaposições de repulsa e desejo sexual, morte e orgasmo, até 1931 quando foi, finalmente,liberada. Leiamos um trecho desta instigante peça para adentrar um pouco no universofi c cional de Oscar Wilde:[SCENE -- A great terrace in the Palace of Herod, set above the banqueting-hall.Some soldiers are leaning over the balcony. To the right thereis a gigantic staircase, to the left, at the back, an old cistern surroundedby a wall of green bronze. The moon is shining very brightly. ]THE YOUNG SYRIANHow beautiful is the Princess Salome to-night!SaloméTHE PAGE OF HERODIASLook at the moon. How strange the moon seems! She is like awoman rising from a tomb. She is like a dead woman. One might fancyshe was looking for dead things.THE YOUNG SYRIANShe has a strange look. She is like a little princess who wears a yellow veil, and whose feet are of silver.She is like a princess who has little white doves for feet. One might fancy she was dancing.THE PAGE OF HERODIASShe is like a woman who is dead. She moves very slowly.[Noise in the banqueting-hall.]88FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


FIRST SOLDIERWhat an uproar! Who are those wild beasts howling?SECOND SOLDIERThe Jews. They are always like that. They are disputing about their religion.FIRST SOLDIERWhy do they dispute about their religion?SECOND SOLDIERI cannot tell. They are always doing it. The Pharisees, for instance, say that there are angels, and theSadducees declare that angels do not exist.FIRST SOLDIERI think it is ridiculous to dispute about such things.THE YOUNG SYRIANHow beautiful is the Princess Salome to-night!THE PAGE OF HERODIASYou are always looking at her. You look at her too much. It is dangerous to look at people in suchfashion. Something terrible may happen.THE YOUNG SYRIANShe is very beautiful to-night.FIRST SOLDIERThe Tetrarch has a sombre aspect.SECOND SOLDIERYes; he has a sombre aspect.FIRST SOLDIERHe is looking at something.Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 89


SECOND SOLDIERHe is looking at some one.FIRST SOLDIERAt whom is he looking?SECOND SOLDIERI cannot tell.THE YOUNG SYRIANHow pale the Princess is! Never have I seen her so pale. She is like the shadow of a white rose in amirror of silver. 78Oscar Wilde também escreveu comédias de sucesso, como The Importance of Being Earnest(1895), mas seu grande sucesso foi Lady Windermere’s Fan: A Play about a Good Woman (1892). Outraspeças de Wilde são: A Woman of No Importance (1893), An Ideal Husband (1895).Oscar Wilde foi preso por práticas homossexuais em 1895, o que acarretou a rejeição desuas obras teatrais, cuja característica principal residia na captura de um humor fluido e intenso,e no desafio das pretensões - exceto a de ser apenas peças de teatro.A contribuição de Henrik Ibsen para o teatro socialDe origem norueguesa, podemos apontar Henrik Ibsen (1828-1906) como o fundador doteatro realista ou “dramas de problematização social” 79 . Seu interesse esteve voltado para questõesdomésticas e sociais, concernentes tanto à Escandinávia quanto à Inglaterra. Algumas dascaracterísticas do seu teatro são a crítica à sociedade e a configuração de cenários e personagenscomuns. Uma de suas obras mais conhecidas é Casa de Bonecas, na qual Ibsen tematiza o fracassode um casamento.Ressaltamos que Ibsen resistiu durante um certo tempo a perfazer uma poética realista,pois temia que seu teatro se tornasse superficial. Na verdade, o que observamos no projeto destedramaturgo é o intuito de apresentar poeticamente um quadro verossímil de dramas sociais e nãoraro apresentando um mergulho psicológico em suas personagens.Teatro realista irlandêsBernard Shaw78 WILDE, Oscar. Salome: a tragedy in one act. Disponível: http://etext.virginia.edu/etcbin/toccer-salome?id=WilSalo&images=images/odeng&data=/web/data/subjects/salome&tag=public&part=1&division=div1. Acesso: 02 fev. 07.79 IBSEN, Henrik. Disponível: http://www.noruega.org.br/ibsen/realism/realism.htm. Acesso: 02 fev. 07.90FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


Nascido em Dublin, George Bernard Shaw (1856-1950) foi escritor, jornalista e dramaturgo.Suas primeiras incursões no mundo das letras datam da sua atuação como crítico de teatro noSaturday Review. Em 1925, ganhou o prêmio Nobel de Literatura, que foi por ele recusado.Shaw foi contemporâneo e patrício de Oscar Wilde, e se caracterizou por buscar materialpara suas peças na tradição, se notabilizando pelo seu talento para comédia. Foi influenciado porHenrik Ibsen, a quem reputava a conscientização do papel da mulher na vida do homem e, aolado desse, se inseriu no teatro realista.Para entender um pouco mais sobre o teatro de Shaw é pertinente mencionar algumas característicasdo teatro realista:- Os autores se propunham a se aproximar ao máximo do “real”;- As cenas retratam situações cotidianas relacionadas à vida burguesa;- Os cenários reproduzem cômodos comuns para garantir uma atmosfera de verossimilhança,levando o público a imaginá-la menos como uma representação do que como uma apresentaçãoda realidade.Entre as produções dramáticas de Shaw, destacamos a peça Pigmalião, filmada sob o títulode My Fair Lady. Esta peça é baseada na história de Galatea da mitologia grega, e aborda o temada criatura e o criador, focalizando a variedade dialetal como indicador de classe social na GrãBretanha.Pygmalion conta a história de uma florista cujo desejo de ascensão social é despertado porum professor de fonética que encontra enquanto vende as suas flores. Este professor, HenryHiggins, estava discretamente fazendo uma transcrição fonética dos sons pronunciados por ElizaDoolittle, a florista, quando foi surpreendido. Após, inútil e arrogantemente, se justificar, afirmaque poderia transformá-la em uma dama em três meses. Eis o trecho em que o afirma:THE NOTE TAKER. [Professor Higgins] You see this creature with her kerbstone English: the Englishthat will keep her in the gutter to the end of her days. Well, sir, in three months I could pass that girl offas a duchess at an ambassador’s garden party. I could even get her a place as lady’s maid or shop assistant, whichrequires better English. That’s the sort of thing I do for commercial millionaires. And on the profi ts of it I dogenuine scientifi c work in phonetics, and a little as a poet on Miltonic lines. 80Esta peça suscita algumas instigantes discussões sobre o papel da educação como elementopromotor de aceitação social. Neste sentido, a linguagem é vista na peça como um importantefator que distingue as pessoas conforme a sua formação. Shaw se mostrou interessado, comodemonstra esta peça, em assuntos lingüísticos, e, de fato, iniciou, com recursos próprios, a pesquisae criação de um alfabeto fonético para a língua inglesa. Entretanto, no final da sua vida osrecursos haviam se tornado escassos e o projeto teve que ser adiado até que, após a sua morte,os royalties recebidos pela adaptação de Pigmaleão para o musical My Fair Lady possibilitou a retomadado projeto. O alfabeto chama-se Shavian Alphabet. Provavelmente a configuração de suapersonagem, Henry Higgins, o professor de fonética da peça Pygmalion seja uma projeção desteseu interesse.Outras peças deste autor são Saint Joan (1923), Plays Pleasant and Unpleasant (1898) e Man andSuperman (1905), entre outras.Entre outros dramaturgos irlandeses que se inserem na linhagem de autores realistas estão80 SHAW, Bernard. Pygmalion. Disponível: http://drama.eserver.org/plays/modern/pygmalion/default.html. Acesso: 02 fev. 07.Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 91


John Millington Synge (1871-1909) e Sean O’Casey (1884 -1964).No tocante a Synge, ressaltamos um importante tema que perpassa a sua obra: a necessidadede configurar uma identidade nacional. As suas peças têm como cenário a zona rural irlandesae seu realismo é impresso nas falas de seus personagens, que reproduzem o modo de falar doscamponeses. Riders to the sea, que tem como tema a história de uma mãe que perdeu seus filhosmortos no mar, figura como uma peça importante na literatura irlandesa. É relevante ler um trechodesta expressiva peça das letras irlandesas:CATHLEEN. How would they be Michael’s, Nora. How would he go the length of that way to the farnorth?NORA. The young priest says he’s known the like of it. “If it’s Michael’s they are,” says he, “you can tellherself he’s got a clean burial by the grace of God, and if they’re not his, let no one say a word about them, forshe’ll be getting her death,” says he, “with crying and lamenting.” 81Enquanto Synge se voltou para a zona rural, as peças de Sean O’Casey, tinham como cenáriosos cortiços de Dublin. Duas peças significativas deste autor são A sombra de um pistoleiro e Oarado e as estrelas.O TEATRO NORTE AMERICANOTenessee WilliamsTenessee Williams (1911-1983) foi um dos maiores dramaturgos americanos. Dentre seustemas, destacamos a passagem do tempo e o acúmulo de perdas, a luta na preservação de valores,a ambigüidade da moral, a busca por alívio diante da angústia de viver, o medo da morte e odesejo de viver. Seu método consistia em diálogos objetivos, confissões, uso de símbolos, nomessignificativos e a utilização de música na ênfase de determinada atmosfera. Entre as suas peçasmais conhecidas temos A Streetcar named Desire (Um bonde chamado desejo), transformado em linguagemcinematográfica, The Glass Menagerie, Cat on a Hot Tin Roof (Gata em Teto de Zinco Quente), Anoite do Iguana, entre outras.Um Bonde Chamado Desejo contém elementos da tragédia e pathos; entre os temas apresentadosdestacam-se a queda da aristocracia sulista, representado pela ruína de Blanche, protagonistada peça, e o desejo descontrolado metaforizado pelas trevas ou escuridão. No início da peça,Blanche toma um bonde chamado “Desejo”, para em seguida embarcar em um bonde intitulado“Cemitério” e finalmente desce na rua chamada “Campos Elíseos”. Analisando esses elementosde forma simbólica, podemos insinuar que os símbolos do desejo sexual conduzem às trevas,metaforizada pelo cemitério, e a sua chegada ao plano depois da morte, ou Campos Elíseos. Alinguagem utilizada contrasta os bons modos e a boa educação de Blanche com a rudeza de Stan,marido da sua irmã, Belle. Leiamos um trecho da peça para mergulhar um pouco no universo de81 SYNGE, John Millington Synge. Riders to the sea. Disponível: http://mockingbird.creighton.edu/english/micsun/irishresources/riders.htm . Acesso:02 fev. 07.92FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


Tenessee Williams.After Stanley returns to the kitchen, Blanche tells him that Huntleigh respectsher and that she, as an intelligent and cultivated woman, has much to offerhim. Then she insults Stanley, saying, “I have been foolish–casting my pearls beforeswine. . . . I’m thinking not only of you but of your friend, Mr. Mitchell [who]came back [and] implored my forgiveness.” But, she says, she bid farewell to him.Stanley asks, “Was this before or after the telegram came from the Texasoil millionaire?”“Whattelegram?”Um Bonde Chamado DesejoHer response gives her away. Stanley says was she lying not only about theCaribbean cruise but also about Mitch’s return visit because “I know where he is.”Then he says, “Take a look at yourself in that worn-out Mardi Gras outfi t, rented for fi fty cents from some ragpicker.And with that crazy crown on! What queen do you think you are?” He answers his own question, saying,“The queen of the Nile! Sitting on your throne and swilling down my liquor!”Stanley reenters the bedroom and goes into the bathroom. Frightened, Blanche picks up the phone receiverand requests the number of “Shep Huntleigh of Dallas,” who she says is so well known that she need not providethe operator an address. Moments later, she cancels the call and asks for Western Union to send a message that sheis in “desperate circumstances.” Stanley emerges from the bathroom in his pajamas. He leers at her. She smashesthe top of a bottle and threatens him with the jagged edge. He subdues and rapes her. 82Arthur MillerEnquanto as peças de Tenessee Wiliams se distinguem pelo forte conteúdo emocional, aspeças de autoria de Arthur Miller (1915-2005) contemplam temas éticos, abordando a disputaentre o bem e o mal; o mito americano do sucesso; a desumanidade da sociedade moderna; e aresponsabilidade individual. Sua mais conhecida peça, Death of a Salesman lhe rendeu o prêmioPulitzer de 1949, e consiste numa crítica ao sonho americano de sucesso. Nesta peça, um caixeiroviajante, Willy Loman, acredita que alcançará o sucesso e transmite este sonho aos seus doisfi lhos. Entretanto, nenhum deles consegue realizar o sonho de grandeza. Willy não cabe no papeltradicional do herói trágico pelo fato de não perceber a sua própria tragédia e carecer de nobrezae magnanimidade peculiar ao herói trágico; traços que o caracterizam como um anti-herói.Esta peça pode ser lida como uma crítica ao chamado “sonho americano” (American dream),porque, ao longo de sua vida, o protagonista, a exemplo de muitos norte-americanos e estrangeirosfascinados pelo sonho de constituir riqueza, se deixou iludir pelas promessas fáceis destesonho, esquecendo de perceber a realidade. É este tipo de ilusão que acomete Willy, levando-o aviver num passado ora carregado pela certeza de que tudo poderia ter sido melhor, ora permeadode lembranças positivas das pessoas; ou, ainda, a projetar um futuro melhor, no qual depositavagrandes sonhos, negligenciando, desse modo, o presente, a sua realidade, como ilustra o trechoa seguir:82 WILLIAMS. Tenesse. Trecho da peça A Streetcar Named DesireOrganização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 93


America is full of beautiful towns and fi ne, upstanding people. And they know me, boys…the fi nestpeople…there’ll be open sesame for all of us, ‘cause one thing boys: I have friends. I can park my car in any street…andthe cops protect it like their own.Arthur Miller também foi autor de um ensaio sobre as tragédias clássicas, intitulado Tragedy and TheCommon Man.Eugene O’NeillEugene O’Neill (1888-1953) foi o pioneiro na adoção do realismo no drama americano.Suas peças tratam de temas trágicos, de tom pessimista, e focalizam personagens que vivem àmargem da sociedade tentando desesperadamente manter a esperança, para no final sucumbiremà desilusão e ao desespero. O’Neill fez parte do movimento que tentou revitalizar o uso da máscarado antigo teatro grego e do teatro “Noh” do Japão para algumas de suas peças. Este tipo deteatro consiste na configuração de um mundo no qual teatro, música e poesia se fundem.Em 1936 ganhou o prêmio Nobel de Literatura, e o Pulitzer, póstumo, em 1957 pela peçaLong Days Journey into the Night também publicada postumamente. A sua carreira divide-se emtrês fases: a primeira, a fase realista, em que O’Neill utiliza suas experiências pessoais enquantoera marinheiro como tema de suas peças. Em 1920, inicia-se a sua segunda fase, quando EugeneO’Neill rejeita o realismo e, sob a influência das idéias de Nietzsche, Jung e Strindberg ingressano período “expressionista” em que procura “captar” as forças que regem a existência humanatrazendo-as para o palco. Posteriormente, O’Neill retorna ao realismo e alcança a sua melhor fasesegundo os críticos.O TEATRO DO ABSURDOO Grito - Edwaed MünchO Teatro do Absurdo, termo retirado de um ensaio de Albert Camus, é uma denominaçãocunhada pelo crítico teatral Martin Esslin para algumas peças escritas durante o período entre1950 e 1960. Camus definiu a situação da humanidade em o Mito de Sísifo (1942) como absurdae sem sentido, visão compartilhada por autores como Samuel Beckett, Eugene Ionesco, Harold94FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


Pinter e outros, que transferem para as suas peças a noção de que o individuo habita um universocom o qual ele se encontra em dissonância. Sua existência é inexplicável e sem propósito, e esteindividuo se encontra desorientado, perplexo, e ameaçado de forma obscura.O Teatro do Absurdo é fruto dos experimentos realizados pela vanguarda artística dasdécadas de 1920 e 1930. Indubitavelmente, foi um movimento fortemente influenciado peloshorrores causados pela Segunda Guerra Mundial, e teve como conseqüência a reflexão sobre atransitoriedade de valores, das convenções, e, sobretudo, a precariedade da vida humana. O trauma,instalado a partir de 1945, de viver sob a ameaça constante de um aniquilamento causadopor uma guerra nuclear causou um grande impacto que repercutiu no aparecimento dessa formadramática.Concomitantemente, o que parece ter sido uma reação ao desaparecimento da dimensãoreligiosa no mundo contemporâneo, pode, também, ser considerado como uma tentativa de restituira importância do mito e ritual na nossa época, através da conscientização dos indivíduosda sua real condição de vida, restituindo-lhe a sensação cósmica perdida e sua angustia primitiva.Através do choque conseguido pela demonstração de uma vida mecânica e complacente, o Teatrodo Absurdo atinge o seu objetivo mostrando que existe uma experiência mística no confrontodos limites da condição humana.O resultado é que as peças desse gênero teatral conseguiram uma formatação inovadora eoriginal, tirando o espectador de seu mundo confortável, convencional, e prosaico. No mundosem Deus do pós-guerra seria impossível encenar uma peça nos moldes artísticos tradicionais, deacordo com padrões que não mais convenciam. Desse modo, o Teatro do Absurdo se rebeloucontra o teatro convencional e se tornou o “anti-teatro”: surreal, ilógico, sem conflitos e semenredo; os diálogos pareciam ininteligíveis. De fato, o Teatro do Absurdo foi recebido com incompreensãoe rejeição.Um dos aspectos mais importantes desta forma teatral foi o tratamento de desconfiançacom relação à linguagem como meio de comunicação. Para os mentores do Teatro do Absurdo,a linguagem havia se tornado um veículo sem sentido; as palavras haviam deixado de expressar aessência da experiência humana e não conseguiam penetrar além da sua superfície. O Teatro doAbsurdo se constituiu, desse modo, como o pioneiro no ataque à linguagem, e tenta fazer comque as pessoas se conscientizem da possibilidade de se comunicar de forma mais autêntica, paraalém das convenções lingüísticas tradicionais; para isso, utiliza o discurso convencional, clichês,slogans e jargão, e ridiculariza os padrões estereotipados de fala, mostrando a linguagem comoinstrumento precário e insuficiente na comunicação. Na sua concepção, o discurso convencionalage como uma barreira entre os indivíduos e o mundo real, e, os objetos importam mais do quea linguagem – o que acontece no palco transcende aquilo que está sendo dito. A linguagem implícitaé a linguagem que realmente importa no Teatro do Absurdo.Essa forma dramática subverte a lógica e se regozija no que é inesperado e logicamenteimpossível. O Teatro do Absurdo nega tanto a linguagem como o racionalismo sob o argumentoque ambos lidam apenas com o aspecto superficial das coisas, enquanto que o nonsense oferecea possibilidade da liberdade, contato com a essência da vida, e é fonte de uma maravilhosacomédia.Neste tipo de teatro não existe um conflito dramático, como em outras formas teatrais. NoTeatro do Absurdo a performance das personagens enfatiza a questão que nada acontece paramudar suas vidas; é um teatro que visa comunicar uma atmosfera, uma experiência de situaçõeshumanas, diferentemente das demais formas teatrais que focalizam eventos que acontecem emOrganização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 95


uma dada seqüência. O Teatro do Absurdo utiliza recursos visuais, luzes, mímica, ballet, acrobaciase movimento ao invés da linguagem, elemento privilegiado no teatro tradicional.Samuel BeckettUm dos mais renomados autores do Teatro do Absurdo foi o irlandês Samuel Beckett(1906-1989), que recebeu o prêmio Nobel de Literatura em 1969. Entre os diversos trabalhos quecompõem a sua obra, a peça Esperando Godot (Waiting for Godot), publicada em francês em 1952 etraduzida para o inglês em 1954, En attendant Godot, é possivelmente a mais conhecida.A história diz respeito a dois homens, Vladimir e Estragon, que à beira de uma estrada eperto de uma árvore, esperam alguém de nome Godot. As personagens, vestidas como vagabundos,passam o tempo da performance a conversar, discutindo por vezes e, em outros momentos,incapazes de estabelecer comunicação, como ilustra o trecho a seguir.Estragon: (chewing) I asked you a question.Vladimir: Ah.Estragon: Did you reply?Vladimir: How’s the carrot?Estragon: It’s a carrot.Esperando GodotA platéia não descobre quem é Godot nem o porquê da espera por essa personagem. Defato, a espera se prolonga durante os dois atos da peça e, finalmente, os protagonistas resolvemir embora, mas não saem do lugar:Vladimir: Well? Shall we go?Estragon: Yes, let’s go.They do not move.O trabalho de Beckett é considerado minimalista e profundamente pessimista com relaçãoà condição humana, embora possua um acurado senso de humor. No que tange à dramatizaçãoda condição humana, é possível aproximá-lo ao Existencialismo, corrente que tem como um dosseus representantes Jean Paul Sartre e Albert Camus. Sobre a aproximação desses e de um outroautor, Antonin Artaud, Christopher Innes afirma:The roots of his [Beckett’s] drama are in the Existencialism of Sartre and Camus, picking up on theSurrealism of André Breton or Roger Vitrac in the 1920s.There is also a link with Antonin Artaud’s experimentsin subliminal theatre through Roger Blin, Artaud’s collaborator in the 1930s, who directed Beckett’s earlyplays. 8383 INNES, Christopher. Modern British Drama 1890-1990. Great Britain: Cambridge University Press, 1992, p. 428.96FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


Não obstante esta relação, é interessante salientar que as peças de Beckett traduzem não sódramas existenciais, mas, sobretudo, o pessimismo de uma era marcada pela destruição em massae a total descrença no homem, diante de seu poder de auto-aniquilação. O que resta é esperar,como o fazem Estragon e Vladimir, por algo sempre muito abstrato, porque talvez inexistente. Apergunta que circunda o imaginário de leitores e público da peça Esperando Godot é: quem é Godot?Essa resposta não é dada por Beckett, certamente porque para cada pessoa, em cada época,esta entidade, que é ora caracterizada como o homem (uma possível alegoria da humanidade), oracomo um ser abstrato (uma representação de Deus, God, em inglês) pode ser um ou outro, ou oque mais se possa ou queira acreditar.No texto “The knowledge of unknowing in Beckett’s Waiting for Godot”, William S. Haney estabeleceuma relação entre a peça de Beckett e o contexto no qual foi escrita. Conforme este autor:The Theater of the Absurd has been said by Martin Esslin (399-405), Peter Brook (65) and others tobe a quest for a way to live in a modern world deprived of generally accepted ultimate values. Faced with the lossof confi dence in the traditional narratives that explain the mysteries of the human condition, the Theater of theAbsurd presents its audiences with what Esslin calls a double absurdity: that of “the deadness and mechanicalsenselessness of half-unconscious lives” (400), and that “of the human condition itself in a world where the declineof religious belief had deprived man of uncertainties. 84Beckett escreveu a maior parte de suas peças em francês e ele próprio fazia as traduções daspeças para o inglês.Harold PinterHarold Pinter (1930) é inglês e ganhou o prêmio de Literatura em 2005. Autor de váriaspeças, Pinter foi, confessadamente, influenciado por Samuel Beckett, de quem se tornou amigo.Suas peças destacam-se pelo uso do silêncio, como elemento mediador de tensão, e conversasprosaicas. Seus temas, conhecidos como Pinteresque, contemplam ameaças obscuras, fantasiaseróticas, obsessão e ciúme, desavenças familiares e distúrbios mentais. Seus cenários sãogeralmente um único cômodo em que as personagens são ameaçadas por forças ou pessoas cujasintenções não estão claras para as personagens nem platéia. Ao invés de instrumento de comunicação,a linguagem é utilizada como uma arma, e as palavras, pontuadas pelo silêncio, indicampavor, ira, dominação e o receio de intimidade. Os diálogos são controlados e, segundo MartinEsslin:Every syllable, every infl ection, the succession of long and short sounds, words and sentences, is calculatedto nicety. And precisely the repetitiousness, the discontinuity, the circularity of ordinary vernacular speech are hereused as formal elements with which the poet can compose his linguistic ballet. 85Dentre as suas 29 peças teatrais destacamos The Caretaker, publicada em 1959. A históriaacontece em torno de dois irmãos, Aston e Mick, que dividem um pequeno apartamento emLondres; um dia eles deixam que um velho venha viver com eles por algum tempo. Ao final, torna-seclaro que todas as personagens têm sonhos que não conseguirão realizar, o que ocasiona84 HANEY, William. The knowledge of unknowing in Beckett’s Waiting for Godot. In: ______. The humanities in Western culture: a search for humanvalues. Vol. 2. United States: Wm. C. Brown Communications, 1993, p. 410.85 ESSLIN, Martin. The People Wound. [S/l]: 1970.Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 97


momentos de tensão entre eles.ASTON - You said you wanted me to get you up.<strong>DA</strong>VIES - What for?ASTON - You said you were thinking of going to Sidcup.<strong>DA</strong>VIES - Ay, that’d be a good thing, if I got there.ASTON - Doesn’t look like much of a day.<strong>DA</strong>VIES - Ay, well, that’s shot it, en’t it? 86Pinter oferece visões de momentos bizarros ou difíceis na vida dos indivíduos, e fez a seguintedeclaração em 1958:There are no hard distinctions between what is real and what is unreal, nor between what is true and whatis false. A thing is not necessarily either true or false; it can be both true and false.I believe that these assertions still make sense and do still apply to the exploration of reality through art. Soas a writer I stand by them but as a citizen I cannot. As a citizen I must ask: what is true? What is false?86 PINTER, Harold. The Caretaker. Trecho de diálogo.[S/l]: [S/d]98FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


Atividade Complementar1. Cite 3 tragédias de Shakespeare e comente-as, relacionando aos conhecimentos sobreeste gênero.2.Cite 3 comédias de Shakespeare.3.O que tinham em comum Henrik Ibsen e George Bernard Shaw?4.Qual a preocupação de George Bernard Shaw com relação à linguagem?5. O que representa a linguagem para o Teatro do Absurdo?Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 99


Sites indicadosShakespeare:http://www.enotes.com/william-shakespeare/shakespeares-globe-theater/Samuel Beckett:http://samuel-beckett.net/Waiting_for_Godot_Part1.htmlHaroldPinter:http://www.geocities.com/pleasence/theatre/caretaker91/caretaker-2.htmlOscar Wilde:http://www.oscarwildecollection.com/George Bernard Shaw:http://www.literaturepage.com/read/pygmalion.htmlFilmes indicadosElizabethA Megera DomadaA noite do IguanaGata em Teto de Zinco QuenteHamletMy Fair LadyO Mercador de VenezaOteloRei LearRomeu e JulietaSaloméUm bonde chamado desejo (A Streetcar named Desire)100FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


GlossárioAMBIGÜI<strong>DA</strong>DE – que apresenta duas faces; dois sentidos.AMOR CORTÊS – conceito de relacionamento em que a mulher amada pertence a umaclasse social abastada e seu pretendente, um ministrel, de classe inferior, que lhe prestavassalagem.BARDO – ministrel; vate.CICLO ARTURIANO – coletânea de lendas e mitos de origem celta e que relatam asaventuras do Rei Artur e seus cavaleiros.CLOSE-READING – leitura imanente; leitura de um texto baseada exclusivamente nas palavrasdo próprio texto, ignorando o contexto histórico e/ou dados biográficos do autor.EPIFANIA – revelação; literariamente, trata-se de uma técnica utilizada por Joyce pararevelar um instante existencial.ESTÓRIAS DE MOLDURA – histórias que pretensamente são contadas por alguém aoutro alguém.EXÉQUIAS – cerimônias ou honras fúnebres.FIN AMORS – vide Amor Cortês.GRAVEYARD SCHOOL – escola literária cujos temas diziam respeito à morte.HAGIOGRAFIA – Biografia dos santos; escritos sobre santos.HEPTASSÍLABOS – versos em sete silabas.LAIS – poema narrativo; canção.MAINSTREAM E NON-MAINSTREAM – tendências da poesia inglesa contemporânea,em que a primeira diz respeito às técnicas tradicionais, e a segunda àquelas que rejeitama tradição.MELODRAMAS – dramas cantadosMIDDLE ENGLISH – dialeto falado na Grã Bretanha do século XIII o século XV.MYSTERY CYCLES – feitos grandiosos de Jesus Cristo ou uma verdade religiosa.NÍVEL EXPLICITO – significação aparente. Em inglês, overthought.NÍVEL IMPLÍCITO – significação secundária, ou subjacente. Em inglês, underthought.NOVA INGLATERRA – conjunto de estados que compunham as colônias americanas.OLD ENGLISH – dialeto falado nas Ilhas Britânicas até aproximadamente o séculoXIII.SAGA – Narrativas épicas típicas dos países nórdicos.SCOP – bardo itinerante do período anglo-saxão.SONETO – poema estruturado em dois quartetos e dois tercetos.Organização e Gestão das Instituições do Ensino Fundamental 101


Referências BibliográficasAUSTEN, Jane. Emma. New York: Penguin Books, [S/d].AUSTEN, Jane. Pride and Prejudice. New York: Penguin Books, [S/d].AUSTEN, Jane. Sense and Sensibility. Penguin Books, [S/d].BAKHTIN, Mikhail. O plurilingüismo no romance. In: ______. Questões de literatura e de estética:a teoria do romance. Tradução Aurora Fornoni Bernardini et al. São Paulo: Hucitec, 2002, p. 107-133.BECKETT, Samuel. Waiting for Godot (Esperando Godot).BENJAMIN, Walter. O Flâneur. In: ______. Charles Baudelaire: um lírico no auge do capitalismo.Tradução José Martins Barbosa; Hemerson Alves Baptista. São Paulo: Brasiliense, 1989, p. 185-236.BENJAMIN, Walter. O Narrador:Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In Arte Política.Ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1987.BLOOM, Harold. How to read and why. NY: Touchstone, 2000.BODKIN, Maud. Archetypal Patterns in Poetry: Psychological Studies of Imagination. Oxford:Oxford Press, 1934.BURGESS, Anthony. A literatura inglesa. Tradução Duda Machado. 2. ed. São Paulo: Ática, 2004.BURROWS, David J.; LAPIDES, Frederick & SHAWCROSS, JOHN T. Myths and Motifs in Literature.New York: The New Press, 1973.CARTER, Angela. O lobisomem. In: ______. O quarto do Barba-azul. Tradução Carlos Nougué. Riode Janeiro: Rocco, 1999, p. 193-195.CARVALHAL, Tania Franco. Literatura Comparada. Série Princípios, São Paulo: Ática, 1998.CHAUCER, Geoffrey. The Canterbury Tales. London: Penguin Books, 1996.CHKLOVSKI, Victor. “A arte como procedimento”. Tradução Ana Maria Ribeiro Filipouski et al. In:TOLEDO, Dionísio (org). Teoria da Literatura: Formalistas russos. 2ª reimpressão da 1.ed. PortoAlegre: Globo, 1973, p. 39-56.CLEMENTS, Arthur L. (ed). John Donne’s Poetry. 2nd. Edition. New York: Norton & Company, Inc.,1991.COCHRANE, James. The Penguin Book of American Short Stories. New York Penguin Books,1969.COMPAGNON, Antoine. O demônio da teoria: literatura e senso comum. Tradução Cleonice PaesBarreto Mourão. Belo Horizonte: UFMG, 1999.CUNNINGHAM, Michael. As horas. Tradução B. Vieira. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.CURTIS, Vanessa. As mulheres de Virginia Woolf. Tradução Tuca Magalhães. São Paulo: A Girafa102FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


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Referências FilmográficasBeowulfA Lenda de GrendelA Lenda do Cavaleiro Sem CabeçaA Letra EscarlateA Megera DomadaA Noite do IguanaAs HorasGatsbyHamletLancelotMrs. DallowayMy Fair LadyNo Direction Home (documentário).O Homem que queria ser ReiO Mercador de VenezaOteloO Último dos MoicanosRazão e SensibildadeRei LearRomeu e JulietaSem Destino (Easy Rider).Shakespeare Apaixonado.Tom JonesTristão e IsoldaUm Bonde chamado Desejo (A Streetcar named Desire)Um Leão no Inverno106FTC EaD | CURSO NORMAL SUPERIOR


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